S.A.X. Magazine EDIÇÃO 29
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1 S.A.X. Magazine EDIÇÃO 29 viagem | gastronomia | BEBIDAS | bem-estar Røros Celeiro gastronômico na Escandinávia TE X TO E F OTOS J o h n n y M a z z i l l i No interior da Noruega, a pequena Røros, uma antiga vila de mineração de cobre, preservou seu aspecto original, tornou-se um charmoso destino turístico e está no centro de uma região produtora de excelentes insumos de gastronomia. 3 TIME OFF viagem Sorvetes na Galavold Pudim de baunlha com cloudberry Erzscheidergården Café da manhã no Erzscheidergården Bergstaden restaurant A pacata rua principal de Røros 4 C om pouco mais de cinco mil habitantes, a vila soube aproveitar seu aspecto pitoresco de 300 anos atrás, com seu casario de madeira com portas decoradas, pintadas com cores vibrantes e a marca registrada: os telhados gramados. Além da exuberância da natureza ao redor, com florestas, lagos e belos rios de corredeira, a região tem um histórico de produção de alimentos que atrai cada vez mais as atenções do mundo. Em 1980, a Unesco alçou Røros a condição de Patrimônio Mundial. A exploração do minério de cobre se encerrou em 1972, e deixou sinais peculiares na cidade e no entorno, como a interessante Olavsgruva, uma caverna originada da extração do minério, com 500 metros de extensão e 50 metros de profundidade. Turistas que a visitam empreendem uma viagem ao passado, através de um vislumbre da mineração de cobre desde os seus primórdios, em 1650. Na parte alta da cidade, precisamente ao lado da antiga fundição, hoje convertida em um curioso museu da mineração, montanhas de pequenos fragmentos de ferro fundido, subproduto descartado da separação do cobre, formam uma grupo de dunas negras e íngremes, que no inverno se cobrem de branco e parecem um grupo de montanhas nevadas que assomam no flanco da cidade. Já no longínquo ano de 1771, a realeza da Noruega percebeu que a região era de alto valor estratégico para a produção de alimentos, e criou o que se conhece até hoje como The Circumference – a Circunferência, um limite circular em torno de Røros, e seu interior foi declarado área de especial interesse real. Hoje, a produção destes insumos torna-se cada vez mais expressiva. Renas são criadas Bergstaden restaurant Algo de Magritte na paisagem 5 TIME OFF viagem A famosa Sleggveien, rua tombada pela Unesco Kjerkgata, ou “rua da igreja”, a rua principal de Røros 6 livremente pelas montanhas, com as quais são produzidos cortes, embutidos e defumados. Na Galavold, uma bela fazenda nos arredores, são produzidos queijos estilo Gouda, e ovos e leite biológicos transformam-se em deliciosos sorvetes naturais, de sabor e textura incomuns. No verão, turistas saem da cidade e pedalam até a fazenda para se fartar de sorvete. Nos rios da região, entremeados de corredeiras, cresce o Pike, um peixe predador (Esox lucius), cuja carne branca, firme e saborosa é muito apreciada. Além das corredeiras, o pike também é criado em lagos adjacentes aos rios, e sua carne é exportada para restaurantes da Europa, notadamente para estabelecimentos em Londres, onde caiu no gosto dos comensais. Pelas florestas, alces e javalis procriam livremente, e a caça é praticada dentro dos limites das cotas estabelecidas pelo governo, e os restaurantes da cidade estão sempre bem abastecidos de seus cortes. Pelos campos, faisões são abundantes e também abastecem os restaurantes. Frequentemente, os próprios chefs locais vão à caça, e durante os meses do verão, aproveitam estas saídas para se abastecerem de cogumelos porcini, que crescem em profusão nos campos úmidos. A alguns quilômetros da cidade, antílopes são criados para a produção de embutidos finos. Pelos campos, crescem em abundância algumas variedades de berries, pequenas frutas características das regiões de clima temperado frio, com as quais são elaboradas saborosas geléias de cores vibrantes. No Noma, o celebrado restaurante dinamarquês situado na capital Copenhagen, eleito três vezes o melhor do mundo, a manteiga utilizada na cozinha é produzida em Røros, cuja pequena fábrica produz também um saboroso queijo cottage. No Erzscheidergården, nome difícil de um pequeno e acolhedor hotel e restaurante local, o café da manhã já foi premiado como o melhor da Noruega – o que definitivamente não se traduz em dezenas de opções, e sim em oferecer um set irresistível de delícias típicas, elaboradas com produtos frescos locais. Tamanho envolvimento com a gastronomia só pode ser possível através de muita dedicação continuada - em Røros, 7 TIME OFF viagem Bergstaden restaurant fevereiro, com quatro dias de duração. O mercado – Røros Martnan, com o tempo tornou-se o principal evento do calendário turístico da cidade, com mais de 200 expositores e que atrai anualmente mais de 20 mil visitantes. Os expositores e produtores rurais vendem suas artesanias, geléias, ovos, embutidos, manteigas, peixes e carnes defumadas, presuntos de rena e de ovinos, queijos e cogumelos. Espetáculos de dança e shows com bandas de rock e blues se sucedem noite adentro. Como o evento acontece no fim do inverno, o frio faz os pubs e restaurantes ficarem literalmente abarrotados de gente, que atravessa a noite bebendo, comendo e dançando. • Prato de Mikael Forselius Criação de cervos para produção de embutidos Chef Mikael Forselius Erzscheidergården Hotel & Restaurant as crianças estudam gastronomia no ensino fundamental, com ênfase na produção local. O resultado é que as pessoas têm uma espécie de orgulho cívico de seus destacados insumos locais. Além disso, qualquer pessoa na cidade sabe precisar de imediato onde se situam os produtores dos mais variados insumos. Além da gastronomia, que atrai cada vez mais turistas, a cidade também tem expressiva produção artística. No pitoresco e muito bem preservado centro histórico, encontram-se diversas lojas e oficinas de artesãos, dos quais o maior expoente é, sem dúvida, o escultor Per Sverre Dahl, com suas curiosas e bem humoradas peças de argila. Em 1853, um decreto real determinou que todos os anos tenha lugar em Røros um mercado público festivo de rua, sempre na segunda quinzena de Sleggveien, a rua tombada Fazenda de cervos para produção de embutidos finos 8 9 TIME OFF viagem Como chegar Acima, pratos de Mikael Forselius. Abaixo, café da manhã no Erzscheidergården Quem Leva A SWISS tem voos diários de São Paulo a Zurich, e de lá a Oslo. Do aeroporto de Oslo são três horas até Røros em um confortável trem. [11] 3048 5810 www.swiss.com Onde Ficar Vertshuset Hotel www.vertshusetroros.no Onde Comer Vertshuset www.vertshusetroros.no Erzscheidergarden www.erzscheidergaarden.no Bergstaden www.bergstadenshotel.no Quando ir Fevereiro – No fim do longo inverno escandinavo, tudo está inteiramente nevado e o frio é ameno. A cidade torna-se mais bucólica e acolhedora, com muita neve e luzinhas acesas em toda parte. São populares os passeios de trenó e de esqui, e é a época do festival Røros Martnan. Junho a agosto – Nos meses de verão a paisagem é verdíssima e exuberante. Há atividades para todos os gostos, como caminhadas, pedaladas, descidas de rios em caiaque, pesca de pike e salmões, visitas a produtores variados, caçada de cogumelos, degustações e festivais gastronômicos. Informações sobre Røros www.roros.no Turismo na Noruega www.visitnorway.com/us 10 TIME OFF viagem Itália 5 em tempos Cenários maravilhosos, a deliciosa culinária italiana, vinhos incríveis e muita história num percurso inesquecível através de cinco regiões da Itália TE X TO E F OTOS J o h n n y M a z z i l l i naquele passadiço de piso de tijolos, ouvindo o barulho incessante do mar abaixo, de repente me passou pela cabeça quantas conversas não se desenrolaram ali ao longo dos séculos. A noite se aproximava e o twilight acentuou a atmosfera de acolhimento. Na cozinha do The Cesar, o restaurante do hotel, premiado com uma estrela Michelin, o chef Michelino Gioia preparava um surpreendente menu degustação centrado em pescados e frutos do mar, servido com diferentes vinhos provenientes do próprio Lazio, uma região de ótima viticultura mas pouco conhecida. O dia amanheceu nublado, com vento forte e incessantemente. Passei a maior parte da manhã e o começo da tarde fotografando os arredores. No meio da tarde, deixei o hotel rumo a Toscana, duas horas ao norte dali. L azio A viagem começou no Lazio, região ao redor de Roma, na pequena Ladispoli, a pouco menos de 50 km da capital. Lá me instalei no La Posta Vecchia, um casarão construído no século 17 como residência de verão de uma família de aristocratas. Fechado por décadas, foi posteriormente restaurado e transformado em hotel de luxo. Em seu subsolo, durante uma obra, foram descobertas ânforas, vasos, pisos em mosaicos ricamente elaborados e outros artefatos com dois mil anos de idade. Hoje, é um museu aberto aos hóspedes, onde eventualmente são servidos jantares exclusivos para pequenos grupos. Poucos lugares têm uma atmosfera tão singular e acolhedora como o La Posta Vecchia. Situado defronte ao mar, em toda a extensão do prédio há um longo terraço. A visão da construção em terracota, banhado pela luz dourada do fim da tarde e diante de um mar chapado e cinzento, com um castelo fechado ao fundo, emprestava um ar de mistério à cena. Quase não havia hóspedes nesse dia e a tarde estava tranquila e luminosa. Sentado 12 The Cesar Artefatos de dois milênios de existência 13 TIME OFF viagem Toscana Nos dias anteriores, fortes tempestades causaram inundações que acarretaram sérios problemas em algumas áreas. Mas o dia nublado e de vento deu lugar a uma tranquila tarde de sol quando eu chegava ao meu destino, o L’Andana Hotel, na charmosa Castiglione della Pescaia, região toscana de Maremma, célebre pelas excelentes vinícolas lá instaladas e seus cobiçados Brunellos de Montalcino. A colheita das uvas já estava encerrada, e nos vinhedos as folhas ganhavam rapidamente tons avermelhados, realçados pela luz do sol que atravessava a folhagem. Na manhã seguinte, visitei a belíssima vinícola Petra, em Suvereto, a 40 minutos de distância. Lá passei algumas horas conversando com o diretor de produção, que me guiou pela propriedade, explicando as particularidades dos vinhedos, o caráter dos solos e os métodos de produção. Por fim, experimentei os ótimos vinhos lá produzidos e tomei o caminho de volta, onde assim que cheguei emendei outra degustação na Tenuta La Badiola, situada junto ao hotel, onde Alain Ducasse tem um restaurante premiado com duas estrelas Michelin, mas 14 Vinhedo de Sangiovese L’Andana Tenuta La Badiola que infelizmente naquele dia encontravase fechado. Voltei ao hotel a tempo de fotografar o cair da noite, com o céu azul e as luzes se acendendo. Cacho de Viogner a caminho da colheita tardia, para a produção de Vin Santo 15 TIME OFF viagem Brescia Na manhã seguinte, deixei o L’Andana e segui para Florença, ao norte, onde prossegui de trem a Milão, mais ainda ao norte. Lá, continuei para o terceiro destino, o L’Albereta Relais Chateaux, um SPA médico situado em meio aos vinhedos da vinícola Bellavista, o maior produtor de Franciacorta da região. A região da Brescia é célebre por seus excelentes espumantes produzidos pelo método clássico, denominados Franciacorta. A Bellavista possui 190 hectares de vinhedos, divididos em 109 parcelas de cultivo. Cada parcela é vinificada separadamente, num processo árduo e meticuloso. Depois de encerrada toda a vinificação, Mattia Vezolla, o premiado enólogo chef da vinícola, eleito esse ano pela segunda vez o melhor enólogo da Itália, seleciona quais parcelas comporão os blends de quais vinhos, e tem início a alquimia que resultará nos deliciosos espumantes da vinícola. Se o hotel da Toscana tinha uma atmosfera mais tranquila e intimista, o L’Albereta, por sua vez, tem uma pegada mais jovem e dinâmica, movimentado com muitos hóspedes em busca de tratamentos médicos e emagrecimento. 16 Franciacorta no remouage, vinícola Contadi Castaldi Escultura em ferro na vinícola Bellavista 17 TIME OFF viagem O luxuosíssimo Villa F O imperdível Vini al Bottegon Veneza Após dois dias desfrutando da hospitalidade do hotel, de sua excelente gastronomia e de muito Franciacorta, peguei um trem rumo a Veneza. Ao chegar à estação de trens de Santa Lucia, um acqua taxi me levou direto ao Il Pallazzo Bauer, onde me hospedei por dois dias. Eu já havia estado em Veneza há dois anos, mas assim como da primeira vez, caminhei incansavelmente pelas vielas, pontes, becos e canais. A cidade não estava tão cheia, como de costume, o que tornou a caminhada mais desimpedida e prazerosa. Infelizmente, navios gigantescos de cruzeiro tem visitado Veneza diariamente, levando hordas com milhares de turistas que desembarcam e causam tsunamis humanos, o que vem causando protestos e discussões acaloradas. A visão daqueles gigantes atravessando o Grand Canal não parece uma coisa conexa com o lugar. Independente dos grandes cruzeiros, o fluxo de turistas do mundo inteiro em Veneza é algo desconcertante e ininterrupto. Desta vez, encontrei a cidade envolta numa névoa seca e esbranquiçada, que esmaece qualquer cor, então a maior parte do tempo eu fotografei pensando em preto e branco. Nos dois dias que fiquei em Veneza, eu almocei 18 Petiscos matadores no Vini al Bottegon e jantei numa pequena trattoria chamada Piccolo Martini, a curta distância da Piazza San Marco, onde comia pizzas e massas deliciosas a preços mais baixos que em São Paulo. Veneza pode ser muito cara, mas há ótimos estabelecimentos bons e baratos, onde se come muitíssimo bem. No segundo dia, um passeio de barco através de áreas menos visitadas da cidade possibilitou outro vislumbre de Veneza, que eu não havia tido anteriormente. Finalizei o passeio diante de um pequeno alimentari e loja de vinhos, o Vino al Bottegon, afastado do burburinho principal, onde me deliciei com porções generosas de bocados, picles, queijos e taças de vinho. De noite, encarei um jantar no hotel. Na varanda do hotel, vendo o Grand Canal e após muitos vinhos, permaneci absorto, escutando uma música indistinta ao longe e fragmentos de conversas que pareciam chegar a mim em câmera lenta. • Il Pallazzo Bauer 19 TIME OFF viagem do Alto Ádige, em pequenos vinhedos de cinco hectares em média, a partir de uvas típicas de clima frio, como a tinta nativa Lagrein, o Pinot Grigio e a Gewürztraminer. Após o agradável step da adega com um papo entusiasmado sobre a viticultura local, um delicioso jantar seguido de um descontraído bate papo na acolhedora sala encerraram com chave de ouro um longo dia de uma longa e surpreendente viagem. Na manhã seguinte muito cedo deixei o lodge, e uma jornada de carro, seguida de uma de ônibus e outra de trem me levaram a Turim, onde cheguei exausto, para no dia seguinte, participar do Salone Internazionale Del Gusto, do Movimento Slow Food. De lá segui para mais uma semana no bucólico Piemonte – mas isso são outras histórias. A lto Á dige (Dolomitas) Dia seguinte, após descansar um pouco mais e me recompor dos excessos do dia anterior, fotografei um pouco e de tarde deixei Veneza rumo a Cortina, uma pequena cidade no maravilhoso Alto Ádige, Sudtirol, região mais conhecida como Dolomitas, junto à fronteira com a Áustria, no extremo norte da Itália. A paisagem de colinas e vinhedos verdejantes do Veneto deu lugar a um cenário escarpado e imponente, pontuado por centenas de grandes montanhas rochosas e glaciares. Uma região onde os italianos falam primeiro alemão, e depois, italiano. Onde ainda se fala o Ladino, um idioma quase extinto. Lá, me abriguei no San Lorenzo Lodge, uma propriedade com uma história muito interessante e peculiar. De um casario datado do século 16, abandonado e em ruínas, foi completamente restaurado, mantendo seus aspectos de época. Os proprietários, Stefano e Georgia, são anfitriões magistrais. Stefano cuida de receber e entreter os hóspedes e Geórgia cozinha magnificamente bem. Stefano me levou a conhecer sua adega, na parte de baixo da casa, muito bem abastecida com rótulos célebres do mundo todo. Mas ele se orgulha mesmo é de sua coleção de vinhos locais, todos produzidos lá mesmo por “fazendeiros”, como ele se refere, 20 Stefano fala entusiasticamente sobre os vinhos do Alto Ádige Dicas & By Yourself San Lorenzo Lodge Quem Leva A Swiss tem voos diários de São Paulo à Zurich, e de lá à Roma (e também à Milão e Florença) [11] 3048 5810 www.swiss.com Onde Ficar Ladispoli: La Posta Vecchia – www.lapostavecchia.com Toscana: L’Andana – www.andana.it Brescia: L’Albereta – www.albereta.it Veneza: Il Pallazzo Bauer – www.ilpalazzovenezia.com Alto Ádige (Dolomitas): San Lorenzo Lodge www.sanlorenzomountainlodge.com Tour de barco por Veneza A guia veneziana Giordana Losi conhece a cidade como poucos +39 34 5397 9803 [email protected] 21 TIME OFF viagem Masmorra do Castelo de Chillon Auberge de l’Onde, em St-Saphorin Próxima parada: Suíça O Lac Lèman, os vinhedos históricos de Lavaux com suas vinícolas centenárias, o célebre festival de jazz de Montreux, o charmoso centro de Vevey, seus surpreendentes chocolates, a gastronomia do lago, a onipresença dos queijos, vinhos e embutidos locais e a proximidade com a glamourosa estação de esqui de Gstaad, a uma hora de distância num percurso encantador de trem, são um verdadeiro deleite para os turistas mais descolados. Descolados porque geralmente quem viaja a Suíça já conheceu outros destinos turísticos mais convencionais na Europa e está em busca de novos horizontes. E que horizontes! O grande lago domina a paisagem, estendendo-se pelo fundo do vale por 72 km. Nos meses de verão, a incidência do sol em sua superfície cria uma enorme reflexão de luz nas encostas repletas de vinhedos, incendiando 22 A placidez do cenário, a atmosfera contemplativa e uma gastronomia tão refinada como pouco conhecida marcam duas surpreendentes cidades vizinhas, Montreux e Vevey, situadas no próspero sul da próspera Suíça TE X TO E F OTOS J o h n n y M a z z i l l i Lac Léman, ou Lago de Genève a paisagem e dando uma mão no amadurecimento das uvas. Em Vevey, no boulevard do lago, turistas e locais vão e vem em tranquilas caminhadas, o mesmo vai e vem que Charles Chaplin fazia todas as manhãs após se mudar para lá, onde viveu até o fim de seus dias. Nos pubs e cafés a beira do lago, o clima é de tranquilidade e contemplação. Do outro lado do lago, a França, Évian-le-Bagnes. Pela manhã, vale uma visita ao Castelo de Chillon, o mais famoso da Suíça, em Veitaux, uma pequena cidade ao lado de Montreux. Não é possível datar com exatidão sua construção, mas os primeiros escritos são do distante ano de 1150. O castelo serviu durante séculos como posto militar de controle de pessoas e mercadorias entre a Riviera Vaudesa e a Planície do Ródano, na Itália. A dez minutos do castelo e a cinco minutos de carro do centro de Vevey, estão os célebres vinhedos históricos de Lavaux, alçados a condição de Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco, em 2007. Nas encostas inclinadas defronte o grande lago, esparramam-se 850 hectares de vinhedos em pequenas propriedades, meticulosamente esculpidos em terraços de pedra de todos os tamanhos, com mais de 800 anos de existência e pontuado por vilas medievais, com suas adegas, tabernas e restaurantes. De setembro a outubro é a época da colheita das uvas e a folhagem nos vinhedos começa a ganhar tons avermelhados, antes de cair no início de inverno. Vinhos de Louis Bouvard, um dos produtores mais inovativos de Lavaux Oficina de relojoaria de Lionel Meylan, no centro de Vevey St-Saphorin, uma das vilas medievais de Lavaux 23 TIME OFF viagem Barcos de pesca no Lac Léman Deliciosos queijos de massa mole da Fromagerie Fleurette, em Rougemont Brechó & antiguidades em Vevey Chocolates da Confiserie Poyet O acolhedor vagão vintage do clássico Golden Pass, o trem que faz a rota Montreux - Gstaad Restaurant des Trois Sifflets Vilas medievais nos vinhedos de Lavaux Após uma agradável exploração pelas vielas estreitas e tortuosas entre os vinhedos empoleirados nos terraços, almoce no tranquilo e acolhedor Auberge d l’Onde, na pequena vila de SaintSaphorin, detentor de uma estrela Michelin, onde se serve pratos tradicionais da culinária suíça, harmonizados com os vinhos locais. De sobremesa experimente o Vermicelle, um delicioso purê de chest nut (castanhas portuguesas). Ou pule a sobremesa, volte a Vevey e vá direto à um autêntico 24 templo do chocolate artesanal, a Confiserie Poyet. Blaise Poyet foi eleito, em 2010, o mestre chocolatier do ano. Algumas de suas surpreendentes criações são plenas de significados, como um chocolate “chilli”, em homenagem aos colhedores de pimenta de Sichuan, na China, que leva o ingrediente na composição, ou uma iguaria especialmente criada para a visita do Dalai Lama a Suíça, que recebe infusão de flor de lótus e outros Centro de Vevey Vevey Vinhedos de Lavaux ingredientes inusitados, como a Tsampa, a farinha de cevada torrada dos tibetanos. Um de seus hits são os sapatinhos de Charles Chaplin, vendidos em réplicas de latas de filme ou em miniaturas de caixas – de sapato, claro. Merecem ser saboreados calmamente, de preferência apreciando a vista do lago Lemán e o vai e vem preguiçoso dos cisnes. Não é fácil deixar a confiserie, mas é chegada a hora de enveredar pelas ruazinhas ao redor e explorar o pequeno comércio local, com seus restaurantes, pubs, lojinhas e brechós curiosos. Para os aficionados em relógios, Lionel Meylan oferece imersões na intrincadíssima relojoaria suíça, em atividades que vão desde 3 horas de duração até uma semana inteira. Dentre tantas coisas boas da Suíça, destaca-se sua impecável hotelaria, da qual o belíssimo Trois Couronnes, situado as margens do Lac Lèman, é um exemplo de excelência. Sua varanda debruça-se sobre o boulevard do lago, e nos meses de verão, o Bar Veranda é o lugar perfeito para um champagne e para curtir tranquilamente a paisagem ao cair da tarde. No inverno, a atmosfera acolhedora do pub e seus sofás são um convite para um drink antes do jantar. Próximo ao Trois Couronnes, fica o casual Restaurant de Trois Sifflets, que serve deliciosas quiches, saladas e variados pratos despretensiosos, como porções de Pérche, um peixe saboroso e abundante no Lac Lèman. O dono do estabelecimento é um sujeito bem humorado e piadista. Uma das atividades mais agradáveis é pegar um trem na Doces artesanais da Confiserie Poyet Chocolates e doces artesanais da Confiserie Poyet 25 TIME OFF viagem estação de Montreux e subir a Gstaad, num trajeto de apenas uma hora de duração, onde o trem atravessa cenários idílicos. No inverno, a paisagem torna-se ainda mais deslumbrante. Gstaad é uma estação de esqui muito famosa e chique, onde os imóveis atingem valores irreais, estratosféricos. Mas ainda melhor que a pequena Gstaad é pegar o trem de volta a Montreux e descer duas ou três estações abaixo, na pequeníssima Rougemont, para visitar a Fromagerie Fleurette, uma pequena produção de queijos artesanais de massa mole, considerados entre os melhores da Suíça, um país que goza de enorme reputação mundial em queijos de qualidade. Tudo é produzido de forma natural utilizando o leite do gado que vive nas pastagens ao redor. Pegando o trem novamente após a visita na Fromagerie, chega-se de volta ao ponto final, em Montreux, e então é hora de tomar outro trem de volta a Vevey, um trajeto de no máximo 10 minutos, regressar ao hotel e se preparar para um jantar inesquecível no surpreendente Le Restaurant, dentro do Hotel de Trois Couronnes. Recentemente premiado com sua primeira estrela Michelin, sua cozinha refinada, de estilo contemporâneo, utiliza muitos ingredientes regionais e é leve e inventiva. Apesar da extensa carta de vinhos de várias nacionalidades e procedências, arrisque um vinho suíço, como por exemplo, um chasselas, variedade branca símbolo da enologia suíça, bastante consumido com fondue e raclete, ou opte por um aromático Petit Arvine, casta de uva branca tipica do Valais. De Vevey, peguei o trem e segui a Zermatt, no Valais, um belíssimo vale pontuado por vinhedos e bucólicas vilas de montanha, onde continuei a explorar esse pequeno e belíssimo país. • Trois Couronnes St-Saphorin, Lavaux Trois Couronnes Trois Couronnes Dicas & By Yourself Quem Leva A SWISS tem voos diários de São Paulo a Zurich, e de lá, de trem a Vevey [11] 3048 5810 www.swiss.com Trois Couronnes Trois Couronnes De trem pela Suíça Uma dentre muitas coisas boas de viajar pela Suíça é poder contar com um eficiente sistema de trens, que funciona a perfeição. Limpos e confortáveis, rápidos e pontuais, os trens levam a toda parte no país. Swiss Travel System – www.swisstravelsystem.com Onde Ficar Hotel des Trois Couronnes – www.troiscouronnes.ch Visite Oficina de Relojoaria Lionel Meylan – www.lionel-meylan.ch Turismo na Suíça – www.MySwitzerland.com 26