Álbum do jeitinho alemão
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Álbum do jeitinho alemão
P erfil ENTREVISTA: Walter Neumair e Stephan Neumair, do laboratório Color Alfa Por Regina Sinibaldi Álbum do jeitinho alemão O Color Alfa é um laboratório que se distingue dos padrões brasileiros. A começar pelo horário de funcionamento na semana: das 8 às 18 horas rigorosamente; antes de lançar um produto, realiza muitas pesquisas e testes exaustivos até ter certeza do que vai vender; sua sede fica em Cotia, na Grande São Paulo, num terreno que preserva algumas espécies da Mata Atlântica. E o essencial do perfil do laboratório: maquinário e química fotográfica desenvolvidos pelo próprio dono, o alemão Walter Neumair, 52, e o filho Stephan, 32. Os dois parecem ter a paciência e a obstinação como maiores trunfos para vencer as barreiras impostas pelos experimentos a que se propõem. Não se angustiam por passar longos períodos à espera de resultados satisfatórios. Um desses experimentos, por exemplo, é terem inventado um álbum fotográfico cujas páginas exalam um perfume floral. Ao que se tem notícia, não há similar no mundo. Outra conquista: fabricar um álbum com papel fotográfico de várias páginas sem ficar pesado. Acompanhe a conversa com pai e filho, que aconteceu na sede do Color Alfa na primeira quinzena de julho. FHOX - Por que o senhor veio para o Brasil? Walter - Para reabrir a Agfa, em 1976. Depois de seis anos a Agfa resolveu fechar de novo. Fiquei por aqui, fazia assistência técnica para equipamentos Agfa. Em 83 abri uma lojinha em Santo Amaro que ficou lá até 92, ano em que construí esta sede em Cotia. Comecei com revelação com rotas de motoqueiros, cheguei a ter dois mil pontos de coleta, 26 motoqueiros. O volume era de cinco mil filmes diários. Tínhamos São Paulo inteira. Stephan - A queda do filme foi muito brusca. Isso calhou com minha chegada do Canadá, onde estudei psicologia e economia, peguei o finalzinho da era do filme. Passamos quatro anos fazendo pesquisas só para desenvolver o produto. Porque além dele criamos maquinário próprio. Iniciamos com capital zero. FHOX - Foto em Conta, Alfa Fotobook, tudo é Color Alfa. Isso confunde o cliente? Walter - Não porque o nome de guerra para revelação era Foto em Conta, que não existe mais, não combina com álbum. Color Alfa é a razão social. FHOX - Qual a estrutura atual do laboratório? Walter - Temos uma área de 3.600 metros quadrados, com 1.200 de área construída e atualmente somos em torno de 18 funcionários, conosco 20. Stephan - Conseguimos fazer maquinário extremamente eficiente que requer poucas pessoas, fazemos a confecção Fotos: Marcelo Célio Qualidade e prazo de entrega dos álbuns são o cartão de visita do laboratório Color Alfa, em Cotia, na Grande São Paulo O nome de guerra para revelação era Foto em Conta completa do livro, menos a diagramação. Temos um software para diagramação ou as pessoas podem usar Photoshop ou qualquer outro programa de diagramação. Nossos pedidos hoje são pela internet. Demoramos quatro anos para lançar o produto porque não queríamos que voltasse. Seria dar um tiro no pé. Nossa preocupação constante até hoje é com a qualidade do produto. FHOX - Quando foi lançado o Alfa Fotobook? www.fhox.com.br agosto 2011 FHOX 11 P erfil Walter - Em final de 2007. Nossa preocupação é ter um produto bom porque aí as pessoas vão chegando por recomendação. São muito raras as devoluções. Estamos sempre batendo testes. Na verdade é um conceito meio alemão de ser e de querer fazer direito. Os testes também são feitos nos materiais utilizados. Produto bom se vende sozinho. Quando entramos nesse mercado, existia a Digipix e alguns formatos padrões. Acabou que as pessoas começaram a gostar de formatos fora do padrão. Agora entramos nos formatos padrões. duto, o max, que é 27 por 27 de 30 páginas. Naquela época, a discussão era: brilhante ou fosco. Decidimos pelo brilhante. Hoje temos nove produtos de 30 a 126 páginas, de diversas capas. Walter - O que mais agradou o Brasil inteiro é o prazo de entrega: três dias úteis. No quarto dia o álbum é postado. FHOX - Tem um formato que é mais rentável? Walter - O mais vendido é o 27 por 27, depois o 27 por 74. Vamos lançar modelos maiores. FHOX - O modelo panorâmico é tendência de fato? Walter - Sim. Existe mercado para isso e também para formatos menores. Fazemos 10 por 15 e o pessoal pede para dar de presente. A vantagem que temos é a quantidade de páginas. Enquanto o resto faz um livro grosso com 50 páginas, chegamos a 120. Então o fotógrafo consegue colocar mais fotos. Isso é possível pelo nosso sistema de livro. O produto tem uma relação preço/qualidade muito boa FHOX - Onde chega o Fotobook? Walter - Recebemos do Brasil inteiro, de norte a sul. Por meio de feiras, como a Fotografar, vem gente do Brasil todo: Rondônia, Roraima, de lugares mais inimagináveis. O produto tem uma relação preço/qualidade muito boa. É moderno, sai um pouco do álbum tradicional. FHOX - Existe um gosto comum pelos álbuns sendo o Brasil tão grande? Walter - Em relação ao produto, sim. Tem uma aceitação igual em todas as partes que apresentamos. Existem algumas diferenças de formatos, da Região Norte para cá. FHOX - Dê um exemplo. Stephan - Salvador adora o 25 por 60; BH gosta de 30 por 80 ou 30 por 90. 12 FHOX agosto 2011 www.fhox.com.br FHOX - Em termos de equipamentos o que o laboratório tem? Walter - Temos Noritsu 3202 e 3702. FHOX - Como se situa a empresa em relação aos demais laboratórios? Walter - Na verdade não sei o volume dos concorrentes, é óbvio que a Digipix tem um mercado muito maior que o nosso. Universal também tem, porque tem 20 anos de mercado. Stephan - Em termos de crescimento, estamos crescendo todos os anos. FHOX - A que taxa? Walter - 20% ao ano. Inicialmente é sempre bom [risos]. Stephan - Começamos com um pro- Stephan - É uma linha mais light. Voltando ao posicionamento: não somos mais invisíveis, mas também não somos gigantes do setor. E mais: a relação entre panorâmico e pequeno é de 10 para 1. Os pequenininhos são aniversários infantis, kit sogra, e os grandes são mais casamentos, 15 anos e viagens. FHOX - O Brasil está atrasado em comparação a laboratórios profissionais no exterior? Stephan - Uns quatro anos. Walter - São dois mercados diferentes. O álbum gráfico é mais dirigido para amador, uma coisa mais barata. Não concorre diretamente conosco. É outra categoria. FHOX - Empresa de formatura é cliente do laboratório? Walter - Não. Temos algumas pequenas. Temos um preço muito alto para eles que querem uma coisa barata. FHOX - Como é feito o controle de qualidade de impressão? Walter - A cada duas horas se passa uma tira de controle. Também cada rolo de papel é testado antes. Mandamos uma mídia para o cliente com uma imagem e uma foto impressa. Ele coloca isso no monitor e ajusta a partir daí. FHOX - Os problemas com laminação de álbum cessaram? Walter - Não laminamos, envernizamos. Não é esse verniz UV que tem por aí, é um desenvolvido por nós. Stephan - Tanto é que nosso livro fosco é perfumado. É uma essência floral. Quando você abre as páginas, sai o buquê. É amadeirada quando o livro é novo e depois vai ficando adocicada. FHOX - Tem algum lugar do mundo com isso? Walter - Não que eu conheça. Stephan - Tenho aqui livro com qua- tro anos e que está com cheirinho. Voltando à sua pergunta, laminação, sim, tem problemas, independente se a matéria-prima é dos Estados Unidos. É tanta dor de cabeça que estamos criando uma tecnologia nova para substituir isso. Walter - O problema é que cada lote produzido é diferente. Não tem padrão. FHOX - Há quanto tempo o Color Alfa lançou esse verniz? Walter - Desde o começo, aliás, o verniz nos atrasou em quase dois anos o lançamento do álbum. Stephan - Foram 4.200 horas de estudos. No total foram mais de nove mil horas de pesquisas. FHOX - A empresa visita estúdios? Walter - Fazemos visitas esporádicas. Não temos um sistema de atendimento constante por enquanto. de produção. Um crescimento mais ou menos de 20% ao ano. Usamos papel DNP até agora. FHOX - O que é DNP? Walter - A DNP comprou a fábrica de papel da Konica. Um papel excelente, que melhor se adapta para fazer o livro. Agora a DNP entrou em parceria com a Fuji no Japão. FHOX - Como veem esse boom de lojas com encadernadora? Stephan - Tenho uma opinião própria. Abrir uma loja e fazer photo book é muito fácil. No momento que você tiver de fazer 50, 60 livros por dia com a mesma qualidade, pode acreditar em quatro anos de pesquisa para fazer acontecer. FHOX - O horário de funcionamento é rigoroso. Sempre foi assim? Walter - Das 8 às 18 horas, e sexta fecha às 17 horas. Sempre foi assim. Walter - Tem mercado. As lojas vão sobreviver com isso, porque de revelação ninguém vive. Só na Alemanha foram feitos 40 milhões de livros em um ano, só um laboratório fez dez milhões. É o Cewe Color. Provavelmente o livro vai ficar mais barato, só que no caso de lojas, que têm um custo alto, nunca poderão vender a preço baixo, vão vender um volume reduzido. É como fazer pãozinho bonitinho, agora fazer pão hoje, amanhã, todos com o mesmo sabor, qualidade, aí é outra coisa. FHOX - O consumo de papel fotográfico pelo laboratório tem aumentado? Walter - É proporcional ao volume FHOX - Qual o grande diferencial do Color Alfa? Walter - É um produto moderno, Stephan - Temos representantes em alguns estados: Minas Gerais, Bahia, Paraná e Rio de Janeiro. Walter - Eu diria mais. Está atrasado no marketing. Stephan - Marketing e tecnologia. Na Europa tudo é feito pelo computador. Os laboratórios têm ponto de coleta pelo totem, são pessoas mais habituadas ao computador, sabem trabalhar com programas. O brasileiro tem o hábito diferente, gosta de terceirizar as coisas. Eles têm tecnologia de alta velocidade espalhada por toda a Europa, facilita. Não laminamos, envernizamos. Não é esse verniz UV que tem por aí, é um desenvolvido por nós FHOX - O que representou a chegada do álbum gráfico no Color Alfa? www.fhox.com.br agosto 2011 FHOX 13 P erfil mais leve e que sai do tradicional e que tem uma aceitação boa. Stephan - No Brasil a tendência é deixar as coisas para o último minuto e nos encaixamos bem nisso, porque na última semana o fotógrafo ainda tem tempo. FHOX - Como foi formar a carteira de clientes? Stephan - Pegávamos o carro e íamos até Ribeirão Preto, de loja em loja, os dois. Esses clientes trabalham conosco até hoje. E assim foi em outras cidades. Walter - Ou você tem um monte de FHOX - Quando foi o último? Stephan - Ficamos quase três anos sem aumentar, agora só aumentamos no final do ano de acordo com a inflação. FHOX - Fotógrafos buscam prazo e qualidade. Que outros desafios a encadernação enfrenta? Walter - Prazo de pagamento [risos], aí é outro problema. FHOX - Qual a principal tendência para esse mercado? Stephan - É muito ampla a pergunta. Em termos de tecnologia? No Brasil falta abertura para tecnologias interna- FHOX - O que pensa dessa onda de tablets e livros digitais? Stephan - Quando entrou, pensei: as pessoas não vão tirar mais foto, e o mercado da fotografia está crescendo, está com volumes maiores do que antigamente. Vejo os tablets como ajuda, um facilitador do ramo. FHOX - Hoje se ganha com foto? Walter - Vou falar da parte pessoal. Cheguei a ter oito lojas, mas tenho um pensamento um pouquinho germânico, então as coisas têm de ser certinhas. O que acontecia: todo o ano renovar contrato de aluguel. Se a loja vai bem, o locador quer o dobro. Se não, quer do mesmo jeito, e luvas, e não sei o quê [risos]. Apesar do bom movimento, era muito desgastante porque nunca fui de ficar pechinchando. Daí comecei com o sistema de coleta. Ganhava-se dinheiro, só que no fim da história tinha entrado tanta gente no mercado que literalmente se estragou, cada um queria vender mais barato, trocava-se fotografia por centavos. Hoje o preço é mais equilibrado, um pouquinho. Mesmo assim o preço da foto está abaixo do real. FHOX - O senhor não gosta de pechinchar, mas seu cliente gosta. Walter - Uma choradinha dos fotógrafos sempre tem. Hoje o preço da foto é mais equilibrado, um pouquinho dinheiro para fazer um marketing grande ou usa a sola do sapato [risos]. FHOX - O seu produto é reconhecido pela qualidade e custo baixo. É complicado equilibrar as duas coisas? Walter - Não, é questão da tecnologia que você dispõe. Stephan - E a vantagem de usar matéria-prima boa. Queremos melhorar sempre o produto sem aumentar o custo dele. 14 FHOX agosto 2011 www.fhox.com.br cionais, de maquinários de confecção de photo books, apesar de o BNDES incentivar, mas são apenas máquinas nacionalizadas. FHOX - A empresa já recorreu a alguma linha de financiamento? Walter - Agora, pela primeira vez, pelo BNDES, Finame. Uma mão na roda. O problema é que o equipamento precisa ser nacionalizado e os melhores equipamentos são todos importados. Stephan - Mas é o preço justo. Papel fotográfico é um material caro. E para o livro não se desmontar na semana que vem é preciso de matéria-prima boa. FHOX - Há clientes no Cone Sul? Walter - Conheço bastante Chile e Argentina. Eles passaram exatamente pelo que passamos. Teve um tempo em Santiago que tinha uma loja fotográfica ao lado da outra, cresciam como cogumelos. E todas cheias. Uma maravilha. De um dia para outro parou tudo. Sumiram, ficaram as que se adaptaram à parte digital. Stephan - É um projeto futuro, mas primeiro é necessária uma base sólida. Uma barreira é o custo de envio. E ainda tem muito Brasil para se explorar. n