O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach

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O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach
O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach (Sistema Compreensivo)
setembro/2014
O estudo da personalidade por meio do método de Rorschach (Sistema
Compreensivo)
Ana Cristina Resende – [email protected]
Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Pós-doutoranda pela UNIFESP com bolsa da FAPESP
Regina Sonia Gattas F. do Nascimento - [email protected]
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Goiânia, GO, 05 de setembro de 2013
Resumo
O estudo da personalidade é considerado uma das áreas mais consolidadas na Psicologia.
Quando se trata de avaliá-la, uma das principais estratégias é por meio da administração no
indivíduo de uma bateria de instrumentos ou testes padronizados para este fim. Dentre esses
instrumentos o Método de Rorschach se destaca como um dos mais utilizados, pesquisados e
reconhecido internacionalmente por sua capacidade de identificação de uma ampla gama de
traços de personalidade nas mais variadas áreas de atuação do psicólogo. Este artigo teórico
descreve a importância da utilização do método em várias circunstâncias em que
características de personalidade são relevantes para tomadas de decisões em tribunais, em
escolas, empresas, hospitais ou em qualquer outro tipo de estabelecimento em que
informações a respeito da personalidade de uma pessoa é um aspecto essencial. O artigo
também retrata o potencial do Rorschach para ser administrado em contextos transculturais
e avalia a confiabilidade e a validade da avaliação por meio desse método. No final, algumas
preocupações são levantadas sobre a adequação da formação do profissional para a
utilização do Rorschach, uma vez que somente uma avaliação realizada por um profissional
especializado e bem treinado no método poderá fazer contribuições valiosas na investigação
da personalidade.
Palavras-chave: Método de Rorschach. Avaliação de Personalidade. Validade. Avaliações
Forenses. Avaliações Clínicas.
Introdução
As pessoas provavelmente têm tomado decisões com base em avaliações ou apreciações
de personalidade desde o início das interações humanas. Se o homem das cavernas escolhesse
o companheiro com motivações e personalidade inadequadas, o resultado de sua caça poderia
ser um fracasso. Se na antiguidade os gregos e romanos falhassem em escolher os seus
líderes, com as qualidades de personalidade essenciais necessárias, a sobrevivência de todos
poderia estar ameaçada. Gideão, citado no velho testamento da bíblia sagrada, usou alguns
critérios para selecionar os soldados mais bem preparados para ir à guerra. O primeiro critério
foi solicitar às pessoas que estivessem com medo que retornassem para suas casas. O segundo
consistiu em testá-los quanto à astúcia para se manterem em alerta durante o período de
descanso. Permaneceram no exército apenas 300 homens de um exercito de 32.000. Para
selecionar as pessoas nessa época, os líderes frequentemente utilizavam de uma série de
fontes de informações: sonhos, sinais de Deus, oráculos, espiões, traidores, observações
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diretas, histórias familiares, os ancestrais, características fisionômicas e entrevistas
(BUTCHER, 2009; WEINER e GREENE, 2008).
Um outro dado histórico, considerado um precursor da avaliação de personalidade e do
método de Rorschach, remete a Leonardo da Vinci (1452-1519), que afirma que os estímulos
confusos e indeterminados estimulam a imaginação criativa. Isto era uma proposta de se dar
atenção à percepção das manchas de umidade na parede, ou irregularidades na superfície que
ele considerava haver diferenças individuais na percepção destas manchas, ou formas
indefinidas e que poderiam servir de estímulos à criação de obras de arte. Da Vinci notou que
diferentes traços pessoais eram refletidos na imagem criada. De acordo com Leonardo este
fenômeno teria sido identificado por Boticelli (1440-1510), um contemporâneo seu. Estas
informações encontram-se em seu “Livro da Pintura”, publicado em alemão em Viena, em
1882 (NASCIMENTO, 2010).
No entanto, o interesse maior em características subjacentes de personalidade teve um
foco mais objetivo no século XIX. Muitos estudiosos aderiram à frenologia, depois à
craniometria e fisionomia. Todas essas disciplinas podem ser categorizadas hoje como
pseudociência. Nelas as características físicas tais como uma protuberância na cabeça ou o
formato dos olhos estavam associados às características de personalidade, a talentos especiais
como pintura e música como também à predisposição para ser um assassino ou um
estuprador. Os médicos liam e compreendiam as pessoas por meio de suas características
físicas (BUTCHER, 2009).
Apenas no final da década de 1930 que o estudo da personalidade foi formalizado e
sistematizado na Psicologia, principalmente com o trabalho de Henry Murray e Gordon
Allport, da Universidade de Harvard. Depois dos seus esforços iniciais surgiram livros
profissionais e revistas, as universidades passaram a oferecer cursos e foram realizados estudo
científicos. Os psicólogos acadêmicos começaram a conjecturar que era possível desenvolver
um estudo científico da personalidade.
O primeiro inventário de personalidade de autorrelato foi desenvolvido por Woodworth
(1919 apud BUTCHER, 2009) durante a Primeira Guerra Mundial visando detectar problemas
psiquiátricos suscetíveis de perturbar a adaptação dos recrutas ao exército americanos. Ao
total eram 116 itens com questões do tipo “você faz amizades facilmente?” ou “você se sente
cansado a maior parte do tempo?”. A partir daí outros inventários de avaliação de
personalidade foram desenvolvidos, até a criação do mais utilizado atualmente no mundo,
mas não validado para o uso no Brasil, o Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade –
MMPI (GRAHAM, 2006).
Paralelo ao desenvolvimento dos inventários tivemos as técnicas projetivas, baseadas no
desempenho de tarefas que são solicitadas ao indivíduo, no início do século XX: neste
momento destaca-se o Psicodiagnóstico de Hermann Rorschach, um psiquiatra suíço. Tudo
iniciou com centenas de relatórios sobre o que os seus pacientes, com diferentes transtornos,
viam em manchas de tinta. Segundo o autor, nos relatórios era possível observar nitidamente
indicações do estado mental e disposições pessoais desses pacientes. A organização desses
relatórios resultou na publicação do seu Psicodiagnóstico, em 1921 (RORSCHACH,1978).
Neste livro, Rorschach apresentou diretrizes para a administração, pontuação e interpretação
de respostas dadas a um conjunto padronizado de 10 manchas de tinta que posteriormente
ficou conhecido como o Método de Rorschach (BUTCHER, 2009; WEINER e GREENE,
2008).
Embora muito mais complexo do que um inventário, as manchas de tinta foram
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igualmente destinadas para identificar distúrbios de personalidade. O Psicodiagnóstico de
Rorschach tem como subtítulo "um teste de diagnóstico baseado na percepção", e o autor
explicitamente afirma: "É preciso entender que o teste é primariamente um auxílio ao
diagnóstico clínico"(RORSCHACH, 1921/1978, p. 121). No entanto, Rorschach postulou
numerosas relações entre certos achados nas manchas de tinta e algumas características
particulares de personalidade. Nos EUA, na década de 60, já havia 5 sistemas básicos de
Rorschach (Beck, Hertz, Klopfer, Piotrowski, Rappaport), além de outros em países variados.
Em 1974, Exner (2003) publica o Sistema Compreensivo (SC), integrando os cinco sistemas
norte-americanos num só, sem alterações estruturais, privilegiando, inicialmente, as bases
psicométricas do teste. Até hoje gerações de estudiosos do instrumento transformaram o
Método de Rorschach1 em uma rica fonte de informações sobre como as pessoas tendem a
perceber os eventos, a se perceber e perceber os outros, a experimentar emoções, a controlar o
stress, a se comportar em diversas situações pouco familiares, como normalmente processam
as informações e pensam, entre outros aspectos da personalidade.
Além de focar nas variáveis com maior fundamentação científica, o novo sistema de
unificação, foi desenvolvido de modo um pouco parecido com a terceira revisão do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-III). O SC utilizou uma abordagem
ateórica para que os psicólogos de diversas orientações teóricas pudessem usar o teste. Assim,
esmagadoramente, o SC se tornou o sistema mais comumente ensinado nos Estados Unidos.
Ele também ganhou popularidade na avaliação forense como o sistema de Rorschach
preferido em função de suas bases empíricas que cumpriam as normas legais de
admissibilidade de um teste psicológico válido e confiável (McCANN e EVANS, 2007).
Atualmente, o Método de Rorschach SC consiste em um instrumento reconhecido
mundialmente por sua eficácia na avaliação do funcionamento psíquico de crianças, jovens e
adultos, quer sejam considerados normais ou diagnosticados com alguma psicopatologia.
Após 92 anos desde a sua criação, o Rorschach continua sendo um dos métodos mais profícuo
para estudar a personalidade (WEINER, 2004; MEYER, ERDBERG e SHAFFER, 2007).
Em um estudo internacional recente Meyer et al. (no prelo) encontraram que, entre os clínicos
que usavam o Rorschach, 96% corrigem e interpretam o teste usando o SC como seu sistema
primário.
O desenvolvimento da avaliação de personalidade não teria chegado onde chegou sem a
avaliação baseada em computador. A interpretação computadorizada das medidas de
personalidade tem revolucionado os instrumentos destinados ao exame psicológico. O
primeiro teste a ter esse tipo de correção e interpretação foi o MMPI em 1962 (WEINER e
GREENE, 2008). Hoje praticamente todos os testes de personalidade têm este tipo de suporte
tecnológico, o que fornece resultados mais eficientes, rápidos e confiáveis. Apesar de ainda
existir alguma resistência dos clínicos, a informática vem contribuindo ao garantir maior
precisão aos resultados apresentados, além de facilitar todo o trabalho para se chegar a uma
interpretação. Tomando o cuidado de garantir a adaptação às normas brasileiras, não podemos
evitar o uso computadorizado (sempre vindo de outros países), que já faz parte da vida de
todos, em todas as áreas profissionais. No entanto no trabalho clínico, a elaboração da
compreensão de um resultado de um protocolo de Rorschach necessita de um refinamento
1
No Brasil o Método de Rorschach é considerado um teste psicológico, ou seja, um instrumento de
avaliação de uso privativo do psicólogo.
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criterioso, profundo e particularizado, necessário a completar uma avaliação realizada por
procedimentos informatizados. Entra a compreensão clínica, dinâmica e particularizada da
compreensão de uma pessoa (NASCIMENTO, 2005).
A ciência e a prática da avaliação de personalidade expandiu muito nas duas últimas
décadas, tanto em termos de desenvolvimento de medidas eficazes quanto em termos de
quantidade de pesquisas anuais que são desenvolvidas. O crescimento tem sido tão grande que
é difícil se manter atualizado em mais do que algumas técnicas.
Butcher (2009) destaca que as razões para este ritmo acelerado de crescimento da
avaliação de personalidade são várias. Primeiro porque os instrumentos de avaliação são
frequentemente usados como medidas de critério para a pesquisa em comportamento anormal
e em processos psicológicos (cognição, emoção, percepção, motivação, atenção, memória...).
Segundo porque faz parte da avaliação clínica, que é uma atividade que está se tornando cada
vez mais respeitada entre os clínicos da área da saúde, com aplicação tão diversa como o
exame psicológico para a cirurgia bariátrica, para porte de arma, para as tradicionais
avaliações de saúde mental. Terceiro porque a avaliação de personalidade tem sido cada vez
mais requisitada em settings forenses. Nunca os testes psicológicos foram tão requisitados e
aceitos como evidências em tribunais quanto são atualmente. Quarto porque a avaliação de
personalidade também tem se expandido bastante na área da Psicologia das Organizações e do
Trabalho, tanto para avaliar aptidões quanto para a seleção de pessoal.
Dessa forma, o estudo da personalidade é considerado uma das áreas mais consolidadas
na Psicologia. Quando se trata de avaliá-la, ou de estudar o perfil psicológico de uma pessoa,
uma das principais estratégias é por meio da administração no indivíduo de uma bateria de
instrumentos ou testes padronizados de avaliação de personalidade (WEINER e GREENE,
2008). Esses testes psicológicos se subdividem em duas grandes categorias: medidas de autorelato (questionários e escalas) e medidas baseadas no desempenho ou na projeção, que se
fundamentam na observação de como os examinandos executam as tarefas que são definidas
por eles: como exemplo dizer o que uma mancha de tinta poderia ser a partir do jogo de
cartões padronizados do Rorschach, ou contar histórias por meio das figuras do Teste de
Apercepção Temática, ou fazer alguns desenho como são solicitados em Baterias Gráficas de
avaliação.
A seguir serão descritas algumas características do Método de Rorschach que o tornam
um instrumento tão eficiente e abrangente no âmbito da avaliação de personalidade. Serão
discutidas questões tais como: o Rorschach como um instrumento passível de ser utilizado por
qualquer corrente teórica da Psicologia; o potencial do teste para ser administrado em
contextos transculturais; os principais contextos onde o teste tem mostrado suas maiores
aplicabilidades; os fundamentos científicos de confiabilidade, validade e normatização do
instrumento e algumas questões da adequação da formação do profissional para a utilização
do Rorschach.
1. Rorschach e as diferentes fundamentações teóricas
O Método de Rorschach pode ser considerado como um dos instrumentos que mais se
destaca no mundo quando diz respeito à avaliação de personalidade, especialmente por ser um
instrumento que busca primordialmente apreender a personalidade por meio da percepção,
independente de qualquer fundamentação teórica da personalidade (RORSCHACH, 1921). A
validade do método não depende de nenhuma teoria de personalidade. “Um traço revelado no
protocolo do Rorschach pode ser interpretado psicanaliticamente ou sociologicamente ou
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fisiologicamente ou educacionalmente ou por minha combinação de conceitos tirados de
diferentes ciências” (PIOTROWSKI, 1957, p. xiii). Essa noção foi enfatizada por Exner
(2003) quando da criação do Sistema Compreensivo em 1974. O mais importante no teste é o
modo como a pessoa percebe as coisas e raciocina. Dessa forma, ele é considerado um teste
perceptivo, objetivo, que tem fornecido parâmetros e indicadores psicométricos confiáveis
(como índices altos de confiabilidade, validade e padrões normativos) para se tomar decisões
a partir de aspectos relacionados à personalidade do indivíduo (EXNER, 2003; PASIAN e
LOUREIRO, 2010). Trata-se, portanto, de uma avaliação da estruturação cognitiva que
envolve processos de atenção, percepção, memória, tomada de decisões e análise lógica.
Outros modelos de trabalho a partir de bases estruturais também são conhecidos no trabalho
com o Rorschach. Entre os mais conhecidos citamos Klofer, Piotrowski, Beck e Loosli-Usteri.
O trabalho de interpretação do Rorschach também tem aspectos de sua avaliação que
vão além do trabalho formal, sem perder a fidedignidade. Neste trabalho pode-se integrar as
contribuições da formulação individual das respostas à análise do sumário estrutural. Para esta
avaliação podemos verificar a interação de conteúdos individuais ou idiográficos, para os
quais encontramos diversas escalas que, além de enriquecer a interpretação com alguns
elementos, estão também fundamentados em pesquisas relevantes, apresentando-se inclusive
em forma de escalas (COOPER, PERRY e ARNOW, 1988; TIBON, PORCELLI e
WEINBERGER, 2005).
Por outro lado, pode ser considerado também projetivo, associativo e/ou aperceptivo,
uma vez que as manchas, um material extremamente plástico, são uma barreira que impede a
interferência de estímulos ambientais comuns, não havendo nenhuma restrição à
individualidade da personalidade. Assim, o indivíduo pode expressar livremente seu mundo
próprio de significados, simbolizações e sentimentos pessoais, que extrapolam as qualidades
reais do estímulo, na medida em que ele não está em perigo de colidir com a realidade
(RORSCHACH, 1978; WEINER, 2003).
O problema que houve com o Rorschach foi que muitos clínicos e pesquisadores
tentaram formular posições teóricas que enfatizavam um modo unilateral ou parcial de se
trabalhar com as respostas às manchas: aspectos cognitivos/ psicométricos/ quatitativos ou
temáticos/projetivos/subjetivos do instrumento. Essas formulações, segundo Weiner (2003),
se prestaram a um desserviço à riqueza e complexidade do método e, equivocadamente, dão a
entender que existe apenas um modo de analisar as respostas deste valioso instrumento. O
autor ainda afirma que considerar o Rorschach como método, e não como teste, ajuda a
desestimular a adesão estéril a um único enfoque e promove a utilização adequada das
informações levantadas pelo instrumento.
Outra consideração a fazer é que os mesmos resultados encontrados no Rorschach
podem ser avaliados de diferentes perspectivas teróricas. Assim, encontramos trabalhos com
fundamentação teórica psicanalítica (SCHAFFER, 1954; LERNER, 1991; CHABERT, 1993),
com fundamentação jungiana (McCULLY, 1980), ou com base fenomenológica
(BARTHÉLÉMIE, 1997; HELMAN, 1991, MINKOWSKA, 1956). Além do mais, Hermann
Rorschach, entre os anos 1910 e 1922, época em que atuou profissionalmente, conviveu em
seu percurso profissional com grandes representantes da área, incluindo expoentes dessas 3
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correntes – Jung, Bleuler, Minkowski e Biswanger, além de ter sido vice-presidente da
Sociedade de Psicanálise da Suíça, em 1919 (NASCIMENTO, 2010).
Dessa forma, o Rorschach transcende os pontos de vista teóricos e seus dados podem
ser interpretados de acordo com o referencial teórico, que se eleger, pois a sua capacidade de
gerar informações úteis existe independentemente de qualquer teoria específica.
2. A aplicabilidade do Rorschach em diferentes culturas
Concorda-se com Resende e Argimon (2010) quando afirmam que o Brasil, com
dimensões continentais, exige o desenvolvimento de métodos de avaliações psicológicas que
possam abarcar toda a gama de culturas que o compõe: povos indígenas, europeus, africanos,
asiáticos, árabes, entre outros. Esses povos concebem uma realidade cultural específica que,
apesar de constituir uma identidade brasileira, se revela na multiplicidade de tradições,
folclores, religiões e crenças, hábitos, linguagens, pensamentos e artes. Toda essa
multiplicidade não é coesa nas diferentes regiões do país. Cada estado tem suas
peculiaridades, e cada um pode ser considerado um polo cultural diferente. No geral, também
se observa que em todas as regiões do país há grupos culturais menos favorecidos ou que
vivem às margens da sociedade como alguns grupos indígenas, comunidades negras e outras
comunidades tradicionais.
Diante dessa realidade multicultural que é o Brasil, um instrumento de avaliação
psicológica que tem o potencial para ser administrado em contextos transculturais é o método
de Rorschach. Nestes casos, o instrumento é considerado ideal porque se trata de um método
composto por manchas de tinta, que são estímulos visuais neutros, bastante simples, e as
tarefas propostas pelo método são encontradas nas mais variadas culturas. Ao contrário dos
testes verbais mais estruturados, o Rorschach não envolve fotografias ou desenhos, como
também não requer a tradução de itens e, portanto, pode tornar-se isento de influências
culturais (RITZLER, 2004; DANA, 2005).
Os 28 estudos normativos de não-pacientes de 16 países diferentes – Argentina,
Austrália, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Grécia, Holanda,
Israel, Itália, Japão, Peru, Portugal e Romênia – apresentados no suplemento especial de 2007
do Journal of Personality Assessment corroboram essa concepção de que o Rorschach é um
método livre de culturas. Observou-se em todos os estudos uma consistência notável nos
resultados, com poucas variáveis que demonstravam diferenças significativas (EB, L, X-%,
Nota D negativa, pontos de corte para CDI, DEPI e HVI, dentre algumas outras). Como
sugerido por esses dados, o método de Rorschach parece ser tão válido quanto o é nos Estados
Unidos (EUA) quando administrado em outros países e com outras línguas.
Weiner (2004) também afirma que o Rorschach é um método livre de culturas. O teste é
adequado para aplicações multiculturais, porque basicamente a cultura fornece o contexto
para o funcionamento da personalidade, mas não determina sua estrutura básica e sua
dinâmica. Segundo o autor, as dimensões da personalidade são um fenômeno universal,
revelam-se nos mesmos dados estruturais que podem ser apreendidos pelas estruturas do
Rorschach. Nesse sentido, as normas podem ser usadas a fim de calibrar os critérios do
Rorschach para inferir características de personalidade em um determinado grupo. Frank
(1993) também reconheceu que as normas de grupo potencialmente poderiam fornecer no
Rorschach as descrições das diferenças culturais dentro dos EUA, apesar da heterogeneidade
intragrupo ir contra a utilidade prática desta informação.
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Presley et al. (2001), Meyer e Viglione (2008), Meyer (2001) e (2002) realizaram estudos
inter e multiculturais considerando pessoas de países diversos, ou pessoas de subculturas
diferentes dentro de uma mesma cultura ou pacientes hospitalares provenientes de diferentes
minorias étnicas. Os autores não encontraram diferenças estatisticamente significantes entre a
grande maioria das variáveis do Rorschach, e concluíram que a etnia não estava associada
com qualquer um índices, porcentagens ou variáveis investigadas derivadas do método.
Concorda-se com Dana (2005), que adverte que o termo "livre de cultura" aplicado ao
Rorschach pode implicar o endosso de que as semelhanças entre as pessoas de diferentes
culturas são maiores do que as diferenças tanto na vida quanto nos dados Rorschach. Isso
contribui para a insensibilidade contemporânea para as questões culturais, dificultando a
investigação continuada sob este enfoque. Apesar de muitas variáveis manterem o mesmo
significado e frequências equivalentes nas diferentes culturas, algumas poucas variáveis do
método têm se destacado por demonstrarem pouca validade quando interpretadas da mesma
forma em culturas diferentes. Isto é um problema sério e que pode passar despercebido por
pessoas que não são especialistas no uso desse instrumento. Além do mais, diferentes
configurações de variáveis no Rorschach podem ter vantagens e desvantagens adaptativas
dentro dos diversos ambientes socioculturais. Meyer adverte que para comparar pessoas de
etnias diversas e grupos minoritários deve-se, no entanto, controlar fatores demográficos
como idade, educação, características da saúde (pacientes e não pacientes). Este autor afirma
que com desenhos de pesquisa bem delineados, as diferenças no Rorschach não tendem a ser
significativas (MEYER, 2002).
3. A aplicabilidade do Rorschach às diferentes áreas da Psicologia
Como instrumento de avaliação de personalidade, a Rorschach fornece informações
sobre a capacidade de adaptação do indivíduo, estilo de enfrentamento de situações adversas
(coping), atitudes e preocupações subjacentes, e disposições para pensar, sentir e agir de
determinada maneira. Estas indicações de estados, traços e vida interior de uma pessoa,
frequentemente facilita as decisões em que as características de personalidade são uma
consideração relevante. Assim, o método serve a propósitos úteis a diferentes áreas da
Psicologia, especialmente nas áreas clínica e jurídica.
3.1. Área Clínica
No que diz respeito à importância da utilização do Rorschach na clínica, o seu uso já é
amplamente aceito. Neste âmbito, o instrumento volta-se para a descrição de características da
personalidade que podem estar associadas a vários padrões psicopatológicos sem pretensão de
sempre fornecer uma medida direta e específica dessas condições, mas que revelam, antes de
tudo, características do funcionamento psíquico úteis para um diagnóstico diferencial. Por
exemplo, a esquizofrenia é caracterizada pelo pensamento desordenado e teste de realidade
diminuído. O Rorschach de uma pessoa possui uma suspeita de estar sofrendo com esse
transtorno apresentará os índices de associações incoerentes, raciocínio ilógico e distorção
perceptiva aumentados. Consequentemente, a probabilidade de a pessoa apresentar um
transtorno do espectro da esquizofrenia é elevada (WEINER e MEYER, 2009).
Os informes provenientes do Rorschach, essencialmente, podem complementar o
diagnóstico identificando (a) traços estáveis; estados afetivos relativamente transitórios e
atitudes decorrentes e (b) processos psicológicos subjacentes ou privados que interferem no
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funcionamento global da personalidade (modos de pensar, sentir e agir). O mais importante na
prática clínica e na pesquisa é saber que o método pode identificar de modo mais ou menos
acurado forças e fraquezas da personalidade com implicações para planos de tratamento e de
intervenções, além de ser bastante útil para avaliações de resultados de tratamento (WEINER,
2003).
Considerando o planejamento do tratamento, o Rorschach mede inúmeras
características de personalidade que são relevantes para tomadas de decisões antes e durante o
processo de intervenção. Inicialmente, o grau de perturbação ou incapacidade de lidar com
situações adversas mostrados nas respostas ao método terá implicações para saber se o
indivíduo requer cuidados hospitalares ou se ele está funcionando suficientemente bem para
ser tratado em casa. O estilo de personalidade e gravidade da desorganização refletida nos
resultados do Rorschach podem ajudar a determinar se as necessidades de tratamento de um
indivíduo serão melhor atendidas por uma abordagem de apoio, que visa aliviar o sofrimento,
ou uma abordagem cognitivo-comportamental, projetada para modificar sintomas ou resolver
problemas, ou ainda um abordagem exploratória voltada para aumentar a auto-compreensão,
ou se se trata de uma pessoa que precisa de um trabalho mais longo e que poderá aproveitar
de um trabalho psicoterápico de ordem mais profunda. Independentemente da abordagem
implementada, os traços adaptativos e preocupações subjacentes sugeridas pelas respostas ao
método podem ajudar terapeutas a decidirem, em consulta com seus pacientes, quais serão os
objetivos do tratamento e com que prioridade esses objetivos devem ser abordados.
Certas características de personalidade mensuradas pelas variáveis do Rorschach
também podem ajudar o terapeuta a antecipar se o cliente está predisposto ou não a se engajar
e obter progresso no seu tratamento. A consciência de tais obstáculos potenciais para o
engajamento e o progresso podem afastar a impaciência ou desânimo do terapeuta diante de
um tratamento inicialmente lento, além de focar a atenção para a importância de superar ou
contornar estes obstáculos para que se tenha progresso nas intervenções terapêuticas
(WEINER e MEYER, 2009).
A utilidade da avaliação de Rorschach para monitorar progressos e resultados de
psicoterapia foram demonstradas por Weiner e Exner (1991), Exner e Sanglade (1992) e
Fowler et al. (2004). Paciente em tratamento a longo e curto prazos e em psicoterapias breves
foram examinados em várias aspectos durante e após o tratamento. Os pacientes nesses
estudos revelaram mudanças positivas significativas ao longo de sua terapia, e o nível dos
avanços ou progressos estava diretamente relacionado ao comprimento de sua terapia.
Só para ilustrar esse contexto, imagine que uma avaliação antes da terapia identifica
algumas metas de tratamento que podem ser expressas em termos do Rorschach, tais como:
reduzir o nível de estresse, desenvolver atitudes mais cooperativas e promover a capacidade
de solucionar os problemas de modo mais cuidadoso. Com esses dados do teste como uma
linha de base, o reexame após um período de tempo pode fornecer indicações quantitativas de
quanto progresso foi feito para atingir esses objetivos.
3.2. Área Jurídica
O Rorschach tem sido um dos testes mais usados, aceitos e frequentemente
requisitados na prática de avaliação psicológica forense (GACONO e EVANS, 2008;
ROVINSKI, 2006). O seu uso se justifica por ser uma medida comportamental baseada no
desempenho do sujeito que pode revelar características de personalidade que as pessoas não
reconhecem plenamente em si ou hesitam em admitir quando questionadas sobre elas
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diretamente (WEINER e GREENE, 2008). Nesse sentido, o instrumento é menos suscetível à
manipulação ou dissimulação consciente e intencional por parte do examinando (EXNER,
2003; GAMBOA, 2006; ROVINSKI, 2006).
De maneira semelhante à área clínica, as aplicações forenses do Rorschach em casos
de direito criminal e civil, especialmente em relação ao direito de família e danos pessoais,
derivam de uma tradução de conceitos jurídicos em termos psicológicos. Por exemplo, uma
das questões mais solicitadas em avaliações forenses em direito criminal consiste em saber se
a pessoa acusada tem competência ou capacidade de discernimento adequada e se pode ser
considerada responsável pelo seu alegado crime. A competência, neste contexto, consiste em
verificar se a pessoa é capaz de compreender e enfrentar o processo judicial e participar
efetivamente em sua própria defesa. No que diz respeito ao funcionamento da personalidade,
estes aspectos da competência são medidos pelos índices de distúrbio do pensamento e pelo
prejuízo no teste de realidade no Método de Rorschach (WEINER e MEYER, 2009).
Outra questão frequentemente solicitada é a avaliação da sanidade mental, ou seja, se
uma pessoa acusada estava legalmente saudável, do ponto de vista psicológico, no momento
do crime. Uma avaliação por meio do Rorschach sustenta questões de competência que dizem
respeito ao funcionamento psíquico de um réu (aspectos cognitivos, capacidade de
autocontrole e manejo do estresse) no momento atual da avaliação. Nesse sentido, quanto
mais próxima for a avaliação do momento do crime mais precisa poderá ser a inferência sobre
essa questão da sanidade mental (ZAPF, GOLDING e ROESCH, 2006).
Além do que foi dito, ainda tem a investigação de danos pessoais. Este é um outro
aspecto em que a avaliação da personalidade pode ser relevante para avaliar em que medida
uma pessoa se tornou emocionalmente perturbada ou incapacitada em consequência de um
comportamento irresponsável por parte de outra pessoa ou de alguma instituição. Nestes
casos, a avaliação pode ajudar o tribunal a estabelecer se, e em que medida, um denunciante
tornou-se emocionalmente perturbado ou incapacitado após o comportamento supostamente
irresponsável do acusado. Os indícios no Rorschach de estresse pós-traumático, de ideações e
afetos depressivos, de perda psicótica do contato com a realidade são particularmente
relevantes na identificação desses danos psíquicos (GACONO e EVANS, 2008)
As questões da determinação legal da guarda dos filhos e direito de visitação baseiamse também nas características da personalidade de pais separados ou divorciados e seus
filhos. Distúrbios psicológicos ou problemas emocionais não necessariamente impedem uma
pessoa de ser um bom pai ou mãe. Mas, pessoas seriamente perturbadas ou psicologicamente
incapacitadas são suscetíveis de interferirem na capacidade de serem bons genitores, pois o
julgamento, o controle dos comportamentos, pensamentos e sentimentos podem ser tão
ineficientes a ponto de interferir na capacidade parental. Todas essas questões importantes
pode ser avaliadas por meio do Rorschach (GACONO e EVANS, 2008; WEINER e MEYER,
2009).
Outras questões também muito investigadas nessa área são: maior predisposição para
comportamentos violentos, bem como se a pessoa apresenta risco para sua própria vida e para
a vida dos outros. Estes argumentos, embora longe de esgotar todas as possibilidade do uso da
avaliação por meio do Rorschach nesta área de investigação da personalidade, já são
suficientes para entender a contribuição que o instrumento pode propiciar às Avaliações
Psicológicas Jurídicas.
3.3 Área organizacional
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O Rorschach na prática organizacional está relacionado primariamente com a seleção e
avaliação de pessoal (WEINER e GREENE, 2008). Algumas questões importantes para
avaliar em perfis profissionais por meio desse instrumentos são: produtividade, rendimento
intelectual, capacidade de análise e síntese, praticidade, capacidade de lidar com problemas
abstratos, flexibilidade e rigidez do pensamento, capacidade de tomar decisões, habilidade de
estabelecer metas realísticas, tolerância à frustração e ao estresse, capacidade para as relações
interpessoais, para trabalhar com outras pessoas e cooperar, criatividade e capacidade
inovadora, liderança, iniciativa, capacidade de envolver as pessoas emocionalmente,
indicadores de comportamentos antissociais, de características narcísicas, de insegurança,
sinais de depressão, comportamentos dependentes e independentes. Outras questões avaliadas
também estão relacionadas à investigação do perfil do profissional técnico e perfil do
professional gerencial (SAINZ e GOROSPE, 2005). No Brasil temos estudos interessantes a
respeito do perfil gerencial e do perfil do profissional em informática, ambos levantados por
meio do Rorschach (AMARAL, 2006; GARCIA-SANTOS, 2009, 2005).
A avaliação de pessoal por meio do Rorschach pode também envolver a avaliação da
capacidade de uma pessoa para um determinado cargo cuja capacidade de exercer tal função
tornou-se prejudicada por seus distúrbios psicológicos. Outras questões também têm sido
bastante solicitadas nesse meio atualmente: a avaliação de comportamentos potencialmente
agressivos em pessoas voltadas mais para a ação e a avaliação da falta de autocontrole, o que
aumenta a probabilidade de reincidir em comportamentos violentos em pessoas que já
exibiram este tipo de comportamento em empresas ou instituições.
3.4. Área da Saúde
Nesta área o foco tradicional encontra-se no diagnóstico e tratamento de doenças
mentais. Como já foi explicitado na área clínica, o Rorschach se presta para a descrição de
como a pessoa normalmente se sente, pensa e comporta, que são dados que facilitam o
diagnostico diferencial. Além disso, as avaliações expandem-se para: a avaliação da
predisposição para se engajar e progredir no tratamento, a avaliação de características de
personalidade associadas com as origens e a evolução da doença física; a avaliação associada
com a adaptação à incapacidade crônica, ou com a tolerância para os procedimentos médicos
e cirúrgicos mais estressantes e/ou manutenção de um estilo de vida saudável. Ainda na área
da saúde encontam-se avaliações que são realizadas para detectar funções mentais em
questões de Neuropsicologia, como no caso de avaliar o funcionamento das Funções
Executivas (ROSENTHAL, PACHECO E SILVA NETO, NEDER & NASCIMENTO,
2004), ou mesmo quando há necessidade de se avaliar pessoas antes de cirurgias em caso de
TOC grave (ROSENTHAL, 2007). Ressaltam-se também estudos de personalidade
associados com a existência de dor crônica (SEMER et al., 2008 e 2009), sendo o Rorschach
um excelente instrumento para avaliar pessoas com distúrbios psicossomáticos.
3.5. Área da educação
Nessa área o Rorschach pode ajudar a lançar luz sobre as necessidades e
preocupações dos alunos mostrando problemas de aprendizagem ou condutas. É muito grande
a demanda de avaliação psicológica de crianças com problemas escolares. Nestas situações é
difícil discernir de onde vem a problemática, se especificamente da área cognitiva, ou se já
interferência do funcionamento emocional. O método pode ser usado, por exemplo, para
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verificar o quanto questões emocionais e/ou cognitivas (processamento/mediação/ideação)
estão interferindo no fracasso escolar. Informações a respeito da personalidade de alunos
podem ser usadas para chegar a conclusões e fazer recomendações úteis para uma ampla
gama de aplicações educacionais, como orientações vocacionais, necessidade de
aconselhamentos ou de serviços educacionais especiais para estudantes com problemas de
comportamento ou de aprendizagem. Ressalta-se a importância de estudos sobre as
características de estudantes como forma de subsidiar tomadas de decisão e planejamentos
pedagógicos mais adequados, além de permitir o oferecimento de serviços psicológicos
relacionados à demanda.
Para finalizar este tópico em relação à aplicação o Rorschach nas mais variadas áreas
de atuação do psicólogo, sublinhamos que sempre que características de personalidade são
relevantes para tomadas de decisões em tribunais, em escolas, empresas, hospitais ou em na
clínica, uma avaliação de Rorschach realizada por um profissional especializado e bem
treinado poderá fazer contribuições e críticas valiosas.
4. Fundamentos científicos do Rorschach
Quando se fala em fundamentos científicos de um teste psicológico significa que o
instrumento deve ser construído de acordo com os princípios reconhecidos pela comunidade
científica, especialmente os desenvolvidos pela Psicometria. As propriedades mínimas e
obrigatórias para ser considerado um instrumento psicológico são: a demonstração de
evidências empíricas de confiabilidade/precisão e validade, bem como a apresentação dos
seus dados normativos (CFP, 2003; ITC, 2003).
No Brasil, temos o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI) que
consiste em uma norma de certificação de instrumentos de avaliação psicológica, que é
mantido pelo Conselho Federal de Psicologia. Este sistema é gerido por uma comissão
consultiva, que avalia e qualifica os instrumentos em apto ou inapto para uso profissional, a
partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos mínimos (fundamentação
teórica, precisão, validade e normatização), definidos pela área (AERA, APA e NMCE, 1999;
CFP, 2004; PRIMI e NUNES, 2010).
Weiner (2003) esclarece que por mais de 50 anos, desde a sua publicação em 1921, o
método foi frequentemente criticado como um instrumento pouco satisfatório em termos
científicos ou psicométricos. Essas críticas desafiaram alguns dos pioneiros responsáveis pelo
aperfeiçoamento do Rorschach a desenvolver estudos rigorosos, com hipóteses baseadas em
teorias e voltadas para conceitos, bem como com a utilização de métodos estatísticos metaanalíticos e considerações do impacto do erro.
É importante destacar que, desde que o Rorschach foi padronizado em sua forma de
aplicação, correção e interpretação por Exner (2003), com o advento do Sistema
Compreensivo (SC), e ao mesmo tempo tem sido investigado por meio de metodologias de
pesquisa aperfeiçoadas, o instrumento tem demonstrado sua cientificidade e calado suas
críticas de que ele não tem propriedades psicométricas suficientes para ser considerado um
teste psicológico.
Salienta-se que as críticas negativas mais dramáticas do Rorschach não são
consistentes com a base de evidências científicas do instrumento. Mesmo os psicólogos que
são críticos do teste geralmente concordam que algumas pontuações de variáveis do
Rorschach podem ser úteis para a detecção de transtorno de pensamento, para o diagnóstico
de transtornos mentais caracterizados por desordem de pensamento, avaliar comportamentos
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de dependência, e para prever o resultado do tratamento (GARB et al., 2005, p. 105). A
seguir, os fundamentos científicos de confiabilidade, validade e normatização do Rorschach
serão descritos de modo sucinto, com base em uma revisão da literatura relevante.
4.1. Confiabilidade ou Precisão
A confiabilidade é a extensão em que um construto é avaliado de forma consistente,
ou sem erros. No caso da avaliação de personalidade, quando decisões são tomadas com base
nos escores dos testes, seus usuários precisam ter certeza de que estes escores são
razoavelmente confiáveis ou livres de erros de mensuração para serem úteis. É importante
observar que os escores de testes não precisam ser totalmente livres de erros para serem úteis
(URBINA, 2007). Existem diferentes formas de se avaliar a confiabilidade (ou precisão) de
um instrumento psicológico, mas aquelas que se aplicam mais especificamente ao Rorschach
é a confiabilidade teste-reteste e a confiabilidade interavaliadores.
A confiabilidade teste-reteste avalia a estabilidade temporal, que se refere ao grau em
que os resultados de um teste repetem-se em diferentes momentos. Para se estimar a
estabilidade temporal de um teste, este é aplicado e reaplicado a um grupo de indivíduos após
um intervalo de tempo e então é calculada a correlação entre os resultados do teste e do
reteste. Um teste de personalidade deve apresentar resultados estáveis, mesmo em intervalos
relativamente longos, o que indicaria que os erros de medida são pequenos e que o teste avalia
traços de personalidade, ou seja, características mais permanentes do que situacionais (SILVA
NETO e CUSTÓDIO, 2010).
A consistência temporal tem sido estudada com bastante frequência no Rorschach.
Grønnerød (2003), Exner (2003), Meyer e Archer (2001) e Viglione e Hilsenroth (2001)
conduziram meta-análises sistemáticas dessa literatura, bem como desenvolveram estudos
empíricos de teste-reteste e os resultados mostram-se aceitáveis para uma boa estabilidade
para os escores do teste. As pontuações das variáveis que mensuram traços de personalidade
produziram coeficientes de teste-reteste relativamente altos, mesmo em longos períodos de
tempo (por exemplo, três anos de intervalo), enquanto os escores daquelas que avaliam
estados emocionais ou estresse situacional produziram coeficientes relativamente baixos,
mesmo em intervalos de tempo curtos (por exemplo uma ou duas semanas).
Sultan et al. (2006) encontraram níveis de estabilidade temporal um pouco mais baixos
quando investigaram 75 adultos não pacientes franceses, em que o reteste ocorreu 3 meses
depois do teste. A estabilidade temporal de 49 variáveis apresentou uma correlação média de
r=0,53
0,15 e mediana = 0,51. Apenas nove variáveis mostraram correlações acima de
0,70. Destacam Meyer e Viglione (2008) que embora mais baixa do que o esperado ou
desejado, este nível de estabilidade é similar ao observado com testes de memória e de
medidas de desempenho no trabalho.
A confiabilidade interavaliadores (ou intercodificadores) consiste em pelo menos dois
avaliadores diferentes corrigirem separadamente o mesmo grupo de testes, para que o
desempenho de cada testando gere dois ou mais escores independente. As correlações entre os
conjuntos de escores são o índice de confiabilidade entre os avaliadores. Uma correlação de
0,65 entre dois avaliadores no Rorschach pode ser considerada satisfatória, ou seja, a
confiabilidade entre os avaliadores é boa e isto indica que a correção do teste é precisa
(URBINA, 2007).
Silva Neto e Custódio (2010) relatam que algumas pesquisas realizadas com o SC no
Brasil informam sobre a confiabilidade interavaliadores, mostrando resultados adequados,
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com valores de Kappa ou do Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) maiores do que 0,60
(SILVA NETO, 2008). A codificação do Rorschach para examinadores treinados
normalmente é bastante simples e o acordo é atingível através de avaliadores. As metaanálises indicam que os avaliadores razoavelmente treinados conseguem uma boa
confiabilidade, com a média da correlação de Pearson ou intraclasse ( ICC) acima 0,85 e os
valores médios de kappa para pontuações atribuídas a cada resposta acima .80. (MEYER et
al., 2002, MEYER, 2004). Segundo Meyer (2004) os juízes avaliadores de Rorschach
concordam mais do que os supervisores avaliando o desempenho no trabalho dos empregados
(r = 0,57), os cirurgiões e enfermeiros diagnosticando anormalidades da mama em um exame
clínico (kappa = 0,52), e mais do que os médicos que avaliam a qualidade dos cuidados
médicos prestados por seus pares (kappa = 0,31). Para muitas variáveis do Rorschach, a
pontuação mostra o mesmo grau de confiabilidade quando os médicos estimam o tamanho do
canal vertebral e medula espinhal de ressonância magnética, tomografia computadorizada, ou
raio-x (r = 0,90). Ou o mesmo grau de confiabilidade entre médicos ou enfermeiros que
avaliam o grau de sedação de drogas para pacientes em terapia intensiva (r = 0,91, ICC =
0,84).
Ao mesmo tempo, também se observam alguns limites em relação à confiabilidade
daquelas variáveis que aparecem em frequência muito baixa (menor do que em 5%) nos
protocolos do teste (MCGRATH et al., 2005; MEYER et al., 2002; VIGLIONE & TAYLOR,
2003; MEYER & VIGLIONE, 2008). Segundo Meyer e Viglione (2008), são necessárias
grandes amostras de testes para estimar com precisão a confiabilidade dessas variáveis mais
raras (por exemplo as variáveis Sx, Fr+rF e CP). Além disso, existem alguns códigos mais
comuns que geralmente apresentam uma menor confiabilidade em função de apresentarem
subtipos que podem ser difíceis de discriminar (por exemplo, os tipos de sombreados, na
medida em que a forma é primária, secundária ou ausente; ou diferenciar os conteúdos
botânico, de paisagem e natureza; ou classificação de tipos específicos de desorganização
cognitiva). Para ajudar na superação dessas dificuldade Viglione (2002) desenvolveu um livro
de codificação que aborda estas questões. Além disso, é preciso ter em mente que a
confiabilidade entre avaliadores no Rorschach não é uma propriedade fixa do instrumento.
Pelo contrário, é totalmente dependente da formação, habilidade e consciência da examinador.
Assim, a prática repetida e a calibração com critérios bem definidos de correção são
essenciais para uma boa prática (MEYER e VIGLIONE, 2008).
Meyer e Viglione (2008) advertem sobre a questão de que a maioria das pesquisas de
confiabilidade para o Rorschach e outros instrumentos conta com avaliadores que trabalham
ou treinam no mesmo ambiente. Dessa foram, consistem em pessoas que possuem as mesmas
orientações e vícios de correções, em que o acordo entre esses avaliadores que trabalham
juntos pode ser maior do que o acordo entre avaliadores de grupos de trabalho diferentes.
Como resultado, a confiabilidade na correção de dois avaliadores de um mesmo grupo pode
ser maior do que a precisão de pontuação correta de fato. Enquanto o índice de confiabilidade
entre avaliadores do mesmo grupo de pesquisa tende a ser maior ou próximo de 0,85, por
outro lado, esse índice pode chegar a 0,72 quando os mesmos protocolos do teste são
codificados por avaliadores de grupos diferentes.
Segundo os autores, isto sugere que há complexidades no processo de codificação que
não estão totalmente esclarecidas em materiais de treinamento padrão do Sistema
Compreensivo. Para minimizar esses problemas, os avaliadores devem ter práticas exaustivas
de correção do teste, por meio dos exercícios disponíveis nos livro de treinamento do sistema,
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além de contar com textos específicos de esclarecimento a respeito de soluções para
codificação do teste como o livros de Viglione (2002), Exner (2001, 2003) e Exner & Erdberg
(2005).
Em pesquisas brasileiras tem-se encontrado um excelente resultado de confiabilidade
na codificação das respostas. Podemos citar a pesquisa normativa de Nascimento (2007 e
2010) e diversos trabalhos, dissertações e teses que têm sido apresentados. Por exemplo, a
concordância entre juízes apresentada nos estudos de Resende, Carvalho e Martins (2012),
Ribeiro, Semer e Yazigi (2011, 2012), Leonel, Semer e Yazigi (2012) e na tese de doutorado
de Garcia-Santos (2009).
4.2 Validade
O estudo da validade de um teste psicológico evidencia se o teste está medindo o
construto que se propôs a verificar em sua definição inicial e até que ponto o faz. Vários
autores nacionais e internacionais são unânimes em asseverar que esta é uma qualidade
imprescindível aos testes psicológicos. Para se garantir a validade de um teste psicológico,
muitas linhas de evidências devem ser englobadas, exploradas e testadas. A validade depende
das evidências que se pode reunir para corroborar qualquer inferência feita a partir de
resultados de testes (AERA, APA e NMCE, 1999; BALBINOTTI, 2005; URBINA, 2007;
WEINER e GREENE, 2008).
Segundo Weiner e Greene (2008), a mais extensa fonte de informação a respeito da
validade do Rorschach é a meta-análise desenvolvida por Hiller et al. (1999). Esses
pesquisadores realizaram uma análise comparativa de validade entre o Rorschach e o MMPI.
Eles investigaram um amostra aleatória de 2.276 protocolos Rorschach e 5.007 protocolos de
MMPI e concluíram que ambos os instrumentos são válidos para avaliar o que eles se
propõem avaliar. Particularmente o Rorschach demonstrou maior validade em relação a
critérios classificados como objetivo. Os critérios que eles consideraram objetivos
abrangeram uma série de variáveis que foram consideradas reações comportamentais,
condições médicas, interações comportamentais com o meio ambiente, ou classificações que
exigiam um mínimo de julgamento de um observador, como o abandono do tratamento,
história de abuso, o número de acidentes de trânsito, as histórias criminais, o diagnóstico de
um transtorno médico, o desempenho em um teste cognitivo, o desempenho em um teste
comportamental de capacidade de adiar a gratificação, ou resposta à medicação.
Vários estudos têm fornecido evidências de validade do Rorschach por meio de metaanálises, considerando sua validade global, ou algumas de suas escalas específicas (ou
índices) ou, ainda, mediante a análise de variáveis individuais (BORNSTEIN e MASLING,
2005; EXNER e ERDBERG, 2005; MEYER e ARCHER, 2001; MIHURA et al., 2012). Entre
os índices que evidenciaram maior validade encontram-se: o Índice de Suicídio (S-Con),
Índice de Distúrbio do Pensamento (PTI), de Hipervigilância (HVI), de Dependência (ROD),
de Forma Distorcida (FQ-), de Códigos Especiais (Sum6), Lambda (L), Experiência Efetiva
(EA), Índice de Complexidade (Complexity), Frequência Organizacional (Zf), Ideações
Deliberadas (M) e Índice de Stress (EA-es).
Grønnerød (2004), por meio da meta-análise, resumiu sistematicamente a literatura de
Rorschach que examinou até que ponto as variáveis do teste poderiam medir mudanças da
personalidade em função do tratamento psicológico. O Rorschach produzido um nível de
validade que era equivalente a instrumentos de autoavaliação e em avaliações realizada por
clínico. Grønnerød também observou que a validade do Rorschach aumentava quando estava
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relacionada a tratamentos a longo prazo, sugerindo que quanto mais terapia mais mudanças
saudáveis na personalidade.
4.3 Normatização
No que diz respeito à normatização, como tipicamente não são conhecidos os escores de
uma determinada população, busca-se alcançar o desempenho médio de uma amostra de
indivíduos, com um perfil representativo dessa população para a qual o teste foi planejado, o
que estabelece padrões normativos relativamente estáveis de desempenho para interpretar os
resultados individuais. Os desempenhos médios, ou normas, permitem comparar o sujeito
com os seus pares ou consigo mesmo em diferentes aspectos avaliados de sua personalidade.
O desempenho do indivíduo pode variar de uma cultura para outra e de uma região para outra,
de acordo com os fatores de seu entorno. Qualquer norma é restrita à população da qual foi
derivada, e cada indivíduo deve ser avaliado em seu desempenho tendo como referência o
grupo em que está inserido (McGREW, 2009; URBINA, 2007).
Weiner e Greene (2008) ressaltam que a amostra normativa tem, como principal
requisito, ser representativa da população para a qual o instrumento será aplicado. Segundo,
os dados devem ser coletados por examinadores experientes que tiveram treinamento de
aplicação e correção do método. Finalmente, o participante, embora voluntário e anônimo,
deve estar seriamente envolvido na tarefa. Caso contrário, a falha em qualquer um desses
requisitos será uma variável interveniente que poderá invalidar qualquer estudo normativo do
teste.
Este problema da representatividade da população é um ponto crítico em quase todos os
estudos normativos da maioria dos países. No caso específico do Brasil, a representatividade
populacional dos estudos normativos é bastante crítica, vista a característica continental do
país e a diversidade sociocultural das regiões.
É importante enfatizar também a necessidade de estudos por faixa etária diferenciada,
que servem de referência normativa para crianças, adolescentes e adultos. Pois, como
destacam Stanfill, Viglione e Resende (2012), o desenvolvimento psicológico das crianças é
mais rápido e perceptível na primeira infância (até os três anos de idade), onde um período de
seis meses pode evidenciar mudanças significativas nas habilidades emocionais, cognitivas,
sociais e psicológicas (BRADY, 2002; PIAGET & INHELDER, 1962). Essas mudanças
psicológicas abrandam com o desenvolvimento do processamento cognitivo, que tende a ser
amplamente realizado ao final da adolescência (BALTES, 1987; FIERRO, 2004), embora
progressos bastante desiguais e grandes diferenças individuais sejam comuns durante a
infância (GRISSO, 2005).
Stanfill et al. (2012) enfatizam que as enormes diferenças individuais também foram
identificadas em protocolos de Rorschach de crianças por diferentes autores (AMES et al.,
1974; MEYER, ERDBERG e SHAFFER, 2007), pois afirmam que a grande variação nos
escores produzidos ocorre devido a diferenças de desenvolvimento entre esses jovens. Exner,
Thomas e Mason (1985), Exner e Weiner (1994) e Weiner (2003) observaram que as
pontuações no Rorschach muitas vezes flutuam ao longo do desenvolvimento e não se
estabilizam até aproximadamente dezesseis anos de idade.
Estudos dedicados à revisão de pesquisas empíricas nacionais e internacionais sobre a
utilização do Rorschach na infância, concluíram que é bastante incipiente o uso deste teste em
crianças menores, especialmente as pré-escolares, entre 3 e 6 anos de idade. Também foi
observado que entre os anos de 1930 e 2002, um período de 72 anos, existiam apenas cinco
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estudos normativos no país que consideravam a faixa etária até 13 anos de idade: o de
Barreto(1955), o de Viana Guerra (1958), o de Windholz (1969), o de Jacquemin (1976) e o
de Adrados (1985). Pela data de realização destas pesquisas é possível perceber que elas,
ainda que tenham representado uma grande contribuição para a área da avaliação psicológica
com crianças, são bastante antigas e, portanto, estão vinculadas a uma realidade sociocultural
diferente da atual (FERNANDES, 2010; NASCIMENTO, PEDROSO e SOUZA, 2009;
PASIAN, 2002).
Na busca por pesquisas normativas com o Rorschach, particularmente no SC, em
crianças e adolescentes no Brasil considerando os últimos 11 anos, período entre 2003 e 2013,
foram identificadas três publicações com amostras de faixa etária variável entre 5 e 14 anos
de idade: Nascimento et al. (2008), realizado com 140 crianças, entre 13-17 anos, em São
Paulo (SP); Ribeiro, Semer e Yazigi (2011, 2012), realizado em Cuiabá (MT), com 211
crianças entre 7 e 10 anos; Resende, Carvalho e Martins (2012), com 201 crianças entre 5 e
14 anos, da cidade de Goiânia (GO).
Considerando os estudos normativos do SC para adultos, pode-se dizer que já existem
normas para uma grande variedade de países. Exemplos desta preocupação e cuidados
técnicos estão presentes nos congressos da International Rorschach Society (IRS) – em
especial os ocorridos nos anos de 1999 e 2008 – e em periódicos científicos, com destaque
para Journal of Personality Assessment (em especial o publicado em 2007) e para
Rorschachiana (diferentes volumes) (PASIAN e LOUREIRO, 2010). No Brasil temos já
publicado um estudo normativo realizado com 409 adultos do estado de São Paulo
(NASCIMENTO, 2010) e uma publicação com estudos normativos de crianças e adolescentes
está em andamento, por Nascimento, Resende e Ribeiro. Em breve deverá estar finalizado.
Meyer et al. (2007) desenvolveram normas internacionais, provenientes dos protocolos
de Rorschach SC de adultos não-pacientes de 16 países diferentes, (Argentina, Austrália,
Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Grécia, Holanda, Israel,
Itália, Japão, Perú e Portugal). Essas normas corroboram com a concepção de que o
Rorschach é um método independente das peculiaridades culturais. Observou-se em todos os
estudos normativos uma consistência notável nos resultados. Poucas variáveis demonstraram
diferenças significativas. Evidências recentes sugerem algumas das diferenças aparentes entre
as amostras normativas coletadas nos Estados Unidos e internacionalmente são
provavelmente devido a diferenças inesperadas em pontos ou marcas de referências locais
usados para a administração e pontuação do teste (MEYER e VIGLIONE, 2008).
Por outro lado, são essas poucas diferenças significativas que apontam que o instrumento
também é sensível às culturas, pois além de mostrar consistência nos dados normativos em
diferentes países, o Rorschach capta os modos de expressão próprios de sujeitos com
determinados idiomas nativos, capta imagens temáticas e referências simbólicas de uma
cultura específica ou de um indivíduo em particular (DE VOS e BOYER, 1989; WEINER,
2003).
Considerações finais
Com base em tudo o que foi exposto sobre o Método de Rorschach, pode-se afirmar
que os resultados das pesquisas mais recentes indicam sua popularidade não só no Brasil, mas
também internacionalmente, como um do instrumentos mais usados para avaliar a
personalidade em diferentes áreas de Psicologia, especialmente na clínica e jurídica. Uma das
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maiores vantagens do instrumento é que ele pode ser aplicado em diferentes culturas em
função de se tratar de estímulos visuais neutros, cuja tarefa é bastante simples e pode ser
desempenhada facilmente nas diferentes faixas etárias. Outra vantagem é que o instrumento,
em sua essência, é ateórico, o que facilita os psicólogos de diversas orientações teóricas
utilizar o teste, pois a sua capacidade de gerar informações úteis existe independentemente de
qualquer fundamentação específica.
Apesar da necessidade constante de aprimoramento do instrumento, atualmente o seu
status científico repousa sobre uma base psicométrica sólida. A literatura científica aponta
claras evidências a respeito de sua confiabilidade e validade, além de apresentar os cuidados
necessários envolvidos na elaboração de referenciais normativos para aplicação e
interpretação do método. Tudo isso é consequência dos esforços de grupos de pesquisas,
como também da construção de uma rede nacional e internacional de profissionais e
acadêmicos interligados, em projetos de colaboração, em grande escala, para coleta de dados
nas diferentes culturas.
A riqueza de informações de pesquisa em diversas áreas, a aplicabilidade deste
instrumento para avaliação psicológica, faz deste instrumento um ícone da prática do exame
psicológico. Seus resultados garantem uma fidedignidade e validade, como vimos, acrescidos
grande profundidade na compreensão dos mecanismos psíquicos. Concorre também para o
destaque deste instrumento para avaliação psicológica a possibilidade se trabalhar com
aspectos profundos e particulares de uma pessoa. Estas vantagens tem levado a uma
exploração ainda crescente em pesquisas, um respeito por profissionais de diversas áreas,
como dos advogados, juízes e promotores, na área forense, dos médicos e em especial, dos
psiquiatras na área da saúde, como também de educadores e profissionais da esfera das
organizações que reconhecem seu status científico.
Por outro lado, concorda-se com Weiner e Meyer (2009) que é importante ter em
mente que ainda há muito o que ser estudado e aprendido sobre como, por que e quando o
método funciona com excelência ou maior eficiência, assim como sobre qual informação
única que somente o método pode fornecer com mais clareza.
Referências
AER, AMERICAN EDUCATIONAL RESEARCH ASSOCIATION; APA, AMERICAN
PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, NCME, NACIONAL COUNCIL ON
MEASUREMENT IN EDUCATION. Standards for educational and psychological testing.
Washington: American Educational Research Association, 1999.
AMARAL, A.E. V. Executive performance on the Rorschach Comprehensive System.
Rorschachiana, v. 28, p. 119-133, 2006.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Committee on Nomenclature and
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