Teorias sobre a luz - Centro de Estudos Espaço
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Teorias sobre a luz - Centro de Estudos Espaço
Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 1 Introdução e Conceitos Básicos A óptica é um ramo da Física que estuda a luz ou, mais amplamente, a radiação electromagnética, visível ou não. A óptica explica os fenômenos de reflexão, refracção e difracção, a interação entre a luz e o meio, entre outras coisas. Geralmente a disciplina estuda fenómenos envolvendo a luz visível, infravermelha, e ultravioleta; entretanto, uma vez que a luz é uma onda eletromagnética, fenômenos análogos acontecem com os raios X, microondas, ondas de rádio, e outras formas de radiação electromagnética. A óptica, nesse caso, pode se enquadrar como uma subdisciplina do eletromagnetismo. Algums fenômenos ópticos dependem da natureza da luz e, nesse caso, a óptica se relaciona com a mecânica quântica. Segundo o modelo para a luz utilizada, distingue-se entre os seguintes ramos, por ordem crescente de precisão (cada ramo utiliza um modelo simplificado do empregado pela seguinte): Óptica geométrica: Trata a luz como um conjunto de raios que cumprem o princípio de Fermat. O Princípio de Fermat é um princípio fundamental da óptica geométrica e diz que o caminho seguido por um raio luminoso de um ponto A para um ponto B é tal que o tempo decorrido entre a partida de A e a chegada a B é estacionário para pequenas variações do caminho. Utiliza-se no estudo da transmissão da luz por meios homogêneos (lentes, espelhos), a reflexão e a refração. Óptica ondulatória: Considera a luz como uma onda plana, tendo em conta sua freqüência e longitude de onda. Utiliza-se para o estudo da difração e interferência. Óptica eletromagnética: Considera a luz como uma onda eletromagnética, explicando assim a reflexão e transmissão, e os fenômenos de polarização e anisotrópicos. Óptica quântica ou óptica física: Estudo quântico da interação entre as ondas eletromagnéticas e a matéria, no que a dualidade onda-corpúsculo joga um papel crucial. Teoria ondulatória da luz O físico francês Jean Bernard Léon Foucault, no século XIX, descobriu que a luz se deslocava mais rápido no ar do que na água. O efeito contrariava a teoria corpuscular de Newton, esta afirmava que a luz deveria ter uma velocidade maior na água do que no ar. James Clerk Maxwell, ainda no século XIX, provou que a velocidade de propagação de uma onda eletromagnética no espaço, equivalia à velocidade de propagação da luz de aproximadamente 300.000 km/s. Foi de Maxwell a afirmação: A luz é uma "modalidade de energia radiante" que se "propaga" através de ondas eletromagnéticas. Teoria da dualidade onda partícula No final do século XIX, a teoria que afirmava que a natureza da luz era puramente uma onda eletromagnética, (ou seja, a luz tinha um comportamento apenas ondulatório), começou a ser questionada. Ao se tentar teorizar a emissão fotoelétrica, ou a emissão de elétrons quando um condutor tem sobre si a incidência de luz, a teoria ondulatória simplesmente não conseguia explicar o fenômeno, pois entrava em franca contradição. Foi Albert Einstein, usando a idéia de Max Planck, que conseguiu demonstrar que um feixe de luz são pequenos pacotes de energia e estes são os fótons, logo, assim foi explicado o fenômeno da emissão fotoelétrica. A confirmação da descoberta de Einstein se deu no ano de 1911, quando Arthur Compton demonstrou que "quando um fóton colide com um elétron, ambos comportam-se como corpos materiais." Comprimentos de onda da luz visível A luz visível é a parte do espectro com comprimentos de onda entre cerca de 400 nanómetros (abreviando nm) e 800 nm (no ar). A luz pode também ser caracterizada pela sua frequência. Figura 1 - Espectro eletromagnético Teorias sobre a luz Primeiras idéias dos gregos No século I a.C. Lucrécio, dando continuidade às ideias dos primeiros atomistas, escreveu que a luz e o calor do Sol eram compostos de pequenas partículas. Teoria corpuscular da luz O físico inglês Isaac Newton, em 1672, defendeu uma teoria onde se considerava a luz como um feixe de partículas que eram emitidas por uma fonte, e que estas atingiam o olho, e assim estimulavam a visão. A este modelo, se deu o nome de modelo corpuscular da luz. A velocidade da luz De acordo com a moderna física teórica, toda radiação eletromagnética, incluindo a luz visivel, se propaga no vácuo numa velocidade constante, comumente chamada de velocidade 1 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 2 da luz, que é uma constante da Física, representada por c. No vácuo: c f Alterações na velocidade da luz Toda luz propaga-se a uma velocidade finita. Até mesmo observadores em movimento medem sempre o mesmo valor de c, para a velocidade da luz no vácuo, com c = 299.792.458 metros por segundo (186.282,397 milhas por segundo); contudo, quando a luz atravessa alguma substância transparente tal com o ar, água ou vidro, sofre refracção e sua velocidade é reduzida. Assim sendo, n=1 no vácuo e n>1 na matéria. Medição da luz As seguintes quantidades e unidades são utilizadas para medir luz. brilho, medida em watts/cm2 iluminância ou iluminação (Unidade SI: lux) fluxo luminoso (Unidade SI: lumen) intensidade luminosa (Unidade SI: candela) Ondas, Raio e frente de Onda Uma onda em física é uma perturbação oscilante de alguma grandeza física no espaço e periódica no tempo. A oscilação espacial é caracterizada pelo comprimento de onda e a periodicidade no tempo é medida pela freqüência da onda, que é o inverso do seu período. Estas duas grandezas estão relacionadas pela velocidade de propagação da onda. Fisicamente uma onda é um pulso energético que se propaga através do espaço ou através de um meio (líquido, sólido ou gasoso). Segundo alguns estudiosos e até agora observado, nada impede que uma onda magnética se propague no vácuo ou através da matéria, como é o caso das ondas ondas eletromagnéticas no vácuo ou dos neutrinos através da matéria onde as partículas do meio oscilam à volta de um ponto médio, mas não se deslocam. Exceto pela radiação eletromagnética, e provavelmente as ondas gravitacionais, que podem se propagar através do vácuo, as ondas existem em um meio cuja deformação é capaz de produzir forças de restauração através das quais elas viajam e podem transferir energia de um lugar para outro sem que qualquer das particulas do meio seja deslocada permanentemente como acontece num imã; isto é, nenhuma massa transportada associada pode anular o efeito magnético. Em lugar disso, qualquer ponto particular oscila em volta de um ponto fixo. Uma onda pode ser longitudinal quando a oscilação ocorre na direcção da propagação, ou tranversal quando a oscilação ocorre na direcção perpendicular à direcção de propagação da onda. Pelo princípio de Huygens (físico holandês, 1629-1695), cada ponto de uma frente de onda, num dado instante, pode ser considerado uma fonte de ondas secundárias, produzidas no sentido de propagação e com a mesma velocidade do meio. Podemos dizer que a frente de onda anterior é considerada como um gerador de uma nova frente de onda, ou ainda que a frente de onda separa a região "pertubada" da região não pertubada. Um exemplo básico é o som onde até o instante em que as partículas de ar estão em repouso não se ouve nada, e só no momento que estas partículas são vibradas (uma frente de onda empurrando e gerando uma nova frente de onda) é que haverá a propagação do som (neste caso haverá propagação da energia e não da matéria). No caso das ondas eletromagnéticas, com sua energia irradiada igualmente em todas as direções (circular), haverá um determinado instante onde a fase da onda irradiada começará a se repetir em todos os pontos, começando uma nova frente de onda A frente de onda é o lugar geométrico de todos os pontos adjacentes que possuem a mesma fase de vibração de uma grandeza física associada com a onda. Figura 2.1 - Figura 2.2 - 2 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 3 Um raio é uma linha reta imaginária na direção de propagação de uma onda. São linhas retas, perpendiculares às frentes de onda. Reflexão e Refração Reflexão: Em física o fenômeno da reflexão consiste na mudança da direção de propagação da energia, no retorno da energia incidente em direção à região de onde ela é oriunda, após entrar em contato com uma superfície refletora. A energia pode tanto estar manifestada na forma de ondas como transmitida através de partículas. Por isso, a reflexão é um fenômeno que pode se dar por um caráter eletromagnético, óptico ou sonoro. A reflexão difere da refração porque nesta segunda, há desvio da energia para meio diverso do meio de onde se originou. A reflexão pode ser explicada totalmente com base em apenas duas leis, de cunho geral. Para enuncia-las, é preciso antes definir alguns conceitos. A normal é a semi-reta que se origina a partir da superfície refletora, situando-se perpendicularmente a esta Ângulo de incidência é o ângulo que a direção de deslocamento da energia faz com a normal Ângulo de reflexão é o ângulo que a direção que a energia que é refletida faz com a normal Assim, as duas leis da reflexão podem ser expressas da seguinte maneira: 1. A direção do raio incidente, a normal e a direção do raio emergente pertencem a um único plano. 2. O ângulo de incidência tem valor igual ao valor do ângulo de reflexão. Explanação teórica Sendo um fenômeno que encontra exemplos em física ondulatória como na física de corpos materiais, é natural desconfiar-se que tem uma explicação comum aos dois tipos de comportamento. Historicamente, o primeiro a formular uma explicaçao para a reflexão (especificamente, a da luz) foi Heron de Alexandria. Utilizando-se do princípio aristotélico que diz que a natureza nada faz de modo mais difícil, argumentou que a luz percorre o menor caminho entre dois pontos quaisquer. Como a luz é obrigada a se desviar durante o percurso, ainda assim percorre o menor caminho entre a fonte e o alvo. A esse princípio de óptica geométrica damos o nome de princípio de Heron. Muito mais tarde Fermat enunciou princípio semelhante. Porém assinalava que o tempo era mínimo e não a distância percorrida. Esse princípio é conhecido como princípio de Fermat. Ainda mais tarde, Maupertuis formulou pela primeira vez o princípio da menor ação, onde então surge a noção de ação. Entretanto, dentro do ponto de vista do cálculo das variações, melhor seria chamar esse princípio de princípio da ação estacionária, já que na verdade a condição é de se achar um extremante para a funcional ação. Mais tarde, sir Hamilton enunciou a forma moderna do princípio variacional. A reflexão luminosa é a base da construção e utilização dos espelhos. Os espelhos, tanto planos quanto os esféricos, tem larguíssima utlização, e são a base dos telescópios refletores, que sofrem de menos restrições que os telescópios refratores. Figura 3 - 3 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 4 Figura 4 - Tipos de reflexão. Figura 5 - Refração: ÍNDICE DE REFRAÇÃO Índice de refração é uma relação entre a velocidade da luz em um determinado meio e a velocidade da luz no vácuo (c). Em meios com índices de refração mais baixos (próximos a 1) a luz tem velocidade maior (ou seja, próximo a velocidade da luz no vácuo). A relação pode ser descrita pela fórmula: c n v Onde: c é a velocidade da luz no vácuo (c = 3.108 m/s); v é a velocidade da luz no meio; De modo geral, a velocidade da luz nos meios materiais é menor que c; e assim, em geral, teremos n > 1. Por extensão, definimos o índice de refração do vácuo, que obviamente é igual a 1. Portanto, sendo n o índice de refração de um meio qualquer, temos: n 1 A velocidade de propagação da luz no ar depende da frequência da luz, já que o ar é um meio material. Porém essa velocidade é quase igual a 1 para todasas cores. Ex: índice de refração da luz violeta no ar = 1,0002957 e índice de refração da luz vermelha no ar = 1,0002914. Portanto, nas aplicações, desde que não queiramos uma precisão muito grande, adotaremos o índice de refração do ar como aproximadamente igual a 1: n 1 Como vimos, as cores, por ordem crescente de freqüências, são: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A experiência mostra que, em cada meio material, a velocidade diminui com a frequência, isto é, quanto maior a frequência, menor a velocidade. vvermelho vlaranja vamarelo c , concluímos que o índice v de refração aumenta com a frequência. Quanto maior a frequência, maior o índice de refração. Em geral, quando a densidade de um meio aumenta, seu índice de refração também aumenta. Como variações de temperatura e pressão alteram a densidade, concluímos que essas alterações também alteram o índice de refração. No caso dos sólidos, essa alteração é pequena, mas para os líquidos, as variações de temperatura são importantes, e no caso dos gases tanto as variações de temperatura como as de pressão devem ser consideradas. A maioria dos índices de refração é menor que 2; uma exceção é o diamante, cujo índice é aproximadamente 2,4. Para a luz amarela emitida pelo sódio, sua frequência é f = Portanto como n 4 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 5 5090.1014Hz e cujo comprimento de onda no vácuo é λ = 589nm. Essa é a luz padrão para apresentar os índices de refração. Consideremos dois meios A e B, de índices de refração nA e nB; se nA > nB, dizemos que A é mais refringente que B. Continuidade Óptica Consideremos dois meios transparentes A e B e um feixe de luz dirigindo-se de A para B. Para que haja feixe refletido é necessário que nA nB . Quando nA = nB, não há luz refletida e também não há mudança na direção da luz ao mudar de meio; dizemos que há continuidade óptica. Quando temos um bastão de vidro dentro de um recipiente contendo um líquido com o mesmo índice de refração do vidro, a parte do bastão que está submersa, não refletindo a luz, fica "invisível". Índice de refração relativo Se o índice de refração de um meio A é nA e o índice de um meio B é nB, definimos: nAB: índice de refração do meio A em relação ao meio B: n nAB A nB nBA: índice de refração do meio B em relação ao meio A: n nBA B nA Sendo vA e vB as velocidades da luz nos meios A e B, temos: n v nAB A B nB vA nB vA n A vB LEIS DA REFRAÇÃO nBA Consideremos dois meios transparentes A e B e um feixe estreito de luz monocromática, que se propaga inicialmente no meio A, dirigindo-se para o meio B. Suponhamos, ainda, que uma parte da luz consiga penetrar no meio B e que a luz tenha velocidades diferentes no dois meios. Nesse caso, diremos que houve Refração. O raio que apresenta o feixe incidente é o raio incidente (i), e o raio que apresenta o feixe refratado é o raio refratado (r). A primeira lei da Refração O raio incidente, o raio refratado e a normal, no ponto de incidência, estão contidos num mesmo plano. A normal é uma reta prependicular à superfície no ponto de incidência, θA é denominado ângulo de incidência e θB, ângulo de refração. A segunda lei da Refração nA sen A nB senB Dessa igualdade tiramos: sen A nBA sen B A Segunda Lei da Refração foi descoberta esperimentalmente pelo holandês Willebrord Snell (1591-1626) e mais tarde deduzida por Descartes, a partir de sua teoria corpuscular da luz. Nos Estados Unidos, ela é chamada de Lei de Snell e na França, de Lei de Descartes; no Brasil é costume chamá-la de Lei de Snell-Descartes. Inicialmente a Segunda Lei foi apresentada na forma da equação II; no entanto, ela e mais fácil de ser aplicada na forma da equação I. Observando a equação I, concluímos que, onde o ângulo for menor, o índice de refração será maior. Explicando melhor: Se: A B , o mesmo ocorre com seus senos: sen A sen B ; logo, para manter a igualdade da equação: nB nA Ou seja, o menor ângulo θB ocorre no meio mais refringente, nB. Pelo princípio da reversibilidade, se a luz faz determinado percurso, ela pode fazer o percurso inverso. Assim, se ela faz o percurso XPY, ela pode fazer o percurso YPX. Mas, tanto num caso como no outro, teremos: nA sen A nB senB Quando a incidência for normal, não haverá desvio e teremos A B 0 , e, portanto, sen A sen B 0 , de modo que a Segunda Lei também é válida nesse caso, na forma da equação I: nB nA Caso de ângulos pequenos Na tabela seguinte, apresentamos alguns ângulos "pequenos" expressos em graus e radianos, com o respectivo valor do seno e da tangente: 5 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 6 Ângulo° Ângulo rad Seno Tangente 0 0 0 0 2 0,035 0,035 0,035 4 0,070 0,070 0,070 6 0,105 0,104 0,105 8 0,140 0,139 0,140 10 0,174 0,174 0,176 Observando esta tabela, percebemos que, para um ângulo θ, até aproximadamente 10° temos: sen tg quando θ está expresso em radianos. Assim, para ângulos pequenos, a Segunda Lei da Refração pode ser escrita: nA A nB B para ângulos em radianos. Figura 6 - Índice de refração ondulatórios da luz. e aspectos A freqüência da onda não varia quando ela passa de um meio para outro. O comprimento de onda da luz geralmente é diferente quando a onda passa de um material a outro. Ele é menor num material do que no vácuo. Assim: 0 n Quando a luz passa de um material a a outro b de índice de refração maior, de modo que nb > na, a velocidade da onda diminui. O comprimento de onda no segundo material b 0 nb no segundo material é então menor que o comprimento de onda no primeiro material a 0 na no primeiro material. Já quando o segundo material possui índice de refração inferior, de modo que nb < na, a velocidade aumenta. Então o comprimento de onda b no segundo material é maior do que o comprimento de onda a no primeiro material. Intuitivamente: quando a velocidade da onda diminui, ela é ―comprimida‖ (o comprimento de onda torna-se menor); quando a velocidade aumente ela se ―dilata‖ (o comprimento de onda torna-se menor). Reflexão Interna Total Existem certas circunstâncias em que a luz pode ser totalmente refletida de uma interface e nenhuma luz ser transmitida, mesmo quando o segundo material é transparente, como mostra a figura a seguir: Figura 8 - Figura 7 - 6 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 7 Os raios mostram como isso pode ocorrer; a figura contém diversos raios que emanam de uma fonte puntiforme dentro de um material a com índice de refração na. Os raios incidem sobre a superfície de outro material b com índice de refração nb, sendo na > nb (Por exemplo, o material a é água e o b é o ar). De acordo com a Lei de Snell: n senb a sen a nb na 1 senb sen a ; o raio é nb desviado e se afasta para fora da normal. Deve portanto existir um valor de a < 90° para o qual a Lei de Snell fornece senb 1 e b 90 . Isto ocorre com o raio 3 indicado no diagrama, ele emerge tangenciando a superfície, com um ângulo de refração igual a 90°. Assim, o ângulo crítico para reflexão interna total é dado por: n sen crít b na Por exemplo, na interface vidro-ar, sabendo que o índice de refração do vidro é 1,52: 1 sencrít 0.658 crít 41.1 1.52 A luz que se propaga no interior será totalmente refletida quando ela incidir na interface vidro-ar, formando umângulo igual ou superior a 41.1°. Como refletores, os prismas que usam a reflexão interna total apresentam algumas vantagens em relação a superfícies refletoras metálicas, como, por exemplo, espelhos comuns, que possuem uma película metálica depositada sobre o vidro. Se, por um lado, nenhuma superfície metálica pode refletir 100% da luz que sobre ela incide, por outro lado, umprisma pode refletir totalmente a lus queincide sobre ele. Além disso, as qualidades refletoras de um prisma possuem a propriedade adicional de não perderem o brilho, com o envelhecimento. Um prisma com ângulos 45°-45°-90°, como indicado na figura é denominado prisma de Porro. No prisma, a luz entra e sai, formando um ângulo de 90° com a hipotenusa, sendo totalmente refletida nas faces menores. O ângulo de desvio total entre o raio incidente e o raio emergente é 180°. Os binóculos geralmente usam uma associação com dois prismas de Porro, como indicado na figura. (b) Como Figura 9 - 7 Quando um fexe de luz penetra a extremidade de uma barra transparente, como mostra a figura acima, a luz pode sofrer reflexão interna total se o índice de refração da barra for maior que o índice de refração do material existente em seu exterior. O raio de luz fica confinado no interior da barra, mesmo quando a barra é curva, desde que a curvatura não seja muito acentuada. Essa barra muitas vezes é chamada de tubo de luz. Feixes de fibra de vidro ou fibras de plásticos podem se comportar de modo semelhante, com a vantagem de serem flexíveis. Tal feixe pode ser constituído por milhares de fibras individuais, cada uma com diâmetros da ordem de 0.002 a 0.01 mm. Quando as fibras são agrupadas em um feixe, de tal modo que uma das extremidades possua a mesma geometria da outra, formando imagens especulares, o feixe pode transmitir umaimagem, como mostra a figura 10: Figura 10 - Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 8 Dispositivos feitos com fibras óticas são largamente aplicados na medicina, em instrumentos chamados de endoscópios, que podem ser introduzidos em tubos no organismo e são usados para examinar diretamente os brônquios, a bexiga, o cólon e outros órgãos. Um feixe de fibras pode ser encerrado em uma agulha hipodérmica para estudar tecidos e vasos sanguíneos muito afastados da pele. As fibras óticas também são aplicadas em sistemas de comunicação, nos quais ela pode ser usada para transmititr um feixe de laser modulado. A taxa com a qual a informação pode ser usada para transmitir uma onda (de luz, de rádio ou qualquer outro tipo) é proporcional à freqüência. Para entender qualitativamente a razão disso, imagine que você module, ou seja, modifique a onda cortando algumas cristas de onda. Suponha que a crista representa dígitos binários, sendo que a crista cortada represente o 0 e a crista não modificada o algarismo 1. O número de algarismos binários que podemos transmitir por unidade de tempo é proporcional à freqüência da onda. A luz infravermelha e a luz visível possuem freqüências muito maiores que a das ondas de rádio, de modo que um feixe de laser modulado pode transmitir uma quantidade muito grande de informações através de um único cabo de fibras óticas. Outra vantagem dos sistemas que usam cabos de fibras óticas é que eles são isoladamente elétricos, não sofrem interferências produzidas por relâmpagos e outras fontes, e não permitem que correntes indesejadas surjam entre a fonte e o receptor. Elas são muito seguras e dificilmene apresentam falhas, mas também implicam dificuldades para montagem e para fazer junções. Em 1952, o físico Narinder Singh Kapany, com base nos estudos efetuados pelo físico inglês John Tyndall de que a luz poderia descrever um trajetória curva dentro de um material (no experimento de Tyndall esse material era água), pode concluir suas experiências que o levaram à invenção da fibra óptica. A fibra óptica é um excelente meio de transmissão utilizado em sistemas que exigem alta largura de banda, tais como: o sistema telefônico, videoconferência, redes locais (LANs), etc. Como mencionamos, há basicamente duas vantagens das fibras ópticas em relação aos cabos metálicos: A fibra óptica é totalmente imune a interferências eletromagnéticas, o que significa que os dados não serão corrompidos durante a transmissão. Outra vantagem é que a fibra óptica não conduz corrente elétrica, logo não haverá problemas com eletricidade, como problemas de diferença de potencial elétrico ou problemas com raios. O princípio fundamental que rege o funcionamento das fibras ópticas é o fenômeno físico denominado reflexão total da luz. Para que haja a reflexão total a luz deve sair de um meio mais para um meio menos refringente, e o ângulo de incidência deve ser igual ou maior do que o ângulo limite (também chamado ângulo de Brewster) As fibras ópticas são constituídas basicamente de materiais dielétricos (isolantes) que, como já dissemos, permitem total imunidade a interferências eletromagnética; uma região cilíndrica composta de uma região central, denominada núcleo, por onde passa a luz; e uma região periférica denominada casca que envolve o núcleo. O índice de refração do material que compõe o núcleo é maior do que o índice de refração do material que compõe a casca. Núcleo: O núcleo é um fino filamento de vidro ou plástico, medido em micra (1 mm = 0,000001m), por onde passa a luz. Quanto maior o diâmetro do núcleo mais luz ele pode conduzir. Casca: Camada que reveste o núcleo. Por possuir índice de refração menor que o núcleo ela impede que a luz seja refratada, permitindo assim que a luz chegue ao dispositivo receptor. Capa: Camada de plástico que envolve o núcleo e a casca, protegendo-os contra choques mecânicos e excesso de curvatura. Fibras de resistência mecânica: São fibras que ajudam a proteger o núcleo contra impactos e tensões excessivas durante a instalação. Geralmente são feitas de um material chamado kevlar, o mesmo utilizado em coletes a prova de bala. Revestimento externo: É uma capa que recobre o cabo de fibra óptica. Existem duas categorias de fibras ópticas: Multimodais e Monomodais. Essas categorias definem a forma como a luz se propaga no interior do núcleo. Multimodais: As fibras multimodais possuem o diâmetro do núcleo maior do que as fibras monomodais, de modo que a luz tenha vários modos de propagação, ou seja, a luz percorre o interior da fibra óptica por diversos caminhos. As dimensões são 62,5 mm para o núcleo e 125 mm para a casca. Dependendo da variação de índice de refração entre o núcleo e a casca, as fibras multimodais podem ser classificadas em : Índice Gradual e Índice Degrau. Monomodais: As fibras monomodais são adequadas para aplicações que envolvam grandes distâncias, embora requeiram conectores de maior precisão e dispositivos de alto custo. Nas fibras monomodais, a luz possui apenas um modo de propagação, ou seja, a luz percorre interior do núcleo por apenas um caminho. As dimensões do núcleo variam entre 8 mm a 10 mm, e a casca em torno de 125 mm. As fibras monomodais também se diferenciam pela variação do índice de refração do núcleo 8 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 9 em relação à casca; classificam-se em Índice Degrau Standard, Dispersão Deslocada (Dispersion Shifed) ou Non-Zero Dispersion. Obs: As fibras ópticas transmitem luz com um comprimento de onda invisível ao olho humano. Portanto, nunca devemos olhar diretamente para uma fibra óptica enquanto ela estiver transmitindo, pois corremos o sério risco de ficarmos cego. Figura 12 - Figura 11 - Fibras óticas 9 (a) Estrutura (b) Fribra óptica monomodal. (c) Fibra óptica multimodal Dispersão A luz branca comum é uma superposição de cores cujos comprimentos de onda abrangem todo o espectro visível. A velocidade da luz no vácuo é a mesma para todos os comprimentos de onda, porém, no interior de um material, ela varia com o comprimento de onda Portanto, o índice de refração de um material depende do comprimento de onda. A dispersão indica como a velocidade da onda e o índice de refração dependem de seu comprimento de onda. A figura a seguir ilustra como varia o índice de refração n() para alguns materiais comumente usados em ótica. Para quase todos os materiais, n aumenta quando o comprimento de onda diminui, ou a freqüência f aumenta. Para esses materiais, a luz que possui o comprimento de onda maior se desloca com velocidade superior àquela que possui comprimento de onda menor. A figura a seguir mostra um feixe de luz branca incidindo em um prisma. O desvio produzido pelo prisma aumenta com o aumento do índice de refração e da freqüência e com a diminuição do comprimento de onda. A luz violeta sofre o maior desvio e a luz vermelha é a que se desvia menos. As demais cores sofrem o desvio entre esses extremos. Quando a luz emerge do prisma, ela se espalha e as cores são separadas. Figura 13 - Dispersão luminosa da luz. Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 10 dispersão e de duas reflexões que ocorrem na parte interna posterior da gotícula. Ambos os arco-íris, o arco-íris primário e o arco-íris secundário, podem ser vistos na figura a seguir. índice n Figura 14 Índice np N1 i1 N2 r2 2 i2 1 10 r1 O raio luminoso sofre duas refrações: a primeira ao entrar na interface entre o meio e o prisma: seni1 n senr1 np seni1 sen r1 np n E sofre um primeiro desvio angular 1; e a segunda refração: seni2 n p senr2 n sen r2 np seni2 n Comparando as expressões: seni1 r2 i1 i2 r1 seni2 sen r1 sen r2 Ao passar do prisma para o meio, sofrendo outro desvio angular 2. Aplicando a geometria, temos: 1 2 r i 2 2 i r 1 1 i r 1 2 1 2 r i 2 2 r i 2 2 2 2 i r r i 1 2 2 2 i r (i r ) 1 2 2 2 i r 2 1 2 Ao apreciar a beleza do arco-íris, você está vendo efeitos combinados de refração e reflexão. O Sol está atrás do observador e a luz se refrata para o interior de uma gotícula de água: a seguir ela é (parcialmente) refletida na parte interna posterior da gotícula de água e finalmente refratada, saindo da gotícula. A dispersão faz a separação das cores como resultado da refração que ocorre em ângulos diferentes para as diversas cores. Quando você vê um segundo arco íris, está vendo o resultado da Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 11 Polarização (B) A polarização é uma característica de todas as ondas eletromagnéticas. Essa seção descreve a luz, contudo, deve-se lembrar que a luz é um tipo de onda transversal, formada por campos elétrico e magnético, perpendiculares entre si e dependentes do tempo, que podem estar em algum dos eixos x,y ou z. Sempre definimos como direção de polarização de uma onda eletromagnética como a direção do campo elétrico E e não a direção do campo magnético, pois quase todos os detetores de ondas eletromagnéticas funcionam sob a ação da força elétrica sobre os elétrons do material e não pela ação da força magnética. 11 Figura 15 - (A) Esquema de onda eletromgnética. Nesse caso, os campos elétricos e magnéticos são dados por: E ( x, t ) Emax sen t kx ˆj B( x, t ) B sen t kx kˆ max Nesse caso, a luz é polarizada na direção y. Filtros Polarizadores As ondas produzidas por uma emissora de rádio são em geral linearmente polarizadas. A antena vertical de um telefone celular emite ondas contida num plano horizontal em torno da antena e que são polarizadas em uma direção vertical (paralela à antena). Se uma antena de TV no telhado de uma casa possui um elemento horizontal ela capta ondas polarizadas na horizontal, se o elemento na antena estiver na direção vertical, ela detecta as ondas polarizadas verticalmente. Para a luz, a situação é diferente. As fontes comuns, como as lâmpadas incandescentes ou fluorescentes, emitem luz que não é polarizada. As ―antenas‖ que são ondas luminosas são as moléculas que constituem as fontes de luz. A luz emitida por uma única molécula, pode ser linearmente polarizada como a onda emitida por uma antena de rádio. Contudo, qualquer fonte de luz que tenha um número extremamente grande de moléculas com orientações caóticas, de modo que a luz emitida possui ondas polarizadas aleatoriamente em todas as direções transversais possíveis. Essa luz é chamada de luz natural ou luz não polarizada. Para produzir um feixe de luz polarizada a partir de um feixe de luz natural Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 12 é necessário um filtro análogo ao filtro indicado na figura a seguir. Figura 16 – (a) 12 (b) (c) Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 13 Os filtros usados para polarizar ondas eletromagnéticas possuem difrentes detalhes de construção, que dependem do comprimento de onda. Para microondas, que possuem comprimentos de onda da ordem de alguns centímetros, um bom filtro polarizador é uma grade de fios condutores próximos e paralelos, isolados entre si e igualmente espaçados (imagine uma grelha de churrasqueira com a moldura de ferro externa substituída por uma outra de material isolante.) Os elétrons podem se mover livremente ao longo dos fios em resposta a uma onda com um campo elétrico E paralelo aos fios. A corrente resultante que percorre os fios dissipa calor com uma taxa Ri2; a energia dissipada é oriunda das ondas, de modo que as ondas que atravessam a grade de fios paralelos possuam amplitudes menores do que as amplitudes das ondas incidentes. As ondas com um campo elétrico E perpendicular aos fios atravessam a rede praticamente sem nenhuma alteracão, visto que os elétrons não podem mover-se através do ar entre os fios. Portanto, um feixe de ondas que passa através desse tipo de filtro emerge polarizado perpendicularmente ao plano dos fios. No caso da luz, o filtro polarizador mais comum é conhecido como polaróide – nome derivado de uma marca registrada Poloroid -, largamente utilizada em óculos de sol e como filtros polarizadores em câmeras fotograficas. Desenvolvido inicialmente pelo cientista americano Edwin H Land, esse material possui uma propriedade chamada de dicroísmo, uma absorção seletiva na qual um dos componentes de onda é absorvido muito mais acentuadamente do que o outro. Um filtro polaróide transmite mais de 80% da intensidade da luz polarizada em uma direção paralela a um certo eixo do material, chamado de eixo polarizador, porém transmite menos de 1% quando a luz é polarizada em um eixo perpendicular a esse eixo. Em um tipo comum de filtro polaróide, existem longas cadeias de moléculas em seu interior orientadas em uma direção paralela ao comprimento dessa moléculas desenhando um papel análogo ao da grade de fios condutores que funcionam como filtro de microondas. Um filtro polarizador ideal, chamado simplesmente de polarizador, deixa passar 100% da luz polarizada que incide sobre ele quando a luz é linearmente polarizada na mesma direção do eixo do polarizador e bloqueia completamente a luz linearmente polarizada na mesma direção do eixo polarizador e bloqueia completamente a luz linearmente polarizada na direção perpendicular a esse eixo. Tal dispositivo é uma idealização inatingível, porém é um conceito útil para esclarecer idéias básicas. Nas discussões a seguir vamos assumir que todo polarizador seja ideal. Na figura anterio (c), uma luz não polarizada incide sobre um disco polarizador. O eixo do polarizador é indicado pela linha inclinada mostrada na figura. O valor de E do feixe incidente pode ser decomposto em componentes paralelos e perpendiculares ao eixo de polarização; somente os componentes de E paralelos ao eixo do polarizador são transmitidos. Portanto, a luz que emerge do polarizador é linearmente polarizada na direção paralela ao do eixo do polarizador. Quando um feixe de luz não polarizada incide sobre um polarizador ideal, como indicado na figura 16 (b), a intensidade da luz transmitida é exatamente igual a um meio da intensidade da luz não-polarizada incidente, qualquer que seja a direção do eixo polarizador. A explicação é a seguinte: podemos decompor o campo E em um componente paralelo e outro perpendicular ao eixo do polarizado. Como a luz incidente possui estados de polarização aleatórios, podemos dizer que, na média, os dois componentes são iguais. Como o polarizador ideal transmite apenas o componente paralelo ao seu eixo, podemos concluir que somentemetade da intensidade incidente é transmitida. Quando a luz linearmente polarizada que emerge de um polarizador incide sobre um segundo polarizador, como indicado na figura 16 (b), considerando um caso geral, em que o eixo do segundo polarizador, ou analisador, faz um ângulo com o eixo de polarização do primeiro polarizador, podemos decompor a luz polarizada transmitida pelo primeiro polarizador em duas componentes, um paralela e uma perpendicular ao eixo do analisador. Somente o componente paralelo, com amplitude Ecos, será transmitido pelo analisador. A intensidade do feixe transmitido, será máxima, quando =00 e será 0 quando =900, ou seja,o eixo do polarizador está cruzado com do analisador. Para determinar a direção da polarização da luz transmitida pelo primeiro polarizador, giramos o analisador até que a fotocélula mostrada indique intensidade igual a 0; nessa posição o eixo do primeiro polarizador é perpendicular ao eixo do analisador. Para determinar a intensidade transmitida para valores intermediários do ângulo , esta é proporcional ao quadrado da amplitude de onda. A razão entre a amplitude da onda transmitida e a amplitude da onda incidente é igual a cos; portanto a razão entre suas intendidades é cos2. Logo, a inensidade da luz que emerge do analisador é dada pela Lei de Malus:, descoberta experimentalmente em 1809 e vale somente quandoo feixe de luz que incide sobre o analisador já está linearmente polarizado: I I max cos2 Imax: intensidade máxima da luz transmitida. I: intensidade transmitida para um dado ângulo . 13 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 14 Polarização com reflexão A luz não polarizada pode ser polarizada parcial ou totalmente, por meio da reflexão. Na figura a seguir, um feixe de luz não polarizada incide na superfície de separação entre dois materiais transparentes: denomina-se plano de incidência o plano que contém o raio incidente, o raio refletido e anormal à superfície. Figura 17 – Contudo, para determinado ângulo de incidência, denominado ângulo de polarização p, os componentes de E paralelos ao plano de incidência são totalmente refratados. Para esse mesmo ângulo de incidência, os componentes de E perpendiculares ao plano de incidência são parcialmente refletidos e parcialmente refratados. A luz refletida é, portanto, totalmente polarizada em um plano perpendicular ao plano de incidência, como indicado. A luz refratada é parcialmente polarizada em um plano paralelo a esse plano, logo a luz refratada é composta pela mistura da luz com o campo elétrico paralelo ao plano de incidência, cujos componentes são totalmente refratados, superpostos com os componentes perpendiculares restantes. E 1812, o cientista inglês Sir david Brewster descobriu que, quando o ângulo de incidência é igual ao ângulo de polarização p, o raio refletido é perpendicular ao raio refratado. Nesse caso, o ângulo de refração b torna-se igual ao complemento de p: b 900 p De acordo com a lei da refração: na sen p nb senb na sen p nb sen 90 p nb cos p tg p nb na (Lei de Brewster para o ângulo de polarização) A polarização por reflexão possibilita o uso de eficiente de filtros polarizadores em óculos de sol. Quando a luz solar é refletida por uma supefície horizontal, o plano de incidência é vertical e a luz refletida contém preponderantemente luz polarizada na direção horizontal. Quando a reflexão ocorre na superfície lisa do asfalto de uma estrada ou na superfície de um lago, ela produz um ofuscamento indesejável. A visão pode ser melhorada se o excesso de luz reponsável pelo ofuscamento for eliminado. O fabricante de óculos produz lentes com eixo de polarização na direção vertical, de modo que a maior parte da luz refletida com polarização horizontal não atinja seus olhos. Além disso, os óculos também reduzem em cerca de 50% a intensidade global da luz não polarizada que incide sobre suas lentes. Figura 18 – (a) (b) Luz circularmente polarizada e elipticamente polarizada. Além da luz linearmente polarizada, a luz e outras ondas eletromagnéticas podem ser circularmente polarizadas ou elipticamente polarizadas. Para introduzir esses conceitos, vamos retornar mais uma vez aos estudos das ondas mecânicas em uma corda esticada. Quando duas ondas linearmente polarizadas estão em fase e possuem, mesma amplitude e se superpõe, como mostra a figura a seguir, cada ponto da corda deve possuir simultaneamente os deslocamentos y e z iguais em módulo. A onda 14 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 15 resultante está contida em um plano que forma um ângulo de 450 com os planos xy e xz. A amplitude da onda resultante é 2 vezes maior do que a amplitude de cada onda componente, e a onda resultante é linearmente polarizada. Figura 19 – Mas vamos supor agora que as duas ondas mencionadas possuam uma diferença de fase de ¼ de ciclo. Então o movimento resultante de cada ponto corresponde a uma superposição de dois movimentos harmônicos simples ortogonais, com uma diferença de fase de ¼ de ciclo. O deslocamento y de um dado ponto é máximo quando o deslocamento z é igual a zero e vice versa. O movimento resultante da corda não está mais contido em um único plano. Podemos mostrar que cada ponto descreve uma circunferência contida em um plano paralelo ao plano yz. Os pontos sucessivos da corda contém diferença de fase consecutivas e o movimento resultante assemelha-se a um movimento helicoidal. Isso é mostrado no lado esquerdo do polarizador indicado da figura 15. Esse tipo particular de superposição de duas ondas linearmente polarizadas denomina-se polarização circular. Por convenção dizemos que a luz é circularmente polarizada direita ou destrógira quando o sentido do movimento de uma partícula da corda, para um observador que olhe a onda se aproximar frontalmente é horário: a luz é circularmente polarizada esquerda ou levógira se o sentido do movimento é contrário, ou seja, antihorário. Na figura acima, mostra-se a situação análoga para o caso de uma onda eletromagnética. Ocorrem a superposiçao de duas ondas senoidais de amplitudes iguais, polarizadas ao longo dos eixos y e z e com uma diferença de fase de ¼ de ciclo. Na onda resultante, o vetor E em cada ponto possui módulo constante, porém gira em torno da direção de propagação da onda. A figura ilustra o caso de uma onda circularmente polarizada destrógira, pois quando a onda se aproxima de você o vetor E gira para a direita. Quando a diferença de fase entre as ondas componentes é diferente de um quarto de ciclo, ou quando as duas ondas componentes possuem amplitudes diferentes, então cada ponto da corda, em vez de descrever uma circunferência, passa a escrever uma elipse. A onda resultante é chamada de elipticamente polarizada. Para as ondas eletromagnéticas na faixa de radiofreqüência, a polarização circular o elíptica pode ser produzida usando-se duas antenas perpendiculares, alimentadas pelo mesmo transmissor, porém com circuitos projetados para se produzir diferenças de fase apropriadas. No caso da luz, a diferença de fase necessária para ser obtida usando-se um material com birrefringência, ou seja, aquele que possui dois índices de refração para ondas polarizadas em planos perpendiculares entre si. Um exemplo comum é a calcita (CaCO3). Quando um cristal de calcita está orientado convenientemente em relação a um feixe de luz, não-polarizada, seu índice de refração para um comprimento de onda de 589 nm é igual a 1.658 para uma onda polarizada em certa direção e igual a 1.486 para uma onda polarizada em uma direção perpendicular à primeira. Quando duas ondas com amplitudes iguais e polarizadas em planos perpendiculares entre si penetram nesse material, elas se propagam no interior desse material com velocidades diferentes. . Quando elas estão em fase ao penetrar no material, então geralmente não estão em fase quando dele emergem. Quando o material possui uma espessura apropriada suficiente para produzir uma diferença de um quarto de ciclo, o cristal converte luz linearmente polarizada em luz circularmente polarizada. Esse tipo de cristal é chamado de lâmina de um quarto de onda ou placa de um quarto de onda. Essa placa também pode converter luz circularmente polarizada em luz linearmente polarizada. Você é capaz de demonstrar essa afirmação? Fotoelasticidade Alguns materiais que normalmente não exibem birrefringência podem se tornar birrefringentes quando submetidos a tensões mecânicas. Essa c a base de uma ciência denominada fotoelasticidade. Tensões em vigas, nas paredes de caldeiras e nos pilares de uma catedral podem ser analisadas construindo-se um modelo transparente do objeto, geralmente de um material plástico, submetendo o objeto a tensões e analisando-o com luz polarizada entre um polarizador cruzado com um analisador. Distribuições de tensões extremamente complicadas podem ser analisadas com esse método ótico. 15 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 16 Espalhamento da Luz O céu é azul. O pôr-do-sol é vermelho. A luz do céu é parcialmente polarizada: por isso, quando olhamos para o céu usando óculos com lentes polaróides notamos que o céu em certas direções parece mais escuro do que em outras. Um mesmo fenômeno é responsável por todos esses efeitos. Ao olhar para o céu durante o dia, a luz que você vê é a luz solar que foi absorvida e depois retransmitida em muitas direções. Esse fenômeno denomina-se espalhamento. (Caso a Terra não possuísse atmosfera, o céu seria negro tanto durante o dia quanto à noite, tal como um astronauta vê o céu em volta da Lua quando ele está no espaço ou sobre a superfície lunar: você veria a luz solar somente quando olhasse diretamente para o Sol e poderia observar as estrelas também durante o dia.) A Figura 20 mostra alguns detalhes do processo do espalhamento. A luz solar, que não é polarizada, incide da esquerda para a direita ao longo do eixo Ox e passa acima de um observador que está olhando verticalmente de baixo para cima ao longo do eixo Oy. (Estamos vendo a cena lateralmente.) Considere moléculas do ar atmosférico localizadas no ponto O. As cargas elétricas de cada molécula oscilam por causa da ação do campo elétrico da luz solar. Como a luz é uma onda transversal, a direção do campo elétrico de qualquer componente do feixe da luz solar permanece sobre o plano yz; e o movimento das cargas deve ocorrer sobre esse plano. Não existe nenhum campo e, portanto, nenhum movimento ao longo do eixo Ox. Uma onda de luz com o campo elétrico E formando um ângulo com o eixo Oz obriga as cargas elétricas das moléculas a vibrar ao longo da direção de E, conforme indicado pelas setas em torno de O. Podemos decompor essa vibração em uma vibração ao longo do eixo Oy e outra ao longo do eixo Oz. Cada componente da luz incidente produz o efeito semelhante ao de uma "antena", oscilando com a mesma freqüência da luz incidente e situada sobre o eixo Oy e sobre o eixo Oz. Figura 20 – Uma carga oscilante não irradia na direção de sua vibração. Portanto, a "antena" ao longo do eixo Oy não emite nenhuma luz para o observador que está diretamente abaixo, embora ela emita luz nas outras direções. Assim, a luz que atinge o observador deitado é proveniente de outras "antenas" moleculares correspondentes às cargas que oscilam do eixo Oz. Essa luz é linearmente polarizada, com o campo elétrico ao longo do eixo Oz. Os vetores com setas opostas paralelos ao eixo Oz abaixo do ponto O indicado na Figura 20 mostram a direção da polarização da luz que incide sobre o observador deitado. Como o feixe original da luz solar passa através da atmosfera, sua intensidade diminui à medida que a energia é retirada para a luz espalhada. Uma análise rigorosa do processo de espalhamento mostra que a intensidade da luz espalhada pelas moléculas do ar aumenta com a quarta potência da freqüência (é inversamente proporcional à quarta potência do comprimento de onda). Logo, a razão entre as intensidades dos dois extremos do espectro visível é dada por (700 nm/400 nm) 4 = 9,4. Fazendo-se uma aproximação, podemos dizer que a luz azul é cerca de nove vezes mais espalhada do que a luz vermelha. É por isso que o céu é azul. As nuvens contêm uma concentração elevada de gotículas de água e de pequenos cristais de gelo que também espalham a luz. Por causa disso, a luz que passa através das nuvens possui mais centros de espalhamento de tipos diferentes do que no caso do céu sem nenhuma nuvem. Portanto, a luz com todos os comprimentos de onda acaba sendo espalhada, de modo que as nuvens parecem brancas. A cor do leite é branca pela mesma razão: todas as cores são espalhadas por pequenos glóbulos de gordura existentes no leite. Se você diluir o leite misturando-o com uma quantidade de água suficiente, a concentração dos glóbulos de gordura passará a ser muito pequena, de modo que a cor azul será espalhada mais substancialmente do que as outras cores; portanto, a solução fortemente diluída será azul e não branca. (O leite sem gordura, que também contém uma pequena concentração de glóbulos, exibe, pela mesma razão, uma cor ligeiramente azulada.) Perto do pôr-do-sol quando a luz solar atravessa uma extensa camada da atmosfera terrestre, uma grande quantidade da luz azul é removida pelo espalhamento na atmosfera. A luz solar sem a cor azul parece ser vermelha ou ligeiramente amarela. Isso explica por que você geralmente vê a luz solar amarela ou vermelha durante o poente (e isso é notado pelo observador indicado no lado direito da Figura 20.) 16 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 17 Como a luz solar é parcialmente polarizada, um polarizador pode ser útil na arte fotográfica. Você pode obter uma fotografia do céu escuro usando um polarizador com um eixo perpendicular à direção do eixo com a polarização predominante da luz espalhada. A luz mais fortemente polarizada provém da parte do céu que está a 900 afastada da direção da luz proveniente do Sol — por exemplo, a direção diretamente acima de nossa cabeça quando o Sol está no levante ou no poente. Princípio de Huygens As leis da reflexão e da refração que estudamos anteriormente foram descobertas experimentalmente muito tempo antes de a natureza ondulatória da luz ser de fato comprovada. Contudo, podemos deduzir essas leis a partir de considerações ondulatórias e mostrar que elas são consistentes com a natureza ondulatória da luz. O mesmo tipo de análise que faremos aqui será muito importante quando estudarmos a ótica física. Vamos começar com um princípio conhecido como princípio de Huygens. Em 1678 o cientista holandês Christian Huygens formulou um princípio que permite a construção geométrica de uma nova frente de onda a partir de uma frente de onda conhecida em um dado instante. Huygens afirmou que todos os pontos de uma frente de onda podem ser considerados fontes de ondas secundárias que se espalham para fora com uma velocidade igual à velocidade de propagação da onda. A nova frente de onda em um instante posterior pode ser determinada construindo-se uma superfície que tangencie as ondas secundárias, ou, como se costuma dizer, traçando-se a envoltório das ondas secundárias. Todos os resultados obtidos a partir da aplicação do princípio de Huygens também podem ser conseguidos com as equações de Maxwell. Logo, ele não é um princípio independente, mas de uma ferramenta geralmente útil para explicar fenômenos ondulatórios. O princípio de Huygens é ilustrado na Figura 21. A frente de onda AA' está se deslocando para fora de uma fonte, como indicam as pequenas setas. Vejamos determinar a forma da frente de onda depois de um intervalo de tempo t. Seja v a velocidade de propagação da onda; então no intervalo de tempo t ela se deslocou de uma distância vt. Construímos diversas circunferências (interseções das ondas secundárias esféricas com o plano) centralizadas nos pontos da frente de onda AÃ' com raios vt. A envoltória dessas ondas secundárias, que fornece a nova frente de onda, é a curva BB'. Estamos supondo que a velocidade v seja a mesma em todos os pontos e em todas as direções. Para deduzir a lei da reflexão a partir do princípio de Huygens, consideramos uma onda plana aproximando-se de uma superfície refletora plana. Na Figura 34.27, as linhas AA', OB' e NC' representam posições sucessivas das frentes de onda que se aproximam da superfície MM'. O ponto A da frente de onda AA´ acaba de atingir a superfície refletora. Podemos usar o princípio de Huygens para determinar a frente de onda depois de um intervalo de tempo t. Usando os pontos da reta AA´ como centros, podemos desenhar diversas ondas secundárias com raios vt. As ondas secundárias que se originam na extremidade superior de AA´ se espalham até encontrar o obstáculo, e a envoltória dessas ondas fornece o segmento OB' da nova frente de onda. Caso a superfície refletora não existisse, as ondas secundárias que se originam na extremidade inferior de AA´ se espalhariam de modo análogo e atingiriam as posições indicadas pelas linhas tracejadas. Em vez disso, essas ondas secundárias atingem a superfície refletora. A superfície refletora produz uma variação da direção dessas ondas secundárias que incidem sobre ela, de modo que as ondas secundárias que deveriam penetrá-la na realidade retornam para o lado esquerdo da superfície, como indicam as linhas contínuas. A primeira dessas ondas secundárias está centralizada no ponto A; a envoltória das ondas secundárias que retornam é o segmento OB da frente de onda. O traço da frente de onda completa nesse instante fornece o ângulo definido pela linha BOB'. Um raciocínio semelhante permite a construção da linha CNC´ para a frente de onda depois de outro intervalo de tempo t. Figura 21 – De acordo com a geometria plana, o ângulo a entre a frente de onda incidente e a 17 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 18 superfície é igual ao ângulo entre o raio incidente e a normal à superfície, e, portanto, é o ângulo de incidência. Analogamente, r, é o ângulo de reflexão. Para achar a relação entre esses dois ângulos, observe a Figura 22. A partir de O desenhamos o segmento OP = vt, perpendicular a AA´. O segmento OB, por construção, é tangente ao círculo vt com centro em A. Desenhando o segmento AQ a partir de A até o ponto de tangência, os triângulos APO e OQA são congruentes porque são triângulos retângulos que possuem o lado comum AO e o lado AQ = OP = vt. Portanto, concluímos que a = r, obtendo assim a lei da reflexão. Figura 22 – trace o segmento AB = vbt na direção perpendicular a BO. vt Pelo triângulo AOQ: sen a a AO vt Pelo triângulo AOB: senb b AO Combinamos as relações anteriores e teremos: sen a va senb vb Figura 23 - 18 Como: na c va nb c vb nb c vb va na c va vb Podemos deduzir a lei da refração fazendo um raciocínio semelhante. Na Figura 23 temos uma frente de onda plana, representada pela linha reta AA'. para a qual o ponto A acaba de incidir sobre a interface SS' entre os dois materiais transparentes a e b que possuem índices de refração na e nb e nos quais as velocidades das ondas são va e vb. (As ondas refletidas não são indicadas nessa figura; elas se propagam exatamente como indicado na Figura 22). Podemos aplicar o princípio de Huygens para determinar as posições das frentes de onda depois de um intervalo de tempo t. Usando os pontos da reta AA' como centros, desenhamos diversas ondas secundárias. Aquelas que se originam na extremidade superior de AA' se deslocam com velocidade va e, depois de um intervalo de tempo t, são superfícies esféricas com raio vt. Contudo, a onda secundária com origem no ponto A se desloca no segundo material com velocidade vb, e. depois de um intervalo de tempo t, é uma superfície esférica com raio vbt. A envoltória das ondas secundárias obtidas a partir da frente de onda inicial é a nova frente de onda cuja interseção com o plano da página fornece a linha BOB'. Uma construção semelhante nos permite traçar a linha CPC' depois de um segundo intervalo de tempo t. O ângulo a entre a superfície e a frente de onda incidente é o ângulo de incidência, e o ângulo b, entre a superfície e a frente de onda refratada é o ângulo de refração. Para verificar a relação entre esses ângulos observe a Figura 23 (b). Desenhe o segmento OQ = vat na direção perpendicular a AQ e sen a nb ou sena na senb nb senb na que reconhecemos como a lei de Snell. Desse modo, deduzimos a lei de Snell a partir de uma teoria ondulatória. Alternativamente, podemos considerar a lei de Snell um resultado experimental que define o índice de refração de um material; nesse caso, a análise anterior ajuda a confirmar a relação v = c/n para a velocidade em um material. As miragens fornecem outro exemplo do emprego do princípio de Huygens. Quando os raios solares aquecem a superfície de um pavimento ou a areia do deserto, forma-se nos arredores da superfície, uma camada quente, menos densa, com índice de refração n menor do que o índice de refração da camada superior. A velocidade da luz nessas áreas da superfície é ligeiramente maior do que nas vizinhanças da camada superior, e as ondas secundárias de Huygens possuem raios um pouco maiores, de modo que as frentes de onda se inclinam levemente e os raios que se aproximam da superfície com ângulos de incidência elevados, (próximos de 90°) se encurvaram para cima, como indicado na Figura 24. O raio de luz que está afastado do solo não sofre quase nenhum desvio e se propaga praticamente em linha reta. O observador vê o objeto em sua posição natural, juntamente com uma imagem invertida embaixo dela, como se ela estivesse observada refletida por uma superfície horizontal. Mesmo Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 19 quando a turbulência do ar aquecido impede a formação de uma imagem invertida nítida, o cérebro do viajante sedento interpreta a imagem como se ela estivesse refletida pela superfície do lago. Figura 24 - 19 Vidro. Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 20 Introdução Seu reflexo no espelho do banheiro, a Lua vista por meio de um telescópio, os desenhos observados em um caleidoscópio; todas essas visões são exemplos de imagens. Em cada um desses casos, os objetos são vistos em posições aparentes diferentes das posições nas quais eles realmente se encontram; seu reflexo forma uma imagem do outro lado do espelho, a Lua parece estar muito mais próxima quando você a observa através do telescópio e um objeto visto em um caleidoscópio parece estar em diversos lugares ao mesmo tempo. Em cada caso, um raio de luz proveniente de um ponto do objeto sofre um desvio produzido por reflexão ou refração (ou uma combinação dos dois efeitos) e parecem divergir de ou convergir para um ponto chamado de imagem puntiforme. Nosso objetivo é verificar como isso ocorre e estudar os diferentes tipos de imagens que podem ser obtidos usando-se um dispositivo ótico simples. Para entender as imagens e como elas são formadas, precisamos apenas do modelo da descrição da luz por meio de raios, as leis da reflexão e da refração e um pouco de geometria e de trigonometria. O papel central desempenhado pela geometria em nossa análise é o principal motivo de usarmos o nome ótica geométrica para designar o estudo da formação de imagens. Começaremos pelo espelho plano, um dos dispositivos óticos mais simples para a formação de imagens. A seguir estudaremos como as imagens são formadas por espelhos curvos, por superfícies refratoras e por lentes delgadas. Nossos estudos servirão de base para entender o funcionamento de muitos instrumentos óticos familiares, incluindo a máquina fotográfica, a lupa, o olho humano, o microscópio e o telescópio. REFLEXÃO E REFRAÇÃO EM EMA SUPERFÍCIE PLANA Antes de discutir o que significa uma imagem, inicialmente precisamos do conceito de objeto empregado na ótica. Chamamos de objeto qualquer coisa da qual emanem raios de luz. Quando a luz é emitida pelo próprio objeto dizemos que ele possui luz própria — como, por exemplo, o filamento de uma lâmpada comum. Alternativamente, depois de emitida por uma fonte (como o Sol ou uma lâmpada), a luz se reflete no objeto; por exemplo, quando você lê este livro, a luz é refletida pelas páginas do livro. A Figura l mostra raios de luz irradiados em todas as direções por um objeto situado no ponto P. Figura 1 (a) 20 (b) Espelho plano Para que um observador veja diretamente o objeto é necessário que não haja nenhum obstáculo entre o objeto e o olho do observador. Note que os raios que partem do objeto chegam ao olho do observador formando ângulos diferentes; a diferença entre os dois ângulos é processada no cérebro do observador para obter uma estimativa da distância entre o observador e o objeto. O objeto P indicado na Figura 1 denominase objeto puntiforme e é representado por um ponto que não possui nenhuma dimensão. Os objetos reais que possuem comprimento, largura e altura são chamados de objetos estendidos. Inicialmente vamos considerar um objeto ideal concentrado em um ponto, visto que um objeto estendido pode ser um conjunto muito grande de objetos puntiformes. Suponha que alguns raios provenientes do objeto atinjam uma superfície plana refletora (Figura 1 (b)). Essa superfície poderia ser a fronteira de um material com índice de refração diferente, que reflete parte da luz incidente, ou então uma superfície metálica polida que reflete quase 100% da luz incidente. Vamos sempre representar uma superfície refletora como uma Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 21 linha negra com um sombreado adjacente na parte traseira da interface, como na Figura 2. Os espelhos usados em banheiros possuem uma fina placa de vidro na parte dianteira da superfície refletora para protegê-la: desprezaremos o efeito dessa fina placa de vidro. De acordo com a lei da reflexão, para todo raio que atinge a superfície o ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão. Como a superfície é plana, a normal é sempre perpendicular à superfície em todos os seus pontos e a reflexão é especular. Parece que os raios depois de refletidos emanam de um ponto P'. Chamamos o ponto P de objeto puntiforme e o ponto P' correspondente denomina-se imagem puntiforme; dizemos então que a superfície refletora forma uma imagem do ponto P. Um observador que esteja vendo apenas os raios refletidos pela superfície e que não sabe que está vendo uma reflexão pensa que os raios estão emanando do ponto onde se forma a imagem P'. A imagem puntiforme é portanto um modo conveniente de descrever as direções dos diversos raios refletidos, assim como o objeto puntiforme P descreve as direções dos raios que atingem a superfície antes da reflexão. Se a superfície indicada na Figura 2 não fosse lisa, ocorreria uma reflexão difusa e os raios refletidos de diversos pontos da superfície possuiriam direções diferentes. Nesse caso não haveria a formação de uma imagem puntiforme P' a partir da qual os raios parecem emanar. Ao olhar para uma superfície metálica comum você não consegue ver sua imagem refletida porque geralmente essa superfície é rugosa; fazendo o polimento do metal você alisa a superfície de modo que a reflexão especular se torna possível e vê-se uma imagem refletida. Uma imagem também é formada por uma superfície plana refratora, como indicado na Figura 3. Os raios provenientes de um ponto P são refratados na interface entre dois materiais transparentes. Quando os ângulos de incidência são pequenos, as direções dos raios depois da refração são oriundas de um ponto P', conforme indicado, e chamamos novamente P' de imagem puntiforme. Mostramos como esse efeito faz com que um objeto imerso na água pareça estar mais próximo da superfície do que sua posição real (Veja a Figura 2). Os raios não passam através da imagem puntiforme P'. Na verdade quando o espelho na Figura 1 é opaco não existe absolutamente nenhuma luz em seu lado direito. Quando os raios emergentes não passam efetivamente no local onde se encontra o objeto, dizemos que nesse local se forma uma imagem virtual. Mais adiante analisaremos casos para os quais os raios passam efetivamente no local onde se encontra o objeto — dizemos que nesse local se forma uma imagem real. As imagens que se formam sobre uma tela de cinema, sobre a película de uma máquina fotográfica e sobre as retinas dos seus olhos são exemplos de imagens reais. FORMAÇÃO DA IMAGEM EM UM ESPELHO PLANO Vamos no momento nos concentrar na descrição de imagens formadas por reflexão; voltaremos ao problema da refração mais adiante neste capítulo. Para localizar a imagem virtual P' que um espelho plano forma para um objeto P usaremos a construção indicada na Figura 3. A figura mostra dois raios oriundos de um objeto puntiforme P situado a uma distância s à esquerda de um espelho plano. Figura 3- Figura 2 - Chamaremos s de distância do objeto. O raio PV incide ortogonalmente sobre o espelho plano (ou seja, ele é perpendicular à superfície do espelho) e retorna na mesma direção do raio original. 21 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 22 O raio PB forma um ângulo 0com o raio PV. Ele atinge o espelho plano com ângulo de incidência O e se reflete formando o mesmo ângulo com a normal. Estendendo os dois raios refletidos para trás do espelho, eles se cruzam em um ponto P' situado a uma distância s' atrás do espelho. Chamaremos s' de distância da imagem. A linha que liga P com P' é perpendicular ao espelho. Os dois triângulos são congruentes, de modo que P e P' possuem distâncias iguais até o espelho plano e portanto s e s' possuem módulos iguais. A distância entre o espelho e a imagem P' formada atrás do espelho é exatamente igual a distância na frente do espelho entre o objeto P e a superfície do espelho. Podemos repetir a construção indicada na Figura 3 para qualquer raio que emane do ponto P. A direção de qualquer raio refletido é tal que parece que ele é oriundo do ponto P', confirmando que P' é a imagem de P. Qualquer que seja a posição da pessoa que está observando o objeto, ela sempre verá a imagem localizada no ponto P'. REGRAS DE SINAIS Antes de prosseguir vamos introduzir algumas regras de sinais. Elas podem parecer desnecessariamente complicadas para o caso simples da imagem formada por um espelho plano, porém desejamos formular essas regras de modo que possam ser aplicadas para quaisquer situações que sejam encontradas mais adiante. Essas situações incluem a formação de imagens por meio da reflexão ou da refração em interfaces planas ou esféricas ou de um par de superfícies refratoras que formam uma lente. As regras são: 1. Regra do sinal para a distância do objeto: Quando o objeto está do mesmo lado da luz que incide sobre a superfície refletora ou refratora, a distância do objeto s é positiva; em caso contrário, é negativa. 2. Regra do sinal para a distância da imagem: Quando a imagem está do mesmo lado da luz que emerge da superfície refletora ou refratora, a distância da imagem s' é positiva; em caso contrário, é negativa. 3. Regra do sinal para o raio de curvatura de uma superfície esférica: Quando o centro de curvatura Cesta do mesmo lado da luz que emerge da superfície refletora ou refratora, o raio de curvatura é positivo; em caso contrário, é negativo. Para um espelho o lado do raio incidente é sempre o mesmo do raio emergente; por exemplo, nos dois casos indicados nas figuras 2 e 4 o lado em questão é o lado esquerdo. Para a superfície refratora indicada na Figuras 2, o lado da luz incidente é o lado esquerdo da interface entre os materiais e o lado da luz emergente é o direito. Na Figura 3 a distância do objeto s é positiva porque o objeto puntiforme P está do lado da luz incidente sobre a superfície refletora (o lado esquerdo). A distância da imagem s' é negativa porque a imagem puntiforme P' não está do lado da luz que emerge da superfície refletora (o lado esquerdo). As distâncias s e s´ são relacionadas por s s ~ Para uma superfície refletora ou refratora plana, os raios de curvatura são infinitos e, portanto, não fornecem nenhuma informação útil; para esses casos na verdade não necessitamos da terceira regra. Porém, mais adiante neste capítulo, veremos que essa regra será extremamente útil quando estudarmos a formação de imagens no caso de interfaces curvas que refletem ou refratam a luz. FORMAÇÃO DA IMAGEM DE UM OBJETO - ESPELHO PLANO Vamos agora considerar um objeto estendido com um tamanho definido. Por simplicidade geralmente tomamos um objeto que possui apenas uma dimensão, tal como uma seta estreita orientada paralelamente à superfície refletora, como a seta PQ na Figura 5. Figura 5 - A distância entre o ponto inicial e a extremidade da seta indicada desse modo é sua altura; na Figura 5 a altura é y. A imagem formada por esse objeto estendido é uma imagem estendida; cada ponto do objeto possui um ponto correspondente da imagem. Mostramos dois raios provenientes do ponto Q; parece que todos os raios provenientes de Q divergem da imagem puntiforme Q' depois da reflexão. A imagem da seta é o segmento P'Q', com altura y'. Os outros pontos do objeto PQ possuem imagens entre os pontos P' e Q'. Os triângulos PQV e P'Q'V são congruentes, de modo que PQ possui a mesma dimensão e orientação da imagem P'Q', logo y = y'. A razão entre a altura da imagem e a altura do objeto, 22 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 23 y'/y, em qualquer situação de formação de imagem, denomina-se ampliação transversal m; ou seja: y m y (ampliação transversal) Logo, para um espelho plano a ampliação transversal m é igual a l. Quando você olha para um espelho plano, sua imagem possui um tamanho igual ao seu. Na Figura 5 a seta que representa a imagem aponta na mesma direção e no mesmo sentido da seta que representa o objeto; dizemos que a imagem está em pé, é direita ou então que se trata de uma imagem ereta. Nesse caso, y e y' possuem o mesmo sinal e a ampliação transversal m é positiva. A imagem formada por um espelho plano é sempre ereta, de modo que y e y' possuem sempre o mesmo sinal e o mesmo módulo; de acordo com a Equação da ampliação transversal é sempre dada por m = +1. Mais adiante encontraremos situações nas quais obtemos uma imagem invertida, ou seja, a seta da imagem aponta no sentido oposto à seta que identifica o objeto. Para uma imagem invertida, v e v' possuem sempre sinais contrários e a ampliação transversal m é sempre negativa O objeto indicado na Figura 5 possui apenas uma dimensão, sua altura y'. A Figura 6 mostra um objeto em três dimensões formando uma imagem virtual em três dimensões em um espelho plano. O sentido aparente da imagem é relacionado com o sentido do objeto do mesmo modo que a mão esquerda é relacionada com a mão direita. Figura 6 (a) (b) Você certamente perguntará: "Por que a imagem é reversa e troca a direita com a esquerda porém mantém o sentido vertical de baixo para cima inalterado?" A pergunta é embaraçosa! Como se observa na Figura 6 (a), tanto a imagem vertical P'Q' quanto a imagem horizontal P'S' são indicadas por vetores paralelos aos respectivos vetores do objeto e não sofrem nenhuma reversão! Somente o vetor que indica a imagem frontal de trás para frente PT? é que está invertido em relação ao vetor que indica o objeto PR. Portanto, seria mais correto dizer que um espelho plano reverte apenas o sentido de frente para trás na direção frontal em relação ao espelho. Para verificar essa formação de imagens aponte seus dois polegares ao longo de PR e PT?', os dedos indicadores ao longo de PQ e P'Q' e. seus dedos médios ao longo de PS e P'S'. Para evitar confusão com a definição de imagem invertida feita anteriormente, dizemos que a imagem obtida por um espelho plano constitui uma imagem reversa: objetivamente somente ocorre inversão no sentido de frente para trás na direção frontal em relação ao espelho. A imagem reversa formada por um espelho plano de um objeto em três dimensões possui o mesmo tamanho do objeto em todas as dimensões. A imagem é ereta na direção paralela ao espelho. Portanto, um espelho plano forma sempre uma imagem ereta porém reversa. A Figura 6 (b) fornece um exemplo disso. Uma propriedade importante de todas as imagens formadas por superfícies refletoras ou refratoras é que uma imagem formada por uma superfície ou por um dispositivo ótico pode servir como um objeto para a formação de outra imagem para uma segunda superfície ou dispositivo. A Figura 7 fornece um exemplo simples. Figura 7 - 23 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 24 O espelho l forma uma imagem P, ' de um objeto situado no ponto P e o espelho 2 forma outra imagem P', cada uma delas do modo que acabamos de descrever. Porém, além disso, a imagem P,' formada pelo espelho l serve como objeto para o espelho 2, que a seguir forma uma imagem desse novo objeto no ponto P^' como indicado. Analogamente, o espelho l usa a imagem P,' formada pelo espelho 2 como um objeto para formar uma imagem sobre ele. Deixamos para você demonstrar que a imagem puntiforme obtida está também no ponto P,'. A idéia de que uma imagem formada por um dispositivo ótico pode servir como um objeto para a formação de outra imagem para um segundo dispositivo é de importância fundamental na ótica geométrica. Mais adiante neste capítulo usaremos essa ideia para localizar a imagem que sofre duas refrações sucessivas nas superfícies curvas de uma lente; no Capítulo 36 essa ideia nos ajudará a entender a formação de imagens em dispositivos, contendo combinações de lentes, tais como um microscópio ou um telescópio refrator. Reflexão em superfície esférica Um espelho plano produz uma imagem do mesmo tamanho do objeto. Porém existem muitas aplicações para as quais as imagens e os objetos devem possuir tamanhos diferentes. O espelho usado pelo dentista gera uma imagem maior do que a do objeto e o espelho de monitoramento produzem imagem menor do que a do objeto. Existem também algumas aplicações de espelhos nas quais se busca obter uma imagem real, de modo que a luz passe efetivamente pela imagem puntiforme P'; um exemplo é o telescópio refletor, no qual se coloca uma placa fotográfica para gravar a imagem de uma estrela muito distante. Um espelho plano não serve para realizar nenhuma dessas tarefas. Ao contrário, somente espelhos curvos podem ser usados nessas aplicações. Vamos considerar o caso especial (e analisado facilmente) da formação da imagem d um espelho esférico. A Figura 8 mostra um espelho esférico com raio de curvatura R com o lado côncavo voltado para a luz incidente. O centro de curvatura da superfície (o centro da esfera da qual o espelho é uma parte) é o ponto e o vértice do espelho (o centro da superfície refletora) é o ponto V. A linha CV denomina-se eixo ótico. O ponto P é um objeto puntiforme situado sobre o eixo ótico; no momento estamos supondo que a distância do ponto P até V é maior do que R. O raio PV, que passa através do ponto C atinge o espelho perpendicularmente e é refletido de volta na mesma direção. O raio PB, que forma um ângulo a com o eixo, atinge o espelho no ponto B, onde os ângulos de incidência e de reflexão são designados por raio refletido intercepta o eixo no ponto P'. Mostraremos de modo breve que todos os raios provenientes do ponto P interceptam o eixo no mesmo ponto P', como na Figura 8 (b), desde que o ângulo a seja pequeno. O ponto P' é, portanto, a imagem do objeto puntiforme P. Diferentemente dos raios refletidos indicados na Figura 1, os raios refletidos na Figura 8 (b) se interceptam realmente no ponto P', a seguir divergem do ponto P' como se eles emanassem de uma fonte nesse ponto. Logo, P' é uma imagem real. 24 Figura 8 - Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 25 Para entender a utilidade da formação de uma imagem real, suponha que o espelho esteja em uma sala escura na qual a única fonte de luz seja um objeto no ponto P' que emite luz própria. Se você colocar uma pequena película fotográfica no ponto P', todos os raios de luz proveniente do ponto P que se refletem no espelho irão se interceptar no mesmo ponto P sobre a película fotográfica; quando for revelado, o filme mostrará um ponto brilhante que representa a imagem focalizada do objeto situado no ponto P. Esse princípio é a base do funcionamento de muitos telescópios astronômicos, que utilizam grandes espelhos côncavo* para fotografar corpos celestes. Quanto ao espelho plano indicado na Figura 2, colocai uma película fotográfica no ponto P' seria perda de tempo: os raios luminosos não passando efetivamente pelo ponto da imagem e ela não pode ser gravada na película fotográfica a colocada. As imagens reais desempenham um papel essencial na fotografia. Vamos agora localizar a imagem real P' indicada na Figura 8 (b) e provar que todos os raios provenientes do ponto P se interceptam no ponto P' (desde que o ângulo a seja pequeno). A distância do objeto, medida a partir do vértice K é igual a s: a distância da imagem, também medida a partir de V, é igual a s' e o raio de curvatura do espelho é igual a R. Os sinais de s, s' e R são obtidos usando-se as regras de sinais mencionadas. O objeto puntiforme P está do mesmo lado do raio incidente, logo, de acordo com a primeira regra, a distância s é positiva. A imagem puntiforme P' está do lado da luz refletida; portanto de acordo com a segunda regra, a distância também é positiva. O centro de curvatura C está do mesmo lado da luz refletida, e assim, de acordo com a 3ª regra, a distância R também é positiva; R também é sempre positiva quando a reflexão ocorre no lado côncavo da superfície. Usando agora o seguinte teorema da geometria: o ângulo externo de um triângulo é igual a soma dos ângulos internos não adjacentes. Aplicando esse teorema aos triângulos PBC e P´BC´ indicados na figura, teremos: 2 Podemos calcular agora a distância da imagem s´. Seja h a altura do ponto B acima do eixo ótico e uma pequena distância entre V e a base dessa linha vertical. Escrevendo as expressões para as tangentes dos ângulos , e : h h h tg ; tg ; tg s s R Essas equações trigonométricas não são de solução tão simples como as obtidas no caso do espelho plano. Contudo, quando o ângulo é pequeno, os ângulos e também são. A tangente de um ângulo muito menor do que um radiano é aproximadamente igual ao próprio ângulo (medido em radianos), de modo que podemos substituir nas equações anteriores tg por e assim por diante. Além disso, quando o ângulo é pequeno, é possível desprezar em comparação com s, s' e R. Portanto, para ângulos pequenos, obtemos as seguintes relações aproximadas: h h h ; ; s s R Substituindo esses valores na Equação 2 e dividindo por h, obtemos uma equação geral envolvendo s, s' e R: 1 1 2 s s R Ou 1 1 1 s s f (relação imagem-objeto, espelho esférico). Essa equação não contém o ângulo . Logo, todos os raios provenientes do ponto P que formam um ângulo suficientemente pequeno com o eixo se interceptam no ponto P' depois da reflexão; isso demonstra nossa afirmação anterior. Tais raios, aproximadamente paralelos e próximos do eixo, são chamados de raios paraxiais. (A expressão aproximação paraxial é em geral usada para a aproximação que acabamos de descrever.) Como todos os raios refletidos convergem sobre o ponto da imagem, um espelho côncavo também é chamado de espelho convergente. Você deve entender que a Equação anterior, bem como outras equações semelhantes que vamos deduzir neste capítulo e no próximo, é uma relação aproximadamente correta. Ela decorre de um cálculo no qual empregamos aproximações e vale somente para raios paraxiais. Quando o ângulo a que o raio forma com o eixo ótico é grande, o ponto P' onde os raios interceptam o eixo ótico fica mais próximo do vértice do que no caso de raios paraxiais. Em conseqüência, um espelho esférico, diferentemente de um espelho plano, não forma uma imagem puntiforme precisa de um objeto puntiforme — a imagem fica "borrada". Essa característica de um espelho esférico é chamada de aberração esférica. Os resultados desanimadores inicialmente obtidos pelo Telescópio Espacial Hubble colocado em órbita em 1990 foram produzidos em parte por erros cometidos na eliminação das aberrações esféricas de seu espelho primário (veja a Figura 9 (a)). 25 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 26 O desempenho do telescópio melhorou substancialmente após a instalação, em 1993, de dispositivos óticos para correção das aberrações (veja a Figura 9 (b)). Quando o raio de curvatura torna-se infinito (R = ), o espelho torna-se plano e a Equação anterior se reduz à Equação s = s´ referente a uma superfície plana refletora. Figura 9 - FOCO E DISTANCIA FOCAL Quando o objeto puntiforme P está muito longe do espelho esférico (s = ), os raios incidentes são paralelos. (A estrela mostrada na foto da Figura 9 é um exemplo de objeto distante.) De acordo com a Equação anterior, a distância s' para esse caso é dada por: 1 1 2 R s s R 2 Essa situação é indicada na Figura 10 (a). O feixe dos raios incidentes paralelos convergem, depois da reflexão no espelho esférico, para um ponto F situado a uma distância R/2 do vértice do espelho. O ponto F para o qual os raios paralelos convergem é chamado de foco do espelho: dizemos que os raios se encontram no ponto focal. A distância entre o foco e o vértice do espelho, designada pela letra f, denomina-se distância focal. Vemos que entre f e o raio de curvatura R existe a relação: R f 2 A situação oposta é indicada na Figura 10 (b). Agora o objeto é colocado no ponto focal F. de modo que a distância do objeto é dada por .s = f = R/2. A distância da imagem s' pode novamente ser obtida pela Equação: 2 1 2 1 0 s R s R s Quando o objeto está situado sobre o ponto focal, os raios refletidos indicados na Figura 10 (b) são paralelos ao eixo ótico — eles se encontram somente no infinito, logo, a distância da imagem é infinita. Portanto, as propriedades do foco F de um espelho esférico mostram que (l) todo raio que incide paralelamente ao eixo ótico é refletido passando pelo foco e (2) qualquer raio passando pelo foco que incide sobre o espelho é refletido paralelamente ao eixo ótico. Para um espelho esférico essas afirmações são válidas apenas para os raios paraxiais. Para um espelho parabólico essas afirmações são exatas sempre: essa é a principal razão pelas quais os espelhos parabólicos são preferidos nos telescópios astronômicos. Espelhos parabólicos e espelhos esféricos são usados em lanternas e nos faróis dos automóveis para transformar a luz da lâmpada em um feixe paralelo. Em algumas usinas para aproveitamento da energia solar se usa uma grande rede de espelhos planos para simular aproximadamente um espelho esférico côncavo: a luz solar é coletada pêlos espelhos e projetada para o ponto focal, onde são colocadas as caldeiras para produzir vapor. (Os conceitos de foco e de distância focal também se aplicam a lentes, como veremos.) Geralmente expressaremos a relação entre as distâncias da imagem e do objeto, em termos da distância focal: 1 1 1 s s f Figura 10 - FORMAÇÃO DA IMAGEM DE UM OBJETO - ESPELHO ESFÉRICO Vamos agora supor que o objeto possua um tamanho finito, representado pela seta PQ na Figura 11, perpendicular ao eixo ótico CV. A imagem de P formada pelos raios paraxiais se encontra no ponto P'. A distância do objeto para o ponto Q é quase igual à distância do objeto 26 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 27 para o ponto P, de modo que a imagem P'Q' é aproximadamente reta e perpendicular ao eixo ótico. Observe que as setas do objeto e da imagem possuem tamanhos diferentes, y e y', respectivamente, e que os sentidos das setas estão invertidos. Definimos a ampliação transversal m como a razão entre a altura da imagem y' e a altura do objeto y: y m y , Como os triângulos PVQ e P´VQ' na Figura 11 são semelhantes, obtemos a relação y/s = -y´/s'. O sinal negativo é necessário porque a imagem e o objeto estão em lados opostos em relação ao eixo ótico: quando y é positivo, y' é negativo, e vice-versa. Logo, y s m y s Quando m é positivo a imagem é ereta ou direita em relação ao objeto; quando m é negativo a imagem é invertida em relação ao objeto, como indica a Figura 11. Para um espelho plano, s = -s', logo, y' = y e m = +1; como m é positivo, a imagem é ereta, e como |m| = l, a imagem possui o mesmo tamanho do objeto. Figura 11 - ATENÇÃO: Embora a razão entre a altura da imagem e a altura do objeto seja chamada de ampliação, a imagem formada por um espelho ou por uma lente pode ser menor, maior ou do mesmo tamanho do objeto. Quando ela é menor, o valor absoluto da ampliação é menor do que um: |m| < l. A imagem formada pelo espelho de um telescópio astronômico ou pela lente de uma máquina fotográfica é muito menor do que o objeto. Para objetos com três dimensões, a razão entre as distâncias da imagem e do objeto medidas ao longo do eixo ótico é diferente da razão medida perpendicularmente ao eixo ótico (a ampliação transversal). Em particular, quando m for uma fração pequena, a imagem tridimensional de um objeto tridimensional ao longo do eixo será muito mais reduzida do que transversalmente. A Figura 12 ilustra esse efeito. Observe que a imagem formada por um espelho esférico, assim como a imagem de um espelho plano, é sempre reversa ao longo do eixo ótico. Figura 12 - 27 Em nossa discussão sobre espelhos côncavos, consideramos até o momento apenas objetos situados para fora do foco ou sobre o foco, de modo que a distância do objeto s ou é superior ou é igual ao valor da distância focal f (positiva). Nesse caso a imagem se forma sempre do mesmo lado do espelho que os raios refletidos e a imagem é real e invertida. Quando um objeto é colocado entre o foco e o vértice, de modo que s < f, a imagem resultante é virtual (ou seja, a imagem se forma sobre o lado do espelho oposto ao lado onde se encontra o objeto), ereta e maior do que o objeto. Os espelhos usados pêlos dentistas (mencionados no início desta seção) são espelhos côncavos; quando o dentista usa o espelho, o dente está entre o foco e o espelho e ele vê uma imagem real com tamanho maior do que o do dente observado. Você pode provar as afirmações anteriores sobre espelhos côncavos aplicando as equações anteriores. Estaremos também aptos para verificar esses resultados, quando estudarmos os métodos gráficos para a determinação das posições e dos tamanhos dos objetos e das imagens. Exemplo 1 - Imagem formada por um espelho côncavo I Figura 13 - de lanterna está a uma distância de 10,0 cm em frente a um espelho côncavo que forma uma imagem sobre uma parede situada a uma distância de 3,00 m do espelho (Figura 13). (a) Qual é o raio de curvatura e a distância focal do espelho? (b) Qual é a altura da imagem sabendo que a altura do objeto é de 5,00 mm? Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 28 SOLUÇÃO a) A distância da imagem e a distância do objeto são ambas positivas; temos s = 100 cm e s' = 300 cm. De acordo com a Equação (35.4), 1 1 2 1 1 2 R 19.4cm s s R 10.0 300 R A distância focal do espelho é f = R/2 = 9.7 cm. Em uma lanterna, o filamento da lâmpada é geralmente colocado próximo do foco, produzindo um feixe de raios aproximadamente paralelos. (b) De acordo com a Equação (35.7), a ampliação transversal é: y s 300 m 30.0 y s 10.0 Como m possui valor negativo, a imagem é invertida. A altura da imagem é igual a 30,0 vezes a altura do objeto. ou (30.0)(5.00 mm) = 150 mm. Exemplo 2 - Imagem formada por um espelho côncavo II No Exemplo l, suponha que a metade da superfície esquerda do espelho seja recoberta por uma película não refletora de fuligem. Que efeito isso produziria sobre a imagem do filamento? SOLUÇÃO: Seria natural imaginar que a imagem obtida deveria mostrar somente a metade do filamento. Contudo, a imagem continua mostrando o filamento completo. A explicação pode ser encontrada examinando-se a Figura 9 (b). Os raios luminosos provenientes de qualquer ponto P do objeto são refletidos por todas as partes do espelho e convergem sobre a imagem puntiforme correspondente situada no ponto P'. Se você remover uma parte do espelho ou se recobrir uma fração de sua área com uma película não refletora, os raios luminosos que atingem a superfície refletora restante ainda formarão uma imagem de qualquer ponto do objeto. O único efeito produzido pela redução da área é que a imagem se torna mais fosca porque uma quantidade menor de energia luminosa atinge o ponto onde se encontra a imagem. No presente exemplo, a área foi reduzida para a metade do valor inicia], portanto o brilho da imagem será aproximadamente igual à metade do brilho da imagem do exemplo anterior. O aumento da área de reflexão produz imagens mais brilhantes: para obter imagens razoavelmente brilhantes de estrelas muito distantes, os telescópios astronômicos usam espelhos que possuem até alguns metros de diâmetro. Espelho Convexo Na Figura 14 (a) o lado convexo de um espelho esférico está de frente para o feixe incidente. O centro de curvatura encontra-se do lado oposto dos raios emergentes; de acordo com a terceira regra de sinais exposta, R possui valor negativo. O raio PB é refletido com o mesmo ângulo de incidência . O raio refletido, projetado para trás, intercepta o eixo no ponto P'. Analogamente ao caso do espelho côncavo, todos os raios provenientes de P refletidos pelo espelho divergem de um mesmo ponto P', desde que o ângulo seja pequeno. O ponto P' é portanto a imagem de P. A distância do objeto s é positiva, a distância da imagem y' é negativa e o raio de curvatura R é negativo para um espelho esférico convexo. A Figura 14 (b) mostra dois raios divergindo da extremidade da seta PQ e a imagem virtual P'Q' da seta. O mesmo procedimento usado no caso do espelho côncavo é aplicável no caso do espelho convexo,R: 1 1 2 s s R e a ampliação transversal é y s m y s Figura 14 - Essas expressões são exatamente iguais às equações anteriores obtidas para um espelho côncavo; deixamos a demonstração como um problema. Portanto, quando usamos corretamente as regras de sinais, as equações valem tanto para um espelho côncavo quanto para um espelho convexo. Quando R é negativo (espelho convexo), os raios que incidem paralelamente ao eixo ótico não passam através do foco F. Ao contrário, eles divergem como se estivessem emanando de um ponto F situado a uma distância f atrás do espelho, como indicado na Figura 15 (a). Nesse caso, f é a distância focal e F denomina-se foco virtual. A correspondente distância da imagem s' é negativa, logo, f e R possuem sinais negativos e a Equação f = R/2, vale tanto para um espelho côncavo quanto para um espelho convexo. Na Figura 15 (b) os raios incidentes convergem como se eles fossem atingir o foco virtual no ponto F e são refletidos paralelamente ao eixo ótico. Em resumo, todas as equações obtidas para um espelho esférico são válidas tanto para 28 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 29 um espelho côncavo quanto para um espelho convexo, desde que as regras de sinais sejam usadas adequadamente. Figura 15 - Como s' é negativo, a imagem se forma atrás do espelho, ou seja, no lado oposto ao dos raios emergentes (Figura 16 (b)) sendo uma imagem virtual. A imagem se forma na metade da distância entre a pane frontal do ornamento e seu centro de curvatura. A ampliação transversal m é obtida da Equação: m y s 1.76 2.34 102 y s 75 Como m é positivo, concluímos que ela é ereta. Ela é apenas cerca de 0.0234 da altura do Papai Noel: y' = my = (0.0234)(1.6 m)=3,8.10-2m = 3.8 cm. Exemplo 3 - Problema da imagem do Papai Noel Papai Noel verifica se está sujo de fuligem olhando para sua imagem refletida em um enfeite prateado brilhante da árvore de Natal situado a uma distância de 0.750 m (Figura 16 (a).) O diâmetro do enfeite é igual a 7.2 cm. As referências da literatura afirmam que Papai Noel é um "velhinho alegre e de estatura mediana", de modo que sua altura estimada é de l.60 m. Onde se forma e qual é a altura da imagem de Papai Noel refletida pelo enfeite. Ela é direita ou invertida? Quando a distância do objeto í é positiva, um espelho convexo sempre forma uma imagem virtual, ereta, menor do que objeto e reversa. Por essa razão se costuma usar um espelho convexo para monitorar o interior de lojas para — a fim de observar possíveis furtos, nos espelhos colocados em cruzamentos perigosos e em espelhos retrovisores com "grande angular" de carros e caminhões (incluindo aqueles que exibem a frase "objetos vistos no espelho estão mais próximos do que parecem"). Método Gráfico Figura 16 SOLUÇÃO: A superfície do enfeite mais próximo do Papai Noel funciona como um espelho convexo com raio R = -(7.20 cm)/2 = -3.60 cm e distância focal f = R/2 = -1.80 cm. A distância do objeto é dada por: s = 0.750 m = 75.0 cm. De acordo com a Equação: 1 1 1 1 1 1 s s f s f s 1 1 1 s 1.76cm s 1.8 75 Nas seções precedentes, usamos as equações para definir a posição e o tamanho da imagem formada por um espelho. Podemos também determinar as propriedades das imagens usando um método gráfico simples. Esse método consiste em encontrar o ponto de interseção de alguns raios particulares que divergem de um ponto do objeto (tal como o ponto Q indicado na Figura 35.18) e que são refletidos pelo espelho. Então (desprezando as aberrações), verificamos que todos os raios provenientes desse ponto do objeto e que se refletem no espelho se interceptam no mesmo ponto. Para essa construção sempre escolhemos um ponto do objeto que não esteja situado sobre o eixo ótico. Os quatro raios geralmente desenhados com mais facilidade são indicados na Figura 17. Eles são chamados de raios principais. 1. Um raio paralelo ao eixo, depois da reflexão, passa através do foco F de um espelho côncavo ou parece emanar do foco (virtual) de um espelho convexo. 29 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 30 2. Um raio que passa através do foco F (ou que provém do foco) é refletido paralelamente ao eixo ótico. 3. Um raio na direção do raio passando pelo centro de curvatura C (ou cujo prolongamento atinge o centro de curvatura) intercepta a superfície perpendicularmente e, portanto, se reflete para trás ao longo de sua direção inicial. 4. Um raio que passa pelo vértice V é refletido formando ângulos iguais com o eixo ótico. Método gráfico para localizar a posição da imagem formada por um espelho usando um diagrama com os raios principais, (a) Espelho côncavo, (b) Espelho convexo. Uma vez encontrada a posição da imagem puntiforme pela interseção dos raios principais (l, 2, 3, 4), podemos desenhar a trajetória de qualquer outro raio que emane do objeto puntiforme e verificar que ela atinge o mesmo ponto onde se forma a imagem. ATENÇÃO: Embora tenhamos enfatizado os raios principais, na verdade qualquer raio que atinge o espelho deve passar através de um ponto da imagem (para uma imagem real) ou parece emanar de um ponto da imagem (no caso da imagem virtual). Em geral são usados apenas os raios principais porque esses raios são suficientes para localizar a imagem. grandezas sempre possui significado físico; use as equações e as regras de sinais cuidadosamente e de modo consistente e elas mostrarão a você a solução correta! Lembre-se de que a mesma regra de sinais se aplica para os quatro casos estudados neste capítulo: reflexão e refração em superfícies planas e esféricas. Exemplo 4 - Espelho côncavo, objeto situado em diferentes distâncias: Um espelho côncavo possui raio de curvatura com valor absoluto igual a 20 cm. Determine graficamente a imagem de um objeto cm forma de seta perpendicular ao eixo do espelho para as seguintes distâncias do objeto: (a) 30 cm, (b) 20 cm, (c) 10 cm e (d) 5 cm. Confira a construção calculando o tamanho e a ampliação de cada imagem. Figura 17 - Estratégia 1. O diagrama dos raios principais tem na ótica geométrica um papel análogo ao desempenhado pelo diagrama do corpo livre na mecânica. Em qualquer problema que envolva a formação de imagens por um espelho, caso você disponha de informações suficientes, sempre desenhe antes um diagrama dos raios principais. (O mesmo conselho deve ser seguido quando você estudar lentes nas próximas seções.) Geralmente é mais conveniente fazer seu diagrama orientando os raios incidentes da esquerda para a direita. Não trace muitos raios desnecessários; é suficiente traçar os raios principais, pois você tem informações sobre eles. Um esboço traçado à mão livre sem cuidado não fornece bons resultados. 2. Quando os raios principais não convergem para uma imagem puntiforme real, você deve prolongá-los em linha reta para trás para localizar uma imagem puntiforme virtual, como indicado na Figura. Recomendamos que esses prolongamentos sejam desenhados com linhas tracejadas. 3. Preste bastante atenção aos sinais das distâncias dos objetos e das imagens, dos raios de curvatura e das alturas dos objetos e das imagens. Todo sinal negativo para qualquer uma dessas SOLUÇÃO: As construções são indicadas nas quatro partes da Figura. Estude cada um desses diagramas cuidadosamente. Comparando cada raio numerado com a descrição feita anteriormente. Convém mencionar diversas observações importantes. Inicialmente, na parte (b) a distância do objeto ó igual a distância da imagem. Para esse caso, o raio 3 não pode ser desenhado porque um raio partindo de Q e passando pelo centro de curvatura C não atinge o espelho. O raio 2 não pode ser desenhado em (c) porque um raio partindo de Q c passando por F também não atinge o espelho. Para esse caso os raios emergentes são paralelos, correspondendo a uma imagem que se forma no infinito. Em (d) os raios emergentes não 30 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 31 possuem nenhum ponto de interseção real; eles devem ser estendidos para trás do espelho para encontrar a imagem puntiforme virtual Q', o ponto do qual os raios parecem divergir. Todo objeto situado entre o foco c o vértice de um espelho côncavo produz uma imagem virtual e a situação indicada em (d) ilustra um exemplo deste caso. Medidas realizadas com uma régua apropriada fornecem as seguintes distâncias das imagens aproximadas: (a) 15 cm; (b) 20 cm; (c) ou - (porque os raios emergentes são paralelos e não convergem para nenhuma distância finita); (d) -10 cm. Para calcular essas distâncias, inicialmente notamos que f = R/2 = 10 cm: a seguir usamos a Equação: 1 1 1 1 1 1 (a) s 15cm s s f 30 s 10 s 15 1 (invertida) s 30 2 1 1 1 1 1 1 (b) s 20cm s s f 20 s 10 Na Figura 18 uma superfície esférica de raio R forma a interface entre dois materiais com índices de refração na e nb. A superfície forma uma imagem P' de um objeto puntiforme P desejamos saber como as distâncias do objeto e da imagem (s e s'} são relacionadas. Figura 18 - 31 m s 20 1 (invertida) s 20 1 1 1 1 1 1 (c) s s s f 10 s 10 m s s 10 1 1 1 1 1 1 (d) s 10cm s s f 5 s 10 m s 10 2 (direita) s 5 Em (a) e (b) as imagens são reais; em (d) ela é virtual. Em (c) a imagem se forma no infinito. m REFRAÇÀO ESFÉRICA EM UMA SUPERFÍCIE Conforme dissemos, as imagens podem ser formadas por reflexão ou por refração. Para começar, vamos considerar a refração em uma superfície esférica, ou melhor, na interface esférica entre dois materiais transparentes com índices de refração diferentes. Essa análise pode ser aplicada diretamente para alguns sistemas óticos reais, como, por exemplo, o olho humano. Ela também fornece os fundamentos para o estudo das lentes, que geralmente possuem duas superfícies esféricas (ou quase esféricas). Aplicaremos as mesmas regras de sinais usadas para o caso de espelhos esféricos. O centro de curvatura C está do lado dos raios emergentes da superfície, logo, R é positivo. O raio PV incide sobre o vértice V na direção perpendicular à superfície (ou seja, na direção perpendicular ao plano tangente à superfície no ponto de incidência V). Ele passa para o outro material sem sofrer nenhum desvio. O raio PB, que forma um ângulo com o eixo incide formando com a normal da superfície um ângulo a, e é refratado formando um ângulo b. Os raios emergentes se cruzam no ponto P', a uma distância s' do lado direito do vértice. A figura foi desenhada para o caso na < nb. As distâncias do objeto e da imagem são ambas positivas. Vamos agora provar que se o ângulo é pequeno, todos os raios provenientes de P se interceptam no mesmo ponto P', portanto P' é a imagem real de P. Faremos um tratamento semelhante ao adotado quando analisamos o caso do espelho esférico. Usamos novamente o teorema segundo o qual o ângulo externo de um triângulo é igual à soma dos ângulos internos opostos; aplicando esse teorema aos triângulos PBC e P'BC. obtemos a b De acordo com a lei da refração. na sena nb senb As tangentes dos ângulos , e são dadas por: h h h tg ; tg ; tg s s R Para raios paraxiais, a e b são ambos pequenos em comparação com um radiano, logo, tanto a tangente quanto o seno são dados aproximadamente pêlos próprios ângulos Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 32 (medidos em radianos). Então a lei da refração pode ser escrita na forma: naa nbb Combinando a relação anterior com a primeira das equações, n b a nb Substituindo o valor de : na nb na nb Usando a aproximação tg = e desprezando a distância pequena : h h h ; ; s s R Substituindo, teremos: na nb nb na s s R Para obter a ampliação transversal, observemos a figura 19: Figura 19 - polida formando uma superfície hemisférica com raio R = 2.00 cm. (a) Calcule a distância da imagem formada por um pequeno objeto situado sobre o eixo da barra a uma distância de 8.00 cm à esquerda do vértice. (b) Determine a ampliação transversal. Figura 20 - 32 Solução: (a) Como: na = 1.00; nb = 1.52; R = 2.00cm e s = +8.00 cm: na nb nb na s s R 1.00 1.52 1.52 1.00 s 11.3cm 8.00 s 2.00 n s y (b) m a y nb s m 1.00 11.3 y 0.929 y 1.52 8.00 A imagem é invertida e ligeiramente menor que o objeto. Desenhamos dois raios a partir do ponto Q, um através do centro de curvatura C e outro incidente do vértice V, Pelos triângulos PQV e P´Q´V, obtemos: y y ~ tg a ; tgb s s Pela lei da refração: na sena nb senb Para ângulos pequenos: tga sena ; tgb senb n y n y Achamos: a b s s n s y Ou: m a y nb s (Ampliação transversal, superfície refratora esférica) Para uma superfície refratora plana, fazemos R = ; então: na nb 0 s s Exemplo 5 - Formação da imagem por refração I - Uma barra de vidro cilíndrica no ar é indicada na figura 20 e possui índice de refração igual a 1.52. Uma de suas extremidades foi cortada e Exemplo 6 - Formação da imagem por refração II - A barra de vidro do exemplo anterior é imersa na água. (índice de refração = 1.33). As demais grandezas permanecem com os mesmos valores. Calcule a distância da imagem e a ampliação transversal. Figura 20 - Solução: (a) Como: na = 1.33; nb = 1.52; R = 2.00cm e s = +8.00 cm: na nb nb na s s R 1.33 1.52 1.52 1.33 s 21.3cm 8.00 s 2.00 Como s´ é negativo, concluímos que, depois que os raios se refratam na superfície, eles não convergem, porém parecem divergir de Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 33 um ponto situado a 21.3 cm à esquerda do vértice. n s y (b) m a y nb s m 1.33 21.3 y 2.33 y 1.52 8.00 A imagem é direita e maior que o objeto. Exemplo 7 - Profundidade aparente em uma piscina.O proprietário de uma piscina sabe que a profundidade aparente é sempre menor que a real e deve identificar com clareza qual é a parte mais profunda para que uma pessoa que não sabe nadar não mergulhe na parte cuja profundidade seja maior que a da altura da pessoa. Se um freqüentador da piscina olha diretamente para a água na parte em que sua profundidade é igual a 2.00 m, qual é a profundidade aparente vista por essa pessoa? Figura 21 - A propriedade característica de uma lente do tipo indicado na Figura 35.25 é que lodo feixe paralelo ao eixo da lente que passa para o outro lado da lente converge para um ponto F, (Figura 22) e forma uma imagem real nesse ponto. Tal lente é chamada de lente convergente. Analogamente, os raios que emanam do ponto F emergem da lente formando um feixe paralelo (Figura 35.25b). O ponto F é chamado de primeiro foco o ponto F, é o secundo foco e a distância f (medida a partir do centro da lente) é chamada de distância focal. Observe a semelhança entre os dois focos de uma lente convergente e o foco de um espelho côncavo (Figura 22). De modo análogo ao espelho côncavo, a distância focal de uma lente convergente é definida como uma grandeza positiva e esse tipo de lente é também conhecido como lente positiva. Figura 22 - Solução: na nb 1.33 1.00 0 0 s 1.50m s s 2.00 s Lentes Delgadas O dispositivo ótico mais familiar e geralmente mais usado (depois do espelho plano) é a lente. Uma lente é um sistema ótico com duas superfícies refratoras. A lente mais simples possui duas superfícies esféricas suficientemente próximas para desprezarmos a distância entre elas (a espessura da lente): chamamos esse dispositivo de lente delgada. Se você usa óculos ou lentes de contato quando lê você está vendo estas palavras através de lentes delgadas. Podemos analisar com detalhes as lentes delgadas aplicando os resultados referentes à refração através de uma única superfície esférica. Contudo, faremos essa análise mais adiante visto que desejamos inicialmente descrever as propriedades das lentes delgadas. PROPRIEDADES DAS LENTES A linha horizontal central indicada na Figura 22 é chamada de eixo ótico, como no caso de um espelho esférico. Os centros de curvatura das duas superfícies esféricas definem o eixo ótico. As duas distâncias focais indicadas na Figura 22, ambas designadas por f possuem sempre o mesmo valor para uma lente delgada, mesmo quando as curvaturas das duas superfícies são diferentes. Mais adiante, quando deduzirmos nesta seção a relação que envolve f, o índice de refração da lente e os raios de curvatura das suas superfícies, mostrarão a validade do resultado anterior que parece surpreendente. Como no caso de um espelho côncavo, uma lente convergente pode formar a imagem 33 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 34 de um objeto estendido. Na Figura 23 indicamos como se determina a ampliação transversal e a posição da imagem produzida por uma lente delgada convergente. Usando a mesma notação e as mesmas regras de sinais anteriores, chamaremos de s a distância do objeto e de s' a distância da imagem; y é a altura do objeto e y' é a altura da imagem. O raio QA paralelo ao eixo ótico antes da refração, passa através do segundo foco F. O raio QOQ' passa através do centro da lente sem sofrer nenhum desvio porque (supomos) as duas superfícies estão muito próximas e são praticamente paralelas. Existe refração quando esse raio entra no material e quando sai dele, porém não existe variação apreciável da sua direção. Os dois ângulos indicados pela letra cena Figura 23 são iguais. Portanto, os dois triângulos retângulos PQO e P'Q'O' são semelhantes e as razões entre os lados correspondentes são iguais. Logo, y y y s ou s s y s (O sinal negativo indica que a imagem está abaixo do eixo ótico e y' é negativo.). Também os ângulos indicados pela letra β são iguais e os dois triângulos retângulos OAF e P'Q'F são semelhantes, logo, y y y s f ou f s f y f Igualando agora as equações, dividindo por s’ e reagrupando, obtemos 1 1 1 s s f (relação objeto-imagem, lente delgada). Essa análise também fornece a ampliação transversal m = y'/y para a lente; de acordo com a Equação s m s (ampliação transversal, lente delgada). Figura 23 - O sinal negativo mostra que, quando s e s' são ambos positivos, como na Figura 23, a imagem é invertida e y e y' possuem sinais opostos. As equações são fundamentais para as lentes delgadas. É com prazer que notamos que elas são exatamente iguais às correspondentes equações obtidas para espelhos esféricos. Como observamos as mesmas regras de sinais usadas para espelhos esféricos também são válidas para lentes delgadas. Em particular, considere uma lente com uma distância focal positiva (uma lente convergente). Quando um objeto está fora do primeiro foco F, dessa lente (ou seja, quando s > f), a distância da imagem s´ é positiva (ou seja, a imagem está do mesmo lado dos raios emergentes); essa imagem é real e invertida, como indica a Figura 23. Um objeto colocado entre o vértice e o primeiro foco de uma lente convergente, ou seja, s < f, produz uma imagem com valor de s' negativo; essa imagem está situada do mesmo lado da lente onde se encontra o objeto, ela é virtual, ereta e maior do que o objeto. Você pode comprovar essas afirmações algebricamente usando as equações anteriores; na próxima seção vamos verificá-las usando métodos gráficos semelhantes para espelhos. A Figura 24 mostra como uma lente forma uma imagem tridimensional de um objeto tridimensional. O ponto R está mais próximo da lente do que o ponto Q. De acordo com a Equação, a imagem puntiforme R' está mais afastada da lente do que a imagem puntiforme f e a imagem P'R' aponta no mesmo sentido do objeto PR. Figura 24 - 34 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 35 Note que as setas das imagens P'S' e P'Q' estão invertidas em relação aos objetos PS e PQ. Vamos comparar a Figura 24 com a Figura 12, que mostra a imagem formada por um espelho plano. Notamos que a imagem formada pela lente é invertida, porém não é reversa, ou seja, ela não está disposta de trás para frente ao longo do eixo ótico como no caso do espelho plano. Em outras palavras, se o objeto é a mão esquerda, sua imagem também é outra mão esquerda. Para verificar essa formação de imagens aponte seu polegar esquerdo ao longo de PR seu dedo indicador esquerdo ao longo de PQ e seu dedo médio esquerdo ao longo de PS. A seguir gire sua mão de 180° usando seu dedo polegar como eixo; essa rotação fará seus dedos coincidirem com os segmentos P'Q' e P'S'. Ou seja, dizemos que uma imagem invertida é aquela que se obtém mediante uma rotação de 180° em torno do eixo ótico da lente. Até o momento discutimos apenas lentes convergentes. A Figura 25 mostra uma lente divergente, um feixe de raios paralelos que incide sobre a lente diverge depois da refração. A distância focal de uma lente divergente é uma grandeza negativa e a lente também é chamada de lente negativa. Os focos de uma lente negativa estão em posições invertidas em relação aos focos de uma lente convergente. O segundo foco, F´ de uma lente divergente é o ponto a partir do qual os raios que estavam originalmente paralelos ao eixo parecem divergir depois da refração, como na Figura 25 (a). Os raios incidentes que convergem para o primeiro foco F1 como indicado na Figura 25 (b) emergem da lente formando um feixe paralelo a seu eixo. Figura 25 - As equações anteriores podem ser aplicadas para qualquer tipo de lente, tanto no caso de lentes positivas quanto para lentes negativas. Na Figura 26 mostramos diversos tipos de lentes convergentes e divergentes. Anote a seguinte observação importante: Qualquer lente que possua o centro mais grosso do que sua periferia é uma lente convergente com valor de f positivo; e qualquer lente que possua o centro mais fino do que sua periferia é uma lente divergente com valor de f negativo (desde que essas lentes estejam imersas em um material com índice de refração menor do que o índice de refração do material da lente). Podemos provar isso usando a equação do fabricante de lentes, cuja dedução será nossa próxima tarefa. Figura 26 - 35 EQUAÇÃO LENTES DO FABRICANTE DE Vamos agora deduzir a Equação com mais detalhes e ao mesmo tempo deduzir a equação do fabricante de lentes, que fornece uma relação entre a distância focal f, o índice de refração n do material da lente e os raios de curvatura R1 e R2 das superfícies da lente. Usamos o princípio de que a imagem formada por uma superfície refletora ou refratora pode servir de objeto para outra superfície refletora ou refratora. Começamos com o problema um pouco mais geral de duas interfaces esféricas separando três materiais com índices de refração na, nb e nc, como indicado na Figura 27. As distâncias do objeto e da imagem para a primeira superfície são, respectivamente, s1, e s1' e para a segunda superfície essas distâncias são s2, e s2'. Supomos que a lente seja delgada, de modo que a distância t entre as duas superfícies seja pequena em comparação com as distâncias do objeto e da imagem e que, portanto, f pode ser desprezada. Então s2 e s1' possuem o mesmo módulo, mas sinais contrários. Por exemplo, se a imagem se forma do lado dos raios emergentes da primeira superfície, s1' é positivo. Contudo, como essa imagem funciona como objeto para a segunda superfície, a primeira imagem não está do lado incidente dessa superfície. Logo, podemos dizer que s2 = -s1´. Precisamos usar duas vezes, para cada superfície separadamente, a fórmula da superfície única dada pela Equação. Obtemos as duas seguintes relações: na nb nb na s1 s1 R1 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 36 nb nc nc nb s2 s2 R2 Como a lente geralmente está imersa no ar ou no vácuo, para o primeiro material e para o terceiro material temos na = nc = 1. O segundo índice de refração nb é o da lente, que podemos simplesmente designar por n. Substituindo esses valores e a relação s2 = -s1´ obtemos: 1 1 n 1 s1 s1 R1 n 1 1 n s1 s2 R2 Para obter uma relação entre a posição inicial do objeto dada por .s', e a posição final da imagem s2´, somamos as duas equações anteriores. Com isso eliminamos o termo n/s1' e obtemos: 1 1 1 1 n 1 s1 s2 R1 R2 Finalmente, imaginando a lente como uma entidade única, chama a distância do objeto simplesmente de s, e a posição final da imagem, em vez s2', será simplesmente designada por s'. Fazendo essas substituições encontramos: 1 1 1 1 n 1 s s R1 R2 Vamos agora comparar o resultado anterior com a outra relação sobre lente delgada. Vemos que as distâncias s e s' aparecem nessas duas equações exatamente nas mesmas posições; portanto, a distância focal/pode ser determinada pela relação: 1 1 1 n 1 f R R 1 2 (equação do fabricante de lentes). A relação anterior é chamada de equação do fabricante de lentes. No processo da dedução de uma nova relação entre a distância do objeto, a distância da imagem e a distância focal de uma lente delgada, também deduzem uma relação para a distância focal da lente em função do índice de refração n da lente e dos raios de curvatura R1 e R2 das superfícies da lente. Essa relação pode ser usada para mostrar que todas as lentes indicadas na Figura 26 (a) são lentes convergentes com distâncias focais positivas e que todas as lentes indicadas na Figura 26 (b) são lentes divergentes com distâncias focais negativas. Podemos aplicar todas as regras de sinais nas equações. Por exemplo, na Figura 27 s, s' e R1 são positivos, porém R2 é negativo. Não é difícil generalizar a Equação para situações na qual a lente está imersa em um meio com índice de refração maior do que l. Desafiamos você a deduzir essa forma mais geral da equação do fabricante de lentes. Enfatizamos que a aproximação paraxial é na verdade apenas uma aproximação! Para uma lente esférica, os raios que formam ângulos suficientemente grandes com o eixo ótico não produzem o mesmo foco obtido pêlos raios paraxiais; trata-se do mesmo tipo de problema de aberração esférica que existe em espelhos esféricos. Para evitar essa e outras limitações das lentes esféricas delgadas, cm instrumentos óticos de precisão se usam lentes com outras formas geométricas mais complexas. Exemplo 8 - Determinação da distância focal de uma lente: (a) Suponha que os valores absolutos dos raios de curvatura das superfícies da lente indicada na Figura 27 sejam ambos iguais a 10 cm e que o índice de refração seja n = 1,52. Qual é a distância focal f da lente? (b) Suponha que os valores absolutos dos raios de curvatura das superfícies da lente indicada na Figura 25 sejam ambos iguais a 10 cm e que o índice de refração também seja n = 1.52. Qual é a distância focal da lente? SOLUÇÃO: (a) O centro de curvatura da primeira superfície está do mesmo lado dos raios emergentes, portanto R1 é positivo: R1 = +10 cm. O centro de curvatura da segunda superfície não está do mesmo lado dos raios emergentes, portanto R2 é negativo: R2 = -10 cm. De acordo com a equação do fabricante de lentes: 1 1 1 n 1 f R1 R2 1 1 1 1.52 1 f 10 10 f = 9.6 cm. Uma vez que f é positivo, trata-se de uma lente convergente (como era de esperar, porque a parte central da lente é mais grossa do que sua periferia). (b) O centro de curvatura da primeira superfície está do mesmo lado dos raios incidentes, portanto R1 é negativo; para a segunda superfície, o centro de curvatura está do mesmo lado dos raios emergentes, portanto R2 é positivo. Assim, R1 = -10 cm e R2 = +10 cm. Usando novamente a equação do fabricante de lentes: 1 1 1 1.52 1 f 10 10 f = -9.6 cm Uma vez que f é negativo, trata-se de uma lente divergente (como era de esperar, porque a parte central da lente é mais fina do que sua periferia). 36 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 37 MÉTODO GRÁFICO PARA LENTES Podemos determinar a posição e o tamanho da imagem formada por uma lente delgada mediante um método gráfico semelhante ao usado na seção para espelhos esféricos. Desenhamos novamente alguns raios especiais, chamados de raios principais, que divergem de um ponto do objeto que não esteja sobre o eixo ótico. A interseção desses raios, depois de eles ter passado através da lente, determina a posição e o tamanho da imagem. Ao usar o método gráfico, consideramos o desvio total do raio como se ele ocorresse em um plano vertical passando pelo centro da lente, como na Figura 27. Isso é consistente com a hipótese de que a distância entre as superfícies da lente é desprezível. Figura 27 - prolongamentos dos raios emergentes (Figura 27 (b)). ATENÇÃO: Lembre que qualquer raio que se origina do objeto e atinge a lente passará por algum ponto da imagem (no caso da imagem real) ou aparentemente se origina de um ponto da imagem (no caso da imagem virtual). Fizemos um comentário semelhante ao abordar a formação da imagem em espelhos. Enfatizamos apenas os raios principais porque eles são os únicos que você precisa desenhar para a determinação da imagem. 37 A Figura 28 ilustra diversos casos nos quais usamos os raios principais para a determinação da imagem para um objeto situado a diversas distâncias de uma lente convergente. Sugerimos que você estude esses diagramas muito cuidadosamente, comparando cada raio numerado com a descrição feita anteriormente. Figura 28 - Determinação da imagem em lente convergente. Os três raios principais cujas trajetórias podem ser facilmente traçadas para lentes são indicados na Figura 27: 1. Um raio paralelo ao eixo emerge da lente passando através do segundo foco F, de uma lente convergente ou parece emanar do segundo foco de uma lente divergente. 2. Um raio que passa através do centro da lente não sofre nenhum desvio apreciável; no centro da lente, as duas superfícies são paralelas; portanto o raio emergente entra e sai essencialmente na mesma direção. 3. Um raio que passa através do primeiro foco f, (ou cujo prolongamento o atinge) emerge paralelamente ao eixo ótico. Quando a imagem é real, a posição da imagem puntiforme é determinada pela interseção entre qualquer um dos três raios l, 2 e 3 (Figura 27 (a)). Quando a imagem é virtual, a posição da imagem é determinada pela interseção dos Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 38 É importante observar diversos pontos relacionados com a Figura 28. As partes (a), (b) e (c) dessa figura ajudam a explicar o que ocorre quando focalizamos a máquina fotográfica. Para que uma fotografia fique nítida, é necessário que a imagem focalizada pela lente se forme sobre o filme da máquina fotográfica. Quando um objeto se aproxima da máquina fotográfica, a distância entre a lente e a imagem real aumenta, de modo que o filme deve se afastar da lente (ou melhor, a lente deve se afastar do filme). Na Figura 28 (d) o objeto se encontra sobre o foco: nesse caso o raio 3 não e desenhado porque ele não passa através da lente. Parece que os raios que emergem paralelamente da lente são provenientes do infinito. Na Figura 28 (e) o objeto se encontra entre o foco e o vértice da lente, ou seja. a distância do objeto é menor do que a distância focal da lente. Os raios emergentes são divergentes c se forma uma imagem virtual: sua posição é determinada estendendo-se os raios emergentes para trás. Nesse caso. a distancia da imagem s' é negativa. Note também que a imagem é ereta e maior do que o objeto. (Uma lente convergente usada dessa maneira denomina-se lente de alimento ou lupa simples. A Figura 28 (f) mostra um objeto virtual. Os raios incidentes não divergem de um objeto real, porém seus prolongamentos convergem como se eles se encontrassem na extremidade de um objeto virtual O situado do lado direito da lente; agora a distância do objeto s é negativa. A imagem obtida é real, visto que a distância s' é positiva e está localizada entre a lente e o segundo foco. Essa situação pode surgir quando os raios que atingem a lente na Figura 28 (f) emergem de uma outra lente convergente (não indicada na figura) situada do lado direito da figura. O último exemplo desta seção envolve um objeto virtual. Estratégia para a Solução de Problemas 1. A estratégia recomendada pode também ser aplicada para lentes e sugerimos que você faça agora uma revisão daquela estratégia. Sempre comece com um diagrama dos raios principais quando as informações dadas permitirem. Oriente seu diagrama consistentemente fazendo os raios incidirem da esquerda para a direita. Para uma lente existem apenas três raios principais em comparação com os quatro raios principais de um espelho. Não faça apenas um esboço dos raios; desenhe os raios com uma régua, medindo cuidadosamente as distâncias. Desenhe-os como se eles se refratassem no plano vertical situado no centro da lente, como indicado na Figura 27. Certifique-se de ter usado todos os três raios quando as informações permitiram. Para identificar a imagem basta localizar a interseção de apenas dois raios principais; contudo, se o terceiro raio não passar pela mesmo ponto da interseção, provavelmente você cometeu um erro. Nesse caso, a redundância pode ajudar a descobrir erros. 2. Quando os raios principais não convergem para uma imagem puntiforme real a imagem é virtual. Você deve prolongar esses raios em linha reta para trás para achar o ponto de interseção da imagem virtual, que se encontra do lado mesmo lado da lente no qual os raios incidem. 3. As mesmas regras de sinais que usamos para espelhos e para uma única superfície refratora também são válidas para lentes delgadas. Tenha bastante cuidado ao aplicar essas regras e interprete os resultados corretamente. 4. Use sempre os dois métodos para determinar a posição e o tamanho da imagem, ou seja, o método gráfico deve ser confirmado pêlos cálculos. Essa é a melhor maneira de garantir a consistência dos resultados. 5. A imagem formada por um espelho ou por uma lente pode servir de objeto para outro dispositivo ótico. Nesse caso, determine cuidadosamente as distâncias do objeto e da imagem para essa imagem intermediária; certifique-se de ter incluído as distâncias entre os dois dispositivos (lentes e/ou espelhos) corretamente Exemplo 9 - Localização da imagem e ampliação usando uma lente convergente. Uma lente convergente possui distância tocai igual a 20 cm. Faça um gráfico para localizar a imagem para um objeto cuja distância ate a lente é de: (a) 50 cm; (b) 20 cm: (c) 15 cm; (d) -40 cm. 38 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 39 Determine a ampliação transversal cm cada caso. Confira os resultados calculando a posição da imagem c a ampliação a partir das equações dadas. SOLUÇÃO: Os diagramas dos raios principais apropriados são indicados nas figuras 28 (a), 28 (d), 28 (e) e 28 (f). A partir de medidas feitas nos gráficos, as distâncias são aproximadamente 35 cm, -∞. -40 cm e 15 cm, e as ampliações são, respectivamente: -2/3, +∞, +3 e +1/3. De acordo com a Equação: 1 1 1 s s f achamos os seguintes valores para as posições das imagens: 1 1 1 (a) s 33.3cm 50 s 20 1 1 1 (b) s 20 s 20 1 1 1 (c) s 60cm 15 s 20 1 1 1 (d) s 13.3cm 40 s 20 Os resultados obtidos graficamente são aproximadamente iguais aos obtidos por meio dos cálculos, exceto para o caso (c); a precisão do diagrama da Figura 28 (e) é limitada porque os raios que se estendem para trás possuem direções aproximadamente iguais. Observe que a distância s' é positiva para as imagens reais dos casos (a) e (d) é negativa para a imagem virtual do caso (c). De acordo com a Equação, as ampliações são: 33.3 2 (a) m m 50 3 (b) m m 20 60 (c) m m 4 15 13.3 1 (d) m m 40 3 Exemplo 10 - Formação da imagem usando uma lente divergente Você dispõe de uma lente delgada divergente e verifica que os raios paralelos incidentes são espalhados depois de passar pela lente, dando a impressão de que emanam de um ponto situado a uma distância de 20,0 cm do centro da lente. Você deseja usar essa lente para formar uma imagem virtual ereta com altura igual a 1/3 da altura do objeto. (a) Onde o objeto deve ser colocado? (b) Faça um diagrama dos raios principais. SOLUÇÃO (a) A informação sobre os raios paralelos incidentes mostra que a distância focal é f = -20,0 cm. Desejamos que a ampliação transversal seja igual a + 4 (o valor positivo foi usado porque o objetivo é que a imagem seja ereta.) De acordo com a Equação, m = + = -s'/s. portanto ,s' = s/3. De acordo com a Equação 1 1 1 s 40 s 40 s 13.3cm s s 3 20 3 3 A distância da imagem é negativa, portanto o objeto e a imagem estão do mesmo lado da lente. (b) A Figura 29 pode ser usada par fazer o diagrama solicitado, traçando os raios numerados de modo semelhante ao indicado na Figura 28. Figura 29 - Diagrama dos raios principais para a formação da imagem em uma lente delgada convergente. Exemplo 11 - Imagem de uma imagem. Um objeto com altura igual a 8,0 cm é colocado a 12,0 cm à esquerda de uma lente convergente com distância focal de 8,0 cm. Uma segunda lente convergente com distância focal de 6,0 cm é colocada a 36,0 cm à direita da primeira lente. Ambas as lentes possuem o mesmo eixo ótico. Determine a posição, o tamanho e a orientação da imagem final produzida por essa combinação de lentes. (Combinações de lentes convergentes são usadas em microscópios e telescópios,) SOLUÇÃO: A situação é ilustrada na Figura 30. Figura 30 - 39 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 40 O objeto O se encontra à esquerda do primeiro foco F, da primeira lente, de modo que essa lente produz uma imagem real I. Os raios luminosos que incidem sobre a segunda lente emanam dessa imagem como se a imagem I fosse um objeto material. Portanto, a imagem formada pela primeira lente serve como objeto da segunda lente. Na Figura 30 desenhamos os raios principais l, 2 e 3 a partir da extremidade superior da seta do objeto O para determinar a posição da primeira imagem I e desenhamos os raios principais l', 2' e 3' a partir da extremidade superior da seta da imagem para definir a posição da segunda imagem I' formada pela segunda lente (embora os raios 2' e 3' não possuam existência real no caso presente). Note que a imagem final sofreu duas inversões, uma em cada lente, de modo que a segunda imagem iI' possui a mesma orientação do objeto original. Para calcular a posição e o tamanho da segunda imagem I', inicialmente precisamos determinar a posição e o tamanho da primeira imagem I. Aplicando para a primeira lente a Equação: 1 1 1 s s f 1 1 1 s1' 24, 0cm 12 s1' 8 A primeira imagem I está a 24,0 cm à direita da primeira lente. A ampliação é dada por: m = -(24,0 cm)/( 12,0 cm) = -2.00 portanto a altura da imagem é: (-2.00)(8,0 cm) = -16,0 cm. Obtemos: A primeira imagem está a 36,0 cm - 24.0 cm = 12.0 cm à esquerda da segunda lente, de modo que a distância do objeto para a segunda lente é igual a +12.0 cm. Aplicando para a segunda lente a Equação (35.16), obtemos a posição da imagem final: A imagem final está a 12,0 cm à direita da segunda lente e a 48,0 cm à direita da primeira lente. A ampliação da imagem produzida pela segunda lente é dada por: m2 = -(12,0 cm)/( 12,0 cm) = -l .0. Portanto a altura da imagem final é exatamente a mesma altura da primeira imagem. Porém com orientação oposta. Esses resultados são também indicados pelo diagrama dos raios principais. Exemplo 12 - Imagem de uma imagem. Na situação descrita no exemplo anterior, a segunda lente é deslocada para uma distância de 12 cm à direita da primeira lente. Para essa nova configuração, determine a posição, o tamanho e a orientação da imagem final produzida pela combinação dessas duas lentes. Figura 31 - 1 1 1 1 1 1 s2 4, 0cm s s f 12 s2 6 Ampliação da segunda lente: 4 m m 5.33 12 Tamanho final da imagem: y my y 0.33 16 5.33cm Imagem invertida em relação ao objeto. 40 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 41 Instrumentos de Óptica Geométrica Introdução Nos capítulos precedentes aprendemos os fundamentos da formação de imagens usando espelhos e lentes. Agora aplicaremos essas idéias em alguns dispositivos óticos comuns e explicaremos como eles funcionam. Em que aspectos a máquina fotográfica é semelhante ao olho humano? Quais são as diferenças'? O que deve fazer um fotógrafo ou um operador de projetor de cinema para ajustar o "foco" do filme? Como pode uma particular combinação de duas lentes produzir um microscópio, porém outra combinação produzir um telescópio? As respostas a essas e outras perguntas podem ser dadas aplicandose os princípios básicos sobre espelhos e lentes que estudamos. O conceito de imagem que serviu de base para o entendimento dos dispositivos óticos simples, discutidos no Capítulo 35, desempenha papel igualmente importante na análise dos instrumentos de ótica. Continuamos a orientar nossa análise pelo modelo de raios luminosos, portanto este capítulo está enquadrado no estudo geral da ótica geométrica. possível. Para uma lente convergente, a distância da imagem aumenta quando a distância do objeto diminui. Portanto, para "focalizar" a máquina fotográfica, a lente deve ficar mais próxima do filme para um objeto distante e mais afastada do filme quando o objeto está próximo da máquina. Geralmente isso é feito fazendo-se girar uma montagem com rosca que aproxima ou afasta a lente. A escolha de uma distância focal/para uma dada máquina fotográfica depende do tamanho do filme e do ângulo de visão desejada. Na Figura 2 as três fotografias foram obtidas comum filme de 35 mm, usando a mesma máquina fotográfica e focalizando a mesma cena na mesma posição, porém empregando lentes com diferentes distâncias focais. Uma lente com distância focal muito grande, denominada lente telefoto, fornece um ângulo de visão pequeno e uma imagem grande de um objeto distante (tal como a estátua mostrada ma figura 2 (c)), a chamada lente grande angular é uma lente com distância focal pequena, que fornece um ângulo de visão grande e uma imagem pequena. CÀMERAS E PROJETORES A câmera e o projetor são exemplos de dispositivos óticos simples e muito usados na vida cotidiana. Eles aplicam princípios óticos semelhantes para realizar tarefas complementares. A câmera ou máquina fotográfica produz uma pequena imagem de um objeto, registrando-a em um filme. Esse filme pode, a seguir, ser usado como um objeto para um projetor que produz uma imagem ampliada desse objeto sobre uma tela. CÂMERAS Os elementos básicos de uma câmera ou máquina fotográfica são uma lente convergente, uma caixa hermética (a palavra "câmera" é de origem latina e significa "compartimento fechado"), um filme sensível à luz para registrar a imagem e um obturador combinado com um diafragma que serve de janela para que a luz penetre na câmara fechada e atinja a película durante um certo intervalo de tempo (Figura 1 (a). A lente forma sobre o filme uma imagem invertida real do objeto que está sendo fotografado. As lentes das máquinas fotográficas de boa qualidade possuem diversos elementos que são usados para corrigir diferentes aberrações, incluindo a dependência do índice de refração com o comprimento de onda e as limitações impostas pela aproximação paraxial. (As aberrações das lentes serão discutidas depois) Um modelo clássico de lentes para máquinas fotográficas é o dispositivo "Tessar" da marca registrada Zeiss indicado na Figura 1 (b). Quando a máquina fotográfica está corretamente focalizada, a posição do filme corresponde à posição da imagem real formada pela lente. A fotografia resultante será tão nítida quanto Figura 1 - Figura 2 - 41 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 42 Para entender esse comportamento, lembre que a distância focal fornece a distância entre a imagem e a lente quando o objeto está no infinito. Em geral, para qualquer distância do objeto, o uso de uma lente com distância focal maior fornece uma distância maior para a imagem. Isso também faz aumentar a altura da imagem; conforme vimos, a razão entre a altura da imagem y' e a altura do objeto y (a ampliação transversal) é igual ao módulo da razão entre a distância da imagem s' e a distância do objeto s. y s m y s Para uma lente com distância focal pequena, a razão s/s´ é pequena e um objeto distante fornece somente uma imagem pequena. Quando usamos uma lente com distância focal grande, a imagem desse mesmo objeto pode cobrir inteiramente a área do filme. Portanto quanto maior for a distância focal, menor será o ângulo de visão (Figura 2 (d)). O ângulo de visão pode ser aumentado simplesmente fazendo-se aumentar o tamanho do filme. Quando usamos uma máquina fotográfica com filme de 35 mm, para o qual a área da imagem é igual a 24 mm x 36 mm, uma lente com f = 50 mm fornece um ângulo de visão igual a 45°; a lente com esse ângulo de visão é chamada de lente "normal". Para uma máquina fotográfica que empregue uma lente com a mesma distância focal, porém com um filme de 60 mm x 70 mm, a lente funciona como uma grande angular com um ângulo de visão igual a 63°. A fim de que o filme registre uma imagem apropriadamente, a energia total da luz incidente que atinge o filme por unidade de área (a "exposição") deve ficar situada entre determinados limites. Isso é controlado pela velocidade do obturador e pela abertura do diafragma. O obturador controla o intervalo de tempo durante o qual a luz permanece sobre o filme. Esse tempo pode ser ajustado em intervalos com um fator igual a dois, geralmente desde l s até 1/1000 s. A intensidade da luz que atinge o filme é proporcional à área vista pela lente da máquina fotográfica e à área efetiva da lente. O tamanho da área que a lente "vê" é proporcional ao quadrado do ângulo de visão da lente e, portanto, ela é aproximadamente proporciona a l/f 2. A área efetiva da lente é controlada por meio do ajuste da abertura da lente, ou diafragma, um orifício aproximadamente circular com diâmetro variável D; portanto a área efetiva é proporcional a D2. Reunindo esses dois fatores, vemos que a intensidade da luz que atinge o filme com uma lente particular é proporcional a D2/f2. A capacidade da entrada de luz de uma lente é expressa pêlos fotógrafos em termos da razão f/D, chamada de número/da lente: f Distância focal D Diâmetro da abertura Por exemplo, dizemos que uma lente com distância focal f = 50 mm e um diâmetro de abertura D =25 mm possui um número/igual a 2, ou "uma abertura de f/2. A intensidade da luz que atinge o filme é inversamente proporcional ao quadrado do número. Para uma lente com diâmetro de abertura variável, quando este aumenta de um fator igual a 2 , o número/aumenta de 1 2 e a intensidade da luz que atinge o filme aumenta de um fator 2. As aberturas ajustáveis possuem geralmente uma escala com números sucessivos (chamada de escala do número/) relacionados por fatores de 2 , tais como: f/2, f/2.8, f/4, f/5.6, f/8, f/11, f/16, e assim por diante. Os números maiores correspondem a aberturas e exposições menores e cada ponto da escala corresponde a um fator igual a 2 na intensidade (veja a Figura 36.3). A exposição efetiva (quantidade total da luz que atinge o filme) é proporcional ao tempo de exposição e à área da abertura. Portanto, f/4 e 1/500s, f/5 e 1/250s, f/8 e 1/125s são pares de valores que correspondem à mesma exposição efetiva. Muitos fotógrafos usam a chamada lente zoom, um conjunto complexo de lentes que fornece uma distância focal que varia continuamente, em geral em um intervalo grande da ordem de 10 até l. As figuras 4 (a) e (b) mostram sistemas simples com distâncias focais variáveis e a Figura 4 (c) mostra uma lente zoom típica de uma máquina fotográfica de 35 mm. A lente zoom fornece um intervalo de imagens com diversas ampliações para um mesmo objeto. É um problema muito complexo nos projetos de ótica manter a imagem em foco e, ao mesmo tempo, um número/constante enquanto a distância focal varia. Ao variar a distância focal de uma lente zoom típica, dois conjuntos de elementos se movem no interior da lente e um diafragma abre e fecha. O sistema ótico empregado em uma câmara que produz imagens para a televisão é essencialmente análogo ao sistema ótico da máquina fotográfica. O filme é substituído por um sistema eletrônico que, no formato usado nos Estados Unidos, produz uma varredura da imagem com uma série de 525 linhas paralelas. O brilho da imagem ao longo dessas linhas é traduzido em impulsos elétricos que podem ser armazenados em fitas de vídeo ou então enviados por ondas eletromagnéticas com freqüências da ordem de 100 até 400 MHz. A cena inteira é varrida 30 vezes por segundo, de modo que são varridas 30 x 525 ou 15.750 Nf 42 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 43 linhas em cada segundo. Alguns receptores de TV emitem um som fraco com altura elevada para essa freqüência de varredura (duas oitavas acima do B mais elevado do piano). Figura 3 - carbono no caso de um projetor de cinema) passa através do filme e uma lente de projeção forma sobre uma tela uma imagem real, invertida e maior que o filme. Um espelho côncavo atrás da lâmpada também ajuda a direcionar a luz. As lentes do condensador devem ser suficientemente grandes para cobrir a área total do filme. A imagem formada sobre a tela é sempre real e invertida; por essa razão os diapositivos ou slides devem ser sempre colocados no interior do projetor em uma posição invertida. A posição e o tamanho da imagem projetada sobre a tela são determinados pela posição e pela distância focal da lente do projetor. Figura 4 - Figura 5 - Exemplo 1: Exposição de uma fotografia. Uma lente telefoto comum da máquina fotográfica de 35 mm possui uma distância focal igual a 200 mm e intervalos da escala f desde f/5.6 até f/745. (a) Qual é o intervalo de diâmetros das aberturas correspondentes? (b) Qual é o intervalo correspondente para a intensidade da imagem no filme? SOLUÇÃO: (a) De acordo com a Equação: o intervalo de diâmetros é dado por: f 200 D 36mm Nf 5.6 f 200 D 4.4mm Nf 45 (b) Como a intensidade é proporcional ao quadrado do diâmetro, a razão entre a intensidade para f/5.6 e para f/45 é: 2 36 65 4.4 Caso o tempo de exposição correio para f/5.6 seja igual a 1/1000 s, então para f/45 ele será dado por: (65)(1/1000s) = 1/15s. PROJETORES Um projetor é um dispositivo usado para ver diapositivos ou filmes de cinema e seu funcionamento equivale ao inverso da máquina fotográfica. Seus elementos essenciais são indicados na Figura 5. A luz proveniente de uma fonte (uma lâmpada incandescente ou uma lâmpada de arco de Os retroprojetores usados nas salas de aula apresentam um esquema semelhante para projetar uma imagem sobre uma tela, porém existem duas diferenças importantes (Figura 6 (a)). Depois de a luz sair da lente do projetor, um espelho plano inclinado reflete e inverte a imagem de modo que ela possa ser vista sobre a tela com a orientação correta. Além disso, a luz proveniente da lâmpada é direcionada para a lente do projetor por um dispositivo de plástico transparente sobre o qual colocamos a transparência que desejamos projetar. Esse dispositivo de plástico é um exemplo de lente de Fresnel. Todas as lentes que descrevemos até o momento funcionam com a refração que se dá em suas superfícies, nenhuma refração ocorre no interior da lente. Se eliminássemos uma parte do material do interior da lente, poderíamos reduzir sensivelmente o peso de uma lente grande. É exatamente isso que a lente de Fresnel faz (Figura 6 (b)). Cada segmento circular copia o contorno circular correspondente de uma lente 43 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 44 comum. Você pode ver esses segmentos examinando a superfície do retroprojetor onde apoiamos a transparência. As lentes de Fresnel geralmente não possuem qualidade muito boa, mas são leves e custam pouco, levando em consideração seu tamanho. Elas lambem são usadas em sinais de trânsitos luminosos, em coletores de luz, em. células solares, em lupas planas de bolso, em lâmpadas para iluminação e em muitos outros dispositivos. Figura 7 - Figura 6 - 44 Exemplo 2 - Um projetor de diapositivo A área de um diapositivo colorido comum de 35 mm é igual a 24 mm x 36 mm. Qual é a distância focal da lente do projetor necessária para que uma imagem de l,2 m x l ,8 m se forme sobre uma tela situada a 5,0 m da lente? SOLUÇÃO: Precisamos de uma ampliação transversal com módulo dado por (l ,2 m)/(24 mm) = 50. De acordo com a Equação (35.17), a razão s'ls também deve ser igual a 50. (A imagem é real, de modo que s' é positivo.) Sabemos que s' = 5,0 m. Logo, s = (5,0 m)/50 = 0,10 m. Então, de acordo com a Equação (35.16). 1 1 1 1 1 1 f 98mm s s f f 0.1 5 Uma distância focal comum para um projetor de diapositivos doméstico é igual a 100 mm; esse tipo de lente é fácil de encontrar e poderia ser uma escolha apropriada para essa situação. Diversos projetores são equipados com lentes do tipo zoom a fim de possibilitar um dado intervalo para os tamanhos da imagem e de permitir o uso de diferentes distâncias entre o projetor e a tela. O OLHO O comportamento ótico do olho é semelhante ao da máquina fotográfica. As partes essenciais do olho humano, considerado um sistema ótico, são indicadas na Figura 7. A forma do olho é quase esférica, com diâmetro aproximadamente igual a 2,5 cm. A parte frontal é ligeiramente mais encurvada e é recoberta por uma membrana dura e transparente, a córnea. A região atrás da córnea contém um líquido chamado de humor aquoso. A seguir vem o cristalino, uma lente em forma de cápsula com uma gelatina fibrosa dura no centro e progressivamente mais macia à medida que se aproxima de sua periferia. A lente do cristalino é sustentada por ligações com o músculo ciliar, localizado em sua periferia. Atrás dessa lente, o olho está cheio de um líquido gelatinoso chamado de humor vítreo. Os índices de refração do humor vítreo e do humor aquoso são ambos aproximadamente iguais a 1.336, valor quase igual ao índice de refração da água. O cristalino, apesar de não ser homogêneo, possui um índice de refração de 1.437. Esse valor não é muito diferente do índice de refração do humor vítreo e do humor aquoso: a maior parte da refração da luz que chega ao olho ocorre na superfície externa da córnea. A refração na córnea e nas superfícies da lente produz uma imagem real do objeto que está sendo observado. A imagem é formada sobre a retina, uma membrana sensível à luz situada junto da superfície interna da parte traseira do olho. A retina desempenha o mesmo papel do filme na Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 45 máquina fotográfica. Os cones e os bastonetes existentes na retina agem como minúsculas fotocélulas, que captam a imagem e transmitem os impulsos através do nervo ótico para o cérebro. A visão é mais precisa em uma pequena região central chamada fóvea central, com diâmetro aproximado de 0,25 mm. A íris se localiza na parte dianteira do cristalino. Ela contém uma abertura com diâmetro variável denominada pupila que se abre ou se fecha para adaptar a entrada da luz de acordo com a variação da luminosidade. Os receptores da retina também possuem mecanismos de adaptação da intensidade. Para que um objeto seja visto com bastante nitidez, a imagem deve ser formada exata-mente sobre a retina. O olho se ajusta para diferentes distâncias s do objeto, fazendo alterações na distância focal/de sua lente; a distância s' entre a lente e a retina não varia. (Compare com a máquina fotográfica, na qual a distância focal é fixa, porém a distância entre o filme e a lente varia.) Para um olho normal, um objeto no infinito é focalizado quando o músculo ciliar está relaxado. Para produzir uma imagem bem focalizada sobre a retina de um objeto próximo, a tensão no músculo ciliar que envolve o cristalino aumenta, o músculo ciliar se contrai e o cristalino fica mais grosso na parte central fazendo diminuir os raios de curvatura de suas superfícies; logo, a distância focal diminui. Esse processo é chamado de acomodação. contrair uma lente maior. Por essa razão, a distância do ponto próximo aumenta à medida que a pessoa envelhece. Esse aumento da distância do ponto próximo recebe o nome popular de vista cansada e o nome científico de presbiopia. Na Tabela 36. l mostramos alguns valores aproximados da posição do ponto próximo para o olho normal de uma pessoa comum em diversas idades. Por exemplo, uma pessoa com 50 anos não consegue focalizar com nitidez nenhum objeto que esteja a uma distância aproximadamente menor do que 40 cm Figura 8 - Tabela 1 VARIAÇÃO DO PONTO PRÓXIMO SEGUNDO A IDADE Idade (anos) 10 20 30 40 50 60 Ponto próximo (cm) 7 10 14 22 40 200 Os extremos do intervalo para o qual a visão distinta é possível são chamados de ponto próximo e de. ponto distante. O ponto distante de um olho normal se encontra no infinito. A posição do ponto próximo depende da capacidade do músculo ciliar de reduzir o raio de curvatura do cristalino. O intervalo de acomodação diminui gradualmente à medida que a pessoa envelhece, pois o cristalino aumenta durante a vida (para uma idade de 60 anos ele é 50% maior do que aos 20 anos) e os músculos ciliares tomam-se menos capazes de Diversos defeitos comuns da visão resultam de relações incorretas entre distâncias que ocorrem no olho. Um olho normal forma sobre a retina uma imagem de um objeto que se encontra no infinito quando o olho está relaxado (Figura 8 (a)). No olho míope, o globo ocular é muito alongado em comparação com o raio de curvatura da córnea (ou a córnea é encurvada muito fortemente) e os raios de um objeto situado no infinito são focalizados antes da retina (Figura 8 (b)). Logo, a maior distância para a qual um objeto forma uma imagem sobre a retina está em um ponto mais próximo do que no caso do olho normal. No olho hipermétrope, o globo ocular é muito curto ou a córnea não é suficientemente encurvada, e, assim, os raios de 45 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 46 um objeto situado no infinito são focalizados atrás da retina (Figura8 (c)). O olho míope produz uma convergência demasiadamente grande dos raios paralelos e forma uma imagem antes da retina; o olho hipermétrope produz uma convergência insuficiente e forma uma imagem depois da retina. No astigmatismo a superfície da córnea não é esférica, porém é mais encurvada em um dado plano do que em outro. Por causa disso, uma reta vertical pode formar uma imagem em um plano diferente do plano formado pela imagem de uma reta horizontal (Figura 9). O astigmatismo pode tornar impossível, por exemplo, a focalização simultânea das barras verticais e horizontais de uma janela. Figura 11 - Figura 12 - Figura 9 - Todos esses defeitos podem ser corrigidos mediante o uso de lentes corretoras (óculos ou lentes de contato). O ponto próximo de um olho com miopia ou presbiopia está mais longe do que o ponto próximo de um olho normal. Para ver nitidamente um objeto situado na distância normal de leitura (geralmente em torno de 25 cm), é necessário o uso de uma lente que forme uma imagem situada sobre o ponto próximo ou depois dele. Isso pode ser conseguido com uma lente convergente (positiva), como indicado na Figura 10. Na verdade, a lente faz o objeto se deslocar para uma distância mais afastada do olho para que a imagem seja focalizada sobre a retina. Analogamente, a correção da miopia é obtida usando-se uma lente divergente (negativa) para fazer o objeto se deslocar para uma distância mais próxima do olho do que a distância real do objeto, como indicado na Figura 11. Figura 10 - O astigmatismo é corrigido pelo uso de uma lente com superfície cilíndrica. Por exemplo, suponha que a curvatura da córnea em um plano horizontal seja correia e focalize sobre a retina raios provenientes do infinito, porém que sua curvatura em um plano vertical seja tão grande que a focalização ocorra antes da retina. Quando uma lente cilíndrica divergente com eixo horizontal é colocada antes do olho, os raios no plano horizontal não sofrem nenhuma modificação, mas a divergência adicional dos raios no plano vertical faz com que esses raios sejam focalizados sobre a retina, como se vê na Figura 12. As lentes corretivas são geralmente descritas em termos da potência, definida como o inverso da distância focal expressa em metros. A unidade de potência é a dioptria. Portanto, uma lente com f'= 0,50 m possui uma potência igual a 2,0 dioptrias, f= -0,25 m corresponde a uma potência igual a -4,0 dioptrias, e assim por diante. Os números em uma receita de óculos geralmente referem-se a potências expressas em dioptrias. Quando o defeito envolve simultaneamente astigmatismo e miopia ou hipermetropia, existem três números: um para a potência da lente esférica, um para a potência da lente cilíndrica e um ângulo para descrever a orientação da lente cilíndrica corretora. 46 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 47 Exemplo 3 - Correção da hipermetropia. O ponto próximo de certo olho hipermétrope está a 100 cm em frente ao olho. Para ver com nitidez um objeto situado a uma distância de 25 cm do olho. qual é a lente de contato necessária? SOLUÇÃO: Desejamos que a lente forme uma imagem virtual do objeto em um local correspondente ao ponto próximo do olho a uma distância de 100 cm do olho. Ou seja, quando s = 25 cm, s' tem de ser igual a -100 cm. De acordo com a equação das lentes delgadas. 1 1 1 1 1 1 f 33cm s s f f 25 100 Necessitamos de uma lente convergente com distância focal f = 33 cm. A potência correspondente é l/(0.33m), ou +3,0 dioptrias. Exige o uso de uma lente convergente (distância focal positiva), portanto devemos empregar uma lente biconvexa. Exemplo 4 - Correção da miopia. O ponto distante de um certo olho míope está a 50 cm em frente ao olho. Para ver com nitidez um objeto situado no infinito, qual é a lente necessária para os óculos de correção? Suponha que a lente seja usada a uma distância de 2.0 cm do olho. SOLUÇÃO: O ponto distante de um olho míope está mais próximo do que o infinito. Para ver com nitidez objetos mais afastados do que o ponto distante desse olho, é necessário que a imagem virtual do objeto se forme a uma distância que não seja maior do que o ponto afastado. Suponha que a imagem virtual de um objeto no infinito seja formada sobre o ponto afastado, a 50 cm do olho e a 48 cm da lente dos óculos. Ou seja, quando s = °°, desejamos que s' seja igual a -48 cm. De acordo com : 1 1 1 1 1 1 f 48cm s s f f 48 Necessitamos de uma lente divergente com distância focal -48 cm = -0,48 m. A potência correspondente é igual a -2,1 dioptrias. Você é capaz de verificar se, caso fosse usada lente de confeito, em vez de óculos, f seria igual a -50 cm? A LUPA O tamanho aparente de um objeto é determinado pelo tamanho da imagem sobre a retina. Se o olho não possui nenhuma lente adicional, o tamanho depende do ângulo 6 subtendido pelo objeto no olho, grandeza chamada de tamanho angular (Figura 13 (a)). Para observar um objeto pequeno, tal como um inseto ou um cristal, você deve colocá-lo mais próximo do olho, de modo que a imagem sobre a retina e o ângulo subtendido possuam o maior valor possível. Contudo, o olho não pode focalizar com nitidez objetos que estejam mais próximos do que o ponto próximo, de modo que o tamanho de um objeto é máximo (ou seja, ele subtende o ângulo máximo) quando é colocado sobre o ponto próximo. Nas discussões apresentadas a seguir, vamos supor que o ponto próximo de um observador médio esteja situado a 25 cm de distância do olho. Uma lente convergente pode servir para formar uma imagem virtual maior e mais afastada do que o próprio objeto, como indicado na Figura 36.13b. Portanto, usando essa lente, o objeto pode se deslocar para uma distância mais próxima do olho e o tamanho angular da imagem pode ser muito maior do que o tamanho angular do objeto a uma distância de 25 cm sem o uso da lente. Uma lente empregada dessa maneira é chamada de lupa, também conhecida como lente de aumento ou lupa simples. A imagem virtual é vista com mais conforto quando colocada no infinito, para que o músculo ciliar não fique contraído; nas discussões apresentadas a seguir vamos supor que isso ocorra. Na Figura 13 (a) o objeto está sobre o ponto próximo, onde ele subtende um ângulo no olho. Na Figura 13 (b) uma lupa colocada em frente ao olho forma uma imagem no infinito e o ângulo subtendido com auxílio da lupa é '. A medida da ampliação fornecida pela lente é dada pela razão entre o ângulo '(com a lupa) e o ângulo (sem a lupa). Essa razão é chamada de ampliação angular M: M (ampliação angular). ATENÇÃO: Não confunda a ampliação angular M com a ampliação transversal m. A ampliação angular é a razão entre o tamanho angular da imagem e o tamanho angular do objeto correspondente; a ampliação transversal fornece a razão entre a altura da imagem e a altura do objeto correspondente. Para a situação indicada na Figura 13 (b), a ampliação angular é aproximadamente igual a 3x, visto que a imagem da formiga subtende um ângulo cerca de três vezes maior que o ângulo subtendido pela formiga na Figura 13 (a); portanto o olho tem a impressão de ver a formiga três vezes maior. A ampliação transversal m = -s'/s na Figura 13 (b) é infinita porque a imagem se forma no infinito; contudo isso não significa que o objeto aparente um tamanho infinito quando 47 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 48 observado através da lupa! (Foi por essa razão que não desenhamos uma formiga infinitamente grande na Figura 13 (b).) Ao estudarmos uma lupa, a ampliação angular M é um conceito útil, porém a ampliação transversal m não é. é usado um microscópio composto, que será discutido na próxima seção. Exemplo 5 - Dispomos de duas lentes de plástico, uma biconvexa e a outra bicôncava, cada uma delas com distância focal com valor absoluto igual a 10.0 cm. (a) Qual das duas lentes pode ser usada como uma lupa? (b) Qual é a ampliação angular? SOLUÇÃO: (a) A formação da imagem virtual indicada na 25 M 2.5 10 O MICROSCÓPIO Para calcularmos o valor de M, inicialmente supomos que os ângulos sejam suficientemente pequenos para que cada ângulo (em radiano) seja igual a sua tangente ou a seu seno. Usando a Figura 13 (a) e desenhando o raio na Figura 13 (b) que passa através do centro da lente sem sofrer desvio, verificamos que os ângulos e ' são dados por: y y 25 f Combinando essas relações, obtemos: y f 25 M y 25 f (ampliação angular para uma lupa) A fórmula obtida sugere que seria possível conseguir uma ampliação angular tão elevada que fizesse diminuir a distância focal f. Contudo, as aberrações de uma lente biconvexa simples (que serão discutidas) impõem um limite prático para M aproximadamente igual a 3x ou 4x. Caso essas aberrações possam ser corrigidas, a ampliação angular pode chegar até 20x. Se o objetivo são ampliações angulares maiores do que esta, em geral Se necessitamos de uma ampliação angular maior do que a que pode ser obtida com uma lupa simples, devemos usar um microscópio, algumas vezes denominado de microscópio composto. Os elementos essenciais de um microscópio são indicados na Figura 14. Para analisarmos esse sistema, tomamos como base o princípio de que a imagem formada por um elemento ótico tal como uma lente ou um espelho pode servir de objeto para um segundo elemento ótico. Já utilizamos esse princípio ao deduzirmos a equação das lentes delgadas aplicando duas vezes seguidas a equação da refração nas duas superfícies da lente; usamos novamente esse princípio nos exemplos, para os quais a imagem formada por uma lente servia de objeto para uma segunda lente. Figura 14 - 48 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 49 O objeto O é colocado em um ponto ligeiramente para fora do primeiro foco F, da objetiva, uma lente convergente que forma uma imagem I real e maior do que o objeto (Figura 14 (b)). Em um instrumento projetado adequadamente, essa imagem se forma entre o foco F,' e o vértice de uma segunda lente convergente, chamada de ocular, em um ponto quase sobre seu foco. (Deixamos para você explicar a razão pela qual essa imagem deve ser formada na parte interna do foco quase sobre F1'.) A ocular funciona como uma lupa simples, conforme discutido, e forma uma imagem virtual final I' do objeto O. A posição da imagem I' pode estar situada entre o ponto próximo e o ponto distante do olho. Tanto a lente ocular quanto a objetiva de um microscópio são lentes compostas altamente corrigidas, com diversos elementos óticos; contudo, por simplicidade, cada uma dessas lentes é indicada aqui como uma única lente delgada simples. Analogamente ao caso da lupa, o que importa para um microscópio é sua ampliação angular M. A ampliação angular total de um microscópio composto é o produto de dois fatores. O primeiro fator é a ampliação transversal m1, da objetiva, que determina o tamanho linear da imagem real I; o segundo é a ampliação angular M2 da ocular, que relaciona o tamanho angular da imagem virtual vista através da ocular com o tamanho que a imagem real I teria se ela fosse vista sem a ocular. O primeiro fator é dado por: s m1 1 s1 Onde s1, é a distância do objeto e s´1 é a distância da imagem para a lente objetiva. Em geral, o objeto está muito próximo do foco, de modo que a distância da imagem s1´ é muito grande em comparação com a distância focal f1 da lente objetiva. Logo s'1 é aproximadamente igual a/i e podemos escrever: s m1 1 f1 A imagem real I está próxima do foco F1' da ocular, de modo que, para calcular a ampliação angular da ocular, podemos usar a Equação: M 2 25 f 2 onde f2, é a distância focal da ocular (tomada como uma lente simples). A ampliação angular total M de um microscópio composto (com exceção de um sinal negativo que se costuma ignorar) é o produto das duas ampliações mencionadas: 25s1 M m1 M 2 f1 f 2 (ampliação angular de um microscópio) onde s1´, f1 e f2 são grandezas medidas em centímetros. A imagem final é invertida em relação ao objeto. Os fabricantes de microscópios geralmente especificam os valores de m1, e de M2 para os componentes do microscópio em vez de especificar as distâncias focais da objetiva e da ocular. A Equação mostra que a ampliação angular de um microscópio pode ser aumentada usando-se uma objetiva com uma distância focal f1, pequena, fazendo-se aumentar o valor de m1 e o tamanho da imagem real I. Muitos microscópios óticos possuem uma "torre‖ giratória com três ou mais objetivas com diferentes distâncias focais para que o mesmo objeto possa ser visto com diferentes ampliações. A ocular também deve possuir uma distância focal f2; pequena para se obter o valor máximo de M. TELESCÓPIOS O sistema ótico de um telescópio é semelhante ao de um microscópico composto. Eu ambos, a imagem formada pela objetiva é vista através de uma ocular. A diferença essencial é que o telescópio é usado para ver objetos grandes situados em distâncias grandes e o microscópico é usado para ver objetos pequenos situados muito próximos de nós. Outra diferença é que muitos telescópios usam como objetiva um espelho curvo e não uma lente Na Figura 15 mostramos um telescópio astronômico. Como esse telescópio usa uma lente como objetiva, ele é chamado de telescópio de refração ou telescópio refrator. A lente objetiva forma uma imagem real reduzida I do objeto. Essa imagem é o objeto para a lente ocular, que por sua vez forma uma imagem virtual ampliada de I. Os objetos que são visto com um telescópio quase sempre estão tão afastados do instrumento que a primeira imagem I se forma aproximadamente sobre o segundo foco da lente objetiva. Se a imagem final I’ formada pela ocular está no infinito (para a visão mais confortável de um olho normal), primeira imagem deve se formar sobre o foco da ocular. A distância entre a objetiva e a ocular, que é igual ao comprimento do telescópio, é portanto a soma f1+f2, das distâncias focais, da objetiva e da ocular. A ampliação angular M de um telescópio é definida como a razão entre o ângulo subtendido pela imagem final I' no olho e o ângulo subtendido pelo objeto quando visto a olho nu. Podemos expressar essa razão em termos das distâncias focais da objetiva e da ocular. O objeto (não-indicado) subtende um ângulo na 49 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 50 objetiva e deve subentende também essencialmente o mesmo ângulo quando a observação é feita a olho nu. Além disso, visto que ( olho do observador se encontra imediatamente à direita do foco F2', o ângulo subtendido no olho pela imagem final é aproximadamente igual ao ângulo ’. Como bd é paralelo ao eixo ótico, a distância ab é igual a cd e é também igual à altura y’da imagem real I. obtida por meio de prismas de Porro, constituído por um par de prismas com faces a 45°-45°-90° que produzem reflexão total. Eles são inseridos entre a objetiva e a ocular conforme indicado na Figura 16. Figura 16 - Inversão da imagem obtida com dois prismas de um binóculo. Figura 15 - 50 Como os ângulos e ' são pequenos, eles podem ser aproximados pelas respectivas tangentes. Pelos triângulos retângulos F1ab e F2'cd, obtemos: y y f1 f2 A ampliação angular M de um telescópio é dada pela razão entre a distância focal à objetiva e a distância focal da ocular. O sinal negativo mostra que a imagem final é invertida. A Equação mostra que, para obter uma ampliação angular grande, um telescópio deve possuir uma objetiva com distância focal F1 grande. Em contraste, vimos que um microscópico precisa de uma objetiva com uma distância focal pequena. Contudo, um telescópio que possua uma objetiva com uma distância focal grande deve também ter um diâmetro D grande para que o número, dado por f1/D, na seja muito grande; como dissemos, um número grande significa um imagem sem brilho, com pouca intensidade. Normalmente um telescópio não possui muitas objetivas para serem trocadas; em vez disso, a variação da ampliação angular obtida fazendo-se variar as lentes da ocular com diferentes valores da distância focal f2. Analogamente ao caso do microscópico, valores pequenos de f2 fornecem ampliações angulares maiores. Uma imagem invertida não oferece nenhuma desvantagem para uma observação astronômica. Contudo, quando usamos um telescópio ou um binóculo para observar um objeto na Terra, desejamos que a imagem não seja invertida. A inversão da imagem em um binóculo com prismas é A imagem é invertida pelas quatro inversões internas que ocorrem nas faces do prisma adjacentes ao ângulo de 45°. Os prismas também servem para inverter a trajetória dos raios, diminuindo o tamanho do instrumento e tomando-o mais compacto. Os binóculos geralmente são especificados por dois números separados pelo sinal de multiplicação, tal como 7 x 50. O primeiro número indica a ampliação angular M e o segundo revela o diâmetro da lente objetiva (em milímetros). O diâmetro serve para determinar a capacidade da entrada de luz através da objetiva e, portanto, indica o brilho da imagem. No telescópio refletor (Figura 17), a lente objetiva é substituída por um espelho côncavo. Para um telescópio de grandes dimensões, esse esquema apresenta muitas vantagens teóricas e práticas. Um espelho não apresenta inerentemente nenhuma aberração cromática (dependência da distância focal com o comprimento de onda) e as aberrações esféricas (associadas com a aproximação paraxial) são mais fáceis de corrigir do que no caso de lentes. A superfície refletora é muitas vezes parabólica em vez de esférica. O material do espelho não tem de ser transparente e pode ser mais rígido do que no caso de uma lente, que só pode ser suportada em sua periferia. Figura 17 - Sistema ótico de um telescópio refletor. (a) O primeiro foco; (b) o foco newtoniano (um esquema inventado por Isaac Newton): (c) o foco de Cassegrain. Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 51 (d) (e) Hubble. Os maiores telescópios refletores existentes no mundo ate o momento são os telescópio,' Keck, no cume da montanha Mauna Kea, no Havaí; cada um deles possui um espelho com diâmetro total de 10 m montado com 36 elementos refletores hexagonais. Lentes com dia metros superiores a l m geralmente não são práticas. Como a imagem é formada em uma região atravessada pêlos raios incidentes, ela só pode ser observada bloqueando-se uma parte desses raios (Figura 17 (a)); isso só é prático quando o telescópio é muito grande. Esquemas alternativos usam um segundo espelhos para refletir a imagem para a parte lateral ou então apresentam um orifício na região central do espelho, como indicado nas figuras 17 (b) e 17 (c). Quando um telescópio é usado par fazer uma fotografia, a ocular é removida e no local onde se forma a imagem real da objetiva coloca-se um filme ou um detector. (Algumas "lentes" com distâncias focais muito grande empregadas em fotografia são na realidade telescópios refletores.) Quase todos os telescópio refletores usados em pesquisas astronômicas nunca empregam oculares. A grande importância do Telescópio Espacial Hubble (nome dado em homenagem ao astrônomo norte-americano Edwin Powell Hubble que viveu de 1889 a 1953) está no fato de ele estar colocado no espaço, fora da atmosfera da Terra. A luz dos astros para chegar a ele não precisa passar por nossa atmosfera. Toda informação que obtemos de um astro está na luz que vem deles. A atmosfera sempre "some" com parte dessa informação e é por isso que os observatórios astronômicos profissionais sempre são construídos em locais bem altos. Mesmo assim um telescópio "de solo" somente conseguirá momentaneamente uma resolução de imagem superior a 1,0 segundo de arco, isso em condições atmosféricas extremamente adequadas à observação. Com essa resolução somos capazes de ver uma bola de futebol a 51,5 km de distância. A resolução do Hubble é cerca de 10 vezes melhor, ou seja, de 0,1 segundo de arco. Com essa resolução e com a ajuda de técnicas de reduções fotográficas feitas por computador, podemos distinguir separadamente objetos suficientemente brilhantes a até menos de dois metros de distância um do outro, como os dois faróis de um carro que estivesse na Lua. A "potência" de um telescópio está na quantidade de luz que ele pode receber instantaneamente de um objeto. Quanto maior o diâmetro de um telescópio, maior a sua "potência". O Hubble é um telescópio refletor (seu elemento óptico principal é um espelho) com 2,40 metros de diâmetro. Se fosse um telescópio de solo ele seria considerado de porte médio. (Os 2 maiores telescópios do mundo estão no observatório de Mauna Kea no Havaí e têm 10 metros de diâmetro cada. Existem 28 51 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 52 telescópios maiores que o Hubble, espalhados pelo mundo, em funcionamento.) Mais que um telescópio, o Hubble é um verdadeiro observatório espacial, contendo instrumentação necessária a vários tipos de observação. (Contém 3 câmeras, 1 detector astrométrico e 2 espectrógrafos). Além de fotografar os objetos e medir com grande precisão suas posições, o Hubble é capaz de "dissecar" em detalhes a luz que vem deles. O Hubble está em uma órbita baixa, a 600 km da superfície da Terra e gasta apenas 95 minutos para dar uma volta completa em torno de nosso planeta. A energia necessária para o seu funcionamento é coletada por 2 painéis solares de 2,4 x 12,1 metros cada. A sua massa é de 11.600 kg. Os objetivos do Hubble podem ser resumidos como sendo: Investigar corpos celestes pelo estudo de suas composições, características físicas e dinâmica; Observar a estrutura de estrelas e galáxias e estudar suas formação e evolução; Estudar a história e evolução do universo. Para atingir seus objetivos a pesquisa do Hubble é dividida em Galáxias e Aglomerados; Meio Interestelar; Quasares e Núcleos Ativos de Galáxias; Astrofísica Estelar; Populações Estelares e Sistema Solar. Por essa razão, a imagem formada por esses raios nunca é perfeitamente nítida. A aberração esférica consiste na impossibilidade de um objeto puntiforme situado sobre o eixo da lente convergir para uma imagem puntiforme. Em vez disso, os raios convergem para uma região no interior de um círculo que possui um raio mínimo, chamado de círculo de confusão mínima, e a seguir divergem novamente, como indicado na Figura 18. As aberrações correspondentes para um objeto situado fora do eixo ótico produzem imagens em forma de cone em vez de círculos; esse efeito é chamado de coma. Note que, à medida que diminui a abertura efetiva da lente (veja a Figura 36. l a), os raios que formam ângulos grandes são cortados e portanto as aberrações esféricas diminuem. Figura 18 - (http://www.observatorio.ufmg.br/hubble.htm) ABERRAÇÕES DAS LENTES Uma aberração é qualquer comportamento de um espelho ou uma lente que não seguem as fórmulas que deduzimos anteriormente. Existem basicamente dois tipos de aberrações: aberração cromática, que envolve a dependência da imagem com o comprimento de onda; aberração monocromática, que ocorre mesmo no caso de a luz incidente ser monocromática (luz com um único comprimento de onda). As aberrações das lentes não são produzidas por um defeito de fabricação, tal como uma irregularidade em sua superfície, ma decorrem inevitavelmente das leis da refração em superfícies esféricas. Todas as aberrações monocromáticas são associadas com a aproximação paraxial. Todas as deduções que fizemos sobre objetos, imagens, distâncias focais e ampliações foram baseadas nessa aproximação. Admitimos que todos os raios eram paraxiais, ou seja, consideramos todos os raios próximos ao eixo ótico formando ângulos muito pequenos com o eixo ótico. Essa condição nunca é seguida com precisão. Para qualquer lente com uma abertura de tamanho finito, o cone de raios que forma uma imagem em dado ponto também possui tamanho finito. Em geral, quando raios não paraxiais provêm de um ponto do objeto, eles não fornecem um único ponto na interseção desses raios. As aberrações esféricas também ocorrem em espelhos esféricos, como discutimos brevemente. Os espelhos usados em telescópios astronômicos são geralmente parabólicos em vez de esféricos; essa forma elimina completamente as aberrações esféricas de pontos no eixo ótico. As formas parabólicas são mais difíceis de fabricar do que as esféricas. Os resultados precários obtidos pelo Telescópio Espacial Hubble logo após seu lançamento em 1990 foram associados com aberrações esféricas, oriundas de erros nas medidas durante o processo de fabricação do espelho. O astigmatismo é uma aberração originada de um ponto situado fora do eixo cuja formação da imagem dá origem a duas linhas situadas em planos perpendiculares entre si. Nessa aberração, os raios provenientes de um objeto puntiforme convergem a certa distância da lente formando uma imagem primária, que é perpendicular ao plano definido pelo eixo 52 Física Moderna - Capítulo 2 - Óptica Geométrica Prof. Dr. Cláudio S. Sartori 53 ótico e o objeto. Para outra distância diferente da lente, eles convergem formando uma segunda linha, chamada de imagem secundária, que é paralela a esse plano. Esse efeito é indicado na Figura 19. O círculo de confusão mínima (convergência máxima) se forma entre essas duas imagens. Figura 19 - vermelha com a cor violeta. Quando um objeto de cor púrpura é colocado a uma distância de 80,0 cm dessa lente, onde se formam as imagens vermelha e violeta? SOLUÇÃO: (a) usamos a equação das lentes delgadas na forma indicada na Equação: 1 1 1 1 n 1 s s R1 R2 Nesse caso, aplicando as regras de sinais mencionadas na Seção 35.2, obtemos R1 = e R2 = -30.0 cm. Para a luz violeta (n =1,537), 1 1 1 1 1.537 1 80.0 s 30.0 s 185cm A localização do círculo de confusão mínima depende da distância medida transversalmente entre o objeto e o eixo ótico bem como da distância longitudinal entre o objeto e a lente. Por causa desse efeito, os objetos puntiformes situados sobre um plano geralmente não produzem uma imagem sobre o plano, porém a imagem forma uma superfície encurvada. Esse efeito é chamado de curvatura de campo. Finalmente, verificamos que a imagem de uma linha rela que não passa pelo eixo ótico pode ser encurvada. Por causa disso, a imagem de um cubo centralizado sobre o eixo ótico pode possuir forma semelhante a um barril (com lados encurvados para fora) ou uma forma contrária (com lados encurvados para dentro). Esse efeito, chamado de distorção, não é relacionado com a falta de nitidez da imagem, porém decorre da variação da ampliação transversal com as distâncias ao longo do eixo. As aberrações cromáticas decorrem da dispersão, a variação do índice de refração com o comprimento de onda. A dispersão faz com que a lente possua diferentes distâncias focais para diferentes comprimentos de onda, portanto diferentes comprimentos de onda produzem imagens em pontos diferentes. A ampliação de uma lente também varia com o comprimento de onda; esse efeito é relacionado com o aparecimento das cores do arco-íris em tomo de imagens formadas em binóculos e telescópios de baú custo. Os espelhos não sofrem aberrações cromáticas, sendo esse o principal motivo do uso de espelhos em telescópios astronômicos de grande porte. Exemplo 6 - Aberração cromática. Em uma lente plano-convexa de vidro sua face plana é voltada para o objeto. A outra face tem raio de curvatura igual a 30,0 cm. O índice de refração do vidro para a luz violeta (comprimento de onda de 400 nm) é de 1.537 e para a luz vermelha (700 nm) é de 1,517. A cor púrpura é uma mistura da cor Para a luz vermelha (n = 1,517), encontramos s´= 211 cm. A luz violeta sofre uma refração maior do que a da luz vermelha e sua imagem se forma mais perto da lente. Verificamos que uma variação bastante pequena de índice de refração produz um deslocamento substancial da imagem. 53