Risco de Crédito da Contraparte no Contexto de
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Risco de Crédito da Contraparte no Contexto de
Risco de Crédito da Contraparte no Contexto de Bancos Comerciais segundo Basileia III Lourenço Miranda Al Qureshi Nº 87 Maio 2014 Comparação entre Algoritmos para o Cálculo do Indicador AUROC Lineke Clementino Sleegers Rocha Luis Gustavo Santos Barros 14 Modelo de Behavior Scoring em uma Empresa de Telecomunicações Brasileira Aline Gonçalves Lins Wesley Vieira da Silva Luciano Luiz Dalazen Luiz Carlos Duclós 22 Previsão de Inadimplência na Baixa Renda Patricia Rosangela Carneiro 41 Proteja A Serasa Experian oferece soluções sob medida para o seu negócio. São produtos e serviços exclusivos, que vão desde consultas de crédito até ferramentas e softwares para gerir melhor sua empresa. Tudo muito prático, rápido e rentável. E o melhor: cabe no seu orçamento. Entre em contato e prepare-se para se destacar da concorrência. 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A partir dessas classes, empregando-se a métrica do Value at Risk (VaR), originaram-se quatro segmentos diferenciados. 41 Previsão de Inadimplência na Baixa Renda Patricia Rosangela Carneiro O potencial de consumo nas classes populares vinha sendo ignorado pela maioria das empresas seja no Brasil, como em outros países, porém, mais recentemente, a atuação junto aos mercados da base da pirâmide vem crescendo e ganhando importância. Medir o risco de inadimplência foi o foco da pesquisa. 4 Palavra do Editor Esta edição apresenta quatro artigos de grande relevância para a gestão de risco de crédito, cada um deles contendo estudos voltados para situações particulares, que poderão servir de referência a especialistas e analistas de empresas e instituições financeiras, professores e estudantes. O primeiro artigo – “Risco de Crédito da Contraparte no Contexto de Bancos Comerciais segundo Basileia III” - focaliza especialmente instituições financeiras cujas carteiras são constituídas por empresas do middle Market ou PJs locais. Seus autores, Lourenço Miranda e Al Qureshi pertencem à mesma instituição - US Bancorp - o 5º maior Banco Comercial dos Estados Unidos. Miranda é Head do Quantitative Analytics Group e Al Qureshi é Head do Market Solutions Group. Ambos têm longa experiência na atividade que exercem Gestão, Mensuração e Precificação de Risco, e Trader. No estudo, Lourenço Miranda e Al Qureshi enumeram as preocupações ligadas ao hedge de Risco de Crédito da Contraparte, um dos assuntos do momento no setor bancário, especialmente depois da emissão das regras do Basileia III, segundo as quais a mensuração de capital para fins de CCR tornou-se obrigatória por meio do cálculo de um VaR do CVA. Eles afirmam que o Risco de Crédito da Contraparte e o CVA serão, em um futuro próximo, temas de extrema importância na agenda de gestão do risco de crédito dos principais bancos, voltados especialmente para a solidez e estabilidade do Sistema Financeiro. Líneke Clementino Sleegers Rocha, Gerente Executivo da área de Monito- ração dos Modelos de Risco da Caixa Econômica Federal, estatística, pós graduada em Métodos Quantitativos, mestre em Economia, é responsável pelo artigo “Comparação entre Algoritmos para Cálculo do Indicador AUROC” em coautoria com o estudante de Estatística Luis Gustavo Santos Barros, estagiário na CEF. O estudo enfatiza que os softwares estatísticos retornam este indicador na construção dos modelos, mas que existem diversos algoritmos para cálculo desse indicador utilizado no acompanhamento dos modelos de risco de crédito. Na análise foram comparados três algoritmos para o cálculo do AUROC obtidos pelo software SAS, cotejando os resultados para dados agrupados (em classes de escore) e não agrupados (dados brutos). A comparação das três propostas resultou que a melhor metodologia para o cálculo do indicador AUROC é pela derivação da estatística do Teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (MWW). Este método de cálculo não apresenta valores fora do intervalo esperado para o indicador e não é impactado na utilização de dados agrupados. Os professores Aline Gonçalves Lins, Wesley Vieira da Silva, Luciano Luiz Dalazen e o mestrando Luiz Carlos Duclós são autores do artigo “Modelo de Behavior Scoring em uma Empresa de Telecomunicações Brasileira”. Trata-se de uma pesquisa que teve por objetivo construir um modelo para determinar a probabilidade de inadimplência de um cliente, a partir de seu comportamento de pagamentos. Utilizaram-se técnicas econométricas e de análise multivariada para construir um modelo de Behavior Scoring e a segmentação dos clientes 5 em classes de risco, associadas a uma probabilidade de inadimplência e a perda financeira esperada. O modelo possibilitou a compreensão do fenômeno estudado, isto é, a inadimplência na empresa “TELE” e, a partir da probabilidade, efetuou-se a separação dos clientes em classes de risco, possibilitando calcular o VaR desses grupos. Na pesquisa, o VaR está definido como a perda máxima esperada em 8 meses, com uma confiança de 95%. Dessa maneira, foram obtidos quatro agrupamentos de clientes com perdas homogêneas dentro dos grupos, mas heterogêneas quando comparadas entre si. Isso permitiu dar um tratamento diferenciado aos clientes, com uma acuracidade maior no que tange a previsão de retorno sobre o investimento. Bastante oportuno é o artigo de Patricia Rosangela Carneiro - “Previsão de Inadimplência na Baixa Renda” - uma vez que atualmente grande número de organizações passou a reconhecer e explorar as classes populares. A autora é graduada em Estatística e tem 10 anos de experiência em desenvolvimento de soluções customizadas para clientes da Serasa Experian. Seu trabalho buscou identificar variáveis capazes de explicar o comportamento de crédito dessa classe e sugeriu um modelo de crédito para a população brasileira de baixa renda. A população de baixa renda tem pouco ou nenhum colateral, não tem histórico de crédito, tem diminuta ou nenhuma experiência em lidar com dinheiro ou em gerenciar um negócio e pode habitar locais distantes. O inadimplemento representa um dos maiores problemas na concessão de crédito, pois influencia diretamente as condições para o acesso. Neste trabalho, a inadimplência encontrada na amostra selecionada para aplicar a técnica Credit Scoring foi de 28% de clientes inadimplentes. A alta taxa de inadimplência é explicada pelo descontrole por parte de uma parcela da população que tem agora, acesso a bens que nunca teve, e na qual se deposita alto nível de confiança para o futuro. Para alcançar o objetivo proposto, foram realizadas análises estatísticas, as quais surpreenderam as expectativas do pesquisador. Tecnologia de crédito ANO XIII Publicação trimestral da Serasa Experian Nº 87 ISSN 2177-6032 Presidente - Brasil Editoração Eletrônica José Luiz Rossi Gerson Lezak Presidentes/Superintendentes de Unidades de Negócios Ilustração Juliana Azuma, Marcelo Kekligian, Maria Zanforlin, Gerson Lezak Mariana Pinheiro e Steven Wagner Tradução Diretores Allan Hastings Amador Rodriguez, Guilherme Cavalieri, Laércio Oliveira Pinto, Correspondência Lisias Lauretti, Paulo Melo, Silvânio Covas e Valdemir Bertolo Serasa Experian - Comunicação & Branding Editora Responsável Alameda dos Quinimuras, 187 - CEP 04068-900 - São Paulo - SP Rosina I. M. D’Angina (MTb 8251) www.serasaexperian.com.br Assistente de Edição [email protected] Nancy Galvão Os conceitos emitidos em artigos assinados são de responsabi Projeto Gráfico lidade de seus autores, não expressando, necessariamente, o Luis Barbuda ponto de vista da Serasa Experian, nem do Conselho Editorial. Capa É proibida a reprodução total ou parcial dos artigos Gerson Lezak desta publicação. 6 Risco de Crédito da Contraparte no Contexto de Bancos Comerciais segundo Basileia III Lourenço Miranda Al Qureshi 7 Sumário O artigo descreve os processos gerais de modelagem de crédito, proxy (aproximação da carteira equivalente), hedging e práticas setoriais aplicáveis no que se refere à gestão e mensuração do risco de crédito da contraparte (Counterparty Value Adjustment, ou CVA). Analisa em termos de processo potencial de proxy e paradigma de hedging um modelo de carteira simplificado altamente equiparado à exposição comum ao risco de contraparte da carteira de derivativos existente em um Banco comercial. A simulação histórica foi realizada ao longo dos últimos quatro anos. Os resultados são bastante alentadores e indicam que pode ser desenvolvido um protocolo de hedging altamente simplificado. Nesse exemplo, demonstrou-se que até mesmo com uma escala de risco muito simplificada, foi possível harmonizar mais de 98% do risco ao longo do tempo. Análises estatísticas subsequentes sugerem que a maior parte do “erro de hedge” observado se deve ao risco de curva não-modelado e é resultado direto de nosso agrupamento (bucketing) altamente simplificado de taxas e volatilidades. Palavras-chave: Risco de Crédito da Contraparte, Basileia III, Credit Default Swaps, Hedging e Mapeamento de Crédito. Introdução Muitas instituições financeiras sofreram significativas perdas ligadas ao Risco de Crédito da Contraparte (Counterparty Credit Risk – CCR) em suas transações com derivativos de balcão (OTC) durante a violenta perturbação de mercado de 2008-2009. Essas perdas deveram-se principalmente a contrapartes em default direto ou de ajustes de valoração de crédito (Credit Valuation Adjustments – CVA) relacionados a perdas de marcação ao mercado associadas a contrapartes não inadimplentes. Mais especificamente, o default de Lehman e seus efeitos ampliaram o foco dos agentes do mercado sobre a questão do CCR em seus trading books. Tendo isso em mente, o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia (Basel Committee on Banking Supervision – BCBS) publicou em dezembro de 2009 um documento de consulta (consultative paper – CP), com o objetivo de atender a certas preocupações que surgiram durante a crise dos mercados financeiros e que a estrutura de adequação de capital do Basileia II não era capaz de cobrir inteiramente. Uma dessas questões envolve as elevadas perdas de CCR em potencial em instituições 8 financeiras específicas e no setor financeiro de modo geral. Depois do período de consultas, em junho de 2011 o Comitê emitiu – em sua forma revista e mais recente – uma série de medidas reformadoras popularmente conhecida como Basileia III, para reforçar a regulação, a supervisão e a gestão de risco do setor bancário. Essas medidas pretendiam: aumentar a capacidade do setor para absorver choques decorrentes de estresse financeiro e econômico de quaisquer fontes, aprimorar a gestão de risco e a governança, e reforçar a transparência e a divulgação por parte dos bancos. Mensuração do Risco de Crédito da Contraparte Ajuste de Valoração de Crédit (Credit Valuation Adjustment – CVA) Resumidamente, CVA é a modificação da marcação ao mercado de uma carteira por causa da possibilidade de default da contraparte. Para ilustrar a preocupação ligada ao CCR, consideremos o caso de um fornecedor de crédito de primeira linha que firme um derivativo de balcão nos termos do qual compre um fluxo de caixa potencialmente positivo de uma contraparte sub-prime e venda, pelo mesmo preço, um fluxo de caixa idêntico a outra instituição creditícia de primeira linha. Na ausência de qualquer risco da contraparte, o fornecedor de crédito não teria lucro/prejuízo. Na realidade, contudo, o intermediário apresenta prejuízo por causa da diferença de risco de contraparte que reteve e não repassou à outra instituição de primeira linha. Para avaliar esse ajuste, uma analogia genérica para essa divergência de valor é admitir que as duas contrapartes vendam implicitamente uma à outra uma opção de default em relação à transação. Neste exemplo, como a instituição intermediária comprou um fluxo de caixa positivo, tem um recebível positivo da contraparte sub-prime. Como corre o risco de default da contraparte, vendeu implicitamente a ela uma opção de default pela qual não recebeu qualquer prêmio. Esse prêmio é equivalente ao preço de risco CCR do hedge, de acordo com a teoria da precificação neutra em risco. Assim, a instituição deveria “cobrar” do seu trader o valor da opção de default. Teoricamente, dada uma medida de valoração neutra em risco, o CVA deve ser igual ao custo do hedge da exposição ao risco. Dito isso, dada uma transação específica em derivativos de balcão entre duas contrapartes, o problema agora reside em identificar um hedge para o CCR inerente à transação. De modo geral, três fatores contribuem para o risco da contraparte. Primeiro, o risco de crédito da contraparte medido por sua Probabilidade de Descumprimento (PD). Segundo, a exposição no momento do descumprimento (Exposure at Default – EAD), que depende do mercado (por exemplo, no caso de um swap de taxa de juros a exposição depende dos preços de mercado das taxas de juros, o que faz da EAD uma variável de natureza aleatória. Esta é a principal diferença entre a EAD de um empréstimo e a de um derivativo). Terceiro, a recuperação após o descumprimento (medida pelo valor que pode ser recuperado após o descumprimento, ou Loss Given Default). A exposição ao risco de crédito pode, então, ser objeto de hedge por meio de um instrumento que proteja a contraparte do descumprimento pela outra. Tal instrumento é o bem conhecido Credit Default Swap (CDS). Quando se trata de uma só contraparte, o instrumento de hedge contra o risco de crédito da contraparte é o CDS unitário (sin- 9 gle name CDS). Mas nem sempre se pode encontrar no mercado CDS unitários para uma contraparte específica, principalmente quando se trata do middle market ou de instituições cujos CDSs não sejam líquidos o bastante ou apresente custos proibitivos. Assim, o hedging deve basear-se em aproximações (proxies) da exposição à contraparte. O hedge torna-se imperfeito, na medida em que essas proxies apenas simulam o risco da contraparte. O problema, agora, passa a ser o de encontrar tais proxies por meio de mapeamento de risco de crédito (usando ratings ou informações setoriais). Hedge do Risco da Contraparte Proxies e Mapeamento de Crédito A modelagem e o proxying de crédito são determinantes cruciais dos processos de CVA a jusante, seja na precificação do componente CVA para uma nova transação, seja no cálculo das sensibilidades de uma carteira à taxa de juros e ao hedge de crédito. Em suma, no que se refere aos insumos de um modelo de crédito (por proxying nos referimos à maneira pela qual descrevemos o risco de uma dada contraparte), é preciso destacar que “proxies incorretas” podem dar origem a significativa volatilidade dos ganhos. Assim, ao discutir mapeamento de crédito e/ou proxying, os autores sugerem que o leitor cauteloso pense em maneiras pelas quais as diferentes opções de projeto podem afetar: a) mapeamentos de crédito excessivamente conservadores ou agressivos (ao que nos referiremos por erro de modelagem) e/ou b) mapeamentos de crédito e/ou proxies que não se atualizem à medida que o crédito subjacente da contraparte se desloque (ao que nos referiremos por anomalias de atualiza- ção). Em última análise, ao sugerir as ideias relacionadas a proxy de crédito que seguem, nosso objetivo é o de obter um processo que respeite os limites necessários associados à produção de um preço de CVA competitivo, que se preste a uma estrutura razoável de hedge e que, na medida do possível, reflita uma medida precisa do risco de crédito da contraparte embutido nos nossos diferentes books de derivativos. Recomendações quanto ao Mapeamento de Crédito Uma Descrição Genérica para: Contrapartes com CDSs Negociáveis Independentemente do ponto da estrutura de capital ao qual se vincule um dado CDS específico, se uma determinada contraparte contar com CDSs negociáveis, então quem fizer hedges com CVAs provavelmente usará o preço de mercado do CDS como dado de entrada para cálculo do CVA e das sensibilidades de hedge correspondentes. As informações de LGD também serão inferidas a partir do mercado. Se o procedimento for corretamente realizado, o risco da contraparte assim mapeado deve levar a um preço de CVA e, portanto, a um hedge de CVA que (em tese) acompanhará com quase exatidão o risco da contraparte, de maneira a reduzir o risco líquido. Ao acompanhar o spread do Credit Default Swap da contraparte, nosso objetivo é minimizar o erro de modelagem e impossibilitar anomalias de atualização. Contrapartes sem CDSs Negociáveis Chamamos o processo geral de atribuição de comportamento de crédito a con- 10 trapartes sem CDSs negociáveis de ciência (ou arte?) de proxy. Esperamos utilizar os ratings de crédito internos das contrapartes. Esses ratings internos podem ser mapeados em relação a taxas históricas de probabilidade de descumprimento, ou “PDRs”. Usamos as PDRs e o rating setorial para determinar precificação por faixa de Índice CDX observável e calcular um preço CVA neutro em risco como dado de entrada para o cálculo do encargo de CVA e das sensibilidades de hedge correspondentes. Para garantir a precisão do proxying (mínimo erro de modelagem) e sua atualização (ausência de anomalias de atualização), é provável que um recurso quantitativo baseado em hedging de CVA possa funcionar com o crédito para monitorar PDRs de entrada, precisão de proxy e retrotestes dos cálculos de proxy e LGD. A realização de retrotestes, na ausência de CDSs negociáveis, provavelmente exigirá o uso de curvas de títulos limpas e suavizadas e de preços sintéticos de CDS derivados dos modelos de equivalência ações-CDS de fornecedores como o KMV da Moody's. O processo de mapeamento de crédito implica restrições operacionais rígidas a jusante, além de alguns benefícios diretos para o negócio. Os benefícios do uso de proxies simplificadas, porém precisas, resultam do fato de a precificação ser direta, a precificação por CVA ser competitiva e o encargo de CVA ser derivado dos preços de mercado. Este último ponto é crítico, já que será fundamental contar com ativos negociáveis para fazer o hedge da volatilidade dos resultados do CVA. Os custos associados à análise por meio de proxy, em termos gerais, resultam do fato de que será necessário um grande volume de análise quantitativa para garantir a precisão das proxies (mínimo erro de mode- lagem) e que as relações de proxy se desloquem à medida que o crédito subjacente da contraparte se mova para cima e para baixo (mínimas anomalias de atualização). Por outro lado, haverá a consequência inevitável de que, com o proxying e os hedges por proxy, o crédito subjacente da contraparte não se mova de maneira semelhante e até mesmo em direção oposta (risco-base). Na prática, qualquer movimento do crédito subjacente da contraparte que não seja capturado pela proxy (ou seu hedge) será, afinal, um descumprimento. A Proxy é Sempre uma Proxy… o Risco-base é Inevitável Como o processo de hedging apenas protege contra sensibilidades derivadas das sensibilidades proxy, os hedges não podem oferecer proteção contra o risco-base entre a ‘proxy’ e o crédito efetivo da contraparte. Este, enfim, é o papel dos retrotestes da proxy. Dada sua importância para o sucesso tanto da precificação quanto dos hedges, acreditamos que proxying e retrotestes devam ser funções da mesa de operações O hedging por CVA são será uma garantia universal – principalmente em Bancos Comerciais e, mais especificamente, ao considerarmos a atual composição do book de derivativos de balcão dos Bancos Comerciais (em geral para atender às necessidades de clientes PJ do Middle Market). O arranjo de hedging por CVA provavelmente será incapaz de proporcionar hedge contra migração de ratings e/ou um salto para a condição de descumprimento em relação aos títulos com hedge via proxy. Esse risco-base não pode ser evitado. Principalmente nos casos em que o book do negócio se componha predominantemente de clientes do middle market para os 11 quais não haja CDSs negociáveis, serão necessárias técnicas de hedge via proxy. Haverá algumas situações em que existam CDSs negociáveis para a contraparte e, nesses casos, a migração de ratings e o salto para a condição de descumprimento talvez possam ser objeto de hedge próximo à perfeição, em um ambiente dinâmico. O Hedging por CVA não irá Substituir os Limites de Crédito O hedging por CVA não pode ser um substituto para os limites de crédito. Um fato a considerar é o de que o CVA, num Banco Comercial, provavelmente não será substituto para o monitoramento ativo do limite de crédito. Encorajamos veementemente o monitoramento ativo de limites de crédito, dadas as restrições associadas à metodologia de proxy e hedge. Metas Gerais do Hedge Meta # 1 – O “Número Certo” é Zero Ao fazer hedge, procuramos atingir volatilidade mínima de resultados, com meta idealizada de 0. Meta #2 – Faça Hedge o Máximo que Puder… Se utilizamos precificação neutra em risco, quer dizer que calculamos uma expectativa “justa” do custo do hedging da contraparte durante a vigência do contrato. Se a instituição então construir um hedge usando o perfil de mercado do dia, o resultado associado ao “justo preço” será 0. Isso seria verdade, é claro, se admitirmos custo de transação 0, liquidez perfeita (podemos transacionar livremente no ponto de preço) e ausência de movimentação do mercado no tempo neces- sário para que o custo preço/risco da contraparte (custo do CVA) seja transacionado no mercado. Por isso, os profissionais do mercado costumam recomendar fazer hedge de 100% do risco CVA. Revisão do Encargo de CVA Implicações das Metas de Hedge para a Precificação Se o hedge não estiver sendo realizado com objetivo de lucro (ver Meta 1) e o agente pretender fazer hedge do máximo possível de risco (ver Meta 2), uma consideração fundamental será garantir que quaisquer sensibilidades calculadas a partir do encargo de CVA da carteira possam efetivamente ser objeto de hedge. É preciso lembrar que o encargo de CVA calculado e enfim precificado ao cliente é, na verdade, precificado usando taxas do dia do crédito e os dados de entrada do mercado. É por isso que, ao calcular o encargo de CVA e as sensibilidades a ele associadas, é importante usar “dados de entrada de precificação do mercado” que sejam negociáveis. Se usarmos esse fato – ou seja, o de que o encargo de CVA precificado aos clientes representa a expectativa de evolução do risco e da exposição da contraparte ao longo de um determinado período de tempo, então o hedge das sensibilidades que decorrem do encargo de CVA dia a dia será o custo do hedge, hoje. Contar com dados de entrada negociáveis significa que quaisquer sensibilidades decorrentes de nosso cálculo de CVA e nossa análise de sensibilidade serão, portanto, passíveis de hedge e negociáveis, e que o banco poderá, com isso, mitigar a volatilidade diária de resultados (P&L). Além dis- 12 so, gerenciar o cauteloso equilíbrio entre a proxy de um título e a competitividade em precificação ao cliente significará assegurar que o encargo de CVA precificado aos clientes tenha, de fato, preço de transferência “ao custo”. Autores Implicações para o Hedging A predominância de contrapartes em nosso book de derivativos irá exigir o uso de proxies. Se a meta da mesa de CVA for minimizar a volatilidade de P&L da instituição, é provável que o processo de proxy compartilhe efetivamente dessa meta. Afirmamos, anteriormente, que precificar em uma estrutura neutra em risco é o melhor que se pode fazer para atingir uma meta de resultado zero ao fazer hedge de 100% do risco (e vice-versa). Vemos que, com as duas primeiras metas, estamos procurando atingir zero volatilidade marcada ao mercado do P&L, ao mesmo tempo que precificamos o mais próximo possível do mercado (garantindo que o banco mantenha sua competitividade). Conclusões e Considerações Finais A crise financeira de 2008-2009 fez do Risco de Crédito da Contraparte um dos assuntos do momento no setor bancário, especialmente depois da emissão das regras do Basileia III, segundo as quais a mensuração de capital para fins de CCR tornou-se obrigatória por meio do cálculo de um VaR do CVA. Neste estudo, enumeramos algumas das preocupações ligadas ao hedge do Risco de Crédito da Contraparte, principalmente para os Bancos Comerciais, cujas carteiras se compõem fundamentalmente de empresas do middle market ou PJs locais cujos CCRs não possam ser objeto de hedging direto por meio de um CDS específico e justifiquem o uso de proxy. O Risco de Crédito da Contraparte e o CVA serão temas de extrema importância na agenda de gestão do risco de crédito dos principais Bancos no futuro próximo, assim como no suporte à solidez e estabilidade do Sistema Financeiro. Lourenço Miranda Lourenço Miranda é Head do Quantitative Analytics Group do US Bancorp, o 5º maior Banco Comercial dos Estados Unidos. Ele tem mais de 16 anos de experiência profissional em Gestão, Mensuração e Precificação de Risco, tendo trabalhado em Bancos com atividades internacionais e como assessor de risco da International Finance Corporation, o braço do Banco Mundial para o setor privado. Lourenço Miranda também está ligado à Escola de Matemática (Matemática Financeira) da Universidade do Minnesota, onde conduz linhas de pesquisa em matemática aplicada às finanças. Autores 13 Al Qureshi Al Qureshi é Head do Market Solutions Group, parte do Quantitative Analytics Group do US Bancorp. Al Qureshi tem mais de 15 anos de experiência como trader em muitas instituições financeiras, abrangendo todas as categorias de ativos dos lados comprador e vendedor. Na qualidade de Head of Market Solutions do US Bancorp, Al Qureshi presta serviços de assessoria a todas as linhas de negócios do Mercado de Capitais, inclusive em relação a modelos de precificação e sensibilidades de hedging. Ele é também é responsável pelo desenvolvimento da Referências estrutura de CVA do Banco. GIOVANNI Cesari; AQUILINA, J.; CHARPILLON, N.; FILIPOVIC, Z.; LEE, G.; and MANDA, I. - Modelling, Pricing, and Hedging Counterparty Credit Exposure: A Technical Guide, Springer Finance, New York: 2010. YI Tang, and BIN Li, Quantitative Analysis, Derivative Modeling, and Trading Strategies in the Presence of Counterparty Credit Risk for the Fixed Income Market, World Scientific, New Jersey: 2008. GREGORY Jon, Counterparty Credit Risk and Credit Value Adjustment: A Continuing Challenge for Global Financial Markets (The Wiley Finance Series), Wiley; 2 edition, New York: 2012; http://www.bis.org/bcbs/basel3.htm?ql=1 (Basileia 3, Geral) http://www.bis.org/publ/bcbs189.htm (Basileia 3, Documento Final) http://www.bis.org/publ/bcbs209.htm (Basileia 3, Perguntas Frequentes sobre CCR) 14 Comparação entre Algoritmos para o Cálculo do Indicador AUROC Líneke Clementino Sleegers Rocha Luis Gustavo Santos Barros 15 Introdução O AUROC (Área Sob a Curva ROC) é um dos principais indicadores de acurácia dos modelos de risco de crédito. Os softwares estatísticos retornam este indicador na construção dos modelos. Porém, existem diversos algoritmos para o cálculo deste indicador utilizado no acompanhamento dos modelos de risco de crédito. Este estudo compara três algoritmos para o cálculo do AUROC obtidos pelo software SAS, cotejando os resultados para dados agrupados (em classes de escore) e não agrupados (dados brutos). Palavras-chave: AUROC, Curva Roc, Mann-Whitney-Wilcoxon, PROC EXPAND. Curva ROC e Indicador AUROC Para a construção da Curva ROC é necessário o cálculo da sensitividade e especificidade em diferentes pontos de corte. A Sensitividade pode ser definida como a capacidade de identificar os clientes maus reconhecidos realmente como maus. Ou seja, qual é o percentual dos clientes observados na prática como maus pagadores, que foram classificados como maus pelo modelo, especificado um determinado ponto de corte. A Especificidade pode ser definida como a capacidade de identificar os clientes bons dado que eles realmente são bons. Ou seja, qual é o percentual dos clientes observados na prática como bons pagadores, que foram classificados como bons pelo modelo, dado um determinado ponto de corte. A curva é obtida plotando em um gráfico Sensibilidade x (1 - Especificidade) para os diferentes pontos de corte. A área abaixo da curva ROC varia de 0 a 1 e mede a habilidade do modelo em discriminar os clientes que estão sendo classificados corretamente. AUROC por Aproximação da Área sob a Curva ROC No SAS, a área pode ser obtida pela PROC EXPAND. A PROC EXPAND faz uma interpolação do tipo spline cúbica para obter a curva ROC. “Uma spline cúbica é uma função segmentada que consiste em polinômios de terceiro grau agrupados de forma que a curva toda tenha primeira e segunda derivada contínuas” (SAS Institute Inc., 2003, p. 846, tradução nossa). Utiliza-se o comando “observed”, que lê os argumentos que descrevem como os valores da série de dados são lidos e como eles ficarão depois de interpolados. Foram utilizados os argumentos “beginning” para definir como os valores serão lidos e o argumento 16 “total” para como queremos que eles sejam após a interpolação. O argumento “beginning” indica que os dados estão começando no início de cada intervalo da série (SAS Institute Inc., 2003), assim o SAS lê cada ponto dos dados individualmente. O comando “total” “indica que o valor dos dados é o valor total do intervalo correspondente à observação” (SAS Institute Inc., 2003, p. 844, tradução nossa). Após ajustar a curva spline aos dados, a PROC EXPAND, por meio do comando “transformout”, aplica a função a todos os pontos da curva. No caso deste trabalho e para o cálculo do AUROC o argumento utilizado foi “sum”. Com isso, a procedure do SAS aplica a soma a todos os pontos da curva transformada, resultando em uma aproximação da área total abaixo da curva. Se houver poucas observações ou se os dados estiverem agrupados, este algoritmo pode perder precisão. AUROC Derivado do Teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (MWW) O teste de Mann-Whitney-Wilcoxon é não paramétrico que testa a hipótese de que duas populações são iguais contra a hipótese alternativa, em geral, de que uma população apresenta valores maiores que a outra. Dadas amostras aleatórias X1, X 2, ..., Xn e Y1, Y2, ..., Ym independentes das duas populações. A estatística teste, segundo Conover (1999), é a soma dos ranks atribuídos a cada uma das amostras: n W= Ʃ i=1 R(Xi) (1) No caso de haver muitos valores da característica observada (e.g. scores de clientes) iguais na amostra, ou seja, empates, “atribuem-se a cada um a média dos ranks que seriam atribuídos a cada um se não hou- vesse empates” (Conover, 1999, p. 272, tradução nossa). A estatística-teste para o caso de haver vários empates de acordo com Conover (1999) é a soma de ranks menos sua média dividida pelo seu desvio-padrão: W1 = n(N–1) 2 W– nm N N Ʃ i=1 2 Ri – (2) nm(N+1)2 4(N–1) Onde, N=m+n. Para a testar as hipóteses, no caso de não haver empates, os quantis aproximados de W em (1), para m>20 e n>20 são obtidos pela aproximação normal (Conover, 1999): n(N+1) nm(N+1) Wp= + zp 2 12 (3) Onde Zp é o quantil da distribuição normal padrão. No caso de haver vários empates o quantil Wp da distribuição de W1 em (2) é obtido diretamente da tabela da distribuição normal padrão, visto que, a estatística já é normalizada. Para o cálculo da área sob a curva ROC utilizando a aproximação do teste MWW utiliza-se a seguinte relação: w – E0(w) 1 AUC = + mn 2 (4) Onde, W é a soma dos ranks, E0(W) é o valor esperado da soma de ranks sob H0; m e n são as freqüências das amostras das duas populações. Segundo Randles e Wolfe (1979), E0(W) pode ser obtida pela fórmula: n(m+n+1) E0 (W) = 2 (5) 17 Outra maneira de se calcular a área sob a curva ROC é utilizando a aproximação da estatística U. De acordo com Mozer (2003), a estatística U, outra forma do teste MWW, aproxima a área sob a curva ROC: U= 1 mn [Ʃ n Ri – 2 i=1 (6) ] n(n+1) Finalmente chegamos a uma relação de equivalência com a equação (4), como queríamos demonstrar. No SAS a estatística do teste MWW e as somas de ranks são obtidas pela PROC NPAR1WAY. AUROC Derivado por Aproximação pela Regra do Trapézio Pode-se mostrar que a estatística U (6) está relacionada com a relação apresentada na equação (4) e que elas são equivalentes: (7) n 1 U= [Ʃ n mn Ri – n(n+1) 2 i=1 ] 2 = O método do trapézio é uma outra abordagem para o cálculo do AUROC, que consiste em aproximar a área sob a curva, aproximada por um polinômio, no caso deste artigo, polinômios lineares de Lagrange. Seja a função f(x), a curva que descreve uma função qualquer, definida entre x0=a e x1=b. Para aproximar a área dessa curva utilizamos o polinômio interpolador de Lagrange (Burden e Faires, 2008): ƩR –n(n+1) i i=1 2mn Somando e subtraindo mn de (7), não se altera a igualdade, com isso temos, (8) n 2 U= Ʃ i=1 P1(x) = Ri – n2 – n – nm + mn 2mn b n Ʃ i=1 = 2 = 2mn ƩR –n(n+m+1) 2mn a + 1 = 2 n ƩR i = i=1 mn – n(n+m+1) 1 1 + = 2mn 2 mn = [Ʃ n i=1 Ri– ] n(n+m+1) 1 + = 2 2 1 1 [ W – E0 (W) ] + 2 mn (x1–x0) x1 (x–x1) ƒ(x1) (x–x0)) 0) i i=1 (x–x0)) (9) A área sob a curva f(x), é obtida integrando-se esta função. Como o polinômio intepolador em (9) é utilizado para aproximar f(x) temos que: (10) n Ri –n(n+m+1)+mn (x0 –x1) ƒ(x0)) + ʃ ƒ(x)dx= ʃ [ (x –x ) ƒ(x ) + (x –x ) ƒ(x ) ] dx+Ɛ Evidenciando-se n na equação anterior obtemos, 2 (x–x1) x0 0 1 1 1 0 18 O termo de erro foi simplificado, pois não nos interessa para os fins deste trabalho. Resolvendo a integral da equação (10) temos o seguinte resultado: b (11) 2 ʃ ƒ(x)dx = [ 2(x –x ) ƒ(x ) + 2(x –x ) ƒ(x ) ] (x–x1) (x–x0) 0 0 a b ʃ ƒ(x)dx = a (x1–x0) 2 1 1 1 0 x1 x0 (12) [ ƒ(x0)+ ƒ(x1)] O resultado descrito pela equação (12) é denominado Regra do Trapézio (Burden e Faires, 2008), e é utilizado para aproximar áreas de curvas as quais as primitivas não existem ou são muito difíceis de ser calculadas. Para o cálculo da área sob a curva ROC, abordado neste trabalho, foi aplicada esta técnica, da seguinte forma: Cada segmento de reta que une um ponto da curva a outro (1-Especificidade, Sensitividade) é como um polinômio interporlador linear de Lagrange. Dessa forma, a técnica foi aplicada entre cada dois pontos da curva e depois foram somadas as áreas dos trapézios resultantes de cada vez que a regra foi aplicada entre cada dois pontos da curva, obtendo-se assim uma aproximação da área total abaixo da curva. Metodologia Aplicada Foram geradas 35.000 bases aleatórias de clientes com distribuição normal de escores. Para obter resultados com diversos poderes de discriminação, foram variadas as médias de escore dos clientes adimplentes e inadimplentes, mantendo a mesma variância. Também foram simulados diversos níveis de inadimplência para cada amostra. Para cada amostra foi calculado o indicador AUROC de acordo com as três metodologias descritas acima, considerando dados agrupados e não agrupados. Resultados Obtidos Para verificar se o indicador é influenciado pelo índice de inadimplência, foi utilizado o Coeficiente de Correlação de Pearson. O resultado é apresentado na tabela 1. De acordo com o coeficiente correlação de Pearson, o indicador AUROC não é impactado pelo índice de inadimplência em nenhum algoritmo de cálculo. Tabela 1 Técnica para cálculo do AUROC Dados Coeficiente de Pearson P-valor Aproximação da área (PROC EXPAND) Agrupados Não-Agrupados -0.00233 0.00016 0.6623 0.9758 Derivado do Teste de MannWhitney-Wilcoxon (MWW) Agrupados Não-Agrupados -0.00057 -0.00053 0.9158 0.9212 Aproximação pela Regra do Trapézio Agrupados Não-Agrupados -0.00002 -0.00007 0.9969 0.9892 19 A seguir, apresentamos a comparação do resultado de cálculo do AUROC de acordo com as três propostas de cálculo considerando os dados agrupados e não agrupados. O AUROC derivado do Teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (MWW) não tem impacto quando consideramos os dados não agrupados. A utilização da metodologia por aproximação de área utilizando a PROC EXPAND do SAS apresentou divergência para a utilização de dados agrupados, principalmente para valores maiores de AUROC, ou seja, para valores que indicam alta acurácia. Também foram observados valores fora do intervalo esperado para o indicador, abaixo de 0,5 e acima de 1. Apesar da metodologia por aproximação pela regra do trapézio não apresentar muito impacto na utilização de dados agrupados, foram observados valores abaixo de 0,5 para o indicador AUROC, considerados inviáveis. 20 A seguir, apresentamos a comparação do resultado de cálculo do AUROC cotejando as três propostas de cálculo para os dados agrupados e não agrupados. Os gráficos ao lado mostram que a utilização de dados agrupados possui influência no cálculo do indicador pelo método de aproximação de área. O cálculo do AUROC pela regra do trapézio e pela derivação do Teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (MWW) são aproximados. Porém, a regra do trapézio apresenta valores fora do intervalo tanto para os dados não agrupados como para os dados agrupados. Conclusão Os resultados apresentados neste estudo indicam que a melhor metodologia para o cálculo do indicador AUROC é pela derivação da estatística do Teste de Mann-Whitney-Wilcoxon (MWW). Este método de cálculo não apresenta valores fora do intervalo esperado para o indicador e não é impactado na utilização de dados agrupados. Autores 21 Líneke Clementino Sleegers Rocha Formada em Estatística pela Universidade de Brasília e Tecnologia em Processamento de Dados pela Universidade Católica de Brasília com pós graduação em Métodos Quantitativos pela Universidade Paulista, MBA em Controladoria pela Universidade Católica de Brasília e Mestrado em Economia pela Universidade Católica de Brasília. Gerente Executivo da área de Monitoração dos Modelos de Risco da Caixa Econômica Federal. [email protected] ou [email protected] Luis Gustavo Santos Barros Estudante de Estatística da Universidade de Brasília - UnB, estagiário na área de Monitoração dos Modelos de Referências Risco da Caixa Econômica Federal. [email protected] BURDEN, R.L. FAIRES, J.D. Derivação e Integração Numérica. In:____. Análise Numérica. Traduzido por All Tasks. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 161-237. CONOVER, W.J. Some methods based on ranks. In:____. Practical Nonparametric Statistics. New York: John Wiley & Sons Inc., 1999. p. 269-427. MOZER, Michael C. Optimizing classifier performance via an approximation to the Wilcoxon-Mann-Whitney statistic. 2003. RANDLES, R.H. WOLFE, D.A. Distribution-free statistics. In:____. Introduction to the Theory of Nonparametric Statistics. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1979. p. 30-60. SAS Institute Inc. SAS/ETS® 13.1 User’s Guide. Cary, NC: SAS Institute Inc., 2013. 22 Modelo de Behavior Scoring em uma Empresa de Telecomunicações Brasileira Aline Gonçalves Lins Wesley Vieira da Silva Luciano Luiz Dalazen Luiz Carlos Duclós 23 Resumo Este estudo tem como objetivo construir um Behavior Scoring de modo a determinar a probabilidade de inadimplência de um cliente, a partir de seu comportamento de pagamentos e uso. Os dados foram coletados junto a uma empresa do setor de telecomunicações brasileira, com os quais, desenvolveu-se um modelo de Behavior Scoring, por meio da técnica multivariada de Logit binomial. As probabilidades de inadimplência obtidas propiciaram a divisão dos clientes em vinte classes de risco e, a partir dessas, foi empregada a métrica do Value at Risk (VaR), que permitiu originar quatro segmentos diferenciados. Com isto foram alcançadas melhores oportunidades de mercado para a organização, possibilitando gestão de seus recursos de forma adequada e voltada a resultados financeiros positivos. Palavras-chave: Behavior Scoring, Credit Scoring, Inadimplência. 1. Introdução Mudanças no mercado financeiro global e o grande volume de perdas em empréstimos geraram uma crescente preocupação com o risco de crédito. Caouette, Altaman, Narayanan, (2009) ressaltam que o gerenciamento desse risco é o próximo grande desafio financeiro para as organizações. Segundo Castro Junior (2003), as questões relativas às dificuldades financeiras de empresas têm grande importância para um público diversificado como instituições financeiras, especialistas em investimentos, investidores em geral, auditores contábeis, consultores, gestores de empresas, acadêmicos, pesquisadores e estudantes de escolas de negócio, dado que os modelos estatísticos de previsão tornaram-se ferramentas poderosas, que podem ajudar esses segmentos a terem informações que levem à tomada de decisões estratégicas nas organizações. Segundo Abdou e Pointon (2011), os modelos de Credit Scoring estão cada vez mais sendo utilizados pelas instituições financeiras especialmente bancos com a finalidade de reduzir os custos do processo para a concessão do crédito; diminuir o risco de inadimplência e o tempo no processo de decisão do crédito bem como amenizar o esforço dos funcionários aos quais são atribuídas essas atividades. Para Bemmann (2005), a habilidade para prover predições valiosas de inadimplência é de grande importância tanto sob o ponto de vista individual como coletivo. Sob uma perspectiva individual, proprietários, empregados, clientes, e outras contrapar- 24 tes, em particular de instituições financeiras, têm-se interessado em predições da inadimplência precisas, pois trata-se de uma condição prévia e fundamental para tornar os custos de crédito mensuráveis. Melhora-se, assim a relação custo-benefício do processo de concessão de crédito, além de aumentar a liquidez dos ativos, incrementar o gerenciamento dos riscos e, determinar e controlar demandas de capital econômico. Sob uma perspectiva coletiva da economia nacional, o emprego da predição da inadimplência é uma ferramenta poderosa para garantir a inteira estabilidade do sistema financeiro e para a implantação de condições de empréstimo de risco que são um incentivo à atividade creditícia. Os modelos de crédito podem ser utilizados para a decisão das melhores estratégias de cobrança. Se, por exemplo, o modelo indicar que o tomador está com problemas de liquidez de curto prazo, pode-se elaborar uma solução adequada a esse perfil, como um parcelamento do montante da dívida (CAOUETTE, ALTMAN, NARAYANAN, 2009). Conforme ressaltam Alvarez, Gatschet, Morrison ( 2007), o uso de agrupamentos em risco de crédito aumenta a precisão dos processos de crédito e, com isso, se obtém uma melhoria no desempenho organizacional. Sendo assim, a modelagem do risco de inadimplência proposta neste trabalho traz benefícios teóricos e práticos, a saber: ampliação do referencial empírico sobre o gerenciamento quantitativo do risco de crédito e/ou inadimplência em um setor que está passando por bruscas transformações e busca diferenciais competitivos. Este artigo está organizado em cinco capítulos: 1- Introdução; 2 -Fundamentação Teórica; 3- Metodologia; 4- Apresentação e Análise de Dados e 5- Considerações Finais. 2. Fundamentação Teórica 2.1 Credit Scoring Os autores Emel, Oral, Reisman (2003) destacam que o risco potencial de um cliente pode ser medido por modelos internos de scoring. Eles determinam se um tomador tem a capacidade de honrar o pagamento da dívida, avaliando o seu risco de crédito. Esses modelos baseiam-se em dados históricos e técnicas estatísticas. Modelos conceitualmente saudáveis, empiricamente validados, apoiados em bons dados históricos, entendidos e implementados, aumentam o sucesso empresarial da qualidade de crédito. Os modelos de scoring compreendem uma das principais ferramentas formais de suporte à concessão de crédito. Seu desenvolvimento baseia-se, de maneira geral, na construção de um procedimento rigoroso para descrever quais das características dos clientes estão relacionadas significativamente com o seu risco de crédito e qual a intensidade e direção desse relacionamento. A idéia central desses modelos consiste na geração de um score (ou um grupo de scores) por meio dos quais os clientes potenciais possam ser ordenados segundo a sua chance de inadimplência (LOUZADA NETO, 2006). Os sistemas de decisão de crédito baseados em dados objetivos e quantitativos vieram substituir as metodologias de análise julgamental. Os modelos seminais de Credit Scoring são baseados em informações de dados contábeis das empresas. No entanto, as análises são realizadas a partir de dados univariados, ou seja, a partir de uma única variável preditora, o que conduz a índices insatisfatórios de qualificação creditícia (CAOUETTE, ALTMAN, NARAYANAN, 2009). Os sistemas de Scoring são conjuntos de regras racionais, objetivas e quantitativas, obtidas por meio de técnicas de otimiza- 25 ção e de estatísticas multivariadas. Os modelos de Credit Scoring são divididos em duas categorias: modelos de aprovação de crédito e modelos de escoragem comportamental, conhecidos por Behavioural Scoring (SAUNDERS, 2000). Os modelos de aprovação de crédito, que podem ser do tipo Credit Scoring, utilizado para o crédito puro e simples e Pré Screening, que serve para efetuar pré-aprovações em listas adquiridas no mercado (CAOUETTE, ALTMAN, NARAYANAN, 2009). Modelos de Credit Scoring têm a vantagem de ser relativamente baratos para implementar e não sofrer com a subjetividade e inconsistência de sistemas especialistas (ALLEN, DELONG, SAUNDERS, 2004). Os modelos de “escoragem” comportamental, também denominados Behavior Scoring, Fraud Score, Collection Score, Churn, entre outros, são utilizados com a finalidade de aumentar a lucratividade das contas, sujeitando-as aos diferentes tratamentos de atendimento e métodos de cobrança diferenciados. Esses modelos se baseiam em análises estatísticas do perfil de consumo e hábitos de pagamento do cliente (CAOUETTE, ALTMAN, NARAYANAN, 2009). Thomas (2000) esclarece as diferenças entre modelos de aprovação de crédito e modelos de escoragem comportamental. Segundo ele, os modelos de Credit Scoring são ferramentas que dão suporte à tomada de decisão sobre a concessão de crédito para novas aplicações ou novos clientes. Já os modelos Behavior Scoring auxiliam na administração dos créditos já existentes, ou seja, aqueles clientes que já possuem uma relação creditícia com a instituição. Desta forma, enquanto o principal objetivo dos modelos de aprovação de crédito é estimar a probabilidade de um novo solicitante de crédito se tornar inadimplente com a instituição, em determinado período, os modelos de escoragem comportamental objetivam estimar a probabilidade de inadimplência de um cliente que já possui um produto ou crédito com a instituição. A próxima seção detalha o modelo Behavior Scoring - tema central deste artigo. 2.2 Behavior Scoring Os sistemas de Behavior Scoring permitem aos financiadores tomar melhores decisões na administração de sua carteira de clientes, possibilitando prever o seu desempenho futuro. As decisões que podem ser tomadas para cada cliente específico incluem a adequação do limite de crédito, quais novos produtos podem e/ou devem ser comercializados e como administrar uma eventual inadimplência e consequente recuperação da dívida (THOMAS, 2000). O modelo de Behavior Scoring é um sistema de pontuação com base na análise comportamental do cliente; sua elaboração é complexa, pois costuma envolver grandes volumes de informação, gerando uma gama extensa de variáveis a serem analisadas (SECURATO, 2002). Estes modelos são empregados para descrever o comportamento de clientes existentes e também predizer a sua futura inadimplência, baseados nas variáveis do comportamento do indivíduo como cliente da própria empresa (HSIEH, 2004). Hsieh (2004) explica que uma das vantagens do modelo de Behavior Scoring é que a empresa, ao invés de conceder tratamento igualitário ou mesmo prover de incentivos todos os seus clientes, pode selecionar apenas aqueles que se encaixam em critérios de rentabilidade baseados no seu comporta- 26 mento de compras e pagamentos. Os modelos de Behavior trazem, de acordo com Thomas (2000), uma informação adicional, se comparados aos modelos de Credit Scoring que é o comportamento de pagamento do cliente ordenado no tempo. Hsieh (2004), em seu estudo sobre Behavior Scoring, utilizou dados de clientes de cartões de crédito de um emissor de Taiwan. O autor desenvolveu o modelo utilizando informações comportamentais dos clientes divididas em dois períodos: um período de 12 meses de observação, onde foram coletadas as informações sobre as faturas dos clientes e um período subsequente também de 12 meses, onde foi examinado o pagamento das referidas faturas. As variáveis preditoras, derivaram de transformações do banco de dados, como máximo, mínimo e média de um conjunto de informações (por exemplo: valor pago, dias de atraso, número os cartão de crédito por cliente, valor da fatura, parcelamentos, e assim por diante) para cada atividade mensal registrada. Lim e Sohn (2007) combinaram, em seu estudo sobre risco na utilização de cartões de crédito na Coréia, variáveis demográficas e variáveis de comportamento para desenvolver um sistema de previsão à inadimplência. Hair, Babin, et al. (2005) explica que no modelo de avaliação de crédito da consultoria Fair Isaac Company, conhecido como FICO, em torno de 30% a 35% das variáveis correspondem ao histórico de pagamentos e valor da dívida do consumidor. Brice e Maury, (2006) afirmam que a natureza das atitudes de pessoas e seus hábitos de utilização de dinheiro, adicionados de suas informações demográficas, podem ser variáveis discriminatórias do seu comportamento de risco de crédito. O artigo sobre ratings de seguradoras, Gestel (2007), enfatiza a importância de construtos que traduzem o comportamento creditício das empresas estudadas. Os autores realizaram a seleção prévia das variáveis explicativas selecionadas: conhecimento empírico dos analistas financeiros e baseado em literatura disponível, resultando em dados de dívida, liquidez, desempenho, fluxo de caixa e tamanho da companhia. Thomas (2000) explica que os modelos de Behavior Scoring podem ser divididos em duas categorias: os modelos que são variações dos modelos de Credit Scoring, apenas adicionados de variáveis comportamentais e os modelos que procuram prever o comportamento futuro com base no comportamento passado. O segundo grupo pode ser subdividido pela forma que a informação para calcular os parâmetros é obtida: os modelos que utilizam o comportamento de uma amostra prévia de clientes ou os desenvolvidos por métodos Bayesianos, que atualizam a condição do cliente com base em seu próprio comportamento. Brice, Maury (2006) desenvolveram um modelo de Behavior com o propósito de prever a inadimplência de membros da força aérea americana, baseado em informações demográficas, econômicas e variáveis psicológicas dos indivíduos. As variáveis econômicas diziam respeito a indicadores como: renda, número de apontamentos negativos (restritivos ou débitos no mercado) e valor total da dívida. As variáveis psicológicas eram, por exemplo, satisfação com a própria vida, gosto por compras, opinião sobre o dinheiro, entre outras. O modelo de Brice, Maury (2006) foi gerado estatisticamente por meio de uma análise Logit e obteve uma acuracidade máxima de 80,59%. 27 No entanto, os próprios autores admitem a dificuldade de se obter informações de características psicológicas, pois necessitam de entrevistas e normalmente são dados que não estão listados em bancos de dados das organizações. A escolha de horizonte de tempo é provavelmente mais crítica para os modelos de Behavior do que para os modelos de Credit Scoring. Vale destacar que o Behavior está tentando desenvolver um sistema de previsão longitudinal usando dados cross-seccionais, ou seja, a condição de um cliente ao término do período de observação e ao término do período de desempenho. Assim, o tempo entre esses períodos é um fator crucial para o desenvolvimento de sistemas mais robustos (THOMAS, 2000). A experimentação (e a limitação de dados) normalmente sugere o uso de um período de 12 ou 18 meses. Alguns pesquisadores utilizam um período mais curto, como por exemplo, 6 meses. Hsieh (2004) assim como Lim e Sohn (2007) alertam que a análise dos dados das organizações para a administração do comportamento dos clientes é uma tarefa bastante complicada. Os bancos de dados são de características multidimensionais, e têm registros das movimentações diária e mensais dos clientes. a. Delineamento da Pesquisa A partir do objetivo proposto para o trabalho, a pesquisa se caracteriza como Pesquisa Descritiva, uma vez que procura determinar qual a influência que as variáveis independentes ou explicativas exercem sobre a variável dependente (GIL, 1994). Com relação ao método de investigação, a pesquisa proposta refere-se a uma Pesquisa de Levantamento, em função de destinar-se ao estudo dos fatos que influenciam as interações entre pessoas ou fatos em sua vida diária Selltiz et al., (1987), com o objetivo de avaliar a incidência relativa, distribuição e inter-relações de fenômenos que ocorrem naturalmente (KERLINGER, 1980). Em termos de perspectiva de análise, apresenta delineamento Longitudinal, pois os pesquisadores medem ao longo de certo tempo, a tendência dos dados aplicados num determinado participante, antes do tratamento experimental, no momento da intervenção e após o tratamento ser aplicado (SELLTIZ, WRITSMANN e COOK, 1987). Não havendo interesse em manipular os fenômenos em análise, e com o interesse de conhecer a natureza do fenômeno, sua composição e processos que o constituem, o estudo proposto também é definido como pesquisa ex-post-facto (KERLINGER, 1980; RICHARDSON, 1999). 3. Metodologia da Pesquisa b. População e Amostra A população em estudo é constituída por clientes residenciais CPF da empresa “TELE”, possuidora de pelo menos uma linha telefônica de voz ativa há no mínimo quatro meses. A seleção da população segue o esquema proposto por Andrade (2004), em que as informações são subdivididas em: (a) período de observação que cor- A referida pesquisa limita-se ao estudo em somente uma organização do setor de telecomunicações, situada na região sul do Brasil. Procurou-se unicamente avaliar o relacionamento entre os comportamentos de pagamentos passados e a inadimplência futura dos consumidores residenciais CPF que se utilizam dos serviços de telefonia fixa a partir de terminais de voz e dados. 28 responde ao período histórico no qual são observadas as características preditivas do consumidor, neste caso, o comportamento de faturamentos (valores gastos, valores pagos, débitos e ajustes) e características do produto adquirido, correspondendo aos quatro meses anteriores ao mês de referência e; (b) período de desempenho que é a performance de crédito do cliente avaliado, ou seja, o tempo entre a data de vencimento da fatura e seu pagamento, que permite classificá-lo entre bom, mau ou indeterminado. Nesta pesquisa, o período de desempenho avaliado é o horizonte de seis meses após o mês de referência. Foram selecionados quatro meses de referência: abril, julho e outubro de 2006 e janeiro de 2007, sendo estes escolhidos por serem os primeiros meses dos trimestres contábeis dos respectivos anos. Fazem parte do estudo apenas clientes residenciais que já completaram pelo menos quatro meses de faturamento no mês de referência, que estavam com a linha ativa e que não possuíam atraso su- perior a 30 dias no mês de referência. c. Variáveis A performance do cliente (ou inadimplência), que é a variável resposta, é medida em número de dias de atraso durante o período de desempenho. Esta é a variável que classifica o cliente entre Bom e Mau e se constitui na variável explicativa da modelagem dos dados. Os índices que se pretende trabalhar para explicar a inadimplência são informações sobre as faturas e o produto adquirido pelos clientes em estudo e estão especificados no Quadro 1. Os dados das faturas foram trabalhados com indicadores de: média, soma, taxa de crescimento nos meses de observação, variação mensal e valor bruto. d. Métodos de Análise A análise exploratória dos dados foi conduzida em uma análise fatorial que é uma ferramenta estatística utilizada para avaliar dados (um só conjunto por vez), permitindo Quadro 1: Variáveis Explicativas do Estudo Variável Descrição Tipo de plano É o tipo de produto de voz que o cliente possui. Pode ser do tipo Básico, Especial, Economix ou Unique. Cada tipo de plano possui tarifação e composição diferenciada. Todo cliente deve possuir pelo menos um tipo de produto de voz. Tipo de internet Descreve o tipo de acesso do cliente à internet. Pode ser acesso tipo ADSL, internet discada exclusiva, ou nenhum acesso específico. Valor da fatura Valor total da fatura emitida para o cliente. Valor pago Valor total pago pela fatura do cliente. Não é necessariamente igual ao valor total da fatura. Valor do ajuste O ajuste de faturas é concedido se o cliente discorda dos valores cobrados e a empresa comprova o erro interno. Esta variável demonstra o valor do ajuste, caso tenha havido algum. Saldo devedor Saldo em aberto que o cliente possui devido ao não pagamento da fatura. Dias de atraso máximo É o número máximo de dias que as faturas nos meses permaneceram sem pagamento. É apresentada em dias corridos. Fonte: Os Autores, 2013.c 29 sintetizar as informações de um grande número de variáveis em um número menor de fatores (HAIR, BABIN, et al., 2005). Para a construção do modelo de Behavior Scoring foi utilizada a técnica estatística multivariadas de análise de regressão logística binomial. Essa técnica tem por objetivo buscar e comprovar estatisticamente relações entre variáveis de qualquer natureza, e estimar essa relação por meio de dados empíricos. Em seguida, os clientes foram segmentados pela métrica do Value at Risk (VaR), com abordagem delta normal (ou analítico) proposta por (CROUHY, GALAI, MARK, 2004). Essa abordagem permite o emprego direto das classes encontradas e considera que o mercado opera sob condições históricas. Ela pressupõe, quando aplicada a dados históricos de ações, a normalidade das taxas de retornos. As análises foram executadas nos softwares SPSS 16.0 e Clementine 11.1. 4. Apresentação e Análise dos Dados O presente capítulo apresenta os resultados obtidos a partir do dados coletados. Abordou-se a análise descritiva dos dados, a análise fatorial, o modelo Logit binomial, e a análise VaR. a. Análise Fatorial Exploratória O passo inicial na análise dos dados é a verificação dos coeficientes de correlação entre as variáveis disponíveis, com a finalidade de encontrar as colinearidades significativas e, se possível, excluí-las, evitando, assim, problemas futuros de multicolinearidade. Por meio da análise do nível de significância dos coeficientes de correlação de Pearson da matriz originada pelo cruzamento das 57 variáveis explicativas estudadas, identificou-se uma correlação estatisticamente significante em grande parte das variáveis. Este fenômeno explica-se pelo fato de que as variáveis foram construídas a partir de um corte longitudinal, ou seja, foram considerados os dados das faturas dos clientes mês a mês. Desta maneira, não é possível excluir as variáveis somente com o estudo da correlação. Para solucionar o problema do alto relacionamento entre as variáveis, foi executado um procedimento de análise fatorial dos dados, objetivando encontrar componentes derivadas das informações estudadas não correlacionadas entre si. Foram originados 18 componentes principais, a partir das 48 variáveis originais com correlação mais significante. A Tabela 1 mostra os componentes encontrados e o poder explicativo de cada um deles. b. Formulação do Modelo de Behavior Scoring e Avaliação Com o objetivo de construir o Behavior Scoring de modo a determinar a probabilidade de inadimplência de um dado cliente, a partir de seu comportamento de pagamentos, foi estimado um modelo de regressão logística binomial. Para isso, a variável dependente foi especificada como BOM e MAU (RESP) que determina a inadimplência do cliente, como uma função do número de dias de atraso, conforme evidenciado na Tabela 2. Dessa forma, os clientes com atraso superior a 60 dias, foram classificados como MAUS, isto é, considerou-se como inadimplente aquele indivíduo com dívidas em aberto há mais de dois meses. Sendo assim, o modelo especificado visa prever a probabilidade de o cliente passar de 60 dias do vencimento da fatura sem que ele tenha feito o 30 Tabela 1: Componentes Principais Componente % Variância % Acumulado VLFAT_N; VLFAT_N1; VLFAT_N2; VLFAT_N3; VLFAT_N4; CRES_FAT e DIF_VLRFAT Variáveis originais CP_VLRFAT_1 67,093% 67,09% CP_VLRFAT_2 16,002% 83,10% D_VLRFAT_43; D_VLRFAT_32; D_VLRFAT_21 e D_VLRFAT_10 CP_VLRFAT_3 27,992% 27,99% CP_VLRFAT_4 25,460% 53,45% VLPGO_N; VLPGO_N1; VLPGO_N2; VLPGO_N3; VLPGO_N4; CRES_PGO e DIF_VLRPGO CP_VLRPGO_1 69,228% 69,23% CP_VLRPGO_2 14,954% 84,18% D_VLRPGO_43; D_VLRPGO_32; D_VLRPGO_21 e D_VLRPGO_10 CP_VLRPGO_3 25,229% 25,23% CP_VLRPGO_4 25,117% 50,35% CP_VLRDEV_1 58,807% 58,81% CP_VLRDEV_2 19,002% 77,81% CP_VLRDEV_3 26,160% 26,16% CP_VLRDEV_4 25,350% 51,51% VLADJ_N; VLADJ_N1; VLADJ_N2; VLADJ_N3; VLADJ_N4; CRES_ADJ e DIF_VLRADJ CP_VLRADJ_1 37,271% 37,27% CP_VLRADJ_2 20,593% 57,86% CP_VLRADJ_3 16,108% 73,97% D_VLRADJ_43; D_VLRADJ_32; D_VLRADJ_21 e D_VLRADJ_10 CP_VLRADJ_4 26,160% 26,16% CP_VLRADJ_5 25,350% 51,51% CP_DIASATRASO_1 67,521% 67,52% VLDEV_N; VLDEV_N1; VLDEV_N2; VLDEV_N3; VLDEV_N4; CRES_DEV e DIF_VLRDEV D_VLRDEV_43; D_VLRDEV_32; D_VLRDEV_21 e D_VLRDEV_10 DIASATRASO_N1; DIASATRASO_N2; DIASATRASO_N3 e DIASATRASO_N4 Fonte: Os Autores, 2013.c Tabela 2: Definição de BOM e MAU (RESP) BOM e MAU (dias de atraso) Menor ou igual a 30 dias Tipo RESP % BM (população) BOM 0 63,0% 31 a 60 dias INDETERMINADO 2 14,6% 61 a 90 dias MAU 1 2,6% Superior a 90 dias MAU 1 5,8% Fonte: Os Autores, 2013. 31 pagamento, gerando assim o evento de bloqueio total na linha telefônica. Vale salientar que a classe denominada como INDETERMINADO foi excluída da amostra usada no desenvolvimento do modelo, sendo utilizada na análise de rentabilidade realizada posteriormente. Para efetuar a modelagem dos dados, utilizou-se a técnica de amostragem aleatória estratificada não uniforme, pois o percentual de clientes classificados como BONS na população situava-se em patamares muito superiores ao número de MAUS. Esta desproporção pode resultar em um viés do modelo para explicar melhor as características dos clientes BONS; como o objetivo deste estudo é prever a inadimplência, foram igualadas as proporções dos dois tipos de resposta, para que o modelo resultante possa também identificar os atributos de comportamento tanto dos MAUS quanto dos BONS clientes. A Tabela 3 especifica as quantidades da amostra de desenvolvimento por tipo de cliente, comparando-as com a população total. Realizou-se a modelagem utilizando o procedimento de seleção de variáveis Forward Stepwise, que constrói o modelo avançando passo a passo. Para o desenvolvimento do modelo foram utilizados 21 passos onde foram incluídas as variáveis que agregassem maior significância estatística aos índices do modelo. O critério de parada para a inclusão foi o acréscimo significativo de melhoria na estatística -2LL. Este procedimento foi realizado no software Clementine 11.1. O modelo final encontrado, em sua forma funcional está especificado nas equações (1) e (2). Para facilitar o entendimento do resultado da análise, transformando assim a probabilidade em um scoring de crédito, o valor resultante da equação foi multiplicado por 1.000, conforme demonstrado na equação (3): Foram incluídas 19 variáveis no modelo final, todas elas com significância estatística menor que 5% para a estatística de Wald. A análise dos erros do modelo está evidenciada na Tabela 4, que representa a matriz de confusão dos valores preditos versus os valores observados, e indica que o poder de predição demonstra um nível de acerto de quase 80%. O erro Tipo I (verdadeiro/ falso), ou seja, o percentual de clientes classificados como BONS, mas, que são conhecidamente MAUS situou-se em torno de 14,6%. Já o erro Tipo II (falso/verdadeiro), que representa os clientes reconhecidamente BONS que foram classificados como MAUS situa-se em torno de 26,5%. Calculou-se o percentual de acerto do modelo na população total do estudo. A Tabela 5 evidencia que o modelo consegue prever corretamente o comportamento de adimplência/inadimplência de 84% dos Tabela 3: Amostragem Aleatória Estratificada Não Uniforme porTipo de Cliente RESP Amostra de Desenvolvimento # População Total % # % BOM ( 0 ) 38.913 49,9% 586.594 88,2% MAU ( 1 ) 39.123 50,1% 78.172 11,8% TOTAL 78.036 Fonte: Os Autores, 2013. 664.766 32 1 1+ ez (1) P (inadimplência) = (2) zi=0,2850 – 0,4120xiTURB0 – 0,2270xiD_VLRFAT_M0 – 0,0680xiD_VLRDEV_M0 i – 0,0230xiM_ADJ_4M + 0,120xi D_VLRADJ_M0 – 0,0810xiCP_VLRFAT_1 – 0,0330xiCP_VLRFAT_2 + 0,390xiCP_VLRFAT_3 + 0,0270xiCP_VLRFAT_4 – 0,1700xiCP_VLRPGO_2 + 0,0390xiCP_VLRPGO_4 + 0,7110xiCCP_VLRDEV_1 – 0,4780xiCP_VLRDEV_2 + 0,4180xiCP_VLRDEV_3 + 0,4880xiCP_VLRDEV_4 + 0 6900xiCP_VLARADJ_1 + 0,2540xi CP_VLARADJ_3 + 0,1170xi CP_VLARADJ_4 + 0,15880xiCP_DIASATRASO_1 escore(ei )=1 – (P (inadimplência)i *1.000) (3) Tabela 4: Percentual de Acerto do Modelo Logit Binomial - Amostra de Desenvolvimento a posteriori MAU a priori BOM TOTAL BOM 33.213 85,4% 5.700 14,6% 38.913 49,9% MAU 10.356 26,5% 28.767 73,5% 39.123 50,1% TOTAL 43.569 55,8% 34.467 44,2% 78.036 % acerto total: 79,4% % erro total: 20,6% Fonte: Os Autores, 2013. clientes da empresa. O acerto maior situa-se nos clientes que tiveram atrasos inferiores a 30 dias, ou seja, os BONS clientes: 85,4%. Na classificação dos MAUS, ou seja, os clientes que tiveram atraso superior a 60 dias nos seis meses posteriores ao mês de referên- cia, o acerto situou-se em torno de 74,1% para aqueles que chegaram a atraso entre 61 dias e 90 dias e 73,2% e os que apresentaram atrasos superiores a 90 dias. Na tabela 5 também está demonstrado a classificação dada pelo modelo aos 33 Tabela 5: Percentual de Acerto do Modelo Logit Binomial – PopulaçãoTotal Classificação pelo Modelo BOM MAU Dias de Atraso Tipo RESP População # % # % Menor ou igual a 30 dias BOM 0 586.594 500.720 85,4% 85.874 14,6% 31 a 60 dias INDET 2 135.568 45.802 33,8% 89.766 66,2% 61 a 90 diaS MAU 1 23.822 6.179 25,9% 17.643 74,1% Superior a 90 dias MAU 1 54.350 14.571 26,8% 39.779 73,2% 800.334 567.272 70,9% 233.062 29,1% % acerto total: 84,0% % erro total:16,0% Fonte: Os Autores, 2013. Tabela 6 – Distribuição dos Clientes por Classe de Risco na PopulaçãoTotal Classes de Risco Até 30 dias de atraso 31 a 60 dias de atraso 61 a 90 dias de atraso # # # % % % Mais de 90 dias de atraso # % TOTAL # % CL1 1.019 0,2% 1.003 0,7% 643 2,7% 7.037 12,9% 9.702 1,2% CL2 2.197 0,4% 3.357 2,5% 2.256 9,5% 5.266 9,7% 13.076 1,6% CL3 2.532 0,4% 6.213 4,6% 2.745 11,5% 4.717 8,7% 16.207 2,0% CL4 3.514 0,6% 9.441 7,0% 2.677 11,2% 4.626 8,5% 20.258 2,5% CJ5 6.171 1,1% 15.201 11,2% 2.535 10,6% 4.432 8,2% 28.339 3,5% CJ6 11.144 1,9% 18.224 13,4% 2.147 9,0% 4.209 7,7% 35.724 4,5% CL7 16.730 2,9% 14.728 10,9% 1.892 7,9% 3.685 6,8% 37.035 4,6% CL8 21.494 3,7% 12.570 9,3% 1.578 6,6% 3.351 6,2% 38.993 4,9% CL9 25.873 4,4% 10.755 7,9% 1.390 5,8% 2.954 5,4% 40.972 5,1% CL10 30.861 5,3% 8.962 6,6% 1.116 4,7% 2.541 4,7% 43.480 5,4% CL11 35.894 6,1% 7.202 5,3% 963 4,0% 2.232 4,1% 46.291 5,8% CL12 40.257 6,9% 5.272 3,9% 784 3,3% 1.659 3,1% 47.972 6,0% CL13 44.202 7,5% 3.714 2,7% 569 2,4% 1.338 2,5% 49.823 6,2% CL14 47.316 8,1% 3.186 2,4% 493 2,1% 1.131 2,1% 52.126 6,5% CL15 48.554 8,3% 2.992 2,2% 390 1,6% 1.081 2,0% 53.017 6,6% CL16 48.908 8,3% 2.769 2,0% 366 1,5% 908 1,7% 52.951 6,6% CL17 48.543 8,3% 2.768 2,0% 396 1,7% 879 1,6% 52.586 6,6% CL18 49.256 8,4% 2.581 1,9% 321 1,3% 888 1,6% 53.046 6,6% CL19 51.147 8,7% 2.409 1,8% 290 1,2% 732 1,3% 54.578 6,8% CL20 50.982 8,7% 2.221 1,6% 271 1,1% 684 1,3% 54.158 6,8% 586.594 Fonte: Os Autores, 2013. 135.568 23.822 54.350 800.334 34 clientes classificados na categoria INDETERMINADO. Esta categoria não entra no cálculo do acerto geral do modelo, mas será utilizada posteriormente na análise de rentabilidade. Este resultado demonstra que a seleção dos clientes pelo modelo Logit Binomial encontrado, produz uma melhoria na identificação dos possíveis riscos de crédito em 84%. Neste sentido, se forem medidos apenas os clientes que efetivamente chegaram a inadimplência, a separação criteriosa proporcionada pelo modelo, reduz o risco de inadimplência em 73,6% em média, supondo-se que a empresa promova medidas preventivas para os clientes que foram classificados como potenciais MAUS pagadores. c. Análise de Rentabilidade Definido o modelo de Logit binomial como o modelo de classificação de scores – Behavior Scoring - para a empresa “TELE”, partiu-se para o desenvolvimento da análise de rentabilidade com base no modelo formulado objetivando entender o ganho real financeiro representado pelo modelo descrito. Esta análise refere-se ao cálculo da estimativa de perdas financeiras e do percentual de inadimplência (total de clientes inadimplentes/total de clientes) contra a probabilidade estimada pelo modelo formulado. Assim foi realizado um agrupamento dos clientes com base nas probabilidades de inadimplência obtidas pelo modelo de Behavior. As probabilidades foram agrupadas em categorias, denominadas nesta pesquisa de classes de risco. O critério empregado para gerar as classes, foi a divisão das probabilidades de modo que cada uma delas contivesse 5% dos dados (da amostra de desenvolvimento), originando 20 classes de risco. Partindo das classes de risco, foram geradas as distribuições por tempo de atraso (tipo de cliente) para a população total original do estudo, que estão evidenciadas na Tabela 6. Verifica-se que a distribuição dos clientes com maior atraso, está com concentração maior nas classe inferiores (probabilidades menores de adimplência), enquanto que os com atrasos menores aparecem em maior número nas classes altas (probabilidades maiores de adimplência). A Tabela 7 apresenta a distribuição dos valores faturados e saldo em aberto (devedor) na totalidade dos clientes estudados. Logo, é possível verificar que a perda total da empresa nos seis meses subsequentes ao mês de referência situa-se em torno de 1,3%. No entanto, nas classes inferiores esta perda alcança níveis muito superiores. Na classe CL1, por exemplo, a perda da classe (que é o valor faturado sobre o valor não pago dentro da classe de risco) é de aproximadamente 30%, o que representa 25% de total a perda capitalizada pela empresa no período. Dessa maneira, se a empresa decidir agir preventivamente em relação aos clientes inadimplentes, as três primeiras classes de risco (CL1, CL2 e CL3), estará empenhando-se em menos de 5% dos clientes (4,9) que representam 43,6% de toda a perda da carteira. d. Análise VaR Para embasar a decisão sobre quais classes de risco devem ser trabalhadas a fim de adotar ações preventivas de inadimplência e quais devem ser submetidas a iniciativas de marketing, foi realizada a análise da perda potencial das classes utilizando-se a métrica Value at Risk (VaR). Para essa análise foram utilizadas as 20 classes de risco aplicadas na população total em estudo, incluindo os clientes categorizados como “indeterminados”. 35 Tabela 7 – Distribuição do Valor Faturado e do Saldo Devedor em Seis Meses, por Classe de Risco, na PopulaçãoTotal em Estudo. Classes de Risco $ Faturado (A) $ Devedor (B) %Perda (C = A/B) % da Perda Total % Acum % Clientes % Acum Clientes CL1 6.559.477 1.919.164 29,3% 25,0% 25,0% 1,2% 1,2% CL2 9.619.937 797.150 8,3% 10,4% 35,4% 1,6% 2,8% CL3 1 1.470.829 627.291 5,5% 8,2% 43,6% 2,0% 4,9% CL4 15.484.413 639.1 19 4,1% 8,3% 52,0% 2,5% 7,4% CJ5 22.305.614 574.498 2,6% 7,5% 59,5% 3,5% 10,9% CJ6 27.617.333 555.141 2,0% 7,2% 66,7% 4,5% 15,4% CL7 28.563.264 469.765 1,6% 6,1% 72,8% 4,6% 20,0% CL8 29.882.153 408.270 1,4% 5,3% 78,2% 4,9% 24,9% CL9 30.805.819 328.760 1,1% 4,3% 82,5% 5,1% 30,0% CL10 32.763.440 270.931 0,8% 3,5% 86,0% 5,4% 35,5% CL11 35.115.957 229.147 0,7% 3,0% 89,0% 5,8% 41,2% CL12 35.513.180 161.890 0,5% 2,1% 91,1% 6,0% 47,2% CL13 34.228.927 130.440 0,4% 1,7% 92,8% 6,2% 53,5% CL14 33.872.015 106.849 0,3% 1,4% 94,2% 6,5% 60,0% CL15 33.434.785 91.108 0,3% 1,2% 95,4% 6,6% 66,6% CL16 32.349.857 85.416 0,3% 1,1% 96,5% 6,6% 73,2% CL17 34.524.078 67.309 0,2% 0,9% 97,4% 6,6% 79,8% CL18 36.095.430 75.703 0,2% 1,0% 98,4% 6,6% 86,4% CL19 39.049.171 60.265 0,2% 0,8% 99,2% 6,8% 93,2% CL20 41.975.493 64.284 0,2% 0,8% 100,0% 6,8% 100,0% 571.231.171 7.662.500 1,3% 100,0% 100,0% Fonte: Os Autores, 2013. As variáveis utilizadas para o desenvolvimento da análise VaR foram o Valor Faturado (R$) e o Saldo Devedor (R$) nos seis meses subsequentes ao mês de referência N. Dessa maneira, estabeleceu-se que o Retorno de cada cliente é o Valor Faturado menos o Saldo Devedor. Utilizando-se a técnica proposta por Crouhy, Galai e Mark (2004), foram calculados o Retorno crítico (R*), o VaR absoluto (VaR’) e a partir deles, o VaR de cada classe, para um nível de confiança de 95%. A Tabela 8 demonstra o cálculo do VaR por classe de risco. O VaR para cada uma das classe de risco, refere-se a perda máxima esperada de pior hipótese, em um horizonte de tempo de 6 meses, com 95% de confiança. A Tabela 8 evidencia o que o modelo de Behavior Scoring já havia demonstrado: conforme diminui o score, aumenta a probabilidade de perda e o valor em risco também aumenta. As quatro primeiras classes apresentam VaR negativo, o que mostra que o segmento formado por essas classes, têm grande potencial de causar problemas financeiras à empresa TELE. Se a empresa desejar, ao invés de trabalhar com as 20 classes de risco, ela pode agrupá-las pelo VaR, caracterizando-as em quatro grupo distintos: 36 Tabela 8 – Cálculo do VaR por Classe de Risco. Classe de Risco Retorno Crítico (R*) VaR' Var VR* R + VaR' 1 R$ (2.215,21) R$ (21.492.003) R$ (16.851.691) 2 R$ (935,26) R$ (12.229.402) R$ (3.406.615) 3 R$ (815,06) R$ (13.209.678) R$ (2.366.140) 4 R$ (883,56) R$ (17.899.255) R$ (3.053.960) 5 R$ (543,01) R$ (15.388.409) R$ 6.342.707 R$ 11.205.921 6 R$ (443,35) R$ (15.856.271) 7 R$ (516,69) R$ (19.135.621) R$ 8.957.878 8 R$ (491,15) R$ (19.151.287) R$ 10.322.596 9 R$ (475,01) R$ (19.462.053) R$ 11.015.005 10 R$ (393,91) R$ (17.127.217) R$ 15.365.292 11 R$ (392,65) R$ (18.176.152) R$ 16.710.658 12 R$ (309,55) R$ (14.849.816) R$ 20.501.474 13 R$ (255,92) R$ (12.750.575) R$ 21.347.912 14 R$ (207,72) R$ (10.827.503) R$ 22.937.662 15 R$ (236,27) R$ (12.526.168) R$ 20.817.509 16 R$ (218,43) R$ (11.566.032) R$ 20.698.410 17 R$ (248,80) R$ (13.083.251) R$ 21.373.518 18 R$ (277,47) R$ (14.718.506) R$ 21.301.221 19 R$ (225,94) R$ (12.331.512) R$ 26.657.393 20 R$ (461,75) R$ (25.007.720) R$ 16.903.488 Fonte: Os Autores, 2013. • GRUPO 1 – Classe de Risco 1: caracterizado pela alta perda máxima esperada; • GRUPO 2 – Classes de Risco de 2 a 4: caracterizado por existir perda máxima esperada, mas com níveis inferiores ao da classe 1; • GRUPO 3 – Classes de Risco 5 a 11: caracterizado por existir um valor de retorno positivo, mas com valores individuais de retorno intermediários; • GRUPO 4 – Classes de Risco 12 a 20: caracterizado pelo valor de retorno mais elevado para cada cliente individual. A Tabela 9 apresenta os agrupamentos sugeridos e o VaR total e médio de cada um deles. A tabela mostra também o VaR para cada cliente individual. A perda média por cliente do grupo 1 é de R$1.736,93 e a do grupo 2, R$178,17. O retorno esperado médio do grupo 3 é de R$295,09 e do grupo 4, R$409,43. Neste sentido, fica claro que com esta caracterização a empresa “TELE” pode focar os seus esforços de maneira segmentada e com maior adequabilidade das estratégias. Os dois primeiros grupos, por exemplo, podem ser alvos de campanhas de cobrança e os dois últimos de campanhas de marketing. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa foi formatada com o objetivo de construir um Behavior Scoring de modo a determinar a probabilidade de 37 Tabela 9 – Agrupamento das Classes de Risco por VaR. Classe de Risco Caracterização do Agrupamento Qtde de Clientes VaR Total VaR Médio VaR por cliente 1 PERDA ESPERADA ALTA 9.702 R$ (16.851.690,58) R$ (16.851.690,58) R$ (1.736,93) 2a4 PERDA ESPERADA MÉDIA 49.541 R$ (8.826.714,89) R$ (2.942.238,30) R$ (178,17) 5 a 11 RETORNO ESPERADO MÉDIO 270.834 R$ 79.920.057,72 R$ 11.417.151,10 R$ 295,09 12 a 20 RETORNO ESPERADO ALTO 470.257 R$ 192.538.587,92 R$ 21.393.176,44 R$ 409,43 Fonte: Os Autores, 2013. inadimplência de um cliente, a partir de seu comportamento de pagamentos e uso. Para isso, foram utilizadas técnicas econométricas e de análise multivariada, que possibilitaram a construção de um modelo de Behavior Scoring e a segmentação dos clientes em classes de risco, associadas a uma probabilidade de inadimplência e a perda financeira esperada. O modelo de Behavior Scoring desenvolvido possibilita a compreensão do fenômeno estudado – a inadimplência na empresa “TELE” – por meio de informações que separadamente e a olho nu não apresentavam poder explicativo, colaborando de forma apenas marginal para o entendimento do risco de crédito a que estão submetidas. A partir da probabilidade de inadimplência, foi realizada a separação dos clientes em classes de risco, possibilitando calcular o VaR desses grupos. Nesta pesquisa, o VaR está definido como a perda máxima esperada em 8 meses, com uma confiança de 95%. Dessa maneira, foram obtidos quatro agrupamentos de clientes com perdas homogêneas dentro dos grupos, mas heterogêneas quando comparadas entre si. Esta segmentação possibilita a empresa “TELE” um tratamento diferenciado dos clientes, com uma acuracidade maior no que tange a previsão de retorno sobre o investimento. A organização pode focar equipes diferenciadas para o tratamento de cada tipo de cliente, baseado na sua perda esperada. Por exemplo, clientes com retornos esperados elevados, podem ser operados pela equipe de marketing, para ações de up sell ou cross sell; já grupos com perda esperada devem ser encaminhados para a área de cobrança com propostas de negociações ou ações rigorosas de arrecadação. Algumas questões em aberto dizem respeito às métricas empregadas, pois os pesquisadores assumiram em alguns pontos da dissertação a suposição de normalidade dos dados. Abre-se um precedente para testar outras técnicas, como modelos multivariados de Poisson, Logit Multinomial ou Redes Neurais, entre outras e técnicas de cálculo do VaR diferenciadas, como a por simulação de Monte Carlo. Uma questão interessante que pode ser abordada de forma mais aprofundada em um estudo posterior é a dos clientes que foram classificados por este estudo como do tipo “indeterminado”, ou seja, clientes que no período de desempenho chegaram a ter atraso de 31 a 60 dias. Estes indivíduos podem vir a apresentar características interessantes, capazes de le- 38 Autores var a conclusões mais assertivas sobre a inadimplência da organização. Outro ponto que pode ser trabalhado são as variáveis selecionadas para o estudo. Um pesquisador é capaz de selecionar uma gama de características e atributos diferenciados que possam traduzir o comportamento de um cliente. Aline Gonçalves Lins Especialista em Modelagem em Gestão de Riscos. Mestrado em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-Mail: [email protected] Wesley Vieira da Silva Professor, Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUCPR e Bolsista em Produtividade de Pesquisa pelo CNPq. E-Mail: [email protected] Luciano Luiz Dalazen Mestrando em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Discente Bolsista pela Capes. E-Mail: [email protected] Luiz Carlos Duclós Ph.D. em Aplicações de Computadores em Engenharia Industrial e Sistemas, 1983, pela University Of Southern California, Los Angeles, EUA. Professor do Ppad - Programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Referências Pontifícia Universidade Católica do Paraná. E-Mail: [email protected] ABDOU, H.; POINTON, J. 'Credit Scoring, statistical techniques and evaluation criteria: a review of the literature. Intelligent Systems in Accounting, Finance & Management, 18, n. 2-3, 2011. 59-88. ALLEN, L.; DELONG, G.; SAUNDERS, A. Issues in the credit risk modeling of retail markets. Journal of Banking & Finance, Amsterdam, 28, 2004. 727-752. ALVAREZ, S.; GATSCHET, J.; MORRISON, J. Identificação de comunidades de dados: uma introdução ao agrupamento de risco de crédito e marketing. 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Palavras-Chave: Comportamento da População de Baixa Renda, Modelo Logístico. Introdução O Brasil mudou. Na última década institutos de pesquisas têm acompanhado de perto a transformação da classe C1. No início, desacreditada, quase invisível, hoje, com mais de 104 milhões de pessoas e movimentando aproximadamente R$1,03 trilhão, a classe C representa o verdadeiro mercado consumidor brasileiro. O investimento em inovação passa a ser fundamental para transformar conhecimento em dinheiro. Dinheiro para quem souber desenvolver produtos, serviços e canais de distribuição que sejam relevantes para um brasileiro que passou a ser dono de si mesmo e para quem entender que gerar renda na base da pirâmide é o melhor caminho para o desenvolvimento sustentável de um país que será em breve a quinta economia do mundo (MEIRELLES, 2012). Não há definição oficial das classes sociais brasileiras e ainda há divergências sobre quem faz parte dela. Para Prahalad (2005, p. 119), considera-se que o Brasil estratifica o indivíduo em cinco classes sociais, descrevendo como a base da pirâmide as classes C, D e E, sendo que a classe C representa a parcela da população brasileira com renda familiar entre 4 e 10 salários mínimos. 43 Com os dados do Censo Demográfico 2010, os rendimentos foram realocados em 5 grupos, de acordo com a classificação proposta por Prahalad. A Classe E possui renda de até 2 salários mínimos, representando 73,7% da população, classe D de 2 a 5 salários mínimos com representatividade de 18%, a classe C com 5,7%, a classe B com 1,9% e a classe A com apenas 0,7% de representatividade. O gráfico 1 apresenta essa distribuição. Gráfico 1: Classe Social Brasileira, por Prahalad 73,7% 18,0% 5,7% até 2 sm 2 a 5 sm 5 a 10 sm 1,9% 0,7% 10 a 20 sm 20 ou + sm igualmente acaba encarecendo os custos de acesso; • População, normalmente, não tem histórico de crédito. Nesse contexto, como podemos medir o risco de inadimplência dessa população que dificilmente possui histórico de crédito? O crescimento exponencial na demanda por crédito solicitada pela população de baixa renda foi possibilitado pelo bom desempenho da economia, pelas condições positivas de renda e de emprego. Os sinais de aumento do poder de consumo na base da pirâmide estão visíveis na proliferação de negócios voltados para esse perfil de consumidor. A base da pirâmide movimenta cerca de R$ 881,2 bilhões por ano, com salários, benefícios e crédito. Não é qualquer produto ou empresa que consegue esse resultado (OSCAR, 2011). Classe Social Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2010. Apontado como um público lucrativo, a população de baixa renda espera que as empresas mobilizem sua capacidade produtiva para atendê-los. Especificamente para o setor bancário, Diniz e Yokomizo (2009) argumentam que levar serviços financeiros para a população de baixa renda esbarra em três obstáculos principais: • População transaciona, individualmente, pequenos valores; • População localizada geograficamente, de forma dispersa. Não apenas a dispersão é um problema, mas também a dificuldade de acesso, já que, mesmo em áreas urbanas, essa população está localizada em bairros de maior risco operacional - mais afastados do centro e, recorrentemente, com maior criminalidade -, o que, Gráfico 2: Consumo da Classe D (em R$ bilhões) Higiene e beleza Eletrônicos Transporte Medicamentos 9,6 10,9 14,8 16 Alimentação 63,8 Fonte: Cetelem, Data Popular, IBGE, Nielsen e Empresas. Outro indicativo de que houve crescimento na demanda por crédito, conseguimos visualizar no indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito, que mensura a procura de crédito por parte dos consumidores. Esse indi- 44 Conceito de Baixa Renda cativo é construído a partir de uma amostra significativa de cerca de 11,5 milhões de CPFs, consultados mensalmente na base de dados da Serasa Experian. Essa quantidade de CPFs consultados refere-se a cadastros especificamente relacionados a transações que configuram alguma relação creditícia entre os consumidores e instituições do sistema financeiro ou empresas não financeiras. Os consumidores se animam com o bom momento da economia e compram cada vez mais, dessa forma, sua renda fica comprometida e a inadimplência cresce. O interesse desse estudo é analisar variáveis socioeconômicas e comportamentais que consigam explicar a inadimplência da classe D, um perfil que vive de trabalho informal e não possui conta bancária, pois muitos não conseguem comprovar renda e endereço. Fazer negócios com a população de baixa renda que não tem fluxo regular de salários parece ser mais arriscado, comenta Prahalad (2005, p. 162). O potencial de consumo nas classes populares vinha sendo ignorado pela maioria das empresas. Não apenas no Brasil, mas em âmbito internacional, o foco das organizações estava sobre a riqueza dos mercados de alta renda. Porém, mais recentemente, a atuação junto aos mercados da base da pirâmide vem crescendo e ganhando importância, e um número cada vez maior de organizações passou a reconhecer e explorar a enorme oportunidade gerada no mercado de baixa renda. Apesar do maior foco dado ao mercado popular, tanto pelas empresas como pela academia, ainda há uma dificuldade para se definir quem é o consumidor de baixa renda no Brasil e no exterior, citam Wright e Spers (2011, p. 17). Zanella (2008) comenta que, segundo estudo do The Boston Consulting Group (2007), os representantes do segmento de baixa renda são aqueles que sequer compõem a classe média, mas também não aparecem como os mais miseráveis do mundo. Gráfico 3: Indicador Serasa Experian de Demanda do Consumidor por Crédito - período janeiro/2008 a julho/2013 160,0 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 Indicador demanda do Consumidor por Crédito Fonte: Serasa Experian mai-13 jan-13 set-12 mai-12 jan-13 set-11 mai-11 jan-11 set-10 mai-10 jan-10 set-09 mai-09 jan-09 set-08 mai-08 jan-08 0,0 45 Juntos, estes representariam o maior segmento de mercado não atendido no mundo. A análise do The Boston Consulting Group identificou algumas particularidades do segmento de baixa renda. 1.Os consumidores de baixa renda lidam com rendas flutuantes, desta forma, a volatilidade da renda impõe limites à compra, o que os direciona à aquisição de itens de maior necessidade e à dispensa de produtos considerados não essenciais; 2.Eles vivem em casa com espaço reduzido, visando otimizar o posicionamento dos móveis e utensílios, de maneira a maximizar a área útil. 3.Os consumidores não são familiarizados com uma série de produtos, de maneira que, apesar de se interessarem por diferenciais, ainda se intimidam diante de produtos que não sabem como funciona ou cuja utilidade ainda não esteja claramente definida. Consumo As estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) são de que mais de 90% do crescimento populacional do mundo, nos próximos 30 anos, dar-se-á nos países em desenvolvimento e de que nesses lugares encontra-se a nova classe média consumidora e os principais mercados emergentes do mundo, comentam Wright e Spers (2011, p. 13). No entanto, a concepção de bens e serviços para esse público requer novas posturas e exige o abandono de preconceitos tradicionais sobre o consumidor de baixa renda. Segundo Prahalad (2005), os consumidores da base da pirâmide são altamente conectados e, portanto, informados. Dispõem de telefones celulares, acesso a e-mail e internet, utilizam cartões eletrônicos, além de se informarem por rádio e televisão. Têm surpreendente facilidade para adotar novas tecnologias e são cuidadosos nas decisões de compra, pois estas frequentemente têm grande importância com relação ao status e ao patrimônio familiar. Inúmeros são os exemplos de mudanças necessárias realizadas pelas empresas para atender esse público. A Pepsico, por exemplo, começou a pensar no poder de consumo da base da pirâmide e, em 2007, comprou a fabricante Lucky. Dona de um portfólio de salgadinhos, a Lucky é voltada para a classe D: pacotes são maiores e mais cheios (porque seus integrantes não comem sozinhos, mas compartilham) e o produto oferece maior sensação de saciedade (o público-alvo acha desperdício comprar algo que não o faça sentir-se cheio). Ter no portfólio uma marca de salgadinhos mais baratos foi fundamental para a Pepsico chegar até a classe D, afirma Patricia Kastrup, vice-presidente de marketing da Pepsico Brasil. Outro exemplo é a empresa Danone, que aumentou a participação de seus produtos na região nordeste. Hoje 30% do portfólio na região são de produtos de menos de R$1. Por exemplo, o produto Danoninho ganhou sete versões, incluindo uma de R$0,99 (TODESCHINI, 2012). Para facilitar a interface banco-cliente, o Banco Postal estabeleceu meios descomplicados no relacionamento com a população mais carente. É notável a dificuldade desse público em lidar com microcomputadores, sendo fundamental a presença de um atendente para intermediar as operações, citam Rocha e Calado (2006). A preocupação primordial é oferecer a esse cliente a proximidade e a facilidade de acesso. Prahalad e Hamel (2005) com- 46 pactuam esse ponto de vista e notam os ganhos do “Capitalismo Inclusivo”, no sentido de inserir a parcela mais carente da população nos benefícios do capitalismo. Os benefícios advindos de uma estratégia voltada a esse nicho podem ser observados no caso do Banco Postal, uma aliança entre a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios) e o Banco Bradesco. Os Correios possuem 5.306 agências em operação em 4.686 municípios, dos quais 1.675 não possuíam nenhuma agência bancaria antes da instalação do Banco Postal. O fator social da iniciativa pode ser observado na medida em que seus principais clientes gastavam cerca de 20% dos rendimentos pagando a condução até a cidade mais próxima onde iam receber seus proventos. Para estes, a instituição financeira significou um aumento de renda, facilidade de acesso aos serviços bancários e ainda, uma movimentação na economia de pequenas cidades, comentam Rocha e Calado (2006). Para fazer uma análise de crédito à Pessoa Física, por exemplo, Securato (2002, p. 33) comenta que no Brasil, cada credor utiliza um modelo próprio de ficha cadastral para obtenção das informações básicas do cliente, recorrendo também a empresas especializadas, tais como Serasa e/ou SPC, para validar, confirmar e complementar as informações obtidas diretamente do cliente e das fontes por ele indicadas. Podemos resumir como principais informações contidas nas fichas: • Nome, CPF, RG do solicitante de crédito e do conjugue, quando casado. Esses dados são utilizados para verificação de eventual existência de homônimo e para apuração de restrições cadastrais, como atrasos por falta de pagamento, aponta- mentos, protestos, cheques devolvidos, ações judiciais, etc; • Endereço atualizado; • Nome da empresa em que o solicitante trabalha, tempo de serviço, função, salário, entre outros; • Discriminação de rendimentos com as respectivas origens, bem como das despesas mensais de caráter fixo, tais como aluguel da moradia e/ou do escritório; • Fontes de referência comerciais e bancárias, que podem ser utilizadas para investigação pela própria credora. Todas essas informações fazem parte de um dossiê de crédito que será usado na avalição de risco de crédito, cita Securato (2002, p. 34). Um dos modelos de avaliação usualmente empregado é o Credit Scoring – que consiste em pontuar parâmetros de crédito e ponderá-los por pesos estabelecidos de acordo com a importância de cada parâmetro no processo decisório. O Credit Scoring é um modelo de avaliação do crédito aplicável a pessoas físicas e jurídicas. Na aplicação que damos para pessoas físicas propomos a compilação e a comparação dos dados constantes na ficha cadastral com parâmetros quantitativos e qualitativos previamente estabelecidos, escreve Securato (2002, p. 35). Os parâmetros básicos para a concessão do crédito à pessoas física, adaptados dos parâmetros utilizados para orientar a concessão de crédito à pessoa jurídica, também se norteiam nos chamados C’s do crédito: Caráter: (ou conceito); Capacidade: na pessoa física, a capacidade de pagamento está diretamente relacionada a renda; Capital: na pessoa física, o capital é o patrimônio pessoal; 47 Colateral: diz respeito às garantias que o solicitante coloca à disposição do credor para o caso de não vir a cumprir com as obrigações previstas contratualmente. Condições: diz respeito ao ambiente – fatores macro ou microeconômicos que influenciam na concessão do crédito. Os parâmetros básicos para a concessão de crédito serão avaliados através da análise criteriosa da ficha cadastral combinada com o sistema de pontuação que visa quantificar os parâmetros definidos e atribuir pesos de acordo com a relevância de cada informação. De acordo com a pontuação ponderada obtida, a concessão do crédito poderá ser automática ou encaminhada para a análise pelo Comitê de Crédito, de acordo coma política da empresa. Os primeiros modelos de Credit Scoring foram desenvolvidos entre os anos 40 e 50 e a metodologia básica, aplicada a esse tipo de problema, era orientada por métodos de discriminação. O primeiro trabalho conhecido utilizou análise discriminante para um problema de crédito, empregando as técnicas desenvolvidas por Fisher para discriminar bons e maus clientes. A técnica Credit Scoring é utilizada, principalmente na determinação de risco de crédito. Levando-se em consideração um modelo de regressão logística já ajustada, a probabilidade de perda, isto é, a probabilidade do cliente não pagar o empréstimo tomado, é calculada considerando-se fatores de riscos, tais como idade do solicitante, tempo no emprego, salário, se possui casa própria, localização de moradia, histórico de inadimplência, setor de atividade etc. e/ou fatores de riscos característicos da operação, tais como, valor total do empréstimo, prazo de pagamento, tipos de garantias, comentam Diniz e Louzada (2012). Alguns exemplos de informações utilizadas para desenvolver modelos de escoragem são: Tabela 1: PossíveisVariáveis Utilizadas nos Modelos de Risco Pessoa Física Variáveis atualmente utilizadas Idade Renda mensal Tempo no emprego Baixa pontuação Alta pontuação < 30 anos > 50 anos baixa renda alta renda < 3 meses > 10 anos Possui restrições ativas sim não Indicadores de atividade de crédito alta baixa A dificuldade de coletar variáveis para essa população que não tem conta em Bancos” motivou o Banco Gerador2 a investir no desenvolvimento de um sistema de cálculo de riscos. O modelo leva em conta variáveis como contas de luz em dia (é bom pagador) ou contas que tenham tido aumento (está consumindo mais e consegue pagar). Graças a esse modelo, o banco já concedeu empréstimo a mais de 20 mil pessoas (TODESCHINI, 2012). Para identificar o perfil de um tomador de crédito, toda variável de pagamento é potencialmente importante. Esse assunto ganhou força no I Fórum Paulista de Microfinanças onde ocorreu uma apresentação sobre o uso do valor da conta de energia elétrica para estimar a renda de um domicílio, comentam Diniz e Yokomizo (2009). A abrangência da conta de energia é grande. A população de baixa renda tem pouco ou nenhum colateral, não tem histórico de crédito, tem pouca ou nenhuma experiência em lidar com dinheiro ou em gerenciar um negócio e pode habitar locais distantes. Na ausência de histórico de informações bancárias, vão ser inseridas na mo- 48 delagem de crédito variáveis encontradas no banco de dados da Serasa Experian, coletadas no IBGE. População e Amostra A população pesquisada nesse estudo são pessoas classificadas como sendo de baixa renda de acordo com a segmentação da Serasa Experian. A base possui 15.519.544 CPF’s cadastrados. Faz-se uma amostragem aleatória, de sorte que todo indivíduo na população tem a mesma probabilidade de ser selecionado. Foram selecionados 300 mil indivíduos e desse total foram escolhidos 90 mil CPF’s que foram consultados na base da Serasa Experian no período de junho a novembro de 2012 e escolhidos outros 90 mil CPF’s que não foram consultados nenhuma vez nesse mesmo período. Figura 1: Amostra do Estudo 180 mil cpf’s 90 mil CPF’s consultados no período jun-nov 2012 90 mil CPF’s que não tiveram nenhuma consulta no período jun-nov 2012 A escolha por dividir em dois grupos se faz pela necessidade de saber que o primeiro grupo buscou por crédito no mer- cado no período compreendido entre junho/2012 a novembro/2012 e todo o estudo será feito nesse primeiro grupo e aplicado no segundo grupo - CPF’s que não foram consultados no banco de dados no mesmo período. Metodologia Credit Scoring Um modelo de regressão logística, com variável resposta, Y, dicotômica, pode ser utilizado para descrever a relação entre a ocorrência ou não de um evento, por exemplo, neste trabalho, prever a inadimplência do público de baixa renda (DINIZ; LOUZADA, 2012, p. 12). Para prever a inadimplência o modelo utilizara bases históricas de performance de crédito dos CPF’s do grupo 1 – CPF’s que buscaram por crédito no período janeiro a outubro de 2012, e observar o comportamento desses consumidores. O período de performance foi baseado no horizonte de predição de 365 dias. Se o consumidor possui alguma negativação ativa (pendências bancárias, pendências financeiras, protesto, ação e cheques sem fundos) com mais de 90 dias de atraso, com valor superior a R$10,00, ele é classificado como mau pagador; caso contrário ele é considerado bom pagador. O Fator tempo tem uma importância fundamental na construção de modelos preditivos. O passado é composto pelas operações para as quais já foram observados os desempenhos de crédito durante um horizonte de previsão adotado. As informações cadastrais dos clientes no momento da concessão de crédito, levantadas no passado mais distante, são utilizadas como variáveis de entrada para o desenvolvimen- 49 to do modelo e os dados do passado mais recente, as observações dos desempenhos de crédito dos clientes, inadimplentes ou adimplentes, são utilizadas para a determinação da variável resposta, comentam Diniz e Louzada (2012, p. 4-5). Figura 2: EstruturaTemporal das Informações para a Construção de Modelos Preditivos Passado Presente Futuro Variáveis de entrada para o desenvolvimento do Modelo Definição de variável resposta - evento de interesse Período de Observação Período de Desempenho Fonte: Diniz e Louzada (2012, p. 5). O período de observação compreende o período de tempo que são observadas as informações relevantes para o evento de interesse - período em que se constrói e obtém as variáveis explanatórias. Em um modelo de Credit Scoring3 esse período compreende na realidade um único instante, sendo o momento em que um cliente busca o crédito (ponto de observação). O período de desempenho é o intervalo de tempo em que é observada a ocorrência ou não da inadimplência. O presente corresponde ao período de desenvolvimento do modelo em que, normalmente, as informações referentes a esse período ainda não estão disponível. O futuro é período de tempo para a qual serão feitas as predições, utilizando-se de informações do presente, do passado e das relações entre estas (DINIZ; LOUZADA, 2012, p. 5). Dividiremos os 90 mil registros pertencentes ao grupo 1 (público que buscou crédito no período junho/2012 a novem- bro/2012) em dois grupos: 70% da amostra para desenvolvimento do modelo; 30% da amostra para validação. Os modelos de regressão são utilizados para estudar e estabelecer uma relação entre uma variável de interesse (variável resposta) e um conjunto de fatores referentes a cada cliente (denominados covariáveis). Para modelos de crédito, que a variável de interesse é binária, a regressão logística é um dos métodos estatísticos utilizados com bastante frequência. O modelo de regressão logística é determinado pela relação: log pi ( 1–pi ) = β0 + β1x1 + … + βpxp Em que pi denota a probabilidade de um cliente com perfil definido pelas p covariadas, x1, x2, ..., xp ser um mau pagador. Estas covariáveis são obtidas através de transformações, dummies. Os valores utilizados como escores finais dos clientes são obtidos multiplicando por 1000 os valores estimados das probabilidades de sucesso, pi. A avaliação do ajuste do modelo será feita pela estatística de Kolmogorov-Smirnov (KS). Esse método mede a boa performance dos escores na separação dos dois grupos – bons e maus pagadores. Sendo FB(e) = ∑ x≤e e FB(x) e FM(e) = ∑ x≤e FM(x) a função de distribuição empírica dos bons e maus pagadores, respectivamente, a estatística de Kolmogorov-Smirnov é dada por: KS = max | FB (e) - FM (e) | Em que FB(e) e FM(e) correspondem às proporções de clientes bons e 50 RESULTADOS maus com escores menor ou igual a e. A estatística KS é obtida através da distância máxima entre essas duas proporções acumuladas. Quanto maior for a estatística de KS, maior será a separação entre os clientes adimplentes e inadimplentes. Oliveira e Andrade (2002) sugerem uma tabela com classificação de modelos de acordo com o valor de KS obtido (figura 3). No gráfico 4 temos a distribuição geográfica da amostra selecionada de pessoas classificadas como baixa renda pela Serasa Experian. Os destaques das regiões com maior representatividade: nordeste e sudeste são as duas regiões com maior participação nos dois públicos do estudo. Para o público que buscou crédito, a participação Figura 3: Funções Distribuições Empíricas para os Bons e Maus Clientes e a Estatísticas KS 6 5 FM(e) 4 3 KS 2 FB(e) 1 0 1 2 3 4 5 6 Scores(e)4 Fonte: Diniz e Louzada (2012, p. 17). Gráfico 4: Distribuição por Região da Amostra de Baixa Renda 36% 33% 31% 29% 16% 12% 8% 5% sem inform CE 8% 6% NE Publico sem consulta a crédito Fonte: Serasa Experian 9% 7% NO SE Publico com consulta a crédito SU 51 chega a 36% na região sudeste. O processo de desenvolvimento do modelo para baixa renda engloba as seguintes etapas: • Definição conceitual do modelo: definição do objetivo e horizonte de tempo da previsão. • Avaliação das informações disponíveis para o desenvolvimento do modelo: análise dos bancos de dados disponíveis, relevância e confiabilidade das informações. • Amostragem: Definição dos procedimentos de amostragem. • Definição de maus clientes. • Elaboração das variáveis preditivas: transformação, categorização e análise bivariada. • Análise críticas dos pesos finais do Modelo. • Desenvolvimento estatístico: obtenção das fórmulas estatísticas. • Validação: teste sobre uma amostra de dados para avaliar a consistência do modelo desenvolvido. As amostras serão avaliadas da seguinte forma: o público que foi consultado no período de junho a novembro de 2012 terá sua performance avaliada nos próximos 12 meses. Por exemplo, um CPF com consulta no mês de novembro de 2012 terá sua performance avaliada até outubro de 2013. Para o público que não foi consultado, foram geradas aleatoriamente datas dentro desse mesmo período, ou seja, datas aleatórias entre junho a novembro de 2012 e avalição de performance nos 12 meses seguintes e assim por diante. A figura 4 ilustra o processo. Tabela 2: Percentual de Pessoas Inadimplentes na Data da Consulta Qtd % Defaut na data consultada Público que foi consultado 90,000 36,5% Público sem consulta 90,000 30,5% Público do estudo A seguir, apresentam-se as análises de performance dos dois públicos: Nessa primeira etapa, verifica-se se o consumidor possui alguma negativação (pendências bancárias, pendências financeiras, protesto, ação e cheques sem fun- Figura 4: Ilustração do Período de Performance Utilizado nesse Modelo de Baixa Renda. Bom Pagador Para x1 x2 x3 x4 x5 x6 Período Histórico ... x9 ya Período de Performance 12 meses Variáveis Preditivas • Sócio-Demográficas • Anotações Negativas • Comportamentais Mau Pagador 52 dos) com mais de 90 dias de atraso, com valor superior a R$10,00, na data da consulta (também chamada data de referência). Se ele possuir, é considerado um mau pagador; caso contrário, ele é considerado um bom pagador. Se considerado mau pagador, não fará parte da modelagem. No primeiro grupo, do público que foi consultado no período, foram eliminados 36,5% da amostra de 90 mil, ou seja, quase 33 mil pessoas já possuíam naquele momento dívida ativa no mercado. Por esse motivo, despreza-se esse público e verifica-se a performance do público restante. Tabela 3: Percentual de Pessoas Inadimplentes no Período de Performance. Qtd % Defaut na data consultada Público que foi consultado 57,191 28% Público sem consulta 62,585 12% Público do estudo Para desenvolvimento do modelo, optou-se por trabalhar com o público que foi consultado e aplicar o modelo no público sem consulta. A taxa de inadimplência para o público que foi consultado no período é de 28% contra 12% do público sem consulta. Essa diferença é explicada pela falta de informação desse último público. Amostragem de Desenvolvimento e Validação Para confecção do modelo foi utilizado o público que buscou crédito no período de junho a novembro de 2012 (público consultado). A amostra é separada em amostra de desenvolvimento e amostra de validação. A amostra de desenvolvimento foi utilizada para realizar o ajuste do modelo e a amostra de validação foi empregada na validação da fórmula, verificando a manutenção das características (separação e estabilidade) e garantindo que não houvesse overfitting (superestimação) dos dados. O banco de dados da Serasa Experian possui mais 2 mil variáveis para serem testadas nos modelos de crédito. Seguem algumas variáveis: • Informações cadastrais: Idade e CEP residencial; • Informações negativas, incluindo protestos, ações, cheques sem fundo, dívidas não pagas em instituições financeiras (REFIN) e dívidas não pagas em instituições não financeiras (PEFIN). Utilizamos essas informações correntes bem como seu histórico; • Informações do IBGE; • Score househould (é um produto da Serasa Experian, cujo objetivo determinação do risco de crédito da Família. Calcula-se o risco de crédito do indivíduo, considerando informações do risco de crédito da família. O modelo devolve pontuação entre 2 a 1000); • Score nacional de crédito 2 Bureaux (esse modelo é o 1º release baseado nos dados do Credit Bureau Serasa Experian e dados do SPC Brasil. O modelo possui dados cadastrais, anotações negativas e comportamentais de consumidores brasileiros e foi desenvolvido em 2013). Após aplicação do método Stepwise, das mais de 2 mil variáveis analisadas foram selecionadas nove que submetidas ao nível de significância de 0,05% (p-value <= 0,05), são as variáveis estatisticamente significativas para explicar a inadimplência do público de baixa renda. 53 Na tabela 4 o modelo estatístico e a importância de cada variável, medida pelo Scaled Vector de Altman (1968), são apresentados. Observa-se através da Scaled Vector, a relativa contribuição de cada variável no modelo. O Score nacional de crédito 2 Bureaux é a variável que mais contribui para explicar a inadimplência na baixa renda, logo em seguida a variável indicando se o indivíduo mudou de endereço recentemente também possui uma contribuição significativa. Distribuição do Score Através do modelo estatístico, é possível fornecer uma representação da probabilidade de um proponente de crédito tornar-se inadimplente ao longo de 12 meses. Pode-se concluir observando o público utilizado para desenvolvimento do modelo (público que foi consultado). Pessoas com pontuação entre 2 e 200 representam 1% da amostra e apresentam 85% de probabilidade de tornar-se inadimplente. Pessoas com pontuação entre 201 a 300 representam 3,6% da amostra e apresentam 73,8% de probabilidade de tornar-se inadimplente, e assim sucessivamente. Para avaliar a capacidade de discriminação do modelo, futilizaram-se testes de estatística não paramétrica, isto é, o teste de Kolmogorov-Smirnov, e os coeficientes de Gini e Roc. Foram obtidos o valor de KS de 40%, coeficiente de Roc de 76,7% e coeficiente de Gini de 53,4%, demonstrando que o modelo tem uma capacidade de discriminar clientes Bons de clientes Maus. Aplicando o modelo na base de Tabela 4: Modelo Estatístico para Previsão da Inadimplência na Baixa Renda Descrição Flag se a pessoa mudou-se em até 1 ano Agrupamento do CEP Idade Faixa Scaled Vector Altma Flag ME = 1 0.0733 0 < GRUPO_PERCENTUAL < 2 2 <= GRUPO_PERCENTUAL < 3 3 <= GRUPO_PERCENTUAL < 7 16 <= GRUPO PERCENTUAL 0.0138 0.0087 0.0196 0.0187 18 <= IDADE < 31 0.0390 SCORE_2BUREAUX Segmento Pessoas com uma ou mais negativações ativas 0.5706 SEGMENTO = (1.2) 0.0459 1 <= Histórico_neg < 2 2 <= Histórico_neg <3 3 <= Histórico_neg <5 Histórico_neg >= 5 0.0317 0.0209 0.0269 0.0349 Tempo máximo em que uma restrição ficou ativa 28 <= STpMa×RestrFicouAti < 253 253 <= STpMa×RestrFicouAti < 493 493 <= STpMa×RestrFicouAti < 1298 1298 <= STpMa×RestrFicouAti 0.0114 0.0058 0.0122 0.0305 Indicador de estabilidade profissional Serasa Experian Flag IEP = 1 0.0121 1 <= media score hh < 240 240 <= media score hh < 277 0.0182 0.0054 Histórico de negativações Média Household Score 54 pessoas sem consultas a crédito no período de junho a novembro de 2012, foram obtidos o valor de KS de 44,5%, coeficiente de Roc de 77% e coeficiente de Gini de 54,1%, demonstrando que o modelo tem uma capacidade de discriminar clientes Bons de clientes Maus. anos, 35 milhões os brasileiros foram incluídos nesse segmento. A questão-problema era “Como medir o risco de inadimplência da população de baixa renda que dificilmente possui histórico de crédito?” O objetivo proposto foi desenvolver um modelo estatístico matemático para prever a inadimplência do público de baixa renda, de forma a maximizar a separação entre bons e maus pagadores. O inadimplemento representa um dos maiores problemas na concessão de crédito, pois influencia diretamente as condições de acesso ao crédito. Neste trabalho, a inadimplência encontrada na amostra selecionada para aplicar a técnica Credit Scoring foi de 28% de clientes inadimplentes. A alta taxa de inadimplência é explicada pelo descontrole por parte de uma parcela da população que Considerações Finais Ao longo deste trabalho foram estudadas características da população de baixa renda. A motivação para o estudo originou-se na leitura de uma reportagem na revista Época – junho 2012 – “Chegou a vez da classe D”. Atualmente, 104 milhões de brasileiros estão na classe média, ou seja, vivem em famílias com renda per capita mensal entre R$ 291 e R$ 1.019. Nos últimos dez Tabela 5: Distribuição do Risco nas Duas Amostras Público que foi consultado (base desenvolvimento) Score Aplicação do modelo no público sem consulta Taxa de Inadimplência % Participação Taxa de Inadimplência % Participação 2 a 200 85.0% 1.0% 73.4% 0.3% 201 a 300 73.8% 3.6% 65.1% 1.0% 301 a 350 66.1% 3.5% 63.2% 1.2% 351 a 400 56.5% 5.3% 37.1% 2.7% 401 a 450 48.2% 7.3% 32.1% 4.0% 451 a 500 39.3% 9.0% 31.4% 4.6% 501 a 550 33.3% 9.3% 24.6% 5.0% 551 a 600 26.7% 9.1% 18.2% 6.9% 601 a 650 20.4% 9.5% 9.3% 11.7% 651 a 700 18.1% 8.5% 8.2% 11.1% 701 a 750 13.5% 7.6% 7.2% 9.5% 751 a 800 10.3% 8.3% 4.7% 13.1% 801 a 850 7.9% 9.7% 4.0% 15.5% a 1,000 851 Total 5.9% 8.2% 3.6% 13.4% 28.1% 100.0% 12.3% 100.0% 55 Autores tem agora, acesso a bens que nunca teve, e na qual se deposita alto nível de confiança para o futuro. Para alcançar o objetivo proposto, foram realizadas análises estatísticas, as quais surpreenderam as expectativas do pesquisador. O modelo logístico apresentou uma estatística KS acima de 40% o que representa excelente discriminação entre os clientes adimplentes e inadimplentes. O modelo logístico conseguiu apontar outras informações relevantes capazes de explicar a inadimplência da população de baixa renda. Segundo Securato (2002), um modelo de Credit Scoring pontua parâmetros de crédito e pondera por pesos estabelecidos de acordo com a importância de cada parâmetro. No modelo proposto para prever a inadimplência do público de baixa renda, as variáveis score nacional de crédito 2 Bureaux e flag de mudança de endereço recente foram as variáveis com maior contribuição relativa, segundo o Scaled Vector de Altman (1968). Na aplicabilidade do modelo logístico na população que não possui histórico de busca por crédito no período compreendido entre junho a novembro de 2012 os resultados obtidos foram significativos e comprovados através do KS de 44%, quatro pontos acima do resultado no modelo desenvol- vido, mas vale ressaltar que a inadimplência encontrada nesse público (12%) foi bem inferior comparado com a amostra que buscou por crédito (28%). Essa queda na inadimplência para esse público traduz escassez de informação para essa população que não utiliza serviços bancários (“desbancarizada”). Notas 1. FGV – Fundação Getúlio Vargas faz a seguinte consideração: uma família é considerada de classe média (classe C) quando tem renda mensal entre R$ 1.064 e R$ 4.591. A elite econômica (classes A e B) tem renda superior a R$ 4.591, enquanto a classe D (classificada como remediados) ganha entre R$ 768 e R$ 1.064. A classe E (pobres), por sua vez, reúne famílias com rendimentos abaixo de R$ 768. 2. Banco Gerador - especializado no Norte/ Nordeste, com um portfólio de produtos e serviços para atender a empresas e pessoas físicas dessas regiões. Os empreendedores do Banco Gerador possuem ampla experiência em investimento no Nordeste, com participação relevante em empresas líderes nos seus setores, como Grupo Nordeste. 3. Credit Scoring consiste em avaliar quais fatores estão associados ao risco de crédito dos clientes. Patricia Rosangela Carneiro Patricia Rosangela Carneiro é Analista de Analytics. É responsável pelo desenvolvimento de modelos de crédito e cobrança, com foco tanto em Pessoa Física e Jurídica. Possui mais de 10 anos de experiência em desenvolvimento de soluções customizadas para clientes da Serasa Experian. Graduada em Estatística pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), MBA em Gestão Estratégica pela FEA- RP e Especialização em Inteligência Analítica pela FIA-SP. Entre em contato com Patricia pelo e-mail patrí[email protected] Referências 56 ALTMAN, Edward I. Financial Ratios, Discriminant Analysis and the Prediction of Corporate Bankruptcy. The Journal of Finance 23.4 (1968): 589-609. DINIZ, C.; LOUZADA, F. Modelagem Estatística para Risco de Crédito. 20º SINAPE – Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012. DINIZ, E. H.; YOKOMIZO, E. C. A. Projeto “(Micro?) Crédito para a População de Baixa Renda: como gerar cadastro positivo por meio da tecnologia de correspondentes bancários”. Programa de incentivo à pesquisa aplicada Serasa Experian. São Paulo: IES-EAESP- FGV, 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Disponível em: < www.ibge.gov.br>. Acesso em: 15 de jun. 2013. MEIRELLES, R. A Classe C Mudou. Data Popular, Brasília, 3 mai. 2012. Disponível em: <http://www.sae.gov.br/ site/?p=11401#ixzz2dZsEJfIP>. Acesso em: 21 de set. 2013. OLIVEIRA, J. G. C. de; ANDRADE, F. W. M. de. 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