UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Faculdade de Arquitectura e
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UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Faculdade de Arquitectura e
UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura Avanços da ciência e processos conceptuais arquitectónicos contemporâneos Realizado por: Rui Manuel Nini Rosalino Orientado por: Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito Constituição do Júri: Presidente: Orientador: Arguente: Prof. Doutor Arqt. Joaquim José Ferrão de Oliveira Braizinha Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito Prof. Doutor Arqt. Orlando Pedro Herculano Seixas de Azevedo Dissertação aprovada em: 1 de Julho de 2015 Lisboa 2015 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura Avanços da ciência e processos conceptuais arquitectónicos contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino Lisboa Abril 2015 U N I V E R S I D A D E L U S Í A D A D E L I S B O A Faculdade de Arquitectura e Artes Mestrado Integrado em Arquitectura Avanços da ciência e processos conceptuais arquitectónicos contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino Lisboa Abril 2015 Rui Manuel Nini Rosalino Avanços da ciência e processos conceptuais arquitectónicos contemporâneos Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa para a obtenção do grau de Mestre em Arquitectura. Orientador: Prof. Doutor Domingues Hipólito Lisboa Abril 2015 Arqt. Fernando Manuel Ficha Técnica Autor Orientador Rui Manuel Nini Rosalino Prof. Doutor Arqt. Fernando Manuel Domingues Hipólito Título Avanços da ciência contemporâneos Local Lisboa Ano e processos conceptuais arquitectónicos 2015 Mediateca da Universidade Lusíada de Lisboa - Catalogação na Publicação ROSALINO, Rui Manuel Nini, 1991Avanços da ciência e processos conceptuais arquitectónicos contemporâneos / Rui Manuel Nini Rosalino ; orientado por Fernando Manuel Domingues Hipólito. - Lisboa : [s.n.], 2015. - Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa. I - HIPÓLITO, Fernando Manuel Domingues, 1964LCSH 1. Arquitectura e ciência 2. Arquitectura e biologia 3. Arquitectura moderna - Século 20 4. Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Teses 5. Teses – Portugal - Lisboa 1. 2. 3. 4. 5. Architecture and science Architecture and biology Architecture, Modern - 20th century Universidade Lusíada de Lisboa. Faculdade de Arquitectura e Artes - Dissertations Dissertations, Academic – Portugal - Lisbon LCC 1. NA2543.S35 R67 2015 Dedico este trabalho à minha família, Alice, André e Manuel Rosalino, assim como, a todos os outros que me apoiaram ao longo deste trajecto. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus pais, Alice e Manuel Rosalino, pela compreensão e apoio incondicional, por toda a força que me deram e pelos conselhos dispendidos, que se mostraram bastante preciosos ao longo do curso. Agradeço todos os sacrifícios e lutas travadas em prol de me ajudarem a atingir os meus objectivos. Ao meu irmão, André Rosalino, pelo apoio e companhia, assim como, por todos os momentos de alegria. Agradeço aos meus amigos e colegas, que estiveram presentes quer nos momentos de diversão quer nos momentos em que o trabalho se tornava extenuante, que nunca me deixaram perder as forças. De um modo especial, à minha colega e amiga Filipa Marques, pelo auxílio e prontidão em me ajudar neste trabalho. Um agradecimento ao meu colega e amigo António Macara, por me “aturar” nos momentos de maior cansaço. Ao meu orientador, Prof. Fernando Hipólito, pela paciência e orientação na elaboração desta dissertação. Ao arquitecto Diogo Lopes, pela atenção e disponibilidade no que refere à entrevista acerca do Thalia. Deixo também o agradecimento ao atelier Barbas Lopes Arquitectos, pela paciência e simpatia. Deixo também a minha gratitude aos professores que, durante a minha formação académica, motivaram o meu interesse pela arquitectura e pela arte, contribuindo para o meu crescimento intelectual. Num agradecimento especial, gostaria de referir os professores Arlindo Sena e Pedro Bòleo pelo o apoio e constante incentivo. A todos aqueles que me apoiaram, e que não referi, quero deixar um muito obrigado. APRESENTAÇÃO Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino Os avanços científicos condicionam a nossa vivência e a maneira de estruturar o nosso pensamento, recorremos a estes e às suas analogias para resolver problemas complexos e estabelecer uma estratégia eficaz: uma mimesis metodológica. Na arquitectura tem-se adoptado o método como um processo estratégico que requer um pensamento aprofundado nos diversos campos que condicionam um projecto e a sua relação com o lugar e com as pessoas. Estrutura-se segundo princípios que adoptam um tipo de sustentabilidade política, social e económica. Posto isto, o método medicinal, de cura arquitectónica, é um processo de cicatrização e regeneração do edificado decrépito ou do tecido urbano vivo, isto é, repara-o e volta a dar-lhe coerência na sua envolvente. Executa um gesto diferente de reabilitação, este intervem no corpo pré-existente, que, por si só afasta-o desta definição. Assim, é importante entendê-lo como um acto que promove a conservação da memória e do vínculo cultural destes “corpos do passado”. Por conseguinte, o processo bio-médico assume-se num propósito plástico de formas que percorrem e perfuram o corpo pré-existente para reactivar as ligações com o lugar, em situações em que se procede a uma migração programática com flexibilidade espacial e funcional suficiente para se adaptar ao passar do tempo. Palavras-chave: Medicina, Corpo, Método, Biónica, Ciência, Organismo, Reabilitação. PRESENTATION Scientific Advances and Contemporary Conceptual Processes in Architecture Rui Manuel Nini Rosalino Scientific advances condition our experience and the way to structure our thought, we resort to these and their analogies to solve complex problems and establish an effective strategy: a methodological “mimesis”. In architecture it has been adopted the method as a strategic process that requires a deep thought in the various fields, which affects the project and its relationship with place and people. Therefore, structured according to principles adopting a kind of political, social and economic sustainability. So, the medical method, for architectural healing, is a process of cure and regeneration of the decrepit built or living urban fabric: it fixes it and gives consistency to its surroundings. Performs a different rehabilitation gesture, it intervenes in the preexisting body, which by itself displaces it from this definition. It is, therefore, important to understand it as an act that promotes conservation of the memory and the cultural ties of these "bodies of the past". Consequently, the biomedical process gives a plastic-purpose to the shapes which pass and drill through the pre-existing body to reactivate the links within the site, in migratory situations of the program, prevaling the spatial and functional flexibility that confers the adaptative nature over Time itself. Keywords: Medicine, Body, Method, Bionic, Science, Organism, Rehabilitation. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Ilustração 1 – “Detalhe da Cornija do Union Trust Building”, 1900, de Dankmar Adler e Louis Sullivan. (direita). ([Adaptado a partir de:] Sveiven, 2011).................................. 28 Ilustração 2 – “Folha de acanto” (esquerda). ([Adaptado a partir de:] Jones, 1930, p. 46)................................................................................................................................. 28 Ilustração 3 – “Diagrama de capiteis romanos baseados na folha de acanto” (centro). ([Adaptado a partir de:] Jones, 1930, p. 47) ................................................................. 28 Ilustração 4 – “Interior do estúdio/biblioteca da Wright Home and Studio”, 1889-1895, Illinois (EUA), Frank Lloyd Wright (direita). ([Adaptado a partir de:] Openbuildings, 2011)............................................................................................................................. 30 Ilustração 5 – “Interior da sala recreativa (das crianças) da Wright Home and Studio”, 1889-1895, Illinois (EUA), Frank Lloyd Wright (centro). ([Adaptado a partir de:] Openbuildings, 2011).................................................................................................... 30 Ilustração 6 – “Vista Frontal da Wright Home and Studio”, 1889-1895, Illinois (EUA), Frank Lloyd Wright (esquerda). ([Adaptado a partir de:] Openbuildings, 2011) ........... 30 Ilustração 7 – “Pormenor da Fachada da Bogk House”, 1916, em Wisconsin (EUA), Frank Lloyd Wright ([adaptado a partir de:] Sveiven, 2011) ........................................ 31 Ilustração 8 – “Vista do Larkin Administration Building”, 1906, Nova Iorque (EUA), Frank Lloyd Wright (Centro). (Terrastories, 2008?) ...................................................... 31 Ilustração 9 – “Pormenor da Estatuária concebida por Richard Bock para o Larkin Administration Building”, 1906, Nova Iorque (EUA), Frank Lloyd Wright (Esquerda). ([adaptado a partir de:] Prairie Styles, 2011) ................................................................ 31 Ilustração 10 – “Secção Longitudinal da Robie House”, 1909, Chicago (EUA), Frank Lloyd Wright. (Frampton, 2012, p. 63) .......................................................................... 33 Ilustração 11 – “Planta de cobertura da Fallingwater House”, 1939, Pittsburg (EUA), Frank Lloyd Wright. (direita). ([Adaptado a partir de:] Western Pensilvania Conservancy, 2015)...................................................................................................... 34 Ilustração 12 – “Vista da Fallingwater House”, 1939, Pittsburg (EUA), Frank Lloyd Wright. (esquerda). ([Adaptado a partir de:] Western Pensilvania Conservancy, 2015) ...................................................................................................................................... 34 Ilustração 13 – “Vista aérea do Sanatório de Zonnestraal”, 1890, Hilversum (Holanda), Johanes Duiker e Edouard Bijvoet (Esquerda). ([adaptado a partir de:] Netherlands, 2003)............................................................................................................................. 37 Ilustração 14 – “Vista aérea do Sanatório de Paimio”, 1929-1933, Paimio (Finlândia) Alvar Aalto (Direita). ([adaptado a partir de:] Archiprix, 2015) ...................................... 37 Ilustração 15 – “Vista frontal do Pavilhão Finlandês para a Exposição de Paris”, 1937, Alvar Aalto (esquerda). (Alvar Aalto Museo, 2011) ...................................................... 39 Ilustração 16 – “Axonometria do Pavilhão Finlandês”, 1937, Alvar Aalto (direita). ([adaptado a partir de:] Ruusuvuori, 1983) ................................................................... 39 Ilustração 17 – “Planta do Piso Térreo da Villa Mairea”, 1938-1939, Noormarkku (Finlândia), Alvar Aalto (centro). (Lahti, 2010, p. 44) .................................................... 40 Ilustração 18 – “Vista frontal da Villa Mairea”, 1938-1939, Noormarkku (Finlândia), Alvar Aalto (esquerda). ([adaptado a partir de:] Ruusuvuori, 1983) ............................. 40 Ilustração 19 – “Axonometria da Villa Mairea”, 1938-1939, Noormarkku (Finlândia), Alvar Aalto (direita). (Frampton, 2012, p. 201) ............................................................. 40 Ilustração 20 – “Planta do Primeiro Piso do Säynätsalo Town Hall”, 1944-1951, Säynätsalo (Finlândia), Alvar Alto (direita). (Lahti, 2010, p. 55) ................................... 41 Ilustração 21 - “Vista da Entrada do Säynätsalo Town Hall”, 1944-1951, Säynätsalo (Finlândia), Alvar Alto (esquerda). (Lahti, 2010, p. 55) ................................................. 41 Ilustração 22 – “Planta do piso térreo da Biblioteca de Viipuri”, 1927-1935 (direita). ([adaptado a partir de:] Arquimaster, 2014) .................................................................. 41 Ilustração 23 – “Interior do Auditório da Biblioteca de Viipuri”, 1927-1935 (esquerda). ([adaptado a partir de:] Arquimaster, 2014) .................................................................. 41 Ilustração 24 – “Evergreen fir tree covered with snow”, 1906, Charles-Edouard Jeannret – desenho a lápis e tinta-da-china (15x17cm). (Jencks, 2000, p. 28) ......... 44 Ilustração 25 – “Vista Exterior da Villa Schwob em La-Chaux de Fonds”, 1916, Charles Edouard Jeanneret. (Colomina, 2011, p. 13)................................................................ 45 Ilustração 26 – “Planta do Piso Primeiro da Villa Schwob em La-Chaux de Fonds”, 1916, Charles Edouard Jeanneret. (Jencks, 2000, p. 101) .......................................... 45 Ilustração 27 – “Nature morte au Violon”, Charles-Edouard Jeannret, 1920. (esquerda). ([adaptado a partir de:] Jencks, 2000, p. 115) .............................................................. 48 Ilustração 28 – “Capa do Número 1º da revista L’Esprit Nouveau”, Paul Dermée, Charles-Edouard Jeanneret e Amedée Ozenfant (direita). ([Adaptado a partir de] Georges, 2014) ............................................................................................................. 48 Ilustração 29 – “Interior da galeria da Maison La Roche”, 1923-1925, Paris, Le Corbusier (direita). (Fondation Le Corbusier, 2015) ..................................................... 50 Ilustração 30 - “Plantas do Primeiro Piso da Maison La Roche/Jeanneret”, 1923-1925, Paris, Le Corbusier. (esquerda). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) ............ 50 Ilustração 31 – “Planta do Segundo Piso da Maison La Roche/Jeanneret”, 1923-1925, Paris, Le Corbusier. (centro). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) ................. 50 Ilustração 32 – “Esquisso do exterior da Immuble-Villa” (direita). ([Adaptado a partir de] Martín, 2010) ................................................................................................................ 51 Ilustração 33 – “Esquisso do interior da Immuble-Villa” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Jencks, 2000, p. 27) ............................................................................................... 51 Ilustração 34 - “Plano da Ville Radieuse”, 1924, Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Jencks, 2000, p. 146) ................................................................................................... 54 Ilustração 35 – “Estudo da linguagem plástica purista” (direita). ([Adaptado a partir de] ARoots, 2005) ............................................................................................................... 55 Ilustração 36 – “Estudo: Duas Mulheres” (esquerda). (Jencks, 2000, p. 199) ............. 55 Ilustração 37 – “Vista Exterior da Villa Savoye”, 1929-1931, Poissy (França) (esquerda). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) ............................................. 56 Ilustração 38 – “Planta do piso térreo da Villa Savoye” (centro-esquerda). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) ...................................................................................... 56 Ilustração 39 – “Planta do piso primeiro da Villa Savoye” (centro-direita). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) ...................................................................................... 56 Ilustração 40 – “Planta do piso segundo da Villa Savoye” (direita). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) ............................................................................................... 56 Ilustração 41 – “Vista exterior da Villa Cook”, 1924, Bologne-sur-Seine (França), Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Sochor, 2015) ......................................................... 57 Ilustração 42 – “As Quatro composições”, 1929, Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Satchel, 2014)............................................................................................................... 57 Ilustração 43 – “Dream and lie of Franco”, Pablo Picasso, 1937. (direita). (Picasso, 1937)............................................................................................................................. 59 Ilustração 44 – “Moon Goddess/Earth Mother”, Le Corbusier, 1948. (esquerda). (Jencks, 2000, p. 283) .................................................................................................. 59 Ilustração 45 – “Vista exterior da Capela de Ronchamp”, 1954, Ronchamp (França), Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) ............................................... 60 Ilustração 46 – Análise dos desenhos de Le Corbusier, Charles Jencks (redesenhados). (Jencks, 2000, p. 264) ....................................................................... 60 Ilustração 47 – “Vista da cobertura da Unité de Habitatión de Marseilles”, 1952, Marseille (França), Le Corbusier (direita). (Carlos, 2014) ............................................ 61 Ilustração 48 – “Vista da cobertura da Unité de Habitatión de Marseilles”, 1952, Marseille (França), Le Corbusier (esquerda). (Sarena, 2014) ...................................... 61 Ilustração 49 – “Esquisso conceptual da estrutura da torre Turning Torso” (centro). ([Adaptado a partir de] Lisa, 2011) ............................................................................... 65 Ilustração 50 – “Vista exterior da torre Turning Torso”, 2005, Malmo (Suécia), Santiago Calatrava (direita). ([Adaptado a partir de] Lisa, 2011)................................................. 65 Ilustração 51 – “Vista exterior da Torre de Einstein”, 1919-1921, Potsdam (Alemanha), Erich Mendelsohn (esquerda), . ([Adaptado a partir de] Merin, 2013).......................... 65 Ilustração 52 – “Vista exterior do projecto Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo (Japão), Kisho Kurokawa (direita). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) ....................... 65 Ilustração 53 – “Vista interior do projecto do Parque Olímpico de Munique”, 1972, Munique (Alemanha), Frei Otto (centro). (Valdivia, 2015) ............................................ 65 Ilustração 54 – “Vista exterior do Terminal do Aeroporto TWA”, 1994, Idlewild (EUA), Eero Saarinen (esquerda). (Perez, 2010)..................................................................... 65 Ilustração 55 – “Vista do Milwaukee Art Museum, Quadracci Pavillion”, 2001, Milwakee (EUA), Santiago Calatrava (esquerda). (Oliveira et al., 2010, p. 58)............................ 68 Ilustração 56 – “Planta do Piso Terceiro da Casa Milá”, 1906-1910, Barcelona (Espanha), Antoni Gaudí (direita). ([Adaptado a partir de] Lee, 2015) ......................... 68 Ilustração 57 – “Vista da entrada da Casa Milá”, 1906-1910, Barcelona (Espanha), Antoni Gaudí (centro). ([Adaptado a partir de] Lee, 2015) ........................................... 68 Ilustração 58 – “Montagem dos módulos da Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo, Kisho Kurokawa (esquerda). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) ................................ 69 Ilustração 59 – “Axonometria do módulo-cápsula da Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo, Kisho Kurokawa (direita). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) ......................... 69 Ilustração 60 – “Secção da Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo, Kisho Kurokawa (centro). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) ................................................................ 69 Ilustração 61 – “Secção da Sede da Swiss Re”, 1997-2004, Londres, Norman Foster&Partners (direita). (Foster+Partners, 2015) ...................................................... 70 Ilustração 62 – “Ilustração de uma esponja marinha da família Euplectella” (centro). (Oliveira et al., 2010, p. 61) .......................................................................................... 70 Ilustração 63 – “Vista da Sede da Swiss Re”, 1997-2004, Londres, Norman Foster&Partners (esquerda). (Openbuildings, 2011) .................................................... 70 Ilustração 64 – “Vista do Espaço Exterior do Salk Institute”, 1960, California (EUA), Louis Kahn (esquerda). ([Adaptado a partir de] Liuzzi, 2014) ...................................... 71 Ilustração 65 – “Planta do piso térreo do Salk Institute”, 1960, California, (EUA), Louis Kahn (direita). ([Adaptado a partir de] Silva, 2015) ...................................................... 71 Ilustração 66 – Peças obtidas com impressão 3D de formas obtidas através de pesquisas com o Microescópio Electron. ([Adaptado a partir de] Estévez, 2014a) ...... 72 Ilustração 67 – “Scan de bio-estruturas obtidas através de pesquisas com o Microescópio Electron” (direita). ([Adaptado a partir de] Estévez, 2014a) ................... 72 Ilustração 68 – “Silo Automóvel: resultado do estudo de bio-estruturas microscópicas através do aumento da sua escala” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Estévez, 2014b)........................................................................................................................... 72 Ilustração 69 – “Pormenor da fachada das Casas para Férias pouco depois da sua construção”, 1995-1997, Jupilles (França), Duncan Lewis e Edouard François (direita). ([Adaptado a partir de] Meyer, 2013) ............................................................................ 73 Ilustração 70 – “Vista das Casas para Férias”, 1995-1997, Jupilles (França), Duncan Lewis e Edouard François (esquerda). ([Adaptado a partir de] Meyer, 2013) .............. 73 Ilustração 71 – “Catalogação científica de um cavalo-marinho” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Ayres, 2014) ............................................................................................... 76 Ilustração 72 – “Catalogação de conchas e criaturas pré-históricas” (centro-esquerda). ([Adaptado a partir de] Podhajsky, 2014) ..................................................................... 76 Ilustração 73 – “Sobreposição da Regra de Ouro e da Sucessão de Fibonacci a um Nautilus” (centro-direita). ([Adaptado a partir de] Heilman, 2014) ................................ 76 Ilustração 74 – “Bróculo Romanesco” (direita). ([Adaptado a partir de] Takumoto, 2014) ...................................................................................................................................... 76 Ilustração 75 – “Proporções áureas do modelo humano (contemporâneo)” (esquerda). (Mignard, 2013) ............................................................................................................ 76 Ilustração 76 – “Esquema das ordens clássicas com as respectivas referências humanas” (direita). ([Adaptado a partir de] Dey, 2014) ................................................ 76 Ilustração 77 – “Esponja de Sierpinski” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Bryant, 2012)............................................................................................................................. 78 Ilustração 78 – “Vista exterior dos Escritórios de Sarphatistraat”, 1996-2000, Amesterdão (Holanda), Steven Holl (centro). ([Adaptado a partir de] Steven Holl Architects, 2015) ........................................................................................................... 78 Ilustração 79 – “Vista interior dos Escritórios de Sarphatistraat”, 1996-2000, Amesterdão (Holanda), Steven Holl (direita). ([Adaptado a partir de] Steven Holl Architects, 2015) ........................................................................................................... 78 Ilustração 80 – “Vista frontal do alçado e modelo da Virtual House” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 93) ........................................................ 79 Ilustração 81 – “Vista lateral da Virtual House” (centro). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 93) ......................................................................................................... 79 Ilustração 82 – “Fita de Möbius” (direita). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 93)................................................................................................................................. 79 Ilustração 83 – “Modelo do Estádio de Chimnitz” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 385) ........................................................................................... 80 Ilustração 84 – “Diagramas conceptuais da estrutura do Estádio de Chimnitz” (centro). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 385) ...................................................... 80 Ilustração 85 - Vista exterior do Estádio Nacional de Pequim”, iStockphoto (direita). ([Adaptado a partir de] Hsu et al., 2014)....................................................................... 80 Ilustração 86 – “Vista aérea do Metropol Parasol”, Sevilha, J. Mayer H. Architects (esquerda). ([Adaptado a partir de] Pham, 2014) ......................................................... 81 Ilustração 87 – “Vista aérea do Rolex Research Center”, 2010, Lausanne (Suiça), Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa (centro). ([Adaptado a partir de] Ghaz, 2014) ........ 81 Ilustração 88 – “Modelo programático do Rolex Research Center” (direita). ([Adaptado a partir de] Ghaz, 2014) ................................................................................................ 81 Ilustração 89 – “Vista exterior da Cúpula Geodésica de Buckminster Fuller” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Marin, 2013) ............................................................................. 81 Ilustração 90 – “Diagrama da estrutura da camada de nutrientes de alguns vírus” (centro). ([Adaptado a partir de] Guasa et al., 2002) .................................................... 81 Ilustração 91 – “Vista do Observatório de Côte d’Azur”, 1974, França, Antti Lovag (direita). ([Adaptado a partir de] Shapera, 2011) .......................................................... 81 Ilustração 92 – “Operation”, 1929, Cristian Schad. ([Adaptado a partir de] Lencbahhaus, 2013) ..................................................................................................... 87 Ilustração 93 – “Vista exterior do Hospital Estugarda”, 2014, Estugarda (Alemanha), Lederer Ragnarsdóttir Oei (esquerda). ([Adaptado a partir de] Wilson, 2014, p. 58 - 59) ...................................................................................................................................... 96 Ilustração 94 – “Vista do pátio do Hospital de Estugarda”, 2014, Estugarda (Alemanha), Lederer Ragnarsdóttir Oei (centro). ([Adaptado a partir de] Halbe, 2014)96 Ilustração 95 – “Planta do Piso Térreo do Hospital de Estugarda”, 2014, Estugarda (Alemanha), Lederer Ragnarsdóttir Oei (direita). ([Adaptado a partir de] Wilson, 2014, p. 62)............................................................................................................................. 96 Ilustração 96 – “Intervenção no Castelo de São Jorge”, 2008-2010, Lisboa (Portugal), João Luis Carrilho da Graça (esquerda). ([Adaptado a partir de] Carrilho da Graça Arquitectos, 2010)......................................................................................................... 98 Ilustração 97 – Vista exterior do Templo de Diana”, 2011, Mérida (Espanha), José María Sánchez García (centro). ([Adaptado a partir de] Halbe, 2011) ......................... 98 Ilustração 98 – “Planta de implantação da Intervenção no Templo de Diana”, 2011, Mérida (Espanha), José María Sánchez García (direita) ([Adaptado a partir de] Fracalossi, 2012) .......................................................................................................... 98 Ilustração 99 – “Axonometria diagramática do Farol de Santa Marta”, 2007, Lisboa (Portugal), Aires Mateus Arquitectos (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fernandes, 2015)............................................................................................................................. 99 Ilustração 100 – “Vista de topo do Farol de Santa Marta”, 2007, Lisboa (Portugal), Aires Mateus Arquitectos (centro). ([Adaptado a partir de] Fernandes, 2015) ............. 99 Ilustração 101 – “Planta do piso térreo do Farol de Santa Marta”, 2007 (direita). ([Adaptado a partir de] Fernandes, 2015)..................................................................... 99 Ilustração 102 – “Vista exterior da Final Wooden House”, 2007-2008, Kumamoto (Japão), Sou Fujimoto (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fullaondo, 2015) ............ 100 Ilustração 103 – “Secção Diagramática da Final Wooden House” (centro). ([Adaptado a partir de] Fullaondo, 2015).......................................................................................... 100 Ilustração 104 – “Vista aérea do Museu Marítimo da Dinamarca”, 2013, Helsingor (Dinamarca), BIG Architects (direita). ([Adaptado a partir de] Bjarke Ingels Group, 2015)........................................................................................................................... 100 Ilustração 105 – “Vista exterior da fachada do Museu da História Natural”, Berlim (esquerda). ([Adaptado a partir de] Freeman, 2015) .................................................. 102 Ilustração 106 – “Pormenor da destruição parcial do actual Museu da História Natural”, Berlim (centro). ([Adaptado a partir de] Museum für Naturekunde, 2014).................. 102 Ilustração 107 – "Wrapped Reichstag”, 1971-1995, Berlim, Christo & Jeanne-Claude. ([Adaptado a partir de] Christo and Jeanne-Claude, 2015). ....................................... 102 Ilustração 108 – “Instalação House em betão”, Rachel Whiteread (esquerda). (Nova Design Studios, 2014) ................................................................................................ 103 Ilustração 109 – “Instalação em cera de Anish Kapoor”, Anish Kapoor (direita). ([Adaptado a partir de] Kapoor, 2009) ........................................................................ 103 Ilustração 110 – “Axonometria Diagramática da Casa dos cubos”, Embaixada Arquitectura (esquerda). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013a) ............................. 104 Ilustração 111 – “Vista interior da Casa dos cubos”, 2007, Tomar (Portugal), Embaixada Arquitectura (direita). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013a) ............... 104 Ilustração 112 – “Vista exterior da SESC de Pompeia”, 1977, São Paulo (Brasil), Lina Bo Bardi (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fracalossi, 2013) ................................. 105 Ilustração 113 – “Vista do percurso superior da SESC de Pompeia”, 1977, São Paulo (Brasil), Lina Bo Bardi (centro). ([Adaptado a partir de] Carrapa, 2015) .................... 105 Ilustração 114 – “Planta do Primeiro Piso da SESC de Pompeia”, Lina Bo Bardi (direita). ([Adaptado a partir de] Fracalossi, 2013) ..................................................... 105 Ilustração 115 – “Próteses” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Kat von D, 2015) .... 105 Ilustração 116 – “Vista exterior da Ampliação do Museu de San Telmo”, 2011, Granada (Espanha), Nieto Sobejano (centro). ([Adaptado a partir de] Ampliación, 2011)........ 105 Ilustração 117 – “Planta do Segundo Piso da Ampliação do Museu de San Telmo”, 2011, Granada (Espanha), Nieto Sobejano (direita). ([Adaptado a partir de] Ampliación, 2011)........................................................................................................................... 105 Ilustração 118 – “Vista exterior do Pratt Institute”, 2005, New York (EUA), Steven Holl (esquerda). ([Adaptado a partir de] Lecuyer, 2011).................................................... 107 Ilustração 119 – “Planta do Primeiro Piso do Pratt Institute”, Steven Holl (centro). ([Adaptado a partir de] Lecuyer, 2011) ....................................................................... 107 Ilustração 120 – “Secção longitudinal do Pratt Institute”, Steven Holl (direita). ([Adaptado a partir de] Lecuyer, 2011) ....................................................................... 107 Ilustração 121 – “Vista Exterior da Escola de Música Maurice Durufle” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2015) ....................................................................... 107 Ilustração 122 – “Planta do Primeiro Piso da Escola de Música Maurice Durufle” (centro). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2015) ........................................................ 107 Ilustração 123 – “Vista Exterior da Caixa Forum”, Madrid (direita). ([Adaptado a partir de] Paula, 2014) ......................................................................................................... 107 Ilustração 124 – “Vista exterior do Convento das Bernardas” 2010, Tavira (Portugal), Eduardo Souto Moura (esquerda). ([Adaptado a partir de] Sierra, 2012) ................... 109 Ilustração 125 – “Vista sobre o pátio do Convento das Bernardas” 2010, Tavira (Portugal), Eduardo Souto Moura (direita). ([Adaptado a partir de] Sierra, 2012) ...... 109 Ilustração 126 – “Vista exterior do Departamento de Filosofía da Universidade de Nova Iorque”, 2004-2007, New York (EUA), Steven Holl (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fairs, 2007)................................................................................................................. 109 Ilustração 127 – “Diagrama conceptual do Departamento de Filosofía da Universidade de Nova Iorque”, 2004-2007, New York (EUA), Steven Holl (centro). ([Adaptado a partir de] Steven Holl Architects, 2015) ............................................................................... 109 Ilustração 128 – “Pormenor do corpo inserido na pré-existência do Departamento de Filosofía da Universidade de Nova Iorque”, 2004-2007, New York (EUA), Steven Holl (direita). ([Adaptado a partir de] Fairs, 2007).............................................................. 109 Ilustração 129 – “Conical Intersect”, 1975, Paris (França), Gordon Matta-Clark (esquerda). (Artnet, 2015) .......................................................................................... 110 Ilustração 130 – “Split House”, 1974, New Jersey (EUA), Gordon Matta-Clark (centro). ([Adaptado a partir de] Artnet, 2015) .......................................................................... 110 Ilustração 131 – “Decapidated Wall”, 145th Street Station, New York (EUA), Michael Heizer (direita). ([Adaptado a partir de] Rigano, 2013) ............................................... 110 Ilustração 132 – “Vista do interior do Teatro Thalia em ruínas”. ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013b).......................................................................................................... 114 Ilustração 133 – “Vista do exterior do Teatro Thalia em ruínas”. ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013b).......................................................................................................... 114 Ilustração 134 – “Vista da relação volumétrica com o pátio do Teatro Thalia” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013b) ................................................. 114 Ilustração 135 – “Vista exterior do Teatro Thalia” (direita). ([Adaptado a partir de] Arquitectura Viva, 2013) ............................................................................................. 114 Ilustração 136 – “Planta de levantamento da ruína do Teatro Thalia” (esquerda). (BarbasLopes Arquitectos, 2015) ............................................................................... 115 Ilustração 137 – “Pormenor da ligação da ruína com o corpo macisso que a envolve” (direita). (Ilustração nossa, 2014) ............................................................................... 115 Ilustração 138 – “Planta do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) ........... 115 Ilustração 139 – “Vista interior do Teatro Thalia” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) .................................................................................................................................... 116 Ilustração 140 – “Vista interior do Teatro Thalia” (direita). (Ilustração nossa, 2014) .. 116 Ilustração 141 – “Secção longitudinal do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015)........................................................................................................................... 117 Ilustração 142 – “Vista frontal do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) .. 118 Ilustração 143 – “Vista do pátio do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) 118 Ilustração 144 – “Interior do volume de apoio do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015)....................................................................................................... 118 Ilustração 145 – “Vista exterior do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) 119 Ilustração 146 – “Vista interior da relação entre dois corpos que compõem o Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) .................................................................. 119 Ilustração 147 – “Planta da Capela Madonna of the Ruins” (centro). ([Adaptado a partir de] Zumthor ; Durisch, 2014) ...................................................................................... 121 Ilustração 148 – “Interior da Capela Madonna of the Ruins” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Zumthor ; Durisch, 2014) ............................................................................. 121 Ilustração 149 – “Imagem aérea do centro da cidade de Colónia após os bombardeamentos”, 1945 (direita). (Verwoerd, 2014)................................................ 121 Ilustração 150 – “Pormenor da materialidade do Kolumba Museum” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Zumthor ; Durisch, 2014) ....................................................... 122 Ilustração 151 – “Pormenor da relação do edificado novo com o antigo do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Inferlo 712, 2014)..................................... 122 Ilustração 152 – “Planta do Piso Térreo do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014)........................................................................................................................... 124 Ilustração 153 – “Vista interior da Capela Madonna in the Ruins” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010)......................................................................... 125 Ilustração 154 – “Pormenor interior do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Gutermuth, 2013).................................................................................................. 125 Ilustração 155 – “Vista interior do percurso do Kolumba Museum”. ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) ....................................................................................................... 125 Ilustração 156 – “Secção Transversal do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014) .................................................................................................................................... 126 Ilustração 157 – “Vista do espaço exterior do Kolumba Museum” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Inferlo 712, 2014) ................................................................... 126 Ilustração 158 – “Escultura de Richard Serra para o Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010)......................................................................... 126 Ilustração 159 – “Esquisso conceptual da volumetria do Kolumba Museum” (esquerda). (Zumthor ; Durisch, 2014) ........................................................................................... 127 Ilustração 160 – “Interior de uma ‘torre de exposição’ do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010)......................................................................... 127 Ilustração 161 – “Secção Longitudinal do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014)........................................................................................................................... 128 Ilustração 162 – “Planta do Piso Primeiro do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014)........................................................................................................................... 128 Ilustração 163 – “Alçado Frontal do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014) .. 129 Ilustração 164 – “Vista exterior do Kolumba Museum” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) ....................................................................................................... 129 Ilustração 165 – “Vista exterior das traseiras do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010)......................................................................... 129 Ilustração 166 – “Vista aérea do Altes Museum”, 1989. (David Chipperfield Architects, 2014)........................................................................................................................... 130 Ilustração 167 – “Vista exterior do Altes Museum em ruínas”, 1958. (David Chipperfield Architects, 2014) ......................................................................................................... 130 Ilustração 168 – “Pormenor das janelas da escadaria principal do Neues Museum” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) .......................................................................... 131 Ilustração 169 – “Vista do corredor de distribuitivo do Primeiro Piso do Neues Museum” (centro). (Ilustração nossa, 2015) ............................................................... 131 Ilustração 170 – “Modelo esquemático da intervenção no Neues Museum” (direita). (David Chipperfield Architects, 2014) ......................................................................... 131 Ilustração 171 – “Vista do alçado frontal do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015) .................................................................................................................................... 131 Ilustração 172 – “Pormenor de um dos pátios do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015)........................................................................................................................... 132 Ilustração 173 – “Pormenor dos vãos de um dos pátios do Neues Museum”. (Ilustação nossa, 2015) ............................................................................................................... 132 Ilustração 174 – “Pormenor da conservação dos elementos interiores do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015) ............................................................................ 132 Ilustração 175 – “Planta da recuperação do tecto romano do Neues Museum” (esquerda). (David Chipperfield Architects, 2014) ...................................................... 133 Ilustração 176 – “Pormenor da recuperação dos pilares do Neues Museum” (direita). (Ilustração nossa, 2015) ............................................................................................. 133 Ilustração 177 – “Vista do percurso de um dos pátios do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015) ............................................................................................................... 133 Ilustração 178 – “Interior de uma sala de exposição do Piso Segundo do Neues Museum” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) .......................................................... 134 Ilustração 179 – “Interior de uma sala de exposição do Piso Segundo do Neues Museum” (direita). (Ilustração nossa, 2015) ............................................................... 134 Ilustração 180 – “Secção Longitudinal do Neues Museum”. (David Chipperfield Architects, 2014) ......................................................................................................... 135 Ilustração 181 – “Escadaria principal do Altes Museum após o bombardeamento”. (David Chipperfield Architects, 2014) ......................................................................... 136 Ilustração 182 – “Escadaria principal do Neues Museum”. (Nys, 2013) ..................... 136 Ilustração 183 – “Planta do Piso Segundo do Neues Museum”. (Nys, 2013) ............ 136 Ilustração 184 – “Vista do ‘pátio A’ do Neues Museum” (esquerda). (Ilustação nossa, 2015)........................................................................................................................... 137 Ilustração 185 – “Vista do ‘pátio A’ do Neues Museum” (centro). (Ilustração nossa, 2015)........................................................................................................................... 137 Ilustração 186 – “Vista do ‘pátio B’ do Neues Museum” (direita). (David Chipperfield Architects, 2014) ......................................................................................................... 137 Ilustração 187 – “Vista através do jardim principal da Museumsinsel do Neues Museum” (esquerda). (David Chipperfield Architects, 2014) ...................................... 137 Ilustração 188 – “Vista exterior do Neues Museum” (direita). (Ilustração nossa, 2015) .................................................................................................................................... 137 Ilustração 189 – “Planta do Piso Térreo do Neues Museum”. (Nys, 2013) ................ 138 Ilustração 190 – “Planta de Implantação do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) ............................................................................................. 141 Ilustração 191 – “Planta de Levantamento” (direita). (Ilustração nossa, 2014) .......... 141 Ilustração 192 – “Vista do Largo que intersecta a Travessa Teixeira Júnior” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) ............................................................................................. 142 Ilustração 193 – “Vista da rua da Maria Luisa Holstein” (direita). (Ilustração nossa, 2014)........................................................................................................................... 142 Ilustração 194 – “Diagrama do Espaço público” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) .................................................................................................................................... 143 Ilustração 195 – “Axonometria de relação com a envolvente” (direita). (Ilustração nossa, 2014) ............................................................................................................... 143 Ilustração 196 – “Planta do Piso Térreo”. (Ilustração nossa, 2014) ........................... 145 Ilustração 197 – “Axonometria dos diversos pisos do Hostel e Co-work de Alcântara” (direita). (Ilustração nossa, 2014) ............................................................................... 146 Ilustração 198 – “Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) ............................................................................................. 146 Ilustração 199 – “Esquisso do interior da galeria do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) .......................................................................... 147 Ilustração 200 – “Pormenor da Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (centro). (Ilustração nossa, 2015) ............................................................................... 147 Ilustração 201 – “Pormenor do interior da Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (direita). (Ilustração nossa, 2015).............................................................. 147 Ilustração 202 – “Pormenor do interior da Maquete do Hostel de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) ............................................................................................. 147 Ilustração 203 – “Pormenor do interior da Maquete do Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) .......................................................................... 147 Ilustração 204 – “Perspectiva da maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) .......................................................................... 148 Ilustração 205 – “Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (direita). (Ilustração nossa, 2015) ............................................................................................................... 148 Ilustração 206 – “Alçado Frontal do Hostel”. (Ilustração nossa, 2014) ....................... 148 Ilustração 207 – “Alçado lateral do Hostel e Co-work de Alcântara”. (Ilustração nossa, 2014)........................................................................................................................... 148 Ilustração 208 – “Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara.” (Ilustração nossa, 2015)........................................................................................................................... 149 Ilustração 209 – “Friso cronológico de síntese da vida de Le Corbusier” (Ilustração nossa, 2014) ............................................................................................................... 179 Ilustração 210 – “Axonometria conjunta dos temas 1, 2 e 3” (Ilustração nossa, 2014) .................................................................................................................................... 183 Ilustração 211 – “Maquete 1:200 do Tema 1: Lx Factory” (Ilustração nossa, 2014) .. 184 Ilustração 212 – “Maquete 1:500 do Tema 2: Parque de Escalada para o terreno da Sidul” (Ilustração nossa, 2014) ................................................................................... 184 Ilustração 213 – “Planta do piso 3 do Hostel e Co-work de Alcântara” (Ilustração nossa, 2014)........................................................................................................................... 185 SUMÁRIO 1. Introdução ................................................................................................................. 25 2. Da modernidade à arquitectura contemporânea ...................................................... 27 2.1. Organicismo....................................................................................................... 27 2.2. Le Corbusier: Evolução/Transição na sua obra ................................................. 43 2.3. Arquitectura Orgânica Contemporânea (e as suas derivações) ........................ 63 3. Arquitectura Bio-Médica: “Um corpo no corpo” ........................................................ 75 3.1. Arquitectura Biónica........................................................................................... 75 3.2. Intervenção Científica no Corpo ........................................................................ 84 3.3. Arquitectura Bio-Médica .................................................................................... 93 4. Aplicação práctica da Arquitectura Bio-Médica: casos de estudo .......................... 113 4.1. Teatro Thalia, Lisboa ....................................................................................... 113 4.2. Kolumba Museum, Colónia .............................................................................. 121 4.3. Neues Museum, Berlim ................................................................................... 130 5. Conclusão ............................................................................................................... 139 Referências................................................................................................................. 151 Bibliografia .................................................................................................................. 163 Apêndices ................................................................................................................... 167 Lista de apêndices ...................................................................................................... 169 Apêndice A ............................................................................................................. 171 Apêndice B ............................................................................................................. 177 Apêndice C ............................................................................................................. 181 Apêndice D ............................................................................................................. 187 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 1. INTRODUÇÃO Foi no seguimento do meu interesse pelos processos (ou metodologias) conceptuais contemporâneos de origem científica que se estruturou o “objecto de estudo” desta dissertação, sendo que, para tal, foi necessário percebê-los como resultado da criação de uma estratégia projectual, que está condicionada pelos diversos factores dos lugares a intervir. Posto isto, é importante afirmar que este tipo de abordagem não se trata de uma “fórmula (ou regra) científica” aplicável a qualquer situação, mas algo que, por ter questões semelhantes às dos métodos científicos, adapta diversos processos para conseguir responder de um modo eficiente à complexidade relacional do lugar a intervir. Por conseguinte, recorreu-se ao Organicismo (segundo os princípios de Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto) como um enquadramento do tema, pela utilização das ciências naturais como influência nas relações espaciais (quer como uma tradução em regras geométricas e matemáticas quer como uma conceptualização poética). No seguimento, foi necessário perceber o seu desenvolvimento até à contemporaneidade, utilizando a obra e maturação de Le Corbusier como exemplo e referência da referida transição. Deste modo, é necessário salientar os “bio-logismos” (morfológicos, metabólicos e dos processos cognitivos de percepção da forma) como um prolongamento dos valores organicistas à síntese arquitectónica coetânea: a Arquitectura Biónica. Por sua vez, podemos referir a biónica como o resultado da necessidade de criação de uma metodologia na concepção arquitectónica, na medida que insere estratégias projectuais que surgem como respostas flexíveis para as questões em que o lugar de intervenção se encontra com uma multiplicidade programática (ou de actividades públicas e/ou privadas). Consequentemente, foi importante focar o interesse destes processos a uma temática de grande relevância na “actualidade arquitectónica”: a reabilitação. Neste sentido, o objectivo principal era perceber como, ao termos um corpo pré-existente, se podería intervir com propósitos formais, funcionais e organizacionais exigidos pelo carácter diversificado da vivência contemporânea. Posto isto, podemos afirmar que a atribuição de termos médicos para o estudo e uso de estratégias de intervenção no corpo exprimem uma vontade de recuperação e cura do mesmo, quer a um nível físico quer a um nível funcional (metabólico), juntamente com preoocupações éticas que Rui Manuel Nini Rosalino 25 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos envolvem os referidos processos medicinais (como ciência) sob a configuração de uma estratégia projectual. Portanto, assumiram-se três exemplos – o Teatro Thalia, o Kolumba Museum e o Neues Museum – onde o estudo bio-médico foi mais aprofundado, na medida que se pudesse comprovar o uso de propósitos formais e técnicos como parte da estratégia (flexível) que a medicina utiliza para recuperar o corpo “decrépito”. Por conseguinte, é necessário ter em conta que, apesar de não se comparar a maturidade dos autores dos referidos exemplos, estes são exercícios de arquitectura cuja coerência reflete a metodologia integradora da diversidade relacional e funcional do Homem Contemporâneo, assim como das suas actividades.1 1 Para um melhor esclarecimento do “curriculum” dos arquitectos cujos projectos figuram como caso de estudo (no Capítulo 4) consultar o Apêndice A. Rui Manuel Nini Rosalino 26 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 2. DA MODERNIDADE À ARQUITECTURA CONTEMPORÂNEA 2.1. ORGANICISMO Em primeiro plano, é necessário ter em conta as obras de Frank Lloyd Wright2 pela ligação com a vertente orgânica, como uma forma de integrar a envolvente natural, tal como acontece na obra de Alvar Aalto3, quando mencionados os princípios organicistas, segundo uma integração através do vernacular. Por conseguinte, é necessário referir a importância do estudo das ciências naturais enquanto base para as representações de características naturais. Devendo-se, maioritariamente, à quantidade (crescente) de informação difundida e à progressiva “facilidade” de acesso à mesma, como por exemplo, aos estudos e catalogações das espécies e ecossistemas (animais, vegetais e humanos). Entenda-se portanto Organicismo segundo a definição (pioneira) de Frank Lloyd Wright (aquando de uma palestra na Princeton University, em 1913): […] the word (organic) applies to ‘living’ structure – a structure or concept wherein features or parts are so organized in form and substance as to be, applied to purpose, integral. Everything that lives is therefore organic. (Egbert, 1950) Assim, explicitando o sentido introdutório da citação anterior, a obra edificada, para Wright, e para muitos outros arquitectos do Modernismo era entendida “integralmente” (Egbert, 1950) como um living organism, fazendo referência à classificação (clássica) do cientista Xavier Bichat4 quanto à “analogia orgânica” – “in organized bodies comprehended under one view, nature studies regularity, which for the same reason, ought to be studied in architecture.” (Collings, 1998, p. 150). 2 Frank Lloyd Wright (1867-1959) – foi um arquitecto, escritor e professor americano que vem a tornar-se a figura mais representativa do Organicismo – destacando-se a sua obra: Fallingwater House (1939). Contrapondo-se através das suas concepções, de um Modernismo Orgânico, às do Estilo Internacional. De outro modo destáca-se pela sua participação no Estilo da Pradaria, um movimento de origem americana no qual estava implicado Adler e Sullivan. 3 Alvar Aalto (1898-1976) foi um arquitecto filandês que se veio destacar pela sua arquitectura de natureza vernacular, aquando de uma procura de uma linguagem nacionalista. Cujas criações se destacavam pelo seu carácter unitário com a envolvente (natural). Destáca-se pelas suas ponderações detalhadas, em que o uso do tijolo de burro e a madeira eram os materiais predominantes. 4 Marie François Xavier Bichat (1777-1802) foi um cientista francês dedicado ao campo da fisiologia e anatomia. Destacando-se como a referência principal quando se fala de histologia e patologia (enquanto percursor), sendo que os avanços que este dá quanto ao ataque das doenças aos tecidos dos órgãos (em vez da sua totalidade) lhe dão uma compreensão bastante avançada (numa época onde não existía microscópio). Para concluir, resta salientar, que nessa preocupação com os tecidos do corpo humano este surge como um visionário neste campo, dado que entendia os tecidos como entidades distintas dos órgãos. Rui Manuel Nini Rosalino 27 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 2.1.1. FRANK LLOYD WRIGHT E OS PRINCÍPIOS ORGANICISTAS Segundo Kenneth Frampton5, para perceber como se dá a formalização deste estilo arquitectónico, assim como vêm as ponderações organicistas de Wright contribuir para a maturação actual do mesmo (estilo), há que mencionar, primeiramente, a sua origem enquanto estudante dos valores de “The grammar of Ornament” (um livro de Owen Jones, publicado em 1856) – que nos remete para o período em que este se encontrava sob os ensinamentos de Adler6 e Sullivan7 (em 1890) – onde é visível a origem do gosto pelos adornos exóticos enquanto demonstrações ecléticas, sendo estes necessários para compreender a sua transição (e evolução) para concepções de carácter orgânico. Ilustração 1 – “Detalhe da Cornija do Union Trust Building”, 1900, de Dankmar Adler e Louis Sullivan. (direita). ([Adaptado a partir de:] Sveiven, 2011) Ilustração 2 – “Folha de acanto” (esquerda). ([Adaptado a partir de:] Jones, 1930, p. 46) Ilustração 3 – “Diagrama de capiteis romanos baseados na folha de acanto” (centro). ([Adaptado a partir de:] Jones, 1930, p. 47) Deste modo, aprofundando a questão relativa ao período de aprendizagem (de Wright), é nesta fase que lhe é suscitada, pelos seus mentores, a “dúvida”8 entre o uso do carácter exótico e/ou a técnica industrial, que começa a ser ponderada e assumida por este enquanto uma resposta às necessidades culturais, jovens e igualitárias (segundo Frampton), do Novo Mundo – entendido como um mundo em constante 5 Kenneth Frampton (1930) é um arquitecto britânico, reconhecido pelas suas publicações referentes à história e crítica da arquitectura. Assumindo desta forma o “manto” de historiador e crítico. 6 Dankmar Adler (1840-1900) foi um arquitecto e engenheiro civil de origem alemã, apesar de residir nos Estados Unidos da América, associado de Sullivan durante algum tempo. Sendo um dos grandes contribuintes para a criação de arranha-céus, sendo que maioritáriamente se via envolvido na concepção da estrutura dos mesmos. 7 Louis Sullivan (1856-1924) – foi um influente arquitecto e crítico americano da Escola de Chicago, que tal como Adler, é uma figura importante na concepção de arranha-céus e, por sua vez, do Modernismo. Vindo a ser mentor de Wright, juntamente com Richardson, no sentido do Estilo da Pradaria. 8 Destáca-se esta “dúvida” enquanto uma questão colocada à arquitectura, que se via dividida entre uma percepção pelo gosto exótico e uma necessidade/curiosidade de aplicação das técnicas industriais, que prometiam moldar a sociedade, ganhando uma relevância cada vez maior na vida desta. Rui Manuel Nini Rosalino 28 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos mudança (pelo contributo do progresso mecânico), que vem a ser marcado fulgorosamente por uma “necessidade” de inovação, quer dos jovens artistas quer das restantes mentes do campo das ciências literárias, sociais, políticas, entre outras. Na continuidade deste pensamento (ambíguo), destaca-se Norman Shaw9 como uma outra referência passada pelos seus mentores, onde, ao assinalarmos na obra de Shaw os aspectos que foram adaptados por Wright, é observável a oscilação entre a autoridade (racional) clássica e a “vitalidade” da assimetría – um carácter constituinte da identidade do “Estilo da Pradaria”10. Em suma, podemos afirmar que o “Estilo da Pradaria” se assume como uma “luta” constante de identidades distintas: do mesmo modo que é adoptado (nas suas obras) o pormenor exótico conjugado com o carácter perpendicular racional dos restantes elementos, é utilizada uma dissociação entre a envolvente rural e urbana através do uso de uma fachada regular (ou seja, mais sóbria) para frente urbana e uma mais exótica (e irregular) no alçado tardoz que se encontra voltado para a “natureza”11. Procedendo ao uso da distinção que existia entre o carácter rural e urbano presentes no contexto “bairrista” (das obras pertencentes ao estilo), eram interligados os dois espaços através da assimetria (que compunha a habitação) gerada segundo a adição e aglutinação de espaços de raíz geometricamente regular (como quadrados e rectângulos), que partiam de um princípio simétrico. Contudo, para tornar explícita a influência desta “dúvida” herdada dos seus mentores na sua relação com o carácter organicista, destaca-se a (já referida) relação conceptual contrastante do tratar a identidade urbana aliada à rural, onde é assumida a regularidade do novo e mantida a irregularidade do velho, com o propósito de gerar uma linguagem proveniente de uma aglutinação da simetria e da assimetria. Por outro lado, é através do seu interesse pela associação da Era Industrial com a cultura artística que se comprova a sua ligação com a ciência, mais específicamente durante uma das suas conferências (em 1911) acerca de “A arte e o ofício da 9 Richard Norman Shaw (1831-1912), arquitecto britânico cujas obras se centram na construção de edifícios estatais, comerciais e privados na Grã-Bretanha. Influente na afirmação da arquitectura enquanto uma arte. 10 Estilo da Pradaria: trata-se de um modo de interpretação dos valores do Modernismo, ou seja, uma das diversas respostas à sociedade da Era Industrial que coincide com a maturidade teórica de Frank Lloyd Wright. – “La pradera posee una belleza propia y nosotros deberíamos reconocer y acentuar su belleza natural, su silenciosa llanura. De ahí… los voladizos protectores, las terrazas bajas y los muros extendidos que delimitan jardines privados” (Frampton, 2012, p. 59) 11 Entenda-se a natureza, segunda as palavras do Frank Lloyd Wright, como a vegetação contida pelo espaço exterior “nas costas” das casas. Rui Manuel Nini Rosalino 29 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Máquina”, na qual foi referido o entendimento da máquina como uma ferramenta “que podía usar-se com inteligência, de acordo com as suas próprias leis, como um factor de abstração e purificação”, bem como os processos com os quais a arquitectura se podía redimir dos estragos causados pela industrialização. Assim sendo, é óbvia a influência de John Ruskin12 nos ideais que vem a usar, provenientes do revivalismo medieval e do movimento Arts&Crafts, pontualmente conjugados nas suas obras, com um tipo de representação de carácter cientificamente ficcional da luz, onde podíamos apontar como exemplo o estúdio e a sala recreativa (para os seus filhos) da Wright Home and Studio (Ilustrações 4 e 5). Ilustração 4 – “Interior do estúdio/biblioteca da Wright Home and Studio”, 1889-1895, Illinois (EUA), Frank Lloyd Wright (direita). ([Adaptado a partir de:] Openbuildings, 2011) Ilustração 5 – “Interior da sala recreativa (das crianças) da Wright Home and Studio”, 1889-1895, Illinois (EUA), Frank Lloyd Wright (centro). ([Adaptado a partir de:] Openbuildings, 2011) Ilustração 6 – “Vista Frontal da Wright Home and Studio”, 1889-1895, Illinois (EUA), Frank Lloyd Wright (esquerda). ([Adaptado a partir de:] Openbuildings, 2011) Este projecto, como vem mencionar Frampton, além de se destacar por ser a sua própria casa, destaca-se pelo modo como este trata a luz, à qual confere um carácter ficcional na medida que a geometria dos vãos (zenitais) quebra por completo a restante organização espacial. Por conseguinte, com o pretexto de perceber as raízes orgânicas da obra de Wright, é necessário compreender o modo como se dá a passagem para composições mais abstractas, sendo imprescindível retornar ao tema do “Estilo da Pradaria”, por se tratar de um ponto de partida das mesmas. Sendo, portanto, relevante focar a ligação com o escultor Richard Bock13, enquanto associado e inspiração do mesmo (na 12 John Ruskin (1819-1900) – foi um crítico (social e artístico) britânico cujos ensaios acerca da preservação da arte e do restauro do património histórico têm influência até aos dias de hoje. Apoiando em premissas associadas ao Romantismo. 13 Richard W. Bock (1865-1949), escultor americano. Destáca-se, quanto ao seu trabalho, como escultor de pormenorizações em edifícios políticos. Sendo entendido (por Manson e por Frampton) como a imagem e inspiração do Estilo da Pradaria de Wright, seu associado. Ou seja, suas obras eram a ilustração do simbolismo natural com o qual se caracterizava este tipo de edificado. – "One late acquaintance, however, which gives me much pleasure, is Richard Bock, Sculptor, who has moved to Oak Park, and will occupy the balcony [of the studio]. He has decided to put himself under Mr. W(right)'s Rui Manuel Nini Rosalino 30 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos concretização da forma escultórica) através do simbolismo, crescente, conferido à natureza na interpretação da cultura exótica (que pode ser comprovada na já referida publicação de Owen Jones). Retornando a esta maturação (quer do simbolismo quer do carácter abstracto) nas suas obras, resta salientar enquanto propósito recorrente, a preocupação em conferir uma “alma”14 às mesmas, através do uso da natureza enquanto tema que ganha a formalidade (de tratamento) da casa e templo japonês, uma vez que a transposição dessa espiritualidade, dotada de uma grande delicadeza, é conferida como uma forma de “equilibrio” da relevância dos diversos espaços. Destaca-se a sua influência, principalmente, nos espaços sociais, que obtinham um “peso” maior, uma vez que eram entendidos como núcleos. Assim sendo, há que apontar o uso da lareira nas habitações como um modo de criar um núcleo cerimonial, com o tratar do tokonoma15 – que vem observar no templo Ho-o-den exposto na Exposição Colombiana de Chicago16. Ilustração 7 – “Pormenor da Fachada da Bogk House”, 1916, em Wisconsin (EUA), Frank Lloyd Wright ([adaptado a partir de:] Sveiven, 2011) Ilustração 8 – “Vista do Larkin Administration Building”, 1906, Nova Iorque (EUA), Frank Lloyd Wright (Centro). (Terrastories, 2008?) Ilustração 9 – “Pormenor da Estatuária concebida por Richard Bock para o Larkin Administration Building”, 1906, Nova Iorque (EUA), Frank Lloyd Wright (Esquerda). ([adaptado a partir de:] Prairie Styles, 2011) criticism for a period, as it is his ambition to become a solely Architectural Sculptor. He will do work for the Buffalo (Larkin) building..." 14 “Sobre esto van a exhalar las fuerzas del Arte la emoción de la idealidad. ¡UN ALMA!” – referindo-se à cultura exótica. (Frampton, 2012, p. 59) 15 O tokonoma destaca-se enquanto um espaço social de acolhimento dos edifícios japoneses que se abria, somente, a partir da sua lateral para o jardim. Podendo ter ligação com outras habitações na sua orientação frontal e traseira, caracteriza-se principalmente por estar ladeado por um corredor (que, maioritariamente, garantia a acessibilidade ao jardim interior) e pela envolvente natural, o jardim exterior. 16 Exposição Colombiana de Chicago (1893) – trata-se de uma evento importante na obra de Frank Lloyd Wright dado que o contacto deste com a mostra do templo japonês Ho-o-den. Onde descobre, entre muitas, a importância da lareira nas suas obras – uma interpretação do carácter acolhedor do tokonoma (o espaço social de acolhimento dos edifícios japoneses que se abria somente a partir da sua lateral para o jardim). Rui Manuel Nini Rosalino 31 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos “Si asumimos que el encuentro real con los conceptos japoneses fue la pauta requerida en cierta coyuntura de su carrera para dar a su arquitectura su orientación final e inequívoca, muchos de los pasos de la evolución de ésta se vuelven racionales en lugar de metafísicos. Ejemplos: la conversión del tokonoma – elemento permanente de los interiores japoneses y foco de la contemplación y el ceremonial domésticos – en su equivalente occidental, la chimenea, y la atribuición a ésta de una importancia animista; la exposición franca de la albañilería, la chimenea y su hogar como expresión de cobijo, enfatizada como el único componente sustancial deseado en unos interiores de creciente fluidez; la apertura hacia fuera del interior a partir de la chimenea y hacia superficies variables de vidrio en sus límites exteriores; la extensión de los grandes aleros sobre dichos límites para modificar y controlar la intensidad de la luz que dejan pasar y para protegerlos de las inclemencias del tiempo; la subdivisión del interior en sus diferentes unidades mediante mamparas en lugar de tabiques, reconociendo y albergando así los fluctuantes usos humanos a los que se destina; la eliminación de todas las molduras esculpidas y barnizadas en favor de superficies lisas de madera al natural; todo esto y mucho más podría haber sido sugerido por las enseñanzas del Hoo-den como saludables mejoras todavía ausentes o no declaradas.” Manson, ao descrever a relevância da cultura japonesa como influência nas obras de Wright. (Frampton, 2012, p. 59) À medida que se afirma a intensidade dos ideais organicistas, vai aumentando a relevância dada à relação com a natureza, deixando, aquando do abandono do “Estilo da Pradaria”, de ser assumida enquanto um apontamento ou detalhe escultórico (de raíz exótica). Comparável através da (vísivel) transição entre obras como a Robie House17 para, por exemplo, a Kaufmann House18, o exemplo mais emblemático do organicismo, onde é evidente o centrar na estética do bloco de betão, enquanto um elemento texturado, exposto como se tivesse sido extraído directamente do meio natural – sendo que, é desta forma que encontramos os restantes materiais (como a madeira e metal) que este vem empregar (e conjugar) nas suas obras. 17 Robie House (1908-1910), Chicago, EUA – Frank Lloyd Wright. É um dos exemplos da afirmação do Estilo da Pradaria, em que neste sentido dado à assimetria destáca-se o modo bastante vincado com que é feito, de tal modo que não se trata somente de uma assimetria em planta mas também de fachadas. Com o pretexto de responder à distinção entre o que devería ser uma frente de rua e uma frente de jardim, assumindo-se, como a sua própria natureza nos evidencía, como uma frente urbana e uma outra rural. Onde, cumprir a relação entre simetria e assimetria é tão evidente quanto a distinção entre urbano e rural e a distinção entre o “novo” e o “velho”, ou seja, um sintoma da procura de uma nova linguagem (com atenção às premissas do clássico). Destáca-se nesta o pormenor de as coberturas terem pouca inclinação, uma característica própria das suas obras. 18 Kaufmann House (1936), Pensilvânia, EUA – Frank Lloyd Wright. Esta obra caracteriza-se por ser um dos exemplos mais ilustres da arquitectura orgânica. Pela sua ancoragem à envolvente passa a ser conhecida como Fallingwater House, sendo que assume-se como parte integrante da cascata onde está localizada. Destáca-se pelo uso das texturas dos materiais em bruto, quer do betão (aparente) quer das madeiras e dos outros materiais dos acabamento. É um projecto em que a sensibilidade com que é gerado se prova até uma escala de detalhe, onde é predominante uma concepção espacial que segue a influência da cultura japonesa. Salientando uma assimetria (gerada pela adição de espaço) em que a uso da lareira marca o espaço central, o tokonoma. Rui Manuel Nini Rosalino 32 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 10 – “Secção Longitudinal da Robie House”, 1909, Chicago (EUA), Frank Lloyd Wright. (Frampton, 2012, p. 63) Por conseguinte, nesta transição para as concepções organicistas observamos uma ligação cada vez mais profunda do betão aparente com a natureza (uma vez que era assumido como se de uma “pedra moldável” se tratasse), onde se vem comprovar, através da referência ao termo “orgânico” utilizado por Wright em 1908, na forma de descrever as coberturas em betão, dado que, devido à sua textura, eram descritas como parte de uma árvore. Assim sendo, o germen de la semilla (Frampton, 2012) passa a ser utilizado de outro modo, que não o original, referente ao ornamento, para vir a ser aplicado como uma forma (descritiva) conceptual que integrava a totalidade da obra. Deste modo, podemos afirmar que o orgânico evolui para uma representação conjunta da imaginação com a técnica (onde o betão era a ferramenta essencial), que Frampton mencionava ser o destino expressivo da usonía19: “uma poesía da técnica surgida da inversão dos elementos tradicionais”. Ou seja, era feita uma inversão das regras normais de concepção, onde a luz passava a ser associada à cobertura/tecto, nos locais onde era utilizado um elemento maciço, e o carácter maciço passava a ser associado às paredes (em vez da luz)20, evidenciando a existência dos elementos técnicos, como tubagens (integrantes de instalações sanitárias, por exemplo) enquanto parte integrante do espaço, pelo uso de materialidades (em bruto, ou aparentes) e pela assimetria, referentes ao espaço (simétrico) da habitação que integram – algo em que Wright se vai mostrar pioneiro. 19Usonía é o termo que Wright utiliza para se referir à sociedade igualitária americana (de 1928), que vem no seguimento de um manifesto comunista (de 1848) defensor da abolição gradual da distinção entre o campo e a cidade mediante uma distribuição mais regular sobre o território. 20“Unos tubos de vidrio dispuestos como ladrillos en un muro componen todas las superfícies luminosas. La luz entra en el edificio por donde solía estar la cornisa. En el interior, la construción en forma de caja se desvanece completamente. Los muros que sostienen los nervios de vidrio son de ladrillo recocho rojo y arenisca roja de kasota. Toda la estrutura es de hormigón, con armadura de malla metálica endurecida en frío.” (Frampton, 2012, p. 190 e 191) Rui Manuel Nini Rosalino 33 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 11 – “Planta de cobertura da Fallingwater House”, 1939, Pittsburg (EUA), Frank Lloyd Wright. (direita). ([Adaptado a partir de:] Western Pensilvania Conservancy, 2015) Ilustração 12 – “Vista da Fallingwater House”, 1939, Pittsburg (EUA), Frank Lloyd Wright. (esquerda). ([Adaptado a partir de:] Western Pensilvania Conservancy, 2015) Em suma, tomando como referência a Fallingwater House (Ilustrações 8 e 9) esta encarna o ideal orgânico pelo modo como se integra com a envolvente natural, sendo um ponto de referência da prática e do entendimento dos princípios organicistas. Destacando-se pela manifestação de um romanticismo que vinha quebrar as restrições do Estilo da Pradaria, devido à ausência de ligação com um contexto urbano, fazendo-a adoptar uma graciosidade maior na relação (assimétrica) de implantação – observando-se pelo modo como com os planos soltos passam a ser utlizados no piso térreo, tratando da ancoragem às rochas da castata – como modo de conferir um propósito integrante (da envolvente). Deste modo, podemos afirmar que estes planos assumem o contágio da natureza circundante na materialidade e na coloração (da mesma), destacando-se o uso da pedra e do betão aparente. 2.1.2. ALVAR AALTO E A TRADIÇÃO NÓRDICA Na continuidade da temática orgânica e da ligação da mesma com a natureza, podemos assinalar Alvar Aalto21 enquanto um ícone da mesma. Apesar de não o fazer de um modo tão directo, devido à posição discreta que mantem aquando o decorrer dos CIAM (Congrès Internationaux d’Architecture Moderne) – dado que não participou nos primeiros Congressos. 21 Alvar Aalto (1898-1976) foi um arquitecto filandês que se veio destacar pela sua arquitectura de natureza vernacular, aquando de uma procura de uma linguagem nacionalista. Cujas criações se destacavam pelo seu carácter unitário com a envolvente (natural). Destaca-se pelas suas ponderações detalhadas, em que o uso do tijolo de burro e a madeira eram os materiais predominantes. Rui Manuel Nini Rosalino 34 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Posto isto, seguindo um pensamento similar ao de Frank Lloyd Wright (quanto à relação com o meio natural), adopta as materialidades “cruas” – ou seja, os materiais são aplicados na tentativa de aproximação comparativamente ao seu estado natural – como por exemplo: o tijolo de burro, a madeira e o betão (materiais abundantes na Finlândia). Neste sentido, Aalto deve ser entendido tanto pelo seu trabalho experimentalista, trazido pelo jogo de texturas (dos materiais) que caracteriza a sua obra, mas também como uma parte integrante dos valores modernistas. Desta forma, tal como os seus colegas, procurava afirmar a sua nação enquanto detentora de uma linguagem arquitectónica própria, retornando às concepções vernaculares características da nação filândesa antecedentes à ocupação russa (de Helsínquia), actuando de modo a combater o internacionalmente generalizado: sentimento de perda de identidade, trazido pela produção massiva da Era Industrial. Retornando brevemente ao carácter vernacular acima mencionado, compreendemos a necessidade de Alvar Aalto, tal como Frank Lloyd Wright, de criar uma linguagem arquitectónica nacional (filandesa) que vem sustentar este carácter vernacular rural. Esta fase irá contrastar com o classicismo romântico (do imperalismo russo), praticado inicialmente em Jyväskyla, entre 1923 e 1927, no princípio da sua carreira, referidas por Frampton como concepções “doricistas”22 sob influência de Asplund23. Estas evocavam os tempos enquanto colónia russa, fazendo com que as suas primeiras concepções caminhassem no sentido da uniformidade que se observava nas povoações florestais de Carelia24. Não só pelo seu caracter maciço, onde predominava 22 Esta referência a “concepções doricistas” tem como propósito fazer mensão a um tipo de concepção arquitectónica de simplicidade dórica (de carácter primordial e histórico) cujos elementos tectónicos primários não eram nem clássicos nem vernáculos. (Frampton, 2012, p. 197) 23 Erik Gunnar Asplund (1885-1940) foi um professor e arquitecto sueco cuja representatividade do classicismo nórdico o faz destacar por volta de 1920. Mostrando-se como um dos arquitectos mais referenciados quanto às premissas modernistas na Suécia. Destáca-se neste contexto como influência de Aalto, na metida que é o catalizador da Wagnerschule, através do arquitecto filandês Usko Nyström (1861-1925). 24 “El primer rasgo esencial de interés es la uniformidad de la arquitectura de Karelia. […] Es una arquitectura de asentamientos forestales en estado puro, en la que la madera domina casi al cien por cien como material y como método de ensamblaje. Desde la cubierta, con su sistema macizo de viguetas, hasta los elementos construtivos móviles, la madera predomina, en la mayoría de los casos desnuda, sin el efecto desmaterializador que produce una capa de pintura. Además, la madera se usa a menudo en las proporciones más naturales posibles, con la escala típica del material. […] Otro significativo rasgo especial es la forma en que apareció la casa de Karelia, tanto por su desarollo histórico como por sus métodos construtivos. Sin profundizar en detalles etnográficos, podemos deducir que el sistema interno de construción es fruto de una adaptación metódica a las circunstancias. La casa de Karelia es en cierto modo un edifício que comienza con una sola celda modesta o con un embrión de edifício, refugio para el hombre y los animales, y que luego, […] va cresciendo año tras año. (Frampton, 2012, p. 194) Rui Manuel Nini Rosalino 35 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos a madeira até na cobertura, mas também pela sua relação com a envolvente, auxiliadas pela escolha e modo como os materiais eram empregados. Sendo assim era gerada segundo um princípio evolutivo, que partía de uma única “célula” habitacional, com o intuíto de ir aumentando o número de unidades espaciais à medida que era necessário (ou era económicamente viável), criando “complexos celulares” que se faziam sentir nos diferentes ângulos assumidos pelas coberturas, traços medievais que Aalto aponta em “A arquitectura de Carelia” (Aalto, 1941), e nos remetem para Augustus Pugin25 e o sentido doméstico que este recomendava para as habitações. De outro modo, podíamos salientar o revivalismo gótico presente nas suas concepções (baseadas no carácter vernacular das casas de Carelia26), quanto à irregularidade das coberturas, como uma alusão à topografia acidentada da região. Através de uma ligação ao genius loci (espírito do lugar), esta irregularidade angular é transposta para a planta, como modo de a fazer a ancoragem ao lugar, para garantir um equilíbrio volumétrico – baseado-se na tensão criada entre os diversos corpos. Consequentemente, o carácter único da arquitectura “nacionalista” (de Aalto) foi ganhando uma relevância internacional, levando-o a participar, em 1929, nos CIAM (aquando do congresso dedicado à Existenzminimum27), um acontecimento que, através de Joahnnes Duiker28 e Ladóvsky29, faz despertar o entusiasmo pelos valores construtivistas (do Construtivismo Russo e Holandês). Deste modo, pode-se afirmar que é no Construtivismo que Aalto vai buscar a sua coerência geométrica (agora com uma maior maturidade no que diz respeito à relação equilibrada com a envolvente). 25 Augustus Welby N. Pugin (1812-1852) foi um arquitecto, artista e crítico inglês centrado no revivalismo gótico, sendo relembrado como um pioneiro do mesmo. Deste modo, o carácter medieval, fá-lo adoptar os ideais de concepção artesanal que o Movimento Arts&Crafts vem adoptar, utilizando Pugin como referência para o seu desenvolvimento (após a morte do mesmo). 26Carelia (ou Karelia) é uma pequena província histórica situada na Finlândia. Destacando-se por uma paisagem de marcada por casas em madeira (com coberturas de diversas inclinações) que aparecem como um apontamento na massa arbórea desta região montanhosa. 27O conceito Existenzminimum tem a sua origem nos CIAM, e vem mostrar-se como uma questão recorrente internacionalmente, dado que, com o fim da guerra, era necessário produzir unidades habitacionais para este aumento exponêncial de população. Desta forma, este desafío tem como base perceber quais as condições mínimas (aceitáveis) de habitabilidade para criação das necessárias unidades modulares. 28Joahnnes Duiker (1890-1935) foi um arquitecto holandês de grande importância no que diz respeito ao Construtivismo (holandês). A única parcería que mantinha era com o arquitecto holandês Bernard Bijvoet, até este partir para Paris para fazer parcería no projecto da Maison de Verre com Pierre Chareau (em 1925). 29Nicolai A. Ladovsky (1881-1941), um arquitecto e professor russo relevante quanto ao racionalismo praticado em 1920. De outro modo, apresenta-se como uma referência do Construtivismo Russo pelas ponderações associadas à percepção humana da forma e do espaço, onde surge como fundador da prática soviética e russa em muitas escolas de arquitectura, de 1920 a 1932. Rui Manuel Nini Rosalino 36 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Sendo assinalável através da comparação do Sanatório de Zonnestraal (Ilustração 13), de Duiker e Bernard Bijvoet30, com o Sanatório de Paimio31 (Ilustração 14), uma obra onde a evidência da tensão angular surge como uma compensação ao avanço recortado da massa arbórea – como vem salientar Leonardo Benevolo32 em 1960. Ilustração 13 – “Vista aérea do Sanatório de Zonnestraal”, 1890, Hilversum (Holanda), Johanes Duiker e Edouard Bijvoet (Esquerda). ([adaptado a partir de:] Netherlands, 2003) Ilustração 14 – “Vista aérea do Sanatório de Paimio”, 1929-1933, Paimio (Finlândia) Alvar Aalto (Direita). ([adaptado a partir de:] Archiprix, 2015) Como se pode observar, ao comparar os dois sanatórios, a ancoragem ao lugar é feita, em ambos os casos, recorrendo à inserção dos volumes nas fendas da massa arbórea, como uma forma de afirmar harmonia no lugar (referência ao genius loci). De outro modo, falando da influência do Sanatório de Zonnestraal relativamente ao de Paimio, destaca-se questão do uso do betão como material base. En los primeros edificios modernos la constancia del ángulo recto sirve sobre todo para generalizar el procedimiento de composición, creando a priori una relación geométrica entre todos los elementos, por la cual todos los contrastes pueden resolverse ya de forma geométrica, equilibrando las líneas, las superfícies y los volúmenes. El empleo de ángulo oblicuo (como en el Sanatorio de Paimio) crea un processo opuesto de individualización o de concreción de las formas, dejando subsistir descompensasiones y tensiones que se equilibran por la consistencia física de los elementos o por el ambiente que los rodea. La arquitectura pierde rigor demostrativo, pero adquiere más color, riqueza, cordialidad y, en definitiva, amplía su radio de acción, puesto que el proceso de individualización parte del método generalizado ya adquirido y lo presupone. Leonardo Benevolo, 1960, sobre os feitos de Aalto (Frampton, 2012, p. 204) 30Bernard Bijvoet (1889-1979), foi um arquitecto holandês que vem exercer uma influência para Le Corbusier e para Alvar Aalto no que diz respeito à Neue Sachlichkeit (Nova Objectividade). Contribuindo, juntamente com Pierre Charreau na construção e projecção da Maison de Verre. 31Sanatório de Paimio – Paimio, Finlândia, 1929-1933, Alvar Aalto e Aino Aalto. Um sanatório cujo passado foi dedicado à cura da tuberculose. É um projecto que se destaca por uma tradução do estudo da aplicação do betão de Duiker, mais especificamente com o Sanatório de Zonnestraal como ponto de referência. Destáca-se como uma referência da consolidação do primeiro período de maturação funcionalista (1927-1935). 32Leonardo Benevolo (1923) é um arquitecto, urbanista e historiador (da arquitectura) italiano, que se destaca por promover a utilidade histórica, cultural e social da herança arquitectónica italiana. Destacando-se em inúmeras publicações referentes quer à arquitectura e urbanismo modernos quer ao passado de ambos. Rui Manuel Nini Rosalino 37 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Por conseguinte, é necessário referir a apreensão dos valores objectivos alemães, da Neue Sachlichkeit33 (Nova Objectividade), como um modo de integrar o idealismo social presente nas suas concepções públicas, onde, apesar de estabelecer uma ligação ao espírito do lugar expressava um grande pragmatismo na organização do espaço, ou seja, racionava o espaço disponível segundo a média de pessoas que se destinavam a habitá-lo, ligando-se, como menciona Kenneth Frampton, às ponderações da “casa mínima” – um tema que este vem estudar (desde a sua ligação aos CIAM) para o Congresso Nórdico da Edificação (em 1932), elaborando uma série de protótipos como forma de perceber os conceitos de comodidade segundo a condicionante económica (da população em geral). De outra forma, a fama que este conquistou (internacionalmente) após os CIAM, levou-o a estabelecer contacto com Mairea Gullichsen, proprietária da empresa Ahlström (uma produtora de madeira, papel e celulose) e, posteriormente, patronesse de Aalto – sendo que vem apoiar com a sua empresa a produção das suas peças de design a nível industrial, que, marcadas pelo interesse na forma orgânica, vão deixar o uso do contraplacado curvado para virem a adoptar o vidro. Consequentemente, a relação deste com a empresa madeireira é um facto de incremento do uso da madeira na sua obra, vindo a ser assumido como um material predominante, levando-o a procurar referências nas obras de Eliel Saarinen34 para expressar o gosto (partilhado por ambos) pelas texturas fortes, características do movimento Romântico-Nacionalista finlandês. Deste modo, podemos salientar como exemplo o Pavilhão Finlandês (Ilustrações 15 e 16), a proposta vencedora da qual Aalto era autor, para a Exposição de Paris de 1937 como uma afirmação da “madeira 33Neue Sachlichkeit (ou Nova Objectividade) trata-se de um movimento artistico de origem alemã, a princípios da década de 1920, que vai ser aplicado à literatura, pintura, arquitectura, música, fotografia e cinema. É um movimento que surge como reacção ao Expressionismo e que se vem dar por acabado por volta de 1933 (com a tomada de posse do Partido Nazi). Destáca-se, como o nome indica, por uma representação objectiva, isto é uma representação de objectos simples cujo detalhe era somente o necessário. Vindo, em termos idealistas, defender uma abordagem directa à crítica social – "The New Objectivity is the general flow that currently prevails in Germany, a flow of cynicism and resignation with disappointed hopes. The cynicism and resignation are the negative side of the 'new objectivity' is, its positive side is the enthusiasm for the objectivity, the desire to handle things objectively as they are without looking at them an ideal meaning. Gustav Hartlaub, 1925.” (http://www.lenbachhaus.de/sammlung/neue-sachlichkeit/) 34 Eliel Saarinen (1873-1950) foi um arquitecto finlandês, pai de Ero Saarinen, conhecido pelos seus edifícios Art Decó. Destacando-se também como uma referência na práctica do Romantismo e na crítica à relação entre edifícios no contexto urbano, levando-o a diversas propostas de carácter público, como por exemplo a Helsinki Central Railway Station (1910-1914). Rui Manuel Nini Rosalino 38 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos em andamento” 35, com o intuíto de mostrar que esta também conseguía ter um valor experimental semelhante ao do betão. Ilustração 15 – “Vista frontal do Pavilhão Finlandês para a Exposição de Paris”, 1937, Alvar Aalto (esquerda). (Alvar Aalto Museo, 2011) Ilustração 16 – “Axonometria do Pavilhão Finlandês”, 1937, Alvar Aalto (direita). ([adaptado a partir de:] Ruusuvuori, 1983) Este projecto, como vem referir Frampton, trata-se de uma afirmação nacionalista que remete para as casas de Carélia, que partem de uma única cela (ou célula) e vão assumindo um aspecto irregular (assimétrico) à medida que os volumes, ou células, vão sendo adicionados. Apesar de não apresentar a inclinação das mesmas, o uso dos diversos planos, avançados e recuados, vem estabelecer novamente uma conotação a esta. Para lograr objetivos práticos y formas estéticas válidas en relación con la arquitectura, no siempre se puede empezar desde un punto de partida racional y técnico […] La imaginación humana ha de tener espacio libre para desplegarse. Éste solía ser el caso con mis experimentos de madera. Los juegos puramente formales, sin función práctica alguna, han llevado en algunos casos a formas prácticas después de haber pasado diez años. […] El primer intento de construir una forma orgánica a partir de volúmenes de madera sin usar técnicas de corte condujo más tarde […] a soluciones triangulares que tenían en cuenta la orientación de las fibras de la madera. La parte vertical portante de la forma de los muebles es realmente la hermana menos de la columna arquitectónica. Alvar Aalto (Frampton, 2012, p. 200) Aprofundando o carácter organicista da sua obra, é necessário vê-lo, em primeiro plano, como uma composição volumétrica. Desta forma, tomando como exemplo a Villa Mairea36, é necessário referir a separação, através de um vazio, em dois corpos morfológicamente distintos (como se pode observar nas Ilustrações 18 e 19). Destacando-se a intenção de Aalto de fazer alusão à morfologia humana37, em estágio “embrionário”, através do uso da forma oval deturpada (na piscina) como quebra da geometria maioritáriamente regular. Deste modo, para Aalto, o simbolismo referente 35 Trata-se de uma referência ao título (“La madera esta en marcha”) da exposição finlandesa que a proposta de Aalto, o Pavilhão Finlandês, veio a albergar, afirmando a madeira como um material de orgulho nacional. (Frampton, 2012, p. 199) 36 Villa Mairea, Noormarkku, Finlândia, 1937-1939 – Alvar Aalto – “Sus espacios principales, el salón y el comedor, bordean un patio jardín resguardado, colocado todo ello dentro de un claro aproximadamente circular abierto en el bosque.” (Frampton, 2012, p. 201) 37 “[…] el principio de composición volumétrica de la carrera posterior de Aalto, según el cual todo edificio queda invariablemente separado en dos elementos distintos y lo que queda en medio se articula como un espacio de apariencia humana […].” (Frampton, 2012, p. 199) Rui Manuel Nini Rosalino 39 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos ao “ovo”, enquanto elemento natural, pretende assumir-se como um processo de “regeneração física” 38. Ilustração 17 – “Planta do Piso Térreo da Villa Mairea”, 1938-1939, Noormarkku (Finlândia), Alvar Aalto (centro). (Lahti, 2010, p. 44) Ilustração 18 – “Vista frontal da Villa Mairea”, 1938-1939, Noormarkku (Finlândia), Alvar Aalto (esquerda). ([adaptado a partir de:] Ruusuvuori, 1983) Ilustração 19 – “Axonometria da Villa Mairea”, 1938-1939, Noormarkku (Finlândia), Alvar Aalto (direita). (Frampton, 2012, p. 201) Nesta obra podemos observar um uso da fisionomía em L e U, uma referência que Alvar Aalto vem utilizar de uma forma recorrente, na medida que pretendía fazer alusão à poética da “Truta”. De outro modo, destaca-se o carácter recortado desta obra, como se fosse fruto de uma adição, de origem no processo de adição “celular” da casa vernacular finlandesa. Por conseguinte, a partição (em dois corpos) gerada nas suas obras tem como consequência a concentração em torno do átrio que, segundo o ponto de vista medieval, era a cela/célula inicial – um ponto de partida para a adição de outras células espaciais e, por sua vez, era o espaço que a família habitava até ter condições para mais habitações – e, como tal, o espaço principal da casa. Tratando-se de um espaço de recepção da habitação, Aalto usava-o para separar os espaços privados dos “públicos”, como se pode observar no piso térreo da Villa Mairea (Ilustração 17). Contudo, quanto ao sentido dado ao espaço de recepção, é necessária a menção da sua função em edifícios públicos, onde, em vez de ter o propósito da criação de um jardim (ou outro espaço verde), passa a ter o sentido de ser habitado por um elemento orgânico diferente: as pessoas – as quais, percorrendo este espaço, simulam o fluxo da corrente do rio39, pondendo apontar como exemplo o Town Hall de Säynätsalo40 38 No caso do uso desta forma curvilínea (similar à forma de um ovo) Aalto conferia-lhe não só o valor simbólico do processo de nascimento e regeneração física. Visível, principalmente no caso da Villa Mairea, onde se dá a introdução de àgua. Tratava-se também, pelo simbolismo da àgua enquanto fonte de vida, de uma referência dos costumes medievais. 39Ao mencionar-se o “fluxo da corrente do rio”, trata-se de uma referência ao carácter biológico que a concepção arquitectónica podia adquirir, no qual este escreve em “La trucha y el torrente de montaña” (1947): “[…] querría añadir que la arquitectura y sus detalles pertenecen en cierto modo a la biología. Tal vez se asemejen, por ejemplo, a un salmón grande, o a una trucha. No nacen completamente desarrollados, ni siquiera nacen en el mar o en las aguas en que normalmente viven. Nacen a miles de kilómetros de su morada habitual, donde los ríos se reducen a arroyos entre las montañas, en pequeños regajos cristalinos, bajo las primeras gotitas del hielo que se deshiela, tan lejos de la vida normal como la emoción y el instinto humanos lo están del trabajo cotidiano.” (Ruusuvuori, 1983) Rui Manuel Nini Rosalino 40 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos (Ilustrações 20 e 21), onde a sua morfología em U permite quer a continuidade de um percurso quer a recepção dos habitantes. Assim, resta salientar, a formalidade conferida a este processo tratava-se quase de uma cerimónia, ou seja, um “ritual de entrada” num “espaço civilizado”. Ilustração 20 – “Planta do Primeiro Piso do Säynätsalo Town Hall”, 1944-1951, Säynätsalo (Finlândia), Alvar Alto (direita). (Lahti, 2010, p. 55) Ilustração 21 - “Vista da Entrada do Säynätsalo Town Hall”, 1944-1951, Säynätsalo (Finlândia), Alvar Alto (esquerda). (Lahti, 2010, p. 55) Nesta obra o carácter elevado do pátio, além de uma referência à topografia montanhosa que a envolvía, era um modo de distinção da mesma envolvente rural, isto é, uma forma de marcar a natureza “civilizada” deste edifício. Sería bueno que en lugar de llenar este vacío con jardines decorativos, pudiera incorporarse el movimiento orgánico de la gente en la configuración del emplazamiento con el fin de crear una estrecha relación entre el hombre y la arquitectura” (Frampton, 2012, p. 199). Ilustração 22 – “Planta do piso térreo da Biblioteca de Viipuri”, 1927-1935 (direita). ([adaptado a partir de:] Arquimaster, 2014) Ilustração 23 – “Interior do Auditório da Biblioteca de Viipuri”, 1927-1935 (esquerda). ([adaptado a partir de:] Arquimaster, 2014) Em suma, podemos afirmar que, quanto à influência dos funcionalistas (da década de 1920) ou do Construtivismo soviético, apesar das suas formas dinâmicas, este nunca perde a sensibilidade no que diz respeito à luz. Isto é, mantem-se focado na criação de ambientes que, com o uso da luz, contribuissem para o bem-estar humano, 40 Säynätsalo Town Hall, Säynätsalo, Finlândia, 1949-1951 – Alvar Aalto. Esta obra (em tijolo de burro vermelho) destáca-se pela sua estruturação em torno de um pátio elevado, acessível através de uma grande escadaría que marcava a transição de um espaço rural para um espaço urbano, civlizado (segundo o entendimento de Aalto). Rui Manuel Nini Rosalino 41 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos assumindo como uma práctica secundária o cumprimento dos dogmas modernistas ou revivalistas. Deste modo, através da práctica da fusão do vernáculo com o clássico (que caracterizava a tradição nórdica), pretendia assumir uma posição de proximidade com a natureza, que, por sua vez, sería exposta através da luz que penetrava o interior das suas obras e vinha descobrir as texturas “naturais” (das formas orgânicas). Desta forma, podemos apontar como exemplo o auditório da Biblioteca de Viipuri (Ilustração 22) pela forma como a luz penetra no espaço e dá vida à forma. Como conclusão deste sub-capítulo, poderemos afirmar o seguinte: - Quer Aalto quer Wright, apoiando-se nos estudos acerca da natureza (no campo da biologia, ciências sociais, etc.), começaram a procurar uma linguagem própria, que fosse única quer da sua pátria quer da sociedade modernista. Desta forma, como comprovação, podemos destacar o aparecimento de várias enciclopédias (como por exemplo a Larousse) que surgiram como uma base científica no incremento dos estudos naturais que os levaram além da mera observação da natureza. Isto é, viviam numa sociedade baseada na exploração científica, contudo tinham a convicção de que era na compreensão e na tradução da natureza que poderiam achar resposta para os problemas técnicos, funcionais e formais da arquitectura moderna. - Baseando-se na transposição que estes fazem do Ser Humano, interpretandoo, quer como unidade de medida quer como conector espacial (pela aproximação à morfología humana que conferiam aos espaços), propõem o estreitamento da relação entre Homem e Arquitectura, de tal modo que o Homem era entendido como parte integrante do espaço. A criação de uma obra deixa de ser assumida como uma cristalização, congelada no tempo, em prol de algo quadrimensional, que integra movimento. - Para concluir, resta salientar a base Organicista destes dois autores, onde o processo de interpretação da natureza através das texturas (em bruto) dos materiais permitia uma relação harmoniosa com a envolvente natural, que partindo do carácter vernacular e/ou primitivo da arquitectura, vem estabelecer uma linguagem centrada no uso da assimetria sobreposta à simetria, onde a curva era utilizada como uma referência às formas naturais. Destaca-se, no caso de ambos, um processo de adição de espaço como se tratasse de uma multiplicação celular. Rui Manuel Nini Rosalino 42 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 2.2. LE CORBUSIER: EVOLUÇÃO/TRANSIÇÃO NA SUA OBRA Segundo as palavras de Jencks (Charles), para ser perceptível o aspecto revolucionário da marca de Le Corbusier na arquitectura é necessário percebê-lo através da sua vida. Deste modo, Charles-Edouard Jeanneret (posteriormente Le Corbusier) surge como um percursor do estudo das ciências e natureza no contexto da concepção artística Moderna, cujas oscilações41 repercutem até aos dias de hoje. 2.2.1. DA INTERPRETAÇÃO ORGÂNICA FORMAL À SUA ABSTRACÇÃO Inicialmente, é necessário mencionar que as suas raízes, La-Chaux de Fonds42, uma são uma influência na sua obra. Ou seja, um ponto de partida cuja relação assenta na sua formação sob a mestría de L’Eplattenier43, em que se destaca o estudo da natureza de um modo racional – esta era a base do seu trabalho, mais especificamente no que diz respeito às gravuras. As quais seguiam os ideais formais do Arts&Crafts e da obra de Gaudí44 (como se pode observar na Ilustração 24). – É nesta ponderação que se assenta o primeiro plano do seu trabalho, isto é, num processo de mimesis formal racionalizada, como ideal de natureza abstracta. My master (the excellent teacher Charles L’Eplattenier) had proclaimed “Only nature is inspiring and true and should be the basis of human endeavour. […]” He had an elevated conception of ornament that he conceived of as a microcosm. (Jencks, 2000, p. 27 e 28) Deste modo, baseando-se nos ensinamentos de seu mestre, vem aplicar a relação com a natureza (racionalizada) nos seus primeiros trabalhos como arquitecto, destacando-se a Villa Fallet45 como exemplo. Contudo, é com a sua partida para Paris que este inicía uma jornada daquilo que sería o seu grande impacto na arquitectura, a criação da sua identidade46. 41 Entenda-se oscilações enquanto um processo de procura constante, em que a variação dos processos conceptuais está ligada a uma maturação. (Tavares, 2012) 42 La-Chaux de Fonds, Suiça – deve o seu protagonismo ao facto de concentrar nesta cidade grande parte da producção relojoeira da Europa no século XX. 43 Charles L’Eplattenier (1874-1946), pintor e arquitecto suiço de renome no campo da Art Nouveau suiça. Mestre de Charles-Edouard Jeanneret na Escola de Artes Decorativas, em La-Chaux de Fonds. 44 Antoni Gaudí (1852-1926), arquitecto catalão de renome no campo da Art Nouveau suiça. Mestre de Charles-Edouard Jeanneret na Escola de Artes Decorativas, em La-Chaux de Fonds. 45 Villa Fallet, La-Chaux de Fonds, Suiça, 1905, Charles-Edouard Jeanneret. 46 Identidade enquanto leitura dos outros sobre o indivíduo e leitura do próprio. Rui Manuel Nini Rosalino 43 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 24 – “Evergreen fir tree covered with snow”, 1906, Charles-Edouard Jeannret – desenho a lápis e tinta-da-china (15x17cm). (Jencks, 2000, p. 28) Um exemplo deste estudo racional da natureza, uma tradução dos seus aspectos orgânicos formais e rítmicos de influência L’Epplattenier, por sua vez de Owen Jones – observável no seu livro “A grammar of Ornament”. Consequentemente, aquando da sua estadia em Paris vem trabalhar (a tempo parcial) para Auguste Perret47, depara-se com uma visão (idealista) da arquitectura depurada, baseada numa plasticidade que podia ser expressa através do uso do béton48. Contudo, apesar da potencialidade criativa deste material, não o emprega nos primeiros trabalhos no atelier dos irmãos Perret, sendo que, durante grande parte desse período, centrava-se no uso tijolo e da parede rebocada. Deste modo, a Villa Schwob49 (Ilustrações 25 e 26) surge de forma dissonante, sendo o culminar das técnicas com betão e da assimilação das possibilidades espacias que permitira o sistema Hennebique, ao sobrepor à estrutura-esqueleto os elementos estilísticos (neoclassicos) extraídos de Hoffmann50, Perret e Tessenow51. Por conseguinte, destaca-se neste projecto a óbvia evocação a Palladio, quanto à organização espacial, onde enfatiza o espaço social com o duplo pé-direito de frente em vidro que, ao mesmo tempo nos mostra a envolvente natural, permite a penetração da luz. Tratando-se de uma característica que vem contribuir para o emprego da fachada livre, este vem propor, posteriormente, em “Cinco Pontos para uma Nova 47 Auguste Perret (1874-1954), arquitecto francês de influências Neo-Clássicas que emprega Jeanneret no seu atelier em Paris em 1908. 48 Béton Armé surge enquanto uma exaltação quer da procura de um material do período industrial, um símbolo, quer de uma reminiscência ao uso da pedra (nova pedra) enquanto um material do Clássico. Jeanneret vai estudar e formar-se, em 1913, no uso deste material para poder controlar a sua plasticidade. Dando origem, através do uso das premissas industriais, à Maison Dom-Inó (1915). 49 Villa Schwob, La-Chaux de Fonds, Suiça, 1916, Charles-Edouard Jeanneret 50 Josef Hoffmann (1870-1956), arquitecto austro-húngaro de influências Neo-Clássicas que emprega Jeanneret no seu atelier em Paris em 1908. Torna-se uma grande influência na obra de Jeanneret na medida que renega o Arts&Crafts para praticar uma abstracção funcionalista dos seus edifícios. Começa a procurar uma simplicidade e clareza das formas. Vem propor o “retorno da natureza” à cidade à medida que se aproxima das obras de Wagner, seu mestre. 51 Heinrich Tessenow (1876-1950), arquitecto e professor alemão dos mais influentes em Weimar. Rui Manuel Nini Rosalino 44 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Arquitectura”52, como um modo de integrar a natureza envolvente no espaço habitacional – uma consequência do carácter open planning de Frank Lloyd Wright, que surge 10 anos antes desta obra. Ilustração 25 – “Vista Exterior da Villa Schwob em La-Chaux de Fonds”, 1916, Charles Edouard Jeanneret. (Colomina, 2011, p. 13) Ilustração 26 – “Planta do Piso Primeiro da Villa Schwob em La-Chaux de Fonds”, 1916, Charles Edouard Jeanneret. (Jencks, 2000, p. 101) Conhecida como Villa Turque, devido à influência exótica da sua voyage. Cuja composição da massa relaciona-se directamente com os mosteiros da Constantinopla, em que a utilização de triângulos proporcionais serve para achar elementos secundários como portas e janelas, sendo estas nobres proporções um resultado do traçado regulador. Trata-se, deste modo, da única construção anterior que cumpria o seu cânone. De um modo interpretativo dos mosteiros em questão, opõe-se aos cubos e semi-cubos através do uso de curvas semi-circulares voltadas contra os cubos simples. Algo que se torna uma constante nos seus trabalhos posteriores, especialmente em situações em que se pretende acentuar volumes funcionais. Le Corbusier tuvo que resolver un delicado problema que estaba supeditado a la realización de una obra pura de arquitectura, tal como se aprecia en un diseño en el que las masas son de una geometría primaria: el cuadrado y el círculo. Esta especulación en la construcción de una casa pocas veces se ha intentado, salvo durante el Renacimiento. (Julien Caron apud Frampton, 2012) Consequentemente, é necessário fazer um retrocesso até 1910, para perceber quer o percurso da sua maturação quer a influência das suas viagens no processo de abertura de novos conceitos fundamentais para a criação de Arquitecura, como por exemplo: a cidade no parque e a separação das funções (no edificado e na cidade). Deste modo, podemos apontar a viagem pela Alemanha e o Oriente como uma jornada de aprendizagem – documentada pela influência do livro “Les Entretiens de la Villa du Rouet: Essais dialogués sur les arts plastiques en Suisse Normande”53 (Cingria-Varreyre, 1908) – da qual, além de se traduzir na “Viagem ao Oriente”54, vem retirar as seguintes lições: 52 Os Cinco Pontos para uma Nova Arquitectura, surge como um artigo de Le Corbusier na L’Esprit Nouveau, em 1926. 53 Nota: trata-se de um livro recomentado por um de seus amigos e mentor, William Ritter. Tendo como preponderância essencial a defesa de uma nova forma de Regionalismo do Jura (Frente Norte da cordilheira dos Alpes). Assimilando outro ponto de vista, o de Paul Turner, este livro cria uma conexão entre o seu local de nascimento, Suisse-Romande, e cultura clássica grega. 54 Nota: Mais tarde, em 1911, esta compilação de documentação da viagem (desenhos, escritose anedotas que anotara no seu caderno) traduz-se no livro “Le Voyage d’Orient” – Le Corbusier. Rui Manuel Nini Rosalino 45 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 1ª Lição – Acerca dos mosteiros da Constantinopla: revelavam a “geometria elemental que disciplinava as massas, ou seja, o quadrado, o cubo, a esfera” (Jencks, 2000, p. 71); 2ª lição – Relativamente às casas brancas e simples (do povo): refere-se ao branco (em 1925), pela sua propriedade elemental de trazer à superfície a restante envolvente, como “um raio-x de beleza… um tribunal criminal estático em permanente julgamento” (Jencks, 2000, p. 71), isto é, uma clarificação da ligação aos objectos em confronto com estes volumes; 3ª Lição – Ruskiniana, onde refería a Arquitectura como “um termómetro moral” (Jencks, 2000, p. 71), sendo uma forma de mostrar, em situações socialmente degeneradas, quando eram negadas as funções básicas fundamentais – destacandose como uma óbvia ligação ao livro Ornament and Crime (LOOS, Adolf – 1913) pelo mesmo sentido de crítica social quanto ao edificado “moderno”, nomeadamente, pela excesso de preocupação em ornamentos e a falta de zelo na resolução de problemas e relações funcionais. Por conseguinte, em 1911 (aquando da já referida viagem), na sua estadía num mosteiro no Monte Athos, descobre de um modo (que descreve como) espiritual, “o viver” somente com o essencial – algo que, vem influênciar o seu modo de concepção, baseando-se nos objectos básicos da vida, como por exemplo a garrafa. Deste modo, reparamos, através da crescente presença do “elemento-garrafa” nas suas obras, o surgir da temática purista. 2.2.2. PURISMO55: CONSEQUÊNCIA DA NOVA PLASTICIDADE […] the Perret brothers were like whips to me. These powerful architects chastised me: proclaimed in words and in their works ‘you know nothing’. I began to respect throught the study of the Romans that architecture is not simply an eurythmy of forms but something else: but what? […] I studied mechanics, then statics […] I questioned the beliefs out of which I created my science of modern architecture. […] C.Jeanneret (Jencks, 2000, p. 44) 55 Purismo: Expressão/Estilo Artístico proposto pelo pintor Amédeé Ozenfant em 1916, enraizado na filosofia neo-platónica, de modo a ampliar o seu discurso para integrar as formas de expressão plástica. Caracterizando-se pela representação de objectos típicos do quotidiano através da pintura. Durando até 1925, coincidente com o rompimento de sua amizade com Le Corbusier. Rui Manuel Nini Rosalino 46 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Posto isto, tendo em conta a tensão psicológica que se observa no excerto anterior (de uma carta do mesmo), percebemos o porquê da procura, nas “formas essenciais” (platónicas), de bases mais sólidas para as suas concepções – observando-se o sentido de “L’art de demain” (de Henry Provensal, 1904) nesta significação das formas. Deste modo, baseando-se na maturação das formas platónicas, concebe a raíz do Purismo (em 1918), entendendo este movimento como uma “arte do futuro”, faz uma ligação entre a ciência e os sentimentos/sensações (puristas) dos princípios fundamentais da Natureza, sob o pretexto de transformar esta relação, aparentemente dissonante, numa harmonia. Em oposição, é necessário salientar, a “fé” depositada no Materialismo do betão. Em suma, podemos destacar esta dualidade como uma pretenção de equilibrar a abstracção da forma (espiritual) com a contingência da materialidade (a estrutura à qual estava presa). I. Primary sensation determined in all human beings by the simple play of forms and primary colors. Exemple: If it show to everyone on Earth – a Frenchman, a Negro, a Laplander – a sphere in the form of a billiard ball (one of the most perfect human materialization of the sphere), I release in each of the individuals an identical sensation inherent in the spherical form: This is constant primary sensation. II. There are secondary associations varying with the individual because they depend upon his cultural or hereditary capital… Primary sensations constitute the basis of the plastic language: these are fixed words of the plastic language… it does not seem necessary to expatiate at length on this elementary truth that anything of universal value is worth value. It is the condemnation of individualistic art to the benefit of universal art. (Jencks, 2000, p. 116 e 117) Por conseguinte, podemos observar, com a ligação a Amédeé Ozenfant56, o inflamar das ideias referentes a um novo princípio artístico para a sociedade modernista, observando-se esta mudança nas suas pinturas, começa a prevalecer uma percepção que, ao abandonar os dogmas e o carácter vernacular, se vai relacionar com a vivência quotidiana. Deste modo, caracterizava-se por representações pictóricas onde os object types – garrafas, cachimbos e guitarras (como se pode observar na Ilustração 27) – introduzem formas puras e simples, com o propósito de constituir uma Universal Art que integrasse (unitariamente) a pintura, a escultura, a arquitectura e as artes menores. 56 Amédeé Ozenfant (1886-1966), pintor cubista francês precursor do Purismo juntamente com Le Corbusier (desde 1917), sendo esta expressão da sua autoría. Proprietário do jornal avant-garde “L’Elain”, que publicava os artistas cubo-futuristas da Rússia e França, assumindo consequentemente um grande envolvimento numa estética polémica. Rui Manuel Nini Rosalino 47 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 27 – “Nature morte au Violon”, Charles-Edouard Jeannret, 1920. (esquerda). ([adaptado a partir de:] Jencks, 2000, p. 115) Através da perfilagem dos object types com o intuito de criar uma sinfonía formal, onde o tema era secundário, para ser tomado como verdade universal a evocação da “vida modesta” como idílica. De uma composição enquanto um “casamento de contornos” e àreas proporcionalmente divididas. Ilustração 28 – “Capa do Número 1º da revista L’Esprit Nouveau”, Paul Dermée, Charles-Edouard Jeanneret e Amedée Ozenfant (direita). ([Adaptado a partir de] Georges, 2014) Deve-se por isso ao facto da sociedade procurar respostas nos avanços científicos (da Era Industrial) – uma característica do Homem Moderno – que, pela multiplicação da força humana (com auxílio da máquina) no uso quotidiano, Jeanneret vem fundamentar a sua luta pela Arquitectura através do fulgor do boxear57 – uma adaptação do conceito de super-man de Nietzsche58. – Ou seja, era a afirmação da vontade de criar uma nova linguagem que, devido às preocupações do “mundo economicista”59 do pós-guerra, tinha de ter uma base científica (das ciências matemáticas, mecânicas e dos materiais). “The best efforts of thousands of men converge towards the most economical and certain shape.” Paul Valéry60 (Jencks, 2000, p. 116) Deste modo, (com base nos ensinamentos de Perret) começa a procura por uma arquitectura adequada para o betão, o material com o qual “o arquitecto se podia transformar em artista”61, através da junção do carácter formal ao funcional. 57 Quando se refere o boxear trata-se de uma descrição do próprio, devido à luta constante que mantém na sua estadía em Paris. Cintando-se ao conceito de super-man de Nietzsche como forma de combater as dificuldades impostas pelo sistema económico do pós-guerra. 58 Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo e poeta alemão. Nos seus muitos contributos enquanto crítico cultural introduz a ideia de um super-man (em “Thus spoke Zarathustra”,1883), uma visão darwiniana de um homem em luta constante. Algo que afecta Jeanneret aquando da sua estadía em Paris, sob o tecto de Perret, em que partilhava esta visão resiliente para adquirir os conhecimentos e reconhecimento que conciderava imprescindíveis. 59 Le Corbusier, numa de suas cartas aos seus pais descreve o pensamento colectivo parisience como pertencente a um mundo movido pela economia. Sendo, como tal, necessário rentabilizar a irreverência que este propunha para o Homem Moderno. 60 Ambroise-Paul-Toussaint-Jules Valéry (1871-1945), poeta, filósofo e escritor francês de raízes simbolistas. Em 1923, com a sua estadía em Paris publica “Eupalinos ou l’architecte”, devendo-se à grande influência da L’Esprit Nouveau nas outras àreas, neste caso na literatura. Rui Manuel Nini Rosalino 48 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Como fruto da relação com Ozenfant, nasce assim um dos motores de divulgação e crítica quanto às crenças artísticas de ambos: a L’Esprit Nouveau62 (Ilustração 28), que, caracterizando-se por ser o propósito da criação da identidade Le Corbusier63, é entendida como a afirmação da mudança no pensamento artístico – quer crítico quer criativo. Neste sentido, destaca-se, pela relação com o Cubismo, o entendimento evolutivo da arte como monolítica e moldável – observando-se em duas das suas publicações conjuntas: “Aprés le Purisme” (1918), um texto polémico a favor do aperfeiçoamento da arte que dá origem ao artigo “Le Purisme”64 (1920, quando Paul Dermée65 deixa a revista). Assim sendo, podemos afirmar (com base em Jencks) que o Cubismo e o Dadaísmo eram os movimentos mais inovadores do pós-guerra mas o Purismo pretendía ser a evolução de ambos, proclamando que sería “constructivo onde Dada era somente negativo, e rigorosamente intelectual onde o Cubismo era somente decorativo”. Deste modo, quando descritos os ideais das concepções puristas, podemos observar a relação com o carácter depurado e acertivo (quanto à forma) da Maison La Roche66 (Ilustrações 29, 30 e 31), onde o apontamento da curva, constituinte de uma linguagem natural, se envolvía com a raíz clássica. De um modo descritivo, a sequência espacial era uma preocupação constante – que vem influênciar as obras de bastantes arquitectos modernistas, assim como o carácter geométrico linear que 61“loyal concrete” […] it could make the architect an artist.” Le Corbusier. (Jencks, 2000, p. 59) L’Esprit Nouveau – revista criada a 1920 por Le Corbusier e Ozenfant para difundir os ideais Puristas, na qual estes assinavam com diversos nomes para que, com um superiormente ilusório número de apoiantes ganhassem credibilidade ou influência no mundo artistico. 63 Nota: o emprego inicial da assinatura Le Corbusier vinha como Le Corbusier-Sauguier, assim como diversas combinações que resultam de uma estratégia de marketing, de combinação dos nomes de família, que pretendía dar a entender que os artigos e as críticas publicados na L’Esprit Nouveau eram redigidos por numerosos apoiantes, quando na realidade Ozenfant e Le Corbusier eram os únicos durante grande parte da sua duração, apesar de pontualmente contarem Pierre Jeanneret, primo e colaborador de Jeanneret, também arquitecto. 64 “Le Purisme” trata-se de um artigo publicado no número 4º da revista L’Esprit Nouveau , aquando da partida de Paul Dermée. 65 Paul Dermée (1886-1951), poeta, escritor e crítico literário belga com ligação ao Dadaísmo. Passando a fazer parte da L’Esprit Nouveau em 1920, demonstrando uma aceitação e integração dos valores puristas de Le Corbusier e Ozenfant. 66 Maison La Roche/Jeanneret, Paris, França, 1923-1925, Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Trata-se de uma casa feita para um banqueiro suiço, Raoul La Roche, para acomodar a sua extensa colecção de arte. Ligando programáticamente os dois carácteres funcionais através de uma composição volumétrica. Havendo ainda dentro desta unidade habitacional uma aglutinação entre a casa para La Roche e a casa para Le Corbusier. 62 Rui Manuel Nini Rosalino 49 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos evidencía “o Funcional, a Velocidade e o Belo”67 como “base da melhor cultura enquanto um estado de mente ortogonal”68. Ilustração 29 – “Interior da galeria da Maison La Roche”, 1923-1925, Paris, Le Corbusier (direita). (Fondation Le Corbusier, 2015) Ilustração 30 - “Plantas do Primeiro Piso da Maison La Roche/Jeanneret”, 1923-1925, Paris, Le Corbusier. (esquerda). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) Ilustração 31 – “Planta do Segundo Piso da Maison La Roche/Jeanneret”, 1923-1925, Paris, Le Corbusier. (centro). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) Era através da sequência espacial que se fazia sentir a sua maior preocupação, proveniente da formulação da promenade architecturale, enquanto resposta à necessidade de esta habitação ter a vertente funcional de galería. Onde podemos ver por sua vez o uso da curva a sobrepor-se levemente ao carácter racionalmente linear da obra – uma evocação dos contronos puristas. Por conseguinte, pode-se afirmar quanto a esta obra a atenção dada ao modo como nos aproximamos/chegamos: observando-se um carácter “sedutor” que, fazendo referência às suas viagens (nomeadamente, à “conquista do Parthenon”), liga o percurso rampeado interior para nos conduzir ao longo das obras expostas usando o conceito de Promenade Architecturale69. 2.2.3. FRUTOS DO L’ESPRIT NOUVEAU O PERÍDO HERÓICO There is a new spirit: it is a spirit of construction and synthesis guided by a clean conception… A GREAT EPOCH AS BEGUN. (Le Corbusier apud Jencks, 2000, p. 117) Nesta referência ao Heroic Period, tal como refere Jencks, destaca-se como a continuidade do entusiasmo utopista, que, vendo-se reforçado pelos ideais puristas 67 Trata-se de uma referência ao funcionalismo e à velocidade provenientes do pensamento maquinista da Era Industrial, enquanto que o carácter da beleza refere-se à ligação com a cultura clássica. Assim sendo, destacam-se ambas as considerações como parte integrante desta época, que se vía dividida pelo fulgor da máquina mas que vivía sob o constante medo da perda da sua cultura. 68 Jencks, 2000, p. 140 – “Culture is an orthogonal state of mind.” – Le Corbusier. Uma demonstração da primazía da racionalidade para resolver problemas complexos, neste caso quanto à função, a velocidade e o belo. Onde se percebe uma transição para uma arquitectura a quatro-dimensões (com a inserção do factor tempo no percurso). 69 Promenade Architecturale é um conceito apreendido por Le Corbusier ao “perseguir” a Acrópole, em 1911. Mencionado por este, num tom breve, em Vers une Architecture (1923). Vindo a ser aprofundada com o estudo de Jencks sobre a vida deste – “The ideia is that architecture is best appreciated as a drama that unfolds in movement, where plastic volumes and mental associations can be enployed over time, like a symphony” (Jencks, 2000, p. 136) Rui Manuel Nini Rosalino 50 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos (de mudança), afirma a postura criativa de boxeaur de Le Corbusier (quanto à arte) – uma referência que faz menção à multiplicação através de pseudónimos (na L’Esprit Nouveau) para simular um número maior de apoiantes ao movimento artístico que propunha com Ozenfant. Dado que a L’Esprit Nouveau começa a atrair um número crescente de apoiantes, esta passa a contar com a participação crítica do médico Pierre Winter70 para insidência filosófica no campo da medicina, nomeadamente quanto à salubridade. Sendo assim, através da ligação a Winter, Le Corbusier é levado a procurar um entendimento da fisionomia do Homem para responder às premissas formais e/ou funcionais exigidas à (conceptual) arquitectura moderna, assim como, pela ligação com este, desperta a preocupação pela criação de valores de salubridade e higienicistas (mínimos), para que estes possam servir de pontos reguladores na concepção da Cidade – sendo uma reacção às maleitas trazidas pela vivência sobrelotada dos subúrbios citadinos (da Era da Máquina). Ilustração 32 – “Esquisso do exterior da Immuble-Villa” (direita). ([Adaptado a partir de] Martín, 2010) Ilustração 33 – “Esquisso do interior da Immuble-Villa” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Jencks, 2000, p. 27) Nestas duas ilustrações conseguimos perceber a relevância dada ao objecto (mobiliário) enquanto um elemento que conferia escala humana ao espaço e que, apesar do pé-direito ser duplo (como se percebe na Ilustração 33). Assim, como aparte, destaca-se o carácter modular deste projecto, que demonstra já uma preocupação com o realojamento da população. Deste modo, a reacção higienicista leva à afirmação (generalizada) da ideia de “mente sã em corpo são”71 que, sendo uma constatação da vivência simples (baseada na vida dos monges do Monte Athos) que propunha uma harmonia espiritual e física, transpõe, através da escala, para a relação do objecto do quotidiano com o espaço e para a 70Pierre-André-Eugène Winter (1891-1952), médico, biólogo e higienista francês que participa da L’Esprit Nouveau através da escrita de artigos e críticas, como por exemplo o artigo “Le Corps Nouveau” – acerca de uma necessária renovação do corpo e da mente. Conhece Le Corbusier em 1921, tornando-se seu amigo e apoiante. Defensor da criação de um programa de saúde que ia ao encontro de grande parte dos valores propostos por Le Corbusier no Plan Voisin para Paris (1925). 71 JUVENAL, Sátira X – “Mens sana in corpore sano” – um dos muitos estudos apreendidos com o estudo da sociedade clássica, através de seus filósofos, como é o caso, e dos pergaminhos deizados acerca do edificado. Rui Manuel Nini Rosalino 51 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos consequente relação do Homem com o objecto – como se pode observar na Immueble-Villa72 (Ilustrações 32 e 33). Este projecto já pretendía, de um modo utópico, introduzir a noção de movimento no espaço através do avançar e recuar de planos e volumes. Consequentemente, quando se faz menção ao carácter utópico (das suas primeiras obras enquanto Le Corbusier), podemos salientar a “intemporalidade” e a inserção num “não-lugar” como: “Machines for living in”73 – um conceito que, sendo proveniente da agitação construtiva da “Era da Máquina”, vem basear-se no Construtivismo Russo74 (de Moscovo) para gerar uma tridimensionalidade geometricamente abstracta. Desta forma, destaca-se a referência formal ao cubismo, que, ao assumir um carácter abstracto, vem a ser entendido como parte de uma construção fulgurosa que pretendia salientar o aspecto colaborante da máquina na concepção da arte. Por conseguinte, é necessário referir a influência (generalizada) das obras de Moses Ginzburg75 quanto ao surgimento de construções modulares como solução para o problema de alojamento que se vivia na Europa. Assim sendo, destaca-se (também) a resultante preocupação no estabelecimento de condições mínimas de habitabilidade e de fabricação/mão-de-obra. Isto é, procuravam os valores mínimos de salubridade (e de qualidade de vida) que deveriam ser assegurados tendo em conta uma fácil “fabricação” (sem uso de mão-de-obra especializada), através da conjugação do 72 Immeuble Villa (1925), Le Corbusier. Apesar de o tema da Immueble Villa já ter sido ponderado a 1920, é em 1925 que este ganha mais relevância por ser um elemento modular a diferentes escalas, quer pela sua introdução no contexto urbano (em banda) quer, assumindo um peso maior no contexto internacional, pelo facto do seu interior rejeitar os valores da Art Decó e, consequentemente, dar resposta com uma dicotomía popular elegante, um revivalismo do artesanal e manufacturado (sobre a influência de Loos). Reforçando a ideia de que era da competência do arquitecto a criação de espaço e a organização do mesmo através destes objectos – mobiliário. 73 Quanto ao conceito “Machines for living in” é necessário referir que este vem prevalecer, na Bauhaus, quanto ao ensinamento dos valores Expressionistas (das Glass Cathedrals of the Future). Demonstrando a consciencialização de que, pela evolução abrupta do Homem, era necessária uma mudança (quase radical) de valores. 74 Construtivismo Russo é o chamado movimento artístico e político, de origem russa (1919-1934), que tem como premissas uma reacção às conquistas do Estado Operário. Centrando as concepções constutivistas numa negação da arte de criação “humana”, ou seja, enaltecia as obras artificiais – produto de técnicas mecânizadas. Vindo a influênciar, através das suas inúmeras perspectivas geometricamente racionais, do uso das cores primárias e das recorrentes fotomontagens e serigrafias, movimentos como o Stilj e o Suprematismo, assim como a Bauhaus. Mostrando-se um movimento importante no panorâma arquitectónico, das artes performativas (teatro) e do design no Século XX. 75 Moses Ginzburg (1892-1946), arquitecto construtivista russo que vem influênciar as propostas do modernismo que caminham no sentido da construção modular juntamente com El Lissitzky (1890-1941), podendo-se observar grande similitude das suas propostas com a Maison Dom-Inó, por exemplo. Rui Manuel Nini Rosalino 52 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos módulo e dos elementos pré-fabricados. – como exemplo podemos apontar a já referida Immeuble Villa e a Maison Dom-Inó76. This sounding-board which vibrates in us is our criterion of harmony. This is indeed the axis on which Man is organized in perfect accord with Nature and probably with the Universe and to admit a single will beind it. The lawes of physics are thus a corollary to this axis and if we recognize (and love) science and its works, it is because both one and the other force us to admit they are prescribed by this primal will… If the canoe, the musical instrument, the turbine, all results of experiment and calculation, appear to us to be “organized” phenomena, that is to say as having themselves a certain life, it is because they are based upon that axis. From this we get a possible definition of harmony, that is to say a moment of accord with the axis which lies in man, and so with the laws of the universe – a result to universal law. (Jencks, 2000, p. 132) Neste ponto percebe-se o fulgor que existia quanto ao urbanismo (e à criação de bemestar social e pessoal através do mesmo) que, abandonando a vertente utópica em prol de algo edificável, ganha um papel relevante nas temáticas dos CIAM, levando Le Corbusier, a optar pela ideia futurista dos “objectos como ferramentas do quotidiano”, estudando-os e pré-dimensionando-os antropomorficamente, resultando no Modulor77, uma comprovação da racionalidade científica que se vivía. Como consequência, o processo de criação urbanístico, pela sua estruturação funcional, começa a ligar-se conceptualmente à anatomia humana – quer a nível formal, como se pode observar na morfologia da Ville Radieuse78 (Ilustração 34), quer a nível metabólico. Destacando-se como um processo de mimesis funcional, e programática, quanto à operatividade dos órgãos entre si e como elemento isolado. Deste modo, podemos afirmar que os órgãos, entendidos de um modo científico/médico, passavam a ter uma conotação funcionalmente metafórica. 76 Maison Dom-Inó (1914-1915) – trata-se de um projecto da autoría de Le Corbusier que pretendía combinar uma ideia de módulo económico passível, devido à sua simplificação estrutural com base nas técnicas industriais, de ser construído pelo cliente – comprador do módulo. Havendo, até, na escolha do nome a necessidade de exprimir essa ideia de jogo modular (Dominó). 77 O Modulor trata-se de um sistema de proporções elaborado por Le Corbusier, utilizando as medidas do indivíduo de 1,8m enquanto unidade métrica proporcional para a elaboração e organização de espaço. Baseando-se na proporção áurea e na sequência de Fibonacci, assim como a ideia de Homem Vitruviano. Concluindo, resta dizer que este sistema é uma ferramenta que vem a ser utilizada nas suas obras constantemente. 78 Ville Radieuse (1924), Le Corbusier. Trata-se de um plano urbano utopista, desenvolvido a partir das premissas organizacionais (da reforma social) do plano da Ville Contemporaine (1920), utilizando também pilotis. Vindo a integrar pela primeira vez os princípios que se encontram expressos na Carta de Atenas (publicada a 1943). Encontrando ponderações provenientes do Falanstério (Charles Fourier, socialista francês) e dos aeródromos que vinham a surgir exponencialmente. Rui Manuel Nini Rosalino 53 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 34 - “Plano da Ville Radieuse”, 1924, Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Jencks, 2000, p. 146) Surge como uma solução de planeamento utopista onde se observa a importância do traçar de vias para circulação do automóvel através da partição em quarteirões – unidades celulares. Evidenciando a necessidade de assumir a separação das diferentes àreas em membros funcionais, como se tratasse de um corpo – uma morfologia já apresentada por este. Por conseguinte, como se pode observar na Ilustração 34, o plano da Ville Radieuse é uma directa associação à fisionomia humana, onde se indentificam: a cabeça (o centro de negócios); o coração e a coluna (as casas e os institutos); e para finalizar as “entranhas” (as fábricas, armazéns e industria pesada). Assim sendo, o facto de os quarteirões serem assumidos como marcações “celulares”79 na malha urbana, vem afirmar a versatilidade com que os campos científicos se estavam a cruzar com a arte. O ORGANICISMO FEMININO Em primeiro plano, ao mencionar-se o organicismo feminino é necessário ter em conta a sua origem como uma interpretação da curva dos objects types, nomeadamente da jarra (the pot), que, pelo seu carácter curvado e contra-curvado, dá origem à curva feminina como uma presença sedutora no espaço (enquanto volume ou parede). 79 Referência ao entendimento do quarteirões enquanto células (celulares) – Frampton, 2012, p. 157. Rui Manuel Nini Rosalino 54 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Vindo deste modo a expressar o experimentalismo artesanal dos objects du reaction poétic80 - uma referência à “jarra” dos quadros puristas e à ideologia de geometrização artesanal de Adolf Loos e Hermann Muthesius81, onde, como vem apontar Jencks: “a máquina atinge uma beleza geométrica”. Posto isto, podemos afirmar esta transição através das suas pinturas (como se observa nas Ilustrações 35 e 36), em que o interesse pela fisionomia contra-curvada dá lugar a concepções que prestavam homenagem à curva sensual da Mulher. […] had I not studied medicine I would have found his anatomical precision embarassing. Taya Zinkin82 (Jencks, 2000, p. 202) Ilustração 35 – “Estudo da linguagem plástica purista” (direita). ([Adaptado a partir de] ARoots, 2005) Ilustração 36 – “Estudo: Duas Mulheres” (esquerda). (Jencks, 2000, p. 199) Com base nestas duas ilustrações conseguimos perceber a evolução da forma purista (da jarra) para a curva da mulher. Vindo deste modo a proceder a curvaturas mais livres, isto é, que deixam de estar presas a uma geometria e estrutura rígidas. De outro modo, como um aparte, é necessário mencionar a visão que Le Corbusier tinha da Mulher, sendo que este a via e compreendía como uma figura de formas delicadas, que pela pureza/delicadeza da sua fisionomia contra-curvada tinha uma capacidade sedutora – algo que este pretendía traduzir para o espaço das suas obras. Por outro lado, começa a ser assumida a beleza dos objectos standartizados/industrializados (referidos no “L'Art décoratif d'aujourd'hui”83) pela relação forma-função, sendo que, por serem objectos depurados e aprazíveis estéticamente, possuiam uma beleza própria – associada a: “leis da natureza, corpos geométricos, conchas, e todas as manifestações visuais das verdades cósmicas” 80Objects du reaction poétic é um conceito introduzido por Le Corbusier nas suas pinturas, em 1928, nas quais a forma feminina começa a ganhar uma crescente relevância. 81 Hermann Muthesius (1861-1927) foi um arquitecto e diplomata alemão, cujas ponderações referentes ao Movimento Arts&Crafts vêm influênciar a arte alemã (no geral), assim como vem influênciar os primeiros modernistas e a Bauhaus. De outro modo, destacam-se as suas obras pelo carácter pioneiro, que o vem apontar como o primeiro a contruir uma “cidade-jardim” na Alemanha: Hellerau, em 1909. Para concluir resta mencionar a sua importância como parte da Deutscher Werkbund. 82Taya Zirkin, uma mulher indiana com a qual debatía e partilhava ideais, que, por sua vez, este tentava seduzir, mesmo estando casado, por volta de 1950. 83 “L'Art décoratif d'aujourd'hui”, 1925 (publicada a tradução em inglês somente a 1987), Le Corbusier. Era dedicado a provar que as artes decorativas não existiam na contemporaneidade e que os designer deviam pesquisar pelo seu equivalente contemporâneo: o equipamento industrializado, que tinha um tipo de beleza bastante própria – uma rejeição dos ideais de Ruskin, Hoffamann e Guimard. Rui Manuel Nini Rosalino 55 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos (Jencks, 2000, p. 152 e 153). Que, como se pode perceber, eram uma manifestação da ligação artística com a ciência, ou seja, uma consequência do estado intelectual do all-naked man84. Cinema, books (and magazines such as) Je sais tout, Science et Vie, have replaced by their documentation all the poetics of yesterday. The mistery of nature, which we attack scientifically and hardly exhaust, always grows deeper and more profound the more we advance. In fact it becomes a new culture. (Le Corbusier apud Jencks, 2000, p. 157) Consequentemente, dá-se uma transição nas suas obras quanto ao carácter feminino, sendo que passa a ser utilizado como forma de estruturação urbana, e como um modo de assimilação espacial dos prazeres essenciais (figurados na Carta de Atenas85) como por exemplo: a relação com a vegetação e o meio exterior; os valores de salubridade que deviam ser garantidos para a ocupação e uso do espaço público. Neste sentido, podemos afirmar que a “curva” era entendida de forma simbólica86, que, apesar de ter carácter biológico (como defendia L’Eplattenier), tinha como pretensão principal gerar um espaço com o qual as pessoas se identificassem (ou “emocionassem”, conforme refere nas suas publicações). Ilustração 37 – “Vista Exterior da Villa Savoye”, 1929-1931, Poissy (França) (esquerda). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) Ilustração 38 – “Planta do piso térreo da Villa Savoye” (centro-esquerda). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) Ilustração 39 – “Planta do piso primeiro da Villa Savoye” (centro-direita). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) Ilustração 40 – “Planta do piso segundo da Villa Savoye” (direita). ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) Nesta obra pode destaca-se com uma das últimas “máquinas-brancas”, vindo a sucumbir em prol dos materiais artesanais (como a alvenaría) que evidênciavam as texturas resultantes da pré-fabricação. De outro modo, quanto ao seu carácter formal, nota-se uma 84 All naked man – É com a criação desta figura intelectualmente depurada que vai procurar credibilidade (em si próprio) em vez de “religiões e mitos” do passado, que não são mais credíveis aos olhos deste. Fazendo uma reformulação do modus de monge a partir do contacto com a informação e descobertas científicas, como por exemplo através da revista Science et Vie. 85 A “Athens Charter” é um documento publicado a 1943 por Le Corbusier, sendo o producto dos encontros dos CIAM, adoptando o nome do quarto encontro, e do debate acerca do rumo a tomar quanto ao urbanismo e ao princípios socialistas. Vem introduzir premissas de desenho da cidade e das suas vivências e necessidades, defendendo os three essencial joys: sun, space and green. Tendo, consequentemente, um grande impacto na concepção urbana após a Segunda Guerra Mundial. 86 Quando se faz menção a esta consciencialização simbólica é necessário entendê-la como fruto das suas viagens (em 1907, 1911 e 1921), que volta a afirmar, após um período de procura por uma “linguagem (cósmicamente) moderna”, como consequência da sua viagem à America do Sul (1929 e 1931). Rui Manuel Nini Rosalino 56 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos evolução (relativamente às obras anteriores) quanto ao controlo da curva, que por sua vez vem perdendo a “timidez” com que aparece nas suas obras. De outro modo, dá-se uma mudança de paradigma no carácter programático das suas obras, onde os valores da habitação operária começam a ser rejeitados em prol da vivência burguesa – observável quer na Villa Cook87 (Ilustração 41) quer na Villa Savoye88 (Ilustrações 37 a 40). Assim, falando da transição morfológica da curva, em U e de elipses quebradas, esta é feita com a aplicação dos cinq point de l’architecture moderne89, afirmada como uma forma de direccionar e acolher dissimuladamente quem a percorre. Ilustração 41 – “Vista exterior da Villa Cook”, 1924, Bologne-sur-Seine (França), Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Sochor, 2015) Ilustração 42 – “As Quatro composições”, 1929, Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Satchel, 2014) Na ilustração 42 é observável a evolução da obra de Le Corbusier até ao ano 1929, onde é notório o aparecimento da curva nas suas representações assim como a sua contradição e o seu reaparecimento de uma forma mais afirmada, suscitando uma procura pela identidade do que sería uma arquitectura digna dos avanços do Homem-Moderno. Sendo estas: 1 – Maison La Roche/Jeanneret, em Paris (1923-1925); 2 – Villa Stein, em Garches, Paris (1926-1928); 3 – Weissenhofsiedlung, em Stuttgart (19); 4 – Villa Savoye, em Paris (1928-1931). 87 Villa Cook (1924), Boulogne-sur-Seine, França – Le Corbusier. É uma obra encomendada por William Cook através do escultor Jacques Lipchitz (1891-1973). De carácter habitacional, vem reintroduzir o tema burguês nas obras de Le Corbusier, aquando do acesso aos manuscritos recuperados acerca das villas romanas. 88 Villa Savoye (1928-1931), Poissy, França – Le Corbusier e Pierre Jeanneret. Esta villa modernista é o expoente dos ideais dos cinq points de l’architecture moderne, sendo entendida como o melhor exemplo destes e, consequentemente, uma das obras mais conhecidas de Le Corbusier, também pela sua carga poética – “[…] the picture window overlooking nature, the promenade as a ritual celebrating the cosmos.” 89 LE CORBUSIER & JEANNERET, Pierre, “Cinq Points de l’architecture moderne”, artigo publicado em 1927 sob a sua forma final na L’Esprit Nouveau – trata-se de um resumo sistematizado das ideias de Le Corbusier quanto à arquitectura moderna. Uma consequência da procura de uma linguagem para este período. Traduzindo-se em: 1) planta livre – através do posicionamento livre das paredes, já que estas não precisavam de ser utilizadas de um modo estrutural; 2) fachada livre – resultante da exclusão da anterior dependência de posicionamento dos elementos estruturais, é uma fachada que pode ser projectada sem impedimentos; 3) pilotis – sistema de pilares de suporte do edifício, elevando-o de modo a permitir livre trânsito; 4) terraço-jardim – “recupera” o solo roubado pela inserção do edifício, transferindo o jardim para a sua cobertura; 5) fenêtre en longueur – uma consequência da fachada livre, vindo culminar numa vista desimpedida sobre a paisagem. Rui Manuel Nini Rosalino 57 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Por conseguinte, destaca-se a passagem ideológica da Mulher (gorda/curvilínea) para a imagem de um figura primitiva, a “Deusa-Terra”90, cuja presença era entendida pela relação com sol. Vindo, quanto à arquitectura, a ser usado para evidênciar os volumes como: “masterly, correct and magnificent play of forms in sunlight”. Assim sendo, podemos afirmar que este pretendía acentuar a natureza plástica da forma, baseandose, pelo seu pragmatismo funcional e organizacional, na cultura dos povos primitivos91, que, como Jencks vem referir, procedía à criação de um Mediterranismo Primitivo, ou seja “um tipo de nacionalismo do sol” que se expressava abstractamente (nos seus planos urbanos) – surgindo como uma consequência das suas viagens à América e pela ligação com Arbert Camus92 e André Gide93. A plan arranges organs in order, thus organism or organisms. BIOLOGY! The great new world in architecture and planning. Le Corbusier (Jencks, 2000, p. 225) 2.2.4. DO BRUTALISMO AO PÓS-MODERNISMO No seguimento ao tema da Mulher Primitiva, dá-se uma reacção à Segunda Guerra Mundial que, ao rejeitar as concepções puristas (de geometrização pura), passa a adoptar uma linguagem tortuosa como simulação abstracta da barbárie da guerra. Surgindo a chamada série Taureau94 (o touro), na qual, pelo modo afirmado com que utiliza a curva e os elementos anatómicos, conseguimos perceber a reacção visceral ao horror da guerra (como se pode observar na Ilustração 43), onde se identifica a passagem para uma utilização dos valores anatómicos e científicos que tem como 90Nota: o conceito de Deusa-Terra surge com a sua ligação à cultura primitiva, aquando das suas viagens à America do Sul (1929 e 1936). Onde a observação dos corpos de figuras femininas gordas na praia suscitam esta abordagem a uma forma do passado orgânico, menos civilizado mas portador de uma grande sabedoría. Sendo neste sentido que, nas suas obras e na sua vida, aumenta a relevância do contacto com personagens femininas de etnias exóticas como Josephine Baker (1906-1975) e Taya Zirkin – símbolos dessa procura da forma da Mulher. Sendo, consequentemente, um conceito que este vai abandonar durante algum tempo, após as críticas que os seus planos urbanos utópicos vêm sofrer, vindo a recuperar por volta dos anos 30, numa transição simbolista para o Brutalismo. 91 “I look for primitive men, not for their barbarity but for their wisdom.” – Jencks, 2000, p.208. 92 Albert Camus (1913-1960), foi um escritor e filósofo francês nascido na Argélia, cuja obra incide sobre a “ligação literária enquanto forma de iluminar a sociedade contemporânea”, tendo ligação a Le Corbusier aquando da sua passagem pela costa de Argel. 93 André Gide (1869-1951), foi um escrito frânces (com nóbel da literartura) que se relaciona com Le Corbusier através da sua busca pela “honestidade intelectual”. 94 Taureau (1912-1956) – era uma série de pinturas de carácter abstracto e surrealista, em que o tema principal era o Touro, correspondentes a uma proposição de que a arte devía ser interpretada segundo uma descodificação da simbología secreta com a qual foi criada. Fazendo menção à ideia de mulher mesmo com a presença do Touro – uma referência ao mito de “Pasiphäe e o Minotauro”. De outro modo, destaca-se o uso de uma grande variedade cromática nas suas pinturas, que, abrangendo um grande leque de tonalidades, contrariava o que acontecia nas obras do Purismo. Rui Manuel Nini Rosalino 58 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos finalidade a representação de deformações (humanas) surreais: o biomorphus95 (como por exemplo, híbridos de touros com humanos) ou, somente, representações de partes e orgãos humanos (dispostos na tela ou no plano) – como Picasso faz para “Franco” (“The dream and lie of Franco”, Pablo Picasso, 1937), um autor com o qual se comparava e cujo trabalho valorizava. Ilustração 43 – “Dream and lie of Franco”, Pablo Picasso, 1937. (direita). (Picasso, 1937) Quando comparadas as duas obras, podemos perceber a referência de Le Corbusier às deformações anatómicas. Sendo que ambas eram uma reacção aos horrores da guerra, ou seja, à deturpação da sociedade. Ilustração 44 – “Moon Goddess/Earth Mother”, Le Corbusier, 1948. (esquerda). (Jencks, 2000, p. 283) É ao observarmos esta pintura do Swiss Pavillion (Paris), que podemos ver o ainda presente marriage of contours do Purismo e a presença da temática da Mulher (aliada à representação do Touro), mas com uma sobreposição de temáticas com o intuíto de gerar um puzzle visual simbólico, ou seja, uma imagem a ser descodificada – “[…] in a completely sucessful work of art there are hidden masses of implications that reveal themselves only to those who care, that is, to those who deserve it.” (acerca da série Taureau) Quanto à arquitectura, o ideal reaccionário vem assumir-se segundo a plasticidade do betão, de tal modo que é tratado como se fosse uma escultura, que, derivando de um modern folk vernacular, vem ganhar o cunho de Brutalismo (20 anos depois do seu surgimento) pelo uso das materialidades a crú – “the business of architecture is to establish emotional relationship by means of brutal materials”. (Jencks, 2000, 210) Deste modo, podemos afirmar que o sentido escultórico dado à sua obra faz referência à action sculpture de Tino Nivola96, nomeadamente, pelo modo orgânico com que os volumes eram tratados – do qual podemos apontar a Capela de Romchamp97 95 Nota: entenda-se biomorphus como uma deformação da fisionomía de um Ser, neste caso humano, alvo de um ataque externo. Um entendimento que Le Corbusier mantinha acerca da guerra – uma agressação capaz de mudar até a natureza humana. 96Constantino Nivola (1911-1988), foi um artista e escultor italiano com o qual Le Corbusier passa uma temporada na residência do mesmo (na Sardénia, Itália), onde aprende e estuda a metodología de criação da sua escultura – onde o uso da maleabilidade da areia da praia enquanto molde possibiitava o uso de quick-drying plaster para criar esculturas orgânicas que eram removidas antes da maré subir (uma consequente criação de action sculpture através deste envolvimento entre criador e a acção de remover a peça crua do molde durante o tempo limitado, ou seja, respeitador das possiblilidades do meio). De outro modo, é com a observação das suas esculturas que se constacta a transição de uma outra maturação quanto ao tratar da curva da mulher nas obras de Le Corbusier, nomeadamente na sua série Ubu. 97Capela de Rochamp (1949), Haute-Saône, França – Le Corbusier. É uma obra na qual podemos encontrar a referência à anatomía humana (nas curvas em U que este dizia serem reminiscientes de nádegas, assim como os arcos eram vindos de ombros). Onde se denota a simbología oculta, onde “as Rui Manuel Nini Rosalino 59 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos (Ilustração 44 e 45) como um exemplo (desta ligação), destacando-se também por ser um dos projectos que marca a ruptura com a “máquina branca” para adopção do Brutalismo. Devido ao carácter escultórico, este movimento é marcado pelo uso da monumentalidade nas suas obras, que, segundo apreciações críticas (negativas), eram entendidas como esculturas de Henry Moore, pelo facto de estarem dispostas num espaço público (aberto) e não terem ligação física entre si – levantando uma relação paradigmática no que diz respeito aos objects du reaction poétic. Assim, este edificado era assumido como um espaço tradicional e cívico que libertava a maior parte da extensão do lote, podemos afirmar como evidência a ligação à piazza italiana. Ilustração 45 – “Vista exterior da Capela de Ronchamp”, 1954, Ronchamp (França), Le Corbusier. ([Adaptado a partir de] Vhernandezv, 2014) Ilustração 46 – Análise dos desenhos de Le Corbusier, Charles Jencks (redesenhados). (Jencks, 2000, p. 264) É neste conjunto de representações que vemos expresso o seu pensamento quanto à criação de Ronchamp, e a associação à formas humanas isoladas (orgãos isolados) com ligação à representação da cela do monge, que se vem assumir de um modo natural na representação enquanto gruta. a) trata-se de um desenho do altar e do púlpito da capela onde as duas curvas se destinam a acolher um grande número de peregrinos (1950); b) é uma representação do plano térreo em que o interior tem a configuração de uma gruta; c) trata-se de Ronchamp enquanto um fractal da série Ubu; d) referência a uma orelha ou forma acústica da série escultórica da Ubu, Ozon Opus 1; e) praça distorcida de Romchamp a sobrepor-se à malha regular. Em contrapartida, podemos apontar (nesta posição reaccionária) os valores do Construtivismo Russo, nomeadamente das represenções estruturais e das concepções gráficas (dos cartazes e das capas de revistas) que se centravam na adição e sobreposição formal, apesar de estes serem aplicados a um “organicismo deturpado” (de crítica à sociedade). Ou seja, era executado segundo a lógica: “tal superfícies se tornavam arquitectura”, que este mensionava ser somente para quem era merecedor, que assumía um carácter privado (pela reacção desaprovadora da sociedade às suas propostas utópicas). De outro modo, destáca-se por ser uma referência à sua pintura da série Taureau (do Touro), onde o carácter crú da cobertura em betão assume várias interpretações, incluindo a de ser os cornos de um touro. Atingindo um carácter polémico pela sua monumentalidade, que amplificava a percepção do carácter crú dos materiais. Contudo, era entendido como um edifício religioso do Século XX. Rui Manuel Nini Rosalino 60 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos como a humanidade, a própria natureza podería tornar-se grotesca e aparecer como uma série de partes humanas” (Jencks, 2000, p. 235). Deste modo, podemos afirmar que, na transição de uma arte pública (heróica) para uma arte privada (codificada), se procede à negação da identidade “Super-Homem” de Nietzsche em prol do retorno do monge (do monte Athos). – visível na Unité de Habitatión de Marseilles (Ilustração 47 e 48), onde se observa a busca por este tipo de vivência comedida da cela do monge. Ilustração 47 – “Vista da cobertura da Unité de Habitatión de Marseilles”, 1952, Marseille (França), Le Corbusier (direita). (Carlos, 2014) Ilustração 48 – “Vista da cobertura da Unité de Habitatión de Marseilles”, 1952, Marseille (França), Le Corbusier (esquerda). (Sarena, 2014) Neste projecto destaca-se, além do carácter social desta obra, o sentido privativo que lhe era conferido. Uma vez que este fazia a distinção entre um amibiente privado, de referência na cela do monge, com a convivência social. De outro modo, é necessário mencionar o carácter pontual com que os elementos brutalistas apareciam, sendo visíveis na cobertura da obra. Finalmente, resta salientar na sua obra a procura contínua sustentada na relação científica com a natureza (de “pure forms seen in sunlight”), sendo que, nos seus momentos finais se faz sentir como parte de uma “racionalidade orgânica” que tem por base a geometria fractal natural (de Benoit Mandelbrot, em “The fractal Geometry of Nature”), aplicada ao módulo e aos padrões das texturas (e à variação dos mesmos). We have already seen that he tried, with partial success, to create four or five new languages: a naturalistic, geometric Art Nouveau at eighteen, a Regional Classicism at twenty-five, Purism at thirty-one, heavywheight Brutalism and Metaphorical PostModernism in his early sixties. Just at the end of his life he was starting to create a sixth, lightweight, proto-high-tech language. (Jencks, 2000, p. 300) Como conclusão deste sub-capítulo, poderemos afirmar o seguinte: - No decorrer do seu percurso artístico, Le Corbusier deve ser entendido como alguém que procura uma linguagem própria da sociedade moderna, como modo de marcar os avanços científicos e sociais da mesma. De tal modo que, com o pretexto de criar esta liguagem arquitectónica, se começa a sustentar Rui Manuel Nini Rosalino 61 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos nos mesmos avanços. Partindo dos seus ensinamentos de observação e racionalização da natureza, para assumir mais tarde, através das inúmeras descobertas científicas em torno da medicina e da sociologia, uma postura de interpretação e ligação do Ser Humano (“catalogado/dissecado”) à Arte. Destacando-se nas traduções metafórica e racional/modular do Homem em Espaço (mensurável e habitável) a similitude aos princípios orgânicos de Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto. - De um modo sintético, podemos afirmar o seu percurso (enquanto arquitecto) como: partindo de concepções geometricamente naturalistas (de um Art Nouveau), para assumir um Classicismo Regional (de influência em Perret) e posteriormente o Purismo, sendo que conclui o mesmo com as criações do Brutalismo e do Pós-Modernismo. Assim, é necessário referir a dependência da arquitectura à (sua) sociedade contemporânea, dado que era esta que a moldava (ditando, muitas vezes através de negação, os seus ideais e linguagem). - Para finalizar, resta salientar o facto das suas (últimas) concepções usarem elementos biológicos (do Ser Humano) como uma “solução” formal e funcional que vem influênciar as gerações de arquitectos posteriores, uma vez que, com este uso do carácter metabólico dos órgãos e membros do corpo humano, vem despertar os mais variados processos de mimesis conceptual e de analogías formais – introduzindo um significado racional ao uso da curva. Rui Manuel Nini Rosalino 62 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 2.3. ARQUITECTURA ORGÂNICA CONTEMPORÂNEA (E AS SUAS DERIVAÇÕES) “El problema de la arquitectura moderna no es un problema de recomposición lineal. No se trata de encontrar nuevas molduras, nuevos cercos de ventanas o de puertas […] …sino de crear desde los cimientos la casa construída, atesorando cualquier recurso de a ciencia y la técnica, […] determinando nuevas formas, nuevas líneas, una nueva armonía de perfiles y volúmmenes, una arquitectura que tenga su razón de ser tan solo en las condiciones especiales de la vida moderna, y su correspondenia como valor estético en nuestra sensibilidad.” (Sant’Elia, 1914) Como introdução deste sub-capítulo, é necessário ter em conta o uso da ciência e da técnica enquanto uma sustentação criativa (da arquitectura) da sociedade moderna, como se pode observar no excerto de Antonio Sant’Elia98, afirmando-se como uma consequência na contemporâneidade o seguimento da relação com os avanços científicos (biológicos e tecnológicos), através da ficção científica (cinematográfica e literária) – na medida em que, como afirma Buckminster Fuller99, “o homem não inventa nada, apenas descobre princípios implicitos na natureza e descobre modos de os generalizar e reaplicar em direcções surpreendentes” (Oliveira et al., 2010, p. 15). Deste modo, podemos afirmar a relação dos traços e ideais Futuristas100 no Orgânicismo Contemporâneo pelo seu carácter ficcional. Por conseguinte, é necessário mencionar o Organicismo (contemporâneo) como parte de uma interdisciplinaridade que se vem a afirmar cada vez mais desde o seu surgimento, e cuja base é a matemática, a física, a química, a biología ou, entre outros, as ciências sociais – podendo não se assumir como um avanço “real” do conhecimento mas como um avanço da amplitude do pensamento humano. 98 Antonio Sant’Elia (1888-1916) foi um arquitecto italiano, de grande importância quanto ao Futurismo. Destacando-se também pela ligação a Otto Wagner (1841-1918) enquanto sua influência e dos valores que propunha para o Futurismo Italiano. 99Richard Buckminster Fuller (1895-1983) destacou-se enquanto visionário americano nos campos do design e da arquitectura, em grande parte pelo seu empenho enquanto inventor. Mostrando-se um grande interessado e conhecedor da ciência, sendo que para Fuller era a natureza que reincarnava nos objectos. Consequentemente, vem contribuir no campo da ciência (médica) com uma das suas cúpulas geodésicas, a chamada “Biosfera”, que vem a ser utilizada para representar a estrutura (biológica) proteica do virus. Quanto à arquitectura, estas estruturas de natureza monumental destacam-se pelo seu carácter inovador não só a nível da engenharia estrutural, pela sua leveza, mas também pelo carácter social que este procurava com as suas pesquisas. 100O Futurismo destaca-se como um movimento (artístico e social) que teve as suas origens em Itália no princípio do Século XX e que glorificava as percepções de um futuro baseado na velocidade e na tecnología. Vindo a influenciar movimentos como o Constructivismo, o Surrealismo, Dada e outros. Destacando-se como uns dos vários simbolos deste movimento Filippo Marinetti (1876-1944), Antonio Sant’Elia (1888-1916), Umberto Boccioni (1882-1916), Giacomo Balla (1871-1958) e Bruno Murani (19071998). Rui Manuel Nini Rosalino 63 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Podemos então afirmar que a actual aplicação do conhecimento científico à arquitectura procede a mais que uma ligação de mimesis formal, sendo que os processos resultantes (actuais) elaboram concepções de preocupações funcionais, organizacionais e sensitivas. Abrem ainda a porta para processos construtivos mais complexos ou, somente, mais adequados (às materialidades e técnicas construtivas actuais). Consequentemente, podemos apontar (nesta breve introdução) a ligação dos seguintes arquitectos ao Organicismo Contemporâneo (e às suas derivações): Frank Lloyd Wright – pela harmonia entre a envolvente natural e a arquitectura, além de ser o criador do conceito de organicismo (referido no Capítulo 1); Erich Mendelson101 – como uma referência passada do uso da forma “plástica” contra-curvada (como se pode observar na Ilustração 49); Alvar Aalto – pela relação do carácter vernacular com a natureza (mencionado no Capítulo 1); Buckminster Fuller – pela na relação estrutural entre a ciência e a arquitectura; Frei Otto102 – pelas suas concepções orgânicas de membranas em tensão (observável na Ilustração 51); Santiago Calatrava103 – pela mimesis formal de seres e organismos vivos (Ilustrações 49 e 50) ; Kisho Kurokawa104 – pelo entendimento da arquitectura modular de um modo orgânicamente metabólico; 101 Erich Mendelson (1887-1957) foi um arquitecto polaco que se torna uma das referências dos EstadosUnidos no Expressionismo do século XX, fazendo menção a Frank Lloyd Wright como uma referência das suas obras. De outro modo, é necessário destacá-lo enquanto um dos fundadores de Der Ring, juntamente com os arquitectos Walter Gropius (1883-1969) e Mies Van Der Rohe (1886-1969). Por conseguinte, destaca-se a visível relação da sua obra com a ciência, como por exemplo na Torre de Einstein (um dos seus projectos mais emblemáticos). 102 Frei Paul Otto (1925), é um arquitecto e engenheiro de estruturas alemão cujas ponderações em torno de membranas orgânicas o torna um dos símbolos contemporâneos naquilo que é o transpôr dos logros científicos e das estruturas naturais para a concepção arquitectónica. Derivando do contacto que tem com Wright, Mendelson e Neutra aquando da sua visita aos Estados Unidos (da América). Destáca-se como um defensor da premissa: “as inovações no campo da arquitectura são descobertas de carácter científico que produzem o “novo” na arquitectura.” (Oliveira et al., 2010, p. 15) 103Santiago P. Calatrava Valls (1951) é um engenheiro e arquitecto espanhol cujas obras evidenciam um gesto orgânico baseado no movimento e distribuição das forças pelo maciço (que vem, de certa forma, evocar Borromini pela sua alterção dos princípios estruturais clássicos, propondo uma interpretação orgânica das forças de tenção e compressão que actuam na estrutura – uma associação simbiótica de critérios formais e furncionais), cuja elevada complexidade estrutural tem como objectivo traduzir-se em concepções elegantes. Destaca-se como uma das grandes referências da arquitectura contemporânea. 104Kisho Kurokawa (1934-2007) foi um arquitecto japonês de grande relevância nas temáticas contemporâneas. Destacando-se enquanto referência do Movimento Metabolista (fundado em 1960, por este e outros colegas). Vindo debruçar-se sobre a questão da Impermanence (“impermanência”), tratando espaços que habitamos durante curtos períodos de tempo – expressando numa exposição em 1958 a “Transição da Idade da Máquina para a Idade da Vida” (“Transition from the Age of the Machine to the Age of Life” – título da exposição que decorreu em Tokyo). De outro modo, enquanto autor destáca-se com o livro “The philosophy of symbiosis”. Rui Manuel Nini Rosalino 64 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Eero Saarinen105 – pela racionalidade mecânica com que a curva era utilizada nas sua obras (como se pode observar na Ilustração 54); e entre outros. Ilustração 49 – “Esquisso conceptual da estrutura da torre Turning Torso” (centro). ([Adaptado a partir de] Lisa, 2011) Ilustração 50 – “Vista exterior da torre Turning Torso”, 2005, Malmo (Suécia), Santiago Calatrava (direita). ([Adaptado a partir de] Lisa, 2011) Ilustração 51 – “Vista exterior da Torre de Einstein”, 1919-1921, Potsdam (Alemanha), Erich Mendelsohn (esquerda), . ([Adaptado a partir de] Merin, 2013) Ilustração 52 – “Vista exterior do projecto Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo (Japão), Kisho Kurokawa (direita). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) Ilustração 53 – “Vista interior do projecto do Parque Olímpico de Munique”, 1972, Munique (Alemanha), Frei Otto (centro). (Valdivia, 2015) Ilustração 54 – “Vista exterior do Terminal do Aeroporto TWA”, 1994, Idlewild (EUA), Eero Saarinen (esquerda). (Perez, 2010) 2.3.1. BIO-LOGISMOS Por conseguinte, no desenrolar da contemporaneidade tem-se observado a “migração” dos valores da Arquitectura Orgânica para associações em torno da sustentabilidade e da ecologia. Contudo, é apenas uma derivação que tem como base um ideal contemporâneo: da vivência em recessão económica e ambiental – ou seja: comparativamente à sociedade modernista, onde se viviam tempos de descoberta e exploração (de materias, ferramentas, produções rentáveis, etc.), os tempos de hoje 105Eero Saarinen (1910-1960), filho do arquitecto Elial Saarinen, era um arquitecto e designer industrial filandês famoso cujas obras reflectiam, pelo modo como as formas “surgiam”, caracteristicas NeoFuturistas (que, por sua vez, seguiam as premissas da Biónica) na concepção de um racionalismo baseado na curva “mecânica”. Rui Manuel Nini Rosalino 65 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos assumem-se como uma espécie de “ressaca” ambiental e económica do fulgor modernista, sendo que tem como base a conservação e aproveitamento dos recursos existentes. Assim, podemos apontar a obra de Aalto, pelo carácter vernacular, como referência desta natureza sustentável, na qual, através do uso de materias in situ (no próprio local), estabelecía uma ligação com a envolvente natural. De outro modo, é na preservação do gesto natural que se demonstra o maior interesse artístico/arquitectónico, de tal modo que se tem assumido como uma solução metabólica (relacional e funcional) e/ou morfológica na criação e preservação de edificado. Destaca-se como uma associação que é regida pelos diversos fenómenos biológicos, resultantes da relação interdisciplinar da biologia e a tecnologia, por exemplo. Deste modo, é com base nas afirmações de Alberto Estévez106 (e entre outros) que podemos identificar a Arquitectura Biomórfica e a Arquitectura Biónica como uma continuidade da herança organicista. Destacando-se contemporaneamente, quanto aos seus conceitos, nos seguintes termos: a Arquitectura Biomórfica como um produto da interpretação mimética das formas dos seres vivos; a Arquitectura Biónica como uma tradução funcional e organizacional dos metabolismos dos seres vivos; e Arquitectura Orgânica como uma unidade/harmonía (gerada numa interacção “orgânica”) da obra com a envolvente, através da aplicação funcional de algum organismo ou referência natural. Por outro lado, (seguindo a linha de pensamento de Estévez) podemos afirmar que actualmente a arquitectura é entendida em estado-vivo, sendo definida como arquitectura organizante (de um organismo). Neste sentido, é necessário destacá-la como resultado da “tradição” de três séculos: do século XIX, correspondente ao Clássico e a uma arquitectura que era entendida segundo um princípio verticalizante107; do século XX, que tem como base o Modernismo e o entendimento da arquitectura segundo uma raíz horizontalizante108; e do actual século XXI, cuja 106Alberto Estévez (1960) é um professor arquitecto e designer. Cuja experimentação (através do centro de investigação na Universidade de Barcelona, do qual está encarregue) e teorías relacionadas com a conjugação e interpretação da ciência na arquitectura. Destacando-se como uma referência neste campo, as publicações que tem feito em torno desta temática têm sido importantes no sentido de catalogar e perceber a transição da natureza para o edificado. Que, vem também, debruçar-se sobre a sua ligação com a componente digital e a protótipagem 3D. 107 O princípio verticalizante tem como base a associação ao processo estrutural de compressão, baseando-se no amontoamente da pedra e do tijolo. 108 Ao mencionar o princípio horizontalizante da arquitectura modernista, tem-se em vista uma referência ao uso do betão e do ferro como parte integrante dos processos estruturais de tracção. Rui Manuel Nini Rosalino 66 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos procura assenta na adaptação do edificado à envolvente e no carácter híbrido (que lhe é exigido), no qual se assume de acordo com o princípio organizante – que se destaca pelos estudos de criação de um novo material ou sistema construtivo que possibilite à arquitectura ser criada como se fosse de “carne y huesso”109, ou seja, adaptável.110 Learning from Nature […] a the preposition used provides nuances, learning “from” nature also means learning “with” and learning “in” nature, even “knowing nature” itself, without any preposition. Each expression has its significant nuances, which should not be discriminatory, but enriching when considering them as an interactive interrelated whole. Along the same lines of what was once published about genetic architecture, about the fact that nowadays it is no longer about building “in” nature, but building “with” nature, and even building nature itself, equally without any preposition.(Estévez, 2014a) BIO-MIMESIS Quanto ao processo de mimesis biológica na arquitectura podemos distinguir três execuções: a morfológica; a metabólica; e a do processo cognitivo de percepção da forma. Por sua vez, estes processos destacam-se muitas vezes como metáforas que sustentam o processo criativo. Entende-se como processo de mimesis morfológica (ou arquitectura biomórfica): “a imitação das formas naturais a uma escala macroscópica”. Assim sendo, podemos apontar a simetria bilateral (baseada em Galileu) como um princípio para esta arquitectura, vindo a maturar através de uma relação assimétrica (de proporções). (Oliveira et al., 2010, p. 54) Por conseguinte, é necessário salientar como exemplo o “ovo” da Villa Mairea: cuja deformação parte da representação da esfera “perfeita”, na qual, pela perda progressiva da sua simetria, é associada a um processo de maturação animal. Neste sentido, pode-se salientar que “a perda da simetria corresponde [...] a um processo de especialização.”111, sendo que a transição geométrica para “o irregular” tem como objectivo dar resposta a uma diversidade maior de funções – como se pode perceber na obra de Le Corbusier (Capítulo 2.2.). 109 Estévez, 2015 – “[…] a partir de ahora se revolucionará la mencionada moderna construcción del presente, horizontalizante, a tracción, de acero y hormigón, y se iniciará la genética construcción del futuro, organizante, viva, de carne y hueso.” 2003 110Como aparte, é necessário ter em consideração: este último ponto como uma arquitectura em experimentação, que como tal não se passa de mera espéculação (ainda) por parte do esforço e experimentação de vários arquitectos e engenheiros. Sendo necessário reter a intenção de que actualmente a arquitectura é entendida de um ponto de vista evolutivo e/ou adaptável. 111 Oliveira et al., 2010, p. 54 – “O matemático Herman Weyl ao publicar […] A Simetria – obra considerada fundamental na definição das relações existentes entre ciência e simetria – observa que a partir de Galileu a simetria passara a ser entendida como uma simetria bilateral […].” Rui Manuel Nini Rosalino 67 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Assim, é importante mencionar o papel de Frank Lloyd Wright neste processo, pela relação com a envolvente: da qual mimetizava as formas naturais para que existisse uma harmonía desta com o edificado. No caso do meio circundante não ser natural, “voltava” a sua obra para o seu interior, onde era recriado um ambiente com estas caracteristicas112. Ilustração 55 – “Vista do Milwaukee Art Museum, Quadracci Pavillion”, 2001, Milwakee (EUA), Santiago Calatrava (esquerda). (Oliveira et al., 2010, p. 58) O Milwakee Art Museum, apesar de se destacar pelo carácter formal que a coloca como uma concepção da Arquitectura Biomórfica pela sua parecença com um pássaro a levantar voo, é na pormenorização que este projecto se vem destacar mais como mais do que uma elegante concepção estrutural – tendo parecenças bastante características com músculos, tendões e pele, que são visíveis quando olhamos este projecto com uma maior atenção. Ilustração 56 – “Planta do Piso Terceiro da Casa Milá”, 1906-1910, Barcelona (Espanha), Antoni Gaudí (direita). ([Adaptado a partir de] Lee, 2015) Ilustração 57 – “Vista da entrada da Casa Milá”, 1906-1910, Barcelona (Espanha), Antoni Gaudí (centro). ([Adaptado a partir de] Lee, 2015) Por conseguinte, para assinalar os diferentes métodos deste processo conceptual com o qual se liga a morfologia do edificado, é necessário ter em conta a obra de Gaudí (Ilustrações 56 e 57) pela flexibilidade da linguagem que empregava, que se caracterizava tanto por concepções abstractas como por uma biomimesis, onde a natureza cavernosa das suas obras remetiam quer para a metáfora do útero materno quer para um habitat primitivo. Deste modo, destaca-se pelo uso de formas helicoidais e em espiral como ponto de partida para fazer “brotar” (como se tratasse de uma planta) elementos estruturais helicóides (Estévez, 2015). Assim, podemos afirmar que o “biomorfismo” é adoptado nas suas obras como resposta unitária às questões funcionais, estruturais, espaciais e contrutivas. Para concluir, resta mencionar a obra de Calatrava como uma referência morfológica directa aos organismos biológicos, destacando-se no Milwakee Art Museum (Ilustração 55) a sua similitude com um pássaro prestes a levantar voo, que evidencía outra visão deste tipo de arquitectura: enquanto ícone. 112 Nesta segunda situação, é necessário mencionar que em muitos dos casos o edifício passava a ser entendido como um ícone, de acordo com o conceito do urbanista Phillip Steadman (1942): “Os edifícios são objectos inertes e não organismos”. – Oliveira et al., 2010, p. 58. Rui Manuel Nini Rosalino 68 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos De outro modo, podemos fazer menção à mimesis metabólica (ou Arquitectura Biónica) como uma outra referência biológica, destacando-se, como indica o nome, por se associar ao metabolismo dos organismos biológicos. Ou seja, extraí destes o seu caractér funcional ou organizacional para vir a aplicar à resolução de questões da arquitectura. Sendo assim, podemos afirmá-la como um resultado da Organi-tech113, sendo que se manifesta na necessária emergência de uma nova arquitectura: adaptável e/ou reciclável. Neste sentido, destaca-se como uma continuidade do artigo “Transição da Idade da Máquina para a Idade da Vida”114, de Kisho Kurokawa, onde propunha um conjunto de unidades mutáveis e/ou substituíveis como parte integrante da concepção do “objecto arquitectónico”. Ilustração 58 – “Montagem dos módulos da Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo, Kisho Kurokawa (esquerda). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) Ilustração 59 – “Axonometria do módulo-cápsula da Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo, Kisho Kurokawa (direita). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) Ilustração 60 – “Secção da Nagakin Capsule Tower”, 1972, Tokyo, Kisho Kurokawa (centro). ([Adaptado a partir de] Brito, 2013) Por conseguinte, pode-se apontar como exemplo (da arquitectura metabólica) a Nagakin Capsule Tower (Ilustrações 52, 58, 59 e 60), onde o modo como é usado o módulo é uma manifestação do tema da habitação temporária, sendo que estas unidades são acopuladas a uma estrutura/corpo fixo (a torre), permitindo a troca ou reciclágem dos mesmos. Assim, esta obra assume-se, segundo uma interpretação metabólica e formal, como uma àrvore artificial que sofre um processo de adição 113 Trata-se de uma referência ao “proto-high-tech” de Le Corbusier (Jencks, 2012, p. 300) através da percepção de que a arquitectura biónica praticada por este estaria a assumir contornos que evidenciavam o papel da ciência na arquitectura, de origem no metabolismo de aparência orgânica. – Oliveira et al., 2010, p. 54. 114 Trata-se de um artigo de Kisho Kurokawa com base na sua exposição que decorreu em Tokyo em 1958. Onde se faz a primeira menção à arquitectura metabólica, destacando conceitos-chave como: vida; metabolismo; ecologia; sustentabilidade; simbiose. Rui Manuel Nini Rosalino 69 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos “parasitária”, como vem referir Francesco Marconi115 e Maria de Serra Oliveira116 no livro “Ciência-Cidade”. Ilustração 61 – “Secção da Sede da Swiss Re”, 1997-2004, Londres, Norman Foster&Partners (direita). (Foster+Partners, 2015) Ilustração 62 – “Ilustração de uma esponja marinha da família Euplectella” (centro). (Oliveira et al., 2010, p. 61) Ilustração 63 – “Vista da Sede da Swiss Re”, 1997-2004, Londres, Norman Foster&Partners (esquerda). (Openbuildings, 2011) Neste sentido de simulação do metabolismo (dos seres vivos), podemos apontar como outro exemplo a Sede da Swiss Re (Ilustrações 61, 62 e 63), do arquitecto Norman Foster, pela semelhança com uma esponja marinha (Oliveira et al., 2010, p. 61), onde o uso das qualidades metabólicas da mesma são: uma solução para os sistemas de ventilação deste edifício (através da interpretação do sistema respiratório do ser vegetal – Oliveira et al., 2010, p. 60); uma resolução para a distribuição e organização do programa; e um propósito de mimesis formal de “fazer frente” aos ventos, da mesma forma que esta se impõe às correntes marítimas. É assim necessário mencionar a mimesis congnitiva e a percepção da forma como parte e consequência dos processos biológicos já referidos, o carácter metabólico e o morfológico. Assim sendo, fundamenta-se através do campo científico para a concepção formal, nomeadamente no campo dos mecanismos mentais da percepção da forma, que, por sua vez, podem incidir sobre a actividade cerebral e o comportamento humano – “We shape our buildings and afterwards our buildings shape us…” (Winston Churchill apud Estévez, 2015). 115 Francesco Marconi é um arquitecto e escritor italiano que, no seu trabalho para a Universidade de Arquitectura de Coimbra, desenvolve uma investigação em parcería com Oliveira que resulta no livro “Ciência-Cidade” (2010). 116 Maria de Serra Oliveira é uma arquitecta e escritora portuguesa que, ao desenvolver uma investigação em parcería com Francesco Marconi, produz o livro “Ciência-Cidade” (2010), através da Universidade de Arquitectura de Coimbra. Rui Manuel Nini Rosalino 70 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Consequentemente, podemos afirmar que hoje existe uma relação mais aberta entre as neurociências117 e a arquitectura, onde o diálogo interdisciplinar que tem por base a sociologia abre caminho para uma visão empirica da forma: comprovando-se sob os fundamentos da luz, da cor, do ruído, da privacidade, e outros respeitantes à organização espacial. Ou seja, estes surgem como uma comprovação de bem-estar e da qualidade de vida, onde podemos apontar como exemplo a relação com a proximidade das janelas (no vínculo directo com a luz e a ventilação), pela capacidade de garantir satisfação, saúde, concentração e produtividade. (Oliveira et al., 2010, p. 65) Ilustração 64 – “Vista do Espaço Exterior do Salk Institute”, 1960, California (EUA), Louis Kahn (esquerda). ([Adaptado a partir de] Liuzzi, 2014) Ilustração 65 – “Planta do piso térreo do Salk Institute”, 1960, California, (EUA), Louis Kahn (direita). ([Adaptado a partir de] Silva, 2015) Nesta constatação das condições primárias, destaca-se o Salk Institute118, de Louis Kahn, sendo que, apesar de não ser de uma lógica orgânica, é um dos melhores exemplos para referir este tipo de “lógica intuitiva”. Deste modo, é necessário destacar que, através da combinação dos espaços dicotómicos de individuais para colectivos, “os laboratórios científicos começaram a exibir uma organização caracterizada por permitir “colisões” acidentais entre os seus utilizadores e assim propiciar a colaboração”. (Oliveira et al., 2010, p. 67) Podemos concluir que esta última referência às ciências biológicas tem como base a aplicação dos estudos (das mesmas) a um nível comportamental e/ou empirico, sendo que, não se pode constatar como uma consequência directa da forma, constata-se 117 Quanto às Neurociências é necessário entendê-las como um campo científico que se dedica ao estudo dos processos mentais, assim como ao estudo do cérebro enquanto órgão – o suporte dos mesmos processos. 118 Salk Institute for Biological Studies (1960), California, Estados Unidos da América – Louis Kahn. Rui Manuel Nini Rosalino 71 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos como um fruto da pormenorização funcional e organizacional (da disposição dos diferentes espaços). É no âmbito dos mecanismos mentais de percepção da forma que, ao falar de diálogo interdisciplinar entre ciência e arquitectura, poderemos focar não só o fluxo de informação da ciência para a arquitectura mas também procurar indagar se já existe transferência de informação e de metodologias da arquitectura para outros campos científicos. (Oliveira et al., 2010, p. 66) 2.3.2. ARQUITECTURA GENÉTICA Este sub-capítulo (da “Arquitectura Genética”) tem como objectivo a referência a um pensamento contemporâneo em torno do experimentalismo, sendo que, o pretendido é ter em conta a apropriação da metodologia e dos conceitos científicos pela da arquitectura. Ilustração 66 – Peças obtidas com impressão 3D de formas obtidas através de pesquisas com o Microescópio Electron. ([Adaptado a partir de] Estévez, 2014a) Ilustração 67 – “Scan de bio-estruturas obtidas através de pesquisas com o Microescópio Electron” (direita). ([Adaptado a partir de] Estévez, 2014a) Ilustração 68 – “Silo Automóvel: resultado do estudo de bio-estruturas microscópicas através do aumento da sua escala” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Estévez, 2014b) Destaca-se nestas ilustrações o processo utilizado para criar as estruturas genéticas: um estudo exaustivo em torno das morfologias microscópicas, que é marcado pela recorrente utilização da prototipagem 3D. Deste modo, podemos afirmar que a Arquitectura Genética, tem como base as ideologias da arquitectura do “Organicismo Digital”, na medida que é uma consequência das técnicas e avanços científicos contemporâneos, das diversas Rui Manuel Nini Rosalino 72 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos criações por meio digital e da prototipagem 3D. Neste sentido, destaca-se a afirmação de Estévez, o criador deste conceito: “genética es la nueva arquitectura en los comienzos del tercer milenio” (Estévez, 2015), onde se percebe uma evolução da transposição da escala da natureza (vegetal ou animal), num passo de macroscopía de organismos microscópicos (Ilustrações 66, 67 e 68), para um carácter metafórico, funcional e estrutural. Consequetemente, podemos afirmar que a associação à palavra “genética” tem como pensamento principal a criação de um método que permita à arquitectura “regenerarse” e (até) ser assumida como se estivesse “viva”119. Destaca-se pelo experimentalismo em torno da criação de uma nova materialidade que marque (novamente) o avanço científico-arquitectónico. Ilustração 69 – “Pormenor da fachada das Casas para Férias pouco depois da sua construção”, 1995-1997, Jupilles (França), Duncan Lewis e Edouard François (direita). ([Adaptado a partir de] Meyer, 2013) Ilustração 70 – “Vista das Casas para Férias”, 1995-1997, Jupilles (França), Duncan Lewis e Edouard François (esquerda). ([Adaptado a partir de] Meyer, 2013) Como resultado do aspecto regenerativo, é necessário assinalar a obra de Duncan Lewis120 e Édouard François121 (Ilustrações 67 e 68) pela adopção da massa arbórea enquanto uma “pele” para o edificado, que, apesar de não ser observada como arquitectura orgânica, não deixa de ser entendida como um organismo que se vai desenvolvendo: através da interpretação metabólica (do uso da vegetação como se fosse um outro material de acabamento). Deste modo, demonstra-se a transição para 119 Estévez, 2015. – “Una vez visto el cambio de medios proyectuales, processos de producción, estruturas y formas que esto esto supone… Una vez llegados con ello como a un tercer estadio, genético, de la evolución de la arquitectura (desde el siglo XXI, futuro organizante, estruturas vivas, vegetales o de carne y hueso, crecimiento natural o producción cibernético-digital de piezas distintas) […] Debe poco a poco a preparar el terreno para una primera historia de la arquitectura genética.” 2005 120 Duncan Owen Lewis (1959) é um arquitecto e professor inglês que centra a sua práctica laboral em França, apesar de já ter lecionado nas mais diversas universidades do mundo. Deste modo, destaca-se pela associação a Edouard François, em 1993. 121 Édouard François (1958) é um arquitecto francês que centra a sua práctica contemporânea em concepções de “arquitectura verde”, sendo um pioneiro deste conceito em França. Trata-se de um arquitecto que, através da sua parcería com Duncan Lewis, tem vindo a tornar-se uma referência cada vez maior na Arquitectura. Rui Manuel Nini Rosalino 73 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos um pensamento da arquitectura a um longo prazo, isto é: “para que pode servir no futuro e como se relaciona com a área envolvente?” Como conclusão, destaca-se a utilização da “matéria viva” como uma solução sustentável para o futuro122: sendo assumida, como o nome (Arquitectura Genética) indica, segundo uma composição intramolecular semelhante à construção de uma sequência de ADN – na qual utiliza o meio digital para controlar as dimenções e proporções, a forma e a estrutura (endurecendo-a) como se tratasse da reorganização de uma sequência molecular (Estévez, 2015). Ou seja, é uma procura simultânea do carácter bio-morfológico e bio-metabólico, na medida que este assimila a forma biológica e as caracteristicas operativas correspondentes ao “organismo-base”. Como conclusão deste sub-capítulo, podemos afirmar o seguinte: - As ponderações contemporâneas referentes à arquitectura e aos bio-logismos assumem-se como um método, contrariamente ao que acontecia no princípio: onde eram um apontamento ou referência à natureza (que normalmente circundava os projectos), devendo-se, em grande parte, ao aumento e acesso da informação (científica) no quotidiano. - Consequentemente, destaca-se que devido ao dinamismo e à multiplicidade de funções que o edificado deve comportar, este passou a ser assumido como um Ser Vivo, em vez do conceito modernista que o via como um ícone que se integrava (metafórica e/ou formalmente) com a envolvente. - Deste modo, podemos afirmar que a extensão da lógica natural e científica à arquitectura e ao modo como a habitamos acabou por nos tornar num caso de estudo e catalogação contínua, estudando a nossa apropriação do espaço e o modo como a “qualidade” deste pode melhorar a nossa vivência (das actividades quotidianas). - Para concluir, é necessário salientar o experimentalismo que encontramos contemporaneamente: em torno das tecnologias de prototipagem e produção digital, que se têm assumido cada vez mais como método criativo em vez de ferramenta de execução. 122 Estévez, 2005 – “Como en un flujo natural entre los medios de proyectación y los medios de producción ya posibles: una manera literalmente genética (aún nunca realizada) y una manera metafóricamente genética (ya con ejemplos construidos).” Rui Manuel Nini Rosalino 74 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 3. ARQUITECTURA BIO-MÉDICA: “UM CORPO NO CORPO” 3.1. ARQUITECTURA BIÓNICA A Arquitectura Biónica destaca-se por estabelecer uma ligação científica com os processos metabólicos e funcionais da natureza. Sendo que os interpreta através da exploração tecnológica, este processo arquitectónico afirma-se como um resultado dos avanços científicos contemporâneos. Deste modo, centra-se na compreenção da “regra codificada” da natureza para uma gestão e transposição artificial dos seus valores. O domínio do pensamento constitui ao longo da história um objectivo […] para melhor controlar o mundo; numa primeira fase, através […] dos dogmas e das ideologias, tendo evoluído posteriormente para a cientifização das ideologias incorporando métodos científicos como sistemas de controlo; duma forma cada vez mais subtil, tomaram conta […] da organização social, cultural e política […]. (Duarte, 2011, p. 81) As disciplinas […] interagem, muitas vezes, porque os problemas exigem abordagens de múltiplos pontos de vista, podendo esta interacção conduzir à criação de novos instrumentos, teorias ou métodos e vir a constituir o embrião de uma nova disciplina. (Oliveira et al., 2010, p. 14) 3.1.1. GEOMETRIA “NATURAL” No que refere à geometrização da natureza, podemos perceber a exploração pelos sentidos funcionais e formais dos diversos organismos, que, comprovando as suas proporções e relações formais, vêm estabelecer analogías para a formalização da arquitectura. Desta forma, destaca-se, na tradução inicial da natureza, o processo de ratificação da sua geometria (e proporções) segundo as regras áureas – número de ouro, sucessões e fractais (Ilustração 74). – Que, surgem como um passo (contemporâneo) para geometrias mais complexas: artificiais, na medida que pretendem, de um modo ambíguo, pôr em causa o carácter natural da forma através das ferramentas digitais. (Oliveira et al., 2010, p. 82 - 90) Consequentemente, nesta aplicação (à arquitectura) da exploração matemática e geométrica podemos apontar vários exemplos, nomeadamente de conchas e outras criaturas marinhas e terrestres (como se observa nas Ilustrações 71, 72 e 73), onde o principal objectivo é conseguir redimensioná-las (a partir da sua micro-escala) para Rui Manuel Nini Rosalino 75 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos uma escala habitável pelo Homem: pela sua função, forma, organização ou metabolismo. Ilustração 71 – “Catalogação científica de um cavalo-marinho” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Ayres, 2014) Ilustração 72 – “Catalogação de conchas e criaturas pré-históricas” (centro-esquerda). ([Adaptado a partir de] Podhajsky, 2014) Ilustração 73 – “Sobreposição da Regra de Ouro e da Sucessão de Fibonacci a um Nautilus” (centro-direita). ([Adaptado a partir de] Heilman, 2014) Ilustração 74 – “Bróculo Romanesco” (direita). ([Adaptado a partir de] Takumoto, 2014) Este vetetal destaca-se como uma das principais associações ao fractal na natureza, sendo que percebemos a repetição progressiva do padrão à medida que a sua escala/proporção diminui. Deste modo, a “catalogação” do Homem segundo as proporções e regras áureas demonstra um carácter bivalente, na medida que não só este é uma unidade espacial como uma potencial unidade de espaço – observável, por exemplo, no controlo da escala humana em relação ao edificado das ordens clássicas (Ilustrações 74 e 75). – Vindo a mostrar-se como uma ponderação, quer como analogía quer como método, contemporânea no que diz respeito às associações morfológicas e metabólicas do corpo humano à arquitectura. Ilustração 75 – “Proporções áureas do modelo humano (contemporâneo)” (esquerda). (Mignard, 2013) Ilustração 76 – “Esquema das ordens clássicas com as respectivas referências humanas” (direita). ([Adaptado a partir de] Dey, 2014) Nesta ilustração das colunas clássicas é necessário apontar: a ordem dórica (à esquerda), pela relação com a figura masculina; a ordem jónica (ao centro), pela referência à mulher adulta; e, para concluir, a ordem coríntia (à direita), pela ligação à mulher jovem. Rui Manuel Nini Rosalino 76 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 3.1.2. ORGANISMOS GEOMETRICAMENTE ARTIFICIAIS Por conseguinte, podemos ainda afirmar que, do mesmo modo que existe uma multiplicidade de formas e metabolismos na natureza, existe também uma grande variedade das suas interpretações. Neste processo de artificialização do habitar do Homem por parte da ciência, destaca-se a base da sua concepção: um carácter empírico de vivência da forma e metodologia orgânica.123 Deste modo, é necessário salientar a relação das tecnologías de produção (e representação) e de prototipagem de 3D com a arquitectura, nomeadamente o facto de hoje se assumirem como um processo criativo, em vez de se assumirem, como no seu passado, como uma forma de representação – mostrando que as ferramentas digitais têm cada vez mais um papel importante na vida do Homem Contemporâneo, na medida que a criação de volumetrias mais elaboradas, tanto a nível matemático como geometrico, vê-se facilitada pelos preceitos paramétricos e vectoriais. Neste sentido, destaca-se a geometria fractal124 como a ruptura com as concepções da geometria euclidiana (das formas puras), designadamente por contemplar a possibilidade de compreender os fenómenos formais mais complexos (da natureza), que, até então, eram entendidos como um resultado do “Caos” – a desordem absoluta. “Los objectos fratales no tienen una dimensión mensurable por un número entero. Su dimensionalidad se encuentra precisamente rozando la frontera entre líneas, planos y volúmenes. […] Más densos que líneas pero sin llegar a masificarse en un plano […]. Por otro lado, su grado de irregularidad, es decir su fisionomía, permanece sensiblemente constante a diversas escalas” (Gausa et al., 2002, p. 240)125 Consequentemente, podemos assinalar a mudança no pensamento arquitectónico em torno de controvérsias espaciais, nomeadamente em torno dos chamados “paradoxos operativos” (Gausa et al., 2002, p. 456). Assim sendo, podemos destacar a relação da 123 Duarte, 2011, p. 81 – “Estamos mergulhados num enorme mar de mensagens culturais, cujas influências neurológicas mal compreendemos” ou melhor “não compreendemos a forma como as mensagens podem controlar o nosso pensamento.” – referindo-se à questão do domínio do pensamento (subconsciente, pré-consciente e inconsciente) no processo de criação. 124 O fractal é um termo criado (em 1975) pelo matemático francês Benoît Mandelbrot (1924-2010), que serve para explicar além das limitações da geometria euclidiana, sendo que por serem concepções detalhadamente infinitas não dependem da fixação da escala. Deste modo, podemos referir-nos às concepções que partem do uso do fractal como parte da repetição de um padrão. 125 Trata-se de uma citação do texto “Sin escala” para El Croquis, de Federico Soriano. Destacando-se este conceito como uma progressão da espacialidade virtual, que, em simultâneo, “joga” com as leis físicas do espaço. Rui Manuel Nini Rosalino 77 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Garrafa de Klein126 como parte da formulação de trajectórias “destabilizadoras” pelas uniões aparentemente impossíveis, em sistemas não-lineares. Concluindo, devemos mencionar o fomento da referência à Esponja de Sierpinski127 com vista a um alçado equilibrado, sem que perca a irregularidade do posicionamento e tamanho dos vãos. Isto é, actua-se com fundamento numa sucessão, que ao mesmo tempo que reduz uma figura-base repete-a, como se tratasse de um fractal (observável na Ilustração 77). Deste modo, podemos apontar como exemplo o projecto de Steven Holl128 para os Escritórios de Sarphatistraat (Ilustração 78 e 79), pelo processo de subtracção de matéria que, apesar de se relacionar com a esponja de Sierpinski, mostra-se pragmática no que refere ao tratamento da luz e da relação dos espaços de trabalho com as zonas de convívio. Ilustração 77 – “Esponja de Sierpinski” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Bryant, 2012) Ilustração 78 – “Vista exterior dos Escritórios de Sarphatistraat”, 1996-2000, Amesterdão (Holanda), Steven Holl (centro). ([Adaptado a partir de] Steven Holl Architects, 2015) Ilustração 79 – “Vista interior dos Escritórios de Sarphatistraat”, 1996-2000, Amesterdão (Holanda), Steven Holl (direita). ([Adaptado a partir de] Steven Holl Architects, 2015) “Atractor generado por la sustracción de la misma figura volumétrica de tamaño menor por cada una de sus caras. El resultado es un cuerpo de volumen cero y superficie infinita. Pero en cada cara la superficie total es nula mientras el perimetro de sus agujeros es infinito. […]” (Gausa et al., 2002, p. 528.) 126 Este elemento, criado através dos estudos do matemático alemão Felix Klein (1849-1925) no campo da geometria (euclidiana e não-euclidiana), assemelha-se à concepção da Fita de Möbius quanto ao carácter paradoxal. Destacando-se como uma “superfície fechada não orientável”. 127 Warclaw Franciszek Siepinski (1882-1969) foi um matemático poláco, cujo pesquisa em torno das funções e dos fractais o levam à criação da esponja, do triângulo e da curva de siepinski. Deste modo, destaca-se como uma figura importante para o estabeleciemento dos voronois, um elemento bastante presente nas concepções arquitectónicas contemporâneas. 128 Steven Holl (1947) é um arquitecto e professor americano, cuja obra faz com que seja entendido como um arquitecto de elite da contemporaneidade. Assim, é necessário destacar obras como o Pratt Institute Higgins Hall Insertion (1997-2005), em Nova Iorque, ou o Linked Hybrid (2003-2009), em Pequim. Rui Manuel Nini Rosalino 78 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos BUCLES129: A “DOBRA” O conceito (ou processo) de “dobragem” sustenta-se na ideia da arquitectura ser vista como estando num “estado-líquido” (ou viscoso), sendo que é concebida no seguimento da fluídez e plasticidade modernista, pelo que “[...] cria-se uma envolvente sensualidade e reversibilidade nos espaços, topologicamente tensionados como polaridades energéticas provocando emoções aos utentes” (Duarte, 2011, p. 79), mostrando-se como uma “matéria” elástica e indisciplinada, cujos movimentos de enroscamento produzem uma conexão ao paradoxo da Fita de Möbius130 (Ilustração 82). Desta forma, pode-se afirmar que através do uso de uma malha, de vectores e inflexões cria-se um espaço paradigmáticamente cintado. – Ou seja, é na viscosidade do gesto da dobra que simultâneamente este circunda e liberta o espaço (Gausa et al., 2002, p. 88), onde, derivado à sua torção/elasticidade, anula-se o uso do ponto, da recta e do plano como delimitadores e geradores do espaço. Ilustração 80 – “Vista frontal do alçado e modelo da Virtual House” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 93) Ilustração 81 – “Vista lateral da Virtual House” (centro). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 93) Neste projecto destaca-se (quanto ao seu processo criativo) o sentido paradoxal em que a sua possível repetição acentava, na medida que, repetindo-o infinitamente, a “fita” que o forma nunca perdería a sua continuidade. Ilustração 82 – “Fita de Möbius” (direita). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 93) A nova concepção do espaço dobrado equaciona três princípios fundamentais: o modo como o sujeito se movimenta relativamente ao objecto, retomando o princípio cubista; o desenho decorre […] da visão inscrita numa lógica binária, e valoriza o objecto em si e a quadridimensionalidade anti-prospética; o discurso do sujeito corresponde ao olhar do outro. (Duarte, 2011, p. 80) 129 “Bucles, pues, como loops espaciales: trayectorias transgresoras; nudos y cruces; lazos y enlaces virtuales de movimientos [...]; atractores de actividad destinados a provocar intriga (uniones aparentemente imposibles, de repente, posibles) en agenciamientos espaciales abiertos y cerrados a la vez.” – Gausa et al., 2002, p. 88. 130 Augustus Ferdinand Möbius (1790-1868) foi um matemático e astrónomo alemão, cuja trabalho nos remete para avanços paradoxais como: a Fita de Möbius (ou Moebius); a Função de Möbius; as Transformações de Möbius; a Fórmula de inversão de Möbius; e para a Rede de Möbius. Rui Manuel Nini Rosalino 79 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Neste sentido, podemos apontar o conceito estruturado segundo as cadeias de ADN (Estévez, 2015), onde o interesse destas obras baseia-se na aparente intersecção das duas fitas da cadeia regradas como algo mutável. Ou seja, baseia-se no paradigma da sua intersecção como algo flexivel e inacabado, sendo que o intuito é que tenham um carácter evolutivo, como sequência. (Gausa et al., 2002, p. 93) MALHAS E LAVA PROGRAMÁTICA Partindo do princípio do estabelecimento da malha como uma mais-valia na concepção estrutural das obras arquitectónicas modernistas, é necessário salientar que, na transição para a contemporaneidade, esta adopta a morfologia do “recipiente” ao qual está vinculada. Ou seja, é derivado à intersecção das diversas linhas estruturais que esta vem adoptar a morfologia da rede. Sendo que, no que refere às questões biológicas contemporâneas, materializa-se como rede ao envolver o volume programático: “materializa as suas tenções” (Gausa et al., 2002, p. 385), como se observa nas Ilustrações 83, 84 e 85. Ilustração 83 – “Modelo do Estádio de Chimnitz” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 385) Ilustração 84 – “Diagramas conceptuais da estrutura do Estádio de Chimnitz” (centro). ([Adaptado a partir de] Gausa et al., 2002, p. 385) Ilustração 85 - Vista exterior do Estádio Nacional de Pequim”, iStockphoto (direita). ([Adaptado a partir de] Hsu et al., 2014) Lo que resulta interesante en tales configuraciones es su naturaleza flexible e infraestrutural más que pura y rígidamente adaptable. […] se trata […] de sistemas adaptables y deformables, abiertos a múltiples variables y singularidades […]. (Gausa et al., 2002, p. 385) Consequentemente, no que refere à materialização das tensões do volume programático, podemos afirmar o favorecimento da deformação como parte do entendimento desta arquitectura topograficamente elástica. Assim, devido à variedade crescente de programa que comporta (ou deve comportar) o edificado contemporâneo surge o conceito de “lava programática”, onde se destaca o uso quase total do solo (como se pode observar nas Ilustrações 86, 87 e 88). Sendo assim, dilui-se a Rui Manuel Nini Rosalino 80 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos percepção destas construções como um ícone/objecto, de tal modo que, apesar de se moldarem aos vazíos da cidade, assumem o papel de uma massa extensa.131 Posto isto, é necessário destacar estes projectos como superfícies bastante activas, em que a pretenção é ligar as diversas unidades programáticas (do seu interior) com a envolvente, levando-os a ter um carácter bastante aberto e, como tal, convidativo para os fluxos e actividades da cidade, na medida que promove a criação de vazíos em prol de uma continuidade espacial. Ilustração 86 – “Vista aérea do Metropol Parasol”, Sevilha, J. Mayer H. Architects (esquerda). ([Adaptado a partir de] Pham, 2014) Ilustração 87 – “Vista aérea do Rolex Research Center”, 2010, Lausanne (Suiça), Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa (centro). ([Adaptado a partir de] Ghaz, 2014) Ilustração 88 – “Modelo programático do Rolex Research Center” (direita). ([Adaptado a partir de] Ghaz, 2014) Nestes projectos destaca-se, pela multiplicidade programática que comporta, uma relação bastante activa com a cidade envolvente, devendo-se ao facto de em maior parte dos casos estes funcionarem como uma massa de consolidação dos vazíos (desagregados) da malha da cidade. Assim, podemos afirmar que são estruturas extensas que promovem a estadía e a prática de diversas actividades, que, tendo em conta a tipologia têm tido uma aplicação cultural, de lazer ou desportiva. BOLHAS Ilustração 89 – “Vista exterior da Cúpula Geodésica de Buckminster Fuller” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Marin, 2013) Ilustração 90 – “Diagrama da estrutura da camada de nutrientes de alguns vírus” (centro). ([Adaptado a partir de] Guasa et al., 2002) Quando comparadas estas duas ilustrações percebemos a influência do estudo (da geometria geodésica) de Fuller, sendo que é o ponto de partida para a concepção da camada de nutrientes de diversos vírus. Deste modo, podemos afirmar que se procedeu ao estreitamento da relação entre arquitectura e ciência. Ilustração 91 – “Vista do Observatório de Côte d’Azur”, 1974, França, Antti Lovag (direita). ([Adaptado a partir de] Shapera, 2011) 131 Parece haber desaparecido la objectualidad tan común a la arquitectura y al arte anterior, y haber sido sustituida por una voluntad más extensa e abierta en la que se tratase de crear ambientes, de valorar vacíos (suelos, aires...) como partes integrantes de la obra... [...] – Gausa et al., 2002, p. 367. Rui Manuel Nini Rosalino 81 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos No contexto arquitectónico, as bolhas são concepções que “agregam ar”, ou seja, alteram relação entre o peso e a percepção (que temos) desse peso. Deste modo, podemos identificá-las como um arquétipo da “arquitectura futurista” (Gausa et al., 2002, p. 89) pela ausência de juntas e pela evocação de uma continuidade espacial. Assim sendo, podemos considerar que estas concepções surgem na continuidade das obras de Buckminster Fuller e da relação das mesmas com a ciência (como se observa na Ilustrações 89 e 90). Por outro lado, podemos afirma a sustentação da bolha como um pretexto para a concepção de espaço, de tal forma que este conceito é utilizado como um processo de adição de unidades espaciais, acabando por ganhar a referida configuração “borbulhante” visível na obra de Antti Lovag132 (como se pode observar na Ilustração 91). Em suma, é importante mencionar esta “tipologia criativa” como a associação mais directa, pela forma curvilínea, ao organicismo contemporâneo, isto é, apesar do organicismo não se tratar essencialmente do uso da curva, as obras que derivam do uso da mesma são assumidas como as mais próximas da concepção natural. Como conclusão deste sub-capítulo, poderemos afirmar o seguinte: - A arquitectura biónica pode ser traduzida como um processo proveniente da relação tecnológica com os conceitos naturais (do Organicismo). Assim sendo, podemos afirmar que a base paradigmática das regras matemáticas contemporâneas (como o fractal, a Garrafa de Klein ou a Esponja de Sierpisnki) faz com que esta assuma várias tipologias de pensamento, nomeadamente: de fitas, malhas, bolhas, e entre outras lógicas projectuais de torção e distorção do espaço, onde o ponto de partida e de referência, a natureza, lhe confere o carácter biológico associado ao nome Arquitectura Biónica. - Neste sentido, é verificada a visão da arquitectura contemporânea como parte de um processo conceptual que, sendo mais do que o expressar de um estilo arquitectónico, pretende dar resposta à multiplicação das necessidades programáticas do Homem coetâneo, isto é, o espaço tem de se conseguir 132 Antti Lovag (1920-2014) foi um arquitecto húngaro de pai russo e mãe finlandesa, cuja obra se centra em concepções orgânicas, das quais se destaca a procura em torno do conceito de “Bubble House”. Deste modo, afirma-se um defensor do uso das formas curvas como um modo de adaptação à morfologia humana no espaço. Rui Manuel Nini Rosalino 82 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos adaptar às diversas actividades que forma a vida do individuo, e ter em conta que à medida que aumenta o conhecimento colectivo aumentam os interesses do Homem. - Para concluir, é necessário perceber que este tipo de organicismo contemporâneo não pode ser visto só como um processo de mimesis formal ou metabólica, mas como parte de um sistema complexo de ligações programáticas. Deste modo, o edificado deixa de ser visto como um ícone em prol de uma concepção que integra um público diversificado. Rui Manuel Nini Rosalino 83 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 3.2. INTERVENÇÃO CIENTÍFICA NO CORPO Primeiramente, com vista a compreender os procedimentos e a interacção das ciências médicas especializadas em intervenções no corpo é necessário perceber o campo ético e as regras que as regem. 3.2.1. ÉTICA MÉDICA Como refere Hartmut Kress133, o empregar da terminologia “ética médica” reside na publicação “Medical Ethics” (em 1803) do médico inglês Thomas Percival (1740-1804), sendo assim entendido como a origem da mesma. Posto isto, podemos afirmar que vem manifestar-se no entendimento profissional da aplicação do campo médico, dado que relaciona as obrigações do médico com os direitos do paciente e os interesses específicos dos diversos grupos sociais e etnológicos. (Kress, 2008, p. 9) Consequentemente, a visão contemporânea da ética médica é entendida como algo “ambivalente”134, isto é, como parte da responsabilidade do médico e do doente. Neste sentido, o procedimento médico é um tema bastante polémico, pois são levantadas questões referentes ao início da vida humana, à eutanásia e aos transplantes de órgãos. Por conseguinte, a bioética tem-se mostrado, cada vez mais, um tema latente na Europa, derivado da presença generalizada da medicina na sociedade, “medicalizando-a” progressivamente até que “o costume de se dispor biotecnicamente da vida humana [...] será por meio do diagnóstico de pré-implantação e outros meios [...]” (Kress, 2008, p. 18). De um modo descritivo, podemos assumir a “medicalização”135 da sociedade como parte do poder adquirido pela medicina moderna, que, pelas palavras de Michel Foucault136, se deve ao contacto com os estudos tecnológicos e da ciência natural.137 133 Hartmut Kress (1954) é um professor de Ética Médica na Universidade de Bonn. Destacando-se na comunidade médica pelas reflexões relativas à ética médica, à bioética e às ciências sociais. Nas quais vem estudar a relação da práctica da medicina entre pacientes, médicos e a sociedade (em geral). 134 Kress, 2008, p. 15 – “Frequentemente, o poder da medicina é concebido […] como ambivalente.” 135 Trata-se de um conceito referido por Hartmut Kress como uma das principais consequências do desenvolvimento da medicina e do envolvimento da mesma no quotidiano do ser humano. Referindo-a como um processo de dependência extrema da medicina. 136 Michel Foucault (1926-1984) foi um filósofo, teórico social e crítico literário francês que se destaca como uma referência na relação do conhecimento e do poder quanto ao domínio e controlo social. Deste Rui Manuel Nini Rosalino 84 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Do mesmo modo, percebe-se o enraizamento da noção de responsabilidade médica, devendo-se à tomada de consciência das possíveis consequências físicas e psicológicas inerentes à intervenção médica. Assim, introduz-se também a ideia de preservação da dignidade humana138, que abrange o cuidado quer pelos valores culturais quer pelos valores étnicos do indivíduo. Entretanto, é importante mencionar os conceitos de “saúde” e “doença” pela natureza subjectiva que os caracterizam no entendimento médico contemporâneo, sendo que a definição mais verosímil (ou realista), pelas palavras da OMS139, é: “[...] um estado de completo bem estar físico, mental e social e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade.”140 Neste sentido, assume-se uma racionalidade similar à que Descartes expressa quanto ao corpo, vendo “o corpo humano (como) uma espécie de máquina [...] organizada e composta de ossos, nervos, músculos, veias, sangue e pele.” Sendo assim, podemos perceber a influência da Revolução Industrial no entendimento do Homem como um relógio, dado que de tempos a tempos sería necessária uma afinação ou uma troca de peças (órgãos). Contemporaneamente, o conceito de doença é expresso segundo dois planos, sendo estes: illness, como uma manifestação de um dano subjectivo; e desease, como um distúrbio funcional verificado clinicamente.141 Posto isto, é perceptível o carácter ambiguo do “estado de doença”, sendo este um estado que requer uma maior “margem de manobra” quanto à diagnosticação, pois pode-se lidar com a pena (máxima) que é a perda de uma vida. modo podemos afirmar a sua importância quanto à sociologia e à antropologia social, sendo que podemos salientar entre as suas publicações “Vigiar e Punir” (1975) e “As palavras e as coisas” (1966). 137 Kress, 2008, p. 20 – “Hoje o conhecimento médico e as aplicações biomédicas implicam não só o facto de o meio ambiente e a natureza externa poderem ser influenciados tecnológicamente mas o de influênciar a própria natureza do ser humano.” 138 Tomando como base o filósofo Immanuel Kant (1724-1804) para o esclarecimento dos valores em questão: “a dignidade humana é válida igualmente para todos os seres humanos, sem precondições e sem limitações. A todo o indivíduo cabe reconhecimento, estima e protecção, independentemente de seu estado de consciência e desenvolvimento.” 139 Organização Mundial de Saúde. 140 Kress, 2008, p. 72 – Faz-se referência a um conceito utópico, na medida que se descreve um conceito de saúde inalcançável. Sendo menos surreal se for assumida como um “desvío” nos padrões médicos, sociais ou individuais, ou um “distúrbio” em relação ao corpo e à psique. 141 Contextualizando culturalmente na História a objectivação da doença é assumida pelos especialistas, entre eles Hartmut Kress e alguns membros participantes da OMS, como oriunda da segunda metade do Século XIX, aquando do estabelecimento do uso do termómetro na medição dos níveis de febre (como medida generalizada para a população). Rui Manuel Nini Rosalino 85 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 3.2.2. PROCEDIMENTOS DE INTERVENÇÃO NO CORPO Na continuidade das ponderações éticas, é necessário descrever a relação das mesmas com o modo de “operar” da medicina contemporânea, sendo que actualmente a condição da saúde do paciente é um aspecto em constante acompanhamento e, como tal, de recorrente catalogação, fazendo-se uma “biografia médica” do paciente para obter um diagnóstico mais preciso. Por conseguinte, podemos afirmar que um procedimento médico tem como base a intervenção segundo o “histórico” do paciente, sendo que este contribui para adaptar o modo de abordagem à doença e ao paciente – mesmo que seja para: observação; medicação; cirúrgias de correcção; transplantes; próteses; e/ou acompanhamento psicológico. Deste modo, percebemos a necessidade de um acompanhamento contínuo do paciente (ante, durante e após uma intervenção) para catalogar os diversos procedimentos cirúrgicos, como por exemplo em casos de transplante ou implante de elementos prostéticos. Relativamente a estes procedimentos, destaca-se o uso de medicação imuno-supressiva, para que, com o enfraquecimento do sistema imunológico do corpo, este não combata e rejeite o órgão implantado. Posto isto, há que referir a situação de implante ou transplante de um órgão (e até, de um modo visionário, um membro) como algo impensável até ao Século XX, sendo que é uma continuidade dos processos de industrialização que permitiram a substituição de ossos, como os do joelho, de um modo eficáz (sem que comporte uma dificuldade de locomoção para o paciente). Assim, destaca-se também a execução (industrial) de tubagens de grande qualidade que permitiram a criação de pontes vasculares142 como uma evolução no tratamento e substituição de órgãos danificados. Neste sentido, é importante analisar o modo como é processada uma operação cirúrgica, uma vez que se tratam de uma série de procedimentos de estudo e execução precisos143. 142 Este procedimento (pontes vasculares) caracteriza-se por ser um processo que acontece através do posicionamento de um tubo artificial paralelamente à zona de estreitamento de uma artéria. Com particular uso em artérias coronárias (do coração), permitindo que a circulação sanguínea possa ser feita por um coração artificial. 143 Trata-se de uma precisão contextualizada num vasto conhecimento anatómico (físico e funcional, ou seja metabólico), os estados nutricionais (quando se fala, por exemplo, na falência de algum órgão ou na Rui Manuel Nini Rosalino 86 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos INTERVENÇÃO CIRÚRGICA Ilustração 92 – “Operation”, 1929, Cristian Schad. ([Adaptado a partir de] Lencbahhaus, 2013) Como em qualquer execução precisa, é relevante o modo como é feita a abordagem, sendo que desta depende do posicionamento da incisão no corpo, não só pela procura da amplitude de “manobra” necessária durante o procedimento como também pelo controlo ininterrupto do mesmo. Uma vez que o modo de incisão afecta o modo de suturação, este é um aspecto relevante na previsão da cicatrização e no modo como afecta psicológicamente o doente. Assim sendo, num caso grave de queimaduras, onde a carga psicológica é elevada, requere-se um maior acompanhamento nas diversas fases de recuperação. Neste sentido, podemos apontar este tipo de intervenção como uma situação de prejuízo estético que tem de ser auxiliada por transplantação epidérmica ou por cirurgias plásticas. Retornando à descrição do processo, há que mencionar o contágio tecnológico nas ferramentas actuais (que substituem as tarefas levadas a cabo pelo próprio cirurgião anteriormente) como por exemplo: o endoscópio144, que para além de conferir um incremento da precisão de observação quando comparada com o processo analógico, permite uma intervenção/execução mais precisa devido às diversas ferramentas de corte e suturação que o compõem. sua recuperação), o domínio dos processos de cicatrização assim como o uso das técnicas adequadas a cada situação. 144 Tratam-se de aparelhos tubulares cuja extremidade comporta uma câmera para observar o interior do paciente aquando de uma intervenção cirúrgica. Sendo também equipada com material de corte (lâmina) e uma pinça, permitindo desta forma a observação a fixação e o corte da elemento no qual se está a intervir. “A endoscopia permite limitar a incisão a um pequeno orifício aberto na parte abdominal (laparoscopia ou aroscopia) e retirar por exemplo a visícula biliar […]. A endoscopia efectuada numa articulação (artroscopia) permite o tratamento do ombro e […] do joelho.” – Oliveira, 1997, p. 1746. Rui Manuel Nini Rosalino 87 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Resumidamente, podemos afirmar que o tempo requerido e dispensado ao cálculo do processo de execução é bastante superior que o próprio processo, sendo que a doença é estudada e examinada de várias maneiras. Destacando-se como exemplo referente aos cálculos/cuidados a ter os dados imunológicos e a compatibilidade do órgão145 (uma norma objectiva com vista a gerar um prognóstico da taxa máxima de sucesso possível). É portanto, necessário mencionar que o cruzamento da bio-medicina com a biotecnología tem como resultado no Homem uma generalização social do acesso à medicina, e a consequente aplicação da mesma em termos políticos. Assim, vai cintarse no entendimento geral: “A medicina é uma ciência social, e a política nada mais do que a medicina em grande escala.” (Kress, 2008, p. 56) Posto isto, podemos salientar que procedeu-se a uma democratização da medicina146, sendo que (na continuidade da sociedade científico-natural) esta passa a contribuir para a organização social, integrando o dia-a-dia do Homem e estruturando o tecido urbano (pelas suas funções, segundo a referência medieval), como modo de prevenção de epidemias (como a peste) e uma garantia dos níveis de salubridade. (Kress, 2008, p.64) 3.2.3. PRINCIPAIS PREOCUPAÇÕES DA MEDICINA CONTEMPORÂNEA Primeiramente, é com as soluções apresentadas pela biomedicina e pelo uso da medicina que se levantam as principais questões que assolam a mente da sociedade, e (em especial) as preocupações dos médicos, nomeadamente, no uso de novas tecnologias como a programação (através de chip, implantado no cérebro) e o scanner e prototipagem 3D (na reprodução de órgãos para substituição dos que se encontram em falência). Por conseguinte, podemos destacar estes procedimentos pela procura em dar resposta às doenças genético-moleculares modernas, ou biomédicas, na medida que assumem a célula como fundamento da vida (e ponto de partida ao combate da doença). Deste modo, pode-se afirmar que a maior valência da bio-medicina, apesar do seu carácter experimental, são os processos de reposição celular, tecidal e de 145 Compatibilidades sanguíneas, teciduais e do tamanho do órgão. Kress, 2008, p. 72 – “Os governos têm responsabilidade pela saúde de seus povos, só podendo fazer jus a esses compromissos por meio de medidas sanitárias e sociais adequadas”. 146 Rui Manuel Nini Rosalino 88 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos órgãos, cujo objectivo é o diagnóstico segundo o genótipo147 e a prédisposição familiar (pela comum compatibilidade de doação entre familiares próximos). Consequentemente, surge, quanto à medicina de transplantes, a seguinte questão: “Como lidar com o conflito de valores entre causar danos para salvar vidas?” (Kress, 2008, p. 247). Nesta questão a resposta é baseada na preferência “distributiva” (estabelecida em regulamento) dada a crianças e jovens. De outro modo, destaca-se (dentro do estudo desta questão) o aumento da taxa de sucesso dos transplantes (renais e de coração)148 que veio conduzir à possibilidade de um futuro transplante cerebral. Assim, pelas restrições científicas contemporâneas para o sucesso de um transplante cerebral têm-se, por outro lado, levantado questões éticas quanto à questão da doação de um órgão em vida, sendo que é a única forma conhecida de sucesso num transplante cerebral. Debate-se comummente casos como a retirada de órgão de pessoas com morte cerebral (onde as funções vitais são realizadas por meio de respiração artificial ou funções orgânicas) e, consequentemente, quando é possível desligar os mesmos aparelhos vitais num paciente terminal. Deste modo, percebe-se a necessária estipulação de critérios de diagnóstico para a determinação da morte cerebral, no sentido de delimitar até que ponto “uma morte cerebral não pode ser um estado de vida possível de ser recuperado?”149 Posto isto, é necessário considerar que “com a morte orgânica do cérebro, as condições imprescindíveis para a vida humana pessoal, assim como todas as funções vitais necessárias para a vida física independente, se extinguem definitivamente” (Kress, 147 Trata-se da classificação, através da repetição de casos catalogados com sintomas similares, da prédisposição para contrair determinadas doenças segundo a raça, a idade e o género. Tendo também influência a “classe social” pertencente e o país ou região na qual reside. Tomando-se como exemplo a distinção entre o leque das possíveis doenças contraídas em um país sub-desenvolvido (onde as condições de salubridade e os cuidados com a saúde, não se entendendo só a vacinação preventiva, e a alimentação são escassos) e um país desenvolvido (onde os cuidados e condições mínimas de saúde e alimentação estão assegurados). 148 De um modo geral, através do uso da supressão imunológica (inicialmente, em 1984, com o uso de Ciclosporina A), foi possível o avanço na transplantação de órgãos de modo enfraquecer as defesas dos sistema imonulógico do paciente para evitar a rejeição. Desde 1980 o transplante de órgão tornou-se um ramo importante da medicina apesar de alguns anos antes se ter comprovado casos isolados (de sucesso). Destacando-se “o primeiro transplante cardíaco, em 1967, na Cidade do Cabo”. Deste modo, resta assinalar, apesar do crecimento exponêncial de transplantes, ainda são pouco frequentes, não correspondendo a um procedimento rotineiro, os casos de pancreas, pulmunares, cardiopulmonares ou do intestino delgado. Por outro lado é frequente o transplante de rins, fígado e cardíacos. – Kress, 2008, p. 247 e 248. 149 Trata-se de um estudo desenvolvido em 1968 pela Sociedade Alemã de Cirurgia e a Comissão de Harvard. Rui Manuel Nini Rosalino 89 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 2008, p. 250), podendo significar, através do retirar de órgãos, o “benefício da vida de outros”.150 A sintonização recíproca da respiração, circulação, activação simpática ou a ocorrência da diminuição da actividade do parassimpático com a actividade muscular possibilitada por meio da nossa acção realiza-se por meio do cérebro e a regulação central vegetativa e hormonal. […] Na morte cerebral, na verdade, o corpo (restante) – organicamente integrado de maneira interactiva – é um corpo ainda vivo. No âmbito decisivo de sua função geral orgânica, a integração central de seus órgãos internos com sua capacidade de reacção e acção, a pessoa apresenta-se desintegrada – não é mais um ser humano vivo. (Kress, 2008, p. 262) Contudo, existe uma argumentação (por parte de cientistas naturais como Gerhard Roth151) referente ao “enaltecimento do cérebro” em relação à morte cerebral, frisando a possibilidade de se tratar de um ponto de vista “erróneo” dado que o cérebro é de um órgão como qualquer outro e como tal é possível a sua substituição sem que isso cause prejuízo ao corpo. No seguimento desta argumentação, levanta-se a questão ética (modernista) relacionada com a ligação a existência humana à individualidade e dignidade humana – interpretada, segundo Kant, como “personalidade”152. Ou seja, com o implante de outro cérebro, mesmo que uma cópia artificial do órgão original, podería não resultar como uma preservação da “essência” da pessoa. Da mesma forma, acredita-se que o transplante parcial do cérebro de outrem também possa apagar traços daquilo que é marcante na individualidade do ser humano. Consequentemente, interpõe-se a questão do cultivo e implantação de células-tronco embrionárias em embriões nos seus primeiros dias de desenvolvimento. Levando o debate ao tema da bioética na chamada questão de “brincar a ser Deus” do Projecto Genoma (um debate cuja divulgação remete para o ano 2000, por Craig Venter153), em 150 Kress, 2008, p. 249 – “Para a medicina de transplantes, isso significa a possibilidade de retirada de órgãos em pessoas com morte cerebral em benefício da vida de outros”. 151 Gerhard Roth (1942), trata-se de um biólogo e escritor austríaco que vem a pesquisar sobre o cérebro humano. Tendo um grande interesse na medicina, pelo facto de seu pai ter sido médico, este vira-se para a pesquisa racional do ser humano. Enquanto autor destáca-se também pela produção de livros de romance (novelas). 152 Na referência ao conceito de “personalidade” (de Kant) está implicita a interpretação (médica e científico-natural) de que a sua existência no ser-humano (ou ser-pessoa se assim quisermos entender) está ligada ao cérebro e como tal à existência mental do Homem, não se restringindo somente a este, também se destáca como uma dependência das características físicas e sensitivas. Formando na sua totalidade as particularidades que conferem a identidade ao indivíduo, a sua integralidade mentalcorporal. 153 Craig Venter (1946), biólogo molecular e empresário americano que surge como um pioneiro no descodificar do sequenciamento integral do genoma humano – entendida como o passo para evolução do ser humano, uma vez que podía compreender a rectificação dos parâmetros “defeituosos” de cada Rui Manuel Nini Rosalino 90 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos que a sua sustentação sería que o ser humano poder tornar-se o seu próprio “criador”, aperfeiçoando-se conforme necessário, dado que ser-lhe-ia possível corrigir as suas fraquezas físicas e debilidades médicas (diagnosticadas através da pesquisa médicobiológica), de modo a gerar terapias genéticas e transformações genéticas, na eventualidade. Deste modo, põe-se em causa, em termos éticos, a intervenção com base na tecnologia e na medicina genética, pela ideia de “perverção da espécie humana”, pois assume-se como consequência máxima a inexistência daquilo que nos confere personalidade e nos qualifica enquanto ser “único”. A revolução contemporânea da genómica será mais do que simplesmente uma revolução da medicina. Ela irá transformar grandes sectores da economia ou do modo como nascem as crianças. Ela vai mudar a maneira de lidar com nossos sentimentos e talvez até prolongar a esperança de vida humana. São tão profundos esses desenvolvimentos que nos obrigarão a investigar o que significa ser um ser humano. E esse momento talvez aconteça mais cedo do que a maioria das pessoas possa imaginar. […] Naturalmente, existem também pessoas que são da opinião de que não deveríamos “brincar a ser Deus”; porém, como isso já acontece em outros sectores da medicina, esse argumento não é muito convincente. […] Na verdade, […] muitos de nós gostaríamos de viver mais e com mais saúde ou ser mais inteligentes ou talentosos. (Kress, 2008, p. 16) Para concluir, resta mencionar a questão da eutanásia, sendo que, ao compararmos com as “condições quotidianas de falecimento” até principios do século XX, em que as pessoas geralmente faleciam em casa (perto da sua família), os dias de hoje mostramse como uma tentativa de prolongamento do falecimento, sendo que, por norma, este ocorre em hospitais, ou seja “a morte tornou-se um procedimento privado” (Kress, 2008, p. 296), sem a participação da sociedade, onde se percebe que reprimidos de tal forma a existência de tais acontecimentos, que não são integrantes do quotidiano, são vistos como disfuncionais. Deste modo, podemos afirmar que pela consequente tentativa do prolongamento artificial da vida, somos uma sociedade que quer atrasar a sua própria morte. Assim sendo, pode-se destacar no referido prolongamento a chamada eutanasia passiva, em que o paciente se encontra sob observação constante (ou seja opta-se por uma morte demorada), ou a eutanásia activa154, onde o paciente, por se encontrar indivíduo, pressupondo um aumento da inteligência e das capacidades físicas, assim como outras propostas de “ficção-científica”. 154 Destáca-se o facto de este procedimento ser válido na Holanda, mas, devido ao carácter delicado da situação eis as condições estabelecidas (pelo referido país) às quais deve ser respeitador: o pedido do Rui Manuel Nini Rosalino 91 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos num estado psicológico estável mas conhecedor da inevitabilidade da sua condição, pretende provocar a sua morte através da acção médica para acabar com o seu sofrimento. Não deve surpreender que um filósofo, que não é médico nem se considera paciente, tome parte na problemática geral que se apresenta dentro da área da saúde, na era da ciência e da técnica. (Tavares, 2013, p. 295) Como conclusão deste sub-capítulo, poderemos afirmar o seguinte: - A ciência médica tem tomado cada vez mais partido do quotidiano do Homem, sendo que, contemporaneamente, existe a preocupação médica na criação de uma dependência no uso da tecnologia e da medicação de um modo recorrente: a “medicalização” da sociedade, um conceito que se sustenta na interacção do paciente com o conhecimento e procedimentos médicos. - Por conseguinte, destaca-se uma tentativa de assegurar o prolongamento da vida humana através da tecnologia e dos procedimentos bio-médicos, sendo que, podemos salientar a substituição e reparação orgânica que, até então, era acessível em filmes de ficção científica. Assim, observa-se que o Homem passou a intervir em si próprio de uma forma muito semelhante à que faz no “mundo”, sendo que substituí e “adiciona” conforme é ou vê necessidade em o fazer (num gesto semelhante ao que o Projecto Genoma propunha para a refurmulação do Homem). - Para finalizar, é importante reter o modo como o procedimento médico é conduzido, onde são ponderados (e/ ou “pesados”) os sintomas da doença (após diversos exames) de modo a gerar um diagnóstico, que, por sua vez, possa resultar no cálculo e execução minuciosa dos diversos procedimentos (necessários à cura do paciente). Ou seja, é importante reter estes procedimentos como o resultado de bastante reflexão e, não só, pela intervenção (seja ela cirúrgica ou de medicação). paciente deve ser voluntário e basear-se numa cuidadosa reflexão; o paciente deve estar em um estado “sem esperança de recuperação” e o seu sofrimento ser desesperador; deve haver esclarecimento médico ao paciente e sobre as possibilidades de cura; o médico deve, juntamente com o paciente, chegar à convicção de que para a condição da sua situação não existe outra solução aceitável; consultar, pelo menos, um outro médico independente; obter um exame e parecer por escrito do mesmo médico; execução da eutanásia (ou o auxílio para o suicídio) pelo médico. (Kress, 2008, p. 313) Rui Manuel Nini Rosalino 92 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 3.3. ARQUITECTURA BIO-MÉDICA As manifestações dos diferentes valores culturais […] têm sempre subjacente o simbólico. Inscrito no inconsciente e consciente, representa as estruturas de identidade que estão para além de todas as racionalidades, do real e do imaginário, marcando uma génese. O simbólico, ligado à linguagem, […] constituindo os ritos formas de reatualizar a identidade e celebrar o tempo criando sistemas de coesão. (Duarte, 2011, p. 11) Tomando a citação anterior como referência, percebe-se uma nova maneira de ver a arquitectura, segundo o olhar da medicina, que se afirma quer como um sistema de coesão entre o pensamento e preocupações do Homem contemporâneo quer como parte da sua sabedoría e experiência nas ferramentas (ou metodologias). Deste modo, percebemos o porquê de enquadrar, segundo o método, a componente prática e teórica da “ciência do arquitecto”155 para dar resposta às questões contemporâneas postas à arquitectura. […] a biomedicina usa o reconhecimento de padrões e conhecimentos da física das partículas, a ciência dos materias fabrica novos produtos que simulam propriedades de materiais biológicos. (Oliveira, 2010, p. 14) 3.3.1. PRINCIPAIS QUESTÕES LEVANTADAS À ARQUITECTURA CONTEMPORÂNEA Actualmente surgem três grandes campos de debate na arquitectura, que, apesar de terem uma conexão entre ambos, podemos apontar singularmente como: Competitividade Mediática, sendo parte da introdução de uma elite empresarial no processo criativo/produtivo da arquitectura; Sustentabilidade, como uma preocupação ecológica e de preservação/rentabilização de recursos; e Reabilitação, sendo tanto uma preocupação cultural como uma preocupação económica. Consequentemente, a arquitectura contemporânea vê-se exposta a um sistema de capitalismo sustentável, que parte da produção interna, contráriamente à produção 155 Vitruvio, 2009, p. 30 – “A ciência do arquitecto é ornada de muitas disciplinas e de vários saberes, estando a sua dinâmica presente em todas as obras oriundas das restantes artes. Nasce da prática e da teoria. A prática consiste na preparação contínua e exercitada da experiência, a qual se consegue manualmente a partir da matéria [...]. Por sua vez, a teoria é aquilo que pode demonstrar e explicar as coisas trabalhadas proporcionalmente ao engenho e à racionalidade.” – Quando aplicado este excerto (de Vitruvio) ao contexto do arquitecto contemporâneo podemos perceber que a transição da arquitectura para responder às questões contemporâneas que ultrapassam a concepção segundo um dogma, como vem referir o arquitecto Rui Duarte (no livro “Arquitectura, representação e psicanálise”), expressa como métodos diversos, para respostas a problemas de naturezas diversas. Ou seja, o arquitecto, procura dar uma resposta segundo o método mais adequado. Rui Manuel Nini Rosalino 93 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos económica fechada (de Marx156) que pretendia produzir valores com base na relação externa.157 Sendo que, grande parte das mutações na morfologia da cidade se devem à adaptação desta interactividade entre funções, serviços e diversos tipos de vivências. El valor de la arquitectura no resulta, ya de crear formas en el espacio sino de propiciar relaciones en él. Relaciones y acciones combinadas – reacciones – en (y para) una realidad definitivamente “abierta” y no predeteminada […]. (Gausa et al., 2002, p. 60). Nesta transição, na qual se codificam e cruzam diversas imagens de natureza (inclusive a humana) para perceber a relação de cidade com as unidade programáticas que a constituem, dá-se o culminar da competitividade mediática, sendo que a produção arquitectónica passa a fazer parte do mercado global, sendo que, é na continuidade do fulgor modernista (em afirmar a arquitectura com base nos avanços e na irreverência do Homem) que surgem os chamados “Star Architects”, uma vez que os ateliers ganham diversas proporções, indo deste pequenos ateliers a grandes empresas (sediadas em vários sítios do globo terrestre). Consequentemente, e uma vez que estas empresas acompanham o mais variado consumismo158 da sociedade contemporânea, podemos perceber a tomada de consciência que leva às preocupações referentes à sustentabilidade, uma vez que esta estão cada vez mais enraizadas nas obras arquitectónicas. Nesta perspectiva, podemos referir a ideia de Arquitectura Sustentável como mais do que uma preocupação ecológica, sem menosprezar o ideal, mas como uma importante preservação de recursos. Assim sendo, é necessário entender os recursos como unidades finitas, quer sejam estas matérias-primas, económicas ou energéticas, que se devem preservar, utilizar e manufacturar de modo a serem mais duradouras e possíveis de reciclar e/ou re-utilizar. (Gausa et al., 2002, p. 180) Actualmente, a arquitectura dita de emergência, equaciona a complexidade rizomática dos sistemas generativos; o mesmo aconteceu com a complexa natureza do Homem – inscrita no ADN, nas razões culturais e no mundo da consciência, no pré-consciente e inconsciente […] num mundo em que a realidade ultrapassa a ficção. (Duarte, 2011, p. 22) 156 Karl Heinrich Marx (1818-1883) foi um importante economista, filósofo, teórico político e jornalista alemão que vem influenciar a doutrina comunista moderna, sendo que os seus conceitos capitalistas e da fundamentação dos direitos da classe trabalhadora são a parte da “sociedade ideal”: sem classes. 157 Frampton, 2012, p. 349. – Referência à citação de Martin O’Connor em “Is capitalism sustainable?” (1994). 158 “A deslocação do conceito de cidadão para o conceito de consumidor, [...] um deslocamento de referências do campo político e social para um campo económico e individual” – Duarte, 2011, p. 56. Rui Manuel Nini Rosalino 94 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Por conseguinte, é necessário mencionar a evolução, e consequente modificação, dos processos contrutivos como uma solução para a rentabilização e o reaproveitamento dos recursos disponíveis, sendo que nesta perspectiva regenerativa da arquitectura conseguimos evitar perdas térmicas, por exemplo, ao mesmo tempo que asseguramos a qualidade de habitabilidade de um espaço. Assim, podemos referir as técnicas vernaculares como objectos de estudo para estas soluções contrutivas, que, pelo uso dos recursos disponíveis locais, as tornavam obras sustentáveis ao mesmo tempo que as “ancoravam” conceptualmente ao lugar. Deste modo, e na continuidade do avanço construtivo contemporâneo, podemos mencionar os “elementos vegetais” como um acabamento ou material com um uso crescente, sendo que a arquitectura está a ser entendida cada vez mais sob uma perspectiva de regeneração ecológica. Posto isto, é necessário mencionar que esta perpesctiva regenerativa começou a traduzir-se como uma preocupação no edificado pré-existente, de tal modo que se pode afirmar que, desde à uns anos, se tem entendido como uma intervenção habitual, o processo de reabilitação e recuperação. Assim sendo, percebemos nesta preservação da cultura e da “memória” uma mediação entre o passado e o futuro, juntamente com a preocupação entre “intervir” e/ou “recuperar”. “Um projecto de recuperação é sempre um projecto seco, inacabado. […] Deve ser um projecto aberto a que, no tempo, com naturalidade e em contextos muito diferentes, vontades, desejos, haja espaço a essa espécie de vida das estruturas.” (Álvaro Siza Vieira apud Barreiros, 2013) 3.3.2. REABILITAÇÃO COMO PROCESSO REGENERATIVO “Ellos postulan de la noción de monumento histórico que es la ficción que enmascara una opacidad real: opacidad creada por interferencias entre historia y memoria, monumento y documento, tradición y creación, opacidad que envulve sumultánea y solidariamente arquitectura histórica y arquitectura viva.” (Françoise Choay apud Perez, 1987, p. 31) É necessário ter em conta que qualquer gesto sob edificado a restaurar pressupõe sempre uma intervenção159, pois temos de “cortar”, “pelar” e/ou “partir” para corrigir as 159 “El concepto de intervención engloba las diferentes posibilidades de actuación en la arquitectura histórica (restauración, reforma, reparación, rehabilitación, recuperación, adaptación, conservación, consolidación, etc.). […] Por ello, desde hace algunos años recuperando un concepto histórico que se había ido mixtificando y para evitar confusiones de lenguaje, más que hablar de restauración se tiene tendencia a hablar de “intervención” en el patrimonio arquitectónico. Este concepto – más amplio, más Rui Manuel Nini Rosalino 95 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos anomalias na sua origem. Deste modo, põe-se a questão de que nem sempre será viável manter o edificado com a sua fisionomia original, dado que uma época diferente requer acomodações e relações diferentes. Contudo, não se deve pôr em causa o valor do edificado, muito pelo contrário, deve-se perceber o cuidado extremo com o qual se deve intervir neste. Sendo assim, não é de estranhar que, tendencialmente, o pensamento inicial seja que os edifícios reabilitados comportem funções museológicas, uma vez que, do mesmo modo que é previligiada a exposição, é priviligiado o edifício original – preservando da melhor maneira a memória do mesmo. Assim, não só as peças são expostas como o edifício passa a ser uma peça a grande escala que conta a sua própria história. (Perez, 1987, p. 65) Por outro lado, podemos afirmar que nos casos onde a intervenção vai além da recuperação dá-se uma sobreposição de linguagem arquitectónica, ou seja, quando se intervêm adicionando matéria e/ou excluindo parte da anterior, usa-se uma linguagem “flexível” que consegue ser contemporânea e ao mesmo tempo respeitosa do passado e das suas marcas (como se pode observar nas Ilustrações 93, 94 e 95). Ilustração 93 – “Vista exterior do Hospital Estugarda”, 2014, Estugarda (Alemanha), Lederer Ragnarsdóttir Oei (esquerda). ([Adaptado a partir de] Wilson, 2014, p. 58 - 59) Ilustração 94 – “Vista do pátio do Hospital de Estugarda”, 2014, Estugarda (Alemanha), Lederer Ragnarsdóttir Oei (centro). ([Adaptado a partir de] Halbe, 2014) Ilustração 95 – “Planta do Piso Térreo do Hospital de Estugarda”, 2014, Estugarda (Alemanha), Lederer Ragnarsdóttir Oei (direita). ([Adaptado a partir de] Wilson, 2014, p. 62) Neste projecto podemos destacar o facto da preservação da igreja e das paredes pré-existentes, através da adição de um corpo em L, ter conduzido à recuperação do pátio que tinha anteriormente (ao bombardeamento que conduziu à sua destruição parcial). Assim, pode-se afirmar que este recupera a alma do antigo edifício e ao mesmo tempo dá-lhe outro significado, adaptando a sua função religiosa para comportar o programa da unidade hospitalar. Assim, percebemos que a transição programática não é feita abruptamente, sendo que grande parte dos mosteiros exerceram funções hospitalares. Para concluir, podemos salientar o seu passado pelas funções de mosteiro, esquadra de polícia, centro de detenção nazi e hospital (actualmente). Incluso cuando durante el siglo pasado el miedo a la destrucción o a la desaparición del patrimonio origina una actitud defensiva, protectora y surge el concepto de restauracón, se actua de esta manera. Con la única diferencia de que la arquitectura contemporánea globalizador – define mejor las distintas formas de actuación ante problemáticas, objectivos y medios tan diversos como podemos encontrar.” – Perez, 1987, p. 42. Rui Manuel Nini Rosalino 96 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos se sustituye poco a poco por una arquitectura ahistórica, pretendidamente más “respectuosa”. (Perez, 1987, p. 42) Por conseguinte, é necessário destacar que contemporaneamente a ruína é entendida como “informação” em vez de “o fragmento de algo”160, de tal modo que pode voltar a funcionar como um “elemento urbano vivo” (quando reactivado), dado que além de ser um objecto de catalogação do passado é novamente algo habitável e/ou funcional. Posto isto, é perceptível a ideia de “reciclagem urbana”: um conceito de regeneração do tecido urbano através da recuperação de edificado, viabilizando-o e adaptando-o às relações e actividades da cidade.161 Assim sendo, percebemos que o sentido dado ao processo e método de reabilitação (do século XXI) está profundamente enraizado num conceito de “interactividade”, isto é, não se trata só que este reúna as condições de habitabilidade necessárias mas que seja igualmente comunicante com os fluxos da envolvente. (Gausa et al., 2002, p. 501 e 502) Todo ello refleja la existencia de un debate mucho más profundo en torno a la voluntad de preservación y la necesidad de intervención en nuestro medio (y la consiguiente preocupación por las formas de actuación ocupación del território) que alude, en suma, al desmoronamiento de las antiguas inercias – y paradigmas – disciplinares y su sustituición por nuevos sistemas de interrelación […] urbana. (Gausa et al., 2002, p. 501) Percebemos assim, a capacidade transformadora que a Cidade adquiriu: passou a conseguir re-inventar-se através (dos métodos actuais) da Arquitectura, onde as intervenções no edificado pré-existente são entendidas quer de um modo “uno”162 (na unidade reciclada) quer de um modo de contenção muito similar ao processo “arqueológico” (de dissecação e catalogação) visível em obras como a Intervenção no Castelo de São Jorge (Ilustração 96) ou no Templo de Diana (Ilustrações 97 e 98). Modern conservation theory is focused on the material of the work of art, the only to be conserved, with the aim of re-establishing the potential unity of the work of art and without canceling the traces of history. (Emmons et al., 2012, p. 69) 160 “Desde un punto de vista físico, un “fragmento de una muralla” es una ruina. Pero considerado como “información” reactivada puede ser, de nuevo, un elemento urbano vivo (y activo).” – Gausa et al., 2002, p. 58. 161 “Re-ciclar supone aceptar que algo ha acabado su ciclo de vida y se necesita comenzar otro partiendo de una condición existente.” – Gausa et al., 2002, p. 501. 162 Entenda-se “uno” através do significado: singular, que remete para uma unidade. Rui Manuel Nini Rosalino 97 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 96 – “Intervenção no Castelo de São Jorge”, 2008-2010, Lisboa (Portugal), João Luis Carrilho da Graça (esquerda). ([Adaptado a partir de] Carrilho da Graça Arquitectos, 2010) Ilustração 97 – Vista exterior do Templo de Diana”, 2011, Mérida (Espanha), José María Sánchez García (centro). ([Adaptado a partir de] Halbe, 2011) Ilustração 98 – “Planta de implantação da Intervenção no Templo de Diana”, 2011, Mérida (Espanha), José María Sánchez García (direita) ([Adaptado a partir de] Fracalossi, 2012) Nestas obras, é importante reter o carácter de contenção do “objecto histórico” como um entendimento que, apesar de se compreender dentro do processo de integração da ruína, sendo que não tem o pretexto de habitar-mos a mesma (num sentido estrito), trata-se de um processo importante de reter pois promove a interacção com o mesmo. Contudo, é necessário afirmar que não podem ser associados da mesma forma, pois derivam de um tempo distinto dos descritos anteriormente, pois são vistos como “pedaços raros de história”. Para concluir, podemos afirmar que, contemporaneamente, existe uma distinção de metologia na arquitectura entre os princípios arqueológicos e os bio-médicos, sendo que a Bio-Medicina arquitectónica deve ser entendida na continuidade do pensamento de Camillo Boito163: […] proposing the scientific conservation and the principles of the minimum intervention and the distinguishability of the addictions […]. (Emmons et al., 2012, p. 70) La arquitetectura está viva cuando, tras finalizar su construcción y comenzar a habitarla, sigue instalada en un proceso de transformación e interacción con los hombres que la habitan y con el medio en el que se situa. Como procesos, la arquitectura y la ciudad evalúan constantemente la información que reciben y emiten […]. (Gausa et al., 2002, p. 480) 3.3.3. DA “ARQUITECTURA DE MÉTODO” À BIO-MEDICINA Quando se tem em conta a relação da medicina com a Arquitectura, é necessário assumir a mesma como parte de uma “arquitectura de método”164, onde a metáfora processual se relaciona a uma situação com dados similares, sendo estes de carácter formal, funcional ou programático. Assim, é importante definir o funcionamento da arquitectura pelo método (ou processo), de tal modo que se sustenta na informação das funções, a relação entre as 163 Camillo Boito (1836-1914) foi um arquitecto, escritor e historiador italiano que se dedicou à teoría e crítica da arte e do restauro da mesma. 164 Trata-se de uma referência ao processo de concepção da arquitectura contemporânea: segundo “o método e a abstracção, bem como o processo generativo e o engendramento da forma […]”. – Duarte, 2011, p. 13. Rui Manuel Nini Rosalino 98 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos mesmas e os seus volumes edificados. Podemos então, afirmar que o primeiro passo deste tipo de concepção é a análise, ou seja a catalogação de funções, programas e actividades, com o pretexto de “gerar distribuições e relações espaciais equilibradas”. (Gausa et al., 2002, p. 481) No segundo passo, tem-se em conta a determinação das condições das préexistências com vista a determinar as actuações futuras, isto é existe uma visão de que se deve adequar a obra às possíveis mutações que vai adquirindo com o desenvolver de diversas interacções.165 A obra torna-se um híbrido que assimila várias dimensões (incluindo a temporal), e neste sentido, configura (já) condições de actração e repulsão das actividades e dos espaços livres e edificados. Por último, nesta “hibridização” (Gausa et al., 2002, p. 481) do território para as diversas funções programáticas, o resultado é um edificado cujo produto parte da leitura do edificado envolvente, quer de um modo formal quer de um modo funcional e organizacional, para que este possa também ter impacto nos programas heterogéneos166 da mesma envolvente. Deste modo, podemos apontar como exemplos resultantes do uso do método arquitectónico obras como: o Farol de Santa Marta (Ilustrações 99, 100 e 101); a Final Wooden House (Ilustrações 102 e 103); e o Museu Marítimo da Dinamarca (Ilustração 104). Ilustração 99 – “Axonometria diagramática do Farol de Santa Marta”, 2007, Lisboa (Portugal), Aires Mateus Arquitectos (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fernandes, 2015) Ilustração 100 – “Vista de topo do Farol de Santa Marta”, 2007, Lisboa (Portugal), Aires Mateus Arquitectos (centro). ([Adaptado a partir de] Fernandes, 2015) Ilustração 101 – “Planta do piso térreo do Farol de Santa Marta”, 2007 (direita). ([Adaptado a partir de] Fernandes, 2015) Neste projecto destaca-se o uso do método tanto como uma parte preponderante da concepção formal como da memória que é evocada no uso da mesma. Isto é, liga-se a forma edificada com a pré-existência das ameias e merlões da muralha do farol. Neste sentido, o método é utilizado como um estudo constante de flexões e inflexões das formas. Por outro lado, podemos apontar este projecto como parte de um método muito específico destes arquitectos, que se centra no estudo e na formulação volumétrica constante. Que, por sua vez, evoca um processo científico de tentativa-erro. 165 “De la interacción de estos vectores de realidad y las distribuiciones anteriores de cada función, se crea una tabulación de condiciones de atracción y repulsión de los mismos.” – Gausa et al., 2002, p. 481. 166 “[...] La multiplicidad de caracteres y el hedonismo del individuo contemporáneo, sus costumbres y sus cada vez más atípicas características de movilidad y comunicación hacen de sus viviendasun lugar altamente variable y heterogéneo. [...]” – Gausa et al., 2002, p. 481. Rui Manuel Nini Rosalino 99 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Se puede adoptar […] una actitud flexible frente al medio no muy alejada de la capacidad reactiva – operativa y interactiva – que caracteriza una posible asunción de lo transgenético, apreciable tanto en la actual investigación científica como en los propios medios de comunicación, transmisión y procesamiento de la información […]. (Gausa et al., 2002, p. 591) Ilustração 102 – “Vista exterior da Final Wooden House”, 2007-2008, Kumamoto (Japão), Sou Fujimoto (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fullaondo, 2015) Ilustração 103 – “Secção Diagramática da Final Wooden House” (centro). ([Adaptado a partir de] Fullaondo, 2015) Quanto a esta obra, é necessário destacar, além do experimentalismo modular com barrotes de madeira maciça, o uso do corpo humano como unidade espacial, sendo que é a adaptação da sua morfologia ao espaço que estabelece o método conceptual com o qual é criada esta unidade habitacional. Ilustração 104 – “Vista aérea do Museu Marítimo da Dinamarca”, 2013, Helsingor (Dinamarca), BIG Architects (direita). ([Adaptado a partir de] Bjarke Ingels Group, 2015) É de importante menção a base metodológica neste projecto pela sua origem como percurso, isto é, trata-se de um gesto conceptual que insere volumetria nesta antiga “doca seca” como consequência do traçado da exposição do museu. Consequentemente, na utilização do “método médico” na Arquitectura, há que ter em atenção os aspectos afectos a ambos campos, nomeadamente a intervenção com base no corpo pré-existente: o/os “corpos doentes”. Posto isto, podemos afirmar que esta transição dá-se como um resultado da vaga de “medicalização” da sociedade com a actividade no campo da reabilitação e conservação do edificado. 167 Finalmente, é necessário afirmar que a bio-medicina (quanto à arquitectura) se trata de uma aglutinação dos processos biológicos168, onde se assume um corpo com a pretenção de aplicar as diversas intervenções e metodologias médicas (para o reabilitar). Assim, sendo que é um prolongamento dos valores metabólicos da Arquitectura Biónica (Sub-Capítulo 3.1), esta assume o papel de um órgão bivalente que se incorpora na regeneração do tecido urbano (vivo). El concepto de lo real en nuestros escenarios vitales no puede crecer y relativizarse indifinidamente; somos seres biológicos e históricos, cuyos sistemas físicos, metabólicos y neurológicos en su totalidad se han ajustado perfectamente a una realidad constituida por hechos físicos, ecológicos y biológicos. (Pallasmaa, 2014, p. 23) 167 “[…] nos anos 60 debruçaram-se sobre o Nada e o Consumo; nos anos 90, depois de investigações sobre tumores cerebrais, chegou-se ao subconsciente subliminar e, a partir daí, as mensagens tornaramse cada vez mais incisivas com o objectivo de controlar o modo de vida e o estar.” – Duarte, 2011, p. 14. 168 “[...] los processos biológicos son generalmente abiertos y se autorregulan.” – Pallasmaa, 2014, p.38. Rui Manuel Nini Rosalino 100 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Posto isto, podemos apontar como exemplo inicial da apropriação dos conceitos médicos as seguintes terminologías: corpo; esqueleto; órgãos; membros; e pele. Sendo que, podemos compreendê-los como bases para processos mais complexos, cujo o objectivo é fazerem parte da metodologia bio-médica, sendo estes: punções ou perfurações; próteses; intervenções cirúrgicas; intervenções genéticas; e transfusões. ESQUELETO E PELE É importante mencionar, também a utilização do esqueleto na arquitectura como uma formulação estrutural que se adapta à morfologia do “corpo vertebrado”169 (Gausa et al., 2002, p. 208), que, através do uso da malha estrutural, torna-o uma referência recorrente no processo de concepção do edificado, dado que este condiciona o posicionamento e o número de vãos possíveis (além de sustentar a massa do corpo). Deste modo, podemos afirmar que no processo de criação existe a opção de deixarmos evidente o esqueleto do edificado e/ou criar situações paradigmáticas em torno da sua disposição, articulando o uso da volumetria (tectónica) e da pele. La arquitectura contemporánea sustituye la idea de fachada por la de piel: capa exterior mediadora entre el edificio y su entorno. (Gausa et al., 2002, p. 467) Portanto, destaca-se a pele como um dos pontos de recorrente recuperação no edificado (a reabilitar), sendo que é esta que mantém a identidade visual da obra na envolvente e a sua coerência como um todo (Ilustração 105). Ou seja, esta é um elemento de definição de limites interiores e exteriores, que é (também) a afirmação de uma cultura e duma época passada (no caso de uma reabilitação). Ainda assim, a pele pode ser entendida como a camada que envolve e protege o edificício das agreções exteriores. É o invólucro do organismo, pois sem ela as “entranhas” ficariam expostas. Neste sentido, é perceptível a razão pela qual o experimentalismo contemporâneo (como o de Alberto Estévez) se tem debruçado em torná-la algo regenerável. Assim sendo, podemos afirmar que apesar destes pontos (estrutura e capeamento exterior) serem os mais imediatos quando se fala em reabilitação, não são os mais relevantes quando se fala neste processo híbrido de intervenção e reabilitação, na 169 Entenda-se o corpo vertebrado como uma menção ao edificado. Rui Manuel Nini Rosalino 101 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos medida que, por serem constantes nestes procedimentos, dá-se maior relevância ao processo de intervenção formal e relacional. Ilustração 105 – “Vista exterior da fachada do Museu da História Natural”, Berlim (esquerda). ([Adaptado a partir de] Freeman, 2015) Ilustração 106 – “Pormenor da destruição parcial do actual Museu da História Natural”, Berlim (centro). ([Adaptado a partir de] Museum für Naturekunde, 2014) Este projecto é um bom exemplo da recuperação da sua morfologia antiga pelo modo como é concebida, sendo que reformula a sua estrutura e a “pele”. Podemos assim afirmar, com base neste projecto, que os princípios de conservação da memória do passado não se interpõem à intervenção contemporânea, nem o inverso. Isto é, percebemos que são mantidas as cicatrizes pela história que narram mas o edifício é reinterpretado de um modo contemporâneo. Ilustração 107 – "Wrapped Reichstag”, 1971-1995, Berlim, Christo & Jeanne-Claude. ([Adaptado a partir de] Christo and JeanneClaude, 2015). Em suma, podemos perceber, através da intervenção de Christo170 e Jeanne-Claude171 (Ilustração 107) a essência do conceito contemporâneo de pele, sendo que é notório o carácter maleável com o qual assume a morfologia do corpo, e que, num gesto contraditório, se “descola” do/os volumes (quando existe essa necessidade). CORPO El cuerpo no está sólo rodeado de cosas o frente a ellas y sus fenomenos, sino que, además el sujeto está inmerso en ellas. Es el cuerpo el que se ha metido en los objectos. (Gausa et al., 2002, p. 138) O corpo humano foi uma das primeiras associações metafóricas, sendo que este combina a ideia de uma unidade (do organismo) com a de uma multiplicidade de funções que estão afectas à fisionomía do corpo. Neste sentido, podemos apontar novamente a obra de Le Corbusier, nomeadamente o plano da Ville Radieuse (Ilustração 34, página 41) como parte desta introdução do corpo pela diversidade funcionalmente metabólica. 170 Christo Vladimirov Javacheff (1935) é um artista búlgaro bastante conhecido pelas suas intervenções de Landart (em parcería com a sua esposa Jeanne-Claude). A partir de 1994 passa a assinar as suas obras juntamente com o nome de sua esposa. 171 Jeanne-Claude Denat de Guillebon (1935) é uma artista francesa de renome, que ganha o reconhecimento nas suas obras através de concepções de Landart (em parcería com o seu marido Christo). A partir de 1994 passa a assinar as suas obras juntamente com o nome do seu marido, sendo que as suas obras são referênciadas através desta parcería. Rui Manuel Nini Rosalino 102 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos De outro modo, quando se faz referência ao corpo humano a associação mais imediata é pela volumetria do edificado, como algo que, além de maioritáriamente expressar uma harmonia formal, comporta um alçado frontal e tardoz sob as mesmas condições, sendo que “tendemos a ver os edifícios como “criaturas” com rasgos anatómicos precisos”.172 Contudo, contemporaneamente, o corpo é um mutante com “n-cabeças, n-troncos, nextremidades superiores, n-extremidades inferiores [...]”173 que surgem segundo um entendimento relacional e programático da envolvente, isto é deformam-se para se adaptarem e assumirem uma postura resiliente e mais flexível que vá de acordo com os ideiais de vivência de actuais. Conclui-se que, na constante medição e interpretação do entorno, existe a ideia de sermos um “corpo no corpo” 174, dado que somos quer uma “unidade espacial” (que integra o corpo ao circular dentro e fora do mesmo) quer uma referência de concepção. Assim, podemos fundir-nos: “Yo soy el espacio donde estoy.”175 Ilustração 108 – “Instalação House em betão”, Rachel Whiteread (esquerda). (Nova Design Studios, 2014) Ilustração 109 – “Instalação em cera de Anish Kapoor”, Anish Kapoor (direita). ([Adaptado a partir de] Kapoor, 2009) Percebemos nesta intalação a afirmação de um percurso e que no que diz respeito à inserção de volumetria num corpo isto afecta a sua organização e o seu metabolismo. Assim, quando comparada com a iinstalação de Whiteread podemos afirmar que enquanto que uma pretende “congelar” o espaço e do edificado, a de Kapoor pretende dar um novo sentido ao seu interior, uma nova dinâmica. Em suma, assumimos o corpo pela massa que comporta, sendo que, como contentor, o aspecto relevante é se e como está cheio ou vazio, na medida que tem um carácter 172 “Nuestra interpretación inconsciente de las ventanas como los ojos de la casa hace que las ventanas rotas se nos representen dolorosamente como ojos violentados. Tendemos a ver los edifícios como “criaturas” con rasgos anatómicos precisos.” – Pallasma, 2014, p. 160. 173 “Antes cabeza, tronco, dos extremidades superiores y dos extremidades inferiores. Ahora n-cabezas, n-troncos, n-extremidades superiores, n-extremidades inferiores y n-accesorios.” – Gausa et al., 2002, p. 138. 174 Esta ideia paradigmática de um corpo habitar outro vem no seguimento da seguinte questão: “A casa passa a corresponder a um esqueleto e o próprio animal a um órgão?” – Tavares, 2013, p. 415. 175 Trata-se de uma citação do poeta Nöel Arnaud. – Pallasmaa, 2014, p. 159. Rui Manuel Nini Rosalino 103 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos percorrível e/ou de permanência que intergra os seus habitantes (como se pertencessem a si). […] diante da hostilidade […] os valores de protecção e resistência da casa são transpostos para valores humanos. A casa adquire as energías físicas e morais de um corpo humano. (Tavares, 2013, p. 414) Ilustração 110 – “Axonometria Diagramática da Casa dos cubos”, Embaixada Arquitectura (esquerda). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013a) Ilustração 111 – “Vista interior da Casa dos cubos”, 2007, Tomar (Portugal), Embaixada Arquitectura (direita). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013a) Este projecto (para o Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Tomar), é um importante exemplo para a compreensão da arquitectura com base no “corpo dentro do corpo”, sendo que a ideia corpórea passa a sustentar-se num ideal de que quer o interior quer o exterior podem ser habitados de um modo similar. Contudo, quanto a este projecto percebemos percebemos que o corpo (enquanto contentor) é tido em conta pela potêncial dinâmica que a volumetria pode ter, ou seja pelo estabelecimento de um percurso metabólico que gera diversos núcleos espaciais e relaciona multiplas funções e actividades. Assim, percebemos o processo de migração do “corpo no corpo” para a unidade volumétrica sob o pretexto de gerar um fluxo que revitalize o edificado obsoleto, uma espécie de “bypass arquitectónico” (como é visível nas Ilustrações 109, 110 e 111) que “dilata e limita” o espaço de modo a que a adquira uma dinâmica e uma organização que consigam acomodar o novo programa. Desta forma (ou formas), podemos afirmar que condiciona os percursos e, consequentemente, as aberturas (vãos para passagem ou iluminação/ventilação) que advêm da delimitação dos mesmos, ou seja dá ao edificado uma nova vida. MEMBROS E PRÓTESES Na arquitectura o uso dos “membros” como um conceito deve-se a uma vontade de expressar o prolongamento de uma extensão ou de fazer um volume alcançar algo, podendo ser outro volume ou uma cota diferente. Deste modo, é necessário afirmar que é principalmente associado ao “braço”, na medida que é com ele que prolongamos e alongamos o espaço de uma grande massa volumétrica (como é visível nas Ilustrações 112, 113 e 114). Assim, podemos perceber o porquê da Rui Manuel Nini Rosalino 104 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos associação imediata destes com o traçar de percursos, apesar de que também podem ter um carácter de permanência, isto é serem habitáveis. Ilustração 112 – “Vista exterior da SESC de Pompeia”, 1977, São Paulo (Brasil), Lina Bo Bardi (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fracalossi, 2013) Ilustração 113 – “Vista do percurso superior da SESC de Pompeia”, 1977, São Paulo (Brasil), Lina Bo Bardi (centro). ([Adaptado a partir de] Carrapa, 2015) Ilustração 114 – “Planta do Primeiro Piso da SESC de Pompeia”, Lina Bo Bardi (direita). ([Adaptado a partir de] Fracalossi, 2013) Apesar de este projecto (para a antiga fábrica de tambores) ser um exemplo significante de edificado reactivado ou revivido, neste caso deve ser mencionado pelo modo como prolonga o espaço de um volume maciço para outro, fazendo-o como se tratasse do “acto de extender um braço para agarrar algo”. Las piezas sueltas son componentes de un posible y particular dispositivo pero son también cabos sueltos de una y muchas intrigantes combinaciones. Presentan […] variables interconexiones. (Gausa et al., 2002, p. 467) Por conseguinte, podemos afirmar que enquanto conectores espaciais são ferramentas imprescindíveis para dar coerência a intervenções (de reabilitação) cujo edificado esteja disperso. Posto isto, percebemos que, como “elemento prostético” (Ilustração 115), tem a capacidade funcional de regenerar uma ligação perdida, recompor e recuperar um membro em falta no corpo. (Gausa et al., 2002, p. 486) Ilustração 115 – “Próteses” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Kat von D, 2015) Ilustração 116 – “Vista exterior da Ampliação do Museu de San Telmo”, 2011, Granada (Espanha), Nieto Sobejano (centro). ([Adaptado a partir de] Ampliación, 2011) Ilustração 117 – “Planta do Segundo Piso da Ampliação do Museu de San Telmo”, 2011, Granada (Espanha), Nieto Sobejano (direita). ([Adaptado a partir de] Ampliación, 2011) Este projecto é entendido pelos próprios autores como o resultado de diversas modificações que integram a evolução do seu catácter funcional. Posto isto, podemos afirmar que existe uma apropriação da identidade natural da envolvente no edificado, sendo que este deixa-se contaminar pela vegetação e a pedra do monte Urgull. De outro modo, é necessário mencionar que se trata de uma obra que tem em atenção a importância do espaço público como um modo de rentabilizar a obra, dado que, ao mesmo tempo que prolonga o corpo prostético do anterior museu cria uma permeabilidade espacial (convidativa) entre os dois. Rui Manuel Nini Rosalino 105 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Deste modo, quando se aplica uma “prótese” ao edificado pré-existente a pretenção é que este colabore com o corpo (Ilustrações 116 e 117), ou seja, distancia-se da ideia de membro na medida que “interactua qualitativamente com o corpo do anfitrião para melhorar as suas antigas prestações”176, em vez de ser (só) a recuperação de uma função previamente adquirida. É então necessário salientar que ao ser uma ampliação ou prolongamento do programa existente este podería potenciar um desequilibrio na harmonia formal do edificado, contudo é na necessidade de ampliação que se sustenta a recuperação desse mesmo carácter harmonioso, sendo que este procura consolidar a falta de unidades programáticas adequadas ao fluxo de pessoas (actual ou pretendido). Podendo concluir-se que este processo de extensão tem como princípio o crescimento das actividades programáticas pré-existentes, e, nessa medida, confere-lhe um outro tipo de equilibrio. The Italian Carta del Restauro (Giovannoni, 1936) […]: “the re-instatement of existing fragments with the eventual addition of neutral elements, necessary for the reintegration of the whole and to ensure the future conservation”. (Emmons et al., 2012, p. 70) ÓRGÃOS E TRANSPLANTES Na continuidade da adição prostética, surge o entendimento desta com um propósito metabólico, isto é como uma adição funcional (orgânica) que vai afectar o carácter programático base (o organismo), ou seja adicionamos algo ao edificado como se estivessemos a tratar com um órgão, pois procuramos a sua natureza metabólica. Assim, é associada a uma migração de valores programáticos com o intuito de responder às diversas actividades da envolvente, para vir deste modo a integra-la. Neste sentido, volta a ter um carácter regenerativo quer do edificado quer do tecido urbano que pretende consolidar. Consequentemente, podemos descrever alguns processos de “transplantação”, sendo que, numa primeira abordagem, caracterizam-se por estabelecer um elo entre duas actividades dispares (como se observa nas Ilustrações 118, 119 e 120), como se 176 “[…] interactúan cualitativamente con el cuerpo del anfitrión mejorando sus antiguas prestaciones. Son elementos tecnológicos (infraestruturales más que estéticos) pero, al mismo tiempo, están en único y personal acuerdo con el cuerpo receptor fin de optimizar sus potenciales […]” – Gausa et al., 2002, p. 486. Rui Manuel Nini Rosalino 106 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos tratasse de um parasitismo benigno dependente de um percurso ou de outra relação programática. Ilustração 118 – “Vista exterior do Pratt Institute”, 2005, New York (EUA), Steven Holl (esquerda). ([Adaptado a partir de] Lecuyer, 2011) Ilustração 119 – “Planta do Primeiro Piso do Pratt Institute”, Steven Holl (centro). ([Adaptado a partir de] Lecuyer, 2011) Ilustração 120 – “Secção longitudinal do Pratt Institute”, Steven Holl (direita). ([Adaptado a partir de] Lecuyer, 2011) O Pratt Institute destaca-se ter por base a adição de um volume com o sentido de ser quer um ponto de ligação quer um núcleo programático. Deste modo, podemos descrever que se destaca por ligar dois corpos e integrá-los como um “organismo” , apesar das diferenças de cotas (dos pisos). Sintéticamente, podemos afirmar que é a adição de um órgão pelas funções metabólicas que comporta. De outro modo, recorre-se formalmente a um processo de adição orgânica baseado no “encavalgamento”177, ou seja, na sobreposição volumétrica pelo do topo do edifício pré-existente, sendo que, neste sentido, é essencialmente um acrescento ao volume do corpo a reabilitar (como é visível nas Ilustrações 121, 122 e 123), tendo em conta que comporta uma “similitude de tamanhos, forças, tenções e situações”. (Gausa et al., 2002, p. 186) Ilustração 121 – “Vista Exterior da Escola de Música Maurice Durufle” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2015) Ilustração 122 – “Planta do Primeiro Piso da Escola de Música Maurice Durufle” (centro). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2015) Este projecto caracteriza-se pelo modo como o volume adicionado trata de ampliar a antiga escola, sendo que pelo facto de ser espelhado prolonga a envolvente visualmete (quer a volumetria pré-existente quer a circundante da mesma). Posto isto, destaca-se esta obra por ser um “encavalgamento”, ou seja, por ser edificado um volume (o auditório) sobre um volume pré-existente. Ilustração 123 – “Vista Exterior da Caixa Forum”, Madrid (direita). ([Adaptado a partir de] Paula, 2014) A “Caixa Forum” (em Madrid) destaca-se por ser um encavalgamento muito particular, sendo que ao mesmo tempo que adiciona matéria no topo da pré-existência, descola-a do chão, ou seja faz levitar para que este ganhe uma relação visual entre as ruas que o circundam. Deste modo, podemos afirmar que é priveligiado espaço público, uma vez que ao dispor abertamente o piso térreo se torna um espaço mais permeável e convidativo. Podemos assim afirmar que, num entendimento do corpo a intervir com a peça que se insere para o revitalizar, o resultado final é um híbrido que integra a estrutura, o 177 “Estrategias parasitistas de ocupación sobre lo existente, de apareamiento con lo antiguo. Ampliaciones y extensiones serán encabalgamientos.” – Gausa [et al.], 2002, p. 186. Rui Manuel Nini Rosalino 107 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos dinamismo dos percursos e as relações da envolvente. Por sua vez, quando separada a “peça transplantada” do corpo torna-se uma “peça solta”, sendo assim possível perceber a íntima relação que estabelece com o mesmo. INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS, TRANSFUSÕES E PERFURAÇÕES (PUNÇÕES) Todo cuerpo compacto presenta, a la larga, grietas – fisuras – por donde se infiltran el aire y las impurezas. […] los processos evolutivos acaban […] erosionando la cohésion, aparentemente inalterable, de aquellos organismos […] dotándolos de nuevas fologías más abiertas e irregulares. (Gausa et al., 2002, p. 232) Quando se fala neste tipo de “operações”, devemos entendê-las como um processo médico executado com bastante cuidado e que pretende, através de intervenções precisas, curar o tecido danificado (pelo desgaste do tempo e da história). São processos que trabalham com “cicatrizes e corpos decrépitos”, ou seja, não apagam as marcas da história e do tempo mas expõem-nas em estado cristalizado. Posto isto, podemos afirmar que são intervenções baseadas em gestos pontuais, sendo que se encontram algures entre a reabilitação e a concepção “generalizada” da arquitectura, dado que não se podem cintar a nenhum dos dois. Noutra instância, podemos descrevê-las como parte de um “processo contemporâneo de gestão de recursos”178 (económicos, culturais, sociológicos, etc.) disponíveis no lugar, que, por ter uma natureza própria e ao mesmo tempo heterogénea, aprofunda a ancoragem do mesmo, afirma-a no lugar de um modo simbiótico. “Asistimos a la emergencia de un nuevo sistema fragmentado en el que el viejo orden de “secuencias espaciales compuestas” parece sustituirse por un nuevo orden individual de “secuencias programáticas interpuestas”. Todo intento de crear operaciones destinadas a imponer un orden marcial, rígido, conduce paradójicamente a un desorden mayor ya que el añadido de cualquier nuevo elemento no hace sino aumentar la complejidad del conjunto. […]” (Gausa et al., 2002, p. 463) Deste modo, é necessário referir como parte do método bio-médico o uso de incisões, punções e adições morfológicas que restituam a coerência espacial e contextual ao edificado, mesmo quando se dá uma mudança no programa (como se pode observar nas Ilustrações 124 e 125). Assim, podíamos mencionar a mudança da natureza do 178 “Hoy se trata, en efecto, de trabajar con códigos no predeterminados para generar nuevos ejemplares, nuevas disposiciones y nuevas respuestas locales, fusionando, contingente y ponderadamente, informaciones y códigos (llámense éstos arquitectura, infraestruturas y paisaje: llenos, vacíos, enlaces) en nuevos especímenes.” – Gausa et al., 2002, p. 491. Rui Manuel Nini Rosalino 108 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos organismo, isto é, da sua genética179, como parte do propósito de proporcionar futuras relações e acontecimentos, sendo que estes organismos são vistos, cada vez mais, de um modo abstracto e como algo evolutivo e flexível. Ilustração 124 – “Vista exterior do Convento das Bernardas” 2010, Tavira (Portugal), Eduardo Souto Moura (esquerda). ([Adaptado a partir de] Sierra, 2012) Ilustração 125 – “Vista sobre o pátio do Convento das Bernardas” 2010, Tavira (Portugal), Eduardo Souto Moura (direita). ([Adaptado a partir de] Sierra, 2012) O Convento das Bernardas destaca-se pela recuperação do antigo conjunto volumétrico, na medida recupera a vivência em pátio, através da adição de massa à volumetria interrompida. De outro modo, afirma os vãos pré-existentes ao mesmo tempo que cria novas incisões. Ilustração 126 – “Vista exterior do Departamento de Filosofía da Universidade de Nova Iorque”, 2004-2007, New York (EUA), Steven Holl (esquerda). ([Adaptado a partir de] Fairs, 2007) Ilustração 127 – “Diagrama conceptual do Departamento de Filosofía da Universidade de Nova Iorque”, 2004-2007, New York (EUA), Steven Holl (centro). ([Adaptado a partir de] Steven Holl Architects, 2015) Ilustração 128 – “Pormenor do corpo inserido na pré-existência do Departamento de Filosofía da Universidade de Nova Iorque”, 20042007, New York (EUA), Steven Holl (direita). ([Adaptado a partir de] Fairs, 2007) Desta intervenção podemos salientar o modo como ela conserva a fachada e o restante edifício, sendo que instala (somente) um elemento prostético no seu interior: as escadas que o rompem de uma forma “acidentada” para que a luz percorra a totalidade do interior do mesmo. 179 A genética é mencionada como uma referência à identidade do edifício, sendo que em ambos os conceitos (de identidade e de genética) a sua base é a disposição e manipulação da informação. Sendo que, nesta constatação, dizer que alteramos a identidade de um edifício é dizer que alteramos o seu código de ADN, a sua genética: “[...] un gen topológico, sin el cual la vida no sería posible. En efecto, la posición de los órganos de los seres vertebrados está regida por este gen, que permite posicionamiento de unos u otros según leyes compensatórias y equilibrantes [...].” – Gausa et al., 2002, p. 249. Rui Manuel Nini Rosalino 109 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Resta salientar o processo de adição metabólica, dado que é entendido como uma introdução de um órgão no corpo: é um transplante ou uma biópsia. Retiramos parte do corpo danificado – seja isto entendido como espaço ou como massa volumétrica – para conseguir dar uma nova vida ao edifício (como é visível nas Ilustrações 126, 127 e 128). Como consequência, não podemos cingir estes processos à adição, pois é necessário perceber esta metodologia como um resultado das necessidades programáticas e de conservação do edificado. Assim, é imprescindível (em alguns casos) uma subtracção prévia para que o processo de adição seja feita de um modo que integre a vida da préexistência. Por outro lado, podemos perceber a intervenção através da interpretação do edificado (por si só) como uma forma de o trazer para o presente, sendo que (apesar de utilizar métodos de “colagem e escultóricos”) afasta-se do entendimento da arquitectura como algo somente escultórico, ou formal. Ilustração 129 – “Conical Intersect”, 1975, Paris (França), Gordon Matta-Clark (esquerda). (Artnet, 2015) Ilustração 130 – “Split House”, 1974, New Jersey (EUA), Gordon Matta-Clark (centro). ([Adaptado a partir de] Artnet, 2015) Ilustração 131 – “Decapidated Wall”, 145th Street Station, New York (EUA), Michael Heizer (direita). ([Adaptado a partir de] Rigano, 2013) Através da observação destas intervenções artísticas podemos perceber a associação ao método como uma afirmação cultural, sendo que, aos as analisarmos é visível que se interligam com um pensamento de dissecação do corpo (edificado). Assim, são importantes para perceber a síntese dos gestos científicos ( médicos) de punção, incisão e de dissecação ou cicatrização. Em suma, percebemos que o processo de intervenção no edificado antigo ganha, nos dias de hoje, um ideal que não pretende ser uma forma disfarçada do estilo e da forma da pré-existência, isto é, quer tanto deixar visível a herança do passado como quer afirmar a sua cultura. De certo modo, voltamos ao método utilizado no passado, onde a adição de edificado integrava a pré-existência (mesmo que esta fosse de um estilo ou época passada, como por exemplo medieval) e afirmava o estilo predominante (contemporâneo), que por sua vez permite a observação da passagem do tempo num conjunto de edificado. Rui Manuel Nini Rosalino 110 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Como conclusão deste sub-capítulo, poderemos afirmar o seguinte: - A arquitectura bio-médica pode ser entendida como uma extensão dos conceitos da Arquitectura Biónica aos processos de reabilitação e rentabilização do edificado pré-existente, sendo que, tal como a arquitectura biónica, tem por base a utilização do método como resposta à heterogeneidade espacial, isto é, o uso de procedimentos metafóricos assumidos como válidos em questões cujos dados tenham uma natureza similar. - Consequentemente, podemos afirmar que esta conceptualização nas intervenções de reabilitação é um resultado da junção da produção elitista (baseada nos “star architects”) com os valores de sustentabilidade e ecológicos que estão na base dos projectos contemporâneos, inclusive na preservação (económica e cultural) do património edificado. - Dito isto, podemos a afirmação do carácter heterogéneo da envolvente e dos programas híbridos contemporâneos como uma consequência quer da diversidade de actividades e capacidades de um individuo dos dias de hoje quer da tentativa de rentabilização dos recursos pré-existentes (que nos leva a reactivar o edificado obsoleto). Assim, podemos destacar que é com vista nestas condições de natureza híbrida que se pretende enriquecer o edificado tanto culturalmente como funcionalmente. - É importante mencionar ainda que, sendo que a intervenção num corpo danificado assume-se no propósito médico de resgate de uma vida, não é de estranhar que (num contexto arquitectónico de método) esta acabe por aplicar processos de um modo semelhante. Deste modo, quando falamos de procedimentos médicos aplicados à arquitectura, podemos destacar a necessidade programática como uma extensão da natureza metabólica do corpo. - Sendo assim, podemos descrever os diversos processos de intervenção no corpo pela sua divisão natural, sendo que além da recuperação do esqueleto do edificado e da sua pele, podemos observar entre a adição de membros prostéticos o transplante de órgãos para proceder-mos a uma restruturação dos percursos e da relação com a envolvente. Sendo que, podemos dizer que estas operações se centram no redirecionamento ou restituição do fluxo de Rui Manuel Nini Rosalino 111 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos habitantes (permanentes e/ou temporários) através da integração na multiplicidade de actividades que os circundam, de modo que assumem programas híbridos bastante flexíveis. - Para concluir, é importante mencionar que estes processos que trabalham com cicatrizes adquirem a minúcia dos processos médicos pela sensibilidade que requer este tipo de intervenções, apesar de que, contráriamente aos procedimentos dos mesmos, não pretendem apagar as marcas da “história do corpo”. Contudo, são concepções de um carácter diferente dos que se sustentam na ciência arqueológica, pois estes não pretendem que o edificado seja visto como uma ruína mas um organismo que promova o desenvolvimento do território. Rui Manuel Nini Rosalino 112 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 4. APLICAÇÃO PRÁCTICA DA ARQUITECTURA BIO-MÉDICA: CASOS DE ESTUDO “ […] o artista sofre a doença, sofre as influências do mundo, mas quer alterálo, é um doente que insiste em curar, no limite: é um moribundo que quer salvar os outros, os que se julgam saudáveis […]” (Tavares, 2013, p. 319) 4.1. TEATRO THALIA, LISBOA O Teatro Thalia180 localiza-se na Quinta das Laranjeiras181, em Lisboa (Portugal), e, como tal, destaca-se como sendo um local que conta com a presença de diversos animais exóticos (do actual Jardim Zoológico), uma ideia com origem no Século XIX, criada pelo aristocrata Joaquim Pedro Quintela182. De outro modo, é importante salientar que a origem do Teatro Thalia, cujo nome deriva de uma referência à musa da comédia na mitologia grega (Thalia), deve-se ao entusiasmo do Conde de Farrobo pelas actividades e obras cénicas, neste sentido decide-se implementar a construção desta obra junto ao Palácio das Laranjeiras, no ano de 1820. Por conseguinte, é necessário referir que o projecto para o Teatro Thalia, nomeadamente a sua recuperação e intervenção, deve-se a um incêndio ocorrido em 1862 (provocado pelo descuido de um operário que soldava uma clarabóia), e que o leva a ficar ao abandono devido ao estado de falência de Joaquim Quintela, o Conde de Farrobo. Por sua vez, o Thalia vê a sua situação de decadência agravada (como se observa nas Ilustrações 132 e 133) quando se executa a demolição da sua cobertura, em 1978. (Afaconsult, 2011?) 180 Teatro Thalia (2012), Lisboa, Portugal – Barbas Lopes Arquitectos (Patrícia Barbas e Diogo Lopes) em colaboração com Gonçalo Byrne Arquitectos. Por conseguinte, é importante salientar que, antes do incêndio que provocou o seu declínio, a última intervenção feita foi por parte do arquitecto italiano Fortunato Lodi (1805-1883) em 1842. 181 A Quinta das Laranjeiras, conhecida anteriormente (por volta do século XVII) como Quinta de Santo António, quando pertencía a Manuel da Silva Colaço. Contudo, apesar de esta propriedade ter conhecido bastantes proprietários e funcionalidades, nenhum a cuidou e embelezou como Joaquim Quintela, o Conde de Farrobo. Posto isto, podemos afirmar que foi palco de inúmeras exuberâncias e exotismos por parte das festas do Conde, contando com animais exóticos. 182 Joaquim Pedro Quintela (1801-1869), conhecido pelos títulos de 2º Barão de Quintela ou 1º Conde de Farrobo, foi um aristocrata bastante abastado que vai intervir na Quinta e no Palácio das Laranjeiras (em Lisboa) de um modo exuberante e exótico (trazendo animais selvagens como leões, tigres e panteras para a propriedade). De outro modo, é importante referir esta figura extravagante pelo contribuito como mecenas e promotor de actividades artísticas. Rui Manuel Nini Rosalino 113 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 132 – “Vista do interior do Teatro Thalia em ruínas”. ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013b) Ilustração 133 – “Vista do exterior do Teatro Thalia em ruínas”. ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013b) Assim, podemos afirmar que, com a intervenção de Patrícia Barbas183 e Diogo Lopes184, este conjunto edificado é reabilitado e “reciclado”. Isto é, são recuperados os corpos ou as partes do mesmo que se encontravam intactos e, na interpretação dos arquitectos, é-lhes dada uma nova vida. Posto isto, é necessário salientar a mudança programática: apesar de ter ainda um carácter recreativo, este deixa de praticar o programa de teatro para priveligiar funções mais flexíveis e sustentáveis (quer económicamente quer funcionalmente). Este novo carácter pretende manter esta obra em constante funcionamento, isto é viva, como se fosse um organismo adaptável. Ilustração 134 – “Vista da relação volumétrica com o pátio do Teatro Thalia” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Divisare, 2013b) Ilustração 135 – “Vista exterior do Teatro Thalia” (direita). ([Adaptado a partir de] Arquitectura Viva, 2013) Consequentemente, esta obra destaca-se pelo modo como é conservada a ruína, sendo que é entendida como a matéria essencial para reactivar este conjunto 183 Patrícia Barbas (1971) é uma arquitecta portuguesa, nascida em Luanda, que, até formar parcería com Diogo Lopes (em 2006) através da fundação do atelier Barbas Lopes Arquitectos, foi colaboradora de ateliers como Aires Mateus ou Gonçalo Byrne. – Para mais informação, consultar o Apêndice A. 184 Diogo Lopes (1972) é um arquitecto português que forma parcería com Patrícia Barbas no atelier Barbas Lopes Arquitectos. – Para mais informação, consultar o Apêndice A. Rui Manuel Nini Rosalino 114 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos edificado. Neste sentido, ao ser assumida como um ornamento de referência ao passado, leva o gesto conceptual dos arquitectos a recorrer a uma forma e materialidade depurada, sendo que é utilizada uma geometria sintetizada para articular os volumes em vidro e em betão desactivado185 (como é visível nas Ilustrações 134 e 135). (Afaconsult, 2011?) Ilustração 136 – “Planta de levantamento da ruína do Teatro Thalia” (esquerda). (BarbasLopes Arquitectos, 2015) Ilustração 137 – “Pormenor da ligação da ruína com o corpo macisso que a envolve” (direita). (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 138 – “Planta do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) Nesta ilustração percebemos (quando comparada com a Ilustração) o modo como a ruína é integrada nesta obra (representada a “cinzento-cheio”), sendo é visível a camada de betão desactivado que a envolve. De outro modo, é perceptível a articulação de outros volumes irregulares e que apresentam uma relação interrompida entre si, ou melhor, mantida somente pela cobertura pela qual acedemos ao pátio desta intervenção. Para concluir, é necessário destacar que a ruína é mantida como algo puro, quase intocável, sendo que as unidades de suporte a esta (como por exemplo Instalações Sanitárias) são estruturadas num volume à parte, quase como um volume-prótese. Posto isto, é necessário afirmar, segundo as palavras de Patrícia Barbas e Diogo Lopes, a sua metodologia como parte da herança da Arquitectura Chã186, uma 185 O betão desactivado é um material cuja constituição é igual à do betão comum, tirando o facto de a sua camada superficial ser desactivada com o intuito de lhe conferir um aspecto de brita agregada. 186 Quando os arquitectos Diogo Lopes e Patrícia Barbas se referem à influência das características Chãs pretendem assumir uma posição de “trabalho com os recusros disponíveis”, na medida que é desta forma que encaram os processos de reabilitação: não há condições económicas que viabilizem novas concepções havendo edificado que (pela sua qualidade) pode ser re-utilizado depois de recuperado. Por Rui Manuel Nini Rosalino 115 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos arquitectura típicamente portuguesa que se caracteriza pela sua natureza comedida e bastante depurada, dado que surge como resposta a um período no qual Portugal passava por uma política de grande contenção económica. Assim, é necessário destacar o modo como se apropriava de edificado pré-existente, adicionando-lhe unidades espaciais e programáticas conforme havia necessidade de tal, sendo este o caso desta intervenção (como se observa através das Ilustrações 136, 137 e 138). Ilustração 139 – “Vista interior do Teatro Thalia” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 140 – “Vista interior do Teatro Thalia” (direita). (Ilustração nossa, 2014) Através da observação destas ilustrações é perceptível o modo ornamental com o qual a ruína é assumida, sendo que a intervenção, à qual podemos chamar contemporânea para distinção das qualidades de cada uma, é criada através da utilização de superfícies regulares. Por outro lado, é evidente o carácter dramático com o qual a ruína é tratada, sendo que a incidência (zenital) da luz natural é conferida de uma única abertura que evidencía uma relação assimétrica muito própria dos conjuntos edificados desgastados e feridos pelo passar do tempo e da história. outro lado, destaca-se também o carácter depurado/minimalista deste estilo arquitectónico que contagía a obra de arquitectos portugueses influêntes (na contemporaneidade) como Álvaro Siza Viera ou Eduardo Souto de Moura, onde se percebe a procura da síntese do meramente necessário para garantir a coerência e riqueza da obra na sua totalidade. Rui Manuel Nini Rosalino 116 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 141 – “Secção longitudinal do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) Posto isto, é necessário destacar o modo como é tratada a ambiência desta obra, nomeadamente dentro do volume maciço que contêm a ruína, onde é mantido o corpo degradado como parte integrante do novo volume. Deste modo, é importante mencionar que este corpo (de betão desactivado) não se pretende sobrepor à materialidade ou natureza da pré-existência, sendo que vai recuperar a volumetria em falta (como é visível nas Ilustrações 139, 140 e 141). “O projecto […] converteu as suas ruínas num espaço multi-funcional para conferências, exposições ou concertos. O exterior foi revestido […] para consolidar o que restava das paredes originais. O interior ficou como estava, como se fosse um fóssil […].” Patrícia Barbas (Barbas [et al.], 2013) Por outro lado, podemos perceber que este corpo principal pretende recriar as qualidades espaciais do antigo teatro seguindo uma visão (ou interpretação) contemporânea, na medida que a luz artificial é integrada nas traves de madeira que se encontram suspensas sob o “centro cénico” (observável na Ilustrações 139 e 140). De outro modo, é dado um sentido dramático à luz (natural) no interior do “corpo principal” desta obra, sendo que utiliza um único ponto para fazer chegar a luz ao “centro cénico”, que, por sua vez, afirma a natureza assimétrica da ruína (como se observa na Ilustração 140). Por conseguinte, são assumidos os corpos segundo pretextos distintos, na medida que o “objecto principal”, aquele que articula a ruína com o reminiscente da frente neoclássica (visível na Ilustração 142), é entendido segundo um carácter polivalente, na medida que o seu programa tem o propósito de integrar conferências, exposições, concertos e/ou outras performances. Neste sentido, é necessário mencionar que o corpo acoplado ao “volume principal” surge como um conjunto programático de apoio à mesma, contendo áreas de recepção e/ou estar (assim como instalações sanitárias). Por outro lado, destaca-se a relação que este “volume secundário” expressa com a envolvente, sendo que, pela natureza reflectora da sua materialidade, este acaba por Rui Manuel Nini Rosalino 117 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos trazer o verde da Quinta das Laranjeiras para o interior do pátio (como se observa na Ilustração 143), como acontecia quando este rodeava a mesma no tempo do Conde de Farrobo. (Barbas [et al.], 2013) Ilustração 142 – “Vista frontal do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) Ilustração 143 – “Vista do pátio do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) Ilustração 144 – “Interior do volume de apoio do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) Para concluir, podemos afirmar que, quanto ao interior deste volume de apoio, o facto de ser transparente permite afirmar a massa de betão como uma peça única na sua envolvente, isto é, dilui-se a expressão deste volume secundário quando este “abre” a relação deste conjunto edificado com os espaços amplos que os circundam (como é visível na Ilustração 144). Rui Manuel Nini Rosalino 118 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Destaca-se ainda a interpretação desta obra como: “uma mistura do Neues Museum, com uma performance do Peter Brook e uma instalação da Rachel Whiteread” pelo modo como o Teatro Thalia “combina as partes novas e antigas do edifício num conjunto urbano com vistas para o jardim zoológico que fica ao lado”. (Barbas [et al.], 2013) “ANÁLISE BIO-MÉDICA” Numa análise conceptual do Teatro Thalia, na qual temos em conta os princípios do Capítulo 3.3, podemos constatar que é conferida uma identidade corpórea às ruínas do mesmo, sendo que estas passam a integrar o organismo que as envolve de um modo muito similar ao descrito nas propostas Bio-Médicas187 contemporâneas (Capítulo 3.2). Posto isto, é necessário mencionar que o edificado, após esta intervenção, deixa de ser entendido como algo “morto” (ou moribundo), para passar a integrar novamente o tecido urbano vivo, “demos vida al inmenso edificio de nuestros recuerdos” (Pallasmaa, 2012, p. 95). Assim, é possível perceber este volume (de betão) como um corpo ao qual é adicionado um elemento prostético, dado que o que possuia como pré-existência se encontrava deteriorado. Deste modo, é possível assumir o volume secundário como um membro artificial, ou seja, algo que tem a capacidade de alcançar e abraçar o pátio desta obra, mas de uma natureza distinta à do corpo orgânico (como se observa na Ilustração 145). Ilustração 145 – “Vista exterior do Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) Ilustração 146 – “Vista interior da relação entre dois corpos que compõem o Teatro Thalia”. (BarbasLopes Arquitectos, 2015) 187 Entenda-se neste caso como ciência médica, em vez do método conceptual aplicado à reabilitação de edificado. Rui Manuel Nini Rosalino 119 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Por conseguinte, é perceptível o modo regenerativo com o qual este conjunto edificado ganha uma nova vida, ou seja, constatamos que é nesta adição e sobreposição corpórea e programática que ele ganha uma vida contemporânea e simultaneamente, que mantém a sua existência como marca do passado. Torna-se um Ser simbiótico que comporta caracteristicas metabólicas distintas entre os seus constituintes (como se observa na Ilustrações 145 e 146) e, devendo-se ao facto de ser um organismo adaptável, tem o propósito de integrar múltiplas actividades. […] esta ideia de reanimarmos um edifício ou uma estrutura física para um novo uso, tentamos não encarar como uma restauração ideal ou integral do que lá estava porque eu acho que “o passado não volta mais”, e tentamos sempre, através de uma leitura da estrutura física e histórica do edifício encontrar um espaço para a invenção de novos gestos, novas identidades e novas instâncias no edifício que está a ser reabilitado, para fazermos ou para tentarmos ensaiar uma continuidade entre passado e presente, portanto para tentarmos estabelecer uma certa ambivalência entre tempos. (Lopes 2015)188 Para concluir, é importante mencionar que se trata de uma obra que nasce de uma visão metodológica da arquitectura, sendo que é perceptível esse processo conceptual como uma afirmação da minúcia e da precisão conferida a estes corpos alvos de “intervenções cirúrgicas” (Capítulo 3.3). De facto, há hoje, em termos da sociedade portuguesa, um reconhecimento maior do que é a arquitectura e esse valor tem de estar, justamente, num incremento da percepção e da precisão. (Lopes, 2015) 188 Para ter acesso à entrevista aqui citada, consultar o Apêndice D. Rui Manuel Nini Rosalino 120 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 4.2. KOLUMBA MUSEUM, COLÓNIA O Museu Kolumba189, situado no centro da cidade de Colónia (na Alemanha), é um dos melhores exemplos do referido conceito de Arquitectura Bio-médica, pois integra esse respeito e vontade revitalizadora do edificado. Deste modo, este projecto vem recuperar a memória da igreja gótica (de St. Columba) deixada em ruínas (juntamente com o resto do centro da cidade de Colónia, como se pode observar na Ilustração 149) durante a Segunda Guerra Mundial. Assim, é importante mencionar que a partir da implantação nos escombros nasce o gesto que dá origem ao actual Kolumba Museum, nomeadamente, a anterior construção da Capela “Madonna in the Ruins”190 (Ilustrações 147 e 148) que, como o nome indica, é construída entre as ruínas. Ilustração 147 – “Planta da Capela Madonna of the Ruins” (centro). ([Adaptado a partir de] Zumthor ; Durisch, 2014) Ilustração 148 – “Interior da Capela Madonna of the Ruins” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Zumthor ; Durisch, 2014) Ilustração 149 – “Imagem aérea do centro da cidade de Colónia após os bombardeamentos”, 1945 (direita). (Verwoerd, 2014) Por conseguinte, esta proposta de Peter Zumthor191 destaca-se pelo pensamento diferencial referente à materialidade que se tinha durante a época da construção da dita capela, em que o arquitecto queria marcar a distinção entre o novo edificado e o edifício antigo, sendo que utilizavam materiais mais leves como ferro e vidro (Zumthor; 189 Kolumba Museum (2004-2007), Colónia, Alemanha – Peter Zumthor. A Capela “Madonna in the Ruins” (ou “Madonna in the Rubble”) trata-se de uma capela anterior à intervenção que deu origem ao Kolumba Museum, que data ao ano 1949 pela mão do arquitecto Gottfried Böhm (1920). Sendo que adquire este nome por ser um edificado criado com o propósito de acomodar a estátua de “Nossa Senhora” que sobreviveu intacta aos bombardeamentos durante a Segunda Guerra Mundial. 191 Peter Zumthor (1943) é um arquitecto suíço bastante reconhecido e premiado (com um pritzker inclusive), cuja sensibilidade para o uso da materialidade na arquitectura se deve à influência “carpinteira” de seu pai. – Para mais informação, consultar o Apêndice A. 190 Rui Manuel Nini Rosalino 121 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Durisch, 2014, p. 165). Deste modo, Zumthor assume uma posição harmoniosa de afirmação das ruínas através do uso de materialidades semelhantes, nomeadamente o tijolo maciço. Consequentemente, o uso do tijolo tem como base a referência vernacular de Colónia e da área circundante, de modo a salientar não só o respeito pela cultura e património da cidade, como o uso do material como o primeiro recurso de reconstrução após a guerra. Contudo, era necessário o uso de um tijolo diferente, ou seja, um tijolo que ao mesmo tempo integrasse as ruínas e se assumisse como algo contemporâneo, sendo que foi possível pelas mãos de Christian Petersen192. Neste sentido, podemos perceber, através das Ilustrações 150 e 151, o cuidado em manter e integrar as marcas do passado na proposta de Zumthor. Dá-lhes uma nova vida, integrando-as no novo programa. “the re-instatement of existing fragments with the eventual addition of neutral elements, necessary for the reintegration of the whole and to ensure the future conservation”. (Emmons et al., 2012, p. 70) Ilustração 150 – “Pormenor da materialidade do Kolumba Museum” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Zumthor ; Durisch, 2014) Ilustração 151 – “Pormenor da relação do edificado novo com o antigo do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Inferlo 712, 2014) 192 Christian Petersen é o criador (dinamarquês) dos chamados “Kolumba bricks”. Sendo que, ao contrário dos tijolos normais (que se encontram no Mercado), têm uma espessura mais reduzida, assemelhando-se à morfologia dos tijolos romanos, sendo que se torna ideal para “casar” as juntas acidentadas da ruína com o novo edificado. Rui Manuel Nini Rosalino 122 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos The new building evolved from the foundations of the original church. We followed the late Gothic footprint exactly and expand it to take advantage of an adjoining empty lot on Kolumbastrasse. Thus the shape of the new museum not only speaks of its contents as a museum of art, but also reflects to a high degree its origins. (Zumthor ; Durisch, 2014, p. 165) Por conseguinte, podemos afirmar que esta obra ergue-se a partir dos limites da ruína gótica, massificando a sua presença através da volumetría fechada do museu, que nos remete para a própria monumentalidade das igrejas góticas. Por outro lado, é através da re-definição deste corpo que se faz a contenção daquilo que é entendido como a “alma e coração”193 desta obra, sendo que esta passa a ser uma parte integrante da vivência do novo conjunto edificado, como se pode constatar na Ilustração 151. Assim, podemos definir este projecto como parte do pensamento de “reinvenção” (ou reconversão) dos edifícios antigos presente por toda a Europa, que, tanto no caso do Neues Museum como neste exemplo, são uma afirmação da ideologia alemã no que refere à arquitectura. Posto isto, esta obra vem cristalizar o carácter espiritual das pré-existências (tanto a capela como a porção restante da igreja gótica), sendo que, por sua vez, é a afirmação dos ideais de Frampton quanto à transição e caracterização de Frank Lloyd Wright para o Organicismo – “Sobre esto van a exhalar las fuerzas del Arte y la emoción de la idealidad. ¡UN ALMA!” (Frampton, 2012, p. 59) – onde este aponta a relação da obra com o lugar, descrevendo-a como um qualificador espacial e cultural. Consequentemente, podemos afirmar quanto a este projecto que, além de integrar a história do lugar (genius loci), dá-lhe uma nova vida (enraizada no mesmo). “Nowhere else have we been able to create a spatial organism out of historical remains as we have here with the Kolumba Museum.” Peter Zumptor (Zumthor ; Durisch, 2014, p. 166) 193 Entenda-se a “alma” pelo sentido espiritual dado à capela, isto é, pelo carácter religioso que contagía a ambiência do museu. Sendo que, o “coração” deve ser entendido como as ruínas góticas, ou seja, é o órgão que faz voltar este organismo à vida. Rui Manuel Nini Rosalino 123 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 152 – “Planta do Piso Térreo do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014) Percebemos através da análise desta planta, a necessidade de manter a autonomia da capela, sendo que são criados dois acessos, um directo à capela, com o intuíto que esta mantenha a sua função original, e outra para o desenvolvimento do programa museológico. Por outro lado é visível o modo como esta obra assume os limites físicos da anterior construção (a igreja gótica de St. Columba). Contudo, voltando à “espiritualidade” presente nesta obra, podemos percebê-la através da presença singular da luz (natural) que penetra para o seu interior (como é visível nas Ilustrações 153 e 154), nomeadamente na sensibilidade e no carácter sedutor que é produzido por esta luz fragmentada (e quase cristalina) que contagia todo o espaço. Por outro lado, este carácter sedutor sente-se no modo como é estruturado o percurso interno desta obra, dado que vai serpenteando sobre as ruínas enquanto trata da sua contenção (como se pode observar nas ilustrações 155 e 156), sendo necessário referir que este “caminho” pode ser entendido como uma peça solta que se vai Rui Manuel Nini Rosalino 124 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos acomodando tanto aos limites da pré-existência, como vai procurar apoio de um modo cirúrgico entre os escombros do plano térreo. Ilustração 153 – “Vista interior da Capela Madonna in the Ruins” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) Ilustração 154 – “Pormenor interior do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Gutermuth, 2013) Quando comparadas as ambiências produzidas pela luz, percebemos um carácter simultaneamente espiritual e sedutor, que já era demonstrado através dos vitrais do corpo pré-existente. Assim, é notório que a intenção de manter este espaço sob condições semelhantes às da capela é um modo de “extender” a vida da mesma para o espaço que lhe foi adicionado (e que a vem envolver). Ilustração 155 – “Vista interior do percurso do Kolumba Museum”. ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) Rui Manuel Nini Rosalino 125 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 156 – “Secção Transversal do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014) Assim, é com a observação desta secção (Ilustração 156) que percebemos a estratégia de concentrar as novas “unidades espaciais” nos pisos superiores para que a ruína seja libertada, de tal modo que esta possa ser percorrida livremente, para garantir uma percepção mais fiel do seu passado. De outro modo, este respeito pela história da Igreja de St. Kolumba, leva-o a criar um espaço exterior em que sejam “cristalizadas” as suas cicatrizes. Fá-lo, como se fosse uma homenagem (como um momento de silêncio por alguém “caído”, visível na Ilustração 157). Posto isto, não é de estranhar que utilize parte dos limites da antiga igreja para o fazer, onde vem inserir também uma escultura de Richard Serra (criada especifícamente para este lugar, como se observa na Ilustração 158). Ilustração 157 – “Vista do espaço exterior do Kolumba Museum” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Inferlo 712, 2014) Ilustração 158 – “Escultura de Richard Serra para o Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) Ao observar-mos esta escultura de Richard Serra podemos entendê-la como se fosse uma referência ao altar da antiga igreja de St. Kolumba, como se fosse um memorial às cerimónias passadas. Assim, é necessário destacar o uso do aço corten por essa relação que tem com o tempo, ou seja, pela evidência do desgaste provocado pela passagem do tempo. Rui Manuel Nini Rosalino 126 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos “ANÁLISE BIO-MÉDICA” Podemos assumir que este processo de conservação e reconversão da ruína ou dos corpos edificados pré-existentes, pode ser entendido medicamente como o pretexto de assumir as características do “corpo no corpo”, cicatrizando os tecidos abertos e contendo o seu metabolismo para lhe dar uma nova vida. Posto isto, é necessário esclarecer o entendimento dos tecidos como pele do edifício, ou seja a superfície que delimita aquilo que é interior e exterior do corpo. Por sua vez, podemos afirmar que o metabolismo é a relação funcional entre as actividades do Homem e as funções programáticas, ou seja, é o “gesto” que leva à organização dos espaços de exposição (das peças de arte) acima do piso térreo para que consigamos ter a percepção da antiga morfologia da igreja. Por outro lado, é também um modo de criar diversos espaços expositivos que se libertam de qualquer regra ou imposição pelo modo como são gerados, isto é assumem uma singularidade orgânica na disposição espacial assim como na diversidade da altura do piso aos tectos. Assim, é necessário mencionar que esta relação diversificada da altimetria está dependente da criação das “torres” que contagiam e alteram a sua morfologia base (como se observa nas Ilustrações 159 e 160). Ilustração 159 – “Esquisso conceptual da volumetria do Kolumba Museum” (esquerda). (Zumthor ; Durisch, 2014) Ilustração 160 – “Interior de uma ‘torre de exposição’ do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) Todo cuerpo compacto presenta, a la larga, grietas – fisuras – por donde se infiltran el aire y las impurezas. […] los processos evolutivos acaban […] erosionando la cohésion, aparentemente inalterable, de aquellos organismos […] dotándolos de nuevas fologías más abiertas e irregulares. (Gausa et al., 2002, p. 232) Rui Manuel Nini Rosalino 127 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 161 – “Secção Longitudinal do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014) É necessário reter desta secção (do Kolumba Museum) o modo contínuo como a ruína é percorrida, sendo que, para tal efeito, Zumthor distribui os espaços de exposição pelos pisos acima da cota térrea. É perceptível também a diferença entre as alturas dos tectos das diferentes salas expositivas. Posto isto, é também visível a distinção entre a “natureza” de uma sala de exposição e uma “torre de exposição”, nomeadamente por se recorrer a luz zenital. Ilustração 162 – “Planta do Piso Primeiro do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014) Deste modo, conseguimos perceber (através das Ilustrações 161 a 165) como a ruína integra a volumetria desta intervenção, sendo que a capela passa a ser utilizada como o (já referido) metabolismo contido pelo novo corpo. Assim, esta unidade programática Rui Manuel Nini Rosalino 128 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos passa a ter uma natureza diferente, sendo que deixa de ser somente um local de culto (apesar só poder ser visitado como um corpo independente) para ser também uma peça em exposição neste corpo museológico. Por conseguinte, é necessário ter presente que este método, apesar de não ter sido utilizado expressamente segundo os termos referidos, tem pontos afectos à prática médica, na medida que se tratam de intervenções no corpo “doente” ou “moribundo”. Assim, podemos constatar que se recorre a intervenções de uma complexidade e precisão cirúrgica, muito própria de Zumthor194, cujo carácter simultaneamente pontual pretende proceder à re-integração deste corpo “hibrizado” no tecido urbano (vivo). Ilustração 163 – “Alçado Frontal do Kolumba Museum”. (Zumthor ; Durisch, 2014) Ilustração 164 – “Vista exterior do Kolumba Museum” (esquerda). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) Ilustração 165 – “Vista exterior das traseiras do Kolumba Museum” (direita). ([Adaptado a partir de] Cilento, 2010) 194 “I want to pursue and reduce things to such a degree that later, no one can come and say, ‘That could have been left out as well’” Peter Zumthor – Gutermuth, 2013, p. 9. Rui Manuel Nini Rosalino 129 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 4.3. NEUES MUSEUM, BERLIM O Neues Museum195 está localizado na Museumsinsel (Ilha dos Museus), em Berlim (na Alemanha), e como tal integra o plano de reabilitar o edificado antigo que faz parte deste lugar. Assim, podemos encontrar nesta “ilha”, situada no coração de Berlim, o mais diverso edificado antigo que, como o nome indica, nos remete para o reaproveitamento destes corpos para funções museológicas, uma práctica bastante comum quando se trata de reabilitar ruínas ou conjuntos arquitectónicos antigos (visíveis nas Ilustrações 166 e 167). Por conseguinte, o corpo pré-existente onde David Chipperfield196 vem actuar, trata-se de mais uma vítima da Segunda Guerra Mundial, sendo que a obra original (o Altes Museum197) é da autoria do arquitecto Friedrich Stüler198, apesar do plano por detrás da ilha onde este se encontra ser da autoria de Karl Friedrich Schinkel199, sendo que inicialmente (no século XVI) foi concebida como um pleasure garden200 palaciano. Ilustração 166 – “Vista aérea do Altes Museum”, 1989. (David Chipperfield Architects, 2014) Ilustração 167 – “Vista exterior do Altes Museum em ruínas”, 1958. (David Chipperfield Architects, 2014) 195 Neues Museum ou “Novo Museu” (1997-2009), Berlim, Alemanha – David Chipperfield e Julian Harrap. David Chipperfield (1953) é um arquitecto inglês bastante premiado, cujas obras, espalhadas por todo o globo terrestre, são vistas como referências para inúmeros arquitectos. – Para mais informação, consultar o Apêndice A. 197 O nome Altes Museum (Museu Antigo, 1841-1859) deve-se à função museológica, já anterior à nova intervenção: o Neues Museum (Novo Museu). Deste modo, é necessário referir que o Altes Museum foi dos primeiros edifícios a ser construído sob o pretexto de executar funções museológicas. 198 Friedrich August Stüler (1800-1865) foi um arquitecto prussiano bastante influente (na sua época), que seguiu os ensinamentos de Karl Schinkel. Deste modo, destaca-se como o autor original do actual Neues Museum (anterior Altes Museum). 199 Karl Friedrich Schinkel (1781-1841) foi um arquitecto, urbanista e pintor prussiano que, ao “contagiar” o território alemão com as suas obras Neo-Clássicas e Neo-Góticas, torna-se um dos principais contrutores da sua época na Alemanha. Por conseguinte, destaca-se como o autor da Spreeinsel (Spree Island), em Berlim, a actual Ilha dos Museus, onde seu discípulo Stüler vem intervir. 200 Nys, 2013, p. 198 – “[…] previous known as the Spreeinsel (Spree Island), began in the sixteenth century as a pleasure garden for the Stadtschloss (City Palace)”. 196 Rui Manuel Nini Rosalino 130 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Posto isto, é necessário referir que, relativamente ao seu desenho e disposição, o seu gesto original (herdado do Altes Museum), que dá lugar a esta concepção, é a vontade de este edifício se integrar com as peças em exposição, baseando-se numa ligação simbiótica dos diversos espaços expositivos com as diversas peças. Podemos concluir que Chipperfield vê-se encarregue de criar uma unidade entre o corpo decrépito do Altes Museum com a matéria expositiva, como se estas (as peças) pudessem integrar as partes danificadas do edificado, dado que, tal como o Kolumba Museum, esta é uma intervenção que não pretende esconder as marcas da história, sendo que à medida que percorremos o actual edifício ainda são visíveis as perfurações das balas perdidas nos pilares e nas suas paredes (como se observa nas Ilustrações 168 e 169). Ilustração 168 – “Pormenor das janelas da escadaria principal do Neues Museum” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 169 – “Vista do corredor de distribuitivo do Primeiro Piso do Neues Museum” (centro). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 170 – “Modelo esquemático da intervenção no Neues Museum” (direita). (David Chipperfield Architects, 2014) Ilustração 171 – “Vista do alçado frontal do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015) Nesta ilustração da frente do Neues Museum é observável a volumetria “reposta” no lado esquerdo desta obra, onde se percebe o cuidado de Chipperfield em manter através da materialidade usada uma linguagem contemporânea que articula o conjunto edificado antigo. Consequentemente, é perceptível (através das Ilustrações 170 e 171) que Chipperfield pretende manter a morfologia deste edificado, reconstruindo as partes deste corpo que Rui Manuel Nini Rosalino 131 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos se encontram em falta, como se de uma prótese se tratasse: esta prótese é colocada para recuperar as funções de um membro amputado. Neste sentido, constata-se que para dar uma nova vida a este corpo (ou organismo) foi necessário recuperar parte da volumetria e, por sua vez, parte da vivência anterior, dado que sem esta era impossível restaurar os dois pátios que o constituiam. Ilustração 172 – “Pormenor de um dos pátios do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 173 – “Pormenor dos vãos de um dos pátios do Neues Museum”. (Ilustação nossa, 2015) Ilustração 174 – “Pormenor da conservação dos elementos interiores do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015) De outro modo, percebe-se que esta intervenção não tem o propósito de ser uma reabilitação ou algo contemporâneo, mas sim um organismo que integra o passado segundo uma vivência coetânea. Para o efeito, são utilizados os processos actuais de reabilitação e recuperação do edificado pela mão de Julian Harrap201 (como é visível nas Ilustrações 172, 173 e 174), assim como intervenções pontuais (da autoria de David Chipperfield), de tal modo direccionadas e comedidas que assumem um gesto cirúrgico, afirmado quer no seu interior quer no seu exterior. Assim, podemos afirmar que, da mesma maneira que mantém as marcas do passado (perfurações de balas e outras fissuras), deixa expostos os enxertos feitos às suas superfícies, quer tectos, paredes ou pavimento (como se observa nas Ilustrações 175 e 176). Neste sentido, é necessário salientar que se percebe um cuidado em manter viva a evidência da cultura alemã, numa referência ao processo de reconstrução (pós- 201 Julian Harrap é um arquitecto inglês, cujo trabalho se centra na renovação e reabilitação de edificado, que, entre vários projectos de relevância neste campo, vê-se aliado a David Chipperfield na intervenção e reabilitação do Neues Museum, em Berlim. Rui Manuel Nini Rosalino 132 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Segunda Guerra Mundial), onde a escolha da materialidade202 confere a esta obra a capacidade de ser entendida como um todo, bem como um carácter de distinção entre o que é passado e o que é contemporâneo – “the contemporary reflects the lost but without imitating it” (Nys, 2013, p. 198). Ilustração 175 – “Planta da recuperação do tecto romano do Neues Museum” (esquerda). (David Chipperfield Architects, 2014) Ilustração 176 – “Pormenor da recuperação dos pilares do Neues Museum” (direita). (Ilustração nossa, 2015) Nestas ilustrações é visível aquilo que pode ser entendido como tecido cicatrizado, ou seja, a restituição da forma ao volume base. Trata-se da recuperação da superfície e da correcção dos danos que esta sofreu. Ilustração 177 – “Vista do percurso de um dos pátios do Neues Museum”. (Ilustração nossa, 2015) Por conseguinte, é necessário afirmar que Chipperfield mantém a estruturação do percurso original com uma interpretação e execução funcional diferente da original, sendo que integra os dois pátios neste, como um ou mais espaços expositivos, tendo um deles vários pisos para exposição de peças e outras relíquias antigas (como se observa na Ilustração 177). Neste sentido, é importante salientar que este mantém a relação visual entre as salas circundantes destes pátios com os mesmos, como se mantivesse a anterior relação de interior-exterior. 202 “The new exhibition rooms are built of large-format prefabricated concrete elementes consisting of white cement mixed with Saxonian marble chips. [...] Other new volumes [...] are built of recycled handmade bricks, complementing the preserved sections.” – Nys, 2013, p. 198. Rui Manuel Nini Rosalino 133 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Posto isto, podemos afirmar que, quer falemos dos pátios, quer da envolvente, é a partir desta relação com o exterior que se impõe a luz no espaço, sendo que as salas são invadidas lateralmente por luz natural, apesar de optar por manter os pátios interiores/cobertos, tal como acontecia no seu tempo como Altes Museum. De outro modo, quando se fala da iluminação destes espaços, podemos dizer que a luz artificial é utilizada segundo um carácter pontual para iluminar as vitrines e as restantes obras expostas (como é visível nas Ilustrações 178 e 179), contrariamente ao que acontece com a luz natural, sendo que é utilizada de um modo próprio para evidenciar as recuperações e correcções feitas no interior do corpo edificado. Ilustração 178 – “Interior de uma sala de exposição do Piso Segundo do Neues Museum” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 179 – “Interior de uma sala de exposição do Piso Segundo do Neues Museum” (direita). (Ilustração nossa, 2015) Para concluir, é importante salientar que nesta obra podemos encontrar uma grande diversidade de espaços expositivos, quer de ambiência quer de organização ou função, que, apesar de apresentarem características distintas entre si, não deixam de estabelecem uma relação que os integra num todo (como se observa na Ilustração 180) Assim sendo, devem ser entendidos com base nos denominadores comuns, ou seja os seus pontos de união: o percurso e este gesto médico (conceptual) de cura do corpo danificado. Rui Manuel Nini Rosalino 134 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 180 – “Secção Longitudinal do Neues Museum”. (David Chipperfield Architects, 2014) Nesta ilustração percebe-se o carácter distinto entre cada espaço expositivo, não só pelos diversos níveis em que o edificado se encontrava danificado mas também pela natureza das peças que se encontram expostas em cada sala. Por outro lado, é necessário destacar as cúpulas que coroam as extremidades desta obra, por marcarem a transição para uma colecção distinta e, como tal, a transição para um outro corredor, evidenciando a organização longitudinal que o percurso expressa. The process can be described as a multidisciplinay interaction between repairing, conserving, restoring and recreating all of its components. The original sequence of rooms was restored with newly built sections that create continuity with the existing structure. (Nys, 2013, p. 198) “ANÁLISE BIO-MÉDICA” When considering the way forward, it was clear that the ruin should not be interpreted as a backdrop for a completely new architecture but neither was an exact reconstruction of what hab been irreversibly lost in the war seen as an option. A single continuos structure that incorporates nearly all of the avalable damaged fabric while allowing a series of contemporary elements to be added became the preferred path, often described as ‘the third way’. (Nys, 2013, p. 198) Assim, é necessário perceber este projecto segundo um método cujo propósito é a regeneração da pré-existência e a nova vida que esta ganha, torna-se um organismo diferente, apesar de manter grande parte das suas funções-base. Assim, podemos afirmar que assume um gesto simbiótico, na medida que re-interpreta o “metabolismo” da mesma segundo um pensamento e funcionalidade contemporâneos, adicionandolhe unidades e funções programáticas para o efeito, nomeadamente a gift-shop e a cafetaria. Por conseguinte, esta obra ao ser definida segundo um processo cirúrgico de reconstrução do corpo (decrépito) e dos seus órgãos em falência remete-nos para a necessidade de “pesar” as consequências da intervenção em corpos pré-existentes, da mesma forma que é feito segundo os preceitos médicos (pós-diagnóstico). Rui Manuel Nini Rosalino 135 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Posto isto, podemos assinalar a intervenção na escadaria principal desta obra como uma re-interpretação metabólica da mesma, um “by-pass” que pretende restituir o fluxo perdido (como se pode perceber através das Ilustrações 181, 182 e 183), onde se percebe o carácter único quando comparada com os restantes elementos (arquitectónicos) deste museu. Faz sentido que seja entendida como uma peça singular, dado que, além de ter a função de distribuir as pessoas pelos diversos pisos, é um dos elementos principais desta obra pela ligação com o átrio (onde se encontra a recepção). Ilustração 181 – “Escadaria principal do Altes Museum após o bombardeamento”. (David Chipperfield Architects, 2014) Ilustração 182 – “Escadaria principal do Neues Museum”. (Nys, 2013) Ilustração 183 – “Planta do Piso Segundo do Neues Museum”. (Nys, 2013) Portanto, é necessário estabelecer a re-interpretação dos pátios enquanto algo com funções metabólicas, sendo que passam a ter um carácter híbrido na estruturação do seu interior, ou seja, são entendidos como pátios mas, pela relação que estabelecem com a exposição, podem ser identificados como percurso ou salas de exposição de Rui Manuel Nini Rosalino 136 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos maior dimensão (como se observa nas Ilustrações 184, 185 e 186) – onde é perceptível a multiplicidade de funções que o edificado ganha em casos de reabilitação e intervenção como este (o Neues Museum). Ilustração 184 – “Vista do ‘pátio A’ do Neues Museum” (esquerda). (Ilustação nossa, 2015) Ilustração 185 – “Vista do ‘pátio A’ do Neues Museum” (centro). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 186 – “Vista do ‘pátio B’ do Neues Museum” (direita). (David Chipperfield Architects, 2014) Nestas ilustrações observa-se o carácter distinto que foi conferido a cada um dos pátios, correspondendo às ilustrações 169 e 170 aquele que chamaremos de pátio A e à 171 o pátio B. Deste modo, apesar de integrarem a exposição, quer como peça quer como espaço expositivo, estas unidades espaciais valem-se pelas peças que os integram, sendo que são os factores que condicionam a sua ambiência. Assim perecebe-se que, pelo pátio A integrar peças recuperadas, este possa integrar a exposição mostrando as marcas da sua recuperação. Por outro lado, no caso do pátio B, é visível a necessidade em mostrar as relíquias que este contêm, trantando-as como tal, contendo-as e mostrando-as como peças únicas, nos diversos pisos que este cria para o efeito. Ilustração 187 – “Vista através do jardim principal da Museumsinsel do Neues Museum” (esquerda). (David Chipperfield Architects, 2014) Ilustração 188 – “Vista exterior do Neues Museum” (direita). (Ilustração nossa, 2015) Para concluir, é importante referir (tendo em conta os diversos casos de estudo deste Capítulo) que, apesar da primeira associação que fazemos (na aplicação do conceito Bio-Médico) ser a nível morfológico, ou seja, da forma, esta não deve ser entendida Rui Manuel Nini Rosalino 137 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos como algo escultórico. Assim, é notória a preocupação entre a relação da forma com as funções e a “memória” que se sobrepõe à implantação, dado que estes edifícios já contêm uma relação prévia com a envolvente (como se pode observar nas Ilustrações 187, 188 e 189), neste caso a cobertura (sustentada por pilares) que envolve o jardim deste “núcleo museológico”, e também um elemento a ser conservado (visível nas Ilustrações 188 e 189). Ilustração 189 – “Planta do Piso Térreo do Neues Museum”. (Nys, 2013) Nesta planta é perceptível a importância do corpo principal, onde se encontra contida a escadaría e o átrio, para a divisão e distribuição dos percursos. Assim, podemos afirmar que este mantém o modo de organização espacial segundo a sua origem neo-clássica, mas estrutura o percurso de um modo contínuo, que vai desembocar na gift-shop e cafetaria. Por outro lado, percebemos o elemento que trata da integração deste corpo na envolvente: a cobertura que vem cintar o jardim que liga os diversos museus da Museumsinsel. Por conseguinte, é necessário salientar as adições feitas aos pátios como base de uma adaptação à variedade e quantidade de peças em exposição. Rui Manuel Nini Rosalino 138 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 5. CONCLUSÃO Num sentido introdutório, é necessário ter em conta o método bio-médico como o resultado da estruturação do pensamento arquitectónico modernista (do já mencionado “Período Heróico”203), nomeadamente o fulgor existente em torno dos avanços científicos, a partir do qual se insere o pretexto medicinal no edificado como consequência de uma questão coetânea. No seguimento deste pensamento (derivado do “Super-Homem de Nietzsche”), podemos afirmar, como ponto de partida dos valores organicistas, a introdução das descobertas e a apropriação de informação científica natural para relações geométricas e espaciais entre o Homem e a natureza, que era comummente a sua envolvente (como era o caso nas obras de Frank Lloyd Wright e Alvar Aalto – Capítulo 2.1), sendo que era o objecto de estudo da época modernista, juntamente com o apuramento da eficiência maquinista. Contemporaneamente, devido ao facto do Homem possuir (em média) um conhecimento mais alargado, foi necessário mudar a compreensão da criação arquitectónica como um estilo, entendido como algo limitativo (Guasa et al., 2002), para vir a assumir uma abordagem mais flexível e que integre a multiplicidade de actividades e relações que a envolvente ganha (devido a essa mesma diversidade). Neste sentido, pode-se afirmar que (hoje em dia) o edificado não tem uma única função (ou programa): passou a ser um “híbrido programático”, e, como tal, exige que estas concepções sejam adaptáveis à partida ou que se consigam adaptar à migração das suas funções (quando se trata de intervenções sobre edificado a reabilitar). Deste modo, conseguimos perceber que a adopção de uma estratégia conceptual é algo mais viável, sendo que se assumem processos que podem ser adaptados em diferentes fases e com diversos propósitos recorrendo a “analogias metodológicas” – uma quase-mimesis de processos, diferente das mimesis morfológicas ou metabólicas (apesar de as poder abranger no processo). Assim, é importante mencionar que este modus operandi204 (ou método205) tem sido visto, pelo seu carácter faseado, como um “processo cirúrgico”206 que pretende 203 Para mais informação acerca do Período Heróico, consultar o Capítulo 2.2.3. Modus Operandi é latim para “modo de operar”. Destáca-se o uso desta expressão pela ligação ao conceito de uma execução ou processo que requere uma ponderação. 205 “O domínio do pensamento constitui ao longo da história um objectivo […] para melhor controlar o mundo; numa primeira fase, através […] dos dogmas e das ideologias, tendo evoluído posteriormente para a cientifização das ideologias incorporando métodos científicos como sistemas de controlo; duma 204 Rui Manuel Nini Rosalino 139 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos garantir a funcionalidade e a qualidade espacial para vivência do Homem, ou seja, prolongamos a extensão do pensamento científico para o pensamento criativo arquitectónico, quer o assumamos como arqueológico, médico ou biónico. Por conseguinte, é necessário ter em conta dois pontos de vista que são compreendidos como estando na origem da possível aplicação do pensamento biomédico à arquitectura, sendo assumidos como: parte de um “contágio” do pensamento generalizado da sociedade que integra a medicina como algo quotidiano, a “medicalização da sociedade” (Capítulo 3.2); e/ou uma atitude pragmática de intervenção em “corpos” pré-existentes (conjuntos de edificado), sendo que, tal como o nome indica, têm origem nos processos de aplicação científica que integram, estudam e intervêm no corpo com vista a alterar a sua composição genética (bio-médica). Posto isto, apesar da origem da aplicação arquitectónica destes preceitos da Biomedicina terem origem na Arquitectura Biónica (Capítulo 3.1), estes não adoptam esse carácter “científicamente ficcional” de aplicação de “matérias tecnológicas” que conferem aspectos artificiais ao corpo edificado. Contudo, quanto à relação entre os dois tipos de concepção, ambas introduzem situações espaciais paradigmáticas, provenientes de reinterpretações geométricas e matemáticas que se traduzem em torções e distorções de planos e volumetrias. As “concepções bio-médicas” são abordagens que se caracterizam por requerem um diagnóstico e uma extensa ponderação dos passos a seguir na reabilitação e intervenção na pré-existência em ruínas. Num esclarecimento dos dois conceitos, devemos entendê-los do seguinte modo: a reabilitação prevê uma recuperação do edifício danificado, enquanto que ao intervirmos no corpo damos um novo sentido à sua vida, subtraimos e/ou adicionamos algo novo com o propósito de fortalecer a sua relação com a envolvente e com as pessoas que o percorrem ou habitam – “Pomos no espaço algo de nós” (Tavares, 2013, p. 415). Por outro lado, podemos afirmar que se trata de um prolongar das metodologias de mimesis (metabólica e/ou formal) que pretendiam expressar uma função ou relação forma cada vez mais subtil, tomaram conta […] da organização social, cultural e política […].” – Duarte, 2011, p. 81. 206 É assumida a referência a um processo cirúrgico pelo carácter bastante preciso e premeditado que envolve o gesto projectual em questão. Rui Manuel Nini Rosalino 140 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos específica, integradora da complexidade207 conferida ao edificado. Neste sentido, é importante mencionar que o facto de tentarmos reparar o organismo (construído ou biológico), é por si só uma afirmação da ideologia científica contemporânea (da ciência bio-médica), na medida que é a própria a manifestar a vontade do Homem intervir em si de um modo semelhante ao que faz no mundo: substitui e adiciona conforme vê necessidade, usualmente para prolongar a sua vida ou a qualidade da mesma.208 Passando para a sua aplicação pragmática, podemos salientar que o propósito destas concepções é recuperar a identidade passada para que esta possa ter um novo uso e significado, intervindo somente o necessário para restabelecer a sua relação com a envolvente – que é entendida como algo heterogéneo, contemporaneamente. Ilustração 190 – “Planta de Implantação do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 191 – “Planta de Levantamento” (direita). (Ilustração nossa, 2014) Por conseguinte, para melhor descrever a adopção de uma estratégia metodológica em edificado pré-existente é importante que tomemos como exemplo o projecto (académico) para um hostel e espaço de co-work das Ilustrações 190 e 191 (que 207 Entenda-se este conceito de complexidade como um propósito programático, na maioria dos casos de “reabilitação+intervenção”. Contudo, quando isto não ocorre, ou seja, num caso em que se procede a uma simplificação do programa, a complexidade pode ser entendida quer pela ligação cultural (e informativa) da memória do passado com a diversidade da interacção contemporânea. 208 Trata-se de uma referência ao Projecto Genoma, exposto no Capítulo 3.2.2. Rui Manuel Nini Rosalino 141 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos designaremos de “Tema 3”209), o qual usaremos para nos guiar na explicação deste processo. Consequentemente, é necessário proceder a uma breve descrição do mesmo, sendo que salientamos o facto de este se encontrar num contexto de edificado fabril (como se pode observar nas Ilustrações 192 e 193) que remonta ao ano 1830, quando o corpo a intervir era conhecido como Fábrica de Lanifícios Daupiás (de Pedro Daupiás210), situada próxima do Largo do Calvário, na zona de Alcântara, em Lisboa (Portugal). Assim, é relevante ter em conta, além da reminescência das fábricas e outros complexos industriais, o facto desta área estar povoada por antigas habitações operárias, algumas recuperadas e/ou habitadas actualmente. Ilustração 192 – “Vista do Largo que intersecta a Travessa Teixeira Júnior” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 193 – “Vista da rua da Maria Luisa Holstein” (direita). (Ilustração nossa, 2014) Deste modo, é perceptível a fundamentação da relação criteriosa que se tem ao intervir no conjunto edificado, como se fosse feito um diagnóstico com o propósito de determinar as partes a manter, os membros que têm de ser amputados ou onde é necessário adicionar elementos prostéticos. Medem-se e pesam-se todas as condicionantes, quer estas sejam cotas e outras dimensões, quer sejam relações entre unidades programáticas ou espaços vizinhos. Assim, é necessário afirmar que este 209 Este projecto surgiu contextualizado, como Tema 3, no 5º Ano (2013/2014) do curso de Mestrado Integrado em Arquitectura, da Universidade Lusíada. Sendo assim, as premissas principais do exercício eram articular um espaço de Co-work com o de um Hostel a partir de um conjunto edificado obsoleto e prestes a ruir (assinalado na Ilustração 191). Deste modo, é importante mencionar que a estratégia projectual adoptada tinha como objectivo integrar a envolvente constituída pelos temas anteriores (Tema 1 e Tema 2, para a Lx Factory e terreno do antigo Complexo Fabril da Sidul, respectivamente), sendo que o pretendido sería integrar os percursos e actividades do parque urbano criado para o Tema 2. – Para um melhor entendimento da relação entre os temas, consultar o Apêndice C. 210 Pedro Eugénio Daupiás (1818-1900), além de ser detentor do título de 1º Conde de Daupiás, foi um abastado proprietário e negociante de grande parte do comércio da Praça do Comércio (em Lisboa), assim como em pontos estratégicos do território português, como é o caso de várias unidades fabris. Deste modo, destaca-se como um pioneiro na fundação de fábricas portuguesas, como é o exemplo das fábricas em Tomar ou em Elvas. Para concluir, destáca-se também pela fundação da famosa Fábrica de Lanifícios Daupiás (1838), próxima do Largo do Calvário, em Alcântara (Lisboa, Portugal). Rui Manuel Nini Rosalino 142 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos processo estratégico tem em conta diversos campos de intervenção (económicos, sociológicos, políticos, etc.), sendo que conjuga-os de modo a rentabilizar a nova intervenção, com o objectivo de a tornar sustentável, sem descurar a relação da sua memória e cultura na cidade. (Lopes, 2015) Na continuidade, percebe-se o porquê da demolição do edificado que fora adicionado (posteriormente ao tempo da sua actividade fabril, como se observa através da comparação das Ilustrações 190, 191 e 194), na medida que prentendía garantir a ligação entre a praceta (da Travessa Teixeira Júnior) e a Rua Maria Luisa Holstein, assim como, combater o sufoco de massa edificada existente. La composición por partes está tan novedosamente elaborada que parece inventada para essa ocasión, como si se tratara de un […] método, […] que incorporaron el sistema como parte de la arquitectura moderna. (Capitel, 2009, p.114) Ilustração 194 – “Diagrama do Espaço público” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 195 – “Axonometria de relação com a envolvente” (direita). (Ilustração nossa, 2014) Posto isto, podemos afirmar que este projecto tem como base a reestruturação dos percursos e dos espaços circundantes (como se observa nas Ilustrações 194 e 195), com o propósito de dar uma nova vida a esta célula do tecido urbano (vivo), encarando-a como um “organismo” a reintegrar, após a sua recuperação: apesar da flexibilidade programática requerida por este, é abordado de um modo bastante preciso e direccionado. Rui Manuel Nini Rosalino 143 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Neste sentido, é importante salientar que este processo tem a finalidade de controlar os diversos níveis de permeabilidade do espaço tal como a relação entre as diversas unidades programáticas, ou seja recorremos ao estudo minucioso das suas inflexões e disposições de planos e volumes para definirmos os espaços privados e públicos, assim como os seus intermédios, para os “acomodar” no novo corpo (como se pode observar na Ilustração 196), isto é acabamos por tratá-los como órgãos ou outro implante prostético. Assim, é necessário referir que este tipo de intervenções no corpo, apesar de terem um princípio vincado no uso da morfologia como pretexto conceptual, não são pensadas como se fossem uma escultura ou limitadas por esse entendimento. A intenção projectual é baseada (entre outras) numa adição funcionalmente pragmática da forma, que garantem a autonomía dos diferentes elementos para um uso diversificados que resulta numa distinção fisionómica e estética. (Capitel, 2009, p. 115) Posto isto, é importante salva-guardar que o uso das formas curvilíneas tem o intuíto de deixar aparente os “implantes” adicionados ao corpo, onde se percebe a distinção entre o corpo pré-existente e a intervenção contemporânea, pela diferença entre materialidade e seu tratamento (textura): assume-se este processo de “cicatrização descoberta” como um modo de expor, evidentemente, a vida passada, tal como acontece (conceptualmente) nos casos de estudo referidos no Capítulo 4: o Teatro Thalia (Capítulo 4.1), o Kolumba Museum (Capítulo 4.2) e o Neues Museum (Capítulo 4.3). Na continuidade, é necessário fazer menção a referências como Alvar Aalto e Le Corbusier, quanto a esta articulação de elementos formais de natureza distinta, isto é pela capacidade de unir diferentes concepções arquitectónicas num único edifício, sem que este deixe de ser entendido como “uma unidade”. Este modo de actuar, la unión de dos elementos de naturaleza formal muy distinta, opuesta en realidad, recuerda el concepto empleado en algunas veces por Alvar Aalto […]. Mezclar dos concepciones arquitectónicas distintas formando un solo edifício es así, también, cosa de Le Corbusier […]. […] la oposición parece responder sobre todo a motivos prácticos para resolver el programa, derivándose de ellos una solución extremadamente plástica, hasta llegar al dramatismo. (Capitel, 2009, p. 120 e 121) Rui Manuel Nini Rosalino 144 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 196 – “Planta do Piso Térreo”. (Ilustração nossa, 2014) LEGENDA: 1. Recepção; 2. Lobby; 3. Instalações Sanitárias; 4. Sala de Reuniões; 5. Espaço de Convívio; 6. Espaço de Trabalho; 7. Copa; 8. Galeria de Artes/Espaço Expositivo; 9. Recepção; 10. Lobby; 11. Segurança; 12. Instalações Sanitárias; 13. Arrumos; 14. Sala Técnica; 15. Monta-cargas (Plataforma elevatória); 16. Refeitório; 17. Bar. Percebe-se, através desta ilustração, o modo como é feita a articulação de dois programas de natureza distinta, sendo que são ligados através dos espaços exteriores públicos e em comum, como a pequena praceta coberta que fornece uma zona de esplanada à cafetaria do Piso 1, assim como a grande sala de exposição que se articula com os percursos derivados das tenções dos núcleos espaciais envolventes. Por conseguinte, este exercício académico211, enquanto um exemplo ilustrativo da estratégia bio-médica, deve ser entendido segundo essa relação de “resiliência”212, que respeita o corpo e lhe confere características simbióticas para se adaptar à vida 211 Trata-se de uma referência ao já mencionado Tema 3: Hostel e Co-work de Alcântara. Entenda-se resiliência como a capacidade de um corpo recuperar a forma após uma deformação. Neste caso, sería mais correcto assumir a recuperação da vivência da mesma sob o pretexto da adição de uma forma que se vai deformando para se acomodar a este corpo. 212 Rui Manuel Nini Rosalino 145 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos contemporânea, evidentes quando se assume a relação da volumetría com os percursos que fazem definhar o carácter público em prol da privacidade dos hóspedes e dos trabalhadores do Centro de Co-work, como se observa ao nas Ilustrações 194, 196, 197 e 198. Ilustração 197 – “Axonometria dos diversos pisos do Hostel e Co-work de Alcântara” (direita). (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 198 – “Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) Rui Manuel Nini Rosalino 146 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Neste sentido, é também importante salientar a utilização de diversas abordagens à luz para demarcar a transição para os diferentes espaços, cuja intenção era que formassem um trilho que nos vai seduzindo e nos leva a percorrer o espaço, sendo somente quebrado, nos sítios onde é pretendida a concentração de hóspedes (no caso do espaço do Hostel) ou dos visitantes do Co-work, por uma luz que pretende dar dramatismo ao espaço de exposição (observável nas Ilustrações 199 a 201) e de estar (Ilustrações 202 e 203). Isto é, priveligia-se os nós de ligação (dos percursos) entre as unidades privadas e públicas do programa. Ilustração 199 – “Esquisso do interior da galeria do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 200 – “Pormenor da Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (centro). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 201 – “Pormenor do interior da Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (direita). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 202 – “Pormenor do interior da Maquete do Hostel de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 203 – “Pormenor do interior da Maquete do Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) Por conseguinte, para aprofundar a descrição do organismo que vem habitar o corpo pré-existente, é necessário mencionar que este procede de acordo com os processos cirúrgicos devido à sensibilidade que é requerida neste tipo de intervenções, na medida que faz somente as incisões necessárias para tornar permeável à luz e à ventilação o programa implantado no corpo antigo (visível nas Ilustrações 202 a 207). Rui Manuel Nini Rosalino 147 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 204 – “Perspectiva da maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (esquerda). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 205 – “Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara” (direita). (Ilustração nossa, 2015) Ilustração 206 – “Alçado Frontal do Hostel”. (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 207 – “Alçado lateral do Hostel e Co-work de Alcântara”. (Ilustração nossa, 2014) De outro modo, podemos afirmar quanto à articulação dos dois conjuntos programáticos que, assumindo-os como identidades desiguais (e de funções distintas), foram formados através da apropriação de dois corpos a reabilitar distintos e, como tal, não é de estranhar que se estruturem independentemente para fincar o carácter único de cada conjunto pré-existente. Assim, para estabelecer uma relação que tornasse viável e sustentável (económica e programáticamente) foi necessária a introdução de espaços mistos que se pudessem extender e/ou servir de mediadores programáticos entre estes dois corpos que se parecem repulsar (sem nunca perder a sua ligação física), por questões funcionais afectas à ventilação e permeabilidade da luz natural, devido à altura e proximidade do edificado envolvente, como se pode constactar através das Ilustrações 204, 205 e 208). Rui Manuel Nini Rosalino 148 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 208 – “Maquete 1:50 do Hostel e Co-work de Alcântara.” (Ilustração nossa, 2015) Para concluir, podemos assumir que o pretexto de se introduzir um corpo no corpo é para que este reactive a vida da pré-existência, e, como tal, assume um carácter mais plástico (solto e flexível) para que possa estruturar as unidades programáticas exteriores e interiores livremente (como se observa através das Ilustrações 197, 202 e 203). Consequentemente, não se deve estranhar que este seja entendido como uma simbiose capaz de criar membros que extendam o seu interior além dos limites do seu corpo original (pré-existente), como é o caso do já referido espaço expositivo (a galeria de arte) ou da cobertura que prolonga o espaço de esplanada da cafetaria do Co-work. Deste modo, é necessário reter que não se trata de uma relação de parasitismo ou de apropriação da “carcaça de um animal”, mas de uma relação de benefício mutúo entre dois organismos (como é visível através da Ilustração 207). É uma estratégia projectual que tem como princípio a cura e a revitalização da cultura e da história presente no edificado danificado, recorrendo a um pragmatismo económico, social e político que pretende tornar este tipo de intervenções peças sustentáveis e resilientes às migrações funcionais da cidade – peças que acompanhem a evolução do tecido urbano (vivo). (Gausa et al., 2002, p. 58) Podría decirse que [...] la composición por partes es tanto una idea de organizácion funcional como una manifestación de la expressividad, sin que quepa distinguir muy claramente entre una o otra cuestión, y anunciando así el logro más elevado que el método alcanza, el ordinario. (Capitel, 2009, p. 115) Rui Manuel Nini Rosalino 149 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos La utilización de la autonomía de los diferentes estratos se ha enlazado aquí muy sólidamente con la composición por partes, [...] y estas ideas, conducidas de modo extraordinariamente analítico consiguem un atractivo resultado plástico [...]. (Capitel, 2009, p. 121 e 122) Rui Manuel Nini Rosalino 150 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos REFERÊNCIAS AFACONSULT (2011?) – Requalificação do Antigo Teatro Thalia [Em linha]. [S.l.] : Afaconsult. [Consult. 25 Fevreiro 2015]. Disponível em WWW:<URL: http://www.afaconsult.com/uploads/FicheirosImprensa/2895_4.pdf>. ALVAR AALTO MUSEO (2011) – Finnish pavilion at the Paris World’s Fair 1937 [Em linha]. Jyväskylä : Alvar Aalto Foundation. [Consult. 3 Out. 2014]. Disponível em WWW:<URL: http://file.alvaraalto.fi/search.php?id=446>. AMPLIACIÓN del Museo de San Telmo. 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Rui Manuel Nini Rosalino 165 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino 166 APÊNDICES Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos LISTA DE APÊNDICES Apêndice A - Biografias dos arquitectos responsáveis pelos projectos dos Casos de Estudo. Apêndice B - Diagrama sintético da vida de Le Corbusier. Apêndice C - Elementos explicativos do Projecto “Hostel e Co-work de Alcântara”. Entrevista ao arquitecto Diogo Barbas, do Atelier Barbas Lopes Arquitectos. Apêndice D - Rui Manuel Nini Rosalino 169 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino 170 APÊNDICE A Biografias dos arquitectos responsáveis pelos projectos dos Casos de Estudo Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos PATRÍCIA BARBAS É uma arquitecta portuguesa, nascida em Luanda (em 1971), cujas habilitações no campo da arquitectura decorrem da sua formação na Universidade Técnica de Lisboa (FAUTL). Após a conclusão dos seus estudos foi colaboradora de ateliers como Gonçalo Byrne Arquitectos (1996-2000) e PROMONTORIO (no Brasil, 2005-2006), assim como outras participações com Aires Mateus e João Pedro Falcão de Campos. Em 2006 dá início (até à presente data) a uma colaboração com o arquitecto Diogo Lopes através da fundação do atelier Barbas Lopes Arquitectos, em Lisboa. Para finalizar, é importante salientar a co-autoria do livro “Anos 60, anos de ruptura” (1994). DIOGO SEIXAS LOPES É um arquitecto português, nascido em Lisboa (em 1972), formado em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa (FAUTL) e doutorado no Swiss Federal Institute de Zurique (ETH Zurich). Desde então, destáca-se com participações enquanto professor convidado nas universidades de Coimbra (FCTUC, em Portugal) e de Ottawa (Carleton University, no Canadá). Posto isto, é importante referir que trata-se de um arquitecto com algumas publicações, nomeadamente os livros “Cimêncio” (2002, em co-autoria com o fotógrafo Nuno Cera), “Tendenza, o som da confusão” (2010) e “Eduardo Souto de Moura: Atlas de Parede, Imagens de Método” (2011, editado em parcería com André Tavares). No seguimento, destaca-se como vicedirector da revista Jornal-Arquitectos (para a Ordem dos Arquitectos, Portugal). Para concluir, é necessário referir que vem fundar, em 2006, o atelier Barbas Lopes Arquitectos com a arquitecta Patrícia Barbas, no qual estes desenvolvem projectos (actualmente reconhecidos) como: - House ML, em Benavente, Portugal (2003-2005); - Apartment LA, em Lisboa, Portugal (2005); - Museums in the 21st Century, em Lisboa, Portugal (2003-2005); - Apartment BA, em Lisboa, Portugal (2008); - Novartis Exhibition, em Lisboa, Portugal (2010); - Teatro Politécnico, em Lisboa, Portugal (2009-2011); - Teatro Thalia, em Lisboa, Portugal (2008-2012), com a colaboração de Gonçalo Byrne Arquitectos. Rui Manuel Nini Rosalino 173 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos PETER ZUMTHOR É um arquitecto suíço, nascido em Basileia (em 1943), premiado com um prémio Pritzker em 2009, assim como a Medalha de Ouro Henrich Tessenow (em 1989) e outras premiações. Por conseguinte, é relevante mencionar a sua formação de arquitecto pelo Pratt Institute (em New York), assim como a sua aprendizagem de carpintaria e de técnicas de construção através de seu pai (carpinteiro de profissão) e dos projectos de reabilitação nos quais participou no início da sua carreira, respectivamente. Foi professor no South California Architecture Institute (em Los Angeles), na Academia de Arquitectura de Mendrísio (na Suíça), na Harvard Graduate School of Design, etc.. Fundou o seu atelier em 1979 (na Suíça), e desde então tem produzido obras de reconhecimento mundial, como é o caso de: - Churwalden School, em Churwalden, Suíça (1983); - Räth House, em Graubünden, Suíça (1983); - Atelier Zumthor, em Haldenstein, Suíça (1986); - Saint Benedict Chapel, em Sumvitg, Suíça (1989); - Chur Art Museum, em Graubünden, Suíça (1990); - Gugalun House, em Versam, Suíça (1994); - Habitação em Spittelhof, em Basel, Suíça (1996); - Therme Vals, em Vals, Suíça (1996); - Art Museum Bregenz, em Bregenz, Áustria (1997); - Pavilhão da Suíça para a EXPO 2000, em Hanover, Alemanha (1997-2000); - Lichtforum Zumtobel Staff, em Zurique, Suíça (1997). - Bruder Klaus Kapelle (2007); - Kolumba Museum, em Colónia, Alemanha (2007); - Meelfabriek, em Leiden, Holanda (2010); - Serpentine Gallery Pavillion, em Londres, Reino Unido (2011); - entre outras. Rui Manuel Nini Rosalino 174 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos DAVID ALAN CHIPPERFIELD É um arquitecto inglês, nascido em Londres (1953), cujo desempenho profissional lhe atribuiu o reconhecimento de “Sir”, assim como o reconhecimento da Royal Academy of Arts, a Order of Merit of the Federal Republic of Germany e a atribuição de um prémio Pritzker em 2013. No seguimento, é importante mencionar a sua formação de arquitecto (até 1976) na Kingston School of Art, actual Faculty of Art, Design and Architecture, sendo que, em 2008, é convidado para fazer parte do corpo docente como “Doutor Honoris Causa”. Posto isto, é relevante salientar que este lecionou quer na Europa quer nos Estados Unidos, destacando-se como exemplo a Staatliche Akademie der Bildenden Künste (em Estugarda, Alemanha), de 1995 a 2001. De outro modo, foi colaborador dos ateliers de arquitectos como Douglas Stephen, Richard Rogers e Norman Foster. Após estas colaborações, vem fundar o seu atelier (David Chipperfield Architects) em 1985 e expandi-lo a nível global, sedeando-o em cidades como Londres, Berlim, Milão e Xangai. Para concluir, destacam-se obras como: - River and Rowing Museum, em Oxfordshire, Reino Unido (1989-1997); - Figge Art Museum, em Davenport, Estados Unidos da América (1999-2005); - Museum of Modern Literature, em Marbach am Neckar, Alemanha (20022006); - Terceiro Piso do Hotel Puerta America, em Madrid, Espanha (2003-2005); - America’s Cup Building, em Valencia, Espanha (2005-2006); - Liangzhu Culture Museum, em Hangzhou, China (2007); - Intervenção no Neues Museum, em Berlim, Alemanha (1997-2009); - Museum Folkwang, em Essen, Alemanha (2007-2010); - City of Justice, em Barcelona, Espanha (2002-2011); - Turner Contemporary, em Margate, Reino Unido (2011); - Café Royal Hotel, em Londres, Reino Unido (2011); - Saint Louis Art Museum, em Missouri, Estados Unidos da América (20052013); - Jumex Museum, na Cidade do México, México (2009-2013); - entre outras. Rui Manuel Nini Rosalino 175 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino 176 APÊNDICE B Diagrama sintético da vida de Le Corbusier Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 209 – “Friso cronológico de síntese da vida de Le Corbusier” (Ilustração nossa, 2014) Rui Manuel Nini Rosalino 179 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino 180 APÊNDICE C Elementos explicativos do Projecto “Hostel e Co-work de Alcântara” Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 210 – “Axonometria conjunta dos temas 1, 2 e 3” (Ilustração nossa, 2014) Rui Manuel Nini Rosalino 183 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 211 – “Maquete 1:200 do Tema 1: Lx Factory” (Ilustração nossa, 2014) Ilustração 212 – “Maquete 1:500 do Tema 2: Parque de Escalada para o terreno da Sidul” (Ilustração nossa, 2014) Rui Manuel Nini Rosalino 184 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Ilustração 213 – “Planta do piso 3 do Hostel e Co-work de Alcântara” (Ilustração nossa, 2014) Rui Manuel Nini Rosalino 185 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino 186 APÊNDICE D Entrevista ao Arquitecto Diogo Lopes, do atelier Barbas Lopes Arquitectos Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos ENTREVISTA AO ARQUITECTO DIOGO LOPES, DO ATELIER BARBAS LOPES ARQUITECTOS 1. Considero que a arquitectura baseada numa metodologia é parte do meu ensino. Como encaram o processo de concepção da arquitectura nos dias de hoje? A questão do método é, de facto, fundamental, no sentido que a Arquitectura tem de estabelecer uma série de parâmetros que sejam inteligíveis. E, que o sejam a uma escala universal, para um público em geral, para ganhar autoridade técnica e também cultural. Portanto, esse é o primeiro desafio da Arquitectura: encontrar as balizas que legitimam a sua actividade e a sua prática, que, no meu entender têm de ser definidas por um método e por uma metodologia. No nosso caso, que não é só no nosso caso, guia-se nos dados objectivos do projecto e da encomenda, portanto a vontade do cliente, a lógica do programa e a natureza do sítio de intervenção, à qual nós acrescentamos uma série de referências técnicas e culturais, que associamos a uma das componentes do projecto, trabalhando desde aí a uma lógica incremental que conduz à configuração final do projecto. 2. Considera que se deve ao entendimento da cidade como um organismo vivo a migração para o tratamento do edificado como um Ser vivo, nos casos de reabilitação? No caso português tem havido uma produção de projectos de reabilitação de altíssima qualidade. No nosso caso específico (do atelier Barbas Lopes Arquitectos) esta ideia de reanimarmos um edifício ou uma estrutura física para um novo uso, tentamos não encarar como uma restauração ideal ou integral do que lá estava porque eu acho que “o passado não volta mais”, e tentamos sempre, através de uma leitura da estrutura física e histórica do edifício encontrar um espaço para a invenção de novos gestos, novas identidades e novas instâncias no edifício que está a ser reabilitado, para fazermos ou para tentarmos ensaiar uma continuidade entre passado e presente, portanto para tentarmos estabelecer uma certa ambivalência entre tempos. Rui Manuel Nini Rosalino 189 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 3. Sob que parâmetros acham que se centra o tema da reabilitação na contemporaneidade? Económicos? Culturais? Funcionais? Éticos? Políticos? Neste momento centra-se muito em factores económicos, acima de todos os outros, que recorrem à identificação de certas oportunidades, em termos enpresariais, que por sua vez coloca problemas ético-políticos. Quer dizer: para quem essa reabilitação é feita? E com que fito? Portanto, para concretizar uma reabilitação, toda ela ao serviço da indústria turistica, coloca problemas sobre a vocação da cidade, que tem de garantir uma vocação pública. Assim, há o risco desta vaga de reabilitação tematizar a cidade como parque turistico, mas não devolver aos seus habitantes uma experiência, que o Aldo Rossi chamou “um passado que ainda estamos a experimentar”. 4. Sentem que a reabilitação não é mais que um método de conservação mas também um modo de rentabilização, de reciclagem ou sustentabilidade? Acho mais “simpática” a palavra reciclagem do que a sustentabilidade, que é uma realidade, um enquandramento legal, mas também pode ser mal interpretada como uma espécie de solução para todos os “males do Mundo”. E, em parte, tem que haver um juízo crítico sobre as palavras e os conceitos, que, no caso da sustentabilidade, se pode tornar uma espécie de mantra ou miragem que limpa a consciência de toda a gente, não obstante de ser, nos dias de hoje, uma indústria. Que, enquanto indústria, tem objectivos de lucro. Portanto, a ideia de reciclagem é uma ideia mais urbana e mais civil, que tem um lado mais duro, que eu acho mais “simpático” para nós (arquitectos). 5. Quanto à precisão na arquitectura, acha que é um carácter que tem vindo a crescer juntamente com o nosso conhecimento, ou é algo que se centra no aumento da nossa percepção? Acho que tem vindo a crescer, e, para demonstrar, vou relacionar novamente com o contexto português da Arquitectura nos últimos 40 anos, que se democratizou e aumentaram as oportunidades de mais gente ter acesso à profissição e ter acesso a um conhecimento que confere precisão à actuação e iniciativa de cada um. Isto converge para o facto de nós, nos últimos 40 ou 50 anos, termos tido uma série de episódios na arquitectura contemporânea portuguesa de altíssimo gabarito, que estabeleceram casos exemplares e emblemáticos de precisão: de uma precisão que é Rui Manuel Nini Rosalino 190 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos ao mesmo tempo técnica e criativa, como tem de ser sempre, sendo, o caso mais evidente e mais notável, o do Álvaro Siza. Que, daí para a frente se trilhou como caminho. De facto, há hoje, em termos da sociedade portuguesa, um reconhecimento maior do que é a arquitectura e esse valor tem de estar, justamente, num incremento da percepção e da precisão. 6. Como acham que o facto da sociedade estar cada vez mais informada tem influênciado a multiplicidade de ligações que se têm em conta num projecto de arquitectura? Somos um produto do meio em que nos encontramos. E, o trabalho de arquitectura tem uma capacidade de absorção e “omnívora” de trabalhar com informação de muitos lados e frentes, ou seja: um corpo técnico, um corpo cultural, um corpo histórico, um mais pessoal. Portanto, o desafio hoje é, no meio dessa informação toda, nós percebermos qual é a possibilidade da arquitectura ser autónoma e continuar a ter um papel de liderança dentro do processo de construção, que eu acho que não é óbvio, hoje em dia, esse papel. As coisas tendem a estar mais sectorizadas, e acaba por ser usurpada à arquitectura uma possibilidade de protagonismo ou coordenação que ela deve ter. Por outro lado, esse excesso de informação também tem consequências na educação do gosto e na educação de uma cultura visual, que, nesse excesso de informação pode-se criar uma paisagem, para um arquitecto ou um estudante de arquitectura, indiscriminada de exemplos que não é positiva. Isto é, assim como temos de ser precisos nos nossos gestos arquitectónicos temos de ser precisos nas referências com as quais trabalhamos: porque é esta referência e não a outra? 7. Na minha dissertação estudo, entre outros pontos, uma arquitectura baseada na relação do corpo dentro do corpo, em algum momento tiveram em conta este tipo de abordagem no Teatro Thalia? Sim, necessáriamente porque o projecto partiu de um cliente e uma encomenda que era muito aberta, no fundo, solicitava uma resposta a um programa muito aberto, que era um espaço multi-funcional, polivalente e não adstrito a uma certa regulamentação mais fechada, como por exemplo a de um auditório, um teatro ou uma sala de concertos. E, na verdade, o ponto de partida do projecto foi uma questão estática, ou seja, como é que nós íamos estabilizar as empenas originais do teatro, que estavam Rui Manuel Nini Rosalino 191 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos em ruínas e sob risco de colapso. Sendo o primeiro problema a resolver de carácter estático, que estudámos com as especialidades e com a engenharia civil, e a ideia que encontrámos juntos para estabilizar aquelas paredes foi, não sei se chegaria a chamar um corpo dentro do corpo, mas seguramente uma pele adossada a outra pele. E, essas peles depois funcionavam de uma forma colaborante até se tornarem uma identidade única e indistinta. 8. Consideram que ao usar-se um processo medicinal na intervenção em corpos pré-existentes este é, possivelmente, um método eficiente para responder às mais variadas ligações que ocorrem, e são tidas em conta, nos espaços arquitectónicos? Foi um método específico para aquele caso (o Teatro Thalia), ou pelo menos foi o resultado de uma série de hipóteses que nos foram postas a consideração. Porventura, haveriam outras possibilidades que também poderiam justificar esse adjectivo do método medicinal, como por exemplo reforçarmos a alvenaria original com uma série de braçadeiras metálicas, um pouco à imagem de uma coisa de ortodontia. Neste sentido, acho que a questão da metáfora medicinal é uma possibilidade de interpretação. Sendo que, quando nos decidimos por esta solução, foi justificada pelos valores arquitectónicos, dos quais nos interessava a coincidência entre duas peles e como elas passavam a ser uma identidade indistinta, e, colocando algumas questões quanto a princípios sacro-santos da intervenção no património, que é a reversibilidade, que aqui não existe, dado que as coisas estão coladas uma à outra. A partir daí, havia este lado físico desta “operação”, voltando a este universo médico, como se fosse montada uma carapaça de gesso num membro do teu corpo e ele passar a ser definitivo. É mais neste sentido que deve ser entendido, e não como uma prótese ou algo do género. Os nossos raciocínios arquitectónicos foram mais em torno de recobrir aquelas ruínas, que, num termo da cirurgia plástica, de “reconstituir-mos” o volume na sua expressão mais abstracta, e com isso conseguirmos um corpo ou uma sequência de corpos mono-matéricos e mono-cromáticos, que, pela suas caracteristicas e pela sua abstracção se constituia como um marco na cidade. Rui Manuel Nini Rosalino 192 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos 9. Assumindo o caso do Thalia segundo os preceitos da Bio-Medicina, o que os levou a encarar como necessária a adopção de um processo prostético? A interpretação do corpo com uma prótese é mais lícita, assim, para introduzirmos esta “prótese pavilhonar” a um pedido da encomenda, ou seja do cliente, que era aumentarmos a transparência do verde para a rua, e haver esta fruição da rua e da paisagem um pouco luxuriante do jardim zoológico. Para instalarmos esta espécie de prótese, nesta possibilidade de interpretação – é uma estrutura que pelas suas opções tectónicas é diferente e está mais perto de algo metálico e preciso, mais minuciósa – para podermos fazer isto tivemos de “amputar” umas construções anexas, que existiam lá, dado que ajuizámos que não tinham o valor patrimonial do resto e, como tal, eram passíveis de ser removidas, e, quando removidas, introduzimos esse outro corpo numa linguagem completamente diferente, estando apenso aos corpos em betão da cena e plateia do teatro. 10. Como chegaram à conclusão que era necessário envolver o corpo préexistente (a ruína) para o trazer novamente à vida? Não será algo tão abrangente como um método, mas foi algo que fez sentido naquele caso, que, no sentido dos corpos que foram amputados ou removidos, cobriam muito o resto do teatro, ao ponto de as pessoas que circulavam na vizinhança não terem uma percepção efectiva do teatro naquela zona. Portanto, quando fizemos essa prótese anexa, e é prótese também em termos das funções que alberga – funções apensas e servidoras do espaço de cena e plateia do teatro – destapou e descobriu os volumes maiores do teatro. Naquele caso, era o que fazia sentido, que, voltando a sublinhar, neste caso ou noutros, é sempre bastante interessante esta possibilidade de encarar o património como uma matéria-prima para inventar. E, seguindo o léxico médico ou medicinal, é sempre uma possibilidade para intervir, para operar nos tecidos, dado que estes nunca ficam iguais. Interessa-nos mais isso que uma recuperação integral ou uma recuperação verista do que lá estava, que é podemos achar que é uma utopia. Rui Manuel Nini Rosalino 193 Avanços da Ciência e Processos Conceptuais Arquitectónicos Contemporâneos Rui Manuel Nini Rosalino 194