poesia/poema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino
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poesia/poema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino
poesia/poema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino universidade federal do espírito santo Departamento de Desenho Industrial Projeto de Graduação 2 poesia/poema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino Priscilla Martins 2005205525 Vitória, es Abril de 2011 Monografia apresentada ao Curso de Desenho Industrial/Programação Visual do Departamento de Desenho Industrial do Centro de Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Desenho Industrial/Programação Visual, orientada pelo Prof. Ms. Hugo Cristo e co-orientada pelo Prof. Dr. Rogério Camara. Comissão Examinadora: ____________________________________________________ Prof. Ms. Hugo Cristo (orientador) Universidade Federal do Espírito Santo ____________________________________________________ Prof. Dr. Rogério Camara (co-orientador) Universidade de Brasília ____________________________________________________ Profa. Dra. Gisele Ribeiro Universidade Federal do Espírito Santo Agradecimentos Agradeço a todos que participaram direta ou indiretamente deste projeto, dentre eles meus pais, amigos, professores e colegas de curso. Agradeço especialmente ao professor Rogério Camara pelo convite para realizar as pesquisas que se desdobraram neste trabalho, pela imensa atenção dedicada e pela amizade que construímos. E também, a Wlademir Dias-Pino, por toda a insipiração que sua obra nos proporciona e pela generosidade com a qual nos recebeu durante todos esses anos. resumo Desenvolvimento de projeto editorial que consiste na organização e no design gráfico de um livro sobre a obra do poeta Wlademir Dias-Pino. Serão apresentadas aqui todas as etapas deste processo, desde as primeiras pesquisas realizadas durante programas de iniciação científica vinculados à universidade, até o detalhamento projetual do produto desenvolvido. Wlademir Dias-Pino é um dos pioneiros da poesia visual brasileira, além de designer, ilustrador e pintor. Sua obra será apresentada em face aos movimentos artísticos aos quais esteve vinculada e aos acontecimentos históricos marcantes dos períodos em que foram desenvolvidas. Após este balizamento teórico, serão discutidos os aspectos gráficos de alguns trabalhos que se destacam dentro de sua vasta produção artística a fim de identificar referenciais teóricos e visuais relevantes que possam vir a ser explorados no produto final. Em seguida, serão justificadas as razões pelas quais se optou pelo objeto livro como partido adotado para o projeto e delimitados os conteúdos que integrarão este livro. Por fim, serão detalhadas as escolhas relativas ao desenvolvimento do projeto que determinaram sua funcionalidade e estética. palavras-chaves Design; poesia visual; texto; imagem; livro; meio. 17 19 23 25 25 29 33 33 39 43 44 46 48 51 55 55 55 56 56 57 58 61 62 63 64 65 66 67 69 introdução justificativa objetivos capítulo 1 Arte Concreta Poesia Concreta Design gráfico brasileiro (anos 1950-1960) capítulo 2 Wlademir Dias-Pino Poesia/Poema Design/Artes Poesia Visual/Design Gráfico Livro-poema A Ave Solida considerações preliminares capítulo 3 Desenvolvimento do projeto Definições iniciais Formato Tipografia Grade Padrões gráficos Seções Imagens Elementos gráficos Acabamentos Papeis Capas Website considerações finais bibliografia introdução Este projeto, de caráter teórico/prático, foi organizado em quatro etapas básicas: (1) estudo sobre as relações entre poesia visual e design gráfico a partir da obra de Wlademir Dias-Pino, (2) definição do objeto a ser desenvolvido (3) organização dos conteúdos que viriam a integrar um livro organizado sobre a obra do poeta e (4) desenvolvimento do projeto gráfico deste livro. Durante a primeira etapa, foi investigada a trajetória artística de dias-pino e realizou-se uma análise qualitativa de algumas de suas obras — evidenciando as metodologias empregadas e relacionando-as com os pontos-chaves do discurso construído pelo poeta —, com a finalidade de mapear as principais referências teóricas e visuais presentes em seus trabalhos. A segunda etapa consistiu na definição do partido adotado para o projeto, quando se definiu que o objeto ideal a ser desenvolvido seria um livro organizado. Na terceira etapa, realizou-se a seleção dos conteúdos que integrariam o livro, direcionando a catalogação das obras para um determinado período da produção artística de dias-pino. E, finalmente, na última etapa, desenvolveu-se o projeto gráfico do livro e seu detalhamento técnico. As obras de maior repercussão de dias-pino foram realizadas entre as décadas de 1950 e 1970, quando o poeta integrou alguns movimentos de expressividade nacional e produziu as obras mais emblemáticas de sua carreira — embora sua produção tenha se iniciado ainda nos anos 1940 e se estenda até os dias atuais. As vanguardas poéticas daquele período, bastante influenciadas pelas artes de linhagem construtiva do início do século passado, destacariam o verbal e o visual como elementos indissociáveis à produção de sentido. A esses poetas, então, caberia trabalhar a dimensão gráfica da poesia, dar visualidade à palavra e definir a sua mise-en-page. Tais preceitos colocariam em questão o livro enquanto único meio para se veicular a poesia. Poetas vinculados a diversos segmentos da poesia experimental no Brasil põem em paralelo os vários campos da produção e estabelecem uma ação artística de expressividade pioneira que assimila os múltiplos códigos e meios de seu tempo. Os poetas do grupo Noigandres1, por exemplo, viriam a explorar diferentes suportes como jornais, cartazes, vídeos e oralizações em suas poesias. A Poesia Concreta estava sintonizada com as prospecções tecnológicas daquele período (anos 1950) e apontava para os novos meios de comunicação audiovisual. Esses poemas indicavam a superação do livro 1. O grupo Noigandres, liderado pelos poetas Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari, estava ligado à vertente paulista do Concretismo, oficialmente fundado no Brasil em 1952 pelo grupo Ruptura. Os poetas Noigandres lançam também em 1952 a revista homônima que inaugura o Concretismo na poesia, alcançando repercussão internacional e colocando o Brasil à frente das vanguardas poéticas daquele período. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 17 como suporte instrumental do poema, vislumbrando as possibilidades linguísticas da cibernética, da música eletrônica, da televisão e dos microcomputadores. Segue-se a isso, a ideia de que a constituição do objeto-poesia responde à operação de uma lógica perceptiva intrínseca ao funcionamento do texto2. Nesse sentido, a produção de dias-pino se diferencia em relação à poesia Noigandres, tendo como principal característica a exploração das propriedades físicas do livro — o objeto resultante desta experimentação seria denominado pelo poeta como livro-poema3. dias-pino adotaria o livro de modo radical e inovador, transferindo o foco do objeto para o ato de leitura. Dessa maneira, propunha uma leitura eletrônica do poema, em substituição à leitura mecânica do cérebro humano e, ainda, a adequação do livro tradicional à outros aparelhos de leitura. O suporte, neste caso, se torna objeto da leitura, parte ativa e significante da comunicação, não sendo mero suporte auxiliar e sem expressão sígnica. A palavra ganha dimensão visual, tornando-se material e icônica. O livro é tratado como elemento estrutural fundamental na construção do discurso e dos processos de relação com o leitor. Esse interesse exploratório do meio pela conjugação signo/suporte abriria caminho para se pensar na particularização dos diversos meios como suportes de escrita e leitura. Reestrutura-se, assim, a condição linguística do livro diante à profusão de novas mídias, caracterizando-o como meio insubstituível à certas produções poéticas. As principais obras de dias-pino durante a fase considerada Concreta são os livros-poemas A Ave e Solida, este último exposto em 1956 na I Exposição Nacional de Arte Concreta ao lado de trabalhos de diversos artistas ligados ao Concretismo na poesia e nas artes plásticas. Além de sua faceta poética mais conhecida, dias-pino atua também como designer, ilustrador e pintor. Em todos esses campos, ele investe no pensamento visual e gráfico associado ao processo de leitura num universo de imagens e à pessoalidade da ação do outro sobre sua obra. Bastante crítico em relação à objetividade concretista, ele parte do uso verbal-tipográfico para o gráfico-estatístico através de uma lógica probabilística e, em um segundo momento, chega a abrir mão da palavra ao substituí-la definitivamente por outros códigos visuais dentro do poema. Esses pressupostos seriam radicalizados nos anos 1960, quando, ao lado de poetas que se mobilizaram de várias partes do país, funda o movimento poema/processo e teoriza a dissociação entre poesia (língua) e poema (linguagem), produzindo poemas estritamente visuais e voltados à uma lógica de consumo. Justificativa A pesquisa que resultou na escolha do tema deste projeto teve início em programas de iniciação científica que se estenderam durante três anos da graduação e contaram com o apoio da universidade e do CNPq4. Com a realização destes trabalhos foi possível estabelecer contato com a obra dos poetas concretos, em especial com a de Wlademir Dias-Pino, assim como identificar as relações dessas produções com o campo de estudo e atuação do design gráfico. Foram desenvolvidos, ainda, dois websites que, atualmente, consistem nas fontes mais completas de conteúdos relativos à obra de dias-pino 5 e dos demais poetas do movimento poema/processo6. Tendo em vista as possibilidades projetuais que esse tema ainda oferece — por tratar-se de um objeto de estudo bastante relevante para a poesia visual e para o design gráfico brasileiros, mas ainda pouco difundido — estas pesquisas anteriores serviram de base para o desdobramento deste novo projeto. Haja visto que dias-pino atua em diversos campos da arte — dispondo de numerosa produção em poesia, design, ilustração e pintura — e participou de diversos movimentos artísticos ao longo de sua carreira, fez-se necessário delimitar um determinado período de sua produção para direcionar o desenvolvimento do projeto de maneira clara e organizada. Sendo assim, a fundamentação teórica e as experimentações realizadas pelo poeta acerca do conceito de livro-poema ofereceram campo profícuo de aproximação entre a poesia visual e o design gráfico, além de constituírem um ponto-chave no conjunto da obra de dias-pino, tendo desdobramentos notáveis nos trabalhos que se sucederam a esta formulação — não por acaso, este também é o período de produção mais intensa e expressiva do poeta. Como ficará evidente no capítulo de revisão teórica, o livro foi o principal objeto das investigações de dias-pino e o suporte através qual seus resultados foram apresentados. Desde seus primeiros livros de poesias, passando pelos inéditos livros-poemas e chegando à complexa articula- 2. A palavra texto, conforme a concepção dada pelos poetas visuais, será utilizada ao longo deste trabalho para designar tanto textos verbais quanto textos visuais, levando-se em conta a dimensão material da escrita nos mais variados tipos de suportes gráficos. 3. Em artigo publicado em autoria conjunta com Moacy Cirne na Revista Vozes em abril de 1971, dias-pino fundamenta a distinção entre poema-livro e livro-poema. Segundo os autores, no poema-livro o suporte estaria subordinado ao poema e, dessa forma, seria possível utilizar diversos meios para sua veiculação — algo reincidente em obras do grupo Noigandres. Já o livro-poema não poderia perder a característica de livro, visto que exigia a exploração das propriedades físicas deste material (as texturas e transparências da página, o formato, a relação entre uma página e outra, a sucessão de códigos analógicos e digitais, etc.), inaugurando uma interatividade diversa com a obra. O primeiro exemplo de livro-poema seria, então, A Ave, publicado em 1956 por dias-pino. 18 4. Durante as pesquisas orientadas pelo professor Dr. Rogério Camara, foram estudadas as relações entre as produções da Poesia Concreta e do design gráfico dos anos 1950-1960, os trabalhos de dias-pino inseridos no Concretismo e, ainda, a sua produção e a de outros poetas vinculados ao movimento poema/processo. 5. Página dedicada à obra e ao pensamento de dias-pino: www.enciclopediavisual.com 6. Página dedicada ao movimento poema/processo: www.poemaprocesso.com p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 19 ção da Enciclopédia Visual7, sempre houve uma preocupação para além do conteúdo poético e que toca diretamente o campo de atuação do designer gráfico, por onde o poeta também sempre transitou. Além do propósito de investigar as relações entre o processo poético e a metodologia projetual na obra de dias-pino, este projeto naturalmente investiga a evolução do objeto livro e seus desdobramentos contemporâneos frente às novas mídias. Portanto, uma série de motivos contribuíram para a escolha do livro como partido adotado: (1) O retorno positivo que as pesquisas anteriores obtiveram no meio acadêmico, devido ao caráter inédito dos estudos apresentados em artigos e congressos8; (2) A motivação inicial de ampliar a divulgação da obra de dias-pino — assim como já se iniciou com a publicação dos websites desenvolvidos; (3) Os novos conteúdos que continuaram a ser disponibilizados pelo próprio poeta e por outros estudiosos de sua obra e que vieram contribuir para a relevância de um novo projeto; (4) A escassez de publicações relativas à obra de dias-pino e, especialmente sob a perspectiva do design gráfico, visto que a literatura já publicada se restringe a retratar sua trajetória poética; (5) A importância atual de se discutir as questões relativas ao livro e suas adaptações às mídias digitais; (6) A possibilidade de que este livro venha a ser efetivamente publicado e comercializado. A partir desta definição inicial, o projeto pôde ser dividido em duas etapas principais: (1) a seleção dos conteúdos que integrariam o livro — que se consistiu no estudo mais aprofundado da biografia de dias-pino, na catalogação dos materiais originais disponibilizados até então e na determinação dos critérios de seleção do conteúdo final9 — e o desenvolvimento do projeto gráfico do livro — que se baseou nos conceitos formais da bibliografia consultada sobre projetos editoriais e, especialmente, nas características gráficas das obras de dias-pino. O critério de seleção dos textos e imagens do livro foi baseado na delimitação do período mais relevante da produção do poeta, que ocorreu entre as décadas de 1950 e 1970, quando ele integrou os movimentos de Poesia Con- creta e poema/processo e produziu as obras e conceituações teóricas que norteariam toda sua produção subsequente. A partir desta delimitação temática, os conteúdos foram organizados cronologicamente de forma a remontar o discurso construído pelo artista através dos textos — sendo selecionados apenas textos de autoria do próprio dias-pino 10 — e dos (livros-)poemas realizados no bojo desses dois movimentos. 7. A Enciclopédia Visual consiste num acervo de recortes de imagens diversas distribuídas em 1001 caixas, a partir do qual dias-pino realiza uma série de inscrições e publicações temáticas a partir dos anos 1970, incluindo projetos gráficos de diversos livros e estudos para o desenvolvimento de programas de identidade visual. Nesses livros, as narrativas são construídas com elementos puramente gráficos, com poucas e pontuais inserções de palavras, geralmente relativas apenas às informações de editoria. A partir da distribuição aparentemente desordenada das imagens coletadas de toda ordem de impressos populares em caixas sem informações indicativas de seu conteúdo, o poeta cria um sistema capaz de acondicionar qualquer tipo de imagem e de gerar múltiplas possibilidades de inscrição e leitura. Ao contrário de uma enciclopédia tradicional, ordenada alfabeticamente, a organização de uma enciclopédia visual pressupõe uma estrutura de articulação da informação na qual os elementos se relacionam organicamente através de associações hipertextuais que emergem da justaposição de imagens. O projeto desta enciclopédia foi retomado recentemente por dias-pino, que atualmente dedica-se a ela. 8. Um dos artigos escritos durante as pesquisas foi premiado no 9º Congresso Nacional de Iniciação Científica da Sociedade Brasileira de Design da Informação, congic 2009 — sendo selecionado também para publicação na revista eletrônica InfoDesign — e, ainda, outros dois artigos foram premiados nas jornadas de iniciação científica da Universidade Federal do Espírito Santo durante dois anos consecutivos, 2008 e 2009. 9. Este trabalho de catalogação e seleção do conteúdo final do livro foi realizado em parceria com o professor Dr. Rogério Câmara que foi também o orientador das pesquisas anteriores quando ainda integrava o quadro técnico do departamento de Desenho Industrial desta universidade. Sua participação, portanto, não se restringiu à coorientação deste trabalho, mas também foi determinante para a execução prática do projeto e, por este motivo, seu nome consta como um dos organizadores do livro. 20 10. Com o intuito de particularizar a participação de dias-pino nos movimentos citados, foram desconsiderados os textos de terceiros sobre a sua obra. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 21 objetivos Geral Estudo da obra de Wlademir Dias-Pino, tendo como foco a questão do livro-poema, de modo a ampliar o debate sobre as relações entre poesia visual e design gráfico, assim como refletir sobre a função atual do objeto livro. Específicos 1. Continuidade às pesquisas anteriores ligadas ao programa de iniciação científica da universidade; 2. Reflexão sobre a função atual do livro e suas adaptações frente às mídias digitais; 3. Desenvolvimento de projeto gráfico de um livro sobre a poesia visual de dias-pino que amplie a divulgação de sua obra nos meios acadêmico e editorial. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 23 capítulo 1 Arte Concreta As vanguardas artísticas internacionais do início do século passado — expressas em movimentos como o Futurismo, o Dadaísmo, o Construtivismo Russo, o De Stijl e a Bauhaus — que trataram, em modo geral, de repensar as interfaces entre arte e indústria, constituíram as bases para o surgimento do Concretismo e do NeoConcretismo a partir dos anos 1950 no Brasil. Especialmente após a I Bienal de São Paulo em 1951, que premiou a escultura Unidade Tripartida do arquiteto suíço Max Bill, a Arte Concreta ganhou grande repercussão no circuito artístico brasileiro e foi amplamente difundida no eixo São Paulo/Rio de Janeiro pelos grupos Ruptura e Frente, liderados por Waldemar Cordeiro e Ivan Serpa, respectivamente. No cenário político nacional, essa é uma década de grande otimismo econômico e de corrida pela industrialização do país, em especial durante o governo jk (1956-1961), tendo como símbolo a construção da capital Brasília. Enquanto vanguarda, a Arte Concreta dispôs-se a instaurar nova ordem sobre as estruturas consideradas antiquadas ao mundo moderno, idealizando uma sociedade igualitária através de respostas lógicas para os problemas emergentes dos centros urbanos em desenvolvimento. Para tanto, dialoga nas artes plásticas, no design, na poesia e na publicidade com a produção industrial, assimilando elementos culturais dos mass media e visando tornar a arte acessível através da produção seriada. Unidade Tripartida, Max Bill, 1951. “A postulação, já clássica: a forma segue a função, envolvendo a noção de beleza útil e utilitária, significa a tomada de consciência do artista, tanto artística quanto economicamente, frente ao novo mundo de produção industrial em série, no qual, et pour cause, a produção artesanal é posta fora de circulação, por antieconômica, anacrônica, incompatível e incomunicável com aquele mundo impessoal, coletivo e racional, que passa a depender inteiramente do planejamento, em todos os sentidos, níveis e escalas.” (pignatari, 1957) Poesia Concreta O Concretismo se estenderia das artes plásticas para a poesia. A Poesia Concreta surge do que o poeta simbolista Stéphane Mallarmé denominaria de “crise do verso”, influenciada pela difusão de impressos destinados à publicidades e jornais — não mais restritos, portanto, ao meio literário —, e consequentemente, às composições tipográficas destina- Manifesto Ruptura, 1952. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 25 O Futurismo foi lançado pelo poeta italiano Fillipo Marinetti em 1909. O movimento demonstrava um entusiasmo pelas condições de vida do início do século xx, dominadas pela atmosfera bélica, a era da máquina, a velocidade e o barulho das cidades modernas. Os poetas futuristas pregavam a parole in libertà, ou palavra em liberdade, com o intuito de fundir poesia e pintura através da exploração da materialidade da tipografia. As páginas eram compostas com tipos em diferentes corpos, pesos e estilos dispostos em uma sintaxe fragmentada que conferia ritmo e expressividade às palavras. O Dadá surgiu como um movimento literário liderado pelo poeta Tristan Tzara em 1915 e se estendeu para as artes visuais. Bastante influenciado pelas técnicas do Futurismo, O Dadá reagia ao horror da Primeira Guerra Mundial através do protesto e da exploração do aleatório, rejeitando toda a tradição artística em busca de uma completa liberdade expressiva. Seus artistas exploravam a composição tipográfica e a disposição das imagens de forma desregulada, assim como a apropriação de materiais de origem popular diversa para a elaboração de colagens e fotomontagens com justaposições casuais, porém planejadas. O De Stijl foi lançado em 1917 na Holanda por Theo Van Doesburg, a quem aliou-se, dentre outros, o pintor Piet Mondrian, cuja pintura influenciou a elaboração da filosofia do movimento. O De Stijl seria a principal influência da arte Concreta, termo, inclusive, usado por Van Doesburg para definir as características desta nova pintura que se opunha às artes abstratas, livre da representação do mundo real — segundo ele, o que uma pintura teria efetivamente de concreto seriam suas linhas, pontos, cores e planos. Suas formas caracterizavam-se pela redução dos elementos gráficos ao mínimo essencial, em busca de uma arte “pura e universal”. Predominava o uso de cores primárias, linhas verticais e horizontais e divisões matemáticas e assimétricas do espaço. 26 O Construtivismo Russo foi um movimento artístico de cunho político-social iniciado a partir de 1917 e impulsionado pela revolução operária na Rússia. Seus integrantes renunciavam a “arte pela arte” em favor de uma comunicação visual voltada para a defesa dos valores revolucionários comunistas. Destaca-se o trabalho do arquiteto e designer El Lissítzki que lançava mão de estruturas rigidamente reguladas por grids, tipos sem serifa, fios grossos e experimentações fotográficas na composição de leiautes dinâmicos e de caráter popular e didático para cartazes e livros. A Bauhaus foi uma escola de design idealizada por Walter Gropius e inaugurada em 1919 na Alemanha. Os ideias de diversas tendências da vanguarda europeia foram assimilados e aplicados à produção industrial em série, determinando uma metodologia e um estilo que influenciariam toda a arquitetura e o design industrial e gráfico modernos. Os materiais eram empregados de forma racional e programada no projeto de produtos econômicos, funcionais e de grande valor estético, destinados à reconstrução de uma Alemanha devastada pela guerra. A escola passaria por um série de reformulações teóricas até o seu fechamento em 1933, mas suas realizações e influências, especialmente no ensino do design, ecoam até os dias de hoje. das a estes usos no final do século xix 11. Mallarmé publicou em 1897 o poema Un Coup de Dés, composto por uma família tipográfica que variava em pesos e corpos de letras dispostas numa sintaxe espacializada análoga à de partituras musicais, conferindo ritmo e entonação à leitura do poema. Esta obra viria a ser uma das principais referências dos poetas concretos brasileiros, que se tornariam, então, pioneiros desta vertente artística que se destacaria frente às vanguardas literárias de seu período e alcançaria repercussão in- Páginas de Un Coup de Dés (Um lance de dados), 1897. Mallarmé usa expressivamente a tipografia, dispersando os silêncios do poema ao longo das páginas do livro. Esta configuração visual ternacional. o interesse que poetas e pintores do século xx teriam por explorar criativamente a Em 1956 acontece a I Exposição antecipa materialidade da página impressa. Nacional de Arte Concreta no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Nesta ocasião, um grupo de poetas apresenta seus poemas-cartazes ao lado de pinturas e esculturas de diversos artistas ligados ao Concretismo nas artes plásticas. Este grupo era formado pelos poetas Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, Ronaldo Azeredo — que integravam o grupo Noigandres —, Wlademir Dias-Pino e Ferreira Gullar. Embora compartilhassem dos princípios linguísticos/formais que originaram a Poesia Concreta, algumas diferenças relevantes podem ser notadas nos trabalhos destes poetas, que consequentemente, viriam a motivar o rompimento de dias-pino e Ferreira Gullar com os poetas Noigandres. Segundo Álvaro de Sá (1975), seria possível classificar a Poesia Concreta em três vertentes distintas: (1) A fenomenológica (ou simbólico-metafísica), cujo principal representante foi Ferreira Gullar, defendendo uma posição mais intuitiva e subjetiva que, mais tarde, desembocaria no NeoConcretismo. (2) A espacional (ou de linguagem matemática), apresentada por Wlademir Dias-Pino, precursora do livro-poema e do movimento poema/processo. (3) A de rigor estrutural, compreendendo os integrantes do grupo Noigandres e seus continuadores. Em 1958, os poetas Noigandres lançam na edição nº 4 de sua revista homônima, o Plano-piloto para Poesia Concreta — em alusão ao planopiloto de Brasília —, manifesto que delineava os pontos fundamentais do movimento e suas principais referências. A poética desse grupo procurava resignificar a leitura através da exploração simultânea das três dimensões materiais da palavra: verbal, vocal e visual (poesia verbivocovisual), com o intuito de situar a poesia junto à outras artes como a pintura e a música. Os poetas Noigandres lançavam mão das cores, da tipografia, dos espaços em branco da página e de inúmeros jogos de palavras (caracterizados por aliterações, assonâncias e pela ausência de conectivos linguísticos) como elementos visuais significantes que indicam “vozes, timbres e roteiros de 11. No século xix surge a denominação Gótico para designar letras sem serifa de aparência estritamente frontal numa abordagem desumanizada e racional do desenho tipográfico tradicional. Estes tipos seriam rapidamente adotados pela publicidade, especialmente em jornais e cartazes, que exigiram uma adaptação da confecção de tipos metálicos para tipos talhados em madeira, permitindo variantes em corpos maiores. (lupton, 2006) p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 27 leitura associativa” dando “ordem à aparente desordem da composição” (menezes, 1991), cuja sintaxe fragmentada rompe com a estrutura imóvel do verso e da linguagem linear/discursiva ocidental. “Poesia Concreta: produto de uma evolução crítica de formas. dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmicoformal), a Poesia Concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural. espaço qualificado: estrutura espaciotemporal, em vez de desenvolvimento meramente temporístico-linear.” (trecho do Plano-Piloto para Poesia Concreta, grupo Noigandres, 1958) Páginas de O Formigueiro de Ferreira Gullar, também apresentado na exposição de 1956. O poema consiste na atomização da frase “a formiga trabalhava na treva a terra cega traça o mapa do ouro forno maldita urbe” ao longo das 50 páginas do livro. Primeiras versões em cartaz do poema Solida de Wlademir Dias-Pino exibidas na exposição de 1956. Ao contrário dos demais concretos, dias-pino preocupava-se com questões relativas à recodificação do texto. Este projeto ganharia uma nova versão em livro-poema homônimo, em 1962, prolongando a experiência do poema em cartaz através da materialidade do livro. Poema Nossos dias com cimento, integrante da série Poetamenos realizada por Augusto de Campos em 1953. Esta série é emblemática dos referenciais teóricos do Concretismo que vinham sendo elaborados pelo grupo Noigandres. Destacam-se as características do verbivocovisual, ou seja, da exploração da palavra em suas instâncias verbal, sonora e gráfica. No texto de introdução da série, Augusto de Campos escreve: “mas luminosos, ou filmletras, quem os tivera!”, demonstrando a intenção de adaptação dos poemas para outras mídias além do livro. 28 Poema Tensão de Augusto de Campos, exposto na I Exposição Nacional de Arte Concreta em 1956. Num segundo momento, a poesia Noigandres dispensaria o uso de cores e exploraria a sintaxe das letras e palavras através de rebatimentos de sons e formas que conferem ritmo e movimento ao poema — documentados pela geometria do tipo Futura, bastante utilizado pelos poetas por favorecer uma fisiognomia das formas. Design gráfico brasileiro (anos 1950-1960) Assim como às vanguardas artísticas, o contexto político e econômico dos anos 1950 influenciaria definitivamente o design gráfico brasileiro — não por acaso, os movimentos artísticos de linhagem construtiva que influenciaram a gênese da arte Concreta também ajudaram a definir a prática profissional do design (no contexto internacional, durante o período entre guerras na Alemanha com a Bauhaus e, posteriormente, com a Escola Superior da Forma em Ulm12). Aqui no Brasil, sob a influência das escolas alemãs, surgem em 1951 o Instituto de Arte Contemporânea do masp - iac/masp, pioneiro na oferta de disciplinas de design e, mais tarde, em 12. A Escola de Ulm (1952-1968) foi responsável pela revitalização do ideal bauhausiano durante o segundo pós-guerra. Embora houvessem diferenças nos projetos pedagógicos das escolas, ambas acreditavam no papel socializador do design de tornar a arte acessível através da produção em série. Alexandre Wollner, após estudar no iac/masp, ganharia uma bolsa de estudos para a Escola de Ulm e, quando de volta ao Brasil, empregaria os ensinamentos da escola na elaboração e fundação da esdi, onde também lecionou. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 29 1963, a Escola Superior de Desenho Industrial – esdi no Rio de Janeiro. Ainda no contexto da Arte Concreta, estavam ligados ao grupo Ruptura — vertente paulista do movimento —, dois dos designers brasileiros pioneiros: Geraldo de Barros e Alexandre Wollner, que, em 1958, fundaram juntamente com Ruben Martins e Walter Macedo, o primeiro escritório de design do país, o FormInForm, responsável pelos primeiros projetos de identidade visual para empresas nacionais. Identidades visuais criadas pelo FormInForm. “A partir da confluência dos propósitos da Bauhaus, das campanhas De Stijl (1917-32), das ideias construtivistas (1910), do Dadaísmo (1916-24), da teoria Gestalt e da evolução do posicionamento da arte face ao desenvolvimento industrial, vão-se estruturando atribuições especificas do profissional de artes gráficas, que passa a penetrar na função dos elementos visuais para solucionar problemas de legibilidade e percepção sem, contudo, abandonar a preocupação da peça única e raramente enfrentando a totalidade do conjunto dos meios de comunicação” (wollner, 1983) Observa-se, portanto, que a formação do design gráfico moderno no país esteve sintonizada com os ideais do funcionalismo internacional disseminados, principalmente, pelas escolas alemãs, que pregavam a economia de recursos a serviço de uma comunicação visual mais eficiente e rápida, dispondo das possibilidades (tipo)gráficas de forma racional e programada. Dessa maneira, os produtos dessas manifestações (artes plásticas, poesia e design) aproximam-se não apenas metodologicamente, mas formalmente, definindo um estilo que influenciaria as produções visuais das décadas seguintes. Ao desenvolver uma metodologia própria de construção do poema, que deveria tanto comunicar sua estrutura quanto ser comunicado por ela, e ao preocupar-se com a difusão desta produção em escala industrial (poesia-cartaz) em tantos suportes quanto possíveis13, a composição de uma poesia Concreta aproxima-se da construção de um objeto de design — produto de um projeto que visa atender à funções específicas e comunicar-se através de seus valores estéticos. Assim, Poesia Concreta e design gráfico assemelhamse ato projetual de busca pela síntese a elementos mínimos que facilitem a veiculação e o entendimento do máximo de informações relevantes a respeito de um determinado conceito/tema. Nesse sentido, é possível observar algumas características análogas em trabalhos de design e poesia: • Exploração da materialidade do texto, preocupada com a sutileza do desenho tipográfico enquanto agente estrutural e significante — predominância de tipos não-serifados que favorecem a fisiognomia geométrica; • Uso funcional das cores, geralmente empregadas com economia — restrição às cores primárias — e pensadas para atender às especifi- cações da reprodução seriada, assim como estabelecer relações de significado entre os elementos gráficos; • Desdobramentos de formas geométricas sobre grades construtivas (grids) — derivadas dos pressupostos funcionalistas que determinam funções objetivas a cada objeto ou às suas partes. • Exploração da materialidade do suporte gráfico através da distribuição funcional dos espaços em branco, resultando numa “higiene” gráfica que regula a sintaxe visual estabelecida entre cada elemento compositivo. Exemplos de produções de design e poesia realizadas por artistas vinculados ao Concretismo: Anúncio para Desinfórmio (1960) de Ruben Martins e Décio Pignatari, Logotipo Prefasa (1976) desenhado por Alexandre Wollner e poema Terra (1956) de Décio Pignatari. 13. É importante ressaltar que essas características gerais da Poesia Concreta estão mais associadas à poesia Noigandres do que à obra dita Concreta de dias-pino, cujos preceitos não são tão rigorosos e não estão voltados necessariamente para uma produção em grande escala, como será detalhado no capítulo seguinte. 30 p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 31 capítulo 2 Wlademir Dias-Pino Poesia/Poema Nascido em 1927 no Rio de Janeiro e onde reside atualmente, dias-pino publica nos anos 1940 e 1950 seus primeiros livros poéticos, produzidos artesanalmente em Cuiabá — para onde se mudou ainda criança com os pais14. Nesses primeiros livros, a desconfiança de quem assiste a significativos avanços tecnológicos15 já se apresenta tanto na temática quanto na sintaxe dos poemas — que já exploravam a horizontalidade da página e as possibilidades expressivas da tipografia —, revelando um poeta impressionado com a presença cada vez mais cotidiana da máquina: “Que pluma esses dentes / de engrenagem até ao tédio / tamanho mapa, mapa de ferro / ruminando que raiva igual / toda andaime logo de febre / e também aço outras coisas / quase humana, quase hélice”. (dias-pino, 1955). Dentre os volumes publicados neste período estão os títulos A fome dos lados (1940), A máquina que ri (1941), Os Corcundas (1954) e A máquina ou a coisa em si (1955). As publicações datadas a partir de 1951 são classificadas pelo poeta como pertencentes ao movimento Intensivista, então fundado neste ano por dias-pino juntamente com o escritor e historiador Rubens de Mendonça e com Othoniel Silva, tendo como órgão divulgador o jornal Sarã. Em manifesto, dias-pino rearticula os ideais simbolistas, que, em sua perspectiva, estariam presos à uma única dimensão da imagem, e Wlademir Dias-Pino. Páginas de A máquina que ri, escrito e editado por dias-pino em 1941. A expressividade da tipografia e o movimento da paginação já são explorados como elementos intrínsecos à significação poética. 14. O pai de dias-pino, anarquista e tipógrafo da Imprensa Nacional, por motivos políticos se muda com a família para o Mato Grosso. 15. A partir do início da década de 50, os primeiros computadores passam a ser comercializados e, também neste período, a tv chega ao Brasil. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 33 propõe um “simbolismo duplo” — “Além da imagem está outro significado poético” (dias-pino, 1982). Para ele, o simbolista opera sobre o plano da língua, enquanto o intensivista visa alcançar outras dimensões imagéticas. Familiarizado com o relevo dos clichês tipográficos e contrário ao sentido essencialmente frontal do código alfabético, dias-pino declara: “A escrita é frontal! A escrita é perfil! (...) O simbolista é um desenhista e o intensivista é um escultor. A escultura é um desenho de todos os lados” (Ibid.). Em sua obra, o código semiótico é indissociável do código linguístico e requer uma leitura ativa, pautada por deslocamentos. No ano seguinte à criação do Intensivismo, em 1952, dias-pino transfere-se para o Rio de Janeiro e começa a editar o livro-poema A Ave, que seria concluído e lançado apenas em 1956. Neste mesmo ano (1956), viria a ser convidado para participar da I Exposição Nacional de Poesia Concreta — que ocorreu em São Paulo e, no ano seguinte, no Rio de Janeiro, alcançando grande repercussão nacional. Nesta mostra, dias-pino apresentou as primeiras versões em cartazes do poema Solida, que ganharia nova versão em livro-poema em 1962 — e que, juntamente com A Ave e Numéricos (1960-61) integra sua produção classificada como Concreta16. Ao lado de dias-pino foram apresentadas obras do grupo Noigandres e de Ferreira O poema Dia da cidade (1948) apresenta um tipo de fisiognomia que Gullar, no campo da poesia, e de artistas ligados aos antecipa formalmente a visualidade da Poesia Concreta. As linhas grupos Frente e Ruptura, no campo das artes plásverticais e horizontais desenham um mapa que, mais do que dispor ticas. Nesta ocasião, foram exibidas lado a lado progeograficamente as palavras no espaço, visam operacionalizar as opduções de poesia, pintura e escultura, reafirmando o ções de leitura do texto. caráter objetual da Arte Concreta. No entanto, apesar dos pressupostos gerais do movimento serem compartilhados entre os poetas que participaram da mostra, o trabalho de dias-pino apresenta características bastante peculiares diante da produção dos demais poetas. Para ele, o poema, em sua concepção, permitiria, ao contrário da poesia, o acesso à uma nova imaginação desvinculada da escrita alfabética e da oralidade. O poema como exercício de criação de linguagem estaria afinado com a programação dos meios e aparelhos então nascentes. Os processos de recodificação da palavra em outros signos visuais e a importância da ação do leitor sobre o poema — principais características dos livros-poemas de dias-pino produzidos durante este período —, radicalizam os postulados da Poesia Concreta e abrem precedentes para o desenvolvimento de uma poesia semiótica que culminaria, mais tarde, em um terceiro movimento que o poeta ajudaria a formular: o poema/processo. Liderado por dias-pino, Álvaro de Sá e Moacy Cirne, o movimento foi lançado em 1967 simultaneamente no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Norte, mas contou com a participação de poetas de todas as partes do Brasil. Embora ainda influenciados pelas teorias da Poesia 16. Apesar de comumente citado na bibliografia como livro-poema concreto, dias-pino afirma em entrevista que A Ave estaria mais vinculado ao Intensivismo do que propriamente ao movimento da Poesia Concreta. 34 Concreta, buscava-se, neste novo movimento, uma alternativa à poesia fundada estritamente na palavra. Evitava-se, assim, a determinação de dogmas rígidos para a composição poética. Os poetas procuraram alcançar maior abrangência adotando como estratégia o princípio da arte postal (Mail Art), enviando suas produções aos organizadores que as distribuíam em envelopes e publicavam todo o conteúdo recebido, sem critérios de curadoria, juntamente com textos teóricos do movimento. Os poemas processualistas eram compostos através de técnicas mistas de colagem de textos e imagens, a partir dos mais diversos tipos de materiais gráficos (livros, revistas, jornais, publicidades, tecidos e pequenos objetos) aliados à intervenções gestuais como caligrafias, desenhos e gráficos. Dessa forma, os poemas evidenciam a mecânica da composição poética, constituindo não apenas um esforço de renovação estética e um aprimoramento dos códigos visuais, mas também o intuito político de emancipar a comunicação da tutela do código alfabético, sugerindo outras possibilidades de comunicação para além do verbal. A principal formulação do movimento estaria na dissociação entre poesia (língua) e poema (linguagem), que, num segundo momento, impulsionaria a produção de poemas estritamente visuais e voltados para uma lógica de consumo, chegando a dispensar o uso de palavras. A produção artística de dias-pino dentro do poema/processo se apresenta basicamente em duas direções: colagens e imagens derivadas da sobreposição de retículas. Nas colagens, as imagens são apropriadas de jornais e revistas, reforçando o caráter político do poema — visto que regimes autoritários, como a ditadura vigente naquele período, usam como arma a censura da informação. Ao mesmo tempo em que esses periódicos vinculam-se a um momento histórico específico, sua aplicação em trabalhos artísticos aponta para o problema da circulação e construção da informação e da recepção num sentido mais amplo. Já os poemas que resultam puramente das combinações de retículas, radicalizam questões já pautadas na Poesia Concreta: a transformação da palavra em superfícies quantitativas, números e programação. Os livros-poemas já sugeriam imagens derivadas de quantificações relacionadas, uma arte digital incipiente, ou “computador de bolso” — na expressão de Álvaro de Sá sobre A Ave. A retícula nada mais é do que a imagem digitalizada, sua tradução binária para máquina. Paralelamente às publicações poéticas, dias-pino construiu ao longo de sua trajetória artística um riquíssimo acervo imagético que constitui o mais ambicioso de seus projetos, denominado de Enciclopédia Visual. Esta consiste num vasto arquivo de recortes de imagens a traço (monocromáticas) das mais diversas origens (todo o tipo de impressos populares), catalogadas e distribuídas em centenas de caixas num dos cômodos de sua casa. O arquivo tanto funda um peculiar sistema de classificação imagética — visto que o próprio termo Enciclopédia remete à uma organização fundada no caráter sequencial do alfabeto, e, portanto inviável para a classificação de imagens — quanto serve à execução de diversas obras e publicações temáticas a partir dos anos 1970 até os dias atuais, e, com a ambição de chegar a 1001 volumes. Este acervo funciona como uma espécie de “caixa tipográfica” de imagens, a partir da qual qualquer inscrição pode ser feita pelo poeta. Um desdobramento mais recente da Enciclopédia de dias-pino foi a exposição Sétimo Elogio do A//a, apresentada em Brasília em 1993. A obra apresenta uma série de composições baseadas na estrutura formal da letra a, enquanto paradigma de todo o Páginas de Alfabismo, poema/processo de Álvaro de Sá, 1967. Neste poema é possível acompanhar um processo de recodificação das letras em outros códigos que, por fim, interagem autonomamente sem referência com o alfabeto inicial. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 35 Poemas processualistas de dias-pino. alfabeto. Já no título17, o poeta protesta contra a ditadura do código alfabético enquanto linguagem legítima da comunicação humana e explora a letra em sua visualidade, formas e volumes análogos à arquitetura. Como fica evidente, desde o início de sua atuação poética, dias-pino elege o livro como objeto de estudo e meio através do qual seus questionamentos sobre as linguagens verbal e visual se apresentam. No entanto, apesar de geralmente citado na bibliografia como poeta visual, a obra de dias-pino não se restringe à poesia, mas se apresenta numa vasta produção também em design gráfico, pintura e ilustração — que em nenhum momento parece dissociar-se de sua consciência poética. Em seus trabalhos, palavra e imagem servem a um mesmo propósito didático de informar e criar novos significados através de associações livres do pensamento e de metáforas poéticas. Páginas do livreto Brasil meia meia de dias-pino, publicado na Revista Ponto 1 em 1966. As colagens tinham a intenção didática de demonstrar através do peso e do copo tipográficos as reincidências estatísticas de determinados temas retratados nos jornais daquele ano. 17. A palavra elogio contida no título da obra denota elogio fúnebre, epitáfio. 36 p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 37 Design/Artes Filho de tipógrafo, desde a infância dias-pino tem contato com o universo editorial e as sutilezas do trabalho (tipo)gráfico. Essa influência se mostraria ainda cedo na sua poesia e, mais tarde, no trabalho como designer. Apesar de menos conhecida do que a obra poética, sua produção em design gráfico e ilustração é bastante expressiva e esteve ligada, em vários momentos, a uma forte atuação política que se refletia diretamente no resultado dos projetos. Com pouco mais de 20 anos de idade, dias-pino lançaria em parceria com o poeta Silva Freire o jornal Arauto de Juvenília, em 1949, com o objetivo de publicar jovens poetas. Com a fundação do Intensivismo, lança em 1951 o jornal Sarã como órgão divulgador do movimento. A produção editorial do grupo Intensivista demandaria, então, a criação de uma pequena gráfica e editora em Cuiabá, batizada de Igrejinha e, através da qual, dias-pino editaria vários de seus livros de poesias. Em 1952, já no Rio de Janeiro, funda o jornal Japa, também ao lado de Silva Freire. No mesmo período em que participa da Poesia Concreta, o poeta integra o movimento estudantil e desenvolve o projeto gráfico da Revista Movimento, publicada pela União Nacional dos Estudantes a partir de 1957. As influências do Concretismo são notáveis nos trabalhos gráficos desse período — além de Movimento, dias-pino projeta a revista Brasil Constrói, publicada pelo Ministério dos Transportes e desenvolve a primeira decoração geométrica para o carnaval de rua do Rio de Janeiro, em 1958. Na década seguinte, dias-pino se dedica ao poema/processo, cuja intensa produção era organizada e publicada em revistas-caixas ou envelopes e distribuídas pelas correios. As publicações mais expressivas foram as revistas Ponto 1 e Ponto 2, com poemas e textos teóricos do movimento. Algumas composições da exposição Sétimo Elogio do A//a, 1993. Página dupla da Revista Movimento com texto e editoração de dias-pino. No texto, o poeta faz analogias entre a arquitetura de Brasília e a Poesia Concreta, contextualizando essas manifestações com o espírito modernista predominante durante o período do governo jk. Em 1974, juntamente com João Felício dos Santos, dias-pino edita e publica o livro A marca e o logotipo brasileiros, com posfácio de Antônio Houaiss. Este livro seria o primeiro volume da Enciclopédia Visual de dias-pino e previa a publicação de outros nove volumes complemen38 p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 39 Páginas de A marca e o logotipo brasileiros, de 1974. O livro se estrutura em capítulos de pesquisas iconográficas acerca de determinados temas que abrem caminho para um apanhado de símbolos e logotipos de diversas marcas brasileiras. Páginas da Revista Movimento, com projeto gráfico e editoração desenvolvida por dias-pino para a une em 1957. É possível notar na mancha gráfica e nos grafismos, o predomínio de formas geométricas, o arejamento espacial da página e o emprego de cores saturadas, características estéticas do Concretismo. tares, até então não publicados. Através de um vasto panorama do pensamento gráfico ao longo da História e com uma ordenação estrutural simples, esse livro alcança uma síntese da realidade do logotipo brasileiro até a data de sua publicação. “O livro, assim, diagramado em ativa operação mental – e aqui o visual é, efetivamente, à Leonardo Da Vinci, cosa mentale -, se torna um desafio ao usuário, propondo-lhe associações, oposições, conexões, correlações, dissociações, simplificações, atomizações, conglomerações, análises, sínteses, expansões, contrações, dispersões, compactações, com problemas que transcendem o teorético da Gestalt, do behavior, do abissal”. (houaiss, posfácio de A marca e o logotipo brasileiros, 1974. s/p.) Páginas da Revista Brasil Constrói, com projeto gráfico de dias-pino para o Ministério dos Transportes, 1960. 40 Levando adiante o projeto da Enciclopédia Visual, nos anos 1990 dias-pino publica alguns livros que se definem pelo caráter estritamente visual das narrativas. Este projeto prevê a publicação de 1001 volumes temáticos, definidos a partir da organização da própria Enciclopédia — dias-pino denomina como naipes os blocos conceituais que agregam cada grupo de imagens nas caixas e consequentemente se desdobram nas publicações. Nestes livros, as poucas e pontuais inserções de textos verbais geralmente são relativas apenas às informações de editoria. Dentre os volumes já publicados estão os títulos Pré-história: uma leitura projetada, Escritas arcaicas, Naquele flutuar das escritas caligramas, Febres do capricho e A lisa escolha do carinho. De 1973 a 1978, dias-pino atua como pesquisador e programador visual na Universidade Federal do Mato Grosso. Durante esse período desenvolve uma série de trabalhos gráficos envolvendo programas de identidade visual, projetos gráficos de jornais, folders e cartazes para divulgação de eventos culturais da universidade. Dentre os projetos de identidade visual estão um estudo para desenvolvimento de nova marca Páginas de Naquele Flutuar das escritas caligramas, livro integrante da Enciclopédia Visual, característico pelas narrativas puramente gráficas construídas a partir do acervo imagético de dias-pino. Cartazes desenhados por dias-pino para a ufmt. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 41 Páginas do manual de identidade visual desenvolvido para o governo do Mato Grosso do Sul. Os símbolos das secretarias e órgãos vinculados ao governo são desenhados a partir do desdobramento das formas do hexágono e da estrela. Ensaio plástico-poético concebido por dias-pino para exposição integrante do III Fórum Brasília de Artes Visuais, 1994. Série Direcional, pinturas realizadas por dias-pino em 1952. Ilustrações da série Humor da Linha. 42 para a ufmt e um programa completo para o governo do Mato Grosso do Sul, encomendado por ocasião da fundação do estado. dias-pino desenvolveria ainda projetos gráficos para alguns livros de outros autores, dentre eles Os oleiros (1975) de Silva Freire, com projeto gráfico que remete aos trabalhos realizados durante o Concretismo; projeto gráfico-poético para Armas do tempo (1975) de Geraldo Dias da Cruz; pesquisa iconográfica e edição do livro Sátira na política do Mato Grosso (1978) de Rubens de Mendonça; ensaio plástico-poético para o livro bilíngue Cidade Imaginada (1994), articulando diversas concepções de espaços urbanos. Embora o foco deste trabalho sejam as produções de dias-pino como poeta e designer, é importante ressaltar sua atuação como vitrinista, decorador de carnaval, ilustrador e pintor — e que em todas essas áreas é possível encontrar congruências com suas obras de poesia e design. Nota-se, portanto, a tendência de fazer convergir diversos campos artísticos em cada trabalho, não limitando a poesia à palavra, a pintura ao quadro e etc. Poesia visual / Design gráfico Além da consciência poética que permeia toda a produção de dias-pino, os índices da composição manual de seus trabalhos são características marcantes que definem estilo e identidade à sua obra. A partir da observação e da análise dessas características, portanto, é possível estabelecer algumas aproximações entre essas produções. No entanto, para ampliar a compreensão dessas aproximações também conceitualmente, deve-se levar em conta as metodologias de desenvolvimento. No campo do design, essa análise é facilitada pela natureza própria da disciplina, baseada no desenvolvimento claro de metodologias para execução de projetos. Na poesia, no entanto, a ideia de uma metodologia para a composição poética surge precisamente no contexto da Poesia Concreta e se radicaliza, mais tarde, no poema/processo — movimentos dos quais dias-pino participou diretamente desde o início, como mostrado anteriormente. Ambos os movimentos baseavam-se no pressuposto modernista de racionalização dos processos criativos para a ampliação da produção, da distribuição e do consumo dos produtos, e, nessa concepção, a poesia recebe o tratamento de objeto de uso. No poema/processo essa intenção se mostra ainda mais efetivamente do que na Poesia Concreta — já no nome, o poema/processo recusa o termo poesia para adotar o poema como produto de suas teorias, justificando-se numa cisão entre língua e linguagem dentro da literatura. “A poesia modernista girou em torno da palavra, até mesmo usandoa em estado de dicionário, e nós acentuamos, agora, que o que nos interessa é o projeto do poema. A palavra passa a ser dispensada; nem existe diferença entre a pintura e o poema. A poesia modernista era um problema de língua e o nosso problema é de linguagem.” (dias-pino sobre o movimento poema/processo em entrevista a Joaquim Branco, Revista Ponto 2, Rio de Janeiro, 1968.) p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 43 Nesse sentido, um paralelo entre poesia visual e design gráfico é possível não apenas metodologicamente, mas também em termos de linguagem, cujo produto geral seria a informação facilitada por uma ferramenta comum aos discursos verbal e visual — a metáfora. Análogo ao conceito de ideograma — introduzido por Erza Pound18 na poesia a partir dos estudos da obra de Ernest Fenollosa19, explorado no cinema por Eisenstein e, posteriormente, pelos poetas concretos —, o pensamento imagético no qual dias-pino investe encontra suporte teórico possível, ainda, na filosofia de Vilém Flusser. A compreensão de projetos como modelos para processos que, por sua vez, ganham a concepção de formas, definem, segundo Flusser, um posicionamento formalista e pós-histórico diante da realidade contemporânea. Com dias-pino, essa noção de processo se mostra evidente na negativa em desenvolver edições em grandes tiragens de seus livros, sem contudo, abandonar a produção numa determinada escala serial — segundo o poeta, uma grande tiragem confere ao trabalho o caráter de obra acabada, se distanciando da proposta de desenvolvimento de novas versões para os poemas por parte dos leitores. Isto, por sua vez, justifica a opção do artista por trabalhar com métodos artesanais de composição como a colagem, a caligrafia e o desenho, assim como a utilização de técnicas mecânicas de impressão, como a tipografia, a serigrafia, a fotocomposição e a Xerox. A estética dos produtos finais de poesia e design, portanto, é influenciada tanto pelos meios e técnicas empregados no processo compositivo de dias-pino, quanto pelo tratamento, até certo ponto, indistinto de texto e imagem enquanto matérias-primas para a construção de discursos poéticos e visuais. Essas possibilidades de recodificação entre linguagens distintas demandam uma síntese visual que determina, por sua vez, o desdobramento de formas geométricas em seus trabalhos. É possível, portanto, notar uma série de características reincidentes às produções de poesia e design de dias-pino, como as diversas camadas de textos e imagens justapostas, o uso expressivo das cores e seus contrastes, o desdobramento sistematizado de formas geométricas, a exploração da materialidade do suporte gráfico e da tipografia e as pontuais intervenções gestuais e caligráficas. No entanto, dentre toda a produção de dias-pino, os livros-poemas parecem demonstrar, de maneira ainda mais evidente, essa aproximação entre poesia e design, dissolvendo efetivamente as fronteiras entre ambas as áreas. Cartazes para a xiv Bienal de São Paulo realizados para divulgação interna do evento na ufmt. O desdobramento de formas geométricas é reincidente em todo o trabalho de design gráfico de dias-pino. Estudo iconográfico e leitura visual do logotipo da ufmt, realizados por dias-pino. Técnicas de colagem são empregadas tanto nos estudos iniciais quanto no desenvolvimento de muitos leiautes por dias-pino. Livro-poema Para dias-pino, “o verdadeiro artista é aquele que inventa sua própria maneira de inscrever”, livre de códigos preexistentes. Em seus livros-po- 18. O estudo de Ernest Fenollosa (1853-1908) Os Caracteres da escrita chinesa como instrumento para a poesia, fruto de reflexões desenvolvidas no Japão entre 1897 e 1900, foi publicado por iniciativa de Erza Pound em 1919. O estudo foi fundamental para a escritura de Pound e, no Brasil, foi traduzido pelos poetas do grupo Noigandres, que tinham como proposta uma poesia ideográfica fundada numa sintaxe relacional. 19. Em O princípio cinematográfico e o ideograma, posfácio do livro de N. Kaufman, Cinema japonês, 1929, Sierguéi Eisenstein parte da idéia de que cinematografia é fundamentalmente montagem e “montagem é conflito” fundado, de certo modo, numa dialética marxista, mas esteticamente nas possibilidades da ideografia. 44 emas, o alfabeto serve de pré-texto para a exploração de outros códigos visuais, relembrando o caráter imagético da escrita — ponto relevante da teoria da Poesia Concreta. No entanto, de maneira oposta ao verbivocovisual da poesia Noigandres, à poesia de dias-pino não interessa a oralidade — “Um poema escrito é antes de tudo visual e não sonoro, ele não é um instrumento musical... a poesia silenciosa, a poesia espacional é contra o herói”. De um tema inicialmente figurativo, a recodificação do poema, ou nesse caso, o seu registro, exibe sua própria mecânica de construção e a estrutura matemática da sintaxe em detrimento à preocupação de transmitir uma determinada mensagem. O poema se esvazia de significados para tornar-se plástico e manipulável pelo leitor. Se na Poesia Concreta o poema é determinado pelo meio no qual se apresenta — cartaz, oralização, instalação, vídeo, etc. —, com o livrop oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 45 poema de dias-pino, livro e poema tornam-se um todo indissociável e incongruente à outros tipos de suportes. A mecânica da leitura e do funcionamento do livro estão intimamente ligados ao discurso poético e seu desencadeamento através do ato de virar as páginas. O poeta lança mão das possibilidades (tipo)gráficas do livro, como as texturas e transparências das folhas, a substituição do código alfabético por perfurações, cortes e dobras que revelam cores e elementos gráficos análogos à Pintura Concreta. Esses processos de recodificação do texto questionam a estrutura do códice e a imobilidade do verso na poesia tradicional em meio à era eletrônica que, então, se anunciava ( nos anos 1950). As páginas soltas e não-numeradas conferem ao livro-poema uma posição intermediária entre o códice e o computador, através de uma estrutura pensada em séries autônomas e passíveis de intervenções, com a “finalidade de facilitar a anexação de novos materiais e formas de poemas” (dias-pino, 1982) tanto pelo autor quanto pelos leitores. O próprio ato de leitura interfere no significado do poema, através das escolhas do leitor que definem o roteiro de leitura. “Existe o poema-objeto dos dadaístas. Os nossos, são objetos-poemas. É a diferença entre poema-livro e livro-poema. O inferno de Dante é um poema-livro. A condição de poesia-poema (um longo poema) é que impôs um todo ao livro, no caso de Dante. Já no livropoema é a expressão do próprio material usado no livro: a paginação, a página em branco, as permutações de folhas, o ato de virar as páginas, a transparência do papel, o corte, os cantos, etc.” (dias-pino, 1982) dos leitores: “Eu nunca fiz questão de lançar outra edição (d’A Ave), porque o interessante para mim não era que a pessoa encontrasse o livro (...) é preferível que ela leia a estrutura do livro e reconstrua o processo”. (diaspino em entrevista à Vera Casanova, 2002.) Cada página apresenta um verso que interage através da transparência do papel com a página seguinte, composta por um gráfico indicador de leitura que recupera o sentido do poema. Desta maneira, o livro é organizado em séries que evoluem num processo de eliminação da palavra até a transparência total entre os pares de páginas, através de perfurações. Além disso, os textos são grafados em permutações de caracteres em caixa-alta (letras maiúsculas) e caixa-baixa (letras minúsculas), de forma aparentemente aleatória, remetendo ao caráter estatístico do texto. Esse ruído interfere no tempo de leitura e, consequentemente, na experimentação do poema, permitindo que os textos assim combinados entre eles e com os vértices dos gráficos conquistem novos significados. Além do tratamento gráfico do texto, a materialidade do suporte é evidenciada em cada detalhe do livro. O formato retangular é pensado para favorecer a leitura angular do poema, conduzida pelos gráficos indicadores de entrada e saída do texto. A encadernação em grampo permite que novas páginas sejam anexadas posteriormente ao livro. Os papéis coloridos e de diferentes texturas conferem uma experiência tátil que participa do poema. A Ave é apresentada como um programa. A partir da contínua metamorfose do código verbal/visual, perde-se a referência inicial da palavra, transformando-se o poema em puro elemento plástico. Para dias-pino, o contato precoce com o universo da produção gráfica foi determinante em seus trabalhos. Desenhava tipos desde pequeno e observava a forma das letras antes da palavra, o significante antes do significado. A compreensão da letra como objeto escultórico, o conhecimento e a execução de diferentes técnicas de impressão e suas características visuais na superfície do papel, configuram-se em informação tátil/ visual a ser aproveitada. Na tipografia, os “brancos” da página ocupam espaços físicos no componedor e a visualidade se dá pela negativação ou positivação dos relevos dos tipos móveis no papel. Na linotipia, por exemplo, a composição tipográfica é determinada pela perfuração que a máquina executa numa fita de papel, que, posteriormente, distribui os tipos em linhas e blocos de texto na galé para a impressão. Esse sistema incipiente de codificação do texto (digitado) para reconhecimento pela máquina é apropriado por dias-pino em A Ave. A Ave A Ave teve uma edição de cerca de trezentos exemplares impressos manualmente por dias-pino, preservando, portanto, os índices da confecção artesanal — um volume não é exatamente igual ao outro. Sua ideia é a de um livro que se auto-explica ao longo do uso, daí a expressão livro-máquina atribuída por Álvaro de Sá. A baixa tiragem do livro tem relação com a proposta de desenvolvimento de novas versões por parte 46 Páginas de A Ave, 1956. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 47 Cartazes de Solida, 1956. Solida No mesmo ano do lançamento de A Ave, em 1956, dias-pino participa da I Exposição Nacional de Arte Concreta, onde apresenta as primeiras versões de Solida em quatro poemas-cartazes. O poema é construído a partir do desdobramento da palavra-título na frase “solidão só lida sol saído da lida do dia”, em operação análoga à estatística dos quadrados latinos20. Os cartazes são compostos pela recodificação das letras de cada palavra do poema em gráficos de linhas e pontos que tornam visual o processo de construção da sintaxe poética. A substituição do código alfabético por elementos plásticos revelam o “esqueleto desencarnado de um poema que foi se desfazendo das palavras como se fossem elementos dispensáveis para o fazer poético” (menezes, 1991, p. 58). Mais tarde, este mesmo arranjo estatístico-poético serviria à elaboração da segunda versão de Solida em livro-poema, lançado em 1962. O livro é apresentado em páginas soltas dentro de uma caixa e organizado em um apêndice — que funciona como um manual didático de leitura do poema, expondo sua matriz geradora — e cinco séries de poemas visuais. As séries são conjuntos de nove páginas que recodificam cada uma das palavras do poema em elementos gráficos que evoluem do ponto para a linha, o plano e, finalmente, para esculturas montáveis através de cortes e vincos nas páginas da última série. O poema abandona, então, sua expressão de pintura para tornar-se escultural. Com Solida, dias-pino leva adiante os processos de recodificação já presentes em A Ave, assim como a exploração da fisicalidade do suporte como dado funcional interno ao poema. Da mesma maneira, o livro é impresso manualmente em serigrafia e em baixa tiragem, com o intuito de não conferir ao livro o caráter de obra acabada. A reconstituição do poema original é possível somente através da comparação entre as composições de cada série com o apêndice didático que contém a chave-léxica do poema. O poema em si não contém nenhum texto, sendo puramente composto por grafismos que são “brotação de signos, suporte e prolongamento de um imaginário do qual a língua não é a única forma de expressão. O grafismo, escrita no sentido amplo, não tem por primeira vocação duplicar a oralidade ou a cena vista: é uma linguagem autônoma”. (lévy, 20. Os quadrados latinos são arranjos estatísticos nos quais um mesmo elemento não se repete numa mesma linha ou coluna. Uma derivação desta técnica tornou-se popular com o jogo Sudoku. 48 Páginas de Solida, 1962. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 49 1998, p.18). Uma vez apreendida a metodologia compositiva do poema original, o livro torna-se referencial para a elaboração de novas versões ou de novos poemas. A partir da substituição da palavra pela imagem dentro da poesia, dias-pino fundamentaria a dissociação entre poesia e poema, que nortearia os postulados do movimento poema/processo, lançado oficialmente em dezembro de 1967. considerações preliminares Representações esquemáticas da última série do livro-poema Solida, 1962. 50 Segundo Flusser (2007), desde o advento da fotografia e das mudanças que esta tecnologia provocou em todos os setores das artes, as expressões artísticas tipicamente lineares como a poesia, a literatura e a música cada vez mais se apropriam de recursos do imagético devido ao desenvolvimento das mídias de superfície (surface media). Essas apropriações acontecem também no sentido oposto, ou seja, as mídias de superfície, como a própria fotografia, as pinturas e os anúncios publicitários, recorrem cada vez mais aos recursos do pensamento. Essa relação entre as diversas articulações do pensamento implica numa mudança da própria maneira de pensar do homem, em que o pensamento conceitual (linear) poderia se fundir criativamente ao pensamento imagético (de superfície) para fundar um novo tipo de pensamento, assim como novas mídias e novos símbolos codificados. A função prática da escrita cada vez mais parece servir para programar o mundo e suas imagens, em vez de conceituá-lo. O escritor é aos poucos substituído pelo programador, ou scriptor. “Com a inversão atual da dialética “texto-imagem” doravante o pensamento conceitual vai servir para a produção de imagens” (flusser, 1985, p. 68) que, por sua vez, já não servem para explicar o mundo, mas para conferir-lhe significados. Como foi mostrado, a partir do código alfabético, os poemas de diaspino migram para códigos visuais diversos, grafismos, ou são substituídos por uma série de intervenções materiais no suporte gráfico, em operação análoga ao próprio esforço de abstração inerente ao ato da leitura — enquanto conjunto de imagens que representam os sons da linguagem fonética. Essa transfiguração entre códigos explicita a preocupação do poeta em pensar, já nos anos 1950, numa leitura do texto pela máquina, o texto apreendido imediatamente como imagem, antes de suas instâncias semântica e fonética, antecipando o conceito de um pensamento gráficorelacional em oposição ao pensamento conceitual-discursivo ocidental. Para ele, o texto serve como pré-texto ou programa para a composição poética e artística e, com a mesma inventividade, suas produções em design gráfico apropriam-se de recursos do universo poético. Antes do advento dos computadores, o livro tendia a ser projetado funcionalmente, com o intuito de facilitar a legibilidade do texto. Para tanto, a tipografia tendia a ser “transparente”, no sentido de que os pormenores do desenho tipográfico não fossem percebidos e a leitura pudesse ser fluida. O texto não deveria ser enxergado, mas apenas lido. A partir das vanguardas artísticas do século xx, especialmente com os postulados da Poesia Concreta, texto e livro passam a ser explorados como estruturas significantes no ato da leitura. Atualmente, a produção editorial incorpora cada vez mais as experimentações dos livros de p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 51 artistas — facilitada também pelas diversas tecnologias que barateiam o custo de produção e oferecem novas possibilidades midiáticas ao livro —, explorando cores, texturas, acabamentos e refinamentos gráficos como diferencial para atrair os leitores mais jovens que tendem a aderir ao universo digital com mais facilidade. Os livros-poemas de dias-pino, nomeadamente A Ave e Solida, estavam sintonizados com as transformações tecnológicas iniciadas naquela época (anos 1950-1960), dentre as quais novos meios eletrônicos de comunicação surgiam, como a tv e os computadores. Essas mídias já foram assimiladas pelas novas gerações, mas suas especificidades em termos de linguagem, ainda estão em pleno desenvolvimento, tratando de emanciparem-se das linguagens analógicas precedentes, especialmente da gramática instrumental do códice23. Portanto, investigar a história do livro — objeto que se mantém praticamente inalterado ao longo dos últimos dois mil anos, coexistindo com diversas outras tecnologias e suportes de registro de escrituras — nos ajuda a compreender as especificidades da nova escrita digital e as mudanças que ela opera técnica e cognitivamente no modo como o homem se comunica e transmite cultura. A problemática do livro envolve uma série de questões que se reconfiguram também à medida em que este objeto se adapta às novas necessidades de consumo de uma sociedade audiovisual: “a escrita, o modo de inscrição, de produção e de reprodução, a obra e a operação, o suporte, a economia do mercado ou da estocagem, o direito, a política, etc.” (derrida, 2004, p. 20) A proposta de novas versões dos poemas de dias-pino antecipa também a noção interativa entre livro, conteúdo e leitor, que se nota efetivamente nos dias de hoje através da dissolução do conceito de autoria em favor do conhecimento colaborativo na rede. Este talvez seja o indício mais imediato das transformações que as novas mídias já provocaram no mercado editorial. A democratização do acesso e da distribuição de informação favorecem a autonomia seletiva do usuário em relação aos conteúdos culturais que consume. “Se, por um lado, esse processo engendra o fenômeno cultural e estético do “original de segunda geração”, por outro tem desviado o debate sobre o tema, redundando em uma abordagem técnica em que o problema da autoria na rede equivaleria ao do Xerox.” (beiguelman, 2003). Novos mecanismos de autenticação e validação da informação vêm se desenvolvendo naturalmente neste contexto cibernético. A troca de informações se torna cada vez mais virtual e, o seu acesso, online — esta configuração foi prontamente acolhida pelas produções científicas, que se atualizam cada vez mais rápida e constantemente. Nota-se, portanto, uma inversão na noção de legitimidade dos conteúdos publicados em livros, que, até tradicionalmente, eram tomados como verdadeiros. No entanto, ao contrário do que muitos críticos anunciaram em relação ao fim do livro tradicional, nunca se produziram tantos livros como atualmente, mas sua função parece cada vez mais atender à produções literárias e artísticas, destinadas ao leitor que dispõe de um tempo maior para a apreciação da obra. O livro volta a ser um objeto de estima, colecionável. Diante destas análises, o projeto do livro desenvolvido sobre um determinado período da produção artística de dias-pino, buscou incorporar algumas possibilidades interativas típicas de seus livros-poemas, mas com o cuidado de não simular friamente a materialidade das obras originais. Mais do que isso, lançou-se um olhar crítico sobre a trajetória artística deste poeta, a fim de resgatar as principais referências visuais e teóricas de seu discurso e reinserí-las criativamente no projeto gráfico do livro, buscando, ainda, explorar novas relações entre o conteúdo apresentado e o leitor. Para tanto, foram reproduzidos não somente os textos críticos de autoria de dias-pino que remontam os questionamentos do momento em que seus principais trabalhos foram desenvolvidos, mas também os próprios poemas concebidos neste contexto. Procurou-se, ainda, em alguns casos, fazer aproximações/versões para que o leitor pudesse ser contemplado em alguma relação experiencial com as obras originais, sem perder, no entanto, a preocupação com as limitações que uma produção em escala comercial necessariamente ingerem ao projeto gráfico — visto que o livro destina-se efetivamente à distribuição e comercialização futuras. O passo seguinte deste projeto consiste, portanto, na busca por tornar viável sua publicação através de programas de incentivo cultural ou da iniciativa privada. 23. A nomenclatura corrente das ferramentas de navegadores de internet e programas editores de texto e imagem, por exemplo, preservam as terminologias típicas do universo analógico do livro tradicional, em expressões como “página da web”, “recortar”, “copiar”, “colar”, “anexar”, etc. 52 p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 53 capítulo 3 Desenvolvimento do projeto Definições iniciais A partir da determinação do conteúdo do livro, algumas pré-definições foram estabelecidas para o projeto com o intuito de organizar e direcionar o tratamento de textos e imagens. O livro foi organizado em dois blocos principais: o primeiro relativo à Poesia Concreta e o segundo ao poema/processo. Nestes blocos, foram reproduzidos não somente textos críticos de autoria de dias-pino, mas também os principais poemas produzidos dentro dos respectivos movimentos. Além disso, o livro constará de uma apresentação escrita pelos organizadores, a fim de contextualizar a obra do poeta e introduzir os assuntos abordados no livro; de um infográfico com os acontecimentos históricos marcantes na vida de dias-pino e um sumário de suas produções em design/artes e poesia/ poema; de uma carta escrita por ele em 2009, que abre o livro e sintetiza alguns dos questionamentos presentes nos textos e poemas seguintes e, por fim, de uma entrevista realizada pelos organizadores especialmente para a edição, encerrando o livro. Embora não fosse a intenção reproduzir as características objetuais dos poemas, procurou-se, em alguns casos, fazer algumas aproximações/versões para que o leitor pudesse ser contemplado em alguma relação experiencial com as obras originais. Isso determinou, portanto, a escolha pelo uso de diferentes tipos de papeis no miolo do livro e de alguns acabamentos especiais, além do desenvolvimento de um website complementar à apresentação do livro-poema Solida. Essas particularidades do projeto gráfico serão detalhadas a seguir. Formato O formato do livro foi calculado para que mantivesse as medidas mais próximas a de um quadrado, porém de forma a diminuir ao máximo o desperdício de papel, tendo como referência o formato padrão de papel para impressão gráfica: 66 x 96 cm. Isto porque o formato quadrado é recorrente em trabalhos gráficos e livros-poemas de dias-pino, tendo relação também com a geometria explorada em suas obras — os livrospoemas Solida e Numéricos, por exemplo, se apresentam no formato quadrado. Um formato aproximado ao quadrado propicia uma horizontalidade maior que favorece a disposição das imagens das obras nas páginas do livro. Sendo assim, através do cálculo de aproveitamento de papel, chegou-se ao formato final 21 x 23 cm, conforme o cálculo a seguir: Folha: 66 x 96 cm. Página com sangria: 22 x 24 cm (12 p. / folha) Mancha gráfica: 21 x 23 cm p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 55 Tipografia A tipografia selecionada para uso tanto na capa quanto no miolo do livro foi a Neutraface, desenhada por Christian Schwartz para a House Industries em 2002 e que se baseia na obra do arquiteto modernista Richard Neutra. Embora Neutra tenha se destacado por suas construções residenciais, a atenção que dedicava a cada detalhe de suas obras se estendia para a seleção da sinalização de seus prédios comerciais, por exemplo. A geometria linear e o desenho aberto da Neutraface foram inspirados tanto nestas sinalizações quanto na própria arquitetura de Neutra. A escolha desta família tipográfica partiu da pesquisa por tipos geométricos que se mantivessem coerentes com o conteúdo do livro e seu formato. A Neutraface é uma família geométrica sem serifa que se apresenta numa grande variedade de pesos (thin, light, medium, bold, titling, condensed), o que possibilita seu uso sem a necessidade de tipografia auxiliar para a diferenciação de estilos de textos. A família contém, ainda, algarismos de texto — característica incomum em tipos geométricos —, que se ajustam mais harmoniosamente ao texto corrido, já que seria necessária, em alguns casos, a numeração de imagens referenciadas no texto. Neutra Text Book AaBbCcDdEeFfGgHhIi JjKkLlMmNnOoPpQqRr SsTtUuVvWwXxYyZz 1234567890 Cálculo para a determinação das margens externas de uma página, baseado no sistema de Villard. 56 Grade A definição da grade construtiva do livro teve início pela determinação das margens externas de uma única página. A fim de manter uma relação com a geometria do formato do livro, adotou-se como referência o sistema de Villard, cuja divisão é feita em 12 partes traçadas em diagonal entre ângulo superior direito e as sucessivas interseções entre essas linhas e uma diagonal oposta traçada na página. Com o objetivo de determinar uma mancha gráfica próxima ao formato quadrado do livro e de mantê-la leve e arejada mais ainda assim econômica, chegou-se as seguintes medidas para as margens de uma página: superior: 10 mm, inferior: 14 mm, interna: 15 mm e externa: 25 mm. Obteve-se, portanto, uma mancha gráfica de 190 x 186 mm. A partir disso, foi determinada a grade da linha de base para o entrelinhamento dos textos, ajustada às margens pré-definidas e incrementada a cada 12 pts (para chegar a esta medida foram realizados testes de impressão com a tipografia padrão do projeto, determinando-se portanto, a composição do texto corrido no corpo 10/12 pts.). Em seguida, a mancha gráfica foi dividida em seis colunas com medianiz de 5 mm, afim de aproveitar a horizontalidade do formato para compor os textos em duas colunas principais, cada uma ocupando, então, três colunas da grade. As demais variações de colunas serviriam para a aplicação de imagens, títulos e notas em bitolas variáveis. A mancha gráfica foi dividida, ainda, em seis partes horizontais com medianiz de 12 pts. (medida que corresponde à entrelinha do texto corrido), a fim de determinar diferentes alturas de início dos diversos estilos de textos, como títulos, notas e texto corrido. Feito isto, chegou-se a seguinte configuração para a grade: Grade para a composição de textos. Grade para a aplicação de imagens. Padrões gráficos A definição dos estilos de parágrafos para a composição dos textos partiu da leitura e da compreensão preliminar desses textos. A partir delas foi possível identificar as diferentes hierarquias de informações que precisariam receber tratamento tipográfico diferenciado. Chegou-se, portanto, às seguintes pré-definições de estilos: • Títulos: família: Neutra Text Light, corpo: 30/36 pt., alinhamento: justificado a esquerda e à grade da linha de base, kerning: ótico, sem recuo na primeira linha, sem hifenização, cor dos caracteres: K=100, ligaduras condicionais ativadas e estilo antigo de números. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 57 • Intertítulos: família: Neutra Text Bold, corpo: 10/12 pt., alinhamento: justificado a esquerda e à grade da linha de base, kerning: ótico, sem recuo na primeira linha, hifenização de palavras com ao menos 5 letras, após as 2 primeiras e antes das 3 últimas, manter juntas ao menos 2 linhas no início e no final de cada parágrafo, espaçamento mínimo entre palavras de 90% e máximo de 110%, cor dos caracteres: K=100, ligaduras condicionais ativadas e estilo antigo de números. • Texto corrido: família: Neutra Text Book, corpo: 10/12 pt., alinhamento: justificado a esquerda e à grade da linha de base, kerning: ótico, recuo da primeira linha de 12 pt., hifenização de palavras com ao menos 5 letras, após as 2 primeiras e antes das 3 últimas, manter juntas ao menos 2 linhas no início e no final de cada parágrafo, espaçamento mínimo entre palavras de 90% e máximo de 110%, cor dos caracteres: K=100, ligaduras condicionais ativadas e estilo antigo de números. • Notas: família: Neutra Text Book Italic, corpo: 7,5/9 pt., alinhamento: não-justificado a esquerda e à grade da linha de base, kerning: ótico, sem recuo na primeira linha, hifenização de palavras com ao menos 5 letras, após as 2 primeiras e antes das 3 últimas, espaçamento mínimo entre palavras de 90% e máximo de 110%, cor dos caracteres: K=100, ligaduras condicionais ativadas e estilo antigo de números. • Referências de imagens: família: Neutra Text Book, corpo: 7,5/9 pt., espaçamento entre caracteres: 50%, alinhamento: não-justificado a esquerda e à grade da linha de base, kerning: ótico, sem hifenização, cor dos caracteres: K=100, ligaduras condicionais ativadas e estilo antigo de números. • Paginação: família: Neutra Text Book, corpo: 8/10 pt., alinhamento: na direção da lombada, kerning: ótico, sem hifenização, espaçamento mínimo entre palavras de 90% e máximo de 110%, cor dos caracteres: K=100, ligaduras condicionais ativadas e estilo antigo de números. Um homem americano parado em sua roupa de linhas retas — calças e paletó e até mesmo com cartola — muito se assemelha a um arranha-céu. O indígena escolhe para tanga a palha que cobre a taba. O árabe, esse, se veste com a forma de uma tenda. Texto corrido: Neutra Text Book 10/12 pt. Originalmente publicado no caderno de cultura do jornal O Sol, em 1967. A grafia original foi mantida. Notas: Neutra Text Book Italic 7,5/9 pt. Obs.: As entrelinhas dos estilos Texto corrido e Notas se alinham a cada 4 linhas do primeiro e 5 linhas do segundo. Seções A organização do livro em dois blocos principais exigiu a inclusão de páginas de aberturas para eles. Sendo assim, duas páginas inspiradas na lógica compositiva do poema Solida foram desenhadas a partir da disposição das letras das palavras Poesia Concreta e poema/processo ocupando a largura de duas páginas faceadas. A abertura do bloco de Poesia Concreta foi impressa em cor chapada (azul claro) no fundo das páginas, já que as produções deste período eram geralmente coloridas. Além disso, as letras repetidas das palavras foram substituídas por círculos que remetem às perfurações do livro-poema A Ave. Já a abertura do bloco poema/processo foi impresso em fundo chapado na cor preta, visto que 58 Páginas de abertura dos blocos e apresentação dos poemas. os poemas deste movimento eram geralmente impressos nesta monocromia. As letras repetidas das palavras foram substituídas por formas geométricas básicas (círculo para a letra O, triângulo para a letra A e retângulo para a letra E) em referências às recodificações geométricas de textos típicas dos poemas deste movimento. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 59 Páginas de abertura dos blocos e apresentação dos poemas. Além as aberturas dos blocos principais, foram desenhadas também aberturas para cada uma das obras inseridas nestes blocos. No primeiro bloco foram feitas aberturas para os poemas A Ave, Solida 1956, Solida 1962 e Numéricos. No segundo bloco foi feita uma abertura para o poema Brasil Meia Meia. Estas aberturas consistem na sobreposição de algum grafismo característico do poema sobre um fundo em cor chapada que tenham relação com a obra em questão. 60 Imagens A maioria das imagens apresentadas no livro foram digitalizadas a partir das obras originais e tiveram de ser editadas para “limpar” eventuais sujeiras e vestígios da ação do tempo sobre os papeis. Procurou-se manter ao máximo as cores e tonalidades das impressões originais coloridas e, no caso das imagens impressas em papel branco, adotou-se uniformemente a cor preta em 6 por cento para que não se perdessem a dimensões do formato das páginas originais quando impressas sobre o papel branco do livro. Além destas imagens, foram desenhados em software de modelagem 3d as representações em ângulos variados da série tridimensional de Solida 1962 (vide p. 52). Os desenhos foram realizados por cima das pranchas originais digitalizadas, de forma a manter as devidas proporções entre as partes. A posição dos cortes e dobras de cada prancha foi verificada em fotografias da obra original. Estes desenhos tanto serviram de ilustração nas respectivas páginas de apresentação desta obra no livro, quanto para a realidade aumentada21 programada para a interação online do leitor com esta última série do poema. A opção por apresentar a série tridimensional de Solida em realidade aumentada justifica-se como uma versão da obra, sem o intuito de reproduzi-la conforme sua materialidade original, quando poderia ser montada manualmente em papel. Esta escolha tem relação também com a proposta de dias-pino de pensar o poema para uma leitura pela máquina — com esta versão isso é efetivamente possível através da programação. Além disso, esta opção também barateia o custo de produção do livro, já que dispensa os acabamentos especiais de corte e vinco que seriam necessários à uma reprodução fidedigna da obra original. 21. A realidade aumentada é uma tecnologia que vem sendo aprimorada em diversos campos da ciência, mas que tem se tornado cada vez mais popular através de sua utilização em estratégias publicitárias interativas. Seu princípio básico consiste na interação em tempo real entre elementos virtuais concebidos em três dimensões e o ambiente real do usuário. Ela utiliza um código imagético, ou marcador, cuja identificação pela imagem capturada por uma câmera digital pode ser recodificada através de programação e reproduzir instantaneamente na tela do computador uma projeção dos movimentos e interações realizadas pelo usuário. Exemplo do tratamento de imagem realizado nas digitalizações usadas no livro. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 61 Elementos gráficos O único elemento gráfico utilizado consiste num grafismo sangrado na borda externa das páginas que se integra à paginação do livro. Este grafismo tem a função de criar uma divisão na lateral do livro (onde se faz o refile das páginas) entre os dois blocos principais de conteúdos: Poesia Concreta e poema/processo. No primeiro bloco, o grafismo aparece da metade para baixo da página par e da metade para cima da página ímpar. No segundo bloco do livro, sua posição é invertida em relação a do primeiro bloco, e aparecendo da metade para cima da página par e da metade para baixo da página ímpar. O grafismo, composto por pequenos retângulos alinhados verticalmente, além do uso funcional de orientação dos blocos temáticos do livro, criará um movimento durante o virar das páginas e tem, ainda, referência com as retículas, que se assemelham a códigos de barras, exploradas em vários poemas de dias-pino. Acabamentos O livro deve ter encadernação do tipo brochura. Será impresso e organizado em cadernos costurados e colados na lombada. Como o livro é constituído por papeis diferentes e dividido em seções impressas em cor e em p&b, a organização dos cadernos deve considerar estas divisões. Sendo assim, os cadernos foram organizados da seguinte maneira: 1º caderno: 28 páginas com impressões coloridas. 2º caderno: 28 páginas com impressões coloridas. 3º caderno: 24 páginas em papeis coloridos (creative papers) de diversas cores e que devem ser apenas colados na lombada, sem costura, pois os papeis não montam cadernos de 4 páginas faceadas, tendo como referência a obra original representada: A Ave) 4º caderno: 24 páginas com impressões coloridas. 5º caderno: 24 páginas com impressões coloridas. 6º caderno: 24 páginas com impressões em preto e branco. 7º caderno: 28 páginas com impressões em preto e branco, sendo destas, 16 de páginas impressas em papel jornal e costuradas normalmente junto ao restante do caderno na lombada. No 1º caderno serão incluídas duas páginas com largura maior do que o formato do miolo — que apresentam um infográfico da biografia de dias-pino —, que serão dobradas para dentro do livro, necessitando, portanto, de vincos. Páginas duplas de apresentação do infográfico biográfico de dias-pino. Simulações do efeito visual gerado pelos grafismos sangrados nas extremidades das páginas. 62 O 3º caderno, que consiste no encarte tátil de apresentação de A Ave, apresentará ainda uma sequência de perfurações circulares que variam nos seguintes diâmetros: 6mm, 8mm, 10mm, 18mm e 28mm. Estas medidas são proporcionais ao redimensionamento das páginas do livropoema original, buscando manter uma relação coerente com a obra. Durante a produção em escala do livro, o ideal é que estas perfurações sejam feitas através de cortes a laser, já que os diâmetros e posicionamentos das perfurações variam em todas as páginas, tornando inviável a confecção de facas especiais para cada uma delas. No 7º caderno, o encarte impresso em papel jornal com o poema Brasil Meia Meia, tem largura menor do que o formato do livro, exigindo, portanto, um tratamento diferenciado tanto durante a impressão quanto no refilamento das páginas. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 63 res chapadas nas páginas que não contém textos neste caderno, já que a maioria delas possuem apenas perfurações, além de manter uma relação tátil e experiencial relativa à obra original. (4) O caderno do livreto Brasil Meia Meia deve ser impresso em papel jornal, devido à intenção de manter uma proximidade com as publicações originais do movimento poema/processo, que eram impressas neste tipo de papel para baratear os custos de produção. Além disso, este caderno tem formato menos largo do que o formato do livro, portanto, um papel de baixa gramatura como o jornal — que varia entre 45 e 50 g/m² — evitará um volume incômodo no miolo do livro. Página do caderno tátil de A Ave com papeis coloridos e perfurações. Página do caderno Brasil Meia Meia com papel jornal e formato menor do que o do livro. Papeis O projeto gráfico do livro prevê a utilização de quatro tipos diferentes de papéis: (1) A capa deve ser impressa em papel Supremo DuoDesign® de 350 g/m² — este papel garante cores mais uniformes, realça o contraste da impressão e nesta gramatura é suficiente para dar a resistência necessária para uma capa de livro. (2) O miolo deve ser impresso em papel couché matte de 150 g/m² — por este ser um papel gessado, a tinta não penetra no papel e, desta forma, não aparece no verso das páginas, o que poderia interferir na visualização das imagens quando impressas em ambas as faces de uma mesma folha. O revestimento fosco é mais confortável para a leitura dos textos por refletir menos luz do que o mesmo papel com revestimento brilhoso. (3) O caderno “tátil” que integra o bloco do poema A Ave deve ser impresso em creative papers — este é um papel de acabamento mais bruto que o couché, apresentando, portanto, uma textura mais áspera. Ele é comumente vendido na gramatura 90 g/m² e em diferentes cores, eliminando-se assim a necessidade de imprimir co64 Capas A capa é composta por uma ilustração de Wlademir Dias-Pino. Trata-se de uma colagem inédita encontrada em umas das pastas do acervo disponibilizado pelo artista durante as etapas de pesquisa. A intenção era de que a capa expressasse simultaneamente ideias de ambos os movimentos retratados no livro: Poesia Concreta e poema/processo. A escolha da imagem, portanto, se deu devido ao seu caráter pictográfico, comum às composições do poema/processo — as setas indicam as múltiplas direções de leitura dos poemas. Já o acabamento vazado da ilustração remete às perfurações de A Ave, do movimento de Poesia Concreta. A tipografia utilizada é a mesma que compõe os textos do miolo do livro, no entanto, disposta em diferentes caixas, corpos e pesos conforme a hierarquia da informação. As orelhas do livro servem, além da função tradicional de marcador de página, como suporte para a positivação da ilustração da capa — quando dobrada para dentro, a cor impressa no verso da orelha contrasta com a impressão e o acabamento vazado da capa, revelando a ilustração. Dessa forma, imprimindo apenas uma cor em cada face do papel, tem-se uma composição com duas cores: ciano e amarelo. As cores escolhidas tem relação com os trabalhos gráficos de dias-pino, nos quais predominam cores saturadas e contrastantes. Quando a orelha estiver marcando alguma página do livro, a ilustração vazada da capa fica, então, sobreposta à falsa folha de rosto — que, por sua vez, mantém o título do livro e o nome do autor na mesma posição que aparecem na capa, para que não sejam vista através dos recortes. Finalmente, uma ilustração da silhueta do poeta se revela através de um dos círculos perfurados, como um elemento complementar à composição. Simulação das capas do livro. Simulação planificada da primeira capa, incluindo a lombada e uma orelha do livro. p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 65 Website A apresentação da última série do livro-poema Solida prevê a utilização de marcadores impressos no livro para a visualização e interação com os poemas online, através de realidade aumentada. Para tanto, foi necessário realizar o registro de um domínio para hospedar as páginas do site22 o desenvolvimento dos leiautes das páginas e o estabelecimento de parceria com um programador de Web. O código de programação para realidade aumentada encontra-se disponível na rede gratuitamente, no entanto, a personalização dos marcadores e sua adaptação aos objetos tridimensionais a serem visualizados requer conhecimentos específicos de programação. O website é composto por três links básicos: (1) Home — no qual se encontra o conteúdo principal do site, ou seja, os links para a realidade aumentada de cada um dos nove poemas da série, (2) Sobre o livro — com informações sobre o projeto, a obra Solida e sobre onde encontrar o livro e (3) Contato — com formulário para contato direto com os organizadores do livro. Já o desenho dos marcadores preservou as formas originais dos poemas. No entanto, seu reconhecimento por webcams requer a delimitação de um quadrado na cor preta para que sejam identificados os limites e a posição do marcador no papel. Leiaute desenhado para o website poesia/poema: Solida. considerações finais Os processos interativos e de recodificação inaugurados na poesia de dias-pino, especialmente através dos livros-poemas, forneceram além de riquíssimo objeto de estudo para este trabalho, uma ampla variedade de desdobramentos possíveis dentro da área de atuação do designer gráfico. A este profissional, como se nota na própria trajetória de dias-pino, mais do que projetar soluções gráficas para problemas de comunicação, cabe investigar as linguagens e seus códigos para obter dos variados tipos de suportes todo o proveito que sua materialidade oferece. Este reposicionamento diante da profissão do designer pode parecer natural atualmente para uma crescente parcela de profissionais que se dedicam ao desenvolvimento de interfaces entre o homem e o computador, atendendo à emergente demanda por serviços e experiências mediados pela máquina. No entanto, há de se ressaltar o esforço intelectual que esta compreensão exigia há cinquenta anos atrás, quando dias-pino já se propunha a escrever poemas para uma leitura eletrônica. O principal exercício deste poeta visual consiste em tornar possível a interação entre obra e leitor a partir de recodificações livres. Sua obra se apresenta, portanto, não apenas enquanto um esforço de renovação estética pautado no aprimoramento dos códigos visuais, mas no intuito político de emancipar a comunicação da tutela do código alfabético, sugerindo outras possibilidades à poesia, para além do verbal. Como fica evidente, o estudo da obra de dias-pino se justificou enquanto estudo da poesia visual, seus pressupostos, conjunturas críticas e, ainda, na sua vinculação com os tipos de estruturas textuais e visuais provenientes das teorias do design gráfico. Resgatar a obra deste poeta, de bastante influência para sua época, mas, até então, pouco conhecida especialmente dentro da esfera do design gráfico — visto que os poucos estudos já publicados foram desenvolvidos por estudiosos da literatura brasileira —, além de nos inspirar enquanto profissionais, retoma atenção à questões fundamentais e atuais da comunicação e seus meios, lançando uma reflexão sobre o livro e suas adaptações frente às mídias digitais. 22. Disponível no endereço www.livropoema.com/Solida. 66 p oesia /p oema Um livro sobre a poesia visual de Wlademir Dias-Pino | 67 bibliografia beiguelman, Giselle. O livro depois do livro. São Paulo: Peirópolis, 2003. burroughs, William. A revolução eletrônica. Lisboa: Passagens, 1994. camara, Rogério. Grafo-sintaxe Concreta: o projeto Noigandres. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2000. campos, Augusto de; campos, Haroldo de; pignatari, Décio. Teoria da Poesia Concreta. São Paulo: Ateliê Editorial, 2006. campos, Augusto de. Poesia e/ou pintura. In: campos, Augusto de. Poesia, antipoesia, antropofagia. São Paulo: Cortez&Moraes, 1978. p. 71-81. derrida, Jacques. Papel-máquina. São Paulo: Estação Liberdade, 2004. dias-pino, Wlademir. A Ave. Campo Grande: Edições Igrejinha, 1956. ______. A marca e o logotipo brasileiros. Rio de Janeiro: Europa, 1974. ______. Processo: Linguagem e Comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973. ______. Solida. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1962. ______. 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