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Revista Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação - ARC - Vol. 3 - Edição Especial
Curso de Introdução a Conservação e Restauro de Acervos Documentais - CICRAD - Trabalhos de fim de Curso
Copyright © 2011 AERPA Editora
Convênio AERPA - CFDD do Ministério da Justiça - no 748319/2010
A RELAÇÃO DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DOS EDIFÍCIOS
DE ARQUIVO COM A PRESERVAÇÃO DE ACERVOS DOCUMENTOS
Rosane Vieira Sobreira - Bacharel em Arquivologia pela UFBA
Introdução
As instituições de custódia de acervos arquivísticos
permanentes, ou seja, de valor histórico e cultural,
precisam estar bem informadas sobre os riscos e as
ameaças que podem comprometer a integridade dos
documentos. A pesquisa possui como ponto temático
central os edifícios que abrigam instituições
arquivísticas com esse tipo de documentação, a
permanente.
O objetivo da pesquisa foi o de reunir elementos
que evidenciassem a influência do estado de
conservação dos edifícios sobre o estado de
conservação dos acervos, ou seja, a influência que as
patologias da edificação têm sobre o aceleramento dos
processos de deterioração dos acervos documentais.
Com isso, busca-se auxiliar na elaboração de políticas
de preservação que contemplem a identificação e a
eliminação das patologias existentes no edifício,
favorecendo a conservação do patrimônio documental.
A investigação se justifica pelo fato de que acervos
de arquivos históricos fazem parte do nosso patrimônio
cultural e por isso devem ser preservados, diante desse
fato é fundamental a identificação de elementos que
auxiliem no combate à degradação.
Materiais e Métodos
Para a realização desta pesquisa descritiva, foi feito
o levantamento bibliográfico. Foram utilizadas as
seguintes fontes: livros, artigos e periódicos
disponíveis em meio eletrônico. Após a coleta e leitura
do material bibliográfico, iniciou-se a elaboração do
referencial teórico, a identificação de algumas
patologias que ocorrem nos edifícios e suas possíveis
causas e relação com o aceleramento dos processos de
deterioração de acervos históricos.
Resultados
A história dos arquivos demonstra que acervos de
valor permanente, custodiados por arquivos públicos,
têm sido danificados e destruídos ao longo dos anos. A
causa se deve, especialmente, à falta de recursos
financeiros das instituições, já que muitas ações
destinadas à preservação do acervo apresentam custos
elevados, o que dificulta sua adoção. O manuseio
inadequado de funcionários e usuários da instituição,
também, é apontado como um dos principais fatores
que comprometi a integridade dos acervos
permanentes, pois, os mesmos danificam e aceleram os
processos de deterioração dos documentos.
Para minimizar os efeitos que agentes de
degradação - internos, ambientas e humanos provocam nos acervos documentais é importante a
concepção e implementação de uma política de
preservação por parte da instituição custodiadora.
Para melhor compreendermos o motivo pelo qual a
existência de uma política de preservação é
considerada importante para a salvaguarda de
documentos históricos, torna-se necessário fazer breves
esclarecimentos conceituais de termos que estão
intimamente relacionados com o assunto, são eles:
preservação, conservação e restauração.
Segundo Silva, os conceitos dos termos
preservação, conservação e restauração estão sendo
amplamente discutidos no mundo e, pelo que parece,
não há consenso na literatura. A dificuldade em se
definir os conceitos se deve à “[...] mistura de
significados entre os termos [...], como também no que
concerne ao seu uso entre os organismos
internacionais” (1998, p. 1).
Costa acredita que, apesar da existência de várias
definições para o termo preservação, todas concordam
que ela pode ser entendida como um “conjunto de
medidas e estratégias de ordem administrativa, política
e operacional que contribuem direta ou indiretamente
para a proteção do patrimônio” (2003, p.3). Silva,
completa dizendo que a preservação “[...] é o ‘guardachuva’, sob o qual se ‘abrigam’ a conservação,
restauração e a conservação preventiva” (1998, p. 2).
Com relação ao termo conservação, Adcock (1998
apud LLORCA, 2007, p. 6), define como as “[...]
practicas específicas para frenar el deterioro y
prolongar la vida de um objeto mediante la
intervención directa em su aspecto físico o químico
[...]”. O autor cita como exemplos o restabelecimento
de encardenações e a desacidificação do papel. É
atribuída a conservação a tarefa de identificar as causas
de degradação; definir as medidas preventivas e
corretivas; e acompanhar e avaliar desempenho das
medidas adotadas.
No que tange a restauração, Soares e outros, nos
apresentam a seguinte definição, “[...] constitui-se de
procedimentos reversíveis que devolvem à obra, na
medida do possível, as propriedades perdidas ou
danificadas por agressões externas, através da
utilização de materiais que não agridam a integridade e
originalidade da obra, respeitando sempre as técnicas e
propriedades usadas na confecção da mesma”
(SOARES et. al., 2004, p.2).
Diante das definições acima expostas, é possível
considerar que as intervenções destinadas à
salvaguarda de documentos estão divididas em três
níveis de atuação: o primeiro nível destina-se à gestão
e ao planejamento de medidas de prevenção; o segundo
nível abrange as técnicas específicas que são realizadas
no cotidiano para retardar a deterioração do material,
prolongando a sua vida útil; e o terceiro nível ocupa-se
com a recuperação dos materiais, que se encontram
bastante danificados, através de conhecimentos
específicos.
É importante destacar que, as ações de conservação
devem ser empreendidas para evitar que documento
sejam enviados para a restauração, já que essa última é
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uma atividade técnica dispendiosa, que necessita da
aquisição de materiais e equipamentos que são de
elevado custo, além de profissionais especializados na
área. Além disso, se o documento restaurado for
enviado ao mesmo local de guarda, sem antes serem
identificados e eliminados os agentes causadores dos
danos, certamente os investimentos feitos serão em
vão, desperdiçando recursos financeiros.
Com base nas exposições conceituais dos termos
anteriormente citados podemos, agora, compreender a
importância e amplitude que uma política de
preservação tem. Tendo como referência Lino (2006) e
outros, trazemos o seguinte entendimento sobre uma
política de preservação “[...] é um tipo de ação de
âmbito superior, que engloba o desenvolvimento e
implantação de planos, programas e projetos de
preservação de acervos. Possui objetivos, limites e
diretrizes para atingir um resultado. Visa definir
orientações globalizantes, sistemáticas e contínuas a
serem alcançadas, que são consideradas as linhas de
trabalho institucional [...]” (LINO et al., 2006 p.6).
Dentre os elementos necessários para se constituir
um programa de preservação, podemos destacar: a
reunião de documentos necessários ao planejamento do
programa
(objetivo,
políticas
e
diretrizes
institucionais); o diagnóstico das atuais condições do
edifício onde o arquivo encontra-se sediado, além do
diagnóstico dos acervos, para conhecer as necessidades
e os procedimentos que devem ser adotados para que
sejam definidas prioridades e critérios para o
tratamento do acervo, utilizando os recursos
disponíveis da melhor forma possível.
Conway alerta que “o maior obstáculo para o
desenvolvimento e a administração dos programas de
preservação é a carência, não de dinheiro, mas de
conhecimento [...]” (1996, p. 7 apud SILVA, 1998,
p.3). O autor argumenta que as restrições
orçamentárias sempre existiram e sempre existirão,
mas o problema maior reside no fato de que os gestores
dos arquivos não sabem o que convém ser feito e como
deveria ser feito para minimizar/retardar o processo de
deterioração dos documentos. Por isso, é importante
ressaltar que, para se elaborar uma política de
preservação capaz de apresentar bons resultados, é
importante que os indivíduos envolvidos na sua
concepção também estejam bem informados sobre os
riscos e as ameaças que podem comprometer a
integridade dos documentos.
Agentes de degradação de acervos documentais
Os agentes responsáveis pela destruição de
documentos, segundo Mársico (200-?, p.2), podem ser
classificados em três categorias: “fatores internos de
degradação; fatores externos ou ambientais de
degradação; e ação do homem sobre o acervo”. Esse
trabalho propõe a associação de uma quarta categoria,
a ocorrência de desastres/sinistros, tanto naturais como
provocados pelo homem. No intuito de contribuir para
um melhor entendimento dos agentes de degradação
dos acervos documentais, optamos em apresentar a
descrição das quatro categorias acima relacionadas.
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Sobre os fatores internos de degradação, de
documentos com suporte em papel, podemos dizer que
eles “estão ligados diretamente à composição do papel
tais como: tipo de fibras, tipo de encolagem, resíduos
químicos não eliminados, partículas metálicas, [...]”
(COSTA, 2003, p. 3).
Para Fonseca, “por mais complexos que sejam os
problemas de conservação em bibliotecas e arquivos
face aos agentes biológicos e físicos [...] o mais
perigoso dos inimigos dos documentos vem menos de
fora do que de dentro deles. [...]. Trata-se da acidez do
papel e da tinta: um fator, portanto, diferente dos que
vimos até agora porque não é de natureza biológica
nem física, mas química” (1975, p.19).
Diante desse fato, podemos afirmar que é
impossível evitar que não haja a manifestação desse
fator de degradação. Contudo, a descoberta deste
agente de degradação é tida como um fator que
revolucionou a conservação de documentos, pois antes
as ações estavam direcionadas apenas para o combate
aos agentes biológicos, passou-se então, também, a
propor a fabricação de papel neutro e a exigir mais
qualidade na produção (FONSECA, 1975).
Sobre os fatores externos de degradação, podemos
subdividi-los em três categorias de agentes de
deterioração: físicos, químicos e biológicos.
Os agentes físicos se referem à radiação
ultravioleta, temperatura e umidade relativa do ar. A
radiação ultravioleta é emitida por qualquer fonte de
luz, seja ela natural ou artificial. A sua incidência sobre
o papel provoca a destruição da lignina, polímero
orgânico responsável pela união das fibras celulósicas,
do qual o papel é constituído e que lhe confere firmeza
e solidez. O rompimento da estrutura das fibras, em
unidades
cada
vez
menores,
resulta
no
enfraquecimento do papel, acelerando o seu
envelhecimento. Outras conseqüências são o
desbotamento e o escurecimento de alguns papéis e
algumas tintas. Os danos provocados pela radiação
ultravioleta são irreversíveis e prolongam-se mesmo
após o término do período de exposição (COSTA,
2003).
A umidade relativa do ar (UR) é entendida como a
“quantidade de vapor de água contido em um
determinado volume de ar a dada temperatura (T) e a
quantidade máxima de água que este volume poderia
conter sem verificar o fenômeno de condensação”
(COSTA, 2003, p.4). Sua inserção nos ambientes pode
ocorrer de forma “[...] intencionalmente (por exemplo,
de umidificadores), acidentalmente (por exemplo, de
vazamentos ou inundações) ou gradualmente (por
exemplo, de materiais que absorvem umidade, como
livros ou madeira); ou de mudanças na temperatura
(causados, por exemplo, por aquecimento ou
refrigeração do ar). [...] estes fatores atuam uns sobre
os outros para aumenta ou diminuir a UR” (OGDEN,
2001b, p. 23).
Elevadas temperaturas aumentam a quantidade de
água contida no ar, assim como a brusca redução da
temperatura ocasiona a redução da quantidade de água
que o ar comporta, provocando a condensação da
umidade e o aparecimento de gotas de água (COSTA,
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2003). As variações de temperatura associadas às
progressivas inserções e retiradas de umidade do ar
provocam alterações no teor de umidade dos materiais
de arquivos, acelerando os processos de deterioração.
Conforme Costa (2003, p.4), “o desequilíbrio da
temperatura e da umidade relativa provoca no acervo
uma dinâmica de contração e alongamento dos
elementos que compõem o papel”, isso se deve ao fato
de que o papel é um material higroscópico, ou seja, ele
absorve e perde água facilmente, o que o torna
vulnerável a danos provenientes do ambiente onde se
encontra. O constante movimento de contração e
dilatação provoca a ruptura das fibras do papel, sendo
essa uma das razões do seu enfraquecimento. O
desequilíbrio
ambiental
também
favorece
o
aparecimento e a proliferação de agentes biológicos de
degradação e a formação de ácidos.
Os agentes químicos estão relacionados com a
emissão de partículas e gases tóxicos na atmosfera. As
partículas constituem “[...] a parte sólida de dimensões
microscópicas dos poluentes” (COSTA, 2003, p. 5),
composta de pó, fuligem e esporos de
microorganismos. Costa (2003) destaca que os gases
tóxicos são os poluentes mais perigosos para os
documentos, por serem reativos. Dentre os mais
perigosos estão: o dióxido de enxofre, os óxidos de
nitrogênio, os peróxidos e o ozônio. Há que se
mencionar que outros poluentes podem ser liberados
decorrentes da “volatilização de solventes de pinturas e
de produtos de limpeza que contenham derivados de
petróleo” (2003, p. 5). Sendo assim, os poluentes que
são depositados nos documentos de arquivo,
decorrentes da poluição atmosférica, especialmente os
que são resíduos de produtos químicos, provocam em
contato com a água, seja do ar ou do papel, reações
químicas que produzem ácidos que atacam e aceleram
a degradação dos acervos. Alguns dos danos decorridos
podem ser percebidos através do aparecimento de manchas,
escurecimento e perda da resistência do papel.
Os agentes biológicos que danificam os acervos de
arquivos históricos são os microorganismos, insetos e
roedores. Os países de clima tropical apresentam as
condições climáticas bastante favoráveis para o
aparecimento e rápido desenvolvimento desses agentes.
Isso se deve a sua elevada temperatura e umidade.
Os microorganismos que se alimentam da celulose
que constitui o papel e as colas presentes em
encadernações, acelerando o processo de degradação
dos mesmos, são os fungos e as bactérias. A sua
disseminação ocorre por meio de seus esporos, que
estão presentes em toda parte em suspensão no ar. “A
ação de microorganismos no papel se manifesta pelo
aparecimento de manchas de várias cores, intensidades
e conformações” (COSTA, 2003, p. 7).
Os insetos e roedores são atraídos aos arquivos
devido à presença de alimentos e pela desordem,
deixados pelo homem. Devido a sua grande capacidade
de adaptação, os roedores quase não são afetados pelo
controle ambiental interno, assim como os insetos.
Sendo que este último, com o decorrer do tempo,
pouco é afetado pelos inseticidas e, às vezes, para a
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erradicação desses animais, é necessária a assessoria de
especialistas em zoonose.
Os danos causados por insetos são muitos
conhecidos, em razão da proporção dos estragos e da
rapidez com que eles aparecem, o que varia conforme o
tipo de inseto. Os danos mais conhecidos são os
orifícios e as manchas que são derivadas dos seus
excrementos e outras secreções.
Dentre os diversos fatores que causam a
degradação dos acervos documentais o homem, seja o
usuário ou até mesmo funcionário da instituição, vem
sendo apontado como um dos maiores agentes
causadores de danos aos documentos que integram
acervos históricos. Sua ação nociva muitas vezes
decorre do simples manuseio. As ações realizadas pelo
homem que são prejudiciais aos documentos vão desde
o contato do suor das mãos - substância ácida
composta de gordura - com os papéis, que ocasionam
manchas e aumentam a acidez, passando pelo consumo
e guarda de alimentos e bebidas em áreas destinadas ao
trabalho e armazenamento, até o ato de rasgar, riscar,
dobrar, escrever, marcar, colocar clipes, grampear,
colar e outras ações que envolvem os documentos.
Essas ações acabam se tornando habituais,
especialmente em instituições que não investem
esforço para conscientizar os usuários e os funcionários
sobre a importância da preservação e acerca de como
as ações desse tipo acarretam, muitas vezes, em danos
irreversíveis aos documentos (COSTA, 2003).
É importante alertar sobre o fato de que o uso dos
equipamentos de proteção individual (EPIs) é
fundamental não apenas para conservação dos
documentos, já que impede o contato do papel com
substâncias produzidas pelo corpo humano e que lhes
são prejudiciais, mas para evitar que os indivíduos que
manuseiam
diariamente
documentos
sejam
contaminados por agentes nocivos à saúde, como
poeira, fungos e mofo, excremento de animais,
causadores de manifestações alérgicas, problemas
respiratórios, entre outras doenças.
As causas da ocorrência de sinistros são diversas,
todavia todos os desastres podem ser resumidos em
acontecimentos por fogo ou por água. As catástrofes
causadas por fogo são as mais temidas, devido à sua
capacidade de destruição, o que se agrava com o fato
do papel ser um material frágil e de rápida combustão
e, em caso de incêndio, “se de alguma forma o acervo
sobreviver, provavelmente ficará carbonizado, coberto
de fuligem, fragilizado pela exposição ao calor
elevado, umedecido pela água usada para apagar o
incêndio” (OGDEN, 2001a, p. 15), além de ficar
cheirando a fumaça. Sendo assim, todas as precauções
são necessárias para evitar a sua ocorrência.
Depois do fogo, a água é considerada um poderoso
agente destruidor de documentos. Ela é responsável
pela
proliferação
de
microorganismos,
pela
compactação de volumes, dentre outros danos. O
contato do acervo com a água pode decorrer de
inundação, goteiras na cobertura, infiltrações,
incêndios etc.
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Os edifícios de arquivo como elemento de
preservação de acervos documentais
De acordo com Carvalho (1998, p. 1), atualmente,
muitas instituições que estão comprometidas com a
preservação da cultura, como arquivos, bibliotecas e
museus, “apresentam situações ou condições
inadequadas que põem em risco a preservação de seus
acervos”. A autora destaca que “as condições
inadequadas para a preservação vão desde a
localização – áreas poluídas, sem segurança e sujeitas a
desastres naturais – até as características arquitetônicas
dos edifícios” que abrigam os acervos, pois alguns
elementos da construção podem contribuir para a
entrada da “iluminação nociva e para o
estabelecimento de níveis impróprios de temperatura e
umidade [...]” (CARVALHO, 1998, p. 2), o que
favorece o aparecimento e proliferação de agentes
biológicos.
Para Trinkley (2001), o edifício necessita de uma
atenção especial nos programas de preservação, pois
ele é o primeiro invólucro que protege os documentos
contra os danos causados pela temperatura, umidade,
luz, água, pragas, dentre outros, e que algumas medidas
de preservação podem ser incorporadas ao projeto de
construção e/ou reforma do edifício. O autor
supracitado observa que “a estrutura do edifício
consiste da fundação, pisos, paredes, portas, janelas e
telhados. Este ‘envelope’ é a barreira entre o ambiente
interno controlado e o ambiente externo severo e
flutuante, ele é também um filtro, permitindo que
quantidade controlada de luz, calor e outros elementos
penetrem em seu interior. Se adequadamente projetado
e construído, o edifício reduzirá os custos de energia
(TRINKLEY, 2001, p.23).
E, de modo semelhante, Carvalho (1998) lembra
que os acervos têm sido bem preservados, por longos
períodos, em edifícios capazes de manter as condições
ambientais estáveis, o que mostra ser possível
desenvolver estratégias de projetos e soluções técnicas
alternativas para a questão do controle ambiental.
Devido aos problemas que são enfrentados pelas
instituições arquivísticas com relação a sua localização
e suas instalações, Jordán (2002) faz algumas
considerações sobre a importância da troca de
informações entre arquivistas e arquitetos na hora de
construir ou reformar edifícios de arquivo, visto que o
arquivista se ocupa de conhecer claramente quais são
as necessidades prioritárias de um arquivo e o arquiteto
conhece as soluções que permitem satisfazer essas
necessidades.
Ao contar com a colaboração de arquitetos para a
elaboração e implementação de uma política que inclua
a edificação como elemento de preservação, o
arquivista pode ficar ciente dos defeitos existentes na
construção e as soluções para corrigi-los. A interação
de ambos os profissionais também possibilita que eles
tomem conhecimento da terminologia própria de seus
campos de atuação, assim como dos aspectos básicos
de seus objetos de estudo. Todavia, o não
compartilhamento de opiniões entre os profissionais
pode
trazer
prejuízo
para
o
arquivo
e
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conseqüentemente para os esforços de preservação do
seu acervo.
Alguns agentes de deterioração dos edifícios
As edificações sofrem com a presença, assim como
os acervos, de agentes que degradam a sua estrutura. A
redução da capacidade de desempenho das edificações
se deve à ação dos agentes de deterioração, que está
especialmente associada às condições ambientais,
como temperatura e umidade. Os defeitos que
aparecem nas construções, tais como rachaduras na
alvenaria, manchas, deformações, ataque de animais
xilófagos etc., são considerados por Verçoza (1991)
como doenças. O autor apresenta a Patologia das
Edificações como à área da construção civil
responsável pelo estudo sistemático desses defeitos,
com o intuito de determinar as causas e a melhor forma
de corrigi-las.
Algumas patologias são conseqüências da ação de
intempéries; do desgaste natural dos materiais que
foram utilizados na sua concepção; da falta de
manutenção periódica e adequada de alguns elementos
da construção; aos erros cometidos na elaboração e/ou
execução do projeto ou na má qualidade de materiais
que foram utilizados na sua criação (VERÇOZA,
1991), outras podem estar relacionadas com a
ocorrência de sinistros, como incêndio.
A umidade é considerada o principal agente de
deterioração dos edifícios, ela é a causa ou o meio
necessário para o aparecimento da maioria das
patologias nas construções. As possíveis origens e
formas de ingresso da umidade são através de chuvas
(infiltrações); da condensação da água no interior do
edifício, que está associada à deficiência do isolamento
térmico das paredes e tetos e/ou insuficiência da
ventilação entre os ambientes; da água retida durante a
construção; da umidade ascendente que provem do
solo úmido; e de vazamento nas redes de
abastecimento de água, de esgoto e pluviais
(VERÇOZA, 1991; CÓIAS, 2006).
Visualmente, podemos perceber a sua ação nociva
através do aparecimento de eflorescências e de
microorganismos no teto e nas paredes. Cóias completa
que “a presença da umidade nas paredes ou [em] outros
componentes das construções pode conduzir, por
exemplo, à deterioração estrutural, à perda de
revestimentos decorativos, à alteração das condições
habitabilidade e conforto, e ao desenvolvimento de
microorganismo que podem ser prejudiciais à saúde”
(2006, p. 49).
A umidade que ocorre devido a infiltrações da água
de chuvas são as mais comuns, mas esse tipo de
umidade não aparece sempre quando chove. É que a
“infiltração depende da velocidade e direção do vento,
da quantidade de precipitação, da umidade do ar, etc.,
além dos fatores inerentes à própria construção”
(VERÇOZA, 1991, p. 150). Mas a penetração da água
da chuva é a causa da maior parte das degradações
decorrentes da presença da água ocorridas nos
edifícios. A entrada da água da chuva não é apenas
nociva para a construção, mas também para os bens
que o edifício protege. Verifica-se que geralmente sua
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penetração
ocorre
através
das
coberturas,
especialmente quando existem juntas, dos caixilhos de
portas e janelas e das paredes externas (CÓIAS, 2006).
A presença da água também é o fator chave para a
deterioração biológica da madeira usada nas
edificações. A madeira é um material higroscópico,
sendo que várias de suas propriedades são afetadas
pelo teor de umidade presente. Sua natureza biológica
submete-a aos diversos mecanismos de deterioração
existentes na natureza, como os que são provocados
por microorganismos e animais xilófagos. A essas
características negativas, acrescenta-se a sua
susceptibilidade ao fogo.
Todos os materiais de construção estão suscetíveis
ao ataque de microorganismos, mas é na madeira que
sua ação é mais deletéria e rápida, por ser um material
que possui substâncias orgânicas, umidade e maciez
adequada à sua proliferação. Um dos sintomas iniciais
mais comuns da madeira atacada por microorganismos
é o enegrecimento da sua superfície, sendo que a cor
varia de acordo com a espécie do fungo, da bactéria ou
da alga e da quantidade presente. Outro sintoma, em
estágio mais avançado de infestação é a decomposição
d madeira (VERÇOZA, 1991).
Já os animais que se alimentam da madeira são
chamados de xilófagos, eles a perfuram e enfraquecem
a sua estrutura e podem levá-la em pouco tempo à
destruição total. Os xilófagos mais conhecidos são: o
cupim, o caruncho, as limnórias, os teredos e algumas
vespas. Existem animais que perfuram a madeira, mas
não com a intenção de comê-la, mas para fazer ninhos,
como as formigas e vespas. A deterioração das
madeiras pode não ser conseqüência de ação biológica
e sim resultado de ações mecânicas, físicas e químicas.
A variação da umidade faz a madeira dilatar e contrair
muito mais que o efeito da temperatura, o que acaba
causando os empenos nas peças (VERÇOZA, 1991).
Entre os defeitos comuns nas alvenarias, paredes,
estão às fissuras e as rachaduras. As fissuras podem ser
de reboco ou de alvenaria. Sendo que as fissuras de
alvenaria também se manifestam no reboco. Por essa
razão, ao aparecer uma fissura num revestimento é
preciso saber se ela é apenas do reboco ou da alvenaria
para identificar a sua causa. De acordo com Verçoza
(1991), as origens das fissuras podem estar
relacionadas com erros de dimensionamento na fase de
projeto; com a má utilização do prédio, como o excesso
de sobrecarga ou a distribuição errada dessa
sobrecarga; com a movimentação da estrutura por
variação térmica, variação no teor de umidade,
deformabilidade dos materiais, alterações de origem
químicas etc.; com o envelhecimento e fadiga natural
dos materiais; com a ocorrência de acidentes, como
incêndios, explosões, alterações no solo; e com a má
execução da alvenaria.
Para evitar problemas patológicos ocasionados pela
umidade, é importante estarmos cientes das formas
como a água pode penetrar nos edifícios para tomar
providências.
Percebe-se que os mesmos agentes que causam a
degradação dos elementos constitutivos da edificação,
também causam a deterioração dos documentos. Se os
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problemas patológicos dos edifícios de arquivo forem
eliminados estaremos, diretamente, reduzindo a entrada
e aparecimento de agentes que danificam o acervo.
Lamentavelmente, muitos arquivos estão sediados
em construções que não foram preparadas para esta
finalidade e que não apresentam condições adequadas
para a guarda e preservação dos acervos históricos.
Para que as edificações sejam consideradas aliadas
nos programas de preservação, torna-se necessário que
as mesmas estejam em condições de uso, ou seja, é
importante que o edifício também esteja conservado. A
manutenção periódica dos elementos que compõem a
construção é fundamental, assim como a identificação
e eliminação de seus problemas patológicos, pois eles
contribuem diretamente para o aceleramento dos
processos de deterioração dos documentos.
Portanto, a identificação das patologias do edifício
de arquivo e conhecimento dos seus possíveis efeitos
na documentação, bem como as ações d prevenção e
contra-medida, são de interesse direto do arquivista
preocupado com preservação dos acervos.
Conclusões
Os edifícios de arquivo que se encontram
degradados não possuem as condições propícias para
contribuírem na preservação de acervos históricos, pois
a existência de problemas patológicos na estrutura da
edificação favorece a entrada dos agentes considerados
nocivos para a documentação. As políticas de
preservação, ao serem elaboradas, devem considerar
que quando os elementos construtivos recebem
tratamento para resistirem aos agentes de degradação à
infra-estrutura física do arquivo condiciona os
elementos necessários para a conservação do
patrimônio documental.
É importante que o arquivista conte com a ajuda de
um arquiteto ou outro profissional competente para
regularmente fazer um relatório que descreva o estado
atual de conservação do prédio, de modo a empreender
as ações corretivas necessárias.
A relação entre a preservação e manutenção
planejada e periódica dos elementos construtivos
assegura a redução da ocorrência de situações que
comprometem a segurança do acervo; por essa razão
ela não deve ser negligenciada pelos arquivos.
A conservação do patrimônio documental nos
arquivos enfrenta desafios diversos e por isso se traduz
nos cuidados permanentes, contínuos e intensivos,
atribuídos principalmente aos arquivos que estão
localizados em regiões tropicais.
Referências
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Edições ABDF, 1975.
(5) JORDÁN, Victor Hugo Arévalo.
ARCHIVOECONOMÍA: Edificios, locales y equipos
Copyright © 2011 AERPA Editora
Convênio AERPA - CFDD do Ministério da Justiça - no 748319/2010
(11) SILVA, Sérgio Conde de Albite. Algumas
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Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos:
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Preservação]. Disponível em:
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(13) TRINKLEY, Michael. Considerações sobre
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planejamento para preservação. 2. ed. Rio de Janeiro:
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(14) VERÇOZA, Enio José. Patologia das
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[email protected]

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