Livro Estratégia para Crescer - Universidade Corporativa Sebrae
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Livro Estratégia para Crescer - Universidade Corporativa Sebrae
CRESCER ESTRATÉGIA PARA Lições de países que incluem o empreendedorismo e as micro e pequenas empresas na agenda do desenvolvimento ESTRATÉGIA PARA CRESCER Lições de países que incluem o empreendedorismo e as micro e pequenas empresas na agenda do desenvolvimento Organizado por Eloi Zanetti Organizado por Eloi Zanetti Autores: Agnaldo Gerson Castanharo Alba Silva Anastacio Soares Allan Marcelo de Campos Costa Claudio Eduardo de Assis Fabio Hideki Ono Heverson Feliciano Joailson Antonio Agostinho Jose Gava Neto Jose Ricardo Castelo Campos Julio Cezar Agostini Luiz Carlos da Silva Marcos Aurélio de Lima Orestes Hotz Rainer Junges Renata Borges Todescato Vitor Roberto Tioqueta Brasília, DF • 2014 2014. Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema e armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito do Sebrae. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei n.º 9.610/1998). SEBRAE NACIONAL Textos produzidos e organizados por: Eloi Zanetti Presidente do Conselho Deliberativo Nacional Entrevistas com: Agnaldo Castanharo, Alba Anastácio Soares, Allan Marcelo de Campos Roberto Simões Costa, Cláudio Assis, Fabio Hideki Ono, Heverson Feliciano, Joailson Agostinho, José Gava Diretor Presidente Neto, José Ricardo Castelo Campos, Julio Cezar Agostini, Luiz Carlos da Silva, Marcos Aurélio Lima, Orestes Hotz, Rainer Junges, Renata Todescato e Vitor Roberto Tioqueta Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho Revisão de conteúdos: Elisa Marília Carneiro, Fabio Hideki Ono, Leandro Donatti Diretor Técnico Carlos Alberto dos Santos Fotos: produzidas pelos integrantes das missões Diretor de Administração e Finanças Todos os textos são fruto da percepção e análise colhidas durante três missões José Claudio dos Santos internacionais realizadas por diretores e gerentes do Sebrae/PR em 2012, para Coreia Gerente da Universidade Corporativa Sebrae do Sul, Tailândia, Malásia e Cingapura; Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia e Rússia; e Índia (Mumbai, Bangalore, Nova Deli), Hong Kong, Taiwan e China. Alzira de Fátima Vieira Diagramação e editoração: iComunicação SEBRAE PARANÁ Presidente do Conselho Deliberativo Estadual Informações e Contato Sebrae Nacional João Paulo Koslovski SGAS 605 – Conj. A – Asa Sul – 70200-904 – Brasília/DF Diretor Superintendente Telefone: (61) 3348-7100 Vitor Roberto Tioqueta Sebrae Paraná Diretor de Operações Rua Caeté, 150 - Prado Velho – Curitiba/PR Telefone: (41) 3330-5800 Julio Cezar Agostini www.sebrae.com.br Diretor de Administração e Finanças José Gava Neto Gerente da Unidade de Gestão Estratégica Fabio Hideki Ono Conselho Editorial e Coordenação Técnica Raquel Cardoso Bentes Leandro Donatti Fabio Hideki Ono Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Bibliotecária responsável: Jaciara Coelho P. de Oliveira E82 Estratégia para crescer : lições de países que incluem o empreendedorismo e as micro e pequenas empresas na agenda do desenvolvimento. / Eloi Zanetti (org.). – Brasília : Sebrae, 2014. 164 p. ISBN (impresso) 978-85-7333-626-9 ISBN (eletrônico) 978-85-7333-625-2 1.Benchmarking internacional 2. Pequenos negócios 3. Ásia I. Zanetti, Eloi (org.) II. Sebrae CDU – 005.642.1 “Viajar só tem vantagens: se formos para países melhores, podemos aprender a melhorar o nosso. Se pararmos em países piores, podemos passar a apreciar o nosso” Samuel Johnson Escritor inglês Experiência global, atuação local O Sebrae é uma empresa de conhecimento, de saberes e boas práticas. Aprendemos mais a cada dia e disseminamos as nossas experiências para realizarmos um atendimento mais qualificado aos nossos clientes, afinal somos especialistas em pequenos negócios. Anualmente, preparamos as altas e médias lideranças do Sebrae dentro de parcerias da Universidade Corporativa com renomadas instituições de ensino nacionais e internacionais. O objetivo é trazer a experiência global para a atuação local. Com isso, buscamos atualizar os conhecimentos e construir um modelo de liderança que reflita os objetivos e as diretrizes estratégicas do Sebrae. Este livro é fruto da experiência de líderes do Sebrae que participaram de três missões internacionais – ao Sudeste Asiático, à Rússia e Escandinávia e ao Leste Asiático. É uma forma de disseminar o conhecimento adquirido. As escolhas dos países visitados levaram em conta o relatório Doing Business do Banco Mundial – os melhores lugares do mundo para se fazer negócio. Os grupos formados pelo Sebrae no Paraná optaram por regiões consideradas competitivas, modernas e que estão bem inseridas no novo mundo globalizado. A publicação apresenta o resultado e o aprendizado dos grupos em cada instituição visitada – universidades, agências de fomento, parques tecnológicos, bancos e incubadoras – para aplicar localmente essas boas práticas. Dessa forma, temos na Universidade Corporativa Sebrae uma importante aliada na gestão do conhecimento de todo o Sistema. Esse tipo de investimento gera uma rica experiência e eleva o nível de inovação e de atuação do Sebrae, além de aperfeiçoar o nosso trabalho. Recomendo que aproveite esta oportunidade de aprendizado. José Claudio dos Santos Diretor de Administração e Finanças Sebrae Nacional Uma viagem rumo ao desenvolvimento “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” A frase, eternizada pelo físico e humanista alemão Albert Einstein, revela o poder do conhecimento e sua capacidade de transformar pessoas e realidades. O desconhecido, que em via de regra provoca indagações e conduz a reflexões, gera também aprendizados importantes na esfera dos negócios e nas instituições que o representam. Este livro, Estratégia para crescer - Lições de países que incluem o empreendedorismo e as micro e pequenas empresas na agenda do desenvolvimento, é um exemplo disso. O Sebrae do Paraná, representado por seus diretores e gerentes, realizou em 2012 três missões técnicas rumo ao desconhecido, para países que, segundo o Banco Mundial, tornaram-se os melhores lugares do mundo para se fazer negócios. Na bagagem dos exploradores, a curiosidade pelo novo e o desejo de uma equipe jovem em conhecer modelos de desenvolvimento, marcados pela inclusão dos pequenos negócios, bandeira do Sebrae também no Brasil. Conhecimento que tem sido aplicado pelo Sebrae no Paraná na sua reinvenção, com foco em 2022, quando a entidade comemorará 50 anos de existência como serviço de apoio às micro e pequenas empresas. Passados dois anos da experiência, e absorvidas as principais lições aprendidas com gigantes como Cingapura, Coreia do Sul, Dinamarca, Suécia, Noruega, Hong Kong e China, é hora de compartilhar. Que este livro, uma iniciativa acolhida e estimulada pelo meu antecessor na Presidência do Conselho Deliberativo, Jefferson Nogaroli, possa despertar a curiosidade de quem acredita no empreendedorismo, além de também servir de subsídio para a busca permanente pela melhoria da gestão, criatividade e superação dos desafios que os micro e pequenos empresários enfrentam todos os dias. Curiosidade que leva ao desconhecido, que gera conhecimento, que amplia a mente e que promove transformações! Compartilhemos o aprendizado do Sebrae no Paraná revelado nesta obra e planejemos o desenvolvimento do nosso País! João Paulo Koslovski Presidente do Conselho Deliberativo Sebrae no Paraná Lição que nos faz olhar para o futuro O Sebrae começou a escrever uma nova página da sua história no Paraná. Em 2011, uma profunda discussão sobre o seu papel, missão e visão em longo prazo, no apoio ao empreendedorismo e aos pequenos negócios, começou a ser trilhada, com o olhar voltado para 2022, quando o Sebrae completará 50 anos e precisará dialogar com novos cenários. Esse trabalho, iniciado pela Diretoria Executiva do Sebrae no Estado, que tinha à época Allan Marcelo de Campos Costa, como então diretor-superintendente; Julio Cezar Agostini, diretor de Operações; e Vitor Roberto Tioqueta, então diretor de Gestão e Produção, nasceu de uma necessidade da instituição em se consolidar como serviço de apoio aos pequenos negócios. Com base nos anseios dos empreendedores, empresários, representantes de entidades empresariais e sociedade paranaense, e de olho no futuro, a instituição sentiu a necessidade de conhecer experiências exitosas para melhor atender e enfrentar os desafios permanentes impostos ao empreendedorismo. As três missões técnicas aos países considerados os que oferecem melhor ambiente para se fazer negócios, tema deste livro, foram minuciosamente estudadas para contribuir na construção dessa nova estratégia, que hoje já é uma realidade. Aprendizado que incorporamos no planejamento que vai orientar o Sebrae dos próximos anos e que balizará a sua atuação no Paraná. Uma experiência marcada pelo conhecimento a partir de boas práticas. Em cada visita, novas descobertas e também constatações de que o Sebrae, como instituição de apoio e articulação, está no caminho certo, quando defende a ideia de que as micro e pequenas empresas são a melhor alternativa para o desenvolvimento do país. O principal ensinamento, que nos levará mais fortes para 2022, foi perceber que boa parte dos países que atingiram maturidade no estímulo aos negócios prosperou graças a uma conjugação de interesses comuns, dos cidadãos às forças políticas, aliada a planejamento, foco e muito trabalho. Atitude que ajudou na superação de adversidades e tem servido de amálgama para o desenvolvimento. Exemplos que inspiraram e ainda vão inspirar muito o Sebrae do Paraná. Agradecemos ao Sebrae Nacional pela oportunidade de materializar, por meio deste livro, o conhecimento gerado com as missões, que têm nos ajudado muito nessa jornada. E assim provocar, e estimular, a discussão sobre a necessidade de uma estratégia para crescer de fato, que leve em consideração os pequenos negócios, como propulsores de empregos e renda, e a sua representatividade na economia e na vida das pessoas. Vitor Roberto Tioqueta Diretor Superintendente do Sebrae no Paraná Julio Cezar Agostini Diretor de Operações do Sebrae no Paraná José Gava Neto Diretor de Administração e Finanças do Sebrae no Paraná Sumário 15 PREFÁCIO 21 APRESENTAÇÃO 27 Otaviano Canuto MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO Coreia do Sul, Tailândia, Malásia e Cingapura 51 MISSÃO RÚSSIA-ESCANDINÁVIA Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia e Rússia 79 MISSÃO LESTE ASIÁTICO 121 AS LIÇÕES APRENDIDAS 129 135 Índia, Hong Kong, Taiwan e China As opiniões dos grupos PALAVRAS FINAIS ANEXOS Prefácio Reflexões para uma agenda de desenvolvimento Crescimento e desenvolvimento econômico são temas que há muito tempo despertam o interesse de economistas. Quais fatores levaram alguns países a crescer e a se desenvolver mais rapidamente do que outros? Que medidas países e regiões emergentes poderiam tomar para acelerar o seu desenvolvimento de forma sustentável? Há uma miríade de teorias e modelos que visam a responder perguntas como essas. Inegavelmente, variáveis macroeconômicas, como investimento, taxas de câmbio, de juros, dentre outras, são determinantes para o crescimento e competitividade dos países. Contudo, muitos fatores de competitividade são determinados no nível micro, das pessoas, dos empreendedores e das pequenas empresas, e influenciados pelo ambiente regulatório para os negócios. A competição não ocorre somente entre empresas, mas também entre cidades e nações. O relatório Doing Business, publicado anualmente pelo Banco Mundial, traz uma base de comparação entre os ambientes de negócios do mundo e visa oferecer referências objetivas para melhorias. Trata-se, portanto, de um importante referencial para reformas e para que países em pior classificação possam tomar lições daqueles melhor qualificados. Conhecer as melhores práticas internacionais e adaptá-las às realidades locais é uma forma de catalisar o processo de desenvolvimento. Nesse sentido, considero louvável a iniciativa do Sebrae, de buscar as boas práticas internacionais de fomento ao empreendedorismo e ao desenvolvimento dos pequenos negócios. Por meio de visitas in loco, a equipe do Sebrae do Paraná conheceu experiências de pessoas e de instituições presentes em países com níveis distintos de desenvolvimento e de eficiência de seus ambientes regulatórios. As condições apresentadas em Cingapura, país em melhor posição no ranking Doing Business, são bastante distintas de outros países visitados, como Rússia, China e Índia, que, juntos com o Brasil, compõem o BRICS. Essa diversidade é muito rica em qualquer processo de benchmarking e o livro traz uma importante consolidação desse conhecimento. Traz ainda um conjunto de lições aprendidas, muitas das quais o Sebrae já incorporou em seu planejamento estratégico, conforme apresentado no anexo. Considerando os desafios atuais da economia brasileira, no que diz respeito ao aumento da produtividade e das condições de competitividade, é muito salutar que se compartilhem as boas referências internacionais. As lições apresentadas pela equipe do Sebrae trazem importantes reflexões para uma agenda de desenvolvimento não somente do próprio Sebrae, como para outras instituições. Parabéns ao Sebrae por trazer esse conhecimento a público. Otaviano Canuto Conselheiro Sênior do Banco Mundial para Economia BRICS Apresentação APRESENTAÇÃO Quando um grupo de técnicos, gerentes e diretores do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Paraná (Sebrae PR) começou a pensar, em 2011, na estratégia da instituição, com vistas a um período de dez anos, esbarrou com os seguintes questionamentos: e o Brasil? E as nossas empresas? E o nosso povo? E os nossos sistemas de apoio aos novos empreendedores? Será que conseguiremos em 2022, quando a instituição completar 50 anos de existência, encontrar um país altamente competitivo no mercado internacional ou ainda estaremos restritos ao fornecimento de commodities, como sempre fizemos? As primeiras reflexões levaram a outro questionamento: podemos, sim, pensar em nós mesmos como instituição para dali a dez anos. Mas o que poderíamos fazer para colaborar também com um futuro melhor para todos aqueles que estão à nossa volta? Afinal, o primeiro compromisso do Sebrae com a sociedade é deixá-la sempre melhor. Foi então que surgiu a ideia de procurar, dentre os inúmeros países que estão fazendo os seus deveres de casa bem, alguns que nos servissem de espelho. Não seriam apenas estudos baseados em material já publicado em revistas e jornais de negócios e em informações disponíveis na internet. Todo mundo sabe como a Coreia do Sul, a China e a Noruega trabalham e disputam mercado. A ideia inicial foi ver in loco, sob o olhar aguçado do próprio Sebrae PR, por técnicos que conhecem como ninguém o dia a dia dos empresários de micro e pequenas empresas e os meandros da nossa legislação comercial. Só assim, poderíamos comparar e tirar a melhor lição de cada país a ser observado e aplicar esse aprendizado aqui mesmo no Brasil. Por que começar da estaca zero, se podemos encurtar caminhos e aprender com a experiência de outras pessoas e instituições? Buscamos assim retirar dessa experiência a essência de cada instituição visitada: universidades, agências de fomento, parques tecnológicos, bancos e incubadoras e apresentá-las aos nossos clientes, políticos, autoridades e parceiros sob as mais diversas formas: publicações, palestras, seminários e um livro – este livro. Em um mundo dito globalizado, interligado por comunicações instantâneas que aproximam países e povos antes tão distantes e diferentes, buscar essas informações, vivenciá-las de perto e reparti-las não seria tarefa fácil. O primeiro objetivo foi definir o que queríamos saber. Depois, em que lugar realmente encontraríamos essas informações, uma vez que a mídia corporativa fala delas todos os dias, mas, muitas 23 ESTRATÉGIA PARA CRESCER vezes, de forma dispersa, desorganizada e até como lenda urbana. A pergunta lançada como desafio foi: “Será que o povo, as leis, a competência, a qualidade das indústrias e a velocidade desses países em fabricar, vender, estruturar e entregar os produtos que vendem são tão competentes como parecem ser? Na realidade, carecia ver de perto, e em grupos diferentes, para se ter visões distintas e compreender o que o mundo está fazendo de inusitado e o que ele pode nos ensinar. A equipe entusiasmou-se com a ideia de mapear as práticas, conversar com especialistas, buscar e aprender os processos inovadores que fizeram com que o ambiente de negócios para pequenas empresas se tornasse mais favorável nesses países. Foi dado um passo à frente com a ideia – surgiu o Projeto Missões Sebrae PR. E O PRIMEIRO DESAFIO FOI DESCOBRIR COMO SE FAZ UM BENCHMARKING DE PAÍSES; E O PRÓPRIO RANKING DO BANCO MUNDIAL DEU AS COORDENADAS – COM UMA DIVISÃO GEOGRÁFICA QUE FIZESSE SENTIDO. Aprovada a ideia de buscar informações em países que estavam fazendo a diferença no mundo, nossos olhos dirigiram-se ao relatório Doing Business do Banco Mundial – “Os melhores lugares do mundo para se fazer negócios”. Não queríamos olhar para nações já há muito desenvolvidas e estabilizadas, como Alemanha, França e Estados Unidos. Nossos espelhos seriam as regiões recém-expostas à mídia mundial como agressivas, competitivas, modernas e que estão bem-inseridas no novo mundo globalizado. Por exemplo, sabíamos pouco sobre o Leste Asiático, não conhecíamos quase nada da sua história, cultura e as trajetórias que o levaram ao topo do ranking do Banco Mundial. Ver, tocar, conversar, olhar de perto e debater o que poderíamos observar, de forma organizada e sistemática, em grupo, nos próprios locais de observação, nos dariam lições valiosas, práticas e rápidas sobre esses países. Assim seria mais fácil e produtivo a sua disseminação e aplicação aqui no Brasil. Ajudou-nos na jornada a criação de um manual que contivesse todo o processo de benchmarking, fornecendo-nos informações sobre roteiros, lugares, instituições, modo de vida e de se fazer negócios, dados econômicos, culturais e históricos locais. Ganhamos em economia de tempo e praticidade de viagem. Para alguns de nós, certos países eram desconhecidos, pois só tínhamos vagas referências. As pesquisas 24 APRESENTAÇÃO prévias e as informações disponíveis nesse manual nos prepararam para um olhar mais acurado e nos ajudaram na elaboração de perguntas mais pertinentes a nossa meta de trabalho. Também ficou acertado que cada um de nós, em cada uma das três missões, ficasse de estudar a fundo um determinado país. Depois, deveria repartir com o restante o que aprendera. Assim, partiríamos melhor preparados. Montar o planejamento da viagem nos ajudou e nos guiou por todo o caminho. Nosso objetivo era importar os processos e os instrumentos que esses povos usam para incentivar o progresso dos seus empreendedores. Saber o que fazem para justificar tanto sucesso comercial. Sabíamos que lidaríamos com culturas diversas de povos milenares que pensam de forma diferente de nós e, apesar da sua proximidade geográfica, até entre eles. DEPOIS DE UM EXTENUANTE DIA DE VISITAS – MAIS REUNIÕES Ao final de cada dia, nos hotéis, nos reuníamos para trocar impressões e repartir o que cada um havia visto de interessante, que pudesse ser útil aos empreendedores do nosso país. A disciplina imposta era férrea. Mesmo cansados, ouvíamos uns aos outros, falando sobre o que foi percebido. Após as explanações, trocávamos percepções e anotávamos numa espécie de diário de viagem. Esses encontros diários nos ajudavam a organizar as informações ainda frescas sobre o que havíamos visto durante o dia. Em viagens a vários lugares ao mesmo tempo, o nosso cérebro processa muitos dados, e a tendência final é misturar tudo e esquecer assuntos importantes. Além disso, esse sistema nos ajudou a comparar, da melhor forma, tudo o que cada um havia visto. Ao mesmo tempo, um resumo da conversa ia para um blog que, alimentado passo a passo, servia de canal de informação para todos aqueles que quisessem dispor das notícias. Uma curiosidade: o blog1 nasceu no aeroporto de partida, na espera em Cumbica. 1 http://pelaasia.blogspot.com.br/ http://escandinaviaerussia.blogspot.com.br/ http://missaolesteasiatico.blogspot.in/ 25 Missão Sudeste Asiático OPINIÃO DOS PARTICIPANTES: Allan Marcelo de Campos Costa, Fabio Hideki Ono, Heverson Feliciano, Rainer Junges e Renata Borges Todescato Coreia do Sul, Tailândia, Malásia e Cingapura ESTRATÉGIA PARA CRESCER Em todos os países que visitamos, encontramos uma dística, um pensamento único, expressado por todos: políticos, empresários, líderes dos diferentes setores e pelo mais humilde cidadão. Ouvíamos esse mantra ser repetido por atendentes nos hotéis e pelos taxistas que nos levavam para alguma reunião ao saberem quais os nossos interesses em seus países. O credo das populações visitadas reza: Temos que investir e trabalhar unidos a fim de tornar o nosso país um lugar super competitivo para se fazer negócios – o adjetivo é necessário, porque é isso mesmo. Vamos facilitar ao máximo a execução dos trabalhos dos nossos parceiros – empresários e empreendedores – locais e internacionais. Estamos sempre investindo em logística, tornando nosso sistema de transporte – estradas, terminais, portos e aeroportos – mais eficiente e econômico para quem o usa. Lutamos constantemente contra a burocracia, retirando leis que não servem para nada. Acreditamos que estamos no caminho certo, pois os resultados estão aparecendo a olhos vistos. Coreia do Sul Sonhos compartilhados “Priorizamos a educação, porque ela nos ajuda a realizar nosso maior objetivo como nação: ser competitivos.” Depoimento de um taxista. Há três décadas, o pensamento dos coreanos foi claro: “Para que possamos ser um país exportador de alta tecnologia agregada em produtos manufaturados de alto valor, teremos que investir maciçamente em educação.” Portanto, quando se fala que 28 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO a Coreia do Sul investe muito em educação é porque esta é a base dos seus planos de negócios: a necessidade de preparar, a médio e longo prazos, bons técnicos, cientistas, pesquisadores, homens de negócio e mão de obra qualificada para as atividades de produção, comércio e exportação. A equação coreana é simples – médias empresas, altamente competitivas, atreladas a grandes conglomerados para lhes dar suporte e torná-los agressivos no mercado internacional. Essas empresas são hoje as grandes alavancadoras do processo de inovação da Coreia do Sul. É um pouco diferente do modelo brasileiro, temos bons sistemas de apoio às nossas micro e pequenas empresas, facilitamos o crédito aos grandes conglomerados e quase nos esquecemos de apoiar as médias empresas, justamente as que precisam de atenção nos seus períodos de crescimento. Usando uma metáfora: somos bons pediatras e sabemos tratar os adultos, mas não exercemos nada de puericultura. Fica uma reflexão: por que não ampliamos os programas de apoio às médias empresas brasileiras? O sistema coreano, de privilegiar médias e grandes empresas, faz com que o sonho de todo jovem local seja o de se trabalhar nelas. Quase ninguém sonha em ser empreendedor ou pequeno empresário. Há um respeito muito grande pela hierarquia no país e uma espécie de resignação sobre o lugar de cada um na cadeia produtiva, pois o país foi criado para isso. O papel do governo coreano não é induzir ou ensinar o empreendedorismo individual, mas sim tirar os obstáculos do caminho para quem queira crescer e tornarse competitivo no mercado mundial. Em termos de qualidade de vida, os coreanos estão muito bem no sentido material, com acesso a bens de consumo, estrutura de cidades e apoio à educação e à saúde. Por outro lado, há um estresse constante, motivado pela ameaça do vizinho do norte, sempre em posição beligerante. Essa tensão faz parte do cotidiano local e é comum ver aviões de caça sul-coreanos patrulhando o espaço aéreo do país de forma permanente – a cada hora poderá cair uma bomba em suas cabeças. Viver sob a ameaça de uma “espada de Dâmocles” não é nada confortável. Outro fator de estresse é o medo de perder as condições econômicas conquistadas, uma vez que o coreano é muito consumista. Somam-se a isso as exigências do trabalho árduo, competitivo, 29 ESTRATÉGIA PARA CRESCER a concorrência brutal entre si e o sistema escolar com muitas horas de estudo – oito horas por dia são obrigatórias – e pouco tempo de lazer para jovens e crianças. É fácil e difícil viver na Coreia do Sul – nada é perfeito. Enxergamos a Coreia do Sul como um “sonho de consumo”, um Brasil para daqui duas décadas. Se o nosso país fizer o que tem de ser feito: facilitar a vida dos seus empresários, retirar o excesso de leis, promover uma reforma fiscal, simplificar o recolhimento dos impostos e privilegiar a educação de qualidade, com o potencial que temos, seremos muito mais do que a Coreia é hoje. COMPETITIVIDADE EMPRESARIAL EM SINTONIA COM A POLÍTICA DE ESTADO O Korea Eximbank é o banco de exportação e importação local. Atualmente, desenvolve um programa chamado Hidden Champions, que se dedica a fazer com que em dez anos um grupo de 100 médias empresas cresça e consiga 8,1% de participação nas exportações do país e, com isso, responder por 80% dos empregos da população jovem e acrescentar 2 bilhões de dólares ao PIB coreano. O Eximbank teve um papel fundamental nos planos da Coreia do Sul, pois, durante 11 anos, focou no financiamento para a melhoria da infraestrutura; nos 12 anos seguintes, no fomento à globalização da economia e das exportações. E atualmente, últimos 12 anos, na busca do desenvolvimento e na sofisticação das soluções financeiras a serem colocadas à disposição das empresas locais. A opção pela competitividade empresarial está sempre em sintonia com a política de Estado. É uma função estratégica, visto que o país é pobre em recursos naturais e tem de lutar para agregar valor às suas exportações. Qualquer escolha, para apoio a alguma empresa, deve seguir nessa direção, no desenvolvimento tecnológico e ter potencial para crescimento agressivo. Em 2011, a instituição atendeu 26.148 pequenas empresas em processo de expansão e consolidação, mais 16.944 em projetos de inovação tecnológica. O financiamento para pequenas e médias empresas na Coreia, em 2011, contou com recursos na ordem de 70 bilhões de dólares, oriundos do governo, e 443 bilhões de dólares, de bancos privados. 30 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO Percebemos que o conceito de pequena empresa para os coreanos é relativo. As grandes empresas são entendidas como os grandes conglomerados – Samsung ou LG – abaixo desses estão as empresas que têm potencial de faturamento entre 500 milhões e 1 bilhão de dólares/ano. Ou seja, bem distantes da realidade das pequenas empresas brasileiras. Mas ainda assim, alguns aprendizados destacam-se e o mais relevante, a nosso ver, são as iniciativas com foco claramente definido. Uma das estratégias mais utilizadas é financiar compradores dos produtos coreanos. Caso um grande comprador estrangeiro tenha a intenção de adquirir grandes volumes de uma empresa local, o banco financia a compra e paga à empresa coreana com o próprio dinheiro coreano. Em resumo, faz com que o recurso retorne ao próprio país. Esse banco teve papel preponderante durante a crise asiática de 1997 dando suporte aos bancos privados e às empresas locais, para que pudessem resistir à instabilidade econômica. O orçamento dessa instituição é de 1,9 bilhão de dólares, para as atividades operacionais, e de mais 6 bilhões, para fundos de financiamento. As empresas candidatam-se aos recursos e somente as que têm melhores condições de prosperar são aceitas. É uma espécie de seleção natural – “Coreia do Sul – onde os fracos não têm vez”. Nos últimos anos, o Eximbank tem aumentado seu foco em pequenas empresas, a fim de reduzir a dependência dos grandes conglomerados coreanos. Tivemos a oportunidade de assistir a uma conferência promovida pelo SBC – Small Business Corporation , com a participação dos países da APEC – Asia-Pacific Economic Cooperation, que tratou de temas relacionados às pequenas empresas e startups. As instituições que oferecem estrutura de suporte às pequenas e médias empresas na Coreia têm responsabilidade concreta no cumprimento das metas e estas estão relacionadas à participação daquelas no PIB do país, nas exportações e na geração de empregos. Ou seja, os resultados não se medem pelo número de empresas atendidas, mas sim por aquilo que foi gerado com o trabalho realizado. Se comparados com o Brasil, os indicadores de resultado são completamente diferentes. A visão é de longo prazo, nada é imediatista. Visitamos o SMBA – Small and Business Association, a instituição mais importante de toda a estrutura de apoio às pequenas empresas. Concentra sete grandes entidades 31 ESTRATÉGIA PARA CRESCER sob seu guarda-chuva, tem orçamento de 1,9 bilhão de dólares para operações, mais 6 bilhões de dólares para fundos de financiamento. Cada instituição tem bem-definido o seu trabalho e não há sobreposição de tarefas, cada uma sabe o que a outra faz e cuida bem da sua parte. SBC – Small and Medium Business Corporation Treinamento para CEO e gestão dos fundos para apoio às pequenas empresas. TIPA – Korean Technology and Information Promotion Agency for SMEs Desenvolvimento e informação. SBDC – Small Business Distribution Center Distribuição de produtos para pequenas e médias empresas. KISED – Korean Institute of Startups and Entrepreneurship Development Startups. KVIC – Korean Venture Investment Corp Venture Capital. SEDA – Small Enterprise Development Agency Microempresas. KOSBI – Korean Small Business Institute Pesquisa e formulação das políticas. Os critérios para classificar pequenas empresas: Área industrial Com menos de 300 empregados Capital inferior a 6,8 milhões de dólares Áreas da mineração, construção e transporte Com menos de 300 empregados Capital inferior a 2,5 milhões de dólares Área do varejo Com menos de 200 empregados Faturamento inferior a 20 milhões de dólares/ano Para os coreanos, microempresas possuem menos de dez empregados. Para essas, existem programas de educação a distância, via e-learning e um canal de tevê voltado à educação da sua força de trabalho. Também dispõem de programas de reformulação de lojas, ampliação e melhoria no atendimento. Para suprir a carência de mão de obra 32 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO técnica, as escolas de formação tecnológica tentam atrair os estudantes, tirando-os das escolas de formação genérica. Existe um desencontro entre as vagas disponíveis em pequenas empresas e o número de jovens à procura de emprego nos grandes conglomerados. Atualmente, a Coreia do Sul interpreta de forma muito clara a percepção de que é preciso diversificar a economia para reduzir a dependência dos grandes conglomerados que, por causa da sofisticação dos processos industriais, estão empregando cada vez menos. Por isso, buscam apoiar mais os pequenos negócios. Fazem isso da maneira coreana, nada de ações massificadas com milhares de pequenas ações pontuais de efetividade questionável. Mas com programas de médio e longo prazos, com responsabilidade conjunta pelo desenvolvimento das empresas que apoiam e estas, com muita competitividade, visando sempre ao mercado internacional. DA POBREZA À RIQUEZA ENTRE AS NAÇÕES EM POUCAS DÉCADAS Após a Segunda Guerra Mundial e a guerra entre as Coreias, a Coreia do Sul era um dos países mais pobres da Ásia e do mundo. Seus dirigentes, ao analisar a realidade do país, concluíram que não tinham muitas alternativas – o país é pequeno e sem recursos naturais. Portanto, a única saída seria importar insumos, recursos e matéria-prima e processá-los, agregando valor por meio de alta tecnologia. As expertises deveriam ser aprendidas em outras nações e incorporadas às suas indústrias. Em outras palavras, era preciso transformar a Coreia do Sul em um país exportador. O resultado, todos conhecemos. Vimos uma beira de rio, onde, há 20 anos, não havia absolutamente nada, ser hoje a região mais próspera de Seul – o seu centro financeiro. Na Coreia do Sul, tudo se constrói com rapidez, porque não há burocracia nem entraves legais para atrapalhar a vida de quem quer crescer e desenvolver-se. 33 ESTRATÉGIA PARA CRESCER A ACADEMIA SÓ TRABALHA EM FUNÇÃO DAS NECESSIDADES INDUSTRIAIS – TUDO PARA CUMPRIR AS METAS DO PAÍS O Center Seoul Technopolis – Seoul Tech faz a integração das necessidades das indústrias com o meio acadêmico. A universidade existe para servir as necessidades industriais. Currículos são alterados, para suprir as necessidades das empresas e prioridades de desenvolvimento do país; laboratórios são usados para ajudar no desenvolvimento de novos produtos e dar apoio a projetos competitivos. As incubadoras são voltadas à instalação de empresas com potencial inovador, que trabalham de braços dados com os pesquisadores. Professores e cientistas trabalham com entusiasmo, atendendo essas necessidades, pois assim, atendem ao país. UMA NOVA CIDADE NASCE EM UM ESTUÁRIO Num braço de mar, que alagava com a maré cheia, os coreanos estão construindo, desde 2003, uma cidade modelo para abrigar 600 mil habitantes – a Incheon Free Economic Zone. É um projeto de 20 anos, com término previsto para 2023. Como os coreanos impõem metas concretas para tudo, a Incheon Free Economic Zone, que, atualmente, ocupa a 221ª posição no ranking do Banco Mundial entre as cidades, quer ser a 10ª colocada em 2023. A construção dessa cidade está calcada em alguns conceitos-chave: zz compacta – tudo deve estar à mão, num raio de cinco quilômetros ou a cinco minutos de carro; zz autossuficiente – não depender de Seul para nada; zz inteligente – conceito just plug in; zz verde – 32% da sua área deve ser ocupada por áreas verdes; zz limpa – as indústrias deverão ser limpas. Além de uma fortíssima política de incentivos fiscais e para investimentos diretos, foi realizado um trabalho de atração de universidades de ponta. A agressividade é tanta que escolas internacionais de primeiro time podem candidatar-se a receber incentivos de até 1 milhão de dólares por ano, durante cinco anos. 34 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO Já passados nove anos, a cidade abriga o prédio mais alto da Coreia do Sul e uma ponte com 21,3 quilômetros, que liga seu aeroporto ao de Seul, considerado um dos aeroportos mais eficientes do mundo. Além disso, está em construção um porto gigantesco. A cidade é toda monitorada por câmeras, o que dá segurança quase total aos seus habitantes. Todos têm acesso à educação de primeira linha, transporte fácil e barato, atividades culturais e de lazer e, é claro, facilidades para realizar negócios, serviços financeiros e sistema de saúde. Como exemplo, podemos citar que o John Hopkins é o candidato a administrar o hospital local, pelo visto um estado da arte em instalação hospitalar. Tailândia E o caminho do meio Na Tailândia, a impressão é de que se trabalha para a economia da suficiência – não existe entre seu povo aquilo que chamamos de ganância desmedida. Os tailandeses, por serem budistas, seguem o princípio de consumir apenas o que é suficiente. Esse modo de viver é até ensinado em sua escola de negócios, sob o título de Sufficiency Economy Philosophy. Essa doutrina é propalada pelo rei e usada como base dos outros cursos lecionados na escola. Ela enfatiza o caminho do meio, como um princípio de conduta apropriado, que deve ser predominante em todos os níveis da sociedade. Acreditam que, por seguirem essa diretriz, o país tenha superado bem a crise que abalou a Ásia em 1997. Porém, quando questionamos sobre detalhes da aplicação dessa norma de conduta e seus benefícios, algumas pessoas nos deram a entender, nas entrelinhas, 35 ESTRATÉGIA PARA CRESCER que já não é bem assim, que o espírito competitivo e os hábitos do consumo ocidentais estão batendo à porta dos tailandeses. A indústria mais desenvolvida na Tailândia é a do turismo, seguida de uma forte agricultura. O país não tem indústrias inovadoras, o que há são empresas estrangeiras que lá se instalam por causa dos baixos custos de mão de obra. Elas se posicionam, como eixo central no relacionamento, com os vizinhos – notadamente os mais pobres – como Myanmar, Filipinas, Laos, Camboja e Vietnã. Por enquanto, a mão de obra tailandesa é barata e muitos trabalhadores são contratados para montar peças das indústrias coreana e japonesa. O custo de um operário tailandês é de 10 dólares ao dia, mas em Myanmar, país vizinho, é de apenas 2,5 dólares, porém a instabilidade jurídica e a interferência dos militares dificultam a execução de negócios neste país. Nos últimos tempos, tanto a Tailândia quanto a Malásia não têm mais pessoas para inserir no mercado de trabalho. Em função disso, está sendo montada a AFTA – Asean Free Trade Area, que deverá entrar em operação em 2015 e cujo objetivo é zerar as tarifas e liberar o tráfego de profissionais qualificados entre dez países asiáticos. Essa nova estrutura promete movimentar o comércio mundial, aumentando a competitividade e atraindo mais investimentos para os países do bloco. Vimos que, em termos de infraestrutura, os tailandeses estão bem avançados, apesar do seu aspecto terceiro mundista, muito semelhante ao Brasil. Há um grande e novo aeroporto, estradas largas com várias faixas de rolagem e asfalto perfeito – quase todas cobram pedágio. Em termos de desenvolvimento econômico, os tailandeses consideram a Coreia do Sul como um exemplo a ser seguido. Na Tailândia, as políticas públicas de apoio às pequenas empresas são assistencialistas. Ao comparar os dois países, perguntamos: devemos nos espelhar na Coreia do Sul ou na Tailândia? Se continuarmos da forma que atuamos hoje, estaremos muito próximos da Tailândia. Se quisermos mudar completamente, e nos aproximar de um país competitivo, devemos nos espelhar na Coreia do Sul. 36 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO Malásia O país mais próximo da nossa maneira de ser A grande surpresa nessa viagem foi a Malásia, parecia que estávamos em casa. O malaio tem um comportamento quase latino, muito parecido com o do brasileiro. Gosta de bater um bom papo, antes das reuniões, enturma-se com facilidade com gente desconhecida e fala de amenidades. Em resumo: são extremamente informais e agradáveis. O curioso é que, mesmo tendo momentos de informalidade antes das reuniões, quando os trabalhos são abertos tudo fica na mais rígida formalidade e as apresentações ocorrem como se a gente nunca tivesse se visto ou conversado. Com respeito ao apoio às empresas, costumam dizer que gostam de apostar em cavalo que ganha páreo. Na época, estavam apoiando aproximadamente 400 empresas de tamanho médio para grande – com 100 milhões de dólares de faturamento ano. Como em outros países visitados, o apoio vai até a abertura de capital na Bolsa de Valores. É quando dão a missão de apoio como finda. Sabem em quem apostar, porque o pensamento geral é cumprir a estratégia de ser um país competitivo. A expressão usada para esse tipo de apoio financeiro e técnico é hand-holding, literalmente, pegar pela mão uma empresa, ajudá-la em seu processo evolutivo, caminhando sempre juntos. Em suma, assumir também a responsabilidade pelo seu sucesso no mercado. Visitamos o SME Bank, o banco malaio para apoio aos pequenos negócios. Esse banco começou o seu trabalho em 1974 e, de início, teve forte inclinação assistencialista, ajudando pequenas empresas independentemente do seu setor de atividade ou condição de competitividade. Com o tempo, o papel transformou-se e agora está mais focado em apoiar empresas realmente competitivas com forte potencial exportador. Também aprenderam que os bancos de desenvolvimento devem ser divididos por funções: comércio, agricultura e pequenas empresas. Cada um mantém o foco na sua atividade principal, agem com extrema precisão e evitam a sobreposição de trabalho. Todos ganham com isso. 37 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Bancos em todo o mundo são criados para oferecer resultados financeiros, isto é, dar lucro. Na Malásia, essa também é a meta, porém não a sua prioridade. O principal papel desse tipo de banco é ajudar a desenvolver a economia, apoiando o crescimento das pequenas empresas. Se uma delas não tem condições de pagar pelo que emprestou, a primeira preocupação do banco não é recuperar os recursos, mas sim, recuperar a empresa, dando-lhe todo tipo de apoio. Procuram saber por que o financiamento não pode ser pago, para, aí sim, pensar na questão financeira. O crédito fornecido pelo banco está sempre acoplado à consultoria e à capacitação na aplicação do recurso empregado. Talvez, isso ajude a explicar a baixa taxa de insucesso das empresas atendidas pelo banco. Embora as estatísticas não sejam precisas, estima-se que apenas 10% das empresas assistidas acabem morrendo no médio prazo. As incubadoras estão ligadas aos grandes bancos que as criaram e oferecem mecanismos de incentivo, injetando capital nas empresas mais promissoras, além de acompanhar o seu desenvolvimento. Por serem muçulmanos, não aceitam a usura, ou seja, não se pode cobrar juros sobre empréstimos, mas os bancos, com certeza, encontram uma forma de se ressarcir desses investimentos. O SME Bank mantém uma espécie de incubadora, a Entrepreneur Premise Bank, com estrutura própria de condomínios, para alojar pequenas empresas que ficam entre cinco e nove anos pagando aluguel amigável e aplicando o recurso fornecido pelo banco na forma de empréstimos. As empresas incubadas contam com assessoria permanente do banco e também da SME Corp. Malaysia, uma agência dedicada à formulação de políticas e estratégias globais, que concentra, desde outubro de 2009, serviços de informação e consultorias para o segmento. Algumas incubadoras desse tipo possuem espaço para abrigar mais de 400 empresas simultaneamente e espalhadas em vários pontos do país. Na Malásia, a competitividade não se mede pelo nível de inovação decorrente de automação ou coisa do gênero. Visitamos uma dessas instalações e conversamos com um empresário que compra kits de aviões de lazer dos Estados Unidos, monta-os e vende toda sua produção para a Austrália. Outra empresária produz biscoitos e cookies de forma absolutamente artesanal para os padrões convencionais. Todo o processo de embalagem é feito de forma manual. Apesar disso, a empresária que possui certificação 38 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO Halal – necessária para vender alimentos para mercados muçulmanos – exporta 70% da sua produção para a China e já foi vítima de pirataria por uma empresa chinesa. Visitamos também o MPC – Malaysia Productivity Center, que é similar à nossa Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), cuja finalidade é impulsionar a competitividade das empresas malaias por meio da melhoria de processos. O foco dessa instituição também evoluiu ao longo dos últimos anos. Anos 1960 Treinamento em gestão e serviços de aconselhamento Anos 1990 Pesquisas e desenvolvimento de sistemas produtivos 1995 – 2000 Produtividade e aumento de eficiência Início ano 2000 Benchmark e melhores práticas 2005 – 2010 Competitividade e inovação 2010 – 2015 Alto impacto, produtividade e drivers de inovação A Malásia é formada por várias etnias que, no seu dia a dia, não se misturam, porém, quando se encontram no ambiente corporativo, convivem de forma harmoniosa. O que os une é o foco em prol de um objetivo comum – construir um país desenvolvido. Ouvimos de um malaio: Temos que ser um país competitivo no mercado internacional e o esforço de todos é necessário. Trabalhar juntos, não nos importando se fulano é desta ou daquela etnia, está ajudando a criar uma nova identidade e um novo país. Em alguns países, as mulheres ainda são segregadas por motivos religiosos. Na Malásia, elas têm a maior força. Muitos dos altos cargos nas empresas, inclusive os de CEO, são de responsabilidade delas. Ao contrário da Coreia do Sul, onde os jovens são formados para trabalhar em grandes empresas, a Malásia os prepara para serem empreendedores. É grande o 39 ESTRATÉGIA PARA CRESCER número de startups e a concorrência entre eles é violenta. Para ilustrar o quanto gostam de competições, chegaram a contratar o Japão e a Coreia do Sul para construir duas torres idênticas – as Petronas – uma ao lado da outra – havia uma premiação para quem entregasse o trabalho primeiro – a Coreia do Sul foi a vencedora. Com um orçamento bastante modesto, se comparado ao das instituições brasileiras similares, a Matrade – Malaysia External Trade Development Corporation executa ações concretas para ajudar as empresas locais a venderem seus produtos no mercado externo. Como sempre, destaca-se o foco na atividade principal. Não há desvio de caminho. A Matrade mantém um showroom permanente com mais de 400 empresas, cada uma pagando uma taxa de 400 dólares anuais para manter seus produtos em exposição. Até agora, os países visitados nos mostram que, no Brasil, possuímos uma rede de suporte aos pequenos negócios de primeira linha. Não vimos nenhuma instituição com a abrangência e o formato do Sebrae. Observamos também que nossos produtos não são ruins para disputar o mercado internacional, se comparados aos que eles produzem, mas temos um sério pecado: o de querer reinventar a roda o tempo inteiro. Parece que o nosso povo tem uma obsessão por grandes números, pela complexidade e pela tendência de achar que tudo está obsoleto e que temos que “fazer algo novo” sempre. Isso nos tira o foco e dispersa os esforços. Essa eterna busca do brasileiro, por novos produtos e soluções, torna difícil fazer comparativos históricos para poder investir mais tempo e recursos na evolução das empresas que atendemos. Buscamos uma sofisticação da qual não precisamos. Está aí um bom assunto para refletir. 40 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO Cingapura A número 1 no ranking do Banco Mundial UM PAÍS-EMPRESA – UMA CIDADE-ESTADO Cingapura leva tão a sério a sua vocação para negócios que seu povo chama o seu presidente de CEO. E, como todo presidente de “empresa”, tem metas claras a cumprir. Administram o país, que é um pouco maior do que a cidade de Campinas/SP, como se fosse uma grande empresa. Seu crescimento geográfico está no limite, só pode crescer construindo aterros no mar. Nos últimos dez anos, aumentaram de 650 km² para 710 km². Focados assim, transformaram o seu porto e aeroporto entre os mais eficientes do mundo e conseguiram chegar ao topo do ranking Doing Business – publicado anualmente pelo Banco Mundial como o melhor país do mundo em facilidades para se fazer negócios. Quando lembramos, à época da missão, que o Brasil estava no 121º e pulamos para o 128º neste ranking pudemos então perceber o quanto ainda temos para escalar. Tamanhos à parte, pois não dá para compará-los com o nosso país, o que temos de aprender com eles é manter-nos no foco dos negócios estratégicos e não deixar a política governamental relegar, a segundo plano, ações de melhoria mercantis e econômicas. SE NÃO FORMOS RICOS, SUMIREMOS DO MAPA Cingapura tem uma das cinco maiores rendas per capita do mundo, porém há 40 anos, ao se separar da Malásia, de onde foram praticamente expulsos, era um país paupérrimo, sem recursos e com o PIB inferior aos países mais miseráveis do planeta. Contando apenas com uma localização geográfica privilegiada, o desafio, na época, 41 ESTRATÉGIA PARA CRESCER era gerar emprego para uma população de miseráveis. O foco então foi transformar o país em uma economia criativa e inovadora, com altos índices de produtividade e um polo de atração de talentos e empresas. Deu tão certo que hoje exibe menos de 3% de desemprego. A Spring Singapore – Standards, Productivity and Innovation for Growth foi criada para fomentar o desenvolvimento econômico do país e é também responsável pelas pequenas e médias empresas. Ela diferencia-se do modelo de outras congêneres, porque, além de ajudar nos programas de gestão e apoio, também estabelece os padrões e certificações das pequenas empresas, a fim de assegurar que as empresas tenham níveis de competitividade internacional. Os cingapurianos ficaram impressionados com o nosso propósito, o do Sebrae PR, em atender milhares de micro e pequenas empresas. Ao serem informados de como trabalhamos, disseram que nós fazemos um trabalho social, que, enquanto eles apoiam o crescimento, parece que apoiamos a subsistência. Para eles, pequenas empresas são lojinhas e chegaram a nos dizer que “a padaria da esquina vai sobreviver ou não, independente do apoio de alguém”. Colocam o modelo empresarial acima da política partidária. O importante é fazer negócios e o que vai mudar o seu país são as grandes empresas. As pequenas empresas estão sempre aliadas às estratégias das maiores. A ASME – Association of Small and Medium Enterprises é uma espécie de braço da Spring, que financia em grande parte as suas operações, para trabalhar só com microempresas. Enquanto a Spring concentra-se em empresas competitivas, inovadoras e de potencial exportador, a ASME cuida dos microempresários. Em Cingapura, pelas instituições que conhecemos, está presente na cabeça de todos, e de forma bastante forte, a ideia do “mito fundador”. Todas as instituições explicaram seus papéis com base na história do desenvolvimento econômico, desde a sua independência em 1965. A evolução do país percorreu o seguinte caminho: 42 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO De 1967 a 1978 Foco em exportação. De 1979 a 1985 Reestruturação da indústria. De 1986 a 1997 Capacitação das empresas e diversificação econômica. De 1998 até hoje Transformação de Cingapura em uma economia do conhecimento. No caso de outra instituição visitada, a Economic Development Board (EDB), essa história fica mais ou menos assim: Anos 1960 Desenvolvimento de economia intensiva em mão de obra. Anos 1970 Intensiva em habilidades do trabalhador. Anos 1980 Intensiva em capital. Anos 1990 Intensiva em tecnologia e serviço. Anos 2000 Intensiva em inovação e talento. Essas mudanças de foco, em cada uma das agências, estão sempre conectadas ao momento econômico e ao plano de desenvolvimento do país. A National University of Singapore produz pesquisas de altíssimo nível, para dar total apoio às indústrias. Os pesquisadores têm recursos disponíveis à vontade, desde que expliquem como pensam que os produtos da sua pesquisa serão comercializados. Enviam estudantes para programas de intercâmbio, de seis meses a um ano aos Estados Unidos, principalmente ao Vale do Silício, não só para estudar suas matérias acadêmicas, mas para ficar imersos em alguma empresa startup, sob a mentoria de empreendedores experientes. A velha máxima “me ajuda, que eu faço sozinho” vale perfeitamente aqui. Visitamos uma empresa tocada por três jovens que produzem software para interpretação semântica, cujo mercado principal é os Estados Unidos. Dois deles já haviam participado de estágios no Vale do Silício. 43 ESTRATÉGIA PARA CRESCER INFRAESTRUTURA E NOVAS IDEIAS, ALIADAS DO DESENVOLVIMENTO Ser expulso da Malásia, mas ficar com a melhor localização geográfica que um porto pode oferecer – a melhor rota de passagem entre o Ocidente e o Extremo Oriente – ajudou muito o desenvolvimento local. O Porto de Cingapura é o segundo maior do mundo em movimentação de contêineres e dez vezes maior do que o nosso Porto de Santos. Não se vê um único estivador, toda a movimentação de contêineres é feita de forma centralizada e automatizada. Há dez anos, implantou um conceito, na época inexistente em outros portos, de “single window”, onde qualquer contêiner é liberado em minutos a partir de um único local. Quando vemos o quanto se arrastam os nossos pobres portos em greves, ameaças, problemas crônicos de infraestrutura, leis ambientais e intervenções políticas e sindicais de toda ordem, vemos o quanto estamos longe da eficiência exigida pela nova ordem global. Cingapura tem menos de 6 milhões de habitantes e todos falam inglês com fluência, aprendem na escola como primeira língua, o que facilita, em muito, suas investidas no mercado internacional. Vimos uma estudante local, em uma incubadora, trabalhando com outros jovens – uma sueca, um australiano e um finlandês – para desenvolverem, juntos, uma luva com um dispositivo que permite o touch dos novos aparelhos celulares e telas de smartphones para uso em lugares de muito frio. O usuário não precisa mais tirar a luva para acessar seus aparelhos. É um belo exemplo de uma empresa em um país tropical desenvolvendo um produto para ser usado em regiões geladas. Isso é globalização, pois a luva jamais será usada em Cingapura. LEIS, NORMAS E REGULAMENTOS, SE NÃO SERVEM PARA NADA, TIRA-SE DO CAMINHO Ao se determinar por “ser o melhor lugar do mundo para se fazer negócios”, decidiuse também limpar todos os entraves burocráticos. Foi feita nos últimos cinco anos uma limpeza geral sob a ordem: “Se não serve para nada, tira-se do caminho.” Mais de duas mil leis, normas e regulamentos foram extirpados. A busca pela simplicidade nas relações comerciais é total. Tornar o país competitivo é uma questão de sobrevivência, ele não tem fontes de energia, nem água potável em quantidade suficiente para abastecer a população. Uma curiosidade: ter um carro em Cingapura não é fácil, pois não basta comprá-lo, tem de ir a um leilão de placas que chegam a custar 75 mil dólares. 44 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO O número de veículos é controlado pelo governo e, a cada dez anos, o proprietário tem de revalidar a placa – no total, o país possui aproximadamente 600 mil veículos. Essa dificuldade de locomoção fez o transporte público supereficiente, tudo funciona. Por exemplo, o tempo de uma mala sair de um avião que pousa e ir até a esteira é de no máximo 12 minutos para a primeira e até 25 para a última. CORRUPÇÃO QUASE ZERO Em Cingapura, o combate à corrupção é levado a sério. Existe uma agência anticorrupção ligada diretamente ao presidente. É, talvez, o país que mais respeita as leis de direitos autorais e a propriedade intelectual. Andar com mercadoria falsificada ou pirata dá cadeia. A transparência é total e, ao contrário de muitos países, não se rasgam contratos. Tudo pela competitividade nos negócios, mas de forma transparente. AGÊNCIAS DE FOMENTO, BANCOS E INCUBADORAS – CADA UMA FAZ A SUA PARTE zz A Spring Singapore – Standards, Productivity and Innovation for Growth concentra-se nas pequenas empresas competitivas, inovadoras e de potencial exportador. zz A EDB Singapore – Economic Development Board cuida de levar empresas para fora de Cingapura. zz A ASME – Association of Small and Medium Enterprises é um braço da Spring, que se responsabiliza pelos microempresários, desde a sua formação técnica até a atração de talentos para essa causa. zz A IE Singapore tem papel fundamental na economia externa de Cingapura e promove a exportação de bens e serviços. Também cuida de atrair comerciantes de commodities globais para estabelecer sua base global, ou asiática, no país. Para tanto, montou um ecossistema completo para os setores da energia, agro commodities, metais, minerais e aglomerados comerciais. zz A National University of Singapore produz pesquisas de altíssimo nível, para dar total apoio aos interesses industriais e comerciais do país. 45 ESTRATÉGIA PARA CRESCER NINGUÉM FAZ UMA REVOLUÇÃO SOZINHO Nos países que visitamos, ficou claro que as mudanças não foram realizadas pelo estímulo de um grande líder ou instituição – o sonho é coletivo. Escutávamos, de todos, o mesmo discurso. Dividiam o mesmo “mito fundador”. Cada um realizava seu papel na sociedade. OFERECER AS FERRAMENTAS E NÃO IMPOR AS SOLUÇÕES Essa observação nos fez lembrar o livro de James Collins e Jerry Porras, “Feitas para durar”, no qual discorrem que o crucial para o sucesso de empresas visionárias está em: “As empresas visionárias tornaram-se líderes de mercado, porque seus líderes preocupam-se com o futuro das empresas e a visão delas, não com eles mesmos”. A POBREZA FÍSICA É DECORRENTE DA POBREZA MENTAL A cultura do empreendedorismo não é privilégio de poucos centros de excelência, nos países que visitamos. Percebe-se o espírito de grandeza presente em todos os níveis da sociedade. Em contraponto ao que acontece aqui, criamos também bons centros de excelência, porém levantamos barreiras e fechamos os olhos para o que ocorre ao nosso redor. Temos algumas das melhores escolas do mundo, porém a maior parte do ensino é de país subdesenvolvido. Temos hospitais que são referência mundial, e a nossa saúde pública padece. Não somos contra centros de excelência, porém o que percebemos é que só se muda uma realidade quando o acesso a serviços e padrões de excelência for do alcance de todos. AH! ESSA TAL DE ZONA DE CONFORTO Cingapura não tem água e pouquíssimos recursos naturais. A Coreia do Sul, por não ter também recursos naturais, concluiu que a sua única opção para sair da pobreza seria importá-los, agregar valor a eles e exportá-los. Em algumas décadas, saiu da extrema pobreza para ter um PIB superior ao nosso. 46 MISSÃO SUDESTE ASIÁTICO LIBERDADE ECONÔMICA – A CRIAÇÃO DE FACILIDADES PARA SE FAZER NEGÓCIOS Todos os governos são pró-business e têm seu desempenho medido por indicadores de facilidade de negócios – doing business. As ações governamentais são guiadas a remover empecilhos e a facilitar o curso da economia e não interferir no seu processo. Em Cingapura, a sociedade expõe ao governo as suas dificuldades e esse governo não pode sustentar a manutenção de uma lei ou regra que atrapalha a realização de negócios deve retirá-la imediatamente. Quanta diferença com o nosso regime cartorial, burocrático, fiscalizador e controlador, em que, para se abrir uma empresa ou movimentar uma carga em um porto, passam-se dias e até meses. INVESTIMENTOS PESADOS EM INFRAESTRUTURA “To make money you have to spend money” – em todos os países visitados predomina essa consciência básica: para se fazer dinheiro, é necessário investir. A nossa visão de curto prazo acredita que remendar asfalto, tapar buracos, “dar uma maquiada”, e contar isso na televisão, é investimento em infraestrutura. COMO LIDAMOS COM A CORRUPÇÃO A agência anticorrupção de Cingapura tem força total de ação. Um taxista nos relatou o caso de um político que fora flagrado envolvido em corrupção e este teve que deixar o país, pois não havia mais possibilidade de convivência. Todas as portas se fecharam para ele. A GENTE JÁ FAZ MUITA COISA E, EM CERTOS ASPECTOS, MELHOR QUE ELES Nossos produtos não são ruins ou desatualizados, se comparados aos que eles utilizam. Idem sobre os processos que usamos para dar apoio às empresas. Na Malásia, utiliza-se como ferramenta para medir competitividade das micro e pequenas empresas uma metodologia muito próxima da que já utilizávamos há muitos anos, que é o diagnóstico de competitividade – que mais tarde inspirou a criação do sistema de diagnóstico do Varejo Mais, do Sistema Fecomércio e Sebrae PR. 47 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Os instrumentos de capacitação e consultoria não são muito diferentes dos que utilizamos aqui, o que muda é a estratégia de aplicação, o foco, comprometimento com resultado e persistência – constância. “SE VOCÊ CONSTRUIR, ELES VIRÃO.” No filme “Campo dos Sonhos”, o personagem, interpretado pelo ator Kevin Costner, tem uma visão e constrói um campo de beisebol no meio de um milharal e atrai, de forma “espiritual”, os melhores jogadores de todos os tempos. Nesse filme, uma “voz” sempre lhe dizia... “if you build it, they will come” – “se você construir, eles virão.” Essa metáfora aplica-se muito bem ao que descobrimos nessa missão: é preciso, antes de tudo, ter uma visão, depois acreditar que é possível, planejar e executar. Se criarmos as oportunidades e as condições para a atração de negócios, eles virão. Não há limites para o empreendedorismo e para a transformação de uma sociedade e de um país. A TESE DA MALDIÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS Na década de 1990, desenvolveu-se uma tese nos meios acadêmicos de economia sobre a “maldição dos recursos naturais”. Essa tese estava amparada em evidências empíricas de que países com uma abundância em recursos naturais (sobretudo petróleo) tenderiam a crescer de forma mais lenta que países com recursos mais escassos. Coreia e Cingapura suportam essa evidência. O ESTADO PRÓ-BUSINESS Todos os governos desses países estão voltados à facilitação dos negócios e a não criar regras, leis e normativas para atrapalhá-los. E não são, necessariamente, liberais. Chegam a ser fortes e até intervencionistas. Negócios modernos e agressivos fazem parte da estratégia de desenvolvimento desses países. Câmbio de 2011 – 1 real = 0,51161 dólar 48 Missão RússiaEscandinávia OPINIÃO DOS PARTICIPANTES: Agnaldo Gerson Castanharo, José Gava Neto, José Ricardo Castelo Campos, Julio Cezar Agostini, Luiz Carlos da Silva e Orestes Hotz . Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia e Rússia ESTRATÉGIA PARA CRESCER Trabalhar de forma sistemática, com objetivos de longo prazo, pensando de forma global, abertos para o mundo, e muito focados nas resoluções dos seus problemas, são alguns dos aprendizados que o grupo trouxe desse trabalho de observação em terras escandinavas. “Não existe tempo ruim, existe roupa inadequada.” Essa frase reflete bem o comportamento e as atitudes do povo escandinavo frente aos problemas que enfrentam no seu dia a dia. Submetidos à inclemência de um clima na maior parte do ano gelado, chuvoso e com temperaturas abaixo de zero, eles não se entregam às lamentações. Nada de dar desculpas para não fazer o que tem que ser feito: “Não fui, porque estava chovendo”, “Não fiz, porque era feriado”, “Não fui, por causa do trânsito”, “Não faço o curso, porque estou muito velho, porque sou moço, porque sou mulher, porque, porque, porque…”. Ao contrário dos nossos compatriotas que dão desculpas para não fazer o que precisam fazer, os escandinavos focam na solução dos seus problemas e tentam resolvê-los da melhor forma possível. Choradeiras, lamentações, ficar esperando por soluções milagrosas, ou por promessas de políticos e governantes, não fazem parte do seu repertório. Foco na solução dos problemas, sim. Dinamarca O melhor país em quase tudo A Dinamarca possui o mais alto nível de igualdade de riqueza do mundo e o melhor clima para se fazer negócios, segundo a Revista Forbes. Com base em normas de saúde, assistência social e educação, foi classificada como “o lugar mais feliz do planeta”, entre 2006 e 2008. É considerado o segundo país mais pacífico do mundo 52 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA e o menos corrupto de todos. Sua capital, Copenhagen, é altamente especializada em indústrias criativas e inovadoras. O país ocupa o primeiro lugar no mundo em tecnologia verde, assunto que leva muito a sério – na Dinamarca, o discurso ecológico não é só da boca para fora, pratica-se a sustentabilidade mesmo. Recicla-se 90% do lixo e o que não pode ser reaproveitado vira aterro. Existe, por toda parte, uma preocupação muito forte entre a relação sustentabilidade/qualidade de vida. O que fez, ao longo do tempo, principalmente o setor da construção civil, tomar iniciativas práticas, inovadoras e eficientes no uso das energias naturais renováveis. Conjuntos de escritórios e habitacionais são construídos dentro de normas que devam atender aos mínimos detalhes da sustentabilidade. Uma construção em forma de oito permite que todos os apartamentos recebam boa claridade, farta exposição ao sol e ampla visibilidade ao mesmo tempo. É tudo tão bem calculado que até o acesso para os moradores que usam bicicleta foi facilitado. Os benefícios da “face sul” para eles – “norte” para nós brasileiros – nesse tipo de arquitetura vêm de todos os lados. O meio de transporte mais utilizado pelos dinamarqueses é a velha, boa e não poluente bicicleta, veículo que faz parte do cenário local, ocupando, em alguns lugares, estacionamentos maiores do que os dedicados aos automóveis. Ela é usada como meio de transporte por todas as pessoas, de todas as idades e classes sociais – inclusive pelo alto escalão do governo. O veículo colocado à disposição das autoridades não é um automóvel de luxo, mas uma “magrela”. Assim, não há custos com motoristas, licenciamentos, manutenção, seguros, dentre outros. O bom cuidado com os bens públicos é cultural. O EMPREENDEDORISMO PRECISA SER ENSINADO DE NOVO A situação da população dinamarquesa sempre foi tão confortável nas últimas décadas que ninguém mais se lembrava de como era ser um empreendedor. A Copenhagen Business School – CBS é uma escola financiada pelo Estado, que procura criar sinergia entre seus professores – capacitados para o ensino e a difusão do empreendedorismo – e os jovens. Para cumprir sua meta, usa programas 53 ESTRATÉGIA PARA CRESCER específicos, ações de treinamento e a difusão de histórias de sucesso. O foco principal é atuar com as startups locais, dispondo de uma incubadora. Atualmente, a CBS abriga uma carteira de 50 novas empresas. A CLARA DEFINIÇÃO DOS PAPÉIS FACILITA NEGÓCIOS A DISTÂNCIA Apresentaram-nos uma empresa incubada que atua no mercado brasileiro, a ChefClub, cujo modelo de negócio é oferecer aos seus associados a possibilidade de se alimentar em uma rede de restaurantes credenciados. Ela cobra uma taxa anual de manutenção, disponibiliza ofertas e promoções em compras coletivas e trabalha duro na fidelização dos seus associados. Os restaurantes, por sua vez, ganham em volume de clientes que irão também consumir bebidas, as quais não estão na taxa de desconto oferecida. Os estabelecimentos parceiros podem usar o banco de dados dos consumidores e os seus perfis detalhados, o que permite a elaboração de campanhas específicas para público-alvo segmentado. O desafio de gerenciar um negócio de tão longe, com sócios oriundos de diferentes culturas e experiências, é vencido pela clara definição dos papeis de cada um. A Væksthus, cujo significado é “casa de crescimento e casa verde”, é também financiada pelo governo. Existe há cinco anos e seu foco são as empresas com grande potencial e ambição para crescimento. Para isso, tem um comportamento proativo na busca de novos clientes. Uma equipe de consultores experientes dá apoio aos empreendedores, para o melhor desenvolvimento das suas ideias e negócios, além de disponibilizar aos boas e modernas ferramentas de gestão. Cada empresário tem no mínimo 25 e no máximo 100 horas de atendimento e todos os serviços são gratuitos. Além do diagnóstico inicial, uma eficiente ferramenta de planejamento permite à empresa incubada ter sua visão e missão desdobradas em ações ao longo do tempo – curto e longo prazos. O EMPREENDEDORISMO NA SALA DE AULA A Foundation for Entrepreneurship and Young Enterprise é uma fundação que trabalha exclusivamente no desenvolvimento da cultura empreendedora junto ao 54 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA sistema de ensino dinamarquês, do pré-escolar ao superior, uma verdadeira cadeia de valor do ensino. Os professores da Copenhagen Business School – CBS já haviam nos relatado as dificuldades de se mudar a mentalidade do jovem dinamarquês sobre o assunto. Décadas de boas leis sociais, perspectivas de trabalho em grandes corporações e em estatais embotaram o espírito empreendedor. O que sobra de gente querendo empreender no Brasil falta na Dinamarca. A carência de espírito empreendedor entre os jovens dinamarqueses começou a ser percebida com a crise de 2008. Hoje, são incentivados, por meio de bolsas, a sair da casa dos pais e a se incorporarem ao mercado de trabalho, tanto como empregados quanto como empreendedores. Na linha oposta das leis brasileiras, em que o trabalho do menor é cerceado por normas e regulamentos, os escandinavos incentivam seus adolescentes a ir cedo para o trabalho, a fim de aprender uma profissão, seus valores e os sentidos da economia e da poupança. As expectativas e o trabalho dessa Fundação são convergentes com o que o Sebrae PR planeja e almeja para 2022. ESTRATÉGIA FOCADA NA COMPETITIVIDADE Entidade governamental encarregada de coordenar as ações relacionadas ao desenvolvimento da inovação, a Dasti – Danish Agency for Science Technology and Innovation é quem define as linhas de pesquisas e as financia, por meio das incubadoras, todas de alta base tecnológica e voltadas, atualmente, para os temas saúde e meio ambiente. Dispõe de 320 milhões de euros/ano equivalentes a 415 milhões de dólares/ano para serem investidos de forma estratégica na elevação da competitividade das empresas dinamarquesas. É praticamente um misto de BNDES, CNPq e Finep. SE A IDEIA É BOA, VAMOS ARRISCAR A Vækstfonde é uma instituição pública que atua onde e quando o mercado financeiro tem dúvidas. Investe em fundos de capital de risco por meio da garantia de crédito e empréstimo. Quando há possibilidade, torna-se parceira da iniciativa 55 ESTRATÉGIA PARA CRESCER privada. O público-alvo é segmentado em empresas locais, regionais e internacionais, sendo que, para cada um desses tomadores de crédito, há produtos bem definidos. Além de trabalhar com empresas já sedimentadas, apresenta linhas específicas para as iniciantes. Em parceria com os bancos locais, empresta até 230 mil dólares, garantindo 75% do valor. Desde 2005, realizou aproximadamente 1,2 mil operações. Seus dirigentes dizem que correm o risco mesmo em se tratando de dinheiro público, porque se a ideia for boa, e o empreendimento der certo, o lucro volta na forma de benefícios para a sociedade: mais empregos, realização pessoal dos empreendedores, recolhimento de impostos, dentre outros. Calcula-se que para cada processo de garantia de crédito são criados cinco novos empregos. O modelo de ação dessa instituição é muito parecido com o nosso BNDES. Suécia A grande lição: desenvolvimento de forma cooperada e estratégica Visão compartilhada, políticas e estratégias bem definidas alavancam o desenvolvimento da Suécia. São claros os papéis de cada um no processo: governo, instituições, agências regionais de negócios e desenvolvimento, empresários e universidades. Todos agem de forma integrada e com foco nos objetivos traçados para o país. Isso facilita o trabalho, não há sobreposição de atividades e cada um sabe o que tem que fazer e o faz bem. Pesquisas acadêmicas são focadas na resolução de problemas práticos e globais, tudo o que incomoda o ser humano interessa a um pesquisador sueco. Nas 56 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA universidades, são raros os trabalhos de interesse individual ou segmentado, a visão tem que ser global. Por inventar e abrigar a realização do Prêmio Nobel, do qual a Suécia já foi contemplada com sete distinções, a população respira a atmosfera do Prêmio e tudo o que o cerca, isto é, o povo sueco está sempre no centro do que se produz de inovador e de bom no mundo. É uma espécie de DNA da excelência das realizações humanas. Essa visão globalizada e natural já vem de tempos, pois a Suécia foi um dos grandes atores do mercantilismo. “A cada Prêmio Nobel, a excelência do que melhor se está fazendo no mundo vem até nós.” – frase de um taxista sueco. GOTEMBURGO – A AMEAÇA ASIÁTICA FEZ NASCER UM NOVO POLO INDUSTRIAL Nos anos 1960 e 1970, a cidade comportava grandes estaleiros, fruto de uma expertise histórica acumulada por séculos de tradição na arte da construção naval. A ameaça econômica veio na forma do aumento da competitividade global, principalmente dos países asiáticos. Com o tempo, a cidade viu suas plataformas industriais navais sucateadas e a maior parte das indústrias deixar o local. No ano 2000, foi criado o Business Region Gotemburg, com a finalidade de pensar o futuro, atrair investimentos, criar novas empresas e apoiar as já existentes. Em consequência, gerar novos empregos. É uma instituição sem fins lucrativos, que segue o modelo da parceria público-privada. Conta com 80 colaboradores e já, há muito, deixou de atender somente Gotemburgo, para dar assistência a mais 13 municípios que desenvolvem clusters com interesses comuns e específicos. Três parques tecnológicos desenvolvem pesquisa aplicada nas áreas biomédicas, automotiva, meio ambiente, transporte inteligente e ciências da vida. Isso faz com que população de Gotemburgo, que é de aproximadamente 500 mil habitantes, movimente 70 mil estudantes/ano. A entidade atua dentro de três estratégias: zz apoio aos empreendedores com boas ideias, mas sem condições financeiras para colocá-las em prática. Nesse caso, entra com assessoria comercial e financiamento; 57 ESTRATÉGIA PARA CRESCER zz faz o mesmo, auxiliando empresas existentes e com potencial de crescimento; zz dá apoio às empresas em crise. O índice de efetividade para esse tipo de ação chega a 67%. UM EXEMPLO DE COOPERAÇÃO QUE DÁ CERTO Sahlgrenska Science Park é um complexo e gigantesco parque que cuida da ciência da vida, concentrando-se nos ramos farmacêutico, alimentos funcionais, biomedicina, diagnósticos, serviços/logística/comunicação e tecnologia médica. Recebe apoio técnico, logístico e intelectual de um grande hospital, uma incubadora e duas universidades, cujo arranjo territorial é realizado de uma forma inteligente e prática: de um lado o hospital, do outro as universidades e no meio a incubadora. Sua sustentação provém da cooperação entre a Universidade de Gotemburgo, o Instituto Superior Tecnológico, o Business Region Gotembourg e a Província – o equivalente ao nosso conceito de Estado. Atualmente, mantém 50 projetos de startups incubados e outros 40 em fase de averiguação, isto é, na fila para entrar na incubadora. Entre 2007 e 2008, 26 novas empresas de biomedicina lançaram-se no mercado. Os aprendizados desta visita são: encontre seu foco e permaneça nele, e é preciso uma aproximação íntima entre a prática acadêmica e o setor privado. Esse tipo de associação salutar, entre o mundo acadêmico e o empresarial, é encontrado em quase todos os países que visitamos. SUÉCIA, CATALISADORA DE INVESTIMENTOS A Invest Sweden é uma instituição oficial do governo, que facilita os investimentos estrangeiros no país. E eles são muito bons nisso, pois 67% das empresas estrangeiras que investem nos países nórdicos estão na Suécia, o que demonstra efetivamente a abertura da economia local a investimentos externos. A estratégia é abrangente, sobretudo em relação às empresas em fase inicial. Além de receber investimentos, nascem fortalecidas, pensam de forma global e com conhecimento e network internacional. 58 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA A Suécia procura atrair, desenvolver e reter empresas diversificadas e inovadoras onde quer que elas estejam. Elas são fortalecidas pelos diversos tipos de apoio e cooperação e com isso criam um grande diferencial competitivo. Ações que fazem com que a economia sueca tenha aproximadamente 50% do seu PIB oriundo da exportação de produtos com alto valor agregado. Abrir uma empresa na Suécia é fácil. Em uma semana, já está totalmente legalizada, mesmo que seja de porte internacional, e são necessários 10 mil euros, cerca de 13 mil dólares de capital inicial. Atualmente, o governo sueco canaliza esforços para atrair investimentos de seis países considerados como potenciais, dentre os quais o Brasil, onde mantém um escritório de negócios em São Paulo, que é a segunda cidade do mundo com o maior número de trabalhadores em empresas suecas. ESTÍMULO À INOVAÇÃO A Vinnova é uma agência de governo fundada em 2000, que conta com 200 colaboradores, na sua maioria PhD, além de um orçamento anual de 200 milhões de euros ou 260 milhões de dólares. Sua função é investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação nas empresas suecas, principalmente nas áreas da saúde, transporte, serviços e manufaturados. APOIO A ÁREAS SELECIONADAS E ESTRATÉGICAS PARA A ECONOMIA SUECA A Tillvaxt Verket também é uma agência de governo com foco no apoio ao empreendedorismo e desenvolvimento regional. Procura acelerar o crescimento das empresas com alto potencial e que atendam as estratégias econômicas do país. A instituição atua preferencialmente com empresas que tenham capacidade contínua de inovação e atualização, de acordo com as tendências mundiais e, é claro, que gerem empregos. A Tillvaxt Verket trabalha com fundos estruturais, que possibilitam operações subsidiadas e empréstimos financeiros para o desenvolvimento de negócios e dá apoio de capital. Seu orçamento é de aproximadamente 3,7 bilhões de coroas ou 479 milhões de dólares. Tem um quadro de 350 colaboradores e está presente nas nove regiões da Suécia. Faz o seu trabalho em completa sinergia com outras instituições. 59 ESTRATÉGIA PARA CRESCER NA HORA DO CAFEZINHO, A CRIATIVIDADE APARECE O povo sueco toma café o tempo inteiro e sempre junto aos amigos, colegas de trabalho e vizinhos. Esta socialização é proposital e favorece a troca de ideias e as inovações. Nas empresas, em intervalos definidos, existe o momento do “fico”, uma parada de cinco minutos, a cada duas horas de trabalho, para tomar um café e conversar. É uma forma de incentivar o ambiente criativo, pois são nesses momentos de descontração que as boas ideias florescem. Em todas as instituições visitadas, vimos ambientes preparados e estruturados como forma de incentivar essa prática. A Suécia é o segundo maior consumidor de café do mundo e um dos mais criativos e inovadores também. “É na hora do cafezinho, e na carona para casa, que a verdadeira comunicação se processa na minha empresa”, nos disse um empresário. A LICENÇA-MATERNIDADE PODE CHEGAR A 16 MESES A licença maternidade das mulheres suecas pode ser de até 16 meses, caso os maridos concedam os meses a que também têm direito às suas esposas. O salário médio é de 25 mil coroas – equivalentes a 3.500 dólares/mês. O inverno vai do final de outubro a maio do ano seguinte – nesse período, temse apenas quatro ou cinco horas diárias de claridade e, em certos dias chuvosos, a escuridão perdura o dia todo. O comércio abre por volta das 10 horas e fecha às 17 horas, com um intervalo para almoço de 30 minutos. São 10 milhões de habitantes, sendo 2 milhões em Estocolmo, uma cidade formada por 14 ilhas interligadas por pontes e túneis. Estocolmo tem dois parlamentos: o primeiro vinculado ao poder local, em que não existe a figura do prefeito, ficando a administração a cargo de oito vereadores que cuidam, entre outras atribuições, da saúde, do transporte público e da segurança. O poder decisório é realizado por 101 vereadores, que definem as políticas que atenderão às necessidades da sociedade. O segundo parlamento é o federal, que estabelece leis nacionais. 60 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA Noruega Mais de 140 empresas norueguesas já se instalaram no Brasil para aproveitar as oportunidades do pré-sal Aqui se vê o modelo social dos países escandinavos aplicado em sua totalidade: saúde universal, ensino superior subsidiado e abrangência na previdência social. Os noruegueses vivem no melhor país do mundo em desenvolvimento humano – classificação em todos os relatórios da Organização das Nações Unidas – ONU, desde 2001. Em 2009, foi considerado o melhor país do mundo para se viver e, em 2007, como o lugar mais pacífico. A partir da década de 1970, com a descoberta de grandes jazidas de petróleo no Mar do Norte e no Mar da Noruega, aconteceu o desenvolvimento natural da indústria petrolífera, em consequência, a moeda fortaleceu, permitindo pesados investimentos em políticas de bem-estar social. O país possui recursos naturais na forma de gás, hidroeletricidade, pesca, serviços florestais e riquezas minerais. Além de uma atividade marítima mercante bastante robusta – a sexta maior frota do mundo. Possui indústrias pesadas nas áreas de processamento de alimentos, metais, produtos químicos, mineração, pesca e produção de papel. A estratégia do país é bastante definida e intensiva quanto à inovação constante dos seus produtos e serviços e à busca pela internacionalização das suas empresas. DO NASCIMENTO DA EMPRESA AO MERCADO Criada em 2003 para o desenvolvimento e inovação das empresas norueguesas, a Innovation Norway conta com 700 colaboradores e está presente nas 17 províncias – estados. Dispõe de representações em 30 países, na maioria das vezes junto às embaixadas/consulados. No Brasil, mantém um braço no Rio de Janeiro, onde dá apoio a cerca de 140 empresas norueguesas, principalmente as do setor petrolífero e de gás. 61 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Forma aliança estratégica com a Petrobras, por meio do desenvolvimento conjunto e fornecimento de tecnologias para a exploração de petróleo em águas profundas. Prioridades: zz energia; zz saúde; zz agricultura; zz navegação e atividades marinhas; zz petróleo; zz turismo. Sua atuação vai desde as fases iniciais do empreendimento – classificação das ideias – ao desenvolvimento e preparação da empresa para o mercado. Oferece, como apoio, 25 serviços relacionados a negócios internacionais: consultoria, estudos de mercado, identificação de parcerias estratégicas, ajuda na elaboração de contratos internacionais e entendimento de regulamentos aduaneiros, mentoring, posicionamento estratégico, marketing e design, entre outros. Os serviços são subsidiados e vão de 0 a 50%, dependendo da maturidade do projeto. O objetivo é muito claro: agregar valor aos produtos e serviços dos seus clientes, tornando-os competitivos, inovadores e com pensamento globalizado. A entidade atende em média 10.000 empresas/ano. Dispõe de orçamento anual de 40 bilhões de coroas ou 7,12 bilhões de dólares, considerando os financiamentos alavancados pelas empresas e indústrias atendidas. Resumindo, é praticamente uma empresa privada que presta serviços de consultoria ao governo norueguês para facilitar a vida das empresas instaladas no Brasil. A Innovation Norway transformou a Noruega, que por muito tempo era conhecida apenas como fornecedora de matéria-prima, em um dos países mais inovadores do mundo, reconhecido por ter um dos melhores ambientes para negócios. 62 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA A BUSCA PELA EXCELÊNCIA – O MODELO VEIO DE FORA A Universidade de Oslo desenvolveu o seu centro de empreendedorismo baseado na estada de um dos seus professores – 1997/1998 – na Universidade de Stanford, na Califórnia. No ano seguinte, lançou um programa para que estudantes noruegueses passassem a fazer estágios em universidades de excelência em empreendedorismo. Os exemplos vieram de Berkeley, Boston, Houston e da NUS de Cingapura. A colaboração de diversas universidades norueguesas proporciona ao país manter em média 140 estudantes por ano, estudando empreendedorismo fora da Noruega. As áreas são escolhidas, de acordo com os setores prioritários da Innovation. Os critérios de escolha para estes estágios são: notas, currículo escolar e, principalmente, a motivação pessoal do candidato. Trezentos e cinquenta estudantes disputam a cada ano as 140 vagas disponíveis. O Siva é um organismo de desenvolvimento industrial, criado pelo governo norueguês em 1968, para contribuir para o crescimento e o desenvolvimento industrial em áreas mais distantes da capital. Objetiva promover ambientes inovadores e sustentáveis. A história, aqui, também começou quando as plataformas da indústria naval começaram a ser desativadas, frente à predatória concorrência internacional – eles de novo, os asiáticos. A economia norueguesa ficou em situação complicada, pois a indústria naval era um dos setores mais fortes do país. A partir de então, os esforços foram direcionados para a criação de ambientes inovadores – parques científicos e desenvolvimento de clusters – 23 unidades atualmente. O Siva participa de forma direta, contribuindo com até 80% nas propriedades que são os bens imóveis onde se localizam os parques e com participação direta (entre 22% e 33%) nas empresas estabelecidas. O Siva cria e faz a gestão dos chamados Jardins Empresariais, presentes em 55 cidades e desenvolvidos a partir do final da década de 1990. Essa geografia empresarial é voltada para o apoio às pequenas empresas. Na época, percebeuse que as cidades menores, onde não havia universidades, necessitavam de uma estrutura que incentivasse, permitisse e proporcionasse o empreendedorismo e o desenvolvimento dos negócios locais. Essa estrutura física – um mundo geográfico, 63 ESTRATÉGIA PARA CRESCER em um espaço único, criado especialmente para atrair e incentivar negócios – criou parques altamente estruturados, capazes de reunir todos os atores importantes do empreendedorismo. Esse arranjo proporciona o espírito da cooperação, as ações de network e de relacionamentos comerciais, motiva e, principalmente, inspira confiança nos participantes. Após 45 anos da sua fundação, a estatal conta com 45 colaboradores diretos e tem orçamento anual de três bilhões de coroas – aproximadamente 518 milhões de dólares. UM CLUSTER DE COMPETÊNCIAS NO SÉCULO DA COMPLEXIDADE A uma hora de distância de Oslo, está a cidade de Kongsberg e, na região, o NCE Systems Engineering Kongsberg, um cluster de empresas inovadoras e de alta tecnologia, com foco em energia e indústria espacial, aeronáutica, automotiva, marítima e de submarinos. A história de Kongsberg começou há 400 anos – época em que a Noruega era dominada pela Dinamarca. Na ocasião, dois garotos descobriram, sem querer, pepitas de prata no topo de uma montanha. Por ordem real, iniciou-se a exploração do mineral, que seguiu até os meados de 1840 quando o veio esgotou-se. A nova circunstância fez com que os moradores buscassem outras atividades e passassem a produzir armamentos, expertise que durou até o final da Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, iniciou-se a produção de sistemas computacionais, para o controle de mísseis e, nos anos 1970, percebeu-se que poderia levar as experiências da área de defesa para outras atividades econômicas. Foram iniciados, assim, os estudos para aplicação nas áreas marítima, automotiva e da energia. Hoje, Kongsberg é uma cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, detém o melhor cluster da Noruega e um dos melhores do mundo em inovação e desenvolvimento para novas tecnologias. O parque tecnológico e científico NCE reúne 7 mil colaboradores e congrega pessoas de 40 países diferentes. As pessoas que trabalham no local sentem orgulho em afirmar que fazem parte de um cluster de “inteligência” e não de indústria. Os noruegueses podem transferir os direitos de produção das suas invenções, porém fazem questão de administrar bem os seus direitos de propriedade intelectual – suas patentes. Para 64 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA se ter uma ideia da sua importância, esse pessoal desenvolve 70% da automação das atividades marítimas em todo o mundo e detém 45% do mercado mundial de submarinos. Equipamentos para coleta de dados sobre o clima em todo o planeta também são desenvolvidos por eles. Além disso, o NCE detém vários recordes de atuação em águas profundas, sobretudo no Brasil, onde mantém parceria com a Petrobras. Também são grandes fornecedores de armamento de alta tecnologia para os Estados Unidos. O paradoxo é que, sendo a Noruega um dos maiores produtores mundiais de armamentos, é lá que se faz a entrega do Prêmio Nobel da Paz. Finlândia Aqui nasceram os Angry Birds Você conhece aquele jogo dos pássaros mal humorados? Pois é, os Angry Birds nasceram pelas mãos da Rovio, uma empresa finlandesa, conquistaram o mundo e até incorporaram no elenco alguns pássaros do filme Rio. NOSSO NEGÓCIO É ESTAR ABERTO PARA O MUNDO A Finlândia é um país com cinco milhões de habitantes, que mantém 65 escritórios em 45 países diferentes e conta com colaboradores e com atuação também no exterior. A maior parte da população finlandesa está concentrada no sul. É o oitavo maior país da Europa em extensão e o menos povoado. A língua materna é a finlandesa e 65 ESTRATÉGIA PARA CRESCER a segunda língua oficial, a sueca – nativa para 5,5% da população. Recente pesquisa, baseada em indicadores sociais, econômicos, políticos e militares, classificou o país como o segundo mais estável do mundo. Depois de uma grave depressão, no início dos anos 1990, os governantes fizeram, de forma sucessiva, uma completa reforma no sistema econômico: privatizações, desregulamentação e cortes de impostos. Para a Finlândia, o processo de industrialização demorou. Ela se manteve até meados de 1950 como um país essencialmente agrícola. Posteriormente, o desenvolvimento econômico foi rápido e, já no início da década de 1970, atingiu um dos melhores níveis de renda do mundo. Os finlandeses consideram que a reforma educacional foi fundamental para o aumento do Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. A reforma foi tão bem feita, que hoje o país é exemplo do que há de mais moderno e eficiente em termos de educação no mundo. Dezenas de países e instituições de ensino enviam seus pedagogos e técnicos em educação para fazer benchmarking na Finlândia. RADAR DE TENDÊNCIAS A Finpro é uma instituição público-privada, fundada em 1919, e focada unicamente na internacionalização das empresas finlandesas. É composta por 550 empresas que atuam em parceria com os setores públicos. A Finpro não oferece aos associados soluções para as questões básicas da gestão empresarial, porque considera que, para isso, já existem outras instituições. Seu foco está nos processos do planejamento estratégico, de mercado e no monitoramento sistemático de setores estruturais da economia. Mantém um serviço de previsão global chamado Foresight, uma espécie de radar que emite sinais sobre as tendências de mercado em todo o mundo para orientar o direcionamento das empresas locais. Um grupo de especialistas se reúne, duas vezes ao ano, para analisar de forma global diferentes setores que possam interessar ao país, como: ciências da vida, meio ambiente, energia, florestas, media digital, softwares, logística, máquinas, equipamentos e serviços. 66 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA A Sitra, outra instituição público-privada que vistamos, foi criada em 1967 para promover o desenvolvimento estável e balanceado, o crescimento econômico e a competitividade internacional de empresas consideradas de alto risco. Atua de forma independente na internacionalização das empresas, por meio de participações societárias que vão de 10% a 40% do capital social. GUIA DA INOVAÇÃO FINLANDESA O Ministério da Economia e Emprego do Governo Finlandês possui uma política de desenvolvimento específica e voltada para a inovação e a internacionalização das empresas finlandesas. Faz parte da estratégia de desenvolvimento do país e apoia a criação e crescimento de centros de excelência – clusters nas áreas metal mecânica, construção de smart/cities e saúde, entre outros interesses. Possui fundos na ordem de 304 milhões de dólares, para investir no sistema de inovação. A simplicidade da organização do sistema de inovação, aliada ao volume de recursos aplicados junto ao número de empresas existentes, mostra o porquê de a Finlândia ocupar a 4ª posição no Global Innovation Index, divulgado pelo Insead. O Brasil, de acordo com esse mesmo relatório, recuou dez posições no ranking, ocupamos o 58º lugar. Entre os BRICS, fomos o país que mais perdeu posições. OS DEZ PAÍSES TOP, SEGUNDO O GLOBAL INNOVATION ÍNDEX 1.Suíça 2.Suécia 3.Cingapura 4.Finlândia 5. Reino Unido 6.Holanda 7.Dinamarca 8. Hong Kong (China) 9.Irlanda 10. Estados Unidos 67 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Ainda sobre o assunto inovação, conhecemos a agência de financiamentos Tekes, criada há 25 anos, quando o governo optou por desenvolver produtos de alto valor agregado como estratégia de desenvolvimento. A opção foi correta e a terra do Mika Häkkinen – piloto de Fórmula 1 – passou de produtora de matéria-prima para um dos lugares mais inovadores do mundo em alta tecnologia. Os finlandeses orgulhamse em dizer que foram os únicos que quitaram integralmente a dívida da Segunda Guerra Mundial com a Rússia. Em 2012, a Tekes financiou 1.928 projetos, sendo parte deles via cobertura por subvenção – que vão de 35% a 50% e, no caso de empréstimos, até 70%. A instituição é uma espécie da nossa Finep, sendo que a diferença de trabalho entre nós e eles é que lá os recursos não necessitam ser transferidos por meio de editais. Os critérios de escolha de quem recebe os recursos são muito claros, ou seja, potencial de mercado, competência, plano de internacionalização, viabilidade de mercado, network , parceiros, portfólio de produtos e capacidade para crescer no mercado global. O orçamento anual da Tekes é de 741 milhões de dólares destinados a financiar projetos que resultem em produtos comercializáveis, em serviços ou novos conceitos de negócios. Não há a necessidade de garantias, podendo ser uma combinação de empréstimo e subvenção. Uma das instituições pertencentes ao sistema de inovação finlandês é o VTT (Technical Research Centre of Finland) – o maior centro de pesquisas aplicadas e serviços tecnológicos do norte da Europa. Esse centro não tem fins lucrativos e é ligado ao Ministério do Trabalho e da Economia. Por meio de uma rede nacional e internacional voltada à ciência, o VTT produz informações, atualiza o conhecimento das novas tecnologias e ajuda na inteligência dos negócios dos seus stakeholders. Está presente na Coreia, Austrália, Japão, China, Rússia e no Brasil, em São Paulo. A Federação Finlandesa das Indústrias de Base Tecnológica também tem seu foco principal em tecnologia e inovação. Fundada em 1903, conta hoje com 125 colaboradores e mantém atuação também fora do país. Compreende cinco setores estratégicos: eletrônica e eletrotécnica industrial, engenharia mecânica, metais industriais, informação e tecnologia e consultoria em engenharia. Congrega mais 68 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA de 1,6 mil associados, sendo 92% de pequenas empresas. Considera-se pequena uma empresa com até 249 colaboradores – acima disso, todas enquadram-se como grandes, pois não existem as chamadas médias empresas. É a federação mais representativa e importante do país, pois 60% das exportações são oriundas de empresas de base tecnológica. A Culminatum Innovation é uma instituição considerada independente, mesmo recebendo recursos públicos. Funciona como uma plataforma de pesquisa, serviços e inovação em prol do desenvolvimento da região metropolitana de Helsinque – três municípios. Conta com 30 parceiros e 50 PhD trabalhando em 33 projetos diferentes com foco na identificação “gaps” e no atendimento as necessidades dos clientes. Localizam os problemas e provisionam as soluções. A instituição trabalha com muita sinergia com as instituições de ensino e pesquisa, governo e empresas. Foca na revitalização de espaços e desenvolvimento de territórios ampliando principalmente as facilidades para logística e infraestrutura. Nas suas estratégias de atuação, estão a regeneração de negócios e a promoção da competitividade regional. Orienta a reforma dos serviços e dos processos dos municípios regionais e busca a promoção do desenvolvimento sustentável. Trabalha em tempo integral para diminuir a burocratização, considerando que alvarás, normas e regulamentos governamentais devem ser “amigáveis.” O PONTO DE VISTA DO CLIENTE E O APROVEITAMENTO DAS COMPETÊNCIAS E CAPACIDADES DA REGIÃO Duas linhas de atuação podem ser observadas, a primeira é o desenvolvimento de projetos sempre com a ênfase na ótica do cliente. Por exemplo, um projeto relacionado à segurança não pesquisa ações sobre como proteger as pessoas, mas como elas se sentem estando seguras. A outra linha refere-se ao aproveitamento das competências e capacidades existentes na região. Para os finlandeses, o investimento correto em educação é o que proporciona a plataforma intelectual apropriada ao desenvolvimento das novas tecnologias e da inovação. A intelectualidade local tem de ser aproveitada ao máximo. 69 ESTRATÉGIA PARA CRESCER O QUE PODEMOS APRENDER COM OS ESCANDINAVOS E PONTOS EM COMUM zz É necessária uma visão de desenvolvimento nacional comum que deve ser compartilhada com toda a sociedade, assim, cada um sabe da estratégia maior do seu país e qual o papel que lhe cabe dentro do sistema. zz Como o mercado interno desses países é restrito, com média entre 5 e 10 milhões de habitantes, o desafio é incentivar empresas competitivas capazes de disputar o mercado internacional. Todos trabalham em prol desse objetivo. zz A pauta principal da estratégia para o desenvolvimento de todos é a inovação. Para tanto, são essenciais a construção de modernos parques tecnológicos, que aparecem na forma de clusters, centros de excelência, e o apoio total às instituições de ensino e pesquisa. Também é necessário construir a sinergia entre todas as entidades que prestam serviços especializados que dão apoio ao mundo empresarial. zz Tem de haver sinergia e aproximação entre universidades, instituições de apoio à inovação e setor privado, bem como entre os mecanismos práticos que promovam essa inovação. zz É elevado o investimento em inovação e tecnologia, em todos os países, desproporcionalmente superiores aos patamares brasileiros. A Suécia e a Finlândia foram consideradas pelo Insead, respectivamente, o segundo e o quarto países mais inovadores do mundo, e a Dinamarca aparece na lista dos dez países que mais investem em inovação. Um exemplo que materializa essa desproporcionalidade é o fundo Tekes da Finlândia que, com 5 milhões de habitantes, investe por ano cerca de 790 milhões de dólares em subsídios e empréstimos ao sistema de inovação finlandês. O nosso Paraná, por sua vez, com 10,5 milhões de habitantes investe cerca de 100 milhões de dólares. zz Há monitoramento constante, em termos mundiais, sobre os setores definidos como estratégicos. São estudadas as principais tendências tecnológicas e a evolução dos mercados-chave. zz Todos promovem de forma agressiva a integração entre os projetos de desenvolvimento territoriais e o mercado internacional. Possuem escritórios 70 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA de representação e de relacionamento tanto nos seus territórios quanto no resto do mundo, principalmente nos países considerados como mercadosalvo. zz Há uma definição bastante clara sobre os papéis desempenhados pelas diferentes instituições. Existe sinergia e convergência entre elas e não há sobreposição de trabalho. Cada entidade tem o seu foco bem definido com uma única proposta de valor. zz Os modelos organizacionais e o desenho dos sistemas de inovação são de extrema simplicidade e têm por base a educação gratuita de alto nível do jardim de infância ao ensino superior. O inglês é a segunda língua falada por todos e de forma fluente. O alto nível da educação proporciona a plataforma intelectual indispensável para o desenvolvimento de novas tecnologias e inovação. zz A crise do mercado financeiro internacional, eclodida em 2008, impactou toda a região, que era muito dependente do mercado externo. A inovação, a internacionalização das empresas e a busca da competitividade foram as respostas encontradas. zz O empreendedorismo entrou na pauta governamental e educacional nos últimos cinco anos – a crise de 2008 foi o estopim. É o novo modelo escandinavo para a geração de empregos. zz As instituições de apoio às startups dão mais foco na geração de valor do que na concepção de planos de negócios. zz Todos adotam o modelo econômico social democrata que possui uma das maiores taxações de impostos do planeta. Colocam de um lado a alta competição de mercado – capitalismo, e do outro o que fornece serviços sociais do mais alto nível: educação, saúde, transporte, segurança, bem-estar social e serviços públicos de primeira linha. Todos conseguiram equilibrar uma base social mais igualitária a um alto padrão de vida. zz O modelo político parlamentarismo é comum entre esses países. zz Infraestrutura e logística da mais alta qualidade. zz Forte sentimento de patriotismo e orgulho nacional. 71 ESTRATÉGIA PARA CRESCER zz Transformaram a adversidade climática – inverno quase o ano todo e falta de claridade – em um diferencial competitivo. zz A cultura de que o foco sempre deve estar na solução e não nos problemas. zz As principais instituições de apoio à inovação e tecnologia, que recebem recursos públicos, têm presença internacional. zz Não há intervalo para coffee-break durante as reuniões – o café, água, bolo, frutas e sucos são colocados na sala e oferecidos aos visitantes antes do início dos trabalhos, para serem consumidos antes e/ou durante a reunião. zz Pontualidade para início e finalização das reuniões. Brasil não é um lugar desconhecido para eles, todos possuem presença intensiva em nosso País e, há muito tempo, algumas empresas aqui já são quase centenárias. Encontramos pessoas fluentes em nosso idioma em todas as instituições visitadas, um sinal claro de que o Brasil é atualmente um país de oportunidades. Temos de olhar em volta e ver o quanto o povo escandinavo já participa das nossas vidas e trabalha lado a lado com o nosso povo. Mas, apesar desse tempo todo, ainda não aprendemos a aproveitar a mútua convivência, quer trocando experiências ou negociando de forma mais intensiva. Rússia A busca por uma nova identidade O país sofreu mudanças significativas desde o desmembramento da União Soviética, passando de um regime de economia fechada para um mercado aberto e integrado com o mundo. Seus habitantes viveram um século de transformações radicais, tanto políticas, quanto econômicas e sociais. Passaram por duas guerras 72 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA mundiais, só na Segunda Guerra mais de 27 milhões de russos foram mortos – se considerarmos que sua população atual é de 143,5 milhões de habitantes, a perda foi enorme. A experiência comunista, que durou décadas, deixou profundas cicatrizes. A nova fase de transição ainda está sendo dolorosa para uma geração inteira que viveu sob o regime socialista. Muitos têm dificuldades para se adaptar às novas circunstâncias, pois existe um conflito existencial nessa busca de uma nova identidade. A grande potência em quase tudo, em passado recente, agora é chamada de BRICS. A herança de governantes corruptos causa revolta em idosos e jovens, mas a geração atual já está encontrando uma nova maneira de “ser russo”. A Rússia possui 17 milhões de quilômetros quadrados – país com maior área do planeta – e tem um nono da área terrestre. É também o nono país mais populoso. Estabeleceu poder e influência desde os tempos do Império Russo (1721-1917) até ser o maior e principal estado constituinte da União Soviética (1922-1991), desempenhou papel decisivo na vitória aliada na Segunda Guerra Mundial. A Federação Russa foi criada na sequência da dissolução da União Soviética em 1991. É um dos cinco estados reconhecidos com armas nucleares, tendo o maior arsenal de armas de destruição em massa do planeta. É membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e destacado membro da Comunidade dos Estados Independentes. Seu povo orgulha-se das manifestações culturais e artísticas, especialmente na música e na dança. Tem forte tradição nas ciências e na tecnologia e foi o primeiro país a realizar um voo espacial humano. É também forte nas artes plásticas e com um histórico de alta competência na educação. O potencial do país é enorme, pois possui uma das maiores reservas petrolíferas do mundo, sendo o segundo maior produtor de petróleo e gás. Por tradição, tem uma fortíssima indústria aeroespacial e de armamentos. Ancorado na sua boa história cultural, possui grandes ativos turísticos, mas pouco preparados para a recepção de turistas internacionais. A Rússia atrai mais de 5 milhões de visitantes por ano somente na cidade de Moscou e outros 5 milhões na cidade de São Petersburgo. É notória a deficiência nos serviços aos consumidores. Nos hotéis, restaurantes e museus quase não se fala o inglês. Os serviços de alimentação são morosos e, em poucos lugares, se aceita cartões de crédito. 73 ESTRATÉGIA PARA CRESCER A infraestrutura aeroportuária está sendo ampliada. Moscou, com 12 milhões de habitantes, possui cinco aeroportos, sendo três internacionais. No entanto, o de São Petersburgo, com 5 milhões de habitantes, é ainda bem acanhado, mas passa por ampliações. Ambas as cidades possuem linhas expressivas de metrô. Aliás, um orgulho nacional. Tanto que em Moscou, em cada estação, é desenvolvido um tema de design. Em função da deficiência energética, foi instalado um sistema de climatização natural que mantém a temperatura em 18ºC mesmo nas suas imensas profundidades, os trilhos chegam a se localizar algumas dezenas de metros abaixo do solo. As iniciativas de inovação e empreendedorismo não parecem ser prioridade para as políticas públicas. Fala-se em inovação, mas os instrumentos identificados são basicamente os tradicionais e, às vezes, rudimentares. Na lista dos países mais inovadores, divulgada pelo Insead, a Rússia encontra-se na 51ª colocação e o Brasil ocupa a posição 54ª. PETROGRADO, LENINGRADO E SÃO PETERSBURGO – A MESMA CIDADE Fundada no início do Século 17, quando o imperador Czar Pedro decidiu construir uma nova capital mais parecida com os padrões europeus vigentes na época, recebeu o nome de Petrogrado, cidade de Pedro. A segunda alteração foi no início de 1900, quando o líder da revolução soviética Lênin dedicou um tempo maior da sua vida ao local, que passou a se chamar Leningrado. O nome perdurou até 1991 quando, por meio de um plebiscito, a cidade mudou novamente de nome e, dessa vez, para Saint Petersburg, ou São Petersburgo, em português. Foi a cidade que segurou a invasão alemã durante a Segunda Guerra Mundial, ao custo de aproximadamente dois milhões de vidas, metade soldados, metade civis. Atualmente, é uma cidade dinâmica, estruturada e conta com aproximadamente cinco milhões de habitantes. É declarada patrimônio mundial pela Unesco. A Rússia foi escolhida para sediar a Copa do Mundo em 2018 e, dessa forma, terá a oportunidade de melhorar os aspectos relacionados ao turismo. 74 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA PROGRAMAS DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS O CEDIPT – Conselho Público de Desenvolvimento Econômico, Política Industrial e Comércio do Governo de São Petersburgo tem como principais funções aumentar o nível de emprego e renda da população local, por meio de programas de apoio às micro, pequenas e médias empresas; aumentar a competitividade e a inovação das empresas; e melhorar a qualidade de vida da população, por meio da melhoria da qualidade dos serviços. Dispõe de recursos públicos, na forma de subsídios, financiamentos e garantias, que são aplicados no apoio ao desenvolvimento de novos negócios. Conhecemos várias instituições que compõem este Conselho e que atuam de forma integrada para atender seus macro-objetivos econômicos: zz geração de emprego e renda – utilização da figura do empreendedor individual e das incubadoras de base tecnológica como instrumentos; zz melhorar a qualidade de vida da população, com foco na avaliação dos processos burocráticos e investimento em infraestrutura; zz reestruturação setorial, promovendo a inovação e internacionalização das pequenas empresas e buscando com que se tornem médias. Também tivemos a oportunidade de conhecer mais de perto o St. Petersburg Foundation for SME Development, uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1995, que presta serviços sociais, atendendo quase mil empresas individuais/ano em um universo de 340 mil pequenas e médias. Na Rússia, não existe a categoria microempresa. A empresa individual pode ter até 15 funcionários e possui impostos diferenciados. A pequena empresa pode ter até cem funcionários e faturamento anual de 12 milhões de dólares. A fundação presta serviços de consultoria em planos de negócios, acompanhamento gerencial, treinamento e seminários, serviços de informação, gerenciamento de projetos, pesquisa de mercado, network nacional e internacional. Também presta serviços a outras instituições em diversos países. O trabalho é realizado por profissionais especializados da própria entidade e segue a orientação de dois comitês estratégicos que atuam de forma complementar: o Comitê do Trabalho e Emprego e o de Desenvolvimento Econômico. 75 ESTRATÉGIA PARA CRESCER AGÊNCIA RUSSA DE SUPORTE ÀS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS Vinculada ao Ministério de Comércio Exterior, a Russian Agency – for Small and Medium Business Support foi criada em 1992 com o objetivo de dar assistência às empresas locais no mercado mundial. Trabalha em parceria com um banco estatal, que oferece financiamento e garantias às empresas exportadoras. Exerce um mix de atividades como microcrédito, apoio às startups junto às incubadoras de negócios, auxílio às exportações, inclusive financiando infraestrutura no exterior e acompanhamento à inovação nos clusters locais. Conhecemos ainda uma associação de empreendedores – 1.500 associados e 53 câmaras temáticas. Trabalha para defender o interesse dos associados na condução dos negócios, preparação e formação de empreendedores, participação em feiras e exposições, cooperação internacional e assessoria jurídica. APONTAMENTOS SOBRE A ESTADA NA RÚSSIA As entidades de representação e de serviços aos pequenos empresários encontramse ainda em estágio organizacional incipiente. Apesar da busca por aprendizados e know-how, o assunto não é prioridade nacional. Reconhecem que a burocracia oficial dificulta os negócios internacionais das suas empresas e muitos dirigentes de entidades demonstraram enorme preocupação com os elevados níveis de corrupção no país. A redução da corrupção é colocada como fundamental para a criação de um melhor ambiente de negócios. O mercado se abre aos especialistas em consultorias corporativas. Com essa ampliação, intensificam-se as demandas por serviços especializados em gestão de negócios e mercados internacionais. Os profissionais dessa área estão formando associações e intensificando a prática de network. Se os russos descobrissem o modus operandi do Sebrae, com certeza, desejariam nosso tipo de serviços por lá. No atual estágio de desenvolvimento do país, um 76 MISSÃO RÚSSIAESCANDINÁVIA sistema como o Sebrae faria uma grande diferença para o desenvolvimento das micro e pequenas empresas, para o fomento do empreendedorismo e para a criação de um ambiente de negócios mais favorável. Câmbio de 2011 – 1 real = 0,51161 dólar 77 Missão Leste Asiático OPINIÃO DOS PARTICIPANTES: Alba Silva Anastácio Soares, Cláudio Eduardo de Assis, Joailson Antonio Agostinho, Marcos Aurélio Lima e Vitor Roberto Tioqueta Índia, Hong Kong, Taiwan e China ESTRATÉGIA PARA CRESCER “Um sapo dentro de um poço olha para cima e pensa que o mundo é apenas uma roda de luz, ao subir para a superfície percebe que o mundo é muito maior do que ele pensava.” Com esse pensamento do ex-líder chinês, Mao Tsé-Tung, queremos dizer que, por mais que acreditemos saber muito, sempre há o que aprender. Esta missão do Sebrae PR foi extremamente rica em informações sobre o que alguns dos países que mais crescem economicamente no mundo estão fazendo em prol das suas micro, pequenas e médias empresas. Poder observar, conversar e entender sobre o funcionamento das instituições que apoiam essa causa nos trouxe valiosos ensinamentos, nos quais estamos repassando aos nossos clientes, instituições e parceiros. O nosso trabalho de apoio aos empresários será bem mais eficiente com o que aprendemos na viagem. “Inovar para um futuro melhor.” Ao nos apropriarmos de uma frase que guia um grande parque tecnológico chinês, podemos dizer que a missão valeu a pena, já que aprendemos ensinamentos relacionados ao empreendedorismo com o outro lado do mundo – nos lugares onde o Ocidente encontra o Oriente. Índia Amigos, amigos - negócios inclusive O grande desafio aqui é cumprir horários e agendas – as distâncias são grandes e os deslocamentos caóticos. A maneira milenar de resolver problemas começa com muita paciência. Com um dos maiores mercados internos do mundo (1,2 bilhão de habitantes), a Índia, nas últimas décadas, está se desenvolvendo de forma rápida e constante. Abrem- 80 MISSÃO LESTE ASIÁTICO se oportunidades em quase todos os setores, principalmente na produção de bens e serviços. Curiosamente, apesar do imenso mercado, o Brasil tem apenas 12 empresas na Índia, entre elas Azaléia, WEG e Marcopolo, enquanto os indianos mantêm 32 empresas sediadas no Brasil. O comércio bilateral pode ser considerado irrisório, cerca de dez bilhões de dólares/ano. Só a Índia movimenta 880 bilhões de dólares/ano e o nosso país, 550 bilhões de dólares/ano em importações. OS PROBLEMAS DO GIGANTISMO POPULACIONAL Os indianos são ávidos em buscar oportunidades para a atração de empresas estrangeiras para investir em sociedade com seus empresários locais. Procuram especialmente empresas de base tecnológica. O salário médio é de dois dólares/dia e não há segurança de trabalho, nem previdência social. Geralmente, as empresas contratam informalmente muito mais funcionários do que realmente necessitam porque nunca sabem quando cada um comparecerá ao trabalho. É comum o funcionário começar, receber o salário e sumir por vários dias até consumir o que ganhou e depois voltar a trabalhar como se nada tivesse acontecido. As ruas estão sempre cheias, não importa o dia da semana ou horário, a impressão é de que as famílias se revezam para ficar em casa, de tanta gente morando num pequeno espaço. Chama a atenção que, apesar da grande pobreza do país, a taxa de criminalidade é baixa. ENERGIA ELÉTRICA É O GRANDE PROBLEMA DE INFRAESTRUTURA A base da geração de energia é a queima de óleo ou carvão, o que acarreta altos custos ambientais. Para esse assunto ser resolvido, seria necessária uma iniciativa conjunta dos vários países vizinhos, a fim de consorciarem-se para construir hidrelétricas, o que não é nada fácil, considerando-se as questões geopolíticas regionais. É comum a instalação de geradores na frente das empresas, bem como o fato de 81 ESTRATÉGIA PARA CRESCER algumas quebrarem porque o tempo entre a sua operação e a devida disponibilização não acompanha o cronograma inicialmente previsto pelo governo. RAIO-X DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS NA ÍNDIA zz Criam por ano 1,3 milhão de novos postos de trabalho. zz Estima-se que existam 30 milhões de micro e pequenas empresas em todos os setores. zz Cerca de oito mil diferentes produtos de qualidade superior são gerados. zz São responsáveis por mais de 20% do PIB. zz Geram 45% da produção, e dessa, 40% tem destino à exportação. zz Todas têm acesso diferenciado ao crédito. Por determinação governamental, 40% dos financiamentos devem ser destinados às pequenas e médias empresas e, desse total, no mínimo 18% à agricultura. CRITÉRIOS PARA SER UMA PEQUENA E MÉDIA EMPRESA A Índia não adota a classificação por número de empregados, nem valores de faturamento para enquadrar suas empresas como micro, pequenas e médias empresas, pois são dados que causam distorções em determinados segmentos, por exemplo, o da Tecnologia da Informação – TI. Os critérios seguem as tabelas: INDÚSTRIAS Até 62 mil dólares Micro De 62 mil a 1,25 milhão de dólares Pequena De 1,25 milhão a 2,5 milhões de dólares Média 82 MISSÃO LESTE ASIÁTICO Valores referentes a investimento em instalações, máquinas e equipamentos. Serviços Até 25 mil dólares Micro De 25 mil a 500 mil dólares Pequena De 500 mil a 1,5 milhão de dólares Média Valores referentes a máquinas e equipamentos. DIFICULDADES PARA CRIAR UMA EMPRESA NA ÍNDIA 1. Infraestrutura: terrenos valorizados, custo alto de construção, custo de energia altíssimo e com pouca segurança de fornecimento de forma constante. 2. Burocracia: são caros os custos de emissão de certificados e dos processos que têm que ser encaminhados entre as próprias entidades públicas. 3. Crédito: ao contrário do que dizem os bancos, 95% dos empreendedores dizem não ter acesso fácil ao crédito. Eles preferem buscar recursos financeiros, primeiro com a família, depois com amigos ou até mesmo com associados, só depois tentam o sistema bancário formal. Os principais entraves que as micro e pequenas empresas encontram ao procurar empréstimos são: o empresário precisa dispor e comprovar pelo menos 25% de capital próprio sobre o projeto a ser financiado, é necessária uma licença de Small Scale Industry e o fornecimento de energia elétrica para o futuro investimento deve estar garantido. Devido à saturação do mercado nos ramos têxtil e de confecções, os bancos são relutantes em realizar empréstimos para esses segmentos. 4. Falta de mão de obra qualificada no chão de fábrica: é difícil encontrar funcionários para as atividades mais básicas. A Índia dispõe de mão de obra bem preparada apenas para os níveis superiores. 83 ESTRATÉGIA PARA CRESCER 5. Inadimplência: os números são preocupantes, atualmente, existem cerca de 300 mil empresas em dificuldades financeiras. Isso é péssimo tanto do ponto de vista econômico quanto social, pois na Índia um empresário inadimplente fica “congelado”, impedido de negociar seus bens, abrir uma nova sociedade e até mesmo votar. Por essa razão, empresários trabalham em conjunto com o governo para elaborar uma lei específica para tratar as questões de inadimplência e falência. As principais razões ligadas à insolvência das empresas consistem em mudança de tecnologia, transição familiar, disputas e concorrência entre empresas e até falta de energia elétrica para trabalhar. NOVA DELI, O MAIOR CENTRO COMERCIAL DO PAÍS A capital da Índia tem uma população estimada em 13 milhões de habitantes – a oitava do mundo. É o maior centro comercial do país, com o PIB girando em torno de 24,5 bilhões de dólares. O setor de serviços contribui com 71% do PIB, enquanto a indústria e a agricultura contribuem com 25% e 4%, respectivamente. Deli possui a maior atividade varejista da Índia e está em crescente expansão. Em função disso, os preços dos imóveis crescem assustadoramente. Atualmente, é considerada a sétima área de escritórios mais cara do mundo. TRANSPORTE PÚBLICO – O GRANDE ENTRAVE A densidade demográfica, uma das mais expressivas do mundo, 9.340 habitantes/ quilômetros quadrados, a presença do mais importante entroncamento ferroviário do país e a falta de planejamento deixam o trânsito caótico, em que cada um cuida de si. A população se vira em um transporte característico local, o riquixá (rickshaw), uma espécie de triciclo, a maioria tocada por GLP ou força humana nos pedais, nas versões coletiva e individual. O ônibus, por sua vez, é o transporte mais popular, seguido do metrô, que tem três linhas, 78 estações e 190 quilômetros de extensão nas suas duas primeiras fases. 84 MISSÃO LESTE ASIÁTICO Várias outras linhas estão em construção. A cidade é o mais importante entroncamento ferroviário do país, sede da Zona das Ferrovias do Norte, uma das 16 Zonas da Índia Railways. O Aeroporto Internacional Indira Gandhi, com tráfego estimado em 25 milhões de passageiros/ano, foi reconhecido como um dos melhores do mundo em 2011. A preocupação com a segurança é extrema, só entra no aeroporto quem tem bilhete ou e-ticket. Da chegada ao aeroporto até a hora do embarque, apresentamos o passaporte sete vezes. Essa preocupação com a segurança estende-se aos hotéis e aos shoppings, que possuem detector de metal, aparelhos de raio-X e revista em bolsas e mochilas de mão. Como o Brasil, o maior desafio da Índia é diminuir sua desigualdade social. É grande o número de bilionários, em maior número e mais ricos do que no Brasil. Ao mesmo tempo a sua população favelada é imensa. No entanto, abriga um mercado consumidor de 350 milhões de pessoas e esse número está em contínua expansão. Um grande potencial a ser explorado é o turismo, pois a expectativa é a de que nos próximos quatro anos 22 milhões de turistas indianos saiam pelo mundo. UMA CERIMÔNIA DE LUZES PARA O SUCESSO DA NOSSA MISSÃO Em quase todos os países e entidades fomos recebidos com muita atenção e cortesia, mas nada superou a surpresa da primeira reunião na Índia – realizar uma cerimônia de luzes para dar boas-vindas aos visitantes e desejar-lhes uma missão coroada de sucesso é da tradição hindu. Deu certo, tudo o que vimos e assimilamos nos países visitados foi de extrema valia para o trabalho no Brasil. Ao comparar nosso país com os outros, vemos o quanto temos a fazer ainda e o quanto já fizemos, e bem-feito. Em muitos aspectos estamos adiantados, em outros carecemos de vontade política e do empenho de governantes e empresários. Mumbai é a maior cidade da Índia – a região metropolitana comporta 20 milhões de habitantes. É o principal e mais desenvolvido centro financeiro e comercial, responsável por 10% da mão de obra industrial, 25% da produção industrial bruta. Arrecada, só de 85 ESTRATÉGIA PARA CRESCER impostos, 33% nas atividades financeiras e 20% do setor de serviços do país. A cidade sofre pelo seu tamanho: a oferta de moradias é insuficiente, o que torna proibitiva a aquisição e locação de imóveis. Um apartamento de três quartos custa em média 10 mil dólares/mês de aluguel. É grande o número de favelas onde vive 68% da população de Mumbai. Com exceção da moradia, o custo de vida em geral é relativamente baixo se comparado com a realidade brasileira. A cidade divide-se em duas partes: Sul, mais desenvolvido, limpo e organizado, onde os milhares de riquixás não circulam, e o Norte, onde há a maior favela da Índia e a segunda maior do mundo, chamada Dharavi. Mumbai, como toda grande cidade em países emergentes, é cheia de contrastes entre a extrema riqueza e a miséria, onde coexistem lojas de grife mundialmente famosas ao lado de pequenos negócios totalmente mal organizados e cuidados. Revendas de automóveis de luxo ao lado de pessoas em completa situação de abandono. CONDOMÍNIO EMPRESARIAL – UMA DAS ALTERNATIVAS INDIANAS Visitamos o IIT - Infotech – International Infotech Park, um condomínio empresarial que atua nas áreas de TI e Call Center – está instalado em cima de uma estação de trem, a Vashi Railway Station, e abriga empresas como: zz Árete Technologies – pequena empresa com visão de grande, muito focada no que faz e com marca bem-definida. zz Mystre Enterprises Ltd. – grande empresa que atua nos ramos de entretenimento, infraestrutura, turismo e produção. zz Emphasis Landscapes – trabalha com paisagismo de maneira verticalizada, procurando integrar todas as atividades envolvidas, desde a concepção, desenvolvimento, implementação e manutenção dos projetos. Com 200 funcionários, aplica design inovador em seus projetos, tendo recebido inúmeros prêmios. A iniciativa é de grande relevância num país cuja população ainda carece de consciência sobre as questões ambientais. 86 MISSÃO LESTE ASIÁTICO NOVA MUMBAI – UM PROJETO A LONGO PRAZO Ainda em passagem pela Índia, conferimos o esforço indiano em superar desafios. Conhecemos e trocamos impressões com representantes da CIDCO – S.S. Chaudhari, uma empresa governamental que existe há 40 anos para cuidar da construção da Nova Mumbai. O objetivo, nos relataram, é desafogar a cidade antiga ao criar condições e infraestrutura por meio do planejamento do território: ruas, escolas, hospitais, praças, trens, metrô e um novo aeroporto, que será o maior da Índia. O recurso financeiro provém da venda de terrenos mais aportes do próprio governo. Procura dar autossuficiência aos bairros que são interconectados por corredores de transporte, uma proposta para desafogar o trânsito caótico da cidade. A CENTENÁRIA CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA Na Câmara de Comércio e Indústria, criada em 1907 e, portanto, uma das mais antigas entidades empresariais do país, descobrimos que a entidade era formada inicialmente por comerciantes com forte orientação nacionalista, tendo Mahatma Gandhi como membro honorário. A Câmara possui 3.200 associados, dos quais 75% provenientes de pequenas empresas. Além das associadas diretas, mantém 250 associações filiadas, e atua como canal institucional entre o governo e os empresários, levando suas necessidades e sugestões a fim de obter melhores condições de operação e desenvolvimento. As atividades principais da Câmara de Comércio e Indústria são: apoio e soluções para colocação de novos produtos no mercado e facilidade de acesso ao mesmo, comitês técnicos especializados, organização de seminários e encontros de negócios internacionais, treinamento, pesquisas, serviços jurídicos, arbitragem e conciliação, além de informações de interesse dos associados. Tem autorização do governo para emitir certificado de origem para determinados produtos. Na área de premiações, destacam-se as da qualidade, da inovação e do empreendedorismo. O Prêmio Mulher Empreendedora está na sua 25ª edição. A entidade produz ainda boletins semanais sobre importação, exportação e diversos outros assuntos. Alguns incentivos, como a redução de impostos em algumas regiões 87 ESTRATÉGIA PARA CRESCER e setores por tempo determinado, são resultado dessa interlocução. A carência de conhecimento e profissionalismo das empresas, especialmente das familiares, faz com que a entidade promova regularmente capacitação em gestão. O VALE DO SILÍCIO DA ÍNDIA Capital do Estado de Karnataka, Bangalore é a terceira cidade mais populosa da Índia, com 8,5 milhões de habitantes – 18ª do mundo em população. Foi considerada em 2009 pelo Banco Mundial como um dos melhores locais para investimentos e atividades empresariais. É conhecida como Vale do Silício da Índia, grande exportadora de TI. Das 500 mil micro e pequenas empresas em Karnataka, 30% estão em Bangalore e, das 500 maiores empresas do mundo, 87 estão instaladas lá, segundo eles. Diferente de Mumbai, onde 68% da população vive em favelas, em Bangalore esse índice é de apenas 10%. CENTRAL DE ATENDIMENTO AOS PEQUENOS NEGÓCIOS A KSITDC – Karnataka Udyog Mitra é uma agência governamental ligada à Secretaria de Estado da Indústria, especialmente criada para dar apoio às pequenas empresas. Apuramos, durante a missão, que ela disponibiliza, em um só local, todas as informações sobre licenças e encaminha pedidos e processos às diversas instituições: licenças ambientais, tratamento de efluentes e armazenagem de material inflamável. Usa um sistema de geoprocessamento que mapeia e identifica áreas adequadas à instalação de novas empresas e fornece a infraestrutura necessária ao terreno. Com vistas à atração de investimentos para a região, a KSITDC realiza um evento internacional a cada dois anos – o GIM Global Investors Meet, que até o ano passado era focado em minério de ferro e na transformação do aço. O estado é o segundo maior produtor de minérios de ferro e o terceiro maior produtor de aço do país. Atualmente, sua atenção está voltada para o turismo rural em grande escala e em energias eólica e solar. Na linha da promoção comercial e na busca de parceiros e investidores externos, esteve em São Paulo (2010), Buenos Aires e no México (2012). 88 MISSÃO LESTE ASIÁTICO POLÍTICA DE INCENTIVOS A construção de hotéis e resorts que recebem benefícios na forma de isenção de impostos – uma das prioridades do Karnatataka Tourism Development – é uma realidade. As demais atividades também recebem incentivos, porém não na mesma proporção. Para a concessão desses benefícios, os candidatos devem se enquadrar em uma das cinco categorias, que levam em consideração o volume do investimento total e a lotação do mesmo – quanto mais distante da capital Bangalore, maior é o subsídio. Para os investidores de fora, os incentivos são os mesmos que para os locais. O foco é somente na infraestrutura, o apoio à gestão é competência de outras entidades. Exemplos: o Jungle Lodge foi instalado em uma área de floresta onde vivem tigres, elefantes e outros animais selvagens. A experiência é permitir ao turista hospedar-se dentro de uma misteriosa selva indiana. Já The Golden Chariot é um trem de luxo que percorre sete localidades, um verdadeiro “cruzeiro sobre trilhos”. Os pacotes abrangem de três a nove dias. Nesse trem, há academia de ginástica, sauna, salões de banho, diversos shows , restaurantes, um deles especializado em comida étnica indiana, em que são optativos pratos apreciados antigamente apenas pelos marajás. AÇÕES DE COOPERAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA Pudemos perceber o interesse dos empresários indianos no nosso mercado. A Railways Board é uma empresa estatal com 1,4 milhão de empregados, composta por 70 fábricas espalhadas por todo o país. Produz 10 milhões de dormentes por ano e desenvolve tecnologia própria para substituir os tradicionais dormentes de madeira pelos de concreto, por meio de um processo inovador chamado de “clip and forget”, que é um sistema de encaixe dos trilhos no dormente, reduzindo significativamente os custos com material/instalação – além de preservar o meio ambiente. Do total de 100 mil quilômetros de ferrovias, nas últimas três décadas, substituiu 70 mil quilômetros de trilhos com os novos dormentes. 89 ESTRATÉGIA PARA CRESCER A maioria dessas fábricas ligadas à Railways Board é pequena ou média e tem muito interesse em fornecer serviços, equipamentos e máquinas ao Brasil, por meio de ações de cooperação e transferência de tecnologia. Produzem vagões e locomotivas a custos que chegam a um terço dos fornecidos pelas fábricas europeias. DA INVENÇÃO DO NÚMERO ZERO ÀS EMPRESAS ALTAMENTE ESPECIALIZADAS EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO – AS SEZ/ÁREAS A Índia é considerada o berço da Matemática. De lá a ciência dos números espalhouse pelos países árabes e desses para a Europa. Foi deles, por exemplo, o conceito do número zero. A cultura matemática está presente em toda a população e isso reflete na habilidade dos seus profissionais em lidar com os sistemas complexos da tecnologia da informação. A Índia é um dos melhores lugares do mundo para se instalar uma empresa de TI, pois a mão de obra é farta e altamente qualificada. As chamadas SEZ – Special Economic Zones – uma espécie de Zona Franca – estão localizadas próximas a portos e aeroportos, oferecendo infraestrutura, atuação em comércio exterior além de incentivos fiscais e acesso ao crédito. Uma empresa pode instalar-se em uma dessas zonas de duas formas: comprando o terreno e construindo sua sede/instalações ou alugando imóvel previamente construído por outros investidores. O SISTEMA DE FINANCIAMENTO PARA PEQUENAS EMPRESAS O Future Invest organiza a forma e os sistemas de financiamento para as pequenas e médias empresas. Até recentemente, a maior parte era para financiamentos de capital de giro, hoje é para compras de equipamentos. Uma microempresa pode financiar até 62 mil dólares e uma pequena, até 1 milhão de dólares. Para os fornecedores de serviços, é possível uma microempresa financiar até 25 mil dólares e uma pequena até 50 mil dólares. Investimentos estrangeiros devem se limitar a 24% do capital. 90 MISSÃO LESTE ASIÁTICO O SEBRAE DOS INDIANOS O NSIC – National Small Industries Corporation Ltd., criado pelo Governo Federal, está presente em todos os estados do país, atua de forma muito semelhante ao Sebrae, apoiando o crescimento das micro e pequenas empresas. Existe há 50 anos e opera por meio de uma rede de escritórios e centros técnicos, não apenas na Índia, mas em alguns países africanos. Percebemos que o seu forte é estimular a organização de consórcios de pequenas empresas para que elas se capacitem e forneçam produtos e serviços ao governo e às grandes empresas, especialmente às atacadistas. Promove rodadas de negócios com esses grandes compradores, ajudando os pequenos a familiarizarem-se com as práticas das negociações por atacado. Ajuda a entender os termos contratuais, as licitações e a seguir os padrões exigidos pelo mercado. Opera como ponto único para um registro necessário ao sistema de compras governamentais, no qual as micro e pequenas empresas recebem preferência no fornecimento às empresas públicas. Esse registro garante às micro e pequenas empresas isenção do pagamento de um depósito de caução, que é exigido nos contratos governamentais para reduzir riscos de problemas com fornecedores. O NSIC criou um portal para prestar serviços aos importadores, exportadores e provedores de serviços. E apoia participações em feiras, por meio da concessão de espaços, ajudando o acesso dessas empresas às práticas internacionais. Facilita o acesso ao crédito nas seguintes áreas: 1. capital de giro para aquisição de matéria-prima – curto prazo de até 90 dias. Estimula a compra de matéria-prima no atacado para obter melhores condições de negociação. Facilita a importação de matéria-prima, quando de difícil aquisição no mercado interno, encarregando-se da documentação, procedimentos e emissão de carta de crédito; 2. financia atividades relacionadas ao marketing interno e externo; 3. financiamentos por meio de associações com bancos; 91 ESTRATÉGIA PARA CRESCER 4. está começando a estabelecer alianças estratégicas com bancos comerciais para financiamento de investimento/capital de giro por todo o país, com o objetivo de assegurar o fluxo contínuo de disponibilidade de crédito para micro e pequenas empresas. O acordo prevê o encaminhamento das solicitações pelo próprio NSIC e o compartilhamento das taxas de serviços; 5. desenvolve um sistema de classificação de crédito e desempenho para as micro e pequenas empresas em conjunto com diversas agências indianas. O objetivo deste diagnóstico é ajudar a empresa a melhorar seu ranking. Essa evolução é levada em consideração pelos bancos, na definição dos limites, taxas e concessão de recursos. O NSIC oferece alguns suportes, por meio dos seus centros técnicos de serviço e de extensão, tais como o aconselhamento na aplicação de novas técnicas; instalações para teste de materiais por meio de laboratórios reconhecidos; design de produto; instalações de suporte para usinagem em grupo; serviços sobre as questões de energia e meio ambiente em centros específicos; e aulas e treinamento prático para desenvolvimento de habilidades. As pequenas e médias empresas indianas desejam uma aproximação estreita com as empresas brasileiras, seja para absorver tecnologia que lhes permita dar um salto de qualidade, seja para acompanhar e/ou trabalhar com as grandes empresas. REDE NACIONAL DE APOIO Estabelecida em 1967, inicialmente como Naye – National Alliance of Young Entrepreneurs, a Fisme foi reestruturada em 1995, quando passou a ter este nome. Mudança que acarretou a evolução para o formato federativo, hoje uma grande rede nacional de micro e pequenas empresas, com um quadro de 730 associações distribuídas tanto de forma geográfica como setorial. Percebemos na visita que, apesar de contar com uma rede de parceiros iguais em 22 países, sente falta de não haver uma entidade forte no Brasil para compor este grupo. 92 MISSÃO LESTE ASIÁTICO É uma instituição privada sem fins lucrativos que conta com uma parcela de recursos do governo e outra de uma taxa mínima cobrada anualmente dos associados. O restante é obtido por meio de patrocínios, doações e serviços prestados aos associados e ao governo. O TEMPLO SAGRADO DA EDUCAÇÃO O Kusum Group of Companies – próspero grupo empresarial das áreas da mineração, aço, chumbo e açúcar – decidiu investir com força em educação e criou duas universidades. O campus da APG – Shimla University, na cidade de mesmo nome, conhecida pelos indianos como “rainha das montanhas”, oferece educação de classe mundial, conta com 400 alunos e disponibiliza cursos de maior especialização como engenharia, moda, artes, ciências e gestão. Todos contam com completa infraestrutura e gama de serviços para o desenvolvimento integral dos seus alunos, como laboratórios de ponta, bibliotecas, modernas salas de aula, auditórios, acomodações, cantinas, restaurante, assistência médica, piscinas, ginásio, equitação, golfe, salas de meditação e yoga. O empresário que idealizou essas universidades trata tanto o seu escritório quanto as suas universidades como verdadeiros templos sagrados. Durante a nossa visita, nos foi solicitado que tirássemos os sapatos. Ele implantou uma visão holística do ensino, seguindo a premissa de que “nós não entendemos a mente como uma entidade independente, mas sim como parte de um todo”. ASSOCIATIVISMO – UMA LIGA QUE UNE AS EMPRESAS Fundada em 1978, a Peenya Industries Association é uma das maiores e mais antigas associações representativas do Distrito Industrial do Sudeste da Ásia. Iniciou suas atividades numa área de 40 quilômetros quadrados e hoje conta com 5 mil pequenas indústrias associadas que abrigam 500 mil empregados, dos quais 50% mulheres; fatura 3 bilhões de dólares anuais e exporta 1,2 bilhão de dólares. O condomínio está dividido em indústrias de manufaturas, manutenção, serviços, indústria farmacêutica, automobilística, mecânica, elétrica, eletrônica, civil e ferramental. 93 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Em parceria com o governo (que aporta os recursos), prepara o espaço e a infraestrutura como o fornecimento de água e energia. Disponibiliza suas operações de condomínio às empresas interessadas em se estabelecer. As empresas responsabilizam-se pela edificação, pagam aluguel pelo espaço e uma taxa de adesão – uma espécie de joia. Não há mensalidades. A associação representa seus associados em comitês de comércio e indústria junto às autoridades governamentais e é reconhecida pelos governos central e estadual como principal instituição de representação da atividade industrial do Estado. A Peenya Industries Association organiza programas de crescimento, desenvolvimento de vendas, certificação de ISO, treinamentos, seminários, reuniões de intercâmbio no aspecto técnico, comercial e de gestão, de acordo com o interesse dos seus associados. Esse modelo de desenvolvimento existente em vários lugares da Índia soma diversas iniciativas bastante conhecidas por nós no Brasil, como: condomínio empresarial, associação empresarial, federação de indústrias e ainda a participação do Estado com aporte de recursos na aquisição de terrenos e infraestrutura básica, para atrair e estimular a criação de novos investimentos. APOIO FINANCEIRO É PULVERIZADO Na nossa missão de conhecer um pouco mais o modus operandi dos indianos, no que diz respeito ao apoio financeiro dispensado aos pequenos negócios, confirmamos que o State Bank of India, é, sem dúvida, o maior e um dos mais antigos bancos da Índia, quase 200 anos. Conta com 250 mil funcionários e seu capital tem 68% de participação estatal – uma espécie de Banco do Brasil. Somente a partir dos anos 1960 é que passou a apoiar as pequenas empresas, que hoje representam 40% do total dos negócios. O restante está dividido entre 40% para a agricultura e 20% para grandes corporações. A inadimplência gira em torno de 4%. Como 60% da população indiana vive na área rural, o banco atua em parceria com agências governamentais nas pequenas cidades, financiando a agricultura familiar e informal, além de contribuir para identificar oportunidades e organizar pequenas propriedades. 94 MISSÃO LESTE ASIÁTICO Atua também em parceria com associações de indústrias, viabilizando oportunidades e financiando joint ventures com participação de até 75% do capital, com taxa de 10% a 15% ao ano. As taxas são iguais para todas as modalidades de financiamento, tanto para capital de giro quanto para investimento. A diferenciação nas taxas ocorre de acordo com a característica do setor e a solidez da empresa. Existe também um grande número de pequenos bancos comerciais privados no país, além de cooperativas de crédito muito parecidas em atuação com as nossas Sicredi e Sicoob. Hong Kong Uma ilha de vantagens para os grandes negócios mundiais Hong Kong é o 2º melhor lugar do mundo para se fazer negócios, segundo o ranking do Doing Business, do Banco Mundial. É uma das duas Regiões Administrativas Especiais – RAE, da República Popular da China; a outra é Macau. Com uma área de 1.104 km² e uma população de 7,1 milhões de habitantes, tornou-se uma das áreas mais densamente povoadas do planeta. Noventa e cinco por cento dos seus habitantes são da etnia chinesa. A localização é estratégica – em quatro horas de voo conecta-se com os principais centros de negócios da Ásia: Pequim, Tóquio, Taipei e Kuala Lumpur e com a região do Rio Delta na China Continental. Seu sistema tributário é simples e não oneroso, os impostos são baixos. Pessoa física paga no máximo 15%. Conta com uma extensa 95 ESTRATÉGIA PARA CRESCER lista de produtos isentos de impostos e taxas de importação; mais recentemente, houve a inclusão de vinho e cerveja. A China já é o maior importador de vinhos brasileiros e a maior parte dos produtos alimentícios brasileiros destinados ao Japão passa por Hong Kong. Em 1898, após a Primeira Guerra do Ópio (1839 a 1842), a China entregou o território por um prazo de 99 anos ao Império Britânico, do qual foi colônia, exceto entre os anos de 1941 e 1945 quando esteve sob domínio japonês, na Segunda Guerra Mundial. De acordo com a Declaração Conjunta Sino-Britânica de 1997, Hong Kong terá a sua independência em 2047. Hoje, Hong Kong tem autonomia em tudo, exceto nas áreas da defesa e da política externa. Descrita como o lugar onde “o Oriente encontra o Ocidente”, Hong Kong é um porto livre e um dos principais centros financeiros mundiais, sendo que sua moeda, o dólar de Hong Kong, é a oitava mais negociada no mercado. Grandes empresas estão realocando suas sedes administrativas para Hong Kong e buscando investidores na China. Com essa manobra, visam à exportação chinesa. Esses dois movimentos combinados proporcionam grandes demandas e oportunidades para prestadores de serviços especializados em mercado internacional. Os habitantes locais dizem que os seus “recursos naturais” são as pessoas que lá vivem. Por causa disso, o governo investe pesadamente em educação. Algumas das principais faculdades da Ásia e do mundo estão ali representadas. O governo ajuda a subsidiar as atividades de pesquisa, desenvolvimento e design, na maioria das vezes, na forma de reembolso das despesas – geralmente na base de 50%. A participação em feiras também tem subsídio governamental. RENDA CONCENTRADA Há muitos milionários em Hong Kong e na região do River Delta – China Continental. Essa alta concentração de renda faz com que a população abonada da China vá para lá em busca de produtos de alto luxo. O custo do metro quadrado no centro é o mais caro do mundo, porém quando se vai para a periferia o preço cai drasticamente – cerca de 96 MISSÃO LESTE ASIÁTICO 40% menos. Seu pequeno território, e a consequente falta de espaço, causou uma forte demanda por construções mais altas, o que a tornou uma das cidades mais verticais do planeta. CONEXÃO COM OS MERCADOS O Hong Kong Trade Development Council – HKTDC, também visitado pelo grupo, foi criado em 1966 para fazer o marketing internacional de Hong Kong. É um órgão administrado por um conselho com 19 membros, formado por líderes empresariais e funcionários do governo local. Planeja e supervisiona as operações globais e os serviços e atividades promocionais. Supervisiona também o funcionamento do Hong Kong Centro de Convenções e Exposições. Mantém 40 centros comerciais em todo o mundo. Na América Latina, tem escritórios em Santiago, São Paulo e Cidade do México. Só em território chinês possui 11 escritórios. Todos promovendo as vantagens empresariais da cidade e oferecendo uma ampla gama de serviços para ajudar o comércio local e promover Hong Kong como uma excelente plataforma para se realizar negócios com a China e o restante da Ásia. Quando iniciaram suas atividades, tiveram aporte financeiro do governo, porém, hoje, 85% da sua receita vêm de serviços prestados e somente 15% vêm de apoio governamental. A HKTDC edita revistas de produtos específicos em que se encontram os cadastros dos fornecedores, separados por produtos: é uma espécie da publicação como as Páginas Amarelas. Só sobre os assuntos de relógios, vinhos e games são mais de 5 milhões de exemplares vendidos anualmente. Existem versões digitais para iPhone e iPad. A venda dessas informações é uma das formas de receita da entidade, que também possui um cadastro de importadores. Seus números são expressivos – um cadastro com mais de 120 mil empresas fornecedoras, que abrange quase todos os setores da economia. Essas são disponibilizadas para cerca de 1,2 milhão de compradores. Atende aproximadamente 23 milhões de consultas por ano e realiza mais de 30 feiras de negócios anualmente, dentre elas, as três maiores do mundo – eletrônica, pérolas, e joias e relógios. 97 ESTRATÉGIA PARA CRESCER AS FEIRAS E OS NEGÓCIOS COM O BRASIL Todo ano, mais de 4,5 mil empresários brasileiros participam de feiras em Hong Kong, 2 mil apenas na área dos eletrônicos, a maioria, compradores. Já como expositores, 30 empresas brasileiras costumam participar da feira de joias e pedras, pois as pedras brasileiras têm um bom mercado na Ásia. Os asiáticos acreditam que o Brasil tem potencial enorme para a exportação de produtos alimentícios, como açúcar, frutas, suco de laranja e produtos orgânicos. Estamos num bom momento para ampliar esse mercado, porque há preconceito sobre os alimentos produzidos na China; o maior receio é a aplicação de produtos químicos para melhorar a aparência das frutas e vegetais. Os chineses aplicam corantes para melhorar a aparência das melancias, por exemplo. Hoje 60% das importações do Brasil são de alimentos congelados. O Hong Kong Trade Development Council – HKTDC dispôs a ser o provedor de informações sobre legislação, fornecedores e mercado, visando ao crescimento da relação comercial entre os dois países, e já possui parcerias com a Apex e o Ministério da Agricultura no Brasil. O MARKETING DE HONG KONG A The Government of the Hong Kong Special Administrative Region – InvestHK foi fundada em julho de 2000 e tem como objetivo fortalecer o status de Hong Kong como a localização ideal para negócios das empresas internacionais. Sua missão é atrair e reter investimentos estrangeiros diretos, de importância estratégica para o desenvolvimento econômico local. Trabalha com empresários no exterior e no continente com pequenas e médias empresas e multinacionais que desejam montar escritório ou expandir negócios já existentes. Oferece consultoria e serviços gratuitos para apoiar empresas desde a fase de planejamento até o lançamento e expansão dos negócios. SUPORTE E ORIENTAÇÃO PARA ABERTURA DE NEGÓCIOS Para apoiar as empresas, soubemos, durante a missão, que Hong Kong criou, em 2000, a Success – Support and Consultation Centre for SMEs, um centro de informação e consultoria para pequenas e médias empresas. A Success está vinculada ao Departamento de Comércio e Indústria do Governo. 98 MISSÃO LESTE ASIÁTICO As pequenas e médias empresas representam 95% do total de estabelecimentos da cidade, que são em torno de 300 mil. A Success possui 38 mil empresas cadastradas em seu site e todas recebem informações atualizadas, a cada duas ou três semanas, sobre mudanças na legislação ou oportunidades de negócios. Colabora com várias organizações industriais e de comércio, associações profissionais, empresas privadas e departamentos governamentais para dotar as pequenas e médias empresas de uma vasta gama de informações de negócios, consultorias e serviços. Seu enorme banco de dados só pode ser acessado de forma presencial na própria entidade. Para isso, fornecem equipamentos para pesquisas e uma coleção de material de referência. Edita uma publicação semestral com assuntos de oportunidades de negócios – a PME Pulse – cuja tiragem é de 15 mil exemplares. O site da entidade tem 62 mil acessos por mês. Suas principais atividades são: zz prestar informações sobre como iniciar um negócio em Hong Kong e os requisitos exigidos para obtenção de licenças e autorizações governamentais. Ajuda na elaboração de planos de negócios. Caso necessário, encaminha o assunto para especialistas e/ou financiamento; zz serviços de consultoria por meio de um programa chamado Mentoria – uma espécie de consultoria coletiva com duração de um ano. É prestada por mentores, em geral profissionais experientes, cedidos por empresas privadas, que executam o trabalho de forma voluntária. Compreende 25 áreas distintas e cada consultoria tem duração de 25 minutos, consistindo praticamente de conselhos. O agendamento com esses mentores pode demorar de 15 dias a três meses; zz organização de seminários e workshops , para ajudar a ampliar o conhecimento das pequenas e médias empresas e aprimorar suas habilidades empreendedoras. Realiza aproximadamente 100 seminários por ano, contando com cerca de 100 entidades parceiras para viabilizar as ações; 99 ESTRATÉGIA PARA CRESCER zz todas as informações prestadas e serviços de consultoria são gratuitos. Os recursos financeiros para manutenção da entidade vêm do governo. As empresas privadas participam mediante cessão de mentores. A Success é muito parecida com o Sebrae dos anos 1990, o Balcão Sebrae, que tinha uma estrutura de biblioteca, área de atendimento e baias de consultoria. LOBBY PARA AS INDÚSTRIAS Na missão para o leste asiático, conhecemos a FHKI – Federation of Hong Kong Industries. Das quatro grandes federações de Hong Kong, a FHKI é a única criada pelo governo, que a manteve de 1960 até 1980, quando passou a ser mantida pelas contribuições anuais dos associados, pelas cobranças de certificações de qualidade e de origem e pelas doações e patrocínios. Atualmente, conta com 3 mil associados, compreende 25 grupos industriais, dois da área do comércio e serviços – incluindo os serviços de suporte de trading, consultoria e contabilidade. A FHKI organiza eventos, visitas e seminários de interesse dos seus associados. Facilita contato entre entidades oficiais e entidades empresariais, fazendo lobby junto ao governo para defender os interesses das indústrias. Sinaliza, principalmente na troca de governo, quais são os interesses do setor industrial. Publica uma revista mensal com assuntos de interesse do setor industrial e mantém parcerias internacionais para troca de informações sobre importações e exportações. Realiza treinamentos em diversas áreas, principalmente nas de RH, logística e produção, preparando empresários que trabalham na China, pois a maioria das fábricas está no continente, onde o custo de produção é mais barato. A base administrativa, o desenvolvimento e os serviços de inteligência ficam em Hong Kong. ESTÍMULO AO CRESCIMENTO DE EMPRESAS COM BASE TECNOLÓGICA O Hong Kong Sciencie & Technology Park foi criado por iniciativa governamental em 1992, com o objetivo de promover o crescimento de novas empresas de base tecnológica de ponta e design. Faz esse trabalho oferecendo suporte nas áreas de produtos/serviços, marketing, gestão e também oferece apoio financeiro por tempo determinado. São três os programas de incubação: a Incu-Tech, Incu-Bio e Incu-App. 100 MISSÃO LESTE ASIÁTICO 1.A Incu-Tech foi iniciada em 1992 e nela as empresas podem permanecer por até três anos. Abrange os segmentos: eletrônicos, ITC – Tecnologia da Informação e Comunicação, Engenharia de Precisão e Tecnologia Ambiental. Oferece apoio financeiro, a fundo perdido de até HK$ 83 mil, bem como toda a estrutura administrativa necessária como laboratórios, equipamentos e maquinário para o desenvolvimento dos produtos/serviços. Uma parte do valor disponibilizado é utilizada para pagamento da locação do espaço e das taxas de serviço de suporte administrativo. Trata-se de uma espécie de aluguel de um condomínio. 2.A Incu-Bio foi lançada em 2009 como parte do programa de aceleração da ciência da vida, onde as empresas podem ficar incubadas por até quatro anos. As áreas de atuação são as da biotecnologia, farmacêutica e medicina chinesa. Recebem apoio financeiro, também a fundo perdido, de ate HK$ 110 mil dólares, bem como toda a estrutura administrativa necessária e de laboratórios que são equipados com o que há de melhor para a realização de testes e experimentos. Assim como a Incu-Tec, parte desse recurso é utilizada para custear despesas com a estrutura da incubadora. A diferença é que nesse caso cada empresa pode pleitear um programa de suporte laboratorial. As empresas aceitas podem especificar o tipo de equipamento laboratorial a ser adquirido pelo HKSTPC. O valor máximo por projeto é de HK$ 515 mil. A ideia é de que os laboratórios sejam modernizados frequentemente e os equipamentos sejam usados em conjunto por mais de uma empresa. 3.A Incu-App, lançada em 2012, permite às empresas permanecer por até um ano e meio incubadas. Ela atua nas áreas de desenvolvimento de aplicativos para Web, Smartphones, Tablets e Games – PC, internet, celulares e consoles, recebe apoio financeiro a fundo perdido de até HK$ 38 mil, em média, estrutura administrativa, acesso a treinamentos técnicos e específicos à plataforma de desenvolvimento e de gestão e apoio na promoção de seus produtos. Possui áreas de escritórios, salas de reuniões, área de convivência, dentre outros. O suporte técnico para o desenvolvimento é realizado por meio de parcerias com os principais fabricantes do mercado, entre eles a Microsoft, Nokia, Samsung, Citik Telecom e a Wtia. 101 ESTRATÉGIA PARA CRESCER A diferença em relação aos outros dois programas é que seus incubados trabalham em uma área coletiva com até duas estações de trabalho gratuitas. Eles precisam cumprir um cronograma de trabalho com marcos críticos ao terceiro, sexto, nono (opcional) e décimo segundo meses, contados a partir do início da incubação. Esses marcos críticos são negociados na hora da aceitação da empresa na Info-App. Abrange status de desenvolvimento de produto, utilização dos serviços de suporte e projeção de vendas e lucros. As empresas que não cumprirem os marcos críticos perdem o apoio na redução do custo de locação e precisam sair da incubadora. De 1992 até hoje foram graduadas 300 empresas e atualmente 100 empresas estão incubadas e 20 em processo de avaliação. TRADIÇÃO E MODERNIDADE CAMINHAM JUNTAS A Universidade Chinesa de Hong Kong – CUHK é uma entidade de pesquisa, fundada em 1963, com visão global e missão de integrar a tradição e a modernidade, a China e o Ocidente. Com mais de 20 mil alunos entre graduação e pós-graduação, dos quais 3 mil são oriundos das mais diversas regiões do mundo. A universidade também disponibiliza cursos abertos com vistas a atender as empresas de forma prática, por isso não exige diploma formal dos participantes. São cursos que procuram aliar teoria e prática e trabalham com exemplos reais do mundo dos negócios. Seus professores prestam consultoria às empresas incubadas no Parque Tecnológico de Hong Kong e sempre com o acompanhamento dos alunos. Estes, no período de férias, fazem estágio nas empresas atendidas. Com isso, têm a oportunidade de observar como fazer uma empresa crescer ou como solucionar seus problemas do dia a dia. Esses cursos fazem parte de uma grade curricular optativa. Além dessa parceria, a CHUK trabalha em conjunto com o HK Design. UMA ESPÉCIE DE DESAFIO SEBRAE, HOJE DESAFIO UNIVERSITÁRIO EMPREENDEDOR Compreendemos durante a missão que o objetivo do Hong Kong Social Enterprise Challenge é estimular, entre os estudantes, uma competição de geração 102 MISSÃO LESTE ASIÁTICO de ideias criativas de negócios, a fim de promover o bem-estar social. Por meio de uma série de seminários, treinamentos, workshops e encontros, os estudantes são preparados para desenvolver ideias sobre empreendimentos sociais. Isto é, pela integração de operações comerciais com as necessidades sociais. Eles interagem com profissionais de negócios durante todo o processo. Desde 2007, mais de 3 mil estudantes de graduação, pós-graduação e recém-formados, oriundos de 22 instituições acadêmicas, têm participado e gerado mais de 500 ideias de negócios para os empreendimentos sociais; dessas, oito já viraram negócios. A competição surgiu por iniciativa do governo de Hong Kong, que pediu às universidades alternativas para resolver os problemas sociais, como a redução do desemprego, a desinformação sobre gestão ambiental e assim por diante. A inscrição para a competição é gratuita, cada equipe é composta de dois a cinco estudantes. Na inscrição é exigida uma resenha da ideia com no máximo cinco páginas. Aprovada, tem de elaborar um plano de negócio e tem até 15 minutos para apresentá-lo a uma banca de jurados, externos ao corpo da universidade. Eles têm 20 minutos para as perguntas que devem ser respondidas na hora pelos participantes. São escolhidas 24 equipes que vão para uma semifinal. Na ocasião, devem entregar o plano de negócios mais detalhado – máximo 20 páginas. Saem seis grupos finalistas e entre eles dois vencedores que terão um mentor para acompanhar a implantação do negócio sugerido. Os outros quatro também podem ter apoio nas suas implantações. A equipe campeã, em 2008, apresentou um projeto de reciclagem de lixo orgânico e a de 2011, um projeto para o aproveitamento do pelo da tosa dos cães para confecção de roupas. O foco da competição é mudar a mentalidade dos alunos por meio da análise dos problemas sociais. 103 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Taiwan E o seu papel-chave na economia global Um dos quatro tigres asiáticos, Taiwan é a 26ª maior economia do mundo, com uma população de 23,2 milhões de habitantes. Sua capital Taipei abriga 6,6 milhões de pessoas. Em pouco tempo tornou-se centro mundial de produção de circuitos integrados e monitores de tela, bem como um polo de fabricação de produtos ligados à tecnologia, cuja indústria desempenha papel-chave na economia global. O forte da produção de Taiwan são os eletrônicos: zz produz a metade do mercado mundial de displays de tela plana; zz ocupa o 1º lugar no mundo em fornecimento de circuitos integrados para notebooks, motherboards e monitores; zz é a número dois no ranking mundial em design aplicado a circuitos integrados e a 4ª em produção deste item. Nos últimos 50 anos, o governo e os setores privados de Taiwan têm trabalhado juntos para melhorar de forma contínua e estável a sua competitividade industrial. Os principais marcos dessa escalada são: zz década de 1950: o governo adota medidas estruturais como a reforma agrária e o Programa de Desenvolvimento Econômico – foi a época da mão de obra intensiva buscando substituir as importações; zz década de 1960: o governo institui o estatuto para incentivo ao investimento e estabelece as zonas de processamento para exportação, direcionamento de esforços para investimentos em capital-intensivo, estratégias para expansão das exportações e maciços investimentos em infraestrutura; zz década de 1970: o governo investe na criação de programas e institutos relacionados à P&D, cria parques industriais científicos, desregulamenta e reduz impostos e foca no aprimoramento da infraestrutura e na liberalização da economia; 104 MISSÃO LESTE ASIÁTICO zz década de 1980: o governo cria o estatuto para incentivo à atualização industrial, implanta o plano nacional de desenvolvimento hexa-anual e libera investimentos na China Continental. Consolida a mudança dos investimentos de capital para o setor tecnológico-intensivo, com ênfase no aprimoramento tecnológico industrial; zz anos 2000: a estratégia adotada foi buscar posicionamento mundial relacionado à cultura da inovação, desenvolvimento da economia baseada em conhecimento, implementação do plano nacional de desenvolvimento e promoção das seis indústrias emergentes: turismo, saúde, cultura e criatividade, biotecnologia, energias renováveis e agricultura; zz década de 2010: foco na integração econômica regional. Promulgação do Estatuto para Inovação Industrial e acordo para estruturar as operações de cooperação econômica. Como se pode ver, em aproximadamente 50 anos, graças ao planejamento do governo e da iniciativa privada, a economia do país passou da indústria convencional à industrialização inovadora. Ações planejadas, com foco no conhecimento, investimentos governamentais e legislação favorável, ajustada aos diferentes períodos de desenvolvimento e do planejamento estratégico de longo prazo, proporcionaram essa virada crucial. Para sustentar esses resultados, o país adotou um sistema tributário relativamente simples, que veio sendo revisado e se adequando aos diferentes momentos da sua economia. Depois das reformas em 1998 e 2006 pode-se resumir a sua carga de impostos da seguinte forma: zz o imposto sobre renda para pessoas jurídicas é de, no máximo, 17%, compensável pelos recolhimentos individuais dos acionistas. Empresas com movimento superior a 69 mil dólares recolhem no mínimo 10% de imposto; zz as tarifas médias de importação são de 6%, sendo que para produtos industriais 4,23% e para os agrícolas 14,86%; zz imposto comercial sobre valor adicionado: 5%; 105 ESTRATÉGIA PARA CRESCER zz as empresas que trabalham com P&D podem abater até 15% do imposto sobre renda com base no Estatuto para Inovação Industrial em vigor desde 1º/1/2010. Além das questões tributárias, alinhadas ao planejamento estratégico para o desenvolvimento de Taiwan, o incentivo à inovação e produção de conhecimento desempenha um papel fundamental nesse processo, o que incentivou a criação de mais de 100 parques industriais no país. Destes, 18 foram desenvolvidos pelo governo e 93 pela iniciativa privada. Com esse nível de suporte e investimentos, Taiwan ocupa o 6º lugar como “estado para desenvolvimento de clusters” entre 133 economias globais avaliadas pelo World Economic Forum Global Competitiviness Report – 2009-2010. Existem três grandes clusters no território, assim distribuídos: zz na área metropolitana de Taipei, estão os clusters das indústrias baseadas em conhecimento: software, design de circuitos integrados e biotech; zz na área metropolitana de Taipei/Hsin-chu, estão os da tecnologia de informação e comunicação, ótico-eletrônica, biotecnologia e maquinário de precisão; zz no centro do país, maquinário de precisão, indústria têxtil e indústria de bicicletas; zz no Sul, há os nichos específicos de P&D, sistemas micronano, integração 3C, softwares de comunicação e internet. BUREAU DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL O MOEA – Industrial Development Bureau opera com seis companhias nacionais, 14 agências administrativas (o IDB – Ministry of Economic Affairs é uma delas), 16 unidades de apoio e 64 escritórios no exterior. O IDB atua com dois escritórios, um na região central e outro na região sul de Taiwan, além da coordenação de uma central para promoção de investimentos. 106 MISSÃO LESTE ASIÁTICO Os escritórios principais (região central e região sul) operam com os seguintes departamentos: zz Política industrial; zz Indústria metal-mecânica; zz Indústria da tecnologia da informação; zz Indústria química e de bens de consumo; zz Serviços do conhecimento; zz Desenvolvimento sustentável; zz Parques industriais. Já o Centro de Assistência à Indústria trabalha por meio de comitês e programas distribuídos em 11 setores: 1. Programa de cooperação industrial; 2. Desenvolvimento da aviação e indústria espacial; 3. Desenvolvimento da indústria de comunicações; 4. Desenvolvimento da indústria de maquinário de precisão; 5. Desenvolvimento da indústria ferroviária; 6. Programa da indústria de biotecnologia e farmácia; 7. Promoção da indústria de semicondutores; 8. Promoção da indústria de conteúdos digitais; 9. Promoção da indústria de color imaging; 10.Promoção da indústria de veículos elétricos inteligentes; 11.Promoção da indústria de scooters elétricos – motonetas elétricas. 107 ESTRATÉGIA PARA CRESCER PRESENÇA MACIÇA DE PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS Atualmente, a economia de Taiwan é baseada em pequenas e médias empresas, as quais representam mais de 98% do mercado e respondem por aproximadamente 78% dos empregos gerados. Estima-se existir 1.270.000 pequenas e médias empresas no país e, por ano, são criadas entre 80 a 100 mil novas empresas. O Smea – Small & Médium Enterprise Administration é uma organização criada para promover o desenvolvimento das pequenas e médias empresas. É mantida, em grande parte, pelo governo, o que lhes permite subsidiar seus serviços mais especializados, como os de consultoria e suporte à obtenção de crédito – em média 40%. Para cumprir seu papel, atua por meio de três abordagens: zz de 65% a 70% de seus recursos são direcionados para empresas iniciantes; zz de 27% a 34% são destinados aos serviços de orientação estratégica; zz de 1% a 3% são aplicados em empresas top. Para as empresas iniciantes, os serviços concentram-se na cooperação mútua, na formação de clusters industriais, na indústria baseada na cultura local e em programas de financiamento. Para as empresas intermediárias, trabalham oferecendo consultoria especializada – guidance systems – nas mais diversas áreas: segurança industrial, P&D, prevenção à poluição, tecnologia de produção e temas de gestão. Os serviços de consultoria da Smea são realizados por empresas contratadas – licitadas, por isso ela possui apenas 105 funcionários. Está presente em 21 cidades, normalmente com um representante local, estrutura que permite atender em média 150 a 160 mil empresas/ano. Nesse cálculo estão incluídos os serviços de treinamento. 108 MISSÃO LESTE ASIÁTICO Classifica os portes de empresa com base nos seguintes critérios: SETORES PEQUENAS E MÉDIAS MICRO Indústria, Construção, Mineração e Pedreiras Investimento Integralizado < 2,6 milhões de dólares ou < 200 empregados < 5 empregados Comércio e Serviços Faturamento anual < 3,3 milhões de dólares ou < 100 empregados < 5 empregados Segundo estudos realizados pelo Asean/Suíça, divulgados em seu relatório sobre Índices de Competitividade Mundial, Taiwan ocupa o 1º lugar no mundo em abertura eficiente de pequenas e médias empresas e 7º no indicador de competitividade mundial. Quanto à promoção de acesso ao crédito, possui um tipo de fundo de aval que pode cobrir até 80% do valor do financiamento, com taxas de juros variando de 0,5 a 1,5% ao ano. Além disso, dispõe de legislação especial que lhe permite investir em empresas privadas. Isso é feito após criteriosa análise (terceirizada) do plano de negócios da empresa, a qual, se favorável, dá a condição ao Smea de tornar-se associado ao negócio. Outras linhas de ação envolvem aulas em faculdades sobre como criar uma empresa, facilitação de empréstimos diferenciados a jovens que estiverem abrindo seu 1º negócio. INOVAR PARA UM FUTURO MELHOR – ESTE É O LEMA Aqui vemos na prática o quanto uma boa e consistente estrutura de pesquisa e desenvolvimento, tocada por gente capacitada, pode ajudar um país a crescer, inovar e se modernizar. O ITRI Industrial Technology Research Institute é uma organização sem fins lucrativos, que, desde 1973, tem papel vital nas conquistas tecnológicas de Taiwan. Conta com 5.728 funcionários, destes, 1.163 são doutores e 3.152 possuem mestrado. Juntos produzem a incrível média de cinco patentes de invenções por dia. Funciona como um centro de pesquisa multidisciplinar, com seis laboratórios centrais e sete centros tecnológicos. Atua em diversas áreas, todas ligadas à economia moderna e de futuro, como a tecnologia da informação/comunicação, eletrônica e óptico-eletrônica, química, nanotecnologia, dispositivos médicos e tecnologias biomédicas, mecânica e sistemas de tecnologia de energia verde e meio ambiente. 109 ESTRATÉGIA PARA CRESCER DE NOVO, A EDUCAÇÃO COMO VANTAGEM COMPETITIVA Durante muito tempo Taiwan enviou seus jovens, em regime de bolsas, para estudar em países tecnologicamente mais adiantados, com o objetivo de observar, aprender e voltar ao país para aplicar seus conhecimentos em prol do programa de desenvolvimento e competitividade estabelecido pelo governo. Tudo em longo prazo, de forma constante e escalonada. Para não ficar longe das novidades dos grandes centros tecnológicos mundiais e poder participar do que há de mais novo e avançado nos seus setores estratégicos, o ITRI mantém filiais no Vale do Silício, Tóquio, Berlim e Moscou, além de um centro de treinamento e um outro relacionado à criatividade em parceria com IBM e o MIT dentro do Parque. Tudo visando ao desenvolvimento das suas empresas. Um bom exemplo da assistência que a entidade presta ao mundo corporativo é o de uma empresa que produzia bicicletas e solicitou ajuda para melhorias do seu produto. O ITRI desenvolveu um material em fibra de carbono, a um custo de 1 milhão de dólares para dominar essa tecnologia. Além dessa ajuda na parte do desenvolvimento do material, deram apoio na implantação desse novo produto. Resultado: um verdadeiro sucesso mundial em vendas. A ajuda que o ITRI oferece não se limita às empresas localizadas nos parques tecnológicos. ESTÍMULO À P&D E À PRODUÇÃO O Parque Tecnológico/Científico de Hsinchu o HSP – Hsinchu Science Park – é uma espécie de zona franca onde as empresas ali instaladas têm isenção de impostos e contam com subvenções do governo. Essa agência governamental foi criada em 1980 e propicia a infraestrutura necessária para facilitar o desenvolvimento dos trabalhos das empresas, deixando-as livres para se dedicar exclusivamente à P&D e à produção. As empresas não têm que se preocupar com assuntos do tipo alimentação, vestuário, habitação, transporte, educação e recreação e seus funcionários recebem subsídios para a capacitação profissional. O espaço é ocupado por 150 mil empregados, dos quais 3 mil vivem nos alojamentos do parque. 110 MISSÃO LESTE ASIÁTICO Estão instaladas no parque HSP 481 empresas, das quais 65 estrangeiras – 17 dos Estados Unidos e 14 do Japão. Sessenta e oito por cento delas produzem semicondutores e 19%, produtos óptico-eletrônicos. Somadas, respondem por 8% do PIB de Taiwan. CHINA, ATÉ ENTRE OS GRANDES, A ESCALA É OUTRA Quando se fala ou se pensa em China, há que se ter presente a diferença substancial de escalas. A “escala chinesa” é completamente distinta do restante dos países. Afinal, trata-se de um país-continente com 1,3 bilhão de habitantes, abrigando a cidade mais populosa do planeta – Chongquing, hoje com 33 milhões de habitantes. Os números chineses impressionam: eles são primeiro lugar em vários setores e, em muitos, ocupam o segundo lugar. Por exemplo, eles são o maior produtor de ferro e aço – siderurgia; o segundo lugar, ocupado pelo Japão, produz seis vezes menos. Possuem a maior frota de veículos da Terra e se todo chinês fosse proprietário de um carro não haveria petróleo suficiente para abastecê-los. Tamanha escala de grandeza, aliada a uma base energética de carvão, faz da sua atmosfera uma das mais poluídas do mundo. ESCALA QUE TAMBÉM SE APLICA ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS Estima-se que existem hoje na China mais de 13 milhões de pequenas empresas e mais de 37 milhões de micro, num total de 50 milhões de micro e pequenas empresas, que representam 99% das empresas chinesas. Elas são responsáveis por 59% dos impostos recolhidos, 58% do PIB, 80% dos empregos e 70% dos assuntos ligados à inovação, motivos pelos quais o governo chinês inicia um grande programa de apoio às micro e pequenas empresas, já que até aqui a ênfase havia sido voltada às grandes empresas. Entre as principais dificuldades enfrentadas pelas micro e pequenas empresas na China, destacam-se: a falta de dinheiro/crédito e a falta de mercado devido à crise econômica de 2008, que afetou as exportações. Em 2003, o governo chinês aprovou uma lei nacional de apoio e promoção das micro e pequenas empresas, assemelhada à Lei Geral da Micro e Pequena Empresa do Brasil, compreendendo questões ligadas 111 ESTRATÉGIA PARA CRESCER a empreendedorismo, inovação tecnológica, crédito, dentre outros. Tal lei representa, a rigor, o reconhecimento oficial, por parte do governo chinês, da importância social e econômica das micro e pequenas empresas. A tendência é investir mais nas micro e pequenas empresas e também importar mais e exportar menos, principalmente em tecnologias que não dominam. Por isso, o governo pretende atrair ainda mais investimentos ao país. O país vive um momento de transição de governo, o que ocorre a cada dez anos. Essa é a quinta geração de governantes a assumir o comando e é vista como ponto crucial para o futuro da China e do mundo. Os novos governantes indicarão o posicionamento e o direcionamento do país em relação à política econômica, especialmente no que se refere ao mercado interno e externo e às políticas internas, para a próxima década. O governo exerce papel forte junto às grandes estatais e às empresas privadas, principalmente no financiamento subsidiado, e a opinião pública chinesa começa a ter peso cada vez maior nas decisões do governo. A educação exerce papel fundamental na China, tendo por base a filosofia de Confúcio: rigor, disciplina, respeito à hierarquia. O ensino dá ênfase à memorização. Como a mão de obra especializada começa a ficar “cara”, existe um movimento de transferência de grandes plantas industriais para outras regiões, como é o caso do Camboja e da Coreia. A RELAÇÃO GANHA-GANHA CHINA/BRASIL As relações comerciais entre os dois países estão bastante aquecidas. Atualmente, há um grande número de missões técnicas de ambos os países trocando informações e estabelecendo parcerias técnico-comerciais. Os chineses demonstram grande interesse em conhecer a nossa realidade e querem fazer alianças com empresários brasileiros. A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil, porém, ainda estamos exportando produtos de base, sem valor agregado (milho, soja e minério de ferro) e importando produtos com alto valor agregado. 112 MISSÃO LESTE ASIÁTICO PEQUENAS EMPRESAS SÃO PREPARADAS PARA A EXPORTAÇÃO Com sede em Pequim e fundada em 1990, a Cicasme – China International Cooperation Association of Small and Medium Enterprises é a primeira instituição de caráter não governamental, criada para ajudar as micro e pequenas empresas da China. É uma espécie de ONG, composta por 2 mil membros/associados e, dentre outras finalidades, está voltada à preparação das micro e pequenas empresas para a exportação e à realização de parcerias e alianças internacionais. Sua receita provém basicamente de três fontes: cobrança de mensalidade dos associados, doações/patrocínios e prestação de serviços aos associados e ao governo. Por exemplo, recentemente o governo encomendou uma pesquisa para avaliar, junto aos empresários, os efeitos e resultados da lei nacional de incentivo às micro e pequenas empresas, que está em vigor há dez anos. CADA UM CUIDA DE UM NICHO Na passagem pela China, conhecemos a Prosme – Promotion of Small and Medium Development, uma organização governamental vinculada ao Ministério da Indústria e Comércio e responsável pela Secretaria Geral da Cicasme. Focada na preparação e organização das micro e pequenas empresas, possui filiais em várias cidades e perto de mil pontos de atendimento; assemelha-se ao Sebrae. Apesar da atuação conjunta, cada uma faz o seu trabalho em separado: a Prosme atua na capacitação, gestão de negócios, tecnologias, busca da melhoria da qualidade global, levanta as dificuldades para o desenvolvimento dos pequenos negócios e as encaminha à Cicasme para que faça recomendações/sugestões de políticas junto ao governo. Ambas visam a facilitar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas chinesas. Hoje a atuação é conjunta, mas a tendência é que, em pouco tempo, atuem de maneira independente, dentro do foco de cada uma. 113 ESTRATÉGIA PARA CRESCER ZONAS DE COOPERAÇÃO – UMA BOA IDEIA É grande o interesse em ajudar as empresas brasileiras interessadas em atuar na China. As chamadas zonas de cooperação, por exemplo, oferecem o apoio necessário. Já têm convênio de cooperação com a Alemanha, experiência bem-sucedida, da qual resultou a criação de uma espécie de parque industrial exclusivo para empresas alemãs, em que se acham instaladas 150 empresas do setor de eletrônicos. Nas conversas que mantivemos, os chineses manifestaram a intenção de criar uma zona de cooperação com o Brasil ou com a América Latina, possibilitando ações concretas e negócios com o nosso continente, assim como fazem com a Alemanha. Eles mantêm um banco de dados e informações úteis para as micro e pequenas empresas chinesas que desejam se internacionalizar – informações sobre as diferentes legislações tributárias, costumes, cultura local, dentre outros. Para as empresas chinesas que querem atuar no Brasil, fornecem informações gerais sobre o mercado brasileiro. Quando há necessidade de dados mais específicos, realizam o levantamento de que as empresas necessitam. Dão apoio inclusive na questão do idioma – serviços de tradução – e ajudam na participação em feiras, por exemplo. A classificação de micro e pequena empresa na China é de acordo com o número de empregados e faturamento anual, com algumas exceções pontuais. Para facilitar o entendimento dos empresários e o enquadramento da empresa, criaram um livro “tira-dúvidas”, com perguntas e respostas mais frequentes (infelizmente este material não está disponível em outras línguas). A China aproxima-se de um momento decisivo para a definição do próximo ciclo de desenvolvimento. Será difícil manter o alto nível de investimentos públicos que foi a base do crescimento de 10% ao ano até 2010. É grande a intervenção e o envolvimento do Estado nos negócios privados, em alguns setores fica difícil estabelecer uma linha divisória entre empresa e governo. 114 MISSÃO LESTE ASIÁTICO PERCEPÇÕES GERAIS DA PASSAGEM PELO LESTE ASIÁTICO zz Índia, Hong Kong, Taiwan e China são exemplos de países que apostam em planejamento de longo prazo, como estratégia para crescer. zz Taiwan e Hong Kong desenvolveram rapidamente suas economias com base em investimentos em tecnologia, infraestrutura e educação, incentivos às exportações, abertura para a entrada de capital estrangeiro, forte participação na economia de mercado e incentivos tributários. China e Índia seguem na mesma direção. zz Os quatro países têm muito a ensinar ao Brasil, seja por seus erros seja pelos seus acertos com relação ao empreendedorismo. zz Do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, um ponto que nos chamou a atenção foi o planejamento estratégico com foco bastante definido. Mesmo cada país tendo suas peculiaridades, até na Índia, onde ainda se há muito para crescer e melhorar economicamente, o foco de longo prazo é bem claro. zz Nós pudemos perceber que eles têm foco no que querem e sabem bem para onde vão. O planejamento de longo prazo explica o porquê da maioria dos países asiáticos desenvolveu-se tanto em tão pouco tempo. zz Na Índia, há uma enorme desigualdade social do país, que tem praticamente metade da sua população de 1,2 bilhão de pessoas na pobreza e, por outro lado, tem o maior número de bilionários do mundo. No entanto, o planejamento dos governantes do país é sair dessa situação em 20 anos, já que eles possuem um expressivo mercado consumidor de 350 milhões de pessoas com poder aquisitivo, em franca e crescente expansão, assim como uma extraordinária capacidade de produção. zz É possível ver que a Índia já está fazendo o caminho inverso para o crescimento. Eles espelharam-se muito no Brasil da década de 1960, que fez muitos investimentos em infraestrutura. Mas nós paramos e passamos a crescer sem investimentos. Lá está acontecendo o contrário. Mesmo 115 ESTRATÉGIA PARA CRESCER com toda pobreza que o país tem, estão investindo em infraestrutura. Em função disso, a Índia provavelmente vai ter uma base sólida para acelerar seu crescimento. zz Como o crescimento econômico na Índia ainda é incipiente, os empresários de micro e pequenas empresas ainda não contam com apoio e organização suficiente. Vimos muitos negócios informais por lá. Muitas portinhas. Estamos bem à frente. Porém, percebemos grande interesse em fazer negócios com o Brasil. zz Apesar de ter uma grande quantidade de micro e pequenas empresas na Índia e na China, as ações voltadas aos empresários de pequeno porte, nesses países, estão concentradas em algumas regiões ou em alguns órgãos. Na há uma instituição que dê amplo apoio. Os governos têm mais interesse em atrair grandes corporações porque, como a população é muito grande, há necessidade de geração de emprego. E a microempresa não absorve isso. zz Assim como a China já faz há um bom tempo, a Índia também tem vontade de aprender, buscar tecnologias para crescer. Eles querem acesso a novas tecnologias para aprender e desenvolver por lá. Eles carecem de tudo um pouco. E isso abre oportunidades para empresários estrangeiros. zz A China também tem a mesma vontade de aprender. A diferença é que já está traçando o caminho há mais tempo. Vimos que os chineses investem muito em educação e em um sentido bastante amplo. Isso está dentro do planejamento estratégico deles. zz A indústria chinesa tem qualidade sim. Eles passaram por um processo de aprendizado copiando. Agora têm a tecnologia. E é preciso acompanhá-los, pois eles têm qualidade e preço. zz A palavra de ordem nos dois países gigantes – Índia e China - é inovação e há muito investimento em pesquisa e desenvolvimento, principalmente na China. Os indianos nos disserem que têm muito interesse no nosso etanol. Eles querem vir ao Brasil aprender a tecnologia, pois querem plantar e produzir por lá. 116 MISSÃO LESTE ASIÁTICO zz Hong Kong e Taiwan, dois dos quatro ‘tigres asiáticos’ (este apelido foi dado em função do rápido crescimento econômico e social dos países), sofreram com sérios problemas políticos, hoje se consideram autônomos e independentes da China, têm territórios pequenos e, no caso de Hong Kong, com poucos recursos naturais – em especial água potável e energia. Mas, apesar das condições desfavoráveis, eles estão hoje bem classificados no ranking Doing Business. E isso graças ao foco na direção correta e ao planejamento estratégico de longo prazo. zz Hong Kong nasceu com recursos limitados. Por ser uma ilha, não há recursos naturais. No entanto, eles definiram o que queriam e traçaram o caminho sem desvios. O foco dos dois países deve servir de exemplo para o Brasil. Hong Kong, que é denominada uma Região Administrativa Especial até 2047, posicionou-se como a principal porta de entrada de mercadorias para China continental. Com investimentos pesados em infraestrutura, o país trabalha para atrair exportadores e importadores para os seus portos. zz Um posicionamento estratégico do governo de Hong Kong é procurar deixar claro ao mundo que sua legislação é diferente e independente da China e que lá a falsificação de produtos não é tolerada e os contratos são respeitados. Lá a legislação é clara e oferece segurança para investimentos e propriedade intelectual. zz O governo tem o papel de facilitador, apenas. Em Hong Kong não se sente a interferência do Estado nos negócios, como acontece na China. O governo só cria condições, arruma a casa sem ser percebido. zz Ao contrário de muitos países, em que as regras e a legislação mudam a cada instante, desconcertando e desorientando os agentes econômicos. Nos países visitados, há segurança jurídica nas relações de negócio e respeito aos contratos. zz A tecnologia do futuro está sendo desenvolvida em Taiwan. Essa foi a primeira impressão que tivemos no país que não se considera território chinês apesar de ser reclamado pelo governo da China. Apesar de ao chegarmos a Taipei termos a impressão que estávamos em uma cidade 117 ESTRATÉGIA PARA CRESCER bem menos desenvolvida que Hong Kong, nos enganamos. Taiwan é a 26ª maior economia do mundo. A indústria de tecnologia desempenha um papel-chave na economia global. zz O setor industrial tem sido a força motriz para o desenvolvimento econômico de Taiwan. Nos últimos 50 anos, o governo e os setores privados de Taiwan têm trabalhado em conjunto para melhorar continuamente a competitividade industrial e para alcançar um crescimento econômico estável. E o setor de serviços também cresce a passos largos. zz O crescimento deste país se deu porque desde os anos 1950 foi feito um planejamento de nação, as escolhas foram acertadas e nunca se saiu do foco. A cada dez anos eles desenvolvem um planejamento para uma nova frente. Com isso, foram dando passos de escada e hoje estão na indústria da inteligência. Isto é, em cerca de 50 anos, a economia de Taiwan passou da indústria convencional à industrialização inovadora baseada em conhecimento. zz Hong Kong e Taiwan devem se preocupar mais com os empresários de micro e pequenas empresas daqui para frente. E, como são países com competitividade internacional, devem voltar o foco para outras economias. zz Eles vão entrar no nosso mercado. Então, nossas micro e pequenas empresas precisam ser competitivas em nível internacional. Eles têm infraestrutura, desenvolvimento de pesquisas, dinheiro, entidades de apoio às pequenas empresas e foco. Além disso, podem não ter visão empreendedora, mas têm muita visão de negócio. Câmbio de 2011 – 1 real = 0,51161 dólar 118 As lições aprendidas As opiniões dos grupos ESTRATÉGIA PARA CRESCER NENHUM PAÍS PODE SER BOM EM TUDO, POR ISSO A NECESSIDADE DE FOCO De todos os países visitados, observamos uma característica comum: são muito focados em suas escolhas estratégicas e não se desviam delas ao sabor de cada mudança de circunstância, quer política, econômica ou de qualquer outra natureza. Todos sabem onde desejam e precisam chegar. É questão de sobrevivência, orgulho de pertencer a uma causa nobre – o destino dos seus países – e disciplina espartana. Os projetos dessas nações são repartidos com todos os seus habitantes, da alta hierarquia ao cidadão mais comum. A cada reunião, parecia que escutávamos um mantra de tão repetitivos eram os ordenamentos das suas missões e objetivos. Todo cidadão incorpora o dever coletivo e colabora com a sua execução. As metas estabelecidas, normalmente para 30-50 anos, são baseadas na economia, mercado, história, necessidade de sobrevivência, recursos naturais e potencial da região. E sobre essas escolhas são analisadas as necessidades de se preparar a população e a infraestrutura do país para alcançá-las. Nada é sonhar um sonho impossível, nada é utópico, o possível é possível com preparo, educação e trabalho árduo e sem desvio do foco. Por exemplo, a Malásia quer ser o país mais avançado do mundo em 2022 e todo o caminho político, econômico e social decorre desta decisão com todas as ações girando em torno deste conceito. Para ser o que querem ser, precisam de gente altamente qualificada – educação, boa remuneração para todos, menos impostos e entraves burocráticos, produzir produtos de classe mundial e extremamente competitivos no mercado internacional. Cingapura quer ser o melhor país do mundo para se fazer negócios. Há 50 anos, a Coreia do Sul precisava ser um gigantesco polo exportador porque é carente em recursos naturais, o que hoje é uma realidade. De um país de extrema pobreza, a Coreia ostenta hoje uma das maiores rendas per capita do mundo. APOIO OU ASSISTENCIALISMO “Não vamos dar apoio para que nossas pequenas e médias empresas sobrevivam ao longo do tempo, isso vicia, queremos que elas cresçam e se tornem grandes e disputem 122 AS LIÇÕES APRENDIDAS com agressividade o mercado mundial.” Ouvíamos essa frase, com frequência, em quase todos os países. Nada de assistencialismo, mas sim apoio no preparo da mão de obra qualificada, no uso da melhor matéria-prima, nas facilidades do crédito e nos desentraves burocráticos. DEFINIÇÃO CLARA DOS PAPÉIS – CADA ENTIDADE SABE O QUE FAZ E FAZ BEM Um costume brasileiro é ter várias pessoas ou instituições fazendo a mesma coisa, ao mesmo tempo, em total sobreposição de papéis. Como as ações se embaralham e a responsabilidade fica difusa e sem dono, o que tem que ser feito, demora ou não é feito. Em nosso país é comum se ouvir: “o socorro não veio a tempo, porque esta ação é da alçada de tal departamento”. E tudo fica parado. Assim acontece com as concessões de financiamento, com as licenças ambientais, com os impostos e taxas, os quais chegamos a pagar duas ou três vezes pela mesma coisa. Este empurra-empurra trava e dificulta nossas ações e perdemos competitividade. Ninguém faz nada porque todos têm que fazer a mesma coisa. Essa sobreposição de trabalhos dos organismos governamentais não foi vista nos países que visitamos, cada instituição sabe do seu papel no contexto geral e até onde pode chegar. Assim o pequeno e médio empresário sabe em que porta bater para solicitar auxílio de gestão, crédito ou buscar expertise técnica para ajudá-lo a desenvolver os seus negócios. O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS “As grandes empresas vivem e sobrevivem por si só e, normalmente, não necessitam mais do apoio e de políticas governamentais. Elas têm condições de andar sozinhas. Quem precisa mesmo de apoio é a média empresa que passa pela crise e pelos perigos do crescimento”, diziam quando o assunto sobre os tamanhos das empresas era abordado. Esta, talvez, seja a lição mais importante em todas as viagens. Nós brasileiros, temos que fazer um mea culpa, somos bons em ser pediatras de empresas e nada bons em assuntos de puericultura empresarial. Por exemplo, quando uma empresa passa de pequena para média, sobe rapidamente de 10 para 100 funcionários e de um faturamento de R$3 milhões para R$15 milhões que com certeza 123 ESTRATÉGIA PARA CRESCER precisará de mais máquinas e equipamentos, melhorar seus processos internos, de novas ferramentas de TI, armazenagem maior, dentre outros. Nesse momento, quando a empresa está se aprumando, as instituições brasileiras viram-lhe as costas. Nos países visitados isso quase não acontece, os parâmetros para definir se uma empresa é pequena ou média são outros: eles consideram o número de funcionários, faturamento e, importante, o setor ao qual a empresa pertence. Empresas industriais com 50 funcionários são diferentes de outras do setor de serviços. Um escritório de software, por exemplo, com esse número de funcionários já pode ser considerado grande. Quase todos os países apostam suas fichas, oferecendo total apoio às médias e querem fazer delas verdadeiros tigres no comércio internacional. Com isso, acontece a excelência da classe mundial e as expertises da competitividade. INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO DE ALTO POTENCIAL Costumamos no Brasil entender a inovação como refinamentos tecnológicos acessíveis apenas às grandes empresas. Para a maioria dos países visitados, a inovação abrange tudo – produtos e serviços. Desde uma nova forma de se vender produtos de um supermercado ao desenvolvimento de uma impressora em 3D ou de uma plataforma de CRM. A inovação, para eles, não é discurso da boca para fora, é caso concreto em como tornar formas conhecidas de produtos e serviços em formatos inusitados e mais eficientes e altamente competitivos no mercado mundial. Quando percebem empreendedores com ideias de alto potencial inovador, e que possam conquistar o mercado internacional, investem pesado na ideia e no criador, dando-lhes apoio de pesquisa científica, da técnica e do financiamento. Alguns países chegam a arriscar o dinheiro público em alguns projetos dizendo que se um projeto vingar, isto é, der certo, paga o prejuízo de todos aqueles que não acertaram. EMPREENDEDORISMO, CRIAÇÃO DE EMPRESAS E GERAÇÃO DE NEGÓCIOS Quase todos os países visitados são pragmáticos com este assunto: as ideias de negócios têm de gerar negócios e não aventuras de empreender ou de pesquisar. Se alguém tem uma ideia para um business qualquer ou quer fazer uma pesquisa 124 AS LIÇÕES APRENDIDAS acadêmica a pergunta sempre é: “Qual o potencial da sua ideia em gerar negócios?”. Se não houver o potencial, nada feito. Nas universidades, não se fazem pesquisas estéreis, elas sempre têm de estar ligadas a uma atividade empresarial, que, por sua vez, liga-se ao mercado mundial. Existem programas como o nosso Empretec, no qual o empreendedor estuda, conhece melhor suas características empreendedoras e sai com a empresa aberta e operando no mercado. Diferente da nossa visão do empreendedorismo, voltado para a vida e para a realização pessoal de alguém, empreendedorismo, para eles, é gerar negócios. PESQUISAS ACADÊMICAS, SÓ COM APLICAÇÃO PRÁTICA Há muito dinheiro para os pesquisadores nas universidades, desde que suas pesquisas tenham aplicação prática e possam gerar negócios. A simbiose empresa universidade é total – uma apoia a outra e os empresários são sempre bem-vistos pelos acadêmicos. Praticamente não existem as pesquisas do tipo arte pela arte. Quem submete uma ideia para um trabalho acadêmico responde, na própria universidade, perguntas como: “Que aplicação comercial a sua pesquisa vai gerar?”, “Como o resultado do seu trabalho poderá ser vendido e conquistar o mercado?”, “Como é que você vai vender isto?”. No Brasil, ainda estamos muito longe desse tipo de comportamento, por cultura de longa data. O EMPREENDEDORISMO COMO CARREIRA Para nós, por muito tempo, o empreendedor era aquela pessoa que perdera o emprego e não encontrava outro ou tivera acesso a um capital, na maioria das vezes, fruto de uma demissão voluntária ou negociada. Nos países visitados, o empreendedorismo está virando curso de formação profissional, no qual as pessoas estudam para serem empreendedoras. Em alguns países, principalmente nos escandinavos, onde o espírito empreendedor declinou ao longo do tempo, por causa da oferta de bons empregos em grandes empresas ou nas estatais, a necessidade de jovens com espírito empreendedor é grande. Assim, ensinam o processo de empreender do jardim de infância à faculdade. 125 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Alguns países estão importando jovens empreendedores munidos de boas ideias, inclusive do Brasil. O MUNDO COMO CAMPO DE BATALHA – INTELIGÊNCIA DE MERCADO E MONITORAMENTO DE TENDÊNCIAS Os países visitados, em sua maioria pequenos em extensão territorial e com pouca população, exceto Índia, China e Rússia, visam com veemência ao mercado internacional, até mesmo por questão de sobrevivência. Por causa disso, precisam melhorar constantemente os seus produtos e preparar sua população para o grande jogo internacional. O Brasil, pela dificuldade na fluência da língua inglesa, pela distância aos grandes centros consumidores internacionais e pela atração do seu amplo mercado interno, é frágil participante desse jogo comercial, pois é mais cômodo para nossos empresários vender seus produtos e serviços internamente do que sair disputando essa briga. ALTA COMPETITIVIDADE ENTRE AS NAÇÕES É O NOME DO JOGO Nossa cultura comercial como fornecedores de commodities é notória e vem de longa data. Está no nosso DNA. Começou no período colonial, quando exportávamos pau-brasil, açúcar e madeira, e cruzou o século passado com os cereais e minerais. Enviamos matéria-prima e importamos produtos acabados, o que é sempre uma desvantagem para a nossa balança comercial. Fomos o maior produtor de café in natura do mundo durante quase 300 anos e não inventamos o filtro de café, a máquina de café, o descafeinado ou qualquer outro produto que seja relacionado ao café, que pudesse nos oferecer valor agregado nas transações comerciais. É uma herança genética difícil de ser expurgada, pois o comodismo instalou-se de tal forma, que pensar em entrar na competição global torna-se difícil. Vimos programas específicos em algumas nações que visavam tão somente à competição dos seus produtos no mercado mundial. A empresa já nasce pensando no comércio global e para tal se prepara pensando nas exigências dos seus clientes e de olho 126 AS LIÇÕES APRENDIDAS nas aptidões e vantagens competitivas dos seus concorrentes. Ser melhor e mais apto do que o vizinho é exigência para a sobrevivência. Por isso, monitoram de forma constante as tendências e fazem ajustes às exigências do mercado internacional. Olhar, monitorar e fazer estratégias inteligentes e de longo prazo são tarefas de todos, hoje e sempre. LEIS, REGRAS, REGULAMENTOS E PORTARIAS – SE NÃO SERVEM PARA NADA, TIRASE DO CAMINHO Muitos dos países perceberam logo que o excesso de leis e regulamentos são travas para a competição e para o progresso da sociedade. Alguns realizaram verdadeiros mutirões para limpar o excesso de leis e regulamentos e, com isso, deram passos largos em direção às facilidades comerciais. Portos foram destravados, ampliaram-se de forma rápida as condições de infraestrutura, estradas e aeroportos e as maneiras de se fazer negócios. Com isso, mais empregos foram gerados e mais impostos arrecadados. E pensar que no Brasil criamse barreiras alfandegárias e complicam-se sistemas tributários de forma kafkaniana a todo o momento. Quem quer ‘empresar’ no Brasil, seja um empreendedor de fora ou local esbarrará num cipoal de regras e incertezas jurídicas. O ambiente regulatório brasileiro – burocracia – é um dos mais hostis do mundo ao empreendedorismo. Entre as 189 economias analisadas pelo Doing Business, do Banco Mundial, inspiração para nossas missões, aparecemos na 116ª posição. 127 Palavras finais ESTRATÉGIA PARA CRESCER Sebrae PR 2022 Os horizontes estão abertos Quando visitávamos as diversas instituições, era inevitável compará-las ao nosso Sebrae, com atuação no Paraná. Fazíamos reflexões sobre os serviços que prestamos à sociedade e aproveitávamos para tirar dessas visitas referências para o nosso planejamento rumo a 2022, quando completaremos 50 anos de existência. Em que pesem as diferenças culturais, econômicas e históricas entre nossos países, podemos considerar que o Sebrae é uma das instituições mais efetivas do mundo em termos de apoio aos pequenos negócios. Vimos in loco que instituições gigantes de apoio ao empreendedorismo não têm, nem de longe a abrangência e a relevância da nossa instituição. Quando falávamos sobre os nossos programas, a maneira de trabalhar e o número de empresários atendidos, as pessoas espantavam-se e queriam saber mais e mais sobre a nossa forma de agir. Para alguns países, um sistema como o Sebrae e a competência dos nossos parceiros de trabalho cairiam como uma luva neste momento. Sobre o Sebrae PR, podemos dizer que sempre estivemos no caminho certo sabendo moldar nosso trabalho às circunstâncias e às necessidades dos nossos clientes nas horas apropriadas. Essas viagens, planejadas em minúcias e em rigoroso trabalho de benchmarking, vieram em boa hora e estão sendo de extrema valia para nossas ações presentes e futuras. Algumas aplicações já estão sendo realizadas, por exemplo: zz sonhos, metas e visão estratégica devem ser compartilhados com todos; zz é necessário reforçar as parcerias estratégicas com as demais entidades que prestam serviços ao mundo empresarial, cuidando para que não haja sobreposição de serviços; 130 PALAVRAS FINAIS zz a inovação deve ser pauta permanente e, como tal, deve ser estimulada ao máximo, tanto em nível interno quanto como incentivo e apoio aos nossos clientes; zz atenção e apoio aos parques tecnológicos, clusters, centros de excelência e às instituições de ensino e pesquisa; zz é necessária maior aproximação entre o mundo universitário e o setor privado. Mecanismos práticos de comunicação e parceria devem promover essa aproximação; zz é preciso monitorar de forma constante as principais tendências tecnológicas e a evolução do mercado mundial. O Sebrae PR e seus parceiros empreendedores precisam se abrir para o mundo; zz apoiar, participar e ajudar o estado do Paraná em seus projetos regionais de governo e de entidades setoriais a alcançarem o mercado internacional; zz médias empresas brasileiras precisam de mais atenção; zz convencer nossos políticos e empresários de que todos são responsáveis pela melhoria do nível educacional do nosso povo. Só com educação de primeira linha, conseguiremos um novo e desenvolvido país; zz infraestrutura e logística devem ser da mais alta qualidade e de execução rápida; zz ajudar a despertar no jovem empreendedor forte sentimento de patriotismo e orgulho nacional; zz incentivar sempre a necessidade de foco nas ações estratégicas e não sair delas até que o trabalho esteja realizado. zz Provavelmente, os asiáticos devem ter algo similar ao provérbio latino “res, non verba”, pois levam muito seriamente a execução dos planos e metas, ou seja, “ação e não palavras”. O Brasil, por causa do seu enorme mercado doméstico, fica fora do radar da maioria das micro e pequenas empresas brasileiras. Mas, se almejamos ser um importante player no mercado mundial, não podemos ignorar o papel que as micro, pequenas e médias empresas deveriam buscar. 131 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Reflexões Finais PLANEJAMENTO, FOCO E PERSEVERANÇA – O SEGREDO DO SUCESSO Após o término dessa viagem, cada um de nós escreveu suas observações e reflexões sobre o que vimos, não apenas no mundo das instituições congêneres que dão apoio aos pequenos negócios, mas sobre as diferentes culturas e costumes e suas diferentes realidades. É preciso compartilhar sonhos! 132 Anexos ESTRATÉGIA PARA CRESCER Anexo 1 O Sebrae no Paraná e o Desdobramento da Estratégia do Sistema Sebrae – da visão para a ação Em 2012, o Sebrae completou 40 anos de uma história marcada pela transformação da vida de muitos empreendedores e pela promoção do desenvolvimento no Brasil. Entretanto, bons resultados passados não são a garantia de um sucesso no futuro, ou seja, o modelo de atuação que nos trouxe até o presente poderia não ser capaz de responder ao dinamismo da sociedade e aos anseios dos empreendedores do futuro. Foi pensando no futuro que se iniciou em 2011 uma profunda reflexão sobre a atuação do Sebrae no Paraná, o Projeto Sebrae PR 2022. Uma data cheia de significados. 2022 marcará os 200 anos da independência do Brasil e os 50 anos do Sebrae. Como serão o Brasil, as empresas e os empreendedores em 2022? Essa reflexão iniciou-se com a premissa de debater, de forma ampla e irrestrita, o futuro do Sebrae com a comunidade empresarial do Paraná. Na crença do Conselho Deliberativo do Sebrae PR, o futuro da instituição deveria ser construído coletivamente, por representantes da sociedade paranaense, dentre eles empreendedores, empresários de micro e pequenas empresas, conselheiros do Sebrae PR, lideranças empresariais, colaboradores, parceiros, clientes e não clientes. Foram promovidos 15 encontros em todo o estado nos quais os quase 500 participantes contribuíram com 338 ideias. Essas ideias foram consolidadas e organizadas em seis linhas estratégicas de atuação.Dessa reflexão sobre o passado e o futuro do Sebrae PR, resultou uma constatação. De que o papel do Sebrae foi e será o de promover transformações na sociedade, a partir do empreendedorismo e dos pequenos negócios. E, se o papel da instituição é promover transformações, decorre uma questão fundamental: qual é o agente elementar da transformação? Esse raciocínio conduziu a uma conclusão simples, mas de extrema profundidade. O agente de transformação da sociedade por meio do empreendedorismo e dos pequenos negócios não é a pequena empresa, mas sim, o empreendedor. 136 ANEXOS Atuando nos pequenos negócios, há sempre um ser humano, empresário e empreendedor. Em outras palavras, o empreendedor ou empreendedora tem na empresa o seu meio para provocar transformações na economia e sociedade. Todavia, a amplitude de tais mudanças possui fatores limitantes. O ambiente de negócios condiciona a capacidade de transformação do empreendedor. Dessa forma, conforme figura abaixo, foram organizadas propostas de valor para o Sebrae PR em seis linhas estratégicas e em vertentes relacionadas ao ambiente negócios e à empresa, mas com ênfase no papel do empreendedor como agente da transformação. Com base nessa visão, em certa medida conceitual, utilizamos como ferramenta o Business Model Canvas – inicialmente proposto por Alexander Osterwalder – para detalhar o modelo de negócios para cada uma das linhas estratégicas e redefinir a forma de atuação do Sebrae PR. Mas por que começar da estaca zero, se podemos encurtar caminhos e aprender com a experiência de outras pessoas e instituições? 137 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Em 2012, para ampliarmos nosso horizonte, buscamos as melhores referências e melhores práticas no mundo para o fomento ao empreendedorismo e à inovação e realizamos três diferentes missões internacionais. Foi por meio de experiências in loco que pudemos comparar e tirar a melhor lição, de cada país, para assim aplicar o aprendizado aqui mesmo no Brasil. A primeira dessas lições chama-se foco! As dificuldades enfrentadas pelos pequenos negócios no Brasil são imensas, bem como as possibilidades para atuação do Sebrae. Na ausência de foco, as chances de desperdícios de esforços são grandes. Por isso, antes de tudo, deve haver clareza sobre o papel institucional do Sebrae. Definimos a nossa proposta de valor para a economia e sociedade, ou seja, a missão institucional do Sistema Sebrae, que é a de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e fomentar o empreendedorismo para fortalecer a economia nacional. O foco deve ser, portanto, não no esforço, mas nos resultados, que, por seu turno, precisam ser medidos de forma sistemática. Isso requer a definição clara de indicadores de resultados. E assim, uma vez que o objetivo final da jornada tenha sido definido, melhores são as condições para que se planejem e se aloquem devidamente os recursos visando à obtenção de resultados. Isso implica num reforço da forma de atuação do Sistema Sebrae, ou seja, na aplicação de uma Gestão Estratégica Orientada para Resultados (GEOR). Ainda em 2012, o Sistema Sebrae, capitaneado pelo Sebrae Nacional, conduziu uma revisão do seu direcionamento estratégico com vistas ao ano de 2022. Esse direcionamento teve como objetivo rever e reafirmar os conceitos fundamentais da organização e orientar a atuação das Unidades Estaduais e do Sebrae Nacional, rumo à excelência no apoio ao desenvolvimento dos pequenos negócios. Esse exercício de reflexão estratégica teve como ponto de partida a construção de cenários até o ano de 2022 e, na sequência, contou com a participação de técnicos, gerentes e dirigentes em oficinas presenciais, e também com a contribuição dos colaboradores por meio de uma plataforma, onde registraram ideias, comentários e votações. 138 ANEXOS Ao final, construiu-se um mapa estratégico para o Sistema Sebrae que sintetiza a nossa visão para o futuro e reafirma nosso objetivo de ser referência para os pequenos negócios e contribuir para o desenvolvimento e o fortalecimento da economia nacional. MAPA ESTRATÉGICO DO SISTEMA SEBRAE Com base no direcionamento estratégico do Sistema Sebrae, o Sebrae no Paraná reafirmou a sua missão e visão e desdobrou sua estratégia em seis principais linhas: Pequenos Negócios de Alto Potencial e Potencialização Indicadores de resultado: zz Índice de Evolução da Maturidade de Gestão da Empresa; zz Índice de Gestão da Inovação da Empresa; 139 ESTRATÉGIA PARA CRESCER zz Índice de Crescimento Econômico Sustentável da Empresa. zz Índice de Obtenção /Evolução em Certificações zz Índice de Maturidade do Ambiente Setorial Outra lição aprendida nas missões foi a busca incessante pelo desenvolvimento de empresas com alto potencial de competitividade. Possivelmente, devido ao amplo mercado doméstico que temos no Brasil, o mercado externo ainda está fora do radar da grande maioria dos pequenos negócios no Brasil. Mas se o país almeja ser um importante player no mercado mundial, não podemos ignorar o papel das micro, pequenas e médias empresas na competição internacional. As instituições de apoio que visitamos, de uma forma geral, procuram não “atender” uma pequena empresa, mas sim “desenvolvê-la” (juntamente com seus CEO, líderes) para que possam crescer, criar empregos e exportar. Se um pequeno negócio no Brasil tiver condições de alcançar níveis internacionais de competitividade, certamente prosperará também nos mercados domésticos. Com esse pensamento, o Sebrae PR definiu como objetivo estratégico desenvolver empresas com potencial competitivo, em padrões internacionais. Para isso, as tais empresas, independentemente do seu setor de atuação, deverão buscar a melhoria da sua gestão e fortalecer os mecanismos de inovação (tratam-se dos dois indicadores de resultado almejados). Adicionalmente, uma empresa de alto potencial precisa crescer. Uma empresa com modelos excelentes de gestão e práticas inovadores, mas que não cresce em termos de faturamento e lucratividade, seria como Bonsai (árvores frondosas, mas em miniatura, que não crescem além do tamanho de um vaso). Uma importante forma para catalisar o desenvolvimento da empresa é favorecendo um processo de obtenção e evolução em certificações, pois traz consigo a melhoria em diversos fatores de competitividade. Sendo assim, o Sebrae PR entende que a busca por inovações deve fazer parte da rotina de pequenos negócios de alto potencial. Isso requer, conforme lições internacionais, um relacionamento mais estreito das empresas com centros de pesquisas, laboratórios e universidades. Inovação é um forte fator de diferenciação, competitividade e crescimento empresarial. 140 ANEXOS Fazemos aqui uma observação importante acerca do crescimento empresarial e de aspectos tributários do ambiente de negócios. A legislação tributária em vigor, relativa ao Simples Nacional, classifica como pequenos negócios as empresas com receita bruta anual de até R$3,6 milhões. Acima desse valor de faturamento as empresas já são classificadas como médias e deixam de auferir os benefícios tributários do Simples. Em muitos países visitados, há uma atenção especial não só às pequenas, mas às médias empresas, reconhecendo o seu papel dinamizador da economia. Startups Indicadores de resultado: zz Taxa de Conversão de Startups Formalizadas; zz Taxa de Evolução da Startup; zz Índice de Maturidade do Ecossistema. Há outra modalidade de empresa de alto potencial, mas com necessidades e particularidades em relação às empresas mais “tradicionais”. As chamadas startups são negócios recém-criados, com propostas inovadoras, com baixo custo operacional, modelos repetíveis e escaláveis, atuando num contexto de incerteza e de alto risco. Em razão de suas características peculiares, o Sebrae PR definiu, como objetivo estratégico, contribuir para o desenvolvimento das startups e de seus ecossistemas no estado. Ou seja, a atuação se dará em duas frentes de trabalho. A primeira, com uma abordagem empresarial, visa a auxiliar os empreendedores a converter suas ideias inovadoras em um negócio formal. Para isso, ainda que o foco de atuação do Sebrae se dê nas etapas iniciais de um ciclo de maturidade de uma startup, será importante monitorá-la nas etapas seguintes desse ciclo e, com isso, apurar o seu efetivo desenvolvimento. A segunda frente refere-se ao desenvolvimento de ecossistemas de startups no estado, formados por partes interessadas como: startups , incubadoras, aceleradoras, espaços de co-working , investidores, consultorias, prestadores de serviços, eventos, associações, treinamentos, incentivos governamentais, universidades e entidades de apoio. 141 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Empreendedorismo e Gestão Indicadores de resultado: zz Taxa (Market Share) de Empresas Atendidas; zz Taxa de Empresas Atendidas Presencialmente em ou por Parceiros; zz Taxa de Sobrevivência de Empresas Atendidas com um Conjunto de Produtos Específicos; zz Taxa de Contribuição para Abertura de Pequenos Negócios. É fundamental reconhecer que o Brasil é um país de contrastes, em que empresas com efetivo potencial de competitividade em níveis internacionais coexistem com empresas e empreendedores com necessidades bastante básicas e em nível de quase subsistência. Apesar dos avanços com a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa2, há ainda um grande contingente de empreendedores trabalhando na informalidade. Sendo assim, com uma ênfase em inclusão produtiva, o Sebrae PR objetiva ampliar o número de empresas atendidas, preparando o indivíduo para empreender e gerenciar melhor o seu empreendimento. Tanto aquelas pessoas que empreendem por visualizarem uma oportunidade de negócio inexplorada quanto aquelas que o fazem por uma necessidade imposta pelas circunstâncias da vida têm um sonho, um desejo de ver a prosperidade de seu negócio. Cabe ao Sebrae auxiliar esse empreendedor a ter o sucesso almejado. Isso passa por dar conhecimento e oferecer condições para gerir a sua empresa, ou ainda, para que possa avaliar as condições de sucesso do seu plano antes mesmo de abrir a empresa. Nosso desafio é atuar de forma massificada, por meio da ampliação de canais de atendimento, e oferecer a um grande número de potenciais empreendedores e empresários de pequenos negócios uma gama de soluções de grande efetividade e valia para suas necessidades. Dessa forma, o Sebrae PR reconhece que empresas e empreendedores com necessidades diferentes devem ser atendidos de formas distintas, e, assim, desdobrou o objetivo estratégico do Sistema Sebrae de “ter excelência no atendimento com foco no resultado para o cliente” em três diferentes linhas de atuação: “empreendedorismo e gestão”, “startups” e “pequenos negócios de alto potencial e potencialização”. 142 ANEXOS Educação Empreendedora Indicador de resultado: zz Taxa de Alunos Capacitados pelo Programa Educação Empreendedora. Ter visão de longo prazo implica um olhar sobre as gerações futuras. Se desejamos um país empreendedor, é necessário formar uma cultura nacional com base no empreendedorismo, ou seja, significa educar nossos jovens, despertando neles o espírito empreendedor – desde o ensino fundamental até o ensino superior. Isso significa despertar o chamado para a ação, ou seja, a visão de que é possível transformar boas ideias em negócios. Em quase todos os países visitados, observamos vultosos investimentos em educação: um tema tratado como prioridade nacional. Nos países nórdicos, há foco ainda maior na educação empreendedora. O Sebrae PR entende que, para cumprir a missão de fomentar o empreendedorismo, é necessário um amplo esforço de “semeação” para inserir empreendedorismo em todos os níveis da educação, contribuindo para o desenvolvimento da cultura empreendedora. Sendo assim, o resultado a ser mensurado está relacionado ao conceito de market-share, ou seja, uma relação entre a quantidade de estudantes capacitados e a quantidade de estudantes do sistema educacional. Trata-se, portanto, do desdobramento do objetivo estratégico do Sistema Sebrae de “promover a educação e a cultura empreendedora”. Lideranças Indicadores de resultado: zz Índice de Efetividade do Programa Sebrae de Liderança; zz Índice Qualitativo de Desempenho do Líder. No contexto das organizações contemporâneas, a liderança é um foco crescente de atenção devido à sua abrangência e importância na obtenção de resultados. Não obstante, em face aos grandes desafios da economia e da sociedade brasileira, é ainda mais relevante o papel de líderes – não somente designados pelos cargos que ocupam, mas como pessoas íntegras, autênticas e comprometidas com algo maior que si, ou seja, com espírito altruísta e preocupados com a coletividade. 143 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Pensando dessa forma, o Sebrae PR tem como objetivo preparar lideranças com foco em competências duráveis (ser) e competências transitórios (saber) tornando-os agentes eficazes de transformação. Em muitos países visitados, percebemos a importância das lideranças na construção de um sonho ou desejo coletivo em termos da prosperidade da nação. Aplicando essa experiência ao Brasil, entendemos que diferentes empresários, trabalhadores, profissionais liberais, ou representantes dos diversos segmentos da sociedade poderão assumir, através de grupos de trabalho voluntários, a liderança de diferentes projetos com foco no equacionamento de dificuldades/carências existentes nas comunidades onde vivem. Em outras palavras, o Sebrae acredita que no futuro teremos muitos líderes, relacionando-se com outros líderes, visando ao benefício coletivo, ao desenvolvimento de setores econômicos, territórios e à melhoria do ambiente de negócios. Ambiente de Negócios Indicadores de resultado: zz Índice Doing Business aplicado ao Estado do Paraná; zz Índice Radar Municipal de Ambiente de Negócios. Nas missões internacionais, aprendemos o quão intenso e duro é o jogo da competitividade das nações. Nos últimos anos, em todas as medições de competitividade dos países, como o ranking Doing Business, do Banco Mundial, o Brasil vem perdendo posições. Isso é explicado pelo foco e agilidade de diversos países em identificar seus entraves e montar estratégias para a melhoria do ambiente de negócios, atraindo investimentos e favorecendo o florescimento dos negócios nesses países. Dentre os entraves ao ambiente de negócios no Brasil, destaques para a burocracia na abertura de novas empresas e para a tributação das empresas. O problema aqui não é meramente a elevada carga de impostos, mas a complexidade dos regimes tributários. Nesse sentido, o Sebrae PR tem como objetivo articular e mobilizar os diversos agentes com propostas de estratégias capazes de melhorar as condições do ambiente de negócios. Isso significa, por exemplo, ampliar e aprimorar os mecanismos de acesso ao crédito, favorecer o associativismo empresarial, os mecanismos de acesso à 144 ANEXOS justiça, simplificar a legislação vigente, reduzir a carga tributária dos pequenos negócios, ampliar as compras de micro e pequenas empresas pelos governos, dentre outros. Isso requer uma forte articulação entre os diversos agentes envolvidos e uma clara definição de papéis e responsabilidades. Uma das lições aprendidas nas missões foi a importância do arranjo institucional em prol de objetivos comuns, evitando-se sobreposições e buscando sinergias. O Paraná já vem dando alguns passos importantes nesse sentido, por meio da regulamentação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa Estadual e ainda com a articulação entre as instituições do chamado Sistema S (formado pelo Sesc, Senac, Sesi, Senai, Sebrae, Sescoop, Senar, Sest e Senat). Em 2013, essas instituições formaram grupos de trabalho com foco em diferentes temas, como a definição de setores estratégicos, sinergia de compras, pesquisas conjunturais e estruturas físicas de atendimento e a definição de uma política de educação comum. A linha estratégica “ambiente de negócios” é, portanto, um desdobramento do objetivo do Sistema Sebrae de “potencializar um ambiente favorável para o desenvolvimento dos pequenos negócios”. Concluindo, a figura abaixo relaciona as seis linhas estratégicas do Sebrae PR e também a maturidade e complexidade das necessidades dos pequenos negócios. 145 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Entretanto, um plano estratégico não é algo estático e imutável. É preciso reconhecer a velocidade dos movimentos e transformações da sociedade, a importância de tecnologias rompidas e seus impactos para os pequenos negócios no Brasil e para o próprio modelo de atuação do Sebrae. Reconhecendo o Sebrae como uma instituição baseada no conhecimento, é fundamental fortalecer processos de inteligência e gestão do conhecimento. Em outras palavras, que se utilizem dados, fatos e inteligência para a tomada de decisões, mapeando, protegendo e disseminando de forma mais adequada o conhecimento gerado. Em última instância, o Sebrae PR pretende tornar-se uma organização mais inovadora, flexível, dinâmica e mais atenta a tendências. Uma instituição que agregue mais valor para empreendedores e pequenos negócios (tanto do presente quanto do futuro, com necessidades que ainda estão por vir) e que, de forma mais eficiente, cumpra sua missão e visão. 146 ANEXOS MODELO DA OPERAÇÃO (FRAMEWORK) DO SEBRAE PARANÁ A essência do direcionamento é maximizar a entrega de valor do Sebrae Paraná aos pequenos negócios e à sociedade. Essa proposta de valor é expressa por nossa missão, que é “promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos pequenos negócios e fomentar o empreendedorismo para fortalecer a economia nacional”. O foco da atuação do Sebrae é, portanto econômico, ou seja, buscamos fortalecer a economia nacional por meio da maior competitividade dos pequenos negócios. Por outro lado, não buscamos a promoção do crescimento dos pequenos negócios a qualquer custo. O desenvolvimento dos mesmos precisa ocorrer de forma sustentável, não somente em uma perspectiva econômica (visando a sobrevivência das empresas), mas também preservando o meio ambiente e fortalecendo o capital social. Para isso, o foco deve ser nas competências e no comportamento empreendedor como o agente da transformação, promovendo assim o empreendedorismo no Paraná e no Brasil. Essa transformação observa quatro princípios, que são a territorialidade, a análise estratégica e sistêmica do mapa de produção de cada território, a inteligência competitiva descentralizada e em rede, e o uso de padrões de referência internacionais. Os espaços territoriais são dotados de características particulares, têm uma identidade específica, reúnem pessoas e entidades que acreditam e apostam no crescimento, melhoria e desenvolvimento daquele espaço. Territórios distintos possuem características distintas com relação à infraestrutura, capital social, recursos naturais, ambiente de negócios, ativos tecnológicos, instituições, aspectos de formação cultural singulares, dentre outros. Sendo assim, a aplicação das 6 linhas de ação deve dialogar com as especificidades de cada território, aproveitando as oportunidades, mitigando as fraquezas e desenvolvendo as fortalezas da região. 147 ESTRATÉGIA PARA CRESCER O modelo de operação da atuação estratégica do Sebrae possui assim uma forte visão territorial. É apropriado inferir que a mesma estratégia será aplicada de forma distinta em cada um dos 14 territórios presentes nas 6 regionais do Sebrae no Paraná. Para isso, é fundamental que o Sebrae possua um profundo conhecimento dos territórios e uma visão estratégica e sistêmica sobre o desenvolvimento dos mesmos. Em outras palavras, será necessário conhecer em detalhes o mapa da produção dos territórios, não somente em uma perspectiva presente como também em uma visão futura. Para o Sebrae Paraná, significa por exemplo observar 100% dos ativos dos territórios, os ativos econômicos, políticos, sociais e culturais, mas não somente sob a perspectiva das micro e pequenas empresas, mas também das médias e grandes empresas, universidades, instituições de pesquisa e tecnologia e demais instituições. É por meio desta análise estratégica e sistêmica do mapa da produção que será possível vislumbrar a economia do futuro, identificar os setores emergentes, descobrir o potencial dos espaços. Este olhar envolve também uma análise das três dimensões da competitividade territorial (empresarial, estrutural e sistêmica). 148 ANEXOS Será necessário ainda ter um amplo campo de visão, utilizar uma inteligência competitiva descentralizada e em rede. O modelo de operação do Sebrae Paraná prevê isso. A análise da estratégia do Sebrae Paraná também está na base da entidade, representada pelas unidades estaduais e pelos escritórios regionais, com atuação direta nos territórios. Com essa análise em rede, as ações ganham dimensão. A busca de padrões de referência internacionais (não somente nacionais e estaduais) também é um componente importante da estratégia, para compreender o posicionamento competitivo dos territórios e dos pequenos negócios neles presentes e vislumbrar oportunidades. A busca de padrões internacionais ajudará na criação e no fortalecimento dos empreendimentos e do ambiente de negócios, visando ao aumento da competitividade empresarial e territorial. Passaremos a ter como referência os padrões de desempenho e competitividade de empresas e territórios que apresentam as melhores performances mundiais. O desafio na execução da estratégia com uma visão territorial, com análise do mapa da produção, com inteligência competitiva descentralizada e em rede, e usando como referência padrões internacionais, será criarmos uma verdadeira organização ambidestra, ou seja, que promova a eficácia e eficiência na operação e ao mesmo tempo abra espaço para a inovação e o relacionamento estreito com clientes. Em outras palavras, na aplicação da estratégia em cada uma das 6 linhas de ação, coexistirão 2 modelos de negócios: a) excelência operacional: com foco em desempenho de processos e programas formatados; e b) hub de soluções: um conjunto de produtos, técnicas e ferramentas aplicáveis às necessidades específicas de clientes e parceiros, estabelecendo um atendimento customizado. Para viabilizar essa visão estratégica, o Sebrae Paraná revisou seu modelo funcional, estabelecendo gestores responsáveis por cada uma das 6 linhas estratégicas em nível estadual e replicando esse mesmo modelo em suas regionais, na figura dos gestores regionais das linhas estratégicas. Tais gestores têm como incumbência a leitura do mapa da produção do Estado e de seus territórios, por meio de processos de inteligência executar a estratégia da forma mais apropriada às características dos territórios. Esse modelo é exemplificado pelo diagrama a seguir: 149 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Com isso, ao mesmo tempo em que deverá haver cada vez mais clareza sobre a estratégia, haverá condições favoráveis à inovação, à aplicação de conhecimento na resolução de problemas específicos de cada território. Em outras palavras, haverá maior clareza sobre a direção a ser tomada e também condições para que os colaboradores escolham os melhores caminhos rumo ao norte, isto é, à direção desejada pelo Sebrae no Paraná. Isso vai possibilitar aos colaboradores identificar e aplicar soluções que maximizem o valor da entrega do Sebrae Paraná para os pequenos negócios e para a sociedade. SOBRE O SEBRAE Criado na década de 1970, o Sebrae PR (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná) apoia as decisões dos empresários, dos potenciais empresários e dos potenciais empreendedores, no campo e na cidade, porque é a instituição que entende de pequenos negócios e possui a maior rede de atendimento do País. Ao todo, são 27 unidades e aproximadamente 600 postos de atendimentos espalhados de norte a sul do Brasil. No Paraná, conta com seis regionais e 11 escritórios. A instituição chega aos 399 municípios do estado por meio de atendimento itinerante, pontos de atendimento e de parceiros locais, como associações, sindicatos, cooperativas, órgãos públicos 150 ANEXOS e privados. O Sebrae PR oferece palestras, orientações, capacitações, treinamentos, projetos, programas e soluções empresariais, com foco em desenvolvimento de empreendedores; impulso a empresas avançadas; competitividade setorial; promoção de ambiente favorável para os negócios; tecnologia e inovação; acesso ao crédito; acesso ao mercado; parcerias internacionais; redes de cooperação; e formação de líderes. 151 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Anexo 2 As instituições visitadas PAÍS CIDADE INSTITUIÇÃO Coreia do Sul Seoul KOSBI – Korea Small Business Institute Coreia do Sul Seoul Korea Eximbank Coreia do Sul Seoul Seoul Tech – Seoul National University Coreia do Sul Seoul SBC – Small & Medium Business Corporation Coreia do Sul Seoul SMBA – Small and Medium Business Administration Coreia do Sul Incheon IFEZ – Incheon Free Economic Zone Tailândia Bangkok SME Bank Tailândia Bangkok SEALAC – Southeast Asia and Latin America Trade Centre Tailândia Bangkok Thai Chamber of Commerce Tailândia Burapha Burapha University Malásia Kuala Lumpur MPC – Malaysian Productivity Corporation Malásia Kuala Lumpur SME Bank Malásia Kuala Lumpur Matrade Malásia Kuala Lumpur SME Corp Cingapura Cingapura Spring Singapore Cingapura Cingapura ASME – Association of Small and Medium Enterprises Cingapura Cingapura EDB – Singapore Economic Development Board Cingapura Cingapura International Enterprise (IE) Singapore Dinamarca Copenhagen The Danish Foundation for Entrepreneurship – Young Enterprise Dinamarca Copenhagen Danish Agency for Science, Technology and Innovation Dinamarca Copenhagen CBS – Copenhagen Business School 152 ANEXOS PAÍS CIDADE INSTITUIÇÃO Dinamarca Copenhagen Væksthuset Dinamarca Copenhagen Vækstfonden Suécia Gotemburgo Business Region Gotembourg Suécia Gotemburgo Sahlgrenska Science Park Suécia Estocolmo Invest Sweden Suécia Estocolmo Vinnova Suécia Estocolmo Till Vaxt Verket Noruega Oslo Innovation Norway Noruega Oslo Oslo University Noruega Oslo Siva Noruega Kongsberg NCE Systems Engineering Finlândia Helsinki Finpro Finlândia Helsinki Ministério da Economia e Emprego do Governo Finlandês Finlândia Helsinki Tekes Finlândia Helsinki VTT Finlândia Helsinki Federação Finlandesa das Indústrias de Base Tecnológica Finlândia Helsinki Culminatum Innovation Rússia São Petersburgo Cedipt Rússia São Petersburgo St. Petersbourg Foundation for SME Development Rússia Moscou Russian Agency – for Small and Medium Business Support Rússia Moscou Moscow Entrepreneurs Association Rússia Moscou B2B Consulting Índia Mumbai IMC Indian Merchant Chamber of Commerce Índia Mumbai CIDCO Ltd. Índia Mumbai Arete Technologies Índia Mumbai Infotech – International Infotech Park 153 ESTRATÉGIA PARA CRESCER PAÍS CIDADE INSTITUIÇÃO Índia Bangalore BCIC – Bangalore Chamber of Industry and Commerce Índia Bangalore Peenya Industries Association Índia Bangalore Unnathi CNC Technologies Put. Ltd Índia Bangalore SBD – Karnataka Comercial Bank Índia Bangalore State Bank of India Índia Bangalore KSITDC – Karnataka State Industrial Development Corporation Índia Bangalore Karnataka Tourism Development Índia Nova Delhi Railway Board (Government Indian Railways) Índia Nova Delhi FISME – Federation of Indian Micro and Small & Medium Enterprises Índia Nova Delhi NSIC – National Small Industries Corporation Índia Nova Delhi APG Shimla University Índia Nova Delhi Future Finvest Co. Pyt.Ltd Hong Kong Hong Kong HKTDC – Hong Kong Trade Development Council Hong Kong Hong Kong Invest HK – Hong Kong Special Administrative Region Hong Kong Hong Kong Support and Consultation Centre for SME Hong Kong Hong Kong FHKI Federation of Hong Kong Industries Hong Kong Hong Kong Hong Kong Science & Technology Parks Hong Kong Hong Kong Cuhk Business School Taiwan Taipei IBD – Industries Development Bureau, Ministry of Economic Affairs Taiwan Taipei SMEA – Small and Medium Enterprise Administration Taiwan Taipei Escritório Comercial do Brasil em Taipei Taiwan Taipei ITRI – Industrial Technology Research Institute Taiwan Taipei Hsinchu Science Park China Pequim Cicasme China International Cooperation Association of Small and Medium Enterprises 154 ANEXOS Anexo 3 Definição de Pequenos Negócios em Países Selecionados BRASIL SETOR QUANTIDADE DE EMPREGADOS PORTE Microempreendedor Individual Indiferente Microempresa FATURAMENTO ANUAL Até R$ 60 mil Indiferente Empresa de Pequeno Porte De R$ 60 mil a R$ 360 mil De R$ 360 mil a R$ 3,6 milhões COREIA DO SUL SETOR PORTE QUANTIDADE DE EMPREGADOS FATURAMENTO ANUAL (MOEDA LOCAL) Manufatura Micro, pequenas ou médias até 300 Até 8 bilhões de Won Até R$ 17,5 milhões Mineração, Construção e Transporte Micro, pequenas ou médias até 300 Até 3 bilhões de Won Até R$ 6,6 milhões Varejo e Serviços Micro, pequenas ou médias até 200 Até 20 bilhões de Won Até R$ 43,7 milhões FATURAMENTO ANUAL (R$) 155 ESTRATÉGIA PARA CRESCER MALÁSIA SETOR FATURAMENTO ANUAL (MOEDA LOCAL) FATURAMENTO ANUAL (R$) De 51 a 150 De 10 milhões a 25 milhões de Ringgits Até R$ 17,4 milhões De 5 a 50 De 250 mil a 10 milhões Até R$ 6,9 milhões de Ringgits Micro Até 5 Até 250 mil Ringgits Até R$ 174 mil Média De 20 a 50 De 1 milhão a 5 milhões de Ringgits Até R$ 3,5 milhões Pequena De 5 a 19 De 200 mil a 1 milhão de Ringgits Até R$ 694 mil Micro Até 5 Até 200 mil Ringgits Até R$ 139 mil PORTE Média Manufatura Pequena Serviços QUANTIDADE DE EMPREGADOS TAILÂNDIA SETOR PORTE QUANTIDADE DE FATIVOS FIXOS EMPREGADOS (MOEDA LOCAL) Média de 51 a 200 De 50 a 200 milhões de de R$ 3,4 a R$ 13,7 Baht milhões Pequena até 50 Até 50 milhões de Baht Até R$ 3,4 milhões Média de 26 a 50 De 50 a 100 milhões de Baht de R$ 3,4 a R$ 6,8 milhões Pequena até 25 Até 50 milhões de Baht Até R$ 3,4 milhões Média de 16 a 30 De 30 a 60 milhões de Baht de R$ 2 a R$ 4,1 milhões Pequena até 15 Até 30 milhões de Baht Até R$ 2 milhões Média de 51 a 200 De 50 a 200 milhões de de R$ 3,4 a R$ 13,7 Baht milhões Pequena até 50 Até 50 milhões de Baht Manufatura Atacado Varejo Serviços 156 ATIVOS FIXOS Até R$ 3,4 milhões ANEXOS CINGAPURA SETOR PORTE QUANTIDADE DE EMPREGADOS CLASSIFICAÇÃO MONETÁRIA (MOEDA LOCAL) EM R$ Indiferente Pequenas e médias <=200 Até S$100 milhões Até 180 milhões UNIÃO EUROPEIA SETOR Indiferente PORTE CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE DE MONETÁRIA EMPREGADOS (MOEDA LOCAL) EM R$ Médio < 250 <= 50 milhões EUROS Até R$ 155 milhões Pequeno < 50 <= 10 milhões EUROS Até R$ 31 milhões Micro < 10 <= 2 milhões EUROS Até R$ 6,2 milhões ÍNDIA SETOR PORTE INVESTIMENTOS NA FÁBRICA E QUANTIDADE DE MAQUINÁRIOS, EMPREGADOS EXCLUINDO O TERRENO E CONSTRUÇÕES Micro Manufatura Pequeno Médio Indiferente EM R$ < 2,5 milhões de Rs Até R$ 96 mil >= 2,5 milhões de Rs e < 50 milhões de Rs Até R$ 1,9 milhões >= 50 milhões de Rs e < 100 milhões de Rs Até R$ 3,8 milhões 157 ESTRATÉGIA PARA CRESCER SETOR PORTE INVESTIMENTOS NA FÁBRICA E QUANTIDADE DE MAQUINÁRIOS, EMPREGADOS EXCLUINDO O TERRENO E CONSTRUÇÕES Micro Serviços Pequeno Indiferente Médio EM R$ < 1 milhão de Rs Até R$ 38 mil >= 1 milhão de Rs e < 20 milhões de Rs Até R$ 766 mil >= 20 milhões de Rs e < 50 milhões de Rs Até R$ 1,9 milhões RÚSSIA SETOR PORTE QUANTIDADE DE EMPREGADOS CLASSIFICAÇÃO MONETÁRIA (MOEDA LOCAL) EM R$ Médio 101 - 250 RUB 1 bilhão Até R$ 64 milhões 15 - 100 RUB 400 milhões Até R$ 26 milhões 1 - 15 RUB 60 milhões Até R$ 3,9 milhões Indiferente Pequeno Micro TAIWAN CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE DE MONETÁRIA EMPREGADOS (MOEDA LOCAL) EM R$ Manufatura, Pequeno/ Construção, Médio Mineração < 200 <= NT$ 80 milhões Até R$ 6 milhões Pequeno/ Médio < 100 <= NT$ 100 milhões Até R$ 7,5 milhões SETOR Demais PORTE Conversão para R$ segundo taxa média de câmbio de maio/2014. 158 ANEXOS Anexo 4 Grupo 1 (Missão Sudeste Asiático) Encontro no SMBA – Small & Medium Business Administration, na Coreia do Sul Recepção do SME Bank, na Malásia. Panorâmica de Songdo, que faz parte de Incheon Free Economic Zone, na Coreia do Sul, uma cidade modelo para abrigar 600 mil habitantes Visita a uma pequena exportadora, na Malásia. 159 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Encontro na Malásia, com representantes da Matrade, instituição que executa ações concretas para ajudar as empresas locais a venderem seus produtos no mercado externo Vista aérea do Gardens By The Bay, em Cingapura, um impressionante jardim botânico Encontro com a Spring Singapore, criada para fomentar o desenvolvimento econômico de Cingapura Visita à International Enterprise, agência do governo de Cingapura com foco na economia externa Encontro na SEALAC – Southeast Asia and Latin America Trade Centre, da University of The Thai Chamber of Commerce, na Tailândia 160 ANEXOS Grupo 2 (Missão Rússia Escandinávia) Na Dinamarca, encontro na Væksthuset, instituição financiada pelo governo e cujo foco são empresas com grande potencial e ambição para crescer Encontro no Parque Tecnológico em Kongsberg, na Noruega Grupo da missão Sebrae-PR, na Noruega Grupo visita a Tekes, promotora da inovação, na Finlândia 161 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Encontro na VTT Impulse, maior centro de pesquisas aplicadas e serviços tecnológicos do norte da Europa, na Finlândia Vista da Praça Vermelha, no coração de Moscou, na Rússia Encontro com representantes da Russian Agency for Small and Medium Business Support, em Moscou Visita à Innovation Norway, criada em 2003 para o desenvolvimento e inovação das empresas na Noruega Marca dos países nórdicos, bicicletas fazem parte da paisagem da Noruega 162 Panorâmica de Estocolmo, na Suécia, mostra integração de transportes ANEXOS Grupo 3 (Missão Leste Asiático) Visita do grupo à Shimla University, instituição indiana que oferece educação de classe mundial, conta com 400 alunos e disponibiliza cursos de maior especialização, como engenharia, moda, artes, ciências e gestão Visita ao Invest HK, fundado em julho de 2000 com o objetivo de fortalecer o status de Hong Kong como a localização ideal para negócios das empresas internacionais Encontro com representantes da Hong Kong Development Council, em Hong Kong Encontro na Federation of Hong Kong Industries, em Hong Kong 163 ESTRATÉGIA PARA CRESCER Grupo da missão, em Hong Kong O Consulado do Brasil, nos diversos países visitados, deram apoio às missões do Sebrae-PR Grupo, na Embaixada de Nova Delhi, na Índia 164 Visita do grupo à CUHK Business School, uma entidade de pesquisa, fundada em 1963, com visão global e missão de integrar a tradição e a modernidade, a China e o Ocidente Visita ao Industrial Technology Research Institute, organização sem fins lucrativos, que, desde 1973, tem papel vital nas conquistas tecnológicas de Taiwan Visita do grupo à Small and Medium Enterprise Administration Ministry of Economic Affairs, em Taipei, Tawain