AMIGO domingo

Transcrição

AMIGO domingo
P
ara chegar ao século XXI, a Rádio MEC precisou provar
durante 65 anos – ou 78, conforme o ponto de vista – que
é uma rádio resistente. Resistiu à falta de recursos, à mudança para Brasília, a governos autoritários, a ministros desinteressados, a diretores despreparados e até à extinção do Serviço de Rádio Educativo. Nenhum desafio, porém, mostrou
ser mais difícil do que o que ela vem enfrentando desde que
saiu do MEC e passou a ser administrada pela ACERP.
Administrada por quem, mesmo? – perguntará o leitor
ocasional, que nem desconfia da existência da sigla, assim
como a maior parte da torcida do Flamengo. E também do
Congresso Nacional, conforme afirmou Roberto Saturnino,
há poucos meses, num discurso em defesa da Rádio MEC.
Na grande imprensa, a Associação também não é
notícia – o último exemplo é a entrevista de meia página (em
O Globo, 12/02/01) que, tal como a nota anterior de
Boechat, refere-se a um incerto “presidente da TVE”. Assim
é que o Amigo Ouvinte tem sido o único a dar noticias
regulares desta empresa que acaba de completar três anos,
sem qualquer comemoração, comunicado ou balanço. Este
número, por exemplo – que deveria ter saído em janeiro –, é
uma prova de que temos dedicado cada vez mais espaço ás
questões geradas por esta associação praticamente desconhecida, e contribuindo para torná-la mais transparente.
Para quem não sabe, ACERP quer dizer Associação de
Comunicação Educativa Roquette-Pinto. Bela razão social ,
que na época elogiamos . Mas hoje, 3 anos depois, ela ainda
não conseguiu colocar-se à altura do nome que tem.
Confiram: é uma ‘Associação’, mas não tem sócios; intitulase de ‘Comunicação Educativa’, mas acabou com o Setor
Educativo da Rádio, sem aviso explicação ou comentário; e
parece ostentar o nome de ‘Roquette-Pinto’ a contragosto,
sem conseguir incorporar o compromisso moral que o
designativo impõe.
Esta lista de contradições cresceu, em janeiro, quando,
mostrando não operar no nível simbólico, os administradores
da Associação, sem respeitar a coincidência dos inícios –
primeiro mês do primeiro ano do primeiro século do novo
milênio!– , decidiram dar fim ao radiojornalismo, fechar
carreiras e estreitar os horizontes radiofônicos do país.
Esquecendo que administram uma rádio pública, tiraram do
ar programas com audiência, sem dar satisfação ao público.
Tais medidas (somadas às tomadas na TVE)
provocaram desdobramentos – ver págs 3 e 5. Pela primeira
vez, na história da Rádio, programas voltam á grade de
programação e tornam a sair por força de ações judiciais. Pela
primeira vez deixamos de publicar as grades de programação.
E, pela terceira, na história da ACERP, novo presidente
assume. O terceiro em três anos.
Os Amigos Ouvintes desejam, sinceramente, que
Fernando Barbosa Lima supere as contradições que está
herdando e, amparado num Conselho Administrativo
fortalecido, consiga levar a ACERP a fazer jus ao nome.
Esperamos também que no correr de 2001, o Ano
Internacional do Voluntário, a nova administração da
ACERP reconheça os méritos do trabalho voluntário da
SOARMEC e perceba a possibilidade de uma relação amiga
e sinérgica com os Amigos Ouvintes.
Nossa Sociedade não ostenta o nome de RoquettePinto, mas fundamenta-se nos princípios por ele postulados.
E por esses princípios – tal como formulou certa vez o
Barão de Itararé – está disposta a ir até o fim.
Amigo Ouvinte
Ano IX • Nº 31 • FEVEREIRO 2001
I N F O R M AT I V O D A S O C I E D A D E D O S A M I G O S O U V I N T E S D A R Á D I O M E C
Presidente novo
Foto William Nery (detalhe)
Odisséia radiofônica
IMPRESSO
Editorial
Fernando Barbosa Lima, logo após ser oficializado, pelo Conselho Administrativo, na Presidência da ACERP. Sua indicação
para o cargo trouxe alento para os que se preocupam com o futuro da radiodifusão educativa e cultural. Um homem que
é do ramo, como escreveu Boechat, nO Globo. Ao experiente profissional, desejamos um bom Conselho Administrativo
e uma feliz presidência nova – leia mais na página 3.
Neste número
Alto-falante – 2
Um discurso a propósito
Roberto Saturnino, saúda
o novo presidente da ACERP– 3
Um encontro necessário,
A Rádio MEC tem salvação? – 4 e 5
Lançamentos CDs – 7
Rádio MEC para quem?
por Carmem Lucia Roquette Pinto – 8
A obra pelo criador, texto de Roquette – 8
A primeira Organização Social Brasileira
Considerações do editor – 9
A rádio do meu tempo,
Tais de Almeida Dias – 10
Allan Lima visita a Rádio – 11
Cartas – 12
Jornal da Casa não olet –13
Passeio no site da BBC – 14
Coluna do Conselheiro – 15
Números da CAO – 15
SOARMEC informática – 15
O ouvinte permanente – estreia da seção, com
texto de Carlos Acselrad – 16
Este número vem sem grades de Programações
Saudação Dois Mil e Única
Os Amigos Ouvintes saúdam a todos os que acreditam no efeito benéfico da radiodifusão educativa e pedem passagem para continuar, neste
novo ano-século-milênio, a investir no futuro da Rádio MEC, para que ela seja uma rádio ética e estética; uma rádio padrão: de gosto,
de informação, de cidadania; uma rádio dedicada à convivência civilizada e à celebração da língua portuguesa; uma rádio que cultive
todos os gêneros radiofônicos e dê a devida atenção à criança e ao deficiente. Queremos uma rádio digna, e não uma rádio digna de pena.
Alto-Falante
ULTRAPASSAMOS OS
500. Já somos
504 sócios
desde o início do ano.
CONDECORADO COM
a Ordem do Mérito Cultural, um certo Edino
Krieger, maestro e compositor que é, também,
membro do Conselho de Cultura do Estado,
presidente da Academia Brasileira de Música
e, ufa!, vice-presidente da SOARMEC.
DISPENSADOS, no início do ano, os
celetistas Alda Maria de Almeida (redatora),
Bertha Nuttels (produtora), Cynthia Cruz
Pereira (repórter), Heloisa Borges (chefe do
Jornalismo), Iris Ágatha de Oliveira (apresentadora), João Luis Rangel Sanz e Mário
Augusto de Melo (operadores), Ricardo de
Lima Oliveira (técnico manutenção),
Robson Alencar de Carvalho (locutor) e
Ruy Manoel Pizarro (editor de jornalismo).
O APRESENTADOR Paulo Fernando, único
radialista deficiente visual, da Rádio, entrou
na lista, mas foi readmitido, dias depois, por
ordem da SECOM.
UMA LIMINAR determinou que os
programas retirados da Grade ( Manhã
Viva, Defesa do Consumidor e Café com
Notícias) voltassem a ser produzidos por
seus produtores. Na semana seguinte, foi
cassada.
A RADIOBRÁS quer vender a frequência da
Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O Acervo
deve ir para o MIS. E os funcionários
remanescentes? Para o Museu dos
Remanescentes, a ser criado?
Foto Joana Traub
Amigo Ouvinte
A
VOZ
DA
AMÉRICA, depois
de 40 anos, decidiu
acabar com o seu
serviçode noticias,
em Português, para o
Brasil. Ou seja, mais
10 radialistas na rua.
“NOTÍCIAS
da
ACERP” é o nome do
informativo que estreou em dezembro,
com 4 páginas, e sem CARMEM LÚCIA Roquette-Pinto, a outra filha de Roquette-Pinto
editorial. Vem com (na foto com Adelson Alves e Fábio Pimentel) veio finalmente conhecer
texto do então presi- de perto a Sociedade dos Amigos. Foi no último dia 9 de janeiro, após
dente, afirmando que o Encontro na Faculdade de Direito ( há um texto seu, na pág 8).
“é com sua sugestão e
sua crítica que será feito o jornal”. Nossa AS RÁDIOS LIVRES da Internet estão
sugestão é que o informativo perca o caráter apreensivas, porque o Escritório de Direitos
institucional, inaugure uma coluna de “om- Autorais dos EUA decidiu que as estações
budsman”, tenha comerciais, que transmitem seu conteúdo na
editorial e entre Internet, também devem pagar por essa
no assunto. O transmissão. O que é um passo para acabar
número de janeiro com um dos movimentos mais saudáveis da
(o 2º, ao lado) tal atualidade: as rádios livres da infovia.
como o 1º, ignora
os últimos fatos. O SERVIÇO DE INTERNET MP3.com
Desejamos melho- já entrou em acordo para pagar pelo direito
ras e solicitamos a de distribuir músicas on-line. Foi uma
finesa de incluir a vitória dos defensores da idéia de que a
SOARMEC no Internet não revogou os direito autorais dos
cadastro
de compositores.
leitores da revista.
.O SINDICATO dos Servidores Federais
(Sintrasef ) moverá ação civil pública para
OS CDS VÃO ACABAR em 2005, afirma que o Governo federal volte a administrar a
pesquisa do Instituto Mori , que entrevistou Rádio MEC e a TVE. Na ação é ressaltado o
1629 ingleses de 15 a 65 anos. Os resul- caráter público da rádio fundada pelo
tados indicam que as pessoas estão educador Edgard Roquette Pinto. ( O Dia ,
planejando abandonar os CDs (criado em 07/ 02/ 2001.)
1970) em favor do MP3, de downloads de
OUVIDORIA, alguém ouviu falar?
música e de audio players digitais-portáteis
Quatro perdas e um hai-kai
LAPI
Luiz
Antônio
Pires,
cartunista inconfundível,
desenhista e programador
visual, trabalhou no O
Jornal, no Pasquim, no JB,
e colaborou em vários
alternativos.
Realizou
pinturas na Rocinha, no
Dona Marta, no Hospital
Pinel e na entrada do
Túnel Velho. Gostava de
Dostoiewski
e
acreditava
na
Sociedade Civil. Viveu o nosso tempo
intensamente. Era um libertário. Liderou vários
projetos para amenizar a poluição urbana.
Participou da fundação da SOARMEC, e, uma
vez,presenteou-nos com o desenho do radinho
sorridente, lá em cima.
2
é uma publicação da SOARMEC
Sociedade dos Amigos Ouvintes
da Rádio MEC.
De Utilidade Pública Municipal
(Lei nº 2464) e Estadual (Lei nº 3048)
CGC 40405847/0001-70
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EDITOR-RESPONSÁVEL: Renato Rocha
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Beatriz Roquette-Pinto
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COMUNICAÇÃO SOCIAL:
Carlos Acselrad
PATRIMÔNIO:
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SECRETÁRIO: Renato Rocha
CONSELHO FISCAL:
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Otto A. de Castro
COORDENAÇÃO GRÁFICA:
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FOTOGRAFIA:
Clara Zúñiga e Joana Traub
COLABORADORES:
Bárbara Távora, Fábio Prado Pimentel,
Lívia Rosa, Paulo Garcia,
Renata Mello, Luisa Amaral
CONSULTOR JURÍDICO:
Letácio Jansen
CONTADOR:
Manoel Mescouto
IMPRESSÃO:
Tipológica Comunicação Integrada
21 5093366
:
el!
Admiráv sa ao ver um raio
n
e
p
o
Nã
a vida”.
“É fugaz
(Bashô)
Carolina Cardoso de
Meneses
Edileuza Costa
da Silva Ferreira
Célio Reis de Lima
Pianeira pioneira, fiel
seguidora de
Chiquinha e Nazareth,
cujas obras divulgou
em recriações geniais,
faleceu na virada do
milênio. Ninguém
como ela dominou a
linguagem pianística do tango brasileiro.
Trabalhou na antiga Rádio Sociedade, e duas de
suas últimas apresentações foram dedicadas à
Rádio MEC. Uma em julho, no recital para
liberar o piano importado, e outra, no concerto
de inauguração do dito instrumento, no
Sinfônico (ver Cartas). O Amigo Ouvinte pede
desculpas por ter protelado entrevistá-la, pois
com ela desaparece muito da nossa memória
musical e radiofônica.
Trabalhou no setor
administrativo da
Rádio durante 12
anos. Com sua
quietude e recato,
tornou melhores os dias
de todos os que com ela
conviveram. Era uma
daquelas mulheres raras que parecem vir ao
mundo para simbolizar o eterno feminino.
Bonita e calma, Edileuza continuou assim,
mesmo durante a doença prolongada que a
levou, tão cedo. Para o Ary André, com
quem se casou, ela deixou dois filhos e um
exemplo de companheirismo. Para este
redator, que nunca imaginou escrever seu
necrológio, deixou suspenso, na memória,
um dos seus sorrisos.
Memória viva da
Rádio MEC, onde
trabalhou por anos e
à qual se dedicou por
toda a vida. Já
aposentado, foi um
dos sócios fundadores
da SOARMEC, e
nosso primeiro
diretor-tesoureiro. Seu último gesto concreto de
dedicação foi ter participado da Assembléia
Geral da Sociedade, em abril passado . Seu
Célio – focalizado no 8 número deste jornal –,
tinha cara de passarinho, e era uma
unanimidade dentro da Rádio. Foi, sem
dúvida, uma das pessoas mais leves que já
freqüentaram este espaço. Tão leve que faleceu
no dia dos finados.
Presidente novo
Foto William Nery
O
veterano e muitas vezes premiado profissional de TV,
jornal e publicidade, Fernando Barbosa Lima, é o novo
diretor-presidente da ACERP, desde o dia 2 de fevereiro. A foto
ao lado – em que aparece com Aspásia Camargo, presidente do
Conselho Administrativo da ACERP; e Artur da Távola,
membro do citado Conselho – é muito oportuna, pois fixa a
imagem do trio à da Rádio MEC, cujo logotipo aparece ao
fundo. Tomara que o veterano homem de comunicação tenha
sempre por perto um cartaz da Rádio MEC, para não esquecer
que ela existe.
Filho de Barbosa Lima Sobrinho, Fernando começou aos
19 anos, no jornal O Tempo, de São Paulo, e, aos 22, dirigia
seu primeiro programa de televisão, na TV Rio.
Foi diretor da TVE, da Rede Excelsior, da Rede
Bandeirantes e da Rede Manchete, tendo sido responsável pela
criação de dezenas de programas televisivos, entre eles, Preto no
Branco, Encontro com a Imprensa, Jornal de Vanguarda, Sem
Censura, Canal Livre, Conexão Internacional, Programa de
Domingo e o divisor-de-águas, o Abertura, que marcou sua volta
para a TV, após longo afastamento durante a ditadura militar.
Foi um dos fundadores da agência de publicidade Esquire e da
Intervídeo, com Roberto Dávila e Walter Salles.
É sócio da produtora FBI & Associados, e da produtora
Brasil Export. Na Rede Brasil, é o responsável pelo programas
Primeiro Time e Rio, eu gosto de você.
Na entrevista de meia-página, que deu para O Globo
(em12/02), Fernando não cita a Rádio. Nem a ACERP. O autor
da entrevista, tal como o Boechat, continua a designar um
incerto “presidente da TVE”, quando o cargo é, na realidade, de
diretor-presidente da empresa que administra a TVE do Rio, a
TVE do Maranhão e, por último – tem sido sempre assim, não
é ? – a Rádio MEC.
Até o dia em que fechamos a edição (15/02), não havia
definição oficial a respeito da Rádio. Os boatos é que se
multiplicaram. Aliás, o boato é, hoje, disparado, o principal
meio de comunicação interna, na Rádio (e na TVE).
Um discurso a propósito
Foto Joana Traub
Senador saúda Fernando Barbosa Lima e pede novamente a vinculação da rádio e da TVE ao MEC ou ao MinC
Íntegra do discurso pronunciado pelo
senador, em 2 de fevereiro de 2001
conforme transcrição do Senado Federal.
“Sr. Presidente, Srªs e Srs.
Senadores, toma posse hoje como Presidente da Associação Cultural e Educacional Roquete Pinto, Acerp, entidade
que congrega a TVE do Rio de Janeiro, a
Rádio MEC e a Radiobrás, o eminente
jornalista Fernando Barbosa Lima.
Manifesto o meu regozijo e
cumprimento o Presidente da República
por essa escolha tão feliz. Trata-se de um
profissional do ramo, muito respeitado,
experiente, competente e exemplar também sob o ponto de vista ético e moral.
Assim é, Sr. Presidente, que se levanta no
meu espírito e no espírito dos servidores
das entidades que compõem a Acerp a
esperança de correção de uma série de
equívocos que têm sido cometidos
ultimamente e que têm resultado em
grandes
descontentamentos
entre
funcionários antigos e idealistas, que se
viram, de uma hora para outra,
demitidos, tendo seus programas
atingidos por decisões sem nenhuma
justificação e que, a meu ver, decorrem
exatamente do fato de a direção dessa
Associação ter sido entregue a pessoas que
não têm a vivência do setor nem a
experiência e a maturidade que o
jornalista Fernando Barbosa Lima possui.
Há também o fato de a Associação estar
equivocadamente
localizada
na
Secretaria de Comunicação da
Presidência da República, que é um
órgão de informação e de propaganda
do Governo. Não se trata, portanto, de
um órgão de natureza cultural, que,
afinal de contas, é a missão precípua das
entidades que estão sob a responsabilidade da Acerp.
O erro da localização e o
equívoco na escolha de pessoas para a
direção da Associação têm resultado em
uma série de erros, muitos dos quais
tenho aqui comentado. Fiz pronunciamento a respeito dessa localização
equivocada e continuo sustentando a
opinião de que o correto seria a Acerp e as
entidades que a compõem, a TVE e a
Rádio MEC, estarem sujeitas à orientação ou do Ministério da Cultura ou do
Ministério da Educação,como tradicional
e historicamente ocorreu no passado.
No caso da Rádio MEC, por
exemplo, houve uma doação ao Governo
Federal, por parte de seu proprietário, o
eminente brasileiro, idealista e pioneiro
da comunicação Roquete Pinto, mas sob
condições rígidas de que essa emissora
jamais fugisse de suas atribuições
eminentemente de natureza cultural, que
nunca pudesse servir a fins políticos. Mas,
na verdade, a Assessoria de Comunicação
da Presidência da República é uma
entidade eminentemente política, situada
no centro do Governo Federal, destinada
a promover a imagem do Governo – o
que é lícito, devemos reconhecer. Mas
não é lícito submeter a essa entidade
outras emissoras que tenham caráter
eminentemente – eu diria exclusivamente – cultural. É o caso da Rádio
MEC e da TVE.
Assim, Sr. Presidente, continuo
sustentando a idéia e levando ao Senhor
Presidente da República e aos Ministros
da Educação e da Cultura a sugestão ou
mesmo a solicitação de que haja uma
revisão nessa localização, para que essas
emissoras voltem a desfrutar da
orientação e mesmo da proteção de um
Ministério de natureza cultural para
cumprirem bem a sua missão, que é
extremamente importante.
Sr. Presidente, preocupa-me
muito, por exemplo, a situação da Rádio
MEC, que é uma emissora tradicional,
com um grande número de ouvintes fiéis,
que ficam ligados quase o dia inteiro em
sua programação e que sentiram profundamente a retirada do ar de programas de
informação e de notícias, que eram
transmitidos de duas em duas horas.
Eram programas informativos que
tinham como finalidade e objetivo a
formação da cidadania. Havia também
programas destinados aos deficientes
visuais, que sintonizavam a emissora
exatamente para se proverem de
informações e de formação que não
poderiam obter por outro meio.
E essa emissora, de caráter
eminentemente cultural, por conseguinte
sem fins lucrativos ou interesses
econômicos, produzia tais programas
com muita competência e seriedade. E eis
que esses programas foram retirados, as
pessoas foram demitidas.
Felizmente, houve uma reversão
dessa decisão por intermédio de liminar
concedida pela 21ª Vara Federal, que
repôs no ar esses programas. Porém, os
servidores e, principalmente, os ouvintes
continuam ameaçados de se verem sem
essa contribuição importante que a Rádio
MEC presta na área de formação da cidadania e de informação ao povo em geral.
Sr. Presidente, assim como acontece com
a Rádio MEC, também na Radiobrás e
na TVE tem havido muito descontentamento e muitos desacertos, mas,
com a nomeação, com a designação do
jornalista Fernando Barbosa Lima, há
uma expectativa minha muito profunda
de que esses desacertos sejam finalmente
corrigidos, de que tudo entre nos eixos.
Porém, continua a opinião de que essa
entidade deveria estar submetida ao
Ministério da Cultura, ao Ministério da
Educação, e nunca à Secretaria de
Comunicação, um órgão de informação,
promoção e propaganda das ações do
Governo Federal.
De forma que fica aqui a minha
mensagem de confiança no jornalista
Fernando Barbosa Lima e nos
funcionários, de um modo geral, dessa
entidade, e também o meu apelo ao
Senhor Presidente da República –
cumprimento-o pela escolha – para
revisão da localização dessa entidade e sua
submissão a um desses Ministérios, de
Cultura ou Educação.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.”
3
Um encontro
Portadora de Deficiência. […] A imprensa,
de modo geral, não nos dá atenção; a única
porta que nós encontramos aberta foi a do
Programa do Fajardo, e lá nós temos tido
um apoio imenso, temos recebido muita
ajuda, de muita gente, e essa porta, ela não
pode ser fechada.
• EDUARDO FAJARDO (produtor): A
Constituição reza que é necessário 5% de
reserva de emprego para os deficientes
físicos. Pois essa medida colocou na rua
um cego, que fazia a parte, no meu Programa, dedicada aos portadores de deficiência.(Paulo Fernando, foi readmitido )
Reportagem Renato Rocha
e Fábio Pimentel
fotos de Joana Traub
N
o dia 9 de janeiro de 2001, na
Faculdade de Direito, cerca de 50
pessoas – em atenção à Rádio MEC –
reuniram-se para avaliar a situação da
Emissora e pensar alternativas.
A gota-dágua foi o triplo corte de
celetistas, programas e rádiojornalismo (ver
Comunicado da Gerência, na pág. 16).
Tais cortes, abruptos e verticais,
cairam como uma bomba paradoxal. “Para
salvar a aldeia precisamos destruí-la!”, disse
um general. “Para salvar a emissora
precisamos fazer menos rádio!”, diz-nos o
comunicado. Mas quem foi que decidiu?
Quem está pensando a Rádio MEC (e a
TVE) hoje?
O fato do evento ter ocorrido na
Faculdade de Direito, e não no auditório da
Rádio é sintomático. A ACERP–Rádio
parece não apreciar essa coisa de “pensar” a
Rádio. Tanto é que não promoveu um só
seminário interno, ou work–shop ou
debate, ou o que quer que seja que ajude a
avaliar ou “pensar” a Emissora em seu
momento atual.
Mas nem sempre foi assim.Basta
lembrar as reuniões do 1º Encontro de
Funcionários, em 1993, no auditório da
Rádio, quando, por uma semana, foram
debatidas as idéias de quase 30 palestrantes.
Dali saiu um diagnóstico da
situação da emissora, e uma clara proposta
de rádio educativo-cultural, (ver Relatório
do 1º Encontro de Funcionários, na
biblioteca da SOARMEC). E também saiu
uma proposta para que os Diretores fossem
escolhidos a partir de lista tríplice, indicada
pelos funcionários, o que resultou na gestão
de Regina Salles — uma professora,
poliglota, de vasta cultura humanista —
que acabou ficando 4 anos na Direção da
Emissora. Regina foi a última a ocupar o
cargo – extinto há três anos.
O 2º encontro ocorreu no ano
seguinte, 94, e foi dedicado ao estudo e à
reforma do estatuto da FRP, hoje extinta.
4
De cima para baixo e da esquerda para a direita, Carmem Lúcia Roquette Pinto, Luis Carlos Saroldi, Ruth Gusmão, Maria Clara Pinto, Maria
Yedda Linhares, Caó e Saturnino Brito (em 2º plano), e o plenário.
Nesses encontros, os trabalhadores
da Casa alcançaram seu mais alto índice de
cidadania profissional. Uma conquista que
a ACERP-Rádio desperdiçou, ao negar
espaço para a realização do encontro. E aqui
vai nosso agradecimento á Faculdade.
Diferentemente, o encontro não
foi promovido por uma comissão de funcionários, e sim por alguns veteranos de um
corpo de profissionais desagregado. É por
eles que estamos publicando as palavras de
Aylton Escobar – veja box abaixo.
A SOARMEC, que apoiou o evento,
gravou e transcreveu o debate. O documento, elaborado por Fábio Pimentel e chancelado pela Sociedade, está à disposição dos
interessados.
CINCO PRONUNCIAMENTOS
• ADELZON ALVES(produtor): Na hora
em que nós soubemos do pé em que as
coisas se encontravam, nós estávamos no
Jornalismo, e procuramos o Zito Baptista
Filho, e resolvemos partir dele, exatamente
por respeito à folha de trabalho que ele tem,
e ele deu o aval imediato para a realização
dessa Reunião. […] Não é uma reação
nossa, de defesa do nosso emprego – o que
também é justo – mas é a defesa da Rádio,
da sobrevivência dela.
• MARIA CLARA PINTO: Estou aqui
representando a ACADIM e o Conselho
Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa
Palavras de Aylton Escobar
• WILSON LOGOBUCO (ouvinte): O
Hermeto Pascoal mandou que eu o
representasse, também. Ele não pode vir,
mas está indignado com tudo isso que está
acontecendo. E nós, como ouvintes, não
fomos consultados, não perguntaram nada.
• JORGE TARDAN (advogado e
colaborador da Rádio) – Eu monto o
PROCON no interior do estado, e muitos
municípios – Conceição de Macabu, Friburgo, Itaguaí –, a quantidade de pessoas
que ouvem, e precisam ouvir a Rádio
MEC... A Rádio MEC deve ter esse compromisso, porque a Lei diz que tem que ter.
(continua na pág. seguinte)
(antigas mas atuais)
“Aqui, com a minha experiência de observação sincera e solidária, eu encontrei, com nobres exceções, pessoas
que são meramente políticos, que não têm nenhum afeto por isto que estão dirigindo. São carreiristas. São
pessoas que não querem fazer; que buscam um emprego, não um trabalho. São pessoas que não se emocionam
de modo nenhum com o que está acontecendo aqui. E eu encontro pessoas na sua triste figura de terem de
sorrir para essas pessoas, nos corredores, para defenderem a sua sobrevivência, também já esquecidos da emoção
que deveria conduzí-los ao trabalho que devem exercer. Vejo pessoas que transformam qualquer ambiente, no
Brasil, num tristíssimo arquipélago. Vejo funcionários públicos no dever de se manterem vivos diante de um
cenário absolutamente hostil da contemporaneidade nacional, tristes, todo nós, com um sonho que está lá
dentro, que é a vontade de fazer alguma coisa.”
Aylton Escobar, maestro e ex-colaborador da Rádio, no 1º Encontro de Funcionários, há 8 anos,
conseguiu descrever com precisão o ambiente de trabalho que conheceu, e que se repete, ciclicamente, por lá.
necessário
MAIS PRONUNCIAMENTOS
PAULO BORGES(conselheiro, representante dos funcionários da Rádio e da
TVE ) – No Conselho de Administração,
nós não fomos consultados sobre demissões de funcionários. A única coisa
que se falou, com relação à Rádio MEC,
seria a desativação da Rádio MEC de
Brasília. Então, o Conselho de Administração não sabe dessas medidas de
extinção do Programa do Fajardo e da
Bertha.Nuttels. […] O Conselho não
toma parte nessas medidas administrativas. Eu vou deixar com vocês a ata
Da esquerda para a direita, Eliomar Coelho, Eduardo Fajardo, Pitombeira. Nina Ribeiro, Bertha
Nuttels
e, abaixo,
e, abaixo,
aspecto
geralda aspecto geral do encontro.
reuniãona Faculdade de Direito
• ARTUR MESSIAS (deputado): A
Assembleia fêz, recentemente, uma carta,
mas acho que isso não é suficiente: acho
que tem que ter uma ação política mais
efetiva. O Senador (Saturnino Brito)
certamente o fará em Brasília, e cabe
também à gente, aqui, na alçada estadual,
mobilizando o Ministério Público, já que
é uma Empresa Pública.
da última reunião, e aqui vocês vão ver
que não foi discutido nada disso. […]
Daqui a pouco a Rádio vai estar
funcionando com o quê? Com robôs?
Não tem mais ninguém para trabalhar.
LUIS CARLOS SAROLDI: Isto aqui
(mostra o comunicado) é grave, porque
essas pessoas estão indo contra o que me
parece dito no Código Brasileiro de
Radiodifusão, que prevê que cada
Emissor tem que destinar 5% do seu
tempo no ar à transmissão de informação
jornalística. Como é que essas pessoas
assinam um papel desses, assumindo essa
infração? Eu já nem discuto a ACERP,
ela poderia ser dirigida por pessoas
competentes, que soubessem o que estão
fazendo, mas me parece que isso aqui é
claríssimo, eles não sabem: eles não
sabem cumprir a Lei.
CARLOS
HENRIQUE
JUNDI
(presidente do Instituto Brasileiro de
Cidadania): Todo ato administrativo
deve ser circundado de alguns elementos,
que são a competência, a finalidade, a
forma, o motivo e o objeto. A pessoa que
fez tem competência administrativa para
isso, para tomar a frente, fazer um
documento dessa estrutura? […] porque,
a partir do momento em que não há legitimidade da pessoa que fez, existe
improbidade administrativa, e a responsabilidade civil por estes atos.
ELIOMAR COELHO (vereador): É um
procedimento conhecido há muito tempo
– inicia-se sucateando a Empresa. É um
processo de desconstrução. A Rádio não
está entregue à pessoas incompetentes,
não: está entregue a pessoas competentíssimas, exatamente para acabar com a
Rádio. […] Como é que o Conselho de
uma Instituição não tem conhecimento de
toda uma reformulação do desenho desta
Instituição?
•CAÓ (jornalista e ex-parlamentar):
Essa questão da Rádio MEC evidencia
inconstitucionalidades, ilegalidades, e até
violação da liberdade de expressão. E
algumas práticas são semelhantes àquelas
que nós enfrentamos na época da
ditadura. […] Vamos fazer com que a
denúncia da destruição desse patrimônio
cultural chegue ao conhecimento da
sociedade. A sociedade precisa saber.
•
HELONEIDA
STUDART
(vereadora):
Uma das grandes
admirações da minha vida, foi o Professor
Roquette-Pinto, este patriota, este
democrata […] Quero dizer que
trabalhei em rádio, que amo o rádio, que
considero o grande instrumento de
comunicação — chega aonde a TV não
chega, chega aos pobres, aos bóias-frias,
aos sem-terra, chega onde quer que exista
um brasileiro. Ofereço a solidariedade do
meu mandato, estou às ordens para estar
na luta de vocês, que é a minha luta.
• IVAN ACIOLI (sindicato dos
jornalistas): A Moção de Repúdio, que
foi feita pela Assembleia Legislativa,
surgiu a partir de um contato da
Presidente do Sindicato com o Sérgio
Cabral. Então, nós vínhamos já atentos
à questão da TVE, da Rádio MEC.
•PITOMBEIRA(diretor da ABI): A
ABI não poderia se omitir diante de um
fato dessa natureza. Mas isso não é um
fato isolado. Não é a toa que surgiu essa
questão do capital estrangeiro poder ser
agora investido nas nossas empresas de
comunicação — o que era proibido na
Constituição. Estão forçando de todas as
formas para investir capital estrangeiro
nos jornais, nas rádios e nas televisões.
•RUTH GUSMÃO(Sintrasef): O que é
que a OS é? Ela desempenha uma
política pública, com recursos públicos,
com servidores públicos, com patrimônio
público, mas só que é um grupo privado
que executa isso, não é? Então, em que é
que isso resultou? O patrimônio está aí,
do jeito que vocês estão vendo, e o mais
importante, a política do Rádio
Educativoestá sendo exterminada aqui
dentro. Em que resultou a Reforma de
Estado aqui nessa área? Nisso.
•ROBERTO SATURNINO (senador):
É preciso desenvolver um grupo de ações,
na área jurídica e no Ministério Público,
e outro na área política. Mas a gente tem
que ampliá-lo, chamando representantes,
não só dos Partidos de oposição, mas
buscar, também, aliados junto às forças
que defendem hoje a política do
Governo. Eu me disponho a conversar
com Senadores e Deputados que me
pareçam dispostos a apoiar esta causa, e
ver se conseguimos trazê-los para o nosso
lado, e mobilizar a sociedade, porque as
forças políticas são suscetíveis de
mobilização por parte da sociedade.
CARMEM LÚCIA ROQUETTEPINTO: Uma ocasião houve o perigo
da Rádio ir para o Legislativo. Na época,
D. Beatriz Roquette-Pinto Bojunga fez
um movimento enorme, e venceu. Eu
achava bom se pegar esse processo,
porque ele pode ser esclarecedor. Só que
desta vez não acho que deva ser na mão
da família, acho que deve ser na mão da
sociedade, ampla, em todos os setores.
Eu posso participar, em meu nome, da
minha família, filhos e netos.
Nota da Redação:
1) O encontro acima foi noticiado na
Folha de São Paulo, no jornal Movimento e na Gazeta de Notícias. Ele deu origem a um grupo formal de trabalho
(que conta com um representante dos
ouvintes e um representante dos
deficientes físicos, e vem se reunindo
regularmente), mas
também deu
origem a compromissos e iniciativas
individuais. Há um abaixo-assinado
circulando, em favor da democratização
dos meios de comunicação e chamando
atenção para a importância da
sobrevivência do rádio educativo.
2) A SOARMEC dispõe de cópia da
Moção de Repúdio, assinada por 67
deputados do Estado do Rio de Janeiro, e
enviada ao então presidente da ACERP,
3)Não deixe de ler matéria a propósito da
manifestação em Praga, na página 13. Os
acontecimentos, aqui e lá, são simultâneos e simétricos. Aqui, o avanço da
cidadania é mais lento, mas a questão da
responsabilidade da Sociedade Civil, está
no horizinte.. Quantos brasileiros têm
consciência de que o os bens públicos
pertencem ao cidadão?
Oxalá os
desdobramentos deste encontro, forneça
resposta para esta pergunta.
5
6
O segundo CD da Série Instrumental Brasileiro Inédito
valsa, e a peça Ventos, uma das mais difíceis
interpretações do repertório do violonista,
parecendo, em certos momentos, impossível
de ser tocada por um único instrumento.
Depois, Gibran mostrou a Suíte Caladas
Estrelas, composta por músicas de diferentes
ritmos, destacando-se Tangueando, uma
homenagem a Astor Piazzola, que traz, de
forma muito interessante, o tango de encontro
à música brasileira. O violonista também
tocou alguns de seus 5 Prelúdios, e encerrou
com peças das Tardes Brasileiras, série de
músicas inspiradas em poemas de Castro
Alves. Mais um recital – o 65º –, mais
um CD da Série Instrumental Brasileiro
Inédito, mais um título – o 17º – em seu
catálogo de discos, e mais uma demonstração
de carinho por parte dos amigos e ouvintes
da Rádio MEC, que compareceram em
massa ao FINEP, certos de assistirem a uma
noite de música brasileira de qualidade.
Fábio Pimentel
A
SOARMEC lançou o segundo CD da
Série IBI, no último dia 30 de novembro.
Em noite de muita chuva, mais de cem
pessoas estiveram no Espaço Cultural Finep,
no Flamengo, para ouvir boa música, em mais
um recital–lançamento da Sociedade.
O recital foi aberto com a pianista Ruth
Serrão, colaboradora de todas as horas da
Sociedade, que deverá ser a próxima intérprete
a gravar na Série IBI. Ruth tocou Prelúdios de
Antônio Guerreiro, Guerra-Peixe e VillaLobos, de uma forma que a faz uma das
principais intérpretes dos compositores
nacionais. Depois, outra pianista importante:
Laís Figueiró. Inicialmente sozinha, Laís
tocou ‘Reverie’, de Henrique de Curitiba, e
‘Noturno para Mão Esquerda’, de Alberto
Nepomuceno, uma peça rara.
Em seguida, subiu ao palco o clarinetista
José Botelho, que faz parte do Trio que
inaugurou a Série Instrumental e é o decano
do instrumento no país. Com Laís , Botelho
tocou ‘Quatro Coisas’, de Guerra-Peixe – uma
peça originalmente composta para um duo de
gaita e piano, que o próprio Guerra-Peixe
transcreveu para piano e clarinete, dedicandoa ao próprio Botelho. Acompanhado pelo
piano de Laís Figueiró, o
clarinetista marcou um dos
momentos mais bonitos da
noite.
O último a se apresentar
foi o compositor e violonista
Gibran Helayel, que tocou
uma parte do repertório
gravado no CD da Série
Instrumental. Iniciando sua
apresentação com Brejeira,
que abre o disco, Gibran já deu uma
mostra do estilo de suas obras, que
trazem muita influência da cultura
carioca e brasileira, sem demonstrar
inspiração de determinado movimento
musical ou compositor em especial. Em
seguida, as obras da Suíte Varanda das
Serestas, uma série de choros e uma
Da esquerda para a
direita, de cima para
baixo, em fotos de
Marisa Lopes, o público
do recital, a pianista
Ruth Serrão, a capa do
CD, o duo Lais Figueiró
e José Botelho, e o
violonista Gibran
Helayel.
O 2º disco do selo Rádio MEC
V
inte anos depois de sair em LP, o
poema João e Joana, de Carlos
Drummond de Andrade, que Sé rgio
Ricardo transformou em cordel musical
(para 8 instrumentos e canto), e depois em
balé sinfônico, com arranjos seus e
orquestração de Radamés Gnattali (num
de seus últimos trabalhos), sai agora em
CD pelo selo Rádio MEC. Inicialmente
gravado em 24 canais, no antigo
Transamérica, com a voz do autor, o LP,
por questão de espaço, obrigou a uma
redução da obra, que aparece pela
primeira vez na íntegra, nas vozes de
Chico Buarque, Elba Ramalho, Geraldo
Azevedo, Alceu Valença e João Bosco.
Para que a gravação
das novas vozes fosse feita no
Sinfônico, foi necessário um
trabalho na fita original e a
transcrição para o padrão da
aparelhagem do Estúdio, tudo a
cargo de Roberto Montero,
profissional que Sergio cobre de
elogios: “Eu sabia que o estúdio é
o maior, mas não sabia que um
dos maiores técnicos de som, o
Betinho, também trabalhava lá”.
Com bom acabamento gráfico, o disco foi
prensado e está sendo distribuído
pela Eldorado.
Casa dos Artistas
82 anos de solidariedade
Associe-se: tel. 21 3392 5403 - 425 0868
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7
Rádio MEC para quem?
Carmen Lúcia Roquette Pinto
S
er filha de Edgard Roquette-Pinto é um
grande privilégio. Não preciso repetir
as qualidades de meu pai, quero enfatizar o
que ele fez. Colocou sua inteligência e
competência a serviço da educação e de
um desenvolvimento tecnológico que
trouxesse soluções para a desinformação e
a falta de preparo educacional e
profissional da população.
Para conseguir seus objetivos, viu no
rádio um grande instrumento que poderia
alcançar as populações nos rincões mais
afastados do país. No caso do Brasil, devese salientar que 15 milhões de brasileiros
não têm eletricidade, mas podem ouvir seu
radinho de pilha, ampliando sua visão do
mundo, tomando conhecimento do que se
passa no resto do país. O rádio deve
divulgar não só cultura e educação musical,
mas principalmente educação no sentido
amplo, que leva o ser humano a poder
exercer sua cidadania.
Roquette-Pinto tinha uma multiplicidade de interesses e uma grande curiosidade
intelectual, mas sobretudo uma vontade férrea de contribuir para que seus compatriotas
tivessem uma melhor qualidade de vida. Não
dava tanto valor ao conhecimento teórico –
fechado em torno dos seus próprios louros –,
mas sim ao saber direcionado para o bem comum. Quando perguntado como se definia,
respondeu: “Sou uma pessoa que tem grande prazer no movimento e no trabalho manual, grande curiosidade pela natureza e um
pouco de amor aos livros”. Esse “pouco de
amor aos livros” era dito por ele para salientar
a importância que dava à ação. Boas idéias
que não são levadas à prática geram o imobilismo, nunca aprovado por Roquette-Pinto.
Sabemos que estudava muito e tinha
amor aos livros, mas a definição de si próprio mostra que desejava uma educação
voltada para soluções necessárias ao desenvolvimento do país. Meu pai era um socialista visceral, embora não tivesse atração
partidária. Seu amor pela natureza e a
humanidade acabou por torná-lo um naturalista influenciado pelos alemães Goethe e
Humboldt, entre outros pensadores.
Na sua procura de caminhos que
facilitassem a difusão da educação e da
cultura no país, Roquette vislumbrou a
importância da radiodifusão.
Como
sempre, passou à ação. A 20 de abril de
1923 nasceu a Rádio Sociedade. No dia 7
de setembro de 1936, a Rádio Sociedade foi
doada ao Ministério da Educação e Cultura,
passando a se chamar Rádio MEC. Estava
com todos os serviços em ordem, não tinha
dívidas e cedeu móveis, instrumentos,
arquivo musical valiosíssimo, biblioteca e
mais um terreno de 10.000 metros
quadrados perto de Cascadura.
Pois bem, todo esse acervo material e
experiências positivas de formação da educação e cultura para a população passaram
do Ministério da Educação para a Secretaria
de Comunicação do governo federal quase
que por debaixo dos panos, sem divulgação
que ensejasse a discussão pela sociedade
civil, a quem a rádio pertencia.
Esse ato contraria profundamente a
vontade de Roquette-Pinto e como tal deve
ser denunciado. É preciso cumprir o que
foi negociado no ato da doação. O controle
da Rádio MEC deve voltar para o
Ministério da Educação, respeitando a vontade do doador, “pela cultura dos que vivem
em nossa terra, pelo progresso do Brasil”.
Jornal do Brasil, 06/02/2001.
C
omo seria a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 1926, quando o rádio no Brasil mal engatinhava? Então, bastavam os dedos das duas
mãos para contar as rádios instaladas no país, todas ainda identificadas pelo prefixo SQ. Apenas duas emissoras funcionavam regularmente
na cidade – a SQ1A (Sociedade) e a SQ1B, Rádio Clube do Brasil. Embora inaugurada em janeiro de 26, a Mayrink Veiga (SQ1J) só
transmitiria de forma sistemática no decorrer do ano seguinte, depois da entrada no ar da quarta estação carioca, a Educadora.
Nesse mesmo ano saía o 1º número da revista Antenna , publicação pioneira dedicada aos assuntos radiofônicos, lançada
pelo engenheiro Elba Dias, também fundador da Rádio Clube e um dos principais colaboradores de Roquette-Pinto. No facsímile da edição inaugural da revista, incluído na edição comemorativa dos 50 anos de Antenna *, completados em 1976,
encontra-se o resumo das atividades da Rádio Sociedade. Aí estão, em destaque, a transmissão integral de óperas e vários cursos
permanentes, além de palestras avulsas sobre arte, literatura e ciência. Embora não seja assinado, é fácil perceber nas linhas que se
seguem a mão de Roquette-Pinto, que dificilmente entregaria a outra pessoa a tarefa de falar de sua criação favorita, aquela que
tinha por missão trabalhar “pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil”.
Luis Carlos Saroldi
SQIA - Radio Sociedade do Rio de Janeiro
A Radio Sociedade do Rio de Janeiro foi fundada em
20 de Abril de 1923, na Academia Brasileira de Sciencias, e
installada em 19 de Maio do mesmo anno no amphitheatro
de physica da Escola Polytechnica, recebendo, nessa
occasião, por doação do Sr. M. B. Astrada, representante da
Casa Pekan de Buenos Aires, o primeiro apparelho
transmissor que possuiu.
Agasalhada, a principio, na Livraria Scientifica
Brasileira, occupou, em seguida, os salões do torreão da casa
Guinle, de onde passou para o Pavilhão Tcheco-Slovaco,
que lhe foi cedido, e à Academia Brasileira de Sciencias, pelo
Governo Federal, de accôrdo com os desejos manifestados
pelo Sr. Ministro da Tcheco-Slovaquia que, em nome de seu
governo, havia doado o Pavilhão ao Brasil.
A Rádio Sociedade seus primeiros, constantes das
Brasileiras do Barão do Rio Branco, por intermedio da
estação de P. Vermelha.
A 7 de Setembro de 1923, já de posse da Estação
Pekan que lhe fora offerecida, começou a transmittir
regularmente.
Na sua sede actual, a Companhia
Radiotelegraphica Brasileira, installou a estação Marconi, de
que se serve a Radio Sociedade. Essa estação que tem
potencia no primário, de 6kw, transmittindo em onda de
400 metros, é hoje propriedade da Radio Sociedade.
À Radio Sociedade se deve o inestimavel serviço de se
haver batido, até a victoria de seu ideal, pelo regimen da
liberdade das radiocommunicações. Essa campanha,
8
iniciada pelo officio enviado, em Abril de 1923, ao Governo
Federal pela Academia Brasileira de Sciencias, de quem a
Radio Sociedade é filha dilecta, encontrou éco no seio do
Governo do Dr. Arthur Bernardes, especialmente no
espírito esclarecido do Ministro da Viação, Dr. Francisco Sá,
a quem a decana das sociedades de radio homenageou muito
justamente fazendo-o seu Presidente honorario.
Nascida no seio da Academia Brasileira de Sciencias,
com objectivo de cultura do povo brasileiro, a Radio
Sociedade tem attingido, a custa de ingentes esforços, sua
finalidade.
Mantém, desde sua fundacção, cursos
permanentes e palestras avulsas sobre sciencias, arte,
litteratura. Seus programmas são o attestado frisante do
esforço que emprega por attingir seus objectivos. Suas
transmissões alcançam diariamente todo o territorio
nacional.
As maiores summidades na sciencia e na
litteratura têm falado aos ouvintes da Radio
Sociedade. Einstein, de passagem pelo Rio, falou
deante do microphone da Radio, enaltecendo o
valor da radiotelephonia como elemento de
educação, applaudindo o programma da
Instituição brasileira.
Mantendo sempre um dispendio de esforços elogiavel
por attender a seus fins, a Radio Sociedade realizou, em seu
“studio” com o concurso da “Opera Radio” transmissões
integraes das operas. “Il Neo” de Henrique Oswaldo, que
nunca fôra executada em publico, foi transmittida
integralmente do “studio” da Avenida das Nações, com
Ilustração: Gustavo Pires da Silva
A obra vista pelo criador
grande prazer para todos quantos no Brasil tinham grande
desejo de conhecer a opera do compositor patricio.
“Rigoleto”, “Amico Fritz”, “Traviata”, tambem foram
executados integralmente. Da mesma forma “Stabat Mater”
de Pergolesi, nunca até então ouvida no Brasil, foi
transmittida pela Radio Sociedade, durante a semana Santa
do anno passado.
Alem da musica escolhida que irradia, mantém cursos
permanentes de portuguez, francez, inglez, physica,
chimica, hygiene, Historia, Geographia, além de palestras
avulsas sobre arte, litteratura, e sciencia. Na sua vasta séde
está installado o Curso de Radiotelephonia e
radiotelegraphia (Morse) para os escoteiros que a
benemerita Sociedade está organisando em um corpo
destinado a servir o paiz como uma magnifica reserva de
radiotelegraphistas.
Eis em um rapido resumo a vida da Radio Sociedade
do Rio de Janeiro que festejou recentemente o 3º
anniversario e cujo conselho director é o seguinte:
Presidente, Dr. Henrique Morize; Secretario, Dr. RoquettePinto; Thesoureiro, Sr. Democrito Seabra; Directores:
Drs. Carlos Guinle, Luiz Betim Paes Leme, Alvaro Ozorio
de Almeida, Francisco Lafayette, Mario de Souza e Angelo
Moreira da Costa Lima.
( Revista Antenna, Edição Comemorativa, 1976, pg 72. )
* A Biblioteca Tude de Souza possui o exemplar da edição.
A primeira Organização Social brasileira
E
ste é um texto de trabalho que, se a fórmula de
Chaplin é correta, despertará no leitor o mesmo
estado de espírito trabalhoso com que foi escrito.
Além de servir como fonte de referência, ele também
pretende ser o primeiro movimento para a possivel
realização de um seminário, no auditório de Rádio,
proximamente. Quem se preocupa com o futuro da
teleducação brasileira, e mesmo com o futuro da
terceirização, e se der ao trabalho de lê-lo (apesar das
letras miúdas, por falta de espaço), terminará
suficientemente informado sobre o tema.
Nosso editor responsável resolveu arregaçar as
mangase e tentar sistematizar as peripécias
administrativas provocadas pelo o advento da ACERP,
Renato Rocha
uem consultar a coleção completa deste
informativo – que já constitue a mais extensa
publicação a respeito da Rádio MEC – constatará que
ele vem cumprindo seu papel historiográfico, e que
vem dedicando, cada vez mais espaço à administração da Rádio pela ACERP, o que, por dever de ofício, acabou por tornar-se uma espécie de karmajornalístico, que nos obriga a adiar e reformular uma
edição quase pronta, como foi o caso deste número.
Há exatos 3 anos, no artigo Ecos das
Organizações Sociais, transcrevemos textos do professor Rogério Cerqueira Leite e do procurador Carlos
Bandeira Lins, publicados na Folha de SP –
respectivamente, a favor e contra o advento das OSs –,
e também a opinião conciliatória do então secretário
de Ciência de São Paulo. Este concluiu afirmando
que, em caso de excessos, “não haverá contrato de gestão que sobreviva se desvios forem relatados pela
sociedade, tendo a mídia a seu serviço.”
De lá para cá, no entanto, o debate foi
interrompido. Seguindo o conselho do ex-Secretário
de Ciência vamos relatar, do nosso ponto de vista, o
desvio evolutivo da Rádio MEC, comentando e documentando o impacto provocado pela ACERP na
estrutura da emissora. O objetivo desse texto é,
portanto, o de retomar a discussão do assunto e
contribuir para a necessária mudança de rumos.
Q
1 - Motivos da extinção da FRP
O principal foi a inclusão da Fundação
no Programa Nacional de Publicização, uma alternativa ao programa de privatizações. O governo, sem
recursos, idealizou um modelo de gestão inédito, que
persegue a educação lucrativa, a curto prazo. Mas o
motivo imediato foi o projeto de reforma administrativa tocado pelo ex-ministro Bresser Pereira, que
idealizou implantar nova forma de administração da
TVE e da Rádio MEC, com a criação das já citadas
mas não muito bem explicadas Organizações Sociais.
2 - O que são Organizações Sociais?
As OSs resultam da transformação dos serviços
públicos em entidades públicas de direito privado, que
celebram com o Estado um contrato de gestão.
Talvez fique mais fácil pensar na OS como sendo
uma espécie de ONG Governamental ou Neo-governamental, como prefere o próprio Presidente da
República: “as ONGs deveriam ser ‘organizações neogovernamentais’. Não no sentido negativo, de que
viessem a ser absorvidas pelo governo, mas no positivo, de que viessem a ser parte do processo decisório”.
3 – A primeira OS
Primeira a acredenciar-se como Organização Social, a
ACERP, foi declarada de Interesse Social e de
Utilidade Pública pela LEI 9.637(15/15/1998).
O Contrato de Gestão é anterior à Lei citada. Foi
assinado em 16 de janeiro de 1998, e transfere à
ACERP os direitos de administrar bens, usar o trabalho dos funcionários e captar patrocínios institucionais. Em contrapartida, tem a missão de desenvolver e transmitir programação educativa e cultural,
prestando serviços essenciais às pessoas de baixa renda.
O contrato ainda consagra a Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República
como Supervisora da ACERP.
4 – O inconcluso debate inicial
Durante a preparação do projeto das OS, foram
publicados pelo menos dois estudos de alto nível. O
jurista Paulo Modesto. num trabalho de 8 mil palavras
intitulado Reforma Administrativa e Marco Legal das
Organizações Sociaids no Brasil, estudou as semelhanças entre os processos de privatização e terceirização.
Em outro texto, “ESQUERDA E
DIREITA NO ESPELHO DAS ONGS”, o filósofo
Paulo Arantes, usa 7 mil palavras para questionar as
organizações sociais. (Brevemente estaremos
disponibilizando os dois textos em nosso site. Quem
não quiser esperar pode encontrá-los em
http:www,informe.com.br/ e ou no nº 214 da Revista
de Direito Administrativo, ou na Revista Inteligência,
de fevereiro de 2000)
5 – Mais história
A FUNTEVÊ – criada em 81 para administrar a
TVE e a Rádio MEC – e a FRP , que lhe sucedeu,
nunca gozaram de bom conceito. As duas tiveram,
somados, 15 diretores diferentes – quase um por ano,
o que é, note–se, a média da ACERP, até agora –, e
ficaram famosas como cabide de apadrinhados.
Para conservar o cabide, a FRP nunca
promoveu concursos regulares e, há muitos anos,
deixou de ter um plano regular de cargos e salários.
Ora, entre as medidas tomadas contra os funcionários
públicos, uma das mais perversas é justamente a
extinção dos planos de carreira. Além de provocar
esvaziamento dos quadros, expõe os que ficam a uma
dieta de perspectivas, e dá origem àquele sistema
“extra-oficial” de ascenção onde pontificam os grandes especialistas da tríplice arte de puxar sacos, tapetes
e, também, a brasa para a própria sardinha. Este era o
caldo burocrático da FRP. Extingüí-la seria, pois,
extingüir também esse tipo de procedimento.E foi por
isso que ninguém – incluindo a SOARMEC – se
preocupou muito com a extinção da pobre coitada.
A outra razão, pensávamos, é que, para
uma Rádio que foi tirada do Ministério da Educação,
haveria menos risco em fazer parte de uma novidade
chamada ACERP do que pertencer ao órgão portavoz do governo – cuja missão não é educativa.
Por isso, nosso jornal abriu um crédito
para a recém-criada Associação e, há exatos 3 anos,
publicou que “além de reconhecer o ineditismo da
iniciativa, prefere entender que a nova OS vai proporcionar, no mínimo, mais desburocratização e transparência, e maior obtenção de recursos.”
Três anos depois, o mínimo que se pode
dizer é que a organiza;ão social está desorganizada, e
que o projeto das Organizações Sociais corre o risco
de ser confundido e avaliado em função de
experiências como a que estamos descrevendo.
6 O momento é grave
A nosso ver, o pau começou a crescer torto
quando a ACERP, que veio substituir a FRP (aquela
dos eternos apadrinhados), começou por escalar uma
equipe de... apadrinhados.
Ora, todos sabem que numa empresa que
precisa dar certo, pessoas despreparadas não devem
ocupar postos de comando. Estes seriam naturalmente assumidos pelos mais aptos, que levariam para
seus cargos, além de capacidade comprovada, as
imprescindíveis qualidades de maturidade emocional
e de civilidade.
Logo após o fiasco da Nau Capitânia, na
frustrada festa dos 500 anos, um comandante da
Marinha Portuguesa, Abreu Freire, declarou: “ É um
escândalo! A nau era a menina dos olhos das
comemorações. A execução deveria ser entregue a
quem sabe e não por decisões políticas ou de
amizade.” Esperamos que, com o novo capitão, a
ACERP consiga chegar ao destino
7 – Perguntas para uma autocrítica
É o modelo ou a sua condução que vai mal? Será
que tudo aconteceu por falta de um Conselho de
Administração mais atuante? Há outras razões?
A ACERP precisa fazer uma autocrítica,
profunda. Precisa inventar sua própria identidade.
Não pode mais tentar desobrigar-se de ser transcendental a cada dia. Sua missão não é somente a de
administrar a TVE e a Rádio MEC, dentro dos
melhores princípios – também está em jogo uma
experiência administrativa nunca dantes navegada, na
qual ela é a cobaia e as duas emissoras, campos de
prova. Uma associação educativa não pode se recusar
a aprender. E aprender, antes de mais nada, a respeito
de si própria e de seu lugar no complexo educativocultural brasileiro.
8 A burocracia é uma sementeira de ressentidos.
Uma empreitada inédita pode ser, conduzida por
burocratas conservadores? Cultura administrativa é o
bastante para “tocar” um projeto educativo-cultural?
O estado atual da Rádio MEC responde às duas
perguntas: ali, a burocracia – que deveria ser “a
posteriori” – tomou a frente do processo. Mas a
burocracia nunca se arrisca, movimenta-se do conhecido para o conhecido, e é, por isso mesmo, o instrumento menos indicado para processos marcadamente
experimentais, como o da atual tentativa de administração da TV e da Rádio.
8 – Passos da extinção
A Fundação Roquette-Pinto foi extinta, em 1998 e,
em seguida, sem edital de aviso ao público, publicado
em jornal, uma Medida Provisória credenciou, para
administrar a TVE e a Rádio – a Associação de
Comunicação Educativa Roquette-Pinto –, que foi
criada, também em tempo recorde, pelos mesmos
executivos encarregados de desmontar a Fundação.
O que impressiona é que dentre os 6 (seis)
signatários do Contrato de Gestão, apenas Paulo
Malam permaneça no posto. Os outros 5 (cinco) –
Sergio Amaral, Eduardo Jorge, Antonio Kandir,
Bresser Pereira e Jorge Guilherme Pontes, não são
mais, respectivamente, porta-voz da presidência,
secretário presidencial, ministros e presidente da
ACERP. Resumindo: idealizaram, assinaram, e foram
embora. Mas a situação criada por eles ficou, e
completou três anos.
9 – A ACERP tem alma?
A TVE tem a aura de Gilson Amado, e a
Rádio MEC, a de Roquette-Pinto. A ACERP, que
engloba as duas instituições, poderia beneficiar-se da
seriedade desse dois vetores espirituais e, somando-os,
criar uma magnífica sinergia cultural, desencadeando
uma “corrente” de adesões, uma verdadeira ação-emcadeia que poderia provocar um renascimento dessas
idéias. Mas parece que a Associação não entendeu
direito o espírito da coisa.
10– A guisa de conclusão
Quem trabalho com comunicação não
pode despresar as efemérides. Mas o 3º aniversário da
ACERP não foi comemorado nem mereceu qualquer
comentário institucional. Não há balanço de
realizações, apenas balanços contábeis – conforme
texto do Conselheiro, página 15. A folha de serviços
da ACERP, como se sabe, é modesta. Em termos de
ACERP-Rádio, os pontos mais positivos foram, sem
dúvida, os CDs de Hermeto e Sérgio Ricardo (veja
matéria na página 4).
A característica principal da empresa tem
sido o serviço de desmonte. Além de provocar a
extinção da FRP, a ACERP é responsável por
extinguir, também, o tradicional cargo de diretor da
Rádio, o Jornal do Corredor (informativo interno), a
Comissão de Funcionários, o Conselho de
Programação, os Encontros de Funcionários, a autoestima, o clima de trabalho, o Setor Educativo e o
Setor de Jornalismo.
A transparência também foi extinta.
Ignorando que a comunicação é horizontal, a ACERP
verticalizou a administração, desde o início. Não
temos, por exemplo, fotos da primeia assembléia da
ACERP, no Sinfônico, porque a casa, naquele dia,
amanheceu cheia de seguranças, os quais impediram
a entrada de nossa reportagem. Assim, desde o início
e ao longo desses anos, houve uma escalada de
autoritarismo que só tem paralelo no tempo dos
militares. Além disso, utilizando uma combinação de
PDV com assédio moral, puro e simples, a ACERP
logrou o maior êxodo de funcionários da história da
Emissora. Profissionais dificilmente substituíveis,
como o caso do técnico Ary André, e vários outros.
Duas notas: 1)Poderíamos escrever mais um capítulo
esclarecedor a respeito da incapacidade da ACERP, até
agora, de conseguir manter uma relação horizontal com
a SOARMEC, respeitando suas ações e sua folha de
serviços. Fica para outro número. Vamos torcer para que
as coisas mudem com o novo presidente e o novo Conselho de Administração, e que, daqui para a frente, a
ACERP consiga cumprir os objetivos para os quais foi
criada. Esperamos que, sob a presidência de Aspásia
Camargo, o Conselho de Aministração da ACERP – que
depende do trabalho voluntário de seus membros –
assuma seu papel de instância democrática e locomotiva
ideológica da ACERP.
2 ) Este artigo será enviado ao senador Roberto
Saturnino, que, em discurso recente declarou não
“saber o que quer dizer organização social”, e também
aos polemistas citados no início, aos quais rogamos que
retomem a arenga, e se debruçem sobre essa
experiência de 3 anos. Prometemos fornecer os
subsídios que estiverem ao nosso alcance, e deixamos,
desde já, em suspenso, um convite para um possível
seminário sobre o tema, em futuro próximo. Há algum
patrocinador interessado?
9
A Rádio do meu Tempo
Depoimento de Thaís de Almeida Dias
Licenciada em História e com mestrado em
Jornalismo, Taís foi professora da USP, e
produtora da TV Cultura e da TV Record.
Começou sua carreira de radialista aos 16 anos,
como locutora da Rádio ITU, em São Paulo. Foi
diretora da Rádio MEC de fevereiro de 1984 a
abril de 85, e dirigiu a Rádio Cultura FM, de
1987 a 1995. Como Técnica de Educação,
participou do grupo que implantou a 1ª TV
educativa do Maranhão. Na foto, do acervo da
ex-diretora, ela exibe o diploma e o troféu do
prêmio Brasil, para o programa Vamos brincar.
“Todos os anos, pelo Natal, recebo
um cartão, enviado por Mário Dias, que reacende recordações da minha breve passagem
pela Rádio MEC. Mário foi um dos
primeiros funcionários a me atender, pois
assim que assumi solicitei-lhe a legislação e
documentos que registrassem a história da
Rádio MEC. Ao lê-los, aumentaram o
entusiasmo e a responsabilidade de dirigir
uma Emissora de valoroso passado,
mantendo, ainda, em seu elenco, grandes
nomes da cultura brasileira.
Passo seguinte foi conhecer os funcionários e reativar os núcleos de programadores de música, literatura, educação, etc. No
meu tempo a Rádio ainda contava com um
coral, uma orquestra de câmara e um
conjunto de música antiga, que se
apresentavam em escolas e eventos, proporcionando educação musical a muitos.
As Emissoras AM e FM receberam
personalidades distintas. A FM passou a
veicular somente música clássica, abrindo
espaços, no entanto, para programas
informativos sobre arte e, também, servindose do rico acervo da Emissora, uma nova série
: ‘Memórias do Rádio’. De repente, entre um
programa e outro, uma inserção de poesia.
A AM diversificava-se: música brasileira de qualidade, programas jornalísticos,
de informação científica com a colaboração da
SBPC, de esportes, de ensino, com destaque
para os infantis e os de aperfeiçoamento de
professores. Momentos para o jazz, bandas,
atendimento ao ouvinte, literatura e muitos
outros. Na programação noturna, também
música erudita, além da tradicional ópera, aos
domingos, às 17 horas.
Na época, apareciam os primeiros
CDs, a informática começava a engatinhar e
havia poucos recursos para a aprendizagem de
línguas estrangeiras. Sendo assim, nossa
equipe investiu em cursos de línguas. Viagens
musicais e culturais pela França e Itália
apresentavam noções básicas das línguas
desses países. Alemão e, depois, Inglês,
tinham recepções organizadas, material de
10
apoio e até um radioposto foi instalado no
auditório da Rádio. Para quem não acreditava
no ensino via-rádio, o curso de Alemão,
apoiado pelo Instituto Goethe e avaliado
pela PUC, respondeu: 90% de aprovação.
As bandas do Rio de Janeiro, 120
cadastradas, encontraram seu espaço na MEC
AM, nas manhãs de domingo. Era uma festa
quando chegavam os ônibus trazendo os
fuzileiros navais e seus instrumentos, para
gravações no Estúdio Sinfônico – o cartão de
visita da Emissora.
Dos programas educativos veio um
grande estímulo. Concorrendo na categoria
infantil na Espanha, ao Prêmio Ondas,
conferido pela União Européia de
Radiodifusão, a Rádio obteve o 1º lugar com
a série ‘Vamos Brincar’(veja foto). Essa
mesma série venceria, posteriormente, o
Prêmio Brasil. ‘Vamos Brincar’, dirigido a
crianças de 4 a 6 anos, contava com recepção
organizada nas escolas pré-primárias do
Município, e seus aplicadores eram treinados
pela equipe de ensino da Emissora. Para esse
entrosamento, muito contribuiu a Professora
Maria Yedda Linhares, que era Secretária de
Educação do Município. Era preciso manter
acesa a mensagem deixada por Roquette: um
rádio voltado para a educação do povo
brasileiro.
Um concurso de peças radiofônicas
estava em andamento. Percebendo ser
necessário que todos conhecessem melhor essa
forma de radioarte, bastante difundida na
Fiquei feliz e desolada. Feliz por verificar
quantos discos de acetato ali estavam em boas
condições, coisas raras! Desolada por não ter
tempo para ficar garimpando, e cadastrando
esse interessante acervo. Só me restou pedir o
levantamento de tudo, antes que algum
aventureiro... bem, isso é outra história.
Alguns dos equipamentos antigos que lá
estavam viriam compor a exposição realizada
para a Semana Roquette-Pinto.
1984 foi um ano com datas
marcantes. Entre elas, 25 anos sem VillaLobos e o centenário de Roquette-Pinto. Em
1985, o Tricentenário de Bach. Mais uma vez
a equipe MEC se esforçou para bem realizar as
comemorações. Uma série radiofônica sobre
o compositor Villa-Lobos alcançou grande
audiência e muitos aplausos.
Lembrando o centenário de
nascimento Roquette-Pinto, foi organizada
uma exposição histórica, reunindo equipamentos de gravação e de rádio, além de objetos pessoais do homenageado. No Espaço
MEC do Palácio da Cultura, uma semana de
apresentações artísticas, conduzidas por
Adelzon Alves, Haroldo Costa, Paulo Tapajós
e Ricardo Cravo Albim, estrelas de primeira
grandeza da Emissora. Que noite memorável
ouvindo Paulo Tapajós cantar com Carlos
José, acompanhados pela Camerata Carioca!
Nas apresentações de música erudita, o brilho
dos corpos musicais da Emissora, sob as
regências de Borislav Tschorbow, Nelson Nilo
Hack, Oswaldo Jardim e Maurílio Costa.
Beatriz Roquette-Pinto e Thais, em primeiro plano, com a equipe de apoio da Rádio MEC, às
comemorações do Centenário de Roquette-Pinto. (foto acervo de Thais)
Europa, liguei para a Fundação Konrad
Adenauer, na Alemanha, solicitando
patrocínio para a vinda de Klaus Mehrlander,
um dos mais competentes diretores do gênero.
A Fundação, que programava suas atividades
com 2 anos de antecedência abriu, felizmente,
uma exceção para o pedido de última hora e
Klaus tirou férias para vir ministrar o curso
em nosso país, aceitando apenas a
hospedagem como pagamento. E o curso
abriu novas perspectivas de linguagem
radiofônica para muitos.
Para divulgar os programas criamos
Boletim Informativo de Programação,
enviado semanalmente aos jornais.
Um dia fui até a Penha – onde
ficavam os antigos transmissores – verificar o
depósito de material que ali se encontrava.
Incentivada pela boa acolhida às
apresentações, ao vivo, a equipe prestou justa
homenagem a Paulo Santos pelo seu ‘Encontro com o Jazz’ e 40 anos de Rádio MEC.
O Tricentenário de Bach foi
comemorado na Igreja de São Judas Tadeu,
com transmissão direta das apresentações do
Coral e da Orquestra de Câmara da Rádio
MEC. A Igreja estava lotada com pessoas das
mais diferentes camadas sociais, encantadas
com o som de Bach.
Às vezes, deixava-me ficar, horas
após o expediente, somente para ouvir
programas do acervo. Ah, os do Guiaroni!
Lições de como fazer rádio. Outras vezes,
ficava avaliando a forma contratual dos
funcionários, tentando visualizar possibilidades de correção. Alguns contratados por
CLT, outros estatutários, outros ainda
funcionários federais cedidos por repartições
várias.
Muitos deles desempenhando
idênticas funções com salários bastante
diferenciados. Solicitei um estudo junto ao
MEC em Brasília, mas poucos resultados
foram obtidos. Pelo menos foi possível obter
uma remuneração mais condigna aos músicos
da Emissora, que ganhavam a metade do que
custava uma só corda de violino!...
Gostava muito de ir aos estúdios
acompanhar as gravações. Nízia Nóbrega
entrevistando personalidades do mundo das
letras; a Família Bocchino com programas de
música erudita; Miguel Proença, na arte do
piano; Artur da Távola e suas inesquecíveis
séries sobre Ravel, sobre Schumann; Zito
Baptista Filho e seus conhecimentos de ópera;
Marlos Nobre, Sérgio Nepomuceno, a poesia
de Walmir Ayala, quantos nomes de
expressão! Ainda lembro da emoção que
sentia ao ver, diariamente, em sua mesinha,
Floriano Faissal, que admirava desde criança.
Anos passados revejo na memória os
rostos entusiastas de Heloísa Maranhão,
Helena Teodoro, Gizélia Fernandes, Dilmo
Elias, Regina Salles, Maricéa, Maridéa, Lauro,
a eficiente Maria Inês na coordenação,
Gilberto meu motorista, minha doce
secretária Lígia. No Setor de Documentação,
registrando cada momento, Mário Dias.
Difícil citar nomes entre tantos que me
ajudaram e me perdoem aqueles que não
foram relacionados. Todos, na verdade,
compunham importantes degraus na escalada
para uma programação cada vez melhor.
O coronel Jorge Luiz Pessoa cuidava
criteriosamente da parte administrativa. Mas
a gentileza e o bom humor caracterizavam o
dia-a-dia da Rádio MEC do meu tempo.
Certa vez, o porteiro Jarbas barrou a entrada
do escritor Guilherme Figueiredo, irmão do
Presidente da República, chamando-o: ‘Ô
coroa, não vai deixar a identidade, não?’
Guilherme, grande colaborador da Emissora,
achou graça, mas Jarbas ‘ganhou’ um curso de
treinamento para porteiros.
Em Brasília, havia uma repetidora
da MEC, sob a coordenação de Ildefonso
Bruhn e realizando duas horas de
programação local.
E, ainda, a MEC
coordenava o SINRED, a Portaria 568, o
curso de aperfeiçoamento de professores. Era
um tal de ida e vinda de malotes carregados
com fitas de programas gravados, com
cuidados especiais de registros para que nada
se perdesse, para que tudo chegasse dentro do
prazo e à contento.
Era assim a Rádio do meu tempo.
Ativa, cada um dando o melhor de si, todos
orgulhosos de trabalhar numa Emissora
pioneira e de tantas tradições. Uma Rádio
que tinha seu próprio hino, uma bandeira,
um destino preconizado pelo seu
fundador Roquette-Pinto. Lamentei ter
usufruído pouco desse convívio: um ano e
quatro meses. Nesse pouco tempo, no
entanto, esforcei-me para contribuir o
máximo possível. Mas a Rádio MEC
ofereceu-me muito mais. Foi uma grande
companheira nas minhas andanças pelas
ondas do rádio, uma etapa honrosa e feliz de
minha vida.”
Allan Lima visita a Rádio
Allan Lima, depois de anos
sem por os pés na casa,
tornou a percorrê-la, e
comenta aqui o que viu
durante a visita. O trecho
sobre o Centro de Memória
deveria constar no livro de
visitantes daquele local .
Confiram.
Era 1948. A vida
seguia o ritmo dos bondes
nesta Mui Leal e Heróica.
Envergando o cáqui do
Colégio Pedro II, o “Padrão”,
atravessei pela primeira vez o
largo portão da Praça da
República, 141-A. Naquele
momento, não sabia que
chegava para ficar. Ali
permaneci mais tempo do
que o Cristo teve de vida. E Hamilton Santos e Allan Lima, em foto dos anos 60 de Manoel Ribeiro.
vi coisas de que até Deus
de Mário de Andrade, a legenda informa que ele escreveu
duvida.
Naquela época, Fernando Tude de Souza era o crônicas para a Rádio nos anos 50 (ou 60, sei lá. Fiquei tão
Diretor. Baiano bom, tradutor do Como Fazer Amigos e indignado que nem tomei nota). Ora, Mário de Andrade
Influenciar Pessoas, seguia à risca os ensinamentos de Dale morreu em 1945, e não me consta que tenham sido levadas
ao ar crônicas psicografadas especialmente para esse fim.
Carnegie e jamais dizia não.
Na foto de integrantes do Reino da Alegria, Edith
Os dois primeiros andares do prédio eram
ocupados pelo Instituto Nacional do Cinema, cujo diretor Ada, Nancy do Nascimento, Gisela Gerlach, jovens
era – imaginem! – Edgard Roquette-Pinto, pai e mãe de radiatrizes que durante anos tornaram mais alegres as tardes
tudo que está aí. Doutor Roquette – como era chamado – do reino, viraram N.Ns. Até o Diretor Murilo Miranda não
comandava o INC com os ouvidos ligados na Rádio. Se foi reconhecido por qualquer dos organizadores (?) do
ouvia alguma coisa que o desagradasse, desprezava o já ve- museu. E por que tanta foto de dependências e pessoas da
tusto elevador e escalava os degraus às pressas, para Rádio Nacional? O museu é da Rádio, não é do rádio.
Revi a minha Rádio e visitei o museu, numa certa
veementemente dizer que não queria mais que aquilo
acontecesse (podia ser a troca do título de uma melodia ou tarde em que pus fim a um divórcio que durou quase 17
algo que tivesse ferido seus rígidos preceitos morais, como, anos. Nesse tempo, ferido por ingratidões, eu sequer
passava junto ao portão do 141-A. Atravessava a rua.
por exemplo, a palavra “amante”).
Percorri novamente aqueles corredores que
Pois é, era assim. Os speakers anunciavam: “PRA2, Rádio Ministério da Educação e Saúde, transmitindo na testemunharam a transformação do jovem sonhador num
frequência de 800 kilociclos” , e havia até um Colégio do Ar, adulto compenetrado, que o tempo foi tornando cada vez
com aulas regulares de Português, Espanhol, Inglês, mais exigente. Nesta casa fiz de tudo: fui ator, redator,
Geografia, História e até Alemão. No corpo docente, locutor, diretor de rádioteatro, sonoplasta, coordenador de
figuras como Octacílio Raínho, Aristóteles de Paula Barros, Central de Produção, superintendente...
Ah, que saudade do René Cavé, cérebro e alma da
Emmanuel Leontsinis, Hilde Sinnek (criadora do genial
era em que a PRA-2 realmente brilhou no panorama radiométodo Aprenda Alemão Cantando).
As transmissões iniciavam-se com o Hino à Vitória, fônico; daqueles tempos em que Edmundo Lys, Sadi Cabral,
Luiza Barreto Leite, Mário Jorge, Telmo D. Avelar dirigiam
da autoria de Gustavo Capanema, que começava assim:
“Nesta hora sombria do mundo/ Hora grave de e participavam do talentoso elenco de rádioteatro; dos dias
em que Arlete Pinheiro escrevia para ela própria interpretar
guerra e aflição...”
A guerra já entrara para o livro de recordações, mas sob o pseudônimo de Fernanda Montenegro; de quando
Paulo Santos narrava, tendo como fundo a sonoplastia que
o hino permaneceu ainda por muito tempo.
Livro de recordações também abro agora. Como, ele mesmo, minutos antes, acabara de criar; dos anos em que
aos poucos, tudo foi mudando...E como a Rádio teve o Hamilton Reis, autêntico factótum, abria a rádio às
diretores, Minha Nossa Senhora! Houve de tudo: desde primeiras horas da manhã, fechava-a depois da meia noite, e
violonista a dentista, brigadeiro, administrador teatral, chegava a ocupar o microfone quando faltava locutor; da
amigo do Presidente, Professora (que, no intuito de acertar, época em que o Paulo Alberto Monteiro de Barros transmitia
trouxe a tiracolo o Reynaldo Jardim, jornalista e radialista), o Concerto para a Juventude, talvez sem sonhar que um dia se
professor (que trouxe suspensórios e um revolver, talvez metamorfosearia em Arthur da Távola. Éramos um
porque tivesse desejo de “acertar”), gerente de banco e até – punhado de polivalentes entusiasmados, para quem o
pasmem – um homem de rádio. O triste é que, quando eles prêmio era a realização de um grande trabalho, não a
percepção de um pequeno salário.
começavam a entender do riscado, eram substituídos..
Constatei, nesta minha visita, que homenagearam
Algumas dessas personalidades figuram em poses e
instantâneos na galeria do Museu da Rádio, sem qualquer certas figuras, dando seus nomes a algumas salas e estúdios. Na
identificação. Aliás, esse museu (com minúscula mesmo) é minha opinião, nem todos com o devido mérito. Alguns dos
de uma tristeza digna de ária de La Bohème. Várias pessoas verdadeiros construtores dessa obra imperecível ficaram esquecique honraram a nossa Rádio com a sua colaboração sofreram dos. Mas, nem tudo está perdido. O velho Estúdio Sinfônico
o mais indigno anonimato. Em compensação, sob o retrato chama-se, agora, Alceo Bocchino. Aplaudo de pé. Este merece!
Xexéo também é
fã de Maria Yedda
A prova é a coluna publicada em 31/1/2001, em O Globo
Uma saudade puxa a outra
A
inda era anos 70. Já lá para a
segunda metade da década. Os
tablóides
“Opinião”
e
“Movimento” faziam a cabeça da
garotada universitária. Estagiário
do “JB”, não sei como fui indicado
para
colaborar
com
o
“Movimento”. Não era para ganhar
dinheiro. A gente não ligava para
isso. Mas era uma honra ter um texto assinado em jornal da
oposição, quando era crime ser da oposição. Seria uma edição
especial sobre a anistia. Na época, a anistia era só um sonho.
E o “Movimento” escancarou com esse sonho, relatando as
histórias dos exilados brasileiros. Eu deveria escrever três
reportagens, recontando a injustiça sofrida, logo no início do
Golpe de 64, pelos funcionários da Rádio Nacional e da
Rádio MEC e pelos professores do Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais da Universidade do Brasil. Entrevistei Mário
Lago, sobre a Nacional; a professora Moema Toscano, sobre a
universidade; e Sandra Ribeiro da Costa, sobre a MEC.
Sandra era secretária de Maria Yedda Linhares, diretora da
Rádio MEC e também professora do Instituto de Filosofia.
Mas por que é que eu estou falando disso? Bem, estou
querendo passar para o leitor o respeito que sinto por esses
nomes. Não que eu fosse um alienado na época em que fui
pautado pelo “Movimento”. Mas minha aversão ao Golpe de
64 era formada por um monte de clichês. Não era muito
informado. E, ao fazer as entrevistas, tive meu primeiro
contato, de verdade, com aquelas histórias. Desde então,
passei a admirar, à distância, Mário Lago, Moema, Sandra e
Maria Yedda. Para mim, eles se tornaram símbolos de todos
os injustiçados daquele período. E isso talvez explique a
emoção que senti, na segunda-feira, ao abrir meu correio
eletrônico aqui na redação, e me deparar com uma mensagem
de Maria Yedda Linhares. Será que era a “minha” Maria
Yedda? Era. E ela comentava a coluna de domingo sobre Tom,
Jerry e algumas reminiscências do Metro Copacabana. Pe;o
licença para dividir seu texto com os leitores.
“A sua crônica de hoje me fez regredir à mocidade. Tenho 79 anos
dos quais apenas 11 foram vividos em minha terra natal,
Calçamento de Mecejana, Fortaleza, Ceará. O restante,
descontados os dois anos de bolsa de estudos em Nova York, ainda
teenager, e os de exílio (doce exílio) na França, tenho vivido em
Copacabana. Copacabana sem edifícios, com praia imensa e
linda, até a Copacabana da muralha de concreto de hoje.
Continuando e gostando, tentando lutar contra a nostalgia,
racionalizando. Dessa velha Copacabana, a que você sente tão
bem, resta aquela dor, mais forte do que a de Itabira em
Drummond.(...) Era também a Copacabana do meu Botafogo
de Aimoré, Nariz, Zezé Moreira, Zezé Procópio, Martins,
Carvalho Leite, Perácio e Patesko (Walter Alfaiate pode
completar aquele time glorioso). (...) E olha que falta o rádio,
falta ainda o samba de breque, faltam as brigas entre as turmas
do Posto 2 e do Posto 4 (...) Pois é isso aí. Escreva sobre a saudade
e isso nos faz bem ao coração. Coisas que marcaram uma época,
uma cultura, um mundo antes da terrível ruptura do pós-guerra,
como o nascimento de uma outra civilização.”
Depois de tantos anos, enfim, tenho a oportunidade de bater
um papo com a professora Maria Yedda. Um papo eletrônico,
é verdade. Mas nem por isso menos agradável. E me encho de
orgulho ao perceber que eu e a professora que admiro há
tanto tempo dividimos as mesmas saudades.
11
Cartas ✍
Foto Marlene Barton
Pedimos desculpas pelo atraso em
agradecer e retribuir os votos de Boas Festas
recebidos de Celso Balthazar, Mario Dias,
Valderez Silva Ramos, Escola Nacional de
Música, Revista Concerto, Editora José
Olimpio e Tipológica Comunicação
Integrada.
✍
“Fiquei verdadeiramente encantado com
a maravilhosa entrevista com Fernanda
Montenegro.O teor das suas inteligentes
considerações deveriam chegar urgente ao
conhecimento das nossas altas autoridades.
Isto muito ajudaria a se obter mais
investimentos educacionais. Cultura básica,
cultura para alcançar o povo!Meus parabéns a
toda direção desse simpático órgão.
P. S. A cotação do Senador Saturnino
também subiu alguns pontos no meu
conceito, por suas palavras. “
G. Martinelli, Rio de Janeiro
✍
“Através de vários exemplares do
AMIGO OUVINTE, tenho constatado e
acompanhado uma verdadeira Guerra, que a
Rádio MEC vem enfrentando. Não sei se
todos os associados têm uma noção exata do
que vem ocorrendo. Assim sendo, tenho a
impressão de que uma das medidas
importantes para a SOARMEC é tentar elevar
o contingente de associados, afinal, 455 é um
número de pouca expressão, considerado que
mais pessoas, mais repercussão do injusto
momento que nossa excelente emissora,
realmente a única de Educação e Cultura, vem
atravessando.
Acontecimentos como o discurso do
Senador Roberto Saturnino, parece-me muito
importante e apresenta um aspecto altamente
favorável. Particularmente, tenho um desejo e
um palpite de que, no final, a Rádio MEC
sairá vencedora.
Terminada a novela do Piano, e que
final! Felizmente, consegui assistir àquela
brilhante festa, cujo destaque só poderia
classificar como o próprio AMIGO
OUVINTE colocou: Carolina Fecho-deOuro Cardoso de Menezes.
Celso Balthazar , Itaipuaçú
✍
Sou professor da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná e estou cursando
doutorado pela Univ. Federal . A minha tese
tem como tema pensar a representação de um
tipo humano nacional, na década de trinta.
Edgard Roquette Pinto[…]é um elemento
fundamental da minha pesquisa.
Pois bem. Fazendo uma consulta on line
no acervo da Biblioteca Tude de Souza,
constatei que existem lá duas obras que
retratam Roquette: Roquette-Pinto, de Paulo
Carneiro (H 1) e Edgard Roquette Pinto, de
R. Ruiz de Rosa Matheus ( H 11). Essas obras
não são facilmente encontradas. Em minhas
pesquisas, este é o único local em que as
encontrei. Gostaria de saber se há algum meio
de consultá-las sem ser “in loco”, pois estou
a1400 kilômetros dai.
José Carlos dos Santos, Paraná.
12
• Os livros citados estão fora de catálogo,
mas estamos atentos. Se encontrarmos
exemplares remanescentes, enviaremos.
Em
nosso site, há um texto baseado neles, de autoria
de Ruy Castro. Boa sorte em sua tese, e dê
notícias.
✍
Achei abominável a nota publicada pela
Rádio MEC a respeito da SOARMEC,
justamente após dura batalha para liberar o
piano Bösendorfer. Não sou membro de tal
associação, mas ao longo dos anos, como
ouvinte da MEC, sei que não fosse por ela a
Rádio estaria mais desfalcada ainda. Sinto na
grade de programação a progressiva
decadência da Rádio, que só pode ser causada
pelas combalidas diretorias que por ela tem
passado,
principalmente
após
sua
desvinculação do Ministério da Educação.
Neste momento em que a Rádio precisa de
apoio de seus ouvintes e simpatizantes, sua
diretoria vem desprezar a atuação da
SOARMEC. […]Lamentável sob todos os
aspectos o desinteresse e pouco caso da
direção (por sinal apócrifa) que publicou a
infeliz nota.
Esperamos nós, ouvintes de tantos anos
da Rádio MEC, que as autoridades deste pais
abram os olhos e vejam o que está
acontecendo na emissora da Praça da
Republica - RJ, com seu progressivo
esvaziamento que logo logo a colapsará.
Esperamos que as autoridades percebam a
importância do retorno da Rádio ao
Ministério que a deu origem.
‘País que se preza, preza a cultura.
Estado que é democrático sabe que a cultura
não pode ser obra só do Estado, muito pelo
contrário. E sociedade que aspira a um papel
cada vez mais ativo na redefinição de seus
rumos é uma sociedade que apoia a atividade
cultural’.
Presidente F. H. Cardoso (17/05/1995)”
Alexandre Leite Turella/Rio de Janeiro
•O missivista só sabe a metade da missa: a
tal nota é apenas o coroamento de um processo
onde todo o repertório de patologias administrativas foi esgotado. Um reparo: não confundir
a RádioMEC, que tem história e metas, com a
sua administradora, que só tem metas.
Achamos mais pronunciamentos como o
que fecha a carta. Aí vão:
“Participação não é discurso de esquerda
nem de direita, é democrático. Nós não
temos uma tradição de participação, mas estamos criando. Temos hoje um país que avança
no sentido da participação.” ( Ruth Cardoso)
“Devemos chegar a um ponto de
confluência entre o Estado e a Sociedade
Civil. Vamos chegar lá, não sei quando nem
com que personagens.” (Raymundo Faoro)
✍
“O dia 29 de setembro de 2000 é uma data
que não deve ser esquecida pelos amigos da
rádio MEC, pertencendo eles ou não à
SOARMEC, e que nos deve fazer refletir
sobre a ingratidão. Nesse dia, o programa Sala
de Concertos apresentou uma de suas edições
mais notáveis, com a apresentação de Carolina
Cardoso de Menezes, a brilhante e vibrante
decana do pianobrasileiro.Posso dizer,
meninos, eu vi.
O programa nesse dia,
excepcionalmente, se
estendeu até as 19
horas e gerou vários
comentários da artista e
dos
apresentadores
sobre o piano, de ótima
qualidade e estalando
de novo. Incrivelmente,
nenhum dos apresentadores foi capaz de dar
crédito pela aquisição
do piano à SOARMEC. Eu e vários
outros presentes ao
evento, sabemos que a
conquista desse novo
piano só foi possível
graças ao projeto que a
SOARMEC submeteu
ao
Ministério
da
Cultura, e aos esforços
constantes e incansáveis
que ela teve que fazer
para que o piano esteja
hoje no estúdio sinfônico Maestro Alceu
Bocchino.
É preciso ouvir
com atenção o significado de atitudes
Carolina Cardoso de Menezes, num de seus últimos recitais
como a acima relatada,
inaugura o novo piano do Sinfônico– veja carta, ao lado,
repletas de um signifie nota de falecimento na pagina 2.
cado pior do que a
ingratidão. Estamos falando de censura, que todo o ônus do cancelamento, possivelmente
no caso presente vem de maneira dupla: pela se “queimando”.....”. Em outro trecho:
omissão de créditos merecidos e pela mentira “vamos alardear que a culpa é do
com a qual pretende fazer com que a governador?”.
audiência acredite que foi a rádio responsável
Infelizmente o Sr. Secretário prometeu e,
pela a aquisição do instrumento.”
não só não cumpriu,como não deu a menor
Mario Lacerda, Cosme Velho
atenção ao caso. Só que é muito menos
complicado lançar toda a responsabilidade
sobre a OSB que sobre o Sr. Secretário ou
(ainda mais) sobre o Sr. Governador.
“Em conversa com o Prof. Botelho,
A única condição imposta pela OSB foi
clarinetista da OSB, soube da notícia, saída no o pagamento do cachê aos músicos (a OSB
jornal interno, a respeito do cancelamento da como Instituição não teria participação nessa
inauguração do piano do Estúdio Sinfônico e verba). Como essa condição não foi
da atribuição da responsabilidade à OSB por cumprida, a orquestra não pôde participar,
tal cancelamento. Em prol da veracidade dos embora tivéssemos envidados todos os nossos
fatos […] devo dizer que:
esforços para que houvesse o evento.
Fomos procurados pelo Sr. Marcos
Como eu disse, foi muito mais simples
Dessaune, que se apresentou como produtor colocar a OSB como responsável por tudo que
do evento […]que contaria com a partici- arriscar um enfrentamento político. Essa é,
pação da pianista, sua esposa, Paula da Matta. resumidamente, toda a história.
Colocado diante da necessidade de
Sentimos muito pelo cancelamento do
pagamento de um cachê aos músicos da concerto e sentimos mais ainda que uma meia
orquestra, ainda que simbólico, o Sr. Des- verdade tenha sido veiculada como
saune saiu a campo e conseguiu um encontro justificativa.
com o Secretário de Governo do Estado, Sr.
Luis Carlos Justi
Fernando William [...] com a presença do Sr.
Assessor de Programação da OSB”.
Marcelo Scistowicz, gerente administrativo da
OSB e do Sr. Dessaune. O Sr. Secretário
O missivista faz menção ao efêmero
prometeu a “irrisória” (segundo palavras do “Jornal da Casa”. Na página ao lado, estamos
próprio) quantia de 35 mil reais para o transcrevendo e comentando o editorial que
pagamento do citado cachê. […]Tudo acer- motivou a carta, e que também lança luz sobre
tado, a OSB apressou-se a confirmar a parti- o pesado clima de trabalho que se instalou na
cipação da Orquestra no evento baseando-se Emissora.
no tratado entre aqueles senhores. Para nossa
Quanto ao episódio narrado pelo
surpresa, há menos de uma semana do evento, sr.Justi,em si, é preciso alertar para o fato de
fomos surpreendidos por um telefonema da que a Emissora, por toda a sua história (já
Assessora do Sr. Secretário, comunicando-nos, cedeu espaço muitas vezes para ensaios da OSB)
sem mais, que “não havia nenhuma verba para , não pode ser responsabilizada por atos
o evento, nem haveria” ! Ficamos estupefatos cometidos pela atual administração da Rádio.
com a “sem cerimônia” do comunicado.
Quem botou a OSN para fora da Rádio não foi
Passei um e-mail ao Sr. Dessaune, a Rádio, mas os administradores daquela época;
comunicando o fato, quando tive como e quem está sendo deselegante com a OSB não
resposta que a OSB teria que “assumir sozinha é a Rádio, mas a administração atual.
✍
60 mil em manifestação por uma TV independente
NA VANGUARDA
P
A multidão é em Praga, a foto é da Reuters, o texto é de CLAUDIA ANTUNES,
colunista da Folha de São Paulo e os sublinhados são nossos. Entenda porque, na TchecoEslováquia, as coisas são assim.
ovo espremido no centro da Europa, os
tchecos deixaram marcas importantes na
história do século 20. Em seu território, um
dos primeiros invadidos por Hitler, eles
produziram dois movimentos admiráveis: a
Primavera de Praga e a Revolução de
Veludo.
Na entrada do século 21, os tchecos estão de
novo na vanguarda, ao ir para as ruas aos
milhares defender a independência de sua
televisão pública. Uma multidão comparada
à que derrubou o regime pró-soviético, em
1989, pediu há alguns dias a saída do novo
diretor da TV, acusado de tentar pôr a
emissora a serviço de um esquema de poder
particular.
Na origem dos protestos está a revolta com
uma situação que já é considerada “normal”
em outros países: os conchavos que
imobilizam a capacidade transformadora da
política.
O novo diretor da TV, Jiri Hodac, é um
homem do ex-primeiro-ministro Václac
Klaus, que se auto-intitulava uma “Thatcher
de calças” e governou (primeiro a Tcheco-
Eslováquia e, depois, a República Tcheca)
de 1990 a 1998. Em meio a escândalos de
corrupção envolvendo privatizações, Klaus
foi derrotado nas últimas eleições gerais
pelos social-democratas. Mas estes, sem
maioria parlamentar, acabaram formando
uma coalizão informal com seus antigos
rivais.
A estagnação provocada pelo
acordo – cuja primeira vítima foi a
investigação de casos suspeitos envolvendo
integrantes do governo anterior – deixou os
tchecos desencantados. A nomeação de
Hodac foi a gota d’água.
cima da indignação, os tchecos
mostraram outro sentimento raro, que no
Brasil talvez nunca tenha existido realmente:
a noção de que o público é do cidadão e não
deve servir a interesses privados ou escusos.
Aqui, incorporamos a noção de que o
público é sempre ruim, não merece ser bem
cuidado. Basta ver, para fazer uma analogia
com os acontecimentos de Praga, a
situação de penúria em que vivem nossas
emissoras chamadas educativas.
a
O “Jornal da Casa” non olet
“O imperador Vespasiano, censurado pelo filho
Meio comentário para bom entendedor
Tito por haver taxado os mictórios públicos, lhe
Podemos pular clichês, desviar dos trechos de puro
fez cheirar uma moeda proveniente dessa taxa
“institucionês
triunfalista”, passar por cima das omissões a
para mostrar-lhe que o dinheiro não tinha
propósito
do
novo
piano, etc., mas não podemos deixar de
cheiro”
comentar,
mesmo
resumidamente,
o “causo” do coprófilo
Suetônio, Vida de Vespasiano
Uma bomba falsa, excrementos verdadeiros e um recital
frustrado, levaram á publicação de um boletim chamado
“Jornal da Casa – um canal amigo”, em setembro.
Com duas páginas em papel ofício (tipo
news/letter), o jornal é de fácil feitura, mas, até agora, não
saiu outro número. De qualquer modo, o informativo é um
dos únicos documentos públicos produzidos pela
administração da ACERP-Rádio, até hoje. A ele pertence o
editorial que motivou a carta-resposta da OSB (veja última
carta da página anterior). Tal texto também merece a
transcrição (veja box á direita) porque, à sua maneira, faz
menção ao pesado clima de trabalho que se instalou na
Emissora do Campo de Santana.
Comentário ao comentário
O número anterior do Amigo Ouvinte já estava quase no
prelo, quando o Jornal da Casa saiu. Mesmo assim,
noticiamos o aparecimento do jornal, em-cima-da-hora, e
prometemos comentar criticamente, neste número, as
informações do jornal em pauta. Em posterior reunião de
diretoria, porém, optamos por não gastar papel com a
empreitada. As cartas que nos chegaram, no entanto, dão
peso à transcrição do texto, e, tornam necessário um
mínimo exame do seu teor.
que emporcalhou a Emissora, desafiando a Segurança.
1)Após insinuar que “cada um que aqui trabalha deve ter
honrado a mais tradicional emissora do país à sua maneira”,
o redator declara-se, poucas linhas depois, surpreso porque
nem todos entendem a missão da Rádio, e, mais adiante,
insinua que o coprófilo revoltado age em obediência a um
grupo que dá “ordens sejam elas qual forem”. Ora, pela
lógica ou pela escato–lógica, o persistente espalhador de
excrementos faz parte do conjunto “cada um que aqui
trabalha” , e espalhar excrementos seria, então, sua maneira
de honrar a Casa – o que explicaria o pleonasmo contido
em “homenagem condigna”, em oposição às homenagens
indignas, como as prestadas pelo espalhador.
2) O fato, ou o olfato, é que nenhuma direção da Rádio
precisou enfrentar um protesto desse tipo, durante os
últimos quase 65 anos. Na gestão imediatamente anterior,
quando a Rádio ainda possuía Direção e dispunha de um
Conselho de Programação, o que se discutia eram os altos
desígnios da educação a distância, o seu poder
transformador da realidade, a importância da Rádio na
formação da cidadania, e outros temas aparentados. O que
se discute agora é o terrorismo excremencial de um coprófilo
revoltado. Tal gesto, em vez de ser considerado, em toda a
sua carga , como um argumento desesperado e um símbolo
de descontentamento, é rotulado como sendo de “notória
pobreza metafórica”. Então, tá.
Editorial do 1º e único número do Jornal da Casa
“Caros Colegas,
No dia 7 de setembro passado, a Rádio MEC completou 64 anos. A
homenagem tornou-se um gesto pessoal e subjetivo. Cada um que aqui trabalha
deve ter honrado a mais tradicional emissora do país à sua maneira. Nós, da
Administração, imaginamos uma bonita festa, com o Concerto no Estúdio
Sinfônico Alceo Bocchino da pianista Paula da Matta e a Orquestra Sinfônica
Brasileira, inaugurando na mesma ocasião o piano austríaco recém-doado à
Emissora. Por conta de uma paralização pela regularização dos salários atrasados,
a OSB rompeu o compromisso na última hora e a Rádio foi forçada a cancelar o
evento.
O episódio, conquanto entristecedor por tudo o que envolve, não fugiu
aos percalços previstos em processos de trabalho. Mesmo prejudicados pela atitude
da OSB, nós da Rádio MEC reconhecemos as dificuldades que enfrentam os
profissionais da música de qualidade. E outras oportunidades não faltarão nem
para a Rádio MEC nem para o nosso piano, de serem condignamente
homenageados.
O que surpreende é que a missão da Rádio MEC, seus valores e objetivos
ainda não estejam claros para todos e que gestos de vandalismo, boicotes e outras
práticas extremadas, insanas e de notória pobreza metafórica substituam o diálogo,
a crítica construtiva, obstaculizando o esforço de equipes desejosas de alcançar o
bem-estar comum e os melhores resultados para a organização em que trabalham.
Referimo-nos pontualmente à pichação dos corredores, banheiros e bebedouros com
excrementos e a uma ameaça de bomba no prédio, atos que se seguiram às demissões
de colaboradores da ACERP, em virtude de corte orçamentário de 24% do total do
orçamento da empresa.
Com relação aos dois eventos, todas as providências cabíveis foram
tomadas pela gerência da casa, depois de troca de idéias para o melhor
encaminhamento das questões, com colaboradores e com o representante da
Associação dos Funcionários.
Para desestabilizar a condução de um projeto bastam eventos como
esses, desde que se encontre quem execute ordens sejam elas quais forem. Para
colaborar, construir e realmente transformar é necessário um pouco mais de esforço,
uma vontade firme e a capacidade de analisar contextos e olhar além das questões
pessoais para enxergar o todo. E assim vão se vencendo as dificuldades, vai-se
crescendo pessoal e profissionalmente e os resultados positivos, fruto do trabalho,
começam a aparecer.
Este boletim tem como objetivo comunicar a todos que trabalham em
prol da Rádio MEC, os fatos, as opiniões, as conquistas, enfim, um pouco do muito
que ainda precisamos fazer para dar à Rádio MEC o que ela espera e merece de nós.”
13
Rosinha
Um passeio na BBC DIGITAL
Uma olhadela na infância do
“digital broadcasting” inglês, tal
como apresentado no website dos
serviços de rádio digital da BBC,
www.bbc.co.uk/digitalradio/
V – Novos serviços
Serão 5, disponíveis em
todos os formatos digitais:
rádio digital, Internet,
satélite digital e TV a cabo.
Vão continuar a tradição de
música / notícias / esporte /
educação e diversão, da
BBC. Estão sendo feitas,
atualmente, pesquisas para
avaliar a receptividade do
rádio digital, a serem
submetidas às autoridades de
cultura e mídia antes do
lançamento dos novos
serviços.
Roberto Lanari
Aí vai, para o Amigo
Ouvinte, um relatorio de visita ao
site da BBC Digital, onde aprendi
que esses novos radinhos, de carro ou
domésticos, cujas fotos saíram em
números anteriores deste jornal,
recebem ainda as velhas ondas de
radio, só que estas transportam bits
em vez de sinais analogicos.
As emissoras de Radio do
primeiro mundo estão passando por
uma reviravolta geral de equipamento para poder distribuir som
de CD. E os
grandes transmissores e antenas poderosas
continuarão a existir.
Isto corre paralelo ao Web Radio. A
Internet dispensa os transmissores e antenas, mas
não atinge ainda os carros.
Notas da visita ao site da BBC
I – Analógico versus Digital
1)Sinais de rádio digital são bits que viajam
em ondas de rádio, resistem a interferências e
proporcionam audição livre de ruídos.
2) O sinal de FM (analógico) de grande
cobertura tem necessidade de muitas freqüências para se sustentar. O digital usa o
espectro com mais eficiência e oferece mais
“espaço” para outros serviços.
3) A tecnologia de Single Frequency Network
faz com que o mesmo espectro seja usado
para uma ampla área de serviços. Permite a
cobertura de uma grande área geográfica por
rêde de FMs transmitindo o mesmo sinal,
significando que o motorista/ouvinte viaja
sem precisar re-sintonizar.
II – Como funciona o Rádio Digital ?
Combinando duas tecnologias digitais:
MUSICAM, um compressor como o MP3 e
COFDM – Multiplex, que aumenta a
redundância dos sinais eliminando interferências e baixa propagação
III – Multiplex, que é isso?
É um método de transmissão de dados que
permite, num mesmo canal de frequência,
diversas programações e serviços adicionais.
Na BBC, são 16 canais nacionais e 16
regionais e locais. Existem 7 Multiplex na
Grã-Bretanha, um deles é da BBC.
VI – Que aparência terão os
rádios digitais ?
Vantagens do multiplex: som cristalino
(CD), sem interferência ao longo de vastos
territórios de recepção.Não usa compressão de
Áudio, como a FM.
IV – Serviços já disponíveis da BBC digital
BBC Radio 1: música para público jovem.
Novidades e shows (ao vivo). Noticias, ação
social, musica e documentarios. A regra da
estação, no front da programação de musica
contemporânea, é sempre assumir riscos para
encorajar a inovação e descobrir talentos
• Sintonizador hi-fi
Os que já existem são assim: 2 tipos, só digital
(DAB, digital audio broadcast) ou FM
também. Possuem tela onde aparecem os
créditos das canções ou notícias.
• No carro
Consistem em cabeças para uso nos players de
cassetes ou CD do mercado. Uma unidade de
hardware de rádio digital fica embaixo do
banco e há uma antena digital compacta.
BBC Radio 2: celebra a herança da música e
da cultura popular. Do folk ao jazz e do
country às grandes orquestras. Programação
de ação social, religiões, documentários
variados , interesse do consumidor, etc.
• Nos computadores
A Bosch já está fazendo placas para PCs que
permitem a recepção de rádio digital (e assim
o uso da internet pelo rádio). Ouve-se a
melhor música mas também acessa-se os
novos serviços de dados.
BBC Radio 3 lidera a faixa da musica clássica
e da alta cultura. 50% da musica programada
é ao vivo ou encomendada. Jazz, drama de
maior fôlego, documentários sobre artes e
especiais.
• Sistemas hi-fi
A segunda geração de sintonizadores digitais
será incorporada aos sistemas hi-fi mini ou
midi do mercado: CD + Mini-Disc + Digital
Radio.
BBC Radio 4 é o endereço da fala inteligente:
notícia fundamentada e em profundidade,
mas também da programação de alta
qualidade em documentários e entrevistas,
muitos com temas especiais, drama
(radioteatro), leituras, comédia, ciência e
arte.
• Portáteis
O 1º rádio portátil digital – “Roberts” – já foi
lançado. A bateria ainda é meio grande.
BBC Radio 5 Live é um serviço 24 horas de
noticiário ao vivo e esportes, os mais
importantes eventos enquanto acontecem;
análise e debate. Já existe há 5 anos.
BBC Radio 5 Live Sport Plus: espécie de
ajudante
da
anterior,
serve
para
complementar a cobertura esportiva em dias
de muitas provas, jogos, etc.
•Os primeiros digitais domésticos custaram
entre 800 e 1000 libras
• Blaupunkt lançou um módulo p/ rádio
digital que se conecta aos seus modelos de
rádio já existentes
á sete anos, aquela que foi a melhor
violonista popular brasileira sofreu duas
paradas cardíacas, sobreviveu, mas parou de
tocar, de falar, de ouvir, de andar ou de fazer
qualquer movimento coordenado. Após meses
de internação, foi levada de volta para a cidade
cujo nome está colado ao seu. E lá, numa
casinha de fundos, ela vem sendo cuidada por
sua diligente irmã, Maria Geracina. A família
não tem recursos.
Quem quiser ajudar com dinheiro, pode
fazer depósito na conta nº 36676-5, da Agência
04049 do Banco do Brasil, em nome de Maria
Rosa Canelas – nome de batismo da artista.
Quem quiser ajudar com fraldas ou medicamentos, telefone para 0-xx-24-4522659 e
combine com a própria irmã de Rosinha.
ENTRE PARA A
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R-2207 e 2210
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digitais Sony e Pioneer
• Outros fabricantes: Clarion, Cymbol,
Grundig (nos Fiat e Alfa), Kenwood, Psion
(placa de PC), Roberts, Technics.
2001 - ANO INTERNACIONAL DO VOLUNTÁRIO
O Brasil já é o 5º país do mundo em voluntariado:
26.000.000 (vinte e seis milhões) de brasileiros
fazem algum tipo de trabalho voluntário.
14
H
Aviso aos leitores cadastrados
O jornal
felizmente cresceu, mas os seus
custos, infelizmente, também
cresceram. Para reduzí-los vamos
ter que cortar nas despesas de
distribuição. Assim, avisamos aos
nossos quase 600 leitores
cadastrados (que não são sócios),
que, a partir do próximo número,
não estaremos, infelizmente,
remetendo seu exemplar
pelo Correio.
Coluna do Conselheiro
Paulo M. Borges
P
articipei de mais uma reunião do Conselho de
Administração da ACERP, a terceira e última
do ano, realizada no estúdio 3 do Centro de TV.
Estavam presentes a Presidente do Conselho,
Aspásia Camargo, e os Srs. Alexandre Machado,
Marcos Formiga, Roberto Muylaert, Arthur da
Távola, Jane Carol e o Secretário de Avaliação,
embaixador Sergio Florêncio.
A reunião tinha como assuntos principais
o Planejamento Estratégico da ACERP para 2001
a 2003 e o Plano de Trabalho da ACERP, segundo
diretrizes da SECOM, a avaliação financeira e
administrativa e a Reestruturação Organizacional
da Empresa.
Aspásia Camargo pareceu-me muito
preocupada com os rumos da ACERP para o
futuro e da ambigüidade que norteia o contrato de
gestão com relação ao repasse das dotações
destinadas a Empresa, haja visto que, no ano de
2000, foi iniciado com a previsão de 16 milhões,
caiu para 13 e estacionou em 10 milhões, o que
cumulou um déficit de 5,5 milhões para este final
de ano.
A Presidente do Conselho acha que nos
próximos meses a Empresa tem que tomar uma
atitude de buscar no Governo o apoio financeiro
juntamente com a busca do apoio cultural para a
programação. Aspásia conclamou os Conselheiros
Marcos Formiga e Roberto Muylaert para avaliar a
programação para melhorar a programação e
aumentar a audiência com previsão de que esta
mudança seja notada a partir de abril no vídeo da
TVE.
O embaixador Sergio Florêncio em sua
explanação informou que só foi possível o repasse
dos 5,5 milhões para cobrir o déficit da ACERP
pela real transparência da Empresa e pelas reformas
internas profundas que estão sendo realizadas. Foi
proposto pelo embaixador a criação de um cargo de
auditor de controle interno, para acompanhar a
gestão da ACERP.
Entre outras diretrizes foi criada a
Diretoria de Comercialização e Marketing.
O conselheiro Roberto Muylaert salientou
que a dotação destinada à ACERP é insuficiente e
que as duas únicas maneiras de superar esta
deficiência é a especialização em algum nicho onde
esta verba seja suficiente, trazendo audiência ao
nível que uma TV Pública exige; a outra é
aumentando a receita.
O diretor-presidente Mauro Garcia, em
sua explanação informa que a Empresa não está
parada, mas que as dotações do contrato mal
NÚMEROS DA CAO
Tabulação feita por Renata Mello com base nos relatórios semanais da
Central de Atendimento ao Ouvinte, de 01/10/2000 a 09/01/2001
cobrem as despesas, pois o orçamento não é fixo,
ou seja, não temos como investir em produção.
Mauro informou que a atual estrutura da ACERP
foi reduzida de 70 para 30 cargos e que está sendo
abandonado o projeto de telejornalismo público de
“hard news”, que tem alto custo, para atacar o
jornalismo interpretativo na faixa das 22 horas.
Entre outras medidas, será desativado o sistema
MEC-SAT, uma vez que não foi possível formar a
“Rede de Rádio”. Será desativado o prédio anexo
(em frente a TVE), para redução dom despesas de
aluguel.
Em sua explanação, o conselheiro Arthur
da Távola ponderou que o Governo não tem
política de comunicação, e citou a RADIOBRÁS
e a ACERP, cada qual com sua política de
comunicação e caminhos diferentes. O conselheiro
acha que falta ao Governo debruçar-se sobre esta
política. O senador também voltou a tocar no
assunto da possibilidade de que algum membro da
SOARMEC ocupe uma vaga no Conselho de
Gestão.
Finalmente, deixo aqui minha impressão
de que 2001 será um ano decisivo para a ACERP.
Ou nos projetamos como um canal de eficiência
para ganhar o mercado ou estaremos sucumbindo e
entrando no clube das empresas que não deram
certo por não encontrar seu nicho.
Um ano repleto de realizações, com
harmonia e que a saúde não nos falte. Feliz 2001!
Ligações: 2013 em 101 dias, o que
dá a média de 19,9 ligações diárias
MEC AM
Total de ligações
1627
• Para o Manhã Viva
• Para o Cia. do Samba
• Atendendo aos ouvintes
• Para Defesa do Consumidor
• Informações e sugestões
• Reserva Ao Vivo ent. Amigos
• Reservas p/ Parede 800 AM
• Participaram de promoções
678
325
203
124
94
89
84
30
MEC FM
Total de ligações
386
• Participaram das promoções
• Informações e sugestões
• Reservas Sala de Concerto
• Pedidos p/ Conexão Direta
• Reclamaram da sintonia
• Pedidos de grade
125
115
102
22
14
8
Central de Atendimento
ao Ouvinte - CAO
☎ 252 8413
(22/12/2000)
O QUE PODE RENDER UM VÃO DE ESCADA
C
Apoio Cultural
Configuração atual
Foto J.C. Mello
omo já noticiamos, o Bazar da
Sociedade, que funcionava no vão de
escada do 2º andar, foi desativado. Os livros
foram doados a bibliotecas; e os discos, a
ouvintes e colecionadores. Precisavamos do
espaço para nossa tão necessária sala de
informática. Ali, brevemente, estaremos
editando nosso jornal , mas, principalmente
– assim que pudermos adquirir os
programas (softwares) necessários–,
estamos criando comdições para ampliar o
site da SOARMEC, tão pobrezinho, ainda.
Já adquirimos um terço do equipamento
(hardware) que vamos precisar. Para fazer
frente à necessidade de softwares e
ptransformar as possibilidades do site em
realidade, já estamos com um projeto
pronto e encaminhado. Vamos torcer.
•1 Microcomputador Itautec, com
Processador Athlon, 128 MB de memória
RAM, HD de 20Gb, DVD Rom e
Gravador de CDs
• Softwares: Windows 2000 e Office 2000
•1 monitor LG de 17 polegadas;
•1 Impressora HP Deskjet 640C;
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•1 telefone de mesa, Siemens
•1 estabilizador de voltagem UPS-AI
•1 ar condicionado Consul Air Master
•Para receber este equipamento a sala
recebeu pintura e instalação elétrica novas,
•Insufilm nas janelas e uma bancada em
curva, feita sob medida para o espaço.
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adquirimos duas Giroflex.
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15
PROGRAMAÇÃO
Excepcionalmente, não estamos publicando, neste número, as
grades de programação AM e FM, que ainda estão sujeitas a
chuvas e trovoadas. Em compensação, estamos publicando 3 textos
a propósito da programação. O comunicado, á direita; a carta do
ouvinte Albert Kok (de 22 de janeiro), a qual contém a expressão
O OUVINTE PERMANENTE
MANÍACOS, OBSESSIVOS E
CONTUMAZES
Carlos Acselrad
D
iz aqui o Aurelio que saudosismo é o
gosto ou tendência a superestimar o
passado. Não é crime. O saudosista não
desvia verbas públicas nem negocia votos.
Na pior das hipóteses chateia os amigos
mais jovens com chavões como “no meu
tempo, sim! aquilo é que era rádio”. Mais
que gosto ou tendência, o saudosismo –
assim como o subúrbio, que não é um
endereço – é um estado de espírito. Falo,
no caso, de certos tipos de ouvintes de
música clássica que se poderia chamar de
contumazes. Pergunto a um deles, à guisa
de sondagem: “E a Mec FM?”. Responde,
acho que sem pensar: “Ah, que
maravilha!”. Julgo evidente que ele se
refere a música em si, não à emissora. O
contumaz é assim; já se sente gratificado
pelo simples fato de ouvir; não percebe –
ou não se importa – que venha ouvindo
há algumas semanas a mesma sonata de
Beethoven com Zino Francescati seguida,
invariavelmente, pelo Galope Final do balé
Copelia, de Delibes. Boa parte dos
contumazes deixam ver seu exclusivo
interesse pela música ao acrescentar: “A
Rádio Opus FM, né? Pois é, ainda bem
que temos esta beleza de estação de música
clássica” (confundindo com a extinta
Rádio Opus 90).
Pouco
acima
do
contumaz aparece o obsessivo – atento e
informado, já ostenta certa consciência de
classe, aproveitando para reivindicar
alguma coisa. Não tem muita certeza mas
acha que tem direitos a defender: “Você
não pode dar um jeito nessas valsas
vienenses? Não é possível! É valsa vienense
todo dia de manhã, todo santo dia!” . O
obsessivo é, além disso, um implacável:
sente-se lesado quando surpreende um
locutor em luta (compreensível) contra um
regente russo de nome Rozdestzvenski, ou
atropelando mortalmente uma conhecida
orquestra que vira “Osquestra Bostonspop,
regente Astusfidels”. O termo de
comparação para o obsessivo são as outras
emissoras, onde jamais ocorrem mortes
súbitas nem chamadas até competentes,
com texto e fundo musical, terminando
com o tradicional “não perca”, pecando
apenas por detalhe: o programa foi ontem.
Eis que nos deparamos, agora, com
um terceiro espécime, talvez um misto de
contumaz e obsessivo. Para simplificar
chamemo-lo, simplesmente, maníaco. A
rigor, é o verdadeiro saudosista pois seu
termo de comparação com a Rádio MEC
de hoje é aquela de algumas décadas atrás.
Sua experiência lhe valeu constatar que o
rádio que se propõe cultural e público não
se condena a, simploriamente, substituir o
disco e o fonógrafo nos longínquos rincões
(geográficos ou econômicos) sem acesso à
música. A rádio pública e cultural pode
ser – e era – o lugar da palavra, do drama,
do debate, e da notícia, e claro, da música
– toda música, qualquer música –,
contanto que explorada, aproveitada e
direcionada, e não apenas burocraticamente usada para justificar o espaço
que ocupa.
O maníaco espera recuperar tudo
isso; enquanto espera percebe o quão longe
passa a rádio MEC FM de hoje daquilo
que poderia ser. Ainda assim, percebe
também uma certa força, certo mistério,
talvez a surpresa que pode lhe reservar, a
novidade ou a velharia, que seu tempo
não lhe permitiu descobrir. Assim se
explica a tolerância do maníaco: lá está ele.
Ainda uma vez – a oitava nesta semana –
a ouvir aquela sonata de Beethoven. Pensa:
o que virá depois? O inevitável Galope
final do balé Copélia? Ou quem sabe hoje
não, certamente eles estarão aprontando
alguma novidade, quem sabe?... O
maníaco não desiste, não abre mão dos
seus direitos, não perde a pose – nem
mesmo quando, depois da sonata, o
locutor anuncia: Galope final, do balé
“Copélia” de Leo Delibes.
“ouvintes permanentes “, que pedimos licença para adotar como
título da coluna, que também deve passar a ser permanente,
estreada, hoje, pelo artigo de um dos mais assíduos ouvintes da
Emissora, o nosso diretor de comunicação, que escreveu o seu texto
em dezembro. Confiram.
CARTAS
✍
Sr./Sra. Responsável pela programação
Em 04.01.p.p. enviei uma carta/fax, às
17h40, tratando do assunto repetições
em excesso. A carta estava cheia de
erros de datilografia causados pela raiva
do momento.
Permita-me voltar ao assunto, pois, não
gostaria que a Rádio MEC FM
começa (sic) a expor-se ao ridículo
perante os ouvintes permanentes.
Constatei que programas inteiros estão
sendo repetidos, programas de uma e
duas horas de duração, que num certo
dia se ouve às 2 h da tarde, se repetem
no dia seguinte ou o dia depois às 8 da
manhã e uma terceira vez às 10 da
noite, etc.etc.
Na semana passada até inclusive
sábado, escutei o Quarteto nº 3 para
Sopros de Rossini uma dúzia de vezes!
Será que a nossa Rádio MEC está tão
pobre de material de difusão?
Também programas especiais estão
sendo repetidos em excesso, por
exemplo “Nas asas da Canção” […]
Estou ciente que para Vv.ss. não tem
importância alguma, mas, se a
programação continua assim, vou dar
um tempo e descartar a Rádio MEC
por algumas semanas, para evitar que
minha predileção por música erudita
entre em perigo.
Atenciosamente,
Albert Kok
Trav. Madre Jacinta 16/502
CEP 22451-140 Rio de Janeiro
Transcrição
Comunicado da ACERP (03 / 01/ 2001)
Tendo em vista as novas diretrizes
formuladas pela Presidência, e aprovadas
na última reunião do Conselho de
Administração da ACERP, referentes à
programação das Emissoras, informo que
foi decidido e comunicado a esta Gerência:
1º
MEC AM – Deixa de veicular
programação jornalística, inclusive dos
comunicadores e debatedores, passando a
ter apenas programas e planilhas musicais,
revistas e notas culturais, buscando inserir
clássicos brasileiros e eruditos (sic),
objetivando faixas comuns entre MEC AM
e FM;
2º MEC FM – Mantém sua linha de
programação, alterando os espaços
destinados às óperas, deixa também de
veicular programação jornalística, como a
MEC AM, e deve inserir clássicos
brasileiros, promovendo faixas comuns
entre a FM e a AM;
3º
ESTÚDIOS DE GRAVAÇÃO –
Deverão implementar a locação para a
gravação de CDs e trilhas sonoras;
4º SELO RÁDIO MEC – Aumentar a
produção de CDs.
Desta forma ficou assim definido o novo
conceito das Emissoras:
MEC AM – Rádio da produção cultural
do Brasil, a partir do pólo do Rio de
Janeiro;
MEC FM – Rádio de produção musical
clássica, erudita e instrumental, dos
grandes nomes e dos novos talentos da
música nacional e internacional.
A Gerência está tomando as providências
necessárias a tais determinações, tendo em
vista o quadro de reduções de pessoal, estará
comunicando os setores envolvidos as
soluções decorrentes dessas mudanças.’
Reflexão, e informação sobre a música
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