Centremos hoje a nossa atenção no texto do Evangelho. De noite
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Centremos hoje a nossa atenção no texto do Evangelho. De noite
HOMILIA (IV Domingo da Quaresma B) Centremos hoje a nossa atenção no texto do Evangelho. De noite, tolhido pelo medo, vem ao encontro da Luz um homem que procura a Verdade. Este homem tem nome e tem história: chama-se Nicodemos. É um respeitado fariseu, um intelectual conhecedor da religião e das coisas de Deus. Arguto como um filósofo, tímido como um menino e inquieto como um jovem, Nicodemos é alguém que procura respostas para as suas muitas interrogações. Após um longo diálogo, Jesus convida Nicodemos a enterrar toda a sua sabedoria e a levantar os olhos para a cruz com um olhar de fé. Jesus resume tudo no sinal da cruz: - A cruz é o testamento de um Deus que ama o mundo e que não foge dele nem lhe volta as costas. - A cruz é a hora do ENCONTRO e também do DESENCONTRO. De facto, diante da cruz, podemos assumir uma de duas atitudes: olhando para ela, acolhendo o Amor, para sermos salvos; ou, pelo contrário, recusando a Luz e optando pelo caminho das trevas. “Aquele que vive na verdade aproxima-se da luz”, afirma Jesus. E, muitos de nós, ao escutarmos esta palavra, somos forçados a concluir que, nos tempos que correm, as coisas estão viradas do avesso. É verdade!... No presente, os que procuram a verdade, aqueles que permanecem fiéis aos seus ideais, os que lutam por causas nobres e os que se entregam por inteiro a uma missão em prol do próximo não fazem manchete nos jornais, não são capa de revista da “Gente”, da “Lux”, da “Maria” ou da “Caras”; são sistematicamente ignorados pelos meios de comunicação social. Não interessam aos mass-media!... Ficamos, não raro, com a impressão que, em lugar da luz, é a obscuridade que brilha como verdade; isto é, o bem é censurado e condenado ao silêncio, enquanto que o mal é aplaudido e exaltado. Ficamos também, muitas vezes, com a impressão que o mundo é o parceiro do Demónio e da Carne, o inimigo número um da alma. Todavia, a conclusão a que Nicodemos chegou após o longo diálogo que teve com Jesus foi muito diferente e pode assim ser sintetizada: - O mundo é amado por Deus. E Ele, o Criador, está no coração do mundo. - O mundo é o espaço do encontro do homem com Deus. - Ao afirmar que “Deus amou de tal modo o mundo que entregou o Seu Filho unigénito para que todo o homem que acredita nele não pereça mas tenha a vida eterna”, Jesus lembra-nos que é no coração do mundo que nós devemos procurar o coração de Deus. Quero hoje, a título de exemplo, citar um belo texto, extraído do livro “Parábolas”, das Edições Paulus, intitulado “Deus foi ao encontro”. Havia um monge fervoroso que passava o dia e uma boa parte da noite a dizer: “Senhor, mostra-me o Teu rosto. Quero ver-te!” Depois de tantas vezes ter feito esta prece, Deus disse-lhe: “Amanhã põe-te a caminho e, depois de atravessares o rio, antes de anoitecer, mostrar-te-ei o meu rosto”. O bom monge preparou bem o seu espírito e, mais aos saltos do que a caminhar, seguiu radiante na direcção do rio. Ia embebido no seu mundo, que era o de Deus, como um apaixonado. Estava o monge tão radiante com a ideia de ver o rosto de Deus que não reparou no pobre camponês que lutava com as suas mulas para tirar o carro dum fosso profundo. Não viu sequer como uns pastores batiam noutro mais fraco. Nem tampouco reparou no choro duma criança que levava um molho de lenha demasiado pesado. Quando atravessou o rio, as suas pulsações aumentaram. Nervoso, começou a olhar para um lado e para o outro. Caminhava apressadamente para cima e para baixo… Após duas horas de longa espera, o piedoso monge regressou abatido, pensativo e triste! À noite, na sua oração, o monge perguntou a Deus: - Senhor, esqueceste-te de ir ao meu encontro? E Deus respondeu-lhe: - Como é que não fui? Tu é que não vieste… Não viste o camponês, o pobre pastor espancado e a criança que chorava? Não sabias que era eu? Deixaste-me abandonado sem me ajudar! Não te encontraste comigo nem com os outros. Nem sequer contigo, porque me esperavas como se eu fosse um fantasma! Daqui em diante vais ver-me sempre que queiras!... É, pois, no mundo das coisas, da história, da vida e dos homens que Deus se encontra connosco. Por isso, o grande apelo que Jesus nos faz neste domingo é o seguinte: procurai no coração do mundo o coração de Deus!
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