AMIGO domingo
Transcrição
P ara chegar ao século XXI, a Rádio MEC precisou provar durante 65 anos – ou 78, conforme o ponto de vista – que é uma rádio resistente. Resistiu à falta de recursos, à mudança para Brasília, a governos autoritários, a ministros desinteressados, a diretores despreparados e até à extinção do Serviço de Rádio Educativo. Nenhum desafio, porém, mostrou ser mais difícil do que o que ela vem enfrentando desde que saiu do MEC e passou a ser administrada pela ACERP. Administrada por quem, mesmo? – perguntará o leitor ocasional, que nem desconfia da existência da sigla, assim como a maior parte da torcida do Flamengo. E também do Congresso Nacional, conforme afirmou Roberto Saturnino, há poucos meses, num discurso em defesa da Rádio MEC. Na grande imprensa, a Associação também não é notícia – o último exemplo é a entrevista de meia página (em O Globo, 12/02/01) que, tal como a nota anterior de Boechat, refere-se a um incerto “presidente da TVE”. Assim é que o Amigo Ouvinte tem sido o único a dar noticias regulares desta empresa que acaba de completar três anos, sem qualquer comemoração, comunicado ou balanço. Este número, por exemplo – que deveria ter saído em janeiro –, é uma prova de que temos dedicado cada vez mais espaço ás questões geradas por esta associação praticamente desconhecida, e contribuindo para torná-la mais transparente. Para quem não sabe, ACERP quer dizer Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto. Bela razão social , que na época elogiamos . Mas hoje, 3 anos depois, ela ainda não conseguiu colocar-se à altura do nome que tem. Confiram: é uma ‘Associação’, mas não tem sócios; intitulase de ‘Comunicação Educativa’, mas acabou com o Setor Educativo da Rádio, sem aviso explicação ou comentário; e parece ostentar o nome de ‘Roquette-Pinto’ a contragosto, sem conseguir incorporar o compromisso moral que o designativo impõe. Esta lista de contradições cresceu, em janeiro, quando, mostrando não operar no nível simbólico, os administradores da Associação, sem respeitar a coincidência dos inícios – primeiro mês do primeiro ano do primeiro século do novo milênio!– , decidiram dar fim ao radiojornalismo, fechar carreiras e estreitar os horizontes radiofônicos do país. Esquecendo que administram uma rádio pública, tiraram do ar programas com audiência, sem dar satisfação ao público. Tais medidas (somadas às tomadas na TVE) provocaram desdobramentos – ver págs 3 e 5. Pela primeira vez, na história da Rádio, programas voltam á grade de programação e tornam a sair por força de ações judiciais. Pela primeira vez deixamos de publicar as grades de programação. E, pela terceira, na história da ACERP, novo presidente assume. O terceiro em três anos. Os Amigos Ouvintes desejam, sinceramente, que Fernando Barbosa Lima supere as contradições que está herdando e, amparado num Conselho Administrativo fortalecido, consiga levar a ACERP a fazer jus ao nome. Esperamos também que no correr de 2001, o Ano Internacional do Voluntário, a nova administração da ACERP reconheça os méritos do trabalho voluntário da SOARMEC e perceba a possibilidade de uma relação amiga e sinérgica com os Amigos Ouvintes. Nossa Sociedade não ostenta o nome de RoquettePinto, mas fundamenta-se nos princípios por ele postulados. E por esses princípios – tal como formulou certa vez o Barão de Itararé – está disposta a ir até o fim. Amigo Ouvinte Ano IX • Nº 31 • FEVEREIRO 2001 I N F O R M AT I V O D A S O C I E D A D E D O S A M I G O S O U V I N T E S D A R Á D I O M E C Presidente novo Foto William Nery (detalhe) Odisséia radiofônica IMPRESSO Editorial Fernando Barbosa Lima, logo após ser oficializado, pelo Conselho Administrativo, na Presidência da ACERP. Sua indicação para o cargo trouxe alento para os que se preocupam com o futuro da radiodifusão educativa e cultural. Um homem que é do ramo, como escreveu Boechat, nO Globo. Ao experiente profissional, desejamos um bom Conselho Administrativo e uma feliz presidência nova – leia mais na página 3. Neste número Alto-falante – 2 Um discurso a propósito Roberto Saturnino, saúda o novo presidente da ACERP– 3 Um encontro necessário, A Rádio MEC tem salvação? – 4 e 5 Lançamentos CDs – 7 Rádio MEC para quem? por Carmem Lucia Roquette Pinto – 8 A obra pelo criador, texto de Roquette – 8 A primeira Organização Social Brasileira Considerações do editor – 9 A rádio do meu tempo, Tais de Almeida Dias – 10 Allan Lima visita a Rádio – 11 Cartas – 12 Jornal da Casa não olet –13 Passeio no site da BBC – 14 Coluna do Conselheiro – 15 Números da CAO – 15 SOARMEC informática – 15 O ouvinte permanente – estreia da seção, com texto de Carlos Acselrad – 16 Este número vem sem grades de Programações Saudação Dois Mil e Única Os Amigos Ouvintes saúdam a todos os que acreditam no efeito benéfico da radiodifusão educativa e pedem passagem para continuar, neste novo ano-século-milênio, a investir no futuro da Rádio MEC, para que ela seja uma rádio ética e estética; uma rádio padrão: de gosto, de informação, de cidadania; uma rádio dedicada à convivência civilizada e à celebração da língua portuguesa; uma rádio que cultive todos os gêneros radiofônicos e dê a devida atenção à criança e ao deficiente. Queremos uma rádio digna, e não uma rádio digna de pena. Alto-Falante ULTRAPASSAMOS OS 500. Já somos 504 sócios desde o início do ano. CONDECORADO COM a Ordem do Mérito Cultural, um certo Edino Krieger, maestro e compositor que é, também, membro do Conselho de Cultura do Estado, presidente da Academia Brasileira de Música e, ufa!, vice-presidente da SOARMEC. DISPENSADOS, no início do ano, os celetistas Alda Maria de Almeida (redatora), Bertha Nuttels (produtora), Cynthia Cruz Pereira (repórter), Heloisa Borges (chefe do Jornalismo), Iris Ágatha de Oliveira (apresentadora), João Luis Rangel Sanz e Mário Augusto de Melo (operadores), Ricardo de Lima Oliveira (técnico manutenção), Robson Alencar de Carvalho (locutor) e Ruy Manoel Pizarro (editor de jornalismo). O APRESENTADOR Paulo Fernando, único radialista deficiente visual, da Rádio, entrou na lista, mas foi readmitido, dias depois, por ordem da SECOM. UMA LIMINAR determinou que os programas retirados da Grade ( Manhã Viva, Defesa do Consumidor e Café com Notícias) voltassem a ser produzidos por seus produtores. Na semana seguinte, foi cassada. A RADIOBRÁS quer vender a frequência da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O Acervo deve ir para o MIS. E os funcionários remanescentes? Para o Museu dos Remanescentes, a ser criado? Foto Joana Traub Amigo Ouvinte A VOZ DA AMÉRICA, depois de 40 anos, decidiu acabar com o seu serviçode noticias, em Português, para o Brasil. Ou seja, mais 10 radialistas na rua. “NOTÍCIAS da ACERP” é o nome do informativo que estreou em dezembro, com 4 páginas, e sem CARMEM LÚCIA Roquette-Pinto, a outra filha de Roquette-Pinto editorial. Vem com (na foto com Adelson Alves e Fábio Pimentel) veio finalmente conhecer texto do então presi- de perto a Sociedade dos Amigos. Foi no último dia 9 de janeiro, após dente, afirmando que o Encontro na Faculdade de Direito ( há um texto seu, na pág 8). “é com sua sugestão e sua crítica que será feito o jornal”. Nossa AS RÁDIOS LIVRES da Internet estão sugestão é que o informativo perca o caráter apreensivas, porque o Escritório de Direitos institucional, inaugure uma coluna de “om- Autorais dos EUA decidiu que as estações budsman”, tenha comerciais, que transmitem seu conteúdo na editorial e entre Internet, também devem pagar por essa no assunto. O transmissão. O que é um passo para acabar número de janeiro com um dos movimentos mais saudáveis da (o 2º, ao lado) tal atualidade: as rádios livres da infovia. como o 1º, ignora os últimos fatos. O SERVIÇO DE INTERNET MP3.com Desejamos melho- já entrou em acordo para pagar pelo direito ras e solicitamos a de distribuir músicas on-line. Foi uma finesa de incluir a vitória dos defensores da idéia de que a SOARMEC no Internet não revogou os direito autorais dos cadastro de compositores. leitores da revista. .O SINDICATO dos Servidores Federais (Sintrasef ) moverá ação civil pública para OS CDS VÃO ACABAR em 2005, afirma que o Governo federal volte a administrar a pesquisa do Instituto Mori , que entrevistou Rádio MEC e a TVE. Na ação é ressaltado o 1629 ingleses de 15 a 65 anos. Os resul- caráter público da rádio fundada pelo tados indicam que as pessoas estão educador Edgard Roquette Pinto. ( O Dia , planejando abandonar os CDs (criado em 07/ 02/ 2001.) 1970) em favor do MP3, de downloads de OUVIDORIA, alguém ouviu falar? música e de audio players digitais-portáteis Quatro perdas e um hai-kai LAPI Luiz Antônio Pires, cartunista inconfundível, desenhista e programador visual, trabalhou no O Jornal, no Pasquim, no JB, e colaborou em vários alternativos. Realizou pinturas na Rocinha, no Dona Marta, no Hospital Pinel e na entrada do Túnel Velho. Gostava de Dostoiewski e acreditava na Sociedade Civil. Viveu o nosso tempo intensamente. Era um libertário. Liderou vários projetos para amenizar a poluição urbana. Participou da fundação da SOARMEC, e, uma vez,presenteou-nos com o desenho do radinho sorridente, lá em cima. 2 é uma publicação da SOARMEC Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC. De Utilidade Pública Municipal (Lei nº 2464) e Estadual (Lei nº 3048) CGC 40405847/0001-70 Praça da República l4l-A Sala 201 CEP 20211-350 Tel: 221-7447 R: 2207e 2210 [email protected] EDITOR-RESPONSÁVEL: Renato Rocha PRESIDENTE DE HONRA: Beatriz Roquette-Pinto DIRETORIA: PRESIDENTE: Maria Yedda Linhares VICE-PRESIDENTE: Edino Krieger TESOUREIRO: José Oscar Santiago ATIVIDADES CULTURAIS: Suetônio Valença COMUNICAÇÃO SOCIAL: Carlos Acselrad PATRIMÔNIO: Reinaldo da Silva Ramalho SECRETÁRIO: Renato Rocha CONSELHO FISCAL: Sérgio Cabral, Norma Tapajós e Otto A. de Castro COORDENAÇÃO GRÁFICA: J.C. Mello FOTOGRAFIA: Clara Zúñiga e Joana Traub COLABORADORES: Bárbara Távora, Fábio Prado Pimentel, Lívia Rosa, Paulo Garcia, Renata Mello, Luisa Amaral CONSULTOR JURÍDICO: Letácio Jansen CONTADOR: Manoel Mescouto IMPRESSÃO: Tipológica Comunicação Integrada 21 5093366 : el! Admiráv sa ao ver um raio n e p o Nã a vida”. “É fugaz (Bashô) Carolina Cardoso de Meneses Edileuza Costa da Silva Ferreira Célio Reis de Lima Pianeira pioneira, fiel seguidora de Chiquinha e Nazareth, cujas obras divulgou em recriações geniais, faleceu na virada do milênio. Ninguém como ela dominou a linguagem pianística do tango brasileiro. Trabalhou na antiga Rádio Sociedade, e duas de suas últimas apresentações foram dedicadas à Rádio MEC. Uma em julho, no recital para liberar o piano importado, e outra, no concerto de inauguração do dito instrumento, no Sinfônico (ver Cartas). O Amigo Ouvinte pede desculpas por ter protelado entrevistá-la, pois com ela desaparece muito da nossa memória musical e radiofônica. Trabalhou no setor administrativo da Rádio durante 12 anos. Com sua quietude e recato, tornou melhores os dias de todos os que com ela conviveram. Era uma daquelas mulheres raras que parecem vir ao mundo para simbolizar o eterno feminino. Bonita e calma, Edileuza continuou assim, mesmo durante a doença prolongada que a levou, tão cedo. Para o Ary André, com quem se casou, ela deixou dois filhos e um exemplo de companheirismo. Para este redator, que nunca imaginou escrever seu necrológio, deixou suspenso, na memória, um dos seus sorrisos. Memória viva da Rádio MEC, onde trabalhou por anos e à qual se dedicou por toda a vida. Já aposentado, foi um dos sócios fundadores da SOARMEC, e nosso primeiro diretor-tesoureiro. Seu último gesto concreto de dedicação foi ter participado da Assembléia Geral da Sociedade, em abril passado . Seu Célio – focalizado no 8 número deste jornal –, tinha cara de passarinho, e era uma unanimidade dentro da Rádio. Foi, sem dúvida, uma das pessoas mais leves que já freqüentaram este espaço. Tão leve que faleceu no dia dos finados. Presidente novo Foto William Nery O veterano e muitas vezes premiado profissional de TV, jornal e publicidade, Fernando Barbosa Lima, é o novo diretor-presidente da ACERP, desde o dia 2 de fevereiro. A foto ao lado – em que aparece com Aspásia Camargo, presidente do Conselho Administrativo da ACERP; e Artur da Távola, membro do citado Conselho – é muito oportuna, pois fixa a imagem do trio à da Rádio MEC, cujo logotipo aparece ao fundo. Tomara que o veterano homem de comunicação tenha sempre por perto um cartaz da Rádio MEC, para não esquecer que ela existe. Filho de Barbosa Lima Sobrinho, Fernando começou aos 19 anos, no jornal O Tempo, de São Paulo, e, aos 22, dirigia seu primeiro programa de televisão, na TV Rio. Foi diretor da TVE, da Rede Excelsior, da Rede Bandeirantes e da Rede Manchete, tendo sido responsável pela criação de dezenas de programas televisivos, entre eles, Preto no Branco, Encontro com a Imprensa, Jornal de Vanguarda, Sem Censura, Canal Livre, Conexão Internacional, Programa de Domingo e o divisor-de-águas, o Abertura, que marcou sua volta para a TV, após longo afastamento durante a ditadura militar. Foi um dos fundadores da agência de publicidade Esquire e da Intervídeo, com Roberto Dávila e Walter Salles. É sócio da produtora FBI & Associados, e da produtora Brasil Export. Na Rede Brasil, é o responsável pelo programas Primeiro Time e Rio, eu gosto de você. Na entrevista de meia-página, que deu para O Globo (em12/02), Fernando não cita a Rádio. Nem a ACERP. O autor da entrevista, tal como o Boechat, continua a designar um incerto “presidente da TVE”, quando o cargo é, na realidade, de diretor-presidente da empresa que administra a TVE do Rio, a TVE do Maranhão e, por último – tem sido sempre assim, não é ? – a Rádio MEC. Até o dia em que fechamos a edição (15/02), não havia definição oficial a respeito da Rádio. Os boatos é que se multiplicaram. Aliás, o boato é, hoje, disparado, o principal meio de comunicação interna, na Rádio (e na TVE). Um discurso a propósito Foto Joana Traub Senador saúda Fernando Barbosa Lima e pede novamente a vinculação da rádio e da TVE ao MEC ou ao MinC Íntegra do discurso pronunciado pelo senador, em 2 de fevereiro de 2001 conforme transcrição do Senado Federal. “Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, toma posse hoje como Presidente da Associação Cultural e Educacional Roquete Pinto, Acerp, entidade que congrega a TVE do Rio de Janeiro, a Rádio MEC e a Radiobrás, o eminente jornalista Fernando Barbosa Lima. Manifesto o meu regozijo e cumprimento o Presidente da República por essa escolha tão feliz. Trata-se de um profissional do ramo, muito respeitado, experiente, competente e exemplar também sob o ponto de vista ético e moral. Assim é, Sr. Presidente, que se levanta no meu espírito e no espírito dos servidores das entidades que compõem a Acerp a esperança de correção de uma série de equívocos que têm sido cometidos ultimamente e que têm resultado em grandes descontentamentos entre funcionários antigos e idealistas, que se viram, de uma hora para outra, demitidos, tendo seus programas atingidos por decisões sem nenhuma justificação e que, a meu ver, decorrem exatamente do fato de a direção dessa Associação ter sido entregue a pessoas que não têm a vivência do setor nem a experiência e a maturidade que o jornalista Fernando Barbosa Lima possui. Há também o fato de a Associação estar equivocadamente localizada na Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que é um órgão de informação e de propaganda do Governo. Não se trata, portanto, de um órgão de natureza cultural, que, afinal de contas, é a missão precípua das entidades que estão sob a responsabilidade da Acerp. O erro da localização e o equívoco na escolha de pessoas para a direção da Associação têm resultado em uma série de erros, muitos dos quais tenho aqui comentado. Fiz pronunciamento a respeito dessa localização equivocada e continuo sustentando a opinião de que o correto seria a Acerp e as entidades que a compõem, a TVE e a Rádio MEC, estarem sujeitas à orientação ou do Ministério da Cultura ou do Ministério da Educação,como tradicional e historicamente ocorreu no passado. No caso da Rádio MEC, por exemplo, houve uma doação ao Governo Federal, por parte de seu proprietário, o eminente brasileiro, idealista e pioneiro da comunicação Roquete Pinto, mas sob condições rígidas de que essa emissora jamais fugisse de suas atribuições eminentemente de natureza cultural, que nunca pudesse servir a fins políticos. Mas, na verdade, a Assessoria de Comunicação da Presidência da República é uma entidade eminentemente política, situada no centro do Governo Federal, destinada a promover a imagem do Governo – o que é lícito, devemos reconhecer. Mas não é lícito submeter a essa entidade outras emissoras que tenham caráter eminentemente – eu diria exclusivamente – cultural. É o caso da Rádio MEC e da TVE. Assim, Sr. Presidente, continuo sustentando a idéia e levando ao Senhor Presidente da República e aos Ministros da Educação e da Cultura a sugestão ou mesmo a solicitação de que haja uma revisão nessa localização, para que essas emissoras voltem a desfrutar da orientação e mesmo da proteção de um Ministério de natureza cultural para cumprirem bem a sua missão, que é extremamente importante. Sr. Presidente, preocupa-me muito, por exemplo, a situação da Rádio MEC, que é uma emissora tradicional, com um grande número de ouvintes fiéis, que ficam ligados quase o dia inteiro em sua programação e que sentiram profundamente a retirada do ar de programas de informação e de notícias, que eram transmitidos de duas em duas horas. Eram programas informativos que tinham como finalidade e objetivo a formação da cidadania. Havia também programas destinados aos deficientes visuais, que sintonizavam a emissora exatamente para se proverem de informações e de formação que não poderiam obter por outro meio. E essa emissora, de caráter eminentemente cultural, por conseguinte sem fins lucrativos ou interesses econômicos, produzia tais programas com muita competência e seriedade. E eis que esses programas foram retirados, as pessoas foram demitidas. Felizmente, houve uma reversão dessa decisão por intermédio de liminar concedida pela 21ª Vara Federal, que repôs no ar esses programas. Porém, os servidores e, principalmente, os ouvintes continuam ameaçados de se verem sem essa contribuição importante que a Rádio MEC presta na área de formação da cidadania e de informação ao povo em geral. Sr. Presidente, assim como acontece com a Rádio MEC, também na Radiobrás e na TVE tem havido muito descontentamento e muitos desacertos, mas, com a nomeação, com a designação do jornalista Fernando Barbosa Lima, há uma expectativa minha muito profunda de que esses desacertos sejam finalmente corrigidos, de que tudo entre nos eixos. Porém, continua a opinião de que essa entidade deveria estar submetida ao Ministério da Cultura, ao Ministério da Educação, e nunca à Secretaria de Comunicação, um órgão de informação, promoção e propaganda das ações do Governo Federal. De forma que fica aqui a minha mensagem de confiança no jornalista Fernando Barbosa Lima e nos funcionários, de um modo geral, dessa entidade, e também o meu apelo ao Senhor Presidente da República – cumprimento-o pela escolha – para revisão da localização dessa entidade e sua submissão a um desses Ministérios, de Cultura ou Educação. Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.” 3 Um encontro Portadora de Deficiência. […] A imprensa, de modo geral, não nos dá atenção; a única porta que nós encontramos aberta foi a do Programa do Fajardo, e lá nós temos tido um apoio imenso, temos recebido muita ajuda, de muita gente, e essa porta, ela não pode ser fechada. • EDUARDO FAJARDO (produtor): A Constituição reza que é necessário 5% de reserva de emprego para os deficientes físicos. Pois essa medida colocou na rua um cego, que fazia a parte, no meu Programa, dedicada aos portadores de deficiência.(Paulo Fernando, foi readmitido ) Reportagem Renato Rocha e Fábio Pimentel fotos de Joana Traub N o dia 9 de janeiro de 2001, na Faculdade de Direito, cerca de 50 pessoas – em atenção à Rádio MEC – reuniram-se para avaliar a situação da Emissora e pensar alternativas. A gota-dágua foi o triplo corte de celetistas, programas e rádiojornalismo (ver Comunicado da Gerência, na pág. 16). Tais cortes, abruptos e verticais, cairam como uma bomba paradoxal. “Para salvar a aldeia precisamos destruí-la!”, disse um general. “Para salvar a emissora precisamos fazer menos rádio!”, diz-nos o comunicado. Mas quem foi que decidiu? Quem está pensando a Rádio MEC (e a TVE) hoje? O fato do evento ter ocorrido na Faculdade de Direito, e não no auditório da Rádio é sintomático. A ACERP–Rádio parece não apreciar essa coisa de “pensar” a Rádio. Tanto é que não promoveu um só seminário interno, ou work–shop ou debate, ou o que quer que seja que ajude a avaliar ou “pensar” a Emissora em seu momento atual. Mas nem sempre foi assim.Basta lembrar as reuniões do 1º Encontro de Funcionários, em 1993, no auditório da Rádio, quando, por uma semana, foram debatidas as idéias de quase 30 palestrantes. Dali saiu um diagnóstico da situação da emissora, e uma clara proposta de rádio educativo-cultural, (ver Relatório do 1º Encontro de Funcionários, na biblioteca da SOARMEC). E também saiu uma proposta para que os Diretores fossem escolhidos a partir de lista tríplice, indicada pelos funcionários, o que resultou na gestão de Regina Salles — uma professora, poliglota, de vasta cultura humanista — que acabou ficando 4 anos na Direção da Emissora. Regina foi a última a ocupar o cargo – extinto há três anos. O 2º encontro ocorreu no ano seguinte, 94, e foi dedicado ao estudo e à reforma do estatuto da FRP, hoje extinta. 4 De cima para baixo e da esquerda para a direita, Carmem Lúcia Roquette Pinto, Luis Carlos Saroldi, Ruth Gusmão, Maria Clara Pinto, Maria Yedda Linhares, Caó e Saturnino Brito (em 2º plano), e o plenário. Nesses encontros, os trabalhadores da Casa alcançaram seu mais alto índice de cidadania profissional. Uma conquista que a ACERP-Rádio desperdiçou, ao negar espaço para a realização do encontro. E aqui vai nosso agradecimento á Faculdade. Diferentemente, o encontro não foi promovido por uma comissão de funcionários, e sim por alguns veteranos de um corpo de profissionais desagregado. É por eles que estamos publicando as palavras de Aylton Escobar – veja box abaixo. A SOARMEC, que apoiou o evento, gravou e transcreveu o debate. O documento, elaborado por Fábio Pimentel e chancelado pela Sociedade, está à disposição dos interessados. CINCO PRONUNCIAMENTOS • ADELZON ALVES(produtor): Na hora em que nós soubemos do pé em que as coisas se encontravam, nós estávamos no Jornalismo, e procuramos o Zito Baptista Filho, e resolvemos partir dele, exatamente por respeito à folha de trabalho que ele tem, e ele deu o aval imediato para a realização dessa Reunião. […] Não é uma reação nossa, de defesa do nosso emprego – o que também é justo – mas é a defesa da Rádio, da sobrevivência dela. • MARIA CLARA PINTO: Estou aqui representando a ACADIM e o Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa Palavras de Aylton Escobar • WILSON LOGOBUCO (ouvinte): O Hermeto Pascoal mandou que eu o representasse, também. Ele não pode vir, mas está indignado com tudo isso que está acontecendo. E nós, como ouvintes, não fomos consultados, não perguntaram nada. • JORGE TARDAN (advogado e colaborador da Rádio) – Eu monto o PROCON no interior do estado, e muitos municípios – Conceição de Macabu, Friburgo, Itaguaí –, a quantidade de pessoas que ouvem, e precisam ouvir a Rádio MEC... A Rádio MEC deve ter esse compromisso, porque a Lei diz que tem que ter. (continua na pág. seguinte) (antigas mas atuais) “Aqui, com a minha experiência de observação sincera e solidária, eu encontrei, com nobres exceções, pessoas que são meramente políticos, que não têm nenhum afeto por isto que estão dirigindo. São carreiristas. São pessoas que não querem fazer; que buscam um emprego, não um trabalho. São pessoas que não se emocionam de modo nenhum com o que está acontecendo aqui. E eu encontro pessoas na sua triste figura de terem de sorrir para essas pessoas, nos corredores, para defenderem a sua sobrevivência, também já esquecidos da emoção que deveria conduzí-los ao trabalho que devem exercer. Vejo pessoas que transformam qualquer ambiente, no Brasil, num tristíssimo arquipélago. Vejo funcionários públicos no dever de se manterem vivos diante de um cenário absolutamente hostil da contemporaneidade nacional, tristes, todo nós, com um sonho que está lá dentro, que é a vontade de fazer alguma coisa.” Aylton Escobar, maestro e ex-colaborador da Rádio, no 1º Encontro de Funcionários, há 8 anos, conseguiu descrever com precisão o ambiente de trabalho que conheceu, e que se repete, ciclicamente, por lá. necessário MAIS PRONUNCIAMENTOS PAULO BORGES(conselheiro, representante dos funcionários da Rádio e da TVE ) – No Conselho de Administração, nós não fomos consultados sobre demissões de funcionários. A única coisa que se falou, com relação à Rádio MEC, seria a desativação da Rádio MEC de Brasília. Então, o Conselho de Administração não sabe dessas medidas de extinção do Programa do Fajardo e da Bertha.Nuttels. […] O Conselho não toma parte nessas medidas administrativas. Eu vou deixar com vocês a ata Da esquerda para a direita, Eliomar Coelho, Eduardo Fajardo, Pitombeira. Nina Ribeiro, Bertha Nuttels e, abaixo, e, abaixo, aspecto geralda aspecto geral do encontro. reuniãona Faculdade de Direito • ARTUR MESSIAS (deputado): A Assembleia fêz, recentemente, uma carta, mas acho que isso não é suficiente: acho que tem que ter uma ação política mais efetiva. O Senador (Saturnino Brito) certamente o fará em Brasília, e cabe também à gente, aqui, na alçada estadual, mobilizando o Ministério Público, já que é uma Empresa Pública. da última reunião, e aqui vocês vão ver que não foi discutido nada disso. […] Daqui a pouco a Rádio vai estar funcionando com o quê? Com robôs? Não tem mais ninguém para trabalhar. LUIS CARLOS SAROLDI: Isto aqui (mostra o comunicado) é grave, porque essas pessoas estão indo contra o que me parece dito no Código Brasileiro de Radiodifusão, que prevê que cada Emissor tem que destinar 5% do seu tempo no ar à transmissão de informação jornalística. Como é que essas pessoas assinam um papel desses, assumindo essa infração? Eu já nem discuto a ACERP, ela poderia ser dirigida por pessoas competentes, que soubessem o que estão fazendo, mas me parece que isso aqui é claríssimo, eles não sabem: eles não sabem cumprir a Lei. CARLOS HENRIQUE JUNDI (presidente do Instituto Brasileiro de Cidadania): Todo ato administrativo deve ser circundado de alguns elementos, que são a competência, a finalidade, a forma, o motivo e o objeto. A pessoa que fez tem competência administrativa para isso, para tomar a frente, fazer um documento dessa estrutura? […] porque, a partir do momento em que não há legitimidade da pessoa que fez, existe improbidade administrativa, e a responsabilidade civil por estes atos. ELIOMAR COELHO (vereador): É um procedimento conhecido há muito tempo – inicia-se sucateando a Empresa. É um processo de desconstrução. A Rádio não está entregue à pessoas incompetentes, não: está entregue a pessoas competentíssimas, exatamente para acabar com a Rádio. […] Como é que o Conselho de uma Instituição não tem conhecimento de toda uma reformulação do desenho desta Instituição? •CAÓ (jornalista e ex-parlamentar): Essa questão da Rádio MEC evidencia inconstitucionalidades, ilegalidades, e até violação da liberdade de expressão. E algumas práticas são semelhantes àquelas que nós enfrentamos na época da ditadura. […] Vamos fazer com que a denúncia da destruição desse patrimônio cultural chegue ao conhecimento da sociedade. A sociedade precisa saber. • HELONEIDA STUDART (vereadora): Uma das grandes admirações da minha vida, foi o Professor Roquette-Pinto, este patriota, este democrata […] Quero dizer que trabalhei em rádio, que amo o rádio, que considero o grande instrumento de comunicação — chega aonde a TV não chega, chega aos pobres, aos bóias-frias, aos sem-terra, chega onde quer que exista um brasileiro. Ofereço a solidariedade do meu mandato, estou às ordens para estar na luta de vocês, que é a minha luta. • IVAN ACIOLI (sindicato dos jornalistas): A Moção de Repúdio, que foi feita pela Assembleia Legislativa, surgiu a partir de um contato da Presidente do Sindicato com o Sérgio Cabral. Então, nós vínhamos já atentos à questão da TVE, da Rádio MEC. •PITOMBEIRA(diretor da ABI): A ABI não poderia se omitir diante de um fato dessa natureza. Mas isso não é um fato isolado. Não é a toa que surgiu essa questão do capital estrangeiro poder ser agora investido nas nossas empresas de comunicação — o que era proibido na Constituição. Estão forçando de todas as formas para investir capital estrangeiro nos jornais, nas rádios e nas televisões. •RUTH GUSMÃO(Sintrasef): O que é que a OS é? Ela desempenha uma política pública, com recursos públicos, com servidores públicos, com patrimônio público, mas só que é um grupo privado que executa isso, não é? Então, em que é que isso resultou? O patrimônio está aí, do jeito que vocês estão vendo, e o mais importante, a política do Rádio Educativoestá sendo exterminada aqui dentro. Em que resultou a Reforma de Estado aqui nessa área? Nisso. •ROBERTO SATURNINO (senador): É preciso desenvolver um grupo de ações, na área jurídica e no Ministério Público, e outro na área política. Mas a gente tem que ampliá-lo, chamando representantes, não só dos Partidos de oposição, mas buscar, também, aliados junto às forças que defendem hoje a política do Governo. Eu me disponho a conversar com Senadores e Deputados que me pareçam dispostos a apoiar esta causa, e ver se conseguimos trazê-los para o nosso lado, e mobilizar a sociedade, porque as forças políticas são suscetíveis de mobilização por parte da sociedade. CARMEM LÚCIA ROQUETTEPINTO: Uma ocasião houve o perigo da Rádio ir para o Legislativo. Na época, D. Beatriz Roquette-Pinto Bojunga fez um movimento enorme, e venceu. Eu achava bom se pegar esse processo, porque ele pode ser esclarecedor. Só que desta vez não acho que deva ser na mão da família, acho que deve ser na mão da sociedade, ampla, em todos os setores. Eu posso participar, em meu nome, da minha família, filhos e netos. Nota da Redação: 1) O encontro acima foi noticiado na Folha de São Paulo, no jornal Movimento e na Gazeta de Notícias. Ele deu origem a um grupo formal de trabalho (que conta com um representante dos ouvintes e um representante dos deficientes físicos, e vem se reunindo regularmente), mas também deu origem a compromissos e iniciativas individuais. Há um abaixo-assinado circulando, em favor da democratização dos meios de comunicação e chamando atenção para a importância da sobrevivência do rádio educativo. 2) A SOARMEC dispõe de cópia da Moção de Repúdio, assinada por 67 deputados do Estado do Rio de Janeiro, e enviada ao então presidente da ACERP, 3)Não deixe de ler matéria a propósito da manifestação em Praga, na página 13. Os acontecimentos, aqui e lá, são simultâneos e simétricos. Aqui, o avanço da cidadania é mais lento, mas a questão da responsabilidade da Sociedade Civil, está no horizinte.. Quantos brasileiros têm consciência de que o os bens públicos pertencem ao cidadão? Oxalá os desdobramentos deste encontro, forneça resposta para esta pergunta. 5 6 O segundo CD da Série Instrumental Brasileiro Inédito valsa, e a peça Ventos, uma das mais difíceis interpretações do repertório do violonista, parecendo, em certos momentos, impossível de ser tocada por um único instrumento. Depois, Gibran mostrou a Suíte Caladas Estrelas, composta por músicas de diferentes ritmos, destacando-se Tangueando, uma homenagem a Astor Piazzola, que traz, de forma muito interessante, o tango de encontro à música brasileira. O violonista também tocou alguns de seus 5 Prelúdios, e encerrou com peças das Tardes Brasileiras, série de músicas inspiradas em poemas de Castro Alves. Mais um recital – o 65º –, mais um CD da Série Instrumental Brasileiro Inédito, mais um título – o 17º – em seu catálogo de discos, e mais uma demonstração de carinho por parte dos amigos e ouvintes da Rádio MEC, que compareceram em massa ao FINEP, certos de assistirem a uma noite de música brasileira de qualidade. Fábio Pimentel A SOARMEC lançou o segundo CD da Série IBI, no último dia 30 de novembro. Em noite de muita chuva, mais de cem pessoas estiveram no Espaço Cultural Finep, no Flamengo, para ouvir boa música, em mais um recital–lançamento da Sociedade. O recital foi aberto com a pianista Ruth Serrão, colaboradora de todas as horas da Sociedade, que deverá ser a próxima intérprete a gravar na Série IBI. Ruth tocou Prelúdios de Antônio Guerreiro, Guerra-Peixe e VillaLobos, de uma forma que a faz uma das principais intérpretes dos compositores nacionais. Depois, outra pianista importante: Laís Figueiró. Inicialmente sozinha, Laís tocou ‘Reverie’, de Henrique de Curitiba, e ‘Noturno para Mão Esquerda’, de Alberto Nepomuceno, uma peça rara. Em seguida, subiu ao palco o clarinetista José Botelho, que faz parte do Trio que inaugurou a Série Instrumental e é o decano do instrumento no país. Com Laís , Botelho tocou ‘Quatro Coisas’, de Guerra-Peixe – uma peça originalmente composta para um duo de gaita e piano, que o próprio Guerra-Peixe transcreveu para piano e clarinete, dedicandoa ao próprio Botelho. Acompanhado pelo piano de Laís Figueiró, o clarinetista marcou um dos momentos mais bonitos da noite. O último a se apresentar foi o compositor e violonista Gibran Helayel, que tocou uma parte do repertório gravado no CD da Série Instrumental. Iniciando sua apresentação com Brejeira, que abre o disco, Gibran já deu uma mostra do estilo de suas obras, que trazem muita influência da cultura carioca e brasileira, sem demonstrar inspiração de determinado movimento musical ou compositor em especial. Em seguida, as obras da Suíte Varanda das Serestas, uma série de choros e uma Da esquerda para a direita, de cima para baixo, em fotos de Marisa Lopes, o público do recital, a pianista Ruth Serrão, a capa do CD, o duo Lais Figueiró e José Botelho, e o violonista Gibran Helayel. O 2º disco do selo Rádio MEC V inte anos depois de sair em LP, o poema João e Joana, de Carlos Drummond de Andrade, que Sé rgio Ricardo transformou em cordel musical (para 8 instrumentos e canto), e depois em balé sinfônico, com arranjos seus e orquestração de Radamés Gnattali (num de seus últimos trabalhos), sai agora em CD pelo selo Rádio MEC. Inicialmente gravado em 24 canais, no antigo Transamérica, com a voz do autor, o LP, por questão de espaço, obrigou a uma redução da obra, que aparece pela primeira vez na íntegra, nas vozes de Chico Buarque, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Alceu Valença e João Bosco. Para que a gravação das novas vozes fosse feita no Sinfônico, foi necessário um trabalho na fita original e a transcrição para o padrão da aparelhagem do Estúdio, tudo a cargo de Roberto Montero, profissional que Sergio cobre de elogios: “Eu sabia que o estúdio é o maior, mas não sabia que um dos maiores técnicos de som, o Betinho, também trabalhava lá”. Com bom acabamento gráfico, o disco foi prensado e está sendo distribuído pela Eldorado. Casa dos Artistas 82 anos de solidariedade Associe-se: tel. 21 3392 5403 - 425 0868 [email protected] 7 Rádio MEC para quem? Carmen Lúcia Roquette Pinto S er filha de Edgard Roquette-Pinto é um grande privilégio. Não preciso repetir as qualidades de meu pai, quero enfatizar o que ele fez. Colocou sua inteligência e competência a serviço da educação e de um desenvolvimento tecnológico que trouxesse soluções para a desinformação e a falta de preparo educacional e profissional da população. Para conseguir seus objetivos, viu no rádio um grande instrumento que poderia alcançar as populações nos rincões mais afastados do país. No caso do Brasil, devese salientar que 15 milhões de brasileiros não têm eletricidade, mas podem ouvir seu radinho de pilha, ampliando sua visão do mundo, tomando conhecimento do que se passa no resto do país. O rádio deve divulgar não só cultura e educação musical, mas principalmente educação no sentido amplo, que leva o ser humano a poder exercer sua cidadania. Roquette-Pinto tinha uma multiplicidade de interesses e uma grande curiosidade intelectual, mas sobretudo uma vontade férrea de contribuir para que seus compatriotas tivessem uma melhor qualidade de vida. Não dava tanto valor ao conhecimento teórico – fechado em torno dos seus próprios louros –, mas sim ao saber direcionado para o bem comum. Quando perguntado como se definia, respondeu: “Sou uma pessoa que tem grande prazer no movimento e no trabalho manual, grande curiosidade pela natureza e um pouco de amor aos livros”. Esse “pouco de amor aos livros” era dito por ele para salientar a importância que dava à ação. Boas idéias que não são levadas à prática geram o imobilismo, nunca aprovado por Roquette-Pinto. Sabemos que estudava muito e tinha amor aos livros, mas a definição de si próprio mostra que desejava uma educação voltada para soluções necessárias ao desenvolvimento do país. Meu pai era um socialista visceral, embora não tivesse atração partidária. Seu amor pela natureza e a humanidade acabou por torná-lo um naturalista influenciado pelos alemães Goethe e Humboldt, entre outros pensadores. Na sua procura de caminhos que facilitassem a difusão da educação e da cultura no país, Roquette vislumbrou a importância da radiodifusão. Como sempre, passou à ação. A 20 de abril de 1923 nasceu a Rádio Sociedade. No dia 7 de setembro de 1936, a Rádio Sociedade foi doada ao Ministério da Educação e Cultura, passando a se chamar Rádio MEC. Estava com todos os serviços em ordem, não tinha dívidas e cedeu móveis, instrumentos, arquivo musical valiosíssimo, biblioteca e mais um terreno de 10.000 metros quadrados perto de Cascadura. Pois bem, todo esse acervo material e experiências positivas de formação da educação e cultura para a população passaram do Ministério da Educação para a Secretaria de Comunicação do governo federal quase que por debaixo dos panos, sem divulgação que ensejasse a discussão pela sociedade civil, a quem a rádio pertencia. Esse ato contraria profundamente a vontade de Roquette-Pinto e como tal deve ser denunciado. É preciso cumprir o que foi negociado no ato da doação. O controle da Rádio MEC deve voltar para o Ministério da Educação, respeitando a vontade do doador, “pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil”. Jornal do Brasil, 06/02/2001. C omo seria a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 1926, quando o rádio no Brasil mal engatinhava? Então, bastavam os dedos das duas mãos para contar as rádios instaladas no país, todas ainda identificadas pelo prefixo SQ. Apenas duas emissoras funcionavam regularmente na cidade – a SQ1A (Sociedade) e a SQ1B, Rádio Clube do Brasil. Embora inaugurada em janeiro de 26, a Mayrink Veiga (SQ1J) só transmitiria de forma sistemática no decorrer do ano seguinte, depois da entrada no ar da quarta estação carioca, a Educadora. Nesse mesmo ano saía o 1º número da revista Antenna , publicação pioneira dedicada aos assuntos radiofônicos, lançada pelo engenheiro Elba Dias, também fundador da Rádio Clube e um dos principais colaboradores de Roquette-Pinto. No facsímile da edição inaugural da revista, incluído na edição comemorativa dos 50 anos de Antenna *, completados em 1976, encontra-se o resumo das atividades da Rádio Sociedade. Aí estão, em destaque, a transmissão integral de óperas e vários cursos permanentes, além de palestras avulsas sobre arte, literatura e ciência. Embora não seja assinado, é fácil perceber nas linhas que se seguem a mão de Roquette-Pinto, que dificilmente entregaria a outra pessoa a tarefa de falar de sua criação favorita, aquela que tinha por missão trabalhar “pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil”. Luis Carlos Saroldi SQIA - Radio Sociedade do Rio de Janeiro A Radio Sociedade do Rio de Janeiro foi fundada em 20 de Abril de 1923, na Academia Brasileira de Sciencias, e installada em 19 de Maio do mesmo anno no amphitheatro de physica da Escola Polytechnica, recebendo, nessa occasião, por doação do Sr. M. B. Astrada, representante da Casa Pekan de Buenos Aires, o primeiro apparelho transmissor que possuiu. Agasalhada, a principio, na Livraria Scientifica Brasileira, occupou, em seguida, os salões do torreão da casa Guinle, de onde passou para o Pavilhão Tcheco-Slovaco, que lhe foi cedido, e à Academia Brasileira de Sciencias, pelo Governo Federal, de accôrdo com os desejos manifestados pelo Sr. Ministro da Tcheco-Slovaquia que, em nome de seu governo, havia doado o Pavilhão ao Brasil. A Rádio Sociedade seus primeiros, constantes das Brasileiras do Barão do Rio Branco, por intermedio da estação de P. Vermelha. A 7 de Setembro de 1923, já de posse da Estação Pekan que lhe fora offerecida, começou a transmittir regularmente. Na sua sede actual, a Companhia Radiotelegraphica Brasileira, installou a estação Marconi, de que se serve a Radio Sociedade. Essa estação que tem potencia no primário, de 6kw, transmittindo em onda de 400 metros, é hoje propriedade da Radio Sociedade. À Radio Sociedade se deve o inestimavel serviço de se haver batido, até a victoria de seu ideal, pelo regimen da liberdade das radiocommunicações. Essa campanha, 8 iniciada pelo officio enviado, em Abril de 1923, ao Governo Federal pela Academia Brasileira de Sciencias, de quem a Radio Sociedade é filha dilecta, encontrou éco no seio do Governo do Dr. Arthur Bernardes, especialmente no espírito esclarecido do Ministro da Viação, Dr. Francisco Sá, a quem a decana das sociedades de radio homenageou muito justamente fazendo-o seu Presidente honorario. Nascida no seio da Academia Brasileira de Sciencias, com objectivo de cultura do povo brasileiro, a Radio Sociedade tem attingido, a custa de ingentes esforços, sua finalidade. Mantém, desde sua fundacção, cursos permanentes e palestras avulsas sobre sciencias, arte, litteratura. Seus programmas são o attestado frisante do esforço que emprega por attingir seus objectivos. Suas transmissões alcançam diariamente todo o territorio nacional. As maiores summidades na sciencia e na litteratura têm falado aos ouvintes da Radio Sociedade. Einstein, de passagem pelo Rio, falou deante do microphone da Radio, enaltecendo o valor da radiotelephonia como elemento de educação, applaudindo o programma da Instituição brasileira. Mantendo sempre um dispendio de esforços elogiavel por attender a seus fins, a Radio Sociedade realizou, em seu “studio” com o concurso da “Opera Radio” transmissões integraes das operas. “Il Neo” de Henrique Oswaldo, que nunca fôra executada em publico, foi transmittida integralmente do “studio” da Avenida das Nações, com Ilustração: Gustavo Pires da Silva A obra vista pelo criador grande prazer para todos quantos no Brasil tinham grande desejo de conhecer a opera do compositor patricio. “Rigoleto”, “Amico Fritz”, “Traviata”, tambem foram executados integralmente. Da mesma forma “Stabat Mater” de Pergolesi, nunca até então ouvida no Brasil, foi transmittida pela Radio Sociedade, durante a semana Santa do anno passado. Alem da musica escolhida que irradia, mantém cursos permanentes de portuguez, francez, inglez, physica, chimica, hygiene, Historia, Geographia, além de palestras avulsas sobre arte, litteratura, e sciencia. Na sua vasta séde está installado o Curso de Radiotelephonia e radiotelegraphia (Morse) para os escoteiros que a benemerita Sociedade está organisando em um corpo destinado a servir o paiz como uma magnifica reserva de radiotelegraphistas. Eis em um rapido resumo a vida da Radio Sociedade do Rio de Janeiro que festejou recentemente o 3º anniversario e cujo conselho director é o seguinte: Presidente, Dr. Henrique Morize; Secretario, Dr. RoquettePinto; Thesoureiro, Sr. Democrito Seabra; Directores: Drs. Carlos Guinle, Luiz Betim Paes Leme, Alvaro Ozorio de Almeida, Francisco Lafayette, Mario de Souza e Angelo Moreira da Costa Lima. ( Revista Antenna, Edição Comemorativa, 1976, pg 72. ) * A Biblioteca Tude de Souza possui o exemplar da edição. A primeira Organização Social brasileira E ste é um texto de trabalho que, se a fórmula de Chaplin é correta, despertará no leitor o mesmo estado de espírito trabalhoso com que foi escrito. Além de servir como fonte de referência, ele também pretende ser o primeiro movimento para a possivel realização de um seminário, no auditório de Rádio, proximamente. Quem se preocupa com o futuro da teleducação brasileira, e mesmo com o futuro da terceirização, e se der ao trabalho de lê-lo (apesar das letras miúdas, por falta de espaço), terminará suficientemente informado sobre o tema. Nosso editor responsável resolveu arregaçar as mangase e tentar sistematizar as peripécias administrativas provocadas pelo o advento da ACERP, Renato Rocha uem consultar a coleção completa deste informativo – que já constitue a mais extensa publicação a respeito da Rádio MEC – constatará que ele vem cumprindo seu papel historiográfico, e que vem dedicando, cada vez mais espaço à administração da Rádio pela ACERP, o que, por dever de ofício, acabou por tornar-se uma espécie de karmajornalístico, que nos obriga a adiar e reformular uma edição quase pronta, como foi o caso deste número. Há exatos 3 anos, no artigo Ecos das Organizações Sociais, transcrevemos textos do professor Rogério Cerqueira Leite e do procurador Carlos Bandeira Lins, publicados na Folha de SP – respectivamente, a favor e contra o advento das OSs –, e também a opinião conciliatória do então secretário de Ciência de São Paulo. Este concluiu afirmando que, em caso de excessos, “não haverá contrato de gestão que sobreviva se desvios forem relatados pela sociedade, tendo a mídia a seu serviço.” De lá para cá, no entanto, o debate foi interrompido. Seguindo o conselho do ex-Secretário de Ciência vamos relatar, do nosso ponto de vista, o desvio evolutivo da Rádio MEC, comentando e documentando o impacto provocado pela ACERP na estrutura da emissora. O objetivo desse texto é, portanto, o de retomar a discussão do assunto e contribuir para a necessária mudança de rumos. Q 1 - Motivos da extinção da FRP O principal foi a inclusão da Fundação no Programa Nacional de Publicização, uma alternativa ao programa de privatizações. O governo, sem recursos, idealizou um modelo de gestão inédito, que persegue a educação lucrativa, a curto prazo. Mas o motivo imediato foi o projeto de reforma administrativa tocado pelo ex-ministro Bresser Pereira, que idealizou implantar nova forma de administração da TVE e da Rádio MEC, com a criação das já citadas mas não muito bem explicadas Organizações Sociais. 2 - O que são Organizações Sociais? As OSs resultam da transformação dos serviços públicos em entidades públicas de direito privado, que celebram com o Estado um contrato de gestão. Talvez fique mais fácil pensar na OS como sendo uma espécie de ONG Governamental ou Neo-governamental, como prefere o próprio Presidente da República: “as ONGs deveriam ser ‘organizações neogovernamentais’. Não no sentido negativo, de que viessem a ser absorvidas pelo governo, mas no positivo, de que viessem a ser parte do processo decisório”. 3 – A primeira OS Primeira a acredenciar-se como Organização Social, a ACERP, foi declarada de Interesse Social e de Utilidade Pública pela LEI 9.637(15/15/1998). O Contrato de Gestão é anterior à Lei citada. Foi assinado em 16 de janeiro de 1998, e transfere à ACERP os direitos de administrar bens, usar o trabalho dos funcionários e captar patrocínios institucionais. Em contrapartida, tem a missão de desenvolver e transmitir programação educativa e cultural, prestando serviços essenciais às pessoas de baixa renda. O contrato ainda consagra a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República como Supervisora da ACERP. 4 – O inconcluso debate inicial Durante a preparação do projeto das OS, foram publicados pelo menos dois estudos de alto nível. O jurista Paulo Modesto. num trabalho de 8 mil palavras intitulado Reforma Administrativa e Marco Legal das Organizações Sociaids no Brasil, estudou as semelhanças entre os processos de privatização e terceirização. Em outro texto, “ESQUERDA E DIREITA NO ESPELHO DAS ONGS”, o filósofo Paulo Arantes, usa 7 mil palavras para questionar as organizações sociais. (Brevemente estaremos disponibilizando os dois textos em nosso site. Quem não quiser esperar pode encontrá-los em http:www,informe.com.br/ e ou no nº 214 da Revista de Direito Administrativo, ou na Revista Inteligência, de fevereiro de 2000) 5 – Mais história A FUNTEVÊ – criada em 81 para administrar a TVE e a Rádio MEC – e a FRP , que lhe sucedeu, nunca gozaram de bom conceito. As duas tiveram, somados, 15 diretores diferentes – quase um por ano, o que é, note–se, a média da ACERP, até agora –, e ficaram famosas como cabide de apadrinhados. Para conservar o cabide, a FRP nunca promoveu concursos regulares e, há muitos anos, deixou de ter um plano regular de cargos e salários. Ora, entre as medidas tomadas contra os funcionários públicos, uma das mais perversas é justamente a extinção dos planos de carreira. Além de provocar esvaziamento dos quadros, expõe os que ficam a uma dieta de perspectivas, e dá origem àquele sistema “extra-oficial” de ascenção onde pontificam os grandes especialistas da tríplice arte de puxar sacos, tapetes e, também, a brasa para a própria sardinha. Este era o caldo burocrático da FRP. Extingüí-la seria, pois, extingüir também esse tipo de procedimento.E foi por isso que ninguém – incluindo a SOARMEC – se preocupou muito com a extinção da pobre coitada. A outra razão, pensávamos, é que, para uma Rádio que foi tirada do Ministério da Educação, haveria menos risco em fazer parte de uma novidade chamada ACERP do que pertencer ao órgão portavoz do governo – cuja missão não é educativa. Por isso, nosso jornal abriu um crédito para a recém-criada Associação e, há exatos 3 anos, publicou que “além de reconhecer o ineditismo da iniciativa, prefere entender que a nova OS vai proporcionar, no mínimo, mais desburocratização e transparência, e maior obtenção de recursos.” Três anos depois, o mínimo que se pode dizer é que a organiza;ão social está desorganizada, e que o projeto das Organizações Sociais corre o risco de ser confundido e avaliado em função de experiências como a que estamos descrevendo. 6 O momento é grave A nosso ver, o pau começou a crescer torto quando a ACERP, que veio substituir a FRP (aquela dos eternos apadrinhados), começou por escalar uma equipe de... apadrinhados. Ora, todos sabem que numa empresa que precisa dar certo, pessoas despreparadas não devem ocupar postos de comando. Estes seriam naturalmente assumidos pelos mais aptos, que levariam para seus cargos, além de capacidade comprovada, as imprescindíveis qualidades de maturidade emocional e de civilidade. Logo após o fiasco da Nau Capitânia, na frustrada festa dos 500 anos, um comandante da Marinha Portuguesa, Abreu Freire, declarou: “ É um escândalo! A nau era a menina dos olhos das comemorações. A execução deveria ser entregue a quem sabe e não por decisões políticas ou de amizade.” Esperamos que, com o novo capitão, a ACERP consiga chegar ao destino 7 – Perguntas para uma autocrítica É o modelo ou a sua condução que vai mal? Será que tudo aconteceu por falta de um Conselho de Administração mais atuante? Há outras razões? A ACERP precisa fazer uma autocrítica, profunda. Precisa inventar sua própria identidade. Não pode mais tentar desobrigar-se de ser transcendental a cada dia. Sua missão não é somente a de administrar a TVE e a Rádio MEC, dentro dos melhores princípios – também está em jogo uma experiência administrativa nunca dantes navegada, na qual ela é a cobaia e as duas emissoras, campos de prova. Uma associação educativa não pode se recusar a aprender. E aprender, antes de mais nada, a respeito de si própria e de seu lugar no complexo educativocultural brasileiro. 8 A burocracia é uma sementeira de ressentidos. Uma empreitada inédita pode ser, conduzida por burocratas conservadores? Cultura administrativa é o bastante para “tocar” um projeto educativo-cultural? O estado atual da Rádio MEC responde às duas perguntas: ali, a burocracia – que deveria ser “a posteriori” – tomou a frente do processo. Mas a burocracia nunca se arrisca, movimenta-se do conhecido para o conhecido, e é, por isso mesmo, o instrumento menos indicado para processos marcadamente experimentais, como o da atual tentativa de administração da TV e da Rádio. 8 – Passos da extinção A Fundação Roquette-Pinto foi extinta, em 1998 e, em seguida, sem edital de aviso ao público, publicado em jornal, uma Medida Provisória credenciou, para administrar a TVE e a Rádio – a Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto –, que foi criada, também em tempo recorde, pelos mesmos executivos encarregados de desmontar a Fundação. O que impressiona é que dentre os 6 (seis) signatários do Contrato de Gestão, apenas Paulo Malam permaneça no posto. Os outros 5 (cinco) – Sergio Amaral, Eduardo Jorge, Antonio Kandir, Bresser Pereira e Jorge Guilherme Pontes, não são mais, respectivamente, porta-voz da presidência, secretário presidencial, ministros e presidente da ACERP. Resumindo: idealizaram, assinaram, e foram embora. Mas a situação criada por eles ficou, e completou três anos. 9 – A ACERP tem alma? A TVE tem a aura de Gilson Amado, e a Rádio MEC, a de Roquette-Pinto. A ACERP, que engloba as duas instituições, poderia beneficiar-se da seriedade desse dois vetores espirituais e, somando-os, criar uma magnífica sinergia cultural, desencadeando uma “corrente” de adesões, uma verdadeira ação-emcadeia que poderia provocar um renascimento dessas idéias. Mas parece que a Associação não entendeu direito o espírito da coisa. 10– A guisa de conclusão Quem trabalho com comunicação não pode despresar as efemérides. Mas o 3º aniversário da ACERP não foi comemorado nem mereceu qualquer comentário institucional. Não há balanço de realizações, apenas balanços contábeis – conforme texto do Conselheiro, página 15. A folha de serviços da ACERP, como se sabe, é modesta. Em termos de ACERP-Rádio, os pontos mais positivos foram, sem dúvida, os CDs de Hermeto e Sérgio Ricardo (veja matéria na página 4). A característica principal da empresa tem sido o serviço de desmonte. Além de provocar a extinção da FRP, a ACERP é responsável por extinguir, também, o tradicional cargo de diretor da Rádio, o Jornal do Corredor (informativo interno), a Comissão de Funcionários, o Conselho de Programação, os Encontros de Funcionários, a autoestima, o clima de trabalho, o Setor Educativo e o Setor de Jornalismo. A transparência também foi extinta. Ignorando que a comunicação é horizontal, a ACERP verticalizou a administração, desde o início. Não temos, por exemplo, fotos da primeia assembléia da ACERP, no Sinfônico, porque a casa, naquele dia, amanheceu cheia de seguranças, os quais impediram a entrada de nossa reportagem. Assim, desde o início e ao longo desses anos, houve uma escalada de autoritarismo que só tem paralelo no tempo dos militares. Além disso, utilizando uma combinação de PDV com assédio moral, puro e simples, a ACERP logrou o maior êxodo de funcionários da história da Emissora. Profissionais dificilmente substituíveis, como o caso do técnico Ary André, e vários outros. Duas notas: 1)Poderíamos escrever mais um capítulo esclarecedor a respeito da incapacidade da ACERP, até agora, de conseguir manter uma relação horizontal com a SOARMEC, respeitando suas ações e sua folha de serviços. Fica para outro número. Vamos torcer para que as coisas mudem com o novo presidente e o novo Conselho de Administração, e que, daqui para a frente, a ACERP consiga cumprir os objetivos para os quais foi criada. Esperamos que, sob a presidência de Aspásia Camargo, o Conselho de Aministração da ACERP – que depende do trabalho voluntário de seus membros – assuma seu papel de instância democrática e locomotiva ideológica da ACERP. 2 ) Este artigo será enviado ao senador Roberto Saturnino, que, em discurso recente declarou não “saber o que quer dizer organização social”, e também aos polemistas citados no início, aos quais rogamos que retomem a arenga, e se debruçem sobre essa experiência de 3 anos. Prometemos fornecer os subsídios que estiverem ao nosso alcance, e deixamos, desde já, em suspenso, um convite para um possível seminário sobre o tema, em futuro próximo. Há algum patrocinador interessado? 9 A Rádio do meu Tempo Depoimento de Thaís de Almeida Dias Licenciada em História e com mestrado em Jornalismo, Taís foi professora da USP, e produtora da TV Cultura e da TV Record. Começou sua carreira de radialista aos 16 anos, como locutora da Rádio ITU, em São Paulo. Foi diretora da Rádio MEC de fevereiro de 1984 a abril de 85, e dirigiu a Rádio Cultura FM, de 1987 a 1995. Como Técnica de Educação, participou do grupo que implantou a 1ª TV educativa do Maranhão. Na foto, do acervo da ex-diretora, ela exibe o diploma e o troféu do prêmio Brasil, para o programa Vamos brincar. “Todos os anos, pelo Natal, recebo um cartão, enviado por Mário Dias, que reacende recordações da minha breve passagem pela Rádio MEC. Mário foi um dos primeiros funcionários a me atender, pois assim que assumi solicitei-lhe a legislação e documentos que registrassem a história da Rádio MEC. Ao lê-los, aumentaram o entusiasmo e a responsabilidade de dirigir uma Emissora de valoroso passado, mantendo, ainda, em seu elenco, grandes nomes da cultura brasileira. Passo seguinte foi conhecer os funcionários e reativar os núcleos de programadores de música, literatura, educação, etc. No meu tempo a Rádio ainda contava com um coral, uma orquestra de câmara e um conjunto de música antiga, que se apresentavam em escolas e eventos, proporcionando educação musical a muitos. As Emissoras AM e FM receberam personalidades distintas. A FM passou a veicular somente música clássica, abrindo espaços, no entanto, para programas informativos sobre arte e, também, servindose do rico acervo da Emissora, uma nova série : ‘Memórias do Rádio’. De repente, entre um programa e outro, uma inserção de poesia. A AM diversificava-se: música brasileira de qualidade, programas jornalísticos, de informação científica com a colaboração da SBPC, de esportes, de ensino, com destaque para os infantis e os de aperfeiçoamento de professores. Momentos para o jazz, bandas, atendimento ao ouvinte, literatura e muitos outros. Na programação noturna, também música erudita, além da tradicional ópera, aos domingos, às 17 horas. Na época, apareciam os primeiros CDs, a informática começava a engatinhar e havia poucos recursos para a aprendizagem de línguas estrangeiras. Sendo assim, nossa equipe investiu em cursos de línguas. Viagens musicais e culturais pela França e Itália apresentavam noções básicas das línguas desses países. Alemão e, depois, Inglês, tinham recepções organizadas, material de 10 apoio e até um radioposto foi instalado no auditório da Rádio. Para quem não acreditava no ensino via-rádio, o curso de Alemão, apoiado pelo Instituto Goethe e avaliado pela PUC, respondeu: 90% de aprovação. As bandas do Rio de Janeiro, 120 cadastradas, encontraram seu espaço na MEC AM, nas manhãs de domingo. Era uma festa quando chegavam os ônibus trazendo os fuzileiros navais e seus instrumentos, para gravações no Estúdio Sinfônico – o cartão de visita da Emissora. Dos programas educativos veio um grande estímulo. Concorrendo na categoria infantil na Espanha, ao Prêmio Ondas, conferido pela União Européia de Radiodifusão, a Rádio obteve o 1º lugar com a série ‘Vamos Brincar’(veja foto). Essa mesma série venceria, posteriormente, o Prêmio Brasil. ‘Vamos Brincar’, dirigido a crianças de 4 a 6 anos, contava com recepção organizada nas escolas pré-primárias do Município, e seus aplicadores eram treinados pela equipe de ensino da Emissora. Para esse entrosamento, muito contribuiu a Professora Maria Yedda Linhares, que era Secretária de Educação do Município. Era preciso manter acesa a mensagem deixada por Roquette: um rádio voltado para a educação do povo brasileiro. Um concurso de peças radiofônicas estava em andamento. Percebendo ser necessário que todos conhecessem melhor essa forma de radioarte, bastante difundida na Fiquei feliz e desolada. Feliz por verificar quantos discos de acetato ali estavam em boas condições, coisas raras! Desolada por não ter tempo para ficar garimpando, e cadastrando esse interessante acervo. Só me restou pedir o levantamento de tudo, antes que algum aventureiro... bem, isso é outra história. Alguns dos equipamentos antigos que lá estavam viriam compor a exposição realizada para a Semana Roquette-Pinto. 1984 foi um ano com datas marcantes. Entre elas, 25 anos sem VillaLobos e o centenário de Roquette-Pinto. Em 1985, o Tricentenário de Bach. Mais uma vez a equipe MEC se esforçou para bem realizar as comemorações. Uma série radiofônica sobre o compositor Villa-Lobos alcançou grande audiência e muitos aplausos. Lembrando o centenário de nascimento Roquette-Pinto, foi organizada uma exposição histórica, reunindo equipamentos de gravação e de rádio, além de objetos pessoais do homenageado. No Espaço MEC do Palácio da Cultura, uma semana de apresentações artísticas, conduzidas por Adelzon Alves, Haroldo Costa, Paulo Tapajós e Ricardo Cravo Albim, estrelas de primeira grandeza da Emissora. Que noite memorável ouvindo Paulo Tapajós cantar com Carlos José, acompanhados pela Camerata Carioca! Nas apresentações de música erudita, o brilho dos corpos musicais da Emissora, sob as regências de Borislav Tschorbow, Nelson Nilo Hack, Oswaldo Jardim e Maurílio Costa. Beatriz Roquette-Pinto e Thais, em primeiro plano, com a equipe de apoio da Rádio MEC, às comemorações do Centenário de Roquette-Pinto. (foto acervo de Thais) Europa, liguei para a Fundação Konrad Adenauer, na Alemanha, solicitando patrocínio para a vinda de Klaus Mehrlander, um dos mais competentes diretores do gênero. A Fundação, que programava suas atividades com 2 anos de antecedência abriu, felizmente, uma exceção para o pedido de última hora e Klaus tirou férias para vir ministrar o curso em nosso país, aceitando apenas a hospedagem como pagamento. E o curso abriu novas perspectivas de linguagem radiofônica para muitos. Para divulgar os programas criamos Boletim Informativo de Programação, enviado semanalmente aos jornais. Um dia fui até a Penha – onde ficavam os antigos transmissores – verificar o depósito de material que ali se encontrava. Incentivada pela boa acolhida às apresentações, ao vivo, a equipe prestou justa homenagem a Paulo Santos pelo seu ‘Encontro com o Jazz’ e 40 anos de Rádio MEC. O Tricentenário de Bach foi comemorado na Igreja de São Judas Tadeu, com transmissão direta das apresentações do Coral e da Orquestra de Câmara da Rádio MEC. A Igreja estava lotada com pessoas das mais diferentes camadas sociais, encantadas com o som de Bach. Às vezes, deixava-me ficar, horas após o expediente, somente para ouvir programas do acervo. Ah, os do Guiaroni! Lições de como fazer rádio. Outras vezes, ficava avaliando a forma contratual dos funcionários, tentando visualizar possibilidades de correção. Alguns contratados por CLT, outros estatutários, outros ainda funcionários federais cedidos por repartições várias. Muitos deles desempenhando idênticas funções com salários bastante diferenciados. Solicitei um estudo junto ao MEC em Brasília, mas poucos resultados foram obtidos. Pelo menos foi possível obter uma remuneração mais condigna aos músicos da Emissora, que ganhavam a metade do que custava uma só corda de violino!... Gostava muito de ir aos estúdios acompanhar as gravações. Nízia Nóbrega entrevistando personalidades do mundo das letras; a Família Bocchino com programas de música erudita; Miguel Proença, na arte do piano; Artur da Távola e suas inesquecíveis séries sobre Ravel, sobre Schumann; Zito Baptista Filho e seus conhecimentos de ópera; Marlos Nobre, Sérgio Nepomuceno, a poesia de Walmir Ayala, quantos nomes de expressão! Ainda lembro da emoção que sentia ao ver, diariamente, em sua mesinha, Floriano Faissal, que admirava desde criança. Anos passados revejo na memória os rostos entusiastas de Heloísa Maranhão, Helena Teodoro, Gizélia Fernandes, Dilmo Elias, Regina Salles, Maricéa, Maridéa, Lauro, a eficiente Maria Inês na coordenação, Gilberto meu motorista, minha doce secretária Lígia. No Setor de Documentação, registrando cada momento, Mário Dias. Difícil citar nomes entre tantos que me ajudaram e me perdoem aqueles que não foram relacionados. Todos, na verdade, compunham importantes degraus na escalada para uma programação cada vez melhor. O coronel Jorge Luiz Pessoa cuidava criteriosamente da parte administrativa. Mas a gentileza e o bom humor caracterizavam o dia-a-dia da Rádio MEC do meu tempo. Certa vez, o porteiro Jarbas barrou a entrada do escritor Guilherme Figueiredo, irmão do Presidente da República, chamando-o: ‘Ô coroa, não vai deixar a identidade, não?’ Guilherme, grande colaborador da Emissora, achou graça, mas Jarbas ‘ganhou’ um curso de treinamento para porteiros. Em Brasília, havia uma repetidora da MEC, sob a coordenação de Ildefonso Bruhn e realizando duas horas de programação local. E, ainda, a MEC coordenava o SINRED, a Portaria 568, o curso de aperfeiçoamento de professores. Era um tal de ida e vinda de malotes carregados com fitas de programas gravados, com cuidados especiais de registros para que nada se perdesse, para que tudo chegasse dentro do prazo e à contento. Era assim a Rádio do meu tempo. Ativa, cada um dando o melhor de si, todos orgulhosos de trabalhar numa Emissora pioneira e de tantas tradições. Uma Rádio que tinha seu próprio hino, uma bandeira, um destino preconizado pelo seu fundador Roquette-Pinto. Lamentei ter usufruído pouco desse convívio: um ano e quatro meses. Nesse pouco tempo, no entanto, esforcei-me para contribuir o máximo possível. Mas a Rádio MEC ofereceu-me muito mais. Foi uma grande companheira nas minhas andanças pelas ondas do rádio, uma etapa honrosa e feliz de minha vida.” Allan Lima visita a Rádio Allan Lima, depois de anos sem por os pés na casa, tornou a percorrê-la, e comenta aqui o que viu durante a visita. O trecho sobre o Centro de Memória deveria constar no livro de visitantes daquele local . Confiram. Era 1948. A vida seguia o ritmo dos bondes nesta Mui Leal e Heróica. Envergando o cáqui do Colégio Pedro II, o “Padrão”, atravessei pela primeira vez o largo portão da Praça da República, 141-A. Naquele momento, não sabia que chegava para ficar. Ali permaneci mais tempo do que o Cristo teve de vida. E Hamilton Santos e Allan Lima, em foto dos anos 60 de Manoel Ribeiro. vi coisas de que até Deus de Mário de Andrade, a legenda informa que ele escreveu duvida. Naquela época, Fernando Tude de Souza era o crônicas para a Rádio nos anos 50 (ou 60, sei lá. Fiquei tão Diretor. Baiano bom, tradutor do Como Fazer Amigos e indignado que nem tomei nota). Ora, Mário de Andrade Influenciar Pessoas, seguia à risca os ensinamentos de Dale morreu em 1945, e não me consta que tenham sido levadas ao ar crônicas psicografadas especialmente para esse fim. Carnegie e jamais dizia não. Na foto de integrantes do Reino da Alegria, Edith Os dois primeiros andares do prédio eram ocupados pelo Instituto Nacional do Cinema, cujo diretor Ada, Nancy do Nascimento, Gisela Gerlach, jovens era – imaginem! – Edgard Roquette-Pinto, pai e mãe de radiatrizes que durante anos tornaram mais alegres as tardes tudo que está aí. Doutor Roquette – como era chamado – do reino, viraram N.Ns. Até o Diretor Murilo Miranda não comandava o INC com os ouvidos ligados na Rádio. Se foi reconhecido por qualquer dos organizadores (?) do ouvia alguma coisa que o desagradasse, desprezava o já ve- museu. E por que tanta foto de dependências e pessoas da tusto elevador e escalava os degraus às pressas, para Rádio Nacional? O museu é da Rádio, não é do rádio. Revi a minha Rádio e visitei o museu, numa certa veementemente dizer que não queria mais que aquilo acontecesse (podia ser a troca do título de uma melodia ou tarde em que pus fim a um divórcio que durou quase 17 algo que tivesse ferido seus rígidos preceitos morais, como, anos. Nesse tempo, ferido por ingratidões, eu sequer passava junto ao portão do 141-A. Atravessava a rua. por exemplo, a palavra “amante”). Percorri novamente aqueles corredores que Pois é, era assim. Os speakers anunciavam: “PRA2, Rádio Ministério da Educação e Saúde, transmitindo na testemunharam a transformação do jovem sonhador num frequência de 800 kilociclos” , e havia até um Colégio do Ar, adulto compenetrado, que o tempo foi tornando cada vez com aulas regulares de Português, Espanhol, Inglês, mais exigente. Nesta casa fiz de tudo: fui ator, redator, Geografia, História e até Alemão. No corpo docente, locutor, diretor de rádioteatro, sonoplasta, coordenador de figuras como Octacílio Raínho, Aristóteles de Paula Barros, Central de Produção, superintendente... Ah, que saudade do René Cavé, cérebro e alma da Emmanuel Leontsinis, Hilde Sinnek (criadora do genial era em que a PRA-2 realmente brilhou no panorama radiométodo Aprenda Alemão Cantando). As transmissões iniciavam-se com o Hino à Vitória, fônico; daqueles tempos em que Edmundo Lys, Sadi Cabral, Luiza Barreto Leite, Mário Jorge, Telmo D. Avelar dirigiam da autoria de Gustavo Capanema, que começava assim: “Nesta hora sombria do mundo/ Hora grave de e participavam do talentoso elenco de rádioteatro; dos dias em que Arlete Pinheiro escrevia para ela própria interpretar guerra e aflição...” A guerra já entrara para o livro de recordações, mas sob o pseudônimo de Fernanda Montenegro; de quando Paulo Santos narrava, tendo como fundo a sonoplastia que o hino permaneceu ainda por muito tempo. Livro de recordações também abro agora. Como, ele mesmo, minutos antes, acabara de criar; dos anos em que aos poucos, tudo foi mudando...E como a Rádio teve o Hamilton Reis, autêntico factótum, abria a rádio às diretores, Minha Nossa Senhora! Houve de tudo: desde primeiras horas da manhã, fechava-a depois da meia noite, e violonista a dentista, brigadeiro, administrador teatral, chegava a ocupar o microfone quando faltava locutor; da amigo do Presidente, Professora (que, no intuito de acertar, época em que o Paulo Alberto Monteiro de Barros transmitia trouxe a tiracolo o Reynaldo Jardim, jornalista e radialista), o Concerto para a Juventude, talvez sem sonhar que um dia se professor (que trouxe suspensórios e um revolver, talvez metamorfosearia em Arthur da Távola. Éramos um porque tivesse desejo de “acertar”), gerente de banco e até – punhado de polivalentes entusiasmados, para quem o pasmem – um homem de rádio. O triste é que, quando eles prêmio era a realização de um grande trabalho, não a percepção de um pequeno salário. começavam a entender do riscado, eram substituídos.. Constatei, nesta minha visita, que homenagearam Algumas dessas personalidades figuram em poses e instantâneos na galeria do Museu da Rádio, sem qualquer certas figuras, dando seus nomes a algumas salas e estúdios. Na identificação. Aliás, esse museu (com minúscula mesmo) é minha opinião, nem todos com o devido mérito. Alguns dos de uma tristeza digna de ária de La Bohème. Várias pessoas verdadeiros construtores dessa obra imperecível ficaram esquecique honraram a nossa Rádio com a sua colaboração sofreram dos. Mas, nem tudo está perdido. O velho Estúdio Sinfônico o mais indigno anonimato. Em compensação, sob o retrato chama-se, agora, Alceo Bocchino. Aplaudo de pé. Este merece! Xexéo também é fã de Maria Yedda A prova é a coluna publicada em 31/1/2001, em O Globo Uma saudade puxa a outra A inda era anos 70. Já lá para a segunda metade da década. Os tablóides “Opinião” e “Movimento” faziam a cabeça da garotada universitária. Estagiário do “JB”, não sei como fui indicado para colaborar com o “Movimento”. Não era para ganhar dinheiro. A gente não ligava para isso. Mas era uma honra ter um texto assinado em jornal da oposição, quando era crime ser da oposição. Seria uma edição especial sobre a anistia. Na época, a anistia era só um sonho. E o “Movimento” escancarou com esse sonho, relatando as histórias dos exilados brasileiros. Eu deveria escrever três reportagens, recontando a injustiça sofrida, logo no início do Golpe de 64, pelos funcionários da Rádio Nacional e da Rádio MEC e pelos professores do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Brasil. Entrevistei Mário Lago, sobre a Nacional; a professora Moema Toscano, sobre a universidade; e Sandra Ribeiro da Costa, sobre a MEC. Sandra era secretária de Maria Yedda Linhares, diretora da Rádio MEC e também professora do Instituto de Filosofia. Mas por que é que eu estou falando disso? Bem, estou querendo passar para o leitor o respeito que sinto por esses nomes. Não que eu fosse um alienado na época em que fui pautado pelo “Movimento”. Mas minha aversão ao Golpe de 64 era formada por um monte de clichês. Não era muito informado. E, ao fazer as entrevistas, tive meu primeiro contato, de verdade, com aquelas histórias. Desde então, passei a admirar, à distância, Mário Lago, Moema, Sandra e Maria Yedda. Para mim, eles se tornaram símbolos de todos os injustiçados daquele período. E isso talvez explique a emoção que senti, na segunda-feira, ao abrir meu correio eletrônico aqui na redação, e me deparar com uma mensagem de Maria Yedda Linhares. Será que era a “minha” Maria Yedda? Era. E ela comentava a coluna de domingo sobre Tom, Jerry e algumas reminiscências do Metro Copacabana. Pe;o licença para dividir seu texto com os leitores. “A sua crônica de hoje me fez regredir à mocidade. Tenho 79 anos dos quais apenas 11 foram vividos em minha terra natal, Calçamento de Mecejana, Fortaleza, Ceará. O restante, descontados os dois anos de bolsa de estudos em Nova York, ainda teenager, e os de exílio (doce exílio) na França, tenho vivido em Copacabana. Copacabana sem edifícios, com praia imensa e linda, até a Copacabana da muralha de concreto de hoje. Continuando e gostando, tentando lutar contra a nostalgia, racionalizando. Dessa velha Copacabana, a que você sente tão bem, resta aquela dor, mais forte do que a de Itabira em Drummond.(...) Era também a Copacabana do meu Botafogo de Aimoré, Nariz, Zezé Moreira, Zezé Procópio, Martins, Carvalho Leite, Perácio e Patesko (Walter Alfaiate pode completar aquele time glorioso). (...) E olha que falta o rádio, falta ainda o samba de breque, faltam as brigas entre as turmas do Posto 2 e do Posto 4 (...) Pois é isso aí. Escreva sobre a saudade e isso nos faz bem ao coração. Coisas que marcaram uma época, uma cultura, um mundo antes da terrível ruptura do pós-guerra, como o nascimento de uma outra civilização.” Depois de tantos anos, enfim, tenho a oportunidade de bater um papo com a professora Maria Yedda. Um papo eletrônico, é verdade. Mas nem por isso menos agradável. E me encho de orgulho ao perceber que eu e a professora que admiro há tanto tempo dividimos as mesmas saudades. 11 Cartas ✍ Foto Marlene Barton Pedimos desculpas pelo atraso em agradecer e retribuir os votos de Boas Festas recebidos de Celso Balthazar, Mario Dias, Valderez Silva Ramos, Escola Nacional de Música, Revista Concerto, Editora José Olimpio e Tipológica Comunicação Integrada. ✍ “Fiquei verdadeiramente encantado com a maravilhosa entrevista com Fernanda Montenegro.O teor das suas inteligentes considerações deveriam chegar urgente ao conhecimento das nossas altas autoridades. Isto muito ajudaria a se obter mais investimentos educacionais. Cultura básica, cultura para alcançar o povo!Meus parabéns a toda direção desse simpático órgão. P. S. A cotação do Senador Saturnino também subiu alguns pontos no meu conceito, por suas palavras. “ G. Martinelli, Rio de Janeiro ✍ “Através de vários exemplares do AMIGO OUVINTE, tenho constatado e acompanhado uma verdadeira Guerra, que a Rádio MEC vem enfrentando. Não sei se todos os associados têm uma noção exata do que vem ocorrendo. Assim sendo, tenho a impressão de que uma das medidas importantes para a SOARMEC é tentar elevar o contingente de associados, afinal, 455 é um número de pouca expressão, considerado que mais pessoas, mais repercussão do injusto momento que nossa excelente emissora, realmente a única de Educação e Cultura, vem atravessando. Acontecimentos como o discurso do Senador Roberto Saturnino, parece-me muito importante e apresenta um aspecto altamente favorável. Particularmente, tenho um desejo e um palpite de que, no final, a Rádio MEC sairá vencedora. Terminada a novela do Piano, e que final! Felizmente, consegui assistir àquela brilhante festa, cujo destaque só poderia classificar como o próprio AMIGO OUVINTE colocou: Carolina Fecho-deOuro Cardoso de Menezes. Celso Balthazar , Itaipuaçú ✍ Sou professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e estou cursando doutorado pela Univ. Federal . A minha tese tem como tema pensar a representação de um tipo humano nacional, na década de trinta. Edgard Roquette Pinto[…]é um elemento fundamental da minha pesquisa. Pois bem. Fazendo uma consulta on line no acervo da Biblioteca Tude de Souza, constatei que existem lá duas obras que retratam Roquette: Roquette-Pinto, de Paulo Carneiro (H 1) e Edgard Roquette Pinto, de R. Ruiz de Rosa Matheus ( H 11). Essas obras não são facilmente encontradas. Em minhas pesquisas, este é o único local em que as encontrei. Gostaria de saber se há algum meio de consultá-las sem ser “in loco”, pois estou a1400 kilômetros dai. José Carlos dos Santos, Paraná. 12 • Os livros citados estão fora de catálogo, mas estamos atentos. Se encontrarmos exemplares remanescentes, enviaremos. Em nosso site, há um texto baseado neles, de autoria de Ruy Castro. Boa sorte em sua tese, e dê notícias. ✍ Achei abominável a nota publicada pela Rádio MEC a respeito da SOARMEC, justamente após dura batalha para liberar o piano Bösendorfer. Não sou membro de tal associação, mas ao longo dos anos, como ouvinte da MEC, sei que não fosse por ela a Rádio estaria mais desfalcada ainda. Sinto na grade de programação a progressiva decadência da Rádio, que só pode ser causada pelas combalidas diretorias que por ela tem passado, principalmente após sua desvinculação do Ministério da Educação. Neste momento em que a Rádio precisa de apoio de seus ouvintes e simpatizantes, sua diretoria vem desprezar a atuação da SOARMEC. […]Lamentável sob todos os aspectos o desinteresse e pouco caso da direção (por sinal apócrifa) que publicou a infeliz nota. Esperamos nós, ouvintes de tantos anos da Rádio MEC, que as autoridades deste pais abram os olhos e vejam o que está acontecendo na emissora da Praça da Republica - RJ, com seu progressivo esvaziamento que logo logo a colapsará. Esperamos que as autoridades percebam a importância do retorno da Rádio ao Ministério que a deu origem. ‘País que se preza, preza a cultura. Estado que é democrático sabe que a cultura não pode ser obra só do Estado, muito pelo contrário. E sociedade que aspira a um papel cada vez mais ativo na redefinição de seus rumos é uma sociedade que apoia a atividade cultural’. Presidente F. H. Cardoso (17/05/1995)” Alexandre Leite Turella/Rio de Janeiro •O missivista só sabe a metade da missa: a tal nota é apenas o coroamento de um processo onde todo o repertório de patologias administrativas foi esgotado. Um reparo: não confundir a RádioMEC, que tem história e metas, com a sua administradora, que só tem metas. Achamos mais pronunciamentos como o que fecha a carta. Aí vão: “Participação não é discurso de esquerda nem de direita, é democrático. Nós não temos uma tradição de participação, mas estamos criando. Temos hoje um país que avança no sentido da participação.” ( Ruth Cardoso) “Devemos chegar a um ponto de confluência entre o Estado e a Sociedade Civil. Vamos chegar lá, não sei quando nem com que personagens.” (Raymundo Faoro) ✍ “O dia 29 de setembro de 2000 é uma data que não deve ser esquecida pelos amigos da rádio MEC, pertencendo eles ou não à SOARMEC, e que nos deve fazer refletir sobre a ingratidão. Nesse dia, o programa Sala de Concertos apresentou uma de suas edições mais notáveis, com a apresentação de Carolina Cardoso de Menezes, a brilhante e vibrante decana do pianobrasileiro.Posso dizer, meninos, eu vi. O programa nesse dia, excepcionalmente, se estendeu até as 19 horas e gerou vários comentários da artista e dos apresentadores sobre o piano, de ótima qualidade e estalando de novo. Incrivelmente, nenhum dos apresentadores foi capaz de dar crédito pela aquisição do piano à SOARMEC. Eu e vários outros presentes ao evento, sabemos que a conquista desse novo piano só foi possível graças ao projeto que a SOARMEC submeteu ao Ministério da Cultura, e aos esforços constantes e incansáveis que ela teve que fazer para que o piano esteja hoje no estúdio sinfônico Maestro Alceu Bocchino. É preciso ouvir com atenção o significado de atitudes Carolina Cardoso de Menezes, num de seus últimos recitais como a acima relatada, inaugura o novo piano do Sinfônico– veja carta, ao lado, repletas de um signifie nota de falecimento na pagina 2. cado pior do que a ingratidão. Estamos falando de censura, que todo o ônus do cancelamento, possivelmente no caso presente vem de maneira dupla: pela se “queimando”.....”. Em outro trecho: omissão de créditos merecidos e pela mentira “vamos alardear que a culpa é do com a qual pretende fazer com que a governador?”. audiência acredite que foi a rádio responsável Infelizmente o Sr. Secretário prometeu e, pela a aquisição do instrumento.” não só não cumpriu,como não deu a menor Mario Lacerda, Cosme Velho atenção ao caso. Só que é muito menos complicado lançar toda a responsabilidade sobre a OSB que sobre o Sr. Secretário ou (ainda mais) sobre o Sr. Governador. “Em conversa com o Prof. Botelho, A única condição imposta pela OSB foi clarinetista da OSB, soube da notícia, saída no o pagamento do cachê aos músicos (a OSB jornal interno, a respeito do cancelamento da como Instituição não teria participação nessa inauguração do piano do Estúdio Sinfônico e verba). Como essa condição não foi da atribuição da responsabilidade à OSB por cumprida, a orquestra não pôde participar, tal cancelamento. Em prol da veracidade dos embora tivéssemos envidados todos os nossos fatos […] devo dizer que: esforços para que houvesse o evento. Fomos procurados pelo Sr. Marcos Como eu disse, foi muito mais simples Dessaune, que se apresentou como produtor colocar a OSB como responsável por tudo que do evento […]que contaria com a partici- arriscar um enfrentamento político. Essa é, pação da pianista, sua esposa, Paula da Matta. resumidamente, toda a história. Colocado diante da necessidade de Sentimos muito pelo cancelamento do pagamento de um cachê aos músicos da concerto e sentimos mais ainda que uma meia orquestra, ainda que simbólico, o Sr. Des- verdade tenha sido veiculada como saune saiu a campo e conseguiu um encontro justificativa. com o Secretário de Governo do Estado, Sr. Luis Carlos Justi Fernando William [...] com a presença do Sr. Assessor de Programação da OSB”. Marcelo Scistowicz, gerente administrativo da OSB e do Sr. Dessaune. O Sr. Secretário O missivista faz menção ao efêmero prometeu a “irrisória” (segundo palavras do “Jornal da Casa”. Na página ao lado, estamos próprio) quantia de 35 mil reais para o transcrevendo e comentando o editorial que pagamento do citado cachê. […]Tudo acer- motivou a carta, e que também lança luz sobre tado, a OSB apressou-se a confirmar a parti- o pesado clima de trabalho que se instalou na cipação da Orquestra no evento baseando-se Emissora. no tratado entre aqueles senhores. Para nossa Quanto ao episódio narrado pelo surpresa, há menos de uma semana do evento, sr.Justi,em si, é preciso alertar para o fato de fomos surpreendidos por um telefonema da que a Emissora, por toda a sua história (já Assessora do Sr. Secretário, comunicando-nos, cedeu espaço muitas vezes para ensaios da OSB) sem mais, que “não havia nenhuma verba para , não pode ser responsabilizada por atos o evento, nem haveria” ! Ficamos estupefatos cometidos pela atual administração da Rádio. com a “sem cerimônia” do comunicado. Quem botou a OSN para fora da Rádio não foi Passei um e-mail ao Sr. Dessaune, a Rádio, mas os administradores daquela época; comunicando o fato, quando tive como e quem está sendo deselegante com a OSB não resposta que a OSB teria que “assumir sozinha é a Rádio, mas a administração atual. ✍ 60 mil em manifestação por uma TV independente NA VANGUARDA P A multidão é em Praga, a foto é da Reuters, o texto é de CLAUDIA ANTUNES, colunista da Folha de São Paulo e os sublinhados são nossos. Entenda porque, na TchecoEslováquia, as coisas são assim. ovo espremido no centro da Europa, os tchecos deixaram marcas importantes na história do século 20. Em seu território, um dos primeiros invadidos por Hitler, eles produziram dois movimentos admiráveis: a Primavera de Praga e a Revolução de Veludo. Na entrada do século 21, os tchecos estão de novo na vanguarda, ao ir para as ruas aos milhares defender a independência de sua televisão pública. Uma multidão comparada à que derrubou o regime pró-soviético, em 1989, pediu há alguns dias a saída do novo diretor da TV, acusado de tentar pôr a emissora a serviço de um esquema de poder particular. Na origem dos protestos está a revolta com uma situação que já é considerada “normal” em outros países: os conchavos que imobilizam a capacidade transformadora da política. O novo diretor da TV, Jiri Hodac, é um homem do ex-primeiro-ministro Václac Klaus, que se auto-intitulava uma “Thatcher de calças” e governou (primeiro a Tcheco- Eslováquia e, depois, a República Tcheca) de 1990 a 1998. Em meio a escândalos de corrupção envolvendo privatizações, Klaus foi derrotado nas últimas eleições gerais pelos social-democratas. Mas estes, sem maioria parlamentar, acabaram formando uma coalizão informal com seus antigos rivais. A estagnação provocada pelo acordo – cuja primeira vítima foi a investigação de casos suspeitos envolvendo integrantes do governo anterior – deixou os tchecos desencantados. A nomeação de Hodac foi a gota d’água. cima da indignação, os tchecos mostraram outro sentimento raro, que no Brasil talvez nunca tenha existido realmente: a noção de que o público é do cidadão e não deve servir a interesses privados ou escusos. Aqui, incorporamos a noção de que o público é sempre ruim, não merece ser bem cuidado. Basta ver, para fazer uma analogia com os acontecimentos de Praga, a situação de penúria em que vivem nossas emissoras chamadas educativas. a O “Jornal da Casa” non olet “O imperador Vespasiano, censurado pelo filho Meio comentário para bom entendedor Tito por haver taxado os mictórios públicos, lhe Podemos pular clichês, desviar dos trechos de puro fez cheirar uma moeda proveniente dessa taxa “institucionês triunfalista”, passar por cima das omissões a para mostrar-lhe que o dinheiro não tinha propósito do novo piano, etc., mas não podemos deixar de cheiro” comentar, mesmo resumidamente, o “causo” do coprófilo Suetônio, Vida de Vespasiano Uma bomba falsa, excrementos verdadeiros e um recital frustrado, levaram á publicação de um boletim chamado “Jornal da Casa – um canal amigo”, em setembro. Com duas páginas em papel ofício (tipo news/letter), o jornal é de fácil feitura, mas, até agora, não saiu outro número. De qualquer modo, o informativo é um dos únicos documentos públicos produzidos pela administração da ACERP-Rádio, até hoje. A ele pertence o editorial que motivou a carta-resposta da OSB (veja última carta da página anterior). Tal texto também merece a transcrição (veja box á direita) porque, à sua maneira, faz menção ao pesado clima de trabalho que se instalou na Emissora do Campo de Santana. Comentário ao comentário O número anterior do Amigo Ouvinte já estava quase no prelo, quando o Jornal da Casa saiu. Mesmo assim, noticiamos o aparecimento do jornal, em-cima-da-hora, e prometemos comentar criticamente, neste número, as informações do jornal em pauta. Em posterior reunião de diretoria, porém, optamos por não gastar papel com a empreitada. As cartas que nos chegaram, no entanto, dão peso à transcrição do texto, e, tornam necessário um mínimo exame do seu teor. que emporcalhou a Emissora, desafiando a Segurança. 1)Após insinuar que “cada um que aqui trabalha deve ter honrado a mais tradicional emissora do país à sua maneira”, o redator declara-se, poucas linhas depois, surpreso porque nem todos entendem a missão da Rádio, e, mais adiante, insinua que o coprófilo revoltado age em obediência a um grupo que dá “ordens sejam elas qual forem”. Ora, pela lógica ou pela escato–lógica, o persistente espalhador de excrementos faz parte do conjunto “cada um que aqui trabalha” , e espalhar excrementos seria, então, sua maneira de honrar a Casa – o que explicaria o pleonasmo contido em “homenagem condigna”, em oposição às homenagens indignas, como as prestadas pelo espalhador. 2) O fato, ou o olfato, é que nenhuma direção da Rádio precisou enfrentar um protesto desse tipo, durante os últimos quase 65 anos. Na gestão imediatamente anterior, quando a Rádio ainda possuía Direção e dispunha de um Conselho de Programação, o que se discutia eram os altos desígnios da educação a distância, o seu poder transformador da realidade, a importância da Rádio na formação da cidadania, e outros temas aparentados. O que se discute agora é o terrorismo excremencial de um coprófilo revoltado. Tal gesto, em vez de ser considerado, em toda a sua carga , como um argumento desesperado e um símbolo de descontentamento, é rotulado como sendo de “notória pobreza metafórica”. Então, tá. Editorial do 1º e único número do Jornal da Casa “Caros Colegas, No dia 7 de setembro passado, a Rádio MEC completou 64 anos. A homenagem tornou-se um gesto pessoal e subjetivo. Cada um que aqui trabalha deve ter honrado a mais tradicional emissora do país à sua maneira. Nós, da Administração, imaginamos uma bonita festa, com o Concerto no Estúdio Sinfônico Alceo Bocchino da pianista Paula da Matta e a Orquestra Sinfônica Brasileira, inaugurando na mesma ocasião o piano austríaco recém-doado à Emissora. Por conta de uma paralização pela regularização dos salários atrasados, a OSB rompeu o compromisso na última hora e a Rádio foi forçada a cancelar o evento. O episódio, conquanto entristecedor por tudo o que envolve, não fugiu aos percalços previstos em processos de trabalho. Mesmo prejudicados pela atitude da OSB, nós da Rádio MEC reconhecemos as dificuldades que enfrentam os profissionais da música de qualidade. E outras oportunidades não faltarão nem para a Rádio MEC nem para o nosso piano, de serem condignamente homenageados. O que surpreende é que a missão da Rádio MEC, seus valores e objetivos ainda não estejam claros para todos e que gestos de vandalismo, boicotes e outras práticas extremadas, insanas e de notória pobreza metafórica substituam o diálogo, a crítica construtiva, obstaculizando o esforço de equipes desejosas de alcançar o bem-estar comum e os melhores resultados para a organização em que trabalham. Referimo-nos pontualmente à pichação dos corredores, banheiros e bebedouros com excrementos e a uma ameaça de bomba no prédio, atos que se seguiram às demissões de colaboradores da ACERP, em virtude de corte orçamentário de 24% do total do orçamento da empresa. Com relação aos dois eventos, todas as providências cabíveis foram tomadas pela gerência da casa, depois de troca de idéias para o melhor encaminhamento das questões, com colaboradores e com o representante da Associação dos Funcionários. Para desestabilizar a condução de um projeto bastam eventos como esses, desde que se encontre quem execute ordens sejam elas quais forem. Para colaborar, construir e realmente transformar é necessário um pouco mais de esforço, uma vontade firme e a capacidade de analisar contextos e olhar além das questões pessoais para enxergar o todo. E assim vão se vencendo as dificuldades, vai-se crescendo pessoal e profissionalmente e os resultados positivos, fruto do trabalho, começam a aparecer. Este boletim tem como objetivo comunicar a todos que trabalham em prol da Rádio MEC, os fatos, as opiniões, as conquistas, enfim, um pouco do muito que ainda precisamos fazer para dar à Rádio MEC o que ela espera e merece de nós.” 13 Rosinha Um passeio na BBC DIGITAL Uma olhadela na infância do “digital broadcasting” inglês, tal como apresentado no website dos serviços de rádio digital da BBC, www.bbc.co.uk/digitalradio/ V – Novos serviços Serão 5, disponíveis em todos os formatos digitais: rádio digital, Internet, satélite digital e TV a cabo. Vão continuar a tradição de música / notícias / esporte / educação e diversão, da BBC. Estão sendo feitas, atualmente, pesquisas para avaliar a receptividade do rádio digital, a serem submetidas às autoridades de cultura e mídia antes do lançamento dos novos serviços. Roberto Lanari Aí vai, para o Amigo Ouvinte, um relatorio de visita ao site da BBC Digital, onde aprendi que esses novos radinhos, de carro ou domésticos, cujas fotos saíram em números anteriores deste jornal, recebem ainda as velhas ondas de radio, só que estas transportam bits em vez de sinais analogicos. As emissoras de Radio do primeiro mundo estão passando por uma reviravolta geral de equipamento para poder distribuir som de CD. E os grandes transmissores e antenas poderosas continuarão a existir. Isto corre paralelo ao Web Radio. A Internet dispensa os transmissores e antenas, mas não atinge ainda os carros. Notas da visita ao site da BBC I – Analógico versus Digital 1)Sinais de rádio digital são bits que viajam em ondas de rádio, resistem a interferências e proporcionam audição livre de ruídos. 2) O sinal de FM (analógico) de grande cobertura tem necessidade de muitas freqüências para se sustentar. O digital usa o espectro com mais eficiência e oferece mais “espaço” para outros serviços. 3) A tecnologia de Single Frequency Network faz com que o mesmo espectro seja usado para uma ampla área de serviços. Permite a cobertura de uma grande área geográfica por rêde de FMs transmitindo o mesmo sinal, significando que o motorista/ouvinte viaja sem precisar re-sintonizar. II – Como funciona o Rádio Digital ? Combinando duas tecnologias digitais: MUSICAM, um compressor como o MP3 e COFDM – Multiplex, que aumenta a redundância dos sinais eliminando interferências e baixa propagação III – Multiplex, que é isso? É um método de transmissão de dados que permite, num mesmo canal de frequência, diversas programações e serviços adicionais. Na BBC, são 16 canais nacionais e 16 regionais e locais. Existem 7 Multiplex na Grã-Bretanha, um deles é da BBC. VI – Que aparência terão os rádios digitais ? Vantagens do multiplex: som cristalino (CD), sem interferência ao longo de vastos territórios de recepção.Não usa compressão de Áudio, como a FM. IV – Serviços já disponíveis da BBC digital BBC Radio 1: música para público jovem. Novidades e shows (ao vivo). Noticias, ação social, musica e documentarios. A regra da estação, no front da programação de musica contemporânea, é sempre assumir riscos para encorajar a inovação e descobrir talentos • Sintonizador hi-fi Os que já existem são assim: 2 tipos, só digital (DAB, digital audio broadcast) ou FM também. Possuem tela onde aparecem os créditos das canções ou notícias. • No carro Consistem em cabeças para uso nos players de cassetes ou CD do mercado. Uma unidade de hardware de rádio digital fica embaixo do banco e há uma antena digital compacta. BBC Radio 2: celebra a herança da música e da cultura popular. Do folk ao jazz e do country às grandes orquestras. Programação de ação social, religiões, documentários variados , interesse do consumidor, etc. • Nos computadores A Bosch já está fazendo placas para PCs que permitem a recepção de rádio digital (e assim o uso da internet pelo rádio). Ouve-se a melhor música mas também acessa-se os novos serviços de dados. BBC Radio 3 lidera a faixa da musica clássica e da alta cultura. 50% da musica programada é ao vivo ou encomendada. Jazz, drama de maior fôlego, documentários sobre artes e especiais. • Sistemas hi-fi A segunda geração de sintonizadores digitais será incorporada aos sistemas hi-fi mini ou midi do mercado: CD + Mini-Disc + Digital Radio. BBC Radio 4 é o endereço da fala inteligente: notícia fundamentada e em profundidade, mas também da programação de alta qualidade em documentários e entrevistas, muitos com temas especiais, drama (radioteatro), leituras, comédia, ciência e arte. • Portáteis O 1º rádio portátil digital – “Roberts” – já foi lançado. A bateria ainda é meio grande. BBC Radio 5 Live é um serviço 24 horas de noticiário ao vivo e esportes, os mais importantes eventos enquanto acontecem; análise e debate. Já existe há 5 anos. BBC Radio 5 Live Sport Plus: espécie de ajudante da anterior, serve para complementar a cobertura esportiva em dias de muitas provas, jogos, etc. •Os primeiros digitais domésticos custaram entre 800 e 1000 libras • Blaupunkt lançou um módulo p/ rádio digital que se conecta aos seus modelos de rádio já existentes á sete anos, aquela que foi a melhor violonista popular brasileira sofreu duas paradas cardíacas, sobreviveu, mas parou de tocar, de falar, de ouvir, de andar ou de fazer qualquer movimento coordenado. Após meses de internação, foi levada de volta para a cidade cujo nome está colado ao seu. E lá, numa casinha de fundos, ela vem sendo cuidada por sua diligente irmã, Maria Geracina. A família não tem recursos. Quem quiser ajudar com dinheiro, pode fazer depósito na conta nº 36676-5, da Agência 04049 do Banco do Brasil, em nome de Maria Rosa Canelas – nome de batismo da artista. Quem quiser ajudar com fraldas ou medicamentos, telefone para 0-xx-24-4522659 e combine com a própria irmã de Rosinha. ENTRE PARA A SOARMEC receba este Jornal esteja em nossos eventos freqüente nossa Biblioteca mantenha-se informado a respeito do Rádio Educativo alimente nosso Website: www.soarmec.com.br Tel. 221.7447 R-2207 e 2210 • Carros BMW já vêm com novos rádios digitais Sony e Pioneer • Outros fabricantes: Clarion, Cymbol, Grundig (nos Fiat e Alfa), Kenwood, Psion (placa de PC), Roberts, Technics. 2001 - ANO INTERNACIONAL DO VOLUNTÁRIO O Brasil já é o 5º país do mundo em voluntariado: 26.000.000 (vinte e seis milhões) de brasileiros fazem algum tipo de trabalho voluntário. 14 H Aviso aos leitores cadastrados O jornal felizmente cresceu, mas os seus custos, infelizmente, também cresceram. Para reduzí-los vamos ter que cortar nas despesas de distribuição. Assim, avisamos aos nossos quase 600 leitores cadastrados (que não são sócios), que, a partir do próximo número, não estaremos, infelizmente, remetendo seu exemplar pelo Correio. Coluna do Conselheiro Paulo M. Borges P articipei de mais uma reunião do Conselho de Administração da ACERP, a terceira e última do ano, realizada no estúdio 3 do Centro de TV. Estavam presentes a Presidente do Conselho, Aspásia Camargo, e os Srs. Alexandre Machado, Marcos Formiga, Roberto Muylaert, Arthur da Távola, Jane Carol e o Secretário de Avaliação, embaixador Sergio Florêncio. A reunião tinha como assuntos principais o Planejamento Estratégico da ACERP para 2001 a 2003 e o Plano de Trabalho da ACERP, segundo diretrizes da SECOM, a avaliação financeira e administrativa e a Reestruturação Organizacional da Empresa. Aspásia Camargo pareceu-me muito preocupada com os rumos da ACERP para o futuro e da ambigüidade que norteia o contrato de gestão com relação ao repasse das dotações destinadas a Empresa, haja visto que, no ano de 2000, foi iniciado com a previsão de 16 milhões, caiu para 13 e estacionou em 10 milhões, o que cumulou um déficit de 5,5 milhões para este final de ano. A Presidente do Conselho acha que nos próximos meses a Empresa tem que tomar uma atitude de buscar no Governo o apoio financeiro juntamente com a busca do apoio cultural para a programação. Aspásia conclamou os Conselheiros Marcos Formiga e Roberto Muylaert para avaliar a programação para melhorar a programação e aumentar a audiência com previsão de que esta mudança seja notada a partir de abril no vídeo da TVE. O embaixador Sergio Florêncio em sua explanação informou que só foi possível o repasse dos 5,5 milhões para cobrir o déficit da ACERP pela real transparência da Empresa e pelas reformas internas profundas que estão sendo realizadas. Foi proposto pelo embaixador a criação de um cargo de auditor de controle interno, para acompanhar a gestão da ACERP. Entre outras diretrizes foi criada a Diretoria de Comercialização e Marketing. O conselheiro Roberto Muylaert salientou que a dotação destinada à ACERP é insuficiente e que as duas únicas maneiras de superar esta deficiência é a especialização em algum nicho onde esta verba seja suficiente, trazendo audiência ao nível que uma TV Pública exige; a outra é aumentando a receita. O diretor-presidente Mauro Garcia, em sua explanação informa que a Empresa não está parada, mas que as dotações do contrato mal NÚMEROS DA CAO Tabulação feita por Renata Mello com base nos relatórios semanais da Central de Atendimento ao Ouvinte, de 01/10/2000 a 09/01/2001 cobrem as despesas, pois o orçamento não é fixo, ou seja, não temos como investir em produção. Mauro informou que a atual estrutura da ACERP foi reduzida de 70 para 30 cargos e que está sendo abandonado o projeto de telejornalismo público de “hard news”, que tem alto custo, para atacar o jornalismo interpretativo na faixa das 22 horas. Entre outras medidas, será desativado o sistema MEC-SAT, uma vez que não foi possível formar a “Rede de Rádio”. Será desativado o prédio anexo (em frente a TVE), para redução dom despesas de aluguel. Em sua explanação, o conselheiro Arthur da Távola ponderou que o Governo não tem política de comunicação, e citou a RADIOBRÁS e a ACERP, cada qual com sua política de comunicação e caminhos diferentes. O conselheiro acha que falta ao Governo debruçar-se sobre esta política. O senador também voltou a tocar no assunto da possibilidade de que algum membro da SOARMEC ocupe uma vaga no Conselho de Gestão. Finalmente, deixo aqui minha impressão de que 2001 será um ano decisivo para a ACERP. Ou nos projetamos como um canal de eficiência para ganhar o mercado ou estaremos sucumbindo e entrando no clube das empresas que não deram certo por não encontrar seu nicho. Um ano repleto de realizações, com harmonia e que a saúde não nos falte. Feliz 2001! Ligações: 2013 em 101 dias, o que dá a média de 19,9 ligações diárias MEC AM Total de ligações 1627 • Para o Manhã Viva • Para o Cia. do Samba • Atendendo aos ouvintes • Para Defesa do Consumidor • Informações e sugestões • Reserva Ao Vivo ent. Amigos • Reservas p/ Parede 800 AM • Participaram de promoções 678 325 203 124 94 89 84 30 MEC FM Total de ligações 386 • Participaram das promoções • Informações e sugestões • Reservas Sala de Concerto • Pedidos p/ Conexão Direta • Reclamaram da sintonia • Pedidos de grade 125 115 102 22 14 8 Central de Atendimento ao Ouvinte - CAO ☎ 252 8413 (22/12/2000) O QUE PODE RENDER UM VÃO DE ESCADA C Apoio Cultural Configuração atual Foto J.C. Mello omo já noticiamos, o Bazar da Sociedade, que funcionava no vão de escada do 2º andar, foi desativado. Os livros foram doados a bibliotecas; e os discos, a ouvintes e colecionadores. Precisavamos do espaço para nossa tão necessária sala de informática. Ali, brevemente, estaremos editando nosso jornal , mas, principalmente – assim que pudermos adquirir os programas (softwares) necessários–, estamos criando comdições para ampliar o site da SOARMEC, tão pobrezinho, ainda. Já adquirimos um terço do equipamento (hardware) que vamos precisar. Para fazer frente à necessidade de softwares e ptransformar as possibilidades do site em realidade, já estamos com um projeto pronto e encaminhado. Vamos torcer. •1 Microcomputador Itautec, com Processador Athlon, 128 MB de memória RAM, HD de 20Gb, DVD Rom e Gravador de CDs • Softwares: Windows 2000 e Office 2000 •1 monitor LG de 17 polegadas; •1 Impressora HP Deskjet 640C; •1 Scanner de Mesa, Genius •1 telefone de mesa, Siemens •1 estabilizador de voltagem UPS-AI •1 ar condicionado Consul Air Master •Para receber este equipamento a sala recebeu pintura e instalação elétrica novas, •Insufilm nas janelas e uma bancada em curva, feita sob medida para o espaço. •Reformamos ainda três cadeiras e adquirimos duas Giroflex. CURSO DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA Toque um instrumento! Participe de conjuntos! Crie sua música! Cante! Os melhores professores de música popular brasileira estão no CBM Informações e inscrições:Tel/fax (021)240 6131 / 2405481 /240 5431 e-mail: [email protected] – www.cbm-musica.org.br 15 PROGRAMAÇÃO Excepcionalmente, não estamos publicando, neste número, as grades de programação AM e FM, que ainda estão sujeitas a chuvas e trovoadas. Em compensação, estamos publicando 3 textos a propósito da programação. O comunicado, á direita; a carta do ouvinte Albert Kok (de 22 de janeiro), a qual contém a expressão O OUVINTE PERMANENTE MANÍACOS, OBSESSIVOS E CONTUMAZES Carlos Acselrad D iz aqui o Aurelio que saudosismo é o gosto ou tendência a superestimar o passado. Não é crime. O saudosista não desvia verbas públicas nem negocia votos. Na pior das hipóteses chateia os amigos mais jovens com chavões como “no meu tempo, sim! aquilo é que era rádio”. Mais que gosto ou tendência, o saudosismo – assim como o subúrbio, que não é um endereço – é um estado de espírito. Falo, no caso, de certos tipos de ouvintes de música clássica que se poderia chamar de contumazes. Pergunto a um deles, à guisa de sondagem: “E a Mec FM?”. Responde, acho que sem pensar: “Ah, que maravilha!”. Julgo evidente que ele se refere a música em si, não à emissora. O contumaz é assim; já se sente gratificado pelo simples fato de ouvir; não percebe – ou não se importa – que venha ouvindo há algumas semanas a mesma sonata de Beethoven com Zino Francescati seguida, invariavelmente, pelo Galope Final do balé Copelia, de Delibes. Boa parte dos contumazes deixam ver seu exclusivo interesse pela música ao acrescentar: “A Rádio Opus FM, né? Pois é, ainda bem que temos esta beleza de estação de música clássica” (confundindo com a extinta Rádio Opus 90). Pouco acima do contumaz aparece o obsessivo – atento e informado, já ostenta certa consciência de classe, aproveitando para reivindicar alguma coisa. Não tem muita certeza mas acha que tem direitos a defender: “Você não pode dar um jeito nessas valsas vienenses? Não é possível! É valsa vienense todo dia de manhã, todo santo dia!” . O obsessivo é, além disso, um implacável: sente-se lesado quando surpreende um locutor em luta (compreensível) contra um regente russo de nome Rozdestzvenski, ou atropelando mortalmente uma conhecida orquestra que vira “Osquestra Bostonspop, regente Astusfidels”. O termo de comparação para o obsessivo são as outras emissoras, onde jamais ocorrem mortes súbitas nem chamadas até competentes, com texto e fundo musical, terminando com o tradicional “não perca”, pecando apenas por detalhe: o programa foi ontem. Eis que nos deparamos, agora, com um terceiro espécime, talvez um misto de contumaz e obsessivo. Para simplificar chamemo-lo, simplesmente, maníaco. A rigor, é o verdadeiro saudosista pois seu termo de comparação com a Rádio MEC de hoje é aquela de algumas décadas atrás. Sua experiência lhe valeu constatar que o rádio que se propõe cultural e público não se condena a, simploriamente, substituir o disco e o fonógrafo nos longínquos rincões (geográficos ou econômicos) sem acesso à música. A rádio pública e cultural pode ser – e era – o lugar da palavra, do drama, do debate, e da notícia, e claro, da música – toda música, qualquer música –, contanto que explorada, aproveitada e direcionada, e não apenas burocraticamente usada para justificar o espaço que ocupa. O maníaco espera recuperar tudo isso; enquanto espera percebe o quão longe passa a rádio MEC FM de hoje daquilo que poderia ser. Ainda assim, percebe também uma certa força, certo mistério, talvez a surpresa que pode lhe reservar, a novidade ou a velharia, que seu tempo não lhe permitiu descobrir. Assim se explica a tolerância do maníaco: lá está ele. Ainda uma vez – a oitava nesta semana – a ouvir aquela sonata de Beethoven. Pensa: o que virá depois? O inevitável Galope final do balé Copélia? Ou quem sabe hoje não, certamente eles estarão aprontando alguma novidade, quem sabe?... O maníaco não desiste, não abre mão dos seus direitos, não perde a pose – nem mesmo quando, depois da sonata, o locutor anuncia: Galope final, do balé “Copélia” de Leo Delibes. “ouvintes permanentes “, que pedimos licença para adotar como título da coluna, que também deve passar a ser permanente, estreada, hoje, pelo artigo de um dos mais assíduos ouvintes da Emissora, o nosso diretor de comunicação, que escreveu o seu texto em dezembro. Confiram. CARTAS ✍ Sr./Sra. Responsável pela programação Em 04.01.p.p. enviei uma carta/fax, às 17h40, tratando do assunto repetições em excesso. A carta estava cheia de erros de datilografia causados pela raiva do momento. Permita-me voltar ao assunto, pois, não gostaria que a Rádio MEC FM começa (sic) a expor-se ao ridículo perante os ouvintes permanentes. Constatei que programas inteiros estão sendo repetidos, programas de uma e duas horas de duração, que num certo dia se ouve às 2 h da tarde, se repetem no dia seguinte ou o dia depois às 8 da manhã e uma terceira vez às 10 da noite, etc.etc. Na semana passada até inclusive sábado, escutei o Quarteto nº 3 para Sopros de Rossini uma dúzia de vezes! Será que a nossa Rádio MEC está tão pobre de material de difusão? Também programas especiais estão sendo repetidos em excesso, por exemplo “Nas asas da Canção” […] Estou ciente que para Vv.ss. não tem importância alguma, mas, se a programação continua assim, vou dar um tempo e descartar a Rádio MEC por algumas semanas, para evitar que minha predileção por música erudita entre em perigo. Atenciosamente, Albert Kok Trav. Madre Jacinta 16/502 CEP 22451-140 Rio de Janeiro Transcrição Comunicado da ACERP (03 / 01/ 2001) Tendo em vista as novas diretrizes formuladas pela Presidência, e aprovadas na última reunião do Conselho de Administração da ACERP, referentes à programação das Emissoras, informo que foi decidido e comunicado a esta Gerência: 1º MEC AM – Deixa de veicular programação jornalística, inclusive dos comunicadores e debatedores, passando a ter apenas programas e planilhas musicais, revistas e notas culturais, buscando inserir clássicos brasileiros e eruditos (sic), objetivando faixas comuns entre MEC AM e FM; 2º MEC FM – Mantém sua linha de programação, alterando os espaços destinados às óperas, deixa também de veicular programação jornalística, como a MEC AM, e deve inserir clássicos brasileiros, promovendo faixas comuns entre a FM e a AM; 3º ESTÚDIOS DE GRAVAÇÃO – Deverão implementar a locação para a gravação de CDs e trilhas sonoras; 4º SELO RÁDIO MEC – Aumentar a produção de CDs. Desta forma ficou assim definido o novo conceito das Emissoras: MEC AM – Rádio da produção cultural do Brasil, a partir do pólo do Rio de Janeiro; MEC FM – Rádio de produção musical clássica, erudita e instrumental, dos grandes nomes e dos novos talentos da música nacional e internacional. A Gerência está tomando as providências necessárias a tais determinações, tendo em vista o quadro de reduções de pessoal, estará comunicando os setores envolvidos as soluções decorrentes dessas mudanças.’ Reflexão, e informação sobre a música A revista da Academia Brasileira de Música Faça sua assinatura anual (R$20,00) Telefax (21) 205 3879 • www.abmusica.org.br • [email protected]
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