aspectos clínico-patológicos do mormo em equinos
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aspectos clínico-patológicos do mormo em equinos
Alm. Med. Vet. Zoo. 1 ASPECTOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS DO MORMO EM EQUINOS REVISÃO DE LITERATURA CLINICAL-PATHOLOGICAL ASPECTS OF GLANDERS IN EQUINES REVIEW Lillian Roberta Dittmann1 Thaís Oliveira Cardoso* Felipe Gazza Romão2 Luiz Daniel de Barros† RESUMO O mormo é uma doença infecto-contagiosa causada pela bactéria Burkholderia mallei e que acomete equídeos, carnívoros, pequenos ruminantes e até os homens, caracterizandose uma zoonose, de notificação obrigatória. Os animais infectados e portadores assintomáticos são as principais fontes de infecção. A principal porta de entrada é pela via digestiva, podendo ocorrer também pelas vias respiratórias e cutânea. Os equídeos de qualquer idade são susceptíveis, porém, com maior incidência em animal idoso, debilitado e sujeito a situações de estresse. Os sinais clínicos mais frequentes incluem febre, tosse e corrimento nasal. Na forma aguda da doença a morte por septicemia ocorre em poucos dias. A fase crônica da doença é caracterizada por três formas de manifestação clínica: a nasal, a pulmonar e a cutânea. O diagnóstico é realizado pelo teste de fixação de complemento e maleinização. Os animais devem ser eutanasiados, pois o tratamento é proibido devido à possibilidade de animais tratados se tornarem portadores crônicos do agente. Como prevenção e controle, devem ser realizadas quarenta e interdição de fazendas provenientes de animais positivos, limpeza e desinfecção das áreas de foco, e aquisição de animais de áreas livres da doença. O presente trabalho teve como objetivo revisar os principais achados clínico-patológicos do mormo, doença de grande importância na equideocultura. Palavras-chave: equídeos; zoonose; maleinização; Burkholderia mallei ABSTRACT Glanders is an infectious disease caused by the bacterium Burkholderia mallei that affects horses, carnivores, small ruminants and even humans, being considered a notifiable zoonotic disease. Infected animals and carriers are the main sources of infection. The main entrance is through the digestive tract but can also occur through the respiratory tract and skin. Horses of any age are susceptible, however with higher incidence in elderly, impaired and raised in stress conditions. Common clinical signs include fever, cough and runny nose. In the acute phase of the disease, death from septicemia occurs in a few days. Chronic phase is characterized by three types of clinical manifestation: a nasal, lung and skin. Diagnosis is made by complement fixation test and mallein. Animals must be euthanized because the treatment is prohibited due to the possibility of treated animals become chronic carriers of the agent. For prevention and control, should be carried fortyand ban of farms with positive animals, cleaning and disinfection of the focus areas and acquisition of animals from free disease areas. This paper aims to review the main clinicopathological features of glanders, of great importance in equideocultura disease. 1 Discente do Curso de Medicina Veterinária. Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO, Ourinhos, São Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] 2 Docente do Curso de Medicina Veterinária. Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO, Ourinhos, São Paulo, Brasil. Dittmann LR, Cardoso TO, Romão FG, Barros, LD. Aspectos clínicopatológicos do mormo em equinos revisão de literatura. Alm. Med. Vet. Zoo. 2015 fev; 1 (1): 1-5. Alm. Med. Vet. Zoo. 2 Keywords: equine; zoonosis; mallein; Burkholderia mallei. INTRODUÇÃO O mormo é uma enfermidade infecto-contagiosa, aguda ou crônica, de caráter zoonótico, causada pela bactéria Burkholderia mallei, que acomete principalmente os equídeos, podendo também acometer o homem, os carnívoros e eventualmente os pequenos ruminantes. É uma das doenças mais antigas dos equídeos, descrita por volta do século III e IV a.C. (1,2). O agente etiológico B. mallei foi identificado em 1882, pelo seu isolamento em órgãos de um equino. O patógeno já foi identificado como Loefflerella mallei, Pfeifferella mallei, Malleomyces mallei, Actinobacillus mallei, Corynebacterium mallei, Mycobacterium mallei, Pseudomonas mallei e Bacillus mallei. O gênero atual, Burkholderia, foi classificado após a realização da homologia do DNA-DNA, lipídios celulares, composição de ácidos graxos e características fenotípicas, como o gene 16S rRNA tipificado em 1992 (3). A doença foi descrita pela primeira vez no Brasil em 1811. Acredita-se que foi importada da Europa pela inserção de animais infectados, provocando epizootias em extensas áreas nacionais, acometendo muares, equinos e humanos, que apresentaram sinais de catarro e cancro nasal (3). O presente trabalho teve como objetivo descrever uma revisão de literatura sobre o mormo, abordando as principais características clínico-patológicas desta enfermidade. REVISÃO DE LITERATURA Etiologia A Burkholderia mallei é um bastonete gram-negativo, não esporulado, imóvel e com 2-5µm de comprimento e 0,5 µm de espessura e podem ser pleomórficas em determinadas condições de meio de cultura. Cresce bem em meios que contenham glicerol ou sangue, não produz hemólise no ágar sangue e as colônias apresentam aspecto mucoide e brilhante. O bacilo do mormo é aeróbio e anaeróbio facultativo, oxidase e catalase positiva e redutor de nitrato (4). A B. mallei é um patógeno intracelular obrigatório bem adaptado ao seu hospedeiro, porém apresenta baixa resistência ambiental. São sensíveis à ação da luz solar, calor e desinfetantes comuns e podem sobreviver em ambientes úmidos por 3 a 5 semanas (5). Epidemiologia Responsável por alta taxa de mortalidade em equídeos, pode ser considerada uma doença re-emergente devido ao aumento do número de surtos da doença nos últimos anos. A doença tem sido descrita em diferentes partes do mundo, porém devido a programa de controle, foi erradica nos Estados Unidos, Europa Ocidental, Canadá e Austrália (6). Animais infectados e portadores assintomáticos são importantes fontes de infecção (4,8,9). A disseminação ocorre principalmente por meio da contaminação de forragem, cochos e bebedouros por secreção oral e nasal (9). Esporadicamente, a forma cutânea da infecção decorre do contato direto com ferimentos ou por utensílios usados na monta dos animais. Lesões pulmonares crônicas, que se rompem nos brônquios e infectam as vias aéreas superiores e secreções orais e nasais, representam a mais importante via de excreção da B. mallei (4,9). Dittmann LR, Cardoso TO, Romão FG, Barros, LD. Aspectos clínicopatológicos do mormo em equinos revisão de literatura. Alm. Med. Vet. Zoo. 2015 fev; 1 (1): 1-5. Alm. Med. Vet. Zoo. 3 A principal via de infecção é a via digestiva, mas também pode ocorrer pelas vias respiratórias e cutânea (1). A disseminação por inalação também pode ocorrer, mas essa forma de infecção é provavelmente rara sob condições naturais (9). Todos os equídeos, de qualquer idade são susceptíveis, porém a doença acomete principalmente em animais idosos, debilitados e submetidos a estresse, em virtude de trabalho excessivo, má alimentação e habitação em ambiente com condições sanitárias inadequadas (2,9). Felinos, camelos e caprinos também são susceptíveis à infecção e o homem é hospedeiro acidental, sendo, geralmente, uma doença ocupacional. Os equinos e muares são os únicos reservatórios naturais do agente conhecidos até o momento (3). Sinais Clínicos Os sinais clínicos mais frequentes são febre, tosse e corrimento nasal, entretanto o período de incubação pode demorar 3 dias a meses, podendo na fase aguda apresentar edema em região peitoral e vir a óbito em 48 horas (7). Na forma aguda da doença a morte por septicemia ocorre em poucos dias (3), ocorrendo principalmente em asininos, que são mais susceptíveis à esta forma (5). A fase crônica da doença, que pode desenvolver-se após semanas ou meses, é caracterizada por três tipos de manifestações clínicas: a nasal, a pulmonar e a cutânea, porém estas não são distintas e o mesmo animal pode apresentar simultaneamente todas as formas, sendo a forma pulmo-cutânea a mais comum em surtos da doença (3,6). Animais cronicamente infectados são importantes na disseminação da doença (5). A forma nasal se caracteriza por descarga nasal serosa que pode ser unilateral, tornando-se com a evolução do processo, em purulenta fluida de coloração amareloescura e purulenta-hemorrágica. Já a forma pulmonar manifesta-se por pneumonia lobar com abscedação cavernosa e desenvolvimento de pleurite fibrinosa. A forma cutânea apresenta-se com formação de abscessos subcutâneos que ulceram e drenam secreção purulenta e adenopatia, que na face do animal pode apresentar linfonodos e vasos linfáticos superficiais aumentados de volume (7). Patogenia O agente penetra pela mucosa intestinal, atinge os linfonodos onde fazem proliferação e se espalham para órggãos de eleição via corrente sanguínea. O agente é encontrado nos pulmões, porém pode ser observado também na pele e mucosa nasal. Nos animais infectados, formam-se lesões primárias na faringe, estendendo-se para o sistema linfático onde causa lesões nodulares. Metástases são encontradas nos pulmões, baço, fígado e pele. No septo nasal podem ocorrer lesões primárias de origem hematógena ou secundária a um foco pulmonar (1,4). Diagnóstico O diagnóstico do mormo consiste na associação dos aspectos clínicoepidemiológicos, anátomo-histopatológicos, isolamento bacteriano, inoculação em animais de laboratório (prova de Strauss), reação imunoalérgica (maleinização) e testes sorológicos, tais como fixação de complemento (FC), teste da hemaglutinação indireta (IHAT), imunoeletroforese (CIET), teste indireto do anticorpo fluorescente (IFAT) e ELISA. A PCR é uma importante ferramenta no diagnóstico, visto que apresenta alta especificidade, diferenciando da infecção por B. pseudomallei (11). Os testes sorológicos podem apresentar resultados inconclusivos por até seis semanas após a realização do teste de maleína (4) e todos esses testes apresentam reação cruzada com B. pseudomallei. Dessa Dittmann LR, Cardoso TO, Romão FG, Barros, LD. Aspectos clínicopatológicos do mormo em equinos revisão de literatura. Alm. Med. Vet. Zoo. 2015 fev; 1 (1): 1-5. Alm. Med. Vet. Zoo. 4 maneira, locais onde a melioidose é endêmica, os testes sorológicos podem resultar em falso-positivo (3). O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) recomenda como testes oficiais para diagnóstico e controle do mormo, apenas a realização dos testes de Fixação do Complemento (FC) e maleinização (1,3). O teste de FC apresenta alta sensibilidade e boa especificidade e deve ser realizado em laboratórios oficial ou credenciado pelo MAPA (9). Baseado pela detecção de anticorpos específicos contra a B. mallei que podem ser observados uma semana após a infecção. Entretanto, estudos demonstraram que o melhor período para realizar o exame é dentro de 4-12 semanas após a infecção (3,4), visto que esse teste identifica os animas que não tem aparência clínica e aqueles infectados na fase crônica (8). O primeiro teste de diagnóstico realizado para detecção de mormo foi o teste de maleína, e até então, este tem sido o melhor teste para diagnóstico a campo e programas de controle e erradicação desde 1890. É limitado em relação à sensibilidade, especificamente em casos avançados da doença. Foram descritas reações cruzadas entre B. mallei e Streptococcus equi, resultando em reações falso-positivas. É inoculado 0,1 mL de maleína por via intradérmica na pálpebra inferior, realizando a leitura após 48 horas. O resultado é considerado positivo quando apresentar edema palpebral com presença ou não de secreção purulenta (3). É necessário realizar o diagnóstico diferencial para doenças como: linfangite epizoótica, linfangite ulcerativa, esporotricose, melioidose e outras causas de pneumonia (9). Tratamento O tratamento é proibido devido à possibilidade de animais tratados se tornarem portadores crônicos do agente, tornando-se assim fonte de infecção para animais sadios. O MAPA recomenda a eutanásia dos animais positivos devido à falta de tratamento adequado e vacina para a prevenção do mormo, sendo a eutanásia realizada por profissionais do serviço de Defesa Sanitária (3). Prevenção e Controle No momento, não existe nenhuma vacina animal ou humana eficiente contra a infecção da B. mallei. Estudos estão sendo realizados para fabricação de uma vacina eficaz para o mormo, uma vez que o tratamento dos animais infectados é proibido (1,4). De acordo com o MAPA (10), a prevenção da doença em seres humanos baseiase no manejo do ambiente e controle animal que envolve a eliminação de animais com diagnóstico laboratorial positivo, controle rigoroso de trânsito interestadual com prova sorológica de FC negativa (validade de 60 dias), quarentena e interdição da fazenda, limpeza e desinfecção das áreas de foco, incineração e destino apropriado de carcaças de animais infectados (assim como de todos os materiais utilizados nas instalações de propriedades epizoóticas), desinfecção de veículos e equipamentos (cabrestos, arreios e outros), abolição de cochos coletivos, aquisição de animais de áreas livres e com diagnóstico laboratorial negativo, e utilização de equipamentos de proteção individual, como luvas, máscara, óculos e avental, por parte de médicos veterinários, magarefes, tratadores de animais, laboratoristas e pessoas que tem contato com animais suspeitos ou com equipamentos contaminados. A interdição da propriedade somente será suspensa pelo serviço veterinário oficial após a eutanásia dos animais positivos e a realização de dois exames de FC sucessivos de todo plantel, com intervalos de 45 a 90 dias, com resultados negativos no teste de diagnóstico (10). Dittmann LR, Cardoso TO, Romão FG, Barros, LD. Aspectos clínicopatológicos do mormo em equinos revisão de literatura. Alm. Med. Vet. Zoo. 2015 fev; 1 (1): 1-5. Alm. Med. Vet. Zoo. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se concluir que o mormo é uma doença infecto-contagiosa grave, de caráter zoonótico, onde a prevenção torna-se indispensável, devendo ser realizado o monitoramento dos rebanhos, como a identificação e sacrifício dos animais infectados e a interdição de propriedades com focos comprovados da doença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Leopoldino DCC; Oliveira RG; Zappa V. Mormo em equinos. Rev Cient Eletron Med Vet. 2009;12. 2. Mota RA; Brito MF; Castro FJC; Massa M. Mormo em equídeos nos Estados de Pernambuco e Alagoas. 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Recife: Universidade Federal Rural de Pernambuco; 2013. 9. Radostits OM, Gay CC, Blood DC, Hinchcliff KW. Clínica Veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010. 10. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Brasil). Secretaria de Defesa Agropecuária. Departamento de Saúde Animal. Manual de Legislação: programas nacionais de saúde animal do Brasil. Brasília; 2009. Artigo recebido dia 22 de setembro de 2014. Artigo publicado dia 02 de março de 2015. Dittmann LR, Cardoso TO, Romão FG, Barros, LD. Aspectos clínicopatológicos do mormo em equinos revisão de literatura. Alm. Med. Vet. Zoo. 2015 fev; 1 (1): 1-5.
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