Livro 2
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Livro 2
FOLHA DE ROSTO ADEMILDE SARTORI EDGARD SPITZ PINEL ESROM ADRIANO FREITAS IRALA MARILDA APARECIDA BEHRENS PAULO EDUARDO DE OLIVEIRA EDMÉA SANTOS JUCIMARA ROESLER ELIZETE LÚCIA MOREIRA MATOS LIANA MÁRCIA JUSTEN NEIVA BEATRIZ MARINHO PINEL RITA ANDRÉIA MORO SENCO ZEM MARCO SILVA PATRÍCIA LUPION TORRES (org.) RITA DE CÁSSIA VEIGA MARRIOTT Teoria e Prática Depósito legal na CENAGRI, conforme Portaria Interministerial n. 164, datada de 22 julho 1994, junto à Biblioteca Nacional e SENAR-PR. Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Administração Regional do Estado do Paraná – SENAR-PR Rua Marechal Deodoro, 450 - 16º andar Fone (0xx)41 2106-0401 - Fax (0xx)41 3323-1779 e-mail: [email protected] http://www.senarpr.org.br Os direitos de reprodução são reservados ao Editor. Catalogação no Centro de Documentação, Informações Técnicas do SENAR-PR. Torres, Patrícia Lupion, org. Algumas vias para entretecer o pensar e o agir / Patrícia Lupion Torres [org.]. – Curitiba : SENAR-PR, 2007. 196p. ISBN 85-7565-023-3 1. Teorias de aprendizagem. 2. Métodos e técnicas de ensino. 3. Tecnologia educacional. I. Título. CDD370 CDU37(816.2) IMPRESSO NO BRASIL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA COORDENAÇÃO EDITORIAL Antônia Schwinden PROJETO GRÁFICO Glauce Nakamura ILUSTRAÇÃO André Ducci EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Ivonete Chula dos Santos 2 Programa Agrinho Teoria Apresentação e Prática APRESENTAÇÃO O Agrinho é o maior programa de responsabilidade social do Sistema FAEP, resultado da parceria entre o SENAR-PR, FAEP, o governo do Estado do Paraná, mediante as Secretarias de Estado da Educação, da Justiça e da Cidadania, do Meio Ambiente e Recurso Hídricos, da Agricultura e do Abastecimento, os municípios paranaense e diversas empresas e instituições públicas e privadas. O Programa Agrinho completa 12 anos de trabalhos no Paraná, levando às escolas da rede pública de ensino uma proposta pedagógica baseada na interdisciplinaridade e na pedagogia da pesquisa. Anualmente, o programa envolve a participação de mais de 1,6 milhão de crianças e professores da educação infantil, do ensino fundamental e da educação especial, estando presente em todos os municípios do Estado. E, por envolver tão significativo público, tem, de nossa parte, um empenho comovido. Como experiência bem-sucedida, encontrase também em diversos estados do Brasil. Criado com o objetivo de levar informações sobre uma questão de saúde e segurança pessoal e ambiental, principalmente às crianças do meio rural, o Programa se consolida como instrumento eficiente na operacionalização de temáticas de relevância social da contemporaneidade dentro dos currículos escolares. Especialistas altamente qualificados, de renome nacional e internacional, fundamentam as informações que compõem o material didático preparado com exclusividade para o Programa. Pelo incentivo à pesquisa, propõe-se ao rompimento entre teoria e prática no contexto de uma educação crítica, criativa, que desenvolva a autonomia e a capacidade de professores e alunos assumiram-se como pesquisadores e produtores de novos conhecimentos. Programa Agrinho 3 Teoria e Prática Apresentação O Concurso realizado todos os anos nas categorias redação, desenho e Município Agrinho serve a um só tempo como instrumento de avaliação do alcance das atividades e como uma amostra daquilo que o Programa vem provocando em termos de ações efetivas. O elevado grau de apropriação dos temas apresentados nos materiais, por crianças e adolescentes do Ensino Fundamental, pode também ser comprovado pela Experiência Pedagógica, um relato dos professores sobre o trabalho pedagógico que desenvolvem no Programa Agrinho. Desde seu início em 1996, os professores do ensino público municipal e estadual, as crianças e os jovens recebem com entusiasmo e dedicação as atividades do Programa Agrinho. A cada ano esse trabalho vem se superando em qualidade e criatividade. O presente livro apresenta diversas sugestões de metodologias e técnicas, para auxiliar os professores em sua prática diária. Esta será uma edição única, distribuída para todos os professores paranaenses envolvidos neste Programa nos próximos anos. Aproveitamos, também, a oportunidade para agradecer a você professor, pelo belíssimo trabalho realizado, pois sem a sua participação jamais teríamos construído esta história de sucesso. Ágide Meneguette Presidente do Conselho Administrativo do SENAR-PR 4 Programa Agrinho Teoria eSumário Prática SUMÁRIO APRESENTAÇÃO Ágide Meneguette 3 INTRODUÇÃO 7 Patrícia Lupion Torres Paulo Eduardo de Oliveira 17 A PEDAGOGIA DA TRANSMISSÃO E A SALA DE AULA INTERATIVA Edméa Santos Marco Silva METODOLOGIA DE PROJETOS: O PROCESSO DE APRENDER A APRENDER Marilda Aparecida Behrens Rita Andréia Moro Senco Zem 37 65 APRENDIZAGEM COLABORATIVA Patrícia Lupion Torres Esrom Adriano F. Irala MÍDIA E EDUCAÇÃO: LINGUAGENS, CULTURA E PRÁTICA PEDAGÓGICA Ademilde Sartori Jucimara Roesler INTERNET: USO RESPONSÁVEL, POSSIBILIDADES E APLICAÇÕES Neiva Beatriz Marinho Pinel Edgar Sptz Pinel Elizete Lúcia Moreira Matos COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM E REDES SOCIAIS Liana Justen 99 119 137 MAPAS CONCEITUAIS 155 Rita de Cássia Veiga Marriott Patrícia Lupion Torres SOBRE OS AUTORES 191 Programa Agrinho 5 Teoria e Prática INTRODUÇÃO Patrícia Lupion Torres Paulo Eduardo de Oliveira A produção do conhecimento passou, ao longo da história da humanidade, por diversas concepções e formulações: desde os primitivos homens da caverna que lutavam para conseguir dominar a técnica de produção do fogo até as novas pesquisas espaciais ou a engenharia genética, estamos sempre em busca do conhecimento. Todas essas mudanças podem ser compreendidas com o que Thomas Kuhn (1975) chama de paradigma, isto é, o modelo pelo qual acontecem e se desdobram as “revoluções científicas”. Como afirmava Aristóteles, no início de sua Metafísica, o homem tem, por natureza, o desejo de conhecer. Contudo, apesar dos diversos caminhos pelos quais a longa viagem da ciência se desenrolou, podese dizer que, em todos os períodos, manteve-se uma tônica: a busca da verdade, ou seja, a compreensão do que as coisas, o mundo e a pessoa são, em essência. Na visão de Karl Popper (1994), a ciência não é um empreendimento estável: mais se assemelha a um pântano, no qual, de vez em quando, encontramos uma pedra firme. Por isso, a atividade humana de conhecer, segundo o filósofo, se caracteriza por duas tarefas principais: fazer conjeturas e buscar suas refutações. Conjecturas são hipóteses, pretensas respostas aos problemas de explicação das coisas que nos cercam. A teoria do Big Bang, sobre a origem do Universo, por exemplo, é uma conjectura: é uma hipótese ousada, descreve um fato sobre o qual temos poucas provas e evidências, Programa Agrinho 7 Teoria e Prática mas que precisamos explicar. Nossos avanços farão com que essa hipótese seja confirmada ou refutada, ou seja, derrubada e substituída por outra teoria mais explicativa e pretensamente mais verdadeira. Aprofundar em Karl Popper em sua obra intitulada “A lógica da pesquisa científica”. A lógica da pesquisa científica não nos apresenta recursos para comprovar definitivamente uma teoria, mas apenas para aventar sua possibilidade. Isso nos leva a deixar de lado a atitude dogmática, de quem pensa ser dono da verdade, em definitivo, e adotar a posição de quem, como afirmava o filósofo grego Sócrates, só sabe o quanto não sabe. Passamos, assim, de uma atitude científica fortemente marcada pela certeza, pela convicção positivista de que tínhamos alcançado o último nível na escalada do conhecimento, como afirmava Augusto Comte (1996), para uma visão intelectualmente mais modesta. Para o físico Ilya Prigogine (1996), a nova concepção de ciência e de produção do conhecimento se insere num quadro de fim das grandes certezas. O postulado da ciência não é mais o de determinar teorias e explicações definitivas; ao contrário, a provisoriedade do conhecimento parece ser sua nova marca. Em sentido inverso ao que os filósofos e pensadores modernos propunham – uma matematização Aprofundar em Paolo Rossi, em seu livro “A ciência e a filosofia dos modernos: aspectos da revolução científica”. absoluta do Universo, conferindo rigor e precisão exata à ciência –, tornamo-nos cada vez mais dependentes de visões provisórias, de aproximações, de explicações relativas. Nesse contexto, a ciência ocidental passou a enxergar o empreendimento de “produção do conhecimento” com outros olhos. De uma visão cartesiana, apoiada nos princípios matemáticos e filosóficos de Renè Descartes, passamos a adotar uma atitude unificadora, de totalidade e de integração: o homem não é uma simples soma de partes separadas, mas um todo complexo. O ponto de mutação da ciência reside, precisamente, nessa abertura a uma visão que não se deixa dominar pela tendência de simplificação matemática (CAPRA, 1994). A vida e o Universo, antes compreendidos como elementos definidos numa ordem, estática das coisas, à semelhança de uma relógio 8 Programa Agrinho Teoria e Prática gigante que sempre cumpre o eterno movimento, passam agora a ser vistos como elementos dinâmicos, suscetíveis à mudança, presos à “teia da vida” (CAPRA, 1996). É nesse contexto que se pode falar de complexidade, o conceitochave para compreender o horizonte da filosofia e da história da idéias desde o início do século XX. De fato, o paradigma da ciência moderna estabelece um determinismo na explicação da realidade. Tal paradigma se expressa mediante uma relação de causa e efeito e estabelece critérios de verdade, como promessa de um pretendido conhecimento final e definitivo. O novo modo de pensar, contudo, contrariamente ao modelo moderno, reconhece a insuficiência do conhecimento e os desacertos do comportamento e procura entender a indissolubilidade das quatro realidades fundamentais: o cosmos, a natureza, o indivíduo e o outro, e as intermediações criadas pelo homem (D’AMBROSIO, 2006). Reconhece-se que essa profunda modificação no modo de conceber a ciência não é um elemento estranho ao processo de produção da própria ciência. Ao contrário, é no coração da ciência, e sobretudo das ciências da natureza, as chamadas ciências duras, que se inaugura um novo modo de pensar aberto à mudança e aos sistemas complexos. O primeiro ponto a destacar, que representa um verdadeiro avanço na concepção de mundo, é a introdução da mecânica quântica, por Max Planck, em 1900. Segundo essa teoria sobre o mundo, um estado físico requer, para a sua descrição, variáveis selecionadas considerando uma variedade de observações possíveis de acordo com cada sujeito que observa. A relação entre instinto e consciência, desse modo, foi repensada. Nesse âmbito do conhecimento, também em 1900, surge A Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud. Essas contribuições representam uma mudança profunda de paradigma na medida em que a objetividade pretendida no velho modelo dá espaço a uma concepção na qual a subjetividade recupera seu espaço e seu valor (D’AMBROSIO, 2006). Programa Agrinho 9 Teoria e Prática Uma segunda porta de entrada ao novo paradigma da ciência ocorreu nos limites da lógica. Os méritos desse segundo avanço devem-se ao matemático holandês Luitzen Brouwer, que publicou importante trabalho em 1905. Nesse trabalho, ele contesta a total subordinação do pensamento lógico ao princípio do terceiro excluído (entre verdade e falsidade não existe uma terceira possibilidade), dizendo que ele não corresponde à nossa intuição primeira. Há sistemas que necessitam de uma lógica mais geral e abrangente, complexa e sistêmica, poderíamos dizer mais flexível, nos seus critérios de decisão e averiguação da verdade. A proposta de Brouwer ficou conhecida como intuicionismo e revela, precisamente, a força da intuição nos processos de conhecimento do mundo e de explicação da realidade (D’AMBROSIO, 2006). Por fim, é no âmbito da matemática, justamente a área que conferia exatidão e rigor ao antigo modelo, que vamos perceber uma abertura para a mudança e para uma visão relativista. Esse terceiro avanço, com importantes implicações filosóficas, foi dado em 1935 pelo matemático Kurt Gödel. Estudando sistemas formais da aritmética, Gödel enunciou um teorema que não pode ser demonstrado no próprio sistema. Isto é, esses sistemas só podem ser estudados num contexto mais amplo, com considerações fora do sistema, a partir de outras abordagens racionais. Conseqüentemente, é necessário considerar sistemas abertos de conhecimento e de explicação racional do mundo. (D’AMBROSIO, 2006) Trata-se, assim, não de uma visão estanque da realidade, mas de uma abertura à complexidade e à visão não-linear. É no pensamento de Edgar Morin, sobretudo, que se estabelecem as linhas iniciais da reflexão sobre a complexidade e seus desdobramentos na educação. Segundo Morin, a complexidade de um novo mundo em processo é, pois, a nova perspectiva que se apresenta, por meio da qual o novo conhecimento deve ser procurado. É essa a grande bandeira que Morin defende, instigando as pesquisas de um novo saber, aberto, complexo, sistêmico, e apontando o pensamento complexo e o método 10 Programa Agrinho Teoria e Prática transdisciplinar como possíveis caminhos de busca. Não há dúvida de que esse é o grande problema do ensino e da pesquisa, em nossos dias: o do conhecimento a ser descoberto, não mais isolado e absoluto, como algo-em-si, mas em suas complexas relações com o contexto a que pertence (COELHO, 2006). Morin (2001) nos mostra a necessidade de, ao invés de distanciar os saberes, como no modelo clássico de ciência que privilegiava as especializações, buscar a integração e, mais ainda, a “religação dos saberes”. Esse é, precisamente, um dos impactos do pensamento proposto por Morin. Ao tentarmos assumi-lo, estamos diante de um verdadeiro desafio à nossa capacidade de elaborar o nosso conhecimento, seja no sentido de organizar, em ‘sínteses provisórias’, a avalanche de informações que nos assaltam por todos os lados, seja nas incertezas, que nos lançam em dúvida e inquietação quanto à validade ou não do próprio processo de conhecer, que a nova ótica, cujo foco está na complexidade dos fenômenos, veio pôr em questão. As questões cruciais sobre a ciência e o conhecimento do mundo suscitam sempre nosso interesse: de onde provém o conhecimento? do objeto, em sua realidade objetiva, sem interferência do sujeito?; ele é produzido no sujeito, que encontra em si próprio os critérios de avaliação e conceituação do objeto? Tais questões precisam ser respondidas sob o olhar da complexidade, sem as limitações do modelo linear de pensamento (COELHO, 2006). Assim, ao invés de se estabelecer métodos seguros de acesso à verdade e de produção do conhecimento, resta-nos a atitude humilde de quem sabe que a ciência humana vive nos limites da incerteza. É essa consciência epistemológica, nascida do pensamento complexo, que sustenta as abordagens educativas baseadas na produção do conhecimento. ... nos rastros do pensamento complexo, o que nos importa ressaltar aqui é o fato de que, no lugar do sujeito seguro, baseado em certezas absolutas (fundado no pensamento tradicional: positividade, empirista, determinista), está hoje um sujeito interrogante que (tal qual o aprendiz de feiticeiro), diante desse mundo belo/horrível, em acelerada Programa Agrinho 11 Teoria e Prática transformação (e que ele mesmo criou), tenta encontrar um novo centro ou novo ponto de apoio, para uma nova ordem (mesmo que seja provisória), em meio ao oceano de dúvidas e incertezas que o assaltam. Diante do acima exposto é que no Programa Agrinho optou-se pela adoção da proposta metodológica da Pedagogia da Pesquisa – Aprofundar em Tese de doutorado de Regina Bochniak. melhor dizendo um método de se fazer educação para e nos dias atuais. Tal proposta foi desenvolvida por Bochniak (1998) e Torres (2002) e pretende formar alunos e professores pesquisadores, sujeitos fazedores da história dos dias atuais. Ao adotar esse método, nos últimos 11 anos, buscou-se garantir a concretização da produção do conhecimento por alunos e professores. Diversas foram as experiências bem-sucedidas que comprovaram o sucesso do Programa Agrinho durante este período. Visando contribuir ainda mais com a formação dos professores e alunos pesquisadores foram convidados diversos educadores para revisar, complementar e atualizar os materiais do Programa. Tais educadores se dispuseram a elaborar uma proposta coerente com os princípios teóricos da complexidade, buscando, dessa forma, superar o descompasso muitas vezes existente entre a teoria e a prática. A convicção da necessidade de formar pesquisadores foi assim determinante para a definição da escrita deste segundo livro destinado aos professores. Temos neste livro então algumas sugestões de metodologias e estratégias pedagógicas voltadas a mobilizar competências com a própria atividade docente cotidiana. São elas: metodologia de projetos, aprendizagem colaborativa, atividades com uso de mídias, comunidade de aprendizagem e mapas conceituais. Todas elas têm na noção de interatividade o traço comum e fundamental. A sucinta descrição de cada uma delas, como feita a seguir, está posta para tornar claro que a atitude interativa de alunos e professores é o diferencial de uma prática pedagógica inovadora. 12 Programa Agrinho Teoria e Prática Marco Silva e Edméia dos Santos discorrem em seu texto sobre a necessidade de buscar-se soluções pedagógicas que levem à superação da pedagogia da transmissão. Apresentam a prática pedagógica reflexiva como uma resposta para as situações de formação. Os autores afirmam que a “interatividade é um conceito de comunicação e não de informática”. Propõem que o professor/a professora seja um comunicador e estabeleça uma relação dialógica e interativa com seus alunos a fim de alcançar seus objetivos educacionais. Dessa forma estará implantando uma nova cultura comunicacional na sala de aula. No capítulo elaborado por Patrícia Lupion Torres e Esrom Adriano Irala tem-se destacado que a aprendizagem colaborativa emerge de um diálogo ativo e da exposição de idéias dos participantes de um grupo. É por meio da participação de todos os aprendizes que interagem entre si que se realiza o processo de construção do conhecimento. Esta metodologia, de acordo com Torres (2004), é caracterizada pelas seguintes ações: • Participação ativa do aluno do aluno no processo de aprendizagem; • Interatividade dos diversos atores que atuam no processo; • Estimulação dos processos de comunicação e expressão; • Aceitação das diversidades e diferenças; • Desenvolvimento de autonomia dos alunos. Marilda Aparecida Behrens e Rita Andréia Moro Zem assinalam a relevância de trabalhar com metodologias de ensino que proponham o “aprender a aprender”. Apresentam em seu texto a metodologia de projetos como “o caminho para a aprendizagem na produção do conhecimento”. Programa Agrinho 13 Teoria e Prática O artigo de Jucimara Roesler e Ademilde Sartori traz que as estratégias que lançam mão de atividades com uso da mídia devem estar calcadas na exploração diversificada de um mesmo meio. Em outros termos, uma notícia veiculada ou pelo jornal ou pela televisão ou pelo rádio deve ser trabalhada de diferentes formas, sempre planejadas de maneira crítica e criativa. Nesta proposta deve-se transformar o aluno em sujeito partícipe, autônomo, interativo e autor. Neiva Pinel, Edgar Pinel e Elisete Lucia Moreira Matos argumentam que especial atenção deve ser dada ao meio Internet pelas particularidades de uso que possibilita. Essa mídia, além de propiciar a interatividade, é sustentada pela flexibilidade, garantida pela possibilidade de explorar três formas de comunicação: a de um para um, a de um para muitos e a de muitos para muitos. Liana Justen defende que as comunidades de aprendizagem constituem uma das respostas mais efetivas aos desafios da sociedade da informação e do conhecimento. Elas permitem garantir na prática educativa espaço e tempo para a pesquisa, o exercício da autonomia, a troca de informação, a reflexão, a criatividade, o debate, a crítica e o embate de idéias. Patrícia Lupion Torres e Rita de Cássia Veiga Marriott apresentam as possibilidades e os limites do uso dos mapas conceituais, que, como uma técnica que são, organizam idéias, conceitos e conhecimentos, facilitando, assim, a assimilação, a retenção e a recuperação da informação. Fuentes (2002, p.83) define os mapas conceituais como “técnicas estratégicas que permitem concentrar os conhecimentos e conceitos por meio de associações e relações entre eles mesmos para ter uma visão global de um tema...” Esta técnica tem o potencial de ativar o uso do conhecimento prévio, estimular o desenvolvimento lingüístico, identificar concepções equivocadas. Ela promove uma aprendizagem ativa, significativa, colaborativa, interativa, investigativa, crítica e reflexiva. 14 Programa Agrinho Teoria e Prática A coletânea de artigos que compõem este livro foi idealizada com o intuito de auxiliar os docentes no seu processo de formação continuada e principalmente fornecer subsídios metodológicos para que professores adotem práticas pedagógicas inovadoras em seu cotidiano de sujeitos pesquisadores. REFERÊNCIAS BOCHNIAK, Regina. Questionar o conhecimento. A interdisciplinaridade na escola e fora dela. 2.ed. São Paulo: Loyola, 1998. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1994. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. COELHO, Nelly Novaes. Edgar Morin: A ótica da complexidade e a articulação dos saberes. Disponível em http://www.suigeneris.pro.br/literatura_nelly1.htm, em 31 de julho de 2006. COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva; Discurso sobre o espírito positivo; Discurso preliminar sobre o conjunto do positivismo; Catecismo positivista. São Paulo: Nova Cultural, 1996. D’AMBROSIO, Ubiratan. Complexidade e seus reflexos na educação. Disponível em http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/cre/index.htm, em 31 de julho de 2006. KUHN, Thomas S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1975. MORIN, Edgar. A religação dos saberes. Rio de Janeiro, Bertrand, 2001. POPPER, Karl. Conjecturas e Refutações. Brasília: UnB, 1994. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: EDUSP, 1974. PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: Universidade Estadual Paulista – Campus Marília, 1996. ROSSI, Paolo. A ciência e a filosofia dos modernos: aspectos da revolução científica. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1992. TORRES, Patrícia Lupion.Laboratório on line de aprendizagem: uma proposta crítica de aprendizagem colaborativa para a educação. Tese de doutorado. UFSC. 2002 Programa Agrinho 15 Teoria e Prática A PEDAGOGIA DA TRANSMISSÃO E A SALA DE AULA INTERATIVA Edméa Santos Marco Silva T radicionalmente a sala de aula é identificada com o ritmo monótono e repetitivo associado ao perfil de um aluno que permanece demasiado tempo inerte, olhando o quadro, ouvindo récitas, copiando e prestando contas. Assim tem sido a prática milenar do falarditar do professor e da professora. Na maioria das salas de aula presenciais e também via internet prevalece o modelo comunicacional centrado na récita do mestre, responsável pela produção e pela distribuição de “conhecimentos”. Na educação via internet, os sites e os ambientes virtuais de aprendizagem continuam estáticos, ainda centrados na transmissão de dados desprovidos de mecanismos de interatividade, de criação coletiva, de aprendizagem construída. Este texto faz a crítica da prática comunicacional que vigora na sala de aula presencial sem excluir a sala de aula on-line. Parte do entendimento de que vivemos a transição do modo de comunicação massivo próprio da televisão e da sala de aula transmissora para o modo de comunicação interativo próprio do computador conectado à Internet. A partir da crítica ao modo de comunicação que prevalece na educação escolar e universitária, o texto sugere estratégias de organização Interatividade – O adjetivo “interativo” serve para qualificar qualquer coisa (computador e derivados, brinquedos eletrônicos, eletrodomésticos, sistema bancário on-line, shows, teatro, estratégias de propaganda e marketing, programas de rádio e tv etc.), cujo funcionamento permite ao usuárioconsumidor-espectador-receptor algum nível de participação, de troca de ações e de controle sobre acontecimentos. O conceito interatividade tem raízes na arte participacionista da década de 1960 e se apresenta como tendência geral na era da internet em que o espectador passa a ser participador. Sala de aula on-line – Espaço disponível na Internet, também conhecido como ambiente virtual de aprendizagem. É mais que um site porque reúne interfaces e ferramentas que permitem a autoria do aprendiz na construção coletiva do conhecimento. As interfaces chat, fórum, portfólio, diário simulam situações de sala de aula presencial onde professores e alunos podem compartilhar conteúdos digitalizados e exercitar formas de comunicação e encontros variados síncronos e assíncrono. e funcionamento da sala de aula presencial que permitem redefinir a atuação dos professores e alunos como agentes do processo de comunicação e de aprendizagem. Destaca também a importância da Programa Agrinho 17 Teoria e Prática prática docente reflexiva como dispositivo concreto para a formação continuada de professores. Sociedade da informação – Conceito formulado por D. Bell para exprimir o novo contexto socioeconômico-tecnológico engendrado a partir do início da década de 1980, cuja característica geral não está mais na centralidade da produção fabril ou da mídia de massa, mas na informação digitalizada como nova infra-estrutura básica, como novo modo de produção (KUMAR, 1997). “Cada vez se produz mais informação, cada vez são mais as pessoas cujo trabalho é informar, cada vez são mais também as pessoas que dependem da informação para trabalhar e viver. A economia se assenta na informação. As entidades financeiras, as bolsas, as empresas nacionais e multinacionais dependem dos novos sistemas de informação e progridem, ou não, à medida que os vão absorvendo e desenvolvendo. A informação penetra a sociedade como uma rede capilar e ao mesmo tempo como infra-estrutura básica.” (BALSEMÃO, 1994, p. 282) O computador e a internet definem essa nova ambiência informacional e dão o tom da nova lógica comunicacional que toma o lugar da distribuição em massa própria da fábrica e da mídia clássica até então símbolos societários. Nesse contexto, a produção para a massa cede espaço à produção operacionalizada em redes de interesses. A sociedade da informação é “em rede” uma vez que “as mensagens não são apenas segmentadas pelos mercados mediante estratégias do emissor, mas são cada vez mais diversificadas pelos usuários da mídia de acordo com seus interesses, por intermédio da exploração das vantagens das capacidades interativas”. (CASTELLS, 1999, p. 393 e 497) A PRÁTICA PEDAGÓGICA REFLEXIVA COMO DISPOSITIVO DE FORMAÇÃO CONTINUADA E INTERATIVA A pedagogia baseada na transmissão para memorização e repetição é o modelo de ensino mais corriqueiro na maioria das escolas e universidades em todo o mundo. Muitos já questionaram essa prática pedagógica, mas pouco se fez para modificá-la efetivamente. Doravante teremos mais do que a força da crítica mais veemente já feita. Teremos a exigência cognitiva e comunicacional das novas gerações que emergem com a “sociedade da informação” e com a “cibercultura”. Nesse contexto sociotécnico, os integrantes da chamada “geração digital” (Tapscott, 1999) estão cada vez menos passivos perante a mensagem fechada à intervenção, pois aprenderam com o controle remoto da televisão, com o joystick do videogame e agora com o mouse do computador conectado. Eles evitam acompanhar argumentos lineares que não permitem a sua interferência e lidam facilmente com a diversidade de conexões de informação e de comunicação nas telas. Modificam, produzem e partilham conteúdos. Essa atitude diante da mensagem é sua exigência de uma nova sala de aula, seja na educação básica e na universidade, seja na educação presencial e na educação a distância. Os professores e as professoras estão cada vez mais compelidos à utilização de novas tecnologias de informação e de comunicação, mas permanecem pouco atentos à necessidade de modificar a sala de aula centrada na pedagogia da transmissão. Nem sempre as soluções encontradas significam salto qualitativo em educação. Afinal, o essencial 18 Programa Agrinho Teoria e Prática não é apenas a tecnologia, mas novas estratégias pedagógicas capazes de comunicar e educar em nosso tempo. Não é possível assumir a condição de educadores/educadoras utilizando práticas unidirecionais centradas na autoria exclusiva da emissão sem prejuízo para a educação sintonizada com o espírito do nosso tempo. As separações entre locutor e interlocutor, sujeito e objeto do conhecimento, observador e observável, tempo e espaço precisam ser ressignificadas, pois vivemos em um mundo de mudanças e crises diversas, tanto nos modos e meios de produção de bens e serviços, quanto nos processos de formação e (re)construção de saberes e conhecimentos nesta sociedade da informação e da cibercultura. Segundo Lévy: “Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início de seu percurso profissional estarão obsoletas no fim de sua carreira. (...) Trabalhar quer dizer, cada vez mais, aprender, transmitir saberes e produzir conhecimentos”. (LÉVY, 1999, p.157) Numa sociedade em constantes transformações, o conhecimento é cada vez mais volátil e flexível. Como pode o professor mediar e articular a construção e (re)construção dos saberes se a sua qualificação não acompanhar tais mudanças? De forma geral, os professores são formados pela escola clássica (escola básica, ensino médio e universidade) e esporadicamente são “reciclados” ou capacitados para executar – ou pelo menos tentar executar – modismos teóricos em suas salas de aula, agindo pouco reflexivamente na sua prática pedagógica. Torna-se se necessário, assim, repensarmos o papel da escola como um local de educação significativa que possa não só acompanhar as mudanças societárias, mas, sobretudo, compreender e transformar Cibercultura – O termo cyberspace aparece no romance Neuromancer (1984), de Willian Gibson, para definir uma rede de computadores futurista que as pessoas usam conectando seus cérebros a ela. Cibercultura se constitui como conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores, que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, isto é, com o “novo meio de comunicação que surge com a interconexão mundial de computadores”, que conhecemos como internet. Para Lévy (1999, p. 32, 92 e 167), ciberespaço é “o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do século 21”; “espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”; “novo espaço de comunicação, de sociabilidade, de organização e de transação, mas também o novo mercado da informação e do conhecimento” que “tende a tornar-se a principal infra-estrutura de produção, transação e gerenciamento econômicos”. Ciberespaço e cibercultura significam rompimento paradigmático com o reinado da mídia de massa baseada na transmissão. Enquanto esta efetua a distribuição para o receptor massificado, o ciberespaço, fundado na codificação digital, permite ao indivíduo teleintrainterante a comunicação personalizada, operativa e colaborativa em rede hipertextual. A codificação digital em rede mundial se chama internet. Aqui o site não deve ser assistido e sim manipulado, pois pressupõe imersão e participaçãointervenção do indivíduo – experiência incomum na mídia de massa (LEMOS, 2002 e 2003). por intermédio dos sujeitos/atores e atrizes a sociedade na qual estamos inseridos. Dessa forma é que a formação do professor é processo basilar para transformamos a escola em um ambiente significativo de construção de saberes e conhecimentos úteis para a vida cotidiana. Programa Agrinho 19 Teoria e Prática A própria atividade docente deve ser incorporada ao processo formativo dos professores e das professoras. Isso significa investir em práticas pedagógicas nas quais a autonomia e a reflexão sobre/na ação constituam pressupostos básicos. Se o conhecimento contemporâneo é tão incerto, precisamos formar professores/professoras capazes de gerir seus próprios saberes e fazeres pedagógicos. Gerir seus próprios saberes e fazeres pedagógicos parte do pressuposto de que estes agentes não são idiotas culturais. A experiência do dia-a-dia permite que os docentes criem etnométodos, métodos Etnométodos – “São os métodos de que todo indivíduo se utiliza para descrever, interpretar e construir o mundo social.” (SILVA e VOTRE, 2006, p.1). próprios de comunicação e intervenções na realidade. Paradoxalmente, além da capacidade de criar etnométodos sofremos terríveis processos traumáticos que comprometem nossa ação criadora (SANTOS, 2000). Para Morin, “trata-se da famosa história dos passarinhos de Konrad Lorenz: o passarinho sai do ovo, sua mãe passa ao lado do ovo e ele a segue. Para o passarinho, o primeiro ser que passa perto do ovo de onde ele saiu é a sua mãe. (...). Isso é imprinting, marca original irreversível que é impressa no cérebro. Na escola e na universidade, sofremos imprinting terríveis, sem que possamos, então abandoná-los”. (MORIN, 1999, p.50) Contemporaneamente, sabemos que todo processo de construção de conhecimentos acontece na e pela Cultura. Daí é fundamental criarmos ambientes desafiadores em que “imprintings” sejam neutralizados e que a virtualização, no sentido de constantes problematizações, seja o norte e(ou) o sul das práticas pedagógicas. “Conhecer é negociar, trabalhar, discutir, debater-se com o desconhecido que se reconstitui incessantemente, porque toda solução produz nova questão”. (MORIN, 1999, p.104) Diversas são as possibilidades metodológicas para a construção de uma Pedagogia do devir, em que professores e alunos possam dialogar problematizando e atualizando as questões e os desafios do conhecimento. Como criar espaços ricos de aprendizagem, com planejamentos fragmentados, desarticulados e descontextualizados? 20 Programa Agrinho Teoria e Prática O dispositivo da Pedagogia de Projetos pode contribuir significativamente para o exercício de uma prática pedagógica contextualizada com a formação continuada dos professores. Afinal, um dos princípios dos projetos é a articulação da pesquisa com o ensino, dos saberes escolares com os saberes do cotidiano e da cultura local e global em que professores e alunos estão inseridos e implicados. Por dispositivo entendemos todo o conjunto de meios intelectuais e matérias que ajudem o docente pesquisador a conhecer o seu objeto de estudo. “A função do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação a: 1) o tratamento da informação, e 2) a relação entre os diferentes conteúdos em torno de problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção se seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio”. (HERNÁNDEZ, 1998, p. 61) E uma vez que ensinar é pesquisar, é preciso também atentar para a prática reflexiva no contexto dos projetos de trabalho e aprendizagem (SANTOS, 2000). A prática reflexiva é baseada nos pressupostos da ação/reflexão/ação. A “ação” inicial corresponde a todo conjunto de crenças, valores e hipóteses que os professores já trazem do seu cotidiano; saber este construído tanto pela/na prática docente quanto por seu itinerário humano, pessoal e social. É importante valorizar as experiências docentes, pois só é possível refletir e (re)criar novos conhecimentos considerando a historicidade dos sujeitos. A não compreensão e valorização do saber docente como processo constitui um dos equívocos tradicionais dos programas de “reciclagem” e “capacitação” historicamente veiculados pelas políticas de formação de professores. Ademais, é preciso discutir o conhecimento-na-ação, pois este decorre de toda uma experiência docente fundamentada por teorias científicas e espontâneas que são materializadas e expressadas no Programa Agrinho 21 Teoria e Prática exercício profissional por meio do “saber-fazer”. Obviamente, este conhecimento ação (saber fazer) precisa ser refletido e conseqüentemente ressignificado, pois, como já citamos, a atual sociedade, sobretudo a brasileira, vem sofrendo transformações diversas. A escola e a formação docente muitas vezes não acompanham, nem estão inseridos no contexto dessas transformações. Daí a reflexão-na-ação permitirá que o professor aprenda e ressignifique sua prática por meio da análise de sua própria atividade profissional. Buscando o diálogo entre os diversos saberes, o(a) professor(a), além de refletir-na-ação, deve também refletir-sobre-a-ação; esta fase consiste numa análise realizada a posteriori sobre os processos de ação (prática) e permite repensar e construir novas estratégias para uma nova ação. Nesse sentido, é fundamental adotar instrumentos de registro reflexivo como, por exemplo, os cadernos de campo, diários de bordo. Os professores precisam produzir textos que expressem suas articulações concretas entre o projeto desenvolvido com os alunos e suas leituras, seu quadro teórico e seus saberes diversos, advindos não só da prática docente, mas também da sua história de vida. Os processos de conhecimento-na-ação, reflexão-na-ação e reflexão-sobre-ação não são estanques. Eles se completam na autoria e na autocrítica do professor e da professora de modo a permitir sua atenção ao espírito do nosso tempo e ao posicionamento adequado às novas demandas da “sociedade da informação”, da “cibercultura” e da “geração digital”. A CULTURA DA TRANSMISSÃO PERDE TERRENO Na sociedade da informação ou na cibercultura cresce a fragilização da escola e da universidade no cumprimento de sua função social de formar cidadãos esclarecidos e senhores do seu próprio destino e do destino coletivo. Uma explicação para essa fragilização é 22 Programa Agrinho Teoria e Prática certamente a sala de aula, que não estimula a participação colaborativa dos aprendizes na construção do conhecimento. Em sala de aula permanece o mesmo modelo da mídia de massa: a distribuição de pacotes prontos de informações que separa emissão e recepção. Quando o ensino está centrado na emissão do professor e do livro, cabe ao aluno o lugar da recepção passiva que não exercita a Mídia de massa – Suportes de informação e comunicação como tv, rádio e impresso que centralizam o pólo da emissão de mensagens distribuídas como informações para o grande público em massa. Os receptores não podem intervir no conteúdo veiculado, sendo apenas receptores e não emissores de mensagens. participação cidadã. A cultura da transmissão perde terreno quando, culturalmente, emerge a valorização das interações e da interatividade. Entretanto, a escola tradicional e a mídia clássica (rádio, cinema, imprensa e tv) ainda se sustentam na cultura da transmissão que separa emissão e recepção (SILVA, 2006, p. 25-67). Os gestores das mídias de massa mais atentos ao espírito do nosso tempo vão, gradativamente, se dando conta de que é preciso encontrar alternativas à lógica da distribuição em massa e procuram modificar seus programas incluindo estratégias que permitem alguma reciprocidade com o público. O professor também pode atentar para a cultura comunicacional emergente e modificar a ambiência de aprendizagem da sua sala de aula e educar em nosso tempo. Muitos professores sabem que é preciso investir em relações de reciprocidade para construir o conhecimento. Aprenderam isso pelo menos com o construtivismo, que ganhou enorme adesão em escolas de todo o mundo destacando o papel central das interações como fundamento da aprendizagem. Entenderam que a aprendizagem é um processo de construção do discente que elabora os saberes graças às interações com outrem. De fato, o construtivismo significa um salto qualitativo em educação. Porém, mesmo adepto do construtivismo, o professor/ professora pode permanecer apegado(a) à transmissão porque não desenvolveu uma atitude comunicacional que favoreça e promova as interações e a aprendizagem. Programa Agrinho 23 Teoria e Prática Daí a necessidade de desenvolver uma atitude comunicacional não apenas atenta para as interações, mas que também as promova de modo criativo. Essa atitude supõe estratégias específicas desenvolvidas com base na percepção crítica de uma mudança paradigmática em nosso tempo: a transição da tela da tv para a tela do computador ou a emergência de uma nova cultura das comunicações. A tela da tv é um plano de irradiação com as duas dimensões altura e largura. A tela do computador permite imersão. Além de altura e largura, tem profundidade que permite ao usuário interagir e não meramente assistir. Permite adentrar, operar, interagir. Com a pedagogia da transmissão, o professor está no mesmo paradigma da tv. Ele é um transmissor iluminado que edita e transmite os conteúdos de aprendizagem para o aluno receptor e sem luz. Este, por sua vez, migra da tala da tv para a tela do computador e da Internet buscando “interatividade”. Designer de games – Profissional da cultura digital que arquiteta percursos de navegação e possibilidades de narrativas plurais em jogos eletrônicos e vídeos games. Webdesigner – profissional que arquiteta e organiza conteúdos no formato de hipertexto e multimídia disponíveis na Internet. Mesmo situado na sala de aula presencial “infopobre”, o professor precisa estar atento para o nosso tempo digital, para o designer de games ou para o webdesigner: eles não apresentam uma história para se ver, ouvir ou assistir, mas oferecem uma rede de conexões em territórios abertos a navegações, interferências e modificações. O professor pode dar-se conta dessa atitude comunicacional e tomá-la como base de inspiração na construção de alternativas às práticas de transmissão que predominam em sua docência. PERSPECTIVAS PARA A SALA DE AULA INTERATIVA Mesmo ganhando maturidade teórica e técnica com o desenvolvimento da Internet e dos games, o significado do termo interatividade sofre sua banalização quando usado como “argumento de venda” (SFEZ, 1994) em detrimento do prometido plus comunicacional. 24 Programa Agrinho Teoria e Prática Nesse caso, vale a pena atentar para o sentido depurado do termo que certamente vem da arte “participacionista” da década de 1960, definida também como “obra aberta”. O “parangolé” do artista plástico carioca Hélio Oiticica é um exemplo muito favorável à explicitação dos fundamentos da interatividade (SILVA, 2006, p. 187-193). O parangolé rompe com o modelo comunicacional baseado na transmissão. Ele é pura proposição à participação ativa do “espectador” – termo que se torna inadequado, obsoleto. Trata-se de participação sensório-corporal e semântica e não de participação mecânica. Oiticica quer a intervenção física na obra de arte e não apenas contemplação imaginal separada da proposição. O fruidor da arte é solicitado à “completação” dos significados propostos no parangolé. E as proposições são abertas, o que significa convite à co-criação da obra. O indivíduo veste o parangolé, que pode ser uma capa feita com camadas de panos coloridos que se revelam à medida que ele se movimenta correndo ou dançando. Oiticica o convida a participar do tempo da criação de sua obra e oferece entradas múltiplas e labirínticas que permitem a imersão e intervenção do “participador”, que nela inscreve sua emoção, sua intuição, seus anseios, seu gosto, sua imaginação, sua inteligência. Assim, a obra requer “completação” e não simplesmente contemplação. Segundo Oiticica, “o participador lhe empresta os significados correspondentes – algo é previsto pelo artista, mas as significações emprestadas são possibilidades suscitadas pela obra não previstas, incluindo a não-participação nas suas inúmeras possibilidades também”. (OITICICA, 1994, p. 70-83) Essa concepção de arte (ou “antiarte”, como preferia Oiticica), inconcebível fora da perspectiva da co-autoria, tem algo a sugerir ao professor: mesmo estando adiante dos seus alunos no que concerne a conhecimentos específicos, propõe a aprendizagem na mesma perspectiva da co-autoria que caracteriza o parangolé e a arte digital. Programa Agrinho 25 Teoria e Prática Educação bancária – termo criado pelo educador Paulo Freire, como metáfora para critica à escola baseada na pedagogia da transmissão. Uma escola que não contempla a autoria dos estudantes concebendo-os como “caixas de banco” que apenas recebem o “valor” do oratória dos professores “que fazem depósitos de conteúdos” nestas “caixas de banco” que são os alunos. O professor propõe o conhecimento. Não o transmite. Não o oferece à distância para a recepção audiovisual ou “educação bancária” (sedentária, passiva), como criticava o educador Paulo Freire. Ele propõe o conhecimento aos estudantes, como o artista propõe sua obra potencial ao público. Isso supõe, segundo Passarelli (1993), “modelar os domínios do conhecimento como ‘espaços conceituais’, onde os alunos podem construir seus próprios mapas e conduzir suas explorações, considerando os conteúdos como ponto de partida e não como ponto de chegada no processo de construção do conhecimento”. A participação do aprendiz inscreve- se nos estados potenciais do conhecimento arquitetados pelo professor de modo que evoluam em torno do núcleo preconcebido com coerência e continuidade. Ele não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas. Em outra atitude comunicacional, cria, modifica, constrói, aumenta e, assim, torna-se co-autor. Exatamente como no parangolé, em vez de ter-se obra acabada, têm-se apenas seus elementos dispostos à manipulação. O professor disponibiliza um campo de possibilidades, de caminhos que se abrem quando elementos são acionados pelos alunos. Ele garante a possibilidade de significações livres e plurais e, sem perder de vista a coerência com sua opção crítica embutida na proposição, coloca-se aberto a ampliações, a modificações vindas da parte dos alunos. Uma pedagogia baseada nessa disposição à co-autoria, à interatividade, requer a morte do professor narcisicamente investido do poder. Expor sua opção crítica à intervenção, à modificação, requer humildade. Mas, diga-se, humildade e não fraqueza ou minimização da autoria, da vontade, da ousadia. Seja na sala de aula equipada com computadores ligados à Internet, seja no site de educação à distância, seja na sala de aula infopobre, o professor percebe que o conhecimento não está mais centrado na emissão, na transmissão. Na sociedade da informação e na cibercultura, os atores da comunicação tendem à interatividade e não mais à separação da emissão 26 Programa Agrinho Teoria e Prática e recepção própria da mídia de massa. Para posicionar-se nesse contexto e aí educar, o professor/a professora precisará dar-se conta do hipertexto, isto é, do não-seqüencial, da montagem de conexões em rede que permite e uma multiplicidade de recorrências entendidas como conectividade, diálogo e participação. Eles precisarão dar-se conta de que de meros disparadores de lições-padrão, deverão converter-se em formulador de interrogações, coordenador de equipes de trabalhos, sistematizador de experiências. Sala de aula unidirecional (modelo um-todos) Sala de aula interativa (modelo todos-todos) Programa Agrinho 27 Teoria e Prática Assim se propõe o conhecimento à maneira do hipertexto. Assim se redimensiona a sua autoria. Não mais a prevalência do falar-ditar, da distribuição de informação, mas a perspectiva da proposição complexa do conhecimento à participação colaborativa dos participantes, dos atores da comunicação e da aprendizagem. O professor/a professora pode construir a sala de aula interativa inspirada no parangolé de Oiticica modificando seus métodos de ensinar baseados na transmissão e memorização. Para isso, será preciso atentar para alguns princípios básicos (SILVA, 2004): 1. Disponibilizar múltiplas experimentações, múltiplas expressões: • Promover oportunidades de trabalho em grupos colaborativos. • Desenvolver o cenário das atividades de aprendizagem de modo a possibilitar a participação livre, o diálogo, a troca e a articulação de experiências. • Utilizar recursos cênicos para despertar e manter o interesse e a motivação do grupo envolvido. • Favorecer a participação coletiva em debates presenciais e online. • Garantir a exposição de argumentos e o questionamento das afirmações. 2. Disponibilizar uma montagem de conexões em rede que permite múltiplas ocorrências: • Fazer uso de diferentes suportes e linguagens midiáticos (texto, som, vídeo, computador, Internet) em mixagens e em multimídia, presenciais e online. • Garantir um território de expressão e aprendizagem labiríntico com sinalizações que ajudam o aprendiz a não se perder, mas que ao mesmo tempo não o impeça de perder-se. • Desenvolver, com a colaboração de profissionais específicos, um ambiente intuitivo, funcional, de fácil navegação e que poderá ser aperfeiçoado na medida da atuação do aprendiz. 28 Programa Agrinho Teoria e Prática • Propor a aprendizagem e o conhecimento como espaços abertos a navegação, colaboração e criação, possibilitar que o aprendiz conduza suas explorações. 3. Provocar situações de inquietação criadora: • Promover ocasiões que despertem a coragem do enfrentamento em público diante de situações que provoquem reações individuais e grupais. • Encorajar esforços no sentido da troca entre todos os envolvidos, juntamente com a definição conjunta de atitudes de respeito à diversidade e à solidariedade. • Incentivar a participação dos estudantes na resolução de problemas apresentados, de forma autônoma e cooperativa. • Elaborar problemas que convoquem os estudantes a apresentar, defender e, se necessário, reformular seus pontos de vista constantemente. • Formular problemas voltados para o desenvolvimento de competências que possibilitem ao aprendiz ressignificar idéias, conceitos e procedimentos. 4. Arquitetar percursos hipertextuais: • Articular o percurso da aprendizagem em caminhos diferentes, multidisciplinares e transdisciplinares, em teias, em vários atalhos, reconectáveis a qualquer instante por mecanismos de associação. • Explorar as vantagens do hipertexto: disponibilizar os dados de conhecimento exuberantemente conectados e em múltiplas camadas ligadas a pontos que facilitam o acesso e o cruzamento de informações e de participações. • Implementar no roteiro do curso diferentes desenhos e múltiplas combinações de linguagens e recursos educacionais retirados do universo cultural do estudante e atento aos seus eixos de interesse. 5. Mobilizar a experiência do conhecimento: • Modelar os domínios do conhecimento como espaços conceituais, onde os alunos podem construir seus próprios mapas e conduzir Programa Agrinho 29 Teoria e Prática suas explorações, considerando os conteúdos como ponto de partida e não como ponto de chegada no processo de construção do conhecimento. • Desenvolver atividades que propiciem não só a livre expressão, o confronto de idéias e a colaboração entre os estudantes, mas que permitam, também, o aguçamento da observação e da interpretação das atitudes dos atores envolvidos. • Implementar situações de aprendizagem que considerem as experiências, os conhecimentos e as expectativas que os estudantes já trazem consigo. Para operar com esses cinco princípios em sala de aula, o professor/a professora deverá, por sua vez, garantir pelo menos cinco atitudes comunicacionais bem específicas, tais como: 1. Acionar a participação-intervenção do receptor, sabendo que participar é muito mais que responder “sim” ou “não”, é muito mais que escolher uma opção dada; participar é modificar, é interferir na mensagem; 2. Garantir a bidirecionalidade da emissão e recepção, sabendo que a comunicação é produção conjunta da emissão e da recepção; o emissor é receptor em potencial e o receptor é emissor em potencial; os dois pólos codificam e decodificam; 3. Disponibilizar múltiplas redes articulatórias, sabendo que não se propõe uma mensagem fechada, ao contrário, oferecemse informações em redes de conexões permitindo ao receptor ampla liberdade de associações, de significações; 4. Engendrar a cooperação, sabendo que a comunicação e o conhecimento se constroem entre alunos e professor como co-criação; 5. Suscitar a expressão e a confrontação das subjetividades, sabendo que a fala livre e plural supõe lidar com as diferenças na construção da tolerância e da democracia. 30 Programa Agrinho Teoria e Prática No ambiente comunicacional assim definido, os princípios da sala de aula interativa são linhas de sugestões que podem potencializar a autoria do professor, presencial e à distância. A partir de agenciamentos de comunicação capazes de atender ao perfil da geração digital que emerge com a sociedade da informação e a cibercultura, o professor/ a professora pode promover uma modificação paradigmática e qualitativa da sua docência e na pragmática da aprendizagem e, assim, reinventar a sala de aula em nosso tempo. CONCLUSÃO Interatividade tornou-se uma palavra em voga. Vende geladeira, programas esportivos na TV e forno microondas. Há uma crescente utilização do adjetivo “interativo” para qualificar tudo (computador e derivados, brinquedos eletrônicos, sistema bancário on-line, shows, estratégias de propaganda e marketing, programas de rádio e tv etc.) que permita ao usuário-consumidor-receptor algum nível de participação, de troca de ações e de controle sobre acontecimentos. Há uma indústria da interatividade em progresso acenando para um futuro interativo. Para além desse cenário, podemos concluir que interatividade é a modalidade comunicacional que ganha centralidade na cibercultura e na sociedade da informação. Podemos dizer que o conceito exprime a disponibilização consciente de um mais comunicacional de modo expressamente complexo presente na mensagem e previsto pelo emissor, que abre ao receptor possibilidades de responder ao sistema de expressão e de dialogar com ele. Grande salto qualitativo em relação ao modo de comunicação de massa que prevaleceu até o final do século XX. O modo de comunicação interativa ameaça a lógica unívoca da mídia de massa, oxalá como superação do constrangimento da recepção passiva. A despeito da banalização decorrente do seu uso mercadológico indiscriminado, o adjetivo “interativo” qualifica oportunamente a Programa Agrinho 31 Teoria e Prática modalidade comunicacional emergente a partir do último quarto do século XX. Qualifica a nova relação entre emissão-mensagem-recepção, diferente daquela que caracteriza o modelo unidirecional próprio da mídia de massa. Para além da utilização como argumento de venda, a percepção mais profunda da interatividade pode inspirar a busca de qualidade em educação. Não é apenas um novo modismo. É a expressão da emissão e recepção como co-criação livre e plural. É um mais comunicacional presente na mensagem que desbanca a lógica unívoca da transmissão de A para B. Em síntese, significa superação do constrangimento da recepção passiva. Na era digital emerge uma nova cultura das comunicações. Há uma modificação radical no esquema clássico da informação baseado na ligação unidirecional emissor-mensagem-receptor: o emissor não emite mais no sentido que se entende habitualmente uma mensagem fechada, oferece um leque de elementos e possibilidades à manipulação do receptor; a mensagem não é mais “emitida”, não é mais um mundo fechado, paralisado, imutável, intocável, sagrado, é um mundo aberto, modificável na medida em que responde às solicitações daquele que o consulta; e o receptor não está mais em posição de recepção clássica, é convidado à livre criação, e a mensagem ganha sentido sob sua intervenção. Entendida assim, interatividade é um conceito de comunicação e não de informática. A interatividade é uma qualidade intrínseca das tecnologias informáticas que permitem ao usuário operacionalizar recursos de conexão e de navegação em um campo de referências multidirecionadas permitindo adentramento, manipulações e modificações. Todavia, o termo pode ser empregado para significar a comunicação entre interlocutores humanos e entre humanos e máquinas. Uma vez que o professor deve ser um comunicador, ele pode sintonizar-se com a nova cultura comunicacional na sala de aula. Seja ela infopobre ou inforrica, seja ela presencial ou a distância. 32 Programa Agrinho Teoria e Prática REFERÊNCIAS BALSEMÃO, Francisco. “La cultura del zapeo” In: FUNDESCO (Org.). Apuntes de la sociedad interactiva. Cuenca, Espanha: UIMP, 1994. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. HERNANDEZ, Fernando. A organização do currículo por projetos de trabalho. 5.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. KUMAR, Krishan. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. LEMOS, André. Cultura das redes. Ciberensaios para o século XXI. Salvador: EDUFBA, 2002. LEMOS, André.; CUNHA, Paulo. 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Para que a escola seja um agente efetivo da sociedade do conhecimento é necessário que ela seja uma organização aprendente, ou seja, uma organização que articule conhecimentos em rede, que questione o instituído, que crie condições para a produção coletiva e colaborativa de conhecimentos. É sobre esta dinâmica que o livro apresenta dados de pesquisas, fornecendo aos professores indicadores para a autoria de uma escola aprendente. FREITAS, Maria Teresa. COSTA, Sérgio. (Orgs.). Leitura e escrita de adolescentes na Internet e na escola. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. Leitura e escrita de adolescentes na Internet e na escola Baseado em experiências didáticas e de pesquisa, o livro apresenta experiências de leitura e escrita de jovens, mediados por aparatos tecnológicos, especialmente pela Internet, proporcionando uma mutação cultural sem precedentes nos modos de ensinar e aprender. Neste contexto, o livro apresenta dicas para que os professores e as professoras possam compreender o estado da arte da leitura e escrita da nova geração digital, bem como apresenta pistas para a criação de novas práticas pedagógicas envolvendo os novos gêneros textuais na sala de aula. SILVA, Marco. Sala de Aula Interativa. 4.ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2006. Sala de Aula Interativa O livro apresenta um exame apurado das mais importantes formulações sobre o conceito de interatividade. Mostra que as tecnologias de informação e comunicação, muito mais que novas ferramentas, são 34 Programa Agrinho Conferindo Teoria as e Prática idéias interfaces que exploram novas formas de relações entre os cidadãos – alunos e professores – envolvidas nos processos de construção do conhecimento. Enfatiza que os professores e professoras estão progressivamente desafiados a não se limitar ao papel de “contadores de histórias” e a assumir uma postura crítica de quem trabalha como designer de software, de quem propõe uma teia de possibilidades no lugar de uma rota pré-definida. A obra possibilita uma instigante navegação pelas conexões entre, por exemplo, as perspectivas de Paulo Freire, Pierre Lévy e Edgar Morin. Programa Agrinho 35 Teoria e Prática METODOLOGIA DE PROJETOS: O PROCESSO DE APRENDER A APRENDER Marilda Aparecida Behrens Rita Andréia Moro Senco Zem N a Sociedade do Conhecimento, os indivíduos precisam aprender a aprender, isto é, precisam ser capazes de realizar aprendizagens relevantes e significativas por si mesmo investigando Sociedade do Conhecimento – tem por característica central a importância dada ao aprender a aprender e à formação para a aprendizagem continuada. O saber é visto como pilar fundamental para o desenvolvimento. em uma ampla gama de situações e circunstâncias. Esse processo de aprender a aprender implica saber formular questões, observar, investigar, localizar as fontes de informação, utilizar instrumentos e estratégias que lhe permitam elaborar as informações coletadas, enfim, saber eleger o que é relevante para encontrar possíveis soluções para o problema proposto. Para Coll (1992), são procedimentos de aprendizagens que devem ser essenciais na vida dos indivíduos deste novo século. Assim, para aprender a adquirir novos conhecimentos com autonomia, os alunos precisam conviver com situações e com condições para enfrentar problemas e questões diversas, circulando com fluência pelas diferentes formas de investigar e de conhecer. Nesse cenário, percebe-se que são necessárias práticas pedagógicas que se proponham a ultrapassar a reprodução e a repetição do conhecimento. Na última década, os professores são desafiados a buscar metodologias de ensino cuja proposta esteja ancorada no “aprender a aprender”. Os trabalhos de Demo (1995) têm-se destacado ao desenvolver em suas produções pressupostos relevantes para a reconstrução do ensino em todos os níveis baseados na proposição do “aprender a aprender”, especialmente com a proposição do “ensino com pesquisa”. Assim, o desafio que atinge diretamente a prática Programa Agrinho 37 Teoria e Prática pedagógica consiste em propor um ensino com pesquisa que tem como base o aprender a aprender. O ensino com pesquisa extrapola a opção de aprendizagem restrita a processos circunscritos ao “escute, leia, decore e repita” (BEHRENS, 2000), que precisam dar lugar a processos que envolvam ações como “investigue, problematize, argumente, produza, crie, projete”, entre outras. A opção do professor deve focalizar metodologias que envolvam novos procedimentos para alcançar processos de Ensino reprodutivista – ensino focado nos conteúdos baseados em mera transmissão de informações. As aulas teóricas verbalizada visam à repetição, à cópia e à memorização. No ensino conservador a experiência do aluno não é considerada. aprendizagem que subsidiem a produção do conhecimento. Cabe ressaltar que o ensino reprodutivista não tem dado conta de instrumentalizar os alunos para as aprendizagens exigidas nesta entrada do século. Segundo Behrens (1996), o ensino em todos os níveis e, principalmente, no ensino superior perdeu o caráter de terminalidade, pois o mundo moderno não autoriza um profissional a ter sucesso e competência, se não for um investigador/pesquisador permanente na sua área. As informações, os conteúdos e os conhecimentos que os docentes receberam na sua formação não o tornam um profissional pronto para toda uma vida profissional. As propostas do aprender a aprender nos mostram que a educação é um processo que nunca termina, pois é um caminho no qual as descobertas acontecem constantemente e as mudanças se fazem necessárias. As novas perspectivas da Educação no início do século XXI devem possibilitar que professor e alunos tenham autonomia, sejam criativos, capazes de inovar e superem a reprodução na busca da produção do conhecimento. O professor precisa participar desse processo de mudança e estar consciente de que ele não vai apenas receber o novo, mas se tornar crítico para superar na prática docente os processos inadequados. No entanto, ao ser crítico, deve resgatar os processos que vem auxiliando os alunos para aprender ao longo da história docente. Nesse sentido, afirma-se que o ensino com pesquisa pode possibilitar ao professor a reorganização do trabalho docente e, por sua 38 Programa Agrinho Teoria e Prática vez, os alunos deixarão de receber os conhecimentos prontos e acabados. O aprender a aprender coloca o professor e o aluno como agentes na produção do conhecimento, supera as perguntas com respostas prontas e sugere a proposição de problematizações para as quais é preciso buscar as possíveis respostas (DEMO, 1995; BEHRENS, 2005). A pesquisa deve ser pensada não mais como atividade desenvolvida em laboratório, que é lugar específico para isso, mas sim como atividade cotidiana de sala de aula. O professor deve encarar a pesquisa para a produção do conhecimento como um desafio e transmitir isso ao aluno, assim juntos podem elaborar as soluções possíveis para o problema. A aprendizagem focada no questionamento requer a investigação de informações em diversas fontes, ou seja, na biblioteca, na literatura, com profissionais da área, nos laboratórios de informática, nos recursos tecnológicos, entre outros. De posse das informações, é possível posicionar-se em discussões críticas e, conseqüentemente, selecionar os conhecimentos relevantes para a aprendizagem significativa. Diante dessa perspectiva, faz-se necessária a reflexão sobre a proposição de novas metodologias que possam atender às necessidades da realidade atual. As investigações em autores que apresentam contribuições sobre essas questões, Moran (2000), Behrens (2006), Hernandez (1999), Boutinet (2002) apontam para a Metodologia de Projetos, como uma abordagem relevante. Temos a contribuição de Behrens (2000, p. 81): A opção por um ensino baseado em projetos proporciona a possibilidade de uma aprendizagem pluralista e permite articulações diferenciadas de cada aluno envolvido no processo. Ao alicerçar projetos, o professor pode optar por um ensino com pesquisa, com uma abordagem de discussão coletiva crítica e reflexiva que oportunize aos alunos a convivência com a diversidade de opiniões, convertendo as atividades metodológicas em situações de aprendizagem ricas e significativas. Esses procedimentos metodológicos propiciam o acesso a maneiras diferenciadas de aprender, e, especialmente, de aprender a aprender. Programa Agrinho 39 Teoria e Prática Os projetos de trabalho assim entendidos apontam uma outra maneira de representar o conhecimento escolar baseado na aprendizagem da interpretação da realidade, orientada para o estabelecimento de relações entre a vida dos alunos e professores e o conhecimento que as disciplinas e outros saberes da vivência dos alunos. Tudo isso para favorecer o desenvolvimento de estratégias de indagação, interpretação e apresentação do processo seguido ao estudar um tema ou um problema, que, por sua complexidade, favorece o melhor conhecimento dos alunos, dos docentes, de si mesmos e do mundo em que vivem. MAS O QUE É UM PROJETO? Nesta última década, o termo “projeto” tem recebido ênfase na literatura, especializada, em particular, na Educação. De acordo com Boutinet (2002), são associadas a esse termo diferentes acepções: intenção (propósito, objetivo, o problema a resolver), esquema (design), metodologia (planos, procedimentos, estratégias, desenvolvimento). A Metodologia de Projetos não é proposição nova em todas as áreas de conhecimento; desde o século XV, pode ser concebida como uma atividade intelectual de elaboração do conhecimento e envolve atividades múltiplas em sua realização. Com avanço do relato histórico, Boutinet (2002, p.181) esclarece que: “foi o pensamento pragmático norte-americano que suscitou os primeiros trabalhos sobre a pedagogia do projeto. Nos anos de 1915 a 1920, J. Dewey (1916) e W. H. Kilpatrick (1918) tentaram opor à pedagogia tradicional” e acrescenta que os autores buscavam “uma pedagogia progressista, também chamada de pedagogia aberta, na qual o aluno se tornava ator de sua formação através de aprendizagens concretas e significativas para ele”. A intenção de Dewey e Kilpatrick, ao propor uma pedagogia de projetos, envolvia a busca da transformação do aluno em sujeito de sua própria aprendizagem. 40 Programa Agrinho Teoria e Prática Com o passar dos tempos, o sentido de projeto foi tomando outros significados. No campo educacional, há uma série de termos que foram e estão sendo usados para designar o trabalho com projetos: projeto educativo, projeto pedagógico, pedagogia do projeto, metodologia de projetos, entre outros. Embora com uso diversificado, a focalização da metodologia é no projeto. Nesse sentido, Boutinet (2002) alerta que em determinada época o conceito sobre o projeto no campo educacional carregou a impressão de ensino improvisado, sem seriedade, de utilização mal controlada e até de um termo escolhido por suas virtudes mágicas. Um dos motivos desse entendimento prende-se à idéia de que, em geral, a metodologia de projetos é utilizada para realizar trabalhos fora do ambiente da sala de aula. Por exemplo, na escola o projeto tem sido utilizado sistematicamente ao realizar as “Feiras de Ciências” e os alunos se saem muito bem nesta modalidade de trabalho educativo. Os docentes não podem negar que os alunos, ao realizarem estes projetos, aprendem e produzem conhecimentos próprios, pois sabem elaborar e argumentar sobre a pesquisa. Os educadores em sua maioria têm uma visão muito positiva do uso da metodologia de projeto nesses eventos. O sentido do projeto volta a reaparecer com ênfase nas últimas décadas do século XX; esse movimento, segundo Boutinet (2002), demanda uma opção individual ou de um grupo, em trabalhar com a Metodologia de Projetos. Para Fagundes (1999), a atividade de fazer projetos é simbólica, intencional e natural do ser humano. Por meio dele, o homem busca a solução de problemas e desenvolve um processo de construção de conhecimento; disso decorre que o trabalho por projetos pode ser utilizado em todas as áreas de conhecimento. Nesse aspecto, o trabalho com projetos reaparece como uma resposta possível aos desafios enfrentados pela escola, pois visa mudar as condições nas quais se aprende até este momento. A Metodologia de Projetos aparece também como proposição de processos de formação continuada e de educação permanente para Programa Agrinho 41 Teoria e Prática os adultos. Para Boutinet (2002), as experiências e intenções de desenvolver projetos contínuos dentro da escola, como uma das funções na formação dos adultos, se expandem e permitem fazer emergir neles, durante a própria vida, novos desafios e projetos, tanto no âmbito profissional como no âmbito pessoal. Um alerta relevante na opção pela Metodologia de Projetos diz respeito à adequação da proposta à clientela envolvida no processo de aprendizagem. Na maioria das vezes, precisa ser acompanhada de uma reflexão sobre sua importância e real significado para o campo educativo. Como já analisado anteriormente, em diferentes circunstâncias da história da educação escolar, de acordo com Hernandez (1998), houve preocupação por elaborar propostas inovadoras em metodologias de ensino. As novas proposições prendem-se à necessidade de superação Globalidade dos fenômenos – A dinâmica da sociedade do conhecimento está exigindo um sistema educacional que atenda ao paradigma da complexidade. Com base na realidade educacional busca-se uma visão global que esteja aberta a repensar os fenômenos sociais, a recorrer às novas tecnologias de informação e comunicação e a propor novas metodologias para a produção do conhecimento. da visão reducionista da proposta disciplinar que leva a trabalhar com conteúdos fechados. Assim, os docentes precisam eleger metodologias que permitam aos alunos com base em seu estudo, conviver com processos que possam observar a globalidade dos fenômenos, especialmente, relacionando-o com situações da vida cotidiana. Todas essas propostas elaboradas e apresentadas por formadores e docentes preocupados em encontrar alternativas para melhorar o ensino baseiam-se na idéia de integração de conhecimentos, na importância de levar em conta também o cotidiano e a realidade dos alunos, o mundo de fora da escola. Hernandez (1998) afirma que essas idéias tiveram êxito, mas ainda não vêm sendo ofertadas até o ponto de substituir a organização do currículo por disciplinas lineares e reducionistas. METODOLOGIA DE PROJETOS: CAMINHO PARA A APRENDIZAGEM NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO Na sociedade atual, uma questão fundamental na educação centra-se na necessidade de o indivíduo compreender o mundo em 42 Programa Agrinho Teoria e Prática que vive. Para isso, ele precisa aprender como ter acesso, analisar e interpretar a informação. Para Hernandez (1998), na educação escolar, desde a Escola infantil até a Universidade, supõe-se que se deva facilitar a aprendizagem, num processo que começa, mas que nunca termina, pois sempre podemos ter acesso a novas formas mais complexas de dar significado à informação. Esse desafio persegue os educadores no sentido de buscar subsídios para favorecer a aprendizagem do aluno com metodologias mais elaboradas e relacionais de conhecimento da realidade e deles mesmos. O caminho que vai da informação até o conhecimento, ainda conforme Hernandez (1998), pode ser realizado por diferentes vias, ou seguindo diversas estratégias, sendo uma das mais relevantes a consciência do indivíduo sobre seu próprio processo de aprendizagem. Nesse sentido, as relações que se vão estabelecendo com a informação se realizam à medida que esta “vai sendo apropriada” em outras situações, problemas e informações, a partir de caminhos e opções e de reflexões sobre a própria experiência de aprender. Para que o indivíduo possa chegar a essa tomada de consciência individual, é essencial que haja uma aliança entre interação em sala de aula e o comprometimento por parte do professor no seu papel como mediador e facilitador desse processo. Segundo Hernandez (1998, p.64), os projetos de trabalho supõem: “um enfoque do ensino que trata de ressituar a concepção e as práticas educativas na escola, para dar resposta e (não “A resposta”)”, e acrescenta que as “mudanças sociais e metodológicas precisam ser produzidas com os alunos e não simplesmente readaptar uma proposta do passado e atualizá-la”. A concepção de trabalho com Projeto torna-se possível quando este está baseado no ensino para a compreensão. O trabalho com projetos, segundo Hernandez (1998, p.61), tem a finalidade de favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares em relação “ao tratamento da informação” e aos diferentes conteúdos “em torno de Programa Agrinho 43 Teoria e Prática problemas ou hipóteses que facilitem aos alunos a construção de seus conhecimentos, a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares em conhecimento próprio”. Nessa perspectiva, Hernandez (1998, p. 81) propõe passos para caracterizar um projeto de trabalho: “Parte-se de um tema ou de um problema negociado com a turma; Inicia-se um processo de pesquisa; Buscam-se e selecionam-se fontes de informação; Estabelecem-se critérios de ordenação e de interpretação das fontes”; e acrescenta: “Recolhem-se novas dúvidas e perguntas; Estabelecem-se relações com outros problemas; Representa-se o processo de elaboração do conhecimento que foi seguido; Recapitula-se (avalia-se) o que se aprendeu; Conecta-se com um novo tema ou problema”. O que se percebe nesta seqüência proposta é que a aprendizagem e o ensino se realizam mediante um percurso que nunca é fixo, mas serve de fio condutor para a atuação do docente em relação aos alunos. Assim, para Hernandez (1998, p. 61), os projetos entendidos em sua dimensão pedagógica e simbólica podem permitir: a) aproximar-se da identidade dos alunos e favorecer a construção da subjetividade, longe de um prisma paternalista, gerencial ou psicologista, o que implica considerar que a função da escola não é apenas ensinar conteúdos, nem vincular a instrução com a aprendizagem. b) revisar a organização do currículo por disciplinas e a maneira de situá-lo no tempo e no espaço escolares. O que torna necessária a proposta de um currículo que não seja uma representação do conhecimento fragmentada, distanciada dos problemas que os alunos vivem e necessitam responder em suas vidas, mas, sim, solução de continuidade. c) levar em conta o que acontece fora da escola, nas transformações sociais e nos saberes, a enorme produção de informação que caracteriza a sociedade atual, e aprender a dialogar de uma maneira crítica com todos esses fenômenos. 44 Programa Agrinho Teoria e Prática As escolas são instituições complexas, inscritas em círculos de pressões internas e, sobretudo, externas, onde, com freqüência, as inovações ficam presas na teia dos modismos. Daí a necessidade de o professor preparar-se em termos teóricos e práticos para desenvolver uma metodologia transformada. Escolas como instituições complexas – A escola caracteriza-se como instituição complexa, por apresentar uma grande composição pluricultural das sociedades (Hernandez, 1998). Atende a uma visão complexa na sociedade quando ajuda cada aluno e ao grupo na formação para cidadania, adquirindo e produzindo uma série de saberes, competências e atitudes. A METODOLOGIA DE PROJETOS E O CONTEXTO ATUAL A escola e as práticas educativas constituem parte de um sistema de concepções e valores culturais que fazem com que determinadas propostas tenham êxito quando se “conectam” com algumas das necessidades sociais e educativas. Neste sentido, os projetos podem ser considerados como uma prática educativa que teve reconhecimento em diferentes períodos, desde que Kilpatrick, em 1919, levou à sala de aula algumas das contribuições de Dewey. De maneira especial, aquela em que afirma que “o pensamento tem sua origem numa situação problemática” que se deve resolver mediante uma série de atos voluntários. Essa idéia de solucionar um problema pode servir de fio condutor entre as diferentes concepções de projeto. É possível verificar num quadro comparativo elaborado por Fagundes, Sato e Maçada (1999), as diferenças entre duas concepções de projetos. No paradigma tradicional temos os Projetos de Ensino e no paradigma inovador, os Projetos de Aprendizagem: Programa Agrinho 45 Teoria e Prática A análise comparativa realizada pelas autoras permite afirmar que a idéia de trabalhar com projetos demanda que o professor escolha a abordagem na metodologia, ou seja, se o fará numa dimensão conservadora ou inovadora. Esse posicionamento é reforçado por Mercado (1999, p.75), quando enfatiza que o paradigma inovador envolve processos contínuos de aprendizagens, portanto não reduz a metodologia a uma lista de objetivos e etapas a serem cumpridas. Ao contrário, reflete uma concepção de conhecimento como produção coletiva, em que a experiência vivida e a produção cultural sistematizada se entrelaçam, dando significado às aprendizagens. 46 Programa Agrinho Teoria e Prática Nesse sentido, para Hernandez (1998) a função dos projetos é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos escolares referentes ao tratamento da informação e à relação entre os diferentes conteúdos em torno dos problemas ou hipóteses que facilitam ao aluno a construção do conhecimento e a transformação da informação procedente dos diferentes saberes disciplinares, em conhecimento próprio. O trabalho com projetos permite uma aprendizagem colaborativa, tornando a relação ensino-aprendizagem um processo mais dinâmico, possibilitando a formação de sujeitos participativos e autônomos, criando Aprendizagem Colaborativa – parte da idéia de que o conhecimento é resultante de um consenso entre membros de uma comunidade de conhecimento, algo que as pessoas constroem dialogando, trabalhando juntas direta ou indiretamente e chegando a um acordo. a possibilidade de desfazer a forma de aula tradicional em que só o professor fala e apresenta os conteúdos e os alunos ficam restritos a escutar, copiar, memorizar e repetir os conteúdos. As razões que valorizam a organização dos conteúdos escolares por projetos, são defendidas por Sancho (In: MERCADO, 1999, p.78), quando coloca as seguintes considerações: • O trabalho por projetos proporciona o contexto a partir do qual aparecerá a necessidade das disciplinas e sua compreensão organizativa. • Os projetos e os temas didáticos delineiam problemas que não podem estar situados em disciplinas particulares, pois esta obriga a que se examinem desde as particularidades até as diferentes visões de uma disciplina. • Os projetos proporcionam uma maior margem para a aprendizagem iniciada pelo aluno, que pode seguir melhor seu próprio ritmo, sem sentir-se oprimido pela estrutura de uma disciplina particular ou por decisões tomadas a priori sobre a organização seqüencial /relacional do que se está conhecendo, permitindo desenvolver diferentes estratégias organizativas e marcos de aprendizagem, que evitam o caráter repetitivo que pode predominar nos planejamentos disciplinares ou em formas que os educadores possam utilizar para organizar os conhecimentos escolares. Programa Agrinho 47 Teoria e Prática Nesse contexto, o projeto induz a elaboração de aprendizagens em que o aluno tem ampla participação, pode agir, refletir, discutir, e, assim, tem a oportunidade de construir seu próprio conhecimento. O aluno aprende participando, vivenciando sentimentos, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos. (LEITE, 1996, p.26). Ensina-se não só pelas respostas dadas, mas também pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados e pela ação desencadeada. A METODOLOGIA DE PROJETOS E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA A metodologia de projetos é configurada por Hernandez (1998, p.90) não como um método ou uma pedagogia, mas sim como uma concepção da Educação e da Escola, pois leva em conta: • A abertura para os conhecimentos e problemas que circulam fora da sala de aula e que vão além do currículo básico. • A importância da relação com a informação que, na atualidade, se produz e circula de maneira diferente da que acontecia em épocas recentes; os problemas que estudam os saberes organizados; o contraste de pontos de vista e a idéia de que a realidade não “é” senão para o sistema ou para a pessoa que a defina. Daí a importância de saber reconhecer os “lugares” dos quais se fala, as relações de exclusão que se favorecem e de construir critérios avaliativos para relacionar-se com essas interpretações. • O papel do professor como facilitador (problematizador) da relação dos alunos com o conhecimento, processo no qual também o docente atua como aprendiz. • A importância da atitude de escuta; o professor como base para construir com os alunos experiências substantivas de aprendizagem. Uma experiência substantiva é aquela que não tem um único caminho, permite desenvolver uma atitude investigadora e ajuda os estudantes a dar sentido a suas vidas (aprender deles 48 Programa Agrinho Teoria e Prática mesmos) e às situações do mundo que os rodeia. Nesse sentido, o diálogo com a gênese dos fenômenos desde uma perspectiva de reconstrução histórica aparece como fundamental. Acompanhando, o exposto o trabalho na sala de aula por projetos implica uma mudança na ação do professor. Essa transformação o converte em aprendiz, não só diante dos temas objeto de estudo, mas também do processo a seguir e das maneiras de abordá-lo, que nunca se repetem, que sempre adquirem dimensões novas em cada grupo. O diálogo pedagógico pode acontecer dentro da sala de aula e em outros cenários. O professor precisa ter a clareza que o projeto deve expandir o conhecimento e levar à colaboração da aprendizagem entre pares. Segundo Hernandez (1998, p.90), a organização do currículo não deve Cenários de diálogos pedagógicos – a escola com uma visão complexa passa a exigir novos ambiente para aprender a aprender. Assim, busca a superação do enfileiramento das carteiras para propor cenários que possibilitem que as pessoas trabalhem colaborativamente em atividades ou tarefas pedagógicas, dialogando entre elas e acreditando que podem assumir compromissos de realizações conjuntas. acompanhar uma visão disciplinar e reducionista, “mas sim a partir de uma concepção do currículo integrado, que leve em conta um horizonte educativo (planejado não como metas, mas, sim, como objetivos de processo)”, e acrescenta: “Esse horizonte educativo se perfila em cada curso e se reconstrói em termos do que os alunos podem ter aprendido ao final de cada projeto, oficina ou experiência substantiva”. O trabalho educativo por projeto favorece a autonomia do aluno para estimulá-lo a realizar aprendizagem tanto no âmbito individual como coletivo. Diante disso, fica claro que a aprendizagem significativa é característica principal do trabalho com metodologia de projetos. Coll (1992) afirma que, para haver aprendizagem, os alunos precisam mobilizar e vincular os seus conhecimentos prévios com os novos objetos do conhecimento. A idéia de aprendizagem significativa supõe que os conhecimentos adquiridos sejam funcionais, de maneira que o aluno possa utilizá-los quando as circunstâncias assim o exijam, e aprender, nesta proposta de trabalho colaborativo, é, segundo Mercado (1999, p.81): • Estabelecer relações entre os vários aspectos que estão envolvidos no tema o assunto que está sendo discutido; • Realizar relações com outros assuntos já vistos; Programa Agrinho 49 Teoria e Prática • Desenvolver a capacidade de se colocar questões e de ressignificar • as informações que já havia construído em função dos novos fatos e conhecimentos apresentados e discutidos pelo professor ou pelo grupo; Reconhecer contradições e construir argumentações consistentes em favor de seu ponto de vista ou visão sobre o tema em questão. Nessa perspectiva, o aluno é visto como sujeito que utiliza sua experiência e conhecimento para resolver problemas. Para Mercado (1999), o problema determina os conteúdos a serem trabalhados, permitindo aos alunos a escolha de suas próprias estratégias, de modo que consigam operar com elas conceitualmente, estabelecendo novas relações e formulando explicações sobre os fenômenos que superem a fragmentação ou as divisões do saber já existente. É uma preocupação que vai além do saber, pois diz respeito à possibilidade de viver no mundo contemporâneo sem ficar à margem dele, enfrentando uma sociedade informatizada e na qual as condições e fontes de trabalho estão em constante processo de transformação. METODOLOGIA DE PROJETOS E O PAPEL DO PROFESSOR O professor, no ambiente da sala de aula, precisa criar situações que apresentem problemas para serem trabalhados por seus alunos, envolvendo confronto entre pontos de vista e discussão entre alunos. Nesses momentos, a cooperação e a superação do conflito entre os alunos devem ser mediadas pelo professor. A cooperação permite a objetividade ao realizar uma atividade num contexto em que todos compartilham de um fazer socializado. O conflito estimula a troca entre os alunos e favorece uma visão crítica do conhecimento que está sendo adquirido na escola. Tanto os alunos como os professores pensam, lêem, questionam suas próprias idéias e interagem com seus colegas, compartilhando suas inseguranças, tornando esta interação enriquecida mutuamente. 50 Programa Agrinho Teoria e Prática Segundo Behrens (1996, p.39), o ensino por projetos demanda, por parte do professor orientador, oportunizar situações de inovação e criatividade envolvendo os discentes, favorecendo desta maneira o processo de diálogo e construção do conhecimento, aliada ao posicionamento crítico, criativo e transformador. Assim, a metodologia de projetos implica mudança de ação docente, pois requer uma proposta que tenha como foco a aprendizagem significativa, conectada com os interesses dos alunos e articulada com problemas reais que se apresentam na sociedade. Nessa metodologia a primeira preocupação do professor “será buscar a reflexão, a pesquisa e a investigação sobre os pressupostos teóricos e práticos das abordagens pedagógicas para se posicionarem paradigmaticamente”. (BEHRENS, 2000, p.107). Nesse sentido, o ensino centrado em situações de aprendizagem e problemas tem o intuito de desafiar os alunos a investigar e pesquisar superando os desafios e propiciando espaços para que individualmente e coletivamente seja construído o conhecimento. FASES DA APRENDIZAGEM POR PROJETOS Para a operacionalização do trabalho baseado em projetos, Behrens (2005) propõe algumas fases para compor o processo metodológico, cabendo ao professor ordená-las da melhor forma possível ou mesmo modificá-las se o trabalho assim o exigir. Apresentação e Discussão do Projeto Nessa fase, o professor aproxima-se dos alunos para discutir o tema do projeto, que poderá contemplar uma ou mais disciplinas. Nessa primeira fase o docente precisa ter clareza de que a aceitação das opiniões dos alunos numa relação dialógica é significativa e relevante para o sucesso da produção do conhecimento. A discussão do projeto na fase inicial se torna significativa, pois o professor apresenta uma Programa Agrinho 51 Teoria e Prática minuta da proposta que elaborou e a submete à apreciação dos alunos. Os alunos que ainda não estão habituados a conviver num processo participativo encontram algumas dificuldades de manifestar-se com receio de sofrerem repressões ou constrangimento na sala de aula. Em Fagundes (1999) verifica-se idéia similar, pois quando fala em aprendizagem por projetos está necessariamente se referindo à formulação de questões pelo autor do projeto, pelo sujeito que vai construir conhecimento. Parte-se do princípio de que o aluno nunca é uma tabula rasa, isto é, ele tem uma experiência anterior de sua própria vivência. Escolha do Tema A escolha do tema é o ponto de partida para a definição de um projeto de trabalho. Essa fase deve ser resultado de um trabalho dialógico, crítico e reflexivo, que consiga agregar o grupo. Na metodologia de Projetos, quem escolhe o tema a ser investigado são os alunos e os professores. Segundo Fagundes (1999), o tema é gerado pelos conflitos, pelas perturbações dos envolvidos, num determinado contexto. A questão a ser pesquisada deve ter como ponto de partida a curiosidade, as dúvidas, as indagações, o desejo e a vontade, pois a motivação é intrínseca, própria do sujeito que aprende. Fagundes, Maçada e Sato (1999, p.16) completam: Quando o aprendiz é desafiado a questionar, quando ele se perturba e necessita pensar para expressar suas dúvidas, quando lhe é permitido formular questões que tenham significação para ele, emergindo de sua história de vida, de seus interesses, seus valores e condições pessoais, passa a desenvolver a competência para formular e equacionar problemas. Quem consegue formular com clareza um problema, a ser resolvido, começa a aprender a definir as direções de sua atividade. 52 Programa Agrinho Teoria e Prática Nessa fase, o professor juntamente com os alunos pode sugerir temas, colocando-os em discussão, pois, de acordo com Hernandez (1998), deve-se defini-lo em relação às demandas que os alunos propõem; para o autor, os docentes também podem e devem propor temas que considerem necessários, sempre e quando mantenham uma atitude explicativa similar à que se exige dos alunos. Depois de escolhido o tema, segundo Hernandez (1998), o próximo passo é a busca dos instrumentos: bibliografia, publicações diversas, endereços eletrônicos pertinentes ao assunto em questão. O professor também deve realizar uma previsão dos conteúdos e de atividades, assim como criar um clima de envolvimento e de interesse no grupo, ou seja, reforçar a consciência de aprender do grupo. No trabalho com projetos, a responsabilidade de procurar fontes de informação não cabe somente ao professor, mas aos alunos também. Para Hernandez (1998, p.75): Esse envolvimento dos estudantes na busca da informação tem uma série de efeitos que se relacionam com a intenção educativa dos Projetos. Em primeiro lugar, faz com que assumam como próprio o tema, e que aprendam a situar-se diante da informação a partir de suas próprias possibilidades e recursos. Mas também lhes leva a envolver outras pessoas na busca de informação, o que significa considerar que não se aprende só na escola, e que o aprender é um ato comunicativo, já que necessitam da informação que os outros trazem. Nessa perspectiva o aluno tem a possibilidade de descobrir que é responsável por sua própria aprendizagem, que tem condições de interagir com seu grupo e com o professor, pois passa a vê-lo como um orientador, que não tem todas as respostas prontas, mas que está disposto a auxiliá-lo no aprender a aprender. Programa Agrinho 53 Teoria e Prática Problematização A problematização do tema é considerada etapa essencial no projeto de aprendizagem. A problematização precisa ser colocada como provocação para estimular os alunos a envolver-se no projeto. Os problemas pertinentes ao tema surgirão da reflexão coletiva, e devem desencadear um processo de valorizar e instigar o envolvimento dos alunos para buscar soluções com referência à problemática levantada. A problematização tem o papel de desencadear a discussão e o envolvimento dos alunos na temática do projeto. O professor é o mediador da construção do problema, antecipadamente, ou no início do projeto junto com os alunos. Na verdade, a qualidade da indagação determina o sucesso inicial do envolvimento dos alunos. Nesta fase os alunos precisam perceber que o sucesso dessa caminhada depende do envolvimento e do empenho de cada um deles, como grupo. Contextualização Para que o trabalho com projetos seja efetivado, o problema deve estar localizado historicamente, conectado ao mundo. Para Hernandez (1998), o problema deve estar contextualizado, deve partir das vivências, das experiências, do que os estudantes já sabem, de seus esquemas de conhecimentos precedentes, de suas hipóteses (verdadeiras, falsas ou incompletas) ante à temática que se há de abordar. O docente precisa ficar atento para a provisoriedade do projeto. As soluções encontradas não podem ser taxadas como únicas, embora significativas para produzir conhecimento. Das múltiplas perguntas e respostas a serem investigadas, é preciso selecionar quais as que interessam pesquisar em função da aprendizagem a ser proposta. Nesta fase, o professor precisa ter clareza de aonde quer chegar ou, pelo menos, quais os pontos que deverão ser percorridos para proporcionar a aprendizagem em foco. 54 Programa Agrinho Teoria e Prática Exposição teórica Esse momento precisa ser usado para abordar de maneira geral os assuntos a serem tratados. O professor se utiliza desse recurso que, longe de ser uma aula expositiva tradicional, deverá apresentar diálogo, no qual as sugestões pertinentes ao tema escolhido são avaliadas e aceitas ou não; assim, “a exposição didática terá a função de instigar os alunos a pesquisarem nos mais variados recursos, para enriquecer o processo de investigação e produção do conhecimento, levando em consideração a necessidade de compartilhamento das informações encontradas. (BEHRENS, 2005, p.100). Essa fase não deve exceder dois ou três encontros com os alunos. É o momento coletivo da definição de parâmetros em relação ao que vai ser investigado. Não se trata de ditar receitas para serem seguidas, mas de explicitar possíveis caminhos para produzir conhecimentos sobre a problemática proposta. As aulas expositivas dialógicas têm a finalidade de orientar a pesquisa do problema. Pesquisa individual Nessa fase o aluno irá demonstrar sua efetiva participação por meio da pesquisa individual. Embora a metodologia de projetos proponha um trabalho coletivo, ela contempla a ação individual, pois para Behrens (2005, p. 113): O equilíbrio entre o trabalho individual e coletivo deve ser observado pelo professor por dois motivos significativos: primeiro, o de estimular individualmente os alunos a buscarem os referencias necessários para a pesquisa; e o segundo, para que esse esforço seja promulgado e valorizado perante os colegas. Não se trata de instalar a competitividade, mas de valorizar o envolvimento e a competência na investigação desencadeada pelo aluno. Programa Agrinho 55 Teoria e Prática Nesse momento o professor deve estimular os alunos para a busca e o acesso às informações nas mais variadas fontes e, assim, procurar coletivizar os referenciais que aparecerem nas pesquisas individuais dos alunos. O professor neste processo orienta o aluno, mostrando-lhe os meios disponíveis, as tecnologias que poderão ser utilizadas, como Internet, alguns endereços eletrônicos, tornando-os disponíveis ao grupo. O aluno precisa ser alertado sobre os cuidados que deverão ter ao pesquisar na WEB, ou seja, na Internet. Acostumados a validar tudo que encontram por escrito, num primeiro momento, tendem a acreditar no conteúdo apresentado na rede. No entanto, os conhecimentos apresentados nos sites podem conter conteúdos de qualidade duvidosa. Produção individual Esta fase trata da produção de um texto individual, com as informações recolhidas nas pesquisas. Para Behrens (2000), o professor deve auxiliar os alunos nesta etapa para que não se utilizem pesquisas copiadas, repetitivas e sem significado. Para a autora, os alunos devem ser estimulados a soltarem-se crítica e reflexivamente, para uma produção sobre os dados e as informações que trouxerem para a sala de aula. O desafio é escrever um texto que preencha estes requisitos: qualidade, pertinência e clareza de idéias. O comprometimento integral do aluno é essencial nesta fase. Segundo Behrens (2005), a fase de produção individual permite ao aluno a possibilidade de manifestar suas opiniões e apresentar sua produção, tendo em conta a pesquisa realizada e compartilhada com seus colegas. Discussão crítica Na etapa de discussão coletiva, crítica e reflexiva, o professor desafia os alunos a exporem seus textos individuais, com o objetivo de produzir conhecimento coletivamente. De acordo com Behrens (2005, p 105): 56 Programa Agrinho Teoria e Prática A discussão crítica tem como objetivo principal a aproximação da teoria e da pratica aliadas à possibilidade de abrir perspectivas para que o professor e o aluno possam ser agentes de intervenção na realidade concreta que se apresenta na comunidade. Com os subsídios da discussão reflexiva, o aluno começa aprender a aprender, que ser investigador transcende a produção escrita e demanda ações efetivas para transformar a sociedade. Os alunos nesta fase terão a oportunidade de desenvolver suas idéias criticamente, além de levar a reflexões referentes a aceitarem às diferenças, as opiniões contrárias, as parcerias entre os colegas. Esse procedimento permite que os alunos argumentem e defendam suas idéias sobre a temática investigada. Com esse amadurecimento crítico e reflexivo, os alunos podem acolher as opiniões dos companheiros ou defender suas próprias convicções. Produção coletiva Nesta etapa, são reunidas as produções individuais, as reflexões e contribuições da discussão coletiva e produz-se o texto coletivo. Recomenda-se que, para que haja uma contribuição significativa, o número de participantes na produção do texto coletivo seja de três ou quatro indivíduos. O professor deve orientar os alunos nesta fase levando-os a discutir sobre os pontos convergentes e divergentes tornando-os subsídios para a produção do texto crítico e de qualidade. Nesse processo, os alunos aprendem como elaborar produção própria e defender suas idéias e sua pesquisa. Segundo Behrens (2006), a fase de produção coletiva provoca o trabalho entre pares e permite acoplar e interconectar as produções individuais realizadas pelos alunos. Nesta fase, há necessidade de retomar a problemática e orientar os alunos para a produção coletiva no projeto, pois a falta de orientação do docente pode levar os alunos a acumularem suas produções individuais, sem discuti-las e sem elaborá-las. Programa Agrinho 57 Teoria e Prática Recomenda-se que a produção coletiva seja entregue juntamente com a produção individual, a fim de que se possa acompanhar o desenvolvimento de cada aluno e a participação de todos no projeto. Produção final Nesta etapa, o professor deve discutir com os alunos previamente a possibilidade de enriquecer essa fase final por meio das experiências vivenciadas no projeto concretizando-as com a soma de variados procedimentos como: Exposições didáticas em sala de aula dos textos individuais e coletivos produzidos; montagem de painel, na sala ou no espaço da escola sobre os conhecimentos referenciais que foram pesquisados; encenação criada e produzida pelos alunos, mediada pelo professor; organização de evento envolvendo a comunidade sobre os referenciais pesquisados; a proposição de montagem de um jornal com a divulgação dos textos e ilustrações produzidas pelos alunos; organização de revista ou periódico acadêmico com os textos dos alunos e que crie a possibilidade de publicar as produções do grupo; a criação de produção de vídeo pelos alunos com a possibilidade de coletivizar o avanço do grupo com a comunidade acadêmica (BEHRENS, 2005, p. 106). Além desses procedimentos, outras alternativas podem ser criadas por sugestões dos alunos, enriquecendo a produção final. A produção final possibilita a intervenção na realidade, com ações individuais e coletivas entre pares na própria sala de aula, na escola ou na comunidade. Avaliação da aprendizagem Na metodologia de projetos a avaliação da aprendizagem ocorre ao longo do processo, contínua e gradual. Em todas as etapas o professor tem critérios claros sobre os procedimentos que deverão fazer parte daquele momento de aprendizagem. O professor deve comunicar aos alunos os critérios de avaliação em cada fase para que possam 58 Programa Agrinho Teoria e Prática acompanhar sua própria aprendizagem e a do grupo. Segundo Behrens (2006, p. 107): “Esse procedimento gera a possibilidade de que os alunos se manifestem e discutam a avaliação, buscando o consenso sobre os critérios que deverão ser proposto com clareza e com transparência”, e acrescenta: “Acredita-se que o planejamento por meio de contrato didático e o procedimento avaliativo por meio de portfólio sejam procedimentos didáticos compatíveis com a metodologia de projetos”. Avaliação coletiva A última fase corresponde à avaliação coletiva do projeto. Trata-se Portfólios – uma modalidade de avaliação que vem do campo das artes, sua utilização é baseada na idéia da natureza evolutiva do processo de aprendizagem. O portfólio pode ser definido como um conjunto de atividades diferentes que envolvem aprendizagens relatadas a partir de experiências de aula, de trabalhos, de pesquisas, de representações visuais, entre outros. O portfólio proporciona evidências da produção do conhecimento que foi sendo construído ao longo do processo de aprendizagem. do momento de reflexão tanto sobre o resultado como sobre a participação de cada elemento do grupo. Nesta etapa o professor encaminha o grupo para a discussão, pois os alunos precisam manifestar-se sobre as atividades propostas com o intuito de melhorá-las ou mantê-las. As avaliações da aprendizagem devem incluir as atividades individuais e coletivas, bem como o valor atribuído a cada fase do projeto. Enfatiza-se a relevância de criar possibilidades para que os alunos possam manifestar suas contribuições sobre a vivência do projeto. Esse processo avaliativo, que coroa a fase final do processo, tem como função o acolhimento das impressões, das opiniões e sugestões dos alunos, que são fundamentais para reconstruir o projeto, ou subsidiar a proposição do próximo projeto. Hernandez (1998, p. 93) corrobora com essa idéia de avaliação, quando destaca que: “Uma das finalidades dos projetos é promover formas de aprendizagem que questionem a idéia de verdade única, ao colocar os alunos diante de diferentes interpretações dos fenômenos está se questionando plenamente a visão da avaliação baseada na consideração da realidade como algo objetivo e estável” e, acrescenta: “Com isso, o papel da avaliação passa a fazer parte do próprio processo de aprendizagem, e não é um apêndice que estabelece e qualifica o grau de ajuste dos alunos com a ‘resposta única’ que o docente define.” Programa Agrinho 59 Teoria e Prática Se um projeto de trabalho pressupõe uma elaboração do conhecimento, partindo da relação das fontes, com a informação que os alunos têm, a avaliação deverá possibilitar essa reconstrução. O papel do professor consistirá em instigar a avaliação de cada fase e levantar os pontos positivos e as dificuldades encontradas em cada momento da proposta. As fases sugeridas não se esgotam, nem são lineares, mas apresentam um esboço diante das possibilidades que poderão ser construídas pelo professor e pelos alunos. Trata-se de um esboço ilustrativo sobre as possibilidades na oferta de trabalhos educativos baseados em projetos. O paradigma inovador desafia os professores para uma docência relevante e significativa que supere processos repetitivos e acríticos e que permita o questionamento e a problematização da realidade circundante. Propõe a convivência com múltiplas dimensões e com diferentes visões, exigindo tolerância com o diferente e comprometimento com a transformação da sociedade. Assim, acredita-se que a metodologia de projetos pode ser um procedimento pertinente para oferecer aos alunos aprendizagens que levem à produção do conhecimento e, especialmente, provoquem aprendizagem para vida. REFERÊNCIAS ALARCÃO, I. (Org.). Formação reflexiva de professores. Estratégias de supervisão. Porto: Porto Editora, 1996. BEHRENS, M. A. 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Avaliação qualitativa. São Paulo: Cortez, 1994. FAGUNDES, L. Educação à distância: uso de rede telemática com baixo custo. Anais do Seminário Informática e Educação: os desafios do futuro. Campinas: Unicamp, 1999. FAGUNDES, L. Projeto de Educação à distância: Criação de rede informática para alfabetização em língua, matemática e tecnologia. Porto Alegre: UFRGS/ LEC, 1993. FAGUNDES, L. Informática na escola. Tecnologia Educacional. Rio de Janeiro, v. 22, n.107, p 79-84, jul./ago. 2001. FAGUNDES, L. Aprendizes do futuro: as inovações começaram: Brasília: Mec, 1999. FREIRE, P. Pedagogia da Esperança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia. São Paulo: Paz e Terra, 1999. HERNANDEZ, F.; VENTURA, M. A organização do Currículo por projetos. Porto Alegre. Art Méd, 1999. HERNANDEZ, F.; VENTURA, M. Transgressão e Mudança na Educação. Porto Alegre, ArtMed, 1998. MERCADO, L. Formação Continuada de Professores e Novas Tecnologias. Maceió: EDUFAL, 1999. MIZUKAMI, Maria da Graça. In: Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. MORAES, Maria Cândida. O Paradigma educacional emergente. São Paulo: Papirus, 2002. SCHÖN, D. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A. (Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992. TORRES, R. Globalização e Interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: ArtMed, 1997. Programa Agrinho 61 Teoria e Prática Conferindo as idéias Antropologia do projeto BOUTINET, J. P. Antropologia do projeto. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. Nessa obra, o autor descreve o processo histórico da utilização do Projeto como atividade para aprendizagem. Utiliza exemplos de metodologia de projetos em várias áreas de conhecimento e aponta possibilidades de experiência vivenciadas com projetos. BEHRENS, Marilda Aparecida. A prática pedagógica e o paradigma emergente. Petrópolis: Vozes, 2005. A prática pedagógica e o paradigma emergente Nessa obra a autora aborda os paradigmas que caracterizam a prática pedagógica. Apresenta os paradigmas conservadores que levam à reprodução do conhecimento, apresentando as abordagens: tradicional, escolanovista e tecnicista. Relata a passagem paradigmática do paradigma newtoniano-cartesiano para o paradigma emergente. Descreve a proposta de uma aliança para compor o paradigma emergente apontando as abordagens: progressista, ensino com pesquisa e a visão holística. MASETTO, Marcos; MORAN, José Manoel; BEHRENS. Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2005. Novas tecnologias e mediação pedagógica Essa obra, em sua 10ª edição, apresenta as tecnologias como recursos de aprendizagem e a necessidade da mediação pedagógica do professores e alunos que buscam a aprendizagem. Relata os desafios impostos à superação do paradigma conservador na prática pedagógica do professor. Analisa os fatores que interferem na aprendizagem no século XXI. Propõe uma aliança das abordagens pedagógicas inovadoras. Na proposição de “Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente” justifica a importância do uso da tecnologia como ferramenta de aprendizagem e descreve a proposta da metodologia de projetos com as fases a serem desenvolvidas para produzir conhecimento. 62 Programa Agrinho Conferindo Teoria as e Prática idéias Paradigma da complexidade. Metodologias de projetos, contratos didáticos e avaliação por portfólios Essa obra analisa a passagem do paradigma emergente para o BEHRENS. Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade. Metodologias de projetos, contratos didáticos e avaliação por portfólios. Petrópolis: Vozes, 2006. paradigma da complexidade na Sociedade e na Educação. Apresenta a Metodologia de Projetos como opção do docente para a produção de conhecimento dos alunos. Descreve a importância do planejamento das atividades pedagógicas num contrato didático e propõe a avaliação contínua dos alunos por meio de portfólios. Programa Agrinho 63 Teoria e Prática APRENDIZAGEM COLABORATIVA Patrícia Lupion Torres Esrom Adriano F. Irala A aprendizagem colaborativa e a aprendizagem cooperativa têm sido freqüentemente defendidas no meio acadêmico atual, pois se reconhece nessas metodologias o potencial de promover uma aprendizagem mais ativa por meio do estímulo: ao pensamento crítico; ao desenvolvimento de capacidades de interação, negociação de informações e resolução de problemas; ao desenvolvimento da capacidade de auto-regulação do processo de ensino-aprendizagem. Essas formas de ensinar e aprender, segundo seus defensores, torna os alunos mais responsáveis por sua aprendizagem, levando-os a assimilar conceitos e a construir conhecimentos de uma maneira mais autônoma. Tais propostas trazem de forma intrínseca concepções sobre o que é ensino, aprendizagem e qual a natureza do conhecimento. Uma das idéias fundamentais que elas encerram é a de que o conhecimento é construído socialmente, na interação entre pessoas e não pela transferência do professor para o aluno. Portanto, rejeitam fortemente a metodologia de reprodução do conhecimento, que coloca o aluno como sujeito passivo no processo de ensino-aprendizagem. Opondose a essa abordagem tradicional de ensino, que ainda está fortemente arraigada no cotidiano das escolas, essas propostas reconhecem o conhecimento prévio de cada estudante, sua experiência e seu entendimento de mundo. O processo ensino-aprendizagem não está mais centrado na figura do professor e o aluno exerce nele papel fundamental. O professor atua na criação de contextos e ambientes adequados para que o aluno possa desenvolver suas habilidades sociais Abordagem tradicional – A abordagem tradicional de ensino valoriza “a aula expositiva, centrada no professor, com destaque para situações em sala de aula nas quais são feitos exercícios de fixação, como leituras repetidas e cópias.” (ARANHA, 1996, p.158) Estas práticas depauperam, empobrecem, tornam menor a proposta da Pedagogia Tradicional, que pretendia uma formação clássica. Para Libâneo, este empobrecimento (1991, p.64) reduz a mera prática de memorização a proposta de desenvolvimento de raciocínio e a formação mental. Aranha (1996, p.158) afirma que “a educação tradicional é magistrocêntrica, isto é centrada no professor e na transmissão do conhecimento. O mestre detém o saber e a autoridade, dirige o processo de aprendizagem e se apresenta ainda, como modelo a ser seguido.” e cognitivas de modo criativo, na interação com outrem. Programa Agrinho 65 Teoria e Prática A aprendizagem colaborativa ou a cooperativa não são práticas recentes e resultam de diversas correntes do pensamento pedagógico. Para Arends, a origem da aprendizagem cooperativa remonta “ à Grécia Antiga e os desenvolvimentos contemporâneos começam com os primeiros psicólogos educacionais e teóricos da pedagogia do início do século xx.” (1995, p. 365) Desde o século XVIII, educadores utilizaram-se e têm se utilizado da filosofia da aprendizagem colaborativa, cooperativa e de trabalho em grupos, pois acreditavam em seu potencial de preparar seus alunos para enfrentar a realidade profissional. O professor George Jardine da Universidade de Glasgow, entre os anos de 1774 e 1826, pretendendo preparar os discentes para a plena participação na sociedade britânica, empregou técnicas de composição de textos em colaboração e o ensino de técnicas de Marques (2000) em breve biografia de John Dewey afirma que ele “nasceu em 1859, em Burlington, no Estado de Vermont. Estudou nas Universidades de Vermont e The Hohns Hopkins. Foi professor nas Universidades de Michigan, Minesota, Chicago e Columbia. Criou a Laboratory Scholl na Universidade de Chicago, onde experimentou as suas idéias pedagógicas. Politicamente Dewey era um social-democrata. Filosoficamente, abraçou uma corrente a que se deu o nome de pragmatismo ou utilitarismo. Deixou-nos uma obra filosófica e pedagógica abundante. Morreu em a 1952. John Dewey foi um dos autores mais importantes do movimento norte-americano de educação progressista. Acreditava no poder libertador da educação e considerava que um sistema público de qualidade era um poderoso instrumento de combate às desigualdades sociais. Dewey pugnava pela incorporação do método científico da descoberta na sala de aula. Era um fervoroso adepto da transformação das escolas em pequenas organizações democráticas, onde professores e alunos se responsabilizavam pelo autogoverno das instituições. Adepto do trabalho de projecto e do trabalho de grupo, John Dewey acentuava o papel da escola na educação dos alunos para o exercício da cidadania.” (MARQUES, R. 2000, p.48) 66 Programa Agrinho comunicação e de trabalho em grupo (GAILLET, 1994). Já na educação formal, no início do século XIX, destacam-se as experiências de aprendizagem colaborativa da Lancaster School e da Common School Movement. Ainda do final do século XIX, ressalta-se a experiência do Coronel Francis Parker, que desenvolve atividades de aprendizagem em grupo em algumas escolas públicas dos Estados Unidos (JOHNSON & JOHNSON, apud GILLIAM, 2002). No século XX, na Inglaterra, as escolas de artes e ofícios, os institutos artesanais e outras escolas especializadas, implementaram propostas pedagógicas de cooperação escolar. O mesmo aconteceu na Alemanha, na Arbeikschule (escola do trabalho) de Kerschensteiner, e na Itália com a utilização de princípios da cooperação pelo Movimento di Cooperazime Educativa (LAENG, 1973, p. 102). Em 1916, John Dewey, ao escrever o livro Democracia e Educação, propõe que em ambiente escolar sejam reproduzidas situações sociais que preparem o aluno para exercer a democracia. Arends afirma que Dewey e seus seguidores, ao apresentarem os procedimentos de sala de aula de suas propostas, “enfatizavam a Teoria e Prática organização de pequenos grupos de resolução de problemas, constituídos por alunos que procuravam as sua próprias respostas e aprendendo os princípios democráticos, através da interação diária de uns com ou outros.” (1995, p.365) Depois da Primeira Guerra Mundial, na França surge ainda experiências de Profit e Celestin Freinet. (LAENG, 1973, p. 102).Também na França destacamos o trabalho do discípulo de Dewey, Cousinet. Maria Montessori e Ferrière foram outros educadores da Escola Nova que desenvolveram atividades de cunho cooperativo, como parte de seus métodos. Alguns pressupostos teóricos das propostas de colaboração e cooperação foram apresentados pelos psicólogos da Gestalt, Kurt Koffka De acordo com Marques (2000), Célestin Freinet foi “Professor primário e pedagogo francês que dedicou grande parte de sua vida ao ensino de crianças de meios populares e à difusão do movimento pedagógico inspirado nas suas idéias e práticas. Nasceu em 1897 e viveu toda a sua vida na França. Freinet foi um marxista não ortodoxo, interessado na criação de uma escola proletária que fizesse da cultura popular um antídoto para o que considerava ser alienação burguesa. Entre as técnicas pedagógicas que o tornaram conhecido em toda a Europa figuram a correspondência escolar, a imprensa escolar e o texto livre. As suas principais obras são Educação pelo Trabalho, os Ditos de Mateus e a Escola Moderna Francesa. Morreu em 1966.” (MARQUES, R. 2000, p.70) e Kurt Lewin, que desenvolverem a teoria da Interdependência social e Dinâmica de Grupo, e por Jean Piaget e Lev Vygotsky, precursores do Construtivismo e do Sociointeracionismo. Na década de 1930, de acordo com Marrow (1969), Kurt Lewin e seus discípulos Lippit e Witte elaboraram os primeiros estudos sobre a influência do trabalho em grupo para o aprendizado de crianças. Os resultados de tais estudos apontam para um melhor desempenho escolar das crianças que trabalharam com um líder democrático do que as que trabalharam sem um líder ou com um líder autocrático (apud FREITAS e FREITAS, 2003, p 12). Há uma influência psicanalítica nos trabalhos de Lewin e seus seguidores, fato que proporciona uma aura mais afetiva ao grupo. No grupo abre-se espaço para a convivência, o reconhecimento, o respeito e a felicidade. Também em Freinet e Claperède aparece o esforço pela busca da felicidade no grupo e pelo grupo (ARENILLA , et all. 2001). Freitas e Freitas afirmam que Mais tarde, na esteira de Lippitt e White, um dos alunos de Kurt Lewin, Morton Deutsch, que no final da primeira metade do séxulo xx Programa Agrinho 67 Teoria e Prática Para Marques (1999, p.40) “Jerome S. Bruner nasceu em 1915. Doutorou-se em psicologia, em 1941, na Harvard University, após ter concluído, em 1937 a licenciatura na Duke University. Foi durante muitos anos professor da Harvard University. Ensinou e fez investigação, também, na New School for Social Research. Embora Bruner seja um psicólogo por formação e tenha dedicado grande parte das suas obras ao estudo da psicologia, ganhou grande notoriedade no mundo da educação graças a sua participação no movimento de reforma curricular, ocorrido nos EUA, na década de 60.” Ainda este autor ao discorrer sobre A teoria de Bruner afirma que ela “incorpora, de uma forma coerente, quer as contribuições do maturacionismo quer os com tributos do ambientalismo, pois é através de uns e de outros que a criança organiza os diferentes modos de representação da realidade, utilizando as técnicas que a sua cultura lhe transmite. O desenvolvimento cognitivo da criança depende da utilização de técnicas de elaboração da informação, com o fim de codificar a experiência, tendo em conta os vários sistemas de representação ao seu dispor.” (MARQUES, R. 1999, p.41) Ao escrever sobre B.F., Skinner, Marques (1999) afirma que ele “nasceu em Susquehanna, na Pensilvânia, em 1904, e morreu, em Cambridge, no Massachusetts, em 1990. Skinner freqüentou o Hamilton College, em Clinton, NY, e ensinou na Harvard University, University of Minnesota e Indiana. University. Skinner dedicou toda a sua vida ao estudo das relações entre o ambiente e a aprendizagem, sendo justamente conhecido como o criador da moderna teoria comportamentalista da aprendizagem. Skinner considerou que a teoria de Thorndike estava incompleta, porque não é só o estímulo que provoca respostas. Mas também as respostas que provocam estímulos. Quer dizer, o comportamento de uma pessoa é a resposta e a conseqüência desta resposta é o estímulo.” (MARQUES, R. 1999, p.25) David W. Johnson – Professor de Psicologia Educacional na Universidade de Minnesota, onde ele possui a cadeira de Emma M. Birkmaier em Liderança Educacional; Co-diretor do Centro de Aprendizagem Cooperativa. Ex-editor da Revista da Pesquisa Educacional Americana. Publicou mais de 350 artigos e capítulos de livro e é autor de mais de 40 livros. Roger T. Johnson – Professor do Departamento de Currículo e Ensino na Universidade de Minnesota. Sua experiência como professor de escola pública inclui o ensino em: jardim da infância até a 8ª série, salas de aula independentes, escolas abertas, e escola de ciência. Escreveu em parceria com David W. Johnson inúmeros livros e artigos, incluindo Cooperation in the classroom (1988), Active Learning: cooperation in the college classroom (1991) e Positive Interdependence: the heart of cooperative learning (1992). 68 Programa Agrinho trabalhava no Rosearch Center for Group Dynamics no MIT (Massachusetts Institute of Technology), promoveu uma investigação com vista ao seu doutoramento que consistiu em comparar os efeitos da cooperação e da competição nos grupos. (2003, p 12) Nos anos 60 do século passado, Herbert Thelen propôs novas maneiras de trabalho discente em grupo. Thelen, assim como Dewey, afirmava: “que a sala de aula devia ser um laboratório ou uma democracia em miniatura, com o objetivo de se fomentarem o estudo e a pesquisa de problemas interpessoais e sociais importantes.” (ARENDS, 1995, p. 365) Ainda nos anos 60 merecem referência os trabalhos de investigação de Brunner e Skyner, que influenciaram as discussões sobre cooperação e colaboração. Freitas e Freitas afirmam que se distinguiram entre os pioneiros como promotores dessa nova idéia os irmãos Johnson (David e Roger), da Universidade de Minnesota, e Robert Slavin, da Universidade Johns Hopkins; mas também podem ser considerados caboqueiros: Elliot A Robson (Universidade da Califórnia, em Stanford), Spencer Kagan (Universidade da Califórnia, em Riverside), Noroeen Webb (Universidade da Califórnia, em Los Angeles) e Sholomo Sharan (Universidade de Tel-Aviv, Israel). (2003, p.13) Muitas das propostas atuais de aprendizagem colaborativa e cooperativa surgem do interesse de estruturar a sala de aula e os processos de ensino, para superar preconceitos raciais e étnicos, principalmente nos Estados Unidos e Israel. Jonhson e Jonhson (ARENDS, 1995) também procuram estudar como os ambientes das turmas cooperativas podem levar à superação de preconceitos com alunos com deficiências, integrados em turmas regulares, e a uma melhor aprendizagem. Gilliam (2002, p.45), na sua dissertação de mestrado, apresenta um quadro da cronologia da aprendizagem cooperativa/colaborativa, baseado em pesquisas de Johnson e Johnson (1992, 1998). Teoria e Prática Programa Agrinho 69 Teoria e Prática O QUE É APRENDIZAGEM COLABORATIVA? Um conceito simples de aprendizagem colaborativa apresentado por Dillenbourg (1999) é que essa é uma situação de aprendizagem na qual duas ou mais pessoas aprendem ou tentam aprender algo juntas. De acordo com o autor, esse conceito geral pode ser interpretado de várias maneiras: o número de sujeitos pode sofrer grande variação, podendo ser duas ou milhares de pessoas; aprender algo também é um conceito muito amplo, pois pode significar o acompanhamento de um curso ou também a participação em diversas atividades como, por exemplo, as de resolução de problemas; o aprender “em conjunto” Síncrona – A comunicação ocorre ao mesmo tempo, em tempo real. Assíncrona – A comunicação ocorre em momentos distintos. pode ser interpretado de diversas maneiras, como situações de aprendizagem presenciais ou virtuais, síncronas ou assíncronas, esforço totalmente em conjunto ou com divisão de tarefas. Assim sendo, a prática de aprendizagem colaborativa pode assumir múltiplas caracterizações, podendo haver dinâmicas e resultados de aprendizagem diferentes para cada contexto específico. Em uma visão mais ampla do que significa aprender colaborativamente, pode-se dizer que, de maneira geral, espera-se que ocorra a aprendizagem como efeito colateral de uma interação entre pares que trabalham em sistema de interdependência na resolução de problemas ou na realização de uma tarefa proposta pelo professor. Segundo alguns estudiosos desse tipo de aprendizagem, a interação em grupos realça a aprendizagem, mais do que em um esforço individual. Uma aprendizagem mais eficiente, assim como um trabalho mais eficiente, é colaborativa e social em vez de competitiva e isolada. A troca de idéias com outras pessoas melhora o pensamento e aprofunda o entendimento (GERDY, 1998, apud WIERSEMA, 2000). Na formação de grupos de estudos e também de trabalhos colaborativos, o que se busca é uma parceria entre os indivíduos participantes que vá além da simples soma de mãos para a execução de um trabalho. Na colaboração, há a soma das mentes dos envolvidos (MORRIS, 1997). 70 Programa Agrinho Teoria e Prática Em um contexto escolar, a aprendizagem colaborativa seria duas ou mais pessoas trabalhando em grupos com objetivos compartilhados, auxiliando-se mutuamente na construção de conhecimento. Ao professor não basta apenas colocar, de forma desordenada, os alunos em grupo, deve sim criar situações de aprendizagem em que possam ocorrer trocas significativas entre os alunos e entre estes e o professor. Em relação à divisão de tarefas em um grupo de trabalho colaborativo, há “uma engajamento mútuo dos participantes em um esforço coordenado para a resolução do problema em conjunto”. (ROSCHELLE e TEASLY, apud DILLEMBOURG, 1996, p. 2). Dessa maneira, há a responsabilização de todos no sucesso ou no fracasso do grupo. Portanto, todos os alunos envolvidos em um empreendimento colaborativo são automaticamente responsáveis por seu progresso e pelo progresso do seu grupo, num relacionamento solidário e sem hierarquias. Freitas e Freitas (2003, p.37) apresentam as diferenças do trabalho em grupo tradicional e grupo cooperativo em um quadro baseado nas idéias de Johnson e Johnson. Programa Agrinho 71 Teoria e Prática A definição de aprendizagem colaborativa muitas vezes se confunde com a definição de aprendizagem cooperativa. As diferenças Matthews – Roberta S. Matthews: Superintendente da Brooklyn College na City University em Nova Iorque. Suas publicações sobre comunidades de aprendizagem e aprendizagem colaborativa incluem “Enriching Teaching and Learning Through Learning Communities” Enriquecendo o Ensino e a Aprendizagem através de Comunidades de Aprendizagem (Jossey-Bass, 1993) - e “Collaborative Learning: Creating Knowledge with Students” – Aprendizagem Colaborativa: Criando conhecimento com os alunos (Jossey-Bass, 1995). e semelhanças entre os dois conceitos suscitam uma discussão ampla e passível de várias interpretações no meio acadêmico atual. Esses termos são aparentemente muito parecidos e até usados como sinônimos. Porém, alguns autores os consideram diferentes nas suas perspectivas teóricas e práticas. As duas práticas, segundo Matthews et al. (1995), têm se desenvolvido separadamente. Embora os seguidores de ambas muito tenham pesquisado publicado e difundido suas produções teórico–práticas em eventos e congressos, poucos são os estudos que apontam divergências e convergências entre cada uma das escolas de pensamento . Matthews et al. (1995) descrevem os aspectos em que a aprendizagem colaborativa e a cooperativa podem diferir. Há, nessas duas abordagens, diferentes visões sobre: • o estilo, a função e o grau de envolvimento do professor; • a questão da autoridade e do relacionamento entre professor e aluno; • até que ponto os alunos precisam ser ensinados a trabalhar em grupos; • como o conhecimento é assimilado ou construído; • a formação do grupo, construção da tarefa, o grau de responsabilidade individual ou do grupo para com as atividades. Matthews, também, afirma que existem aspectos em que a aprendizagem colaborativa e a cooperativa possuem concordância de pressupostos: • Aprender de um modo ativo é mais efetivo do que receber informação passivamente; • O professor é um facilitador, um técnico, em vez de um “guru”. 72 Programa Agrinho Teoria e Prática • Ensinar e aprender são experiências compartilhadas entre professores e alunos; • Encontrar o equilíbrio entre aula expositiva e a atividades em grupo é uma parte importante do papel do professor; • A participação em atividades em pequenos grupos ajuda no desenvolvimento de habilidades de pensamento elaboradas e aumenta as habilidades individuais para o uso do conhecimento; • Aceitar a responsabilidade pelo aprendizado individual e em grupo aumenta o desenvolvimento intelectual; • A articulação de idéias em pequenos grupos aumenta a habilidade de o aluno refletir sobre suas próprias crenças e processos mentais; • Desenvolver habilidades sociais e de trabalho em equipe por meio da construção de consenso é uma parte fundamental de uma educação liberal; • A sensação de pertencer a uma comunidade acadêmica pequena e acolhedora aumenta o sucesso do aluno a sua retenção; e gostar (ou pelo menos reconhecer o valor da) diversidade é essencial para a sobrevivência de uma democracia multicultural. (MATTHEWS et al., 1995). Na tentativa de aprofundar mais os dois conceitos, a reflexão de Panitz (1996) torna-se pertinente: “A colaboração é uma filosofia de interação e um estilo de vida pessoal, enquanto que a cooperação é uma estrutura de interação projetada para facilitar a realização de um objetivo ou produto final.” Assim, pode-se dizer que a aprendizagem colaborativa é muito mais que uma técnica de sala de aula, é “uma maneira de lidar com as pessoas que respeita e destaca as habilidades e contribuições individuais de cada membro do grupo.” (PANITZ, Theodore Panitz é professor de matemática e engenharia na Cape Cod Community College. Esse autor tem publicado muitos artigos sobre a temática de Aprendizagem Colaborativa e Cooperativa e também conduzido vários worshops sobre essa temática. Em um de seus artigos intitulado “Collaborative Versus Cooperative Learning: Comparing the Two Definitions Helps Understand the nature of Interactive learning”, ele faz uma diferenciação entre esses dois conceitos. Outros artigos publicados pelo autor são: “Assessing Students and Yourself By Observing Students Working Cooperatively and Using the One Minute Paper”; “67 Benefits of cooperative learning”; “Benefits of Cooperative Learning in Relation to Student Motivation”. 1996, p.1) Todos compartilham responsabilidades e autoridade, assim Programa Agrinho 73 Teoria e Prática o aluno possui um papel mais ativo na condução do processo. Ainda este autor afirma que: “Os praticantes da Aprendizagem Colaborativa aplicam essa filosofia na sala de aula, nas reuniões de comitê, com grupos comunitários, dentro de suas famílias e geralmente como um modo de viver e lidar com outras pessoas.” (PANITZ, 1996, p. 1) Na colaboração, o processo é mais aberto e os participantes do grupo interagem para atingir um objetivo compartilhado. Já na cooperação o processo é mais centrado no professor e orquestrado diretamente por ele. Trata-se de um conjunto de técnicas e processos que os alunos utilizam com uma maior organização dentro do grupo de estudo para a concretização de um objetivo final ou a realização de uma tarefa específica. É um processo mais direcionado do que o processo de colaboração e mais controlado pelo professor. No que diz respeito especificamente à divisão de tarefas, no trabalho cooperativo existe uma divisão mais clara de tarefas a serem realizadas pelos participantes, pois cada aprendiz se responsabiliza por uma parte da resolução do problema, ao passo que na colaboração há “um engajamento mútuo dos participantes em um esforço coordenado para a resolução do problema em conjunto.” (ROSCHELLE e TEASLY, apud DILLEMBOURG, 1996, p. 2). Mais do que a simples discussão sobre se há ou não a distribuição de tarefas entre os membros de um grupo nas duas concepções, o que se discute principalmente entre alguns autores é a maneira pela qual as tarefas são divididas. Na cooperação, as tarefas são divididas em subtarefas de forma hierárquica; cada membro se responsabiliza por uma parte do problema, devendo contribuir com sua parte para a resolução final do problema. Na colaboração, em tese, não há uma hierarquia marcada e as atribuições de cada membro muitas vezes se entrelaçam, pois eles trabalham em atividades coordenadas e síncronas, esforçando-se para construir e manter uma concepção compartilhada de um problema (DILLEMBOURG, 1996). 74 Programa Agrinho Teoria e Prática Partindo das características principais dos dois conceitos, pode-se então traçar um perfil geral de uma aula com princípios cooperativos e outra com princípios colaborativos. Na aula cooperativa, o aluno participa em atividades estruturadas em grupos, trabalhando conjuntamente na resolução de uma série de problemas. Às vezes, um determinado aluno possui um papel específico dentro do seu grupo. Na aula colaborativa, o professor pede para que os membros do grupo organizem-se e negociem entre eles mesmos quais serão seus papéis nos trabalhos do grupo. Durante os trabalhos em grupo na sala de aula cooperativa, o professor observa as interações de cada grupo, ouve seus debates e faz algumas intervenções quando julga necessário. Ao final de cada aula, o professor realiza uma sessão para a síntese dos debates, pedindo para que os grupos façam um breve relato oral das suas conclusões ou que submetam uma cópia da atividade realizada em grupos para sua apreciação. O professor da sala de aula colaborativa, por sua vez, não monitora ativamente os grupos, deixando questões importantes para que eles mesmos resolvam. Encerra suas atividades diárias com uma sessão de discussões em que os alunos em conjunto avaliam se os objetivos compartilhados foram alcançados ou, se não o foram, discutem e negociam uma melhor forma de alcançá-los da próxima vez. Finalmente, na sala de aula cooperativa, os alunos recebem treinamento apropriado com relação a habilidades sociais em pequenos grupos como escutar ativamente o outro e fornecer feedback construtivo para os seus companheiros. Além disso, o professor pode fornecer aos grupos tarefas direcionadas a orientá-los em como avaliar o funcionamento do grupo, e como os membros do grupo, individualmente e em conjunto, podem melhorar os seus níveis de participação e desempenho. Na aula colaborativa, não é fornecido nenhum tipo de treinamento formal pelo professor sobre técnicas de trabalhos em grupo, pois o professor assume que os alunos possuem as habilidades sociais necessárias para os trabalhos em grupo. Programa Agrinho 75 Teoria e Prática Não há nenhuma atividade dedicada à avaliação do funcionamento e à participação dos membros do grupo, pois o professor deseja que os próprios aprendizes resolvam os conflitos dos seus grupos, assim como as questões de participação (MATTHEWS et al., 1995). Nas duas práticas que acabaram de ser expostas, a atitude dos dois professores claramente indica o comprometimento com uma aprendizagem ativa, dinâmica e participativa, distanciando-se radicalmente dos valores e estilos da abordagem tradicional de ensino, que coloca a centralidade do ensino na figura do professor. Ambas as práticas enfatizam uma maior responsabilização dos aprendizes no seu processo de aprendizagem, colocando-os como partícipes na construção do conhecimento. Desse modo, pode-se dizer que os dois conceitos, o de “cooperação” e o de “colaboração”, referem-se a atividades desenvolvidas em grupo com objetivos comuns, apresentando, porém, diferenças fundamentais no que tangem à dinâmica do trabalho em conjunto, à constância da coordenação e, principalmente, à filosofia inerente aos dois conceitos, sendo o processo colaborativo mais profundo e complexo do que o processo cooperativo. De qualquer maneira, reconhece-se que ambas as práticas são complementares e vêm em oposição ao sistema de ensino dominante, baseado numa pedagogia autoritária, hierárquica e unilateral. Essas novas práticas estimulam uma socialização no processo de ensino-aprendizagem, em que indivíduos em grupos solucionam problemas em comum e, acima de tudo, constroem conhecimento socialmente relevante (IRALA , 2005). TEORIAS EDUCACIONAIS QUE EMBASAM A APRENDIZAGEM COLABORATIVA A aprendizagem colaborativa insere-se em um conjunto de tendências pedagógicas e bases teóricas historicamente difundidas no 76 Programa Agrinho Teoria e Prática contexto escolar. As principais tendências pedagógicas e bases teóricas que a embasam são: a) Movimento da Escola Nova; b) Teorias da Epistemologia Genética de Piaget; c) Teoria Sociocultural de Vygotsky; d) Pedagogia Progressista (termo emprestado de SNYDERS, apud LIBÂNEO, 1986). Movimento da Escola Nova A aprendizagem colaborativa foi fortemente influenciada por educadores da Escola Nova, tais como: John Dewey, Maria Montessori, Freinet, Cousinet e Edouard Claparède. A Escola Nova pretendia um resgate da figura do aluno, de suas necessidades e experiências. Buscava transformar o aluno em um agente participativo da ação educativa. Essa nova abordagem, de contorno humanista, enfatizava o sujeito como principal elaborador do conhecimento humano e priorizava as relações interpessoais para o desenvolvimento humano, centrado-se em um indivíduo com personalidade e capaz de construir e organizar pessoalmente a realidade ao seu redor e de atuar como uma pessoa integrada ao seu meio. A Escola Nova promovia as relações interpessoais, deslocando a centralidade do ensino do professor para o aluno, propondo um ensino centrado no indivíduo e considerando os interesses dos alunos nas experiências de aprendizagem, com forte influência da psicologia e da biologia, a Escola Nova buscava o autodesenvolvimento e a realização pessoal do aluno (BEHRENS, 2000). Ao deslocar a centralidade do processo educativo do professor para o aluno, este se torna protagonista da ação educativa e a metodologia do professor-transmissor e fonte última do saber não é Arénilla (2000) nos traz que “Maria Montessori (1870-1952) nasceu em Chiaravelle, perto de Ancone, Itália, em 1870, no seio de uma família bastante abastada. Ao desafiar todas as interdições, da época e a hostilidade do seu próprio pai, empreende estudos de ciências – que a levam a freqüentar uma escola de rapazes depois declara pretender seguir medicina. O que conseguirá tornando-se graças à sua tenacidade e coragem, na primeira mulher médica da Itália, em 1896. A sua qualidade de médica vale-lhe o ser relegado para um serviço hospitalar psiquiátrico na qualidade de assistente. Assim sendo, deve visitar as casas onde são hospitalizadas ou internadas tanto crianças como adultos. Maria Montessori fica escandalizada com o que descobre – crianças mentais tratadas como alienadas e quase abandonadas. A fim de procurar [uma solução] para [este problema], empreende o estudo das obras dos (...) franceses Itard e Seguin que se ocupam de crianças ditas atrasadas. Adapta uma parte destes métodos às crianças que encontra e obtem resultados espetaculares. Fora desse trabalho nos estabelecimentos, desenvolve uma actividade intensa, multiplicando as conferências sobre as crianças de que se ocupa. Trabalha igualmente para clientes privados, posto que abre um consultório, e milita nas organizações feministas.” (ARÉNILLA, L. et al. p.356) Marques (2000, p.29) informa que “Claparède (1872-1940) foi o criador da pedagogia funcional. Nasceu em Genéve, no seio de uma família oriunda de França. Completou os estudos de Medicina em 1897 e tornou-se professor de Psicologia na Universidade de Genève em 1904. Director do laboratório de Psicologia da Universidade de Genève, desde 1904, começou cedo a interessar-se pelo estudo da adaptação do organismo psicofisiológico da criança. Central na sua pedagogia funcional é a idéia de que toda a adaptação se faz por tentativas e ajustes sucessivos, sendo por isso que a sua pedagogia também ficou conhecida por “pedagogia dos ensaios e dos erros”. Principais obras: A Associação das idéias (1903); Psicologia da criança e pedagogia experimental (1905), Um instituto das Ciências da Educação (1912); Psicologia da Inteligência (1917); A Educação Funcional (1931); Moral e Política (1940).” Programa Agrinho 77 Teoria e Prática mais válida. Sua nova postura é de um facilitador da aprendizagem, estabelecendo condições de aprendizagem propícias para que os alunos se desenvolvam naturalmente em busca da criação e recriação de significados a partir de suas próprias experiências e na sua interação com o meio físico e social. Surge a idéia do “aprender fazendo” e novas metodologias de ensino são valorizadas pelos partidários da Escola Nova, tais como a pesquisa, a metodologia de projetos, os ambientes preparados, a descoberta e o método de solução de problemas. Aranha (1996, p.213) destaca a “contribuição do francês Célestin Freinet na busca de uma pedagogia popular e democrática e sua influência sobre as correntes antiautoritárias de base socialista, tais como as de Lobrot, Oury, Vásquez...’’ Ressalta-se ainda que o método Montessori, embora considerado por muitos como uma proposta educacional de cunho individualizado, tem em seus pressupostos básicos a socialização dos materiais, a preocupação com o outro e a organização do ambiente preparado de uso coletivo. Dentro desse contexto, foi também implementada por Dewey a metodologia de trabalho em grupos. Tendo como base os desenvolvimentos teóricos da psicologia e sociologia de sua época e com ênfase na educação democrática, suas filosofias exerceram grande influência para importantes mudanças na sociedade, tais como: a relação de dependência entre a aprendizagem e as atividades sociais, a influência do ambiente físico no desenvolvimento da cultura e a necessidade de promoção das diferenças individuais a fim de se produzirem mudanças na sociedade. Duas importantes filosofias, implementadas por Dewey, contribuíram para o desenvolvimento da aprendizagem colaborativa: a democracia na educação e a aprendizagem socialmente interativa. Segundo Dewey (apud GILLIAM, 2002), o processo educacional possui dois lados: um psicológico e outro sociológico. Ambos estão profundamente conectados, sendo que a negação de um implica, 78 Programa Agrinho Teoria e Prática necessariamente, prejuízos para o outro. Muitos escritos de Dewey também continham a idéia de integração entre experiência e aprendizagem ativa. Além da experiência de aprendizagem, a experiência comunitária era, para ele, o centro da educação, incluindo-se a escola, a família, o partido político e todos os componentes de uma sociedade. Assim, experiências dentro da escola representariam somente uma parte da educação, sendo a outra parte suprida pela sociedade na forma de artes, divertimento e recreação. Para Dewey (1897, apud GILLIAM, 2002), a ação, dentro e fora da escola, era uma parte integral da educação, visto que a educação é um processo ativo, interativo, que ocorre face a face. A aprendizagem colaborativa possui pressupostos da Escola Nova e das idéias de Dewey, na medida em que elas valorizam a ação dentro de um ambiente democrático e com vivência comunitária. A democracia na sala de aula reduz a hierarquia da relação professor-aluno, havendo uma valorização cada vez mais significativa do papel central do aluno no processo de aprendizagem e no conceito do trabalho em grupos, como um espaço de criação e construção de conhecimentos. Dewey argumenta que a aprendizagem ocorre quando os professores exercem um controle indireto por meio de trabalhos que estimulem o empreendimento social, além do individual, e nos quais cada participante tenha a oportunidade de contribuir e também possuam responsabilidade. Epistemologia Genética de Piaget Lalande (1967, apud MATUI, 1995, p. 32), no seu Vocabulario técnico y crítico de la filosofia, define o termo epistemologia que, de acordo com os filósofos, é “o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado a determinar a sua origem lógica (não psicológica), seu valor e seu alcance objetivo.” Piaget preocupou-se em saber qual era a origem lógica dos conhecimentos e a dinâmica do processo de construção do conhecimento pela criança. Programa Agrinho 79 Teoria e Prática Por isso chamou sua teoria de Epistemologia Genética, pois se centrava na gênese, na origem. De base predominantemente interacionista, nessa teoria o sujeito é considerado um ser ativo que se relaciona com o meio físico e o social, construindo relações significativas com estes. Dentro dessa concepção, o conhecimento não é um objeto fixo, mas construído pelo indivíduo por meio da sua experiência com o objeto do conhecimento. Assim, a ação e a interação são os pressupostos fundamentais da teoria construtivista de aprendizagem baseada na Epistemologia Genética. Na prática construtivista, os alunos são levados a engajarem-se na sua própria construção de conhecimentos por meio da integração da nova Arénilla (2000) comenta que, “No Logique et connaissance scientifique, Piaget escreve que se serve deste termo criado pelo matemático holandês L. J. Brouwer, morto em 1966. A palavra designa uma nova atitude científica que intergrou os contributos da pragmatismo, da cibernética, das ciências cognitivas, da teoria da informação e da comunicação, da teoria dos sistemas, e que recusa o objetivismo(o mundo que conhecemos não é independente do indivíduo que o conhece), o realismo (o mundo conhecido não é dado previamente e o seu conhecimento não representa uma simples leitura), e que acredita alguns princípios, o da retroacção do efeito sobre a causa, o da autoorganização (os seres vivos integram em si a ordem e a organização do seu meio) e, finalmente, o da complexidade organizada. Para o construtivismo, qualquer desenvolvimento biólogo, psicólogo, social e o conhecimento o que dele se tem, são o resultado de uma construção feita de organizações e de reorganizações sucessivas em níveis de complexidade mais elevada.” (ARÉNILLA, L. et al. p.119) informação ao seu esquema mental, fazendo associações e conexões de uma maneira significativa. Educadores construtivistas reconhecem a ineficiência de uma postura centralizadora, na qual o professor é o detentor e “dono” do conhecimento, repassando-o para os alunos. Este deve, sim, ser um agente que provoca o desequilíbrio cognitivo dos alunos, envolvendo-os em todo processo cognitivo e colocando-os no centro do processo de aprendizagem. Metodologicamente, a abordagem construtivista de ensino enfatiza atividades autênticas e desafiadoras que colocam alunos e professores na comunidade de aprendizagem. Seu principal objetivo é a criação de comunidades de aprendizagem que se assemelhem ao máximo com a prática colaborativa do mundo real. Em uma comunidade autêntica, espera-se que os alunos assumam a responsabilidade por sua própria aprendizagem e desenvolvam habilidades metacognitivas para monitorar e dirigir seu próprio aprendizado e desempenho. Quando há a interação entre pessoas de forma colaborativa por meio de uma atividade autêntica, elas trazem seus esquemas próprios de pensamento e suas perspectivas para a atividade. Cada pessoa envolvida na atividade consegue ver o problema de uma perspectiva diferente e estão aptas a negociar e gerar significados e soluções por meio de um entendimento compartilhado. 80 Programa Agrinho Teoria e Prática Teoria Sociocultural de Vygotsky Vygotsky foi o principal expoente da Teoria Sociocultural, cuja ênfase recai no papel da interação social no desenvolvimento do homem. Essa teoria se concentra na relação causal entre a interação social e o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. Ou seja, uma vez que o conhecimento é construído nas interações dos sujeitos com o meio e com outros indivíduos, essas interações seriam as principais promotoras da aprendizagem. Na interpretação de Rego (apud VALASKI, 2003, p. 24): “ele [Vygotsky] considera que o indivíduo é um ser social e que constrói sua individualidade a partir das interações que se estabelecem entre os indivíduos, mediadas pela cultura”. Para Vygotsky, todo o desenvolvimento e aprendizagem humanos é um processo ativo, no qual existem ações propositais mediadas por várias ferramentas (VYGOTSKY, 1978). A mais importante dessas ferramentas é a linguagem, pois ela representa o sistema semiótico que é a base do intelecto humano. Todas as outras funções superiores do intelecto desenvolvem-se a partir da interação social baseada na linguagem (WARSCHAUER, 1997). Assim, a inteligência tem origem social e a aprendizagem acontece inicialmente de forma interpsíquica, isto é, no coletivo, para depois haver a construção intrapsíquica. Assim, para que ocorra a aprendizagem, há a necessidade de uma interação entre duas ou mais pessoas, cooperando em uma atividade interpessoal e possibilitando uma reelaboração intrapessoal. Dentro dessa visão, torna-se necessário o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky, que nas suas próprias palavras é: ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (p.112) Para Bertrand (1998) “Vygotsky (18961934), teve pouco tempo para constituir uma obra que continua incompleta. Desde o início de sua carreira, Vygotsky combate a reflexologia de Pavlov e a psicologia gestaltista de Kohler. Em vez disso, propõe uma psicologia sócio-histórica. O desenvolvimento do espírito humano diz ele, faz parte de um processo social e histórico.” (BERTRAND, Y. p.131) Arénilla (2000) comenta que Vigotsky em sua principal obra intitulada Pensée et langage, “centrada na dinâmica da passagem entre os pensamentos e a palavra (e vice-versa), procura demonstrar como o pensamento se forma por interiorização das experiências que o meio proporciona à criança. A ferramenta necessária para este trabalho é a linguagem. Graças a este “mediador semiótico”, a criança pode transferir na “esfera das funções psíquicas” os saberes e as habilidades que o meio social lhe deve transmitir.No modelo de Vygotski, acentua-se tanto o indivíduo que constrói o seu pensamento ao aplicar uma linguagem interior reguladora das suas condutas como o meio que fornece a sustentação, sobretudo lingüística, em condições interacticvas que permitem a criança distanciar-se relativamente a estas condutas.” (ARÉNILLA, L. et al. p.462) De acordo com Bertrand (1998), “Vygotski propõe, em Mind in Society, o conceito de zona de desenvolvimento proximal para descrever as funções em maturação na criança. Define-a como a distância entre os dois níveis: o do desenvolvimento actual, avaliado pela capacidade que vem da criança tem de resolver problemas sozinho, e o nível de desenvolvimento avaliado pela capacidade que uma criança tem de resolver problemas quando auxiliado por alguém. Vygotski acrescenta que o nível actual avalia o desenvolvimento passado, ao passo que a zona de desenvolvimento proximal avalia o potencial de desenvolvimento, ou o estado dos processos em maturação.” (BERTRAND, Y. p.132) Programa Agrinho 81 Teoria e Prática De acordo com Siqueira (2003), há a zona de desenvolvimento real, que consiste em aptidões e conhecimentos que o aluno construiu até então, e tarefas e problemas que os alunos podem resolver sozinhos, sem a ajuda de companheiros mais capazes. Já na zona de desenvolvimento proximal, encontram-se as aptidões e os conhecimentos que ainda não amadureceram de forma completa e que precisam do auxílio e orientação de um adulto ou de um companheiro mais experiente para que esses possam ser utilizados. Para Vygotsky, a ZDP é considerada o ponto central da aprendizagem, onde se encontram as funções em processo de maturação. Newman, Griffin e Cole (1989), citados por Cummins (2000, p. 97, 98), enfatizaram a importância da ZDP em ligar o discurso social dos professores com as dimensões cognitivas da aprendizagem dos alunos: O conceito de ZDP foi desenvolvido dentro de uma teoria que possui como pressuposto que funções psicológicas superiores, distintivamente humanas, têm origem sócio-cultural. As atividades que constituem a zona são as origens sociais já referidas; quando a mudança cognitiva ocorre, não somente o que é executado entre os participantes, mas como isto é executado, aparece novamente como uma função psicológica independente, que pode ser atribuída ao novato que está aprendendo. Isto é, a interação culturalmente mediada entre pessoas na ZDP é internalizada, tornando-se uma nova função do indivíduo. Uma outra maneira de se dizer é que o interpsicológico torna-se também intrapsicológico. Portanto, decorre desse conceito o entendimento de que a interação, mediada pela cultura, do aprendiz com companheiros mais capazes pode levar o indivíduo a usar técnicas e conceitos aprendidos durante o esforço colaborativo com esses companheiros em problemas similares, quando esse aprendiz for resolvê-los independentemente. O conhecimento está vinculado ao contexto sociocultural dos aprendizes, uma situação social definida, em que o que os indivíduos realizaram são igualmente importantes ao como eles o realizaram. A mudança 82 Programa Agrinho Teoria e Prática cognitiva ocorre quando, dentro da ZPD, metaconcepções evoluem em conceitos aprendidos depois de um período de interações sociais. Baseando-se nessas teorias, pode-se considerar que a utilização de recursos como trabalhos em grupo, o uso de tecnologias comunicativas como bate-papos, fóruns de discussão e outras formas de comunicação em grupos, pode levar ao debate de diferentes idéias e ao desencadeamento de novos conflitos cognitivos. A influência de outros indivíduos, atuando como promotores do crescimento cognitivo de si mesmos e de outrem constituem a espinha dorsal da aprendizagem colaborativa. A pedagogia da Escola Nova e a Pedagogia Progressista, juntamente com as teorias cognitivas formuladas por Piaget e Vygotsky, formam, indubitavelmente, as bases da aprendizagem colaborativa. As duas primeiras levaram ao deslocamento da aula centrada no professor e nos conteúdos estáticos e repetitivos para a aula centrada nos alunos e na apreensão crítica dos conteúdos. As teorias Cognitivas de Piaget e Vygotsky trouxeram uma nova compreensão do processo de construção Marques (1999) apresenta que “Jean Piaget foi um psicólogo e epistemólogo suíço, cuja obra marcou decisivamente a pedagogia e a educação das crianças e adolescentes. Piaget nasceu em 1896, estudou na Universidade de Neuchâtel e foi professor nas universidades de Zurique, Sorbonne e Genève. Doutorado em Biologia, Jean Piaget começou, bem cedo, a estudar o modo como as crianças raciocinam e resolvem problemas. Os seus estudos permitiram-lhe conceber uma teoria do desenvolvimento cognitivo, a qual tem vindo a fundamentar as metodologias de ensino baseados na descoberta e na resolução dos problemas.” (MARQUES, R. 1999, p.33) dos conhecimentos, na interação entre o sujeito e o objeto de aprendizagem. A aprendizagem colaborativa, por suas características próprias, representa um desdobramento teórico e metodológico dessas pedagogias e teorias, propiciando uma forma de ensinar e aprender que supera o paradigma tradicional de ensino. Devido às grandes revoluções nas áreas científica e tecnológica do mundo atual, ela apresenta-se como uma abordagem diferenciada para que os De acordo com Kuhn (2000, p.18) paradigma significa a “constelação de crenças, valores e técnicas partilhadas pelos membros de uma comunidade determinada.” aprendizes do mundo atual possam ter condições de manusear a avalanche de informações às quais eles estão expostos, interpretando-as e transformando-as em conhecimentos socialmente relevantes. Pedagogia Progressista A Pedagogia progressista é uma proposta que engaja os sujeitos em uma transformação social, indo além da mera promoção das Programa Agrinho 83 Teoria e Prática necessidades e dos interesses individuais dos aprendizes. A proposta progressista, juntamente com o da Escola Nova, aproxima-se também Para Bertrand (1998), “O diálogo favorece a comunicação, ao contrário do antiálogo, em que um dos pólos domina o outro, o que cria seres passivos. Freire (1973), sustenta que precisamos de uma pedagogia da comunicação para vencer o antidiálogo, privado de amor e de juízo crítico. Diz que aquele que dialoga dirige-se a alguém para trocar algo com ele. É este algo que deveria ser o novo conteúdo dos programas da nossa educação. Num debate com Shor (SHOR e FREIRE, 1987), Freire acrescenta que o diálogo é um momento da reflexão que as pessoas têm acerca da elaboração do real. Shor comenta o seguinte: o diálogo é uma comunicação democrática que combate à dominação e afirma a liberdade dos participantes no fabrico de sua cultura; e Freire acrescentará “o diálogo é um desafio ao domínio”. Deste modo, em educação, o professor compromete-se a construir o conhecimento com o estudante num diálogo permanente.” (BERTRAND, Y. p.160) bastante da visão de aprendizagem colaborativa, pois insere a educação em um papel sociopolítico, contrário ao autoritarismo, valorizando a experiência de vida e a gerência do processo educacional pelo próprio indivíduo. A aprendizagem colaborativa possui uma forte influência desse tipo de educação na medida em que valoriza o processo de aprendizagem grupal, que pode conduzir à transformação intelectual e social por meio do diálogo e da negociação. A pedagogia progressista enfatiza um processo de aprendizagem eminentemente de caráter político, pois prioriza a participação em discussões, assembléias e votações, tirando os aprendizes da passividade e tornando-os militantes de uma luta social por meio de uma educação não necessariamente “formal” (LIBÂNEO, 1986). Para Aranha (1996, p. 217) , “As propostas progressistas orientam-se não só em direção a uma democratização das oportunidades de ensino, mas também supõem que o trabalho exercido na escola não seja autoritário.” Elas vão além dos ideais da Escola Nova, pois além de contemplar a transformação individual, ela também contempla a transformação social, na medida em que professores e alunos, extraindo o conteúdo de aprendizagem da realidade que os circunda, podem conscientizar-se dessa realidade e agir sobre ela, no sentido de transformá-la. O aluno nesta visão é um ser totalmente envolvido na ação educativa, que interage com o professor e com os seus colegas em discussões coletivas na busca da produção do conhecimento. Esse envolvimento no processo educativo, com liberdade para falar, argumentar e discordar de seus pares e também do professor, torna-os co-responsáveis pelo seu processo de ensino-aprendizagem. O professor, por sua vez, não mais detém a total responsabilidade pela aprendizagem de seus alunos, mas a compartilha com eles. O seu papel agora deve ser o de problematizador dos conteúdos que 84 Programa Agrinho Teoria e Prática são trabalhados em sala de aula, deixando bem claro para os alunos que eles são apenas o ponto de partida para uma elaboração mental superior, que culminará na formação da consciência crítica do aluno em relação a sua sociedade (IRALA, 2005). Aranha (1996, p.217) destaca ainda que “cabe ao professor a sensibilidade de não desmerecer a visão de mundo do aluno e suas necessidades fundamentais, preocupando-se sempre em partir dessa realidade dada”. Metodologicamente, a abordagem progressista trabalha com grupos de discussão nos quais se estabelece uma relação dialógica, exigente e rigorosa. A aquisição do saber é sempre vinculada às realidades sociais e estimula-se a criação de uma correspondência direta entre os interesses dos alunos e os conteúdos, que são apreendidos de forma crítica. Nessa abordagem pedagógica os alunos são estimulados a abandonar a consciência ingênua devendo, portanto, assumir uma atitude problematizadora. Para Behrens (2000, p.83): “A metodologia progressista busca alicerçar-se nas diferentes formas de diálogo, e, nessa comunicação dialógica, contempla uma ação libertadora e democrática. O educador crítico, exigente e coerente entende a prática educativa em sua totalidade”. No processo avaliativo, a ênfase está na auto-avaliação, na avaliação em grupos, na auto-gestão e co-gestão da aprendizagem. É uma avaliação contínua, processual e transformadora, não possuindo caráter punitivo. Ainda nas palavras de Behrens (2000, p. 86): “A exigência, a rigorosidade e a competência são pilares sustentadores da avaliação, mas são propostas a serem desenvolvidas com os alunos, num processo de relação de parcerias, em que todos são responsáveis pelo sucesso e pelo fracasso do grupo.” Essa visão de avaliação possui estreita relação com a prática da aprendizagem colaborativa, pois há a responsabilização de todos no sucesso ou no fracasso do grupo. Portanto, todos os alunos envolvidos em um Programa Agrinho 85 Teoria e Prática empreendimento colaborativo são automaticamente responsáveis por seu progresso e pelo progresso do seu grupo, num relacionamento solidário e sem hierarquias. AVALIAÇÃO Nos processos de aprendizagem colaborativa ou cooperativa, avaliar os procedimentos desenvolvidos pelo grupo implica o exercício de realizar efetivamente uma avaliação com ênfase no processo. Para Silva (2006, p.27-28) A Avaliação nesse contexto é a reflexão transformada em ação. Ação que nos impulsiona a novas reflexões. Educador e aprendizes estarão com situação de reflexão permanente na trajetória de construção do conhecimento. A ação avaliativa exerce uma função dialógica e interativa, num processo por meio do qual educandos e educadores aprendem sobre si mesmos e sobre o mundo no próprio ato de avaliação. Rejeita-se aqui a possibilidade da mera correção dos exercícios, pois se pretende uma avaliação de processo e não de produto. Tal procedimento não raro causa estranheza nos alunos, que muitas vezes estão interessados apenas em saber se seu produto é adequado. Explica-se tal estranheza pela vivência escolar anterior dos alunos, pois conforme Glasser (1998, p.50): a educação não coloca o acento sobre a reflexão, ficando o eixo sobre a memorização, porque quase todas as escolas e universidades são dominadas pelo princípio do acerto. Segundo este princípio, para toda questão existe uma boa e uma má resposta; a função da educação é a de assegurar que cada aluno conheça as boas respostas a uma série de questões importantes aos olhos dos educadores. (tradução livre). Glasser (1998, p.52) ainda acrescenta que o sistema educacional, além de valorizar o princípio do acerto, é dominado pelo princípio da 86 Programa Agrinho Teoria e Prática avaliação, que ele assim resume: “Só conta aquilo que posso avaliar e quantificar” (tradução livre). Hoffmann (apud SILVA 2006, p. 24) compara dois modelos de avaliação destacando suas diferenças. Parece-nos claro que em uma proposta colaborativa ou cooperativa cabe tão-somente a proposta por ela apresentada como de avaliação libertadora. A AVALIAÇÃO LIBERAL A AVALIAÇÃO LIBERTADORA Ação individual e competitiva concepção Ação coletiva e consensual concepção classificatória, sentensiva intenção de investigativa, reflexiva proposição de reprodução das classes sociais. conscientização das desigualdades Postura disciplinadora e diretiva do sociais e culturais. professor valorização da memorização Postura cooperativa entre os elementos exigência burocrática periódica. da ação educativa valorização da compreensão consciência crítica de todos sobre o cotidiano. Isso porque nas propostas cooperativas e colaborativas rompe-se com a prática dos princípios anunciados por Glaser, que são inimigos do trabalho em grupo, da pesquisa, da reflexão e da construção coletiva do conhecimento. Assim são alicerces da prática educativa colaborativa, o debate, a discussão, a reflexão individual e coletiva, o exercício da auto e da mútua-regulação, da resolução de problemas e de conflitos, da negociação, do consenso, da percepção do outro, e do respeito mútuo. E, portanto, devem-se abrir espaço e tempo para os alunos refletirem sobre seu papel de “reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo”. (FREIRE, 1999, p.29). Um dos maiores desafios postos ao professor, é o de manter-se firme para recusar-se a simplesmente dar respostas prontas aos alunos ou ainda corrigir uma atividade. Ceder as práticas tradicionais, e responder as questões dos alunos, pode significar cair em uma Programa Agrinho 87 Teoria e Prática Para Arénilla, autonomia é uma noção, essencialmente filosófica, deve ser entendida, na maioria das turmas do ensino primário e secundário, num sentido mais pragmático que filosófico, [...] Apesar disso, um olhar sobre etimologia pode ser esclarecedor: Nomos são as leis. A heteronomia, pelo contrário, é a submissão a leis exteriores, impostas. A conquista da autonomia seria então a tomada de consciência das leis, e a interação destas leis num advir pessoal, dialético entre coacção e liberdade. [...] Definir-se-á a autonomia comportamental como a capacidade de agir com reflexão e com conhecimento dos riscos pessoais e sociais destas acções. A autonomia intelectual será definida como a capacidade de ler, escrever, utilizar os documentos ou os instrumentos habituais do trabalho exigidos pelas diferentes disciplinas escolares, sem dependência anormal da ajuda ou do julgamento de outrem.” (ARÉNILLA, L. et al. p. 40) armadilha que o levaria a um desvirtuamento da proposta colaborativa ou cooperativa. Parece claro que, ao fornecer diversas formas de consulta, o professor divide com os alunos a responsabilidade pelas correções pertinentes. Ele não é mais o único capaz de confirmar o acerto ou o erro. Em uma avaliação de processo, esse aval, se fosse o único dado, poderia comprometer o desenvolvimento da autonomia e do espírito crítico, pelos alunos fatores indispensáveis para uma proposta de aprendizagem colaborativa. Em uma avaliação de processo que rompe com o modelo de avaliação de propostas tradicionais de ensino, Professor e alunos constroem uma rede e não uma rota. Ele define um conjunto de territórios a explorar. E a aprendizagem e a avaliação se dão na exploração – ter a experiência de participar; de colaborar, de criar, de co-criar realizada pelos aprendizes e não a partir de sua récita, do falar-ditar. Isso significa modificação no clássico posicionamento na sala de aula. (SILVA, 2006, p.32) Também em Freitas e Freitas (2003, p.34) encontra-se um argumento que destaca a importância da participação dos alunos no processo de avaliação e do professor estruturar a aprendizagem de tal forma que permita a avaliação do processo. Para tal, os autores baseados na proposta de Johnson e Johnson, sugerem que se deve levar em conta cinco procedimentos ou requisitos: 1. avaliação das interacções no grupo; 2. feedback constante; 3. tempo para reflexão; 4. Avaliação do processo em grupo turma; 5. Demonstração de satisfação pelos progressos (JOHNSON &JOHNSON, 1999). 88 Programa Agrinho Teoria e Prática Esses autores (2003, p.36) sintetizam em uma figura a interdependência dos cinco elementos-chave da aprendizagem cooperativa acima propostos: Freitas e Freitas afirmam ainda que estes cinco elementos são basilares e permitem visualizar claramente a diferença entre aprendizagem cooperativa e trabalho de grupo. A necessidade da avaliação de processo para alcançar-se os efeitos positivos atribuídos à aprendizagem colaborativa e cooperativa é proposta recorrente nas pesquisas dos diversos autores dedicados ao tema. Da mesma forma, é também apontada por vários pesquisadores a importância de, no processo avaliativo, percorrer a trajetória do individual ao coletivo e vice-versa. Johnson e Johnson (1999) apresentam alguns procedimentos indispensáveis para a avaliação individual e a responsabilização pessoal, em processos cooperativos, tais quais: Programa Agrinho 89 Teoria e Prática 1. Formar grupos pequenos; 2. Fazer testes individuais; 3. Colocar questões orais ou solicitar a demonstração de certas competências a elementos do grupo, ao acaso; 4. Observar sistematicamente o trabalho dos grupos; 5. Existir no grupo o papel de verticador da aprendizagem, o qual deve fazer perguntas para que cada membro demonstre se de facto compreendeu, é capaz de explicar as respostas, conclusões do grupo, etc.; 6. Os estudantes ensinarem uns aos outros o que aprenderam, fazendo o que se designa por explicação simutânea (peer tutoring). (FREITAS e FREITAS, 2003, p. 29) BENEFÍCIOS DA APRENDIZAGEM COLABORATIVA No trabalho em colaboração os alunos assumem na sala de aula, a responsabilidade por sua própria aprendizagem e desenvolvem habilidades metacognitivas para monitorar e dirigir seu próprio aprendizado e desempenho. Quando há a interação entre pessoas de forma colaborativa, por meio de uma atividade autêntica, elas trazem seus esquemas próprios de pensamento e suas perspectivas para a atividade. Cada pessoa envolvida na atividade consegue ver o problema de uma perspectiva diferente e estão aptas a negociar e gerar significados e soluções mediante um entendimento compartilhado. A proposta construtivista levou a uma compreensão de como o aprendizado pode ser facilitado por meio de atividades engajadoras e construtivas. Esse modelo de aprendizagem enfatiza a construção de significados com participação ativa em contextos sociais, culturais, históricos e políticos. O elemento crucial de uma participação ativa é a troca de experiências por meio do diálogo. A interação dialógica entre indivíduos e o intercâmbio de idéias promove o desenvolvimento cognitivo do sujeito, 90 Programa Agrinho Teoria e Prática pois os conhecimentos são socialmente definidos e o sujeito depende da interação social para construção e validação dos conceitos (VALADARES, apud VALASKI, 2003, p. 23). Segundo Morris (1997, p.72), a Aprendizagem Colaborativa “pode trazer à tona o que há de melhor em você e o que sabe, fazendo o mesmo com seu parceiro, e juntos vocês podem agir de formas que talvez não estivessem disponíveis a um ou outro isoladamente”. O raciocínio resultante da interação colaborativa será enriquecido pelas diferentes perspectivas e experiências com que cada um dos participantes contribui para a tarefa. Por certo cada um dos participantes não pensa exatamente do mesmo modo e essas diferenças de pensamento podem criar novos conhecimentos por meio do ensino recíproco. Essa é a principal contribuição da Aprendizagem Colaborativa: a interação sinérgica entre indivíduos que pensam diferente, a vivência desse processo e a construção de um produto que somente pode ser alcançado com a contribuição de todos os envolvidos. Freitas e Freitas (2003, p.21) elecam os resultados de centenas de pesquisas de diversos autores sobre aprendizagem colaborativa que apontam para: 1. Melhoria das aprendizagens na escola; 2. Melhoria das relações interpessoais; 3. Melhoria da auto-estima; 4. Melhoria das competências no pensamento crítico; 5. Maior capacidade em aceitar as perspectivas dos outros; 6. Maior motivação instrínsica; 7. Maior número de atitudes positivas para com as disciplinas estudadas, a escola, os professores e os colegas; 8. Menos problemas disciplinares, dados existirem mais tentativas de resolução dos problemas de conflitos pessoais; Programa Agrinho 91 Teoria e Prática 9. Aquisição das competências necessárias para trabalhar com os outros; 10. Menos tendência para faltar à escola. A aprendizagem colaborativa é uma filosofia que se adapta ao mundo globalizado de hoje. Se diferentes pessoas aprendem a trabalhar juntas na sala de aula, então elas provavelmente se tornarão melhores cidadãs do mundo. Será mais fácil para elas interagir positivamente com pessoas que pensam de modo diferente, não somente em escala local, mas também em escala mundial. (WIERSEMA, 2000). Na mesma perspectiva Arends (1995, p.367) ja afirmava que A atividade no século xx é caracterizado por comunidades globais e interdependentes e por instituições sociais complexas, as quais requerem níveis elevados de cooperação entre os seus membros. Conseqüentemente, a maioria das pessoas valoriza o comportamento cooperativo e acredita que ele constitui um objectivo para a educação. A aprendizagem colaborativa também não nega completamente a importância da aula expositiva controlada pelo professor, reconhecendo que ela tem sua importância na prática pedagógica. Contudo, essa forma de aprendizagem quer ir além do modelo tradicional, pois se acredita que o conhecimento é socialmente construído (VYGOTSKY) por meio de uma mobilização conjunta para construir e reconstruir significados. Nessa visão, o esforço conjunto de alunos na resolução de tarefas propostas pelo professor, a troca de conhecimentos e de experiências realça a aprendizagem e pode levar a um conhecimento mais duradouro do que aquele obtido por meio da aula tradicional, que pode ser facilmente esquecido depois da tradicional avaliação escrita. Portanto, os métodos de aprendizagem colaborativa apresentamse, nos dias atuais, oportunos para a constituição de uma educação inovadora e em sintonia com as novas exigências da sociedade do conhecimento. Esse estilo de aprendizagem é mais do que uma série de técnicas aplicadas pelo professor para que ele tenha menos 92 Programa Agrinho Teoria e Prática trabalho e coloque maior responsabilização nos alunos, tornando o trabalho discente mais árduo. Ela é uma filosofia de ensino. Uma filosofia que acredita que o trabalhar, o criar, o aprender em grupo faz parte de um novo conjunto de habilidades que os alunos precisam aprender para que eles e o mundo onde vivem possam continuar existindo em longo prazo. Capra (1996) reflete sobre um novo paradigma social que está começando a ser difundido e que tem aos poucos determinado uma nova visão de mundo, de como as sociedades devem se comportar para garantir uma vida digna para as gerações futuras. O mundo atual estruturado de forma competitiva, na destruição dos recursos hidrominerais e das florestas, na crença do progresso material ilimitado deve ser revisto, pois se não o for, não sobrará nada para as novas gerações. Dentro dessa visão de Capra, a educação tem muito a contribuir para a formação de cidadãos comprometidos com desenvolvimento sustentável. Em vez da competição, deve-se criar nos alunos o espírito de colaboração. Em vez da destruição, o espírito da construção. A aprendizagem colaborativa, nesse contexto, traz uma importante contribuição da escola para a formação de pessoas comprometidas com o desenvolvimento de uma sociedade humana, justa e solidária. REFERÊNCIAS ARÉNILLA, L., GOSSOT, B., ROLLAND, M.C. e ROUSSEL, M.P. Dicionário de Pedagogia. Lisboa: Instituto Piaget, 2000. BEHRENS, M.A. O paradigma emergente e a prática pedagógica. 2.ed. Curitiba: Champagnat, 2000. BERTRAND, Y. Teorias Contemporâneas da Educação. Montreal: Éditions Nouvelles, 1998. CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1996. Programa Agrinho 93 Teoria e Prática CUMMINS, J.; SAYERS, D. Brave New Schools: challenging cultural illiteracy through Global Learning Networks. New York: St. Martin’s Press, 1995. DILLENBOURG, P. et al. The evolution of research on collaborative learning. In: SPADA, E.; REIMAN, P. (Ed.) Learning in Humans and Machine: Towards an interdisciplinary learning science. Oxford: Elsevier, 1996. p. 189-211. DILLENBOURG, P. What do you mean by collaborative learning?. In: DILLENBOURG, P. (Ed.).Collaborative-learning: Cognitive and Computational Approaches. Oxford: Elsevier, 1999. p.1-19. GILLIAM, J.H. The impact of cooperative learning and course learning environment factors on learning outcomes and overall excellence in the community college classroom. Raleigh, 2002. Tese de Doutorado – Programa de Pós-Graduação, North Carolina State University. IRALA, E.A.F. A comunicação mediada por computador no ensino-aprendizagem da língua inglesa: uma experiência com o programa AMANDA de discussões eletrônicas. Curitiba, 2005. 250 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. KUNH, T. Pósfacio – 1969. In: A estrutura das revoluções científicas. Coleção: debates – ciência. São Paulo: Perspectiva, 2000. LIBÂNEO, J.C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1986. LIBÂNEO, J.C. Didática. São Paulo: Cortez, 1991. MARQUES, R. Modelos Pedagógicos Actuais. Lisboa: Plátano Edições Técnicas, 1999. MARQUES, R. O Dicionário Breve de Pedagogia. Lisboa: Editorial Presença, 2000. MATTHEWS, R.S.; COOPER, J.L.; DAVIDSON, N.; HAWKES, P. Building bridges between cooperative and collaborative learning. Change, v. 27, p. 3540, 1995. Disponível em: <http://www.csudh.edu/SOE/cl_network/ RTinCL.html>. Acessado em 10 abr. 2004. MATUI, J. Construtivismo: teoria construtivista sócio-histórica aplicada ao ensino. São Paulo: Moderna, 1995. MORRIS, T. E se Aristóteles dirigisse a General Motors?: a nova alma das organizações. Trad. Ana Beatriz Rodrigues; Priscilla Martins Celeste. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. PANITZ, T. A definition of collaborative vs cooperative learning. Disponível em: <http://www.lgu.ac.uk/deliberations/collab.learning/panitz2.html>. Acessado em 14 dez. 2003. 94 Programa Agrinho Teoria e Prática SIQUEIRA, L.M.M. A Metodologia de aprendizagem colaborativa no programa de eletricidade no curso de engenharia elétrica. Curitiba, 2003. 113 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. WARSCHAUER, M. Computer-mediated collaborative learning: theory and practice. The Modern Language Journal, v. 81, n. 3, iv, p.470-481, 1997. Disponível em: <http://www.gse.uci.edu/markw/cmcl.html>. Acessado em 02 set. 2003 WIERSEMA, N. How does Collaborative Learning actually work in a classroom and how do students react to it? A Brief Reflection. Disponível em: <http://www.lgu.ac.uk/deliberations/collab.learning/wiersema.html>. Acessado em 28 de maio de 2004. VALASKI, S. A aprendizagem colaborativa com o uso de computadores: uma proposta para a prática pedagógica. Curitiba, 2003. 107 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Programa Agrinho 95 Teoria e Prática Conferindo as idéias TORRES, P. L. Laboratório on-line de aprendizagem: uma proposta crítica de aprendizagem colaborativa para a educação. Tubarão: Editora Unisul, 2004. Laboratório Online de Aprendizagem: uma proposta crítica de aprendizagem colaborativa para a educação Esse livro é resultado da tese de doutoramento da Prof.ª Dr.ª Patrícia Torres, professora do Mestrado em Educação da PUCPR. A autora, nessa obra, apresenta uma proposta de aprendizagem colaborativa no contexto da educação a distância (EAD) por meio do Laboratório Online de Aprendizagem (LOLA). Nos dias atuais, a escolha por essa modalidade de educação (EAD) pode ser uma das possibilidades para atender a um novo modelo de sociedade, mais globalizada e conectada. Essa obra é importante para que se possa refletir sobre como a implementação de novas tecnologias na educação, dentro de uma proposta pedagógica coerente, pode levar a uma aprendizagem mais eficiente e centrada no educando, dentro dos moldes da aprendizagem colaborativa. LÉVY, Pierre. [Quèst-ce que le virtuel?Português] O que é virtual? Pierre Lévy; tradução de Paulo Neves. – São Paulo: Ed. 34, 1996. 160 p.(Coleção TRANS). ISBN 85-7326-036-X O que é virtual? Esse livro, escrito de maneira clara, apresenta um visão aprofundada de temas como o uso de computadores e redes encontra-se presente em nosso cotidiano. Aborda temas como: O que é virtualização? A virtualização do corpo. A virtualização do texto. A virtualização da economia. As três virtualizações que fizeram o humano: a linguagem, a técnica e o contrato. As operações da virtualização ou o trívio antropológico. A virtualização da inteligência e a constituição do sujeito. A virtualização da inteligência e a constituição do objeto. O quadrívio ontológico: a virtualização, uma transformação entre outros. Afinal, o que é virtual? Este livro pretende apresentar esta e outras respostas. 96 Programa Agrinho Conferindo Teoria as e Prática idéias Redes de aprendizagem: um guia para ensino e aprendizagem on-line Qualquer educador e professor que pretende inserir a tecnologia dentro de seu contexto educativo deve ler esse livro, escrito a quatro mãos. Há HARASIM, Linda; TELES, Lucio; TURROF, Murray e HILTZ, Starrr Roxanne. Redes de aprendizagem: um guia para ensino e aprendizagem on-line. tradução de Ibraíma Dafonte Tavares,São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005, 416 p. Título original: Learning Networks: a Field Guide to Teaching and Learning Online. nele vários capítulos que abordam o ensino-aprendizagem em conjunto com a tecnologia, refletindo sobre o papel da tecnologia na sala de aula, os desafios que ela apresenta aos educadores e como construir caminhos que facilitam a aprendizagem com o uso de tecnologias. Analisa as mudanças na educação desencadeadas pela essa nova configuração da sociedade, permeada pela novas mídias e Internet. Que possibilidades on-line podem ser oferecidas? Que estratégias mais bem-sucedidas? Que tipo de conteúdo é mais adequado? Qual o perfil de professores e alunos e qual seu papel na rede? Discute aprendizagem; educação; processamento de dados; ensino; rede de computadores. Assim, é leitura obrigatória para quem quer aprender mais sobre aprendizagem colaborativa com tecnologias educacionais. Programa Agrinho 97 Teoria e Prática MÍDIA E EDUCAÇÃO: LINGUAGENS, CULTURA E PRÁTICA PEDAGÓGICA Ademilde Sartori Jucimara Roesler O papel preponderante que a mídia tem ocupado no desenvolvimento econômico e cultural e sua presença cada vez mais intensa na agenda do entretenimento e nos processos de Meio de comunicação/mídia – em sentido mais amplo, é a agência intermediária que permite que a comunicação aconteça. Mais especificamente, consiste em um desenvolvimento tecnológico que estende os canais, o alcance ou a velocidade da comunicação (O’SULLIVAN, 2001). criação, lazer, trabalho e formação, exige dos educadores que concebam novos procedimentos metodológicos e apresentem posturas que comtemplem processos diferenciados de aprendizagem, respeitando as sensibilidades e subjetividades advindas de um convívio maior com as tecnologias de informação e da comunicação e suas linguagens. Os meios de comunicação são mais do que recursos de ensino, são agentes sociais que abrem espaço para discussões a respeito da produção de sentido em nossa sociedade, ou seja, do modo como sentimos, Linguagem – Lugar de vários cruzamentos sígnicos e onde se elaboram as cadeias de sentidos (CITELLI, 2000). As linguagens dizem respeito a todo conjunto de significação (atribuição de sentido), além da fala e diferentes dela, como a televisiva, a cinematográfica, a fotográfica, a multimídica etc. entendemos e agimos no mundo em que vivemos, ampliando os horizontes da discussão sobre a formação de cidadãos capazes de agir no contexto social vigente. Compete aos profissionais que atuam na educação abandonar a pergunta sobre a aceitabilidade ou não da mídia para voltar-se ao modo como esta se relaciona com as diversas esferas da vida, entre elas o espaço educativo. Cabe, diante das novas dinâmicas culturais inauguradas pelas tecnologias comunicacionais, reconsiderar seu papel diante das aprendizagens que são proporcionadas pelos diversos modos de produção e circulação dos sentidos, da informação e do conhecimento e “[...] assegure um processo educativo que seja relevante para o sujeito ou sujeitos que aprendem, relevante para o Programa Agrinho 99 Teoria e Prática seu desenvolvimento como ser humano e social, que participa de comunidades e de países específicos.” (OROZCO GOMES, 2002. p. 68). Como prática social complexa que é, a educação foi adquirindo nuances diferentes conforme nossa sociedade foi se modificando. Considerando o papel da educação em nossos dias, diante do desenvolvimento tecnológico e da importância que a mídia vem adquirindo nos processos de significação e entendimento da vida contemporânea, a UNESCO argumenta que: Uma nova concepção ampliada da educação devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos resultados (saber-fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordem econômica), e se passe a considerá-la em toda a sua plenitude: realização da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser. (DELORS, 2003, p. 90). Para ter uma atitude pró-ativa diante dos diálogos possíveis com a mídia e a sociedade, educadores necessitam atualizar suas práticas pedagógicas em face das mudanças nos modos de produzir e socializar o conhecimento, apresentando um constante esforço na formação dos educandos para compreender as linguagens e os processos de criação e circulação de significados. Neste sentido, Citelli (2000, p. 18) chama a atenção para as possibilidades do diálogo mídia-educação, que podem cumprir dois objetivos: Um, vinculado ao princípio da abertura do discurso pedagógico para Compreender a cultura como resultado de uma comunicação mediada pelas interações com as diferentes linguagens – expressão de sistemas de códigos produzidos pela humanidade –, e do desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, são reconhecidos como elementos centrais que influenciam na formação de práticas culturais por autores como Castells (1999) e Martín-Barbero (2003). 100 Programa Agrinho os discursos das comunicações; outro, de inserção crítica da voz da diferença representada pela imposição sistematizadora e de produção dos saberes que devem motivar e estimular o mundo da escola. Cresce a importância do desenvolvimento de práticas pedagógicas que não oponham saberes e manifestações culturais adquiridos no convívio com mídias e os objetivos educacionais que se pretende atingir. Teoria e Prática [...] intentando fugir de dois perigos que comumente circundam tal tipo de análise. De um lado, a adesão acrítica ao narcisismo tecnológico que tanto seduz como reduz e, de outro, o repúdio apocalíptico, que responsabiliza os meios de massa pela alienação que abastarda o saber e desfigura os valores humanos. (2000b, p.17-18). Não opor mídia e educação evita atitudes que perdem a oportunidade de construir processos coletivos de reflexão sobre os sentidos em circulação, da ressignificação de práticas culturais, da vivência de espaços criativos. A adesão acrítica, por outro lado, corre o risco da prática pedagógica abandonar-se ao sabor das novidades, como se outros agentes sociais fossem responsáveis pela formação de nossas crianças, ou ainda, como se tecnologias, por si só, resolvessem todas as questões relativas à educação. Visando enriquecer a prática pedagógica, educadores necessitam tomar em conta a compreensão dos aspectos específicos da linguagem de cada mídia e identificar as contribuições que podem dar para o processo de ensino-aprendizagem que pretende desenvolver com seus educandos. É bom lembrarmos que, quando Ford lançou sua política de produção em massa baseada no consumo em massa, inaugurou, também, a sociedade da comunicação de massa. Nesta sociedade, éramos receptores, por que poucos eram os emissores. Este tempo foi chamado de era da indústria cultural, da comunicação de mão única, das teorias da recepção passiva e influenciável – para justificar tanto investimento em propaganda e publicidade. Pouco mais de um século depois, no início do século XXI, as Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação inauguram os tempos da hibridação fonte-receptor. Indústria cultural – é um termo utilizado por Adorno e Horckeimer para designar o conjunto de ações e práticas que são desenvolvidas no intuito se produzir um bem cultural. No sistema de produção cultural encaixam-se a TV, o rádio, jornais, revistas, entretenimento em geral; que são elaborados de forma a aumentar o consumo, modificar hábitos, educar, informar, podendo pretender ainda, em alguns casos, ter a capacidade de atingir a sociedade em sua totalidade. Fonte: <http://pt.wikipedia.org>. Vivemos tempos de mudanças constantes, mas, principalmente, tempos de iniciativa, de cooperação, de co-autoria. A educação para este tempo precisa pautar-se em uma comunicação multidirecional, sem fontes e receptores definidos, mas hibridos, cambiáveis, e co-operantes. Uma prática pedagógica crítica e criativa visualiza as diversas Comunicação multidirecional – processo comunicativo em que não há uma direção privilegiada de emissão e recepção de mensagens, mas todos os envolvidos podem ser fontes e receptores. possibilidades viáveis para atingir os objetivos educacionais desejados, Programa Agrinho 101 Teoria e Prática definindo claramente os pressupostos pedagógicos que irão norteá-la. Isso quer dizer que educadores devem perceber as relações entre linguagem e conteúdo, tanto no sentido da aquisição e construção do conhecimento quanto do desenvolvimento de valores e atitudes que possibilitem um olhar crítico para as produções da mídia e, ao mesmo tempo, desenvolva a expressão individual e coletiva. Afinal, é por meio das linguagens, visuais, auditivas, multimídicas e hipertextuais, que a mídia viabiliza a expressão criativa e a inserção nos processos de produção e circulação de bens culturais e, também por meio delas, educa. O desafio aos educadores é entender a mídia como produtora de cultura, conhecer as linguagens e reconhecê-las como um elemento constituinte da prática pedagógica. A compreensão da mídia e suas linguagens como agentes culturais que participam da aprendizagem, ainda que educandos não tenham acesso a equipamentos tecnológicos sofisticados, alimenta processos coletivos que surgem de uma prática pedagógica alicerçada em planejamento consistente e, principalmente, na criatividade e colaboração. Práticas com esta tônica pode, por exemplo, valorizar o processo de produção e redação de notícias mesmo que não se possa adquirir jornais ou revistas, impressos e on-line, e não se tenha à disposição uma imprensa como Celestin Freinet que, além da idéia da imprensa escolar, no início do século XX, desenvolveu a correspondência escolar: As crianças com as quais Freinet trabalhava (...) discutiam a diagramação e também o tipo de ilustração que acompanharia o texto depois de impresso. Quando chegavam a um acordo, com tudo decidido, dividiam-se em grupos que assumiam diferentes tarefas: preparação das linhas com os tipos de impressora, ilustrações, preparação do papel e contagem das folhas a serem impressas e arrumação da mesa de trabalho. Cada grupo sabia de sua responsabilidade e assim um texto individual se transformava num 102 Programa Agrinho Teoria e Prática produto de toda a classe. (...) O “jornal de textos livres” estava pronto para ser distribuído. (...) As crianças de Freinet mandavam o seu jornal para seus colegas lá no outro extremo da França. (SAMPAIO, p. 25-26) Cabe ao educador perceber as contribuições que o processo de produção da notícia traz para a construção do conhecimento, o desenvolvimento de valores e atitudes relativas aos fatos que nos interessam, o trabalho de equipe e a valorização da contribuição de cada educando. Ao desenvolver uma atividade que tenha como fio condutor o processo de elaboração e publicação de um jornal, o educador deve levar em consideração que, se a notícia segue uma lógica definida pelo interesse ou importância que o fato possa ter, estando comprometida com a noção de verdade relacionada com o ocorrido, não está isenta de contingências históricas, de compromissos dos jornalistas e dos editores. A clareza com relação à não neutralidade política, ideológica e cultural das agências jornalísticas permite ao educador planejar a atividade de modo a levar os educandos a perceber intencionalidades e interesses de quem produz um jornal, escrito ou falado, seja por meio impresso, rádio, televisão ou Internet. Intencionalidades e interesses revelam-se desde a seleção dos eventos, na ordenação dos fatos relacionados à notícia, que a explicam e esclarecem, até a escolha do vocabulário que será utilizado para expor o assunto ao público pretendido. Durante este processo, os educandos precisam discutir e estabelecer os critérios que utilizarão para considerar algo publicável ou não, discutir como exporão de modo claro e sucinto o assunto, tornando-o convidativo e interessante o suficiente para ser lido e, principalmente, adequado ao público a que se destina. O jornal produzido pelos educandos pode ser impresso em mimeógrafo, em papel ofício pela impressora de um computador, ou Programa Agrinho 103 Teoria e Prática publicado em um blog na Internet, a depender do acesso tecnológico dos educandos. Cada um desses meios tem suas características específicas e demandam certas habilidades; contudo, a vivência de um processo coletivo pode ser comum a todos eles, desde que educadores conduzam as atividades de modo a valorizar o processo vivido pelos educandos, independentemente do produto mais ou menos sofisticado em termos tecnológicos. A produção de um jornal pode ser proposta pelo educador como modo de chamar atenção para a importância deles como fontes de informações, levantando o acesso e a influência que estes têm na vida dos educandos e da comunidade. Pode, ainda, ser posterior à observação dos mesmos, situação na qual os educandos podem apreender a estrutura espacial ou interna – onde se localizam as manchetes, para que servem, como se distribuem os assuntos ao longo do jornal, que tipo de notícias são veiculadas, que tipo são consideradas mais importantes, as diferenças de tamanho entre diversos jornais, a disposição das imagens, a posição e a linguagem utilizada pelo apresentador na TV, o tipo de voz e de “jeito de falar” usados no jornalismo televisionado e radiofônico, como os assuntos são abordados nos jornais de diferentes empresas de comunicação, entre outros. Nos casos em que a impressão de um jornal seja inviável, o educador pode produzir dramatizações com seus educandos, situação na qual montam as notícias, reportagens, entrevistas (inventadas ou selecionadas de jornais reais), simulam um jornal e o inserem em uma programação de rádio ou TV, criando os comerciais, elegendo a lista de músicas e inventando tipos e formatos diferentes de programas e Edição – ato realizado pelo editor ao decidir o que será publicado e como a matéria/notícia será apresentada. aprendendo a editar. Durante o processo, estarão exercitando a leitura, a imaginação criadora, aprendendo a trabalhar em equipe, aperfeiçoando a escrita, a dicção e construindo espaços de expressão. Além disso, o estudo pode avançar e os educandos podem identificar as diferenças de cada mídia ao comparar tipos e grades de 104 Programa Agrinho Teoria e Prática programação, formato de programas, e da simulação de um jornal, podem partir para a simulação de uma novela, minissérie ou programa de auditório. Nestes caso, além da análise dos meios de comunicação, os educandos desenvolverão a criatividade, a imaginação, a expressão corporal, podem aprender a identificar e redigir textos diferentes (reportagens, notícias, comerciais, crônicas, artigos científicos), a negociar idéias e propostas, a organizar o tempo e o espaço, a manipular fontes de informações, realizar pesquisas e recortes de assuntos de interesse do grupo, emitir opiniões de modo organizado e reflexivo, elaborar relatórios, entre outros. Ao trazer as produções audiovisuais para a prática pedagógica, o educador deve ter em mente que alguns procedimentos possuem grande importância para atingir de modo satisfatório os objetivos que traçou para as atividades a realizar com os educandos. Entre eles estão o esclarecimento dos objetivos e dos critérios que ajudaram na seleção da obra e informar às crianças o que se espera ao final da audiência e da discussão. Explicitar a tônica do interesse pela obra ou obras que escolheu, deixando espaço para as sugestões da turma, nunca desprezar o tempo para a discussão, que deve seguir a audiência, ou audição, e explicitar e (ou) construir relações com a vida das crianças e sua comunidade são atitudes que se espera de um educador dialógico, comprometido com o diálogo com os educandos. A discussão em torno do conteúdo a ser trabalhado não pode, no entanto, tolher as interpretações que se mostrarem presentes, pois obras audiovisuais são antes de tudo peças de cultura, produções intencionais, com visões de mundo e interesses determinados pelos seus autores. Nesse sentido, a razão – a compreensão do assunto, se relaciona de modo dialético com a emoção –, o sentir e perceber o mundo, o que permite a inserção e o agir crítico e comprometido na sociedade. Televisão e vídeo são sensoriais, visuais, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, Programa Agrinho 105 Teoria e Prática somadas, não separadas. Daí sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e de todas as maneiras. Televisão e vídeo nos seduzem, informam, entretêm, projetam em outras realidades (no imaginário), em outros tempos e espaços. Televisão e vídeo combinam a comunicação sensorial-cinestésica, com a audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção com a razão. Integração que começa pelo sensorial, pelo emocional e pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional. (MORAN, 2000, p. 38) A contribuição da linguagem audiovisual ultrapassa a relação com produtos e atinge o processo de produção, com a utilização de câmeras de vídeo mais acessíveis, inclusive em celulares. A experiência de escolha do tema, a elaboração da história ou do roteiro, a captação das imagens, com dramatização ou não, proporcionam momentos de trabalho em equipe, de co-autoria, de pesquisa em outros documentos, de organização das atividades, de socialização dos resultados e de avaliação coletiva, pois é obra de todos. A diversas linguagens com as quais convivemos, denominadas não-escolares por Adilson Citelli (2000b; 2000c), dizem respeito aos nossos modos de ser, viver, sentir e agir no mundo e, por isso mesmo, precisamos “[...] considerar os meios como instâncias com papel estratégico no terreno da cultura [...]” (CITELLI, 2000c, p. 21-22). Para Jesús Martín-Barbero (2001) nossa atenção deve ser dirigida para “[...] as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais” (p. 270). Um exemplo desse olhar atento à pluralidade cultural é o “Projeto Acorda Cordel na Sala de aula. A literatura de Cordel como ferramenta auxiliar na educação” (LIMA, 2005) que propõe a revitalização do gênero e sua utilização na alfabetização de crianças, na educação de jovens e adultos e no Ensino Fundamental e Médio. O material paradidático consiste em uma caixa contendo 12 folhetos de diferentes autores, um livro, com o título do projeto, contendo informações sobre as origens 106 Programa Agrinho Teoria e Prática da Literatura de Cordel, suas regras e modalidades, e um curso prático com dicas para educadores acerca da utilização dos folhetos na sala de aula. Este projeto faz parte do movimento de recuperação de uma prática cultural, traz de volta à cena o “professor folheto”. Propor uma prática pedagógica pertinente aos nossos tempos, que leve em consideração a cultura dos educandos e como os meios de comunicação estão inseridos nela, implica discutir a relação mídiaeducação com intuito de resgatar a importância do diálogo, por um lado, e, por outro, o papel mediador cultural que a mídia desempenha. Paulo Freire define o diálogo como “problematização do próprio conhecimento e sua indiscutível relação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para melhor compreendê-la, explicá-la, transformá-la” (FREIRE, p. 52). O papel mediador que a mídia desempenha em nossa sociedade é complexo por envolver tecnologias, com graus maiores ou menores de sofisticação, grupos de pessoas, com seus desejos e interesses, e processos de produção, com suas lógicas, limites e objetivos. Neste contexto, dialogar significa compreender, explicar, agir e transformar uma realidade embebida em processos de produção e circulação de significados, no qual reconhecemos a nós mesmos como mediadores. “Todos nós somos mediadores, e os significados que criamos são eles próprios, nômades” (SILVERSTONE, 2002, p. 42). A relação entre mídia e educação é, antes de tudo, uma relação entre as pessoas, com ou sem instrumentos tecnológicos, sofisticados ou não. Velhas ou novas tecnologias, todas contribuem com a construção humana, como viabilizadoras de processos de criação e circulação de significados que fazem parte do modo como vivemos e queremos que a vida seja. Uma prática pedagógica que tenha o diálogo como orientador vê a relação entre mídia e educação como fenômeno complexo sobre o qual refletir, agir, questionar, mas também se reconhecer. Nesse sentido, não se trata de nos apaixonarmos por nossa própria imagem, como Narciso, mas não nos condenarmos à morte por Programa Agrinho 107 Teoria e Prática encará-la de frente, como a Medusa. Antes disso, trata-se de reconhecer como a mídia constrói e permeia as relações entre as pessoas e, em nome das pessoas, agir. A UTILIZAÇÃO DE AUDIOVISUAIS NA SALA DE AULA A escolha de uma obra audiovisual é função do tema a discutir e O Programa TV Escola oferece formação a professores com a utilização de um canal de televisão via satélite e está no ar desde 1996. Sua finalidade é contribuir para a melhoria do ensino fundamental e médio e, para isso, tem como principais objetivos o enriquecimento do processo ensino-aprendizagem, a aproximação da escola-comunidade e o desenvolvimento profissional de professores e gestores. Cada escola participante do projeto recebe um kit tecnológico, com uma televisão, um videocassete, uma antena parabólica com receptor de satélite e dez fitas de vídeo VHS. das atividades que se quer desenvolver com as crianças. A partir do tema que você escolheu, elabore um roteiro de observação e de pesquisas para que as crianças realizem na biblioteca da escola ou na da cidade, em museus, jornais, revistas ou outros vídeos que a sua escola disponha, como os que são fornecidos pelo Programa TV na Escola. É muito importante que você conheça todos os recursos que a escola possui para poder decidir quais e como utilizar. Um criterioso planejamento ajuda o professor a situar as atividades dentro de sua programação de modo a atingir os objetivos educacionais desejados e para tal deve observar o tempo de que dispõe, ou seja, em que etapa do ano letivo se encontra, a idade as crianças com quem trabalha, as caraterísticas e os interesses que já identificou na turma. O professor precisa ter clareza tem relação à adequação do audiovisual escolhido às necessidades, às características e aos interesses da turma, o que lhe conferirá flexibilidade quanto ao tipo de atividade e o grau de exigência quanto aos resultados obtidos. É necessário elaborar um cronograma que possibilite a progressão equilibrada das atividades, partindo do que as crianças já conhecem e dedicando tempo necessário para trabalhar as dificuldades apresentadas, garantindo a aprendizagem dos pontos considerado importantes para a aquisição de conceitos, atitudes e valores. Tendo em vista os objetivos que pretende atingir e as estratégias que escolheu para alcançá-los – se as atividades serão grupais ou 108 Programa Agrinho Teoria e Prática individuais, quais serão os locais e os materiais de que precisará –, o professor pode seguir alguns passos que proporcionarão organicidade ao trabalho: • Escolha do tema; • Escolha do audiovisual; • Assista e observe o audiovisual escolhido; • Selecione as passagens ou cenas que abordem o tema que vai discutir com as crianças. As cenas podem ser escolhidas pelos mais diversos critérios, como: abordagem elucidativa, provocadora, bem humorada, rica em detalhes, ou por conter uma situação inusitada, entre outras; • Organize uma seqüência de cenas para exibir durante a discussão em sala; • Elabore um rol de perguntas e questões para que as crianças respondam depois de assistirem ao filme; • Selecione revistas que tragam imagens que as crianças possam recortar e utilizar em sala; • Elabore uma lista de especialistas que podem disponibilizar materiais interessantes ou ministrar uma palestra para a turma; • Verifique se há lugares interessantes em sua cidade que possa organizar uma visita – uma biblioteca, um museu, uma indústria, uma personagem conhecida na cidade etc. Veja se dispõe de meios para realizar a visita ou se necessita de auxílio de alguma instituição. Neste caso, solicite o apoio da direção da escola e dos pais; • Elabore as atividades que proporá para as crianças, determinando os materiais que vai necessitar e o tempo que a turma dedicará a cada uma delas. Entre as atividades podem Programa Agrinho 109 Teoria e Prática estar: uma pesquisa na biblioteca, a elaboração de um cartaz e (ou) mural contendo imagens e textos sobre o assunto, uma entrevista com um especialista, uma visita ao museu da cidade, enfim atividades que sejam adequadas à idade, ao desenvolvimento de seus alunos e ao programa de estudos que planejou para o ano letivo. Para facilitar o processo de avaliação, organize um arquivo coletivo para os desenhos e textos produzidos pelas crianças e o relatório da pesquisa. O arquivo deve ser iniciado nas primeiras atividades e ser acrescentado na medida em que o trabalho das crianças avança. Ao Ficha Técnica: Título Original: Finding Nemo Gênero: Animação Tempo de Duração: 101 minutos Ano de Lançamento (EUA): 2003 Estúdio: Pixar Animation Studios/Walt Disney Pictures Distribuição: Buena Vista International/Walt Disney Pictures Direção: Andrew Stanton Roteiro: Andrew Stanton Produção: Graham Walters Música: Thomas Newman Desenho de Produção: Ralph Eggleston Edição: David Ian Salter Site Oficial: www.disney.com.br/nocinema/nemo Ganhou o Oscar de Melhor Filme de Animação, além de ter sido indicado em outras 3 categorias: Melhor Edição de Som, Melhor Trilha Sonora e Melhor Roteiro Original. Foi o 3º filme mais visto em 2003 no Brasil, tendo levado 4.931.137 pessoas aos cinemas. final, retrata toda a produção e as crianças podem avaliar o que fizeram e o que aprenderam na trajetória que percorreram. A socialização com outras crianças e com os pais é o próximo passo. APRENDENDO COM NEMO O filme Procurando Nemo conta a história de um peixe-palhaço, Marlín, que sai em busca de seu filho, Nemo, capturado para ser colocado num aquário. Durante a tentativa de resgate, o pai encontra uma amiga chamada Dory (um peixe da espécie Blue Tang) cuja falta de memória de curto prazo provoca trapalhadas, tornando a aventura engraçada e repleta de ternura. Ambos se deparam com perigos e criaturas caraterísticos da vida marinha. Por sua vez, Nemo, é recebido pela turma do aquário e, apesar de ter uma nadadeira atrofiada, é pequeno e por isso recebe a missão de sabotar o filtro da água, forçando o dono a fazer a limpeza manualmente, favorecendo a fuga. Com esse filme, educadores podem levar as crianças a explorarem diversos temas como, por exemplo, cadeia alimentar e poluição do meio ambiente. As crianças podem ser instigadas a pensar sobre a importância de protegermos a natureza, adquirindo hábitos mais voltados à sustentabilidade e que evitam a poluição das águas. A história 110 Programa Agrinho Teoria e Prática oferece muitas passagens inspiradoras para atividades em sala, pois com bom humor a aventura se desenvolve em meio a temas cotidianos como o primeiro dia de escola, idas ao dentista, a utilidade da leitura e presentes de aniversário. Preparando-se Certifique-se de qual equipamento a escola dispõe, se de um vídeo cassete, alugue o filme em fita de VHS, ou se a escola tiver um aparelho leitor de DVD (DVD player), alugue o filme em DVD. Assista ao filme mais de uma vez, ou melhor, assista ao filme várias vezes até ter domínio de toda a história, conseguir identificar as passagens mais importantes para o desfecho final, reconhecer todos os personagens, entender o argumento do filme e verificar detalhes interessantes que podem passar VHS – Video Home System, que em Português quer dizer Sistema de Vídeo para o Lar. Fita de VHS ou fita de vídeo, ou ainda videocassete, que pode ser gravada em casa, pelo equipamento também chamado videocassete ou ser alugada contendo conteúdos prégravados, como filmes etc. DVD – Digital Video Disc, que quer dizer Disco de Vídeo Digital , é um dispositivo digital que armazena imagens dinâmicas e som, como filmes etc. despercebidos em uma única assistência. Verifique se consegue lembrar bem onde estão as passagens que considera interessantes para provocar a discussão com as crianças e localize-as rapidamente. Se estiver utilizando fita VHS, marque o tempo com a ajuda do relógio do próprio aparelho, se for em DVD marque a cena que contém a passagem escolhida. Meça o tempo que a história leva até começar a ficar dramática, o tempo que leva para chegar às passagens que julgou interessantes e, também, o tempo de duração das cenas e trechos da história que pretende trabalhar com a turma. Se preferir, organize uma tabela dos tempos e das cenas e treine a localização das cenas aleatoriamente. Assim, você terá facilidade para localizar as cenas que você selecionou e outras que podem ser solicitadas pelas crianças durante as atividades em sala. Na hora da discussão, é só “rodar” a cena escolhida e coordenar o debate. Note que, além do domínio sobre o filme, recomenda-se o domínio sobre o aparelho. Saber como adiantar, atrasar o filme e localizar cenas Programa Agrinho 111 Teoria e Prática é muito importante e alguns aparelhos possuem mais recursos do que outros, o que torna difícil estabelecer um roteiro fixo de procedimentos. Neste caso, a melhor atitude a tomar é manusear o aparelho da escola até conhecer bem todas as suas qualidades. Se conseguir localizar o manual do aparelho, essa tarefa será mais fácil de executar, caso contrário, conte com o auxílio de alguém experiente na escola, ou então, o velho método da tentativa e erro virá em seu socorro. Monte, desmonte e remonte a aparelhagem tantas vezes quantas necessárias para que você domine os procedimentos para utilizar a aparelhagem de sua escola, em qualquer circunstância. Preparando as crianças Como o filme é sobre o resgate de um peixinho por seu pai, antes de passar o filme, pode-se levantar os conhecimentos prévios das crianças sobre os peixes. Elabore uma lista com os nomes dos que conhecem e uma outra contendo o nome daqueles sobre os quais já ouviram falar; uma lista pode conter nomes de peixes que servem para nossa alimentação e outra dos que servem para ornamentação; as crianças podem desenhá-los e ter seus desenhos pendurados em um mural; outros tipos de peixes podem ser agregados juntando-se a eles recortes de imagens retiradas de revistas ou copiados de livros. Em seguida, pode-se discutir quais são utilizados para nossa alimentação ou para ornamentação, quais não são utilizados de modo algum, quais são os processos de pesca que agridem a natureza e quais não, entre outros assuntos. Se possível, discutir temas sugeridos pelas próprias crianças. Todas essas atividades podem ser ilustradas com desenhos das crianças ou com imagens retiradas de jornais e revistas. Se houver um mercado pesqueiro na cidade, uma visita e uma conversa com pescadores pode ser agendada e tornar a aprendizagem ainda mais 112 Programa Agrinho Teoria e Prática divertida e significativa. Caso contrário, uma conversa com um professor de Biologia, uma visita a uma loja de aquários ou de pesca pode contribuir para a aprofundar o conhecimento das crianças. Algumas possibilidades A captura de Nemo por um mergulhador, sua colocação em um aquário e o tratamento dado a ele por sua nova proprietária, pode gerar a discussão sobre animais de estimação, domésticos e silvestres. Qual a necessidade de termos animais de estimação em casa? Qual o tratamento que devemos dar a eles? Os direitos dos animais estão sendo respeitados? Existe alguma associação protetora dos direitos dos animais em sua cidade? Os animais de estimação podem nos transmitir doenças? Quais e como tratar? Um aquário é mesmo o melhor lugar para um peixe viver? Pode um peixe sobreviver se for jogado na privada ou na rede de esgoto? Por que não deixamos os animais viverem em seu habitat natural? Qual a relação sobre esse comportamento humano e a extinção de diversas espécies? A profissão do capturador de Nemo pode gerar uma atividade sobre profissões ou sobre noções de saúde e higiene. Quais as profissões dos pais das crianças? Quais são mais conhecidas? Quais são mais perigosas? Quais são mais antigas? Quais estão desaparecendo? Quais estão aparecendo? O que torna alguém um profissional? Qual a importância do estudo para formar um profissional? Existem escolas profissionais em sua cidade e quais são as profissões que forma? A partir da constatação que o tio de Darla é um dentista, as crianças podem ser envolvidas em atividade que as façam refletir sobre o que ele faz e procurar a resposta de perguntas como: qual a freqüência com que devemos ir ao dentista? Como fazer a higiene de nossos dentes? Como e quantos são nossos dentes? Para que eles servem? Os tubarões tem mesmo todos aqueles dentes? Existe animal que não tenha dentes? Que tal agendar uma palestra com um dentista na escola? Programa Agrinho 113 Teoria e Prática Conferindo as idéias Nemo tem uma nadadeira atrofiada, Dory não tem memória de curto prazo, a coleguinha da escola tem um tentáculo menor que os outros. Cada um com sua característica pessoal, mas o trabalho em equipe e a amizade faz com que as dificuldades sejam superadas e os objetivos alcançados. A inclusão social, o trabalho em equipe, a importância da amizade, o respeito que devemos ter com todos e a qualidade de vida resultante estão presentes em várias cenas do filme. Basta identificá-las, selecioná-las e planejar a discussão. REFERÊNCIAS CITELLI, Adilson. Comunicação e Educação. A linguagem em movimento. São Paulo: SENAC, 2000. CITELLI, Adilson. (b). Escola e Meios de Massa. In: CHIAPINI, L. Aprender e ensinar com Textos não Escolares. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000, p. 17-28. CITELLI, Adilson. Educação e mudanças: novos modos de conhecer. In: CITELLI, Adilson (Coord.). Outras linguagens na escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos, informática. São Paulo: Cortez, (Coleção Aprender e ensinar com textos; Vol. 6), 2000 c. FONSECA, Cláudia Chaves. Os meios de comunicação vão à escola? Belo Horizonte: Autêntica/FCH-FUMEC, 2004. LIMA, Arievaldo Viana. Acorda Cordel na sala de aula. A literatura popular como ferramenta auxiliar na Educação. Fortaleza: Tupynanquim Editora/ Queima-Bucha, 2006. MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações. Comunicação, Cultura e Hegemonia. Trad. De Ronald Polito e Sérgio Alcides. Rio de Janeiro: 2001. MORAN, José Manuel, et all. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus, 2000. OROZCO-GOMES, Guilherme. Comunicação, educação e novas tecnologias: tríade do século XXI. In: Revista Comunicação e Educação, São Paulo (23): 7 a 15, jan./abr. 2002. SAMPAIO, Rosa Maria Whitaker Ferreira. Freinet. Evolução histórica e atualidades. São Paulo: Scipione, 1989. SILVERSTONE. Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002. 114 Programa Agrinho Conferindo idéias Teoria as e Prática FILMES O Menino Maluquinho Direção: Helvécio Ratton Sinopse: Maluquinho, um menino travesso da classe média, adora brincar e pregar peças nos amigos, mas sofre quando seus pais se separam. Aparece o Vovô Passarinho, que o leva para umas férias na fazenda, onde vive agitadas aventuras. Tainá - Uma Aventura na Amazônia - Brasil 2000 Diretor: Tânia Lamarca e Sérgio Bloch Sinopse: aventuras de uma indiazinha órfã que vive com seu avô no Rio Negro, na Amazônia. Ela aprende as lendas e histórias de seu povo mediante o convívio diário com a floresta e os animais. Tainá luta em defesa da selva, perseguida por traficante de animais, a indiazinha vai parar em uma pequena vila onde mora uma bióloga e seu filho. Tainá a Aventura Continua - Brasil 2004 Diretor: Mauro Lima Sinopse: Tainá, adolescente e a pequenina índia Caititi inutilizam as armadilhas dos traficantes de espécimes raros. Na floresta, encontram um garoto da cidade à procura de seu cachorrinho perdido que a pequena índia resgatou e quer adotar. Castelo Ratimbum (1999) Diretor: Cao Hamburger Sinopse: um menino de 300 anos, aprendiz de feiticeiro, vive em um castelo encantado com seus tios e mentores. Pelo alinhamento do Sistema Solar seus poderes serão renovados. A tia malvada entra em cena para atrapalhar os planos do menino, Nino, e agora ele precisa salvar seus tios da destruição. Programa Agrinho 115 Teoria e Prática Conferindo as idéias Portal de curtas da Petrobras Vários filmes de curtas duração disponíveis no site: http://portacurtas.uol.com.br/Especiais/Infantil/Criancas1.Asp LIVROS Outras linguagens na escola CITELLI, Adilson. Outras linguagens na escola. São Paulo: Cortez, 2000. Nesse livro são propostas alternativas de inserção dos meios de comunicação e das novas tecnologias para a prática pedagógica considerando suas diversas linguagens. Um coletivo de autores, coordenados por Adilson Citelli, discutem as contribuições que podem dar para o processo de ensino e de aprendizagem o discurso publicitário, a linguagem radiofônica, a cinematográfica e, além disso, discute as relações entre a Sociedade da Informação e a educação. FEILITZEN, C.V., CARLSSON, U. A criança e a mídia: imagem, educação, participação. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2002. A criança e a mídia: imagem, educação, participação Com esse livro, um conjunto de autores pretende mostrar como as crianças de diversos países do mundo têm participado da mídia e exemplos de educação para a mídia. Uma extensa coletânea de artigos dedica atenção à questão de como ensinar as crianças a desenvolverem e exercitarem seu julgamento e a serem seletivas com relação aos produtos que as mídias colocam a sua disposição, bem como a experiências de crianças com seus processos de produção. 116 Programa Agrinho Conferindo idéias Teoria as e Prática Educação Superior a Distância: gestão da aprendizagem e da produção de materiais impressos e on-line Nesse livro, as autoras apresentam estratégias de planejamento, de SARTORI, A., ROESLER, J. Educação Superior a Distância: gestão da aprendizagem e da produção de materiais impressos e on-line. Tubarão: Editora Unisul. 2005. implementação e de execução de programas de educação superior a distância, apresentando diversos elementos da gestão de projetos, da aprendizagem e da produção de materiais didáticos que compõem as tarefas da equipe gestora. Ao longo do texto, mostram como as diversas linguagens podem contribuir para o processo de ensino e de aprendizagem e a sua importância para a educação presencial e a distância. Programa Agrinho 117 Teoria e Prática INTERNET: USO RESPONSÁVEL, POSSIBILIDADES E APLICAÇÕES Neiva Beatriz Marinho Pinel Edgard Spitz Pinel Elizete Lúcia Moreira Matos É consenso que as tecnologias de informação e comunicação, com especial destaque para a Internet, exercem hoje um papel fundamental em nossas vidas, tendendo a ocupar um espaço cada vez mais importante em toda a sociedade. TIC – Tecnologias da Informação e Comunicação. Internet – Serviço de computadores on-line que oferece importantes fontes de informação para o inicio de um novo empreendimento (fonte-Strategy). A Internet, sem dúvida, estabeleceu novas formas de comunicação e entretenimento e possibilitou a democratização do acesso a informações de toda e qualquer natureza. Com nova noção de tempo e espaço, traça na sociedade redes de conexões, e com isso, novos cenários se estabelecem, gerando comportamentos, antes jamais vivenciados. A Internet, ao funcionar como um espaço aberto, livre, permite Rede – união entre as tecnologias de computadores com as tecnologias das comunicações dão origem as redes. Cenários – novos ambientes que se apresentam, por exemplo, espaços virtuais na internet. que quase toda pessoa que queira e tenha condições possa disponibilizar e acessar materiais na rede. Essa ampla possibilidade faz com que a internet acomode desde informações relevantes e sérias até “lixo virtual”. Disso decorre a necessidade de desenvolver entre os usuários um senso crítico apurado, que permita a otimização desta Lixo virtual – a internet acomoda tanto coisas muito boas no sentido de informações e comunicações como coisas nada recomendáveis também. nova tecnologia de informação e comunicação. No âmbito da educação, a palpitante questão posta para reflexão poderia ser assim resumida: Como tratarmos nas abordagens acadêmicas que envolvem professores, alunos, pais e comunidade as controvérsias que que são suscitadas pela internet? Na tentativa de responder a esta questão, procuramos elencar algumas possibilidades de exploração pedagógica do espaço virtual. Espaço virtual – ausência da existência do real, sistema óptico, porém no dicionário virtus é potência, força. Programa Agrinho 119 Teoria e Prática Antes,é útil acompanhar, ainda que de forma sucinta, a evolução do computador e da Internet. UM POUCO DE HISTÓRIA Já estamos convivendo com a 6ª geração de computadores. Conhecemos atualmente um computador com inúmeras funções e que engloba atividades de trabalho, lazer e comunicação. Mas nem sempre foi assim. A história do computador começa por volta de 1940 e passa por várias modificações de acordo com a evolução da própria tecnologia e da microeletrônica. O primeiro computador foi construído pelos Estados Unidos da América na época da Segunda Guerra Mundial para cálculos balísticos do Pentágono. Ele foi chamando de ENIAC e era composto por 18 mil válvulas e tinha 30 metros de largura por 3 metros de altura. Era utilizado por cientistas e engenheiros, possuía como características a entrada e saída de dados via cartões perfurados e listas impressas transcritas pelos digitadores. Para serem programados dependiam de cabos ligados a painéis. Mais tarde, por volta dos anos 50 do século XX, os computadores começaram a contar com a linguagem/software e os cabos foram recolhidos para dentro das máquinas. Na terceira geração, os computadores começaram a contar com circuitos integrados e a partir da quarta (1972 a 1984) começaram a ser utilizados na construção de processadores. Nessa época também, tela e teclado passaram a fazer parte do computador. No início da década de 1980, surgem as estações de trabalho e as redes caracterizando a quinta geração. Nessa mesma época, empresas como a Apple, Macintosh e IBM começam a investir em computadores pessoais e a Microsoft torna-se a maior empresa do ramo com o sistema operacional Windows. Esse sistema, que usamos 120 Programa Agrinho Teoria e Prática até hoje, tornou a interface do computador mais amigável para usuários e foi a responsável pela expansão desse equipamento. Na sexta geração, a partir dos anos 90, passamos a contar com uma ferramenta que integra computação e comunicação em forma digital. Nesse momento surge uma outra vertente que amplia as possibilidades de acesso as tecnologias no contexto social e educacional, com o advento do software livre, por meio do sistema operacional Linux. Essa evolução do computador é acompanhada pela evolução da Internet, que também teve origem militar nos Estados Unidos da América com investimentos em projetos que possibilitassem uma comunicação entre centros militares, que eventualmente poderiam sofrer ataques nucleares. Em 1964 surge o conceito de rede com a intenção de manter um sistema de comunicação descentralizado. Nos anos 80, vários centros de supercomputadores localizados em pontos diferentes dos Estados Unidos formaram uma grande rede. E, na seqüência, nos anos 90, houve uma divisão entre militares e universidades, e posteriormente a abertura para empresas e o mercado em geral. Com o aumento das redes e todas unidas a uma rede principal, tivemos o chamado “internetworking”, fenômeno que hoje denominamos Internet, a rede das redes. Como o crescimento da Internet, surgiu a Word Wide Web (w.w.w) que proporcionou uma interface que possibilita ao usuário a navegação em diferentes endereços interligados por palavras-chave chamadas links. Aqui no Brasil a Internet chegou primeiro para a comunidade Internetworking – trabalho por meio da internet. WWW – world wide web – rede de computadores conectados mundialmente. Links – conexões com informações que estão disponíveis nos sites na internet. acadêmica e foi aberta a serviços comerciais em 1995. Para Pinel, N, “com a diversificação de público, a web começou a ampliar suas atividades, tornando-se uma ferramenta que possibilita atividades de lazer, compras e pesquisa, entre outros tipos de serviços, interligando imagens, textos, vídeos e música.” (2007, p.32) Programa Agrinho 121 Teoria e Prática O COMPUTADOR E A ESCOLA O computador é, essencialmente, uma máquina voltada para o uso individual, mas que pode ser muito bem aplicada numa experiência coletiva. Na realidade, um dos maiores benefícios trazidos pelas tecnologias de informação e comunicação reside na experiência do compartilhar e interagir, construindo conhecimentos de forma dinâmica e bastante atraente. A escola passou a ter acesso aos computadores e também à Internet há muito pouco tempo, motivo pelo qual ainda estamos buscando novas formas de aprender e ensinar com o auxílio de ferramentas tão inovadoras. Iniciativas de apoio por parte do Governo Federal, Estadual, Municipal, iniciativa Privada e ONGs surgem a cada dia buscando democratizar o acesso às tecnologias da informação e da comunicação nas escolas de todo o país. Busca-se garantir esta democratização pelo patrocínio das doações de equipamentos, construções de laboratórios Telecentros – locais que dão acessos a usuários para conectar-se na internet. e telecentros de informática e pela formação de professores o que, por conseqüência, nos leva a uma maior participação da comunidade. São inúmeros os projetos vigentes e outros tantos em fase de planejamento, que tem por objetivo não apenas satisfazer o fascínio pelas tecnologias, mas também promover uma melhor formação para a vida em uma sociedade tecnificada. Como aponta Sacho e Hernandez (2006, p. 19): O âmbito da educação, com suas características específicas, não se diferencia do resto dos sistemas sociais no que se refere à influência das TIC. Deste modo, também foi afetado pelas TIC o contexto político e econômico que promove seu desenvolvimento e extensão. Muitas crianças e jovens crescem em ambientes altamente mediados pela tecnologia, sobretudo a audiovisual e digital. Os cenários de socialização das crianças e jovens de hoje são muito diferentes dos vividos pelos pais e professores. O computador, assim como o cinema, 122 Programa Agrinho Teoria e Prática a televisão e os videogames, atrai de forma especial a atenção dos mais jovens que desenvolvem uma grande habilidade para captar suas mensagens. Estas idéias suscitam uma reflexão sobre o impacto das TIC na sociedade e sua influência no processo ensino-aprendizagem. Como Sacho e Hernandez aborda (2006), abre-se um mundo de possibilidades para explorar de forma criativa as TIC na área educativa, mas na maioria das vezes a escola não está aproveitando os recursos que lhe são apresentados por esta nova sociedade tecnificada. Valente (2005) salienta que existem dois aspectos a serem considerados na implantação das tecnologias em ambiente escolar. A primeira sinaliza que tanto o domínio técnico quanto o pedagógico devem estar acontecendo simultaneamente. Dessa forma o pedagógico é beneficiado pelo domínio da técnica, e a técnica acaba criando novas possibilidades que atendam ao pedagógico. O segundo aspecto refere-se exclusivamente às aplicações pedagógicas, e o destaque está na especificidade de cada mídia, em determinada situação, com objetivo específico. Esse aspecto deixa clara a importância de o professor ter domínio sobre o uso adequado de cada ferramenta para explorá-la em diferentes situações educacionais. Para atender a essa diversidade de atividades que a tecnologia possibilita às escolas e aos alunos, é fundamental que o professor esteja familiarizado com as modalidades do uso da informática em ambiente escolar, o que requer a exploração de atividades cada vez mais sofisticadas. Isso significa refletirmos sobre as possibilidades que a escola possuí de trabalhar com o volume de informações que possuímos na sociedade atual, de forma crítica, reflexiva, significativa e que de fato contribua para a formação do aluno favorecendo a construção do seu conhecimento. Importante definir aqui o que entendemos por informação e por conhecimento. Segundo Valente (2005, p.24): Programa Agrinho 123 Teoria e Prática A informação será tratada aqui como os fatos, os dados que encontramos nas publicações, na Internet ou mesmo aquilo que as pessoas trocam entre si. E conhecimento é o que cada indivíduo constrói como produto do processamento, da interpretação, da compreensão da informação. Essa distinção entre informação e conhecimento, segundo o mesmo autor, leva-nos a diferenciar também o que entendemos por ensinar e aprender. Ensinar refere-se ao processo de o professor passar a informação para seus alunos, o que significa dizer que o resultado final é um aluno apto à memorização e à repetição da informação transmitida. Já o conceito de aprender está vinculado ao processo de construir conhecimento. Nesse sentido, o aluno participa do processo como alguém que irá trabalhar com as informações recebidas. Irá interagir com o outro, desvelar significados e construir sentidos, sobre as informações coletadas. O uso das tecnologias em ambiente escolar vem favorecendo a construção do conhecimento, uma vez que permite à escola propor novas metodologias no processo ensino-aprendizagem. Assim, tecnologia e conhecimentos integram-se para produzir novos conhecimentos que permitam compreender as problemáticas atuais e desenvolver projetos em busca de alternativas para a transformação do cotidiano e a construção da cidadania (ALMEIDA, 2005, p.41). Mas, com a velocidade com que as mídias evoluem, é colocada à escola a necessidade de repensar da sua prática diante dos recursos tecnológicos disponíveis, e essa prática nos remete a uma questão, hoje crítica para todos os níveis de educação: o currículo. De que forma a escola conseguirá escolher, entre muitos conteúdos, aqueles que julga importante para a formação de seus alunos, se considerarmos o volume de informações disponíveis e diariamente ampliadas, e que são disseminadas por mídias diversificadas. A título de ilustração, citamos um documento da Unesco que estima a ordem da grandeza movimentada pela duplicação do conhecimento: 124 Programa Agrinho Teoria e Prática [...] calcula-se que o conhecimento (de base disciplinar, publicado e registrado internacionalmente) levou 1750 anos para se duplicar pela primeira vez, desde o começo da era cristã, para depois voltar a dobrar de volume, sucessivamente, em 150 anos, 50 anos e agora, a cada 5 anos, estima-se que para o ano de 2020, se duplicará a cada 73 dias... (APPLEBERRY, apud BRUNNER, 2004, p.26). A INTERNET E A ESCOLA A Internet tem se mostrado um excelente ambiente para o aprendizado, o diálogo e a troca de experiências com os diversos atores do ambiente escolar, o que abre caminho para uma nova abordagem no contexto ensino-aprendizagem. Porém, isso requer uma nova atitude dos educadores quanto ao uso do computador e da internet, nas atividades educativas a fim de tornar possível a apropriação dos recursos tecnológicos, da mesma forma que a escola já se apropriou de outros tantos, embora esta apropriação seja mais complexa, pois implica também a alteração do paradigma tradicional para o paradigma inovador. A título de ilustração, resgatamos apenas o aspecto relativo ao novo vocabulário, que em especial a internet impõe a seus usuários. O domínio desse universo vocabular, para usar uma metáfora, é como uma chave-mestra, que permite a abertura de diversas portas. Assim se bem utilizado pode acrescer o processo ensino-aprendizagem da interação, da pesquisa, da investigação, das trocas e da produção de saber. Segundo Silva (2005, p.63), “se a escola não inclui a Internet na educação das novas gerações, ela está na contramão da história, alheia ao espírito do tempo e, criminosamente, produzindo exclusão social”. As aplicações da Internet no âmbito educacional, para Sancho (2001), podem variar entre ser considerada como um recurso educacional, como instrumento de comunicação, para a realização de projetos, para transmitir conteúdos, para auxiliar em pesquisas e ainda ajuda no Programa Agrinho 125 Teoria e Prática desenvolvimento profissional dos professores. Mas essa utilização exige conhecimentos prévios por parte do professor e uma política bem definida na escola. É uma questão de currículo. Para discorrermos um pouco sobre o assunto, para que possamos construir e questionar algumas possibilidades de uso no processo ensino-aprendizagem, é importante descrevermos alguns serviços disponíveis na Internet e que podem ser utilizados em ambiente escolar em diversas atividades pedagógicas. Entre eles, o chat, o correio eletrônico, o fórum, a lista de discussão, o blog, o fotoblog, os mapas e os serviços de busca. Os portais e os sites também disponibilizam serviços que podem contribuir na educação. O chat: “é uma conversa entre pessoas por meio de um programa eletrônico em redes de computadores em tempo real” (CORTELAZZO, 2000). Um bate-papo com hora marcada com envio simultâneo das mensagens digitadas. Pedagogicamente pode ser uma maneira de integração entre professor-aluno para trocar informações, sanar dúvidas, compartilhar experiências e curiosidades. Os temas podem ser variados e poderá haver convidados para um debate. O chat On-line – conectado a internet por meio de computador. “potencializa a socialização on-line quando promove sentimento de pertencimento, vínculos afetivos e interatividade” (SILVA, 2005, p.65). Uma das grandes preocupações que apareceram a partir do surgimento da Internet é a expansão dos relacionamentos, seja por meio das comunidades virtuais, seja por meio de recursos como chat ou os famosos serviços de mensagens instantâneas. Nesse quesito, a informalidade inerente à boa parte das conversas na rede pode fazer com que as crianças, adolescentes e, por vezes, até mesmo o adulto, se sintam seguras para revelar informações pessoais para estranhos. Um certo cuidado na informação de dados nesta nova interação que se estabelece é muito importante. As mesmas decepções com as quais nos deparamos na vida real, em relação a família, amigos e vizinhos, ocorrem no mundo virtual, com o risco adicional de não 126 Programa Agrinho Teoria e Prática termos pleno conhecimento e controle sobre o que ou com quem estamos de fato lidando. Em qualquer interação pela Internet é muito mais difícil avaliar como alguém é realmente, considerando as barreiras da distância e o anonimato entre as pessoas. Por mais que se apresente a foto, imagem, palavras escritas, o tom de voz e todos aqueles elementos que analisamos durante uma conversa, e que são essenciais para definir quesitos como a empatia, a credibilidade, deve-se ter precauções. Vivemos hoje num mundo bastante complexo no tocante às relações humanas, já bastante fragilizadas pelo contexto social vigente. Assim, não é prudente nos expormos demais na Internet, uma vez que nossos dados pessoais podem ser utilizados de várias formas negativas, causando-nos desde incômodos passageiros, até sérios danos morais e eventuais problemas com a justiça. Alguns cuidados básicos nos auxiliam a evitar surpresas desagradáveis. Oriente seus alunos a nunca fornecer para estranhos informações como endereço, telefone, nome da escola em que estuda, RG, CPF. Mostre a ele que é necessário evitar publicar fotos e imagens com dados pessoais, como placas de veículos ou ponto de referência de endereços, bem como falar sobre realizações e conquistas de âmbito material, como compra de carro zero, apartamento, viagens, renda familiar, emprego dos pais etc. Se o aluno ou adolescente conheceu alguém pela internet e agora quer ter a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, peça a ele que marque um encontro em um lugar público e seguro. Não vá sozinho, leve um amigo, um parente, alguém a que se possa recorrer em caso de problemas; avise outras pessoas sobre seu encontro, informando o local e horário. O reencantamento que estas novas formas de relacionamento se apresentam são salutares mas, podem trazer sérios desconfortos também. Por isso, a necessidade de trocas, diálogo, reflexões, podem Programa Agrinho 127 Teoria e Prática vir a ampliar a maneira de interagirmos nestes espaços virtuais e dele podermos tirar o melhor que se apresenta. A escola como fomentadora de opinião não pode ficar omissa a estas questões, necessita debater, compartilhar e apontar educativamente novos olhares sociais neste contexto. Desenvolver senso crítico, pode ser uma das possibilidades Correio eletrônico – Sistema que permite a troca de mensagens entre caixas-postais eletrônicas. O formato mais comum é [email protected] para seus alunos. O correio eletrônico “é um serviço de troca de correspondência entre usuários (um a um, um a vários ou vários a vários). Cada usuário tem um endereço eletrônico (e-mail) para correspondência” (CORTELAZZO, 2000). As mensagens são trocadas via linguagem escrita, mas o sistema permite anexar à mensagem qualquer tipo de arquivo. O fórum, diferentemente do chat, é uma ferramenta assíncrona, ou seja, não exige comunicação em tempo real. Nas atividades pedagógicas pode ser utilizado para disponibilizar questões que envolvam debates de diversos assuntos, gerando discussões entre diferentes opiniões ou posicionamentos divergentes entre os membros do grupo. As questões podem ser disponibilizadas e respondidas por um período determinado, e cada participante é livre para respondê-las quando melhor lhe convier, sem limites de participação, conforme o desenrolar das discussões. Podemos destacar uma experiência bem-sucedida de utilização do fórum em ambiente escolar: “Criança na Internet: construindo a coletividade em ambientes virtuais”. A autora traz um estudo exploratório sobre a interação de crianças na Internet, mediante acompanhamento do acesso às ferramentas e às produções dos alunos, numa dinâmica de constituição de coletividade. No trabalho, foi a utilização do fórum que demonstrou que as crianças começaram a perceber-se por meio do que escreviam e passaram também a reconhecer seus colegas, igualmente representados por aquilo que escreviam. A autora salienta que, a partir desse momento, a mudança evidenciou-se pela maneira com que cada criança deixou de preocupar-se com o próprio registro 128 Programa Agrinho Teoria e Prática para entender às falas dos colegas. Na seqüência, a pesquisadora começou a trabalhar histórias coletivas com os alunos. Ainda nesse projeto, a autora desenvolveu um ambiente virtual de apren-dizagem (AVA) no qual as crianças interagiam com ferramentas para comunicação tanto síncrona quando assíncrona. A autora coloca que uma das observações que acompanhou durante a pesquisa foi a valorização da escrita pelos próprios alunos, que acontecia quando as crianças postavam uma mensagem aos colegas. Ao enviarem os e-mails, os alunos acessavam a sua própria mensagem para certificar-se do envio, quando se deparavam com alguns erros de escrita que, na intenção de enviar a mensagem corretamente, preocuparam-se em pedir auxílio à professora para a reescrita. Outra ferramenta, a lista de discussão, “são fóruns de debate nas mais diversas áreas que reúnem indivíduos com interesses comuns para compartilharem suas experiências, indagações, indignações e descobertas através da Internet” (CORTELAZZO, 2000). No processo ensino-aprendizagem, o professor poderá fazer uso da ferramenta proporcionando a possibilidade de construção de conhecimento dos seus alunos, provocando, por exemplo, discussões iniciadas em sala de aula. O professor poderá estender o tempo de diálogo com seus alunos e obter bons resultados dessa conversa. Os portais são caracterizados como locais e não como serviços, e possuem como característica disponibilizar várias informações em um único local. São utilizados por empresas, profissionais liberais e, principalmente, por escolas, agrupando informações institucionais, calendário de atividades, jogos e pesquisas para as crianças, reportagens e textos informativos para os pais. Os sites, assim como os portais, também não são caracterizados Sites – endereços alocados na internet. como serviços e sim como locais, e ofertam ao usuário o maior número possível de informações disponibilizadas na word wide web (www), mediante buscas por palavras-chave de informações específicas “sobre Programa Agrinho 129 Teoria e Prática determinada pessoa, empresa, instituição ou evento” (SILVA, 2005, p.66) As informações são acessadas via endereço eletrônico das páginas hospedadas. Os blogs são uma espécie de diários, em que cada usuário publica o que desejar: fotos, histórias, notícias, idéias e pensamentos. Na maioria das vezes, o proprietário do blog deixa a possibilidade aos visitantes de contribuírem com as informações ali disponibilizadas. Segundo Silva (2005, p.66), “como diário virtual, o professor ou estudante pode disponibilizar conteúdos de aprendizagem e postar sua produção pontual”, cuidando da publicação do conteúdo e da interação com os demais leitores e o material por eles postados. É importante ter em mente que os blogs não substituem as aulas em classe, mas podem, acima de tudo, ser uma fonte importante de estímulos a escrita, a produção e leitura de imagens, organização de cenários criativos, articulados com as diferentes áreas do conhecimento. Conhecimento, arte, cultura e produção de projetos diversos, estes espaços podem trazer grandes benefícios se bem articulados na prática pedagógica.. Um exemplo seria propor uma discussão acerca de um livro de forma colaborativa, levando os alunos a publicarem seus posts (opiniões) e os colegas comentarem, gerando assim, um importante debate sobre o tema proposto. Temos também no espaço da internet os fotoblogs. Funcionando como um diário de Fotos e com um design sempre caprichado. Os Fotoblogs mostram que o mais importante é marcar presença. Na essência, Fotoblogs e álbuns virtuais são exatamente a mesma coisa, ou seja, sites com fotos enviadas pelo usuário. As propostas desses serviços os tornam bastante diferentes. Mais do que ferramentas de edição sofisticadas ou muitos recursos, o mais importante em um fotoblog, é o alcance de sua comunidade. Quanto mais os usuários estiverem comentando os cliques e mais amigos possuírem fotoblogs pendurados no mesmo serviço, melhor. A concepção destas ferramentas sob a ótica pedagógica, pode em determinadas situações vir a favorecer 130 Programa Agrinho Teoria e Prática ao processo ensino aprendizagem. Álbum da turma, da escola, de turmas, de toda a escola e outras idéias criativas podem ser exploradas em sala de aula. Criar é a tônica nestes espaços Os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) são os responsáveis pela maioria dos cursos a distância que possuímos. Caracterizados como sala de aula interativa, possibilitam aos seus usuários “uma construção integrada de informação, comunicação e aprendizagem on-line” (SILVA, 2005, p.66) . Permitem a disponibilização de materiais diversos produzidos pelo professor, em geral possuem fórum, chat e correio eletrônico, o que possibilita a troca de informações entre professores e alunos. O ambiente proporciona a construção do conhecimento, a autonomia e a participação dos alunos no processo ensino-aprendizagem, bem como o acompanhamento do professor perante a participação de cada um dos seus alunos. Uma outra possibilidade muito interessante em que a escola pode fazer uso pedagógico são os mapas, que funcionam como verdadeiras bússolas na rede, os serviços de mapas oferecem serviços de localização. Os serviços de localização substituem, em muitos casos com vantagem, os mapas de papel, e mais, trazem recursos especiais úteis de forma interativa. É o caso, por exemplo, de poder escolher as melhores rotas entre dois pontos, desviando de congestionamentos, acidentes, obras na pista etc. Mesmo os pedestres não ficam de fora desses serviços. Há quem desenhe caminhos que passam por metrô e trem metropolitano conforme a realidade em que esteja inserido. Pode-se ainda utilizar este recurso para localização, em tempo real, de qualquer ponto do planeta. Esse recurso permite uma série de explorações pedagógicas, em diferentes áreas do conhecimento. Essas possibilidades utilizadas na escola podem traduzir novos olhares interativos e significativos para a aprendizagem. Seguindo a viagem de possibilidades, neste item de busca, podemos tratar tanto dos buscadores padrão, para pesquisas e trabalhos escolares, quanto os especializados em ciência e tecnologia. Programa Agrinho 131 Teoria e Prática Com eles, é possível vasculhar livros técnicos, publicações especializadas e banco de dados com pesquisas das mais variadas áreas do conhecimento. Quando falamos em buscadores padrão, devemos estar atentos ‘as possibilidades de inserirmos comandos especiais para delimitar e facilitar as buscas. Para se achar sites com um mesmo assunto ou serviço, basta adicionar o comando “related:” antes no endereço do portal. Quando se pretende procurar por arquivos, deve-se digitar o termo procurado seguido do comando “filetype:” e da extensão do documento. Exemplo: drummond filetype:doc (o resultado serão textos de Carlos Drummond de Andrade). Se você esqueceu de parte da informação desejada, pode-se usar o asterisco, como um recurso coringa entre dois termos. Um exemplo: avenida*comendador. Analisar, ampliar e aprofundar discussões sobre o que estes espaços podem beneficiar o processo ensino aprendizagem, pode ser uma grande oportunidade de vislumbrar novos meios de fomentarmos a pesquisa e produção de conhecimentos. Esse recurso da Internet, além de ser utilizado para busca de informações por professores e alunos, também pode ser utilizado para a verificação de possíveis plágios em trabalhos de alunos. E é desse cenário de possibilidades proporcionado pela Internet e da mobilização dos indivíduos diante desse potencial que a escola vem buscando novas metodologias para o processo ensinoaprendizagem, tentando sistematizar algumas condições que favoreçam uma prática transformadora e uma aprendizagem mais significativa para o contexto atual. Tais mudanças podem incluir flexibilidade de horário, trabalhos multidisciplinares, salas apropriadas, suporte técnico, formação de professores, participação mais ativa dos alunos nas atividades desenvolvidas, apoio pedagógico e uma reflexão sobre currículo. O desafio está em buscar uma prática pedagógica que seja capaz de superar a fragmentação dos conteúdos e a reprodução do 132 Programa Agrinho Teoria e Prática conhecimento, e que valorize atividades que promovam a autonomia, a reflexão, o senso crítico, a criatividade, tornando o aluno ator e diretor de seus estudos, valorizando toda ação que estimule a busca do seu próprio conhecimento. Que o habilite na capacidade de reconhecer o momento e a realidade em que vive, refletir e inferir sobre a mesma. O desafio também está em possibilitar ao professor a utilização dos meios de comunicação, em especial o computador e a Internet, com o intuito de ampliar suas possibilidades didáticas em sala de aula e que possa servir como uma nova proposta de diálogo e integração na sua relação com seus alunos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Comitê para democratização de informática do Paraná. Uso responsável da Internet. Curitiba, 2006. BRUNNER, José Joaquin. Educação no encontro com as novas tecnologias. In: TEDESCO, Juan Carlos (Org.). Educação e novas tecnologías: esperança ou incerteza? São Paulo: Cortez, 2004.p.17-75 CORTELAZZO, I. Redes de Comunicações e Educação Escolar. A atuação de professores em comunicações telemáticas. 1996. Dissetação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996. CORTELAZZO, I. Colaboração, trabalho em equipe e as tecnologias da comunicação: relações de proximidade em cursos de pós-graduação. 2000. 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In: ALMEIDA, Maria Elizabeth; MORAN, José Manuel (Org.). Integração das tecnologias na educação. Secretaria de Educação a Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 2005. 134 Programa Agrinho Conferindo idéias Teoria as e Prática 2015: como vivemos SIQUEIRA, Ethevaldo. 2015: como viveremos. São Paulo: Saraiva, 2004, 333 p. ISBN 85-02-05014-1 Essa obra, trazendo o impacto das tecnologias da informação e comunicação na vida humana, na próxima década, nada mais nada menos, do que com a visão de 50 famosos cientistas e futurologistas do Brasil e do mundo. O impacto das (ICTs) – Tecnologias da Informação e da Comunicação, trazendo reportagens sobre o provável impacto destas tecnologias na sociedade como um todo. Entrevistas realizadas com escritores e personalidades de renome mundial, tais como: Arthur C. Clarke, Alvin Toffler, Host Störmer (Nobel de Física em 1998), Dob Tapscott, Nicholas Negroponte, ( do MIT); João A. Zuffo (USP), JeanPaul Jacob (IBM), Michio Kaku ( City College NY), Bill Gates ( Microsoft), Scott McNealy (Sun), John Chambers (Cisco), Carly Fiorina (HP), Bem Verwaagen (British Telecom) e Craig Barrett (Intel), Frederic M. Litto (Escola do Futuro – USP), entre muitos outros. Aborda temas como: comunicação e tecnologia; previsão do futuro; tecnologia; aspectos sociais; tecnologia da informação. Acompanhe estas idéias, pois estão permeando a sociedade toda e nela a vida das pessoas, com a sensível inferência no trabalho, educação, lazer, inclusão, governo e humanização, dentre outras interferências neste processo todo. Tecnologias para transformar a educação Um livro com muitas reflexões, apontando propostas, ferramentas e SANCHO, J. M. e HERNÁNDEZ, F. e Colaboradores. Tecnologias para transformar a educação. Tradução Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2006. ISBN 85-363-0709-9 maneiras de ação, para a utilização com o uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC)e seu papel efetivo no cenário da educação. Trata também das possíveis interferências e influências na realidade das escolas do amanhã. Como professores possam vir a apropriar-se com maiores e melhores resultados em seu trabalho pedagógico e os desafios que enfrenta diante do impacto que as tecnologias vem causando. Discute e leva a análise sobre estes desafios e como enfrenta-los, tirando proveitos com estas ferramentas. Também aborda aspectos da gestão administrativa com as novas tecnologias Programa Agrinho 135 Conferindo as idéias Teoria e Prática nos aspectos de planejamento e implementação via políticas públicas, com o intuito de potencializar a escola. Também se estende aos pais, no sentido de que possam vir a compreender melhor estes novos espaços que a escola e a sociedade como um todo está inserida. DERTOUZOS, M. O que será: como o novo mundo da informação transformará nossas vidas. Tradução Celso Nogueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. ISBN 85-7164-717-8 O que será: como o novo mundo da informação transformará nossas vidas Com uma linguagem de certa forma didática, acessível, porém, aprofundada, o autor consegue fazer uma análise do retrato em relação a Revolução da Informática. Permite ao leitor que faça suas próprias conclusões sobre as idéias que apresenta frente as frenéticas transformações que passa a sociedade. Este livro apresenta, portanto, aspectos altamente relevantes sobre o futuro numa perspectiva muito consciente e possível. Aborda também as relações sociais e as possíveis mudanças que ocorrerão e o distanciamento entre países pobres e ricos que inclusive pode aumentar o terrorismo e os empregos cada vez mais raros, por conta do aumento da produtividade. Pois, os teclados do computador como é colocado no livro darão lugar a programas capazes de compreender instruções verbais. Está ai uma obra rica, que vale a pena ler. 136 Programa Agrinho Teoria e Prática COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM E REDES SOCIAIS Liana Justen INTRODUÇÃO A s tendências atuais para a educação enfatizam que ela deve efetivar-se como um processo de reflexão na prática, voltado para a reconstrução social, considerando o ensino como construção de conceitos e o professor como um profissional reflexivo, que busca o desenvolvimento autônomo e emancipatório dos participantes do processo educativo (ZAKRZEVSKI & SATO, 2001): Defendemos a idéia de que a evolução das concepções pode ser favorecida ou acelerada por processos de investigação que desafiem os sujeitos a solucionar problemas; a tomar consciência das idéias e condutas próprias; a considerar as mesmas como hipóteses; a buscar o contraste argumentativo e rigoroso com outros pontos de vista e com dados procedentes da realidade; a tomar decisões refletidas sobre as idéias a serem mudadas e de por que mudar as mesmas. Profissional reflexivo – Um professor reflexivo é um profissional que incorpora a atitude mental de um pesquisador, mantendo um estado de permanente observação do seu trabalho, procurando conhecer seus alunos e a realidade em que vivem, para subsidiar o planejamento e o desenvolvimento da sua prática pedagógica, analisando os resultados que vão sendo construídos por meio dela e fazendo reformulações, adequando os conteúdos curriculares aos requisitos da educação na sociedade contemporânea (JUSTEN, 2005). Segundo Morin (2004), o que se requisita à educação, hoje, é a formação de pessoas capazes de descobrir, inventar, construir novos conhecimentos com base em saberes estanques e fragmentados, em uma perspectiva educacional que religue os saberes, via pensamento de contexto e do complexo. O pensamento do contexto é o que identifica os aspectos que compõem o todo, as relações entre eles no tempo e no espaço; e o do complexo é o que penetra na especificidade de cada elemento constitutivo do todo, reconhecendo seus atributos diversificados e múltiplos, ainda que complementares. Programa Agrinho 137 Teoria e Prática “Sociedade do Conhecimento” – como nossa época é chamada por muitos; caracteriza-se por transformações profundas em todos os campos da atividade humana, conseqüentes aos avanços nos sistemas de produção e consumo, à agilização dos meios de transporte e ao acesso instantâneo à informação, à comunicação e ao conhecimento, que resultaram em mudanças profundas nas relações interpessoais e sociais. A necessidade de contínua atualização e incorporação de novos equipamentos da área da informática e da comunicação aos processos educativos e a existência de uma crise geral de valores morais e éticos, têm tornado ainda mais complexa a ação educacional de pais e professores. Para Loureiro (2004), é impossível abranger a totalidade, pois ela extrapola os nossos limites de compreensão, ao requisitar conhecimentos objetivos e subjetivos que ainda não dominamos. As TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) conhecimentos indispensáveis aos cidadãos da sociedade do conhecimento, em quaisquer áreas da atividade humana, têm sido utilizadas recentemente como ferramentas tecnológicas para a atualização e disseminação dos processos de ensino, seja em programas de ensino à distância, seja na criação de redes educacionais, seja, ainda, na formação de comunidades de aprendizagem (GUERRA, 2001). A familiarização com as tecnologias de comunicação instantânea no meio virtual é fator básico aos educadores para participarem de novas alternativas de organização social, construção coletiva do saber e aprimoramento dos processos educativos. Assim podemos citar, como uma das mais destacadas modalidades de utilização das TICs, a formação de ambientes virtuais Construção coletiva do conhecimento – reiteramos nossa convicção na afirmação de Paulo Freire, quanto ao processo colaborativo de construção coletiva do conhecimento: “Aqui não há ignorantes absolutos nem sábios absolutos. Há pessoas que, em comunhão, procuram aprender juntas.” (FREIRE, 2006) de aprendizagem (AVAs) mediante a organização de Comunidades de Aprendizagem (ORELLANA, 2002) e de Redes Sociais (MARTINHO, 2004), que constituem alternativas recentemente criadas de construção coletiva do conhecimento em grupo. O processo de criação de AVAs representa o urgente retorno à construção do conhecimento, mediatizada e empreendida em um Ensino colaborativo – Quando os professores discutem, estudam, analisam e decidem em conjunto, possibilita-se o desenvolvimento de procedimentos investigatórios como a observação, o registro, a pesquisa, a análise, além de uma retomada de sua auto-estima, reforçada pela ação cooperativa e confiança mútua entre os docentes. processo colaborativo, agora subsidiado pelo uso de ferramentas virtuais, ao invés de dominado por estas (JUSTEN, 2005). Ao mesmo tempo, ressalta princípios pedagógicos acatados pelas tendências pedagógicas mais recentes, como a reflexão-na-ação (SCHON, 2000), a valorização de aspectos subjetivos, de atividades críticas e criativas, retomadas na formação inicial e continuada de professores (ZACRZEVSKI &SATO, 2001). A organização de um AVA deve considerar, em primeiro lugar, as dimensões subjetivas do ato de aprender em grupo, promovendo o relacionamento, as interações pessoais e coletivas entre alunos e 138 Programa Agrinho Teoria e Prática professores, mediante o uso de estratégias virtuais diversificadas, tais como apresentação de perfis pessoais, uso de salas de bate-papo, realização de enquetes, criação de listas de discussão, elaboração de murais para intercâmbio de leituras, pesquisas, informações... COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM As comunidades de aprendizagem podem ser constituídas por grupos virtuais de professores, pertencentes à mesma escola ou não, que desejem estudar junto, trocar experiências pedagógicas e melhorar sua prática educativa. Também podem envolver grupos de diferentes atores, como Virtual – O termo “virtual” significa “algo que não existe na realidade”. Neste trabalho, está relacionado à comunicação não-presencial entre pessoas, mediante o uso de computadores, pela Internet, e, portanto, a expressão “virtual” deve ser entendida como “forma de comunicação que se estabelece através dos recursos da informática”. especialistas em assuntos diversificados, interessados em um trabalho interdisciplinar, valendo-se das múltiplas estratégias oferecidas pelas TICs. E, ainda, significam mais uma oportunidade para que professores e alunos se envolvam com estudos e experiências significativas de aprendizagem e de prática de cidadania, a partir da abordagem problematizadora da realidade vivenciada, quer na sala de aula, quer no entorno da escola, quer na comunidade próxima (JUSTEN, 2005). As comunidades de aprendizagem caracterizam-se pelo seu aspecto informal e democrático, em que as pessoas interagem em propostas colaborativas de pesquisa, estudo, discussão, troca de informações, debates e reflexão conjunta, possibilitando: √ o trabalho em equipe, tanto para professores como para alunos, elemento indispensável para a execução de programas e projetos, não como meio de contornar, dissimular ou relativizar conflitos, mas como a confirmação solidária de uma dinâmica de trabalho que só pode ser realizada com a participação coletiva. √ as atividades de pesquisa-ação – reunindo grupos de professores pesquisadores, que criam, aplicam e avaliam Programa Agrinho 139 Teoria e Prática alternativas para melhorar o ensino e a aprendizagem, concretizando o projeto político-pedagógico da escola (BRZEZINSKI & GARRIDO, 2001). √ os projetos de intervenção nas escolas e comunidades, como alternativa prática e dinâmica, que podem ser realizados por comunidades de aprendizagem, decorrentes de diagnósticos, observação e investigação de questões ambientais locais e regionais, em que professores e alunos se tornam protagonistas de ações para: • estudar, identificar, resgatar e valorizar seu patrimônio geográfico, histórico, produtivo, cultural e social; • enfrentar e equacionar situações comuns da vida cotidiana que requisitam alteração e (ou) construção de hábitos, atitudes, comportamentos individuais e coletivos; • construir coletivamente transformações consideradas necessárias na alimentação, higiene, saúde, vestuário, consumo, transporte, produção, geração de renda, limpeza, preservação e recuperação de ares urbanas e naturais. Para Zakrzevski & Sato (2001), o trabalho com projetos de intervenção é potencialmente rico para professores e alunos, levando à: Interdisciplinaridade: não significa aproximação e junção de conteúdos das diversas disciplinas, porém resulta do entendimento de que disciplinas são campos diferenciados de conhecimento, que possuem em comum o propósito de entender a totalidade, pelo estudo de suas múltiplas partes. Para trabalhar interdisciplinarmente, é preciso valorizar todas as disciplinas, aceitar a sua diversidade, a existência de saberes científicos e populares e as possibilidades do diálogo entre esses saberes, visando ao objetivo comum de um trabalho pedagógico (JUSTEN, 2005). 140 Programa Agrinho √ abertura para os conhecimentos e problemas que circulam fora da sala de aula e que vão além do currículo que tradicionalmente a escola tem desenvolvido; √ organização do conhecimento de modo multidisciplinar, na perspectiva interdisciplinar; √ participação dos alunos em processos de pesquisa, adequados à realidade vivenciada no processo de planejamento da própria aprendizagem; Teoria e Prática √ compreensão do entorno individual e coletivo... e as relações com seus ambientes; √ comunicação e intercâmbio entre os docentes e demais membros da comunidade escolar. A preocupação com questões locais e regionais não deve se restringir à abordagem na esfera virtual, mas incentivar uma variedade de contatos presenciais com a realidade objetiva. COMO ORGANIZAR UMA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM Para criar uma comunidade de aprendizagem no meio educacional, é preciso primeiro haver um grupo de professores e (ou) de alunos interessados em aprender juntos sobre algum assunto, aproveitando os recursos oferecidos pelas tecnologias de informação e comunicação. Hoje existem diversos provedores que possibilitam a criação de grupos de estudo, porém ainda faltam muitas ferramentas para ampliar e diversificar as atividades de interação e intercâmbio de saberes. Por exemplo, a realização de reuniões coletivas com a participação simultânea dos participantes, como os chats. Considerando essas limitações, a seguir são apresentadas algumas sugestões para facilitar a organização das comunidades Chat – em inglês “conversa informal”, é uma conversação com a participação simultânea de dois ou mais participantes, em que se estabelece uma comunicação semelhante a uma reunião presencial, marcada pela informalidade. de aprendizagem: 1. começar reunindo os colegas que estejam realmente propostos a formar um grupo de estudos presencial e virtual, em torno de um tema que seja de interesse comum a todos; 2. debater como serão feitos os contatos. No âmbito virtual, criar uma lista de discussão mediante a formação de um grupo Programa Agrinho 141 Teoria e Prática em um provedor da internet, ou disponibilizado em programas de Educação a Distância por universidades, instituições educacionais e outras; é preciso pesquisar para encontrar as modalidades de grupos virtuais que melhor atendam às características do grupo; 3. o que caracteriza a comunidade é sua organização cooperativa e solidária; uma pessoa ou mais pode tomar a iniciativa de moderar as atividades do grupo, e para isso será necessário elaborar um planejamento cooperativo de trabalho, com base nas sugestões e contribuições de todos; 4. lembrar-se sempre que uma comunidade de aprendizagem é criada par atender aos interesses e às necessidades de pessoas que convivem em uma época de intensas mudanças e de acesso instantâneo a uma diversidade de informações, que desejam acompanhar esse processo, construindo juntas um conhecimento que é importante para todos; 5. assim, a comunicação virtual agiliza as relações interpessoais, e isso deve estar presente no planejamento das atividades do grupo, que podem constituir-se no estudo e debate de um tema a partir da leitura de textos, reportagens, informações e notícias trazidas pelos membros da comunidade; 6. ao mesmo tempo em que as pessoas se reúnem pela rede virtual que passam a compor, precisam aprender a lidar com a linguagem própria da internet. Para isso, é necessário estabelecer um acordo de convivência, em que são definidas regras de comportamento e relacionamento grupal. Um bom exemplo de acordo é o do GEAI-2006, uma lista de discussão bastante conhecida no sul do Brasil, coordenada há anos por Berenice G. Adams, e que pode ser encontrada no endereço eletrônico: http://br.groups.yahoo.com/group/geai2002 142 Programa Agrinho Teoria e Prática 7. a comunidade irá se formando, assim, por meio das relações de cooperação, das trocas e dos intercâmbios entre seus integrantes, processo em que cabem todos os princípios que fundamentam trabalhos em grupo; 8. como já foi citado anteriormente, a comunidade passa a desenvolver propostas colaborativas de estudo, discussão, troca de informações, debates, reflexão conjunta, pesquisaação, trabalho em equipe e projetos de intervenção em escolas e comunidades. REDES SOCIAIS E EDUCACIONAIS A organização em rede existe há muito tempo entre os grupos sociais, porém, depois dos estudos da ecologia e da física quântica, com as contribuições de autores como Maturana e Varela (1987), Bertalanffy (1968), Bateson (1979), Capra (1996, 2002) entre outros, ela tem sido considerada uma alternativa para que pessoas se aproximem e constituam “comunidades de relações”, como são chamadas as redes, tendo como referência a conformação ecossistêmica do mundo. De certa forma, a maioria das organizações informais se assemelha a uma rede, porém esta configura-se como uma estrutura Conformação ecossistêmica do mundo – a ciência Ecologia tem revelado que toda a natureza obedece a uma organização sistêmica, isto é, um conjunto de elementos diferenciados que interdependem entre si, cuja sobrevivência e expansão decorrem essencialmente das relações que ocorrem entre os seus diversos componentes. diferenciada porque o poder é descentralizado, horizontalizado e compartilhado; daí representar um desafio para as comunidades humanas, habituadas à concentração do poder, à centralização das decisões e às estruturas piramidais de divisão de responsabilidades e atribuições. Mesmo assim, redes existem ainda que invisíveis em todas as áreas da atividade humana, talvez como resposta à necessidade cada vez maior de protagonismo dos indivíduos e dos grupos nos processos existenciais de que participam. Programa Agrinho 143 Teoria e Prática PRINCÍPIOS BÁSICOS DAS REDES Segundo Cássio Martinho (2004), uma rede torna-se visível por três grandes motivos: √ Uma necessidade – um motivo suficientemente forte e importante para aproximar as pessoas e levá-las a aderir a uma integração de sentimentos, idéias, valores, objetivos e Idéia-força – um conceito, um princípio que representa uma verdade aceita por muitas pessoas e que possui a capacidade de sensibilizá-las e mobilizá-las para determinados propósitos e ações. atividades comuns; √ Uma missão – expressa em uma idéia-força, um propósito comum, que inspire a adesão espontânea e voluntária das pessoas a um ideal; √ Uma convocação à ação – dentro de um espaço de relacionamento em que preponderem a comunicação e a divisão espontâneas de tarefas e responsabilidades, compondo assim um todo orgânico, que produza atividades, produtos e serviços. Esses princípios se concretizam na configuração das redes, que incluem características de protagonismo e representatividade: • a busca de consensos e a convivência com e entre as diversidades, mediante um pacto ou consenso primordial que Multiliderança – a liderança exercida por várias pessoas que revelam essa habilidade em ocasiões inesperadas ou específicas, para conduzir o grupo a atingir um objetivo. Em uma rede, há oportunidades para que várias pessoas possam exercer liderança ao mesmo tempo, em situações diferenciadas, uma vez que o propósito coletivo prepondera sobre o individualismo. “orquestre uma coordenação de autonomias”, em um processo de auto-regulação que, no plano humano, se manifesta mediante o fenômeno da multiliderança; • a conectividade, que reforça os laços de relacionamento sem afetar a autonomia; nesse caso, a circulação das informações e a comunicação sem barreiras são fatores estruturadores da rede; • um desafio de gestão compartilhada da rede e de suas atividades, mediante criação de comitês, comissões, grupos 144 Programa Agrinho Teoria e Prática de estudo e de trabalho, do exercício da facilitação, estimulando o surgimento de lideranças emergentes, locais, temporárias, e de formas espontâneas de divisão de trabalho e responsabilidades. A figura da secretaria executiva é muito mais uma função de intermediação e articulação do que de coordenação e diretividade. LISTAS DE DISCUSSÃO As listas de discussão que se formam no âmbito das redes demonstram como podemos compreender e ser compreendidos, e ser informados disso, de forma quase instantânea, apesar de centenas ou milhares de quilômetros que nos separem. As redes e suas listas de discussão são responsáveis pelo relacionamento interpessoal, imediato e abrangente entre dezenas e mesmo centenas de pessoas interessadas em determinados assuntos; a lista não é a rede, porém é o seu meio Listas de discussão – são grupos virtuais que enviam e recebem instantaneamente mensagens com o mesmo significado; a lista não pode ser confundida com a rede, não tem fim em si mesma, mas é muito útil para a difusão de informações, debate de princípios e linhas de ação, intercâmbio de propostas e organização de encontros presenciais. natural de comunicação e da representatividade da multiplicidade de conceitos, pontos de vistas, crenças e ideais que ela congrega. As pessoas organizadas em rede, mediante a participação nas listas, preparam, planejam e efetivam eventos que podem ser pequenos, médios e grandes encontros presenciais, nos quais se realizam atividades relacionadas com o que foi pensado, discutido, sonhado e criado nos movimentos virtuais. A organização de encontros presenciais, indispensáveis entre os integrantes de uma rede, em que ocorrem parcerias, amizades, negociações e acordos de cooperação e solidariedade, porque feitos no ambiente descontraído e horizontalizado da rede, abrindo espaços para a representatividade individual e coletiva e para a participação democrática, que de outra forma não se dariam. Uma lista contribui muitíssimo para informação, divulgação, mobilização e trocas interpessoais em diversos níveis. Por exemplo, as Programa Agrinho 145 Teoria e Prática listas podem propiciar debates interessantíssimos, na forma de jogo rápido e nem por isso menos instrutivo. São incontáveis os exemplos de contribuições que as listas podem nos oferecer para a representatividade dos interesses, necessidades, propostas e preocupações dos seus membros. Ao mesmo tempo, representam também um meio democrático de construção coletiva do saber, contribuindo tanto em termos de ampliação de conhecimentos, como de intercâmbios afetivos e profissionais entre pessoas que vivem em lugares muito distantes entre si. Contexto comum aos ecossistemas – as inter-relações existentes em um ecossistema se opõem ao ponto de vista da objetividade da ciência, porque exige uma visão muldimensional. Assim, em um ecossistema, como em uma rede, o que mais importa são as relações e interações mantidas entre as diversidades existentes, vistas não como opositoras, mas como complementares. GESTÃO E FACILITAÇÃO DAS REDES Uma das bases teóricas da cultura de redes é o contexto comum aos ecossistemas, e é por isso que ela se apóia no respeito à diversidade de opiniões, à liberdade de expressão e ao intercâmbio de pontos de vista como princípios fundamentais. O processo democrático implica negociação de significados diferentes, e as redes oferecem espaço para a criação de comunidades de relações entre pessoas que se aproximam e se organizam em torno de uma idéia-força (INOJOSA, 1999), que os unem em torno de um compromisso comum, forte o bastante para que se constituam em grupos dispostos a estudar, trabalhar e atuar cooperativamente pelos mesmos objetivos. Além disso, as redes possibilitam a construção coletiva do conhecimento, sob várias modalidades, como as listas de discussão e os fóruns virtuais. As redes caracterizam-se pela ausência de hierarquização nas relações que se estabelecem entre os elos que as constituem, mas por uma relação horizontalizada e informal, em que o centro da rede está em toda parte e, portanto, não existe centralização de decisões, e a intenção é sempre chegar a consenso, embora haja a convivência com o dissenso. 146 Programa Agrinho Teoria e Prática As redes sociais se tornaram, portanto, um exercício de ação cooperativa e solidária, em que o importante é a capacidade de interagir e aceitar opiniões divergentes, partindo do princípio que a diversidade é que garante a sobrevivência do conjunto, adequando alguns dos princípios vigentes nos ecossistemas. Contrariamente às organizações sociais convencionais, as redes não seguem uma formatação convencional de linearidade nem o padrão verticalizado de centralização de poder e tampouco se organizam de modo formal, pois adotam uma forma horizontalizada e não hierarquizada de relacionamento entre pessoas e instituições, formando elos integrados em torno de um objetivo comum. Buscam, assim, mediante a comunicação informal entre seus integrantes, a abertura à diversidade, alternativas de relacionamento interpessoal e grupal que articulem a variedade de conhecimentos, saberes, competências e talentos, visando atingir propósitos importantes para todos, de modo democrático, participativo e solidário. Tendo como proposta básica a articulação das pessoas e instituições no enfrentamento de questões comuns, e sendo um dos princípios da cultura de redes a rapidez da comunicação na disseminação de informações e na tomada de decisões, eliminando a burocracia e a hierarquia, são utilizadas as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Redes sociais podem tornar-se poderosos meios a serviço da educação, visando à formação continuada, à integração entre programas e projetos educativos, à formação de comunidades de aprendizagem, em que a construção coletiva do conhecimento se dá em um processo dinâmico, marcado pela simultaneidade da comunicação e pelo diálogo entre diferentes saberes, entre as diversas áreas do conhecimento e da atividade humana. Apesar disso, uma rede não pode ser confundida com suas listas de discussão, mas considerar estas um meio eficiente de comunicação. Programa Agrinho 147 Teoria e Prática Contudo, as redes podem e devem manter atividades presenciais periódicas, como reuniões, seminários, oficinas de trabalho, encontros de diversas naturezas, em que as relações entre seus elos constitui a energia coesiva que mantém pessoas e instituições em permanente contato criativo e solidário, promovendo o fortalecimento das práticas de cidadania, a participação e a responsabilidade individual e grupal perante o equacionamento das questões coletivas. As maiores dificuldades enfrentadas pela organização em redes são: • falta de compromisso com o envolvimento participação individual e coletiva na gestão de situações e problemáticas que afetam a todos na cultura da sociedade brasileira; • excesso de individualismo e de espírito de competição entre pessoas e instituições, que procuram defender apenas os seus interesses pessoais, sem relacioná-los aos interesses sociais; • tradição paternalista da sociedade brasileira, em que se espera que “o governo resolva todos os problemas”, ou pelo menos desenvolva ações de assistencialismo, como em geral tem feito, sem fomentar a formação de associações, cooperativas e outras modalidades de organização em que os cidadãos possam assumir responsabilidades com seu próprio sustento, sua sobrevivência e desenvolvimento pessoal e coletivo; • fragmentação e dissociação dos diversos saberes e áreas de conhecimento, que se departamentalizam e setorializam em núcleos fechados e incomomunicáveis, sem estabelecer intercâmbio e menos ainda articulação entre suas atividades; • confrontos de poder e conflitos entre pessoas e instituições dentro da rede, que não conseguem superar suas diferenças de opinião ou compartilhar espaços de poder, que são condições básicas para se participar de uma rede; 148 Programa Agrinho Teoria e Prática • dificuldades de sustentabilidade, uma vez que a rede não é uma figura jurídica, nem uma associação, com identidade civil; por isso, não pode propor projetos para captação de recursos visando à sustentação de suas atividades, porém os seus elos, como pessoas ou entidades jurídicas, podem e devem fazê-lo, somando esforços e integrando recursos para que a rede possa sobreviver. As redes educacionais se espalharam pelo País, sendo a Rede Brasileira de Educação Ambiental (REBEA) criada durante o Fórum Global das ONGs, em 1992. Também podem ser citados como exemplos próximos a criação da Rede Sul Brasileira de EA (REASUL) e da Rede de Educação Ambiental do Paraná (REA-Paraná), que reúnem educadores ambientais de diversas regiões do Sul do Brasil, pela via virtual. Na verdade, uma rede é uma tentativa de estabelecer uma relação de troca entre pessoas e instituições que extrapole as práticas convencionais formais e fomente a cooperação, a solidariedade, a aceitação das diferenças e a articulação de diversidades, visando fomentar ações conjuntas por objetivos comuns, a partir de uma visão de totalidade. Na rede, o fascinante é a possibilidade de trocar idéias, saberes, pontos de vista, percepções, de modo informal, instantâneo, atingindo Visão de totalidade – não significa encontrar uniformidade, mas compreender o conjunto das partes inter-relacionadas, em que coexistem a cooperação, o conflito, a divergência, a ordem e o caos, a organização e a complementaridade, construindo novas formas de viver, sobreviver e conviver. gente de todos os lugares, de diferentes níveis de conhecimento e experiência: doutores, graduandos, profissionais de diversas formações, como se estivéssemos todos sentados em círculo, na beira da praia, em torno da fogueira, ou no lugar que cada um imagine que seja bom... COMO ORGANIZAR UMA REDE EDUCACIONAL A criação e a organização de redes sociais e educacionais são ações mais complexas que a de comunidades de aprendizagem, pois Programa Agrinho 149 Teoria e Prática requisitam a presença de atores de diversas procedências, uma vez que o diálogo e a interação entre diversidades constituem duas das características da rede. Ao mesmo tempo, a organização da rede baseia-se em pressupostos semelhantes aos das comunidades de aprendizagem, com a diferença de que é preciso amadurecer uma relação já existente entre pessoas e (ou) instituições, que tenham objetivos semelhantes, para então dar visibilidade à rede. Em outras palavras, é necessário que ela preexista de modo informal, espontâneo e voluntário, ligando esses elos, para que se manifeste como entidade de organização social. Assim, para criar uma rede são apresentados alguns passos, porém ressalvando-se que a cada situação esses movimentos podem ser diferentes, dependendo das relações que já existam, as atividades já em desenvolvimento e principalmente a motivação das pessoas para se constituírem em uma rede “real”. 1. começar procurando pessoas e instituições que se dedicam a determinadas atividades educacionais, sejam governamentais ou não-governamentais, mas que busquem atingir as mesmas finalidades, por meio de ações educativas parecidas junto aos mesmos públicos – estabelecimentos de ensino fundamental, médio e superior, comunidades, associações de moradores e ambientes similares; 2. a reunião dessas pessoas e instituições deve dar-se pelos princípios que fundamentam as redes: uma necessidade, uma missão e uma convocação à ação; 3. uma vez identificados esses fatores básicos e comuns, a rede pode ser criada pelas pessoas que se identificam como seus elos, mediante as relações que passam a estabelecer-se de modo mais sistemático entre todos, visando integrar ações, articular esforços, somar recursos e fortalecer as atividades de todos; 150 Programa Agrinho Teoria e Prática 4. como não há hierarquia, estando o foco nas relações de parceria, nos acordos e tratos que se realizam de modo informal e voluntário entre os elos da rede, será necessária a ação dos facilitadores – as pessoas e instituições que se dedicam a promover a comunicação e as interações entre todos –, mediante uma lista de discussão, reuniões e encontros presenciais, publicação de um boletim eletrônico ou impresso para divulgação de ações; 5. sendo a base da rede a disposição de trabalhar junto e de modo cooperativo, todas as decisões devem ser compartilhadas, assim como as atribuições e responsabilidades, segundo as potencialidades, os recursos e as condições que cada integrante pode oferecer à atuação conjunta da rede. CONCLUSÕES Tal como no caso das Comunidades de Aprendizagem, no ambiente das redes a preocupação com as questões educacionais locais e regionais não deve ser abordada somente na esfera virtual, mas promover contatos presenciais com a realidade objetiva, mediante pesquisa de campo, observação de realidades locais e regionais, elaboração e execução de projetos de intervenção no entorno. Comunidades de Aprendizagem e Redes são formas emergentes de organização, que buscam a ação conjunta entre pessoas e instituições, aproveitando as ferramentas virtuais que possibilitam a aproximação entre pessoas que de outra forma não se encontrariam tão facilmente. O que alimenta a rede e a comunidade de aprendizagem é o movimento fluido e dinâmico que aproxima e inspira, de modo sinérgico, a interação permanente entre seus elementos constitutivos. Inclusive porque a vida acontece em redes, o conhecimento se constrói em redes e a potencialização de nossos pensamentos, sentimentos e ações ocorre na formação de comunidades de relacionamento. Programa Agrinho 151 Teoria e Prática REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BATESON, Gregory. Mind and Nature: A Necessary Unity. Nova York: Dutton, 1979. BERTALANFFY, Ludwig Von. General System Theory. Nova York: Braziller, 1968. BRZEZINSKI, I.; GARRIDO, E. Análise dos trabalhos do GT Formação de Professores: o que revelam as pesquisas do período 1992-1998. Revista Brasileira de Educação – ANPED. Rio de Janeiro, n.18, p. 82-105. set./dez. 2001. CAPRA, F. A teia da vida. São Paulo: Cultrix, 1996. CAPRA, F. As conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2002. GUERRA, A.F.S. Diário de bordo: navegando em um ambiente de aprendizagem cooperativa para educação ambiental. 2001, 331f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção)- Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. INOJOSA, R. M. Redes de Compromisso Social. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro: FGV, v. 33, n. 5, set./out. 1999, p.115 -141. JUSTEN, L. M. Trajetórias de um grupo interinstitucional em um programa de formação de educadores ambientais no estado do Paraná (1997 – 2002). Itajaí, 2005. 177 f. Dissertação (Mestrado em Educação). Programa de PósGraduação Mestrado em Educação – Universidade do Vale do Itajaí. LOUREIRO, C. F. B. Educar, participar e transformar em educação ambiental. In: Revista Brasileira de Educação Ambiental, nº 0. Brasília: Rede Brasileira de Educação Ambiental, 2004. MARTINHO, C. (Coord.). Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização. Brasília: WWF-Brasil, 2004. MATURANA, H.; VARELA, F. The Tree of Knowledge. Boston: Shambhala, 1987. MORIN, E. A cabeça bem feita – repensar a reforma – reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. ORELLANA, I. La estrategia pedagógica de la comunidad de aprendizage, definiendo sus fundamentos, sus practicas y su pertinência em educación ambiental. In: SAUVÉ, L; ORELLANA, I; SATO, M. Textos escolhidos em Educação Ambiental – De uma América à outra. Montreal: Université du Quebec à Montreal, 2002, p. 221 – 231. SHÖN, D. A. Educando o Profissional Reflexivo. Porto Alegre: Artmed, 2000. ZAZRZEVISKI, S; SATO, M. Refletindo sobre a formação de professor@s em Educação Ambiental. In: SANTOS, J. E.; SATO, M. A contribuição da Educação Ambiental à esperança de Pandora. São Carlos: Rima, 2001. 152 Programa Agrinho Conferindo idéias Teoria as e Prática Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização Essa obra apresenta os conceitos básicos de redes e facilita assim o MARTINHO, C. Cássio. (Coord.). Redes: uma introdução às dinâmicas da conectividade e da auto-organização. Brasília: WWF-Brasil, 2004. conhecimento e a compreensão de princípios gerais e fundamentais das redes. Pode ser feito dowload do conteúdo no site do MMA. (http://www.mma.org.br). A cabeça bem feita – repensar a reforma – reformar o pensamento Dentre as diversas obras de Edgar Morin, esse é um livro de fácil MORIN, Edgar. A cabeça bem feita – repensar a reforma – reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. compreensão e que expõe a teoria da complexidade, e como ela pode explicar a crise da educação contemporânea, além de apresentar alternativas para um novo paradigma civilizacional. Programa Agrinho 153 Teoria e Prática MAPAS CONCEITUAIS Rita de Cássia Veiga Marriott Patrícia Lupion Torres INTRODUÇÃO O acesso à informação está cada vez mais fácil e rápido. Pela via da internet, pode-se consultar todo e qualquer assunto, com superficialidade ou detalhamento. Entretanto, principalmente para nós educadores, o desafio é transformar essa informação em conhecimento. O desafio é encontrar meios que auxiliem nesse processo de migração de um ensino memorístico para um ensino significativo. O desafio é educar para formar cidadãos com espírito crítico, promovendo a iniciativa, a responsabilidade e a autoconfiança. Mas por que devemos mudar a maneira que ensinamos? Nós aprendemos memorizando e repetindo informações em testes e provas e somos profissionais capazes hoje em dia. Contudo, temos de admitir que, em função da imensurabilidade da informação disponível, tornou-se impossível para o professor continuar a ser o detentor do conhecimento. O papel do professor agora é de ajudar os alunos a explorarem o conteúdo a seu alcance e se desenvolverem, construindo o seu conhecimento. É a de despertá-los para questionamentos e motivá-los a buscarem suas respostas. É o de encorajá-los a trabalharem com a informação para transformá-la em conhecimento. Mas como podemos fazer tudo isso? Existe uma técnica que encoraja o aluno a refletir, a pesquisar, a selecionar, a analisar, a elaborar o conhecimento e aprender de uma maneira significativa, uma técnica que está começando a ser muito Programa Agrinho 155 Teoria e Prática usada em escolas, universidades e até mesmo em empresas em todo o mundo. Esta técnica é chamada de mapas conceituais. OS MAPAS CONCEITUAIS E SUA ORIGEM O mapeamento conceitual é uma técnica poderosa de ensino e aprendizagem. Sua criação, em 1972 por Joseph Novak e sua equipe em Ithaca, EUA, teve como intenção mapear a construção do conhecimento de alunos sendo acompanhados em um trabalho de pesquisa que se desenvolveu ao longo de 12 anos. Esse trabalho de pesquisa consistia primeiramente no ensino de conceitos de ciências (a natureza da matéria e os tipos de energia, sua transformação e utilização) a 121 crianças de 6 a 8 anos, passando então ao acompanhamento do desenvolvimento cognitivo desse grupo de crianças “instruídas” e comparação do seu desenvolvimento cognitivo ao longo dos anos com relação a crianças que não tivessem tido esses ensinamentos. Segundo Novak, alguns dos questionamentos fundamentais que norteavam essa pesquisa eram: 1) descobrir se a criança realmente tinha limitações no seu desenvolvimento cerebral para a compreensão de conceitos abstratos, e se eles somente deveriam ser ensinados a crianças de 11 anos ou mais, como acreditava Jean Piaget; 2) investigar se com um ensino apropriado dos conceitos básicos de ciências às crianças de 6 a 8 anos de idade elas poderiam desenvolver uma compreensão capaz de influenciá-las na aprendizagem em anos posteriores; e 3) verificar se o resultado de um estudo longitudinal daria sustentação às idéias fundamentais da teoria da assimilação de Ausubel (1963) sobre o desenvolvimento cognitivo (NOVAK, 2004, p. 457). A fundamentação educacional das 28 aulas preparadas por Novak e sua equipe se apoiava no princípio do pensamento de Ausubel, 156 Programa Agrinho Teoria e Prática no qual ele propunha “O fator mais importante que influencia a aprendizagem é o que o aluno já sabe. Descubra isso e o ensine de acordo.” (AUSUBEL apud NOVAK, 2004) Quando as entrevistas com as crianças iniciaram um ano mais tarde, Novak sentiu a necessidade de criar uma técnica, que também seguisse o mesmo princípio básico, para registrar esse conhecimento ao longo do tempo. À medida que as fitas eram transcritas, observava-se que os conceitos e as proposições (dois conceitos ligados de maneira significativa) geralmente se tornavam mais relevantes, mais numerosos e com melhor qualidade. Revisitando a teoria de Ausubel sobre o desenvolvimento cognitivo, encontram-se três idéias principais que estão de acordo com as propostas de Novak e sua equipe: 1) Ausubel compreende o desenvolvimento de novos significados como uma construção sobre conceitos e proposições anteriores relevantes; 2) ele compreende a estrutura cognitiva como uma organização hierárquica, com conceitos mais gerais e inclusivos ocupando níveis mais altos da hierarquia e conceitos mais específicos e menos inclusivos partindo dos conceitos mais gerais; 3) quando a aprendizagem significativa ocorre, as ligações entre os conceitos se tornam mais explícitas, mais precisas e melhor integradas com outros conceitos e proposições. (NOVAK, 2004, p. 460) Assim, chegou-se à conclusão que o conteúdo das fitas de entrevistas deveria ser transcrito seguindo uma estrutura hierárquica de conceitos e relacionamentos entre esses conceitos, formando proposições. Essa ferramenta se desenvolveu no que hoje conhecemos como mapas conceituais. Usando essa técnica, várias páginas de entrevistas passaram a ser representadas por apenas um mapa em uma página. Além disso, pode-se observar que quando os conceitos eram aprendidos de maneira significativa, isso é, na prática, havia mais ligações cruzadas e criativas, o que não ocorria quando os conceitos eram memorizados ou aprendidos com um nível baixo de aprendizagem significativa. Programa Agrinho 157 Teoria e Prática Com o passar dos anos, ao comparar os mapas, constatou-se que eles refletiam com clareza e precisão a estrutura cognitiva do aluno naquela ocasião, como se fosse uma fotografia do conhecimento da criança naquele determinado momento. Percebeu-se também que, além de os mapas conceituais facilitarem o acompanhamento do desenvolvimento da estrutura cognitiva dos alunos, eles também eram a base do pensamento criativo e da produção de novo conhecimento. Em função dessa descoberta, Novak mudou seu programa de pesquisa: hoje em dia ele está envolvido em projetos nos quais os mapas são usados para representar o desenvolvimento da compreensão de crianças e adultos, sendo reconhecidos como uma ferramenta poderosa e confiável para representar o conhecimento (RUIZ-PRIMO & SHAVELSON, 1996; SHAVELSON & RUIZ-PRIMO, 2000; KANKKUNEN, 2001, apud NOVAK, 2004). OS MAPAS CONCEITUAIS E OUTRAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO GRÁFICA A figura 1 apresenta exemplos de representações visuais. 1. mapa mental, tradução do original, disponível em: http://activated.det.act.gov.au/learning/ word/elt/7.0_ConceptMapping.pdf A fonte dos exemplos 2, 3 e 4 está disponível em: http://www.ncrel.org/ sdrs/areas/issues/students/learning/ lr1grorg.htm. Os mapas 2 e 3 são uma tradução do original. 158 Programa Agrinho O mapeamento conceitual não é a única forma de representação visual do conhecimento. Na verdade, existem inúmeras outras maneiras de ilustrar o conhecimento como: 1) mapa mental; 2) a espinha de peixe; 3) o mapa tipo aranha; e 4) o mapa em rede, como podem ser vistos na figura a seguir: Teoria e Prática 1 2 3 4 Figura 1 Apesar de essas outras maneiras de representação gráfica também proporem uma certa hierarquia e estrutura para a visualização dos conceitos (e por isso serem muitas vezes confundidas e chamadas de mapas conceituais), elas não são mapas conceituais. Num mapa conceitual, os conceitos devem ser relacionados entre si, explicando a relação entre eles, e não ser simplesmente listados. Para estabelecer esses relacionamentos entre os conceitos, seu criador precisa refletir, pensar, ponderar, buscar as informações no texto novamente e analisar, por exemplo, se o conceito A é “decorrente” ou “gerador” do conceito B e se o conceito C deve ser ligado ao conceito A ou B etc. Para fazer essa ligação entre conceitos, que chamamos de relação significativa, o aluno precisa usar um “VERBO CONJUGADO OU LOCUÇÃO VERBAL, PALAVRA OU FRASE DE LIGAÇÃO, OU UMA PREPOSIÇÃO” que exprima de maneira significativa o relacionamento entre esses conceitos. E esse Programa Agrinho 159 Teoria e Prática é o grande diferencial dos mapas conceituais. Para alguns alunos, fazer esta relação significativa entre os conceitos é algo “difícil, complicado e leva muito tempo” (MARRIOTT, 2004, p. 147). Essa dificuldade ocorre, como nos explica Novak, pelo fato de que eles têm apenas uma compreensão superficial das relações entre os conceitos, e que são as palavras de ligação que evidenciam essas relações (NOVAK, 2003, p. 6). Mas é exatamente nesse exercício que o aluno compreende como os conceitos estão ligados e qual a sua hierarquia, e é também nesse exercício que ocorre a transformação da informação em conhecimento. Essa inicial dificuldade e “duro” reconhecimento de ter provavelmente apenas lido e entendido o texto superficialmente leva alguns alunos a experienciarem um sentimento de frustração e a oporem-se à construção do mapa conceitual. Entretanto, apesar de o professor ter que levar em consideração os diferentes estilos de aprendizagem, é importante que ele ofereça feedback construtivo, os ajude e os motive para a construção dos mapas, pois, com a prática, os alunos vão aprendendo quais as palavras de ligação mais usadas na área de estudo em questão (ciências, literatura, história) e vão sentindo mais confiança no seu trabalho. Eles passam a ler textos com mais atenção, estabelecendo relações entre os conceitos como conceitos e não linearmente como eles são apresentados no texto. Conseqüentemente, com a prática desse exercício, alguns alunos começam a estabelecer relações cruzadas, isto é, ligações horizontais (chamadas de Reconciliação Integrativa) entre os conceitos, além das ligações normais verticais (chamadas de Diferenciação Progressiva). Ao começar a relacionar conceitos entre “galhos” ou “pernas” diferentes, o aluno integra esses conceitos demonstrando criatividade e uso do conhecimento prévio, e é por esse motivo que as ligações cruzadas devem ser encorajadas. 160 Programa Agrinho Teoria e Prática A CONSTRUÇÃO DE UM MAPA CONCEITUAL A construção de um mapa conceitual é relativamente fácil. Entretanto, essa atividade envolve, além da habilidade de julgamento na seleção dos conceitos, quer numa leitura atenta de um texto, quer na exteriorização de idéias num exercício de tempestade de idéias, o uso da criatividade e do conhecimento na ligação desses conceitos. Vejamos, então, alguns procedimentos para a construção de um mapa conceitual: 1. Primeiramente, identifique o conceito principal do problema, questão ou assunto que deseja mapear. Guiado por esse conceito principal, identifique 10 a 20 conceitos que são pertinentes à questão e os liste. Algumas pessoas preferem escrever cada conceito num cartão ou pedaço de papel para facilitar a sua reorganização. Os conceitos devem ser de Ou usar “Post-It Notes” – bloco de papel com uma faixa adesiva em um dos lados. preferência apenas uma palavra, no máximo duas ou três. 2. Organize os conceitos seguindo uma hierarquia, do mais geral para o mais específico, em cima de uma folha grande de papel (A4 ou de preferência A3), desenvolvendo-os de acordo com uma lógica semântica a partir do conceito principal. Às vezes, só após algumas tentativas é possível identificar os conceitos mais inclusivos intermediários e subseqüentes. Outras vezes, chega-se à conclusão de que o conceito principal deve ser redefinido para que a hierarquia semântica tenha um fluxo mais lógico e apropriado. 3. Quando estiver satisfeito com a hierarquização dos conceitos, comece a uni-los de dois em dois por meio de uma linha a partir do conceito principal. Nessa linha deve-se escrever uma palavra de ligação (como um verbo conjugado/locução verbal, palavra/frase de ligação ou preposição) que estabeleça a relação significativa entre eles. As unidades de significado Programa Agrinho 161 Teoria e Prática formadas por CONCEITO + PALAVRA DE LIGAÇÃO + CONCEITO são chamadas de proposições; 4. Trabalhe na estrutura e hierarquia do mapa, se necessário incluindo, excluindo ou re-nomeando alguns conceitos. Esse exercício pode requerer várias tentativas e o produto final poderá sempre ser melhorado à medida que surgem novas idéias e novos conhecimentos são adquiridos. Contudo, ele reflete o pensamento e conhecimento do aluno na data em que foi criado. 5. Não se preocupe com a simetria. Entretanto, procure ramificar os galhos sempre que possível, evitando que o galho tenha mais de três níveis hierárquicos sem ramificações. 6. O fluxo normal para a leitura de um mapa é do centro para as extremidades e de cima para baixo. Quando a leitura for diferente (de baixo para cima) ou no caso de ligações cruzadas, faça uso de setas para indicar o fluxo correto (de baixo para cima ou da direita para a esquerda ou vice-versa – ou ambos). 7. Quando considerar o trabalho pronto, faça a leitura do mapa observando se as ligações entre os conceitos fazem sentido e se as proposições são verdadeiras, tomando cuidado em terminar a leitura de um galho e suas ramificações antes de passar para o galho seguinte. Se possível, procure estabelecer ligações cruzadas, isto é, ligar conceitos entre galhos e hierarquias diferentes, demonstrando sua criatividade e conhecimento. 8. Quando a elaboração do mapa é para assimilação de novo conteúdo e construção de novo conhecimento de um texto dado, escrito ou oral, o professor deve pedir ao aluno que acrescente outros cinco conceitos seus aos conceitos já mapeados, estabelecendo ligações significativas entre eles. O objetivo desse exercício é não somente promover uma maior ancoragem e integração do conhecimento novo com 162 Programa Agrinho Teoria e Prática o conhecimento prévio, mas também levar o aluno a conscientizar-se desse processo de integração. A construção de mapas conceituais promove uma mudança na maneira de estudar, e é natural que alguns alunos se sintam desconfortáveis a princípio. Quando os mapas são gerados de um texto, a leitura desse texto também passa a ser um exercício novo. O aluno deve fazer uma leitura mais atenta do texto, buscando compreendê-lo não só na sua micro-estrutura (palavras novas, verbos, preposições e sintagmas nominais), mas também na sua macro-estrutura, estabelecendo grupos semânticos e estabelecendo relações cruzadas. A leitura do texto passa a ser, assim, uma atividade diferente da que o aluno está acostumado, passa a ser uma tarefa ativa promovendo o aluno “de leitor passivo a descobridor” (PELLEY, 2004). O aluno precisa, agora, “descobrir” a mensagem do texto e revelar essa compreensão na seleção dos conceitos. No início, essa responsabilidade gera insegurança em alguns deles, que se questionam “Será que eu selecionei os conceitos certos?”, levando essa dúvida ao professor. Contudo, essa inquietação faz parte do processo de aprendizagem e crescimento pessoal, e é natural que seus primeiros mapas sejam mais simples e tendam a expandir mais para a vertical do que para a horizontal, sem ramificações interessantes. O professor, por sua vez, deve sempre encorajá-los e fazer críticas construtivas para que eles se sintam motivados a continuar seu aprendizado. A atividade de construção de mapas conceituais pode ser transformada num trabalho colaborativo entre os alunos. Após acabarem seus mapas, eles podem apresentá-los a outros dois ou três colegas e, guardando seu mapa após a apresentação, construir um mapa da equipe colaborativamente, trocando idéias sobre que conceitos incluir e como uni-los, pois, como nos diz Conlon, a “argumentação favorece o desenvolvimento da estrutura cognitiva do aluno, contribuindo para que a aprendizagem significativa aconteça” (2004, p. 164). Programa Agrinho 163 Teoria e Prática Quando os alunos têm contato com os mapas de outros colegas, eles apreciam a diversidade de criação com os mesmos dados, pois “um mapa representa o conhecimento de quem o faz num determinado instante” (MARRIOTT & TORRES, 2006, p. 11). Os mapas conceituais também são “instrumento(s) dinâmico(s)” (MOREIRA, 1997, p. 8), e à medida que o aluno desenvolve sua compreensão e o conhecimento sobre o assunto que está sendo trabalhado (e se familiariza com a técnica de construção dos mapas, aprende a fazer uma leitura mais atenta de um texto e exercita como expor suas idéias com maior clareza), os mapas devem ser revisitados e re-trabalhados para incorporar os novos conceitos. Vejamos, então, o que é um mapa conceitual. A seguir temos o mapa elaborado por uma criança de oito anos de idade que partiu de uma tempestade de idéias sobre “Como fazer um cartão de aniversário”: Mapa 1 Esse mapa elaborado por uma criança de 8 anos, encontra-se disponível em: <http://skat.ihmc.us:80/servlet/ SBReadResourceServlet?rid= 1147992019343_689654792_ 4389&partName=htmltext>. Como podemos observar nesse mapa a idéia principal “Como fazer um cartão de Aniversário” encontra-se acima e no centro do mapa. Os outros conceitos “envelope”, “folha de papel A4”, “lápis”, “canetinha” etc., foram organizados hierarquicamente a partir dele, gerando galhos 164 Programa Agrinho Teoria e Prática (ou pernas), e foram ligados pelos verbos/locução verbal “precisa de”, “precisa escrever” e “precisa fazer”. Apenas o galho iniciado pelo conceito “folha de papel A4” possui bifurcação. Os demais são galhos simples. Entretanto, apesar de serem galhos simples, eles possuem ligações cruzadas – indicada pelas linhas pontilhas – entre “nome do aniversariante / no / envelope”, “desenho / usando / lápis / canetinha / decoração”, demonstrando criatividade e reflexão após a construção do mapa. As setas indicam um fluxo contrário do fluxo normal (que é de cima para baixo ou da esquerda para a direita) sendo que o conceito “cartão” foi ligado a três galhos. A leitura do mapa é feita a partir do título e, apesar da maneira de exibição sugerir uma ordem de leitura do mapa (“precisa de”, “precisa escrever”, “precisa fazer”) não existe uma maneira “fixa” ou “correta” de lê-lo. Deve-se apenas tomar o cuidado de ler cada galho (e suas ligações cruzadas) até o final antes de passar-se para a próxima ramificação. Em sala de aula, sempre que possível, a leitura deve ser feita em voz alta pelo seu criador, que irá verbalizar esse conhecimento e decidir sobre a ordem melhor de apresentá-lo. Algumas vezes, conceitos importantes não são incluídos num mapa. Quando isso acontece, os motivos de seu criador podem ser: 1) não ter considerado a informação importante ou tê-la julgado redundante por já dominá-la (ou não); 2) não ter compreendido tal conceito/informação; ou 3) por pressa, cansaço e até mesmo dificuldade em encontrar a palavra de ligação correta para ligá-la a um conceito, pois, como vimos anteriormente, as palavras/frases de ligação revelam a compreensão de como esses conceitos estão relacionados (MARRIOTT & TORRES, 2006). É importante que na avaliação do mapa o professor questione o aluno sobre a razão da não inclusão de conceitos-chave para diagnosticar com mais precisão a compreensão e as necessidades do aluno. Programa Agrinho 165 Teoria e Prática O USO DOS MAPAS CONCEITUAIS EM SALA DE AULA Podemos resumir os objetivos de construção dos mapas conceituais pelos alunos em sala de aula em basicamente quatro: 1. revelar o conhecimento prévio do aluno (mediante a técnica de tempestade de idéias [brainstorming]) para desenvolver um módulo ou tópico; 2. resumir conteúdos e fazer anotações (de dados externos como um texto escrito ou exposições orais em aulas/ seminários / apresentações); 3. revisar e estudar a matéria; e 4. avaliar. Os alunos, individualmente ou colaborativamente, podem fazer mapas para planejar pesquisas e projetos, preparar apresentações e organizar a informação em categorias significativas, revisando e estudando a matéria, condensando um texto ou várias páginas de um livro num resumo sucinto das idéias principais do autor. Essas atividades incentivam o pensamento crítico e criativo, reforçam a compreensão, ajudam a identificar conceitos mal compreendidos e estimulam o desenvolvimento lingüístico e o das habilidades de memória de longo prazo. Elas levam o aluno a pensar sobre o conteúdo na sua macro e microestruturas, melhorando as condições de aprendizagem e, quando desenvolvidos em grupos, dando apoio à colaboração e à cooperação (COFFEY et all., apud NOVAK & CAÑAS, 2004, ZEILIK, 2005, MARRIOTT, 2004). Os mapas conceituais também podem ser usados por professores, cientistas, administradores e profissionais. Um professor, supervisor/ coordenador de escola pode construir um mapa conceitual para: 166 Programa Agrinho Teoria e Prática 1. ilustrar o conteúdo desenvolvido em apenas uma aula; 2. refletir alguns conteúdos de uma determinada disciplina; 3. representar o conteúdo programático de uma disciplina (proporcionando uma visão geral de todos os assuntos que serão/foram trabalhados); e 4. expor o currículo escolar (revelando a seqüência dos conteúdos e como eles são desenvolvidos e interligados). Essa prática por professores, supervisores/coordenadores ajuda os alunos a ver um “ensino mais transparente” (NOVAK, 2003) e pode revelar (principalmente no caso do mapeamento de currículos escolares) em que pontos existem redundâncias e omissões e em quais deles é possível desenvolver projetos transversais. Na figura abaixo, temos um exemplo de mapeamento de currículo desenvolvido para o curso de Marketing / Comprehensive Marketing, elaborado pelo College of Business e publicado no IHCM Public Maps: Esse mapa encontra-se disponível em: <http://skat.ihmc.us:80/servlet/ SBReadResourceServlet?rid= 1067378160928_902780380_1537&part Name=htmltext>. Mapa 2 Programa Agrinho 167 Teoria e Prática Esse mapa revela a hierarquia das disciplinas, isto é, que matérias devem ser feitas por primeiro por serem pré-requisitos de outras disciplinas. Ele faz uso apenas da frase de ligação “é pré-requisito para” entre os conceitos, apesar de os galhos terem várias bifurcações e apresentarem várias ligações cruzadas. Alunos do ensino fundamental, médio e até mesmo universitário podem ser introduzidos na construção de mapas conceituais de uma maneira simples e prática com a técnica de tempestade de idéias. Após escolher um tema de acordo com a grade curricular de seus alunos e que já tenha sido estudado, como, por exemplo, “o nosso planeta” (ou poderia ser “o corpo humano”, “a História Mundial”, ou até mesmo “reações químicas” ou “equação diferencial”), o professor pode pedir para os alunos: 1. Selecionarem o conceito principal e mais inclusor a ser mapeado, que já seja conhecido por eles (por exemplo: “hidrosfera”) a partir do tema geral; 2. Listarem os 10 primeiros conceitos que lhes vierem à mente que se associem a esse conceito principal (se tomarmos, por exemplo, o conceito principal “hidrosfera”, podemos ter: “mares”, “lagos”, “rios”, “águas continentais”, “águas oceânicas”, “nascente”, “curso”, “afluentes”, “ondas”, “gêiseres”), e desenharem um retângulo em volta de todos os outros conceitos; 3. Agruparem os conceitos de acordo com os subtemas, de uma maneira que faça sentido para eles. 4. Organizarem os conceitos do “mais geral e inclusivo” ao “menos geral e inclusivo”, ou “do mais importante” ao “menos importante”. O conceito “mais geral” ou “importante” de todos deve ser colocado a 1/3 do topo ou no centro de uma folha A4 (ou A3) colocada no sentido horizontal. Neste estágio inicial, os alunos devem usar papel e lápis ou Post-it Notes; 168 Programa Agrinho Teoria e Prática 5. Conectarem os conceitos partindo do conceito principal (um par de cada vez) por uma linha na qual dever ser expressa a relação entre eles. Por exemplo, entre os conceitos “a hidrosfera”, “águas continentais” e “águas oceânicas”, podemos estabelecer uma relação significativa usando a palavra de ligação “é dividida em”; num nível mais abaixo na hierarquia, podemos ligar os conceitos “rios”, “lagos” e “gêiseres” ao conceito “águas continentais” com a palavra de ligação “incluem”. Nesse estágio, o mapa conceitual pode ser assim representado: Mapa 3 6. Dê tempo suficiente aos alunos para que eles continuem com esse procedimento até que consigam expressar seus pensamentos e todos os conceitos sejam relacionados significativamente entre si numa ordem hierárquica, desde o conceito principal. Encoraje a inclusão de outros conceitos à medida que eles vão lembrando, para que seus mapas sejam únicos e significativos para eles. Dê ênfase especial às ramificações, aos vários níveis de hierarquia, e ligações cruzadas entre conceitos em áreas diferentes do mapa. Programa Agrinho 169 Teoria e Prática Lembre-os que as caixas devem conter até três palavras, de preferência apenas uma. Enfatize que não há problema se o mapa a princípio ficar um pouco confuso, e que ele pode ser refeito quantas vezes eles quiserem; 7. Ande pela sala enquanto os alunos constroem seus mapas. Ofereça apoio, mas não os direcione. Lembre os alunos que um mapa conceitual é uma representação da compreensão de quem o cria, mas que, entretanto, as ligações do mapa devem estar cientificamente corretas. Lembre-os também que existem várias maneiras de organizar e representar o que eles sabem. Encoraje a criatividade e dê ênfase ao fato de que não existe apenas “uma” resposta “correta”; 8. Coloque os alunos em grupos de três para que possam apresentar seus mapas oralmente para os colegas e selecione alguns alunos para compartilhar seus mapas com a sala e lê-los em voz alta. Chame a atenção para ligações apropriadas entre conceitos e para a diversidade e criatividade na criação dos mapas. Continuando essa atividade, na aula seguinte o professor pode apresentar um outro conceito importante que os alunos já tenham estudado (por exemplo: “vegetação”, “relevo e solo”, “clima”) e pedir para que eles construam um novo mapa sobre esse tópico. Ao invés de trabalharem colaborativamente na construção do mapa ou de apresentarem seus mapas aos colegas, eles podem ser recolhidos para serem avaliados pelo professor (que deve dar sugestões de como eles podem ser melhorados – avaliação formativa). Os mapas, então, devem ser entregues aos alunos que devem repensar algumas de suas idéias. Nas aulas subseqüentes, à medida que os alunos forem 170 Programa Agrinho Teoria e Prática expandindo seu conhecimento, os mapas devem ser retomados para que sejam ampliados e reformulados, incorporando esses novos conhecimentos, podendo ser usado lápis de cor diferente a cada dia/ aula em que o mapa é editado. Por esse procedimento, os alunos podem observar o desenvolvimento de suas idéias ao longo do tempo. Os alunos devem ser encorajados a adicionar, excluir, reorganizar a informação ou até mesmo começar seus mapas novamente se e Sugestões elaboradas e adaptadas a partir das idéias de ZEILIK, 2005. quando acharem necessário. Como alternativa à construção do mapa baseado em uma lista de conceitos, Novak (2004, p. 464) sugere sua construção de uma lista de proposições (CONCEITO + PALAVRA DE LIGAÇÃO + CONCEITO) básicas fornecidas pelo professor. Novak sugere pedir ao aluno que acrescente 20 conceitos próprios à lista fornecida pelo professor, para promover amplamente a ancoragem e a aprendizagem significativa. Para criar esse mapa, os alunos podem escolher um “colega de trabalho”, tanto para trocar idéias sobre os 20 conceitos a acrescentar quanto para beneficiar-se do compartilhamento de informações e correções, pois, como constatado por Vygotsky em seus estudos, o uso da linguagem no convívio social pode melhorar significativamente o desenvolvimento cognitivo dos alunos (NOVAK, 2004, p. 464). Para Novak, o aprendizado significativo apenas ocorre se for implementada uma metodologia de ensino por questionamento ou por descoberta (2004, p. 463). Ele sugere propor perguntas aos alunos que sirvam de base a construção do mapa como “O que é uma planta?” ou “O que é a Terra?”. Tendo como ponto de partida esse questionamento, Novak propõe o oferecimento de conceitos básicos (como vemos no Mapa 4) para que o aluno desenvolva o tema. Tradução própria. Original disponível em <http://cursa.ihmc.us:80/servlet/ SBReadResourceServlet?rid=1 089385846238_427903340_ 6495&partName=htmltext>. Programa Agrinho 171 Teoria e Prática Mapa 4 Outros exemplos encontram-se disponíveis na pasta The world of Science / Gr 2 Exciting world of science / publicados no servidor IHMC Public Maps (2), de livre acesso ao ser instalado o software CmapTools. Esse mapa, chamado de “expert skeleton map”, é um dos muitos sugeridos por ele e sua equipe no livro “The World of Science” no qual ele está propondo um Novo Modelo de Educação. Nesse projeto piloto, que já está em andamento na Itália, os alunos partem desses mapas “esqueletos” e trabalham com o software CmapTools fazendo pesquisa na Internet em busca de recursos e idéias adequadas. (NOVAK & CAÑAS, 2004, p. 474) Disponível em <http://ctools.msu.edu/ c t o o l s / a s s i g n m e n t _ v i e w. h t m l ? assignment=ISB202_2>. Outro pesquisador, o Dr. Ebert May, da Universidade Estadual de Michigan, em seus trabalhos sugere algumas atividades como exercício de compreensão do aprendizado: Atividades: 1. Construir um mapa conceitual partindo de uma lista de conceitos e de palavras de ligação sugeridas; 2. Construir um mapa conceitual partindo da lista fornecida, incluindo no máximo dois (ou três) conceitos; 3. Dividir os alunos em dois grupos, branco e verde. Os alunos do grupo branco trabalham individualmente na construção de um mapa conceitual acompanhando os conceitos 172 Programa Agrinho Teoria e Prática propostos enquanto os alunos do grupo verde, que também trabalham individualmente, usam os conceitos propostos, para responder exercícios numa folha de papel. Especificamente em relação ao tópico 3, sugerimos que, depois de feito o mapa/ exercício, como lição de casa, os alunos trabalhem em sala de aula em duplas, organizados com um aluno de cada grupo, para elaborarem um segundo mapa baseado nos trabalhos iniciais. Esse mapa deve refletir as idéias dos dois alunos e deverá ser entregue ao professor.) Uma outra atividade mais elaborada, proposta por Dr. May, pode ser vista no quadro abaixo (MAY apud MARRIOTT & TORRES, 2006): Quadro 1 Nessa atividade, o mapa conceitual, além de ser usado para responder a um problema incluindo conceitos pré-selecionados, é Programa Agrinho 173 Teoria e Prática também utilizado como um recurso para orientar a escrita. As proposições relevantes do mapa do aluno devem ser incorporadas e aprofundadas pelo professor. As opções e idéias de como usar os mapas conceituais para aprender e ensinar são várias. O uso e a prática irão revelar que atividade deve ser implementada, em que situação e com que grupo de alunos. Apesar de vários exercícios partirem muitas vezes do mesmo conjunto de conceitos ou proposições, o mapa final é sempre diferente um do outro. Sua mensagem é única, pois reflete o conhecimento (adquirido e (ou) em processo de aquisição) e o ponto de vista de seu criador. CMAPTOOLS E A CONSTRUÇÃO DE MAPAS CONCEITUAIS A construção de mapas conceituais pode ser feita sem a utilização de computador, com figuras, papel, lápis e “Post-it Notes”, e com a utilização do computador do “autoformas” do processador de palavras, softwares ou programas dedicados online para criar mapas conceituais. Disponível em <http://cmap.ihmc.us/>.. Disponível em <http://www.inspiration.com/>. Disponível em <http://ctools.msu.edu/ctools/ index.html>. Disponível em <http://www.visimap.com/>. Os programas mais conhecidos são o CmapTools, desenvolvido pelo Institute for Human and Machine Cognition (IHMC), associado à West Florida University, o software comercial Inspiration para adultos e Kidspiration para crianças. Outros menos conhecidos são o C-TOOLS, da Universidade Estadual de Michigan e o Visimap, um produto comercial indicado para profissionais. Para Catherine McLoughlin, da Universidade de Edith Cowan em Perth, Austrália, quando usamos a tecnologia para construir mapas visuais falamos em Telepedagogia. Na Telepedagogia, os processos de pensamento e comunicação são levados a um patamar mais avançado, promovendo níveis de cognição mais elevados (McLOUGHLIN, 1997). Compartilhamos seu pensamento, pois os vários recursos tecnológicos incentivam a criatividade e a pesquisa, propiciando e facilitando a 174 Programa Agrinho Teoria e Prática inclusão de anexos, a colaboração, o compartilhamento do conhecimento e a publicação do trabalho. O programa CmapTools vem sendo implementado pelo IHMC há doze anos (NOVAK & CAÑAS, 2004). Ele oferece download gratuito para fins pedagógicos, podendo ser utilizado livremente por escolas, universidades e entidades sem fins lucrativos. Sua interface é simples e fácil de usar tanto por crianças quanto por adultos nos mais variados domínios do conhecimento em vários países. A cada nova versão do software O CmapTools mais recursos são criados e disponibilizados tendo por base os estudos de Novak e de pesquisadores comprometidos com os princípios da Aprendizagem Significativa e da construção do conhecimento. Esses recursos tecnológicos promovem trabalhos colaborativos, bem como o Ensino Mediado por Computador (CML – Computer Mediated Learning) e o Ensino a Distância, pois o mapa pode ser construído, modificado e compartilhado por todos online. O mapa a seguir representa alguns dos recursos oferecidos pelo software CmapTools: Publicado como página da Internet em <http://skat.ihmc.us:80/servlet/ SBReadResourceServlet?rid=1147999267968_1 963578750_5917&partName=htmltext>. Mapa 5 Programa Agrinho 175 Teoria e Prática Podemos observar nesse mapa publicado como página da Web vários dos recursos que CmapTools oferece. É possível implementar desde recursos básicos (como modificar a aparência do mapa e da escrita) até os mais sofisticados (como fazer pesquisa de conceitos nos seus próprios mapas, em mapas publicados e na Internet). Em um único conceito podem ser anexados até 13 recursos, que são representados por um ícone distinto como: Figura 2 Vejamos um mapa onde foram implementados alguns dos recursos acima: Mapa 6 Observa-se que foram anexados documentos aos conceitos “carta de pedido de emprego”, “a empresa” e “relatório anual”; foi anexado um outro mapa ao conceito “sua carreira”; e foi acrescentada uma 176 Programa Agrinho Teoria e Prática imagem ao conceito “a empresa”. O recurso “Anotação” (agregado ao conceito “entrevistador”) possibilita a inserção de notas explicativas, observações ou lembretes, tanto por parte do professor quanto dos colegas, promovendo a colaboração entre os participantes. O CmapTools também oferece um recurso para acompanhamento da construção de um mapa, chamado Gravação, que é muito útil para ser usado em cursos não-presenciais ou em atividades extraclasse. Esse recurso possibilita ao professor observar a adição dos conceitos e da construção das proposições ao clicar no botão playback do recurso chamado _Gravação/playback_. Podemos observar esse recurso no mapa a seguir: Este portal encontra-se disponível em <http://skat.ihmc.us:80/servlet/ SBReadResourceServlet?rid= 1147701984609_1776465432_4948& partName=htmltext>. Mapa 7 No painel de gravação aberto, podemos ver que essa foto foi tirada na etapa 25, do total de 34 etapas, na fase final de construção do mapa. Podemos também observar que é possível: pausar a gravação; iniciar, pausar e parar a apresentação; diminuir a velocidade de apresentação das etapas (selecionada para a cada 1 segundo [Set Delay 1 sec]); avançar Programa Agrinho 177 Teoria e Prática ou regredir uma etapa de cada vez ou todas as etapas de uma vez só; avançar para uma determinada etapa; e exportar os resultados para um arquivo de texto. O nome do colaborador de cada etapa é exibido no mapa, abaixo do conceito implementado. Ao ativar esse recurso em trabalhos colaborativos online, o professor fica ciente da contribuição de cada participante na construção do mapa. O nome do colaborador, o exato momento da colaboração e o tempo total dedicado à construção do mapa são registrados no documento gerado ao clicar Export to text file. Um outro recurso interessante é o de Sugestões. Uma vez já iniciado o mapa, o CmapTools pode pesquisar e oferecer uma lista de sugestões de conceitos a serem incluídos ao mapa, estimulando a pesquisa e a construção do conhecimento. O recurso da “sopa de conhecimento” permite ao participante contribuir com proposições e idéias aos mapas de outros colegas para que eles “se sirvam” do conhecimento. No recurso “comparar mapas”, podemos comparar os conceitos, as ligações ou as proposições de dois ou mais alunos, em diferentes mapas. Esse recurso é muito útil em exercícios e avaliações. Algumas práticas sugerem a comparação do mapa final do aluno com o mapa final do professor. Acreditamos, como muitos outros educadores, que oferecer o mapa do professor para comparação é desencorajar a criatividade do aluno e continuar com a metodologia memorística na qual o professor é o detentor do conhecimento. Os alunos devem ser estimulados a construir seu próprio conhecimento e o professor não deve ser tentado levá-los a memorizar algo “pronto” e “perfeito”. Em um Fórum de Discussões (Discussion Threads), os alunos têm a oportunidade de refletir e discutir sobre um tópico assincronamente, isto é, em tempos distintos. Adicionamos um Fórum de Discussões ao conceito “anotações” no mapa a seguir, e a pergunta para discussão: “Qual a sua opinião a respeito de escrever, sublinhar e fazer anotações num livro?”: 178 Programa Agrinho Teoria e Prática Mapa 8 Já por outro lado, na Colaboração Síncrona (em tempo real), os alunos podem construir e editar um mapa simultaneamente, e inclusive trocar idéias por escrito através de um chat. Outro recurso que se torna possível pelo uso da tecnologia é o de “pesquisa na WEB” sobre conceitos no domínio/assunto específico do mapa que está sendo construído. Esse recurso permite que o software ajude a realizar uma pesquisa mais direcionada, “detectando”, por exemplo, que num mapa sobre frutas, ao pesquisar sobre o conceito “manga” o aluno estará buscando informações sobre a “fruta” manga, e não sobre “manga da roupa”, e apresenta como resultado da pesquisa apenas os links relacionados à fruta. Como podemos ver, o software CmapTools é uma ferramenta de aprendizagem muito versátil. Além de oferecer recursos básicos (como o de formatação e inclusão de cores), ele possibilita o uso de recursos bem mais sofisticados (como a comparação de mapas e a gravação de sua construção online). Seus recursos podem ser implementados num simples “arraste e solte” (como no caso de anexar documentos ou sua publicação no servidor do IHMC), ao clicar no ícone ao lado do mapa, Programa Agrinho 179 Teoria e Prática ou selecionando-se um item do menu principal. Para que esses recursos mencionados possam ser ativados, os participantes devem estar conectados à Internet e seu mapa já ter sido salvo e estar publicado pelo servidor da IHMC. Em Porto Alegre, professores e pesquisadores do Laboratório de Estudos em Educação a Distância do Colégio de Aplicação da Este portal encontra-se disponível no site <http://mapasconceituais.cap.ufrgs.br/>. UFRGS ([email protected]) inauguraram recentemente o Portal MCE – Mapas Conceituais na Educação. Os interessados podem conhecer e discutir o uso dos mapas conceituais na educação, encontrar atividades, cursos e produções relacionadas, participar de uma Lista de Discussão, criar Fóruns de Discussão temáticos, compor comunidades e registrar suas atividades no Ambiente de Criação e Edição de Atividades (AÇAÍ). Para conhecer mais sobre o uso do CmapTools visite o site <http://penta2. ufrgs.br/edutools/tutcmaps/ tutindicecmap.htm>. A UFRGS também disponibiliza um tutorial com noções básicas para o uso do CmapTools. Tão importante quanto a construção e o uso dos mapas conceituais é a sua avaliação. O aluno deve saber o que é esperado dele ao construir um mapa e como o professor irá oferecer-lhe um feedback construtivo. Vejamos, então, alguns aspectos a serem considerados ao avaliarmos um mapa conceitual. AVALIAÇÃO Cada instituição de ensino tem a sua própria forma de avaliar, o que leva em consideração questões como tamanho das turmas, restrições de tempo e metodologia desenvolvida na instituição. Algumas instituições empregam: 1) uma avaliação mais formativa ou qualitativa, que tem como objetivo produzir informação que ajude os alunos a melhorar sua aprendizagem; 2) outras preferem uma avaliação mais somativa ou quantitativa, aplicando-a geralmente no final do mês/bimestre/semestre, na qual o aluno deve demonstrar o que aprendeu com o objetivo de, por exemplo, conseguir nota para 180 Programa Agrinho Teoria e Prática passar de ano e receber créditos acadêmicos (CONLON, 2004, p. 164); 3) outras ainda oscilam entre essas duas formas durante o ano letivo. Novak nos diz que os mapas conceituais só devem ser usados para avaliar se já tiverem sido usados para ensinar (2003). Isto é, os exercícios avaliativos devem propor atividades já familiares aos alunos, desenvolvidas em sala de aula. Eles não devem apresentar nada de novo para que os alunos possam ocupar-se em produzir conhecimento ao invés de empenharem seu tempo na compreensão da atividade. Durante o curso dos trabalhos, o professor poderá ter introduzido atividades embasadas mais na avaliação formativa e qualitativa ou exercícios centrados mais na avaliação somativa e quantitativa. Contudo, cuidado deve ser tomado para não usar mapas conceituais apenas para avaliação somativa, pois esse tipo de avaliação deixa de explorar os benefícios cognitivos desse recurso pedagógico e os de um feedback construtivo, bem como pode gerar frustração no aluno, enfraquecendo assim “sua confiança no mapeamento conceitual”. (COLON, 2004, p. 159) Os exercícios avaliativos podem ser desenvolvidos como um trabalho individual ou em grupo de dois ou três alunos, pois a troca que ocorre entre eles pode ajudar a corrigir idéias errôneas e promover o aprendizado significativo, já que os alunos estão muito provavelmente no mesmo nível de compreensão, muito mais que o professor e o aluno (NOVAK, 2004). Michael Zeilik (2005), do Departamento de Física e Astronomia da Universidade do Novo México, sugere alguns exercícios de “preencher espaços” usando os mapas conceituais. Vejamos os exemplos sugeridos: 1. Preencher os espaços no mapa conceitual: O professor constrói um mapa conceitual e retira todos os conceitos, mantendo as palavras de ligação. Em seguida pede aos alunos que preencham os conceitos de uma maneira que faça sentido. Segundo Zeilik, esta prática se desenvolve melhor em grupos pequenos e é uma boa maneira de apresentar-se um tópico novo. Programa Agrinho 181 Teoria e Prática 2. Selecionar os conceitos e preencher os espaços no mapa conceitual: O professor cria um mapa conceitual e retira 1/3 dos conceitos do mapa. Os conceitos removidos são enumerados (A, B, C,...) e os espaços em branco também são enumerados (1., 2., 3.,...) para facilitar a resposta. É interessante selecionar conceitos que estão em níveis diferentes de hierarquia, mas Este mapa foi traduzido do original que encontra-se disponível no site < h t t p : / / w w w. f l a g u i d e . o r g / c a t / minutepapers/conmap4.php>. que tenham no mapa o conceito anterior e o posterior, como o ilustrado no mapa a seguir: Mapa 9 Esses exercícios propostos por Zeilik são atividades mais fechadas que, apesar de poderem ser avaliadas e corrigidas facilmente pelo professor, também levam o aluno a refletir e construir seu conhecimento. Outras três atividades propostas por Zeilik são um pouco mais complexas: 1. Mapa conceitual de termos selecionados: O professor oferece uma lista de 10 a 20 conceitos e pede aos alunos que construam seus mapas usando apenas aqueles conceitos. O enfoque aqui é no uso das palavras de ligação. 182 Programa Agrinho Teoria e Prática 2. Mapa conceitual de termos semeados ou micromapping (Trowbridge and Wandersee, 1996): O professor fornece alguns conceitos (de 5 a 10) e convida os alunos a construírem um mapa usando esses conceitos propostos por eles. 3. Mapa conceitual de escolha guiada: Nesse exercício, o professor apresenta uma lista de cerca de 20 conceitos dos quais os alunos devem selecionar 10 para construir seus mapas. O professor deve comentar sobre os conceitos que apareceram e os que desapareceram do mapa, ressaltando essa reorganização da estrutura de conhecimento dos alunos. Esses exercícios propostos acima já requerem uma avaliação mais cautelosa, pois as respostas são muito mais abertas e o desafio para a sua confecção é bem maior para os alunos. O Ebert May, da Universidade Estadual de Michigan, sugere que seja utilizada a A sujestão de Ebert May encontra-se disponível em <http://ctools.msu.edu/ ctools/index.html>. seguinte atividade para a avaliação: Mapa conceitual – avaliação 1. Construa individualmente um mapa tendo por base o texto abaixo usando Post-it notes de tamanho grande e pequeno. Ilustre a hierarquia e as ligações entre os conceitos do texto e os conceitos listados fornecidos (8 conceitos). Se precisar, pode adicionar até 3 conceitos. 2. Trabalhe com um colega. Compare os mapas e discuta. 3. Construa online no computador um mapa revisado juntos. 4. Entregue ao professor os mapas individuais e o mapa construído colaborativamente, grampeados juntos, com o trabalho em pares em cima. Quadro 2 Programa Agrinho 183 Teoria e Prática Nessa avaliação, os alunos trabalham tanto individualmente quanto colaborativamente em pares e constroem dois mapas, um usando papel e lápis e outro, software online. May oferece ainda um guia geral para avaliar seus alunos que leva em consideração os seguintes itens: 1. se a hierarquia é balanceada entre conceitos mais gerais e os mais específicos; 2. se os conceitos usados são específicos ou vagos; 3. se as proposições estão corretas; e 4. se existe ligações cruzadas entre diferentes estruturas hierárquicas. Quadro 3 As atividades de Zeilik e May apresentadas anteriormente são exemplos de atividades abertas, que desafiam o conhecimento e a criatividade dos alunos. Sendo assim, o critério para sua avaliação não pode ser simplesmente o certo ou errado. Na avaliação desses mapas, o que deve ser levado em consideração é como o aluno expressa relações, se ele constrói proposições cientificamente corretas, como as proposições são construídas, se elas refletem como ele compreende o conteúdo em questão, naquele momento específico, e se o associam ao seu conhecimento prévio, pois é fundamental que o mapa dê “evidências de que o aluno está aprendendo significativamente o conteúdo” (MOREIRA, 1997, p. 7). Para sabermos como avaliar um mapa conceitual mais aberto e de forma mais formativa, primeiramente precisamos saber quais são as características de um bom mapa. Segundo Novak, um bom mapa é aquele que apresenta uma estrutura hierárquica, ligações entre conceitos corretas e concisas, e ligações cruzadas relacionando conceitos distantes (representando lances criativos por parte do criador do mapa) 184 Programa Agrinho Teoria e Prática (2003). Novak e Gowin (1984) recomendam uma avaliação levando em consideração quatro critérios: 1. proposições = 1 ponto para cada proposição válida 2. hierarquia = 5 pontos para cada nível válido de hierarquia 3. ligações cruzadas = 10 pontos para cada ligação cruzada que seja válida e significativa e 2 pontos para cada ligação cruzada que seja válida mas que não represente uma síntese entre os conceitos / proposições relacionadas 4. exemplos = 1 ponto para cada exemplo válido no mapa Quadro 4 Realmente, conceitos, proposições, hierarquia e ligações cruzadas são aspectos-chave a serem avaliados num mapa conceitual. Entretanto, acreditamos que devemos destacar a criatividade mais especificamente, além de oferecer um espaço tanto para comentários do professor quanto para uma auto-avaliação do aluno. Propomos, então, o seguinte quadro: Quadro 5 Programa Agrinho 185 Teoria e Prática Quadro elaborado a partir do proposto pelo Departamento de Educação Continuada da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado da Dakota do Sul, disponível em <http://learn.sdstate. edu/nursing/ConceptMap.html>. O quadro sugerido procura combinar e satisfazer a necessidade dos dois tipos de avaliação, a formativa e a somativa. Os comentários do professor devem ser construtivos, sugerir alternativas e questionar o aluno. Na auto-avaliação, o aluno deve procurar refletir sobre o processo de construção de seu mapa, levando em consideração os comentários do professor, desenvolvendo sua meta-cognição. Este quadro deve ser apresentado na primeira vez em que o aluno construir um mapa conceitual para que ele se familiarize com esse sistema de avaliação e saiba o que é esperado dele e como o professor irá ajudá-lo na construção de seu mapa conceitual. Esse compartilhamento de responsabilidade no processo de aprendizagem contribui com a mudança de foco de um ensino centrado no professor, pedagogia da transmissão, para um centrado no aluno, pedagogia construtivista, e colabora substancialmente para o desenvolvimento da autonomia e autoconfiança. Para muitos pesquisadores, o processo de construção de um mapa conceitual é mais importante que o produto, pois ele envolve o desenvolvimento do senso crítico e da criatividade, uma reflexão e tomada de consciência sobre o que realmente se sabe ou se compreendeu, e a busca de uma maneira sintetizada de expressar esse conhecimento. Por isso, o professor deve ser paciencioso na sua implementação, tanto com os alunos que se acostumam a uma nova maneira de pensar e externar o conhecimento, quanto com seus colegas de trabalho que podem não ver muito sentido no uso dessa técnica. Ele deve ter a confiança de estar oferecendo uma ferramenta de ensino/aprendizagem poderosa, consolidada mundialmente por pesquisas feitas em todos os níveis educacionais que, com seu uso apropriado e embasado nos princípios teóricos, poderá trazer aos seus alunos muitos benefícios tanto em sua vida profissional quanto em sua vida pessoal. 186 Programa Agrinho Teoria e Prática REFERÊNCIAS AUSUBEL, D. P. Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1968. COLON, Tom. ‘But is our Concept Map any good?’: Classroom experiences with the Reasonable Fallible Analyser. In: A. J. Cañas, J. D. Novak & F. M. Gonzáles (Eds.), Concept Maps: Theory, Methodology, Technology. Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping (Vol. I). Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2004. CmapTools, Institute for Human and Machine Cognition (IHMC). West Florida University. Disponível em <http://cmap.ihmc.us/>. Acessado em 26.10.2003. MARRIOTT, Rita. Do LOLA – Laboratório On-line de Aprendizagem – ao LAPLI – Laboratório de Aprendizagem de Línguas: uma proposta metodológica para o ensino semi-presencial em ambiente virtual. Dissertação de Mestrado, PUCPR, Curitiba, 2004. MARRIOTT, Rita de Cássia Veiga e TORRES, Patrícia Lupion. Tecnologias educacionais e educação ambiental : uso de mapas conceituais no ensino e na aprendizagem. Curitiba: FAEP, 2006. 60 p. ISBN 85-98064-04-1 McLOUGHLIN, Catherine. Visual Thinking and Telepedagogy. ASCILITE – The Australian Society for Computers in Learning in Tertiary Education, 1997. Disponível em <http://www.ascilite.org.au/conferences/perth97/papers/ Mcloughlin/Mcloughlin.html>. Acessado em 23.08.2003 . MOREIRA, Marco Antonio. Mapas Conceituais e Aprendizagem Significativa. 1997. Disponível em <http://www.if.ufrgs.br/~moreira/mapasport.pdf>. Acessado em 04.02.2005. NOVAK, Joseph D. The Theory Underlying Concept Maps and How To Construct Them. Cornell University, 2003. Disponível em <http://cmap.coginst.uwf.edu/info/>. Acessado em 20.08.2003. NOVAK, Joseph. A Science Education Research Program that led to the development of the Concept Mapping tool and a New Model for Education. In: A. J. Cañas, J. D. Novak & F. M. Gonzáles (Eds.), Concept Maps: Theory, Methodology, Technology. Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping (Vol. I). Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2004. NOVAK, Joseph & CAÑAS, Alberto. Building on New Constructivist Ideas and Cmaptools to create a New Model for Education. In A. J. Cañas, J. D. Novak & F. M. Gonzáles (Eds.), Concept Maps: Theory, Methodology, Technology. Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping (Vol. I). Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2004. Programa Agrinho 187 Teoria e Prática NOVAK, J. D. & GOWIN, D. B. Learning How to Learn. New York: Cambridge University Press, 1984 PELLEY, John W., Concept Mapping: A Tool for both Sensing and Intuitive Learning Styles. School of Medicine, Health Science Center, Texas Tech University. Disponível em <http://www.ttuhsc.edu/SOM/Success/ Concept%20Mapping%20for%20types.pdf>. Acessado em 10.02.2004. TORRES, Patrícia & MARRIOTT, Rita. The Contributions of Concept Maps to LOLA – The On-line Learning Lab. In: A. J. Cañas, J. D. Novak & F. M. Gonzáles (Eds.), Concept Maps: Theory, Methodology, Technology. Proceedings of the First International Conference on Concept Mapping (Vol. I). Pamplona: Universidad Pública de Navarra, 2004. ZEILIK, Michael. Classroom Assessment Techniques: Concept Mapping. Disponível em <http://www.flaguide.org/cat/minutepapers/conmap1.php>. Acessado em 12.02.2005. 188 Programa Agrinho Conferindo idéias Teoria as e Prática Práticas Pedagógicas e Tecnologias Digitais SANTOS, Edméia e ALVES, Lynn. Práticas Pedagógicas e Tecnologias Digitais. Rio de Janeiro: E-papers, 2006. O livro apresenta uma coletânea de textos de diversos autores nacionais que discutem práticas pedagógicas e tecnologias digitais. Reune “reflexões que ampliam e aprofundam práticas e estudos sobre o uso das tecnologias digitais como instrumentos culturais de aprendizagem no contexto intencional das práticas pedagógicas.” Está estruturado em duas parte sendo a primeira intitulada “Fundamentos Epistemológicos” e a segunda “Dos meios às mediações.’’ Aprender com mapas conceituais: uma estratégia para pensar e estudar ONTORIA, A. et al. Aprender com mapas conceituais: uma estratégia para pensar e estudar. São Paulo: Madras, 2004. Esse livro apresenta a preocupação de educadores inseridos em uma sociedade do conhecimento em potencializar a capacidade de pensar e aprender. Utilizando um referencial teórico significativo, os autores apresentam de maneira clara e didática a técnica “Mapas Conceituais”. Com a leitura desse livro, pode-se compreender melhor, em um contexto mais amplo, a teoria e a prática dos mapas conceituais. Avaliação da aprendizagem em educação online O livro Avaliação da aprendizagem em educação online, pretende SILVA, Marco (Org.); SANTOS, Edméa Oliveira dos (Org.). Avaliação da aprendizagem em educação online. 1. ed. São Paulo: Loyola, 2006. discutir um tema de grande relevância para a área de educação na atualidade: o processo de avaliação nos cursos a distância. Trata-se de uma coletânea de 65 artigos de professores e pesquisadores do Brasil, Portugal, Inglaterra e Estados Unidos sobre a temática da avaliação de aprendizagem, nesta nova modalidade educacional que se utiliza da internet. Programa Agrinho 189 Sobre os Autores SOBRE OS AUTORES ADEMILDE SARTORI É Licenciada em Física, Especialista em Gestão da EaD, Mestre em Educação e Doutora em Ciências da Comunicação, pela ECA/USP; professora de Tecnologia Educacional do Departamento de Metodologia de Ensino da Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC. EDGARD SPITZ PINEL Analista de Sistemas. Especialista em Marketing. Docente em cursos de pós-graduação nas áreas de Tecnologias Educacionais e Gestão de Instituições Educacionais. Docente em curso de graduação na área de Tecnologia da Informação e Automação Comercial. É diretor da SUCESU-PR – Sociedade dos usuários de informática e telecomunicações do Paraná, Presidente do CDI-PR – Comitê para Democratização da Informática do Paraná e Membro eleito do Comitê Gestor da Internet Brasil. EDMÉA SANTOS Doutora em Educação pela UFBA. Pesquisa e desenvolve projetos acadêmicos e corporativos em educação online e formação de professores. Professora visitante no Programa de Mestrado em Educação da UFJF. ELIZETE LÚCIA MOREIRA MATOS Licenciada em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, onde atua como professora Titular no Setor de Educação no Curso de Pedagogia e no Mestrado em Educação. Pós-graduada em Psicopedagogia e Recursos Humanos, Mestrado em Educação pela PUCPR, Doutorado pela UFSC. Pesquisadora do CNPq, desenvolvendo Programa Agrinho 191 Sobre os Autores em grupo de pesquisa a criação de um Ambiente Virtual de Aprendizagem denominado EUREK@ KIDS. Orienta TCC, Monografias e Dissertações de Mestrado. ESROM ADRIANO FREITAS IRALA Possui graduação em Letras Inglês pela Universidade Federal do Paraná (1996) e Mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2005). Já lecionou inglês em vários institutos de idiomas e em empresas para profissionais com necessidades específicas. Atualmente é professor titular de Língua Inglesa da Sociedade Educacional Positivo - Centro de Línguas, lecionando para todos as níves e idades. Sua principal área de interesse é o Ensino e Aprendizagem de Línguas apoiados por Computador (CALL), Aprendizagem Colaborativa em vários contextos educacionais e no ensino de línguas. Também trabalha como Editor Assistente do material didático de língua inglesa da Editora Positivo e na área de tradução. JUCIMARA ROESLER Pedagoga, Mestre em Educação, doutoranda em Comunicação Social, pela PUCRS; professora de Tecnologias Aplicadas à Educação e Diretora Adjunta da Unisul Virtual, da Universidade do Sul de Santa Catarina, Unisul. LIANA MÁRCIA JUSTEN Pedagoga; mestre em educação; especialista em Planejamento Educacional, Educação Básica e Ensino Fundamental; consultora em EA, Desenvolvimento Humano, Criação e Facilitação de Redes de EA; Pesquisadora Associada do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento/NIMAD/UFPR; Secretária Executiva da Rede de EA do Paraná; Membro do Conselho Editorial da revista eletrônica COMSCIENTIA AMBIENTAL / UFPR; moderadora das listas de discussão da REA- Paraná e da Rede Brasileira de Informações Ambientais da Região Sul - REBIASUL. 192 Programa Agrinho Sobre os Autores MARCO SILVA Doutor em Educação pela USP. Pesquisa e desenvolve projetos em educação e comunicação interativa presencial e online. Professor da Faculdade da UERJ e do Programa de Mestrado em Educação da UNESA. MARILDA APARECIDA BEHRENS Pedagoga, Mestre e Doutora em Educação pela PUCSP. Professora e coordenadora do Mestrado em Educação da PUCPR. NEIVA BEATRIZ MARINHO PINEL Pedagoga. Especialista em Tecnologias Educacionais. Mestre em Educação – PUCPR. Assessora Psicopedagógica da Província Marista do Brasil Centro-Sul. Atuou na formação de professores como tutora no Programa TV na Escola e os Desafios de Hoje/Secretaria de Educação a Distância – MEC e como Gerente de EAD na PUCweb. PATRÍCIA LUPION TORRES Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia e em Teorias Sociológicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, Mestre em Educação pela PUCPR. Doutora em Mídia e Conhecimento pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Chefe do Departamento de Educação da PUCPR no período de 1995 a 1999. Professora da UFSC nos programas de Mestrado em Mídia e Conhecimento no período de 1999 a 2002. Diretora da área de Educação da PUCPR no período de 2003 a 2005. Diretora de Educação a Distância da Pró Reitoria de Extensão e Comunitária da PUCPR. Professora do Doutorado em Educação da PUCPR. Coordenadora pedagógica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR-PR. PAULO EDUARDO DE OLIVEIRA É Professor da Pontífícia Universidade Católica do Paraná. É Doutor em Filosofia pela PUCSP e Mestre em Filosofia das Ciências Humanas também pela mesma Universidade. Especializou-se em Filosofia Política pela Programa Agrinho 193 Sobre os Autores Universidade Federal do Paraná e em Ensino Religioso Escolar pela Faculdade Salesiana de Lorena. É graduado em Filosofia pela PUCPR. Foi Professor da UFPR, da Faculdade Arquidiocesa de Filosofia e do Centro Universitário FAE. Desenvolve trabalhos de consultoria em educação e desenvolvimento humano em escolas, empresas e em diversas outras instituições. RITA ANDRÉIA MORO SENCO ZEM Pedagoga, Mestre em Educação pela PUCPR. Professora e Diretora da Escola Pública. RITA DE CÁSSIA VEIGA MARRIOTT Mestre em Educação pela PUCPR, é atualmente professora do Centro de Línguas da Universidade de Birmingham (Inglaterra) e pesquisadora do grupo Educação, Comunicação e Tecnologia da Universidade Católica do Paraná (PUCPR) onde lecionou durante alguns anos nos Departamento de Letras e nos cursos de Pós-Graduação em Letras e em Educação antes de ir para o Departamento de Letras e Centro de Línguas (antigo CELIN) da Universidade Federal do Parana (UFPR). Tem várias publicações nas áreas de educação a distância, ensino de línguas, ensino colaborativo e uso dos mapas conceituais e no momento coordena dois livros em co-autoria sobre o Aprendizado de Línguas em E-Learning e Aprendizagem Colaborativa usando Mapas Conceituais, obras que serão publicadas pelo Idea Group nos EUA em 2008. 194 Programa Agrinho SENAR - ADMINISTRAÇÃO REGIONAL DO ESTADO DO PARANÁ CONSELHO ADMINISTRATIVO PRESIDENTE Ágide Meneguette Membros Titulares Rosanne Curi Zarattini Wilson Thiesen Darci Piana Ademir Mueller Membros Suplentes João Luiz Rodrigues Biscaia Nelson Costa Ari Faria Bittencourt Marcos Junior Brambilla CONSELHO FISCAL Membros Titulares Francisco Carlos do Nascimento – Presidente Luiz de Oliveira Netto Jairo Correa de Almeida Membros Suplentes Paulo José Buso Júnior Lauro Lopes Mario Plefk SUPERINTENDENTE Ronei Volpi SUPERINTENDENTE ADJUNTO Carlos Augusto Cavalcanti Albuquerque