SafeSea - Manual de apoio para a promoção de uma pesca mais
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SafeSea - Manual de apoio para a promoção de uma pesca mais
Manual de Apoio 1 Manual de Apoio para a Promoção de uma Pesca Mais Sustentável e de um mar seguro para cetáceos Textos José Vingada, Marisa Ferreira, Jorge Santos, Hélder Araújo, Isabel Oliveira, Sílvia Monteiro, Ana Marçalo, Lídia Nicolau, Célia Tavares e Catarina Eira. Desenhos Tokio Fotografia José Vingada, Marisa Ferreira, João Petronilho, João Quaresma, Joana Miodonski, Ana Henriques, Jorge Santos, Filipe Leigo, Isabel Oliveira. Página de Internet Filipe Rocha Técnicos de campo Marisa Ferreira, Isabel Oliveira, Jorge Santos, Hélder Araújo, Sílvia Monteiro, Rute Costa, Catarina Eira, Jorge Vaqueiro, Ana Marçalo, Lídia Nicolau, Carolina Bento, Paula Mendez Fernandez, Angela Llavona Vallina, Josep Alonso Farré, Maria Llarena Reino, Sabine Goetz, Fiona Read, Ana Henriques, Joana Miodonski, Paulo Landeck. Técnicos de Laboratório Design e Impressão Rui Carvalho Design Magda Graça, Amaro Rodrigues, Pedro Santos e Joana Ferreira Citação recomendada Consultores Vingada, J., Ferreira, M., Marçalo, A., Santos, J., Araújo, H., Oliveira, I., Monteiro, S., Nicolau, L., Gomes, P., Tavares, C. & Eira, C. (2011), SafeSea - Manual de Apoio para a Promoção de uma Pesca Mais Sustentável e de um mar seguro para cetáceos; Programa EEAGrants - EEA Financial Mechanism 2004-2009 (Projecto 0039). 114 pp. Braga. Coordenação José Vingada e Pedro Gomes Gestão do projecto Célia Tavares Arne Bjorg (IMR), Alfredo Lopéz (CEMMA) e Graham Pierce (Univ. Aberdeen) Entidade Financiadora Financiado por Islândia, Liechtenstein e Noruega através do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu Entidades participantes Universidade do Minho - Dep Biologia/CBMA Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem Coordinadora para o Estudo dos Mamíferos Mariños Institute of Marine Reseach Centro Litoral O.P. VianaPesca O.P. Entidades colaboradoras Centro de Estudos sobre Ambiente e Mar - Universidade de Aveiro (CESAM) Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR) Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) Associação Nacional das Organizações dos Produtores da Pesca do Cerco (ANOPCERCO) Instituto de Investigaciones Marinas de Vigo (IIM/CSIC) Centro Oceanografico de Vigo (COV/IEO) University of Aberdeen, OceanLab Université de La Rochelle, Littoral Environnement et Sociétés (LIENSS) Universitat de Barcelona, Facultat de Farmácia (UB) Fumunda Marine BetterGear, LLC Projecto premiado pelos Green Project Awards com a Menção Honrosa na categoria “Investigação e Desenvolvimento”. 4 Este prémio não é só para a equipa do SafeSea, é também um reconhecimento do apoio e ajuda que armadores, mestres e pescadores têm dado ao projecto. Sem o seu apoio este projecto não seria possível. Índice 09 15 49 65 CAPÍTULO 1 Introdução CAPÍTULO 2 79 Espécies de Cetáceos em Portugal Continental 97 CAPÍTULO 3 113 As pescas em Portugal Continental CAPÍTULO 5 Medidas de mitigação para reduzir a captura acidental de cetáceos em artes de Pesca CAPÍTULO 6 Análise de custo-benefício para a aplicação de medidas de mitigação REFERÊNCIAS CAPÍTULO 4 Interacções entre cetáceos e artes de pesca 5 Capítulo 1 Alage m 8 da red e de c erco Introdução A pesca em Portugal foi sempre uma fonte de rendimento importante, principalmente para as comunidades costeiras. Com uma tradição marítima bastante forte, Portugal possui artes de pesca bastante diversificadas que variam regionalmente em termos de tecnologia e métodos de pesca utilizados. - Avaliar o estado das populações de cetáceos, As interacções existentes entre as artes de pesca e os cetáceos envolvem quase todos os tipos de artes e têm consequências negativas quer para a economia pesqueira quer para o estado de conservação de várias espécies de cetáceos. Estas interacções normalmente tomam duas formas: a captura acidental de cetáceos e a predação efectuada pelos mesmos, levando à perda de pescado e danificação dos aparelhos de pesca. A área inicial de implementação do projecto SAFESEA foi a zona centro e norte de Portugal, entre Peniche e Caminha, cobrindo uma faixa costeira de cerca 300 km. A área marinha monitorizada estendeu-se desde a linha de costa até às 50 milhas náuticas, cobrindo a totalidade da plataforma continental e do seu talude. Nesta área é possível encontrar alguns dos principais portos de pesca de Portugal e também importantes comunidades piscatórias locais que dependem da pesca tradicional. Em 2010, o projecto SafeSea teve a oportunidade de aplicar na região Algarvia as metodologias já em uso nas regiões Norte e Centro, tendo por isso ampliado a sua área de intervenção em mais 200 km. O Projecto SAFESEA, através de um envolvimento estratégico com duas associações de pesca local, manteve entre 2008 e 2011 um programa de monitorização com o objectivo de recolher dados científicos de base, de modo a: - Avaliar as capturas acidentais de cetáceos nas artes de pescas, e - Implementar ensaios piloto de dispositivos de alerta, que visam diminuir a captura acidental de cetáceos. 9 Golfin ho-co 10 mun Assim, o Projecto SAFESEA foi o primeiro projecto estratégico direccionado para a promoção de uma maior compatibilização da actividade pesqueira com a conservação de cetáceos, visando contribuir para o desenvolvimento sustentável da pesca local. Para atingir tais objectivos, o projecto encontra-se dividido em 5 acções estruturantes e interligadas: Acção 1: Avaliação das interacções entre a actividade pesqueira e os cetáceos; Acção 2: Estimativas de abundância e distribuição das populações de cetáceos; Acção 3: Ensaio de medidas de mitigação para reduzir as interacções de cetáceos e pescas; O presente Manual, pretende ser um documento de divulgação e de apoio direccionado à comunidade de pescadores das artes polivalente, cerco e de xávega. Este documento pretende apoiar a continuação das acções já iniciadas pelo SafeSea e mostrar que a promoção de acções de conservação só é possível com o envolvimento directo das comunidades de pescadores. Este manual pretende também contribuir para a implementação de boas práticas e servir como um guia de aconselhamento sobre como tornar a pesca uma prática mais sustentável. nã na -a Baleia idade proxim nte olivale esca p o de p de barc Acção 4: Divulgação do projecto ao público e comunidade científica; Acção 5: Educação ambiental direccionada para a promoção do uso sustentável dos recursos e uso de medidas mitigadoras de capturas acidentais. 11 Capítulo 2 Espécies de Cetáceos em Portugal Continental Actualmente estão descritas cerca de 90 espécies de cetáceos a nível mundial, das quais 25 ocorrem no Atlântico Nordeste (Reid et al., 2003) e 21 ocorrem no Mediterrâneo e Mar Negro (IUCN, 2006). Na costa continental portuguesa e durante o Projecto SafeSea foi possível registar a ocorrência de 23 espécies de cetáceos, sendo 16 pertencentes à sub-ordem dos odontocetes (cetáceos com dentes) e 7 à sub-ordem dos misticetes (cetáceos com barbas). Algumas destas espécies são consideradas residentes - como os golfinhos-comum e riscado, o roaz-corvineiro, o bôto, o grampo, a baleia-anã e a baleia-piloto - enquanto outras são apenas ocasionais (ver tabela 2.1). No entanto, a informação disponível sobre as populações de cetáceos na costa continental portuguesa é escassa. Por esta razão, muitas das espécies estão incluídas na categoria de “Informação Insuficiente”, no livro vermelho dos vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005). Para algumas espécies potencialmente mais raras ou de mais difícil observação, ainda não foi possível efectuar uma avaliação do seu estatuto nas águas continentais Portuguesas. 15 Tabela 2.1. Nomes comuns e científicos de espécies encontradas em Portugal Continental durante o Projecto SafeSea, bem como o grau de ocorrência e estatuto de conservação segundo o livro vermelho dos vertebrados de Portugal (Cabral et al. 2005). 16 Nome comum Nome científico Ocorrência Estatuto (Livro Vermelhos dos Vertebrados de Portugal) Golfinho-comum Golfinho-riscado Golfinho-malhado-do-Atlântico Roaz-corvineiro Bôto Baleia-piloto Baleia-piloto-tropical Grampo Orca Falsa-orca Cachalote Cachalote-pigmeu Zífio Baleia-de-bico de Gervais Baleia-de-bico de Sowerby Botinhoso Baleia-anã Baleia-sardinheira Baleia-comum Baleia de Bryde Baleia-azul Baleia-de-bossa Baleia-basca Delphinus delphis Stenella coeruleoalba Stenella frontalis Tursiops truncatus Phocoena phocoena Globicephala melas Globicephala macrorhynchus Grampus griseus Orcinus orca Pseudorca crassidens Physeter macrocephalus Kogia breviceps Ziphius cavirostris Mesoplodon europaeus Mesoplodon bidens Hyperoodon ampullatus Balaenoptera acutorostrata Balaenoptera borealis Balaenoptera physalus Balaenoptera edeni Balaenoptera musculus Megaptera novaeangliae Eubalaena glacialis Residente ? ? Residente Residente ? ? Residente ? Ocasional Ocasional ? ? ? ? ? Residente Ocasional Ocasional ? Ocasional Ocasional Ocasional Pouco preocupante Pouco preocupante Não avaliado Pouco preocupante Vulnerável Informação Insuficiente Informação Insuficiente Informação Insuficiente Informação Insuficiente Não avaliado Não avaliado Informação Insuficiente Informação Insuficiente Não avaliado Não avaliado Não avaliado Vulnerável Não avaliado Não avaliado Não avaliado Não avaliado Não avaliado Não avaliado A principal fonte de informação disponível sobre a ocorrência de mamíferos marinhos é representada pelos arrojamentos (situações em que um ou mais cetáceos dão à costa). Apesar de estes arrojamentos permitirem a recolha de dados relativos à biologia destes animais (através da recolha e análise de amostras), estas situações não fornecem informações detalhadas sobre a origem dos animais arrojados. Para conhecer o estado das populações em termos ecológicos é muito importante a obtenção de informação relativa à ocorrência e distribuição das espécies através de uma constante monitorização. Esta informação permite inferir sobre os movimentos destas populações (residentes ou migratórias) e detectar áreas de alimentação ou reprodução. Simultaneamente, permite perceber de que modo estas espécies poderão estar a ser influenciadas pelo Homem, já que se poderá saber se ocorrem por exemplo em zonas especialmente poluídas ou se ocupam áreas específicas em que ocorra uma maior competição pelos mesmos recursos (dieta vs. pesca). Toda esta informação poderá orientar uma futura implementação de estratégias de gestão e conservação. Tornam-se assim essenciais a actualização e a monitorização contínua da ocorrência das várias espécies de cetáceos na costa portuguesa. Deste modo, é possível conhecer as várias populações, detectar e prevenir possíveis problemáticas associadas à influência do homem, e entender as variáveis que conduzem à presença/ausência das diferentes espécies em águas portuguesas, nomeadamente aquelas que normalmente prefeririam outros habitats mas que já foram observadas em águas de Portugal Continental. 17 Golfin hos-co 18 muns junto a embarc ação d e pesc a Golfinho-comum Delphinus delphis O golfinho-comum é a espécie de cetáceo mais abundante na nossa costa. São animais esguios e com um bico proeminente, que possuem uma coloração escura no dorso e branca no ventre. No entanto, é lateralmente e abaixo da barbatana dorsal que se distinguem um V e um padrão cromático, típicos desta espécie. Na parte anterior deste V observa-se uma mancha amarelada enquanto que na parte posterior até à cauda distingue-se outra mancha de um cinzento mais claro. Uma faixa escura liga a mandíbula inferior à barbatana peitoral. Quando adultos, os machos são ligeiramente maiores do que as fêmeas podendo medir entre os 1,7 e os 2,6 m e pesar entre os 70 e 135 kg. Não existe um dimorfismo sexual evidente, sendo que a identificação do sexo é possível através da observação da zona genital onde as fêmeas exibem 3 fendas paralelas (glândulas mamárias e a fenda genital) anteriormente ao ânus e os machos exibem apenas 2 fendas longitudinais (fenda genital e o ânus). As barbatanas peitorais são longas e pontiagudas enquanto que a barbatana dorsal é alta e ligeiramente falciforme. Actualmente estão descritas duas formas distintas de acordo com o tamanho do bico: os golfinhos-comuns de bico curto (Delphinus delphis) e de bico comprido (Delphinus capensis) (Rosel et al., 1994). Estes cetáceos apresentam um comportamento bastante gregário. É possível encontrar grupos de centenas de animais, bem como grupos mais pequenos de 30 ou ainda menos indivíduos. Os grupos são constituídos por animais de diferentes idades, embora possa existir alguma segregação sexual. Está descrito que estes animais possuem fortes vínculos sociais e pensa-se que poderão comunicar através de vocalizações que incluem vários estalidos e assobios. Observam-se com relativa facilidade na nossa costa e aproximam-se frequentemente à proa de embarcações. Os golfinhos-comuns são animais bastante ágeis e rápidos, sendo capazes de grandes saltos. Associações com outras espécies de cetáceos não são invulgares (Je- fferson et al. 1993), nomeadamente com roaz-corvineiro e o golfinho-riscado. Na costa Portuguesa, a presa preferencial do golfinho comum é a sardinha. No entanto estes cetáceos podem alimentar-se de outros peixes como cavalas e fanecas e também cefalópodes. O golfinho-comum tende a caçar em grupo e adapta a sua actividade ao movimento das suas presas (Silva, 1999). Quando as encontram, é habitual empurrar os cardumes para a superfície onde estes são mais vulneráveis (Gallo, 1991). Aparentemente, os grupos de golfinho-comum podem percorrer grandes distâncias em busca de alimento, geralmente durante a noite até às primeiras horas da manhã. Durante o dia restabelecem energias e relacionam-se com os elementos do grupo. Em latitudes mais elevadas, a actividade reprodutora do golfinho-comum é sazonal embora em águas tropicais possa prolongar-se durante todo o ano. Na Península Ibérica, a actividade reprodutora ocorre geralmente em 19 Golfinh o-comu 20 Ilustração Tokio m Maio e Junho e as fêmeas tendem a permanecer em latitudes mais baixas ou mais longe da costa na época de reprodução e lactação (Reeves et al., 2003). Ainda pouco se sabe sobre a maturidade sexual nesta espécie, sendo que estudos mais recentes sugerem que pode ocorrer entre os 3 e os 7 anos de idade. O período de gestação pode ser de 10 a 11 meses e o período de lactação pode atingir os 16,5 meses. Actualmente, e apesar de, na maior parte dos países já ser proíbida por lei, a captura directa de golfinhos-comuns para fins alimentares ainda ocorre. Para o golfinho-comum, as principais ameaças são as capturas acidentais em diversos tipos de artes de pesca. Os núcleos populacionais mais costeiros estão também mais vulneráveis a outros tipos de pressões antropogénicas como poluição, tráfego marítimo e perda de habitat decorrente da implementação de estruturas de produção de energia. O golfinho-comum é uma espécie amplamente distribuída nas regiões temperadas, tropicais e subtropicais do mundo inteiro, onde a temperatura superficial da água varia entre os 10º e os 28º, limitando a sua distribuição à faixa situada entre os 40° Sul e 50º Norte. No entanto, alguns indivíduos poderão viajar para fora desta área quando encontram correntes quentes. Esta espécie pode ocorrer em águas costeiras e águas oceânicas, sendo mais frequente nas zonas da plataforma continental (Carwardine, 1995). Pode ser igualmente encontrada em corpos de água fechados como o Mar Vermelho ou o Mar Mediterrâneo. Algumas populações são estáveis ao longo do ano enquanto outras parecem migrar seguindo um padrão sazonal. As variações na aparência de certas populações sugerem pouca interacção entre diferentes grupos. Em Portugal Continental, esta espécie encontra-se amplamente distribuída sendo frequente tanto nas zonas próximas da costa, como nas zonas mais oceânicas. Na região centro/norte de Portugal, a avaliação da dis- tribuição e abundâncias de golfinho-comum permitiu verificar que esta espécie é comum em toda a área de estudo monitorizada (Mapa 1). A análise integrada de todos os dados recolhidos permitiu verificar que esta espécie ocorre em toda a zona de estudo, apresentando dois núcleos de maior concentração de detecções. O núcleo mais a sul caracteriza-se por ocorrer numa zona entre Aveiro e S. Pedro de Moel, desde as 1,5 milhas náuticas e as 25 milhas. Este núcleo ocorre em águas menos profundas parecendo haver uma preferência por batimétricas próximas dos 100 metros. A segunda zona de maior concentração de animais desta espécie surge no norte da área de estudo, junto à fronteira da Galiza. Este núcleo apresenta uma distribuição com uma influência mais oceânica e menos costeira, ocorrendo a norte da Póvoa de Varzim, numa zona mais próxima do limite da plataforma, entre as batimétricas dos 100 e 200 metros. 21 Mapa 1. Distribuição das observações totais de golfinho-comum, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal. Contudo, com base numa análise mais pontual resultante, dos censos aéreos efectuados na Primavera-Verão de 2010, é possível verificar que existe uma maior fragmentação da distribuição de golfinho-comum que resulta em 4 zonas de maior concentração das observações (Mapa 2). Duas destas zonas coincidem com as zonas já anteriormente referidas. A terceira zona de maior concentração ocorre sensivelmente em frente ao Furadouro, enquanto que a quarta zona de forte ocorrência de golfinhos-comuns ocorre a sudoeste das Berlengas. Ambas as zonas são mais oceânicas do que costeiras, estando próximas da batimétrica dos 200 metros. Esta avaliação permitiu também verificar que a zona costeira desde Mira até sensivelmente Viana do Castelo, correspondeu a uma extensa área com fraca ocorrência de golfinhos-comuns durante a Primavera-Verão de 2010. 22 -10° Mapa 2. Distribuição das observações de golfinho-comum, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos no centro e norte de Portugal. Com base nos censos de avião efectuados durante o SafeSea (Mapa 3), foi possível estimar a abundância de golfinho-comum na área de estudo. Os valores obtidos variaram entre 0,0135 e 0,0389 avistamentos por km2, com um valor médio de 0,0229 avistamentos por km2. Estes valores foram relativamente similares aos obtidos no SCANS-II (Hammond, 2006). Contudo, o número médio de indivíduos em cada avistamento foi ligeiramente inferior, tendo no presente caso sido de 11,5 indivíduos, resultando numa densidade de 0,263 animais por km2. 40° Porto Para estes valores estima-se que em Portugal Continental, entre a costa e as 50 milhas naúticas, poderão ocorrer em média ± 20 500 indivíduos de golfinho-comum. 23 -10° Mapa 3. Distribuição e número de golfinhos-comuns observados em cada um dos grupos durante censos aéreos no centro e norte de Portugal. 24 Bôto Bô to - ©U nli Phocoena phocoena Po rm en or dI da ma ca ge be s/F ça oto ste se arc O bôto possui um corpo pequeno mas robusto. Os adultos não costumam exceder 1,70 m de comprimento e os 70 Kg, sendo que as fêmeas são ligeiramente maiores que os machos. Na Peninsula Ibérica, têm sido registados animais de maiores dimensões, quando comparados com as populações do Mar do Norte, sendo que o animal de maior tamanho correspondeu a uma fêmea de 2,05 metros. A sua coloração pode ser variável mas normalmente é cinzenta escura no dorso clareando até à zona ventral que é branca. Em alguns animais pode-se notar uma mancha escura no queixo, algumas linhas escuras entre a boca e as barbatanas peitorais e por vezes umas manchas cinzentas esbatidas ao longo do corpo. Possui uma barbatana dorsal triangular situada a meio do corpo. O focinho é curto e não tem bico perceptível. Os indivíduos desta espécie costumam ser avistados sozinhos ou em pequenos grupos de 2 a 5 animais. O tamanho do grupo tende a aumentar ligeiramente no fim do Verão mas pouco se sabe sobre as suas interacções sociais. Quando emergem para respirar, na maior parte das vezes, só é possível reconhecer a sua pequena barbatana dorsal e um pouco do corpo arqueado, uma vez que não costumam sair muito fora de água nem executar grandes saltos. h.c om arr ed on da da e qu ase sem bic o. Nesta espécie está descrita a ocorrência de migrações sazonais, geralmente associadas ao movimento das suas presas ou à severidade das condições meteorológicas. A ocorrência de movimentos perpendiculares à costa para águas mais oceânicas, sugere que os bôtos podem utilizar zonas oceânicas durante parte do seu ciclo de vida. Em algumas áreas é possível que interacções negativas entre bôto e roaz-corvineiro determinem os limites de ocorrência desta espécie. O bôto alimenta-se de peixes demersais e bentónicos, mas também de espécies pelágicas principalmente espécies com comportamento agregativo em cardume. Nas costas Ibéricas parece haver uma clara preferência para espécies como: o verdinho, carapau e fa- 25 Fêmea d e Bôto c om uma 26 Ilustração Tokio cria neca (López, 2003). Também podem alimentar-se de cefalópodes e pequenos crustáceos. Nesta espécie, a maturidade sexual ocorre bastante cedo, por volta dos 3 ou 4 anos de idade. A gestação é de 10 a 11 meses e as fêmeas permanecem com os lactantes entre 8 a 12 meses. As fêmeas podem ter crias durante vários anos consecutivos e por vezes podem engravidar enquanto amamentam as crias. Esta estratégia reprodutiva é muito exigente e daí talvez possa resultar uma longevidade um pouco menor do que a de outros cetáceos. Na Península Ibérica, a maior parte dos nascimentos ocorre entre Maio e Agosto. Durante muitos anos, esta espécie foi usada não só para a produção de óleo mas também na alimentação humana, principalmente nos países nórdicos. Em Portugal, esta espécie chegou a ser alvo de pesca direccionada, prática que deixou de ser efectuada nos finais dos anos 70. Embora já tenha sido proibida em quase todo o Mundo, ainda há regiões que continuam a caçar, como por exemplo a Gronelândia. Na nossa costa, as maiores ameaças à sobrevivência desta espécie são as capturas acidentais em artes de pesca. A sua preferência por habitats mais costeiros e menos profundos, fazem com que esta espécie seja mais vulnerável à interacção com a arte Xávega e redes de emalhar mais próximas da costa. zona da Arrábida e Costa da Galé (Sequeira, 1996). Recentemente, através de dados de observações oportunistas em barcos de turismo de observação de cetáceos foi possível confirmar a ocorrência de Bôtos no Algarve, com especial incidência na zona entre Sagres e Lagos (Castro, 2010). Esta espécie é mais frequente em águas frias, temperadas e subárticas do hemisfério Norte, onde a temperatura ronda os 15°. Contudo, nos últimos anos, tem sido possível registar a ocorrência de uma população ao longo da costa atlântica de África, especialmente nas costas de Marrocos e Mauritânia (Boisseau et al. 2007). É uma espécie costeira e pode ser facilmente observada em zonas de profundidade inferior a 200 metros, estuários e baías. Também está descrita a existência de populações de bôtos, ainda que residuais, no Mar Báltico e no Mar Negro. No Mar Mediterrâneo esta espécie está dada como extinta. Em Portugal, distribui-se ao longo de toda a orla costeira, embora seja mais frequente na zona Norte, nomeadamente na zona entre Aveiro e Figueira da Foz e na A área de estudo do projecto SafeSea é uma das zonas onde a plataforma continental é mais extensa, pelo que estamos perante uma das áreas potencialmente mais favoráveis para a ocorrência de bôtos. A recolha de dados efectuada ao longo do projecto permitiu detectar um importante núcleo de ocorrência entre o norte de Mira e a Nazaré, com uma clara preferência pelas zonas mais costeiras (Mapa 4). No entanto, em frente à Figueira da Foz e a Aveiro, foi possível registar algumas observações em zonas mais oceânicas, na proximidade do talude e inclusivamente na proximidade da batimétrica dos 1000 metros. 27 Mapa 4. Distribuição das observações totais de Bôto, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal. 28 Golfinho-riscado Stenella coeruleoalba O golfinho-riscado é muito semelhante ao golfinho-comum tanto em forma como em tamanho. A sua coloração é escura no dorso e bastante clara no ventre, que pode variar desde branco a rosa claro. As suas riscas laterais são características e conferem o nome à espécie: a maior risca escura vai desde o olho até à região anal, possui uma outra mais pequena que começa no olho e termina na base da barbatana peitoral e por vezes pode ser vista uma terceira risca que se prolonga até um pouco depois do olho. A área acima das riscas laterais é de um cinzento claro que se estende do bico até à barbatana dorsal, curvando para cima. A barbatana dorsal é proeminente e falciforme e as barbatanas peitorais são curtas e pontiagudas. O bico é escuro na parte superior e na ponta, podendo ser um pouco mais claro na parte inferior. Os adultos medem cerca de 2,5 m podendo pesar 150 kg. Os machos e fêmeas são muito semelhantes, diferindo apenas no tamanho (as fêmeas são ligeiramente mais pequenas) e na zona genital, tal como os golfinhos-comuns. Esta espécie possui um comportamento gregário, podendo formar grupos numerosos e fortemente coesos, variando entre 30 a 500 animais. É frequente os animais segregarem-se de acordo com o sexo ou a maturidade sexual: grupos de juvenis, adultos ou sub-adultos ainda sem capacidade reprodutora (Archer and Perrin, 1999). Estes cetáceos são extremamente activos, podendo atingir grandes velocidades (até 28 nós) e realizar um grande número de acrobacias enquanto saltam. Esta característica, em conjunto com o seu padrão de riscas laterais, torna-os facilmente reconhecíveis no mar. Há registos de avistamentos desta espécie associada ao golfinho-comum, ainda que, ao contrário deste último, não costumem interagir com as embarcações (Cawardine, 1995). Devido à sua ampla distribuição, esta espécie apresenta uma dieta muito diversificada que inclui uma grande diversidade de peixes, crustáceos e cefalópodes, que pode variar de acordo com a área geográfica. Os golfinhos-riscados caçam em grupo e quando estão à procura de alimento, são capazes de mergulhar a profundidades que vão de 200 a 700 metros, tipicamente durante 5 a 10 minutos. Apesar desta capacidade de mergulho, a maior parte das capturas ocorre no início da noite, quando as presas se encontram mais próximas da superfície. A maturidade sexual varia bastante entre os dois sexos: nos machos dá-se entre os 7 e os 15 anos, enquanto as fêmeas maturam um pouco mais cedo, entre os 5 e os 13 anos de idade. Estão descritas diferentes épocas de acasalamento consoante a zona geográfica onde se encontram: no Outono na zona do Mediterrâneo e no fim do Verão/Outono no Atlântico (Archer and Perrin, 1999). Nesta espécie, o intervalo entre o nascimento de duas crias é usualmente de 4 anos sendo que o período de repouso entre a lactação e o próximo acasalamento é de 2 a 6 meses e o período de gestação é de 12 a 13 meses (Calzada et al., 1996). 29 Golfinh o-riscad 30 Ilustração Tokio o As populações do golfinho-riscado têm vindo a registar um decréscimo em algumas zonas do mundo, especialmente no Japão onde esta espécie é alvo de captura. Aparentemente, os caçadores tiram proveito da forte coesão dos seus grupos para direccioná-los para águas menos profundas onde são mais facilmente aprisionados (Reeves et al., 2003). No ocidente, os principais problemas são a degradação de habitat, a poluição e a ocorrência de capturas acidentais em artes de pesca. O golfinho-riscado é uma espécie cosmopolita de hábitos oceânicos, com uma preferência por zonas de grande profundidade. Ocorre em mares quentes e temperados do mundo inteiro. Ocasionalmente, em áreas como a costa do Mediterrâneo e especialmente no Verão, podem aparecer bastante próximo de costa, muito provavelmente devido ao movimento das suas presas. A área de estudo do projecto SafeSea é dominada por uma extensa plataforma continental com profundidades inferiores a 200 metros, o que corresponde a zonas não preferenciais para o golfinho-riscado. Assim, devido à sua especialização oceânica, as poucas observações desta espécie ocorreram na proximidade do talude da plataforma continental ou então já em zonas próximas dos 1000 metros de profundidade (Mapa 5). A maior concentração de observações ocorreu a norte da Figueira da Foz, com um núcleo de maior actividade na zonas próximas do talude continental em frente a Aveiro. 31 Mapa 5. Distribuição das observações totais de golfinho-riscado, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal. -10° 32 40° 40° Porto -10° Roaz-corvineiro Tursiops truncatus O roaz-corvineiro possui uma cabeça robusta, com um bico relativamente curto. Esta espécie apresenta uma coloração predominantemente cinzenta. Apesar de o dorso ser ligeiramente mais escuro não é visível uma delimitação evidente em nenhuma zona, sendo que normalmente o cinzento mais escuro estende-se desde o bico até à ponta posterior da barbatana dorsal, sendo cada vez mais claro desde os flancos até à zona ventral, não sendo visível qualquer tipo de marca nos flancos. A barbatana dorsal, situada no centro do corpo, é falciforme e relativamente alta, enquanto as barbatanas peitorais são largas. Os adultos apresentam um corpo robusto que pode alcançar 2,5 a 3,8 metros, ocorrendo dimorfismo sexual relativamente ao tamanho e ao peso (machos podem atingir 500 kg enquanto que as fêmeas apenas cerca de 260 Kg). São conhecidas duas variantes morfológicas desta espécie, associadas a habitats distintos: uma variante oceânica, com animais maiores, mais escuros e com barbatanas peitorais mais pequenas e uma variante costeira, com animais de menores dimensões. Esta espécie apresenta um comportamento gregário. O tamanho dos grupos e o tipo de associações, varia ao longo do tempo consoante o habitat, o tipo de actividade em que os animais estão envolvidos, a idade, estado reprodutivo e as ligações familiares dos indivíduos. Como exemplo, verifica-se que a variante costeira tende a formar grupos mais pequenos (2-15 indivíduos), enquanto a variante oceânica pode formar grupos de centenas de indivíduos. De igual modo, verifica-se que fêmeas com crias parecem ocorrer em grupos maiores do que os dos machos. Esta espécie apresenta associações complexas e diversas, sendo a maioria delas bastante estáveis. Podem formar grupos de fêmeas aparentadas, aos quais se juntam ocasionalmente machos adultos, grupos de machos sub-adultos ou adultos aparentados entre si, e grupos de fêmeas adultas com crias. Pode também associar-se a tartarugas marinhas ou cetáceos, como baleia piloto, golfinho comum ou grampo e por vezes baleias. É possível a ocorrência de animais solitários, normalmente machos, que se aproximam de barcos ou banhistas. Esta espécie pode ser agressiva tanto com co-específicos como com outras espécies, como por exemplo o bôto. O roaz-corvineiro é um nadador activo, rápido e vigoroso, podendo ser visto a dar saltos e a efectuar batimentos caudais. Esta espécie é considerada oportunista, uma vez que a dieta varia com a disponibilidade de presas. Alimenta-se de várias espécies de peixes bentónicos e invertebrados, na zona costeira, e peixes pelágicos e cefalópodes, nas zonas oceânicas. Animais solitários podem caçar sozinhos, no entanto é mais frequente caçarem em grupo. Utilizam diversas estratégias para capturar as presas, como por exemplo, golpear a presa com a barbatana caudal para a atirar para fora de água ou, em grupo, aprisionar os cardumes de presas junto à superfície da água, junto à 33 Roaz-co rvineiro 34 Ilustração Tokio costa ou em águas pouco profundas, para conseguir capturá-los mais facilmente. A maturidade sexual, nesta espécie, varia com o sexo (entre os 8 e 14 anos nos machos e os 5 e 12 anos nas fêmeas). Parece haver um pico na época de reprodução nos meses mais quentes, no entanto há registo de nascimentos durante todo o ano. O período de gestação dura cerca de um ano e as crias nascem com cerca de 0,9 a 1,3 metros e 90 Kg de peso. A amamentação dura entre 12 a 20 meses, fazendo com que o ciclo reprodutor possa durar entre 2 a 3 anos. Existem ainda alguns lugares no mundo onde ocorre a captura directa desta espécie para obtenção de comida ou para utilização da gordura como isco (Sri Lanka, Peru, Taiwan, Japão). O roaz-corvineiro é a espécie mais encontrada em cativeiro, sendo por vezes capturada com esse fim. Adicionalmente são também ameaçados por capturas acidentais em artes de pesca, especialmente as populações costeiras que estão também mais vulneráveis a outros tipos de pressões antropogénicas como poluição do meio marinho e tráfego marítimo. Esta espécie é por vezes responsável por predação de pescado em artes de pesca (principalmente em palangres e redes de emalhar) facto que gera conflitos com as comunidades de pescadores. O roaz-corvineiro é uma espécie amplamente distribuída, podendo ser encontrada em águas temperadas e tropicais dos dois hemisférios, evitando apenas as latitudes mais elevadas. Ocupa diversos tipos de habitats, tanto costeiros como oceânicos. As populações costeiras habitam desde zonas de costa exposta, a lagunas, estuários e recifes, em águas de pouca profundidade mas com elevada disponibilidade de recursos alimentares. Por sua vez, as populações oceânicas habitam águas com elevada produtividade, em profundidades superiores a 1000 metros. Em Portugal, existe uma população residente de roaz-corvineiro, no estuário do Sado, desde a década de 70. Nos finais dos anos 80, estimava-se que esta população rondava os 40 indivíduos, sendo que as estimativas mais recentes referem a ocorrência de apenas 25 indivíduos dos quais 14 são adultos já com uma idade avançada (Roazes do Estuário do Sado - http://roazesdosado.icnb.pt). Durante as campanhas do SafeSea foi possível registar a ocorrência de roazes um pouco por toda a área de estudo (Mapa 6), havendo uma clara preferência por águas mais costeiras. A zona de maior ocorrência registou-se na proximidade das Berlengas e do Canhão da Nazaré. Associada a este núcleo aparece uma outra zona com algumas observações na proximidade da Figueira da Foz. Mais para norte, aparecem 3 pequenos núcleos de ocorrência de roazes na proximidade do Porto e em águas mais oceânicas em frente a Viana do Castelo. Estas observações poderão estar associadas a movimentações dos indivíduos que ocorrem de forma mais constante na zona das Rias Baixas na Galiza. 35 -10° Mapa 6. Distribuição das observações totais de roaz-corvineiro, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal. 36 40° 40° Porto -10° Baleia-piloto Globicephala melas Esta espécie possui uma cabeça proeminente e bulbosa, com um bico muito curto, quase imperceptível. Apresenta coloração cinzento-escura, com uma zona ligeiramente mais clara atrás da barbatana dorsal, bem como uma marca acinzentada em forma de âncora na zona ventral. A barbatana dorsal, situada na dianteira do corpo, tem uma base larga e inclinada para trás. As barbatanas peitorais são grandes, estreitas e pontiagudas. A baleia-piloto é o maior delfinídeo, apresentando dimorfismo sexual principalmente em relação ao tamanho (cerca de 6 m nos machos e 5 m nas fêmeas), ao peso (2 t nos machos e cerca de 1,3 t nas fêmeas) e à forma da barbatana dorsal (côncava nos machos e mais triangular nas fêmeas, mais similar à dos golfinhos). Esta espécie apresenta um comportamento gregário, sendo possível encontrar-se grupos constituídos por centenas de animais, apesar de normalmente serem vistos grupos menores (10-20 animais). Ainda que a estrutura social desta espécie seja complexa e pouco co- nhecida, crê-se que os grupos são compostos por animais aparentados entre si, de todos os sexos e idades, com fortes laços matriarcais, sendo frequente a formação de grupos de fêmeas adultas com crias. Podem ser vistos associados a outras espécies de cetáceos, como o roaz-corvineiro ou grandes baleias. O comportamento desta espécie à superfície é muito variável, podendo encontrar-se frequentemente grupos de indivíduos com uma natação lenta ou a descansar à superfície da água, bem como a emergir a cabeça fora de água ou a fazer batimentos caudais. Em termos reprodutivos, a maturidade sexual varia com o género (13 anos nos machos e 8 anos nas fêmeas). No Atlântico norte, a época de reprodução ocorre entre Abril e Setembro, seguida de um período de gestação de cerca de 15 meses. As crias nascem com cerca de 1,5-2 m e 70-80 Kg de peso. A amamentação ocorre durante cerca de 23 a 27 meses e como as fêmeas tendem a não sobrepor a amamentação com a gravidez, o ciclo reprodutor pode alcançar entre 3 a 5 anos. Esta espécie apresenta uma dieta diversificada e variável consoante a localização geográfica. Apesar de maioritariamente composta por cefalópodes, especialmente lulas, consome também espécies gregárias de peixe, quando disponíveis. Alimentam-se principalmente à noite. 37 Baleia-p iloto 38 Ilustração Tokio A baleia-piloto é das poucas espécies de cetáceos que são ainda exploradas comercialmente. A captura legal desta espécie ocorre ainda nas Ilhas Faroé. A captura legal desta espécie ocorre nas Ilhas Faroé, com uma remoção média anual de 850 indivíduos. No entanto, no Noroeste Atlântico, mais precisamente em Newfoundland, a pesca desta espécie foi proibida nos anos 70, por se considerar que contribuiu fortemente para a redução do número de baleias-piloto nesta área. Para além da captura legal desta espécie, também ocorre captura acidental de indivíduos em artes de pesca como arrastões, palangre e redes de emalhar, o que juntamente com a poluição por organoclorados e metais pesados, constituem factores de ameaça para esta espécie. Esta espécie apresenta uma ampla distribuição por águas subpolares e temperadas do Atlântico Norte e do Hemisfério Sul. As populações dos dois hemisférios estão separadas geograficamente, constituindo grupos distintos que, por vezes, são identificados como subespécies (G. melas edwardii no hemisfério Sul e G. melas melas no hemisfério Norte). É uma espécie predominantemente oceânica, ainda que possa aproximar-se de zonas costeiras, principalmente devido ao movimento de presas no Verão e Outono. Os resultados obtidos durante as campanhas do SafeSea colocam em evidência a preferência desta espécie por zonas mais oceânicas, tendo sido possível registar uma zona de maior ocorrência no norte de Portugal, junto à fronteira com a Galiza (mapa 7). Aparentemente este núcleo dispersa-se ao longo do talude oceânico até à zona da Figueira da Foz. Algumas das observações efectuadas ocorreram relativamente próximo da costa com a detecção de animais em zonas com profundidades entre os 50 e os 100 metros. 39 -10° Mapa 7. Distribuição das observações totais de baleia-piloto, mediante a representação de Kernels, obtidas durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal. 40 40° 40° Porto -10° Baleia-anã Balaenoptera acutorostrata A baleia-anã apresenta um corpo alongado com cabeça pontiaguda, onde é possível observar apenas uma crista rostral desde o espiráculo até a boca. Possui uma coloração cinzento-escura na zona dorsal e branca na zona ventral e parte dos flancos, com uma característica marca branca nas barbatanas peitorais. Exibe um conjunto de pregas na zona ventral (característica dos rorquais), que expandem durante a ingestão do alimento, que será posteriormente filtrado pelas barbas pequenas e brancas ou amareladas. A barbatana dorsal é alta, pontiaguda e curva quando comparada com a dos restantes rorquais e encontra-se a cerca de um terço da barbatana caudal. O sopro desta espécie é baixo e quase imperceptível. Quando emerge, é possível observar o espiráculo e a barbatana dorsal ao mesmo tempo. As baleias-anãs são normalmente animais solitários, embora seja possível observar grupos de 2 ou 3 indivíduos. No entanto, durante a alimentação podem agregar-se em grupos maiores (10-15 animais) e ainda ser vistos associados a outras espécies de cetáceos como roazes e, por vezes baleias-corcundas. A baleia-anã representa o mais pequeno e mais comum dos rorquais, com um adulto a atingir aproximadamente 10 m de comprimento e 8 t de peso. A baleia-anã pode utilizar diversos métodos de captura de presas, como nadar para a superfície com a boca expansível aberta para capturar os cardumes de peixe à superfície da água, ou fazer investidas a cardumes. Esta es- O comportamento desta espécie à superfície pode variar de uma natação rápida por curtos períodos de tempo (13 a 16 nós), a uma natação normalmente mais lenta (2 a 4 nós). Podem ser vistas a dar saltos (entre 1 e 3) e são curiosas ao ponto de se aproximarem de barcos. Ao contrário de outros rorquais que se alimentam quase exclusivamente de Krill, esta espécie é mais generalista, podendo consumir arenque, sardinha, cavala, não rejeitando de igual modo o Krill. pécie ingere as presas juntamente com água e filtra o alimento através das barbas. Os locais preferidos para alimentação, no Verão, incluem zonas de afloreamento em torno de pequenas ilhas e promontórios, onde normalmente ocorre um fluxo de correntes forte. Durante a alimentação, estão frequentemente associados a aves marinhas. A maturidade sexual é alcançada entre os 7 e 8 anos. A época de reprodução ocorre no Inverno, seguida de um período de gestação de 10 meses. As crias nascem com cerca de 3 m e 300 Kg. A amamentação decorre apenas durante cerca de 4 a 6 meses, fazendo com que o ciclo reprodutor dure cerca de 2 anos. Esta espécie é ainda legalmente capturada na Noruega (aproximadamente 600 por ano), Gronelândia (aproximadamente 150 animais por ano) e Japão (aproximadamente 100 por ano). Apesar de se crer que a captura de indivíduos desta espécie não irá afectar as populações a médio-longo prazo, por ser abundante e por existirem quotas anuais para 41 Baleia-a nã 42 Ilustração Tokio a sua captura, esta actividade era já responsável pela diminuição em cerca de 45-70% da abundância desta espécie antes de ser autorizada a sua captura legalmente. A competição entre as baleias-anãs e os pescadores pelos mesmos recursos naturais (dieta vs. interesse comercial), bem como a sobre-exploração das presas desta espécie poderão ter um impacto negativo, já que esta espécie é fortemente afectada por capturas acidentais em artes de pesca, podendo ocorrer interacções com redes de emalhar ou de arrasto. A baleia-anã apresenta ampla distribuição em ambos os hemisférios, desde as regiões polares até às regiões subtropicais, sem atingir os trópicos. Acredita-se que a nível mundial existam três populações isoladas: a do Pacífico, a do Atlântico Norte e a do Hemisfério Sul (Evans, 1987). Ainda pouco é conhecido em termos de migrações, no entanto, esta espécie parece efectuar migrações sazonais, dirigidas a Norte no Inverno, para alimentação em águas mais frias, e a Sul no Verão para se reproduzirem em águas mais quen- tes. No entanto, também é possível observar a ocorrência em alguns locais de populações residentes. A baleia-anã percorre uma grande diversidade de habitats, desde zonas oceânicas a áreas costeiras. Pode ser observada na zona de plataforma continental, com profundidades iguais ou inferiores a 200 m, uma vez que pode aproximar-se de terra e entrar em estuários ou baías. Na região centro/norte de Portugal, as observações de baleia-anã ocorreram um pouco por toda a área de estudo, sendo que na maior parte das observações foram registados 1 ou 2 indivíduos. Estas observações ocorreram maioritariamente na proximidade do talude, mas algumas observações ocorreram relativamente próximo de costa (± 20 milhas náuticas) e em profundidades inferiores a 100 metros (Mapa 8). A zona de maior concentração de observações ocorreu entre o Porto e a Figueira da Foz. 43 -10° Mapa 8. Distribuição das observações totais de baleia-anã, mediante a representação de Kernels, obtidos durante censos aéreos, costeiros e em plataformas de oportunidade no centro e norte de Portugal. 44 40° 40° Porto -10° Tabela resumo de hot-spots para as diferentes espécies no norte e centro de Portugal Espécie Nome comum Hot-Spots de ocorrência Delphinus delphis Golfinho-comum Zona Costeira entre Aveiro e S. Pedro de Moel (Mapa 1) Zona Oceânica a norte da Póvoa do Varzim (Mapa 1) Phocoena phocoena Bôto Mira a Nazaré (Mapa 4) Stenella coeruleoalba Golfinho-riscado Zona oceânica a nordeste de Aveiro (Mapa 5) Tursiops truncatus Roaz-corvineiro Norte de Peniche (Mapa 6) Globicephala melas Baleia-piloto Zona oceânica a nordeste da Póvoa do Varzim (Mapa 7) Zona oceânica entre Porto e Figueira da Foz (Mapa 7) Balaenoptera acutorostrata Baleia-anã Zona oceânica entre Porto e Figueira da Foz (Mapa 8) 45 46 Capítulo 3 47 A div ersid ade d 48 a frot a de pesca Portu g uesa é um a das suas mais valias . As pescas em Portugal Continental Portugal é um país onde a pesca é uma actividade de grande tradição e importância cultural. Esta importância está relacionada com o facto de Portugal possuir uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) de cerca de 1 656 000 km2, uma extensa zona costeira e uma plataforma continental de elevada produtividade. Desde a entrada na União Europeia, em 1986, a politica de gestão do sector das pescas está em conformidade com a política comunitária, que visa a implementação progressiva de uma abordagem à gestão das pescas na perspectiva do ecossistema, de forma a viabilizar a actividade pesqueira do ponto de vista económico e minimizar os impactes da pesca nos ecossistemas marinhos (PO Pesca 2007/2013). Para tal, foram estabelecidas quotas para algumas espécies, foram criadas áreas de interdição à pesca, existe restrição das artes de pesca, foi definido um tamanho mínimo de captura para as espécies exploradas, existe uma padronização do tamanho da malhagem da rede e uma definição da percentagem máxima de capturas acidentais. Houve também um decréscimo significativo da frota, embora a potência por embarcação tenha aumentado, o número de pescadores e desembarques diminuiu, e de uma maneira geral o sector perdeu alguma importância a nível económico, representando actualmente um peso relativamente baixo na economia nacional (Baeta & Cabral, 2005). ão de aç Embarc pescal local A frota de pesca portuguesa apresenta uma grande diversidade nas suas características de zona para zona e em relação à actividade e tecnologias de pesca utilizadas (Baeta & Cabral, 2005). De acordo com o tamanho das embarcações (comprimento ou tonelagem), potência do motor e área em que as embarcações operam, a frota de pesca portuguesa pode ser classificada em três categorias: local, costeira e de largo (Tabela 3.1). Tabela 3.1. Requerimentos legais para a classificação da frota como local, costeira e de largo. Área de pesca Tamanho (comprimento ou GT) Potência do motor Cabinados 1-30 milhas < 9m < 100HP Não-Cabinados ¼ - 6 milhas < 9m < 60HP Fora das 6 milhas se GT>100 > 9m e mais de 180GT > 35HP Fora das 12 milhas > 100GT Frota Local Costeira Largo Fora da 1 milha 49 Emba rcaçõ e 50 s de c erco As embarcações de pesca local caracterizam-se por uma grande heterogeneidade e baixo grau de autonomia. São embarcações que operam normalmente em águas interiores ou na orla marítima perto da costa, com artes de pesca diversas, existindo em número elevado. Esta frota é de extrema importância para o sector devido ao seu peso sócio-económico nas comunidades piscatórias, dela dependendo um grande número de postos de trabalho. zonas mais afastadas da costa, podendo mesmo actuar fora da ZEE nacional. A frota de pesca costeira apresenta uma maior autonomia, maior tonelagem e potência e melhores meios de conservação do pescado a bordo que as embarcações da frota local, pelo que têm condições para operar em Por definição, considera-se que o sector da pesca artesanal engloba todas as embarcações com menos de 12 metros de comprimento fora-a-fora, quaisquer que sejam as suas artes. No entanto, as embarcações acima A frota de pesca de largo é formada por navios de maiores dimensões, com condições de autonomia e meios de transformação e conservação do pescado a bordo, o que lhes permite actuar em zonas distantes como por exemplo, o Atlântico Norte, o Atlântico Central e o Atlântico Sul. arc Emb te alen oliv op açã de 12 metros tais como as da pescaria de cerco, pela sua componente operacional, podem ser incluídas no sector artesanal. As principais espécies capturadas ao longo da costa portuguesa são, no sistema pelágico a sardinha, a cavala, o biqueirão, o carapau, o carapau-negrão e o verdinho. Os peixes mais importantes da comunidade demersal são a pescada, o tamboril, o linguado e outros peixes chatos. Existem também muitas espécies de elasmobrânquios na região, incluindo raias e tintureiras, sendo que também os cefalópodes, tais como o polvo e o choco, apresentam alguma importância em termos de descargas. 51 Embarc ação d 52 e Xáve ga Características sócio-económicas da pesca artesanal O sector das pescas apresenta um peso relativamente baixo na economia nacional. A população relacionada com a pesca representa cerca de 0,3% da população activa com mais de 12 anos de idade e cerca de 6,9% da população empregada no sector primário (INE, 2010). No entanto, se analisarmos o impacto do sector das pescas a nível local ou regional, verifica-se que este sector tem um forte impacto social na medida que a pesca funciona como um factor de fixação das populações, existindo muitas comunidades ao longo da costa que têm a pesca como a sua actividade principal (PO Pesca 2007-2013). Os profissionais da pesca distribuem-se maioritariamente entre os grupos etários dos “35 a 44 anos” e dos “45 a 54 anos”, correspondendo no seu conjunto a cerca de 60% do total. A maioria dos pescadores matriculados encontram-se registados na região Norte (27%), na região Centro (21%) e no Algarve (19%). Quanto ao nível de ensino da população da pesca, este é na sua generalidade baixo. Cerca de 75% da população possui habilitações abaixo do 3.º ciclo do ensino básico, sendo que destes, 55% apenas tem o 1.º ciclo do ensino básico (INE, 2010). A maioria dos profissionais do sector das pescas é trabalhador por conta de outrem (73% do total) e cerca de 27% são patrões ou trabalhadores por conta própria. Ao longo das últimas décadas tem-se observado um aumento do número de patrões ou trabalhadores por conta própria, enquanto que o número de trabalhadores por conta de outrem tem vindo reparar as sap Pescadore a diminuir (INE, 2010). Na realidade, tal acontece porque normalmente o patrão/dono da embarcação é também o mestre e faz parte da tripulação. Para além disso, a maioria das embarcações de pesca artesanal é composta por uma ou duas pessoas. O número de tripulantes aumenta com a complexidade das artes que se utilizam, pelo que embarcações de cerco ou arrasto têm mais tripulantes que a frota polivente. rco redes de ce 53 l. ia rc A pesca p menor im olivalente usa div pacte so bre os c ersas artes em etáceos, si como p multâneo, algu or exem plo as a mas com rmadilh as. 54 r e po om es r c r do alo ca v es ado p v os le en de e m ve ies ol éc nv esp e e a nt r le ptu il va ca o e a p ão sc caç e r p A ba em Um outro factor de extrema importância sócio-económica é o elevado preço que o pescado proveniente da pesca artesanal pode atingir na primeira venda (venda em lota que reverte directamente para o pescador/ mestre). Este elevado preço de primeira venda advém do facto de as espécies capturadas serem espécies valiosas, como é o caso do linguado, do robalo, dos sargos, das lulas, entre outros. Além disso, estas espécies quando são descarregadas em lota apresentam condições de frescura bastante superiores às do pescado proveniente de outros segmentos, pois na pesca artesanal as viagens têm normalmente uma duração inferior a 24 horas, não sendo por isso necessário recorrer a refrigeração ou congelação. De facto, a frota artesanal opera na proximidade da costa, permitindo que alguns peixes ainda cheguem vivos à lota (Sousa, 2008). Características técnicas das embarcações de pesca As embarcações são normalmente classificadas de acordo com as artes de pesca que utilizam, tais como o arrasto, o cerco e o polivalente. As embarcações polivalentes estão equipadas para usar mais do que uma arte de pesca sem modificar a sua estrutura base, podendo vir a utilizar artes de redes de emalhar ou tresmalho, palangre ou armadilhas. Analisando a frota registada em 2010, observa-se uma prevalência de embarcações polivalentes que possuem um comprimento fora-a-fora inferior a 12 metros. Entre 2008 e 2010, registou-se um ligeiro decréscimo no número total de embarcações. Este decréscimo foi mais acentuado ao nível dos arrastões, onde se observou um decréscimo de 19,79%. Em 2009, os desembarques totais da frota de Portugal Continental corresponderam a 148.994 toneladas, dos quais 49 % foram descarregados pelo cerco, 10 % pelo arrasto e 41 % pela frota polivalente. Tabela 3.2. Frota Portuguesa entre os anos 2008 e 2010. 2008 Artes Tipo de pescado Polivalente Demersais N.º 2009 GT (e) Pot (Kw) N.º 7.086 28.795 187.050 2010 GT (e) Pot (Kw) N.º GT (e) Pot (kw) Variação no n.º de embarcações 2010/2008 7.025 28.625 187.830 6.945 28.164 185.609 - 2,03 % Arrasto Demersais (+ carapau) 96 17.845 47.527 83 15.385 39.771 77 14.355 36.674 - 24,67 % Cerco Pequenos pelágicos 6.198 124 6.130 29.521 121 6.014 - 3,30 % 257.121 7.143 48.533 251.280 Total 125 30.258 7.307 52.838 264.835 7.232 50.140 28.997 Tabela 3.3. Esforço de pesca e descargas em lota da frota Portuguesa entre os anos 2008 e 2010. Dias mar/frota Descargas totais (t) Descargas por arte (t) t - toneladas 2008 2009 2010 Variação 2010/2008 % 1.455.060 1.440.600 1.423.100 - 2,25 % 158.223 136.855 148.994 - 6,19 % Arrasto 18.381 15.408 14.533 - 26,68 % Cerco 80.472 64.471 72.681 - 10,72 % Polivalente 58.474 56.520 61.516 + 4,95 % 55 Recolha da 56 rede de ce rco. Barcos de írem para cerco a sa a faina. Artes de pesca artesanal Cerco O cerco é uma pescaria particularmente usada para capturar peixes pelágicos que agregam ou formam cardumes na coluna de água. A sua operacionalidade consiste em detectar o cardume, normalmente usando aparelhos electrónicos acústicos para detecção de peixe (ex. sondas), e imediatamente circunscrever o cardume usando redes que podem ter no máximo 750 m de comprimento e mais de 100 m de altura. Normalmente, é utilizada uma pequena embarcação auxiliar (chalandra ou chata) que é usada para fixar uma das pontas da rede enquanto a embarcação principal (traineira) circunda o cardume e completa o circulo. O processo de circundar o cardume chama-se largada da rede. A rede flutua com a ajuda de bóias ou flutuadores e cai na vertical com a ajuda de chumbos e argolas no fundo. A corda (retenida) que passa pelos chumbos no fundo é imediatamente puxada fechando a rede em forma de saco, o que evita a fuga do pescado. O saco é trazido para um dos lados da traineira (bombordo) e os panos de rede são gradual- mente recolhidos. Este procedimento é designado por alagem. À medida que a alagem procede, o volume do saco vai diminuindo o que aumenta a densidade do pescado, até que se verifiquem as condições para poder transbordar o pescado para a traineira com a ajuda de chalavares (Marçalo, 2009). As principais espécies alvo do cerco em Portugal continental são os pequenos pelágicos: a sardinha, a cavala e o carapau. Também são capturam outras espécies pelágicas com algum relevo como o biqueirão e o carapau-negrão, assim como muitas espécies de sparideos, principalmente no Sul do país. Polivalente Uma das principais características da frota polivalente é o uso em simultâneo de mais que uma arte de pesca. Esta situação é mais comum no uso das artes passivas, sendo que são muitas as combinações de artes possíveis, dependendo da tradição e costumes de cada mestre. Estas associações de artes de pesca têm como principal objectivo incrementar as capturas e rentabilizar cada viagem. Deste modo, distintas artes podem ter como alvo a mesma espécie, mas a composição da captura, no que se refere às espécies acessórias, pode ser bastante diferente. A mudança de estratégia de pesca nas embarcações polivalentes é bastante frequente, sendo que o principal factor que faz com que haja alterações na arte de pesca utilizada é o lucro da exploração. Por este motivo, diariamente são utilizadas diferentes artes de pesca e, para além disso, muitas vezes estas artes de pesca também são utilizadas em simultâneo, fazendo com que numa viagem a mes- 57 Embarcação polivalente a alar redes ma embarcação possa operar com mais que uma arte. Deste modo, dada a dificuldade em determinar qual a arte de pesca utilizada por cada embarcação, esta frota é denominada por frota polivalente. De um modo geral, as principais artes de pesca utilizadas pela frota polivalente são: as redes de emalhar e tresmalho, linhas e anzóis e as armadilhas. Redes de emalhar e tresmalho 58 São redes de formato rectangular, que se mantêm em posição vertical devido às forças opostas produzidas pelos cabos de flutuação (ou de bóias) e cabos de lastros (ou de chumbos). Estas redes são normalmente usadas em conjunto, sendo cada pano designado de “peça” e o seu conjunto de “caçada” (Rebordão, 2000). Quando a “peça” é constituída por um só pano de rede, trata-se de uma rede de emalhar onde as presas ficam retidas pelos opérculos, barbatanas ou pelo próprio corpo. As principais espécies alvo deste tipo de arte são a pescada, o tamboril e a faneca. No caso de a “peça” ser de de ma re m de u Alage o lh tresma formada por três panos sobrepostos em que os exteriores, as “albitanas”, têm malhagem superior ao pano do meio, designado por “miúdo”, trata-se de uma rede de tresmalho. As principais espécies alvo deste tipo de rede são os linguados, as raias e o choco. Linhas e anzóis Este grupo de artes de pesca inclui métodos e instrumentos muito diversificados, mas que se caracterizam pela utilização de linhas e de um ou mais anzóis (Rebordão, 2000). De todos os instrumentos deste grupo, aquele que é mais utilizado pela pesca artesanal é o palangre, ou aparelho de anzóis. Este é constituído por uma linha madre de onde pendem os estralhos, na extremidade dos quais se prendem os anzóis. Estes aparelhos são iscados com sardinhas, cavala, lula e pilado ou isco artificial e arrumados em caixas, celhas ou caixotes de forma (Franca et al., 1998). As principais espécies alvo deste tipo de arte são os robalos, a faneca, o congro e o peixe espada preto. Armadilhas Conjunto de artes de pesca passivas que capturam as presas induzindo-as para o seu interior, facilitando a entrada e impedindo ou dificultando a saída (Covo), ou funcionando como abrigo (Alcatruz) (Franca et al., 1998). Os covos são armadilhas de gaiola, com diversas formas, mas todas são construídas a partir de uma estrutura rígida que serve de suporte para as redes que delimitam o compartimento onde as presas ficam retidas. Na maioria dos casos estes covos são depois iscados (Rebordão, 2000). As principais espécies alvo dos covos são o polvo, a faneca e o congro. Os alcatruzes são armadilhas que funcionam como abrigo, estando particularmente destinados à captura do polvo. O alcatruz, de um modo geral, não é iscado e é fundeado em teias constituídas por um número variável de potes, presos a intervalos regulares, por cabos finos denominados alfoques, a uma linha madre. Em cada extremidade da teia há um cabo que liga a poita, que fundeia a arte, à bóia que a sinaliza à superfície (Franca et al., 1998). 59 Emba rcação 60 e tracto r envo lvidos na arte de xáv ega Xávega A xávega pode ser definida como uma arte de pesca com rede envolvente arrastante de alar para a praia, sendo composta essencialmente por um saco na região central prolongado por duas asas nos extremos das quais estão presos os cabos de alagem (Franca et al., 1998). Consiste no cerco de uma determinada área junto à costa, a partir de uma embarcação. A rede é alada para a praia manualmente, com recurso à força de origem animal ou, mais recentemente, mecânica, com a utilização de aladores adaptados a tractores (Martins et al., 1999). Ao longo das últimas décadas registou-se uma diminuição do número de licenças, sendo que actualmente a xávega é praticada por pequenas comunidades piscatórias distribuídas ao longo da costa continental portuguesa, mas principalmente na costa noroeste. A frota da arte xávega, é composta actualmente por cerca de 30-40 embarcações, cujas descargas não são normalmente vendidas em lota, mas sim na praia, pelo que não exis- te muita informação sobre as quantidades descarregadas por esta frota. As principais espécies descarregadas por esta arte são os pequenos pelágicos como a cavala, a sardinha e o carapau. as Alagem d redes a par a tir de terr 61 62 Capítulo 4 63 um Golfinho-com 64 uma rede arrojado com de tresmalho emaranhada na cauda. Interacções entre cetáceos e artes de pesca Perspectiva global Interacções entre cetáceos e artes de pesca têm sido registadas ao longo de vários séculos. No entanto, a frequência e intensidade destas interacções têm aumentado muito devido à modernização da pesca e ao aumento da exploração dos recursos marinhos para sustentar uma população mundial em crescimento contínuo (Read et al. 2006). Nas últimas duas ou três décadas, uma maior atenção tem sido prestada à maneira como as pescas afectam as populações de cetáceos e como os cetáceos competem com várias pescarias causando danos nos aparelhos de pesca (Northridge, 1992, Read et al., 2006). Interacções entre as pescas e cetáceos acontecem em quase todas as artes de pesca com consequências negativas tanto para as pescas, através de danos económicos, como para a conservação de várias espécies de cetáceos devido à mortalidade acidental que por vezes ocorre. A captura acidental é compreendida como a captura de espécies que não são alvo da pescaria em questão (pesca acessória). Refere-se a espécies sem valor ou baixo valor comercial tais como alguns peixes, cefalópodes, crustáceos e inúmeras espécies de grupos ameaçados tais como tartarugas marinhas, aves e mamíferos marinhos. Os conflitos cetáceos-pescas têm duas componentes, uma operacional, em que por exemplo os animais ficam presos nas artes de pesca levando por vezes à morte acidental ou a danos nas artes, e outra biológica em que os cetáceos competem com a pescaria, consumindo os recursos e/ou danificando a captura (depredação). Ambas as componentes (operacional e biológica) acontecem na maioria das vezes em simultâneo o que implica que a mitigação do conflito ao nível operacional, contribui muitas vezes para a solução da segunda tipologia de conflitos (ICES 2010). A maior parte da investigação na área das interacções entre pescas e cetáceos tem-se focado na mortalidade acidental, um problema que tem levantado sérias preocupações sobre o estado de conservação das populações de inúmeras espécies. Na Europa, grande parte do trabalho em mortalidade acidental em artes de pesca refere-se ao bôto, espécie particularmente abundante no Atlântico Norte. Outra espécie de grande preocupação tem sido o golfinho-comum, que é uma espécie bastante abundante no Atlântico Sul Europeu. Para ambas as espécies, as pescarias responsáveis pelo maior registo de capturas acidentais são as redes de emalhar e tresmalho e as redes de arrasto pelágico, que não são utilizadas em águas territoriais portuguesas (Hammond et al. 2009, ICES, 2010). Em Portugal, existem referências que a arte de xávega por vezes captura efectivos de ambas as espécies, sendo preocupante a captura sistemática de pares mãe-cria de bôto. 65 Entreg a volu ntária d e um g olfinh o-com um ca pturad o num a rede de tre smalh o compromete a população a nível biológico. Internacionalmente (ASCOBANS), foi assumido que este valor não deve ultrapassar os 2% de remoção em relação à melhor estimativa de abundância de uma determinada popula- ção. Posteriormente, e de forma preventiva, recomendou-se que este valor fosse de 1,7% para o bôto. 66 As estimativas de mortalidade acidental em artes de pesca podem ser obtidas recorrendo a inquéritos, observadores a bordo de embarcações de pesca, sistemas de monitorização electrónica ou através de declarações voluntárias de pescadores. A relação entre estes valores e estimativas populacionais para cada espécie de cetáceo, em conjunto com modelos estatísticos complexos que envolvem vá- rios factores (ex. morte por captura acidental; tamanho da população; ritmo de crescimento da população na ausência de captura acidental; tamanho a que a população pode chegar na ausência de captura acidental) permitem o cálculo do valor máximo de remoção de animais de uma espécie de cetáceos por captura acidental, também chamado limite de remoção de segurança, por se achar que não Só mais recentemente e com particular incidência nos últimos 15 anos, começaram a surgir trabalhos sobre a competição pelos mesmos recursos, entre cetáceos e pescas começaram a surgir com mais frequência. Estes trabalhos demonstram que esta questão envolve uma dinâmica muito complexa, onde é necessário relacionar as flutuações anuais dos stocks das presas e as flutuações na abundância das várias espécies de cetáceos (predadores). Nesta relação dinâmica, é obrigatório entrar em linha de conta com a quantificação da dieta dos cetáceos que varia de espécie para espécie. (Northridge, 1992). Trabalhos recentes que consideraram a abundância da população de várias espécies de cetá- ceos, a biomassa total de presas e os consumos diários, revelaram que os cetáceos podem consumir até ao triplo da biomassa do pescado capturado por artes de pesca para consumo humano. No entanto, mais de 60% desta quantidade de pescado consumido por cetáceos corresponde a espécies sem interesse comercial. Desta forma, a competição directa dos cetáceos com as pescarias comerciais é inferior, assumindo-se que outros peixes predadores de topo possam também ser importantes consumidores de espécies de peixe com interesse comercial (Trites & Pauly 1997, Bearzi et al. 2010). Interacções entre cetáceos e artes de pesca na costa portuguesa Em Portugal, a monitorização de interacções entre cetáceos e artes de pesca, assim como a avaliação dos níveis de capturas acidentais, é escassa. Antes do início do século XXI havia poucos registos, sendo de salientar o trabalho de Sequeira (1990) com a indicação de que golfinhos-comuns eram frequentemente capturados em pescarias costeiras portuguesas, estando pelo menos 47% destas capturas relacionadas com redes de emalhar e tresmalho. Mais recentemente, padrões de mortalidade de golfinhos-comuns ao longo da costa portuguesa usando dados de arrojamentos revelaram que interacções com pescas causam cerca de 44 - 54% % de mortalidade (Silva & Sequeira, 2003, Ferreira, 2007, Marçalo et al., 2010). Ainda antes do início do projecto SAFESEA, dados sobre interacções entre cetáceos e pescarias portuguesas foram apenas recolhidos por observadores independentes, quase exclusivamente na pesca de cerco (Wise et al., 2007). Assim, é notória a limitação que existe na informação disponível em Portugal sobre a temática, sendo necessário e urgente identificar os factores que levam às interacções, as principais pescarias envolvidas, a possível dimensão da mortalidade e aplicar medidas que possam mitigar estes problemas. Como membro da Comunidade Europeia, Portugal está obrigado a aplicar medidas para obter dados científicos sobre captura acidental de cetáceos (Regulamento do Concelho nº 812/2004 de 26/04/2004). Com base neste regulamento, Portugal tem que implementar esquemas com observadores em embarcações superiores a 12 metros e definir projectos piloto para avaliar capturas acidentais em embarcações de menor tamanho. Contribuição do projecto SAFESEA O projecto SAFESEA correspondeu ao primeiro esforço integrado direccionado para uma estimativa do grau de interações de cetáceos com as várias pescarias a operar na costa portuguesa, particularmente a pesca de cerco, a polivalente (com especial foco nas redes de emalhar/tresmalho) e arte xávega. A uma menor escala, foram recolhidos também dados sobre as artes do arrasto de fundo e sobre o palangre. Este trabalho foi conseguido através 67 Interac ç ão de uma b aleia-a nã com uma e mbarc ação d e pesc a poliv alente que tipos de danos ou prejuízo material; depredação; tempo de pesca). 68 da realização de inquéritos a mestres ou contramestres das embarcações, recolha de declarações voluntárias sobre capturas acidentais e observação directa com observadores independentes em barcos de pesca. A informação recolhida teve como objectivo base perceber a operacionalidade da pesca (pesqueiros, esforço de pesca, espécies alvo, tipo de arte), a existência de interacções com cetáceos (presença/ ausência de cetáceos durante as operações de pesca, comportamento dos cetáceos, número de cetáceos ou outras espécies marinhas capturadas por ano) e o tipo de interacção (em que fase da operação de pesca a interacção acontece, espécies mais frequentemente envolvidas, De 2009 a 2010, foram monitorizados 13 portos de pesca (Vila Praia de Âncora, Viana do Castelo, Póvoa de Varzim, Matosinhos, Aveiro, Figueira da Foz, Nazaré, Peniche, Sagres, Lagos, Portimão, Quarteira e Olhão), tendo sido validados para análise 328 inquéritos. Desta informação, foi revelado que pelo menos num período de 1 ano, 865 cetáceos pertencentes a 7 espécies e 1 espécie de misticetes não identificado foram capturados acidentalmente (Tabela 4.1). Estas capturas resultaram numa mortalidade de 555 cetáceos, o que corresponde a sensivelmente 64% das capturas. De uma forma geral, o golfinho-comum foi a espécie mais reportada em todas as artes de pesca. Na arte de xávega, ocorreu também uma forte captura de bôtos, enquanto que o roaz-corvineiro foi mais capturado pelas pescas polivalentes e pelo palangre de fundo. No caso da pesca do cerco, foi possível entrevistar 86 embarcações (70% da frota nacional). Os mestres destas artes declararam, num ano, 442 capturas acidentais, das quais 167 resultaram em animais mortos, facto que correspondeu a uma percentagem de mortalidade de 37,8%. Foi possível ainda registar que apenas 14% dos entrevistados não referiram capturas acidentais em 2009/2010. Todas as capturas reportadas corresponderam ao golfinho-comum, sendo que o valor médio de capturas num ano por barco foi de 1,9 cetáceos. Esta arte, em anos anteriores, capturou todas as outras espécies referidas na tabela 4.1, sendo que na maioria das vezes as espécies de maior porte foram sempre libertadas vivas. No caso da xávega, supõe-se que foi possível entrevistar 50% da frota nacional, sendo que a maioria dos inquéritos foram realizados entre Espinho e Nazaré. Em 2009/2010, 35% dos inquiridos não reportou capturas acidentais, mas salientaram que em anos anteriores tiveram capturas. Neste período, ocorreram 19 capturas de 3 espécies, com 16 animais mortos (93,8% de mortalidade) e com uma média de 0,8 cetáceos por barco num ano. A espécie tu a) cap ra e cri enito s (prog rte de em a rados a. xáveg Bôto dominante continua a ser o golfinho-comum, ainda que esta arte seja responsável por uma forte mortalidade de bôtos. No caso do arrasto, o SafeSea recolheu informação com base em inquéritos a cerca de 37% da frota. Para esta arte apenas 13% dos inquiridos não declararam capturas acidentais. Todas as capturas declaradas (135 cetáceos de 5 espécies) resultaram em mortalidade, sendo que a espécie mais afectada foi o golfinho-comum, seguida do golfinho-riscado. É de salientar que a estimativa de capturas de golfinho-riscado pode estar sub-avaliada devido a confusão na identificação. A média de capturas de cetáceos por barco foi a mais elevada de todos as artes, com 4,4 cetáceos. Este facto fica a dever-se a uma série de declarações com 10 ou com mais de 10 animais num único evento de captura. A pesca polivalente foi aquela que apresentou mais inquéritos efectuados, mas apenas cobriu 35% da frota de embarcações com mais de 10 metros e cabinada. Dos inquiridos, 24% decla- rou que no período de um ano não tiveram capturas acidentais, mas quase 100% referiu ter tido capturas em anos anteriores. Foram declaradas 261 capturas de cetáceos de 5 espécies, que resultaram em 229 mortos (88% das capturas totais), com um valor médio de 1,3 cetáceos mortos por barco . A espécie mais capturada voltou a ser o golfinho-comum, seguida do roaz-corvineiro e do bôto. No caso do palangre de fundo foram apenas realizados 16 inquéritos, facto que corresponde a cerca de 40% da frota nacional. Esta arte foi aquela que reportou menos capturas sendo que 56% dos inquiridos disseram não ter capturas acidentais de cetáceos. Para o ano de 2009/2010 apenas foram registadas 8 capturas acidentais que resultaram em 100% de mortalidade, com uma média de 0,5 capturas por barco. Foram capturadas 3 espécies, havendo predomínio do golfinho-comum (na maior parte das vezes por emaranhamento) e de roaz-corvineiro. Para esta última espécie, foram registadas inúmeras queixas de depredação nas artes. iro capturado por arrastão. Arrojamento de roaz-corvine 69 Tabela 4.1. Dados obtidos nos inquéritos realizados de 2009-2010. Arte de pesca Cerco Xávega Arrasto Polivalente geral Polivalente - Palangre (Fundo) Totais 70 Nº de inquéritos 86 20 31 175 16 328 % da Frota Nacional 70 50 37 35 40 Capturas acidentais totais 442 19 135 261 Total de mortes (média por inquérito) 167 (1,9) 16 (0,8) 135 (4,4) 229 (1,3) % mortalidade 37,8 % 93,8 % 100 % 87,7 % 8 8 (0,5) 100 % 865 555 (1,7) 64,2 % Os dados dos inquéritos foram a base da preparação de um programa de monitorização baseado em observadores e em declarações voluntárias. Este programa foi apenas direccionado para as artes do cerco, polivalente e xávega. Espécies capturadas % Mortalidade Golfinho-comum 100 Roaz-Corvineiro 0 Baleia-Anã 0 Grampo 0 Baleia-Piloto 0 Golfinho-comum 66,67 Bôto 27,78 Roaz-Corvineiro 5,55 Golfinho-comum 96,30 Golfinho-riscado 1,48 Roaz-Corvineiro 0,74 Baleia-Piloto 0,74 Baleia-NI 0,74 Golfinho-comum 90,82 Golfinho-riscado 0,89 Bôto 1,75 Baleia-Piloto 0,89 Roaz-Corvineiro 5,67 Golfinho-comum 50,00 Roaz-Corvineiro 37,50 Baleia-Piloto 12,50 7 espécies Tabela 4.2. Resultados da monitorização com observadores na pesca polivalente. Área Fonte de dados Viagens Nª eventos Captura média por de pesca evento de pesca (Kg) Nº interacções por evento (valores efectivos) Nº capturas Nº mortes por evento por evento (valores efectivos) (valores efectivos) Espécies a interagir Norte/ Centro Observadores 161 352 0,122 (43) 0,037 (13) Golfinho-comum Roaz-corvineiro Baleia-piloto No que se refere às pescas polivalentes, pela primeira vez efectuou-se a monitorização de embarcações conforme o Regulamento do Concelho nº 812/2004 de 26/04/2004. Através da cooperação com os mestres de 14 embarcações, foi possível efectuar 161 viagens, com um total de 161 eventos de pesca com redes de tresmalho/emalhar. Durante estas campanhas ocorreram 43 eventos de interacções com cetáceos pertencentes a 3 espécies. Estes eventos resultaram na captura de 13 animais e na morte de 9 animais, resultando numa estimativa de 0,026 cetáceos mortos por evento de pesca. Todos os casos de mortalidade registada foram de golfinho-comum. Infelizmente, devido ao tamanho da frota polivalente, estes embarques resultaram apenas num esforço de monitorização de 0,16% da frota nacional e de 0,31% da frota que opera na área de estudo. Contudo, embora existam 51 perto de 494 barcos de pesca polivalente com mais de 10 metros, nem todos os barcos podem estar a operar durante todo o ano e não se sabe o número de dias que usam redes de emalhar ou de tresmalho (insere-se numa pesca polivalente em que são usadas outras artes de pesca consoante a época do ano e as espécies alvo; e.g., armadilhas, palangre de fundo). Para agravar a situação, também não existe registo do número de redes por barco. É por isso muito difícil calcular o esforço de pesca (número de dias de pesca para a frota) para a pescaria com redes de emalhar/tresmalho, o que dificulta a generalização dos valores de captura acidental. Com base nos registos das embarcações que foram monitorizadas, pode assumir-se que as redes de tresmalho/emalhar são usadas em 60% do tempo de esforço de pesca no mar. Assim , pudemos corrigir o nosso esforço de monitorização em função do esforço de pesca estimado com artes de emalhar/tresmalho, 0,026 (9) sendo que o esforço de monitorização poderá ter coberto 0,27% do esforço nacional de pesca com redes de emalhar/tresmalho e 0,51% do esforço de pesca com redes de emalhar/tresmalho na área de estudo. 71 A reali z de tec ação de ne c idos e para v rópsias deta alidar a avali lhadas é im p ação d as cau ortante para sas de morte a recolha 72 Tabela 4.3. Resultados da monitorização com observadores e declarações voluntárias (logbooks). Área Norte Centro Sul Total Fonte de dados Viagens (n) Lanços ou eventos (n) Captura Média por lanço (t) Nº interacções por evento (valores efectivos) Nº capturas por evento (valores efectivos) Nº mortes por evento (valores efectivos) Espécies a interagir Observadores 31 60 1,5 0,083 (5) 0 (0) 0 (0) Golfinho-comum Observadores 49 90 3,9 0,211 (19) 0 (0) 0 (0) Golfinho-comum Logbooks 228 351 9,3 0,140 (49) 0,168 (59) 0,077 (27) Golfinho-comum Observadores 24 40 5,4 0,275 (11) 0,025 (1) 0,025 (1) Golfinho-comum 332 541 5,0 0,155 (84) 0,111 (60) 0,052 (28) Golfinho-comum t - toneladas Através da cooperação com 6 mestres de embarcações do cerco, foi possível realizar 332 viagens, com 541 eventos de pesca. Este esforço de monitorização resultou numa cobertura de 2,32% da frota nacional do cerco. Para este esforço contou-se também com o preenchimento de declarações voluntárias por parte de alguns dos mestres. O esforço de monitorização foi nacional, mas com um claro predomínio da zona centro. Com base nos observadores embarcados apenas foi possível registar um evento que resultou na morte de um indivíduo, na região Algarvia. Nos logbooks foram registadas mais 60 capturas acidentais que resultaram em 27 animais mortos concentrados no período entre o final do verão e o início da primavera num cenário que foi considerado como fora do normal pelos mestres das embarcações. Alguns destes eventos referem-se a capturas múltiplas com mais de 5 animais. Em todas as situações, a única espécie envolvida foi o golfinho-comum. Os resultados obtidos evidenciam que as capturas acidentais pelo cerco foram em média de 0,052 animais mortos por evento, sendo que regionalmente estes valores variaram entre 0 e 0,077. das s em determina veres arrojado de informação ática de cadá e m nt te fo sis e a nt ur rta oc A pr a impo de estudo, é um zonas da área 73 Tabela 4.4 Resultados da monitorização com observadores na arte de xávega. Área Fonte de dados Dias (n) Lanços (n) Nº interacções (por evento) Nº capturas (por evento) Nº mortes (por evento) Espécies a interagir Centro Observadores 149 292 0,021 (6) 0,038 (11) 0,004 (1) 0,017 (5) Golfinho-comum Bôto A monitorização da arte de xávega por observadores não foi efectuada nas embarcações mas a partir de observadores na praia. Estes observadores usaram binóculos para monitorizar todo o processo de pesca e registar possíveis interacções que podiam ocorrer ainda quando a rede estava longe da praia. Foram monitorizados 149 dias de pesca com 292 lanços, o que correspondeu a uma monitorização de sensivelmente 3,3% do esforço de pesca nacional com este tipo de arte. Nesta arte foram registados 6 eventos de captura acidental que resultaram na captura de 11 animais, dos quais 5 foram libertados vivos. Os eventos envolveram 2 espécies, sendo que no caso do bôto todos os eventos resultaram na morte dos animais. Para o presente período de monitorização, o número de cetáceos mortos por evento foi de 0,004 para o golfinho-comum e 0,017 para o bôto. 74 A percepção do sector das pescas sobre as interacções entre as pescas e cetáceos Com base na informação recolhida nos trabalhos de campo do SafeSea, é perceptível que é necessária alguma sensibilidade para abordar a problemática entre o sector das pescas e a conservação dos cetáceos. Na actualidade, a comunidade piscatória revela ter opiniões mistas ou neutras em relação à presença de cetáceos no mar. Embora uma pequena percentagem dos mestres ou contra mestres apresente tanto razões positivas (cetáceos não interferem muito, são companhia, juntam o peixe) como negativas (cetáceos competem com os recursos, dispersam o peixe), a maioria respondeu com indiferença, revelando que são neutros, que existe uma mistura de aspectos positivos e negativos e que se resignam a uma história da vida natural. Por exemplo, para o cerco, no que diz respeito à componente do impacto , o maior problema encontrado é o facto dos cetáceos dispersarem o pescado e assim aumentarem o esforço de pesca e maior consumo de combustíveis. Tal situação poderá ocorrer em zonas onde ocorre uma forte concentração de cetáceos e onde os mestres adoptam medidas mitigadoras para reduzir os conflitos. No caso da zona centro de Portugal, o esforço de pesca é ligeiramente superior na presença de cetáceos, mas apesar desse contra-tempo, as capturas são similares. No entanto, na costa Algarvia, foi verificado que a presença de cetáceos resulta num menor esforço de pesca e numa maior captura de pescado. No que diz respeito a outras artes de pesca, nomeadamente nas redes de emalhar, tresmalho ou palangre, o maior problema a nível económico advém de prejuízos por danos nas artes, ou danificação da captura (depredação). No caso do emalhar e tresmalho, a gran- usadas para As necrópsias são frequentemente es a formação de alunos das universidad de maioria dos pescadores evidenciou que os danos mais graves ocorrem com cetáceos de maior tamanho, como o roaz-corvineiro, sendo que poucos são os prejuízos económicos atribuídos ao golfinho-comum. No entanto, em algumas zonas e principalmente para a arte do palangre de fundo, existe um conflito latente entre as pescas e algumas espécies de cetáceos que efectuam predação activa nesta pescaria. A resolução deste conflito passa por uma clara monitorização do fenómeno e uma procura conjunta entre investigadores e pescadores de soluções que reduzam a predação. Os inquéritos e as observações a bordo revelaram também que, particularmente no cerco, a maioria dos mestres apresenta medidas de mitigação voluntárias para evitar interacções ou capturas acidentais de cetáceos. Estas medidas são, por exemplo, navegar para outro pesqueiro quando surgem cetáceos ou esperar que eles desapareçam da área antes de largar. Em outras artes de pesca tais medidas são mais difíceis de pôr em prática devido à operacionalidade da arte. Tanto o palangre como as redes são artes de componente estática após serem largadas, sendo por isso mais difíceis de controlar pelo pescador. Quando estas artes são recolhidas, na maioria das vezes após horas ou dias de espera, os cetáceos acidentalmente capturados são recolhidos já mortos. Frequentemente, é referido que algumas populações de cetáceos, nomeadamente de golfinho-comum, têm vindo a aumentar nos últimos 10 anos e, por isso, um maior grau de interacções tem sido observado em quase todas as pescarias. Infelizmente, não existem estudos anteriores que permitam suportar esta ideia, sendo que os poucos trabalhos que foram feitos a nível da Europa, colocam em evidência que a população de golfinho-comum poderá estar em declínio. Assim, o SafeSea vem provar que, para uma correcta gestão das espécies de cetáceos e do complexo problema das interacções, antes da implementação de quaisquer acções é necessário ter dados de base fidedignos obtidos ao longo de séries temporais. 75 Capítulo 5 Captu ra aciden tal de 25 golfi nhos-c omun s por u ma arte de xáv ega qu e resu 78 ltou n a morte de 5 in divídu os. Medidas de mitigação para reduzir a captura acidental de cetáceos em artes de Pesca As capturas acidentais são um dos problemas que mais afecta globalmente a gestão das pescas na actualidade. A mortalidade acidental de espécies com ciclos de vida longos e com baixas taxas de reprodução é um problema de conservação que afecta mamíferos marinhos, aves marinhas, tartarugas marinhas e, inclusivamente, algumas espécies de peixes como, por exemplo, os tubarões. Assim, é cada vez mais evidente que as capturas acidentais podem afectar significativamente a diversidade biológica de uma dada região com consequências que podem afectar todo o seu equilíbrio ecológico. As capturas acidentais são também um problema social emergente já que cada vez menos as sociedades actuais toleram e aceitam moralmente a morte desnecessária de animais, especialmente daqueles que são muitas vezes considerados como espécies carismáticas. Assim, os mercados de consumo de produtos marinhos estão a tornar-se mais exigentes, obrigando muitas vezes os produtores a apresentarem garantias de que as suas pescarias não afectam espécies em risco de extinção, ameaçadas ou protegidas (espécies ETP em língua Inglesa). Esta componente deste conflito resulta, muitas vezes, na degradação da imagem pública do pescador. das, ignorada pelos investigadores dedicados à gestão dos recursos pesqueiros e à ecologia marinha, devido a um conjunto amplo de razões (Hall et al. 2000): As capturas acidentais podem também resultar em problemas para os próprios pescadores. Um dos problemas mais directos está relacionado com as perdas ao nível económico que podem surgir devido a custos mais elevados no processo de pesca em resultado da implementação de medidas de mitigação, perdas de lucro devido a uma redução no sucesso da pescaria ou aumento de despesas devido a danos nas artes de pesca. 1) As capturas acidentais são um problema dificilmente visível já que são eventos que ocorrem no mar, longe dos gestores e investigadores, que baseiam muito do seu esforço de monitorização em dados recolhidos nos portos; Finalmente, em casos extremos, as capturas acidentais podem resultar na implementação de medidas legais de restrição e proibição de pescas que, no seu limite, são as mais drásticas possíveis de implementar, resultando, normalmente, em impactes sócio-económicos negativos. Apesar da questão das capturas acidentais não ser um problema recente foi, durante déca- 2) Possivelmente, este problema era menor no passado, mas com a industrialização das pescas, a maior capacidade de deslocação e exploração de zonas mais longínquas e as melhorias tecnológicas, o problema agravou-se significativamente; 3) As capturas acidentais representavam uma variável que tinha pouco significado na avaliação de abundância dos recursos de pescas; 4) A competição entre artes de pesca era menor no passado, considerando que as capturas acessórias e as rejeições de algumas pescarias podem afectar significativamente o 79 sucesso de outras pescarias mais artesanais e direccionadas para um leque mais restrito de espécies alvo; 5) As preocupações com o ecossistema não eram uma prioridade do processo de gestão, normalmente baseado em modelos mono-específicos. A entrega voluntária de golfinhos capturados acidentalmente demonstra a confiança dos pescadores na equipa de monitorização. 80 A resolução ou diminuição destes problemas é possível se actuarmos a dois níveis. Um primeiro nível é o controle do esforço de pesca através da implementação de sanções e proibições regulamentares e de sanções ao nível do comércio, de boicotes por parte dos consumidores ou através de alterações profundas nas artes. O primeiro nível de actuação é normalmente imposto pelo estado fiscalizador ou por instituições internacionais, tendo muitas vezes uma forte oposição do sector dos produtores de pescas, devido à falta das negociações adequadas. O segundo nível de actuação pode também ser imposto pelo estado ou por outras instituições, mas muitas vezes surge por iniciativa do próprio sector das pescas. De facto, esta abordagem foi considerada pelo projecto SafeSea como a abordagem mais correcta, tendo também ficado evidente que o sector das pescas quer contribuir para a resolução destes problemas e quer participar voluntariamente nos processos de decisão. Este segundo nível de actuação refere-se a alterações que influenciam directamente a probabilidade de ocorrência de uma captura acidental. Estas alterações podem ser pequenas modificações/ adaptações tecnológicas, modificação de aspectos operacionais no uso das artes, treino e educação dos pescadores e implementação de acções de gestão. Aqui é importante salientar que a grande maioria das soluções para estes problemas partiram dos próprios pescadores (veja-se o caso dos pingers da FUMUNDA que foram desenvolvidos por pescadores para pescadores). Neste processo dinâmico, os investigadores têm de ser parceiros facilitadores da comunicação entre as partes interessadas, identificadores dos problemas existentes e promotores de novas com etiquetas é realizada A marcação de capturas acidentais terra a captura acidental para r traze pode quando o pescador não ideias. Acima de tudo, os investigadores devem ser isentos no ensaio e validação estatística e funcional dos procedimentos que forem postos em prática em estreita cooperação com o sector das pescas. Neste contexto de cooperação levanta-se uma questão pertinente: que meios estão ao dispor do sector da pesca para diminuir os conflitos entre cetáceos e as pescas? Felizmente, nos últimos 10 anos, surgiram diversos projectos e ensaios de medidas de mitigação de conflitos, existindo cada vez mais medidas ao serviço do sector das pescas que podem contribuir para uma maior sustentabilidade ambiental das pescas. Apesar dos esforços para o desenvolvimento de medidas de mitigação, não foi possível obter uma solução única. A maioria dos casos de sucesso ficou a dever-se à implementação de diversas medidas em simultâneo. Além disso, é importante salientar que não existem medidas globais. Uma medida pode ser perfeitamente eficaz no norte da Europa ou na Argentina e falhar completamente em Portugal. Esta variabili- dade está claramente associada à diversidade das artes de pesca e das suas operacionalidades que são muito heterogéneas. Sendo o SafeSea um projecto direccionado para as pescas locais, apenas vamos explorar potenciais soluções que existem para o cerco, para a pesca polivalente e para a arte de xávega. A implementação de medidas de mitigação deve ter como objectivo principal eliminar ou reduzir significativamente a captura e morte acidental de cetáceos, sem resultar na captura acidental de outras espécies ou numa redução das capturas das espécies alvo de pescado (Hall et al. 2003). Assim, há medidas de carácter generalista que podem ser aplicadas a qualquer arte de pesca, mas também medidas mais específica que só são funcionais numa determinada arte. Entre as medidas mais generalistas, a implementação de um Código de Boas Práticas para reduzir as capturas acidentais pode ser uma das mais eficazes. Estes códigos identificam falhas nas componentes operacionais da pescaria e tentam encontrar soluções que permitam colmatar essas falhas. As soluções podem ser do nível operacional ou pequenas alterações nas artes que podem ser facilmente implementadas pelos pescadores. Associado a um Código de Boas Práticas existe um manual referente à sua implementação, que ajuda os pescadores a colocar em prática essas medidas. Os Códigos de Boas Práticas devem ser desenvolvidos em cooperação com as organizações de produtores e com o apoio de investigadores e técnicos especializados. A sua implementação deve ser da responsabilidade das organizações de produtores, sendo que a fiscalização da sua eficácia deve ser efectuada por entidades isentas. 81 A form a redes ção com p e acústi cas du scadores re rante o fe semin rente ao us ário em od Viana e pingers e do Cas telo 82 Os principais elementos de um Código de Boas Práticas são: 1 - Formação e treino das tripulações Este programa educativo é necessário para garantir que todos os membros envolvidos aderem aos procedimentos estabelecidos nos Códigos de Boas Práticas e compreendem como é que ele deve funcionar. 2 - Minimização das interacções com espécies protegidas Documento que detalhadamente identifica todas a medidas de mitigação que é possível implementar no sentido de reduzir os conflitos e a mortalidade de espécies protegidas. Algumas dessas medidas serão, de seguida, apresentadas em função do tipo de arte monitorizada pelo SafeSea, de modo a facilitar a sua compreensão. 3 - Implementação de um programa de monitorização A implementação de todas as acções deve ser acompanhada de um plano de monitorização isento, rigoroso e que contribua para a melhoria do próprio Código de Boas Práticas. Este programa deve também ser responsável por elaborar relatórios periódicos e comunicar os resultados obtidos a toda a comunidade piscatória envolvida. 4 - Implementação um mecanismo constante de revisão e melhoria Um bom Código de Boas Práticas não pode ser imutável, sendo necessário que ele se adapte e esteja em constante evolução. Só desta forma é possível garantir a sua adaptação às constantes modificações das pescarias. Medidas Específicas de Mitigação para a Pesca polivalente Na pesca polivalente as embarcações estão autorizadas a usar diversas artes que podem ser: redes de emalhar, tresmalho, armadilhas, alcatruzes, palangres, pesca à linha, etc. É uma pesca muito diversificada e por isso bastante difícil de monitorizar e avaliar. Um dos pro- blemas mais importantes nesta pescaria é a captura acidental em redes, especialmente a captura acidental em redes de tresmalho. Este tipo de redes são feitas para serem dificilmente detectadas pelo que, durante a noite, elas são quase invisíveis. Os cetáceos são capazes de detectar os cabos, as bóias e os chumbos a uma distância que lhes permite evitar o contacto com estas estruturas. No entanto, a rede em si já não é facilmente detectada pela eco-locação, sendo que um roaz-corvineiro consegue detectar a rede a uma distância de 9 metros enquanto que um bôto só consegue detectar a rede a 2 metros de distância (Au & Jones, 1991, Goodson et al. 1994). A distância de detecção pode ser afectada pelo ângulo de aproximação do animal à rede, pelos níveis de ruído no meio marinho, pelo nível de concentração dos animais ou pela distracção decorrente do investimento na procura de presas. Para além das dificuldades em detectar as redes, podem ocorrer falhas de detecção por diversas razões (Au & Jones, 1991, Bordino et al. 2002, Cox et al. 2003). Por exemplo, os indivíduos não estão sempre a ecolocar pelo que 83 Demo ns pingers tração de co m com ap oio de o se efectua James Turner a fixação de da Fum unda. 2 - evitar largar artes de tresmalho em profundidades inferiores a 30 metros. Quanto mais próxima estiver a arte da superfície, maior é o risco de captura acidental. Os resultados com base nos observadores permitiram verificar que para fora da batimétrica dos 30 metros as capturas acidentais com redes de tresmalho são muito reduzidas. Nas zonas menos profundas, as probabilidades de captura aumentam significativamente. Esta medida pode ser acompanhada pelo uso de outras artes de pesca mais próximo da costa em substituição das redes de emalhar/tresmalho. podem não detectar a presença das redes, os indivíduos podem detectar a rede mas sem se perceberem que é uma estrutura impenetrável, os indivíduos podem estar a alimentar-se na proximidade da rede e ficar distraídos com a perseguição às presas e, ainda, a presença de peixe preso na rede pode mascarar a detecção da rede. Neste contexto, as diversas medidas que podem ser postas em prática são: 84 1 - Evitar lançar a rede ou alar a rede na proximidade de cetáceos 3 - Nunca usar redes de tresmalho aboiadas ou semi-derivantes Esta é uma medida operacional que reduz o risco de captura em dois dos períodos que os pescadores indicam como os mais críticos para a captura de cetáceos. Assim, recomenda-se ao mestres que antes de iniciarem a actividade peçam à tripulação que prospecte o horizonte à procura de animais. Se não houver vestígios da sua presença, será então seguro largar ou alar as artes. Este tipo de artes é ilegal havendo uma tendência para a sua utilização próximo da costa, para a captura de espécies de elevado valor como o robalo, a dourada, o sável e a savelha. Estas artes podem ser responsáveis por grande parte da mortalidade que tem vindo a ser atribuída às artes de emalhar, sendo que uma arte de pesca ilegal poderá resultar na degra- dação da imagem dos pescadores que usam correctamente as artes de emalhar. 4 - Evitar usar zonas onde sistematicamente se observam cetáceos Periodicamente ocorrem concentrações de cetáceos em determinadas regiões, muitas vezes por causa de alimento, mas também por razões desconhecidas. Se um mestre detecta um destes comportamentos e essa situação resulta em captura acidental, recomenda-se uma troca de zona de pesca, com remoção das artes. Estas concentrações não ocorrem por períodos muito longos sendo que após alguns dias é possível voltar a colocar as artes nos seus sítios iniciais. 5 - Utilização de sistemas de alerta acústica nas redes Os pingers, oficialmente recomendados pelo Regulamento do Concelho nº 812/2004 de 26/04/2004, são sistemas relativamente eficazes para alertar os cetáceos para a presença de redes. Estes equipamentos acústicos parecem resultar melhor para o bôto do que para o golfinho-comum. Assim, numa zona onde frequentemente ocorre a captura de cetáceos recomenda-se o uso de qualquer um dos sistemas existentes (Fumunda, AquaMark, Airmar, SaveWave). Nos ensaios efectuados em Portugal, com modelos da Fumunda, os resultados foram muito promissores, tendo-se verificado uma redução das capturas acidentais. Foram usados dois modelos da marca Fumunda, colocados de 100 em 100 metros no cabo das bóias, seguindo as recomendações efectuadas pelos produtores. A forma de fixação mais adequada ficou a cargo dos mestres das embarcações. Os resultados obtidos mostraram uma redução significativa das interacções com cetáceos durante o momento de largada e alagem da rede, uma redução significativa dos eventos com capturas e uma redução do número de cetáceos mortos, que passou dos 0,045 cetáceos mortos por evento de pesca para 0,011 ou 0,009 (dependendo se eram pingers de 10 kHz ou de 70 kHz). Norman Holly mostrando as redes e os fios de nylon das redes melhoradas acusticamente com sulfato de bário. 85 Os siste mas d e alerta acústi ca con hecido s com o ping ers Recomenda-se um aconselhamento técnico junto da equipa do SafeSea antes de implementar o uso voluntário de pingers, já que uma má implementação destes dispositivos poderá resultar em perdas económicas, sem que ocorra a resolução do problema de capturas acidentais. 6 - Utilização de sistemas de alerta acústica no barco 86 Diversos mestres reportaram que um dos problemas das capturas acidentais ocorre durante a largada ou alagem da rede, quando esta se encontra na coluna de água próximo da superfície e junto à embarcação. Nesta situação, os pingers poderão ser usados para criar uma zona de alerta em redor do barco e na proximidade da zona onde se operam as artes. Assim, antes de largar ou alar a rede os pescadores poderão deixar cair uma corda com 1 pinger relativamente próximo da rede de forma a alertar os animais para um potencial perigo. provisórios, sendo que nuns locais produzem reduções significativas nas capturas de bôto, enquanto que para outras espécies as capturas acidentais não foram significativamente reduzidas. Nos ensaios já realizados em Portugal os resultados parecem promissores, sendo necessário esperar mais algum tempo para obtermos resultados consistentes e que permitam uma correcta análise. 7 - Utilização de redes melhoradas acusticamente com sulfato de bário 8 - Evitar largar armadilhas e alcatruzes em elevada densidade e com uma distribuição de cabos que pareça um labirinto As redes melhoradas acusticamente, são redes de nylon impregnadas com uma substância (no nosso caso, sulfato de bário), que aumenta a reflectividade acústica da rede, tornando-as por isso mais facilmente detectáveis pelo sonar dos cetáceos. A impregnação destas redes aumenta também o seu endurecimento, tornando-as menos aptas para o emaranhamento de animais de maior tamanho. Estas redes ainda estão em fase de desenvolvimento experimental, com testes a decorrer um pouco por todos os oceanos. Os resultados ainda são Apesar de ser raro, por vezes os cetáceos ficam presos nos cabos das linhas de armadilhas e alcatruzes. Este emaranhamento é mais frequente em grandes cetáceos, mas na nossa costa já por diversas vezes foi detectado este problema. Não criar uma zona muito densa de cabos e usar poucas armadilhas ou alcatruzes presos ao mesmo cabo parecem ser as soluções mais eficazes para evitar problemas. PINGER LOOPS FLUTUADOR Esquema de colocação de pingers em redes de emalhar e tresmalho. Os pingers devem ser colocados a cada 100 metros (ou a distâncias maiores se assim for indicado pelo fabricante). 87 Recolh a de re de de tresma lh o equip ada co FLUTUADOR m ping PINGER ers Os pingers colocados em redes de emalhar e tresmalho devem estar colocados entre boias de flutuação Redes 88 de tre smalh o com pinge rs 9 - Usar redes com espessura de nylon mais fina Uma das novas linhas de investigação para a diminuição de capturas acidentais em artes de pesca tem sido a redução da espessura das redes de emalhar (Northridge et al. 2003). A funcionalidade desta medida assenta no facto de que com um fio mais fino, os animais que fiquem emaranhados conseguirão partir mais facilmente as redes e soltarem-se. Os primeiros ensaios experimentais foram relativamente promissores, no que se refere à diminuição das capturas acidentais. No en- tanto, com um fio mais fino o tempo de vida das redes é menor, facto que poderá aumentar os custos da operacionalidade das artes e por isso tornar a medida pouco atractiva. No caso das artes em Portugal, a aplicação desta medida poderia ser estudada para as redes de emalhar, mas seria pouco útil para as artes de tresmalho que acabam por ser o tipo de redes mais preocupantes e com maiores taxas de captura. A implementação desta possível medida tem que ser devidamente analisada, recomendando-se ensaios preliminares. CABOS DE ALAGEM CLAROS Esquema de distribuição de pingers numa rede de cerco. ASAS 10 - Usar redes com reflectores passivos nos cabos e nas bóias Esta medida também se baseia no conceito de aumentar a detectabilidade das redes, de forma a que os cetáceos detectem uma barreira impenetrável. O aumento da detectabilidade acústica pode ser efectuada usando um maior número de bóias ou colocando cabos de borracha ou outros materiais que aumentem a detecção (Au & Jones, 1991, Koschinski & Culik, 1997). Infelizmente, poucos foram os ensaios realizados, sendo na actualidade uma linha de investigação que não está muito operacional. O constante desenvolvimento de novos materiais reflectores poderá potenciar novos ensaios no futuro. ALCANELAS BOCA MEIOS SACO CAUDA Esquema de colocação de pingers em redes de xávega. 89 Medidas Específicas de Mitigação para Pesca do cerco A arte do cerco refere-se a qualquer método de pesca que utiliza parede de rede sempre longa e alta, que é largada de modo a cercar completamente as presas e a reduzir a capacidade de fuga. Em Portugal, a pesca com redes de cerco é dirigida à captura de pequenos pelágicos como sejam: sardinha, cavala, sarda, boga, biqueirão e carapau. É permitida uma captura acessória de outras espécies até ao limite de 20%, em peso vivo, calculado em função do total da captura das espécies alvo, por viagem. 90 A arte do cerco, em Portugal, tem responsabilidades acrescidas na mitigação de capturas acidentais porque, em 2010, o Marine Stewardship Council (MSC) atribuiu o eco-rótulo de pesca sustentável a sensivelmente 95% da produção nacional de sardinha, sendo esta a primeira pescaria portuguesa a obter certificação ao abrigo deste programa internacional. As capturas da Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (ANOPCERCO) podem agora ser portadoras do eco-rótulo azul do MSC, que é reconhecido internacionalmente. A certificação abrange todas as embarcações de pesca costeira da Associação (com mais de 9 metros de comprimento), cuja actividade principal é a pesca do cerco. Assim, perante este reconhecimento internacional, a arte do cerco tem sido exemplar na cooperação e no ensaio de medidas de mitigação que contribuam para uma redução das interacções e consequente mortalidade de cetáceos. As diversas medidas que podem ser postas em prática são: 1 - evitar lançar a rede na proximidade de cetáceos Esta medida é uma medida operacional que reduz o risco de captura, evitando o conflito antes que ele aconteça. Assim, recomenda-se ao mestres que, antes de iniciarem a actividade, peçam à tripulação (ou apenas a um membro da tripulação) que prospecte o horizonte à procura de animais. Se não houver vestígios da sua presença, será então seguro largar as artes. Se os animais estiverem presentes o mestre poderá optar por esperar ou então procurar um novo pesqueiro caso o peixe tenha sido dispersado pela passagem dos cetáceos. 2 - Evitar usar zonas onde sistematicamente se observam cetáceos Periodicamente, ocorrem concentrações de cetáceos em determinadas regiões, muitas vezes por causa de alimento, outras vezes devido a processos migratórios mas também por razões desconhecidas. Se um mestre detecta um destes comportamentos e essa situação resulta na captura acidental, recomenda-se uma troca de zona de pesca, evitando a largada das redes. Estas concentrações não ocorrem por períodos muito longos sendo que após alguns dias é possível voltar a pescar nestes locais. 3 - Os mestres devem comunicar a outros barcos da frota a presença de cetáceos numa determinada zona, especialmente em situações onde se observa uma forte concentração de indivíduos. Desta forma, as restantes embar- cações podem procurar outros locais de pesca e evitar situações de conflito. 4 - As embarcações devem trabalhar num modelo cooperativo, operando em áreas próximas e sempre em contacto uns com os outros. No caso de uma embarcação apanhar mais peixe do que a sua quota, deve chamar outra embarcação de forma a que esta possa recolher o peixe em excesso. Desta forma reduz-se o número de lanços, reduzindo o risco de capturas acidentais, ao mesmo tempo que se poupa em combustível e tempo de operação no mar. 5 - Em caso de captura de cetáceos, o mestre deve parar o processo de cerco e permitir que os animais saiam de dentro da arte antes que a rede esteja completamente fechada. A saída de animais presos na rede é mais fácil com a rede aberta do que com ela já fechada. 6 - No caso de os animais só serem detectados depois da rede já estar a ser alada, a preocupação dos pescadores deve ser a de criar uma zona de saída de forma a tentar remover em segurança os animais. De acordo com os relatos dos pescadores, é difícil ter acesso ao animal (normalmente é o “chalandreiro/chateiro” que tem a função de facilitar a manobra de libertação) por este se encontrar com uma natação anormal, pelas suas dimensões e peso, e por tentarem fugir sempre que se tenta agarrá-los. No entanto, nesta situação nunca se deve optar pela manobra de laçar uma corda pela cauda dos golfinhos e levantá-los com o guincho para retirá-los de dentro da rede. Tal prática provoca danos traumáticos físicos no animal que resultam, posteriormente, numa morte dolorosa à posteriori (horas ou poucos dias depois). 7 - Utilização de sistemas de alerta acústico nas redes Numa área onde ocorram cetáceos sistematicamente com capturas frequentes recomenda-se o uso de qualquer um dos sistemas existentes (Fumunda, AquaMark, Airmar, SaveWave). Nos ensaios efectuados em Portugal, com dois modelos da Fumunda, os resultados foram muito promissores com uma redução das interacções e das capturas acidentais, sem no entanto ter havido alterações na quantidade de pescado capturado. Foram colocados entre 3 a 5 pingers na zona mais central da rede, de forma a criar uma zona de escapatória na proximidade da chalandra. A forma de fixação mais adequada ficou a cargo dos mestres das embarcações. Os resultados obtidos mostram uma redução significativa das interacções com cetáceos durante as operações de pesca, uma redução significativa dos eventos com capturas e uma redução do número de cetáceos mortos que passou dos 0.065 cetáceos mortos por evento de pesca para 0,013 ou 0,025 (dependendo se eram pingers de 10 kHz ou de 70 kHz). Recomenda-se um aconselhamento técnico junto da equipa do SafeSea antes de implementar o uso voluntário de pingers, já que uma má implementação destes dispositivos poderá resultar em perdas económicas, sem que ocorra a resolução do problema de capturas acidentais. 91 Medidas Específicas de Mitigação para a arte de xávega 92 Por arte de xávega entende-se uma rede envolvente de alar para a praia. A arte é largada por uma embarcação que se afasta da praia deixando em terra um cabo de alagem, descreve um percurso envolvente calando a rede e regressa à praia conduzindo um segundo cabo de alagem. O esforço de tracção necessário à alagem da arte para a terra pode ter origem mecânica ou animal. A xávega possui um saco de rede, na sua parte média (central), cuja boca se prolonga, para um e outro lado, por duas compridas asas (ou mangas, ou alares) de rede, diminuindo a sua altura para as extremidades e cujo comprimento é, em média, cerca de seis a oito vezes o comprimento total do saco central. Nas extremidades distais dos alares amarram os cabos de alagem que, assim, prolongam as asas da arte. Os panos de rede das asas da xávega são montados nos cabos de flutuação e dos lastros, de modo que o esforço de tracção da arte se faz sentir não só ao longo daqueles cabos mas também dos panos de rede. Assim, quando em esforço, as malhas mostram acentuada tendência para estirar, reduzindo os vazios da malha. Em 2007, Ferreira analisando a evolução dos arrojamentos no centro de Portugal, alertou para o elevado número de capturas acidentais provocadas por esta arte. Infelizmente, esta arte tradicional tem a sua expressão máxima numa zona considerada como a melhor zona para a ocorrência de bôtos, resultando por isso numa forte captura de indivíduos desta espécie. Para além de bôtos, esta arte de pesca é responsável pela captura de golfinhos-comuns, roazes-corvineiros, tartarugas-de-couro e tartarugas-bobas. No caso de golfinhos-comuns, existem registos da captura de mais de 25 animais num único evento. O processo de captura é ainda mal compreendido, já que os animais, na maioria das vezes, têm espaço para fugir para fora das redes. Observações efectuadas durante a monitorização registaram que, normalmente, os animais são capturados durante a sua deslocação paralela à costa. Normalmente, os animais quando entram no interior do espaço entre os cabos de calagem, adoptam um movimento de fuga quase sempre direccionado para o mar alto, ou seja, em direcção aos panos laterais e ao saco, acabando por fica presos entre as asas ou no próprio saco. Sendo uma arte artesanal operada maioritariamente a partir de terra, são poucas as medidas de mitigação que podem ser postas em prática. Assim que a rede está na água é muito difícil parar a alagem, sendo também muito difícil actuar de forma a ajudar os animais a saírem das redes. 1 - evitar lançar a rede quando se detecta a passagem de cetáceos Esta medida é uma medida operacional que reduz o risco de captura garantindo que não se lança a arte na presença de cetáceos. Assim recomenda-se aos mestres que antes de iniciarem a actividade peçam aos pescadores em terra e à tripulação no barco que leva a rede, que prospecte o horizonte à procura de animais. Se não houver vestígios da sua presença, será então seguro largar as artes. 2 - Evitar pescar em períodos de observação ou captura sistemática de cetáceos Periodicamente, ocorrem concentrações de cetáceos muito próximo da costa muitas vezes por causa de alimento, mas também por razões desconhecidas. Se um mestre detecta um destes comportamentos e essa situação resulta na captura acidental, recomenda-se uma paragem da pesca por algumas horas ou dias. Estas concentrações não ocorrem por períodos muito longos sendo que na maioria das vezes é possível re-activar a pesca num curto espaço de tempo. arte com os cabos da alagem. A forma de fixação mais adequada ficou a cargo dos mestres das artes. Os resultados obtidos ainda são provisórios, sendo que nenhum cetáceo foi capturado nas artes com pingers, enquanto que nas artes controlo ocorreu a captura de 11 animais dos quais 6 morreram. 3 - Utilização de sistemas de alerta acústica nas redes Nos ensaios já efectuados em arte de xávega apenas foi usado o Fumunda de 10 kHz. Em cada arte foram usados 8 pingers colocados nas asas da arte. Os dois pingers mais externos ficaram colocados junto à entrada do saco em cada uma das asas, sendo que os restantes pingers foram espaçados ao longo dos cabos até à zona de junção das asas da 93 94 Capítulo 6 95 Captura 96 aciden tal de dois ju venis d e golfinh o-com um em redes d e tresm alho (F oto de Carlos Leigo). Análise de custo-benefício para a aplicação de medidas de mitigação A captura acidental de cetáceos constitui um problema de conservação grave. Em relação às pescas portuguesas, constitui um dos problemas mais iminentes, sendo por isso necessário aplicar medidas de mitigação da perda de animais, garantindo também a sobrevivência das pescas tradicionais. A nível global, têm sido desenvolvidos novos dispositivos de alerta, nomeadamente redes e dispositivos acústicos, ao mesmo tempo que tem sido aprovados novos regimes legais e políticos que visam a resolução deste problema global. Uma das formas de resolução deste problema é a aprovação de medidas restritivas, tais como restrições nos aparelhos de pesca, áreas de restrição de pesca (em espaço e tempo) e medidas de redução do esforço de pesca. No entanto, existe outra abordagem, que envolve os pescadores e as associações profissionais de pescadores, que visa a sensibilização destes profissionais para a problemática da gestão de recursos e do ambiente, através da sua participação, por exemplo, nos processos de monitorização, no desenvolvi- mento/ensaio de novos equipamentos e na sugestão de medidas de boas práticas. Contudo, para que as associações de pescadores locais aceitem estas medidas e para que os governos adoptem legalmente este tipo de incentivos, é essencial compreender as vantagens e desvantagens da adopção de medidas, no que diz respeito a aspectos de conservação, económicos e de sustentabilidade das pescas. A análise custo-benefício (ACB) pode desempenhar um papel importante nas decisões de política legislativa e de gestão relacionadas com a gestão e protecção de recursos naturais. Diariamente, os decisores políticos e gestores de recursos naturais são confrontados com a difícil tarefa de comparar uma miríade de programas de conservação, cada um com diferentes custos e benefícios para a sociedade, e decidir quais os programas a implementar mediante fundos públicos limitados. A análise custo-benefício pode fornecer de uma forma simplificada um quadro excep- cionalmente útil para organizar informações díspares de forma consistente e melhorar o processo e o resultado da análise política. No entanto, este tipo de análises é ainda limitado pela dificuldade que existe em atribuir valores correctos às variáveis que não são directamente mensuráveis, não existindo ainda um acordo geral sobre o método correcto para a valorização de todas as vantagens ambientais de acções que possam ser implementadas. De uma forma simplificada para os intervenientes no projecto SafeSea, no presente capítulo pretende-se mostrar que existem vantagens ambientais no uso de medidas de mitigação, tanto para o meio ambiente como para o próprio sector das pescas. 97 O turismo de observação de cetáceos está em ex Impacto no Turismo 98 O Turismo é um dos principais sectores da economia portuguesa, tendo o seu peso na economia vindo a crescer nos últimos anos (Plano Estratégico Nacional do Turismo, 2007). Efectivamente, o sector do Turismo é um dos principais sectores geradores de emprego representando, em 2004, 10,2% da população activa e gerando receitas de 6,3 mil milhões de euros, correspondendo a 11% do PIB (Plano Estratégico Nacional do Turismo, 2007). pansão em Portugal Por outro lado, Portugal dispõe de condições climatéricas e recursos naturais indispensáveis à consolidação e desenvolvimento de Turismo de Natureza (Plano Estratégico Nacional do Turismo, 2007), devendo o mar, e os seus recursos, ser alvo de aproveitamento como factor diferenciador do desenvolvimento económico e social (Estratégia Nacional para o Mar, 2007). Entre as actividades de turismo associadas ao mar, a observação de animais marinhos nomeadamente aves, répteis e mamíferos marinhos tem demonstrado um crescimento acentuado. Efectivamente, entre 1998 e 2008, em Portugal Continental, a taxa anual média de crescimento da actividade de observação de cetáceos (vulgo, whale watching) foi de 45,4 % (International Fund for Animal Welfare, 2009). Comparativamente, em 1998, havia um operador turístico de observação de cetáceos e em 2008 já se podiam contabilizar 11 operadores (Tabela 6.1). O número de observadores teve também um aumento representativo de 1 380 pessoas em 1998 para 58 407 pessoas em 2008. Finalmente, as receitas totais da actividade foram de 63 361 euros em 1998 e de 4 470 248 euros em 2008. Portugal Continental está a atingir o limite de capacidade para a implementação deste tipo de actividades, sendo de prever que o crescimento deste tipo de receitas deverá reduzir-se significativamente, passando o aumento anual a situar-se entre os 5 e 10 % ao ano (a estimativa de receita para 2010 deverá rondar os 5 500 000 euros). Tabela 6.1. Receitas ligadas ao turismo de observação de cetáceos em Portugal Continental. Portugal Continental (*) Ano Nº de Operadores Turísticos de Observação de Cetáceos Nº de Observadores de Cetáceos Receitas Directas (Euros) Receitas Indirectas (Euros) Receitas Totais (Euros) 1998 1 1 380 22 577 40 784 63 361 2008 11 58 407 1 322 264 3 147 984 4 470 248 (*) Adaptado de International Fund for Animal Welfare, “Whale Watching Worldwide: Tourism numbers, expenditures and economic benefits”, 2009a Impacto na biomassa de presas Existe um dilema contínuo entre a conservação dos cetáceos e a preservação dos recursos de pesca. Se por um lado os cetáceos são considerados espécies ameaçadas e, particularmente em Portugal, estão protegidas desde 1982, sendo ilegal a sua captura, por outro, as populações de cetáceos são constantemente acusadas de causar um declínio nos stocks de peixe com interesse comercial e de competirem directamente com o sector das pescas. Com efeito, nos inquéritos realizados a vários mestres de embarcações das mais variadas pescarias artesanais portuguesas, grande parte concorda que as populações de cetáceos aumentaram nos últimos 10 anos e que deveriam ser controladas de forma a aumentar os recursos de pesca. No entanto, estudos aprofundados sobre a dieta de várias espécies de cetáceos confirmam que, muitas vezes, a culpa que lhes é atribuída não passa de especulação. Estimou-se, por exemplo, que todas as populações de cetáceos do Pacífico poderão consumir 3 vezes mais que as capturas de todas as pescarias da área (Trites et al. 1997). Apesar das grandes quantidades que consomem apenas uma pequena fracção corresponde a espécies de interesse comercial. Evita-se assim o problema crucial e as verdadeiras razões que afectam a pesca artesanal, que na maioria das vezes estão relacionadas com a sobre - exploração dos recursos por parte de muitas das frotas de pesca, especialmente a industrial. Ainda sobre a questão de quem consome mais peixe, onde na maioria das vezes cada um de- fende o que é seu, há que salientar os aspectos positivos da presença de cetáceos no mar. Não só directamente os cetáceos favorecem as pescas artesanais por juntarem e trazerem mais peixe para junto da costa, como indirectamente trazem rentabilidade no sector turístico, nomeadamente através das actividades de observação de animais marinhos. pois de um e na praia de ção de peix vega arrasto de xá para Recolha e se 99 Recolh a de sa 100 rdinha para o interio r da em barcaç ão Certificação de pescas e eco-labelling A certificação, ou o eco-labelling, visa encorajar consumidores a preferir produtos “amigos” do ambiente. Após um longo processo com vários critérios de avaliação, o produto certificado é identificado com um logótipo com informação que permite ao consumidor identificá-lo facilmente. Os produtores vêem a procura do produto certificado como uma diferenciação de qualidade definida pelo método de produção. Assim, é justificado um aumento do preço do produto “amigo” do ambiente, pois os produtores têm muitas vezes que alterar os seus métodos de produção para alcançar os critérios da certificação. No que diz respeito à certificação de pescarias, existe um critério específico no âmbito do impacto em espécies ambientalmente ameaçadas (mamíferos marinhos, tartarugas e aves). Este artigo refere especificamente que: “Os efeitos da pescaria são conhecidos e existe grande probabilidade de estarem dentro dos limites de requisitos nacionais e internacionais para a protecção de espécies ambientalmente ameaçadas (espécies ETP); existe informação suficiente para determinar se a pescaria poderá ser uma ameaça à protecção e à recuperação de espécies (ETP), e se sim, ter medidas de avaliar os padrões dos impactos e apoiar estratégias de controlar os mesmos; e que hajam dados suficientes que permitam a mortalidade relacionada com a pescaria e o impacto da pesca serem quantitativamente estimados para espécies ETP”. Em Portugal, em Janeiro de 2010, foi certificada a pescaria do cerco para a pesca da sardinha. Esta certificação foi requerida pela ANOPCERCO - Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco, que considerou a certificação benéfica para o reconhecimento da qualidade da pescaria e garantia da sustentabilidade do recurso em Portugal. Por este motivo, na perspectiva da sustentabilidade e boa gestão da actividade piscatória, implementou-se a Certificação MSC, a qual é constituída por três princípios obrigatórios que comprovam uma pesca responsável: O estado do stock/biomassa (a arte da pesca tem como base evitar a sobrepesca e extinção do stock); O impacto ambiental (a pescaria deve salvaguardar o ecossistema dos oceanos, não prejudicando o seu habitat, produtividade e funcionalidade); Gestão da pesca (as Organizações de Produtores adoptam um sistema de gestão que obedece às leis e directivas locais, nacionais e internacionais). A Certificação MSC atribuída à pescaria do cerco para a pesca da sardinha tem uma validade de 5 anos (2010 a 2015), tendo os métodos de pesca utilizados sido considerados como estando em conformidade com os princípios e critérios requeridos para uma pesca sustentável. Anualmente, são feitas auditorias para verificar se os métodos de pesca garantem a sustentabilidade nos critérios que conduziram à certificação. 101 Esta certificação trouxe uma mais-valia para o pescado capturado, neste caso para a sardinha. Se por um lado um aumento da cadeia de valor da sardinha por parte de todos operadores (produtores e industriais) é posto em prática, por outro o seu stock é mais controlado (a quota anual de captura tem um limite máximo que ronda as 50.000 toneladas), podendo esta espécie ser representada pelo eco-rótulo azul da MSC, reconhecido internacionalmente. De uma maneira geral, encontrando-se um equilíbrio entre uma pescaria sustentável e um mercado para produtos de pesca sustentáveis, outras pescarias serão incentivadas a mudar as suas prácticas. Particularmente, se existem problemas associados aos métodos de pesca que comprometem a sobrevivência de espécies ETP, esses problemas são detectados e são propostas medidas para mitigar o problema. Se assim não for, a certificação poderá estar comprometida. 102 Responsabilidades perante leis e acordos nacionais e internacionais Existem espécies e habitats que são importantes em termos de conservação e importantes para a sociedade humana, sendo por isso protegidos por legislação nacional e internacional. Ao longo das últimas décadas, a legislação de protecção de cetáceos tem vindo a evoluir consistentemente quer a nível nacional quer internacional, nomeadamente através do estabelecimento de acordos multilaterais que visam a protecção de espécies ou habitats onde estes se inserem. Relativamente à legislação nacional, a protecção de cetáceos está abrangida pelo DecretoLei n.º 263/81 (de 3 de Setembro), que proíbe a captura intencional, transporte e morte destes animais, e pela transposição da Directiva Habitats para a legislação portuguesa (Decreto Lei 140/99, de 24 de Abril com a redacção dada pelo Decreto Lei 49/2005 de 24 de Fevereiro). No que se refere a legislação internacional que protege estas espécies, destaca-se a Directiva Habitats (92/43/EEC, 21 Maio 1992), que se apli- ca às águas marinhas de Zonas de Exclusão Económica (ZEE) dos Estados Membros da União Europeia. Nesta Directiva, todos os cetáceos estão incluídos no Anexo IV (espécies de interesse comunitário que necessitam de protecção estrita) e duas espécies (bôto e roaz-corvineiro) estão incluídas no Anexo II (espécies de interesse comunitário cuja conservação requer a designação de Áreas Especiais de Conservação). Existem também tratados, acordos e legislação internacionais que protegem directa ou indirectamente os cetáceos (Convenção de Berna, Convenção de Bona, OSPAR, ASCOBANS, ACCOBAMS, Convenção da Comissão Baleeira Internacional, Convenção CITES, Acordo MARPOL, UNCLOS e Earth Summit). Adicionalmente, Portugal, como membro da UE, está obrigado a tomar medidas para recolher dados científicos sobre as capturas acidentais de cetáceos (Regulamento (CE) n.º 812/2004 do conselho de 26/04/2004). Deste modo, o Estado Português é obrigado a proceder à implementação de esquemas de observadores independentes em barcos de pesca com comprimento fora a fora superior a 15 me- a e su arinho tema m ambiental is s s o c e e nte do de qualidad r integra parte te indicado o ã s s n ceo orta Os cetá a é um imp ç presen tros. Segundo este regulamento, para barcos de dimensões inferiores, os dados relativos a capturas acidentais devem ser recolhidos através de estudos científicos ou projectos-piloto. Importância ecológica e funcional Os cetáceos são parte integrante da fauna marinha e costeira das águas portuguesas. Este grupo pode ser um indicador útil do estado e da produtividade do ecossistema (Katona e Whitehead 1988). Estes animais são predadores de topo, com grande tamanho corporal o que sugere que podem ter uma forte influência na estrutura e funcionamento das comunidades (Bowen 1997, Springer et al, 1993, Tynan, 2004). Assim sendo, estes animais podem ter um papel importante na modelação das características do comportamento e biologia das suas presas e dos seus competidores (Katona e Whitehead, 1988). Em teoria, a remoção dos predadores de topo, neste caso os cetáceos, leva a um au- mento do número de presas. Estas presas podem ficar disponíveis para outros predadores ou ter, por sua vez, um forte impacto predatório noutras componentes do ecossistema. Em qualquer dos casos, o ecossistema perde biodiversidade, complexidade física, produtividade e resiliência com a diminuição dos cetáceos (Trites, 1997). Por exemplo, pensa-se que a diminuição das populações de lontras marinhas e pinípedes no Mar de Bering e Pacífico norte foram provocadas pelo aumento da predação destas espécies por orcas em detrimento das baleias, cujas populações foram reduzidas devido à caça (Springer et al., 2003). Adicionalmente, devido ao seu tamanho corporal, os cetáceos podem ter também um papel importante no armazenamento e reciclagem dos nutrientes e na alteração de habitats bênticos (Katona e Whitehead, 1988). Os cetáceos de grande porte que se alimentam e produzem dejectos ricos em ferro na zona bêntica, promovem a produção primária e funcionam indirectamente como sequestradores de carbono (Lavery et al., 2010). Adicionalmente, os cetáceos de grande porte que sofrem mortalidade natural no mar tendem a afundar rapidamente e funcionam, deste modo, como pequenos habitats ricos em energia, que servem uma sucessão de diversas comunidades de macrofauna envolvendo um elevado número de espécies especializadas neste processo (Smith, 2006). Em cetáceos de grande porte (baleias) este processo pode durar décadas (Smith, 2006) e ser um veículo importante de dispersão de comunidades de organismos quimiossintéticos no fundo do mar (Smith et al., 1989). 103 Acção d pescad e divulgaçã o ores e com to juntamente co dos os respon m pescado re sáveis da pes s e armado re ca é es sencia s. A coopera l ao su ç cesso ão perman dos pro en jectos te com os de con servaç ão 104 Tabela 6.2. Estimativas da produção de base da pesca do cerco e polivalente em Portugal para o ano de 2010 (Datapescas nº 87). Desembarques (t) Preço médio por Kg (€) Desembarques médios por embarcação (t) Produção base por barco (€) Cerco 72 681 0,57 758 ± 432 000 Polivalente 61 516 2,37 100 ± 237 000 t toneladas, € euros Tabela 6.3. Estimativas dos custos (euros) associados à produção de base da pesca do cerco e polivalente em Portugal, para o ano de 2010 (Datapescas nº 87 e informações recolhidas no Instituto Nacional de Estatística quanto aos custos operacionais da pesca - INE, Contas Satélite/Contas económicas da pesca - 2008). Custos operacionais para a frota (%) Custos associados às remunerações de base para a frota (%) Custos operacionais por embarcação Custos associados às remunerações de base por embarcação Cerco 14 085 578 (34%) 11 599 888 (28%) ± 146 880 ± 120 960 Polivalente 49 569 593 (34%) 40 822 018 (28%) ± 80 580 ± 66 360 Custos e lucros da pesca em 2010 Com base no documento Datapescas nº 87, no ano de 2010 a frota de cerco e polivalente do continente desembarcou, respectivamente, ±72 000 e ±61 500 toneladas de pescado (Tabela 6.2). A estas descargas foi possível associar o custo por quilograma de pescado, que foi de 0,57 euros para a pesca do cerco e de 2,37 euros para a pesca polivalente. Os custos associados à produção acabam por ser um dos aspectos mais difíceis de se estimar, tendo-se optado por usar um valor médio nacional que serve apenas como indicador. Assim, com base em informações do Instituto Nacional de Estatística para o ano de 2008, cerca de 34% da produção é gasta em custos operacionais (combustíveis, manutenção, arranjos, etc.) e cerca de 28% dessa mesma produção é gasta a cobrir custos laborais (Tabelas 6.3). do coloca Pinger numa o e cerc rede d 105 Custos de Gestão decorrentes do uso de medidas de mitigação Para a ACB serão avaliados os custos de gestão associados à introdução nas artes da pesca de dispositivos acústicos (vulgo, pingers) nas redes de emalhar, tresmalho e do cerco e também aqueles associados à substituição das redes de emalhar e de tresmalho por redes acústicas. Estas são as únicas medidas de mitigação para as quais será fácil estimar os custos associados à sua implementação. Os restantes custos serão estimados em função das perdas previstas nos lucros, sendo apresentadas na tabela de síntese de custos e benefícios (Tabelas 6.5 e 6.6). Relativamente à pesca de cerco, tendo em conta a especificidade da arte e a experiência dos pescadores, concluiu-se ser apenas necessário colocar entre três a cinco pingers espaçados de forma igual na zona central da rede e afastados da chalandra, de forma a criar uma zona de exclusão próxima da rede, mas deixando uma zona de fuga onde a rede é fechada para obter o necessário espaço (zona) de exclusão de cetáceos. Nas redes de tresmalho e emalhar, para obter a designada zona de exclusão de cetáceos, é necessário colocar um pinger por cada 100 m de rede, tal como indicado nas especificações técnicas de utilização dos pingers FUMUNDA. No caso das redes de xávega, deverão ser colocados 3 a 4 pingers em cada uma das asas da rede, sendo que os primeiros pingers devem estar colocados junto à entrada do saco e os últimos no fim das asas junto ao local de inserção dos cabos de alagem. Desta forma, a colocação de pingers nas redes das diferentes pescarias teria os custos apresentados na tabela 6.4. Tabela 6.4. Estimativa de custos em relação ao uso de pingers. Arte de Pesca Custo Unitário Cerco Emalhar e Tresmalho 65 € por cada pinger (*) Rede Xávega 106 (*) Valores de 2009 para FUMUNDA PINGERS - 10 KHZ Nº de Pingers Custo Final 3 a 5 por cada rede 195 a 325 € por cada rede 10 por cada km de Rede 650 € por cada km de rede 6 a 8 por rede 390 a 520 € por cada rede Grupo im a prox iloto n ias-p de bale a. e pesc arco d de b idade Relativamente à substituição das redes actualmente utilizadas nas artes de redes de emalhar e de tresmalho pelas redes acústicas desenvolvidas pela BETTER GEAR LLC, estima-se um acréscimo de 30 % em relação aos custos actuais. Adicionalmente, foram estimados custos de manutenção anuais (de substituição de baterias e de perdas, no caso dos pingers, e de perdas e destruição, no caso das redes acústicas) na ordem de 5 a 10% dos custos iniciais das alterações introduzidas nas artes das pescas. Síntese de custos e benefícios A não implementação de medidas de mitigação de capturas acidentais resulta em elevados custos para a conservação de espécies ameaçadas. Contudo, também resulta num aumento dos custos para a própria actividade costeira. Estes custos podem revelar-se a nível ambiental, mas representam claramente custos a nível social e económico. A nível social é importante saber que a captura de espécies ameaçadas afecta a imagem do pescador, mas para pescas como a da sardinha, pode afectar a viabilidade do processo de certificação. Ao nível económico, apesar da maior parte dos pescadores assumir que os danos nas artes provocados pelos cetáceos não são significativos, a realidade é que as interacções frequentes com cetáceos fragilizam as artes de pesca, diminuem a sua eficácia e contribuem para que estas tenham um menor tempo de vida. 107 Tabela 6.5. Síntese dos riscos decorrentes da não implementação de medidas de mitigação. Tipologia Custos para os pescadores Custos para a conservação Elevada mortalidade de cetáceos por captura acidental Não há riscos directos para os pescadores mas indirectamente poderão vir a ser afectados pelos custos para a conservação Risco de alteração do estatuto de conservação das espécies e necessidade de implementar medidas mais drásticas de conservação Alteração da estrutura trófica das comunidades marinhas (causada pela diminuição do número de cetáceos) Desequilíbrio nos stocks de espécies pelágicas: risco de aumento descontrolado causando desequilíbrio à posteriori das comunidades planctónicas e consequente declínio dos stocks de peixes pelágicos a médio-longo prazo; risco de diminuição devido ao aumento de alguns peixes predadores que competem com os cetáceos Aumento de algumas espécies de peixes predadores (ex. tubarões) que poderão levar a um desequilíbrio das comunidades marinhas em geral, com uma diminuição das espécies não predadoras e especialmente as pelágicas Aumento da quantidade de cadáveres de cetáceos arrojados Não há riscos directos para os pescadores Aumento dos custos relacionados com a recolha e processamento de animais arrojados pelas entidades responsáveis por este processo Promoção de uma imagem negativa do sector das pescas Um aumento da mortalidade pelas pescas pode contribuir para uma degradação da imagem do pescador Não há riscos directos para a conservação Promoção de uma imagem negativa das entidades reguladoras da conservação da natureza e gestão das pescas a nível nacional Um aumento da mortalidade pelas pescas pode contribuir para uma degradação da imagem do pescador O não cumprimento de leis nacionais e internacionais que protegem espécies marinhas e controlam a sua mortalidade por captura acidental pode afectar a imagem das políticas de conservação Portuguesas Ambiental Social O não cumprimento de leis nacionais e internacionais que protegem espécies marinhas e controlam a sua mortalidade por captura acidental pode levar a sanções e restrições para o sector das pescas pela comunidade europeia 108 Económica Impacto no processo de certificação No processo de certificação de pescarias (tanto as já confirmadas como outras que estão em curso) a não implementação de medidas de mitigação pode afectar o resultado de uma certificação Neste caso também haverá perdas para a conservação, porque a certificação é um excelente mecanismo de monitorização das pescas, perdendo-se assim informações que podem ajudar em processos de conservação e gestão Danos nas artes de pesca A evolução actual mostra uma tendência para o aumento das interacções com um consequente aumento dos custos associados a danos nas redes Não há riscos directos para a conservação Aumento de esforço de pesca e tempo de operações de pesca A consequente tendência para o aumento das interacções pode levar ao aumento do tempo de procura de peixe e dos custos económicos associados à pescaria Impacto no turismo de natureza Não há riscos directos para os pescadores É frequente assumir que os benefícios da implementação de medidas de mitigação estão exclusivamente relacionados com a conservação das espécies, que passam a sofrer um menor número de capturas acidentais. Contudo, conforme é possível verificar na Tabela 6.6, em termos de conservação o principal benefício é a diminuição da mortalidade acidental, sendo que duas medidas também contribuem para a diminuição da sobre-exploração de stocks de espécies de peixe mais costeiras. Assim, é o próprio sector das pescas que mais beneficia pela implementação de medidas de mitigação. Esses benefícios revelam-se ao O turismo de natureza e especialmente o de observação de cetáceos necessita destes animais para atrair visitantes. Um aumento de mortalidade pode resultar em diminuição dos efectivos populacionais com custos para actividades de turismo mais sustentável. nível operacional (menos interacções, menos capturas acidentais, menos tempo perdido na remoção de animais capturados, menos custos de manutenção das redes). Infelizmente, estes benefícios não representam benefícios económicos imediatos, mas sim a médio e longo prazo. A implementação de medidas de mitigação resulta também em benefícios para a imagem do pescador e benefícios sempre que a pescaria está envolvida em situações de certificação. Assim, a aplicação de medidas de mitigação em larga escala é quase exclusivamente condicionada pela questão de quem é que tem que suportar os custos da sua implementação. Ha- vendo vantagens para a conservação, fica claro que não pode ser apenas o sector das pescas a suportar estes encargos. Assim, o SafeSea fez o primeiro esforço em fornecer equipamentos a custo zero aos pescadores que participaram no projecto. Num futuro próximo, será necessário encontrar mecanismos de apoio internacionais e nacionais (nomeadamente ao nível da melhoria da selectividade das pescas), que promovam um uso voluntário e generalizado destes equipamentos pelo sector pesqueiro. Estes fundos devem ser um apoio para o uso inicial de medidas de mitigação, sendo que os menores custos de manutenção já poderão ser suportados pelos próprios pescadores. 109 Tabela 6.6. Síntese de custos e benefícios associados à implementação de medidas de mitigação (apenas referente a medidas já em utilização, excluindo medidas experimentais). Medida de Mitigação 110 Artes a que se aplica a medida de mitigação Custos Benefícios para os pescadores Benefícios para a conservação Evitar largar ou alar a rede na proximidade de cetáceos Todas Ligeiro aumento dos custos de operação relacionados com a necessidade de esperar ou de ter de mudar de local Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Menor risco de danos nas artes de pesca Menores custos de manutenção das artes Importante para o processo de certificação do cerco Evitar largar artes de tresmalho em profundidades inferiores a 30 metros. Polivalente Aumento dos custos de deslocação para áreas mais distantes Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Menor risco de danos nas artes de pesca Menor pressão de pesca sobre as Menores custos de manutenção das artes comunidades mais costeiras que se encontram em sobre-exploração Nunca usar redes de tresmalho à superficie ou semi-derivantes Polivalente Nenhum custo para os pescadores Menor risco de captura acidental Menor risco de ser apanhado a praticar uma pesca ilegal Evitar usar zonas onde sistematicamente se observam cetáceos Todas Aumento dos custos de deslocação decorrentes da procura de novas áreas Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Menor risco de danos nas artes de pesca Menores custos de manutenção das artes Importante para o processo de certificação do cerco Comunicar a outros barcos da frota a presença de cetáceos numa determinada zona Cerco e polivalente Pode haver um aumento de custos devido à deslocação para zonas mais distantes Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Com o sistema de comunicação implementado os custos devido às deslocações pode até acabar por diminuir Menor risco de danos nas artes de pesca Menores custos de manutenção das artes Importante para o processo de certificação do cerco Menor mortalidade quer de cetáceos, tartarugas e aves. Menor pressão de pesca sobre as comunidades mais costeiras que se encontram em sobre -exploração Utilização de sistemas de alerta acústico nas redes Todas Aumentos dos custos de equipamentos: Aumento insignificante no cerco (muito menos de 1% do valor do pescado) Aumento baixo nos custos da xávega (menos de 1% do valor do pescado) Aumento importante nos custos da pesca polivalente (entre 10 a 15% do valor do pescado) Aumento das dificuldades de operacionalidade das artes (varia conforme o tipo de pinger usado) Aumento do ruído nos oceanos Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Menor risco de danos nas artes de pesca Menores custos de manutenção das artes Importante para o processo de certificação do cerco Utilização de sistemas de alerta acústico no barco Polivalente Aumentos não significativos dos custos de equipamentos. Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Menor risco de danos nas artes de pesca Menores custos de manutenção das artes Utilização de redes melhoradas acusticamente com sulfato de bário Polivalente Aumento de 30% nos custos das redes que corresponde apenas a um aumento de 1% em relação ao valor do pescado Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Menor risco de danos nas artes de pesca Menores custos de manutenção das artes Maior durabilidade das artes, estimada numa durabilidade superior em cerca de 20% Evitar largar armadilhas e alcatruzes em elevada densidade e com uma distribuição de cabos que pareça um labirinto Polivalente Aumentos dos custos de deslocação por ter de distribuir as artes por uma área maior Menor risco de captura acidental Menor risco de danos nas artes de pesca Menor mortalidade de cetáceos 111 Embarcações a trabalhar num modelo cooperativo Parar o processo de cerco e / ou criar uma abertura na rede para a fuga dos cetáceos 112 Cerco Cerco Não há custos acrescidos Perda da captura de um lanço Aumentos dos custos de operação por ter de procurar um novo pesqueiro Menor risco de captura acidental Menores custos de operação Importante para o processo de certificação do cerco Menor mortalidade de cetáceos Menor risco de captura acidental Importante para o processo de certificação do cerco Promoção da imagem do pescador e sector das pescas. Menor mortalidade de cetáceos Diminuição das rejeições e consequente contribuição para menor mortalidade de peixe excedente e melhor gestão dos stocks. Referências Archer, F., W. Perrin. 1999. Stenella coeruleoalba. Mammalian Species 603: 1-9. lho dos Vertebrados de Portugal Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade. Lisboa. taceans in fishing gear. Report to the International Whaling Commission. Special Issue 15: 597–605. Au, W.W.L.; Jones, L. 1991: Acoustic reflectivity of nets: implications concerning incidental take of dolphins. Marine Mammal Science 7(3): 258–273. Calzada, N., A. Aguilar, C. Lockyer, E. Grau. 1997. Patterns of growth and physical maturity in the western Mediterranean striped dolphins Stenella coeruleoalba. Canadian Journal of Zoology 75(4): 632-637. Hall, M.A.; Campa, M.; Gomez, M. 2003: Solving the tuna-dolphin problem in the eastern Pacific purse-seine fishery. Ocean Yearbook 70: 60–92. Baeta, F. & Cabral, H.N. (2005). 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