Análise das bases teóricas e éticas do Marketing Societal
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Análise das bases teóricas e éticas do Marketing Societal
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃO MARCELO AURELIANO MONTEIRO DE ANDRADE MARKETING E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO Belo Horizonte 2015 1 MARCELO AURELIANO MONTEIRO DE ANDRADE MARKETING E RESPONSABILIDADE SOCIAL NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO Tese de Doutorado Apresentada ao Centro de PósGraduação e Pesquisas em Administração da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito à obtenção do título de Doutor em Administração. Área de concentração: Marketing e Estratégia Orientadora: Dra. Marlusa Gosling Belo Horizonte 2015 2 Ficha Catalográfica A553m 2015 Andrade, Marcelo Aureliano Monteiro de . Marketing e responsabilidade social no setor bancário brasileiro [manuscrito]. / Marcelo Aureliano Monteiro de Andrade. – 2015. 258 f.: il., gráfs. e tabs. Orientadora: Marlusa Gosling. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Centro de Pós Graduação e Pesquisas em Administração. Inclui bibliografia (f. 241 -256) e anexos. 1. Marketing bancário – Teses. 2. Ética empresarial – Teses. 3. Bancos – Teses. 3. Responsabilidade social da empresa – Teses. I. Gosling, Marlusa. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Pós Graduação e Pesquisas em Administração. III. Título. CDD: 658.8 Elaborada pela Biblioteca da FACE/UFMG – NMM045/2015 3 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço, com muito amor, a meus pais, Eduardo e Lisia. Além de exemplos de dignidade, generosidade e altivez, mostraram-me sempre o caminho do trabalho e a importância de acreditar e buscar nossos sonhos e ideais, conquistando-os de maneira íntegra e ética. Agradeço-lhes também por terem me proporcionado todas as condições afetivas e materiais necessárias, e bastante mais, para que eu pudesse traçar meu caminho autonomamente e alcançasse minhas aspirações, como esta Tese (afinal, fui sempre “bolsista” e meus “méritos” são antes de tudo fruto de uma história de vida tão privilegiada). E agradeço por todo o amor que sempre me deram, abrindo mão, inclusive, de desejos pessoais em nome desse sentimento tão nobre! Agradeço especialmente também e com muito amor a minha esposa, Lívia. Essa pessoa tão linda que há dez anos deixa minha vida cada vez melhor, fez-me sempre acreditar em mim, nas minhas ideias e convicções de mundo. Foi também sempre uma companheira e, antes de tudo, uma amiga, presente integralmente com muito amor e generosidade em todas as dificuldades e alegrias que tive nesse período! Agradeço também com muito amor aos meus irmãos, Letícia e Leo, por sempre me apoiaram em meus projetos e torceram muito por mim e pelo sucesso das minhas empreitadas, mesmo as mais tortas! Obrigado por todo o companheirismo, cumplicidade e amor. Obrigado com muito amor também às minhas sobrinhas, Juju e Manu. Vocês iluminam sempre minha vida e estarão sempre no meu coração! Agradeço muito a minha orientadora, Marlusa. Além de todo o repertório teórico e conceitual que sempre compartilhou e de todo o suporte necessário em minha formação, em 8 anos, proporcionou-me algo raro em nosso meio: permitiu que eu mesmo traçasse meu caminho teórico, sem deixar que nele me perdesse. Isso não tem preço! Obrigado também ao CEPEAD, ou a todos os professores e funcionários que o constituem e que o fazem diariamente um centro de excelência em pesquisa em Administração, tanto nacional quanto internacionalmente. Estou deixando essa Instituição com muito orgulho, mas também com uma grande tristeza por saber que deixarei para trás um dos lugares mais importantes na minha formação profissional e, principalmente, pessoal. Um lugar em que fiz muitas e verdadeiras amizades! Foi um privilégio o que eu recebi nesse Centro e nunca me esquecerei disso. Obrigado ao Estado Brasileiro, por ter me proporcionado uma instituição de primeiro nível, que me possibilitou uma formação profissional sólida e, principalmente, um espaço de pesquisa autônomo. Que saibamos todos valorizar e prezar pelo campo público e livre de ensino e pesquisa (estrutura básica para qualquer nação que se deseja democrática e desenvolvida). Espero fazer jus a todo esse investimento feito em mim, compartilhando sem restrições o conhecimento que recebi e contribuindo para o desenvolvimento da nossa ciência. 5 Obrigado também a meus amigos e companheiros do CEPEAD. Obrigado por sempre me estimularem a seguir o caminho da pesquisa e da docência e por me fazerem acreditar em meu potencial! E valeu, obviamente, pela cerva certa na hora exata! Obrigado também aos demais amigos, especialmente pela companhia e torcida em todos os momentos! E, como não poderia deixar de ser, o agradecimento religioso: obrigado CLUBE ATLÉTICO MINEIRO! 6 “O discurso, aparentemente, pode até nem ser nada de por aí além, mas, no entanto, os interditos que o atingem revelam, cedo, de imediato, o seu vínculo ao desejo e o poder.” FOUCAULT 7 RESUMO Responsabilidade social corporativa (RSC) é um tema recorrente na academia há pelo menos quatro décadas (CARROL, 1999). Esse longo período, contudo, não encerra seu debate, ao contrário, expande-o. Desde meados da década de 1970, empresas, governos, sociedade e academia debatem sobre novos modelos e configurações que prezam pela responsabilidade ética das organizações com seus públicos de interesse e com a natureza, além dos tradicionais objetivos financeiros e mercadológicos (nesse período de forma mais acentuada, tendo em vista que a RSC é debatida, direta ou indiretamente, na academia desde o início do século XX). Como não poderia deixar de ser, este conceito influencia diretamente todas as áreas da Administração, mas em especial o campo do marketing, tendo em vista que a RSC é vista como instrumento de vantagem competitiva por meio do ganho de imagem. Por esse motivo, diversos conceitos de marketing ligados à responsabilidade social surgiram. Dentro desse debate, um tema que cada vez mais tem ganhado força na academia, e mesmo na sociedade, é a legitimidade da responsabilidade social, assim como sua compatibilidade com a prática cotidiana das organizações. Autores recentes do campo já veem uma desconexão recorrente nesse aspecto, ou seja, observam que as organizações costumam praticar a RSC mais no campo do discurso corporativo do que em ações éticas efetivas no dia a dia. Observam, além disso, a proeminência de se debater com mais acuidade a questão, tendo em vista que a RSC envolve aspectos políticos e econômicos muito mais amplos que um primeiro olhar possa sugerir, envolve também relações de distribuição de poder. Nessa perspectiva, o objetivo desta tese foi investigar exatamente a compatibilidade, ou sua falta, entre o discurso socialmente responsável e a percepção de públicos trabalhadores e consumidores de duas grandes instituições bancárias brasileiras - aqui denominadas “Banco A” e “Banco B” (ambas entre as 5 maiores do país). Visou-se com isso buscar evidências empíricas consistentes que pudessem refutar, ou embasar, as perspectivas teóricas apontadas. Visou-se, além disso, investigar as relações existentes entre a RSC ou da ética corporativa com a satisfação e intenção de lealdade de clientes do setor bancário, assim como elaborar um modelo teórico de investigação de percepções de RSC no setor bancário. Tratou-se, portanto, de um estudo de casos múltiplos. Foram elaboradas duas etapas de pesquisa, ambas descritivas. A primeira, de natureza qualitativa, investigou por meio de entrevistas como empregados do Banco A e do Banco B os veem em diversos aspectos da RSC, a partir de questões estruturadas com base nos Códigos de Ética dos próprios bancos. Foram entrevistados 18 empregados de cada instituição, todos da região de Belo Horizonte, tanto em níveis operacionais quanto gerenciais e estratégicos, e analisaram-se, por meio de metodologias de análise de conteúdo, o grau de coerência das falas dos empregados com os princípios dos Códigos de Ética. Verificou-se que em ambos os bancos há incompatibilidade entre as percepções dos empregados com a maior parte dos princípios dos códigos, além disso, que a maior parte dos entrevistados, 23, literalmente consideram os bancos antiéticos. Os problemas centrais apontados são: excesso de metas (apontado como o principal ocasionador dos demais problemas); problemas de doenças ocupacionais recorrentes; baixa remuneração; pouca transparência no lido com clientes no ambiente de agência, especialmente os de menor renda e instrução; sobreposição dos interesses dos acionistas sobre os demais (o que entra em conflito com os códigos). Apesar disso, houve aspectos positivos apontados, como: qualidade no sigilo de informações de clientes; bons instrumentos de combate à corrupção; boa qualidade de planos de saúde; boas condições ergonômicas no ambiente de trabalho; liberdade para associação sindical (apesar de não haver liberdade para o exercício das ações sindicais). A segunda etapa, de natureza quantitativa, observou, por meio de questionários estruturados, e analisados a partir de metodologias de estatísticas multivariadas, como clientes, majoritariamente universitários e da cidade de Belo Horizonte (mais de 1300 entrevistados), percebem os Bancos A e B em 8 vários parâmetros legais e éticos, assim como a satisfação desses com os bancos e suas intenções de se manterem fiéis às instituições. Percebeu-se que há uma impressão intermediária de clientes sobre o cumprimento de aspectos legais do Código de Defesa do Consumidor Bancário, uma regulamentação do Banco Central, além de uma impressão negativa sobre a ética geral dos Bancos. Verificou-se também que o grau de satisfação com as instituições é intermediário, assim como de intenção de se manterem leais. A partir desta análise, foi gerado um modelo teórico, que mostrou haver uma relação positiva entre diversos aspectos do Código de Defesa do Consumidor Bancário e a percepção de ética, assim como de que há uma relação positiva e significativa entre a percepção de ética com a satisfação e lealdade com os bancos, mesmo que as avaliações das instituições tenham sido negativas ou intermediárias. Os resultados finais, portanto, sugerem que há de um modo geral incompatibilidade entre os discursos publicitários do Banco A e B, enfatizando-se que ambos fazem uso recorrente desse argumento, e as percepções dos clientes e empregados entrevistados. Esses resultados, assim, coadunam com a ideia de que há falta de consistência prática, e portanto teórica, dos conceitos ligados à RSC. Palavras Chave: Responsabilidade Social Corporativa, Marketing, Ética, Banco 9 ABSTRACT Corporate Social Responsibility (CSR) is a recurring theme in the academy for at least 4 decades (Carrol, 1999). This long period, however, does not end its debate, instead, it expands. Since 70’s, companies, governments, society and academy discuss new models and configurations which have the ethical responsibility of organizations with it’s stakeholders and with nature, beyond the traditional financial and market objectives (in this more sharply period, with a view that CSR is discussed directly or indirectly by scholars since the early twentieth century). How could it be, this concept directly influences all areas of management, but in particular the marketing field, with a view that CSR is seen as a competitive advantage tool through the image gain. For this reason, various concepts of Marketing related to social responsibility emerged. Within this debate, a topic that has increasingly gained strength in the academy, and even in society, is the legitimacy of social responsibility, as well as its compatibility with the daily practice of organizations. Recent authors in the field longer see a recurring disconnection in this respect, that is, note that organizations tend to practice CSR more in the corporate field of discourse than in effective ethical actions in day-to-day. Note also the prominence struggling more acutely the question, given that CSR involves political and economic aspects much wider than a first glance might suggest, involves too power distribution relationships. In this perspective, the objective of this thesis was to investigate exactly compatibility, or failing that, between the socially responsible speech and perception of public workers and consumers in two large Brazilian banks - here called "Bank A" and "Bank B" (both among the 5 largest in the country). It is aimed thus find consistent empirical evidence that could refute, or to base, the theoretical perspectives pointed out. If aim was also to investigate the relationships between CSR and corporate ethics and customer satisfaction and loyalty intention of the banking sector, as well as develop a theoretical model of CSR perceptions research in banking. It was, therefore, a multiple case study. Two stages of research, both descriptive, have been prepared. The first, qualitative, investigated through interviews as employees of Banks A and B see them in various aspects of CSR, from structured questions based on the Code of Ethics of the banks themselves. There were interviewed 18 employees of each institution - all of the Belo Horizonte region in both operational and managerial levels and strategic - and analyzed, through content analysis methodologies, the degree of coherence of the statements of the employees with the principles of Codes of Ethics. It was found that in both banks is no compatibility between the perceptions of employees with most of the principles of codes, furthermore that most respondents, 23, literally see the Banks as unethical. The main problems pointed out: excessive goals (named as the main ocasionador of other problems); problems of recurrent occupational diseases; low pay; little transparency in the deal with customers in the agency environment, especially the lower income and education; overlap of shareholders' interests on the other (which conflicts with the codes). Nevertheless, there were positive aspects pointed out: as quality in confidentiality of customer information; good tools to fight corruption; good health plans; good ergonomic conditions in the workplace; freedom to participe on unions (although there is no freedom for the exercise of unions activities). The second stage, quantitative, observed through structured questionnaires, and analyzed using methods of multivariate statistics, as customers, mostly university students of Belo Horizonte city (more than 1300 respondents), perceive Banks A and B in various legal and ethical standards, and to known their satisfaction level with services and intentions to remain faithful to the institutions. It was noticed that there is an intermediate print clients on compliance with legal aspects of the Banking Consumer Defense Code, regulations of the Central Bank, as well as a negative impression on the general ethics of Banks. It was also found that the degree of satisfaction with the institutions is intermediate, as well as intention to remain loyal. From this 10 analysis, a theoretical model was generated, which showed a positive relationship between various aspects of Banking Consumer Protection Code and the perception of ethics, as well as that there is a positive and significant relationship between the perception of ethics and satisfaction and loyalty with the banks, even if the evaluations of institutions have been negative or intermediate in the consumers view. The final results, therefore, suggest that there is a general incompatibility between advertisers speeches from Bank A and B - emphasizing that both are recurrent use of this argument - and the perceptions of customers and employees surveyed. These results thus consistent with the idea that there is a lack of practice consistency, and therefore theoretical concepts related to CSR. Keywords: Corporate Social Responsibility, Marketing, Ethics, Bank 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelo de Análise do Instrumento de Pesquisa.......................................................................... 179 Figura 2: Modelo Teórico Inicial............................................................................................. ................... 201 Figura 3: Coeficiente de Caminho do Banco A.......................................................................................... 207 Figura 4: Coeficiente de Caminho do Banco B.......................................................................................... 208 Figura 5: Modelo Ajustado.................................................................................................... ..................... 213 Figura 6: Modelo ajustado com moderador facilidade de crédito em satisfação........................................ 218 Figura 7: Modelo ajustado com moderador facilidade de crédito em lealdade.......................................... 219 Figura 8: Modelo sem Construto Mediador ETICAGERAL...................................................................... 221 Figura 9: Modelo Geral de Mediação........................................................................................... .............. 222 12 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Alguns dos Questionamentos Éticos Quanto às Práticas de Marketing.................................... 40 Quadro 2: Cruzamento entre Etapas de Análise x Objetivos...................................................................... 78 Quadro 3: Algumas Orientações dos Códigos de Ética dos Principais Bancos do Brasil.......................... 85 Quadro 4: Categorias de Análises dos Códigos de Ética............................................................................ 88 Quadro 5: Dados Gerais dos Empregados Entrevistados do Banco A....................................................... 94 Quadro 6: Dados Gerais dos Empregados do Banco B.............................................................................. 95 Quadro 7: Avaliação da Categoria 1 de Análise do Banco A - Estímulo à leitura do Código................... 96 Quadro 8: Avaliação da Categoria 1 de Análise do Banco B - Estímulo à leitura do Código.................... 97 Quadro 9: Avaliação da Categoria 2 de Análise do Banco A - Combate à Corrupçaõ / Lei x Ética.......... 99 Quadro 10: Avaliação da Categoria 2 de Análise do Banco B - Combate à Corrupção / Lei x Ética........ 100 Quadro 11: Avaliação da Categoria 3 de Análise do Banco A - Relacionamento com empregados......... 102 Quadro 12: Avaliação da Categoria 3 de Análise do Banco B - Relacionamento com empregados.......... 107 Quadro 13: Avaliação da Categoria 4 de Análise do Banco A - Relacionamento com clientes................ 116 Quadro 14: Avaliação da Categoria 4 de Análise do Banco B - Relacionamento com clientes................. 121 Quadro 15: Avaliação da Categoria 5 de Análise do Banco A - Relação com Acionistas......................... 129 Quadro 16: Avaliação da Categoria 5 de Análise do Banco B - Relação com Acionistas......................... 130 Quadro 17: Avaliação da Categoria 6 de Análise do Banco A - Relacionamento com a sociedade......... 132 Quadro 18: Avaliação da Categoria 6 de Análise do Banco B - Relacionamento com a sociedade.......... 133 Quadro 19: Avaliação da Categoria 7 de Análise do Banco A - Avaliação Geral da Ética Banco............ 136 Quadro 20: Avaliação da Categoria 7 de Análise do Banco B - Avaliação Geral da Ética do Banco....... 136 Quadro 21: Avaliação de respostas do empregado 1 do Banco A.............................................................. 137 Quadro 22: Avaliação de respostas do empregado 2 do Banco A.............................................................. 138 Quadro 23: Avaliação de respostas do empregado 3 do Banco A.............................................................. 139 Quadro 24: Avaliação de respostas do empregado 4 do Banco A.............................................................. 140 Quadro 25: Avaliação de respostas do empregado 5 do Banco A.............................................................. 140 Quadro 26: Avaliação de respostas do empregado 6 do Banco A.............................................................. 141 Quadro 27: Avaliação de respostas do empregado 7 do Banco A.............................................................. 142 Quadro 28: Avaliação de respostas do empregado 8 do Banco A.............................................................. 143 Quadro 29: Avaliação de respostas do empregado 9 do Banco A.............................................................. 143 Quadro 30: Avaliação de respostas do empregado 10 do Banco A............................................................ 144 Quadro 31: Avaliação de respostas do empregado 11 do Banco A............................................................ 145 Quadro 32: Avaliação de respostas do empregado 12 do Banco A............................................................ 146 Quadro 33: Avaliação de respostas do empregado 13 do Banco A............................................................ 147 Quadro 34: Avaliação de respostas do empregado 14 do Banco A............................................................ 147 Quadro 35: Avaliação de respostas do empregado 15 do Banco A............................................................ 148 Quadro 36: Avaliação de respostas do empregado 16 do Banco A............................................................ 149 Quadro 37: Avaliação de respostas do empregado 17 do Banco A............................................................ 150 Quadro 38: Avaliação de respostas do empregado 18 do Banco A............................................................ 151 13 Quadro 39: Avaliação de respostas do empregado 1 do Banco B.............................................................. 152 Quadro 40: Avaliação de respostas do empregado 2 do Banco B.............................................................. 152 Quadro 41: Avaliação de respostas do empregado 3 do Banco B.............................................................. 153 Quadro 42: Avaliação de respostas do empregado 4 do Banco B.............................................................. 154 Quadro 43: Avaliação de respostas do empregado 5 do Banco B.............................................................. 154 Quadro 44: Avaliação de respostas do empregado 6 do Banco B.............................................................. 155 Quadro 45: Avaliação de respostas do empregado 7 do Banco B.............................................................. 155 Quadro 46: Avaliação de respostas do empregado 8 do Banco B.............................................................. 156 Quadro 47: Avaliação de respostas do empregado 9 do Banco B.............................................................. 157 Quadro 48: Avaliação de respostas do empregado 10 do Banco B............................................................ 157 Quadro 49: Avaliação de respostas do empregado 11 do Banco B............................................................ 158 Quadro 50: Avaliação de respostas do empregado 12 do Banco B............................................................ 159 Quadro 51: Avaliação de respostas do empregado 13 do Banco B............................................................ 159 Quadro 52: Avaliação de respostas do empregado 14 do Banco B............................................................ 160 Quadro 53: Avaliação de respostas do empregado 15 do Banco B............................................................ 161 Quadro 54: Avaliação de respostas do empregado 16 do Banco B............................................................ 162 Quadro 55: Avaliação de respostas do empregado 17 do Banco B............................................................ 162 Quadro 56: Avaliação de respostas do empregado 18 do Banco B............................................................ 163 Quadro 57: Referências do Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2011) para os construtos exógenos.......................................................................................................... .......................... 174 Quadro 58: Demais construtos do Modelo e Respectivas Perguntas.......................................................... 178 Quadro 59: Abreviaturas paras os construtos............................................................................................. 182 Quadro 60: Hipóteses do modelo................................................................................................................ 202 Quadro 61: Hipóteses dos Objetivos 2.2.6 e 2.2.7...................................................................................... 235 14 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Perfil de público do Banco A...................................................................................................... 183 Tabela 2: Escolaridade do Público Banco A............................................................................................... 183 Tabela 3: Perfil do público Banco B........................................................................................................... 185 Tabela 4: Escolaridade do Público Banco B............................................................................................... 186 Tabela 5: Estatísticas Descritivas das Variáveis......................................................................................... 188 Tabela 6: Fidedignidade do Instrumento de Pesquisa e resultados dos construtos do Banco A................ 195 Tabela 7: Fidedignidade do Instrumento de Pesquisa e resultados dos construtos do Banco B................. 197 Tabela 8: Confiabilidade Composta do Modelo de Mensuração................................................................ 204 Tabela 9: Validade Convergente................................................................................................................. 205 Tabela 10: Coeficientes de Caminho Bancos A e B................................................................................... 208 Tabela 11: Testes T e Coeficientes de Caminho das Hipóteses.................................................................. 210 Tabela 12: Coeficiente de Determinação (R2) .......................................................................................... 212 Tabela 13: Testes do Novo Modelo............................................................................................................ 214 Tabela 14: Tamanho do Efeito F2 no Banco A.......................................................................................... 215 Tabela 15: Tamanho do Efeito F2 no Banco B.......................................................................................... 215 2 Tabela 16: Relevância Preditiva do Modelo (Q ) ...................................................................................... 216 Tabela 17: Tamanho do efeito Q2 Banco A............................................................................................... 217 Tabela 18: Tamanho do efeito q2 banco B................................................................................................. 217 Tabela 19: Análises de Moderação............................................................................................................. 219 Tabela 20: Efeito de mediação do construto ETICAGERAL..................................................................... 223 15 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 19 2. OBJETIVOS........................................................................................................................................ 31 2.1 Objetivo Principal...................................................................................................................... 31 2.2 Objetivos Secundários................................................................................................................ 31 3. REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................................ 33 3.1. Ética, Responsabilidade Social e Marketing............................................................................. 33 3.1.1. A ética no cotidiano das empresas e nas práticas mercadológicas.................................. 43 3.2. Responsabilidade Social Corporativa e o Marketing................................................................ 45 3.2.1. A Responsabilidade Social, o Ganho Econômico e o Ganho de Imagem no Brasil........ 51 3.3. A produção acadêmica internacional de Responsabilidade Social e Ética Corporativa nos últimos anos, especialmente no campo do Marketing..................................................................... 54 3.3.1. A produção acadêmica internacional de RSC na perspectiva positiva e do Marketing, dentro do campo da Administração........................................................................................... 56 3.3.2. A produção internacional crítica de RSC no campo da Administração........................... 61 3.4. Comunicação de Marketing...................................................................................................... 67 3.4.1. Comunicação de Marketing e Imagem Corporativa no contexto da RSC....................... 69 3.4.2. As mídias sociais............................................................................................................. 70 3.5 O Discurso Publicitário de Responsabilidade Social Corporativa dos Bancos no Brasil e dados públicos do setor bancário referentes ao relacionamento com clientes e empregados.......... 72 4. METODOLOGIA................................................................................................................................ 76 5. ETAPA QUALITATIVA DE PESQUISA.......................................................................................... 80 5.1. Metodologia da Etapa Qualitativa de Pesquisa......................................................................... 80 5.1.1. Roteiro de Entrevista....................................................................................................... 83 5.1.2. Métodos de Análise......................................................................................................... 90 5.2. Análises da Etapa Qualitativa de Pesquisa............................................................................... 94 5.2.1. Dados Gerais dos Empregados Entrevistados do Banco A............................................. 94 5.2.2. Dados Gerais dos Empregados Entrevistados do Banco B............................................. 95 5.2.3. Tipo I de Análise: Análises por categorias do código..................................................... 96 5.2.3.1. Categoria 1: Estímulo ao Código e Conhecimento do Código............................... 96 5.2.3.2. Categoria 2: Combate à corrupção / Lei x Ética..................................................... 99 5.2.3.3. Categoria 3: Relacionamento com Empregados..................................................... 102 5.2.3.4. Categoria 4: Relacionamento com Clientes............................................................ 116 5.2.3.5. Categoria 5: Relação com Acionistas..................................................................... 129 5.2.3.6. Categoria 6: Relacionamento com a Sociedade...................................................... 132 5.2.3.7. Categoria 7: Avaliação Geral da Ética do Banco.................................................... 136 5.2.4. Tipo II de Análise: Análise por funcionário ................................................................... 137 5.2.4.1. Análise por Funcionários: Entrevistados do Banco A............................................ 137 16 5.2.4.2. Análise por Funcionários: Entrevistados do Banco B............................................ 151 5.3. Conclusões da Etapa Qualitativa de Pesquisa........................................................................... 164 5.3.1. Conclusões do Tipo I de Análise..................................................................................... 165 5.3.2 Conclusões do Tipo II de Análise .................................................................................... 168 6. ETAPA QUANTITATIVA DE PESQUISA: PERCEPÇÃO DE CONSUMIDORES E MODELO TEÓRICO DE ANÁLISE....................................................................................................................... 170 6.1. Metodologia da Etapa Quantitativa de Pesquisa...................................................................... 170 6.1.1. Métodos de Análise e Justificativa.................................................................................. 170 6.1.2. Instrumento de Pesquisa.................................................................................................. 173 6.1.3. Amostra........................................................................................................................... 179 6.1.4. Coleta............................................................................................................................... 180 6.2. Análises da Etapa Quantitativa de Pesquisa............................................................................. 181 6.2.1. Análise I – Dados Demográficos das Amostras.............................................................. 182 6.2.1.1. Banco A.................................................................................................................. 182 6.2.1.2. Banco B................................................................................................................... 184 6.2.2. Análise II - Análise Descritiva dos Dados e Análise Fatorial Exploratória dos Construtos do Modelo................................................................................................................ 186 6.2.2.1. Pré-Teste................................................................................................................. 187 6.2.2.2. Análise Descritiva dos Dados ................................................................................ 187 6.2.2.3. Preparação de Dados............................................................................................... 191 6.2.2.3.1. Análise de Dados Ausentes............................................................................ 191 6.2.2.3.2. Análise de Outliers Uni e Multivariados........................................................ 192 6.2.2.3.3. Normalidade................................................................................................... 192 6.2.2.3.4. Linearidade..................................................................................................... 193 6.2.2.4. Avaliação da fidedignidade do instrumento de pesquisa........................................ 193 6.2.2.5. Estatísticas Descritivas dos Construtos................................................................... 199 6.2.3. Análise do Modelo de Mensuração................................................................................. 199 6.2.3.1. Análise de Confiabilidade de Consistência Interna................................................ 203 6.2.3.2. Análise de Validade Convergente........................................................................... 204 6.2.3.3. Validade Discriminante........................................................................................... 205 6.2.4. Avaliação do Modelo Estrutural...................................................................................... 206 6.2.4.1. Avaliação de Significância e Relevância................................................................ 206 6.2.4.2. Avaliação do Coeficiente de Determinação............................................................ 211 2 2. 6.2.5. Modelo Ajustado de Pesquisa e Medições dos Efeitos F e Q ....................................... 212 6.2.5.1. Tamanho do Efeito F2............................................................................................. 214 2 6.2.5.2. Relevância Preditiva do Modelo (Q ) e tamanho do efeito (Q )............................. 216 6.2.5.3. Moderação............................................................................................................... 218 6.2.5.4. Mediação................................................................................................................. 219 6.3. Conclusões da Etapa Quantitativa de Pesquisa......................................................................... 224 2 17 6.3.1. O Instrumento de Pesquisa e as Percepções dos Consumidores Sobre a Responsabilidade Social das Instituições Bancárias.................................................................. 224 6.3.2. Análise do Modelo Proposto............................................................................................ 226 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................... 229 8. REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 241 18 1. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, têm crescido ao redor do mundo novas práticas de gestão que se caracterizam, em princípio, pela preocupação das organizações com o bem-estar de seus diversos públicos de relacionamento, internos e externos, assim como com a sustentabilidade ambiental das suas atividades produtivas (TENÓRIO, 2006; KOTLER, 2010; SERPA, 2000; CARROL, 1999; ASHLEY, 2002). Vários conceitos teóricos e práticas tornaram-se comuns nesse contexto, como: Responsabilidade Social Corporativa (RSC), a Cidadania Corporativa, as teorias sobre Stakeholders (COUTINHO, 2002; CARROL, 1991), etc. Essas novas práticas surgiram em decorrência de algumas transformações econômicas, políticas, ecológicas e sociais em diversas partes. Em primeiro lugar, destaca-se o desmonte do estado de bem-estar social em algumas economias desenvolvidas ao longo das décadas de 70 e 80, assim como o crescimento de modelos econômicos liberais nesse mesmo período, especialmente na Inglaterra e EUA. Essa situação fez com que demandas sociais que até então eram de responsabilidade do estado passassem também a ser cobradas das empresas, especialmente as de grande porte (TENÓRIO, 2006). Paralelamente, houve uma evolução no nível de formação escolar das pessoas ao redor do mundo, especialmente em países desenvolvidos, assim como o desenvolvimento de novas tecnologias de comunicação, o que também ajudou a aumentar a cobrança sobre as organizações privadas para que estas tivessem uma atuação cada vez mais responsável para com seus públicos. O aumento de problemas ecológicos diversos, ocasionados principalmente pelo modelo de produção e consumo que se firmava e crescia no período, também gerou cobranças sobre as organizações (CARROL, 1999). A combinação desses fatores, dentre outros, fez com que crescessem sobre as empresas exigências por uma atuação voltada para o bem estar público em geral e o respeito à natureza, ambiente fértil para o desenvolvimento de estratégias e conceitos socialmente responsáveis. Dessa forma, as empresas deveriam deixar de ter apenas o compromisso com a lucratividade para acionistas e a satisfação de clientes, passando também a ter compromisso com os demais públicos que são impactados por suas atividades, como funcionários, comunidades, poder público, etc. Ashley (2002) define a Responsabilidade Social Corporativa (denominada de RSC em vários momentos desta tese) da seguinte forma: 19 Responsabilidade Social pode ser definida como o compromisso que uma organização deve ter para com a sociedade, expresso por meio de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de modo específico, agindo de forma pró-ativa e coerentemente no que tange a seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela (ASHLEY, 2002,p. 6). Todas essas transformações afetaram diretamente o campo do marketing, tanto do ponto de vista acadêmico quanto profissional. Surgiram, desde então, estratégias e modelos teóricos que visam não só ao incremento direto de vendas, mas também a ações de cunho social e ambiental como parte integrante de um programa de marketing (HUNT, 2011; ACHROL E KOTLER, 2012). A nova realidade não permitiu mais às empresas se preocuparem apenas com o ajuste dos tradicionais fatores mercadológicos de oferta ao perfil do público consumidor alvo. Isso significa que sobreviver e prosperar nesse ambiente passou a requerer das organizações atitudes que visassem ao bem estar de todos os seus públicos e à proteção do meio ambiente (CRANE, 2002). Tornou-se não mais possível preocupar-se apenas com o ajuste de fatores relacionados ao preço, à distribuição, ao produto e à comunicação corporativa para a sobrevivência e crescimento das organizações. Srour (2003, p. 43) sintetiza: A bem da verdade, em ambiente competitivo, as empresas têm uma imagem a resguardar, uma reputação, uma marca. E, em países que desfrutam de estados de direito, a sociedade civil reúne condições para mobilizar-se e retaliar as empresas socialmente irresponsáveis ou inidôneas. Os clientes, em particular, ao exercitar seu direito de escolha e ao migrar simplesmente para os concorrentes, dispõem de uma indiscutível capacidade de dissuasão, uma espécie de arsenal nuclear. A cidadania organizada pode levar os dirigentes empresariais a agir de forma responsável, em detrimento, até, das suas convicções íntimas. Kang et al. (2007) destacam ainda que a antiga concepção de marketing, em que a satisfação do consumidor era vista apenas como meta de curto prazo, deixou de ter espaço, uma vez que as organizações tiveram a partir de então que se preocupar com o bem-estar dos seus clientesalvo e da sociedade no longo prazo. Os autores reforçam que as orientações de marketing antigas geraram problemas de imagem para as empresas, que passaram a ser vistas, em muitos casos, como as principais causadoras de uma série de problemas sociais e ambientais, como a poluição e questões de saúde pública. 20 A partir disso, surgiram conceitos da área de marketing voltados para a ação social, tais como marketing de causas sociais, marketing de responsabilidade social, marketing societal, marketing verde e marketing social. Segundo Adkins (2005), o primeiro conceito refere-se às ações que instituições privadas realizam em parceria com instituições de caridade ou de boas causas em prol do bem da sociedade. A autora salienta que essas ações passam longe de ser altruístas, de forma que as empresas que as praticam o fazem em função dos ganhos de imagem que obtêm dessas estratégias. O marketing de responsabilidade social segue a mesma linha. De acordo com MacFadyen et al. (2005, p. 497), o conceito diz respeito ao uso de “causas sociais desejáveis”, ou seja, por ele a organização se engaja em alguma causa de cunho social em função do resguardo da sua reputação. Sobre o conceito de marketing societal, pode-se dizer que: A orientação de marketing societal sustenta que a tarefa da organização é determinar as necessidades, os desejos e os interesses dos mercados-alvo e fornecer as satisfações desejadas mais eficaz e eficientemente do que a concorrência, de uma maneira que preserve ou melhore o bem-estar do consumidor e da sociedade (KOTLER, 2000, p. 47). Kang et al. (2007) ressaltam que uma orientação de marketing societal deve levar em consideração os aspectos gerenciais e de satisfação do consumidor, sem deixar de lado a preocupação com toda a sociedade, incluindo os próprios consumidores, no longo-prazo. O conceito de marketing social aproxima-se tanto da ideia de marketing societal, quanto do conceito de marketing de responsabilidade social (LAZER et al., 1972), enquanto o marketing verde refere-se exclusivamente às ações de marketing voltadas para a proteção da natureza e a sustentabilidade ambiental, principalmente nos sistemas produtivos, e tsobre a responsabilidade do marketing e do consumo sobre problemas ambientais vigentes (PEATTIE et al., 2005). Nessa mesma linha, Kotler (2010) aponta que o marketing agora passa por uma nova fase do ponto de vista conceitual, a qual ele denomina de “Marketing 3.0”. Para o autor, o marketing conceitualmente já vivenciou o período 1.0, que se iniciou com a Revolução Industrial e perdurou até meados do último século. Essa filosofia objetivava apenas a vendas no curto prazo e à otimização de processos produtivos, sem que houvesse preocupação com outros fatores ambientais e relacionais. Para Kotler (2010), esse modelo era extremamente funcional e focado na massificação e ganhos de escala com produtos. Já o “Marketing 2.0”, calcado em conceitos surgidos a partir de meados do século XX, tinha uma visão voltada para 21 a diferenciação e melhor ajuste da oferta ao desejo de consumidores alvo no longo prazo, portanto uma perspectiva relacional. Foi um período em que cresceu muito a economia ao redor do mundo, especialmente nos países industrializados. Consequentemente, aumentou a concorrência em diversos setores e o grau de exigência dos consumidores. Em função desses fatores, a antiga lógica fordista de alta padronização e ganhos de escala passou a ser ineficaz em diversos contextos, tornando-se importante a compreensão do consumidor alvo e do ambiente competitivo antes de se formular a oferta em seus vários aspectos - vale destacar que Kotler (2010) defende que esses modelos ainda perduram em uma série de situações, especialmente o 2.0. O “Marketing 3.0” assemelha-se às noções de marketing ligadas à Responsabilidade Social. Kotler (2010) aponta que nos últimos anos, em função dos fatores já citados, os consumidores aumentaram o grau de exigência sobre as organizações para que estas adotassem posturas mais éticas em relação ao mundo. Por esses motivos, do ponto de vista do marketing como área da prática empresarial e do conhecimento, já não é mais possível simplesmente adotar uma postura alheia aos problemas sociais e ambientais do mundo, até mesmo porque isso tende a se voltar contra as próprias empresas. O que muito se defendeu na academia até hoje é que essas estratégias, independentemente das nomenclaturas que lhes são dadas (pois todas se assemelham muito quanto ao seu cerne e objetivos gerais e, muitas vezes, entram em conflito em suas definições teóricas), normalmente geram ganhos às organizações e esses retornos se relacionam, principalmente, com a imagem corporativa (CARROL, 1999; ADKINS, 2005; TENÓRIO, 2006). Há geralmente, assim, ganho de imagem e, consequentemente, o aumento dos resultados de vendas no médio e longo prazo (CHATTANON et al., 2007), além do fortalecimento da reputação corporativa, o que pode proteger a imagem de uma organização frente a eventuais problemas, como trabalhistas, ambientais ou de relacionamento público em geral. Entra-se nessa discussão outro ponto relevante, que diz respeito aos princípios éticos dessas estratégias e sobre suas motivações, assim como sobre o posicionamento das empresas em relação às políticas socialmente responsáveis que desenvolvem. Neste debate, surgem cada vez mais autores (ANDRADE et al., 2010; SOARES, 2004; XAVIER et al, 2010; FLEMING et al, 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al, 2013; RAJAK, 2011), inclusive no Brasil, demonstrando que o uso de tais estratégias acontece primordialmente no campo do discurso e muito menos em ações efetivas, assim como de que não há nesses casos um princípio ético de fato, uma vez que a motivação final é o lucro, e não o bem alheio – pensando-se a ética como um princípio de relação justa entre indivíduos e grupos, portanto 22 numa perspectiva da ética aristotélica (SROUR, 2003), ponto que foi destrinchado no referencial teórico desta pesquisa. Esses estudos defendem que ações socialmente responsáveis das empresas são quase sempre fruto de uma análise, muitas vezes acurada, de custo x benefícios dos gestores, que vêm nessas práticas oportunidades de ganho para a firma e não um real compromisso com o próximo. Assim como Soares (2004, p. 4) ressalta: Tem-se observado, todavia, que por trás do “discurso cobertura” (a autora refere-se ao discurso público das empresas sobre suas ações de RSC), que deixa transparecer apenas as boas intenções e as motivações socialmente admissíveis para esse novo paradigma organizacional (a responsabilidade social), existem outras razões que levam as organizações a aderirem ao movimento pelo social, razões essas que nem sempre são assumidas publicamente e, em sua maioria, não são questionadas pelo mundo acadêmico. Pode-se, ainda, apontar para contradições existentes entre o que as organizações pregam sobre as ações ditas sociais e as práticas organizacionais. O que se percebe nestas pesquisas é que as organizações têm uma preocupação excessiva em divulgar projetos de cunho social e ambiental, em detrimento das ações de fato, ou seja, o processo acontece especialmente no campo do discurso e menos em ações práticas (ANDRADE et al., 2010; OLIVEIRA, 2005; SOARES, 2004; AAKEN et al., 2013). Os conceitos de marketing que se pautam exatamente nas ações socialmente responsáveis e ecologicamente sustentáveis das empresas para com seus públicos são, assim, muito mais efetivos em materiais publicitários. Por isso, torna-se importante debater se essas políticas de marketing funcionam de fato nas organizações, especialmente como princípios norteadores de gestores e acionistas, ou se normalmente servem apenas como meros instrumentos da comunicação de marketing para reforço de imagem, enfim, se acontecem apenas no campo do discurso corporativo em detrimento da prática cotidiana. Essa reflexão é importante para o desenvolvimento do campo da mercadologia, até mesmo para o seu processo de legitimação como campo de destaque da ciência social, especialmente no Brasil. O marketing, além disso, é muitas vezes percebido na sociedade de forma pejorativa (KANG et al., 2007; GASKI, 1999; D’ANGELO, 2003), de maneira que a atuação incoerente das empresas a partir do discurso socialmente responsável, ou das estratégias de marketing societal e de responsabilidade social, pode servir como subsídio àqueles que argumentam contra a área. Defende-se aqui que se os profissionais e acadêmicos do 23 marketing desejam combater essas visões negativas e validar mais este campo como importante segmento da ciência e da gestão, é válida, especialmente em função das novas práticas empresariais pautadas na responsabilidade social, uma revisão sobre a área no que tange ao uso de estratégias de responsabilidade social e ética corporativa e um debate mais aprofundado sobre o assunto. Nessa linha, vale refletir sobre os rumos que o campo tem tomado em estudos e em ações cotidianas das empresas e principalmente que sejam desenvolvidos trabalhos mais críticos e céticos sobre essa temática, especialmente no campo do marketing. Conforme pesquisa de Rossi et al. (2012), realizada por meio de entrevistas a pesquisadores de diversos campos das ciências sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo, o Marketing é visto naquela instituição de forma pejorativa ou menor, muitas vezes entendido como instrumento de mentira e ludibriação, e essa percepção também ocorre em outros países (CRANE, 2002; WEBSTER E LUSCH, 2013). O campo, assim, costuma ser visto naquele contexto acadêmico de forma negativa e pouco reconhecido como importante ciência - é possível que essa visão também prevaleça nas demais universidades, especialmente nas públicas, do País. Um exemplo dessa desconexão é a omissão, apontada por alguns autores no Brasil, que muitas empresas fazem em seus balanços sociais corporativos de seus problemas ambientais e sociais, enquanto alardeiam, inclusive como uma série de artifícios estéticos, algumas ações de RSC (ANDRADE et al., 2010; OLIVEIRA, 2005; XAVIER, 2011). Salienta-se que essas mídias objetivam exatamente a transparência e a prestação de contas das ações socialmente responsáveis das organizações, independentemente de serem tais informações positivas ou negativas para a empresa. Por isso, não devem servir de veículos de propaganda corporativa. Destaca-se que no Brasil parte dos investimentos em RSC, muito provavelmente a maior parte em diversas organizações, têm como origem recursos de leis de incentivo fiscal, que permitem às empresas alocar verbas que seriam destinadas a impostos em ações socialmente responsáveis. Apenas no ano de 2007 houve uma captação de R$ 973 milhões de reais pela Lei Rouanet, que destina recursos do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas a projetos culturais. Boa parte desses recursos, provavelmente a maior parte, advém de grandes empresas privadas, que deixam de pagar imposto de renda e destinam essas verbas a ações culturais, que são posteriormente divulgadas como ações socialmente responsáveis dessas organizações. A Cia. Vale do Rio Doce, por exemplo, utilizou naquele ano mais de R$ 30 24 milhões em recursos dessa natureza e o Bradesco, em torno de R$ 20 milhões (MORAES, 2009), fato que não é enfatizado (normalmente não é sequer citado) em nenhum material publicitário, contábil ou de transparência das organizações. Pringle et al. (2006) também debatem a questão ao apontar que muitas empresas investem em programas sociais de artes e esportes, que tendem a dar maior retorno de imagem a um menor custo e em menor tempo, mesmo que as pessoas estejam mais preocupadas com questões ligadas à saúde, educação e segurança, que demandarão investimentos de longo prazo. As empresas, além disso, normalmente declaram que tais atitudes ocorrem por motivações éticas, como se tudo fosse feito em função da preocupação de gestores e acionistas com o bem social e ambiental (SOARES, 2004). O conceito de marketing societal vai de encontro a essa ideia e prevê que as ações para o bem social tenham um princípio ético por traz, ou seja, que as organizações tenham a RSC e a ética como princípio norteador de suas ações: Exige (o marketing societal) que as empresas incluam considerações sociais e éticas em suas práticas de marketing. Elas devem equilibrar e fazer malabarismos com três considerações freqüentemente conflitantes: lucros a empresa, satisfação dos desejos dos consumidores e interesse público (KOTLER, 2000, p 47). O problema que se coloca, portanto, é a sustentação prática e teórica desses discursos organizacionais, especialmente no médio e longo prazo, e as consequências disso para a área. Principalmente quando se consideram os novos desafios que se impõem à comunicação de marketing, como a profusão de mídias e a possibilidade de que todos tenham voz nos novos espaços midiáticos (KOTLER, 2010; ARGENTI, 2006; GHEMAWAT, 2012). Esta última questão é especialmente relevante. Muitas organizações, talvez a maioria, ainda não se adaptaram a uma realidade em que um cliente insatisfeito, um funcionário coagido ou um membro da comunidade prejudicado possam expressar suas frustrações a um grande número de pessoas, que podem facilmente reproduzir essas informações a milhares de outros (ROSA, 2007). Ou, ainda, que essas pessoas podem com facilidade registrar por meio de gravações de áudio e vídeos os problemas que vivenciaram e compartilhar essas informações. As novas mídias são um grande e novo desafio às organizações e os padrões antigos de comunicação, predominantemente unilaterais, certamente não servem mais (HENNIG-THURAU et al., 2010; TERRA, 2010). Elas podem servir de oportunidade também, mas as incoerências entre discurso e prática não ajudam nesse sentido. 25 Percebe-se, assim, com base nessas perspectivas críticas, que as empresas buscam as concepções socialmente responsáveis muito mais no campo da Comunicação e pouco no campo prático, a não ser quando ameaçadas por coação legal ou eminente perda de mercado como aconteceu após denúncias de uso de mão de obra infantil por marcas como Nike, WalMart e Ralph Lauren há pouco mais de uma década (PERUZZO, 2007). A recente crise econômica, de 2008, gerou também resultados bastante ruins para a imagem de grandes corporações e seus líderes nos EUA (GHEMAWAT, 2012; PORTER, 2011; HURLEY et al., 2015). Os resultados da crise fizeram com que diversas firmas, especialmente do setor financeiro, passassem a ser vistas pelo público norte americano em geral com muita desconfiança, pois à ganância de gestores dessas empresas foi atribuída boa parte da culpa pelos estragos econômicos e sociais. Certamente, muitas dessas corporações adotavam o discurso socialmente responsável à época (provavelmente todas, dado o tamanho que possuem, ou possuíam, e por naquele período a Responsabilidade Social e a Ética já serem tema de discursos quase obrigatórios das empresas). A crise, aliada a uma série quase infinita de escândalos corporativos, levou a reputação do setor privado ao fundo do poço, pelo menos nos Estados Unidos. Assim, em uma pesquisa de opinião conduzida pelo Pew Research Center em 2009, os respondentes norte-americanos colocaram os executivos em último lugar em uma lista de ocupações em termos de contribuições sociais. Apenas 21% acreditavam que os líderes de negócios contribuíam o bastante para a sociedade (GHEMAWAT, 2012, p. 285). Os conceitos teóricos que giram em torno da responsabilidade social, como é o caso dos conceitos de marketing ligados a essa ideologia, foram elaborados pela academia e são usados por empresas há décadas (CARROL, 1999; KOTLER, 1972), de forma que já houve tempo hábil para que as organizações alinhassem o que dizem ao que fazem. Apesar dessa reflexão, este trabalho visa contribuir com o campo teórico do marketing, especialmente no que tange à comunicação, ao buscar debater seus fundamentos éticos, ontológicos e epistemológicos. Defende-se que é necessário observar com maior acuidade se as práticas atuais de marketing societal, de responsabilidade social (ou de qualquer outra nomenclatura que é dada ao uso de ações socialmente responsáveis e ou de ética corporativa para a melhora da imagem e reputação) tendem a se voltar contra as empresas, exatamente pela falta de fundamentos práticos - conforme os estudos analisados, inclusive estudos positivos para o campo (PORTER, 2011; WEBSTER e LUSCH, 2013). 26 Os processos comerciais ao redor do mundo ajudaram a economia global a se desenvolver nos últimos 100 anos (WILLIANSON, 1989; KRUGMAN, 2001; GHEMAWAT, 2012) e os conceitos de marketing certamente têm papel relevante sobre isso, na medida em que contribuíram para a competitividade das empresas e o estímulo ao consumo, gerando uma economia mundial cada vez mais pujante. Durante esse período, o comércio entre países, e especialmente dentro dos países (GHEMAWAT, 2012), aumentou significativamente e muito disso se deu em função do maior desejo das pessoas em consumir produtos, serviços, marcas e símbolos diversos. Graças a isso, filiais de grandes empresas foram abertas em nações de baixo desenvolvimento, ajudando, mesmo com uma série de conflitos e adversidades, que economias crescessem e que populações melhorassem seu padrão de vida (COUTINHO, 1995). O marketing, além disso, é um indutor do desenvolvimento de novos produtos e tecnologias que tornam a vida das pessoas melhor (apesar de também ajudar decisivamente a criar uma série de produtos que trazem danos à saúde humana ou ao meio ambiente) (HUNT, 2011). A China talvez seja o melhor exemplo disso. Após 1979, período da sua abertura econômica, um grande número de indústrias estrangeiras, que se beneficiavam dos conceitos de marketing, instalou-se no país a fim de aproveitar sua farta e barata mão de obra e explorar seu potencial mercado consumidor. Esse processo, com todas as suas adversidades e contestações éticas e morais, como mostram os fatos históricos, proporcionou e vem proporcionando ao país uma taxa exuberante de crescimento econômico e desenvolvimento social (VIEIRA, 2006; HOBSBAWM, 1995), a ponto de hoje a China possuir a segunda maior economia do mundo. O sentido deste estudo, portanto, não é contestar a importância do marketing e de seus conceitos e ferramentas para a sustentação e o desenvolvimento do comércio e, consequentemente, da economia. Será muito menos contestá-lo como área importante do campo da gestão, que pode auxiliar organizações do país a se tornarem mais competitivas em contextos internos e, principalmente, externos. Defende-se aqui que a disciplina de marketing, que notadamente já enfrenta dificuldades de aceitação na academia e na sociedade - haja vista a forma como a palavra é tratada popularmente e mesmo no meio científico, muitas vezes como sinônimo de mentira ou de ludibriação -, tende a perder ainda mais credibilidade caso limites éticos e práticos não sejam mais claramente estabelecidos e seguidos para essas novas tendências da área, e isso não é 27 interessante no longo e médio prazo a empresas, à sociedade e à academia. Vale neste caso ressaltar: De qualquer forma, certo é que o marketing convive, há bastante tempo, com a crítica, a desconfiança e a dúvida quanto à validade ética e moral de seus princípios e práticas (D’ANGELO, 2003, p. 58). Salienta-se, ainda, que é papel crucial das instituições de pesquisa acadêmica do campo observar e debater essas questões com mais profundidade e de maneira mais crítica, pois a elas cabe o papel de formar professores e profissionais que serão responsáveis, direta ou indiretamente, pela forma como as ações de marketing são conduzidas no dia-a-dia das empresas e consequentemente pela maneira como esse campo profissional será visto (além disso, seria ingenuidade esperar que essa reflexão parta das organizações, na visão deste autor). Cita-se como exemplo neste contexto o estudo de Acevedo et al. (2009), que demonstra que publicitários brasileiros de algumas das principais agências do país não percebem seu comportamento profissional como ético, nem como justo para com o consumidor e demais públicos. Esses mesmos profissionais, contudo, muitas vezes ajudam as organizações a divulgarem suas ações como éticas, a partir do discurso da preocupação com o bem do próximo, da responsabilidade social corporativa e da preocupação com o meio ambiente. Evidências quanto a isso é que não faltam. Uma simples busca a dados públicos, como de processos de consumidores nos PROCONS, de ações trabalhistas, de afastamentos no INSS (ANDRADE et al., 2011), por exemplo, demonstra que grande parte das organizações que se declaram socialmente responsáveis e preocupadas com o bem alheio e com o futuro da sociedade possuem práticas bastante dissociadas do que pregam. Esta tese, por isso, visou debater as bases dos conceitos de Marketing ligados à responsabilidade social e sustentabilidade, especialmente para o contexto brasileiro. Pretendeu-se para isso verificar a compatibilidade entre o que é dito e o que é praticado em termos de responsabilidade social e ética empresarial no Brasil, a partir de dois dos cinco maiores bancos do País atualmente (BACEN, 2015), que fazem uso intensivo do discurso da responsabilidade social. O setor bancário foi escolhido, além disso, pois recentes estudos deste autor já sugerem haver uma série de problemas no discurso de bancos no Brasil, quando comparado a suas ações cotidianas (ANDRADE et al., 2011: ANDRADE et al., 2012) - algo 28 também já apontado no exterior (HURLEY et al., 2014). Essas publicações mostraram uma série de problemas no discurso bancário pautado na ética e na responsabilidade social, quando comparado a dados públicos referentes a processos trabalhistas, juros, doenças ocupacionais (o setor é recordista no país nesse quesito) e ações no PROCON (as duas instituições encontravam-se entre as primeiras em autuações nesse instituto). Este estudo consistiu, basicamente, em verificar a percepção de parte do público consumidor e trabalhador dessas organizações sobre questões práticas que se relacionam à ética e à RSC, questões inclusive que são impostas aos bancos em normas internas e externas - tendo em vista a quantidade de materiais públicos dessas instituições relativos á Ética Corporativa e à Responsabilidade Social, que poderá se constatar adiante, partiu-se do pressuposto de que ambas de declaram éticas e socialmente responsáveis. Salienta-se, ainda, que esta tese não pretendeu ter um sentido prescritivo, de forma a determinar uma solução para esta questão atual do marketing, principalmente na sua esfera da comunicação corporativa – apesar de ter sugerido um importante modelo teórico de análise para o setor bancário brasileiro. O trabalho visou verificar, assim, se a tendência do conceito é cair no descrédito, o que é negativo para o campo do marketing. Especialmente no contexto atual, com a influência das novas mídias sociais, que possibilitam ao cidadão comum não só expor suas frustrações com as corporações, como também compartilhar com um número imenso de pessoas esses sentimentos (KOTLER, 2010; TERRA, 2010). Defende-se também que a academia precisa adotar uma postura mais fiscalizadora sobre as empresas que usam estratégias ligadas à responsabilidade social e ao marketing, e não simplesmente aceitar um discurso organizacional que possa ter pouco ou nenhum embasamento na realidade e que frequentemente apenas aproveita esses conceitos, que visam à justiça, para ter mais vantagens econômicas e políticas (FLEMING et al., 2013). É relevante, assim, que haja um aumento de estudos no campo do marketing que busquem essas comparações entre prática e comunicação. Acredita-se aqui que é importante buscar estudos de maior rigor metodológico para averiguar com maior acuidade essas questões, especialmente pesquisas descritivas e que lidam com dados primários. É nesse sentido que foi desenvolvida esta tese. Até mesmo porque os trabalhos acadêmicos que contestam as práticas e discursos da responsabilidade social e, consequentemente, os conceitos de marketing ligados a essa ideologia, ainda são muito incipientes no Brasil e carecem de pesquisas mais densas para se consolidarem. 29 Além disso, essas pesquisas são quase sempre do campo dos estudos de teorias organizacionais e ocorrem pouco dentro dos estudos mercadológicos – apesar de já haver uma linha de pesquisas nos encontros da ANPAD que visa avaliar a relação entre o marketing e a sociedade, inclusive numa perspectiva mais crítica. Vale destacar que a maior parte dos trabalhos analisados para este estudo não verifica, por exemplo, percepções de públicos de relacionamento quanto a essas empresas. Praticamente todos lidam apenas com dados secundários e levantamentos bibliográficos, de maneira que seria importante também averiguar a questão da RSC na perspectiva desses públicos. A pergunta que guiou este trabalho, portanto, foi: Existe compatibilidade entre a prática e o discurso mercadológico de responsabilidade social de duas grandes instituições bancárias brasileiras, analisando-se a partir da percepção dos seus públicos consumidores e empregados, frente a normatizações éticas e legais? 30 2. OBJETIVOS 2.1 - Objetivo principal Avaliar o grau de compatibilidade ou dissonância entre os discursos e as práticas socialmente responsáveis - que embasam as práticas de marketing social, societal, de responsabilidade social, verde, etc – do Banco A e do Banco B. 2 – 2 - Objetivos Secundários 2.2.1 - Verificar a percepção que empregados dos bancos A e B possuem dessas instituições, especialmente no que tange à preocupação dos bancos com o bem estar e a qualidade de vida de seus trabalhadores e com os consumidores, assim como sobre os parâmetros éticos das instituições, por meio dos Códigos de Ética dessas organizações. 2.2.2 - Avaliar se os discursos oficiais dos bancos que se relacionam a práticas de responsabilidade social e ética, por meio dos seus Códigos de Ética, são compatíveis às percepções dos empregados entrevistados. 2.2.3 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem dessas instituições, no que tange ao cumprimento do Código de Defesa dos Consumidores Bancários (BACEN, 2011). 2.2.4 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem dessas instituições no que tange à ética geral. 2.2.5 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem sobre os serviços das organizações, avaliando a satisfação e lealdade desses públicos. 31 2.2.6 - Verificar o impacto de cada variável do Código de Defesa do Consumidor Bancário na percepção geral de ética dos clientes. 2.2.7 - Verificar o impacto da percepção de ética dos consumidores na lealdade e satisfação desses em relação ao Banco, assim com da satisfação de consumidores com a lealdade. 2.2.8 - Avaliar se o discurso oficial dos bancos que se relacionam a práticas de responsabilidade social é compatível à percepção de clientes. 32 3. REFERENCIAL TEÓRICO O Referencial Teórico é dividido em 5 tópicos. No primeiro, debate-se o conceito de ética, especialmente sobre sua importância básica na responsabilidade social corporativa e o seu uso no marketing. O segundo aprofunda-se sobre as bases epistemológicas da RSC, assim como dos conceitos do marketing ligados ao campo, e as perspectivas no Brasil. No terceiro, é feita uma análise da produção recente de RSC e de ética, tanto geral como no campo do marketing, em alguns dos principais periódicos do campo no exterior. O quarto tópico debate a questão da comunicação mercadológica, seus novos desafios e a relação com este estudo. Por fim, no último tópico, há uma análise sobre o discurso bancário de RSC no Brasil, assim como são apresentados dados públicos e estudos referentes à questão bancária no Brasil, especialmente sobre o relacionamento dessas organizações com clientes e empregados. 3.1. Ética, Responsabilidade Social e Marketing A compreensão sobre o conceito de ética e sua representatividade para o marketing é um ponto central neste debate. Ressalta-se que o estudo da ética é certamente mais complexo que o dos demais tópicos desta tese, além de bastante controverso, mas é imprescindível, por ser a base para os demais temas – a responsabilidade social, o marketing societal, o marketing de responsabilidade social e todos os conceitos teóricos semelhantes que influem sobre as ações organizacionais atualmente. A ética é um conceito estudado há milênios, sendo até hoje passível de vasta discussão. No caso deste estudo, o termo foi considerado a partir do seu princípio aristotélico e filosófico clássico, que define a ética como um mecanismo que deve pautar o relacionamento entre indivíduos em valores como a justiça, a integridade, a verdade e a preocupação com o bem pessoal e do próximo (ARISTÓTELES, 1991; SROUR, 2013; CARROL, 1991) – como será visto adiante, esse é claramente o significado dado à Ética no discurso publicitário das organizações, pois costuma também ser o significado da palavra no cotidiano. E também da sua função normativa, tendo em vista que a ética, seus preceitos e sua base científica servem de alicerce aos códigos de conduta que regem as relações cotidianas das organizações (SROUR, 2013). 33 Foi levada em consideração ainda a ética como o campo da ciência, que tem o estudo da moral como objeto (VASQUEZ, 1998; SROUR, 2003). Vale destacar também que para alguns autores há um consenso de que a ética é antes de tudo um parâmetro para que os indivíduos possam discernir entre o que é certo e o que é errado. Ela, assim, serve para auxiliar as pessoas a estabelecer até que ponto suas ações podem ou não prejudicar ou ser justas com os outros e com isso decidirem quais os melhores caminhos a serem tomados (BARTELS, 1967; PATTERSON, 1966). Essa definição, portanto, não é absoluta, é própria de cada sociedade, tendo seus parâmetros históricos e culturais como norte (SROUR, 1994). De fato, enquanto a Ética filosófica reflete sobre a melhor forma de viver uma vida digna ou sobre “o dever ser”, isto é, tem por objetivo os ideais morais, a Ética científica estuda os fatos morais – observa, descreve, investiga e explica -, ou seja, tem por objeto evidências objetivas. (SROUR, 2013, p. 13) Em Aristóteles (1991), a ética se relaciona à virtude, que para o autor só acontece quando o sujeito toma decisões com base na justiça (o justo-meio) e no bem, de si e do outro: A virtude está em nosso poder, do mesmo modo que o vício, pois quando depende de nós o agir, também depende o não agir, e vice-versa. De modo que quando temos o poder de agir quando isso é nobre, também temos o de não agir quando é vil; e se está em nosso poder o não agir quando isso é nobre, também está o agir quando isso é vil. Logo, depende de nós praticar atos nobres ou vis, e se é isso que se entende por ser bom ou mau, então depende de nós sermos virtuosos ou viciosos (ARISTÓTELES, 1989, p. 47).” Srour (2003) compartilha dessa visão, pois para ele cabe ao saber ético estabelecer parâmetros morais que libertem os indivíduos e a sociedade do egoísmo. Srour (2005) também defende que mesmo quando tratada como ciência é papel da ética avaliar os conceitos morais à luz de uma visão crítica e também estipular um agir correto, com base nos princípios filosóficos da ética. Fica também a necessidade de se diferenciar os conceitos de moral e ética. A moral, para Srour (2005), diz respeito a normas sociais estabelecidas, por consenso ou não e que não necessariamente visam a relações justas entre os indivíduos. Diferentemente da ética, que pode ser uma ciência que estuda as relações ou que como conceito filosófico visa a um parâmetro de justiça nos relacionamentos sociais, a moral pode ser injusta em diversas 34 situações, como já aconteceu (e continua ocorrendo) com leis que permitem a escravidão, a discriminação, o autoritarismo, a expropriação injusta dos indivíduos, etc: A ética opera no plano da reflexão ou das indagações, estuda os costumes das coletividades e as morais que podem conferir-lhes consistência. Com qual propósito? Libertar os agentes sociais da prisão do egoísmo que não se importa com os efeitos produzidos sobre os outros. A moral, em contrapartida, corresponde a um feixe de normas que as práticas cotidianas deveriam observar e que, como discurso, ilumina o entendimento dos usos e costumes (SROUR, 2003, p. 29). Srour (2003) também enfatiza muitas confusões de interpretações que são feitas em torno da palavra ética. O autor dá ênfase ao fato de que ela costuma ser confundida com o conceito de moral, mas que se tratam de termos diferentes. As etimologias das palavras são bastante distintas. A palavra moral tem origem no latim, na palavra “mores”, que significa “costumes, maneiras de agir, normas adquiridas por hábito (SROUR, 2005, p. 307)”. Enquanto a palavra ética tem origem no grego, “ethos”, que significa “caráter distintivo, disposição, modo de ser adquirido (SROUR, 2005, p. 307)”. Há também uma visão de que a ética deve ser puramente cientifica, portanto investigadora. Vazquez (1998), por exemplo, define a a ética como uma ciência que deve se ater a estudar os comportamentos morais humanos. O autor afirma que problemas de ordem moral surgem constantemente no dia a dia das pessoas e suas relações, uma vez que frequentemente precisamos julgar as consequências de suas ações sobre os outros, e vice-versa, para a tomada de decisões de ordem prática. O autor também faz algumas distinções importantes entre ética e moral, que para ele também são comumente vistas como sinônimos. Para Vazquez (1998), existe o comportamento prático-moral, que se baseia em normas previamente estabelecidas, como leis ou costumes, e que determinam a forma como um indivíduo deve agir em determinada situação. Trata-se, portanto, de uma questão prática. Já a ética será uma ciência que deve avaliar esses comportamentos e normas à luz do seu contexto. Neste sentido, como qualquer teoria, a ética é explicação daquilo que foi ou é, e não uma simples descrição. Não lhe cabe formular juízos de valor sobre a prática moral de outras sociedades, ou de outras épocas, em nome de uma moral absoluta e universal, mas deve, antes, explicar a razão de ser desta pluralidade e das mudanças de moral; isto é, deve esclarecer o fato de os homens terem recorrido a práticas morais diferentes e até opostas (VAZQUEZ, 1998, p. 11). 35 Vazquez (1998) ressalta ainda que os parâmetros éticos da filosofia - ligados à análise de conceitos como o de responsabilidade, necessidade e liberdade - servem de base à ciência da ética. Apesar de o autor defender que não é papel da ética como ciência emitir juízos sobre os valores morais, ele aponta que a base filosófica da ética tem grande valor a esta ciência. Ele ainda acrescenta que a ética como ciência, na medida em que avalia a construção histórica dos conceitos morais de determinada sociedade, deve influir sobre a forma como as morais devem ser estabelecidas. O grande problema que se coloca para Vazquez (1998) de se estabelecer normas éticas é que o conceito de “certo” e “errado” varia de acordo com o contexto de análise, ideia compartilhada por Srour (1994). Srour (2013), assim como Vazquez (1998), também ressalta que não se deve permitir o relativismo moral no seio de uma sociedade. - apesar da ética do ponto de vista da ciência ser o campo do estudo da moral, e que o conhecimento científico não formula juízos de valor, mas juízos de realidade, “obseváveis, mensuráveis, verificáveis” (SROUR, 2013, p. 6). Dessa forma, a formulação moral, especialmente nas empresas, deve considerar os costumes e a cultura, mas deve também levar em conta: os diferentes anseios, das diferentes partes; ponderar aspectos históricos relevantes; considerar os códigos jurídicos; etc. Assim, a formulação moral acaba tendo um sentido de busca pela justiça e o bem comum – significado recorrente da ética no senso comum e no discurso corporativo. A ética é também muitas vezes tratada a partir de outras definições, que têm mais a ver com questões comportamentais e a caracterizam como sinônimo de um conjunto de normas. Weber (1967), por exemplo, tratava a “ética protestante” como uma norma, um comportamento social que levava as pessoas, em função das suas inclinações religiosas protestantes, a se dedicarem ao máximo ao trabalho, ao ascetismo e, assim, à produtividade. Para o autor, essa “ética” ajudou o mundo a se desenvolver economicamente e a gerar ganhos materiais, especialmente àqueles que se dedicavam mais à atividade laboral – principalmente no contexto de economias desenvolvidas, como a Norte Americana. Weber, apesar disso, ressalta que essa “ética” absolutamente “racional” poderia levar o homem a um aprisionamento nesse fim, o que contraria a concepção da ética como um princípio que visa ao bem coletivo e individual: Pois quando o ascetismo foi levado para fora dos mosteiros e transferido para a vida profissional, passando a influenciar a moralidade secular, fê-lo contribuindo poderosamente para a formação da moderna ordem econômica e técnica ligada à produção em série através da máquina, que atualmente determina de maneira 36 violenta o estilo de vida de todo indivíduo nascido sob esse sistema, e não apenas daqueles diretamente atingidos pela aquisição econômica, e, quem sabe, o determinará até que a última tonelada de combustível tiver sido gasta (WEBER, 1967, p. 131). Weber (1967) entendia que essa lógica seria um problema futuro às pessoas, tendo em vista que a busca desenfreada por enriquecimento as levava à alienação. O autor ainda acrescenta que a ética (moral) protestante do trabalho tinha um princípio de fato justo e coletivo e foi responsável pelo desenvolvimento inicial dos estados do norte dos EUA, até o início do século XIX. Nesse local e período, havia um senso de coletividade entre as pessoas que permitiu que muitos pudessem produzir e enriquecer em conjunto. Essa lógica, contudo, desvirtuou-se, de maneira que as pessoas passaram a adotá-la em uma busca desenfreada pela riqueza e pela acumulação de bens. Srour (2013), nessa linha, atenta para a questão da ética como um sentido prescritivo, que, inclusive, dá base aos códigos de conduta corporativa, ou aos códigos de ética organizacionais (que serviram de base a este estudo e serão mais bem explicados na seção 5). Habermas (1989) é também um autor que trouxe importantes contribuições ao conceito de ética, especialmente no contexto desta tese - tendo em vista que todos os autores investigados enfatizam que os códigos de ética corporativos devem ser construídos por todos os públicos que dele participam (SROUR, 2013; WAVER, 1993; CHERMAN et al., 2005), assim como o Instituto Ethos (ETHOS, 2015). Habermas (1989) defende a possibilidade de se aproximar da verdade por meio da ética. Salienta-se que uma das principais discussões sobre o tema “ética” gira em torno disso, pois para muitos autores não é possível estabelecer um parâmetro de verdade entre os indivíduos em que se possa pautar a ética. Habermas (1989) defende que é possível por meio do diálogo e consenso, baseados na razão e em um contexto em que não haja coação, nem exercício de poder entre os indivíduos, estabelecer uma parâmetro moral pautado na justiça e na verdade, que dê às pessoas uma noção do que será certo e errado nas suas ações, ou seja, que dê um senso correto de justiça. A ética, assim, é um conceito vastamente estudado no contexto organizacional e empresarial (SROUR, 1994), e também no campo do Marketing (GASKI, 1999). Cabe ressaltar que constantemente nas organizações é necessário tomar decisões que influirão diretamente e indiretamente na vida de públicos diversos, de forma que o estudo da ética assume importância nas ciências que estudam os fenômenos organizacionais. Esse debate torna-se ainda mais relevante quando se trata de organizações com fins lucrativos, especialmente nos 37 tempos atuais, em que as empresas têm sido demandadas a adotar posturas cada vez mais éticas, no sentido de justiça, perante seus públicos de relacionamento e sobre questões ambientais. Srour (1994, 2003) salienta que as organizações devem possuir um agir ético como vantagem competitiva de longo prazo: Como as empresas não operam no curto prazo – são como equipes de futebol profissionais que não jogam apenas uma temporada, são, na medida do possível, perenes -, não podem almejar apenas vantagens imediatas. Negócio, no mundo contemporâneo, não pode mais se assemelhar a um empreendimento corsário. Não por faltarem a alguns empresários veleidades inescrupulosas, mas simplesmente porque os produtos não confiáveis deixam de ser adquiridos e não ocupam mais lugar de destaque na mente dos clientes. Significa dizer terem as empresas ampla oportunidade de agir de forma oportunista, mas dificilmente fazem da trapaça seu apanágio, porque não seria racional matar a galinha dos ovos de ouro. E mais: suas ações estão sob a vigilância permanente de uma sociedade civil capaz de produzir retaliações extremamente onerosas, caso algum abuso empresarial seja detectado. (SROUR, 1994, p. 8) Neste contexto, Enriquez (1997) observou que as organizações modernas cada vez mais são cobradas a preencherem lacunas, em geral deixadas pelo Estado, ou retiradas do Estado, que geram problemas de cunho social e ambiental. A sociedade demanda das empresas um comportamento ético em que a elas tenham de fato uma atuação responsável com o bem de seus públicos diversos, e não apenas com o lucro. A ética, inclusive, torna-se um conceito importante de sustentação da RSC, conforme destaca Carrol (1991, p. 6) em seu modelo teórico de RSC (destaca-se que a ética aqui toma o sentido de justiça e equidade): A pirâmide da responsabilidade social corporativa retrata os quatro componentes da RSC, começando com a noção básica de que a performance econômica é o suporte fundamental de todas as demais. Ao mesmo tempo, espera-se que a empresa obedeça às leis, porque as leis são os códigos sociais de comportamentos aceitáveis e não aceitáveis. A seguir, vem a responsabilidade do negócio em ser ético. O mais fundamental deste nível diz respeito à obrigação da empresa de ser correta, verdadeira e justa, além de evitar ou minimizar danos aos stakeholders (empregados, consumidores, o meio ambiente, e outros). Finalmente, é esperado que o negócio seja um bom cidadão corporativo. Isto é observado na responsabilidade filantrópica, onde se espera que o negócio contribua com recursos financeiros e humanos para a comunidade, melhorando sua qualidade de vida. 1 Apesar da discussão ética nos negócios não se restringir ao campo do marketing (D’ANGELO, 2003), essa área da administração é provavelmente a mais observada nesse 1 Traduzido pelo autor desta tese 38 debate, em função da natureza das suas atividades, pois é de responsabilidade desta área e ciência a aproximação da organização com consumidores e a persuasão destes, por meio de formas diversas, que perpassam todas as áreas tradicionais do marketing (a precificação, a comunicação, a elaboração do produto, a distribuição, etc). Além disso, do ponto de vista teórico a persuasão de demais públicos de relacionamento atualmente também é feita por meio de instrumentos publicitários ligados ao marketing (SHIMP, 2003; ARGENTI, 2006). A discussão sobre ética e marketing, além disso, já é bastante antiga, sendo observada há mais de 5 décadas (STEINER, 1976; FARMER, 1967; ADKINS, 2005). De acordo com D’Angelo (2003), alguns pontos são mais recorrentes quando se trata de ética e marketing. Para o autor, o primeiro deles tem a ver com as ponderações que devem ser feitas acerca dos benefícios e malefícios que o marketing traz à sociedade como um todo e aos indivíduos separadamente. Neste contexto, inserem-se discussões sobre até que ponto a mercadologia é prejudicial às pessoas e à sociedade e quais tipos de sanções e normatizações são necessárias ao campo. Há autores, por exemplo, que apresentam o marketing como instrumento que induz as pessoas a comprarem irracionalmente produtos que muitas vezes lhes prejudicam ou que prejudicam a natureza (TOSCANI, 1996; FARMER, 1967). Outros já demonstram que os conceitos da mercadologia quando bem aplicados podem proporcionar ganhos de competitividade às organizações (KOTLER, 2000; BAKER, 2005; ADKINS, 2005) e isso, obviamente, pode auxiliar na criação de empregos, a aumentar a riqueza e na arrecadação de impostos de um país, dentre outros benefícios. Mesmo empresas que em princípio causam danos à sociedade do ponto de vista ambiental ou de saúde pública, por exemplo, quando observadas por esse prisma podem ser percebidas de forma diferente. Telles et al (2010) propõem para isso que seja feito um balanço por gestores sobre os problemas e ganhos que trarão as ações de marketing, o que eles chamam de “Balanço Ético”, para a tomada de decisões. D’Angelo (2003) cita também algumas questões recorrentes sobre a ética na prática cotidiana do marketing. Para isso, o autor apresenta um quadro (Quadro 1) com questionamentos éticos diversos que as ações de marketing devem suscitar no dia-a-dia das organizações. 39 Quadro 1: Alguns dos Questionamentos Éticos Quanto às Práticas de Marketing (D’ANGELO, 2003) PRODUTO O produto pode causar algum dano ou prejuízo a quem o utiliza? O consumo constante do produto, ao longo dos anos, pode causar algum efeito negativo ao consumidor? As informações prestadas aos consumidores a respeito do produto são suficientes e adequadas à decisão de compra? A empresa omite algum componente do produto que possa causar prejuízos no curto ou longo prazo para o consumidor? O produto lançado tem sua obsolescência planejada, devendo sair de linha dentro de alguns meses/anos e perder valor para quem o adquirir? O processo de fabricação do produto, em algum estágio, causa danos ao meioambiente? A embalagem, embora atraente aos olhos do consumidor, representa desperdício de algum material? COMUNICAÇÃO A comunicação promete vantagens que o produto não pode oferecer? A comunicação direcionada a crianças, incapazes de discernir qualidades e defeitos de um produto, é prejudicial a elas e suas famílias? PREÇO Os pacotes de preço manipulam as percepções de valor dos consumidores? Os preços de acessórios e peças de reposição são muito elevados em relação ao preço do produto, tornando cara sua manutenção? O preço de produtos essenciais (por exemplo, medicamentos) é excessivamente alto, dificultando o acesso de uma parcela do mercado consumidor? PROMOÇÃO Os preços praticados na promoção estão realmente abaixo daqueles praticados normalmente? VENDAS Os consumidores sentem-se pressionados e constrangidos com a postura do vendedor? O vendedor omite alguma informação relevante a respeito do produto, ou exagera suas virtudes? O vendedor tenta empurrar produtos que não são os mais adequados ao consumidor? O vendedor superestima as necessidades do consumidor, oferecendo produtos mais caros? ATENDIMENTO O processo para cancelamento da prestação de determinados serviços é complicado e demorado, tornando o cliente refém da empresa? O acesso aos serviços de atendimento para reclamações e consultas pós-venda é difícil? MARKETING É correto comercializar em países em desenvolvimento produtos que são vetados por órgãos reguladores de nações desenvolvidas, valendo-se de menores restrições legais 40 INTERNACIONAL desses países? Fonte: elaborado a partir de Kotler (1972), Greyser (1973), Moyer e Hutt (1978), Smith (1995), Kotler e Armstrong (1998). Sobre os dilemas éticos apresentados no Quadro 1, percebe-se que o que mais interessa a este trabalho é o relativo à comunicação de marketing (este tema é melhor analisado adiante). É importante observar que alguns dos manuais de marketing analisados aqui definem a ética de maneira muito próxima daquela definição adotada pelos Bancos investigados neste trabalho, de uma ética que se aproxima da justiça e equidade. Eles ressaltam a importância de que as organizações sigam posturas éticas em suas ações mercadológicas (BAKER, 2005; SHIMP, 2003). Todos também são enfáticos na questão da ética como parâmetro de competitividade. Eles mostram, inclusive, muitos exemplos de empresas que em princípio adotaram uma postura ética e obtiveram ganhos competitivos (ARGENTI, 2006). Não é difícil perceber que as discussões sobre questões éticas do marketing estão diretamente ligadas às estratégias de responsabilidade social das organizações (ADKINS, 2005; KOTLER, 2010) e, consequentemente, aos conceitos do marketing ligados a essa área, como o marketing societal, o marketing verde, o marketing de responsabilidade social, o marketing social, etc. Todos esses conceitos, como apresentado anteriormente (e que também serão debatidos adiante), propõem ações corporativas que visam ao bem social e ambiental e que tenham como consequência o ganho de imagem das organizações, além do atendimento a novas demandas da sociedade como um todo. Eles propõem, antes de tudo, que as organizações adotem posturas éticas com o mundo. Salienta-se que o comportamento ético pautado nesses modelos costuma aparecer mais como um pré-requisito para a sobrevivência das empresas hoje em dia, mostrando ao leitor que não agir eticamente pode levar ao fracasso do negócio (ADKINS, 2005). É tratada com muito menos ênfase a importância de que a ética, no sentido de justiça e reflexão, seja de fato um princípio de atuação de gestores, ou seja, que essas pessoas adotem essas posturas como um balizador de suas ações diárias por vontade própria - isso costuma aparecer à margem no discurso dos livros, normalmente é mais enfatizado que uma postura não ética traz problemas de competitividade (SHIMP, 2003; KOTLER, 2000, 2010; BAKER, 2005; ARGENTI, 2006). Entende-se, por isso, que os próprios autores não esperam que gestores e acionistas tenham um comportamento pautado na justiça e na preocupação com o bem alheio por iniciativa 41 própria. Para construir seus argumentos, os autores costumam inclusive ilustrar uma série de problemas sociais, ambientais e de saúde pública que vêm afligindo as pessoas e a relação que se costuma estabelecer na sociedade entre esses problemas e as atitudes das organizações. O seguinte trecho ajuda a ilustrar essa posição: Se bem executado, o marketing de causas sociais proporciona vantagem comercial para todas as partes envolvidas, em que comercial aplica-se igualmente à instituição de caridade, à causa ou à empresa (ADKINS, 2005, p. 478). Conforme já destacado, toda a discussão sobre a ética no marketing e os conceitos de marketing ligados a ações socialmente responsáveis já acontecem há diversas décadas (LUSCH et al., 2013). Lazer et al. (1973) já debatiam tais questões e colocavam a necessidade de que o marketing se ajustasse às novas demandas sociais e não apenas às exigências funcionais de consumidores ou de lucros de acionistas. Os autores já demonstravam que uma série de acontecimentos, especialmente nos EUA, como os problemas ambientais e as preocupações de saúde pública, obrigaram as empresas a considerarem além do lucro outras questões de cunho social, ambiental e político ligadas ao marketing. Eles também enfatizam a importância que passa a ter o parâmetro ético na nova realidade competitiva. Outra questão de natureza ética que se insere no contexto das ações de marketing voltadas para a responsabilidade social diz respeito à concentração de poder nas mãos de empresas a partir da RSC (aspecto melhor debatido no tópico 3.4.2). Levitt (1958) já observava esse problema há algumas décadas, ao afirmar que para o bem da democracia é de suma importância a distribuição do poder entre as instituições, estado e grupos sociais. Para o autor, na medida em que organizações de cunho privado, que têm como finalidade o lucro, dominam funções de ordem social que tradicionalmente são de responsabilidade do Estado, é aberto um perigoso precedente de concentração de poder, o que dá margem para vasta discussão de cunho ético. Essa é, aliás, outra importante discussão sobre marketing e ética. Alguns autores já observaram que nas relações comerciais em geral o poder pende para o lado das organizações (STAR, 1989; SMITH, 1995; GREYSER, 1997), de forma que associar responsabilidades de cunho social às organizações torna-se mais uma forma de concentrar poder em instituições que têm como princípio a busca pelo ganho de acionistas. 42 Para Gaski (1999), o melhor parâmetro ético para uma organização é a lei, que normalmente, na visão do autor, resume o que uma sociedade considera como certo ou errado. Para o autor, os códigos que regulamentam as ações organizacionais, como os códigos de ética ou os códigos profissionais que normatizam os parâmetros e limites de ação de profissionais se inserem nesse contexto. Vale inclusive neste caso ressaltar um pequeno trecho do Código de Ética Publicitário brasileiro (CONAR, 2011). Artigo 19 - Toda atividade publicitária deve caracterizar-se pelo respeito à dignidade da pessoa humana, à intimidade, ao interesse social, às instituições e símbolos nacionais, às autoridades constituídas e ao núcleo familiar (CONAR, 2011). Essa ética normativa também é bastante destacada por Srour (2013, p. 12) no contexto organizacional: Um segundo sentido é prescritivo ou normativo: indica o conjunto de preceitos que estabelecem e justificam normas e deveres, como na expressão “ética protestante” ou “ética estoica” (substituem moral protestante e moral estoica). Também recorrem aos códigos de ética das organizações e aos códigos de conduta profissional, a exemplo das expressões “ética da empresa” ou “ética médica”. Esse aspecto da normatização ética para as organizações foi central a este estudo, pois serviu de parâmetro na elaboração dos instrumentos de pesquisa, portanto, para averiguar a percepção dos públicos consumidores e empregados dos bancos estudados. Enfim, nota-se que a ética é um campo muito vasto de estudo - sendo assim, este breve texto serviu apenas para contextualizar o leitor sobre o tema. É, além disso, um assunto caro e bastante estudado no contexto organizacional e é um dos pilares desta tese. 3.1.1 A ética no cotidiano das empresas e nas práticas mercadológicas Analisar como a palavra ética, assim como seus sinônimos, é normalmente usada no discurso corporativo, especialmente no Brasil, foi um dos objetivos desta tese. Portanto, considerou-se ser preciso verificar qual significado ela normalmente tem na comunicação das organizações. Destaca-se que não é possível definir com exatidão um conceito de moral e ética que é 43 aplicado de maneira abrangente a todos os tipos de organizações, brasileiras e estrangeiras, ou no qual estas se apoiem para planejar suas ações e discursos pautados na ética (SROUR, 2013). O que é possível perceber é que há um uso recorrente no Brasil da palavra ética no discurso mercadológico das empresas, algo facilmente observável nos sites de grandes corporações do país, inclusive das organizações Bancárias que foram objeto deste estudo e serviram de parâmetro para o instrumento de pesquisa (BRADESCO, 2015; CAIXA ECONOMICA FEDERAL, 2015; ITAU, 2015; BANCO DO BRASIL, 2015; SANTANDDER, 2015). Além disso, que esse uso da palavra “ética” está intimamente ligado às ideias e ao discurso corporativo de Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Do ponto de vista didático, e para sermos mais precisos, diremos que o senso comum confere à expressão “ética” três acepções: 1 . confunde ética com moral (sistema de normas morais) que deveria pautar a conduta dos agentes de dada coletividade; 2. converte ética em um valor que serve para qualificar organizações (“empresa ética”), indivíduos (“sujeito ético”) ou comportamentos (“conduta ética”); 3. assimila a ética ao código de deveres profissionais que determinadas categorias convencionam (“ética dos administradores”, “ética dos advogados”, “ética dos engenheiros”, etc). Em todos os casos, consagra o uso descritivo da Ética e presta uma homenagem ao termo, pois, na voz corrente, “ser ético” corresponde a agir de maneira íntegra, confiável, alinhar-se com as expectativas sociais, obedecer aos preceitos morais vigentes. (SROUR, 2013, p. 13). Vale lembrar que agir de forma socialmente responsável é basicamente agir de maneira ética, ou justa e equilibrada, perante os diversos públicos e interesses que envolvem uma organização, e não apenas visando ao lucro de acionistas e à satisfação de consumidores (TENÓRIO, 2006). A palavra ética, portanto, costuma ter no discurso corporativo brasileiro, assim como no restante do mundo, um significado de justiça, equidade e preocupação da empresa com seus públicos. Um significado próximo ao que a palavra ética tem no cotidiano. A Missão do Instituto Ethos (ETHOS, 2013), uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) tida como referência no universo empresarial em RSC e agir ético, sendo inclusive patrocinada por diversas corporações de grande porte brasileiras, ajuda a exemplificar o que fora colocado: A missão do Instituto Ethos é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade sustentável e justa. O Instituto Ethos propõe-se a disseminar a prática da responsabilidade social empresarial, ajudando as instituições a:compreender e 44 incorporar de forma progressiva o conceito do comportamento empresarial socialmente responsável; implementar políticas e práticas que atendam a elevados critérios éticos, contribuindo para o alcance do sucesso econômico sustentável em longo prazo; assumir suas responsabilidades com todos aqueles que são atingidos por suas atividades; demonstrar a seus acionistas a relevância de um comportamento socialmente responsável para o retorno em longo prazo sobre seus investimentos; identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as comunidades na construção do bem-estar comum; prosperar, contribuindo para um desenvolvimento social, econômica e ambientalmente sustentável (ETHOS, 2013). O trecho acima reflete o significado que a palavra ética costuma ter no discurso das organizações, assim como sua relação com a Responsabilidade Social Corporativa - conforme será visto no Tópico 3.5, o sentido dado à palavra ética no discurso dos bancos brasileiros é bem próximo a esse. Em estudo anterior do autor desta tese, por exemplo (ANDRADE et al., 2010), percebeu-se também que três das grandes siderúrgicas de Minas Gerais (empresas que se encontram entre as 20 maiores do estado), utilizam muito a palavra “ética” ou expressões que se aproximam do conceito de justiça, equidade e integridade em seus Balanços Sociais Corporativos, muito mais até que expressões ligadas ao lucro ou ao ganho financeiro em geral. Apesar de haver um uso constante do termo ética e de palavras e expressões próximas na divulgação das organizações brasileiras, provavelmente não há uma reflexão mais aprofundada sobre isso quando esses discursos são produzidos nos departamentos e agências de comunicação corporativa. Seria ainda especulação prever a fundamentação teórica usada na produção desses discursos (até mesmo por experiência profissional do autor desta tese em duas empresas de grande porte que fazem uso recorrente do discurso socialmente responsável). É possível que isso seja fruto de um processo isomórfico, ou seja, as empresas usam o termo em muitos casos seguindo tendências e paradigmas gerenciais, especialmente da Responsabilidade Social, e por isso mesmo de forma inapropriada e desconectada da realidade em diversas situações. 3.2. Responsabilidade Social Corporativa e o Marketing A compreensão sobre o processo que culminou na criação e disseminação das ideias de responsabilidade social é também relevante para este debate. Como já fora dito, os conceitos 45 que giram em torno da responsabilidade social corporativa são fruto de uma combinação de elementos históricos, assim como de um vasto debate acadêmico e empresarial sobre as responsabilidades das empresas frente a seus públicos (CARROL, 1999; TENÓRIO, 2006). O contexto em que os conceitos tomaram força, entre as décadas de 1960 e 1970, caracteriza-se como um período em que debates importantes sobre questões ambientais começaram a surgir. Foi também uma época de grande ebulição cultural, quando uma gama de valores estabelecidos nas sociedades ocidentais passaram a ser questionados por grupos sociais diversos - dentre eles o consumismo, a repressão a minorias, o individualismo, etc (CARROL, 1999). O período compreendido entre a segunda grande guerra e a década de 1970 foi também de grande evolução educacional, além de crescimento e enriquecimento da classe média nos países economicamente desenvolvidos (HOBSBAWN, 1995). Salienta-se, ainda, que na década de 1970 duas crises do petróleo e outros fatores ajudaram na fragilização de modelos de estados de bem estar social em alguns países e criaram o ambiente necessário para a ascensão de modelos econômicos liberais e politicamente conservadores, especialmente na Inglaterra e EUA, que visavam, dentre outros fatores, à diminuição do estado na economia e à desregulamentação financeira (TENÓRIO, 2006). Todos esses acontecimentos, dentre outros, contribuíram para que as empresas passassem a ser mais cobradas a ter atitudes responsáveis e a se preocuparem mais com as consequências de suas atividades produtivas e comerciais, assim como a cobrir lacunas deixadas pelo Poder Público. Houve também muita discussão sobre o papel das empresas na sociedade, o que contribuiu para o surgimento dos conceitos relativos à RSC (CARROL, 1999; MARENS, 2013). Carrol (1999) aponta que estudos sobre o assunto começaram na década de 1930, mas que se acentuaram a partir dos anos de 1960, quando se discutiam principalmente o papel das empresas além da geração de ganho aos acionistas e proprietários. A partir da década de 1970, segundo o autor, houve uma busca por definições mais consolidadas sobre o tema, e nesse período já havia conceitos próximos às ideias atuais, mas que levavam pouco em conta a questão da lucratividade organizacional, ou seja, a questão econômico-financeira era pouco debatida como um dos pilares da RSC. Até esse período, a RSC era vista apenas como uma responsabilidade ética das organizações com seus públicos e com a natureza e não como oportunidade de negócio – salienta-se que o próprio Carrol (1983) no início dos anos oitenta já definia como um dos pilares da responsabilidade social a sustentabilidade econômica, conceito compartilhado por Drucker (1984). A década de 1990 foi um período marcado principalmente pela busca de modelos teóricos que pudessem auxiliar as organizações a 46 planejar e executar ações de responsabilidade social. Salienta-se que nesse período já havia estudos suficientes que correlacionavam ações socialmente responsáveis ao ganho de imagem, pois já existia muito material empírico a ser estudado, uma vez que as empresas, especialmente norte-americanas, já aplicavam (ao menos em seus discursos oficiais) muito a responsabilidade social (CARROL, 1999). É também o período em que outros conceitos derivados da RSC, como as teorias de Stakeholders ou da Cidadania Corporativa, começaram a se disseminar (na visão deste autor, o cerne de todos é muito semelhante à noção da responsabilidade social, como descrita a seguir). Vale lembrar que a RSC atualmente se refere a políticas e ações empresariais que visam ao bem dos diversos públicos organizacionais, internos e externos, assim como à responsabilidade com o meio ambiente e à sustentação financeira. Os conceitos de responsabilidade social partem do princípio de que as empresas devem ter um compromisso responsável com a sociedade como um todo, uma vez que cada stakeholder é direta ou indiretamente, assim como positiva ou negativamente, impactado pelas atividades das empresas (ASHLEY, 2002; TENÓRIO, 2006). A definição do Instituto Ethos coaduna com a visão acima: A noção de responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação empresarial deve, necessariamente, buscar benefícios para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. A adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos e compromissos éticos da empresa fortalece a legitimidade social de suas atividades, refletindo-se positivamente no conjunto de suas relações (ETHOS 2000, citado por TENÓRIO, 2006, p. 7). A RSC é base para os conceitos de marketing societal e de responsabilidade social, dentre outros que se embasam na ideia de que as empresas devem buscar ser equilibradas e responsáveis ambientalmente e na relação com seus públicos diversos (MACFADYEN, 2005; CRANE, 2002; KANG, 2007). A Responsabilidade Social Corporativa também é um termo que, apesar de estudado há mais de 5 décadas, ainda não tem uma definição clara (CARROL, 1999; TENÓRIO, 2006; SANDERS, 2012). Pode-se afirmar, contudo, que a maior parte da literatura define a RSC de maneira muito próxima à observada acima. 47 A percepção atual é de que a RSC tem três pilares básicos: o ambiental, o social e o econômico (TENÓRIO, 2006). A ideia neste caso é a de que a organização deve buscar ser responsável com seus diferentes públicos e com o meio ambiente, sem deixar de lado sua sustentação financeira. Um modelo teórico bastante difundido na academia, já brevemente citado anteriormente, e que vem ao encontro dessa concepção - também conhecida como triple botton line -, é a pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa de Carrol (1991). Esse modelo sugere que a responsabilidade social deve, necessariamente, acontecer em quatro dimensões: a econômica, que diz respeito à esfera financeira da organização, ou seja, a importância de que a empresa seja economicamente viável e rentável; a legal, que prega a necessidade de que as organizações cumpram rigorosamente as legislações vigentes; a ética, que orienta as empresas a terem um compromisso de justiça e eqüidade com todos os seus públicos, o que vai, portanto, além do compromisso legal (o autor defende que muitas leis costumam não ser éticas); e a filantrópica, que orienta as empresas a terem um comportamento altruísta para com a sociedade, concedendo-lhe doações e auxílios para o seu desenvolvimento sem receber nada em troca (o que parece ingênuo, pois obviamente sempre haverá um ganho de imagem, ou do contrário as doações aconteceriam anonimamente). Nesta tese, a responsabilidade social foi também avaliada sob uma perspectiva crítica, embasada em estudos já existentes no País que seguem essa linha (XAVIER et al., 2010; SOARES, 2004), assim como em diversos estudos internacionais, conforme o tópico 3.4 a seguir. Ressalta-se que esses textos tratam a RSC da forma abordada na introdução e problemática desta tese, ou seja, eles defendem que não há de fato um princípio ético por trás disso tudo e também que a RSC acontece principalmente no campo do discurso empresarial em detrimento de ações efetivas. Eles ressaltam, além disso, que ela se dá especialmente por motivações econômicas e legais, e não por questões altruístas ou princípios éticos de gestores, e serve apenas ao propósito de aumento de poder e legitimação organizacional. Parece claro que as concepções de marketing ligadas ao desenvolvimento social e ambiental, como o marketing social, o marketing societal, o marketing de responsabilidade social e o marketing verde são fruto de todo esse debate. Lazer et al. (1973) já abordavam a importância de que a disciplina e a prática do marketing levassem em consideração outras funções além das tradicionais tarefas da mercadologia (como mostrado anteriormente). Os autores enfatizam que naquele período já havia um intenso debate acadêmico sobre a relação do marketing com questões como: o impacto do marketing na qualidade de vida; impactos das ações de marketing sobre a sociedade; a relação entre marketing e pobreza; as possibilidades 48 que o marketing abria para o desenvolvimento, criação de empregos, etc; o uso de ferramentas de marketing para ações de interesse público, como de saúde pública; dentre outras. Como dizem os próprios autores: “The result is a movement from the consideration of profits or sales only, to a consideration of the societal implications and dimensions of marketing decisions and actions (LAZER et al, 1973, p. 4)”. Os autores ainda definem o marketing social como o campo do marketing que se preocupa com o bem social, assim como com as consequências geradas pelas ações, políticas e decisões de marketing. Eles ainda complementam que esta é uma visão mais ampla que a simples visão gerencial. Laczniak et al. (2006) coadunam dessa ideia, ao dizerem que o marketing influi de formas diversas na sociedade, pois, além do âmbito econômico, o mais comumente observado, as ações de marketing têm implicações sociais, tecnológicas, culturais, ecológicas, dentre outras. Por esse motivo, é uma responsabilidade ética do campo observar os impactos sobre outras esferas que não só as financeiras das firmas. Para os autores, contudo, o fator normalmente observado por gestores são os econômicos, enquanto os demais são deixados de lado ou como menos importantes, mesmo que estejam muito presentes no discurso organizacional. Há muitas publicações que tratam termos que conectam o marketing à ética ou à responsabilidade social, mas faltam ao campo modelos teóricos mais sólidos, além de uma distinção mais clara entre as conceituações (MACFADYEN et al., 2005). Apesar disso, a maioria das definições analisadas gira em torno da ideia de que esses conceitos acontecem quando a empresa pratica algum ato de bem-social para seus públicos e, ou, de proteção à natureza. As definições a seguir sobre Marketing Societal e Marketing de Responsabilidade Social deixam isso bem claro: O Marketing Societal preocupa-se em assegurar que os profissionais de marketing comercial façam o seu serviço adequadamente sem prejudicar nem os clientes nem a sociedade (MACFADYEN et al., 2005, p. 497)2 Ou então: O marketing de responsabilidade social utiliza causas sociais desejáveis, tais como o ambiente e o consumismo, para promover os interesses de uma organização comercial (MACFADYEN et al., 2005, p. 497).3 2 3 - Traduzido pelo autor desta tese - Traduzido pelo autor desta tese 49 Pringle et al. (2006), por exemplo, usam o termo Marketing para Causas Sociais para designar ações de responsabilidade social que visam à melhora da imagem de uma marca. Para os mesmos autores, o Marketing Social se refere tanto a ações feitas em parceria com instituições voluntárias de causas sociais, como ONGs, quanto a projetos de RSC realizados diretamente pelas organizações – percebe-se que esta visão não é exatamente a mesma de Lazer et al. (1973) sobre o conceito de Marketing Social. Interessante observar que esses autores estabelecem uma correlação positiva entre investimento em ações sociais e ganhos de imagem, apresentando uma série de casos. É também dada ênfase ao poder que a RSC tem de comunicação (PRINGLE et al, 2006). Os autores salientam que atualmente os espaços midiáticos, assim como a atenção dos públicos, são difusos, de forma que a responsabilidade social pode ser um bom mecanismo para reter a atenção das pessoas. Houve, assim, uma confirmação das premissas apresentadas anteriormente. O marketing nessa abordagem societal foi mostrado especialmente como uma possibilidade de ganho e de ajuste da organização às novas cobranças ambientais. Pringle et al. (2006), além disso, dão ênfase a outros tipos de ganho que ações de RSC geram às organizações, como os ganhos de relacionamentos na cadeia produtiva – destaca-se que muitas ações socialmente responsáveis e sua devida divulgação são pré-requisitos para uma série de certificações ambientais exigidas em diversas cadeias produtivas (DONAIRE, 1999). De modo geral, os autores que estudam o tema abordam os conceitos salientando as vantagens de imagens que essas estratégias geram, independentemente do nome que é dado (PINTO et al., 2004). Alguns tratam inclusive da relação positiva que há entre ações de marketing societal e a geração de sentimentos de afeição com empresas e marcas. Eles destacam neste caso que os consumidores tendem a criar identificação com empresas que adotam estratégias de marketing societal (CHATTANANON et al., 2007; HOEFFLER, 2002). As concepções de marketing societal e de responsabilidade social, além disso, não deixam de lado a questão comercial. Ao contrário, ela é sempre tida como ponto importante. A relação feita entre a questão comercial e as estratégias socialmente responsáveis, salienta-se mais uma vez, dá-se geralmente a partir do ganho de imagem que obtêm as empresas. No Brasil poucos estudos críticos em relação às concepções de marketing societal e de responsabilidade social, e estes, assim mesmo, carecem de mais embasamento empírico. Quando há trabalhos críticos sobre a questão da Responsabilidade Social, eles normalmente se encontram em outras áreas de estudos da Administração, especialmente em temas ligados aos estudos organizacionais (XAVIER, 2011; OLIVEIRA, 2005; SOARES, 2004). 50 3.2.1. A Responsabilidade Social, o Ganho Econômico e o Ganho de Imagem no Brasil Para iniciar este tópico, vale destacar estudo recente (ORELLANO et al., 2011) que concluiu ter havido entre 2001 e 2007 uma correlação positiva entre investimento em Responsabilidade Social no Brasil e desempenho econômico de grandes corporações. Esta pesquisa avaliou 41 empresas com capital aberto na Bovespa e que publicam rotineiramente Balanços Sociais Corporativos. As análises concluíram que empresas que investiram em ações socialmente responsáveis - especialmente voltadas à comunidade, consumidores e públicos internos obtiveram ganhos econômicos consistentes no período (há uma correlação positiva desses investimentos quando se analisam os retornos sobre os ativos e sobre o patrimônio líquido das corporações). Alguns pontos, no entanto, chamam a atenção no estudo. Em primeiro lugar, os investimentos em ações socialmente responsáveis voltadas para empregados, como a concessão de benefícios e bônus em geral, tiveram um peso bastante significativo nos resultados, sendo que os autores chegam a afirmar haver uma relação de causa e efeito. Essas ações geraram ganhos de produtividade para empregados, que se sentiram mais motivados para o trabalho, o que se refletiu na produtividade das empresas, mas é difícil definir até que ponto essas ações se caracterizam como de Responsabilidade Social ou simplesmente estratégias de Gestão de Pessoas que visam ao ganho de eficiência laboral. Algumas outras questões também merecem reflexão no artigo. A primeira delas é que o período avaliado caracteriza-se por forte expansão econômica do País e, consequentemente, de crescimento das organizações privadas, especialmente de corporações como as analisadas, que são de grande porte. Dessa forma, seria difícil que não houvesse essa correlação. Seria interessante inclusive avaliar como se dariam esses resultados em 2009, ano em que a crise econômica internacional atingiu fortemente diversos setores econômicos – os autores inclusive reconhecem que o corte histórico poderia ser maior. Outro ponto de atenção é que o parâmetro para medir o grau de Responsabilidade Social Corporativa das empresas foram seus Balanços Sociais Corporativos, instrumento de comunicação que, em princípio, visa ao transparecimento de informações socioambientais (GRI, 2006), mas que já é apontado por diversos estudos como mero instrumento de propaganda corporativa (ANDRADE et al., 2010; OLIVEIRA, 2005; ARAS et al, 2008; SILVA, 2011), por não atender à função de prestação de contas - normalmente há nesses relatórios muita ênfase a informações positivas e pouco destaque, ou mesmo a omissão, de 51 informações negativas. Isso significa que o parâmetro usado para medir o investimento em Responsabilidade Social das empresas é fruto do discurso dos gestores dessas mesmas empresas. Por fim, destaca-se que o artigo não faz comparações entre o desempenho financeiro de empresas que se declaram socialmente responsáveis com aquelas que não se declaram (normalmente empresas de menor porte). Tudo isso sugere a proposição de Assad et al. (2010), baseada em estudo bibliométrico dos principais periódicos de RSC do mundo, de que não é possível concluir se há de fato uma relação direta entre investimento em RSC e ganho financeiro (aspecto mais detalhado no tópico 3.3): A ênfase dos estudos apresentados neste panorama foi a possibilidade de haver uma relação entre a RSC e a lucratividade como um requisito, e ainda de evidenciar à sociedade que há uma diferenciação entre as empresas socialmente engajadas e as que não são. Os primeiros trabalhos de RSC no debate acadêmico tomaram como pressuposto a existência dessa relação e trataram de investigar se era positiva ou negativa. Trabalhos posteriores questionaram a existência de tal relação, e chegam mesmo à conclusão de que nada se pode afirmar, e que talvez seja impossível estabelecer ou provar sua existência. Entre os dois elementos – a lucratividade e a RSC – se utilizou intermediários de desempenho financeiro com o intuito de investigação, sejam eles, a valorização da ação na bolsa de valores e as variáveis contábeis. (ASSAD et al., 2010, p. 9). Esses resultados têm a ver com questões da literatura de marketing ligadas à Responsabilidade Social e Sustentabilidade e que ajudam a elucidar os questionamentos desta tese. Pode-se dizer que era quase senso comum na mercadologia até pouco tempo que as ações de RSC e sua divulgação geravam retorno de imagem para as organizações (ADKINS, 2005; KOTLER, 2000; KANG, 2007), mas pouco se concluiu também sobre uma relação direta entre investimento em RSC e ganho financeiro por meio do aumento de vendas. Provavelmente, porque concluir essa relação é tarefa extremamente complexa, ou até mesmo impossível, na maioria das situações. É bastante provável que esses ganhos tenham ocorrido até há bem pouco tempo em diversos contextos, mas seria temeroso generalizar essa relação. Da mesma forma, Carrol (1999) afirma que estudos diversos que trataram a Responsabilidade Social e a Sustentabilidade ao redor do mundo nas últimas décadas associam essas estratégias ao ganho de imagem e reputação organizacional, e não necessariamente ao aumento imediato da lucratividade. Ele também destaca que a adoção das organizações aos conceitos da Responsabilidade Social tem muita relação com o contexto histórico da época (ponto que será também tratado no tópico 3.3), que impôs às empresas a necessidade de adotar posturas ou discursos mais éticos. O 52 estudo de Aaken et al. (2013) também reforça a ideia, com base em vasta revisão de literatura, de que são extremamente frágeis os conceitos teórico-instrumentais de RSC que estabelecem uma relação positiva entre investimento e retorno em RSC. Thus, explaining pro-social activities as a form of enlightened value maximization seems to be too simple. In the existing literature there are many examples of companies that have engaged in prosocial activities in the absence of any economic incentive (Matten and Crane, 2005); these empirical examples demonstrate the limitations of approaches that assume profit maximization as the sole explanation for corporate actions. (AAKEN et al., 2013, p. 353) Essa questão, no entanto, não é ponto central deste estudo. O objetivo desta tese não foi fazer medições entre ganho financeiro imediato e a adoção de estratégias de responsabilidade social, mas sim avaliar o compatibilidade entre o que dizem e praticam as corporações. Vale lembrar que é por meio de ações de comunicação de marketing que as empresas declaram suas ações socialmente responsáveis (ADKINS, 2005). Defende-se também que essa contradição, já bastante apontada na literatura (conforme tópico a seguir), é capaz de questionar os conceitos “teóricos” da mercadologia embasados em ações socialmente responsável das empresas – vale lembrar que esses conceitos são adotados em alguns dos principais manuais de marketing como se tivessem fundamentação teórica (SHIMP, 2005; BAKER, 2005; KOTLER, 2003; KOTLER, 2010). Outra questão que merece registro é que não foram encontrados estudos brasileiros consistentes no campo do marketing que associem ganho financeiro de curto prazo com ações de RSC, mas algumas referências que abordam o assunto merecem destaque, como a tese de Serpa (2006). Uma das conclusões da autora é que consumidores cariocas diversos se declararam como preocupados com o meio ambiente e dispostos a pagar até 10% a mais por um produto que se declara ambientalmente responsável. Serpa (2006), contudo, baseou-se apenas no discurso dos próprios consumidores e não mediu se de fato ocorre essa correlação quando o consumo se efetiva, se há assim coerência entre o que as pessoas declaram e o que praticam como consumidores. Nessa linha, vale destacar estudo de Peixoto (2012), que constatou que consumidores paraibanos normalmente, e contraditoriamente, se declaram socialmente responsáveis, mas não demonstram isso quando consomem. Outro estudo interessante sobre o tema no Brasil, mas que já possui mais de 11 anos, é o trabalho de Pinto (2003). Conforme pesquisa do autor, ações de cidadania corporativa, que se assemelham muito às ações de Responsabilidade Social, demonstraram criar pouco impacto na decisão de 53 compra do consumidor varejista de classe média baixa de Belo Horizonte, mas tem impacto importante na identificação de funcionários com as empresas, algo próximo ao que propuseram Orellano et al. (2011). Os principais manuais de marketing normalmente associam o investimento em RSC mais a um ganho de imagem e reputação das organizações do que ao aumento de vendas. Adkins (2005), por exemplo, enfatiza que as ações de Marketing de Causas Sociais protegem a imagem de uma empresa, especialmente no atual contexto das tecnologias da informação, em que fatos negativos podem rapidamente ser compartilhados com um número imenso de pessoas. Nessa perspectiva, agir de forma socialmente responsável é acima de tudo uma forma de blindar a imagem de uma empresa, o que pode, por exemplo, minimizar impactos negativos sobre a imagem quando algum acidente ocorrer. A autora ainda destaca que não há por trás dessas estratégias um princípio de benevolência, mas simplesmente a busca pelo ganho de imagem, o que por si só põe em questionamento a ideia de que as ações socialmente responsáveis são éticas por princípio. Esse ponto de vista também é defendido por alguns outros autores relevantes sobre o tema (TENÓRIO, 2006). A relação encontrada na mercadologia, portanto, tem muito mais ligação com o ganho de imagem e com os benefícios decorrentes do que necessariamente a ganhos financeiros de curto prazo. Vale, por isso, verificar se no novo contexto de comunicação e ceticismo social, principalmente em função das novas possibilidades midiáticas das redes sociais, há uma relação positiva entre divulgação de RSC e ganho de imagem. 3.3. A produção acadêmica internacional de Responsabilidade Social e Ética Corporativa nos últimos anos, especialmente no campo do Marketing Basicamente, há atualmente duas vertentes de estudos no campo da RSC que predominam nos principais periódicos no campo da Administração no mundo. A primeira, de cunho funcionalista, busca o aprimoramento de definições, metodologias e processos da RSC, compartilhando a crença de que a RSC é possível e desejável, além de ter potencial para gerar bons retornos financeiros e de imagem às organizações. Nesta área, há estudos que creem na possibilidade de que a RSC possa ser alinhada à ideologia e objetivos da empresa capitalista, de forma que ela aconteça por princípio dos gestores, e aquela que não vê essa possibilidade, mas que acredita na sua possibilidade pela pressão sobre as firmas (FLEMING et al., 2013). 54 Salienta-se que todos os estudos do campo do marketing encontrados estão nessa perspectiva teórica, tanto os antigos (KOTLER 1973, 2000, 2010; SHIMP, 2005; ADKINS, 2005; CRANE, 2002; KANG, 2007), como os recentes (PORTER et al., 2011; HUNT, 2011; ACHROL E KOTLER, 2012). A outra, de vertente mais crítica, engloba autores que não enxergam possibilidade de aplicação prática na maioria das situações da ideologia da RSC, dada a incompatibilidade do conceito com o princípio liberal da organização capitalista (FLEMING et al., 2013). Esta linha, além disso, atribui à RSC, como já destacado, uma função de mera legitimação das firmas na sociedade como agentes éticos e justos com seus públicos, mas tendo como meta única e exclusiva a diminuição de controle sobre suas atividades. Para essa vertente, portanto, busca-se, por meio da RSC, a eliminação de instrumentos de fiscalização e tributação por parte dos governos sobre as empresas, assim como o aumento de poder econômico e político das organizações na sociedade. O objeto “Responsabilidade Social Corporativa” (e todas as suas derivações) é assim observado numa perspectiva crítica e em um contexto histórico, ideológico, econômico e político muito mais amplo (FLEMING et al., 2013), questões que costumam passar à margem nos estudos favoráveis. Um ponto em comum das duas vertentes, da maior parte dos artigos, é a percepção de que até hoje normalmente houve uma dissonância entre a prática e o discurso do termo ao redor do mundo, com a diferença de que a primeira acredita na possibilidade de aprimoramento e correção dessa questão e a segunda não enxerga essa possibilidade, até mesmo por causa do uso perverso da RSC (PRASAD, 2013). Essas duas vertentes foram tomadas como parâmetros para as análises dos dados empíricos deste trabalho. Obviamente, seria impossível apresentar nesta tese um levantamento geral da produção acadêmica mundial no campo da RSC, tendo em vista que o conceito é tema relevante em praticamente todas as publicações da Administração (além de outras áreas) no Brasil e no mundo – ainda que esse fosse o único objetivo deste estudo, seria impossível tal catalogação. Por esse motivo, e considerando o vasto trabalho de pesquisa empírica empreendido para este estudo, optou-se por escolher algumas das publicações mais recentes sobre o tema, principalmente dos últimos 5 anos, para exemplificar essas vertentes. Todos os periódicos escolhidos encontram-se no nível de avaliação A, segundo o critério Qualis-CAPES. A maior parte em nível A1. 55 3.3.1. A produção acadêmica internacional de RSC na perspectiva positiva e do Marketing, dentro do campo da Administração Primeiramente, ratifica-se mais uma vez que não é objetivo deste estudo averiguar a eficácia das estratégias de RSC e suas derivações no sentido de retorno de imagem ou financeiro, mas sim obsevar a consistência teórica do conceito conforme a atividade prática, portanto sua coerência com o dia a dia das empresas, e as implicações disso para o campo do marketing, tanto no aspecto prático como no da ciência - apesar disso, os levantamentos empíricos desta tese levam a conclusões pertinentes na lógica do retorno sobre investimento, especialmente sobre o retorno de imagem da RSC, inclusive oferecendo um modelo teórico eficiente para avaliar o setor bancário. Tampouco é objetivo distinguir as definições das diversas vertentes do Marketing ligadas à ideologia da RSC, tendo em vista que todas operam dentro de uma mesma lógica, portanto numa perspectiva favorável, e funcionam dentro de uma mesma perspectiva epistemológica e ontológica – como marketing societal, marketing social, marketing de causas sociais, marketing verde, marketing sustentável, etc. Além disso, há muita confusão de significados e definições entre os termos (conforme já observado). Por esse motivo, foram escolhidos artigos que debatem a RSC e a ética no Marketing numa perspectiva mais ampla e, principalmente, que fazem resgates históricos sobre a construção do tema. Como já destacado, tendo em vista o tamanho da produção acadêmica da área, foram escolhidos alguns artigos recentes dos principais periódicos que tratam o tema, especialmente do Journal of Business Ethics e do Journal of Academy of Marketing Science, e a maioria ligados ao campo do marketing para exemplificar as questões acima. Os pontos normalmente encontrados nessa vertente são: acreditar na possibilidade de uma RSC efetiva, portanto que parta de fato de uma ética interna de gestores e não como uma mera cobrança externa (alguns veem inclusive nisso a possibilidade única de sobrevivência da ideologia, como Porter et al (2011)); busca por metodologias e ferramentas de melhorias do processo, principalmente em aspectos de governança e transparência (CHRISTENSEN et al., 2013); e a busca por uma definição e delimitação mais clara dos termos e campos de trabalho ligados ao marketing e à sociedade (PORTER et al., 2011; HUNT, 2011; ACHROL E KOTLER, 2012). Apesar disso, há também um aspecto apontado como negativo pelos autores recentemente: de que o discurso da responsabilidade social e da ética corporativa costuma vir 56 desacompanhado da prática cotidiana das organizações (PORTER, 2011; CHRISTENSEN et al., 2013). Mesmo entre os autores que defendem a vertente de possibilidade da RSC como prática, há aqueles que tecem sérias críticas à dissonância entre o discurso e a prática corporativa atualmente, especialmente após a crise de 2008. Porter et all (2011), por exemplo, escreveu a respeito, salientando a lacuna existente entre a defesa dos interesses de acionistas e consumidores das firmas, contra os demais interesses das sociedades, o que tem levado a um baixo crédito social das firmas. Eles, inclusive, salientam a necessidade de que as organizações privadas façam uma esforço de legitimação, de reconstrução de imagem, até mesmo como estratégia de auto sustentação. Even worse, the more business has begun to embrace corporate responsibility, the more it has been blamed for society’s failures. The legitimacy of business has fallen to levels not seen in recent history. This diminished trust in business leads political leaders to set policies that undermine competitiveness and sap economic growth. Business is caught in a vicious circle. (PORTER et al., 2011). Christensen et al. (2013) também reforçam tal conceito. Os autores defendem que a história da RSC mostra haver grande desconexão entre a prática e a comunicação das empresas, mas eles não refutam a possibilidade de que esse processo possa se inverter: “Based on that observation, we discuss how discrepancies between words and action may lead to decoupling, but also have the potential to stimulate improvements.” (CHRISTENSEN et al., 2013, p. 374). Em seu estudo, é feita uma análise sobre o papel da comunicação nas organizações, salientando-se, inclusive, que para alguns autores uma organização é antes de tudo um processo comunicacional. Os autores debatem questões relativas aos significados das coisas e das palavras, remetendo-se a autores clássicos como Foucault e Schütz, assim como a estudos da área de administração e comunicação social que buscam investigar especificamente aspectos da comunicação corporativa, a fim de compreender as razões que levam à dissonância, ou à superficialidade (como eles mesmos afirmam), entre o dito e o realizado em termos de RSC das organizações. Os autores veem nos conflitos discursivos e de interesses, muitas vezes contraditórios, a origem para esse problema, de forma que a prática da RSC acaba sendo colocada de lado em nome principalmente de interesses econômicos de curto prazo: “In their attempts to balance efficiency and legitimacy, contemporary organizations, in other words ,maintain inconsistencies or gaps between different organizational functions or 57 activities” (CHRISTENSEN et al, 2013, p. 377). Apesar de toda a crítica quanto à hipocrisia da RSC, os autores insistem que o discurso socialmente responsável tem potencial para modificar as organizações e servir como uma “conversa inspiradora” para gestores e demais públicos organizacionais. Eles propõem para isso que a RSC seja debatida de forma plural, envolvendo efetivamente todos os públicos participantes do processo, para que se possa chegar a denominadores comuns e para a efetivação prática da ideologia – algo que se aproxima à uma ética do discurso. Um artigo nessa linha que chama atenção é o de Hunt (2011), importante autor da área de marketing. O autor faz um resgate sobre a evolução das eras do marketing ligadas à responsabilidade social, indo do marketing verde - aquele que incorporou à área os conceitos da preocupação com questões ambientais -, até o marketing sustentável - que incorpora em suas perspectivas teóricas a sustentabilidade de questões sociais e econômicas também. O autor trata então dos desafios para o Marketing de conjugar esses aspectos em suas perspectivas e práticas. Hunt (2011) afirma, ainda, que todas as perspectivas têm como pano de fundo o ganho de vantagem competitiva para as organizações e que o livre comércio é o único caminho sustentável para o crescimento e distribuição de riqueza. Para o autor, não é por meio de ajuda que se poderá aprimorar a riqueza de nações pobres, mas por meio do comércio, e o marketing tem papel central nesse aspecto, no sentido do marketing sustentável. Achrol e Kotler (2012) também fazem um resgate histórico, próximo ao que já fora abordado no livro deste segundo autor (KOTLER, 2010), sobre diversas eras do marketing, indo da era transacional, à relacional, até os desafios e campos paradigmáticos que atualmente influem sobre a área. Eles destacam que mudanças sociais, econômicas, culturais, tecnológicas, políticas e históricas diversas fizeram com que o campo do marketing sofresse uma gama muito maior de influências, migrasse para outros tipos de organizações, além da empresa privada, e também usufruísse de outros eixos teóricos. Na perspectiva desta tese, vale destacar que Achrol e Kotler (2012) incluem no conjunto dos novos paradigmas do marketing, que eles denominam de “Paradigma do Terceiro Milênio”, o do “Desenvolvimento Sustentável”: “The three fields are (1) consumption experiences, (2) marketing networks, and (3) sustainable development. The fields span a reductionist to holistic construal of marketing phenomena. (ACHROL e KOTLER, 2012, p. 36)”. Para os autores, será uma prerrogativa às organizações lidarem com as cobranças e desafios da sustentação socioambiental, e isso precisa ser colocado como um paradigma central da área. Eles chamam a atenção ao final que gestores, além de acadêmicos, precisam incorporar esses desafios. O texto, contudo, mostrou58 se acrítico sobre a efetivação dessas perspectivas na prática corporativa e sempre aborda a necessidade de mudança de maneira reativa a questões macroambientais, ou seja, que a ética é necessária porque as demandas do ambiente mudaram. The decision calculus will become further complicated by serious intangible considerations. The possibilities for stealth marketing and consumer manipulation posed by the NBIC revolution, demands a commitment to establishing high ethical and moral managerial values. For this too, firms will need to be proactively engaged with industry groups and regulators. (ACHROL E KOTLER, 2012, p. 51) Outro estudo recente que chama a atenção, na mesma perspectiva de reorganização teórica e epistemológica do anterior, é o de Webster e Lusch (2013), publicado no Journal of the Academy Marketing of Science. Em seu trabalho, os autores alertam para a perda de credibilidade e espaço do marketing como ciência e prática nas últimas décadas. Eles atribuem isso a uma gama imensa de fatores, mas todos ligados às velhas filosofias da área de pensamento de curto prazo, que põem em cheque a consistência do campo e lhe trazem prejuízos de imagem (questão bastante tratada nesta tese). Eles elencam diversas áreas do marketing que precisam, por isso, dessa releitura, apontando novas fronteiras que o marketing precisa se repensar. Outro aspecto que chama atenção nesse artigo, além do seu nome irônico – “Elevating marketing: marketing is dead! Long live marketing!”-, é que ele adota uma perspectiva mais progressista em termos econômicos e sociais - diferentemente dos estudos anteriormente citados de Hunt (2011) e Achrol e Kotler (2012), que adotam uma perspectiva bastante liberal de política e economia -, citando, inclusive, Roosevelt como exemplo: Marketing must reconsider, redefine, and revitalize its intellectual domain and its purpose in assisting business to achieve what Franklin Delano Roosevelt called “a more abundant life” in the dramatically evolving context of the world economy in the 21st century (Roosevelt, 1936). Today this evolving context is moving toward consideration of such subjective states as happiness at the individual level and aggregated for a nation or the whole world (Helliwell et al, 2012). If it fails to do so it will continue its march toward less relevance to the firm and less legitimacy in the eyes of society. (WEBSTER E LUSCH, 2013). Outro importante estudo analisado é o de Schlegelmilch e Oberseder (2010), que realizaram um extenso levantamento bibliográfico sobre a produção acadêmica da Ética no Marketing, num recorte de 50 anos, até 2008. Ao todo, foram encontrados e analisados mais de 530 artigos, em 58 periódicos. Os autores elencaram os estudos mais citados, os principais 59 autores, os periódicos mais relevantes para o tema por publicação e citações, e os temas de interesse do campo. Eles constataram que com o tempo houve uma organização na temática da ética no marketing, com a diferenciação de diversos campos inerentes ao assunto. Foram identificadas 18 áreas diferentes, que vão desde a ética na educação de marketing, até a ética em produtos, no marketing internacional e ética no marketing ligado à religião. Chamou a atenção, especialmente para esta tese, que os dois temas mais encontrados são sobre a ética no processo decisório de marketing e sobre normas e condutas éticas no marketing, onde se encontram estudos sobre Códigos de Ética Corporativos (utilizados como referência teórica neste estudo para a pesquisa com empregados de bancos). Além disso, apesar do volume absoluto ser extenso, os autores destacam que o tema da ética no marketing é marginal no campo, apesar de suas sérias implicações. Infelizmente, não se categorizaram aqueles artigos que têm cunho crítico em relação aos mais positivos sobre o tema, que visam ao aprimoramento de definições e ferramentais da ética no marketing, mas sem contestar sua possibilidade efetiva (conforme artigos tratados no próximo subtópico). Apesar disso, pelo perfil de publicações, acredita-se que a segunda vertente é a dominante (e também considerando a perspectiva observada da RSC e da Ética nos manuais de marketing já citados). Os autores finalizam o estudo salientando a importância da discussão sobre o tema e aprofundamento e destacando como esta é uma área chave para o campo do marketing no futuro. O último artigo analisado para este tópico, de Wilkie e Moore (2012), extraído do periódico Journal of the Academy of Marketing Science, é também um trabalho de levantamento bibliográfico do campo do Marketing, porém com um recorte maior que o anterior, pois eles vão desde a origem do campo como área de estudo, no início do século XX (o marketing como prática, obviamente, é milenar, tendo começado provavelmente quando surgiu o comércio). Nesse artigo, contudo, os autores dividem a produção acadêmica do marketing em 4 eras, e buscam traçar os temas centrais abordados em cada época. De acordo com os autores, o tema Marketing e Sociedade sempre foi objeto de análise do campo, mas as temáticas da responsabilidade social e da ética especificamente, apesar de aparecerem já na primeira era da pesquisa no marketing, no início do século XX, passam a ser temas relevantes para o campo na terceira era, ganhando força na segunda metade da quarta era, que se inicia nos anos 1980 e segue até os dias atuais. Uma constatação importante dos autores, assim como no artigo Schlegelmilch e Oberseder (2010), é que a temática do marketing e sua relação com a sociedade se dividiu em categorias diferentes. Wilkie e Moore (2012), contudo, 60 os separam em 8 temáticas. Eles ressaltam ainda que o campo é muito vasto e rico e que há atualmente um número grande de autores trabalhando o tema. Percebeu-se, enfim, que o artigo é acrítico sobre a temática, preocupa-se mais em organizar o conhecimento produzido até aqui, que claramente se enquadra, de um modo geral, numa perspectiva positiva para a responsabilidade social corporativa. Um aspecto que fica claro nestas leituras é que mesmo autores consagrados da estratégia e do marketing (PORTER et al., 2011; HUNT, 2011; ACHROL E KOTLER, 2012) identificam uma clara necessidade atualmente de revisão dos pressupostos teóricos do marketing, e todos colocam a responsabilidade social corporativa e a ética corporativa, assim como suas derivações, como um dos aspectos centrais a serem repensados e reorganizados, inclusive como caminho para a legitimação do campo do Marketing como ciência. Mesmo que haja pouca reflexão crítica sobre a questão, especialmente sobre as razões ideológicas e históricas da dissonância entre discurso e prática da RSC, esse aspecto é clamado por todos os autores analisados. 3.3.2. A produção internacional crítica de RSC no campo da Administração Os artigos e textos que trabalham a RSC numa perspectiva crítica claramente estabelecem relações dessa ideologia a questões históricas, políticas e econômicas mais amplas, fazendo uma analogia direta do crescimento do conceito, tanto na academia quanto na prática, com a história recente do capitalismo e o crescimento das ideologias liberais (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011). Há também uma forte crítica às correntes acadêmicas que correm atrás de ferramentas de operacionalização da responsabilidade social sem se atentarem para suas raízes e objetivos reais e, ainda, para a prática cotidiana do termo, que unanimemente é considerado desconexo da realidade diária das organizações que se declaram socialmente responsáveis. Outro ponto recorrentemente salientado é que a RSC na prática é usada muito mais como mecanismo de legitimação das organizações e para alcance dos seus objetivos do que como princípio ético, o que, consequentemente, busca validar a demanda das empresas por menos regulação, fiscalização e tributação por parte do estado e da sociedade. E, por fim, os artigos apontam que a RSC é hoje padrão das grandes corporações mundiais, sendo, portanto, um paradigma imperante, pelo menos discursivamente, nas grandes organizações – certamente isso se aplica 61 ao contexto Brasileiro e não restam dúvidas de que haverá, em maior ou menor grau, a presença do discurso socialmente responsável e da ética corporativa em todas as empresas listadas na Bovespa. Um ponto que chama a atenção nos textos é o uso recorrente de termos como: cinismo, demagogia, hipocrisia, etc. No primeiro artigo analisado, Fleming et al (2013) debatem as origens da RSC, traçando um paralelo com a história econômica recente, assim como a novas tendências na academia, como o renascimento de conceitos liberais nas décadas de 70 e 80. Eles fazem então um levantamento sobre a história da RSC na academia e estabelecem três correntes principais que já foram salientadas anteriormente, que se dividem em duas, uma positiva sobre o termo (englobando as duas primeiras) e outra negativa. A primeira é de uma vertente liberal de pensadores, que têm em Friedman o principal sustentáculo, e reforça a ideia de que o gerente é amoral por natureza e que o papel da firma deverá ser sempre a geração de riqueza, sendo que os ganhos para a sociedade advirão disso (de forma que os conceitos de RSC tornam-se desnecessários). A segunda vertente, a predominante no campo gerencial e acadêmico, defende a possibilidade da RSC ser efetiva, desde que haja uma mudança da filosofia de existência da empresa – corrente que inclui a maior parte dos artigos citados no subtópico anterior. Fleming et al (2013) ressaltam que os autores dessa vertente concordam que ainda não houve a efetivação da RSC, mas que eles creem nessa possibilidade. A terceira vertente é a crítica, portanto, aquela que não acredita na compatibilidade da RSC com a razão de ser das firmas e que vê na RSC uma mera estratégia das organizações para que suas atividades sejam desregulamentadas: “In this respect, CSR in the contexto of a broader political economy of the firm functions as a kind of smokescreen that buys time, and préempts statutory governmental intervention. (Fleming et al., 2013, p. 342)”. Importante destacar que, apesar de toda a crítica que tecem à história do conceito, pois afirmam que a história mostra que a prática da RSC é desconexa do discurso corporativo geralmente, eles dão abertura a um diálogo entre a corrente crítica as demais. Ainda assim, os autores mostram claro ceticismo à real possibilidade da efetivação da RSC e veem na ideologia um mero mecanismo de legitimação das empresas perante a sociedade, que facilita às organizações alcançarem seus interesses econômicos e políticos tradicionais. Eles, dessa forma, não creem que haja a real possibilidade de mudança filosófica necessária para que a RSC seja parte efetiva do processo produtivo. 62 Fleming e Jones (2013, citados por PRASAD, 2013) também traçam uma perspectiva crítica sobre a RSC em seu recente livro “The end of Corporate Social Responsibility: Crisis and Critique”, afirmando ser a responsabilidade social uma mera ferramenta de legitimação dos interesses econômicos das organizações e que os princípios básicos e filosofias da RSC simplesmente não coadunam com os da empresa capitalista, e essa é a razão de ser da ineficácia dos programas de RSC para a sociedade. Eles também traçam um paralelo, assim como no artigo do mesmo autor anteriormente abordado, da disseminação da RSC com o crescimento do neoliberalismo. Eles, portanto, veem na RSC não só uma ideologia ou um conceito sem fundamentação, mas apontam, acima de tudo, a perversidade do seu uso. Os autores salientam, assim, que tanto a RSC como suas derivações não devem ser levadas a sério: “CSR is not really meant to be taken seriously or identified with too ardently. The same might be said for corporate democracy, self-managing teams, a culture of caring and all manner of other liberal motifs in society today” (FLEMING & JONES, 2013, p. 105; citados por PRASAD, 2013). Sanders (2012), na mesma linha, tece críticas aos conceitos da RSC, afirmando que eles foram construídos e aplicados apenas em contextos de economias desenvolvidas, em países, portanto, com alto grau de desenvolvimento humano e institucional. O autor acrescenta a impossibilidade de que tais modelos possam ter aplicabilidade a uma economia globalizada e a países de baixo desenvolvimento e cita vários casos de organizações, como a Google, que flexibilizam seus padrões éticos e normativos para comercializarem em determinados mercados (como o chinês). O autor critica a deontologia da RSC, que de acordo com ele é afastada das práticas das organizações e clama por uma construção teórica do conceito que se baseie na prática das organizações, e não o contrário. Ele ainda critica o direcionamento do debate teórico da RSC girando em torno de busca por ferramentais e definições de conceitos, mas se afastando de questões históricas, políticas e econômicas mais complexas que dizem respeito ao termo e sua relação com a sociedade. Sanders (2012) remete ainda a uma perspectiva maquiavélica para a análise da responsabilidade social corporativa, mostrando ceticismo em esperar que o agir ético de gestores venha por boa vontade. O autor também traça o paralelo do termo com a iminência do liberalismo econômico nas últimas décadas e reforça a ideia de que a RSC tornou-se um mecanismo de legitimação dessas ideologias. Por fim, chama a atenção da academia para o seu papel crítico nesse processo. 63 This situation calls for a serious reappraisal: the conceptual and theoretical delimitation of international CSR research problems cannot rely on idealism, but must integrate lines of realist thought. Dealing responsibly and ethically with duress situations is possible, but only if we take a hard look at ourselves[23], and only if we factor in the reality of the global business environment. In a second move international CSR should re-emphasise the salience of the interface of ethics and institutions. This implies full recognition of the centrality of leadership to business ethics, and, accordingly, to CSR (Poff, 2010, p. 11). Businessschools have a critical role to play here, as they are the ones mapping out the cognitive landscape of tomorrow’s leaders. One of the primordial tasks at hand consists in cautioning future managers against the paucity of international CSR in its current form and providing them with an education in the geopolitical realities and political ethics that must inform lateral, systemic thinking and genuine long-term sustainability” (Paul Sanders, 2012, p. 169) Um livro crítico recente que aborda a mesma questão acima, sobre a prática da RSC em países e economias periféricas, citada pela revista Organization em um de seus resumos, é a obra: “In Good Company: An Anatomy of Corporate Social” (RAJAK, 2011, citado por VELDMAN, 2013). De acordo com a revisão (VELDMAN, 2013), o livro aborda uma etnografia de um projeto educacional patrocinado por uma mineradora multinacional inglesa em um país pobre. Após analisar a fundo o projeto, feito em parceria com uma ONG, o autor percebe diversas incompatibilidades da sua prática com a ideia de divisão de poder com a sociedade e os princípios da RSC declarados. Além disso, enxerga o processo mais como um instrumento de controle e legitimação da firma em seu contexto. O autor aponta, por exemplo, que o projeto induz o aluno a pensar que a empresa faz a ação por mero altruísmo e que, além disso, os estudantes são ensinados dentro dos interesses da organização e que os melhores são cooptados. Ele traça, ainda, um paralelo com outros projetos, identificando a incoerência entre discurso e prática da RSC em geral. Outro estudo que chama a atenção sobre o tema é a pesquisa de Costas et al (2013). Nesse artigo, os autores reforçam a concepção de que a RSC serve como mecanismo de poder e controle das firmas, tanto no âmbito interno como externo, de forma a legitimar no longo prazo os objetivos ideológicos e econômicos dessas organizações, por meio de um discurso ético. Os autores acrescentam que os estudos da área são majoritariamente funcionalistas, predominando a perspectiva de ações de RSC para públicos externos e as avaliações de retorno sobre investimento, principalmente retorno de imagem (ou marketing, como eles denominam). Por essa razão, o estudo é direcionado para a questão da RSC na perspectiva do público interno organizacional, principalmente para o seu uso como forma de institucionalizar dentre esse público a concepção de que as pessoas pertencem a uma organização ética e socialmente preocupada. A pesquisa consistiu na avaliação da RSC em duas empresas alemãs 64 de consultoria, a fim de investigar os processos de disseminação da ideologia da RSC internamente como mecanismo de controle dos empregados, por meio de um sentimento de pertencimento e orgulho gerado nesse público por meio da RSC. Percebeu-se que o discurso da responsabilidade social, mesmo desconectado da realidade, exerce esse papel em muitos empregados, mas que muitos não enxergam consistência no termo, tendo em vista seu cotidiano, sendo que alguns inclusive adotam uma postura cínica frente a isso. Seguindo uma linha de resgate histórico da RSC, Marens (2013) traça um paralelo da ideologia com momentos econômicos vividos nos EUA. O autor aponta que anteriormente à crise de 1929 a RSC, que ainda não possuía esse nome, já era usada como forma de esvaziamento dos movimentos sindicais e de afastamento da regulação e tributação governamental, assim como de legitimação das empresas perante a sociedade. Após a crise, o tema só voltou a ser debatido e praticado com o retorno de ideologias e políticas liberais, a partir da década de 1970, processo que se deu paralelamente à diluição do estado de bem estar social norte americano. Atualmente, segundo o autor, a RSC serve ao mesmo propósito já apontado por outros autores: de possibilitar a diminuição do estado e das regulações nas atividades econômicas, ou seja, serve ao propósito meramente político e econômico das empresas (ou de seus proprietários). O ponto que chama atenção no artigo é a ênfase dada a um “ciclo” na questão da responsabilidade social e da ética corporativa, assim como os ciclos econômicos. O autor salienta que os processos vividos atualmente no que tange a RSC nos EUA assemelham-se muito aos do princípio do século XX e têm os mesmos objetivos e causas, como: concentração de riqueza, desregulamentação trabalhista e financeira, ênfase no individualismo em detrimento do coletivismo, dentre outros. Em suma, portanto, um processo de liberalização econômica. O artigo conclui que apesar das semelhanças de hoje com o início do século XX, as relações trabalhistas atuais são ainda mais efêmeras que naquela época nos EUA, devido a fatores como a globalização da produção ou à imigração, o que torna a RSC ainda menos sustentável no contexto atual norte americano. Isso porque os empresários daquela época ainda precisavam manter algum grau de estabilidade na relação com os empregados, mesmo demandando a eliminação de direitos trabalhistas e sindicatos, pois os trabalhadores eram a base de sua produção, assim como de sustentação política e de mercado. Ao final, tendo em vista os recentes problemas econômicos gerados na economia americana, assim como os novos mecanismos de resistência dos trabalhadores, principalmente após 2008, o autor questiona a possibilidade de que as firmas continuem se legitimando por meio de discursos socialmente responsáveis. 65 Por fim, destaca-se o estudo de Aaken et al (2013), que, de modo geral, verifica na RSC uma motivação extrínseca aos gestores, portanto, amoral. O artigo não assume a impossibilidade da ação prática da RSC – que é chamada de ação “pró-social”, que seriam todas aquelas atividades ligadas ao bem de grupos de interesse da empresa que não sejam clientes e acionistas -, mas também não a confirma. O objetivo dos autores é basicamente verificar as motivações que estão por trás da responsabilidade social e, ou, da ética corporativa. O artigo chama a atenção por fazer uma vasta revisão de literatura do tema e por traçar as perspectivas teóricas e, principalmente, as motivações que normalmente regem a RSC. Os autores atentam para o fato de que a maioria das publicações ressaltam o interesse instrumental como primordial, sendo, portanto, a RSC instrumento para o alcance de objetivos organizacionais diversos (o que refuta a ideia de uma responsabilidade social por princípio ético de gestores). Eles então empreendem na tarefa de organizar as diversas abordagens dentro dessa perspectiva instrumental. Nela, encontram-se basicamente duas vertentes. A primeira é da perspectiva econômica, onde se encontram: a abordagem econômica, a abordagem instrumental da teoria dos stakeholders e a abordagem do modelo de vantagem competitiva de Porter. Nessas abordagens, a RSC é tida como um bom investimento em termos de retorno financeiro e assume-se a possibilidade da RSC ser um bom mecanismo de balanceamento dos diversos interesses de stakeholders, mas enxerga-se a motivação para a RSC única e exclusivamente como econômica. Os autores tecem críticas aos estudos que estabelecem uma relação positiva entre investimento em RSC e retorno financeiro, afirmando que essas análises são em geral muito inconsistentes, tendo em vista inclusive a quantidade de estudos que refutam essa ideia – algo já salientando neste referencial teórico, sobre o retorno de investimento no Brasil. Há, ainda, as abordagens que vão além da perspectiva econômica como motivadora para a RSC e que enxergam nas motivações para essa política causas como a necessidade de legitimação das firmas e de seus interesses ou mesmo de preenchimento de vácuos sociais e jurídicos, como: a política, a normativa da teoria dos stakeholders, a integrativa da teoria do contrato social, a do utilitarismo gerencial e a institucionalista. Destaca-se que toda a análise é feita a partir das concepções teóricas de campo e capitais simbólicos de Pierre Bourdieu (capital social, econômico e cultural), a fim de se separar entre os estudos aqueles que tendem para motivações econômicas, para não econômicas e para ambas na RSC. A conclusão dos autores é que a RSC, de um modo geral, deve ser vista como uma forma de transformação do capital econômico em capitais não econômicos, como forma das organizações de se 66 adaptarem às novas condições do campo, mas que por trás dessa ideologia, ou política corporativa, há sempre a luta pela manutenção ou ampliação do poder. Um aspecto relevante neste subtópico é que as publicações da vertente crítica da RSC coadunam com recentes estudos sobre concentração de riqueza e poder nas mãos da esfera mais rica da população e dos grandes grupos econômicos nos países de economia avançada (PIKETTY, 2014). Conforme Piketty (2014), nas principais nações de economia avançada há um processo em curso há trinta anos de concentração de riqueza, invertendo uma curva positiva nesse sentido observada entre o período pós-guerra e o início da década de 1980. Trata-se exatamente do período de ressurgimento do liberalismo econômico como ideologia dominante na política e na economia, algo observado em todos os artigos aqui tratados (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011). O autor afirma que esse processo historicamente pode trazer consequências políticas e sociais graves e clama à comunidade científica internacional, assim como à empresarial, por uma reflexão a respeito. Claramente, o debate sobre a RSC, principalmente sobre suas reais possibilidades e objetivos, torna-se fundamental numa perspectiva política e econômica bastante mais ampla. O que reforça a importância dos estudos de cunho crítico sobre o tema, especialmente à atenção que esses dão às questões históricas que envolvem a responsabilidade social e, ou, ética corporativa. 3.4 - Comunicação de Marketing O campo da comunicação mercadológica é o que tem maior relação com este estudo, pois é por meio dessa esfera da mercadologia que as empresas divulgam suas ações socialmente responsáveis e, ou, éticas. Além disso, alguns autores têm destacado que a comunicação de marketing tradicional tem perdido sua eficácia nos últimos tempos, especialmente porque as pessoas veem muitas vezes com desconfiança as informações que as empresas lhe transmitem (SHIMP, 2003; ARGENTI, 2006; ROSA, 2007; KOTLER, 2010). Rosa (2007), nessa linha, defende a importância da coerência entre o discurso e prática das empresas para que haja uma reputação sólida. Para o autor, há cada vez mais necessidade que as empresas observem parâmetros éticos não só no campo do discurso, mas também em suas ações cotidianas, sob pena de sofrerem danos à reputação. Argenti (2006) também dá muita importância a essa questão, dizendo ser extremamente importante que as empresas busquem uma coerência entre 67 a identidade que projetam e a imagem percebida por seus públicos. Ele destaca que o discurso de muitas empresas tem caído no descrédito, principalmente em função das novas mídias (que são melhor discutidas no próximo tópico), as quais possibilitam ao cidadão comum expressar suas frustrações de forma massificada e, ao mesmo tempo, ter acesso aos problemas que outras pessoas enfrentam com as empresas. Também por causa das constantes incoerências encontradas pelo público (ele usa dados empíricos de contextos norte-americanos, mas que provavelmente serviriam ao caso brasileiro) entre o que dizem e fazem as organizações – algo bastante apontado no tópico anterior. O autor, no entanto (e contraditoriamente), defende em outra parte de seu livro que o público norte-americano se sente mais inclinado a comprar de empresas que adotam posturas socialmente responsáveis. Os manuais de marketing de serviços, por exemplo, já abordam, quase unanimemente, a perda de eficácia que a comunicação de marketing tem tido nesse setor, exatamente porque o público em geral não percebe a oferta divulgada pelas empresas como compatível ao que costuma ser entregue (LOVELOCK e WIRTZ, 2007; ZEITHMAL e BITNER, 2000; BATESON e HOFFMAN, 2001). Em função disso, as informações pessoais, boca-a-boca, passadas por pessoas próximas passam a ter ainda mais credibilidade, frente àquela direcionada pela organização. Um dos pressupostos da comunicação integrada, onde se insere a comunicação de marketing, é exatamente a transparência e a verdade, não só por questões de cunho ético, mas também em função dos danos que comunicações infundadas podem gerar a uma empresa (SHIMP, 2003; LUPETTI, 2007; ARGENTI, 2006; SROUR, 2005). Destaca-se neste contexto que há estudos que mostram que grande parte dos anúncios de responsabilidade ambiental das organizações, em torno de 85% em contextos norte-americanos, não tem fundamento na realidade (SHIMP, 2003). Não é suficiente para as empresas apenas afirmar que são sensíveis ao meio ambiente. Os consumidores estão cada vez mais céticos e estão cansados de atitudes exploradoras, que não cumprem as promessas de segurança ambiental (SHIMP, 2003, p. 64). Não se propõe aqui a eliminação do uso de artifícios estéticos e de fantasia como ferramentas da comunicação de marketing, mas simplesmente que seja feita uma revisão sobre o que as empresas dizem acerca de suas ações socialmente responsáveis ou de suas pretensões éticas, o 68 que de fato ocorre, o que percebem os públicos e as implicações disso para a mercadologia, em especial a comunicação de marketing. 3.4.1 – Comunicação de Marketing e Imagem Corporativa no contexto da RSC Este tópico do referencial relaciona-se também com outro ponto importante sobre essa temática: o da imagem organizacional. Há uma diferença entre trabalhar imagem corporativa, comunicação de marketing e a função das estratégias de Responsabilidade Social Corporativa. Em primeiro lugar, imagem corporativa é um termo extremamente amplo e também de grande discussão. Para Argenti (2006): “Imagem é a empresa vista pelos olhos de seus públicos. Uma organização pode ter diferentes imagens junto a diferentes públicos (ARGENTI, 2006, p. 60).”. Dentro da mercadologia, por exemplo, ela é entendida como as diversas percepções que os públicos organizacionais constroem sobre uma empresa ou marca – normalmente os estudos de imagem em marketing associam-se às interpretações diversas que os públicos, especialmente consumidores, fazem das marcas, portanto as diversas imagens que se constroem sobre uma marca (KELLER, 1993). Nesses casos, apesar de imagem ser um conceito extremamente subjetivo, buscam-se pontos em comum na imagem formada por determinados segmentos de público a respeito de uma marca, produto ou organização. Atualmente, percebe-se que o trabalho de construção de imagem de uma empresa não pode se resumir a consumidores, mas deve ser expandido a demais públicos – e é nesse contexto que aparecem os conceitos de marketing ligados à responsabilidade social e à ética (MACFADYEN et al., 2005; LAZER et al., 1973; ADKINS, 2005; KOTLER, 2000). Dessa forma, a construção da imagem de uma marca ou de uma organização não se resume ao processo de comunicação de marketing e muito menos às estratégias de Responsabilidade Social de uma empresa. Tudo aquilo que de alguma forma afeta a convivência entre uma organização e seus públicos afeta a imagem dessa organização, ou seja, tudo referente ao cotidiano organizacional afeta sua imagem. O preço que se estipula para os produtos, as estratégias de recursos humanos, a qualidade dos produtos, a relação da organização com a mídia, comunidade e poder público, dentre vários outros fatores, têm relação com a construção da imagem de uma empresa (SHIMP, 2005; ARGENTI, 2006). A RSC, nesse entendimento, é uma parte da construção da imagem de uma organização. Na perspectiva 69 desta tese, a incoerência entre o discurso e a prática socialmente responsáveis pode ser, se já não estão sendo, um ponto de desgaste para a imagem das empresas e consequentemente para os conceitos de marketing ligados a esses aspectos. Neste contexto, destaca-se inclusive a nova realidade de tecnologia de informações e redes sociais (KOTLER, 2010; GHEMAWAT, 2012), que dificultam ainda mais o trabalho de gerenciamento de imagem e reputação de uma empresa (tema que será avaliado no próximo subtópico). 3.4.2. As mídias sociais Talvez o principal acontecimento do ponto de vista da comunicação nos últimos anos seja a popularização das mídias sociais, especialmente no Brasil (GHEMAWAT, 2012; ROSA, 2007) - vale para o caso brasileiro, no entanto, fazer a ressalva de que em torno de 60% da população do país continuava fora do universo da internet até 5 anos atrás (TERRA, 2010). Essas mídias, que hoje não se restringem a computadores, mas já podem ser utilizadas de diversas formas e meios, criaram novos desafios para as organizações, pois elas já são populares e permitem que cada cidadão que delas participa possa ter voz e ao mesmo tempo compartilhar suas opiniões com um número imenso de pessoas - apesar dessa liberdade não acontecer em todos os países (GHEMAWAT, 2012). As novas tecnologias permitem também ao cidadão comum fazer registros de som e imagem de situações corriqueiras, inclusive de problemas que têm no cotidiano com as organizações, e divulgar esses arquivos (KOTLER, 2010). Kotler (2010) sustenta que uma das características dessa era é a alta participação do público em geral no contexto da comunicação, assim como o senso de colaboração existente entre as pessoas no sentido compartilhar informação e de alertar sobre problemas diversos, incluindo problemas das corporações. A nova onda de tecnologia é formada por três grandes forças: computadores e celulares baratos, internet de baixo custo e fonte aberta. A tecnologia permite que os indivíduos se expressem e colaborem entre si (KOTLER, 2010, p. 7). O autor salienta a ascensão das mídias sociais. Ele faz ainda a separação entre dois tipos de mídias dessa natureza. Ao primeiro tipo ele dá o nome de “Mídias Sociais Expressivas”, que 70 incluem: “blogs, Twitter, Youtube, Facebook, sites para compartilhamento de fotografias, como o Flickr, e outros sites de networking social (KOTLER, 2010, p. 7)”. Este primeiro grupo é mais interativo e dinâmico, permitindo a todos ter acesso e participação fácil no processo de comunicação. Ao segundo tipo ele dá o nome de “Mídias Colaborativas”, que incluem sites como o Wikipédia. Essas mídias salientam a disposição de muitas pessoas e grupos em colaborar com a informação e o conhecimento livre, algo que, assim como as “Mídias Sociais Expressivas”, pode ameaçar o negócio de diversas corporações. Kotler (2010) enfatiza o poder que essas mídias, principalmente com o ganho que têm tido de popularidade e acesso, possuem de influenciar as pessoas, especialmente porque nelas as informações costumam ser geradas por indivíduos independentes, e não por pessoas ligadas a corporações. Para Kotler (2010), a comunicação tradicional tende a perder eficácia (assim como sugerem os autores de marketing citados), exatamente porque as pessoas confiam mais em fontes independentes e, principalmente, naqueles indivíduos do seu convívio, ou seja, naqueles que conhecem de fato. O autor ainda destaca a preocupação global que as empresas precisam ter com suas imagens, uma vez que problemas ocorridos em praticamente todos os lugares podem ser fácil e rapidamente registrados e transmitidos a todo o mundo. Muitos grupos de consumidores também vêm modificando muito seus comportamentos com as novas mídias. Hennig-Thurau et al (2010) apontam que o consumidor da nova mídia tende a ser muito mais crítico, a buscar e compartilhar mais informações e a realizar mais comparações para realizar suas compras, especialmente em função das facilidades que a internet proporciona para isso. Terra (2010) destaca ainda a importância que têm ganhado os usuários ativos de mídias sociais, pessoas que fazem uso intenso dessas mídias a fim de não só de consumir, mas também de produzir informação em rede. A esses grupos a autora dá o nome de “Usuários Mídias”. Para Terra (2010), esse público tem se tornado cada vez mais comum nas redes e possui cada vez mais poder de influir sobre outros. Essas novas mídias, portanto, modificaram a relação de poder entre empresas e públicos de relacionamento. Essa relação que era predominantemente assimétrica, pendendo muito para o lado das corporações, pendeu para o lado dos indivíduos, que têm agora por meio das redes sociais melhores mecanismos para debater e expor a um grande número de pessoas suas percepções acerca de uma marca (TERRA, 2010). Por esses e outros fatores as empresas hoje estão muito mais vulneráveis que há alguns anos e precisam mais do que nunca se preocupar com a coerência entre o que dizem e que de fato 71 fazem (ROSA, 2007). Isso significa que o trabalho de cuidar da imagem e reputação organizacional atualmente é muito complexo e não pode se restringir ao campo do discurso publicitário, pois o cidadão comum atualmente tem condições de criar grandes problemas e constrangimentos às empresas quando estas agem de maneira antiética ou incoerente com o que dizem. Percebe-se, enfim, que os novos rumos da comunicação, rumos sem volta, não permitirão mais às empresas sustentarem discursos sem fundamentação, como têm demonstrado ser os discursos socialmente responsáveis em alguns dos estudos analisados acima. Isso só reforça a necessidade de uma revisão teórica sobre os conceitos de marketing que de alguma forma se conectam aos conceitos de ética e da responsabilidade social, assim como a maneira como as novas mídias podem influir nesse processo. 3.5 O Discurso Publicitário de Responsabilidade Social Corporativa dos Bancos no Brasil e dados públicos do setor bancário referentes ao relacionamento com clientes e empregados Tendo em vista os objetivos deste estudo, foram buscadas algumas informações relativas aos cinco maiores bancos do País (BACEN, 2015), sendo que dois serviram para as análises de campo que são apresentadas a seguir. Destaca-se que os dois foram escolhidos em função do uso intensivo que fazem do discurso socialmente responsável como estratégia de marketing, algo facilmente observável no site das instituições ou em propagandas televisivas e gráficas destaca-se que o setor bancário encontra-se entre os principais investidores em comunicação corporativa, inclusive por causa do seu porte e importância econômica, além da sua característica de atividade varejista (OBSERVATÓRIO DE IMPRENSA, 2010). Em estudo recente realizado por este autor, constatou-se que dentre os 5 maiores bancos brasileiros dois têm discurso publicitário desconexo de dados secundários diversos de fontes oficiais e mesmo de padrões legais (ANDRADE et al., 2011; 2012). Como exemplo, cita-se estudo realizado pelo IPEA (2010), Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, que demonstra que os juros bancários no Brasil são abusivos. Comparados a alguns países, os juros para pessoa física chegam a ser dez vezes maiores – uma das principais razões para os lucros elevados. Outro fator que chama a atenção são os problemas de doenças ocupacionais que envolvem o setor bancário. Conforme estudo do Ministério da Fazenda 72 (MINISTÉRIO DA FAZENDA, 2008), o setor bancário apresenta índices muito elevados de doenças ocupacionais, sofrendo por causa disso tributação extra, tendo em vista o ônus que geram à seguridade social. O PROCON de São Paulo (PROCON SP, 2011) também apresenta o setor bancário como um dos principais em termos de autuação. Dados reforçados por Santos (2011), que mostra o problema de suicídio e doenças ocupacionais como normais no setor bancário brasileiro, especialmente no período de reestruturação do trabalho bancário das últimas décadas: Pesquisa realizada por Maciel et al. (2006) concluiu que 4,37% dos bancários estudados (população aproximada de 425.000 trabalhadores, em 2006) apresentavam quadro de ideação suicida, constatando, ainda, alta taxa de indivíduos com problemas de nervosismo, tensão e preocupação (60,72%), transtornos de sono (42,14%), dor crônica de cabeça (37,37%), sensações desagradáveis no estômago (33,4%), dentre outras. Quase 39% dos entrevistados relataram vivências constrangedoras no trabalho relacionadas principalmente com a chefia (excesso de trabalho, autoritarismo e foco exagerado na produção). Xavier (1998) demonstra que, entre 1993 e 1995, 72 bancários brasileiros cometeram suicídio (um a cada 15 dias), número atualizado por Finazzi-Santos (2009): foram oficialmente mais 181 óbitos entre 1996 e 2005 (um a cada 20 dias), com a ressalva de que esse tipo de morte apresenta, de acordo com Schmidtke et al. (1999), elevado índice de subnotificação. Finazzi-Santos (2009) constatou ainda que quase 80% dos bancários suicidas eram homens, 60% possuíam mais de 40 anos de idade e 52% eram casados. Além disso, as duas principais causas de afastamento de bancá- rios para tratamento médico, de 1995 a 2008, tomando como referência o banco do estudo de caso, foram “doenças do tecido musculoesquelético e dos tecidos conectivos” (32%) e “transtornos mentais e comportamentais” (23%). Salientamos que a primeira causa também possui relação direta com a organização do trabalho em vista da elevada incidência de LER/DORT na categoria (ROSSI, 2008). (SANTOS, 2011, p. 72) O setor bancário brasileiro, apesar do crescimento da lucratividade, teve redução do efetivo de trabalho de aproximadamente 40% nas últimas décadas (EBC, 2012), de acordo com dados do DIEESE. É importante frisar que os bancos brasileiros, especialmente os maiores, costumam ter alto grau de fidelização de consumidores (ZACHARIAS et al., 2008). Segundo Amaral et al. (2010), esses índices, contudo, são mais fruto dos altos custos de mudanças que os clientes encontram no setor bancário, inclusive pela impossibilidade de alternativas, e não necessariamente pelo alto grau de satisfação dos consumidores. A perda de credibilidade no setor bancário é um problema de ordem mundial, que se reforçou a partir de 2008 (HURLEY et al., 2014) e que agora ganha destaque com o caso do Banco 73 HSBC (THE GUARDIAN, 2015). Em estudo recente, Hurley et al (2014), num importante periódico especializado em marketing bancário, chama a atenção para o problema: The effect of a loss of trust was felt globally during the global financial crisis (GFC) of 2008 when money stopped moving and the economy ground to a halt. Joseph Stiglitz (2008), the Nobel-Prize-winning economist, summarized the problem well when he said, “financial markets hinge on trust, and that trust has eroded.(HURLEY et al., 2014, p. 348). Já que não houve uma etapa metodológica específica para avaliar o discurso socialmente responsável dos bancos, apesar de serem apresentados à frente trechos dos códigos de ética dos 5 maiores bancos, julgou-se interessante apresentar trechos das páginas de internet das próprias instituições que atestam o compromisso ético e socialmente responsável que assumem (existe um grande volume de informação a respeito no site dos 5 bancos). Queremos que nossos resultados financeiros venham, cada vez mais, de negócios que beneficiem o Santander, a sociedade e o meio ambiente. Para isso, estruturamos nossa atuação em três eixos: inclusão social e financeira, educação e negócios sustentáveis. (SANTANDER, 2015) Comportamento ético: o Código de Ética da Caixa foi construído com a participação de todos os empregados por meio de pesquisa interna. Esse processo permitiu que fossem validados os valores: Respeito; Honestidade; Compromisso; Transparência e Responsabilidade. (CAIXA ECONOMICA FEDERAL, 2015) O Itaú Unibanco, ao somar valores e atitudes das instituições que lhe deram origem, fortalece seus compromissos com o respeito aos direitos humanos, à responsabilidade socioambiental e à conduta ética. (ITAÚ, 2010) Fundamentados em valores éticos, como respeito e transparência, conduzimos nossa atuação com foco em: incentivo aos investimentos; democratização do crédito e dos seguros; ampliação da oferta de produtos, serviços e soluções; e promoção da inclusão financeira, com o apoio da capilaridade de nossa Rede de Atendimento. A sustentabilidade é parte integrada aos processos de gestão da Organização, com aderência às premissas, iniciativas e práticas voltadas ao desenvolvimento sustentável. Desde o início de nossas atividades, temos como filosofia ser um banco de portas abertas, receptivo a todos os que nos procuram, independentemente de sua condição financeira. (BRADESCO, 2015) A postura de responsabilidade socioambiental do Banco do Brasil tem como premissa a crença na viabilidade de se conciliar o atendimento aos interesses dos seus acionistas com o desenvolvimento de negócios social e ecologicamente sustentáveis, mediante o estabelecimento de relações eticamente responsáveis com seus diversos públicos de interesse, interna e externamente. (BB, 2010). 74 Nas duas situações em que aparecem a palavra ética nos trechos acima, elas têm a conotação de justiça, equilíbrio e equidade. Vale também apontar um pequeno trecho do Código de Defesa do Consumidor Bancário (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2011), que será melhor detalhado na seção 5 desta tese: Art. 5º É vedada às instituições referidas no art. 1º a utilização de publicidade enganosa ou abusiva. Parágrafo único. Para os efeitos do disposto no caput: I - é enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação capaz de induzir a erro o cliente ou o usuário, a respeito da natureza, características, riscos, taxas, comissões, tarifas ou qualquer outra forma de remuneração, prazos, tributação e quaisquer outros dados referentes a contratos, operações ou serviços oferecidos ou prestados. Tendo em vista todas as questões apontadas, considerou-se que o setor bancário brasileiro serviria como bom parâmetro de análise para este estudo, portanto, para confrontação de padrões éticos e legais impostos extrínseca e intrinsecamente aos bancos, frente à percepção de parte do público consumidor e trabalhador (conforme detalhamento metodológico adiante). 75 4. METODOLOGIA Esta pesquisa se caracteriza como um estudo de casos múltiplos, uma vez que foram analisados em profundidade a percepção de clientes e empregados de dois grandes bancos brasileiros, os Bancos A e B, especialmente no que tange aos aspectos relacionados ao marketing e à responsabilidade social. Salienta-se que o estudo de caso tem a finalidade de verificar em profundidade e de forma empírica um ou poucos objetos, com a finalidade de compreender determinado fenômeno de maneira mais aprofundada (LAVILLE et al., 2007). O estudo de caso é algumas vezes contestado em função da sua capacidade de generalizações (LAVILLE et al., 2007). No caso desta pesquisa, contudo, foram analisados dois dos 5 maiores bancos do País atualmente (BACEN, 2015), os quais foram mantidos em sigilo em toda a pesquisa. A escolha, portanto, aconteceu por um critério de tipicidade, mas a partir de um julgamento coerente deste autor com a representatividade das instituições. Destaca-se que ambos, além disso, possuem forte investimento em ações e comunicação de RSC, que dão embasamento ao às ações de marketing ligadas à RSC, algo que pode ser constatado nas páginas dos grandes bancos brasileiros – dentre eles, os dois aqui analisados (BRADESCO, 2015; ITAU, 2015; CAIXA ECONOMICA FEDERAL, 2015; BANCO DO BRASIL, 2015; SANTANDER, 2015). Acredita-se também que uma análise aprofundada de poucos objetos no contexto desta pesquisa pode trazer informações que deem maior embasamento a uma contribuição teórica. Além disso, uma análise aprofundada de uma amostra representativa de bancos seria impraticável para este estudo. A pesquisa foi, ainda, de natureza descritiva e causal, tendo em vista que cada aspecto do estudo – a percepção de clientes e empregados – foi analisado em profundidade, a partir de metodologias quantitativas e qualitativas de natureza descritiva e causal (seguem abaixo melhores esclarecimentos), de acordo com Gil (2006). Houve duas etapas: uma de natureza quantitativa e descritiva, para verificar a percepção de parte do público consumidor das instituições sobre questões mercadológicas, legais (no que tange ao direito do consumidor) e éticas/RSC dos bancos; e outra para averiguar a percepção de empregados das instituições sobre aspectos da mesma natureza. 76 As duas etapas foram necessárias para averiguar a sustentação prática e teórica dos discursos relacionados aos conceitos de ética e responsabilidade social corporativa. Importante também destacar que não foram encontradas teorias de marketing, dentro da temática proposta, que dessem suporte adequado para a formulação de todos os instrumentos de pesquisa ou que servissem de parâmetro às análises das entrevistas no que tange à RSC. Em função disso, os métodos tiveram por base dois instrumentos, um legal e um autonormativo, que fazem parte do cotidiano dessas instituições e estão ligados às questões da ética e da responsabilidade social. São eles: o Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2011) - documento do Banco Central do Brasil utilizada para utilizado para regular a relação entre as organizações bancárias e seus consumidores -, que serviu de parâmetro como instrumento de pesquisa para avaliar a percepção de clientes; e os Códigos de Ética das 5 maiores instituições bancárias do país (BRADESCO, 2015; ITAU, 2015; CAIXA ECONOMICA FEDERAL, 2015; BANCO DO BRASIL, 2015; SANTANDER, 2015), que serviram para formular o roteiro de entrevistas para empregados. Os Códigos de Ética (que estão detalhados e explicados adiante), são, portanto, referências deontológicas que servem para pautar o comportamento dos membros da organização, assim como entre os mesmos (especialmente entre os de níveis gerenciais e diretivos para com os de níveis operacionais). Houve também a utilização de modelos teóricos do campo do marketing para a avaliação da percepção de consumidores quanto à satisfação, com base em Oliver (1997), e lealdade, a partir das orientações de Pizzuti (2001), com as instituições, além da referência teórica de Maignan (2001), usada no modelo teórico para avaliar a percepção de ética que clientes têm dos bancos. Importante destacar que tanto o Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2011) quanto os Códigos de Ética bancários serviram como bons parâmetros de análise, pois eles já fornecem indicadores morais bem próximos de um ideal que as instituições devem seguir em seu cotidiano, dentro dos aspectos de ética e responsabilidade social. Por se tratarem de procedimentos metodológicos muito extensos e complexos, optou-se por deixar o detalhamento metodológico de cada etapa da pesquisa junto às análises. De antemão, destaca-se apenas que as entrevistas com empregados foram em profundidade e estruturadas (LAVILLE ET ALL, 2007) – apesar do acréscimo de algumas questões ao longo das conversas - e analisadas por meio de metodologias de Análise de Conteúdo (BARDIN, 2004; BAUER, 2007). Ao todo, foram entrevistados 18 empregados de cada instituição, o Banco A e o Banco B. 77 Já o survey com os clientes foi feito a partir de um questionário estruturado, a partir de afirmativas em escala likert, e orientado a partir de metodologias de estatística multivariada (HAIR, 2014; MALHOTRA, 2004). Ao todo, foram entrevistados 682 clientes do Banco A e 717 do Banco B. Para esta etapa houve também a elaboração de um modelo teórico preditivo, que buscou relação entre os construtos. O cumprimento dos objetivos, portanto, foi realizado da seguinte forma (Quadro 2): Quadro 2: Cruzamento entre Etapas de Análise x Objetivos Etapa de Análise Objetivos Específicos a serem alcançados Objetivo Geral Entrevistas com empregados dos Bancos A e B 2.2.1 - Verificar a percepção que empregados dos bancos A e B possuem dessas instituições, especialmente no que tange à preocupação dos bancos com o bem estar e a qualidade de vida desses públicos e com os consumidores, assim como sobre os parâmetros éticos das instituições, por meio dos Códigos de Ética dessas organizações. Todas as etapas de pesquisa 2.2.2 - Avaliar se os discursos oficiais dos bancos que se relacionam a práticas de responsabilidade social é ética, por meio dos seus Códigos de Ética, são compatíveis à percepção de empregados. Survey com clientes dos Bancos A e B 2.2.3 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem dessas instituições, no que tange ao cumprimento do Código de Defesa dos Consumidores Bancários (BACEN, 2011). 2.2.4 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem dessas instituições no que tange à ética geral 2.2.5 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem sobre os serviços das organizações, avaliando a satisfação e lealdade desses públicos. 2.2.6 - Verificar o impacto de cada variável do Código de Defesa do Consumidor Bancário na percepção geral de ética dos clientes. 2.2.7 - Verificar o impacto da percepção de ética dos consumidores na lealdade e satisfação desses em relação ao Banco. 2.2.8 - Avaliar se o discurso oficial dos bancos que se relacionam a práticas de responsabilidade social é compatível à percepção de clientes e empregados. Fonte: dados do estudo A partir dessas etapas, procurou-se obsevar o grau de coerência entre o discurso socialmente responsável das instituições, a partir de seus instrumentos autonormativos ou de 78 regulamentações já existentes, com a percepção dos públicos. Dessa forma, verificar o grau de coerência e compatibilidade entre o marketing e os conceitos de ética/RSC e suas derivações. 79 5. ETAPA QUALITATIVA DE PESQUISA 5.1. Metodologia da Etapa Qualitativa de Pesquisa Conforme destacado anteriormente, esta etapa da pesquisa consistiu na realização de entrevistas com empregados, a fim de avaliar a partir da perspectiva dessas pessoas a coerência do Banco com princípios do seu código de Ética, principalmente sobre a relação da organização com seus funcionários e desses com os clientes da instituição. Tendo em vista não ter sido possível revelar a instituição, o roteiro de entrevista, que será detalhado e explicado adiante, teve por base os Códigos de Ética das 5 maiores instituições bancárias do Brasil atualmente. Os 5 documentos, ressalta-se, são bastante semelhantes em seus conteúdos e objetivos (BRADESCO, 2015; ITAU, 2015; CAIXA ECONOMICA FEDERAL, 2015; BANCO DO BRASIL, 2015; SANTANDER, 2015). Trata-se, portanto, de uma etapa qualitativa e descritiva, realizada por meio de entrevistas estruturadas (LAVILLE et al., 2007; GIL, 2006). A entrevista estruturada possui um roteiro preestabelecido, que deve ser seguido uniformemente pelo entrevistador. Apesar disso, houve ao longo das entrevistas o acréscimo, quando se julgou necessário, de alguns questionamentos que pudessem enriquecer as respostas, ou para esclarecer pontos que não ficaram claros. Ao todo, foram entrevistados 18 empregados de cada um dos bancos, seguindo uma orientação de Gaskell (2007) de realizar entre 15 e 25 entrevistas sobre um tema, até que se atinja um ponto de saturação (que foi considerado para esta tese na décima oitava entrevista por banco). Todos os entrevistados trabalham na cidade de Belo Horizonte e região e o prérequisito era que os funcionários estivessem trabalhando à época das entrevistas ou já tivessem trabalhado com o atendimento ao público consumidor. Além disso, foram aceitos tanto empregados em nível operacional, como em nível gerencial ou estratégico (como analistas) – todos, ressalta-se, eram efetivos à época da entrevista. Esse é um critério que atende a uma orientação de pesquisa em um Grupo Natural (GASKELL, 2007, p. 69): “Nos grupos naturais, as pessoas interagem conjuntamente; elas podem partilhar um passado comum, ou ter um projeto futuro comum.”. As entrevistas foram realizadas entre abril e setembro de 2014 e todas aconteceram via telefone, sendo todas gravadas integralmente. Todos os entrevistados receberam previamente 80 um termo de compromisso do pesquisador, assumindo a responsabilidade pelo sigilo da fonte, assim como pelo sigilo da instituição pesquisada. Isso foi importante, para que os entrevistados se sentissem mais à vontade para responder aos questionamentos (assim mesmo houve mais resistência para respostas no Banco A, a instituição privada, conforme será analisado adiante), seguindo orientação de Gaskell (2007). O pesquisador também procurou deixar os entrevistados o mais à vontade possível com a discussão, buscando sempre um diálogo mais informal, seguindo também orientação de Gaskell (2007). Ao final de cada entrevista, foi enviada uma caixa de bombom ao entrevistado, como cortesia pela ajuda. No Banco A, foram feitos mais de 60 contatos, mas apenas 18 se efetivaram em entrevistas. Em contrapartida, no Banco B, houve aproximadamente 30 contatos, para uma taxa de 19 entrevistas (uma foi desconsiderada, pois a entrevistada solicitou as perguntas previamente via e-mail e as respondeu, superficialmente, no corpo do próprio e-mail). Isso pode ser reflexo do receio dos funcionários do banco privado em responder a uma pesquisa desta natureza. As entrevistas, por terem sido realizadas via telefone, foram feitas no horário mais conveniente ao empregado. Um dos entrevistados do Banco A é ainda estagiário. Aceitou-se ouvi-lo, contudo, pois normalmente os estagiários do Banco A se tornam efetivos e porque o estagiário já tem funções de vendas e metas no Banco A, assim como qualquer funcionário efetivo. Ou seja, é um empregado que dispõe de quase os mesmos deveres de um efetivo, só que em regime de contratação diferente (possui, inclusive, direitos como plano de saúde e odontológico). Além disso, o entrevistado cursa uma das principais faculdades de administração do estado, de forma que se julgou ser sua avaliação válida pela qualidade de suas observações. Outro ponto importante, é que se julgou interessante avaliar a percepção de alguém que está há pouco tempo no banco. O mesmo critério não poderia ser adotado para o Banco B, tendo em vista que a maneira de entrada para o funcionário efetivo é o concurso público. Houve também um empregado do Banco B que não atende em agência e nunca exerceu função em agência. Optou-se por aceitá-lo, contudo, pois realiza funções internas que lidam diretamente com empregados da agência, por isso ele se sentiu à vontade para responder aos questionamentos. No total, o corpus das entrevistas somou aproximadamente 180 páginas, que foram analisadas por meio de critérios de análise de conteúdo (BARDIN, 2004). A Análise de Conteúdo é um conjunto de metodologias que visa avaliar pontos de vistas individuais em uma entrevista, 81 assim como encontrar categorias semânticas e sintáticas entre diferentes textos (oriundos de entrevistas, textos jornalísticos, publicitários, literários, etc). De acordo com Bauer (2007, p. 192): A Análise de Conteúdo nos permite reconstruir indicadores, cosmovisões, valores, atitudes, opiniões, preconceitos e estereótipos e compara-los entre comunidades. Em outras palavras, a Análise de Conteúdo é pesquisa de opinião pública com outros meios. Ou, na perspectiva de Bardin (2004, p.7): Um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais sutis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a “discursos” (conteúdos e continentes) extremamente diversificados. Por não se tratar de grandes volumes de textos e não haver processos de codificação mais complexos, tendo em vista que já houve um processo de categorização prévio, por ser um roteiro estruturado, julgou-se desnecessário o uso de softwares para as análises. O próprio pesquisador procedeu às transcrições. Primeiramente, pois houve um acordo, firmado por documento eletrônico, de confidencialidade das informações. Dessa forma, o pesquisador não se sentiu à vontade para delegar a tarefa a outro. Além disso, conforme recomenda Gaskell (2007), é interessante que o pesquisador realize essa tarefa, pois neste momento várias conclusões importantes vêm à tona (o que, de fato, ocorreu). O processo de entrevista apresenta algumas limitações importantes que valem ser ressaltadas (GASKELL, 2007). A mais importante é que a fala do entrevistado é desconectada da sua ação frente ao objeto, diferentemente da observação participante. Em função disso, muitas interpretações do entrevistado podem ser distorcidas em relação à realidade. Por esse motivo, é importante que um número maior de pessoas possam ser entrevistadas, de maneira a encontrar situações comuns a elas. Além disso, Flick (2004) recomenda que o entrevistador vá além do script, e não aceite pacificamente as respostas. Isso significa que é importante ao pesquisador interagir com o entrevistado, buscando mais informações que possam levar a conclusões mais profundas. No caso desta tese isso foi muito importante no que tange à questão das metas individuais. Por isso não estar incluso nos códigos de ética, não foram acrescentadas perguntas específicas sobre metas no roteiro de entrevistas. Entretanto, sempre 82 que possível o entrevistador incluía o tema na pauta da conversa e, tanto para um banco quanto para o outro (mas principalmente para o Banco A), os entrevistados apontaram haver uma situação grave de metas, que induzem com frequência os funcionários a não cumprirem os princípios do código de ética, assim como a problemas de saúde ocupacional (conforme análises adiante). 5.1.1. Roteiro de Entrevista O roteiro de entrevista teve por base os Códigos de Ética dos 5 maiores bancos do Brasil (salienta-se que dois deles foram objeto desta pesquisa). De acordo com Cherman et al. (2005), o Código de Ética corporativo é um documento que visa traçar uma referência moral às instituições e seus públicos internos, orientando a relação que o Banco deve ter com a sociedade e suas normas. Ele traça diretrizes sobre como empregados e demais públicos internos devem se portar em diferentes situações com diferentes públicos, tendo sempre como parâmetro as leis e, além disso, a justiça para com o outro. Weaver (1993) destaca, ainda, que ,apesar da dificuldade de definição, o Código de Ética deve ser um documento que vai além dos códigos de normas corporativos. Business ethics research appears to conceptualize ethics codes as distinct, formal documents specifying self-consciously ethical constraints on the conduct of organizational life. Ethics codes, in this sense, are not part of an organization's presumably amoral operating policy manuals. Thus, restrictions on the giving and acceptance of corporate gifts count as part of an ethics code if they appear in a selfcontained document which specifically claims to be guided by moral/ethical standards; they do not count as part of a code if they appear in an operations manual amid various morally neutral rules and procedures for purchasing and billing. (WAVER, 1993, p. 2) O aspecto central de um Código de Ética, portanto, é levar para o nível prático orientações éticas nos negócios. Salienta-se que a ética neste caso é entendida no seu sentido clássico, como sinônimo de um agir justo, equitativo para com o outro – o que fica claro, como já destacado no referencial deste trabalho, quando se observa o significado da palavra no contexto dos textos de RSC, significado, aliás, próximo ao do cotidiano, do senso comum. No Brasil, o Instituto Ethos (2015) fornece às organizações um roteiro com padrões para a formulação de Códigos de Ética. De acordo com o seu modelo, há diversos parâmetros e 83 recomendações importantes que devem ser estipuladas para as diversas possibilidades de relacionamento existentes, tanto entre os públicos internos das organizações, como destes para com os públicos externos. Dessa forma, estipulam-se parâmetros de como as organizações, portanto os seus públicos, devem lidar com: a imprensa, o poder público, os consumidores, os empregados, os prestadores de serviços, os concorrentes, a comunidade, etc. O código de ética ou de compromisso social é um instrumento de realização da visão e missão da empresa, que orienta suas ações e explicita sua postura social a todos com quem mantém relações. O código de ética e/ou compromisso social e o comprometimento da alta gestão com sua disseminação e cumprimento são bases de sustentação da empresa socialmente responsável. A formalização dos compromissos éticos da empresa é importante para que ela possa se comunicar de forma consistente com todos os parceiros. Dado o dinamismo do contexto social, é necessário criar mecanismos de atualização do código de ética e promover a participação de todos os envolvidos. (INSTITUTO ETHOS, 2015, p. 3) O Código de Ética, portanto, é um instrumento que deve auxiliar as organizações a alcançarem no dia a dia de suas atividades os princípios da responsabilidade social corporativa. Claramente, conforme destaca o próprio Instituto Ethos (Ethos, 2015) no trecho acima, os objetivos e princípios desse documento visam a valores pertencentes a princípios da RSC. Por ser, portanto, um documento que já auto regula as instituições e seus empregados a agirem eticamente no dia-a-dia, considerou-se o melhor parâmetro para a elaboração do roteiro de entrevistas (escolha semelhante à do Código de Defesa do Consumidor Bancário para a construção do questionário aplicado a clientes). Pode-se dizer, assim, tratar-se de uma ética normativa, mas com claro objetivo de estabelecer a justiça e o equilíbrio das organizações frente a seus públicos, por meio do estabelecimento de um código por meio do diálogo entre as partes (SROUR, 2013). Para esta tese, foram elaboradas perguntas gerais sobre corrupção e agir ético do banco, conforme o roteiro abaixo, e questões específicas sobre as relações dos Bancos com os públicos: empregados, consumidores, acionistas e comunidade. Escolheram-se apenas públicos com os quais os empregados tenham relação direta ou que possam fazer algum julgamento a respeito. E, obviamente, houve uma categoria que visou investigar a coerência do Código de Ética na relação do banco com os próprios empregados. Houve nesse contexto uma categoria sobre a relação do banco com o Poder Público, mas optou-se por não considerá-la, tendo em vista que praticamente todos os entrevistados não souberam respondêla. Buscou-se seguir como parâmetro os códigos de ética dos 5 maiores bancos do País. 84 Salienta-se que todas as perguntas abaixo têm referência em todos os códigos, ou na maioria dos analisados. Vale para tanto apresentar algumas referências dos códigos analisados para este estudo, de forma a explanar os critérios citados acima (Quadro 3): Quadro 3: Algumas Orientações dos Códigos de Ética dos Principais Bancos do Brasil Bradesco “3. VALORES E PRINCÍPIOS ÉTICOS Os valores e princípios que regem a Organização Bradesco são: 3.1. Valores a) Cliente como razão da existência da Organização. b) Transparência em todos os relacionamentos internos e externos. c) Respeito à concorrência. d) Crença no valor e na capacidade de desenvolvimento das pessoas. e) Respeito à dignidade e diversidade do ser humano. f) Responsabilidade socioambiental, com promoção e incentivo de ações para o desenvolvimento sustentável. g) Compromisso com a melhoria contínua da qualidade do atendimento, de produtos e de serviços.” (BRADESCO, 2015) Caixa Econômica “VALORES DO CÓDIGO DE ÉTICA DA CAIXA RESPEITO • As pessoas na CAIXA são tratadas com ética, justiça, respeito, cortesia, igualdade e dignidade. • Exigimos de dirigentes, empregados e parceiros da CAIXA absoluto respeito pelo ser humano, pelo bem público, pela sociedade e pelo meio ambiente. • Repudiamos todas as atitudes de preconceitos relacionadas à origem, raça, gênero, cor, idade, religião, credo, classe social, incapacidade física e quaisquer outras formas de discriminação. • Respeitamos e valorizamos nossos clientes e seus direitos de consumidores, com a prestação de informações corretas, cumprimento dos prazos acordados e oferecimento de alternativa para satisfação de suas necessidades de negócios com a CAIXA. • Preservamos a dignidade de dirigentes, empregados e parceiros, em qualquer circunstância, com a determinação de eliminar situações de provocação e constrangimento no ambiente de trabalho que diminuam o seu amor próprio e a sua integridade moral. • Os nossos patrocínios atentam para o respeito aos costumes, tradições e valores da sociedade, bem como a preservação do meio ambiente.” (CAIXA ECONOMICA FEDERAL, 2015) Itaú “Clientes e consumidores Os clientes e consumidores são a nossa razão de ser. Identificar suas expectativas e necessidades e, num permanente esforço de sintonia, aprimorar nossas atividades são as formas apropriadas de atuar no mercado bancário. Assim sendo: 85 É necessário • Respeitar sua liberdade de escolha, fornecendo-lhes de forma clara, correta e tempestiva as informações necessárias para que tomem decisões fundamentadas. • Adotar contratos de fácil compreensão, deixando evidentes os direitos e deveres das partes e salientando os riscos existentes, de modo que não pairem dúvidas ou que não haja mal-entendidos. • Colocar à disposição canais de atendimento preparados para ouvi-los com atenção e aptos a resolver rapidamente solicitações, reclamações e sugestões. • Valorizar sua privacidade e usar dispositivos de segurança e proteção das informações, a fim de garantir que sejam utilizadas com o seu prévio conhecimento e em seu próprio benefício, de modo a fortalecer o crédito de confiança que depositaram em nós. • Entender as necessidades dos clientes de modo a poder fornecer informações e soluções financeiras que contribuam para que indivíduos e empresas tenham uma relação saudável com o dinheiro. É inaceitável • Usar artifícios como vendas casadas e outras formas de imposição ou constrangimento para efetivar negócios. • Obter resultados a qualquer custo, provocando expectativas a respeito de produto ou serviço que não condiz com a realidade, ou induzindo clientes e consumidores a erro, colocando assim, suas necessidades e seus interesses em segundo plano. • Difundir informações, aconselhar ou negociar com base em rumores ou dados não confiáveis, sob pena de gerar prejuízos às partes.” (ITAU, 2015, p. 13) Banco do Brasil “1.2. Funcionários e Colaboradores 1.2.1 Zelamos pelo estabelecimento de um ambiente de trabalho digno e saudável, pautando as relações entre superiores hierárquicos, subordinados, pares e colaboradores pelo respeito e pela cordialidade. 1.2.2. Repudiamos condutas que possam caracterizar assédio de qualquer natureza. 1.2.3. Respeitamos a liberdade de associação sindical e buscamos conciliar os interesses da Empresa com os interesses dos funcionários e suas entidades representativas de forma transparente, tendo a negociação como prática permanente. 1.2.4. Asseguramos a cada funcionário o acesso às informações pertinentes à sua privacidade, bem como o sigilo destas informações, ressalvados os casos previstos em lei. 1.2.5. Reconhecemos, aceitamos e respeitamos a diversidade do conjunto de pessoas que compõem o Conglomerado. 1.2.6. Repudiamos práticas ilícitas, como suborno, extorsão, corrupção, propina, lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo, em todas as suas formas. 1.2.7. Orientamos os profissionais contratados a pautarem seus comportamentos pelos princípios éticos do BB. 1.2.8. Valorizamos o diálogo com funcionários e colaboradores, mantendo canais aptos a recepcionar e processar dúvidas, denúncias, reclamações e sugestões, bem como garantimos o anonimato, quando solicitado.” (BANCO DO BRASIL, 2015) Santander “TÍTULO II. Princípios éticos gerais Os princípios éticos da organização, a boa governança corporativa e a ética profissional dos Sujeitos ao Código, são pilares nos quais estão fundamentadas as atividades do Santander. Todas as atuações dos Sujeitos ao Código, como consequência do seu vínculo com o Santander, deverão ser sempre orientadas por valores éticos, dentre os quais estão os seguintes: 5. Igualdade de oportunidades e não discriminação É princípio básico de atuação no Santander proporcionar as mesmas oportunidades no acesso ao trabalho e na promoção profissional, garantindo sempre a ausência de situações de discriminação em virtude de sexo ou orientação sexual, raça, religião, origem, estado civil ou condição social. Por conseguinte, os Sujeitos ao Código que intervierem em processos de contratação, seleção 86 e/ou promoção profissional, serão orientados pela objetividade em suas atuações e decisões, com atitude aberta para a diversidade e com o objetivo de identificar aquelas pessoas mais adequadas ao perfil e necessidades do cargo a ser preenchido, promovendo sempre a igualdade de oportunidades. 6. Respeito pelas pessoas O assédio moral e/ou sexual, o abuso, a intimidação, a falta de respeito e consideração ou qualquer outro tipo de agressão física ou verbal são inaceitáveis e não serão permitidos nem tolerados no trabalho e aqueles Sujeitos ao Código com pessoas sob seu comando deverão promover e se certificar de que, com os meios ao seu alcance, tais situações não venham a ocorrer. Todos os Sujeitos ao Código e, especialmente, aqueles que exerçam funções de diretoria, promoverão a todo o momento e em todos os níveis profissionais, relações baseadas no respeito pela dignidade dos demais, a participação, a equidade e a colaboração mútua, contribuindo para um ambiente de trabalho respeitoso, com o objetivo de atingir um clima de trabalho positivo. 7. Conciliação do trabalho e vida pessoal De forma a desenvolver o compromisso da responsabilidade social corporativa assumido pelo Santander, visando melhorar a qualidade de vida dos funcionários e de suas famílias, os Sujeitos ao Código deverão promover um ambiente de trabalho compatível com o desenvolvimento pessoal, ajudando os membros de suas equipes a conciliar da melhor forma possível, as exigências profissionais com as necessidades de sua vida pessoal e familiar. 8. Prevenção de riscos trabalhistas O Santander considera a segurança e saúde no trabalho dos Sujeitos ao Código fundamental para se conseguir um ambiente de trabalho confortável e seguro, sendo um objetivo prioritário a melhoria contínua das condições de trabalho. Por isso, os Sujeitos ao Código deverão respeitar sempre as medidas preventivas aplicáveis em matéria de segurança e saúde no trabalho, utilizando os recursos indicados pela organização e garantindo que os membros das suas equipes desenvolvam suas atividades em condições de segurança, cumprindo rigorosamente os parâmetros e requisitos exigidos pela Legislação Trabalhista.” (SANTANDER, 2015) Fonte: BRADESCO, 2015; CAIXA ECONOMICA FEDERAL, 2015; ITAU, 2015; BANCO DO BRASIL, 2015; SANTANDDER, 2015 Salienta-se que a ética, assim como a RSC, não é um conceito absoluto, ainda mais para organizações tão complexas, que lidam com diferentes níveis de relacionamentos e questões ambientais em diversas esferas. Por esse motivo, houve a necessidade de destrinchar o conceito em diferentes aspectos relacionais e normativos dos bancos, a fim de se chegar o mais próximo possível de uma avaliação geral do entrevistado, mas também para avaliar separadamente cada construto. Dessa forma, o Código de Ética mostrou-se uma referência apropriada, pois é, em princípio, o próprio banco que se impõe os comportamentos éticos como parâmetros – a ética dentro de uma perspectiva aristotélica, como sinônimo de justiça e equidade, seguindo o seu significado mais comum no cotidiano. Ao todo, portanto, foram formuladas 24 perguntas, que correspondem a diferentes categorias de análises, cada uma ligada a um público ou a uma questão ética importante do dia a dia do banco – todos os aspectos avaliados encontram-se, diretamente ou indiretamente, abordados nos códigos bancários. As questões foram as seguintes (Quadro 4): 87 Quadro 4: Categorias de Análises dos Códigos de Ética Categoria 1: Estímulo ao Código e Conhecimento do Código Esta categoria buscou avaliar até que ponto o banco se preocupa em disseminar os princípios do código de ética, assim como o grau de conhecimento do empregado. As questões orientadoras foram: 1) Você conhece o código de ética do Banco X? Se sim, em qual nível? 2) O Banco X o estimula a ler a e conhecer o código de ética da empresa? Categoria 2: Combate à corrupção / Lei x Ética Esta categoria teve por objetivo verificar se na percepção do empregado o banco é rigoroso no combate à corrupção, assim como se ele busca eticamente, de um modo geral, ir além do que determinam as leis. Destacase que em todos os Códigos de Ética Bancários o parâmetro ético vai além do que propõe a lei, visa sempre a um grau de justiça e transparência nas relações do Banco com seus públicos e entre seus públicos acima do que determina a lei. As questões orientadoras foram: 1) Você considera que as políticas internas de combate à corrupção são eficientes? Justifique. 2) Na sua opinião, a ética do banco vai além do cumprimento às leis? Justifique. Categoria 3: Relacionamento com Empregados O objetivo desta categoria foi analisar como o banco lida eticamente com os empregados. Verificaram-se, dentre outros aspectos, o estímulo dado à saúde do empregado, a justiça na remuneração, questões de assédio, liberdade à associação a sindicatos e entidades de classe, meritocracia, etc. Todos aspectos comuns aos códigos de ética. Buscou-se com isso traçar um panorama geral da percepção dos funcionários quanto ao tratamento que recebe. Questões orientadoras: 1) Você é devidamente valorizado e remunerado pelo seu trabalho no Banco X? Justifique. 2) Você já sofreu alguma situação de assédio no Banco X ou já presenciou colegas sofrendo assédio? Exemplifique. 3) O Banco X atende satisfatoriamente as exigências legais de saúde e qualidade de vida no trabalho? Exemplifique. 4) O Banco X cumpre as leis trabalhistas no relacionamento com seus empregados? Justifique. 5) O Banco X valoriza a saúde e qualidade de vida de seus empregados? Exemplifique. 88 6) O Banco X dá liberdade a seus empregados para a livre associação a sindicatos e entidades de classe? Justifique. 7) O Banco X tem um sistema efetivamente meritocrático? 8) O Banco X valoriza a diversidade étnica, social e cultural no seu ambiente de trabalho? Justifique. Categoria 4: Relacionamento com Clientes O objetivo desta categoria foi verificar como, na perspectiva dos empregados, o banco lida eticamente com seus clientes. Verificaram-se, dentre outros aspectos, se o banco é ético de um modo geral com o cliente, se o consumidor do banco é satisfeito na visão dos funcionários, assim como se a instituição é transparente com seus clientes em contratos e cobranças, se há uma preocupação com o sigilo de informações dos consumidores e também se o banco estimula a saúde financeira do consumidor. Salienta-se que esses aspectos são pontos comuns aos códigos de ética analisados. As questões orientadoras para essa categoria foram: 1) O Banco X é ético com seus clientes? Justifique. 2) O Banco X atende satisfatoriamente as necessidades e desejos de seus clientes? Por quê? 3) O Banco X apresenta a seus clientes de maneira clara e transparente as condições contratuais dos serviços ofertados? Exemplifique. 4) O Banco X se preocupa em mostrar com clareza as condições de juros e cobranças dos serviços ofertados? Exemplifique. 5) O Banco X disponibiliza aos consumidores canais eficientes de ouvidorias e reclamações? Exemplifique. 6) O Banco X respeita a privacidade de informações dos seus clientes? Justifique? 7) O Banco X estimula seu consumidor a manter uma boa saúde financeira? Justifique. Categoria 5: Relação com os Acionistas Esta categoria visou a alcançar dois objetivos. O primeiro foi verificar se na visão dos empregados do banco os interesses dos acionistas são prioridade na instituição. Salienta-se que nos códigos de ética bancários os interesses de acionistas são colocados paralelamente aos de demais públicos, sem se sobreporem. Em caso de resposta positiva, como se observou na maioria das situações, julgou-se como negativo para o banco esse aspecto. O segundo objetivo foi verificar o sistema de transparência e governança do Banco para com o público acionista. Nesse caso, buscou-se verificar o padrão ético do Banco com o público acionista, conforme a percepção dos empregados (principalmente se eles acreditam haver coerência entre as informações que são passadas aos acionistas com o que de fato ocorre na instituição). Em função do sigilo da fonte, no Banco B houve a ocultação da maior parte dos comentários, uma vez que esses indicavam qual o Banco dessa pesquisa (salienta-se que dos dois bancos de varejo do Governo Federal, Caixa Econômica e Banco do Brasil, um é de propriedade integral do governo e o outro de economia mista, com ações negociadas em bolsa). 89 As perguntas orientadoras foram: 1) Os interesses dos acionistas são prioridade no Banco X? Justifique. 2) O Banco X é transparente na relação com seus acionistas? Justifique. Categoria 6: Relacionamento com a Sociedade Esta categoria buscou avaliar a percepção dos empregados quanto ao relacionamento da instituição com a sociedade e se há coerência dessa imagem com o código de ética. Dois aspectos centrais foram observados aqui: a visão geral sobre essa relação, em termos de programas e políticas; e a visão local, sobre ações do banco que acontecem especificamente no local de trabalho desse empregado. Salienta-se que o interesse e respeito à comunidade é um dos pontos mais destacados nos códigos de ética, assim como na publicidade institucional dos Bancos brasileiros. As questões orientadoras foram: 1) O Banco X se preocupa pelos interesses da comunidade? Justifique. 2) O Banco X desenvolve alguma ação relevante para o bem da comunidade da sua agência? Exemplifique. Categoria 7: Avaliação Geral da Ética do Banco Esta questão teve por objetivo fazer um apanhado geral da visão do funcionário quanto à ética do banco (neste momento da entrevista, eles ainda não haviam sido informados que o parâmetro para as perguntas era o Código de Ética do próprio Banco, além de outros). Buscou-se, com isso, fazer uma reflexão final sobre as questões debatidas, de forma a fazer um balanço sobre o tema. A solicitação orientadora foi: 1) Dê sua opinião geral sobre a conduta ética do Banco com seus públicos de interesse. Fonte: Dados da Pesquisa 5.1.2. Métodos de Análise As análises das entrevistas tiveram por base orientações de análises de conteúdo (BARDIN, 2004; BAUER, 2007; LAVILLE et al., 2007), por meio de processos de categorizações temáticas e de avaliações sobre a coerência da fala com os princípios dos códigos de ética. Destaca-se que a Análise de Conteúdo não se caracteriza por ser uma técnica estática, ao contrário, ela é híbrida e possibilita diversas configurações (BAUER, 2007). 90 O procedimento de separação por temas, ou recorte de conteúdos, já se iniciou no momento da coleta, uma vez que o roteiro de entrevista era igual a todos os entrevistados de ambos os bancos (apesar de durante a entrevista o pesquisador ter elaborado outros questionamentos, principalmente sobre questões que eram inerentes a metas). Optou-se, conforme será detalhado adiante, por separar as análises por: categoria / Banco (Tipo I de Análise) e funcionários / Banco (Tipo II de Análise). Dessa forma, avaliou-se o nível geral de coerência de cada entrevista com os princípios do Código de Ética, assim como uma avaliação geral de cada resposta e cada categoria por banco. Os delineamentos de pesquisa, portanto, foram descritivos, uma vez que se contou a frequência de características decodificadas no texto de forma aprofundada, e normativos, uma vez que houve comparações com padrões (BAUER, 2007). Houve um procedimento de recorte de conteúdo, em que foram separadas observações negativas, positivas e indefinidas de cada pergunta, conforme o julgamento deste autor no que tange à coerência da resposta com os Códigos de Ética, para posterior análise, conforme orientação de Laville et al. (2007). Salienta-se que o recorte é de natureza semântica, tendo em vista que o recorte de estruturas sintáticas não era necessário aqui (BAUER, 2004). Unidades temáticas ou Semânticas: são definidas como características dos textos que implicam um juízo humano. Por exemplo, histórias de fada podem ser classificadas a partir de motivos básicos, cartas podem ser classificadas como cartas de amor ou comerciais. A definição das unidades de amostragem implica, muitas vezes, tais julgamentos de estratificação. Unidades temáticas separadas a partir de fundamentos teóricos são muitas vezes contrastadas com materiais residuais irrelevantes. (BAUER, 2007, p. 198) Houve, assim, um julgamento se a fala do entrevistado foi positiva, negativa ou indefinida no que tange à coerência da resposta à questão ética do banco, conforme declaração de seu Código de Ética. Destaca-se que o processo de julgamento é também inerente a um processo de análise de textos, especialmente semântica (BAUER, 2007), mas tentou-se manter o máximo de neutralidade possível, apesar das orientações ideológicas do autor (alguns trechos tidos como indefinidos ou positivos, como se poderá ver adiante, provavelmente seriam julgados como negativos ao banco por outras pessoas, mas foram julgados dessa forma, pois foi sempre essa a opção quando houve dúvidas). Ressalta-se que o julgamento foi em função da coerência entre o comentário do funcionário com o Código de Ética, e não simplesmente se ele considera o banco ético. Obviamente, na 91 maior parte das situações em que o funcionário fez uma avaliação positiva para o banco, categorizou-se o comentário como favorável, ou positivo, para o banco eticamente. No entanto, houve casos em que o julgamento foi ou indefinido ou negativo para o banco, apesar do posicionamento explícito do empregado. Alguns funcionários, por exemplo, relataram que o banco é ético com seus clientes, mas que seus funcionários não são, como o Entrevistado 1, do Banco A: “O que eu defendo é o seguinte: o banco é sim, ético, cumpre o combinado com o cliente. Mas, logicamente, tem falhas sistêmicas, mas qualquer dano é reparado. O que acontece no banco, que tem uma fama ruim, é a ética e transparência do funcionário.”. Esta fala, por exemplo, foi julgada como indefinida, uma vez que o empregado enfatiza a “fama ruim do banco”, apesar de defender a instituição. Foi comum haver uma distinção entre a instituição e seu empregado, como se não fossem a mesma coisa. Muitos empregados, especialmente do Banco A, justificaram a falta de ética como sendo não do banco, mas de seu empregado. E disseram que isso é comum e tem relação direta com o sistema de metas. Após toda a organização de dados, buscou-se avaliar principalmente, além da avaliação geral por empregado: os aspectos mais relatados em cada pergunta, portanto, uma observação de subcategorias latentes; uma avaliação geral por categoria, via contabilidade das opiniões e falas mais pertinentes; e nuances consideradas importantes feitas por alguns entrevistados. Os detalhes dessa avaliação encontram-se principalmente nos quadros de avaliações de empregados, no quadrante de conclusão de cada pergunta. As categorias latentes de cada pergunta, portanto, estão destacadas nesses quadrantes. As análises estão extensas, porque o pesquisador optou por deixar o máximo de trechos possível das falas, tendo em vista a riqueza de informações e para atestar as conclusões, tanto por pergunta, como por categorias. Destaca-se que Bauer (2007) recomenda que os textos analisados sejam expostos quando possível, pois isso enriquece o estudo (tendo em vista se tratar de uma tese e, portanto, haver espaço disponível, o pesquisador optou pode deixar o máximo de trechos, assim mesmo, a soma de todos os disponíveis não supera 30% dos relatos totais). Além disso, a avaliação de nuances da pesquisa é considerada de grande importância, pois corre-se o risco pela avaliação apenas contábil de se perderem informações relevantes do estudo (LAVILLE et al., 2007). O último exemplo mostra bem que o estudo de um conteúdo fundado sobre frequências de ocorrências e outras medidas, se esse permite dar conta de uma parte da significação desse conteúdo, corre-se o risco de deixar de lado nuanças importantes no que concerne a essa significação. (LAVILLE ET AL., 2007, p. 218) 92 Laville et al. (2007) salientam a importância de avaliar o contexto, quando possível, das respostas, mas esse não foi o cerne da avaliação e considerou-se também inviável fazer essa investigação aqui. Salienta-se que esse aspecto é relevante em outro conjunto de metodologias de textos, a análise de discurso. Na análise de discurso crítica, por exemplo, visa-se, além de avaliar a estrutura semântica e lexical do texto, analisar o contexto histórico e ideológico no qual as informações são produzidas, consumidas e distribuídas (FAIRCLOUGH, 2001). Por fim, as informações coletadas foram organizadas em tabelas por categorias do próprio roteiro e por empregados, visando-se fazer uma avaliação geral sobre a coerência da sua entrevista com os princípios dos Códigos de Ética. Houve algumas falhas no instrumento de pesquisa e na coleta que o pesquisador diagnosticou ao longo das entrevistas. Por exemplo, na pergunta referente a assédio, a maioria diz já ter presenciado esse fato, mas nas primeiras entrevistas faltou perguntar a frequência disso e as causas. Houve um estímulo maior a esmiuçar respostas negativas e indefinidas. Isso porque os tópicos do código já são referências ideais de comportamento do banco perante os públicos. Em função disso, quando houve respostas positivas, partiu-se do pressuposto de que o banco chega próximo a esse tipo ideal. Apesar disso, sempre se perguntou o motivo da resposta. Ressalta-se que em algumas situações a contabilidade de categorizações sugere uma conclusão num sentido, mas a avaliação das falas, assim como dos itens, sugere outra análise. Por exemplo, há casos em que na categoria de relacionamento com empregados houve mais respostas positivas ou em igual número às negativas, mas quando se analisam os relatos, percebem-se denúncias de assédio, baixa remuneração, pressão por metas, enquanto as respostas positivas são sobre questões ergonômicas, sobre eventos ou respostas vagas sobre a liberdade à associação ao sindicato. Nesses casos (que foram poucos e são apontados nos quadros analíticos), optou-se por julgar como indefinida ou negativa a resposta. Por fim, observou-se nas conclusões de cada banco se há um alinhamento das respostas à vertente crítica dos estudos estrangeiros de RSC atuais (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013) ou à positiva, normalmente ligada ao marketing (CHRISTENSEN et al., 2013; PORTER et al., 2011; HUNT, 2011; ACHROL E KOTLER, 2012; WEBSTER E 93 LUSCH, 2013; SCHLEGELMILCH E OBERSEDER, 2010; WILKIE E MOORE, 2012), conforme o referencial. 5.2. Análises da Etapa Qualitativa de Pesquisa 5.2.1. Dados Gerais dos Empregados Entrevistados do Banco A Em função do sigilo de informação da fonte, não é especificado o cargo do entrevistado no Quadro 5, abaixo, assim como no Quadro 30, do Banco B. Há apenas uma distinção entre empregado de nível gerencial (onde foram incluídos empregados que exercem funções estratégicas, como analistas, caso de apenas um empregado de cada banco) e de nível operacional (caixas, escriturários, assistentes, estagiários no Banco A, etc). Quadro 5: Dados Gerais dos Empregados Entrevistados do Banco A Número Perfil do Idade Sexo Tempo Já ocupou Tempo Escolaridade Entrevis Cargo de outros Entrevista tado Banco cargos (aprox.) 1 Operacional 23 M 3,7 anos Sim 25 m Sup Completo 2 Gerencial 27 M 2,5 anos Não 21 m Pós Graduação 3 Gerencial 42 F 20 anos Sim 27 m Pós Graduação 4 Operacional 26 F 3 anos Sim 20 m Pós Graduação 5 Gerencial 32 M 9 anos Sim 22 m Pós Graduação 6 Gerencial 28 F 1 ano Não 18 m Sup Completo 7 Operacional 25 F 1,5 anos Não 15 m Sup. Incompleto 8 Operacional 46 M 22 anos Sim 14 m Sup. Completo 9 Gerencial 37 M 11 anos Sim 18 m Sup Completo 10 Gerencial X4 M 1,5 anos Não 26 m Pós Graduação 11 Gerencial 33 F 13 anos Sim 17 m Pós Graduação 12 Gerencial 26 F 4 anos Sim 17 m Pós Graduação 13 Gerencial 29 M 5 anos Não 14 m Sup Completo 14 Operacional 30 F 8 anos Sim 20 m Sup Completo 15 Gerencial 52 M 11 anos Sim 20 m Sup. Completo 16 Operacional 39 M 8 anos Não 21 m Sup. Completo 17 Operacional 20 M 0,2 anos Não 28 m Sup. Incompleto 18 Gerencial 34 M 8 anos Sim 36 m Pós Graduação MÉDIA 30,5 7,3 21 m Fonte: Dados da Pesquisa A maior parte dos entrevistados é do sexo masculino, 11. A maioria, além disso, exerce função gerencial, 11, e possui graduação ou pós-graduação, 16. Chamou a atenção para a quantidade de gerentes no Banco A. Houve um número maior que no Banco B, por coincidência, mas também por causa de diferenças estruturais entre as duas instituições 4 O pesquisador esqueceu de verificar essa informação na entrevista 94 (conforme relatos, parece haver proporcionalmente mais cargos dessa natureza no Banco A). Outro ponto que chamou bastante atenção e surpreendeu é que os gerentes, de um modo geral, mostraram-se muito mais críticos ao Banco que os empregados de base. Além disso, quanto maior o tempo de casa e idade, menor a coerência entre a entrevista e o código de ética. 5.2.2. Dados Gerais dos Empregados Entrevistados do Banco B Os empregados do Banco B entrevistados (Quadro 6) são em geral de nível operacional, 12 contra 6 em níveis gerenciais e estratégicos, diferentemente do Banco A. Eles, além disso, têm praticamente a mesma idade (talvez mais, uma vez que os entrevistados não disseram a idade exata), porém menos tempo de banco, em torno de 2 anos a menos. Há menos empregados formados, mas em contrapartida houve uma entrevistada com formação em nível de mestrado. As entrevistas do Banco B foram mais extensas, em média, que as do Banco A. Houve também menos contradições de informações no Banco B, conforme será apontado adiante. Apesar disso, assim como no Banco A, pessoas com mais tempo de banco tenderam a ter avaliações mais negativas que as recém contratadas. Quadro 6: Dados Gerais dos Empregados do Banco B Número Perfil do Idade Sexo Tempo Já ocupou Tempo Entrevis Cargo de outros Entrevista tado Banco cargos (aprox.) 1 Gerencial 32 M 7,5 anos Sim 18 m 2 Operacional 34 M 8 anos Sim 20 m 3 Gerencial 33 F 14 anos Sim 34 m 4 Operacional 39 F 0,5 anos Não 21 m 5 Operacional 25 M 2,5 anos Não 18 m 6 Operacional 25 F 2,7 anos Sim 17 m 7 Operacional 25 M 0,8 anos Não 27 m 8 Gerencial 48 F 6 anos Sim 19 m 9 Operacional 23 F 4 anos Sim 20 m 10 Gerencial 31 M 10 anos Sim 39 m 11 Gerencial 34 M 10 anos Sim 36 m 12 Gerencial 38 M 9 anos Sim 21 m 13 Operacional 34 M 3 anos Sim 27 m 14 Operacional 26 M 1 ano Não 17 m 15 Operacional 32 F 6 anos Sim 29 m 16 Operacional 30 M 4 anos Sim 20 m 17 Operacional 21 M 0,5 anos Não 18 m 18 Operacional 22 F 4 anos Sim 29 m MÉDIA 30,6 5,3 24 m Fonte: Dados da Pesquisa Escolaridade Pós Graduação Pós Graduação Mestrado Sup. Completo Sup. Incompleto Sup. Completo Sup. Completo Pós Graduação Sup. Incompleto Pós Graduação Pós Graduaçaõ Sup. Completo Sup. Incompleto Sup. Completo Sup. Completo Sup. Incompleto Sup. Incompleto Sup. Incompleto 95 5.2.3. Tipo I de Análise: Análises por categorias do código As análises adiante, conforme destacado na metodologia, são referentes a cada item do Código de Ética avaliado, assim como das perguntas orientadoras, e serviram para analisar a coerência, de acordo com o julgamento deste autor, de cada resposta com o Código de Ética (conforme critérios já especificados na metodologia). Dessa forma, houve a separação de quadros analíticos (Quadros 23 a 29) e em seguida uma conclusão para a categoria, onde foram verificados os pontos mais comuns das respostas, além de contradições e nuances relevantes. Para tanto, foram utilizadas as seguintes legendas: - P = Avaliação positiva do item (portanto coerente aos princípios do código de ética); - N = Avaliação negativa do Item (portanto incoerente com o código); - I = Avaliação Indefinida do Item (por questão de dubiedade de informações, o pesquisador não soube julgá-las); - S = Não houve resposta ou o entrevistado não soube responder. Salienta-se, mais uma vez, que uma resposta favorável ao banco não necessariamente foi considerada coerente ao código de ética. A questão que avalia, por exemplo, o interesse do acionista, teve esse sentido. Além disso, houve casos em que o empregado defende ações antiéticas do banco, especialmente no relacionamento com clientes, como algo esperado ou natural. A maior parte das avaliações, contudo, foi compatível com a percepção do empregado. 5.2.3.1. Categoria 1: Estímulo ao Código e Conhecimento do Código Banco A (Quadro 7): Quadro 7: Avaliação da Categoria 1 de Análise do Banco A - Estímulo à leitura do Código Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 8 2 8 0 Questão 2 14 3 1 0 Principais Comentários Questão 1: Você conhece o código de ética do Banco X? Se sim, em qual nível? Positivos Negativos Indefinidos “Sim. Olha, tem um treinamento constante. “Não, bem básico. Se você “Já li, né. Quando a Eu tenho um certo conhecimento, mas não ficar me apertando demais, é gente entra é obrigado a sei ponderar qual é o nível.” (Entrevistado capaz de eu não saber ler. A gente sabe os responder nada! (risos).” princípios do banco, 10) “Conheço. Já li. Conheço mediano. tem muito tempo que (Entrevistado 6) Aprofundadamente eu acho que seria saber “Sim. Digamos que no nível eu li, tenho uma noção 96 ele de cor. Eu tenho o material que eu sempre consulto.” (Entrevistado 13) superficial. Porque eu nunca detalhei a leitura.” (Entrevistado 16) na verdade.” (Entrevistado 2) “Conheço. Básico” (Entrevistado 12). Conclusão da Questão 1 da Categoria 1 Percebeu-se, de um modo geral, que os funcionários conhecem o código de um nível médio para bom. Chamou a atenção, contudo, a surpresa de muitos ao saber, no final da entrevista, que a base para as perguntas era o código de ética. Questão 2: O Banco X o estimula a ler a e conhecer o código de ética da empresa? Positivos Negativos Indefinidos “Além de enviar pra gente via malote, via impresso, envia “Não muito. Eles Mais ou menos. Se também eletronicamente.” (Entrevistado 1). mandam pra gente eu falar que não “Estimula. Sempre o funcionário recebe. Não só nós via malote o incentiva nada é gestores somos orientados a estar sempre lembrando. Como livrinho, quem mentira minha, eles recebem aplicativos de sempre está colocando esse quiser le e quem porque eu já vi código de ética e de conduta no dia-a-dia.”(Entrevistado 3) não quiser não várias coisas, lei, “Sim, constantemente.” (Entrevistado 7) le.” código de ética, “Estimula, sempre.” (Entrevistado 12) essas coisas assim. (Entrevistado 4) “Sim, constantemente a gente recebe orientações para ler.” “Não, estimula Mas eu acho que não. Só quando a poderia incentivar (Entrevistado 13) “Estimula, sempre manda e-mails, informativos...” gente é obrigado.” mais, de uma forma (Entrevistado 14) (Entrevistado 8). mais funcional. “Sim. Estimula, através de comunicados internos.” (Entrevistado 6 ). (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 2 da Categoria 1 Ficou bastante claro que o banco estimula muito a leitura do código, tanto via treinamentos, como por meio de comunicados internos. Além disso, todo empregado recebe uma cópia impressa. Fonte: Dados da Pesquisa Banco B (Quadro 8): Quadro 8: Avaliação da Categoria 1 de Análise do Banco B - Estímulo à leitura do Código Avaliação da Categoria 1 de Análise: Estímulo à leitura do Código Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 3 5 10 0 Questão 2 11 3 4 0 Principais Comentários Questão 1: Você conhece o código de ética do Banco X? Se sim, em qual nível? Positivos Negativos Indefinidos “A gente tem uma norma “Superficialmente, porque é “Conheço. Basico, já li mais de uma interna além do código de obrigatório você concordar vez, mas básico.” (Entrevistado 2) ética. Então, eu leio ele com ele e tem cursos “Sim, mediano.” (Entrevistado 3) sempre.” (Entrevistado 8) obrigatórios. Para utilizar o “Sim. Nível, de cursos, mas seria um “Sim. Acho que já estou sistema tem que concordar nível amplo não, seria só um nível bem coadunado com o com o código de ética.” básico, assim.” (Entrevistado 5) código de ética. Não foge “Conheço, não completamente.” (Entrevistado 1) muito ao padrão.” “Conheço. Vagamente.” (Entrevistado 13) (Entrevistado 11) (Entrevistado 9) Conclusão da Questão 1 da Categoria 1 Considerou-se esse aspecto como indefinido para o Banco B. A maior parte destacou conhecer o código intermediariamente. Não houve quem o desconhecesse, 5 pessoas afirmaram conhecê-lo de forma superficial ou vaga. Apenas 3 afirmaram conhecê-lo bem. Questão 2: O Banco X o estimula a ler a e conhecer o código de ética da empresa? 97 Positivos Negativos Indefinidos “Estimula, com certeza.” (Entrevistado 2) “O Código de “Sim, superficialmente e no “Todo o tempo.” (Entrevistado 3) Defesa? primeiro contato ou quando há “Sim. Os aplicativos internos estão com o (ENT: Não, de alguma alteração.” (Entrevistado 1) código de ética com fácil acesso e tem também ética.). Ah, de “Pra falar verdade, mais na posse, os treinamentos que são do nosso currículo,” ética. Não, até no curso que a gente faz lá. (No diano dia-a-dia a-dia?). Não, a gente não tem nem (Entrevistado 7) “Tem umas campanhas, que a gente tem que mesmo tempo, por causa da correria passar, você está trabalhando, e jogam lá na ninguém nem (risos)!.” (Entrevistado6) tela, e você tem que dar uma lida, ou você tem comenta sobre “Ele manda uma vez por ano, se não que dar um sim, não necessariamente uma lida isso.” me engano, uma mensagem que a (risos).” (Entrevistado 9) (Entrevistado gente tem que consultar e aderir ao “De fato, todo funcionário tem que conhecer, código. Mas ele em momento algum 14) nem que seja falar que leu e dar um ciente lá.” “Não, não faz com que a gente participe dele, a estimula.“ gente tem que aderir simplesmente.“ (Entrevistado 11) “Estimula. Não “estimuuuuuuuuuuula” não, (Entrevistado (Entrevistado 15) mas estimula. Mas volta e meia estão falando 16) pro pessoal ler.” (Entrevistado 12) Conclusão da Questão 2 da Categoria 1 A avaliação foi positiva para o Banco B neste aspecto. A maior parte dos entrevistados afirma haver o código disponível em muitos meios e estímulo à leitura, especialmente na entrada do funcionário. Alguns funcionários citam, inclusive ironicamente, que não é necessário ler, mas atestar que leu. Há uma crítica interessante da entrevistada número 15 sobre a imposição do código. Fonte: Dados da Pesquisa Conclusão sobre a Categoria de Análise 1 Esse aspecto foi considerado positivo para o Banco A, uma vez que a instituição dissemina muito o código internamente. Apesar disso, observou-se, a partir das demais perguntas, que os funcionários declaram conhecer o código, mas não o compreendem corretamente, no sentido de saber o seu significado e sua utilidade prática. A disseminação do código mostrou ser também um ponto positivo do Banco B. Há o código em muitos veículos e o estímulo para a leitura. Apesar disso, os funcionários, de um modo geral, afirmaram conhecer o código de maneira intermediária na maior parte das vezes. Provavelmente, isso acontece porque, conforme afirmaram alguns empregados, a leitura é obrigatória, mas não fiscalizada, sendo que o empregado apenas atesta que leu o documento a obrigatoriedade à adesão, é bom ressaltar, entra em conflito com os critérios básicos de um código de ética, conforme o instituto Ethos (ETHOS, 2015). 98 5.2.3.2. Categoria 2: Combate à corrupção / Lei x Ética Banco A (Quadro 9): Quadro 9: Avaliação da Categoria 2 de Análise do Banco A - Combate à Corrupçaõ / Lei x Ética Avaliação da Categoria 2 de Análise: Combate à corrupção / Lei x Ética Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 8 5 4 1 Questão 2 3 12 1 2 Principais Comentários Questão 1: Você considera que as políticas internas de combate à corrupção são eficientes? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Tem um sistema bem eficaz, tudo o “Não, não são. Por exemplo, nesse caso “Não, nem todas. que a gente faz e o cliente faz é de fraude, as vezes parte do próprio Acho que poderia ser monitorado, então a gente tem um funcionário do banco. O próprio melhor. Pelo que eu sistema anti-fraude bem forte. Então, funcionário que libera informação percebo pelos meus creio que sim.” (Entrevistado 2) bancária, libera informação no caso colegas que estão em “Sim, acho que sim. Apesar de quê, para fraudar. E o banco, acho que se outros bancos, a do eu acho que o Banco, faz a parte ele quisesse investigar o motivo ele Banco A é uma das dele, mas eu acho que o que faz valer conseguiria realmente pegar quem é a melhores, porque a a prática ou não de corrupção é do pessoa, a base de dados, que hora a gente tem um filtro gestor.” (Entrevistado 7) pessoa... “(Entrevistado 1) bom na hora da “Sim. Porque ele tem uma estrutura “Não. Porque, a gente vê muita coisa abertura, que já pega muito boa na questão de prevenção, errada. Ouve falar de pessoas que muita coisa, mas eu né. Ele monitora, muitas vezes, até as fazem muitas coisas erradas, e na ainda acho que passa contas dos clientes.” (Entrevistado verdade a gente vê pouca punição, muita coisa.” comparando com tudo o que é feito.” 8) (Entrevistado 3) (Entrevistado 6) Conclusão da Questão 1 da Categoria 2 De um modo geral, parece haver um bom sistema de combate à corrupção interna, de acordo com o julgamento dos funcionários. Houve, contudo, um número significativo de respostas negativas e indefinidas somadas e alguns comentários como dos entrevistados 1 e 6, assim como o comentário do Entrevistado 3 à questão 2 (abaixo), que sugerem haver pouca punição àqueles que descumprem essas normas. Questão 2: Na sua opinião, a ética do banco vai além do cumprimento às leis? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “O banco sim, a gente as vezes “Eu entendo que não tem esse estimulo pros outros, “A ética é acaba ficando muito refém do por que você não vê acontecer nada com ninguém. muito para a gestor que está com a gente, né. Com os pequenos sim, mas com os gestores que própria Mas o banco, as ordens que estimulam a podridão não. Então, é aonde que eu te instituição, vem são sempre dentro do falo, eu não posso falar, na hora que eu vou discutir né. Ela é cuidado mais ético, mais social. isso com o superintendente, eles falam: “Existe o muito válida Nem sempre o gestor cumpre, banco e tem pessoas, você está falando de pessoas”. para dentro mas é uma questão mais Meu filho, tudo bem, mas a partir do momento que da pessoal.” (Entrevistado 2) eu vejo tanto gestor fazendo tudo errado, estimulando instituição.” “Vai até além. Vão supor, o aquele cara que acabou de entrar, e depois olha para (Entrevistad código de ética. Eu não posso ele e diz: “não, eu não mandei você fazer isso.”. “Lá o 8) ter parentes, irmãos, na minha em cima mesmo, no banco, nos donos do banco que carteira. Isso não tá na lei, mas querem o lucro, eles estimulam uma coisa tão podre.” tá na ética do banco.” (Entrevistado 3) “Não, ele faz o que é exigido. Como se diz, o arroz (Entrevistado 11) “Sim, porque não é só cumprir com feijão.” (Entrevistado 5) a lei. Tem algumas coisas que “...fica muito no discurso, etendeu? Como se diz não tem lei, mas que são assim: “Eu faço a minha parte, eu o meu conceito que 99 importantes também, né. eu devo fazer como empresa, mas eu não vou Acredito que sim.” fiscalizar se você está cumprindo isso ou não.”. Entendeu?” (Entrevistado 7) (Entrevistado 14) Conclusão da Questão 2 da Categoria 2 Houve uma avaliação bastante negativa nesse quesito. Verificou-se que para a grande maioria dos entrevistados, o Banco busca apenas cumprir a lei ou nem isso, mas não ir além eticamente. Isso aconteceu, inclusive, com pessoas que ao final da entrevista julgaram o banco com ético (entrevistados 1 e 13, os demais que julgaram o banco positivamente no final, tiveram coerência com essa questão). Destaca-se que se optou por categorizar a resposta do entrevistado 8 como indefinida, pois além de confusa ela é muito contraditória com o restante da entrevista. Fonte: Dados da pesquisa Banco B (Quadro 10): Quadro 10: Avaliação da Categoria 2 de Análise do Banco B - Combate à Corrupção / Lei x Ética Avaliação da Categoria 2 de Análise: Combate à corrupção / Lei x Ética Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 11 5 4 0 Questão 2 4 12 2 0 Principais Comentários Questão 1: Você considera que as políticas internas de combate à corrupção são eficientes? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Então existe um discurso muito forte do “não “Não, nem um pouco. “Olha, no relacionamento faça errado”, mas até onde isso é eficiente Só fazem algum com cliente, ela vem se depende muito da postura das pessoas em relação combate à corrupção mostrando pouco eficaz. Já ao que está no manual, ao que é recomendável de quando ou a opinião teve situações aqui de uma ação. Aconselhável.” (Entrevistado 3) publica fica sabendo série de administradores “Porque, inclusive é muito trabalhado com o ou quando a imprensa perderem a função funcionário, estamos sempre fazendo cursos, com sabe, mas quando é gerencial, porque eles relação a lavagem de dinheiro, segurança da interna e a agencia fizeram o que a gente informação, dados dos clientes, finanças dos está bem não chama de espuma, né, que clientes.” (Entrevistado 4) acontece nada, não é são negócios não “Olha, sinceramente, acho que existe, mas como combatida, inclusive sustentáveis. Tipo tenho pouco tempo como funcionária, tenho a pessoa é promovida contratação de operações pouco conhecimento dessas políticas. (ENT: Mas por causa disso. na conta do cliente sem a você sente que o pessoal respeita as normas (ENT: Você anuência do cliente! quanto a corrupção?). Acho que sim.” considera então que a Falsificação posterior em meta prepondera uma outra data, porque (Entrevistado 5) “Acho que é até um pouco exaustiva, assim a sobre o combate à tinha virado o semestre e quantidade de cobrança em relação a essa área.” corrupção?) não tinha como cancelar, Na maioria das tinha que liquidar a (Entrevistado 7) “Ué, eu acho que sim. A punição pelo menos é vezes.” operação e o pessoal severa, até onde eu sei. (Entrevistado 15 acabou arcando com juros. (Entrevistado 1 ) “Acredito que sim, pelo menos dentro do que eu “Eu acho o seguinte, (ENT: E o banco conheço do banco. Mas mais acima, na diretoria, não são eficientes, investigou?). Investigou acho que é mais complicado um pouco. (ENT: mas quando eles porque teve denúncia Pelo menos no dia-a-dia de agencia funciona querem combater, externa”. (Entrevistado bem?). Funciona bem, funciona eles conseguem.” 10) bem.”(Entrevistado 16) (Entrevistado 14) Conclusão da Questão 1 da Categoria 2 De um modo geral, a avaliação à questão foi positiva. A maioria disse haver muito controle e um sistema de punição rigoroso contra a corrupção. O entrevistado 10 chama a atenção que há procedimentos, mas que só acontecem quando há pressão externa. Chamou a atenção também a resposta do Entrevistado 16, pois, apesar de positiva, ele considera que há problemas do sistema no nível diretivo. Questão 2: Na sua opinião, a ética do banco vai além do cumprimento às leis? Justifique. 100 Positivos Negativos Indefinidos “Sim. Eu inclusive estou “Não. Mal, mal a lei, mal, mal cumpre as leis. Se “Eu acho que fazendo um curso sobre obviamente não cumpre as leis, não é ético. Duas tem sim uma isso, e estão reforçando coisas, uma ele fala pra você ser ético o tempo todo, política interna muito essa parte. Que a inclusive tem uma campanha, mas ao mesmo tempo em muito forte com ética vai alem da lei, que eles cobram a ética, cobram as metas abusivas que relação a questão porque abrange são impossíveis de serem batidas na visão da ética.” da ética. Eu vejo comportamentos, condutas (Entrevistado 1) que é uma coisa pra empresa ser “Isso não é gratuito, a “organização é boazinha não”, muito do nosso competitiva também, ela tem um interesse em cima. Ela vai além da lei cotidiano, na preocupa com isso quando a beneficia de outras formas.” (Entrevistado central de também.” (Entrevistado 3) notícia toda hora “Se resume a cumprir as leis, e olhe lá.” (Entrevistado fala sobre isso. 2) “Eu acho que vai. Porque 5) Só que assim, o banco é muito visado, “Cumprir o que a lei determina. O que está escrito, o tem uma questão visível, então, assim, isso que não está escrito as pessoas acham que podem fazer, que é o que é é muito forte. Então, mesmo que seja antiético e amoral!” (Entrevista 10) falado, o que é assim, agora a gente teve “Eu acho que na maioria das vezes se resume a cumprir proposto, com a um encontro nacional e a lei mesmo. Quando a lei não determina, o gerente no questão do um dos pilares foi a ética, dia-a-dia vai pedir pra gente fazer o que ele julgar ser cotidiano. E nem foi passada acima do que a mais vantajoso.” (Entrevistado 14) sempre isso é de lei manda, de uma “Até mesmo porque, se ele fizer além é mais prejuízo fato tão abrangência maior, né?” pra ele.” (Entrevistado 17) palpável, né?” (Entrevistado 8) (Entrevista 7) Conclusão da Questão 2 da Categoria 2 A avaliação foi bastante negativa para o banco, pois julgou-se que 2/3 das falas são incoerentes com o Código de Ética. O princípio do código, é sempre bom lembrar, orienta que uma instituição vá além do que determina a lei, buscando sempre a justiça e a equidade em suas relações, mesmo que a lei não prescreva isso. No entanto, a maioria dos empregados disse ou que o banco se resume a cumprir a lei, ou nem isso. Vale destacar que o entrevistado 2, que fez uma entrevista considerada positiva, chama a atenção para a ética como uma necessidade à competitividade da instituição. Apesar disso, ele afirma que a instituição vai além da lei. Fonte: Dados da pesquisa Conclusão sobre a categoria 2 de análise Percebeu-se por essa análise, que o Banco A tem bons sistemas de combate à corrupção, apesar de alguns funcionários afirmarem haver pouca punição a infratores, especialmente gestores. Além disso, chamou a atenção que a maioria vê no banco simplesmente a busca pelo cumprimento das leis, o que põe em cheque a intenção ética declarada pelo banco em seu código. Já no Banco B, apesar da primeira pergunta ter sido no geral positiva à instituição, considerou-se essa categoria como negativa ao banco por causa da segunda questão. Isso porque houve um número significativo de empregados que julgaram que o Banco B se resume a cumprir a lei ou nem ela. Além disso, verificou-se que quando ele busca ir além da lei, busca por uma questão mercadológica e não de princípios. 101 5.2.3.3. Categoria 3: Relacionamento com Empregados Banco A (Quadro 11): Quadro 11: Avaliação da Categoria 3 de Análise do Banco A - Relacionamento com empregados Avaliação da Categoria 3 de Análise: Relacionamento com Empregados Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 5 12 1 0 Questão 2 2 10 5 1 Questão 3 7 8 2 1 Questão 4 6 6 6 0 Questão 5 6 9 1 2 Questão 6 12 3 1 2 Questão 7 7 8 3 0 Questão 8 8 8 2 0 Principais Comentários Questão 1: Você é devidamente valorizado e remunerado pelo seu trabalho no Banco X? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Sim. (Ent: Você acha “Dentro da própria instituição tem várias diferenças de “O banco é que é justo o que você salário.”.”Tem funcionário com o mesmo período de sim, ético, recebe?). Acho, acho gerência que eu ganhando mil e quinhentos a mais, né.”. cumpre o sim.” (Entrevistado 7) combinado (Entrevistado 2) “Nem sempre. A gente “Então, assim, tem gerente que foca muito na produção, e com o sempre quer mais. Eu acaba ganhando uma variável maior que a minha, mas eu sei cliente. Mas me esforço para mais e que muitas vezes eles deixam de atender clientes que vão a logicamente nem sempre esse algo agencia, tudo manda ligar na central, direcionam para outros tem falhas mais vem. (ENT: Você canais. Ao invés de resolver o problema do cliente, e a gente sistêmicas, acha que é justo o é orientado a isso.” (Entrevistado 6) mas qualquer salário, pra mercado?). “O salário está aquém do que eu mereceria. Inclusive, tem dano é O meu sim, porque eu algumas distorções em relação a outros funcionários.” reparado. O vim do Banco X. Mas que acontece (Entrevistado 9) não é igual de todo “Mas, o serviço em si, a responsabilidade e a cobrança, a no banco, mundo. Tem gente que exigência, nos faz perceber que há uma defasagem de que tem uma está na mesma salário. Devido ao grau de responsabilidade, poderia ser fama ruim, é plataforma com salário melhor valorizado. E numa média do mercado, no caso do a ética e menor do que o meu.” meu banco, ele não tem o melhor salário.” (Entrevistado transparência do (Entrevistado 11) 10) “Eu acho que ao que o “Acho que a gente trabalha muito, o horário é muito puxado funcionário.” mercado oferta, ele e o salário tá muito aquém do funcionário público, da (Entrevistad valoriza bem, remunera mesma área bancária,” (Entrevistado 12) o 1) bem. Está acima dos “Não totalmente. Eu acho que hoje em função da padrões de lucratividade que o banco tem e o desgaste tanto emocional mercado.”(Entrevistado quanto físico, a gente poderia estar melhor remunerado. 13) (Entrevistado 15) Conclusão da Questão 1 da Categoria 3 As respostas em geral foram bastante negativas no que tange à remuneração, no total, 12 foram negativas. Houve muita queixa de diferenças salariais para pessoas com a mesma função e também de defasagem em relação ao mercado. Um funcionário chamou a atenção também para a baixa remuneração, frente à alta lucratividade do banco. Questão 2: Você já sofreu alguma situação de assédio no Banco X ou já presenciou colegas sofrendo assédio? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Já presenciei. A cobrança, “Já, sim. Eu já sofri “Nunca sofri, mas já presenciei. Cobrança, 102 deixou de ser uma cobrança de resultado, para uma ofensa pessoal. Em função das metas.”. “Porque a situação que foi gerada se for analisar no todo, existia um resultado sendo entregue. Algumas metas não estavam, mas o resultado estava sendo entregue. Então, deixou-se aquele resultado de lado e começou-se a olhar somente aquela meta especial. E aí passou a ser uma ofensa pessoal, uma discussão pessoal. (ENT: Isso é comum?). Não, tanto que eu nunca sofri. (ENT: As metas, de um modo geral, são plausíveis ou são abusivas?). Olha, existem casos e casos, né. Eu acho que de um modo geral elas são paupáveis, estão dentro das expectativas.” (Entrevistado 13) “Não, nunca. A gente é sempre cobrado o tempo inteiro por meta, mas nunca de forma abusiva por parte do banco não.” (Entrevistado 17) assédio de cobranças cobrança até um pouco pesada. Assédio de excessivas de gestores e outros colaboradores. E falsas promessas colegas meus também. Isso de gestores, não comigo, mas com é em todos os bancos.” colegas.” (Entrevistado 1) “Assédio é uma palavra muito forte, mas às (Entrevistado 5) “Sim. (De qual tipo?). Ah, vezes a gente fica numas situações de pressão mesmo de constrangedoras. Mas como eu te disse, eu metas.” (Entrevistado 6) vejo muito mais como uma questão “Já. (Por qual motivo?). pessoal, um gestor maluco na verdade, que Meta. ( E isso é uma ordem vinda do banco.” frequente?). Melhorou (Entrevistado 2) muito, mas ainda tem.” “Comigo não, mas já presenciei, já vi situações. (Ent: Quais situações, por (Entrevistado 11) “Humilhação, assim, exemplo?). Cobranças, né? De metas, igual chamando a atenção, eu te falei, da prática da ética nas agencias, gritando, falando alto na pelo menos a minha gestora que eu agencia. Já presenciei. Mas trabalho desde que eu entrei dentro do já faz um certo tempo. banco, a linha de gestão dela é muito (ENT: Você considera as transparente.”.”Mas outros gestores que eu metas do banco plausíveis, já vi, assim, eles pregam uma linha de dentro de uma gestão completamente oposta aos valores e razoabilidade?). Eu acho ao que o banco põe como ética. “ que está um pouquinho (Entrevistado 7) demais. (Entrevistado 14) “Eu não me considero assediado. Já passei “Dentro de agencia a por muita coisa antes disso, vivi muita cultura é muito agressiva coisa pior do que a gente faz no banco. no cumprimento das (ENT: Tem muita pressão por meta?). metas. E a fórmula como a Todo dia, toda hora. (ENT: E por essa maioria dos gerentes gerais pressão por meta você já sentiu passar do conduzia seus ponto?). Já, porque é aquilo que eu lhe subordinados, ela é muito falei, é ser humano, cada ser humano reage bronca, né, é muito de uma forma. Então, aquele instinto de agressiva. Então, assim, é sobrevivência às vezes provoca o exagero, um palavrão, um telefone né. A descompensação emocional.” desligado na cara.” (Entrevistado 15) (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 2 da Categoria 3 A maior parte dos entrevistados relata já ter presenciado ou sofrido assédio e o problema mais recorrente é a questão de metas. Destaca-se que dos 18 entrevistados, 15 queixaram-se pelo menos em algum momento de metas abusivas (e dois não foram questionados a respeito). O entrevistado 17 respondeu não haver metas abusivas nesta questão, mas caiu em contradição sobre isso adiante, dizendo inclusive que gerentes estimulam estagiários a ludibriar clientes, principalmente mais humildes, para a venda de títulos de capitalização. Questão 3: O Banco X atende satisfatoriamente as exigências legais de saúde e qualidade de vida no trabalho? Exemplifique. Positivos Negativos Indefini dos “Disso aí eu não tenho do que “Assim, depende. A pressão, a saúde psicológica “Médio, reclamar não. Questão de horário, acaba sendo debilitada, por causa da pressão, do acho horário de almoço, horário de lanche, assédio. Mas assim, questão de carreira, esse tipo de que não a gente tem um período de pausa. Eu coisa aqui a gente tem entendeu, não tem problema totalme tenho um horário bem tranquilo e nenhum. O problema aqui é só psicológico mesmo, nte.” isso me ajuda a ter uma qualidade de se entrar nessa questão, aí eu acho que não atende.“ (Entrev vida aqui dentro do banco, né.” (Entrevistado 6) istado “Não, justamente por causa dessas metas. Essas (Entrevistado 2) 5) “Eu acho assim, que a estrutura da metas deixam qualquer um doido. Tem colegas da agencia te dá toda condição para gente que está com problema de saúde, justamente você trabalhar de forma tranquila. porque não conseguem bater essas metas, né?“ Pelo menos comigo eu nunca (Entrevistado 8) presenciei e nem fiquei sabendo de “Na zona sul, as condições até que são interessantes, 103 caso de pessoas que tiveram mas eu já trabalhei na região de Venda Nova, que não problema de saúde por problemas de tinha condições satisfatórias para o desenvolvimento trabalho.” (Entrevistado 7) do trabalho.” (Entrevistado 9) “Sim. A gente tem exames “Não atende. Muitas das vezes ou mascara ou faz de periódicos. Plano de saúde bacana, conta que não está enxergando aquela verdadeira não espera em fila de posto de saúde. realidade. E digo isso por experiência própria. Não (ENT: O ambiente de trabalho é um estou dizendo da boca para fora. Porque eu passei por ambiente salutar?). O que acontece, uma situação dessa, onde que eu tive que mostrar um com 13 anos de trabalho você acaba outro lado da moeda na questão judicial para provar o que fica acostumado com isso, né. meu verdadeiro valor na questão profissional mas Então, o ambiente de trabalho é também como ser humano.” (Entrevistado 16) legal, sim.” (Entrevistado 11) “Isso faz com que gere um stress muito grande, “Eu nunca tive problema, falando porque como eu falei são metas que são conflitantes, por mim, não posso reclamar. Todas elas não conseguem agir em conjunto. Então, o cara as vezes que precisei, o plano de tem que se virar. Então, apesar do trabalho ser de 6 saúde me atende super bem.” horas, o cara tem outro porém que ele tem que atender rápido e não pode ter quebra de caixa dele.”. (Entrevistado 14) “Eu acho que é. Tem um ar “Eu já vi quebra de 30 mil reais. O cara tem que condicionado que eu acho que é parcelar, tipo assim, o cara ganha 1800 reais, pelo mantido numa temperatura bacana, menos na época, e o cara simplesmente tinha uma então eu acho que o ambiente é legal. dívida com o banco. O cara era quase um Os assentos são bacana, não tem escravizado, ele não ganhava nenhuma assento precário, pra quem praticamente.”(Entrevistado 18) tem problema na coluna e esses trens.” (Entrevistado 16) Conclusão da Questão 3 da Categoria 3 As respostas ficaram bem divididas nessa questão. Houve elogios à qualidade do plano de saúde e parece também haver boas condições ergonômicas de um modo geral. As avaliações negativas foram normalmente associadas à questão de metas abusivas e saúde mental e psíquica dos empregados. Houve um comentário que chamou a atenção, do Entrevistado 9, que relatou ter encontrado condições de trabalho piores em agências de regiões mais pobres da cidade de Belo Horizonte. Questão 4: O Banco X cumpre as leis trabalhistas no relacionamento com seus empregados? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Cumpre, cumpre. Até comigo e demais “Não. Porque tem muita “De um modo geral sim. Eu colegas sim. Tudo o que é formalizado é gente que como eu, eu tive acho que questão de ponto, cumprido. O que não foi cumprido é uma negação de salário, de horário de trabalho, eu acho promessa do gestor. Não da empresa.” função, eu estava que cumpre. Agora, essa atendendo pessoa física e questão de assédio, por (Entrevistado 1) “Talvez a única reclamação que eu teria, é jurídica e não tive nenhum exemplo, não sei se entraria referente a diferenças salariais. Ali aumento, não tive nenhum nessa lei, entendeu.” realmente é um problema. Fora isso, hora bônus.”(Entrevistado 5) (Entrevistado 6) extra a gente faz e eles pagam.” “A gente tem celular, e “Em termos. Porque em liga na hora que quer. E função de algumas situações (Entrevistado 2) “Sinceramente, até de banco, eu acho que liga no celular. Então, a especificas, por exemplo, por ele é justo. Não existe esse negócio de gente faz hora extra e não não poder fazer hora extra, as fazer hora extra sem receber, você não vê é remunerado por isso. vezes o funcionário é isso. Mas, existem muitas coisas que eu Horário de almoço o induzido a informar um acho que tinham que ser melhoradas telefone está tocando, a horário que foi trabalhado e mesmo.” (Entrevistado 3) gente não chegou no banco as vezes a gente trabalhou “Cumpre, pelo menos comigo eu nunca o telefone está tocando, a um pouco mais.” tive problema, em relação aos meus gente está almoçando o (Entrevistado 9) direitos, eu nunca tive problema.” telefone está tocando. Não “De uma certa forma sei nem se o Banco teria cumpre. Só que aí entra na (Entrevistado 7) “De um modo geral sim. Eu trabalhei em um mecanismo para estar outra pergunta, ele cumpre, outras instituições e o banco até então é controlando isso, né?” ele paga as horas extras, mas melhor nesse aspecto.” (Entrevistado 10) (Entrevistado 11) fala para você não fazer “Olha, esse cumprimento, digamos 100%, “Eu não entendo muito de horas extras. E as horas isso não é realidade, não é verdade. lei, mas... As vezes sim, as extras são parte da sua meta Sempre tem algo a desejar ou algo a vezes não. Caso a caso. A também, não fazer horas 104 melhorar, que somente quando a jornada de trabalho nossa é extras. Só que te colocam instituição vem passar por certa cobrança extensa. Deveria ser de 6 com duzentas pessoas, e voce ou fiscalização que ela atina para essa horas e a gente cumpre 8.” é o único caixa, então, é realidade, né. (mas de um modo geral é incompatível as (Entrevistado 12) bom ou ruim?). É bom, mas poderia ser metas.”(Entrevistado 18) melhor ou excelente. Por enquanto eu considero bom.”(Entrevistado 16) Conclusão da Questão 4 da Categoria 3 O pesquisador não conseguiu definir adequadamente 6 respostas nessa questão, e o restante ficou dividido. As respostas positivas, assim como algumas falas que foram julgadas negativas (devido ao complemento da fala), relatam que o Banco paga em dia, paga horas extras corretamente e férias (ou seja, não há problema com pagamentos em geral). Houve, no entanto, muitas queixas quanto a desvio de função e mais uma vez apareceram problemas de metas abusivas. Além disso, dois funcionários relataram pressão para que não haja o registro de horas extras. Outro problema relatado foi o descumprimento da jornada de trabalho de bancário, de 6 horas, para algumas funções. Essa questão foi mais recorrente no Banco B. Questão 5: O Banco X valoriza a saúde e qualidade de vida de seus empregados? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Valoriza. Eu acho que valoriza, mas mais “Não. Fora do ambiente do trabalho eu “Acho bem para o público de Rio e SP.“ (Entrevistado não tenho, isso é muito pouco. A gente médio tem alguns incentivos de informação também.” 11) “Acho que sim. Ele sempre estimula os mesmo que a gente tem aqui no site, mas (Entrevistad programas. Tem alguns programas que você nada muito diretamente não.” o 5) liga de ajuda psicológica. Tem alguns (Entrevistado 4) programas de dia de esporte, dia disso, “Acho que isso tudo beneficia a sempre tem um dia de voluntário. Então ele qualidade de vida do funcionário. Mas tem vários programas. Para o esporte, para aqui, pra quem tá fora do eixo Rio e SP, as famílias. Tem vários programas, né. não tem muita coisa, não tem nada.” Campeonato de boliche, de kart.” (Entrevistado 6) “Se o funcionário está bem de saúde ou (Entrevistado 12) “Aqui a gente sempre tem um site, que não, acho que isso não é uma sempre incentiva, alimentação saudável. Eu preocupação importante para o banco. Eu acho que em SP e no Rio os funcionários acho que a importância principal é o devem sentir isso mais forte, porque lá tem resultado. Você é um número ali dentro. academia dentro do prédio, né. Tem tudo Enquanto você tiver saúde suficiente melhor. Antigamente também tinha uma para você gerar resultado, isso é menina que vinha fazer massagem, importante. Mas a partir do momento, alongamento. Infelizmente, isso o banco por exemplo, que a sua saúde está tirou.” (Entrevistado 14) impactando no seu trabalho, deixa de ser importante.” (Entrevistado 7) Conclusão da Questão 5 da Categoria 3 De um modo geral, houve uma avaliação negativa desta questão. Destaca-se que ela foi muito confundida com a questão 4, de maneira que o entrevistador precisou explicar a diferença em quase todas as entrevistas. Relatou-se, de um modo geral, haver pouco estímulo e programas do banco para a saúde e qualidade de vida fora do trabalho. Houve também queixa de desvalorização nesse aspecto de funcionários de fora de RJ e SP. As avaliações positivas, contudo, salientaram contraditoriamente haver programas (provavelmente há um problema de divulgação ou de alcance de tais programas). Questão 6: O Banco X dá liberdade a seus empregados para a livre associação a sindicatos e entidades de classe? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Meu sempre soube que eu tenho contato, “É lógico que, por exemplo, no período “O banco sim, que eu posso contar com eles, como eu acho de greve, a gente continua trabalhando, mas alguns que a atuação do sindicato as vezes é a gente acaba tendo que cumprir todas gestores não. extremamente errada. Por exemplo, uma as obrigações que tinha mesmo com a Outros são pessoa que rouba, aí, é caso de polícia. agência aberta, e isso acaba inibindo a indiferentes, Procura o sindicato e é um chororo danado e gente um pouco, né. Mas numa outros apoiam. vem o sindicato e enche o saco.” instituição privada, eu sinceramente Mas, há compreendo. E não discrimino não. gestores, que (Entrevistada 3) “Sim. Não cria nenhuma restrição.” Acho natural.” (Entrevistado 2) às vezes fazem 105 “Sim. (ENT: Existe algum tipo de aquela (Entrevistado 5) “...acho que a maioria das pessoas que pressão contrária?). Para sindicalizar “famosa” cara estão há mais tempo no banco, elas são ou aderir às greves? Depende em que feia, né: “Você sindicalizadas, busquei informações com sentido. (ENT: Para as greves, há é algumas outras pessoas que tiveram uma algum tipo de pressão contrária?). É sindicalizado, espécie de ajuda do sindicato. E, eu acho claro, isso aí não é bem fácil aqui não. você apoia importante que tenha uma instituição que Ser sindicalizado não tem nenhum greve...”. possa nos ajudar, tratar dos interesses dos problema, mas a questão é quando tem (Entrevistado trabalhadores, diante da greve assim, a gente que é banco 1) instituição.”(Entrevistado 10) privado, na verdade a gente é “Não te impede de ter acesso. Inclusive, até realocado. A gente não deixa de incentiva.” (Entrevistada 13) trabalhar” (Entrevistado 12) Conclusão da Questão 6 da Categoria 3 De um modo geral, houve uma avaliação positiva na questão do sindicato. Os empregados disseram não haver pressão contra a sindicalização e que o sindicato tem livre trânsito nas agências. Chamou a atenção, contudo, que 4 empregados relataram haver problemas quando a questão é greve, que aqueles que aderem costumam sofrer coação pela alta gerência. Questão 7: O Banco X tem um sistema efetivamente meritocrático? Positivos Negativos Indefinidos “A gente tem um processo, né. Eu acho que “Dizem que na prática sim e o que é “Não. Porque dentro das instituições onde eu trabalhei, eles apresentado pra gente sim. Mas o eu já vi gente têm um processo razoável. (Você acha que é funcionário não consegue acompanhar que já foi bom?). Não acho que seja assim o melhor do seus números, isso eles não promovida mundo, mas acho que eles tentam montar um divulgam.”Então, a gente não consegue por causa de esquema ali pra justificar as promoções que acompanhar tudo mensalmente, a não peixada. eles fazem, eles não tiram do nada, vamos ser que você vá marcando no papel, (isso é dizer assim.” (Entrevistado 2) mas é muito difícil acompanhar no comum?). “No geral, eu enxergo que ele está papel. Porque são muitas Não, não é caminhando para isso. As mudanças estão particularidades, então, a gente fica muito acontecendo e ele está caminhando para sabendo só 6 meses depois.” comum não.” acontecer.” (Entrevistado 13) (Entrevistado 1) (Entrevistad “Olha, hoje em dia eu acredito na “Não. Porque ainda existe aquela o 8) meritocracia. Se você me perguntasse um ano questão da indicação, da carteirada. Eu e meio atrás, eu lhe daria outra resposta. acho que a performance não é ponto Ainda é falho, ainda não é perfeito, mas já principal para a promoção.” está muito melhor do que era antes.” (Entrevistado 9) “Não, de jeito nenhum. Porque tem o (Entrevistado 14) “Se você me fizesse essa pergunta seis meses QI. (ENT: Isso acontece com atrás, eu te diria que não. Hoje eu considero frequência?). Acontece.” que ele vem adotando um sistema de (Entrevistado 11) meritocracia maior.”(Entrevistado 15) “Pensando no universo de agencia, não “Eu acho extremamente meritocrático. Tem é nada meritocrático, zero.””Você pode todo um plano de carreira do banco que ele bater a meta que for, seus números define bem pra você. Nós mesmos estagiários, podem ser excelentes, mas isso não eu fiz um curso externo, e eu fiz um curso que afeta em nada. Pelo contrário, o cara ele deixou bem claro a forma de avaliação: pode ter a visão que entregando “Você será avaliador por isso, por isso, por números bons, que deixe ele lá porque isso. Se você tiver tal nota, você certamente será interessante para o cara (gerente).” será contratado.”.” (Entrevistado 17) (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 7 da Categoria 3 Apesar de ter havido uma resposta negativa a mais, considerou-se como intermediária essa questão. As respostas mostraram que, apesar das imperfeições, a filosofia da meritocracia vem sendo implantada na instituição. Apesar disso, vários empregados apontaram ainda haver muito favorecimento nas promoções. Chamou a atenção o comentário do entrevistado 1, de que o banco impede os funcionários de fazer um acompanhamento diário de desempenho (os números só são mostrados semestralmente). Questão 8: O Banco X valoriza a diversidade étnica, social e cultural no seu ambiente de trabalho? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos 106 “Também é outro ponto que nunca tive muito problema não. Acho que ali, as vezes a gente comenta que tem funcionários de vários formatos, de várias etnias. Eu acho até engraçado, outro dia a gente estava comentando sobre isso.”.”Tem uma funcionária nossa que ela é negra e gosta de um cabelo mais natural. Se fosse em outros tempos, teria aquela pressão. E no banco Banco A nunca vi nenhum tipo de comentário. Lógico que a gente tem que ter o bom senso, andar sempre. arrumado, mas essa questão étnica e cultural nunca vi nenhum problema não.” (Entrevistado 2) “Entre nós, que trabalhamos, eu acho que nunca presenciei nada que estimule muito isso, mas também nada contra. O convívio em geral nesse assunto, eu acho que é bom.” (Entrevistado 10) “Valoriza. Porque eu trabalho com pessoas de todos os tipos. Não há um padrão.” (Entrevistado 12) “Sim. Existe e ele até incentiva essa diversidade. A diferença de tratamento.” (Entrevistado 13) “Voce vê poucos negros, né. Voce esta “Olha, seria o ideal, falando nessa onda toda? (Sim, de né, mas não valoriza diversidade, de valorização a isso, se há não. Porque, cultura, estímulo interno a isso...). Eu acho que por exemplo, eles não lógico, não vamos ser ridículos que o têm nenhuma PNE (pessoas com necessidades manifestação de especiais) é uma obrigação. E te falo de cultura, para valorizar cara, não tenho preconceito, mas não uma cultura, um pego para trabalhar mais, não aguento teatro. Fora da mais. Aí, a gente vai para uma outra empresa sim, mas linha. A maioria que entra, não é PNE dentro da empresa, bosta nenhuma. Não sei como essa não.” (Entrevistado 8) pessoa conseguiu entrar, mas o banco “Valoriza. Na minha tem uma coisa que ele faz errada igual as agencia a gente vê empresas, ele não coloca como “plus”, uma diversidade ele coloca como um funcionário no cultural bem grande. quadro.”(Entrevistado 3) (Ent:E etnia, também “Não, nunca vi nenhum programa assim, tem diversidade diretamente. Entendeu.” (Entrevistado 6) legal?). Sim, na minha “Eu acho que não, porque é claro você agencia tem. Claro verificar aqui que a maior parte são que você vê os mais pessoas brancas. Negros são, não sei se inferiores, que são chega nem a 10%. De todas as agencias negros. Pelo menos na que trabalhei, ate hoje só trabalhei com minha agencia. A uma pessoa negra. Então, eu não acho faxineira é negra, e os que valoriza. “(Entrevistado 9) dois seguranças são “Só se é muita coincidência, eu estou negros. E tem um aqui há oito anos. Eu posso contar numa caixa que é negro. O mão os funcionários negros que trabalhei resto é tudo mais junto. É esquisito, né?” (Entrevistado branquinho mesmo. 14) (Entrevistado 17) Conclusão da Questão 8 da Categoria 3 Essa questão também ficou num nível intermediário. Alguns funcionários disseram que o banco é indiferente a isso, outros que valoriza e há diversidade. Um ponto que três empregados apontaram negativamente, é sobre a ausência do negro na instituição, a não ser em cargos subalternos. Uma gerente também teceu fortes críticas aos programas de Pessoas com Necessidades Especiais. Apontando que o Banco não cumpre adequadamente a lei. Houve uma indicação na reposta do entrevistado 2 de haver preconceito de raça no banco em função de corte de cabelo, mas como ele afirmara o contrário no início da resposta, optou-se por considerar a fala como positiva para o banco. Fonte: Dados da Pesquisa Banco B (Quadro 12): Quadro 12: Avaliação da Categoria 3 de Análise do Banco B - Relacionamento com empregados Avaliação da Categoria 3 de Análise: Relacionamento com Empregados Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 6 8 4 0 Questão 2 3 9 6 0 Questão 3 8 9 1 0 Questão 4 9 7 2 0 Questão 5 7 9 2 0 Questão 6 12 3 3 0 Questão 7 5 8 4 1 Questão 8 9 3 6 0 107 Principais Comentários Questão 1: Você é devidamente valorizado e remunerado pelo seu trabalho no Banco X? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Como escriturário, “as metas aumentaram 70, 80% do ano passado, “a remuneração do banco e olhando o com a agencia com metade do quadro de para meu cargo está dentro mercado eu diria funcionario, e assédio moral o tempo todo, e se não do mercado, mas acho que que sim. De uma conseguir será descomissionado, e terá problema na para a rede de agencias ela nota de 0 a 10 eu carreira.” (Entrevistado 1) podia ser um pouco diria que 7. Não “Não! Trabalho muito gosto do que faço, mas não melhor, tendo em vista o acho que está ruim sou devidamente remunerada. Assim, com essa mercado, e tendo em vista não.” massificação do trabalho, a gente tem metas, de que é atividade de modo que não tem comissão, tem meta em cima da intermediação financeira e (Entrevistado 5) “Atualmente sim. participação dos lucros. E tem hora que a coisa é o lucro é muito grande. (compatível com o pesada, né?” (Entrevistado 8) Então eu acho que a mercado). Sim, na “Não. Primeiro porque o Banco implementou uma distribuição do lucro pro área até um pouco política de funções, extremamente irregular. Na acionista e pro funcionário acima.” questão trabalhista.” (Entrevistado 9) é um negócio muito “Não, eu acho que pela responsabilidade que eu diferente.” (Entrevistado (Entrevistado 13) “Remunerado tenho, pelo tipo de decisões que eu tomo, de coisas 3) acredito que sim, que eu defino durante o dia eu acho que o valor da “eu acho que pela principalmente remuneração não é satisfatório.” (Entrevistado 12) complexidade do meu porque eu não “Não que a remuneração seja ruim, “comparada trabalho, eu deveria tenho nível com outros empregos semelhantes, mas eu acho que monetariamente ser mais superior ainda. pelo nível de stress que a pessoa passa ali ela valorizado. (você acha que Então é até acima merecia mais.” (Entrevistado 14) é compatível com o do que o mercado mercado?). Eu acho que paga.” (Entrevista sim.” (Entrevistado 11) 16) Conclusão da Questão 1 da Categoria 3 A avaliação, no geral, foi negativa, mas houve um número muito próximo de avaliações positivas, além de 4 indefinidas (o que poderia alterar o quadro, caso outra pessoa julgasse). Os empregados se sentem pouco valorizados, mas normalmente apontam que a remuneração é melhor que a média de mercado, e talvez esse seja o ponto central da proximidade de visões. Apesar disso, surgiram entre as questões negativas principalmente queixas quanto a metas abusivas e excesso de responsabilidades, frente ao salário. Um empregado lembrou também que o salário é incompatível com o lucro da instituição. Questão 2: Você já sofreu alguma situação de assédio no Banco X ou já presenciou colegas sofrendo assédio? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Não. (ENT: “O problema também do banco é “Assim, existe uma cobrança muito forte, por E com que o gerente geral nunca assume a resultado muito forte. O que eu não acho que colegas, já responsabilidade pelas coisas, é seja um assédio nocivo. Existem sim metas para presenciou?). sempre o banco colocou sua meta, cada um. Hoje a meritocracia é muito grande, Também não fui eu, e fica impessoal, mesmo acho. Tem uma nova política lá de gestão de não.” assim manda mensagem de 5 em 5 pessoas que mudou muito essa postura. Então, não é mais aquele ambiente de marajás, igual era (Entrevistado minutos cobrando.” (Entrevistado na época dos meus pais, que o sujeito entrava lá 6) 1) “Não, essa “Bom, eu já recebi, já um gerente, e aposentava e não trabalhava nem nada. Existe situação hoje quando da época da agencia, disse uma cobrança bem grande.“ (Entrevistado 7) assim tá bem que eu não era paga pra pensar, na “?). Eu acho que é pontual, alguns gestores tem controlada. frente de todo mundo. Foi o que uma postura mais assim, mas assim, nós temos (Ent: Pressão mais me impactou, e o que me fez uma ouvidoria, sabe. Isso funciona, o povo faz por meta, não querer mais aquele ambiente. um barulho aqui dentro. O povo não baixa a etc?). Não, até (ENT: Você acha que na agência é cabeça não. Não sei se e porque, assim, quando porque caixa corriqueiro?) Eu acho que é. Em você está num banco privado, então você é executivo função de meta, em função de mandado embora, aqui não existe isso, né?” você vê muito postura.” (Entrevistado 3) (Entrevistado 8) pouco isso né, “Por causa de meta, de reunião que “Em agencia com essa questão de meta acontece de metas e expõe as metas de todo mundo, mais, de gerente recebendo mensagem fim de 108 tal.” (Entrevistado 17) mensagem por celular, o fato da semana, gente que por aquela pressão desmedida mulher estar com a unha vermelha. por meta adoeceu. Não é aquela questão todo (ENT: Isso é corriqueiro em dia, mas não é raro.“ (Entrevista 12) agencia?). É.” (Entrevistado 9) “Eu nunca sofri, mas colegas sofrendo sim. Por “Sim. (em função de metas?). causa de metas. (ENT: É comum?). Também Normalmente relacionada a metas. depende do gerente. Eu trabalhei numa agencia (isso é comum?). É comum, na que, por causa do gerente, era bastante comum, verdade faz parte da rotina. A gente ele assediar os funcionários abaixo dele por tem que cumprir uma meta e causa de meta.” (Entrevistado 16) normalmente ela é muito difícil de atingir.” (Entrevistado 13) Conclusão da Questão 2 da Categoria 3 A questão do assédio foi apontada como problema por metade dos empregados. Tendo em vista que houve 6 respostas que foram julgadas como indefinidas, mas que na maioria dessas há reclamação de metas, julgou-se a questão como negativa para o banco. O problema maior apontado é a pressão por meta gerar assédio. Não houve muito detalhamento sobre os métodos, mas no geral apareceram situações de constrangimento na frente de colegas e clientes e o uso do celular para exercer pressão. A resposta do Entrevistado 8 chama a atenção, por afirmar que o empregado do Banco B, por ser efetivo, não se cala diante de abusos e assédios. Questão 3: O Banco X atende satisfatoriamente as exigências legais de saúde e qualidade de vida no trabalho? Exemplifique. Positivos Negativos Indefini dos “Eu acredito que sim. Pelas medidas “Não. Especialmente com pouco funcionário. A “No que eles têm de qualidade vida no agencia tinha um quadro de 38 funcionario e tem ambient trabalho, todas as dependências do agora 20 pra atender a mesma quantidade de cliente e banco tem uma equipe para cuidar ou mais,” (Entrevistado 1) satisfato disso, e sempre estão fazendo a parte “A saúde mental também? Aí nesse caso eu acho riament obrigatória e também o Plano de Saúde que não. Mas eu não sei se é o banco, ou se são os e não, sempre manda material sobre saúde, representantes do banco. Eu não sei se a coisa que mas tabagismo, essas coisas.” está lá no normativo é linda, e a forma de aplicar também não é tão linda assim. E aí as pessoas falam muito eu não (Entrevistado 2) “Oferece um plano de saúde muito isso lá no banco: “Existem dois bancos, o banco vou bom. E até hoje o que eu precisei de que está escrito e está lá, nos códigos, e o banco da dizer licença, não tive problema nenhum. realidade. Então eu não sei, se é o banco, mas quem assim Até o momento, o que eu vi, acho que o representa não. Acho que nós temos muito que seja sim.” (Entrevistado 4) problema com a questão de saúde. Quando você me tão “Sim. Eu acho. (o plano de saúde é perguntou eu pensei “é a saúde física, questão de ruim.” bom?). Eu acho bom.” (Entrevistado iluminação, condições de trabalho?”. Mas a questão (Entrev que pega mais para o trabalho bancário é o 6) istado “Eu acho que ele tenta muito, por psíquico.” (Entrevistado 3) 14) exemplo, o exame periódico nosso o “Atender, atende, o mínimo. Só que, devidos a exigido é bem além do que essas pressões, e tal, acho que as pessoas estão normalmente são, a gente tem um ficando doentes, né.” (Entrevistado 5) programa de Qualidade de Vida no “E sem falar da questão que tem muito nas agencias Trabalho, então na agencia a gente tem das horas extras, que muitas vezes não são nem massagista uma vez por semana, e eu remunerada. Os gerentes fazem reuniões depois do acho assim, que o banco tenta, não é serviço, o cara tem que ficar lá. Pra mim qualidade 100%, por que sempre pode dar mais, de vida no trabalho lá não é legal não.” né?” (Entrevistado 8) (Entrevistado 9) “O banco já identificou que tratando “Quer dizer na saúde física, na ausência da doença essas questões, as próprias metas são física, eu acho que atende. Mas na questão da saúde mais fáceis, isso é claro lá no emocional, com certeza não.” (Entrevistado 12) banco.”(Entrevistado 11) “Não. Olha, além dessas questões de stress que eu “Na parte legal, o banco ele pede os acho que são as mais perigosas, as mais exames periódicos, ele até vai um importantes, tem uma questão ergonômica do pouco além da legislação, que ele pede trabalho que não está adequada.” (Entrevistado 15) complementares que não são exigidos em lei.” (Entrevistado 18) 109 Conclusão da Questão 3 da Categoria 3 O resultado foi negativo para o banco, mas assim como a questão anterior, houve grande divisão. Parece haver boas condições ergonômicas e o plano de saúde foi bastante ressaltado, mas houve queixas voltadas à saúde mental e psíquica, como os entrevistados 3, 12 e 15 ressaltaram, principalmente pela questão das metas abusivas - aspecto mais levantado como impedimento para a qualidade vida no trabalho. Houve um funcionário que se queixou do carpete, por estar empoeirado, e outro que se queixou da higienização da agencia. Questão 4: O Banco X cumpre as leis trabalhistas no relacionamento com seus empregados? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Hoje em dia sim. (antigamente era pior?). “Se cumprisse as leis trabalhistas, todo “Não. Ele Era o que a gente ouvia falar muita demanda mundo que saiu do banco não entraria na cumpre a trabalhista contra o banco, hoje eu não sei de justiça contra ele. Todo mundo que eu maior estatística, mas pelo menos internamente a conheço que saiu do banco entrou na parte, mas gente vê que tem muito recurso eletrônico e justiça contra o banco.” (Entrevistado 1) ele deixa de sistema de controle a isso, não sei se isso “. A questão toda, o gargalo todo no cumprir refletiu, mas pelo curso de preposto parece banco hoje é essa questão da sétima e algumas que o banco está se preocupando mais.“ oitva hora. Porque tem um monte de partes e gente que entra na justiça por conta inclusive (Entrevistado 2) “Eu sei que o pessoal da agencia faz muita disso. Isso é uma coisa séria. E o banco sofre hora extra, muito cobrados, muita pressão, até hoje não deu conta no outro lado, e diversos mas não vivi isso na pele, porque quem não é só ele, os outros bancos também processos trabalha na plataforma de suporte operacional estão com esse problema. Mas tem um por causa é totalmente diferente. A única meta que a problema pior, existe muita gente da questão gente tem é tempo de atendimento. E, até fazendo hora além da jornada, sem ter de horas, agora... Me perdi. Nunca vi nada que fosse uma compensação, e isso é muito sério.“ por carga descumprido até agora não. Sei que o pessoal horária (Entrevistado 3) faz muita hora extra, mas recebem por isso.” “Não. Primeiro é muito corriqueiro essa superior a questão de desvio de função. A gente já prevista em (Entrevistado 4) “Que eu tenha conhecimento por enquanto, trabalha lá pensando, sabe, quando eu lei, várias sim. Mas quando eu era estagiária, eu fazia sair do banco vou entrar contra o banco coisas.” algumas coisas que não era de estagiária.” por causa de desvio de função e tem (Entrevista ganhado. Porque a questão é até muito (Entrevistado 6) do 12) “Eu acho que cumpre. Porque quando não nítida, muito notória, essa questão no “Até uns cumpre o sindicato está lá do lado correndo banco. Por exemplo, eu quando era dois anos atrás de qualquer migalha, de qualquer escriturária já fiquei responsável pela atrás mais pedacinho, isso é visível. Isso é visível porque chave de abertura da agência e eu como ou menos, o banco preocupa, vai cumprir o que está na escriturária não poderia ter, tinha que ser o cargo X lei. Porque se não for o sindicato está em gerente.” (Entrevistado 9) automatica cima.” (Entrevistado 7) “O banco de uma maneira, talvez bem mente “A cumpre, porque quando não cumpre, meu pensada e sorrateira, começou a trabalhava filho, o sindicato já agrega o funcionário! comissionar esses funcionários, que 8 horas, (risos).” (Entrevistado 8) passaram a trabalhar 8 h sobre o pretexto igual ao “Tem uma preocupação muito grande. Porque de que teriam uma função de confiança.” gerente. assim, anualmente a justiça do trabalho, o Então, de (Entrevistado 11) ministério do trabalho ele fiscaliza a gente de “Olha, a gente teve um caso recente do dois anos alguma forma.” (Entrevistado 10) banco que ele mostrou pra gente que não pra cá, o “Sim. Porque é um processo complexo estava cumprindo. Porque teve um banco, até envolvendo sindicato e empresa, então não é acordo para ele pagara a sétima e oitava mesmo por fácil burlar acordos. Né?” (Entrevistado 13) hora. Porque pela CLT, a gente teria que pressão do “De um modo geral sim, porque o sindicato é trabalhar 6 horas.” (Entrevistado 15) sindicato, muito forte quanto a isso. Mas só se ele for “Porque teoricamente o bancário deveria precisou obrigado mesmo.” (Entrevistado 14) trabalhar 6 horas. Só que, sei lá, oitenta fazer uma “Eu acredito que sim. Acho que já foi bem por cento dos funcionários (ele se referia revisão pior essa questão aí. O sindicato não deixa a gerentes), deveria trabalhar 6 horas e disso.” não.” (Entrevistado 17) trabalha oito. Nesse sentido assim, não (Entrevista cumpre.” (Entrevistado 16) do 18) Conclusão da Questão 4 da Categoria 3 Essa avaliação foi positiva para o banco, mas bastante dúbia. Houve, assim como aconteceu no Banco A, muitas reclamações sobre o não cumprimento da jornada de trabalho bancário, de 6 h, especialmente 110 para cargos gerenciais ou mesmo operacionais de nível intermediário. O Entrevistado 2 diz ter melhorado, mas afirma que isso aconteceu devido a melhores sistemas de controle da instituição e porque aprendeu no curso de preposto. As respostas dos Entrevistados 7, 8, 10, 13, 14 e 17, também positivas ao banco, reforçam ainda a ideia de que o banco cumpre as leis, mas por receio de punição, especialmente do sindicato (apesar disso, optou-se por julgar conforme a afirmativa inicial). Questão 5: O Banco X valoriza a saúde e qualidade de vida de seus empregados? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Acredito que sim, bem mais que “Não, os exames periódicos que tem “Não. Porque ele no passado. O trabalho era muito anualmente são uma piada, a médica pede para obriga as pessoas sobrevalorizado sobre a saúde da você preencher um questionário uma hora a fazerem hora pessoa. Hoje se entendeu que tem antes, dá uma olhadinha, manda você comer “besta”, né, vamos de ser respeitado, que uma coisa mais frutas e verduras e acabou.” falar assim.(ENT: ajuda a outra.” (Entrevistado 2) E estimular as (Entrevistado 1) “Eu acho, porque tem o plano de “Valorização não. Ele faz uma propaganda pessoas a ter saúde que oferecem, tem sim, mostrando interesse na qualidade de vida, saúde, práticas incentivo a cultura, tem cursos que você precisa de se exercitar, mas não é esportivas, esse que são oferecidos a família, acho uma coisa só pró indivíduo, porque se a gente tipo de coisa?). Eu que sim. (Entrevistado 4) tem um índice muito alto de pessoas que estão não entendi (ENT: “Existe política interna, pra aumentando o peso, e tem estudo sobre isso, No sentido de dimensão da obesidade , pra então assim, pro banco a pessoa obesa está estimular as incentivar o esporte, existe mais propensa a ter doença, então o banco não pessoas a ter boa programa pra isso, tem inclusive quer que a pessoa chegue nesse quadro.”” saúde, há política copa de futsal, campeonato de Então assim, não é questão de valorização, ele disso?). Sim, isso vôlei e tudo.” (Entrevistado 7) valoriza enquanto é bom pra ele.” existe.” “Nos somos x mil funcionários, (Entrevistado 3) (Entrevistado 5) claro que cada um tem uma visão, “Não consigo enxergar nenhuma ação. A “Não acho que mas eu que entrei mais velha no gente tem lá dentro, durante o trabalho, as valoriza e não vejo banco, em relação a outras vezes tem a massagem, mas fora não tem isso como empresas que trabalhei, acho que nenhuma ligada a qualidade de vida não” obrigação de isso é valorizado.” (Entrevistado (Entrevistado 6) valorizar. A saúde “Não. Na verdade, hoje existe esse programa tanto física quanto 8) “Ele tem muitas campanhas, que de qualidade vida no trabalho.. A verba é 15 psicológica se acho até bacana. Essa questão do reais por funcionário, por mês. Então se você você ta fora do banco de saúde, eu acho até contrata uma pessoa pra fazer massagem, a trabalho, isso vai legal.” (Entrevistado 9) maioria das pessoas prefere quick massage, refletir no “Tem. (funcionam bem?). Hoje consegue ter uma vez por semana, quatro trabalho. Eu em dia tem diversas ações. vezes por mês. Mas por exemplo, eu tenho separo mais essas Campanha antitabagismo, colegas que trabalham, que pertencem a minha coisas, o que é de diversas atividades esportivas que unidade que ficam lotados em outras agencias, fora do trabalho e o banco incentiva o funcionário.” que ficam prejudicados e não conseguem não interfere no participar.” (Entrevistado 10) trabalho não tem (Entrevistado 11) “Talvez pelo suporte que ele de “Eu acho que não. Eu acho que tem aquele nada a ver com o do plano de saúde, que é bem discurso que tem que ser valorizado e tudo, banco. “ completo. E aos estímulos que o mas eu não vejo nada prático nisso não.” (Entrevistado 12) banco dá além do ambiente de (Entrevistado 14) trabalho.” (Entrevistado 18) “Eu acho que essa questão aí podia ter mais incentivo. Praticar esporte, alimentação saudável, eu vejo pouco isso.” (Entrevistado 17) Conclusão da Questão 5 da Categoria 3 A maioria das respostas foi negativa ao banco, incoerente com o código de ética. Apesar disso, essa questão também ficou bastante intermediária. Houve o apontamento de vários programas por alguns funcionários, além da questão do plano de saúde (que parece ser bom, algo de comum acordo entre os empregados), e ao mesmo tempo, alguns relataram haver muito discurso e pouca prática. Alguns empregados estabeleceram uma relação de causa x efeito entre a valorização de saúde e desempenho, reforçando a ideia do agir ético não por princípio. Questão 6: O Banco X dá liberdade a seus empregados para a livre associação a sindicatos e entidades de classe? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos 111 “Dá, eu mesmo não sou sindicalizado e nunca procurei saber se teria essa liberdade, mas eu nunca ouvi falar sobre orientação.” (Entrevistado 2) “Acho que sim, o pessoal do sindicato vai nas agencias, hoje mesmo teve. Acho que sim. Nunca teve problema quanto a isso.” (Entrevistado 4) “Sim. Sim, isso realiza. (não há nenhum tipo de coação quanto a isso?). Não, não tenho relato de alguém que tenha sofrido assédio quanto a isso.” (Entrevistado 5) “Inclusive a maioria, inclusive um diretor lá, sei que é sindicalizado também... “ (Entrevistado 6) “Sim, isso é tranquilo. (ENT: Não há nenhum tipo de retaliação nem nada?). Não, pelo menos onde eu trabalho, eu trabalho ao lado do sindicato, o sindicato é muito forte.” (Entrevistado 9) “Dá sim. Até durante a posse eles dão um espaço pro sindicato falar.“ (Entrevistado 17) “Numa rede que se pergunta: “Nossa, você é delegado sindical?”. Eu suponho, por inferência mesmo, que assim como todas as outras coisas que compõem a atividade bancária, não deve ser aconselhável. Porque a pessoa tem que viver pro banco. É uma exigência muito forte.“ (Entrevistado 3) “Agora, eu vejo que alguns cargos com função de ter a comissão (cargos comissionados), eles têm problema de participação.” (Entrevistado 14) “Olha, ele dá essa liberade sim, mas se você é um ativista, se você briga contra a burocracia do sindicato, se você é grevista, você é perseguido dentro do banco. (ENT: Tem coação então?). Tem, tem sim. Inclusive uma das formas de assédio moral era mandar uma lista de quantas horas de greve faltava pros grevistas pagar, colocando um rankiamento. Isso é proibido, né. A gente mandou pro sindicato, mas isso não deu muita repercussão, porque o sindicato fecha um acordo com o banco e a gente tem que cumprir.” (Entrevistado 15) “Parcialmente também. (ENT: Tem algum tipo de cerceamento?). Há um tipo de conflito ideológico entre o sindicato e o funcionamento do banco, né? Então normalmente as exigências do sindicato são inviáveis, que vai fora de qualquer possibilidade que o banco possa conseguir. Mas na verdade esse cabo de guerra tem que existir. De um lado o sindicato pensando o melhor possível pro funcionário, e o outro o banco tentando puxar pro lado dele. (ENT: Na medida que sobe o cargo, fica mais complicada essa relação?). Com certeza. O sindicato trabalha muito em cima dos cargos menores.“ (Entrevistado 13) “Mas eu sei de caso que até o próprio gerente geral ele barra, digamos assim essa atuação do sindicato, então, vai muito também do gerente geral. (isso é comum?). É, é sim. Principalmente na época de greve é que fica mais latente essa questão. A agencia onde eu trabalhei os funcionários nunca aderiram à greve, mas com relação a manifestação do sindicato sempre teve na frente do prédio onde eu trabalho.” (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 6 da Categoria 3 De um modo geral, as resposta foram coerentes com o código, portanto positivas. Os empregados mostraram não haver problemas para a sindicalização, que o sindicato tem livre trânsito nas agências e espaço no treinamento inicial. Destaca-se, contudo, que tanto as respostas negativas quanto as indefinidas sugerem haver algum tipo de cerceamento velado à sindicalização à medida que o funcionário ascende no Banco – apesar do entrevistado 6 ter afirmado o contrário. Uma questão interessante colocada pela entrevistada 15 é que não há coação para a sindicalização, mas existe para aqueles que militam efetivamente na causa. Questão 7: O Banco X tem um sistema efetivamente meritocrático? Positivos Negativos Indefinidos “100% acredito que “De jeito nenhum. O Banco B tem um sistema “A questão da meritocracia é não, está caminhando que para você tem sempre que ficar entre os mais complicada. Primeiro é nesse sentido, já foi 20 em qualquer concorrência. Mas quando há entender o que é o muito menos, mas hoje um amigo ou indicação da concorrência de meritocrático. Se a pessoa em dia com alguém que está em 20 lugar ele será indicado merece só porque ela entrega movimento sindical, não você.” (Entrevistado 1) resultado, então ela muitas cobrança essas coisas, “o gerente né, pode te promover sem nenhum vezes não consegue ser já progrediu.“ mérito” (Entrevistado 5) promovida só por isso, “Não. Eu vejo que as vezes a indicação de porque eu tenho um sistema (Entrevistado 2) “Eu acho o sistema alguém, de alguém ali de um cargo alto pra te que me trava. A pessoa é interessante, porque indicar, as vezes vale muito mais, que sua boa, muito boa de serviço: você vai acumulando carreira no banco. Que o sistema de pontuação “Mas faz uma pós graduação, pontos de acordo com no banco.” (Entrevistado 9) pra que eu possa te nomear”. 112 os cursos que você vai fazendo, se você tem um curso superior, se tem um conhecimento extra banco, vai conquistando pontuação. E aí essa pontuação é levada em conta quando tem uma vaga em um cargo que você quer concorrerr. E aí são selecionados os melhores pontuados e esses vão a uma entrevista.” (Entrevista 4) “Eu falo que meritocracia existe. Mas também existem outras questões, mas na maioria, sim.” (Entrevistado 8) “No feedback que eu recebo, eu pergunto: qual que é ponto? O que eu deixei a desejar? O que eu preciso melhorar para a próxima entrevista. E respondem: “Não, o funcionário tinha perfil mais adequado. Não justificam.” (Entrevistado 10) “Mas tem casos e são vários de apadrinhamento, isso é outra coisa que você vê toda hora.” (Entrevistado 12) “Eu acho que tenta implantar. No discurso é meritocratico, mas na prática não é bem assim. Se tiver uma concorrência e alguém tiver uma indicação, quem foi indicado tem uma vantagem maior do que quem não foi. (Mas isso prevalece sobre a competência técnica, por exemplo, normalmente?). Eu acho que em muitos casos sim.” (Entrevistado 14) “Então não deveria ter a fase de entrevista, deveria ser a análise pura e simplesmente dos dados, de carreira e tudo que a pessoa tem de currículo. E essa fase de entrevista ela filtra muito, inclusive filtra os grevistas, quem é ativista, esse tipo de coisa.” (Entrevistado 15) Ou então: “Espera ter dois anos de serviço para que eu possa te nomear”. Então, a questão não é simples.” (Entrevistado 3) “A gente tem notado que o banco está incentivando muito a questão da qualificação, com a questão de bolsa e tal. Exatamente para tentar tornar a questão da ascensão uma coisa mais por mérito. Mas ainda existe uma questão do apadrinhamento, mas está diminuindo isso.” (Entrevistado 11) “Então, ele vai até certo ponto na meritocracia e depois vai na indicação.” (Entrevistado 17) Conclusão da Questão 7 da Categoria 3 Houve mais empregados que responderam negativamente ao banco, mas as respostas indefinidas e positivas somadas superam esse valor. Um aspecto normalmente apontado pelos entrevistados é que há uma pré-seleção nas seleções internas que separa um número x de pessoas e que a partir daí surge a indicação política. Há um sistema de pontuações efetivo num primeiro momento, mas no segundo momento a meritocracia é deixada de lado. Questão 8: O Banco X valoriza a diversidade étnica, social e cultural no seu ambiente de trabalho? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Tem cotas, inclusive, em processos “Como é concurso não “Na teoria, na prática seletivos, o banco coloca o componente de faz diferença. Apesar do obviamente é impossível. É X mulheres para a gerencia, para trazer a que no banco a maioria impraticável essas teorias de questão da diversidade de gênero para uma dos funcionários são equidade essas coisas. Na questão mais próxima. Tem vários homens brancos, a prática, ela não vai ser usada programas, mas o que está mais presente pra maioria. Mas não sei se é jamais. Ela não é funcional, mim é a questão da mulher. Mas ele procura por causa da diversidade. não é eficiente. O banco sim. A questão dos homossexuais, é um (ENT: Mas do ponto de precisa de eficiência. Mas em tabu ainda muito forte ainda, mas existem já vista do crescimento termo de propaganda isso é executivos que são homossexuais e tem um profissional?). 90% dos muito claro. E existem respeito a essa diversidade.“ (Entrevistada superiores são homens e discussões, fóruns de brancos, mulheres têm equidade dentro do banco, 3) “Isso valoriza. Tem várias ocupações, dificuldade de ascensão, essas questõe aí. Mas é uma várias, várias, vários grupos pra valorizar negros, conheci dois ou certa propaganda, porque pro isso aí.” (Entrevistado 5) três.(em cargos banco não tem fundamento “Sim, valoriza. Até mesmo pela questão das superiores)” algum, pra empresa em si. contratações serem por concurso. Então, Ela precisa de uma pessoa (Entrevistado 1) etnia, essas coisas não são muito analisadas “Ela não é estimulada qualificada, seja ela homem na contratação, então, é bem diversificado.” não. Quem pensa aqui mulher, negro ou qualquer diferente... . Você pode raça ou cor. Não tem (Entrevistado 6) “Tem gente assim, de boa formação e tudo, até pensar diferente, diferença.” (Entrevistado mas tem gente assim muito humilde desde que não seja 13) também, de cidadezinha do interior, então, diferente do seu gerente “Existem algumas pesquisas nesse ponto assim, o banco é muito geral.”(Entrevistado 10) internas no banco sobre esse heterogêneo. Tinha gente lá com sotaque “(ENT: Nos cargos tipo de assunto. Mas onde eu diferente, com cultura diferente, com boa superiores isso se trabalho eu nunca presenciei 113 formação, baixa formação, de tudo quanto é jeito. Formação que falo escolar, né?” (Entrevistado 7) “Acho que sim. Nunca tive algo contra esse conceito não.” (Entrevistado 9) “Eu acredito que não existe, nem sei de caso nem nada, preconceito nem esse tipo de coisa. Nunca fiquei sabendo sequer de um caso de alguém que deixou de ter ascenção porque era mulher, por causa de religião, ou por que era negro ou qualquer coisa.” (Entrevistado 12) “Eu não vejo diferença de tratamento não, na verdade. Independe. Já vi brancos, negros, mulheres sendo promovidos na frente de homens. Não vejo diferença não.” (Entrevistado 16) acentua, a ausência do negro?). Ah acredito que sim. Sem dúvida. (ENT: Proporcionalmente menos que na base?). Acho que sim.” (Entrevistado 11) “A gente tem acho que mais de 50% das mulheres, mas quando você vai afunilando a pirâmide e vê os setores mais altos, vai diminuindo as mulheres na hierarquia.” (Entrevistado 15) nada sobre isso.“ (Entrevistado 14) “Então a gente vê que tem um predomínio, principalmente no corpo diretor, ele é predominantemente masculino, mas eu acho que quanto a esse respeito de valorização da diverssidade eu acredito que tenha sim, até porque o nosso país é bastante diverso, culturalmente, etnicamente.” (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 8 da Categoria 3 Essa pergunta foi no geral positiva para o banco. Os empregados mostraram que há programas e normas para a questão da diversidade. Apesar disso, houve uma forte associação com a questão do concurso público, que impossibilita ao Banco B fazer qualquer tipo de filtragem na seleção de entrada, assim como com a questão de ascensão profissional, que foi apontada por muitos empregados, tanto em respostas negativas como indefinidas, como não isenta, por privilegiar homens de cor branca. Fonte: Dados da Pesquisa Conclusões da categoria 3 De modo geral, percebeu-se que a avaliação dos funcionários do Banco A é negativa sobre a relação da instituição com seus empregados. Houve diversas queixas de metas abusivas (15 entrevistados) e de remuneração incompatível com o mercado ou com a função (um total de 12 entrevistados consideram a remuneração injusta, contra 5 que a consideram positiva). O Banco A parece estar em um processo de melhora nos seus sistemas de promoção no que tange à meritocracia. A questão do sindicato e da associação de classes foi também, de modo geral, positiva ao Banco A, pois praticamente todos afirmaram não haver problema para a filiação. Assim mesmo, 3 entrevistados relataram que há coação para que não haja adesão a greves. Outra questão bastante salientada é que o Banco A normalmente oferece boas condições ergonômicas, mas que há um problema de adoecimento ocupacional gerado por stress e isso tem relação com metas. Por fim, salienta-se que a diversidade foi considerada um ponto intermediário pelos entrevistados do Banco A. Os comentários mais comuns quanto a isso são que a questão de raça, gênero ou orientações sexuais não são impedimento para a promoção, mas ao mesmo tempo houve 3 funcionários que denunciaram a ausência de negros na instituição. 114 De modo geral, as entrevistas foram negativas para o Banco B, portanto, incoerentes com o código e seus princípios no que tange ao relacionamento com empregados. Das 8 questões, 5 tiveram mais respostas negativas que positivas pelo julgamento deste autor, ressaltando-se que as questões 3 e 5 ficaram bem divididas (assim como a questão 4, apontada como positiva para a instituição), o mesmo aconteceu nessas questões para o Banco A. Percebeu-se haver insatisfação de muitos empregados do Banco B com a remuneração, especialmente os de nível gerencial, problemas de isonomia e que é comum a prática de favorecimento político para promoções. Além disso, foram apontados no Banco B problemas de saúde ocupacional, principalmente no aspecto psíquico e emocional - relacionado ao sistema de metas, tido como excessivo ou abusivo por todos os empregados (inclusive os que se mostraram positivos ao banco). Houve uma avaliação positiva no Banco B para o plano de saúde, o aspecto ergonômico das agências e para o cumprimento das leis trabalhistas, assim mesmo, essa questão ficou bem dividida (assim como algumas tidas como negativas, poderia facilmente ter uma avaliação diferente de outro pesquisador). Além disso, os empregados mais novos e em nível operacional mostraram-se mais satisfeitos com a remuneração, ou menos insatisfeitos no Banco B (alguns fizeram questão de destacar que estão satisfeitos, mas pela idade). Os únicos aspectos claramente favoráveis ao Banco B são: a liberdade para associação a sindicatos e entidades de classe (fazendo a ressalva observada por pelo menos 6 entrevistados que a liberdade para associação ocorre, mas não para o exercício das ações sindicais, principalmente o direito a greve); e o aspecto da diversidade, ressalvando-se neste caso haver problemas de diversidade em cargos estratégicos. Um aspecto importante, que coincide com o observado no Banco A, é que mesmo nas respostas positivas os empregados fizeram muita relação da ação ética do Banco B com cobranças legais e mercadológicas, o que aponta não uma ética por princípio. No geral, as análises foram bem próximas ao Banco A, mas um pouco mais positivas no Banco B (e houve menos respostas dúbias ou contraditórias). Todas as questões coincidiram com o Banco A na avaliação, com exceção da questão 8. 115 5.2.3.4. Categoria 4: Relacionamento com Clientes Banco A (Quadro 13): Quadro 13: Avaliação da Categoria 4 de Análise do Banco A - Relacionamento com clientes Avaliação da Categoria 4 de Análise: Combate à corrupção / Lei x Ética Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 7 8 3 0 Questão 2 6 6 6 0 Questão 3 4 8 6 0 Questão 4 9 8 1 0 Questão 5 16 2 0 0 Questão 6 17 0 1 0 Questão 7 11 5 2 0 Principais Comentários Questão 1: O Banco X é ético com seus clientes? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Sim. É como eu te disse, o “A partir do momento, que não tem gestão “O que eu defendo é o banco Banco A dentro das de consequência no gestor que vê toda uma seguinte: o banco é sim, normas que ele emana, dentro podridão no seu negócio, você tá ético, cumpre o do que ele exige do entendendo?.... A gente vê, a reclamação tá combinado com o funcionário sim. É lógico que lá, tem uma concentração. E voce vê pessoas cliente. Mas sempre vai ter um..., mas aí que ganham 1000 reais sendo mandada logicamente tem falhas não é banco, é questão embora, ao invés de um gestor que está sistêmicas, mas pessoal. De as vezes um treinando a equipe dessa forma, eu acho que qualquer dano é gerente ou um atendente fazer ele não está sendo ético não.” (Entrevistado reparado. O que alguma coisa errada, mas toda 3) acontece no banco, que vez que a gente fica sabendo “Ele fala que o banco A preocupa com o tem uma fama ruim, é a disso e que o banco toma cliente, mas eu acho que não tem essa ética e transparência do ciência ele é enérgico.” prática do funcionário lidar com a ética, funcionário.” entendeu?” (Entrevistado 4) (Entrevistado 2) (Entrevistado 1). “De um modo geral, sim” “Na verdade não é o banco A que não é “Ah, parcialmente. ético. Na verdade os gerentes é que não são Porque a gente como (Entrevistado 6) “Sim, isso aí sim. Ele procura tão éticos com os clientes com o Banco A. funcionário, é, o cliente ser muito ético, o que ele Porque, de repente, por pressão de metas, há não sabe de tudo. De promete, ele busca cumprir.” uma indução a produtos que não se encaixe, 100% das informações, não se adequem ao perfil do cliente.” né. Por exemplo: de um (Entrevistado 8) “Nossa senhora! Eu acho que produto, de uma (Entrevistado 5) na maioria das vezes sim. O “Essa ética... É uma questão de percepção. contratação, de um que pode acontecer é um erro Como eu falei, ele tem seu manual de serviço. É, algumas sistêmico.” (Entrevistado 11) conduta, tem lá... (E na prática?). Na prática, estratégias de venda, “Eu acredito que sim, porque devido a toda a situação, eu acho que não.” por exemplo, o cliente ele demonstra o serviço, não sabe. Então, em (Entrevistado 10) apresenta o serviço, e a opção “O banco sim. Agora, eu acho que o fato as parte, sim.” do cliente é aceitá-lo ou não. vezes das metas estarem um pouquinho (Entrevistado 7) A opção de aceitar ou não é arrojadas demais, faz com que os “O banco sim. Talvez... do cliente, então ele cumpre funcionários não cumpram a ética, para bater Eu não posso falar sim.” (Entrevistado 13) metas, deixam a ética de lado, 100%, né, às vezes sim, “Quando se fala na questão entendeu?”(Entrevistado 14) às vezes não. (ENT: ética, vamos colocar uma “. Nossa função exclusiva é vender crédito Mas o que seria o não?). escala de 100%. Eu colocaria consignado para aposentados e pensionistas. Não sei te falar! (risos). que essa ética hoje alcançaria E nessa venda, essa questão de pressão para (ENT: O que acontece uma escala de 60%,” bater metas, a gente usa muitos métodos de que você acha que não é 116 (Entrevistado 16) vendas que às vezes não são muito éticos, entendeu. Mas os próprios gerentes te estimulam a usar esses métodos, entendeu.” (Entrevistado 17) ético, no relacionamento com o cliente?). Não sei te exemplificar.” (Entrevistado 12) Conclusão da Questão 1 da Categoria 4 Conforme os comentários, houve 12 avaliações que foram julgadas como negativas ao banco. Salienta-se que essa questão foi de difícil julgamento, pois muitos empregados, conforme os comentários acima, atribuem ao empregado a falta de ética e não à instituição (algo que não houve praticamente no Banco B). O problema mais recorrente foi a pressão sobre o funcionário para que este bata metas, o que acaba gerando problemas éticos com os consumidores. Chamou a atenção que o Entrevistado 6, que considera o Banco ético com clientes, relatou anteriormente que os gerentes, em nome de metas, com frequência passavam por cima da ética com consumidores. Questão 2: O Banco X atende satisfatoriamente as necessidades e desejos de seus clientes? Por quê? Positivos Negativos Indefinidos “Atende na medida do “Eu acho que já foi bem melhor, hoje tá muito “Médio. Em partes. possível. Logicamente o a desejar. As mudanças tão muito mais, muito, Algumas exigências nos cara que quer um muito no foda-se. É tipo assim: “É lucro, é não conseguimos atender. produto financeiro que a lucro, é lucro e eu não vou dar satisfação pra Nós, gerentes, né, que renda não é compatível, isso e para aquilo que está acontecendo”. E fazemos gerenciamento de não tem como atender.” este ano está atípico, está assustando.” contas, não temos abertura para mudar alguma (Entrevistado 1) (Entrevistado 3) “Eu acredito que sim. “De acordo com os interesses do banco, situação, é bem engessado, Lógico que o banco A atende, mas de acordo com os interesses do é bem fechado, entendeu.” esta buscando uma banco. É como a linha que eles pregam assim: (Entrevistado 4) diferenciação. Ele está “Nós somos os donos do negócio, ou seja, “Poderia ser bem melhor, fugindo um pouco quem manda nas decisões de contratação, mas o foco não é esse. Mas daquele banco mais somos nós”.” (Entrevistado 7) no final acaba atendendo, popular, está mudando “Eu percebo, que muitas das vezes é avaliado mas assim, às vezes poderia um pouco o foco, mas o potencial econômico desses clientes, sabe. solucionar mais rápido.” dentro daquele perfil que Porque aqueles que estiverem trazendo algum (Entrevistado 6) ele está buscando, benefício ou recurso, sejam bem vindos. “Atende. Eu vejo uma acredito que sim.” Aqueles que não estiverem trazendo esses satisfação por parte do recursos infelizmente não são vistos com bons cliente. No que diz (Entrevistado 2) “Essa questão não é olhos não.“ (Entrevistado 16) respeito, principalmente no simples. Porque, o “Mas quem vive ali no “Tete a Tete”, você vê nosso atendimento e parte cliente tem uma muita injustiça para o cliente, conforme o tecnológica. Agora, nem necessidade, porém, por segmento. E geralmente, o segmento de renda sempre satisfeito com os questão de crédito a mais baixa, ele sofria mais com isso. Muito produtos.” (Entrevistado gente acaba conseguindo pela falta de informação dessas pessoas.” 15) não atender. (Mas de um (Entrevistado 18) modo geral você acha que ele é satisfeito). Sim, de um modo geral, sim.” (Entrevistado 9) “Eu acho que sim. A grande maioria sim.” (Entrevistado 11) Conclusão da Questão 2 da Categoria 4 As respostas foram bastante distribuídas: 6 para cada. As respostas positivas falam que obviamente não é possível agradar a todos, mas que no geral sentem que o cliente do Banco A é satisfeito com a instituição. Já as respostas positivas relatam dois pontos importantes: o primeiro é a prioridade das metas e lucro do banco sobre a satisfação do cliente; e o segundo é a discriminação a clientes de renda mais baixa, de forma que a preocupação maior seja em manter satisfeito apenas os de renda mais elevada. As respostas intermediárias, no geral, têm duas afirmativas contraditórias, mas nenhuma prevalecendo sobre a outra. 117 Questão 3: O Banco X apresenta a seus clientes de maneira clara e transparente as condições contratuais dos serviços ofertados? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Sim, isso aí é inegável. (O “Totalmente não. Porque eu acho que muitos “Eu acredito que sim. cliente é estimulado a ler os gerentes não mostram a realidade e muitos Lógico que o banco A contratos na hora da clientes não buscam saber.” (Entrevistado 5) esta buscando uma contratação?). Sim, sim. “Sim, a divulgação existe em vários canais. Mas diferenciação. Ele está Eventualmente, algum nem sempre isso é passado para o cliente na fugindo um pouco gerente pode fazer algumas contratação. Aí depende muito do cliente querer daquele banco mais atitudes que não sejam buscar a informação. (Ent: Mas o cliente é popular, está condizentes, mas isso aí é estimulado a ler na agencia no momento da mudando um pouco o amplamente divulgado, para contratação?). Não.” (Entrevistado 7) foco, mas dentro que seja feito dessa forma.” “os clientes não leem os contratos, e acabam daquele perfil que ele fazendo coisas que as vezes nem contrataram, está buscando, (Entrevistado 9) “O Banco A sim. Se você né?. (Eles são estimulados a ler, na agencia?). acredito que sim.” faz um empréstimo na Não, geralmente fala assim: “Lê aí”. Mas (Entrevistado 2) maquininha, ele te manda nenhum cliente lê. (Entrevistado 8) “Quando ele fecha no endereço da sua casa a “Mas talvez por metas tão arrojadas, tanta qualquer produto ou cópia do contrato. Eu acho cobrança, acaba fazendo com que você possa serviço, o contrato na isso muito legal. (ENT: E na ceder, abrir algumas brechas quanto a questão via que o cliente hora da contratação na da ética e transparência com o cliente, em busca recebe tem tudo. Mas, agência, isso é feito com de um resultado da empresa.” (Entrevistado 10) assim, a maioria, 99% clareza também?). Sim, uma “Não. Se você for vender um produto, pelo não lê. Qualquer cópia fica com o cliente, produto em si, nem sempre você obtém sucesso. documento do banco uma cópia na agencia. Mas A gente ainda tem uma cultura muito grande de que é pra assinar ele às vezes a pessoa assina levar vantagem. Tanto o cliente em relação ao não lê. Eu te falo que aquilo ali sem ler o contrato banco, quanto o banco em relação ao cliente. é 95% dos clientes. (E todo, né, mas ela tem uma Isso é uma cultura que está enraizada no povo ele é estimulado a cópia. As vezes o que brasileiro. (Entrevistado 15) ler?). Não, acho que interessa ali é o juros, o “A gente tenta mascarar um pouquinho. Estou não é nem por má fé, valor da parcela e a falando por mim, porque eu mexo muito com mas por falta de quantidade de meses, né. crédito e as vezes a gente tenta mascarar um tempo” (Entrevistado (ENT: Você considera que a pouquinho questão de taxa, valor total de 1) cobrança por metas possa empréstimo que ele vai pagar. Porque as vezes o “Eu acho que o banco atrapalhar na explicação de cliente assusta, né. sim, a parte que cabe contratos ou venda de As vezes o cliente pega 10 mil reais, mas vai ao banco sim. As produtos na agência?). pagar 25 mil, mas a gente não fala isso para o letras do contrato são Acho. (ENT: E isso é cliente, entendeu. Porque provavelmente se a imensas, cada vez comum de acontecer). É.” gente falar isso, o cliente não vai pegar o mais a forma de empréstimo. Então a gente não fala. Claro que contratação estão. Só (Entrevistado 11) “Tudo o que está contratado tem no contrato, detalhado o valor final, mas que infelizmente está escrito, né, o cliente nós, na hora de vender a gente não fala esse também os meninos assina, não tem nada que valor.” (Entrevistado 17) mais novos são cada não está assinado. Só que as “Como eu falei, tudo ligado a meta. Como o vez mais eficientes vezes o cliente assina e não ponto dele é vender, bater a meta, ele utiliza de em burlar alguns tipos sabe bem o que está artifícios que são absurdos, ele omite alguns de coisas, e cada vez contratando.”” (ENT: E no detalhes do produtos X para vender. E você mais descobrem momento de contratação os talvez após algum tempo com o produto você se coisas que só Deus.” funcionários do banco depara com algo que estava dentro do contrato. (Entrevistado 3) estimulam os clientes a Então, assim, isso é antiético. Então, o banco se “Sim, se o cliente ler?). Sim, a gente entrega o resguarda até com relação aos funcionários. pedir o contrato, sim. contrato, mas como todas as Para o banco, quando ele força o cara a assinar o (E ele é estimulado a leis ninguém lê, né! (risos).” contrato, ou quando ele não utiliza de ler, no momento da mecanismos de informação para auxiliar o contratação?). Não, eu (Entrevistado 12) “Isso sim, o banco é muito atendimento do cliente, ele consegue validar acho que não.” certo nessas questões de essa atitude do funcionário, que é omitir as (Entrevistado 6) contrato. (ENT: E o cliente condições. é estimulado a ler?). É Exemplos, eu posso falar por mim, que foi a estimulado sim.” gota d’água, eu tenho vergonha disso, que é 118 vender título de capitalização para um pedreiro de 400 reais, e o cara tinha uma renda de 800 reais.” (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 3 da Categoria 4 Essa questão ficou negativa para o Banco. Conforme as respostas, parece que o Banco se preocupa mais em se resguardar com os contratos, garantindo as assinaturas dos clientes, do que fazer seu consumidor compreender o que está consumindo. Mesmo nas respostas positivas, os empregados sugerem que clientes assinam sem compreender os contratos. Houve muitos relatos de que a pressão por metas prejudica essa questão e também que não é interesse dos gerentes instruírem os clientes, especialmente os mais humildes, sobre as taxas e penalidades do serviço. As respostas dos entrevistados 15, 17 e 18 chamaram atenção sobre esses aspectos. Questão 4: O Banco X se preocupa em mostrar com clareza as condições de juros e cobranças dos serviços ofertados? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Mostra com clareza, no extrato bancário. “É o que deve ser feito, né, a “Também acho que Além da via que o cliente recebe na informação deve ser procura. Assim, estou contratação, no ato. Ele tem acesso a isso disponibilizada, então eu falando assim, a gente nos canais eletrônicos, ou com o próprio disponibilizo. Mas não é de tem que contar com gerente a qualquer momento, de qualquer forma clara não. O cliente, para pessoas e pessoas. Eu produto ou serviço contratado. (E quando há ele ter informação detalhada, ele acho assim, você vai o momento de venda desses produtos na tem que buscar, ele tem que no caixa eletrônico se agência, você acha que isso é mostrado com correr atrás. Desde que ele tenha você contratar alguma clareza?). Aí, vai de cada funcionário. Tem interesse disso.” (Entrevistado coisa ali com credito muitos, muitos casos aqui. Por exemplo, vai vir umas três telas 7) tarifa bancária. Nenhum (cliente) indaga “Eu acho que não. Aquilo que ali falando claro tudo. quanto vai pagar, quando abre a conta lhe falei, nem sempre a clareza Ah, mas aí você quanto vai pagar, nenhum, nenhum.” do produto e da oferta é atrativo percebe que ele para o cliente. Ele sempre visa a induziu alguma (Entrevistado 1) “O banco sempre estimula a verbalizar, vantagem financeira. E aí, contratação de além de entregar, né. Eu sempre falo das quando fala em custo, quando seguro... Só que aí, a taxas, do que ele vai estar pagando.” fala em meter a mão no bolso, gente tem uma cultura né...” (Entrevistado 15) de não ler, de vítima. (Entrevistado 2) “Olha, está tentando agora, de uma certa “Não, também não acho não. O Só que aí, junta que o maneira, inclusive o cara consegue tirar na valor efetivo final, eu acredito funcionário é cobrado, conta dele demonstrativos, né, de juros e que ele ainda é mascarado, o funcionário é isso. coisas. Não isso tinha antes. Agora que ele precisa melhor ser trabalhada Infelizmente tem isso. está tentando mostrar isso pro cliente.” essa transparência.” Agora, o banco em si, é visível que ele não (Entrevistado 8) (Entrevistado 16) “Sim, em todos os acessos que você faz, tem “Realmente está lá, está quer reclamação, que de maneira transparente. Tem os acessos, disponível, é mais uma forma ele não quer porque tem as taxas que são cobradas. Isso aí é do banco se resguardar, falar quando tem transparente.” (Entrevistado 9) assim: “Eu estou mostrando”. reclamação, é “Então, não tem nenhum lugar que é Mas ele não se preocupa em apurado, vem pra omitida essa taxa. Basta o cliente querer usar uma ferramenta adequada, gente, tem tudo isso, ler.” (Entrevistado 12) para informar seu cliente tá.” (Entrevistado 3) “Isso ele faz sim, todos os contratos, tudo, perfeitamente. Para que ele ele deixa bem claro. Com letras grandes, saiba o que está utilizando.” visíveis. È uma obrigação legal, né! (risos). (Entrevistado 18) Ele cumpre direitinho essas questões.” (Entrevistado 14) Conclusão da Questão 4 da Categoria 4 A maior parte das respostas foi positiva, mas os resultados negativos ficaram bem próximos, apenas 1 de diferença. As respostas positivas salientam que há muito destaque das taxas nos documentos, internet, caixa eletrônico, etc. A maior parte das respostas negativas também destacam essa questão. Nelas, contudo, os entrevistados afirmam que o consumidor muitas vezes não compreende os termos e que não é uma preocupação do banco que isso ocorra. Questão 5: O Banco X disponibiliza aos consumidores canais eficientes de ouvidorias e reclamações? Exemplifique. Positivos Negativos Indefini (Entrevistado 14) 119 dos “Possui, possui. E posso responder pelo Banco A que são bem eficientes. Eu acho Ouvidoria, SAC, o fale conosco ou canais pela internet, e até na própria que a agencia.” (Entrevistado 1) ferramenta “Disponibiliza, sim. Porque às vezes o cara reclama de uma taxa, pode reclamar utilizada até na ouvidoria. Eu já tive cliente que reclamou que não cobrou os juros de ela ainda é cobrança dele, foi pra ouvidoria isso.” (Entrevistado 8) burocrática “E isso aí, a gente vê na prática, né, quando tem alguma reclamação, existe uma e até mobilização para que seja feito a resposta em menor tempo ao cliente e confusa satisfatória.” (Entrevistado 9) para o “Sim. SAC, ouvidoria, contato com a platoforma, gerente...” (Entrevistado 13) usuário. “Disponibiliza. SAC, ouvidorias, canal rápido. Os clientes reclamam da central (Entrevist normal, mas quando liga para o SAC é rapidinho o atendimento.” ado 16) (Entrevistado 15) Conclusão da Questão 5 da Categoria 4 Essa questão, assim como a próxima, foi a mais positiva ao banco na pesquisa. A grande maioria dos empregados afirmam que o Banco possui bons instrumentos e canais de reclamação e que o sistema é rápido e eficiente. Os aspectos negativos foram pontuais. Questão 6: O Banco X respeita a privacidade de informações dos seus clientes? Justifique? Positivos Negat Indefinidos ivos “Respeita. Respeita, tanto que quem tem acesso às informações “isso Respeita demais, mas dele é somente a área comercial da agencia onde ele tem conta. eu acho que é pouco cuidado. Se ele entrou numa outra agencia, o gerente não consegue Por exemplo, a gente por acessar o saldo sem a senha dele, ou outras informações.” mais que fale, fale, fale, o funcionário vê: privacidade, (Entrevistado 1) “Demais. Você tem ideia, dependendo do conteúdo que a gente informação, cuidado... Você vai emitir, o sistema automaticamente bloqueia. Então, tem passa em qualquer agencia e uma segurança muito forte. É um dos pontos fortes da vê documento, com CPF e ferramenta nossa lá.” (Entrevistado 2) tudo com a vida do cliente “Eu acredito que sim. Tem alguns fatos isolados, mas a gente em cima de uma mesa.“ vai voltar naquela questão da índole das pessoas, de qual é o (Entrevistado 3) objetivo delas. Se quer agir de má fé, ela vai encontrar brechas. Mas no geral, funciona bem.” (Entrevistado 10) Conclusão da Questão 6 da Categoria 4 Essa questão foi a de melhor avaliação para o Banco. Conforme os funcionários, há sistemas eletrônicos e normativos muito eficientes para resguardar as informações dos clientes. As poucas ocasiões de falha, são ocasionadas por ma fé de um ou outro empregado. Considerou-se que não houve resposta negativa ao Banco para essa questão. Questão 7: O Banco X estimula seu consumidor a manter uma boa saúde financeira? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “O Banco A tem alguns programas na “Não. Porque eu acho que “Sim. Geralmente a gente internet, de vez em quando solta muitas vezes, assim, a gente tem sempre é focado na verdade alguns panfletos, de uso consciente do metas a bater, e o banco cobra a trabalhar com o cliente dinheiro. E as liberações de crédito são muito da gente. E muitas vezes essa questão da saúde dentro do orçamento do cliente.” a gente acaba repassando essa financeira. Òbvio que por cobrança ao cliente.” questão de meta, a gente (Entrevistado 1) “Pois é, tem os programas sim, tem os nem sempre consegue (Entrevistado 6) manuais, tem o próprio site. Então, se “Ele possui mecanismos para trabalhar 100%. Aí não a gente olhar como banco, orientação pro cliente. Porém, estou falando de novo o sim.”(Entrevistado 3) como o banco ele é voraz em banco, estou falando de “Sim, estimula. (Em que sentido, que crédito, as vezes ele incentiva questões mais pessoais.” tipo de ação é feita?). Mostrando para demais o cliente a utilizar umas (Entrevistado 2) ele como ele pode pegar um linhas de crédito e acaba que “Nem sempre. O ideal e o empréstimo, o que ele pode fazer. Por nessa sociedade consumista que planejado estrategicamente exemplo, se ele tem uma aplicação se a gente vive o cara acaba e o discurso é para que isso ele pode fazer, que tipo de aplicação.” consumindo os recursos e se aconteça. Mas aí depende endividando.” (Entrevistado 9) muito do profissional e de (Entrevistado 8) “O banco sempre estimula a poupar, “Até mesmo porque, se a como ele recebe a pressão 120 guardar. Da vários treinamentos, instituição ela prega uma em cima das metas. O palestras. Sempre coloca no site,” melhoria na questão da saúde banco vai falar sempre o financeira, ela então tem que seguinte: “A saúde (Entrevistado 12) “Estimula, ele tem cursos rever os conceitos em cobrança financeira do cliente é apresentação, disponibilidade. de taxas de juros, cobranças de importante”. Só que nem Incentiva o cliente à sustentabilidade.” serviços financeiros. Porque um sempre o funcionário vai tem que caminhar ao lado do passar dessa forma para o (Entrevistado 13) “E nós gerentes somos preparados a outro.” (Entrevistado 16) cliente. “ (Entrevistado incentivar o cliente a controlar os seus 15) gastos a não ficar endividado.” (Entrevistado 14) Conclusão da Questão 7 da Categoria 4 Essa questão também foi positiva ao Banco. Os funcionários relataram haver muitos materiais publicitários a tratar o tema, assim como campanhas internas com empregados a respeito. O ponto negativo ficou para a questão das metas, pois alguns empregados afirmaram que as metas põem em cheque essa questão. Fonte: Dados da pesquisa Banco B (Quadro 14): Quadro 14: Avaliação da Categoria 4 de Análise do Banco B - Relacionamento com clientes Avaliação da Categoria 4 de Análise: Combate à corrupção / Lei x Ética Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 5 10 2 1 Questão 2 3 10 5 0 Questão 3 4 10 3 1 Questão 4 5 7 6 0 Questão 5 13 3 2 0 Questão 6 14 1 3 0 Questão 7 6 7 2 3 Principais Comentários Questão 1: O Banco X é ético com seus clientes? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “100% acho “O banco se preocupa com suas metas e que precisa pra bater as “Atualmente sim, que não, mas mesmas. Não se preocupa com os interesses do cliente.” mas as pessoas ele esta que estão há mais (Entrevistado 1) buscando ouvir, “Mas, pela minha atividade, tem gente que me liga lá e tempo, estão meio tem uma desabafa: “Eu tinha título de capitalização pra vender, e vendi, desgastadas.” preoucapção tochei na velhinha!”. Então assim, esse negócio do banco é ético (Entrevistado 6) com a etica a é um negócio que parece um “ser assim”. Cada uma das pessoas “Tenta. Tem gente vê no que tem uma cartilha pra isso e que deveria seguir esse preceito tentado. Acho que treinamento, ético, mas a questão toda é maior que isso. O que o banco a quantidade de coisas que são entende como ético? Na filosofia, é linda e maravilhosa. Ele dá demandas na obrigatórias a condições pra pessoa aplicar? Eu não sei, eu acho que está justiça comum é gente fazer e difícil, cada vez mais.” (Entrevistado 3) tanta, que agora o que tem a ver “Não. Porque há muita publicidade enganosa ainda com o banco está falando com a ética. cliente. O cliente que tem mais recursos é tratado de uma bastante disso, está Descobriram maneira melhor, muito melhor, e quem não tem, o banco não na moda no banco, que isso aí é está interessado.” (Entrevistado 5) digamos assim. importantíssimo “Não. Já vi cada caso! Aumentar limite da pessoa. Coisas que Negócios .” deveriam ser feitas com o conhecimento do cliente, e com a sustentáveis, de permissão e com o pedido do cliente, as vezes é feito sem o ética, de ouvir a (Entrevistado conhecimento. Algo comum lá.” (Entrevistado 9) decisão do cliente. 2) “Eu sinto, eu “De maneira alguma. Até pela própria maneira como o banco A gente tem quase 121 sou novata, então, tudo é ainda novo.” (Entrevistado 4) “Eu acho. Tem horas que dá uma escapulida, até pela pressão das metas. Mas eu acho que na grande maioria sim.” (Entrevistado 8) “Eu posso dizer que sim. Porque questões assim que saem do controle do banco ele procura resolver, entendeu.” (Entrevistado 17) cobra suas metas em relação ao funcionário você vê que é que coagir as corriqueiro o consumidor ser induzido a comprar um produto pessoas.” que não serve pra ele, que não vai trazer benefício nenhum. (Entrevistado 10) Inclusive as vezes até lesado de certa forma. Isso acontece com “De um modo uma certa frequência. Principalmente com clientes que não são geral eu acredito de alta renda.” (Entrevistado 12) que sim. Mas um “Sim. Acaba que quem não vai ser ético na maioria das vezes é assunto muito o funcionário. Ele se vê numa situação que não consegue ser delicado que se ético como o banco deseja e exige que sejamos. Então há comenta quando paradoxo aí.” (Entrevistado 13) se fala do banco é “Eu acho que na maioria não é ético não.” (Entrevistado 14 a venda casada, “Olha, a instituição em si, não. Porque, ainda tem uns juros né.”” É claro que a muito abusivos, os juros que é cobrado no Brasil ainda é um dos meta do seu maiores do planeta. Aqui as pessoas pagam os juros sem saber a próximo semestre carga que isso acarreta no salário. Então a gente tem tarifa pra não vai ser inferior tudo. Então, com relação ao funcionalismo, é o problema ao semestre mesmo da pressão. As vezes não é culpa do funcionário. Ele é anterior. Então a obrigado, ele se vê em situações de burlar algumas coisas do venda casada é proprio código de ética pra tentar bater uma meta.” algo que alguns gerentes utilizam (Entrevistado 15) “Não, acho que não. O caso do mesmo gerente que eu te falei para tentar atingir que pressionava muito o funcionário, e tal, eu já vi ele as metas a cada simplesmente gravando um seguro na conta de um cara. A meta semestre.“ é um seguro, ele vai lá entra e grava. O cara nem sabe o que é (Entrevistado 18) aquilo, o que está debitando. (Isso é comum em agencia?). É bastante comum, por causa da questão da meta. É mais comum que se imagina, inclusive.” (Entrevistado 16) Conclusão da Questão 1 da Categoria 4 Das 18 respostas, 10 foram negativas. Ou seja, 10 consideram o banco literalmente antiético com o consumidor, incoerentemente com o código. O principal problema apontado é o de metas abusivas, que acaba gerando atitudes desonestas com clientes no cotidiano do banco, inclusive com o estímulo de gerentes. Além disso, a questão da discriminação com clientes de menor renda apareceu nas entrevistas 5, 12 e 15. As respostas positivas ressaltam que há desvios, mas que no geral ele é ético com o consumidor. Questão 2: O Banco X atende satisfatoriamente as necessidades e desejos de seus clientes? Por quê? Positivos Negativos Indefinidos “Ele não “Não. Muito raramente. Os clientes de renda maior “Tem, só as vezes, são poucos chegou são os mais demandados para venda de produtos. O funcionários. Muitos clientes pra nesse ponto, gerente so liga para vender coisas. Não pra ter um poucos funcionários, as vezes.“ mas tem relacionamento com os mesmos.” (Entrevistado 1) (Entrevistado 6) uma busca a “Na verdade eu acho que ele faz isso cada vez “Acredito que sim. Eu acho o isso. Ainda menos.””...um cliente que não me dá uma perspectiva seguinte, o cliente quando é tem muito, de ganho financeiro, ele não é bem atendido.” atendido, sim é um cliente pela própria (Entrevistado 3) satisfeito. O problema todo que natureza “Acho que não. Até por uma questão, a quantidade de eu vejo e você deve presenciar dele por ser litígios contra o banco, né?” (Entrevistado 9) também é a questão uma agencia um banco “Cara, eu acho que o cliente bancário do Brasil de que tem 20 funcionários, tem com papel maneira geral não tem muito motivo para ser dois de licença maternidade, dois social, ainda satisfeito não!”” Muita gente tem algum produto ou de férias, um de licença saúde, tem uma coisa do banco por que não conhece, porque não sabe então fica precário o expectativa o quê que é. Não sabe quanto que ele vai pagar por atendimento. Então, falta gente. maior sobre aquilo ali, não sabe que teria um produto que seria Dependendo se for uma agencia a ele.” mais vantajoso. Isso acontece em relação a mais distante, ela tem ali uma dificuldade de operação por (Entrevista investimento, em relação a empréstimo, financiamento. O cara por desconhecimento acaba faltar gente, equipamento, então do 2) “De um sendo induzido a obter produtos que se ele soubesse peca por esse ponto.” modo geral de tudo o que está ali envolvido ele provavelmente (Entrevistado 7) acredito que não compraria, porque não é interessante.” “A única insatisfação que vejo e sim, mas que está evoluindo, é em termos (Entrevistado 12) sempre tem “Ele tem um passivo muito grande, o banco. Ele, para de atendimento, porque é muito 122 reclamação de alguma coisa. Não há como agradar 100%, mas de um modo geral sim.” (Entrevista do 4) atingir o lucro, ele precisa criar mecanismos máximos de conseguir extrair do cliente isso. Então, se ele for parar para pegar toda a demanda que o cliente precisa, ele não traz resultado.” (Entrevistado 13) “Eu acho que não. Mas eu acho que está acima da média. Não de modo geral, não.” (Entrevistado 14) “A alta renda sim. Porque ela tem um tratamento diferenciado. Tanto é que quando está em período de greve, eles não perdem seus negócios, eles continuam fazendo tudo por telefone. Agora, quem sofre é a população de baixa renda. Ela que vê as agencias fechadas, mesmo com funcionário lá dentro. Que é um erro. Ela que sofre com as tarifas. Ela que sofre com a reclamação, ela não é atendida prontamente. Existe uma discriminação da pobreza dentro das agencias. Isso acontece muito.” (Entrevistado 15) “Agora, aqueles clientes que a gente chama de massificados, talvez eles não estejam tão satisfeitos com o banco, porque muitas vezes não estão recebendo a atenção adequada. O que muitas vezes pode ser uma falha da empresa, porque as vezes esse cliente pode não ser um cliente muito rentável hoje, mas pode ser um cliente em potencial para o banco.“ (Entrevistado 18) cliente pra pouco gerente. Eu tenho uma carteira de 8000, é possível? Não, vou atender todo mundo, não! É uma das grandes reclamações. Quem fala mal do banco, fala de atendimento.” (Entrevistado 8) “Isso é bem subjetivo, é como eu te falei, são muitos clientes. Igual, eu me sinto satisfeito com o banco, mas eu sei mexer com ele. Agora, tem cliente que não sabe mexer, e fica uma hora e meia na fila lá e não vai ficar satisfeito. E não vai ter o problema resolvido. E o cliente premiun, por exemplo, tem atendimento especial. Agora o cliente de varejo que não dá rentabilidade pro banco, ele não vai tá satisfeito com o banco. (você sente então que o cliente premiun costuma ser mais satisfeito que o de varejo?). Acredito que sim.” (Entrevistado 17) Conclusão da Questão 2 da Categoria 4 A maior parte das respostas foi negativa ao banco, principalmente sobre a satisfação do consumidor de menor renda, conforme entrevistados 1, 3, 15, 16, 17 e 18. Em contrapartida, os entrevistados deram a entender que a os clientes de maior renda são mais satisfeitos com os serviços prestados. Vale destacar que obviamente, por questões de marketing de relacionamento, há mais estrutura e qualidade de serviços entregues a clientes que possuem maiores investimentos, mas também há maiores expectativas no consumo desse perfil. Portanto, seria lógico que o banco buscasse um padrão de excelência em cada segmento, conforme a relação custo x benefício específica. Questão 3: O Banco X apresenta a seus clientes de maneira clara e transparente as condições contratuais dos serviços ofertados? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Apresenta. “Não. Capitalização muitas vezes é vendido como forma de “Pode melhorar. Até (ENT: Na hora investimento, com retorno financeiro, coisa que os clientes em função do tempo, da compra, é não tem ao final do período de carência.” (Entrevistado 1) ate em função da estimlado a “Eu acho que nenhuma instituição financeira faz isso de correria do dia-a-dia. ler?). Na maneira clara e transparente. Ele recebe o contrato e Para o cliente exigente verdade, a gente dependendo de quem atende vai explicar mais ou menos. esta muito fácil apresenta pro (ENT: O funcionário é estimulado a explicar?). Na verdade, identificar e de ter cliente uma o funcionário é estimulado a concluir o atendimento o mais essas informações. cópia pra eles rápido possível.” (Entrevistado 3) Mas estamos falando levarem, uma “Não. Muitas vezes não entrega. Ou o contrato é feito via de uma base de x via pra eles.” telefone e as pessoas omitem algumas partes do contrato, né. milhões de clientes. E Não entregam o contrato. (ENT: E isso tem relação com em muitos casos a (Entrevistado metas?). Com certeza.” (Entrevistado 5) coisa pode ficar muito 6) “Eu acho que “Olha, eu não sei se é porque o nosso público é um público massificada.” sim. que é mais esclarecido e é dele que parte o questionamento (Entrevistado 12) Dependendo do sobre essas coisas, porque como eu tenho experiência de ter “Não, porque é atendimento, a trabalhado em agencia de interior, agencia pequena, a gente inviável você ler um gente consegue diz: “Olha, a taxa de juros é tal, e o prazo é tal.”. Essas contrato para o passar tudo questões de custo efetivo total, a gente não passava pro cliente. Mas nós muito cliente não. De ter uma alternativa melhor, mais vantajosa, a somos instruídos para claramente.” gente fazia o que era mais vantajoso pro banco.” falar o essencial pro (Entrevistado 10) cliente, o que ele (Entrevistado 123 “Não, não. E as vezes isso também não é nem por falta de realmente precisa interesse não, é do dia-a-dia mesmo. Voce passa o contrato saber: se a conta vai para ele, ele assina e... (ENT: Os funcionários estimulam o ter determinada taxa, cliente a ler o contrato?). Cara, o negócio é que se ele lesse o determinado limite, contrato na mesa, a fila dobrava de tamanho. E as vezes, vai ter uma tarifa. Isso assim, ele lê o básico só.” (Entrevistado 14) aí a gente é instruído a “(ENT: E o cliente é estimulado a ler?). Não (risos). Eu falar pro cliente e particularmente trabalhei com o carteirão, que é o cliente normalmente isso é mais pobre. Então a gente tem que dar vazão aquilo ali, né. feito. Mas acaba Então, é complicado.” (Entrevistado 16) (detalhes) não “Mas hoje em dia é obrigado a dar uma cópia. Mas tem percebendo ou não termos lá que não é de conhecimento do cliente. (ENT: E lembrando. Isso acaba isso tem relação com meta, não estimularem a ler?). Ah, gerando problemas com certeza.” (Entrevistado 17) futuros que “As vezes omite uma determinada informação importante normalmente é que faria com que o cliente não contratasse aquele serviço. E prejuízo pro banco.” a prova disso são as demandas judiciais que o banco tem, em (Entrevistado 13) relação ao cliente. Seja porque a pessoa desconhecia aquela informação, ou por não ter agido eticamente.” (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 3 da Categoria 4 A maioria das respostas foram negativas. Os empregados disseram no geral que é apresentado ao cliente o contrato, e que ele inclusive tem acesso a uma cópia se solicitar. Apesar disso, no momento da contratação do serviço na agência o cliente é desestimulado a ler, por causa de metas a serem batidas e tempo. Outro problema bastante apontado também, assim como nas questões 1 e 2, é a discriminação com clientes de menor renda. Questão 4: O Banco X se preocupa em mostrar com clareza as condições de juros e cobranças dos serviços ofertados? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Ultimamente “Não, com clareza não, justamente o contrário. (em “Eu acho que se preocupa, tem melhorado. que sentido?). Esconder a taxa do empréstimo, não porque se não fizer ele Todo contrato divulgar o abatimento, como pode ser realizado realmente tem problemas, e ele que sai tem que esse abatimento no emprestimo. Porque todo o faz de tudo que isso fique claro sair com custo sistema de abatimento da tabela price, é tudo com o máximo de papel efetivo total, complexo, fica tudo complexo para o consumidor possível. Isso está escrito. taxa de juros, não se interessar e não ficar sabendo.” Agora, se está escrito e está tarifas, apesar entendido, eu não sei.” (Entrevistado 5) do que muitas “Não. Acho que ali nas agencias, há muito pouco (Entrevistado 3) vezes em funcionário pra lidar com a carga de serviços. Eles “(ENT: E no momento da contratações não tem nem tempo pra tá explicando isso, pra tá venda de produtos há uma por telefone ou mostrando isso pro cliente. Ainda mais pessoa preocupação em mostrar e contratos esta física.” (Entrevistado 9) deixar isso claro?). Aí é aquela escondido no “A transparência não é o forte de instituição questão. Que as vezes o meio deles e o bancária não.” (Entrevistado 12) funcionário é tão cobrado, que, cliente acaba “Geralmente, vem muito claro no contrato, por dependendo do funcionário ele não vendo.” exemplo, de crédito, é muito clara a taxa. E é uma pode querer mascarar isso aí. taxa efetiva. Então assim, eu acredito que... Aí de Mas a orientação do banco é (Entrevistado novo a gente cai: boa parte dos clientes menos passar as informações.” 1) “Não sei se vai instruídos, mais pobres é sempre muito complicado (Entrevistado 4) alem disso, mas isso aí. (não compreende, o que seria?). É difícil “Eu acho que sim, porque o cumpre o que a compreensão e é difícil muitas vezes o próprio cliente está muito esperto. Eu lei obriga.” funcionário ficar explicando muito. Mas até porque falo isso porque eu vendo muitas vezes são contratos de valor muito baixo, muito crédito consiganado e a (Entrevistado muito baixo mesmo. Contratos de empréstimos primeira coisa que perguntam é 2) “Eu procuro! abaixo de 1000 reais, por exemplo.” (Entrevistado a taxa.” (Entrevistado 7) (risos). (ENT: “Tudo vem em contrato. Esse 16) O banco te “Não. Até porque, as vezes o cliente consegue um papel vai ser do funcionário. orienta a fazer juros menor e nem por isso o banco vai prezar pelo Mas é parcialmente também a isso bem?). juros menor, e sim pelo que é mais conveniente. resposta.” (Entrevistado 13) 7) “Em sua maioria sim. (ENT: Há um estímulo para o cliente ler e entender os contratos?). O contrato é muito tranquilo, não sei se você comparou com outros?” (Entrevistado 8) 124 Sim.” (Entrevistado 6) (ENT: Pelo que é mais rentável?). Isso.” (Entrevistado 17) “Porém, essa questão dos juros, alguns contratos mesmo não forneciam aquele custo efetivo total. Então ali você embute uma taxa, embute um determinado fator no calculo de juros que não fica muito claro para o cliente que o próprio sistema do banco não calcula.” (Entrevistado 18) “Sim, as informações ficam disponíveis. Quando ele vai assinar qualquer contrato, de produto e serviço a gente costuma entregar pra ele essas informações. Só não costuma falar.” (Entrevistado 14) Conclusão da Questão 4 da Categoria 4 Houve um número maior de respostas negativas, mas houve também uma distribuição próxima entre as alternativas. Percebeu-se, que houve uma melhora na questão de apresentação de taxas nos últimos anos, principalmente por força de lei e fiscalização, mas que o cliente, especialmente o de baixa renda, não é estimulado a compreender o sistema de cobranças (as informações são apresentadas, apenas). E as respostas negativas estabeleceram a relação disso com a questão das metas. A resposta do entrevistado 16 chama atenção, pois ele tenta justificar a falta de ética com o cliente de baixa renda em função do baixo valor do seu empréstimo. Questão 5: O Banco X disponibiliza aos consumidores canais eficientes de ouvidorias e reclamações? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Sim. Qualquer reclamação na ouvidoria tem que ser “Disponibilizar os “Disponibiliza respondida pela agencia em até 3 dias, senão dá problema de canais certamente, não atendimento nas agencias, sem contar que a maioria dos disponibiliza, a sei a eficiência problemas a central consegue resolver. Existe uma meta pra questão é como deles, mas ele isso, se a agencia não responder ela tem problema na meta.” são passados. tem muitos Canais e fontes canais de acesso, (Entrevistado 1) “Eu acho que o tratamento de assuntos de ouvidoria ele é muito pra fazer isso tem, inclusive ate sério e ele gera problema para a agencia quando ela não atende a questão é como redes sociais eu bem, tem um tempo pra atendimento.” (Entrevistado 3) é que são tratadas sei que tem uma “Sim, a ouvidoria do banco é boa, porque eu já usei antes de ser as demandas, as estrutura lá para funcionário, eu entrei e foi excelente.” (Entrevistado 7) necessidades. reclamações e “A ouvidoria hoje consegue capturar todas essas demandas e (ENT: Você acha demandas, ouvir solicitações de clientes. E a gente consegue responder em que não tenho certeza tempo hábil. Acho que são 5 dias úteis.” (Entrevistado 10) funciona?). Não que ouve, não sei “Sim, com certeza. Funciona bem porque é interesse do banco. há interesse que se a solução é a A ouvidoria afeta apenas o funcionário. È uma estratégia usada funcione, por desejável.“ para pressionar o funcionário a trabalhar dentro das normas.” parte da própria (Entrevistado 2) instituição. “ (Entrevistado 13) (Entrevistado 12) Conclusão da Questão 5 da Categoria 4 Essa questão, assim como no Banco A, foi bastante positiva para o Banco B, portanto coerente ao código. Há bons canais de contato para o cliente e as respostas acontecem em tempo hábil e satisfatoriamente, de acordo com os empregados. Questão 6: O Banco X respeita a privacidade de informações dos seus clientes? Justifique? Positivos Negativos Indefinidos “Eu acho. Eu acho muito. Eu já trabalhei na segurança, então, “Porque uma “Mais ou menos. na segurança da informação, então eu acho sim. E se o pessoa, um Porque qualquer pessoal não estiver fazendo direito então (risos), é uma estagiário, pessoa que trabalha “bomba”.” (Entrevistado 3) pode entrar em agencia tem “Sim, isso funciona.“ (Entrevistado 6) nos arquivos informações de “De um modo geral, sim. Eu acho, que as vezes, porque tem pessoais de qualqeur cliente do que abordar, ligar pro cliente, e as vezes passa do limite, um cliente, de banco no pais inteiro.” porque tem que cumprir meta e acaba invadindo. As vezes qualquer (Entrevistado 1) acaba fazendo.“ (Entrevistado 8) cliente do “Toda instituição “Acho que respeita. Nossa, a gente faz tanto cursinho, o banco, financeira é pautada banco fala isso tanto pra gente “segurança da informação”, o ninguém tá pela lei do sigilo tempo inteiro, isso a gente já está mais preparado.” seguro. A bancário. Porém, princípio um existem casos dos (Entrevistado 9) “Na sessão extrato, você com o cliente na sua frente. A estagiário não funcionários ele por si 125 primeira coisa que aparece é uma tela preta com as poderia fazer só repassa informações sobre legislação, sigilo bancário, etc. Tem um isso não.” informações a quem programa lá de descarte de documento sigilosos. Impressão (Entrevistado não é de direito. Isso que saiu a mais, dossiês” (Entrevistado 11) acontecia muito na PJ 5) “Isso ai a lei é rígida. Funciona bem, porque se não funcionar e no caso da pessoa a catracada dos órgãos reguladores, do banco central ela é físicas acontece grande.” (Entrevistado 12) menos.” “Eu acho que com relação ao sigilo dos dados até onde eu sei (Entrevistado 18) é eficiente.” (Entrevistado 15) Conclusão da Questão 6 da Categoria 4 Essa questão foi certamente a mais positiva para o Banco B, assim como para o Banco A. De acordo com os empregados, há bons sistemas eletrônicos de controle de sigilo de informação de clientes, além de normas eficientes e procedimentos para esse aspecto. Chama a atenção, inclusive, que pessoas que tiveram alto grau de respostas negativas, como os entrevistados 1, 12 e 15, fizeram uma avaliação positiva desse aspecto. Foram apontadas falhas, mas pontuais, não sistêmicas. Questão 7: O Banco X estimula seu consumidor a manter uma boa saúde financeira? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Pelo menos nos cursos que fiz até “Não. A meta do banco é empréstimo, se a “a gente sabe agora, sempre tem dicas pra gente pessoa esta atolada em empréstimo, mais de que a política em contato com clientes, a gente 30% da renda em prestações, o banco quer de vender oferecer uma solução melhor pra ele, emprestar mais em juros mais abusivos, em cada vez a gente estar vendo se ele está manter aquele cliente amarrado na instiuição ate mais entra investindo duma forma que ele conseguir pegar o ultimo centavo dele.” em poderia fazer de outro jeito, que ele contradição (Entrevistado 1) fosse aplicar melhor o dinheiro.” “Não, não. Não há nenhum estímulo quanto a com isso. (Entrevistado 4) isso.” (Entrevistado 5) Mas a “Eu vejo, por exemplo, outras opções “É missão do banco, tá lá, como missão, principio, de cartão, o cartão do Banco A, por pregado nas paredes, estimular a educação teoricamente, exemplo, o cara ganha 1500 reais e financeira do cidadão, mas isso não é feito. As a gente vê tem limite de credito de 5000! Pô, o agencias tem meta pra vender o título de uma cara que tem 5000 ganhando 1500 no capitalização, e o título de capitalização é um preocupação primeiro mês fica endividado. Então investimento que não entendo, e mesmo assim com isso ate a postura do banco é muito tentam vender a rodo” (Entrevistado 9) para reduzir a conservadora. Até demais. O cara “Não, de forma alguma. Enquanto a pessoa tiver inadimplênci que ganha 1500 o limite Maximo é margem pra fazer empréstimo, ele sempre vai a.” 700 ou 800, se ganha 3000, é 2000.” cair nas nossas listas aqui de crédito pra ser (Entrevistad ofertado. Crédito consignado, crédito salário, (Entrevistado 7) o 2) “É um interesse até de continuar crédito de 13º. Entendeu? (ENT: O próprio “A gente mantendo esse cliente. Deixar o sistema aponta isso?). É CRM, né? Você é da orienta, mas cliente na inadimplência, depois não administração? (ENT: Sim, sou de marketing). não tem um consegue vender produtos e serviços Então, CRM, meu filho, se o cliente simulou na programa pra pra ele. Então é questão até de internet lá, mostrou interesse, já cai numa lista gente fazer autosustentação. Mas teve épocas aqui para você ligara para ele.”” E agora o esse que a política do banco era “deixa banco está incentivando o seguro de vida o acompanham pra lá”. Mas hoje nos temos um seguro para a família, faz o seguro, mas também ento. (ENT: sistema que não nos permite.” o seguro de vida. Ou seja, é uma venda casada, Você acha mas o banco não fala como uma venda casada, é que as metas (Entrevistado 8) “Bastante até porque já está uma venda cruzada. Que a gente viu no prejudicam identificado, né. Não adianta você Marketing! (risos)” esse tipo de dar o crédito. Tem muito programa ação?). De (Entrevistado 10) quanto a isso. Você tem que dar o “Quanto mais o cliente dever, mais ele tiver de orientação crédito com qualidade, se não der produto, melhor, se isso vai desequelibrar isso financeira, de com qualidade, não vai receber isso. financeiramente, o cliente que se lasque.” saúde Aí o custo aumenta.” (Entrevistado financeira (Entrevistado 12) “Então, eles não analisam a saúde financeira de dos clientes? 11) “Sim, porque isso é importante pro ninguém para isso, principalmente a baixa (sim). Às banco também, porque há um grande renda. A questão é soltar crédito e fazer com as vezes pode risco de inadimplência. Então a gente pessoas consumam esse crédito pra movimentar sim, em tem todo um calculo para ver a a economia, essa a intenção de aumentar o alguns 126 capacidade de pagamento do cliente, crédito, principalmente os bancos públicos. momentos.” justamente por não trazer prejuízo Agora, a alta renda ela tem mais condições de (Entrevistad pro banco, e pegar um recurso que ter essas informações.” (Entrevistado 15) o 6) não vai conseguir pagar depois. E “Ele tenta passar essa ideia, de que estimula o normalmente bate com o que ele consumidor a ter uma boa saúde financeira, mas precisa. “ (Entrevistado 13) no fim o que importa é a meta e... Se for preciso “Acredito que sim. Ele preza por afundar o cara mais ainda, então, vai ser feito.” isso.Tem cursos lá que mostram, e (Entrevistado 16) tal. E até porque a pessoa que tá no banco tem taxas diferenciadas e tal.” (Entrevistado 17) Conclusão da Questão 7 da Categoria 4 Houve mais respostas negativas, mas apenas uma a mais que as positivas. De um modo geral, os empregados apontaram haver políticas de educação financeira e sua divulgação, mas que na prática elas não funcionam, devido a metas principalmente. Mais uma vez, foi apontado que o problema se agrava à medida que cai a renda do cliente. Nas respostas positivas, chama a atenção a relação estabelecida de causa e efeito, no sentido do banco fazer a educação não por uma questão ética em si, mas para garantir o pagamento das dívidas. Fonte: Dados da pesquisa Conclusão da categoria 4 de análise No geral, julgou-se esta categoria como indefinida no Banco A, apesar de ter havido mais categorias tidas como positivas. Isso porque as respostas à questão 1, sobre a ética com consumidores, foram em geral negativas, além das questões 2 e 3, sobre a ética nas questões de publicidade de contratos e a satisfação. Destaca-se, contudo, que os empregados do Banco A fizeram nesta categoria uma avaliação ética bem mais positiva da instituição que os do Banco B. Muitos empregados defenderam o Banco A em suas respostas nesta categoria, mas acabaram caindo em contradições que põem em cheque a verdadeira atitude ética do banco para com seus clientes. Percebeu-se que o Banco A não furta seus clientes das informações. Os contratos são sempre disponibilizados, assim como as taxas, inclusive em diversos meios. Apesar disso, os funcionários do Banco A apontaram diversos conflitos disso com metas excessivas, que acabam os forçando a induzir os consumidores a não lerem ou compreenderem as condições da compra. A primeira questão mostrou bem esse aspecto, assim como as questões 3 e 4. Os pontos claramente positivos para o Banco A nessa categoria foram as questões de canais de reclamações de clientes, sigilo de informação e orientação para o consumo responsável de crédito. Apesar de algumas avaliações negativas, portanto, percebeu-se uma avaliação geral mais positiva do que aquela feita na categoria 3 no Banco A, sobre a relação do Banco com seus empregados. Ou seja, julgou-se que, pelas falas dos empregados, o Banco A tem mais problemas de ordem ética com empregados do que com clientes. Vale destacar que a visão 127 dos empregados sobre essa questão difere das percepções de clientes, conforme a etapa quantitativa desta tese. Outro ponto que chamou a atenção nessa etapa, é que muitos funcionários do Banco A veem no cumprimento das leis do consumidor um agir ético por parte do banco, diferentemente da proposta do Código de Ética. Já no Banco B, de modo geral, as entrevistas se mostraram incoerentes com os princípios do código no que tange ao relacionamento com o consumidor da instituição. Das 7 questões, 5 foram negativas, sendo 3 claramente negativas no Banco B: sobre a avaliação geral de ética com clientes, da satisfação dos clientes e sobre a correta publicidade de contratos. Além disso, apesar de não ter havido tanta clareza, os empregados dos Banco B fizeram avaliações negativas sobre a apresentação de taxas e estímulo à saúde financeira do cliente da instituição. Em todas as questões negativas, o ponto central apontado para o problema é o sistema de metas. Um aspecto negativo, que apareceu nas questões 1, 2, 3 e 4, principalmente, é que os funcionários do Banco B tendem a ser menos corretos com consumidores de menor renda, tanto no que tange à explicação de produtos, como na questão de contratos e taxas. Esse aspecto também apareceu no Banco A, mas em menor grau. Os pontos claramente positivos apontados pelos entrevistados do Banco B são os sistemas de sigilo de informações dos consumidores, assim como o de ouvidorias e reclamações. Houve críticas, mas pontuais e isoladas. Outro aspecto importante também, é que nas respostas positivas do Banco B frequentemente a ética é apontada como uma reação a leis e à fiscalização, além de pressão mercadológica, mas não como um princípio de fato. Algo também comum ao Banco A. Ressalta-se que na etapa quantitativa desta tese, que avaliou a percepção de consumidores, o Banco A teve avaliação melhor que a do Banco B, mas ambas foram no geral intermediárias, principalmente nos construtos de satisfação e lealdade, sendo negativas em construtos relativos à ética e ao cumprimento de algumas questões legais. Destaca-se, por fim, que a questão 7 do Banco B teve bastante dissonância com a avaliação do Banco A, pois no Banco B a maior parte dos funcionários não enxerga políticas e programas de educação financeira a clientes eficientes - interessante apontar nesse ponto, que a questão de metas abusivas apareceu até mais recorrentemente no Banco A. Ao que parece, o Banco B tem menos publicidade sobre essa questão, apesar dela constar em seu Código de Ética, o que pode se refletir negativamente na percepção de seus empregados. 128 5.2.3.5. Categoria 5: Relação com Acionistas Conforme já apontado na metodologia, avaliou-se nessa categoria, especialmente na questão 1, se os interesses dos acionistas são prioridade, mas considerando que todos os Códigos de Ética não enfatizam isso, ao contrário, destacam que os interesses dos públicos devem ser tratados igualmente e sempre tendo como foco o senso de justiça. Por causa disso, a maior parte das respostas foram consideradas negativas, ou incoerentes aos códigos, em ambos os bancos, uma vez que os empregados quase sempre confirmaram ser o interesse dos acionistas o prioritário, portanto, preponderante sobre os demais. Banco A (Quadro 15): Quadro 15: Avaliação da Categoria 5 de Análise do Banco A - Relação com Acionistas Avaliação da Categoria 5 de Análise: Relação com Acionistas Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 1 16 1 0 Questão 2 8 3 4 3 Principais Comentários Questão 1: Os interesses dos acionistas são prioridade no Banco X? Justifique. Positivos Negativos Inde finid os “O “Na visão do banco não é. Porque o banco na visão é líder em ter forma sustentável interesse e satisfação dos clientes. Mas eu acho que na prática com certeza o principal maior é o interesse é o resultado para os acionistas.” (Entrevistado 1) do cliente. “Então, se for baseado que é refletido em metas, altíssimas e tal, eu creio que sim. Aí, o Como se diz, o patrão quer, né?” (Entrevistado 5) acionista “O interesse primordial do banco é a rentabilidade dele.” (Entrevistado 7) ele tem “Embora a gente tenha que respeitar as éticas, os princípios, as metas são sempre um reflexo elevadas. Então, a gente vê que os interesses maiores são dos acionistas.” do (Entrevistado 9) interesse “Acho que sim. Por causa das metas agressivas. (Entrevistado 11) do “Eles tentam mostrar que não. Porque quando eu fiz o curso presencial, no hotel, eu cliente.” fiquei dois dias no curso.”.”Então é aquele discurso bem programado, sobre a (Entrevist instituição, que faz você entender que não, que eles não pensam isso. Mas eu não sei, sinceramente.“ (Entrevistado 17) ado 13) “Hoje eu vejo um movimento no meu banco, uma movimentação muito grande cargos, e já se enxerga uma movimentação. E tudo isso, não é explicito, mas é implícito, é uma forma de se gastar menos, é ser mais eficiente com pouco. Isso já é um recado que está sendo dado. E vem dos acionistas mesmos. Não vem de outra pessoa. Lógico que isso é colocado de uma maneira muito romântica, pelos acionistas, pelas reuniões que fizeram, isso é colocado, já teve falas deles sobre isso. Mas sempre, o foco é... Hoje a linha é essa: “Fazer mais, com menos”.” (Entrevistado 18) 129 Conclusão da Questão 1 da Categoria 5 Quase que por unanimidade, os empregados veem o interesse do acionista como o primordial, que prevalece sobre os demais. Como mostrado na metodologia, não é isso que é sugerido pelos bancos em seus códigos de ética, onde o interesse do acionista é colocado ao lado dos demais públicos. O ponto principal apontado pelos entrevistados para tirar essa conclusão, mais uma vez, é o sistema de metas abusivo. Questão 2: O Banco X é transparente na relação com seus acionistas? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “É sim porque não tem como não “Porque é aquela questão, o acionista tá “Não. Primeiro a ser transparente no mundo preocupado com o dinheiro dele. Ele gente não tem, devido financeiro. A conta, ela é como se quer que a gente bata a meta nossa. Tá a escala que a gente diz, ela não erra. A conta é x mais nem ligando para a maneira que a gente tem na hierarquia, a y que é igual a tal. Não tem como vai fazer isso. Claro que tem aquela gente quase está na errar.”(Entrevistado 5) teoria: “Tem que fazer isso, isso e isso.”. base da pirâmide, e “Isso eu não posso falar com Mas é aquela questão, se você não bate tudo o que chega pra detalhes, porque a gente não mexe meta, você vai ser demitido. Então isso gente é a respeito de com ações dentro da agencia, né. meio que te pressiona a bater essa meta. produção, que é uma Isso é direto com a corretora. Mas Por isso que o pessoal do banco é tudo exigência dos pelo que eu já vi em sites, meio neurado, sabe!” (Entrevistado 17) acionistas. Mas como informações internas, acredito que “O que chega pra gente dessa questão do eu falei sim.” (Entrevistdo 7) acionista, é realmente o que vai ser anteriormente, eu “Acho. Tem, que ser. Hoje o passado como uma questão institucional, acho muito agressiva, controle é mais rigoroso, né.” olha: o banco quer isso, ele quer o foco e ao mesmo tempo, a no cliente, cliente satisfeito, brilho nos gente não tem o real (Entrevistado 11) “Eu acredito que essa transparência olhos, esse tipo de coisa. A gente recebe. objetivo de seus tem que existir, porque os Uma questão muito bonita, vamos dizer acionistas. O que acionistas são pessoas melhores assim. Aquele banco parece muito como chega pra gente, esclarecidas, melhores informadas dos comerciais mesmo. Mas a partir dali realmente é produção, e sabem onde estão investindo.” dos superintendentes, dos gerentes produção de produtos regionais que a gente começa a ver uma específicos. “ (Entrevistado 16) “Não sei. Eu tenho uma visão, outra figura, que é a questão das metas, (Entrevistado 10) talvez romântica, que sim.” do dia-a-dia mesmo, do batidão.” (Entrevistado 18) (Entrevistado 2) Conclusão da Questão 2 da Categoria 5 De um modo geral, a avaliação foi positiva, portanto, os empregados acreditam que há bons sistemas de governança e transparência que possibilitam informar o acionista adequadamente. Houve três respostas negativas ressaltam haver uma incoerência entre o sistema de transparência e o cotidiano. Fonte: Dados da pesquisa Banco B (Quadro 16): Quadro 16: Avaliação da Categoria 5 de Análise do Banco B - Relação com Acionistas Avaliação da Categoria 5 de Análise: Relação com Acionistas Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 1 12 2 3 Questão 2 11 1 1 5 Principais Comentários Questão 1: Os interesses dos acionistas são prioridade no Banco X? Justifique. Positivos Negativos Inde finid os “E aí, como “A prioridade sempre é dar lucro para o acionista. Mesmo que os números sejam existe esse falsos.” (Entrevistado 1) programa de “Na política, no papel não é so o acionista, mas na pratica a prioridade é dar 130 retorno ao acionista. Na pratica é uma coisa, na teoria outra.” (Entrevistado 2) “Ou seja, estavam reduzindo a quantidade de funcionário. Foi um jeito que o banco criou, pra reduzir a lotação de agencia. O banco realmente quer reduzir a despesa com pessoal. Tem agencia aqui, que da lotação de 14 pessoas, hoje tem 7. Então, tipo assim, esse interesse que eles colocaram que é interesse do acionista, que é melhorar a eficiência operacional, ele está sendo bem levado a sério. Entendeu?” (Entrevistado 10) “São. Sem dúvida. “ (Entrevistado 11) “Sim. Na verdade a empresa existe pra isso, né? Ela só tem esse objetivo, o lucro.” (Entrevistado 13) “Porque ultimamente eles estão muito focados em resultados financeiros. Isso pra mim é interesse do acionista.” (Entrevistado 14) “Eu acho que visa o acionista. E além disso o lucro líquido é absurdamente alto. Todos os bancos. Os bancos aqui no Brasil em geral estão lucrando como em nenhum outro país.” (Entrevistado 15) “O interesse final dos acionistas, eu acho que sim. (E é mais importante que dos outros públicos?). Acho que sim, sim: clientes, funcionários... (Entrevistado 16) Conclusão da Questão 1 da Categoria 5 Por questão de sigilo de informação, optou-se por não expor diversas respostas ou partes importantes das respostas a essa questão para o Banco B, tendo em vista haver um banco de varejo de total propriedade do governo, a Caixa Econômica Federal, e outro de economia mista, o Banco do Brasil. Destaca-se que a pergunta foi ajustada à realidade do Banco B, pesquisado. A maior parte das respostas coincidiu com o Banco A, sendo apontado o interesse do acionista, ou dos acionistas, como prioridade absoluta do Banco B e que isso tem se refletido em metas excessivas e até mesmo precarização do trabalho. Importante destacar que alguns entrevistados, como o entrevistado 2 (que no geral fez uma avaliação positiva do banco), apontaram haver uma contradição nesse aspecto entre a política declarada, que preza pela equidade de interesses dos públicos diversos, e a realidade cotidiana. Questão 2: O Banco X é transparente na relação com seus acionistas? Justifique. Positivos Negativ Indefi os nidos “Parece que sim, eu falo pelo que eu vejo pela divulgação de material publico. Eu “Não. entendo que sim.” (Entrevistado 2) A “Acho que sim. E acho que ele é transparente dentro do que é correto maioria institucionalmente.” (Entrevistado 3) dos “A governança corporativa, tanto voltada para os negócios, a governança corporativa número de TI, funciona. E a segurança também, eu já andei lendo. Até fiz a entrevista uma s são vez que a governança de TI, eles são bem preocupados com a questão de negócio transparência, de ética.” (Entrevistado 10) s não “Acho que sim. De uma maneira geral, os órgãos internos, as gerencias meio, que sustent trabalham para que a coisa funcione, há uma preocupção muito forte com eficiência, áveis.” controle de gasto, essas coisas...” (Entrevistado 11) (Entre “Eu acredito que sim. Com o acionista sim. O acionista na maioria das vezes é um vistado público mais esclarecido, mais conhecedor, questão de lei, etc. Então o banco ele tem 1) que ser mais transparente, mais claro com o acionista. Isso aí é natural.” (Entrevistado 12) Conclusão da Questão 2 da Categoria 5 Pelo mesmo motivo da questão anterior, de preservar o nome da instituição e dos entrevistados, houve a necessidade de se omitir bastante informação nessa questão. Destaca-se, contudo, que houve nesse aspecto uma avaliação bastante positiva, sendo o sistema de informação e governança do Banco B apontado como eficiente e transparente para o acionista. Um aspecto que chamou a atenção foi o número de entrevistas sem respostas, 5. Foi o mais alto de todos. Destaca-se que em outras questões, houve perguntas sem respostas por falha do entrevistador, que por descuido pulou uma ou outra pergunta no momento da entrevista, mas no caso desta questão 2, os entrevistados disseram não saber a respeito. Ressalta-se a resposta do entrevistado 12, de que por se tratar de público acionista, portanto, mais esclarecido, há necessidade de ser mais transparente. Fonte: Dados da pesquisa participação do lucro, pode ser que algumas vezes o interesse do administrad or e do funcionário passe À frente do acionista. “ (Entrevisad o 18) 131 Conclusão da Categoria 5 de análise Percebeu-se que o Banco A tem, na visão dos empregados, bons sistemas de governança e transparência para acionistas. Outra questão importante é que quase por unanimidade - houve apenas um entrevistado que não coadunou com essa ideia - o interesse do acionista é o prioritário no Banco A e muitos relataram que a prova disso é o sistema de metas, considerado abusivo. Houve relatos de que questões éticas e legais, inclusive, são colocadas de lado em nome desses interesses na instituição. Ressalta-se que essa visão é contrária à postura dos bancos em seus Códigos de Ética. De modo geral, os empregados do Banco B entrevistados percebem o interesse do acionista como primordial, preponderando, portanto, sobre os dos demais públicos, o que se mostra negativo para o Banco B. Vale destacar que os Códigos de Ética ressaltam que os interesses devem ser equilibrados e não que se deva priorizar o interesse do proprietário do Banco, ou dos proprietários. Os empregados também percebem que os mecanismos de transparência e governança do Banco B são eficientes, de forma que o acionista tem uma noção bem próxima da realidade, via relatórios diversos. Tendo em vista os princípios do Código de Ética, considerou-se essa análise como negativa para o Banco B. 5.2.3.6. Categoria 6: Relacionamento com a Sociedade Banco A (Quadro 17): Quadro 17: Avaliação da Categoria 6 de Análise do Banco A - Relacionamento com a sociedade Avaliação da Categoria 6 de Análise: Relacionamento com a Sociedade Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 12 2 4 0 Questão 2 5 12 2 0 Principais Comentários Questão 1: O Banco X se preocupa pelos interesses da comunidade? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Ele preocupa, porque tem que se preocupar pelo tamanho dele. “Não. Porque eu “Tem ações Tem os projetos sociais, e até o banco fomenta para os não vejo nenhum sociais, não sei funcionários estarem fazendo. Dentro do que se espera dele como programa, por se são grande empresa.” (Entrevistado 2) exemplo aqui em suficientes. “Preocupa, sim. A gente vê o Banco A presente em muitas coisas, Belo Horizonte, Tem ações sociais, essas coisas. (Entrevistado 4) voltado para a sociais “Ajudas, várias coisas. Vários setores que ele atua dando comunidade, voltadas para incentivo. Eu acho muito bacana sim, a visibilidade dele é muito assim. Eu acho diversas legal, com relação a isso.” (Entrevistado 5) que tem muito áreas.” “Sim. Realiza vários projetos a nível social, incentiva os marketing. Mas (Entrevistado 132 funcionários a ter um apoio social na comunidade que a gente atua. Então, sim.” (Entrevistado 9) “Acho que sim, mas mais como uma questão de marketing. (ENT: Você acha que é mais discurso publicitário que ações efetivas?). Não, preocupa né. Ele está preocupado com o meio ambiente, com a sociedade e ao mesmo tempo que é uma campanha de marketing, né.” (Entrevistado 11) “Sim. Eu já tive inclusive alguns trabalhos que eu participei. Por exemplo, quando eu entrei, no dia da árvore a gente fez um evento numa escola, aí a gente ganhou mini árvores e a gente ajudava as crianças a plantar.” (Entrevistado 14) “Sim. Tem diversos programas de incentivo para isso, inclusive com a participação dos funcionários. Agora, se ele recebe algum tipo de isenção fiscal para ta oferencendo isso também, a gente não sabe, né! (risos).” (Entrevistado 15) eu não vejo muita coisa para a comunidade.” (Entrevistado 6) “Olha, o Banco A prega muito isso, principalmente na publicidade dele. Ele fala muito disso, mas não sei se na prática isso acontece.” (Entrevistado 18) 1) “Olha, o Banco A prega muito isso, principalmente na publicidade dele. Ele fala muito disso, mas não sei se na prática isso acontece.” (Entrevistado 17) Conclusão da Questão 1 da Categoria 5 De um modo geral, os empregados têm uma visão positiva do banco quanto ao relacionamento com a comunidade. Eles falaram de vários programas (que não podem ser relatados aqui para que não haja identificação do Banco) em nível nacional. Alguns relatam que se trata de motivação mercadológica, apesar de ser ético (Entrevistado 11), e mais de um afirma que se trata apenas de “marketing”, ou seja, não há fundamentação por trás do discurso (ver comentários negativos à ética do banco). Questão 2: O Banco X desenvolve alguma ação relevante para o bem da comunidade da sua agência? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinidos “Final do ano tem arrecadação “Não. Na verdade, existem “Na agencia em si, não. O banco de roupa.” (Entrevistado 1) algumas ações que o banco tem tentado trabalhar muito na “Essa aqui foi a segunda vez incentiva a gente a fazer, mas questão da conscientização que eu fiz isso. Aí, eu percebo especificamente na nossa financeira, uma orientação que dá oportunidade, mas eu agencia, não tem. Não tem financeira, tentando educar as percebo que o negócio do envolvimento dos funcionários.” pessoas para ter um uso consciente. voluntário é que é uma coisa Eu acredito que esse planejamento (Entrevistado 9) que ninguém se doa muito. “Hoje o tempo está muito do banco talvez seja um projeto Mas o banco em si, tem várias escasso no Banco A. A gente tá maior, talvez seja regulamentado coisas. Eu vejo varias pessoas com pouco braço, a equipe é pelo BACEN, mas acho que ele mais velhas do banco enxuta e as metas são tem uma certa influência na trabalhando em várias coisas expressivas e dificilmente você sociedade que vejo de forma que o banco dá oportunidade, consegue se afastar do seu positiva.“ (Entrevistado 10) entendeu.” (Entrevistado 3) ambiente de trabalho.” (Entrevistado 15) Conclusão da Questão 2 da Categoria 6 Essa questão ficou negativa para o Banco. Observou-se que a maior parte dos funcionários que acham o Banco responsável para com a sociedade não identifica ações concretas em seu ambiente de trabalho. Houve, contudo, o relato de algumas ações pontuais, normalmente organizadas informalmente pelos empregados, de doação de livros, ajuda a creches, etc. Chama a atenção a contradição da resposta 2 do Entrevistado 9 com a anterior. Fonte: Dados da pesquisa Banco B (Quadro 18): Quadro 18: Avaliação da Categoria 6 de Análise do Banco B - Relacionamento com a sociedade Avaliação da Categoria 6 de Análise: Relacionamento com a Sociedade Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 9 7 2 0 Questão 2 9 8 1 0 133 Principais Comentários Questão 1: O Banco X se preocupa pelos interesses da comunidade? Justifique. Positivos Negativos Indefinidos “Ele tem muitos projetos, né, com “Não, preocupa com a meta.” “Divulga relação a questões ambientais. Tem material sobre (Entrevistado 1) sustentabilidade. Acredito que tem “Ele só preocupa com os interesses da isso, tem muitos projetos nessa área. Acredito que comunidade, na medida que isso é uma diretoria de sim.” (Entrevistado 4) demanda do acionista governo.“ responsabilidad “Tem sim os programas sociais. (ENT: E (Entrevistado 3) e você acha que são bons?). Eu acho, até “. Isso não é estimulado. Isso tem um socioambiental, comparando com os níveis de empresas indicador no nosso acordo de trabalho, de uns anos que tem programas, até que são.” dentro daquele BSC. Então o que para cá passou a acontece, as vezes a gente está precisando ser uma coisa (Entrevistado 6) “Olha, eu vejo muitos programas de ponto naquele sistema de meta. Então de importância regionais, sabe, programas que vamos pra esse lado. Eu já fui voluntário. pro banco. acontecem de estado pra estado, acho Eu já participei de um negócio do Agora qual a que tem sim um interesse. Até por uma Conselho X (público). Eu nem opinava efetividade, se questão de visibilidade, de inserção muita coisa não, eu ia mais pra ganhar isso da social, o banco ligar a marca a esses pontuação. Ganhava 5 pontos. Não é algo resultado ou se programas.“ (Entrevistado 7) que é estimulado no cotidiano. São ações é uma coisa so “A gente tem alguns programas que são meio que isoladas, assim, e aqui que não institucional eu colocados pelo governo federal. Agora, tem tanto. Eu vejo o banco divulgar em não sei.” eu não vou falar que é o banco. Acho outros estados, coisas mais concretas que (Entrevistado que o governo federal usa o banco pra aqui em MG.” (Entrevistado 10) 2) fazer suas políticas. “ (Entrevistado 8) “Pela experiência que tenho, acho que “Bastante. Por que estou falando isso. não.” (Entrevistado 12) Vou te falar nome de programa. “À empresa cabe seguir as legislações. Se Programa x e y. Muito programa de ela pode poluir ou não pode. Se ela doação.” (Entrevistado 11) prestar determinado serviço. Essas coisas “Até por ser um banco vinculado ao de funções sociais extras não é uma coisa governo, tem várias linhas de crédito que a empresa tem que fazer, mas sim o muito baratas, destinadas a produção, governo, mas como ela é ligada ao por exemplo. Aí eu acho que nesse governo, você tem esse tipo de coisa. sentido ele ajuda a comunidade.” Normalmente não funciona, é mais uma (Entrevistados 16) questão de propaganda mesmo, “O banco até tem uma parte social assim infelizmente.“ (Entrevistado 13) bem forte.” (Entrevistado 17) “Então eu acho que é tudo uma questão “Bom, eu já participei de alguns cursos de marketing. Mas a prática é totalmente de desenvolvimento regional sustentável. diferente. Ele divulga todas essas coisas e Então a gente vê que muitos projetos na verdade o que está por trás é uma locais o banco apoia.” (Entrevistado 18) questão financeira, né?“ (Entrevistado 15) Conclusão da Questão 1 da Categoria 5 De um modo geral as respostas foram positivas, mas houve bastante divisão e dubiedade (de forma que outro pesquisador poderia facilmente julgar diferentemente). As pessoas apontam que há muitos programas, mas não sabem especificá-los bem na maior parte das situações. As respostas positivas apontaram bastante também o fato de ser um banco governamental, o que naturalmente lhe orienta socialmente. Chamou a atenção nessa questão a dissonância em relação ao Banco A. A maior parte dos entrevistados do banco privado afirmou categoricamente que o banco se preocupa pelos interesses da comunidade, parecido ao que aconteceu na questão relativa a crédito responsável. Destaca-se ainda o apontamento de dois entrevistados, 13 e 15, de ser apenas discurso, “propaganda” ou “marketing”, segundo eles. Além disso, a fala do entrevistado 10, de sua estratégia pessoal para burlar o sistema de metas relativo a essa categoria. Questão 2: O Banco X desenvolve alguma ação relevante para o bem da comunidade da sua agência? Exemplifique. Positivos Negativos Indefinid os “Que eu saiba tem uma parceria com a associação de catadores de “Só se tiver na “Na papel, doação de computadores obsoletos, já vi esse trabalho.” meta.“ minha 134 agencia (Entrevistado 2) (Entrevistado 1) “Na nossa área a gente tem uma participação muito forte com os “Não. “ não, é menores aprendizes.” (Entrevistado 3) agencia (Entrevistado 7) “Tem sempre alguns, ..... , algumas iniciativas para ajudar um asilo e a “No meu setor, na nova, um orfanato. Sempre tem para ajudar, com arrecadação ou alguma minha área, nas também.” coisa assim, essa creche e asilo.” (Entrevistado 5) agencias onde (Entrevis “A agencia analisa, né. Tem algumas agencias que fazem um trabalho trabalhei, acho tado 6) ate legal. Tem muitas no interior que formam cooperativas, na que não.“ atividade X, com prefeituras...” (Entrevistado 9) (Entrevistado 12) “Lá existe no (setor, nome) programa com a cooperativa X, descarte de “Não.” papel, o banco cede espaço para comemorar, para órgãos que atendem (Entrevistado 15) pessoas com deficiência Y, vários espaços cedidos para esses “Não, pelo menos programas.” (Entrevistado 11) até hoje não vi “Sim. Não sei se é regra do banco, talvez seja. Questão de doações, não.” natal...” (Entrevistado 13) (Entrevistado 17) “Nos fazemos trabalhos a cada final de ano a gente escolhe uma instituição, uma creche para poder ajudar. Isso faz com que ela (a agencia) adquira pontos na PLR. “ (Entrevistado 18) Conclusão da Questão 2 da Categoria 6 As respostas foram majoritariamente positivas, mas foram também muito divididas. Os empregados apontam muitos programas pontuais do próprio setor, de parcerias com entidades e doações. Em contrapartida, há aqueles que não sabem apontar ações, o que leva a crer haver responsabilidade da gestão de cada setor. Salienta-se haver metas para essas ações. Chamou a atenção mais uma vez a dissonância de resultados com o Banco A, uma vez que na maioria das respostas dessa instituição, os entrevistados apontaram não haver ações específicas em seu local de trabalho. Fonte: Dados da pesquisa Conclusão da Categoria 6 Percebeu-se que na visão dos empregados o Banco A é responsável com a comunidade. Houve, contudo, pouca identificação de programas específicos nas agências do Banco A. Ao que tudo indica, essa percepção é muito mais fruto de ações divulgadas pelo banco na imprensa e em veículos internos do que da vivência dos empregados. Considerou-se, por isso mesmo, como indefinida essa questão. De modo geral, as respostas foram positivas para o Banco B, apesar de ter havido muitas respostas negativas nas duas questões. Percebeu-se, dentre as respostas positivas, que o Banco B possui muitos programas voltados para a comunidade e que há muitas ações específicas nas agências. Houve também em diversos momentos uma associação dessa categoria à função pública do banco, como agente do governo para suas políticas sociais. As respostas negativas apontaram que os programas costumam se relacionar bem mais a discurso publicitário do que a ações efetivas. Um aspecto que chamou a atenção, na comparação, é que os funcionários do Banco A claramente têm uma visão mais favorável do seu banco a respeito do interesse pela comunidade. Apesar disso, não sabem identificar programas específicos em sua agência ou gerais, diferentemente dos empregados do Banco B. Esse aspecto se assemelha ao que 135 aconteceu na questão 7 da categoria 4, sobre políticas de saúde financeira do cliente, sendo que as taxas do Banco A são maiores que as do Banco B, além de haver mais indicação de seus funcionários de pressão por meta. Ou seja, as respostas mostram claramente uma contradição maior no Banco A. Provavelmente, há uma eficiência maior por parte do Banco A em sua publicidade sobre temas de ética e responsabilidade social, o que não necessariamente seja reflexo das suas ações. 5.2.3.7. Categoria 7: Avaliação Geral da Ética do Banco Banco A (Quadro 19): Quadro 19: Avaliação da Categoria 7 de Análise do Banco A - Avaliação Geral da Ética do Banco Avaliação da Categoria 7 de Análise: Avaliação Geral da Ética do Banco Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 5 8 4 1 Fonte: Dados da pesquisa Banco B (Quadro 20): Quadro 20: Avaliação da Categoria 7 de Análise do Banco B - Avaliação Geral da Ética do Banco Avaliação da Categoria 7 de Análise: Avaliação Geral da Ética do Banco Quantidade de Respostas conforme Avaliação de Coerência com o Código Positivas Negativas Indefinidas Sem Resposta Questão 1 4 11 2 2 Fonte: Dados da pesquisa Como os todos os comentários dessa questão estão disponíveis nas análises por empregados, ou Tipo II de Análise (que se encontram a seguir) considerou-se melhor não repeti-los aqui. Conclusões da Categoria 7 A avaliação ética geral dos funcionários do Banco A foi normalmente negativa, apesar de um número expressivo de avaliações positivas. Percebeu-se que muitos dos funcionários que julgaram o Banco A como éticos em vários aspectos, quando chegaram nesse ponto caíram em contradição (ou talvez mudaram de ideia). O ponto mais recorrente nessa questão no Banco A, assim como em praticamente todas as categorias, foi a questão das metas abusivas, que geram stress e doença ocupacional e induzem os funcionários a agirem antieticamente 136 com clientes e colegas. Salienta-se também que dentre as respostas positivas, houve casos que o entrevistado julga o Banco A, a instituição, como ético e culpa os funcionários pelos desvios (como o Entrevistado 1). Já a avaliação da ética geral do Banco B foi majoritariamente negativa por parte dos empregados entrevistados, numa proporção ainda mais acentuada que no Banco A. Os empregados reforçaram principalmente problemas de metas abusivas, de saúde ocupacional e de transparência com o consumidor, principalmente o de menor renda (o que foi reforçado pela análise da categoria 4 do Banco B). Chamou a atenção, assim como aconteceu no Banco A, que os funcionários que avaliaram positivamente estabeleceram relação do agir ético do Banco B com uma necessidade funcional. 5.2.4. Tipo II de Análise: Análise por funcionário Os quadros 21 a 56 são um resumo da avaliação feita por empregado e mostram a coerência, de acordo com o julgamento deste autor, de cada resposta com o código de ética (conforme critérios já especificados na metodologia). Foi importante acrescentar essa análise, tendo em vista que há casos em que um empregado fez uma avaliação negativa de determinado aspecto, mas no geral fez uma avaliação positiva do Banco, e vice-versa. 5.2.4.1. Análise por Funcionários: Entrevistados do Banco A Entrevistado 1 (Quadro 21) - nível Operacional, 23 anos, homem, 3,7 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 21: Avaliação de respostas do empregado 1 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 3 3 2 0 Indefinida 4 – Relação do Banco com Clientes 5 0 2 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 0 1 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Positiva “No geral é muito boa. Porque o banco paga o funcionário em dia. Paga todos os centavos devidos. Se ele trabalha a mais paga. Quanto ao cliente, se ele é realmente lesado, o banco repassa. Tenta dar todo o suporte para o cliente. As vezes isso não é transmitido, mas por conta do funcionário, do gestor, de superintendencia. Mas o banco em si, através de circular, do código de ética, de comunicativos, sempre Categoria de Análise 137 frisa isso, sempre busca isso.” Fonte: Dados da Pesquisa O Entrevistado mostrou-se favorável ao banco eticamente, portanto, coerente ao código na maioria das situações. Ele considera de modo geral que o banco divulga satisfatoriamente os princípios do Código de Ética, tem um relacionamento que pende para positivo com o empregado - apesar de alguns problemas, como a baixa remuneração -, é ético com o cliente, com o acionista e ajuda a sociedade por meio de programas sociais. Alguns pontos, contudo, chamaram a atenção. O empregado mostrou que a ética do banco se assemelha mais ao cumprimento da lei do que a um agir ético no sentido de justiça, conforme o sentido do Código de Ética do Banco. Assim como na sua avaliação geral, ele demonstra achar que pagar corretamente é uma atitude ética do banco. A seguinte fala chama a atenção nesse sentido, sobre a transparência do contrato para clientes: “Quando ele fecha qualquer produto ou serviço, o contrato na via que o cliente recebe tem tudo. Mas, assim, a maioria, 99% não lê. Qualquer documento do banco que é pra assinar ele não lê. Eu te falo que é 95% dos clientes. (Ent: E ele é estimulado a ler?). Não, acho que não é nem por má fé, mas por falta de tempo.”. Ele disse ainda que o empregado não precisa estimular o cliente a compreender o contrato, assim como sugere haver um problema sério de tempo, provavelmente ocasionado por metas abusivas (algo que apareceu recorrentemente nas entrevistas posteriores). Entrevistado 2 (Quadro 22) – cargo gerencial, 27 anos, homem, 2,5 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduado: Quadro 22: Avaliação de respostas do empregado 2 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 2 0 0 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 4 2 1 1 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 4 0 3 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 2 0 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 1 1 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Positiva “Eu acho bastante razoável. Eu costumo dizer assim, eu hoje não tenho queixa do banco Banco A, acho que o que o banco se propõe no dia-a-dia ele cumpre. Nunca tive nenhum problema relevante para com o banco. A gente acaba, como eu te disse, a gente acaba tendo problemas mais pessoais, as vezes um gestor que distorce toda uma situação, que não é meu caso atual, mas já tive. E acaba fazendo coisas que o próprio banco não aceitaria. Então, o banco em si eu não vejo queixa. E de uma forma geral com a sociedade, com o pessoal do poder público, é um banco referencia.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise 138 O entrevistado considera o banco ético, mas acha que as metas pressionam o empregado a eventualmente burlar os códigos de conduta. Chama atenção também que para o empregado é uma obrigação do banco ter programas para a comunidade, devido a seu tamanho. Ele também vê a instituição como ética, mas que o problema está no corpo de empregados do Banco. Uma contradição importante que ele comete é afirmar que o interesse dos acionistas os sobrecarregam com metas. Entrevistado 3 (Quadro 23) – cargo gerencial, 42 anos, mulher, 20 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduada: Quadro 23: Avaliação de respostas do empregado 3 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 1 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 1 3 3 1 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 3 2 2 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 2 0 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 2 0 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu acho que hoje é igual eu te falo, elas falam: “ Se eu não estivesse trabalhando com você e tivesse em outra agencia”. Que elas veem o que acontece, então falam assim: “eu acho que eu podia estar fazendo tudo o que estão fazendo e não veria tanta maldade nisso”. Porque você acaba criando aquele hábito do: “preciso sobreviver”. Pra pessoa mais nova então, é isso que eu te falo, que é onde eu acho que é muito errado. Eu acho que o banco ele tinha que investir no gestor de uma forma boa, mas ao mesmo tempo com gestão de consequência grave, porque eu acho que o gestor ele cria, ele educa. E se você é podre, você não pode ser gestor. Está entendendo, isso é que é muito grave. Voce vê coisas horrorosas. Então, assim, é o futuro, e o futuro eles falam que é ético e caráter. E como você mensura isso numa contratação?” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise A funcionária se mostrou crítica à ética do Banco na maior parte da entrevista, apesar de responsabilizar o funcionário e não a instituição pelo problema. Sua entrevista foi, assim, primordialmente contrária ao código de ética. Transmitiu também a ideia de que a obrigação ética do banco é seguir a lei. Um ponto que chamou a atenção é a fala sobre saúde mental na questão relativa às metas e à meritocracia: “Voce vai caindo numa onda de deprê. Voce vai pra uma agencia ruim, porque seu resultado está ruim. Então, existe toda uma onda psicológica aí que hoje é fato. A gente sabe que isso aí é uma forma de pirar a cabeça.”. Houve ainda uma questão que chamou atenção, repetida diversas vezes como: “Gestão de Consequência”. A empregada afirma que o Banco é muito rigoroso com desvios de funcionários de baixo escalão, mas conivente com o de empregados em nível gerencial e diretivo, pois isso é favorável ao Banco no alcance de suas metas. Vale ressaltar que esta 139 funcionária exerce cargo gerencial e estratégico no banco e trabalha na instituição há mais de 20 anos. Entrevistado 4 (Quadro 24) – nível operacional, 26 anos, mulher, 3 anos, já ocupou outros cargos, pós graduada: Quadro 24: Avaliação de respostas do empregado 4 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 1 0 0 Indefinida 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 1 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 4 3 1 0 Negativa (ver conclusão) 4 – Relação do Banco com Clientes 3 1 3 0 Indefinida 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Indefinido “É médio, eu acho que peca em algumas coisas. Tem muita coisa boa escrita. Mas na prática, falta muita coisa colocar em prática, entendeu? Tem coisas que eu não posso nem reclamar, mas pegando um geral assim, é médio.“ Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise Considera-se que a entrevista encontra-se num nível intermediário, ou indefinido, no que tange à coerência com o código, principalmente em função de várias contradições. A entrevistada, apesar de ter feito uma avaliação positiva sobre 4 aspectos da categoria 3, fez uma avaliação geral negativa sobre a conduta ética do banco com empregados. O mesmo houve em relação a clientes. A avaliação para a maioria dos tópicos foi positiva, mas exatamente a avaliação sobre a ética do banco com os clientes foi negativa, com a seguinte fala: “Ele fala que o Banco A preocupa com o cliente, mas eu acho que não tem essa prática do funcionário lidar com a ética, entendeu?”. Entrevistado 5 (Quadro 25) – nível gerencial, 32 anos, homem, 9 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduado: Quadro 25: Avaliação de respostas do empregado 5 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 3 3 2 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 3 4 0 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Lógico que tem a ética, tem que cumprir, porque senão vira bagunça, né? Tem os órgãos normativos, Categoria de Análise 140 que são os executivos... É porque a gente faz aquela certificação da ANBID, que eles falam que tem uma norma de conduta , que o gerente não pode levar pelos interesses do banco, das metas, total. Mas isso é difícil, né? Amigo. Na prática... É bonito, tá na lei, mas a lei no Brasil funciona? Tem muita coisa que é muito bonito de se ver e de se ler, mas na prática, é olho por olho, dente por dente. Não tem muito o que fazer. O que eu acho é que é muito abusiva as metas. Nenhum refresca pra ninguém. Então, assim, isso aí que eu acho que deveria de alguma forma ser fiscalizado. Não sei se tem como, mas...Disso tudo encarreta outras situações, da meta, da cobrança, aí vem o cara que não está suportando, aí começa a fazer algumas coisas que não são devidas. Aí, o banco manda embora, é aquela coisa toda! Mas fazer o quê, né? É a vida! A vida não tá fácil pra ninguém não!“ Fonte: Dados da pesquisa Considerou-se a avaliação do funcionário negativa para o banco. Salienta-se que, apesar de ter havido mais respostas positivas que negativas no item referente à relação com empregados, o funcionário destacou que a remuneração não é positiva, que há descumprimento da lei para empregados e que há sério problema de metas abusivas (como mostra a avaliação geral). O mesmo critério foi usado para julgar a avaliação que ele faz do relacionamento com clientes. Houve um número semelhante de respostas positivas e negativas, mas a pergunta filtro, a primeira, mostrou que na opinião do empregado os gerentes do Banco A costumam não ser éticos com seus funcionários: “Na verdade não é o Banco A que não é ético. Na verdade os gerentes é que não são tão éticos com os clientes com o Banco A. Porque, de repente, por pressão de metas, há uma indução a produtos que não se encaixe, não se adequem ao perfil do cliente.”. Outro ponto que fica claro, conforme a avaliação do funcionário, é que o agir ético do Banco acontece por motivação externa, pressão de lei, principalmente. Ele também ressalta problemas de saúde gerados por metas abusivas. Entrevistado 6 (Quadro 26) – nível gerencial, 28 anos, mulher, 1 ano de banco, nunca ocupou outro cargo, superior completo: Quadro 26: Avaliação de respostas do empregado 6 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 0 0 2 0 Indefinida 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 1 6 1 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 3 2 2 0 Negativa (ver abaixo) 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 0 1 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 2 0 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu acho péssimo. Eu acho que, claro que é uma empresa privada tem que ser o lucro, mas eu acho que o lucro de todas as instituições financeiras estão cada vez mais exorbitante, e que os clientes não têm o retorno disso, entendeu? Eu acho que poderia melhorar muita coisa para os clientes. Eu acho que a gente as vezes faz algumas coisas que podem até prejudicar, os clientes em geral.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise 141 Considerou-se a avaliação da funcionária negativa, apesar das diversas contradições. Ela cita diversos problemas no relacionamento do Banco com o empregado, principalmente sobre metas abusivas e adoecimento quanto a isso, assim como problemas de meritocracia, mas acha que de modo geral o Banco cumpre o Código de Ética com o empregado (apesar de conhecer pouco do código, conforme afirmou). Ela também entra em contradição com a avaliação geral ao afirmar que o banco costuma ser ético com clientes (na pergunta 1 da categoria 4, referente à relação com clientes). Anteriormente, afirmou que as metas de vendas eram mais importantes que a satisfação do cliente, como na questão 7 da categoria 3: “O foco dele não é o atendimento a cliente, é venda ao cliente!”. Destaca-se também a resposta à pergunta 7 da categoria 4, relativa ao estímulo do Banco à saúde financeira do cliente: “Não. Porque eu acho que muitas vezes, assim, a gente tem metas a bater, e o banco cobra muito da gente. E muitas vezes a gente acaba repassando essa cobrança ao cliente.” Entrevistado 7 (Quadro 27) – nível operacional, 25 anos, mulher, 1,5 anos de banco, nunca ocupou outro cargo, superior incompleto: Quadro 27: Avaliação de respostas do empregado 7 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 1 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 4 3 1 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 3 3 1 0 Indefinida 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 2 0 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Indefinida “Eu acho que a parte de divulgar e disseminar o conceito de ética, no negócio, no dia-a-dia dos gestores, eu acho que isso é feito muito bem pelo banco. O que eu acho que as vezes destoa um pouco, e que gera até um preconceito da sociedade: “Ah, o banco só quer saber de enganar. Você vai no banco, você vai sair de lá com alguma coisa que você não viu, você não sabe”. Eu acho que isso vai muito da linha do gestor. (não houve o restante dessa gravação).” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise O funcionário mostrou-se, no geral, positivo em relação à ética do banco e coerente ao código. Ele se sente devidamente remunerado e acha o banco meritocrático. Ele, assim como outros, contudo, mostrou que o que considera ético é o cumprimento das leis. Isso ficou muito claro quando se refere a questões de metas e ao tratamento a clientes, assim como em sua resposta à pergunta 2 da categoria 2: “Eu acho que eles poderiam ser mais ativos na disseminação do conceito de ética e da prática do conceito do que esse banco prega. Eu acho que, como outras empresas que eu já trabalhei, fica muito no discurso, entendeu? Como se diz 142 assim: “Eu faço a minha parte, eu o meu conceito que eu devo fazer como empresa, mas eu não vou fiscalizar se você está cumprindo isso ou não.”. Entendeu?”. Essa fala também coaduna com a impressão geral desta análise, de que o banco busca a ética muito mais discursivamente do que na prática cotidiana. A seguinte fala também demonstra isso: “Você é um número ali dentro. Enquanto você tiver saúde suficiente para você gerar resultado, isso é importante.”. Ele também disse que o Banco é relativamente ético com o cliente: “É, algumas estratégias de venda, por exemplo, o cliente não sabe. Então, em parte, sim. “ Entrevistado 8 (Quadro 28) – nível operacional, 46 anos, homem, 22 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 28: Avaliação de respostas do empregado 8 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 1 0 0 Indefinida 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 0 1 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 1 6 1 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 5 1 1 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 0 0 2 Sem avaliação 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Olha, ele tem muita coisa que ele tenta fazer corretamente, mas deixa muito a desejar, principalmente para os funcionários, na questão de metas abusivas, muita pressão por questão de marcação de férias, de plano de saúde... Ele deixa muito a desejar e não valoriza muito o funcionário mais velho, por exemplo.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise O entrevistado 8 mostrou-se geralmente negativo sobre a ética do banco, com exceção da ética com clientes. Assim mesmo, neste aspecto ele disse alguns pontos que chamaram a atenção, principalmente ao estímulo que é dado ao cliente para compreender os contratos, como: “É, e acaba tendo divergência. O cliente não lê e depois que vai ver que acabou contratando uma coisa errada.”. Houve uma avaliação altamente negativa da ética do banco com os empregados. O funcionário mostrou-se bastante incomodado com o sistema de metas: “Não, justamente por causa dessas metas. Essas metas deixam qualquer um doido. Tem colegas da gente que está com problema de saúde, justamente porque não conseguem bater essas metas, né?”. Por fim, a avaliação geral também foi bastante negativa. Entrevistado 9 (Quadro 29) – nível gerencial, 37 anos, homem, 11 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: 143 Quadro 29: Avaliação de respostas do empregado 9 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 1 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 0 6 1 1 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 6 1 0 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 0 1 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Ou a pessoa é ética ou não é, né. Não existe meio termo. Mas eu vejo que o banco é muito focado em lucro, isso é inegável. Ele não é instituição de caridade, então ele tem que ser focado em lucro mesmo. Porém, existe sempre o conflito, você aumentar o lucro, sua capacidade, mas o que a gente vê é a diminuição do quadro de funcionários, aumento das metas. Então, é um discurso que é muito bonito, no papel. Porém, na prática a gente vê que não condiz muito bem. Porque a cada momento a gente tem que estar aumentando o retorno, aumentando a rentabilidade, diminuindo o quadro de funcionários. E acaba que os funcionários são induzidos, vivem numa pressão muito grande, constante. Então, a gente vê muitas pessoas adoecendo, em função de stress. Então, a pressão é muito grande. Porque a gente tem que dar lucro, tem que estar sendo sempre de forma transparente, mas é muito difícil hoje, né. Porque as metas cada dia que passa são maiores.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise A análise da entrevista do funcionário foi negativa para a ética do banco. Ele se mostrou bastante incomodado com o sistema de metas do banco, mas curiosamente o considera ético com os clientes. A seguinte resposta, sobre a clareza de contratos do Banco A, quando comparada à avaliação ética geral, mostra bem isso: “Sim, isso aí é inegável. (Ent: O cliente é estimulado a ler os contratos na hora da contratação?). Sim, sim. Eventualmente, algum gerente pode fazer algumas atitudes que não sejam condizentes, mas isso aí é amplamente divulgado, para que seja feito dessa forma. Chamou a atenção também a fala acima referente à incoerência do discurso do banco com a prática cotidiana Entrevistado 10 (Quadro 30) – nível gerencial, homem, 1,5 anos de banco, nunca ocupou outro cargo, pós graduação: Quadro 30: Avaliação de respostas do empregado 10 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 0 0 1 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 3 3 2 0 Negativa (ver conclusão) 4 – Relação do Banco com Clientes 3 4 0 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 1 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 0 1 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Sem resposta Sem essa resposta. O funcionário estava cuidando de crianças no momento da entrevista, o que atrapalhou um pouco a coleta. Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise 144 O funcionário considera, de modo geral, que o banco não é ético com seus empregados e clientes - apesar de na categoria 3 ter havido uma distribuição igual de respostas, considerouse como negativa em função dos aspectos considerados negativos e a ênfase dada a isso. Isso fica claro na sua queixa quanto a metas abusivas e baixa remuneração frente a outras instituições e cargos. Quando perguntado, por exemplo, sobre o cumprimento do banco aos requisitos de saúde e qualidade de vida no trabalho, ele disse: “Não. Devido realmente a cobrança. Ao excesso de responsabilidades que a gente tem. A empresa ela quer, de um profissional igual eu, um resultado. Só que, em contrapartida, ela não dá um suporte necessário pra isso. “. Quando perguntado se considera o banco ético com clientes, ele respondeu: “Essa ética... É uma questão de percepção. Como eu falei, ele tem seu manual de conduta, tem lá... (Ent: E na prática?). Na prática, devido a toda a situação, eu acho que não.”. Apesar disso, ele disse que o banco é melhor que outras instituições no cumprimento de leis trabalhistas: “De um modo geral sim. Eu trabalhei em outras instituições e o banco até então é melhor nesse aspecto.”. Entrevistado 11 (Quadro 31) – nível gerencial, 33 anos, mulher, 13 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduada: Quadro 31: Avaliação de respostas do empregado 11 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 2 0 0 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 4 3 1 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 7 0 0 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Positiva “Eu acho assim, em vista do Banco X, a minha opinião. O Banco A ele valoriza muito isso. Todo ano a gente tem que fazer um treinamento sobre o código de ética. A gente recebe uma copia do código de ética. A gente tem que responder essa pergunta. Tanto o código de ética quanto a prevenção a lavagem de dinheiro. Então, esse controle é rigoroso. Só que não tem como o banco controlar todos os funcionários, tá. Então, algum funcionário que vai contra a política do banco, a ética do banco, ele é mandado embora. Igual a gente tem a orientação o seguinte, isso vem dos gestores, tá: o Banco A não manda ninguém embora porque não está batendo as metas. Mas se você fez alguma coisa errada, você está na rua. E isso assim, são gestores que passam pra gente. E é um banco assim, que tudo você tem que assinar. A gente não consegue cadastrar nada na conta do cliente sem assinatura. E diferente de novo, do que falo do Banco X. Lá a gente fazia algumas coisas na conta do cliente que ele precisava assinar. Então eu acho que a preocupação é muito grande.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise De modo geral, a avaliação da entrevistada é bastante favorável à instituição eticamente. Ela considera a remuneração justa, apesar de alguns problemas, que há um ambiente de trabalho 145 bom e bons benefícios ao empregado, além de haver ética no tratamento com o cliente. Ela, no entanto, salientou haver metas abusivas, apesar de ter havido melhora. Chamou a atenção em sua fala o comentário acima, na avaliação geral de ética, de que o banco não demite em função de metas não batidas. Essa avaliação não coaduna com a visão da maior parte dos empregados. Outro ponto interessante também é que a todo momento a gerente estabelece relação com o outro banco, do qual se desligou há 13 anos. A seguinte fala, referente à pergunta 3 da categoria relacionamento com cliente (sobre clareza de contratos), mostra bem a contradição da meta com a ética na fala da entrevistada: “O Banco A sim. Se você faz um empréstimo na maquininha, ele te manda no endereço da sua casa a cópia do contrato. Eu acho isso muito legal. (ENT: E na hora da contratação na agência, isso é feito com clareza também?). Sim, uma cópia fica com o cliente, uma cópia na agencia. Mas às vezes a pessoa assina aquilo ali sem ler o contrato todo, né, mas ela tem uma cópia. Às vezes o que interessa ali é o juros, o valor da parcela e a quantidade de meses, né. (ENT: Você considera que a cobrança por metas possa atrapalhar na explicação de contratos ou venda de produtos na agência?). Acho. (ENT: E isso é comum de acontecer). É.” Entrevistado 12 (Quadro 32) – nível gerencial, 26 anos, mulher, 4 anos, já ocupou outros cargos, pós graduada: Quadro 32: Avaliação de respostas do empregado 12 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 0 1 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 3 4 1 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 6 0 1 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 1 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 1 1 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Indefinida “Olha, eu acho que o banco, pelo menos nos últimos tempos que estou aqui trabalhando, ele tem pedido muito, divulgado muito, tem feito livros, nossas cartilhas sempre falando o que é tolerável e o que não é, o que é pode ser feito o que não pode. Então, assim, tem demonstrado muito sobre isso. (ENT: O sistema de metas, você acha que é abusivo?). Acho! (risos). Mas isso tem a ver com ética? Entendi. O que ele quer é dizer o que é certo e o que não é certo. Agora, o sistema de metas é abusivo sim. Com certeza. A meta é muita alta, cada vez estão aumentando mais e mais. E tem muita cobrança também, né.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise A avaliação desse empregado foi intermediária. Ele acha que as condições contratuais e as taxas são mostradas com clareza ao cliente, apesar de ter caído em algumas contradições sobre a apresentação dessas informações na agência, e que o banco estimula o consumidor a manter uma boa saúde financeira: “O banco sempre estimula a poupar, guardar. Da vários 146 treinamentos, palestras. Sempre coloca no site, aquelas brincadeiras, ensinando a poupar, ensinando a guardar.”. Ele, contudo, cai em contradição com sua avaliação geral da ética do banco, pois afirma haver uma cobrança excessiva por resultados, e com a afirmativa de que o banco se resume a cumprir a lei. Isso sugere que para o entrevistado o cumprimento da lei é o parâmetro de agir ético. Além disso, a maior parte dos aspectos de relacionamento com empregados entrou em contradição com o padrão ético do Código de Ética. Entrevistado 13 (Quadro 33) – nível gerencial, 29 anos, homem, 5 anos de banco, nunca ocupou outro cargo, superior completo: Quadro 33: Avaliação de respostas do empregado 13 do Banco A P N I S Coerência da Categoria Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 1 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 6 1 0 1 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 6 0 1 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 1 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 0 2 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Indefinida “Eu acho que ele está no caminho. Então ele já trabalha isso internamente.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise com os O funcionário mostrou-se bastante satisfeito com a postura ética do banco e coerente ao código. Considera boa a relação com os empregados e clientes, além de ser ético com a sociedade: “Eu acho que ao que o mercado oferta, ele valoriza bem, remunera bem. Está acima dos padrões de mercado.”. Chamou a atenção, contudo, a contradição da pergunta 2 do tópico “Cumprimento às Legislações Vigentes”, frente à pergunta final. Num momento, o empregado diz que o banco se resume a cumprir o que manda a lei: “Não, eu acredito que não. Tá dentro do que a lei estabelece. Além não.”. Em outros, ele considera o banco ético de modo geral. Isso coaduna com a visão do empregado com a questão de transparência. Percebeu-se que para o funcionário o banco cumpre esse papel ao simplesmente apresentar ao cliente as condições contratuais e de cobrança, mesmo que o cliente não tome ciência do que se trata (como se o banco se eximisse de responsabilidade). O funcionário também considera que o interesse do acionista é a prioridade para o banco. Entrevistado 14 (Quadro 34) – nível operacional, 30 anos, mulher, 8 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: 147 Quadro 34: Avaliação de respostas do empregado 14 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 2 0 0 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 4 3 1 0 Indefinida 4 – Relação do Banco com Clientes 5 1 1 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 1 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 2 0 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = “Olha eu acho que a questão de ética o banco Banco A a gente não tem nada para falar. Porque eu acho que ele preza mesmo, sabe. Ele sempre incentiva a gente a agir com ética, até com os clientes, como com as pessoas em geral, com nossos concorrentes. Então, assim, nesse ponto eu não posso falar nada, com os funcionários... Eu já presenciei várias situações em que o banco prioriza a ética, mesmo.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise A funcionária tem uma avaliação bastante positiva do banco no que tange à questão ética e mostrou-se bastante coerente ao código. Ela, inclusive, foi uma das poucas pessoas a reconhecer que o banco vai além da lei no que tange à ética: “Sim, porque não é só cumprir a lei. Tem algumas coisas que não tem na lei, mas que são importantes também, né. Acredito que sim.”. Ela enxerga, ainda, haver uma relação muito ética do banco com seus clientes, com a sociedade e com empregados. Ela, no entanto, enxerga o interesse do acionista como prioridade do banco, contradizendo os princípios dos Códigos de Éticas bancários, conforme visto, e que há problemas de remuneração em relação ao mercado. Ela também cai em contradição, ao afirmar que há um exagero nas metas: “(ENT: Você considera as metas do banco plausíveis, dentro de uma razoabilidade?). Eu acho que está um pouquinho demais. Teve alguns itens que aumentaram, sabe. Eu não acho que as metas são uma coisa ruim. Eu acho que é uma coisa positiva ter metas. Porque senão a gente fica no lugar e não corre atrás. Mas eu acho que na medida que você vai batendo, o negócio vai aumentando, vai aumentando, que chega uma hora, que fica uma coisa complicada de alcançar. Não é impossível não. Mas a cada dia que passa, dificulta mais.” . Ela também chama a atenção para a ausência de negros na ambiente de trabalho. Entrevistado 15 (Quadro 35) – nível gerencial, 52 anos, homem, 11 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 35: Avaliação de respostas do empregado 15 do Banco A P N I S Coerência da Categoria Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Indefinida 3 – Relação do Banco com Empregados 3 4 1 0 Negativa Categoria de Análise com os 148 4 – Relação do Banco com Clientes 2 2 3 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu considero hoje, ele tem tido essa preocupação. Agora, a gente fica dividido entre a ética e o alcance das metas. Porque é inerente ao ser humano o espírito de autopreservação. Então, você quer manter seu emprego. Então, você as vezes fica entre a ética e a venda do produto.” Fonte: Dados da pesquisa No geral, percebeu-se uma visão negativa do funcionário em relação a questões éticas do Banco, portanto, a avaliação foi incoerente ao código. O funcionário afirma haver baixa remuneração, apesar da alta lucratividade do banco, e que o banco falha eticamente, e até legalmente, com seus consumidores. Como: “Eu acho que hoje em função da lucratividade que o banco tem e o desgaste tanto emocional quanto físico, a gente poderia estar melhor remunerado.”. Ou então: “Eu acredito que a maioria hoje se sente muito pressionada e muito desgastada emocionalmente, em função do grau de exigência que o banco faz em cima da gente hoje.”. Sobre a relação com clientes: “Não. Se você for vender um produto, pelo produto em sim, nem sempre você obtém sucesso. A gente ainda tem uma cultura muito grande de levar vantagem. Tanto o cliente em relação ao banco, quanto o banco em relação ao cliente. Isso é uma cultura que está enraizada no povo brasileiro.”. Entrevistado 16 (Quadro 36) – nível operacional, 39 anos, homem, 8 anos de banco, nunca ocupou outro cargo, superior completo: Quadro 36: Avaliação de respostas do empregado 16 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 0 2 0 0 Negativa 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 1 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 1 7 0 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 1 5 1 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Indefinida “Em questão ética geral, eu considero a conduta ética regular. Ela pode caminhar para uma melhora, mais para boa, até alcançar o excelente. Mas esse caminhar aí ainda exige bastante dos dirigentes, da escala superiora, uma evolução do contexto geral da empresa. Não só da empresa no foco interno, mas também no foco externo. Eu acho que alavanca uma empresa para um conceito excelente. Podemos comparar isso com empresas internacionais que levam isso ao pé da letra, com bastante seriedade. E hoje são consideradas empresas top de linha, para quem tá dentro não quer sair e quem tá fora quer entrar.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise Considerou-se a entrevista negativa, de modo geral. Portanto, incoerente com o Código de Ética. Apesar da avaliação geral de ética ter sido intermediária, houve uma avaliação bastante 149 negativa nos demais quesitos, especialmente no que envolve o relacionamento da instituição com seus empregados, dos problemas de metas abusivas e saúde ocupacional. Houve também muitas observações negativas ao banco no que tange a seu relacionamento com clientes: “Não, também não acho não. O valor efetivo final, eu acredito que ele ainda é mascarado, precisa melhor ser trabalhada essa transparência. Na questão de realmente, estar orientando o cliente, do que se trata, como será trabalhado aquele aspecto financeiro, enfim, precisa de uma reciclagem de uma melhora em tempo recorde.”. Somente questões mais pontuais tiveram avaliação positiva. Entrevistado 17 (Quadro 37) – nível operacional, 20 anos, homem, 0,2 anos, nunca ocupou outro cargo, superior incompleto: Quadro 37: Avaliação de respostas do empregado 17 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Indefinida 3 – Relação do Banco com Empregados 5 0 2 1 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 3 4 0 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 2 0 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 2 0 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “A gente estando dentro do banco vê muita coisa que acontece lá, que você fica meio de cara, né. Eu mesmo, quando eu vou fazer algumas coisas eu fico assim: “Nó, sacanagem, né.”. Porque o banco prega muito, igual eu te falei, na teoria ele prega muita ética, muita valorização do cliente, muita transparência nas suas operações, mas na prática, isso não acontece muito, entendeu. Igual eu falei, questões de não esclarecer, detalhar muito bem para o cliente todo o processo. Sei lá, ele ensina muita cosia, igual, questão de segurança mesmo. Mas o banco ele fala, né, sempre que for abrir a agencia, a faxineira tem que lá conferir todos os lixos que ficam no aquário, para o caso de colocar arma nos lixos. E quando abre o aquário, entra o usuário pela porta giratória sem nada e depois vai lá e pega a arma, né. Eles têm um curso de segurança explicando isso, mas na minha agencia isso não acontece. O pessoal abre o aquário sem a faxineira dar uma geral. Eu já falei, isso é perigoso. Mas eles: “Isso não vai acontecer”. Mas é a questão que nem te falei, o acionista não sabe o que acontece dentro da agência.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise Na perspectiva desse empregado, o banco foi avaliado como negativo eticamente, portanto, incoerente ao Código de Ética. Apesar de uma avaliação positiva na questão da relação com empregados, remuneração e meritocracia, houve uma avaliação geral bastante negativa, além de muitas questões que ferem a ética e o direito do consumidor. Houve também muitos comentários negativos ligados a metas abusivas. 150 Entrevistado 18 (Quadro 38) – nível gerencial, 34 anos, homem, 8 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduado: Quadro 38: Avaliação de respostas do empregado 18 do Banco A P N I S Coerência da Categoria com os Códigos de Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 1 1 0 0 Indefinida 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 2 5 1 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 1 6 0 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 2 0 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Se pudesse resumir, eu falaria da seguinte forma. O banco, ele demonstra que tem uma personalidade ética. Que ele se preocupa com o cliente, se preocupa com o funcionário, enfim. Mas, as normas que regem o banco, e tudo o que ele precisa fazer para o negócio rodar, do varejo, faz com que ele entregue essa ética toda e essa moral nas mãos do funcionário. E acaba que o funcionário assume uma posição antiética. Então, assim, ele (o banco) se exime dessa responsabilidade. Então, isso ele é muito cruel. Então, ele joga o peso no funcionário. É o exemplo do título de capitalização que te falei. O banco não faria isso. É igual eu te falei. Ele te dá a ética. Só que você vai ter que bater a sua meta e você escolhe se vai ser ético ou não.” Fonte: Dados da pesquisa Categoria de Análise O funcionário teve uma avaliação bastante negativa sobre a ética do banco, muito incoerente com os princípios do Código de Ética. Além de ter feito observações importantes sobre suas experiências nesse aspecto, ele chama a atenção para algo que foi uma das principais conclusões deste estudo: de que o banco se preocupa em disseminar um conceito de ética, mas não abre mão de suas metas abusivas, de forma que o funcionário se vê obrigado a fazer as duas coisas ao mesmo tempo, mesmo que isso seja impossível. Isso foi visto como uma forma de o banco se eximir de responsabilidade por problemas legais diversos e blindar sua imagem corporativa, sem abrir mão do crescimento dos seus resultados financeiros com a mesma quantidade de empregados, ou mesmo com menos recursos, como afirmou o próprio entrevistado 18. 5.2.4.2. Análise por Funcionários: Entrevistados do Banco B As análises por funcionários do Banco B encontram-se nos Quadros 39 a 56. Elas foram feitas conforme o Banco A. Entrevistado 1 (Quadro 39) – nível gerencial, 32 anos, homem, 7,5 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduado: 151 Quadro 39: Avaliação de respostas do empregado 1 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 0 1 1 0 Negativa 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 0 7 1 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 2 4 1 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 2 0 0 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 2 0 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “De um modo geral o banco é como um vampiro, só quer sugar o Maximo que pode e manter aquele cadáver vivo ate sugar a ultima gota de sangue. (Ent: Frente a todos os públicos?). Frente a todos os públicos, cliente alta renda, baixa renda, pessoa jurídica. O banco quer vender o Maximo que pode, tirar o Maximo daquele cliente. Alguns poucos querem ajudar o cliente, mas a maioria quer so bater a meta do mês.” Fonte: Dados da pesquisa A avaliação do funcionário foi bastante negativa ao banco. Houve uma avaliação negativa de todos os quesitos, sendo a entrevista, portanto, em geral incoerente ao código. Ele considera que não há estímulo à leitura do código, além de criticar sua imposição (algo inclusive condenado pelo Instituto Ethos), diz que o Banco sequer cumpre as leis, faz severas críticas à remuneração e sistemas de promoção (que considera não meritocrático), diz haver metas abusivas, que forçam o empregado a enganar o cliente, dentre outros aspectos: “O banco se preocupa com suas metas e o que precisa pra bater as mesmas. Não se preocupa com os interesses do cliente.”. Os únicos pontos positivos da análise são o sistema de ouvidorias e a apresentação de taxas nos contratos. Salienta-se que se trata de um gerente, com mais de 7 anos de banco. Entrevistado 2 (Quadro 40) – nível operacional, 34 anos, homem, 8 anos de banco, pós graduado: Quadro 40: Avaliação de respostas do empregado 2 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 2 0 0 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 7 0 0 1 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 5 0 2 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Positiva 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 0 1 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu entendo que ele deve ter identificado que é uma coisa importantíssima para a manutenção da empresa e então corre atrás do prejuízo, eu vejo nitidamente nessa parte de treinamento, é impressionante como passou a ser tema, material corporativo sempre falando sobre, divulgaram sobre o banco ser credenciado por uma empresa internacional como uma das mais éticas. Tem se preocupado muito e já deve estar colhendo resultados.“ Fonte: Dados da pesquisa 152 O empregado fez uma avaliação bastante coerente com o Código de Ética, portanto positiva. Em todos os aspectos, com exceção da relação com a comunidade, a avaliação foi positiva. Ele considera boa a remuneração, acha que o banco é correto com seus clientes e reforçou na questão dois da categoria 2 que o banco busca ir além da lei, que isso é ser ético e que fez um treinamento a respeito: “...estão reforçando muito essa parte. Que a ética vai alem da lei.”. Apesar disso, o empregado tem claramente uma visão de que a ética ocorre por pressão, e não por princípio. Entrevistado 3 (Quadro 41) – nível gerencial, 33 anos, homem, 8 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduado. Quadro 41: Avaliação de respostas do empregado 3 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Indefinida 3 – Relação do Banco com Empregados 1 5 2 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 2 3 1 1 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 0 1 0 Positiva 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Então assim, a segmentação é uma coisa normal lá. Isso é do marketing, né? Então dentro das expectativas, tipo: quanto eu quero destinar meu tempo pra esse tipo de cliente que dá x de rentabilidade? Ele usa toda essa lógica com todos os públicos de interesse. Então assim, existem gradações. E aí eu acho que por mais esquisito que seja e por mais que o discurso institucional diga que não “que somos éticos de todas as formas e para todas as coisas”, até o discurso de ética é uma coisa estranha. Nós temos formas de tratar, e a questão ética permeia as relações, mas de forma diferenciada, cada público de interesse, talvez seja até esquisito falar assim, mas cada público de interesse merece determinada ética. É isso que eu consigo ver no banco. Então assim, pro funcionário eu peço uma coisa, mas nas práticas talvez eu faça outra. E se essas práticas não estiverem de acordo com o que eu falo ou gostaria, eu puno, mas aquilo continua a acontecer.” Fonte: Dados da pesquisa A avaliação da entrevista foi de modo geral negativa à instituição e incoerente com o código. A empregada vê um esforço do Banco em divulgar e disseminar os princípios do código de ética, mas vê diversos problemas éticos no relacionamento com empregados, principalmente quanto à saúde ocupacional e sistemas de metas abusivas. Ela também vê incompatibilidade entre o discurso e as intenções: “Isso não é gratuito, a “organização é boazinha não”, ela tem um interesse em cima. Ela vai além da lei quando se beneficia de outras formas.”. Os únicos pontos apontados como positivos são os sistemas de ouvidorias para clientes e a segurança da informação dos consumidores. 153 Entrevistado 4 (Quadro 42) – nível operacional, 39 anos, mulher, 0,5 ano de banco, nunca ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 42: Avaliação de respostas do empregado 4 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 0 1 1 0 Negativa 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 2 0 0 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 7 0 1 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 5 0 1 1 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 0 0 2 Sem avaliação 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu acho, é... . O que eu acho que talvez não seja tão bom é só a questão dessa relação com o funcionário, não pessoalmente, mas que a gente ouve muito falar. É dessa pressão mesmo, que a gente sabe que tem muita gente que as vezes tem problema de saúde, de depressão, esse tipo de coisa. Dessa pressão toda. Agora, fora isso, não sei de nada que seja contrário a isso não. “ Fonte: Dados da pesquisa Apesar da avaliação geral ter sido negativa, a entrevista de modo geral foi coerente com os princípios do Código de Ética - considerou-se a avaliação de ética geral como negativa, pois a empregada relata problemas de pressão e saúde ocupacional. A funcionária se considera bem remunerada - mas faz questão de falar que é novata (ela possui 6 meses de instituição) -, que há boas oportunidades de carreira e que o cliente é respeitado e tratado eticamente em todos os aspectos observados. Ela também considera bastante bom o plano de saúde e se sente muito bem na instituição. O ponto negativo que chamou a atenção foi a avaliação geral. Entrevistado 5 (Quadro 43) – nível operacional, 25 anos, homem, 2,5 anos de banco, nunca ocupou outros cargos, superior incompleto: Quadro 43: Avaliação de respostas do empregado 5 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 1 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 3 4 1 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 1 6 0 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 0 1 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 0 1 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu acho que, há muito a melhorar quanto a funcionários, quanto a clientes no geral. Há muitas informações omitidas, e muitos interesses ainda mitigados pelo banco. Daria nota 3 ou 4 em 10. “ Fonte: Dados da pesquisa A avaliação foi negativa em praticamente todos os aspectos, com exceção da relação com a comunidade e a categoria 1. O empregado relatou que o banco se resume a cumprir a lei, que 154 há problema de metas e que, em função delas, está havendo muito adoecimento. Ele também diz que há discriminação com clientes de menor renda e que não existe uma preocupação verdadeira do banco com a saúde financeira do consumidor. As avaliações positivas são relativas à liberdade de associação, remuneração (tendo em vista não ser ainda formado o entrevistado, conforme ele salienta), diversidade interna e sistemas de ouvidoria. Entrevistado 6 (Quadro 44) – nível operacional, 25 anos, mulher, 2,7 anos, já ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 44: Avaliação de respostas do empregado 6 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Indefinida 3 – Relação do Banco com Empregados 6 1 1 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 5 0 2 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 0 0 2 Sem respostas 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 0 1 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Positiva “O Banco B é um banco transparente, ao meu ver. Ele tem muitas reclamações, de atendimentos e tudo, mas, as vezes indevida, porque o cliente já chega na agencia nervoso. Mas o que a gente tem procurado é atender bem o público, interno, eu acho... Por enquanto eu acho que eu estou bastante bem “aprendida”, tenho bastante expectativas! Não pretendo parar! Eu gosto do banco, até quando eu entrei como estagiária!” Fonte: Dados da pesquisa A funcionária tem uma visão bastante positiva do banco e bem coerente com os princípios éticos do código. Considera sua remuneração satisfatória, ressalta o plano de saúde, salienta haver uma relação ética com clientes e que há uma preocupação com a comunidade. Chamou atenção a afirmação da empregada de que sua impressão é melhor do que a de colegas, devido ao seu pouco tempo de casa. Ela também afirma haver bastante disseminação do código de ética, mas que é difícil sua leitura no dia a dia pela falta de tempo. O ponto negativo é a afirmação de que o banco se resume a cumprir as leis. Entrevistado 7 (Quadro 45) – nível operacional, 25 anos, homem, 0,8 anos de banco, nunca ocupou outro cargo, superior completo: Quadro 45: Avaliação de respostas do empregado 7 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 0 1 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 6 0 2 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 4 0 2 1 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 0 2 0 Indefinida 155 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Positiva “Entõa assim, existe hoje uma necessidade muito grande andar na linha. Pra gente fechar tudo certo no final do semestre e ganhar suas participações nos lucros, todo mundo ganhar seus bônus, todo mundo ficar em dia. E tem também uma cultura que é a mais forte das empresas que trabalhei de ser ético, isso é falado o tempo todo, exaustivamente, tem 200 treinamentos só sobre ética que a gente tem que fazer. Então acho que o funcionário que não pensa sobre isso e não está atento a isso é porque não quer. Porque está muito disseminado, mesmo. Então acho que no final das contas a gente quer fazer o certo, né, não quer fazer o errado.” Fonte: Dados da pesquisa A avaliação do entrevistado foi também positiva ao banco, portanto, coerente com o código. Suas colocações sobre remuneração e assédio foram um pouco dúbias, por isso, optou-se por defini-las como indefinidas. Apesar disso, nos demais quesitos da relação com empregados as respostas foram positivas e o mesmo ocorreu com a questão de clientes. Ele apontou com ponto negativo o número baixo de empregados na agência, o que acaba dificultando a correta apresentação de contratos para clientes. Uma resposta também que ficou indefinida, é sobre a apresentação de taxas. Para o entrevistado, o banco apresenta corretamente as taxas, porque os clientes estão muito “espertos”, o que sugere uma ética por pressão. Entrevistado 8 (Quadro 46) – nível gerencial, 48 anos, mulher, 6 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 46: Avaliação de respostas do empregado 8 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 2 0 0 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 5 1 2 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 6 0 1 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 2 0 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Positiva “Eu acho assim, dentre a maioria das empresas do Brasil do tamanho do Banco B, eu acho que ele está numa posição bem legal. Inclusive teve um premio que a gente ganhou de ética.“ Fonte: Dados da pesquisa De todas as entrevistas, esta foi, provavelmente, a mais favorável ao Banco B. A gerente faz colocações positivas em todos os aspectos. Ela afirma que a ética do banco vai além da lei, elogia a preocupação do banco com a qualidade de vida do empregado, diz que o tratamento a empregados é adequado e que há um tratamento ético com clientes, inclusive com a correta apresentação de documentos e taxas. O ponto negativo é quanto à remuneração. Houve um apontamento também na questão de metas excessivas, mas que na visão da gerente não atrapalham a relação com o consumidor, normalmente. Quando perguntada se o banco é ético 156 com clientes, por exemplo, ela disse: “Eu acho. Tem horas que dá uma escapulida, até pela pressão das metas. Mas eu acho que na grande maioria sim.”. Entrevistado 9 (Quadro 47) – nível operacional, 23 anos, mulher, 4 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior incompleto: Quadro 47: Avaliação de respostas do empregado 9 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 1 0 0 Indefinida 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 3 5 0 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 1 5 1 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 0 0 2 Sem resposta 6 – Relação do Banco com a Comunidade 2 0 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “É falha em vários pontos. Primeiro por desconsiderar certas normas do direito do consumidor, é algo corriqueiro, que a gente vê até pela quantidade de litígios que tem nas atividades especiais, nas atividades como um todo.” Fonte: Dados da pesquisa A entrevista foi de modo geral negativa ao banco, portanto incoerente com o código. A empregada afirmou que o banco se preocupa em disseminar os conceitos do Código de Ética, mas que se resume a cumprir a lei (ela inclusive afirmou que o banco deveria ir além). Ela, além disso, mostrou-se muito negativa na questão de relacionamento com empregados. Afirmou haver baixa remuneração, problemas de assédio gerados por metas abusivas, descumprimento de leis trabalhistas, dentre outros. Os pontos positivos no relacionamento com empregados são relativos à liberdade para sindicalização e aos programas de qualidade vida fora do trabalho. Houve também uma avaliação bastante negativa na categoria de clientes, sendo mais uma vez apontado o problema de metas abusivas. Entrevistado 10 (Quadro 48) – nível gerencial, 31 anos, homem, 10 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduação: Quadro 48: Avaliação de respostas do empregado 10 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 - Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 1 1 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 2 6 0 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 1 3 3 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 2 0 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Sem resposta Não houve essa resposta, pois o restante da entrevista foi muito longo e o entrevistado precisa sair Fonte: Dados da pesquisa 157 Apesar de não ter havido uma avaliação geral ao final da entrevista, as respostas de modo geral se mostraram negativas para o banco, incoerentes eticamente. O empregado afirmou haver um sistema de metas abusivo e problemas corriqueiros de assédio. Além disso, problemas de saúde ocupacional. Ele também fez uma avaliação negativa da relação com clientes: “Para você ter uma ideia, as pessoas que fazem operação do “Programa X”, por exemplo, principalmente agencias do interior, elas coagiam as pessoas rurais a fazer título de capitalização, entendeu: “Só vou fazer pra você, se você contratar esse tipo de coisa”. Pra que fosse considerado o programa de metas da agencia.”.Chamou a atenção na entrevista seu relato sobre o software de CRM, programa de relacionamento com clientes, que aponta sempre pessoas potenciais para a concessão de empréstimos diversos, mesmo que o cliente não necessite disso. Entrevistado 11 (Quadro 49) – nível gerencial, 34 anos, homem, 10 anos de banco, já ocupou outros cargos, pós graduação: Quadro 49: Avaliação de respostas do empregado 11 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 2 0 0 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 0 1 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 3 2 3 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 5 0 2 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Positiva 6 – Relação do Banco com a Comunidade 2 0 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Indefinida “Eu acredito que não é o ideal ainda, mas existe essa preocupção. O banco passa através dos sistemas corporativos essa mensagem aos funcionários. (ENT: Você acha que é um valor da direção do banco?). É um valor que tem tomado uma proporção maior de importância de três anos pra cá. (ENT: Você acha que é mais uma motivação mercadológica e legal ou é por eles acreditarem nesse valor ético?). Eu acho que é uma junção das duas coisas.” Fonte: Dados da pesquisa De modo geral, a entrevista foi positiva ao banco eticamente, mas houve muitas restrições, principalmente pelas questões consideradas negativas ou indefinidas. Ele afirma que o banco busca ir além da lei eticamente, que há liberdade para associações a sindicatos, bons sistemas de ouvidoria e preocupação com a saúde financeira do cliente, além de um relacionamento ético com a comunidade. No entanto, ele afirma também que há problemas de metas abusivas e assédio, considera-se insatisfeito com a remuneração pelo volume de trabalho, apesar de ponderar que recebe dentro do mercado (essa avaliação foi considerada indefinida), e vê que 158 há problemas éticos no relacionamento com clientes em função de metas (incoerentemente com sua afirmação de que o banco busca a educação financeira do consumidor). Entrevistado 12 (Quadro 50) – nível gerencial, 38 anos, homem, 9 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 50: Avaliação de respostas do empregado 12 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 2 3 3 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 1 6 0 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 2 0 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Acho que com o acionista o banco tem uma conduta mais ética, mais transparente. Com os funcionários nem tanto, com os clientes menos ainda. Considerando os três principais públicos do banco. Eu acho que falta muito da ética do banco é com os clientes. Isso aí é um problema crônico de todos os bancos. Isso é do sistema bancário brasileiro de maneira geral. A tal da fidelização do cliente, no banco ela é muito mais pela questão de produto, de ter o cara amarrado em determinada operação, do que pela questão da satisfação, de deixar o cara satisfeito com o serviço e tudo.“ Fonte: Dados da pesquisa A entrevista foi negativa para o banco, portanto, normalmente incoerente com o código. O empregado diz que o banco muitas vezes não chega a cumprir a lei. Além disso, ele relata insatisfação e injustiça com a remuneração, além de problemas de metas abusivas e adoecimento. Faz também críticas ao tratamento dado a clientes, como mostra a avaliação acima. Os poucos pontos positivos apontados são relativos à liberdade de associação, diversidade e sigilo de informações dos consumidores. Assim mesmo, ele pondera que isso ocorre por causa das punições de órgãos reguladores. Entrevistado 13 (Quadro 51) – nível operacional, 34 anos, homem, 3 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior incompleto: Quadro 51: Avaliação de respostas do empregado 13 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 1 0 1 0 Positiva 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Indefinida 3 – Relação do Banco com Empregados 3 2 3 0 Indefinida 4 – Relação do Banco com Clientes 3 2 2 0 Negativa (ver conclusão) 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Indefinida “Eu acho que por se tratar de uma empresa grande e exposta à opinião pública, ela normalmente trabalha 159 acima da média pra alcançar essa questão da ética, né. Muitas delas são inviáveis. A maioria delas, grande parte delas, ela vai envolver não o banco em si, mas o seu corpo funcional apenas, a linha de frente dos funcionários. Então vai ter um choque não com o banco, mas com os funcionários. Que precisam fazer duas coisas ao mesmo tempo: arrecadar recurso, que é a função comercial do banco; e ainda tratar de forma ética o outro lado, que é o cliente. É uma coisa que é fundamental de se analisar, porque as vezes se joga no banco uma culpa que não necessariamente é dele. Voce tem os funcionários que as vezes com um treinamento maior, ou até com um investimento maior você conseguiria os dois lados. Em termos éticos e produtividade. “ Fonte: Dados da pesquisa De modo geral, julgou-se como indefinida a entrevista. O empregado relata que o banco costuma se manter abaixo da lei, pois a lei seria um ideal a ser alcançado. Além disso, ele se diz satisfeito com o salário, mas ao mesmo tempo relata haver com frequência assédio relacionado a metas abusivas e também faz muitas críticas sobre o relacionamento do banco com os clientes, afirmando haver pouca transparência e problema de metas que afetam essa relação. Inclusive, ele ressalta que os princípios de equidade são incompatíveis com o negócio, na resposta 8 da categoria 2 (ver abaixo). Os pontos positivos ficaram para as condições de trabalho, especialmente ergonômicas, liberdade de associação e sigilo de informações do cliente. Optou-se por julgar como indefinida, pois o entrevistado enxerga o banco como ético, apesar das diversas contradições de suas falas com o código do banco. Entrevistado 14 (Quadro 52) – nível operacional, 26 anos, homem, 1 ano de banco, nunca ocupou outro cargo, superior completo: Quadro 52: Avaliação de respostas do empregado 14 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 0 1 1 0 Negativa 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 0 2 0 0 Negativa 3 – Relação do Banco com Empregados 1 5 2 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 2 3 1 1 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu creio o seguinte, eu acho que a ética do banco mesmo não é levada em consideração. O que acontece na prática é o funcionário tem que ter uma ética, porque ele também está sujeito a se ele extrapolar isso, ao que é considerado como certo e errado a ter que responder por isso. Então na prática funciona dessa forma. A gente sabe até onde a gente pode ir. Só que os gerentes de um modo geral, se eles precisarem passar algum limite, eles ultrapassam sim. Isso não é deliberado que eles devam passar, mas eu acho que muitas vezes eles se veem na obrigação de ter o resultado, e as vezes pra ter esse resultado ele passa do limite sim. (ENT: Isso é comum?). Sim, absolutamente comum.” Fonte: Dados da pesquisa A entrevista foi, no geral, incoerente com o código de ética, portanto, a avaliação geral é negativa. O empregado considera que há baixa divulgação dos princípios do Código de Ética, baixa remuneração e sobrecarga de trabalho, além de problemas no sistema de promoção. Ele 160 também diz que falta ética para clientes e que não há tempo para que os consumidores leiam seus contratos no momento da assinatura. Os pontos positivos ficaram a cargo de: liberdade de associação; sigilo de informações de clientes; e sistemas de ouvidorias. Ele também cita programas sociais para a comunidade, mas não identifica nada em sua agência. Entrevistado 15 (Quadro 53) – nível operacional, 32 anos, mulher, 6 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior completo: Quadro 53: Avaliação de respostas do empregado 15 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 0 0 2 0 Indefinida 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 0 1 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 0 8 0 0 Negativa 4 – Relação do Banco com Clientes 2 3 2 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 0 1 0 1 Negativa 6 – Relação do Banco com a Comunidade 0 2 0 0 Negativa Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Inclusive a gente tem cursos internos sobre ética. A gente tem meta de cursos pra fazer, estudar um pouco sobre a ética. Evitar fraudes. Tem esses cursos, que a gente é obrigado a bater a meta e tal. Só que, ele cai numa retórica, porque a gente não pode deixar de cumprir a ética de um modo geral, porque ele coloca a ética no sentido alto da palavra. Mas quando ele manda a gente assinar um código de ética, ele é totalmente impostivo, né. Então não é construído, a ética tem que ser construída na corporação. Se a gente acha o que é certo e o que é errado na sociedade, é porque isso foi construído coletivamente. Tudo o que é ético na sociedade foi coletivo, né? Então tudo tem que ser construído e isso não foi, em momento algum. E acho que isso é a grande contradição aí, o grande problema.“ Fonte: Dados da pesquisa A empregada teceu sérias críticas à ética do banco, em todos os quesitos, com exceção da categoria 2 (ela claramente não compreendeu bem a segunda pergunta, por isso, optou-se por julgá-la como indefinida). Ela foi crítica quanto à remuneração, especialmente em função da lucratividade do banco, quanto à saúde ocupacional, quanto à questão de assédio, de metas abusivas, etc. Além disso, disse não haver preocupação do banco com seu cliente e que o empregado é induzido a ludibriar o consumidor, em nome de metas. Os únicos pontos positivos foram o sistema de ouvidoria e de sigilo de informações. Um ponto que chamou a atenção, também, foi sua percepção de que a “ética” do código é imposta, não construída coletivamente, não é uma ética discursiva, fruto de diálogo. O que põe em cheque o princípio do próprio código. Essa percepção coadunou com a do entrevistado 1. 161 Entrevistado 16 (Quadro 54) – nível operacional, 30 anos, homem, 4 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior incompleto: Quadro 54: Avaliação de respostas do empregado 16 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 0 2 0 0 Negativa 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Indefinida 3 – Relação do Banco com Empregados 3 3 1 1 Indefinida 4 – Relação do Banco com Clientes 1 6 0 0 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Acho que com o cliente é muito complicada essa conduta ética. Acho que muitas vezes os gerentes apelam, nessa conduta ética, por causa das metas apelam pra coisas anti-éticas: seguros pra vender simplesmente debitam da conta do cliente. E aí é nesse sentido que eu acho muito complicado. Mas também conheci vários gerentes que não apelavam pra isso. Agora, como funcionário, aí eu entendo que o banco, apesar de tudo, existe a pressão, mas, eu considero que o banco é ético. (você gosta do banco, né?). Eu me considero bem remunerado pelo meu nível de escolaridade. Trabalho 6 horas por dia, que é pouco. Nesse sentido eu considero o banco ético. Mas também existe um excesso de cobrança, eu não trabalho num nível gerencial, em agencias em que é pior ainda.“ Fonte: Dados da pesquisa A avaliação do empregado foi de modo geral negativa ao banco. Ele afirma que se possível o banco fará abaixo do que determina a lei, relata haver problema de jornada de trabalho irregular (algo bastante comentado em ambos os bancos), metas excessivas e problemas no mobiliário do banco e nas questões ergonômicas. Houve também muitas críticas no tratamento a clientes, relatando, inclusive, casos de corrupção, como na avaliação geral acima, ou no trecho a seguir: “O caso do mesmo gerente que eu te falei que pressionava muito o funcionário, e tal, eu já vi ele simplesmente gravando um seguro na conta de um cara.”. Os pontos positivos da entrevista são relativos à remuneração (ainda assim, o empregado fez a ressalva que é por ainda não ter curso superior), ao sigilo de informações e ao sistema de ouvidorias. Entrevistado 17 (Quadro 55) – nível operacional, 21 anos, homem, 0,5 anos de banco, nunca ocupou outros cargos, superior incompleto: Quadro 55: Avaliação de respostas do empregado 17 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 0 1 1 0 Negativa 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Indefinida 3 – Relação do Banco com Empregados 3 2 3 0 Positiva 4 – Relação do Banco com Clientes 4 2 1 0 Positiva 5 – Relação do Banco com Acionistas 1 1 0 0 Indefinida 6 – Relação do Banco com a Comunidade 1 1 0 0 Indefinida 162 Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa Acredito que o banco procura ser ético, mas ele não deixa a nenhum momento de se preocupar com os interesses particulares dele. Então, a ética vai até onde começam os interesses dele. Mas eu acredito que ele segue bem assim as leis e tal, porque se ele deixa de seguir isso, ele perde um pouco na imagem. (Mas você acha então que a ética é muito mais por questão de lei e da imagem que por princípio?). Isso. Fonte: Dados da pesquisa Considerou-se a entrevista como indefinida no que tange à coerência com o código. A avaliação geral, acima, claramente entra em conflito com o código, pois reforça um agir ético por pressão e que o banco prioriza sempre seus interesses Esse aspecto é inclusive reforçado na pergunta 2 da categoria 2: “Acho que o banco, ele assim, ele não busca muito a lei não. O que tá escrito ali é o que ele vai fazer, sabe. Até mesmo porque, se ele fizer além é mais prejuízo pra ele. (ENT: Então, o que a lei determina é o limite, pra ele?). Isso.”. Apesar disso, ele fez uma avaliação geral positiva sobre a ética com clientes e houve uma distribuição de pontos na questão de empregados. Ele se diz satisfeito pela remuneração (reforçando que é pela idade em que se encontra), que há diversidade no banco e que não sofre stress por metas, mas considera que muitos colegas não seguem o código por essa pressão. Entrevistado 18 (Quadro 56) – nível operacional, 22 anos, mulher, 4 anos de banco, já ocupou outros cargos, superior incompleto: Quadro 56: Avaliação de respostas do empregado 18 do Banco B Categoria de Análise P N I S Coerência da Categoria com a Ética 1 – Estímulo à leitura do Código 0 1 1 0 Negativa 2- Combate à Corrupção / Lei x Ética 1 1 0 0 Positiva 3 – Relação do Banco com Empregados 2 2 4 0 Indefinida 4 – Relação do Banco com Clientes 0 4 2 1 Negativa 5 – Relação do Banco com Acionistas 2 0 0 0 Positiva 6 – Relação do Banco com a Comunidade 2 0 0 0 Positiva Avaliação Ética Geral do Banco A pelo Funcionário = Negativa “Eu acho que de um modo geral os funcionários estão alinhados ao código de ética do banco. Um ponto que seria mais vulnerável, até porque é o carro chefe da empresa, é a questão dos clientes. Que muitas vezes o comportamento do funcionário não é muito ético. Mas de um modo geral os funcionários estão alinhados ao código de ética sim.“ Conclusões Gerais Fonte: Dados da pesquisa Apesar da dubiedade de avaliações da empregada, considerou-se de modo geral sua entrevista como incoerente com o código, portanto negativa para o banco. Ela claramente tentou defender a instituição de problemas éticos, mas fez vários relatos contraditórios e que põem em cheque a ética do banco com consumidores, como: “É claro que a meta do seu próximo semestre não vai ser inferior ao semestre anterior. Então, a venda casada é algo que alguns 163 gerentes utilizam para tentar atingir as metas a cada semestre.”(destaca-se que essa afirmativa, tendo em vista o restante da resposta, foi considerada indefinida). Ela faz pontuações positivas quanto ao relacionamento da instituição com empregados, principalmente sobre o plano de saúde e saúde ocupacional, mas considera haver baixa remuneração para empregados de agência e que há um problema de assédio em agências - decorrente de metas principalmente. Houve, ainda, uma resposta bastante contraditória no que tange a associação ao sindicato (questão julgada como indefinida). 5.3 – Conclusões da Etapa Qualitativa de Pesquisa As avaliações mostraram-se no geral negativas, tanto para o Banco A como para o Banco B. Na maior parte dos quesitos analisados, tanto separadamente por questão, como por empregado, houve uma avaliação negativa, dando-se ênfase, nos dois casos, para à questão de metas abusivas como a causa principal para a maior parte dos problemas apontados, como: falta de ética com consumidores, doença ocupacional, assédio, etc. Destaca-se, contudo, que houve aspectos avaliados como positivos, como: o sistema de sigilo de informações de clientes; os aspectos ergonômicos das agências; o estímulo à leitura do Código de Ética; a liberdade à associação a sindicatos e entidades de classes (com algumas ressalvas neste caso). Nas avaliações positivas, apesar disso, os empregados com frequência estabeleceram uma relação entre a ética da instituição com uma necessidade mercadológica ou legal, o que entra em conflito com os princípios do código de ética, reforçando a ideia de que a responsabilidade social dessas instituições acontece muito mais num nível discursivo do que prático. Destacase que as avaliações feitas por categorias, ou o Tipo I de Análise, foram mais negativas do que as realizadas separadamente por empregados, ou o Tipo II de Análise – mas lembrando que ambas foram claramente mais negativas do que positivas, de forma que uma reforça a outra. Seguem abaixo as conclusões por etapas em detalhamentos. Dessa forma, concluiu-se que os resultados das entrevistas aproximam-se muito mais da vertente crítica da RSC (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013), portanto, daquela que, além de estabelecer uma desconexão entre discurso e prática socialmente responsável – algo comum também à vertente positiva (CHRISTENSEN et al., 2013; PORTER et al., 2011; HUNT, 2011; ACHROL E KOTLER, 2012; WEBSTER E LUSCH, 2013; SCHLEGELMILCH E OBERSEDER, 2010; WILKIE E MOORE, 2012) -, não 164 enxerga a possibilidade de efetivação da Responsabilidade Social Corporativa, tendo em vista que seus princípios entram em conflito com as práticas diárias das organizações privadas e com seus fins. 5.3.1 - Conclusões do Tipo I de Análise A avaliação por categoria de análise foi, assim como a realizada separadamente por funcionários (a seguir), negativa ao Banco A. Das 7 categorias avaliadas, apenas a apresentação do código foi positiva. Ou seja, ficou bastante claro que o Banco se preocupa em apresentar e reforçar internamente os princípios do Código de Ética. Os pontos centrais apontados como causadores dessas avaliações negativas, especialmente por empregados em níveis gerenciais e mais velhos, foram: metas excessivas ou abusivas; assédio em função de metas; baixa remuneração frente à carga de trabalho; problemas ligados a stress e saúde ocupacional (gerados por metas); pouca transparência no relacionamento com clientes (ocasionada por metas). Houve também alguns pontos considerados positivos dentro das categorias, como: o sigilo de informações de consumidores; a liberdade para associação com sindicatos (alguns funcionários, apesar disso, apontaram que há liberdade para a associação, mas não para o exercício das atividades sindicais); o plano de saúde e condições ergonômicas nas agências; políticas e tecnologias de combate à corrupção (neste caso também, ao longo das entrevistas constatou-se que há fortes divergências, principalmente na conivência da instituição com ações antiéticas com clientes); e políticas de ascensão profissional. As avaliações gerais por categorias, além disso, mostraram que na visão dos entrevistados o Banco A não busca ir além do que estipula a lei, o que põe em cheque a ideia de um princípio socialmente responsável, portanto ético, como sugere seu código de ética. Os empregados também mostraram que os interesses de acionistas sobrepõem na sua perspectiva os dos demais públicos, o que também entra em conflito com o código e consequentemente com os princípios que sustentam a RSC e os conceitos de marketing ligados a essa ideologia. Somente a avaliação de relacionamento com a comunidade foi indefinida, pois apesar de os funcionários apontarem que o Banco A é socialmente responsável com esse público, eles disseram não haver ações nos locais onde trabalham, de modo geral. Pelas respostas dadas, parece que essa ideia é reforçada pelas campanhas de comunicação do banco, mas não pela ação prática dos funcionários. 165 A Categoria 7, de avaliação geral da ética do Banco A, foi também negativa. Das 17 respostas (um dos entrevistados não respondeu a essa questão), houve 8 claramente negativas, 5 positivas e 4 indefinidas. O problema de metas abusivas e saúde ocupacional foram os principais nessa questão (que é melhor destrinchada no Tipo II de Análise). Assim como a avaliação feita separadamente por empregados, portanto, o Tipo I de Análise mostrou uma percepção de empregados do Banco A normalmente desconexa dos princípios do Código de Ética da organização. Isso implica dizer que não se pode julgar o banco como ético, e, consequentemente, como socialmente responsável, de acordo com a perspectiva dos empregados pesquisados, tendo em vista os próprios parâmetros éticos que o banco se autoimpõem. Já as avaliações por categorias do Banco B mostraram-se também negativa à instituição, portanto, no geral, incompatíveis com o código de ética. No caso do Banco B, a avaliação foi bastante mais negativa que no Banco A no aspecto de relacionamento com clientes. Acreditase que isso possa ser fruto da estabilidade no emprego que os funcionários do Banco B possuem, o que lhes confere uma segurança maior para dizer o que acontece com mais franqueza nesse aspecto, e também a impossibilidade que o Banco B tem, devido ao sistema de contratação via concurso público, de selecionar empregados com perfis comportamentais e demográficos mais adequados ao serviço bancário, especialmente às demandas comerciais do setor. Das 7 categorias, 5 foram consideradas negativas. Apenas as categorias 1, sobre a publicidade do Código de Ética no Banco, e a de relacionamento com a comunidade foram positivas. Assim mesmo, como algumas ressalvas, conforme detalhes adiante. A avaliação da categoria 1 mostrou que os empregados do Banco B entrevistados têm menos ciência do código de ética, mas que há bons mecanismos internos de disseminação dos princípios e valores desse documento. Esse aspecto divergiu do Banco A, onde a maioria dos funcionários entrevistados afirmaram conhecer bem o código. Na categoria 2, assim como houve no Banco A, os empregados relataram haver mecanismos eficientes de combate à corrupção, tanto normativos quanto tecnológicos. Apesar disso, a maior parte afirmou que o banco se resume a cumprir a lei, ou nem isso, na sua prática cotidiana. Interessante observar que a proporção de respostas positivas e negativas a essa questão foi idêntica ao Banco A, sendo ambas prevalecendo numa proporção de 3 para 1 uma avaliação negativa (12 negativas contra 4 positivas). Esse aspecto é importante, pois mostra que na percepção da maioria dos entrevistados, 3/4, as instituições não vão além do que determina a lei (diferentemente dos princípios que regem um Código de Ética). 166 Os empregados do Banco B também fizeram uma avaliação, de modo geral, negativa do relacionamento da instituição com seus empregados, da Categoria 3, assim como houve no Banco A. Houve problemas na avaliação de remuneração (apesar desta questão ter sido melhor que no Banco A), na questão de assédio e na questão de saúde ocupacional. Todos esses problemas foram relacionados à questão de metas, consideradas abusivas. Foi apontado também haver problema no sistema de ascensão profissional, que foi sugerido como pouco meritocrático (diferentemente do Banco A). Os pontos positivos foram a liberdade de associação sindical e a diversidade, assim mesmo com as ressalvas já apontadas. De um modo geral, as avaliações dessa categoria mostraram-se menos negativas que no Banco A, e isso pode ter relação também com o vínculo profissional dos empregados com a instituição. Na categoria relativa ao relacionamento do banco com clientes, as avaliações foram bastante negativas no Banco B de um modo geral (em nível bem acima do Banco A, que também foram negativas). A maior parte dos empregados afirmou que o banco é antiético com seus consumidores normalmente, não lhes apresentando de maneira adequada as condições contratuais e de cobranças, e também que não percebem o consumidor do Banco B como satisfeito com a instituição. Além disso, que não há em geral incentivo para que o cliente mantenha uma boa saúde financeira. Houve também associação direta dos problemas com a questão de metas. Um ponto importante foi o destaque dado à diferenciação negativa de tratamento a clientes de baixa renda. Os pontos positivos, assim como no Banco A, foram os sistemas de controle de informações e de ouvidorias e reclamações. Os empregados do Banco B apontaram também que os interesses do acionista, ou dos acionistas, são prioridade na instituição, o que também contraria o código. Complementando que há bons mecanismos de governança corporativa e transparência para esse público (compatível com o Banco A). Os empregados do Banco B fizeram também uma avaliação negativa da Categoria 6, do relacionamento com a comunidade. Eles apontaram que o banco faz mais ações de cunho promocional que efetivas no que tange à RSC. Apesar disso, a maioria conseguiu apontar ações específicas para a comunidade do seu local de trabalho, diferentemente dos empregados do Banco A, que em contrapartida consideram o banco socialmente responsável, mas não conseguiram na maior parte das vezes apontar ações específicas da instituição nas comunidades onde trabalham (provavelmente, isso acontece por ter mecanismos mais eficientes de comunicação interna, no sentido de disseminar as ações que pratica). 167 Por fim, a avaliação ética geral do Banco B, a Categoria 7, foi bastante negativa, tendo quase 2/3 dos empregados afirmado haver falta de ética normalmente no relacionamento do banco com seus públicos. Essa categoria foi mais negativa que no Banco A, que também foi negativa. As conclusões sobre a Categoria 7 são mais detalhadas nas análises de Tipo II. 5.3.2 Conclusões do Tipo II de Análise No total de entrevistas, considerou-se que 5 são favoráveis ao Banco A, portanto, coerentes de um modo geral com o código, 10 desfavoráveis e 3 indefinidas. De modo geral, houve grande queixa por metas abusivas ou excessivas, apontadas por pelo menos 15 entrevistados (inclusive alguns fizeram avaliações positivas no geral), e descumprimento de questões trabalhistas. Além disso, percebeu-se, algo que fica bastante claro nas Análises de Tipo I, que muitos funcionários enxergam o Banco A como ético, mas os empregados como antiéticos nas práticas diárias, e isso tem relação direta com o sistema de metas (algo salientado na conclusão do empregado 18). Um ponto que chama a atenção é que mesmo em entrevistas consideradas como favoráveis ao Banco A, há funcionários que percebem que todas as ações se resumem ao cumprimento da lei, ou, então, que a ética acontece em função de pressão externa, e não por princípio da direção do banco. Isso fica claro na perspectiva do Entrevistado 1 e pode ser facilmente observado nas análises por categorias, especialmente as análises da categoria 2. Outro aspecto importante dessa análise é que os gerentes mostraram-se mais críticos aos padrões éticos do Banco que os empregados em nível operacional. De acordo com a avaliação, houve 7 gerentes que fizeram, no geral, uma avaliação negativa ao Banco A, portanto, incoerente com os princípios dos códigos de ética, ante dois com avaliação positiva e dois indefinidas. Já entre os empregados de nível operacional, dos 7 houve três avaliações positivas, três negativas e uma indefinida. Chamou a atenção nas comparações das entrevistas do Banco A em relação ao Banco B, porque os funcionários ao longo das entrevistas caíram muito mais em contradições. Conforme as análises da Categoria 7, de avaliação ética geral do banco, os empregados mostraram que o problema de metas é sério na instituição. As entrevistas dos empregados do Banco B analisadas separadamente mostraram-se também, no geral, incompatíveis com os princípios do Código do Ética do banco. Das 18 entrevistas, 11 foram negativas, 5 positivas e 2 indefinidas. De um modo geral, as avaliações dos empregados do Banco B aproximam-se do Banco A, apesar de algumas divergências. Assim 168 como houve no Banco A, as avaliações de empregados em níveis gerenciais foram em geral negativas. Dos 6 entrevistados em cargos gerenciais e estratégicos, 4 fizeram mais observações contrárias que favoráveis aos princípios do código de ética, contra 2 que fizeram observações mais positivas (no caso dos entrevistados 1, 3 e 12, foram bastante negativas as respostas). Apesar disso, os empregados do Banco B em nível operacional, que neste caso representaram a maioria (diferentemente do Banco A), mostraram-se mais críticos que os do primeiro banco, uma vez que dos 12 entrevistados 7 fizeram uma avaliação incoerente com o código de ética (portanto negativa), 4 coerente e 2 não foi possível definir. Isso provavelmente tem relação com o vínculo empregatício desse segundo grupo, que é mais estável por serem concursados (apesar de ambos trabalharem em regime de CLT), assim como à impossibilidade do Banco B de selecionar empregados por perfis comportamentais e de personalidade mais adequados à atividade bancária. Destaca-se também que, assim como houve no Banco A, no Banco B o menor tempo de instituição tende a gerar impressões mais positivas sobre o banco. Dentre os pontos negativos ressaltados no Banco B, houve, principalmente, queixa quanto ao sistema de metas. Inclusive nas entrevistas julgadas positivas, esse problema de alguma forma, em maior ou menor grau, apareceu. Outro ponto importante é que a maioria considera o banco antiético com consumidores, pois a esses não apresentam com clareza, especialmente aos de baixa renda, as condições contratuais e de cobranças que lhes são impostas. Chamou a atenção também que todos relatam problemas de metas, em maior ou menor grau, e entre aqueles que tiveram uma avaliação geral positiva do Banco, somente 1 não associou o agir ético a uma obrigação legal ou mercadológica do banco. Salienta-se que, em média, os empregados em nível operacional do Banco A têm 29,8 anos contra 28 do Banco B. Verificou-se também que há claramente uma visão mais positiva do Banco daqueles empregados que já não estão mais em agência e lidam diretamente com o varejo, portanto com o atendimento ao público. Esses empregados costumam não ter metas associadas a atividades comerciais. As conclusões do Tipo II de Análise, portanto, assemelham-se ao Tipo I. 169 6. ETAPA QUANTITATIVA DE PESQUISA: PERCEPÇÃO DE CONSUMIDORES E MODELO TEÓRICO DE ANÁLISE 6.1. Metodologia da Etapa Quantitativa de Pesquisa Pretendeu-se com esta etapa de pesquisa verificar como os consumidores dos Bancos A e B os percebem no que tange a aspectos socialmente responsáveis e, consequentemente, éticos, assim como a satisfação e lealdade que têm com essas instituições. Pretendeu-se com isso verificar a coerência ou não da percepção dos clientes com o divulgado pelas instituições, assim como com a regulamentação do Banco Central (BACEN, 2013). Buscou-se, além disso, elaborar um modelo teórico e gerencial que auxilie acadêmicos e profissionais de marketing a investigarem futuramente esses aspectos em instituições bancárias brasileiras, assim como as relações existentes entre essas percepções. Trata-se, portanto, de um modelo de análise de percepções e de avaliação preditiva sobre essas questões. Para identificar tais aspectos, houve a aplicação de um survey (FOWLER JR, 1986), por meio de questionários estruturados, com base em métodos de estatísticas multivariadas (HAIR, 2005; MALHOTRA, 2001) e análises realizadas por meio da metodologia PLS (HAIR, 2014) – ambos serão melhor explicados adiante. Tratou-se, portanto, de uma pesquisa de cunho quantitativo (GIL, 2004; LAVILLE, 2007) e de natureza descritiva (MALHOTRA, 2001). A seguir, são especificados os detalhes sobre os procedimentos de amostragem, coleta, elaboração do instrumento de pesquisa e escolhas de métodos de análises. 6.1.1. Métodos de Análise e Justificativa Optou-se para as análises desta etapa, além do uso de estatísticas descritivas básicas para avaliar os dados demográficos e percepção dos públicos, proceder metodologias de estatísticas multivariadas e equações estruturais para as análises de consistência do modelo e do instrumento de pesquisa, assim como da coleta em si (HAIR, 2005). Os métodos de estatística multivariada servem para elaborar estatísticas a partir de questões multivariadas, de forma a combinar simultaneamente variáveis inter-relacionadas. Salienta-se que estatísticas dessa natureza permitem combinar simultaneamente parâmetros que são observados 170 separadamente. São, portanto, uma combinação de técnicas estatísticas que permitem tais leituras: Não é fácil definir análise multivariada. De um modo geral, ela refere-se a todos os métodos estatísticos que simultaneamente analisam múltiplas medidas sobre cada indivíduo ou objeto sob investigação. Qualquer análise simlutânea de mais de duas variáveis de certo modo pode ser considerada análise multivariada. Assim, muitas técnicas multivariadas são extensões da análise univariada (análise de distribuições de uma única variável) e da análise bivariada (classificação cruzada, correlação, análise de variância e regressão simples usada para analisar duas variáveis). Por exemplo, regressão simples (com uma variável preditora) é estendida no caso multivariado pra incluir várias variáveis preditoras. Do mesmo modo, a variável dependente isolada encontrada na análise de variância é estendida de forma a incluir múltiplas variáveis dependentes em análise multivariada de variância. Em muitos casos, técnicas multivariadas são um meio de executar em uma única análise aquilo que antes exigia múltiplas análises usando técnicas univariadas (HAIR, 2005, p. 26). Uma das vantagens da estatística multivariada é averiguar com mais acuidade variáveis de pesquisa sob suas várias esferas. Isso significa que ela possibilita olhar para um mesmo objeto sob diversas perspectivas, considerando, ou ponderando na análise, várias variáveis que compõem ou influem sobre esse objeto. A isso, dá-se o nome de construto. Outra vantagem é estabelecer relações de causa e efeito entre construtos, a fim de se verificar hipóteses de pesquisa. Ambas as situações foram executadas nesta Tese. Neste estudo, portanto, foram elaborados testes de análise fatorial exploratória e confirmatória, de equações estruturais (HAIR, 2014). Análise fatorial é um termo genérico que se refere a um conjunto de técnicas estatísticas que busca determinar a estrutura subjacente a um conjunto de dados. No caso desta tese, ela se refere a um conjunto de técnicas que buscou avaliar a consistência do instrumento de pesquisa, assim como a qualidade dos construtos elaborados, para medir as percepções dos públicos (essas técnicas são explicitadas adiante). Houve aqui também a elaboração de um modelo teórico e gerencial de análise, que buscou verificar relações entre os construtos gerados, e isso se deu por meio de técnicas de equações estruturais. Mais especificamente, utilizou-se um conjunto de técnicas denominadas PLSSEM, ou PARTIAL LEAST SQUARE – STRUCTURAL EQUATION MODELING. Destaca-se que o PLS-SEM é um conjunto de técnicas de estatística multivariada e modelagens de equações estruturais muito utilizadas atualmente. Por meio de softwares e combinadas elas servem ao propósito de atender a acadêmicos e profissionais das áreas das ciências sociais que não têm formação específica em estatística, especialmente da Administração (HAIR, 2014), mas que desejam trabalhar em nível avançado em termos 171 estatísticos para seus empreendimentos de pesquisa e encontrar modelos teóricos consistentes de explicação e previsão de fenômenos. Esse conjunto de métodos é usado para a confirmação de teorias ou de relações entre variáveis agrupadas (construtos). Serve, portanto, a pesquisas de cunho confirmatório. As técnicas de PLS-SEM, segundo Hair (2014), encontram-se na segunda geração de técnicas de modelagem de equações estruturais e incorporam às primeiras técnicas a possibilidade de observar relações não previstas e variáveis latentes (não previstas) coletadas, assim como facilitam a contagem de erros de mensuração observados. Ou, ainda, conforme observação de Vinzi et al. (2010, p. 2): Generally speaking, PLS-PM is a statistical approach for modeling complexmultivariable relationships among observed and latent variables. In the past few years, this approach has been enjoying increasing popularity in several sciences. Structural Equation Models include a number of statistical methodologies allowing the estimation of a causal theoretical network of relationships linking latent complex concepts, each measured by means of a number of observable indicators. Existem dois tipos de modelagens de equações estruturais, a que se realiza por meio de análises de covariância e aquelas se dão por meio das análises de variância, onde se encontra o PLS-SEM (também chamada de modelo de caminho do PLS). Além disso, que o PLS-SEM é mais recomendado para a análise de teorias exploratórias, ou nunca testadas, como é o caso desta tese (HAIR, 2014). Apesar dessas colocações, Hair (2014) observa que não há uma explicação absoluta para esse conjunto de técnicas. Salienta-se, ainda, que esses métodos têm sido bastante empregados no campo do marketing por uma série de motivos: encontrar variáveis latentes; a praticidade do modelo de caminhos; a possibilidade de trabalhar com amostras menores que os modelos tradicionais de modelagens de equações estruturais; pode prever e formular modelos muito complexos com variáveis latentes e manifestas; tem pressupostos menos rigorosos de distribuição de variáveis e erros; consegue lidar com modelos de mensuração tanto reflexivos, quanto formativos (HENSELER et al., 2009). The characteristics of PLS path modeling, which researchers regard as relevant for their studies on international marketing, can be summarized as follows: PLS delivers latent variable scores, i.e. proxies of the constructs, which are measured by one or several indicators (manifest variables); PLS path modeling avoids small sample size problems and can therefore be applied in some situations when other methods cannot; PLS path modeling can estimate very complex models with many latent and manifest variables; PLS path modeling has less stringent assumptions about the distribution of variables and error terms; PLS can handle both reflective and formative measurement models. (HENSELER ET AL, 2009, p. 283) 172 Para as análises desta tese, foram utilizados os softwares: SPSS para as análises exploratórias e o Smart PLS para as confirmatórias. 6.1.2. Instrumento de Pesquisa Por não terem sido encontrados modelos de avaliação de marketing ou de RSC que se adequassem a este estudo e suas especificidades, especialmente no que tange a aspectos próprios da relação de bancos com seus consumidores, criou-se um modelo de referência para o instrumento de pesquisa, que foi estruturado (MALHOTRA, 2001). Salienta-se que o modelo baseou-se em métodos de estatística multivariada, especialmente a análise fatorial exploratória e confirmatória (HAIR, 2005). Objetivava-se aqui avaliar como os consumidores dos bancos os percebem no que tange a aspectos éticos e socialmente responsáveis, assim como as percepções de satisfação e lealdade ao banco. Em seguida, que pudessem ser relacionados os primeiros aspectos aos segundos. Tendo em vista não ter sido encontrado um modelo específico, buscaram-se então referências teóricas para a elaboração do instrumento de pesquisa. Em função disso, foi gerado um modelo de análise que mistura construtos oriundos da literatura, assim como os elaborados para esta tese. Todos os construtos foram feitos com base em afirmações do tipo likert (MALHOTRA, 2001), numa escala intervalar que ia de 0 a 10. Verificar a percepção ética e socialmente responsável, especificamente de bancos brasileiros, foi um dificultador para esta tese. Vale lembrar, conforme análises das referências bibliográficas, que a responsabilidade social corporativa está intimamente ligada a conceitos da ética, mas que esta é de difícil determinação em um meio social. A ética é um conceito amplo e que pode variar de interpretações e noções, conforme o contexto em questão. Há de se ressaltar, contudo, que existem normas sociais, normalmente ligadas a parâmetros éticos de justiça, que costumam regular as relações humanas nas sociedades, especialmente sociedades democráticas de estados de direito. No Brasil, existe um parâmetro dessa natureza para regular a atividade bancária frente a seu público consumidor: o “Código de Defesa de Consumidor Bancário” (BACEM, 2011), também conhecido por “Resolução N. 002878, de 26.07.2001”. Trata-se de uma resolução que determina os limites na relação de bancos e clientes, apesar de serem também citados outros públicos: 173 Dispõe sobre procedimentos a serem observados pelas instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil na contratação de operações e na prestação de serviços aos clientes e ao público em geral (BACEM, 2011). Essa resolução traz uma série de artigos e tópicos que determinam, detalhadamente, como o banco deve se pautar frente a seu público consumidor, levando em conta: questões contratuais, como clareza na linguagem, transparência e objetividade; atendimento na agência, levando em consideração a agilidade, cortesia e respeito, inclusive a públicos prioritários; ética na comunicação corporativa, especialmente propagandas e anúncios de natureza corporativa; vendas casadas, proibindo as instituições bancárias dessa prática; aspectos éticos gerais; dentre outros. Tendo em vista serem muitos os artigos na resolução, 22 no total, o autor desta tese optou, por motivo de parcimônia, escolher aqueles que mais se adequavam aos objetivos deste estudo para elaborar os construtos exógenos que compõem o modelo. Dessa forma, foram escolhidos os seguintes artigos (QUADRO 57) e elaborados os seguintes construtos a partir deles: Quadro 57: Referências do Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2011) para os construtos exógenos Artigo Texto do Tópico que gerou o construto Construto Gerado, com respectivas Referência afirmativas do tipo Likert Tópico I INFOCON: Artigo I – Transparê ncia I - transparência nas relações contratuais, preservando os 1) O Banco X oferece total transparência em seus contratos. clientes e o público usuário de práticas não eqüitativas, mediante 2) Os contratos firmados entre o Banco X e seus clientes são de fácil compreensão. prévio e integral conhecimento das cláusulas contratuais, evidenciando, inclusive, os dispositivos que imputem responsabilidades e penalidades; II - resposta tempestiva às consultas, às reclamações e aos pedidos de informações formulados por clientes e 3) O cliente do Banco X é incentivado a ler e compreender os contratos de crédito que serão firmados com o banco. 4) Os contratos do Banco X preservam os clientes de práticas injustas. 5) Os contratos do Banco X preservam os clientes de práticas anti éticas. RESPCON: 6) O Banco X responde às dúvidas e reclamações de clientes em 174 público usuário, de tempo satisfatório. modo a sanar, com brevidade e eficiência, dúvidas relativas aos serviços prestados e/ou oferecidos, bem como às operações contratadas,ou decorrentes de publicidade transmitida por meio de quaisquer veículos institucionais de divulgação, envolvendo, em especial: a) cláusulas e condições contratuais; b) características operacionais; c) divergências na execução dos serviços; 7) O Banco X responde às dúvidas e reclamações de forma clara. III - clareza e formato que permitam fácil leitura dos contratos celebrados com clientes, contendo identificação de prazos, valores negociados, taxas de juros, de mora e de administração, comissão de permanência, encargos moratórios, multas por inadimplemento e demais condições; LINGCON: 8) O Banco X esclarece bem as dúvidas de clientes referentes a cláusulas e condições contratuais. 9) O Banco X esclarece bem dúvidas sobre serviços prestados. 10) A linguagem utilizada nos contratos do Banco X permite fácil compreensão pelo consumidor. 11) Os contratos do Banco X especificam com clareza os prazos e valores negociados nos serviços bancários. 12) As taxas de juros e de administração dos contratos são apresentadas com clareza pelo Banco X. Art II – Contatos para Reclamaç ões As instituições referidas no art. 1. devem colocar disposição dos clientes, em suas dependências e nas dependências dos estabelecimentos onde seus produtos forem negociados, em local e formato visíveis: I - informações que assegurem total conhecimento acerca das situações que possam implicar recusa na recepção de documentos (cheques, bloquetos de cobrança, fichas de compensação e outros) ou na realização de pagamentos, na forma da legislação em vigor; II - o número do telefone da Central de Atendimento ao Público do Banco Central do Brasil, acompanhado da observação de que o mesmo se destina ao atendimento a denúncias e reclamações, além do número do telefone relativo a serviço de mesma natureza, se por elas oferecido; Art V – Publicidad e Bancária E vedada às instituições referidas no art. 1. a utilização de publicidade enganosa ou abusiva. 13) As multas e penalidades dos contratos são apresentadas com clareza pelo Banco X. CONTREC: 14) É fácil encontrar nas dependências do Banco X telefones e e-mails de contato para o esclarecimento de dúvidas. 15) É fácil encontrar no site do Banco X telefones e e-mails de contato para o esclarecimento de dúvidas. 16) È fácil encontrar nas dependências do Banco X o telefone do Banco Central do Brasil, para denúncias e reclamações de serviços prestados. 17) É fácil encontrar no site do Banco X o telefone do Banco Central do Brasil, para denúncias e reclamações de serviços prestados. PUBLICIDADE: 18) As propagandas do Banco X 175 Parágrafo único. Para os efeitos do disposto no caput: são transparentes. I - é enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação capaz de induzir a erro o cliente ou o usuário, a respeito da natureza, características, riscos, taxas, comissões, tarifas ou qualquer outra forma de remuneração, prazos, tributação e quaisquer outros dados referentes a contratos, operações ou serviços oferecidos ou prestados. 19) As propagandas do Banco X respeitam o consumidor. II - é abusiva, dentre outras, a publicidade que contenha discriminação de qualquer natureza, que prejudique a concorrência ou que caracterize imposição ou coerção. Art VIII – Clareza de Informaçõ es de Serviços As instituições referidas no art. 1. devem utilizar terminologia que possibilite, de forma clara e inequívoca, a identificação e o entendimento das operações realizadas, evidenciando valor, data, local e natureza, especialmente nos seguintes casos: 20) A publicidade do Banco X não induz o cliente ao erro. 21) As taxas e juros de serviços bancários são mostradas com clareza na publicidade do Banco X. 22) As propagandas do Banco X não são enganosas ou abusivas com o consumidor. CLARINFO: 23) E fácil entender os demonstrativos de movimentações financeiras, com datas e valores, do Banco X. I - tabelas de tarifas de serviços; II - contratos referentes a suas operações com clientes; Art IX – Instalaçõe sa Prioritário s III - informativos e demonstrativos de movimentação de conta de depósitos de qualquer natureza, inclusive aqueles fornecidos por meio de equipamentos eletrônicos. 9. As instituições referidas no art. 1. devem estabelecer em suas dependências alternativas técnicas, físicas ou especiais que garantam: I - atendimento prioritário para pessoas portadoras de deficiência física ou com mobilidade reduzida, temporária ou definitiva, idosos, com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos, gestantes, lactantes e pessoas acompanhadas por criança de colo; II - facilidade de acesso para pessoas portadoras de deficiência física ou com mobilidade reduzida, temporária ou definitiva, observado o sistema de segurança previsto na legislação e regulamentação em vigor; Art XV – Atendime nto nas Agências As instituições referidas no art. 1. é vedado negar ou restringir, aos clientes e ao publico usuário, atendimento pelos meios convencionais, inclusive guichês de caixa, mesmo na hipótese de atendimento alternativo ou eletrônico. 24) O Banco X apresenta com clareza tabelas de tarifas de serviços. INSPRIO 25) As agências do Banco X possuem instalações adequadas para o atendimento a idosos, deficientes físicos, gestantes e pessoas acompanhadas de crianças de colo. 26) As instalações do Banco X possuem senhas exclusivas para idosos, deficientes físicos, gestantes e pessoas acompanhadas de crianças de colo 27) As instalações do Banco X possuem assentos adequados nas filas para idosos, deficientes físicos e gestantes e pessoas acompanhadas de crianças de colo. AGENCIA: 28) E fácil fazer qualquer serviço do Banco X nas agências físicas. Parágrafo 1. O disposto no caput não se aplica as 176 dependências exclusivamente eletrônicas. Art XVII – Vendas Casadas Art XVIII – Ética com o Consumid or Bancário Parágrafo 2. A prestação de serviços por meios alternativos aos convencionais é prerrogativa das instituições referidas no caput,cabendo-lhes adotar as medidas que preservem a integridade, a confiabilidade, a segurança e o sigilo das transações realizadas, assim como a legitimidade dos serviços prestados, em face dos direitos dos clientes e dos usuários, devendo, quando for o caso, informá-los dos riscos existentes. Art. 17. É vedada a contratação de quaisquer operações condicionadas ou vinculadas a realização de outras operações ou a aquisição de outros bens e serviços. Parágrafo 1. A vedação de que trata o caput aplica-se, adicionalmente, as promoções e ao oferecimento de produtos e serviços ou a quaisquer outras situações que impliquem elevação artificiosa do preço ou das taxas de juros incidentes sobre a operação de interesse do cliente. Art. 18. Fica vedado às instituições referidas no art. 1.: I - transferir automaticamente os recursos de conta de depósitos à vista e de conta de depósitos de poupança para qualquer modalidade de investimento, bem como realizar qualquer outra operação ou prestação de serviço sem prévia autorização do cliente ou do usuário, salvo em decorrência de ajustes anteriores entre as partes; II - prevalecer-se, em razão de idade, saúde, conhecimento, condição social ou econômica do cliente ou do usuário, para impor-lhe contrato, cláusula contratual, operação ou prestação de serviço; III - elevar, sem justa causa, o valor das taxas, tarifas, comissões ou qualquer outra forma de remuneração de operações ou serviços ou cobrá-las em valor superior ao estabelecido na regulamentação e legislação vigentes; IV - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido; V - deixar de estipular prazo para o cumprimento de suas obrigações ou deixar a fixação do termo inicial a seu exclusivo critério; 29) O atendimento convencional do Banco X (realizado por uma pessoa) é ágil e atende as necessidades dos clientes. 30) O Banco X informa adequadamente os riscos existentes no uso caixas eletrônicos. VENDASCAS: 31) O Banco X não realiza vendas casadas. 32) O Banco X não eleva taxas e juros quando oferece promoções de produtos e serviços. ETICACON: 33) O Banco X só realiza movimentações financeiras do cliente com a prévia autorização deste. 34) O Banco X não eleva sem justificativa taxas, tarifas, comissões ou qualquer outra forma de remuneração de operações ou serviços. 35) O Banco X somente eleva suas taxas, tarifas e comissões dentro das leis vigentes. 36) O Banco X não expõe o cliente a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça quando da cobrança de dívidas. VI - rescindir, suspender ou cancelar contrato, operação ou serviço, ou executar garantia fora das hipóteses legais ou contratualmente previstas; 177 VII - expor, na cobrança da dívida, o cliente ou o usuário a qualquer tipo de constrangimento ou de ameaça. Fonte: Dados da pesquisa e Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2011). Além desses, foram ainda acrescentados os construtos: de Ética Geral, que avaliou a percepção geral do público sobre a ética do Banco e teve por base o estudo de Maignan (2001), que utilizou o modelo teórico de Carrol (1991) de Responsabilidade Social Corporativa; o construto de Satisfação com os serviços Bancários, baseado no modelo de Oliver (1997); e o construto de Lealdade Bancária, baseado no modelo de Pizzuti (2001). Salienta-se que o construto de Ética Geral, também denominado ETICAGERAL, serviu de mediação do modelo, conforme Imagem X. Houve, ainda, um construto moderador elaborado pelo autor desta tese, com intuito de averiguar se a facilidade de crédito afetava a relação existente entre a percepção de ética e satisfação e lealdade. Esse construto foi denominado FACILCRED. As afirmativas norteadoras para cada um desses outros 4 construtos está no Quadro 58, a seguir: Quadro 58: Demais construtos do Modelo e Respectivas Perguntas CONSTRUTO Variável 37) O Banco X atua de forma justa com seu cliente mesmo que isso prejudique seu desempenho econômico. Ética Geral do Banco 38) O Banco X garante que o respeito a princípios éticos tenham prioridade sobre o desempenho econômico. Abreviação: 39) O Banco X é comprometido com princípios éticos bem definidos. ETICAGERAL 40) O Banco X evita comprometer padrões éticos para alcançar seus objetivos financeiros e produtivos. 41) O Banco X é o melhor banco que eu posso utilizar. 42) O Banco X é exatamente o que eu preciso. 43) O Banco X sempre funcionou como eu esperava. 44) Eu não tenho dúvida sobre manter minha conta no Banco X. 45) Minha escolha em usar o Banco X é sábia. Satisfação com o 46) Se eu pudesse escolher novamente um banco para utilizar, eu ainda assim escolheria Banco o Banco X. Abreviação: 47) Eu aprecio verdadeiramente o Banco X. SATISFAÇÃO 48) Eu me sinto bem sobre minha decisão de utilizar o Banco X. 49) Eu estou feliz de utilizar o Banco X. 50) Possuir uma conta no Banco X é uma experiência boa. 51) Eu estou certo de que o melhor é continuar utilizando o Banco X. Lealdade ao Banco 52) Eu continuarei usando os serviços do Banco X. Abreviação: 53) Eu recomendarei o Banco X a amigos, vizinhos e parentes. LEALDADE 178 54) Eu farei negócios com o Banco X sempre que precisar de algum produto / serviço (Seguros, Investimentos, Empréstimos, dentre outros). 55) Eu direi coisas positivas sobre o Banco X para outras pessoas. 56) Eu terei um maior volume de negócios com o Banco X no futuro. 57) Eu sempre considerarei o Banco X como meu primeiro banco. 58) O Banco X me ajuda a resolver problemas de ordem financeira. Facilidade para o Crédito Abreviação: FACILCRED 59) Os serviços do Banco X auxiliam na realização dos meus sonhos. 60) O Banco X me ofereceu facilidades para obter crédito. 61) O crédito é disponibilizado com rapidez pelo Banco X. 62) O Banco X não cria empecilhos para conceder crédito. Fonte: Dados de pesquisa A configuração final do modelo ficou de acordo com Figura 1: Figura 1: Modelo de Análise do Instrumento de Pesquisa Fonte: Dados do Estudo 6.1.3. Amostra A amostra recomendada para esta pesquisa, seguindo orientação de Hair (2005; 2014), seria de 620 por banco, conforme recomendação de 10 questionários por item independente do modelo de pesquisa (que foi detalhado anteriormente). Tendo em vista que havia 62 itens 179 dessa natureza, a amostra seria de 620 questionários por Banco. Apesar disso, considerando que muitos questionários acabam por ser eliminados, por questões e erros diversos, e que havia outras 5 questões demográficas no questionário, optou-se por coletar aproximadamente 700 questionários por banco. Ao final, foram coletados 682 questionários para o Banco A e 717 para o Banco B, sendo aproveitados 637 e 672, respectivamente - por motivos que serão detalhados adiante. Para elaborar a amostragem, considerou-se a recomendação de Hair (2014) para pesquisas que utilizam o método de PLS-SEM: “This rule thumb is equivalent to saying that the minimum sample size should be 10 times the maximum number of arrowheads pointing at a latent variable anywhere in the PLS path model (HAIR, 2014, p. 20).”. Outro aspecto importante é que se optou pelo público universitário por três motivos. Em primeiro lugar, o questionário apresenta certo grau de complexidade, de forma que havia necessidade do público ter um nível mais elevado de escolaridade, para que pudesse interpretar bem as questões e julgá-las. Além disso, houve a questão da acessibilidade. A coleta em outros meios, especialmente na rua, seria inviável para este estudo. Da mesma forma, por meio da coleta eletrônica haveria a chance da amostra ser excessivamente heterogênea, o que poderia comprometer os achados. Hair (2005) orienta o pesquisador a proceder análises em grupos que apresentem certo grau de homogeneidade. Neste caso, além de haver a categorização, por serem pessoas do meio universitário, houve a separação por bancos. Outro critério para a escolha foi o fato do público universitário ser um dos principais focos do mercado bancário. Vale destacar que o relacionamento bancário, devido principalmente a questões de custos de mudanças (ZACHARIAS et al, 2008), tende a ser de longo prazo. Dessa forma, é importante para as instituições bancárias focar o publico universitário, tendo em vista seu potencial econômico e de formador de opinião no médio e longo prazo. 6.1.4. Coleta Os questionários foram coletados entre maio e agosto de 2014. Para a coleta, foi dado como cortesia um bombom Sonho de Valsa a cada entrevistado, que era entregue antes do preenchimento – esse procedimento está de acordo com orientação de Malhotra (2005). Salienta-se que havia uma pergunta-filtro antes da entrega do questionário: “Você é cliente do Banco A ou B?”. Um número significativo de entrevistados era cliente de ambos os bancos e 180 por isso responderam a dois questionários. No total, foram coletados 682 questionários para o Banco A e 717 para o Banco B. Após filtragem de questionários com mais de 10% de respostas em branco, as amostras diminuíram para 637 questionários para o Banco A e 672 para o Banco B. As coletas aconteceram principalmente na UFMG: na Faculdade de Ciências Econômicas, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e na Faculdade de Direito apesar de ter havido também preenchimento em outras unidades. Houve ainda coleta na PUC – MG e na UNA (aproximadamente 20% da amostra nessas Universidades), sendo em ambos os casos com ênfase nas faculdades de Direito, Contabilidade, Economia, Administração e Comunicação Social (mantendo o mesmo padrão da coleta na UFMG). Os questionários foram preenchidos pelos próprios entrevistados. Destaca-se que toda a coleta foi realizada pelo autor desta tese. Na maioria das vezes, o pesquisador deixava os questionários com os alunos nos intervalos das aulas, explicava a pesquisa, realizava a pergunta filtro e coletava os questionários preenchidos ao final da aula (destaca-se que esse procedimento otimizou bastante o trabalho). Houve uma perda de aproximadamente 25% dos questionários entregues em sala. Foram também coletados muitos questionários nas áreas de convivência das escolas, especialmente cantinas, Diretórios Acadêmicos e espaços livres, além da coleta realizada em salas de pesquisa e estudos de pós-graduandos. 6.2. Análises da Etapa Quantitativa de Pesquisa A seguir, há duas análises sobre as amostras. A primeira refere-se a dados demográficos do público: idade, sexo, escolaridade e profissão. Houve, além disso, uma referente ao tempo de relacionamento com o banco. Por questão de parcimônia, não houve no modelo posterior uma análise de percepções conforme perfil de público, segmentou-se apenas por banco. Salientase, contudo, já que todos os questionários foram coletados no ambiente universitário, especialmente na UFMG e na PUC-MG, há um grau de homogeneidade do público analisado. A segunda parte refere-se à análise dos dados descritivos das respostas do questionário, assim como dos dados descritivos dos construtos e as relações que existem eles. Há também as análises de consistência dos construtos e do modelo teórico gerado a partir deste estudo. Salienta-se que algumas tabelas, quadros e imagens à frente têm o nome dos construtos abreviados. Tendo em vista que alguns nomes são extensos, optou-se pela abreviação para facilitar a leitura. As abreviaturas para cada construto são as seguintes (Quadro 59): 181 Quadro 59: Abreviaturas paras os construtos Nome do Construto Abreviatura Clareza de Informações dos Contratos INFOCON Respostas a Contratos RESPCON Linguagem dos Contratos LINGCON Contatos para Reclamações CONTREC Publicidade do Banco PUBLICID Clareza de Informações de Serviços CLARINFO Instalações a Prioritários INSPRIO Atendidimento nas Agências AGENCIA Vendas Casadas VENDAS Ética com o Consumidor ETICACON Ética Geral do Banco ETICAGER Satisfação com o Banco SATISF Lealdade LEALDADE Facilidade para o Crédito FACILCRED Fonte: Dados da pesquisa 6.2.1. Análise I – Dados Demográficos das Amostras 6.2.1.1. Banco A O Banco A é de natureza privada, mas, assim como o Banco B, possui grande público universitário como cliente. Destaca-se que houve aproximadamente 5% de dados ausentes totais, sendo: em torno de 4% para a idade; 5% para tempo de relacionamento; 4% para idade; 5% para profissão; e 4% para escolaridade. No caso da profissão, a maioria declarou-se apenas estudante: aproximadamente 60% da amostra. São pessoas que exercem alguma função profissional além dos estudos. Apesar disso, houve um número grande de estudantes que declararam outra profissão, além de entrevistados que se encontravam no ambiente das universidades e que não eram estudantes. Houve aproximadamente 5% que se declararam professores e pesquisadores, 11% técnicos administrativos, 5% servidores públicos. Apareceram diversas outras profissões (32 no total), como garçons, médicos, dentistas e administradores, mas nenhuma percentualmente substancial. 182 Tempo de Relacionamento Tabela 1: Perfil de público do Banco A 1 Idade Banco A Sexo Anos Total % Anos Total % Gênero Total % 0a1 178 29 18 a 25 479 79 Fem. 379 62,2 1a3 205 34 26 a 30 72 12 Mas. 229 37,6 4 ou mais 222 37 30 a 35 35 6 Outros 1 0,2 Total 605 100 35 ou mais 22 3 Total 608 100 Total 609 100 Fonte: Dados da Pesquisa Conforme a Tabela 1, a maior parte dos clientes entrevistados tem mais de 1 ano de vínculo com o Banco A, cerca de 71%, sendo que 37% possuem mais de 4 anos de relacionamento. Destaca-se que esse tempo mais extenso de relacionamento, apesar da baixa idade média do público, ajudou a embasar as respostas dos questionários. Os dados mostraram que há um tempo médio de 3,5 anos de relacionamento entre a amostra. Sendo 1 mês o tempo mínimo e 25 anos o maior. A idade do público também é baixa, sendo a média de 23,5 anos. A idade mínima da amostra foi 18 anos e a máxima 56. Percebe-se na Tabela 1 que 91 % do público possui menos de 30 anos, sendo que a maioria, 79%, têm menos de 25 anos (o que seria esperado em ambientes de universidades). Houve prevalência do sexo feminino entre os respondentes, cerca de 62,2%. Provavelmente, os ambientes universitários onde houve a pesquisa refletiram esse achado. Destaca-se que um entrevistado colocou o sexo como indefinido (como salientado na metodologia, o pesquisador deixou esse espaço para preenchimento do próprio entrevistado). Escolaridade Tabela 2: Escolaridade do Público Banco A Quant % Superior Incompleto 507 83,2 Superior Completo 75 12,3 Pós Grad. Incompleta 8 1,3 Pós Grad. Completa 19 3,2 Total 609 100 Fonte: Dados da pesquisa Como seria também de se esperar, a amostra possui alto grau de escolaridade (Tabela 2). A maior parte, em torno de 83%, possui superior incompleto. Salienta-se que a maior parte dos 183 questionários foi preenchida em salas de aula de graduação ou em ambientes comunitários de faculdades. Havia bastantes estudantes que faziam um segundo curso, principalmente no turno noturno (pelo instrumento de pesquisa não houve como estabelecer esse dado). Por isso, há um número absoluto relativamente alto de pessoas com graduação completa (há pessoas que não eram estudantes e responderam ao questionário, mas são minoria). E, por fim, há as pessoas com pós-graduação, completa e incompleta. São, em geral, pesquisadores e estudantes de mestrado, doutorado e especialização das escolas, além de professores que se dispuseram a responder o questionário. 6.2.1.2. Banco B O Banco B teve uma amostra válida de 672 questionários. Nem todos, contudo, tiveram os dados demográficos e sobre o tempo de relacionamento com o banco preenchidos. Houve, coincidentemente, em torno de 4,5% de dados ausentes para todas as variáveis (todas tiveram entre 27 e 29 questionários com dados ausentes). A profissão principal, assim como no Banco A e por razões óbvias, foi a de estudante, respondendo por 65,2% da amostra. Além disso, cerca de 5% da amostra é de professores e pesquisadores e aproximadamente 6% de servidores públicos. Assim como no Banco A, muitos estudantes que cursam a segunda graduação ou exercem alguma função marcaram a profissão que exercem, ao invés de estudante. Chamou a atenção o baixo número de técnicos administrativos em relação ao Banco A, apenas 2,2%, contra 11% no Banco A. Provavelmente, isso é reflexo de questões de renda familiar, que tende a ser mais baixa em escolas privadas - salienta-se que a amostra do Banco A possui um número mais elevado de estudantes de cursos noturnos de uma faculdade particular, provavelmente pessoas de menor renda. No total, apareceram 38 profissões diferentes, mas nenhuma com valor significativo (a maioria não passou de 1% da amostra), como: artistas, médicos, engenheiros, militar, agente de correios, recepcionista, etc. 184 Tabela 3: Perfil do público Banco B Tempo de Relacionamento Idade Banco B Sexo Anos Total % Anos Total % Gênero Total % 0a1 135 21 17 a 25 476 74 Fem. 372 57,85 1a3 188 29 26 a 30 89 14 Mas. 271 42 4 ou mais 322 50 30 a 35 54 8,3 Outros 1 Total 645 100 35 ou mais 24 3,7 Total 644 Total 643 100 0,15 Fonte: Dados da pesquisa O tempo médio de relacionamento dos clientes do Banco B é de 4,5 anos (Tabela 3), portanto um ano a mais que o Banco A. Além disso, percebeu-se que aproximadamente 79% da amostra possui mais de 1 ano de relacionamento, sendo que 50% aproximadamente possuem mais de 4 anos. Apesar de não ter havido esse questionamento, pressupõe-se que a maior parte dos clientes do Banco B, assim como do Banco A, são de categorias mais baixas em programas de relacionamento, tendo em vista serem, em sua maioria, estudantes, portanto de renda mais baixa (salienta-se, contudo, serem estudantes universitários, público de grande potencial no médio e longo prazos). O tempo mínimo de relacionamento encontrado foi de 1 mês e o máximo de 23 anos. A idade média dos entrevistados é de 24 anos (Tabela 3), portanto, um pouco acima do Banco A. Essa média acima pode ser reflexo, como se verá adiante, do maior índice de estudantes em nível de pós-graduação respondentes. Apesar disso, assim como no Banco A, houve prevalência do público abaixo de 30 anos, cerca de 88%, sendo a maioria, 74%, abaixo de 25. A diferença nesta amostra é que houve 3 respondentes de 17 anos, a idade mais baixa da pesquisa. O respondente mais velho tinha 57 anos. O sexo que prevaleceu também foi o feminino no Banco B (Tabela 3), em torno de 58% da amostra. Portanto, um pouco abaixo do que fora encontrado no Banco A. Também houve um respondente que colocou o sexo como “outros”. Da mesma forma que no Banco A, a prevalência de mulheres provavelmente é reflexo das faculdades onde aconteceu o levantamento. Destaca-se que as amostras foram coletadas principalmente em cursos de Humanidades e Ciências Sociais Aplicadas, nas três universidades da coleta. 185 Tabela 4: Escolaridade do Público Banco B Escolaridade Quant % Segundo Grau Completo 6 461 0,8 71,6 Superior Completo 104 16,2 Pós Graduação 46 7,2 Pós Graduação Completa 27 4,2 Total 644 100 Superior Incompleto Fonte: Dados da Pesquisa A Tabela 4 apresenta o nível de escolaridade da amostra do Banco B. Diferentemente do Banco A, houve respondentes, 6 no total, que não ingressaram ainda na Universidade (provavelmente, foram respondentes que se encontravam no ambiente da universidade e responderam ao questionário em áreas de convivência das instituições). A prevalência, contudo, assim como no Banco A, foi de estudantes de graduação, portanto, a categoria mais comum foi do Ensino Superior Incompleto. A amostra do Banco B, além disso, tem um percentual bem mais elevado, assim como o número absoluto, de pessoas com pós-graduação. 6.2.2. Análise II - Análise Descritiva dos Dados e Análise Fatorial Exploratória dos Construtos do Modelo As análises a seguir referem-se às avaliações das respostas das variáveis referentes a esta tese, que constituem o modelo teórico proposto. Salienta-se que houve primeiramente uma avaliação das estatísticas descritivas das respostas. Em seguida, foram realizados procedimentos de preparação dos dados e de validação do instrumento de pesquisa, para avaliação dos construtos que são constituídos pelas variáveis independentes. Houve também uma avaliação de dados descritivos desses construtos, após sua validação (salienta-se que essa análise, dos dados descritivos dos construtos, é de suma importância a este estudo e seus objetivos, mais até que o modelo proposto). Por fim, há uma série de testes para a validação do modelo teórico, assim como para responder às hipóteses propostas. 186 6.2.2.1. Pré-Teste Em um primeiro momento, houve um pré-teste do instrumento de pesquisa. Foram coletados para tanto 217 questionários, todos relativos ao Banco B. No pré-teste, realizaram-se as seguintes análises, conforme orientação de Hair (2005): Análise da Dimensionalidade, por meio do Teste de KMO, da variância total extraída, das comunalidades e cargas fatoriais, Além disso, foi feita nesta etapa o teste de Alfa de Cronbach, usado para medir a consistência interna do construto. Destaca-se que para modelos testados por meio do PLS, Hair (2014) não recomenda o Alfa, mas optou-se por fazê-lo assim mesmo neste momento, entendendo que mais um parâmetro positivo para os construtos não prejudicaria o estudo e tendo em vista que essa é uma recomendação do próprio Hair (2005) em outra obra. Salienta-se que todos os testes foram satisfatórios, mostrando a consistência do instrumento de pesquisa e dos construtos gerados. 6.2.2.2. Análise Descritiva dos Dados A Tabela 5 mostra as estatísticas descritivas das respostas, no caso, os parâmetros de média e desvio padrão (esses dados foram já a partir da retirada de dados ausentes e de questionários inválidos). É válido lembrar que os respondentes marcavam uma avaliação de 0 a 10, entre discordo totalmente e concordo totalmente, conforme a afirmativa indicada. A coluna mais à esquerda mostra as variáveis que compõem cada um dos construtos retirados do Código de Defesa do Consumidor Bancário (referência), assim como: o Construto Ética Geral, oriundo do modelo de Maignan (2001) – baseado no modelo de Carrol (1991); o construto de Satisfação Bancária, oriundo dos estudos de Oliver (1997); Lealdade Bancária, baseada no estudo de Pizzutti (2001); e o construto Facilidade para o Crédito, sugerido pelo autor desta tese como construto mediador de relação de uma hipótese (conforme explicação adiante). 187 Tabela 5: Estatísticas Descritivas das Variáveis Banco A Publicidade do Banco Contatos para Reclamações Clareza de Informações dos Contratos Respostas a Contratos Informações Sobre Contratos Construto Pergunta Banco B Média Desvio Média Desvio 1) O Banco X oferece total transparência em seus contratos. 6,15 2,44 6,13 2,24 2) Os contratos firmados entre o Banco X e seus clientes são de fácil compreensão. 6,07 2,46 5,88 2,40 3) O cliente do Banco X é incentivado a ler e compreender os contratos de crédito que serão firmados com o banco. 4,25 2,89 3,87 2,77 4) Os contratos do Banco X preservam os clientes de práticas injustas. 5,19 2,57 5,10 2,36 5) Os contratos do Banco X preservam os clientes de práticas anti éticas. 5,85 2,55 5,71 2,41 6) O Banco X responde às dúvidas e reclamações de clientes em tempo satisfatório. 6,44 2,75 5,56 2,60 7) O Banco X responde às dúvidas e reclamações de forma clara. 6,54 2,57 5,92 2,46 8) O Banco X esclarece bem as dúvidas de clientes referentes a cláusulas e condições contratuais. 5,90 2,55 5,49 2,48 9) O Banco X esclarece bem dúvidas sobre serviços prestados. 6,40 2,48 5,87 2,38 10) A linguagem utilizada nos contratos do Banco X permite fácil compreensão pelo consumidor. 5,82 2,61 5,41 2,55 11) Os contratos do Banco X especificam com clareza os prazos e valores negociados nos serviços bancários. 5,88 2,53 5,70 2,42 12) As taxas de juros e de administração dos contratos são apresentadas com clareza pelo BancoX. 5,22 2,81 5,02 2,59 13) As multas e penalidades dos contratos são apresentadas com clareza pelo Banco X. 4,97 2,68 4,78 2,55 14) É fácil encontrar nas dependências do Banco X telefones e e-mails de contato para o esclarecimento de dúvidas. 6,84 2,76 6,39 2,73 15) É fácil encontrar no site do Banco X telefones e e-mails de contato para o esclarecimento de dúvidas. 7,24 2,55 6,97 2,60 16) È fácil encontrar nas dependências do Banco X o telefone do Banco Central do Brasil, para denúncias e reclamações de serviços prestados. 5,03 2,93 5,18 2,79 17) É fácil encontrar no site do Banco X o telefone do Banco Central do Brasil, para denúncias e reclamações de serviços prestados. 5,06 2,84 4,97 2,69 18) As propagandas do Banco X são transparentes. 5,44 2,60 5,04 2,43 19) As propagandas do Banco X respeitam o consumidor. 6,65 2,44 6,29 2,37 20) A publicidade do Banco X não induz o cliente ao erro. 5,40 2,70 5,03 2,59 188 3,60 2,81 3,46 2,59 22) As propagandas do Banco X não são enganosas ou abusivas com o consumidor. 5,48 2,63 5,25 2,42 23) E fácil entender os demonstrativos de movimentações financeiras, com datas e valores, do Banco X. 6,29 2,84 6,02 2,79 24) O Banco X apresenta com clareza tabelas de tarifas de serviços. 5,22 2,67 4,96 2,58 25) As agências do Banco X possuem instalações adequadas para o atendimento a idosos, deficientes físicos, gestantes e pessoas acompanhadas de crianças de colo. 7,05 2,72 6,74 2,74 26) As instalações do Banco X possuem senhas exclusivas para idosos, deficientes físicos, gestantes e pessoas acompanhadas de crianças de colo. 7,43 2,80 7,87 2,55 27) As instalações do Banco X possuem assentos adequados nas filas para idosos, deficientes físicos e gestantes e pessoas acompanhadas de crianças de colo. 6,75 2,97 6,64 2,91 Atentidimento nas Agências 28) E fácil fazer qualquer serviço do Banco X nas agências físicas. 6,24 2,72 5,32 2,78 29) O atendimento convencional do Banco X (realizado por uma pessoa) é ágil e atende as necessidades dos clientes. 6,06 2,71 5,02 2,69 30) O Banco X informa adequadamente os riscos existentes no uso caixas eletrônicos. 5,10 3,13 4,03 2,99 Vendas Casadas 31) O Banco X não realiza vendas casadas. 4,57 2,85 4,37 2,69 32) O Banco X não eleva taxas e juros quando oferece promoções de produtos e serviços. 4,79 2,61 4,59 2,35 33) O Banco X só realiza movimentações financeiras do cliente com a prévia autorização deste. 6,48 3,12 6,31 2,99 34) O Banco X não eleva sem justificativa taxas, tarifas, comissões ou qualquer outra forma de remuneração de operações ou serviços. 4,89 2,93 4,58 2,68 35) O Banco X somente eleva suas taxas, tarifas e comissões dentro das leis vigentes. 5,74 2,60 5,80 2,38 36) O Banco X não expõe o cliente a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça quando da cobrança de dívidas. 6,37 2,76 6,10 2,66 37) O Banco X atua de forma justa com seu cliente mesmo que isso prejudique seu desempenho econômico. 4,34 2,83 3,85 2,70 38) O Banco X garante que o respeito a princípios éticos tenham prioridade sobre o desempenho econômico. 4,79 2,82 4,40 2,61 39) O Banco X é comprometido com princípios éticos bem definidos. 5,35 2,68 5,02 2,56 40) O Banco X evita comprometer padrões éticos para alcançar seus objetivos financeiros e produtivos. 5,07 2,69 4,90 2,64 41) O Banco X é o melhor banco que eu posso utilizar. 5,70 3,17 5,47 3,09 Satisfa ção com o Banco Ética Geral do Banco Ética com o Consumidor Instalações a Prioritários Clareza de Informações de Serviços 21) As taxas e juros de serviços bancários são mostradas com clareza na publicidade do Banco X. 189 Lealdade Facilidade para o Crédito 42) O Banco X é exatamente o que eu preciso. 5,23 3,14 4,95 2,98 43) O Banco X sempre funcionou como eu esperava. 5,51 3,14 4,95 3,07 44) Eu não tenho dúvida sobre manter minha conta no Banco X. 5,97 3,39 5,99 3,25 45) Minha escolha em usar o Banco X é sábia. 5,78 3,18 5,74 2,91 46) Se eu pudesse escolher novamente um banco para utilizar, eu ainda assim escolheria o Banco X. 5,74 3,36 5,91 3,19 47) Eu aprecio verdadeiramente o Banco X. 5,43 3,19 5,07 2,96 48) Eu me sinto bem sobre minha decisão de utilizar o Banco X. 5,90 3,20 5,93 2,99 49) Eu estou feliz de utilizar o Banco X. 5,88 3,17 5,67 2,85 50) Possuir uma conta no Banco X é uma experiência boa. 5,95 3,03 5,74 2,81 51) Eu estou certo de que o melhor é continuar utilizando o Banco X. 5,82 3,18 5,94 2,92 52) Eu continuarei usando os serviços do Banco X. 6,48 3,16 6,96 2,69 53) Eu recomendarei o Banco X a amigos, vizinhos e parentes. 5,34 3,24 5,21 3,06 54) Eu farei negócios com o Banco X sempre que precisar de algum produto / serviço (Seguros, Investimentos, Empréstimos, dentre outros). 4,91 3,05 4,96 2,86 55) Eu direi coisas positivas sobre o Banco X para outras pessoas. 5,48 3,09 5,28 2,82 56) Eu terei um maior volume de negócios com o Banco X no futuro. 5,10 3,16 5,29 2,86 57) Eu sempre considerarei o Banco X como meu primeiro banco. 4,91 3,55 5,29 3,36 58) O Banco X me ajuda a resolver problemas de ordem financeira. 4,73 3,14 4,70 2,83 59) Os serviços do Banco X auxiliam na realização dos meus sonhos. 4,45 3,15 4,28 2,94 60) O Banco X me ofereceu facilidades para obter crédito. 5,65 3,20 5,04 2,91 61) O crédito é disponibilizado com rapidez pelo Banco X. 5,99 3,03 5,46 2,63 62) O Banco X não cria empecilhos para conceder crédito. 5,59 2,96 5,03 2,60 Fonte: Dados da Pesquisa 190 Pode-se observar na Tabela 5 que as respostas em geral giram próximas à média, que é 5. A média geral de respostas do Banco A ficou em 5,6, enquanto a do Banco B ficou em 5,4, portanto, bem próximas. Houve um número significativo, contudo, de médias de respostas abaixo do ponto médio, 5. São 12 casos para o Banco A e 17 para o Banco B. Salienta-se, ainda, que os casos em questões dizem muito sobre os objetivos centrais desta tese, tendo em vista haver bastante fragilidade em percepções de questões relativas à ética dos bancos ou sobre os contratos firmados. Como exemplo, percebeu-se que houve uma avaliação negativa à proposição número 13 em ambos os bancos, que se refere à clareza com que os bancos apresentam as multas e penalidades dos contratos. Da mesma forma, houve uma avaliação negativa em ambos os bancos nas proposições 31 e 32, mostrando que os clientes percebem a prática de Vendas Casadas como algo comum nas instituições. Apesar disso, houve também em ambos os casos um número significativo de respostas com a média compreendida entre 6 e 7. No caso do Banco A, 13 casos, e 9 no Banco B. Houve apenas 3 casos de médias compreendidas entre 7 e 8 no Banco A e apenas 1 caso no Banco B. Nenhuma média ficou acima de 8. Percebeu-se também que os desvios padrões giraram entre 2 e 3,5 na maioria dos casos. O desvio padrão médio do Banco A foi de 2,88 e do Banco B de 2,71. Apesar da riqueza de informações das estatísticas descritivas básicas, optou-se por motivo de parcimônia por se fazer análises mais aprofundadas sobre as percepções do público a partir das estatísticas descritivas dos construtos do modelo (obviamente, após os testes de validação), assim como do modelo em si. 6.2.2.3. Preparação de Dados 6.2.2.3.1. Análise de Dados Ausentes Primeiramente, houve a exclusão de todos os questionários que possuíam mais de 10% dos dados ausentes. Por este motivo, a amostra inicial, conforme já citado, passou por uma redução, caindo cerca de 7,3% no Banco A e 6,3% no Banco B. Ao final, mantiveram-se para análise 637 questionários do Banco A e 672 para o Banco B. Em seguida, realizou-se uma nova análise de Dados Ausentes e constatou-se que nenhuma variável possuía mais de 3%. 191 A análise seguinte verificou o grau de aleatoriedade dos dados ausentes, para verificar se havia ou não a possibilidade de reposição, por meio do teste MCar (Missing Completely at Random). No caso do Banco A, observou-se que não havia aleatoriedade, portanto, seguindo orientação de Hair (2014), não se realizou neste banco a reposição de dados (vale lembrar que a reposição neste caso poderia comprometer as análises do modelo estrutural realizadas no PLS). O Banco B atendeu ao requisito do teste, havia, portanto, aleatoriedade entre os dados ausentes. Por esse motivo, optou-se pela reposição dos dados pela média das respostas. 6.2.2.3.2. Análise de Outliers Uni e Multivariados As respostas discrepantes não são necessariamente ruins às análises. Apesar disso, Hair (2005) orienta que é necessário averiguar o grau de respostas que apresentam essa característica, tendo em vista que uma amostra com alto grau de outliers pode apresentar problemas às conclusões (TABACHNICK e FIDEL, 2001). Após a análise, observou-se que não houve casos de outliers univariados em ambos os bancos, pois em nenhum caso o Score Z ficou abaixo de -4 ou superior a 4, parâmetros recomendados por Hair (2005). Para a análise de outliers multivariados, utilizou-se o método da medida D2 de Mahalanobis. Trata-se de uma medida de distância de cada variável em relação ao centro médio das observações. Ela dá uma medida de centralidade mulitidimensional e é um importante teste para viabilizar testes de significância (HAIR, 2005). Este teste também apontou que ambas as amostras não apresentam outliers multivariados significativos, dentro dos parâmetros apontados por Hair (2014). 6.2.2.3.3. Normalidade Uma importante análise em estatística multivariada refere-se à normalidade dos dados. Para avaliar a normalidade das amostras, procedeu-se o teste Kolmogorov-Smirnov, conforme orientação de Hair (2014) para modelos analisados via PLS. Esse teste é indicado, além disso, tendo em vista que ambas as amostras são grandes, mas não ultrapassam o limite de 1000 unidades (HAIR, 2005). Destaca-se que este teste busca avaliar o nível de signifiância para as diferenças em relação a uma distribuição normal. Após a aplicação, percebeu-se que os desvios mostraram-se substanciais nas duas amostras, de forma que a normalidade não 192 atenderia a estes casos. Ambas as amostras mostraram significância p=em nível 0,000 para todas as variáveis, portanto abaixo do indicador 0,005, o que demonstra não haver normalidade dos dados. Portanto, justifica-se o uso do PLS, tendo em vista que a técnica aceita amostras não normais. 6.2.2.3.4. Linearidade A modelagem de equações estruturais tem por base estimativas de correlação e covariância. Por isso, é importante verificar se há entre as variáveis linearidade. Salienta-se que estatísticas de equações estruturais são ineficientes para observar relações não lineares. (PESTANA e GAGEIRO, 2000; HAIR, 2005). Para analisar a Linearidade, procedeu-se ao teste de Spearman, uma vez que as amostras desta pesquisa mostraram-se de natureza não normal em termos de distribuição. O teste de Spearman possibilita verificar distribuições dessa natureza, diferentemente de outros testes paramétricos. A significância bicaudal desse teste foi relevante nas duas amostras, todas abaixo de 0,01, seguindo a orientação de Hair (2005). 6.2.2.4. Avaliação da fidedignidade do instrumento de pesquisa É relevante avaliar neste momento se as medições refletem diferenças efetivas entre os objetos de estudo, neste caso, representados pelos construtos que foram utilizados no modelo estrutural (CHURCHILL e IACOBUCCI, 2002; MALHOTRA, 2001). Procura-se medir nesta etapa até que grau as medições têm confiabilidade e validez, conferindo fidedignidade ao instrumento de pesquisa. Destaca-se que não houve interesse neste estudo em buscar melhores configurações entre os itens, a fim de se gerarem novos construtos, tendo em vista que cada um ou foi gerado com base no Código de Defesa do Consumidor Bancário, de forma que a mistura poderia comprometer a análise, ou já tem referência na literatura. Por isso, buscou-se apenas verificar se as configurações propostas, especialmente dos novos construtos, atendem aos requisitos estatísticos básicos para que se possam tirar conclusões científicas e estabelecer relações. A primeira análise realizada, foi sobre a necessidade e adequação da análise fatorial, ou seja, se a coleta de fato justifica o uso da Análise Fatorial. Para isso, foram realizadas duas medidas. A primeira é o teste Bartlett de Esfericidade. Para Hair (2005), quanto mais próximo 193 de 0 for esse teste dentro de um determinado número de variáveis de um construto, mais se justifica a Análise Fatorial. Salienta-se que todos os construtos de ambos os bancos responderam por um nível de significância de 0,000 nesse teste. Outro teste importante nesta etapa é a medida KMO (Keyser-Meyer-Olkim), utilizado para averiguar a adequação da análise fatorial à pesquisa. Neste caso, os valores de referência, conforme orientação de Hair et al., 2005), devem ser maiores que 0,5. De acordo com as tabelas abaixo, percebeu-se que em ambos os bancos todos os construtos apresentam esse parâmetro. Num segundo momento, buscou-se identificar até que grau as variáveis correspondem a um construto único ou são reflexos de um construto (considerando que os construtos desta tese são de natureza reflexiva) (NETEMEYER et al., 2003). Para isso, outras análises importantes foram realizadas: a de comunalidade (H²); a matriz componente (H); e a de variância comum. A primeira, busca verificar até que grau o índice de variância de uma variável é compartilhada com as demais do construto. De acordo com Hair (2005), esse índice deve ser de no mínimo 0,4, sendo que valores entre 0,5 e 0,6 são considerados bons e entre 0,7 e 0,8 excelentes. Já a segunda análise, de dimensionalidade, é usada para resumir a maior parte da informação de entrada a um mínimo de fatores, ou seja, para avaliar se há ou não necessidade da retirada de alguma das variáveis. Segundo Hair (2015) as variáveis devem apresentar carga maior de 0,4. Em conjunto, portanto, são utilizadas para verificar se há informação compartilhada entre as variáveis e se há a necessidade de exclusão se alguma variável. Já em relação a variância total, a recomendação é que os construtos apresentem pelo menos 60%, ou seja, que pelos menos 60% da variância seja explicada pelos indicadores do construto. Verificou-se também se a solução fatorial é capaz de explicar pelo menos 60% da variância dos construtos, apesar de Hair (1998) considerar casos que superem o índice de 50%, por meio da avaliação da variância compartilhada das variáveis. Por questão de objetividade, as análises que se seguem baseiam-se nas duas tabelas a seguir (Tabela 6 e Tabela 7), referentes aos parâmetros de medição de fidedignidade dos construtos, mas também com dados de estatísticas descritivas dos construtos. 194 Tabela 6: Fidedignidade do Instrumento de Pesquisa e resultados dos construtos do Banco A ETICAGER ETICACON VEN DAS CAS AGENCI A INSPRIO CL ARI NF PUBLICID CONTREC LINGCON RESPOON INFOCON Construto Variável 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 (KMO) Matriz Comunalidade Componente (H²) (H) 0,733 0,725 0,561 0,734 0,68 0,731 0,824 0,731 0,779 0,605 0,707 0,799 0,743 0,629 0,638 0,719 0,856 0,851 0,749 0,857 0,825 0,855 0,907 0,855 0,883 0,777 0,841 0,894 0,862 0,793 0,799 0,848 17 0,683 0,827 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 0,725 0,695 0,716 0,53 0,622 0,79 0,79 0,715 0,676 0,681 0,75 0,756 0,851 0,834 0,846 0,728 0,789 0,889 0,889 0,845 0,822 0,825 0,866 0,869 0,431 0,656 0,8 0,8 0,588 0,658 0,691 0,493 0,781 0,85 0,826 0,783 0,894 0,894 0,767 0,811 0,831 0,702 0,884 0,922 0,909 0,885 0,839 0,776 0,797 0,63 0,833 0,5 0,7 0,612 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 0,5 0,767 0,853 Variância Total Nota Média Construto Desvio Médio 68,636 5,53 2,59 73,605 6,34 2,59 71,326 5,49 2,66 66,744 6,03 2,78 65,764 5,34 2,64 79,03 5,75 2,75 69,024 7,07 2,85 64,569 5,81 2,87 79,968 4,67 2,74 60,751 5,87 2,86 81,009 4,87 2,77 195 SATISF LEALDADE FACILCRED 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 0,965 0,917 0,798 0,772 0,81 0,743 0,764 0,848 0,852 0,852 0,894 0,9 0,848 0,874 0,713 0,818 0,879 0,9 0,862 0,874 0,921 0,923 0,923 0,946 0,949 0,921 0,935 0,844 0,904 0,777 0,881 0,842 0,806 0,73 0,643 0,658 0,803 0,777 0,724 0,917 0,898 0,855 0,802 0,811 0,896 0,882 0,851 83,247 5,74 3,20 78,086 5,36 3,23 72,084 5,28 3,10 Fonte: Dados da pesquisa Conforme Tabela 6, percebeu-se que o Banco A apresenta a medida KMO satisfatória para todos construtos, o que justifica o uso da Análise Fatorial para todos os casos. Conforme as análises de Comunalidade, percebeu-se que todas as variáveis apresentam índices satisfatórios. Houve apenas três casos de comunalidade abaixo de 0,6 (variáveis 21, 30, 33 e 36), mas todas dentro do índice mínimo de 0,4, com explicação dentro do margem de 1% de erro, sugerido por Hair (2005). A análise de Dimensionalidade também mostrou que a carga é elevada para todas as variáveis. Houve apenas um caso abaixo de 0,7 (variável 30), mas assim mesmo ela se mostrou satisfatória, com um índice de 0,656. A variância comum de todos os construtos também ficou satisfatória, com todos acima de 0,6. Importante ainda salientar que, apesar de Hair (2014) não sugerir a avaliação do Alfa de Cronbach, medida para verificar a consistência interna dos construtos, para modelos de equações estruturais testados por meio do PLS, o pesquisador procedeu esse teste para essa tese. Salienta-se que todos os construtos apresentaram Alfa superior a 0,7 para o Banco A, sendo a maioria superior 0,8 e os 4 últimos construtos superiores a 0,9 – lembrando que Hair (2005) indica que o Alfa maior que é 0,7 é considerado bom e superior a 0,9 excelente. 196 Dessa forma, constatou-se que o uso da Análise Fatorial justifica-se para o Banco A, assim como que todos os construtos apresentam consistência interna satisfatória e devem ser mantidos como na forma original. Tabela 7: Fidedignidade do Instrumento de Pesquisa e resultados dos construtos do Banco B AGENCIA INSPRIO CLA RINF PUBLICID CONTREC LINGCON RESPOON INFOCON Construto Variável (KMO) Matriz Comunalidade Componente (H²) (H) 1 0,666 0,816 2 0,658 0,811 0,534 0,731 4 0,702 0,838 5 0,671 0,819 6 0,7 0,837 0,787 0,887 0,733 0,856 9 0,757 0,87 10 0,615 0,784 0,719 0,848 0,781 0,884 13 0,687 0,829 14 0,674 0,821 0,642 0,801 0,735 0,857 17 0,714 0,845 18 0,706 0,84 19 0,682 0,826 0,711 0,843 21 0,496 0,705 22 0,531 0,729 0,803 0,896 0,803 0,896 0,625 0,791 0,563 0,75 27 0,703 0,839 28 0,699 0,836 29 30 0,753 0,483 0,868 0,695 3 7 8 11 12 0,811 0,813 0,77 15 16 20 23 24 0,676 0,833 0,5 25 26 0,655 0,626 Variância Total Nota Média Construto Desvio Médio 64,632 5,337 2,44 74,451 5,711 2,48 70,032 5,23 2,52 69,117 5,879 2,7 62,525 5,014 2,48 80,298 5,493 2,68 63,048 7,085 2,74 64,491 4,791 2,82 197 VEN DASC AS ETICACON ETICAGER SATISF LEALDADE FACILCRED 31 0,756 0,869 0,756 0,869 0,543 0,737 0,633 0,796 0,696 0,834 36 0,518 0,72 37 0,738 0,859 0,849 0,921 0,849 0,922 40 0,779 0,883 41 0,713 0,844 42 0,77 0,877 43 0,678 0,824 44 0,64 0,8 45 0,785 0,886 0,772 0,879 47 0,779 0,883 48 0,851 0,923 49 0,861 0,928 50 0,832 0,912 51 0,797 0,893 52 0,58 0,761 53 0,786 0,886 0,724 0,851 0,788 0,888 56 0,72 0,848 57 0,591 0,768 58 0,541 0,736 59 0,612 0,783 0,736 0,858 61 0,726 0,852 62 0,669 0,818 32 0,5 33 34 35 38 39 46 54 55 60 0,756 0,834 0,96 0,906 0,782 75,585 4,479 2,52 59,753 5,698 2,69 80,385 4,545 2,63 77,071 5,579 3 69,786 5,501 2,95 65,678 4,901 2,78 Fonte: Dados da pesquisa O Banco B também apresenta índices satisfatórios. A medida KMO foi considerada suficientemente boa para todos os construtos, com índice superior a 0,5 em todos os casos. A comunalidade também foi boa, com a variância sendo explicada dentro do índice de 0,4 para todos os casos. Destaque que o Banco B teve mais casos nesse indicador menores que 0,6, mas também foram poucos frente ao total de variáveis (3, 21, 22, 26 , 30, 33, 36, 52, 57 e 58). 198 As cargas também ficaram satisfatórias, com todas apresentando índice superior a 0,7, com exceção da variável 30, que apresentou índice de 0,69. A variância comum neste caso também foi satisfatória. Apesar do Construto ETICACON não ter alcançado o índice sugerido de 60% de variância média explicada, optou-se por mantê-lo, tendo em vista que o valor foi muito próximo disso, 59,753%. Além disso, esse construto apresentou resultado satisfatório para o Banco A. Também aqui houve a análise do Alfa de Cronbach e todos os resultados mostraram haver consistência interna dos construtos. Apenas o Construto Vendas mostrou Alfa abaixo de 0,7, mas assim mesmo o resultado está dentro do recomendado por Hair (2005): 0,673. Os últimos construtos também mostraram Alfa superior a 0,9, assim como no Banco A. Da mesma forma que no Banco A, a amostra do Banco B justificou o uso da Análise fatorial. Além disso, os construtos mostraram-se suficientemente consistentes e não haver necessidade de alteração. 6.2.2.5. Estatísticas Descritivas dos Construtos Tendo em vista a pergunta central desta Tese, é importante reservar um tópico apenas às estatísticas descritivas dos construtos, conforme as Tabelas 6 e 7. Salienta-se, conforme avaliações anteriores, que a coleta dos dados, assim como o instrumento de pesquisa e os construtos gerados para o mesmo, mostraram-se satisfatórios para uma análise de explicação do fenômeno em estudo, neste caso, a percepção de um determinado público sobre a ação ética e socialmente responsável de dois bancos. Há, ainda, análises do modelo estrutural, que buscam relações de causa e efeito entre os construtos, que serão desenvolvidas à frente e que são também de grande importância a este estudo. Esses aspectos também serão melhor analisados adiante, nas conclusões desta etapa da pesquisa, assim como nas conclusões gerais desta tese. 6.2.3. Análise do Modelo de Mensuração Os procedimentos apresentados anteriormente são pré-requisitos para o desenvolvimento desta etapa analítica, que busca averiguar a consistência do modelo teórico proposto, assim como a confirmação ou refutação das hipóteses de pesquisa. O método utilizado agora é o PLS (Partial Least Square), que se baseia na explicação da variância de um conjunto de 199 variáveis agrupadas, ou construto, com base na variância de outro conjunto (Hair, 2014). Assim como já salientado na metodologia, o PLS é uma metodologia de equações estruturais largamente utilizada no campo das ciências sociais e muito recomendada a modelos teóricos exploratórios, como o elaborado para esta tese. Salienta-se que o método é indicado para não estatísticos e tem uma representação gráfica de caminhos que ajuda didaticamente na sua compreensão. Assim como as análises fatoriais exploratórias, o PLS exige alguns testes antes das avaliações finais, principalmente para averiguar a confiança e a validade dos construtos: “Examination of PLS-SEM estimates enables the researcher to evaluate the reliability and validity of the construct measures (HAIR, 2014, p. 96).”. Apesar de já terem sido elaboradas análises que atestam a qualidade do instrumento de pesquisa, essas outras serão apresentadas, tendo em vista serem pressupostos da metodologia de PLS. A seguir, são apresentadas essas informações e os testes do modelo em si, sobre quais hipóteses foram confirmadas ou não e quais seriam os melhores ajustes ao modelo, no intuito de se aumentar o seu poder preditivo e de aplicação gerencial. Conforme já indicado na metodologia, o modelo teórico desta tese buscou analisar a relação de diversos construtos, todos de primeira ordem, em termos de causa e efeito uns sobre os outros (Figura 2). Os construtos são resultado da percepção dos públicos universitários consumidores dos Bancos A e B sobre diversos aspectos do Banco relativos ao Código de Defesa do Consumidor Bancário, assim como a avaliação quanto ao padrão ético geral do banco, a satisfação e a lealdade com o serviço bancário, além da influência que a facilitação ao crédito pode causar na relação entre a ética e a satisfação. 200 Figura 2: Modelo Teórico Inicial Fonte: Dados da Pesquisa O modelo acima (Figura 2) apresenta os construtos elaborados a partir do Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2013), assim como os construtos de Ética Geral, retirado a partir do modelo de Maignan (2001) - com base na concepção de Responsabilidade Social Corporativa de Carrol (1991) -, e os construtos de Satisfação e Lealdade com o serviço bancário, de Oliver (1997) e Pizzutti (2001) respectivamente. A partir do modelo, portanto, estabeleceram-se as seguintes hipóteses de pesquisa (QUADRO 60): 201 Quadro 60: Hipóteses do modelo H1 Há uma influência positiva da percepção de clareza de informações em contratos (INFOCON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H2 Há uma influência positiva da percepção de respostas a contratos (RESPCON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H3 Há uma influência positiva da percepção de linguagem de contratos (LINGCON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H4 Há uma influência positiva da percepção de contatos para reclamações (CONTREC) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H5 Há uma influência positiva da percepção de transparência da publicidade do banco (PUBLICIDADE) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H6 Há uma influência positiva da percepção das instalações para públicos prioritários no banco (INSPRIO) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H7 Há uma influência positiva da percepção de clareza de informações sobre serviços (CLARINFO) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H8 Há uma influência positiva da percepção de atendimento na agência (AGENCIA) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H9 Há uma influência positiva da percepção de não haver vendas casadas do banco (VENDASCAS) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H10 Há uma influência positiva da percepção de ética com o consumidor do banco (ETICACON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H11 Há uma influência positiva da percepção de ética do banco (ETICAGER) sobre a satisfação com o serviço bancário (SATISFAÇÃO). H12 Há uma influência positiva da percepção de ética do banco (ETICAGER) sobre a lealdade de clientes com o banco (LEALDADE). H13 Há uma influência positiva da satisfação do serviço bancário (SATISFAÇÃO) sobre a lealdade com o serviço bancário (LEALDADE). Fonte: Dados da pesquisa Destaca-se que todas as análises a seguir têm por base os parâmetros de modelos reflexivos, conforme orientações de Hair (2014), uma vez que os construtos desta tese são de natureza reflexiva – construtos reflexivos caracterizam-se por terem causalidade direcionada do construto para as variáveis independentes, parte-se do pressuposto de que as variáveis representam manifestações do construto. 202 Importante destacar que, conforme Hair (2014), existe uma série de erros possíveis numa pesquisa de cunho social, como: má redação do instrumento de pesquisa; erro na aplicação do questionário; erros de escala; etc. Todos esses erros podem comprometer os achados de uma pesquisa, de forma que as análises adiante, assim como as realizadas na Análise Fatorial Exploratória, são importantes para a checagem desses problemas e validação do instrumento da pesquisa e da coleta em si. Hair (2014) salienta que modelos de natureza reflexiva precisam ser avaliados por três parâmetros: Consistência Interna; Validade Convergente; e Validade Discriminante. Cada um é explicado adiante e os parâmetros são apresentados, para ambos os bancos. As últimas análises dessa etapa referem-se a avaliações mais avançadas da metodologia. Buscam-se nelas averiguar os aprimoramentos do modelo. Foram feitos também testes relativos à mediação de construtos e à moderação do construto de Facilidade ao Crédito. 6.2.3.1. Análise de Confiabilidade de Consistência Interna Esta medida verifica a consistência múltipla de uma escala, ou seja, busca verificar se os indicadores individuais da escala medem o mesmo construto. Verifica, ainda, até que ponto os itens do questionário (as variáveis independentes) estão relacionadas entre si e com a pesquisa como um todo. A confiabilidade, além disso, é um pré-requisito para a validade do modelo (HAIR, 2014). O modelo tradicional de consistência interna é o Alfa de Cronbach (teste realizado, conforme etapa anterior). Este parâmetro, contudo, mede a confiabilidade com base nas correlações das variáveis dos construtos. No PLS, valorizam-se os indicadores conforme sua confiabilidade individualmente. Além disso, o Alpha é sensível ao número de variáveis do construto e tende a subestimar a confiabilidade de consistência interna, pois seu parâmetro tende a aumentar quando há grande número de itens. Por esse motivo, o parâmetro aqui utilizado é o da Confiabilidade Composta (HAIR, 2014). Para o autor, a Confiabilidade Composta deve indicar os seguintes parâmetros: entre 0,6 e 0,7 são aceitáveis para modelos de natureza exploratória; entre 0,7 e 0,9 são considerados satisfatórios; entre 0,9 e principalmente acima de 0,95 são considerados não desejados (mas aceitáveis), pois é possível que todos os indicadores estejam medindo exatamente a mesma coisa (é possível, segundo o autor, que haja uma redundância semântica entre os indicadores). 203 Conforme a Tabela 8, praticamente todos os construtos apresentaram indicadores satisfatórios. Houve apenas alguns casos que superam o índice de 0,9. A maioria deles, contudo, são construtos já testados na literatura. Entre os construtos gerados para esta tese, apenas INFOCON, PUBLICIDADE e RESPCON no Banco A e INFOCON, LINGCON e RESPCON no Banco B ficaram acima. Tendo em vista não prejudicar o modelo, e por se tratar de um modelo exploratório, passível de melhorias futuras, optou-se por aceitar esse teste como válido. Tabela 8: Confiabilidade Composta do Modelo de Mensuração Confiabilidade Composta Construto Banco A Banco B AGENCIA 0,8361 0,8428 CLARINFON 0,8716 0,8879 CONTREC 0,8771 0,8983 ETICACON 0,8454 0,8547 ETICAGERAL 0,9317 0,9424 INFOCON 0,9067 0,9011 INSPRIO 0,8498 0,8239 LEALDADE 0,9515 0,9324 LINGCON 0,8982 0,903 PUBLICIDADE 0,9005 0,8923 RESPCON 0,9194 0,9201 SATISFAÇÃO 0,9794 0,9736 0,875 0,8608 VENDACAS Fonte: Dados de pesquisa 6.2.3.2. Análise de Validade Convergente A Validade Convergente serve para mensurar se um indicador se correlaciona positivamente com medidas alternativas do mesmo construto. É importante para isso que os itens que compõem um construto compartilhem um alto grau de variância. Para a análise da Validade Convergente dois parâmetros são buscados. O primeiro são os indicadores externos (outer loadings). Hair (2014) orienta que os valores nesse caso devem superar o índice de 0,708. Apesar disso, valores entre 0,4 e 0,7 são aceitos em ciências sociais e a decisão pela remoção ou não pode ficar a cargo do pesquisador (muitas vezes, a retirada do item pode comprometer a pesquisa). 204 O outro indicador para esta análise é o AVE (Average Variance Extracted). Conforme Hair (2014), esta medida indica o grau em que um construto latente explica a variância dos seus itens. O parâmetro indicado neste caso é que o AVE seja maior que 0,5. Após as análises, percebeu-se que os todos os itens superam o índice de 0,708 de indicadores externos em ambas as amostras, com exceção do item de número 2 do construto INSTPRIOR do Banco B, que teve o valor 0,611. Tendo em vista a orientação de Hair (2014), optou-se por manter este item (até mesmo porque o resultado só foi insatisfatório para um banco). As análise de AVE se mostraram satisfatórias também para ambos os Bancos em todos os construtos (acima de 0,5), conforme Tabela 9. Por esses motivos, procedeu-se que a análise de Validade Convergente atendeu aos requisitos necessários. Tabela 9: Validade Convergente AVE Construto Banco A Banco B AGENCIA 0,6313 0,6415 CLARINFON 0,7724 0,7987 CONTREC 0,6431 0,689 ETICACON 0,5786 0,5962 ETICAGERAL 0,7735 0,8037 INFOCON 0,6611 0,6463 INSPRIO 0,6541 0,6147 LEALDADE 0,766 0,6978 LINGCON 0,6884 0,6997 PUBLICIDADE 0,6447 0,6247 RESPCON 0,7406 0,7425 SATISFAÇÃO 0,8121 0,7707 0,7779 0,7557 VENDACAS Fonte: Dados da Pesquisa 6.2.3.3. Validade Discriminante Esta medida é usada para avaliar se um construto é realmente diferente do outro (HAIR, 2014). Para isso, utiliza-se o parâmetro conhecido por Fornell-Larcker. Essa medida busca avaliar se a o construto compartilha mais variância com os seus indicadores do que com qualquer outro construto. Para esta medida, é necessário elevar a medida AVE de cada construto ao quadrado, e esta deve ser mais alta que a correlação deste construto com qualquer outro. 205 Após realizadas as medições, percebeu-se que o único caso em que a medida não foi satisfatória, em ambas as instituições, foi entre os construtos Lealdade e Satisfação. Tendo em vista, contudo, que estes construtos são validados na literatura e que as análises anteriores foram satisfatórias, optou-se por aceitar também esta análise. 6.2.4. Avaliação do Modelo Estrutural Uma vez constatado que as medições dos construtos são válidas, como houve nas duas etapas analíticas anteriores, conduziram-se as análises do modelo estrutural e verificação das hipóteses de pesquisa (HAIR, 2014). Isso envolveu, assim, a avaliação da capacidade preditiva do modelo e as relações entre os construtos. Antes dessas análises, no entanto, Hair (2014) recomenda a avaliação da colinearidade do modelo estrutural. Salienta-se que a colinearidade mede o nível de correlação entre duas variáveis (HAIR, 2005). Neste caso especificamente, Hair (2014) recomenda essa análise, pois se houver alto grau de colinearidade entre itens de dois ou mais construtos preditores, haverá vieses substanciais nas análises de caminho ou de influência de um construto sobre o outro no modelo do PLS. Neste caso, há a necessidade de eliminação de itens. Pela recomendação de Hair (2014), o índice para essa análise é um valor entre 0,2 e 5 no parâmetro VIF. Após verificação, observou-se que todos os construtos em ambos os bancos atendiam a esse parâmetro. Nas análises a seguir, testam-se as hipóteses do modelo e seus graus de significância estatística. Adiante, há testes relativos ao poder gerencial do modelo, além de medições com um construto mediador, de Facilidade de Crédito, e testes da mediação do modelo. Há, ainda, algumas sugestões de melhorias para o modelo. Salienta-se, contudo, que as hipóteses de pesquisa desta tese já se encontram na próxima etapa. 6.2.4.1. Avaliação de Significância e Relevância Nesta etapa, avaliam-se primeiramente os coeficientes de caminho do PLS, que representam a relação hipotética entre os construtos (HAIR, 2014). Os valores neste caso ficam entre -1 e 1, sendo 1 uma influência absoluta de um construto sobre o outro e -1 uma influência inversa absoluta. Quanto mais próximo de 0, menor a influência de um construto sobre o outro. Esse 206 teste, apesar disso, não é ainda considerado como o teste de hipótese, que será considerado a partir do Teste T, de significância estatística (adiante). Após as análises, chegaram-se aos seguintes resultados para o Banco A (Figura 3) e Banco B (Figura 4): Figura 3: Coeficiente de Caminho do Banco A Fonte Dados da Pesquisa 207 Figura 4: Coeficiente de Caminho do Banco B Fonte: Dados da Pesquisa Os dados acima se encontram na Tabela 10, a seguir: Tabela 10: Coeficientes de Caminho Bancos A e B Relações Entre os Construtos Coeficiente de Caminho Banco A Banco B AGENCIA -> ETICAGERAL 0,1635 0,066 CLARINFON -> ETICAGERAL 0,0513 -0,0495 CONTREC -> ETICAGERAL 0,0344 0,0512 ETICACON -> ETICAGERAL 0,1893 0,3387 ETICAGERAL -> LEALDADE 0,0449 0,0438 ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO 0,5586 0,4988 INFOCON -> ETICAGERAL 0,194 0,1886 INSPRIO -> ETICAGERAL -0,0236 -0,0068 LINGCON -> ETICAGERAL 0,022 0,051 PUBLICIDADE -> ETICAGERAL 0,2429 0,2254 RESPCON -> ETICAGERAL -0,0489 -0,0911 SATISFAÇÃO -> LEALDADE 0,9023 0,8749 0,1508 0,172 VENDASCAS -> ETICAGERAL Fonte: Dados de Pesquisa Percebeu-se que no Banco A há influência significativa apenas dos construtos AGÊNCIA, VENDASCAS, ETICACON, INFOCON, e PUBLICIDADE sobre a ETICAGERAL. Os 208 demais apresentaram baixa influência. Salienta-se que essas influências, conforme será destacado, traz importantes conclusões para os objetivos desta tese. Outro ponto de destaque é a influência de SATISFAÇÃO sobre LEALDADE (algo já previsto na literatura (ver dissertação do Bruno) e de ETICAGERAL sobre SATISFAÇÃo. Houve no caso do Banco A, portanto, a influência positiva de acordo com 6 hipóteses, dentre 13 (essas, contudo, devem passar ainda pelo Teste T de significância). Já para o Banco B houve influência positiva para os entre os construtos ETICACON, INFOCON, PUBLICIDADE e VENDASCAS para o construto ETICAGERAL, assim como deste para a SATISFAÇÃO e deste para LEALDADE. As demais relações mostraram-se, portanto, sem relevância. Da mesma forma que no Banco A, portanto, há coeficientes em 6 casos, de 13 possíveis (assim como no Banco A, são situações importantes para o caso desta Tese). Destaca-se que alguns coeficientes apresentaram valor negativo. Tendo em vista, contudo, que foram valores muito próximos de zero, optou-se por desconsiderar essa questão como relevante, assumindo-se apenas que as influências nesses casos eram inexistentes. É ainda importante analisar se existe significância estatística na influência entre os construtos. De acordo com Hair (2014), na metodologia do PLS se não houver essa significância a influência do coeficiente de caminho se anula. Neste caso específico, o parâmetro é alcançado pelo erro padrão das médias, por meio do parâmetro de Bootstrapping, ou Teste T de significância. Esse teste busca verificar se subamostras escolhidas aleatoriamente da amostra maior apresentam resultados significantemente semelhantes entre si. Para o PLS, Hair (2014) recomenda que a medida se baseie nos parâmetros de 5000 amostras. Conforme atesta Hair (2005): Forma de reamostragem na qual os dados originais são repetidamente amostrados com substituição para estimação do modelo. Estimativas de parâmetros e erros padrão não são mais calculados com suposições estatísticas, mas, em vez disso, são baseados em observações empíricas (HAIR, 2005, p. 466). A partir desse teste, as hipóteses de pesquisa são ou não confirmadas. Os graus de significância variam aqui. Caso os valores fiquem acima de 1,65 até 1,96, considera-se que há significância com uma probabilidade de 10% de erro. Se o valor ficar entre 1,96 e 2,57, a significância existe com uma margem de erro de 5%. Acima de 2,57 a significância é considerada muito boa, pois há uma margem de erro de apenas 1%. De acordo com o Hair (2014), valores acima de 1,65 podem ser aceitos em pesquisas de algumas áreas 209 por meio do PLS. No campo do marketing, contudo, a significância mínima aceita deve ter no máximo 5% de margem de erro (portanto, acima de 1,96). Optou-se, por isso, seguir a recomendaçaõ de Hair (2014) e aceitar um boostrapping de 5% de erro, tendo em vista tratarse de um modelo exploratório, aplicado pela primeira vez, mas no marketing: “In Marketing, researchers usually assume a significance level of 5% (HAIR, 2014, p. 171).”. O autor cita que casos de erro 10% costumam ser aceitos em estudos exploratórios de outros campos. Após as análises, chegaram-se aos seguintes valores (TABELA 11): Tabela 11: Testes T e Coeficientes de Caminho das Hipóteses Coeficiente de Teste T Caminho Relações Banco A Banco B Banco A Banco B INFOCON -> ETICAGERAL 4,274 4,2021 0,194 0,188 RESPCON -> ETICAGERAL 1,1098 2,1385 -0,048 LINGCON -> ETICAGERAL 0,4373 0,9723 CONTREC -> ETICAGERAL 0,9685 PUBLICIDADE -> ETICAGERAL Hipótese Número Hipótese Aceita Banco A B 1 S S -0,091 2 N S 0,022 0,051 3 N N 1,3977 0,034 0,051 4 N N 5,6569 4,6563 0,242 0,225 5 S S INSPRIO -> ETICAGERAL 0,7791 0,1939 -0,023 -0,007 6 N N CLARINFON -> ETICAGERAL 1,3838 1,5909 0,051 -0,049 7 N N AGENCIA -> ETICAGERAL 3,652 1,5473 0,163 0,066 8 S N VENDASCAS -> ETICAGERAL 3,9335 4,2537 0,151 0,172 9 S S ETICACON -> ETICAGERAL 3,8592 9,8775 0,189 0,339 10 S S ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO 19,3799 15,7493 0,559 0,499 11 S S ETICAGERAL -> LEALDADE 2,3492 1,7617 0,045 0,044 12 S N SATISFAÇÃO -> LEALDADE Fonte: Dados da Pesquisa 69,2975 46,6096 0,902 0,875 13 S S Conforme os dados acima, portanto, há significância estatística nos seguintes casos para o Banco A: - Nível de 1%: 1,5,8,9, 10,11 e 13. - Nível de 5%: 12 Há no caso do Banco A significância considerável para 8 relações entre os construtos. Dessas relações, 5 são entre construtos exógenos referentes ao Código de Defesa do Consumidor Bancário e o construto endógeno de Ética Geral e outros 5 são relativos às relações entre Ética Geral e Satisfação e Lealdade, assim como de Satisfação com Lealdade. Percebeu-se, portanto, que eles coincidem com as 6 relações em que se encontraram influências mais significativas. 210 Já para o Banco B, os seguintes resultados foram encontrados para significâncias importantes no teste T, conforme o número da hipótese de pesquisa: - Nível de 1%: 1, 5, 9, 10, 11, 13. - Nível de 5%: 2 e 12. Houve também significância considerável para 8 casos, dentro dos parâmetros de 1% e 5%, sendo a maioria dentro do padrão de 1%. Percebeu-se, ainda, que os coeficientes de caminho mais significativos foram confirmados nessa etapa para o Banco B. Vale destacar a não confirmação da hipótese 2, no banco A. Além de não confirmada nessa instituição, o coeficiente de caminho deu negativo em ambos os bancos, assim, mesmo dando significativa a 5% no Banco B, optou-se por não aceitar a hipótese. Tendo em vista tais resultados, optou-se por confirmar as hipóteses de número: 1, 5, 8, 9, 10, 11, 12 e 13 . Com base nessas hipóteses de pesquisa, gerou-se um novo modelo teórico, que será apresentado e analisado adiante. 6.2.4.2. Avaliação do Coeficiente de Determinação O coeficiente de determinação é o parâmetro usado com maior frequência para medir o modelo estrutural (HAIR, 2014). O coeficiente representa o efeito combinado das variáveis exógenas sobre a endógena no que tange a sua variância. Significa dizer que ele mostra o quanto os construtos exógenos explicam a formação do construto endógeno. Seu cálculo se dá a partir da “proporção da variância da variável dependente em torno de sua média que é explicada pelas variáveis independentes preditoras (HAIR, 2005, p. 132).”. Esse coeficiente, também conhecido por R2, pode variar entre 0 e 1, e quanto mais próximo de 1, maior o poder de previsão e explicação da variável dependente a partir dos construtos exógenos. De acordo com Hair (2014), em estudos de comportamento do consumidor, principalmente para explicar satisfação e lealdade, é comum que se aceite um R2 de 0,2 . Em estudos acadêmicos de marketing, contudo, o autor recomenda os seguintes parâmetros: menor que 0,25, não se deve considerar; entre 0,25 e 0,5, considera-se, mas é considerado fraco o poder preditivo; entre 0,5 e 0,75, aceita-se e assume-se um poder moderado de explicação; acima de 0,75, considera-se um valor ótimo, portanto de grande poder preditivo. Os resultados encontrados para este estudo estão representados na Tabela 12: 211 Tabela 12: Coeficiente de Determinação (R2) Coeficiente de Determinação (R2) Construtos Endógenos Banco A Banco B ETICAGER 0,624 0,621 SATISFAÇÃO 0,312 0,249 LEALDADE 0,862 0,806 Fonte: dados da pesquisa Observou-se, assim, que o modelo apresenta uma capacidade boa de predição para seus construtos endógenos, principalmente por se tratar de um modelo exploratório. Os construtos de ETICAGER de ambos os bancos ficaram com um valor moderado, mas acima de 0,62. Isso significa que a percepção de ética geral do público pode ser explicada em até 62% pela observação feita dos construtos exógenos referentes ao Código de Defesa do Consumidor Bancário. Vale salientar aqui que Hair (2014) atenta para o fato de que o R2 tende a ser inflado quando há muitos caminhos, ou setas, apontadas para um construto endógeno. No caso do construto ETICAGER há 10 caminhos, o que pode ter tido influência. Aceitou-se esse valor como satisfatório, contudo, tendo em vista tratar-se de um modelo exploratório (há possibilidades para aprimoramentos futuros, inclusive como serão mostrados alguns exemplos adiante). A ideia é sempre buscar modelos que tenham maior parcimônia. Houve, ainda, uma observação que a satisfação dos Bancos é explicada, apesar de nível fraco, pela percepção de ética geral das instituições – salienta-se que o R2 do Banco B neste caso ficou em 0,249, mas optou-se por considerá-lo dentro do parâmetro, dada a proximidade com o valor de referência (0,25). E o aspecto mais relevante nesta análise é relativo ao construto de Lealdade do consumidor. Ambas as avaliações deram bastante substanciais, sendo 0,862 e 0,806 para os Bancos A e B respectivamente. Neste caso, destaca-se haver apenas duas setas apontadas para a Lealdade, o que reforça essa medição. Significa dizer, portanto, que as percepções de Ética Geral e de Satisfação têm forte influência na percepção de Lealdade. Esses resultados são bastante relevantes para este estudo e serão melhor abordados nas conclusões. 6.2.5. Modelo Ajustado de Pesquisa e Medições dos Efeitos F2 e Q2 Tendo em vista que algumas hipóteses de pesquisa não foram confirmadas, optou-se por elaborar um novo modelo de pesquisa (Figura 5), já com as hipóteses confirmadas. Os testes 212 de F2 e Q2, assim como de moderação e mediação, por motivo de parcimônia, foram executados conforme esse novo modelo. Figura 5: Modelo Ajustado Fonte: Dados da Pesquisa Após a elaboração desse novo modelo, observaram-se os seguintes parâmetros no que tange ao Coeficiente de Caminho, o Teste T e o R2 (TABELA 13): 213 Relações entre construtos Tabela 13: Testes do Novo Modelo Coeficiente de Caminho Teste T Banco A Banco B Banco A Banco B INFOCON -> ETICAGERAL 0,197 0,177 4,882 5,578 PUBLICIDADE -> ETICAGERAL 0,264 0,226 6,582 6,183 AGENCIA -> ETICAGERAL 0,16 0,053 4,342 1,645 VENDASCAS -> ETICAGERAL 0,151 0,165 3,688 4,802 ETICACON -> ETICAGERAL 0,193 0,33 3,975 9,458 ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO 0,559 0,499 20,525 16,24 ETICAGERAL -> LEALDADE 0,045 0,044 2,209 1,932 SATISFAÇÃO -> LEALDADE 0,902 0,875 70,123 56,877 R2 (POR CONSTRUTO) Banco A Banco B ETICAGERAL 0,62 0,615 SATISFAÇÃO 0,312 0,249 0,862 0,806 LEALDADE Fonte: Dados da Pesquisa A partir dos novos dados, observou-se que o novo modelo apresenta parâmetros satisfatórios. Os coeficientes de caminho mostraram-se significativos na maioria das relações, com destaque para as relações entre ETICAGERAL e SATISFAÇÃO e SATISFAÇÃO e LEALDADE, com índices bastante elevados. Mas houve também boas relações, tendo em vista tratar-se de um estado em ciências sociais, para as demais relações, com exceção de ETICAGERAL e LEALDADE. Os Testes T também mostraram com resultados dentro dos parâmetros de significância de 5 e 1% de erro. A única exceção foi a relação AGENCIA e ETICAGERAL no Banco B, mas que ainda assim está dentro do parâmetro de erro de 10%. Os Coeficientes de Determinação também se mostraram satisfatórios para os três construtos endógenos - considerou-se que o construto SATISFAÇÃO estava dentro do parâmetro indicado por Hair (2014), tendo em vista que o valor encontra-se muito próximo de 0,25. 6.2.5.1. Tamanho do Efeito F2 O efeito F2 tem o objetivo de medir como a retirada de cada construto exógeno pode afetar no poder preditivo sobre o construto endógeno. Nesta medida, observa-se se há alteração do R2 de cada construto endógeno após a retirada dos seus respectivos construtos exógenos (HAIR, 2014). Pretende-se com isso observar se há substantivo impacto do construto exógeno sobre o 214 construto endógeno. Salienta-se que essa medida é considerada importante por Hair (2014), principalmente para aplicações gerenciais de modelos. Os parâmetros indicados pelo autor para esse teste são: abaixo de 0,02 não existe; entre 0,02 e 0,15 indica efeito pequeno; entre 0,15 e 0,35 indica efeito médio; e acima de 0,35 indica efeito grande. Após as análises, observaram-se os seguintes valores de F2 para os Bancos A (TABELA 14) e B (TABELA 15): Tabela 14: Tamanho do Efeito F2 no Banco A Relações entre construtos R2 incluído R2 excluído f2 Avaliação AGENCIA -> ETICAGERAL 0,62 0,605 0,039474 Pequeno ETICACON -> ETICAGERAL 0,62 0,604 0,042105 Pequeno ETICAGERAL -> LEALDADE 0,862 0,86 0,014493 NA ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO 0,312 * * * INFOCON -> ETICAGERAL 0,62 0,602 0,047368 Pequeno PUBLICIDADE -> ETICAGERAL 0,62 0,59 0,078947 Pequeno SATISFAÇÃO -> LEALDADE 0,862 0,305 4,036232 Grande 0,62 0,607 0,034211 Pequeno VENDASCAS -> ETICAGERAL Fonte: Dados da pesquisa No Banco A, há efeito na maioria das relações, ou seja, a maioria dos construtos exógenos tem impacto nesse teste sobre o poder explicativo dos construtos endógenos. Na maioria dos casos, contudo, o efeito tende a ser pequeno. A única exceção se deu entre ETICAGERAL e LEALDADE, em que o efeito F2 é insignificante. Tabela 15: Tamanho do Efeito F2 no Banco B Relações entre construtos R2 incluído R2 excluído f2 Avaliação AGENCIA -> ETICAGERAL 0,615 0,613 0,005195 NA ETICACON -> ETICAGERAL 0,615 0,563 0,135065 Pequeno ETICAGERAL -> LEALDADE 0,806 0,804 0,010309 NA ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO 0,249 * * * INFOCON -> ETICAGERAL 0,615 0,599 0,041558 Pequeno PUBLICIDADE -> ETICAGERAL 0,615 0,592 0,05974 Pequeno SATISFAÇÃO -> LEALDADE 0,806 0,237 2,93299 Grande 0,615 0,6 0,038961 Pequeno VENDASCAS -> ETICAGERAL Fonte: Dados da Pesquisa 215 No Banco B também há efeito em todas as relações, com exceção das relações entre AGENCIA e ETICAGERAL e ETICAGERAL e LEALDADE. Da mesma forma que no Banco A, contudo, são efeitos pequenos na maioria dos casos. Destaque apenas para o efeito entre SATISFAÇÃO e LEALDADE. 6.2.5.2. Relevância Preditiva do Modelo (Q2) e tamanho do efeito (Q2) O Q2, também conhecido por Stone-Geisse’s value, avalia a relevância preditiva que um construto exógeno tem para um construto endógeno em questão (HAIR, 2014). De acordo com Hair (2014), essa medida se dá a partir de uma técnica, também conhecida por Blindfolding, onde se determina uma parcela de dados que deve ser omitida e são então medidos os parâmetros a partir dessa omissão. Verifica-se com isso o poder preditivo desse modelo em reconstruir esses valores omitidos. Destaca-se que essa técnica só é calculada para construtos endógenos reflexivos. A partir disso, deve-se escolher uma distância D dos dados. Hair (2014) recomenda um valor entre 5 e 10. Para esta Tese, optou-se pelo valor 7. Se os valores forem maior que 0, significa que os construtos exógenos têm valor preditivo para o construto endógeno em questão. Após as análises, chegaram-se aos seguintes resultados (TABELA 16): Tabela 16: Relevância Preditiva do Modelo (Q2) Construto Banco A Banco B ETICAGERAL 0,4737 0,4876 LEALDADE 0,6494 0,5532 0,2502 0,1891 SATISFAÇÃO Fonte: Dados da Pesquisa Os resultados acima (TABELA 15) indicam, portanto, que a análise Blindfolding foi positiva para todos os construtos endógenos. Isso indica que há relevância preditiva dos construtos exógenos em todos os casos. Outra avaliação importante nesta etapa é a do tamanho do efeito Q2. Essa análise serve para averiguar o grau de importância de cada construto exógeno sobre o Q2 nos construtos endógenos reflexivos, de acordo com Hair (2014). Os valores de parâmetro, conforme indica Hair (2014), para essa análise são semelhantes ao efeito de F2, portanto: menor que 0,02 o efeito é inexistente; entre 0,02 e 0,15, o efeito é baixo; entre 0,15 e 0,35 o efeito é moderado; 216 maior que 0,35, indica efeito elevado. Após análises, constataram-se os seguintes resultados (TABELA 17 e TABELA 18): Relações entre construtos Tabela 17: Tamanho do efeito Q2 Banco A Q2 incluído Q2 excluído q2 Avaliação AGENCIA -> ETICAGERAL 0,4737 0,4611 0,023941 Pequeno ETICACON -> ETICAGERAL 0,4737 0,4606 0,024891 Pequeno ETICAGERAL -> LEALDADE 0,6494 0,6484 0,002852 NA ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO 0,2502 * * * INFOCON -> ETICAGERAL 0,4737 0,46 0,026031 Pequeno PUBLICIDADE -> ETICAGERAL 0,4737 0,4511 0,042941 Pequeno SATISFAÇÃO -> LEALDADE 0,6494 0,2276 1,20308 Grande 0,4737 0,4636 0,019191 Pequeno VENDASCAS -> ETICAGERAL Fonte: Dados de Pesquisa Os resultados acima demonstram que há efeito em praticamente todas as relações no Banco A, com exceção de ETICAGERAL e LEALDADE. A maioria, contudo, possui efeito pequeno, especialmente dos construtos exógenos ligados ao construto ETICAGERAL. Isso indica que somados eles têm grande efeito preditivo sobre o construto endógeno, mas fazem pouca diferença quando excluídos. A única relação que mostrou efeito grande é entre SATISFAÇÃO e LEALDADE. Tabela 18: Tamanho do efeito q2 banco B Relações entre os construtos Q2 incluído Q2 excluído q2 Avaliação AGENCIA -> ETICAGERAL 0,4876 0,4862 0,002732 NA ETICACON -> ETICAGERAL 0,4876 0,4467 0,07982 Pequeno ETICAGERAL -> LEALDADE 0,5532 0,5526 0,001343 NA ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO 0,1891 * * INFOCON -> ETICAGERAL 0,4876 0,4753 0,024005 Pequeno PUBLICIDADE -> ETICAGERAL 0,4876 0,4695 0,035324 Pequeno SATISFAÇÃO -> LEALDADE 0,5532 0,1589 0,882498 Grande VENDASCAS -> ETICAGERAL Fonte: Dados da Pesquisa 0,4876 0,4751 0,024395 Pequeno * Os resultados para Banco B foram semelhantes ao Banco A. A única diferença, é que se percebeu não haver efeito na relação AGENCIA e ETICAGERAL. Os resultados do teste de Blindfolding, portanto, foram satisfatórios em ambos os bancos. Percebeu-se, contudo, que apesar do alto valor preditivo do modelo, há pouco efeito, ou nenhum, sobre a predição quando da retirada de um dos construtos exógenos, especialmente 217 para ETICAGERAL. Isso mostra, portanto, que os construtos exógenos são bons preditores dos construtos exógenos, mas em conjunto, pois não há relevância de nenhum deles separadamente, com exceção da relação de SATISFAÇÃO para LEALDADE em ambos os Bancos. 6.2.5.3. Moderação Foram realizados também testes para avaliar se o construto facilidade de credito, denominado na abreviatura por FACILCRED, exerce uma relação de moderação entre ética geral e satisfação e ética geral e lealdade. Salienta-se que esse construto foi elaborado pelo próprio autor desta Tese. Não havia portanto, referencial específico para isso, mas considerou-se válida a análise, tendo em vista que a facilidade aos produtos de crédito do banco pudessem influenciar na relação. Para isso, foi utilizada a abordagem do produto indicador para construtos reflexivos (HAIR et al, 2014), que consiste na criação de um termo de interação que consiste na multiplicação das cargas externas dos indicadores do construto antecessor com o mediador. E a partir disso, são avaliadas a confiabilidade composta e AVE do construto mediador, assim como a análise de significância T e do coeficiente de caminho. As Figuras 6 e 7 demonstram como ficam essas moderações: Figura 6: Modelo ajustado com moderador facilidade de crédito em satisfação Fonte: Dados da Pesquisa 218 Figura 7: Modelo ajustado com moderador facilidade de crédito em lealdade Fonte: Dados da Pesquisa Tanto no banco A quanto no banco B, a confiabilidade composta e AVE estão dentro dos parâmetros. Contudo, as análises indicaram que facilidade de crédito não exerce uma função de mediação entre nenhuma das duas relações testadas ÉTICA GERAL > SATISFAÇÃO e ÉTICA GERAL > LEALDADE. Isso porque a relação entre o termo de interação e a variável dependente não apresentou significância (valor t) em nenhum dos testes e de acordo com Hair (2014) essa é a premissa fundamental para a análise da moderação (Tabela 19). Tabela 19: Análises de Moderação Banco A Banco B Moderação AVE Confiabilidade Composta Beta T EticaG>FacilCred>Sat 0,7055 0,9229 -0,093 0,905 EticaG>FacilCred>Leal 0,7054 0,9229 0,029 1,455 EticaG>FacilCred>Sat 0,6429 0,8998 -0,026 0,264 EticaG>FacilCred>Leal 0,644 0,9003 0,029 1,289 Não significante Fonte: 6.2.5.4. Mediação O teste de mediação busca analisar como ficaria um modelo incluindo-se variáveis de mediação entre construtos (HAIR, 2014). Além disso, se há relações mais fortes entre construtos que estão sendo mediados quando ligados diretamente. No caso deste modelo, há a possibilidade de se medir a mediação do construto ETICAGERAL. Primeiramente, deve-se eliminá-lo e em seguida avaliar como os construtos exógenos oriundos do Código de Defesa 219 do Consumidor Bancário se relacionariam diretamente aos construtos SATISFAÇÃO e LEALDADE. Destaca-se que essa análise ajuda em aprimoramentos do modelo. Salienta-se, ainda, que mediação é diferente de moderação em equações estruturais, como no PLS (VIEIRA, 2009), e que muitas vezes são confundidas. Vale ainda destacar também que, de acordo com Hair (2014), as medições de mediação são desafiadoras e que conclusões mais precisas precisariam vir acompanhadas de testes empíricos mais consistentes. Os testes aqui apresentados servem como um indicativo se a relação de mediação, no caso do construto ETICAGERAL, é consistente ou não entre os construtos exógenos independentes e os demais construtos endógenos, mas não podem ser tomados como definitivos: “Only when the possible mediation is theoretically taken into account and also empirically tested can the nature of the cause-effect relationship be fully na accurately understood, as this type of analysis identifies it’s true result (HAIR, 2014, p. 222).”. Outra questão importante é que normalmente os testes de mediação são realizados com o intuito de introduzir alguma variável num modelo que possa mediar relações entre variáveis exógenas e endógenas já existentes. No caso desta tese, o caminho é o contrário. Busca-se verificar se há aprimoramento do modelo a partir da exclusão da variável de mediação. Destaca-se que a mediação para esta tese já foi comprovada, uma vez que as hipóteses entre os construtos exógenos e endógenos, por meio do construto mediador ETICAGERAL, já foram confirmadas. O modelo sem o construto mediador, portanto, ficaria com a seguinte configuração (FIGURA 8): 220 Figura 8: Modelo sem Construto Mediador ETICAGERAL Fonte: Dados da pesquisa Um teste regularmente usado para verificar o efeito de mediação é conhecido por Teste Sobel (HAIR, 2014). Apesar disso, Hair (2014) aponta que esse teste atualmente tem sido refutado, pois ele demanda alguns pressupostos de distribuição de dados que normalmente não são encontrados em estudos dessa natureza. Além disso, ele se utiliza dos valores do Coeficiente de Caminho, sendo que os parâmetros dos Testes T são mais confiáveis. Por esse motivo, Hair (2014) orienta os pesquisadores a utilizarem o teste de Preacher e Hayes (2004, 2008) e comparar o Teste T dos efeitos indiretos. Esse teste busca averiguar se a medição é ou não significativa na relação, a partir do valor VAF (Variance Accounted). Conforme indicado anteriormente, essas medições partem do pressuposto de que ainda não há uma variável mediadora, diferentemente do modelo desta tese. No caso desta tese, portanto, o caminho foi o inverso. Salienta-se que a mediação existe, tendo em vista que as hipóteses foram confirmadas, a partir do Teste T, entre os construtos exógenos e o construto ETICAGERAL e entre este e os construtos SATISFAÇÃO e LEALDADE. Neste estudo, portanto, tornou-se necessário averiguar se há confirmação de hipóteses na ligação direta entre os construtos exógenos e os construtos SATISFAÇÃO e a LEADADE e, quando houve, se o efeito da mediação é elevado ou não. Num primeiro momento, portanto, testaram-se as hipóteses entre as os construtos exógenos do novo modelo ligados diretamente os construtos SATISFAÇÃO e LEALDADE, conforme a Figura 8. Os resultados para o Teste T, encontrados na Tabela X, mostram que houve confirmação de hipótese principalmente em relação ao construto SATISFAÇÃO, com exceção das hipóteses ETICACON > SATISFAÇÃO no Banco A e VENDASCAS > SATISFAÇÃO no Banco B. Nas relações 221 com o construto LEALDADE praticamente nenhuma relação foi confirmada, com exceção da relação INFOCON>LEALDADE no Banco B, assim mesmo num teste de 5% de margem de erro. Dessa forma, já se constata de antemão que essas relações não confirmadas não precisam de comparação, tendo em vista que já obtiveram confirmação de hipótese com a variável de mediação ETICAGERAL incluída, ou seja, houve piora neste caso. Após essa análise, houve então o teste VAF para as hipóteses que se confirmaram sem a variável de mediação. Vale destacar que o teste VAF segue a seguinte fórmula de caminho (HAIR, 2014; VINZI ET AL, 2010), com base na Figura 9: VAF= (P12 . P13) / P12 . P13 + P23 Figura 9: Modelo Geral de Mediação Fonte: Hair (2014, p. 220) Destaca-se que os valores correspondentes desta tese aos valores P12 e P13 da imagem acima referem-se aos Testes T de construtos exógenos ao construto ETICAGERAL, assim como deste com os construtos SATISFAÇÃO e LEALDADE, conforme Tabela X (ver tópico Novo Modelo de Pesquisa e Medições dos Efeitos F2 e Q2 ). Os resultados para o teste de mediação encontram-se na tabela a seguir (TABELA 20): 222 Tabela 20: Efeito de mediação do construto ETICAGERAL Banco A Banco B Relação INFOCON > SATISFAÇÃO PUBLICIDADE > SATISFAÇÃO AGENCIA > SATISFAÇÃO ETICACON > SATISFAÇÃO VENDASCAS > SATISFAÇÃO INFOCON > LEALDADE PUBLICIDADE > LEALDADE AGENCIA > LEALDADE ETICACON > LEALDADE VENDASCAS > LEALDADE Fonte: Dados da pesquisa Efeito Moderação Teste T Construto Ética Hipót VAF Efeito Moderação Construto Ética 3,779 S 0,960 Alto Alto 2,707 S 0,974 Alto 0,937 Alto 7,787 S x x N x x 3,02 S 0,981 Alto 3,427 S 0,957 Alto 0,69 N x x 0,579 N x x 2,094 S 0,837 Alto 1,107 N x x 0,876 N x x 0,086 N x x 1,133 N x x 0,386 N x x 0,623 N x x 0,103 N x x 1,826 N x x Teste T Hipót VAF 3,95 S 0,962 Alto 4,623 S 0,967 6,024 S 1,677 Destaca-se que diversas hipóteses sequer se confirmaram no modelo em que se retira a variável mediadora, e, portanto, não houve necessidade do teste VAF (lembrando que as hipóteses haviam se confirmado quando há a presença da mediadora). Torna-se necessário, portanto, verificar se o modelo apresentou melhoras nos casos em que a hipótese de ligação direta, sem mediação, se confirmou e em que nível há melhora com a mediação. O teste só não foi executado para a relação AGENCIA>SATISFAÇÃO no Banco B, tendo em vista que a relação entre AGENCIA>ETICAGERAL não fora confirmada nesse banco. Esse foi, portanto, o único caso em que se observa só com a confirmação do Teste T que a relação piora quando há a mediação. Após a aplicação do teste VAF, relativo principalmente à ligação dos construtos exógenos ao construto SATISFAÇÃO, percebeu-se, conforme Tabela 20, que a variável mediadora ETICAGERAL exerce forte influência na relação entre as variáveis exógenas com o construto SATISFAÇÃO. Já que todas as hipóteses foram nulas para o construto LEALDADE, com exceção da relação entre INFOCON e LEALDADE para o Banco B, mediu-se apenas este valor VAF, que também se mostrou elevado. Portanto, com a exceção feita entre 223 AGENCIA>ETICAGERAL no caso do Banco B, percebeu-se que o construto ETICAGERAL exerce função de mediação importante entre as demais relações. 6.3. Conclusões da Etapa Quantitativa de Pesquisa Tendo em vista a quantidade de análises executadas, assim como já terem sido elaboradas conclusões mais precisas sobre cada uma no texto acima, seguem alguns aspectos mais relevantes sobre esta etapa do estudo e seus resultados, principalmente no que tange aos objetivos desta Tese. Para facilitar o entendimento, e também porque esta etapa quantitativa tem dois lados importantes, o resultado das percepções dos públicos acerca dos Bancos e o modelo teórico/gerencial criado, as conclusões a seguir são separadas em duas partes: o instrumento de pesquisa e as percepções dos consumidores sobre a responsabilidade social das instituições bancárias e a análise do modelo proposto. 6.3.1. O Instrumento de Pesquisa e as Percepções dos Consumidores Sobre a Responsabilidade Social das Instituições Bancárias Primeiramente, há de se destacar que o instrumento de pesquisa elaborado para esta tese mostrou-se satisfatório, atendendo aos requisitos básicos de parâmetros estatísticos de análise fatorial exploratória. Isso significa que os construtos elaborados mostraram-se consistentes e atenderam aos objetivos propostos. É, portanto, um bom instrumento para avaliar padrões éticos e socialmente responsáveis, assim como de satisfação e lealdade, de clientes bancários brasileiros em relação a essas instituições. A partir disso, cabe averiguar os resultados encontrados para as duas instituições, principalmente no aspecto da percepção dos públicos consumidores pesquisados sobre elas. Os resultados que interessam a esta análise estão principalmente nas Tabelas 6 e 7 (Análise Descritiva dos Construtos). Por meio dela, percebeu-se que as percepções dos públicos de ambos os bancos são medianas, sendo a grande maioria dos construtos abaixo de 0,6, numa escala de 0 a 10, no que tange ao cumprimento das esferas do Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2013), sobre a atitude ética dos Bancos, assim como acerca das percepções de Satisfação e Lealdade. Esse aspecto é importante, pois entra em contradição com o discurso dos próprios Bancos, que, conforme os Códigos de Ética invariavelmente para as 5 maiores instituições bancárias do país - prezam por um 224 relacionamento ético das instituições com seus públicos, inclusive, ou principalmente, o público consumidor. Esses códigos estipulam também o cumprimento das leis vigentes, como a do Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2013). Isso significa que os próprios bancos se autorregulam, no sentido de serem éticos e cumpridores dos padrões legais vigentes. Vale destacar que todas as afirmativas do instrumento de pesquisa são propositivas, portanto favoráveis aos bancos, o que inclusive deveria contribuir com as análises. Esse resultado é bastante importante a esta Tese, pois confirma a proposição de alguns estudos atuais (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013) de que a RSC, além de não ser cumprida efetivamente, tende a não ser percebida pelos públicos (diferentemente do discurso mercadológico predominante, especialmente dentre grandes organizações). Vale agora destacar detalhadamente alguns dos resultados encontrados. Em relação ao Banco A, percebeu-se haver uma avaliação média dos construtos de 5,6, com um desvio padrão médio de 2,8. A média de resposta, portanto, mostrou-se um pouco à frente do ponto médio, de valor 5. Dentre os 14 construtos propostos, 9 ficaram com a média de respostas girando entre o valor 5 e 6. Dos outros 5, três superam o valor médio de 6: RESPCON (6,34), CONTREC (6,03) e INSPRIO (7,07). E outros 2 estão abaixo do ponto médio 5: VENDAS (4,67) e ETICAGER (4,87). Isso significa, portanto, que os clientes pesquisados, 637 no caso da Banco A, têm uma avaliação bastante medíocre do Banco no que tange a sua RSC e ética. Destaca-se, ainda, que as percepções tendem a se reduzir, quando observadas apenas nos aspectos ligados ao Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2013) e do construto usado para medir a percepção de Ética Geral do Banco. O mesmo ocorre com o Banco B, que possui índices ainda piores. A média global das respostas para essa instituição foi de 5,37 e o desvio padrão médio de 2,67. Houve, portanto, um resultado muito próximo do ponto médio, de 5. No caso do Banco B, 9 construtos apresentaram respostas médias entre 5 e 6, o que reflete a média geral apontada anteriormente. Houve apenas um construto com nota média acima de 0,6, o indicador INSPRIO, com nota 7,085 (semelhante ao Banco A). Chamou a atenção neste caso que houve mais casos de notas abaixo do valor 5, no caso, são 4 construtos: AGENCIA (4,79); VENDAS (4,48); ETICAGER (4,54); FACILCRED (4,9). Percebeu-se, assim, que a avaliação média do público pesquisado quanto ao Banco B também não é positiva, é bastante mediana. 225 Ponto de destaque para ambos os bancos é que o construto ETICAGER, que serve como mediador do modelo estrutural que será apresentado à frente, mostrou-se com nota abaixo do ponto médio. Significa que os bancos se apresentam ao público pesquisado, aproximadamente, 1300 pessoas do meio universitário, como não correspondentes a um padrão ético satisfatório (em uma perspectiva de ética como um comportamento justo para com o outro, assim como os próprios bancos significam essa palavra em seus discursos publicitários, conforme observado nos Códigos de Ética dos bancos). Portanto, aquilo que é pregado no que tange à ética geral não é percebido por clientes de ambos os bancos. 6.3.2. Análise do Modelo Proposto Outro ponto de destaque desta etapa analítica refere-se ao modelo teórico proposto e às hipóteses de pesquisa geradas a partir dele. Como já destacado, o modelo foi avaliado a partir de uma modelagem de Equações Estruturais, por meio do método de PLS (Mínimos Quadrados Parciais), recomendado ao campo do Marketing, especialmente a estudos que buscam avaliar modelos teóricos em estágios exploratórios (HAIR, 2014), como o desta tese. Destaca-se primeiramente que o modelo foi satisfatório em todas as etapas de análises prévias, que buscam averiguar a consistência interna do instrumento de pesquisa e construtos, assim como sua capacidade de realmente coletar as informações a que se propõe, confirmando as Análises Fatoriais Exploratórias executadas anteriormente. Num segundo momento, buscou-se verificar a capacidade preditiva do modelo, assim como as relações existentes entre os construtos, conforme hipóteses. O modelo inicialmente proposto continha 13 hipóteses de pesquisa. Buscou-se avaliar qual o poder preditivo que havia para construtos endógenos, no caso ETICAGERAL, SATISFAÇÃO E LEALDADE, assim como a influência que os construtos gerados a partir do Código de Defesa do Consumidor Bancário exercem sobre a variável ETICAGERAL, e a variável ETICAGERAL sobre as percepções de SATISFAÇÃO e LEALDADE, e de SATISFAÇÃO sobre LEALDADE. Em ambos os Bancos, percebeu-se que o modelo tem boa capacidade preditiva dos construtos endógenos, ou seja, é possível explicar 62% da Ética Geral dos Bancos a partir dos construtos do Código de Defesa do Consumidor Bancário, assim como a Ética Geral e a Satisfação explicam 83% e 80% da Lealdade dos consumidores aos Bancos A e B, respectivamente. Além disso, a percepção de ética geral dos Bancos explica num nível de 31% e 25% para os Bancos A e B, respectivamente, a percepção de satisfação dos consumidores. Ou seja, o bom 226 cumprimento dos padrões normativos do Código de Defesa do Consumidor Bancário leva a uma boa percepção de Ética Geral do Banco, enquanto essa última contribui para as percepções de Satisafção e Lealdade ao banco. Outro aspecto importante foram as hipóteses de pesquisa que buscaram avaliar quais os construtos exógenos exercem maior influência nessas relações, ou mesmo as que exercem influência. Das 13 hipóteses geradas, portanto, conforme análise de Teste T, houve 8 casos confirmados para o Banco A e 7 para o Banco B – o modelo ajustado, que será abordado adiante, teve por base a referência de 8 hipóteses. Tendo em vista que a hipótese confirmada para o Banco A e não confirmada para o B ficou muito próxima de confirmação neste segundo banco, optou-se por mantê-la no modelo ajustado, inclusive porque não houve problemas nesse caso no coeficiente de caminho. O mesmo houve, mas inversamente, entre a relação de Ética Geral e Lealdade. As hipóteses confirmadas são: INFOCON -> ETICAGERAL; PUBLICIDADE -> ETICAGERAL; AGENCIA -> ETICAGERAL; VENDASCAS -> ETICAGERAL; ETICACON -> ETICAGERAL; ETICAGERAL -> SATISFAÇÃO; SATISFAÇÃO -> LEALDADE. Significa dizer, portanto, que é importante aos bancos terem clareza nas informações de contratos, serem transparentes na publicidade bancária, darem um atendimento satisfatório nas agências, evitarem vendas casadas e, obviamente, procurarem manter padrões éticos básicos na relação com os clientes, para que esses tenham uma percepção de ética dos bancos elevada. Além disso, é importante para uma boa percepção de satisfação e lealdade do consumidor a percepção de que o Banco é ético (mesmo que a etapa anterior tenha apresentado que a percepção seja negativa nesse sentido no caso das amostras desta tese), assim como, que haja satisfação para haver lealdade. Esses aspectos são importantes também aos objetivos centrais desta tese, pois demonstram que o consumidor universitário sabe discernir bem sobre os diversos aspectos que compõem a ética bancária e quais são mais ou menos importantes na concepção geral de ética, na satisfação e na lealdade ao banco. Após essa primeira etapa, de averiguação do modelo inicialmente proposto, houve o enxugamento para um modelo composto apenas com as 8 hipóteses confirmadas. A partir desse modelo, foram realizadas as demais análises de confirmação e de ajustes, no caso os efeitos de F2 e Q2. Houve ainda para esse modelo ajustado uma avaliação sobre o poder de mediação do construto ETICAGERAL entre os construtos do código e os de SATISFAÇÃO e 227 LEALDADE, assim como a avaliação se a variável mediadora de Facilidade ao Crédito exerce influência sobre as relações de Ética Geral e Satisfação e Lealdade. Destaca-se, primeiramente, que os indicadores do novo modelo obtiveram uma melhora substancial. Houve a confirmação de todas as novas hipóteses, por meio do Teste T, com exceção da relação entre o atendimento na agência e ética geral para o Banco B (assim mesmo, ela ficou num nível de 10% de aceitação), sendo praticamente todas num nível de 1% de erro. Chamou a atenção também a melhora consistente do coeficiente de caminho. Percebeu-se nessa nova análise que dentre os construtos que exercem influência sobre a percepção de ética geral, a publicidade bancária e as informações de contratos têm peso substancial, com mais de 20% cada. Além disso, que a percepção de ética geral tem forte influência sobre a satisfação. O novo modelo manteve ainda bom parâmetro preditivo dos construtos endógenos, no caso ETICAGERAL, SATISFAÇÃO e LEALDADE, mas neste caso houve pouca alteração sobre o modelo inicial. Após as análises, observou-se, ainda, por meio do teste F2, que não é recomendada a retirada de nenhum construto do novo modelo e que a relevância preditiva também não se altera com a retirada de alguma das variáveis, por meio do teste Q2. Além disso, que o construto de Facilidade ao Crédito, que avaliou em qual o grau de facilidade ao crédito o cliente considera estar o banco, pouco influi nas relações de ética geral e satisfação e lealdade. Portanto, aumentar a facilidade ao crédito não enfraquece a relação que existe entre a percepção geral de ética e as percepções de satisfação e lealdade. E, por fim, houve a análise do poder de mediação do construto ética geral, entre os construtos do código e de satisfação e lealdade. Essa análise mostrou que a ética realmente permeia essa relação, sendo importante manter essa variável no modelo. Percebeu-se, assim, que o modelo atende bem aos objetivos teóricos e gerenciais de avaliar o padrão ético das instituições, assim com suas relações com a satisfação e lealdade, conforme a percepção dos próprios públicos consumidores. Considera-se que essa etapa analítica cumpriu os objetivos desta tese. Destaca-se que os dados aqui encontrados, principalmente no que tange às percepções dos públicos consumidores dos bancos sobre suas questões éticas e socialmente responsáveis, foram confrontados com as percepções de funcionários desses bancos sobre diversos desses aspectos. Esse é um ponto central a esta tese. Essas avaliações, contudo, encontram-se nas conclusões finais deste estudo. 228 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considera-se que esta tese, de maneira geral, atingiu seus objetivos. Por meio das análises elaboradas para investigar as percepções do público consumidor e empregados, foi possível verificar se o discurso de responsabilidade social e ética do Banco A e do Banco B acontece efetivamente ou se ocorre mais no campo das palavras. Observou-se que de modo geral tanto os empregados entrevistados como os clientes pesquisados veem as instituições dissociadas de seus parâmetros éticos (tanto daqueles que lhes são impostos pelo governo, quanto dos que as próprias instituições se impõem, por meio de seus códigos de ética). Apesar de não ter sido objetivo explícito desta tese, além disso, os resultados sugerem haver uma ineficácia das ações publicitárias de RSC no ganho de imagem para as organizações, tendo em vista as percepções negativas que tanto empregados como clientes pesquisados têm das instituições no que tange à ética. Isso reforça a ideia de que a responsabilidade social quando acontece só no campo do discurso tende a ser ineficaz (ou mesmo maléfica) à melhora da reputação das organizações. Destaca-se que esses achados coadunam com os estudos críticos sobre a RSC aqui abordados (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013) e vários, talvez a maioria, daqueles recentes que são otimistas sobre a possibilidade de efetivação dessa ideologia – assim como alguns usados para esta tese (PORTER ET AL, 2011; ACHROL E KOTLER, 2012), que claramente veem uma desconexão entre a realidade diária das organizações e seus discursos éticos e, ou, socialmente responsáveis na maioria das situações. Outro aspecto importante é que os estudos em RSC, especialmente no Brasil, conforme já destacado no referencial, carecem de avaliações empíricas mais consistentes, especialmente no que tange a avaliações de públicos diversos a parâmetros de RSC, e acredita-se que esta tese também atendeu a esse objetivo. Abaixo, seguem as conclusões conforme objetivos secundários estabelecidos. Conclusões por objetivos secundários Objetivo Secundário 2.2.1 – Verificar a percepção que empregados dos bancos A e B possuem dessas instituições, especialmente no que tange à preocupação dos bancos com o 229 bem estar e a qualidade de vida de seus trabalhadores e com os consumidores, assim como sobre os parâmetros éticos das instituições, por meio dos Códigos de Ética dessas organizações.) As entrevistas com os empregados mostraram que existe pouca preocupação efetiva dos Bancos com a qualidade de vida de consumidores e, especialmente, dos empregados. Nas duas instituições, mas especialmente no Banco A, os empregados de um modo geral apontaram que as metas acabam se sobrepondo na prática diária aos padrões éticos que lhes são impostos e ao banco. Por exemplo, os empregados relataram em ambos os bancos que lhes são passadas, por meio dos Códigos de Éética das instituições, recomendações para que só se venda crédito que não prejudique o consumidor, mas que no dia a dia, em função da pressão por metas, os consumidores são incentivados a assinarem contratos sem ler e sem compreender seus termos, principalmente consumidores de baixa renda (observação apontada tanto em um banco, como no outro). E também, que não há uma real preocupação das instituições com o endividamento dos consumidores. Apesar disso, os empregados relataram que os Bancos possuem bons sistemas de sigilo de informações de clientes e de reclamações (destaca-se que essa percepção sobre os sistemas de reclamações não é compatível com a percepção dos consumidores universitários pesquisados nesta tese). A qualidade de vida do empregado também é relegada a segundo plano em ambas as instituições. Nos dois casos, mas principalmente no Banco A, houve queixas com relação à baixa remuneração e quanto a doenças ocupacionais (este aspecto foi recorrente em ambos), geradas principalmente por estresse e metas excessivas. O ponto positivo neste aspecto nos dois bancos foram os planos de saúde, apontados como bons nos dois casos, e a liberdade para associação ao sindicato (apesar de em ambos ter havido denúncia de não se permitir o exercício do sindicalismo). Percebeu-se, assim, que não existe por parte dos bancos, na percepção dos empregados entrevistados, uma real preocupação com a qualidade de vida de seus públicos consumidores e trabalhadores. Há uma desconexão, portanto, entre o discurso de RSC e a prática cotidiana das organizações, além de indícios bastante fortes de que não há possibilidade de efetivação da responsabilidade social no dia a dia dessas empresas, o que coaduna com a vertente crítica da RSC analisada para esta tese (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013). 230 Objetivo Secundário 2.2.2 - Avaliar se os discursos oficiais dos bancos que se relacionam a práticas de responsabilidade social e ética, por meio dos seus Códigos de Ética, são compatíveis às percepções dos empregados entrevistados. De modo geral, a percepção dos empregados é negativa quanto à ética dos bancos – lembrando que do total de entrevistados, 21 foram muito incoerentes com os Códigos de Ética, sendo 10 no Banco A e 11 no Banco B, e 5 indefinidas (lembrando que as consideradas indefinidas também não mostraram normalmente compatibilidade com os princípios dos códigos). Dos 18 empregados em níveis gerenciais e estratégicos entrevistados, além disso, 11 fizeram relatos bastante negativos aos bancos nos quesitos dos códigos e 2 entrevistas foram indefinidas. Quando analisadas as categorias separadamente, das 7 categorias avaliadas nos dois bancos os empregados mostraram uma impressão negativa em 5 em ambos os casos (inclusive nas que se referem ao relacionamento dos bancos com empregados e clientes, assim como na avaliação geral de ética). Apesar de ter havido alguns pontos positivos, como a boa impressão quanto ao plano de saúde ou sobre o sigilo de informações dos consumidores, ou sobre as condições físicas adequadas do ambiente de trabalho, os empregados apontaram, em ambos os casos: que há uma boa disseminação dos valores do código de ética, mas que na prática os bancos se resumem a cumprir o que a lei determina, ou nem isso (o que fere o princípio do próprio código); que há metas abusivas, aspecto sistematicamente apontado (inclusive nas entrevistadas julgadas como favoráveis aos bancos) e baixa remuneração (especialmente no Banco A); problemas de saúde ocupacional, principalmente saúde mental, gerados por stress das metas; problemas de favorecimento político, especialmente no Banco B; permissão para associação ao sindicato, mas coação à prática sindical; pouca transparência na apresentação das cláusulas contratuais e condições de pagamentos, especialmente de financiamentos e para pessoas de baixa renda e escolaridade; baixa preocupação com a saúde financeira dos consumidores, especialmente no Banco B; e prioridade aos interesses dos acionistas sobre os demais, aspecto que, apesar de parecer óbvio, é condenado em todos os Códigos de Ética. Chamou a atenção também ser comum os empregados apontarem que o banco é responsável com a comunidade, mas não souberam mostrar programas voltados à comunidade do próprio bairro onde trabalham (especialmente no Banco A, no Banco B foram apontados alguns). 231 Outro ponto importante é que com boa frequência os empregados apontaram como responsáveis aos desvios éticos dos bancos seus próprios empregados. Muitos isentaram as instituições, principalmente em função das orientações que recebem via comunicação interna para que tenham um comportamento ético, especialmente no Banco A. Para essas pessoas o banco cumpre seus objetivos éticos, mas os empregados, como indivíduos, os deturpam. Quando perguntados sobre a relação que há entre essa questão e as metas que são impostas, contudo, muitos entraram em contradição ou mesmo mudaram de opinião (lembrando que 35 entrevistados, sendo 15 do Banco A e 18 do Banco B, apontaram, direta ou indiretamente, as metas como excessivas ou abusivas). Cabe, inclusive, retomar a fala do Entrevistado 18 do Banco A (que exerce uma função estratégica no Banco): Se pudesse resumir, eu falaria da seguinte forma. O banco, ele demonstra que tem uma personalidade ética. Que ele se preocupa com o cliente, se preocupa com o funcionário, enfim. Mas, as normas que regem o banco, e tudo o que ele precisa fazer para o negócio rodar, do varejo, faz com que ele entregue essa ética toda e essa moral nas mãos do funcionário. E acaba que o funcionário assume uma posição antiética. Então, assim, ele (o banco) se exime dessa responsabilidade. Então, isso ele é muito cruel. Então, ele joga o peso no funcionário. É o exemplo do título de capitalização que te falei. O banco não faria isso. É igual eu te falei. Ele te dá a ética. Só que você vai ter que bater a sua meta e você escolhe se vai ser ético ou não (Entrevistado 18, Banco A). Salienta-se, uma vez mais, que a ética não é uma noção absoluta, assim como o comportamento das pessoas. Assim, apesar de se ter percebido um grande número de relatos de empregados, em ambos os bancos, apontando desvios pessoais e dos colegas, e em contrapartida colocando a instituição e seus diretores como exemplo moral, nem um lado significa ser corrupto, na acepção da palavra, e nem o outro justo (muito pelo contrário, ao que se viu, neste segundo caso). Isso também não significa, obviamente, que sejam todos corrompidos por natureza ou honestos por natureza. A seguinte passagem, do texto de Srour (2013, p. 2), lembra essa questão. Dando uma guinada de 90% graus, avaliemos agora outra presunção: a de que os homens estão divididos, desde o nascimento, em “maçãs boas / maçãs podres”. Bastaria às empresas, então, separar o joio do trigo, distinguir quem presta e quem não presta. Outra falácia! Abundam relatos sobre “gente de bem” que, acuada pelas circunstâncias ou enfeitiçadas pelos mais variados apelos, torna-se refém de uma espiral de desvios morais. É a síndrome de Davi. 232 As análises, portanto, mostraram-se satisfatórias para avaliar o Objetivo 2.2.2. Notou-se que há baixa compatibilidade entre o discurso dos Códigos de Ética com a percepção dos empregados, apesar de algumas exceções em alguns quesitos e na avaliação feita separadamente por empregados. Essas conclusões também coadunam com a vertente crítica da RSC analisada nesta tese (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013). Objetivo Secundário 2.2.3 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem dessas instituições, no que tange ao cumprimento do Código de Defesa dos Consumidores Bancários (BACEN, 2011). De modo geral, os clientes fizeram uma avaliação positiva deste quesito, mas com notas que ficaram muito próximas da média, em geral próximas de 5 por construto. Percebeu-se que tanto os clientes do Banco A como do Banco B têm uma visão levemente positiva dos quesitos de: informações, respostas e linguagens de contratos; contatos para reclamações; publicidade; e ética com o consumidor. Além disso, em ambos o construto relativo ao tópico de instalações para clientes prioritários mostrou-se satisfatório, acima de 0,7, em média. Os aspectos apontados como negativos, no que tange ao Código de Defesa do Consumidor Bancário, foram do construto de Vendas Casadas, assim mesmo próximos da média. Destacase que no geral o Banco A foi um pouco melhor avaliado. Em todos os quesitos, os desvios foram moderados, próximos de 2,5. Apesar de ter havido uma média de respostas positivas, considera-se que o resultado fica muito abaixo do que deveria ser considerado bom, tendo em vista que foram analisados aspectos legais que os bancos devem seguir. Destaca-se que ambas as instituições declaram-se preocupadas em cumprir as leis, especialmente do direito do consumidor, em todos os seus âmbitos. Defende-se aqui, portanto, que deve haver lacunas sérias entre o código e as práticas dos bancos para que as avaliações, apesar de positivas no geral, tenham ficado tão próximas de resultados intermediários. Além disso, quando avaliada a ética geral dos bancos, em ambos as avaliações foram negativas. Essas conclusões estão compatíveis com a vertente crítica da RSC analisada nesta tese (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013). 233 Objetivo 2.2.4 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem dessas instituições no que tange à ética geral. Percebeu-se em ambos os bancos que os clientes fazem uma avaliação negativa quanto à ética das instituições. Esse construto, ressalta-se, teve por objetivo apurar se na percepção dos consumidores os bancos são justos, equitativos, com seus públicos (houve um construto que era específico com a ética com clientes). Destaca-se que em ambos os bancos as notas ficaram abaixo da média, mas próxima desta: 4,87 no Banco A e 4,54 no Banco B. Esse aspecto é interessante, pois vai ao encontro da percepção dos empregados. Além disso, a percepção é claramente contrária aos discursos oficiais dos bancos, que em ambos os casos declararam a ética com todos os públicos como um norte institucional. Claramente aqui houve uma desconexão também entre discurso e percepção (algo importante do ponto de vista teórico, conforme será destacado adiante). Essa conclusão também está de acordo com a vertente crítica da RSC analisada para esta tese (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013). Objetivo 2.2.5 - Verificar a percepção que clientes dos Bancos A e B possuem sobre os serviços das organizações, avaliando a satisfação e lealdade desses públicos. As duas organizações foram avaliadas positivamente nos dois quesitos, mas também com uma média bem baixa, ambas próximas do ponto médio (5, numa escala de 0 a 10). Deste modo, não é possível declarar que os clientes veem os serviços dos Bancos A e B como satisfatórios. Percebeu-se, além disso, que a lealdade ao banco é intermediária, pois em ambos as notas ficaram próximas de 5,5 na média dos construtos. Destaca-se que nos dois bancos tanto a satisfação quanto a lealdade de clientes tiveram desvios moderados, em torno de 3 (pouco mais que 3 no Banco A nos dois construtos). Houve, portanto, um número significativo de respostas negativas e positivas. Seria interessante, com base no banco de dados coletados, em uma futura pesquisa averiguar se há correlações entre dados demográficos e essas perspectivas. 234 Objetivo 2.2.6 - Verificar o impacto de cada variável do Código de Defesa do Consumidor Bancário na percepção geral de ética dos clientes. Esse objetivo refere-se às hipóteses 1 a 10 (Quadro 61): Quadro 61: Hipóteses dos Objetivos 2.2.6 e 2.2.7 H1 Há uma influência positiva da percepção de clareza de informações em contratos (INFOCON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H2 Há uma influência positiva da percepção de respostas a contratos (RESPCON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H3 Há uma influência positiva da percepção de linguagem de contratos (LINGCON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H4 Há uma influência positiva da percepção de contatos para reclamações (CONTREC) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H5 Há uma influência positiva da percepção de transparência da publicidade do banco (PUBLICIDADE) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H6 Há uma influência positiva da percepção das instalações para públicos prioritários no banco (INSPRIO) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H7 Há uma influência positiva da percepção de clareza de informações sobre serviços (CLARINFO) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H8 Há uma influência positiva da percepção de atendimento na agência (AGENCIA) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H9 Há uma influência positiva da percepção de não haver vendas casadas do banco (VENDASCAS) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H10 Há uma influência positiva da percepção de ética com o consumidor do banco (ETICACON) sobre a percepção de ética do banco (ETICAGER). H11 Há uma influência positiva da percepção de ética do banco (ETICAGER) sobre a satisfação com o serviço bancário (SATISFAÇÃO). H12 Há uma influência positiva da percepção de ética do banco (ETICAGER) sobre a lealdade de clientes com o banco (LEALDADE). H13 Há uma influência positiva da satisfação do serviço bancário (SATISFAÇÃO) sobre a lealdade com o serviço bancário (LEALDADE). Fonte: Dados da Pesquisa 235 Buscou-se, assim, investigar quais os construtos que realmente impactam na percepção de ética do banco e quais são mais importantes. Percebeu-se que o modelo de pesquisa possui boa consistência, tendo em vista que a Ética Geral dos bancos é explicada em 62% pelos construtos dos códigos, nas duas instituições. Das hipóteses deste objetivo, que são 10, confirmaram-se 5 no Banco A e 4 no Banco B, mas, conforme já destacado, optou-se por manter as 5 no modelo final, tendo em vista que são os mesmos construtos em ambos os bancos e porque a hipótese confirmada no Banco A e não confirmada no B, de número 8, ficou muito próxima de padrões aceitáveis no Banco B. Foram aceitas, portanto, as hipóteses de número: 1, 5, 8, 9 e 10. Os resultados demonstram que é importante para os Bancos seguirem o Código de Defesa do Consumidor Bancário para serem percebidos como éticos (o que afeta, como apontado nas demais hipóteses, na percepção de satisfação com as instituições), especialmente nos aspectos ligados a: clareza de informações de contratos; transparência na publicidade do banco; qualidade no atendimento na agência; não prática de vendas casadas; e ao tratamento ético com consumidores. Objetivo 2.2.7 - Verificar o impacto da percepção de ética dos consumidores na lealdade e satisfação desses em relação ao Banco, assim com da satisfação de consumidores com a lealdade. Este objetivo refere-se às hipóteses 11 a 13 do Quadro 61. Verificou-se que a percepção de ética influencia positivamente a satisfação, sendo 31% no Banco A e 25% no Banco B. Além disso, que a satisfação e a percepção de Ética têm forte influência na intenção dos consumidores de se manterem fiéis aos bancos, tendo em vista que os construtos de Lealdade são explicados em 83% e 80% nos Bancos A e B, respectivamente, pelos construtos de Ética Geral e Satisfação. Conforme já destacado nas conclusões da Etapa II de pesquisa, esses resultados mostram que é importante aos Bancos serem percebidos como éticos para alcançarem a satisfação, assim como para terem a intenção dos consumidores de manterem fiéis a eles. Interessante aqui observar que os empregados de ambos os bancos relatam haver sérios problemas éticos das 236 instituições no relacionamento com seus clientes, especialmente na transparência, o que é reforçado pelas impressões dos clientes, que também deram notas intermediárias para aspectos de satisfação e lealdade, assim como para aspectos de transparência de contratos e publicidade. Objetivo 2.2.8 - Avaliar se o discurso oficial dos bancos que se relacionam a práticas de responsabilidade social é compatível à percepção de clientes. Considerou-se haver pouca compatibilidade entre os discursos socialmente responsáveis e éticos dos bancos com as percepções de clientes pesquisados. Percebeu-se que há baixa percepção de ética dos bancos e que os consumidores percebem que as instituições seguem intermediariamente aspectos do Código de Defesa do Consumidor Bancário, portanto, têm compromisso relativo com normas legais. Destaca-se que essas respostas assemelham-se às impressões intermediárias de satisfação e lealdade. 7.2. Implicações Teóricas A pesquisa reforçou a ideia de falta de sustentação prática dos conceitos ligados à RSC, algo já apontado por muitos autores na área da administração atualmente, conforme visto no referencial desta tese (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013), inclusive por estudos favoráveis ao tema (PORTER, 2011; CHRISTENSEN et al., 2013), o que reforça a falta de sustentação teórica da área. Ela, assim, coaduna com os estudos críticos de haver impossibilidade, na maioria das situações, de conjugar a RSC, e, consequentemente, os conceitos de marketing ligados ao tema com os sistemas que regem as empresas, pautados basicamente em metas, normalmente de curto prazo, voltadas principalmente para o ganho do acionista. É bastante provável, inclusive, que esse uso indiscriminado dos conceitos de ética e RSC no discurso mercadológico possa contribuir, ou já está contribuindo, para tornar o campo do marketing ainda mais contestado social e academicamente. Vale lembrar que, mesmo quando vista como ciência, cabe à ética estudar comportamentos morais contestáveis do ponto de vista da justiça, e não servir de justificativa a esses comportamentos, como parece ser o caso dos conceitos de responsabilidade social ligados ao marketing. Isso pode sugerir que o 237 discurso publicitário de RSC da maneira como é feito tende a trazer prejuízos ao campo do marketing, o que valeria um debate mais consistente e aprofundado sobre a questão. Esses resultados também mostram haver necessidade de debates acadêmicos e pesquisas mais aprofundadas sobre a RSC, principalmente levantamentos empíricos, como sugerem os estudos internacionais críticos do tema aqui analisados (FLEMING et al., 2013, 2013; SANDERS, 2012; MARENS, 2013; COSTAS et al., 2013; RAJAK, 2011; VELDMAN, 2013; AAKEN et al., 2013). Especialmente sobre os reais objetivos e ideologias que perpassam esse campo, e também sobre qual realmente deve ou não ser papel de empresas privadas numa sociedade, assim como sobre o que dessas deve-se esperar. Salienta-se que esse debate tem forte relação com questões econômicas, políticas, tributárias e regulatórias que tangenciam o cotidiano das organizações e da própria sociedade, de forma que a teoria aqui, ou aquilo que se toma por teoria, pode ter implicações bastante sérias. Além disso, não se deve deixar de lado que os conceitos de RSC já são usados como estratégia das organizações há décadas e têm forte relação com o crescimento de ideologias liberais, o que reforça a necessidade dessas revisões. Outra contribuição teórica deste estudo foi verificar que, mesmo que os bancos não tenham um agir ético com clientes (tanto na visão dos próprios clientes como na dos empregados), existe uma relação positiva entre a obediência às leis com a percepção ética e desta com a satisfação e lealdade com o banco. Esse aspecto, assim, reforça os conceitos teóricos que estabelecem relação entre a ética corporativa e o ganho de vantagens competitivas (lembrando que a percepção de ética aqui não acontece, como mostraram os levantamentos, apenas com base no discurso publicitário). Apresentou-se também aqui um modelo que preenche requisitos estatísticos e conceituais necessários, conforme a literatura em questão (HAIR, 2014), e que pode servir como bom instrumento para pesquisas empíricas sobre a RSC de bancos no Brasil e como esta se relaciona à satisfação e lealdade de consumidores com as instituições. Acredita-se também que exista grande possibilidade de que o modelo possa ter aplicação em outros contextos, portanto em outros países, tendo em vista que as regulamentações do Código de Defesa do Consumidor Bancário (BACEN, 2011), usadas para a elaboração de diversos construtos, têm por base aspectos morais que afligem o relacionamento entre bancos e seus clientes em praticamente todos os contextos, como: de juros abusivos; de publicidade enganosa; de vendas casadas; de presteza no atendimento; de respeito a pessoas com deficiência; de transparência e clareza nos contratos; etc. 238 Implicações Gerenciais Primeiramente, destaca-se a necessidade de que os gestores tenham mais ceticismo no uso do discurso socialmente responsável e ou ético, tanto no âmbito interno como no externo às organizações. Os levantamentos empíricos deste estudo sugerem que não há uma percepção real de clientes e empregados de que as organizações bancárias estudadas são éticas, portanto justas ou equitativas com seus públicos e que ambas fazem uso recorrente do discurso socialmente responsável e ou ético. Vivemos uma época de fortes transformações das comunicações, é bom frisar, de forma que a desconexão entre prática e discurso corporativos podem ser um caminho muito perigoso para a construção de uma reputação organizacional sólida. As empresas hoje têm pouco, ou nenhum, controle sobre as informações que são geradas a seu respeito, de maneira que a desconexão entre o discurso publicitário e as ações cotidianas podem trazer prejuízos consideráveis de imagem (e não são poucos os casos na literatura atual que sustentam isso). Nesse sentido, ressalta-se a necessidade de que as organizações reforcem seus mecanismos de investigação de imagem corporativa e alinhem cada vez mais a identidade projetada a essa questão (lembrando que não só as ações publicitárias das empresas constroem essa reputação, muito antes pelo contrário). Esta tese também apresentou um modelo teórico ajustado e que pode contribuir para que instituições bancárias possam coletar informações de percepções de clientes acerca de questões legais e éticas, assim como da satisfação e intenção de lealdade desses com os bancos. Além disso, o modelo permite traçar relações entre essas questões e, portanto, estabelecer inferências. Esse instrumento pode ser útil no processo de investigação e planejamento de lideranças e consultores do setor bancário. Por fim, ressalta-se a necessidade de se debaterem mais consistentemente políticas públicas de regulação e controle sobre as questões éticas e legais das empresas, especialmente àquelas que fazem uso do discurso de RSC, ou seja, que tentam por meio da responsabilidade social obter vantagens competitivas. Isso reforça as percepções de alguns estudos críticos sobre a RSC (FLEMING et al.) e vai ao encontro da avaliação de Pikkety (2012) de que a desregulamentação de mercados normalmente leva a desequilíbrios econômicos e sociais. 239 Restrições da Pesquisa Ressaltam-se as seguintes restrições deste estudo: - Os empregados são apenas da cidade de Belo Horizonte e região, de forma que questões ambientais locais podem afetar as percepções que possuem dos bancos. - A pesquisa foi feita apenas, ou basicamente, com clientes do segmento universitário. Seria interessante realizar levantamentos com outros segmentos e traçar comparações entre percepções. É bastante provável que segmentos “premiuns”, portanto de rendimentos mais altos, tenham uma visão mais positiva dos bancos, por exemplo, tendo em vista receberem, conforme afirmaram vários empregados entrevistados, tratamento muito melhor. - Seria interessante realizar uma investigação mais detalhada dos discursos socialmente responsáveis dos bancos (isso foi, inclusive, proposto no projeto desta Tese, mas em função de tempo e recursos foi impossível realizar esta etapa). Vale destacar, contudo, que o leitor deste trabalho pode buscar, por meio dos links disponíveis nas Referências, os Códigos de Ética das instituições e outros veículos publicitários que reforçam o posicionamento ético e socialmente responsável dos 5 maiores Bancos do país (atenta-se neste caso para o fato de que todas as instituições citadas possuem Balanços Sociais Corporativos e links voltados para a RSC e sustentabilidade, além dos Códigos de Ética aqui utilizados, disponíveis em seus sites). 240 8. 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