TCC12 - Faculdade de Biomedicina
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TCC12 - Faculdade de Biomedicina
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FACULDADE DE BIOMEDICINA PATRÍCIA DOS SANTOS LOBO CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DOS GENÓTIPOS G E P DE ROTAVÍRUS EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: IDENTIFICAÇÃO DE GENÓTIPOS EMERGENTES BELÉM-PA 2010 ii 2 PATRÍCIA DOS SANTOS LOBO CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DOS GENÓTIPOS G E P DE ROTAVÍRUS EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: IDENTIFICAÇÃO DE GENÓTIPOS EMERGENTES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Biomedicina da Universidade Federal do Pará (UFPa) como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina. Orientadora: Dra. Joana D’Arc Pereira Mascarenhas BELÉM-PA 2010 iii 3 PATRÍCIA DOS SANTOS LOBO CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DOS GENÓTIPOS G E P DE ROTAVÍRUS EM CRIANÇAS MENORES DE CINCO ANOS NA REGIÃO AMAZÔNICA BRASILEIRA: IDENTIFICAÇÃO DE GENÓTIPOS EMERGENTES Este trabalho foi avaliado e aprovado para obtenção parcial do grau de Bacharel em Biomedicina, sendo aprovado na sua forma final com conceito Excelente . BANCA EXAMINADORA: _________________________________________ (Drª. Joana D’Arc Pereira Mascarenhas – IEC – Orientadora). _________________________________________ (MsC. Luana da Silva Soares – IEC – Examinador) _________________________________________ (Dr. Rodrigo Vellasco Duarte Silvestre – IEC– Examinador) _________________________________________ (MsC. Alessilva do Socorro Lima de Oliveira – IEC – Suplente) Belém (PA), 14 de Dezembro de 2010. BELÉM-PA 2010 iv 4 "Que todos os nossos esforços desafiem as impossibilidades. Lembrai-vos que as grandes proezas da história foram conquistas do que parecia impossível". [Chaplim] v 5 Dedico este trabalho de conclusão de curso a minha mãe por enorme amor e força a mim dada. A minha família e amigos. E a todos que contribuíram de forma direta ou indireta com o sucesso deste trabalho. Patrícia Lobo vi 6 AGRADECIMENTOS A Deus, por estar sempre ao meu lado. Aos meus pais, Nazaré e José, que sempre me apoiaram e dedicarem sua vida em prol do meu sucesso. A minha orientadora, Drª Joana D’Arc Pereira Mascarenhas, minha enorme gratidão pelos conhecimentos repassados a mim, sempre com paciência e dedicação e pela oportunidade e confiança a mim dada. Ao Instituto Evandro Chagas na pessoa de sua diretora Drª. Elizabeth Santos. A seção de Virologia do IEC, representada pelo seu chefe Dr. Alexandre Linhares, que me ofereceu uma oportunidade de ingresso na Seção. Aos meus colegas de curso, Isabel e Edivaldo Costa, que me ajudaram a ingressar na seleção de bolsistas no IEC. Aos meus amigos do laboratório de rotavírus e da Seção de Virologia, Sylvia, Alessilva, Tia Euzeni, Régis, Jane, René, Allan Kaio, James, Rodrigo e em especial a Luana Soares que me deu a oportunidade de desenvolver este trabalho, me ensinando e me apoiando em tudo que podia, a Yasmin Farias por sempre dar suporte e apoio no desenvolvimento deste trabalho e ao Darivaldo Neri, que com muita paciência repassou seus conhecimentos e me deu sua amizade. Aos meus amigos da Universidade Federal do Pará, em especial ao Paulo, Bruno, Breno, Alexandre, Leila, Laine, Karla, Ivy e Ellen, pelo companheirismo durante esses quatro anos de amizade. Aos amigos e familiares (avôs, primos e tios) que sempre estiveram comigo nessa jornada, em especial, a Viviane pela sua amizade e colaboração a este trabalho. E o meu muito obrigado a todos que de forma direta ou indireta contribuíram para o sucesso desse trabalho. vii 7 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 112 1.1. O ROTAVÍRUS…........................………………... ..................................... 1414 1.1.1. Estrutura e classificação viral.........................................................................14 1.1.2. Patogênese e ciclo reprodutivo..........................................................................18 1.1.3. Manifestações clínicas e diagnóstico.................................................................20 1.1.4. Tratamento e profilaxia.....................................................................................21 1.1.5. Epidemiologia molecular...................................................................................22 2. OBJETIVOS...................................................................................................................... 25 2.1. OBJETIVO GERAL…………………………………………………………....... 25 2.2. OBJETIVO ESPECÍFICO……………………………………………………...... 25 3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................. 26 3.1 MATERIAL...........................................................................................................26 3.1.1 Aspectos Éticos...................................................................................................26 3.1.2. Pacientes e espécimes clínicos...........................................................................26 3.2 MÉTODOS...........................................................................................................27 3.2.1. Preparo da Suspensão Fecal..............................................................................27 3.2.2. Extração do Genoma Viral................................................................................27 3.2.3. Det er minaçã o do s Ele troferotip o s por Elet roforese e m Gel de Poliacrilamida (EGPA)............................................................................................28 3.2.4. Reação Em Cadeia Mediada pela Polimerase Precedida de Transcrição Reversa (RT-PCR)...................................................................................................28 3.2.5. Eletroforese em Gel de Agarose ......................................................................30 3.2.6. Purificação e Quantificação do produto da RT-PCR...................................31 3.2.7. Sequenciamento de Nucleotídeos.....................................................................31 3.2.8. Alinhamento e Edição das Sequências para Construção da Árvore Filogenética...............................................................................................................31 4. RESULTADOS.................................................................................................................33 5. DISCUSSÃO.....................................................................................................................39 6. CONCLUSÃO................................................................................................................... 42 REFERÊNCIAS......................................................................................................................43 APÊNDICE I.....................................................................................................................56 viii 8 LISTA DE FIGURAS E TABELAS Figura 1 − Micrografia eletrônica da partícula viral do rotavírus.......................................14 Tabela 1 − Função e localização das proteínas dos RVs-A.................................................15 Figura 2 − Estrutura da partícula viral do RVs-A...............................................................16 Figura 3 − Representações esquemática e tridimensional da partícula viral de RV-A símio (SA11) com segmentação genômica.........................................................................................17 Figura 4 − Representação de Eletroferotipos em EGPA. A- perfil longo de G1P[8]; B- perfil curto de G2P[4] e C- perfil longo de G12P[6]................................................................17 Figura 5 − Ciclo reprodutivo do rotavírus as vias de propostas de entrada do vírus na célula.........................................................................................................................................19 Tabela 2 − Sequência dos iniciadores utilizados na RT-PCR para os genes VP7 e VP4 de RVs-A.......................................................................................................................................29 Tabela 3 − Tamanho dos fragmentos de amplificação dos tipos G e P de RVs-A..............30 Figura 6 − Distribuição mensal de amostras coletadas nos LACENS e recebidas no IEC no período de agosto de 2009 a junho de 2010..............................................................................33 Figura 7 − Frequência dos eletroferotipos de RVs-A no período de agosto de 2009 a junho de 2010.....................................................................................................................................34 Figura 8 − Distribuição dos genótipos G de rotavírus detectados por Nested-PCR em 36 amostras provenientes da rede de vigilância............................................................................34 Figura 9 − Distribuição dos Genótipos P de rotavírus detectados por Nested-PCR em 32 amostras provenientes da rede de vigilância.............................................................................35 Figura 10 − Dendrograma das sequências de nucleotídeos do genótipo G12 com as amostras do LACENS e outras sequências disponíveis no banco de genes.............................36 Figura 11 − Dendrograma das sequências de nucleotídeos do genótipo P[6] com as amostras do LACENS e outras sequências disponíveis no banco de genes.............................38 ix LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AL – Aglutinação do Látex DNA – Ácido Desoxirribonucléico dsRNA – Dupla fita de Ácido Ribonucléico EIA ou ELISA – Ensaio Imunoenzimático EGPA – Eletroforese em Gel de Poliacrilamida IEC – Instituto Evandro Chagas Kb – Quilobases LACENS – Laboratório Central ME – Microscópio eletrônico ng – Nanogramas OMS – Organização Mundial de Saúde pb – Pares de Bases RNA– Ácido Ribonucléico RT-PCR – Reação em Cadeia mediada pela Polimerase precedida de Trancrição Reversa RVs-A – Rotavirus do grupo A SEVIR – Seção de Virologia UFPA – Universidade Federal do Pará 9 x 10 RESUMO Os rotavírus do grupo A (RVs-A) são os mais comuns agentes etiológicos de diarréia grave em crianças menores de cinco anos, causando um número estimado de 500 mil mortes por ano mundialmente. A partir da detecção dos sorotipos usuais, outras variedades antigênicas emergiram ao longo do tempo e passaram a assumir importância epidemiológica, sendo estas denominadas de genótipos não usuais, e estão presentes em várias partes do mundo. Os RVsA pertencem à família Reoviridae, gênero Rotavirus, e possuem o genoma dividido em 11 segmentos de RNA de dupla fita (dsRNA). As proteínas VP7 e VP4 são relacionadas aos genótipos G e P, respectivamente. Este estudo tem como objetivo caracterizar os genótipos G e P de rotavírus circulantes na região Amazônica Brasileira no período de agosto de 2009 a junho de 2010. Foram preparadas suspensões fecais, e o dsRNA foi extraído e submetido a Eletroforese em Gel de Policrilamida (EGPA). Os RNAs foram transcritos com a Transcriptase Reversa e amplificados pela Reação em Cadeia mediada pela Polimerase (RTPCR) utilizando os primes 4con2/4con3 (VP4) e End9/Beg9 (VP7), seguido por Nested-PCR. Os produtos da RT-PCR foram purificados, quantificados e submetidos ao sequenciamento automático. A análise filogenética foi realizada utilizando os programas BLAST e MEGA 3. De agosto de 2009 a junho de 2010, 96 amostras, provenientes dos Laboratórios Centrais, foram recebidas no IEC para a caracterização molecular dos RVs-A, sendo todas submetidas ao EGPA e a RT-PCR. Das 45 amostras analisadas por Nested-PCR foram identificados os genótipos G2 em 27,7%, G9 em 12,8% e G12 em 5,5%. Os genótipos P[4], P[6] e P[8] foram encontrados em 31,2%, 6,2% e 46,8% dos casos, respectivamente. Vinte e nove por cento (13/45) dos produtos da RT-PCR foram submetidas ao sequenciamento. As amostras do genótipo G9 agruparam na linhagem III, as do genótipo G2 na linhagem II e as do genótipo G12 na linhagem III. O genótipo P[4] reuniu amostras na linhagem V, o genótipo P[8] na linhagem III e o genótipo P[6] na linhagem I do dendrograma. As inúmeras possibilidades de combinação binária entre os genótipos G e P de RVs-A pode levar ao aparecimento de novos genótipos. Portanto, os resultados desse estudo fornecem evidência da grande diversidade de genótipos usuais e não usuais de rotavirus na região Amazônica, melhorando assim o conhecimento sobre a epidemiologia molecular de genótipos emergentes de RVs-A em nossa região. Palavras – chaves: Genótipos emergentes; VP4 e VP7; e seqüenciamento xi 11 ABSTRACT Group A rotaviruses (RVs-A) are the most common etiologic agents of severe diarrhea in children less than five years, causing an estimated 500.000 deaths annually worldwide. From the detection of usual serotypes, other antigenic varieties have emerged over time and has assumed to epidemiological importance, which are named unusual genotypes, and are present in several parts of the world. Rotavirus genus belongs to the Reoviridae family and its genome has been divided into 11 segments of double-stranded RNA (dsRNA). VP4 and VP7 proteins define P and G genotypes, respectively. This study aims to characterize G and P of rotavirus circulating in the Brazilian Amazon region during August 2009 to June 2010. Fecal suspensions were prepared and dsRNA was extracted and subjected to Polyacrylamide Gel Electrophoresis (PAGE). RNAs were transcribed with Reverse Transcriptase and amplified by the Polymerase Chain Reaction (RT-PCR) using primes 4con2/4con3 (VP4) and End9/Beg9 (VP7), followed by Nested-PCR. The RT-PCR products were purified, quantified and subjected to automated sequencing. Phylogenetic analysis was performed using the programs BLAST and MEGA 3. From August 2009 to June 2010, 96 samples were received of IEC from Central Laboratories for molecular characterization of RVs-A, all being subjected to EGPA and RT-PCR. Of the 45 samples analyzed by Nested-PCR were identified G2 genotypes in 27.7%, G9 in 12.8% and G12 in 5.5%. The genotypes P[4], P[6] and P[8] were found in 31.2%, 6.2% and 46.8% of cases, respectively. Twenty nine percent (13/45) of the RT-PCR products were subjected to sequencing. The samples of G9 genotype grouped into lineage III, G2 genotype into lineage II and G12 genotype into lineage III. P[4] genotype grouped into lineage V, P[8] genotype into lineage III and P[6] genotype into lineage I of the dendrogram. The several possibilities of binary combination between the P and G RVs-A genotypes can lead to the emergence of new genotypes. Therefore, the finding of this study provide evidence of great diversity of usual and unusual rotavirus genotypes in the Amazon region by hence improving our knowledgement on the molecular epidemiology of emergente genotypes of RVs-A in our region. Keywords: Emergente genotypes; VP4 and VP7; sequencing 12 1. INTRODUÇÃO Os rotavírus do grupo A (RVs-A) são os mais comuns agentes etiológicos de diarréia grave em crianças menores de cinco anos, causando um número estimado de 500 mil mortes por ano a nível mundial, sendo que aproximadamente 85% destas ocorrem nos países da África e Ásia (Widdowson et al., 2009). As altas taxas de mortalidade ocorrem principalmente em países em desenvolvimento, embora a morbidade seja semelhante tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento. A maioria das infecções primárias são leves, embora 15-20% necessitem atenção médica e 1-3% das crianças infectadas sejam hospitalizadas (Castello et al., 2009). A maioria dos episódios sintomáticos ocorrem em crianças com idades entre três meses a dois anos. O vírus se dissemina rapidamente por via fecal oral. Os sintomas costumam aparecer cerca de dois a três dias após a infecção, e incluem vômito e diarréia aquosa, muitas vezes com febre e dor abdominal (Estes e Kapikian, 2007; OMS, 2009). Nesses casos, é indicado uma terapia de reidratação oral (TRO) para reposição hidroeletrolítica; manutenção da dieta, principalmente se o aleitamento for natural pois há fatores imunes e não imunes presentes no leite materno; em casos mais graves recomenda-se a reidratação intravenosa (Linhares et al., 2005). Segundo a Organização Mundial de Saúde (2010), os dados em 2004, apresentaram que 527.000 crianças menores de cinco anos morreram anualmente de infecções causadas por rotavírus, a maioria destas crianças viviam em países de baixa renda. No ano de 2009, mais de 50.000 crianças foram internadas para tratamento de gastrenterite aguda segundo registros da OMS - rede de vigilância rotavírus, apresentando um aumento de 22% em comparação a 2008. A OMS (2010) enfatiza que a vacinação contra o rotavírus é uma medida importante que pode ser usada para reduzir a diarréia grave por rotavírus e a mortalidade infantil. Foi observado uma redução da mortalidade entre crianças entre crianças com idade de 3 a 59 meses, sugerindo efeitos diretos do imunizante. Ainda relevante é a totalidade dos sorotipos de rotavírus circulantes em 2008 foram classificados como G2P[4], fato que consubstancia a proteção heteróloga conferida pela vacina, demonstrada em estudos de efetividade em Belém, Pará (Linhares et al., 2010). O uso de vacinas contra o rotavírus deve ser parte de uma estratégia global de controle das doenças diarréicas, esta estratégia deve incluir melhorias na higiene e 13 saneamento, e a suplementação com zinco na administração baseada na reidratação oral (OMS, 2010). Sendo assim, a vigilância e a caracterização molecular dos genótipos G e P de RVs-A provenientes de diferentes regiões do mundo é importante para monitorar os genótipos circulantes e as possíveis novas combinações visando um melhor entendimento da variação das cepas circulantes capazes de escapar a proteção conferida pelos imunizantes utilizados (Khananurak et al., 2010; Matthijnssens et al., 2008). 14 1.1. O ROTAVÍRUS 1.1.1. Estrutura e classificação viral O rotavírus é um gênero pertencente a família Reoviridae que infecta muitas espécies de aves e mamíferos, dentre elas a espécie humana (Castello et al., 2009). São vírus não envelopados, medem de 70 a 90 nanômetros de diâmetro, com simetria icosaédrica e forma arredondada se observado à microscopia eletrônica (Estes e Kapikian, 2007) (Figura 1). Figura 1: Micrografia eletrônica da partícula viral do rotavírus. Fonte: Setor de microscopia eletrônica do IEC. O genoma do RVs-A é formado por 11 segmentos com cadeia dupla de RNA contendo cerca de 18.500 pares de bases (pb), os quais codificam 12 proteínas específicas para o ciclo reprodutivo, sendo elas seis estruturais (VP1, VP2, VP3, VP4, VP6 e VP7) e seis não estruturais (NSP1, NSP2, NSP3, NSP4, NSP5 e NSP6) (Khananurak et al., 2010; Matthijnssens et al., 2008). A função e localização das proteínas do RVs-A estão presentes na Tabela 1. 15 Tabela 1: Função e localização das proteínas dos RVs-A Segmento genômico Proteína Localização 1 VP1 Core RNA polimerase-RNA dependente 2 VP2 Core Ligação ao RNA viral 3 VP3 Core Guanililtransferase 4 VP4 (VP5* e VP8*) Capsídeo externo 5 NSP1 Não-estrutural 6 VP6 Capsídeo interno Antígeno de subgrupo, necessário para a transcrição 7 NSP3 Não-estrutural Inibe a tradução de proteínas celulares, ligação ao terminal 3’ do mRNA viral 8 NSP2 Não-estrutural Ligação ao RNA, helicase, NTPase, forma viroplasmas com NSP5 9 VP7 Capsídeo externo Glicoprotéina antígeno neutralizante 10 NSP4 Não-estrutural Glicoproteína, papel na morfogênese, modula cálcio intracelular, enterotoxina Não-estrutural Ligação ao RNA, forma viroplasma com NSP2, interage com VP2 e NSP6 NSP5 11 Função Hemaglutinina, proteína de ligação à célula, peptídeo de fusão, antígeno neutralizante Ligação ao RNA viral Interage com NSP5, presente no viroplasma *Polipeptídeos originados pela clivagem da VP4 pela tripsina. NSP6 Não-estrutural Fonte: Adaptada de Santos e Soares, 2008 A partícula viral é composta por três camadas protéicas concêntricas contendo capsídeo interno, externo e o core viral, qual está intimamente associado ao genoma viral conforme observado na Figura 2 (Estes e Kapikian, 2007). 16 Figura 2: Estrutura da partícula viral do RVs-A. Fonte: http://www.liquidarea.com/2009/10/pedriatria-guerra-al-rotavirus Existem sete grupos de rotavírus classificados de A-G. Os do grupo A são divididos em quatro subgrupos denominados de I, II, I+II e não-I/não-II. A camada externa é constituída pelas proteínas VP4 e VP7 relacionadas aos genótipos P (sensível a Protease) e G (Glicoproteína) que até o presente momento contem 31 e 23 genótipos, respectivamente. (ABE et al., 2009; Desselberger, 1996; Estes e Kapikian, 2007; Khamrin et al., 2007). Devido haver diferença nos pesos moleculares entre os 11 segmentos, pode-se realizar uma análise de seu perfil através da eletroforese em gel de poliacrilamida (EGPA), classificando-se os perfis eletroforéticos como amostras de “padrão longo”, “padrão curto” e “supercurto” (Estes e Kapikian, 2007; Taniguchi; Urasawa, 1995) (Figuras 3 e 4). 17 Figura 3: Representações esquemática e tridimensional da partícula viral de RV-A símio (SA11) com segmentação genômica. Fonte: Adaptada de Prasad et al., 1996. A B C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Figura 4: Representação de Eletroferotipos em EGPA. A- perfil longo de G1P[8]; B- perfil curto de G2P[4] e C- perfil longo de G12P[6] Fonte: Adaptada de Paul et al., 2008. 18 1.1.2. Patogênese e Ciclo reprodutivo Os rotavírus são transmitidos por via fecal- oral, sendo também sugerida a transmissão por via respiratória ou por fômites devido ser um vírus com alta taxa de infecção, sendo que estima-se que a cada evacuação seja liberado cerca de um trilhão de partículas virais por milímetro cúbico de espécime fecal (Estes e Kapikian, 2007; Gray et al., 2008; Parashar et al., 1998). Já em estudo conduzido em Belém, Linhares et al. (2002) observaram que a cada nove neonatos que desenvolveram diarréia por rotavírus, cinco casos foram de infecções nosocomiais, sugerindo outras formas de contaminação além da fecal-oral. O período de incubação do vírus varia de dois a quatro dias. Após a ingestão do vírus, estes têm tropismo por células maduras que recobrem as vilosidades do intestino delgado chamadas de enterócitos e in vitro ligam-se a várias linhagens celulares, mas infectam apenas as de origem intestinal e epitelial. (Arias et al., 2002; Gray et al., 2008). A partícula viral multiplica-se no citoplasma da célula, provocando a descamação dessas células e impedindo a captação de fluidos e nutrientes. A infecção e descamação dos enterócitos aceleram a proliferação das células secretoras das criptas, levando para o lúmen intestinal grande quantidade de fluido e provocando uma perda temporária da capacidade absortiva. (Gray et al., 2008; Linhares et al., 2005). A disfunção celular, também pode promover expressão de algumas enzimas digestivas e ocasionar um aumento no potencial osmótico podendo ocasionar uma má absorção de glicose no intestino delgado, aumentando a perda de fluido, resultando em uma manifestação clínica com características má absortivas e secretoras, a diarréia. O mecanismo pelo qual o RVs-A causa vômito ainda não foi esclarecido (Estes e Kapikian, 2007; Gray et al., 2008). O ciclo reprodutivo do rotavírus inicia-se pela entrada do vírus na célula mediada pelas proteínas do capisídeo externo VP4 e VP7, sendo o processo de penetração do vírus iniciando pela clivagem da proteína VP4 pela tripsina, gerando os polipeptídeos VP5* e VP8*, os quais interagem com receptores contendo ácido siálico. Uma vez no interior da célula, o capsídeo externo é perdido e o cerne permanece intacto como uma partícula ativa que sintetiza RNA mensageiro viral (mRNA) (Galletos et al., 1989). Posteriormente, as mesmas adquirem um envelope transitório, o qual é perdido e substituído por uma fina camada de proteína que constitui o capsídeo externo. Por fim, as partículas virais maduras são liberadas por meio da lise celular (Ball et al., 2005; Estes e Kapikian, 2007). O ciclo 19 reprodutivo está representado na Figura 5. Figura 5: Ciclo reprodutivo do rotavírus as vias de propostas de entrada do vírus na célula. 1 − Adsorção do vírus à superfície celular 2 − Penetração e liberação da partícula viral produzindo “dipas” 3 − Transcrição primária do dsRNA genômico 4 − Síntese das proteínas virais 5 − Síntese primária de fitas negativas de RNA 6 − Montagem da partícula viral 7 − Síntese secundária de fitas negativas de RNA 8 − Montagem das dipas 9 − Brotamento da dipa na membrana do RE 10 − Perda do envoltório transitório e geração de vírions maduros com triplo capsídeo. Fonte: Adaptada de Arias et al., 2004. 20 1.1.3. Manifestações Clínicas e Diagnóstico Os sintomas da infecção por RVs-A manifesta-se em crianças menores de cinco anos na forma de diarréia aguda leve ou em forma de diarréia com desidratação potencialmente fatal. A clínica da doença é caracterizada por diarréia, vômito, febre com temperatura de 37.9°C ou acima, desidratação e dor abdominal. É uma infecção autolimitada, durando em torno de uma semana a dez dias, podendo o vírus ser eliminado nas fezes por até 57 dias após a infecção (Estes e Kapikian, 2001; Gray et al., 2008; Santos e Soares, 2008). A infecção secundária é clinicamente leve ou assintomática. Em neonatos essa infecção é frequentemente assintomática ou apresenta-se por uma diarréia branda, possivelmente devido a proteção dos anticorpos maternos (Linhares et al., 2005). O diagnóstico laboratorial de rotavírus pode ser realizado pela detecção do vírus ou antígeno viral nas fezes, testes sorológicos e moleculares (Estes e Kapikian, 2007). O diagnóstico é realizado na amostra fecal, o qual deve ser realizado entre os 1° e 4° dias para a detecção do vírus por métodos convencionais como o ELISA, que detecta os antígenos virais; microscopia eletrônica (ME) ou imunoeletromicroscopia (IME) e aglutinação do látex (AL) (Estes e Kapikian, 2007, Gray et al., 2008, Linhares et al., 2005). A microscopia eletrônica (ME) foi a primeira técnica utilizada para diagnóstico e ainda é muito empregada devido a sua especificidade e rapidez. Nessa técnica é possível detectar os RVs-A em 80% a 90% das fezes positivas (Brandt et al., 1981). O ELISA ou EIA é uma das técnicas mais difundidas, pois possui alta sensibilidade na detecção de RVs-A, o qual não necessita de equipamentos altamente especializados para o teste. (Estes e Kapikian, 2001). O teste de AL permite a detecção de cepas circulantes de RVs-A, possue sensibilidade semelhante ao EIA e é de rápida e simples execução, geralmente realizados em laboratórios de análises clínicas (Pietruchinski et al., 2006). A detecção com mais de três semanas de sintomas ou com amostras fecais conservadas, pode ser realizado nos testes moleculares para a detecção e caracterização do RNA viral, utilizando as técnicas do EGPA, hibridização, Reação em Cadeia mediada pela Polimerase precedida de Transcripitase Reversa (RT-PCR) e sequenciamento automático (Estes e Kapikian, 2001; Linhares et al., 2005; Santos e Soares, 2008). A propagação do vírus em cultura de células é possível, utilizando linhagens celulares como MA-104, LLC-MK2 (células de rim de macaco) e CaCo-2 (células de carcinoma de cólon humano). A MA-104 tem efeito citopático característico, com aumento na 21 refrigência, seguido de redução do volume citoplasmático, com formação de alguns grumos celulares e células repuxadas, com distribuição focal (Estes et al., 1979, Svensson et al., 1991, Londrigan et al., 2000). Contudo, como a propagação do vírus em cultura é bastante lenta, o método não possui valor prático para diagnóstico, limitando-se à investigação científica (Linhares et al., 2009). 1.1.4. Tratamento e Profilaxia O primeiro tratamento a ser feito em uma gastrenterite por rotavírus é a reposição de fluidos e eletrólitos perdidos no vômito e na diarréia (Estes e Kapikian, 2007). Para a reposição hidroeletrolítico recomenda-se a Terapia de Reidratação Oral (TRO), utilizando-se uma fórmula-padrão preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1975 (Bass, 2003). Além disso, recomenda-se a manutenção da dieta alimentar, principalmente o leite materno, a administração de zinco recomendada pela OMS e a utlização de algumas drogas que podem amenizar os sintomas da infecção, como o uso de antibióticos, probióticos e drogas antissecretoras (racecadotril) (Linhares et al., 2009). As práticas higiênicas clássicas como a lavagem das mãos, os cuidados com a água e os alimentos, bem como a destinação adequada de dejetos humanos e animais, parecem não exercer impacto no controle e na profilaxia das infecções por RVs-A. Isso é constatado pelo fato de se repetirem, a cada ano, epidemias nos países desenvolvidos, apesar dos elevados padrões de saneamento e higiene (Mascarenhas, 2006). Outra forma de prevenção é o uso de vacinas que possuem o objetivo de oferecer uma ampla cobertura antigênica para os importantes tipos G e/ou P que circulam globalmente, ou regionalmente (Mascarenhas, 2006). A vacina Rotarix, produzida na Bélgica pela GlaxoSmithKline Biologicals (GSK), é monovalente, de origem humana com especificidade G1P[8], cepa RIX4414. Essa vacina foi licenciada no mercado internacional em 2004, e no Brasil em 2005 pela ANVISA e introduzida no calendário vacinal em 2006 (Santos e Soares, 2008). Esta vacina confere proteção homóloga (G1P[8]) e heteróloga, isto é, produção de anticorpos também contra outros sorotipos P específicos, G3, G4 e G9, e uma menor proteção contra G2P[4] (Linhares et al., 2006; O’Ryan e Linhares, 2009). 22 Esta vacina monovalente quando testada em Belém, Pará, apresentou eficácia de 86% e 93% contra gastrenterites graves e hospitalizações por RVs-A, respectivamente, sendo de grande importância na prevenção e controle da infecção por rotavírus (Linhares et al., 2006; O’Ryan e Linhares, 2009). De acordo com Siqueira et al. (2010), após um surto causado por RVs-A ocorrido em Rio Branco, Acre em 2005, houve a importância de uma prevenção contínua para limitar a transmissão do rotavírus. A partir de então, o Ministério da Saúde do Brasil incluiu a vacina monovalente contra o rotavírus, específica para o genótipo G1P[8], no calendário nacional de vacinação infantil. Outra vacina disponível no mercado é a Rotateq, produzida nos Estados Unidos pelo laboratório Merck e Co., é uma vacina pentavalente, preparada a partir de recombinantes de rotavírus bovino (cepa WC3) e de humanos (G1, G2, G3, G4 e P1A[8] (Linhares et al, 2008; Santos e Soares, 2008). Confere também proteção cruzada contra o genótipo G9, demonstrando eficácia de até 100% nos episódios diarréicos mais graves e de 68,8% a 76,6% contra gastrenterites por rotavírus (Clark et al., 2004; Heaton et al., 2005; Vesikari et al., 2006; 2007). Em 2009, a OMS recomendou a inclusão das vacinas licenciadas Rotateq e Rotarix no programa nacional de imunização de países onde demonstrou ter significante impacto na saúde pública. 1.1.5. Epidemiologia molecular As combinações binárias dos genótipos de RVs-A podem ser usuais e não-usuais. As usuais reúnem os genótipos G1P[8], G2P[4], G3P[8] e G4P[8] sendo frequentemente encontradas e correspondendo a 88,5% a 90% das infecções em várias partes do mundo. O genótipo G9, associado aos tipos P[8] e P[6], foi detectado em 4,1% dos episódios diarréicos causados por RVs-A, emergindo como um genótipo usual em escala global (Santos e Hoshino, 2005) Segundo Siqueira et al., (2010), a epidemia de gastrenterite aguda associada a RV-A, principalmente do sorotipo G9P[8], causaram doença generalizada em crianças que viviam em Rio Branco, Acre, na região amazônica do Brasil ocidental, acometendo mais de 20% das crianças menores de cinco anos. Este genótipo foi descrito pela primeira vez nos 23 EUA em 1995-1996, (Clark et al., 2004) e, posteriormente, em surtos no Brasil, Índia, Itália, Malásia, Bangladesh, Austrália, França, e o Reino Unido (Cunliffe et al., 2001). A magnitude da infecção pelo genótipo G9P[8] no surto ocorrido na região metropolitana de Belém (PA), relatado por Guerra (2010), é semelhante ao relatado durante um surto na Austrália em 2001 (Kirkwood et al., 2004). O genótipo G2P[4] mostrou-se em grande variação no continente e subcontinente quando analisados a partir de 1973 a 2003, como segue: Na América do Sul (23%), África (2%), Ásia (13%), América do Norte (11%), Europa (9%) e Austrália / Oceania (14%) (Santos e Hoshino, 2005; Mascarenhas et al., 2010). No Brasil, esse genótipo foi observado, provavelmente devido a uma seleção ocasionada após a implantação da vacina ou mesmo a uma periodicidade temporal deste genótipo que circula a cada dez anos (Leite et al., 2008; Carvalho-Costa et al., 2009; Oliveira et al., 2008, Guerra, 2010). Este genótipo foi observado em estudo desenvolvido no sul do Pará nos anos de 2006 e 2008 envolvendo crianças com gastrenterite aguda e foi detectado em 90% das amostras analisadas, revelando uma periodicidade cíclica do genótipo G2 (Mascarenhas et al., 2010). A partir da detecção dos sorotipos usuais, outras variedades antigênicas emergiram ao longo do tempo e que passaram a assumir importância epidemiológica, estas são denominadas de genótipos não usuais. Mais recentemente o genótipo G12, associado ao tipo P[6] apresentase como um genótipo não usual (Khananurak et al., 2010; Gray et al., 2008). Foi identificado em estudo realizado em Buenos Aires em 1999-2003 e apresentou 6,7% de positividade em amostras fecais (Castello, et al., 2006), semelhante a estudo conduzido na Tailândia e Japão (Pongsuwanna et al., 2002; Shinozaki et al., 2004). A diversidade fenotípica é grande e existe a possibilidade de mais de 120 diferentes combinações envolvendo os genótipos de G e P de rotavírus (Estes e Kapikian, 2007). - GENÓTIPO EMERGENTE G12 O genótipo G12, considerado incomum, foi isolado e caracterizado molecularmente em 1990, entre as cepas causadoras de gastrenterite aguda em crianças em um surto ocorrido nas Filipinas em 1987 (Taniguchi et al., 1990). Indicando uma propagação 24 global e emergente dessa nova cepa, esse genótipo foi identificado em vários países do mundo (Freeman et al., 2009, Castello et al., 2009) incluindo a Tailândia (Pongsuwanna et al., 2002), Argentina (Castello et al., 2006), Índia (Das et al., 2003), Bangladesh (Rahman et al., 2007b), Japão (Shinozaki et al., 2004), Arabia Saudita (Kheyami et al., 2008), Hungria (Banyai et al., 2007), Nepal (Uchida et al., 2006), e Brasil (Pietruchinski et al., 2006), sendo encontrado recentemente na região Amazônica (Soares et al., 2010). A primeira cepa de G12 era de origem suína (RU 172) isolado de um leitão com diarréia na Índia (Ghosh et al., 2006). O gene VP7 mostrou-se 93,6-94,5% semelhante ao de um ser humano ao nível de aminoácidos, aumentando a possibilidade de que cepas humanas e suínas G12 podiam ter um ancestral comum. A fim de compreender a origem e o surgimento de G12 nos EUA, os 11 segmentos de uma cepa de G12P[6], G12P[8] e G1P[8] coletadas durante uma rotina de vigilância (2005-2006), foram sequenciadas e comparadas com G12 e outras cepas de rotavírus de referência (Freeman et al., 2009). Desta forma é importante a caracterização dos genótipos emergentes em vários locais, especificamente, na região Amazônica Brasileira. 25 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Caracterizar molecularmente os genótipos G e P de rotavírus circulantes na região Amazônica Brasileira nos anos de 2009 e 2010. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Determinar os eletroferotipos de rotavírus; b) Caracterizar geneticamente os genes VP4 e VP7; c) Determinar o percentual de infecções mistas e genótipos incomuns; d) Realizar a análise de dendrograma, comparando as sequências de nucleotídeos dos genes VP4 e VP7 dos rotavírus detectados com aquelas isoladas em outras partes do Brasil e do mundo; e e) Verificar se as crianças acometidas por rotavírus foram vacinadas. 26 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. MATERIAL 3.1.1. Aspectos Éticos O estudo não apresentou qualquer risco ou prejuízo para as crianças ou seus responsáveis. A presente investigação foi avaliada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Evandro Chagas n° 0019/2009 em respeito às normas nacionais e internacionais que regulamentam tal atividade (Apêndice I). 3.1.2. Pacientes e espécimes clínicos Os espécimes fecais do presente estudo foram provenientes da rede de vigilância epidemiológica das gastrenterites por RVs-A iniciada em fevereiro de 2006 e envolveu crianças menores de cinco anos que apresentaram quadros de diarréia aguda. Essa rede englobou cinco municípios, um de cada região do país, sendo que no Pará, o município de Marituba vinculado à Secretaria de Saúde de Marituba foi selecionado para participar do projeto. As Secretarias de Saúde fizeram a seleção dos casos quando o menor foi atendido no Setor de Reidratação Oral (TRO); os espécimes fecais foram coletados e então enviados para os Laboratórios Centrais dos Estados do Amapá, Pará, Amazonas (LACENS), os quais fizeram a triagem dos espécimes fecais para detecção dos casos de infecção por RVs-A pelo Ensaio Imunoenzimático (ELISA). A rede de vigilância também inclui a Vigilância Ampliada de Rotavírus que tem por objetivo proceder a elucidação diagnóstica de surtos. O Instituto Evandro Chagas (IEC/SVS/MS) é o Centro de Referência Nacional para Rotaviroses e responsável pela realização dos testes referentes à região Amazônica e a caracterização molecular das amostras positivas recebidas dos LACENS. 27 3.2. MÉTODOS 3.2.1. Preparo da Suspensão Fecal A partir dos espécimes fecais selecionados, foram preparadas suspensões fecais a 10% em tampão Tris-Ca++ 0,01M pH 7,2. Em seguida, as suspensões foram homogeneizadas e clarificadas por centrifugação a 3.000 rotações por minuto (rpm) durante 10 minutos a 4ºC. O sobrenadante foi colhido e estocado a -20º C para a realização dos testes. 3.2.2. Extração do Genoma Viral A extração do genoma viral foi desenvolvida segundo protocolo descrito por Boom et al. (1990). Primeiramente, pipetou-se em um tubo de 1,5mL 300µL da suspensão fecal. Adicionou-se 20µL de Proteinase K (20mg/mL) e 800µL de Tampão L6, agitando-se posteriormente em vortex. O material foi incubado em banho-maria a 56°C por 10 minutos e logo após, adicionado ao tubo 200µL de Etanol absoluto (4ºC) e 20µL de sílica. Homogeneizou-se em agitador por 20 minutos à temperatura ambiente e posteriormente centrifugou-se a 14.000 rpm por 40 segundos. Descartou-se o sobrenadante em frasco contendo NaOH 10N, adicionando logo após 500µL de Tampão L2 e homogeneizando em vortex visando centrifugação a 14.000 rpm por 30 segundos. Descartou-se novamente o sobrenadante em frasco e foi adicionado 500µL de Etanol 70%. Foi homogeneizado e em vortex e centrifugado a 14.000 rpm por 40 segundos para posteriormente se descartar o sobrenadante em frasco contendo hipoclorito de sódio. Secou-se o sedimento em banho-maria a 56°C por 15 minutos e, em seguida, adicionou-se 60µL de água ultra pura (livre de DNAse e RNAse) e homogeneizou-se em vortex. Posteriormente, o material foi incubado em banho-maria a 56°C por 15 minutos e homogeneizado em vortex. O tubo foi centrifugado à 14.000 rpm por 4 minutos, a fim de realizar a coleta do sobrenadante (30 a 40µL) o qual foi transferido para um tubo previamente identificado e armazenado à -20°C para a realização dos testes. 28 Durante o processo de extração todas as medidas de controle de contaminação foram realizadas, inclusive a utilização de controles positivo (amostra positiva para RVs-A) e negativo (água ultra pura). 3.2.3. Determinação dos Eletroferotipos por Eletroforese em Gel de Poliacrilamida (EGPA) O dsRNA extraído foi submetido à EGPA, para determinação dos eletroferotipos de RVs-A segundo procedimento descrito por Pereira et al. (1983). Foram aplicados 10µL dos dsRNAs extraídos no gel de poliacrilamida a 5% juntamente com 2µL de Loading buffer. Este gel foi submetido a eletroforese vertical, sob as condições 100 volts (V), 100 Watts (W) e 21 milli-Ámperes (mA) por 2 horas e 30 minutos. Posteriormente, o gel foi fixado utilizando-se etanol e ácido acético, seguido de coloração com nitrato de prata (AgNO3), revelação do gel com hidróxido de sódio 10M e formaldeído a 37% e posterior visualização do perfil eletroforético dos RVs-A em negatoscópio de luz branca (Herring et al., 1982). 3.2.4. Reação Em Cadeia Mediada pela Polimerase Precedida de Transcrição Reversa (RT-PCR) A RT-PCR foi desenvolvida em duas etapas e realizada segundo protocolo descrito por Das et al. (1994), Gentsch et al. (1992) e Gouvea et al. (1990). A primeira etapa iniciou-se com a formação do DNA complementar (cDNA), que foi acrescido dos pares de iniciadores 4con3/4con2 (VP4) e Beg9/End9 (VP7) e desnaturado a 97ºC em termociclador por 7 minutos, seguido de imersão em banho de gelo (0ºC) por 5 minutos. Esses iniciadores amplificaram fragmentos de 875 pb e 1062 pb para os genes VP4 e VP7, respectivamente, conforme demonstrado na Tabela 2. 29 Tabela 2: Sequência dos iniciadores utilizados na RT-PCR para os genes VP7 e VP4 de RVsA Amplicon em Iniciado Sequência r Gene pares de Referência bases (pb) Beg9 (+) End9 (-) GGC TTT AAA AGA GAG AAT TTC CGT CTG G GGT CAC ATC ATA CAA TTC TAA TCT AAG VP7 - VP7 1062 4con3(+) TGG CTT CGC CAT TTT ATA GAC A VP4 - 4con2 (-) ATT TCG GAC CAT TTA TAA CC VP4 875 Gouvea et al., 1990 Gouvea et al., 1990 Gentsch et al., 1992 Gentsch et al., 1992 Após desnaturação, foi realizada a transcrição reversa visando à obtenção do cDNA, durante 1 hora a 42°C, utilizando uma mistura de 22µL água RNase/DNase free, dNTP 25mM (Mistura dos quatro desoxirribonucleotídeos trifosfato: dATP, dCTP, dGTP e dTTP), Tampão 10X, MgCl2 50mM e RT 20U; 2µL de RNA e 1µL de iniciadores (Beg9/End9 e 4con2/4con3). Após a obtenção do cDNA, iniciou-se a segunda etapa, a qual consistiu na amplificação dos genes pela PCR. Adicionou-se uma segunda mistura 25µL de água RNase/DNase free, dNTP 25mM (Mistura dos quatro desoxirribonucleotídeos trifosfato: dATP, dCTP, dGTP e dTTP), Tampão 10X, MgCl2 50mM e Taq DNA Polimerase, com as seguintes condições: 1 ciclo de 94ºC por 2 minutos (desnaturação prévia), seguido de 35 ciclos de 94ºC por 30 segundos (desnaturação), 42ºC por 30 segundos (hibridização) e 72ºC por 1 minuto (extensão), finalizando com um ciclo de 72ºC por 7 minutos de extensão final. A seguir, os produtos da RT-PCR foram armazenados a -20ºC. Para caracterização dos genes VP7 e VP4, os cDNAs produzidos foram reamplificados, utilizando-se um grupo de iniciadores específicos para cada tipo de rotavírus, 30 pela técnica de Nested-PCR. Foram usadas misturas de iniciadores desenvolvidos para os tipos G (G1, G2, G3, G4, G9 e G12) e P (P[4], P[6] e P[8]) (Tabela 3). Tabela 3: Tamanho dos fragmentos de amplificação dos tipos G e P de RVs-A. Tipo Gene Amplicon em pares de bases (pb) G1 VP7 749 G2 VP7 652 G3 VP7 374 G4 VP7 583 G9 VP7 306 G12 VP7 515 P[4] VP4 483 P[6] VP4 267 P[8] VP4 345 3.2.5. Eletroforese em Gel de Agarose Os produtos obtidos na RT-PCR foram submetidos à eletroforese horizontal em gel de agarose a 1,5% em Tampão Tris-Borato-EDTA (TBE) 1x. Tais produtos foram aplicados com Loading buffer e GelRed (BIOTIUM) juntamente com o marcador de peso molecular de 123 pb diluído em TBE 1x e submetidos a condições de 120 V e 400 mA por 25 a 35 minutos. Os produtos da RT-PCR em que foram visualizados o amplicon, submeteram-se à purificação e posterior sequenciamento; e nas que não amplificaram, a RT-PCR foi repetida. 31 3.2.6 . Purificação e Quantificação do Produto da RT-PCR Os produtos obtidos a partir da RT-PCR foram purificados utilizando-se o kit disponível comercialmente, QIAQuick PCR purification (QIAGEN), que purifica o DNA diretamente do produto da PCR. A quantificação do DNA, expressa em nanogramas (ng), foi realizada com o marcador de peso molecular Low DNA Mass Ladder (Invitrogen), servindo de parâmetro para a reação de sequenciamento. 3.2.7. Reação de Sequenciamento de Nucleotídeos A reação de sequenciamento foi conduzida segundo o protocolo descrito pelo fabricante do kit Big Dye Terminator V.3.0 (Applied Biosystems), utilizando-se uma mistura de 10µL: iniciadores (Beg9/End9 ou 4con2/4con3), tampão, Big Dye Terminator, DNA (dependente da concentração com máximo de 4µL), água RNase/DNase free (dependente da quantidade de DNA com máximo de 3µL). A mistura foi adicionada a placa, juntamente com o DNA purificado e colocada no temociclador nas seguintes condições: 25 ciclos de 96°C por 30 segundos (desnaturação), 50°C por 15 segundos (hibridização) e 60°C por 3 minutos (extensão). 3.2.8. Alinhamento e Edição das Sequências para Construção da Árvore Filogenética. As sequências obtidas para os genes VP7 e VP4 foram alinhadas e editadas utilizando-se o programa BioEdit (Versão 7.0.5.2) e comparadas com sequências de outros vírus isolados e disponíveis no banco de genes “Genbank” (http://www.ncbi.nlm.nih.gov), a partir do programa BLAST. Os dendrogramas foram construídos empregando-se o programa MEGA 3 (v.3.0.0.41), pelo método de “Neighbor-Joining” e “UPGMA” (Unweighted Pair 32 Group Method with Arithmetic means), baseado nos parâmetros de Kimura (1980), utilizando o teste de confiabilidade não paramétrico de “bootstrap” de 2000 réplicas. 33 4. RESULTADOS Foram recebidas no IEC no período de agosto de 2009 a junho de 2010, 96 amostras fecais provenientes de crianças com gastrenterite aguda com diagnóstico de RVs-A pelos LACENS para caracterização dos genótipos envolvidos na infecção (Figura 6). Trinta e seis espécimes (37,5%) eram relativas a crianças vacinadas contra RVs-A, 10 (10,4%) pertenciam a crianças que não haviam recebido a vacina contra RVs-A, e 50 (52,1%) a crianças em que não foram identificados o seu estado vacinal. 30 26 26 25 20 18 17 15 15 15 12 Meses de recebimento 10 10 Meses de coleta LACENs 8 6 6 4 5 66 4 3 3 2 2 0 1 0 2009 Ab ril M ai o Ju nh o Ag o Se sto te m br o O ut ub N ov ro em De bro ze m br o Ja ne Fe iro ve re iro M ar ço 0 2010 Figura 6: Distribuição mensal de amostras coletadas nos LACENS e recebidas no IEC no período de 2009 a junho de 2010. 34 Desse total, 45 (46,9%) foram selecionados para a caracterização molecular, resultando em 27 amostras positivas na EGPA, com predominância do eletroferotipo longo (18/27-66,7%) em relação ao curto (9/27-33,3%) (Figura 7). Vale ressaltar que embora algumas amostras tenham sido negativas para rotavírus pela EGPA, todas as amostras foram submetidas a RT-PCR. 9( 33,3% ) longo Curto 18( 66,7% ) Figura 7: Frequência dos eletroferotipos de RVs-A no período de agosto de 2009 a junho de 2010. A RT-PCR foi realizada nas 45 amostras, sendo 22 (48,9%) provenientes do estado do Amazonas, 18 (40%) do estado Pará e cinco (11,1%) do estado do Amapá. Foi possível identificar o genótipo G em 36/45 (80%) amostras, sendo 12 genótipo G1, 10 genótipo G2, 5 genótipo G9 e 2 genótipo G12. As infecções mistas envolvendo G foram detectadas em 19,4% (7/36) dos casos: G1+G2 (3/36), G1+G2+G12 (2/36), G1+G9 (1/36) e G2+G12 (1/36), conforme demonstrado na Figura 8. 1 (2,8%) 2 (5,5%) 1 (2,8%) 3 (8,3%) 12 (33,3%) 2 (5,5%) G1 G2 G9 G12 G1+G2 5 (13,9%) G1+G9 10 (27,8%) G1+G2+G12 G2+G12 Figura 8: Distribuição dos genótipos G de rotavírus detectados por Nested-PCR em 36 amostras provenientes da rede de vigilância. 35 Para o gene VP4, o genótipo P pode ser identificado em 32/45 (71,1%) das amostras, dentre estas, 15 reagiram com o P[8], 10 apresentaram genótipo P[4] e dois com o P[6]. A infecção mista apresentou os tipos P[4]+P[6] em 15,6% (5/32) das situações de acordo com os dados apresentados na Figura 9. 5 (15,6%) 10 (31,3%) P[4] P[6] P[8] P[4]+P[8] 2 (6,2%) 15 (46,9%) Figura 9: Distribuição dos Genótipos P de rotavírus detectados por Nested-PCR em 32 amostras provenientes da rede de vigilância A combinação binária envolvendo os genótipos G e P foi determinada em 33,3% (15/45) dos casos. Destas, 13 (86,7%) amostras foram associadas aos genótipos usuais G1P[8], G2P[4], G9P[8] e duas (13,3%) ao genótipo não usual G12P[6]. Das 45 amostras genotipadas, 13 (28,9%) foram selecionadas aleatoriamente para serem sequenciadas e a seguir comparadas com tipos virais usuais e não usuais circulantes em outras partes do mundo, sendo os genótipos G2, G9, G12, P[4], P[6] e P[8] analisados. Das 13 amostras sequenciadas: quatro receberam a vacina, quatro não receberam a vacina e cinco o quadro vacinal não foi identificado. A análise filogenética do genótipo G2, demonstrou que quatro amostras do Pará (RV 102271, 102289, 102292, 102276) que circularam em 2009 agruparam na linhagem II (sublinhagem IIc) de acordo com a classificação proposta por Arista et al., (2005), apresentando-se coesas em um mesmo ramo, com bootstrap de 99 e similaridade de 100% entre si (dados não apresentados). Para o genótipo G9, de acordo com classificação de Martinez-Laso et al. (2009), as cinco amostras sequenciadas, RV 109719, 102145, 102143, 101103 e 102149 provenientes do Amazonas que circularam nos anos de 2009 e 2010, agruparam na linhagem III com similaridade de 99,5% a 100%. O teste de bootstrap gerou confiabilidade de 98 a esse 36 grupamento (dados não mostrados). Essas amostras estão juntas com amostras contemporâneas provenientes de várias regiões do mundo, incluindo o Brasil. Foram sequenciadas quatro amostras, RV 109724 e 108217 circulantes no Amazonas no ano de 2010; o RV 105659 circulante no Pará e RV 101449 circulante no Amapá no ano de 2009, para o genótipo não usual G12, agrupando-as na linhagem III de acordo com Castello et al. (2009) com similaridade 99,8% a 99,9%, sendo estatisticamente consubstanciada por teste de bootstrap gerando confiabilidade de 77 a esse grupamento (Figura 10). 99 rv109724 62 rv108217 GU250828 RV98670 85 73 GU250829 RV98660 62 rv105659 78 64 FJ152121 US6597/G12P6/USA 2009 EF059916/Hu/CAU195/G12P6/South Korea(III 86 EF625825/Hu/031461/P6/20006/Taiwan 83 AB269689/Hu/MD844/P8/Saudi Arabia 2004 34 Linhagem III 75 rv101449 DQ146643/Hu/B4633-03/P8/Belgium 2003( DQ490556/RV176-00/P6/Bangladesh 2000( 78 55 81 AJ311741/Hu/Se585/P6/USA (III) DQ146654/Hu/Dhaka2502/P8 2002(III) 82 AY206861/Hu/ISO 1/India(III) 100 EU284722/Hu/SA3291JHB/P6/2004/Africa sul 64 AB071404/Hu/T152/P9/Thailand 2002( AB125852/Hu/CP727/P9/Japan 2004 99 DQ111868/Hu/Arg 720/P9/Argentina 1999 69 AY855065/Hu/HC91/P9 2003 Brz M58290/Hu/L26/P4/Philippinas 1987/(I) 74 DQ204743/Po/Ru172/P7/India(IV) G1/Hu/Wa/K02033 0.05 Figura 10: Dendrograma das sequências de nucleotídeos do genótipo G12 com as amostras do LACENS e outras sequências disponíveis no banco de genes. 37 Na análise do dendrograma para as sequências de nucleotídeo do gene VP4, as cinco amostras, RV 109719, 102145, 102143, 101103 e 102149 provenientes do Amazonas que circularam nos anos de 2009 e 2010, com genótipo P[8] do presente estudo, agruparam na linhagem III,de acordo com Paul et al. (2008), com similaridade de nucleotídeo, entre as mesmas, variando de 98,1% a 99,8%, e o valor de confiabilidade do agrupamento inferido por bootstrap de 91 (dados não mostrados). Os genótipos P[8] apresentaram-se no mesmo grupo de amostras do Rio de Janeiro (rj8224), Rio grande do Sul (rs11126), Bahia (ba12537) e Dhaka (Dhaka25-02). Para o genótipo P[4], quatro amostras foram sequenciadas, RV 102271, 102289, 102292, 102276 circulantes no Pará no ano de 2009, agruparam-se, de forma bem coesa em um mesmo braço de árvore, com similaridade, entre as mesmas de 99,8% a 100%, e valor de confiabilidade da árvore inferido por “bootstrap” de 99. De acordo com a classificação de Espínola et al., (2008) essas amostras agruparam na linhagem V junto com o protótipo H676/2004 da Rússia e de Bangladesh (2005), e divergiram 5,8% da amostra do Rio de Janeiro (dados não apresentados). Foram sequenciadas cinco amostras para o genótipo P[6], RV 109724 e 108217 circulantes no amazonas no ano de 2010; RV 105659 circulante no Pará e RV 101449 circulante no Amapá no ano de 2009, de acordo a classificação de Martela et al. (2006) estas foram agrupadas na linhagem I (sublinhagem Ia) de forma coesa em um mesmo braço de árvore, com similaridade, entre as mesmas de 99,1% a 99,9%, e valor de confiabilidade da árvore inferido por “bootstrap” de 100. As amostras, deste estudo, agruparam com amostras dos Estados Unidos (US1205), Bangladesh (EU839948) e Pará (HST368). A amostra do Pará (HST368) apresentou similaridade de 97,9% quando comparada com as amostras da rede de vigilância (Figura 11). 38 78 rv101449 100 rv105659 rv108217 96 96 rv109724 HST368/Hu/1999/Diarrheic 53 73 SK277/Hu/G12P6/Bangladesh/2005 EU839948 NB162/Hu/1997/Diarrheic 100 96 MW23/Hu/G8P6 AJ278253 1076/Hu/G2P6 M37/Hu/G1P6 54 75 ST3/Hu/G4P6 96 59 97 RV3/Hu/G3P6 221/04-7/Po/Italy/P6 AY955303 96 134/04-8/Po/P6 AY955301 57 51/03/Po/P6 AY955305 100 51/04/Po/P6 AY955306 134/04-10/Po/P6 AY955299 98 100 134/04-11/Po/P6 AY955300 100 76 BP1338-00/Hu/G4P6 BP271-00/Hu/P6 AJ621502 AU19/Hu AB017917 221-04-21/Po/P6 AY955309 62 134/04-7/Po/P6 AY955310 99 BP1227-02/Hu/G4P6 100 73 BP720-93/Hu/P6 AJ621503 Gottfried/Po/G4P6 DS-1/Hu/G2P4 100 Wa/Hu L34161 0.05 Figura 11: Dendrograma das sequências de nucleotídeos do genótipo P[6] com as amostras do LACENS e outras sequências disponíveis no banco de genes. Linhagem I (Ia) US1205/Hu/G9P6 99 39 5. DISCUSSÃO O presente estudo mostrou a importância da genotipagem dos genes VP7 e VP4 de RVs-A circulantes na região Amazônica no período de agosto de 2009 a junho de 2010. Não foi observado um padrão de sazonalidade na distribuição das rotaviroses entre as regiões estudadas devido o estudo ter ocorrido em um curto período de tempo, contudo, observou-se uma freqüência maior de RVs-A nos meses de janeiro, fevereiro de 2010 e agosto de 2009. Os RVs-A se caracterizam por sua ocorrência universal, sendo notória a diferença quanto à distribuição temporal, se comparadas as regiões de clima temperado onde se observa um padrão tipicamente sazonal, caracterizado pela ocorrência de extensas epidemias durante os meses mais frios do ano com as regiões de clima tropical, onde os RVs-A ocorrem ao longo de todo o ano, apresenta-se incidência elevada nos meses mais secos e com menor precipitação pluviométrica (Kapikian et al., 2001, Linhares et al., 2009). No Brasil, Pereira et al. (1993) observaram perfis tipicamente sazonais nas regiões centro-oeste, sudeste e sul, o que não se registrou no Norte e Nordeste do país. Tal padrão foi observado em estudo conduzido na Comunidade quilombola do Abacatal (PA), onde os casos para RVs-A foram detectados na época mais seca do ano (Kaiano et al., 2009). Em Belém, Pará, especificamente, estudos anteriores também não apontaram para o padrão sazonal, quanto à ocorrência da diarreias por rotavírus. No entanto, observações mais recentes, oriundas de intensiva vigilância dos episódios diarreicos sugerem predominância das diarreias por RVs-A ao longo dos meses mais secos do ano (Linhares et al., 2009). As infecções mistas podem resultar em combinações não usuais entre os genotipos P e G (Iturriza-Gómara et al., 2001; Gouvêa & Brantly, 1995). Estas infecções foram detectadas no presente estudo em 15,6% para o genótipo P e 19,5% para o genótipo G, que corroboram com estudos conduzidos no Brasil, no qual a prevalência das infecções mistas é bastante elevada, e assim como a Índia, contribuem com um percentual bastante expressivo dessa diversidade, onde tipos incomuns são encontrados frequentemente (Mascarenhas, 2006). Leite et al. (1996) demonstraram casos de infecção mista em 12% das situações envolvendo 130 espécimes positivos para RVs-A, oriundos de nove Estados brasileiros, e também apresentou um percentual elevado (21%) de infecções mistas envolvendo sorotipos G, enquanto Santos et al. (1998) detectaram em 16% dos casos estudados no Brasil. 40 No presente estudo, a partir da análise filogenética do genótipo G2, pôde-se agrupar quatro amostras (RV102271; 102289; 102292 e 102276) na linhagem II, sublinhagem IIc. Foi apresentado um índice de similaridade de 99% em relação a amostras de origem asiáticas (Strain258 e PAK458). As amostras analisadas foram associadas ao tipo P[4], as quais se agruparam na linhagem cinco deste genótipo, e esse genótipo G2P[4] apresentou um eletroferotipo curto. Tais dados corroboram com os resultados obtidos por Oliveira (2010), que apresentou amostras circulantes nos períodos de 1993 a 1994 e 2006 a 2008 na região Amazônica, e por Mascarenhas et al. (2010) em estudo conduzido na cidade de Parauapebas, PA (2006-2008), apresentando-se neste mesmo grupamento. Na análise do genótipo G9, cinco amostras (RV102145; 102143; 102149; 101103 e 109719) demonstraram índice de similaridade de 98% em relação a amostras brasileiras oriundas de Recife (R293) e Bahia (BA201/01). Outros estudos conduzidos na Hungria, Tailândia, Bangladesh, Índia e Brasil também apresentaram elevada similaridade deste genótipo ao longo do tempo, agrupando as amostras na linhagem III (Ahmed et al., 2010; Araujo et al., 2007; Bányai et al., 2004;; Samajdar et al., 2008; Theamboonlers et al., 2008). As amostras analisadas para G9 do presente estudo estavam associadas ao tipo P[8], e corroboram com os estudos conduzidos no período de 1990 a 2004, em que o genótipo G9 estava associado ao tipo P[8] e foi responsável por cerca de 5% das infecções por RVs-A em escala global, estando 15% destes casos na América do Sul (Genstsch et al., 2005). O genótipo G9P[8] do presente estudo apresentou eletroferotipo longo que corroboram com o estudo realizado por Paul et al. (2008). O genótipo não usual G12 é relatado como sendo emergente e relacionado a P[4], P[6] e P[8] (Rahman et al., 2007a). No presente estudo, foi detectada a combinação binária G12P[6] em quatro amostras (RV101449; 105659; 108217 e 109724). Estas foram agrupadas na linhagem III do genótipo G12 e na linhagem I do genótipo P[6]. No presente estudo as quatro amostras foram proveniente de crianças idade variando de um mês a um ano e sete meses, circulantes nos estados do Amapá e Pará no ano de 2009 e no Amazonas no ano de 2010. Apenas uma das quatro amostras apresentou eletroferotipo longo e que corroboram com o estudo de Paul et al. (2008) em Bangladesh em que as amostras apresentaram este mesmo eletroferotipo. As demais amostras não foi possível vizualizar o eletroferotipo. Estudos realizados na Amazônia são escassos em relação a este genótipo, no entanto, já foram detectadas duas amostras de crianças com gastrenterite aguda com 16 meses e 3 anos de idade com esta especificidade antigênica na região Amazônica (GU250828 e 41 GU250829) (Soares et al., 2010). Estas amostras foram relacionadas com as do presente estudo e apresentaram índice de similaridade de 99,2 a 99,8%. Em estudos conduzidos por Freeman et al. (2009) nos EUA, apresentou a combinação binária G12P[6] em uma amostra de uma criança com diarréia da cidade de Kansas, onde o protótipo US6597 apresentou-se, também, na linhagem III com similaridade de 98,9% a 99,7% em relação as amostras do presente estudo. 42 6. CONCLUSÃO Os genótipos usuais encontrados no estudo através do seqüenciamento de nucleotídeos foram G2P[6] e G9P[8]. O genótipo emergente G12P[6] apresentou-se em quatro amostras da rede de vigilância. Há necessidade de investigações mais apuradas sobre o aparecimento de genótipos emergentes e associados a possíveis implicações clínicas. Os achados detectados no presente estudo revelam a grande diversidade de genótipos usuais e não usuais de rotavírus na região Amazônica. 43 REFERÊNCIAS ABE, M.; ITO, N.; MORIKAWA, S.; TAKASU, M.; MURASE, T.; KAWASHIMA, T.; KAWAI, Y.; KOHARA, J.; SUGIYAMA, M. Molecular epidemiology of rotaviruses among healthy calves in Japan: Isolation of a novel bovine rotavirus bearing new P and G genotypes. Virus Res., 144(1-2): 250-7.2009. AHMED, K.; AHMED, S.; MITUI, M.T.; RAHMAN, A.; KABIR, L.; HANNAN, A.; NISHIZONO, A.; NAKAGOMI, O. Molecular characterization of VP7 gene of human rotaviruses from Bangladesh. Virus Genes, v 40, p. 347–356, 2010. 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