Março/2016 - Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
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Março/2016 - Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
2016 | ano 7 | número 23 | www.sbn.com.br hoje EVITAR ERROS MÉDICOS ENTREVISTA ESPECIAL ADOTAR UMA POSTURA DE TRANSPARÊNCIA COM OS PACIENTES É A MELHOR FORMA DE EVITAR PROBLEMAS EM FOCO E PROCESSOS SÓ DEPENDE DE VOCÊ A íntima relação entre a Neurociência e a Neurocirurgia Brasil é país referência na Neurocirurgia mundial www.sbn.com.br (11) 3051-6075 [email protected] Diretoria 2014-2016 Presidente Modesto Cerioni Junior Vice-Presidente Clemente Augusto de Brito Pereira Secretário-Geral Marco Túlio França Tesoureira Marise Augusto Fernandes Audi 1º Secretário Roberto Sérgio Martins Secretário Executivo Italo Capraro Suriano Presidente Anterior Sebastião Nataniel Silva Gusmão Presidente Eleito 2016-2018 Ronald de Lucena Farias Presidente do Congresso de 2016 Márcio Vinhal de Carvalho Presidente Eleito - Congresso de 2018 Marcelo Paglioli Ferreira Diretor de Departamentos José Marcus Rotta Diretor de Diretrizes Ricardo Vieira Botelho Diretor de Formação Neurocirúrgica Benedicto Oscar Colli Diretor de Honorários José Carlos Esteves Veiga Diretor de Parlamentário Marcos Masini Diretor de Patrimônio Samuel Tau Zymberg Diretor de Políticas Clemente Augusto de Brito Pereira Diretor de Relações Internacionais José Marcus Rotta Diretor de Relações Institucionais Cid Célio Jayme Carvalhaes Diretor de Representantes Regionais Paulo Ronaldo Jubé Ribeiro Diretor da Revista Arquivos Brasileiros Eberval Gadelha Figueiredo Diretor Editor da Revista SBN Hoje José Marcus Rotta Conselho Deliberativo Presidente Jorge Luiz Kraemer Secretário Benjamim Pessoa Vale Membros Aluízio Augusto Arantes Junior, Geraldo de Sá Carneiro Filho, Jair Leopoldo Raso, Jânio Nogueira, José Carlos Saleme, José Fernando Guedes Correa, José Marcus Rotta, Luis Alencar Biurrum Borba, Luis Renato Garcez de Oliveira Mello, Luiz Carlos de Alencastro, Marcos Masini, Orival Alves, Osmar José Santos de Moraes e Ricardo Vieira Botelho Comissões Acreditação de Eventos Coordenador Mario Augusto Taricco Membros Alessandra de Moura Lima, Audrey Beatriz Santos Araujo, Rodrigo Moreira Faleiro e Sergio Tadeu Fernandes Coordenador Jorge Luiz Amorim Corrêa Secretário Cassius Vinícius Corrêa Dos Reis Credenciamento Coordenador Marcelo Luis Mudo Secretário Andrei Fernandes Joaquim Coordenador Roberto Colichio Gabarra Membros Albedy Moreira Bastos, Marcelo Batista Chioato dos Santos, Paulo Valdeci Worm, Ruy Castro Monteiro da Silva Filho e Sandoval Inácio Carneiro Ensino Coordenador Paulo Andrade de Mello Membros Alexandre Varella Giannetti, Apio Cláudio Martins Antunes, Feres Eduardo Aparecido Chaddad Neto, Hélio Ferreira Lopes e Wen Hung Tzu Ética Coordenador Felix Hendrik Pahl Membros Asdrubal Falavigna e Denise Marques de Assis Exercício Profissional Coordenador Albert Vincent Berthier Brasil Membros Carlos Batista Alves de Souza Filho, Edson Lopes Júnior, Luiz Antonio Araujo Dias, Marcelo Luis Mudo e Sérgio Listik Fiscal Membros Valter da Costa, José Carlos Saleme, José Arnaldo Motta de Arruda, Cid Célio Jayme Carvalhaes e Jânio Nogueira Gerenciamento do Fundo Financeiro Coluna Endovascular Coordenador Leandro Jose Haas Secretário José Laércio Junior Silva Funcional Coordenador Sérgio Adrian Fernandes Dantas Secretário Walter José Fagundes Pereyra Jovem Neurocirurgião Coordenador Christian Diniz Ferreira Secretário Guilherme Brasileiro de Aguiar Nervos Periféricos Coordenador Francisco Flavio Leitão de Carvalho Filho Secretário Emerson Luis Campelo de Oliveira Neurointensivismo Coordenador Gustavo Cartaxo Patriota Secretário Leonardo Christian Welling www.doccontent.com.br [email protected] Trauma Publicidade e reimpressões Pediatria Título de Especialista Radiocirurgia Base de Crânio USA 4929 Corto Drive - Orlando - FL - 32837 1 (321) 746-4046 Coordenador Vladimir Arruda Zaccariotti Secretário Evandro César de Souza Coordenadora Ana Lucia Mello de Carvalho Secretário Leonardo Augusto Wendling Henriques Coordenador Artur Henrique Galvão Bruno da Cunha Secretária Márcia Cristina da Silva Departamentos SP Av. 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Publicação destinada à classe médica. 12 DEPARTAMENTOS 22 DICAS DE VIAGENS Em busca da integração do Departamento de Base de Crânio 14 CAPA: EVITAR ERROS MÉDICOS E PROCESSOS SÓ DEPENDE DE VOCÊ Estoril: naturalmente bela, vila sedia evento de Neurocirurgia SUMÁRIO 4 MENSAGEM DO PRESIDENTE 18 Brasil é país referência na Neurocirurgia mundial Dr. Modesto Cerioni Jr. 4 EDITORIAL Dr. José Marcus Rotta 5 PÁGINA DO RESIDENTE Cursos on-line: mais ferramentas para garantir a educação continuada 20 OPINIÃO Comissão de credenciamento HOMENAGEM Dr. Albert Loren Rhoton Jr., M.D.; Dr. Luiz Augusto Zanini; e Dr. José Luciano Gonçalves de Araújo 10 19 AGENDA DA DIRETORIA Compromissos da Diretoria entre janeiro e fevereiro de 2016 6 EM FOCO 21 PRÓDOC Os primeiros passos para um controle financeiro eficiente ENTREVISTA A íntima relação entre a Neurociência e a Neurocirurgia 23 13 ALÉM DA NEUROCIRURGIA Brisas poéticas na Neurocirurgia EVENTOS Confira os próximos encontros de Neurocirurgia MENSAGEM DO PRESIDENTE A SBN, além da formação e titulação dos neurocirurgiões, contará com uma centena de médicos prestando a prova de Título de Especialista, em abril, fazendo com que a Sociedade se preocupe com a natalidade desses profissionais e a oferta do mercado de trabalho. O número crescente de escolas médicas no país, o interesse dos estudantes pela Neurocirurgia e o incentivo governamental à geração de mais especialistas estimularão o aumento de serviços credenciados pelo MEC, lembrando que o MS também alardeia participar dessa prerrogativa, pressionado pela necessidade de estender a assistência neurocirúrgica para o interior – especialmente em relação ao neurotrauma –, compensando o acúmulo de especialistas nas capitais e cidades de maior porte. Com base nisso, por um lado, a SBN deve garantir a qualidade da formação desses futuros profissionais. Por outro, também tem que frear a expansão exagerada do número de neurocirurgiões, zelar pelo bom serviço de ensino e atuar para lhes assegurar condições adequadas de trabalho e remuneração. Outro ponto que acho relevante ressaltar aqui é o manual de procedimentos em cirurgia da coluna vertebral, baseado nos códigos da CBHPM. Ele foi apresentado ao CFM, que deve manifestar-se quanto a sua recomendação como balizador nacional. Contatos com as operadoras têm mostrado aceitação da codificação. O manual de procedimentos cirúrgicos no crânio e SNP está pronto para impressão. Além disso, há também uma forte ação da Diretoria da SBN junto às entidades médicas e aos parlamentares para que o texto do projeto de lei 2452/15, criado na CPI das órteses e próteses, que tramita pela Câmara dos Deputados em Brasília, seja modificado e desconsidere a penalização como crime hediondo. Finalmente, a lembrança de que pelo novo estatuto, os membros inadimplentes com a tesouraria perdem seus direitos de participar da vida associativa Divulgação Caros colegas, e das grades científicas dos congressos SBENF, em Natal, no mês de maio, e o CBN 2016 em setembro, ambos com inscrições abertas no site. Até lá! Dr. Modesto Cerioni Presidente da SBN EDITORIAL Divulgação capa, trazemos especialistas para falar a respeito da orientação jurídica sob a perspectiva do erro médico. Caros colegas, Para esta primeira edição do ano da revista SBN Hoje, reunimos temas atuais para os neurocirurgiões da nossa sociedade. Na matéria de SBN Hoje 4 Na seção Homenagem, trazemos grandes nomes da Neurocirurgia que nos deixaram este ano. Em Departamentos, o Dr. Jorge Luiz fala sobre os desafios de integrar o Departamento de Base de Crânio à nossa sociedade em geral, durante sua gestão como secretário e, atualmente, como coordenador da seção. No Em foco, prestigiamos o Dr. Hildo Azevedo, primeiro brasileiro e latino-americano a chegar ao importante cargo de vice-presidente da Federação Mundial de Neurocirurgia, destacando o Brasil no cenário mundial da Neurocirurgia. Para a seção Entrevista especial, conversamos com o Dr. Nicolelis, considerado um dos vinte maiores cientistas do planeta pela revista Scientific American, descrevendo a relação íntima entre a Neurociência e a Neurocirurgia. Para finalizar, em Dicas de Viagens, passeamos pela vila de Estoril, um bonito recanto português onde acontecerá o Congresso Internacional de Neurocirurgia, o Neuroiberia 2016. Um bom ano e um abraço a todos, Dr. José Marcus Rotta Editor AGENDA DA DIRETORIA Divulgação COMPROMISSOS DA DIRETORIA ENTRE JANEIRO, FEVEREIRO E MARÇO DE 2016 Congresso da Sociedade Latino-Americana de Neuro-Oncologia No dia 25 de março de 2016, durante o Congresso da Sociedade Latino-Americana de Neuro-Oncologia, o Dr. José Marcus Rotta, diretor de Departamentos, Relações Internacionais e da revista SBN Hoje, foi premiado com o Raymond Sawaya Award, por suas significantes contribuições na área ao longo de sua carreira. Reunião da Câmara Técnica de Neurologia e Neurocirurgia Sede do CFM - 19/01/2016 Dr. José Carlos Esteves Veiga Pré-lançamento de Campanha Nacional com o Objetivo de Promover a Segurança do Paciente Sede da AMB - 19/01/2016 Dr. Guilherme Brasileiro de Aguiar 1ª Reunião da Comissão de Proteção e Segurança do Paciente Sede da AMB - 19/01/2016 Dr. Guilherme Brasileiro de Aguiar Reunião para Codificação dos Procedimentos em Neurocirurgia Craniana e Nervos Periféricos João Pessoa (PB) - 29/01/2016 - 30/01/2016 Dr. Modesto Cerioni Jr., Dr. Ronald Lucena, Dr. Wuilker Knoner Campos, Dr. Gustavo Patriota, Dr. Sergio Adrian Dantas, Dr. Claudio Vidal, Dr. Valdir Delmiro e Dr. Christian Diniz Convite para Solenidade de Posse da Nova Diretoria da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor - SBED São Paulo - 30/01/2016 Dr. Clemente Augusto de Brito Pereira Reunião no CFM - Codificação e 2ª Opinião Brasília (DF) - 04/02/2016 Dr. Modesto Cerioni Jr. e Dr. Ronald Lucena Reunião do Conselho Científico da AMB São Paulo - 16/02/2016 Dr. Guilherme Brasileiro de Aguiar Reunião do Conselho Deliberativo da AMB Vitória (ES) - 26/02/2016 Dr. José Carlos Saleme VII Encontro dos Discípulos da Divisão de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto Ribeirão Preto (SP) - 26/02/2016 - 27/02/2016 Dr. Modesto Cerioni Jr. Fórum de Defesa Profissional São Paulo (SP) - 02/03/2016 Diretoria da SBN 16º Congresso Brasileiro de Cirurgia Espinhal São Paulo (SP) - 03/03/2016 - 04/03/2016 Diretoria da SBN Frente Parlamentar por uma Medicina de Qualidade Sede da APM - 03/03/2016 Dr. Sergio Tadeu Fernandes Reunião da Câmara Técnica de Neurologia e Neurocirurgia Sede do CFM - 10/03/2016 Dr. José Carlos Esteves Veiga Reunião do Conselho Científico da AMB Sede da AMB - 15/03/2016 Drs. Modesto Cerioni Junior e Guilherme Brasileiro de Aguiar Comissão de Assuntos Políticos no CFM - 2ª Opinião Sede do CFM - 18/02/2016 Dr. Modesto Cerioni Jr. Reunião Referente à OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais) Ministério da Saúde - 22/03/2016 Drs. Modesto Cerioni Jr e José Carlos E. Veiga Reunião com as Entidades Médicas do Estado de São Paulo Defesa Profissional da APM Sede do SIMESP - 22/02/2016 Dr. Sergio Listik Inauguração da Área Física da Divisão de Ensino e Pesquisa do Hospital Militar de Área de São Paulo São Paulo (SP) - 22/03/2016 Drs. Ítalo Suriano e Feres Chaddad Neto Reunião com a Diretoria da AMB - Câmara Técnica de Implantes e Defesa Profissional Sede da AMB - 23/02/2016 Dr. Ricardo Vieira Botelho e Dr. Osmar Moraes SNOLA 2016 Rio de Janeiro (RJ) - 24/03/2016 – 26/03/2016 Dr. Modesto Cerioni Jr. SBN Hoje 5 HOMENAGEM DR. ALBERT LOREN RHOTON JR., M.D. 21/02/2016 Dr. Albert Loren Rhoton Jr. faleceu na noite de 21 de fevereiro de 2016, em casa, na cidade de Gainesville, Flórida (EUA), aos 83 anos, após uma longa batalha contra um câncer de próstata. O jovem Albert aprendera a ler e a escrever com a própria mãe em uma pequena escola de duas salas, na cidade natal, Parvin, estado de Kentucky. Iniciou sua vida acadêmica universitária estudando Serviço Social, mas, após um curso de Psicologia Fisiológica, percebeu que tinha curiosidade e vocação para desvendar os mistérios do cérebro, o que o fez cursar Medicina. Formou-se médico com louvor na turma de 1959 da Universidade de Washington, Saint Louis, Missouri, onde também concluiu a residência médica em Neurocirurgia. Tornou-se médico assistente da Mayo Clinic em Rochester, Minnesota, em 1965. Em 1972, tornou-se chairman do pequeno Departamento de Neurocirurgia da Universidade da Flórida, que contava com apenas dois neurocirurgiões. Apesar de ser, então, o mais novo chairman de um Departamento de Neurocirurgia nos Estados Unidos, seu incansável trabalho, ao longo de 27 anos nessa posição, transformou não só o Departamento, mas a Neurocirurgia mundial, disseminando, também, o nome da Universidade da Flórida e da cidade de Gainesville pelo globo. Até 2012, mais de mil residentes e fellows de todo o mundo tiveram o privilégio de estudar e se aperfeiçoar sob sua orientação. Mundialmente conhecido por seus trabalhos em Neuroanatomia Microcirúrgica, teve quase 500 artigos científicos publicados, além de três livros, entre eles Cranial Anatomy and Surgical Approaches, que já foi traduzido para outros idiomas, inclusive para o português. Foi presidente de várias sociedades e associações de neurocirurgiões, além de ocupar diversos cargos eméritos. SBN Hoje 6 Divulgação 18/11/1932 Como parte de sua meta de permitir que o trabalho desenvolvido em seu laboratório ajudasse alguém a cada segundo todos os dias em algum lugar do mundo, também proferiu centenas de palestras nos Estados Unidos e nos cinco continentes. As palestras e todos os slides de anatomia produzidos pelos fellows do laboratório ao longo de 40 anos estão sendo organizados; parte desse acervo já está disponível de forma gratuita para os interessados no site da American Association of Neurological Surgeons (AANS). Sua ligação com o Brasil. Como tudo começou? Na década de 70, os trabalhos de anatomia com as figuras em preto e branco provenientes do laboratório do Dr. Rhoton fascinaram um jovem neurocirurgião de Florianópolis, Evandro de Oliveira. Após uma visita ao serviço do Prof. Yasargil em Zurique para observar as técnicas cirúrgicas realizadas com o uso de microscópio, Dr. Evandro concluiu que necessitaria aperfeiçoar seu conhecimento microanatômico para poder aplicá-las com sucesso. Em 1977, Dr. Evandro fez contato com Dr. Rhoton durante o coquetel de abertura do Congresso Mundial de Neurocirurgia em São Paulo e pôde visitar o laboratório em Gainesville já no final do mesmo ano, onde passou um mês e meio como observador. Durante sua estada, Dr. Evandro acompanhou as atividades de um fellow inglês, David Hardy, o que o estimulou a seguir esse caminho. Em setembro de 1978, durante o congresso da Sociedade Sul Brasileira de Neurologia e Neurocirurgia em Florianópolis, Dr. Evandro foi responsável por acompanhar Dr. Rhoton. Ao final do evento, muito agradecido, Dr. Rhoton perguntou a Evandro como poderia retribuir a atenção. “Eu quero ser seu fellow” respondeu prontamente, o que foi aceito pelo Dr. Rhoton. Foram aproximadamente três anos até que Evandro e sua família estivessem prontos para viajar para Gainesville. Um mês antes da viagem, em junho de 1981, Dr. Evandro recebeu carta de Dr. Rhoton dizendo que não fosse para Gainesville. O obstinado Evandro de Oliveira foi mesmo assim com toda a família em julho de 1981. Dr. Rhoton ficou surpreso ao encontrar Evandro na porta de sua sala: “Eu não lhe enviei uma carta dizendo para não vir? Não temos vaga para você! O laboratório é pequeno!”. “O senhor me prometeu, a culpa não é minha, é sua! Vou sentar aqui nesta cadeira em frente à sua porta é só saio quando o senhor me arrumar a vaga de fellow” respondeu Dr. Evandro. Após minutos de espanto e hesitação, Dr. Rhoton cedeu e aceitou Evandro como fellow. Os fellows subsequentes e a Neurocirurgia brasileira agradecem a persistência e a obstinação do Dr. Evandro de Oliveira por ter aberto as portas e ter deixado uma excelente impressão de seu trabalho. Até o presente momento, 15 fellows do Brasil passaram pelo laboratório de Neuroanatomia Microcirúrgica em Gainesville em busca de conhecimentos. Até o final de sua vida, Dr. Rhoton manteve uma ligação profissional e afetiva muito forte com a neurocirurgia brasileira. O legado do cativante Dr. Rhoton Dr. Rhoton era um homem extremamente religioso, bondoso e educado, um verdadeiro gentleman. Mas o que ele tinha de especial para que seus fellows, residentes e pacientes o admirassem tanto? - Não era um homem de fazer críticas públicas. Se tivesse que criticar o trabalho de algum fellow, por exemplo, ele o faria de seguinte maneira: “You know, you are doing a wonderful job, but maybe you would like to do it in a different way and see what happens next”; - Sempre usava palavras de incentivo, elogiava e agradecia os que trabalhavam diretamente com ele ou na Universidade da Florida, desde a faxineira até o diretor da Faculdade de Medicina, seus pacientes, seus familiares e potenciais doadores. - Era um homem trabalhador. Durante o fellowship do Dr. Wen, ele e seus colegas trabalhavam todos os dias da semana, inclusive aos sábados e domingos, afinal tinham que seguir o exemplo do chefe. Naquela época, Dr. Rhoton pedia que sua secretária imprimisse todos os manuscritos, que ele corrigia à mão e que carregava consigo, mesmo em viagens ao exterior. - O lado humano do Dr. Rhoton. Segundo ele, competência e compaixão são duas características que médicos devem apresentar. Mas compaixão, generosidade e bondade são virtudes que marcaram sua vida, como comprovam mensagens à família publicadas por colegas, ex-residentes e fellows, pacientes e até mesmo funcionários de lojas que frequentava, sempre exaltando e enaltecendo o gentleman por trás desse grande profissional. Dr. Rhoton trabalhou no laboratório até nove dias antes de sua morte. Já internado, suas últimas palavras dirigidas aos fellows de seu laboratório foram: “Vocês são a razão de eu acordar todas as manhãs e ir ao trabalho; sou muito orgulhoso de vocês e de tudo aquilo que vocês realizaram e realizarão em suas vidas e carreiras. Continuem trabalhando duro”. Sim, professor Rhoton, até a gente se reencontrar, nós vamos trabalhar duro. Por Dr.Wen Hung Tzu; Dr. Evandro de Oliveira; e Dr. Alberto Carlos Capel Cardoso Lista de fellows brasileiros do Dr. Rhoton: Evandro Pinto da Luz Oliveira (1981 - 1982); Helder Tedeschi (1990 - 1992); Wen Hung Tzu (set/1993 - fev/1996); Alberto Carlos Capel Cardoso (jan/1996 - jan/1998); Antônio César Melo Mussi (abr/1998 - mai/2000); Carolina Martins (mar/2001 - mar/2003); Alexandre Yasud (out/2002 - dez/2003); Divulgação Adriano Garcia-Scaff (ago - dez/2003); Luis Felipe Alencastro (jan - mar/2008); Eduardo Santamaria Carvalhal Ribas (jun/2012 - jun/2013); Thomas Frigeri (jun/2012 - dez/2013); Leila Maria da Róz (jul/2012 - jul/2013); Feres Chaddad Neto (jan - fev/2013); Alguns dos ex-fellows que estiveram presentes no funeral “Celebration of the incredible life of Dr. Rhoton” (os brasileiros, da esquerda para direita: Carolina Martins, Thomas Frigeri, Vanessa Holanda, Evandro de Oliveira, Alexandre Yasuda, Wen Hung Tzu e Alberto Capel Cardoso) Vanessa Holanda (out/2015 - mar/2016). SBN Hoje 7 HOMENAGEM LUIZ AUGUSTO ZANINI O que faz um neurocirurgião diante de um diagnóstico de glioblastoma multiforme (GBM) “de novo”, com invasão do corpo caloso e marcadores moleculares mostrando ser de pior prognóstico? Ele sabe o que deve ser feito e também sabe do prognóstico. Tratar pacientes com GBM faz parte de seu treinamento e de seu trabalho. Mas, se esta é a causa daquela alteração visual de que o neurocirurgião vinha se queixando há pouquíssimo tempo e esse é o seu diagnóstico? De repente, de médico passou a ser paciente, com uma das mais terríveis doenças que sempre tratou. Como profissional da área, sabe o que deve ser feito, como cirurgia, radioterapia e quimioterapia, mas sabe também que será por tempo limitado. Estava diante da situação em que sempre esteve do outro lado salvando e ajudando inúmeros pacientes com sua eterna determinação, conhecimento e amor. Meu irmão, o neurocirurgião Luiz Augusto Zanini soube o que fazer. Lutou pela sua vida como sempre lutou pela vida de seus pacientes, até o último suspiro. Com a mesma dedicação, esforço, determinação, sem jamais se entregar, e acreditando no ofício que sempre exerceu, mesmo sabendo qual seria o desfecho. A primeira frase que disse logo após saber foi: “Não fiquem tristes, já vivi mais de 100 anos nestes meus 60 anos de vida”. Mas, ele queria viver mais 100. Além de sua paixão e dedicação pela Neurologia e Neurocirurgia, viveu intensamente inúmeras outras. Era bom de bola, pescador, médico de futebol amador, jipeiro, violeiro, cantador, declamador, poeta e bonitão. Natural de Ipuã, cidadezinha que fica na região de Barretos, formou-se SBN Hoje 8 Divulgação 07/10/1954 12/03/2016 na 10a turma da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP-, onde também fez residência em Neurocirurgia. Em Botucatu, sempre foi conhecido como Baby, pela precocidade nos seus estudos. Foi para Assis-SP, em 1982, para trabalhar na Santa Casa local, e durante 17 anos foi o único neurocirurgião da cidade. Era um médico muito querido e respeitado na região. Em 2008, por exemplo, ele foi referenciado como “um campeão de elogios” pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, por sua atuação no Hospital Regional de Assis. Ele foi homenageado pela Secretaria da Saúde, pelos elogios nominais, feitos por pacientes e familiares e encaminhados à ouvidoria. Foi o maior número de elogios formais a um único médico recebido entre os cerca de 40 hospitais e ambulatórios de administração direta da Secretaria em todo o Estado. Na sua cidade natal sempre foi um exemplo e inspiração para muitos amigos de infância que se espelharam e pautaram suas vidas na figura humana e exemplar. Na sua família, foi o carro-chefe e exemplo que todos seus irmãos seguiram nos estudos e vida profissional. Com seu exemplo, mais três irmãos tornaram-se médicos e dois dentistas. Ele foi o motivo de hoje eu ser neurocirurgião com orgulho. Bom filho, bom pai e apaixonado pela esposa Suely e seus três filhos: Vitor, advogado, Lucas, que segue seu mesmo ofício, médico e Allan, agrônomo. Luiz Augusto Zanini, ou simplesmente Luiz na sua cidadezinha natal, ou Baby como era conhecido em Botucatu, ou Dr. Zanini na cidade de Assis que acolheu e foi acolhido. Faleceu no dia 12 de março de 2016, no Hospital e Maternidade de Assis, aos Post-scriptum: Minha primeira cirurgia Ano de 1981, eu tinha 18 anos e cursava o segundo ano de graduação e nunca tinha assistido uma cirurgia na minha vida. Fui visitar meu irmão Luiz (Baby) que me convidou para assistir minha primeira cirurgia da vida. Nunca tinha entrado num centro cirúrgico. Tudo mágico, fascinante, muito complicado e até misterioso. O que assisti e com quem? Meu irmão Baby, como R4 e o meu amigo e colega Tadeu como R2 fazendo uma DVP em uma criança com hidrocefalia. A vida é assim, aquela DVP, como tantas outras, nunca me foi esquecida. Tiveram uma enorme importância para aquela criança, que estava sendo operada e também para aquela outra criança, que estava assistindo. Devem estar operando juntos novamente por aí. 61 anos, após grande e boa batalha contra um glioblastoma multiforme desde novembro de 2014. Por Dr. Marco Antônio Zanini DR. JOSÉ LUCIANO GONÇALVES DE ARAÚJO Em 1983, eu estava no terceiro ano de Medicina. Depois de assistir uma aula na disciplina de Clínica Cirúrgica II, incentivado pelo entusiasmo e pela didática do professor, fui assistir uma cirurgia de hidrocefalia. A técnica elegante do cirurgião, a limpeza do campo operatório e seus movimentos precisos, despertaram meu interesse por essa especialidade que eu jamais havia pensado em exercer. Assim como eu, toda uma nova geração de neurocirurgiões do Rio Grande do Norte teve como inspiração inicial o Professor José Luciano Gonçalves de Araújo. Em 1971, Luciano Araújo concluiu o curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Enquanto estudante, foi monitor de Anatomia e produziu inúmeras peças anatômicas de qualidade e beleza reservadas apenas àqueles com grande habilidade cirúrgica. Nesse período, foi oficial do Exército Brasileiro, posição que sempre exibiu com orgulho e sem ambiguidade, mesmo que tenha sido em uma época difícil da nossa história política. Em 1972, ingressou na Residência de Neurocirurgia do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, sob a orientação do Professor José Ribe Portugal. De volta ao Rio Grande do Norte em 1975, estabeleceu uma parceria sólida e duradoura com o pioneiro Luiz Gonzaga Bulhões, seu grande incentivador, dando início à era moderna da Neurocirurgia no estado. Passaram a resolver localmente casos neurocirúrgicos complexos como cirurgia de tumores cerebrais, aneurisma etc. No ano seguinte, ingressou como professor da Faculdade de Medicina da UFRN, atividade à qual se dedicou com paixão por quatro décadas, sendo interrompida apenas pela aposentadoria compulsória, aos 70 anos. Divulgação 08/10/1944 29/02/2016 Sempre muito interessado pela Neurotraumatologia em razão da sua atividade como plantonista da urgência, contribuiu decisivamente para desenvolver a disciplina no nosso estado como diretor do Hospital Walfredo Gurgel por três governos sucessivos, a partir de 1992, e iniciando seu processo de ampliação. Em uma época de turbulência política e muitas greves, o diretor do hospital de urgência agiu com firmeza e muita coragem garantindo o sucesso da sua administração, que ficou para a história como uma das mais eficientes. Em 1999, ele fundou a Sociedade de Neurocirurgia do Rio Grande do Norte, ao lado do Dr. Luiz Gonzaga Bulhões, Afrânio Cassimiro, Mário Jamal, Eduardo Ernesto, Marcio Ramalho, Hebert Dore, Zeigler Fernandes e Fernando Cunha. Nesse mesmo ano, como presidente da Sociedade Nordestina de Neurocirurgia, que ajudou a fundar em 1984, organizou seu oitavo Congresso. Solidário e aberto a novos conhecimentos, apoiou e ajudou a implantar o serviço de Neurocirurgia Endovascular de Natal, um dos primeiros centros a oferecer essa nova técnica pelo Sistema Único de Saúde, ao lado de Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza. Com a generosidade de dedicar seu tempo à organização de eventos científicos, trouxe ainda, para a nossa cidade, o Curso Latino-Americano de Neurocirurgia Pediátrica em 2007, o 2º Simpósio Internacional de Neurotraumatologia da SBN e, em 2011, o 14º Congresso da Academia Brasileira de Neurocirurgia, que contou com 42 convidados estrangeiros. Ainda, Luciano Araújo foi presidente da Academia Brasileira de Neurocirurgia no biênio de 2009 a 2011. Em 2008, foi criada a Clineuro, uma sociedade entre colegas com o objetivo de ampliar o mercado de trabalho e melhorar o nosso nível salarial. Esse movimento foi bravamente liderado pelo Prof. Luciano Araújo, enfrentando enormes pressões e ameaças. Depois de muitas batalhas, inclusive jurídicas, o resultado final foi uma melhora significativa da remuneração de todos os jovens neurocirurgiões do estado, incluindo Natal e Mossoró. O plantão de neurocirurgia aqui no estado passou a ser o mais bem remunerado de todo o país. Nos últimos dois anos, essas conquistas estão sendo ameaçadas por atitudes oportunistas de outas equipes de qualquer parte do Brasil. Neste momento difícil para a comunidade neurocirúrgica do Rio Grande do Norte, Luciano Araújo e sua forte liderança nos deixou órfãos. Ele partiu na manhã da segunda feira, 29 de fevereiro de 2016 depois de travar uma batalha de 18 meses contra um câncer. Ficará na lembrança e no coração dos inúmeros pacientes que ajudou a viver ou a aliviar o sofrimento, dos seus colegas que o admiraram, dos seus amigos, da sua família, em especial da sua esposa Maria das Graças, dos seus filhos Mauro e Cristiana que o amaram muito e dos seus netos Valentina e Lucca, a quem teve a imensa alegria de conhecer. Por Dr. Eduardo Ernesto Pelinca da Costa SBN Hoje 9 ENTREVISTA A ÍNTIMA RELAÇÃO ENTRE A NEUROCIÊNCIA E A NEUROCIRURGIA A Neurociência gera à Neurocirurgia um entendimento mais detalhado e global do cérebro, de como ele funciona e como os processos neurofisiológicos se dão. Nesse contexto, cientistas brasileiros contribuem – e muito – para a consolidação dessa área Por Carol Herling S e a Neurociência brasileira é, hoje, reconhecida internacionalmente, grande parte se deve aos trabalhos e estudos do Dr. Miguel Nicolelis. Graças aos trabalhos desenvolvidos junto à Duke University, nos Estados Unidos, e no Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra, em Natal (RN), muito se sabe sobre a fisiologia de órgãos e sistemas e, também, sobre as interfaces cérebro-máquina. Considerado um dos 20 maiores cientistas do planeta no começo da década passada pela revista Scientific SBN Hoje 10 American, o Dr. Nicolelis falou com exclusividade à SBN Hoje. Confira o que ele contou sobre as descobertas neste campo, as novas possibilidades de tratamento para o Parkinson e sobre a Neurociência brasileira. SBN Hoje: Como a Neurociência contribui para a área de Neurocirurgia? Miguel Nicolelis: Trata-se de uma relação que está ficando cada vez mais íntima. Com isso, ela oferece a oportunidade para entendermos melhor como é o processo e quando esses processos fisiológicos sofrem algum dano e geram estados patológicos do sistema nervoso. Mais recentemente, com a área da Neuroengenharia, que é uma área muito recente (não tem mais do que duas décadas), ela passou a gerar potenciais alternativas de terapias, que vão ser implementadas em um futuro muito próximo na Neurocirurgia e as novas gerações vão trabalhar intimamente com essa tecnologia. SBN Hoje: Quais os aspectos mais importantes que a Neurociência tem tratado atualmente? SBN Hoje: Quais os avanços já obtidos em relação ao estudo sobre o Parkinson? MN: Nós publicamos um trabalho em 2009, na Scientific, com roedores e, no final de 2014, tivemos outro publicado pelo nosso grupo em Natal Divulgação MN: Nesses últimos anos, a área que trata dos circuitos neurais tem se transformado no carro-chefe da Neurociência moderna. Então, a ênfase em entender como populações de neurônios interagem e como essa ideologia de circuitos pode nos ajudar a criar novas terapias para doenças neurológicas têm sido o foco central nos últimos anos. SBN Hoje: Quais descobertas atuais trouxeram vantagens à sociedade como um todo? MN: Estamos em uma nova era de potenciais terapias para a Neurologia e também na Neurocirurgia. Com o advento de novos implantes e novas cenas de estimulação elétrica do sistema nervoso, estamos descobrindo a possibilidade de interferir nos sintomas de doenças como o Parkinson e a epilepsia. E agora, no nosso caso em particular, com as interfaces cérebro-máquina, há a possibilidade de restaurar funções neurológicas em pacientes com várias lesões ou outros distúrbios motores neurológicos. SBN Hoje: Em nível internacional, quais são as pesquisas de que você participou nos últimos anos e de quais tem participado atualmente? MN: Trabalho na Duke University há 24 anos, e nosso laboratório tem basicamente se envolvido em vários projetos internacionais. Recentemente, colaboramos com colegas de 25 países no projeto Andar de Novo, que resultou não só na demonstração feita na Copa em 2014, mas também em trabalhos submetidos para a publicação na qual mostramos que o uso crônico das interfaces cérebro-máquina por pacientes com lesão medular leva a uma recuperação parcial. Também estamos envolvidos no estudo da nova terapia da doença de Parkinson, que nós introduzimos há alguns anos. Agora, tenho trabalhado com uma série de laboratórios americanos em um novo projeto que estuda se a epilepsia está relacionada com alguns dos sintomas característicos de autismo. (RN) em macacos e saguis, mostrando o mesmo efeito – que a estimulação elétrica da medula espinhal produzia um alívio significativo dos sintomas cardinais e basicamente, do que eles chamam de freezing da locomoção, que é típico de alguns casos de Parkinson. Desde então, em paralelo, grupos de todo mundo têm testado a técnica. Existem mais ou menos 50 casos ao redor do mundo, nos quais a nossa técnica foi utilizada e funcionou. Queremos agora ampliar esses estudos clínicos para categoricamente testar a efetividade da técnica. Ela é menos invasiva que outras técnicas cirúrgicas (como a estimulação profunda), feita em um período muito curto de cirurgia, com riscos colaterais muito pequenos e muito mais acessível em termos de custo. Acreditamos que ela possa se tornar uma opção viável clinicamente nos próximos anos. SBN Hoje: E aqui no Brasil, quais foram os avanços? Os circuitos neurais têm se transformado no carro-chefe da Neurociência moderna. Entender como populações de neurônios interagem e como essa ideologia de circuitos pode nos ajudar a criar novas terapias” Dr. Miguel Nicolelis MN: No Brasil, temos os projetos do Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (em Natal/RN) e a continuidade do projeto Andar de Novo, com um laboratório em São Paulo. Nós estamos ampliando o número de pacientes do Andar de Novo e continuamos trabalhando com o nosso protocolo de reabilitação. Também estamos comunicando agora, pela primeira vez nessa área que, ao longo dos dois anos que nossos pacientes interagiram com o nosso exoesqueleto e com os outros componentes do protocolo de treinamento, nós começamos a observar que eles começaram a recuperar controles voluntários motores de músculos ópticos da visão medular, e também recuperaram sensibilidades táteis e viscerais abaixo da lesão. O protocolo nos trouxe resultados não esperados, totalmente novos na área, mostrando a eficiência do uso da interface cérebro-máquina com os pacientes. SBN Hoje 11 DEPARTAMENTOS EM BUSCA DA INTEGRAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE BASE DE CRÂNIO “ Chegando ao final de sua gestão, coordenador faz um balanço do seu período no cargo e aponta os desafios que serão enfrentados por seu sucessor Por Carol Herling I SBN Hoje 12 Para mudar essa realidade, o Dr. Jorge estabeleceu como objetivo principal do departamento cooptar os associados, principalmente para a área mais básica da cirurgia de base de crânio, para que os profissionais interessados possam dispor desse precioso tempo de formação. Pode parecer simples, mas ele esbarrou na necessidade de mudar a cultura do departamento, que entendia a participação nos eventos da SBN como única prioridade. “Agora, trabalhamos ‘de uma forma maior’, coletando os dados dos principais neurocirurgiões que atuam na base de crânio”, diz. Esse cadastro, segundo o Dr. Jorge, será fundamental para estimular as atividades. “Durante anos fomos um departamento muito fechado. Queremos trazer o neurocirurgião geral para as áreas que são mais básicas, e assim desenvolver as áreas avançadas, que sempre foram o nosso foco”, conta. Fazendo uma análise do período frente à Coordenação, o Dr. Jorge Luiz considera a sua atuação um “Pontapé para as próximas gestões”, já que teve que partir “do zero” para engajar os associados. “Queremos criar um espaço para a discussão de casos clínicos via departamento. Para isso, precisamos ter acesso aos casos de profissionais de todo o país, para então compartilhar o conhecimento e promover os debates”, esclarece. Outra frente de trabalho, que também deverá ser continuada pelas próximas gestões, é a difusão da Microneuroanatomia em cursos básicos e a realização de eventos paralelos. “Temos cursos básicos e avançados, que podem ser aproveitados por todos. É importante a realização de eventos paralelos além do Congresso, como o que fizemos no Rio de Janeiro em 2015”, afirma. “É preciso dispor de um tempo pós-formação para desenvolver as cirurgias complexas de base de crânio. Não dá para sair direto da residência e atuar nesse campo. Por isso, o nosso objetivo principal é trazer as pessoas do geral, e deixar o desenvolvimento da área avançar. Assim, todos poderão dispor desse tempo de formação” Dr. Jorge Luiz Amorim Corrêa Divulgação nfluenciado pelo Dr. José Alberto Landeiro – com quem começou a trabalhar com a base de crânio em um laboratório de microcirurgia do Hospital da Força Aérea do Galeão (HFAG) –, o Dr. Jorge Luiz Amorim Corrêa associou-se à SBN em 2003. Ao ingressar no Departamento Base de Crânio, foi eleito secretário. Hoje, como atual coordenador, encarou a difícil missão de aproximar o Departamento dos membros da Sociedade. Para ter sucesso na empreitada, o Dr. Jorge Luiz entendeu rapidamente que, para ser bem-sucedido, precisaria reestruturar a dinâmica do departamento. O primeiro passo: fazer um cadastro próprio, a exemplo de outros departamentos, como o de Coluna. “Para se ter uma noção, não havia cadastro de informática. Então, comecei um cadastro paralelo, em que eu mesmo buscava as pessoas dentro da SBN. Parece complicado, mas é recompensador”, afirma. Conforme avançava na missão, ele também sentiu que precisava chamar o neurocirurgião geral para a base de crânio “mais pesada”, como costuma dizer. “Há uma distância muito grande entre a atuação do dia a dia e a cirurgia mais complexa de base de crânio. Essa distância é o tempo de formação”, explica. Para o neurocirurgião que está na prática geral, segundo o Dr. Jorge Luiz, não há uma remuneração diferenciada, nem muitos benefícios. “Você fica 12, 13 horas em uma cirurgia para ganhar igual a quem opera um tumor cerebral de 2 horas. Então, é preciso ter tempo de formação longo, e investir nela – que não é feita de graça”, explica. ALÉM DA NEUROCIRURGIA BRISAS POÉTICAS NA NEUROCIRURGIA Neurocirurgião, o Dr. Fernando Guedes resgata seu espírito de poeta e lança o livro Se o vento diz Por Bruno Bernardino M que preenchem o livro, lançado no dia 18 de novembro de 2015, pela editora Imprimatur. O livro de poesias Se o vento diz gira em torno de quatro pilares principais: o relacionamento pessoal, o tempo, o sagrado e a solidão. Os poemas se desenrolam ao longo das páginas, envolvendo o leitor e fazendo-o se questionar sobre diferentes aspectos da vida – e não seria esse o papel da poesia? Dr. Guedes tem um estilo bem definido, como se não houvesse parado de escrever em momento algum ao longo de sua vida. O poeta dentro de si nunca morreu, apenas esperava para ser liberto. O neurocirurgião diz que, agora, jamais irá parar, mantendo a escrita como um fator importante para sua sanidade. “Após o lançamento do livro, uma aluna me informou que ela e outros estudantes realizariam um sarau literário, com a participação de diferentes residentes lendo seus poemas e que eu seria a figura principal do evento. Ela me contou que a publicação do meu livro foi o estopim para a ideia do evento, o que me deixou muito feliz”, admira-se o Dr. Guedes, orgulhoso. “Achei isso espetacular, até porque, acredito que há uma enorme necessidade da poesia no mundo de hoje, principalmente para os médicos. Nós temos uma formação muito técnica e vivemos a Medicina quase 24h por dia. A poesia é, portanto, crucial, e uma forma de quebrar um pouco isso, humanizando-nos”. Francisco José Junior embro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), chefe da Divisão de Neurocirurgia do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle e professor de Neurocirurgia e Anatomia Humana da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o Dr. José Fernando Guedes é (e sempre foi) um poeta. Isso porque, ainda muito jovem, ele colecionava diversos cadernos onde escrevia suas poesias e participava de todos os concursos de redação que podia, ainda na época do colégio. Mais tarde, já adolescente, o Dr. Guedes participou de uma banda de rock com colegas da escola, quando teve oportunidade de musicar seus versos. Desses tempos, ele se lembra com carinho dos festivais de música dos quais participou com a banda. Foram os tempos de juventude que lhe “parecem pequenos pássaros/Abatidos um a um”, como escreve em A caçada. Depois disso, em 1974, aos 19 anos, o Dr. Guedes entrou para a faculdade de Medicina, já almejando a Neurocirurgia. Trancou dentro de si o poeta promissor, dedicando-se exclusivamente aos estudos e escrevendo apenas livros com a temática médica. Muitos anos se passaram até que a poesia soprasse novamente em seu coração, desejando ser ouvida e tomar forma no papel. Há cerca de três anos, em 2013, o neurocirurgião iniciou a escrita do livro Se o vento diz, aproveitando os raros tempos livres para isolar-se em sua casa ou em cafés, e escrever à mão as poesias Dr. José Fernando Guedes SERVIÇO: Se o vento diz Disponível on-line ou nas livrarias, por R$29. SBN Hoje 13 CAPA SBN Hoje 14 Evitar erros médicos E PROCESSOS SÓ DEPENDE DE VOCÊ Adotar uma postura de transparência com os pacientes é a melhor forma de evitar problemas Por Carol Herling L evante a mão quem nunca ouviu falar da expressão erro médico. Se você sente um arrepio na espinha só de pensar na situação, saiba que o medo não é infundado. Pelo contrário: quando há descuido, por mínimo que seja, a história pode acabar na Justiça. Para se ter uma ideia, entre 2010 e 2014, o número de processos movidos por erro médico que chegaram ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) cresceu 140%. Segundo o STJ, 260 médico” (com advogados de prontidão nos hospitais à caça de eventuais processos), cerca de 9,2% dos profissionais são processados por ano. No Brasil, esse número está em 6,9%. Segundo o neurocirurgião e advogado Cid Carvalhaes, a maioria é acionada em processos de natureza indenizatória, com pleitos que podem chegar a R$3,4 milhões (mas existe, no entanto, a proporcionalidade entre a indenização e o dano, e os valores pagos aos pacientes estão, de acordo O número excessivo de faculdades faz com que os médicos cheguem ao mercado com um curriculum mínimo. E isso é prejudicial aos pacientes” Dr. Roberto Gabarra Divulgação “ ações deram entrada em 2010; em 2014, esse número saltou para 626 processos. Nesses quatro anos, 625 médicos foram punidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) por agir com imprudência, imperícia ou negligência, ou seja, as práticas que caracterizam o erro médico. Ainda, outros 18 profissionais das mais diversas especialidades tiveram seus registros cassados. Nos Estados Unidos, onde existe uma verdadeira “indústria do erro SBN Hoje 15 CAPA com um levantamento feito pelo escritório Raul Canal Advogados, de Brasília, entre R$5 mil e R$1,8 milhões). Para o Dr. Carvalhaes, o grande volume de questionamentos é decorrente dos aspectos mais ou menos relevantes do exercício profissional. E a grande questão é o que pode ou não ser classificado como erro médico. “É preciso diferenciar imprudência de imperícia e de negligência. A imprudência ocorre quando o médico age contra o que a técnica determina, por estar despreparado para realizar um procedimento. Já a imperícia se dá quando o médico está perfeitamente preparado. E a negligência ocorre quando um médico simplesmente se omite”, afirma. Segundo o Dr. Carvalhaes, existem várias situações que não são propriamente erros, mas é importante estar atento para corrigir um eventual desvio de conduta assim que se der conta. “Se o médico percebe algo errado, ele tem que procurar reparar da forma mais ágil que puder. Ser plenamente claro com o paciente ou com seus representantes legais é sempre a melhor saída”, afirma. Só que alguns médicos também se perdem nesse momento e, ao prestarem informações a pessoas não habilitadas, infringem uma das regras mais preciosas do exercício da Medicina: o direito do paciente ao sigilo médico. “Existem muitos questionamentos e confrontos de falhas quando o médico presta informações a quem não devia”, explica. Por isso, o melhor é adotar uma estratégia de prevenção, atendendo e acolhendo o paciente com clareza e franqueza – e sem deixar de lado os princípios bioéticos. “O paciente deve ser informado de tudo: exames, diagnósticos e, também, das possibilidades de tratamento disponíveis. Também é preciso falar sobre eventuais complicações”, lista. Para o advogado e neurocirurgião Roberto Gabarra, um médico jamais pode afirmar algo que não sabe. “Já vi colegas serem condenados, sofrendo sérias sanções. Por isso, sempre digo que, na SBN Hoje 16 “Se o médico percebe algo errado, ele tem que procurar reparar da forma mais ágil que puder. Ser plenamente claro com o paciente ou com seus representantes legais é sempre a melhor saída” Dr. Cid Carvalhaes Divulgação dúvida, é sempre melhor indicar um profissional que realmente possa resolver o problema do paciente, ou um serviço que ofereça melhores condições”, defende. A relação entre os médicos e as operadoras de planos de saúde, segundo o Dr. Gabarra, também pode influenciar um erro médico. “Os pacientes e os médicos têm direitos na esfera do consumerismo, e nem sempre esses direitos são respeitados pelos planos de saúde”, aponta. Para o Dr. Gabarra, a atuação dos auditores também pode fazer a diferença – no mau sentido – na relação médico-paciente: priorizando a economia de custos para o plano, muitas vezes requisições de exames e procedimentos importantes não são autorizados. “Antes, a Medicina era uma carreira por vocação. Depois, começou a ser explorada pelos médicos e pelos planos. E, hoje, os planos exploram ao máximo”, lamenta. Além dos problemas na qualidade do serviço prestado – e, consequentemente, nas condições de trabalho oferecidas aos médicos-, a má formação dos novos profissionais também é motivo de Entendendo o e rro médico e lidando com as complicações Erro médico é o da no provocado no pa ciente pela ação ou ção do médico, no inaexercício da profiss ão , e sem a intençã cometê-lo. Há três o de possibilidades de suscitar o dano e çar o erro: imprud alcanência, imperícia e negligência. A negligência, cons iste em não fazer o que deveria ser a imprudência cons feito. Já iste em fazer o qu e não deveria ser a imperícia em fa feito. E zer mal o que deve ria ser bem-feito. A negligência ocor re quase sempre por omissão. É di ráter omissivo, en ta de caquanto a imprudên cia e a imperícia oc por comissão. orrem O mal provocado pelo médico no ex ercício da sua pr quando involuntár ofissão, io, é considerado culposo, já que nã intenção de comet o houve a ê-lo. Caso haja qu alquer complicaçã as previstas e as o – entre inesperadas –, o médico deve sem presente, com re pr e estar sponsabilidade, to lerância e paciênc agir como um cúm ia, para plice da situação. Fontes: Conselh o Federal de Me dicina e Dr. Cid Carvalhaes preocupação para o Dr. Gabarra. “O número excessivo de faculdades faz com que os médicos cheguem ao mercado com um curriculum mínimo. E isso é prejudicial aos pacientes”, diz. Por “curriculum mínimo”, entende-se que o médico termina a residência com um número pequeno de cirurgias realizadas e com pouca prática após passar por poucos preceptores – o mínimo, segundo o Dr. Gabarra, são cinco. Ele também entende que faltam locais que absorvam os novos médicos para a residência. “Com a crise, houve uma queda no número de hospitais, clínicas e cirurgias realizadas. E os hospitais credenciados muitas vezes não têm condições de oferecer programas de residência, e isso faz com que o serviço decaia bastante”, comenta. Apesar de bem realista quanto às perspectivas da área médica quando os erros estão em pauta, ele acredita que evitar problemas é bem simples. “Toda profissão que lida com pessoas requer bom senso e ética. E, para chegarmos a um bom nível, é necessário investir no bom relacionamento entre o médico e o paciente, sem esconder, mentir ou forjar situações”, conclui. SBN Hoje 17 EM FOCO BRASIL É PAÍS REFERÊNCIA “ NA NEUROCIRURGIA MUNDIAL Como primeiro brasileiro e latino-americano vice-presidente da Federação Mundial de Neurocirurgia, Dr. Hildo Rocha Cirne de Azevedo traz destaque para o Brasil na área Por Bruno Bernardino C O trabalho na WFNS Como vice-presidente da federação, o médico trabalha incansavelmente para formar cada vez mais neurocirurgiões, com foco nos que vêm de países com extrema defasagem na área, como SBN Hoje 18 nações da África – onde 12 países não possuem um especialista na área. “No Congo, por exemplo, são 70 milhões de habitantes para quatro neurocirurgiões. Eu digo sempre que nós brasileiros temos uma dívida crônica a ‘pagar’ aos africanos, que vieram para o nosso país nas condições mais humilhantes possíveis e ajudaram-nos a construir a nossa nação”, enfatiza. “Dessa maneira, eu tento ajudar esses povos, ao formar jovens neurocirurgiões que, após o período de treinamento sob minha supervisão, atuarão em seus países de origem”. Dr. Hildo Azevedo Divulgação hefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital da Restauração, em Pernambuco, e professor titular da área na Universidade de Pernambuco (UPE), o Dr. Hildo Rocha Cirne de Azevedo é o primeiro brasileiro e latino-americano a receber o prestigioso título de vice-presidente da Word Federation of Neurosurgical Societies (WFNS) ou Federação Mundial de Neurocirurgia, em português – cargo que ocupa até 2017. Anteriormente, entre 2009 e 2013, foi também o primeiro brasileiro a assumir a Secretaria Geral da instituição. O neurocirurgião tem como cerne de sua profissão a transmissão de seus conhecimentos. Após seus anos de doutorado no Reino Unido, ele retornou a sua terra natal, Recife, com a intenção de transformar a cidade e o Hospital da Restauração em grandes centros de treinamento, referências na Neurocirurgia brasileira. O trabalho começou após o 14th Interim Meeting of the World Federation of Neurosurgical Societies, realizado junto ao XV Congresso de Atualização da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia. Na ocasião, em 2011, mais de 80 países, representados pelos 1.100 neurocirurgiões presentes, assistiram à assinatura e oficialização do convênio entre o governo de Pernambuco e a WFNS. Isso tornou o Hospital da Restauração uma referência na Neurocirurgia mundial, sob supervisão constante do Dr. Hildo. Nós somos seres fundamentalmente educadores. Aliás, a educação é uma dádiva que deve ser sempre transmitida” Brasil em foco Nos últimos anos, consolidado principalmente pelos congressos citados acima e pela presença do médico como vice-presidente da maior sociedade de Neurocirurgia do mundo, o Brasil foi colocado no mapa da Neurocirurgia mundial como um país sério, competente na área, com programas de treinamento com credibilidade, fiscalizados de forma profissional pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). Segundo o Dr. Hildo, sua presença na WFNS é como uma confirmação da seriedade do Brasil A World Federation of Neurosurgical Societies é o órgão ligado à OMS, com sede em Genebra, que representa os 40 MIL NEUROCIRURGIÕES distribuídos pelo mundo e que regula o funcionamento e ensino da Neurocirurgia nos cinco continentes na área. “Como uma bandeira que nós brasileiros fincamos para dizer que aqui existe um país sério, que pratica uma Neurocirurgia meritória”, enfatiza. Mensagem aos jovens neurocirurgiões Quando questionado sobre o porquê de sua motivação em formar novos neurocirurgiões, o Dr. Hildo é categórico em sua resposta: “Nós somos seres fundamentalmente educadores. Aliás, a educação é uma dádiva que deve ser sempre transmitida. Eu entrei na WFNS por causa da minha dedicação ao ensino e acredito que seja esse o papel da instituição, buscando ser um instrumento de modificação de comportamento da sociedade”. Ele acrescenta que, quem inicia sua carreira na área, nunca deve abaixar a cabeça para as dificuldades e, sobretudo, nunca desistir de sua própria biografia, que é única e construída diariamente, tijolo por tijolo. “Aquele que não para de sonhar, nunca envelhece”, conclui o médico. PÁGINA DO RESIDENTE CURSOS ON-LINE: MAIS FERRAMENTAS PARA GARANTIR A EDUCAÇÃO CONTINUADA No mundo digital, universidades e sociedades de Neurocirurgia oferecem conteúdo médico com embasamento acadêmico e auxiliam residentes em sua incansável busca por conhecimento Por Bruno Bernardino A internet tornou-se uma importante ferramenta para o acesso ao conhecimento. Com isso, os residentes que desejam uma plataforma de ensino diferente encontram, no vasto universo digital, uma verdadeira enciclopédia, inclusive de Neurocirurgia. São inúmeros os sites que possuem informações de credibilidade, com conteúdo acadêmico de qualidade. Com um clique, o residente tem acesso a conhecimento teórico, que complementa sua formação como médico, com a vantagem de não precisar se deslocar até uma universidade, o que deixa a rotina mais flexível. De forma alguma, porém, os cursos e aulas on-line substituem o conhecimento prático, que é imprescindível para o médico e futuro neurocirurgião. Afinal, a prática necessária à beira do leito ou no campo cirúrgico não se perderá jamais. Segundo o Dr. Marcos Devanir da Costa, que foi residente do Serviço de Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina, os cursos on-line encontrados expandem o horizonte daquele que estuda, já que atualizam e ensinam. Além disso, ao acessá-los, é possível saber como outros neurocirurgiões abordam um tema de interesse específico. “Se você deseja saber algo sobre, por exemplo, os meningiomas parassagitais, é possível saber como o tema é abordado não só na Escola Paulista de Medicina – Unifesp-, mas também na University of California (UCLA), em Stanford, ou em diferentes outros sites acadêmicos. Essa pluralidade de fontes é enriquecedora”, pontua. Abaixo, listamos opções de cursos on-line: Fontes nacionais • Site de Neurocirurgia da Escola Paulista de Medicina-Unifesp – Publica dois vídeos de 30 minutos de duração, semanalmente, com diversos temas da área. Acesse: <www.neurocirurgiaepm.com.br/principal.html> • Site da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) – Possui acervo digital de diversas aulas e vídeos de cirurgias. Acesse: <http://sbn.org.br> Fontes internacionais • Site da American Association of Neurological Surgeons – São postados vídeos de cirurgias e discussões de temas, intituladas Grand Rounds. A sociedade desenvolveu um aplicativo, disponível para download, que torna possível assistir aos vídeos no smartphone ou tablet. Baixe o aplicativo em <www.neurosurgicalatlas.com/ grand-rounds/aans?/aans> Acesse o site da AANS em <www.aans.org> • Cure4Kids – Em tradução livre, o projeto Cura para crianças é uma iniciativa do St. Jude Children’s Research Hospital. Interessante fonte de conteúdo sobre Neurocirurgia, com foco na área pediátrica, o Cure4Kids disponibiliza aulas sobre temas em Pediatria, inclusive: Neuro-Oncologia e Neurocirurgia Pediátricas. Acesse: <www.cure4kids.org>. • University of California (UCLA) – a universidade disponibiliza no iTunes (reprodutor de áudio criado pela empresa Apple) um serviço intitulado “100 subjects in Neurosurgery”, com 100 podcasts (como são chamados os rádios on-line) nos quais são discutidos diversos temas interessantes da área. Acesse: <https://itunes. apple.com/us/itunes-u/ucla-100-subjects-in-neurosurgery/ id434135906?mt=10>. • Stanford University – A renomada universidade mantém on-line um curso que ajuda a formação médica geral e auxilia o residente a ter uma melhor interpretação de artigos científicos. A duração é de cerca de três meses e aprende-se muito sobre estatística no estudo científico. O curso certifica os participantes que o concluírem. Acesse: <https://lagunita.stanford.edu/courses/Medicine/ HRP258/Statistics_in_Medicine/about>. SBN Hoje 19 OPINIÃO COMISSÃO DE CREDENCIAMENTO Por Dr. Roberto Colichio Gabarra Divulgação A Dr. Roberto Colichio Gabarra Coordenador da Comissão de Credenciamento da SBN SBN Hoje 20 Comissão de Credenciamento da SBN é o instrumento da sociedade para manter o alto nível da residência médica em Neurocirurgia. Além do cuidado com o conteúdo programático e da qualidade dos serviços, existe a preocupação de manter certa homogeneidade entre os serviços. E este cuidado é tanto que despertou no passado o interesse da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) em criar uma parceria com a SBN no sentido de usar a força legal da comissão e a organização da sociedade. Antes, a SBN chegava a finalizar serviços mais fracos, mas o MEC acabava por credenciar outros ainda mais fracos. Não havia um critério único. Com a parceria, que durou algum tempo sem muitas defecções, conseguimos certo equilíbrio. Claro que houve vieses. Em uma relação deste tipo, nem sempre se consegue perfeição. Mesmo na crise de relacionamento com as instituições médicas - tipo Mais Médicos, Mais Residentes e outras escaramuças -, conseguimos manter a parceria ainda com vantagens. Não se credenciava serviços sem o nosso crivo. A SBN tinha os encargos terrestres e cabia ao MEC o ônus dos voos. Através do MEC conseguimos fechar serviços, fazer transferências e os chefes conseguiam também sensibilizar seus gestores a melhorias no serviço. Mas, com o agravamento da crise, agora política e econômica, a CNRM ficou paralisada. Alguns dos seus membros tentam manter o funcionamento, O Dr. Arsego, atual coordenador reitera o desejo de manter a parceria. Diz ainda que a organização da SBN é um exemplo que deve ser seguido e serve de modelo para os credenciamentos de outros programas de residência médica. Se pelo lado da CNRM é interessante manter a parceria, pelo nosso é muito importante que a SBN tenha peso para abrir e fechar serviços segundo seus próprios critérios rígidos. Assim, com a colaboração de alguns membros da CNRM, estamos tentando novas formas de trabalho conjunto: já que o MEC não está pagando os voos para seus avaliadores, solicitamos que algum membro da CNRM da cidade que estamos visitando nos acompanhe na visita e para fazermos o relatório em conjunto. Nós encaminhamos nosso relatório à SBN e eles colocam no sistema do MEC. Porém, alguns avaliadores do MEC se recusam a visitar serviços da própria cidade. Agora estamos propondo que façamos nossa visita e, por meio de um membro da CNRM, coloquemos nosso parecer final no sistema da comissão. Se for aceita essa nova forma de trabalhar, continuaremos nossa parceria e ainda teremos a palavra final no credenciamento do serviço. Este esquema está sendo discutido com a coordenadoria da CNRM e, se aceito, poderemos visitar cerca de 40 serviços até o congresso em setembro. PRÓDOC OS PRIMEIROS PASSOS PARA UM CONTROLE FINANCEIRO EFICIENTE Por Eduardo Regonha* D iante do progresso tecnológico, do mercado mais competitivo, das reivindicações por serviços de alta qualidade a um preço menor (imposto pelas operadoras de saúde), dos maiores custos dos equipamentos e insumos e da exigência dos pacientes (motivados pela publicidade) para a aquisição de novas tecnologias, os controles financeiros tornam-se uma etapa inquestionável na gestão das empresas de saúde. Podemos destacar ainda a remuneração dos serviços prestados pelos consultórios, clínicas e hospitais, que em sua grande maioria vêm das operadoras de saúde, que efetuam os pagamentos com prazos dilatados, muitas vezes superiores a 30 dias e invariavelmente acompanhados por glosas. As margens de lucro dos prestadores de serviços são cada vez menores e há a necessidade de investimentos, atualização tecnológica e implantação de processos de qualidade, impulsionando os custos mais para o alto. Sem uma gestão financeira que propicie informações rápidas e confiáveis, fica mais difícil competir nesse ambiente. Todavia, antes de avançarmos nas discussões do uso das ferramentas de gestão financeira, quero chamar a atenção para alguns aspectos relevantes. O proprietário ou sócio deve entender que a clínica é uma instituição jurídica e deve ser dissociada da pessoa física. Caso contrário, dificilmente teremos condições de saber o resultado da empresa e/ou os gastos do proprietário. Portanto, para não confundir os bens pessoais com os da empresa, as primeiras regras são separar as receitas e despesas da instituição das do proprietário e ter uma conta bancária para a empresa totalmente independente da conta dos sócios. Recomendo também que os sócios definam o valor que receberão sobre os serviços prestados (consultas, exames, procedimentos, cirurgias, indicações etc.). Em geral, define-se um percentual sobre o valor recebido como repasse para o profissional médico. Esta percentagem pode variar dependendo dos custos da clínica e do tipo de serviço executado. É importante que se decida ainda o percentual do lucro a ser distribuído (a sugestão é que uma parte seja destinada a reservas para investimentos e para contingências, e outra parte Guia prático: plano de marketing para clínicas e consultórios Rubens Coelho Este livro é verdadeiramente um manual prático, que apresentará os principais itens para o planejamento de negócios na área da Saúde. 90 páginas Para comprar, visite o site <www.doccontent.com.br> ou ligue para (21) 2425-8878. SÓCIOS DA SBN TÊM 30% DE DESCONTO COMPRANDO PELA DOC CONTENT A compra com desconto é somente por telefone ou pelo e-mail <[email protected]>. distribuída entre os médicos, conforme a participação societária de cada um). Logo, o sócio tem a sua remuneração de dois modos: recebe um valor pela sua produção efetiva e também pela participação acionária. Dessa forma, cada sócio tem a sua retirada composta pela atividade médica (produção) ou administrativa e também pelo retorno do investimento efetuado na instituição (lucro). Ou seja, o capital do sócio investido na instituição deve gerar retorno e deve crescer, como uma aplicação no mercado financeiro. Outro ponto importante a ser destacado é a coleta dos dados. A princípio, haverá muitas dificuldades, mas não se pode esmorecer. É importante definir criteriosamente uma sistemática de registros de todas as entradas (recebimentos) e saídas (pagamentos). Nada pode escapar aos controles, até mesmo aqueles que não são registrados contabilmente, lembrando-se sempre de que as informações são de caráter gerencial, ou seja, para controle interno, para o gerenciamento das atividades e para as tomadas de decisão dos sócios. Com o tempo, cria-se uma rotina e esse processo passa a ser automático. A instituição, por sua vez, começa a ter o hábito de anotar e cria uma base histórica que possibilita diversas análises que ajudarão ainda a desenvolver previsões com o objetivo de atenuar os riscos no futuro. Pois bem, após esses esclarecimentos, estamos preparados para começar a abordar as ferramentas de controle financeiro. Na próxima edição, falarei sobre o instrumento que considero o mais básico, todavia o mais importante: o fluxo de caixa. Até lá. *Eduardo Regonha é diretor executivo da Planis Consultoria; doutor em Ciências – Custos em Oftalmologia; professor do Centro Universitário São Camilo e da Fundação Unimed. SBN Hoje 21 DICAS DE VIAGENS Onde? Centro de Congressos do Estoril Av. Amaral, 2765-192, Estoril, Portugal Quando? De 11 a 14 de maio de 2016 Serviço: <www.neuroiberia2016.pt> O bilhete único, de Lisboa até Estoril, custa €2.15/€1.10 (adulto/criança, respectivamente) e o regresso custa o dobro do preço, €4.30. Você sabia? O filme A Serviço Secreto de Sua Majestade, da famosa série James Bond, lançado em 1969, tem cenas gravadas em Estoril. Nele, os espectadores podem espiar a belíssima costa de Estoril e também ver o seu cassino, símbolo da localidade já naquela época. ESTORIL: NATURALMENTE BELA, VILA SEDIA EVENTO DE NEUROCIRURGIA Por Bruno Bernardino E storil é uma luminosa vila portuguesa, à beira de Lisboa. Tranquila, sofisticada, cosmopolita e encantadora, Estoril tem a impressionante marca de possuir 260 dias de sol por ano, algo que pode ser apreciado de suas praias calmas e sem ondas. É famosa por possuir o maior cassino da Europa, o Casino Estoril, cujo letreiro vermelho e brilhante chama os transeuntes e turistas que passam para seu mundo de sonhos, um dos maiores espaços de lazer e animação da região, mas também um espaço dedicado à cultura e realização de eventos, conferências e congressos. Para além do cassino, Estoril fascina por suas paisagens de vila elegante, apinhada de palacetes e bares. São tantas opções de lazer, que é difícil um visitante se aborrecer estando lá. Além disso, é impossível pensar em Estoril como uma localidade só. Sintra, Oeiras e Cascais, outras excelentes opções de passeios, ficam logo ali. É possível conhecer castelos, fortes e palácios pela região, ter com os amigos no Cabo do Roca, conhecido por ser o SBN Hoje 22 ponto mais ocidental da Europa, ou ver a força com que ondas ricocheteiam na pedra que é conhecida como Boca do Inferno, em Cascais. Neuroiberia 2016 em Estoril Entre os dias 11 e 14 de maio, acontecerá o Congresso Internacional de Neurocirurgia, também chamado de Neuroiberia 2016. Uma parceria entre a Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia (SPNC) e Sociedade Espanhola de Neurocirurgia (Senec). Segundo o Dr. Carlos Varas Luis, presidente do congresso, o evento pretende apresentar os principais avanços na área - da prática clínica à investigação -, tecnologia e inovação para um programa científico de nível superior. As inscrições estão abertas até o dia 31 de março. Como chegar? Com localização privilegiada, chega-se rapidamente de Lisboa, metrópole símbolo de Portugal, que fica a 20km de Estoril. As opções de transporte são o trem (que por lá é conhecido como comboio), ônibus (o autocarro), guia turístico, ou dirigindo um carro alugado (embora essa não seja uma boa opção, devido ao trânsito de Portugal). Se escolher o meio ferroviário, pegue o comboio no sentido Estoril, na estação Cais do Sodré, em Lisboa. Se optar pelo táxi, de Lisboa a Estoril, o preço fica entre €40-50. EVENTOS O Dr. José Alberto Landeiro, ex-presidente da SBN no biênio 2004-06 e presidente de honra do congresso, será homenageado por seu legado de inúmeras contribuições para o desenvolvimento da Neurocirurgia carioca e formação de novas gerações de neurocirurgiões. XIV Congresso da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro 30 de junho a 2 de julho de 2016 Rio de Janeiro (RJ) <www.sncrj.com.br/congresso> XXXI CBN Kunio Suzuki (XXXI Congresso Brasileiro de Neurocirurgia) 6 a 10 de setembro de 2016 Brasília (DF) <www.neurocirurgia2016.com.br> CALENDÁRIO SBN Neuroiberia 2016 - Congresso Internacional de Neurocirurgia 11 a 14 de maio de 2016 - Estoril, Portugal <www.neuroiberia2016.pt> Encontro Paranaense de Neurocirurgiões 2016 20 e 21 de maio - Maringá (PR) <www.sonepar.org.br> WFSBS 2016 – 7th International Congress of the World Federation of Skull Base Societies 14 a 17 de junho de 2016 - Osaka, Japão <www.skullbase2016.jp> XIV Congresso da Sociedade de Neurocirurgia do Rio de Janeiro 30 de junho a 02 de julho - Rio de Janeiro (RJ) <www.sncrj.com.br/congresso> SBN Hoje 23 6 a 10 de setembro de 2016 centro internacional de convenções do brasil / cicb / brasília / df inscrições ABERTAS! garanta JÁ A sua participação no segundo maior congresso da especialidade no mundo! inscreva-se até 30 DE ABRIL e aproveite os PREÇOS promocionais Submissão de trabalhos até o dia 30 de abril curta o CONGRESSO NO facebook PATROCÍNIO PRATA patrocínio esmeralda PATROCÍNIO RUBI
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