uso da nitroglicerina por via transdérmica comparado com
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uso da nitroglicerina por via transdérmica comparado com
INSTITUTO MATERNO INFANTIL DE PERNAMBUCO MESTRADO EM SAÚDE MATERNO INFANTIL DE PERNAMBUCO USO DA NITROGLICERINA POR VIA TRANSDÉRMICA COMPARADO COM NIFEDIPINA ORAL NA INIBIÇÃO DO TRABALHO DE PARTO PREMATURO: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO LUIS ANDRÉ MARINHO LIPPO RECIFE - FEVEREIRO/2004 LUIS ANDRÉ MARINHO LIPPO USO DA NITROGLICERINA POR VIA TRANSDÉRMICA COMPARADO COM NIFEDIPINA ORAL NA INIBIÇÃO DO TRABALHO DE PARTO PREMATURO: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO COLEGIADO DO CURSO DE MESTRADO EM SAÚDE MATERNO INFANTIL DO INSTITUTO MATERNO INFANTIL DE PERNAMBUCO COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM SAÚDE MATERNO INFANTIL ORIENTADORA: MELANIA MARIA RAMOS DE AMORIM CO-ORIENTADORA: ISABELA CRISTINA C. DE A. NEIVA COELHO RECIFE – FEVEREIRO/2004 DEDICATÓRIA Dedico primeiramente aos meus pais, Luis (in memorian) e Eliane, pelos contínuos esforços investidos em minha educação, alicerce fundamental na minha formação profissional, permitindo hoje realizar esta dissertação de mestrado. A minha esposa, Ana Rosa e minha filha, Ana Luísa, hoje com um ano e meio, nascida durante a elaboração desta dissertação, pelo grande amor e carinho e pela compreensão durante meus longos períodos de ausência enquanto desenvolvia esta dissertação. E a minha orientadora, Dra Melania Amorim que foi a primeira a me ensinar o significado da palavra ciência durante meu primeiro contato no IMIP, tendo tido a grata oportunidade de trabalhar com este tema sobre prematuridade e tocólise com nitroglicerina logo no meu primeiro ano de residência, despertando meu interesse que culminou nesta dissertação. AGRADECIMENTOS Durante o curso do Mestrado e a elaboração da tese muitas pessoas colaboraram com a conclusão desta dissertação. Algumas diretamente sugerindo modificações, aconselhando e atuando na coleta de dados e acompanhamento das pacientes, outras de forma indireta, às vezes nem percebendo sua importância. Portanto agradeço a todos que de algum modo tenham contribuído em alguma etapa na realização desta dissertação de Mestrado, em especial a: Deus, por sua grandeza infinita e razão de ser de tudo. Minha mãe, irmãos, esposa e filha, pela minha ausência em certos períodos e pela contínua e agradável inspiração e incentivo emocional para seguir em frente e contornar as dificuldades durante meu percurso, não desistindo do objetivo final. Minha preceptora, orientadora e acima de tudo amiga Melania Amorim, minha mentora na vida acadêmica e principal colaboradora neste projeto, abrindo meus horizontes científicos e me incentivando a ingressar no Mestrado do IMIP, sem ela esta dissertação não seria possível. Minha co-orientadora Isabela Coutinho e meu amigo Márcio Costa, pela inestimável ajuda e incentivo durante a conclusão da dissertação. Dra Ana Porto, Dra Gláucia Guerra, Dra Vilma Guimarães e Dra Telma Cursino, minhas preceptoras (de ontem, hoje e sempre) e amigas que ora me ajudaram com seu conhecimento, ora me incentivaram nas horas difíceis onde tudo parecia que ia dar errado, dando conselhos e ajudando a conseguir maior apoio dos colegas que fazem parte da equipe médica do IMIP, facilitando o contato com os residentes e plantonistas do serviço através de reuniões clínicas e discussões na enfermaria. Dra Sonia Figueiredo e Dra Ana Laura pelos conselhos e orientações, além de terem viabilizado as drogas do estudo e toda a estrutura técnica necessária para esta pesquisa, flexibilizando meus horários de atividade profissional no IMIP. Dr Luiz Carlos Santos, que apostou na minha carreira profissional desde o início. Aos amigos residentes, médicos e enfermeiras plantonistas de Tocoginecologia do IMIP e da maternidade de Campina Grande, que contribuíram participando do projeto, acompanhando desde a randomização até a evolução das pacientes quando eu não podia estar presente, especialmente: Arlon Breno, Marison e Caroline Armstrong, Emanuelle Valente, Francisco Alírio, Orlando Neto, Alexandre Cardoso, Aldenice Sales, Daniela Lopes, Osman Sarmento, Vamberto Maia, Carlos Noronha, Renato Nóbrega, Brena Melo e Catarina Monteiro, que ativamente participaram na coleta dos dados. Sem vocês seria impossível coletar os dados sozinho. Odimeres, secretária do Mestrado, pelos inestimáveis serviços prestados durante estes dois anos de elaboração da tese. Minha sincera gratidão a todas as pacientes que fizeram parte do estudo. A todos, meu muito obrigado! SUMÁRIO LISTA DE TABELAS LISTA DAS ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS UTILIZADOS RESUMO ABSTRACT I. INTRODUÇÃO 01 II. OBJETIVOS 27 III. HIPÓTESES 28 IV. MÉTODOS 29 V. RESULTADOS 51 VI. DISCUSSÃO 64 VII. CONCLUSÕES 76 VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77 ANEXOS 1. APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA DO IMIP APÊNDICES 1. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 2. INSTRUMENTO DE COLETA 3. LISTA DE CHECAGEM 4. ORIENTAÇÕES PARA USO LISTA DE TABELAS Página Tabela 1 Comparação das características de pacientes com trabalho de 53 parto prematuro submetidas à tocólise com nitroglicerina ou nifedipina no IMIP e no ISEA, entre agosto de 2003 e janeiro de 2004. Tabela 2 Comparação da eficácia da terapia tocolítica com nitroglicerina 54 ou nifedipina dentro de 12 horas em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Tabela 3 Comparação do tempo decorrido para obtenção da tocólise após 55 administração de nitroglicerina ou nifedipina a gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Tabela 4 Comparação da pressão arterial sistólica nas 24 horas depois do 56 início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Tabela 5 Comparação da pressão arterial diastólica nas 24 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). 57 Tabela 6 Comparação da freqüência cardíaca materna nas 24 horas depois 58 do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Tabela 7 Comparação da freqüência cardíaca fetal nas 24 horas depois do 59 início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Tabela 8 Recorrência do trabalho de parto prematuro nas primeiras 48 60 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Tabela 9 Freqüência de parto prematuro nas primeiras 48 horas depois do 61 início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Tabela 10 Freqüência de efeitos colaterais durante a tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). 63 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS UTILIZADOS ◦ C Graus Celsius AIDS Síndrome da imunodeficiência adquirida BPM Batimentos por minutos CAM Centro de Atenção a Mulher CD CDC Compact disc Center for Diseases Control and prevention Cm Centímetros CNS Conselho Nacional de Saúde Doppler DP DST Dopplerfluxometria Desvio padrão Doenças sexualmente transmissíveis FC Freqüência cardíaca FCF Freqüência cardíaca fetal FDA Food and Drugs Administration G gramas h Horas HIV Vírus da imunodeficiência humana IC 95% Intervalo de confiança a 95% IL Interleucinas IM Via intramuscular IMIP INMETRO ISEA Instituto Materno Infantil de Pernambuco Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial Instituto de Saúde Elpídio de Almeida K+ Potássio mg Miligramas MLCK Myosin Light-Chain Kinase mmHg Milímetros de mercúrio n NHBPWG OMS p Número da amostra National High Blood Pressure Education Program Working Group Organização Mundial de Saúde Nivel de significância PAD Pressão arterial diastólica PAS Pressão arterial sistólica RN Recém-nascido RR Razão de risco SDRN TNF TOTG-S Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido Fator de necrose tumoral Teste oral simplificado de tolerância à glicose USG Ultra-sonografia UTI Unidade de terapia intensiva VDRL VO Veneral Disease Research Laboratory Via oral RESUMO ANTECEDENTES: a nitroglicerina constitui um doador de óxido nítrico que vem sendo utilizado para inibição do parto prematuro, porém não existem ainda evidências suficientes de sua eficácia. OBJETIVOS: comparar os efeitos da administração de nitroglicerina por via transdérmica com a administração de nifedipina por via oral na inibição do trabalho de parto prematuro. MÉTODOS: realizou-se um ensaio clínico randomizado no período de agosto de 2003 a janeiro de 2004, no Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP) e no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em Campina Grande (Paraíba). Pacientes com gestação única, idade gestacional menor que 35 semanas e diagnóstico de trabalho de parto prematuro foram selecionadas randomicamente para receber terapia tocolítica com nifedipina oral (20mg) ou nitroglicerina transdérmica (patch contendo 10mg). Analisaramse os seguintes desfechos: eficácia da tocólise, tempo necessário para tocólise, parâmetros hemodinâmicos maternos e fetais, freqüência de recorrência e progressão para parto prematuro, efeitos colaterais. Utilizou-se os testes qui-quadrado de associação e exato de Fisher, se necessário, para as variáveis categóricas, e o teste “t” de Student para comparação de médias das variáveis quantitativas, para um nível de significância de 5%. RESULTADOS: A eficácia e segurança da tocólise nas primeiras 12 horas foi semelhante entre as duas drogas (84,6% para nitroglicerina e 87,5% para nifedipina), sendo a freqüência de cefaléia significativamente maior entre as pacientes recebendo nitroglicerina (30,8% versus 8,3%). CONCLUSÃO: a eficácia da nitroglicerina e da nifedipina para inibição do parto prematuro nas primeiras 48 horas foi comparável no presente estudo. PALAVRAS CHAVE: nitroglicerina, nifedipina, parto prematuro, tocólise, ensaio clínico randomizado. ABSTRACT BACKGROUND - Nitroglycerin is a potent nitric oxide donor and it has been used for tocolysis, but enough evidences for its effectiveness are still lacking. OBJECTIVES - To compare the effects of transdermal nitroglycerin administration to the oral nifedipine administration for tocolysis. METHODS - A randomized trial has been performed in women with single gestation, until 35 weeks and diagnosis of premature labour were selected at random to receive tocolytic therapy with oral 20mg nifedipine or Nitroglycerin administrated as a transdermal 10mg patch. Outcomes analysed: tocolysis effectiveness, time dispended to obtain effective tocolysis, maternal and fetal hemodynamic effects, frequency of reccurrence, progression to premature labour and side effects RESULTS – The effectiveness and safetyness of tocolysis in the first 12h was equivalent: 84,6% for nitroglycerin and 87,5% for nifedipine. Cephalea was significantly higher when using nitroglycerin (30,8% versus 8,3%). CONCLUSION – in this study nitroglycerin effectiveness was equivalent to nifedipine for tocolysis in the first 48h. KEY-WORDS – nitroglycerin, nifedipine, premature labour, tocolysis, randomized trial. Lippo, Luis André Marinho. Uso da nitroglicerina transdérmica comparado com nifedipina oral na Inibição do trabalho de parto prematuro: ensaio clínico randomizado / Luis André Marinho Lippo. – Recife: O Autor, 2004. 94 folhas: il., tab. Dissertação (mestrado) – Instituto MaternoInfantil de Pernambuco. Saúde Materno Infantil, 2004. Inclui bibliografia, apêndices e anexo. 1. Trabalho de parto prematuro – Inibição. 2. Nitroglicerina – Trabalho de parto prematuro – Uso. 3. Nifedipina – Trabalho de parto prematuro – Uso. 4. Ensaio clínico randomizado – Nitroglicerina e Nifedipina – Teste de eficácia. I. Título. 618.39 618.397 CDU (2.ed.) CDD (21.ed.) UFPE BC2004-067 I. INTRODUÇÃO PREMATURIDADE: DEFINIÇÃO E INCIDÊNCIA A Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu em 1972 como prematuro o parto que acontece a partir da viabilidade fetal (20 semanas de gestação) até antes de atingir sua maturidade cronológica, isto é, menos de 37 semanas de gestação. A incidência da prematuridade é variada em todo o mundo, devido à influência de vários fatores, destacando-se a população estudada, a qualidade da assistência pré-natal e a conduta de cada instituição frente a um diagnóstico de trabalho de parto prematuro. Além destes fatores, a freqüência de prematuridade varia em função de diversas intercorrências durante a gravidez, que podem indicar o parto prematuro terapêutico. Estima-se uma incidência de aproximadamente 5 a 10% nos países desenvolvidos da Europa e América do Norte (LEES et al., 1999) e aproximadamente 11% no Brasil (BERTINI e TABORDA, 1997). No Instituto Materno-Infantil de Pernambuco encontrouse uma freqüência de 27,5% em 2002 (SANTOS et al., 2003). Esse percentual elevado reflete as características do serviço como centro de referência, recebendo um grande número de gestantes com risco de parto prematuro. Os avanços nos cuidados neonatais têm efetivamente aumentado a sobrevivência e reduzido a morbidade a curto e em longo prazo dos recém-nascidos prematuros (WEISMILLER, 1999), porém a taxa de partos prematuros não tem declinado nos últimos 50 anos, tendo até aumentado em várias regiões (JOSEPH et al., 1998). Nos Estados Unidos, esta taxa aumentou em torno de 20% entre 1981 e 1997. Neste último ano, a taxa 1 global de partos prematuros foi de 11,6%, encontrando-se uma taxa ainda maior na população negra, em torno de 18% (VENTURA et al., 1999). Estudos para determinar a incidência de prematuridade no IMIP têm evidenciado uma elevação do percentual de partos prematuros de 12% em 1994 (SANTOS et al., 1998) para 16% em 1999 (SANTOS et al., 2001) e para 27,5% em 2002 (SANTOS et al., 2003). Esse incremento na incidência em todo o mundo pode ser explicado pelo aumento das intervenções obstétricas em prol da segurança materna e/ou fetal (parto prematuro terapêutico) na presença de doenças que possam levar a risco aumentado para a saúde do concepto e/ou da gestante em se prolongando a gestação (pré-eclâmpsia, crescimento intrauterino retardado, dentre outras), já que no passado não era disponível a utilização em larga escala de tecnologias como a ultra-sonografia (USG) e a Dopplerfluxometria (Doppler) para avaliação do bem-estar fetal (JOSEPH et al., 1998; KRAMER, 1998). Outro fator aventado para a elevação dessas cifras poderia ser o aumento da ocorrência de gestações múltiplas secundárias ao avanço das técnicas de reprodução humana, favorecendo maior número de partos prematuros como conseqüência destas gestações (VENTURA et al., 1999). Além disso, o emprego da ultra-sonografia em idade gestacional precoce permite uma determinação mais acurada da idade gestacional, o que em muitas situações tem reduzido a idade gestacional no momento do parto (IAMS, 2002). MORBIDADE E MORTALIDADE PERINATAL A prematuridade acarreta uma grande morbimortalidade no concepto, sendo responsável por aproximadamente dois terços dos óbitos neonatais. Representa, ainda em nossos dias, a principal causa de morte neonatal precoce, atingindo índices de 75 a 80% da 2 mortalidade perinatal nos Estados Unidos e no Brasil (GUYER et al., 1995; MARTINS et al., 2000). A morbidade e a mortalidade perinatal em recém-nascidos pré-termo está inversamente relacionada à idade gestacional e ao peso ao nascer: quanto maiores estes últimos, menor a morbimortalidade. Considerando-se que o fundamento da assistência obstétrica consiste em manter o bem-estar materno e permitir o nascimento de crianças com o menor risco possível de morbidade e mortalidade, freqüentemente os obstetras têm de pesar os riscos do parto prematuro para o recém-nascido contra os riscos potenciais (tanto maternos como fetais) de prolongar a gravidez (IAMS, 2002). O principal problema clínico encontrado em recém-nascidos prematuros é a Síndrome do Desconforto Respiratório do Recém-Nascido (SDRN), decorrente da imaturidade pulmonar e quantidades inadequadas do surfactante endógeno, necessário para prevenir o colabamento dos alvéolos durante a respiração (AVERY e MEAD, 1959). Sua incidência varia em função da idade gestacional (CHARD et al., 1997): entre 28-30 semanas é de aproximadamente 70%, diminuindo com o evolver da gravidez, de forma que é excepcional sua ocorrência a partir de 37 semanas (JONES et al., 2002). A SDRN representa uma séria complicação da prematuridade, causando significativa morbidade e mortalidade em curto e longo prazo, contribuindo substancialmente para elevados custos dentro das unidades de cuidados intensivos neonatais. Sua importância persiste ainda em nossos dias, apesar dos grandes avanços nesses cuidados intensivos (GUYER et al., 1997) e do real progresso obtido em termos de prevenção ou redução de sua gravidade, promovido em parte pelos avanços obstétricos na prevenção do parto prematuro e na aceleração farmacológica da maturidade pulmonar fetal e, por outro lado, pelo emprego da terapia pós-natal com surfactante exógeno (JOBE et al., 3 1993; CROWLEY, 2004). Outras medidas que contribuíram para o declínio da morbidade relacionada à SDRN foram a introdução da ventilação mecânica, e principalmente, o aumento do uso de esteróides no período antenatal (LEE et al., 1999). Com o aumento da taxa de sobrevivência dos recém-nascidos pré-termo afetados por SDRN, têm-se observado que diversas outras entidades nosológicas, principalmente a displasia broncopulmonar, o suporte ventilatório pulmonar por longo período, a enterocolite necrosante e complicações neurológicas, como a hemorragia intraperiventricular e a leucomalácia periventricular, contribuem significativamente para as sérias morbidades experimentadas pelos prematuros (HACK et al., 1995). Por outro lado, a corticoterapia antenatal reduz a incidência e a gravidade destas morbidades (BALLARD e BALLARD, 1996; CROWLEY, 2004). Em longo prazo, os recém-nascidos (RN) pré-termo podem apresentar sérias limitações do desenvolvimento neuropsicomotor, acometendo cerca de 10% dos RN com peso abaixo de 1500g e 15% daqueles com menos de 1000g. Estas limitações incluem problemas como retardo mental, paralisia cerebral, convulsões, cegueira e surdez, e são mais freqüentes nos prematuros de muito baixo peso (abaixo de 1000 gramas). A sobrevida destes recém-nascidos tem aumentado progressivamente nas duas últimas décadas, de forma que o número absoluto de indivíduos com morbidades em longo prazo da prematuridade também aumentou (COOK, 1994; KATZ e BOSE, 1993; LEFEBVRE et al., 1996). Necessidades educativas especiais são necessárias para mais de 60% dos RN com menos de 1000g. Os fatores significativamente associados com alterações do desenvolvimento neuropsicomotor entre os sobreviventes com peso abaixo de 1000gramas entre 18 e 22 meses incluem a doença pulmonar crônica, hemorragia intraperiventricular graus 3 e 4, leucomalácia periventricular, enterocolite necrosante, sexo masculino, baixa 4 escolaridade materna e raça não-branca (VOHR et al., 2000). São citadas, ainda, as persistências do canal arterial e as maiores incidências de infecções. Em conseqüência destes problemas, muitos recém-nascidos prematuros são rehospitalizados durante o primeiro ano de vida. Há preocupação também que o parto prematuro possa interferir desfavoravelmente no vínculo mãe-filho, aumentando o risco de abuso e separação da família. A morte súbita também é mais freqüente entre prematuros (STEVENSON et al., 1998; IAMS, 2002). PATOGÊNESE A prematuridade tem natureza multifatorial, porem não completamente elucidada, destacando-se diversas condições associadas com aumento do risco de parto prematuro. Estas condições distinguem em geral o parto prematuro espontâneo do parto prematuro terapêutico. Cerca de 75% dos partos prematuros ocorre espontaneamente depois do início do trabalho de parto prematuro ou da ruptura das membranas pré-termo. Nestes casos, pode também haver associação com corioamnionite, incompetência istmocervical ou malformações uterinas (IAMS, 2002). A ruptura das membranas (amniorrexe) representa o principal fator desencadeante do trabalho de parto pré-termo em cerca de 30% dos casos de prematuridade. Enquanto isso, até 50% dos casos de parto prematuro espontâneo podem se desencadear sem causa aparente (GOLDENBERG et al., 1998; IAMS, 2002). Fatores de risco para o parto prematuro espontâneo incluem fatores sócioeconômicos, desnutrição materna, atividade física e profissional, tabagismo, alcoolismo, abuso de drogas, infecções vaginais (vaginose bacteriana, tricomoníase) ou cervicais (Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis, Mycoplasma e Ureaplasma), infecção do 5 trato urinário e história prévia de parto prematuro (MEIS et al., 1995; GOLDENBERG et al., 1997; IAMS, 2002). Estes fatores também estão implicados na patogênese da ruptura prematura das membranas, porém alguns estudos demonstram maior freqüência de fatores como baixo nível sócio-econômico, tabagismo e história de sangramento na gravidez atual em pacientes com amniorrexe (MEIS et al., 1987; HADLEY et al., 1990; EKWO et al., 1992). Por outro lado, o parto prematuro terapêutico representa a interrupção da gravidez antes de 37 semanas em decorrência de complicações clínicas ou obstétricas comprometendo tanto o bem-estar materno como fetal: estes fatores incluem as síndromes hipertensivas na gravidez (presente em cerca de 20% dos partos prematuros no IMIP), condições clínicas como diabetes e colagenoses e causas obstétricas como placenta prévia, oligo-hidrâmnio, poli-hidrâmnio, gestação múltipla e restrição do crescimento fetal. As indicações de parto prematuro terapêutico respondem, em conjunto, por cerca de 20% a 30% dos casos de prematuridade em diversos estudos (GOLDENBERG et al., 1998; MEIS et al., 1995; MEIS et al., 1998). PARTO PREMATURO ESPONTÂNEO: MECANISMOS Os mecanismos envolvidos no desencadeamento do que alguns autores chamam “síndrome do trabalho de parto prematuro espontâneo” (ROMERO et al., 1994; IAMS, 2002) ainda não estão completamente desvendados. Entretanto, considerando a intervenção de fatores diversos como fibronectina fetal, comprimento cervical, infecção materna, citocinas e infecção intra-amniótica, IAMS (2002) propõe a teoria de um modelo de progressão indolente ao invés de um processo agudo. 6 Postula-se que, em resposta a um insulto inflamatório crônico no ambiente intrauterino (que pode ser infeccioso ou isquêmico), influenciado pela resposta imune materna e fetal (GOMEZ et al., 1998), as membranas fetais e a decídua produzem citocinas, como o fator de necrose tumoral (TNF-α) e interleucinas (IL-1 e IL-6). Este processo mediado por citocinas pode então acarretar um ou mais dos seguintes eventos: liberação continuada de fibronectina fetal (vazamento) através da interface decídua-membrana; formação de prostaglandinas (PGF2α, tromboxano A2) e endoperóxidos lipídicos (leucotrienos B4 e C4, ácido hidroperoxieicosatetraenóico – 5HETE) e outros, que estimulam as contrações miometriais e iniciam a liberação de proteases capazes de lesar as membranas e a decídua subjacente, incitando estimulação das prostaglandinas. Estes eventos resultam, finalmente, em apagamento e dilatação cervical e/ou ruptura das membranas, desencadeamento do padrão contrátil do trabalho de parto e, em alguns casos, lesão fetal (cérebro, pulmões ou intestino) (YOON et al., 1997; IAMS, 2002). Evidentemente, esta resposta pode ser modificada por diversos fatores, como comportamentais (atividade física ou sexual, tabagismo, consumo de drogas) e genéticos (comprimento cervical e resposta imune), o que explica porque muitas mulheres com infecção vaginal ou cervical, por exemplo, não apresentam parto prematuro nem morbidade neonatal (IAMS, 2002). Outros fatores envolvidos incluem a ativação prematura do eixo hipotálamohipofisário materno-fetal e/ou a distensão uterina patológica, condições que podem promover o parto prematuro, mas que têm menor probabilidade de promover morbidade neonatal neurológica (IAMS, 2002). 7 O estudo de todos estes fatores é importante no sentido de se identificar marcadores preditivos do parto prematuro, que possam ser precocemente identificados no sentido de permitir a prevenção primária, isto é, evitar o desencadeamento do parto prematuro. PREDIÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DO PARTO PREMATURO Devido à importância da prematuridade em todo o mundo, vários testes para identificar pacientes com risco para parto prematuro foram propostos (GOLDENBERG et al., 1998; OLIVEIRA et al., 2000), porém poucos têm eficácia cientificamente comprovada (ALTHABE et al., 1999). Dentre estes, os mais promissores parecem ser a fibronectina fetal e o comprimento do colo uterino medido através da ultra-sonografia transvaginal (IAMS, 2002). Por outro lado, marcadores clínicos também têm sido pesquisados, como os índices ou escores, a história de parto prematuro anterior, história de sangramento genital na gravidez atual, monitorização das contrações uterinas e avaliação das modificações cervicais pelo toque vaginal. Infelizmente, os escores clínicos não têm mostrado utilidade para predição do parto prematuro. O escore de Bishop pode ser tão acurado como a ultrasonografia transvaginal para predição do parto prematuro (IAMS et al., 1996), mas infelizmente o exame não tem boa reprodutibilidade (IAMS, 2002). O marcador clínico mais útil é sem dúvida a história prévia de parto prematuro, uma vez que a recorrência é freqüente e o risco de parto prematuro aumenta na medida em que se aumenta o número de partos prematuros anteriores (IAMS et al., 1998; MERCER et al., 1999). Em relação à fibronectina fetal detectada na secreção cérvico-vaginal, dados obtidos de 2.929 mulheres incluídas no NICHD Preterm Prediction Study revelaram que um único teste de fibronectina positivo entre 24 e 25 semanas poderia identificar até 60% das 8 mulheres destinadas a ter parto prematuro antes de 30 semanas. Entretanto, a sensibilidade deste teste para predição do parto prematuro antes de 35 semanas foi de apenas 25% (GOLDENBERG et al., 1996, 1998). A avaliação do colo uterino pela ultra-sonografia transvaginal tem demonstrado uma correlação inversa entre o comprimento cervical e a freqüência de parto prematuro. Essa mensuração tem um elevado valor preditivo negativo para os casos com comprimento normal, sendo que os valores variam em função da idade gestacional (DIJKSTRA et al., 1999) e diversos estudos demonstram um risco aumentado de parto prematuro quando se verifica um comprimento menor que 2,5cm entre 28 e 30 semanas (IAMS et al., 1996; TAIPALE et al., 1998; ANDREWS et al.,2000; OLIVEIRA et al., 2000; CARVALHO et al., 2002). Uma revisão sistemática evidenciou os pontos de corte de 18mm para o máximo valor preditivo positivo e 30mm para o máximo valor preditivo negativo (LEITICH et al., 1999). ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO DA PREMATURIDADE Em 1947, Nicholas Eastman afirmou que “apenas quando os fatores subjacentes à prematuridade forem completamente compreendidos qualquer tentativa inteligente de prevenção poderá ser realizada” (EASTMAN, 1947). Desde então, muito se avançou na compreensão dos mecanismos relacionados ao desencadeamento do trabalho de parto prematuro, com identificação de diversos fatores preditivos, porém infelizmente a intervenção nesses fatores não é simples, e é pouco provável que qualquer medida isolada seja eficaz, considerando-se as complexas interrelações das diversas causas de prematuridade (IAMS, 2002). 9 Do ponto de vista de saúde pública, podemos distinguir três formas de prevenção da prematuridade: a prevenção primária, representada por medidas que pudessem evitar a deflagração do trabalho de parto prematuro, a prevenção secundária, consistindo na inibição do trabalho de parto (tocólise) para evitar o nascimento de recém-nascidos prematuros, e a prevenção terciária, com intervenções para minimizar as complicações e seqüelas da prematuridade (IAMS, 1998). A prevenção primária continua sendo uma meta difícil de alcançar, na atualidade. Embora se conheçam diversos fatores de risco para prematuridade, e estejam disponíveis testes preditivos bastante sensíveis (como a fibronectina e a ultra-sonografia transvaginal), alguns problemas práticos impedem sua utilização de rotina na população geral: primeiro, o custo é elevado, segundo a sensibilidade e especificidade é baixa em populações de baixorisco para parto prematuro; e terceiro, nas populações de alto-risco, em que a acurácia dos testes é elevada, o papel das intervenções antenatais é incerto. As intervenções antenatais visando à prevenção do parto prematuro incluem várias medidas, como o tratamento de infecções, o repouso, a circlagem cervical, o uso de progesterona e as drogas tocolíticas. Em relação à prevenção das complicações da prematuridade, as principais intervenções são representadas pela corticoterapia antenatal e pelo uso de antibióticos. Revisaremos brevemente estas intervenções, com ênfase posterior na terapia tocolítica. Em relação ao tratamento de infecções, apesar de estas se associarem significativamente com o risco de parto prematuro, não há evidências confiáveis de que o rastreamento e tratamento das infecções reduzam este risco. Estão disponíveis na Biblioteca Cochrane três revisões sistemáticas, pertinentes ao tratamento de tricomoníase (GÜLMEZOGLU, 2003), vaginose bacteriana (MAC DONALD et al., 2003) e infecção do 10 trato urinário na gravidez (SMAILL, 2003). Nem o tratamento da tricomoníase nem o da vaginose bacteriana reduziu o risco de parto prematuro. A exceção, no caso da vaginose bacteriana, foi um subgrupo de pacientes com parto prematuro anterior, nas quais o tratamento durante a gravidez reduziu significativamente o risco de ruptura prematura das membranas e de parto prematuro. Entretanto, o tratamento da infecção urinária associou-se a redução do risco de bacteriúria e pielonefrite pós-tratamento e também a menor freqüência de parto pré-termo e recém-nascidos de baixo peso. A circlagem cervical representou outra intervenção avaliada em uma revisão sistemática da Cochrane (DRAKELEY et al., 2003). Analisaram-se os resultados de seis ensaios clínicos randomizados comparando a circlagem com conduta expectante (repouso). Consideraram-se tanto os casos de circlagem “profilática” (realizada em pacientes de risco na ausência de modificações cervicais) e a circlagem em pacientes com encurtamento cervical constatado pela ultra-sonografia transvaginal. A conclusão dos revisores foi de que a circlagem profilática não deveria ser realizada em mulheres de baixo e médio risco, sugerindo-se, todavia, um papel da circlagem em mulheres de alto risco, na presença de modificações cervicais. Entretanto, o número de mulheres avaliadas por ultra-sonografia transvaginal foi muito pequeno para permitir conclusões sobre a eficácia da circlagem. O uso de progesterona durante a gravidez para evitar o desencadeamento do trabalho de parto prematuro foi estudado em dois ensaios clínicos randomizados. MEIS et al. (2003) avaliaram o uso do caproato de 17-α-OH-progesterona em mulheres com parto prematuro anterior, sendo que 310 receberam progesterona e 153 receberam placebo. O risco de parto prematuro foi significativamente menor entre as mulheres do grupo da progesterona (RR=0,66; IC 95%=0,54-0,81). Resultados semelhantes foram descritos por 11 FONSECA et al. (2003), usando progesterona natural (100mg), observando-se menor freqüência global de parto prematuro e de parto prematuro abaixo de 34 semanas, embora não se tenha observado declínio das taxas de admissão por ameaça de parto prematuro. A terapia tocolítica compreende as intervenções farmacológicas para inibição do parto prematuro. O objetivo primário é evitar o parto prematuro, porém outros objetivos incluem postergar o parto, permitir o transporte da parturiente até centros terciários, além de reduzir o risco de síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido e outras complicações da prematuridade, permitindo a administração de corticóide (KATZ e FARMER, 1999). A efetividade da tocólise para prevenção do parto prematuro tem sido alvo de diversos ensaios clínicos e revisões sistemáticas. Persistem ainda controvérsias em relação ao tema, mesmo porque são abordados diferentes esquemas, comparando-se as drogas tocolíticas entre si, com o repouso isolado ou com uso de placebo (SMITH et al., 1999; ROMERO et al., 2000). A maioria dos estudos sugere que os tocolíticos não prolongam a gestação até o termo, geralmente postergando o parto em média por 48 (quarenta e oito) a 72 (setenta e duas) horas, justificando seu uso por permitir a administração de corticóide para aceleração da maturidade pulmonar fetal (GYETVAI et al., 1999; KING et al., 2003). Uma revisão sistemática incluindo dezoito ensaios clínicos randomizados evidenciou que alguns tocolíticos (betamiméticos, indometacina, atosiban) prolongam a gravidez, reduzindo o risco de parto prematuro dentro de sete dias (OR = 0,6; IC 95%=0,38-0,95), mas não melhoram o prognóstico perinatal, enquanto o sulfato de magnésio não prolongou a gravidez. Efeitos colaterais associados com o uso de tocolíticos (em especial os betamiméticos) incluíram palpitações, tremor, náuseas, hiperglicemia, hipocalemia e necessidade de interrupção do tratamento (GYETVAI et al., 1999). 12 Por outro lado, na revisão sistemática da Biblioteca Cochrane, incluindo 12 ensaios clínicos randomizados e 1029 mulheres, o uso de bloqueadores dos canais de cálcio associou-se a redução significativa do parto prematuro abaixo de 34 semanas (RR=0,83; IC 95%=0,69-0,99) e a redução da freqüência de parto dentro de sete dias (RR=0,76; IC 95%=0,60-0,97). Também se evidenciou redução significativa do risco de complicações da prematuridade como síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido (RR=0,63; IC 95%=0,46-0,88), hemorragia intraventricular (RR=0,59; IC 95%=0,36-0,98) e enterocolite necrosante (RR=0,21; IC 95%=0,05-0,96) (KING et al., 2003). A terapia de manutenção com drogas tocolíticas não é capaz de evitar recorrência do parto prematuro nem reduz a freqüência de complicações neonatais (SANCHEZ-RAMOS et al., 1999; BERKMAN et al., 2003; CROWTHER et al., 2003; NANDA et al.,2003). Os resultados da revisão sistemática (12 ensaios clínicos randomizados, 1590 pacientes) não apóiam a administração rotineira de tocolíticos orais depois da inibição bem-sucedida do parto prematuro por via parenteral (SANCHEZ-RAMOS et al., 1999; SANCHEZ-RAMOS et al., 2003). Outras intervenções para o tratamento do parto prematuro também foram avaliadas em revisões sistemáticas. A metanálise disponível na Biblioteca Cochrane (STAN et al.,2003) incluiu dois ensaios clínicos randomizados envolvendo 228 mulheres com parto prematuro e membranas íntegras, comparando a hidratação venosa com o repouso isolado. Não houve redução do risco de parto prematuro (RR=1,09; IC 95%=0,71-1,68) nem da admissão neonatal em UTI (RR=0,99; IC 95%=0,42-2,16), porém os custos foram significativamente maiores no grupo da hidratação. Os revisores concluíram que não existem evidências suficientes para apoiar o uso da hidratação em mulheres com parto prematuro. 13 Em relação à antibioticoterapia, foram publicadas duas revisões sistemáticas contemplando seu uso no parto prematuro com membranas íntegras (KING e FLENADY, 2003) e na presença de amniorrexe prematura (KENYON et al., 2004). Nos casos de parto prematuro com membranas íntegras (oito ensaios clínicos, 7428 mulheres), a antibioticoterapia antenatal não demonstrou benefícios, evidenciando-se mesmo um aumento do risco de morte neonatal. Entretanto, a antibioticoterapia com macrolídeos (eritromicina) demonstrou efeitos benéficos nos casos de amniorrexe prematura. Em 13 ensaios clínicos envolvendo mais de 6000 pacientes, o uso de antibióticos reduziu significativamente o risco de parto prematuro dentro de 48 horas e sete dias, assim como o risco de infecção neonatal, necessidade de oxigênio e uso de surfactante. Também se observou redução da infecção materna. Os autores concluíram que existem evidências suficientes para recomendar o uso rotineiro de antibióticos macrolídeos na presença de ruptura das membranas pré-termo (KENYON et al., 2004). A antibioticoterapia também está indicada para profilaxia da infecção por Streptococcus β-haemolyticus do grupo B, em todos os casos de trabalho de parto prematuro e na presença de amniorrexe com tempo igual ou superior a 18 horas. O esquema preconiza a administração de Ampicilina ou Penicilina Cristalina intra-parto, sendo esta última preferida porque a Ampicilina, por ser droga de amplo espectro, aumenta o risco de resistência bacteriana. A efetividade da antibioticoprofilaxia para Streptococcus do grupo B já foi demonstrada, com uma redução na incidência de 1,7: 1.000 em 1993 para 0,6: 1.000 nascidos vivos em 1998 (SCHRAG et al., 2000). 14 CORTICOTERAPIA A corticoterapia antenatal como estratégia para redução do risco de complicações da prematuridade merece destaque, uma vez que, nas duas últimas décadas, acumularam-se evidências suficientes de sua efetividade. Esta é a principal justificativa para a tocólise: postergar o parto prematuro o tempo suficiente para realização da corticoterapia, requerendo-se 48 horas para um efeito ótimo (CROWLEY et al., 2004). O uso de corticóides para acelerar a maturação pulmonar do concepto vem sendo empregado desde o início da década de 70. Em 1972, LIGGINS & HOWIE realizaram um ensaio clínico randomizado em humanos, evidenciando uma redução tanto na incidência como na gravidade da SDRN em neonatos entre 26-34 semanas de gestação. Vários outros estudos se seguiram, em que a eficácia da terapia corticosteróide foi demonstrada, revelando vantagens do ponto de vista farmacológico para os corticóides do tipo fluorado, betametasona e dexametasona. Na revisão sistemática (CROWLEY, 2004) que inclui 18 destes ensaios clínicos, envolvendo mais de 3500 gestantes, evidencia-se uma redução de quase 50 % na freqüência de SDRN com o uso de corticóide, de 22,6 % para 13,3% (RR= 0,53; IC 95%=0,44-0,63), além de outros efeitos favoráveis como redução da necessidade de surfactante (RR=0,4; IC 95%=0,18-0,89), redução da freqüência de hemorragia intraventricular (RR=0,48; IC 95%=0,32-0,72) e redução da morte neonatal (RR=0,60; IC 95%=0,48-0,75). Demonstrou-se que esses efeitos benéficos iniciam-se já com 24 semanas e estendem-se até a 34ª. semana de gravidez. Outros efeitos adicionais têm sido demonstrados em estudos observacionais, como a redução da retinopatia da prematuridade (HIGGINS et al., 1998) e da leucomalácia periventricular (BAUD et al., 1999). A corticoterapia representa um tratamento seguro, eficaz, de baixo custo e facilidade 15 de administração, além de poucos efeitos colaterais no que se refere à prevenção da SDRN. Os corticosteróides empregados para a promoção da maturação pulmonar fetal são aqueles capazes de atravessar a barreira placentária (tanto betametasona quanto dexametasona), sendo a sua forma de administração por via intramuscular (IM) na dose total de 24 mg. Não se evidenciou aumento do risco de infecção materna ou fetal com a utilização destes esquemas (CROWLEY, 2004). Existem controvérsias sobre a necessidade de repetição destas doses quando o parto prematuro não ocorre depois de sete dias da dose inicial, porém uma recente revisão sistemática aponta que as evidências sobre riscos e benefícios são insuficientes para recomendar doses repetidas em mulheres com risco de prematuridade. São necessários ensaios clínicos controlados para elucidar esta questão (CROWTHER e HARDING, 2003). Dez anos depois, continuam válidas as conclusões do Consenso de 1994: “A corticoterapia antenatal deve ser indicada para todas as mulheres com risco de parto prematuro, com raras exceções, e isto irá resultar em substancial decréscimo da morbimortalidade neonatal, bem como em importante economia nos custos dos cuidados médicos. O uso de corticosteróides para maturação fetal constitui um raro exemplo de uma tecnologia que produz substancial economia de custos em adição a expressiva melhora da saúde” (NIH CONSENSUS STATEMENT, 1994). TERAPIA TOCOLÍTICA: INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES A tocólise está indicada em todos os casos de trabalho de parto prematuro abaixo de 35 semanas de gestação, mesmo naqueles com dilatação avançada (exceto se o parto é iminente ou no período expulsivo), estando ausentes contra-indicações maternas ou fetais (IAMS, 2002; SANTOS et al., 2003). 16 São consideradas contra-indicações maternas a hipertensão arterial significativa, cardiopatia, hemorragias peri-parto graves, hipersensibilidade ao fármaco tocolítico e qualquer condição médica ou obstétrica que contra-indique o prolongamento da gravidez. São contra-indicações fetais anomalias graves ou incompatíveis com a vida (fetos inviáveis), óbito fetal, maturidade pulmonar comprovada, sofrimento fetal e corioamnionite (IAMS, 2002; SANTOS et al., 2003). Os efeitos benéficos da tocólise devem ser destacados, objetivando aumentar a freqüência de utilização. Mesmo com indicações precisas e conhecidas, no Rio de Janeiro SILVA et al., em 1999 encontraram uma freqüência de uso de tocolíticos em apenas 18,7% das pacientes com diagnóstico de parto prematuro nas maternidades públicas do estado. É necessário divulgar os dados das revisões sistemáticas, de forma a incentivar o uso de tocolíticos, selecionando-se a melhor droga com base nas evidências correntemente disponíveis. O uso em pacientes com dilatação avançada já foi descrito em vários estudos (DEVECIANA et al., 1995; AMON et al., 2000), observando-se que, mesmo nestes casos, a tocólise atrasa o parto em mais que 48 horas em 50%-60% dos casos, permitindo assim a utilização de corticóide. DROGAS TOCOLÍTICAS Vários esquemas terapêuticos têm sido propostos para inibição do parto prematuro. A primeira droga utilizada para tocólise foi o etanol, na década de 60, cujo mecanismo de ação era a inibição hipofisária da liberação de ocitocina, porém seus efeitos adversos materno-fetais tornaram a droga proscrita (NORWITZ et al., 1999). 17 Outros grupos de drogas foram estudados posteriormente com esta finalidade, como os agonistas beta-miméticos (Terbutalina, Salbutamol, Isoxsuprina, Ritodrina), sulfato de magnésio, bloqueadores de canal de cálcio (Nifedipina, Nicardipina), antagonistas da ocitocina (Atosiban), anti-inflamatórios não esteróides – inibidores da síntese de prostaglandinas (Indometacina, Sulindac, Ketoralac, Inibidores da COX –2), inibidores da fosfodiesterase (Aminofilina) e o diazóxido (NORWITZ et al., 1999). Entre essas drogas, as mais estudadas têm sido os beta-miméticos, utilizados há mais de 30 anos (CAUGHEY et al., 2001), sendo a ritodrina a única droga aprovada pelo FDA (Food and Drugs Administration) para a inibição do trabalho de parto prematuro nos Estados Unidos (ELLENHORN 1997). O sulfato de magnésio foi utilizado em diversos serviços como alternativa aos betamiméticos, porém uma recente revisão sistemática de 23 ensaios clínicos (mais de 2000 mulheres) evidenciou que, além de ineficaz para inibição do parto prematuro, o uso de sulfato de magnésio associa-se com aumento da mortalidade perinatal (RR=2,82; IC 95%=1,20-6,62). Não houve redução da freqüência de partos prematuros dentro de 48 horas (RR=0,85; IC 95%=0,58-1,25), nem dos partos prematuros antes de 34 ou 37 semanas (CROWTHER et al., 2003). Da mesma forma, fármacos como a isoxsuprina, a aminofilina e o diazóxido não devem ser utilizados devido à falta de evidências que comprovem sua eficácia e/ou segurança em relação aos outros tocolíticos (GYETVAI et al., 1999; KING et al., 2003). Na verdade, desde a publicação da revisão sistemática da Cochrane avaliando o uso dos bloqueadores dos canais de cálcio (principalmente a nifedipina) para a inibição do parto prematuro, evidenciou-se a nítida superioridade destas drogas em relação aos outros tocolíticos (sobretudo os betamiméticos). Além da eficácia para redução do parto prematuro 18 e prolongamento da gravidez, já discutida anteriormente, os bloqueadores dos canais de cálcio reduziram significativamente a ocorrência de complicações da prematuridade e acarretaram menor freqüência de efeitos colaterais. Observou-se uma significativa redução do risco de interrupção da terapia tocolítica em decorrência de reações maternas adversas (RR=0,14; IC 95%=0,05-0,36). Os revisores concluíram que, quando a tocólise é indicada em mulheres com parto prematuro, os bloqueadores dos canais de cálcio são preferíveis a outros tocolíticos, principalmente os betamiméticos (KING et al., 2003). Recentemente foi liberado para comercialização no Brasil, com o objetivo de tocólise, o antagonista da ocitocina Atosiban, com o respaldo de várias publicações sobre sua eficácia e segurança (MOUTQUIN et al., 2000; ROMERO et al., 2000; EUROPEAN ATOSIBAN STUDY GROUP, 2001; FRENCH/AUSTRALIAN ATOSIBAN INVESTIGATORS GROUP, 2001; WORLDWIDE ATOSIBAN VERSUS BETAAGONISTS STUDY GROUP, 2001). Os estudos disponíveis mostram que o Atosiban é tão eficaz quanto os betaadrenérgicos, porém com menor freqüência de efeitos colaterais. Entretanto, ainda não foram publicados ensaios clínicos comparativos entre o atosiban e os tocolíticos atuais de primeira linha (bloqueadores do canal de cálcio). Sua grande desvantagem é o altíssimo custo que impede seu uso rotineiro, visto que outras terapias são financeiramente mais acessíveis. Outras drogas que vêm recentemente sendo usadas para inibição do parto prematuro são os anti-inflamatórios inibidores específicos da COX-2. Estas drogas constituiriam uma alternativa à indometacina, reduzindo o risco de parto prematuro, e teoricamente acarretariam menor risco de efeitos fetais indesejáveis, como o fechamento precoce do ducto arterioso e comprometimento da função renal. Entretanto, o uso clínico não pode 19 ainda ser recomendado porque as evidências são escassas, de pequenos ensaios clínicos isolados, devendo sua utilização restringir-se às pesquisas (LOUDON et al., 2003). EFEITOS COLATERAIS Efeitos colaterais mais ou menos importantes são freqüentes com a maioria das drogas tocolíticas (ELLENHORN 1997), como taquicardia, tremor e, nos casos graves, edema agudo de pulmão com o uso de betamiméticos (MURRAY & NADEL 2000); depressão respiratória, alterações na condução elétrica cardíaca e distúrbios da atenção e memória provocados pelo sulfato de magnésio (GHIA et al., 2000) e danos fetais como enterocolite necrosante, hemorragia ventricular e fechamento precoce do canal arterial (com a indometacina) (GEORGE et al., 2001). A freqüência de efeitos colaterais é significativamente menor quando são empregados bloqueadores dos canais de cálcio (RR=0,32; IC 95%= 0,24-0,41). NIFEDIPINA PARA TERAPIA TOCOLÍTICA Os bloqueadores ou antagonistas de canais de cálcio foram introduzidos na clínica médica nos anos 60, sendo hoje o grupo de drogas mais utilizado no tratamento das doenças cardiovasculares. Atuam bloqueando os canais de cálcio tipo-L, obtendo o relaxamento da musculatura lisa. Sua atividade como agente tocolítico pode ser explicada porque o cálcio é essencial para a ativação da MLCK (myosin light-chain kinase – enzima kinase da miosina de cadeia leve), que controla a fosforilação da miosina e, portanto, a interação actina-miosina, necessária à contração do músculo liso. Este efeito não é específico para o útero, porém acarreta um profundo relaxamento do miométrio humano (SAADE et al., 1994). 20 Drogas como a nifedipina (OEI et al., 1999) e a nicardipina (LARMON et al., 1999) têm sido estudadas como agentes tocolíticos porque inibem seletivamente as contrações uterinas, em relação a outros agentes, como o verapamil. Sua efetividade para prevenção do parto prematuro já foi demonstrada em numerosos ensaios clínicos controlados e corroborada pelos resultados da revisão sistemática, comparando-a favoravelmente com outras drogas tocolíticas (KING et al., 2003). Peculiaridades da farmacocinética da nifedipina, à diferença de outros tocolíticos, permitem sua utilização por via oral, com rápida absorção, concentrações-pico entre 15 e 90 minutos e uma meia-vida de 81 minutos. A duração do efeito de uma dose isolada chega até seis horas (FERGUSON et al., 1989, 1990). A dose ótima e a melhor via de administração ainda não estão estabelecidas, propondo-se esquemas diversos, que incluem tanto o uso sublingual como oral, e doses variando entre 10 e 40mg. No ensaio clínico que evidenciou melhores resultados em termos de prevenção do parto prematuro, utilizou-se uma dose inicial de 40mg, sem repercussões deletérias para o binômio mãe-feto e com menor freqüência de complicações neonatais (PAPATSONIS et al., 1997, 2000). Não foi possível determinar a superioridade de um esquema em relação a outro na revisão sistemática da Cochrane, e os revisores sugerem que novos ensaios clínicos sejam realizados, comparando diversos esquemas (alta e baixa dose) em relação ao tempo necessário para relaxamento uterino e cessação das contrações, bem como à formulação (cápsulas para uso sublingual ou tabletes para administração oral). Inicialmente, um grande temor dos obstetras que dificultou a aceitação da nifedipina como droga tocolítica deveu-se a estudos animais iniciais evidenciando redução do fluxo útero-placentário, bradicardia fetal e depressão miocárdica com agentes como verapamil, nicardipina e diltiazem (HARAKE et al., 1987). Entretanto, estes efeitos não foram 21 demonstrados com a nifedipina. Na verdade, estudos com dopplervelocimetria da circulação útero-placentária durante o uso de nifedipina evidenciaram ausência de alterações na artéria cerebral média, artéria renal, ducto arterioso, artéria umbilical e vasos maternos (MARI et al., 1989; MEYER et al., 1990; GARCIA-VELASCO e GONZALEZ GONZALEZ, 1998). Estudos observacionais documentaram a ausência de complicações neonatais como baixos escores de Apgar ou acidose neonatal relacionadas ao uso de nifedipina (MURRAY et al., 1992; RAY E DYSON, 1995). O risco de baixos escores de Apgar na revisão sistemática foi de 0,77 (IC 95%=0,35-1,71) em relação a outros tocolíticos, e na verdade o uso de nifedipina reduziu a chance de internação em UTI neonatal (RR-0,78; IC 95%=0,64-0,95). Efeitos colaterais maternos são significativamente menos freqüentes com a nifedipina em relação a outros tocolíticos (KING et al., 2003). Redução da pressão arterial e aumento da freqüência cardíaca foram descritos por alguns autores, assim como episódios esporádicos de hipotensão (FERGUSON et al., 1989, 1990). Esses efeitos, entretanto, são bem menos freqüentes que durante a administração de betamiméticos (PAPATSONIS et al., 2003). Outros efeitos colaterais incluem cefaléia, rubor facial e náuseas (FERGUSON et al., 1989, 1990). A associação com betamiméticos é contra-indicada, tanto o uso simultâneo como seqüencial imediato, descrevendo-se um caso de infarto agudo de miocárdio em paciente de 29 anos que recebeu ritodrina e nifedipina (OEI et al., 1999). Foram relatados eventos coronarianos e infarto agudo do miocárdio associados ao uso da nifedipina em pacientes tratados clinicamente para hipertensão arterial (ABERNETHY et al., 1999, OEY et al., 1999), porém ainda não está claro seu verdadeiro papel neste fenômeno, visto que esses eventos são raros em pacientes não-cardiopatas. 22 A nifedipina constitui atualmente o tocolítico de primeira linha no IMIP, sendo usada rotineiramente em todas as mulheres com indicação de inibição do trabalho de parto prematuro abaixo de 35 semanas (SANTOS et al., 2003). Esta conduta foi adotada desde a publicação dos resultados da revisão sistemática (KING et al., 2003). NITROGLICERINA: NOVA ALTERNATIVA PARA TOCÓLISE? A nitroglicerina, potente doadora de óxido nítrico, é uma droga pertencente à família dos nitratos, fármacos utilizados desde o século XIX para tratamento da angina, devido ao efeito vasodilatador decorrente da ação relaxante da musculatura lisa através da atuação do óxido nítrico. Pode ser administrada em várias vias, como sublingual, intravenosa e transdérmica, sendo esta última a que apresenta menor incidência de efeitos colaterais. A nitroglicerina já foi utilizada em Obstetrícia para facilitar o delivramento placentário manual (CHEDRAUI et al., 2003) na assistência ao parto normal em apresentação pélvica, na versão cefálica externa (BUJOLD et al., 2003), na extração de urgência do segundo gemelar (WESSEN et al., 1995) no reposicionamento uterino na inversão uterina aguda e até em uma circlagem de emergência (COUSINS & PUE, 1996). A base para administração da nitroglicerina para o tratamento do trabalho de parto prematuro consiste em observações com animais. A L-arginina (substrato para síntese de óxido nítrico) reduz a contratilidade uterina em ratos (YALLAMPALLI et al., 1993, 1994; SYAL et al., 1999). A nitroglicerina também foi testada in vitro no miométrio humano, obtendo-se relaxamento uterino adequado (NORMAN et al.,1997; DAVI et al., 2000; EKERHOVD et al., 2000; WETZKA et al., 2001). Entretanto, outro estudo in vitro em 23 tecido humano não evidenciou efeito sobre a contratilidade miometrial (JONES e POSTON, 1997). Clinicamente, o efeito tocolítico foi evidenciado tanto por via intravenosa (BUHIMSCHI et al., 2002) como transdérmica (BLACK et al., 1999; LEES et al., 1999). Vários ensaios clínicos foram realizados para determinar a efetividade da nitroglicerina para inibição do parto prematuro, em geral envolvendo um número pequeno de pacientes. EL-SAYED et al. (1999) compararam nitroglicerina intravenosa com sulfato de magnésio em 30 pacientes; BISITS et al. (1998) compararam o uso do patch transdérmico (10mg) com albuterol intravenoso em 26 pacientes; SMITH et al. (1999) utilizaram também a via transdérmica (9,6mg), comparando com placebo, em 33 pacientes; WANI et al. usaram nitroglicerina transdérmica e ritodrina intravenosa em 132 gestantes. Na maioria destes estudos, o efeito tocolítico da nitroglicerina foi comparável a outros tocolíticos, com menor freqüência de efeitos colaterais, porém o pequeno tamanho das amostras dificulta a interpretação dos resultados. O estudo controlado por placebo evidenciou uma redução de parto prematuro em 48 horas de 44%, porém esta redução não foi estatisticamente significante (SMITH et al., 1999). BISITS et al. (1998) também estudaram a circulação fetal com Doppler e não evidenciaram alterações em nenhum dos grupos. O maior ensaio clínico randomizado já publicado foi o de LEES et al. (1999), um estudo multicêntrico envolvendo 245 gestantes. Verificou-se tocólise eficaz e menor freqüência de efeitos colaterais com a nitroglicerina por via transdérmica quando comparada com a ritodrina intravenosa. Em outro estudo usando parte dessa casuística, observou-se menor freqüência de alterações hemodinâmicas (pulso materno, pressão 24 arterial, freqüência cardíaca fetal) nas pacientes que receberam nitroglicerina (BLACK et al., 1999). Outros estudos também avaliaram efeitos colaterais e alterações hemodinâmicas relacionadas ao uso da nitroglicerina. SCHLEUSSNER et al. (2003) compararam nitroglicerina transdérmica com fenoterol intravenoso em 50 pacientes, encontrando médias mais elevadas de freqüência cardíaca materna e fetal, bem como da pressão arterial sistólica, quando se usou o fenoterol. Palpitações e tremor foram mais freqüentes com o fenoterol, enquanto a cefaléia foi mais freqüente quando se usou nitroglicerina. Embora estejam disponíveis ensaios clínicos comparando a nitroglicerina com diversos outros tocolíticos, não encontramos nenhum estudo comparando nitroglicerina e nifedipina. A pesquisa bibliográfica foi realizada nos bancos de dados MEDLINE, LILACS e no registro de ensaios clínicos da Biblioteca Cochrane, usando os termos (“nitroglycerine” OR “nitroglycerin” OR “GTN” OR “glyceryl trinitrate” AND (“preterm labor” OR “tocolysis”)). Uma revisão sistemática foi publicada recentemente, com o objetivo de avaliar se o uso dos doadores do óxido nítrico em mulheres com trabalho de parto prematuro associa-se com postergação do parto, efeitos colaterais adversos ou melhora do prognóstico neonatal (DUCKITT e THORNTON, 2003). A metanálise incluiu cinco ensaios clínicos randomizados, todos os quais usando nitroglicerina, comparada com placebo ou outras drogas tocolíticas (ritodrina, albuterol e sulfato de magnésio). Verificou-se uma redução significativa no número de partos abaixo de 37 semanas quando se comparou nitroglicerina com outros tocolíticos, porém a freqüência de partos abaixo de 32 e 34 semanas não foi alterada. Cefaléia foi um efeito colateral mais freqüente em mulheres que receberam nitroglicerina, porém outros efeitos colaterais tiveram menor freqüência neste grupo. A 25 conclusão dos revisores foi que existem dados insuficientes para determinar se os doadores de óxido nítrico são efetivos para tratamento do parto pré-termo, de forma que seu uso clínico não pode ser recomendado, devendo-se limitar aos ensaios clínicos randomizados. No IMIP, a nitroglicerina vem sendo usada experimentalmente para tocólise desde 1999. Um ensaio clínico aberto não comparado foi conduzido em 1999, incluindo mulheres com ameaça de parto prematuro, sem modificações cervicais. Verificou-se tocólise efetiva em 85% dos casos, com uma média de tempo necessário para tocólise de 5,3 horas (AMORIM et al., 1999). A partir deste estudo, aventou-se a possibilidade de um ensaio clínico randomizado com grupo controle comparando-se com outra droga tocolítica e incluindo outros casos de trabalho de parto prematuro, com modificações cervicais. Na época, eram utilizados rotineiramente os betamiméticos no serviço, porém o ensaio clínico randomizado não foi possível por dificuldade de se obter a nitroglicerina. Como recentemente conseguimos ter acesso à medicação, tornou-se possível a realização do presente estudo, que foi conduzido com o objetivo de comparar os efeitos da administração de nitroglicerina por via transdérmica com nifedipina por via oral na inibição do trabalho de parto prematuro, determinando tanto a eficácia tocolítica como as alterações hemodinâmicas e os efeitos colaterais nos dois grupos. 26 II. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Comparar os efeitos da administração de nitroglicerina por via transdérmica com a administração de nifedipina por via oral na inibição do trabalho de parto prematuro. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Em gestantes com trabalho de parto prematuro submetidas a tocólise com nitroglicerina transdérmica ou nifedipina oral: 1. Comparar a eficácia da tocólise nas primeiras 12 horas. 2. Comparar o tempo transcorrido até a tocólise efetiva. 3. Comparar os parâmetros hemodinâmicos maternos (pressão arterial e pulso) e fetais (freqüência cardíaca fetal) nas primeiras seis horas de tocólise e a cada seis horas até 24 horas. 4. Comparar a freqüência de recorrência do trabalho de parto prematuro nas primeiras 48 (quarenta e oito) horas após início da tocólise. 5. Comparar a freqüência de parto prematuro nas primeiras 48 horas após início da tocólise. 6. Comparar a freqüência dos efeitos colaterais apresentados: hipotensão, taquicardia, cefaléia, náuseas e vômitos, taquicardia fetal, bradicardia fetal. 27 III. HIPÓTESES Em gestantes com trabalho de parto prematuro submetidas a tocólise com nitroglicerina transdérmica ou nifedipina oral: 1. Não há diferenças na eficácia da tocólise nas primeiras 12 horas entre os dois grupos. 2. O tempo transcorrido para obtenção da tocólise nos grupos estudados é semelhante. 3. Não existem diferenças entre os parâmetros hemodinâmicos maternos e fetais nos dois grupos. 4. Não há diferença na freqüência de recorrência do trabalho de parto prematuro. 5. Não há diferença na freqüência de parto prematuro nas primeiras quarenta e oito horas após a tocólise entre os grupos estudados. 6. A freqüência de efeitos colaterais é semelhante nos dois grupos. 28 IV. MÉTODOS 4.1. Local do estudo O estudo foi realizado no Centro de Atenção a Mulher (CAM) do Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), localizado na cidade do Recife (Pernambuco), e no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em Campina Grande (Paraíba). O Centro de Atenção à Mulher do IMIP dispõe de leitos para internamento em Ginecologia, Obstetrícia (incluindo gestação de alto risco), unidades de terapia intensiva (UTI) materna e neonatal. A enfermaria de gestação de alto-risco tem 28 leitos destinados ao tratamento das diversas intercorrências (clínicas ou obstétricas) durante a gravidez. Mensalmente são assistidos no hospital cerca de 500 partos, dos quais 27,5% são prematuros. As pacientes com trabalho de parto prematuro isolado representam em torno de 20% das internações na enfermaria de alto-risco. O Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em Campina Grande, também funciona como serviço de referência em Obstetrícia, dispondo de 15 leitos para o atendimento às gestações de alto-risco. O número de partos assistidos mensalmente na instituição fica em torno de 300, dos quais 10% são prematuros. 4.2. Período do estudo A coleta de dados foi realizada no período entre agosto de 2003 e janeiro de 2004, em ambas as instituições. 29 4.3. Desenho do estudo Realizou-se um ensaio clínico randomizado aberto para testar a equivalência de duas drogas utilizadas para Tocólise, a Nitroglicerina e a Nifedipina. O estudo não foi mascarado devido às diferentes vias de administração e esquemas posológicos das duas drogas estudadas, o que dificultaria sua exeqüibilidade. O uso de um placebo seria antiético neste caso, uma vez que está claramente estabelecida a necessidade de tocolíticos no trabalho de parto prematuro para postergar o parto e permitir a administração de corticoterapia para aceleração da maturidade pulmonar fetal. 4.4. População do estudo Participaram do estudo mulheres gestantes admitidas no IMIP e no ISEA com diagnóstico de trabalho de parto prematuro. 4.5. Tamanho amostral O cálculo do tamanho da amostra foi realizado utilizando-se a fórmula para diferença de médias (FRIEDMAN, 1998), para um erro alfa de 5% e um poder de 80%: 2N = 4 (Zα + Zβ)2 x σ2 δ2 Considerando-se uma média de tempo necessário para inibição de 5,3 horas para a nitroglicerina (AMORIM et al., 1999), com um desvio-padrão de 2,45 horas (variância de 6), e uma diferença estimada para a nifedipina de duas horas, seriam necessárias 47 pacientes para evidenciar essa diferença. Este número foi arredondado para 50, porém 30 preparou-se uma lista de 60 números randômicos, prevendo-se eventuais perdas pósrandomização. 4.6. Critérios para seleção dos sujeitos 4.6.1. Critérios de inclusão • Idade materna entre 18 e 40 anos. • Gestação única e tópica. • Idade gestacional entre 24 e 34 semanas e seis dias (confirmada pelos dados da última menstruação e ultra-sonografia). • Feto vivo e com boa vitalidade. • Dilatação cervical até quatro centímetros. • Bolsa das águas íntegra. • Diagnóstico firmado de trabalho de parto prematuro. • Ficha de consentimento informado preenchida corretamente. 4.6.2. Critérios de exclusão • Mulheres com capacidade civil diminuída tais como alterações do estado mental e outras que comprometam o entendimento do estudo. • Doenças maternas concomitantes tais como cardiopatias, pneumopatias, hipertensão arterial, diabetes, doenças infecciosas, HIV-AIDS e outras. • Doenças obstétricas intercorrentes na gestação como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e outras. 31 • Hipotensão materna • Corioamnionite. • Febre de origem inexplicada. • Malformações do trato genital. • Miomatose uterina importante. • Malformação fetal. • Oligo-hidrâmnio. • Doenças fetais comprovadas (infecções congênitas como toxoplasmose, sífilis, rubéola, citomegalovírus). 4.6.3. Procedimentos para seleção dos sujeitos As pacientes com diagnóstico de trabalho de parto prematuro atendidas na triagem obstétrica ou na enfermaria de gestação de alto-risco foram identificadas pelos médicosassistentes e/ou médicos-residentes, checando-se os critérios de inclusão e exclusão. Caso estes critérios fossem preenchidos, comunicava-se ao pesquisador responsável em cada instituição e entrevistavam-se as pacientes, apresentando os objetivos do estudo e propondo sua participação. Foram incluídas apenas as pacientes que concordaram voluntariamente em participar, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE 1). Após assinatura do Termo de Consentimento, estas pacientes foram então alocadas para receber terapia tocolítica com nitroglicerina transdérmica ou nifedipina (sublingual + oral). A designação para um ou outro tratamento foi realizada abrindo-se envelopes opacos previamente preparados, que continham a indicação do tipo de droga tocolítica e o formulário para preenchimento dos dados (APÊNDICE 2). Esses envelopes foram 32 preparados de acordo com uma lista de números randômicos gerada em computador (programa Epi-Table do Epi-Info 6.04d), lacrados e guardados em cada instituição, sob a responsabilidade do pesquisador local. Garantiu-se assim a ocultação da alocação, que somente era revelada (tanto ao médico responsável como à paciente) após a assinatura do Termo de Consentimento. Os envelopes foram numerados seqüencialmente de um a 60 por uma médica que não fazia parte da pesquisa, sem participação direta ou indireta de quaisquer participantes deste ensaio clínico, destinando-se 30 envelopes para o IMIP e 30 para o ISEA. 4.7. Variáveis de análise 4.7.1. Variável Independente • Tipo de droga tocolítica: NITROGLICERINA ou NIFEDIPINA. 4.7.2. Variáveis Dependentes • Eficácia da tocólise em 12 horas. • Tempo necessário para obtenção da tocólise. • Parâmetros hemodinâmicos maternos (pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica, freqüência cardíaca). • Freqüência cardíaca fetal. • Parto prematuro nas primeiras 48 (quarenta e oito) horas após tocólise. • Recorrência do trabalho de parto prematuro nas primeiras 48 horas após tocólise. 33 • Efeitos colaterais: cefaléia, hipotensão, taquicardia, náuseas, vômitos, taquicardia fetal, bradicardia fetal. 4.7.3. Variáveis para teste da randomização (comparação dos grupos) • Idade materna • Paridade • Idade gestacional • Dilatação inicial do colo uterino • Dinâmica uterina na admissão. • Pressão arterial (sistólica e diastólica) na admissão. • Freqüência cardíaca materna na admissão. • Freqüência cardíaca fetal na admissão. 4.8. Definição de termos e variáveis • Gestação única tópica (critério de inclusão) – gestação com feto único, localizado na cavidade uterina, determinada pelo exame físico (manobras palpatórias de Leopold e ausculta de um único foco fetal ao sonar-doppler) e confirmado pela ultra-sonografia. • Feto vivo (critério de inclusão) – definido pela ausculta dos batimentos cardíacos fetais ao USG, sonar-doppler, estetoscópio comum ou de Pinard. • Vitalidade fetal (critério de inclusão) – determinada pela avaliação clínica (reatividade da freqüência cardíaca fetal após movimentos fetais ou estimulação vibroacústica) e ultra-sonográfica, através do perfil biofísico fetal, considerando-se tanto o marcador crônico (líquido amniótico) como os agudos (tono fetal, movimentos fetais e freqüência 34 cardíaca fetal) (MANNING et al., 1980). Para efeitos do estudo, consideraram-se de boa vitalidade os fetos com nota oito no perfil biofísico fetal. • Idade materna – idade da paciente em anos completos, no dia da admissão.Variável numérica, contínua. • Idade gestacional – tempo de duração da gestação, determinado pela data da última menstruação (quando conhecida e confiável) e confirmada pela ultra-sonografia, admitindo-se uma margem de discrepância de até duas semanas. Quando não existia informação pertinente à data da última menstruação, utilizou-se para cálculo da idade gestacional a ultra-sonografia realizada até a 20ª. semana de gravidez. Variável numérica, contínua, expressa em semanas completas. • Dilatação cervical – abertura do colo avaliada através do toque vaginal bidigital, medida subjetivamente em centímetros. Variável numérica. • Apagamento cervical – esmaecimento do colo uterino avaliado através do toque vaginal bidigital, avaliada subjetivamente em percentual de encurtamento. Variável numérica. • Integridade da bolsa das águas (critério de inclusão) – determinado através do toque vaginal bidigital, no qual se percebe as membranas íntegras envolvendo a apresentação. • Dinâmica uterina – freqüência das contrações uterinas no intervalo de uma hora, avaliadas subjetivamente pelo médico-assistente através da percepção manual das contrações em um determinado intervalo de tempo. O padrão normal para gestações até 32 semanas é de até três contrações em uma hora (uma contração a cada 20 minutos) e a partir de 32 semanas, até quatro contrações em uma hora (uma a cada 15 minutos) (SANTOS et al., 2003) 35 • Trabalho de parto prematuro (critério de inclusão) – diagnosticado, para finalidade do presente estudo, como aumento do padrão contrátil normal esperado para a idade gestacional (dinâmica uterina), associando-se a modificações cervicais (dilatação e apagamento) em gestação abaixo de 37 semanas (entre 24 e 35 semanas no nosso estudo) • Tocólise – inibição das contrações uterinas do trabalho de parto prematuro. • Tempo de tocólise – tempo decorrido até obtenção de tocólise eficaz. • Tocolítico – droga utilizada para obter tocólise. • Eficácia da tocólise em 12 horas – cessação da atividade uterina (contrações) ou manutenção desta atividade no padrão fisiológico (até 32 semanas, 2-3 contrações indolores por hora, a partir de 32 semanas 3-4 contrações indolores por hora), determinada clinicamente (palpação) em qualquer momento nas primeiras 12 horas depois do início da tocólise, na ausência de progressão da dilatação cervical. Variável categórica dicotômica (sim ou não). • Falha terapêutica (falha da tocólise) – ausência de melhora do padrão contrátil e/ou evolução da dilatação cervical nas primeiras 12 (doze) horas ou incapacidade de inibir as contrações do trabalho de parto prematuro com as drogas estudadas em até 12 horas. • Recorrência do trabalho de parto prematuro – desencadeamento de novo episódio de trabalho de parto prematuro, depois de obtida a tocólise, durante as 48 horas de observação. • Corioamnionite (critério de exclusão) – paciente com temperatura corporal axilar acima de 37,5◦C, taquicardia materna, útero doloroso à palpação e/ou corrimento vaginal infeccioso (LEES et al., 1999). 36 • Diabetes (critério de exclusão) – glicemia de jejum maior ou igual a 126mg% ou qualquer dos valores da curva glicêmica acima de 200mg% (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2003). • Diabetes gestacional (critério de exclusão) – dois ou mais valores da curva glicêmica de Carpenter e Coustan alterados (CARPENTER & COUSTAN 1982) • Pré-eclâmpsia (critério de exclusão) – hipertensão arterial e proteinúria durante a gestação, definida pelos critérios do National High Blood Pressure Education Program Working Group (NHBPWG, 2000), adotados como rotina do CAM-IMIP e no ISEA. • Hipertensão arterial (critério de exclusão) – pressão arterial elevada, caracterizada pela pressão sistólica maior ou igual a 140mmHg e a diastólica maior ou igual a 90mmHg (NHBPWG, 2000). • Hipotensão arterial – pressão arterial sistólica menor que 80mmHg e/ou pressão arterial diastólica menor que 50mmHg. Variável de análise, categórica e dicotômica (sim ou não). • Cardiopatia (critério de exclusão) – história de doença cardíaca materna relatada pela paciente ou suspeitada durante o exame físico inicial (sopros, arritmias etc.). • Pneumopatia (critério de exclusão) – história de doença respiratória relatada pela paciente ou detectada durante o exame físico inicial. • Doenças infecciosas (critério de exclusão) – infecções sistêmicas graves que comprometam o estado geral das pacientes como pneumonias, dengue, gastroenterites e outras. 37 • HIV-AIDS (critério de exclusão) – pacientes sabidamente portadoras do vírus HIV, ou teste rápido para HIV positivo durante seu internamento (feito de rotina), ou doença clínica instalada de acordo com os critérios do CDC (CDC 1993). • Malformações do trato genital (critério de exclusão) – malformações uterinas como útero septado, bicorno, didelfo e outras que possam favorecer ao parto prematuro. • Malformações fetais (critério de exclusão) – diagnóstico de alterações anatômicas fetais detectadas por ultra-sonografia. • Doenças fetais (critério de exclusão) – alterações do bem estar fetal tais como hidropisia fetal, restrição do crescimento fetal, previamente conhecidas ou detectadas através do exame ultra-sonográfico inicial. • Oligo-hidrâmnio (critério de exclusão) – redução do índice de líquido amniótico (PHELAN, 1987), considerado no presente estudo abaixo de 8,0. • Pressão arterial – verificada segundo os critérios da American Heart Association (DOROTHEE et al., 1993), anotando-se os valores da pressão sistólica e diastólica (variáveis numéricas, contínuas) em mmHg. • Freqüência cardíaca – mensurada pelo médico durante o exame físico. Variável numérica, discreta, expressa em batimentos por minutos (bpm). • Freqüência cardíaca fetal – detectada pela ausculta com Pinard ou sonar Doppler. Variável numérica, discreta, expressa em batimentos por minuto (bpm). • Efeitos colaterais – foram descritos pela paciente e/ou verificados pelo médico plantonista, destacando entre eles a hipotensão arterial, taquicardia, náuseas, vômitos, cefaléia, rubor facial e cutâneo. 38 • Taquicardia materna – aumento da freqüência cardíaca acima de 120 batimentos por minuto. Variável categórica dicotômica tipo sim ou não. • Taquicardia fetal – freqüência dos batimentos cardíacos fetais acima de 160bpm persistindo durante 20 minutos, avaliada no intervalo entre as contrações. Variável categórica dicotômica tipo sim ou não. • Bradicardia fetal – freqüência dos batimentos cardíacos fetais abaixo de 110bpm em qualquer momento de observação. Variável categórica dicotômica tipo sim ou não. • Náuseas – sensação referida pela paciente como desejo de vomitar (pesquisado durante a avaliação clínica). Variável categórica dicotômica tipo sim ou não. • Vômitos – ato de vomitar propriamente dito (referido pela paciente, presenciado pelo médico ou anotado pela enfermagem). Variável categórica dicotômica tipo sim ou não. • Rubor cutâneo e facial – avermelhamento da pele provocado pela vasodilatação periférica (detectada pelo exame clínico), referindo geralmente a paciente sensação de calor. Variável categórica dicotômica tipo sim ou não. • Cefaléia – dor de cabeça referida pela paciente ou pesquisada durante avaliação clínica. Variável categórica dicotômica tipo sim ou não. • Nitroglicerina – droga administrada por via transdérmica através de um adesivo (patch). • Nifedipina – droga administrada (em cápsulas) por via sub-lingual e oral. 4.9.Procedimentos para realização da terapia tocolítica Uma vez incluídas no estudo, as pacientes foram encaminhadas à unidade de alto-risco no ISEA e ao Centro Obstétrico no IMIP, para receber a tocólise. Todas as pacientes foram submetidas a ultra-sonografia obstétrica durante sua admissão na triagem. Este exame era 39 repetido na enfermaria de alto risco, após a inibição satisfatória das contrações uterinas. Cardiotocografia foi realizada, sempre que possível, antes do início da terapia tocolítica. Todas as informações pertinentes ao acompanhamento dos casos foram devidamente registradas nos formulários da pesquisa. As medicações tocolíticas (nitroglicerina e nifedipina) encontravam-se disponíveis em ambos os serviços, sendo armazenadas em local seguro juntamente com os envelopes lacrados da randomização em um armário com chave, sob responsabilidade da enfermeira chefe. A nifedipina foi administrada inicialmente sob a forma de uma cápsula (10mg) por via sublingual e a seguir 20mg VO a cada seis horas (com um copo de água), sendo as cápsulas oferecidas à paciente pela enfermeira-chefe do setor, checando-se sua deglutição. O patch de nitroglicerina (NITRODERM TTS® 10mg – laboratório NOVARTIS) foi colocado pelo médico-assistente ou médico-residente em áreas glabras do corpo da paciente, preferindo-se braço e antebraço para melhor observação durante o exame clínico. Utilizou-se inicialmente um patch para cada paciente do grupo da nitroglicerina. Ao término da avaliação da sexta hora de tratamento um novo patch era adicionado caso não tivesse ocorrido diminuição da freqüência ou intensidade das contrações. A dose máxima foi de 20mg (dois adesivos) e estes adesivos eram mantidos por 24 (vinte e quatro) horas, não necessitando renovação, uma vez que são de liberação lenta. Após o início da tocólise, foram monitorados pela equipe médica e de enfermagem os sinais vitais materno-fetais de 15 (quinze) em 15 (quinze) minutos até a certeza da estabilidade do quadro hemodinâmico. Esta foi determinada pela aferição da pressão arterial, freqüência cardíaca materna, oximetria de pulso (quando disponível) e batimentos 40 cardiofetais. Confirmada a estabilidade do bem estar materno-fetal a monitorização da pressão arterial, pulso e dinâmica uterina passava a ser horária durante 24 horas, registrando-se ainda as queixas das pacientes e a presença dos efeitos colaterais, caso existentes. A monitorização da dinâmica uterina foi realizada clinicamente pelo médico-assistente (plantonista ou residente), a cada hora, até a inibição do parto prematuro, e a seguir a cada seis horas, durante as 48 horas de observação. Em se constando progressão do trabalho de parto e falha da inibição, iniciava-se o preenchimento do partograma, conforme as normas de ambos os serviços. Após 12 (doze) horas de início do tratamento os sujeitos de qualquer grupo que não obtinham nenhuma melhora do padrão contrátil e/ou apresentavam evolução da dilatação cervical eram considerados para estatística do estudo como falha terapêutica, mantendo-se a Nifedipina como a droga tocolítica de primeira escolha ou substituindo-se a medicação por Terbutalina, administrada por via subcutânea conforme rotina do serviço, quando necessário (SANTOS et al., 2003). Ambas as drogas tocolíticas (Nitroglicerina transdérmica e Nifedipina oral) foram mantidas por 24 (vinte e quatro) horas após obtenção da tocólise efetiva, sendo então as pacientes encaminhadas para a enfermaria de alto risco, onde passavam a ser acompanhadas conforme protocolo próprio do serviço para gestantes com parto prematuro (SANTOS et al., 2003). Na presença de náuseas ou vômitos, administrou-se Metoclopramida (Plasil ®) na dose de 10 mg por via intramuscular, podendo ser repetido a cada oito horas, na mesma dosagem. Ocorrendo cefaléia, administrou-se Dipirona 500mg por via oral ou Paracetamol (Tylenol ®) 500 mg por via oral em caso de alergia à Dipirona. 41 Todas as participantes receberam corticoterapia para aceleração da maturidade pulmonar fetal, na vigência da terapia tocolítica, iniciando-se a administração do corticóide concomitante à do tocolítico. Utilizou-se a Betametasona (Celestone Soluspan ®) na dose inicial de 12mg por via intramuscular, repetindo-se após 24 horas caso o parto não tivesse ocorrido neste intervalo. Preparou-se um roteiro com todos estes procedimentos, incluindo dosagem das drogas e monitorização das pacientes, que foi afixado em quadros de aviso nas respectivas instituições (APÊNDICE 4). O estudo foi coordenado no IMIP pelo Dr. Luis Lippo e no ISEA por Dra. Melania Amorim. 4.10. Testes, técnicas e exames • Ultra-sonografia obstétrica: realizada rotineiramente em todas as pacientes, tanto o exame básico na admissão (triagem) através de um aparelho da marca ALOKA SSD-500 (pelos plantonistas) como o exame padrão na enfermaria, usando um aparelho TOSHIBA COREVISION PRO ou em um aparelho SHIMATSU SDU2200 no IMIP (este último é o aparelho utilizado no ISEA). Na enfermaria, todos estes exames foram realizados por médicos obstetras com qualificação em ultrasonografia. • Cardiotocografia – realizada pelos médicos residentes na enfermaria, sob supervisão de um médico com qualificação em medicina fetal, utilizando um aparelho SONICAID TEAM da OXFORD. 42 • Verificação da pressão arterial – mensurada em todas as gestantes, pelos médicosassistentes (residentes ou especialistas) a cada 15 minutos na primeira hora, a seguir a cada hora até obter-se tocólise efetiva e a partir daí a cada seis horas durante 48 horas. Seguiram-se as recomendações da American Heart Association para verificação da pressão arterial em gestantes, conforme a recomendação do NHBPWG (NATIONAL BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP, 2000). Utilizaram-se esfigmomanômetros devidamente calibrados pelo INMETRO, da marca MISSOURI. • Verificação da freqüência cardíaca materna – avaliada pelos médicos-assistentes através de ausculta cardíaca com estetoscópio BD, nos mesmos momentos de verificação da pressão arterial. • Verificação da freqüência cardíaca fetal – avaliada pelos médicos-assistentes por ausculta com sonar Doppler (detector fetal MD 1000 ou MD 700 da MICROEM), nos mesmos momentos de verificação dos parâmetros maternos. 4.11. Acompanhamento dos sujeitos A partir da constatação de tocólise efetiva, as pacientes foram encaminhadas para a enfermaria de alto-risco, sendo então submetidas à seguinte conduta para seguimento de gestantes com parto prematuro: Nova anamnese e exame físico completo pelo médico responsável. Exames laboratoriais de rotina do pré-natal como classificação sangüínea, teste sorológico para sífilis (VDRL) e sorologia para HIV, hematimetria, exame de varredura para diabetes gestacional (teste oral simplificado de tolerância à glicose com 50 gramas 43 de dextrosol - TOTG-S), cultura de secreção vaginal para pesquisa de Streptococcus grupo B, urocultura e exame sumário de urina (urina tipo I), além de colposcopia e teste de Papanicolau. Ultra-sonografia obstétrica. Cardiotocografia. Em caso de detecção de algum agravo de saúde materno e/ou fetal que atendesse aos critérios de exclusão, as pacientes seriam automaticamente excluídas do estudo (exclusão pós-randomização). Na eventualidade de se desencadear novamente o trabalho de parto prematuro nas primeiras 48 (quarenta e oito) horas após obtenção da tocólise efetiva com as drogas estudadas, definia-se a recorrência do trabalho de parto prematuro, sendo então as pacientes encaminhadas ao Centro Obstétrico para nova tentativa de inibição. Neste caso, as pacientes não foram novamente randomizadas para uso de nifedipina ou nitroglicerina, passando a ser tratadas de acordo com a rotina do serviço (nifedipina). A informação sobre recorrência também era registrada no formulário, como variável de análise. Completadas 48 (quarenta e oito) horas após tocólise bem sucedida e descartada qualquer anormalidade definida nos critérios de exclusão, a paciente recebia alta hospitalar com retorno agendado para o ambulatório de pré-natal de alto risco, dando por encerrada sua participação no estudo. Os dados pertinentes à evolução ulterior da gravidez não foram considerados para análise deste estudo. Outro motivo para encerramento da participação no estudo foi a ocorrência de parto prematuro (progressão para trabalho de parto prematuro não-inibível) dentro das primeiras 48 horas após inclusão no estudo. Este dado foi anotado, representando uma variável de análise para comparação dos grupos. 44 4.12. Critérios para descontinuação do estudo 4.12.1. Critérios para descontinuação das drogas estudadas Definiu-se previamente que os sujeitos que durante a tocólise apresentassem hipotensão arterial persistente por mais de 20 minutos, taquicardia materna persistente, alterações da ausculta fetal (taquicardia e bradicardia persistentes) ou do traçado da cardiotocografia, náuseas e vômitos incoercíveis ou quaisquer outros sinais e sintomas incompatíveis com a segurança da preservação da saúde materna e/ou fetal teriam sua participação no estudo descontinuada, recebendo as medidas cabíveis para cada caso, como a substituição da droga por outro tocolítico ou medidas terapêuticas de suporte, conforme a pauta do serviço. Tiveram também descontinuado o uso de nifedipina ou nitroglicerina as pacientes que após as primeiras 12 (doze) horas de tentativa de tocólise com as drogas estudadas não obtivessem nenhuma melhora do padrão contrátil e/ou apresentassem evolução da dilatação cervical; entretanto, prosseguiu-se a coleta de dados uma vez que a análise foi baseada na intenção de tratar. 4.12.2. Critérios para descontinuação da randomização e coleta de dados O estudo seria interrompido caso fossem constatados efeitos colaterais graves, como hipotensão grave e persistente, choque ou morte materna, em qualquer dos grupos, passando-se a investigar a relação causa-efeito com a droga tocolítica. Entretanto, nenhum desses efeitos ocorreu, completando-se a coleta de dados. 45 4.13. Procedimentos para coleta dos dados 4.13.1. Instrumento para coleta Os dados foram registrados num instrumento de coleta padronizado previamente para entrada dos dados no computador (APÊNDICE 2). 4.13.2. Coleta dos dados Os dados referentes ao acompanhamento de cada paciente nas 48 horas de evolução, a partir do início da terapia tocolítica, foram registrados pelo médico assistente (plantonista ou residente) no instrumento próprio de coleta, que foi anexado ao prontuário da paciente. Os prontuários foram identificados com etiquetas autocolantes com o nome da pesquisa e a numeração da paciente. 4.13. 3. Controle de qualidade das informações Antes do início da coleta de dados, realizou-se reunião clínica com os profissionais de cada instituição para apresentação do projeto e discussão de eventuais dúvidas, bem como orientação quanto aos procedimentos de randomização e preenchimento dos formulários. Cartazes com os critérios de inclusão e exclusão (lista de checagem) foram preparados, constando o telefone dos pesquisadores para eventuais esclarecimentos (APÊNDICE 3). O mestrando participou ativamente da coleta dos dados no IMIP, supervisionando o preenchimento dos formulários e o seguimento das pacientes. No ISEA, este trabalho foi desempenhado por sua Orientadora, que também foi responsável pela revisão final dos formulários. 46 Na eventualidade de se encontrarem formulários incompletos, solicitavam-se as informações pertinentes aos médicos-assistentes ou buscavam-se dados dos prontuários, como as anotações de enfermagem para os sinais vitais. Os formulários foram revisados um a um durante a coleta de dados, pelo médico-assistente, e a seguir em blocos de 10, pelos pesquisadores. 4.14. Processamento e Análise dos Dados 4.14.1. Processamento dos Dados Foi criado um banco de dados específico no software Epi-Info 3.01 para Windows, sendo os dados digitados duas vezes, em épocas e por pessoas diferentes, obtendo-se ao final uma listagem para correção de eventuais erros de digitação, com supervisão do próprio mestrando, formulário a formulário. Durante a revisão das listagens, caso fosse constatada alguma inconsistência nos dados, recorria-se aos formulários arquivados para resolução do problema. Caso persistisse a inconsistência, era verificada a informação conflitante ou ausente diretamente no prontuário da paciente, casos não solucionados seriam excluídos. Ao término da entrada de todos os formulários nos dois bancos de dados, foi realizada a revisão final, comparando-se as listagens e completando-se os dados ausentes pelos processos acima mencionados. O banco de dados definitivo assim criado foi então utilizado para análise estatística no mesmo programa, sendo ainda submetido a testes de consistência e limpeza das informações, gerando-se cópias de segurança em disquetes e mídias de CD (compact disc). 47 4.14.2. Análise dos Dados A análise dos dados foi realizada pelo pesquisador, supervisionado por sua Orientadora, no programa Epi-Info 3.01 (liberado pelo CDC em novembro de 2003). O plano de análise foi definido previamente, construindo-se tabelas para resposta aos objetivos. Inicialmente, testou-se a randomização, comparando-se características basais das pacientes de cada grupo. Depois, iniciou-se a análise das variáveis independente (uso de nitroglicerina ou nifedipina) e dependentes (eficácia, recorrência, parto prematuro, parâmetros hemodinâmicos e efeitos colaterais). Para as variáveis quantitativas, utilizou-se o teste “t” de Student para diferença de médias caso o teste de normalidade (Kolmogorov-Smirnov) evidenciasse uma distribuição normal; o teste não-paramétrico de Mann-Whitney foi adotado caso a normalidade não fosse evidenciada. Optou-se pela descrição da mediana para as variáveis discretas e da média com o respectivo desvio-padrão para as variáveis contínuas. As variáveis categóricas foram comparadas usando-se os testes qui-quadrado de associação (Pearson) e exato de Fisher se necessário (um dos valores esperados menor que cinco). Adotou-se um nível de significância de 5%. 4.15. Aspectos Éticos A presente pesquisa foi elaborada seguindo as recomendações da resolução 196/96 do C.N.S. e da Declaração de Helsinque emendada em Hong-Kong em 1989 para a pesquisa em seres humanos. O projeto deste estudo foi ainda submetido à apreciação dos 48 Comitês de Ética em Pesquisa do IMIP e do ISEA e teve início apenas depois de sua aprovação por ambas as instituições (ANEXO 1). Todas as mulheres somente foram incluídas caso concordassem espontaneamente em participar da pesquisa, depois de serem informadas sobre seus objetivos e assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE 1). Todas as pacientes receberam informações com relação às vantagens e desvantagens dos tratamentos propostos, ficando resguardado o direito de se recusar a participar do estudo, sem ônus para seu tratamento médico. No projeto, previu-se a interrupção do estudo na vigência de complicações graves inesperadas. Entretanto, estas reações não ocorreram durante a coleta de dados, de forma que o estudo foi completado com o número previsto de pacientes. Facultou-se a cada paciente o direito de desistir da participação a qualquer momento do estudo, porém não houve desistências após randomização. A nifedipina e a nitroglicerina pertencem à classe C da classificação da FDA para drogas e gravidez (SANTOS et al., 1998). Atualmente a nifedipina é considerada a droga de primeira linha para obtenção da tocólise, existindo uma metanálise (KING et al., 2003) disponível na Biblioteca Cochrane, que resume os dados de 1029 pacientes que receberam nifedipina. Esta representa ainda a droga de primeira escolha para inibição do trabalho de parto prematuro em nosso serviço. A nitroglicerina foi utilizada em um grande ensaio clinico randomizado multicêntrico internacional com 245 gestantes em 1999 por LEES et al., obtendo bons resultados como agente tocolítico e apresentando boa segurança no seu uso. Em recente metanálise com 466 gestantes realizado por DUCKITT e THORNTON no ano de 2002, não foram encontrados dados estatísticos suficientes para confirmar a efetividade da 49 nitroglicerina como agente tocolítico. Os autores recomendam a realização de mais ensaios clínicos controlados para tal fim, embora tenham evidenciado que as gestantes que utilizaram a nitroglicerina apresentaram menor incidência de efeitos colaterais comparados com outras drogas tocolíticas. Todas as gestantes receberam corticoterapia para aceleração do amadurecimento pulmonar fetal, conforme rotina de ambas as instituições envolvidas. Em caso de falha da tocólise com 12 horas, de acordo com os critérios definidos para o estudo, era mantida a nifedipina como rotina do serviço (droga de primeira escolha) ou iniciou-se a administração de outro agente tocolítico (terbutalina) para tentar inibir o parto prematuro. O acompanhamento nos referidos serviços depois das primeiras 48 horas seguiu a rotina preconizada em cada instituição. Os autores se comprometem a publicar os resultados do presente estudo, para divulgação à comunidade científica. 4.15.1. Conflitos de interesse As drogas foram adquiridas com recursos próprios do IMIP. Os pesquisadores não receberam nenhum incentivo financeiro de nenhum órgão público ou empresa privada. 50 V. RESULTADOS 5.1. CARACTERÍSTICAS DAS PACIENTES E COMPARABILIDADE DOS GRUPOS O perfil da população geral e das pacientes envolvidas no ensaio clínico é apresentado na Figura 1. Figura 1: Perfil do ensaio clínico Pacientes admitidas com trabalho de parto prematuro (abaixo de 37 semanas): 566 Indicação de inibição do parto prematuro: 188 Preenchiam os critérios de inclusão e exclusão = 100 Oferecida participação no estudo = 64 Aceitaram participar = 54 Randomizadas para nitroglicerina = 29 Excluídas pós-randomização Recusaram participar = 10 Randomizadas para nifedipina = 25 Excluídas pós-randomização 01 pré-eclâmpsia 01 erro de IG + DST 01 pré-eclâmpsia 01 suspeita de DPP Randomizadas para nitroglicerina = 26 Randomizadas para nifedipina = 24 51 Incluíram-se inicialmente no estudo 54 pacientes com trabalho de parto prematuro e indicação de tocólise, sendo 30 no ISEA e 24 no IMIP. Houve quatro exclusões pósrandomização, em decorrência do diagnóstico de pré-eclâmpsia (uma paciente do grupo da nitroglicerina e outra do grupo da nifedipina), da constatação de oligoâmnio com infecção materna (DST - sífilis) e capurro somático após o nascimento superior a 40 semanas (uma paciente que recebeu nitroglicerina) e de suspeita de descolamento prematuro da placenta normalmente inserida (logo após uma paciente receber nitroglicerina), ulterior à inclusão no estudo. Quando se completou a coleta de dados da 50ª. Paciente, cessou o processo de randomização. No total, 26 pacientes receberam tocólise com nitroglicerina e 24 com nifedipina. As características das pacientes submetidas à tocólise com nitroglicerina ou nifedipina foram comparadas, para teste da randomização. A média de idade foi semelhante nos dois grupos (24,7 anos versus 23,8 anos). Não houve diferenças em relação à paridade (mediana de zero nos dois grupos) e à idade gestacional (30,0 versus 29,7 semanas). Dilatação cervical e dinâmica uterina também foram semelhantes nos dois grupos, com uma mediana de, respectivamente, 2cm e 3 contrações em 10 minutos. A média de pressão arterial sistólica e diastólica não diferiu significativamente entre os grupos (respectivamente 109,2mmHg versus 110,4mmHg e 68,7mmHg versus 69,8mmHg). Encontrou-se uma mediana de freqüência cardíaca materna de 80bpm, enquanto a mediana dos batimentos cardíacos fetais foi de 140bpm nos dois grupos (Tabela 1). 52 Tabela 1. Comparação das características de pacientes com trabalho de parto prematuro submetidas a tocólise com nitroglicerina ou nifedipina no IMIP e no ISEA, entre agosto de 2003 e janeiro de 2004. CARACTERÍSTICA Idade (anos) Variação Média + DP Paridade Variação Mediana Idade gestacional (semanas) Variação Média + DP < 32 semanas (n, %). Dilatação inicial (cm) Variação Mediana Dinâmica uterina (contrações em 10 minutos) Variação Mediana PAS inicial Variação Média + DP PAD inicial Variação Média + DP FC inicial Variação Mediana FCF inicial Variação Mediana NITROGLICERINA (N = 26) NIFEDIPINA (N = 24) 18 – 38 24,7 + 5,3 18 – 32 23,8 + 4,6 0,6 0–3 0 0–5 0 0,9 24 – 34 30,0 + 2,5 20 (76,9%) 24 – 33 29,7 + 2,1 20 (83,3%) 0,7 0,6 2–4 2 2–3 2 0,8 2–4 3 2–4 3 0,9 90 – 130 109,2 + 9,3 90 – 130 110,4 + 10,4 0,7 55 – 80 68,7 + 7,4 60 – 80 69,8 + 8,1 0,6 70 – 106 80 72 – 104 80 0,2 124 – 156 140 128 – 160 140 0,3 p Fonte: IMIP - ISEA 53 5.2. COMPARAÇÃO DA EFICÁCIA DA TOCÓLISE EM 12 HORAS: NITROGLICERINA X NIFEDIPINA Quando se avaliou a eficácia da terapia tocolítica dentro de 12 horas, verificou-se inibição eficaz em aproximadamente 85% das pacientes que receberam nitroglicerina e 87,5% das pacientes que receberam nifedipina. Não houve diferença significativa entre os dois grupos (Tabela 2). Tabela 2. Comparação da eficácia da terapia tocolítica com nitroglicerina ou nifedipina dentro de 12 horas em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). DROGA TOCÓLISE NITROGLICERINA N % N % Eficaz (inibição) 22 84,6 21 87,5 Falha da inibição 04 15,4 03 12,5 Total 26 100,0 24 100,0 X2 = 0,09 p = 0,77 NIFEDIPINA Fonte: IMIP - ISEA 54 5.3. COMPARAÇÃO DO TEMPO NECESSÁRIO PARA TOCÓLISE: NITROGLICERINA X NIFEDIPINA Analisando-se o tempo necessário para tocólise efetiva, encontrou-se uma variação de duas a 12 horas para a nitroglicerina e de duas a 11 horas para a nifedipina, com uma média de, respectivamente, 6,6 e 5,8 horas. Esta diferença não foi estatisticamente significante (p=0,83). Um tempo de até 6 horas foi necessário para tocólise efetiva em torno de 64% das pacientes que receberam nitroglicerina e 67% daquelas que receberam nifedipina. Esta diferença também não foi estatisticamente significante (Tabela 3). Tabela 3. Comparação do tempo decorrido para obtenção da tocólise após administração de nitroglicerina ou nifedipina a gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). NITROGLICERINA (N=22) Variação Média DP Tempo para 2 – 12 obtenção de tocólise (horas) Até 6 horas 14 (63,6%) (n, %) > 6 horas 08 (n, %) (36,4%) 6,6 2,7 Variação 2 – 11 16 (66,7%) 04 (33,3%) NIFEDIPINA (N=21) Média DP 5,8 2,4 p 0,3 0,83 Fonte: IMIP - ISEA 55 5.4. COMPARAÇÃO DOS PARÂMETROS HEMODINÂMICOS MATERNOS E FETAIS: NITROGLICERINA X NIFEDIPINA A variação de pressão arterial sistólica foi semelhante nos dois grupos nos diferentes momentos analisados (1 hora, 2 horas, 3 horas, 4 horas, 5 horas, 6 horas, 12 horas, 18 horas e 24 horas). A média de pressão arterial sistólica variou entre 101,5mmHg e 107,7mmHg no grupo da nitroglicerina e entre 103,5mmHg e 109,4mmHg no grupo da nifedipina (Tabela 4). Tabela 4. Comparação da pressão arterial sistólica nas 24 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). NITROGLICERINA (N = 26) Variação Média DP Variação 90 – 120 106,3 7,4 90 – 120 106,7 9,2 0,9 PAS 2 horas 80 – 120 106,3 9,3 75 – 130 106,0 11,1 0,9 PAS 3 horas 90 – 120 104,6 9,5 80 – 120 104,4 10,6 0,9 PAS 4 horas 90 – 110 101,5 6,1 90 – 120 104,2 8,8 0,2 PAS 5 horas 90 – 120 105,4 7,7 90 – 120 103,8 9,6 0,5 PAS 6 horas 90 – 100 101,7 7,1 90 – 110 105,0 11,4 0,2 PAS 12 horas 90 – 120 103,1 6,9 90 – 120 103,5 8,3 0,8 PAS 18 horas 95 – 130 107,7 8,5 90 – 130 109,4 10,7 0,5 PAS 24 horas 90 – 120 106,5 8,0 100 – 120 109,2 6,5 0,2 Pressão Arterial Sistólica (mmHg) PAS 1 hora NIFEDIPINA (N=24) Média DP p Fonte: IMIP - ISEA 56 Também não se verificaram diferenças significativas nas medidas de pressão arterial diastólica nos diferentes momentos depois do início da tocólise. A média de pressão arterial diastólica variou entre 61,5mmHg e 68,3mmHg nas pacientes que receberam nitroglicerina e entre 61,3mmHg e 70mmHg nas pacientes que receberam nifedipina (Tabela 5). Tabela 5. Comparação da pressão arterial diastólica nas 24 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Pressão arterial diastólica NITROGLICERINA (N = 26) Variação Média DP Variação NIFEDIPINA (N=24) Média DP p PAD 1 hora 45 – 70 62,3 7,5 50 – 80 64,6 7,9 0,3 PAD 2 horas 50 – 80 61,7 7,1 50 – 70 61,7 7,6 1,0 PAD 3 horas 50 – 70 63,1 7,5 40 – 70 63,1 10,0 1,0 PAD 4 horas 50 – 70 63,2 5,5 50 – 80 62,5 6,4 0,6 PAD 5 horas 50 – 70 61,5 5,6 50 – 80 61,5 6,5 1,0 PAD 6 horas 55 – 80 61,5 5,2 55 – 80 64,4 6,5 0,1 PAD 12 horas 55 – 70 62,9 4,9 50 – 70 61,3 5,2 0,3 PAD 18 horas 60 – 80 67,1 6,0 60 – 80 69,2 7,0 0,3 PAD 24 horas 60 – 75 68,3 5,5 60 – 80 70,0 5,7 0,3 Fonte: IMIP - ISEA 57 Não se observou diferença significativa entre as medidas de freqüência cardíaca materna nos dois grupos. A mediana de freqüência cardíaca nos diferentes momentos variou entre 80bpm e 84bpm nos dois grupos (Tabela 6). Tabela 6. Comparação da freqüência cardíaca materna nas 24 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). Freqüência Cardíaca NITROGLICERINA (N = 26) Variação Mediana Variação NIFEDIPINA (N = 24) Mediana p FC 1 hora 64 – 104 84 78 – 100 84 0,8 FC 2 horas 70 – 100 84 72 – 104 83 0,7 FC 3 horas 72 – 90 80 80 – 104 80 0,4 FC 4 horas 72 – 88 84 72 – 104 84 0,9 FC 5 horas 78 – 92 80 78 – 108 84 0,3 FC 6 horas 76 – 94 84 72 – 94 84 0,7 FC 12 horas 78 – 88 84 78 – 88 80 0,08 FC 18 horas 76 – 88 80 76 – 90 80 0,7 FC 24 horas 74 – 90 80 78 – 88 80 0,5 Fonte: IMIP - ISEA 58 A variação da freqüência cardíaca fetal também foi anotada nos dois grupos, encontrando-se uma mediana entre 140bpm e 144bpm nos diferentes momentos de avaliação, tanto para a nitroglicerina como para a nifedipina (Tabela 7). Tabela 7. Comparação da freqüência cardíaca fetal nas 24 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). NITROGLICERINA (N = 26) Variação Mediana NIFEDIPINA (N = 24) Variação Mediana FCF 1 hora 128 – 160 140 128 – 156 140 0,9 FCF 2 horas 136 – 156 140 132 – 152 140 0,5 FCF 3 horas 132 – 156 144 136 – 160 144 0,4 FCF 4 horas 136 – 152 140 128 – 156 140 0,8 FCF 5 horas 136 - 160 143 128 – 160 144 0,6 FCF 6 horas 120 – 160 140 122 – 160 140 0,6 FCF 12 horas 128 – 146 140 132 – 148 140 0,7 FCF 18 horas 122 – 166 144 136 – 160 144 0,6 FCF 24 horas 132 – 160 144 128 – 160 140 0,2 Freqüência Cardíaca Fetal (bpm) p Fonte: IMIP - ISEA 59 5.5. FREQÜÊNCIA DE RECORRÊNCIA DO TRABALHO DE PARTO PREMATURO NAS PRIMEIRAS 48 HORAS APÓS INÍCIO DA TOCÓLISE: NIFEDIPINA X NITROGLICERINA Determinou-se a freqüência de recorrência do trabalho de parto prematuro nas primeiras 48 horas depois do início da tocólise. Observou-se recorrência em aproximadamente 27% das pacientes que receberam nitroglicerina e em torno de 17% das pacientes que receberam nifedipina. Esta diferença não foi estatisticamente significativa (Tabela 8). Tabela 8. Recorrência do trabalho de parto prematuro nas primeiras 48 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). DROGA RECORRÊNCIA NITROGLICERINA N % N % Sim 07 26,9 04 16,7 Não 19 73,1 20 83,3 Total 26 100,0 24 100,0 X2 = 0,77 p = 0,38 NIFEDIPINA Fonte: IMIP - ISEA 60 5.6. FREQÜÊNCIA DE PARTO PREMATURO NAS PRIMEIRAS 48 HORAS APÓS INÍCIO DA TOCÓLISE: NITROGLICERINA X NIFEDIPINA Em relação à evolução para parto prematuro, encontrou-se uma freqüência de parto prematuro nas primeiras 48 horas depois do início da tocólise em 15,4% das pacientes do grupo recebendo nitroglicerina e em 12,5% das pacientes do grupo recebendo nifedipina. Esta diferença não foi estatisticamente significante (Tabela 9). Tabela 9. Freqüência de parto prematuro nas primeiras 48 horas depois do início da tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). DROGA PARTO NITROGLICERINA N % N % Sim 04 15,4 03 12,5 Não 22 84,6 21 87,5 Total 26 100,0 24 100,0 PREMATURO X2 = 0,09 p = 0,77 NIFEDIPINA Fonte: IMIP - ISEA 61 5.7. FREQÜÊNCIA DE EFEITOS COLATERAIS DURANTE A TERAPIA TOCOLÍTICA: NITROGLICERINA X NIFEDIPINA Analisou-se a freqüência de efeitos colaterais durante a terapia tocolítica nos dois grupos. Encontrou-se uma freqüência de cefaléia significativamente maior entre as pacientes que receberam nitroglicerina em relação àquelas que receberam nifedipina (30,8% versus 8,3%). Embora a freqüência de hipotensão tenha sido maior no grupo da nifedipina (12,5%) do que no grupo da nitroglicerina (3,8%), esta diferença não foi estatisticamente significante. Encontrou-se taquicardia em apenas uma paciente no grupo da nifedipina (4,2%). A freqüência de rubor facial foi semelhante (respectivamente 7,7% e 4,2%), assim como de náuseas (7,7% e 12,5%) e vômitos (3,8% e 4,2%). A freqüência de pacientes com qualquer efeito colateral foi de aproximadamente 35% no grupo da nitroglicerina e 21% no grupo da nifedipina, porém esta diferença não foi estatisticamente significativa. Não houve casos de bradicardia ou taquicardia fetal nos dois grupos (Tabela 10). 62 Tabela 10. Freqüência de efeitos colaterais durante a tocólise com nitroglicerina ou nifedipina em gestantes com trabalho de parto prematuro atendidas no IMIP e no ISEA (agosto de 2003 a janeiro de 2004). DROGA Efeitos Colaterais* Nitroglicerina (N = 26) Nifedipina (N = 24) n % n % p Cefaléia 08 30,8 02 8,3 0,047 Hipotensão 01 3,8 03 12,5 0,26 Taquicardia – – 01 4,2 0,29 Rubor facial 02 7,7 01 4,2 0,53 Náuseas 02 7,7 03 12,5 0,57 Vômitos 01 3,8 01 4,2 0,95 Qualquer efeito 09 34,6 05 20,8 0,28 * uma paciente pode ter um ou mais efeitos colaterais. Fonte: IMIP - ISEA 63 VI. DISCUSSÃO Os resultados do presente estudo sugerem efeitos comparáveis nas primeiras 48 horas da utilização da nifedipina por via oral e da nitroglicerina por via transdérmica na inibição do trabalho de parto prematuro. Quando se avaliou a eficácia tocolítica destas duas drogas dentro de 12 horas, bem como o tempo necessário para a tocólise efetiva, não se evidenciou diferença estatisticamente significante. Constatou-se inibição do trabalho em aproximadamente 85% das pacientes que usaram nitroglicerina e 87% das que receberam nifedipina, com uma média de tempo necessário para tocólise de, respectivamente, 6,6 e 5,8 horas. Não houve diferença estatisticamente significante dos parâmetros hemodinâmicos nos dois grupos. A freqüência de recorrência de trabalho de parto prematuro e de parto prematuro nas primeiras 48 horas foi semelhante. Cefaléia foi mais freqüente no grupo da nitroglicerina (31%) do que no grupo na nifedipina (8%), porém os demais efeitos colaterais tiveram freqüência similar nos dois grupos. A eficácia da nitroglicerina tem sido avaliada em relativamente poucos ensaios clínicos randomizados, comparando seu uso com o de diversas outras drogas tocolíticas, como sulfato de magnésio, betamiméticos (fenoterol, albuterol, ritodrina) ou placebo (SMITH et al., 1999; EL-SAYED et al., 1999; BISITS et al., 1998; WANI et al., 1999). Uma metanálise publicada em 2001 incluiu nove ensaios clínicos randomizados comparando nifedipina e betamiméticos (TSATSARIS et al., 2001) e uma revisão sistemática foi publicada em 2003 na Biblioteca Cochrane, com cinco ensaios clínicos comparando nifedipina com betamiméticos e outros tocolíticos (DUCKITT e 64 THORNTON, 2003). Entretanto, pelo menos até onde chega o nosso conhecimento, este representa o primeiro ensaio clínico randomizado comparando nifedipina e nitroglicerina. A comparação dos resultados da tocólise da nitroglicerina com a nifedipina é desejável porque esta representa, atualmente, o padrão-ouro para a terapia tocolítica. Os resultados das duas revisões sistemáticas atualmente disponíveis evidenciam a nítida superioridade da nifedipina em relação aos outros tocolíticos. A nifedipina reduziu significativamente o risco de parto prematuro e de parto prematuro abaixo de 34 semanas, prolongando a gravidez, sem efeitos deletérios para o binômio mãe-feto e com melhora expressiva dos resultados perinatais, reduzindo a freqüência de síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido e de admissão em UTI neonatal (TSATSARIS et al., 2001; KING et al., 2003). O uso da nitroglicerina para tocólise justifica-se com base em aspectos farmacológicos da droga, um potente doador de óxido nítrico. O óxido nítrico ou fator relaxante derivado do endotélio é gerado fisiologicamente pela conversão da l-arginina pela l-citrulina através de uma família de enzimas chamadas oxido nítrico sintetase (nitric oxide synthase – NOS), formando um sistema endógeno de óxido nítrico. O óxido nítrico tem atuação semelhante ao dos bloqueadores de canais de cálcio, produzindo a desfosforilação da cadeia leve de miosina responsável pela contração muscular, promovendo seu relaxamento (OMOIGUI, 1999). Estudos in vitro com miométrio de mulheres (grávidas e não grávidas) demonstraram efeito relaxante do óxido nítrico sobre este tecido. DAVID et al., em 2000, compararam nitroglicerina com fenoterol, obtendo relaxamento nas fibras musculares uterinas com as duas drogas; resultados semelhantes foram encontrados por outros autores (WETZA et al., 2001; LAU et al., 2001). 65 Norman et al., em 1997, estudaram o efeito in vitro do GMP-c e dos doadores de óxido nítrico (gliceril trinitrato e nitroprussiato de sódio) em fragmentos de miométrio de mulheres grávidas, comparando também com a nifedipina e com a lemakalim (substância estimuladora da abertura dos canais de potássio - k+). Encontraram efeito relaxante no miométrio com todas estas substâncias, porém este efeito foi ligeiramente menor com os doadores de óxido nítrico. Além dos estudos in vitro, realizaram-se estudos clínicos com a nitroglicerina. Um ensaio clínico multicêntrico representa a maior casuística descrita até o presente. Neste estudo, utilizou-se nitroglicerina por via transdérmica (patch de 10mg) em 120 mulheres e ritodrina intravenosa em 125 outras. Os resultados da tocólise foram semelhantes, obtendose prolongamento da gravidez até 37 semanas em 74% das pacientes nos dois grupos. Entretanto, os efeitos colaterais foram menos freqüentes entre as pacientes que receberam nitroglicerina (LEES et al., 1999). Outros ensaios clínicos foram realizados para determinar a efetividade da nitroglicerina para inibição do parto prematuro, em geral envolvendo um número pequeno de pacientes. EL-SAYED et al. (1999) compararam nitroglicerina intravenosa com sulfato de magnésio em 30 pacientes; BISITS et al. (1998) compararam o uso do patch transdérmico (10mg) com albuterol intravenoso em 26 pacientes; SMITH et al. (1999) utilizaram também a via transdérmica (9,6mg), comparando com placebo, em 33 pacientes; WANI et al. usaram nitroglicerina transdérmica e ritodrina intravenosa em 132 gestantes. Na maioria destes estudos, o efeito tocolítico da nitroglicerina foi comparável a outros tocolíticos, com menor freqüência de efeitos colaterais, porém o pequeno tamanho das amostras dificulta a interpretação dos resultados. O estudo controlado por placebo 66 evidenciou uma redução de parto prematuro em 48 horas de 44%, porém esta redução não foi estatisticamente significante (SMITH et al., 1999). Assim, a conclusão da metanálise disponível na Biblioteca Cochrane foi de que as evidências ainda são insuficientes para recomendar o uso clínico da nitroglicerina. Os revisores recomendam a realização de ensaios clínicos controlados para investigar se os doadores de óxido nítrico apresentam realmente qualquer efeito para prevenção do parto prematuro e se melhoram os resultados perinatais (DUCKITT e THORNTON, 2003). Neste sentido, nosso estudo vem contribuir para a discussão sobre o uso da nitroglicerina, com a vantagem de compará-la com a nifedipina. Apesar de os desfechos primários aqui estudados restringirem-se às primeiras 48 horas depois do início da tocólise, acreditamos que nossos resultados elucidam algumas dúvidas pertinentes à eficácia da nitroglicerina para tocólise. Em relação à inibição da contratilidade uterina, definida pela ausência de contrações uterinas ou retorno ao padrão contrátil (Braxton-Hicks) compatível com a idade gestacional, verificou-se eficácia tocolítica de ambas as drogas em mais de 80% dos casos. Evidentemente, como o estudo não incluiu um grupo placebo, não podemos afirmar com certeza que a inibição do parto prematuro tenha sido devido à ação específica de qualquer das drogas. Na verdade, este é um problema inerente a todos os estudos comparando terapias diferentes, porém não achamos eticamente justificável a utilização de placebo, quando existem evidências convincentes da eficácia da nifedipina (KING et al., 2003). No entanto, o que podemos afirmar é que os efeitos tocolíticos das duas drogas foram comparáveis, inclusive quando se considerou o tempo necessário para tocólise (em torno de seis horas). 67 Estes resultados foram semelhantes aos obtidos em um estudo preliminar realizado anteriormente no IMIP, no qual constatamos uma freqüência de tocólise efetiva em 85% das pacientes que receberam nitroglicerina. O tempo transcorrido até a tocólise foi menor neste estudo inicial (em torno de 5 horas), porém como foram incluídas apenas pacientes com ameaça de parto prematuro, sem modificações cervicais, é possível que a ação tocolítica tenha sido mais rápida nestes casos (AMORIM et al., 1999). Outro aspecto importante no presente estudo é que a freqüência de parto prematuro dentro das primeiras 48 horas depois do início da tocólise foi semelhante nos dois grupos (em torno de 15% para a nitroglicerina e 12% para a nifedipina). Este desfecho foi também avaliado na metanálise da Cochrane sobre o uso de bloqueadores de canais de cálcio para inibição do parto prematuro, observando-se um percentual de partos prematuros dentro de 48 horas de 20% para qualquer dos bloqueadores dos canais de cálcio e 55% para outros tocolíticos (KING et al., 2003). Os resultados de nosso estudo foram, portanto similares aos descritos para a nifedipina na revisão sistemática, permitindo-se postergar o parto por pelo menos 48 horas em torno de 85% das pacientes. Este intervalo de 48 horas é particularmente importante quando se considera que o prolongamento da gravidez permite a administração de corticóide para aceleração da maturidade pulmonar. Mesmo considerando que, idealmente, a finalidade da tocólise seria prolongar a gravidez até o termo ou, pelo menos o tempo suficiente para se obter aumento da idade gestacional e do peso ao nascer, pode-se considerar um resultado satisfatório quando se obtém, pelo menos, a manutenção da gravidez pelo tempo necessário para permitir o uso de corticóide (BERKMAN et al., 2003). Na medida em que aumenta a idade gestacional, reduz-se o risco de SDRN e de outras complicações da prematuridade (ASSANIE et al., 2003), porém a corticoterapia melhora significativamente o prognóstico 68 neonatal, quando administrada entre 24 e 34 semanas, o que tem sido demonstrado tanto em ensaios clínicos controlados (KING et al., 2003) como em revisões sobre efetividade na prática clínica (ALBUQUERQUE et al., 2002; MENEGUEL et al., 2003). Além da efetividade tocolítica, houve também a preocupação, em nosso estudo, de avaliar os parâmetros hemodinâmicos maternos e fetais, uma vez que um dos grandes temores do uso da nitroglicerina em Obstetrícia seria a ocorrência de hipotensão arterial e redução da perfusão útero-placentária (ROBERTSON, 1996; SCHMIDT, 1996; OMOIGUI, 1999). Estes efeitos são teoricamente previsíveis, uma vez que o óxido nítrico atua diretamente nas paredes dos vasos, provocando relaxamento principalmente do compartimento venoso, mas também tendo efeito no sistema arterial e nas coronárias, daí o seu uso clínico como vasodilatador (ROBERTSON, 1996; SCHMIDT, 1996; OMOIGUI, 1999). De fato, El-Sayed et al., em 1999, usando nitroglicerina por via intravenosa em comparação ao sulfato de magnésio venoso em 30 pacientes com trabalho de parto prematuro, encontraram 25% de hipotensão arterial persistente no grupo da nitroglicerina, indicando a suspensão de seu uso, contra nenhum caso no grupo controle com sulfato de magnésio. O’Grady et al. (2000) descreveram uma freqüência ainda maior de hipotensão (41%) com o uso intravenoso. Avaliando os efeitos da droga por via sublingual, Buhimschi et al. (2002) descreveram um decréscimo de 20% na média de pressão arterial depois da primeira dose de nitroglicerina (800mcg). Em contraposição a estes estudos, outros realizados em animais mostraram a segurança hemodinâmica do uso da nitroglicerina intravenosa (BOOTSTAYLOR et al., 1997), e diversos estudos clínicos demonstraram a segurança da via transdérmica (BLACK et al., 1999; BISITS et al., 1998; LEES et al.,1999; LESZCYNSKA et al., 2001; 69 ROWLANDS et al., 1996; SMITH et al., 2000). Hipotensão não foi referida na metanálise incluindo cinco estudos e um total de 466 mulheres (DUCKITT e THORNTON, 2003). Ensaios clínicos comparando as diversas vias (transdérmica, intravenosa e sublingual) não estão disponíveis, porém optamos pela utilização da via transdérmica por acreditarmos em sua maior segurança para o uso em gestantes (LEES et al., 1999). Em nosso estudo, não evidenciamos nenhuma alteração significativa na pressão arterial sistólica e diastólica materna e na freqüência cardíaca materna e fetal. A freqüência de hipotensão foi maior entre pacientes que receberam nifedipina (12,5%) em relação àquelas que receberam nitroglicerina (3,8%), porém esta diferença não foi estatisticamente significativa. Na verdade, todos estes casos de hipotensão foram diagnosticados somente pela mensuração dos níveis tensionais (pressão sistólica menor que 80 mmHg e/ou pressão diastólica menor que 50mmHg), porém não se constataram sintomas clínicos ou repercussões maternas e fetais. Em relação aos efeitos fetais, sabe-se que a nitroglicerina atravessa a barreira placentária, podendo ser detectada na circulação fetal em uma proporção estimada de 18,5% (BUSTARD et al., 2002; BUSTARD et al., 2003). Entretanto, a circulação fetal foi avaliada através de dopplerfluxometria por BISITS et al. (1998), não se encontrando alterações associadas ao uso da nitroglicerina. No presente estudo, não realizamos avaliação com Dopplervelocimetria para estudo da circulação uterina e fetal, porém os efeitos fetais foram avaliados clinicamente através da ausculta dos batimentos cardíacos fetais em diferentes momentos, não se constatando nenhum caso de bradicardia ou taquicardia fetal. Resultados semelhantes forma descritos nos ensaios clínicos incluídos na revisão sistemática (DUCKITT e THORNTON, 2003). 70 A segurança de administração do uso da nitroglicerina também foi avaliada pesquisando-se outras reações adversas. Não houve diferença estatisticamente significante na freqüência dos efeitos colaterais apresentados pelas pacientes em nosso estudo, exceto para a cefaléia, presente em 30% das pacientes que receberam nitroglicerina e em 8,3% das pacientes que receberam nifedipina. Diversos outros estudos apontam uma incidência semelhante de cefaléia, que surge em decorrência do efeito vasodilatador da nitroglicerina (ROBERTSON, 1996; SCHMIDT, 1996; OMOIGUI, 1999). Lees et al. (1999) também encontraram uma incidência de 30%, equivalente ao percentual observado no primeiro estudo clínico realizado no IMIP (AMORIM et al., 1999). O risco relativo de cefaléia foi três vezes maior na revisão sistemática de Duckitt e Thornton (2003). Entretanto, não constatamos em nosso estudo diferença significativa na freqüência de outros efeitos colaterais, como rubor facial, náuseas, vômitos e taquicardia. Estes dados diferem dos resultados da metanálise, que apontam uma freqüência significativamente menor de reações adversas quando se comparou a nitroglicerina com outros agentes tocolíticos: encontrou-se menor freqüência de rubor facial, dificuldade para respirar, palpitações, taquicardia e dor ou opressão precordial (DUCKITT e THORNTON, 2003). Cumpre, porém, destacar que esta comparação foi realizada com os betamiméticos e o sulfato de magnésio, drogas que apresentam uma freqüência bem maior destes eventos em relação à nifedipina, como foi comprovado nas duas metanálises publicadas (TSATSARIS et al., 2001; KING et al., 2003). Devemos ainda salientar que não foi necessário abandono do tratamento por efeitos colaterais em nenhum grupo no presente estudo, verificando-se melhora da cefaléia após 71 uso do paracetamol por via oral e cessação das náuseas e vômitos com administração de metoclopramida intramuscular. Em suma, acreditamos que estes resultados são encorajadores, no sentido de ampliar as indicações da nitroglicerina para terapia tocolítica, uma vez que, para a maioria dos desfechos estudados, a droga demonstrou ser equivalente à nifedipina. Ambas as drogas apresentam vantagens na forma de administração, custo e segurança materno-fetal em relação a outros tocolíticos, o que pode facilitar a adesão ao tratamento e diminuir a suspensão da inibição por intolerância aos efeitos colaterais tão comuns às outras drogas tocolíticas (KING, 2003; DUCKITT e THORNTON, 2004). Entretanto, algumas limitações metodológicas do presente estudo devem ser consideradas. Primeiro, em se tratando de um ensaio clínico pequeno, com apenas 50 pacientes, o poder estatístico pode ter sido insuficiente para evidenciar eventuais diferenças realmente existentes entre os grupos. O cálculo do tamanho amostral previa uma diferença na média de tempo necessário para tocólise de duas horas entre as drogas, enquanto a diferença observada foi de 0,8 horas. Possivelmente esta diferença não tem significado clínico, embora estudos posteriores devam contemplá-la quando for calculada a amostra. O fato de o estudo não ser mascarado também pode ser motivo de críticas. Mesmo em se tratando de vias de administração diferentes, poderíamos ter utilizado um desenho cruzado, usando nitroglicerina transdérmica com placebo em comprimidos ou cápsulas e nifedipina oral com placebo transdérmico. Na verdade, nosso objetivo inicial era realizar este tipo de estudo, porém não conseguimos obter um patch de placebo transdérmico, porque a indústria farmacêutica não atendeu nosso pedido neste sentido. Por outro lado, desde a elaboração do projeto de pesquisa que resultou neste estudo, nunca admitimos a possibilidade de realizar um braço com placebo, uma vez que esta 72 opção seria eticamente discutível. Na atualidade, os benefícios da terapia tocolítica estão bem estabelecidos, em termos de prolongamento da gravidez, pelo menos durante o tempo necessário para garantir a administração de corticóide para maturação pulmonar fetal (GYETVAI et al., 1999; KING et al., 2003; CROWLEY, 2004). Embora exista a possibilidade do uso de doses-resgate de tocolíticos nos estudos controlados por placebo (ROMERO et al., 2000), julgamos esta prática arriscada em pacientes com trabalho de parto já deflagrado, na presença de modificações cervicais, podendo evoluir com dilatação progressiva, resultando em parto prematuro. O esquema de utilização da nifedipina no presente estudo pode ser discutido, uma vez que utilizamos inicialmente a droga por via sublingual, seguindo-se administração por via oral, em intervalos de seis horas. Uma dose inicial sublingual como forma de ataque pode ser justificada porque disponibiliza mais rapidamente a droga. A nifedipina por via sublingual é rapidamente absorvida, iniciando sua ação em menos de cinco minutos da sua absorção, com pico de ação em 30 a 45 minutos. Por via oral, seus efeitos se iniciam dentro de 20 minutos, com pico de concentração dentro de uma a duas horas (SILVA, 1994; OMOIGUI, 1999). Embora a via sublingual seja condenada por alguns autores, a revisão sistemática concluiu que não existem evidências suficientes para indicar qual o melhor esquema e via de administração da nifedipina (KING, 2003). Em outra direção, também não foi nosso objetivo avaliar desfechos em longo prazo, como freqüência global de parto prematuro, freqüência de parto prematuro antes de 34 semanas, tempo de prolongamento da gravidez e resultados perinatais. Todas estas variáveis são importantes no sentido de se avaliar uma droga tocolítica (BERKMAN et al., 2003), porém sua avaliação envolveria problemas operacionais para o seguimento das pacientes, além de prolongar a coleta de dados, que se estenderia além do cronograma 73 previsto para o Mestrado. Como a conduta adotada nos dois serviços envolvidos prevê a alta das pacientes depois de 48 horas, desde que ausentes contrações uterinas e dilatação cervical avançada, geram-se dificuldades em acompanhá-las até o parto, que muitas vezes pode vir a ser assistido em outros serviços. Estes desfechos precisam ser adequadamente avaliados em novos estudos, com maior casuística, programados para um período mais longo e desenhados de forma a garantir o acompanhamento das pacientes, incluindo o parto e a evolução neonatal. A freqüência global de parto prematuro deve ser estabelecida, assim como as complicações da prematuridade, como desconforto respiratório, necessidade de assistência ventilatória, tempo de hospitalização e mortalidade neonatal. Em função destas limitações, as conclusões do presente estudo não autorizam o uso rotineiro da nitroglicerina como agente tocolítico na prática clínica diária. Novos ensaios clínicos randomizados devem ser realizados para assegurar a real eficácia e segurança da tocólise com a nitroglicerina, com poder e amostra suficientes para avaliar os riscos e benefícios fetais em longo prazo (avaliação dos resultados perinatais). Deve-se destacar, todavia, que a adequada avaliação dos resultados perinatais constitui uma das principais preocupações metodológicas nos estudos avaliando intervenções para prevenção da prematuridade (BERKMAN et al., 2003). O problema é que, em decorrência da melhora dos cuidados neonatais, tem-se observado redução importante da freqüência da morbidade e da mortalidade dos recém-nascidos prematuros (ALEXANDER et al., 2003), necessitando-se de um imenso tamanho amostral para determinar eventuais diferenças entre uma e outra intervenção nos ensaios clínicos randomizados. 74 O custo destes ensaios clínicos pode, portanto, tornar-se proibitivo, de forma que muitos pesquisadores continuam utilizando como desfechos primários o prolongamento da gravidez ou o número de partos prematuros antes de um ponto de corte arbitrariamente definido (BERKMAN et al., 2003). Mesmo assim, acreditamos que os desfechos secundários (complicações neonatais) devem ser adequadamente avaliados em qualquer estudo futuro que formos conduzir em ambas as instituições envolvidas. Na verdade, pretendemos prosseguir com esta linha de pesquisa, visando a elucidar o papel da nitroglicerina como agente tocolítico. Estamos já preparando o projeto de um grande ensaio clínico, multicêntrico, randomizado e mascarado, comparando nitroglicerina e nifedipina. O cálculo do tamanho da amostra deve incluir tanto a freqüência de parto prematuro em 48 horas como dentro de sete dias, antes de 34 semanas e de 37 semanas. Além disto, deve-se prever um n suficiente para evidenciar diferenças na freqüência dos diversos efeitos colaterais e das principais complicações neonatais. Por outro lado, pretendemos realizar análise de sobrevivência para a avaliação da idade gestacional no parto, conforme recomendado por Berkman et al. (2003) como uma forma de evitar o viés decorrente da inclusão de pacientes com grande variação da idade gestacional. 75 VII. CONCLUSÕES Em gestantes com trabalho de parto prematuro submetidas a tocólise com nitroglicerina transdérmica ou nifedipina oral: 1. A eficácia da tocólise nas primeiras 12 horas foi semelhante: 84,6% para a nitroglicerina e 87,5% para a nifedipina. 2. O tempo necessário para tocólise efetiva variou entre duas e 12 horas para a nitroglicerina (média de 6,6 horas) e entre duas e 11 horas para a nifedipina (média de 5,8 horas). Esta diferença não foi estatisticamente significante. 3. Não houve diferença entre os grupos em relação aos parâmetros hemodinâmicos maternos (pressão arterial e pulso) e fetais (freqüência cardíaca fetal) nas primeiras seis horas de tocólise e a cada seis horas até 24 horas. 4. A freqüência de recorrência do trabalho de parto prematuro nas primeiras 48 horas após início da tocólise foi de 26,9% nas pacientes recebendo nitroglicerina versus 16,7% nas pacientes recebendo nifedipina. Esta diferença não foi estatisticamente significante. 5. A freqüência de parto prematuro nas primeiras 48 horas depois do início da tocólise foi semelhante nos dois grupos: 15,4% no grupo da nitroglicerina e 12,5% no grupo da nifedipina. 6. A freqüência de cefaléia foi significativamente maior entre as pacientes recebendo nitroglicerina (30,8% versus 8,3%). Não houve diferença significativa na freqüência de hipotensão (3,8% versus 12,5%), taquicardia (somente um caso no grupo da nifedipina), rubor facial (7,7% versus 4,2%), náuseas (7,7% versus 12,5%) e vômitos (3,8% versus 4,2%). Não houve casos de bradicardia ou taquicardia fetal. 76 VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABERNETHY, D.R.; SCHWARTZ, J.B. Drug therapy: calcium-antagonist drugs - review article. N Engl J Med, 341:1447 - 1457, 1999. ALBUQUERQUE, I.C.C. et al. Avaliação do impacto da corticoterapia antenatal para aceleração da maturidade pulmonar fetal nos recém-nascidos em maternidade-escola brasileira. Rev Bras Ginecol Obstet. Vol.24 n.10:655-661, 2002. ALEXANDER, G.R. et al. Birth weight/gestational age-specific neonatal mortality: 19951997 rates for whites, hispanics, and blacks. Pediatrics, 111:61-66, 2003. ALTHABE, F. et al. 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Neste momento em que aceito participar, não sei se vou receber uma ou outra droga. 3. Participando do estudo não deixarei de realizar os procedimentos de rotina utilizados no IMIP para diagnóstico e tratamento do trabalho de parto prematuro. Entretanto, terei de me submeter a monitorização mais freqüente de parâmetros como a pressão arterial e a freqüência cardíaca (minha e do bebê), que entretanto são procedimentos não-invasivos e que não irão me prejudicar, nem prejudicar o bebê. 2 4. Concordei em participar da pesquisa sem que recebesse nenhuma pressão dos profissionais de saúde que participam do projeto. 5. Continuarei sendo atendida no IMIP e dispondo de toda a atenção devida no CAM, mesmo que me recuse a participar da pesquisa. 6. Poderei abandonar a pesquisa a qualquer momento caso não me sinta satisfeita, sem que isto venha a prejudicar meu atendimento no IMIP. 7. A nifedipina e a nitroglicerina são drogas seguras para utilização na inibição do trabalho de parto prematuro, sendo a nifedipina a droga usada de rotina no serviço. 8. Embora seja seguro o uso da nitroglicerina por via transdérmica e da nifedipina por via oral na inibição do trabalho de parto prematuro para a gestante e o concepto, efeitos colaterais semelhantes devido ao uso das drogas podem ocasionalmente ocorrer, sendo os mais freqüentes a cefaléia, náuseas e vômitos, rubor facial, hipotensão arterial e taquicardia. 9. Quaisquer efeitos prejudiciais do tratamento decorrentes de minha participação neste estudo serão imediatamente identificados e tratados de acordo com a rotina da instituição. 10. Qualquer dúvida, poderei me comunicar com o Dr. Lippo (081-9127-4849) ou Dra. Melania (083-8815-5216) ou ainda com o Comitê de Ética em Pesquisa do IMIP (0812122-4113) ou do ISEA (083-341-2007). Recife-Campina Grande, ____/____/______. __________________________________ Assinatura da Paciente _______________________________ Assinatura do Médico Responsável 3 APÊNDICE II USO DA NITROGLICERINA POR VIA TRANSDÉRMICA COMPARADO COM NIFEDIPINA ORAL NA INIBIÇÃO DO TRABALHO DE PARTO PREMATURO: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO INSTRUMENTO DE COLETA FORMULÁRIO Nº MÉDICO PLANTONISTA ________________________________________ NOME DA PACIENTE __________________________________________ REGISTRO GERAL REGISTRO SAME DATA ADMISSÃO / HORA ADMISSÃO : / IDADE MATERNA GESTA PARA ABORTO IDADE GESTACIONAL (SEMANAS COMPLETAS) USG DUM 4 Nº CONSULTAS PRÉ-NATAL AVALIAÇÃO CLÍNICA INICIAL PA X PULSO BCF DINAMICA UTERINA (Nº) EM (seg) INTENSIDADE FORTE DILATAÇÃO NIFEDIPINA HORA INICIO TRATAMENTO : NECESSIDADE DE NOVO ADESIVO? FALHA TERAPÊUTICA? SIM EVOLUIU PARA PARTO? / / / / NÃO NÃO SIM HORA SIM NÃO : NOVA INIBIÇÃO (RECORRÊNCIA DE TPP)? DATA FRACA APAGAMENTO DROGA: NITROGLICERINA DATA MÉDIA HORA : DATA DA ALTA HOSPITALAR / SIM NÃO / 5 INTERVALO 15’ 30' 45' 01h 01h 30' 02h 02h 30' 03h 03h 30' 04h 04h 30' 05h 05h 30' 06h PA PULSO BCF DINAMICA UTERINA NÚMERO DURAÇÃO (seg) INTENSIDADE (fraca, media, forte) EFEITOS ADVERSOS TAQUICARDIA HIPOTENSÃO NÁUSEAS VÔMITOS RUBOR FACIAL OUTROS (citar): a) b) c) d) 6 INTERVALO 06h 30' 7h 07h 30' 8h 08h 30' 9h 09h 30' 10h 10h 30' 11h 11h 30' 12h PA PULSO BCF DINAMICA UTERINA NÚMERO DURAÇÃO (seg) INTENSIDADE (fraca-media-forte) EFEITOS ADVERSOS TAQUICARDIA HIPOTENSÃO NÁUSEAS VÔMITOS RUBOR FACIAL OUTROS (citar): a) b) c) d) 7 INTERVALO 12h 30' 13h 13h 30' 14h 14h 30' 15h 15h 30' 16h 16h 30' 17h 17h 30' 18h PA PULSO BCF DINAMICA UTERINA NÚMERO DURAÇÃO (seg) INTENSIDADE (fraca-media-forte) EFEITOS ADVERSOS TAQUICARDIA HIPOTENSÃO NÁUSEAS VÔMITOS RUBOR FACIAL OUTROS (citar): a) b) c) d) 8 INTERVALO 18h 30' 19h 19h 30' 20h 20h 30' 21h 21h 30' 22h 22h 30' 23h 23h 30' 24h PA PULSO BCF DINAMICA UTERINA NÚMERO DURAÇÃO (seg) INTENSIDADE (fraca-media-forte) EFEITOS ADVERSOS TAQUICARDIA HIPOTENSÃO NÁUSEAS VÔMITOS RUBOR FACIAL OUTROS (citar): a) b) c) d) 9 APÊNDICE III USO DA NITROGLICERINA POR VIA TRANSDÉRMICA COMPARADO COM NIFEDIPINA ORAL NA INIBIÇÃO DO TRABALHO DE PARTO PREMATURO: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO LISTA DE CHECAGEM CRITÉRIOS DE INCLUSÃO 1. Idade materna: maior que 18 e menor que 40 anos. 2. Gravidez única tópica com feto vivo e boa vitalidade. 3. Idade gestacional maior que 24 e menor que 35 semanas. 4. Diagnóstico firmado de início de trabalho de parto prematuro (contrações uterinas + alterações cervicais), com dilatação cervical de até 4cm. 5. Aceitação para participar da pesquisa (ficha de consentimento informado). CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO • Síndromes hipertensivas da gravidez. • Hipotensão materna. • Diabetes gestacional. 10 • Doenças maternas graves (cardiopatias, pneumopatias, infecções graves etc.). • Infecções (sífilis, toxoplasmose, HIV etc.), exceto infecção urinária. • Hemorragias maternas graves. • Corioamnionite ou febre de origem inexplicada. • Malformação do trato genital materno (utero bicorno, septado, miomas volumosos etc.). • Malformacao fetal incompativel com a vida. Dúvidas: Lippo - 99714849 / 34624479 Melania – (081) 9143-3078 – (083) 8815-5216 Isabela – 9972-7051 11 APÊNDICE IV USO DA NITROGLICERINA POR VIA TRANSDÉRMICA COMPARADO COM NIFEDIPINA ORAL NA INIBIÇÃO DO TRABALHO DE PARTO PREMATURO: ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO ORIENTAÇÃO PARA ADMINISTRAÇÃO DAS DROGAS E MONITORIZAÇÃO 1. Diagnóstico de início de parto prematuro. 2. Checar critérios de inclusão e exclusão (vide ficha em anexo). 3. Obter consentimento informado. 4. Realizar exame ultra-sonográfico na triagem. 5. Encaminhar ao pré-parto (IMIP) ou unidade de alto-risco (ISEA). 6. Realizar cardiotocografia. 7. Administrar a droga randomizada: nitroglicerina um patch no antebraço; nifedipina 20mg (uma cápsula) sublingual (SL). 12 8. Checar sinais vitais maternos (pressão arterial e freqüência cardíaca) de 15 em 15 min na primeira hora, depois a cada hora até obter-se tocólise efetiva. 9. Avaliar ausculta fetal com a mesma periodicidade. 10. Anotar o horário em que se constatou inibição do trabalho de parto prematuro (desaparecimento das contrações ou retorno ao padrão contrátil normal para a idade gestacional, sem progressão da dilatação). 11. Reavaliar inibição com seis horas: repetir nifedipina 20mg via oral (VO) ou acrescentar um novo adesivo de nitroglicerina caso não se constate inibição do trabalho de parto prematuro. 12. Reavaliar inibição com 12 horas: suspender a inibição com a droga e substituir por terbutalina caso não tenha ocorrido inibição do parto prematuro. 13. Prosseguir a monitorização durante 48 horas, checando a cada seis horas dinâmica uterina, dilatação cervical e parâmetros hemodinâmicos maternos (freqüência cardíaca e pressão arterial) e fetais (batimentos cardíacos fetais). 14. Anotar se houve recorrência do trabalho de parto prematuro (novo episódio), evolução para parto prematuro (nascimento) e resultados neonatais. 13 15. Em caso de novo episódio de trabalho de parto prematuro, usar nifedipina (droga padrão) ou terbutalina subcutânea, caso haja contraindicação à nifedipina. CRITÉRIOS PARA DESCONTINUACÃO DA PESQUISA A QUALQUER MOMENTO: • Quaisquer alterações clinicas (efeitos adversos) incompatíveis com a segurança materno-fetal (COMUNICAR IMEDIATAMENTE AOS PESQUISADORES) • Desejo da paciente de desistir do projeto (ANOTAR NO INSTRUMENTO DE COLETA!!!) Dúvidas: Lippo - 99714849 / 34624479 Melania – 91433078 – (083) 8815-5216 Isabela – 9972-7051 14