anais do 3º simpósio internacional de diagnóstico por imagem
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2013 ANAIS DO 3º SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM SINDIV -RJ Organizado pela ADIV-RJ - Associação de Diagnóstico por Imagem do Estado do Rio de Janeiro http://www.adiv-rj.com.br/ Facebook Adiv-rj Adiv 23/11/2013 SUMÁRIO 1. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS E ULTRASSONOGRÁFICOS DE COLELITIASES EM CÃO ADULTO – RELATO DE CASO ..................3 2. ASPECTOS ULTRASSONGRÁFICOS DE SIALOCELE RETROBULBAR EM CÃO: RELATO DE UM CASO .............................................5 3. ESTUDO DAS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA VESÍCULA URINÁRIA DE CÃES E GATOS NA ROTINA ULTRASSONOGRÁFICA DO HOSPITAL DA UFRRJ – RESULTADOS PRELIMINARES ..................................................................................................................................7 4. ULTRASSONOGRAFIA COMO FERRAMENTA NO DIAGNÓSTICO DE TORÇÃO ESPLÊNICA PRIMÁRIA: RELATO DE CASO .......10 5. CONTRIBUIÇÃO DA BIÓPSIA ASPIRATIVA GUIADA POR ULTRASSONOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DE PANCREATITE CRÔNICA EM CÃO: RELATO DE CASO ....................................................................................................................................................................13 6. LEVANTAMENTO DE EXAMES DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM PARA ANÁLISE ONCOLÓGICA NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFRRJ .......................................................................................................................................................................................................................15 7. AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA E ULTRASSONOGRÁFICA DE COLITE CAUSADA POR PYTHIUM INSIDIOSUM EM CÃO ..............18 8. AVALIAÇÃO DA OBESIDADE EM CÃES: CORRELAÇÃO ENTRE MENSURAÇÕES ULTRAS-SONOGRÁFICAS DE GORDURA CORPÓREA E O ESCORE VISUAL DE CONDIÇÃO CORPORAL ...........................................................................................................................21 9. COLABORAÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DE LINFONODOS CAVITÁRIOS: RELATO DE CASO DE LINFANGIECTASIA EM LINFONODO DE CÃO .......................................................................................................................................................24 10. CONTRIBUIÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA COMO MÉTODO AUXILIAR À RADIOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DE OSTEOCONDRITE DISSECANTE EM UM DOGUE ALEMÃO ................................................................................................................................27 11. ASPECTO ULTRASSONOGRÁFICO DE EFUSÃO RETROPERITONEAL 2ARIA A CISTOCENTESE EM UM CÃO: RELATO ................ 30 12. UTILIZAÇÃO DA ECOCARDIOGRAFIA CONTRASTADA TRANSCIRÚRGICA EM SHUNTS PORTOSSISTÊMICOS EXTRAHEPÁTICOS EM CÃES – RELATOS DE CASOS ..........................................................................................................................................33 13. INTUSSUSCEPÇÃO UTERINA EM CADELA - RELATO DE CASO ................................................................................................................35 14. USO DA ULTRASSONOGRAFIA PARA DIAGNÓSTICO DE LINFOMA EM EQUINO: RELATO DE CASO .............................................37 15. AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DE ÚLCERA GÁSTRICA EM MINI HORSE – RELATO DE CASO .............................................39 16. CARACT. ANATÔMICAS E ECOGÊNICAS DO ÚTERO E DO CORPO LÚTEO DE RECEPTORAS DE EMBRIÃO BOVINO .................42 17. DIAGNÓSTICO ULTRASSONGRÁFICO DE ABSCESSO EM ÚRACO PERSISTENTE DE UM BOVINO: RELATO DE CASO ...............43 18. NEOPLASIAS DO SISTEMA UROGENITAL EM UM SCOTTISH TERRIER:CONTRIBUIÇÃO DOS MÉTODOS DE IMAGEM PARA O DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO ...........................................................................................................................................................................46 19. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS E ULTRASSONOGRÁFICOS DO HIPOADRENOCORTICISMO EM UM CÃO: RELATO DE CASO .....48 20. EFUSÃO PERICÁRDICA SECUNDÁRIA À HEMANGIOSSARCOMA EM ÁTRIO DIREITO DE CÃO ...................................................... 51 21. RUPTURA DE LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL EM URSO MARROM (Ursus arctos): RELATO DE CASO ........................................54 22. FRATURA EM SEGUIMENTO LOMBAR DA COLUNA VERTEBRAL EM UM TATU-GALINHA (Dasypus novemcinctus) .................... 57 23. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DE MEGAESÔFAGO EM UM OVINO ........................................................................................................... 59 24. PNEUMONIA ASPIRATIVA EM VEADO CATINGUERO (MAZAMA GOUAZOUBIRA) – RELATO DE CASO ...................................... 61 25. HÉRNIA DE HIATO E MEGAESÔFAGO ASSOCIADOS À LEIOMIOSSARCOMA DE CÁRDIA GÁSTRICA EM UM CÃO SHAR-PEI .63 26. HIPERPARATIREOIDISMO NUTRICIONAL SECUNDÁRIO EM FELINO – RELATO DE CASO.................................................................66 27. HÉRNIA DE HIATO EM CÃO – RELATO DE CASO ..........................................................................................................................................69 28. AGENESIA DE RÁDIO EM UM CÃO – RELATO DE CASO .............................................................................................................................73 29. DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS RADIOGRÁFICOS CARDÍACOS NORMAIS EM COELHOS DA RAÇA NOVA ZELÂNDIA...75 30. DIAGNÓSTICO DE RUPTURA ABDOMINAL TRAUMÁTICA EM FELINO POR CELIOGRAFIA – RELATO DE CASO ........................78 31. DILATAÇÃO-TORÇÃO GÁSTRICA CRÔNICA EM UM CÃO – RELATO DE CASO ....................................................................................81 32. PNEUMOPERITÔNIO CAUSADO POR PERFURAÇÃO GÁSTRICA EM UM GATO – RELATO DE CASO ...............................................84 33. PELVIMETRIA DE CUTIAS (Dasyprocta prymnolopha) CRIADAS EM CATIVEIRO ......................................................................................86 34. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS E ULTRASSONOGRÁFICOS DA DISCOESPONDILITE EM OVINO: RELATO DE CASO .....................89 35. MIELOGRAFIA EM PEQUENOS RUMINANTES .............................................................................................................................................. 95 36. ASPECTOS RADIOGRAFICOS DA SUBLUXAÇÃO DA ARTICULAÇÃO INTERFALANGEANA DISTAL APÓS NEURECTOMIA DIGITAL PALMAR EM EQUINOS – RELATO DE CASO ................................................................................................................................96 37. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO AUXÍLIO DIAGNÓSTICO DE NEOPLASIA MALIGNA DE NERVO TRIGÊMIO EM UM CÃO – RELATO DE CASO .................................................................................................................................................................................. 99 38. ULTRASSONOGRAFIA, RADIOGRAFIA E TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO AUXILIO DIAGNÓSTICO DE TIMOMA EM UM CÃO: RELATO DE CASO ...........................................................................................................................................................................102 39. TUMOR DE BAINHA DE NERVO TRIGÊMEO EM DACHSHUND ............................................................................................................... 105 40. AVALIAÇÃO ANATÔMICA DA CABEÇA DO PAPAGAIO-VERDADEIRO (Amazona aestiva) POR TC ..................................................108 41. ESTUDO TOMOGRÁFICO DOS VENTRÍCULOS CEREBRAIS DE GATOS DOMÉSTICOS: DIFERENÇAS ENTRE O SEXO .............. 111 42. LEVANTAMENTO DOS EXAMES DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA REALIZADOS NO PRIMEIRO ANO DE FUNCIONAMENTO DE UM CENTRO DE DIAGNÓSTICO EM SÃO PAULO............................................................................................ 113 43. ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS RESULTADOS DOS EXAMES DE ULTRASSONOGRAFIA E TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA EM CÃES COM FORMAÇÕES ABDOMINAIS ......................................................................................................116 44. CONTRIBUIÇÃO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO ESTADIAMENTO E PLANEJAMENTO CIRÚRGICO DE TUMORES PERINEAIS MALIGNOS EM CÃO ................................................................................................................................................................... 116 45. DISPLASIA DO COTOVELO – INCONGRUÊNCIA RADIOULNAR ............................................................................................................. 119 46. AVALIAÇÃO DE SHUNT PORTOSSINTÊMICO CONGÊNITO EXTRA-HEPÁTICO EM UM GATO PELA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA – RELATO DE CASO................................................................................................................................................. 121 47. ASPECTOS TOMOGRÁFICOS DE TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL NASAL EM CÃO – RELATO DE CASO ............................. 124 48. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA AVALIAÇÃO DE FRATURA MANDIBULAR EM VEADO-CATINGU EIRO (Mazama goauzoubira) – RELATO DE CASO ................................................................................................................................................................... 126 49. USO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA AVALIAÇÃO DO PARÊNQUIMA PULMONAR DE CINCO ESPÉCIES DE TESTUDINES BRASILEIROS CRIADOS EM CATIVEIRO ........................................................................................................................... 129 50. CONTRIBUIÇÃO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA PARA O DIAGNÓSTICO DA DESMITE DO LIGAMENTO INTERSESAMOIDEO E SESAMOIDEO DISTAL EM EQUINOS ................................................................................................................. 131 51. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NA AVALIAÇÃO DE LESÃO MEDULAR EM CORUJA SUINDARA (Tyto alba) – RELATO................132 52. MENSURAÇÃO DA ADESÃO INTERTALÂMICA DE GATOS DOMÉSTICOS HÍGIDOS POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA ............135 53. A IMPORTÂNCIA DA ENDOSCOPIA NO DIAGNÓSTICO DE LINFANGIECTASIA EM CÃES – RELATO ........................................... 137 Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 2 1. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS E ULTRASSONOGRÁFICOS DE COLELITIASES EM CÃO ADULTO – RELATO DE CASO. LIVIA PASINI DE SOUZA1; HELENA MONDARDO CARDOSO2; ELOISA CARLA BACH3; THIAGO RINALDI MULLER4; PAULO EDUARDO FERIAN5; AURY NUNES DE MORAES5; NILSON OLESCOVICZ5 Doutoranda em Ciência Animal da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV/ UDESC. Contato:[email protected] Profª. Colaboradora e Mestranda em Ciência Animal da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV / UDESC. 3 Mestranda em Ciência Animal da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV / UDESC 4 Prof. Dr. Colaborador do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV / UDESC. 5 Prof. Dr. do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV / UDESC. 1 2 ABSTRACT SOUZA, L.P.; CARDOSO, H.M.; BACH, E.C.; MULLER, T.R.; FERIAN, P.E.; MORAES, A.N.; OLESCOVICZ, N. Radiographic and Ultrasonographic Aspects of Colelithiasis in Adult Dog – Case Report The colelithiasis in dogs are considered rare and usually are not associated with obvious clinical signs, but this disease can lead to important changes secondary to obstruction of the biliary tract. Are usually considered an incidental finding on radiography and ultrasound examination. We describe two cases of patients received at Veterinary Hospital Clinic of the University of the State of Santa Catarina for a routine where they were diagnosed radiographically with mineralization in the region of the biliary tract. One of the two patients underwent ultrasound assessment conformed to the initial suspicion and pointed another finding as biliary sludge. These changes are described as imaging findings, but monitoring should be performed in order to diagnose possible secondary changes. KEYWORDS: gallbladder, colelithiasis, ultrasound. INTRODUÇÃO O sistema biliar é similar em cães e gatos constituindo-se pela vesícula biliar, ducto cístico, ducto biliar comum, ducto hepático, ductos inter e intralobulares e canalículos hepáticos 2, 3. A vesícula biliar está anexa ao fígado, localizada à direita da linha media na porção ventrodorsal 4 dentro de uma fossa entre o lobo hepático medial e o lobo quadrado 2. Tal estrutura é unida ao ducto biliar comum pelo ducto cístico, que se estende do pescoço da vesícula biliar até a sua junção com o primeiro ducto hepático 2. O ducto biliar comum em cães abre perto do menor dos dois ductos pancreáticos, na altura da papila duodenal maior. O ducto pancreático maior abre a alguns centímetros distais2. Dentre as alterações do trato biliar, as mais comumente investigadas são a obstrução extra-hepatica por cálculos biliares e/ou estenose ductal, as colelitiases em geral e massas associadas à doença inflamatória ou neoplásica da vesícula e do trato biliar 2,5,6. A investigação do trato biliar geralmente é realizada frente ao reconhecimento do aumento da atividade enzimática, especialmente da fosfatase alcalina, ou em casos de hiperbilirrubinemia. Animais que apresentam obstrução completa do trato biliar, colecistite necrozante, coleducocistite ou peritonite biliar séptica são geralmente sintomáticos2. Entretanto, as alterações do trato biliar são, por muitas vezes, achados de exames auxiliares, pois dificilmente implicam em sinais clínicos identificáveis6. Exames complementares de diagnóstico por imagem são usualmente recomendados para investigação do trato biliar. Radiografias abdominais possuem limitações no auxilio diagnóstico de desordens deste sistema 2, devido ao contorno com os tecidos moles hepáticos4. Contudo, alguns casos de colelitíase e/ou coleducolitíase contém quantidade suficiente de cálcio para ser radiograficamente identificados 2. Tais mineralizações envolvendo o trato biliar podem ser achados incidentais em cães4. Colelitiases são consideradas em casos de opacificação mineral focal em região de vesícula biliar, já traçados lineares de radiopacidade mineral estendido perifericamente podem sugerir coleducolitiases 4. O exame ultrassonográfico se tornou uma ferramenta essencial para avaliação do fígado e sistema biliar. Em condições normais a vesícula biliar apresenta-se como uma estrutura circular a oval, preenchida por conteúdo predominantemente anecóico e com paredes pobremente visibilizadas como uma fina linha ecogênica2, 3,5 medindo menos de 2-3mm de espessura em cães5. Pode variar consideravelmente de tamanho de acordo com o tempo de jejum alimentar 3,5. Uma discreta quantidade de conteúdo ecogênico não formadora de sombra acústica posterior no interior da vesícula biliar, pode ser considerado um achado normal 1,5 de cães em jejum ou anoréxicos2. Este conteúdo é conhecido como lama biliar e tem por definição a suspensão de partículas sólidas ou semisolidas no fluido biliar que pode ser ou não viscoso1. Da árvore biliar, os canalículos e os ductos biliares intrahepáticos não são visibilizados ultrassonograficamente em condições normais 3,5. O ducto cístico é frequentemente observado na saída da vesícula biliar como uma estrutura tubular anecóica conectando a mesma ao ducto biliar comum2,3,5. Alguns centímetros antes de se conectar ao duodeno o ducto biliar comum é vizibilizado paralelamente a veia porta3 medindo até 3mm de largura em cães normais8. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 3 Frente a grande quantidade de casos clinicamente assintomáticos de animais submetidos a exames complementares e diagnosticados com alterações do trato biliar, este estudo tem por objetivo exaltar a importância do diagnóstico por imagem no estudo das estruturas biliares e descrever seus aspectos na imagem radiográfica e ultrassonográfica. METODOLOGIA Foi realizado no Hospital de Clinica Veterinária da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESCCAV) o atendimento de dois cães, do sexo feminino, sendo a primeira da raça Yorkshire, de 10 anos de idade e a segunda da raça Poodle de 13 anos de idade apenas para uma consulta de rotina devido à idade das mesmas. Ambas apresentavam bom estado geral, sem alterações hematológicas e bioquímicas. As pacientes foram encaminhadas ao setor de diagnóstico por imagem para a realização de um exame radiográfico de tórax, no qual foi observado em ambos os casos uma alteração sobreposta à silhueta hepática nas projeções lateral direita e ventrodorsal. Foi indicado o exame ultrassonográfico da região abdominal, porém somente o proprietário da segunda paciente autorizou o procedimento. Para esta região o paciente foi acomodado em decúbito lateral esquerdo e a vizibilização foi realizada em uma abordagem lateral direita intercostal e ventral subcostal. O exame foi realizado com uma probe linear multifrequencial de 4 a 13 MHz, conectada ao aparelho ultrassonográfico da marca ESAOTE®, modelo My Lab 30 Vet Gold. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi observada nas imagens radiográficas a presença de estruturas lineares de radiopacidade mineral em abdômen cranial, sobrepostas à região de silhueta hepática em ambas as projeções, sugestivas de mineralizações do trato biliar (Figura 1 e 2). A segunda paciente foi então encaminhada para a realização do exame ultrassonográfico abdominal onde se observou a vesícula biliar de repleção moderada com conteúdo heterogêneo, anecóico com áreas ecogênicas de margens definidas em seu interior, sugestivas de lama biliar. Ao se examinar as vias biliares pôde-se notar a presença de imagens ecogênicas lineares, de tamanhos variados, formadoras de sombra acústica posterior sugestivas de microlitíases ou fibrose das vias biliares, sem sinais de dilatação no momento do exame. O fígado apresentou-se de aspecto habitual, porém com discreto aumento de suas dimensões. Foi sugerido acompanhamento ultrassonográfico. A lama biliar em cães é um achado ultrassonográfico comum e pode ser considerada sem valor diagnóstico1. Já as colelitíases em cães são consideradas raras e habitualmente não estão associadas a sinais clínicos evidentes7. Em ambos os casos os animais apresentavam um bom estado geral sem alterações nos exame laboratoriais hematológicos e bioquímicos mesmo com uma extensa áreas de mineralização do trato biliar, sem sinais evidente de tais imagens na vesícula biliar, segundo o exame ultrassonográfico, o que corrobora com as informações encontradas na literatura. Entretanto uma investigação ultrassonográfica de todo o trato biliar e região hepática é indicada para descartar outras afecções1,2,7. Cabe ressaltar que o exame radiográfico foi importante para a vizibilização das estruturas radiopacas na região hepática, porém a associação com o exame ultrassonográfico no caso da segunda paciente foi fundamental para a confirmação do diagnóstico de mineralizações ductais e lama biliar sem alterações secundárias como obstrução ou hepatopatia. FIGURA 1: Imagens radiográfica em projeção lateral direita (A,C) e ventrodorsal (B,D). Imagens A e B correspondem a primeira paciente e Imagens C e D correspondem a segunda paciente. Nota-se estruturas lineares de radipacidade mineral sobrepostas a região hepática (setas vermelhas). Fonte: Ferian, 2013. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 4 FIGURA 2: Sonograma abdominal da segunda paciente. A. Imagens ecogênicas formadoras de sombra acústica posterior (setas vermelhas) em região de ductos biliares intrahepáticos. B. Imagem ecogenicca dos artefatos de reverberação (setas brancas) e vesicula biliar de conteúdo anecóico com discreta quantidade de conteúdo ecogenico não formador de sombra acustica. Fonte: Souza, 2013. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Brömel C.; Barthez P.Y.; Léveillé R.; Scrivani P.V. Vet Radiol Ultrasound. 39 (3): 206-210, 1998. 2. Center SA. Vet Clin North Am Small Anim Pract. 39(3): 543-98, 2009. 3. D’Anjou M.A. In:______Penninck D.; D’Anjou M.A. Atlas of Small Animal Ultrasonography. Iowa: Blackwell Publishing, 2008, p.217 – 262. 4. Larson M.M. In:______Thrall D.E. Diagnóstico de Radiologia Veterinária. 5.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 667-692. 5. Nyland T.G.; Matoon J.S.; Herrgesell E.J.; Wisner E.R. In:______Nyland T.G.; Matoon J.S. Ultra-som diagnostic em pequenos animais. 2.ed. São Paulo: Roca, 2004, p.95- 127. 6. Salomão M.C.; Oliveira I.N.; Araujo I.M.G.; Junior, A.N. Vet e Zootec.19 (1): 104-106, 2012. 7. Slatter D. In:______ Slatter D. Manual de cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Manole, 1998, p.783–798. 8. Zeman R.K.; Taylor K.J.; Rosenfield A.T.; Schwartz A. Gold J.A. Acute. Am J Roentgenol. 139: 965-967, 1981. 2. ASPECTOS ULTRASSONGRÁFICOS DE SIALOCELE RETROBULBAR EM CÃO: RELATO DE UM CASO ANA PAULA ARAUJO COSTA1 ; PATRÍCIA DE OLIVEIRA NUNES2; NATHÁLIA APARECIDA DE PAULA2; ALINE MARIA VASCONCELOS LIMA3 123- Doutoranda em Ciência Animal, Bolsista CNPq, EVZ-UFG, e-mail: [email protected] Alunas do Programa de Residência Medico-Veterinária, Diagnóstico por Imagem, EVZ-UFG Professora Doutora Substituta do DMV, EVZ/UFG ABSTRACT COSTA A.P.A.; NUNES P.O.; DE PAULA N.A.; LIMA A.M.V. Ultrasonographic aspects of retrobulbar sialocoele in dog: a case report. Sialocoeles or mucoceles are the most common diseases of the salivary glands and develop secondary to extravasation of saliva into the subcutaneous tissue. This summary aims to describe the sonographic features of a case of zygomatic sialocoele in a dog, referred to the ophthalmology service with signs indicative of retrobulbar disease. The ocular ultrasound revealed the presence of a structure with hyperechoic wall with predominantly anechoic content with hyperechoic dots suspended in the retrobulbar space, and the nature of the salivary contente was confirmed after aspiration and cytological analysis of this. The ocular ultrasonography proved of great Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 5 value in this case since, although it has not clarified the nature of the content, it managed to set up the cistic nature of the structure and ruled out eyeball commitment. KEYWORDS: ocular ultrasound, retrobulbar disease, mucocele INTRODUÇÃO A ultrassonografia ocular é indicada para avaliação de animais que apresentem opacidades oculares que impeçam o exame oftalmoscópico tradicional e para avaliação de pacientes com sinais de doenças retrobulbares, como exoftalmia. A maioria das alterações retrobulbares, tais como abscesso e neoplasia, apresentam composição mais heterogênea que o tecido orbital normal, e caso sejam grande o bastante para induzir sinais clínicos, podem ser facilmente detectadas aos exame ultrassonográfico 1. Sialoceles ou mucoceles são as doenças mais comuns das glândulas salivares e estão predominantemente associadas as glândulas sublinguas e mais raramente as zigmáticas. Essa enfermidade se desenvolve secundariamente ao extravasamento de saliva para o tecido subcutâneo, causando reação inflamatória local e apresentandose clinicamente como massas retrobulbares ou cervicais, dependendo da glândula envolvida. São apontadas como causas de desenvolvimento de sialoceles os traumatismos, corpos estranhos e obstrução do ducto salivar devido a processos infecciosos2. Este resumo teve como objetivo descrever as características ultrassonográficas de um caso de mucocele zigmática retrobubar em um cão. DESCRIÇÃO DO CASO Foi encaminhado ao serviço de oftalmologia do Hospital Veterinário da UFG um cão da raça Pit Bull de 13 anos de idade, apresentando protrusão da terceira pálpebra, exoftalmia e estrabismo divergente em olho direito. Os reflexos oculares, produção lacrimal, pressão intraocular e fundoscopia apresentaram-se dentro dos parâmetros da normalidade. Foi evidenciado, na região temporal e sob o músculo masseter, um aumento de volume de consistência macia e indolor à palpação. Diante da suspeita de alteração retrobulbar, o paciente foi submetido à radiografia de crânio e à ultrassonografia ocular. A radiografia descartou o envolvimento de estruturas ósseas da órbita e de alterações das raízes dentárias. Para a ultrassonografia ocular, foi utilizado um aparelho de ultrassom Logic E (General Eletronics), acoplado a transdutor linear de 13MHz de frequência, lançando-se mão da técnica transcorneal, com uso de colírio anestésico à base de proximetacaína. A ecografia ocular revelou, no espaço retrobulbar do olho direito, presença de estrutura de parede hiperecóica, com conteúdo predominantemente anecóico com pontos hiperecóicos em suspensão, localizado em região temporal de órbita ocular, medindo 1,29cm x 1,28cm, sugerindo presença de estrutura cística. Outra estrutura semelhante foi observada em região nasal da órbita ocular, medindo 0,91cm de largura (Figura 1). A despeito das alterações retrobulbares, o bulbo ocular direito encontrava-se dentro dos padrões de normalidade. A punção aspirativa da tumoração presente sob o músculo masseter possibilitou a colheita de grande quantidade de fluido mucoso, de coloração amarelo claro e inodoro. A análise citológica do fluido revelou presença de grande quantidade de muco, de algumas células epiteliais e células inflamatórias escassas. Diante dos achados clínicos, ultrassonográficos e citológicos, pode-se definir a enfermidade retrobulbar como uma sialocele da glândula zigomática. 1 2 3 2 3 Figura 1: Ecografia ocular evidenciando estruturas de paredes hiperecóicas, com conteúdo predominantemente anecóico com pontos hiperecóicos em suspensão, localizadas em regiões temporal (1) nasal (2) de órbita ocular, deslocando globo ocular (3) lateralmente. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 6 DISCUSSÃO As sialoceles zigomáticas apresentam-se clinicamente como uma massa periorbital visível e/ou exoftalmia2, tal qual o paciente aqui reportado. Outros casos de mucoceles zigomáticas 3,4,5 e sublinguais6 encontram-se relatados e reportam aspectos ultrassonográficos semelhantes aos encontrados nesse animal quais sejam, presença de estrutura encapsula preenchida por conteúdo anecóico com pontos hiperecóicos em suspensão. Um estudo que apresentou os aspectos clínicos e ultrassonográficos de mucoceles salivares descreveu que, quanto mais crônico o quadro, mais rígido se torna o aumento de volume a palpação e ultrassonográficamente nota-se aumento de ecogenicidade do conteúdo encapsulado, podendo até mesmo apresentar pontos hiperecóicos formadores de sombra acústica posterior 6. Assim sendo, pode-se concluir que o paciente aqui reportado apresentava um quadro mais recente de sialocele zigomática, devido a característica predominantemente anecóica do conteúdo. No entanto vale ressaltar que, o diagnóstico definitivo das mucoceles só é possível após paracentese da região acometida e obtenção de conteúdo aquoso e de consistência viscosa 2,6, assim como encontrado nesse caso. CONCLUSÃO Esse relato de caso ressalta o fato de que, mesmo que as sialoceles zigmáticas não sejam tão frequentes, essas devem ser consideras em animais com sinais de doenças retrobulbares e que a ultrassonografia é uma grande aliada do oftalmologista visto que, embora não consiga esclarecer a natureza do conteúdo, consegue definir que trata-se de uma estrutura encapsula, preenchida por líquido e descarta comprometimento do globo ocular. REFERÊNCIAS 1. DIETRICH, U. M. Ophthalmic Examination and diagnostics. Part 3: diagnostic ultrasonography. In: GELATT, K. N. Veterinary ophthalmology. 4.ed. Gainesville: Blackwell Publishing, 2007, p. 507-519. 2. SMITH, M.M. Oral and salivar gland disorders. In: ETTINGER, S.J; FELDMAN, E.C. Textbook of veterinary internal medicine volume 2. 6. ed. St. Louis, Missouri: Elsevier Saunders; 2010. p. 1290-1297. 3. MASON, D.R.; LAMB, C.R.; MCLELLAN, G.J. Ultrasonographic findings in 50 dogs with retrobulbar disease. J. Am. Anim. Hosp. Assoc., 37(6):557-562. 4. MCGILL, S.; LESTER, N.; MCLACHLAN, A.; MANSFIELD, C. Concurrent sialocoele and necrotising sialadenitis in a dog. J. Small Anim. Pract., 50:151-156, 2009. 5. OLIVIER, H.S.; BABICSAK, V.R.; BELOTTA, A.F.; MERLINI, N.B.,; BRANDAO, C.V.S.; SOUZA, P.M.; MAMPRIM, J.M. Ultrasonographic Exam Contribution in Diagnosis of Retrobulbar Mucocele on Dog: Case Report. Ultrasound Med. Biol., 39:S79, 2013. 6. TORAD, F.A.; HASSAN, E.A. Clinical and ultrasonographic characteristics of salivar mucoceles in 13 dogs. Vet. Radiol. Ultrasound, 54(3):293-298, 2013. 3. ESTUDO DAS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA VESÍCULA URINÁRIA DE CÃES E GATOS NA ROTINA ULTRASSONOGRÁFICA DO HOSPITAL DA UFRRJ – RESULTADOS PRELIMINARES VITÓRIA D’ELIA DE CARVALHO1; MARCOS JOSÉ NEVES VELLOSO1; THIAGO SOUZA COSTA2; SUZANA LIMEIRA VIEIRA1; CRISTIANO3 CHAVES PESSOA DA VEIGA4; ANNA PAULA BALESDENT BARREIRA5 Residente de Imaginologia do Programa de Residência em Área Profissional da Saúde – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Bolsista da CAPES. 3 Médica Veterinária Autônoma. 4 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Clínica e Reprodução Animal da Universidade Federal Fluminense. 5 Professora Adjunta da Disciplina de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Rodovia BR-465 Km07, CEP: 23890-000. E-mail para correspondência: [email protected] 1 ABSTRACT VELLOSO, M.J.N.; CARVALHO, V.D.; COSTA, T.S.; VIEIRA, S.L.A.; VEIGA, C.C.P.; BARREIRA, A.P.B. Study of urinary bladder diseases of dogs and cats in the ultrasound routine of clinical practice from UFRRJ Veterinary Hospital - preliminary results. Urinary bladder diseases are common in dogs and cats and its evaluation is mostly done by ultrasonography. This retrospective study aimed to conduct a survey on bladder diseases found in the UFRRJ Veterinary Hospital, Seropédica, RJ, in order to raise the knowledge about the organ. Of 1.190 animals, 15.80% had Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 7 urinary bladder lesions and the most frequent change was cystitis. There was a higher incidence of injuries in female dogs and male cats, which can be explained by their anatomical conditions. KEYWORDS: retrospective study; ultrassonography; urinary bladder. INTRODUÇÃO O trato urinário inferior é um sistema composto pela vesícula urinária e uretra, que possui função de armazenar e liberar urina, contribuindo para preservar o equilíbrio hídrico e eletrolítico do organismo e protegê-lo contra infecções1. Assim, com base na importância da bexiga para a higidez dos indivíduos, é necessário promover estudos que contribuam para intensificar o conhecimento sobre diagnóstico e controle de suas alterações, A técnica ultrassonográfica é um método de diagnóstico de grande importância para a identificação de enfermidades da vesícula urinária em animais de companhia 2, bem como em outras espécies. Para realizar o exame é necessária sua distensão, sendo possível observar parede e conteúdo vesical, possibilitando então o diagnóstico de cistite, ruptura de parede, presença de massas, urólitos, coágulos, aumento da celularidade da urina, entre outras alterações3. O presente trabalho teve o objetivo de promover um levantamento da casuística dos exames ultrassonográficos de cães e gatos pacientes do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ, sobretudo sob o aspecto de lesões da vesícula urinária. METODOLOGIA Para o presente estudo retrospectivo foram reavaliados os laudos de 1.190 animais atendidos no Setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário da UFRRJ no período de setembro de 2012 a setembro de 2013. Foram incluídos somente cães e gatos, de ambos os sexos, submetidos a exame de ultrassonografia abdominal. A preparação dos animais constou apenas em tricotomia abdominal e o posicionamento preferencial foi o decúbito dorsal. Os animais que não apresentavam distensão adequada e alterações de topografia da vesícula urinária no momento do exame foram excluídos do levantamento, tendo em vista a limitação na avaliação do órgão e de seu conteúdo. Para os exames, em modo B e Doppler, foi utilizado equipamento portátil de ultrassonografia, modelo Sonovet R3, da marca SamsungMadison e transdutores linear (6-12 MHz) e microconvexo (5-10MHz), utilizados de acordo com o porte do animal. As alterações vesicais observadas foram descritas e diagnosticadas segundo os seguintes critérios: cistite foi considerada nos casos onde foram encontrados espessamento e irregularidade de parede da bexiga associado ao aumento de celularidade na urina3. A presença de urólito foi confirmada pela observação de estruturas hiperecóicas com sombreamento acústico posterior3. Foram considerados coágulos vesicais imagens hiperecóicas, de formatos variados, irregulares, móveis, sem sombra acústica posterior e que possuíam ausência de fluxo sanguíneo ao Doppler 4. A ruptura de bexiga foi diagnosticada em pacientes com histórico de trauma, a partir da visualização de líquido livre na cavidade abdominal, sobretudo em topografia de bexiga, associado à falta de integridade da parede vesical. No caso onde houve dúvida procedeu-se a sondagem uretral e posterior insuflação com solução de NaCl 0,9%, que confirmava o extravasamento para a cavidade abdominal5. O padrão de normalidade para a espessura da parede da bexiga adotado para gatos foi de até 1,7mm3 e para cães de até 2mm de espessura5. A celularidade foi constatada pela visualização de pontos ecóicos em suspensão na urina a partir do movimento de balotamento. A ureterocele foi diagnosticada a partir da visualização de uma estrutura cística, esférica, de parede fina e lisa que sofria protusão para o interior da bexiga, próxima à saída do ureter3, 4. Já as neoplasias foram diagnosticadas a partir da detecção de massas exofíticas com características vegetantes e ecogenicidade mista, com protusão para o lúmen vesical e apresentaram fluxo sanguíneo ao exame de Doppler6. A técnica de sucção traumática por aspiração e posterior análise citológica permitiu a elucidação diagnóstica de tais neoplasias na maioria dos pacientes6. Nos casos onde não foi possível tal procedimento, foi realizado exame histopatológico. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 1.190 animais submetidos ao exame ultrassonográfico de cavidade abdominal, 188 apresentaram alterações em vesícula urinária, caracterizando incidência de 15,80%, o que demonstra a importância da avaliação criteriosa desse órgão. Dos 188 animais que apresentaram alterações vesicais, 139 (73,94%) eram cães e 49 (26,06%) gatos, no entanto este resultado pode expressar apenas a maioria da população canina entre a clientela do Hospital Veterinário da UFRRJ. Entre os cães com alterações vesicais, 57 eram machos (41,01%) e 82 fêmeas (58,99%), já entre os gatos este panorama se inverteu, sendo 29 machos (59,18%) e 20 fêmeas (40,82%) (Figura 1). A predominância do acometimento de fêmeas entre cães corrobora dados encontrados na literatura7, e são associados à maior incidência de distúrbios inflamatórios e infecciosos do trato urinário inferior por possuírem a uretra mais curta e menos estreita quando comparada com machos, reduzindo as barreiras físicas contra infecções ascendentes7. Em contrapartida, na espécie felina, a conformação anatômica da uretra dos machos parece favorecer a Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 8 instalação de processos obstrutivos, o que predispõe à infecções ascendentes e inflamação vesical 8. As alterações encontradas, independente da espécie, foram distribuídas da seguinte forma: cistite (51,07%), aumento da celularidade na urina (31,91%), cálculo (9,57%), coágulo intraluminal (3,19%), neoplasia (2,66%), ruptura de bexiga (1,09%) e ureterocele (0,53%) (Figura 2). A maior ocorrência da cistite é confirmada pela literatura7. Segundo autores4, embora o espessamento de parede da bexiga seja indicativo de cistite, é essencial sua correlação com dados clínicos, urinálise e cultura, para melhor classificação da inflamação e definição do tratamento. A celularidade, quando encontrada isoladamente, pode corresponder a um quadro de cistite aguda4. A urolitíase é uma condição clínica relevante devido às suas complicações e segundo este estudo foi a terceira alteração mais encontrada, assim como descrito na literatura norte americana1. Os coágulos vesicais podem expressar aparência variável, podendo ser facilmente confundidos com processos neoplásicos, porém com o auxílio do Doppler, essa diferenciação foi possível, confirmando a importância de tal recurso, como citado na literatura6. Nos casos de neoplasia vesical, a ultrassonografia se mostrou de grande valia para a detecção das alterações morfológicas que sugerem tal diagnóstico. No entanto, foi necessária análise cito ou histopatológica para sua confirmação6. A técnica de sucção traumática por sodangem mostrou-se útil, sendo eficaz na elucidação diagnóstica de três casos. Nos outros dois foram necessários exames histopatológicos para conclusão do diagnóstico. A região de maior prevalência para o desenvolvimento de neoplasias foi o trígono vesical e o tipo tumoral encontrado em todos os casos foi o carcinoma de células transicionais, estando de acordo com a maioria da literatura revisada3, 6. A ruptura de bexiga foi um achado pouco frequente, presente em 2 casos de animais politraumatizados. Por fim, a ureterocele foi encontrada em apenas 1 animal, sendo uma anomalia congênita pouco frequente em pequenos animais, como nas demais espécies domésticas 7. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, pode-se observar que o exame ultrassonográfico em modo B foi ideal para análise das alterações de bexiga, podendo definir diagnóstico, em casos de cistite, urólito e até ureterocele, mas em outras alterações deve ser associado com análise pelo Doppler e ou exames laboratoriais. Também conclui-se que as fêmeas caninas e machos felinos são mais acometidos pelas enfermidades vesicais. E ainda, que a cistite e o aumento de celularidade da urina representam 83% dos casos dos pacientes com alterações vesicais, refletindo a alta ocorrência de infecção do sistema urinário em cães e gatos. Distribuição entre sexos da população canina fêmeas 59% machos 41% Distribuição entre sexos da população felina fêmeas 41% machos 59% Figura 1: Os gráficos acima demonstram a inversão na distribuição do acometimento lesões de bexiga em machos e fêmeas, quando considerada a espécie animal. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 9 Distribuição das Alterações da Bexiga 1 3% % 10% 0,5% cistite 3% celularidade na urina cálculo 51% coágulo intraluminal neoplasia 32% ruptura de bexiga ureterocele Figura 2: Distribuição percentual dos 188 casos de alterações encontradas em bexiga por meio do exame ultrassonográficos na rotina de atendimento do Hospital Veterinário da UFRRJ. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. LULICH, J.P.; OSBORNE, C.A.; BARTGES, J.W.; LEKCHAROENSUK, C. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária – Doenças do Cão e do Gato. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2008, p.1841-1842. 2. GALLATTI, L.B.; IWASAKI, M. Estudo comparativo entre as técnicas de ultrasonografia e cistografia positiva para detecção de alterações vesicais em cães. Braz J Vet Res Anim Sci., 41(1): 40-46, 2004. 3. SUTHERLAND-SMITH, J. In: PENNINCK, D.; d`ANJOU, M.A. Atlas de Ultrassonografia de Pequenos Animais. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2011, p.363-381. 4. VAC, MH. In: CARVALHO, CF. Ultra-Sonografia em Pequenos Animais. São Paulo:Roca, 2004, p.133-143. 5. KEALY, J.K.; McALLISTER, H. In: KEALY, J.K.; McALLISTER, H. RADIOLOGIA E ULTRASONOGRAFIA DO CÃO E DO GATO. O Abdomen. Barueri:Manole, 2005, p.112-114. 6. FROES, T.R.; IWASAKI, M.; CAMPOS, A.G.; TORRES, L.N.; DAGLI, M.L.Z. Avaliação ultrasonográfica e pelo Doppler colorido do carcinoma de células transicionais da bexiga de cães. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 59(6): 1400-1407, 2007. 7. INKELMANN, M.A.; KOMMERS, G.D.; TROST, M.E.; BARROS, C.S.L.; FIGHERA, R.A.; IRIGOYEN, L.F.; SILVEIRA, I.P. Lesões do Sistema Urinário em 1.063 Cães. Pesq. Vet. Bras., 32(8): 761-771, 2012. 8. RECHE JR., A.; HAGIWARA, M.K.; MAMIZUKA, E. Estudo clínico da doença do trato urinário inferior em gatos domésticos de São Paulo. Braz. J. vet. Res. Anim. Sci., 35(2): 69-74, 1998. 4. ULTRASSONOGRAFIA COMO FERRAMENTA NO DIAGNÓSTICO DE TORÇÃO ESPLÊNICA PRIMÁRIA: RELATO DE CASO MICHELLE LOPES AVANTE1; PAULO VINÍCIUS TERTULIANO MARINHO2; MARIANA TIAI KIHARA3; DANIELE SANTOS ROLEMBERG3; MARIA CAROLINA TONI1; JULIO CARLOS CANOLA4; ANDRIGO BARBOZA DE NARDI4; BRUNO WATANNABE MINTO4 1 Aluno de pós-graduação do curso de Cirurgia Veterinária da FCAV- UNESP-Jaboticabal 2 Aluno de pós-graduação do curso de Cirurgia Veterinária da Universidade de Londrina - UEL 3 Residente do setor de Diagnóstico por Imagem do HV - UNESP – Jaboticabal. 4 Docente do departamento de clinica e cirurgia da FCAV– UNESP – Jaboticabal. Endereço e email para correspondência: Via de Acesso Prof.Paulo Donato Castellane s/n 14884-900 - Jaboticabal, SP. Email: [email protected] Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 10 ABSTRACT AVANTE, M.L.; MARINHO, P.V.T.; KIHARA, M.T.; ROLEMBERG, D.S.; TONI, M.C.; CANOLA, J.C.; NARDI, A.B.; MINTO, B.W. Ultrasonography as a tool in the diagnosis of primary splenic torsion: case report. The primary splenic torsion is rare and occurs with the rotation of the spleen on its pedicle, compromising the vascularity of the parenchyma. This disease usually affects large dogs with deep chest. Their clinical presentation is acute abdomen, laboratory findings are nonspecific and inconclusive and the diagnosis is based on imaging studies such as radiography, computed tomography and especially ultrasound. Treatment is emergency in order to reduce the risk of complications, and total splenectomy, the appropriate procedure. KEYWORDS: splen, diagnostic, ultrassonography INTRODUÇÃO A torção esplênica primária é considerada uma enfermidade rara, pois está frequentemente associada com a dilatação vólvulo gástrica1,2,3,4. Sua ocorrência isolada corresponde a menos de 1% dos casos 5. Estudo realizado mostra que de 1.480 cães, com alterações esplênicas, 8 (0,5%) apresentavam a torção primária2. Éssa afecção é mais comum em cães de grande porte e com o tórax profundo2,4,6,7. A etiologia não está bem elucidada, estudos relatam que a causa pode estar relacionada a anormalidades congênitas, frouxidão ou rupturas traumáticas dos ligamentos gastroesplênicos e esplenocólicos, ou ainda que ocorra uma dilatação gástrica com ou sem torção, promovendo a rotação do baço permanente e o retorno do estômago ao seu estado normal3,4,5,6,8. A torção esplênica primária ou isolada, pode ocorrer de forma aguda ou crônica, sendo a aguda menos comum3,6. Nas duas apresentações os sinais clínicos são inespecíficos. Na aguda observa-se sinais de abdomen agudo, como letargia, vômito, desconforto e dor abdominal, colapso cardiovascular e choque. À palpação abdominal, observa-se aumento de volume, de consistência firme, devido a esplenomegalia. Na forma crônica a maioria dos cães apresentam episódios de vômitos, anorexia, fraqueza ou depressão, icterícia e dor abdominal3,4. Os exames laboratoriais, incluem anemia, trombocitopenia, podendo ter leucocitose, hiperbilirrubinemia e hemoglobinúria. Esses achados também podem cursar com outras doenças, como anemia hemolítia imunomediada, nesses casos os exames complementares, como os de imagem, vão direcionar o diagnóstico3,4. O diagnóstico é baseado nos exames de radiografia, tomografia computadorizada e principalmente a ultrassonografia4. O diagnóstico definitivo da torção esplênica é realizado durante a celiotomia exploratória6. Em humanos, a angiografia do baço é o diagnóstico definitivo, no entanto, a ultrassonografia e a tomografia computadorizada são também considerados métodos precisos para esse diagnóstico8. Os achados radiográficos são inespecíficos2,6, visibilizando evidente esplenomegalia, com deslocamento de outros órgãos abdominais. Pode-se observar ausência do corpo do baço na região cranial esquerda (projeção ventrodorsal) e quando houver efusão peritoneal, a avaliação da cavidade abdominal pode ser dificultada6,7. Os achados ultrassonográficos revelam acentuada esplenomegalia, com o parênquima hipoecoico difuso, de aspecto rendilhado e com presença de linhas hiperecoicas (dilatação dos sinusoides). O mesentério adjacente é observado com uma ecogenicidade acentuadamente elevada e pode ocorrer efusão peritoneal. A ultrassonografia Doppler pode mostrar redução do fluxo dos vasos sanguíneos, trombos intrasvaculares e até mesmo oclusão dos vasos3,4,6,7. Autores consideram que a correlação desses achados ultrasonográficos sugerem fortemente a torção esplênica 6. Estudo realizado associa a visibilização de um triângulo hiperecoico perivascular, observado na região do hilo esplênico com a torção esplênica2. Essa enfermidade tem caráter emergencial, que requer procedimento cirúrgico imediato 1,3, afim de reduzir as complicações, como colapso cardiovascular, arritmias ventriculares, hemorragia, desordens de coagulação, coagulação intravascular disseminada, trombose, pancreatite e até a dilatação vólvulo gástrica3,4. O tratamento se inicia com a estabilização do paciente e posteriormente, é realizado a celiotomia exploratória e esplenectomia. O prognóstico após a esplenectomia geralmente é favorável, caso o diagnóstico seja feito precocemente4. O presente trabalho tem como objetivo destacar essa enfermidade incomum e que necessita de um rápido diagnóstico, podendo este ser realizado com o auxílio da ultrassonografia. METODOLOGIA Um cão, macho, da raça American Pit Bull, de 3 anos, foi atendido no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da Unesp-Jaboticabal, apresentando sinais de abdomen agudo e letargia. Na anamnese o proprietário relatou que há 3 dias o paciente mostrava-se inquieto, com desconforto e crescente aumento de volume abdominal. Aos exames clínico e físico foi constatado mucosas hipocoradas, redução do tempo de preenchimento capilar, moderada desidratação, hipertermia, ligeira taquipneia (130bpm), pulso Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 11 filiforme; na palpação abdominal observou aumento de volume de consistência firme em regiões epigástrica e mesogástrica, de sensibilidade dolorosa. Os exames laboratoriais (hemograma e bioquímica sérica) revelaram alterações como anemia normocítica hipocrômica, leucocitose por neutrofilia e eosinopenia, discreta hipoalbuminemia e trombocitopenia, com esses achados foi solicitado a reação de polimerase em cadeia (PCR) para erliquiose e babesiose, onde deram negativos. O paciente foi encaminhado ao setor de diagnóstico por imagem e primeiramente foi realizado o exame radiográfico, observando evidente esplenomegalia, a porção cranial do baço foi visibilizada em região epigástrica e a caudal em região mesogástrica, sem continuidade (Figura 1A). Alças intestinais estavam deslocadas de sua localização habitual. Na ultrassonografia foi confirmada a esplenomegalia, com parênquima hipoecoico de aspecto rendilhado, com linhas hiperecoicas dispersas pelo parênquima, não visibilização da veia lienal em região hilar (Figura 1B), com o uso do Doppler foi confirmado a ausência de fluxo sanguíneo. O mesentério adjacente apresentava-se hiperecoico (reativo). RESULTADOS E DISCUSSÃO O paciente com torção esplênica apresenta desconforto abdominal considerável, sinais como inquietude, 6 vômito, debilidade física progressiva, e sinais relacionados ao choque sistêmico . A avaliação clínica com sinais de desconforto e aumento de volume abdominal, de consistência firme, principalmente no lado esquerdo, direcionaram as suspeitas clínicas no presente caso. Afecções como a síndrome vólvulo gástrica, ruptura gástrica, hemorragia em decorrência de neoplasia esplênica, vólvulo intestinal, obstrução gastrintestinal aguda, peritonite, pancreatite, torção de útero, torção de tumor testicular intra-abdominal, anemia hemolítica autoimune e envenenamento, devem ser diagnósticos diferenciais5, sendo a ultrassonografia um exame útil para tal avaliação. O diagnóstico de torção esplênica primária aguda é um desafio. Os achados ultrassonográficos de esplenomegalia, juntamente com o parênquima difusamente hipoecoico rendilhado e linhas hiperecoicas, é altamente sugestivo de torção esplênica2,9. Os achados ultrassonográficos desta condição também foi descrito em outras doenças esplênicas, como o infarto sem a torção concomitante2,7. Portanto, para a avaliação do parênquima é necessária a utilização do Doppler colorido para detectar a ausência de fluxo sanguíneo contribuindo para o diagnóstico4. No presente caso, os achados ultrassonográficos foram consistentes com a torção do baço. Recentemente autores afirmam que esses achados não são específicos da torção esplênica, além disso, alguns artefatos podem comprometer a avaliação do fluxo nos vasos sanguíneos. Estudo realizado em 2006, identifica um triângulo hiperecoico perivascular, observado na região do hilo esplênico que acredita estar associado diretamente à torção esplênica6. Embora não patognomônicos, este sinal pode ser mais um achado para auxiliar no diagnóstico2. CONCLUSÕES A torção esplênica primária necessita de tratamento emergencial, assim é preciso o diagnóstico imediato. O exame ultrassonográfico não é conclusivo, no entanto, direciona o diagnóstico com seus achados característicos que estão sendo cada vez mais estudados; além de não ser um exame não-invasivo e de fácil acesso. Este pode contribuir na identificação da torção esplênica, já que, os outros exames não fornecem sinais específicos ou são mais honerosos. Figura 1. (A) Imagem radiográfica, na projeção lateral direita do abdomen, visibilizando estruturas de radiodensidade de tecidos moles em regiões epigástrica e mesogástrica (setas), sugerindo esplenomegalia, com deslocamento dorsal das alças intestinais. (B) Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 12 Imagem sonográfica do baço apresentando parênquima hipoecogênico rendilhado, com presença de linhas hiperecoicas, sem a presença da veia lienal em região hilar. Visibilização do mesentério reativo adjacente ao baço (seta). Fonte: Serviço de Diagnóstico por Imagens (FCAV/UNESP - Jaboticabal). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. SIMEONOVA, G.; SIMEONOV, R.; ROUSSENOV, A. Trakia Journal of Sciences, 5(3): 64-68, 2007. 2.MAI, W. Veterinary Radiology & Ultrasound, 47(5):487-491, 2006. 3.WEBER, N.A. J Am Anim Hosp Assoc, 36(5): 390-394, 2000. 4.OHTA, H.; TAKAGI, S.; MURAKAMI, M.; SASAKI, N.; YOSHIKAWA, M.; NAKAMURA, K.; HWANG, S.;YAMASAKI, M,; TAKIGUCHI, M. J. Vet. Med. Sci., 71(11): 1533–1535, 2009. 5.SCHINER, L. M. Canadian Veterinary Journal, Ottawa, 51(5): 527-529, 2010. 6.AZEVEDO, F.D.; VEIGA, C.C.P.; SCOTT, F.B.; FERNANDES, J.I.; RAMOS, A.S.; MEDONÇA, E.C.L. Rev. Bras. Med. Vet., 33(2):89-94, abr/jun 2011. 7.SAUNDERS, H.M.; PRUDENCE, J.N.; BROCKMAN, D.J. Veterinary Radiology & Ultrasound, 39(4):349-353,199. 8.PATSIKAS, M.N.; RALLIS, T.; KLADAKIS, S.E.; DESSIRIS, A.K. Veterinary Radiology & Ultrasound, 4(3): 235-237, 2001. 9.JAEGER, G.H.; MAHER, E.; SIMMONS, T. Journal of the American Veterinary Medical Association, Chicago, 229(4): 501-502, 2006. 5. CONTRIBUIÇÃO DA BIÓPSIA ASPIRATIVA GUIADA POR ULTRASSONOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DE PANCREATITE CRÔNICA EM CÃO: RELATO DE CASO INGRID DE OLIVEIRA CAMPOS1, NATHALIA BRANT MALTA SALGUEIRO2, MARIANA YUKARI HAYASAKI PORSANI3, CAMILA SANTOS PEREIRA4, ANTONIO CARLOS CUNHA LACRETA JUNIOR5, GABRIELA RODRIGUES SAMPAIO5 ¹ Mestranda em Ciências Veterinárias/UFLA/ Bolsista FAPEMIG ² Residente em Diagnóstico por Imagem/UFLA ³ Mestranda em Ciências Veterinárias/UFLA/ Bolsista CAPES 4 Mestranda em Ciências Veterinárias/UFLA 5 Professor Adjunto/UFLA ABSTRACT CAMPOS, I.O.; SALGUEIRO, N.B.M.; PORSANI, M.Y.H.; PEREIRA, C.S.; LACRETA JUNIOR, A.C.C.; SAMPAIO, G.R. Contribution of aspiration biopsy ultrasonography guided by the diagnosis of chronic pancreatitis in dog: case report. Aspiration biopsy guided by ultrasound is one of the techniques of interventional imaging, used for the differential diagnosis of lesions identified by ultrasonography. The biological material obtained by this technique allows for cytological studies, which together with other patient data collaborate to elucidate the patients' clinical status. Pancreatitis is still a challenge for veterinarians, and its diagnosis is difficult, especially in its chronic phase. This paper aims to report a case in a dog chronic pancreatic disease, emphasizing the importance of interventional procedures procedures using ultrasound as aids in the diagnosis of chronic pancreatitis. KEYWORDS: Ultrasound, Veterinary, Pancreas. INTRODUÇÃO A pancreatite é uma das causas mais comuns de abdome agudo1. O pâncreas é dividido em ramo direito, esquerdo e um corpo. A parte direita está localizada medial ao duodeno e lateralmente ao cólon ascendente. O ramo esquerdo está localizado entre o aspecto caudal do estômago e o cólon transverso. Ao exame ultrassonográfico, o pâncreas é isoecogênico ou discretamente hipoecogênico em relação a gordura mesentérica ao seu redor2,3. Nos casos de pancreatite aguda, os principais achados são: pâncreas com parênquima hipoecogênico, dimensões aumentadas (maior que 2cm nos planos longitudinal, sagital e transversal), mesentério peripancreático hiperecogênico, líquido livre ao redor do orgão e duodenite. Com a cronicidade da doença, o pâncreas pode ter sua dimensão preservada ou reduzida, ecogenicidade variavel ou mista, lesões nodulares, apresentando áreas de sombra acústica posterior associadas à fibrose e/ou mineralização e dilatação de ductos pancreáticos, sendo seu diagnóstico difícil e desafiador 3. A ultrassonografia intervencionista é um conjunto de procedimentos, nos quais a imagem ultrassonográfica é utilizada para direcionamento de agulhas ou outro instrumento perfurocortante para drenagem e coleta de amostras de coleções líquidas ou realização de biopsias4. A diferenciação entre lesões inflamatórias, infecciosas ou neoplásicas, mesmo com métodos de imagem avançados, ainda é Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 13 desafiador5. Por isso, a ultrassonografia passou a ser utilizada como ferramenta de orientação em muitos procedimentos intervencionistas6. A ausência de lesões macroscópicas durante a laparotomia exploratória não exclui a presença de doença pancreática, e é este fato que deixa claro a importância da biopsia de pâncreas7. Todavia, a biopsia pancreatica é uma técnica específica, mas não muito sensível, uma vez que as lesões pancreáticas podem estar localizadas em vez de difusas. A inflamação do pâncreas ocorre em áreas discretas dentro de seu parenquima, o que pode inferir em múltiplas biopsias. Uma vez que as lesões são distribuídos aleatoriamente, não há nenhum local preferido para as amostras de biopsia a menos que lesões visíveis estejam presentes7,8. Este trabalho tem como objetivo relatar um caso doença pancreática crônica em cão, ressaltando a importância dos procedimentos intervencionistas ecoguiados como auxiliares no diagnóstico de afecções desafiadoras, como é o caso da pancreatite crônica, em pequenos animais. METODOLOGIA Uma cadela SRD, castrada, com 5 anos de idade foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Lavras com quadro de distensão abdominal, dor aguda e hiporexia. O animal havia sido submetido a tratamento com antibióticos e antiflatulento apresentando uma pequena melhora, entretanto as manifestações clínicas retornaram após o término do tratamento. O animal foi encaminhado ao setor de Diagnóstico por Imagem para realização de exame ultrassonográfico do abdome. Ao exame ultrassonográfico visibilizou-se acentuado aumento do lobo pancreatico direito, parênquima hipoecogênico heterogêneo, presença de faixas anecogênicas sugestivas de edema pancreático e aumento da ecogenicidade do mesentério circundante (Figura 1). Ao exame Doppler havia evidência acentuada de fluxo vascular. Recorreu-se a técnica de biopsia aspirativa ecoguiada no qual apresentou resultados compatíveis com alteração inflamatória crônica. Os testes laboratoriais apresentaram leucocitose 38,4 mil/mm3, fosfatase alcalina 489 U/L, triglicerideos 310 mg/dL, colesterol total 597 md/dL, glicose 330 mg/dL, discreto aumento de proteinas totais e albumina e score 3 para lipase imunorreativa canina. Após 5 meses de tratamento para pancreatite crônica, o animal se manteve bem clinicamente e o novo exame ultrassonográfico apresentou pâncreas direito com as dimensões discretamente aumentadas (entretanto reduzida quando comparada ao exame anterior), parênquima hipoecogênico heterogêneo e com ligeira dilatação do ducto pancreático (Figura 2). Figura 1 - Imagem ultrassonográfica do ramo direito do pâncras em plano transversal. Visibilizase acentuado aumento do lobo pancreatico, parênquima hipoecogênico heterogêneo e aumento da ecogenicidade do mesentério circundante. Figura 2 - Imagem ultrassonográfica do ramo direito pâncreas em plano longitudinal. Dimensões discretamente aumentadas e ligeira dilatação do ducto pancreático. RESULTADOS E DISCUSSÃO O diagnóstico definitivo de pancreatite é dificil, principalmente em sua fase crônica. A presença de manifestações clínicas compatíveis com doença pancreática, tais como vômitos, dor abdominal, desidratação e pirexia, aumentam a suspeita para a doença9. A posição anatomica e as relações do pâncreas com outros orgãos e a gordura ao seu redor faz difícil sua visibilização, quando este não apresenta alterações1. No caso em questão, o exame ultrassonográfico permitiu fácil identificação do órgão, mesmo sem qualquer tipo de preparo (jejum e antiflatus), e direcionou o diagnóstico para alteração pancreática, visto que o animal apresentou manifestações clínicas inespecíficas para doença. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 14 Embora a biópsia de fragmento proporcione maior precisão no diagnóstico diferencial, optou-se pela biopsia aspirativa. Por se tratar do pâncreas, a técnica de biópsia aspirativa infere menor risco de complicações, com a vantajem de permitir avaliação imediata do material aspirado. No caso em questão os resultados citológicos puderam ser obtidos rapidamente, permitindo um diagnóstico presuntivo, que possibilitoua instituição imediata do tratamento10,11. Mais recentemente, testes para mensuração da lipase pancreática imunorreativa (cPLI para cães e fPLI para gatos) tem sido aceito como exame de escolha nas suspeitas de pancreatite, devido à sua alta sensibilidade e especificidade em comparação com os outros testes. Entretanto, falso-positivos e falsonegativos podem ocorrer, e o diagnóstico definitivo deve ser baseado na combinação do histórico, exame físico, mensuração da lipase pancreática imunorreativa,ultrasonografia do pâncreas12,13, e quando possível e pertinente, biópsia aspirativa, conforme foi realizado. CONCLUSÃO Devido as manifestaçãos clínicas inespecíficas e as limitações dos testes laboratórias disponíveis no mercado, a imaginologia desempenha um papel importante no diagnóstico de pancreatite de cães e gatos, principalmente quando associada a biopsias guiadas por meio de exames por imagem. Contudo, o diagnóstico definitivo deve ser sempre realizado com associação do histórico, exame físico e mensuração da lipase imunorreativa canina. REFERÊNCIAS 1 RUAUX, C. G. Diagnostic Approaches To Acute Pancreatitis. Clinical Techniques in Small Animal Practice. V.18, p.245-249, 2003. 2 NYLAND, T. G.; MATTOON, J. S.; HERRGESELL, E. J.; WISNER, E. R. Pancreas. In: NYLAND, T. G.; MATTOON, J. S. Small animal diagnostic ultrasound. 2ed. Philadelphia: WB Saunders Company, 2002. p.144-157. 3 MORANDI, F. Pâncreas. In: O’BRIEN, R.; BARR, F. Manual de diagnóstico por imagem abdominal de cães e gatos. São Paulo: Roca, 2012. p. 193-203. 4 KANAYAMA, L. M. Ultra-Sonografia Intervencionista. In: CARVALHO, C. F. Ultra-sonografia em Pequenos Animais. São Paulo: Roca, p.346-358, 2004. 5 VIGNOLI, M.; SAUNDERS, J. H. Image-guided interventional procedures in the dog and cat. The Veterinary Journal, v.187, p. 297–303, 2011. 6 DOUGLAS, B.R.; CHARBONEAU, J.W.; READING, C.C. Ultrasound-Guided Intervention. Radiologic Clinics of North America, v.39, n.3, p.415-428, 2001. 7 NEWMAN, S.; STEINER, J.; WOOSLEY, K.; BARTON, L.; RUAUX, C.; WILLIAMS, D. Localization of pancreatic inflammation and necrosis in dogs. Journal of Veterinary Internal Medicine 18, 488-493, 2004. 8 DE COCK, H. E. V.; FORMAN, M. A.; FARVER, T. B.; MARKS, S. L. Prevalence and histopathologic characteristics of pancreatitis in cats. Veterinary Pathology 44, 39-49, 2007. 9 RUAUX, C. G.; ATWELL, R. B. General practice attitudes to the treatment of spontaneous canine acute pancreatitis. Aust Vet Pract 28:67-74, 1998. 10 SAMII, V. F.; NYLAND, T. G.; WERNER, L. L.; BAKER, T. W. Ultrasound- Guided Fine-Needle Aspiration Biopsy of Bone Lesions: A Preliminary Report. Veterinary Radiology & Ultrasound, v. 40, n. 1, p. 82-86, 1999. 11 STEWART, C. J. R.; COLDEWEY, J.; STEWART, I. S. Comparison of fine needle aspiration cytology and needle core biopsy in the diagnosis of radiologically detected abdominal lesions. Journal of Clinical Pathology, v.55, p.93–97, 2002. 12 XENOULIS, P.G.; STEINER, J.M. Canine and feline pancreatic lipase immunoreactivity. Veterinary Clinical Pathology, v.41, n. 3, p. 312-24, 2012. 13 STEINER, J. M. Diagnosis of pancreatitis. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. V.33, p.1181-1195, 2003. 6. LEVANTAMENTO DE EXAMES DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM PARA ANÁLISE ONCOLÓGICA NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFRRJ ELIS CARVALHO DE OLIVEIRA1; MARCOS JOSÉ NEVES VELLOSO2; VITÓRIA D’ELIA DE CARVALHO2; JOSÉ RICARDO GOMES DE CARVALHO3; CRISTIANO CHAVES PESSOA DA VEIGA4; ANNA PAULA BALESDENT BARREIRA5 Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 15 1 Bolsista de Monitoria da Disciplina de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ; 2 Residente do Programa de Residência em Medicina Veterinária da UFRRJ – Área de Diagnóstico por Imagem; 3 Residente do Programa de Residência em Medicina Veterinária da UFRRJ – Área de Oncologia; 4 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Clínica e Reprodução Animal da Universidade Federal Fluminense; 5 Professora Adjunta da Disciplina de Diagnóstico por Imagem da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. ABSTRACT OLIVEIRA, E.C.; VELLOSO, M.J.N.; CARVALHO, V.D.; VEIGA, C.C.P; BARREIRA, A.P.B. Analysis of Cancer Patients on Imaging Diagnostic Department in UFRRJ’s Veterinary Hospital This study aimed evaluate the contribution of radiographic and ultrasound exams in oncologic patients through a retrospective study from the file of Imaging Diagnosis of Small Animal Veterinary Hospital of the Federal Rural University of Rio de Janeiro – UFRRJ between april and september of 2013. The study included cases of metastasis research and evaluation of primary neoplastic masses, which resulted in 784 radiographs and 689 sonographic examinations. From this, 15% of radiographic were surveys of metastasis and in 24% of ultrasound scans were found primary masses. Also, the masses were more frequently found in mammary glands (37%) and the least frequent was in prostate. This retrospective study reinforces the high incidence of request of diagnostic imaging in order to detect primary neoplasm and metastases, contributing to staging and monitoring of oncology patients. KEY WORDS: radiology, ultrasound, dogs, cats, oncology INTRODUÇÃO O aumento de casos de neoplasias em cães e gatos é cada vez mais marcante na rotina da medicina veterinária. Esse aumento pode ser explicado por diversas razões, sendo a principal o aumento da expectativa de vida desses animais devido à melhoria na nutrição, nos protocolos vacinais, nas técnicas de diagnóstico e métodos terapêuticos (1). Com o aumento da longevidade dos animais, são observadas ocorrências relacionadas com o envelhecimento do organismo, dentre elas a divisão celular anormal e ineficácia progressiva do sistema imune em detectar e eliminar células tumorais (2). As neoplasias podem ter origem em diversos tecidos e por isso apresentam variada morfologia, resultando em diferentes classificações. Devido a esta grande variação, é necessário compor o diagnóstico com base na associação de métodos, a fim de fornecer recursos para um bom planejamento do tratamento e determinação do prognóstico (3). Assim, cabe às técnicas de diagnóstico por imagem realizar a detecção precoce de massas primárias, de metástases e portanto possuem papel fundamental no estadiamento clínico das neoplasias, possibilitando melhor planejamento terapêutico e avaliação da resposta à terapia aplicada. Neste contexto, a radiografia torácica representa a modalidade diagnóstica mais utilizada para a pesquisa de metástases pulmonares, representadas por áreas de opacidade nodular única ou múltipla (4). Também são realizadas radiografias de neoplasia primária, sobretudo de origem óssea, que revelam o perfil invasivo ou não da neoplasia. A maior desvantagem dessa técnica é a sobreposição das estruturas e a falta de detalhe radiográfico de algumas imagens (1). Já a ultrassonografia é a técnica de eleição para avaliar a cavidade abdominal na pesquisa de massas, além de ser muito útil para realização de punção guiada, minimizando os riscos desta técnica e permitindo a realização de exames cito ou histopatológico, mesmo em massas internas. O objetivo do presente trabalho foi verificar a contribuição de exames radiográficos e ultrassonográficos em casos de neoplasia e a distribuição das massas entre os órgãos em pacientes da espécie canina e felina do Hospital Veterinário da UFRRJ durante seis meses de atendimento. MATERIAL E MÉTODOS Foi realizado estudo retrospectivo com base em dados obtidos nas fichas dos animais examinados no setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário de Pequenos Animais da UFRRJ no período de abril a setembro de 2013. Considerou-se a avaliação ultrassonográfica e radiográfica de cães e gatos, de qualquer idade ou sexo, com ou sem raça definida. Os critérios de inclusão adotados foram radiografias torácicas e ultrassonografias abdominais para pesquisa de metástase, análise de massas e casos de punções guiadas. O principal critério de exclusão foi a presença de fichas incompletas, como aquelas sem suspeita clínica. Os exames ultrassonográficos foram realizados com o equipamento portátil, modelo Sonovet R3, da marca Samsung-Madison e transdutores linear (6-12 MHz) e microconvexo (5-10MHz), utilizados de acordo com o porte do animal. Para o exame radiográfico foi utilizado o equipamento de Raio X portátil, modelo Orange 1060 HF, da marca EcoRay Co, Ltda. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante o período de abril a setembro de 2013 foram realizados 689 exames ultrassonográficos e 784 exames radiográficos no Hospital Veterinário da UFRRJ. Daqueles destinados à ultrassonografia 167 (24,23%) apresentaram suspeita de neoplasia, tendo sido confirmada a presença de massa em 153 dos casos (91,61%). Ou seja, o exame clínico das regiões não torácicas permite uma boa sensibilidade à presença de massas, já que na grande maioria dos casos a suspeita foi confirmada. Este resultado não Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 16 surpreende, quando citadas as neoplasias mamárias ou da tireóide, por sua localização subcutânea. Dentre as massas detectadas pela ultrassonografia, a distribuição encontrada foi a seguinte: 37,19% (61/164) em mama, 14,63% (24/164) em baço (Figura 1), 11,58% (19/164) em fígado (Figura 2), 9,75% (16/164) cutâneos, 5,48% (9/164) em testículo, 3,04% (5/164) em bexiga, 1,82% (3/164) em ovário, 1,82% (3/164) em intestino, 1,21% (2/164) em tireoide, 1,21% (2/164) em adrenal e 0,60% (1/164) em pâncreas e 0,60% (1/164) em próstata. A predominância de casos de tumores de mama é confirmada pela literatura (5), que também corrobora sobre a menor incidência de neoplasias intestinal e pancreática (6). Dos animais examinados radiograficamente, 45,02% (353/784) sofreram radiografia torácica, sendo 33,71% (119/353) para pesquisa de metástase (Figura 4), como também revelado por outros autores como os que estudaram a incidência de metástases pulmonares em cadelas com tumores de mama (7). No Setor de imaginologia, compreendendo ultrassonografia e radiologia, 228 animais tinham suspeita de neoplasia, sendo que destes 70,17% (160/228) foram confirmados por diagnóstico por imagem, e 32,50% (52/160) tiveram a suspeita clínica confirmada através de exames de citologia 15% (24/160) e histopatologia 16,87% (27/160), no entanto 77,19% (176/228) não tiveram confirmação da suspeita por meio de citologia e ou histopatologia. Estes dados demonstram a necessidade de conscientizar o proprietário para a importância da confirmação do tipo da neoplasia para a definição mais adequada do tratamento e do prognóstico do animal (6). CONCLUSÃO Os exames radiográficos e ultrassonográficos são ferramentas de diagnóstico por imagem que estão bem difundidos na Medicina Veterinária e têm grande importância para avaliação de pacientes com suspeita oncológica. Vale ressaltar que, embora o diagnóstico por imagem tenha função de detectar precocemente massas torácicas e abdominais, deve ser sempre correlacionado com a suspeita clínica do paciente e com os exames laboratoriais, sobretudo com a análise cito e ou histopatológica para definição da classificação do tipo da neoplasia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. WITHROW, S. J.; VAIL, D. M. Small Animal Clinical Oncology. 4a ed. Missouri: Saunders Elsevier, 2007. KITCHELL, B. E.; DERVISIS, N. G. Cancer management in small animal practice. Canadá: Saunders Elsevier, 2010. SALVADO, I. S. S. Estudo retrospectivo das neoplasias em canídeos e felídeos domésticos, analisadas pelo laboratório de anatomia patológica da faculdade de medicina veterinária da universidade técnica de Lisboa, no período compreendido de 2000 e 2009. Universidade Técnica de Lisboa. 97p. (Tese de mestrado), 2010. DIAS, J. N. R. Diagnóstico imaginológico de metastatização pulmonar: radiografia versus tomografia computadorizada. Universidade Técnica de Lisboa, 98p. (Tese de mestrado), 2012. DE NARDI, A. B.; RODASKI, S.; SOUSA, R. S.; COSTA, T. A.; MACEDO, T. R.; RODIGHERI, S. M.; RIOS, A.; PIEKARZ, C. H. Prevalência de neoplasias e modalidades de tratamento em cães atendidos no Hospital Universitário Federal do Paraná. Archives of veterinary science, v.7, n.2, p.15-26. 2002. FROES, T. R. Utilização da ultrassonografia em cães com suspeitas de neoplasias do sistema digestório (fígado, intestino e pâncreas). Universidade de São Paulo. 155p. (Tese de doutorado), 2004. SOAVE, T.; SOUSA, D.P.; MORENO, K.; BELONI, S.N.E; GONZÁLES, J.R.M.; GROTTI, C.C.B.; REIS; A.C.F. A importância do exame radiográfico torácico na abordagem de animais portadores de neoplasias. Semina: Ciências Agrárias, 29 (2), 399-406. 2008. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 17 Figura 1: Imagem ultrassonográfica de massa circular, hipoecóica, homogênea e de localização esplênica. Após análise citopatológica foi confirmado o diagnóstico de linfoma. Figura 2: Imagem ultrassonográfica de massa mista de localização hepática, com diagnóstico citopatológico de metástase de Tumor venéreo transmissível. Figura 3: Imagem radiográfica de membro direito de cão com diagnóstico de citologia de Carcinoma Epidermóide bem diferenciado em falanges média e distal deste animal. Figura 4: Análise radiográfica de tórax de cão com a presença de nódulos radiopacos, caracterizando a presença de metástase pulmonar. 7. AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA E ULTRASSONOGRÁFICA DE COLITE CAUSADA POR PYTHIUM INSIDIOSUM EM CÃO ERIKA RONDON LOPES1; MAHYUMI FUJIMORI1; MAIZE DAIANE SANTANA SANTOS4; DAPHINE ARIADNE JESUS DE PAULA3; ROBERTO LOPES DE SOUZA2; FLÁVIO HENRIQUE BRAVIM CALDEIRA3; VALERIA REGIA FRANCO SOUSA2; PEDRO EDUARDO BRANDINI NÉSPOLI2 1 Pós-graduando do curso de residência médica veterinária da UFMT, e-mail: [email protected]; Professor (a) adjuntodo curso de medicina veterinária, UFMT – Cuiabá – MT, 3 Doutor (a) em Ciências Veterinárias, UFMT, Brasil, 4 Graduanda do curso de medicina veterinária da UFMT. 2 ABSTRACT LOPES, E.R.1; FUJIMORI, M.1; SANTOS, M.D.S.4; PAULA, D. A.J.3; de SOUZA, R.L.2; CALDEIRA, F.H.B.3; SOUZA, V.R.F.2; NÉSPOLI, P.B2. RADIOGRAPHIC AND Ultrasonographic Evaluation of Colitis Due to the Dog in Pythium Insidiosum. We describe the Radiography and ultrasonographic a dog Veterinary Hospital at the Federal University of Mato Grosso, colitis caused by Pythium insidiosum. The young animal showed progressive weight loss and chronic hematochezia. Radiographic examination revealed decreased contrast emptying time of the large intestine associated with distortion and marked reduction in distensibility of large areas of the transverse colon and descending. In the ultrasound scans were marked thickening of the walls of the large intestine, particularly in the mucosal layer with loss of normal and reduced stratification of the intestinal lumen. After surgical resection the bowel segment colitis was diagnosed by histopathology and Pyogranulomatous the fungus Pythium insidiosum identified as a causative agent for examination by immunohistochemistry and "Polymerase Chain Reaction" (PCR). Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 18 KEYWORDS: Ultrasonography, radiography; pythiosis INTRODUÇÃO A pitiose é uma enfermidade caracterizada por formação de granulomas, que ocorre com maior freqüência nos equinos e em menor escala nos caninos (1). Ela é causada pelo Pythium insidiosum, um pseudo-fungozoospórico, do Reino Stramenopila, filo Oomycota, família Pythiaceae (2) encontrado principalmente em áreas alagadas de regiões de climas tropical (3,4). A infecção pelo oomiceto P. insidiosum é associada ao contato dos animais com águas contaminadas, onde ocorre a liberação de zoósporos móveis biflagelados (3). Os zoósporos livres na água apresentam quimiotaxia por pelos e são capazes de penetrar em soluções de continuidade da pele ou através das mucosas intactas (5). Em cães, a forma mais comum é a gastrintestinal e os sinais clínicos incluem vômito, diarréia, perda de peso e presença de massa palpável no abdômen (6). O achado macroscópico mais frequente é o espessamento do intestino delgado, com ou sem estenose (7), ou a presença de massas no intestino e linfonodos mesentéricos (8). Porém, o envolvimento do estômago também tem sido descrito (9). As descrições radiográficas e ultrassonográficas da doença são escassas, mas incluem espessamento segmentar do trato gastrintestinal e presença de massas abdominais ou linfadenopatias mesentéricas (10). O objetivo deste trabalho é descrever os aspectos ultrassonográficos e radiográficos de pitiose gastrointestinal em um canino. METODOLOGIA Um canino macho de 16 meses de idade, atendido no setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Mato Grosso, sem raça definida, encontrado na rua, apresentava emagrecimento progressivo e hematoquezia. O animal foi submetido á ultrassonografia transabdominal com aparelho Mylab Five equipado com transdutor microconvexo de 5 a 8 MHz. Em seguida, foram realizadas radiografias simples e contrastadas para avaliação do trânsito gastrointestinal, através da administração do meio de contraste de sulfato de bário na dose de 5 ml/ kg. Posteriormente foi realizada celiotomia mediana, seguida de enterectomia e ressecção de 4 cm de segmento do intestino grosso e dois linfonodos mesentéricos. Os materiais coletados foram fixados em formol 10%, sofreram secções histológicas e foram corados rotineiramente com hematoxilina-eosina. Adicionalmente realizou-se a técnica de metenamina nitrato de prata de Grocott para visualização de hifas e técnicas de Imunohistoquímica com anticorpo anti- Pythium insidiosum e PCR para confirmação do diagnóstico etiológico. RESULTADOS E DISCUSSÃO O exame radiográfico simples revelou abdome contraído e perda parcial da visibilização das silhuetas dos órgãos abdominais. No exame contrastado detectou-se esvaziamento gástrico após 45 minutos de administração do meio de contraste e trânsito, distensibilidade, contornos e contratilidades normais do intestino delgado. No intestino grosso a velocidade do trânsito estava reduzida. O cólon transverso e o terço cranial do cólon descendente, apresentaram distorção evidente, irregularidades da mucosa e acentuada redução do lúmen. Demais porções caudais apresentaram distensibilidade variável, formato levemente contraído e superfície da mucosa irregular. Na avaliação ultrassonográfica o intestino grosso apresentava paredes espessadas e irregulares, sobretudo da camada mucosa, com perda da estratificação normal, aspecto predominantemente hipoecóico, levemente heterogêneo, com diminuição do lúmen intestinal. No exame macroscópico observou-se estreitamento moderado luminal em praticamente toda a extensão do fragmento. Havia marcado espessamento mural, principalmente da mucosa e submucosa, com uma forte demarcação das camadas musculares. A área espessada estava irregular, com coloração brancoamarelada, moteada com áreas acastanhadas e na superfície luminal a área difusamente amarelada sugestivos de necrose da mucosa . Os linfonodos aparentemente não apresentavam alterações macroscópicas. O exame histopatológico demonstrou presença de necrose e desaparecimento da mucosa, restando pequenas áreas multifocais irregularmente preservadas. Havia um acentuado espessamento da submucosa associado com infiltrado neutrofílico intenso e mononuclear moderado que frequentemente circunda áreas com material eosinofílico irregular, conhecido como fenômeno de Splendore- Hoeppli, mesclada a está reação havia imagens negativas similares a hifas de fungos. Próximo a essas áreas havia células epitelióides e células gigantes multinucleadas, frequentemente com os núcleos periféricos. Observou-se também proliferação difusa de fibroblastos e neovascularização. Ocasionalmente a reação inflamatória era circundada por uma cápsula conjuntiva, ora havia coalescência destas áreas, sem limite capsular. Infiltrado predominantemente neutrofílico, multifocal, leve foi observado na camada muscular que ocasionalmete estendem para a camada serosa. Na coloração com impregnação por prata, nas áreas de Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 19 inflamação difusamente se notam hifas irregularmente septadas. Essas estruturas foram encontradas predominantemente onde havia reação Splendore- Hoeppli. Os exames dos linfonodos mostratam hiperplasia e infiltrado polimorfonuclear leves. Na análise Imunohistoquímica com anticorpo anti- Pythium insidiosum mostraram forte marcação das estruturas similares a hifas. O diagnóstico morfológico ficou caracterizado como um quadro de colite piogranulomatosa, acentuada, difusa, crônica em células gigantes de Langhans associadas aos oomicetos Pythium insidiosum. Como exame complementar foi realizado o PCR e confirmado o diagnóstico. Os achados radiográficos e ultrassonográficos encontrados foram similares às descritas por (10). As neoplasias intestinais devem ser diferenciadas de lesões inflamatórias crônicas, uma vez que os sinais clínicos encontrados são os mesmos (11). Utiliza-se parâmetros ultrassonográficos e radiográficos para avaliação de espessura parietal intestinal, extensão da lesão, avaliação de motilidade intestinal, integridade das camadas e se há envolvimento de linfonodos regionais para auxiliar na diferenciação entre essas enfermidades (12). Na histopatologia da lesão gastrointestinal, verificou-se alterações similares às descritas por (13) e (6). Alguns autores ressaltam que os encontros histológicos de pitiose em cães podem ser confundidos com infecções por outros oomicetos como Lagenidium spp e fungos zigomicetos da ordem Entomophtorales (10). Desta forma, torna-se necessário a adoção de métodos de diagnóstico como cultura, sorologia (ELISA ou immunoblot), aplicação de DNA por PCR e imuno-histoquímica. Neste estudo, optou-se pela utilização da técnica de Imuno- histoquímica e PCR para a confirmação do diagnóstico, uma vez que se constituem uma metodologia segura para o diagnóstico da pitiose em animais. CONCLUSÃO A ocorrência de lesões gastrointestinais causadas por Pythium insidiosum em cães não são incomuns no Estado de Mato Grosso e os exames de ultrassonografia e de radiologia podem ser úteis para diferenciálas de outras condições inflamatórias ou neoplásicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Mendoza, L.; Ajello, L.; McGinnis, MR. Infections caused by the oomycetouspathogen Pythium insidiosum. 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Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 20 8. AVALIAÇÃO DA OBESIDADE EM CÃES: CORRELAÇÃO ENTRE MENSURAÇÕES ULTRAS-SONOGRÁFICAS DE GORDURA CORPÓREA E O ESCORE VISUAL DE CONDIÇÃO CORPORAL JAQUELINE DE OLIVEIRA SENA1,3; GABRIELA ABDALLA GOMIDE1; DANIELA DE MORAES OLIVEIRA1 ; RENATO CESAR SACCHETTO TÔRRES2; STEFANO CARLO FILIPPO HAGEN1 1.Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. 2.Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. 3. Residente de Diagnóstico por Imagem em Animais de Companhia na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. ABSTRACT: SENA, J. O.; GOMIDE, G. A.; OLIVEIRA, D. M.; TÔRRES, R. C. S.; HAGEN, S. C. F. Assessment of Obesity in Dogs: Correlation between Ultrasound Measures of Body Fat and Body Condition Score. Obesity is a common nutritional disorder in dogs, being harmful to health and wellness by providing the occurrence of many diseases. Ultrasound is a tool with great potential, able to assist in the diagnosis and especially in monitoring obese patients. Fifty dogs of various sizes, with ages between 0.5 and 15 years and with different body conditions were evaluated for fat thickness of axillary and lumbar visceral fat and intramuscular fat and its correlation with body condition score. With respect to subcutaneous fat and visceral, it was found that there is moderate to strong positive correlation in animals of small and medium size (0.7 <rxy <0.9, p-value ≤ 0.005). In large dogs, the correlation was moderate to weak (0.2 <rxy <0.7, p-value>0.005), which, however, does not invalidate the method. There was no correlation between body condition score and intramuscular fat - the methods used to estimate this fat marbling in dogs by ultrasound need to be further studied. KEYWORDS: Ultrasonography, Obesity, Dogs. Apoio: FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. INTRODUÇÃO A obesidade é uma das formas mais importantes e frequentes da má nutrição observada em animais de companhia, podendo ser definida como o acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. Esta condição, na espécie humana e na população canina, vem apresentando um crescimento acelerado e preocupante e está associada a inúmeras doenças1,2,3,4.O propósito de identificar o grau de obesidade do animal é evitar o comprometimento da função fisiológica e os problemas metabólicos, cirúrgicos e/ou mecânicos acarretados pelo excesso de peso5.O método mais prático e mais utilizado para a avaliação da obesidade consiste na realização de exame físico simples, que normalmente utiliza o escore de condição corporal (ECC) como um parâmetro para avaliar a condição corporal em cães, pois este é baseado na inspeção e palpação do paciente, empregando escalas numéricas 6,7.Por suas características mecânicas, o tecido adiposo causa interferência na produção da imagem ultrassonografica e grandes depósitos de gordura podem afastar o alvo da superfície em contato com o transdutor, dificultando uma leitura ótima. Isto não impede da ultrasssonografia ser utilizada no monitoramento de depósitos de gordura. Estudos demonstram que em cães pode-se obter maior correlação com quantidade de gordura corporal total, mensurando-se a gordura subcutânea nas regiões axilar, caudal ao músculo tríceps braquial, sobre o músculo peitoral profundo, e lombar, entre a 3ª e 5ª vértebras lombares, a 2-3 cm lateral à linha mediana8,9.O objetivo deste estudo foi verificar a existência de padrões de mensuração de imagens ultrassonográficas da área e da marmorização do músculo longuíssimo dorsal, das espessuras de gordura subcutâneas nas regiões axilar e lombar e da gordura intra-abdominal de cães e correlacionar com o escore visual de condição corporal desses animais para avaliar a aplicabilidade da técnica no diagnóstico, quantificação e acompanhamento da obesidade nesta espécie de forma simples e não dispendiosa. METODOLOGIA Cinquenta cães, obesos e sadios, 42 fêmeas e 8 machos (amostra de conveniência), com idades entre 0,5 e 15 anos - média de 6 anos com desvio padrão de 3,5 anos - , foram avaliados, dentre eles, animais pertencentes ao Biotério-Canil GRMD do Departamento de Cirurgia (VCI), ao Canil do Departamento de Clínica Médica (VCM), ambos na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, e animais “voluntários”.Os animais foram pesados e mensurados (altura de cernelha, comprimento do osso occipital até a primeira vértebra coccígea e circunferências torácica e abdominal) e tiveram seu ECC avaliado de acordo com a graduação proposta por Laflamme (1997), que varia de 1 a 9, sendo 1 o grau mínimo e 9 o máximo de obesidade. As imagens ultrassonográficas foram obtidas com os animais em estação. O aparelho de ultrassonografia utilizado foi um Aquila da Esaote Pie Medical com transdutor linear de 5,0 a 8,0 MHz e convexo de 3,5 a 5,0 MHz. As medidas lineares de espessura de Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 21 gordura foram obtidas em centímetros. Houve necessidade de realizar raspagem dos pelos nas regiões lombar e abdominal. A espessura de gordura subcutânea na região axilar (EGSA) foi avaliada no segmento caudal ao músculo tríceps braquial, sobre o músculo peitoral profundo, com transdutor convexo de 5,0 MHz. A estimativa da quantidade de gordura visceral (EGA) foi realizada através da distância entre o processo xifóide e o fígado, região preenchida por gordura falciforme, com transdutor convexo de 5,0 MHz. A marmorização do músculo longuíssimo dorsal foi mensurada em cortes transversais entre a 3ª e 5ª vértebras lombares, 2-3 cm lateral à linha mediana; foram utilizados para estipular a quantidade de pontos hiperecogênicos na imagem um programa existente no aparelho de ultrassom utilizado (QIB) e um software livre de manipulação de imagens (ImageJ). Neste mesmo local, avaliou-se a espessura de gordura subcutânea da região lombar (EGSL), ambos com transdutor linear de 8,0 MHz. Em todos os casos, para simplificação do método, pele e subcutâneo também foram incluídos na medida, de modo a facilitar a execução. No presente estudo, animais acima e abaixo do peso ideal foram analisados, por esse motivo não foi utilizado unicamente esse critério para classificar os animais em portes (pequeno, médio e grande). O mesmo vale para a altura de cernelha, já que algumas raças condrodistróficas seriam indevidamente classificadas. Para animais saudáveis (ECC 5/9), considerou-se que cães com até 10kg de peso vivo são de pequeno porte, entre 11 e 25kg são de médio porte e a partir de 26kg, grande porte. Após essa classificação, os valores de comprimento do animal (distância entre a primeira vértebra cervical e a primeira coccígea) correspondentes a cada porte foram estipulados, de modo que os animais foram reclassificados da seguinte forma: pequeno porte: até 55 cm (8 cães – 7 fêmeas e 1 macho); médio porte: de 56 cm até 75 cm (24 cães – 20 fêmeas e 4 machos); grande porte: a partir de 76 cm (18 cães – 15 fêmeas e 3 machos). RESULTADOS E DISCUSSÃO A espessura média de gordura obtida na região axilar foi de 1,24 cm ± 0,45 cm, na região lombar, obtevese média de 0,98 cm ± 0,47 cm e na região abdominal, a média foi de 1,27 cm ± 0,48 cm. Na Tab.1 estão expostos os principais resultados obtidos a partir da mensuração da deposição de gordura, considerandose os cinqüenta animais.Considerando p-valor ≤ 0,005; correlação perfeita positiva r xy = 1; correlação forte 0,7 < rxy <0,9; correlação moderada 0,4 < rxy <0,7; correlação fraca 0,2 < rxy <0,4; correlação positiva 0 < rxy < 1; correlação nula rxy = 0; correlação negativa -1 < rxy < 0 e correlação perfeita negativa rxy = -1, nota-se que a correlação geral, referente às medidas dos cinquenta animais, mostrou-se positiva forte para EGSL e para as somas de EGA+EGSL, EGSL+EGSA e EGA+EGSA+EGSL e moderada para EGSA, EGA, EGA+EGSA e Circunferência Abdominal. Isso sugere que a gordura subcutânea da região lombar possui grande influência para a determinação do ECC, pois, como já foi comprovado por Wilkinson e McEwan (1991) o depósito de gordura nesta região possui excelente correlação com a gordura corporal total em cães. Não houve correlação para a estimativa da quantidade de gordura intramuscular através da mensuração dos pontos hiperecogênicos nas imagens em nenhum dos dois métodos utilizados, o que pode indicar a insignificância desse depósito de gordura em cães para estipular o ECC ou a ineficácia e erros desses métodos. A Tab.2 apresenta os resultados de correlação e p-valor obtidos de acordo com a classificação por porte. Nesta divisão por portes, obteve-se forte correlação positiva para todas as medidas de espessura de gordura, isoladas e somatórias, nos animais de pequeno e médio porte. Já o grupo de cães de grande porte apresentou correlação positiva fraca para EGSA isoladamente e moderada nos demais pontos de mensuração, sendo melhor quando as medidas de EGA e EGSL são somadas. Isso pode ser devido ao comportamento dos depósitos de gordura numa maior superfície corporal, podendo significar que a quantidade total de gordura não possui grande variação com o porte do animal e sim com sua condição física. No entanto, o p-valor indica que, para animais de grande porte e para alguns parâmetros nos animais de pequeno porte, os resultados obtidos de correlação entre as medidas lineares de gordura e o ECC podem ser ocasionados pelo acaso em mais de 5% dos cães avaliados. Com base nos resultados obtidos, sugere-se que para o acompanhamento de pacientes obesos de pequeno e médio portes sejam utilizadas as somas das espessuras de gordura das regiões lombar e axilar, pois estas possuem maior influência no escore visual de condição corporal, podendo ser útil para quantificar a obesidade observada. Já para cães de grande porte, sugere-se, pelo mesmo motivo, que a espessura de gordura abdominal seja avaliada em conjunto com a espessura de gordura subcutânea da região lombar. As medidas lineares realizadas neste estudo mostraram grande repetibilidade, enquanto que as tentativas de determinar a gordura intramuscular além dos resultados díspares mostraram variação na repetição da medida. São necessários estudos sobre o comportamento desses depósitos de gordura em pacientes obesos e animais com alguma doença de base, como endocrinopatias, quando submetidos a tratamento. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 22 Tabela 1: Correlação das Espessuras Lineares de Gordura e Pontos Hiperecogênicos na Imagem com o Escore de Condição Corporal dos Cinqüenta Animais. Coeficiente de Correlação linear rxy (Correlação) e p-valor para os cinquênta cães. Onde, EGA = Espessura de Gordura Abdominal; EGSA = Espessura de Gordura Subcutânea Axilar; EGSL = Espessura de Gordura Subcutânea Lombar; QIB (LDE) e QIB (LDD) = Quip Index Beef do Longissimus dorsi Esquerdo e Direito, respectivamente; ImageJ (LDE) e ImageJ (LDD) = Pontos hiperecogênicos mensurados pelo softwer livre ImageJ do Longissimus dorsi Esquerdo e Direito, respectivamente. Tabela 2: Correlação entre Espessuras Lineares de Gordura e Escore de Condição Corporal dos Cinqüenta Animais Classificados por Portes. Coeficiente de Correlação linear rxy (Correlação) e p-valor para cães de pequeno, médio e grande porte. Onde, EGA = Espessura de Gordura Abdominal; EGSA = Espessura de Gordura Subcutânea Axilar; EGSL = Espessura de Gordura Subcutânea Lombar. CONCLUSÃO A estimativa dos depósitos subcutâneos e abdominal de gordura através da mensuração linear por ultrassom pode auxiliar no processo de acompanhamento de pacientes obesos em tratamento, pois, diferente do ECC, não se trata de um método subjetivo, detecta variações menores e pode ser executado por profissionais distintos com a mesma acuidade. Os métodos para estimar a gordura intramuscular através dos pontos hiperecogênicos na imagem necessitam ser mais estudados para se estabelecer técnica que se ajuste à prática veterinária de forma simples e não dispendiosa, como proposto inicialmente. O protocolo de mensuração sugerido pode ser útil no acompanhamento da evolução e eficácia de um tratamento implantado para combater a obesidade em pacientes caninos sem doença de base. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. LAZZAROTTO, J. J. Relação entre aspectos nutricionais e obesidade em pequenos animais. Revista da Universidade de Alfenas, Alfenas, v. 5 p. 33-35, 1999. 2. VEIGA, A. P. M. Obesidade e Diabetes Mellitus em Pequenos Animais. In:Anais do II Simpósio de Patologia Clínica Veterinária da Região Sul do Brasil, Porto Alegre – RS, p. 82- 91, 2005. 3. NELSON R. W.; COUTO C. G.Obesity.In: Small Animal Internal Medicine. 4th ed., Elsevier, p.852856, 2009. 4. GERMAN, A. J.; HOLDEN, S. L.; BISSOT, T.; MORRIS, P. J.; BIOURGE, V. Use of starting condition score to estimate changes in body weight and composition during weight loss in obese dogs. Research in Veterinary Science, London, v. 87, p. 249-254, 2009. 5. MÜLLER, D. C. M.; SCHOSSLER, J. E. W. Adaptação do Índice de Massa Corporal Humano para Cães de Companhia. Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, 2007. 6. LAFLAMME, D.P. Development and validation of a body condition score system for dogs. In: Canine practice. v.22, p.10-15, 1997. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 23 7. GUIMARÃES, A. L. N.; TUDURY, E. A. Etiologias, Conseqüências e Tratamentos de Obesidades em Cães E Gatos – Revisão. Vet. Not.,Uberlândia, v. 12, n° 1, p. 29-41, jan-jun 2006. 8. WILKINSON, M. J. A.; McEWAN, N. A. Use of Ultrasound in the Measurement of Subcutaneous Fat and Prediction of Total Body Fat in Dogs. In: American Institute of Nutrition, 1991. 9. RODRIGUES, L. F.; FIORAVANTI, M. C. S. Métodos de Avaliação da Condição Corporal em Cães. Escola de Veterinária e Zootecnia da UFG, 2011. 9. COLABORAÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DE LINFONODOS CAVITÁRIOS: RELATO DE CASO DE LINFANGIECTASIA EM LINFONODO DE CÃO THAIS LISBOA MACHADO1; ANGÉLICA PAULA GRANDO PASCHOAL2; CLÁUDIA MATSUNAGA MARTIN3 1 Médica veterinária - Animale Centro Médico Veterinário (Ibiuna/SP), especializada em Diagnóstico por Imagem em Pequenos Animais (Anclivepa-SP/Unicsul). Correspondência: [email protected]/ Rua Coronel Salvador Rolim de Freitas, 500. Ibiuna/SP 2 Médica veterinária ultrassonografista CECRAVET, professora de fisiologia da UNISO (Sorocaba-SP). 3 Coordenadora e docente do Curso de Especialização em Diagnóstico por Imagem em Pequenos Animais (Anclivepa-SP/Unicsul). ABSTRACT MACHADO, T.L.1; GRANDO-PASCHOAL, A.P.2; MARTIN, C.M.3Ultrassonography is a noninvasive technique that allows size, shape, echogenicity, echotexture, margins and vascular evaluations of lymph nodes. As a result of technological improvement, cystic or cavitary lymph nodes have been often observed in sonographic evaluations. Lymphangiectasy in a lymph node was diagnosed in a fourteen years old, female dog, with an amorfous and cavitary structure medially the right kidney, which measured 3.0 cm x 1.7 cm. The structure was removed and histopathological evaluation revealed intense dilation of lymphatic vessels in lymph node, consistent with lymphangiectasia. The presence of anechogenic areas in lymph nodes may represent necrosis, abscesses or cysts, as well as expansion of its lymphatic vessels (lymphangiectasia) as described in this case. KEYWORDS: Ultrasonography. Lymph nodes. Dogs. INTRODUÇÃO A ultrassonografia é uma modalidade de imagem excelente para avaliar linfonodos, fornecendo informações a respeito de tamanho, forma, ecogenicidade, ecotextura, margens e vascularização 1. Atualmente, a evolução tecnológica dos equipamentos ultrassonográficos, aliada a alta resolução de imagem, tem permitido a avaliação minuciosa dessas estruturas. Sendo assim, linfonodos cavitários ou císticos têm sido observados com certa frequência na rotina ultrassonográfica veterinária, mas existem poucos dados na literatura que abordem especificamente esse aspecto sonográfico. Os linfonodos ou gânglios linfáticos são estruturas posicionadas nos canais linfáticos, de modo que possam capturar antígenos transportados através da linfa2. Em cães e gatos os linfonodos normalmente têm formato oval ou fusiforme, ecotextura homogênea, são isoecogênicos ou discretamente hipoecogênicos em relação ao tecido gorduroso adjacente, com margens lisas e bem definidas3,4,5. O tamanho pode variar entre espécies e raças, considerando também variações individuais4,5. Ao exame ultrassonográfico, os linfonodos podem se apresentar hipo ou hiperecogênicos e assumir aparência heterogênea em resposta à infecção, estímulos inflamatórios ou secundariamente à invasão celular, nos casos de neoplasias. Há uma tendência dos linfonodos metastáticos apresentarem contorno irregular, formato arredondado, arquitetura desorganizada, ecotextura homogênea ou heterogênea, ecogenicidade alterada e intensa vascularização periférica, e tendência dos não-metastáticos apresentarem contorno regular, formato ovalado ou fusiforme, arquitetura e ecotextura preservadas, ecogenicidade normal, vascularização discreta e hilar 6. Mais especificamente, em relação à presença de áreas heterogêneas alterando a ecotextura do linfonodo, um estudo em gânglios cervicais de seres humanos relatou que áreas anecogênicas de liquefação (que representam necrose cística) ou áreas hiperecogênicas (necrose hemorrágica) no interior dos mesmos são sinais fortemente sugestivos de malignidade7. Em pacientes humanos com carcinoma diferenciado de tireoide, observou-se que áreas de degeneração cística (hipo a anecogênicas) também constituem achados com alta especificidade para malignidade8. Em cães, a necrose presente em um linfonodo também pode ser identificada como áreas hipo a anecogênicas ou hiperecogênicas no seu interior, sendo observadas tanto nas lesões inflamatórias quanto neoplásicas. No entanto, áreas de necrose cística (hipo a anecogênicas) são mais sugestivas de malignidade5. Portanto, linfonodos com conteúdo anecogênico líquido são considerados anormais, e a presença de fluido pode representar áreas de necrose, abscesso ou formação de cistos. A linfangiectasia em linfonodos, que tem como sinônimos: cistos linfáticos, ectasia cística Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 24 linfática, ectasia linfática, ectasia cística, ectasia linfática sinusal e dilatação do seio, foi descrita em ratos e camundongos em processo de envelhecimento9,10. Um grupo de patologistas, associados ao National Toxicology Program, foi questionado a respeito das melhores terminologias para essa lesão, elegendo a ectasia do seio linfático e a linfangiectasia10. Ectasia do seio linfático define mais claramente a localização da lesão9,10. A ectasia (dilatação) linfática sinusal pode envolver, tanto os seios medular, como subcapsular. A forma difusa é tipicamente associada com atrofia linfoide. A linfangectasia foi encontrada em linfonodos mesentéricos e mediastinais de camundongos e também nos paralombares de ratos, em processo de envelhecimento. Esta lesão é caracterizada pela presença de áreas cavitárias dilatadas ou císticas revestidas por endotélio linfático e preenchido com material eosinofílico ou anfofílico (presumivelmente linfa). Alguns linfócitos, células plasmáticas e macrófagos podem ser encontrados junto à linfa9,10. A atrofia linfoide, associada à marcada dilatação do seio medular (transformação do seio vascular) resulta da obstrução dos vasos linfáticos eferentes, e é exacerbada pelo desenvolvimento de fibrose, se a drenagem venosa também for obstruída. Estas condições podem ser secundárias à intervenção cirúrgica por canulação linfática ou ocasionalmente se desenvolver em animais que têm sido reclinados por períodos prolongados e sofreram coincidente infarto venoso do músculo. Este trabalho objetivou enaltecer as parcas informações disponíveis na literatura sobre a colaboração da ultrassonografia no diagnóstico de linfonodos cavitários ou císticos em cães e apresentar um relato de caso de linfangiectasia linfonodal, nesta espécie. METODOLOGIA Foi atendida na Clínica Veterinária DOGMED, localizada na cidade de Sorocaba, um cão, fêmea, aproximadamente 14 anos de idade, 5.1 kg de peso, inteira e com histórico de convulsões. Não foram disponibilizadas informações a respeito do estado das fezes, urina e alimentação do animal. Procedeu-se exame físico, avaliações laboratoriais e ultrassonografia abdominal. Ao exame físico, apresentou temperatura corpórea de 37ºC, desidratação de 8% e sensibilidade dolorosa à palpação abdominal. Os resultados hematológicos e da bioquímica sérica revelaram anemia (3,75 milhões/mm3 de eritrócitos e 23,9 % de hematócrito) e valores de 3,7 mg/dl para a creatinina e 273 mg/dl para a uréia. Na ultrassonografia foram constatados: fígado hipoecogênico, imagem compatível com edema de parede de vesícula biliar, rins com maior ecogenicidade e leve pielectasia, bexiga com conteúdo celular em suspensão, aumento de volume uterino (até 4,3 cm de diâmetro) com acúmulo de conteúdo anecogênico líquido altamente celular em seu interior, compatível com piometra e, presença de estrutura ovalada, de margens discretamente irregulares, cavitária, medindo aproximadamente 3.0 cm x 1.7 cm (plano longitudinal), caudomedialmente ao rim direito, próximo aos grandes vasos, região topográfica correspondente a linfonodo aórtico lombar (figura 1). Tendo em vista as condições debilitantes da paciente, os proprietários optaram pela eutanásia do animal. O linfonodo foi excisado, fixado em formol a 10% e enviado à avaliação histopatológica, no centro de diagnósticos e especialidades veterinárias PROVET (cidade de São Paulo). RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir de fragmento de aproximadamente 2.5 cm x 1.7 cm do linfonodo excisado, parte representativa do material foi incluída para avaliação histopatológica, corado pela técnica da Hematoxilina e Eosina. O exame microscópico do linfonodo revelou folículos e cordões linfoides, ocupando as porções cortical e medular, porém com intensa dilatação de vasos linfáticos, ocupados por material amorfo levemente eosinofílico (compatível com linfa), que se sobrepunha às demais regiões do linfonodo. Não havia indícios de proliferações de caráter neoplásico ou processos inflamatórios importantes no material avaliado (figura 2). Dessa forma, o quadro foi compatível com linfangiectasia em linfonodo. No presente caso clínico, o aspecto cístico benigno encontrado no linfonodo contraria relatos 5,7 de que a presença de necrose cística em um linfonodo é sinal consistente de malignidade, ou de que áreas de degeneração cística constituem achados com alta especificidade para malignidade8. Neste caso, as áreas anecogênicas visibilizadas no linfonodo eram representadas pela acentuada dilatação dos seus seios medulares (linfangiectasia), uma lesão benigna, também denominada ectasia linfática cística ou cistos linfáticos, concordando com o fato de que conteúdo fluido no interior do linfonodo pode ser representado por formação de cistos, o que havia sido previamente descrito em cães5. Ademais, assim como a linfangiectasia em linfonodos é observada em ratos e camundongos senis9,10, o cão deste caso também se tratava de animal idoso. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 25 Figura 1. Imagem ultrassonográfica modo-B de linfonodo cavitário, localizado caudomedialmente ao rim direito, ocupando a topografia de linfonodo aórtico lombar, em animal da espécie canina (arquivo pessoal do segundo autor). Figura 2. Fotomicrografia de corte histológico de linfonodo, formado por folículos e cordões linfóides, ocupando as porções cortical e medular; intensa dilatação de vasos linfáticos, ocupados por material amorfo levemente eosinofílico (compatível com linfa), que se sobrepõe as demais regiões do linfonodo (FONTE: PROVET). CONCLUSÃO Em cães, a linfangiectasia em linfonodos não tem sido descrita na literatura. Com o desenvolvimento tecnológico dos equipamentos ultrassonográficos, linfonodos com áreas anecogênicas (císticas/cavitárias) têm sido observados com maior frequência, embora o diagnóstico definitivo, por meio de exame histopatológico, muitas vezes não seja realizado, dificultando a confirmação da origem de alterações sonográficas dessa natureza. A presença de imagens anecogênicas em linfonodos pode representar áreas de necrose, abscessos, degeneração cística, e como descrito no presente relato, ectasia linfática sinusal ou linfangiectasia. REFERÊNCIAS 1. DOSSIN, O.; LAVOUÉ, R. Protein-Losing Enteropathies in Dogs. Veterinay Clinic of Small Animal, v.41, p.399–418, 2011. 2. TIZARD, I.R. Imunologia Veterinária – uma introdução. 8ed. Elsevier Health Sciences, 2011. 3. LANG, J. Imaging of the general abdomen. In MANNION, P. Diagnostic and ultrasound in small animal practice. Oxford: Blackwell, 2006, p. 38-49. 4. D´ANJOU. Abdominal cavity, lymph nodes, and great vessels. In PENNINK, D.; D´ANJOU, M.A. Atlas of small animal ultrasonography. Iowa: Blackwell, 2008. p.445-463. 5. NYMAN, H. Abdominal lymph nodes. In O´BRIAN, R.; BARR, F. Manual of canine and feline abdominal imaging. BSAVA, 2009. p. 59-75. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 26 6. MURAMOTO, C. STERMAN, F.A.; HAGEN, S.C.F.; PINTO, A.C.B.F.; OLIVEIRA, C.M.; FAUSTINO, M.; TALIB, M.S.F.; TORRES, L.N. Avaliação ultrassonográfica de linfonodos na pesquisa de metástases de neoplasia mamária em cadelas. Pesq Vet Bras. v.31 (11), p.1006-1013, 2011. 7. CHAMMAS, M.C.; LUNDERBERG, J.S.; JULIANO, A. G.; SAITO, O.C.; MARCELINO, A.S.Z.; CERRI, G.G. Linfonodos cervicais: um dilema para o ultrassonografista. Radiologia Brasileira, v.37, p.357-364, 2004. 8. MAIA A.L.; WARD, L.S.; CARVALHO, G.A.; GRAF, H.; MACIEL, R.M.; MACIEL, L.M.Z.; ROSÁRIO, P.W.; VAISMAN, M. Nódulos de tireóide e câncer diferenciado de tireóide: consenso brasileiro. Arq Bras Endocrinol Metab, v.51, n.5, 2007. 9. FRITH, C.H.; WARD, J.M.; CHANDRAM.; LOSCO, P. Non-proliferative lesions of the hematopoietic system in rats. HL-1 In Guides of toxicologic pathology. STP/ARP/AFIP, Washington, DC, 2000. 10. ELMORE, S.A. Histopathology of the limph nodes. Toxicologic Patholy, v.34, N 5, p.424-454, 2006. 10. CONTRIBUIÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA COMO MÉTODO AUXILIAR À RADIOGRAFIA NO DIAGNÓSTICO DE OSTEOCONDRITE DISSECANTE EM UM DOGUE ALEMÃO ALEXANDRA FREY BELOTTA1; LIDIANE DA SILVA ALVES2; VIVIAM ROCCO BABICSAK1; BRUNA FERNANDA FIRMO3; EMERSON GONÇALVES MARTINS SIQUEIRA3; JULIANY GOMES QUITZAN4; MARIA JAQUELINE MAMPRIM5 1 Pós-graduandas do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Botucatu. Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Animal. Bolsista de mestrado do CNPQ. 2 Residente do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Dep. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 3 Residentes do Serviço de Cirurgia de Pequenos Animais, Dep. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 4 Docente do Serviço de Cirurgia de Pequenos Animais, Dep. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 5 Docente do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Dep.de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. Endereço da instituição: Distrito de Rubião Júnior, S/N. CEP: 18618-970 – Botucatu, SP. E-mail para contato: [email protected] Apoio: Bolsa provida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). ABSTRACT BELOTTA, A.F.; ALVES, L.S.; BABICSAK, V.R.; FIRMO, B.F.; SIQUEIRA, E.G.M.; QUITZAN, J.G.; MAMPRIM, M.J. Contribution of sonography as an auxiliary method to radiography in the diagnosis of osteochondritis dissecans in a Great Dane. Osteochondritis dissecans in the stifle joint of a Great Dane was firstly diagnosed as osteochondrosis by simple radiographies. Due to the need for a more detailed evaluation of articular soft tissue, a sonographic assessment was made, showing completely the subchondral defect, a non mineralized flap, joint effusion and lateral meniscal damage, which is not commonly reported associated to the disease. Dog was then referred to suitable surgical treatment, based on curettage of subchondral defect and partial meniscectomy. Sonography, in this case, proved to be a helpful imaging modality in the identification of cartilage flap and secondary lesions, which changed the course of therapy to be instituted. KEY WORDS: sonography, stifle, osteochondritis dissecans. INTRODUÇÃO A osteocondrose - definida como uma área de necrose do osso subcondral, secundária a um distúrbio de ossificação endocondral - já foi descrita na medicina veterinária em suínos, caninos, equinos, felinos e ratos1. Essa cartilagem necrosada e enfraquecida é altamente vulnerável a processos traumáticos, que podem levar à formação de flap de cartilagem, quando a doença passa a ser denominada osteocondrite dissecante². Embora sua etiopatogenia ainda não esteja totalmente esclarecida, sabe-se que fatores genéticos, nutricionais, hormonais, traumáticos e isquêmicos desempenham um papel importante no desenvolvimento da enfermidade³. Diversos autores verificaram maior ocorrência de osteocondrose na articulação escapulo-umeral (75,9%), seguida da articulação fêmur-tíbio-patelar (16,1%), társica (4,4%) e úmero-rádio-ulnar (3,6%) de cães de raças grandes e gigantes4. Foi relatada maior incidência em machos em crescimento, apesar da detecção significativa de osteocondrose no joelho de cães com idade acima de 12 meses, evidenciando um diagnóstico tardio da doença nessa articulação na rotina clínica. O diagnóstico preciso e seguro torna-se necessário à medida que uma intervenção precoce evita complicações causadas pelas alterações articulares degenerativas secundárias. Embora radiografias Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 27 simples sejam suficientes para o diagnóstico da lesão na maioria dos casos, a ultrassonografia desempenha um importante papel permitindo, dentre outros, a avaliação de partes moles articulares que podem estar alteradas devido à cronicidade do processo, visibilização de efusão articular e a detecção de flaps de cartilagem não mineralizados soltos5, auxiliando na escolha entre um tratamento conservativo ou cirúrgico. RELATO DE CASO Dogue alemão, macho, 9 meses, 45kg, foi trazido ao Hospital Veterinário da referida instituição com queixa de impotência funcional do membro pélvico esquerdo há uma semana e histórico de perda de condição corporal durante o desenvolvimento. Ao exame clínico, o animal apresentava caquexia, intensa dor à flexão e extensão da articulação do joelho esquerdo e atrofia do membro acometido. Foi coletado sangue para hemograma que demonstrou leucocitose por neutrofilia e solicitado radiografia da articulação fêmur-tíbio-patelar. Foram realizadas incidências crânio-caudal (figura 1A) e médio-lateral (figura 1B) com equipamento de raios-x digital, marca GE. Constatou-se presença de área cística radiolucente em côndilo femoral lateral, compatível com erosão óssea subcondral, além de osteófito na face lateral da epífise proximal da tíbia (figura 1A). Na projeção médio-lateral notou-se efusão articular (figura 1B). Associando-se o histórico e exame clínico às imagens radiográficas, concluiu-se tratar de um caso de osteocondrose. Um exame ultrassonográfico da articulação foi solicitado para avaliação complementar e auxílio na decisão entre um tratamento cirúrgico, baseado na curetagem da área de erosão óssea, ou clínico. As imagens foram feitas com equipamento ultrassonográfico MyLab Alpha (marca Esaote) e transdutor multifrequencial linear, em frequência de 13MHz. Após tricotomia da região, com o joelho flexionado a 45º, a região suprapatelar foi primeiramente avaliada evidenciando um recesso suprapatelar com espessura e ecogenicidade preservadas e a superfície da patela como uma estrutura convexa, hiperecogênica e lisa. O joelho era flexionado ou extendido conforme necessidade. Na região infrapatelar, a cartilagem articular apresentou-se distendida; o ligamento patelar com espessura e ecogenicidade mantidas, e a gordura infrapatelar heterogênea, delimitada por discreta quantidade de fluido anecogênico. No acesso lateral, com o joelho flexionado, o menisco apresentou-se delimitado por efusão articular e foi visibilizado como estrutura triangular, não uniforme, de ecogenicidade média e lesão central hipoecogênica (figura 2A). Ao mesmo corte, foi possível visualizar acentuada irregularidade da superfície óssea do côndilo femoral lateral e defeito côncavo preenchido por tecido ecogênico adjacente (correspondente à erosão óssea subcondral). O flap de cartilagem pôde ser visibilizado como uma linha hiperecogênica separada do defeito subcondral. No acesso medial não foram encontradas alterações de superfície óssea e em menisco (figura 2B). DISCUSSÃO Cães do sexo masculino possuem maior predisposição a desenvolverem osteocondrose no joelho e a raça Dogue Alemão é bastante relatada na literatura dentre as mais acometidas pela doença 6. O exame ultrassonográfico da articulação fêmur-tíbio-patelar, assim como citado por outros autores7, atuou como um bom método diagnóstico, não-invasivo, trazendo informações adicionais àquelas obtidas com o exame radiográfico. O flap de cartilagem, não detectado pela radiografia simples, foi visibilizado pelo ultrassom conforme a descrição feita por outros autores5,8: como uma segunda estrutura hiperecogênica, de dimensões variadas, sobre o defeito subcondral e associada a espessamento capsular. De acordo com alguns autores⁸, o diagnóstico das lesões de menisco é um dos mais difíceis de interpretar durante o exame ultrassonográfico de joelho devido à dificuldade de visibilizá-lo completamente. Entretanto, essa não foi uma limitação durante nossa avaliação, provavelmente devido ao porte maior do animal que permitiu a visualização de toda a extensão meniscal. A lesão central hipoecogênica identificada no menisco lateral pelo exame ultrassonográfico foi confirmada à histopatologia, após meniscectomia parcial, como degeneração meniscal. Há na literatura diversos estudos que relatam a presença de lesões no menisco medial secundárias à ruptura de ligamento cruzado cranial em cães 7,8. Entretanto, pouco se sabe sobre a correlação entre a osteocondrose e possíveis alterações meniscais relacionadas 9,10. Apenas um autor9 relatou, durante procedimento cirúrgico de três cães com osteocondrose da porção medial do côndilo femoral lateral, laceração do menisco ipsilateral. O autor acredita que as lesões possam ter sido causadas pela danificação mecânica direta das áreas de cartilagem anormais ou então que tenham ocorrido secundariamente à inflamação articular. De qualquer forma, o mesmo sugere um prognóstico reservado mesmo após a meniscectomia, uma vez que dos três cães avaliados, dois persistiram com claudicação. No presente relato de caso descrito, após o tratamento cirúrgico instituído, o cão não voltou a apresentar claudicação do membro acometido. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 28 CONCLUSÃO A ultrassonografia da articulação fêmur-tíbio-patelar neste caso demonstrou-se uma opção diagnóstica satisfatória para a detecção de flap de cartilagem não mineralizado e lesão meniscal, sendo uma alternativa viável a outras técnicas invasivas - artrografia contrastada, tomografia computadorizada e ressonância magnética – e possibilitando a instituição do tratamento mais adequado para este cão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. YTREHUS, B.; CARLSON, C.S., EKMAN, S. Vet. Pathol., 44: 429-448, 2007. 2. RALPHS, S.C. Journal Am. Anim. Hosp. Assoc., 41: 78-80, 2005. 3. KUROKI, K.; COOK, J.L.; STOKER, A.M.; TURNQUIST, S.E.; KREEGER, J.M.; TOMLINSON, J.L. Osteoarthr. Cartilage, 13: 225-234, 2004. 4. NECAS, A.; DVORAK, M.; ZATLOUCAL, J. Acta Vet. Brno, 68: 131-139, 1999. 5. VANDEVELDE, B.; RYSSEN, B.V.; SAUNDERS, J.H.; KRAMER, M.; BREE, H.V. Vet. Radiol. Ultrasound, 47 (2): 174-184, 2006. 6. MCKEE, W.M.; COOK, J.L. In: HOULTON, J.E.F.; COOK, J.L.; INNES, J.F.; LANGLEY-HOBBS, S.J. Manual of Canine and Feline Musculoskeletal Disorders. Gloucester: British Small Animal Veterinary Association, 2006, p. 350-395. 7. MAHN, M.M.; COOK, J.L.; COOK, C.R.; BALKE, M.T. Vet. Surg., 34: 318-323, 2005. 8. KRAMER, M.; STENGEL, H.; GERWING, M.; SCHIMKE, E.; SHEPPARD, C. Vet. Radiol. Ultrasound, 40 (3): 282-293, 1998. 9. LANGLEY-HOBBS, S.J. Vet. Rec., 149: 592-594, 2001. 10. PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L. In: BRINKER, W.O.; PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L. Handbook of Small Animal Orthopaedics and Fracture Repair. Philadelphia: Saunders, 2007, p. 516-570. YTREHUS, B.; CARLSON, C.S., EKMAN, S. Vet. Pathol., 44: 429-448, 2007. B A AFigura 1. (A) Radiografia da articulação fêmur-tíbio-patelar na projeção crânio-caudal demonstra área cística radiolucente (seta branca) em côndilo femoral lateral e osteófito na epífise lateral da tíbia (pontilhada). (B) Projeção médio-lateral demonstra efusão articular (setas), irregularidade e esclerose de côndilos femorais. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 29 2 6 1 3 8 7 4 5 A B Figura 2. (A) Ultrassonografia da articulação fêmur-tíbio-patelar através do acesso lateral demonstrando menisco lateral (1) com lesão central hipoecogênica e com perda parcial de delimitação de seus contornos; ligamento colateral lateral (2); defeito côncavo na superfície do côndilo lateral preenchido por cartilagem ecogênica (3) e flap de cartilagem hiperecogênico (4), separado da irregularidade do osso subcondral (5). (B) Acesso medial evidenciando menisco medial sem alterações para estudo comparativo. O menisco apresenta-se com formato triangular (6), ecotextura homogênea e ecogenicidade média, delimitado pela superfície distal do fêmur (7) e superfície proximal da tíbia (8). 11. ASPECTO ULTRASSONOGRÁFICO DE EFUSÃO RETROPERITONEAL SECUNDÁRIA A CISTOCENTESE EM UM CÃO – RELATO DE CASO MAYRON TOBIAS DA LUZ1; JESSICA LAGUARDIA HERINGER FARIA2; CARLOS CZPAK KROETZ3; SIMONE DOMIT GUERIOS4; TILDE RODRIGUES FROES4 1 Aluno bolsista (CNPq) do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Setor de Ciências Agrárias, UFPR 2 Aluna de graduação do curso de Medicina Veterinária, Setor de Ciências Agrárias, UFPR 3 Médico veterinário residente, Hospital Veterinário da UFPR, Setor de Ciências Agrárias, UFPR 4 Professora adjunta do Departamento de Medicina Veterinária, Setor de Ciências Agrárias, UFPR Setor de Ciências Agrárias da UFPR Rua dos Funcionários, 1540, CEP 80035-050, bairro Cabral – Curitiba∕ PR Contato: [email protected] ABSTRACT DA LUZ, M.T.; FROES, T.R.; FARIA, J.L.H.; KROETZ, C.C.; GUERIOS, S.D.; FROES, T.R. Ultrasonographic aspect of retroperithoneal effusion associated with cystocentesis in a dog – a case report. Tthe percutaneous cystocentesis is a very common exam required. This case report describes an iatrogenic aortic perforation secondary to ultrasound-guided cystocentesis in a 3-year-old female Poodle. Although this procedure seems to be very simple, the decision to perform it require lots of care. KEY WORDS: ultrasound, rupture, bladder. INTRODUÇÃO A cistocentese percutânea é um procedimento intervencionista no qual se coleta uma amostra de urina da maneira mais asséptica possível introduzindo-se a agulha pela pele diretamente na vesícula urinária, podendo ser guiada pelo exame ultrassonográfico 1. Apesar de aparentemente simples existe riscos inerentes durante a realização do procedimento, como perfurações de outras estruturas abdominais, tais como alças intestinais, útero e estruturas retroperitoneais. O objetivo desse relato é demonstrar a ocorrência e os achados ultrasonográficos da perfuração da aorta de forma iatrogênica após uma cistocentese ecoguiada. METODOLOGIA Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV-UFPR), na cidade de Curitiba, estado do Paraná, uma cadela da raça Poodle, 3 anos de idade, não castrada e com peso de 5,4kg, encaminhada para ovariosalpingohisterectomia (OSH) eletiva em campanha de castração. Para todos os pacientes da campanha é realizado o exame ultrassonográfico prévio como forma de averiguação e triagem em conjunto com outros exames. Na anamnese, houve a informação da atualização de vacinas e Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 30 da vermifugação. No exame físico, apresentava temperatura de 39,7ºC, mucosas normocoradas, frequência respiratória de 28 mpm, frequência cardíaca de 104 bpm, tempo de preenchimento capilar próximo a 1 segundo, aumento bilateral de linfonodos submandibulares e coloração escurecida associada a odor fétido em condutos auditivos. Foi coletado sangue para hemograma e para exames de bioquímica sérica, como alanina aminotransferase (ALT) e creatinina. Durante a depilação da região abdominal para a ecografia, o paciente estava agitado, o que se resolveu com contenção mecânica. O exame ultrassonográfico abdominal não demonstrou alterações dignas de nota; a vesícula urinária foi observada em uma distensão normal, preenchida por conteúdo anecogênico e localizada em topografia habitual. Ao término do exame, realizou-se o preparo para a cistocentese ecoguiada para obtenção de amostra de urina, também parte do protocolo de exames. O material utilizado para cistocentese ecodirigida foi uma seringa de 10ml, agulha de 25 x 0,70cm, além da antissepsia prévia da região de acesso com álcool a 70%. Embora o paciente tenha se acalmado durante o exame, no momento da punção este voltou a se movimentar alterando o trajeto da agulha, houve a punção de aproximadamente 1,5ml de conteúdo liquido de coloração vermelho vivo, compatível com sangue. Optou-se por realizar-se uma nova punção, desta vez com a coleta de aproximadamente 6 ml de um líquido translúcido de coloração amarela. Após esta segunda punção, realizou-se uma avaliação imediata da região, a fim de se avaliar sinais de liquido livre abdominal, não sendo notado nenhuma alteração nesse momento. A conduta adotada foi acompanhar clinicamente o paciente e reavaliar ultrassonograficamente a região abdominal após 30 minutos. RESULTADOS E DISCUSSÃO A reavaliação ultrassonográfica indicou uma grande área hipoecogênica e irregular, não formadora de artefato acústico e aparentemente intraluminal a vesícula urinária (figura 01), semelhante a um coágulo vesical. Entretanto, a parede dorsal não estava delimitada (seta vermelha, figura 01); neste primeiro momento não se observaram focos de efusão extraluminais e nenhum recesso abdominal ou mesmo adjacente a bexiga. Um novo controle ultrassonográfico foi realizada após 1 hora; esta área irregular apresentava-se maior e se observaram sinais de líquido livre abdominal, adjacente a bexiga e em recessos nefro-esplênico e recesso hepatorrenal. O único sinal clínico observado foi apatia. Optou-se pela laparotomia exploratória, no qual constatou-se grande quantidade de sangue com características de formação de coágulo gerando aumento de volume em espaço retroperitoneal. Após remoção deste volume sanguíneo extravasado, não se identificou pontos de perfuração em artéria aorta e/ou veia cava caudal e a parede vesical estava íntegra. Coletou-se sangue para hemograma no pré-cirúrgico, a fim de se comparar com a mostra coletada no momento da avaliação clínica inicial. Figura 01 – Imagem ultrassonográfica vesical após 30 minutos da cistocentese. A seta vermelha indica uma perda da definição da parede dorsal e conteúdo hipo a ecogênico intraluminal (fonte: Arquivo pessoal) Figura 02 – Procedimento cirúrgico demonstrando a formação de coágulo (seta branca) em espaço retroperitoneal (fonte: Andressa Inajá Juliani) Embora o procedimento de cistocentese acabe sendo diário na rotina clínica e mesmo com o uso da ultrassonografia para direcionar a agulha, são relatadas possíveis complicações como aspiração de conteúdo intestinal, hematúria e hemorragia da mucosa vesical2. Relatos de ruptura de grandes vasos são escassos; os mais descritos estão relacionados a rupturas torácicas secundárias, tais como complicações por corpo estranho esofágico3, parasitismo por Spirocerca lupi4 e Angiostrongylus vasorum5; geralmente a hemorragia gerada evolui para um choque hipovolêmico e consequente óbito. Na medicina veterinária, Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 31 relata-se apenas um caso de perfuração iatrogênica de aorta secundária a uma cistocentese6, contudo neste procedimento não se utilizou um equipamento de ultrassonografia para guiar a agulha, diferentemente do nosso relato. Independente de se ter ou não a imagem ultrassonográfico como guia, a decisão de proceder a coleta correlaciona-se muito mais as características físicas do paciente, bem como seu temperamento. Os cuidados devem ser ainda maiores quando executa-se essa manobra em animais cães pequenos e agitados. Como o coágulo/ sangue extravasado contornava externamente a bexiga, essa imagem parecia ser intraluminal, não descrito pela literatura. A confirmação da ruptura se deu somente quando na detecção de efusão peritoneal nos recessos/dobras do peritônio, janelas utilizadas para essa pesquisa em exames de AFAST (abdominal focused assessment with sonography for trauma)7. Após a remoção do volume extravasado de sangue no momento intra-operatório, não se observou um novo extravasamento sanguíneo tampouco o ponto de punção, todavia acredita-se que a perfuração tenha sido na aorta descendente pela coloração intensa e pela característica de sangue arterial observada no volume puncionado na primeira coleta. Nossa hipótese é de que o volume extravasado tenha atuado como tamponante, ou seja, a pressão exercida pelo volume retroperitoneal extravasado atingiu um ponto que ao gerar certa pressão sobre a parede da aorta cessou a hemorragia, permitindo que houvesse a atuação dos fatores de coagulação. Na avaliação inicial, o eritrograma indicou um hematócrito (Ht) de 46% (valores de referência: 37 – 55%), hemoglobina (Hb) de 14,8g∕dL (valores de referência:14-18 g∕dL) e proteína plasmática total (PPT) de 6,2 g∕dL (valores de referência: 6,0 a 8,0 g∕dL); na amostra pré-cirúrgica, os valores foram: Ht 21%, Hb 8,6 g∕dL e PPT 4,2 g∕ dL, compatíveis com uma hemorragia aguda. Durante e após o procedimento cirúrgico, realizou-se toda a terapia de suporte, permanecendo o animal internado durante 24 horas para observação. CONCLUSÃO A decisão de uma cistocentese deve ser ponderada por diversos fatores. Primeiramente, há a necessidade de uma distensão vesical adequada, não extremamente distendida (evitando o risco de rupturas vesicais) mas também não vazia, que permita coletar uma amostra suficiente para a urinálise e∕ ou urocultura. Deve-se ainda considerar fatores como características físicas do animal e seu temperamento e escolher corretamente o material a ser utilizado no procedimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 BROWN, C. Diagnostic cystocentesis: technique and considerations. Lab Anim, New York, 35(4):21-3, abr.2006. 2 KRUGER, J.M.; OSBORNE, C.A.; ULRICH; LK. Cystocentesis diagnostic and therapeutic considerations. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 26:353–361, mar.1996. 3 COHN, L.A.; STOLL, M.R.; BRANSON, K.R.; ROUDABUSH, A.A.; KERL, M.E; LANGDON, P.F.; JOHANNES, C.M. Fatal hemothorax following management of na esophageal foreign body. Journal of the American Animal Hospital Association, 39(3):251-256, maio.2003. 4 RI.NAS, M.A.; NESNEK, R., KINSELLA, J.M.; DEMATTEO, K.E. Fatal aortic aneurysm and rupture in a neotropical bush dog (Speothos venaticus) caused by Spirocerca lupi. Vet Parasitol, 164(2-4):347-349, out.2009. 5 MOZZER, L.R.; LIMA, W.S. Rupture of the thoracic aorta associated with experimental Angiostrongylus vasorum infection in a dog. Parasite, 19(2):189-191, maio.2012. 6 BUCKLEY, G.J.; AKTAY, S.A.; ROZANSKI, E.A. Massive transfusion and surgical management of iatrogenic aortic laceration associated with cystocentesis in a dog. Journal of the American Veterinary Medical Association, 235(3):288-291, ago.2009. 7 BOYSEN, S.R.; LISCIANDRO, G.R. The Use of Ultrasound for Dogs and Cats in the Emergency Room: AFAST and TFAST. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice,43(4):773-797, jul.2013. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 32 12. UTILIZAÇÃO DA ECOCARDIOGRAFIA CONTRASTADA TRANSCIRÚRGICA EM SHUNTS PORTOSSISTÊMICOS EXTRAHEPÁTICOS EM CÃES – RELATOS DE CASOS FABÍOLA PEIXOTO DA SILVA MELLO1, SIMONE SCHERER1, VERÔNICA SANTOS MÖMBACH2, ALINE SILVA GOUVÊA1, KAUÊ DANILO REIS2, GABRIELA SESSEGOLO3, FERNANDA BASTOS DE MELLO4, JOÃO ROBERTO BRAGA DE MELLO5 1 – Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Av. Bento Gonçalves, 9090. E-mail: [email protected] 2 – Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 3 – Médica veterinária autônoma. 4 – Professora Doutora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. 5 – Professor Doutor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. ABSTRACT: MELLO, F.P.S.; SCHERER, S.; MÖMBACH, V. S.; REIS, K.D.; GOUVÊA, A.S.; SESSEGOLO, G.; MELLO, F.B.; MELLO, J.R.B. Intraoperative contrast echocardiography in extrahepatic portosystemic shunts in dogs – cases report. Portosystemic shunts represent one of the most commonly identified vascular anomalies in dogs and cats. The diagnosis is usually based on historical, clinical signs, blood tests, ultrasound and venous portography. This paper describes the use of intraoperative echocardiography with microbubles as an alternative to portogram to confirm portosystemic shunts. This technique was used successfully in three dogs. KEYWORDS: microbubles, portovenography, ultrasound INTRODUÇÃO: Shunts portossistêmicos (SPS) representam uma das anomalias vasculares mais frequentemente identificadas em cães e gatos1. Por essas anomalias permitirem que o sangue portal drenado do estômago, intestinos, pâncreas e baço, entre diretamente na circulação sistêmica sem passar primeiro pelo fígado, vários sinais clínicos podem ser observados, desde os mais brandos como menor desenvolvimento corporal em relação a animais normais, até sinais mais severos como o aparecimento de encefalopatia hepática. Os SPS podem ser intra ou extra-hepáticos, caso os vasos anômalos se encontrem respectivamente fora ou dentro do parênquima hepático. 2 O diagnóstico presuntivo geralmente é baseado na combinação dos sinais clínicos e histórico do paciente, achados físicos e anormalidades clínicopatológicas. O diagnóstico definitivo requer identificação cirúrgica, portovenografia de contraste positivo, ultrassonografia ou cintilografia.3 A ecocardiografia contrastada com microbolhas também é um exame de imagem que pode ser utilizado para confirmar sua presença, no transoperatório de cães com SPS, podendo ser empregada em substituição à portovenografia transoperatória. Ele é realizado através da administração de solução salina agitada com sangue heparinizado do próprio animal, injetado através da veia jejunal por meio de um cateter fixado com ligaduras. Após alguns segundos, no caso de cães com SPS, é possível observar com auxílio de um aparelho de ultrassonografia e com o transdutor posicionado em uma das janelas paraesternais, as microbolhas aparecem nas câmaras cardíacas direitas 4. Tal visualização ao exame anteriormente referido baseia-se no fato de que na ausência desse tipo de shunt, os sinusóides hepáticos destroem as microbolhas antes que as mesmas alcancem o coração4,5. O objetivo do presente trabalho é descrever a utilização desta técnica em três cães com suspeita de SPS extra-hepático, atendidos no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (HCVUFRGS). METODOLOGIA: Foram atendidos três cães com suspeita de SPS extra-hepático no HCV-UFRGS de abril a junho de 2013, e incluíram: um Shih-tzu, macho, de 11 meses; um SRD, macho, de 2 anos, e; um Yorkshire terrier, fêmea, de 7 meses. Ao exame clínico apresentaram sinais clínicos diversos, como menor desenvolvimento corporal se comparado a irmão da mesma ninhada, apatia, hiporexia a anorexia, sonolência, depressão ou agressividade. Foram solicitados como exames de triagem: hemograma, proteína plasmática total, albumina, creatinina, uréia, ALT, urinálise e ultrassonografia abdominal. Nos exames realizados foram detectados: leve leucocitose, hipoalbunemia, hipoproteinemia e uréia sanguínea reduzida, litíase vesical, microhepatia e presença de vaso anômalo. Como tratamento inicial foi indicado lactulona 0,5ml/kg BID a TID VO, ração comercial hipoproteica, metronidazol 10mg/kg TID 10 dias VO, e posterior intervenção cirúrgica para confirmação cirúrgica, localização e colocação do anel ameróide em torno do vaso anômalo. Após o tratamento clínico, os animais foram submetidos à cirurgia. Foi realizada laparotomia, e a veia jejunal dos animais foi localizada, acessada com um cateter IV, sendo este fixado com auxílio de ligaduras. Foram coletados 0,5 ml de sangue heparinizado deste vaso, o qual foi Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 33 agitado com 2 ml de solução salina (NaCl 0,9%) com auxílio de duas seringas conectadas por uma torneira de três vias. Após colocar um transdutor microconvexo com frequência de 7,5 mHz na janela paraesternal, este sangue agitado foi injetado através do cateter inserido na veia jejunal. Dentro de alguns segundos puderam-se observar as microbolhas presentes nas câmaras cardíacas direitas. Com a confirmação do shunt através deste exame transoperatório, procedeu-se a laparotomia exploratória buscando-o. Ao encontrá-lo foi colocado o anel ameróide em torno do referido vaso anômalo. Em dois casos, os cães apresentaram-se instáveis durante a cirurgia, e o cateter soltou-se do vaso durante a manipulação dentro da cavidade abdominal, desta forma optou-se por não repetir-se a ecocardiografia contrastada com microbolhas. No outro caso, o cão apresentava-se estável e com o cateter no local desejado, assim conseguimos realizar essa oclusão manual provisória e repetir o exame, demonstrando a ausência das microbolhas. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O diagnóstico do shunt portossistêmico pode ser desafiador 8. Geralmente acometem cães de raça, sendo os shunts intra-hepáticos mais observados em raças grandes e os extra-hepáticos em raças pequenas.6 Achados laboratoriais incluem anemia, microcitose, cristalúria por biurato de amônia, alto nível de amônia sanguínea em jejum e elevada concentração de ácidos biliares. 6 Em cães com suspeita de shunt portossistêmico indica-se a realização de portovenografia transoperatória, uma angiografia que, se realizada de forma precisa, fornece informação sobre a identificação dos vasos com shunt. No entanto este exame de imagem tem algumas desvantagens, pois: demanda tempo para sua realização; para quem não tem muita prática, pode-se perder o tempo de disparo em relação à administração do contraste intravenoso, o que faz com que se perca informações valiosas da radiografia contrastada, sendo importante salientar que existe um volume total máximo, não permitindo múltiplas tentativas de disparo radiográfico; além disso pode ser exaustivo o peso do avental de chumbo por baixo do avental cirúrgico, e; se este for realizado fora da sala de cirurgia aumenta o risco de contaminação e chance de infecção hospitalar.4 É escassa na literatura o relato de casos com a utilização da ecocardiografia contrastada transoperatória em casos de SPS, apesar da facilidade de execução, sua grande utilidade como teste auxiliar para confirmar o diagnóstico do shunt e confirmar o sucesso do tratamento quando realizada a completa oclusão do mesmo. Cabe lembrar que a imagem das microbolhas nas câmaras cardíacas são facilmente interpretadas4, não exigindo muita experiência. Ele auxilia no diagnóstico também de shunts mais distais derivados da veia mesentérica.4 A adição de sangue à solução salina é indicada porque ele diminui a tensão da superfície das microbolhas, assim como promove a agregação delas, aumentando assim a estabilidade e longevidade da solução.5,7 Conforme realizado nos casos descritos, essa mistura pode ser realizada entre duas seringas conectadas por uma torneira de três vias, permitindo-se criar microbolhas devido à turbulência criada pelo rápido movimento através da torneira de três vias. 7 O tratamento definitivo requer correção anatômica e oclusão do shunt. A completa correção cirúrgica de forma abrupta pode resultar em risco de morte. Dessa forma, uma das indicações de tratamento é a utilização de constritores ameróides, os quais realizam uma constrição inicial devido à absorção de líquidos corpóreos pelo material higroscópico que ele possui na sua parte interna; sendo que uma oclusão adicional ocorre à medida que ocorre fibrose em torno do anel. 2 Nos casos acima relatados, após a colocação do anel ameróide em torno do vaso anômalo, tínhamos como objetivo repetir o exame, ocluindo este vaso manualmente e temporariamente, para confirmar a ausência de um segundo shunt. No entanto, em dois cães não foi possível a realização do teste pós, devido ao deslocamento do cateter do vaso jejunal e instabilidade do paciente no transoperatório. Em um dos pacientes conseguimos realizar essa oclusão provisória e repetir o exame, demonstrando a ausência das microbolhas. A aplicação de solução salina agitada por via intravenosa é considerada segura, 3,5 pode ser repetida se necessário, dando imediata evidência ao cirurgião, tanto para identificar o shunt, como verificar se um shunt duplo está presente ou se o shunt foi deixado de fora da ligadura 4. Essa técnica mostrou-se efetiva como auxílio diagnóstico nesses três pacientes com SPS, demonstrando ser uma alternativa viável à portovenografia transoperatória. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1 – D’ANJOU, M.A. Clin. Tech. Small Anim. Pract., 22 (3): 104-114, 2007. 2 – FOSSUM, T.W. In:______. Small Animal Surgery. St. Louis: Mosby Elsevier, 2007, 531-559. 3 – GÓMEZ-OCHOA, P; LLABRES-DIAZ, F.; RUIZ, S.; CORDA, A.; PRIETO, S.; SOSA, I.; GREGORI, T.; GASCÓN, M. Vet. Radiol. Ultrasound, 51 (5): 223-226, 2010. 4 – SAPONARO, V.; LACITIGNOLA, L.; STAFFIERI, F.; CROVACE, A. Res. Vet. Sci., 93 (1): 463465, 2011. 5 – GÓMEZ-OCHOA, P; LLABRES-DIAZ, F.; RUIZ, S.; CORDA, A.; PRIETO, S.; SOSA, I.; GREGORI, T.; GASCÓN, M.; COUTO, G.C. Vet. Radiol. Ultrasound, v. 52 (1): 103-106, 2011. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 34 6 – SANTILLI, R.A.; GERBONI,G. Vet. J., 166 (1): 7-18, 2003. 7 – ARNDT, J.W.; OYAMA, M.A. J. Vet. Cardiol., 10 (2): 129-132, 2008. 8 – HUG,S.A.; GURRERO,T.G.; MAKARA,M; KUMMER,P.; GREST,P. SCHWARZWALD. J. Vet. Int. Med., 26 (1): 171-177, 2012. 13. INTUSSUSCEPÇÃO UTERINA EM CADELA - RELATO DE CASO RAQUEL DE SOUZA LEMOS1; ROSANA ZANATTA2; MARCO AURÉLIO MOLINA PIRES1 1 Professor Mestre da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Cuiabá 2 Professor Doutor da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Cuiabá Rua Itália, s/n - Jardim Europa. 78065-428 – Cuiabá – MT [email protected] . ABSTRACT LEMOS, R.S.; ZANATTA, R.; PIRES, M.A.M. Uterine intussusception in a bitch – case report Uterine intussusception is a rare condition in dogs. The aim of this report is present a case of a canine, female, Pinscher, five years old with a history of recent parturition. Complementary exams were required. Physical examination revealed vulvar discharge and prostration. Laboratory tests results includes anemia, increased urea and phosphatase alcaline. On ultrasonographic evaluation, the left uterine horn had increased focal volume, with multiple lines in transversal view. There was free fluid in the abdominal cavity. Laparotomy was indicated and confirmed intussusception and uterine rupture. Although rare, the intussusception should be considered as a differential diagnosis in cases of uterine focal increased size. KEY WORDS: Dog. Ultrasound. Uterine horns. INTRODUÇÃO A intussuscepção é definida como o encaixe ou a invaginação de um segmento sobre o outro, normalmente de uma alça intestinal. O segmento que envolve o outro é denominado intussuscipiente, enquanto que o segmento envolvido é chamado de intussuscepto 1. Existem poucos relatos de intussuscepção uterina em cães, sendo um da década de 70, de uma cadela da raça Chow Chow, outro de uma cadela SRD retirada da rua e submetida à ovariosalpingohisterectomia eletiva, na qual foi observada intussuscepção do corno uterino e o último de uma Cocker Spaniel com prostração após o parto2,3,4. Busca-se, com este relato, descrever o aspecto ultrassonográfico de uma intussuscepção no corno uterino de uma cadela da raça Pinscher. METODOLOGIA Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá, um paciente da espécie canina, fêmea, da raça Pinscher, de cinco anos de idade, com queixa de anorexia e adipsia há um dia e histórico de parição de três filhotes há três dias, sendo que um veio a óbito no dia do parto. Foi realizado exame clínico e coletado sangue para realização de hemograma e bioquímica sérica (Alanina transaminase - ALT, Fosfatase alcalina - FA, Uréia, Creatinina, Proteína total e frações), e solicitada a realização de exame ultrassonográfico abdominal, devido à suspeita de metrite. Após tricotomia da região abdominal do paciente e aplicação de gel acústico, o exame ultrassonográfico foi realizado com aparelho Ultrasonix SP, utilizando-se transdutor multifrequêncial de 6,6-14MHz. Com base nos achados, foi indicada laparotomia para realização de ovariosalpingohisterectomia terapêutica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao exame físico, a paciente apresentava temperatura retal de 39,3°C, estado de consciência deprimido, presença de discreta quantidade de secreção vulvar, e ectoparasitas (carrapatos). Os demais parâmetros encontravam-se dentro da normalidade para a espécie. Em um relato de intussuscepção uterina, também foi descrita a presença de secreção vulvar e histórico de parição recente, além de dor abdominal 4, esta não observada no presente relato. No hemograma observou-se anemia (Hematócrito: 29,4%, eritrócitos: 4,31milhões/µl); presença de 2% de eritroblastos e leucócitos dentro dos valores de referência para a espécie. Nas análises bioquímicas, observou-se discreto aumento de uréia (75,2 mg/µl) e fosfatase alcalina (199 UI/L). Não foram observadas alterações de ALT, creatinina, proteína total e frações. Processos infecciosos sistêmicos podem causar anemia e aumento de fosfatase alcalina em cães, justificando estes achados5. No exame ultrassonográfico, o corpo e cornos uterinos possuíam conteúdo intraluminal hiperecóico e mediram aproximadamente 0,9cm de diâmetro. No corno uterino esquerdo, porém, observou-se um Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 35 aumento de volume focal, de 2,4cm de espessura, com visualização de múltiplas camadas (Figura 1). Havia moderada quantidade de líquido livre na cavidade abdominal, e a região pancreática estava evidente. Durante a laparotomia foi observada ruptura da parede uterina em dois pontos do corno direito, com áreas de necrose associadas, e a intussuscepção no corno esquerdo foi confirmada (Figura 2). O omento encontrava-se aderido ao útero e havia presença de moderada quantidade de secreção purulenta na cavidade abdominal, bem como sinais de peritonite. A ruptura da parede abdominal no período pós-parto pode ocorrer por manobras obstétricas inadequadas, doses excessivas de ocitocina, presença de fetos mortos ou infecção uterina6. Neste caso, como o proprietário negou tanto o uso de ocitocina quanto de auxilio no parto, a ruptura possivelmente decorreu da presença de infecção uterina.Teoricamente, a ausência da identificação das camadas uterinas no exame ultrassonográfico. ajuda a diferenciar cornos de alças intestinais7,8, já que o intestino possui cinco camadas identificáveis na imagem ultrassonográfica. Assim, a intussuscepção intestinal é visualizada como uma imagem multicamadas ao ultrassom9. No entanto, na intussuscepção uterina relatada foi possível visualizar a parede do intussuscipiente, o que mimetizou a imagem de uma intussuscepção intestinal. A diferenciação foi possível por meio do acompanhamento do trajeto da estrutura, que revelou que a intussuscepção localizava-se no corno uterino esquerdo. A imagem ultrassonográfica do útero pós-parto sem alterações não exclui a intussuscepção uterina, conforme caso relatado em um cão da raça Cocker Spaniel, com diagnóstico cirúrgico4. Aumentos uterinos focais têm como diagnósticos diferenciais gestação precoce de ninhadas pequenas, piometra focal e neoplasia uterina. Embora rara, a intussuscepção mostrou-se um diagnóstico diferencial possível nesses casos. CONCLUSÃO A intussuscepção uterina deve ser considerada como diferencial em imagens ultrassonográficas de aumento uterino focal, com aspecto de multicamadas. Figura 1. Imagem ultrassonográfica em Modo B. A. Corno uterino esquerdo com aumento focal de tamanho e visualização de múltiplas camadas (setas vermelhas). B. Corno uterino direito evidente, com conteúdo intraluminal hiperecóico, com características compatíveis com o período pós-parto. Fonte: Serviço de Diagnóstico por Imagem da Universidade de Cuiabá. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 36 Figura 2. Fotografia do útero após realização de ovariosalpingohisterectomia. A. Observa-se aumento de tamanho dos cornos uterinos, mais acentuado no lado esquerdo (seta amarela). Presença de ulceração na parede uterina do corno direito (seta preta), com necrose tecidual. B. Observa-se o intussuscepto (seta preta) e o intussuscipiente (seta amarela), no corno uterino esquerdo. Fonte: Setor de Cirurgia da Universidade de Cuiabá. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 FOSSUM, T. W. Cirurgia em pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 2005. 1632p. 2 GORHAM, M.F.; SPINK, R.R. Modern Veterinary Practice, 56: (1), 1975. 3 BECK, C.; CARDONA, R.O.C.C.; COSSETIN, G.M.P.; ZANCHI, V. In: 35º Congresso Brasileiro De Medicina Veterinária, Gramado, Anais: 264-265, 2008. 4 ISQUIERDO, D.; CUETO, E. Intususcepción uterina. Relato de um caso clínico; http://www.seleccionesveterinarias.com/es/articulos/reproduccion-animal/intususcepcion-uterinarelatode-un-caso-clinico, em 29/09/2013. 5 VILLIERS, E.; BLACKWOOD, L. BSAWA Manual of Canine and Feline Clinical Pathology. 2. ed. BSAWA, 2007, 464p. 6 JACKSON, P.G.G. Obstetrícia Veterinária. 2. ed. São Paulo: Roca, 2005. 344p. 7 HAMMOND, G. In: O´BRIEN, R.; BARR, F. Manual de Diagnóstico por Imagem Abdominal de Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2009, p. 273-289. 8 HECHT, S. In: PENNINCK, D.; D´ANJOU, M.A. Atlas de Ultrassonografia de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011, p.395-414. 9 BRADLEY, K. In: O´BRIEN, R.; BARR, F. Manual de Diagnóstico por Imagem Abdominal de Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2009, p. 135-161. 14. USO DA ULTRASSONOGRAFIA PARA DIAGNÓSTICO DE LINFOMA EM EQUINO: RELATO DE CASO ALEXANDRA FREY BELOTTA1; GABRIELA NASCIMENTO DANTAS2; BIANCA PAOLA SANTAROSA2; MURILO GOMES DE SOUTELLO CHARLIER3; ROGÉRIO MARTINS AMORIM4; ROBERTO CALDERON GONÇALVES4; VÂNIA M. VASCONCELOS MACHADO5 1. Mestranda do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Radiologia e Reprodução Animal, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, campus de Botucatu. Bolsista Fapesp. 2. Mestrandas do Serviço de Clínica de Grandes Animais, Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. Bolsistas Fapesp. 3. Residente do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Radiologia e Reprodução Animal, FMVZ, UNESP, Botucatu. 4. Docentes do Serviço de Clínica de Grandes Animais, Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 5. Docente do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Radiologia e Reprodução Animal, FMVZ, UNESP, Botucatu. Endereço da instituição: Distrito de Rubião Júnior, S/N. CEP: 18618-970 – Botucatu, SP. E-mail para contato: [email protected] ABSTRACT BELOTTA, A.F.; DANTAS, G.N.; SANTAROSA, B.P.; CHARLIER, M.G.S.; AMORIM, R.M.; GONÇALVES, R.C.; MACHADO, V.M.V. Use of ultrasonography for the diagnosis of lymphoma in horse: case report. Lymphoma is the most common neoplasm in equine hemolymphatic system. The affected animals exhibit depression, lymphadenopathy and ventral edema, mainly. The multicentric form is the most common and with worst prognosis. Early detection of the disease has a positive influence on prognosis. The ultrasound was an important tool to the early diagnosis and assessment of tumor masses extent. This case report describes the use of this imaging technique in abdominal metastasis of lymphoma in equine. KEYWORDS: equine, lymphoma, ultrasonography. INTRODUÇÃO O termo linfoma, também conhecido como linfossarcoma ou linfoma maligno, engloba um grupo diverso de malignidades que surgem no tecido linfoide fora da medula óssea. Apesar de ser o neoplasma hemolinfático mais comum na espécie, o linfoma é incomum em equinos, representando apenas 5% de todas as neoplasias dos cavalos. Acomete animais de todas as idades e não há predisposição sexual ou racial1. Os equinos com linfoma apresentam geralmente apatia, anorexia, emaciação, linfadenopatia regional ou generalizada e edema ventral2. Trata-se de uma doença heterogênea por apresentar variações quanto aos sinais clínicos, dados laboratoriais, resposta a tratamentos e achados necroscópicos. O linfoma Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 37 multicêntrico é a forma mais comum de ocorrência da enfermidade. As formas intestinal, mediastinal e cutânea também podem ocorrer3. A forma multicêntrica é caracterizada pelo envolvimento irregular dos linfonodos periféricos com massas tumorais, principalmente no abdome e mediastino. Linfonodos superficiais também são frequentemente afetados e a infiltração de fígado e baço é comum1. Podem ocorrer síndromes paraneoplásicas e geralmente é realizada a eutanásia devido à debilidade em que o animal se encontra no momento do diagnóstico, ao alto custo do tratamento devido a cirurgias de remoção das massas e ao uso de quimioterápicos4. Quanto maior a precocidade do diagnóstico, melhor o prognóstico para o paciente5. Nesse contexto insere-se o uso da ultrassonografia na avaliação da cavidade abdominal e/ou torácica em busca das massas tumorais, assim como a integridade dos órgãos6. O objetivo deste trabalho foi descrever um caso de linfoma cutâneo em equino com posterior metástase em abdome. A massa tumoral foi pesquisada através de ultrassonografia. RELATO DE CASO Uma égua da raça Crioula, de cinco anos de idade, pesando 350kg, chegou para atendimento na Clínica de Grandes Animais da FMVZ-UNESP, campus de Botucatu, no dia 19/02/2013, com queixa de emagrecimento progressivo e massa em região inguinal esquerda. O Médico Veterinário responsável pelo animal no haras havia feito biópsia do aumento de volume dez dias antes, com laudo histopatológico de linfoma. O objetivo da consulta era a ressecção cirúrgica da neoplasia e verificação de possíveis metástases. Além do emagrecimento, o colega relatava anorexia, edema ventral e dispneia há vinte dias. No haras, havia sido realizado tratamento com antibióticos e anti-inflamatórios, além de terapia suporte, porém sem melhora. Ao exame físico inicial, a égua apresentava, além da massa: caquexia, mucosas pálidas, taquicardia, taquipneia e desidratação leve. O exame de palpação retal evidenciava extensa massa intra-abdominal em todo antímero esquerdo do animal. O líquido peritoneal apresentava características de transudato modificado, porém sem observação de células neoplásicas. O animal foi encaminhado para ultrassonografia. Visibilizou-se grande massa acentuadamente heterogênea por toda a extensão abdominal esquerda com bordos definidos e vascularização bem evidente. Tal massa foi identificada originando-se do baço. Não havia sinais ultrassonográficos de nódulos ou alterações em parênquima dos outros órgãos abdominais avaliados. Devido ao estado adiantado da doença e ao mau prognóstico, procedeu-se a eutanásia do animal, com confirmação post-mortem do diagnóstico clínico e por imagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO As imagens obtidas como resultado do exame de ultrassonografia estão expostas a seguir na Figura 1. Figura 1. Imagens obtidas pelo lado esquerdo do abdome do animal em modo B e Color-Doppler de estrutura heterogênea de grande extensão. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 38 Trabalho realizado com 34 cavalos apresentando neoplasia intestinal, no que se refere aos dados de anamnese, sinais clínicos e achados histopatológicos, encontrou como principais queixas dos proprietários desses animais perda de peso e anorexia3, a semelhança do presente caso. Neste mesmo estudo, o linfoma alimentar foi a neoplasia mais frequente dentre as de trato gastrointestinal 3. Estudo ultrassonográfico de abdome de três equinos com diagnóstico confirmado de linfoma relatou achados em baço (grande massa de ecogenicidade diminuída, múltiplos nódulos hipoecóicos e hiperecogenicidade difusa no parênquima do órgão) e fígado (nódulos hipoecóicos em meio a hiperecogenicidade difusa de parênquima)2. No presente caso, foi encontrada grande massa heterogênea em baço, conforme o descrito no estudo, porém alterações em fígado não foram observadas. Os sinais clínicos do linfoma são inespecíficos, agudos e progressivos 1. Neste caso, os sinais clínicos não apresentaram acurácia diagnóstica dentre os muitos diagnósticos diferenciais. Assim, o exame ultrassonográfico foi importante para mensurar a extensão da lesão e definir o prognóstico, mas somente foi possível confirmar o diagnóstico após o exame histopatológico, que é a prova definitiva nesses casos3. CONCLUSÃO Embora o diagnóstico tenha sido fechado a partir do exame histopatológico da massa tumoral presente em região inguinal, as alterações detectadas através da ultrassonografia foram de grande importância para o direcionamento da conduta a ser adotada e para obtenção de um prognóstico no caso descrito, já que a partir da observação da extensão da massa intra-abdominal foi possível obter um prognóstico. Se não houvesse alterações tão pronunciadas em cavidade, teria sido possível apenas realizar a ressecção da massa superficial com prosseguimento da vida do animal. É importante salientar que o diagnóstico precoce influi fortemente na sobrevida do animal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. TAINTOR, J.; SCHLEIS, S. Equine Vet. Education. 23(4): 205-213, 2011. 2. CHAFFIN, M.K.; SCHMITZ, D.G.; BRUMBAUGH, G.W.; HALL, D.G. J. Am. Vet. Med. Assoc. 201(5):743-747, 1992. 3. TAYLOR, S.D.; PUSTERLA, N.; VAUGHAN, B.; WHITCOMB, M.B.; WILSON, W.D. J. Vet. Intern. Med. 20:1429–1436, 1998. 4. HENSON, F.M.D.; DIXON, K.; DOBSON J.M. Equine Vet. Educ. 16(6): 312-314, 2004. 5. SILVA, T.G.; DECONTO, I.; DORNBUSH, P.; FILHO, I.R.B.; SOUZA, R.S.S. Rev. Bras. Cienc. Vet., 19(2): 66-70, 2012. 6. KOFLER, J.; KUBBER-HEISS, A.; SCHILCHER, F. J. Vet. Med. A. 45: 11-19, 1998. 15. AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DE ÚLCERA GÁSTRICA EM MINI HORSE – RELATO DE CASO MICHELLE LOPES AVANTE1; MARIA CAROLINA TONI1; GABRIELA MARCHIORI BUENO2; DANIELE SANTOS ROLEMBERG3; MARIANA TIAI KIHARA3;JOSÉ CORRÊA DE LACERDA NETO4; JÚLIO CARLOS CANOLA4 1 Aluno de pós-graduação do curso de Cirurgia Veterinária – UNESP – Jaboticabal. 2 Residente do setor de clínica médica de grandes animais do HV - UNESP – Jaboticabal. 3 Residente do setor de diagnóstico por imagens do HV - UNESP – Jaboticabal. 4 Docente do Departamento de Clínica e Cirurgia – FCAV - UNESP – Jaboticabal. Endereço: Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n 14884-900 - Jaboticabal, SP. Email para contato: [email protected]. ABSTRACT AVANTE, M.L.; TONI, M.C.; BUENO, G.M.; ROLEMBERG, D.S.; KIHARA, M.T.; CANOLA, J.C. Sonographic diagnosis of gastric ulcer in mini horse - case report. The abdominal ultrasound is non-invasive and effective technique, it does not require that patients are anesthetized. It is widely used for diagnosis of gastrointestinal tract disorders, such as gastric ulcers that can develop by prolonged use of nonsteroidal anti-inflammatory drugs. In the present study, it was established the importance of the abdominal ultrasonography in the diagnosis of gastric ulcer in a mini horse, and to raise awareness about the indiscriminate and without veterinary assistance of nonsteroidal anti-inflammatory drugs. KEYWORDS: ultrasound, stomach, equine. INTRODUÇÃO Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 39 A úlcera gástrica é uma enfermidade comum e é complicação importante na medicina de equinos. Conceitualmente, é uma erosão da mucosa gástrica, resultando em irregularidades das camadas da parede do estômago1. Nos equinos, o epitélio escamoso estratificado é o mais acometido, uma vez que a porção glandular do estômago tem seus mecanismos de defesa, incluindo a secreção de muco e bicarbonato, enquanto que a mucosa escamosa não apresenta nenhum desses mecanismos e é periodicamente exposta a conteúdo ácido2. O uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) é uma das causas de úlcera gástrica por promover desequilíbrio entre os mecanismos de proteção e os agressores da mucosa 2,3,5. Os AINEs são empregados rotineiramente na clínica médica e cirúrgica de equinos, no tratamento e prevenção de diversos tipos de dores. Em geral, esses efeitos estão relacionados à inibição da enzima ciclooxigenase, que catalisa a transformação de acido araquidônico em diversos mediadores lipídicos, denominados prostaglandinas e tromboxanos. Esses fármacos apresentam efeitos adversos, os mais evidentes são as complicações gastrintestinais. Portanto, a inibição da síntese de prostaglandinas pode criar condições propícias para ulceração no trato digestório4,5. O flunixin meglumine (Banamine®) é um exemplo de AINE amplamente utilizado, no entanto seu uso prolongado ou em doses excessivas acarretam efeitos tóxicos como ulcerações no trato gastrintestinal, diarreia, insuficiência renal aguda, ataxia e incoordenação6. Os sinais clínicos mais rotineiramente observados em animais com úlcera gástrica incluem cólica aguda e recorrente, falta de apetite, bruxismo e salivação excessiva. Em casos avançados, os animais podem exibir sinais graves de cólica e tendem a rolar e deitar em decúbito dorsal 7. O exame clinico do trato gastrintestinal de mini horses segue os mesmos procedimentos realizados em equino de grande porte, à exceção da palpação transretal, em decorrência do seu tamanho3. A ultrassonografia é uma ferramenta particularmente útil para avaliação gastrintestinal principalmente em animais de porte pequeno, como no caso de mini horses e potros. É um método de fácil execução, não invasivo e que não necessita tranquilização dos pacientes, fornece informações imediatas sobre aspecto morfológico e mensuração da parede gástrica8. Em mini horses, a ultrassonografia deve ser feita pela técnica transcutânea, após tricotomia. O transdutor convexo multifrequencial de 5 a 10 MHZ é necessário, uma vez que esses animais apresentam porte pequeno. O estômago deve se localizar entre 9° e 13° espaços intercostais9. Aparece como estrutura semicircular, com sombreamento hiperecóico proveniente do gás em seu lúmen10. A espessura da parede do estômago pode apresentar variações entre equinos medindo aproximadamente 0,7 centímetros da camada serosa até a camada mucosa2,9,10. Este trabalho teve por objetivo relatar um caso de úlcera gástrica induzida por AINE, diagnosticada por meio da ultrassonografia abdominal. METODOLOGIA No Hospital Veterinário (HV) “Governador Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária (FCAV), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Jaboticabal, foi atendido um equino, mini horse, macho, 07 anos de idade, 78 kilos. Segundo o proprietário, o paciente apresentava sintomas de cólica recorrente á cerca de seis meses e após cada episódio, era administrado 2 ml (1,2 mg/kg) de flunixin meglumine (Banamine®), por via intravenosa. Os sinais clínicos referidos eram posição de “cão sentado”, decúbito esternal e algumas vezes, também rolava. O paciente foi internado para exames laboratoriais e realização de ultrassonografia abdominal. Foi utilizado aparelho de ultrassonografia portátil (Mylab 30VET GOLD, Esaote®), com transdutor convexo multifrequencial variando suas frequências entre 5, 6,6 e 8 MHz para varredura da cavidade abdominal pela técnica transcutânea. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao exame clinico, o paciente estava alerta e responsivo, frequência cardíaca: 36 batimentos por minuto, frequência respiratória: 18 movimentos por minuto, temperatura: 37,3°C, tempo de preenchimento capilar: 3 segundos, motilidade intestinal normal em todos os quadrantes. Enquanto estava nas instalações do HV, foi observado o posicionamento de “cão sentado” referido pelo proprietário (Figura 1) e, o paciente também apresentou bruxismo. Os sinais clínicos apresentados pelo paciente são indicativos de úlcera gástrica corroborando com achados descritos anteriormente 7. A dose segura de flunixin meglumine (Banamine®) referida em literatura é de 0,25 a 1,1 mg/kg11 portanto, a dose à qual o paciente foi submetido é considerada excessiva. Portanto, a úlcera gástrica teve como fatores contribuintes para seu desenvolvimento a alta dose do fármaco e o período prolongado, muito além do recomendado que seria de cinco dias6,11. É rotineira a ocorrência de úlcera gástrica pelo uso prolongado ou altas doses de AINEs2,3,5. O flunixin meglumine (Banamine®) é amplamente utilizado para controle de diversos tipos de dores e inflamações, no entanto, seus efeitos colaterais são diversos6. Na avaliação hematológica, foi observada discreta leucopenia. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 40 Ao exame ultrassonográfico do estômago, observou-se espessamento importante de parede medindo aproximadamente 1,62cm em topografia de curvatura maior, acrescido de edema dificultando a diferenciação das camadas da parede do estômago por toda sua extensão (Figura 2). O espessamento e irregularidade de parede são alterações sugestivas de úlcera gástrica acordando com achados anteriores2,10. O exame ultrassonográfico apresentou grande eficácia na identificação do espessamento da parede gástrica e da irregularidade das camadas como referido anteriormente 2,9,10. Por ser rotineiramente utilizada na clínica médica de equinos e por não requerer que o paciente esteja anestesiado8, a ultrassonografia se torna um método prático para diagnóstico das úlceras gástricas quando comparada a gastroscopia, uma vez que os pacientes acometidos por úlceras gástricas podem estar em condições físicas debilitantes e a anestesia geral necessária para gastroscopia pode acrescentar um risco à vida desses animais, e também eleva os custos de todo o tratamento. CONCLUSÃO Frente ao exposto, conclui-se que a varredura da cavidade abdominal pela ultrassonografia é uma técnica eficaz e prática para o diagnóstico de úlcera gástrica e demais distúrbios de trato gastrintestinal em equinos, portanto, em casos onde não há disponibilidade do exame de gastroscopia ou quando se trata de um paciente de pequeno porte como os mini horses ou potros, a ultrassonografia se faz uma ferramenta muito útil. Figura 1: Imagem fotográfica ilustrando o posicionamento de “cão sentado”. Setembro, 2013. Fonte: Gabriela Marchiori Bueno. Figura 2: Imagem ultrassonográfica ilustrando espessamento de parede gástrica, e ausência de definição das camadas da parede do estômago. Setembro, 2013. Fonte: Serviço de Diagnóstico por Imagens (FCAV/UNESP Jaboticabal). Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. FERNANDES, W.R.; BELLI, C.B.; SILVA, L.C.L.C. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 55 (4): 405-410, 2003. 2. 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The efficiency of embryo transfer program is mainly determined by the conception rate, being the recipient a key part to the success of this technique. The objective of this study was to evaluate the anatomic and echogenic characteristics of the uterus and corpus luteum according to animal category of bovine embryo recipients. We concluded that ultrasonography evaluation of luteal and uterine parameters in bovine embryo recipients is a very important to increase embryo transfer programs efficiency. KEY WORDS: Embryo transfer, ultrasonography, reproduction. INTRODUÇÃO A transferência de embriões (TE) é uma biotécnica baseada no princípio da multiplicação da progênie de fêmeas consideradas superiores dentro de um rebanho. Fundamentando-se na obtenção de embriões de uma fêmea doadora para em seguida transferi-los para fêmeas receptoras, com a finalidade de levar a gestação a termo. Em bovinos, a primeira TE foi realizada somente em 1951 na Universidade de Cornell, Estados Unidos (WILLETT et al, 1951). A TE é uma biotécnica que fornece base técnica para realizar a implementação de outras biotécnicas afins, como a produção de clones e de animais transgênicos, além da bipartição embrionária, sexagem de embriões, análise do genoma e criopreservação de embriões. Portanto, trata-se de uma importante ferramenta biotecnológica para o melhoramento zootécnico, pois acelera e confere maior precisão ao processo de seleção animal (BARUSELLI et al., 2000).A eficiência de um programa de TE é determinada principalmente pela taxa de concepção, sendo as receptoras uma parte fundamental para o êxito da técnica. Além da avaliação zootécnica adotada para seleção de receptoras, a avaliação do útero, cérvix e do corpo lúteo (CL) é essencial na obtenção de bons resultados. A análise e caracterização do útero e do CL através da palpação retal juntamente com a ultrassonografia Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 42 transretal, fornecem informações importantes sobre o estado reprodutivo da fêmea bovina, indicando se a receptora está apta ou não em receber o embrião. Portanto, o objetivo do presente trabalho foi de avaliar as características anatômicas e ecogênicas do útero e do corpo lúteo de acordo com a categoria animal de receptoras de embrião bovino. MATERIAL E MÉTODOS Este experimento foi realizado em duas fazendas no município de Carrancas-MG. Foram utilizadas 73 receptoras Girolando sincronizadas com o mesmo protocolo hormonal sendo 23 novilhas (média de dois anos de idade) e 50 vacas (idade entre três e sete anos).As receptoras foram avaliadas no dia da inovulação embrionária com auxílio do ultrassom, sendo classificadas de acordo com as características do CL e do útero. O tamanho do CL foi classificado em classes de 1 a 3 (1= Ø > 20mm; 2 = 16 < Ø < 20mm e 3 =13 < Ø < 16mm). A morfoecogenicidade, tanto do CL como do útero, foi classificada em escalas, de 1 a 3 (1 = pouco ecogênico; 2 = intermediária e 3 = muito ecogênico). A Espessura Endometrial (EE) foi mensurada no corno ipsilateral ao CL e definida em escalas de 1 a 3, 1 = 1mm < ∆S ≤ 4mm (delgado), 2 = 4 < ∆S ≤ 7 (intermediário) e 3 = 7< ∆S ≤ 10 (espesso). A ecotextura foi classificadaem escalas de 1 a 3 (1 = homogêneo, 2 = intermediário e 3 = heterogêneo). O tônus uterino foi dividido em escala de 1 a 3 (1 = flácido, 2 = intermediário e 3 =túrgido). RESULTADOS E DISCUSSÃO As características anatômicas e ecogênicas do útero e do CL de novilhas foram às seguintes: CL tamanho 1 (39,1% - 9/23), 2 (60,9% - 14/23) e 3 (0%); morfoecogenicidade 1 (13% – 3/23), 2 (69,6% - 16/23) e 3 (17,4% - 4/23) e para o útero, tônus 1 (65,2% - 15/23), 2 (26,1% - 6/23) e 3 (8,7% 2/23); EE 1 (13% 3/23), 2 (78,3% - 18/23) e 3 (8,7% - 2/23); ecotextura 1 (43,5% 10/23), 2 (56,5% 13/23) e 3 (0%); morfoecogenicidade 1(4,4% 1/23), 2 (56,5% 13/23) e 3 (39,1% - 9/23). As vacas apresentaram os seguintes resultados: CL tamanho 1 (32% - 16/50), 2 (60% - 30/50) e 3 (8% - 4/50); morfoecogenicidade 1 (18% - 9/50), 2 (62% - 31/50) e 3 (20% - 10/50) e para o útero, tônus 1 (28% - 14/50), 2 (48% - 24/50) e 3 (24% 12/50); EE 1 (12% - 6/50), 2 (72% - 36/50) e 3 (16% - 8/50); ecotextura 1 (46% 23/50), 2 (44% 22/50) e 3 (10% - 5/50); morfoecogenicidade 1(0%), 2 (40% 20/50) e 3 (60% - 30/50). A avaliação criteriosa de receptoras de embriões previamente à inovulação, principalmente em relação a algumas características do trato genital, pode ser decisiva para o incremento da eficiência de um programa de TE. CONCLUSÃO Conclui-se que a avaliação ultrassonográfica dos parâmetros luteais e uterinos em receptoras de embrião é uma prática muito importante na escolha de receptoras, conferindo uma maior precisão na mesma, podendo aumentar a eficiência de programas de transferência de embrião em bovinos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARUSELLI, P.S.; MARQUES, M.O.; CARVALHO, N.A.T.; MADUREIRA, E.H.; COSTA NETO, W.P. Dinâmica folicular em novilhas receptoras de embrião bovino submetidas à sincronização da ovulação para inovulação em tempo-fixo. Arquivos da Faculdade de Veterinária da UFRGS, v. 28, p. 217, 2000. FERREIRA, J.E.; PEREIRA, P.S.A.; CARDOSO, B.O.; CARVALHO. B.P.; MELLO, M.R.B. Efeito das características anatômicas e ecogênicas do corpo lúteo e do útero sobre a taxa de concepção de receptoras de embrião bovino In: XX Congresso brasileiro de reprodução animal, CBRA 2013, Uberlândia/MG. Anais do XX Congresso brasileiro de reprodução animal, CBRA 2013 WILLET, E.L. Successful transplantations of fertilized bovine ovum. Science, v. 113, p.247, 1951. 17. DIAGNÓSTICO ULTRASSONGRÁFICO DE ABSCESSO EM ÚRACO PERSISTENTE DE UM BOVINO: RELATO DE CASO PATRÍCIA NUNES DE OLIVEIRA1; ANA PAULA ARAÚJO COSTA2; NATHÁLIA APARECIDA DE PAULA1; THIAGO NOGUEIRA MARINS3; NATHÁLIA BRAGATO4; LUIZ HENRIQUE DA SILVA5; PAULO HENRIQUE JORGE DA CUNHA6 1 Alunas do Programa de Residência Médico-Veterinária, Diagnóstico por Imagem, e-mail: [email protected] 2 Doutoranda em Ciência Animal, Bolsistas CNPq/ EVZ-UFG 3 Aluno do Programa de Residência Médico-Veterinária, Clínica e Cirurgia de Grandes Animais, EVZ-UFG 4 Mestranda em Ciência Animal, Bolsista CNPq, EVZ-UFG Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 43 5 Doutorando em Ciência Animal, Bolsista Capes/EVZ-UFG 6 Professor Adjunto II do DMV, EVZ/UFG ABSTRACT: OLIVEIRA P.N.; COSTA A.P.A.; PAULA N.A.; MARINS T.N.; BRAGATO N.; SILVA L.H.; CUNHA P.H.J. Sonographic aspects of persistent urachus abscess in a bovine: a case report. The persistence of the urachus is not as common in large animals as infectious and inflammatory processes arising from umbilical improperly managed in newborn animals are. The existence of intrabdominal abscesses makes the ultrasound examination relevant as it allows proper evaluation of structures such as the liver, urinary bladder and kidney, which may also be affected. The objective of this study was to report the use of ultrasound as a method of diagnosis of persistent urachus abscess. KEYWORDS: bovine, urachus, ultrasound INTRODUÇÃO As onfalites são muito comuns em animais neonatos principalmente em animais de produção, as quais podem resultar em abscesso, hérnia umbilical ou até doenças sistêmicas. Podem estar associadas à infecção de veia ou artéria umbilicais e ainda do úraco, sendo possível atingir órgãos como fígado e bexiga urinária, os quais estão intimamente ligados às estruturas umbilicais1. A avaliação extraabdominal destas estruturas pode executada por meio da palpação umbilical, e em animais jovens realizando-se palpação abdominal pode-se obter informações importantes também a respeito das porções intra-abdominais de veia e artéria umbilicais e ducto alantóide. A palpação pode sugerir uma afecção intrabdominal, no entanto a natureza precisa desta extensão só poderá ser estabelecida com o auxilio do exame ultrassonográfico2,3. Afecções intrabdominais de origem infecciosa podem ser classificadas quanto às estruturas acometidas em: onfaloflebite, onfaloarterite, onfalouraquite e suas combinações2. Devido a sua praticidade e aplicação no campo, o exame ultrassonográfico deve ser considerado atualmente o método mais valioso para análise das estruturas umbilicais extra e intrabdominais, uma vez que permite identificar de foram rápida a estrutura acometida e estabelecer a extensão da lesão, auxiliando no prognóstico e tratamento adequado2. Porém, há uma limitação, após o nascimento, a veia, as artérias e o ducto alantóide não possuem função e se atrofiam, deixando de ser visualizadas a partir dos 21 dias de idade4. Desta forma, objetivou-se descrever um caso de onfalite com infecção ascendente de úraco persistente, bexiga urinária e rins. METODOLOGIA Foi encaminhado ao setor de grandes animais do Hospital Veterinário da EVZ/UFG um bovino macho da raça nelore de dois meses de idade pesando 40Kg. O proprietário relatou que há oito dias o bezerro apresentou andar em círculos e dificuldade de locomoção, hiporexia e prostração. Na propriedade logo após o nascimento os animais recebiam uma aplicação de ivermectina e a antissepsia umbilical era feita com iodo, realizando-se o procedimento até que o umbigo se apresentasse completamente cicatrizado. No exame físico notou-se apatia, letargia, hipotermia (36,3ºC), desidratação de aproximadamente 8%, urina de aspecto turvo e decúbito esternal. Ao mantê-lo em estação o mesmo apresentava movimentos de “andar em círculos”. À palpação da região umbilical verificou-se presença de edema e hiperemia. Quando realizada a compressão do local, observou-se secreção de aspecto purulento. A partir da suspeita clínica de onfalite, foram realizados como exames complementares hemograma, urinálise e ultrassonografia. O hemograma foi realizado no aparelho abc Vet abx Horiba. No exame ultrassonográfico foi utilizado aparelho My Lab30 Vet, transdutor linear multifrequencial (7,5MHZ a 12MHZ), de acordo com metodologia proposta por STREETER & STEP 2007. O animal veio a óbito sete dias após o atendimento e foi realizada necropsia. RESULTADOS E DISCUSSÃO A maioria dos animais que têm onfalopatias apresenta leucocitose por neutrofilia6, corroborando com os resultados do bezerro relatado. O aspecto da urina de bovinos, por sua vez, é normalmente claro, de aparência translúcida, e a turbidez pode ocorrer como resultado da presença de muco, bactérias e células7 o que foi observado neste presente caso. No exame ultrassonográfico da região umbilical observou-se conteúdo hipoecóico homogêneo com pontos hiperecóicos (Figura 1A), o que é indicativo de coleção purulenta, mas a aparência deste pode variar de anecóico com pontos hiperecóicos até conteúdo totalmente hiperecóico, o que vai depender da consistência e celularidade do abscesso 3. Achados ultrassonográficos sugestivos de infecção em estrururas umbilicais remanescentes incluem espessamento das paredes dos vasos, aumento do diâmetro e conteúdo luminal mais homogêneo 1, o que só não foi observado no animal deste relato devido à idade, já que após os 21 dias de vida estas estruturas não são Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 44 mais visualizadas no exame ultrassonográfico4,5. Entretanto foi visualizada estrutura hiperecóica tubular ao corte transversal, sem fluxo sanguíneo, compatível com ducto alantoide, o que reafirma a existência de persistência de úraco, já que neste animal esta estrutura não seria normalmente visualizada devido a sua idade4. Na ultrassonografia intrabdominal o úraco é visualizado como uma estrutura composta por duas paredes lisas, hiperecóicas, regulares e contínuas, separadas pelo lúmen homogeneamente anecóico4, diferentemente do observado no animal deste estudo, onde o mesmo apresentava estrutura circular de parede hipoecóica e conteúdo anecóico com pontos hiperecóicos em suspensão, localizada cranialmente à bexiga comunicando-se com a mesma e com a região umbilical (Figura 1B), sugerindo a presença de um abscesso. Dentre as doenças que acometem o úraco estão as infecciosas, as quais cursam com abscessos3, como é o caso do animal em questão, e podem ocorrer com ou sem o envolvimento da bexiga urinária3, a qual estava acometida, devido à presença de pontos hiperecóicos em suspensão no líquido vesical anecóico. É de grande importância a avaliação abdominal para investigar a existência de peritonite e avaliar a extensão do abscesso pois pode ser necessária excisão cirúrgica3. Apesar da presença do abscesso, nao foi realizado tratamento cirúrgico devido ao baixo valor zootécnico do animal. No exame necroscópico observou-se o úraco, cranial à bexiga, que se comunicava com a mesma e com a região umbilical (Figura 2B). O úraco continha grande quantidade de conteúdo purulento e fibrina (Figura 2A), sendo o mesmo conteúdo visualizado em rins e bexiga, o que já havia sido descrito 1,3. Os achados de necropsia (Figura 2B) confirmaram as alterações visualizadas no exame ultrassonográfico (Figura 1B). CONCLUSÃO A ultrassonografia foi importante para o estabelecimento do diagnóstico definitivo e prognostico do animal, inclusive os achados necroscópicos confimaram as alterações identificadas no exame de imagem. A B Figura 1A – Imagens ultrassongráficas. Região umbilical (corte transversal). Presença de coteúdo hipoecóico homogêneo com pontos hiperecóicos (seta) e ducto alantóide (ponta de seta). B - Abscesso no úraco, conteúdo hiperecóico com pontos hiperecóicos e parede hipoecóica bem definida (seta), localizado cranialmente à bexiga (ponta de seta). A B Figura 2 – Imagem de necropsia. A – A incisão dorsal em plano longitudinal revela úraco com conteúdo purulento (seta fechada) comunicando-se com a bexiga preenchida por conteúdo de mesmo aspecto (ponta de seta). B – Ralação próxima de bexiga (seta fechada), úraco (ponta de seta) e umbigo (seta aberta) tal qual as imagens ultrassonográficas. REFERÊNCIAS 1. STREETER, R. N.; STEP, D.L. Diagnostic Ultrasonography in Ruminants. Veterinary Clinics Food Animal 23 541–574, 2007 Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 45 2. FIGUEIRÊDO L. J. C. Onfalopatias de bezerros. Editora da Universidade Federal da Bahia, Salvador. 94p. 1999. 3. STEINER, A.; LEJEUNE, B. Ultrasonographic Assessment of Umbilical Disorders., Vet Clin Food Anim 25 781–794, 2009. 4. STURION, T. T.; STURION, M. A. T.; STURION, D. J.; LISBOA, J. A. N. Avaliação ultrassonográfica da involução das estruturas umbilicais extra e intracavitárias em bezerros sadios da raça Nelore concebidos naturalmente e produtos de fertilização in vitro. Pesquisa Veterinária Brasielira 33(8):1021-1032, 2013. 5.WATSON, E, MAHAFFEY. M, B, CROWELL, W, et al. Ultrasonography of the umbilical structures in clinically normal calves. Am J Vet Res 55(6):773–80, 1994; 6. DIRKSEN, G.; GRÜNDER, H. D. ;STÖBER, M. Medicina interna y cirurgía del bovino. 4.ed., Buenos Aires: Editora Inter-médica, p. 618-629, 2005. 7. HENDRIX, C.M. Procedimentos laboratoriais para técnicos veterinários. 4. ed. São Paulo: Rocca, p.556, 2005. 18. NEOPLASIAS DO SISTEMA UROGENITAL EM UM SCOTTISH TERRIER: CONTRIBUIÇÃO DOS MÉTODOS DE IMAGEM PARA O DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO ALEXANDRA FREY BELOTTA1; VIVIAM ROCCO BABICSAK1; CARINA MARCHIORI CARVALHO2; CLÁUDIA VALÉRIA SEULNER BRANDÃO3; PRISCILA EMIKO KOBAYASHI4; RENEE LAUFER AMORIM4; MARIA JAQUELINE MAMPRIM5 1 Mestranda do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Botucatu. Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Animal. Primeira autora bolsista de mestrado do CNPQ. 2 Doutoranda do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 3 Médica Veterinária residente do Serviço de Cirurgia de Pequenos Animais, Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 4 Docente do Serviço de Cirurgia de Pequenos Animais, Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 3 Residente do Serviço de Patologia Veterinária, Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 4 Docente do Serviço de Patologia Veterinária, Departamento de Clínica Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 5 Docente do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. Endereço da instituição: Distrito de Rubião Júnior, S/N. CEP: 18618-970 – Botucatu, SP. E-mail para contato: [email protected] Apoio: Bolsa provida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). ABSTRACT BELOTTA, A.F.; BABICSAK, V.R.; CARVALHO, C.M.; BRANDÃO, C.V.S.; KOBAYASHI, P.E.; AMORIM, R.L.; MAMPRIM, M.J. Neoplasms of the urogenital system in a Scottish Terrier: contribution of imaging methods for the diagnosis and staging. Urogenital tumors are relatively uncommon in dogs. Among them, transitional cell carcinoma occurs at a considerable frequency, being characterized by multifocality and high incidence of recurrence. Likewise, prostatic carcinomas are aggressive neoplasms that carry a poor prognosis, occurring less frequently. Imaging diagnosis play an important role in detection, staging and surveillance of both malignancy. This case report describes detection and staging of transitional carcinoma cell on the bladder of a dog with concomitant prostatic carcinoma. KEYWORDS: imaging, neoplasms, urogenital system. INTRODUÇÃO Apesar de ser relativamente incomum em cães, com incidência inferior a 2% de todas as neoplasias malignas relatadas, o carcinoma de células escamosas está entre as mais frequentes do trato urinário¹. Da mesma forma, o carcinoma prostático é pouco comum e altamente maligno na maioria dos animais domésticos². Os métodos de diagnóstico por imagem desempenham um papel fundamental no diagnóstico, estadiamento e prognóstico de neoplasias do trato urogenital³. O presente relato descreve as alterações visibilizadas por ultrassonografia e urografia excretora em cão da raça Scottish Terrier com a presença concomitante de carcinoma de células escamosas em bexiga e carcinoma em próstata, bem como a importância desses métodos para o estadiamento das neoplasias. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 46 RELATO DE CASO Cão, macho, inteiro, 10 anos, Scottish Terrier, foi encaminhado ao Hospital Veterinário desta instituição apresentando prostração, poliúria, polidipsia e, eventualmente, gotejamento de sangue após a micção. Um exame ultrassonográfico abdominal foi solicitado para avaliação, principalmente, dos sistemas urinário e reprodutor. Durante a avaliação ultrassonográfica, espessamento severo e difuso da parede da bexiga foi visibilizado (figura 1A), além de aumento prostático associado a irregularidade de seus contornos, heterogeneidade (figura 1B), discretas áreas de mineralização no parênquima e localização extra-pélvica. Também foi identificado hidronefrose completa à esquerda e dilatação da pelve renal direita. Ambos os ureteres estavam dilatados e podiam ser visibilizados até região próxima ao trígono vesical. Entretanto, não foi visibilizada inserção em trígono, levando à suspeita de processo obstrutivo distal. Para melhor avaliação da causa de obstrução e função renal, uma urografia excretora foi realizada. O rim esquerdo foi diagnosticado como não-funcional devido à ausência de opacificação por meio de contraste da pelve renal esquerda e ureter após 50 minutos da injeção intravenosa do meio de contraste (figura 2B). Havia dilatação da pelve renal direita e ureter associados a trajeto tortuoso com preenchimento incompleto em área próxima ao trígono vesical (figura 2A). Após 50 minutos de injeção do contraste, a bexiga estava totalmente preenchida, com formato arredondado e deslocada cranialmente por estrutura de radiopacidade predominantemente tecidos moles, compatível com a próstata. Alterações ósseas proliferativas foram visibilizadas no aspecto ventral das sexta e sétima vértebras lombares. O cão foi encaminhado para laparotomia exploratória, que confirmou a presença de massa infiltrativa na parede vesical, levando à obstrução ureteral bilateral na região do trígono vesical e tumor prostático. Devido à natureza agressiva dos prováveis tumores, o cão foi eutanasiado. Fragmentos da bexiga e próstata foram enviados para exame histopatológico, que diagnosticou carcinoma de células escamosas em bexiga e carcinoma prostático. RESULTADOS E DISCUSSÃO Muitos cães com neoplasia prostática chegam ao atendimento com a doença em estágio avançado e exibem invasão local e/ou metástases viscerais generalizadas. Os locais mais frequentemente relatados incluem os linfonodos sublombares e ilíacos, pulmões e ossos (mais comumente vértebras lombares e pelve)⁴. Do mesmo modo, proliferações ósseas visibilizadas em vértebras lombares às radiografias eram compatíveis com focos metastáticos, provavelmente do carcinoma prostático, estando associadas a um prognóstico ruim. É comum também, em casos de neoplasia prostática, invasão tumoral na bexiga. Entretanto, de forma menos comum, no presente relato de caso, carcinoma de células escamosas foi diagnosticado concomitantemente, e este sim apresentava infiltração em região ureteral bilateral, próxima ao trígono vesical. Há evidências de que a intervenção cirúrgica possa oferecer alívio dos sinais clínicos associados ao carcinoma prostático, mas também está correlacionado a um alto risco de complicações sérias sem aumento significativo no tempo de sobrevida⁵. Com relação ao carcinoma de células transicionais, acredita-se que sua etiologia seja multifatorial, envolvendo fatores genéticos e ambientais: cães Terrier são conhecidos por possuírem risco aumentado de desenvolvimento da neoplasia, sendo a raça Scottish Terrier a mais relatada na literatura⁶. Estudos anteriores também comprovaram alta incidência da neoplasia em cães com sobrepeso ou obesos (como neste caso em que o cão apresentava sobrepeso), do sexo feminino, expostos a fumaça de cigarros, produtos químicos de uso doméstico, inseticidas tópicos - particularmente contra mosquitos e carrapatos -, indivíduos do gênero feminino, entre outros¹. A B Figura 1. (A) Bexiga ao corte sagital com severo espessamento difuso de parede (0,87cm). (B) Imagem ultrassonográfica da próstata ao corte longitudinal evidenciando dimensões aumentadas, contornos irregulares e ecotextura heterogênea. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 47 P P A B Figura 2. Projeções lateral (A) e ventro-dorsal (B) evidenciam ureter direito preenchido por meio de contraste, dilatado e tortuoso, com falha de preenchimento em região próxima ao trígono vesical (seta branca). A bexiga tem formato arredondado, deslocada cranialmente (setas pretas) pela próstata (P) e com menor opacificação em trígono vesical (seta branca pontilhada). Na projeção lateral é possível visibilizar proliferação óssea ventral aos corpos vertebrais de L6 e L7 associado a irregularidade de superfície óssea. Na projeção ventrodorsal, é evidente a ausência de contraste da pelve renal e ureter esquerdos. CONCLUSÃO Embora o exame histopatológico tenha sido necessário para o diagnóstico definitivo, as alterações detectadas através dos métodos de imagem descritos foram de grande importância para o direcionamento da conduta a ser adotada e para obtenção de um prognóstico no caso descrito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MUTSAERS, A.J.; WIDMER, W.R.; KNAPP, D.W. J. Vet. Inter. Med., 17: 136-144, 2003. 2. LAISSE, C.J.M.; INSUA, R.G.; PRADO, E.A.S. Ver. Electrón. Vet., 11(3): 1695-1702, 2010 3. VIKRAM, R.; SANDLER, C.M.; NG, C.S. Am. J. Roentgenol., 192: 1481-1487, 2009. 4. TESKE, E.; NAAN, E.C.; VAN DIJK, E.M.; VAN GARDEREN, E.; SCHALKEN, J.A. Mol. Cell Endocrinol., 197: 251-255, 2002. 5. LEROY, B.E., NORTHRUP, N. Vet. J., 180: 149-162, 2008. 6. GLICKMAN, L.T.; RAGHAVAN, M.; KNAPP, D.W.; BONNEY, P.L.; DAWSON, M.H. J. Am. Vet. Med. Assoc., 224(8): 1290-1297, 2004. 19. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS E ULTRASSONOGRÁFICOS DO HIPOADRENOCORTICISMO EM UM CÃO: RELATO DE CASO LEANDRO AVERALDO GUIGUET LEAL1; GABRIELA SILVA RODRIGUES1; GABRIELA NEUMAN DE PAULA1; JULIANA MARIA ALVES CECHETO2 1. Médico (a) Veterinário (a) Radiologista do Spécialité Diagnóstico Veterinário. 2. Médica Veterinária autônoma. Spécialité Diagnóstico Veterinário – Avenida João Paulo Ablas, nº 465, Cotia-SP. [email protected] ABSTRACT LEAL, L.A.G.; RODRIGUES, G.S.; DE PAULA, G.N.; CECHETO, J.M.A. Radiographic and ultrasonographic aspects of hypoadrenocorticism in a dog: case report. Hypoadrenocorticism is an uncommon endocrinopathy of hard diagnosis in dogs, since the clinical signs like anorexia, lethargy, diarrhea, polyuria, polidipsia, vomiting and regurgitation are common to many other diseases of small animal’s clinic. It is classified in primary or secondary and results from deficient production of glucocorticoids and/or mineralocorticoids by the adrenal cortices and can affect dogs of many breeds and any age, but it tends to occur in young to middle-aged dogs. The diagnosis is based on clinical signs, laboratorial exams, thoracic radiographs and abdominal ultrasound, but is confirmed by the ACTH stimulation test. KEYWORDS: adrenal, glucocorticoids, mineralocorticoids. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 48 INTRODUÇÃO O hipoadrenocorticismo é uma endocrinopatia incomum em cães, resultante da produção insuficiente de mineralocorticoides (aldosterona) e/ou glicocorticoides (cortisol) pelas glândulas adrenais1. A aldosterona é fundamental para o adequado balanço hidroeletrolítico, uma vez que sua ação aumenta a excreção renal de potássio e do íon hidrogênio enquanto estimula a reabsorção tubular de sódio e cloreto. O cortisol também auxilia a manter o equilíbrio hidroeletrolítico, além de aumentar a sensibilidade vascular à ação das catecolaminas, suprimir a resposta imune, estimular a eritrocitose, a gliconeogênese e facilitar a lipólise2. O hipoadrenocorticismo pode ser classificado em primário (forma mais comum) ou secundário. No primário, ocorre a destruição do córtex da adrenal resultando em produção inadequada tanto de mineralocorticoides quanto de glicocorticoides. No secundário, ocorre secreção hipofisária deficiente do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), resultando em produção inadequada somente dos glicocorticoides3. A causa mais comum da forma primária é a destruição imunomediada do córtex da adrenal. No entanto, terapia com mitotane ou trilostane em pacientes com hiperadrenocorticismo e interrupção abrupta da administração de esteroides exógenos, constituem causas iatrogênicas importantes desta afecção. Hipoadrenocorticismo espontâneo secundário ao hiperadrenocorticismo, adrenalite bilateral secundária à presença de abscessos e neoplasia adrenal bilateral, constituem outras causas também relatadas1. As causas de hipoadrenocorticismo secundário incluem inflamação, neoplasia, trauma e defeitos congênitos da hipófise. O hipoadrenocorticismo geralmente ocorre em cães de meia idade (média de 4 a 5 anos), mas pode ser observado em cães de todas as idades. Acomete principalmente as fêmeas de diversas raças, embora algumas como Basset Hound, Border Collie, Dogue Alemão, Poodle, Rottweiler, Springer Spaniel e West Highland White Terrier apresentem maior risco de desenvolvimento desta afecção3. As manifestações clínicas são inespecíficas e intermitentes, dificultando a definição do diagnóstico. Os animais podem apresentar anorexia, ataxia, convulsões, diarreia, dificuldade respiratória, fraqueza, hematêmese, hematoquezia, letargia, melena, perda de peso, polidipsia, poliúria, regurgitação, tremores e vômito. Os achados de exame físico dependem do grau da enfermidade, podendo-se observar bradicardia, desidratação, dor abdominal, escore corporal baixo, hipotermia, pulso fraco, tempo de preenchimento capilar aumentado e choque. Os exames laboratoriais apresentam alterações hematológicas, bioquímicas e eletrolíticas como: anemia normocítica normocrômica, eosinofilia, linfocitose; aumento dos níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina (FA), ureia e creatinina (azotemia pré-renal); hiponatremia, hipocloremia, hipercalemia, redução na relação sódio: potássio e hipercalcemia (observado em alguns casos)2,3. Os aspectos radiográficos mais comuns incluem: diminuição nas dimensões das silhuetas cardíaca, hepática, da veia cava caudal e hipoperfusão dos campos pulmonares. A presença de megaesôfago associado ao hipoadrenocorticismo já foi relatada por alguns autores, mas pode ser considerada rara em comparação com os demais achados radiográficos citados. Um estudo radiográfico foi realizado em 22 cães com hipoadrenocorticismo moderado a grave e em 22 cães hígidos (grupo controle), a fim de mensurar as dimensões da silhueta cardíaca (método VHS), hepática (relação do fígado com o eixo gástrico e gradil costal), artéria pulmonar do lobo cranial (relação de espessura artéria pulmonar e da 4ª costela) e veia cava caudal (relação de espessura da veia cava caudal e comprimento da 5ª vértebra torácica). Em todos os cães com hipoadrenocorticismo, os valores mensurados foram significativamente menores que nos cães hígidos4. Os achados ultrassonográficos consistem na redução do comprimento e espessura das glândulas adrenais. Estudos ultrassonográficos concluíram que especialmente a espessura das adrenais (na maioria dos casos menor que 3,2 mm), é significantemente menor nos animais com hipoadrenocorticismo5,6. A mensuração da concentração basal sérica de cortisol é realizada com bastante frequência por ser um exame simples e altamente sensível. No entanto, é pouco específico e não deve ser utilizado como principal exame para confirmação do diagnóstico, uma vez que a administração de drogas e a presença de doenças concomitantes podem levar a resultados falso-positivos, além de não avaliar a reserva de cortisol da adrenal3. Para o diagnóstico definitivo deve ser realizado o teste de estimulação com ACTH, que consiste na administração intravenosa ou intramuscular de ACTH sintético na dose de 5 µg/kg, e coleta de sangue antes e após uma ou duas horas da administração da droga para mensuração dos níveis de cortisol plasmático. Concentração de cortisol igual ou menor que 2 µg/dL após estimulação com ACTH confirma o diagnóstico2. O tratamento consiste em restabelecer a volemia e o equilíbrio eletrolítico através da administração de fluidoterapia intravenosa e na reposição hormonal com glicocorticóides e/ou mineralocorticóides3. O objetivo deste trabalho é relatar a ocorrência do hipoadrenocorticismo em um cão, abordando os aspectos radiográficos e ultrassonográficos bem como a contribuição diagnóstica destes métodos de imagem para esta afecção. METODOLOGIA Um animal da espécie canina, fêmea, sem raça definida e de um ano e meio de idade, com histórico de diversos episódios de regurgitação, foi encaminhado ao Spécialité Diagnóstico Veterinário para a Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 49 realização de exame radiográfico do tórax, com a suspeita de megaesôfago. Ao exame radiográfico simples, observou-se dilatação do lúmen esofágico cervical e em região de entrada do tórax (preenchidos por conteúdo homogêneo e gasoso respectivamente), deslocamento ventral da traqueia torácica e opacificação difusa não estruturada do interstício pulmonar (Figura 1). Ao exame radiográfico contrastado imediato (esofagograma com sulfato de bário), visibilizou-se dilatação e preenchimento do lúmen esofágico da região cervical e em entrada do tórax pelo meio de contraste, confirmando a hipótese diagnóstica. Radiografias realizadas minutos após a administração do meio de contraste demonstraram evolução do meio de contraste pelo lúmen esofágico dilatado, preenchendo parcialmente o estômago (Figura 2). Decorridos oito meses após os exames iniciais, o paciente apresentou quadro agudo de prostração, anorexia, perda de peso e novos episódios de regurgitação. Ao exame físico, notou-se importante desidratação, bradicardia, hipotermia e os exames laboratoriais demonstraram anemia grave, leucocitose e azotemia. Após transfusão sanguínea, o paciente foi encaminhado para realização de novo exame radiográfico de tórax, quando observou-se diminuição nas dimensões da silhueta cardíaca (VHS: aproximadamente 9 vértebras; valor de referência: 10,5) e menor contato da mesma com o esterno, redução do lúmen da veia cava caudal e hipovascularização dos campos pulmonares, sugerindo um quadro de hipovolemia e/ou desidratação/caquexia (Figura 3 e 4). Observou-se ainda dilatação do lúmen esofágico torácico cranial preenchido por conteúdo gasoso. Ao exame ultrassonográfico observou-se diminuição nas dimensões da glândula adrenal esquerda que mediu em torno de 1,8 X 0,3 cm, enquanto que a glândula adrenal direita não foi visibilizada. Com os achados do exame físico e de imagem, suspeitou-se de hipoadrenocorticismo e foram realizados exames laboratoriais para mensuração do cortisol basal e da relação sódio/potássio. O valor sérico de sódio foi de 134 mEq/L (valor de referência: 141 a 153); o de potássio 8,0 mEq/L (valor de referência: 3,9 a 5,65); relação sódio/potássio: 16,75 (valor de referência: 27 a 40); cortisol basal: 0,41 µg/dl (valor de referência: 1,8 a 4,0). A partir destes resultados, iniciou-se o tratamento para hipoadrenocorticismo com o uso de 0,15 mg de Florinefe® (acetato de fludrocortisona) duas vezes ao dia. O animal apresentou melhora significativa com ganho de peso e redução dos vômitos. Realizou-se novamente a mensuração sérica dos níveis de sódio e potássio para acompanhamento terapêutico, estando todos os valores dentro da normalidade (sódio: 142 mEq/L; potássio: 4,5 mEq/L; relação sódio/potássio: 31,55). RESULTADOS E DISCUSSÃO O hipoadrenocorticismo é uma afecção pouco comum nos cães, mas que pode levar à morte nos casos mais graves. No presente relato não foi estabelecida a etiologia exata, porém algumas possibilidades foram excluídas através do histórico do paciente e do exame ultrassonográfico. Provavelmente esteja relacionada com a presença de distúrbio autoimune que, segundo a literatura, é a causa mais comum1. O sexo do animal deste estudo corrobora com as informações de outros autores, uma vez que as fêmeas desenvolvem mais comumente o hipoadrenocorticismo. Apesar de acometer cães de qualquer raça e idade, a faixa etária neste caso foi menor que a média geral e a raça não está entre as mais freqüentes 3. Apesar de bastante inespecíficos, tantos os achados de exame físico como as manifestações clínicas apresentadas pelo animal assemelham-se com os descritos na literatura, destacando-se a regurgitação, anorexia, desidratação, bradicardia e hipotermia. Do mesmo modo, os exames laboratoriais também apresentaram alterações comumente observadas na maioria dos casos de hipoadrenocorticismo, dentre elas anemia, leucocitose e azotemia2,3. Os achados radiográficos visibilizados foram semelhantes aos descritos em outros estudos: microcardia, microhepatia, redução do lúmen da veia cava caudal e hipoperfusão dos campos pulmonares, estando diretamente relacionados com o quadro de choque/hipovolemia em que o animal se apresentava. Assim como em relatos anteriores, observou-se a presença de megaesôfago associado ao hipoadrenocorticismo, confirmado através de estudo radiográfico contrastado4. Concomitantemente, a espessura da adrenal esquerda apresentou valor semelhante ao de outros cães com hipoadrenocorticismo previamente relatados5,6. O teste de estimulação com ACTH não foi feito neste estudo, porém foram realizados outros exames complementares como mensuração do nível de cortisol basal, de sódio e potássio, que segundo a literatura podem auxiliar no diagnóstico 2,3. Concluiuse que, na presença de alterações radiográficas e ultrassonográficas sugestivas de hipoadrenocorticismo, é fundamental a realização dos exames laboratoriais para confirmar ou excluir esta afecção, uma vez que o diagnóstico precoce e a instituição terapêutica adequada favorecem o prognóstico e consequentemente a qualidade de vida do animal. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 50 Figura 1: Radiografia torácica em projeção laterolateral direita demonstrando dilatação do lúmen esofágico e deslocamento ventral do trajeto traqueal. Fonte: Spécialité Diagnóstico Veterinário. Figura 2: Esofagograma demonstrando dilatação e preenchimento do lúmen esofágico pelo meio de contraste, confirmando o diagnóstico de megaesôfago. Fonte: Spécialité Diagnóstico Veterinário. Figura 3 e 4: Radiografia de tórax em projeções laterolateral direita e ventrodorsal demonstrando diminuição da silhueta cardíaca e do lúmen da veia cava caudal e hipoperfusão dos campos pulmonares. Fonte: Spécialité Diagnóstico Veterinário. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KOOK, P.H.; GREST, P.; RAUTE-KREINSEN, U.; LEO, C.; REUSCHA, C.E. JSAP, 51 (6): 333-336, 2010. REUSCH, C.E. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária – doenças do cão e do gato. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2004, p.1569-1580. KLEIN, S.C.; PETERSON, M.E. Can Vet J, 51 (2): 63-69; 179-184, 2010. MELIÁN, C.; STEFANACCI, J.; PETERSON, M.E.; KINTZER, P.P. JAAHA, 35 (3): 208-212, 1999. WENGER, M.; MUELLER, C.; KOOK, P.H.; REUSCH, C.E. Vet Rec: JBVA, 167 (6): 207-210, 2010. HOERAUF, A.; REUSCH, C.E. JAAHA, 35 (3): 214-218, 1999. 20. EFUSÃO PERICÁRDICA SECUNDÁRIA À HEMANGIOSSARCOMA EM ÁTRIO DIREITO DE CÃO GABRIELA MONALDO CORRÁ BELLEGARD1; LUCIANA DEL RIO PINOTI CIARLINI2; TAILANE FRANCHI DE GODOY PÁDUA1; WAGNER LUIZ FERREIRA2; MARCEL GAMBIN MARQUES3; DANIELA BERNADETE ROZZA2; ALEXANDRE AUGUSTO ARENALES TORRES3. 1 Médica Veterinária Residente do Setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário Luiz Quintiliano de Oliveira da Faculdade de Medicina Veterinária (UNESP) E-mail: [email protected]. 2 Prof. Ass. Dr. Do Departamento de Clínica, cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária (UNESP) 3 Médico Veterinário Residente do Hospital Veterinário Luiz Quintiliano de Oliveira da Faculdade de Medicina Veterinária (UNESP) Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Rua Clóvis Pestana, n 793, Jd. Dona Amélia, Araçatuba-SP ABSTRACT BELLEGARD, G.M.C.; CIARLINI, L.D.R.P.; PÁDUA, T.F.G.; FERREIRA, W.L.; MARQUES, M.G.; ROZZA, D. B.; TORRES, A.A.A. Pericardial diseases occur less frequently in small animal cardiology. In dogs, the incidence of neoplastic pericardial effusion is low. A mixed breed dog, with 13 years presented with intense dyspnea and in radiograph globular apperance of the heart, suggesting pericardial effusion confirmed by ultrasound that identified anecogenic area within the pericardial sac. This report aims to describe a case of pericardial Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 51 effusion secondary to hemangiosarcoma in the right atrium, emphasizing the contribution of imaging for the diagnosis and treatment. KEYWORD: Dog, Heart, Hemangiossarcoma. INTRODUÇÃO As afecções pericárdicas ocorrem com menor frequência na cardiologia de pequenos animais quando comparadas às demais cardiopatias. As efusões pericárdicas podem ser classificadas quanto sua etiologia em não neoplásicas e neoplásicas. Em cães, a incidência de efusão pericárdica de origem neoplásica é baixa1. As neoplasias mais comuns nos cães incluem o hemangiossarcoma de átrio direito e o quimiodectoma da base cardíaca2. O hemangiossarcoma é uma neoplasia maligna de origem endotelial vascular que acomete com maior frequência animais com idades entre 8 e 13 anos3. Quando localizado no coração, as alterações cardiovasculares podem variar conforme o sítio, tamanho, quantidade de efusão e presença ou não de tamponamento cardíaco. Este consiste no aumento da pressão pericárdica impedindo o relaxamento cardíaco durante a diástole e consequentemente provoca insuficiência cardíaca congestiva1,3. Desta forma, são comuns sinais clínicos de comprometimento hemodinâmico como fraqueza, colapso circulatório, pulso fraco, distensão jugular, intolerância a exercícios e síncope, lembrando que cães com efusão pericárdica secundária a neoplasias tem um prognóstico ruim2,4. Radiograficamente uma efusão pericárdica evidente faz com que haja aumento do tamanho da silhueta cardíaca, que se torna globosa, tanto na projeção laterolateral direita quanto na dorsoventral. Observa-se também a aparência convexa do aspecto dorsocaudal da silhueta cardíaca1,5. Em pequenos animais, a radiografia ainda é a principal modalidade de exame de imagem utilizada para análise inicial do tórax, porém o ecocardiograma é essencial para o diagnóstico diferencial, possibilitando o direcionamento terapêutico 2. Nesta modalidade a efusão pericárdica caracteriza-se pela presença de um espaço anecogênico ou variavelmente ecogênico, entre a superfície epicárdica e o pericárdio parietal ecogênico 6. A análise do líquido pericárdico também traz informações importantes quanto a origem da efusão, podendo detectar agentes infecciosos ou células de caráter neoplásico1. O objetivo deste relato é descrever um caso de efusão pleural e pericárdica causado por hemangiossarcoma cardíaco e apresentar os aspectos radiográficos e ultrassonográficos. RELATO DE CASO Um animal da espécie canina, sem raça definida, macho, com 13 anos apresentava grande dificuldade respiratória e secreção nasal. O proprietário relatou tosse frequente, cansaço fácil e cianose. Ao exame físico observou-se posição ortopnéica, frequência cardíaca de 135 bpm, frequência respiratória de 60 mpm, pulso arterial forte e mucosas pálidas. O animal apresentava hipofonese na ausculta cardíaca, silêncio pulmonar e na percussão pulmonar som submaciço. O animal foi encaminhado ao setor de diagnóstico por imagem, onde primeiramente foram realizadas radiografias com o animal em estação, nas projeções laterolateral direita e dorsoventral, devido à severa distrição respiratória. Observou-se opacidade homogênea de densidade água obliterando a visibilização da silhueta cardíaca, sugerindo grande quantidade de efusão pleural. Após a toracocentese, foram realizadas novas radiografias, onde foi observada opacidade homogênea de densidade água em região ventral do tórax, sugerindo moderada efusão pleural; aumento de volume da silhueta cardíaca com contornos arredondados, traquéia deslocada dorsalmente e coração de aspecto globoso em ambas as projeções radiográficas sugerindo efusão pericárdica (Figura1-A e B). Para confirmação diagnóstica foi requisitado exame ultrassonográfico. O animal foi colocado em decúbito lateral esquerdo usando janela acústica entre o quinto e sétimo espaços intercostais do hemitórax ventral direito. Ao ultrassom, foi possível identificar presença de líquido entre o saco pericárdico ecogênico e a superfície cardíaca, em cortes longitudinais e transversais (Figura1-C). O exame ultrassonográfico foi realizado para auxílio diagnóstico e como guia para pericardiocentese, não sendo realizado o ecocardiograma. Foram coletadas amostras para análise citológica do derrame pericárdico, onde verificou-se líquido de aspecto vermelho, turvo, com pH 8,0, grande quantidade de hemácias e células mononucleares apresentando vacuolização citoplasmática. O animal foi submetido a um tratamento conservativo, vindo a óbito uma semana após o atendimento. Ao exame necroscópico observou-se aproximadamente 500 ml de sangue na cavidade torácica, caracterizando um hemotórax, e no pulmão o parênquima apresentou áreas focalmente disseminadas, distribuídas aleatoriamente, medindo 0,2 a 1 centímetro de diâmetro, bem delimitadas, arredondadas, de superfície lisa. No parênquima pulmonar visualizou-se vermelhidão difusa. O coração apresentou na face externa do átrio direito uma área focal contendo um coágulo sanguíneo de aproximadamente 4 centímetros de diâmetro, que ao ser retirado, mostrou uma dilatação e rompimento do epicárdio, e no miocárdio do átrio direito uma área focal de comunicação com a câmara atrial direita (Figura 1-D). Microscopicamente, observou-se no miocárdio de região subepicárdica uma área focalmente extensa de proliferação formada por escassas células mesenquimais mimetizando vasos sanguíneos, sustentadas por trabéculas espessas de tecido conjuntivo fibroso, o que caracteriza um hemangiossarcoma. No pulmão observaram-se múltiplas áreas Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 52 bem delimitadas circundadas por 3 a 4 fileiras de células mesenquimais, e o centro preenchido por grande quantidade de sangue, caracterizando metástase pulmonar de hemangiossarcoma. Todo o parênquima adjacente apresentou hemorragia alveolar associada à visualização de células da falha cardíaca. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Na espécie canina as principais causas de efusão pericárdica são as hérnias peritoneopericardicas, insuficiência cardíaca congestiva, ruptura atrial esquerda, infecção, trauma, causas idiopáticas e neoplasias7. O hemangiossarcoma é a neoplasia cardíaca primária mais frequente em cães de meia idade, sendo o átrio direito o principal sitio de ocorrência 4. Por ser uma neoplasia extremamente agressiva, com alta capacidade metastática, a realização do correto estadiamento, bem como a precisão do diagnóstico, são de suma importância na determinação do protocolo terapêutico a ser seguido 3. A radiografia torácica é a primeira modalidade de exames de imagem a ser requerida. A elevação traqueal, dilatação da veia cava caudal e veias pulmonares e definição da vascularização pulmonar, ascite e hepatomegalias podem estar associadas a outros sinais radiográficos que indicam a presença de efusão pericárdica 8. As alterações radiográficas observadas neste relato estão de acordo com a literatura consultada 4,5,8 e incluem o aumento acentuado e global da silhueta cardíaca de contornos arrendondados, indicando a presença de efusão pericárdica. Entretanto, esses achados são presentes quando há maior volume de efusão, em pacientes com acúmulos menores os achados radiográficos podem ser muito mais sutis, sendo extremamente importante a associação com outros exames complementares9. O procedimento de eleição para diagnosticar a presença ou ausência de efusão pericárdica é a ecocardiografia7. O objetivo da avaliação ultrassonográfica neste caso foi para confirmar a presença da efusão pericárdica. A ultrassonografia também pode guiar a drenagem do líquido pericárdico, impedindo que o cateter toque no epicárdio ou perfure o miocárdio, causando arritmias ou o óbito do paciente 10. Desta forma, ressalta-se com este relato a importância do plano diagnóstico completo nos casos de efusão pericárdica, independentemente da raça, idade ou prevalência etiológica. A pericardiocentese não tem apenas finalidade terapêutica, mas também com objetivo diagnóstico1. Diante do exposto, conclui-se que os sinais ultrassonográficos observados foram precisos e efetivos para diagnóstico diferencial de outra enfermidade cardíaca e o exame ultrassonográfico garantiu ainda o sucesso da pericardiocentese que possibilitou a indicação da presença de neoplasia cardíaca. Tanto a radiografia como a ultrassonografia foram determinantes para a condução diagnóstica e direcionamento do tratamento neste relato, sendo o hemangiossarcoma confirmado através da necropsia. 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São Paulo: Elsevier Editora Ltda, 2012. 563p. 9 HAGE, M.C.F.N.S.; CONCEIÇÃO, L.G.; TAVARES, T.R.; ZAVAN, V.; PIRES, S.T.; AMORIN, R.L.; NETO, R.T.; ACHA, L.M.R.; OLIVEIRA, A.C. In: XXXV Conbravet, Gramado. Anais: 575-3. 2008. 10 ABDUCH, M.C.D. In: CARVALHO, C.F. Ultra-sonografia em Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2004, p 318321. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 53 Figura1: A. Imagem ultrassonográfica onde verifica-se presença de uma área anecogênica entre a superfície cardíaca e o saco pericárdico, correspondendo a efusão pericárdica. B. Imagem radiográfica em projeção laterolateral do tórax, apresentando conteúdo de densidade água em região ventral impedindo a visibilização completa da silhueta cardíaca, caracterizando discreta efusão pleural. O coração apresenta significativo aumento com aspecto globoso e desloca dorsalmente a traquéia. Presença de dreno inratorácico. C. Imagem radiográfica e projeção dorsoventral do tórax onde observa-se ocupação cardíaca de grande área do tórax e aspecto globoso significativo. Sinais radiográficos compatíveis com efusão pericárdica com diferencial para cardiomegalia. Presença de dreno intratorácico em hemitórax direito. D. Fotografia durante a necropsia, mostrando parênquima pulmonar com áreas focalmente disseminadas, distribuídas aleatoriamente, bem delimitadas, arredondadas, de superfície lisa. No parênquima pulmonar visualizou-se vermelhidão difusa. O coração apresentou na face externa do átrio direito uma área focal contendo um coágulo sanguíneo, que ao ser retirado, mostrou uma dilatação e rompimento do epicárdio, no miocárdio do átrio direito uma área focal de comunicação com a câmara atrial direita. Fonte: Arquivo do Hospital Veterinário da FMVA - UNESP. 21. RUPTURA DE LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL EM URSO MARROM (Ursus arctos): RELATO DE CASO THIAGO RINALDI MULLER1; BRUNO LUNARDELI2; ELOISA CARLA BACH2; LIVIA PASINI3; RAFAEL SALLES PAGANI4; NILSON OLESCOVICKZ5; ADEMAR LUIZ DALLABRIDA5; AURY NUNES DE MORAES5 Professor colaborador UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestrando Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Bolsista FAPES/UDESC2.1 e PROMOP2.2. 3 Doutoranda Programa Doutorado Ciência Animal, bolsista FAPESC/UDESC. 4 Médico Veterinário Zoológico de Pomerode Santa Catarina. 5 Professor adjunto UDESC. 1 2 ABSTRACT MULLER T.R.; LUNARDELI B.; BACH E.C.; PASINI L.; PAGANI R.S.; OLESCOVICKZ N.;DALLABRIDA A.L.; MORAES A.N. Cranial cruciate ligament rupture in brown bear (Ursus arctos): case report. Rupture of the cranial cruciate ligament is a common disease in large breed dogs. Brown bear reports of knee disaeases are rare. The aim of the present report is to describe some of the techniques used for diagnosis and treatment of this condition in a brown bear (Ursus arctos). Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 54 INTRODUÇÃO O ligamento cruzado cranial (LCCr) limita a movimentação da articulação femorotibiopatelar (FTP), estabelecendo estabilidade craniocaudal, evitando a hiperextensão do joelho e limitando a rotação interna da tíbia1 . De acordo com autores, a ruptura do ligamento cruzado cranial é a causa mais comum de claudicação em animais adultos. Sendo o entendimento da patogênese da ruptura do ligamento cruzado cranial e doença articular degenerativa resultante crucial no estabelecimento de um diagnóstico preciso e para implementar o tratamento adequado.2 As informações sobre métodos diagnósticos da ruptura de LCCr em animais silvestres são extremamente escassas conforme pesquisa realizada pelos autores, tendo que se extrapolar as técnicas utilizada em animais domésticos para esta área. No trabalho em questão foram realizados os exames radiológicos, ultrassonográficos além do teste de deslocamento craniocaudal da tíbia em relação ao fêmur ou teste de gaveta cranial para confirmação da enfermidade. Em geral, o exame radiográfico é o primeiro a ser solicitado, tanto para o diagnóstico em pacientes humanos quanto em animais3, e as projeções mais realizadas são a mediolateral, mediolateral com estresse e a craniocaudal. Segundo autores, as alterações radiográficas podem variar de acordo com o tempo de evolução e o tipo da lesão, e a maior parte dos casos, a técnica radiográfica fornece informações importantes a respeito da gravidade do quadro 4. O exame ultrassonográfico apresenta as vantagens de não utilizar radiação ionizante e de permitir a observação de estruturas intra-articulares5. Porém, a experiência do operador e a necessidade de transdutores específicos são fatores limitantes6. O objetivo principal do trabalho é informar as técnicas de diagnóstico por imagem (radiologia e ultrasonografia) e as principais metodologias para o diagnóstico de ruptura de LCCr em urso marrom. METODOLOGIA Um animal da espécie Urso Pardo (Ursus arctos) (Figura 1A), fêmea, com aproximadamente 5 anos de idade, com 140 kg de peso, oriundo de uma instituição da região foi encaminhado ao Hospital de Clínica Veterinário do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina (HCVCAV-UDESC) com histórico de claudicação a três meses em membro pélvico esquerdo. Foi realizado a contenção química do animal com xilazina 2 mg/kg e a associação de tiletamina e zolazepan 3 mg/kg, administrados via intramuscular (IM) com o auxílio de dardo e zarabatana. Após o animal estar contido, foi retirado da jaula e colocado na mesa cirúrgica para confirmação do diagnóstico com auxílio de radiografia mediolateral com estresse articular e sem o estresse articular, ultrassonografia articular e realização do teste de gaveta, sendo o seu resultado positivo (Figura 1B). Posteriormente foi realizado a intubação com tubo endotraqueal tipo Murphy com cuff, numero 16, utilizando um sistema semi-fechado e mantido em plano anestésico através de anestesia inalatória com isoflurano, com concentração inicial de 1,2% e após 15 minutos foi mantido com uma média de 0,6% diluído em oxigênio a 100%. Para avaliar os parâmetros no trans-cirúgico foram utilizados, eletrocardiografia, oximetria de pulso, capnografia, aparelho de aferição de glicose, lactato portátil. Os parâmetros aferidos foram, frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), saturação de oxigênio (SatO 2), (EtCO2) de glicose e lactato, com intervalo de 5 minutos, em dois momentos realizado hemogasometria. Foi realizado infusão de dobutamina duramente o período cirúrgico variando de 2,5 µg/kg a 5 µg/kg. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os achados radiológicos identificados foram o deslocamento cranial da crista da tibial e iminência intercondilar da tíbia em relação aos côndilos femorais quando a articulação foi submetida stress (Figura 2B) em relação à mesma articulação sem stress (Figura 2A). Como as descritas, o deslocamento cranial da tíbia em relação ao fêmur, a presença de osteófitos, entesófitos e a diminuição da área correspondente ao coxim gorduroso constituem as alterações radiográficas mais comuns em cães submetidos à lesão experimental do LCCr.7 No exame ultrassonográfico os achados foram semelhantes aos descrito por outros autores. Identificou-se efusão articular e coxim gorduroso heterogêneo. Não foi identificado como relatado alguns casos, a presença de uma estrutura hiperecogênica e irregular no local de inserção do ligamento na tíbia, compatível com o LCCr rompido. Esse achado é mais fácil de ser detectada na fase crônica da doença8. E no teste de deslocamento craniocaudal da tíbia em relação ao fêmur deu o resultado positivo, ocorrendo o deslocamento da tíbia. Com todos este exames indicando a ruptura de LCCr, foi realizado a abordagem cirúrgica para correção, sendo utilizado a técnica extra-capsular de sutura fabelotibial lateral para aumentar a estabilidade articular. Como indica a maioria dos métodos extra-articulares baseia-se na utilização de material de sutura de grosso calibre para imbricar a articulação e restaurar a estabilidade9. E a escolha da técnica tem que ser feita analisando o animal em si, pois não há citações que uma técnica se sobressaia a outra em todos os pacientes, como se é observado, que independentemente da técnica cirúrgica escolhida, a taxa de sucesso clínico é próxima a 90%10, e que nenhuma das técnicas extra ou intra-articulares irão interromper a progressão da osteoartrite11. O animal recebeu alta com Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 55 indicação de confinamento para repousar durante 30 dias, e após 24 meses o animal apresenta deambulação normal demonstrando a efetividade da técnica. Figura 1: A- Urso anestesiado e com joelho esquerdo tricotomizado. B- Realização do teste de gaveta em joelho de Urso Marrom. Fonte: Bruno Lunardeli Figura 2: A) Radiografia médio lateral da articulação do joelho de um Urso Marrom sem stress articular. B) Mesmo joelho que em “A” submetido ao stress articular. Seta indica deslocamento cranial da eminência intercondilar da tíbia. Fonte: Bruno Lunardeli. REFERÊNCIAS 1. BRINKER W.O.; PIERMATTEI D.L.; FLO G.L. Handbook of Small Animal Orthopedics and Fracture Treatment. 2nded. W.B. Saunders, Philadelphia. 1990, 582p. 2. JOHNSON J.M.; JOHNSON A.L. Cranial cruciate ligament rupture: Pathogenesis, diagnosis, and postoperative rehabilitation. Vet. Clin. North Am., Small Anim. 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In: CARVALHO C.F. Ultra-sonografia em Pequenos Animais. Roca, São Paulo, 2004, 365p. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 56 9. RACKARD, S. Cranial cruciate ligament rupture in the dog. Irish Vet J, Dublin, 49(7), 481-484, 1996. 10. MOORE, K.W.; READ, R.A. Rupture of the cranial cruciate ligament in dogs - part II - diagnosis and management. Comp Cont Educ Pract Vet, Auburn, 18 (4), 381-391, 1996. 11. ELKINS, A.D. et al. A retrospective study evaluating the degree of degenerative joint disease in the stifle joint of dogs following surgical repair of anterior cruciate ligament rupture. J Am Anim Hosp Assoc, Denver, 27(5), 533-540, 1991. 22. FRATURA EM SEGUIMENTO LOMBAR DA COLUNA VERTEBRAL EM UM TATU-GALINHA (Dasypus novemcinctus) LIDIANE DA SILVA ALVES1; LIGIA RIGOLETO OLIVA2; MURILO GOMES DE SOUTELLO CHARLIER2; SHAYRA PERUCH BONATELLI3; LETÍCIA ROCHA INAMASSU4; LUIZ CARLOS VULCANO4; CARLOS ROBERTO TEIXEIRA5 1-Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 2-Residente em Medicina Veterinária, área de Medicina de Animais Silvestres – FMVZ – Dpto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária,, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 3-Profº. MSc. Dr. titular de Radiologia Veterinária – FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 4- Profº. MSc. Dr. assistente de Técnica Cirúrgica Animal – FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. Endereço da instituição: Distrito de Rubião Junior, s/n – Botucatu – SP, Depto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária. e-mail para correspondência: [email protected] ABSTRACT ALVES, L.S.; OLIVA, L.R.; CHARLIER, M.G.S.; BONATELLI, S.P.; INAMASSU, L.R.; VULCANO, L.C.; TEIXEIRA, C.R. Fracture in lumbar segment of the vertebral column in a ninebanded armadillo (Dasypus novemcinctus). Dasypus novemcinctus is specie of the order Xenarthra found in South, Central and North America. A nine-banded armadillo was referred to the CEMPAS of the UNESP Botucatu-SP with trauma by roadkill. The animal was sedated to perform the radiographic evaluation and to proceed with the better clinical care. Due to poor studies of the anatomy and radiographic findings of ninebanded armadillo, this report has the purpose of describe radiographic findings of luxation and fracture on lumbar vertebral column in an animal this specie. KEYWORDS – armadillo, fracture, radiographic INTRODUÇÃO A espécie Dasypus novemcinctus, popularmente conhecida como tatu-galinha, possui a maior distribuição geográfica entre todas as espécies da ordem Xenarthra e é a segunda maior espécie do gênero. Pode ser encontrado nas Américas do Sul, Central e do Norte. O comprimento do corpo varia de 39,5 a 57,3 cm e o da cauda de 29 a 45 cm. Seu peso é de 3,2 a 4,1 kg, podendo chegar até 7,37 kg 1. A principal característica de um tatu é a sua carapaça composta por três segmentos. O primeiro é o escudo escapular anterior, que cobre os ombros e envolve em torno do pescoço, estendendo-se ligeiramente para frente. O segundo, que é o escudo pélvico, cobre a parte posterior do corpo e se junta ao quadril em dois lugares. E, por último, entre estes dois escudos estão as cintas ou bandas da carapaça que geralmente são nove, podendo variar de sete a 11 cintas. A carapaça é uma fusão de tecidos dérmicos com os ossos, sendo a calcificação ocorrendo na parte superior da camada dérmica da pele após a formação do esqueleto 2. A cauda tem de 12 a 15 anéis de escudos dérmicos que decrescem em tamanho rumo à porção distal da cauda, onde os escudos estão distribuídos de maneira irregular 1. Tatus são animais escavadores, por isso possuem garras em seus cinco dedos de cada membro torácico e pélvico2. A característica que distingue esta ordem de outras é a presença de articulações adicionais entre as vértebras lombares, conhecidas como processo xenartro, e a etimologia do nome Xenarthra vem de xenon = estranho, e arthros = articulação1. Em tatus, os corpos vertebrais são curtos, largos e achatados, e muitos são geralmente fusionados; os arcos neurais correspondentes são unidos também3. Existem fórmulas vertebrais determinadas para a espécie Dasypus novemcinctus, descrita para sua antiga taxonomia Tatusia novemcincta, que definem sete vértebras lombares, dez torácicas, cinco lombares, nove sacrais e 16 ou mais coccígeas 3 e, em estudos mais recentes, determinaram, através de dois exemplares adultos, que esta espécie possui 42 vértebras, sendo sete vértebras cervicais, 15 torácicas, quatro lombares, cinco sacrais e 11 coccígeas 4. Os ossos femorais são relativamente mais largos e possuem superfícies articulares maiores, como a cabeça femoral, os côndilos, e a superfície patelar. O terceiro trocânter se encontra distalmente e o côndilo medial é maior que o lateral. A diáfise femoral é mais curvada medialmente5. O úmero é curto e espesso com superfícies amplas para inserção muscular. O rádio e a ulna são unidos entre si por uma membrana interóssea 6. Os tatus-galinha e outros membros da ordem Xenarthra exibem uma endotermia atípica caracterizada por taxas metabólicas e temperaturas Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 57 corpóreas baixas e variáveis7. Sua alimentação consiste em animais intervertebrados, pequenos vertebrados, material vegetal, ovos e carniça. Muitos desses animais morrem em atropelamentos rodoviários. Embora esta espécie seja muito caçada, ainda não sofre ameaça de extinção por ter uma ampla distribuição 1. Devido à ausência de relatos na literatura de exames de diagnóstico por imagem em tatus-galinha, este estudo tem por finalidade demonstrar um exame radiográfico de fratura de coluna em um animal da espécie. METODOLOGIA Foi encaminhado ao Centro de Medicina e Pesquisa em Animais Selvagens – CEMPAS, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu - SP, um tatu-galinha, adulto, da espécie Dasypus novemcinctus, com trauma por atropelamento. O animal foi submetido ao exame radiográfico nas projeções laterolateral direita e ventrodorsal, utilizando o aparelho de radiografia digital da marca GE® e modelo DR-F com a técnica de 60 kVp, 200 mA e 5 mAs. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na avaliação radiográfica observaram-se lobos pulmonares sobrepondo até nove espaços intercostais. Silhueta cardíaca globosa e evidenciada à esquerda, próximo a parede torácica. Cavidade abdominal de radiopacidade homogênia com estruturas situadas cranialmente, sendo observado o cólon descendente repleto por conteúdo de radiopacidade elevada em forma de “bolus” (fezes). O fêmur apresenta-se com o terceiro trocânter ao longo de seu comprimento. É possível observar a carapaça com as pequenas placas e as nove cintas. Presença de sete vértebras cervicais, dez torácicas e cinco lombares, como relatado em estudos anteriores 3, porém diferente de estudos mais recentes4. O sacro e coxal são bem alongados. No segmento lombar pode-se obervar acentuado desvio ventral da extremidade caudal de L3 em relação à extremidade cranial de L4 (luxação) associado à fratura cominutiva do arco vertebral de L3 com provável acometimento medular (figura 1). Devido à lesão, o animal foi submetido à eutanásia. Figura 1. A) Projeção laterolateral direita. Observa-se a luxação ventral de L3 em relação à L4 associada à fratura cominutiva do arco vertebral de L3. B) Projeção ventrodorsal. Há sobreposição da coluna vertebral pelo cólon repleto por conteúdo fecal, porém, é possível observar o alinhamento do eixo ósseo do segmento lombar, sendo o desvio apenas ventral. CONCLUSÃO Conclui-se que novos trabalhos da anatomia radiográfica de tatus-galinha (Dasypus novemcinctus) relacionados à fórmula correta das vértebras da coluna nesta espécie, a fim de auxiliar o radiologista e ao clínico de animais selvagens na definição da vértebra acometida por doenças. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1-MEDRI, I.M.; MOURÃO, G.M.; RODRIGUES, F.H.G. In: ______. REIS, N.R. et al. Mamíferos do Brasil. Londrina: Nelio R. dos Reis, 2006, p. 71-99. 2-UNIVERSITY OF OKLAHOMA. The nine-banded armadillo: a natural history. Oklahoma, 2013. 327p. 3-FLOWER, W. H. An introduction to the osteology of the mammalia. 3 ed. London: Macmillan, 1885, 382p. 4-FRANZO, V.S. et al. In: 38º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária – CONBRAVET, Florianópolis, Anais: 382. 2011. 5-MILNE, N.; TOLEDO, N.; VIZCAÍNO, S.F. J. Mammal. Evol., 19 (3): 199-208, 2012. 6-MILES, S.S. J. Mammal., 22 (2): 157-169, 1941. 7-BOILY, P. J. Exp. Biol., 205 (20): 3207-3214, oct.2002. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 58 23. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DE MEGAESÔFAGO EM UM OVINO LIDIANE DA SILVA ALVES1; DANILO GIORGI ABRANCHES DE ANDRADE1; MURILO GOMES DE SOUTELLO CHARLIER1; LETÍCIA ROCHA INAMASSU1; SHAYRA PERUCH BONATELLI1; VÂNIA MARIA VASCONCELOS MACHADO1; ROBERTO CALDERON GONÇALVES1 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia–Universidade Estadual Paulista – UNESP. Botucatu, São Paulo, Brasil. Distrito de Rubião Junior, s/n - Botucatu, SP e-mail: [email protected] 1 ABSTRACT ALVES, L.S.; ANDRADE, D.G.A.; CHARLIER, M.G.S.; INAMASSU, L.R.; BONATELLI, S.P.; MACHADO, V.M.V.; GONÇALVES, R.C. Radiographic aspects of megaesophagus in an ovine. Megaesophagus is a condition of the dilation of esophagus, with decreased or absent of the peristaltic movements. It can occur in congenital, idiopathic and acquired forms. Simple lateral views radiograph of the neck is the first survey of choice and is recommended administration of contrast medium such as barium sulfate, to confirm the diagnosis of megaesophagus. The present report suggests the use of simple radiographic survey followed by contrast radiographic survey in the diagnosis of ovine with suspected megaesophagus. KEYWORDS – ovine, megaesophagus, radiography INTRODUÇÃO O esôfago é uma continuação direta da faringe e se estende na forma de um tubo muscular até a cárdia do estômago1. Em ovinos, o esôfago tem, em média, 45 cm de comprimento com diâmetro de 1,8 cm na faringe e 2,5 cm na cárdia, e é responsável pela deglutição, eructação e regurgitação da ingesta2. O megaesôfago é uma condição de dilatação esofágica com diminuição ou ausência de movimentos peristálticos. Ocorre por alterações congênitas, idiopáticas e adquiridas, como infecções que acomete a medula oblonga ou o nervo vago, alterações inflamatórias e imunomediadas, como miastenia grave, polimiosite e polirradiculoneurite, alterações metabólicas e tóxicas, trauma e alterações vasculares, ou neoplasias do sistema nervoso central ou do sistema nervoso perférico3. Em situações congênitas, os sinais clínicos são observados logo após o desmame, quando troca a dieta líquida para a sólida, pois os alimentos se acumulam no esôfago atônico obstruindo a passagem ao estômago. Como resultado destas condições, o animal entra no estado de anorexia. Se o esôfago estiver completamnete obstruído, impede a eructação e causa um aumento de volume. A radiografia simples lateral da região cervical e torácica é o primeiro exame de escolha, sendo recomendada administração de meios de contraste, como o sulfato de bário, para confirmar o diagnóstico de megaesôfago 4. Já foi relatado um caso de megaesôfago em um caprino no Brasil5, porém, até o momento, não há relatos dessa condição em ovinos no país, sendo assim, objetiva-se descrever o caso de megaesôfago em um ovino com ênfase no diagnóstico radiográfico simples e contrastado. METODOLOGIA Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu - SP, um ovino, fêmea, sem raça definida, de um ano de idade, apresentando disfagia, tosse e sialorréia. Na anamnese, o proprietário relatou que na mesma propriedade outro animal já havia apresentado sinais clínicos semelhantes e que tinha parentesco com o animal em estudo. Diante das informações obtidas na anamnese juntamente com o exame físico, foi solicitado exame radiográfico simples, nas projeções laterolateral direita da região cervical e torácica, e esofagograma utilizando sulfato de bário (Bariogel® 100%) via oral. RESULTADOS E DISCUSSÃO O exame radiográfico simples demonstrou moderada quantidade de conteúdo gasoso em trajeto esofágico cervical (figura 1A) e evidenciação da parede esofágica sobrepondo a traqueia intratorácica associado ao deslocamento ventral do trajeto traqueal torácico (figura 1B). Ao esofagograma, observou-se conteúdo contrastado radiopaco em todo trajeto de esôfago cervical (figura 2A). Em seu trajeto torácico, observou-se meio de contraste radiopaco com áreas gasosas radiolucentes (floculação) evidenciando dilatação do lúmen esofágico desde a entrada do tórax até a bifurcação dos brônquios principais, medindo 3,31 cm de diâmetro (figura 2B). Visto que o diâmetro esofágico normal de um ovino é de até 2,5 cm, pode-se considerar, nesse caso, uma dilatação esofágica sugestiva de megaesôfago. Discreta quantidade de meio contrastado foi obsevado em rúmen. Podem-se observar também brônquios craniais contrastados decorrentes de aspiração por contraste, que pode ter ocorrido devido à diminuição ou ausência de movimentos peristálticos que ocorre nessas condições2. Em um relato de megaesôfago em caprino5, o animal tinha sintomatologia semelhante ao animal do presente estudo, porém com regurgitação, sendo a dilatação esofágica em região de transição cervicotorácica com conteúdo radiopaco caudalmente. Pelo fato deste animal ter parentesco com outro animal da propriedade com os mesmos sinais clínicos, acredita-se que pode estar relacionado a fatores de hereditariedade6. Há um levantamento de Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 59 dados realizado sobre a possível condição hereditária de megaesôfago em búfalos no Brasil em 19957. A radiografia simples lateral da região cervical e torácica é o primeiro exame de escolha, sendo recomendado o esofagograma para confirmar o diagnóstico de megaesôfago 4. Ao levantamento bibliográfico, não foram encontrado relatos dessa condição em ovinos no Brasil, sugerindo que este seja o primeiro caso diagnosticado no país. Figura 1. Radiografia simples. A) Moderado conteúdo gasoso em trajeto esofágico cervical. B) Dilatação esofágica desde a região intratorácica até a porção caudal do esôfago associado ao desvio ventral do trajeto traqueal e de base cardíaca. Conteúdo gasoso em câmaras gástricas. Figura 2. Esofagograma. A) Conteúdo contrastado radiopaco em trajeto esofágico cervical. B) Evidenciação de dilatação esofágica torácica por meio de contraste radiopaco. Note os brônquios craniais contrastados (seta). Conteúdo contrastado em rúmen. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1-HUSSAIN, S.S.; LONE, T.; MOULVI, B.A. In:______. Regional and surgical anatomy of bovines. Lucknow: International Book Distributing Co., 2009, p. 107. 2-HABEL, R.E.. In: GETTY, R. Anatomia dos animais domésticos. 5 ed. vol 1. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986, p. 826-828. 3-CHRISMAN, C.L.. In: ______. Neurologia dos pequenos animais. São Paulo: Roca, 1985, p. 224-225. 4-IOWA STATE UNIVERSITY. Bovine radiology. Iowa, 1989. 198p. 5-SILVA JÚNIOR, L.C. et al. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., 63 (3): 761-764, 2011. 6-OSBORNE, C.A.; CLIFFORD, D.H.; JESSEN, C. J. Am. Vet. Med. Assoc. 151 (5): 572-581, 1967. 7-MARCOLONGO-PEREIRA, C. et al. Pesq. Vet. Bras., 30 (10): 816-826, 2010. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 60 24. PNEUMONIA ASPIRATIVA EM VEADO CATINGUERO (MAZAMA GOUAZOUBIRA) – RELATO DE CASO THIAGO RINALDI MULLER1; LIVIA PASINI DE SOUZA2; BRUNO LUNARDELI3; CRISTIANA CORRÊA KUCI4; NILSON OLESCOVIKZ5; AURY NUNES DE MORAES5. 1 1 Professor colaborador UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. [email protected] Doutoranda do Programa de Doutorado em Ciência Animal. UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. 3 Mestrando do Programa de Mestrado em Ciência Animal. UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. 4 Graduanda do curso de Medicina Veterinária UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. 5 Professor adjunto UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina. 2 ABSTRACT MULLER, T.R.; SOUZA, L.P.; LUNARDELI, B.; KUCI, C.C.; OLESCOVIKS, N.; MORAES, A.N. ASPIRATION PNEUMONIA IN GREY BROCKET DEER (MAZAMA GOUAZOUBIRA) – CASE REPORT. Aspiration pneumonia is a severe lung inflammation and potentially fatal. Scarce information is available regarding pulmonary diseases in deer and more specifically in Grey Brocket Deer (Mazama gouazoubira). Information regarding diseases in this species is critical for conservation and preservation of the same. The aim of this case report is to describe the radiographic features, treatment and outcome of aspiration pneumonia in a Grey Brocket Deer. KEYWORDS: cervidae, Mazama, pneumonia. INTRODUÇÃO A pneumonia por aspiração é um processo inflamatório pulmonar grave e potencialmente fatal. O objetivo do presente relato de caso é descrever os aspectos radiográficos, tratamento e evolução da pneumonia aspirativa em um Veado Catingueiro. Pouca informação está disponível a respeito de enfermidades pulmonares em cervídeos e mais especificamente no Veado Catingueiro. Informações sobre enfermidades nessa espécie é fundamental para conservação e preservação da mesma. O veado catingueiro (Mazama gouazoubira) é uma espécie que apresenta uma grande distribuição territorial no Brasil, ocupando desde o norte até o sul do país. É classificado como um animal silvestre de pequeno porte com peso vivo entre 17 e 23 Kg. Essa espécie habita florestas e se alimenta basicamente de frutos, flores, fungos, gramíneas e leguminosas1. A pneumonia por aspiração é um diagnóstico clínico comum em cães, e distúrbios associados subjacentes com este transtorno incluem vômitos, doenças da laringe ou cirurgia, megaesôfago ou disfunção esofágica e diminuição do nível de consciência2-9. É incomum a descrição dessa enfermidade em cervídeos. Pneumonia aspritativa é o resultado da aspiração de conteúdo da orofaringe ou gastrointestinal para o aparelho respiratório, o que desencadeia danos imunológicos, químicos e bacteriológicos para vias aéreas 10-12 e pode progredir para síndrome da angústia respiratória aguda13. METODOLOGIA Foi atendida no Hospital de Clínica Veterinária da Universidade Estadual de Santa Catarina (HCV – CAV/UDESC) um cervídeo fêmea de aproximadamente 2 meses, encaminhado pela Polícia Ambiental do Estado de Santa Catarina, com histórico de trauma por ataque de cães. Ao exame físico foi identificado escoriações de pele as quais foram tratadas topicamente. Um mês após o internamento, o paciente apresentou um abcesso no membro torácico esquerdo próximo a articulação úmero-rádio-ulnar. Foi realizada a anestesia do paciente com protocolo anestésica de acepromazina (IM, 0,05 mg/kg) e midazolan (IM, 0,3 mg/kg) além de manutenção com isoflurano e O 2 100%. Durante o procedimento anestésico o paciente aspirou líquido ruminal. O paciente apresentou sinais clínicos respiratórios de taquipnéia e dificuldade respiratória dois dias após o procedimento anestésico. Foi realizado o exame radiográfico da região torácica. O paciente ficou dispneico durante a realização do exame, não permitindo a realização da incidência ortogonal do tórax. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 61 Figura 1: Radiografia lateral direita de um veado catingueiro com pneumonia aspirativa. Seta indica bronquiectasia. Autor: Müller, T.R. RESULTADOS E DISCUSSÃO O exame radiográfico apresentou, pela incidência lateral direita, campos pulmonares com evidente opacificação alveolar e broncogramas aéreos predominantes em lobos pulmonares craniais e médios. A dilatação do lúmen bronquial também foi identificada. Silhueta cardíaca com identificação dificultada pela opacificação pulmonar. Estômago apresentou dilatação por conteúdo gasoso (Figura 1). O diagnóstico radiográfico foi consistente com pneumonia aspirativa, bronquiectasia e aerofagia devido à dispneia. O tratamento instituído foi a base de enrofloxacina (VO, 5mg/kg BID), meloxicam (VO, 0,1 mg/kg SID), tramadol (VO, 3mg/kg TID) e dipirona (VO, 25mg/kg TID) por 10 dias. Durante o tratamento o paciente apresentou melhora dos sinais clínicos e dos sinais radiográficos do tórax. Radiografias pós-tratamento revelaram uma opacificação pulmonar intersticial discreta, bronquiectasia e ausência de opacificação pulmonar alveolar. Danos aos pulmões são resultados de insultos aos alvéolos e membranas capilares, e a perda de área de superfície para as trocas gasosas leva a incompatibilidade de ventilação, perfusão e hipoxemia. A aspiração de ácido gástrico provoca diretamente alterações na função do surfactante, que resultam na perda de tensão superficial e atelectasia14. A bronco-constrição subsequente aumenta a resistência das vias aéreas e do esforço necessária para a respiração. A lesão ácida impacta negativamente a resistência à infecção pulmonar 14, e na presença de bactérias orais ou gastrointestinais no líquido aspirado pode resultar no desenvolvimento de severa pneumonia bacteriana15. A bronquiectasia foi um achado nesse caso que pode ter sido agravada pela lesão aos brônquios pela pneumonia aspirativa. A bronquiectasia é definida como uma alteração, irreversível das vias áereas, ocasionando dilatação bronquial causada pela inflamação crônica com danos as paredes brônquicas16. O precoce reconhecimento clínico de pneumonia aspirativa permite o tratamento adequado da lesão da via aérea e o processo de doença subjacente que a aspiração pode levar, prevenindo assim danos adicionais à porção inferior do trato respiratório. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BRENDT, A. 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HÉRNIA DE HIATO E MEGAESÔFAGO ASSOCIADOS À LEIOMIOSSARCOMA DE CÁRDIA GÁSTRICA EM UM CÃO SHAR-PEI LIDIANE DA SILVA ALVES1; EMILLE GEDOZ GUIOT2; SHAYRA PERUCH BONATELLI1; MURILO GOMES DE SOUTELLO CHARLIER1; LETÍCIA ROCHA INAMASSU1; VÂNIA MARIA VASCONCELOS MACHADO3; MARIA LUCIA GOMES LOURENÇO4 1-Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 2-Residente em Medicina Veterinária, área de Cirurgia de Pequenos Animais – FMVZ – Dpto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária,, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 3- Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 4 -Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 5- Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 6- Profª Adjunta de Radiologia Veterinária – FMVZ – FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. Endereço da instituição: Distrito de Rubião Junior, s/n – Botucatu – SP, Depto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária. e-mail para correspondência: [email protected] ABSTRACT – ALVES, L.S.; GUIOT, E.G.; BONATELLI, S.P.; CHARLIER, M.G.S.; INAMASSU, L.R.; MACHADO, V.M.V., LOURENÇO, M.L.G. Hernia hiatal and megaesophagus associated to leiomyosarcoma of the gastric cardia in a Shar-Pei dog. Hiatal hernia is a condition in which the stomach or part of it protrudes through the esophageal hiatus. The most common clinical signs include vomiting, regurgitation, excessive salivation, dysphagia and dyspnea. It is a problem that has been extensively described in dogs breed Chinese Shar-Pei as a congenital condition. However, the present case report describes a case in an adult dog with hiatal hernia associate to leiomyosarcoma in the region of the gastric cardia. KEYWORDS – hernia hiatal, leiomyosarcoma, dog INTRODUÇÃO A hérnia diafragmática é uma condição que permite o deslocamento de estruturas abdominais através do diafragma alterando sua forma1. Na hérnia de hiato, há um protrusão do estômago ou parte dele através do hiato esofágico do diafragma, deslocando o trajeto esofágico caudal cranialmente. A região da cárdia gástrica estará, frequentemente, envolvida nessa condição2. Dilatação esofágica secundária por alimento, líquido ou gás pode estar associada1. Os sinais clínicos podem ser sintomáticos, sendo o primeiro sinal observado a regurgitação3, além de vômito, sialorréia excessiva, disfagia e dispnéia4, ou, em muitos casos, assintomáticos. A hérnia de hiato pode ser congênita, adquirida ou idiopática. Sua forma congênita é resultado da fusão incompleta do diafragma durante o desenvolvimento embrionário e tem sida relatada em cães da raça Shar-Pei, Chow-Chow, Bulldog Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 63 Inglês e Bulldog Francês. Já a adquirida, ainda não é completamente correspondida, mas acredita-se que pode resultar da alta pressão positiva intra-abdominal gerada por vômitos recorrentes, ou da pressão negativa intratorácica gerada pelo aumento do esforço inspiratório decorrente de obstrução de vias aéreas intermitentes 5. Radiografias simples ou esofagograma com contraste positivo podem revelar a herniação gástrica no tórax, porém, pode ser intermitente e de difícil detecção 3. Geralmente, nas radiografias simples, é observado um efeito de massa de tecidos moles6, de formato oval ou semicircular1, na porção dorsocaudal da cavidade torácica em projeções laterais e, em projeções ventrodorsais, é observado na porção caudal do tórax, ligeiramente à esquerda da linha média6. A hérnia de hiato pode estar associada à outras patologias, como já descrito em um animal da raça Shar-Pei de nove meses de idade com hérnia de hiato combinada com hérnia pleuroperitonial7; e em um animal, da mesma raça, de seis meses de idade diagnosticado com hérnia de hiato associada à Síndrome de Budd-Chiari, a qual é caracterizada pelo mecanismo de obstrução da veia cava caudal, de veias hepáticas ou do átrio direito8; em cães e gatos associada à fratura de costelas decorrente a esforços respiratórios por doenças respiratórias ou neuromusculares9; em um cão com hérnia de hiato e refluxo gastroesofágico associados à paralisia de laringe10; e em um cão da raça Sheepdog, ou Pastor Inglês, de quatro meses de idade com hérnia de hiato decorrente ao tétano11. Em humanos, existem relatos de hérnia de hiato associada à neoformações gástricas, dentre elas, o leiomiossarcoma12. O presente estudo relata um caso de hérnia hiatal e megaesôfago em um cão adulto da raça Shar-Pei associados ao leiomiossarcoma em cárdia gástrica. METODOLOGIA Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu - SP, um cão, macho, da raça Shar-Pei, de 13 anos de idade, com histórico de êmese, tosse noturna e dificultade de ingestão de alimento sólido. Proprietário relatou que animal sempre foi hígido, entretanto, há oito meses tem apresentado episódios de êmese espumosa pós-prandial e hematêmese um dia anterior ao atendimento, tosse noturna com secreção há duas semanas, aquesia há três dias, polidipsia há uma semana e cansaço após exercícios. Com base na anamnese e exame físico, os possíveis diagnósticos diferenciais foram hérnia de hiato, esofagite, megaesôfago adquirido e hipoadrenocorticismo. O animal foi direcionado ao setor de Diagnóstico por Imagem da FMVZ para a realização de exame radiográfico simples, nas projeções laterolateral direita e ventrodorsal da região cervical e torácica, e contrastado utilizando sulfato de bário (Bariogel® 100%) vio oral. Após o diagnóstico presuntivo, o animal foi submetido ao exame endoscópico e, em seguida, ao procedimento cirúrgico para remoção da estrutura em região extramural de cárdia e fundo gástrico para exame histopatológico. RESULTADOS E DISCUSSÃO O exame radiográfico simples demonstrou duas linhas radiopacas paralelas com distância de 4,42 cm entre si em trajeto esofágico torácico desde a região intratorácica até a porção caudal do tórax em sobreposição ao sétimo espaço intercostal associado ao importante desvio ventrolateral à direita do trajeto traqueal, desvio ventral da base cardíaca e opacificação em mediastino cranial e médio com abaulamento à esquerda, sugerindo dilatação esofágica. Em região dorsocaudal da cavidade torácica, na projeção laterolateral, e em região mediocaudal do tórax, na projeção ventrodorsal, foi visibilizado uma estrutura arredondada de radiopacidade tecidos moles medindo aproximadamente 8,18 cm de altura (figuras 1A e 2A). Em região cranial da cavidade abdominal, podese observar o desvio cranial do eixo gástrico. Para o esofagograma, foi realizado as projeções em 0 minutos (t=0), cinco minutos (t=5) e quinze minutos (t=15) após a administração do meio de contraste. Em t=0 foi observado conteúdo contrastado radiopaco e gasoso em trajeto esofágico cervical e intratorácico. Em trajeto esofágico torácico do terceiro até o sétimo espaços intercostais, nota-se apenas conteúdo contrastado radiopaco preenchendo o lúmen com diâmetro de até 3,41 cm, na projeção laterolateral direita, e até 4,75 cm sobrepondo a silhueta cardíaca, na projeção ventrodorsal. Após o sétimo espaço intercostal, na região média da estrutura caudal do tórax, há discreto conteúdo contrastado radiopaco filiforme até a região topográfica de cavidade gástrica (figuras 1B e 2B). Em t=5, o aspecto radiográfico em trajeto esofágico cervical e intratorácico mantevese, porém, entre o sexto e o sétimo espaços intercostais há aspecto de floculação (conteúdo radiopaco e gasoso), evidenciando abaulamento ventral do trajeto esofágico. Linha de contraste em estrutura caudal do tórax não se observa neste momento. Moderada progressão do meio de contraste em cavidade gástrica, observado em região de fundo gástrico e antro piloro, e em segmento duodenal de alça intestinal. Em t=15, aspecto radiográfico semelante ao t=0 em trajeto esofágico cervical e torácico com a linha de contraste em região da estrutura mediastinal caudal sem preenchimento por completo da mesma. Progressão do meio de contraste da cavidade gástrica para segmentos duodenal e jejunal de alça intestinal com conteúdo gasoso em permeio. Diagnóstico radiográfico sugerido foi hérnia de hiato, intussuscepção gastroesofágica, neformação esofágica, mediastinal ou pulmonar, e corpo estranho esofágico, que são condições citadas em literatura para estes achados radiográficos 6. Foi realizada endoscopia esofágica confirmando o diagnóstico de hérnia hiatal com protrusão da cárdia e parte do fundo gástrico para o lúmen esofágico torácico associado à neoformação desta região herniada. Logo após, o animal foi submetido ao procedimento cirúrgico para a remoção da estrutura e encaminhado o material para o Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 64 exame histopatológico, onde foi diagnosticado leiomiossarcoma. Devido animal não haver histórico clínico ou exames radiográficos torácicos anteriormente sugestivos de hérnia de hiato, acredita-se em duas hipóteses: que a hérnia de hiato e o megaesôfago foram condições adquiridas, secundárias à neoplasia pelos recorrentes episódios de êmese; ou que o animal era portador da condição congênita, porém, assintomático, sendo diagnosticada decorrente a sintomatologia causada pela neoplasia gástrica. Figura 1. Projeção radiográfica laterolateral direita. A) Radiografia simples demonstrando a dilatação esofágica por conteúdo gasoso e o efeito de massa em região dorsocaudal do tórax. B) Esofagograma em T=0 demonstrando conteúdo contrastado e gasoso em trajeto esofágico e discreto conteúdo contrastado filiforme na região das estruturas herniadas. Figura 2. Projeção ventrodorsal. A) Radiografia simples demonstrando abaulamento de radiopacidade tecidos moles sobrepondo a base cardíaca à esquerda e o efeito de massa em região mediocaudal do tórax. B) Esofagograma em T=0 demonstrando conteúdo contrastado radiopaco sobrepondo a silhueta cardíaca. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1-BURK, R.L.; ACKERMAN, N. In: ______. Small animal radiology and ultrasonography: a diagnostic atlas and text. 2 ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1996, p. 73-78. 2-KEALY, J.K. In: ______. Diagnostic radiology of the dog and cat. 2 ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company, 1987, p. 22. 3-WILLARD, M.D. In: NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 4 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 421. 4-RANDALL, E.K.; PARK, R.D. In: THRALL, D.E. Textbook of veterinary diagnostic radiology. 6 ed. St. Louis: Elsevier, 2013. p. 543-544. 5-WASHABU, R.J. In: 73º Congresso Internazionale Multisala – SCIVAC, Rimini, Italy, Anais: 490-491, 2012. 6-WATROUS, B.J. In: THRALL, D.E. Diagnóstico de radiologia veterinária. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 509. 7-AUGER, J.M.; RILEY, S.M. Can. Vet. J., 38 (10): 640-642, oct.1997. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 65 8-BAIG, M.A.; GEMMILL, T.; HAMMOND, G. et al. Vet. Rec., 159 (10): 322-323, 2006. 9-HARDIE, E.M. et al. J. Vet. Intern. Med., 12 (4): 279-278, jul/aug.1998. 10-BURNIE, A., SIMPSON, J. & CORCORAN, B. J. Small. Anim. Pract., 30 (7): 414-416, jul.1989 11-ACKE, E.; JONES, B.R.; BREATHNACH, R. et al. Irish. Vet. J., 57 (10): 593-597, oct.2004. 12-SMITHERS, D.W. Br. J. Radiol., 28 (334): 554-564, oct.1955. 26. HIPERPARATIREOIDISMO NUTRICIONAL SECUNDÁRIO EM FELINO – RELATO DE CASO SHAYRA PERUCH BONATELLI1; JOÃO AUGUSTO LEONEL DE SOUZA2; LETÍCIA ROCHA INAMASSU3; LIDIANE DA SILVA ALVES4; MURILO GOMES DE SOUTELLO CHARLIER5; MARIA JAQUELINE MAMPRIM 6 1-Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 2-Residente em Medicina Veterinária, área de Cirurgia de Pequenos Animais – FMVZ – Dpto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária,, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 3- Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 4 -Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 5- Residente em Medicina Veterinária, área de Radiologia Veterinária – FMVZ – Dpto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. 6- Profª Adjunta de Radiologia Veterinária – FMVZ – FMVZ – UNESP –Botucatu, SP. Brasil. Endereço da instituição: Distrito de Rubião Junior, s/n – Botucatu – SP, Depto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária. e-mail para correspondência: [email protected] ABSTRACT BONATELLI, S.P.; SOUZA, J.A.L.; INAMASSU, L.R.; ALVES, L.S.; CHARLIER, M.G.S.; MAMPRIM, M.J. Nutritional Secondary Hyperparathyroidism in cat – Case Report. This paper reports the case of a domestic feline that was referred to the Veterinary Hospital of UNESP, Botucatu campus, with paraparesis. Radiographic examinations were performed. From the data obtained in the examinations and anamnesis was possible to reach the diagnosis of nutritional secondary hyperparathyroidism. This disease is currently rare because of the use of commercial feeds. However, it was formerly common, although there is just a few veterinary literature on this subject. It was concluded that the radiographic examination is an excellent tool to aid diagnosis of nutritional secondary hyperparathyroidism. KEYWORDS - Hyperparathyroidism, radiography, cat. INTRODUÇÃO O hiperparatireoidismo nutricional secundário é uma doença óssea metabólica generalizada caracterizada por osteopenia e causada por uma dieta pobre em cálcio, ou excessiva em fosfato ou ainda, ambos1. A deficiência dietética de cálcio ou o excesso de fósforo diminui a concentração sérica de cálcio, induzindo o aumento da secreção de paratormônio e a hiperplasia da glândula paratireoide 2. O excesso de paratormônio impede a mineralização do osteóide 3. Quando uma dieta é pobre em cálcio o organismo utiliza mecanismos compensatórios para balancear sua proporção como o aumento da absorção intestinal e diminuição da excreção renal desse mineral acompanhado da mobilização de cálcio dos ossos, considerados a maior reserva de cálcio do organismo6. Os animais acometidos apresentam rigidez e claudicação mais evidente nos membros posteriores, dor, constipação e os músculos abdominais apresentam-se distendidos e flácidos4. O método mais prático para o diagnóstico é a investigação radiológica em ossos longos ou esqueleto axial5. Apesar de as doenças do esqueleto terem sido comuns no passado, a literatura veterinária sobre hiperparatireoidismo nutricional secundário é bastante limitada. Com o advento da ração comercial nutricionalmente balanceada para animais de estimação o hiperparatireoidismo secundário nutricional se tornou uma doença rara. Entretanto, muitos cães e gatos ainda são alimentados com dietas exclusivas de carne, provavelmente por se ter a falsa impressão de essa ser a natureza do animal1. O presente trabalho relata o caso de um felino doméstico com queixa de paraparesia e aquezia. Inicialmente o animal foi encaminhado para exame radiográfico com suspeita de lesões traumáticas em coluna vertebral e pelve. O exame radiográfico revelou lesões compatíveis com hiperparatireoidismo nutricional secundário. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 66 METODOLOGIA Foi atendido no Hospital Veterinário da UNESP, campus de Botucatu um felino doméstico, macho, com quatro meses de idade tendo como queixa principal paraparesia ambulatória. O proprietário não descartava trauma por mordedura canina há três dias. Referia aquezia, anorexia, normúria e normodipsia. Ao exame físico, além da paraparesia ambulatória, foi possível detectar algia à palpação da coluna vertebral. Não foram observadas alterações nos parâmetros de frequências cardíaca e respiratória, temperatura retal e grau de hidratação. O animal foi encaminhado para o setor de Diagnóstico por Imagem para que fossem realizadas radiografias de pelve e coluna torácica, tóraco-lombar e lombar a fim de descartar lesões traumáticas nesses segmentos. Foram realizadas radiografias das regiões supracitadas nas projeções látero-lateral e ventro-dorsal. A técnica utilizada para as radiografias de coluna vertebral foi de 55 KVp / 200 mA / 8 mAs e para as radiografias da pelve foi utilizada a técnica radiográfica de 55 KVp / 250 mA / 5 mAs. O exame radiográfico foi realizado em aparelho digital da marca GE ® e modelo DR-F 5189248. A partir dos resultados obtidos nas radiografias, foram coletadas amostras de sangue para teste de hemograma, função renal, lesão hepática e dosagem de cálcio e fósforo. RESULTADOS E DISCUSSÃO O exame radiográfico do felino do presente relato apresentou desvio cifolordótico do eixo da coluna vertebral em segmento torácico, tóraco-lombar e lombar. As corticais ósseas apresentavam-se adelgaçadas, havia estenose do canal pélvico e osteopenia generalizada (figura 1). Foi possível visibilizar também, linhas de maior radiopacidade nos bordos epifisários das metáfises de ambas as tíbias. Entretanto não foram visibilizadas fraturas nos segmentos ósseos estudados. As alterações radiográficas observadas são mineralização inadequada dos ossos, que parecem ter quase a mesma densidade dos tecidos moles, crescimento normal dos discos epifisários, corticais extremamente delgadas, pode estar presente uma linha de maior radiopacidade nos bordos epifisários das metáfises, fraturas patológicas em ossos longos e em vértebras torácicas e lombares3. Em estudo realizado recentemente observou-se que somente dois dos dez animais contidos no experimento apresentaram fraturas patológicas4. O estreitamento do canal pélvico nos felinos acometidos por hiperparatireoidismo nutricional secundário tem sido descrito na literatura como consequência da conformação óssea dos felinos que são mais delgados e longos8. A pelve colapsada leva a complicações como constipação e disquesia 2. Durante a anamnese o proprietário revelou que o animal alimentava-se exclusivamente de carne moída. Nos animais alimentados com este tipo de dieta, a hiperfosfatemia gerada estimula a paratireoide indiretamente pela diminuição de cálcio sérico a liberar paratormônio. O aumento dos níveis deste hormônio produz maior absorção de cálcio dos intestinos e ossos e amplia a excreção de fósforo pelos rins. Nos ossos, há um aumento da atividade dos osteoclastos, com liberação do cálcio para a corrente sanguínea. A reabsorção de cálcio dos ossos resulta em osteoporose generalizada e alterações radiográficas difusas do esqueleto com redução da opacidade óssea7. Como sinais clínicos o animal apresentou como queixa principal a paraparesia ambulatória e aquezia. O aparecimento dos sintomas dá-se em geral entre 3 a 5 meses de idade3 conforme verificado no presente caso onde o animal apresentava 4 meses de idade. Animais severamente afetados podem apresentar paresia ou paralisia, fraturas em ossos longos, compressão de vértebras, constipação como resultado da diminuição dos diâmetros da pelve e até convulsões 3. Em recente relato verificou-se frequência respiratória, batimentos cardíacos e temperatura dentro dos parâmetros da normalidade8, o que também pode ser observado no presente caso. O exame de hemograma revelou-se dentro da normalidade. As dosagens de ureia e creatinina também se mostraram dentro dos padrões da normalidade, bem como a dosagem de ALT, cálcio e fósforo. Em experimento realizado recentemente4, os resultados mostram que não ocorreram variações estatisticamente significativas nos níveis séricos de cálcio e fósforo. Tal trabalho demonstra que os níveis séricos de fosfatase alcalina são mais fidedignos no diagnóstico de hiperparatireoidismo secundário nutricional, porém, este parâmetro sofre queda em um momento inicial e retorna ao seu patamar inicial posteriormente 4. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 67 Figura 1. A) Projeção látero-lateral direita. Visibilização de desvio cifolordótico da coluna vertebral e osteopenia. B) Projeção ventro-dorsal. Visibiliza-se adelgaçamento de corticais ósseas e estenose do canal pélvico. CONCLUSÃO Apesar de termos rações comerciais balanceadas, muitos animais ainda recebem dietas baseadas quase que exclusivamente em produtos cárneos, muito pobres em níveis de cálcio. A causa principal do hiperparatireoidismo nutricional secundário é a alimentação incorreta de filhotes, como as dietas deficientes em cálcio, por exemplo, as que são baseadas no uso de carne bovina, cereais, grãos e frutas 9. O exame radiográfico continua sendo o método mais prático de se diagnosticar o hiperparatireoidismo nutricional secundário. É um exame de fácil acesso que proporciona diversas informações permitindo chegar ao diagnóstico com um método de baixo custo ao proprietário e pouco invasivo ao animal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - DIMOPOULOU, M.; KIRPENSTEIJN, J.; NIELSEN, D.H.; BUELUND, L.; HANSEN, M.S. Vet. Comp. OrthopTraumatol., 23(1): 56-61, 2009. 2 – NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. São Paulo: Elsevier, 2010, p.717-722. 3 - CROCHIK, S.S.; IWASAKI, M.; STERMAN, F.A.; PRADA, F. Braz. J. vet. Res. Anim. Scie., 33(4): 239-243, 1996. 4 - RAHAL, S.C.; MORTARI, A.C.; CAPORALI, E.H.G.; VULCANO, L.C.; SANTOS, F.A.M.; TAKAHIRA, R.K.; CROCCI, A.J. Ciência Rural, 32(3): 421-425, 2002. 5 - HAZEWINKEL, H.A.W. Skeletal Disease. In: WILLS, J.M., SIMPSOM, K.W. The Waltham book of clinical nutrition of the dog and cat. Great Britain : Pergamon, 1994, p.395-423. 6 - MARTIN, S.L.; CAPEN, C.C. The endocrine system. In: PRATT, P.W. Feline medicine. 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Médica Veterinária Autônoma. 3; Médica Veterinária Residente (R2) do Setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário Luiz Quintiliano de Oliveira da Faculdade de Medicina Veterinária – UNESP – Campus de Araçatuba-SP 4. Médica Veterinária Residente (R1) do Setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário Luiz Quintiliano de Oliveira da Faculdade de Medicina Veterinária – UNESP – Campus de Araçatuba - SP 5. Graduando do 5º ano de Medicina Veterinária curricular - UNOESTE - Presidente Prudente - SP *UNESP-Campus de Araçatuba- FMVA - Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba. 1. ABSTRACT JOTTA, V.Y.; CIARLINI, L.D.P.; CREMASKI, M.; SILVA, V.C.; EUGÊNIO, F.R.; BELLEGARD, G.M.C.; PÁDUA, T.F.G.; SANTOS, I.A. It was attended in the FMVA Veterinary Hospital UNESP / Araçatuba – Brazil, a shar-pei breed dog, with seven months old and presenting vomit and diarrhea started 10 days ago, easy fadigue and pale mucous. In a simple x-ray exam, compartmentalized structures were observed with intraluminal gas in the caudal thoracic region associated with parcial loss of diaphragm visualization, suggesting diaphragmatic/hiatal hernia. Then it was performed a contrasted radiographic exam (barium swallow), revealing delayed progression of contrast in esophagus, associated with repletion of caudal thoracic structure, confirming gastric herniation to the mediastinal cavity and clinical suspicion of hiatal hernia. KEYWORDS: hiatal hernia, esophagusgraphy, shar-pei. INTRODUÇÃO Hérnia de hiato é uma anomalia majoritariamente congênita, prevalente em cães das raças Shar-pei1,12 e Bulldog inglês1,2 e em felinos da raça Domestic short hair3. A enfermidade é caracterizada pela protrusão de esôfago abdominal, junção gastroesofágica e /ou fundo gástrico através do hiato esofágico para a cavidade torácica em porção de mediastino caudal1. A diminuição da pressão no esfíncter gastroesofágico, causada pelo mau posicionamento ou falta de sustentação do mesmo, leva ao refluxo gastroesofágico e, consequentemente, esofagite e megaesôfago, alterações estas responsáveis por alguns dos sinais clínicos apresentados1,4. Já foi demonstrado que a hérnia hiatal está associada às manifestações mais severas da síndrome braquicefálica5. Foi relatada ocorrência da mesma como consequência de hérnia diafragmática crônica, sendo desenvolvida aproximadamente uma semana após sua correção cirúrgica2. Em um estudo realizado por Alves et al.6 com cães Golden retriever portadores de distrofia muscular, foi observada frequente aparição de megaesôfago e hérnia de hiato nos animais acompanhados. Casos de hérnia de hiato e megaesôfago secundários à infecção por Clostridium tetani já foram descritos no país, totalizando quatro casos em caninos com desenvolvimento de hérnia hiatal transitória7,8,9. As hérnias de hiato são classificadas de acordo com a abertura parcial ou completa do hiato, se é intermitente ou permanente e com as estruturas herniadas2: a) deslizante ou axial, quando ocorre a protrusão da junção gastroesofágica para mediastino cranial1,10,4,13, sendo esta do tipo intermitente2,4,13, mais prevalente em cães e geralmente de caráter congênito11; b) paraesofágica, quando a junção gastroesofágica permanece tópica e ocorre o deslocamento do fundo gástrico, podendo acompanhar o deslizamento de outras vísceras abdominais1,10, usualmente é estática2,4 (Figura 1). A herniação da cavidade gástrica pode causar obstrução parcial ou total do esôfago através da pressão externa no esôfago caudal11,4. Os animais acometidos geralmente apresentam sinais clínicos antes de um ano de idade, sendo observados angústia respiratória, anorexia e perda de peso1 êmese, hipersalivação1,4, disfagia1,10,4, regurgitação10,4 e hematêmese1,10; porém muitos animais permanecem assintomáticos. Pode ocorrer pneumonia aspirativa secundária aos episódios de regurgitação1. O diagnóstico pode ser realizado através de exame radiográfico simples, observando-se, em projeção lateral, massa arredondada de radiopacidade água ou estrutura com conteúdo gasoso, de tamanho variado localizado em região torácica caudodorsal, com perda parcial da visualização de cruras diafragmáticas1,10,11. Caso haja segmento intestinal herniado e estrangulado, poderão ser visualizadas alças intestinais dilatadas por conteúdo gasoso proximal à porção herniada com dilatação da mesma13. Em projeção ventrodorsal, visualiza-se efeito de massa em continuidade com a crura diafragmática esquerda, diminuição da bolha gástrica normal10,11, com alteração do formato habitual do cárdia e fundo gástrico remanescente11. Geralmente as hérnias hiatais são dinâmicas e apresentam-se diferenciadas em projeções subseqüentes11. Caso a hérnia seja do tipo deslizante, várias radiografias podem ser necessárias para confirmação diagnóstica, uma vez que este tipo pode ser intermitente. Diversos graus de dilatação de esôfago torácico e pneumonia aspirativa são Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 69 rotineiramente encontrados nestes casos1, corroborando com os achados de Callan et al,12 que relataram a ocorrência de onze casos de hérnia hiatal em shar peis, sendo observado megaesôfago e pneumonia aspirativa em sete casos (63,3% dos casos) 12. O exame radiográfico contrastado (esofagograma e gastrograma) é particularmente útil na identificação da junção gastroesofágica e/ou pregas gástricas cranialmente ao diafragma1,10,11,4. A junção gastroesofágica é identificada como uma constrição regular de 1-2cm, concêntrica em região de esôfago caudal em coluna de contraste próximo ao segmento gástrico, caracterizando a hérnia em axial ou paraesofágica10,11,4. Porções variáveis de pregas gástricas lineares estão presentes em continuidade ao esôfago caudal em cavidade torácica, em hérnias paraesofágicas11. Em hérnias hiatais deslizantes, pode-se ainda inclinar o animal com a cabeça para baixo para provocar o deslizamento do fundo gástrico para a cavidade torácica, facilitando assim a identificação da hérnia, uma vez que a mesma é intermitente13. A fluoroscopia é o método diagnóstico de eleição em casos de suspeita de hérnia intermitente1,13, provendo informações adicionais tais como hipomotilidade esofágica e refluxo gastroesofágico1. Devem ser considerados diagnósticos diferenciais de hérnia de hiato as enfermidades resultantes em regurgitação, tais como massas extraluminais esofágicas, divertículo esofágico, megaesôfago1, anomalia do anel vascular, corpo estranho esofágico, estenose, neoplasia1,11, intussuscepção, neoformações pulmonares11 e diafragmáticas4. O tratamento médico consiste no tratamento paliativo dos sintomas podendo ser realizado por um período de trinta dias, e, se não houver resposta positiva, deve ser instituída a correção cirúrgica1. As técnicas cirúrgicas para correção de hérnia de hiato foram amplamente descritas na literatura, consistindo basicamente na redução do conteúdo herniado, plicatura da falha diafragmática, esofagopexia e fundogastropexia1, técnica esta descrita por Prymac et al 14, sendo obtidos resultados variando de bons a excelentes em quatro cães e um gato. Os animais assintomáticos, os responsivos ao tratamento médico e os sintomáticos submetidos à correção cirúrgica têm prognóstico bom1. RELATO DE CASO O presente relato tem por objetivo descrever os aspectos radiográfico de um caso de hérnia de hiato atendido pelo Hospital Veterinário da FMVA – UNESP/Araçatuba – Brasil, colaborando desta forma para o diagnóstico radiográfico diferencial de outras enfermidades esofágicas e ressaltando a importância dos exames auxiliares de imagem e definição da opção terapêutica. Em novembro de 2010 foi atendido um cão da raça Shar-pei, macho, com sete meses de idade, apresentando emagrecimento, cansaço fácil, regurgitação de conteúdo alimentar, diarréia iniciados há 10 dias e histórico de pneumonia. O paciente foi encaminhado ao setor de Radiologia veterinária para exame radiográfico de região cervical e torácica com a suspeita clínica de megaesôfago ou corpo estranho esofágico. Ao exame radiográfico simples, observou-se presença de estruturas compartimentalizadas com conteúdo gasoso intraluminal em região torácica caudal, associada à perda parcial de visualização de cúpula diafragmática, sugerindo hérnia diafragmática/hiatal (Figura 2). Foi efetuado, então, exame radiográfico contrastado (trânsito gastrintestinal) para confirmação da suspeita clínica. Realizou-se a administração de contraste positivo à base de sulfato de bário (Bariogel®), via oral, na dose de 12 ml/kg sendo realizadas radiografias seriadas em tempos pré-determinados, de acordo com Kealy & McAllister13. Visualizou-se retardo da progressão do meio de contraste em esôfago, associado à repleção pelo mesmo da estrutura torácica, confirmando herniação de cavidade gástrica para mediastino caudal e suspeita clínica de hérnia de hiato (Figura 2). De acordo com os sinais radiográficos, pode-se classificá-la em hérnia de hiato paraesofágica, devido ao deslocamento do fundo gástrico e manutenção de topografia de junção gastroesofágica. Após elucidação diagnóstica, o paciente foi encaminhado ao setor de Cirurgia, onde realizou-se herniorrafia com esofagopexia e gastropexia. O procedimento cirúrgico foi efetuado com sucesso e o animal permaneceu internado por dois dias para administração de medicamentos e realização de fluidoterapia parenteral. Uma semana após a cirurgia o paciente retornou para retirada dos pontos e reavaliação geral, recebendo alta. RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme já descrito por Hedlund et al. 1, o histórico de cansaço fácil, regurgitação e pneumonia prévia, provavelmente secundário à aspiração de conteúdo alimentar foram observados na época em que o paciente foi desmamado e que, associados à maior predisposição racial à hénia de hiato, enfatizam a importância em se considerar a hérnia de hiato diagnóstico diferencial nos cães da raça sher-pei, conforme 1 e 12. De acordo com Lorinson & Bright3 e Prymac et al.14 a hérnia de hiato é uma enfermidade de ocorrência incomum na clínica de pequenos animais. Este dado pode ser devido à dificuldade de confirmação diagnóstica através dos exames de imagem disponíveis pelo médico veterinário, que nem sempre tem acesso à utilização de técnicas contrastadas, fluoroscopia ou endoscopia. Os achados radiográficos ao exame simples, tais como presença de estruturas com conteúdo gasoso em cavidade torácica caudal e perda parcial de visualização de cúpula diafragmática; e ao exame contrastado, entre eles Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 70 prenchimento da estrutura por contraste, evidenciando protrusão de fundo gástrico e manutenção de topografia de junção gastroesofágica são já foram amplamente descritos em literatura1,4,10,11,12,13, ressaltando o valor do diagnóstico por imagem, mesmo quando ausente o método diagnóstico de eleição (Fluoroscopia)1,13. CONCLUSÃO Conclui-se então, que a avaliação radiográfica simples e contrastada constituiu um meio diagnóstico auxiliar essencial na elucidação diagnóstica permitindo definir a opção terapêutica adequada, que, por sua vez, garantiu um bom prognóstico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 . HEDLUND, C.S.; FOSSUM, T.W. Cirurgia o sistema digestório. In: FOSSUM, T.W.; HEDLUND, C.S.; JOHNSON, A.L.; SCHULZ, K.S.; SEIM III, H.B. Cirurgia de pequenos animais. 3ed: Rio de Janeiro, 2008. p.339-530. 2 . FARROW, C.S. Stomach disorders. In FARROW, C.S. Veterinary diagnostic imaging: the dog and cat. 1 ed. China: Mosby, 2003. p.594-613. 3 . LORINSON ,D.; BRIGHT, R.M. Long-term outcome of medical and surgical treatment of hiatal hernia in dogs and cats: 27 cases (1978-1996). J. Am. Vet. Med. Assoc. 1998;213:381-384. 4 . PARK, R.D. The diaphragm. In Thrall DE. Textbook of veterinary diagnostic radiology. St. Louis: Saunders, 2007. p. 525-540. 5 . HARDIE, E.M.; RAMIREZ-III, O.; CLARY, E.M.; KORNEGAY, J.N.; CORREA, M.T.; FEIMSTER, R.A. Abnormalities of the thoracic bellows: stress fractures of the ribs and hiatal hérnia. J. Vet. Int. Med. 1998;12:279287. 6 . ALVES, F.R.; FEITOSA, M.L.T.; GATTI, A.; FADEL, L.; UNRUH, S.M.; AMBRÓSIO, C.E. Imagem radiográfica da cavidade torácica de cães Golden Retriever acometidos pela distrofia muscular. Pesq. Vet. Bras. 2009; 29:99-104. 7 . GAIGA, L.H.; PIGATTO, J.A.T.; BRUN, M.V. Megaesôfago e hérnia de hiato esofágico associados ao tétano em um cão: relato de caso. Revista FMVZ. 2006;13: 145-152. 8 . DHIRMAN, R.K.; CHOUDHURI, G.; BARONIA, A.K.; GAUR, A.; SINGH, P.K.; KOHLI, A.. Transient achalasia of esophagus in tetanus. Indian J. Gastroenterol. 1992;11:139-140. 9 . DIERINGER, T.M.; WOLF, A.M. Esophageal hiatal hernia and megaesophagus complicating tetanus in two dogs. J. Am. Med. Assoc. 1991, 199:87-89. 10 . O’BRIAN, T.R. Esophagus. In: O’BRIAN, T.R.; BIERY, D.N.; PARK, R.D.; BARTELS, J.E. Radiographis diagnosis of abdominal disorders in the dog and cat. 1ed: Philadelphia, 1978, p. 141-203. 11 . WATROUS, B.J. ESOPHAGUS. In: THRALL, D.E. Textbook of veterinary diagnostic radiology. St. Louis: Saunders, 2007. p. 495-511. 12 . CALLAN, M.B.; WASHABAU, R.J.; SAUNDERS, H.M.; KERR, L.; PRYMAC, C.; HOLT, D. Congenital esophageal hiatal hernia in the Chinese Shar-pei dog. J. Vet. Int. Med. 1993;4:210-215. 13 . KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. O abdomen. In: KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. Radiologia e ultrasonografia do cão e do gato. 3ed. Barueri: Manole, 2005, p.19-148. 14 . PRYMAC, C.; SAUNDERS, H.M.; WASHABAU, R.J. Hiatal hernia repair by restoration and stabilization of normal anatomy: an evaluation in four dogs and one cat. Vet. Surg. 1989;18:386-301. 15 . FOSSUM, T.W. Small Animal Surgery - Fourth Edition. Missouri: Elsevier Inc. 2013, 1619p. TABELAS E FIGURAS Figura 1. Esquema ilustrando a junção gastro esofágica normal (A); e anormalidades hiatal (de B até E). Hérnia hiatal axial (B). Hérnia hiatal paraesofágica (C). Combinação de hérnia hiatal axial e paraesofágica (D). Inssusepção gastro esofágica (E). Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 71 Adaptado de: FOSSUM (2013) Figura 2. Projeções radiográficas simples látero lateral direita (A) e ventrodorsal (B) de tórax, evidenciando estruturas compartimentalizadas com conteúdo gasoso em porção caudal de tórax e perda parcial de visualização de cúpula diafragmática. (C) Projeção látero lateral direita de tórax após administração de meio de contraste positivo à base de sulfato de bário, evidenciando repleção de cavidade gástrica pelo mesmo, associada ao deslocamento de fundo gástrico para cavidade torácica. B A Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 C 72 28. AGENESIA DE RÁDIO EM UM CÃO – RELATO DE CASO BÁRBARA CRISTINA SANSON¹; LEONARDO GASPARETO DOS SANTOS2; VERÔNICA MOLLICA GOVONI3; JOSÉ FERNANDO IBANEZ4; SIMONE TOSTES DE OLIVEIRA STEDILE4; TILDE RODRIGUES FROES4 1 Residente de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário, *UFPR campus Curitiba; Residente de Clínica Médica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário, UFPR campus Curitiba; 3 Residente de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais do Hospital Veterinário, UFPR campus Curitiba; 4 Professores do Departamento de Medicina Veterinária, UFPR campus Curitiba; Rua dos Funcionários, 1540, CEP 80.035-050 – Cabral – Curitiba – PR e-mail: [email protected] 2 ABSTRACT SANSON, B.C.; SANTOS, L.G.; GOVONI, V.M.; IBANEZ, J.F.; OLIVEIRA, S.T.; FROES, T.R. AGENESIA OF THE RADIUS IN A DOG – CASE REPORT. A 6-year-old 5,8kg intact male Lhasa Apso was admitted to the Veterinary Hospital of Federal University of Parana with congenitally malformed left forelimb. Physical examination showed pain and severe loss of axis alignment. In order to establish differential diagnosis the radiography of the limb was performed, and revealed complete absence of the radius, distal epiphysis of ulna and accessory carpal bone with no signs of congruency between ulna and carpal bones. KEYWORDS: hemimelia, radius, dog. INTRODUÇÃO As más-formações em extremidades variam nas suas manifestações, que vão desde a ausência de uma estrutura única até a ausência parcial ou completa dos membros, podendo afetar tíbia, radio, ulna, embora metacarpo, metatarso e falanges também podem ser acometidas. 1 Hemimelia radial é uma anomalia congênita caracterizada pela ausência parcial ou total do radio2, que pode incluir: amelia, ectrodactilia, polidactilia e sindactilia.3,4,5,6 A agenesia radial é considerada rara, sendo a hemimelia longitudinal a mais frequente.7 Esta pode ocorrer bilateralmente, porém na maioria das vezes sua apresentação é unilateral.7,8 O principal sinal clínico consiste no desvio angular do membro afetado, causando alterações na função do mesmo.2, 7,10 Sua ocorrência é possível em diferentes espécies, porém a mais acometida é a felina.9,7,8 A radiografia do membro pode auxiliar na identificação da alteração no momento ou logo após o nascimento1, mostrando a ausência das estruturas ósseas com má-formação do membro, menor que o normal e com acentuada curvatura. O objetivo deste trabalho é apresentar o relato de caso do cão com agenesia completa de rádio unilateral e suas demais alterações radiográficas encontradas neste membro. METODOLOGIA Relato de caso do canino, macho, 06 anos de idade, raça Lhasa Apso, peso 5,8kg, inteiro. Chegou ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) tendo como queixa principal desvio angular congênito em membro torácico esquerdo. Segundo o proprietário, o animal nunca apoiou o referido membro e ao exame físico apresentou dor no exame ortopédico. Parâmetros fisiológicos como temperatura, frequências cardíaca e respiratória, tempo de preenchimento capilar, coloração de mucosas, pulso, grau de hidratação, escore corporal apresentavam-se normais. No mesmo dia, para estabelecimento de diagnósticos diferenciais e triagem do paciente, foram solicitados exames complementares como hemograma completo, bioquímicos (ALT, FA, Uréia e Creatinina) e radiografia do membro. Foram realizadas radiografias com digitalização (Agfa Healthcare CR-30-X, DS5302, Mortsel, Bélgica) do membro em duas projeções: craniocaudal/ dorsopalmar (Figura A) e mediolateral (Figura B). Ao exame radiográfico do membro torácico esquerdo (Figuras A e B) observou-se severa perda de alinhamento do eixo ósseo, apresentando desvio angular varus e incongruência articular carpoulnar, sem sinais radiográficos aparentes de união entre eles. Observou-se também ausência completa de rádio, epífise distal de ulna, osso acessório do carpo e ausência do primeiro dígito (falanges proximal, média e distal), com perda de definição dos ossos carpianos e de suas interlinhas radiológicas, aumento de radiopacidade em tecidos moles adjacentes aos membros e às articulações umeroulnar e do carpo. RESULTADOS E DISCUSSÃO A hemimelia completa de rádio não é comum em cães e gatos2 e é geralmente unilateral.10 A ausência ou formação incompleta do rádio em pequenos animais causa severas anormalidades funcionais nos membros afetados como a perda de alinhamento do eixo ósseo, ausência de estruturas ósseas e doença articular degenerativa associada5, em casos de diagnóstico tardio, como apresentado neste relato. A primeira hipótese para a agenesia radial é essencialmente embrionária, como consequência de uma lesão na crista neural e falta de interação entre o ectoderma e o mesoderma apicais5,10, já a ausência do primeiro dígito e formação do osso carpal radial é devido ao desenvolvimento anormal do broto medial do Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 73 membro.2 Porém há relatos também de ter a possibilidade de associação com a causa ambiental e fatores teratogênicos como exposição a toxinas in utero. Apesar de o presente relato ser de um animal da espécie canina, observou-se que a maioria dos casos relatados na literatura de agenesia radial foi na espécie felina, ressaltando a importância deste trabalho. Figuras A e B – Imagens radiográficas do cão Lhasa Apso com agenesia de rádio de membro torácico esquerdo. A) Projeção craniocaudal/ dorsopalmar; B) Projeção mediolateral. Nota-se nas duas projeções a severa perda de alinhamento do eixo ósseo, dificultando a realização de um posicionamento adequado. Observa-se também a ausência do rádio, epífise distal da ulna, acessório do carpo, primeiro dígito e pobre definição dos ossos carpianos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. POLLARD, R.E.; WISNER, E.R. In: THRALL, D.E. Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology. St. Louis: Elsevier Saunders, 2013, p.271-273. 2. ALAM, M.R.; HEO, S.Y.; LEE, H.B.; KIM, Y.J.; PARK, K.C.; LEE, K.C.; CHOI, I.H.; KIM, N.S. Veterinarni Medicina, 51 (3): 118-123, 2006. 3. BARRAD, K.R; CORNILLIE, P.K. J. Small Anim. Pract. 49 (5): 252–253, 2008. 4. LEWIS, R.E.; VAN SICKLE, D.C. J. Am. Vet. Med. Assoc., 156 (12): 1892-1897, 1970. 5. LOCKWOOD, A; MONTGOMERY, R.; MCEWEN, V. Vet. Comp. Orthop. Traumatol, 22 (6): 511-513, 2009. 6. TOWLE, H.A.M; BREUR, G.J. J. Am. Vet. Med. Assoc., 225 (11): 1685–1692, 2004. 7. JOHNSON, K.A.; WATSON, A.D.J.; PAGE, R.L. Skeletal diseases. In: ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Textbook of veterinary internal medicine diseases of the dog and cat. Philadelphia: 1995, p.2077-2103. 8. MANLEY, P.A.; AMUDSON ROMICH, J. Miscellaneous orthopedic diseases. In: SLATTER, O.H. Textbook of Small Animal Surgery. Philadelphia: 1993, p.1992-1993. 9. JEZYK P.F. Constitutional disorders of the skeleton in dogs and cats. In: NEWTON, C.D.; NUNAMAKER D.M. Textbook of Small Animal Orthopaedics, Philadelphia:1985, p.646-647. 10. WINTERBOTHAM, E.J.; JOHNSON, K.A.; FRANCIS, D.J. J. Small Anim. Pract., 26 (7): 393398, 1985. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 74 29. DETERMINAÇÃO DOS PARÂMETROS RADIOGRÁFICOS CARDÍACOS NORMAIS EM COELHOS DA RAÇA NOVA ZELÂNDIA BÁRBARA CRISTINA SANSON1; AMÁLIA TURNER GIANNICO2; ELAINE MAYUMI UENO GIL2; DANIELA APARECIDA AYRES GARCIA3; TILDE RODRIGUES FROES4 1 Residente do Setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário, UFPR campus Curitiba; Mestrandas do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, UFPR campus Curitiba; Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, UFPR campus Curitiba; 4 Professora Adjunta III do Departamento de Medicina Veterinária, UFPR campus Curitiba; Rua dos Funcionários, 1540, CEP 80.035-050 – Cabral – Curitiba – PR e-mail: [email protected] 2 3 ABSTRACT SANSON, B.C.; GIANNICO, A.T.; GIL, E.M.U.; GARCIA, D.A.A.; FROES, T.R. DETERMINATION OF NORMAL HEART RADIOGRAPHIC PARAMETERS IN NEW ZEALAND WHITE RABBITS. For a correct diagnosis of heart disease it is necessary to have knowledge of normal heart parameters. Fifty clinically healthy unsedated New Zealand white rabbits were studied in order to establish well-tolerated and repeatable techniques. Thoracic digital radiographs were obtained using standard radiographic techniques. A subjective analysis of the cardiac silhouette and objective measurements using the vertebral heart score were made. These normal values will assist in the diagnosis of cardiac disease in rabbits. KEYWORDS: cardiology, cardiac reference, Oryctolagus cuniculus. INTRODUÇÃO Coelhos domésticos (Oryctolagus cuniculus) estão cada vez mais populares como pet exóticos.1 Apesar deste aumento na popularidade, pouco se sabe sobre sua incidência, diagnóstico e tratamento de doenças cardiovasculares.2 Há poucos estudos sobre parâmetros cardíacos normais nessa espécie, sendo assim necessário instituir valores de referência.2,3,4,5,6 Estes contribuem na formação de um diagnóstico definitivo e assim, tratamento adequado.3 O exame radiográfico (RX) é um dos métodos de diagnóstico para a avaliação das vias aéreas, bem como a forma e tamanho cardíaco, tal como descrito em outras espécies.7 Coelhos podem desenvolver doença cardíaca valvar, miocardiopatias e arritmias, sendo assim necessário o conhecimento de parâmetros cardíacos normais para um diagnóstico correto de anormalidades do sistema cardiovascular. O objetivo deste estudo foi estabelecer uma técnica de RX reprodutível em coelhos saudáveis da raça Nova Zelândia e determinar valores de referência para estes animais. METODOLOGIA Radiografias torácicas foram realizadas em 50 coelhos da raça Nova Zelândia, sendo 22 machos e 28 fêmeas, com seis meses de idade, pesando entre 2,1 e 3 kg. Todos os animais foram considerados saudáveis com base no exame físico realizado por veterinário especializado em animais exóticos. Na auscultação cardiopulmonar não se observou aumento ou diminuição dos sons, sopros ou alterações do ritmo cardíaco. Foram realizadas radiografias digitais (Agfa Healthcare CR-30-X, DS5302, Mortsel, Bélgica utilizados com técnica de 50-65 kVp e 200 mAs) do tórax em três projeções (lateral esquerda, lateral direita e ventrodorsal). Para as projeções laterais, os animais foram colocados em decúbito lateral direito e esquerdo e os membros torácicos estendidos cranialmente para evitar a sobreposição dos músculos braquiais sobre o mediastino cranial e coração. A projeção ventrodorsal foi obtida com os animais em decúbito dorsal com os membros torácicos estendidos cranialmente para evitar a sobreposição das escápulas sobre os campos pulmonares. As radiografias foram avaliadas por um radiologista membro do Colégio Brasileiro de Radiologia Veterinária que fez as análises da silhueta cardíaca. O tamanho cardíaco foi medido em duas projeções (lateral direita e lateral esquerda), utilizando o método Vertebral Heart Scale (VHS), como descrito por alguns autores.8,9,10 O teste Shapiro-Wilk de normalidade foi realizada para demonstrar a distribuição do erro dos dados normais. Para todos os parâmetros de cada animal foi calculada a média das duas medições separadas. Quando aplicável, as análises estatísticas das medições, incluindo análises estatísticas descritivas completas e testes-t foram realizadas utilizando StatView (SAS Institute Inc., Cary, NC, EUA). Os dados foram considerados estatisticamente significativos quando P<0,05. Todos os procedimentos foram conduzidos de acordo com o Comitê de Ética de Animais da universidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os coelhos tem uma pequena cavidade torácica em relação ao tamanho do tronco, fato observado nas radiografias de tórax. Como resultado, a interpretação de anomalias cardíacas e pulmonares pode ser um Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 75 desafio. Nas projeções torácicas laterais direita e esquerda, a margem cranial do coração foi frequentemente indistinguível da opacidade de tecido mole e do mediastino cranial, composto pelo timo e pela gordura torácica. Da mesma forma, a carina também foi de difícil identificação nas projeções laterais. As margens da silhueta cardíaca foram visualizadas a partir da segunda costela até a borda caudal da quinta costela. A carina quando visível é posicionada ao nível da quarta vértebra torácica, tal como ilustrado nas Figs. 1A e 1B. Na projeção ventrodorsal o ápice oval da silhueta cardíaca estava posicionado no centro da coluna vertebral, com pouco contato diafragmático (Fig. 1C). Os grandes vasos sanguíneos (veia cava caudal e aorta) não foram claramente visíveis em qualquer projeção. O VHS na projeção lateral direita foi de 7,60 ± 0,39 vértebras e na projeção lateral esquerda foi 7,94 ± 0,54 vértebras. Todas as medições foram significativamente maiores na projeção lateral esquerda quando comparado às radiografias da projeção lateral direita, como mostra a Tabela 1. Não houve diferença significativa entre machos e fêmeas (P>0,05). Este estudo foi realizado em coelhos saudáveis e, assim, estabelece intervalos referentes a valores cardíacos normais. Coelhos da raça Nova Zelândia atingem a maturidade em cerca de seis meses de idade e, assim, os valores obtidos neste estudo são representativos de animais maduros.11 Os intervalos de referência estabelecidos aqui serão úteis no diagnóstico de doença cardiorrespiratória em coelhos. A radiografia é uma ferramenta de diagnóstico particularmente útil porque permite a avaliação de toda a cavidade torácica e órgãos torácicos, que podem revelar doenças sistêmicas e/ou sugerir diagnósticos diferenciais.12,13 O tamanho da silhueta cardíaca é uma importante maneira de diferenciar um coração normal de um coração aumentado. O VHS é uma ferramenta bastante utilizada para quantificar o tamanho cardíaco e tem sido amplamente utilizado em cães 8,14, gatos 9, furões 15 e coelhos.3 No nosso estudo, as radiografias torácicas de coelhos revelaram surpreendentemente uma pequena caixa torácica em comparação com o tamanho do tronco. Ao contrário de outras espécies, o coração de um coelho é mais cranial em projeções laterais e o seu bordo cranial está em contato com a gordura intratorácica, que dificulta a determinação precisa da borda cardíaca. Como resultado, a interpretação de radiografias torácicas não é uma tarefa fácil mesmo para um radiologista experiente. Os resultados deste estudo indicam que medidas de VHS realizadas a partir de vistas laterais torácicas são imprecisas e podem resultar em medidas falsamente aumentadas. Em algumas, porém não em todas as doenças cardíacas de cães e gatos, o VHS sofre aumento, o que pode também ocorrer nos coelhos.13 Assim, a interpretação radiográfica da silhueta cardíaca deve sempre ser utilizada em conjunto com a avaliação ecocardiográfica. Uma limitação do estudo é que apenas animais jovens e saudáveis foram utilizados. Estudos com animais de diferentes idades sem alterações cardiovasculares devem ser realizados para obter medidas de VHS de um grupo de coelhos mais amplo. Doenças cardíacas comuns em coelhos são a endocardiose das valvas mitral e tricúspide, geralmente em animais idosos.2,16 As miocardiopatias como a miocardiopatia dilatada, miocardiopatia hipertrófica e miocardiopatia restritiva também foram diagnosticadas.2 O diagnóstico ante-mortem definitivo para estas doenças é por meio da ecocardiografia. A radiografia de tórax é recomendada e deve ser realizada para melhor avaliar o sistema respiratório, sendo insuficiente sua contribuição para o diagnóstico e prognóstico de doenças cardíacas. Desta maneira, os autores não recomendam o uso do RX para esse fim já que o exame ecocardiográfico é o exame complementar de escolha. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 76 Fig. 1 – Posicionamento radiográfico do tórax de um coelho da raça Nova Zelândia. (A) Radiografia em projeção lateral direita. (B) Radiografia em projeção lateral esquerda. Nota-se a dificuldade em determinar a borda cranial do coração pela gordura e coração serem mais craniais. (C) Radiografia em projeção ventrodorsal. Tabela 1 – Medidas do tamanho cardíaco realizadas nas radiografias digitais nas projeções lateral esquerda e direita em 50 coelhos da raça Nova Zelândia. Parâmetro Média ± DP Mínimo Máximo Intervalo de confiança Peso (kg) 2,64 ± 0,20 2,12 2,99 2,25 – 3,03 LD-EC (v) 3,21 ± 0,20 2,80 3,80 2,83 – 3,59 LD-EL (v) 4,39 ± 0,27 4,00 4,90 3,86 – 4,93 VHS lateral direita (v) 7,60 ± 0,39 7,00 8,40 6,83 – 8,38 LE-EC (v) 3,44 ± 0,37 2,80 4,30 2,72 – 4,16 LE-EL (v) 4,50 ± 0,27 3,90 4,90 3,96 – 5,03 VHS lateral esquerda (v) 7,94 ± 0,54 7,00 9,10 6,88 – 9,00 DP, desvio padrão; v, número de vértebras; LD-EC, eixo curto na projeção lateral direita; LD-EL, eixo longo na projeção lateral direita; VHS, vertebral heart scale; LE-EC, eixo curto na projeção lateral esquerda; LEEL, eixo longo na projeção lateral esquerda. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. FONTES-SOUSA, A.P.; BRÁS-SILVA, C.; MOURA, C.; AREIAS, J.C.; LEITE-MOREIRA, A.F. Am. J. Vet. Res., 67 (10): 1725–1729, 2006. 2. PARIAUT, R. Vet. Clin. North Am. Exot. Anim. Pract., 12 (1): 135–144, 2009. 3. ONUMA, M.; ONO, S.; ISHIDA, T.; SHIBUYA, H.; SATO, T. J. Vet. Med. Sci., 72 (4): 529– 531, 2010. 4. PELOSI, A.; JOHN, L.S.T.; GAYMER, J.; FERGUSON, D.; GOYAL, S.K.; ABELA, G.S.; RUBINSTEIN, J. J. Am. Assoc. Lab. Anim., 50 (3): 317–321, 2011. 5. LORD, B.; BOSWOOD, A.; PETRIE, A. Vet. Rec., 167 (25): 961–965, 2012. 6. FONTES-SOUSA, A.P.; MOURA, C.; CARNEIRO, C.S.; TEIXEIRA-PINTO, A.; AREIAS, J.C.; LEITE-MOREIRA, A.F. Vet. J., 181 (3): 326–331, 2009. 7. SCHOBER, K.E.; MAERZ, I.; LUDEWIG, E.; STERN, J.A. J. Vet. Intern. Med., 21 (4): 709– 718, 2007. 8. BUCHANAN, J.W.; BUCHELER, J. J. Am. Vet. Med. Assoc., 206 (2): 194–199, 1995. 9. LITSTER, A.L.; BUCHANAN, J.W. Vet. Radiol. Ultrasound., 41 (4): 320–325, 2000. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 77 10. JEPSEN-GRANT, K.; POLLARD, R.E.; JOHNSON, L.R. Vet. Radiol. Ultrasound., 54 (1): 3–8, 2013. 11. DONNELLY, T.M. In: QUESENBERRY, K.E.; CARPENTER, J.W. Ferrets, Rabbits and Rodents: Clinical Medicine and Surgery. St. Louis: Saunders, 2004, p. 136–146. 12. BERRY, C.A.; LOVE, N.E.; THRALL, D.E. In: THRALL, D.E. Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology. Philadelphia: Saunders, 2002, p.307–322. 13. LAMB, C.R. Veterinaria-Cremona, 25 (6): 9–19, 2011. 14. LAMB, C.R.; WIKELEY, H.; BOSWOOD, A.; PFEIFFER, D.U. Vet. Rec., 148 (23): 707–711, 2001. 15. STEPIEN, R.L.; BENSON, K.G.; FORREST, L.J. Vet. Radiol. Ultrasound, 40 (6): 606–610, 1999. 16. ORCUTT, C.J. In: MEREDITH, A.; FLECKNELL, P. Rabbit Medicine and Surgery, BSAVA, 2006, p. 96–102. 30. DIAGNÓSTICO DE RUPTURA ABDOMINAL TRAUMÁTICA EM FELINO POR CELIOGRAFIA – RELATO DE CASO. LIVIA PASINI DE SOUZA1, HELENA MONDARDO CARDOSO2, PAULO EDUARDO FERIAN3, RONISE TOCHETTO2, THIAGO RINALDI MULLER4, VANESSA SASSO PADILHA4, AURY NUNES DE MORAES3, NILSON OLESCOVICZ3 Doutoranda em Ciência Animal da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV/ UDESC. Contato:[email protected] Profª. Colaboradora e Mestranda em Ciência Animal da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV / UDESC. 3 Prof. Dr. do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV / UDESC. 4 Prof. Dr. Colaborador do Departamento de Medicina Veterinária da Doutoranda em Ciência Animal Universidade do Estado de Santa Catarina – CAV / UDESC 1 2 ABSTRACT SOUZA, L.P.; CARDOSO, H.C.; FERIAN, P.E.; TOCHETTO, R.; MULLER, T.R.; PADILHA, V.S.; MORAES, A.N.; OLESCOVICZ, N. DIAGNOSIS OF TRAUMATIC ABDOMINAL RUPTURE WITH CELIOGRAPHY - CASE REPORT. One of the most common consequence of trauma in cats is the diaphragmatic rupture. The most common clinical signs in these condition is dispnea and lack of pulmonary sounds or the presence of bowel sounds on chest auscultation. The most useful diagnostic tests in animals with abdominal trauma include plain radiographs and contrasted, with gastrogram being the most commonly cited. However in some cases, the celiography can be useful although little reported. KEYWORDS: Diaphragmatic rupture, cats, celiography. INTRODUÇÃO O trauma abdominal e torácico são mais comumente produzidos por acidentes automobilísticos, feridas por disparo, quedas de lugares altos, brigas e mordidas 6. Uma das consequenciais mais comuns de traumas em gatos é a hérnia/ruptura diafragmática4. Esta afecção caracteriza-se pela protrusão das vísceras abdominais para a cavidade torácica secundária a ruptura do músculo diafragmático 5,7. São descritos dois tipos de hérnias diafragmáticas, as verdadeiras que por definição apresentam as vísceras contidas dentro de um saco herniário, como nos casos de hérnia pleuro-peritoneal, e as falsas onde as vísceras estão soltas no espaço pleural, neste tipo temos a ruptura e o defeito diafragmático congênito 1. Os sinais clínicos mais evidentes nestes quadros incluem dificuldade respiratória debilitante, ausência de sons pulmonares ou ainda a presença de sons intestinais na auscultação torácica 3,5. Os exames diagnósticos mais úteis em animais com trauma abdominal incluem as radiografias simples e contrastadas, além do exame ultrassonográfico de ambas as cavidades. A ultrassonografia abdominal em animais traumatizados é uma ferramenta complementar ao exame radiográfico que também permite o diagnóstico de hérnias diafragmáticas em muitos casos6. Entretanto, em casos onde há sinais de alterações secundárias como contusão pulmonar, que torna a imagem do lobo pulmonar semelhante ao fígado, em casos onde apenas o omento estiver herniado ou se houver aderências, o diagnóstico somente pela ecografia pode ser dificultoso2. É possível afirmar que o exame radiográfico é o método de escolha para o diagnóstico de hérnia diafragmática, sendo também relatado o uso de exames contrastados para confirmar o diagnóstico em casos onde não é possível somente com o exame radiográfico simples5,7. Dentre os exames radiográficos contrastados para estes casos, a gastroenterografia superior é a mais citada na literatura 3,7,10 porém seu uso é efetivo somente quando há suspeita de alças intestinais em cavidade torácica. No caso deste estudo, não houve tal suspeita, sendo assim, a celiografia com contraste Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 78 positivo foi o método de escolha, contudo a falta de dados consistentes ainda deixa dúvidas na sua técnica de uso e não ressalta seu valor quanto ao diagnóstico de tais afecções. METODOLOGIA Foi atendido um felino, fêmea, S.RD., 6 anos, com queixa de apatia, hiporexia e dificuldade respiratória. O animal havia sido submetido a ovariosalpingohisterectomia há 5 dias e antes do procedimento não apresentava nenhuma alteração clínica nem alterações nos exames de hemograma e bioquímica sérica, realizados como triagem pré anestesia. Como histórico regresso, havia no prontuário do animal acima referido, histórico de atropelamento por automóvel que ocorreu há 5 anos , nesta ocasião não foi realizada radiografia torácica, apenas relatado que havia sofrido fratura de pelve. No exame físico apresentava hipotermia, taquipnéia e dispneia inspiratória expiratória evidente. O animal foi estabilizado com oxigenioterapia e aquecimento corporal, sendo solicitados, como exames complementares, radiografia torácica, ultrassonografia abdominal e exames laboratoriais (hemograma, perfil bioquímico sérico). O paciente foi direcionado ao setor de diagnóstico por imagem onde se realizou radiografias simples de tórax, nas projeções lateral direita e ventrodorsal, o exame ultrassonográfico da cavidade abdominal e posterior exame contrastado da região peritoneal. Para este procedimento o animal foi anestesiado sobre o protocolo metadona (0,3 mg/kg intramuscular) cetamina (1mg/kg intravenoso) propofol (4 mg/kg intravenoso) e anestesia epidural com lidocaína com vasoconstritor, bupivacaína e morfina e manutenção da anestesia com isofluorano. Foi utilizado o contraste positivo, não iônico, na dose de 2 ml/kg, administrado via peritoneal, 2 cm cranialmente à cicatriz umbilical, na linha média. Logo após a injeção do contraste, a parte posterior do animal foi levantada à um ângulo de aproximadamente 45 graus por cerca de 20 segundos, sendo posteriormente obtida as imagens radiográficas em decúbito lateral direito e ventro-dorsal. RESULTADOS E DISCUSSÃO Não houve alterações nos exames laboratoriais do paciente. No exame radiográfico simples pode-se notar a presença de uma estrutura de radiopacidade de tecidos moles adjacente a porção ventral da cúpula diafragmática e sobreposta a porção apical de silhueta cardíaca (Figura 1). Não foram caracterizados sinais radiográficos evidentes sugestivos de ruptura diafragmática com presença de vísceras abdominais em região de cavidade torácica, porém não se descartou a possibilidade de uma hérnia verdadeira preenchida por omento. O animal foi submetido ao exame ultrassonográfico da região abdominal, entretanto, sem sucesso, devido à grande quantidade de gás gastrointestinal na região de abdômen cranial. Foi realizada então a radiografia contrastada da região peritoneal (celiografia). Esta foi a técnica de escolha já que não foi possível a vizibilização de alças intestinais em cavidade torácica nas radiografias simples, sendo a gastroenterografia de pouco valor diagnóstico neste caso. Na imagem radiográfica obtida evidenciou-se a presença de conteúdo radiopaco em região ventral de cavidade torácica, porém circundada por estrutura de radiopacidade de tecidos moles, compatível com ruptura diafragmática (Figura 2). O animal foi encaminhado à cirurgia corretiva onde pôde ser confirmado o diagnóstico radiográfico de ruptura diafragmática com moderada quantidade de tecido de fibrose (Figura 3). As radiografias torácicas desempenham um papel muito importante na avaliação diagnóstica de cães e gatos com sinais clínicos relacionados com o trato respiratório inferior 8, concordando com o que foi realizado, como abordagem diagnóstica inicial, no felino relatado, o qual apresentava dispneia. No entanto, o diagnóstico somente com a radiografia simples nem sempre é conclusivo 5,10, dificuldade encontrada no caso em questão, sendo que diante do quadro grave e impossibilidade de ultrassonografia abdominal adequada devido à presença de gás optou-se pela celiografia contrastada como método diagnóstico complementar, apesar da literatura considerar está técnica relativamente ultrapassada 9, o que neste caso foi decisivo para o diagnóstico definitivo. É possível confirmar com este relato a importância do exame radiográfico simples e contrastao no diagnóstico de hérnias e rupturas diafragmáticas, além de ressaltar que a técnica de celiografia pode ser de grande auxilio quando não há resultados positivos no exame ultrassonográfico auxiliar e quando a gastroenterografia não é de auxilio diagnóstico. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 79 FIGURA 1: Radiografias simples em projeção ventrodorsal (A) e lateral direita (B). Presença de estrutura de radiopacidade de tecidos moles caudal à silhueta cardíaca (setas vermelhas-imagem A) e adjacente a porção ventral de cupula diafragmática (setas vermelhas-imagem B). Fonte: SOUZA, 2013. FIGURA 1: Radiografias contrastadas em projeção ventrodorsal (A) e lateral direita (B). Presença de conteúdo radiopaco em região ventral de tórax envolta por uma estrutura de radiopacidade de tecidos moles (setas vermelhas-imagem A e B) Fonte: SOUZA, 2013 FIGURA 3: Fotografia obtida durante trans-cirúrgico, demontrando ruptura diafragmática (setas escuras) na região média e ventral, dimensões aproximadas de 4cmx 2 cm. Fonte: CARDOSO; TOCHETTO, 2013 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. FARROW, C.S. Mod Vet Pract., 64, (12), 979-982, 1983. 2. FOSSUM, T.W. In:______Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Elsevier, 2008, p.896-929. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 80 3. HUNT, G.B.; JOHNSON K.A. In:______ Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Manole, 2007, p. 471-487. 4. JOHNSON, K.A. In:______Textbook of small animal surgery. Philadelphia : Saunders, 1993, p.455470. 5. KEALY, J.K.; McALLISTER, M. Radiologia e ultrassonografia do cão e do gato. São Paulo: Manole, 2005, p.187-188. 6. TELLO, H.T. Trauma em cães e gatos. São Paulo:MedVet Livros, 2008, p. 143-148. 7. THRALL D.E. Diagnóstico de Radiologia Veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 525-540. 8. HAWKINS, E.C.. In:______ NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, p. 247-275. 9. HUNT, B.G., JONHSON, K.A. In:______ SLATTER, O.H. Textbook of small animal surgery. Philadelphia: Saunders company, 1993, p.1992-199 10. SILVA, V. C.; SILVA, G. M.; NUNES, L. C. 2006. Revista Veterinária Notícias. 12, (2). 31. DILATAÇÃO-TORÇÃO GÁSTRICA CRÔNICA EM UM CÃO – RELATO DE CASO BÁRBARA CRISTINA SANSON1; DANIEL CAPUCHO DE OLIVEIRA2; TILDE RODRIGUES FROES3 1 Residente do Setor de Diagnóstico por Imagem no Hospital Veterinário, UFPR campus Curitiba-PR. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, UFPR campus Curitiba-PR. Professora Adjunta III do Departamento de Medicina Veterinária, UFPR campus Curitiba-PR. Rua dos Funcionários, 1540, CEP 80.035-050 – Cabral – Curitiba – PR e-mail: [email protected] 2 3 ABSTRACT SANSON, B.C.; OLIVEIRA, D.C.; FROES, T.R. CHRONIC GASTRIC VOLVULUS IN A DOG – CASE REPORT. An eight-year-old male chow-chow was presented for chronic vomiting during four days. Physical examination revealed abdominal distension and pain. Radiographic findings suggested gastric dilatation-volvulus, with caudal displacement of spleen and signs of compartmentalization of gastric silhouette. Surgical therapy involved gastric deflation, correction of gastric malpositioning, gastropexy and splenectomy due the necrotic parenchyma. KEYWORDS: gastric dilation-volvulus, radiography, dog. INTRODUÇÃO A síndrome dilatação-torção gástrica é o acúmulo rápido de gás e fluido associado ao aumento da pressão intragástrica seguido da sua rotação, com graus variáveis de reposicionamento do piloro e do fundo gástrico, e resultando em síndrome de compartimentalização abdominal e consequente choque hipovolêmico.1,2,3 São conhecidos alguns fatores de risco que aumentam a probabilidade de ocorrer a doença, como animais de tórax profundo e estreito, acúmulo de gás, superalimentação e debilidade dos ligamentos hepatoduodenal e hepatogástrico, além da presença de corpo estranho gástrico.1,4,5 Usualmente os sinais clínicos são de características agudas, no qual o animal apresenta dor abdominal intensa, distensão abdominal grave, dispneia, tentativas improdutivas de vômito, taquicardia, diminuição do tempo de preenchimento capilar e mucosas pálidas.4 A avaliação radiográfica abdominal desses pacientes é importante para distinguir a dilatação da dilatação-torção gástrica, avaliar a distribuição e distensão das alças e posicionamento dos demais órgãos da cavidade, bem como verificar a ocorrência de corpo estranho gástrico concomitante.3,4 Existem relatos de dilatação e torção gástrica de curso crônico. Para esses casos, o diagnóstico pode ser mais desafiador e até confuso, uma vez que os sinais clínicos não são tão dramáticos quanto na forma aguda da doença. Os cães com dilatação e torção gástrica crônica geralmente apresentam histórico de vômito crônico, flatulências e perda de peso. Radiograficamente, os achados são idênticos à torção gástrica aguda, estando sujeitos a mesma variação de acordo com o grau de rotação e distensão gástrica.6,7 O objetivo desse relato é descrever os sinais clínicos e radiográficos de um caso atípico de dilatação-torção gástrica em cão. METODOLOGIA Foi atendido no Hospital Veterinário da UFPR um cão, macho, Chow-Chow de 8 anos, pesando 24kg, com queixa principal de vômito há 4 dias e distensão abdominal. Durante a anamnese foi relatado polidipsia, anorexia, constipação e provável ingestão de corpo estranho. Porém o paciente apresentava bom estado geral no momento da consulta. Proprietário citou que outro médico veterinário prescreveu medicamentos como antitóxicos (Mercepton®), omeprazol e metronidazol, porém sem melhora clínica. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 81 Os diagnósticos diferenciais estabelecidos foram: intoxicação alimentar, corpo estranho gastrintestinal e/ou obstrução intestinal parcial. O paciente foi encaminhado para o Setor de Diagnóstico por Imagem iniciando por exame ultrassonográfico abdominal, levando em conta as suspeitas clínicas. Para a execução do exame ultrassonográfico foi utilizado o equipamento OP Ultrasonix® com transdutor multifrequencial de 2.5 a 5.0MHz. Ao exame ultrassonográfico visibilizou-se a silhueta gástrica severamente distendida e preenchida por conteúdo fluido e gasoso. A severa distensão gerava deslocamento caudal do estômago, e a região de fundo gástrico estava deslocada para a direita, deixando o ultrassonografista em alerta para desvios de posicionamento. No interior do estômago foram visibilizadas estruturas hiperecóicas produtoras de sombreamento acústico posterior em meio ao fluido e ao gás, sugestivas de corpos estranhos gástricos. O fígado foi parcialmente individualizado, apresentandose difusamente hipoecóico. O baço apresentava-se desviado caudalmente e para direita. Devido a esses achados ultrassonográficos procedeu-se o exame radiográfico abdominal com objetivo de analisar o posicionamento gástrico. Para o exame radiográfico abdominal foram realizadas radiografias digitais (Agfa Healthcare® CR-30-X, DS5302, Mortsel®, Bélgica) do abdome em três projeções: lateral direita, lateral esquerda e ventrodorsal (Figuras A, B e C, respectivamente). Visibilizou-se então severa distensão da cavidade gástrica, esta deslocada caudalmente e preenchida por conteúdo gasoso e fluido. Em projeção lateral direita notou-se sinais de compartimentalização gástrica, com piloro deslocado dorsocranialmente; já na lateral esquerda observou-se fundo gástrico deslocado ventralmente. Na projeção ventrodorsal observou-se duas áreas circunscritas com diferentes graus de dilatação, piloro distendido posicionado cranialmente e para região esquerda, e fundo gástrico para região direita. O baço estava deslocado caudalmente e para região direita. Os demais segmentos de alças estavam com distribuição anormal e distensão moderada e com cólon descendente deslocado ventralmente. Após associação dos dois exames de imagem, chegou-se ao diagnóstico de dilatação-torção gástrica, e o paciente foi encaminhado para o Setor de Cirurgia do HV-UFPR. Durante a cirurgia foi corrigido o posicionamento das estruturas, girando cárdia e piloro em sentindo anti-horário. Foi realizado esvaziamento gástrico através de sondagem esofágica, abertura da cavidade gástrica para lavagem e retirada de corpo estranho (plantas), gastropexia e esplenectomia, devido a isquemia e necrose do parênquima esplênico. Após 12 dias paciente voltou para avaliação e retirada de pontos, apresentado bom estado geral. RESULTADOS E DISCUSSÃO A dilatação-torção gástrica aguda é uma síndrome clínica frequente em cães, principalmente em raças de grande porte e com tórax profundo.1,2,3,4 As características clínicas da síndrome aguda facilitam a elaboração de diagnósticos diferenciais e solicitação de exames complementares. 4 No caso apresentado, devido aos sinais clínicos inespecíficos, houve dificuldade em estabelecer estes diferenciais, encaminhando o paciente primeiramente para o exame ultrassonográfico. As descrições dessa característica de apresentação clínica na literatura são escassas.6,7 Os episódios de vômito nos pacientes com torção crônica geralmente ocorrem devido a uma rotação parcial do eixo gástrico, o que permite uma permanência parcial do fluxo de conteúdo gástrico.7 Talvez esse fator provocou uma distensão gástrica não tão intensa, o que gerou um quadro de desconforto abdominal mais brando, diferente da característica clássica de torção gástrica reportada na literatura. Obviamente, caso a torção gástrica fosse o primeiro diferencial o exame ultrassonográfico não seria recomendado e sim o exame radiográfico abdominal. 3 A dilatação fluida gástrica permitiu a identificação do deslocamento do estômago no exame ultrassonográfico, assim como a visibilização de corpo estranho gástrico - esse não detectado ao exame radiográfico. Discute-se recentemente que a presença de corpo estranho gástrico é mais um fator predisponente a síndrome dilatação torção gástrica em cães, e que a presença do mesmo deve ser verificada nos casos de torção.5 Para facilitar o diagnóstico radiográfico de torção gástrica a literatura indica três projeções radiográficas, mas isso depende essencialmente das condições clínicas do paciente. 3,4 No caso apresentado foi possível realizar as três projeções, o que auxiliou na confirmação diagnóstica, já que o sinal de compartimentalização e desvio de piloro ficou mais evidente na projeção lateral direita. A projeção lateral direita é a de escolha caso o radiologista tenha pouco tempo em decorrência da urgência do caso, pois o deslocamento do piloro para região dorsocranial esquerda mantem sobreposta ao fundo gástrico, formando imagem de dupla-bolha.4 A confirmação diagnóstica se deu pela cirurgia, utilizada também como forma de tratamento aliado aos procedimentos clínicos de suporte. As condições clínicas do paciente e o atendimento inicial influenciaram positivamente no prognóstico favorável desse quadro. Apesar de ser uma apresentação clínica incomum, a torção gástrica crônica deve ser um diferencial a ser conseiderado em cães com dor e distensão abdominal, perda de peso e episódios de vômito. O exame radiográfico deve sempre ser realizado na presença dessa suspeita clínica, uma vez que permite a diferenciação de quadros de dilatação gástrica e dilatação-torção gástrica, ajudando na determinação da conduta terapêutica do paciente. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 82 Figuras A e B: Imagens radiográficas abdominais do cão da raça Chow-Chow. (A) Radiografia em projeção lateral direita. (B) Radiografia em projeção lateral esquerda. Nota-se o posicionamento e distensão gasosa do piloro em região dorsal com o fundo e corpo gástrico localizado em porção ventral do abdome, formando sinais de compartimentalização. D E Figura C: Imagem radiográficas abdominais do cão da raça Chow-Chow. Radiografia em projeção ventrodorsal (região cranial). Observa-se o deslocamento cranial do estômago, com piloro posicionado cranialmente e para região esquerda, invertendo com a posição do corpo/fundo gástrico, localizando-se em região direita. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. RAGHAVAN, M.; GLICKMAN, N.W.; GLICKMAN, L.T. J. Am. Anim. Hosp. Assoc., 42 (1): 28-36, 2006. GLICKMAN, L.T.; LANTZ, G.C.; SCHELLENBERG, D.B.; GLICKMAN, N.W. J. Am. Anim. Hosp. Assoc., 34 (3): 253-259, 1998. FRANK, P.M. In: THRALL, D.E. Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology. St. Louis: Elsevier Saunders, 2013, p.777-780. MONNET, E. Vet. Clin. Small Anim., 33 (5): 987-1005, 2003. BATTISTI, A.; TOSCANO, M.J.; FORMAGGINI, L. J. Am. Vet. Med. Assoc., 241 (9): 11901193, 2012. PARIS, J.K.; YOOL, D.A.; REED, N.; RIDYARD, A.E.; CHANDLER, M.L.; SIMPSON, J.W. J. Small Anim. Pract., 52 (12): 651-655, 2011. LEIB, M.S.; MONROE, W.E.; MARTIN, R.A. J. Am. Vet. Med. Assoc., 191 (6): 699-700, 1987. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 83 32. PNEUMOPERITÔNIO CAUSADO POR PERFURAÇÃO GÁSTRICA EM UM GATO – RELATO DE CASO CHRISTIANE AGUERO DA SILVA1; ANA MARIA REIS FERREIRA2; HELOISA JUSTEN MOREIRA DE SOUZA3; MÁRCIA CAROLINA SALOMÃO SANTOS4. Médica Veterinária Autônoma na Clínica Veterinária Gatos e Gatoos vet; Mestranda/UFF – Clínica e Reprodução; Bolsista CNPq. [email protected] 1 Professora titular da UFF; Coordenadora do programa de Pós-Graduação em Clínica e Reprodução Animal/UFF [email protected] 1 MV, profa.adj. III/ UFRRJ; Responsável pelo setor de atendimento de felinos do Hospital Veterinário da UFRRJ; Membro fundador da ABEFeL [email protected] 1 Profa adj da UFF das disciplinas de Diagnóstico por Imagem Veterinário I e II Atua na área de Diagnóstico por Imagem com ênfase em Ultrassonografia de cães, gatos e animais silvestres. [email protected] 1 ABSTRACT SILVA, C. A.; FERREIRA, A. M. R.; SOUZA, H. J. M.; SANTOS, M. C. S., Pneumoperitoneum caused by gastric perforation in a cat. Pneumoperitoneum refers to the presence of gas within the peritoneal cavity resulting from a rupture hollow organs, penetrating abdominal wounds or bacterial peritonitis. Life-threatening, massive pneumoperitoneum necessitating immediate needle decompression to improve cardiorespiratory embarrassment, know as tension pneumoperitoneum, has been reported in humans. However, few reports have documented similar cases in veterinary fields. This study reports the case of a cat that developed tension pneumoperitoneum secondary to gastric perforation and was treated with abdominocentesis followed by laparotomy. KEYWORDS: Pneumoperitoneum, gastric perforation, cat. INTRODUÇÃO: Pneumoperitôneo é o acúmulo de gás na cavidade peritoneal e pode ser causado por cirurgias abdominais, feridas que rompem a parede abdominal, ruptura de vísceras ocas e peritonites bacterianas 1. A perfuração gástrica pode causar pneumoperitôneo em gatos e pode estar associada a neoplasias, principalmente os linfomas e adenocarcinomas, a doença inflamatória, situações de estresse pós-cirúrgico, aumento da acidez gástrica em casos de mastocitomas sistêmicos e gastrinomas, uso de antiinflamatórios esteroides e não esteroides, síndrome hipereosinofílica e granulomas bacterianos2. O acúmulo de gás abdominal causa desconforto respiratório devido a grave distensão abdominal e a elevação do diafragma. Ocorre compressão do coração e a depressão circulatória que são consequências graves do aumento da pressão abdominal devendo ser corrigido o mais rápido possível3. O achados de imagem são de fundamental importância para o auxílio ao diagnóstico. O principal achado radiográfico em casos de grande acúmulo de gás é a centralização dos órgãos abdominais 1; já o exame ultrassonográfico tem demonstrado ter maior sensibilidade para detecção de gás abdominal livre, variando entre 86-92%, sugerindo então que a ultrassonografia tem maior indicação para diagnosticar um pequeno volume de pneumoperitônio. A reverberação e a formação da cauda de cometa são os artefatos de técnica mais visualizados nesses casos4. Com relação ao prognóstico ele estará relacionado diretamente à causa, mas de forma geral o procedimento cirúrgico tem sido relacionado ao aumento significativo da taxa de sobrevivência de gatos com pneumopertitônio5. O objetivo desse trabalho é relatar pneumoperitônio em uma gata com perfuração gástrica. METODOLOGIA: Um felino da raça Persa, fêmea, de 12 anos de idade, pesando 2,7 kg, foi atendido na Clínica Gatos e Gatos vet. apresentando histórico de vômitos, prostração e perda de peso. A paciente já estava sendo tratada há cerca de um ano, para Doença Inflamatória Intestinal, fazendo uso contínuo de prednisolona na dose de 1mg/kg SID. O exame físico evidenciou caquexia, 6% de desidratação, palidez de mucosas e ausculta sem alterações. Na palpação abdominal, foi percebido espessamento de parede de alças intestinais, intenso meteorismo e discreta distensão abdominal. A felina foi submetida a exames complementares que consistiam em hemograma completo, bioquímica sérica, teste imunoenzimático para imunodeficiência e leucemia felina. O hemograma revelou hematimetria com valores abaixo dos valores de referência Ht = 15% (ref: 24-35%) e a leucometria revelou leucocitose neutrofílica, linfopenia, eosinopenia e monocitose absolutas. Os achados bioquímicos indicaram valores de ureia de 63,4 mg/dL (ref: 30-60 mg/dl) e creatinina 1,0 mg/dL (ref: 0,5- 1,9 mg/dL). Os valores das atividades das enzimas hepáticas séricas encontravam-se dentro da normalidade. A Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 84 proteína total, assim como as frações albumina e globulina, encontrava-se dentro dos valores de normalidade. O teste imunoenzimático para imunodeficiência e leucemia felinas foi negativo. Foi solicitada bolsa de sangue para transfusão. Foi solicitado também exame ultrassonográfico que revelou grande quantidade de gás fora do lúmen do trato gastrointestinal. O exame radiológico revelou também a presença de grande quantidade de gás abdominal (Foto 1). Foram drenados 0,5 L de ar e o animal imediatamente melhorou a função respiratória e sua condição clínica. A paciente ficou internada em observação para avaliar a evolução do quadro. No dia seguinte o abdômen estava novamente abaulado e o hematócrito estava 25% após a transfusão de sangue. Foi realizada radiografia contrastada utilizando iodo (Ominipaque ®) que detectou extravazamento do contraste, visualizado contornando a parede externa do estômago. Foi realizada a laparotomia exploratória onde foram encontrados dois orifícios na parede do estômago (Foto 2). Foi coletada amostra para biópsia da mucosa e realizada a ráfia das ulcerações. Um grande coágulo também foi encontrado. No dia seguinte o hematócrito (Ht) estava em 14 % e o abdômen novamente ficou muito distendido. A paciente estava muito debilitada e diante da indicação de um novo procedimento cirúrgico e nova transfusão sanguínea a proprietária optou pela eutanásia. O laudo histopatológico descreveu úlcera gástrica perfurada, presença de infiltrado inflamatório difuso, com áreas de necrose e ausência de processo neoplásico. RESULTADOS E DISCUSSÃO: A literatura tem poucos relatos sobre o pneumoperitônio felino. No presente trabalho, a sintomatologia do felino incluía prostração, dor abdominal, anorexia corroborando com outros relatos. A perda sanguínea pode ocorrer em decorrência à ulceração gástrica6 como foi descrito nesse relato. O uso de corticosteroides por tempo prolongado também pode ter agravado a lesão de mucosa causada pela Doença Inflamatória Intestinal (DII) e contribuído para a perfuração da parede gástrica 2,6 observada nesse relato. A apresentação dos órgãos abdominais na radiografia que evidenciou o acúmulo intenso de gás abdominal, estava diferente da descrita pela literatura, os órgãos estavam desviados para a direita, contrariando a maioria dos autores que citam a centralização dos mesmo1. Porém de forma similar ao que já foi descrito1 pôde-se visualizar o deslocamento da linha do diafragma cranialmente, comprimindo o coração dentro do tórax7. No caso clínico apresentado foi possível diagnosticar a causa primária do pneumoperitônio. Isso normalmente não acontece na maioria dos casos8, o que torna esse relato significativo. Os animais com pneumoperitônio geralmente estão debilitados e tem um prognóstico desfavorável, mesmo sendo tratados cirurgicamente, em decorrência das alterações sistêmicas que o acúmulo de gás intraperitoneal causa. D Foto 1 – Pneumoperitônio com grande volume de gás deslocando os órgãos abdominais para a direita. (arquivo da clínica Gatos e Gatos vet) Foto 2 – Úlcera gástrica perfurada. (arquivo da clínica Gatos e Gatos vet) Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1- ITOH, T.; NIBE, K.; NAGANOBU, K. J Med Vet Sci 67 (6): 617-619, 2005. 2- LIPTAK, J. M.; HUNT, G.B.; BARRS, V. R. D.; FOSTER, S. F.; TISDALL, P. L.C.; O’ BRIEN, C. R.; MALIK, R. J of Fel Med and Surg, 4: 27-42, 2002. 3- MELLANBY, R. J.; BAINES, E. A.; HERRTAGE, M.E. J of Small Animal Pratice 43, 543-546, 2002. 4- FERRELD, E. A.; GRAHAMM, J. P. Vet Radiol Utrasound 44 (3): 307-308, 2003. 5- CARIOU, M. P. L.; HALFACREE, Z. J.; LEE, K. C. L.; BAINES, S. J. J of Fel Med and Surg 12, 36-41, 2010. 6- JERGENS, A. E.; CRANDELL, J. M.; EVANS, R.; ACKERMANN, M.; MILLES, K. G.; WANG, C. J. Vet. Intern. Med. 24: 1027 – 1033, 2010. 7- BOYSEN, S. R.; TIDWELL, A. S.; PENNINCK, D. G. Vet Radiol Ultrasound 44 (5): 556-64, 2003. 8- LYNKEN, J. D.; BRISSON, B. A.; ETUE, S.M. J Am Vet Med Assoc 222 (12): 1713 – 6, 1706, 2003. 33. PELVIMETRIA DE CUTIAS (Dasyprocta prymnolopha) CRIADAS EM CATIVEIRO MAÍRA SOARES FERRAZ*1; ELANE MIRANDA SANTOS**2; DANIEL GOMES ROCHA2; RUANNA RODRIGUES CABEDO2; GERSON TAVARES PESSOA3; DAYSEANY DE OLIVEIRA BEZERRA3; LUANNA CHÁCARA PIRES4. 1 Docente do Curso de Medicina Veterinária, UFPI, Bom Jesus - PI; Discentes do curso de graduação em Medicina Veterinária, UFPI, Bom Jesus-PI.; Mestrandos em Ciência Animal, UFPI, Teresina-PI; 4 Docente do curso de Zootecnia, UFPI, Bom Jesus-PI. *Autor correspondente: Universidade Federal do Piauí, Campus Universitário Professora Cinobelina Elvas - Bom Jesus (PI), Cep: 64900-000. e-mail: [email protected]. ** Bolsista do programa de IC/UFPI 2013/2014. 2 3 ABSTRACT FERRAZ, M.S.; SANTOS, E.M.; ROCHA, D.G.; CABEDO, R.R.; PESSOA, G.T.; BEZERRA, D.O.; PIRES, L.C. PELVIMETRY OF AGOUTIS (Dasyprocta prymnolopha) RAISED IN CAPTIVITY. The aim of this study was to establish the anatomical standard of the agoutis’ pelvis through the assessment of external and radiographic pelvic parameters. There were used 18 female agoutis and 25 male agoutis from NEPAS/CCA/UFPI. The animals were weighted and, after chemical restraint, the external measurements (bi-iliac diameter, bi-sciatic diameter, right iliac-ischial diameter and left iliac-ischial diameter) were done with a caliper. The radiographic diameters (true conjugate diameter, conjugate diagonal diameter, vertical diameter, sacral diameter, sagittal diameter, coxal tuberosity diameter, superior and inferior bi-iliacs diameter, and bi-ischial diameter) were measured. It was possible to establish anatomic pattern of the agoutis’ pelvis and determinate that agouti is a dolicopelvic specie and male and females presents some differences in their pelvis. KEYWORDS: pelvimetry, agoutis, anatomical pattern. INTRODUÇÃO A cutia é um mamífero roedor da família Dasyproctidae que apresenta membros torácicos e pélvicos longos e finos, dorso posterior longo e fortemente curvado, além de cauda desprovida de pêlos. Membros anteriores com quatro dígitos e posteriores com três, estes munidos de fortes úngulas1. A pelvimetria é um método diagnóstico de baixo custo e de simples realização, não necessitando de contenção química, exceto em animais selvagens e aqueles com temperamento agressivo 2. Através desta técnica é possível determinar o padrão pelvimétrico de uma espécie ou raça, que posteriormente servirá como subsídio para executar um método profilático contra possíveis complicações que possam ocorrer durante o parto, além de proporcionar a classificação anatômica e obstétrica da pelve3. Este trabalho teve como objetivo de estabelecer o padrão anatômico normal da pelve de cutias, machos e fêmeas, por meio da obtenção dos valores pelvimétricos médios externos e internos (radiográficos). Além disso, objetivou-se verificar a existência de correlação entre as medidas externas e internas da pelve e comparar as características pélvicas de cutias machos e fêmeas. METODOLOGIA Foram utilizadas 43 cutias (Dasyprocta prymnolopha), 18 fêmeas e 25 machos, oriundas do Núcleo de Estudos e Preservação de Animais Silvestres (NEPAS) do Centro de Ciências Agrárias da UFPI (Registro de Criadouro IBAMA n° 02/08 - 618) com a autorização do IBAMA pelo Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO nº3947-1) e aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 86 Animal da UFPI (nº 013/13). Os animais foram individualmente identificados e os dados de peso, sexo, idade e os valores das mensurações externas e internas foram registrados em Ficha Individual. As cutias foram submetidas à contenção química com uma associação de cloridrato de quetamina (40mg/kg, IM) e cloridrato de xilazina (1mg/kg, IM). Os parâmetros pélvicos externos mensurados foram: o diâmetro biilíaco externo (BIL), medido entre as extremidades laterais das tuberosidades coxais direita e esquerda; o diâmetro bi-isquiático externo (BIQ), medido entre as extremidades laterais das tuberosidades isquiáticas direita e esquerda; diâmetros ílio-isquiático externos direito (IID) e esquerdo (IIG), medidos entre as extremidades laterais das tuberosidades coxal e isquiática. As medidas pélvicas externas foram verificadas com paquímetro (Paquímetro digital 6 Western® 150mm). Após a avaliação dos parâmetros pélvicos externos, os animais foram então levados ao setor de Diagnóstico por Imagem do Hospital Veterinário Universitário da UFPI, em Teresina, para a realização do exame radiográfico utilizando aparelho Aex, modelo RC 300D. A técnica radiográfica utilizada foi 45 KVp e 0,1 mAs. Os animais foram posicionados em decúbito lateral direito e decúbito dorsal para a realização de radiografias da pelve e da porção caudal da coluna lombar nas projeções lateral esquerdo-direita e ventrodorsal. Os parâmetros pélvicos internos mensurados foram obtidos: o diâmetro conjugado verdadeiro (CV), pela mensuração da distância entre o promontório e a porção cranial da sínfise púbica; o diâmetro conjugado diagonal (CD), que é a medida da distância entre o promontório e da porção caudal da sínfise púbica; o diâmetro vertical (V), medindo a distância vertical entre o final da porção cranial da sínfise púbica e o sacro, o diâmetro sacral (SC), que é a distância vertical entre a extremidade cranioventral do sacro e da sínfise púbica; diâmetro sagital (SG), pela mensuração da distância entre a extremidade caudoventral do sacro e da sínfise; diâmetro de tuberosidade coxal (TC), medido pela distância horizontal entre as duas tuberosidades coxais; diâmetro bi-ilíaco superior (BIS), que é a distância horizontal entre os ílios, diâmetro bi-ilíaco inferior (BII), mensurado pela distância horizontal entre os acetábulos e diâmetro biisquiático (BIO), que é a distância horizontal entre as tuberosidades isquiáticas. Além dessas medidas, relações altura / largura (V/BII, SG/TC) da área elipse de entrada da pelve (AEP) e da área elipse de saída pélvica (ASP) foram calculadas. A AEP foi calculada por meio da equação: (CV/2 + BIS/2) 2 ×π; e a ASP, pela equação: (DV/2 + BII/2)2 × π. RESULTADOS E DISCUSSÃO As médias obtidas para cada medida corporal das fêmeas e machos, respectivamente foram: peso (1,91kg e 2,04), bi-ilíaco externo (6,32cm e 6,30cm), bi-isquiático externo (4,34cm e 4,28cm), ílio-isquiático direito (9,01cm e 9,33cm), ílio-isquiático esquerdo (9,13cm e 9,30cm), conjugado verdadeiro (3,90cm e 3,68cm), conjugado diagonal (7,13cm e 6,91cm), vertical (2,59cm e 2,45cm), sacral (2,63cm e 2,44cm), sagital (3,30cm e 3,09cm), tuberosidade coxal (2,52cm e 2,43cm), bi-ilíaco superior (6,28cm e 6,24cm), bi-ilíaco inferior (2,98cm e 2,58cm), bi-isquiático (2,60cm e 2,70cm), relação altura/largura – V/BII (0,88cm e 0,95cm), SG/TC (1,32cm e 1,28cm), área de entrada da pelve (82,38cm e 77,83) e área de saída de pelve (24,76cm e 20,07cm). O resultado da análise de variância (Tabela 1), para maioria das medidas pélvicas, mostrou diferença não significativa para sexo. Entretanto, os diâmetros CV, V, SC, BII, V/BII e ASP foram significativas. Os coeficientes de correlação de Pearson, entre as características avaliadas em cutias, em sua maioria, foram elevados, significativos e positivos. Os maiores coeficientes de correlação foram entre as variáveis BII e ASP, 0,95, BIS e AEP, 0,92, V/BII e SG/TC, 0,47, BIS e BIO, 0,59, TC e BII, 0,77, BIL e BIS, 0,78, BIL e TC, 0,62, SC e SG, 0,73, V e SC, 0,75, CD e V, 0,75, CV e CD, 0,74, BIL e CV, 0,42, IID e IIG, 0,92, BIL e IID, 0,38, peso e BIQ, 0,39, peso e BIL, 0,59. Estudos sobre pelvimetria radiográfica em diferentes espécies tem demonstrado que esta técnica pode ser considerada como um método eficiente e confiável, pois ao correlacionarem os valores dos diâmetros pélvicos mensurados radiograficamente e nas pelves dissecadas os valores obtidos não apresentaram diferença significativa estatisticamente4,5. O peso corporal médio das fêmeas e machos (1,91kg e 2,04kg, respectivamente) está de acordo com peso médio descrito para animais adultos desta espécie. Estas observações demonstraram que os animais utilizados neste estudo estão dentro dos padrões estabelecidos para cutias. Os resultados obtidos na análise de variância indicaram diferenças entre os diâmetros conjugado verdadeiro, vertical, sacral, bi-ilíaco inferior, relação altura/largura da pelve e área de saída de pelve de cutias machos e fêmeas. E com isso determinando que esta espécie seja classificada como dolicopélvica e existem diferenças quanto às medidas pélvicas entre machos e fêmeas. A pelve possui diversos aspectos que a diferenciam, tanto em relação ao sexo, quanto às diversas espécies. Na fêmea a pelve geralmente é mais ampla e seus tubérculos e saliências são mais planos do que a do macho, isto porque a pelve funciona como um canal de saída do feto durante o parto6. Esses resultados comprovaram a importância da pelvimetria radiográfica, uma vez que a mensuração dos diâmetros do canal pélvico poderá contribuir significativamente nos casos de distocia obstétrica, além de detectar anormalidades congênitas e deformidades adquiridas. Além disso, espera-se que este trabalho possa contribuir com a determinação de um padrão biométrico para a pelve de cutias, machos e fêmeas, e que possa ser utilizado Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 87 como referência para o estabelecimento de um manejo reprodutivo destes animais, a fim de evitar o acasalamento de fêmeas com medidas pélvicas indesejadas. Figura 1: Radiografia pélvica de cutia em projeção ventro-dorsal para mensurações dos diâmetros: bi-bíliaco superior (BIS), bi-íliaco inferior (BII), entre as tuberosidades coxais (TC) e diâmetro bi-isquiático (BIO). Figura 2: Radiografia pélvica de cutia em projeção lateral esquerdo-direita para mensuração dos diâmetros: conjugado verdadeiro (CV), diagonal (D), vertical (V), sacral (SC) e sagital (SG). Tabela 1. Análise de variância dos diâmetros pélvicos de cutias machos e fêmeas Quadrado médio Resíduo Média (cm) Desvios-Padrão (cm) CVe (%) 18.26 Caracteres Sexo Peso 0.1859ns 0.1321 1.9908 0.3634 BIL ns 0.0021 0.2612 6.3140 0.5111 8.09 BIQ 0.0333ns 0.5017 4.3116 0.7083 16.43 IID 1.1046ns 1.5374 9.2000 1.2399 13.48 IIG ns 0,2853 1,3910 9,2349 1,1794 12,77 CV 0,4953* 0,1106 3,7791 0,3326 8,80 CD V SC SG TC BIS BII BIO V/BII SG/TC AEP ASP 0,5199ns 0,2006* 0,3975** 0,4595ns 0,0960ns 0,0175ns 1,6356*** 0,0933ns 0,0515* 0,0157ns 216,463ns 230,333*** 0,1535 0,0442 0,0513 0,1809 0,1397 0,4097 0,1422 0,1080 0,0110 0,0391 176,855 18,944 7,0093 2,5139 2,5256 3,1837 2,4720 6,2651 2,7535 2,6604 0,9263 1,3046 79,739 22,036 0,3919 0,2102 0,2265 0,4254 0,3738 0,6401 0,3771 0,3286 0,1050 0,1978 13,298 4,3525 5,59 8,36 8,97 13,36 15,12 10,21 13,69 12,35 11,34 15,16 16,67 19,75 Legenda: BIL - Bi-ilíaco externo; BIQ – Bi-isquiático externo; IID - Ìlio-isquiatico direito; IIG - Ílio-isquiático; CV Conjugado verdadeiro; CD – Conjugado diagonal; V – Vertical; SC – Sacral; SG – Sagital; TC – Tuberosidade coxal; BIS – Bi-ilíaco superior; BII – Bi-ilíaco inferior; BIO – Bi- isquiático; V/BII e SG/TC – Relação altura/largura; AEP – Área de entrada da pelve; ASP – Área de saída da pelve; CV(%) – Coeficiente de variação. * P < 0,05; ** P < 0,01; *** P < 0,001; e ns: não-significativo. CVe = coeficiente de variação experimental Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BONVICINO C.R.; OLIVEIRA J.A.; D'ANDREA P.S. Guia de roedores do Brasil, com chaves para gêneros baseados em caracteres externos. Rio de Janeiro: Centro Pan-americano de febre aftosa – OPAS/OMS, 2008, 122p. 2. PÁFARO, V. Pelvimetria radiográfica em diferentes raças de fêmeas caninas adultas (Canis familiaris, Linnaeus, 1758). Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, São Paulo, 51p. (Dissertação de Mestrado), 2007. 3. BRUNI, A.C.; ZIMMERL, U. Anatomia degli animali domestici. Milano: Francesco Vallardi, 1977, p. 309-316. 4. CLOETE, S.W.P.; HAUGHEY, K.G. Radiography pelvimetry for the estimation of pelvic dimentions in Merino, Domer and S A Mutton Merino ewes. Journal of South African Veterinary Association., 61 (2):55-58, 1990. 5. PAFARO, V.; ZANATTA, R.; CANOLA, J.C.; NESPOLO, N.M.; CINTRA, T.C.F., Pelvimetria Radiográfica em Fêmeas Felinas, Acta Scientiae Veterinariae, 35 (2), 2007. 6. MELO, T.M.V.; SILVA, A.C.J.; ANDRADE, M.B. In: Congresso Nacional De Inclusão E Diversidade, São Paulo, 2008.(Pôster) 34. ASPECTOS RADIOGRÁFICOS E ULTRASSONOGRÁFICOS DA DISCOESPONDILITE EM OVINO: RELATO DE CASO VITÓRIA D’ELIA DE CARVALHO1; SIMONE BIZERRA CALADO1; JOÃO ANTÔNIO EMÍDIO BICALHO1; BRUNO FERREIRA SPINDOLA2; THIAGO SOUZA COSTA2; GABRIELA FERREIRA DE OLIVEIRA2; SUZANA LIMEIRA VIEIRA2; CRISTIANO CHAVES PESSOA DA VEIGA4; BRUNO GONÇALVES DE SOUZA4 1 Residente do Programa de Residência em Área Profissional da Saúde – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 1 Aluno do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Bolsista da CAPES. 1 Médica Veterinária Autônoma. 1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Clínica e Reprodução Animal da Universidade Federal Fluminense. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Rodovia BR 465 Km7 CEP: 23890-000 E-mail para correspondência: [email protected] ABSTRACT CARVALHO, V.D.; CALADO, S.B.; BICALHO, J.A.E.; SPÍNDOLA, B.F.; COSTA, T.S.; OLIVEIRA, G.F. VIEIRA, S.L.; VEIGA, C.C.P.; SOUZA, B.G. RADIOGRAPHIC AND ULTRASSONOGRAPHIC ASPECTS OF DISCOSPONDYLITIS IN SHEEP: CASE REPORT. The discospondylitis is an infectious disease that affects one or more intervertebral discs and adjacent vertebrae, and is often associated with systemic infectious processes. This disease has diverse etiologies, which may be bacterial or fungal infections and in many cases, as a result of post-surgical infections, traumatic injury or infection by hematogenous route. Imaging exams such as radiography and ultrasonography are important for guiding the diagnosis. In this report, a sheep Santa Ines was referred to Animal Production Veterinary Hospital of the Federal Rural University of Rio de Janeiro, presenting neurological alterations and lumbar pain. The radiographic and ultrasonographic findings suggested the diagnosis of discospondylitis associated with abscess in vertebral bodies L2 and L3, which was later confirmed by autopsy. KEYWORDS: osteomyelitis; osteoarticular infections, spinal injury. INTRODUÇÃO A discoespondilite (osteomielite intradiscal) é uma doença infecciosa que pode envolver um ou mais discos intervertebrais e as vértebras adjacentes, geralmente associada à infecções do trato urinário, endocardites, dermatites, orquites ou bacteremias em geral. Podem acometer qualquer espaço de disco intervertebral, sendo os espaços lombossacros os locais de maior ocorrência relatados1. A afecção pode ter origem bacteriana ou fúngica, decorrente de infecção por cirurgias ou lesões traumáticas ou ainda por via hematógena, sendo esta a forma mais comum na qual o fluxo sanguíneo diminuído da região subcondral nas epífises vertebrais permite a colonização do corpo vertebral por microrganismos. Ocorre difusão das bactérias pelas vértebras e discos, penetrando no espaço do disco intervertebral e vértebras Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 89 adjacentes através dos seios venosos. Independente da causa, a infecção resulta em neoformação óssea no espaço do disco e formação de tecido fibroso conectivo. A dor espinhal é resultante da inflamação do disco intervertebral e da sensibilidade das estruturas adjacentes2. Os aspectos radiográficos da discoespondilite incluem osteólise nas placas terminais vertebrais, colapso de disco intervertebral, esclerose e neoformação óssea ao redor do corpo vertebral 3. Na abordagem ultrassonográfica da discoespondilite é possível evidenciar perda parcial ou completa da organização fibrosa dos discos, o contorno hiperecóico da superfíce ventral torna-se irregular e pode ser interrompido pela presença de focos líticos hipoecóicos ou anecóicos, além da área de tumefação ser quase sempre observada lateral e ventralmente ao espaço do disco. Os músculos e gordura adjacentes podem estar acometidos. Punções guiadas por ultrassonografia da região também podem ser realizadas4. O presente trabalho tem como objetivo descrever os achados radiográficos e ultrassonográficos da coluna vertebral de um paciente ovino. METODOLOGIA Uma ovelha (Ovis aries) da raça Santa Inês, fêmea, com cinco anos de idade, chegou ao Hospital Veterinário de Grandes Animais (HVGA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), com histórico de dificuldade de permanecer em estação a cerca de uma semana. Ao exame clínico observou-se que a ponta da cauda estava cortada, já em processo de cicatrização e havia uma protuberância firme na região lombar. O animal apresentava ataxia dos membros posteriores, dor lombar, desidratação leve e normalidade das funções vitais. O exame neurológico revelou alterações simétricas em membros posteriores, evidenciada por perda proprioceptiva, ataxia flácida e diminuição da sensibilidade cutânea. Os membros anteriores e os reflexos estavam normais. Foram solicitados exame radiográfico e ultrassonográfico da coluna vertebral, punção do líquido cefalorraquidiano, hemograma e bioquímica sérica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para o exame radiográfico utilizou-se equipamento de raios X convencional, foi realizada somente a projeção radiográfica láterolateral devido a impossibilidade de posicionar o paciente em decúbito ventral ou dorsal. A radiografia permitiu observar marcado desvio do eixo da coluna vertebral, marcada deformidade, com osteoproliferação e esclerose, em placas caudal do corpo vertebral de L2 e cranial do corpo vertebral de L3, além de ausência do espaço do disco e opacificação do forame intervertebral. Tais achados foram indicativos de discoespondilite (Figura 1A). No exame ultrassonográfico, após tricotomia da região, aplicação de gel de condução acústica e, utilizando transdutor linear de 4 a 7 mHZ, pode-se observar marcada irregularidade na superfície ventral e laterais dos corpos vertebrais de L2 e L3 e osteoproliferação (Figura 2A), associado a estrutura cística de alta celularidade indicando tratar-se de abscesso (Figura 2a). Não foi observado o espaço do disco intervertebral. Realizou-se punção guiada da estrutura cística, por agulha fina do local que permitiu a colheta de material purulento que foi ecaminhado ao Setor de Microbiologia da UFRRJ. Na punção do líquido cefalorraquidiano foi encontrado 2,2 g/dL de proteína (hiperproteinorraquia), 67 mg/dL de glicose (hiperglicorraquia) mas não apresentava alterações citológicas. Nos exames hematológicos, o animal apresentava leucocitose, neutrofilia, linfopenia relativa, hiperproteinemia e hiperfibrinogenemia. Na bioquímica observou-se aumento das enzimas AST, CK e LDH. O tratamento clínico com 4 mL de pentabiótico1, por 7 dias em aplicações intramusculares foi realizado, mas não houve resposta positiva ao tratamento e durante esse período o quadro de ataxia evoluiu para paresia. Devido ao sofrimento do animal, constantemente em decúbito esternal, sem meios de se levantar para urinar, defecar e se alimentar, optou-se por realizar a eutanásia. Durante o exame necroscópico, na região lombar, havia um grande abscesso vertebral, envolvendo as vértebras L2-L4 e a musculatura paravertebral adjacente (Figura 2B). Processo de osteólise nas vértebras com destruição completa da vértebra L3, presença de esquírulas ósseas flutuantes em meio à secreção purulenta, disco intervertebral também destruído e grave compressão medular. Num estudo retrospectivo de doenças neurológicas em ovinos5, abscessos vertebrais são considerados raros (4/58 ou 6,8%) embora se acredite que estejam sendo sub diagnosticados e, na espécie em questão, estão associados a uma lesão crônica supurativa em outra região como infecções no umbigo, feridas de castração e caudectomia que facilitam a colonização bacteriana6. Nesse caso, sugere-se que a ferida na ponta da cauda resultante de uma caudectomia mal realizada, pode ter sido o fator desencadeante da discoespondilite 2 e caso semelhante já foi relatado5. Para o diagnóstico de discoespondilite, o exame clínico bem feito, a percepção de dados 1 Pentabiótico Veterinário® (Benzipenicilina benzatina, Benzilpenicilina procaína, Benzilpenicilina potássica, Diidroestreptomicina e Estreptomicina), Fort Dodge Saúde Animal LTDA. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 90 importantes no histórico do animal e o exame neurológico, devem preceder o exame radiográfico7. Os exames de imagem, como o radiográfico e o ultrassonográfico, devem ser meios auxiliares ao diagnóstico e neste caso foram importantes para estabelecimento do diagnóstico. Embora a hiperglicorraquia no LCR não tenha significado clínico, refletindo somente o aumento dos níveis da glicemia sistêmica e não tenham sido encontradas alterações citológicas, a hiperproteinorraquia geralmente ocorre nas alterações da barreira hemato-LCR e em processos infecciosos do SNC8,9. Já a leucocitose devido a uma neutrofilia com linfopenia, hiperproteinemia e hiperfibrinogenemia chama a atenção para um processo infeccioso em curso, provavelmente de origem bacteriana10,11. Aumentos na AST, CK e LDH estão relacionados a danos musculares10, provavelmente dos músculos esqueléticos em torno do abscesso vertebral. O tratamento da discoespondilite centra-se no uso prolongado de antibióticos sistêmicos, confinamento e estabilização da coluna vertebral no caso de déficits neurológicos graves12 e embora a antibioticoterapia tenha sido feita o animal não evidenciou melhora significativa. O prognóstico poderia ser melhor se a função motora estivesse menos afetada9. Associando o histórico de caudectomia dias antes do início do quadro neurológico aos achados clínicos 7,13, laboratoriais9,10,12, radiológicos, ultrassonográficos e necroscópicos5,7, o diagnóstico foi de discoespondilite abscedativa com compressão medular. CONCLUSÃO Os exames radiográfico e ultrassonográfico, descritos neste caso, permitiram observar lesões nas vértebras, nos tecidos adjacentes, além da ultrassonografia ter sido útil na colheta de material para a confirmação do diagnóstico de discoespondilte. FIGURA 1: A) Imagem radiográfica da coluna lombar em projeção láterolateral, com enfoque em L2-L3; B) Imagem ultrassonográfica da coluna lombar dos corpos vertebrais de L2 e L3 e osteoproliferação. (Veiga, C.C.P.; Vieira, S.L.; Carvalho, V.D.) FIGURA 2: A) Imagem ultrassonográfica da estrutura cística de alta celularidade indicando tratar-se de abscesso; B) Imagem macrosccópica da região lombar onde havia um grande abscesso vertebral, envolvendo as vértebras L2, L3 e L4 e a musculatura paravertebral adjacente. (Calado, S.B.; Bicalho, J.A.E.; Spíndola, B.F. ) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. FIRTH, E.C.; KERSJES, A.W.; DIK, K.J.; HAGENS, F.M. Haematogenous osteomyelitis in cattle. Vet Rec., 120: 148-152, 1987. 2. ADAMS, S.B. Diskospondylitis in five horses. J Am Vet Med Assoc., 186(3): 270-272, 1985. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 91 3. BAHR, A. In: TRHALL, D.E. Diagnóstico de Radiologia Veterinária. Rio de Janeiro:Elsevier, 2010, p.179-193. 4. HUDSON, J.; KRAMER, M. In: PENNINCK, D.; D`ANJOU, M.A. Atlas de Ultrassonografia de Pequenos Animais. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2011, p.31-41. 5. RISSI, D.R.; FIGHERA, R.A.; IRIGOYEN, L.F.; KOMMERS, G.D.; BARROS, C.S.L. Doenças neurológicas de ovinos na região Central do Rio Grande do Sul. Pesq Vet Bras., 30(3): 222-228, 2010. 6. RODRIGUES, B.S.; MISTIERI, M.L.A.; HENKES, L.E.; THIESEN, R.; ANJOS, B.L.; SCHREINER, T.; POZZOBON, R. Abscesso subdural extramedular em um ovino – relato de caso. Disponível em: http://seer.unipampa.edu.br/index.php/siepe/article/view/2063 em:10/08/2013. 7. MAYHEW, I.G. Large animal neurology: a handbook for veterinary clinicians. Philadelphia: Lea&Febiger, 1989. 8. PUCCIONI-SOHLER, M. Diagnóstico de neuroinfecção com abordagem dos exames do líquido cefalorraquidiano e neuroimagem. Rio de Janeiro: Rubio, 2008. 9. SANTOS, J.F.; MORAES, M.F.D.; MACIEL, T.A.; DUARTE-NETO, P.J.; MENDONÇA, C.L.; OLIVEIRA, D. Características físico-químicas e citológicas do líquor de ovinos sadios da raça santa inês. Ci Anim Bras., 13(3): 382-387, 2012. 10. GONZÁLEZ, F.H.D.; SILVA, S.C. Patologia clínica veterinária. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2008. 11. WEISS, D.J.; WARDROP, J. Schalm's Veterinary Hematology. 6th ed. Iowa: Blackwell Publishing, 2010. 12. RADOSTITS, O.M.; GAY, C.G.; BLOOD, D.C.; HINCHCLIFF, K.W. Clínica veterinária-Um Tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. 9th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 13. HEALY, A.M.; DOHERTY, M.L.; MONAGHAN, M.L.; MCALLISTER, H. Cervicothoracic vertebral osteomyelitis in 14 calves. Vet J. 1997; 154: 227-232, 1997. 35. MIELOGRAFIA EM PEQUENOS RUMINANTES ERIKA RONDON LOPES1; FLÁVIA SERRA SHINIKE1; CRISTIANE YOKOMIZO CORREIA2; MAIZE DAIANE SANTANA SANTOS3, MARIANA ELISA PEREIRA3; YARA SILVA MEIRELES4; EDSON MOLETA COLODEL5; PEDRO EDUARDO BRANDINI NÉSPOLI5. 1 Pós-graduando do curso de residência médica veterinária da UFMT, e-mail: [email protected]; Médica veterinária formada pela UFMT; 3 Graduanda do curso de medicina veterinária da UFMT; 4 Mestranda em Ciências Veterinárias, UFMT, Brasil; 5 Professor adjunto do curso de medicina veterinária, UFMT – Cuiabá – MT. 2 ABSTRACT LOPES, E.R.1; CORREIA, C. Y.2; SHINIKE, F. S1 .; SANTOS, M.D.S.3; PEREIRA, M. E.3; YARA SILVA MEIRELES4; COLODEL, E. M.5; NÉSPOLI, P.B5. MYELOGRAPHY IN SMALL RUMINANTS. Myelography is a radiographic contrast technique that allows the identification and location of spinal cord compressive lesions. In this project it was applied the technique of lumbosacral myelography in small ruminants. There were used two crossbred sheep (Santa Inês) and two crossbred goats, three of them were healthy and one of the goats had lumbar spinal cord syndrome. It was used dissociative anesthesia with ketamine and xylazine, 1,5 mg/kg and 0,1 mg/kg IM iopromida 623 mg/ml respectively and contrast (Ultravist 300®) in dose of 0,4 mg/kg. The anesthetic protocol demonstrated to be safe, with retention of protective reflexes and absence of reflux and ruminal convulsive effects. The puncture in the lumbosacral region provided access to the subarachnoid space, without any subsequent complications. The average contrast dose used for regional spinal cord assessment was satisfactory and enough. KEYWORDS: myelography, lumbosacral, sheep IN T RO D UÇ ÃO A mielografia é uma radiografia contrastada da medula espinhal e das raízes nervosas emergentes (1), sendo um recurso utilizado para avaliar a integridade medular e definir a localização e a extensão das lesões no interior da medula espinhal ou lesões extrínsecas que causam pressão sobre ela (2). Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 92 A técnica de mielografia tem sido realizada na cisterna magna ou na região lombossacra, variando de acordo com a localização da lesão. Utiliza-se meio de contraste não-iônico, solúvel em água, com baixa osmolaridade e baixa neurotoxicidade como iopamidol e ou ioexol na cavidade subaracnóidea em animais sob anestesia geral (3). Em medicina veterinária, o uso desta técnica é mais difundido em animais de companhia, principalmente em caninos. Em ruminantes a técnica tem sido utilizada com maior freqüência em bezerros com compressões da medula espinhal devido a abscessos extradurais (4) e subluxação atlanto-axial (5). Em pequenos ruminantes a técnica tem sido indicada nos casos de mielopatia cervical compressiva (6) e nos casos de malformações vertebrais (7). Entretanto, as descrições da técnica nessas espécies são escassas, apesar da facilidade de sua execução e utilidade em investigar doenças medulares. M ETO DO LO G IA Foram utilizadas duas ovelhas mestiças (Santa Inês) e duas cabras sem distinção de raça com peso entre 26 a 34 kg, no período de julho de 2010 a setembro de 2010. Destes animais, duas ovelhas e uma cabra eram clinicamente sadias, a cabra número 01, apresentou durante o exame clínico, paresia dos membros posteriores, perda de propriocepção, aumento da resposta aos reflexos tendíneos dos membros posteriores e dificuldade em manter-se em estação. Os animais foram submetidos a jejum alimentar de vinte e quatro horas e dieta líquida de doze horas. Em seguida foram avaliados clinicamente os parâmetros de freqüência cardíaca (FC), freqüência respiratória (FR), temperatura retal (TR) e aspectos de mucosas. Foi realizada medicação pré-anestésica (MPA) com cetamina e xilazina na dose de 1,5 mg/Kg e 0,1 mg/Kg respectivamente por via intra-muscular. O plano anestésico foi mantido através de repiques anestésicos de cetamina na dose de 0,7 mg/Kg por via intravenosa, de acordo com as respostas dos reflexos oculopalpebrais, anal, laríngeo e padrão respiratório. A freqüência cardíaca, freqüência respiratória e temperatura corporal foram aferidas ao início do procedimento cirúrgico, a cada 15 minutos e ao final do procedimento. A cabra número 1 não foi aferida. Após a MPA, os espécimes foram posicionados na mesa em decúbito lateral direito, flexionando-se os membros posteriores em sentido cranial, contidos com auxílio de cordas. Foi feito radiografia simples na incidência laterolateral da porção lombossacra da coluna vertebral com a seguinte técnica: 300mA, 18mAs, 62 a 68 Kv com distância foco-filme de 100cm. As radiografias foram confeccionadas com o aparelho radiológico Raicon SH 300 D 300Ma/120Kv e revelação manual. Após preparação cirúrgica da região lombossacra, uma agulha espinhal de calibre 18G 3¹/2 foi introduzida no ponto médio da porção lombossacra, imediatamente caudal ao processo espinhoso da última vértebra lombar (L7) e a primeira vértebra sacral (S1) sob ângulo de 90º até o espaço subaracnóideo. Depois de detectado fluxo de líquor pela agulha, foi injetado contraste iopromida 623mg/ml (Ultravist 300 ®) na dose de 0,4 mg/Kg. Em seguida, realizou-se radiografias nas incidências laterolaterais e ventrodorsais da região. Depois, o animal foi elevado 10 - 20º no sentido cranial em relação à mesa, para que o contraste percorresse a coluna torácica e cervical e confeccionada novas radiografias nas incidências laterolaterais e ventrodorsais da região torácica e cervical. Os animais foram observados até o completo retorno da anestesia, encaminhados para os piquetes com água e alimento. Após cerca de três dias em observação, os animais sofreram eutanásia e foram encaminhados para a necropsia. RE S U LT A DO S E D I SC US SÃ O O protocolo realizado nesse estudo com cetamina e xilazina de acordo com (8) foi eficaz e bem tolerado pelos pequenos ruminantes. Após a aplicação anestésica, entre dois a três minutos, obteve-se a perda de reflexo postural com ótimo relaxamento muscular, obtendo plano anestésico adequado, e o despertar dos animais foi tranqüilo e moderado, cerca de 20 minutos. De acordo com (9), a anestesia dissociativa não produz efeitos extrapiramidais ou alterações paramétricas bruscas, fato observado no presente trabalho. Além disso, o uso de cetamina apresenta a grande vantagem de prevenir aspirações de conteúdos digestivos por manter patente o reflexo de deglutição, mesmo em condições de plano anestésico III. Durante o procedimento não foram observados refluxos ruminais, provavelmente em função do jejum prolongado que foi utilizado e do tempo curto de indução. Apesar de não ser indicado o uso de agentes dissociativos para o procedimento, pois ocasiona o aumento do FSC (fluxo sangüíneo cerebral), da PIC (pressão intracraniana) e da pressão no LCE, (10) afirma que não há uma literatura com protocolo único e ideal. Embora alguns autores, (11) considerem que o uso da cetamina aumenta as chances de ocorrência de ataques convulsivos, o protocolo anestésico conduzido foi rápido, em torno de 30 a 40 minutos, e os animais não manifestaram qualquer complicação neurológica durante o período de observação. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 93 No presente estudo a dose de contraste utilizada foi igual á dose de 0,4mg/Kg, preconizado para mielografia total em caninos (12), os resultados obtidos foram satisfatórios tanto para avaliação regional quanto total da medula espinhal a partir de radiografias seriadas. A cabra número 01 apresentou sintomatologia clínica semelhante à descrita por (4) e o exame radiográfico convencional revelou perda do padrão trabecular normal e lise óssea no corpo da terceira vértebra lombar. Na mielografia verificou-se uma lesão extradural que se estendeu desde a terceira vértebra até a metade cranial da quarta vértebra lombar, caracterizada por estreitamento e desvio uniforme dorsal das colunas de contraste na incidência lateral. Como observado em outras espécies à radiografia simples muitas vezes são imprecisas para indicar o local e a extensão da lesão medular (12). Em outras vezes a lesão da coluna vertebral são sutis ou poucas conclusivas como observado por NESPOLI5(2009) na radiografia de rotina de um ovino com tetraparesia. Nesse caso, houve lesão discreta, pouco conclusiva caracterizada apenas por área com limites pouco definidos com perda de padrão trabecular sobre a sexta vértebra da coluna cervical, que seria melhor caracterizada pela mielografia. Considerando a utilidade de se realizar exames radiográficos em pequenos ruminantes, sem a necessidade de equipamentos de maior potência, a mielografia pode ser útil para indicar mais precisamente o local e o grau de compressão medular principalmente em animais de alto valor zootécnico. CONCLUSÃO O protocolo anestésico demonstrou-se seguro, com permanência de reflexos protetores e ausência de refluxos ruminais e de efeitos convulsivos. A punção na região lombrossacra proporcionou acesso ao espaço subaracnóideo, sem qualquer complicação posterior. E a dose do meio de contraste utilizado foi satisfatória para avaliação regional e total da medula espinhal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Kealy, JK.; Mcallister, H. Radiologia e Ultra-sonografia do Cão e do Gato. 3ª ed. Editora Manole Ltda, Barueri – SP, 2005. p.379-384. 2. Fialho, SAG.; Silva, AM.; Pellegrini, LC.; Graça, DL.; Lopes, STA.; Oliveira, LSS. Mielografia Cervical com Iohexol em Equinos. 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ASPECTOS RADIOGRAFICOS DA SUBLUXAÇÃO DA ARTICULAÇÃO INTERFALANGEANA DISTAL APÓS NEURECTOMIA DIGITAL PALMAR EM EQUINOS – RELATO DE CASO FERNANDA DE ALMEIDA TEIXEIRA¹; ANDERSON LUIZ DE ARAÚJO¹; MARCELA BUCHER BINDA²; DANIEL BESSERT DE ABREU³; SAYONARA CHRISTINA DE SOUZA DO ROSARIO³; MARESSA SILVA TABORDA³; ROSILDA R. S. DALARME³ 1 – Docente do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC 2 – Médica Veterinária Autônoma 3 – Discentes do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC [email protected] UNESC - Av. Fioravante Rossi, 2930, Bairro Martinelli, Colatina-ES, CEP:29.703-900 ABSTRACT TEIXEIRA F.A.; ARAÚJO A.L.; BINDA M.B.; ABREU D.B.; ROSARIO S.C.S.; TABORDA M.S.; DALARME R.S.R.; RADIOGRAPHIC ASPECTS OF THE SUBLUXATION OF THE DISTAL INTERPHALANGEAL JOINT AFTER NEURECTOMY IN EQUINE – CASE REPORT The pain therapy is one of the great challenges of human and veterinary medicine, despite pharmacological advances that have occurred in recent years. In cases of animals that no longer respond to conservative treatment an alternative to minimize clinical signs and give the animal a survival sport is the palmar digit.al neurectomy. this technique has several complications, which can often indicate against the realization of this technique. This paper aims to report radiographic findings found in horses with suspected subluxation or dislocation of the distal interphalangeal joint after the completion of neurectomy. KEY WORDS: EQUINE, SUBLUXATION, NEURECTOMY INTRODUÇÃO A terapia da dor é um dos grandes desafios da medicina veterinária e humana, apesar dos avanços farmacológicos que vem ocorrendo nos últimos anos. O tratamento da dor de caráter crônico não é totalmente livre de efeitos colaterais quando se lança mão dos fármacos disponíveis atualmente com esse objetivo1. Na medicina equina, a neurectomia digital palmar vem sendo utilizada ha algumas décadas com o objetivo de aliviar a dor presente em afecções degenerativas podais não responsivas as terapias conservativas2. A síndrome do navicular é uma das causas mais comuns de claudicação intermitente, no membro torácico em equinos atletas2,4. Diversas formas de tratamento são descritas na literatura e indicadas, desde o ferrageamento corretivo a utilização de fármacos agentes hemorreológicos como a cloridrato de isoxsuprina2. Nos casos de animais que já não respondem ao tratamento conservativo uma alternativa para minimizar os sinais clínicos e dar uma sobrevida esportiva ao animal é a neurectomia digital palmar3. Esta técnica consiste na ressecção cirúrgica de um fragmento do nervo digital palmar dos membros acometidos, sendo um tratamento cirúrgico paliativo que possui indicação para abolição da dor5. A neurectomia digital palmar possui diversas complicações, que muitas vezes podem contra indicar a realização desta técnica, como neuromas, rupturas do tendão flexor digital profundo, exungulação e dessensibilização completa da região2,5,6 que muitas vezes podem levar a indicação da eutanásia do animal acometido por lesões mais graves7. O diagnóstico destas lesões é baseado no histórico, sinais clínicos e achados nos exames complementares de imagem, como o raio-x e a ultrassonografia2. O presente trabalho tem como objetivo relatar achados radiográficos encontrados em equinos com suspeita de subluxação ou luxação da articulação interfalangeana distal após a realização da neurectomia. METODOLOGIA Três equinos, duas fêmeas, 12 anos e outra de 14 anos de idade um macho com 18 anos de idade, na região da grande Vitória- ES, todos da raça Brasileiro de Hipismo, utilizados em competições de salto, com diagnóstico de síndrome do navicular foram encaminhados para a realização da neurectomia digital palmar por não mais responderem aos tratamentos conservativos. Após a realização da cirurgia os animais retornaram as atividades esportivas de maneira satisfatória porem após um período médio de 12 meses, apresentaram quadro de claudicação aguda (Grau 3-4 AEEP).Os animais foram submetidos a exame clínico onde foi observado aumento de volume na região da quartela e na manipulação da mesma pode ser observado movimentação excessiva, crepitação discreta na região e dor. Foram realizados exames radiográficos, sendo realizadas duas projeções: uma dorso palmar e outra latero medial. Após a avaliação do exame radiográfico foi diagnosticado a subluxação da articulação interfalangeana distal nos três animais avaliados. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 95 RESULTADOS E DISCUSSÃO As projeções radiográficas foram avaliadas com o auxílio de negatoscopio em sala escura onde foram constatados os sinais pertinentes a subluxação que consistiam de aumento do espaço articular, desalinhamento da superfície articular (Figura 1 e 2). Os animais foram manejados com imobilização e restrição de movimento e de acordo com a resposta ao tratamento conservativo foi optado pela manutenção do animal vivo sem realização de atividade esportiva ou realização da eutanásia. Destes animais um animal foi mantido vivo e se encontra em boas condições e dois animais que apresentaram complicações da subluxação, como infecção articular e exungulação foi indicada a eutanásia de ambos os animais. É imprescindível ao médico veterinário conhecer as indicações e contra-indicações da técnica de neurectomia e esclarecer o proprietário sobre todos os riscos pertinentes a técnica. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 1- FALEIROS, R.R.; TINTO J.J.R.; ESCOBAR, A.; ALVES, G.E.S. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec, (60): 335-340, 2008. 2- STASHAK, T.S. Claudicação em Equinos. 5. Ed. São Paulo: Editora Roca, 2006, 1093p. 3- HENDRICKSON, D.A. Técnicas Cirúrgicas em Grandes Animais. 3. Ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2010, 312p. 4- PEIXOTO, C.I.C et al. Pesq. Vet. Bras. 30(8), 651-658, 2010. 5- AUER, J.A; STICK, J.A. EquineSurgery. 3. Ed. St.Louis: Elsevier, 2006, 1390p. 6- SMITH, B.P. Medicina Interna de Grandes Animais. 3. Ed. São Paulo: Editora Manole, 2006, 1728p. 7- CASTELIJNS, C.G.; VALDÉS, M.A. Equinus. 10 (26), 18-23, 2010. Figura 1: Imagem radiográfica demonstrando o aumento do espaço na articulação interfalangeana distal. Fonte: Arquivo Pessoal. Figura 2: Imagem radiográfica demonstrando o desalinhamento da superfície articular da articulação interfalangeana distal. Fonte: Arquivo Pessoal. 37. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO AUXÍLIO DIAGNÓSTICO DE NEOPLASIA MALIGNA DE NERVO TRIGÊMIO EM UM CÃO – RELATO DE CASO MARIANA PAVELSKI2, ANA PAULA DURIEUX ROBERGE3, BÁRBARA CRISTINA SANSON2, KAMILA ALCALÁ GONÇALVES2, RENATO SILVA DE SOUSA4, TILDE RODRIGUES FROES3 Aluna do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias – nível Doutorado da Universidade Federal do Paraná Médicas Veterinárias Residentes do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná 1 Professores adjuntos do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Paraná Setor de Ciências Agrárias – Universidade Federal do Paraná - Rua dos funcionários, 1540 Juvevê, CEP 80035-050 Curitiba- PR. E-mail contato: [email protected] 1 1 ABSTRACT PAVELSKI M.; ROBERGE A.P.D.; SANSON B.C.; SOUSA R.S.; GONÇALVES A.K., FROES T.R. COMPUTED TOMOGRAPHY TO AID IN DIAGNOSIS OF A TRIGEMINAL NERVE CANCER – CASE REPORT Computed tomography (CT) is image tool very helpful to evaluate the skull and its structures, there is no overlapping of images, shows excellent contrast between Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 96 structures, allows image reconstruction, various cross-sections and thus, better visibility of the location, extent and severity of the disease. The aim of this case report is to show the contribution of CT in the diagnosis of a nerve sheat tumor in a dog, uncommon type of cancer, the animal presented as a main clinical sign difficulty to open his mouth. KEYWORDS: nerve sheat tumor, computed tomography, trigeminal nerve INTRODUÇÃO O crânio tem uma anatomia complexa nos cães e de difícil interpretação visual a partir de imagens bidimensionais como a radiografia, dessa forma, a tomografia computadorizada é uma excelente escolha quando se deseja avaliar qualquer estrutura componente do crânio, seja: cavidades nasais, seios paranasais, cavidade craniana, maxila, mandíbula ou outro componente craniano1. A tomografia computadorizada (TC) apresenta excelente contraste entre estruturas, não ocasiona superposição de imagens, permite reconstrução de imagens, diversos cortes transversais, e com isso, melhor visibilidade da localização, extensão e severidade da enfermidade2-3. O tumor de bainha de nervos periféricos pode ter origem nas raízes nervosas ou em nervos periféricos (intra ou extracranianos), são incomuns em cães e raros em gatos4. Tais neoplasias podem surgir em locais adjacentes e gerar compressão nos nervos periféricos sendo o nervo trigêmeo o mais afetado5. Por meio da TC é possível avaliar detalhadamente o forame da passagem dos nervos cranianos, neoformações adjacentes ou na origem dos nervos, no seu percurso intra ou extra craniano 5. O objetivo desse relato é descrever a importância da tomografia computadorizada como diagnóstico complementar em um cão com tumor maligno da bainha do nervo trigêmeo direito e ainda ponderar sobre os aspectos tomográficos visibilizados. METODOLOGIA Foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná (HV/UFPR), um cão macho, com 8 anos de idade, da raça Whippet, com histórico de emagrecimento, dificuldade em abrir a boca, secreção nasal unilateral há mais de dois meses, não responsiva ao tratamento com corticoide tópico. Ao exame físico foi avaliado coloração de mucosas, tempo de preenchimento capilar, ausculta cardíaca e pulmonar, temperatura retal, tamanho de linfonodos periféricos, simetria facial, passagem de ar pelas narinas (teste do algodão), avaliação neurológica (pares de nervos cranianos) e venopunção da jugular para análise laboratorial (hemograma, testes bioquímicos). O paciente, logo em seguida, foi encaminhado para o setor de diagnóstico por imagem no qual se realizou exames radiográficos do crânio. A principal suspeita clínica foi de uma possível neoplasia em cavidade nasal já com envolvimento de outras estruturas. Demais diagnósticos diferenciais foram de rinite fúngica e miosite mastigatória associada. Para o exame radiográfico o animal foi anestesiado com anestésico geral de curta duração (propofol 4mg/Kg IV). Foram realizadas as projeções laterais (esquerda e direita), dorsoventral, rostrocaudal e oblíquas (direita e esquerda) do crânio. A projeção intraoral não foi possível realizar devido a não abertura da boca do paciente. Radiografias torácicas também foram realizadas para avaliação dos campos pulmonares, sendo feita as projeções laterais (direita e esquerda) e ventrodorsal. O equipamento utilizado foi o NeoDiagnomax ZB-1 (Medicor Budapest®/Hungria) acoplado a um digitalizador CR 30-X AGFA (AGFA Healthcare®/Bélgica). Logo após as radiografias, foi feita coleta estéril de material da cavidade nasal esquerda e direita com o uso de um swab nasal, ambas as amostras foram enviadas para citologia e cultura bacteriana e fúngica. Perante os achados radiográficos e os resultados obtidos na cultura e tratamento clínico não efetivo, foi recomendado dar continuidade à investigação diagnóstica, sendo sugerida a realização de uma tomografia computadorizada e rinoscopia. A tomografia computadorizada foi realizada vinte dias após o primeiro atendimento, em uma clínica externa, com o animal sob anestesia geral de curta duração (propofol 4mg/Kg), com o equipamento multislice ligh speed VCT XT, 64 canais (GE Healthcare®/Inglaterra). Vinte e cinco dias após o primeiro atendimento o paciente retornou ao HV/UFPR para nova avaliação, a proprietária relatou piora do quadro clínico, paciente apresentava-se apático, com uma maior restrição da abertura da boca e consequente dificuldade na ingestão de sólidos e líquidos. O paciente foi internado para receber terapia de suporte, depois de dois dias foi submetido à rinoscopia (fibroscópio rígido - 5 mm Karl Storz®/Alemanha) associada a biópsias incisional das estruturas visibilizadas por meio da tomografia computadorizada. Os procedimentos foram realizados com o animal sob anestesia geral, com fornecimento de oxigênio via traqueostomia. O animal veio a óbito durante a realização do procedimento. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao exame físico o paciente apresentava mucosas normocoradas, tempo de preenchimento capilar de 2 segundos, frequência cardíaca 128 batimentos por minuto, frequência respiratório de 40 movimentos por minuto, sem alterações nas auscultas pulmonar e cardíaca, com temperatura retal de 38,6ºC e sem Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 97 alterações em linfonodos periféricos. Na inspeção das narinas observou-se por meio do teste com algodão que a passagem de ar na narina esquerda era notoriamente reduzida. A proprietária relatou presença de secreção mucopurulenta da mesma narina. O animal não apresentava assimetria facial, nem dor à palpação da região, porém a abertura da boca era reduzida. Ao exame neurológico não foram observadas alterações dignas de nota. Segundo a proprietária o animal estava se alimentando e deglutindo normalmente. Na projeção dorsoventral da radiografia do crânio observou-se irregularidade na superfície do vômer, com redução de radiopacidade dos etmo turbinados e da concha nasal dorsal etmoidal do lado esquerdo. Em projeção rostrocaudal, notou-se perda da definição de um dos compartimentos do seio frontal esquerdo. A articulação temporomandibular encontrava-se congruente e regular. Não foram notadas alterações na maxila, mandíbula e tecidos moles adjacentes no exame do crânio e nem na radiografia torácica. Os achados do exame físico de secreção nasal unilateral mucopurulenta, diminuição do fluxo de ar e apatia e as alterações descritas no exame radiográfico da cavidade nasal foram compatíveis principalmente com os diagnósticos diferenciais de rinite fúngica e neoplasia associado à rinite bacteriana corroborando com a literatura6. A citologia de ambas as cavidades nasais foi inconclusiva. Nas amostras enviadas para cultura, houve um crescimento profuso bacteriano (Corynebacterium sp) e não houve crescimento fúngico. Mediante resultado do antibiograma optou-se por tratamento sistêmico com doxiciclina 5mg/Kg a cada 12 horas durante 15 dias. Corynebacterium é relatado como pertencendo à flora nasal em animais saudáveis quando há crescimento profuso pode ser um processo infeccioso secundário, como pressuposto nesse caso, ou estar associado à imunossupressão do paciente7. No exame tomográfico foi visibilizado vômer preservado, porém com pequeno deslocamento à direita por uma estrutura de aproximadamente 1,15cm, com área de calcificação em concha nasal esquerda, melhor observada no corte sagital, presença de lise óssea de turbinados adjacentes à estrutura, bem como lise de seio frontal esquerdo. Achados tomográficos compatíveis com os diagnósticos diferenciais acima citados. Pelo exame tomográfico é possível identificar e determinar a extensão da lesão, porém exames mais invasivos como a rinoscopia e biópsia nesse caso, devem ser executados, na tentativa de determinar um diagnóstico definitivo, assim como preconizado nesse paciente8. Ainda pelo exame tomográfico foi visibilizada uma massa do lado direito em região de tecidos moles, proximal ao ângulo caudal da mandíbula (Figura 1) melhor visibilizada nos cortes transversais. Marcante lise óssea visibilizada pela hipoatenuação da cortical da mandíbula, perda de definição e contorno dos tecidos adjacentes à massa e ainda pode-se observar atrofia muscular da hemiface direita em relação à esquerda. Tais lesões não foram identificadas ao exame radiográfico demonstrando a importância do exame tomográfico. Devido à resolução espacial da tomografia bem como a melhor diferenciação entre graus de cinza proporcionados pelas diferentes janelas é possível detectar lesões precocemente em relação à radiografia, devendo sempre indicar essa técnica para análise do crânio e estruturas afins 3. No retorno, 25 dias depois do primeiro atendimento, o paciente encontrava-se apático, com acentuada dificuldade para ingerir alimentos devido à impossibilidade de abrir a boca. Ao exame físico, foi observada visualmente uma discreta atrofia dos músculos da hemiface esquerda e um aumento de volume palpável de consistência firme próximo ao ângulo da mandíbula direita. Ao exame neurológico notaramse diminuição da sensibilidade facial e da mucosa nasal e redução do reflexo palpebral no canto lateral, ambas as alterações no lado direito. Os achados tomográficos relacionados com os sinais clínicos descritos: diminuição dos reflexos referidos atrofia muscular e a presença de um aumento de volume sugerem envolvimento de nervo trigêmeo (ramos oftálmico mandibular e maxilar) 9, tendo processo neoplásico como principal diagnóstico diferencial10. Denota-se aqui a importância e sensibilidade do exame tomográfico na identificação da lesão antes da mesma ser detectada de forma clara no exame físico. O exame histopatológico do fragmento da estrutura da cavidade nasal foi inconclusivo. O fragmento do músculo masseter não apresentava alterações, sendo excluído como diagnóstico diferencial a miosite mastigatória9. Já o fragmento da estrutura no ramo caudal da mandíbula era constituído por feixes de musculatura esquelética estriada acompanhados por uma proliferação de células neoplásicas, não delimitada e não encapsulada organizada em feixes que se entrelaçavam formando ondulações, separados por moderado a acentuado estroma fibrocolagenoso. As células neoplásicas eram fusiformes com moderada a acentuada anisocitose e anisocariose, citoplasma eosinofílico, pouco delimitado e núcleo arredondado a oval com 1 a 3 nucléolos evidentes. Alterações sugestivas de tumor maligno da bainha de nervo periférico (Figura 2). De acordo com a literatura esses tumores são incomuns em cães, sendo o nervo trigêmeo um dos mais afetados e tem um prognóstico ruim5-10. Associando os sinais clínicos, achados tomográficos e histológicos acredita-se que nesse caso era o nervo trigêmeo o afetado. A terminologia: neoplasia de tumores periféricos pode ser utilizada quando há suspeita de Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 98 neurofibrossarcomas e schwannoma, para determinação histológica específica testes imunohistoquímicos podem ser associados10, os mesmos estão em andamento no caso descrito. Figura 1 – Imagem tomográfica do crânio de um cão, em janela de tecidos moles e corte transversal. Círculo vermelho indicando localização da massa. Observa-se também atrofia muscular do lado direito. Figura 2 – Tumor de bainha de nervo periférico. Corte histológico de um fragmento de uma massa em região caudal de mandíbula (HE, objetiva 10 X). CONCLUSÃO A tomografia é uma técnica importante na elucidação diagnóstica quando presentes alterações na abertura da boca, cavidade nasal, ou sinais clínicos relacionados a estruturas do crânio e afins. Processos neoplásicos devem ser considerados como diagnóstico diferencial nesses casos. REFERÊNCIAS 1.THRALL D.E. Principles of radiographic interpretation of the axial skeleton In: ____ Textbook of veterinary diagnostic radiology 6 ed. Philadelphia: Saunders, 2013. p. 100-113. 2.LECOUTER R.A.; FIKE J.R.; CANN C.E.; PEDROIA V.G. Computed tomography of brain tumors in the caudal fossa of the dog, Veterinary Radiology , San Francisco 22(6): 244-251, 1981. 3.SCHWARZ T. e JOHNSON V. Principles of CT image interpretation In: SCHWARZ T. e SAUNDERS J. Veterinary Computed TomographyWiley-Blackwesle, Iowa, USA, 2011, p. 29-34. 4. DEWEY C.W. In:____ Neurologia de Cães e Gatos – Guia Prático. São Paulo: Roca, 2006.p. 5.COUTURIER L. Cranial Nerves and associated skull foramina In: SCHWARZ T. e SAUNDERS J. Veterinary Computed TomographyWiley-Blackwesle, Iowa, USA, 2011, p. 205 -208. 6.PEETERS D.; CLEREX C. Update on canine sinosal aspergillosis Veterinary clinics small animal practice Liége (37): 901-916, 2007. 7. PRESCOTT, J.F.; GREENE C.E. Gram positive bacterial infections In: GREENE C.E. Infectious Diseases of dog and cat Saint Louis: Elsevier, 2012. p.325-340. 8.Kuehn N.F. Nasal computed tomography Clinical Techniques in small Animall Practice 21(2): 55 – 59, 2006. 9.BAGLEY, R.S.; WHEELER, S.J.; KLOPP, L.; SORJONEN, D.C.; THOMAS, W.B.; WILKENS, B.E.; GAVIN, P.R.; DENNIS, R. Clinical features of trigeminal nerve sheat tumor in 10 dogs Journal American Animal Hospital Association (34): 19-25, 1998. 10.WITHROW,S.J.; LECOUTEUR, R.A Tumours of the nervous system In: WITHROW,S.J.; MCEWEN E.G. Small Animal Clinical Oncology Saint Louis: Saunders, 2013, p. 659-684. 38. ULTRASSONOGRAFIA, RADIOGRAFIA E TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO AUXILIO DIAGNÓSTICO DE TIMOMA EM UM CÃO: RELATO DE CASO NATHÁLIA APARECIDA DE PAULA1 ; PATRÍCIA NUNES DE OLIVEIRA1; ANA PAULA ARAUJO COSTA2; NATHÁLIA BRAGATO3 ; LUIZ HENRIQUE DA SILVA4; SEVERIANA CÂNDIDA MENDONÇA CUNHA CARNEIRO5 1 Alunas do Programa de Residência Médico-Veterinária, Diagnóstico por Imagem, EVZ-UFG, e-mail: [email protected] Doutoranda em Ciência Animal, Bolsista CNPq, EVZ-UFG 3 Mestranda em Ciência Animal, Bolsista CNPq, EVZ-UFG 4 Doutorando em Ciência Animal, Bolsista Capes, EVZ-UFG 5 Médica Veterinária Doutora em Ciência Animal, HV/EVZ/UFG 2 Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 99 ABSTRACT: PAULA N.A.; OLIVEIRA P.N.; COSTA A.P.A.; BRAGATA N.; SILVA L.H.; CARNEIRO, S.C.M.C. Ultrasonography, radiography and computed tomography as diagnostic aids in a dog's thymoma : a case report. Thymomas are rare occurrence epithelial tumors of the thymus1. Imaging techniques, such as radiology, ultrasound and computer tomography (CT) are of great importance as complementary methods in the evaluation of this neoplasia in dogs. The aim of the present report were to describe the radiographic, sonographic and CT findings in a case of thymoma in a dog, which occupied a large thoracic extension. The CT scan was essential for identifying the mass, its length and its location, and to rule out involvement of adjacent structures and metastases in the lung parenchyma, but histopathological examination was essential to diagnose the nature of the mass. KEYWORDS: Thymus, thoracic mass, imaging techniques INTRODUÇÃO O timo é um órgão linfoepitelial, sendo um local importante de desenvolvimento e diferenciação das células-T. Ele atrofia após a puberdade, mas podem ocorrer proliferações neoplásicas nos remanescente2,3. Timomas são neoplasias do epitélio do timo na qual existem vários graus de infiltração linfocítica benigna1, são raros em cães e muito menos comuns em gatos, em geral ocorrem em animais mais velhos. Em relação ao sexo, observa-se maior incidência dessa neoplasia em fêmeas de cães. A maioria é benigna, mas timomas malignos também têm sido relatados em animais. Os timomas benignos são bem encapsulados e não são invasivos, ao passo que os malignos invadem as estruturas adjacentes, como veia cava cranial, traquéia, esôfago e pericárdio. As metástases são incomuns, mas podem ocorrer em pulmões, fígado e ossos4. É classificado em predominantemente epitelial, predominantemente linfocítico, ou misto5. Animais com timomas frequentemente apresentam sinais clínicos relacionados com a ocupação de espaço da massa no mediastino cranial6, e alguns deles estão associados com miastenia grave adquirida e megaesôfago7. Com isso, objetivou-se com o resumo descrever um caso de timoma em um cão, ressaltando a importância dos exames de imagem no auxilio diagnóstico. RELATO DO CASO Foi atendido no Hospital Veterinário da UFG um cão mestiço da raça Lhasa Apso de dez anos, fêmea, com halitose e cálculo dentário, e histórico de hiporexia, apatia e emagrecimento progressivo. Ao exame físico notou-se desidratação, caquexia e abafamento das bulhas cardíacas no momento da auscultação cardíaca. O animal foi encaminhado ao serviço de diagnóstico por imagem, onde foram realizados exames radiográficos e ultrassonográfico do tórax. No exame radiográfico latero-lateral esquerdo e ventro-dorsal do tórax verificou-se aumento de radiopacidade em região cranial, medial e caudal do hemitórax esquerdo, deslocamento dorsal da traqueia e perda da silhueta cardíaca (Figura 1). Na ultrassonografia observou-se presença de uma massa de ecogenicidade predominantemente hipoecóica e de característica sólido-cística, hipovascularizada, com margem definida e regular (Figura 2A). Posteriormente realizou-se exame tomográfico, com aparelho helicoidal, do tórax com cortes de 5mm de espessura e reconstruções multiplanares nas fases sem e com contraste intravenoso. O exame revelou presença de uma massa de 15cm de comprimento, 6,8cm de largura e 4,6cm de altura ligeiramente hiperatenuante em relação às estruturas mediastinais, de aspecto heterogêneo e septado, com realce heterogêneo após administração do meio de contraste, apresentando áreas hipoatenuantes em permeio, podendo sugerir necrose, localizada na porção ventral e medial do espaço mediastinal cranial, médio e caudal esquerdos, estendendo-se para o mediastino cranial direito, topograficamente relacionado à silhueta do timo, deslocando dorsal e caudalmente os lobos pulmonares esquerdos, caudalmente o lobo pulmonar cranial direito e a silhueta cardíaca à direita (Figura 2B), não foram encontrados nódulos metastáticos no parênquima pulmonar. O paciente então foi submetido a toractomia esternal para exérese da massa. No exame histopatológico foi confirmado a suspeita de timoma. DISCUSSÃO O timoma é uma neoplasia mediastínica rara e acomete principalmente animais idosos e fêmeas 4, tal qual o animal do presente relato. Essa neoplasia é tipicamente não invasiva, de crescimento lento e raramente metastático8,9, assim como ocorreu neste relato, onde o animal não apresentava metástase. A alteração mediastinal foi sugerida pelo exame radiográfico, porém foi por meio da tomografia computadorizada que se tornou possível identificar a massa, estabelecer com precisão a sua localização e extensão, o acometimento de estruturas adjacentes. Além disso, a avaliação do parênquima pulmonar foi mais precisa, descartando nódulos metastáticos. A ultrassonografia também foi de grande valia, já que este exame possui vantagens, tais como: identificar a consistência da massa (sólida, líquida ou mista); delimitar contornos e dimensões10; avaliar se há infiltrações em estruturas adjacentes; determinar se há Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 100 vascularização interna ou periférica, e a sua intensidade, por meio da técnica de Color Doppler, além de guiar na punção por agulha fina ou biópsia11. CONCLUSÃO As características sonográficas, radiográficas e tomográficas são de grande valia no diagnóstico de massas mediastinais, assim como no presente relato. Contudo, vale ressaltar que massas mediastinais não podem ser diferenciadas com base somente nesses exames e que o exame histopatológico é imprescindível para diagnosticar a natureza da lesão. Figura 1: Imagem radiográfica em projeção lateral esquerda (A) e ventrodorsal (B) mostrando aumento de radiopacidade em região cranial, medial e caudal de hemitórax esquerdo, deslocamento dorsal da traqueia (seta) e perda da silhueta cardíaca. Figura 2: (A) Imagem ultrassonográfica demonstrando massa de ecogenicidade predominantemente hipoecóica e de característica sólido-cística, com margem definida e regular. (B) Imagem tomográfica demonstrando a extensão da massa mediastinal (Timoma), e deslocamento do coração. REFERÊNCIAS 1. ROSAI J, LEVINE GD. Tumors of the thymus. In:Firminger HI, ed. Atlas of Tumor Pathology, 2nd series, fasc. 13. Washington:Armed Forces Institute of Pathology, 1976: 34-161. 2. ADRIENNE C. MOFFET. Metastatic thymoma and acquired generalized myasthenia gravis in a beagle. Can Vet J 2007;48:91–93. 3. LAINESSE MF, TAYLOR SM, MYERS SL, HAINES D, FOWLER JD. Focal myastheis gravis as a paraneoplastic syndrome of canine thymoma: Improvement following thymectomy. J Am Anim Hosp Assoc 1996; 32:111–117. 4. DALECK, C.R.; DE NARDI, A.B.; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. 1ed. São Paulo: Roca Ltda., 2009, Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 101 5. JACOBS R.M., MESSICK J.B., VALLI V.E.: 2002, Tumors of the hemolymphatic system. In: Tumors in domestic animals, ed. Meuten D.J., 4th ed., pp. 119–198. Iowa State Press, Ames, IA. 6. CATHERINE A. RAE, ROBERT M. JACOBS, C. GUILLERMO COUTO. A comparison between the cytological and histological characteristics in thirteen canine and feline thymomas. Can Vet J Volume 30, June 1989. 7. KAZUYUKI UCHID A, YUICHI AWAMURA, TOMOKO NAKAMURA, RYOJI YAMAGUCHI AND SUSUMU TATEYAMA. Thymoma and Multiple Thymic Cysts in a Dog with Acquired Myasthenia Gravis. J. Vet. Med. Sci. 64(7): 637–640, 2002. 8. CHAN J.K.C.: 2000, Tumors of the lymphoreticular system—part C: the thymus. In: Diagnostic histopathology of tumors, ed. Fletcher C.D.M., 2nd ed. v. 2, pp. 1270–1315. Churchill Livingstone, London, UK 9. MELLANBY RJ, MELLOR PJ, HERRTAGE ME. What is your diagnosis? J Small Anim Pract 2004;45:589,626–628. 10. D’ANNA, E.; GÓMEZ, N. El diagnóstico por imágenes del linfoma felino. http://www.aamefe.org/diagnostico_imagenes_linfoma_felino.htm 11. HECHT, S. Thorax. In: PENNINCK, D.; DÁNJOU, M.A. Atlas of Small Ultrasonography: Iowa, 2008. p. 130-135. 39. TUMOR DE BAINHA DE NERVO TRIGÊMEO EM DACHSHUND PAULA MAYER COSTA1; RENATO SACCHETTO CESAR TÔRRES2; SUZANE LÍLIAN BEIER2; ROGÉRIA SERAKIDES2; ELIANE GONÇALVES DE MELO2; NATÁLIA DE MELO OCARINO2, JUNEO FREITAS SILVA3; TATIANA MALAGOLI TAGUCHI4; PABLO HERTHEL CARVALHO3; ALINE PINTO DE PINTO5; FERNANDA GUIMARÃES MIRANDA4; LÍVIA CALAIS GUERRA5 1 – Mestre, médica veterinária da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (EV-UFMG) – Av. Antônio Carlos 6627 Caixa Postal 567, campus Pampulha da UFMG - CEP 30123-970. Belo Horizonte, MG - [email protected] 2 – Professor (a) Doutor (a) da Universidade Federal de Minas Gerais (EV-UFMG) 3 – Doutorando da Universidade Federal de Minas Gerais (EV-UFMG) 4 – Mestrando da Universidade Federal de Minas Gerais (EV-UFMG) 5 – Residente II do diagnóstico por imagem da Universidade Federal de Minas Gerais (EV-UFMG) COSTA, P.M.; TÔRRES, R.C.S; BEIER, S.L; SERAKIDES, R.; MELO, E.G.; OCARINO, N. M.; SILVA, J.F.; TAGUCHI, T.M.; CARVALHO, P.H.; PINTO, A. P.; MIRANDA, F.G.; GUERRA, L.C. TRIGEMINAL NERVE SHEATH TUMOR IN DACHSHUND. Trigeminal nerve sheath tumor is a rare disease of the cranial nerves most commonly diagnosed with the aid of magnetic resonance imaging, but it can be detected by computed tomography. A tumor of the trigeminal nerve in a dog female Dachshund with 9 years of age who had unilateral motor and sensory progressive dysfunction of the trigeminal was diagnosed by computed tomography. Six months later, the animal was euthanized and necropsied. We confirmed the diagnosis of trigeminal nerve sheath tumor by histopathological and immunohistochemical analysis. KEYWORDS: dog, computed tomography, trigeminal nerve tumor. INTRODUÇÃO O nervo trigêmeo considerado o maior nervo craniano apresenta características funcionais motoras da musculatura mastigatória e sensoriais da face, sendo proveniente da ponte e prossegue através do canal do nervo trigêmeo, onde se divide em três ramos e cada um avança por orifícios diferentes no crânio. O ramo oftálmico por sua vez segue através da fissura orbital, o maxilar penetra o forame redondo e emerge na órbita, já ramo mandibular deixa o crânio através do forame oval 1. Os métodos de diagnóstico por imagem, particularmente a ressonância magnética (RM), podem ser úteis em casos de suspeita de neurite1 e de tumores de nervos, que por sua vez são originários da célula de Schwann ou de fibroblastos perineurais. Associado a massa, geralmente única, visibiliza-se alargamento dos forames por onde os nervos progridem para exterior do crânio 1,2. Existem várias denominações para cada tipo tumoral, porém são tratados genericamente como tumores de bainha de nervo periférico 3, pois são difíceis de serem diferenciados1,2,3. O objetivo do presente trabalho é discorrer sobre a relevância da tomografia computadorizada (TC) para o diagnóstico de neoplasias de nervos cranianos, especificamente do nervo trigêmeo, que é uma condição rara. Além disso, essa ferramenta diagnóstica pode ser mais sensível para detectar alterações ósseas dos trajetos dessas estruturas, presenciada pelo relato a seguir. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 102 METODOLOGIA Uma cadela dachshund com 9 anos de idade, apresentou histórico crônico progressivo de hipotrofia dos músculos temporal e masseter, e enoftalmia direitos. Notou-se ao exame neurológico que animal apresentava, além disso, analgesia hemifacial direita, cujas alterações eram sugestivas de lesão do nervo trigêmeo. Foram realizados estudos radiográficos do crânio, os quais não foram conclusivos (dados não demontrados). Por conseguinte a paciente foi encaminhada ao Hospital Veterinário da UFMG para anestesia e realização de TC, com aparelho Siemens Somaton AR.T, aquisição de cortes axiais simples e contrastados (iohexol; 2ml/kg/IV) de 2 e 3mm e reconstrução multiplanar. Consequentemente devido a suspeita de neoplasia foi proposto tratamento quimioterápico com lomustina e prednisona com sobrevida de 6 meses. Por conseguinte realizou-se necropsia, exame histopatológico e imunoistoquímico do tumor. RESULTADOS E DISCUSSÃO Visibilizou-se na TC presença massa arredondada, com base ampla, isodensa (40HU) em relação ao encéfalo. Apresentava captação heterogênea de contraste e dimensões de 2,0 (largura) x 0,7 (altura) x 2,3cm (comprimento) (Fig.2). A massa encontrava-se em íntimo contato com osso basiesfenóide e parte petrosa do osso temporal, provocando “efeito massa” evidenciado pelo deslocamento dorsal do diencéfalo, mesencéfalo e ponte direitos. Além disso, estava associada às áreas de lise no osso na crista petrosa do osso temporal direitos, culminando com alargamento do canal do nervo trigêmeo (Fig.2,3). Pode-se verificar ainda, osteólise ao redor do forame redondo e canal alar direitos (Fig.1). Associada a essas alterações pode-se observar redução de volume da musculatura temporal, masseter (Fig.1) e pterigoidea direitas. Com o auxílio da TC associado às informações clínicas pode se concluir que havia massa aparentemente de origem extra-axial, comprimindo moderadamente o diencéfalo, mesencéfalo (Fig.2) e ponte, que é uma característica de tumor de bainha de nervo periférico4. Apesar de esses tumores possuírem na sua maioria padrão extra-axial, cuidado deve-se ter, pois há descrição desses tipos de neoplasias com aparência intra-axial e podem não estar associados com os pares de nervos cranianos 5. A presença de massa, com captação de contraste e pela repercussão sobre estruturas adjacentes associadas características invasivas com padrão osteolítico, visibilizado também pelo alargamento de canais e forames que envolvem o nervo (Figs. 1,2,3,4), sugerem neoplasia maligna do nervo trigêmeo2. Essa é uma afecção rara em nervos cranianos4,5,6,7, sendo mais frequentes os tumores originários do vestibulococlear e facial6. Um outro tipo de tumor que pode acometer a região e deverá ser descrito como diferencial é o meningioma, porém é mais frequente na meninge do telencéfalo e geralmente há hiperostose7. Entretanto, deve-se fazer diagnóstico diferencial entre as neoplasias e a neurite, que caracteriza-se pela evidência de hipotrofia muscular, espessamento e captação de contraste pelo nervo, porém sem a evidência de massa2,4. No presente caso, o diagnóstico de neurite foi afastado devido à observação do “efeito massa” moderado (Fig.2,4) igualmente já citado por outros autores 7, além da osteólise (Figs.1,2,3,4), que também já foi observada em felino com schwannoma maligno3. Vários pesquisadores tem utilizado a RM, provavelmente pelo acesso facilitado à medicina veterinária internacional. Portanto, apesar da TC ter sido de grande valia para esse caso, torna-se necessário a comparação das alterações dessa afecção entre os métodos, uma delas é que os schwannomas são isointensos em T12,4,6,7 e com formato arredondado 4,7 o que pode ser verificado nesse paciente onde o tumor apresentava-se isodenso em relação ao parênquima encefálico e com o mesmo formato (Fig.2). Outra característica a ser comparada é o tipo de captação de contraste, que geralmente é homogênea 2,7 a qual não foi visibilizada nesse caso (Fig. 2,4), porém também verifica-se heterogenicidade em alguns casos2. Essa propriedade pode ser explicada por áreas mais celulares que outras, tornando irregular a distribuição de contraste. Todas essas alterações também foram associadas ao alargamento do canal do nervo trigêmeo e hipotrofia da musculatura mastigatória2, também demonstrada (Fig.1,2,3). O animal foi eutanasiado por apresentar sinais clínicos de comprometimento do tronco encefálico e ao exame histopatológico, foi observada proliferação neoplásica mesenquimal parcialmente delimitada, não encapsulada, expansiva e infiltrativa adjacente ao córtex cerebral. As células neoplásicas formavam feixes celulares que se organizavam em padrão sólido e em espiral. As células apresentavam citoplasma amplo, alongado, eosinofílico e com limites pouco definidos. O núcleo era oval ou fusiforme, com cromatina frouxa, nucléolos múltiplos e proeminentes e 6 mitoses típicas/campo na objetiva de 40X. Havia também figuras de mitose atípicas. O pleomorfismo celular era intenso com anisocitose e anisocariose intensas. Áreas multifocais de necrose e hemorragia também foram observadas no interior da neoplasia. Adjacente à área neoplásica havia compressão do parênquima com vacuolização do neurópilo, degeneração e necrose neuronal, degeneração walleriana com formação de balão axonal e infiltrado inflamatório linfocítico multifocal discreto. Pelo exame imunoistoquímico, as células neoplásicas apresentavam expressão de vimentina e de proteína S-100 intracitoplasmática difusa e intensa e sem expressão de citoqueratina. Alguns pequenos focos de expressão de GFAP foram observados por entre as células Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 103 neoplásicas. Com base nas características histológicas e imunoistoquímicas, foi firmado o diagnóstico de tumor maligno de bainha de nervo periférico. CONCLUSÃO: Vários nervos cranianos podem ser acessados via TC através de seus trajetos pelo crânio, para tanto se torna necessário reconhecer suas origens anatômicas. Para neurodiagnóstico também é importante associar alterações de imagem com sinais clínicos, que algumas vezes não são descritos detalhadamente para o imaginologista. Na TC é imprescindível ressaltar a importância da neurolocalização das afecções encefálicas para orientar clínicos especialistas quanto ao desenvolvimento de demais sinais associados às lesões. Além disso, a TC nesses casos também pode determinar acessibilidade cirúrgica, bem como tamanho, profundidade e estruturas adjacentes. A suspeita de tumor de bainha de nervo trigeminal foi confirmada pelo exame histopatológico e imunoistoquímico. REFERENCIAS 1- PARRY, A.T.; VOLK. H.A.; Veterinary Radiol. & Ultras., 52 (1): 32-41, 2011. * * 2-SCHULTZ, R.M.; TUCKER, R. L.; GAVIN, P. R.; BAGLEY, R.; SAVERAID, T.C.; BERRY, C. R.; Veterinary Radiol. & Ultras., 48(2): 101-104, 2007. 3-WATROUS, B.J.; LIPSCOMB, T.P.; HEIDEL, J.R.; NORMAL, L.M. Veterinary Radiol. & Ultras., 40(6): 638-640, 1999. 4-HECHT, S.; ADAMS, W. H.; Vet Clin Small Anim., 40:39–63, 2010. 5-SHIHAB, N.; SUMMERS, B.A.; BENIGNI, L.; MCEVOY, A.W.; VOLK, H.A. Veterinary Radiol. & Ultras., 54(3): 278, 282, 2013. 6-SAUNDER, J.H.; PONCELED, L.; CLERCX C.; SNAPS, F.R.; FLANDROY, P.; CAPASSO, P.; DONDELINGER, R.F. Veterinary Radiol. & Ultras., 39(6): 539-542, 1998. 7-RÓDENAS, S.; PUMAROLA, M.; GAITERO, L.; ZAMORA, A.; AÑOR, S. The Veter. Jour., 187:8591, 201 * Figura 1 – Corte transversal simples ao nível do forame redondo e canal alar – Forame redondo normal (seta preta longa), canal alar normal (seta preta curta). Osteólise do forame redondo e canal alar direitos (asterisco). Hipotrofia do músculo temporal direito (seta branca curta). Hipotrofia do músculo masseter direito (seta branca longa). Figura 2 – Corte transversal contrastado ao nível do canal do nervo trigêmeo - Canal do nervo trigêmeo normal (asterisco). Massa com captação heterogênea de contraste, base ampla, com compressão ventral do diencéfalo e osteólise da crista petrosa do osso temporal (seta curta). Hipotrofia da musculatura temporal direita (seta longa). Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 104 1 * Figura 3 - Corte transversal simples ao nível do canal do nervo trigêmeo – Canal do nervo trigêmeo (asterisco) e crista petrosa do osso temporal (seta) normais do lado esquerdo, as quais não são visibilizadas no lado direito, inferindo osteólise das mesmas. Figura 4 – Corte transversal contrastado ao nível do mesencéfalo e região caudal do canal do nervo trigêmeo - Massa com captação heterogênea de contraste, base ampla em íntimo contato com osso petroso (seta longa), canal do nervo trigêmeo alargado (asterisco) e normal contralateral (1), aqueduto mesencefálico (seta curta). 40. AVALIAÇÃO ANATÔMICA DA CABEÇA DO PAPAGAIO-VERDADEIRO (Amazona aestiva) ATRAVÉS DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA ALEXANDRA FREY BELOTTA2; SHAYRA PERUCH BONATELLI3; VIVIAM ROCCO BABICSAK1; LUIZ CARLOS VULCANO4; CARLOS ROBERTO TEIXEIRA4; MARIA JAQUELINE MAMPRIM5 1 Pós-graduandas do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus Botucatu. Programa de Pós-graduação em Biotecnologia Animal. Bolsista de mestrado do CNPQ. 1 Residente do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Dep. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 1 Docente do Serviço de Cirurgia de Pequenos Animais, Dep. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. 1 Docente do Serviço de Diagnóstico por Imagem, Dep. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ, UNESP, Botucatu. Endereço da instituição: Distrito de Rubião Júnior, S/N. CEP: 18618-970 – Botucatu, SP. E-mail para contato: [email protected] Apoio: Bolsa provida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). ABSTRACT BELOTTA, A.F.; BONATELLI, S.P.; BABICSAK, V.R.; VULCANO, L.C.; TEIXEIRA, C.R.; MAMPRIM, M.J. Anatomical evaluation of the head in the Blue-fronted Parrot (Amazona aestiva) using computed tomography. Tomographic evaluation of the head in poultry may be of great value in the diagnosis of certain diseases. Birds have numerous anatomical variations when compared to other domestic animals. However, there are few studies describing normal anatomical structures of the head through the use of CT in these species, which was the aim of the present study. Through transversal cross-sections and multiplanar reconstructions, structures as infraorbital sinus, nasal concha, choana, air sacs, trachea, eyeballs and bony structures could be identified and evaluated satisfactorily in the Blue-fronted Parrot. KEYWORDS: computed tomography, head, parrot. INTRODUÇÃO É crescente a quantidade de papagaios e outras aves que são tidas como animais de estimação, devido à sua beleza, inteligência e capacidade de vocalização. Houve, portanto, um aumento do atendimento veterinário a essa espécie que é trazida, principalmente, por doenças infecciosas do trato respiratório e aquelas originárias do manejo incorreto (MARQUES et al., 2009). Apesar de serem menos frequentes, há diversos relatos na literatura de lesões ósseas cranianas e de seios nasais em papagaios acometidos por neoplasias (FIGUEROA et al 2006) - como hemangiossarcomas e carcinomas de células escamosas –, processos infecciosos (SILVA et al 2012) e traumáticos. Além da realização de um exame clínico completo, muitas vezes é necessário utilizar exames complementares para chegar ao diagnóstico e tratamento correto. A tomografia computadorizada constitui um método de diagnóstico por imagem superior ao exame radiográfico para avaliação da extensão de lesões ósseas devido à aquisição das Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 105 imagens em cortes transversais (Forrest 1999). Do mesmo modo, o diagnóstico radiográfico efetivo de lesões de cabeça em aves é restrito a alterações em estruturas ósseas, rinites e sinusites severas. O uso da tomografia computadorizada permite detectar estágios iniciais de doenças do trato respiratório superior, verificar alterações em partes moles e mensurar áreas de pneumatização, que está associado a estimativa do grau de alteração, sendo uma base confiável para o tratamento e prognóstico (KRAUTWALDJUNGHANNS et al 1998). Dada a escassez literária de trabalhos que avaliem a anatomia normal do crânio das aves por tomografia computadorizada e visto que o equipamento está cada vez mais acessível em instituições de ensino e centros de diagnóstico, o objetivo do presente estudo foi descrever a anatomia normal no Papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). METODOLOGIA Um papagaio da espécie Amazona aestiva, foi submetido à tomografia computadorizada utilizando-se tomógrafo helicoidal de um canal, da marca Shimadzu, utilizando técnica de 120kv, 80mA e pit=2. O animal foi sedado e posicionado no interior de uma caixa de papelão em decúbito esternal, com auxílio de almofadas de espuma, que não fossem interferir nas imagens a serem obtidas. Realizou-se cortes transversais de 1mm de espessura por 1mm de incremento desde o bico até região do côndilo occipital e reconstruções multiplanares com filtro ósseo para melhor avaliação das estruturas anatômicas. As imagens adquiridas foram avaliadas e estruturas anatômicas identificadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Embora algumas estruturas da cabeça das aves sejam comuns àquelas de outras espécies de mamíferos domésticos, existem algumas particularidades anatômicas relacionadas à adaptação ao vôo que puderam ser identificadas no exame tomográfico do papagaio avaliado: a maioria dos ossos do crânio, por exemplo, possuem áreas de pneumatização em seu interior ao invés de medula óssea (figura 1A). Além disso, foi possível visibilizar o crânio com formato arqueado e órbitas com grandes dimensões em relação à cabeça, separadas pelo septo interorbital. A cavidade nasal apresentou-se pareada, dividida por septo ossificado e com abertura rostral entre as duas cavidades, conforme previamente descrito por outros autores (HEARD 1999). Foi possível avaliar também, em cortes parassagitais e de maneira satisfatória, o seio infraorbitário, que é uma cavidade triangular ampla, localizada lateralmente à cavidade nasal, em região caudal e rostroventral ao globo ocular e que se comunica com a concha nasal caudal e com a cavidade nasal (SAKAS et al 2002). Sabe-se que nos papagaios os seios infraorbitários direito e esquerdo comunicam-se um com o outro e possuem expansões, denominadas divertículos, que levam à pneumatização de áreas extensas do crânio (figura 1B) (GEIST 2000). Desse modo, infecções do trato respiratório podem estabelecer-se nos ossos e causar osteomielite (SAKAS 2002). Aos cortes transversais e parassagitais, puderam ser identificadas as três conchas nasais: concha nasal rostral (figura 2A), concha nasal média (a maior das três) e a concha nasal caudal (figura 2B). Diferentemente dos outros animais, os seios da face não são delimitados por paredes ósseas, mas quase completamente por pele, gordura e outros tecidos moles (figura 2B). A abertura coanal - comunicação comum entre a cavidade nasal e orofaringe – foi facilmente visibilizada no corte sagital (figura 1B). Também pôde ser identificada através do corte sagital a porção cefálica do saco aéreo cervicocefálico (figura 1B), que é um divertículo que se comunica com os seios infraorbitários, mas não com outros sacos aéreos. Essa estrutura apresenta maior extensão em aves de vôo intenso, como os papagaios, e sua oclusão parcial, secundária a rinite, sinusite e/ou saculite pode resultar em hiperinflação e distensão (HEARD 1999). O estudo realizado também possibilitou a identificação de estruturas como as narinas, cera, bico, língua, cavidade nasal, orofaringe e porção cranial da traqueia. Os ossos do crânio e áreas timpânicas, que estão frequentemente lesionados em casos de trauma por serem mais finos, puderam ser visibilizados com filtro ósseo e sem sobreposição de estruturas, como acontece no exame radiográfico. O cérebro e cerebelo puderam ser identificados no filtro adequado com aspecto heterogêneo e o cerebelo levemente hipodenso em relação ao cérebro. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 106 A B 12 3 11 1 10 3 13 9 2 2 2 4 1 5 7 4 8 5 6 Figura 1. (A) Corte transversal na janela para partes moles: 1. Cérebro; 2. Áreas de pneumatização óssea; 3. Osso parietal; 4. Mandíbula direita; 5. Traquéia. (B) Corte sagital após MPR em filtro ósseo: 1. Divertículo rostral do seio infraorbitário; 2. Porção da concha nasal rostral; 3. Dobradiça nasofrontal; 4. Abertura coanal; 5. Língua; 6. Mandíbula; 7. Glote; 8. Traquéia; 9. Cérebro; 10. Porção cefálica do saco aéreo cervicocefálico; 11. Osso parietal; 12. Osso frontal; 13. Cera. A B 3 1 2 1 5 4 2 6 7 Figura 2. (A) Corte transversal na janela óssea: 1. Concha nasal rostral; 2. Bico. (B) Corte transversal na janela óssea: 1. Porção rostral do globo ocular; 2. Concha nasal caudal; 3. Osso frontal; 4. Língua; 5. Tecidos moles delimitando seios nasais; 6. Cavidade oral; 7. Mandíbula. CONCLUSÃO B O tomógrafo helicoidal de apenas um canal mostrou-se um equipamento satisfatório para a avaliação das estruturas do crânio de papagaios da espécie Amazona aestiva, sendo este estudo de grande contribuição para comparação com imagens tomográficas de animais com alterações em cabeça decorrentes de processos traumáticos, infecciosos e neoplásicos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MARQUES, M.V.R.; FERREIRA JUNIOR, F.C.; RESENDE, J.S.; MARTINS, N.R.S. V & Z em Minas, 103: 41-47, 2009. 2. FIGUEROA, O.D.; TULLY, T.N.; WILLIAMS, J.; EVANS, D. J. Avian Med. Surg., 20 (2): 113-119, 2006. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 107 3. SILVA, C.R.A.; SILVA, F.L.; FERREIRA, M.D.S.; COSTA, D.N.M. Afecção oftálmica periocular causada por Pseudomonas sp em Amazona aestiva – relato de caso; http://www.pubvet.com.br/artigos_det.asp?artigo=1163, em 11/09/2013. 4. FORREST, L.J. Clin. Techn. Small Anim. Pract., 14: 170-176, 1999. 5. SAKAS, P.S. Essentials of Avian Medicine: A Guide for Practioners. New York: American Animal Hospital Association Press, 2002, 353p. 6. HEARD, D.J. Semin. Avian Exot. Pet, 6 (4): 172-179, 1997. 7. KRAUTWALD-JUNGHANNS, M.E.; KOSTKA, V.M.; DÖRSCH, B. J. Avian Med. Surg., 12 (3):149-157, 1998. 7. GEIST, N.R. Physiol. Biochem. Zool., 73 (5): 581-589, 2000. 41. ESTUDO TOMOGRÁFICO DOS VENTRÍCULOS CEREBRAIS DE GATOS DOMÉSTICOS – DIFERENÇAS RELACIONADAS AO SEXO VIVIAM ROCCO BABICSAK2; GUILHERME SCHIESS CARDOSO3; ALEXANDRA FREY BELOTTA1; MIRIAM HARUMI TSUNEMI4; LUIZ CARLOS VULCANO5 1Pós-graduanda do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. Programa de pós-graduação em Biotecnologia Animal. 2Pós-graduando do Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. 3 Docente do Departamento de Bioestatística, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. 4 Docente do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. ABSTRACT BABICSAK V.R.; SCHIESS G.C.; BELOTTA A.F.; TSUNEMI, M.H.; VULCANO L.C. Tomographic study of cerebral ventricles of domestic cats – sex-related changes. Cephalic differences between genders exist and therefore, it can interfere in the structural aspect of the cerebral ventricles. The aim of this study was to evaluate the cerebral ventricles of males and females cats by computed tomography (CT) in order to determine possible sex-related differences in these animals. Seventeen healthy domestic cats (10 females) were anesthetized and submitted to a brain CT scan. Statistically significant differences between males and females were not found for the ventricular identification, asymmetry of the lateral ventricles and ventricular dimensions. KEYWORDS: cerebral ventricles, computed tomography, cat. INTRODUÇÃO Diferenças estruturais e funcionais encefálicas relacionadas ao sexo existem e estão associadas à presença de receptores de esteróides sexuais em regiões cerebrais homólogas durante o seu período de desenvolvimento, sendo, portanto, formadas a partir de influências hormonais no estágio de desenvolvimento encefálico1. Em um estudo humano realizado com recém nascidos foram encontradas diferenças entre os ventrículos cerebrais de indivíduos masculinos e femininos. Ventrículos significativamente maiores foram verificados nas participantes femininas em relação aos masculinos 2. Também foi identificado que os indivíduos femininos apresentam ventrículos laterais maiores que os masculinos, mesmo considerando-se participantes com volumes intracranianos e pesos corporais similares3. Em crianças, no entanto, foi verificado que os indivíduos masculinos apresentam maiores ventrículos laterais em comparação às participantes femininas4. Em distúrbios como a esquizofrenia também foram identificadas diferenças relacionadas ao sexo referentes às dimensões ventriculares. Os homens esquizofrênicos demonstram uma dilatação ventricular significativa em comparação aos homens hígidos, enquanto que, alargamentos ventriculares não são verificados nas mulheres5. Dessa forma, podese constatar que o conhecimento prévio das estruturas anatômicas encefálicas normais tanto dos homens como das mulheres é de fundamental relevância para a determinação das reais alterações patológicas em cada gênero. Assim sendo, o objetivo deste estudo foi avaliar os ventrículos cerebrais de felinos machos e fêmeas através da tomografia computadorizada afim de se determinar possíveis diferenças ventriculares relacionadas ao sexo nesses animais. METODOLOGIA Para o estudo foram utilizados 17 gatos domésticos adultos (10 fêmeas e 7 machos), hígidos, não braquicefálicos, sem histórico de sintomatologia neurológica e com resultado negativo para o vírus da imunodeficiência e da leucemia felinas no exame de reação da cadeia polimerase. Os animais Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 108 selecionados foram anestesiados e submetidos à tomográfica computadorizada encefálica. Para a realização deste procedimento, os animais foram posicionados em decúbito ventral mantendo o palato duro paralelo com a mesa e os membros estendidos caudalmente. O crânio, que estava disposto sobre um apoio acolchoado, foi posicionado de forma simétrica e centralizada. A fixação do crânio à mesa tomográfica foi realizada a fim de se manter o posicionamento adequado. Foram realizados cortes transversais, iniciando-se a partir do limite rostral da cavidade craniana (região do platô cribiforme e margem caudal dos ossos etmoturbinados) e finalizando na porção caudal do cerebelo (forâmen magno). A espessura dos cortes tomográficos e o incremento foram de 2 mm na região da fossa supratentorial (2x2) e de1 mm (1x1) na região da fossa posterior. A técnica utilizada foi de 90 mAs e 120 kVp na região da fossa supratentorial e 100 mAs e 120 kVp na fossa posterior, com filtro adequado para a visibilização dos tecidos nervosos. Em seguida do exame tomográfico simples, o procedimento contrastado foi realizado, sem a modificação do posicionamento do animal. Neste, o meio de contraste iodado não iônico (Iopamidol – Iopamiron® 30), na dose de 2 ml/kg, foi injetado por via intravenosa. Os cortes tomográficos foram iniciados, aproximadamente, um minuto após o início da administração do meio de contraste. Após a obtenção das imagens, estas foram avaliadas quanto à possibilidade de identificação das estruturas ventriculares (ventrículos laterais, terceiro e quarto ventrículos, e aqueduto mesencefálico) e à presença de assimetria ventricular (figura 1). A assimetria dos ventrículos laterais foi considerada presente quando mensurações divergentes do ventrículo lateral direito em relação ao esquerdo foram encontradas. A altura dos ventrículos laterais, do quarto ventrículo e do aqueduto mesencefálico, assim como a largura do terceiro ventrículo também foram avaliadas neste estudo (figura 2). As mensurações ventriculares foram realizadas na região de suas maiores dimensões nas imagens tomográficas. Quanto à análise estatística, o teste t foi realizado para a verificação de diferenças estatísticas entre a idade, peso e altura encefálica dos grupos. Os testes Exato de Fisher e Qui Quadrado foram utilizados para a identificação de diferenças estatísticas entre a identificação e a assimetria ventricular dos grupos, enquanto que, diferenças entre as dimensões ventriculares foram verificadas através do teste t. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os animais participantes desse estudo eram castrados e não pertenciam a uma raça definida. A média de idade das fêmeas foi de 3,20 ± 2,25 anos, enquanto que, os machos apresentaram uma idade média de 4,83 ± 2,93 anos. Os valores médios do peso das fêmeas e machos foram 3,48 ± 0,91 quilos (kg) e 4,89 ± 0,60 quilos, respectivamente. A média da altura encefálica, mensurada do limite encefálico dorsal ao ventral na imagem tomográfica na altura do tálamo e hipófise, foi de 2,60 ± 0,09 centímetros (cm) em fêmeas e 2,69 ± 0.07 cm em machos. Comparando-se a idade das fêmeas e machos, nenhuma diferença estatística significativa foi encontrada. Uma diferença estatística foi verificada entre o peso das fêmeas e dos machos, no entanto, diferenças não foram encontradas para a altura encefálica. Neste estudo, o terceiro ventrículo pôde ser verificado em 8/10 fêmeas e em 7/7 machos. O ventrículo lateral direito pôde ser identificado em 5/10 fêmeas e em 3/7 machos, enquanto que, o ventrículo lateral esquerdo pôde ser visibilizado em 4/10 fêmeas e em 3/7 machos. O aqueduto mesencefálico pôde ser identificado em 9/10 fêmeas e em 6/7 machos. O terceiro ventrículo e o ventrículo lateral esquerdo foram verificados em uma maior proporção de machos em comparação às fêmeas, enquanto que, o aqueduto mesencefálico e o ventrículo lateral direito foram observados em uma maior frequência nas fêmeas. Entretanto, apesar disso, não foram verificadas diferenças significativas entre os dois grupos. O quarto ventrículo não pôde ser identificado em nenhum dos felinos participantes em decorrência da existência de artefato formado devido à grande espessura da porção petrosa do osso temporal. Com relação à assimetria dos ventrículos laterais, esse achado foi verificado em 5/10 fêmeas e em 3/7 machos, porém, apesar desse achado ter sido verificado em uma maior frequência em fêmeas, diferenças estatísticas significativas entre os dois grupos não foram identificadas, assim como reportado em cães beagles em um estudo prévio 6. Com relação à análise quantitativa, a média da largura do terceiro ventrículo nas fêmeas e nos machos foi de 0,20 ± 0,08 cm e 0,20 ± 0,06 cm, respectivamente. A média da altura dos ventrículos laterais direito e esquerdo, e do aqueduto mesencefálico nas fêmeas foram de 0,23 ± 0,11 cm, 0,16 ± 0,05 cm e 0,18 ± 0,04, respectivamente, enquanto que, nos machos, os valores encontrados foram os seguintes: 0,19 ± 0,04 cm, 0,17 ± 0,08 cm e 0,18 ± 0,04 cm. Apesar das fêmeas terem apresentado uma maior dimensão média do ventrículo lateral direito e os machos terem exibido uma maior altura média do ventrículo lateral esquerdo, diferenças estatísticas relacionadas às dimensões ventriculares não foram observadas entre as fêmeas e os machos deste estudo, assim como verificado nos cães da raça pastor alemão participantes de um estudo prévio7. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 109 Figura 1. Imagem tomográfica encefálica demonstrando uma assimetria dos ventrículos laterais. Figura 2. Imagens tomográficas encefálicas ilustrando a mensuração dos (a) ventrículos laterais e terceiro ventrículo, e (b) do aqueduto mesencefálico. CONCLUSÃO Como conclusão, este estudo demonstrou que a identificação ventricular, a assimetria dos ventrículos laterais e as mensurações ventriculares não diferem estatisticamente entre os felinos machos e fêmeas. Entretanto, estudos com um número maior de felinos devem ser realizados futuramente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. GOLDSTEIN, J.M.; SEIDMAN, L.J.; HORTON, N.J.; MAKRIS, N.; KENNEDY, D.N.; CAVINESS V.S.Jr.; FARAONE, S.V.; TSUANG, M.T. Cereb. Cortex., 11 (6), 490-497, 2001. 2. GILMORE, J.H.; ZHAI, G.; WILBER, K.; SMITH, J.K.; LIN, W.; GERIG, G. Psychiatry Res., 132 (1): 81-85, 2004. 3. GIEDD, J.N.; VAITUZIS, A.C.; HAMBURGER, S.D.; LANGE, N.; RAJAPAKSE, J.C.; KAYSEN, D.; VAUSS, Y.C.; RAPOPORT, J.L. J. Comp. Neurol., 366 (2): 223-230, 1996. 4. REISS, A.L.; ABRAMS, M.T.; SINGER, H.S.; ROSS, J.L.; DENCKLA, M.B. Brain, 119 (Pt 5): 1763-1774, 1996. 5. NOPOULOS, P.; FLAUM, M.; ANDREASEN, N. Am. J. Psychiatry, 154 (12): 1648-1654, 1997. 6. KII, S.; UZUKA, Y.; TAURA, Y.; NAKAICHI, M.; TAKEUCHI, A.; INOKUMA, H.; ONISHI, T. Vet. Radiol. Ultrasound, 38 (6): 430-433, 1997. 7. GONZÁLES-SORIANO, J.; GARCÍA, M.; CONTRERAS-RODRIGUEZ, J.; MARTÍNEZSAINTZ, P.; RODRIGUÉS-VEIGA, E. Ann. Anat., 183 (3): 283-291, 2001. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 110 42. LEVANTAMENTO DOS EXAMES DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA REALIZADOS NO PRIMEIRO ANO DE FUNCIONAMENTO DE UM CENTRO DE DIAGNÓSTICO EM SÃO PAULO. FERNANDO CARDOSO CAVALETTI¹; KELLY POMPEI TRUIZ¹; THELMA REGINA CINTRA SILVA¹; SALVADOR LUIS ROCHA URTADO² ¹Radiologista no Instituto Veterinário de Imagem. ²Sócio-proprietário do Instituto Veterinário de Imagem. *Instituto Veterinário de Imagem, Rua Agissê, 128 - Vila Madalena - 05439-010 - São Paulo, e-mail: [email protected] ABSTRACT CAVALETTI, F.C.; TRUIZ, K.P.; SILVA, T.R.C.; URTADO, S.L.R. Survey of tomography performed in the first year of operation of a diagnostic center in São Paulo. We conducted a survey of CT scans performed during the first year of operation of the CT of a referral center for imaging of São Paulo, in order to show what has been done as a routine in our service. CT scans of 209, 44.5% (93) were performed to study the spine, 29.7% (64) to the skull study, 10.5% (22) to the abdomen, 7.7% (16) thorax, 5.7% (12) to study the appendicular skeleton and 1.9% (4) to the soft tissues of the cervical region. When used properly, the CT complements other imaging is indicated for diagnosis or determining the prognosis of a disease. A CT scan of the spine and skull, although not the most sensitive tool for the study of some spinal cord injuries or brain is the most requested tool to search for disc herniation or cerebral neoplasms. The high cost of the examination and the necessity of anesthesia, causes the CT is less used for thoracic or abdominal changes that often are detected by ultrasound or xray sensitivity even with less in some lesions. KEY WORDS – diagnostic, tomography, survey. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas o diagnóstico por imagem na medicina veterinária brasileira vem evoluindo rapidamente, fato justificável, por exemplo, pela implantação da radiologia digital, tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM). No Brasil, a tomografia computadorizada em pequenos animais começou a ser realizada a partir da década de 80, tornando-se, nos dias atuais, um exame rotineiro nos principais centros de diagnóstico e hospitais veterinários do país. O desenvolvimento da tomografia e a consequente introdução de tomógrafos helicoidais na medicina veterinária fez tal procedimento tornar-se mais requisitado, uma vez que, tais modelos de aparelho são capazes de proporcionar redução no tempo de execução do exame, melhores resoluções de imagens e realização de técnicas como, por exemplo, angiografia¹. Quando utilizada corretamente a TC complementa outros métodos de diagnóstico por imagem como a radiografia convencional e a ultrassonografia, sendo indicada para diagnóstico, determinação do prognóstico de algumas doenças, para avaliação pré e pós-cirúrgica e no auxílio à citologia ou biópsia². Com o intuito de apresentar a evolução da tomografia helicoidal na medicina veterinária, realizamos um levantamento dos exames tomográficos efetuados no decorrer do primeiro ano de funcionamento da TC de um centro de referência em imaginologia de São Paulo, com intuito de mostrar o que tem sido feito com rotina em nosso serviço. METODOLOGIA Incluímos nesse levantamento todos os animais que foram encaminhados ao centro de diagnóstico, para realização do exame de TC no período de abril de 2011 à abril de 2012. Não foi feita nenhuma seleção dos animais por parte dos radiologistas e todos os exames realizados foram solicitados por médicos veterinários que encaminharam seus pacientes. Hemograma, função renal, função hepática e eletrocardiografia foram solicitados para todos os animais como exames pré-anestésicos. O tomógrafo utilizado em nosso serviço é um GE helicoidal single slice HiSpeed DX/i e as imagens DICON foram avaliadas através do software OsiriX 32-bit. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 111 RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 209 exames de TC, 44,5% (93) foram realizados para estudo da coluna vertebral, 29,7% (64) para estudo do crânio, 10,5% (22) para abdômen, 7,7% (16) tórax, 5,7% (12) para estudo do esqueleto apendicular e 1,9% (4) para as partes moles da região cervical, demonstrados na Figura 1. Dos animais, 95% (198) eram cães, 4% (9) gatos e 1% (2) animais silvestres; 54,5% (114) fêmeas e 45,5% (95) machos; 3,8% (8) dos animais tinham menos que um ano de idade, 25,8% (54) tinham entre 1 e 5 anos, 36,4% (76) entre cinco e dez anos e 34% (71) entre dez e vinte anos. Dos exames de TC da coluna vertebral, 64,5% (60) acusaram algum grau de compressão medular extradural por hérnia de disco, 14% (13) foram sugestivos de neoplasia óssea ou de tecidos moles que promoveram compressão extradural da medula, 6,5% (6) de lesões traumáticas com compressão medular extradural, 8,7% (8) não apresentaram alterações dignas de nota e 6,5% (6) foram inconclusivas; os resultados são demonstrados na Figura 2. Dos 64 exames de TC do crânio, 43,7% (28) foram realizadas para análise do parênquima cerebral e 50% (14/28) detectaram formações intracranianas com efeito de massa. Das tomografias para avaliação do parênquima cerebral 12% (8) foram inconclusivas. A TC da coluna vertebral e do crânio representaram 74,2% dos exames realizados, mesmo não sendo o método mais sensível para o estudo de algumas lesões na medula espinhal ou no parênquima cerebral. Mesmo apresentando menor sensibilidade no diagnóstico de algumas lesões quando comparada com a RM, a TC foi inconclusiva em apenas 6,3% das lesões medulares e 12% das lesões no parênquima cerebral. A grande maioria dos exames de TC da coluna vertebral em nosso serviço é realizada com a presença de contraste no espaço subaracnóide da medula espinhal, que aumenta a sensibilidade do exame, porém, pode causar efeitos colaterais indesejáveis. Um estudo comparou a sensibilidade entre a mielografia e a TC sem contraste para detecção de hérnia de disco e conclui que a mielografia é mais sensível em pacientes com menos de 5 kg, enquanto a TC foi mais sensível em animais condrodistróficos³. Outro estudo analisou os prós e contras da mielografia, TC e RM para avaliação de hérnia de disco e notou que a ressonância de alto campo é a ferramenta mais sensível para o diagnóstico de lesões medulares; a mielotomografia apresenta boa sensibilidade em animais não condrodistróficos; a tomografia sem contraste tem boa sensibilidade em pacientes não condrodistróficos e a mielografia ainda é considerada adequada quando a TC ou RM não estão disponíveis4. No estudo do encéfalo, a injeção intravenosa do contraste é uma ferramenta importante para o diagnóstico de alterações vasculares, hemorrágicas, inflamatórias e neoplásicas. Um estudo mostrou que o reforço pós-contraste nas lesões intracranianas apareceu de maneira intensa com 60% dos casos e moderadamente em 24% dos casos5. As características das lesões encefálicas como a forma de realce após injeção do contraste, a presença do efeito de massa, assim como a localização da lesão, podem indicar qual tipo de alteração que estamos à frente, porém, diferentes afecções no parênquima cerebral resultam em achados similares no exame de TC6,7. Das TC de crânio para avaliação do encéfalo, 50% detectaram formações intracranianas com efeito de massa, sendo que destes, 57,1% (8/28) foram localizadas no bulbo olfatório. O meningioma é um tumor extra-axial mais comumente situado nas fossas rostrais, como bulbo olfatório e lobo frontal8. Os gliomas também podem aparecer com frequência na fossa rostral e apesar de normalmente serem pequenos, tem capacidade de causar grande edema peritumoral devido a sua natureza expansiva9. Tendo em vista que o diagnóstico definitivo do tipo tumoral é feito por meio de histopatológico e que a realização de biópsia encefálica é um procedimento invasivo e pouco realizado, a associação dos achados tomográficos com os sinais clínicos dos animais permite estabelecer um diagnóstico presuntivo7. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 112 Regiões encaminhadas para exame de Tomografia Computadorizada. Alterações encontradas nos exames da coluna vertebral. 5,7 1,9 7,7 10,5 Crânio 44,5 Hérnia de disco com compressão 6,4 Coluna Vertebral 8,6 6,5 Neoplasias de tecidos moles com compressão Abdômen Tórax Esqueleto Apendicular Partes Moles Cervical 14 64,5 Lesões traumáticas com compressão Sem alterações dignas de nota 29,7 Inconclusivas Figura 1. Foram realizados 209 exames tomográficos e os resultados deste gráfico apresentam-se em porcentagem. Figura 2. Foram realizados 93 exames tomográficos da coluna vertebral e os resultados deste gráfico apresentam-se em porcentagem. CONCLUSÃO Quando utilizada corretamente, a tomografia computadorizada complementa outros métodos de imagem e apresenta ampla utilização para as patologias cranianas, torácicas, abdominais e musculoesqueléticas, porém em nosso estudo essa ferramenta foi utilizada com maior frequência para diagnosticar lesões no parênquima cerebral e na medula espinhal. Acreditamos que o custo elevado do exame, assim como a necessidade da anestesia, fez com que a TC tenha sido menos utilizada para alterações abdominais ou torácicas que muitas vezes são detectadas pela ultrassonografia ou radiografia mesmo sendo ferramentas menos sensíveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ROMALDINI, A.F.; NOGUEIRA, A.H.C.; VALERIO, M.L. Revista clínica veterinária, 12 (80): 3438, 2009. 2. MARTINEZ, L.A.V.; GHIRELLI, C.O.; SILVA, T.R.C.; BANON, G.P.R.; FONSECAPINTO, A.C.B.C. Revista clínica veterinária, 15 (87): 60-64, 2010. 3. ISRAEL, S.K.; LEVINE, J.M.; KERWIN, S.C.; LEVINE, G.J.; FOSGATE, G.T. Veterinary radiology & ultrasound, 50 (3): 247-252, 2009. 4. ROBERTSON, I.; THRALL, D.E. Veterinary radiology & ultrasound, 52 (1): 81-84, 2011. 5. GANDINI, G.; GENTILINI, F.; CIMATTI, L.; FAMIGLI BERGAMINI, P.; CIPONE, M. Veterinary Research Communication, 27 (1): 399-401, 2003. 6. HECHT, S. In: SCHWARZ, T.; SAUNDERS, J. Veterinary Computed Tomography. Chichester: Wiley-Blackwell, 2011, p. 185-195. 7. JIMENEZ, C.D.; PALUMBO, M.I.P; WLUDARSKI, A.R.L; AMORIN, R.M; VULCANO, L.C. & BORGES, A.S. Revista Clínica Veterinária, (92): 88-96, 2011. 8. JEFFERY, N.D; THAKKAR, C.H. & YARROW, T.G. Journal of Small Animal Practice, 33: 2-10, 1992. 9. OHLERTH, S. & SCHARF, G. The Veterinary Journal, 173: 254-271, 2007. 43. ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS RESULTADOS DOS EXAMES DE ULTRASSONOGRAFIA E TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA EM CÃES COM FORMAÇÕES ABDOMINAIS MARINA PERISSINOTO DAL`PONT1; LIVIA TIEMI KOBAYASHI1, FERNANDO CARDOSO CAVALETTI1, SALVADOR LUIS ROCHA URTADO3 ¹Radiologistas no Instituto Veterinário de Imagem. ²Sproprietário do Instituto Veterinário de Imagem. * Instituto Veterinário de Imagem, Rua Agissê, 128 - Vila Madalena - 05439-010 - São Paulo, e-mail: [email protected] ABSTRACT DAL`PONT;M.P.; KOBAYASHI,L.T.; CAVALETTI,F.C., URTADO,S.L.R; Comparisson between Ultrassonography and Tomography results in dogs with abdominal Formation. Ultrasonography is currently the primary imaging modality for evaluation of abdominal Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 113 masses in dogs. In an attempt to increase the accuracy of imaging techniques comes up gradually introducing CT scans in veterinary. In this study we compared the results of U.S. and CT scans in determining the origin of masses abdominais. Os results showed that abdominal U.S. was able to determine the origin of abdominal training in 58.6% of cases and CT in 79.3%. The study demonstrated that the U.S. is a good imaging method for evaluation of abdominal training but the TC is more accurate in determining the origin of the masses as well as provide additional information beyond that obtained by U.S. examination. KEYWORDS: tomography, ultrassonography, abdominal masses. INTRODUÇÃO A ultrassonografia (US), por ser uma ferramenta de diagnóstico rápida, barata e não-invasiva1, atualmente é a principal técnica para avaliação de massas abdominais em cães e gatos. Entretanto essa técnica possui algumas limitações, como por exemplo, a falta de preparo dos pacientes (jejum insuficiente e/ou presença de grande quantidade de conteúdo gasoso no trato gastrointestinal 2 e a dependência na experiência do operador3. As formações muito extensas também podem dificultar o exame ultrassonográfico, tanto em relação a determinação da origem da lesão, como na avaliação do parênquima de outros órgãos na busca de lesões metastáticas ou infiltração em vasos e tecidos adjacentes 4. Visando aumentar a acurácia das técnicas de imagem vem-se introduzindo gradualmente os exames de tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética, principalmente quanto a avaliação précirúrgica e prognóstico dos pacientes4. Esses exames apesar de serem mais dispendiosos e necessitarem de anestesia geral, possibilitam uma avaliação mais precisa quanto a origem e extensão da lesão, aderências e processos infiltrativos e metastáticos4. Paralelamente a tudo isso, o aumento exponencial no número de pacientes oncológicos, o crescimento econômico da população e o aumento no número de tomógrafos nas grandes capitais vêm tornando a tomografia e a ressonância magnética exames mais procurados para diagnóstico e tratamento de doenças. Todos esses fatores nos motivaram a fazer um estudo que comparasse os resultados da US e TC na identificação de massas abdominais, quanto a origem, infiltração em outros tecidos, linfonodomegalias e aderências. METODOLOGIA Foi realizado um estudo retrospectivo de 2009 a 2013 para comparação de resultados dos métodos diagnósticos TC E US na determinação da origem de massas abdominais, foram revistos casos de 28 cães (com 29 formações), sendo que destes 15 eram fêmeas e 13 eram machos de raças variadas e sem raça definida. Estes animais apresentaram massas abdominais ao exame ultrassonográfico e em seguida foram encaminhados ao instituto veterinário de imagem para exame tomográfico para confirmação do diagnóstico. Os resultados dos exames foram obtidos através dos laudos emitidos pelo centro de diagnóstico (100% dos tomográficos e 17,9% (5/28) dos ultrassonográficos) através de contato telefônico com o veterinário requisitante. Os critérios de inclusão utilizados no estudo foram massas abdominais maiores que 5cm e/ou de origem à esclarecer ao exame ultrassonográfico,. Incluiu-se nesse estudo outros achados, como aderências e processos infiltrativos em órgãos adjacentes. RESULTADOS E DISCUSSÃO No Brasil, a ultrassonografia é o método de diagnóstico por imagem mais utilizado em medicina veterinária para avaliação de afecções abdominais. Fato que pode estar relacionado ao baixo custo quando comparado com outras modalidades diagnósticas, como a Ressonância Magnética e Tomografia Computadorizada3, e pelo fato de raramente haver necessidade de sedação/anestesia dos pacientes. Através da ultrassonografia abdominal é possível a identificação de alterações estruturais e parenquimatosas, tornando-se assim uma valiosa modalidade de imagem na investigação de massas abdominais1. Na maioria das vezes, o US permite determinar o órgão afetado 3, porém alguns fatores podem limitar sua sensibilidade, como por exemplo animais com volumes substanciais de gás livre em cavidade e/ou subcutâneo5 ou em alças intestinais6. Formações muito extensas3,1 ou que acometem o órgão na sua totalidade (não restando parênquima normal) tornam difíceis a determinação de sua origem 1. Em nosso estudo, a ultrassonografia abdominal conseguiu determinar a origem em 58,6% (17/29) dos casos e a tomografia em 79,3% (23/29), sendo que em 43,3% (13/29) os dois exames foram concordantes em relação à origem da massa (7 massas hepáticas, 2 renais, 2 adrenais, 1 esplênica e 1 em bexiga). Dos 41,4% (12/29) de massas com origem indeterminada pelo US, 66,6% (8/12) tiveram sua origem determinada pela TC (2 em adrenal, 1 em mesentério, 1 em pâncreas, 1 em uretra e 3 eram formações extensas de origem esplênica – imagens 1 e 2), 25%(3/12) foram indeterminadas por ambos os métodos (2 massas bastante extensas, chegando a medir mais de 9cm – de origem mesentérica ou de musculatura Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 114 paravertebral – imagem 3 e 4 – e uma em região hipogástrica que não apresentava clivagem com o cólon e vasos ilíacos) e 8,4%(1/12) não visibilizada pelo US e de origem indeterminada pela TC (indissociável das alças intestinais). Em 6,9% (2/29) o US determinou a origem e a TC não, elas foram apontadas como sendo de origem hepática e de cisto paraprostático pelo US e como hepática/adrenal e indeterminada pela TC, respectivamente. No primeiro caso, não foi possível determinar sua origem pela TC, pois não havia dissociação entre fígado e adrenal e, portanto não era possível indicar a sua origem, fato esse que pode estar relacionado ao intervalo entre os dois exames e evolução do quadro. No segundo caso, descartou-se a possibilidade de cisto paraprostático pela TC. Em 6,9% (2/29) a TC e a US foram discordantes em relação a origem da massa, dadas como de adrenal e hepática pelo US e, pela TC, como linfonodal e esplênica, respectivamente. No segundo caso, foi confirmada o origem esplênica através de laparotomia visando esplenectomia da grande massa que chegava a medir 15cm. Quanto à origem das formações, nosso estudo comprova que massas originárias dos “grandes órgãos” abdominais são mais facilmente classificadas quanto à origem7 (37,9 % dos casos – 11/29) e que massas extensas (% - 5/29) ou derivadas de tecidos moles correlatos à cavidade peritoneal ou dos pequenos órgãos abdominais, como por exemplo massas mesentéricas, de adrenais ou peritoneais ( % - 5/29) são de difícil determinação pelo US7 . Na dependência da experiência do operador, mesmo massas originárias de pequenos órgão abdominais, como as adrenais podem ser determinadas pelo ultrassonografista (6,9% 2/29). Quando as massas estão em contato íntimo com os órgão próximos ou na presença de processos infiltrativos em tecidos adjacentes pode ser impossível a determinação de sua origem, mesmo pela tomografia computadorizada (17,4% - 5/29). Outras informações fornecidas pelos exames de imagem são de fundamental importância em relação ao planejamento cirúrgico e conduta clínica, como por exemplo, o tamanho e extensão da lesão, prováveis aderências e processos infiltrativos em órgãos adjacentes6. Nos exames tomográficos do nosso estudo, 34,5% (10/29) das massas apresentavam infiltrações em estruturas adjacentes, 10,3% (3/29) apresentavam aderências e 20,7% (6/29) linfonodomegalias. Ao passo que, nos exames ultrassonográficos essas alterações não foram relatadas, mostrando a importância da tomografia quando se trata de avaliar estes pontos. Outras informações também foram obtidas pela tomografia que não foram relatados nos exames de ultrassonografia, como a localização lobar das lesões hepáticas (24,1% - 7/29), entre outros achados, como dados de filtração renal (13,79%) e presença de nodulações pulmonares. CONCLUSÃO Em conclusão, nosso estudo demonstrou que a ultrassonografia é um bom método de avaliação das formações abdominais, mas a tomografia traz muitas informações além daquelas obtidas pelo exame ultrassonográfico. Porém, deve-se considerar que neste trabalho houve perda de dados dos exames de ultrassonografia, visto que em muitos casos, não foi possível o acesso aos laudos dos pacientes e muitas das informações foram obtidas através de contato telefônico. 1 2 Imagens 1 e 2: Imagens ultrassonográfica (1) e tomográfica em reconstrução sagital (2) de formação em região mesogástrica esquerda de um Cocker, macho de 13 anos, de origem indeterminada pela ultrassonografia e de origem esplênica pelo exame tomográfico Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 115 1 2 Imagens 3 e 4: Imagens ultrassonográfica (1) e tomográfica em corte axial (2) de formação de grande extensão, de origem indeterminada em ambos métodos diagnósticos .Pela tomografia apresentava infiltração em veia cava caudal e corpos vertebrais REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS 1. HAYWARD,N. In O`BRIEN,R.; BARR,F.Manual de Diagnóstico por Imagem Abdominal em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2012, p.102-105. 2. FIELDS,E.L.; ROBERTSON,I.D.; OSBORNE,J.A.; JUNIOR,J.C.B. Veterinary Radiology & Ultrasound, 53 (5):513-517,2012. 3. FROES, T.R. Utilização da ultra-sonografia em cães com suspeitas de neoplasias do sistema digestório (fígado, intestinos e pâncreas). Universidade de São Paulo, 156p. (Tese de Doutorado), 2004 4. SCHULTZ,R.M.; WISNER,E.R.; JOHSON,E.G.; MACLEOD,J.S. Veterinary Radiology & Ultrasound, 50(6):625-629, 2009 5. BESSO,J. In O`BRIEN,R.; BARR,F.Manual de Diagnóstico por Imagem Abdominal em cães e gatos. São Paulo: Roca, 2012, p. 33. 6. SCHULTZ,R.M.; WISNER,E.R.; JOHSON,E.G.; MACLEOD,J.S. Veterinary Radiology & Ultrasound, 50(6):625-629, 2009 7. CAMPBELL,B.G. Journal of the American Animal Hospital Association, 45 (3): 168-175p, 2011. 44. CONTRIBUIÇÃO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NO ESTADIAMENTO E PLANEJAMENTO CIRÚRGICO DE TUMORES PERINEAIS MALIGNOS EM CÃO CARLA APARECIDA BATISTA LORIGADOS2; JULIA MARIA MATERA1; KAREN MACIEL ZARDO2; CLAUDIA MATSUNAGA MARTIN2; ALESSANDRA SENDIK GRUNKRAUT3; ANA CAROLINA BRANDÃO DE CAMPOS FONSECA PINTO1 1 Profas. Dra do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87 - Cidade Universitária. São Paulo/SP – Brasil. CEP 05508 270. E-mail: [email protected] 1 Pós-graduandas do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. ABSTRACT LORIGADOS, C.A.B.; MATERA, J.M.; ZARDO, K.M.; MARTIN, C.M.; SENDIKGRUNKRAUT, A.; FONSECA PINTO, A.C.B.; Contribution of computed tomography in staging and surgical planning of perineal malignant tumors in dog. Four dogs with perineal neoplasms underwent to computed tomography (CT). CT allowed evaluate the lack of cleavage of the tumor with structures such as the rectum, anus, vagina, urethra and perineal muscles. It also provided the accurate evaluation of regional lymph nodes, as well as the adjoining bony structures. The CT scan showed to be an important tool in the tumors staging, evaluating the extension, invasion to adjacent tissues and guiding the clinical and surgical approach. KEYWORDS: perineal tumor; computed tomography; dog. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 116 INTRODUÇÃO A região perineal possui várias glândulas e estruturas que podem ser potenciais focos para o desenvolvimento de neoplasias. As glândulas perianais são glândulas sebáceas que se localizam ao redor do ânus. Os sacos anais, divertículos cutâneos localizados bilateralmente ao ânus, possuem em sua parede interna glândulas serosas e sebáceas. A grande maioria dos tumores malignos desta região são originados desse tecido glandular, sendo os carcinomas das glândulas perianais e os das glândulas apócrinas do saco anal os mais frequentes1. Os carcinomas de glândulas perianais ocorrem tanto em machos quanto em fêmeas, castrados ou não e parece não sofrer influência hormonal. Há uma maior predisposição para os machos, de raças de grande porte. Quanto ao adenocarcinoma do saco anal, alguns autores sugerem maior predisposição em fêmeas, contudo outros afirmam não haver predisposição quanto ao sexo 2,3. Os adenocarcinomas perianais estão associados com baixa taxa de metástase (15%) 1, enquanto os das glândulas do saco anal possuem comportamento invasivo, sendo reportado uma taxa de metastatização entre 46% e 100% 1, 2,3 . Os locais mais comuns para a ocorrência de metástase são os linfonodos regionais, incluindo os sacrais, hipogástricos e os ilíacos mediais1,2,3. Metástases à distância podem ocorrer no pulmão, fígado, baço, rim, pâncreas, adrenal e ossos 1,2. Outras neoplasias que podem acometer a região perineal são o linfoma, os sarcomas de tecidos moles, o carcinoma de células escamosas, melanoma e mastocitoma1,4. Na medicina, modalidades de imagem mais avançadas são rotineiramente requisitadas no estadiamento de pacientes com câncer. Na medicina veterinária, o exame radiográfico do tórax e a ultrassonografia abdominal continuam sendo os mais solicitados, por sua maior acessibilidade e menor custo. Contudo, diante da crescente disponibilidade dos equipamentos de tomografia computadorizada (TC) atualmente essa modalidade também vem sendo requisitada para este propósito, especialmente para a avaliação dos linfonodos5,6. Frente ao comportamento invasivo e metastático de alguns tumores malignos da região perineal, este estudo objetivou avaliar a contribuição da TC no estadiamento e planejamento cirúrgico de cães acometidos por estas formações. METODOLOGIA Foram avaliados quatro animais da espécie canina com tumores malignos na região perineal. Após exame físico, os cães foram submetidos ao exame radiográfico do tórax, ultrassom abdominal para o rastreamento de possíveis metástases à distância. A tomografia computadorizada (TC) da região perineal e lombo sacra foi realizada com a finalidade de se obter informações em relação a formação tumoral para o delineamento cirúrgico, além do seu estadiamento. As imagens foram realizadas em equipamento de TC helicoidal com uma única fileira de detectores2. Foram adquiridas imagens em plano transversal, com espessura de 3mm e igual incremento. Os cortes tomográficos foram obtidos antes e após a administração intravenosa em bolo de contraste iodado não iônico 3, 300mgI/ml, no volume de 1,5ml/kg. Foram avaliadas características como dimensões, atenuação, realce pós-contraste, clivagem com estruturas adjacentes, linfonodos regionais e estruturas ósseas localizadas próximas à região perineal (vértebras lombares caudais, sacro e coxal). RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos quatro cães incluídos no estudo, os padrões raciais foram: um labrador, um cocker spaniel, um poodle e um sem raça definida; sendo duas fêmeas e dois machos com idades entre 10 e 14 anos. Todos apresentavam disquesia como principal manifestação clínica. Ao exame físico, as formações se mostraram firmes, aderidas, duas delas ulceradas, com tamanho variando entre 7 e 15cm mensuradas em seu eixo laterolateral. Ao exame citolológico e/ou histológico três foram classificadas como carcinomas bem diferenciados e um hemangiossarcoma. Nenhum cão apresentou alterações em campos pulmonares, mediastino e espaço pleural ao exame radiográfico do tórax. Ao exame ultrassonográfico do abdômen foi observado aumento de volume dos linfonodos ilíacos mediais em dois cães (um com hemangiossarcoma e outro com carcinoma bem diferenciado), sendo que em um deles os linfonodos também se apresentavam hipoecogênicos. Não foram observadas alterações sonográficas nos demais órgãos abdominais. À TC, os carcinomas se mostraram com atenuação de partes moles discretamente heterogênea, sofrendo realce moderado após a administração do constraste iodado. O hemangiossarcoma se mostrou bem heterogêneo, sofrendo importante realce heterogêneo pós-contraste. Os tumores não mostraram clivagem com a parede do reto (Figura 1A) e com vários músculos da região, como obturador interno, esfíncter anal externo, coccígeo, elevador do ânus, sacrocaudal ventral lateral e medial. Em uma das fêmeas, a formação também não apresentava clivagem com a parede dorsal da vagina e em um dos machos, com a uretra. Dois animais apresentaram importante aumento dos linfonodos ilíacos mediais, sendo que em um deles os 2 Modelo XPRESS/G6, Toshiba Ominipaque 300 3 Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 117 sacrais e hipogástricos também estavam aumentados e de formato arredondado (Figura 1B). Não foram observadas alterações ósseas em vértebras lombares caudais, sacrais e no coxal. Em cães com neoplasias perineais, estudos têm demonstrado um maior tempo de sobrevida naqueles submetidos ao tratamento multimodal, associando-se a excisão cirúrgica, quimioterapia e radioterapia, quando indicada2,3,7. A margem cirúrgica é um importante fator a ser considerado na ressecção dos tumores. Nestes quatro animais, as formações não apresentaram clivagem com várias estruturas anatômicas importantes da região perineal. Baseado nesta informação optou-se por recomendar a quimioterapia como tratamento inicial, objetivando a citorredução do tumor para posterior ressecção cirúrgica. Para aqueles com indício de disseminação metastática para os linfonodos regionais, a quimioterapia também foi indicada como tratamento paliativo, alertando os proprietários para o prognóstico reservado destes pacientes. O ultrassom tem se mostrado um bom método na avaliação dos linfonodos abdominais. Contudo, a avaliação sonográfica dos linfonodos sacrais e hipogástricos, um dos principais focos de disseminação metastática destes tumores1,2,3, se torna prejudicada devido sua localização intrapélvica. Além disso, a TC proporcionou a avaliação complementar das vértebras lombares, sacrais e do coxal, descartando metástases ósseas que, apesar de serem descritas como raras, podem ocorrer 1. CONCLUSÃO Devido às características inerentes da tomografia computadorizada, essa modalidade é capaz de prover importantes informações acerca dos tumores perineais, quer no mapeamento dos seus limites e clivagem com estruturas adjacentes, quer no seu estadiamento, auxiliando na conduta clínico-cirúrgica. * * A B Figura 1: A-Tomografia computadorizada, em plano transversal, pós-contraste da região perineal de um labrador com janelamento para avaliação de partes moles. A imagem mostra formação de atenuação de tecidos moles, de contorno irregular (setas amarelas), sem clivagem com a parede ventral e lateral direita do ânus (*). A seta azul mostra o saco anal esquerdo. O saco direito não individualizado. B- Tomografia computadorizada, em plano transversal, pós-contraste da região sacral de um cocker. A imagem mostra aumento dos linfonodos sacrais e hipogástricos (setas azuis), dorsalmente ao cólon (*). A seta laranja mostra a próstata. Serviço de Diagnóstico por Imagem -FMVZ-USP. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. TUREK, M.M.; WITHROW, S.J. In: WITHROW, S.J.; VAIL, D.M. Small animal clinical oncology. St. Louis:Saunders Elsevier, 2007, p. 503-510. 2. BENNET, P.F.; DENICOLA, D.B.; BONNEY, P. J.Vet. Int. Med., 16: 100-104, 2002. 3. WILLIAMS, L.E.; GLIATTO, J. M.; DODGE, R.K.; JOHNSON, J.L.; GAMBLIN, R.M. THAMM, D.; LANA, S.E.; MOORE, A.S. JAVMA, 223 (6): 826-831, 2003. 4. ESPLIN, D.G.;WILSON, S.R.; HULLINGER, G.A. Vet. Pathol., 40:332-334, 2003. 5. ROSSI, F.; PATSIKAS, M.N.; WISNER, E.R. In: SCHWARZ, T.; SAUNDERS, J. Veterinary computed tomography. Chichester: JohnWiley&Sons Ltd., 2011 p. 371–379. 6. BALLEGEER, E.A.; ADAMS, W.M.; DUBIELZIG, R.R. Vet. Radiol. & Ultras., 51 (4): 397–403, 2010. 7. EMMS, S.G. Aust. Vet. J., 83 (6):340-343, 2005. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 118 45. DISPLASIA DO COTOVELO – INCONGRUÊNCIA RADIOULNAR Alessandra Sendyk-Grunkraut6; Cláudia Matsunaga Martín1; Karen Maciel Zardo1; Lenin A. Villamizar-Martinez1, Carina Outi Baroni1; Alexandre Navarro A. Souza1; Carla A. Batista Lorigados7; Julia M. Matera2; Ana Carolina B. C. Fonseca-Pinto2 1 Pós-graduandos do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ USP). 1 Professoras Doutoras do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ USP). Autor para correspondência: [email protected]. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87 - Cidade Universitária São Paulo/SP – Brasil, CEP 05508 270. ABSTRACT Sendyk-Grunkraut, A1; Martin, C.M.1; Zardo, K.M.1; Villamizar-Martinez, L.A.1; Baroni C.O1; Souza, A.N.A1; Lorigados, C.A.B.2; Matera, J.M.2; Fonseca-Pinto, A.C.B.C.2 ELBOW DYSPLASIA – INCONGRUENCY RADIOULNAR Elbow dysplasia (ED) is the most frequent cause of lameness related to thoracic limb in dogs. The main causes of ED are: ununited anconeal process (UAP), fragmented medial coronoid process of the ulna (FMCP), osteochondrosis of the distomedial aspect of the humeral trochlea (OH) and articular incongruity (AI). The aim of this study is to correlate radiographics and tomographics aspects of the elbow joint in four Labrador retrievers without symptoms and apply a mensuration method to evaluate the articular congruity. KEYWORDS: elbow, incongruity, dysplasia. INTRODUÇÃO A displasia do cotovelo é considerada uma afecção com causas multifatoriais 1,2, e é a causa mais comum de claudicação do membro torácico em cães. As alterações mais comuns de displasia do cotovelo incluem fragmentação do processo coronoide medial (FPCM), osteocondrose/osteocondrite dissecante da porção medial do côndilo umeral (OCD), não união do processo ancôneo (NUPA) e incongruência articular (IA)1,2,3,4,5,6. Métodos de imagem, como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) são considerados mais precisos e sensíveis para diagnosticar incongruência articular e FPCM3. A TC é o método padrão ouro para o diagnóstico da incongruência articular umerorradioulnar 4. Encontram-se na literatura mensurações envolvendo o processo coronoide medial da ulna e o rádio que auxiliam na graduação da incongruência articular3,4,5 . O presente estudo teve como objetivo comparar os aspectos radiográficos e tomográficos da articulação do cotovelo de quatro cães da raça Labrador retriever assintomáticos e avaliar a congruência radioulnar aplicando método de mensuração 4. METODOLOGIA Realizou-se exame radiográfico (figura 1) e tomográfico (figura 2) das duas articulações do cotovelo de quatro cães da raça Labrador retriever com pelo menos 1 ano de idade e assintomáticos. As imagens foram adquiridas em equipamento helicoidal com uma fileira de detectores apenas na fase sem contraste, utilizando janela e filtro adequados para tecido ósseo. As imagens obtidas em plano transversal, em formato DICOM, foram analisadas em um software, que possibilitou as reconstruções no plano sagital para a realização das mensurações propostas na literatura4 (figuras 3 e 4), graduadas e classificadas segundo a distância entre osso subcondral da cabeça do radio até extremidade cranial do processo coronoide medial da ulna em: articulação congruente (grau 0) quando o degrau entre radio e ulna for equivalente a 0 < 0,5mm; discreta incongruência (grau 1) quando a distância entre radio e ulna for entre 0,5mm e 2,0mm, moderada incongruência (grau 2), quando a distância for entre 2,0mm e 3,0mm e importante incongruência, quando a distância entre radio e ulna for maior que 3,0mm 4,7 Adicionalmente correlacionou-se essa mensuração aos demais aspectos tomográficos e radiográficos observados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Aos exames radiográfico e tomográfico, as 8 articulações umerorradioulnares não apresentaram nenhuma alteração digna de nota. A partir das mensurações realizadas nas imagens de tomografia computadorizada reconstruídas no plano sagital, observou-se discreta incongruência radioulnar em 3/8 articulações e em 5/8 observaram-se articulações congruentes. As medidas variaram de 0,02mmm a 0,09mm para as articulações congruentes e de 0,9mm a 1mm para articulações classificadas com discreta incongruência. Incongruência articular é um dos fatores relacionados à displasia do cotovelo e possui um papel importante no desenvolvimento da FPCM4,7, osteocondrite dissecante e não união processo ancôneo 7. A sensibilidade ao exame radiográfico e tomográfico na detecção da incongruência articular aumenta proporcionalmente ao aumento do degrau entre a articulação radioulnar4 e, quanto maior a distância entre Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 119 radio e ulna na reconstrução sagital, mais grave será a incongruência radioulnar. Adicionalmente, incongruência articular influencia no prognóstico após o tratamento de displasia do cotovelo e deve ser levada em consideração para a decisão no tratamento4,8. Assim um método fidedigno e acessível deve ser considerado para diagnosticar a presença e gravidade da incongruência radioulnar 4. Figura 1: exame radiográfico do cotovelo direito em projeções mediolateral (A) e craniocaudal (B), no qual não se observam alterações radiográficas. Fonte: Serviço de Diagnóstico por Imagem da FMVZ/USP. Figura 2: exame tomográfico em plano transversal do cotovelo direito (A) e esquerdo (B) com janela e filtro para tecido ósseo. Fonte: Serviço de Diagnóstico por Imagem da FMVZ/USP. Figura 3: Imagens tomográficas das articulações dos cotovelos, após reconstrução em plano sagital, utilizadas para avaliar a congruência radioulnar. (A) cotovelo direito, (B) cotovelo esquerdo. Fonte: Serviço de Diagnóstico por Imagem da FMVZ/USP. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 120 Figura 4: Imagens tomográficas das articulações dos cotovelos, após reconstrução em plano sagital, com mensurações aplicadas para avaliar a congruência radioulnar. (A) cotovelo direito, (B) cotovelo esquerdo. Fonte: Serviço de Diagnóstico por Imagem da FMVZ/USP. CONCLUSÃO O exame tomográfico permite excelente individualização e delimitação da articulação do cotovelo sem a sobreposição de estruturas ósseas. Visto a possibilidade adicional de se obter uma análise quantitativa da incongruência radioulnar e dos osteófitos e enteseótifos o exame tomográfico oferece informações relevantes e complementares à avaliação radiográfica do cotovelo para estabelecimento da melhor abordagem cirúrgica. REFERÊNCIAS 1. GEMILL, T. J.; MELLOR, D. J.; CLEMENTS, D. N.; CLARKE, S. P.; FARREL, M.; BENNETT, D.; CARMICHAEL, S., J S A P, 46:327 – 333,2005. 2. MEYER-LINDEMBERG, A., FEHR, M., NOLTE, I., J S A P, 47(2): 61-65, 2006. 3. KRAMER, A; HOLSWORTH, I. G.; WISNER, E. R.; KASS, P. H. SCHULZ, K. S. Vet Surg 35(1): 24-29, 2006. 4. SAMOY, Y; GIELEN, I.; SAUNDERS, J.; BREE, H. V.; RYSSEN, B.V. Sensivity and Specificity of Radiography for Detection of Elbow Incongruity in Clinical Patientes. Vet Radiol Ultrassound, 53(3):236-244, 2012. 5. HOUSE, M. R.; MARINO, D.J.; LESSER, M. L. E Vet Surg, 38(2):154-160, 2009. 6. REICHLE, J. K.; PARK, R. D., BAHR, A. M. Vet Radiol Ultrassound, 41(2):125-130, 2000. 7. GASCH, E.G.; LABRUYÈRE, J.J.; BARDET, J.F. Vet Comp Orthop Traumatol, 25(6): 498505, 2012. 8. SAMOY, Y. ;VAN RYSSEN, B.; GIELEN, I.; WALSCHOT, N.; VAN BREE,H. Vet Comp Orthop Traumatol, 19(1): 1-8, 2006. 46. AVALIAÇÃO DE SHUNT PORTOSSINTÊMICO CONGÊNITO EXTRA-HEPÁTICO EM UM GATO PELA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA – RELATO DE CASO BRENDA DE CASTRO NAVARRO1; ISABELA RAMALHO REIS1; FERNANDO CARDOSO CAVALETTI1; SIMONE ZANIN CANTONI1; SALVADOR LUIS ROCHA URTADO2 ¹Medico Veterinário no IVI - Instituto Veterinário de Imagem. 2 Medico Veterinário e proprietário do IVI – Instituto Veterinário de Imagem * IVI - Instituto Veterinário de Imagem, Rua Agissê, 128 - Vila Madalena - 05439-010 - São Paulo, e-mail: [email protected] ABSTRACT NAVARRO, B. C.; REIS, I. R.; CAVALETTI, F. C.; CANTONI, S. Z.; URTADO, S. L. R. Evaluation of congenital portosystemic shunt extra hepatic in a cat by computed tomography – Case Report. Feline, male, Bengall, three months old, with urinary obstruction due to rare ammonium biurate crystals present in the urinalysis. The patient also had increased serum bile acids concentrations in the pre and post prandial analysis. At computed tomography (CT) it was visualized a large vessel originated from the portal vein cranially the insertion of esplenic and gastroduodenal veins which communicates with the caudal vena cava characterizing the presence of single extrahepatic portosystemic Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 121 shunt. CT has being increasingly used since it can collect highly detailed information about the morphology of the shunt vessel and hepatic vasculature; and help evaluate the treatment response in terms of development and hepatic blood flow. KEYWORDS – cat, extrahepatic porto-systemic shunt, computed tomography. INTRODUÇÃO Shunt ou desvio portossistêmico (SPS) é a comunicação anormal entre a circulação portal e os outros sistemas da vascularização venosa1. Dentre as apresentações, os shunts extra-hepáticos representam os tipos mais comuns e com maior prevalência em felinos 2,3. Os SPS extra-hepáticos simples, normalmente conectam a veia porta ou uma de suas tributárias, frequentemente a veia gástrica esquerda ou a veia esplênica, com a veia cava caudal ou a veia ázigos. Em gatos o shunt geralmente se origina da veia gástrica esquerda e representa uma anormalidade de desenvolvimento do sistema vitelino. Existe na literatura uma predisposição sexual por gatos machos4. As manifestações clínicas relacionadas com os SPS surgem com maior frequência em animais com até um ano de idade, embora existam relatos de animais assintomáticos até a idade adulta. Esses achados, normalmente estão associados à encefalopatia hepática ou a presença de cálculos/cristais de biurato de amônia nas vias urinárias. Os achados laboratoriais podem incluir desde anemia, microcitose, baixo nível de uréia, aumento na retenção de sódio, altos níveis de amônia no sangue e concentração de ácidos biliares elevados5. Dentre os métodos de diagnóstico por imagem para avaliação de shunts portossistêmicos a ultrassonografia com Doppler ainda é a ferramenta mais utilizada por ser relativamente barata, pouco invasiva, e também fornecer informações sobre o tipo e localização do vaso anômalo. As desvantagens deste método são o fato de ser operador dependente, menos preciso em comparação a tomografia computadorizada, uma vez que não caracteriza o ponto de inserção dos vasos anômalos na vasculatura intratorácica, e a não identificação do SPS na ultrassonografia não descarta a possibilidade da ocorrência do mesmo6. A tomografia computadorizada para avaliação dos SPS vem sendo cada vez mais utilizada pois consegue coletar informações altamente detalhadas sobre a morfologia do shunt e a vascularização hepática, além de ser útil na avaliação da resposta ao tratamento em termos de desenvolvimento hepático e fluxo sanguíneo6. Através da tomografia computadorizada se conseguem informações sobre os outros vasos abdominais com a vantagem de se adquirir imagens de maneira rápida e dados volumétricos para a construção de modelos tridimensionais2. METODOLOGIA Um felino macho da raça Bengall com 3 meses de idade, foi encaminhado ao centro de diagnóstico para realização de uma ultrassonografia abdominal simples e exame de urina, devido a um quadro de obstrução urinária. Ao exame ultrassonográfico não foram encontradas alterações significativas exceto pela presença de material ecogênico em suspenção na bexiga, o mesmo encontrado no segmento uretral passívelde avaliação, que sugerem a presença de cristais/sedimento. Na análise de sedimentos da urina foram encontradas raras células vesicais e de trato urinário inferior e raros cristais de biurato de amônia. Dias depois o animal retornou para nova urinálise e contagem sérica de ácidos biliares totais. Na análise de sedimentos da urina ainda foram encontradas raras células vesicais e de trato urinário inferior, porém os cristais de biurato de amônia estavam ausentes. Foi constatado aumento na contagem sérica de ácidos biliares pré e pós-prandial onde os valores obtidos foram de 47,10 umol/L (valor de referência 0 a 3 umol/L) e 186,36 umol/L (valor de referência 0 a 30 umol/L) respectivamente. Após dois meses da avaliação ultrassonográfica o animal foi encaminhado para realização de uma tomografia computadorizada simples e contrastada da região abdominal para pesquisa de SPS. No exame o fígado apresentou-se com dimensões moderadamente diminuídas, contornos regulares, bordas finas, parênquima homogêneo e densidade habitual. Foi visibilizado um vaso de grande calibre (figura 1) originário da veia porta na região imediatamente cranial a inserção das veias esplência e gastroduodenal (região próxima ao hilo hepático) (figura 2) que se comunica com a veia cava caudal na sua face lateral esquerda adjacente ao diafragma caracterizando a presença de shunt portossistêmico único e extrahepático (figura 3). A veia porta não foi visibilizada cranialmente ao vaso anômalo bem como seus ramos intrahepáticos o que sugere aplasia segmentar da mesma. As artérias intra-hepáticas (figura 4) apresentaram calibre aumentado e aspecto retificado sugerindo aumento compensatório do fluxo arterial. Na tentativa de reativar a vascularização embrionária (sistema vitelínico) foi realizado um procedimento cirúrgico de oclusão parcial do shunt pela técnica do celofane, contudo o paciente veio a óbito no póscirúrgico imediato e ao exame de necrópsia a causa mortis foi descrita como um colapso circulatório. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 122 Figura 1: Imagem tomográfica em vista axial ilustrando a topografia do shunt, veia cava vaudal e arteria aorta. (Imagem cedida por IVI) Figura 3: Imagem tomográfica em vista axial ilustrando a região hilar do fígado onde não se vizibilisa a veia porta, apenas artéria hepática, veia cava caudal e artéria aorta (Imagem cedida por IVI). Figura 2: Imagem tomográfica em vista dorsal ilustrando a topografia do shunt e da veia gastroduodenal (Imagem cedida por IVI). Figura 4: Imagem tomográfica em vista axial ilustrando a topografia da artéria intra-hepática (Imagem cedida por IVI). DISCUSSÃO Ao ultrassom simples não haviam alterações perceptíveis na avaliação do fígado, encontradas em animais com SPS, como a redução do tamanho do órgão. Em um estudo para avaliar o valor do exame ultrassonográfico na detecção de SPSs portossistemico foi relatado que 22% dos gatos estudados apresentavam diminuição no tamanho do fígado7. Contudo na bexiga urinária e no segmento uretral visibilizado foram encontrados sinais de celularidade/cristais/sedimentos, condizendo com o achado de biurato de amônia da urinálise realizada no mesmo dia. Outro achado laboratorial importante em animais com SPS é dosagem dos ácidos biliares tanto pré quanto pós-prandial os quais apresentavam valores bem acima dos valores de referência. Apesar da literatura citar valores reduzidos de uréia em animais com SPSs, o paciente apresentava valores dentro da normalidade. O exame de imagem escolhido para a avaliação do SPS foi a tomografia computadorizada abdominal simples e contrastada, que apresentou com detalhes a presença de um vaso anômalo de grande calibre originando-se na veia porta na região imediatamente cranial a inserção das veias esplênicas e gastroduodenal e se comunicando com a veia cava caudal em sua face lateral esquerda. Também foi visibilizada aplasia segmentar da veia porta, muito difícil de se identificar apenas com o exame ultrassonográfico convencional. A tomografia computadorizada fornece informações altamente detalhadas sobre a morgologia do shunt e a vascularizaçãoo hepática, e é útil na avaliação do tratamento Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 123 em termos de desenvolvimento hepático e fluxo sanguíneo 6. Além de adquirir dados volumétricos para a construção de modelos tridimensionais2. CONCLUSÃO Com o uso da tomografia computadorizada para o diagnóstico do SPS foi possível avaliar detalhadamente a anatomia do shunt, assim como a não visibilização de seguimento veia porta, importantes para o planejamento cirúrgico. Este método, apesar de depender de um bom estado clínico do animal, pois precisa do paciente anestesiado para sua realização, apresenta diversas vantagens em comparação aos outros métodos de diagnóstico por imagem, pois não é operador dependente e coleta imagens de maneira rápida e precisa, podendo reconstruir modelos tridimensionais da anatomia do animal. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. SCHWARZ, T.; SAUNDERS J. Veterinary Computed Tomography. Oxford:Editora Willey-Blckwell, 2011, 357-370. 2. BROWN JR, J.C.; CHANOIT, G.; REEDER, J. Journal of Small Animal Practice, (51): 227-230, 2010. 3. PENNINCK, D.; D’ANJOU, M.A. In: Altas de Ultrassonografia de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011, 248-55. 4. KAMIKAWA, L. In: CARVALHO, C.F. Ultrassonografia Doppler em Pequenos Animais. São Paulo:Editora Roca, 2009, 41-60. 5. SANTILLI, R.A.; GERBONI, G. The Veterinary Journal, 166: 7-18, 2003 6. TIVERS, M.; LIPSCOMB, V. Journal of Feline Medicine and Surgery, 13: 173-184, 2011. 7. D’ANJOU, M.A.; PENNINCK, D.; CORNEJO, L.; PIBAROT, P. Veterinary Radiology & Ultrassaund, 45 (5): 424-437, 2004. 47. ASPECTOS TOMOGRÁFICOS DE TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL NASAL EM CÃO – RELATO DE CASO EDSON FERNANDO MARIZ ALVES1; IEVERTON CLEITON CORREIA DA SILVA2; LORENA ADÃO VESCOVI SÉLLOS COSTA3; JOÃO MARCELO WANDERLEY DE MENDONÇA UCHÔA CAVALCANTI2; ANDRÉA ALICE DA FONSECA OLIVEIRA4; FABIANO SÉLLOS COSTA5 1. 2. 3. 4. 5. Graduando em Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos - CEP: 52171-900 - Recife/PE. E-mail para contato: [email protected]. Médico Veterinário, mestrando em ciência veterinária, UFRPE. Médico veterinário, mestre em ciência veterinária. Doutoranda em ciência animal tropical, UFRPE. MV, Doutor, Professor adjunto em Deontologia Veterinária, UFRPE. MV, Doutor, Professor adjunto em Diagnóstico por Imagem, UFRPE. ABSTRACT ALVES, E.F.M.; SILVA I.C.C.; COSTA L.A.V.S.; CAVALCANTI J.M.W.M.U.; OLIVEIRA A.A.F.; COSTA F.S. ASPECTS OF TOMOGRAPHIC TRANSMISSIBLE VENEREAL TUMOR NASAL IN DOG - CASE REPORT. Report the case of a dog breed Yorkshire 3 year old who was diagnosed with transmissible venereal tumor (TVT) in the nasal cavity, characterized the CT findings and cytological. We stress the importance of describing the CT findings of this disease since this information is scarce in the literature. Due to the high frequency in countries with large numbers of stray dogs, it is necessary to include the TVT in the differential diagnosis of nasal tumors in dogs observed on CT examination. KEYWORDS: TVT, computerized tomography, canine. INTRODUÇÃO O nariz é considerado a porção rostral do sistema respiratório e compreende a parte externa do nariz, ossos, cartilagens móveis e a cavidade nasal1. O tumor venéreo transmissível (TVT) canino é uma neoplasia que acomete principalmente a mucosa genital externa de cães machos e fêmeas 2, sendo classificado histologicamente como um tumor indiferenciado de células redondas assim como os linfomas, melanomas, plasmocitomas e tumores de células neuroendócrinas 3. O TVT apresenta diversas Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 124 sinonímias, tais como condiloma canino, granuloma venéreo, sarcoma infeccioso, linfoma venéreo ou tumor de Stiker4. Pesquisas recentes sugerem origem mesenquimal e histiocitica ao TVT, embora outros estudos indiquem uma possível causa viral2. A neoplasia pode apresentar-se de forma única ou múltipla, localizando-se, preferencialmente, na mucosa da genitália externa, das narinas, da boca e dos olhos ou na pele. Normalmente sua ocorrência se restringe à região acometida, mas em alguns casos pode invadir tecidos adjacentes e alcançar a corrente linfática e/ou sanguínea e promover disseminação metastática5. Quando é localizada na cavidade nasal, os sinais respiratórios caracterizam-se por dispnéia, respiração com a boca aberta, corrimento nasal crônico, epistaxe, espirros, aumento de volume local, sensibilidade, e podem estar associados a erosões nos ossos nasais. O tumor pode estender-se da cavidade nasal, até palato mole e alvéolos dentários6. A tomografia computadorizada (TC) permite através de cortes transversais, e reconstruções multiplanares avaliar com detalhes a cavidade nasal e os seios paranasais aumentando a capacidade em diagnosticar doenças nasais de forma mais precisa, podendo se avaliar a extensão e o envolvimento de estruturas anatômicas como as conchas nasais, septo nasal, nasofaringe, placa cribiforme, seios frontais, seio esfenoidal e região periorbital1. Um estudo realizado em cães com neoplasia nasal e submetidos a exames de TC, observou quem em 78% dos casos a TC foi sensível para diagnósticas alterações associadas a neoplasia na cavidade nasal7. Este trabalho tem como objetivo relatar o diagnóstico tomográfico de tumor venéreo transmissível nasal em uma cadela da raça Yorkshire. METODOLOGIA Foi encaminhada para o Centro de Diagnóstico por Imagem FOCUS uma cadela de três anos, da raça Yorkshire, para realização de tomografia computadorizada dos seios nasais. O animal apresentava epistaxe unilateral e dificuldade respiratória com evolução de aproximadamente 30 dias. Antibioticoterapia foi realizada observando-se melhora discreta e recidiva completa dos sinais clínicos ao término da terapia. Foi relatado pelo proprietário que o animal tinha contato com outras fêmeas e que uma delas havia sido tratada para TVT genital há aproximadamente um mês. Foi realizado o exame de tomografia computadorizada do aparelho GE High Speed FX/i em cortes transversais de 2 mm, com intervalo entre imagens de 2.0. O exame foi realizado em fase pré e pós-contraste, sendo utilizado o ioexol na dose de 2 ml/kg, por via intravenosa lenta. Após obtenção das imagens em cortes transversais, foram realizadas reconstruções multiplanares e tridimensionais para melhor avaliação da região. Após a tomografia computadorizada foi coletado material para citologia, por coleta aspirativa por agulha fina do nódulo nasal, enviado em duas lâminas ao qual foi enviado ao laboratório citopatológico, sendo seu método de coloração panótipo rápido. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a realização do exame de tomografia computadorizada e estudo das imagens foi constado presença de massa ocupando o interior da cavidade nasal esquerda e estendendo-se para a cavidade nasal direita. A lesão promovia obliteração total da passagem de ar em cavidade nasal esquerda e obliteração parcial da cavidade nasal direita, e apresentava-se com grau de atenuação radiográfica em fase pré-contraste de aproximadamente 37 unidades Hounsfield (Figura 1A). Após administração de contraste iodado intravenoso observou-se marcante impregnação, caracterizando-se grau de atenuação radiográfica aproximado de 66 unidades Hounsfield (Figura 1B). Caracterizou-se destruição dos tecidos ósseos adjacentes à cavidade nasal esquerda, observando-se importante lise óssea em osso maxilar e destruição dos turbinados nasais bilateralmente. Sugeriu-se o diagnóstico diferencial de processos neoplásicos da cavidade nasal, tais como adenocarcinoma nasal, carcinoma indiferenciado, carcinoma de células escamosas ou tumores mesenquimais. Com base no histórico clínico, foi sugerido adicionalmente o diagnóstico diferencial de TVT, sendo realizada coleta de material biológico guiado por exame tomográfico para análise citopatológica. Após coloração da lâmina adquirida foi possível caracterizar no material uma alta celularidade constituída por células redondas com núcleos arredondados e variavelmente proeminentes, cromatina grosseira citoplasma abundante e finamente vacuolizado, entremeadas a população de linfócitos e neutrófilos, concluindo-se achados compatíveis de Tumor Venéreo Transmissível. CONCLUSÃO Ressalta-se a importância da descrição dos achados tomográficos de TVT nasal em cão uma vez que essas informações são escassas na literatura. Como se trata de uma enfermidade frequente em países com grande número de cães errantes e sem um rígido controle epidemiológico da população canina devemos de incluir o TVT na lista de diagnósticos diferenciais de massas nasais de cães observadas ao exame de tomografia computadorizada. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 125 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. AULER, F.A.B.; Associação da radiografia, tomografia computadorizada e rinoscopia no auxílio diagnóstico das afecções em cavidade nasal e seios paranasais de cães. Universidade de São Paulo, 100p. (Dissertação de Mestrado), 2010. 2. VARASCHIN, M. S. et al. Tumor venéreo transmissível canino na região de Alfenas, Minas Gerais: formas de apresentação clínico-patológicas. Clínica Veterinária, 6(32): 32-38, 2001. 3. MOYA, C. F. et al. Tumor venéreo transmissível canino: revisão de literatura e descrição de caso clínico. Medvep – Revista Científica de Medicina Veterinária, 10(3): 138-144, 2005. 4. LOMBARD, C., CABANIE, P. Le sarcome de Sticker. Revista Medicina Veterinária, 119: 565-586, 1968. 5. FERREIRA, A.J.A., JAGGY, A., VAREJÃO, A.P. et al. Brain and ocular metastases from a transmissible venereal tumour in a dog. Journal of Small Animal Practice, 41: 165-168, 2000. 6. KUEHN, N F., Nasal computed tomography. Clinical Techiniques in Small Animal Pratice, 21(2): 55-59, may.2006. 7. PARK, R.D.; BECK, E R.; Le COUTERS R.A., Comparsion of Computed Tomography and Radiography for detecting changes induced by malignant nasal neoplasia in dogs. Journal of American Veterinary Medical Association, 201(11): 1720-24, 1992. Figura 1. Tomografia computadorizada em corte transversal da região nasal de cão e valores de radiodensidade em fase pré e pós- contraste. (A). Corte transversal em fase pré-contraste. Valor de atenuação radiográfica de 37 unidades Hounsfield. (B). Corte transversal em fase pós-contraste. Valor de atenuação radiográfica de 66 unidades Hounsfield. 48. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA AVALIAÇÃO DE FRATURA MANDIBULAR EM VEADO-CATINGUEIRO (Mazama goauzoubira) – RELATO DE CASO ROBERTA VALERIANO DOS SANTOS6; RAMIRO DAS NEVES DIAS NETO7; SHEILA CANEVEZE RAHAL8; CARLOS ROBERTO TEIXEIRA3; DANIELA SHIGUE9; LIGIA RIGOLETO OLIVA4; DIOGO PASCOAL ROSSETTI4; MURILO GOMES DE SOUTELLO CHARLIER5; LETÍCIA ROCHA INAMASSU10; VÂNIA MARIA VASCONCELOS MACHADO3; LUIZ CARLOS VULCANO3 M.V Doutoranda em Diagnóstico por imagem UNESP – Botucatu; Bolsista CNPq. Distrito de Rubião Junior, s/n 18618-970 - Botucatu, SP. Email: [email protected] 1 M.V. Mestrando em Cirurgia Veterinária UNESP – Botucatu; Bolsista CAPES 1 Docente do Departamento de Cirurgia Veterinária da Universidade Estadual Paulista – UNESP - Botucatu 1 Residente em Medicina Veterinária de Animais Silvestres – UNESP – Botucatu 1 Residente em Diagnóstico por Imagem Veterinária– UNESP - Botucatu 1 ABSTRACT SANTOS R.V.; DIAS NETO R.N.; RAHAL S.C.; TEIXEIRA C.R.; SHIGUE D., OLIVA L.R.; ROSSETTI D.P.; CHARLIER M.G.S.; INAMASSU L.R.; MACHADO V.M.V.; VULCANO L.C. CT EVALUATION OF MANDIBULAR FRACTURE IN BROWN BROCKET Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 126 DEER (Mazama goauzoubira) - CASE REPORT The brown brocket deer (Mazama goauzoubira) is a species of deer common to the Brazilian fauna, but it is in declining population. A specimen of a male adult was seen at the Hospital of FMVZ - UNESP - Botucatu with a mandibular fracture due to a car accident. The imaging studies performed, radiographs, CT and 3D reconstruction were important in the diagnosis of vertical mandibular branch fracture and to evaluate the adjacents structures, as well as the absence of brain lesions resulting from trauma. Imaging tests associated with clinical signs and the high level of stress in this specie advised against surgery. KEYWORDS: mandibular fracture, Mazama goauzoubira, computed tomographic INTRODUÇÃO O veado-catingueiro (Mazama goauzoubira) pertence à ordem Artioctyla, família Cervidae, que é caracterizada pela presença de cascos sobre os quatro dedos 1. Ocorrem em vários habitat, desde o cerrado fechado até áreas ocupadas pela agricultura. No entanto, há um declínio populacional da maioria das espécies de cervídeos, tornando a manutenção em cativeiro um método de manejo genético adequado 2. A manutenção desta espécie em cativeiro é uma atividade complexa devido ao estresse e a alta taxa de mortalidade. Estes animais sofrem comumente de um quadro de miopatia de captura decorrente do intenso esforço físico por um determinado período, que geralmente cursa com dor, rigidez locomotora, incoordenação, oligúria e depressão seguida de morte 2. A apreensão e encaminhamento destes animais a centros de medicina de animais selvagens estão em grande parte relacionadas a quadro de fraturas devido a acidentes automobilísticos em vias públicas. Nos casos de fraturas de mandíbula e maxila, frequente em animais domésticos, aspectos anatômicos e fisiológicos devem ser considerados antes da escolha do método adequado para tratamento3. A utilização da tomografia computadorizada e da reconstrução 3D já foi utilizada com sucesso na avaliação mandibular de cervo-do-pantanal (Blastocerus dichomotus)4 e permite auxílio diagnóstico, direcionamento de tratamento e prognóstico 5. Diante dos benefícios incorporados com a técnica, o presente trabalho teve por objetivo relatar a utilização da tomografia computadorizada e da reconstrução em 3D para diagnóstico e avaliação de fratura mandibular em um veado-catingueiro (Mazama goauzumbira). METODOLOGIA Relata-se o caso de um indivíduo macho, adulto, de veado-catingueiro (Mazama goauzumbira) entregue ao Centro de Estudo e Medicina de Animais Selvagens (CEMPAS), UNESP, campus Botucatu pela Polícia Ambiental do Estado de São Paulo, após ser atropelado e recolhido em via pública. Para a avaliação clínica foi necessário a anestesiar o paciente utilizando 1 mg/kg de xilazina e manutenção com isofluorano a uma concentração de 1,5%. Ao exame clínico evidenciaram-se escoriações na região rostral, aumento de volume na região mandibular direita e edema lingual. Foi realizado o hemograma completo, bioquímica renal e hepática, urinálise e radiografia do crânio, nas projeções ventrodorsal e laterolateral oblíqua (Figura 1). Como o animal apresentava descontinuidade óssea na mandíbula direita, além de possível lesão encefálica traumática, o paciente foi encaminhado para o exame de tomografia computadorizada. Para tanto, no segundo dia, o animal foi novamente anestesiado seguindo o mesmo protocolo anestésico. O equipamento utilizado foi o tomógrafo helicoidal da marca Shimadzu, modelo SCT – 7800 TC. O exame foi obtido com animal em decúbito esternal, em cortes axiais de 3 mm de espessura com 3 mm de incremento na região supratentorial e 2 mm de espessura e 2 mm de incremento na região da fossa posterior, pré e pós administração de meio de contraste. A reconstrução 3D da região avaliada foi realizada pelo programa Workstation Voxar 3D® versão 6.3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados laboratoriais apresentaram-se dentro dos parâmetros fisiológicos para a espécie. As imagens radiográficas evidenciaram irregularidade do trabeculado ósseo da região mentoniana, além de descontinuidade óssea do ramo vertical da mandíbula direita. A aparência heterogênea do trabeculado ósseo da sínfise mandibular na região mentoniana em equinos apresenta característica semelhante e é considerada dentro do padrão de normalidade6. No exame tomográfico não foram observadas alterações no coeficiente de atenuação ou realce anômalo ao meio de contraste das estruturas intracranianas que sugerissem lesão traumática. No entanto, na região mandibular direita visibilizou-se descontinuidade óssea em ramo vertical com presença de fragmento ósseo junto ao processo angular, apresentando discreto desvio medial do fragmento ventral (Figura 2), além de espessamento de conchas nasais direita sugerindo um processo inflamatório secundário ao trauma. Na reconstrução 3D foi possível verificar a porção óssea do foco da fratura (Figura 3) e o discreto deslocamento esquerdo do aparato hioide, provavelmente decorrente do edema de tecidos moles na região medial ao foco de fratura. O exame tomográfico foi considerado importante para o diagnóstico diferencial de lesão encefálica. Além disso, o mesmo foi crucial para a avaliação da possibilidade de reparação da fratura mandibular. A associação Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 127 entre os sinais clínicos, a imagem tomográfica e a reconstrução 3D, além da particularidade da espécie, que apresenta alto nível de estresse em cativeiro, direcionaram para que o procedimento cirúrgico fosse desaconselhável. O tratamento preconizado foi pentabiótico a cada 72 horas, durante duas aplicações de anti-inflamatório não esteroidal (Flunixim meglunine, 1 mg/kg), a cada 24 horas, durante 3 dias. O animal foi mantido em área restrita e oferecido alimentos cortados em pedaços pequenos. O protocolo terapêutico utilizado mostrou-se eficaz e o animal se recuperou de forma adequada. Após 30 dias, o animal se alimentava adequadamente e foi transferido para outra instituição mantenedora da fauna silvestre. Figura Figura 1 – Imagem radiográfica em projeção laterolateral oblíqua do crânio do veado catingueiro demonstrando descontinuidade óssea do ramo vertical da mandíbula direita. Figura 2 – Reconstrução 3D do crânio do veado catingueiro no plano lateral demonstrando o foco de fratura do ramo vertical da mandíbula direita. Figura 3 – A imagem tomográfica em janela óssea demonstra descontinuidade óssea do ramo vertical da mandíbula com presença de fragmento ósseo medial envolvendo o processo angular e desvio medial do fragmento ventral. Aparato hioide desviado para esquerda provavelmente decorrente de edema de tecidos moles. BIBLIOGRAFIA 1. 2. 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USO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA NA AVALIAÇÃO DO PARÊNQUIMA PULMONAR DE CINCO ESPÉCIES DE TESTUDINES BRASILEIROS CRIADOS EM CATIVEIRO IEVERTON CLEITON CORREIA DA SILVA¹; FLORIANO PEREIRA NUNES JÚNIOR¹; ADRIANO MARCHIORI²; LUCIANA RAMEH DE ALBUQUERQUE³; ALEXANDRE PINHEIRO ZANOTTI4; DANIEL BARRETO SIQUEIRA5; FABIANO SÉLLOS COSTA6. ABSTRACT SILVA I.C.C.; NUNES JÚNIOR F.P.; MARCHIORI A.; ALBUQUERQUE L.R.; ZANOTTI A.P.; SIQUEIRA D.B.; COSTA F.B. USE OF COMPUTED TOMOGRAPHY IN THE EVALUATION PARENCHYMAL LUNG IN FIVE SPECIES OF BRAZILIAN TESTUDINES BRED IN CAPTIVITY. The work aims to achieve by quantitative computed tomography of normal values for lung parenchyma density of five species of Testudines in captivity. The species studied were Kinosternon scorpioides (Scorpion mud turtle), Podocnemis unifilis (spotted river turtle), Trachemys dorbigni (D'orbigny's slider), Mesoclemmys tuberculata (tuberculate toadhead turtle), Phrynops geoffroanus (geoffroy's toadhead turtle). The values average radiodensity obtained were: -808,7 ±20 HU for Scorpion mud turtle; -816,2 ±14,2 HU for spotted river turtle; -822,4 ±27,1 HU for D'orbigny's slide;796,7 ±32,1 HU for tuberculate toadhead turtle e -796,3 ±24,4 HU for geoffroy's toadhead turtle. KEYWORDS: turtles; management; diagnostic imaging. INTRODUÇÃO Os testudines são répteis da ordem Testudinata (Chelonioidea), contendo cerca de 300 espécies e ocupando habitats diversificados como os oceanos, rios ou florestas tropicais. O pulmão está localizado dorsalmente ao plastrão e se estende por toda extensão da cavidade celomática 1. Exames de TC helicoidal apresentam grande contribuição clínica para a avaliação do sistema respiratório nas diversas espécies de testudines, fornecendo informações detalhadas dos pulmões e vias aéreas. Essa avaliação é facilitada pela sua baixa frequência respiratória, fato que minimiza a possibilidade de artefatos decorrentes de movimentação, associado ao alto contraste existente em decorrência do ar presente nos pulmões e vias aéreas. As informações detalhadas destes órgãos são favorecidas pela baixa freqüência respiratória, associado ao alto contraste radiográfico 2. A tomografia computadorizada quantitativa (QCT) permite a obtenção de valores numéricos referentes à radiodensidade dos órgãos, complementando a avaliação subjetiva, ao fornecer valores relacionados ao grau de atenuação radiográfica, volume, área e tamanho dos órgãos3. Este estudo tem como objetivo a obtenção de valores de normalidade para a radiodensidade do parênquima pulmonar em testudines brasileiros cativos no zoológico do Parque Estadual de Dois Irmãos (Recife-PE). MÉTODOS Foram utilizados 50 testudines hígidos das espécies Kinosternon scorpioides (Muçuã), Podocnemis unifilis (tracajá), Trachemys dorbigni (Tigre D’água), Mesoclemmys tuberculata (cágado do nordeste), Phrynops geoffroanus (cagado de barbicha), sendo 10 indivíduos de cada espécie. Previamente ao exame de TC foi realizada avaliação clínica, hematológica e bioquímica sanguínea de todos os animais. Os valores hematológicos e bioquímicos avaliados foram: ALT, FA, GGT, Ca, P, Mg, PT, ALB, Hb e Ht. Procedimentos biométricos foram realizados para determinação do peso de cada animal, comprimento curvilíneo de carapaça (CCP) e largura curvilínea de carapaça (LCC). Foram selecionados para esse estudo aqueles animais considerados hígidos e que apresentavam perfis biométricos semelhantes. Os exames de tomografia computadorizada foram obtidos a partir do aparelho GE Hi-speed FXI sem necessidade de contenção química. Os animais foram acondicionados em um recipiente plástico para evitar movimentação durante o exame. As imagens foram obtidas em cortes transversais (Figura 1A) de 2 mm de espessura com filtro para pulmão. Após obtenção das imagens foram realizadas reconstruções Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 129 multiplanares para melhor avaliação do parênquima pulmonar. Para avaliação quantitativa foi determinado um intervalo de atenuação radiográfica de -1023 a -205 unidades Hounsfield (UH), atribuindo-se o restante dos voxels da imagem em zero, selecionando assim somente o parênquima pulmonar, sendo gerado um valor médio em HU, através do histograma da imagem (Figura 1B), para cada animal avaliado. Posteriormente foram obtidos os valores médios e desvio padrão para cada espécie avaliada. RESULTADOS E DISCUSSÃO A avaliação dos cortes transversais e reconstruções multiplanares pode-se observar parênquima pulmonar homogêneo, hipoatenuante e localizados dorsalmente na cavidade celomática. Foi realizada a análise quantitativa da radiodensidade pulmonar através da técnica do histograma e os valores médios e desvio padrão obtidos encontram-se listados na Tabela 1. Sendo possível observar que o maior valor médio obtido foi para o tigre d’agua e o menor valor médio para o cagado de barbicha. Os exames de diagnóstico por imagem são de grande importância para répteis, uma vez que frequentemente as informações da anamnese são incompletas e os dados do exame clínico não são fáceis de serem obtidos2. Afecções do parênquima pulmonar são alterações frequentes em quelônios de cativeiro, onde a tomografia computadorizada nos fornece informações referentes à estrutura do órgão, regiões nódulares, conteúdo líquido e localização destas lesões3 e a tomografia computadorizada quantitativa (TCQ), assim como citado em humanos4 e cães, complementa a avaliação subjetiva e auxilia no diagnóstico de pneumopatias5. Os resultados obtidos neste estudo são semelhantes aos encontrados no parênquima pulmonar de outras espécies de reptéis6, quelônios7 e raposas5. Figura 1. A. Imagem tomográfica em corte transversal do parênquima pulmonar de testudine, B. Gráfico do hisograma da radiodensidade pulmonar. CONCLUSÃO A partir desses resultados pode-se concluir que os valores médios obtidos se assemelham aos já encontrados em humanos e outras espécies animais, sendo necessários maiores estudos para estabelecimento de um padrão de normalidade, o que vai favorecer o diagnóstico precoce de afecções pulmonares nos testudines das espécies estudadas. REFERÊNCIAS 1. MCARTHUR, S.; WILKINSON, R.; MEYER, J. Medicine and surgery of tortoises and turtles. Blackwell Publishing, 2008, 591p. 2. VALENTE, A.L.S. et al Computed tomography of the vertebral column and coelomic structures in the normal loggerhead sea turtle (Caretta caretta). The Veterinary Journal, 174: 362-370, 2007. 3. SILVERMAN S. Diagnostic Imaging In:______ Reptile Medicine and Surgery, St. Louis, Missouri: Elsevier, 2006, p. 471-489. 4. COXSON, H.O. Quantitative computed tomography of chronic obstructive pulmonary disease. Academic Radiology 12:1457-1463, 2005. 5. MCEVOY, F.J. et al. Quantitative computed tomography evaluation of pulmonary disease. Veterinary Radiology & Ultrasound 50(1):47-51, 2009. 6. PEES, M. et al. Computed Tomography of the lung of healthy snakes of the species Python Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 130 7. regius, Boa constrictor, Python reticulatus, Morelia viridis, Epicrates cenchria, and Morelia spilota.Veterinary Radiology and Ultrassound, 50(5): 487-491, 2009. COSTA, L.A.V.S et al. Utilização da tomografia computadorizada para avaliação pulmonar de quelônios. Clínica Veterinária, 94: 58-62, 2011. 50. CONTRIBUIÇÃO DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA PARA O DIAGNÓSTICO DA DESMITE DO LIGAMENTO INTERSESAMOIDEO E SESAMOIDEO DISTAL EM EQUINOS VÂNIA MARIA DE VASCONCELOS MACHADO1; LAIS MELICIO CINTRA BUENO2; GUSTAVO FERNANDES VIANA2; LIDIANE DA SILVA ALVES3 1Professora Doutora da Faculdade de Medicina Veterinária - UNESP - Campus de Botucatu 2 Mestrandos da Faculdade de Medicina Veterinária - UNESP - Campus de Botucatu 3 Residente da Faculdade de Medicina Veterinária - UNESP - Campus de Botucatu “Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho” campus Botucatu * Distrito de Rubião Junior, s/n 18618-970 - Botucatu, SP Email: [email protected] ABSTRACT MACHADO, V.M.V.; BUENO, L.M.C.; VIANA, G.F.; ALVES, L.S. CT Diagnosis of Distal Sesamoidean Ligaments Desmitis The sport horses are more susceptible to tendon and ligament injuries. These types of injuries have a long recovery time and a high degree of uncertainty about his full recovery. The established treatments varied according to the history, clinical signs, and radiographic severity of injuries. A CT scan is a diagnostic accuracy for the disorders of the ligaments and intersesamoideo and sesamoideo distal and proved to be essential to represent the mineralized structures, which was uncertain at the radiographic examination. Furthermore, the image reconstruction because it provided the most accurate diagnosis is more sensitive to detect and characterize the extent of disease. KEYWORDS: computed tomography, equine, desmitis INTRODUÇÃO A desmite dos ligamentos sesamoideo distal e considerada como uma causa de claudicação em cavalos ( Schneider et al , 2003). A tomografia computadorizada é especialmente útil para problemas ortopédicos a qual é eficaz para o diagnóstico rápido e completo para entendimento da extensão da doença ( Bienert ; STADLER , 2006). Além disso, pode ser útil para identificar clinicamente as importantes estruturas dos tecidos moles ( VANDERPERREN ; GHAYE ; SNAPS ; SAUNDERS , 2008). Este trabalho fornece um relato de um caso de mineralização dos ligamentos intersesamoideo e sesamoideo distal . METODOLOGIA Um cavalo da raça Cela Holandesa, 7 anos, macho foi encaminhado ao Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária de Botucatu-Unesp com histórico de caudicação intermitente no membro torácico esquerdo. No procedimento de analgesia do nervo digital proximal obteve-se resposta parcial e na avaliação radiográfica da articulação metacarpofalangeana esquerda apresentou imagens inconclusivas . Para melhor elucidação do caso, foi realizado o exame de tomografia computadorizada, no qual utilizou-se um aparelho tomográfico helicoidal (Shi matzu,modelo SCT-7800TC) e assim, gerar imagens transversais em corte milimétricos contínuos da articulação em estudo. Adicionalmente, foram realizadas recontruções das imagens nos planos sagital , dorsal e tridimensional (3D) . RESULTADOS E DISCUSSÃO No exame de Tomografia Computadorizada foi possível verificar uma mineralização do ligamento intersesamoideo e ligamento sesamoideo reto, distal à sua origem aos ossos sesamoides proximais. Com o auxílio da reconstrução de imagem 3D foi possível verificar com maior precisão as áreas mineralizadas e identificação tomográfica, sendo possível quantificar as áreas de mineralização na unidade Hounsfield . Em conclusão , a tomografia computadorizada foi essencial para representar as estruturas mineralizadas , as quais não foram visibilizadas no exame radiográfico. Além disso , as imagens de reconstrução forneceram nos planos sagital, dorsal e 3D que possibilizaram a caracterização da extensão da doença. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 131 Figura 1 Figura 2 Fig. 1- Reconstrução no plano sagital do membro anterior esquerdo Fig. 2- Reconstrução 3D do membro anterior esquerdo ilustrando a mineralização do ligamento intersesamoideo e sesamoideo distal. REFERÊNCIAS Bienert A, Stadler P. Computed tomographic examination of the locomotor apparatur of horses – a review. Pferdeheilk 2006, 22: 218 – 226. Schneider RK, Tucker RL, Habegger SR, et al. Desmitis of the straight distal sesamoidean ligament in horses: 9 cases (1995–1997). J Am Vet Med Assoc 2003; 222:973–977. Vanderperren, K.; Ghaye, B.; Hoegaerts, M. & Saunders, J. H. Evaluation of Computed Tomographic Anatomy of the Equine Metacarpophalangeal Joint. Am. J. Vet. Res., 69:631-8, 2008. 51. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NA AVALIAÇÃO DE LESÃO MEDULAR EM CORUJA SUINDARA (Tyto alba) – RELATO DE CASO ROBERTA VALERIANO DOS SANTOS6; RAMIRO DAS NEVES DIAS NETO7; NATALIE BERTELIS MERLINI2; MURILO GOMES DE SOUTELLO CHARLIER8; DANIELA SHIGUE9; LIGIA RIGOLETO OLIVA4; MARTHIN RABOCH LEMPEK10; CARLOS ROBERTO TEIXEIRA11; LUIZ CARLOS VULCANO6 1Professora Doutora da Faculdade de Medicina Veterinária - UNESP - Campus de Botucatu 2 Mestrandos da Faculdade de Medicina Veterinária - UNESP - Campus de Botucatu 3 Residente da Faculdade de Medicina Veterinária - UNESP - Campus de Botucatu “Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho” campus Botucatu * Distrito de Rubião Junior, s/n 18618-970 - Botucatu, SP Email: [email protected] ABSTRACT SANTOS R.V.; DIAS NETO R.N.; MERLINI, N.B.; CHARLIER M.G.S.; SHIGUE D., OLIVA L.R.; LEMPEK, M.R.; TEIXEIRA C.R.; VULCANO L.C. MRI EVALUATION OF SPINAL INJURY IN BARN OWL (Tyto alba) - CASE REPORT. The Barn Owls (Tyto alba) is a common specie in Brazil, often treated in specialized centers in medicine of wild animals inhabiting areas outside houses. We report the case of a Barn Owls with paraplegia of the hind limbs, then submitted to radiographic exam and magnetic resonance imaging (MRI). The MRI was performed on an owl healthy female of the same specie for comparative study. It was possible to diagnose spinal cord injury with abnormal bone structures and adjacent soft tissues. The study of healthy individual specimen was very important for the diagnosis due to the lack of studies in this area. KEYWORDS: spinal injury, Tyto alba , MRI INTRODUÇÃO A coruja suindara (Tyto alba), também conhecida como coruja-das-torres, pertence ao grupo de aves da ordem Strigiformes, família Tytonidae. Estão distribuídas por todos os continentes com exceção da Antártica, sendo Tyto um gênero cosmopolita e o mais abundante nas regiões tropicais1. Existem cerca de Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 132 14 espécies Tyto e 32 subespécies de Tyto alba. No Brasil, os titonídeos são representados apenas pela espécie T. Alba1. O crescimento populacional, associado a uma crescente urbanização e consequentes desmatamentos resulta na redução do habitat natural de populações de animais silvestres. A coruja suindara frequentemente habita áreas urbanas e tem importante papel no ecossistema no controle de roedores2. Essa proximidade com áreas urbanas fez com que o número de animais dessa espécie atendidos e encaminhados a centros de tratamento de animais silvestres aumentassem3. A disponibilidade de novas técnicas diagnósticas associada ao crescente aumento do atendimento de aves e a grande variabilidade de espécies contribui significativamente para importância dos estudos na área4. O presente relato teve por objetivo demonstrar a utilização da ressonância magnética e da radiologia para diagnóstico e avaliação de lesão medular em uma coruja suindara (Tyto alba) e a importância do estudo comparativo com um espécime hígido. METODOLOGIA Relata-se o caso de um espécime, adulto, de coruja suindara (Tyto alba) encaminhada ao Setor de Diagnóstico por Imagem da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, campus Botucatu apresentando paraplegia dos membros pélvicos após ser encontrada caída em área domiciliar. Foi realizado radiografia digital, equipamento modelo DRF GE®, com técnica de 50 kV e 4,0 mAs, na projeções laterolateral e ventrodorsal. Após duas semanas do exame radiográfico, o paciente foi encaminhado para exame de imagem avançada, para avaliar o comprometimento medular. O exame de ressonância magnética foi realizado no aparelho de campo aberto Vet-MR Grande (0,25 tesla), da marca Esaote®. A ave foi anestesiada e posicionada dentro da bobina de dois canais em decúbito dorsal. Os cortes foram realizados com 3 mm de espessura, incluindo o intervalo entre o inicio das vértebras torácicas e o pigóstilo. Foram utilizadas sequências spin echo ponderada em T1, fast spin echo ponderada em T2, Fast STIR e FLAIR em cortes sagitais, além da variação ponderada em T2, 3D Hyce, de 0,6mm de espessura, que permitiu reconstrução para planos dorsal e transversal. Devido a escassez de literatura de técnicas de imagem avançadas em animais silvestres, foi realizado exame semelhante em um individuo hígido da mesma espécie com intuito comparativo. RESULTADOS E DISCUSSÃO No exame radiográfico realizado nas projeções laterolateral e ventrodorsal foi possível visibilizar aumento de espaço intervertebral associado a uma esclerose do osso subcondral da face caudal da última vértebra torácica e da face cranial do sinsacro 4,5 (Figura 1). O paciente foi encaminhado para abordagem diagnóstica mais avançada, ressonância magnética, para verificar o comprometimento medular e a extensão das lesões das estruturas supracitadas. No exame de ressonância foi visibilizado um deslocamento dorsal do saco dural e do arco dorsal da última vértebra torácica e presença de estrutura com hiposinal em todas as sequências em região de arco ventral da primeira vértebra fusionada do sinsacro, sugerindo fragmento ósseo no canal medular (Figura 2 e 3). Além disso, observou-se presença de hipersinal da medula e dos tecidos adjacentes nas sequências spin echo ponderada em T2, FLAIR e Fast STIR da região de espaço intervertebral da última vértebra torácica e sinsacro, sugestivo de lesão medular. O animal hígido apresentou um aspecto retilíneo e homogêneo da medula espinhal e saco dural, sem focos de hipersinal ou hiposinal em topografia de medula, além de integridade das estruturas adjacentes aos espaços intervertebrais (Figura 4). A radiografia é o exame mais indicado para a triagem de alterações da coluna vertebral, já que possibilita localizar o possível foco da lesão e direcionar os diagnósticos diferenciais. Já a ressonância magnética é mais sensível para detectar alterações medulares, sem a utilização de meio de contraste. O estudo comparativo foi eficiente em esclarecer o parâmetro de normalidade da coluna vertebral do segmento avaliado da coruja Suindara, auxiliando no diagnóstico da lesão. As alterações observadas no exame de ressonância corroboram com os sinais clínicos apresentados pelo animal. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 133 Figura 1 – Imagem radiográfica em projeção laterolateral da coluna vertebral da coruja suindara, demonstrando aumento de espaço intervertebral entre a última vértebra torácica e a face cranial do sinsacro associada a esclerose do osso subcondral. Figura 3 – Imagem por RM spin echo ponderada em T1 da coruja suindara demonstrado presença de área de hipersinal heterogênea nas estruturas adjacentes dorsal e ventral ao espaço intervertebral da ultima vértebra torácica e osinsacro, além de desvio dorsal do saco dural. Figura 2 – Imagem por RM fast spin echo ponderada em T2 sagital demonstrando área de hiposinal projetado para o canal medular, com desvio do saco dural e moderado hipersinal na medula em região entre a última vértebra torácica e o sinsacro Figura 4 – Imagem por RM spin echo ponderada em T1 da coruja suindara hígida demonstrando o padrão de normalidade da medula espinhal para estudo comparativo. Tabela 1. Valores médios e desvio padrão da radiodensidade pulmonar em unidades Hounsfield (UH) das cinco espécies de testudines estudadas. Espécie Média Desvio Padrão Kinosternon scorpioides (Muçuã) -808,7 20 Podocnemis unifilis (tracajá) -816,2 14,2 -822,4 27,1 -796,7 32,1 -796,3 24,4 Trachemys dorbigni (Tigre D’água) Mesoclemmys tuberculata (cágado do nordeste) Phrynops geoffroanus (cágado de barbicha) Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 134 BIBLIOGRAFIA 1. SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997, 914p. 2. BONVICINO, C.R.;BEZERRA, A.M.R. Studies on Neotropical Fauna and Environment, 38(1): 1-5, 2003. 3. AMORIN, T.C.; LANNA NETA, A.T.; ALBUQUERQUE, B.C.S.; OLIVEIRA, B.F.S.; ANDRADE, W.; AMARAL, C.B. In: 11ª Semana de Educação Continuada em Medicina Veterinária – UFES, Alegre, Anais: 39, 2012. 4. KRAUTWALD-JUNGHANNS, M.E., KOSTKA, V. J Avian Med Surg., 12:149–157, 1998. 5. BAUMEL,J. Handbook of Avian Anatomy: Nomina Anatomica Avium. Cambridge: Nuttal Ornithological Club, 1993. 779p. 6. FARROW, C.S. Veterinary Diagnostic Imaginig: Birds, Exotic Pets and Wildlife. Canada:Elsevier, 2009, 420p. 52. MENSURAÇÃO DA ADESÃO INTERTALÂMICA DE GATOS DOMÉSTICOS HÍGIDOS POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA VIVIAM ROCCO BABICSAK1; ADRIANA VIEIRA KLEIN2; LETÍCIA ROCHA INAMASSU3; MARIANA TEBALDI4; ALEXANDRA FREY BELOTTA1; LUIZ CARLOS VULCANO5 1 Pós-graduanda do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. Programa de pós-graduação em Biotecnologia Animal. 2 Pós-graduanda do Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. 3 Residente do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. 4 Residente do Departamento de Clínicas Veterinárias, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. 5 Docente do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia,, Universidade Estadual Paulista campus Botucatu. Endereço: Distrito de Rubião Júnior s/n, 18618-970 - Botucatu, SP. E-mail para correspondência: [email protected] Apoio: Bolsa (proc. 2012/18750-3) e auxílio financeiro (proc. 2013/06148-0) providos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) ABSTRACT BABICSAK V.R.; KLEIN A.V.; INAMASSU L.R.; TEBALDI M.; BELOTTA A.F.; VULCANO L.C. Measurement of interthalamic adhesion of healthy domestic cats by magnetic resonance imaging. The volumetric reduction of the thalamus in brain atrophy results in a decrease in the interthalamic adhesion thickness and therefore, the knowledge of its normal dimensions is of great importance. Thus, this study sought to determine the thickness of the interthalamic adhesion of healthy domestic cats by magnetic resonance imaging (MRI). Ten healthy non-brachycephalic adult cats were anesthetized and submitted to a brain MRI. The average thickness of the interthalamic adhesion measured in the transverse and sagittal planes in T2-weighted sequence were 0.42 ± 0.04cm (0,37~0,51cm) and 0.52 ± 0.02cm (0,48~0,56cm), respectively. By calculating the mean of the thicknessmeasured in the transverse and sagittal planes, the average value found was 0.47 ± 0.03cm (0,44~0,51cm). KEYWORDS: interthalamic adhesion, magnetic resonance imaging, cat. INTRODUÇÃO O aumento da expectativa de vida dos animais tem resultado em uma elevação no atendimento de indivíduos com sinais neurológicos compatíveis com disfunção cognitiva, tais como desorientação espacial, alteração nas interações sociais, diminuição na atividade física, distúrbio no ciclo de vigília e sono, e perda do treinamento doméstico1. Em caso de gatos, ainda estão incluídas a inquietação, vocalização e lambedura excessiva dos pelos2. Essas alterações cognitivas geralmente são decorrentes de atrofia cerebral, que ocorre secundariamente à atrofia neuronal3, desmielinização e diminuição da quantidade das fibras mielinizadas4. Nos exames de tomografia computadorizada e ressonância magnética, a atrofia cerebral pode ser identificada através da existência de dilatação ventricular e de alargamento dos sulcos cerebrais e dos cornos ventriculares temporais5. A adesão intertalâmica também é outro elemento que pode ser avaliado em casos de suspeita de atrofia cerebral, uma vez que, frequentemente, o tálamo também sofre uma redução volumétrica. Dessa forma, a atrofia do tálamo e, consequentemente, da adesão intertalâmica, está associada a uma diminuição nas dimensões dessas estruturas e portanto, o conhecimento das suas dimensões normais são de fundamental relevância. A espessura da adesão intertalâmica de cães já está descrita na literatura6, entretanto, os valores normais para a mensuração dessa estrutura em gatos ainda não é conhecida. Sendo assim, este estudo objetivou a Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 135 determinação da espessura da adesão intertalâmica de gatos domésticos hígidos por ressonância magnética. METODOLOGIA Para o estudo foram utilizados 10 felinos hígidos, adultos, não braquicefálicos, sem histórico de sintomatologia neurológica e com resultado negativo para o vírus da imunodeficiência e da leucemia felinas no exame de reação da cadeia polimerase. Os animais selecionados foram anestesiados e submetidos à ressonância magnética em um equipamento com magneto supercondutor de 0,25 Tesla. Para a realização deste procedimento, os felinos foram posicionados em decúbito lateral e os crânios foram dispostos no interior da bobina mais adequada. As imagens encefálicas foram obtidas em cortes multiplanares e multisequênciais, ponderados em T1, T2, FLAIR, STIR e em T1 após a injeção intravenosa de 0,2 miligramas por quilo (ml/kg) de meio de contraste paramagnético (gadolinium). A espessura dos cortes e o intervalo utilizados foram de 3 e 0,3 mm, respectivamente. O tamanho da matriz foi de 224 x 192 e o campo de visão (FOV) de 14 cm. Após a obtenção das imagens, a espessura da adesão intertalâmica foi mensurada no plano transversal (figura 1) e sagital (figura 2), ambas na sequência ponderada em T2. As imagens utilizadas para a mensuração continham o terceiro ventrículo em região dorsal e ventral à adesão intertalâmica. As mensurações foram realizadas através de uma ferramenta do software que fornece a distância linear do limite dorsal ao ventral da adesão intertalâmica. Após a obtenção do valores da espessura, as médias e os desvios padrões foram calculados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os animais participantes desse estudo eram todos castrados e destes, 5 eram fêmeas e 5 machos. Todos os felinos não pertenciam à uma raça definida e apresentavam uma média de idade de 6,38 ± 2,39 anos e de peso de 5,09 ± 2,03 quilos. A média da espessura da adesão intertalâmica mensurada no plano transversal foi de 0,42 ± 0,04 centímetros (cm). O valor mínimo e máximo obtidos na mensuração nesse mesmo plano foram 0,37 e 0,51 cm, respectivamente. No plano sagital, a média da espessura da adesão intertalâmica foi de 0,52 ± 0,02 cm, enquanto que, o limite mínimo encontrado foi de 0,48 cm e o máximo, de 0,56 cm. Calculando-se a média dos valores mensurados no plano transversal e sagital, o valor encontrado para a espessura da adesão intertalâmica foi de 0,47 ± 0,03 cm. Os valores mínimo e máximo obtidos, calculando-se as médias dos resultados em ambos os planos, foram 0,44 e 0,51 cm, respectivamente. Em cães normais, o valor médio encontrado para a espessura da adesão intertalâmica no plano transversal foi de 0,68 ± 0,07 cm6. Uma maior espessura média da adesão intertalâmica foi encontrada nos cães em comparação aos gatos em decorrência da existência de uma correlação positiva entre a mensuração e o peso dos animais6. Neste mesmo estudo prévio, também foi verificado que os cães com disfunções cognitivas apresentam uma adesão intertalâmica com uma espessura média menor que os indivíduos hígidos6 e portanto, foi constatado que a mensuração da espessura da adesão intertalâmica pode ser útil na avaliação e interpretação de imagens encefálicas de animais com suspeita de atrofia cerebral. Dessa forma, a determinação de valores de espessura da adesão intertalâmica menores que os limites mínimos identificados nesse estudo, podem indicar uma redução volumétrica cerebral. Figura 1. Imagens encefálicas por ressonância magnética ilustrando (a) a adesão intertalâmica e (b) a mensuração da sua espessura no plano transversal. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 136 Figura 2. Imagens encefálicas por ressonância magnética demonstrando (a) a adesão intertalâmica e (b) a mensuração da sua espessura no plano sagital. CONCLUSÃO Como conclusão, este estudo sugere que adesões intertalâmicas com espessuras médias menores que 0,37 cm no plano transversal, 0,48 cm no plano sagital e 0,44 cm, considerando-se as médias das mensurações em ambos os planos, podem ser indicativos de atrofia cerebral em gatos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. MOSIER, J.E. Vet Clin North Am Small Anim Pract., 19 (1): 1-12, 1989. 2. LANDSBERG, G.M.; DENENBERG, S.; ARAUJO, J.A. J. Feline Med. Surg., 12 (11): 837848, 2010. 3. TERRY, R.D.; DETERESA, R.; HANSEN, L.A. Ann. Neurol., 21 (6): 530-539, 1987. 4. MARNER, L.; NYENGAARD, J.R.; TANG, Y.; PAKKENBERG, B. J. Comp. Neurol., 462 (2), 144-152, 2003. 5. PUGLIESE, M., CARRASCO, J.P.; GOMEZ-ANSON, B.; ANDRADE, C.; ZAMORA, A.; RODRÍGUEZ, M.J.; MASCORT, J.; MAHY, N. Vet. J., 186 (2): 166-171, 2010. 6. HASEGAWA, D.; YAYOSHI, N.; FUJITA, Y.; FUJITA, M.; ORIMA, H. Vet. Radiol. Ultrasound, 46 (6): 452-457, 2005. 53. A IMPORTÂNCIA DA UTILIZAÇÃO DA ENDOSCOPIA PARA O DIAGNÓSTICO DE LINFANGIECTASIA EM CÃES – RELATO DE CASO DEBORA COSTABILE SOIBELMAN1, SHEILA CALDA2 1 Médica veterinária endoscopista autônoma no Rio de Janeiro/RJ, [email protected] 2 Médica veterinária clínica no Rio de Janeiro / RJ, [email protected] ABSTRACT SOIBELMAN D.C.; CALDAS S.; The importance of the endoscopy procedures for lymphangiectasia diagnosis in dogs – case of study. The lymphangiectasia is a disorder of intestinal lymphatic system characterized by dilatation and rupture of intestinal lymphatic vessels, causing protein leakage in the intestinal lumen. The most common symptoms in dogs are vomiting, diarrhea, abdominal pain, ascites and progressive weight loss. The definitive diagnosis is the histopathological evaluation of the intestinal tissue sample. The upper gastrointestinal endoscopic procedure allows the evaluation of esophagus, stomach and small bowel; it’s a noninvasive, secure and atraumatic technique which also allows sampling tissue. The endoscopic images of intestinal lymphangiectasia are reddish mucosa, thickened and yellow or white spots in the lumen also known as villi lacteal dilatation. KEYWORDS: Endoscopy, limphangiectasia, dogs. Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 137 INTRODUÇÃO A linfangiectasia é uma desordem do sistema linfático que promove dilatação difusa com estagnação de linfa (conteúdo linfático) e a ruptura dos vasos linfáticos com a perda entérica de proteínas, principalmente de proteínas plasmáticas, linfócitos, lipídeos e quilomícrons 1, 2, 3. Tal dilatação pode ter origem primária ou secundária1, 2, 4. Nas de origem primária ocorre uma afecção congênita que promove a diminuição do número de vasos linfáticos funcionais, sendo essa a forma por causas não obstrutivas 1, 2. Nas de origem secundárias, os cães desenvolvem alguma patologia que resulta em congestão ou obstrução dos linfáticos; tais como inflamação granulomatosa ou neoplasias que irão distorcer ou obstruir significativamente os vasos linfáticos 1, 2. Essa obstrução promove o aumento da pressão linfática gerando uma dilatação, aumentando a fragilidade e ocasionando a ruptura desses vasos linfáticos 1, 2, 4,5. Dentre os sintomas, as queixa mais frequentes são a diarreia contínua ou intermitente, ascite, edema pleural, vômito, perda de peso, hipoproteinemia e hipoalbuminemia1, 2, 3, 5, 6. A linfangiectasia faz parte das enteropatias perdedoras de proteína de ordem linfática6. O diagnóstico definitivo é feito somente com a análise histopatológica de biópsia intestinal3, 4, 5,7 podendo ser obtida através de cirurgia ou de endoscopia 4, 5, 7. As vantagens da amostra através da endoscopia incluem o fato de ser um método não invasivo 4, a endoscopia permite também a documentação fotográfica, a avaliação citológica e coleta de fluídos para avaliação laboratorial 7. Macroscopicamente, as lesões duodenais típicas de linfangiectasia são os pequenos pontos brancos na mucosa intestinal 1, também descritos como flocos de neve; e esse efeito ocorre devido à dilatação dos vasos linfáticos das vilosidades (vasos lactíferos ou dilatação láctea) 2, 5, 7. Microscopicamente os vasos linfáticos intestinais estão acentuadamente dilatados, podendo ou não haver aumento na população de células linfoplasmocitárias da mucosa caracterizando uma enterite linfocíticaplasmocitária 2, 5. Esse estudo utiliza um relato de caso para mostrar a importância da técnica de endoscopia para visualização da mucosa duodenal como uma opção segura e prática na coleta de fragmentos de mucosa duodenal para o diagnóstico definitivo de linfangiectasia através da avaliação histopatológica. METODOLOGIA Um paciente canino da raça Lhasa Apso foi atendido apresentando engasgos, edema pulmonar e respiração abdominal. Entre o primeiro atendimento à realização da endoscopia, três exames ultrassonográficos foram realizados (29/07; 09/08 e 12/08), exames hematológicos e avaliação cardiológica. Os três exames ultrassonograficos revelavam o estômago distendido, duodeno com paredes irregulares, hiperecóicas (mucosa e submucosa) e espessadas (0,57cm). A avaliação cardiológica mostrou sopro sistólico em foco mitral IV/VI, ECG ritmo sinusal, Frequência entre 150 – 200bpm, suspeita de regurgitação de mitral. Após iniciar os medicamentos cardiopulmonares o animal apresentou melhora; porém o desconforto abdominal continuava e apresentava amolecimento de fezes. No dia 12/08 realizouse um novo exame ultrassonográfico pré-endoscopia. Os exames hematológicos apresentavam normalidade em série vermelha e bioquímica hepática e renal, em série branca apresentou leucograma com eosinofilia e linfopenia. No dia 13/08/13 foi realizado o procedimento endoscópico digestivo alto no paciente canino da raça Lhasa apso, macho com 10 anos de idade, pesando 9,6kg. Estava com privação alimentar de 12 horas e hídrica de 6 horas e fazendo uso dos seguintes medicamentos: Synulox 250®, Flagyl 400®, Lasix 40®, Fortekor 5mg®, Dermacorten 5mg®, e Aldactone® (dosagens não informadas). O acesso venoso foi feito e após medicações pré – anestésica e indução anestésica (Diazepam® e propofol) o paciente foi mantido em plano anestésico através do uso volátil de Isoflurano. Foi posicionado em decúbito lateral esquerdo, abre-boca metálico entre caninos esquerdos (inferior e superior). O equipamento endoscópico utilizado foi fibrogastroscópio da marca Fujinom®, modelo FG100FP (com 1 metro de comprimento e 9,8mm de diâmetro com canal de trabalho de 2,4mm) conectado a fonte de luz de xênon 250 w e câmera de captação de imagem da marca Storz®. Através de manobras endoscópicas fragmentos de mucosa gástrica e duodenal foram coletados com o uso respectivamente das pinças de biópsia endoscópicas da marca Fujinom® BF2416LN e BF2416SF; tais fragmentos foram acondicionados em dois tubos plásticos com vedação contendo solução formalina 10% respectivamente e encaminhados para avaliação histopatológica no laboratório IPEV/RJ. As imagens macroscópicas sugeriram gastrite moderada e duodeno com alteração inflamatória, presença de secreção biliosa amarelada e imagem de tapete granulado “tipo flocos de neve” também conhecida como dilatação láctea Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 138 moderada (Foto 1 e 2). A recuperação pós – anestesia ocorreu sem nenhuma intercorrência e o paciente retornou para o domicílio. O resultado histopatológico foi liberado após dois dias do procedimento endoscópico revelando em duodeno uma duodenite crônica com distorções vilositárias, hiperplasia críptica e linfangiectasia moderada com infiltrado linfocíticoplasmocitário levemente aumentado. Foto 1: Dilatação láctea em duodeno Autoria: M.V. Debora Costabile Soibelman Foto 2: Dilatação láctea em duodeno Autoria: M.V. Debora Costabile Soibelman DISCUSSÃO O paciente foi atendido apresentando dor abdominal, engasgos e ascite e foi submetido à avaliação cardiológica aonde foi sugerido aumento atrial esquerdo. A medicação cardiológica citada anteriormente foi eficaz para o tratamento da queixa inicial; porém cursava junto com diarreia intermitente e havia ainda a presença do desconforto abdominal, devido à linfangiectasia não diagnosticada. Esse paciente realizou três exames ultrassonográficos e em ambos os três exames a imagem duodenal cursava com irregularidade de paredes, mucosa e submucosa hiperecóicas e espessadas (medindo até 0,57cm). A linfangiectasia por ser um distúrbio inflamatório promove a dilatação e ruptura dos vasos linfáticos, e esse processo inflamatório promove a contração de algumas áreas, além de apresentar graus variáveis de espessamento da mucosa por edema, efusões cavitárias (ascite) 2, 3, 4;. Dessa forma, o veterinário clínico optou pelo procedimento de endoscopia por ser um procedimento não invasivo, atraumático, prático, seguro e ainda com a possibilidade de ter documentação fotográfica e a coleta de fragmentos de biópsia duodenal 1,3, 4, 5, 7. O paciente chegou em jejum alimentar de 12 horas e hídrico de 6 horas, recebeu medicamentos pré-anestésicos e indutores, conforme descrito e foi mantido em plano por anestésico volátil isoflurano. Tal paciente foi posicionado em decúbito lateral esquerdo com abre-boca metálico entre os caninos inferior e superior esquerdo. Esse posicionamento permite que o esfíncter piloro esteja mais acima da região antral facilitando a passagem do endoscópio para o intestino delgado através das manobras endoscópicas, permitindo dessa forma a avaliação do intestino delgado 7. A avaliação endoscópica da porção duodenal mostrou uma mucosa edemaciada, com alteração na coloração para avermelhado, friabilidade de mucosa e mucosa duodenal repleta de pontos brancos conhecidos como dilatação láctea. E a imagem macroscópica dessas dilatações dos vasos lácteos é descritas como pontos brancos (“White spots”) ou flocos de neve ou ainda como dilatação láctea 1, 2, 3, 5,7. Os fragmentos de mucosa foram coletados com auxílio de pinças endoscópicos e acondicionados em solução formalina 10% e encaminhados para avaliação histopatológica no laboratório IPEV/RJ. O laudo histopatológico diagnosticou duodenite crônica com distorções vilositárias, hiperplasia críptica e linfangiectasia moderada com infiltrado linfoplasmocitário levemente aumentado. A presença de infiltrado linfoplasmocitário ocorre pelo processo de ruptura dos vasos linfáticos ocasionando em extravazamento de conteúdo como proteínas plasmáticas, linfócitos, quilomícrons e caracteriza um processo crônico de enterite lifocíticaplasmocitária, no qual a linfangiectasia é um dos exemplos 1, 3, 4. Além disso, a gravidade desses achados em lâmina pode auxiliar na classificação desse distúrbio como leve, moderado ou grave 2, 3, 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: VIEIRA, A.B.; OSORIO, E.P.; CASTRO, C.O.; CASTELO, M.S.M.; CASTRO, M.C.N.; SOARES, A.M.B.; Linfangiectasia canina: relato de caso; www.sovergs.com.br/conbravet2008/anais/cd/resumos/R1241-1.pdf, em 08/09/2013. KRUININGEN, H.J.V. In: CARLTON, W.W; MCGAVIN, M.D. Patologia veterinária especial de Thompson. Porto Alegre:Artmed, 1998, 672p Anais do 3º Simpósio Internacional de Diagnóstico por Imagem – SINDIV 2013 139 TRIOLO, A.; LAPPIN, M.R. In: TAMS, T.R. Gastroenterologia de pequenos animais. 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