A MISSAO DA IGREJA NO MUNDO ATUAL

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A MISSAO DA IGREJA NO MUNDO ATUAL
A MISSÃO DA IGREJA NO MUNDO ATUAL.
Thiago de S.Dias1
Antes de adentrarmos na missão da Igreja propriamente dita,
precisamos analisar, mesmo que de modo sucinto, o cenário atual em que a
Igreja está inserida, pois os pressupostos mundanos têm influenciado
grandemente a igreja. Devemos lembrar que a oração de Jesus em João 17
não foi para que o Pai nos tirasse do mundo, mas sim que nos guardasse do
mal.
O mundo em que a Igreja está vivendo não é mais o mundo da idade
média, nem o mundo do iluminismo. Atualmente, o cenário em que a Igreja
está inserida é considerado por alguns estudiosos como um período de
transição, onde os elementos da modernidade 2 parecem estar ruindo, e ainda
não se tem algo que se sobreponha de modo estável, mas sim uma mistura de
elementos. Com intuito de nomear tal período tem sido cunhado o termo “pósmodernidade”.
Leandro Lima, ao analisar a pós-modernidade afirma: “O mundo pósmoderno não tem apenas um rosto, mas muitos que às vezes se confundem,
se misturam ou mesmo se opõe.”3 Alister McGrath reconhece a dificuldade de
definir o pós-modernismo:
Fornecer uma definição precisa do pós-modernismo é algo
praticamente impossível. Em parte, por não haver um consenso geral
sobre a natureza da expressão “modernidade”, que o movimento se
propõe a substituir ou suceder. De fato, é plausível a alegação de que
a própria expressão “pós-modernismo” implica que a “modernidade”
seja algo tão bem definido e compreendido que – qualquer que seja o
seu significado – é possível afirmar que já terminou o que foi
substituído pela pós-modernidade4.
Entretanto, mais adiante Alister McGrath ensaia uma definição ao
afirmar que pós-modernismo é: “movimento cultural de caráter genérico,
1
Pastor titular da 3ªIPB de Colatina-ES, formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano José
Manoel da Conceição. E-mail: [email protected].
2
“Modernismo era uma cosmovisão baseada na noção de que somente a ciência podia explicar
a realidade” (Cf: MACARTHUR JR, John. Princípios para uma cosmovisão bíblica. p. 17)
3
LIMA, Leandro Antonio de. Brilhe a sua Luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2009. p. 13.
4
MCGRATH, Alister E. Teologia Sistemática e Filosófica: Uma introdução a teologia cristã. Trad.
Marisa K. A. de Siqueira Lopes. São Paulo: Shedd Publicações, 2005. p. 150-151.
sobretudo nos Estados Unidos, que surgiu a partir do colapso quanto à
confiança anteriormente depositada nos princípios universais defendidos pelo
Iluminismo”5
Leandro Antonio de Lima segue a mesma linha ao declarar:
Vive-se no período ou era chamada de Pós-moderna. Diante das
muitas interpretações do próprio termo, é possível verificar que se
trata de um período confuso, híbrido, sem uma teoria hegemônica,
mas com várias que se contradizem, se misturam, se destroem ou se
6
fortalecem mutuamente .
Embora a pós-modernidade não apresenta em si própria um conjunto de
características que a define, pois a mesma é avessa a qualquer sistema
elaborado de definições7, conforme bem expressou Leandro:
Desde já, a primeira advertência que precisa ser aceita é que, se há a
intenção de encontrar no tempo presente uma filosofia unificada que
se denominaria de “pós-modernidade”, se estaria de fato assinalando
a não existência da pós-modernidade . Pois aquilo que geralmente se
denomina pós-modernidade é a ideia de que não há unificação de
8
pensamentos ou de teorias .
Podemos destacar duas características presente no pós-modernismo
que se sobressaem: relativismo e pragmatismo.
Relativismo: Em termos gerais, o relativismo sustenta que toda a
opinião humana é verdadeira e assim não há necessidade de justificativas para
torna-la mais verdadeira que outras. Por conseguinte, qualquer defesa de uma
verdade absoluta9 é negada, ocasionando o surgimento do pluralismo. David
Wells exemplifica esta verdade dizendo: “É tão possível quanto aleatório o fato
5
Ibid. p. 657.
LIMA, Leandro Antonio de. O Futuro do Calvinismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. p. 10.
7
DeMar vai na mesma linha ao dizer: “O objetivo do pós-modernismo não é apenas rejeitar
cosmovisões como opressivas, mas também rejeitar até mesmo a possibilidade de se ter uma
cosmovisão”
(Cf:
DEMAR,
Gary.
Definindo
Pós-Modernismo.
p.1
Disponível
em:
<http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/def-posmodernismo_demar.pdf>
Acessado
em 25/10/2010 às 16:42).
8
LIMA, Leandro Antonio de. O Futuro do Calvinismo. p. 78.
9
A expressão absoluta é usado no mesmo sentido que Francis Schaeffer a define: “um conceito
que não é modificável por fatores como cultura, psicologia individual ou circunstâncias, mas que é
perfeito e imutável. Usado como antítese do relativismo” (Cf. SCHAEFFER, Francis. O Deus que intervém.
p. 304).
6
de que 44% dos norte-americanos pensam que a Bíblia, o Alcorão e o Livro
dos Mórmons, são expressões diferentes das mesmas verdades espirituais” 10.
O relativismo tem ocasionado um declínio moral enorme, pois ele é o
inimigo natural da ética. Uma vez estabelecida que não haja verdades
absolutas, o conceito de certo e errado torna-se subjetivo.
Ao analisar o declínio moral como consequência do relativismo,
MacArthur declara:
Previsivelmente a beatificação da tolerância pós-moderna tem tido
seus efeitos desastrosos sobre a verdadeira virtude em nossa
sociedade. Nestes tempos de tolerância, o que era proibido passou a
ser encorajado. O que era tido como imoral é agora festejado.
Infidelidade marital e divórcio foram normatizados. Impureza é o
lugar-comum. Aborto, homossexualidade e perversões morais de
todos os tipos são aclamados por grandes grupos e
entusiasticamente promovidos pela mídia popular. A noção pósmoderna de tolerância está sistematicamente virando virtude genuína
na cabeça deles11.
Além disso, o relativismo tem buscado conduzir a Igreja para o
ecumenismo religioso, além de desmotivar a prática evangelística, pois se
todas as “religiões conduzem a Deus”, não há porque evangelizarmos pessoas
católicas, espíritas, budistas entre outros.
Pragmatismo: O pragmatismo é uma filosofia norte-americana que se
originou com William James (1842-1910), Charles Peirce (1839-1914) e John
Dewey (1859-1952), que descontentes com a busca pela verdade da filosofia
clássica racionalista, defendiam que a verdade é antes de qualquer coisa um
valor que deve ser testado de acordo com seus resultados práticos 12. Em
termos gerais, o pragmatismo sustenta que uma crença será verdadeira se, e
somente se, funcionar ou for útil para aquele que a possui13, ou seja, “a marca
10
PIPER, John; TAYLOR, Juntin; KELLER, Tim. et. al. A Supremacia de Cristo em um Mundo Pós
Moderno. Trad. Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. p. 24.
11
MACARTHUR JR, John. Princípios para uma cosmovisão bíblica. p. 26
12
Cf: LIMA, Leandro Antonio de. Brilhe a sua Luz. p. 85.
13
MORELAND, J.P. & CRAIG, William Lane. Filosofia e Cosmovisão Crista. São Paulo: Vida Nova,
2005. p.184.
do verdadeiro é a sua verificabilidade dos resultados e a eficácia de sua
aplicação”14.
O pragmatismo tem causado grandes males à Igreja Evangélica.
Atualmente a mentalidade que reina em muitos círculos evangélicos é que, se
a igreja está crescendo, independentemente dos métodos que estão utilizando,
é a vontade de Deus, tornando esta vontade não algo objetivo, mas
amplamente flexível. Leandro Lima, ao analisar este cenário afirma:
Cada vez mais a pregação da Palavra de Deus cede lugar para novos
métodos como teatro, dança, comédia, show de rock, e outras formas
de entretenimento. Pelo fato de que esses métodos realmente atraem
multidões, eles são considerados como corretos em si mesmos,
independentemente de serem bíblicos ou não. A cada momento, os
grandes ícones da “mídia evangélica” aparecem com um novo slogan
que se torna, automaticamente, a verdade do momento. É “tempo de
colheita”, “tempo de se apaixonar”, “tempo de restituição”, “tempo de
cura”, etc. Isso dura até que apareça outro mais interessante e que
dê mais resultado15.
A filosofia pragmática está tão presente que é comum encontrarmos no
cenário religioso brasileiro uma mescla de práticas evangélicas, católicas e
espíritas, presente no mesmo grupo religioso, a fim de atrair o maior número de
adeptos possíveis. Sobre isso, Leandro afirma:
Até há pouco tempo, havia grandes diferenças entre a igreja Católica,
a Protestante e o Espiritismo, pois não havia técnicas em comum.
Hoje a situação está bem diferente. A Igreja Católica copia a hinologia
evangélica, copia o movimento pentecostal de sinais, maravilhas e
línguas estranhas, e já existem padres superstar. Por outro lado,
muitas Igrejas evangélicas têm copiado as técnicas do catolicismo e
até mesmo do espiritismo. Não é incomum ver igrejas evangélicas
fazendo “novenas” de oração e “abençoando” objetos ou água, o que
sempre foi uma prática predominantemente católica. Algumas igrejas
usam sal grosso em suas cerimonias de libertação, o que é algo que
sempre pertenceu ao espiritismo [...] Por que as igrejas têm usado
essas práticas? Por um único motivo: realmente funcionam. O povo
brasileiro é tradicionalmente místico e a igreja evangélica tem
crescido ganhando membros do catolicismo e do espiritismo, ou seja,
de pessoas acostumadas a essas práticas em suas religiões. Essas
pessoas têm dificuldades para, de uma hora por outra, abandonar
tudo isso e passar a crer apenas no Deus invisível. Elas precisam de
algo para apalpar, para ver e sentir. E, portanto, os pregadores estão
arranjando coisas desse tipo para elas; então elas dizem: “É de
Deus!” Portanto, deve ser aceito como verdade e ninguém pode
14
15
CHAUÍ, Marilena. Um Convite à filosofia. 13ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2008. p. 97
LIMA, Leandro Antonio de. Brilhe a sua Luz. p. 85
ousar questionar, pois seria como se estivessem questionando o
16
próprio Deus .
É em meio a este mundo que a Igreja precisa desenvolver a sua missão
que pode ser definida em relação a três aspectos: em relação a Deus é adorar,
em relação aos membros é edificar e em relação ao mundo é evangelizar e
socorrer17.
A Igreja Presbiteriana do Brasil reconhece a sua missão dentro desta
tríade, ao declarar através da sua Constituição:
A Igreja Presbiteriana do Brasil tem por fim prestar culto a Deus, em
espírito e verdade, pregar o evangelho, batizar os conversos, seus
filhos e menores sob a sua guarda e ensinar os fiéis a guardar a
doutrina e prática das Escrituras do Antigo e Novo Testamento, na
sua pureza e integridade, bem como promover a aplicação dos
princípios de fraternidade cristã e o crescimento de seus membros na
18
graça e no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo .
5.1 A missão da Igreja em relação a Deus é adorar
A adoração a Deus é a grande finalidade do ser humano, pois Deus nos
escolheu para o louvor da sua glória (Ef 1.12). O Catecismo Maior de
Westminster reproduz bem essa prioridade da existência humana ao afirmar “o
fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo plena e eternamente”19.
Aliás, não somente o homem, mas o próprio Deus tem como principal
alvo a glória do seu nome. Diversos textos bíblicos confirmam o zelo que Deus
tem pela sua glória (Ef 1.4-6, 12, 14; Is 43.6-7; Jr 13.11; Sl 106.7-8; Rm 9.17;
Ex 14.4, 17, 18; Ez 20.14; 36.22-23, 32; 2Sm 7.23; 1Sm 12.20-22; 2Rs 19.34;
20.6; Jo 5.44; 7.18; 12.27-28; 13.31-32; 14.13; 17.1; Mt 5.16; 1Pe 2.12; Rm
3.25-26; Is 43.25; Sl 25.11; Rm 15; Jo 16.14; 1Co 10.31; 1Pe 4.11; Fp 1.9, 11;
Rm 1.22-23; At 12.23; 2Ts 1.8-10; Hc 2.14; Ap 21.23) 20.
16
Ibid. p. 88
GRUDEM, Wayne A. Teologia Sistemática. p. 726-727.
18
MANUAL PRESBITERIANO. Art. 2 CI/IPB.
19
CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. Pergunta 1.
20
Cf: PIPER, John. Alegrem-se os Povos. Trad. Rubens Castilho. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
17
p.20-24.
Sobre isso, John Piper afirma que “o coração mais ardente para a
glorificação de Deus é o seu próprio coração. O alvo principal de Deus é
manter e demonstrar a glória do seu nome”21.
A grande finalidade da igreja não pode ser outra se não glorificar a Deus,
pois ela é exatamente “a comunidade de adoradores que se congrega para
testemunhar publicamente os atos graciosos de Deus”22. Leandro Lima ao
analisar a função da Igreja afirma: “Deus estabeleceu um povo para adorá-lo, e
este povo é a igreja. A maior função da igreja neste mundo é adorar a Deus.
Todas as demais coisas devem ser subservientes a esse princípio básico”23.
John Piper ao comentar a centralidade da adoração na vida da Igreja
afirma:
As missões não representam o alvo fundamental da igreja, a
adoração sim. As missões existem porque não há adoração, ela sim é
fundamental, pois Deus é essencial e não o homem. Quando esta era
se encerrar e os incontáveis milhões de redimidos estiverem reunidos
perante o trono de Deus não haverá mais missões. Elas representam,
no momento, uma necessidade temporária. Mas a adoração
permanece pra sempre24.
De modo que a Igreja se congrega para primordialmente adorar a Deus,
e, portanto, o culto celebrado não é apenas um instrumento para a
evangelização do mundo, mas acima de tudo um ato de adoração ao Deus
trino.
John Piper, ao refletir sobre adoração, afirma que “a essência da
adoração é uma satisfação profunda em Deus que vem do coração, juntamente
com a convicção de que o motivo pela qual estamos juntos nos cultos de
adoração é a busca por essa satisfação”25. John Frame define que “culto é o
serviço de reconhecimento e honra à grandeza de Nosso Senhor da Aliança”2627
.
21
Ibid. p.13
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Princípios bíblicos de adoração cristã. p. 9.
23
LIMA, Leandro Antonio. Razão da esperança: Teologia para hoje. p. 511.
24
PIPER, John. Alegrem-se os Povos. 2001. p.13
25
PIPER, John. Plena Satisfação em Deus: Deus glorificado e a alma satisfeita. Trad. Juliana J.
Santos Portella. São José dos Campos: Editora Fiel, 2009. p. 62.
26
FRAME, John M. Em Espírito e em Verdade. Trad. Heloísa Cavallari Ribeiro Martins. São Paulo:
Cultura Cristã, 2006. p. 21.
27
Mais adiante, John Frame pontua que o culto deve ser prestado ciente da economia da
Trindade: “O culto “em espírito e em verdade”, portanto é um culto trinitário – consciente do trabalho
22
A Confissão de Fé de Westminster pontua que:
A luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e
soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto
deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o
coração, de toda a alma e de toda a força; mas, o modo aceitável de
adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado
pela sua própria vontade revelada, que ele não pode ser adorado
segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de
Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer
outro modo não prescrito nas Santas Escrituras. O culto religioso
deve ser oferecido a Deus, o Pai, o Filho, o Espírito Santo, e a ele só;
não aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem
deve, depois da queda, ser prestado a Deus pela mediação de
qualquer outro, senão unicamente a de Cristo28.
Hermisten Maia define Culto com as seguintes expressões:
O culto cristão não é uma ação humana, mas uma resposta; uma
atitude responsiva à ação de Deus que primeiro veio ao homem,
revelando-se e capacitando-o a responder29.
O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e que
deseja dialogar com o seu Criador; mesmo que este diálogo, por
alguns instantes, consista num monólogo edificante no qual Deus nos
fale por meio da Palavra30.
Infelizmente há uma forte desvalorização do culto em nossos dias, pois
boa parte deles tornou-se mais antropocêntrico que teocêntrico. Gordon Dahl
faz uma triste constatação da desvalorização do culto no cenário americano
que lamentavelmente se assemelha em muito a nossa realidade brasileira:
A maioria dos americanos de classe média tende a cultuar a
profissão, a trabalhar na hora do lazer e se divertir no culto a Deus.
Como resultado, seus valores e significados de vida estão distorcidos.
Seus relacionamentos se desintegram antes que consigam restaurálos, e seu estilo de vida se parece com o de um elenco de atores que
procuram um enredo para atuar31.
Hermisten Maia pontua que “o culto é sempre um termômetro da vida
espiritual da igreja. Por meio do culto que a igreja presta podemos avaliar a sua
distinto do Pai, do Filho e do Espírito Santo para a nossa salvação” (Cf: FRAME, John M. Em Espírito e em
Verdade. p. 21).
28
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. Cap. XXI Seções I, II.
29
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Princípios bíblicos de adoração cristã. p. 46.
30
Ibid. p. 49.
31
DAHL, Gordon. Apud. SWINDOLL, Charles. A igreja desviada: um chamado urgente para uma
nova reforma. Trad. Vanderlei Ortigoza. São Paulo: Mundo Cristão, 2012. p. 130-131.
situação espiritual”32. E mais adiante ele relaciona a decadência cúltica da
Igreja com a decadência do moral dos seus membros:
De fato, a perversão do culto vem sempre acompanhada de uma
perversão espiritual, moral e intelectual. Quando os homens
corrompem o genuíno culto a Deus refletem a gravidade de sua
doença espiritual que, mais cedo do que se espera, se concretizará
em outras áreas de sua vida33.
Um dos grandes fatores que tem contribuído para o declínio do culto no
mundo pós-moderno é o predomínio do misticismo nos cultos evangélicos que
mediante o subjetivismo tem ocasionado um distanciamento cada vez maior da
Palavra de Deus. Hermisten Maia ao analisar este fato declara:
Não nos iludamos, essa forma de misticismo ainda está presente na
igreja e tem sido extremamente perniciosa para o povo de Deus,
acarretando um desvio espiritual e teológico, deslocando o “eixo
hermenêutico” da Palavra para a experiência mística, nos afastando,
deste modo, da Palavra e, consequentemente, do Deus da Palavra. O
trágico é que justamente aqueles que supõem desfrutarem de maior
“intimidade” com Deus são os que patrocinam o distanciamento da
Palavra revelada de Deus. Davi enfatiza: “A intimidade do SENHOR é
para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança”
(Sl 25.14). Portanto, a nossa intimidade com Deus revela-se em
nosso apego à sua Palavra, à sua aliança34.
É necessário que a Igreja se conscientize do papel primordial que o culto
público tem na sua vida e a quem este culto é oferecido: a Deus, sendo
portanto, necessário realizá-lo não conforme as nossas vontades, mas
submisso ao que ele prescreveu nas Escrituras.
Harry Reader pontua que o culto bíblico não deve ser fundamentado
nem na tradição, e nem pela moda do momento. Sobre isso ele declara:
O bom culto não se entrega à arrogância da modernidade, que rompe
as ligações com o passado, nem participa da idolatria do
tradicionalismo que vive no passado. Em vez disso, devemos
começar com o grande culto clássico que, em outra época, foi
contemporâneo e agora se tornou experimentado e verdadeiro, e,
depois, construir sobre ele, estando prontos para absolver o que é
excelente no presente. O bom culto é oferecido em espírito e
verdade, honra a Cristo e facilita o louvor do povo de Deus e a
comunicação do evangelho aos perdidos. Ele está ligado ao passado
sem viver no passado, é contextualizado no presente sem se
32
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Princípios bíblicos de adoração cristã. p. 39.
COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Princípios bíblicos de adoração cristã.. p. 39.
34
Ibid. p. 222.
33
acomodar ao presente; e estabelece um padrão para moldar o futuro
35
em vez de se tornar datado no futuro .
Em relação ao culto em si, a Confissão de Fé de Westminster declara:
[...] o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele
mesmo, e é tão limitado pela sua própria vontade revelada, que ele
não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos
homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação
visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas
36
Escrituras .
Mais adiante, após desenvolver a temática da oração, a Confissão de Fé
de Westminster estabelece quais são os outros elementos que devem estar
presentes no culto:
A leitura das Escrituras, com santo temor; a sã pregação da Palavra e
a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com
entendimento, fé e reverencia; o cântico de salmos, com gratidão no
coração; bem como devida administração e digna recepção dos
sacramentos instituídos por Cristo – são partes do culto comum
oferecido a Deus, além dos juramentos, votos, jejuns solenes e ações
de graça em ocasiões especiais, os quais em seus vários tempos e
37
ocasiões próprias, devem ser usados de um modo santo e religioso .
Diante disso, entendo serem oportunas as palavras de Kevin DeYoung
sobre a importância cultuarmos a Deus:
Precisamos resgatar uma visão mais ampla daquilo que estamos
fazendo aos domingos. Não nos reunimos para cantar algumas
músicas juntos e ouvir um discurso mal elaborado. Nossa reunião
para a adoração é um exercício de renovação da aliança, uma
celebração semanal da ressurreição e um antegozo do banquete
celestial por vir38.
5.2 A missão da Igreja em relação aos membros é capacitar
A igreja é a comunidade que adora a Deus enquanto cultua, mas é
também a comunidade que glorifica a Deus, capacitando a sua membresia a
viverem a vida cristã. Edmund Clowney está correto quando pontua que “se por
um lado a igreja não pode ser definida somente em termos de nutrição, por
outro lado ela não pode ser entendida sem a nutrição”39. De modo que “o plano
35
READER III, Harry L. A revitalização da sua igreja segundo Deus. Trad. Vagner Barbosa. São
Paulo: Cultura Cristã, 2011. p. 30.
36
CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. Cap. XXI. Seção I
37
Ibid. Cap. XXI. Seção V
38
DEYOUNG, Kevin & KLUCK, Ted. Por que amamos a Igreja. p. 182.
39
CLOWNEY, Edmund P. A Igreja. p. 130
de Deus para a nossa salvação inclui uma organização para nos arrebanhar”
40
.
Infelizmente nos dias atuais, influenciado cada vez mais pelo
individualismo, há um crescimento acentuado dos chamados “desigrejados”,
grupo de pessoas que professam ser evangélicos, porém não congregam em
nenhuma Igreja. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
divulgou recentemente que o número de evangélicos sem vínculos com
denominações aumentou de 0,7% para 2,9%, o que representa cerca de quatro
milhões de brasileiros.
A Revista Istoé ao analisar os dados divulgados pelo IBGE faz o
seguinte comentário:
Isso só é possível porque o universo espiritual está tomado por gente
que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação. Se
outrora o padre ou o pastor produziam sentido à vida das pessoas de
muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e
esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com
essas lideranças. Assim, muitas vezes, os fiéis interpretam a sua
trajetória e o mundo que os cerca de uma maneira pessoal, sem se
valer da orientação religiosa41.
Augustus Nicodemus apresenta os principais argumentos utilizados
pelos chamados “desigrejados” para não frequentarem a Igreja, preferindo viver
a sua suposta espiritualidade isolado42.
1) Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e institucional;
2) Já nos primórdios os cristãos se desviaram dos ensinos de Jesus,
organizando-se como uma instituição, a Igreja, criando estruturas,
inventando
ofícios
para
substituir
os
carismas,
elaborando
hierarquias para proteger e defender a própria instituição, e de tal
maneira se organizaram que acabaram deixando Deus de fora. Com
a influência da filosofia grega na teologia e a oficialização do
cristianismo por Constantino, a igreja corrompeu-se completamente;
40
NASCIMENTO, Adão Carlos & MATOS, Alderi Souza de Matos. O que todo presbiteriano
inteligente deve saber. p. 145.
41
CARDOSO, Rodrigo. O novo retrato da fé no Brasil. Disponível em:
<http://www.istoe.com.br/reportagens/152980_O+NOVO+RETRATO+DA+FE+NO+BRASIL>
Acessado
em: 15/10/2012.
42
Cf: LOPES, Augustus Nicodemus. Os Desigrejados. Disponível in: <http://temporamores.blogspot.com/search?q=Desigrejado> Acessado em 22/11/2011.
3) A igreja como organização humana, tem falhado e caído em muitos
erros, pecados e escândalos, e prestado um desserviço ao
Evangelho. Precisamos sair dela para podermos encontrar a Deus.
4) A igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos domingos,
tesouraria,
hierarquia,
ofícios,
ofertas,
dízimos,
clero
oficial,
confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários.
5) De acordo com Jesus, onde estiverem dois ou três que creem nele,
ali está a igreja, pois Cristo está com eles, conforme prometeu em
Mateus 18 não sendo necessário nenhuma institucionalização.
Boa parte destes argumentos já foi refutada em outra obra do próprio
autor: “Uma Análise Teológica da Igreja Visível à Luz das Escrituras e a sua
Missão Diante do Mundo Atual”43, contudo é preciso destacar que no momento
que o crente se afasta da comunhão da Igreja, ele abre mão de desfrutar do
convívio dos santos e de ser edificado pelos dons dos demais irmãos. O
escritor de Hebreus ao enfrentar uma situação similar, de crentes deixando de
congregar, faz a seguinte exortação: “Não deixemos de congregar-nos, como é
costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes
que o Dia se aproxima” (Hb 10.25).
Simon Kistemaker ao comentar o texto de Hebreus declara:
Uma das principais indicações da falta de amor para com Deus e
para com o próximo é ficar longe dos cultos de adoração. É um
desprezo da obrigação comunal de participar desses encontros e a
demonstração de sintomas de orgulho e egoísmo. Aparentemente,
alguns membros da congregação dos hebreus para quem a epístola é
originariamente endereçada, mostravam negligência em frequentar os
43
Todos os capítulos constituem exatamente uma defesa da existência da Igreja Visível neste
mundo. Calvino, ao analisar o contexto daqueles que deixam de frequentar a Igreja por se deparar com
pessoas que estão vivendo em pecado dentro das igrejas, afirma: “Essa é indubitavelmente uma
advertência em extremo necessária, para que, quando o templo de Deus vier a ser maculado por muitas
impurezas, não nos deixemos constranger demasiadamente por tais desgostos e vexações, ao ponto de
virarmos-lhe as costas. Por impurezas entendo os vícios de uma vida corrompida e poluída. Contanto que
a religião continue pura quanto à doutrina e ao culto, não devemos deixar-nos abalar em demasia ante
os erros e pecados que os homens cometem, como se com isso a unidade da Igreja fosse dilacerada.
Entretanto, a experiência de todas as épocas nos ensina que quão perigosa esta tentação se torna
quando vemos a Igreja de Deus, que deve prosseguir isenta de toda e qualquer mancha poluente e
resplandecer em incorruptível pureza, nutrindo em seu seio um grande número de hipócritas ímpios ou
pessoas perversas” (CALVINO, João. Salmos vol.1. p. 259).
cultos religiosos. Eles faziam isso deliberadamente, abandonando a
44
comunhão dos santos .
Kevin DeYoung, ao analisar a situação daqueles que afirmam o
cristianismo separado da Igreja, declara:
A igreja é singular. Embora os cristãos sejam individualmente
habitados pelo Espírito Santo como templos de Deus, somente a
igreja constitui o Corpo de Cristo. Uma pessoa que saiu da igreja
argumenta que muitas das premissas do cristianismo institucional são
suspeitas “em razão deste fato frio e real: de maneira indiscriminada,
plena e imparcial, Cristo estabelece sua presença e vida dentro de
cada cristão”. Embora seja verdade que Cristo estabelece e vida em
todo crente, somente a Igreja é “a plenitude daquele que enche todas
as coisas” (Ef 1.23). O cristianismo sem igreja faz tanto sentido
quanto uma igreja sem Cristo, e tem a mesma garantia bíblica para
isso. A avaliação de John Stott sobre o evangelismo no livro de Atos
estava certa: o Senhor “não os adicionava à igreja sem salvá-los, e
ele não os salvava sem adicioná-los à igreja. Salvação e filiação
andavam juntas e ainda caminham assim”45.
A igreja é o corpo de Cristo formado por diversos membros, a quem
Deus agraciou com diferentes dons, com intuito de que cada membro supra as
necessidades do outro, levando cada um à maturidade cristã. Diversos textos
bíblicos pontuam esse objetivo:
Por isso, diz: Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro e
concedeu dons aos homens. Ora, que quer dizer subiu, senão que
também havia descido até às regiões inferiores da terra? Aquele que
desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para
encher todas as coisas. E ele mesmo concedeu uns para apóstolos,
outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores
e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de
Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida
da estatura da plenitude de Cristo, para que não mais sejamos
como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor
por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia
com que induzem ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem
todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda
junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu
próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor. (Ef 4.816 – ênfase minha).
Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo,
como lhe aprouve. Se todos, porém, fossem um só membro, onde
44
45
KISTEMAKER, Simon. Hebreus. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. p. 406
DEYOUNG, Kevin & KLUCK, Ted. Por que amamos a Igreja. p. 174.
estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo.
Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a
cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do
corpo que parecem ser mais fracos são necessários; e os que nos
parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra;
também os que em nós não são decorosos revestimos de especial
honra.Mas os nossos membros nobres não têm necessidade disso.
Contudo, Deus coordenou o corpo, concedendo muito mais honra
àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo
contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor
uns dos outros. De maneira que, se um membro sofre, todos
sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se
regozijam. Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente,
membros desse corpo. (1Co 12.18-27 – ênfase minha)
Mark Dever ao analisar a importância da filiação a uma Igreja local para
o amadurecimento espiritual declara:
Se você se compromete com uma igreja, se compromete com um
corpo local de pessoa que tentará ajudá-lo a lidar bem com os
problemas. Por exemplo, se ficar evidente que você tem um problema
com fofoca, seus irmãos e irmãs tentarão conversar com você a
respeito deste problema. Se você está ficando desanimado e abatido,
seus irmãos e irmãs tentarão encorajá-lo. O Novo Testamento
mostra, com clareza, que nosso seguir a Jesus deve envolver
cuidado e interesse de uns para com os outros46.
A igreja, portanto, ciente da sua missão de edificar os seus membros
deve dedicar atenção às áreas de pregação da Palavra, escola dominical
discipulado, treinamento de liderança, aconselhamento, visitação. Fazendo
isso, a Igreja estará nutrindo os seus membros no conhecimento de Deus,
capacitando-os a viverem a vontade de d’Ele de modo prático e tornando-se
dia a dia mais parecidos com a imagem do Filho de Deus47.
5.3 A missão da Igreja em relação ao mundo é evangelizar
Em relação ao mundo a grande missão da igreja é evangelizar. A Igreja
é a agência missionária do reino. Nenhuma outra organização existente na
terra é capaz de cumprir a missão de levar o evangelho às pessoas. Isso torna
a evangelização uma tarefa urgente e intransferível para a Igreja.
As Escrituras são categóricas em comissionar o povo de Deus à
anunciar o evangelho:
46
47
DEVER, Mark. Nove Marcas de uma Igreja Saudável. p. 169.
Cf: CLOWNEY, Edmund P. A Igreja. p. 135-140.
Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de
propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes
daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós,
sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que
não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes
misericórdia. (1Pe 2.9-10 – ênfase minha)
Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi
dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho
ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação
do século. (Mt 28.18-20 – ênfase minha)
mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia
e Samaria e até aos confins da terra. (At 1.8 – ênfase minha)
Quando olhamos para o Livro de Atos percebemos que desde os
primórdios a Igreja buscou cumprir dentro das suas possibilidades a grande
comissão. Em Atos, capítulos 2 à 7, o evangelho é anunciado em Jerusalém;
no capítulo 8 o evangelho chega na Judeia e em Samaria; a partir do capítulo
10 o evangelho começa a atingir os gentios, e em seguida, Lucas passa a
registrar como o apóstolo Paulo desenvolveu o seu chamado levando o
evangelho aos gentios, terminando o Livro de Atos com o apóstolo preso em
Roma, mostrando que embora o obreiro estivesse preso, o evangelho estava
crescendo e atingindo a capital do império48.
A palavra evangelizar deriva do grego euvaggeli,zw e significa “eu anuncio
boas novas”; “eu evangelizo”49, ou seja, evangelizar consiste em anunciar o
evangelho. O fato de o cenário atual ser marcado pelo subjetivismo e pelo
pluralismo se torna necessário que tenhamos claro em nossa mente o conceito
verdadeiro do evangelho. Delcyr de Souza Lima nos alerta sobre o que o
evangelho não é50:
1) O Evangelho não é meramente uma porção isolada e qualquer das
Escrituras;
48
DEYOUNG, Kevin & GILBERT, Greg. Qual é a missão da Igreja? Entendendo a justiça social, a
Shalon e a grande comissão. Trad. Francisco Wellington Ferreira. São José dos Campos: Editora Fiel,
2012. p. 57.
49
BERGMANN, Johannes Bergmann & REGA, Lourenço Stelio. Noções do Grego Bíblico:
gramática fundamental. São Paulo: Editora Vida Nova, 2004. p. 199.
50
LIMA, Delcyr de Souza. Doutrina e Prática da Evangelização. Rio de Janeiro: Junta de
Educação Religiosa e Publicações, 1969. p. 18-19.
2) Evangelho não é um sistema de normas éticas, embora as contenha;
3) Evangelho não é um conjunto de princípios e normas de justiça
social;
4) Evangelho não é “evangelho social”.
No grego a palavra evangelho (εὐαγγέλιον), era empregada para designar
uma “recompensa por boas notícias”, mais tarde, a ideia de recompensa
caiu, e a palavra passou a significar "boa notícia", “boa mensagem” em
si. No Novo Testamento, a palavra denota a "boa notícia" do reino de Deus e
da salvação através de Cristo que deve ser recebida pela fé, crendo na sua
morte expiatória, seu sepultamento, ressurreição e ascensão (At 15.7; 20.24;
1Pe 4.17)51. Paulo considerava o evangelho o “poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê” (Rm 1.16)52.
Na tarefa de propagar esse evangelho ao mundo, torna-se necessário
que a Igreja esteja consciente dos pressupostos53 que devem nortear o
evangelismo bíblico.
51
Cf: VINE, W. E. UNGER, M. F., & WHITE, W. Vine's complete expository dictionary of Old and
New Testament words (2:275) (1996). Nashville: T. Nelson
52
As referências seguintes descrevem as disciplinas, natureza ou sentido da mensagem, que é
o "evangelho" de Deus, Mc 1.14; Rm. 1.1; 15.16; 2 Co. 11:7, 1Ts. 2:2, 9; 1Pe. 4:17; Deus, acerca de seu
Filho, Rom. 1:1-3; Seu Filho, Rom. 1:9; Jesus Cristo, o Filho de Deus, Marcos 1:1, nosso Senhor Jesus, 2
Tessalonicenses. 1:8; Cristo, Rom. 15:19, etc, ea glória de Cristo, 2 Coríntios. 4:4; a graça de Deus, Atos
20:24; a glória do Deus bendito, 1 Tm. 1:11; sua salvação, Ef. 1:13; paz, Ef. 6:15. Cf. também "o
evangelho
do
Reino",
Mt 4.23,
9.35,
24.14;
"evangelho
eterno",
Ap
14.6.
As seguintes expressões são usadas em conexão com o "evangelho": (a) em relação ao seu testemunho;
(1) kerusso ", para pregá-lo como um arauto, por exemplo, Matt. 4:23; Gal. 2:2, (2) laleo, "falar", 1
Ts 2.2; (3) diamarturomai, "para testemunhar (completamente)," Atos 20:24; (4) euangelizo, "pregar",
por exemplo, 1 Coríntios. 15.1; 2 Coríntios. 11.7; Gl 1.11, (5) katangello, "para anunciar", 1
Coríntios. 9.14; (6) eis douleuo ", para servir-vos" ("em prol de"), Fp 2.22 (7); sunathleo en "para o
trabalho com a" Fp 4.3; (8) hierourgeo ", a ministra," Rm. 15.16; (8) pleroo ", para pregar plenamente",
Rom. 15:19; (10) sunkakopatheo, "a sofrer com as dificuldades", 2 Tm. 1:8; (b) em relação aos seus ol
recepção de outra forma: (1) dechomai, "para receber", 2 Coríntios. 11:4; hupakouo, "para escutar, ou
obedecer", Rm. 10.16, 2 Tessalonicenses 1.8; pisteuo en ", em que acreditar," Marcos 1.15; metastrepho
"perverter", Gl 1.7.( Cf. VINE, W. E. UNGER, M. F., & WHITE, W. Vine's complete expository dictionary of
Old and New Testament words (2:275) (1996). Nashville: T. Nelson.)
53
“Suposições básicas ou pressupostos são importantes por causa da maneira como elas
determinam o método e o alvo do pensamento teórico. Elas podem ser comparadas a um trem
correndo sobre trilhos que não têm mudanças de rumo. Uma vez que uma pessoa esteja comprometida
com certo conjunto de pressuposições da cosmovisão cristã, sua direção e destino estão determinados”
(Cf. NASH, Ronald H. Questões últimas da vida: Uma introdução à filosofia. Trad. Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p. 21)
5.3.1 Pressupostos da Evangelização
Hermisten Maia nos apresenta dez pressupostos que devem nortear a
atividade de evangelização da igreja54:
5.3.1.1 A crença na inspiração e inerrância das Escrituras
A evangelização consiste em anunciar as Escrituras. O engajamento
verdadeiro da Igreja em anunciar a Palavra de Deus só é possível diante da
crença de que foi Deus quem a inspirou55 e que a mesma é inerrante e
poderosa para tocar os corações.
Hermisten chega a dizer que “uma igreja que não aceita a inspiração e a
inerrância bíblica, não poderá ser uma igreja missionária, pois como
poderemos pregar a Palavra se não estivermos confiantes do sentido exato do
que está sendo dito?”56.
5.3.1.2 A universalidade do pecado;
A verdade da universalização do pecado57 tem sido altamente ignorada
na sociedade atual e até mesmo ridicularizada. Geerhardus Vos chega a dizer
que “aqueles que se orgulham de ter espírito “moderno” ridicularizam e
zombam dessa verdade da Palavra de Deus”
58
. Entender esta verdade bíblica
é essencial para a tarefa evangelizadora, pois todo o labor evangelístico se
ampara neste pressuposto básico de que todos pecaram e precisam ouvir a
54
19-38.
55
COSTA, Hermisten Maia Pereira. Breve Teologia da Evangelização. São Paulo: PES, 1996. p.
Quanto a doutrina da Inspiração, Hermisten declara: “Podemos definir a inspiração como
sendo a influência sobrenatural do Espírito de Deus sobre os homens separados por ele mesmo, a fim de
registrarem de modo inerrante e suficiente toda a vontade de Deus, constituindo esse registro na única
norma de todo o conhecimento cristão”. (Cf COSTA, Hemisten Pereira da. A Inspiração e Inerrância das
Escrituras. São Paulo: Cultura Cristã, 2008. p.66.)
56
COSTA, Hermisten Maia Pereira. Breve Teologia da Evangelização. p. 20.
57
Encontramos uma exposição sucinta, porém rica a luz da bíblia da corrupção da humanidade
na pergunta 25 do Catecismo Maior de Westminster: “Em que Consiste a pecaminosidade desse estado
em que o homem caiu? A pecaminosidade desse estado em que o homem caiu consiste na culpa do
primeiro pecado de Adão, na falta de retidão na qual este foi criado, e na corrupção de sua natureza,
pela qual ele se tornou inteiramente indisposto, incapaz e oposto a tudo o que é espiritualmente bom, e
inclinado a todo mal, e isso continuamente, o que geralmente se chama pecado original, do qual
procedem todas as transgressões atuais” (Cf. WESTMINSTER, O Catecismo Maior de. Pergunta 25.).
58
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo:
Editora Os Puritanos, 2007. p. 96.
mensagem libertadora do Evangelho, pois de si mesmo não há nada que
possam fazer para alcançar a salvação, estão mortos nos seus delitos e
pecados59.
Calvino expressou esta verdade da seguinte forma: “Ora, a vontade
humana, amarrada e presa como está à servidão do pecado, não pode
trabalhar nem um pouco pelo bem, por mais que se esforce.” 60 Mais adiante,
Calvino diz: “Porque disso decorre que da nossa vontade não pode proceder
nada de bom, enquanto ela não for reformada e renovada, e, após a reforma, o
que nele é bom é de Deus, e não de nós.”61
5.3.1.3 A Soberania de Deus
A crença que existe um Deus soberano que governa sobre tudo e que
conduz a história para um fim planejado desde a eternidade é um estímulo à
tarefa evangelizadora, pois sabemos que Deus tem os seus escolhidos e que
Ele os conduzirá a salvação por intermédio da pregação do evangelho. De
modo, que participar do plano de Deus através da evangelização é uma graça
e um privilégio que a Igreja desfruta.
5.3.1.4 A responsabilidade humana
A participação da igreja na evangelização do mundo é um privilégio, pois
é Deus usando pessoas para alcançar outras. Refletindo sobre este privilégio,
J. I. Packer declara:
Evangelizar é um grande privilégio; é uma coisa maravilhosa estar em
condições de falar aos outros sobre o amor de Cristo, estando cientes
de que não há nada de que eles necessitam saber mais
urgentemente, e não há nenhum conhecimento no mundo que possa
59
A Esta realidade da universidade do pecado, tem sido conhecido como Depravação Total e
constitui o primeiro ponto dos famosos Cinco Pontos do Calvinismo, criado no Sínodo de Dort ocorrido
na cidade Dordrecht, na Holanda. Sobre a Depravação Total, Spencer declarou: “A doutrina reformada
da Depravação Total não afirma que, no homem, não haja bem algum. Quando o homem se mede pelo
homem, ele é sempre capaz de encontrar algum bem em si próprio ou nos outros ” (Cf. SPENCER, Duane
Edward. Tulip: Os Cinco Pontos do Calvinismo à Luz das Escrituras. São Paulo: Edições Parakletos, 2000.
p. 30).
60
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e
pesquisa v.1. p. 121
61
Ibid. p. 125.
lhe fazer um bem tão grande. Não temos, portanto, porque ser
relutantes e tímidos na evangelização pessoal e individual. Por isso
62
deveríamos ficar felizes e contentes em fazê-lo .
Diversos textos bíblicos poderiam ser citados para comprovar a
responsabilidade humana na Evangelização63. Entretanto creio que o texto de
1Pedro 2.9-10 é suficiente para nós neste instante, pois declara que fomos
chamados por Deus e colocados em um posição privilegiada com propósito
específico que é anunciar o que Deus fez.
Sempre que o tema evangelização é abordado, o paradoxo soberania
divina e responsabilidade humana surge. Alguns desavisadamente ao dar
ênfase em um dos pontos acabam negando o outro, entretanto, creio ser
oportuna às palavras de J.I Packer:
Quando perguntaram a C.H. Spurgeon certo dia, se ele seria capaz
de reconciliar estas duas verdades uma com a outra, ele respondeu:
“Eu nem ousaria tentá-lo”; “Eu nunca reconcilio amigos”. Amigos? –
isso mesmo, amigos. Este é o ponto que precisamos entender. Na
Bíblia, não há nenhuma inimizade entre a soberania divina e a
responsabilidade humana. Elas não são vizinhas briguentas; elas não
estão em um estado de guerra fria interminável uma com a outra. Na
verdade elas são amigas e trabalham juntas64.
Portanto, se de um lado sabemos que Deus é soberano na salvação dos
indivíduos, por outro lado, temos a consciência que o dever de todos os
cristãos é se engajarem na missão de fazer discípulos pregando o evangelho.
É uma responsabilidade da qual a Igreja não pode se eximir.
Augustus Nicodemus Lopes ao comentar sobre o nanismo das Igrejas
históricas afirma que o motivo muitas vezes é a negligencia para com a nossa
responsabilidade de anunciar o evangelho:
Infeliz é a postura que justifica o tamanho minúsculo com o
argumento da soberania de Deus. É evidente que, como reformado,
creio que é Deus quem dá o crescimento. Mas creio também que,
antes de colocar a culpa em Deus, nós pastores reformados,
deveríamos nos questionar no seguinte: Nossa Igreja está bem
localizada? O culto é acolhedor e convidativo? A igreja tem
desenvolvido esforços consistentes e frequentes para ganhar novos
membros? A pregação é inteligível para algum descrente que por
62
PACKER, J.I. A Evangelização e a Soberania de Deus. Trad. Gabriele Greggersen. São Paulo:
Cultura Cristã, 2002. p.71.
63
Cito como referências apenas alguns textos: Mc. 16. 15; At 5.42; 8.4; 9.27; 10.42; 13.46;
15.35; 17.18; 18.19; Rm 10.14; 1Co 1.23-24; 9.16; 2Tm 4.2.
64
PACKER, J.I. A Evangelização e a Soberania de Deus. p.31.
acaso esteja ali? Os membros da igreja estão possuídos de um
espírito evangelístico? Existe oração na igreja em favor da conversão
de pecadores e em favor do crescimento do número de membros?
Creio que muitos pastores reformados colocam cedo demais em
Deus a responsabilidade do tamanho de suas igrejas, antes de fazer
o dever de casa65.
5.3.1.5 A Suficiência e eficácia da obra de Cristo
A obra de Cristo na cruz do Calvário é fundamento da evangelização,
pois pregamos sabendo que Cristo de fato fez a obra em favor do seu povo.
Esta obra é completa em si mesma e eficaz aos eleitos, pois o fato de Cristo ter
se encarnado, ter obediência a lei de Deus, morrido e ressuscitado, tudo o que
era necessário para salvação do homem foi adquirido. Por isso que na ocasião
da crucificação, Jesus declarou: “está consumado” que significa que a dívida
para com Deus foi de uma vez por todas paga.
5.3.1.6 O Propósito de Deus em salvar o Seu Povo.
Saber que Deus tem um propósito específico de salvar o seu povo
desde a eternidade e que este projeto envolve toda a Trindade, pois “na
dimensão soteriológica é fundamental a participação do Pai que envia, do Filho
que recebe e do Espírito Santo que convence do pecado e santifica”66 é
fundamental para a Evangelização. Esta certeza nos assegura da eficácia da
evangelização, pois Jesus Cristo veio para obter a salvação definitiva para o
seu povo67. Hermisten Maia, ao comentar esta certeza diz: “A Igreja evangeliza
amparada nesta certeza: Deus salvará a todos aqueles que crerem em Jesus
Cristo, recebendo-O como Seu Senhor e Salvador. Deus Salvará todo o Seu
povo. A salvação é uma prerrogativa exclusiva do Deus Trino”
65
68
.
LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a Igreja: Ascensão e queda do
movimento evangélico brasileiro. p.198.
66
MACEDO, Aproniano Wilson de. Teologia de Missões. São Paulo: Cultura Cristã, 1998. p. 108.
67
Alguns textos que indicam esta realidade: Mt 1.21; Jo 3.16; 2Co 5.21; Gl 1.4; 1Tm 1.15; Hb
2.14-15; Jo 10.27-28; Clm1.21-22; Hb 1.3; 9.12-14; 1Pe 2.24; Ap 5.9-10)
68
COSTA, Hermisten M.P. Breve Teologia da Evangelização. p.29.
5.3.1.7 O Ministério eficaz do Espírito Santo.
Mas a obra do Espírito Santo é realmente importante?
Importante! E tão importante que se não fosse pela ação do
Espírito Santo não haveria Evangelho, nem fé, nem igreja e
nem cristianismo no mundo69.(J.I. Packer)
O ministério do Espírito Santo permite ao evangelizarmos a certeza de
que em última instância a conversão não é obra produzida por nós e sim obra
do Espírito Santo, pois é ele quem torna efetivo aquilo que Cristo realizou
definitivamente na vida dos seus escolhidos. J. I. Packer reconhece que a
evangelização vista sob uma perspectiva humana é uma tarefa impossível:
Tido como um empreendimento humano, a evangelização é uma
tarefa impossível. Ela não pode, em princípio, produzir o efeito
desejado. Podemos pregar, e pregar a forma mais clara, fluente e
atrativa que quisermos; podemos até falar com as pessoas da forma
mais aguda e desafiadora; podemos organizar cultos especiais,
distribuir folhetos, pendurar cartazes e encher o país com publicidade
– não há a mínima perspectiva de que todos estes dispendiosos
esforços levarão uma única alma de volta para Deus. A não ser que
haja algum outro fator a influenciar esta situação, além e acima de
nosso esforço, toda a ação evangelística está predestinada ao
fracasso. 70
5.3.1.8 O anseio pelo regresso de Cristo
A Igreja mesmo sem poder alterar a data da volta de Cristo,
evangeliza como sinal de obediência, pois foi chamada para levar adiante
os eventos que devem ocorrer antes do Dia do Senhor. Sendo um deles a
propagação do evangelho a todo o mundo.
5.3.1.9 A Doutrina da Eleição
A doutrina da eleição71 longe de ser um desestímulo, ao contrário, é a
garantia de que Deus tem preparado pessoas para aceitar a mensagem que
será pregada. Aliás, a eleição de Deus abrange tanto os fins quanto aos meios.
69
82.
70
PACKER, J.I. O Conhecimento de Deus. Trad. Cleide Wolf. São Paulo: Mundo Cristão, 1996. p.
PACKER, J.I. A Evangelização e a Soberania de Deus. p. 98.
A Doutrina da Eleição tem sido interpretada de modo diferente pelos evangélicos. Adoto
nesta obra, a perspectiva Calvinista, exposta na Confissão de Fé de Westminster.
71
Sobre a relação da eleição com a evangelização Kuiper expressou
corretamente:
Em vez de tornar supérflua a evangelização, a eleição requer a
evangelização. Todos os eleitos de Deus têm de ser salvos. Nenhum
deles pode perecer. E o Evangelho é o meio pelo qual Deus lhes
comunica a fé salvadora. De fato, é o único meio que Deus emprega
para esse fim 72.
5.3.1.10 Glorificar a Deus
A Evangelização assim como todos os outros atos do homem, precisa
ter como objetivo maior a glória de Deus. R.B Kuiper reconhece que a
glorificação a Deus é o grande objetivo da evangelização a luz do Calvinismo,
ao dizer:
A fé calvinista propõe o mais elevado objetivo da evangelização. E
não é a salvação de almas. Nem o crescimento da igreja de Cristo.
Tampouco é a vinda do reino de Cristo. Todos estes objetivos da
evangelização são importantes, inestimavelmente importantes. Mas
são apenas meios para consecução do fim para o qual todas as
coisas foram trazidas à existência e continuam existindo, para o qual
Deus faz tudo o que faz, no qual a história toda culminará um dia, e
no qual estão focalizadas todas as eras da eternidade sem fim – a
glória de Deus73.
Piper declara de modo resumido que: “O alvo principal de Deus é manter
e demonstrar a glória do seu nome”74. J. I. Packer ao defender esta mesma
verdade afirma:
A finalidade de Deus em todos os seus atos é, em ultima análise, ele
mesmo. Não há nada moralmente dúbio com respeito a isso. Se
dizemos que o homem não pode ter finalidade mais alta do que a
glória de Deus, como podemos dizer algo diferente a respeito do
próprio Deus? A ideia de que seja de algum modo indigno representar
Deus como almejando sua própria glória em tudo o que ele faz reflete
a falha de nós não lembrarmos de que Deus e o homem não estão no
mesmo nível. Mostra a nossa falta em perceber que, enquanto o
homem pecador faz de seu próprio bem-estar sua finalidade máxima,
a expensas de seus semelhantes, nosso gracioso Deus determinou
glorificar a si mesmo abençoando o seu povo. Sua finalidade em
redimir o homem, aprendemos, é “o louvor da glória de sua graça”, ou
simplesmente o louvor de “sua glória” (Ef 1.6, 12,14) 75.
72
KUIPER, R.B. Evangelização Teocêntrica. São Paulo: PES, 1976, p. 28.
Ibid. p. 149.
74
PIPER, John. A Supremacia de Deus em Missões. p. 19.
75
PACKER. J.I. Religião Vida Mansa: A Teologia do Prazer e o desafio para o crente num mundo
materialista. Trad. Hope Gordon Silva. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 23.
73
Diante destes pressupostos creio ser correta a definição de Packer
sobre evangelização:
De acordo com o Novo Testamento, evangelizar significa
simplesmente pregar o evangelho, as boas novas. Trata-se de um
ministério de comunicação, no qual os cristãos tornam-se porta-vozes
da mensagem de misericórdia de Deus aos pecadores76.
Hermisten Maia segue a mesma linha de Packer, e define com as
seguintes palavras:
Podemos definir operacionalmente a evangelização, como sendo a
proclamação essencial da Igreja de Cristo que consiste no anúncio de
Suas perfeições e de Sua obra Salvífica, conforme ensinada nas
Sagradas Escrituras, reivindicando pelo Espírito, que os homens se
arrependam de seus pecados e creiam salvadoramente em Cristo77.
Embora a evangelização seja a grande missão da Igreja para com o
mundo, a Igreja não pode ignorar o contexto social onde ela está inserida.
Dentro das suas possibilidades, a Igreja deve influenciar a sociedade,
proporcionando melhorias aos seres humanos. Pois os dois grandes
mandamentos que resume toda a lei são: Amar a Deus sobre todas as coisas e
ao próximo como a nós mesmos (Mt 22.37-39).
O Brasil é um país altamente necessitado de cuidados sociais. Há uma
grande desigualdade social; inúmeros problemas na educação 78; a saúde
pública deixa a desejar; alto índice de violência.
Tudo isso cria um cenário propício para que a Igreja atue de modo a
aliviar a dor dos aflitos. É comum no arraial Reformado a atuação da Igreja em
algumas áreas específicas: criando hospitais; fundando escolas; distribuindo
alimento; entre outros. A IPB, por exemplo, possui o CAS (Conselho de Ação
Social) que tem buscado ajudar em inúmeras áreas o nosso país.
A Igreja, portanto, deve viver neste mundo ciente da sua missão de
adorar Deus, capacitar os membros e evangelizar o mundo. É um erro enorme
76
PACKER, J.I. A Evangelização e a Soberania de Deus. p.37.
COSTA, Hermisten M.P. Breve Teologia da Evangelização. p.18.
78
Gildásio Reis, pastor presbiteriano, apresenta seis motivos básicos para o problema
educacional nas sociedades urbanizadas: 1)O baixo salário dos professores; 2) Pressão econômica
daqueles pais que necessitam do trabalho das crianças; 3) Falta de boas universidades e dificuldades no
acesso a estas; 4) Evasão escolar antes do término do Ensino Fundamental; 5) Elevado
número
de
jovens e adultos que não concluíram a escolarização em idade regular (Cf: REIS, Gildásio. Missiologia:
Uma Perspectiva Urbana. p.16. Disponível em <http://www.monergismo.com/textos/missoes/missoesperspectiva-urbana_gildasio.pdf>. Acessado em 24/10/2010.
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focalizar somente uma destas áreas, pois uma Igreja se torna viva e atuante
quando matem essa tríade de propósitos equilibrados.