coordenação motora - Revista Mineira de Educação Física
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coordenação motora - Revista Mineira de Educação Física
ARTIGO COORDENAÇÃO MOTORA: UMA REVISÃO DE LITERATURA Renato de Oliveira silva* Ronaldo Sergio ~iannichi*' RESUMO Este estudo teve como objetivo fazer um levantamento do referencial bibliográfico, a fim de obter subsídios para um dimensionamento geral da coordenação motora. Foram abordados assuntos referentes a evolução e classificação da coordenação motora ao longo do tempo. Continuando a temática, foi abordada a localização da coordenação motora em relação as valências físicas, fato polêmico que gerou e ainda gera muitas discussões entre os estudiosos. Foram, ainda, revistos estudos referentes a importância da coordenação não só em relação ao esporte, como também ao dia a dia das pessoas. Finalizando o estudo, foram relacionados os fatores (intervenientes-na coordenação motora, bem como os meios e os métodos] empregados no seu desenvolvimento e, ou, aperfeiçoamento. UNITERMOS: Coordenação, coordenação motora. 1 O ser humano, antes mesmo de nascer, já realiza os seus primeiros movimentos, "o cérebro já emite impulsos coordenadores do funcionamento orgânico, o coração bate e o estômago, rins e fígado começam a desempenhar suas funções e os músculos já reagem .movem as pernas, abrem e fecham as mãos e rodam a cabeça " (CORTADELLAS, 1982, p. 73). Mais tarde, ao deixar o conforto do Útero materno, esses movimentos se tornam uma disputa ativa constante contra o meio ambiente, com as resistências, os obstáculos e as tarefas que este proporciona. Com a maturação neurológica progressiva e as experiências de rnovirnentos decorrentes do avançar da idade, desenvolve-se cada vez mais a compreensão da própria execução do movimento. Essa compreensão, aliada a outros fenômenos fisiológicos, neurológicos e, segundo MEINEL ( 1 984, p. Acadairiico do Curso de Bducaç5o Física da liniversidade Federal de Viqosa. *. Professor do Departamento d e Educação I:isica da Ilniversidade Federal de Viçosa. Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-4 1, 1995 17 75), até social, dará a esses movimentos base para um melhor domínio do meio ambiente, além de dar a esse ato motor, resultante, uma certa harmonia entre os músculos (coordenação intermuscular) e num único músculo (coordenação intramuscular), conforme TUBINO (1 979, p. 2 14), otimizando, assim, o ato motor através da eliminação dos gestos parasitas, resultando numa certa precisão e numa plasticidade. A essa consciência e execução harmoniosa, precisa e plástica que leva o homem a uma integração progressiva de aquisições é que TCTBINO (1979, p. 180) chamou de coordenação motora. Hoje é comum ouvir que determinadas pessoas são descoordenadas ou, no sentido mais popular, desajeitadas, pois, quando solicitadas, as suas respostas a alguns movimentos não correspondem ou são evidenciadas de forma inadequada. Não se deve considerar que uma pessoa seja descoordenada, pois, conforme NEGiUNE (1987, p. 38,43), essa afirmativa tende-se a generalizar, dizendo que ela é descoordenada em vez de se especificar a que estão se referindo, ou seja, em que gesto específico realizado essa pessoa é descoordenada. Mesmo assim, diante desta constatação, profissionais de Educação Física e educadores, de forma geral, voltam sua atenção para esse tema, que vem sendo discutido por especialistas em desenvolvimento motor e psicomotor. NEGRINE (1987) e outros autores, como KIPHARD (1976), atribuem a coordenação motora as mais diferentes dificuldades de aprendizagem e outras disfunções anatomofisiológicas. TUBINO (1 979, p. 193) ressalta que este tema é "pré-requisito para qualquer atleta atingir o alto nível". A coordenação motora também faz parte de uma gama muito variada de práticas desportivas, sendo também útil na vida diária, doméstica e profissional, possibilitando, ao mesmo tempo, as pessoas se expressarem com espontaneidade e favorecendo-lhes o lado criativo. Dentro desses aspectos verificados, serão abordados neste trabalho alguns fatores relacionados com a coordenação motora e que, de forma geral, nela interferem. OBJETIVO Fazer um levantamento do referencial bibliográfico, com o propósito de obter subsídios para um dimensionarnento geral da coordenação motora. 18 Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 17-4 1, 1995 REVISÃO DE LITERATURA Para que se possa ter urna visão geral da coordenação motora, serão abordados a seguir aspectos relativos B sua: conceituaçáo e classificação, localizaçúo dentro das estruturas das capacidades motrizes, sua importância, fatores intervenientes e, ainda, o seu desenvolvimento e, ou, aperfeiçoamento. Conceito e Classificação de Coordenaqáo Motora Conceituar coordenação motora toma-se dificil, pois são várias as abordagens para designar o termo, como: coordenação, coordenação psicomotora, coordenação neuromuscular, psicomotricidade (VIANA et al., 1990). Essas diferenças conceituais se devem às "múltiplas áreas científicas que se têm debruçado sobre o seu estudo e pela evolução que o pr6prio conceito tem sofiido à medida que os novos contributos te6ricos vão surgindo" (VEIGA, 1987, p. 9). Sendo assim, tentar-se-á mostrar os conceitos de coordenação motora de alguns autores. Thurstone (1947) apud VEIGA (1987, p. 11) sugeriu que a coordenaçiio motora era uma habilidade, traço da personalidade, e que pode ser definida como aquilo que o indivíduo era capaz de fazer em determinada atividade. Para Bemstein (1967) apud VEIGA (1987, p. 9) a coordenação motora t o modelo ideal, de forma a atingir a solução final na execução da ação de acordo com o objetivo estabelecido. A coordenação é, segundo este mesmo autor, o processo de manutenção de onde resulta o maior grau de liberdade do segmento em movimento, em um sistema controlado. De acordo com Johnson, Updyke, Stolberg e Schaefer (1966), citados por COSTA (1968, p. 285), a coordenação é o denominador comum de todos os parâmetros da habilidade motora e sua definição "é o somatório de diversos movimentos particulares numa única ação equilibrada". Donskoy (1968) apud VEIGA (1987, p 9) conceitua-a como "a combinação concordante dos deslocamentos dos segmentos corporais, no tempo e no espaço, com vistas à execução de uma determinada tarefa1'. COSTA (1968, p. 285) afirma que a definição correta de coordenação seria a "qualidade de sinergia que permite combinar a ação de diversos grupos musculares na realização de uma seqüência de movimentos com o máximo de eficácia e economia ou de rapidez se estiverem envolvidas a velocidade e a força". Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-4 1, 1995 19 Para De Long (1971) apud VEIGA (1987, p. 9) a coordenação é como uma resposta em que as componentes espaciais temporais e qualitativas do movimento foram corretamente definidas. KIPHARD (1976, p. 9) entende por coordenação de movimentos a "interação harmoniosa e econômica de músculos, nervos e sentidos com o fim de produzir ações cinéticas precisas e equilibradas (motricidade voluntária) e reações rápidas e adaptadas a situações (motricidade reflexa)". Já IDLA (1976, p. 13) entende por coordenação "a faculdade de efetuar movimentos complexos de modo conveniente que se pode realizar com o mínimo de energia". Este autor ainda salienta que "a palavra coordenação indica uma determinada ordem entre as ações dos distintos grupos musculares". TELENA et al., (1977, p. 20) esclarece que "coordenação é a faculdade de utilizar conjuntamente as propriedades dos sistemas nervoso e muscular sem que uma interfira na outra". Estes mesmos autores citam ainda Le Boulch, que define coordenação como "a organização das sinergias musculares para cumprir um objetivo por meio de um processo de ajuste progressivo, que é a estmturação de uma praxis". Para Hollmann (s.d.) apud DASSEL e HAAG (1977, p. 16) coordenação é a "função do sistema nervoso central relacionada com a utilização da musculatura do esqueleto durante a execução de um movimento com objetivo definido." Por essa razão encontra-se o termo coordenação neuromuscular. ROCHA e CALDAS (1981, p. 42) salientam que a coodenação motora "é a qualidade de sinergia que permite combinar a ação dos diversos grupos musculares para a realização de uma série de movimentos com o máximo de eficiência e economia". Estes autores ainda consideram a coordenação como "a base do aprendizado e do aperfeiçoamento técnico cujo objetivo é a obtenção do gesto específico visando a ação mais fácil e produtiva". Para TUBINO (1979, p. 180) ela é uma "qualidade física que permite ao homem assumir a consciência e a execução, levando a uma integração progressiva de aquisições, favorecendo a uma ação ótima dos diversos grupos musculares na realização de uma seqüência de movimentos com o máximo de eficiência e economia". BARBANTI (1979, p. 213) entende por coordenação quando se alcança a meta com economia de energia e uma leveza subjetiva com movimentos "soltos", racionais, livres e com estilo. 20 Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 Para Kelso (1982) apud VEIGA (1987, p. 10) a coordenação é uma "estrutura coordenativa onde um grupo de músculos, frequentemente ligados as diversas articulações, é obrigado a atuar como unidade funcional". MEINEL (1984, p. 2) entende que coordenação quer dizer literalmente "ordenar junto", mas o que é "ordenado junto" pode ser entendido de diferentes formas de acordo com o ponto de vista científico. Para este autor, na pedagogia, por exemplo, a coordenação é entendida como fases do movimento ou movimentos parciais cujas ligações ordenadas devem ser alcançadas no movimento; na fisiologia já se entende como um trabalho muscular com determinadas regras de atividade muscular agonista, antagonista e os respectivos processos parciais no sistema nervoso; na anatomia funcional como na cinesiologia são as ordenações comprovadas na atividade muscular e de grupos musculares. A biomecânica considera os parâmetros co-determinantes do decurso do movimento, sobretudo os diferentes impulsos de força. MEINEL (1984) adverte que essa concepção "não mostra a determinante principal", ou seja, a "harmonização de todos os processos parciais do ato motor em vista do objetivo, da meta a ser alcançada". Assim, tendo em vista o que foi exposto, este autor a define como "a ordenação, a organização de ações motoras no sentido de uma meta determinada, bem como de um objetivo". Para MATVÉIEV (1986, p. 157) a coordenação é vista como uma "aptidão de construir (formar, subordinar, relacionar num todo único) as ações motoras" e, ainda, "a aptidão de transformar formas de ação motora já completamente trabalhadas ou de passar de uma para outra segundo as exigências de uma situação mutável ". WEINECK (1989, p. 170) entende que a coordenação motora é determinada pelos processos de orientação e regulação de movimentos, que habilitam o atleta a dominar segura e economicamente as ações motoras nas situações previsíveis (estereótipos) e imprevisíveis (adaptação) e aprender, relativamente depressa, os movimentos esportivos. Para WEDECK (1991, p. 232) a coordenação é "a ação conjunta do sistema nervoso central e da musculatura esquelética dentro de uma seqüência de movimentos objetivos". Na análise ao longo da evolução do conceito, vê-se que, desde 1947, THURSTONE (1947) considerava a coordenação motora apenas uma habilidade e um traço da personalidade, passando pelos que a consideravam fases de um movimento, trabalho muscular, ordenação de grupos musculares e impulsos de forças ligados ao movimento, como salientou MEINEL Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 21 (1984). Essa diferença de conceitos pode servir como explicação para os diversos termos utilizados na coordenação motora. Assim, observando os conceitos e sua evolução, percebe-se que os esquemas explicativos de coordenação motora podem ser considerados completamente diferentes conforme sua problemática se centre no estudo muscular, nas análises da trajetória do movimento ou no papel desempenhado pelo sistema nervoso na coordenação motora. Classificação da Coordenação Motora A coordenação motora é classificada, consoante os vários autores, de maneira distinta, como será abordado a seguir. Larson (1 94 I), Cureton (1947), Cumbee (1953), Fleishman e Hempel(1953) apud FLEISHMAN (1964) "identificaram um fator que eles chamaram de coordenação geral, que parece enfatizar mais a atividade geral de todo o corpo. Talvez, isto é o mesmo que outros têm chamado de agilidade". Segundo FERNANDES (1981, p. 75), "dependendo da relação entre as diferentes massas musculares e da atividade muscular, a coordenação é classificada em dois tipos: coordenação extramuscular e intrarnuscular". Este autor explica a primeira como sendo "uma relação recíproca entre diferentes massas muscu1ares"e a segunda como "uma inervação mais econômica dos músculos, nos quais são estimuladas apenas as fibras musculares necessárias ao trabalho". BARBANTI (1979, p. 2 14) acrescenta ainda nessa classificação a coordenação elementar, fina e finíssima, com a primeira ocorrendo no estágio inicial da realização de um movimento inédito em que o objetivo é alcançado, porém sem ser de forma econômica. Na segunda o movimento "é executado de forma econômica e com uma leveza subjetiva, embora permita melhorias". Na última o movimento "é executado de forma ótima, precisa, e altamente econômica, bem dominsda e leve". Para Costalat (1985) apfi PRESTES e SAMPEDRO (1989, p. 201) "a coordenação é subdividida G r n duas partes: a) Coordenação estática Que resulta do equilíbrio da ação dos grupos antagônicos e se estabelece em função do tônus* que permite a ação voluntária das atitudes; e b) Coordenação Dinâmica - É a colocação simultânea da ação de grupos Costalat apud VELASCO (1 994, p 30) considera tônus "COIJ~O ?Iniestado de atenção que t s n c i p i o eiiergktico .i:equilibrio no ser humano". .-- -22 Kev. min. Educ. Fís , Viçosa, 3(2): 17-4:, 1995 musculares diferentes em vista da execução dos movimentos voluntários mais ou menos complexos". Segundo WEINECK (199 1, p. 232), a coordenação motora pode ser ainda, geral, como resultados de movimentos múltiplos manifestando em diferentes campos da vida e dos esportes; e especiai, resultado de "uma variação da técnica da modalidade em questão sendo combinações e gestos mais complexos". Localização da CoordenaçHo Motora: Capacidade Física ou Motom Há muitos anos as capacidades motoras humanas, também chamadas capacidades físicas, qualidades motoras, habilidades motoras, etc. (BARBANTI, 1988, p. 33), têm sido objeto de estudos, na tentativa de alcançar sempre uma maior eficácia no seu desenvolvimento, e esta "baseiase em predisposiçk genética e desenvolve-se através do treinamento" (CARVALHO. 1987, p. 25; MAGILL, 1984, p. 160-161). A expressão capacidades motoras foi utilizada pela primeira vez por Grundlach apud CARVALHO (1987, p. 24) na Alemanha Oriental, em 1972. Desde esta data ela vem sendo introduzida progressivamente na terminologia da ciência do desporto na maior parte dos países da Europa, para definir os pressupostos necessários para a execução e aprendizagem de ações motoras desportivas, das simples as mais complexas. Essa expressão, ainda segundo esse mesmo autor, substitui as expressões mencionadas acima e outras-do ponto de vista terminológico, as -quais comportam inúmeras definições parciais ou incompletas e geram polêmicas quase sempre artificiais ou de cunho semântico. Com relação a expressão qualidades físicas, usada por TUBINO (1979, p. 180), ROCHA e CALDAS (:981, p. 36), e BARBANTI (1988, p. 39) para designar os pressupostos necessários para a execução e aprendizagem das ações motoras, CARVALHO (1987, p. 24) não concorda com esta terminologia, justificando que o termo qualidade indica um valor elevado em qualquer âmbito do rendimento e é usado com mais propriedade para o âmbito psíquico, colocando como sendo de maior propriedade usar o termo capacidade, que indica uma medida de potencial e, por isso, é de valor amplamente modelavel ou treinável, pressupostos para que uma atividade possa ser executada com êxito. Logo, para que qualquer atividade motora possa ser realizada com êxito, é necessário que se tenha, forçosamente, de pressupor a existência de um certo número de capacidades. Com relação ao termo físico, CARVALHO (1987) entende que ele é bastante genérico, sendo apropriada a sua substituição pelo termo motor, Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-41 , 1995 23 por "ampliar o grupo das capacidades a todas as que dizem respeito ao movimento". No que diz respeito ao termo habilidades motoras, entende-se que ele também não deve ser sinônimo das capacidades motoras, pois, segundo MAGILL (1984, p. 161), "as capacidades motoras constituem a base para todas as habilidades motoras complexas". Esse mesmo autor salienta ainda que a habilidade é um ato, ou uma tarefa, que deve ser aprendido, e as capacidades motoras neste caso são os pressupostos para essas habilidades motoras. A habilidade "é a capacidade para aprender mais, representa o potencial máximo de uma pessoa para obter o sucesso numa performance ou para executar um ato motor". Neste sentido, conforme CANFIELD (1980), ela é uma "prontidão, uma disposição que vai levar a atos ou tarefas (habilidades) coordenadas e que por sua vez levam As destrezas". BARBANTI (1979, p. 206) também entende como habilidade a expressão de um grau de coordenação de movimentos. Para que qualquer esporte ou atividade motora possa ser executado com êxito, é necessário um conjunto de várias capacidades motoras e o seu encadeamento. ROCHA e CALDAS (1981, p. 36) e CARVALHO (1987, p. 25) dividem as capacidades motoras em dois grupos fundamentais: as capacidades condicionais (da condição física), ou âmbito quantitativo, e as capacidades coordenativas, ou âmbito qualitativo (Figura I); a primeira, segundo esses autores, tem como fator limitante a disponibilidade de energia e baseia-se nas condições orgânico-musculares do homem, que são basicamente três: a capacidade de força, de resistência e de velocidade, embora alguns autores considerem esta última intermediária entre os fatores condicionantes e coordenativos, pois depende dos dois âmbitos (Zaciorsky, 1972 apud BARBANTI, 1988). Já as capacidades coordenativas são essencialmente determinadas pelas componentes em que predominam os processos de condução do sistema nervoso e são chamadas de destreza (HARRE, 1969; Zaciorsky, 1966 apud BARBANTI, 1988, p. 36; MITRA e MOGOS, 1982, p. 193; WEINECK, 1989, p. 170). O termo destreza, entretanto, não deve ser usado como sinônimo das capacidades coordenativas, pois, segundo Hitz apud CARVALHO (1988, p. 23), vem sendo substituído na teoria e na prática, uma vez que é utilizado para designar situações análogas que dificilmente identificam a enorme multiplicidade das ações motoras quer no desporto, quer nas ações da vida social, dificultando, assim, a caracterização, o diagnbstico e o aperfeiçoamento de determinadas capacidades coordenativas específicas. Outro termo utilizado como sinônimo de capacidades coordenativas é a agilidade (WEINECK, 1991, p. 232), mas MATNÉIEV (1986, p. 157) 24 Rev. min. Educ. Ffs., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 afirma que as aptidões de coordenação e de outras que com elas se relacionam "é isolada da noção de agilidade, menos exata e mais geral". CAPACIDADES MOTORAS s CAPACDADES CONDICIONAIS [ RESISTÊNCIA I I AER~BICA I ANAER~BICA-ALATICA CAPACIDADE DE REPRESENTAÇAO I 1 I - 1 1 ( CAPACIDADE DE ANTECPAÇAO I 1 I CAPACIDADE DE RITMO RESIS~CL~ ( VELOCIDADE I I 1 CAPACIDADE DE COORDENAÇÃO MOTORA I I 1 CAPACIDADE DE CONTROLE MOTOR MAXIMA AC~CLICA I FLEXIBILIDADE CAPACIDADE DE REA I O MOTORA I I CAPACIDADE DE EXPRESSAO 1 MOTORA - FIGURA 1 Esquema das capacidades motoras, segundo Pohlrnann citado por Carvalho (1987) Na observação da Figura 1, constata-se que existem várias capacidades coordenativas, e a seguir será abordado o artigo de CARVALHO (1988, p. 23) para melhor esclarecimento dessas capacidades. Assim, este autor, citando uma classificação feita por POHLMANN (s.d.), fornece nove capacidades coordenativas, cada uma delas com uma importância prática: Capacidade de diferenciação sensorial É a capacidade de diferenciar e posteriormente precisar, em face da necessidade específica de uma atividade, as sensações que extraímos dos Rev. min. Educ. Ffs., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 25 objetos e dos processos através dos nossos órgãos do sentido. Sua importância deriva da relação sensório-motora que existe entre informações e comportamento, entre atividade sensorial e atividade motora. A qualidade de informação sensorial determina a qualidade da execução técnica, dado que colabora e realiza a função de controle da ação. Capacidade de observação É a capacidade de perceber, de acordo com um programa, o desenvolvimento de um movimento próprio ou alheio, de objetos móveis ou imóveis, com base em critérios selecionados. Provém do papel dominante das informações visuais em todos os desportos na fase de aquisição do processo de aprendizagem. Capacidade de representação É a capacidade de apelar mentalmente, com base nas informações disponíveis, a situações bem determinadas, processos de movimentos, objetos, etc. Uma ação consciente e objetiva pressupõe sempre uma imagem do que se quer e de como se quer fazer. Ex.: treino ídeo-motor ou treinamento mental. Capacidade de antecipaçiio Capacidade de, numa prognose probabilística, prever o desenvolvimento e o resultado de uma ação ou situação e, a partir dela, preparar a ação ou situação que lhe deve seguir. Consiste na garantia de segurança e assistência às corretas soluções de problemas motores. Segundo o autor, a antecipação de todos os detalhes pode conduzir a um comportamento demasiado reativo, levando a erros. Capacidade de ritmo Capacidade de articular com acentuação adequada o desenvolver de um movimento e de agrupar o desenvolvimento temporal e dinâmico que a caracteriza, segundo conjuntos ritmicamente perceptíveis. Um ritmo motor que possa ser interiorizado estimula e tem efeito motivador, oferecendo vantagem não s6 do ponto de vista da aquisição, m s ainda da automatização do decurso do movimento. 26 Rev. mjn. Educ. Ffs., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 Capacidade de coordenação motora Capacidade de assegurar uma adequada combinação de movimentos e operações parciais que se desenrolam ao mesmo tempo ou em sucessão. Em todos os desportos é importante que os estímulos e as reações que se Ihes seguem sejam sintonizados e ajustados entre eles. Capacidade de controle motor Capacidade de poder resolver as exigências elevadas de precisão dos movimentos do ponto de vista espacial, temporal e dinâmico. A capacidade de equilíbrio está fortemente ligada à capacidade de controle motor. Sua importância existe sempre que seja necessário aprender ou realizar habilidades desportivas que requeiram elevadas exigências de precisão motora. Capacidade de reação motora Capacidade de reagir rápida e corretamente a determinados estímulos. As reações podem ser, segundo este autor, simples, de escolha e complexa. Em muitos desportos nos quais é importante a diminuição do tempo que decorre entre o estímulo e a resposta motora o principal papel pertence as reações simples. Refere-se as partidas, às reações de equilíbrio e as respostas a um chamamento. Nas reações de escolha, tem um importante papel a componente cognitiva da decisão. Neste caso a reação rápida esth associada a uma escolha apropriada entre as várias possibilidades alternativas. A reação motora complexa refere-se à situação exigida em toda a sua complexidade. Normalmente, alCm de uma reação rápida é necessária a ela uma resposta relativamente exata. Capacidade de expressilo motorn Capacidade de criar os próprios movimentos segundo a lei do belo, exprimir qualquer coisa de artístico e de provocar uma impressão estética. Com o conjunto de fatores que dela fazem parte, pode-se criar uma via eficaz para educação e formação estética em algumas modalidades como ginástica, patinação artística, ginástica rítmica, acrobacia e natação sincronizada. Far (1979) apud WEINECK (1986) considera que não existem pesquisas capazes de concluir com precisão a exata estrutura e as Rev. min. Educ. Fls., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 27 correlações desses componentes. Todavia, esse autor cita três capacidades que estão em estreita correlação recíproca: capacidade de aprendizagem motora, capacidade de controle motor e capacidade de reação e de readaptação motora. Hitz (1981) apud TITTEL et al. (1988) classifica cinco componentes das capacidades coordenativas em uma ordem hierárquica: 1 - Capacidade para orientação espacial, 2 - Capacidade para diferenciação cinética, 3 Capacidade para reagir, 4 - Capacidade para o ritmo e 5 - Capacidade para manter o equilíbrio. Segundo este autor as duas primeiras apresentam um processo consolidado e generalizado de movimentos do controle motor. As três últimas estão relacionadas com sistema sensório, programas complexos e movimentos de performance. A partir desses estudos, mesmo não sendo considerados como uma compreensão definitiva, é possível inferir algumas questões: 1 - As capacidades coordenativas possuem componentes, embora alguns estudos sejam mais claros e completos que outros quanto a sua estrutura e função prática. 2 - Nesses estudos se percebe que o termo capacidade coordenativa muitas vezes é usado como sinônimo de suas componentes, como, por exemplo, coordenação motora. 3 - A coordenação motora, embora considerada por alguns autores como intermediária entre as capacidades condicionais e as capacidades coordenativas, "pois não podem ser exclusivamente classificadas nestas ou naquelas" (DASSEL e HAAG, 1977, p. 13; BARBANTI, 1979, p. 3), pelas suas características, em que há o predomínio dos processos de condução do sistema nervoso, deve ser um dos componentes das capacidades coordenativas, que por sua vez faz parte de um grupo maior que são as capacidades motoras humanas. Importância da Coordenação Motora A coordenação motora, nas modalidades esportivas e recreativas e nas funções do dia-a-dia, assume um critério importante para o grau de domínio dos movimentos e para o alcance de um nível de qualidade no processo de aprendizagem, tanto desses movimentos como também da fala e da escrita, bem como para o aperfeiçoamento da execução dos movimentos e, ainda, para obter sucesso nos esportes de performance (MEINEL, 1984; TITTEL et al., 1988). Em situações do cotidiano, são realizados múltiplos movimentos com espontânea facilidade, entretanto, os movimentos desconhecidos se 28 Rev. min. Educ. Fls., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 realizam com dificuldade. Nesses se descobre que a musculatura que anteriormente executava com naturalidade os movimentos comuns não mais os executa, pois se empregam forças desnecessárias para vencer uma resistência produzida pela própria musculatura. Assim, um principiante que dá suas primeiras braçadas na natação recorre a força e à violência desnecessárias e antieconômicas, como conseqüência avança só alguns metros e se cansa, desinteressando-se. Um jovem que toma suas primeiras lições de dança se move rígida e pesadamente, com enorme esforço e fatigosa tensão, em oposição aos que já dominam os passos da dança, movendo-se com facilidade e graciosa elegância. Nesse sentido Hollmann apud DASSEL e HAAG (1977, p. 16) afirma que, havendo boa coordenação motora, pode-se economizar uma quantidade de oxigênio de até 15%. Com a cargd dessas experiências, muitas vezes ocorre uma segregação social, em que a habilidade físico-motriz do bom futebolista, do ginasta e do boxeador representa respeito dos demais amigos, ao contrário dos que fracassam na execução de determinadas habilidades, e são humilhados e marginalizados, abandonando, assim, certas atividades físicas (KIPHARD, 1976, p. 93). Com o abandono de certas atividades físicas, em função de uma má coordenação motora, pode surgir uma queda do nível de qualidade tanto das habilidades motrizes como também do desenvolvimento mental, pois a atividade física pode auxiliar, acionando mecanismos adicionais de desenvolvimento de forma indireta, "e a ausência de referências motoras e psicomotoras provocam deficiências de conhecimento em crianças normais" (HEIDE, 1983). Esta mesma autora cita, ainda, a coordenação motora como função importante, que já deve estar p esente e inter-relacionada com outras funções como a estruturação corporal, a orientação espacial, a noção de esquema corporal e a percepção visual "para uma boa capacidade de perceber auditivamente e de um aparelho fonador íntegro do ponto de vista motor"; e esses inter-relacionamentos "são necessários para a escrita e a leitura", continua a autora. KIPHARD (1976, p. 16) registra que, em função da coordenação motora mal instalada, algumas formas de movimentos são geradas: a) Movimentos demasiado débeis ou demasiado fortes - hipodinâmicos ou! hiperdinâmicos; b) Movimentos demasiado lentos ou demasiado rápidos bradicinéticos ou taquicinéticos; c) Movimentos demasiado econômicos ou demasiado exagerados - hipocinéticos ou hipercinéticos. Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 29 Neste mesmo sentido, WEINECK (1991, p. 233) enumera alguns pontos em que a melhora da coordenação motora responde positivamente ou assume caráter importante. Segundo este autor, há uma precisão, economia e efetivação dos movimentos esportivos, levando a um menor gasto de força e energia muscular, mostrando-se favorável quando mais tarde surge a fadiga, como também uma otimização do fluxo de movimento, principalmente nas disciplinas esportivas de expressividade, em que se verifica um aumento dos critérios de valores estéticos; há também, segundo este autor, uma descarga do córtex cerebral, permitindo ao atleta dirigir sua atenção a outros fatores relevantes da motricidade, delegando a outros centros cerebrais inferiores um estereótipo dominado. Verifica-se também um aumento da capacidade sensório-motora, pois quanto maior o nível das capacidades coordenativas, e entre elas a coordenação motora, mais rápidos podem ser aprendidos novos e mais difíceis movimentos. Ainda, WEINECK (1991) acrescenta que a coordenação motora responde também como profilaxia de acidentes e lesões, pois quanto maior o nível dessa coordenação maior o numero de habilidades e maior a destreza, levando a uma agilidade maior, protegendo o atleta em situações inesperadas, como reagir rápida e objetivamente, evitando quedas, colisões, etc. A coordenação motora possui ainda uma grande importância, na medida em que tem algumas implicações para o competidor, como: a) a determinação dos eventuais limites da dinâmica, e$ciência e qualidade da performance; b ) o grau em que os mecanismos de desprendimento de energia metabólica podem ser utilizados; c) a facilitação de respostas apropriadas e rápidas no controle de equilíbrio do corpo em situações de troca ou realização de atividades em finção das forças gravitacionais (TITTEL et al., 1988). Fatores Intervenientes na Coordenação Motora Para que se possa entender e desenvolver a coordenação, é preciso que se conheçam todos os fatores determinantes e que provocam alterações nessa, levando-se assim a escolha de métodos mais eficazes no processo de aprendizagem e treinamento. As capacidades coordenativas, assim como a coordenação motora, dependem de uma série de fatores diferentes, em parte combinados de uma forma complexa. Assim, segundo WEINECK (1991, p. 233), têm-se como fatores condicionantes das capacidades coordenativas: a) coordenação inter e 30 Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2)': 17-4 1, 1995 intramuscular; b) condição funcional dos analisadores; c) capacidade de aprendizagem motora; d) repertório de movimentos - experiência de movimentos; e) capacidade de adaptação e reorganização motora; f) idade e sexo; e g) fadiga e outros. a. 1- Coordenação Intramuscular Segundo BARBANTI (1979, p. 214), é uma "inervação fisiológica muscular somente das fibras musculares necessárias para cumprir o movimento proposto. Neste tipo de coordenação somente uma parte do músculo executa o movimento, ou seja, há uma economia de gastos energéticos no restante do músculo envolvido". a. 2 - Coordenação Intermuscular BARBANTI (1979, p. 214) salienta que a coordenação intermuscular "se realiza entre os diversos grupos musculares, principalmente entre os agonistas e os antagonistas", ocorrendo no interrelacionamento harmônico entre os vários músculos envolvidos no ato motor. b - Condição Funcional dos Analisadores É de grande importância a funcionalidade dos analisadores, pois estes representam a eficiência das informações e uma realimentação adequada dos centros superiores que vão processar estímulos a serem respondidos com o ato motor. Eles possuem, ainda, "receptores específicos, vias nervosas aferentes e centros sensoriais em diferentes áreas do cérebro" (WEINECK, 1991, p. 232). Segundo MEINEL (1984, p. 15) e WEINECK (1991, p. 233), a coordenação motora possui cinco analisadores que vão atuar na regulação e no controle dos movimentos, influenciando de forma diferenciada nas informações sobre o decurso do movimento, no que diz respeito ao conteúdo deste movimento, além da quantidade e avaliação das possíveis informações em função das diferenças específicas de cada modalidade. Assim, conforme estes autores, tem-se: b.1) analisador cinestésico; b.2) analisador tátil; b.3) analisador estático-dinâmico (analisador vestibular); b.4) analisador óptico (visual); e b.5) analisador acústico. Destes analisadores, o cinestésico e o estático dinâmico têm função ou são incluídos no circuito interno de regulação e os outros três, no circuito externo, ou seja, o analisador cinestésico e o estático dinâmico têm função de regrilar ou controlar as informações que seguem exclusivamente por vias internas do organismo e os outros três regulam e controlam informações produzidas parcialmente fora do organismo (MEINEL, 1984, p. 15). Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 31 b. 1 - Analisador Cinestésico Este analisador é considerado um dos mais importantes, possuindo alta capacidade de rendimento, além de alta capacidade de transmissão nervosa, em comparação com outros analisadores (Rudiger, 1969 apud MEINEL, 1984). Caracteriza-se por ser um analisador "sensor de movimentos". Anatomicamente visto, possui uma ramificação muito ampla. Seus receptores, os chamados proprioceptores, localizam-se em todos os músculos, tendões, ligamentos e articulações, podendo sinalizar, de imediato, cada processo de movimento, assim como a posição das extremidades do tronco e das forças que agem sobre eles (WEINECK, 1991; MEINEL, 1984). Portanto, todas as fases de movimento, especialmente as realizadas de forma consciente, determinam as componentes espaciais e temporais que ressaltam a participação do analisador cinestésico no processo da coordenação motora. MATVÉIEV (1986, p. 157) ressalta ainda que "é indubitável que a aptidão de coordenar qualitativamente os movimentos depende da perfeição com que funcionam os analisadores, principalmente o cinestésico". b. 2 - Analisador Tátil Este analisador assume especial importância, na medida em que fornece informações do decurso do movimento ou decurso parcial desse movimento, quando se tem ou se mantém um contato direto com objetos de superfícies, informando sobre a forma dessas superfícies com influência sobre a firmeza de tomada de decisão constantemente controlada nos jogos com bola, na luta ou ginástica. Pelas vias táteis, ainda se sente a resistência do ar e da água. Assim, pode-se dizer que muitas vezes é dificil para o atleta distinguir as informações táteis das informações cinestésicas devido às proximidades das ramificações nervosas dos receptores táteis e dos proprioceptores (receptores cinestésicos), com uma fluência de informações concomitante pelos dois analisadores (MEINEL, 1984). Tudo isso faz com que esse analisador desempenhe papel importante na coordenação motora. b.3 - Analisador estático-dinámrco (analisador vestibular) Com localização no aparelho vestibular do ouvido interno, este analisador está sempre transmitindo informações aos centros superiores sobre a posição da cabeça no campo gravitacional da terra, bem como sua direção e velocidade. Este analisador, segundo MEINEL (1984, p. 17), tem aspectos positivos e negativos na ginástica de aparelhos e no esqui e com 32 Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 17-4 1 , 1995 participação negativa na oitava e no salto "uberschlagem", levando a uma posição errada da cabeça, gerando perturbações na coordenação geral. b. 4 Analisador Ótico (visual) De grande importância na fase de aprendizagem, pois possibilita ao aprendiz obter não apenas informações sobre seus próprios movimentos, como também sobre outros objetos e outras pessoas, adquirindo um exemplo ou um modelo em que se vai basear sua ação. Os receptores desse analisador possuem a capacidade de fornecer uma visão central e periférica tão importante nas modalidades esportivas, tendo como função, ainda, avaliar a distância de um objeto ou pessoa, transmitindo informações sobre a posição de saída, sobre o início do movimento e sobre o movimento em si de um atleta (MEINEL, 1984). b. 5 - Analisador Acústico Este analisador possui relativa importância, pois, no ato motor, são limitados os sinais acústicos provenientes da execução dos movimentos. Somente em determinados esportes, como o remo, nas fases: entrada da pá na água, trabalho submerso, retirada e rolamento, é que esse analisador transmite as informações relevantes para a coordenação motora (MEINEL, 1984, p. 19). c - Capacidade de Aprendizagem Motora Este requisito é de especial importância no processo de aprendizagem, pois a aprendizagem motora, como mecanismo de absorção, organização e armazenamento de informações, dará ao aprendiz a capacidade de poder se apropriar do decurso do movimento solicitado e compreender corretamente a tarefa do movimento (MEINEL, 1984, p. 179; WEINECK, 1991, p. 234). d - Repertório de Movimentos - Experifinciade Movimentos O repertório de m~vimeni~isé um fator determinante no desenvolvimento da coordenacão motora e influencia no processo de reconhecimento e transformação de padrões motores, tendo relação direta sobre a aprendizagem motora "porque cada movimento, por mais novo que seja, e sempre executado com base em velhas combinações de coordenação" (WEINECK, 1991, p. 234). e - Capacidade de Adaptação e Reorganização Motora Possui sua importância como fator condicionante na coordenaçao motora, por ter uma estreita relação de dependência da capacidade de aprendizagem motora, do equilíbrio, da diferenciação cinestésica e da orientação espacial, trazendo alterações situacionais, com base na experiência de movimentos rápidos e precisos em favor de uma soluçna satisfatória (MEINEL, 1984). - Rev. min. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 33 - f Idade e Sexo O desenvolvimento contínuo, fisiológico e cronológico infantil traz consigo um incremento no rendimento qualitativo da coordenação motora (IDLA, 1976, p. 24), e esta é altamente afetada pela idade biológica, o que foi comprovado tanto por estudos longitudinais quanto por tranversais feitos por Hitz (1979, 1981) apud TITTEL et al. (1988). Esse rendimento é determinado por uma fase que parece justificar e englobar todas as diferenças individuais de desenvolvimento biológico da maioria das pessoas. Assim, para alguns autores, essa fase, considerada também a mais sensível do desenvolvimento, se localiza entre os sete e os dez anos de idade. Nessa faixa etária ocorre "uma rápida maturação do sistema nervoso central, verificando-se ao mesmo tempo um aumento da função dos analisadores óptico e acústico, bem como um melhoramento na assimilação das informações" (CARVALHO, 1988, p. 25; STAROSTA e HITZ, 1993). Já: WEINECK (1989, p. 184) afirma que nunca é cedo demais para desenvolver a coordenação motora, o que há são métodos inadequados para o nível de desenvolvimento infantil. O que se observa dessas duas colocações é que existe um período sensível a aprendizagem, mas que não se deve negligenciar as idades anteriores a essa fase na formação da estrutura condicional e coordenativa da criança. Parece haver também uma estagnação ou mesmo uma regressão do desenvolvimento da coordenação motora durante a puberdade (12-1 5 anos), decorrentes das diferenças no desenvolvimento biológico e do somatótipo (TITTEL et al., 1988; STAROSTA e HITZ, 1993; WEINECK, 1989, p. 186). Com relação as diferenças de gênero, há uma estagnação e uma regressão que ocorrem entre os doze e os treze anos de idade nas mulheres. Em relação aos homens, esta estagnação vai até os quinze anos de idade (TITTEL et al., 1988; STAROSTA e HITZ, 1993). Rutenfranz e Hettinger (1959) apud TITTEL et al. (1988) salientam que as mulheres apresentam uma melhora de 10% em relação aos homens após os 18 anos de idade e 6 a 7% após os 30 anos de idade (MULLER e VETTER, 1954; Hettinger et al., 1976, apud TITTEL et al., 1988). Entretanto, Israel e Buhl (1980) apud WEINECK (1991, p. 236) demonstraram que "no geral, as habilidades coordenativas não diferenciam entre homens e mulheres". 34 Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 g - Fadiga e Outros A coordenação motora fica prejudicada em função da fadiga extrema, pois ocorrem movimentos antieconômicos e irracionais "provocando uma inibição crescente nas estruturas centro-nervosas responsáveis pelo controle motor" (WEINECK 1991, p. 236). Isso não significa, porém, que a coordenação dos movimentos não tenha de ser aperfeiçoada num fundo de fadiga, ou seja, segundo Mikháilov (S. d) e Kaliosto et al., (S. d.), citados por MATVEIÉV (1986, p. 163) "quando no processo de um longo esforço muscular surge a fadiga, há a necessidade de economizar energias, pondo de lado os dispêndios não eficazes", indicando a iddia de que, em certas condições, também a fadiga pode ter efeito positivo na coordenação dos movimentos. WEMECK (1991, p. 236) cita ainda o álcool, a nicotina e a falta de sono como outros fatores que interferem negativamente na coordenação motora, agindo sobre o nível de excitação e "aumentando ou diminuindo o limiar de estimulação do córtex cerebral". Coordenaçiio e Equilíbrio O equilibrio é entendido como a capacidade de manter o corpo estabilizado (equilibrio estático) ou de perder essa estabilização e recuperála em diversas trocas de posições e solicitações (equilíbrio dinâmico). TELERA(1977, p. 203) define equilíbrio como "a faculdade para adaptar uma posição contra a força da gravidade e manter o controle do corpo em situações difíceis". Percebe-se, assim, a relação próxima entre equilíbrio e coordenação motora, pois, segundo ROSADAS (1986), existe uma "combinação perfeita das a m s musculares com o propósito de sustentar o corpo sobre uma base"; sendo assim, coordenação motora e equilíbrio tomam-se requisitos básicos para a relação do homem com o meio ambiente. O corpo depende do equilíbrio para manter-se em pé, sendo sua mobilidade fruto coordenado do relacionamento das partes (ROSADAS, 1986, p. 71). Essa relação próxima ou de dependência do equilíbrio em função da coordenaçZio motora muitas vezes não é tratada como deveria ser, pois muitos têm a visao de que o equilibrio é denominado coordenação motora (NEGRINE, 1987, p. 31). Assim, o equilíbrio corporal deve ser visto como resultado ou interrelação da coordenação motora, pois para se equilibrar é inquestionável a necessidade da coordenação motora (ZAKHAROV, 1992, p. 174). Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 35 O Desenvolvimento da Coordenação Motora O desenvolvimento da coordenação motora, atualmente, é feito de modo pouco planejado e sem uma sistemática objetiva. "Uma metodologia fundamentada e diferenciada cientificamente nesta área de conteúdo da aula de educação física e do treinamento está apenas surgindo" (MEINEL, 1984, p. 167). Quando se procura desenvolver uma das capacidades motoras, neste caso específico a coordenação motora, todas as outras são influenciadas, tanto as condicionais quanto as coordenativas. Isso feito nos estágios iniciais levará ao aperfeiçoamento de outras capacidades, criando uma grande quantidade de habilidades motoras simples, para mais adiante servir de base para as fases ótimas de aprendizagem relacionadas com a coordenação motora. Mais tarde esse paralelismo cessará por causa da dissociação dessas capacidades motoras, e os exercícios usados para desenvolver a coordenação motora podem até trazer reações negativas a outras capacidades motoras (BARBANTI, 1988; WEINECK, 1989; ZAKHAROV, 1992). Pode-se inferir que, no caso das capacidades coordenativas, uma separação completa, nos períodos iniciais, praticamente não é viável, mesmo do ponto de vista da teoria da coordenação, que indica um desenvolvimento diferenciado das capacidades coordenativas (MEINEL, 1984, p. 165; WEINECK, 1989 p. 185). Com relação a esses períodos iniciais, eles não devem ser confundidos com os períodos mais sensíveis ou as fases ótimas de desenvolvimento da coordenação motora, localizados entre os sete e dez anos, pois deve-se insistir em desenvolvê-los o mais cedo possível, utilizando meios gerais de desenvolvimento e criando as habilidades motoras simples, para depois, com metodos que acompanham as particularidades do nível de desenvolvimento biológico infantil, atingir esse período sensível ou fase ótima para o desenvolvimento, passando-se em seguida para métodos especiais que exigem um alto nível de formação (CARVALHO, 1988, p. 25; WEPIBCK 1989). Os Meios e os Métodos de Treinamento Os meios, como um conjunto de exercícios, devem ser usados, desde que sejam relacionados com a superação de dificuldades significativas da coordenação. A idbia básica é a criação de um automatismo, e, para manter a eficácia do desenvolvimento, a escolha dos exercícios se orienta do mais simples para os mais complexos. Neste caso as modificações ou 36 Rev. min. Educ. Fis., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 substituições serão os critérios detenninantes (ZAKHAROV, 1992, p. 170; WTVEIÉV, 1986, p. 159; COSTA, 1968, p. 285). O número de repetições, segundo COSTA (1968, p. 285), deve ser o mais elevado possível, evitando-se o excesso de fadiga, com sessões curtas entremeadas com exercícios de descontração para retardar a fadiga. Já MATVEIÉV (1986, p. 161) entende que " o volume total da carga (número total dos exercícios e suas repetições) costuma ser, nestas tarefas, relativamente pequeno (as vezes, apenas se realiza um ou mais exercícios com algumas repetições cada)", e os intervalos dependerão, em grande parte, "do grau de estabilização das aptidões motoras, da força, da velocidade e de outras características desse exercício e também do volume geral das cargas". Com relação aos métodos para desenvolver a coordenação motora, WEINECK (1991, p. 236) sugere o método do conjunto ou global "que é especialmente apropriado para sequências simples de movimento, mostrando-se vantajoso, principalmente, na melhor idade de aprendizagem"; o método desmembrado, "indicado para sequências mais dificeis e, ou, complexas"; e o método da aprendizagem concentrada e dividida, sendo a primeira intensiva e inintempta e a segunda, uma aprendizagem várias vezes interrompida, bem como, ainda, os vários métodos de treinamento ideomotor ou mental. Entretanto, WEINECK (1991, p. 236) adverte que não está provado experimentalmente qual desses métodos é mais favorável para o processo de aprendizagem, pois há um grande número de variáveis, sendo o assunto discutido de forma tendenciosa. Se por um lado não se tem certeza sobre o método mais favorável para o processo de aprendizagem da coordenação motora, MEINEL (1984, p. 185) distingue três fases característiras deste processo, sendo essas fases divididas de acordo com o nível de col :denação motora. Assim, segundo este autor, na primeira fase de aprendizagem desenvolve-se a coordenação motora grossa, em que se verifica uma entrada de força excessiva e parcialmente eriada, com um numero de tentativas erradas muito alto; na segunda iasc desenvolve-se a coordenação motora fina, em que o aluno executa cis movimentos quase sem erros, desaparecendo, parcialmente os movrrrientos colaterais, siip<:riluoq e desviados; e, por último. a terceira fase, na qual se estabiliza a coordenaç5c rriotora fina, em que o aluno exec;iita i).> inc~vimenlosseguramente mesnlo eri situações difíceis ou nao habimsiJ O desenvolvimento da coordenaçao motora realizado de forma planejada e sistemática, fundamentada em uma metodologia direrenciada ccientífica, apesar da necessidade de esclarecimentos. torna-se necessario em Rev. rnin. Educ. Fís., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 37 função dos benefícios não só para o esporte, como também para o dia-a-dia, trabalho e lazer; especificamente no esporte se consegue, segundo ROCHA e CALDAS (1981), uma melhoria da técnica, um menor gasto energético com menor consumo de oxigênio, levando a uma maior eficiência e a uma melhor recuperação durante os períodos de repouso, influindo positivamente sobre perturbações psíquicas derivadas dos agentes estressantes do treinamento. Dessa forma, é fundamental que a coordenação motora, como condição necessária para o rendimento esportivo e ta1,iùem para o dia-a-dia, trabalho e lazer, seja desenvolvida logo nos primeiros anos de vida, devendo fazer parte dos programas de educação física e dos programas de treinamento de alto nível. A coordenação motora, como é chamada pela maioria dos autores que tratam do assunto, já constitui um considerável referencial bibliográfico, porém suas abordagens, geralmente, são superficiais em função da complexidade do tema. Após a análise dos conceitos de coordenação motora, ficou evidenciado que os vários esquemas explicativos podem ser considerados diferentes em função da área específica de estudo do pesquisador pedagogia, fisiologia, anatomia, cinesiologia e biomecânica -, gerando daí uma ampla terminologia. Essa terminologia diferenciada e os sinônimos, as vezes, inadequados, tanto para a coordenação motora quanto para outras áreas de estudo da educação física, têm gerado problemas para o seu entendimento, não existindo, desta forma, uma visão sistêmica do assunto. Neste mesmo sentido, o desenvolvimento da coordenação motora está sendo feito de forma pouco planejada, sem uma sistemática objetiva e uma metodologia fundamentada cientificamente, consoante o desenvolvimento diferenciado das componentes das capacidades coordenativas e suas fases ótimas de desenvolvimento, sob pena da redução das possibilidades de treinamento, além de uma indefinição em relação as diferenças sexuais. A partir dos problemas mencionados e considerando que a coordenação motora é colocada como uma das componentes das capacidades coordenativas que, por sua vez, faz parte das capacidades motoras humanas, foi possível encontrar algumas explicações, como 38 Rev. min. Educ. FLs., Viçosa, 3(2): 17-41, 1995 , também esclarecimentos mais aprofundados dimensionamento da coordenação motora. com relação ao BARBANTI, V. J. Teoria e prática de treinamento desportivo. São Paulo: Edgard Blucher, 1979. Treinamento Físico Balieiro, 1988. - bases científicas. 2. ed. 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