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veio carregado de esperança, o
sentimento que contagiou 85% dos
brasileiros e todos os setores da vida do país.
Todos esperamos que venham – rápidas, efetivas, transformadoras – as tão necessárias
mudanças, mote principal das campanha dos
candidatos à Presidência.
As mudanças começam a chegar e passam
pela direção da ACERP: sai Fernando Barbosa
Lima, entra Beth Carmona na presidência da
entidade.
“Mudar” tem como significado mais expressivo
“dispor de outro modo”. E é precisamente isto
que todos esperamos da nova presidente da
ACERP, que nos chega ungida pela aura das
mudanças incorporadas pelo novo governo –
como bem o atesta a fala do Secretário de
Comunicação Social, na cerimônia de posse
(veja na página 4).
Presente à posse, a SOARMEC pôs-se à inteira
disposição da nova direção da ACERP para
contribuir no planejamento desse “outro modo”
de que tão agudamente necessitam as Rádios
MEC, neste momento.
Nesta edição do “Amigo Ouvinte”, voltamos a
expor e analisar as graves questões técnicooperacionais e administrativas que vêm cerceando cada vez mais o desempenho das duas emissoras. Confira na página 4.
Ao mesmo tempo, reiteramos aqui nossa disposição em contribuir, junto à nova direção da
ACERP, para que o atual estado-de-coisas seja
“disposto de outro modo”.
O documento entregue ao presidente Lula –
veja a íntegra na página 5 – explicita claramente nossas propostas de mudança, e seu sentido é
o de “revitalização e retomada”.
Confiamos em que, mais do que um debate retroativo e desgastante, teremos a “correção de
rota” na direção das propostas de uma rádio educativa e cultural, moderna e eficiente – como
queriam Roquette-Pinto e Henrique Morize, ao
colocar no ar, em 23 de abril de 1923, a 1ª
emissora de rádio brasileira.
É auspicioso que as comemorações destes 80
anos coincidam com o clima de mudança trazido
pelo atual governo, e, assim, inspirem os planos
de ação da nova diretoria da ACERP. Oportunas
e inadiáveis, tais mudanças serão, sem dúvida, o
melhor presente de aniversário que as Rádios
MEC, seus funcionários, colaboradores e
ouvintes, poderiam receber.
2003
1923
Amigo Ouvinte
Ano XI • Nº 34 • MARÇO DE 2003
I N F O R M AT I V O D A S O C I E D A D E D O S A M I G O S O U V I N T E S D A R Á D I O M E C
ACERP tem novo presidente
Acervo TVE
M u da n ça s no a r
IMPRESSO
Editorial
Elizabeth Carmona – na foto, entre o Secretário de Comunicação da Presidência, Luiz Gushiken e
a diretora de TV Rosa Maria Crescente – é, desde o dia 21 de fevereiro, a nova diretora-presidente
da ACERP, a associação que administra a TVE e a Rádio MEC – páginas 3 e 4
SOARMEC recebe
Prêmio Estácio
de Sá 2002
SOARMEC foi eleita pelo Conselho Estadual de
Cultura, por unanimidade, para receber o prêmio
Estácio de Sá, 2002, na Categoria Comunicação.
Instituído em 1977, para contemplar pessoas e instituições que se sobressaem, anualmente, nos diversos setores culturais, o Estácio de Sá é um dos mais importantes
prêmios culturais do Estado do Rio de Janeiro.
Indicada ao Conselho pela Academia Brasileira
de Música – a quem mais uma vez agradece –, a
SOARMEC obteve, assim, mais um incontestável
reconhecimento dos serviços prestados à cultura
brasileira e ao rádio educativo-cultural. Veja fac-simile
da notificação, ao lado.
A
Também neste número
Alto-falante
Cartas
Uma carta para Lula
Quatro perdas
2
2
5
7
Adorno em Nova York 9
A Rádio do meu tempo,
entrevista com Allan Lima
e Ieda de Oliveira
11
O ouvinte permanente
Números da CAO
Coluna do Conselheiro
Programações
OITENTA ANOS DE RÁDIO NO BRASIL
15
15
15
16
2003
Alto-Falante
SONIA VIRGÍNIA MOREIRA também doou e autografou trës
ediçóes recentes de seus livros para nossa biblioteca.
O VETERANO Paulo Cezar Bourget, do Setor de
Planejamento e Orçamento, já não trabalha
mais na rádio. Foi substituído pelo seu homônimo
Paulo Cezar Pestana.
Marlene Aparecida Mattos,
do mesmo setor, pediu
transferência para o Ministério da Fazenda.
A LIVRARIA Só Letrando batizou o seu café literário com o
nome do poeta Geir Campos, que foi importante produtor da
PRA-2. O café fica em Niterói, na rua José Clemente, 27.
O SELO RÁDIO MEC, que muitos confundem com o Selo
SOARMEC, foi contemplado com polpudo financiamento pela
Petrobrás Distribuidora. Veja anúncio na página 8.
PESQUISA realizada em São Paulo mostra que as vendas de
CDs, lá, caíram quase 50 %. Não deve ser muito diferente o
percentual de queda das vendas no Rio e em outras cidades.
YATA ANDERSON , veterano do
jornalismo esportivo, aposentou-se no início do mês.
ESTUDO DA UNESCO apurou que a maioria dos 70 países
que firmaram o compromisso de “Educação para todos” – no
Forum Mundial de Educação, em 2000 – não irão cumprir as
metas acertadas de reduzir a exclusão educacional até 2015.
JOSÉ LUIZ SOARES do Nascimento é o novo locutor
contratado pela MEC FM, para o lugar do saudoso Paulo
Márcio (veja necrológio na página 7).
PAULO SANTOS, o lendário introdutor do jazz no Rádio
Brasileiro e o mais famoso locutor da antiga PRA-2, está
recolhido, desde novembro, na Casa São Luiz, no Caju.
O ANALFABETISTMO adulto chega a 868 milhões, em
todo o mundo. No Brasil, 13,63% dos adultos são analfabetos, o que dá cerca de 20 milhões de pessoas. Veja trecho
do discurso do novo Ministro da Educação, nesta página.
EDINO KRIEGER, ex-presidente da SOARMEC, é o novo
presidente do Museu da
Imagem e do Som.
PESQUISA DO ISER concluiu que um terço dos moradores de favelas ouvem rádios comunitárias. Para
mostrar a todos o que é esse tipo de rádio, está no
ar, no prefixo AM 1180, a Rádio Viva Rio – parceria do Viva Rio com o Sistema Globo de Rádio.
NOSSA PEQUENA
coleção de rádios antigos
cresceu bastante com a
doação feita por Zé Zuca
(foto).
Foto JC M
ello
A BIBLIOTECA Tude de
Souza recebeu duas
sensacionais doações de
Allan Lima: quatro
volumes de scripts
raros, assinados por
Pascoal Longo e Otto
Maria Carpeaux, e o
raríssimo livro
“Como falar e
escrever certo”, de
Otacílio Rainho,
professor de
Português do
programa “Colégio do ar”.
O MINISTÉRIO da Cultura tirou do ar o canal TV
Cultura e Arte, que era distribuído por operadoras de
TV- paga e acessível por meio de parabólicas. O
Cultura e Arte foi criado em 2001 e encontrou resistências no próprio governo (a Radiobrás era contra).
Seu custo operacional era de R$150 mil, mensais.
ONDAS CURTAS é o nome da nova publicação da
SOARMEC, cujo 1º número saiu em janeiro. Seu objetivo é manter nossos sócios informados durante os intervalos entre os números do AMIGO OUVINTE, que, por
questões econômicas, está saindo muito espaçadamente.
MOANA Mayal, nossa ex-colaboradora, está fazendo, por
sua produtora MOTIM, um diagnóstico de nosso site, no
intuito de atualizá-lo jornalisticamente e capacitá-lo para
que preste os serviços que é potencialmente capaz de
prestar ao usuário.
Cartas
Tenho sido ouvinte (e amigo) dos 800 kHz da
nossa MEC AM, mas infelizmente está se
tornando cada vez mais difícil manter o hábito.
(...)ªInconformado com a súbita piora do sinal (...) quase
sempre no meio de um programa, liguei muitas vezes
para vários departamentos da rádio, e o que sabem dizer
é: “está normal”. “de nada sabemos”, “ninguém
reclama”, “aqui estamos ouvindo bem”, “o problema
deve ser na recepção”... E tinha que continuar ouvindo
apitos e zunidos(...) Bom, problemas
de recepção (de qualquer emissora) sempre existem, é
claro. Geralmente ocorrem em zonas limítrofes do
alcance do sinal de rádio-frequência, ou devido a
obstáculos locais (que pode ser o meu caso, morador da
Ilha do Governador) – mas também dependem da
potência de transmissão!
Bom, num dia de sorte, alguém do setor técnico me
atendeu bem e soube informar o seguinte: a AM possui
dois transmissores, um principal de 100kW de potência
(o que é muito bom!), e outro, reserva, de 10 kW. Mas
disse também que o principal não costumava usar toda a
sua potência, e que às vezes era o reserva que transmitia
2
a programação (...) Portanto, fico pensando: a MEC
AM, um dia investiu em um equipamento de ótimo
potencial, capaz de ombrear seu sinal com os das
maiores emissoras comerciais (...) Mas hoje ela fica
apenas espremidinha entre o potente sinal da CBN (que
durante o dia é efetivamente de 100kW) e o da
Manchete (não tão forte, mas suficiente para abafar o da
MEC). (...) A quem interessa isso? Quem se sentiria
prejudicado com uma melhores programações do Brasil
transmitindo com um sinal potente, audível, emfim,
disputando honestamente a audiência?
Aluisio Lemos
Gostaria saber o porque das deficiências técnicas.
Falta pessoal técnico? O operador dorme ou sai
para lanchar? Tenho um pouco a impressão que isso
realmente acontece porque observo muitas vezes uma
pausa muito grande (não somente de segundos mas sim
de minutos) entre o fim de uma musica e a volta do
apresentador.
Gerhard Hackstein
Ami go Ouvinte
é uma publicação da SOARMEC
Sociedade dos Amigos Ouvintes
da Rádio MEC.
De Utilidade Pública Municipal
(Lei nº 2464) e Estadual (Lei nº 3048)
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COMUNICAÇÃO: José Renato Monteiro
PATRIMÔNIO: Reinaldo Ramalho
SECRETÁRIO: Renato Rocha
CONSELHO FISCAL:
Sérgio Cabral, Norma Tapajós
e Otto A. de Castro
COLABORADORES:
Paulo Garcia, Renata Mello
CONSULTOR JURÍDICO: Letácio Jansen
CONTADOR: Manoel Mescouto
COORDENAÇÃO GRÁFICA: J. C. Mello
Trechos do discurso de posse
do Ministro da Educação
Cristovão Buarque
(...) Tenho muitas razões para estar aqui,
feliz, contente e agradecendo ao presidente
Lula. Mas a mais importante é a luta contra o
analfabetismo.
Cheguei onde eu gostaria na minha vida. Por
isso hoje, eu não penso, em absoluto, em ter
uma disputa eleitoral no futuro. A minha disputa agora é com a história. E com a história
para cumprir esse compromisso de termos,
nesse país, abolido o analfabetismo.
(...) Não é possível que um país que tem a
mesma língua, fabrica aviões, tem hidrelétricas,
tem tanta riqueza, não consiga fazer com que
todos os adultos leiam a língua, que quase todos
falam, salvo alguns grupos indígenas. Não é
possível. É uma vergonha que nós não temos o
direito de viver com ela e muito menos de deixá-la para gerações que venham depois de nós.
Nós herdamos um Brasil com analfabetismo.
Mas, por favor, não repassemos para os nossos
filhos e netos, para gerações futuras, um Brasil
com a chaga do analfabetismo.
(...) Quero fazer uma referência depois a
outro grupo, ao qual eu vou me dedicar: as
crianças brasileiras. (...) Quando alguns anos
atrás, o Ministério da Educação deixou de ter a
Cultura, mantiveram o “C” do MEC. Naquela
época eu disse: como podemos falar em Educação, se escrevemos errado a sigla do Ministério
da Educação? Hoje, quero dizer que a sigla não
está errada: aquele C na sigla é de “Criança”. A
partir de hoje, esse é o Ministério da Educação
e das Crianças brasileiras. (muitos aplausos).
ACERP tem nova presidente
Empossada em 21 de feverereiro,
pelo Conselho de Administração,
em cerimônia na TVE, que contou
com a presença do atual secretário
de Comunicação, Luiz Gushiken, e
várias personalidades da política e
da mídia eletrônica, Elizabeth
Carmona traz para trabalhar em
sua equipe, como Diretora de TV,
Rosa Maria Crescente; como Diretor Financeiro, Orlando Guillon;
e mantém o experiente Silvio ReNa cerimõnia de posse, Luiz Gushiken,
nan Ulisséa na Direção Executiva. Elizabeth Carmona e Fernando Barbosa Lima
Acervo TVE
quarto Diretor-presidente da
ACERP é uma pessoa preocupada
com a qualidade da programação da
mídia eletrônica e responsável por
programas premiados, aqui e no exterior. Em seu discurso de posse (veja
box à direita), Elizabeth Carmona fêz
referências ao rádio e à Rádio MEC, o
que é muito auspicioso, pois contraria
uma tendência cultivada por quase todos os responsáveis máximos pela
TVE e Rádios MEC – desde a antiga
FUNTEVÊ, até a atual ACERP.
O
Acervo TVE
Perfil profissional
Beth Carmona foi diretora de
programação da TV Cultura, de São
Paulo, onde trabalhou de 1987 a 1998,
sendo eleita membro da Diretoria
Executiva da emissora por
duas gestões consecutivas, durante as quais a
emissora chegou a
ocupar, em São Paulo, o segundo lugar
em audiência.
Responsável por
uma programação dirigida ao
público infan
to-juvenil, reconhecida no Brasil e no exterior,
Beth Carmona
também supervisionou projetos
para o público adulto,
com destaque para programas históricos, sociais e culturais. A
longa lista de realizações inclui as séries
Mundo da Lua, Castelo
Ra-Tim-Bum, Cocoricó e X-Tudo, e os
programas Turma da Cultura, Matéria
Prima, Leituras do Brasil, Olhando para o Céu, e Nossa Língua Portuguesa;
além de co-produções nacionais e internacionais.
Em junho de 1999, assumiu a Direção
de Programação e Produção dos canais
Discovery Kids e Animal Planet, do
grupo Discovery, para a América
Latina e Ibéria. Nesse cargo, foi
responsável por supervisionar as coproduções internacionais e os projetos
realizados em parceria com produtoras
brasileiras e latino-americanas, em um
trabalho que gerou programas como
Cyberkids, Eco Aventura Amazônia,
Acesso Total, Missão Astronauta,
Amigo Zôo, Os Brasileiros, Expedição
Langsdorf, e Novos Heróis-Animais
em Extinção, entre outros.
Em janeiro de 2002, Elizabeth
Carmona assumiu a supervisão dos
seis canais do grupo Discovery no
Brasil – Discovery Channel, Animal
Planet, Discovery Kids, Discovery
Health, People & Arts e Travel &
Adventure –, passando a se dedicar
mais intensamente aos conteúdos
brasileiros dos canais, para garantir a
adequação e participação local na
programação.
Apoio Cultural
Em outubro de 2002, foi convidada
para a Direção de Programação e
Produção dos canais Disney e Fox Kids
Brasil, com a responsabilidade de
orientar a produção local e de
identificar talentos e projetos criados
especialmente para o público brasileiro.
Além da grande experiência prática
no desenvolvimento de programações
de qualidade, Beth Carmona também é
uma estudiosa do veículo Televisão,
com
participação
em
eventos
promovidos por organizações como o
UNICEF e a Fundação Internacional
Prix Jeunesse. Em Londres, em 2001,
coordenou o painel da América Latina,
no II World Summit for Children and
Television, e, em março de 2002, integrou o Comitê de Organização do III
World Summit, realizado na Grécia.
Atualmente, participa ativamente da
organização da IV Cúpula Mundial de
Mídia para Crianças e Adolescentes,
que se realizará no Rio de Janeiro, em
abril de 2004.
Elizabeth Carmona preside, ainda, a
ONG Centro Brasileiro da Mídia e da
Criança – MIDIATIVA, que se dedica
ao debate do tema da qualidade na
Mídia.
T r e c h o d o d i s c ur s o d e p o s s e
“O mestre Roquette-Pinto, ao iniciar as atividades do Rádio no Brasil,
disse que o Rádio seria “o livro e o
jornal daqueles que não sabiam ler”.
Interpretar este ideal e evoluir nesta linha de pensamento é valorizar a
missão da Rede Educativa de Rádio e
TV, é contribuir para a formação ampla do nosso povo, é pensar no cidadão
e na construção da cidadania.
Trabalharemos no sentido de recuperar o caráter nacional de nossas
emissoras, com profissionais que
sintam orgulho de participar em mais
uma fase deste projeto. Temos muito
trabalho pela frente, mas acreditamos
numa missão possível .
Televisão se faz em equipe . Radio
também. Só conseguiremos atingir a
qualidade quando as várias áreas envolvidas no processo estiverem afinadas – a área técnica de transmissão,
equipamentos e estrutura deve acompanhar e dar todo suporte aos conceitos, conteúdos, formatos e filosofia.
Produção original e própria, produção
de terceiros, independentes, parcerias
e co-produções. Temos que fazer parte
do projeto que vai impulsionar a produção áudio-visual neste país .
Nessa linha, nossa programação
deve ser diferenciada, alternativa no
sentido mais amplo do conceito. Temos
o compromisso de oferecer um serviço
cultural, educativo e informativo para
toda a sociedade, para todo o Brasil.
Um serviço publico necessário, uma
programação saudável.
Temos que garantir a presença e a
expressão nacional em toda sua variedade e ajudar no processo de formação
de telespectadores mais exigentes, sendo mais exigentes com nós mesmos. Temos que ajudar na criação de referências áudio-visuais de qualidade.”
Reflexão, e informação sobre a música
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3
Pronunciamento quase perfeito
Acervo TVE
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem a
dimensão exata do significado da palavra público e da
palavra educação. São duas áreas no País que sempre
careceram, entre outras coisas, de atenção e até de
respeito por parte dos governantes. (...) E não é a minha
presença aqui que dá o testemunho desse respeito e dessa
atenção. O que dá o testemunho do respeito e da atenção
que o novo governo brasileiro tem pelo público e pelo
caráter educativo da TVE e das rádios MEC é a presença
da Beth Carmona como a nova presidente desta casa.(...)A
história de vida de Beth Carmona é uma prova
incontestável de quanto representa, para nós do governo,
a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto.
Trazer Beth Carmona para esta Casa não foi uma tarefa
fácil. Ela tinha outros compromissos, outros projetos.(...)
Luiz Gushiken, Secretário de Comunicação da Presidencia da República
“quase” do título desta matéria deve-se ao fato de
que há uma frase – no pronunciamento feito pelo novo Secretário de Comunicação da Presidência, na posse
da nova Diretora-presidente da ACERP ( box acima) –
que, tirada do contexto, transforma-se em um dos maiores elogios já feitos à ACERP. No contexto do discurso,
no entanto, fica claro que, ao afirmar que "a história de
vida de Beth Carmona é uma prova incontestável de
quanto representa, para nós do governo, a Associação de
Comunicação Educativa Roquette Pinto", Luiz Gushiken
pretendeu dizer que "a história de vida de Beth Carmona
é uma prova incontestável de quanto representa, para nós
do governo, o bom funcionamento da ACERP e a idéia
das Organizações Sociais".
Assim como está, fica difícil aceitar a frase, pois,
enquanto a premiada folha de serviços da pessoa física
Elizabeth Carmona merece todos os elogios, a folha de
serviços da pessoa jurídica ACERP ainda deixa muito a
O
desejar. Isso talvez explique porque o Secretário acrescenta, na sequência, que “trazer Beth Carmona para esta
Casa não foi uma tarefa fácil.”
Produto endogâmico do governo anterior, que há mais
de quatro anos mistura terceirização com burocracia, a
gestão da ACERP, pelo menos na Rádio MEC, provocou
um esvaziamento sem precedentes – esvaziamento que
vinha de antes, é verdade, mas que adquiriu mais
velocidade e tornou-se inexorável.
Não é função do Amigo Ouvinte avaliar o que foi feito
ou desfeito na TVE, mas, preocupados com a situação da
mais importante rádio educativa-cultural do país, e esperando contribuir para uma futura e desejada mudança,
não podemos deixar de apresentar alguns dados que,
acreditamos, são do interêsse do Secretário e da Diretorapresidente – já que ambos citaram as Rádios MEC em
seus pronunciamentos –, nesta hora de troca de comando
e recomeço de jornada. (RR)
Duas ou três coisas sobre a ACERP-Rádio
G Nesses anos de experimentação administrativa, gerindo uma
rádio pública voltada para a Educação e Cultura, podemos afirmar
que a ACERP – que carecia de experiência anterior em
teleducação – não conseguiu resolver os muitos problemas
herdados da extinta Fundação Roquette-Pinto, e ainda acrescentou
outros à lista. Temos hoje uma FM tautológica – que só não é mais
repetitiva graças a seus produtores, que adquirem e trazem novos
CDs para alimentar a programação –, e uma AM que nem de
repetitiva pode ser rotulada, pois não "fala". Sua abafada chiadeira
é produto de um transmissor velho numa antena da Radiobrás, em
Itaóca, na qual pegamos "carona", e que também não está se
sentindo muito bem.
G O espaço físico da emissora, na Praça de República, carece
cada vez mais de reforma e manutenção. O prédio continua sem a
sonhada escada externa de incêndio, com elevadores caducos e
escadaria em péssimo estado.
G O equipamento radiofônico propriamente dito também carece
de reposição e manutenção. O nível de canibalização dos
aparelhos, chegou ao máximo. Há grave carência de tocadores de
minidisks e CDs.
G A discoteca continua dependendo de doações:não existe um
programa de aquisições de discos.
G O setor Educativo, que não ia bem das pernas, acabou de
acabar, há dois anos, sem choro nem vela.
G Em termos de programação, se, por um lado, foram
acrescentados à grade programas como o de Altamiro Carrilho, e
de Pedro Luiz e a Parede cortou, por outro, muitos programas, e
dissolveu o Conselho de Programação. Saíram da grade: os
programas infanto-juvenis do Zé-Zuca, que faziam link com as
escolas e estimulava a reflexão dos estudantes; o "Nosso Tempo",
que debatia as necessidades dos deficientes físicos; as crônicas de
Mário Negreiros e Alcione Araújo; o programa semanal de
"Defesa do Consumidor"; e os programas de entrevistas, pesquisas
e de serviços na AM.
4
G Como se depreende, todos os programas opinativos foram
sistematicamente extintos. Esta orientação, aplicada ao jornalismo,
amputou o setor, que ficou sem as tradicionais edições matutinas
(quatro) e noturnas (três). Ficou também sem as análises de
economia; sem a reportagem factual; sem as entrevistas sobre temas
inéditos com populares; sem a cobertura de eventos educativos e
científicos; sem os semanais "Painel do Esporte", "Documento Vivo"
(de reportagens sobre um assunto especial), "Memória Brasil" ( que
entrevistava personalidades) , e "Além da Notícia" (que debatia
temas momentosos).
G O Setor de Pesquisa, que já teve 10 funcionários, hoje tem apenas
um – que dá conta do serviço, pois a rádio está quase sem produção.
Vale lembrar que a Pesquisa ainda não foi informatizada, o mesmo
acontecendo com o Acervo de Programação, que possui quase 40 mil
gravações e continua sendo catalogado manualmente.
G Para se ter uma idéia do conjunto, falta acrescentar , ainda, a
extinção do cargo tradicional de “Diretor da Rádio”, a extinção dos
concursos “Talento Rádio MEC” e FESCAN – para concertistas e
estudantes, respectivamente –, e a redução drástica do pessoal da
produção, locutores, técnicos e operadores, com a conseqüente queda
na qualidade da programação e sobrecarga dos que permanecem
trabalhando. Se alguém adoece ou entra em férias, o bicho pega,
porque não há contratações – nem mesmo as temporárias para
substituição em caso de férias, doença ou licença. (RR)
OBSERVAÇÃO NECESSÁRIA. Na listagem acima, não nos
detivemos na criação do Selo Rádio MEC, que tem vários
méritos – cria opotunidade profissional para os 16 artistastítulo e seus acompanhantes, enriquece nossa discografia com
cerca de duzentas canções e peças inéditas, e também dá
visibilidade midiática à emissora. Mas, convenhamos, a rádio
precisa mais de audiência do que de visibilidade e, na verdade,
um selo discográfico é, em si, uma atividade de natureza
extra-radiofònica. Veja anúncio na página 8
Fernando Barbosa Lima
A aplaudida gestão de Fernando Barbosa Lima na
ACERP – aplaudida
por
pessoas
do
padrão de Fernanda
Montenegro – faz
pensar que, caso ele
tivesse sido não o
terceiro mas o
primeiro presidente
da Associação, o
saldo, hoje, seria
muito mais animador. Não podemos
esquecer que ele
assumiu em janeiro
de
2002,
quando, depois
Foto Fabio
Pimentel
de dois anos de
desempenho
abaixo da crítica, a ACERP – sigla
que ele pedia aos jornalistas para omitir e
substituir por REDE BRASIL, em suas matérias
– perdia fôlego, audiência e credibilidade. O
escândalo da censura na TVE ainda estava fresco,
e a amputação de programas jornalisticos e
opinativos, na rádio, ainda sangrava. Como não
era um homem de rádio e como praticamente
restava tudo por fazer na TVE, Fernando
praticamente dedicou-se a esta última.
Não cabe falar, aqui, dos problemas
herdados e resolvidos, ou não, na TVE, nem do
que deixou de ser feito nas Rádios MEC (veja
balanço nesta página). Mas não podemos deixar
de registrar o apoio que Fernando Barbosa Lima e
sua equipe, deram aos Amigos Ouvintes. Ainda
mais quando se lembra que, em relação à nossa
sociedade, Fernando herdou um embaraço que,
certamente, não teria assumido a proporção que
assumiu, se ele, com sua elegância e sentido
ético, estivesse no cargo desde o início. Como se
sabe, Fernando substituiu um diretor-presidente
que combatia a SOARMEC e evitava o diálogo chegando a desmarcar 8 reuniões consecutivas
com nosso diretor-presidente, na época Edino
Krieger. Em sua gestão, Fernando Barbosa Lima
reatou o diálogo da ACERP com a SOARMEC,
autorizou a realização de novos discos da série
repertório – o que permitiu a feitura do CD de
Mário Tavares enquanto o maestro estava vivo –,
veiculou chamadas na TVE e permitiu o retorno
das chamadas da SOARMEC pela Rádio MEC,
além de fornecer a contrapartida para a
estruturação do futuro estúdio de remasterização
da Rádio MEC, em parceria com os Amigos
Ouvintes. Seria uma ingratidão não registrar este
agradecimento a ele e aos componentes de sua
eguipe, com destaque para o diretor Silvio Renam
e o advogado Carlos Adalberto Torres.
“uma volta ao passado dos grandes filmes,
das velhas matinês!!!”
Cine Clube "FILME ANTIGO"
Tex./Fax: (021) 2711-0601 C. Postal: 10.5039
Icaraí - Niterói - RJ CEP. 24.230-970
Carta ao Lula
Pronunciamento do senador Roberto
Saturnino no Senado Federal
Foto JC Mello
“Gostaria de dar notícia à Casa
de uma carta da Sociedade
dos Amigos Ouvintes da
Rádio MEC ao Presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva.
Na verdade, os funcionários e ouvintes da
Rádio
MEC,
especialmente os mais antigos
e ainda vinculados ao
ideal da radiodifusão educativa, nunca se conformaram
ou aceitaram o desligamento da emissora do
Ministério da Educação para a sua vinculação à
Secretaria de Comunicação da Presidência, juntamente
com a Radiobrás. Na verdade, a emissora Rádio MEC
tem uma função eminentemente educativa, que vem
desde a sua criação por Roquette- Pinto, que fez a
doação ao Governo Federal com o compromisso de
mantê-la como emissora educativa e cultural. A
Secretaria de Comunicação, onde está a Radiobrás, tem
outra missão, a da informação do Governo, que nós
consideramos também importante. Tive inclusive a
oportunidade de me manifestar contrariamente, estranhando essa vinculação.
A Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio
MEC fez esta carta, que peço seja transcrita na íntegra
nos Anais desta Casa. A carta historia desde a origem
da emissora, a sua doação à Fundação por Edgar
Roquette-Pinto, depois o Ato do Presidente Getúlio
Vargas, de 1943, criando o serviço de radiodifusão
educativa, exatamente em respeito ao compromisso
assumido com o doador Roquette-Pinto. Enfim, toda a
história, até finalmente esta vinculação estranha à
Secretaria de Comunicação da Presidência da
República.
Sr. Presidente, a carta termina pedindo ao
novo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva que
considere sugestões de diretrizes estratégicas relativas
à Rádio MEC, que rapidamente leio.(...)”
O senador encerra seu pronunciamento lendo
as proposições contidas na carta que vai transcrita na
íntegra, a seguir, nesta página.
Íntegra da Carta ao Presidente
Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2002
Senhor Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
A Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio
MEC – SOARMEC é a primeira e, até o momento, a
única entidade de amigos voltada para uma emissora de
rádio, em todo o Brasil. Criada em 1992, para apoiar as
atividades educativas e culturais da Rádio MEC, a
SOARMEC reúne entre seus colaboradores um representativo grupo de artistas, jornalistas, radialistas, educadores e profissionais liberais preocupados com os rumos da radiodifusão educativa-cultural em nosso país.
Edgard Roquette-Pinto, o pioneiro da radiodifusão brasileira, foi também o primeiro a perceber a
importância do rádio como veículo de difusão da
educação e da cultura. Ele sabia que o rádio poderia se
tornar "a escola dos que não têm escola" e, assim, um
poderoso instrumento de transformação do homem. Em
1923, fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e, em
1936, doou-a ao então Ministério da Educação e Saúde –
com a condição de que mantivesse sua programação educativa e cultural.
Honrando o compromisso, o Presidente Getúlio
Vargas assinou, em 1943, o Decreto 11491, que criava
o Serviço de Radiodifusão Educativa – SRE, implementando o rádio como instrumento de política
pública, ligado ao Ministério da Educação e Saúde. O
SRE tinha como missão "orientar a radiodifusão como
meio auxiliar de educação e ensino, promover, permanentemente, a irradiação de programas científicos, literários e artísticos de caráter educativo e informar e esclarecer quanto à política de educação no país". Mas,
não obstante os bons serviços prestados à educação e à
cultura, o SRE foi sendo progressivamente descaracterizado, a partir de 1964.
Posteriormente, no final do governo Itamar Franco, houve uma tentativa de se transformar as emissoras
educativas do governo (entre elas a Rádio MEC e a TVERJ) em emissoras públicas, voltadas para a educação no
sentido mais amplo, revendo sua constituição e estabelecendo alianças com outros setores da sociedade.
Sentia-se a necessidade de valorizar ainda mais o produto cultural do país, inclusive abrindo espaço para as
manifestações artísticas regionais.
Em janeiro de 1995, entretanto, o governo Fernando Henrique Cardoso transferiu, por decreto, as
emissoras educativas do Ministério da Educação para a
Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Extinguiu os departamentos de educação da TVE
e da Rádio MEC, e criou uma estrutura paralela chamada "TV Escola" – que não correspondeu à demanda do
ensino a distância no país. Em seguida, promoveu a
extinção da Fundação Roquette-Pinto e a criação da
Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto
– Acerp. Era o início do processo de "publicização" que
dura até hoje, com repasse do patrimônio público de
radiodifusão a um grupo privado, através de um contrato
de gestão, sem autorização do Congresso Nacional, sem
visibilidade social e sem um processo licitatório.
Diante deste quadro, não é mais possível protelar
claras e urgentes definições de uma política democrática e
plural para a radiodifusão educativa e cultural no Brasil.
Entendemos que, num governo realmente preocupado com
a identidade do país, tal
política deverá contemplar
diretrizes e estratégias,
como:
1) recuperar o
papel e a função das emissoras públicas de radiodifusão como meio de
educação a distância, promovendo sua utilização como recurso efetivo na democratização do processo educativo;
2) realizar um
criterioso levantamento da realidade da
radiodifusão no país e, em especial,
das emissoras educativas-culturais;
3) criar condições para que se restabeleça uma rede
pública de emissoras, distinta da missão institucional da
Radiobrás. Esta rede deve estar empenhada no resgate,
atualização e aperfeiçoamento do sistema nacional de
radiodifusão educativa e cultural, agrupando Rádios e TVs
educativas estaduais, universitárias, comunitárias e de entidades não governamentais;
4) enfatizar a cidadania em toda a programação,
contribuindo para o processo de desenvolvimento intelectual e moral do indivíduo, visando sua integração e
promoção social;
5) revitalizar o jornalismo, priorizando ações de
acompanhamento e discussão das políticas públicas, além
da divulgação, promoção de debates e transmissão de
eventos educativos, científicos, artísticos e culturais;
6) incentivar os diversos gêneros radiofônicos como documentários, crônicas, literatura, dramaturgia radiofônica, etc., considerando todos os públicos e faixas etárias;
7) estimular e capacitar os profissionais da radiodifusão educativa, além de complementar a qualificação de
estudantes e novos profissionais para o setor;
8) promover o conhecimento das particularidades
regionais da língua portuguesa no Brasil, incentivando o
intercâmbio permanente com a comunidade dos países
lusófonos;
9) abrir espaço para as manifestações artísticas
culturais das diferentes regiões do país e estimular o
intercâmbio de grupos regionais;
10) formular projetos de assistência às emissoras da
rede pública quanto à sua modernização.
Há muito por fazer, não resta dúvida, mas é possível
transformar este cenário adverso. Em consonância com o
lema de Roquette-Pinto – "Pela cultura dos que vivem em
nossa terra, pelo progresso do Brasil" – , a SOARMEC
manifesta a Vossa Excelência estar pronta para ajudar, com
sua experiência de 11 anos, na reconstrução do sistema de
radiodifusão educativo-cultural brasileiro.
Foto Ailton de Freitas
A diretoria da SOARMEC elaborou, no final de 2002, um
documento endereçado ao presidente eleito, com um
curto diagnóstico da situação das emissoras educativas
no Brasil e algumas propostas de ações importantes
para o setor. Com o objetivo de fazer o documento
chegar às mãos do presidente, enviamos cópia ao
senador Roberto Saturnino – que tão bem conhece a
problemática da Rádio e que tem sido incansável na
defesa da emissora. Assim, no dia 14 de dezembro, o
senador fêz mais um pronunciamento no Senado Federal
– o quarto, em menos de dois anos, a ter a Rádio MEC
como tema –, quando, após discorrer sobre a imprópria
vinculação da emissora à SECON, leu a parte
propositiva do documento e determinou que o texto fosse
transcrito na íntegra para os anais daquela Casa. Veja,
abaixo o trecho inicial do pronunciamento do Senador
e. em seguida, a ìntegra da Carta Aberta ao Presidente,
“A historia do homem torna-se mais e mais uma competição entre educação e catástrofe.”
H.G.Wells
5
Enriqueça seu repertório com as Séries
Repertório Rádio MEC
Instrumental Brasileiro Inédito
Gibran Helayel - composições e solos
1- Brejeira
Varanda das Serestas:
2- Afinando o violão
3- Silêncio
4- Inquieto
5- Parati
6- Valsa na Madrugada
7- Volto já (p/ 2 violões)
8- Ventos
Suíte Caladas Estrelas:
9- Tangueando
10- Choro Lento
11- Valsa Rápida
Trio Botelho Freitas Fagerlande
12- Camafeu
13- Dança
14- Cantorias (p/ 3
violões)
Tardes Brasileiras
15- A Tarde
16- O baile nas águas
17- Suspiros
18- Carrossel
19- Bianco
20- Sonhos
21- Elfo Conselheiro
Cinco Prelúdios
MÚSICA A3
SUÍTE QUADRADA
AMOROSO
SOPROS E INVENÇÕES
ARLEQUIM
CARINHOSO
GAIOLA ABERTA
PEQUENO DIVERTIMENTO
TRIO Nº 2
1.2.3
VENDAS: (021)2221-7447 ramais 2207 ou 2210.
E também no CCBB, Loja Funarte, Arlequim, Paço Imperial, Estação Botafogo,
Estação Unibanco, Livraria da Travessa, Livraria Berinjela, Macabrú, Prefácio
Livraria, Livraria Ponte de Tábuas, Modern Sound, Toca do Vinícius, Lamúsica,
Saraiva (RJ e SP), MicroStore (SP), Musical Box (SP), FNAC Brasil (SP), Iluminações
(Campinas), Scriptum Livraria e Papelaria, CD Plus, Disco Mania (BH), Opus (Recife)
e Oliver Discos (PB).
Quatro perdas
O compositor e maestro Mário Tavares
nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte,
em 1928. Em 1944, transferiu-se para o
Recife, acompanhando seu mestre
Tommaso Babini. Em1947,estabeleceu-se
definitivamente no Rio de Janeiro, onde
concluiu o curso na Escola Nacional de
Música e, logo depois, foi contratado
como celista, pela Orquestra do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro. Em 1960,
chegou à direção da Orquestra Sinfônica
Brasileira e, a partir daí, construiu um
currículo impressionante dentro do cenário
nacional, regendo centenas de óperas e
balés, até 1998, e sendo responsável por
dezenas de primeiras audições de obras de
autores brasileiros. Além de suas
atividades regulares à frente da OSB, o
maestro também se sobressaiu como
regente internacional – foi o reorga-
dial brasileiro e para a qual, a simples
presença de Paulo, nos corredores da
rádio, chamava a atenção.
Afirmava não existir fronteiras entre
música popular e clássica, e deu substancial contribuição aos dois gêneros. A
partir dos anos 60, ganhou fama na tela da
TV como principal maestro dos saudosos
festivais da Canção Popular transmitidos
pela Globo, de 1967 a 1975. O maestro
trabalhou na Rádio MEC na década de 50,
quando esteve à frente da Orquestra de
Câmara da Emissora. Embora mais
conhecido como regente, Mario Tavares
deixa obra significativa também como
compositor. O volume 16 da série
Repertório Radio MEC – o primeiro CD
inteiramente dedicado à obra de Mario –
contém quatro peças da primeira fase do
autor, incluindo a gravação da primeira
audição mundial de sua premiada “Rio, a
epopéia do morro”. Faleceu em fevereiro.
Foto J.C. Mello
Seu olfato e humor eram apuradíssimos.
Dizia que “As mulheres cheiram mais
doce, quando estão naqueles dias.” Dizia
também coisas como “O braile é um saco:
o negócio é o rádio e o gravador.”
Paulo via com mais clareza o papel e a
situação do rádio educativo do que muitos
videntes.Sua maior felicidade, confessava,
era “fazer rádio na Rádio MEC”, coisa com
que sonhava desde a década de 70, quando
participou de um programa de variedades
na antiga Rádio Continental. Era imensamente grato a Adelson Alves, que teve a
idéia de trazer o programa para a Rádio
MEC; e ao diretor Paulo Henrique Cardoso,
que deu o sinal verde.
Absolutamente
pontual, o Paulo quase nunca faltava e era
sempre um dos últimos a sair, quando, só
então, apagava as luzes de sua sala. Sem
ele, o 2º andar ficou ainda mais vazio.
nizador da Orquestra Sinfônica de
Lima, no Peru e dirigiu vários
concertos em Washington.e no Chile
(recebeu a medalha Gabriela Mistral
pelo trabalho realizado naquele país).
O então reitor da UFRJ, Carlos Lessa; Mário Tavares e Edino Krieger,
durante a cerimônia de entrega do título de doutor honoris causa, em
novembro, passado.
Fábio Prado
O caipira mais elegante da
Rádio MEC, uma das vozes mais
bonitas do rádio brasileiro, nos deixou, no último dia 15 de dezembro.
Amigo e companheiro, mineiro de
Cataguases, Paulo Márcio tinha 53
anos. O bom humor fazia parte da sua
vida e a mineirice percebia-se de
longe. O mais bonito era seu coração:
puro, humilde, amigo, sempre disposto a estender a mão e a compreender o
próximo.
O jovem Paulo Márcio
deixou a casa dos pais, na roça,
aventurando-se na cidade grande.
Sabia que o interior não lhe daria
muito retorno. Veio parar no Rio de
Janeiro e acabaram percebendo que
tinha talento para o rádio. No ar, nem
de longe lembrava aquele caipira do
roçado, que “ajudava no engenho e
ganhava garapa e melado”, como ele
mesmo escreveu em versos.Trabalhou
nas mais importantes rádios cariocas:
Roquette-Pinto, Tupi, Manchete, Rádio Jornal do Brasil, Rádio Globo e
Rádio Opus 90, terminando sua
missão aqui na Rádio MEC.
Tinha uma incrível versatilidade quando usava o seu instrumento de trabalho. Uma voz aveludada,
firme e elegante que alcançava ótima
performance, tanto em um texto
jornalístico como na interpretação de
uma poesia. Mas os méritos deste
locutor vão para sua característica
mais eminente: era um autodidata.
Sabe-se que Paulo Márcio não
completara o primeiro grau, mas sua
biblioteca não dispensava Kafka,
Simone de Beauvoir e Thomas Mann,
para citar apenas alguns. Isso sem
falar em obras que ele fazia questão de
ler no idioma de origem. Certe vez,
em conversa formal, ele traduziu
algums linha do livro que estava
lendo, todo escrito em francês.
Ficou uma lacuna em cada coração que conviveu com Paulo Márcio.
Resta-nos sua poesia, que ele começou a
escrever pouco antes de deixar este plano
material. São reminiscências, lembranças
de uma infância na roça, que ele descreveu
em tom bem humorado, com uma ponta de
saudosismo. Uma volta ao passado,
parecendo prever a aproximação do fim.
Deixa saudades nosso companheiro. Mas
vamos lembrar sempre da sua alegria, do
seu “jeitim mineiro de ser”.
Os Amigos Ouvintes estão de luto.
Foi-se o nosso Sancho Pança. Foi-se
o fiel escudeiro de nossa quixotesca
sociedade. Com o seu desaparecimento, a Rádio MEC – beneficiária de toda a sua curta e produtiva vida profissional – perde um dos seus mais desinteressados defensores. E perde um
seu futuro historiador, pois ele era
profundo conhecedor da história da
emissora – história que estava ajudando a recuperar e, a seu modo, preparava-se para escrever, um dia.
Fábio veio para a Rádio, há 9 anos,
como estágiário do Curso de Comunicação da UFRJ. Enquanto seus colegas estagiários colocaram-se, depois,
em grandes empresas da mídia, ele
escolheu trabalhar onde pudesse melhor expressar os valores da cultura e
da cidadania – mesmo à custa de submeter-se a um salário absolutamente
desproporcional às suas habilidades.
Católico de formação – um de seus
melhores amigos era o padre Li, um
jovem sacerdote chinês –, Fábio era
uma pessoa sem malandragens ou
segundas intenções. Uma pessoa que
calava sobre os defeitos dos outros e
nunca levantava a voz. Mesmo assim,
escolheu trabalhar na desconfortável
trincheira da sociedade civil.
Sem nunca ter feito parte do
quadro profissional da Emissora, ele
fêz muito mais por ela do que a
maioria de nós, funcionários, que nela
trabalhamos, mas pouco trabalhamos
por ela , ou seja, pouco fazemos pela
preservação de suas características
educativas, culturais e tudo o mais
que Fábio tão bem conhecia – como o
prova sua monografia de formatura
em comunicação pela UFRJ que
recebeu grau máximo e focaliza, justamente, o Rádio Educativo no Brasil,
uma de suas bandeiras.
A outra bandeira era a do
Flamengo, com a qual foi enterrado no
choroso sábado do dia 13 setembro,
sob coroas de flores e palavras de
papel dizendo: "Para tanto amor, tão
curta vida".
Acervo Allan Lima
Não usava bengala, e era quase saltitante que
ele descia as escadas, sem usar
as mãos. Tinha
voz poderosa e
presença leve.
Sempre arrumado, sempre sorridente,
deu
uma lição diária
de vida a todos
nós., durante os anos em que trabalhou
como apresentador da Rádio MEC AM,
onde estreou em 1993, no programa
“Nosso Tempo”, produzido por Ritamaria
Aguiar e coordenado por José Almeida.
Um programa inteiramente voltado para o
público portador de deficiência e suas
necessidades – coisa que faz falta no
Paulo Márcio
Foto Clara Zúñiga
Mário Tavares
Acervo Allan Lima
Paulo Fernando
Daniela Lapidus
Em tempo. Com a colaboração
extraordinária de Livia Rosa, que já
participou de nossa equipe de
colaboradores e hoje está na Editora
Record, os Amigos Ouvintes estamos
preparando a edição em livro da
citada monografia. (mais sobre Fabio
na página seguinte)
7
O futuro estúdio de
remasterização
Foto J.C. Mello
Foto Clara Zúñiga
Um talento interrompido
Fábio ao teclado sob o olhar da sempre-musa da SOARMEC, Ana Paula
s Amigos Ouvintes já sofreram grandes perdas. O professor Jorge Luiz de Souza e Silva,
nosso insubstituível primeiro presidente; e os inesquecíveis e operosos sóciosfundadores Célio Alves Lima, o Padre Almeida e Beatriz Guimarães. Mas o
desaparecimento deles aconteceu dentro da ordem natural das coisas – os três eram idosos.
Fábio tinha só 27 anos.
Felizmente, ainda existem muitas pessoas que abraçam a causa do rádio educativocultural. Conheço dezenas, e todas já têm uma certa idade – o que parece também estar
dentro da ordem natural das coisas. Mas não conheço ninguém com menos de trinta
anos, tão interessado na questão quanto meu infortunado amigo e braço-direito. Para os
que o conhecíamos, diretores, ex-diretores, colaboradores e ouvintes, Fábio era o futuro
da SOARMEC. Era quem não iria deixar a bandeira cair, levando-a a um tempo mais
longe e, talvez, mais proveitoso.
Nem todos sabem, mas – na foto acima, ao teclado do piano Bösendorfer que ele
ajudou a trazer da Áustria e a carregar para a Rádio –, Fábio não está simplesmente
posando de pianista. Músico, de fato – ganhava uns trocados tocando em casamentos e
festas – ele colocou todo seu talento musical a serviço dos discos e programas da
SOARMEC. Os frutos de seu trabalho estão nos 18 primorosos CDs que produziu e
fazem parte das melhores coleções do país; na série sobre música popular; nos livros da
Biblioteca Tude Souza, que ele ajudou a organizar, a encadernar e resenhar; em dezenas
de programas da primeira fase do Ao vivo entre amigos, que ele ajudou a produzir e
montar; na nova aparelhagem do estúdio de remasterização (veja matéria ao lado); no
site da SOARMEC, que fica órfão; e no "Amigo Ouvinte", jornal cujos últimos números
foram praticamente paginados por ele, e do qual ele seria, em breve, o editor-responsável.
É a perda irreparável, propriamente dita. O fato de estar fazendo o seu necrológio,
quando, na ordem natural, ele é que um dia faria o meu, fecha definitivamente um cíclo
da existência da SOARMEC, cujo significado, para este redator, é, simbolicamente, mais
forte do que o fato de termos ultrapassado a barreira dos 10 anos de serviços prestados,
ou termos sido distinguidos pelo Conselho Estadual de Cultura com o maior prêmio
cultural do estado. Um prêmio que ele não viveu para ver, como não viveu para ver a
vitória de Lula, a quem tanto admirava. (RR)
O
Na foto , um dos mais experientes técnicos da Emissora, Cosme Ubiracy, familiarizando-se
com os novíssimos aparelhos do estúdio de remasterização de áudio, adquirido com verba do
Senado Federal e repassada pelo MinC. Orçada em trinta mil dólares, a espinha dorsal da
aparelhagem adquirida pela SOARMEC consiste em um computador Macintosh G-4 e os
softwares da Sonic Solutions contendo os mais sofisticados programas de limpeza de ruídos e
beneficiamento de gravações. Entre outros serviços, o estúdio permitirá a transposição do
acervo da Rádio, cujo suporte é quase todo analógico, para o suporte digital - que conserva a
informação gravada por mais tempo. Em parceria com a ACERP - uma parceria que muito
demorou a dar frutos. Além do equipamento de ponta, a SOARMEC adquiriu o sistema de
garantia SONIC, por um ano, possibilitou apoio técnico para montagem do estúdio e se
responsabilizará pelo treinamento de dois técnicos da Rádio. O veterano Cosme será um deles,
assim que o estúdio for deveras inaugurado.
Nova aquisição da Biblioteca Tude de Souza
Novos CDs do selo Rádio MEC
Com patrocínio da Petrobras Distribuídora, os discos de João de Aquino e Paulo
Feital, já lançados, e o de Hermeto Paschoal, cujo lançamento se dará no próximo
dia 24 de março,às 19,30 h, no Rio Scenarium (Rua do Lavradio, 20)
8
Gravura de Belmonte extraída do livro de EliasThomé Saliba, Raíses do Riso,
que contém um ótimo capítulo de 27 páginas sobre o humorismo nos primeiros
tempos do Rádio. Visite a Biblioteca Tude de Souza.
Adorno em Nova York
Logo após chegar aos EUA, em 1938,
Adorno sofreu o primeiro choque com
a industria cultural ao tentar aplicar,
sem sucesso, sua teoria da regressão
da audição a uma pesquisa sobre a
música no rádio.
vida de Adorno em Nova York, de
1938 até 1941, embora seja uma
passagem pouco lembrada pelos seus
estudiosos, é um pedaço importante de
seu longo exílio nos Estados Unidos que
não apenas mostra as dificuldades de
contato com a cultura norte-americana,
mas também o confronto direto com a
indústria cultural.
Na verdade, Adorno foi a Nova York
para trabalhar num projeto financiado
pela Fundação Rockefeller, conhecido
como “The Princeton Radio Research
Project”, sob a direção de um outro
emigrado europeu, Paul Lazarsfeld. O
contrato de Adorno foi obtido pela mediação de Lazarsfeld na Fundação, com
uma grande verba para pesquisas sobre a
música (clássica, semiclássica e popular)
no rádio, que ocupava uns 60% da programação das emissoras.
Deixou a Europa, acompanhado de sua
mulher, em 16 de fevereiro de 1938, a
bordo do Champlain. Em março de 1938,
já estava morando num apartamento
situado na rua Cristopher, nº 45, lado oeste de Greenwich Village, alimentando a
esperança de trazer Walter Benjamin para
os EUA. Para animá-lo a dar esse grande
passo, comparava sedutoramente a Sétima
Avenida ao bulevar Montparnasse. Ao
contrário de suas expectativas, diz, numa
carta do mesmo mês, que não foi tão
difícil se acomodar à nova situação, pois
“ela é, sérieusement, muito mais européia
aqui do que em Londres”.
A
Ilustração: Carwall - Folha SP
Cervejaria Abandonada
Nas suas memórias, Lazarsfeld
relatou que tinha conhecido os
trabalhos de Adorno publicados na
Alemanha a respeito do papel
“contraditório” da música na sociedade. Considerava ser um grande
desafio tentar unir as análises teóricas
de Adorno com a pesquisa empírica, ou
seja, combinar a sociologia crítica da
música com os métodos positivistas da
sociologia norte-americana. Ao que
tudo indica, pensava que a dialética
deixaria de ser hegeliano-especulativa e
se tornaria materialista se fosse articulada
com a pesquisa empírica “sociográfica”.
Desde 1934, por meio de inúmeras
negociações com o reitor Nicholas Murray Butler, o instituto de Pesquisa Social
da Escola de Frankfurt conseguira se estabelecer na Universidade Columbia, num
belo prédio situado na rua 117, conhecido
como “Morningside Heights”.
Sob a direção de Max Horkheimer, o
instituto havia dado suporte financeiro a
Lazarsfeld quando ele começara a de-
senvolver um centro de pesquisas
metodológicas na Universidade de
Newark, Nova Jersey.
Com um contrato de tempo parcial,
Adorno começou a trabalhar no Office
of Radio Research (Departamento de
Pesquisa em Rádio), sob a direção de
Lazarsfeld, em Nova Jersey. A outra
metade do tempo foi reservada para as atividades do Instituto de Pesquisa Social,
na Columbia. As impressões iniciais de
Adorno, no contato com o centro de pesquisas de Lazarsfeld, não foram lá muito
boas, como ele próprio conta em “Experiências Científicas nos Estados Unidos”:
“O ‘Princeton Radio Research Project’
não tinha seu centro nem em Princeton
nem em Nova York, mas sim em Newark,
Nova Jersey; provisoriamente, funcionava em uma cervejaria abandonada.
Quando viajei para lá, através do túnel do
Hudson, senti-me um pouco como no
‘Naturtheater’ Kafkiano de Oklahoma”.
Ele bem poderia ter aqui acrescentado
que a atmosfera parisiense, referida nas
cartas a Benjamin, tinha desaparecido por
completo durante a travessia do rio
Hudson. Mas os problemas mal tinham
começado a aparecer: rebentou uma guerra de nervos, uma série ininterrupta de
choques com a equipe de pesquisa, com
Lazarsfeld, com a financiadora do projeto, com os donos de emissoras, com os
professores de música, etc.
Resíduos desses combates diários estão
nos próprios textos arquivados da
Columbia. No memorando “Music in
Radio”, de 26 de junho de 1938, Adorno
tentou explicar nas suas 161 páginas por
que não se deveria iniciar uma pesquisa
sobre a música no rádio pela coleta de
dados da audiência, com os “likes and
dislikes” do ouvinte, mas sim com aquilo
que, em última análise, poderia estar condicionando o seu modo de ouvir.
Trechos melódicos
A proposta original do projeto de
Princeton consistia em ouvir o ouvinte
(“listening to the listener”). Adorno
objetava que , em se tratando de um
ouvinte de audição desconcentrada,
desatenta e atomística, além de ser acrítico, como o próprio correio de fãs das
emissoras atestava, era preciso considerar, em primeiro lugar, como se
produzira essa redução da capacidade
de experiência musical das audiências,
o “non listening listening” do rádio. A
sua hipótese da regressão da audição,
considerada inverificável e teoricamente
viesada pelos positivistas de plantão,
estabelecia a relação entre a perda da
capacidade auditiva e a história da fetichização da música pela formamercadoria, desde o fim do século XIX.
Capturada pela indústria do entretenimento e pelos monopólios que pas-
saram a explora-la como “big business”, a
música foi perdendo a sua autonomia em
relação ao mundo alienado pelo capital,
ou seja, sendo integrada ao processo de
produção de mercadorias, conduzindo de
quebra o ouvinte para o estado de regressão auditiva.
Será que hoje em dia ele é capaz, pergunta Adorno, de experimentar a
absorção sinfônica ao ouvir a catedral
de sons de um Beethoven quando
reproduzida em miniatura pelas ondas
do rádio na sua casa? Será que não se
limita a ouvir apenas alguns trechos
melódicos (nem sempre importantes,
musicalmente
falando)
desses
“clássicos tão populares”? Ou será que
não está mais condicionado a responder
aos estímulos meramente sensoriais dos
ritmos frenéticos de músicas destituídas
de qualidade composicional? Durante
quantos minutos o ouvinte médio
consegue manter a concentração durante a
execução de uma composição séria?
Por que ele embarca tão facilmente nas
músicas pré-fabricadas da máquina de
Hollywood, contribuindo para o seu
sucesso, independentemente do valor
musical? Será que uma canção dos “hit
parades” é, de fato, uma canção que se
sobressai pelas qualidades musicais ou
resulta apenas do sucesso da manipulação do rádio que a repete durante
várias semanas, pelo menos nove vezes
ao dia, até levá-la ao topo da lista das
mais vendidas, segundo a técnica de
alta pressão do “plugging”?
Essas perguntas foram o eixo de sua
pesquisa e dos seis artigos escritos (nem
sempre publicados) sobre a música popular, a sinfonia do rádio, um programa de
educação musical na NBC, o “plugging”
do rádio etc.
Final da história: em 26 de outubro de
1939, num seminário do qual participaram os donos de emissoras de rádio, o
representante da Fundação Rockefeller,
John Marshall, e especialistas de comunicação, Adorno tentou, mais uma vez,
tornar aceitáveis suas teses sobre a música
no rádio.
Segundo as memórias de Lazarsfeld,
John Marshall achou que o esforço de
levar a teoria crítica para o terreno da
comunicação tinha sido um fracasso. A
fundação não renovou o contrato na seção
de música, pois pretendia captar recursos
financeiros dos “broadcasters” a fim de
ampliar e estender o estudo por mais dois
anos, mas as criticas de Adorno ameaçavam arruinar um negócio que gozava de
aceitação das audiências e sobretudo da
clientela de anunciantes.
Afinal de contas, a audiência era
e continua sendo a principal mercadoria
produzida e vendida pelo rádio aos
anunciantes comerciais.
por Iray Carone,ex-professora aposentada do
Instituto de psicologia da USP. Ilustração de
Carvall. Extraído da Folha de SP.
9
O Ministério da Cultura em dois tempos
1
Weffort,
o intelectual
Antes que seja tarde, renda-se o tributo. Ainda é tempo.
Quem acessa a página do Ministério da Cultura na internet
(www.cultura.gov.br.) encontra uma fabulosa oferta de
livros. Com o devido atalho para comprá-los. Foram
pagos com o dinheiro público. Pelo menos dois com o copatrocínio da Associação de Amigos da Funarte.
Consagram o pensador nacional Francisco C. Weffort, como ele assina os volumes. É autor (“A cultura e
as Revoluções da Modernização”, 2000), co-autor (“Cinema Brasileiro”, 2001), organizador (“Um olhar sobre
a Cultura Brasileira”, 1998), prefaciador (“Fascínio e
Repulsa”, 2000), e apresentador (“Cultura e Desenvolvimento”, 2000).
Por coincidência, trata-se do ministro da Cultura da
era Fernando Henrique Cardoso. O ministério editou os
livros. O intelectual oni-presente é também o “diretoreditorial” da série pela qual os outros títulos saíram.
Escreve, financia, auto-publica-se.
Só uma mente maldosa especularia não se tratar de
mera casualidade tamanha convergência. O sítio mantido pela repartição chefiada por Weffort anuncia sete livros. Cinco contêm textos do ministro. O repórter ainda
não leu os dois mais recentes.
A inteligência do país sai enriquecida da leitura de “A
Cultura e as Revoluções da Modernização”. No prefácio, Márcio Souza assinala a “precisão de raciocínio”, a
“linguagem clara” e os “textos brilhantes que prescindem de apresentação”.
Puro acaso, o escritor Souza preside a Fundação Nacional de Arte, a Funarte. Logo, subordina-se a Weffort.
Em “Fascínio e Repulsa”, lançado pela Funarte, o autor
é o presidente da Fundação. O prefaciador Weffort incensa o “texto luminoso, instigante” de Souza. Retribui
o adjetivo “brilhante” duas vezes.
Num livro, o ministro diagnostica, conforme introdução do subordinado, “a síndrome derrotista
paranóica da esquerda”. Derradeira coincidência: a
mesma esquerda que sucederá o governo ao qual
Weffort serviu e que bancou, certamente por mérito, a
publicação dos seus textos.
O Setor de Pesquisa da Rádio
Atrás desta porta de
vidro escrito em jato
de areia – um presente da SOARMEC
ao Setor de Pesquisa
– há tudo isso que
Celina Grether Ferreira descreve no texto abaixo.
Setor de Pesquisa da Rádio
MEC nasceu em
1984, no 6º andar
desse edifício, numa sala pequenininha dividida
com outro funcionário do setor de
documentação e arquivo. Com apenas
uma funcionária, aos poucos foram chegando outros e a questão era: como começar o acervo com tão pouco recursos?
Iniciou-se o recorte de jornais dos
assuntos a ver com a programação da casa. Foram solicitados livros e enciclopédias que se encontravam espalhados
por todos os setores, para que ficassem
centralizados nesse Setor toda a fonte de
pesquisa.
Assim com o passar dos anos, com as
compras, doações e com o material colhido através dos meios de comunicação:
Televisão, revistas, jornais, livros e rádio,
o acervo da pesquisa foi crescendo e
armazenando informações preciosas
sobre personalidades de todas as áreas,
assim como sobre assuntos gerais, tais
como: meio ambiente, folclore, carnaval,
fome, favelas, sexo, doenças, fumo,
10
Foto J.C. Mello
O
religião, crenças, longevidade, alimentos
animais, arqueologia,
tecnologia, planetas,
artes, esportes, festivais de música, cinema, teatro, música,
televisão, rádio, literatura, tombamentos,
e muito mais.
Foram criadas pastas
de janeiro a dezembro
com as datas de
nascimento e morte de
personalidades e também de acontecimentos importantes como
fundação de órgãos,
criação de industrias,
guerras e mais.
As revistas “Veja” e “Isto É” foram catalogadas destacando-se os documentos
pertinentes à programação da Rádio,
como figuras do meio artístico e literário.
Existem livros de música popular e
clássica, com muitas informações sobre
compositores e cantores famosos, como
Cartola, Radamés Genattali, São Ismael
do Estácio, Francisco Alves, Candeia,
Villa-Lobos, Geraldo Pereira ...
Importante falar sobre o material com o
histórico da Rádio MEC, que contem
toda a tragetória, desde a sua criação, com
registro de aniversários da Rádio, fotos e
documentos.
Com certeza, com todo esse acervo,
que na medida do possível vai sendo
atualizado, é possível se fazer uma
pesquisa substancial capaz de atender
às necessidades de todo os gêneros
radiofônicos.
2
Versos
próprios
A fim de estimular a divulgação da literatua brasileira no exterior, o Ministétio da Cultra concedeu bolsa
de US$4.500 para um editor espanhol traduzir o livro
“Algaravias”. Trata-se de obra de Waly Salomão, poeta
e coincidentemente secretário do Livro e Leitura do
ministério.
Os dois textos acima foram publicados no jornal Folha
de São Paulo. O primeiro, do colunista Mário
Magalhães, em 31 de dezembro de 2002, e o segundo
em 19 de março de 2002, na seção Painel, cujo editor é
o jornalista Rogério Gentile.
Falar é fácil, escrever é que são elas
Notificada, por pessoas que lá estiveram, das injuriosas
críticas feitas à Sociedade dos Amigos Ouvintes da
Rádio MEC por um dos participantes da reunião
sindical ocorrida dia 9 de agosto, no Auditório Paulo
Tapajós, a diretoria da SOARMEC, para não ficar
apenas com a versão das testemunhas do fato, solicita ao
responsável que se responsabilize por elas, ou seja, que
coloque-as no papel e remeta-as para o Amigo Ouvinte
- o informativo oficial da Sociedade. Certos de que o
autor de tais críticas não se lembrou da possibilidade de
fazê-las em nosso jornal, e certos de que não nos negará
o direito de defesa e/ou repúdio, já estamos reservando
espaço para a matéria, no próximo número, para que
nossos sócios e leitores possam tirar suas próprias
conclusões a respeito do real tamanho dos personagens
nela envolvidos
NOTA DA REDAÇÃO
O texto acima, que ficou afixado por várias semanas em nosso quadro-de-avisos, foi
redigido logo após tomarmos conhecimento de que um determinado funcionário da
Emissora, em reunião sindical realizada no auditório Paulo Tapajós, lançou uma
diatribe contra a SOARMEC, na presença de diretores sindicais, alguns funcionários e
da filha de Roquette-Pinto, Dona Carmem Lúcia. Como o leitor pode constatar neste
número, o autor das críticas verbais achou melhor não fazê-las por escrito. Estamos
publicando o aviso, aqui, apesar do tempo já decorrido, porque ele não só atesta nossa
intenção de manter a transparência, como reafirma o papel de nosso jornal de servir
como fórum natural onde se discutam os problemas da Rádio MECe da própria
SOARMEC, e onde todos possam apresentar suas críticas e sugestões. Escrevam.
A Rádio do meu tempo
Allan Lima e Ieda Oliveira
programa infantil na Rádio Guanabara,
o "Campeonato Infantil Toddy". Era
feito por um locutor esportivo, o Helio
Paiva. De lá saíram muitas cantoras:
Claudete Soares, Dóris Monteiro…
Havia uma sessão de instrumentistas,
uma de cantores, e um "sketch" –
antigamente se falava "esqueti", né?
Eu cantava, mas um dia faltou alguém
para o esqueti, e a diretora me disse:
"Tem muitos cantores, aí. Hoje você vai
fazer esqueti". E eu fiz. Depois ela
disse:
"Você agora vai fazer só
esqueti". Eu reagi: "Mas eu quero ser
cantora." – "Não! Você vai fazer
esqueti." E eu fiquei.
Todo domingo saía um vencedor de cada
categoria e , no esqueti, eu ganhei todos os
prêmios. Quando acabou o patrocínio da
Toddy, o Hélio Paiva me disse: "Você é
muito talentosa, não pode ficar aqui, porque isto é uma estação comercial, mas eu
vou te mandar para o René Cavé, na Rádio
Ministério". Eu ainda estava no Ginásio.
Cheguei aqui, e a primeira pessoa que
encontrei foi o René Cavé. Aí, contei a
minha história, e ele: "Você quer ficar no
rádioteatro infantil, ou no da mocidade?"
Preferi o infantil, e ele disse: "Então você
vai entrar naquela sala, e procurar a Geny
Marcondes." Essa mulher fantástica, responsável por toda a minha vida artística.
Eu então entrei, me apresentei, e fiquei
com ela todo o tempo em que ela escreveu
e dirigiu o programa.
Eu fiquei aqui de 47 até 85, quando fui
transferida para a UFF, levada pelo Pedro
Paulo Collin Gil. Ele era professor de lá, e
nós montamos uma estação de rádio com
técnicos daqui da Rádio. Mas, depois de
montada, não se sabe qual foi a política que
aconteceu: nós não pudemos assumir e eu
fiquei lá até minha aposentadoria, em 1990.
•A Geny Marcondes chegou antes de você?
IO - Ela chegou em 1945 ou 1946. Ela era
professora de música, e estava casada com
o maestro Kolreuter. Dona Geni foi
contratada para fazer um programa musical
infantil. Naquela época os programas iam
ao ar ao vivo, das 17:30h às 18h. Às16:30h
começávamos a ensaiar, não só o texto –
sempre uma historinha –, como também as
músicas. E as crianças eram ótimas!
Uma vez ela disse pro Orlando Prado,
um grande ator: "Ô, Orlando, imagine
que você é um peixe debaixo d'água, e
fale com voz de peixe." Como o
imaginário da criança é fantástico e
como a não-censura ajuda! E ele falou
com uma voz de peixe, uma voz
borbulhante... Ninguém sabe como é
que ele conseguiu fazer aquilo sem
estar com um copo d'água! Mas ele
ficou olhando, pensou, e conseguiu
fazer. Dona Geny era uma mulher de
uma cultura muito grande, uma cultura
musical enorme. Desse programa
saíram grandes atores.
Fernanda
Montenegro trabalhou conosco...
•Ela trabalhou com Geny, também?
IO – Trabalhou! Nós fazíamos uma série,
"O Rei Pimpão". Ela era a Rainha Finoca, o
Magalhães Graça era o Rei Pimpão e eu era
a filhinha deles, a Princesinha “Não-metoques”. Tinha música, e ela e o Graça cantavam maravilhosamente bem. E trabalhamos também com a Teresinha Amayo,
que igualmente passou pelo programa.
Quando o Jaime Barcelos teve que deixar
a Rádio, para se dedicar ao Teatro, Dona
Geni chamou o Magalhães Graça – que
nunca tinha ouvido o trabalho do Jaime –
deu o script para ele e mandou que lesse.
Ele pegou o texto e, à primeira vista, você
jurava que era o Jaime Barcelos! Como os
dois sentiram o personagem exatamente
igual! Nós ficamos boquiabertos, não é?
AL – Ainda lembro da apresentação (cantando): "Eu sou o Rei Pimpão, atchim!
Pimpão, atchim! Pimpão! Também sou
bonachão, chão-chão, chão-chão! E faço
um figurão, rão-rão, rão-rão! Porque sou
bonitão, tão-tão, tão-tão!" Era a música do
Rei Pimpão, que tinha o contracanto fininho da Rainha Finoca, que era a Fernanda.
•A Ieda já possuía prática de rádioteatro, porque
trabalhou na Rádio Guanabara. E o Orlando
Prado e os outros? Qual era a formação deles?
AL - Isso eu posso contar. O Orlando
Prado, inclusive, é o culpado por eu ter
ocupado o microfone pela primeira vez.
Nós éramos do Colégio Pedro II, que mantinha um programa estudantil, na Rádio
Roquette-Pinto. E o Orlando Prado era um
dos astros. Eram dois os intérpretes principais: o Orlando e o Habib Haias. E eu
ficava lá, com o nariz colado ao vidro,
doido para fazer qualquer coisa, doido
para o professor Libânio Guedes – que
era o responsável pelo programa –, me
dar uma oportunidade qualquer. E um
dia, exatamente num dia em que o
Orlando Prado iria fazer um dos seus
muitos protagonistas, ele faltou, e não
havia mais ninguém ali por perto. O
professor Libânio Guedes pegou o
script e pôs na minha mão. Oba! – era
a minha grande oportunidade... de ser o
grande fracasso que foi. Foi horrível!
Não digo nem mal interpretado; foi mal
lido!
O professor Libânio botou a mão no meu
ombro e disse: "Olha, você tem muito jeito
para escrever, procura entrar por esse
caminho... Não pensa em microfone, não,
porque não é o teu campo de batalha." Aí
eu fui para casa, tristinho da vida, e
continuei escrevendo – que eu já escrevia
para esse programa –, até que uma semana
lá o professor me chamou e disse: "Allan,
você hoje vai para o microfone. Tem um
papel perfeito para você. Nós vamos fazer
'Mensagem a Garcia', e você vai fazer
aquele que leva a mensagem a Garcia."
Eu não dormi, não é? Fiquei em casa,
bolando como seria a inflexão... Bom, meu
papel se resumia a esta frase: "Mas... onde
está o General Garcia?" – isso era toda a
minha participação. Mas o professor fazia
questão da pausa certa nas reticências!!!
Eu estou contando isso para falar do
Orlando Prado, e também de Theresa
Amayo, Inácio Singer, Félix Cohen, Ivan
Meira, Aryon Romita – todos viemos desse
mesmo embrião. Depois, o programa saiu
da Roquette-Pinto e veio para cá, chamando-se "A Juventude Cria", e deu muita cria,
aqui, para a Rádio MEC – a nossa antiga
Rádio Ministério da Educação e Saúde...
•Yedda, o que você aprendeu aqui?
IO - Eu vim com 13 anos, e com essa
idade a gente não tem dimensão de nada.
Muitos anos depois, foi que eu tive a
dimensão de como foi a minha formação
aqui dentro. Todos os atores que eu
conheci, de Rádioteatro, eram pelo talento.
Primeiro tinha que se ter uma voz bonita,
e depois o talento – que é uma coisa que
nasce com a gente. E nós pegamos muitos
bons diretores. Então, o diretor é quem
vai te lapidar. Nós tivemos o Edmundo
Lys, o Mário Jorge, o Sadi Cabral, o Sérgio
Viotti, o Paulo Salgado, a Luiza Barreto
Leite e o Magalhães Graça, com quem
fiquei muito tempo – devo tudo ao
Magalhães Graça...
Foto Fabio Pimentel
Foto Fabio Pimentel
•Como e quando você veio para a Rádio?
Ieda Oliveira – Vim em 1947, de um
Entrevista com dois ícones do rádioteatro e da radiodifusão brasileira, Ieda
Oliveira e Allan Lima, realizado por Renato Rocha e transcrita e editada por Renata
Mello e Gisélia Pimentel.
O Sadi Cabral gostava muito do Gil
Vicente! O teatro português! E foi a
coisa mais difícil que nós tivemos,
justamente pela forma, pela grafia da
língua portuguesa, que era aquele
português arcaico, não é? Aí a gente lia
e tinha que reler tudo outra vez, porque
era "ph", "sh", então ficava difícil! E
quando a gente começava a falar,
automaticamente, já ficava com um
tom português. Mesmo que a gente
não quisesse já falava sobre os dentes...
Foi a coisa mais difícil, o teatro mais
difícil.
E nós fizemos, também, todo o Teatro
Grego... Foi com o Magalhães Graça.
Outro ensaiador muito bom foi o Martinho
Severo! Um declamador português que era
ensaiador dos programas de poesia. Era ao
vivo, sábado à noite, de 22 às 23.
AL – Tudo era ao vivo! Não havia gravação.
IO - Interessante: depois que passou
para a fita, como a gente errava! Antes
a gente não errava nada, não é, Allan?
Passou para a fita, a gente errava à beça!
•Allan, como e quando você chegou?
AL - Eu vim com o programa do Pedro II,
"A Juventude Cria", que integrava um dia
da semana do "Reino da Alegria". Eu
comecei escrevendo. "A Juventude Cria"
era formado de seções, e cada estudante
fazia uma seção. Exatamente nessa época,
em 49, dona Geny tinha viajado para a
Europa – estava dona Neuza Feital...
Então, eu passei a escrever para o "Reino da
Alegria", a convite de dona Neuza, e comecei também a fazer umas coisas para eu
próprio ler – não vou nem dizer
"interpretar". Nisso, Geny Marcondes
volta, já me encontra integrado ao "Reino
da Alegria", mantém a minha posição e
começa a me dar papéis, e aí eu sou
chamado para o "Rádioteatro da Noite".
•Quem eram as pessoas?
AL – Eu tenho aqui uma lista de pessoas
que participavam, que não está obedecendo
a nenhuma cronologia: são nomes retirados
de scripts de antigos programas, nomes,
como, por exemplo: Jair Miranda, Gonzaga
Filho, Zélia Guimarães, Arlete Pinheiro...
IO – ...que é a Fernanda Montenegro.
(continua na página seguinte)
11
AL – E é até muito interessante, porque
era assim:"Programa de Fernanda
Montenegro, narrado por Arlete
Pinheiro", ou vice-versa, "Programa de
Arlete Pinheiro narrado por Fernanda
Montenegro". E às vezes ela entrava –
eu tenho até um script em casa, é muito
interessante –, ela entrava em dois
papéis no mesmo programa. Então, na
relação "tomaram parte no programa
de hoje fulano de tal, fulana de tal,
Arlete Pinheiro, Fernanda Montenegro,
e tal...", como se fossem duas pessoas
diferentes.
Mas, então, voltando: J.Nogueira,
Francisco Nunes, Paulo Renato, Augusto
Araújo, Afonso Soares, Karlos Couto famoso Karlos Couto "com K" -, Batista
Rodrigues, Antônio Carlos, o humorista,
José Ricardo, Carlos de Souza, Célio Rodrigues, Martins Filho, Carmem Fernandes,
Aldo César, Francisco José, Dália Garcia,
Aristeu Bergher, Iracema Lopes.
•Fale do Edmundo Lyz.
AL – Sob a direção de Edmundo Lys,
eu fiz uns dois ou três programas. Era
muito bom diretor. Ele era severo e
muito cioso do que o programa tinha
que ser, da maneira como teria que sair
o programa, a ponto de, se a coisa não
fosse como ele queria, ele jogava o
script e ia embora. Jogava o script em
cima da bancada onde ele estava
assistindo, ao lado do operador, e ia
embora. Textualmente, ia embora!
Ensaiava-se, ensaiava-se mesmo! Não
era ensaio "para inglês ver", nem
leitura de programa. Ensaiva-se. O
diretor dizia o que queria e como queria
que fosse feito.
Aí, voltando à minha trajetória, quando o
Edmundo Lys sai da direção, vem o Mário
Jorge. E, com o Mário Jorge, eu fui
aumentando a participação nos papéis. O
programa do Pedro II terminou, eu continuei no "Reino da Alegria", já como fixo,
e o tempo foi rolando, e daquele "Mas...
onde está o General Garcia?", eu terminei
sendo diretor de Rádioteatro da casa.
•Como a coisa era feita. Como os atores ensaia-
vam? Como era a contraregra e a sonoplastia?
AL – Os atores chegavam e já encontravam
quase sempre, em cima do piano do estúdio, os vários scripts com o nome de cada
um. Cada um pegava o seu e começava a
marcar o seu papel do jeito que costuma
marcar – uns sublinhando só o nome do
personagem, outros passando uma linha
embaixo do nome e da fala que vai dizer.
•Os scripts vinham de onde?
AL – De uma seção chamada "Setor de
Preparo de Irradiação" - SPI. O autor do
programa entregava o original; esse original
ia para a Datilografia, a Datilografia batia
em estêncil – aquele que tem a letra roxa –
que era rodado naquele mimeógrafo a
álcool em cima de papel-jornal, meio
amarelado. Isso era posto ali, cada um dava
sua "passadinha de olhos" e esperava o
ensaio. O diretor chegava e: "Vamos lá!".
Quem tinha que começar a falar, começava.
Ele interrompia, quando precisava interromper; dava a linha do personagem,
12
quando achava necessário; e o ensaio seguia
sem maiores problemas, como é um ensaio
de leitura de teatro.
•E a contra-regra e a sonoplastia?
AL – Dentro do estúdio havia um
microfone para o contra-regra e um
tablado, com um pouco de areia, um
pouco de cascalho; uma porta de um
metro de altura, com fechadura, trinco e
tal – para fazer todos os ruídos. Fora
isso, havia o material necessário. Dois
cocos para fazer o cavalo, na terra, ou
no cascalho; papel celofane, para fazer
incêndio; o papel comprimido no lápis
para fazer a porta que range; uma folha
de flandres; uma folha de zinco, para
fazer a trovoada. Tudo isso é da
criatividade do contra-regra.
E a contra-regra era muito fruto também
da imaginação, porque às vezes vinham
pedidos absolutamente loucos! Vou contar
uma que aconteceu na Rádio Nacional.
Num programa, lá, pediram o ruído de um
corpo sendo devorado por formigas, e o
Edmo do Valle – que era o contra-regra lá
e que depois veio para cá –, deve ter
queimado as pestanas para chegar à conclusão de que um comprimido efervescente,
na água, posto ao lado do microfone, dava
o ruído que se queria.
•Não havia o efeito gravado?
AL – O efeito gravado existia, mas
entrar no momento exato, ao vivo, era
muito difícil. A sonoplastia era com
discos de 78 rotações, um pouco
maiores, de 12 polegadas, que eram
marcados com lápis vermelho em cima
do próprio sulco, com vários círculos. E
cada círculo, correspondia a um trecho
mais suave, menos suave... Me lembro
bem que o sonoplasta que fez a maioria
dos programas era o Paulo Santos. Ele
adorava uma peça chamada "André de
Leão e o Demônio de Cabelo
Vermelho", do Hekel Tavares. Então,
os vários discos do "André de Leão"
eram todos marcados, e ele punha no
script para o operador: "Disco tal, lado
A, sétima faixa". Mas não era faixa - a
face era contínua -, era a sétima
marcação que ele havia feito. Aí, sim,
ele marcava o ponto no script onde
deveria começar a música e vinha com
aquele risco por cima da fala, até o
ponto em que deveria sair, onde ele
dava dois traços oblíquos. Alí, o
operador sabia que a música deveria já
ter sumido.
•Voltando á lista, quem mais você citaria?
AL – O Brandão Reis, sem dúvida. Quando
eu cheguei ele era o grande astro da
narração. Era um senhor que fumava um
cachimbo britânico e um ótimo narrador!
E o Mário Jorge, que era um excelente
rádioator, que foi depois diretor, ensaiador,
e também o Júlio Cezar Costeira. Ele era
o galã da época. Fazia os programas
com a Fernanda Montenegro como
primeira dama. Isso também eu assisti,
não me contaram. Os dois estavam
fazendo uma cena de amor e acabaram
dando a maior demonstração de profissionalismo que eu já vi, no Rádio. Eles
Acervo Allan Lima
Na frente do painel de Maria Tereza Vieira, que existia na sala da
direção. Em pé, da esquerda para a direita: Maurício Quadrio, René
Cavé, ?, Edmundo Lys e mais 3 ?. Sentados:Sra. e senhor José
Fernandes, Ieda e Allan. No chão: Magalhães Graça e Hamilton Santos.
estavam cada um de um lado do
microfone. A cena era a mais melosa
que se possa imaginar. De repente,
devido ao fato de um parafuso da
“girafa” estar frouxo, o microfone
começa a baixar lentamente. Os dois,
sem a menor hesitação, foram se acocorando – sem parar de interpretar – e
terminaram quase de gatinhas no chão.
Mas fizeram a cena inteira.
IO - Tem também o Álvaro Costa e a Dona
Cora Costa.
AL - Foram duas figuras maravilhosas,
vindas do teatro. Casados os dois, ele com
sotaque de português, um sotaque
fortíssimo... E ele era baiano! Por quê?
Porque o teatro, na época em que eles
faziam, privilegiava o sotaque português.
Tem o Paulo Alberto, que foi locutor da
casa, narrador e ator também de vários
dos meus programas, e fez muita
transmissão ao vivo do Municipal, do
"Concertos Para a Juventude" – este Paulo
Alberto é o atual Senador Arthur da
Távola.
Deixa eu ver quem mais, aqui... Antônio
Vicente da Costa Júnior, que foi nosso
rádioator, também, foi diretor da
Faculdade de Direito aqui do lado, e acho
que ele é Desembargador, atualmente.
Mais: Agnes Fontoura, Elza Martins… e o
Jefferson Duarte, que merece um capítulo
especial.
O Jefferson era operador e eu diretor de
Rádioteatro. Ele tinha muita vontade de
interpretar, e me pediu. Foi fazendo papéis
pequenos, foi indo, e foi a pessoa que eu
convidei para trabalhar comigo quando fui
para o Consulado Britânico. Ele foi meu
"braço direito", lá, durante 14 anos. Era
uma figura espetacular, uma voz linda. E
revelou-se um excelente intérprete, além de
continuar sendo operador. Tanto é que, no
Consulado. ele era narrador e operador.
•E o Chico Anysio?
IO – Não me lembro dele aqui, não...
A L - Eu, também não. Sei que houve um
concurso de rádioteatro, na Rádio
Guanabara – feito pelo Afredo Souto de
Almeida, que era da Guanabara, também –
e o Chico Anysio foi o segundo colocado.
Se ele trabalhou aqui – o que pode ter
acontecido, porque muita gente desse
rádioteatro veio pra cá –, eu não tive a
oportunidade de trabalhar com ele..
•E o José Vasconcelos?
AL – Ele era locutor, e teve participações
eventuais como radiator. Tinha um programa, produzido pelo doutor Darcy Evangelista, que foi uma figura famosíssima, na
época – era caricaturista num jornal, escrevia sobre puericultura em outras publicações e, aqui, ele tinha um programa
dedicado as mães, com músicas de Geny
Marcondes. E os participantes eram o próprio doutor Evangelista, o Zé Acrisio, que
era um locutor daqui – eu também participei várias vezes – e o José Vasconcelos,
que fazia várias vozes num programa só,
que é a peculiaridade dele. Era capaz de
dizer um poema, de fazer um garotinho
jogando futebol com a turma, e também de
ser um locutor sério.
IO – E ele imitava outros locutores. O
Jatobá… Dentro do horário dele, ele
imitava outros locutores. Dava na cabeça e
ele imitava outras pessoas também…
•Ieda, vocês fizeram todo o Monteiro Lobato com a
Geny conduzindo?
IO – Não, eu acho que essa fase já foi da
Silvia Regina. Fizemos as Reinações de
Narizinho, O Poço do Visconde, Os Doze
Trabalhos de Hercules, A Reforma da
Natureza, e por ai vai... Toda a série infantil
do Monteiro Lobato foi feita aqui na rádio.
Sadi Cabral, Telmo de Avelar, Paulo
Salgado, e Dilmo Elias. Na época do
Governo JK, houve uma invasão de
mineiros, aqui, desde o diretor, Celso
Brant, que trouxe consigo o "Minastério".
E aqui veio parar um diretor de rádio
teatro...
acompanhado de caboclos, e contando histórias
realmente maravilhosas.
A partir daí, ele se tornou
produtor de primeira
linha, ele fez "Esse mundo maravilhoso"...
IO – F. Andrade Eu ia falar dele agora…
IO - Fez "Novos horizontes", também, e no
"Tribunal da historia".
Acervo Allan Lima
IO - O Sr. F. Andrade era uma pessoa
muito tímida e quando ele pegou o elenco
– um elenco muito bom, porque
estávamos juntos há muitos anos, né? – ,
ele ficou deslocado. Mas ele não se
colocou arrogantemente, não. Foi bem
humilde. Ele veio da rádio lá de Minas, e
tinha um programinha chamado
"Conversa puxa conversa" – sempre era
um assunto atual e era muito rapidinho,
Década de 50. Ieda e Allan, gravando.
tinha uma boa dinâmica. Mas ele conseguiu
levar bem o tempo todo.
•Todo dia tinha rádioteatro?
IO – Não, o Reino da Alegria era de
segunda a sexta, de 5:30 às 6:00 da tarde.
•Havia dramatizações para as efemérides?
IO -Sim, as datas importantes eram comemoradas na Rádio MEC. Natal, Independência... Muitos desses acontecimentos
eram dramatizados, como rádioteatro..
• E quem escrevia?
AL- Dona Geny escrevia bastante. Silvia
Regina escrevia, também.
IO - Ela era jornalista e professora. Tinha
uma enorme facilidade, e um grande um
poder de síntese. Uma peça que levava 2
horas ela condensava em 30 minutos e não
perdia nada.
• E o Magalhães Graça?
IO - O Graça veio pra substituir o Jaime
Barcelos. Era um grande ator.
AL - Embora ele tenha chegado um pouco
depois da minha época, a influência dele na
maneira de interpretar foi geral. Ele veio
dirigir o rádioteatro à noite e depois ele
dirigiu um pouco o Reino da Alegria. Digase de passagem que, além de ser um ator
maravilhoso, o Graça era pianista – pianista
concertista. Então, a sensibilidade dele
como artista era enorme. Ele foi aluno
dileto da Madalena Tagliaferro.
• Luiza Barreto Leite?
AL – Ela teve uma passagem rápida, como
diretora. Mas foi uma figura de teatro de
bastante importância, que a gente deve
considerar como integrante dos quadros da
antiga Rádio Ministério, assim como Sadi
Cabral e Sérgio Viotti. Eu relacionei aqui
os diretores que a minha memória registrou, desde Edmundo Lys: Mario Jorge,
• E o Pascoal Longo?
AL - Pascoal Longo, quando cheguei aqui,
era o principal produtor de programas da
Rádio. Uma pessoa com uma facilidade
enorme de escrever, de criar, e que fez, na
minha opinião, a série de programas mais
importante que já houve aqui. Chamava-se
"Clube dos 13", por volta de 1956...57. Ele
reuniu 13 escritores famosos, da época. Eu
me lembro de Dináh Silveira de Queiroz;
José Condé, que depois ficou escrevendo
pra Rádio; Marques Rebello, que também
depois escreveu outros programas, enfim,
13 autores, e cada um escreveu uma história
especial para o rádioteatro. E havia uma
expectativa de quem seria o 13º programa.
E o programa dava um livro de presente,
porque a Rádio tinha muito disso. "O Reino
da Alegria" dava sempre livros aos ouvintes
- sorteava entre as cartas que recebíamos…
• Otto Maria Carpeaux?
AL - O Carpeaux tinha uma crônica diária,
aqui. Era uma figura facilmente encontrável nos corredores. Era um pouco difícil
falar com ele, porque ele tinha um problema de articulação – além de ser estrangeiro
– e falava com muita dificuldade.
• Miécio Hônkis?
AL - Esse, pra mim, também merece um
pedestal aqui na Rádio. Miécio Araújo
Jorge Hônkis. Era médico – quando jovem
fez uma viagem à Amazônia – e, nunca
tendo feito nada no rádio, achou que aquilo
dava uma história. Chegou aqui com os
textos em baixo do braço, e o René Cavé,
que tinha uma visão espetacular – ele pressentia as coisas que poderiam dar certo –,
concordou, e ele começou a escrever o
programa, que se chamava "Viagem
Maravilhosa" – as aventuras de um jovem
médico na Amazônia, descendo, não me
lembro se era o Amazonas ou o rio Negro,
• Como era o formato
desses programas?
Acervo Allan Lima
AL – Nessa época, eu era diretor de
rádioteatro e fui deslocado, voltei pra
função de interprete; e o F. Andrade, sem
conhecer o elenco, passou a ser o diretor
de rádioteatro. Por isso eu prefiro que
você fale, porque o que eu disser talvez
possa soar como uma certa magoa que,
realmente, não existe.
AL
Rádioteatro.
"Tribunal da História" era
muito interessante. Era
um Tribunal, que contava Allan Lima, em 1951, ainda de uniforme colegial,
com um Relator e um com o locutor Ivan Meira em segundo plano.
Juiz como personagens
fixos. O Meirinho iniciava o programa
dizendo : "Está aberta a sessão! Em pauta, • E a Aymê?
o julgamento de Maria Antonieta. Tem a IO - Aymê foi do rádioteatro, também. Ela
palavra o senhor Relator para a leitura do fazia teatro de comédia, daquelas bem
processo." Isso era fixo. Ai, o Relator, que apimentadas, não é?, com aquele sotaque
era o narrador, dizia: "De tanto a tanto, de baiana. Sou muito amiga dela e, quando
aconteceu isso, isso..." Então, num ela veio pra cá, eu fui uma das pessoas que
determinado ponto na narrativa, entrava o ajudaram, porque ela, com aquele sotaque e
rádioteatro e voltava depois o narrador. E, vindo do teatro… O rádio é muito
quando terminava a exposição da figura ou diferente do teatro. Mas ela se achou num
do caso histórico, o Juiz dizia: "Tem a programa de poesia que nós tínhamos.
palavra o Sr. Promotor, para a acusação".
Aí, o promotor dizia: " Ela deve ser • Dilmo Elias?
condenada, por isso, por isso..." – e relatava IO - Dilmo Elias foi um dos últimos. Mas
os pontos de condenação, de acordo com o ele teve sorte, porque pegou um elenco
que havia sido apresentado antes. Depois fabuloso e não teve trabalho nenhum. Ele
era dada a palavra ao Advogado de Defesa, atuava muito pouco como diretor, porque
que expunha seus argumentos. E os só havia estrelas aqui. Nós fazíamos tudo, e
ouvintes, por carta, condenavam ou ele quase não dizia nada. Agora no final,
absolviam – para ganhar um livro.
O muitas pessoas foram saindo, umas foram
programa era super-inteligente.
para a dublagem, e entraram pessoas novas.
Aí, sim, ele pode usar os conhecimentos
IO – E era muito ouvido. O volume de dele como ensaiador e diretor de teatro.
cartas era imenso. Um dia ele falou assim: Mas ele foi um bom diretor e é uma boa
"Eu me surpreendi ao perceber que a pessoa.
maioria das cartas era enviada por
marinheiros que estavam em alto mar e que • E o Telmo Avelar?
ouviam a Rádio MEC". E os julgamentos AL – Telmo D. Avelar. Ele vazia questão
deles eram muito inteligentes, e ele ficou desse "D". Um intérprete de enorme
bastante feliz com isso. E "Novos Hori- talento, que veio do rádio comercial e foi
zontes" é porque ele também gostava muito um diretor que honrou sua presença, aqui.
de ciência, principalmente astronomia. O Aliás, foi com a saída dele que eu assumi a
Miécio foi o fundador do Planetário da direção do Rádioteatro. Quando foi emboGávea… Ele andava muito no Obser- ra, ele escreveu um bilhete pra botar na
vatório Nacional e sabia de todas as tabela onde nós deixávamos as comuninovidades científicas. Foi ai que ele bolou cações. Um bilhete super-simpático, que
esse programa "Novos Horizontes".
guardo com muito carinho, dizendo que
deixava nas minhas mãos o rádioteatro. O
• E o Sadi Cabral?
Telmo foi um diretor que passou por aqui
AL – Sadi Cabral foi um grande mestre. deixando sua marca brilhante.
Foi meu mestre, não só aqui, como no
teatro. Havia um espetáculo anual, chama- •Allan, fale do seu trabalho como diretor.
do "Poeira de Estrelas", que reunia gente de AL - Quando passei a dirigir o rádioteatro,
todos os elencos, e, num deles, eu tive o eu já redigia programas. É interessante
privilégio de ser dirigido pelo Sadi e ter dizer que, quando eu redigia o programa, a
contracenado com Oscarito. Depois, foi voz da pessoa para quem eu estava
feita uma montagem do Mambembe, escrevendo, o tempo de leitura, a respiração
também dirigida por Sadi Cabral, em da pessoa, estava tudo na minha cabeça.
Você trabalha tanto tempo com as pessoas
benefício da Casa dos Artistas, e eu estava
que passa a saber como elas respiram, com
no elenco, também. De modo que, quando que ritmo elas falam, qual interpretação que
ele veio para cá dirigir o rádioteatro, nós já vão dar. Então dirigir era muito fácil – o
nos conhecíamos. Ele modificou o ritmo elenco era maravilhoso, Não houve uma
do nosso rádioteatro, que era um pouco vez que eu dissesse: "Puxa, escalei mal".
descansado. Para mim, ele foi um mestre.
(continua na página seguinte)
13
•O Estúdio “A” era conhecido como estúdio de
•A Rádio MEC produziu alguma novela?
AL - Novela, não. Mas teve coisas seqüenciadas. Por exemplo, eu fiz "Fogo Morto",
seqüenciado, mas não posso chamar isso de
novela. Era uma história que continuava no
dia seguinte, mas não terminava num ponto
de suspense, como é normal em novela.
IO - Quero lembrar o Garcia Xavier, que
era o narrador do Fogo Morto. Era
marido da Agnes Fontora, e também foi
ator. Ele me disse que foi você, Allan, que
trouxe ele pra cá. Depois ele ficou no lugar
do Paulo Santos, transmitindo os concertos
do Teatro Municipal.
• Allan, fale sobre importância da contribuição do
rádioteatro nos programas educativos.
AL – É evidente que alguma coisa apresentada a várias vozes e dramatizada tem
muito mais encanto que um programa feito
a uma só voz ou a duas. Existe o que nós
chamamos de "programa do sabido", onde
o locutor sabe e todos os ouvintes não
sabem. Estou me referindo a programas
educativos, tipo depoimento ou palestra. O
segundo formato primário de programa é
"o burro e o sabido". São duas personagens: um entrevistador e um entrevistado
– o entrevistador é o "burro" e o
entrevistado, o "sabido"; o entrevistador é
aquele que não sabe (posição que se acredita ser a do ouvinte), e o entrevistado é
aquele que sabe, e vai transmitir os seus
conhecimentos ao entrevistador e a todos
aqueles que ouvem. Existe uma forma muito mais suave de transformar aquilo que
tem que ser passado aos ouvintes, aquilo
que tem que ser mensagem positiva de educação, no sentido amplo da palavra, e que é
muito mais encantadora, muito mais suave
e muito mais gostosa de se ouvir – quando
há várias vozes e, principalmente, quando é
dramatizado. Portanto, a utilização do
rádioteatro em programas educativos é da
maior importância – é a maneira mais suave
e interessante de se passar para o ouvinte
aquilo que se deseja que ele aprenda. Não
vejo outra forma, melhor, no rádio.
IO – Tanto a obra cientifica, como a
literária, em rádioteatro acho que a gente
assimila muito mais rápido.
AL – E deixamos de tocar no que eu
considero o ponto mais importante: o
apelo à imaginação – aquilo que o rádio tem
12
Foto Fábio Pimentel
rádioteatro. Houve algum plano de se fazer ali
um estúdio mais completo?
AL - Não, acho que nunca passou na
cabeça de ninguém fazer qualquer reforma
ali. Para nós, ele era um verdadeiro estúdio
de rádioteatro. Servia perfeitamente. Tinha
duas girafas, cada uma com um microfone
bilateral – isso no começo, depois era um
microfone omni-direcional, que capta o
som de todos os lados –, um cantinho da
contra-regra, cadeiras para os atores se
sentarem enquanto esperavam, em suma,
um ambiente perfeito para radioteatro, com
visão plena da técnica e contato visual com
diretor e operador – quando o diretor
ficava do lado de fora.
Allan e Ieda, hoje, em frente de foto dos anos 50 na qual aparecem Geny Marcondes
ao piano (encoberta), Edith Ada Levy, Ieda, Nancy Nascimento e Gisela Gerlaca.
de mais poderoso e que deixa a televisão a
centenas de anos luz. A televisão dá tudo
como pronto – quem assiste a televisão não
tem margem pra criar, na imaginação, o que
é o ambiente, a figura, o comportamento
da figura, a maneira de falar. Ouvindo pelo
rádio, você cria na sua imaginação a figura
que quiser – a mulher bonita do rádio é a
mulher bonita que você quer, é a mulher
que você imagina bonita; um ambiente
pobre no rádio é um ambiente pobre que
você sabe que é um ambiente pobre, e não
aquele ambiente pobre que um cenógrafo
idealizou. O mais forte do rádio é onde,
infelizmente, ele não está sendo aproveitado: o apelo à imaginação. As crianças de
hoje recebem tudo pronto. A imaginação, o
poder de criatividade dessas novas gerações
estão sendo tolhidos. Não sei como serão
os escritores do futuro.
•Há pouco vocês falaram que quando as peças
começaram a ser gravadas, vocês erravam muito, e
antes, não. Por quê?
IO - A gente errava porque, muitas vezes,
você não concorda com o que falou. Antes,
a gente acabava de falar e: "puxa podia ter
dito isso melhor" – mas era ao vivo e ia
assim mesmo, e dava certo. O nosso nível
de exigência fica maior quando você tem
uma fita. Eu lembro que o Allan, quando
vieram as fitas, ele mandava a gente ouvir.
"Você concorda com o que você disse?", e
muitas vezes a gente não concordava, não..
•Ao que parece, de todo o rádioteatro feito aqui, o
que sobrou foram cerca de 60 peças radiofônicas,
adaptadas, traduzidas ou mesmo escritas pelo
Sérgio Viotti. Fale do Viotti e desse trabalho.
IO – Quando eu comecei, quem estava no
radioteatro eram pessoas que não eram de
teatro: eram de rádio, mesmo. A dinâmica
do teatro é muito diferente da dinâmica do
rádio, e o Sérgio Viotti, eu sinto que ele se
adaptou muito bem ao radioteatro. Ele é
um homem de muita cultura e sensibilidade, e sabia extrair do ator o máximo que
ele podia dar. O elenco de suporte
11daquela época não era muito grande, mas
éramos muito competentes e muito amigos.
•Como era a mecânica do trabalho?
IO – Como bom diretor de teatro, ele
explicava e dava a linha do personagem.
Veja bem, a pessoa tem uma formação de
radioteatro e ele vem com uma personagem
de teatro francês, por exemplo, que eram
peças ligeiras, e que tem que ter um ritmo
também rapidinho. Então, ele falava sobre a
peça, falava sobre o autor, falava sobre a
época em que a peça foi escrita, como era a
linguagem da época, e inseria a peça. Mas
era como se fosse um teatro.
•Rememorando os textos que foram feitos aqui.
Tem "Fogo Morto", tem todo o Monteiro Lobato,
tem as peças do Miécio Hônkis, tem "O Clube
dos 13", e o Teatro Sérgio Viotti. O que mais?
AL – Tem o "Ouvindo, Lendo e Contando", que era o programa que eu herdei da
Fernanda Montenegro. A Fernanda tinha
um programa chamado "Lendo e Contando". Ela se afastou da Rádio e eu continuei.
Fiz alguns com o mesmo título, e depois
passei para "Ouvindo, Lendo e Contando",
que também eram radiofonizações de
contos. Esse programa ficou no ar 5 anos.
•Foi gravado?
AL – Claro que nada foi gravado. Quer
dizer, houve gravações, sim, em discos
de acetato de 16 polegadas. O técnico
de gravação era o Antônio Tognetti, o
"seu" Tognetti, como o chamávamos.
O equipamento que ele manejava tinha
um microscópio. A agulha tinha que
ser colocada no ponto certo, para
começar a riscar os sulcos. A gravação
começava e, de repente, alguém errava.
Era como se pisassem num calo do
“seu” Tognetti: com uma chave de fenda, ele riscava os sulcos já feitos e iniciava um novo sulco mais adiante. Se
acontecia outro erro, ele jogava aquele
acetato fora e pegava outro disco
virgem. Mas isso tudo se perdeu. O que
o Sérgio Viotti gravou agora, é resultado
de uma tecnologia mais avançada, que
permitiu que tudo fosse gravado com
facilidade. Nós, Ieda e eu pegamos a
gravação em fio, em arame, que, de
repente, embolava e todo o trabalho era
jogado fora, porque não servia mais pra
nada.
Depois, veio a fita, mas o
acetato foi anterior a tudo isso. Mas era
uma dificuldade gravar um acetato. Os
programas eram sempre feitos ao vivo e,
quando o ator tomava conhecimento de
que, naquele dia, ia ser gravado, ficava
mais apavorado do que os atores de
hoje em dia (cujos trabalhos são todos
gravados e só são exibidos depois de
devidamente editados, equalizados,
etc.), ao receberem a notícia de que
terão de fazer uma apresentação "ao
vivo". Eles vão tremer do mesmo jeito
que nós tremíamos, quando diziam,
"vai ser gravado". É estranho, mas é
verdadeiro.
IO - Verdade. Sobre o trabalho de poesia,
nós tivemos a Íris de Carvalho, que tinha
um programa muito bonito chamado "Presença da Poesia". E outro dela, também, é
"Mulheres Inesquecíveis", todas as mulheres da história ela enfocou, utilizando o
radioteatro. Geir Campos tinha o "Poesia
Viva", ele fazia um concurso em que os
poetas novos traziam seus trabalhos e, ao
final, o primeiro colocado tinha as poesias
editadas e os demais recebiam um livro de
poesia. Foi uma figura muito importante
na Rádio MEC, o poeta Geir Campos.
AL – Seria bom deixar registrado, fosse no
radioteatro, fosse na música, na locução,
fosse no que fosse, o nome de René Cavé,
a quem essa rádio, se não deve tudo, deve
quase tudo.
IO – Uma pessoa, um diretor de radioteatro que a gente esqueceu foi José Valuzi.
José Valuzi ainda está na ativa e foi uma
pessoa que também teve uma passagem
brilhante pela Rádio MEC.
• Allan, você acha possível haver uma
revitalização do radioteatro, no Brasil?
AL – A cabeça dos nossos dirigentes é como
a pena do juiz: você nunca sabe o que vai sair
dali. Há pouco tempo, um governante
brasileiro teve a idéia feliz de tentar revitalizar
o rádioteatro, lá no extremo norte, no Amapá.
Num primeiro momento, fui convidado a
orientar um grupo de intérpretes locais. Fui e
me apaixonei. É uma gente séria, talentosa,
que pode surpreender, se houver interesse
dos governantes em proporcionar as mínimas
facilidades necessárias,
o que estou
aguardando até agora. Aquilo fez sacudir o
meu coração. Vai sair dali um gen que pode
se desenvolver por esse Brasil a fora. Porque
a não existência do rádio de broadcasting, do
radioteatro, a triste constatação de que o rádio
transformou-se nesse monocórdico vitrolão,
é triste pra nós que conhecemos uma outra
importância do rádio, servindo a um outro
propósito. Agora, tudo mais que se poderia
dizer entra no terreno da utopia aquilo que
nós gostaríamos que fosse e que não é. Um
dia, ainda haveremos de ter um dirigente,
alguém com força suficiente pra dizer:
"Vamos renascer o rádioteatro" e aí, todos
vão saber, essas novas gerações, qual a
importância desse gênero de arte.
O Ouvinte Permanente
Os cães ladra e as caravana passam
Desenho de Seth
por Carlos Acselrad
“Also sprach” (assim falou) Ibrahim,
pioneiro do “colunismo social”. Para os
desinteressados em cultura popular: neste
ditado a caravana simboliza os
poderosos, que lá vão montados em seus
camelos; a nós, que os elegemos, só nos
resta correr atrás, latindo nossa
indignação que se limitará a ecoar no
próprio deserto – a caravana tem mais o
que fazer: passa. Cabe a ressalva: é
tempo de esperança. Afinal, nas áreas
que nos interessam, temos dois caras
legais que podem soprar novos ventos na
educação e na cultura, apeando de seus
camelos e nos dispensando de ladrar
contra. Por ora dói-nos dizer: na única
emissora carioca comprometida com
educação e cultura, as coisas estão mais
para Ibrahim do que para Buarque e Gil.
Como registramos aqui anteriormente,
a programação de música em gravações
respeitava algum critério, embora sob rótulos os mais vagos e abrangentes:
(“Música sinfônica”, “Harmonia”,
“Música de câmara”) . Pois agora,
certamente após um “brain-storming”
criador, eliminaram-se as fronteiras no
tempo ou no espaço, nos gêneros e
estilos,
vozes
ou
instrumentos,
aparentemente inspirados no velho choro
“Mistura e manda”, de Nelson Alves. O
período que reúne algumas horas de
programação leva agora o instigante
título de... “Manhã MEC-FM”. Dissemos
instigante? Dissemo-lo bem. Mas não o
é apenas o título. Instiga-nos, por
exemplo, a originalidade: em nenhuma
outra emissora, mesmo as evan-gélicas
ou as de “música” pop-funk-bregbabababy (ou seja, todas) a locução
perpetra coisas como “orquéssinfônica”
ou “PssstaRepúbca”. No primeiro caso,
sejamos tolerantes: é evidente que a
intenção do texto era anunciar uma
orquestra sinfônica; já no segundo, mais
hermético, a tradução é “Presidente da
República”. Pelas mesmas razões fonoaudiológicas aliadas a uma visível
desinformação, o histórico ícone do violino, Heifetz, vira “Heftez”. Por outro
lado, deveremos dar-nos por satisfeitos
com certas compensações? Digamos,
uma hora semanal reservada a
compositores brasileiros contemporâneos. Infelizmente, não só o tempo é
pouco: há uma grande indigência
propriamente musical da produção que
acaba se resumindo a elogios enfaticamente retribuídos pelo convidado. Esta
indigência não é apanágio da MEC-FM:
num programa ao vivo subtitulado “Entre
amigos”, mostra-se músicos geralmente
ainda desconhecidos ou principiantes,
frequentemente bisonhos, cuja seleção
obedece a critérios insondáveis. Pois a
produção-apresentação-locução
do
programa, adequando-se ao caráter
popular do evento, repete-se exaustivamente em gírias as mais sovadas: os
músicos são sempre “da pesada”, já têm
muito tempo “de estrada” ou – caso se
trate de cantora – acaba de “partir para
carreira solo”. Julga também eficiente
fingir alguma intimidade com “essa
rapaziada super-qualquer coisa”, tão
“maravilhosa” que esse público igualmente maravilhoso está chegando para
“segurar a onda de vocês” (?) .
Ora, direis, rabujices... Ocorre, porém,
que o rádio parece ter sua sintaxe própria,
sua filosofia, sei lá, sua ética próprias. As
agravantes agravam e as atenuantes
nunca atenuam. Dois músicos – um
compositor erudito e um instrumentista
popular – produzem e apresentam seus
programas. Ambos legislam em causa
própria divulgando sua obra. São artistas
reconhecidos e de fama internacional.
Pois nem por isso se atenua o desagrado,
o incômodo, o constrangimento mesmo
que assaltam a quem ouve.
Por mais condescendentes, compreensivos ou otimistas que sejam os ouvintes, é inevitável constatar: regra
geral, piorou. Pequenas peculiaridades
da estação resultam em maiores ou
menores desmoralizações: chamadas
para programas ou eventos culturais que
já passaram, transmissões interrompidas
por defeito da gravação
ou
do
equipamento, repetições de produções já
levadas ao ar anos antes, clientelismos e
amadorismos de vários calibres... tudo
convergiria para a definitiva desistência,
à derradeira cotovelada no botão de
desligar e a adesão
final ao
BigBrotherBrasil. Mas um momento,
meu caro! Dê mais uma olhada no planalto: a caravana é outra. Não é
propriamente um absurdo pensar que,
breve, a campanha fome-zero chegará ao
deserto da rádio cultural e educativa, e
acordaremos um belo dia ao som de
verdadeiras instigações na área das artes,
da ciência, da informação e do debate.
Por ora, au au!
NÚMEROS DA CAO
Tabulação feita por Renata Mello, com base nos relatórios semanais da Central de Atendimento ao Ouvinte,
de 25/07/2002 a 17/03/2003.
Total de ligações: 3093 em 83 dias, numa média de 37,2 ligações por dia
MEC AM
Total de ligações
• Para o Caderno Manhã
• Para o Cia. do Samba
• Reclamações sobre a transmissão
• Sugestões
• Elogios
•Críticas
• Pedido informações
• Reserva Ao Vivo ent. Amigos
• Reservas p/ Parede 800 AM
• Participaram de promoções
• Demanda de Grade Programação
• Participação em Escutar e Pensar
• Ao vivo entre amigos
1557
396
68
05
115
152
24
163
127
180
280
09
17
19
MEC FM
Total de ligações
• Participaram das promoções
• Informações
• Reservas Sala de Concerto
• Atendendo aos Ouvintes
• Reclamações sobre a transmissão
• Pedidos de grade
• Elogios
• Críticas
• Sugestões
1536
150
344
447
282
46
45
56
122
44
Central de Atendimento ao Ouvinte - CAO
Tel: 2252-8413
Coluna do Conselheiro
Notas do editor:
1) Yacira Peixoto, eleita em novembro
de 2001 para substituir Paulo Borges, no
Conselho da ACERP, como conselheirarepresentante dos funcionários da Rádio e
da TVE, novamente preferiu adiar sua
estréia nesta coluna..
2) Para sublinhar o fato de que a falta
de assunto a respeito do Conselho, após
tantos meses, já é, em si, uma notícia que
merece ser desenvolvida, pensamos,
inícialmente, em publicar a coluna em
branco, deixando o vazio falar com toda
sua eloquência. Mas decidimos não
desperdiçar espaço, pois há informações
que não podem passar em branco.
3) Apuramos que a SECON permanece com a mesma sigla, mas teve seu nome
ampliado para Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da
Presidência da República, e que o
Conselho Administrativo da ACERP foi
recomposto, mas ainda está incompleto.
Os 7 membros atuais são: Aspásia Camargo, que volta à presidência do Conselho; o ex-ministro Bresser Pereira; Wilson Timótheo, Secretáro-adjunto de
Comunicação e Imprensa do Palácio do
Planalto; Marcus di Flora, da SECON ;
Emerson José Menin (Assessor de Comunicação da Petrobrás); Márcio Fortes
de Almeida, Secretário-executivo do
Ministério do Desenvolvimento, Indúsria
e Comércio Exterior, além da própria
Yacira. Espera-se completar o colegiado
em uma próxima reunião. Vamos torcer
para que tal aconteça num futuro
imediato e que, desta vez, o Conselho de
Administração – que é o sangue ético, o
motor ideológico e o braço operacional
da Sociedade Civil na ACERP – tenha
uma escalação duradoura e produtiva.
4) Em seu pronunciamento, na cerimônia de posse de Beth Carmona, a presidente do Conselho Administrativo da
ACERP, usou mais de 10 vezes a palavra
"televisão” e referiu-se à TVE, pelo menos outras três. Mas a palavra "rádio"
não foi pronunciada uma só vez. É
possível que alquém precise lembrar à
presidente do Conselho que a Rádio
MEC existe e está fazendo 80 anos?
E é possível que, na sequência de sua
fala, a presidente do Conselho sugira a
criação de uma sociedade de amigos da
TVE – o que é uma boa proposta –, sem
falar, também, na Sociedade de Amigos
da Rádio MEC, que está indo para o 12º
ano de existência exemplar e acaba de
receber o maior prêmio cultural do
Estado? Por que isso ainda acontece?
No horizonte deste novo tempo que se
anuncia, os Amigos Ouvintes esperam
por sinais claros de que a nova administração da ACERP não tenha olhos apenas para a TVE, mas dê ouvidos também
à Rádio MEC, dando um passo para
acabar com esse triste preconceito
tecnológico que tanto prejuizo causa à
Cultura. Esperamos também que a
SOARMEC
seja
reconhecida
e
respeitada pelos seus méritos e direitos,
e possa, desta vez, ser atendida em sua
antiga reivindicação de ocupar um
acento no citado Conselho de
Administração.
Vamos aguardar com esperança.
15
Ópera Completa
por Zito Baptista Filho
MEC FM Domingos, 17 hs
PROGRAMAÇÃO
MARÇO
2003
02 - Mozart: As Bodas de Fígaro
09 - Verdi: Otello
16 - Puccini: Tosca
23 - Bizet: Carmen
30 - Thomas: Mignon
ABRIL
2003
06 - Gounod - Mireille
13 - Wagner: Rienzi
20 - Puccini: La Rôndine
27 - Massenet: Hérodiade
19

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