How Cows (Grass-Fed Only) Could Save the Planet
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How Cows (Grass-Fed Only) Could Save the Planet
Salve o Planeta: Coma Mais Carne Bovina* Nos últimos anos, os ambientalistas vêm criticando duramente os bovinos. Entre o que os bovinos comem e excretam, a produção de gado emite muitos gases de efeito estufa. Porém, se alimentados apenas a pasto, os bovinos podem desempenhar um papel fundamental na reversão das mudanças climáticas. Por Lisa Abend Um celeiro está sendo construído numa fazenda na costa do estado de Maine, nos Estados Unidos. No momento, é pouco mais do que uma laje de concreto e alguma vigas de madeira, mas quando estiver concluído, abrigará até seis cabeças de gado e alguns ovinos durante o inverno. Nada disso seria digno de nota se não fosse o fato de as pessoas que estão construindo o celeiro serem dois dos produtores de orgânicos mais respeitados do país: Eliot Coleman, que escreveu a bíblia da produção de orgânicos, The New Organic Grower (sem tradução no Brasil), e Barbara Damrosch, colunista de horticultura e jardinagem do jornal The Washington Post. Num momento em que um número cada vez maior de ativistas ambientais está clamando um fim à carne, este poderoso casal vegetariano está começando a fazer o contrário. ―Por quê?‖, pergunta Coleman, pisando na lama a caminho da estufa repleta de nabos de inverno. ―Porque me preocupo com o destino do planeta.‖ Desde que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) publicou um relatório em 2006 atribuindo ao gado 18% das emissões mundiais de gases de efeito estufa produzidas pelo homem – o que, segundo o relatório, significa mais do que o produzido pelo transporte – os bovinos têm sido duramente criticados. No início, eram apenas os grupos vegetarianos que usavam os achados das Nações Unidas como prova da superioridade de uma dieta composta apenas de produtos vegetais. Porém, desde então, um número cada vez maior de ambientalistas está se unindo à causa. Numa recente audiência no Parlamento Europeu intitulada ―Aquecimento Global e Política Alimentar: Menos Carne = Menos Aquecimento‖, Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, argumentou que reduzir o consumo de carne é uma ―medida simples, eficaz e de curto prazo por meio da qual todos podem contribuir" para reduzir as emissões. Pastagem necessária O gado desta fazenda em Hardwick, Massachusetts, não é criado em confinamentos, mas em pastagens, uma vez que esta ajuda a manter o dióxido de carbono no solo. Confinamentos X Pastagens O que os bovinos comem determina, em grande parte, seu impacto ambiental. Veja os dois caminhos possíveis até seu prato: ALIMENTADOS COM GRÃO A produção de fertilizantes para culturas de ração animal pode resultar na emissão de 41 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono (CO2) por ano. Ativistas Barbara Damrosch e Eliot Coleman, produtores de orgânicos de Maine, planejam criar gado a pasto para ajudar a desacelerar as mudanças climáticas E entre todos os animais que os humanos comem, nenhum é mais responsabilizado pelas mudanças climáticas do que os que mugem. Os bovinos não somente consomem alimentos que requerem mais energia do que outras criações, mas também produzem mais metano, um poderoso gás de efeito estufa, do que outros animais. "Se a sua principal preocupação é conter emissões, não deveria comer carne bovina", afirma Nathan Pelletier, um economista ambiental da Universidade de Dalhousie em Halifax, Nova Scotia, Canadá, observando que os bovinos produzem de 6 a 14 Kg de dióxido de carbono por 0,45 Kg de carne. Então como Coleman e Damrosch acreditam que colocar animais em sua fazenda ajudará o planeta? O produtor Ridge Shinn tem a resposta. Em um sábado de inverno em sua fazenda em Hardwick, Massachusetts, ele está no pasto tentando fazer com que rechonchudas vacas da raça Devon caminhem para um novo piquete cheio de capim. Ao longo de um ano, seus 100 animais farão quatro ou cinco rodízios em 70 hectares. "A criação de gado convencional é como a mineração, é Cowboy do carbono Ridge Shinn usa terras improdutivas em Massachusetts para alimentar o gado ALIME NTADOS A PASTO O pasto requer muito pouco, além da luz solar, para crescer. Fertilizantes e pesticidas geralmente não são necessários insustentável porque você apenas tira sem colocar nada de volta. Mas quando faz o rodízio de pastagem, a equação muda. Você coloca mais do que tira." Funciona assim: as gramíneas são perenes. Faça o rodízio de gado e outros ruminantes em pastagens repletas dessas gramíneas e o animal cortará as lâminas foliares à medida que se alimenta, estimulando assim o novo crescimento. Além disso, ao caminhar, o animal mistura esterco e outras matérias orgânicas em decomposição no solo, transformando-o em um rico húmus. As raízes das plantas também ajudam a manter a saúde do solo porque retêm água e micróbios. E um solo saudável mantém o dióxido de carbono dentro da terra e fora da atmosfera. Compare isso aos estimados 99% de bovinos de corte dos Estados Unidos, que vivem seus últimos meses em confinamentos, onde são empanturrados com milho e soja. Nas últimas décadas, o aumento dessas operações de confinamento resultou em milhões de hectares de pastagens e grandes áreas de floresta abandonadas ou convertidas em lucrativa terra agricultável para alimentação animal. "Grande parte da pegada de carbono da carne vem da plantação de grãos para alimentar os animais, o que requer fertilizantes à base de combustíveis fósseis, pesticidas e transporte", afirma Michael Pollan, autor de O Dilema do Onívoro (publicado no Brasil pela Editora Intrínseca). "A carne de animais alimentados a pasto tem uma pegada de carbono muito mais leve." Aliás, embora estes animais produzam mais metano do que os confinados (as plantas com alto teor de fibra são mais difíceis de serem digeridas do que os cereais, como pode confirmar qualquer pessoa que já sentiu os efeitos de comer repolho ou brócolis), suas emissões totais são menores porque ajudam o solo a sequestrar carbono. De Vermont, onde o produtor de bezerros e gado leiteiro Abe Collins está desenvolvendo um software para ajudar os fazendeiros a produzir rapidamente um solo de cobertura rico em carbono, até a Dinamarca, onde Thomas Harttung cria 150 cabeças de gado a pasto na fazenda Aarstiderne, uma vanguarda de pequenos produtores está tentando divulgar o quanto são mais ecológicos do que as fazendas industriais. "Se você suspende um bovino no ar com baldes de grãos, ele é ruim", explica Harttung. "Mas se você o coloca no devido lugar — no pasto — este bovino torna-se não apenas neutro, mas negativo em carbono." Collins vai mais além. "Com o manejo adequado, pequenos produtores e grandes pecuaristas podem atingir um aumento de 2% nos níveis de carbono no solo em terrenos agrícolas, pastagens e desérticos nas próximas duas décadas", estima. Alguns pesquisadores admitem a hipótese de que um aumento de apenas 1% (reconhecidamente sobre grandes áreas) seria suficiente para capturar todo o equivalente das emissões de gases de efeito estufa do mundo. As grandes propriedades consomem uma quantidade enorme de combustíveis fósseis. E a demanda por culturas de grãos para ração transformaram vastas áreas de florestas em fazendas O transporte de ração, totalizando muitos quilômetros em todo o mundo, encarece a conta dos gases de efeito estufa A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) vincula o aumento das emissões de metano à produção de gado em confinamento e seus sistemas liquefeitos de esterco Os confinamentos, que levam menos tempo para engordar os animais, produzem carne mais rapidamente do que o sistema à base de pasto. Os bovinos misturam a matéria orgânica em decomposição no solo, o que ajuda a fixar o CO2 na terra e fora do ar. O alimento dos animais (pasto) e o fertilizante de capim (esterco) são produzidos exatamente onde são necessários. Em comparação com animais em confinamento, os bovinos alimentados a pasto produzem mais metano, porém geram menores emissões totais Uma vez que é necessário mais tempo mais para engordar um boi a pasto, um quilo de carne moída podem custar 14 dólares, mais do que o dobro da carne de animais confinados. Este cálculo funciona em parte porque produtores como Shinn não usam fertilizantes ou pesticidas na manutenção dos pastos, e a única fonte de energia de que precisam para produzir alimento para seus animais é o sol, que recebem gratuitamente. Além disso, as pastagens muitas vezes estão em terras que seriam improdutivas para outros fins. "Eu gostaria de ver alguém tentar cultivar soja aqui", comenta, apontando para os campos íngremes e rochosos ao seu redor. A carne proveniente de animais que pastam é sabidamente mais saudável. E o mesmo se aplica aos próprios animais. Com essa prática, não são necessários os antibióticos que os confinamentos são forçados a administrar para prevenir a acidose que ocorre quando os animais se alimentam de grãos. Mas isso também parece se aplicar para as pessoas que comem carne bovina. Quando comparada com a carne de confinamento, a carne ―verde‖ tem menores teores de gordura saturada e mais ômega 3, os ácidos graxos bons para o coração encontrados no salmão. Porém nem todos estão convencidos de sua superioridade. Além de citar o maior preço da carne verde (a carne moída de Shinn acaba sendo vendida a cerca de 14 dólares por quilo, mais do que o dobro do preço da carne de confinamento), os confinadores dizem que, apenas através da economia de escala, a indústria pode produzir carne suficiente para atender à demanda, especialmente para uma população em crescimento. Esses críticos observam que, pelo fato de o pasto ser menos calórico do que os grãos, são necessários de dois a três anos para que um animal a pasto chegue ao peso de abate, enquanto um animal de confinamento necessita de apenas 14 meses. "Não apenas são necessários menos animais em confinamento para produzir a mesma quantidade de carne‖, diz Tamara Thies, chefe do conselho ambiental da Associação de Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos (National Cattlemen's Beef Association), que contesta os 18% da FAO, "mas pelo fato de engordarem tão rapidamente, há menos chances de produzirem gases de efeito estufa." Para Allan Savory, a mentalidade das economias de escala ignora o papel que os herbívoros alimentados a gramíneas têm em combater as mudanças climáticas. Quando trabalhava com conservação da fauna e flora silvestre no Zimbábue, Savory culpava o excesso de pastoreio pela desertificação. "Eu estava preparado para atirar em qualquer fazendeiro sem-vergonha no país", relembra. Porém, por meio da rotação de pastagens de grandes rebanhos de ruminantes, constatou que poderia reverter a degradação da terra, transformando um solo morto em belas pastagens. Como ele, Coleman agora debocha da mania que os ambientalistas têm de transformar a carne em vilão. "A idéia de que deixar de comer carne é a solução para os males do mundo é ridícula‖, afirma, em sua fazenda em Maine. "Um vegetariano que come tofu fabricado com soja cultivada no Brasil é responsável por mais CO2 do que eu." Uma vida produzindo verduras e legumes durante todo o ano o ensinou a valorizar a elegância dos sistemas naturais. Quando ele e Damrosch tiverem comprado os animais, "poderão usar o esterco para alimentar as plantas e os resíduos das plantas para alimentar os animais‖, afirma. "E embora não possamos comer o capim, o transformaremos em algo que podemos comer." Time Magazine - Lisa Abend