Necessidades da pessoa idosa com deficiência
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Necessidades da pessoa idosa com deficiência
Necessidades da pessoa idosa com deficiência intelectual no contexto atual. Reflexões sobre a clínica do envelhecer: sobre necessidades, demandas, à escuta do desejo. Artigo apresentado por meio de Palestra intitulada “Necessidades da pessoa idosa com deficiência intelectual no contexto atual – reflexões sobre a clínica do envelhecer: sobre necessidades, demandas, à escuta do desejo”, em Mesa-redonda: Envelhecimento saudável da pessoa com deficiência intelectual, no XXIV Congresso Nacional das APAES e V Fórum Nacional de Autogestão, Autodefesa e Família Pessoas com deficiência, suas famílias e suas organizações: agentes de transformação social, entre os dias 06 a 09 de novembro de 2011, na cidade de Belém – Estado do Pará. Palestra proferida em 08 de novembro de 2011. AUTOR: Ricardo Luiz Alves Pimenta Psicólogo - Centro de Convivência – APAE de Itaúna – Instituto Santa Mônica Graduado pela FUNEDI – UEMG – Divinópolis (MG) Membro do Parlêtre – Psicanálise, Pesquisa e Transmissão – Divinópolis (MG) Especializando em Saúde Mental – PUC Minas - Pontifícia Universidade Católica (MG) [email protected] http://lattes.cnpq.br/8924120563690603 REVISÃO: Darci Fioravante Barros Barbosa Fisioterapeuta – Graduada pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais - FCMMG Secretária Executiva da Federação das APAES - Estado de Minas Gerais Superintendente da APAE - Belo Horizonte [email protected] [email protected] Instituto Santa Mônica – APAE de Itaúna Rua Cunha Quitão, 281 – Chácara do Quitão - CEP: 35.680.417. [email protected] www.itauna.apaebrasil.org.br RESUMO O presente trabalho traz reflexões sobre o processo de envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual, buscando compreender os sinais que este apresenta, demarcando uma discrepância entre a idade cronológica e a funcionalidade. Pesquisas apontam que estes sinais são nomeados de envelhecimento antecipatório, devido aos desdobramentos da própria deficiência, como também de síndromes específicas e do contexto de cada pessoa. O trabalho enfatiza a importância do serviço especializado para a pessoa com deficiência intelectual no processo de envelhecimento, no âmbito da Rede APAE. Sinaliza a possibilidade de uma clínica tecida por vários, onde técnicos, oficineiros, educadores, professores, entre outros, apontam para a importância do diálogo para efetivar uma práxis permeada pela integralidade das ações. O trabalho traz uma articulação com a pesquisa apresentada no XI Congresso da Rede Mineira das APAES e Fórum Mineiro da autogestão, autodefesa e família da pessoa com deficiência intelectual, apresentada entre os dias 12 a 15 de agosto de 2010, na cidade de Uberlândia. Nesta ocasião, a pesquisa trouxe reflexões em torno de um dispositivo para estes usuários e seus familiares: o Centro de Convivência inserido na Rede APAE. Com as áreas da saúde, educação e social, a partir da orientação psicanalítica, aponta-se que, neste cenário atual, é possível articular as necessidades e as demandas apresentadas por estes e seus familiares, demarcando uma escuta do desejo. Acredita-se que o trabalho seja um importante veículo de pesquisa, apontando para a articulação com a prática, objetivando a melhoria dos serviços e programas oferecidos às pessoas idosas com deficiência intelectual ou no processo de envelhecimento, com o apoio à família. PALAVRAS-CHAVE: envelhecimento; deficiência intelectual; saúde; centro de convivência; psicanálise. 2 INTRODUÇÃO O envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual e múltipla, é uma discussão recentemente nova, justamente porque estas pessoas até muito pouco tempo não vivenciavam esta fase da vida. Este tema tem trazido à Rede APAE a necessidade de estudos e pesquisas em torno desta fase da vida: a velhice, devido ao número de usuários que estão envelhecendo, coincidindo com o envelhecimento de seus familiares, onde demanda uma reflexão sobre a prática e os programas que lhes são oferecidos. NERI (2007), organizadora do livro Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar, aponta-nos: Focalizar o processo de envelhecimento nos dias de hoje implica focalizar também o envelhecimento da pessoa com deficiência mental, uma vez que os avanços científicos e sociais que permitiram o aumento da longevidade da população de modo geral, permitiram igualmente o aumento da longevidade das pessoas com atraso no desenvolvimento intelectual. (2007, p. 251) A temática do envelhecimento pede-nos uma reflexão subjetiva, pois localizamos em nós muitas dificuldades em lidar com esta fase da vida, principalmente na contemporaneidade, onde esta desafia o corpo à imortalidade. Segundo BEAUVOIR (1990), em seu livro A velhice1, relata-nos que “morrer prematuramente, ou envelhecer: não há alternativa. A velhice é particularmente difícil de assumir, porque sempre a consideramos uma espécie estranha”. A UNIAPAE (2011) no Curso: Envelhecimento e Deficiência Intelectual - desafios e perspectivas em uma abordagem interdisciplinar2, afirma-nos: Cada vez mais cedo mulheres e homens iniciam tratamentos estéticos na tentativa de esconder o próprio envelhecimento. Estudar o processo de envelhecimento, bem como a velhice, coloca-nos diante de questões, que, de certa forma, aponta para importantes atravessamentos do homem: o tempo, o corpo e suas 1 BEAUVOIR (1990, p. 347 – 348) Módulo 01 - Capítulo Morte e Fim de vida http://cursos.uniapae.org.br/cursonovo/category.php?id_category=5&orderby=price&orderway=desc 2 3 vicissitudes, a sexualidade, o desejo, a qualidade de vida, o trabalho e a produção, a aposentadoria, a morte, a religião, o fim de vida, entre tantas outras questões. Trabalhar com esta temática implica em entrar em contato com o nosso próprio envelhecimento e ciclo de vida. Quando se trata da gerontologia3, estes se tornam temas intrínsecos ao desenvolvimento global do assunto. Isso porque envelhecer significa acumular experiência de vida, mas também lidar com questões relativas ao tempo passado, presente e futuro, re-significar acontecimentos que foram deixados de lado em outros tempos e questionar o significado da morte. De acordo com PLETSCH (2006), em seu artigo O envelhecimento das pessoas com deficiência mental: um novo desafio4 relata-nos que “o envelhecimento das pessoas com deficiência mental é, de fato, um fenômeno recente na história brasileira. A expectativa de vida dessa população sempre foi muito curta”. Assim, nota-se a importância de investir em estudos sobre o envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual, haja vista que, os profissionais que atuam com estes usuários e seus familiares, necessitam localizar as necessidades e as demandas específicas desta fase da vida, principalmente quando os sinais do envelhecimento, nas pessoas com deficiência intelectual não correspondem ao processo de suas idades cronológicas. Neste sentido, o trabalho traz estudos importantes sobre os sinais de envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual, sinalizando as possibilidades e os desafios da clínica do envelhecer, com reflexões práticas no âmbito da Rede APAE. Traz ainda sinalizações sobre os desafios das famílias neste cenário atual, demarcando a importância da escuta junto a estes, onde, em muitas ocasiões encontram-se também envelhecidos. Por fim, o trabalho traz relatos de experiência, através da APAE de Itaúna – Instituto Santa Mônica, com considerações importantes sobre o Centro de Convivência, que, no qual, demonstra-se um dispositivo junto às pessoas idosas com deficiência intelectual ou em processo de envelhecimento e apoio aos seus familiares. 3 A Gerontologia é o campo de estudos que investiga as experiências de velhice e envelhecimento em diferentes contextos socioculturais e históricos, abrangendo aspectos do envelhecimento normal e patológico. Investiga o potencial de desenvolvimento humano associado ao curso de vida e ao processo de envelhecimento. Caracteriza-se como um campo de estudos multidisciplinar, recebendo contribuições metodológicas e conceituais da biologia, psicologia, ciências sociais e de disciplinas como a biodemografia, neuropsicologia, história, filosofia, direito, enfermagem, psicologia educacional, psicologia clínica e medicina. (Neri, 2008, p.15) 4 Palestra proferida no 10º Congresso Estadual das APAES de Minas Gerais e 3º Fórum de Autodefensores – Acessibilidade e inclusão: convivência universal. São Lourenço/MG, 2006. Disponível em: http://www.eduinclusivapesq-uerj.pro.br/livros_artigos/pdf/defic_envelhec.pdf 4 DESENVOLVIMENTO I - Demarcações sobre os sinais de envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual. A clínica do envelhecer: possibilidades e desafios. Através de pesquisas e estudos, sabe-se que o processo de envelhecimento das pessoas com deficiência intelectual acontece de modo atípico e precoce, que nomeamos de “sinais do envelhecimento”, com comprometimentos em suas habilidades cognitivas, sensoriais, adaptativas, afetivas e sociais, podendo alterar sua autonomia e independência. A UNIAPAE (2011) no Curso: Envelhecimento e Deficiência Intelectual - desafios e perspectivas em uma abordagem interdisciplinar5, orienta-nos: O envelhecimento das pessoas com deficiência intelectual traz diversas perdas funcionais e um alto índice de demenciação. Com freqüência, essas pessoas apresentam sinais de envelhecimento já a partir dos 30 ou 40 anos de idade, o que implica na necessidade de cuidados específicos para a população idosa. Pode-se afirmar, que, estes sinais de envelhecimento que surgem em torno dos 30 anos de idade, ocorre devido ao uso prolongado de medicamentos tais como os neurolépticos e anticonvulsivos, causando problemas secundários de saúde, como desmineralização, osteoporose e desordens do movimento: como prejuízo na mobilidade e diminuição da força muscular. Estas informações apontam-nos para a importância da prática da atividade física regular e práticas de movimento corporal para as pessoas com deficiência intelectual no processo de envelhecimento. SIMÕES (1998), na dissertação de mestrado, Corporeidade e terceira idade: a marginalização do corpo idoso, esclarece-nos: A programação e a efetiva realização de atividade física regular assumem papel de extrema importância na interrupção deste ciclo de deteriorização da saúde, considerando que os exercícios físicos e recreativos podem retardar o curso de algumas modificações orgânicas que trazem prejuízos, e até mesmo interromper a evolução de outras. É necessário alertar os profissionais que trabalham com esta fase de desenvolvimento, em especial o professor de educação física, para a importância de confiar nas potencialidades do corpo idoso. (SIMÕES, 1998.128p.) 5 Módulo 02 – Envelhecimento e Deficiência Intelectual http://cursos.uniapae.org.br/cursonovo/category.php?id_category=5&orderby=price&orderway=desc 5 Considera-se que, há sinais de um envelhecimento antecipatório, mas, a partir da orientação psicanalítica, articulamos algo que não envelhece: o sujeito do desejo. Avançaremos nesta discussão adiante. NERI (2007), novamente esclarece-nos: Neste contexto, importa conhecer as características e as necessidades da pessoa com deficiência mental em processo de envelhecimento para que seja possível promover sua inclusão na vida comunitária e contribuir para a sua qualidade de vida. (2007, p. 251 e 252) Na verdade, esta é uma reflexão importante que a autora nos possibilita. Conhecer as necessidades das pessoas com deficiência intelectual em processo de envelhecimento, convida-nos a uma articulação importante: habilidade e agilidade; diante dois elementos significativos da existência: o tempo e o corpo. HERCULANO & PIMENTA (2010) 6, apresentaram no XI Congresso da Rede Mineira das APAES, reflexões em torno das habilidades das pessoas adultas com deficiência em processo de envelhecimento. Habilidades perdidas ou um novo tempo para executar as mesmas habilidades? O desejo de aprender envelhece? Nesta discussão, percebe-se que, na maioria das vezes, a pessoa com deficiência intelectual que está envelhecendo é visto como um sujeito que perdeu as habilidades, como também, em muitas ocasiões, é (re)conhecido como alguém que não possui desejos. De acordo com (MUCIDA, 2004) em seu livro O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice, somos convocados ao desafio: Diante do inexorável envelhecimento corporal, possibilitar que o sujeito encontre novas formas de inscrever e vestir o desejo. (MUCIDA, 2004, p. 12) Assim, diante do contexto atual, em que pessoas com deficiência intelectual vivenciam o processo de envelhecimento de modo atípico e antecipatório, caracterizando uma velhice funcional, a clínica do envelhecer convoca-nos a articular as necessidades e as demandas apresentadas por estes usuários e seus familiares, demarcando uma escuta do desejo. 6 Centro de Convivência na APAE de Itaúna: a pessoa adulta com deficiência a apontamentos o sobre o processo de envelhecimento. Artigo apresentado na mesa-redonda: Envelhecimento, no XI Congresso da Rede Mineira das APAES e Fórum Mineiro da autogestão, autodefesa e família da pessoa com deficiência intelectual, de 12 a 15 de agosto de 2010, na cidade de Uberlândia/MG. Disponível: http://www.uniapaemg.org.br/?secao=biblioteca&ver=247 6 Nesta ocasião, NERI (2007) pontua-nos questões norteadoras sobre os sinais de envelhecimento antecipatório, especificamente nas pessoas com Síndrome de Down, maior causa da deficiência intelectual. Em função de alterações metabólicas, o envelhecimento inicia-se precocemente aos 25 anos de idade. Estudos apontam que estas pessoas têm maior possibilidade de apresentarem algumas alterações clínicas, como: senilidade precoce, pois o declínio cognitivo associado à demência tende a ocorrer mais cedo nesses indivíduos do que na população normal. Para estas pessoas a taxa de demência aumenta de 1 a 2% aos 30 anos para 40% aos 50 anos. Alterações como, mudança cognitiva: o padrão de mudança cognitivo observado nestas pessoas é similar ao curso cognitivo do Alzheimer na população geral. Alterações da memória e linguagem: sendo a memória afetada em primeiro lugar. Podem apresentar alterações da personalidade, no entanto, nestas pessoas ocorrem mudanças de personalidade antes de mudanças cognitivas. A UNIAPAE (2011) no Curso: Envelhecimento e Deficiência Intelectual - desafios e perspectivas em uma abordagem interdisciplinar7, traz as seguintes contribuições: Estudos demonstram que as pessoas com Síndrome de Down apresentam envelhecimento precoce, que é caracterizado por: maior incidência de diabetes, alterações de personalidade, deterioração no auto-cuidado, declínio da capacidade cognitiva, adaptativa, de socialização, alterações afetivas súbitas, apatia, perda de vocabulário e tendência à manifestação da Doença de Alzheimer. De fato e em alguns casos acontece de pessoas com deficiência intelectual perderem algumas habilidades: sejam funcionais, cognitivas, sensoriais, sociais, de convívio, entre outras. No entanto, o desafio se coloca quando estas pessoas não perdem as habilidades, e sim, passam a realizar as mesmas habilidades e atividades que exerciam em um outro tempo. Discernir esta diferenciação é de suma importância na prática da clínica do envelhecer, pois conforme elucidado há habilidades que realmente se perdem. Mas, temos que pensar que há habilidades que não se perdem, onde “pedem” um novo tempo para executá-las. E caso não criemos dispositivos e recursos para que elas sejam realizadas neste novo tempo, elas podem empobrecer-se, perder-se, tornarem-se inúteis. Um cenário, duas situações e condições distintas: habilidades que se perdem e habilidades que pedem um novo tempo para executar as tarefas que estas pessoas sempre exerceram. 7 Módulo 02 – Envelhecimento e Deficiência Intelectual http://cursos.uniapae.org.br/cursonovo/category.php?id_category=5&orderby=price&orderway=desc 7 Seria esta uma das necessidades da pessoa idosa com deficiência intelectual no contexto atual? Criar programas e dispositivos que contemplem a prevenção e manutenção de habilidades com estratégias que compensem as perdas funcionais, por maximização dos ganhos e minimização das perdas? No cenário atual, como a Rede APAE está se preparando e se organizando diante das necessidades e demandas que nos são apresentadas? ROSA (1983), em seu livro Psicologia Evolutiva, muito bem orienta-nos acerca desta articulação: tempo, corpo e aprendizagem. Relata que “a aprendizagem na terceira idade é viável, porém é limitada especificamente pela velocidade que a nova tarefa é apresentada, uma vez que o idoso retém menos informações após sua apresentação. Assim, necessita vivenciar mais para reter a ação, aprendendo melhor quando seu ritmo é respeitado”. Diante disto, a velhice das pessoas com deficiência intelectual gera novos desafios e convoca-nos a dar respostas adequadas às suas necessidades e demandas. Ou seja, é preciso estar atento ao planejamento das atividades, bem como às estratégias clínicas, terapêuticas e pedagógicas, na elaboração de programas que contemplem as habilidades no âmbito da prevenção de perdas e manutenção das habilidades adquiridas. Como também, trabalhar com a própria pessoa com deficiência intelectual e sua família as reais perdas das habilidades que estão vivenciando, de acordo com a particularidade de cada caso, promovendo oportunidades para que estas pessoas continuem exercendo sua autogestão e autodefesa diante desta fase da vida. Afinal, sabemos que perder habilidades não é uma coisa simples. Neste sentido, o PCA - Programa de Condutas Alternativas8, desenvolvido por ALONSO9, orienta-nos bem acerca da importância do treinamento das habilidades sociais, de vida diária e prática, como também habilidades para o trabalho, com procedimentos avaliativos bem estruturados, dando-nos uma clareza da funcionalidade que a pessoa com deficiência intelectual apresenta. 8 São Programas Educativos e de Treinamentos dirigidos à pessoa com deficiência intelectual, adolescentes e adultos, diferenciando dos conteúdos exclusivamente acadêmicos. Apontam para o desenvolvimento das habilidades sociais: promovendo distintas habilidades para adaptação à comunidade; habilidades práticas: facilitando a preparação profissional; habilidades adaptativas: desenvolvendo autonomia pessoal e competência social e habilidades intelectuais gerais. Ressalta que o currículo tem clara orientação para o futuro e devem ser executados em espaços o mais similar possível à situação real de execução das atividades. E subdivide em: Programa de habilidades sociais, Programa de habilidades de vida diária e Programa de orientação para o trabalho. 9 Miguel Angel Verdugo Alonso - Professor titular de Psicologia da Deficiência; Diretor de INICO (Instituto de Integração Comunitária), Diretor do SID (Serviço de Informação a Deficiência do Ministério de Educação e Ciência). UNIVERSIDADE DE SALAMANCA. [email protected] – [email protected] 8 Somos informados acerca da importância do treino das habilidades. Sabe-se que isto não é novidade. Mas, qual será o motivo, que no dia-a-dia das instituições isso se enfraquece, torna-se empobrecido? Como se não fosse possível treinar habilidades em atendimentos clínicos ou terapêuticos, atividades de educação física, artes, momentos no refeitório, passeios, encontros, festivais, congressos, fóruns? Será que o treino das habilidades tem sido importante ao planejar as ações? Quando afirmamos que este usuário está perdendo determinada habilidade funcional, indagamos a nossa prática? Indagamos nosso modo de fazer? Uma outra questão a ser desmitificada é que o treino de habilidades não é função somente do professor ou do oficineiro. Posso fazer de um treino de habilidades, uma intervenção clínica. Ou seja, é hora do “clínico” expandir seu ato clínico. É hora do “educador”, expandir sua ação pedagógica. Ressalto a importância de mencionar, que, o desejo, nesta discussão, demarca nosso diferencial em proporcionar na vida destas pessoas e de sua família, um protagonismo possível, independentemente das condições que apresentam. Não refere-se aos desejos que demandam significativas elaborações psíquicas. Sobretudo, aponta-se que é possível proporcionar á pessoa idosa com deficiência intelectual ou no processo de envelhecimento, o direito de aprender a lidar com as questões do desejo nas situações do dia-a-dia. Situações como comer, vestir, passear, conversar, namorar, escolher as atividades que lhe proporciona prazer, talvez não com a mesma agilidade, mas com a mesma habilidade, porém em um outro tempo. Isto marca e demarca, ou melhor, se inscreve um protagonismo, inscrito pelo desejo, desterrando a imagem de eternas crianças ou de pessoas não desejosas e capazes. Neste contexto, somos convidados a exercitar algo precioso e ao mesmo tempo, muito desafiador em meio aos afazeres, atribuições, atendimentos e atividades do dia-a-dia nas instituições. Refiro-me ao exercício de escutar. Escutar o que é de cada um, portanto, particular. Enxergar o todo e conseguir ver a necessidade de um. É um desafio, mas é possível. Assim, se não ficarmos atentos, se não escutarmos, a pessoa idosa com deficiência intelectual, passa a ser o “Zé”, a “Maria”, o “tio”, a “tia”, contribuindo com uma desconstrução que nos é muito laboriosa: nossa identidade. Diante destas abordagens, pode-se afirmar que a prática solicita dos profissionais não somente técnicas, procedimentos, estudos científicos, metodologias, mas, demanda algo de outro 9 lugar, subjetivo, onde virtudes como paciência e tolerância se articulam com o conhecimento técnico-científico. Seria esta uma das necessidades da pessoa idosa com deficiência intelectual no contexto atual? Paciência e tolerância, além de conhecimento técnico-científico, nos demandam a pessoa idosa com deficiência intelectual no contexto atual? Afinal, muitas vezes em nossa prática, somos (re) conhecidos como profissionais que fazem o máximo para a pessoa com deficiência intelectual, onde muitas vezes nos apresenta o mínimo. Somos convocados a subverter a prática: fazer o mínimo para extrair o máximo. Isto também me faz lembrar a função do psicanalista. Fazer o necessário (com técnica e procedimento) para a pessoa idosa com deficiência intelectual e com paciência e tolerância “esperar”, no ritmo dela, que a resposta advenha. Cabe-nos reportar que, no campo da deficiência, no contexto familiar e em nossa prática institucional há este considerável desafio: escutar e trabalhar as reais necessidades e demandas, em seu âmbito funcional, sem a exclusão do desejo. Não se trata de fazer o que quiser. Mas de responsabilizar a pessoa com deficiência intelectual pelas suas escolhas, pequenas ou não. Escolher é sempre um ato de responsabilidade e não escolher também. Nesta perspectiva, lembremos o quão importante é desmitificar no contexto institucional e familiar a possível articulação entre necessidade, demanda e desejo. Em uma articulação com a teoria psicanalítica, a autora Sônia Alto É, em seu livro Sujeito de direito, Sujeito do desejo: direito e psicanálise, cita-nos Jacques Lacan: O desejo do sujeito o divide e o torna singular, não havendo como, a partir dessa dimensão desejante, imputar-lhe uma identidade. Neste sentido, não haveria possibilidade de pensarmos um sujeito humano com direitos e deveres enunciados a priori e universalmente. É com o desejo que o sujeito está comprometido e é pela sua enunciação que ele deve tornar-se responsável. Assim sendo, o esforço ético do sujeito será de responder por aquilo que faz e diz, e pelo desejo que habita sua fala e sua ação. Não se trata, evidentemente, de se fazer tudo o que quer, de dar livre curso a todos os caprichos e vontades. Bem ao contrário, Lacan mostra que, no plano do desejo, a escolha é sempre um ato de responsabilidade, já que o desejo é que nos permite e nos impõe discursos e condutas. (1.999, p. 39-40) Considera-se que a articulação com a perspectiva psicanalítica norteia-nos acerca da prática da escuta, proporcionando a aplicabilidade das habilidades de autogestão e autodefesa nos diferentes aspectos e vivências das pessoas idosas com deficiência intelectual. Outra demarcação importante no que diz respeito aos sinais do envelhecimento é a questão das desordens comportamentais ou transtornos mentais. Fato este, muito vivenciado em nossas 10 instituições, sinalizando um importante diálogo e articulação com a saúde mental, demarcando um novo cenário. Esta é uma discussão de suma importância, pois aponta para a necessidade de estudos em torno do balizamento diagnóstico, a fim de definir melhores intervenções clínicas, terapêuticas e/ou pedagógicas. É quando, a pessoa com deficiência intelectual no processo de envelhecimento apresenta sinais e comportamentos de outra ordem. Refiro-me a quadros e episódios que até então estas pessoas não apresentavam, ou apresentavam com menor força e intensidade. Quadros e episódios de fobia, tristeza, apatia, desordens de apetite e alimentação, irritabilidade, euforia, ansiedade, agitação psicomotora, dificuldades na convivência, manias, demências, delírios, entre outros. A UNIAPAE (2011) no Curso: Envelhecimento e Deficiência Intelectual - desafios e perspectivas em uma abordagem interdisciplinar10, afirma – nos: Embora sejam menos comum que as desordens comportamentais, os principais transtornos mentais apresentam-se em 10% da população com deficiência intelectual. Fatores sociais, culturais, ambientais e evolutivos podem ter um impacto significativo na ocorrência de desordens psiquiátricas e comportamentais em pessoas com deficiência intelectual em processo de envelhecimento. Neste contexto, considera-se importante estar atento ao que propicia estas alterações. Como estas se manifestam? Onde ocorrem? Quando ocorrem? Quem está no ambiente e quanto tempo dura? Não menos importante, é escutar a família e/ou o cuidador para balizar o diagnóstico, bem como a condução do tratamento. Uma articulação aponta-se: um trabalho de rede, demarcada pela integralidade das ações, tanto na equipe interna da Rede APAE, como articular parcerias com a comunidade, através dos serviços de Saúde Mental, Postos de Saúde, PSF, Associação de Bairros, entre outros dispositivos. O trabalho aponta para a necessidade de uma clínica, que pode ser “tecida” por vários. Ou seja, todos podem e devem se sentir contribuidores deste processo. Técnicos, oficineiros, professores, cantineiras, recepcionistas, pedagogas, diretores, motoristas, estagiários, familiares, enfim, aposta-se na integralidade das ações. Considero esta reflexão de cunho importante, pois todos os profissionais devem estar envolvidos nesta discussão, que é nova, e que traz diversos desafios à Rede APAE. 10 Módulo 03 – Aspectos comportamentais e Deficiência Intelectual. http://cursos.uniapae.org.br/cursonovo/category.php?id_category=5&orderby=price&orderway=desc 11 Conhecer os sinais de envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual é pauta para todos. Todos aqueles que atuam na rede. Se pensarmos em rede, podemos visualizar a figura de uma rede de pesca, veremos então a imagem de vários nós unidos entre si por vários fios, formando uma trama que possibilita a passagem de um nó para outro. Caracterizando as relações entre serviços numa rede social distribuída. Não há centralização, nem pólos de distribuição de caminhos, é feita a “conexão” que for mais vantajosa ou interessante para o usuário e quantas forem necessárias para suprir os apoios demandados por cada usuário atendido. Para que a rede funcione e exerça seu papel, é necessário que esses “nós” (sejam eles pessoas, organizações, equipamentos públicos, etc.) se conectem de fato e mantenham seu contato, troquem informações, atuem em parceria, para que o indivíduo possa usufruir mais de um serviço da mesma. (Módulo 04 - Políticas públicas, Rede, Deveres e Direitos - Curso Envelhecimento e Deficiência Intelectual: desafios e perspectivas em uma abordagem interdisciplinar, UNIAPAE, abril e maio/2011). Contudo, é importante salientar que o proposto trabalho tem como objetivo, fomentar os diversos profissionais que atuam com estes usuários e seus familiares à aperfeiçoar os programas já existentes, como também criar ações inovadoras “para qualificar e dar vida aos anos” destas pessoas que estão apresentando maior longevidade. Todavia, o fato das pessoas com deficiência intelectual estar vivendo mais, não significa necessariamente, que estejam vivendo melhor. Tampouco, nos isenta de estudarmos e buscarmos melhores recursos técnicos e humanos, a fim de, proporcionarmos um protagonismo, inscrito pelo desejo, ou melhor, pelo nosso desejo de fazer com que a pessoa idosa com deficiência intelectual possa também desejar. II - Sinalizações sobre os desafios das famílias no cenário atual. Centro de convivência: um dispositivo na Rede APAE. Conforme sinalizado no início do trabalho acerca da longevidade das pessoas com deficiência intelectual, a Rede APAE, diante de sua proposta: apoiar a pessoa com deficiência intelectual e múltipla no ciclo de vida, vem apresentando discussões em âmbitos nacionais, estaduais, regionais e locais em torno do processo de envelhecimento e da velhice. Tais discussões fomentam indagações importantes: o que proporcionar às pessoas idosas com deficiência intelectual ou que demarca em seu processo de vida, sinais de um envelhecimento antecipatório? Que programas criar? Quais atendimentos proporcionar? Que atividades contemplar? 12 Como abordar as famílias, uma vez que, elas próprias, em muitas ocasiões, apresentam-se também nesta fase da vida? Ou seja, há por parte da família, sobretudo, por parte dos pais, duas questões fundamentais. Por um lado há o próprio envelhecimento dos pais, trazendo características marcantes, e por outro, há o envelhecimento daquele que foi nomeado, em muitas ocasiões, como eterna criança. Assim, os pais trazem o desafio de duas elaborações: as de sua velhice e as da velhice funcional do filho. São questões fundamentais que nos coloca a escutar: quem irá cuidar do meu filho na minha ausência? Com quem ele irá ficar? Quais expectativas de futuro que posso almejar para meu filho? E se eu falecer primeiro que ele? Estas indagações não só ocorrem ao nascimento de um bebê com deficiência. São indagações humanas, e que, hoje, batem a nossa porta, aos nossos ouvidos, tocam a Rede APAE, nesta outra fase do desenvolvimento humano. Em contrapartida há também indagações da Rede APAE: o que a instituição tem proporcionado a estes que envelheceram conosco? O que a instituição pode criar, inovar ou elaborar para estes que estão conosco desde seu nascimento e que trazem significativos comprometimentos? Que lugares estes ocupam em nossos planejamentos e ações? Certamente, estas indagações têm perpassado às APAES de todo Brasil. Com pais envelhecidos, ou já sob a responsabilidade de irmãos ou cuidadores, torna-se de suma importância desenvolver um trabalho intensivo com suas famílias na busca de estabelecermos parcerias, visando o envelhecimento saudável da pessoa com deficiência intelectual, na manutenção de suas habilidades, na conquista de maior autonomia e independência, na participação efetiva no cotidiano familiar, no respeito às suas opiniões e desejos, como na ampliação de seu círculo social. Outro cenário que se pode afirmar são pessoas com deficiência intelectual que vivenciam o próprio envelhecimento, tendo que lidar não somente com as perdas funcionais, mas também com a possibilidade da morte dos pais ou mudanças de curatela. Diante destas sinalizações, destaca-se um cenário atual. O aumento da longevidade das pessoas com deficiência intelectual traz então novos desafios às suas famílias, às redes sociais de suporte na busca de novas políticas públicas que garantam a essas pessoas, cujo envelhecimento é antecipatório, o direito à utilização de programas voltados às pessoas idosas em geral. Pois atualmente, tais programas seguem as normas do Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741, 2003), que definem como pessoa idosa aquela com 60 anos ou mais. 13 São desafios, mas não são impossibilidades. É preciso apostar em programas e serviços, voltados para a promoção da saúde, qualidade de vida e desenvolvimento da autonomia e independência. Tais dispositivos devem ser permeados com atividades de artesanato, atividades ocupacionais, atividades de práticas físicas periódicas, atividades artísticas e de entretenimento. Mas que contemplem a prevenção e manutenção das habilidades, utilizando todas, completamente todas as atividades e atendimentos, sejam técnicos, terapêuticos ou pedagógicos para o treino das habilidades que irão contribuir para um protagonismo da pessoa com deficiência intelectual no processo de envelhecimento. Faço um recorte importante nesta ocasião. Apresentamos um perfil adequado para desenvolver um trabalho com estes usuários? Além de técnicas, procedimentos, estudos científicos, metodologias, apresentamos virtudes como paciência e tolerância para trabalhar neste cenário atual? Um outro recorte considerável diz respeito à prática e a conduta dos profissionais nestas atividades. Além de técnicas, procedimentos, metodologias e virtudes como paciência e tolerância, tais profissionais não deveriam esquecer que, nas atividades de entretenimento, lazer, passeios, bailes, comemorações, entre outras atividades, ali se está para dar o mínimo e extrair o máximo. Ali se está a treinar habilidades. Eles estão passeando, nós não. Não são estas as nossas queixas? Que as pessoas com deficiência intelectual no processo de envelhecimento estão perdendo as habilidades? Porque esperamos que somente as professoras e as oficineiras contemplem tais atividades? Não as podem proporcionar também os técnicos ou outros profissionais? Ou proporcionar uma atividade de oficina, entretenimento, passeios, lazer, não seria uma oportunidade de tecer uma clínica diferenciada? Absolutamente, não estou, desconsiderando um ato ou um procedimento clínico, ao contrário, considero que, alguns atos, intervenções e procedimentos clínicos feitos em lugares que não são o “setting” esperado, podem emergir efeitos importantíssimos em cada sujeito. A APAE de Itaúna – Instituto Santa Mônica participou do XI Congresso da Rede Mineira das APAES, em agosto de 2010, apresentando uma pesquisa sobre a prática com as pessoas com deficiência intelectual no processo de envelhecimento, a partir do dispositivo Centro de Convivência. O Centro de Convivência foi inaugurado em março/2009, intitulado Centro de Convivência – Bem Viver, com a responsabilidade de pesquisar os sinais de envelhecimento antecipatório, tendo como referência: o tempo e o corpo. Atualmente funciona como um Serviço de Apoio ao 14 Envelhecimento da Pessoa com Deficiência, contemplando a participação de aproximadamente cinqüenta usuários, com faixa etária de 30 a 62 anos. Estes usuários são pessoas com deficiência intelectual e múltipla, alguns com quadros de transtorno mental e/ou transtorno de comportamento, no qual foram diagnosticados por profissionais ou instituições especializadas. Numa articulação com a Saúde Mental, através da Linha-Guia em Saúde Mental, disponibilizado pela Secretaria Estadual de Saúde (2006) 11, pode-se considerar que: O dispositivo Centro de Convivência não significa e nem equivale as simples formas de ocupação e nem tampouco se configuram como espaços artificiais, descontextualizados, empobrecidos de trocas e privados de sentidos; limitando-se a oferecer atividades repetitivas, pobres e sem sentido. São lugares de diálogo e de produção de valores que confrontem os preconceitos da incapacidade e invalidação. Não podemos conceber o Centro de Convivência como mero entretenimento ou modo de passar o tempo. Através de um diálogo com a saúde, a saúde mental, a educação e área social, numa orientação psicanalítica, considera-se a possibilidade de articular as necessidades e as demandas apresentadas por estes usuários, sem a exclusão do desejo. O Centro de Convivência se configura através de cinco eixos importantes, que são as molas propulsoras deste dispositivo. As atividades ocupacionais, as atividades artísticas, as atividades físicas, as atividades pedagógicas funcionais (atreladas e articuladas ao CFN – Currículo Funcional Natural e PCA – Programa de Condutas Alternativas) e a promoção da saúde e qualidade de vida; sinalizando sua área de atuação: saúde, educação, lazer e inclusão social. O Centro de Convivência tem objetivos que lhe são próprios, a partir de uma perspectiva macro, buscando a singularidade de cada usuário. Assim, busca-se trabalhar a prevenção, a aquisição e a manutenção das habilidades práticas, diárias e funcionais para a vida, identificando os sinais de envelhecimento antecipatório, a fim de estabelecer terapêuticas interdisciplinares (oficinas, terapia ocupacional, fisioterapia, nutrição, enfermagem, psicologia, apoio e orientação familiar, atendimento médico - neurologista, encaminhamento médico psiquiatra, encaminhamentos para serviços públicos especializados, entre outros). 11 LOBOSQUE, Ana Marta.; SOUZA, Marta Elisabeth de. Linha-Guia em Saúde Mental: Atenção em Saúde Mental - Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 1º ed. Belo Horizonte, 2006. http://www.fasa.edu.br/novoportal/images/pdf/Linha_guia_saude_mental.pdf 15 Busca-se ainda, promover oficinas ou micro-oficinas com os usuários, desenvolvendo habilidades práticas, artesanais e artísticas, a partir da área de interesse do usuário, oportunizando o exercício prático da autogestão e a autodefesa, estimulando as habilidades de autonomia e independência, possibilitando um envelhecimento saudável. Desenvolve-se também oficinas interdisciplinares de movimento corporal: como esportes, dança e expressão corporal, fisioterapia e ações psicomotoras com periodicidade regular. Disponibiliza-se atividades como: oficina de artesanato, oficina de tapeçaria, oficina de bijuteria, oficina de música e percussão, oficina de capoeira, oficina de dança e expressão corporal, oficina de teatro, oficina de arte literária, oficina de horta, oficina de autocuidado, oficina de pequenas culinárias, oficina de informática, oficina de massagem terapêutica, oficina de sessão cinema e roda de conversa com os usuários, desenvolvendo temáticas pertinentes e não infantilizadas. Promove-se também Rodas de Famílias, buscando orientar e conscientizar os familiares sobre o processo de envelhecimento, bem como a velhice. Desenvolve-se Rodas de Orientação Interdisciplinar, realizando estudos específicos sobre o envelhecimento e a velhice, buscando demarcar um trabalho de rede, pela via da integralidade das ações. Ressalta-se que, busca-se criar e/ou manter parcerias com instituições de saúde, cultura, lazer e outros serviços da comunidade, a fim de proporcionar o exercício de cidadania, baseando-se nos direitos e deveres. Até a presente data, pode-se considerar que Centro de Convivência – Bem Viver, vem se constituindo como motor de produção de sujeitos, de sentidos e de vida, na medida em que a escolha entre tecer, dançar, tocar, cantar, falar, pintar e plantar provoca descobertas e desencadeiam novos projetos de vida, efeitos da autogestão e autodefesa. Assim, a experiência e vivência da APAE de Itaúna – Instituto Santa Mônica, em torno deste dispositivo Centro de Convivência, afirma-nos neste cenário atual, que, as pessoas idosas com deficiência intelectual ou no processo de envelhecimento, juntamente com suas famílias, necessitam de apoio e de recursos que contemplem um envelhecimento saudável, proporcionando melhores condições de conviver, para melhor viver, nesta fase da vida. 16 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho, possibilitou uma melhor compreensão acerca do processo de envelhecimento das pessoas com deficiência intelectual, sinalizando questões importantes para a clinica do envelhecer, a partir da compreensão dos sinais de envelhecimento antecipatório. Trouxe algumas considerações sobre as pessoas idosas com deficiência intelectual e os desafios das famílias neste cenário atual. Apontou questões relevantes em torno do balizamento diagnóstico no processo de envelhecimento da pessoa com deficiência intelectual, a fim de definir melhores intervenções e procedimentos clínicos, terapêuticos ou pedagógicos, apontando para a importância do trabalho de rede. Trouxe ainda, orientações da perspectiva psicanalítica, no qual fortalecerá nosso compromisso de escutar as necessidades e as demandas, sem a exclusão do desejo, propondo-nos a qualificar e dar vida aos anos das pessoas que apresentam maior longevidade. Assim, acredita-se que o proposto trabalho indicou um dispositivo importante junto à prática das pessoas com deficiência intelectual no processo de envelhecimento: o Centro de Convivência. Contudo, o referido trabalho caracterizou-se como um instrumento teórico-prático para o âmbito da Rede APAE, a fim de estimular novas pesquisas em torno desta temática, buscando melhores dispositivos e ações, bem como recursos técnicos e humanos, na atuação junto às pessoas idosas com deficiência intelectual ou no processo de envelhecimento e o apoio às suas famílias. 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, Miguel Angel Verdugo. PVD: Programa de Habilidades de la vida diaria. Amarú Ediciones Salamanca. BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BENTO, Vera Lúcia Pires. Respostas sociais para o envelhecimento do indivíduo portador de deficiência mental. Dissertação de Mestrado em Serviço Social - Instituto Superior de Serviço Social da Universidade Lusíada de Lisboa, 2008. Disponível: http://www.cpihts.com/PDF04/Mestrado%20Vera%20Bento_c%20seguranca.pdf Curso – Envelhecimento e Deficiência Intelectual: desafios e perspectivas em uma abordagem interdisciplinar. 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Disponível: http://www.uniapaemg.org.br/?secao=biblioteca&ver=247 LOBOSQUE, Ana Marta.; SOUZA, Marta Elisabeth de. Linha-Guia em Saúde Mental: Atenção em Saúde Mental - Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, 1º ed. Belo Horizonte, 2006. http://www.fasa.edu.br/novoportal/images/pdf/Linha_guia_saude_mental.pdf http://www.ebah.com.br/content/ABAAABEnwAA/linha-guia-saude-mental MONTEIRO, Pedro Paulo. Envelhecer ou morrer, eis a questão. Belo Horizonte: Gutenberg Editora, 2008. MUCIDA, A. O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. NERI, Anita Liberalesso. Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar. Campinas, São Paulo: Editora Alínea, 2007. NERI, Anita Liberalesso. Palavras-chave em Gerontologia. 3ª ed. Campinas: Alínea, 2008. 19 PLETSCH, Márcia Denise. O envelhecimento das pessoas com deficiência mental: um novo desafio. 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