Revista O Brasil Feito à Mão- no. 13
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Revista O Brasil Feito à Mão- no. 13
Ano 5 | nº13 Novembro 2011 Year 5 | #13 November 2011 Inspirado em pássaros da fauna brasileira, artesanato familiar atravessa gerações. Artesãos mineiros combinam técnica apurada e prazer na criação de peças exclusivas em madeira. Metais, sementes, coco, ossos, marfim e madeira. Em Fortaleza, artesão transforma a busca por materiais naturais em estilo. Inspired by birds from Brazilian fauna, family handcraft goes through generations. Artisans from Minas Gerais combine accurate technique and pleasure to create exclusive pieces in wood. Metals, seeds, coconut, bones, ivory and wood. In Fortaleza, an artisan transforms the search for natural materials in style. Editorial / Editorial 2 Artigo / Article 4 Oportunidades / Opportunities 6 O mapa da arte / Tha map of art 16 Feiras e Eventos / Fairs and Events 34 Eu faço / I make it 35 Onde encontrar / Where to find 36 Edição e projeto editorial / Editing and editorial project Instituto Centro Cape e Central Mãos de Minas Editor / Editor Tatiana Macedo Colaboradores / Colaborators Daniel Barcelos Luciana Sampaio Tatiana Macedo Fotografia / Photography Evandro Fiuza Henrique Queiroga Revisão / Revision Fernanda Carvalho Tradução de textos / Translation Fernanda Carvalho Ivana Pignolati Diagramação e arte / Layout and art direction Escritório Branding+Packaging+Design Gráfica / Printing company Difusora Editora Gráfica Tiragem / Circulation 5.000 exemplares / copies Distribuição gratuita / Free Distribution Foto da capa / Cover photo: Henrique Queiroga CENTRO CAPE MINAS GERAIS Rua Grão Mogol, 662 - Sion CEP 30310-010 - Belo Horizonte - MG Tel. 55 31 3282 8300 Fax 55 31 3282 8301 CENTRO CAPE DISTRITO FEDERAL SNC, Quadra 5, Bloco A, sala 212 Ed. Brasília Shopping CEP 70710-500 - Brasília - DF Tel. 55 61 3328 0621 Fax 55 61 3328 5802 SHOW ROOM ESTADOS UNIDOS 7 West 34th Street Suíte 725.1001 New York City - NY - Phone 917 282 5838 [email protected] ABEXA [email protected] 55 31 33263139 www.centrocape.org.br [email protected] 55 31 3281 6820 Editorial O Brasil está na moda. O mundo inteiro quer homenageá-lo e a forma mais fácil de se fazer isto é através da arte, da música e da gastronomia. Assim, o artesanato torna-se, a cada dia, mais procurado. Através dele, mostramos nossa cultura, a diversidade de materiais e do nosso povo. São redes de lojas na Europa e nos Estados Unidos que querem fazer a semana, o mês ou a quinzena do Brasil. O artesão tem, portanto, que aproveitar este momento antes da Copa, já que, durante os jogos, ninguém vai morrer de ganhar dinheiro, pois o turista da Copa não carrega sacola. O máximo que ele fará é comprar uma “lembrança”, desde que ela esteja na frente dele, em aeroportos, hotéis ou pontos turísticos. Mesmo assim, só se for pequena, não quebrar e couber na mala, afinal, este turista estará indo de um lado para outro do país, acompanhando seu time. Acho que sou uma das poucas pessoas que têm falado isso. Outro dia, procurei me informar sobre o que acontece com a comercialização do artesanato no Rio e em Salvador durante o Carnaval, tendo em vista que as duas cidades recebem mais turistas nesta época do ano do que qualquer outra cidade receberá durante a Copa. E sabe qual foi a resposta? Quase nada! Lógico que a venda aumenta um pouco, mas nada que tire ninguém do buraco. Liguei para amigos que moram na África do Sul e pedi que eles procurassem saber o que aconteceu com os artesãos africanos durante e após a Copa de 2010. Sabem a resposta? Assim como aqui no Brasil, eles foram incentivados a produzir, pois iriam vender para milhares de turistas e ficar ricos. Hoje, frustrados e cheios de estoque, estão vendendo seus trabalhos, a preço de banana, para atravessadores do mundo inteiro, que têm a oportunidade de comprar produtos baratos, muito abaixo do preço. Isso me lembra uma frase que li num jornal há anos atrás, na época do Presidente Figueiredo: “Plante que o João garante, mas plante pouco que o João é louco”. Brazil is in. The whole world wants to honor it and the easiest way to do that is through art, music and gastronomy. Thus, handcraft becomes, day by day, more searched. Through handcraft, we can show our culture, the diversity of our material and our people. Chains stores in Europe and in the US want to have the week, the month or a fortnight of Brazil. So the artisan must do a good use of this period before the World Cup, because during the games, nobody is going to get rich, since this kind of tourist simply doesn’t carry bags. The most he will do is buy a souvenir, as long as it is at hand, like in airports, hotels or touristic sights. Even so, only if they are small enough to fit in a handbag and are unbreakable, after all, they are here to travel and follow their team across the country. I think I’m one of the few people who has being saying that. The other day, I tried to find out what happens to handcraft sales in Rio de Janeiro and Salvador during Carnival, considering both cities receive more tourist this time of the year than any other city will receive during the 2014 World Cup. And do you know what the answer was? Almost nothing! Of course they sell a bit more than usual, but nothing expressive. I called my friends who live in South Africa and asked them to find out what happened to the artisans there during and after the 2010 World Cup. And do you know the answer? Just like they’re doing here in Brazil, they were encouraged to produce, because they were going to sell a lot to tourists and get rich. Today, frustrated and still full of products, they’re selling their pieces to middlemen at a bargain price, who have the opportunity to buy craftwork extremely cheap, bellow the real price. That reminds me of a sentence I read in the newspaper a few years ago, during João Figueiredo’s government: “Plante que o João garante, mas plante pouco que o João é louco”; meaning that “Plant and it grows, but plant enough not to lose”. Tânia Machado Presidente do Instituto Centro CAPE / President of Instituto Centro CAPE (Centro CAPE Institute) Um cenário de oportunidades para o artesanato brasileiro A scenario of opportunities for Br azilian handcr aft Juarez de Paula Sociólogo e gerente da Unidade de Atendimento ao ComércioVarejista e Artesanato do Sebrae Nacional. Sociologist and manager of the Atendimento ao ComércioVarejista e Artesanato do Sebrae Nacional (Retail Trade and Handcraft Unit Service from Sebrae). O Br asil estar á no centro das atenções internacionais nos próximos cinco anos, sediando um calendário intenso de grandes eventos: a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente – “Rio+20” em 2012, a Copa das Confederações em 2013, a Copa da FIFA em 2014, a Copa América em 2015 e os Jogos Olímpicos em 2016. Trata-se de uma oportunidade singular para consolidar nosso país como um dos principais destinos turísticos internacionais, tirando proveito desta superexposição para revelar ao mundo nossa diversidade cultural, nossas belezas naturais, nossa riqueza econômica e nosso comportamento festivo e acolhedor. A diversidade cultural é, certamente, um dos maiores diferenciais competitivos do país como destino turístico, revelando-se na variedade da nossa música, das festas populares, da culinária típica e do artesanato, elementos que traduzem nossas diferentes identidades regionais. O artesanato brasileiro terá, neste cenário, inúmeras oportunidades de se reposicionar no mercado, conquistando maiores atenção, espaço e valor. O objetivo estratégico deve ser uma mudança paradigmática de percepção, onde o artesanato deixe de ser visto apenas como resultado de uma “estratégia de sobrevivência” de trabalhadores de baixa qualificação e desprovidos de inserção no mercado formal de trabalho, passando a ser reconhecido como expressão da identidade local e da diversidade cultural Brazil will be at the center of international attention for the next five years, hosting an intense schedule of major events: the United Nations Conference on Sustainable Development – “Rio+20” in 2012, the FIFA Confederations Cup in 2013, the FIFA World Cup in 2014, the America’s Cup in 2015 and the Olympic Games in 2016. It is a unique opportunity to consolidate our country as a major international tourist destination, taking advantage of this overexposure to reveal to the world our cultural diversity, our natural beauties, our economic wealth and our festive behavior and atmosphere. Cultural diversity is certainly one of the biggest competitive advantages of the country as a tourist destination, revealed in the variety of our music, festivals, typical cuisine and crafts, all elements that reflect our different regional identities. The Brazilian craft will have, in this scenario, numerous opportunities to reposition itself in the market, gaining more attention, space and value. The strategic objective should be a paradigmatic shift in perception, where the craft is no longer seen as a result of a “survival strategy” of lowskilled workers, who lacked participation in the Artigo / Article 3 brasileira, como uma parte importante e significativa do nosso patrimônio simbólico e artístico. Atento a esse cenário e a essas oportunidades, o Sebrae planejou diversas iniciativas para ampliar a visibilidade do artesanato brasileiro, buscando, fundamentalmente, o incremento das possibilidades de acesso a novos mercados para os empreendedores individuais e empresários de micro e pequenas empresas deste segmento. O Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato – 3ª Edição é uma das principais iniciativas. Trata-se de um processo rigoroso de avaliação da qualidade e da competitividade dos empreendimentos de produção artesanal, permitindo a seleção das cem melhores unidades produtivas do país. Os premiados terão seus produtos divulgados por intermédio de catálogo eletrônico e expostos nos principais eventos do segmento nos próximos três anos. As inscrições estão abertas e podem ser feitas no endereço eletrônico www.top100.Sebrae.com.br. A criação do Centro de Referência do Artesanato Brasileiro – CRAB é outra iniciativa de grande relevância. Trata-se de um espaço para exposições, eventos, capacitação e comercialização do artesanato brasileiro que o Sebrae instalou na cidade do Rio de Janeiro, principal porta de entrada do turismo internacional e nosso mais expressivo polo de economia criativa. Localizado na Praça Tiradentes, no centro histórico da cidade, o CRAB deverá se tornar, nesses próximos anos, um importante ponto de visitação e de negócios, facilitando a comercialização de produtos de todo o país. A realização de arrojadas mostras e exposições de artesanato nas cidades que sediarão os grandes eventos internacionais referidos anteriormente é outra iniciativa que complementa essa estratégia. Trata-se de reunir e expor, com ousadia e excelência técnica, os melhores produtos de cada região, previamente selecionados, contribuindo para a pretendida mudança de percepção do valor dos produtos e ampliando as possibilidades de conquista de novos mercados e novos consumidores. Além disso, ao longo desse período, o Sebrae buscará intensificar o atendimento ao segmento do artesanato, priorizando o acesso à inovação, principalmente através da aplicação do design na concepção e desenvolvimento de novos produtos e embalagens. Outro elemento de destaque é a temática da 4 Artigo / Article formal labor market, but as a recognition of an expression of local identity and Brazilian cultural diversity, as a significant and important part of our heritage and symbolic art. Mindful of this scenario and these opportunities, Sebrae has planned several initiatives to increase the visibility of Brazilian handcraft, seeking primarily the increment of accessing possibilities to new markets for individual entrepreneurs and micro and small businesses in this segment. The “Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato” (Top 100 Craft Sebrae Award) - 3rd Edition is one of the major initiatives. It is a rigorous process for evaluating the quality and competitiveness of artisan production enterprises, allowing the selection of the one hundred best production units in the country. The winners will have their products disseminated through electronic catalog and displayed in the main events of the segment over the next three years. Registration is open and can be made on the website www.top100.Sebrae.com.br. The creation of the Centro de Referência do Artesanato Brasileiro – CRAB (Center for Brazilian Crafts Reference) is another initiative of great relevance. It is a space for exhibitions, events, training and Brazilian handcraft trading that Sebrae has installed in the city of Rio de Janeiro, the main gateway to international tourism and our most significant pole of creative economy. Located in Tiradentes Square, the historical city center, the CRAB should become, in these coming years, an important point of visitation and business, facilitating the marketing of products across the country. The realization of daring shows and craft exhibitions in the cities that will host major international events, as already mentioned, is another initiative that complements this strategy. It is about gathering and displaying, with boldness and technical excellence, the best products of each region, previously selected, contributing to the desirable change in perception of the value of products and expanding the possibilities of acquiring new markets and new consumers. In addition, during this period, Sebrae will seek to intensify the service to the craft segment, giving priority access to innovation, particularly through the application of design concepts in sustentabilidade, cujos pontos críticos são o manejo sustentável das matérias-primas naturais e das fontes de energia (como no caso da madeira usada nos fornos de produção de peças cerâmicas), o controle de efluentes e o uso da água. Pretendemos continuar dedicando grande atenção aos aspectos da gestão empresarial. O artesão, na maioria dos casos, domina com excelência sua técnica artística, ou seja, sua habilidade de criação e execução de peças artesanais. Todavia, nem sempre domina os fundamentos da gestão de negócios. Assim, sente dificuldades com questões elementares, como sua contabilidade básica, planejamento de produção, controle de estoques, atendimento aos clientes, logística de entregas, adequação de embalagens, promoção comercial, dentre outros. Outro ponto de destaque é a questão da formalização. Percebemos que, no segmento do artesanato, a informalidade ainda é elevada. Todavia, com o reconhecimento legal da modalidade de registro como “Empreendedor Individual”, acreditamos que não existem mais razões que justifiquem a reprodução desta situação. O Sebrae atuará fortemente na divulgação de informações e na facilitação de acesso aos procedimentos de formalização, incluindo também as modalidades coletivas, tais como as associações, cooperativas e empreendimentos de economia solidária. Finalmente, uma estratégia de reposicionamento do artesanato no mercado exige, também, o dimensionamento da importância social e econômica desta atividade. Não dispomos, hoje, de informações confiáveis e atualizadas a respeito. Não sabemos quantas pessoas se ocupam desta atividade, qual o valor total das transações, qual o percentual de participação no mercado. Assim, fica difícil avaliar e demonstrar a relevância do setor e, consequentemente, faltam políticas públicas orientadas para o seu fortalecimento. O Sebrae pretende aproveitar a motivação e a mobilização proporcionada pelo calendário de grandes eventos para promover estudos e pesquisas que resultem na elaboração de um censo social e econômico do artesanato brasileiro. Temos convicção de que, com essa estratégia, teremos, num horizonte de cinco anos, uma efetiva mudança de paradigmas no artesanato brasileiro. O Sebrae está pronto para dar sua contribuição, mas nada acontecerá sem o desejo e a participação dos próprios artesãos. the creation and development of new products and packaging. Another major element is the sustainability theme whose critical points are the sustainable management of natural raw materials and of energy sources (such as wood stoves used in the production of ceramic), the control of effluents and water usage. It is also our intention to continue paying great attention to all aspects of business management. The artisan, in most cases, dominates with excellence his artistic technique, which means his ability to create and execute handcraft pieces. However, he does not always master the fundamentals of business management. So he has difficulties with basic issues such as his simple accounting, production planning, inventory control, customer services, delivery logistics, adequate packaging, trade promotion, among others. Another important matter is the formalization issue. We realized that in the craft sector, informality is still high. However, with the legal recognition of a formal register as an “Empreendedor Individual” (Individual Entrepreneur), we believe that there is no more reason for this informality. Sebrae acts strongly in disseminating information and facilitating access to formal procedures, not only individually but also collectively, such as associations, cooperatives and social economy enterprises. Finally, a repositioning strategy of the craft in the market also requires the measurement of social and economic importance of this activity. We do not have any reliable or updated information about it today. We do not know how many people are engaged in this activity, what the total value of transactions is, what percentage of market share they have. Thus, it is difficult to assess and demonstrate the relevance of the sector and, consequently, there is a lack of public policies for their empowerment. Sebrae aims to harness the motivation and mobilization created by the calendar of major events to promote studies and research that can result in the development of a social and economic census of Brazilian handcraft. We are convinced that, with this strategy, we will have, in about five years, an effective paradigm shift in Brazilian handcraft. Sebrae is ready to make a contribution, but nothing can happen without the will and participation of the artisans themselves. Artigo / Article 5 Empreendedorismo que faz crescer Entrepreneurship that develops Tatiana Macedo FOTOS / PHOTOS Evandro Fiuza POR /BY Da sintonia perfeita entre o fruto oferecido pela natureza e a criatividade do homem nascem as peças produzidas pelos artesãos Stela Lodi, 61 anos, e seu marido, Américo Lodi, 64 anos. Os contornos sinuosos e diferenciados das cabaças propõem São Francisco, Santo Antônio, galinhas, bonecas, pinguins, patos e tudo o mais que ocorrer à artista plástica formada pela FUMA – Fundação Mineira de Arte Aleijadinho, hoje, incorporada à UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais. “Geralmente, as cabaças não são exatamente iguais. Cada tamanho e formato sugere a criação de peças, algumas vezes parecidas, outras diferenciadas. Isso nos permite proceder a variedades em nosso trabalho”, explica Stela. As duas etapas de produção, que consistem, respectivamente, no preparo da cabaça e na criação, são divididas. Américo, analista de sistemas aposentado, é quem limpa externa e internamente o fruto já seco, retira sua pele e as sementes, além de lixar, expurgar e imunizar a peça para evitar cupins e carunchos. Um preparo fundamental para a qualidade e a longevidade das peças. “Nosso cuidado na confecção permite uma boa proteção das peças, tanto no acabamento quanto na imunização. Na conservação, é importante não deixar a peça em local com muita umidade e não deixar diretamente ao relento. Quedas poderão causar a quebra ou trinca da peça”, explica Américo. A segunda etapa é, propriamente, a criação, quando Stela modela e pinta todos os detalhes da peça, levando, em média, dois dias até o acabamento final. “Peças maiores, como o São Francisco, podem demorar mais, pois eu modelo os pezinhos, os braços, espero secar e só depois passo a pintura.” São 6 Oportunidades / Opportunities From the perfect harmony between the fruit offered by nature and human creativity arises the handcraft work made by the artisans Stela Lodi, 61, and her husband, Américo Lodi, 64. The sinuous and differentiated shapes of calabash are transformed into the image of saints, like Francis of Assisi and Anthony of Padua, chickens, dolls, penguins, ducks and anything else that occurs to Stela, this plastic artist graduated at FUMA – Fundação Mineira de Arte Aleijadinho (Aleijadinho Art Foundation of Minas Gerais), now incorporated into UEMG – Universidade Estadual de Minas Gerais (University of the State of Minas Gerais). “Usually, calabashes aren’t exactly alike. Their sizes and shapes suggest the creation of pieces that are sometimes similar to each other, sometimes totally different, allowing us to put variety in our work”, explains Stela. The two stages of production, which are, respectively, the preparation of the calabashes and the creation itself, are divided. Américo, a retired system analyst, is responsible for cleaning the inside and outside of the dry fruit, removing its skin and seeds, sanding, purging and immunizing the piece to prevent termites and weevils. A necessary procedure to guarantee the quality and longevity of the material. “Our caution in production process provides good protection to the pieces, in both ways: finishing and immunization. In order to preserve the calabashes, it’s important to keep the object away from humidity and dew. Also, accidental falls may break or crack the object”, says Américo. The second stage is the creation itself, when Stela models and paints the details of each piece, spending minúcias e cores que tornam as peças únicas, e um processo de ganho de escala que, nas duas etapas de produção, permite aos artesãos trabalharem com várias peças e aumentarem o rendimento total. Uma outra linha de produtos, ainda secundária, produz lamparinas, latas e latões de leite a partir de materiais descartados. Esses materiais passam por uma reciclagem e recebem acabamento artístico. “Antes de trabalhar diretamente com o artesanato, lecionei em colégios, dando aulas de educação artística e história da arte. Nessas aulas, já incluía sucatas para desenvolver a criatividade dos alunos”, relata Stela, que acredita que o artesão, pela própria característica de seu trabalho, deve manter a cultura de respeito ao meio ambiente no patamar mais alto. Certificados em outubro de 2011 pelo selo IQS – Instituto Qualidade Sustentável, do Programa da Produção Artesanal – PCPA, projeto coordenado pelo Instituto Centro Cape – ICCAPE, os artesãos passaram por um aprendizado que durou oito meses e que desencadeou grandes mudanças na produção e na comercialização. “Como resultado do IQS, vimos que estávamos colocando os preços dos itens para exportação de forma incorreta”, relata Stela, que também acredita que, com o selo, o artesão ganha destaque nos negócios ao participar de feiras e salões. “O selo IQS é uma conquista valiosa para o artesão.” Da participação no 3º Salão Especial, evento realizado pelo ICCAPE, pela Associação Brasileira de Exportação de Artesanato – Abexa, pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento - Apex-Brasil, pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – Fiemg e pelo Governo de Minas Gerais, Stela colheu bons frutos, fechando negócios com lojistas nacionais, que exigiram seu desdobramento na produção, e negociando com um representante norte-americano que, ao adquirir uma de suas peças, demonstrou interesse em uma negociação futura. about two days on finishing. “Large pieces like St. Francis Assisi can take a little longer because I model its feet and arms, wait until it’s completely dry and only then I paint.” These details and colors transform each object into something unique. A process of scale gains that offers, in both stages of production, the opportunity for the artisans to work with different materials and increase their total income. Another line of products, but yet secondary, produces lamps, cans and milk churns from disposed materials. These materials are submitted to a recycling process, receiving an artistic finishing. “Before working directly with craftwork, I was a teacher of art education and art history in some schools. In my classes, I used to work with scraps in order to develop students creativity”, says Stela. She also believes that artisans, mostly because of the characteristics of their work, should have a respect for the environment at the higher level possible. Certified in October of 2011 with the IQS Label – Instituto Qualidade Sustentável (Sustainable Quality Institute), from Programa da Produção Artesanal – PCPA (Handcraft Production Program), a project coordinated by Instituto Centro Cape – ICCAPE (Centro Cape Institute), the artisans took part in an eightmonth learning process, which provided great changes in production and commercialization. “As a result of the IQS certification, we realized that we were pricing our product for export wrongly”, says Stela, who also believes that, with this label, the artisan has more advantages by participating on fairs and exhibitions. “The IQS Label is a valuable achievement for the artisan.” From the participation in the 3rd “Salão Especial”, an event organized by ICCAPE, Associação Brasileira de Exportação e Artesanato – ABEXA (Brazilian Association of Export and Handcraft), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento – Apex Brasil (Brazilian Agency for the Promotion of Export and Investments), Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG (Federation of the Industries of the State of Minas Gerais) and the Government of the State of Minas Gerais, Stela reaped great results, closing deals with national retailers, which made her expand the production, and negotiating with an American seller who, after buying one of her pieces, showed interest in future negotiations. Oportunidades / Opportunities 7 “Até a realização do 3º Salão Especial, ocorrido na Serraria Souza Pinto, Belo Horizonte, em outubro de 2011, estávamos com a produção variada. Mas o impulso que o resultado do Salão nos deu mostrou que, a partir de agora, teremos que regularizar nossa produção”, relata Stela. Com peças expostas em feiras na Europa, os artesãos destacam que, além das vendas, os eventos também são fundamentais para fornecer um feedback sobre seus produtos. “Nossa experiência para exportação é ainda visando à recepção do mercado exterior. Tivemos um pedido pequeno, mas o que foi mais significativo foi o retorno que nos deu a responsável pelas feiras em Portugal e Espanha. Retorno este que nos possibilitou um aprimoramento na produção, gerando melhor apresentação das peças, e com mais qualidade.” Dedicando-se exclusivamente ao artesanato há cinco anos, Stela e Américo, que moram e trabalham em Lagoa Santa (cidade a, aproximadamente, 40 Km de Belo Horizonte), transformaram o artesanato em importante fonte de renda familiar e de realização do casal, demonstrando clareza ao entender as mudanças pelas quais passa o artesanato nacional. “O artesão tem que ser um empreendedor. Se não, ele ficará no amadorismo, se iludindo quanto ao resultado financeiro alcançado, que poderá ser visto como positivo ou negativo e, muitas vezes, não condiz com a realidade. É difícil vencer essa fase amadora, mas é imprescindível”, esclarecem. “Until the 3rd ‘Salão Especial’, that took place in October 2011 at Serraria Souza Pinto, in Belo Horizonte, our production rate used to vary a lot. After the great results of the event and its impulse for our business, we realized that, from now on, we have to have a regular production process”, says Stela. With the exhibition of their work in fairs around Europe, the couple of artisans point out that, beside sales, the events are essential to provide a feedback of their products. “Our experience for exporting still aims at the acceptance of our art in the international market. In that sense, the purchase order was small, but the feedback we had from the responsible for the fairs in Portugal and Spain was very significant. It made the improvement of our production process possible, leading to a better presentation and a higher quality of our pieces.” Dedicating exclusively to handcraft for five years, Stela and Américo, who live and work in Lagoa Santa (a city located approximately 40 Km from the state capital, Belo Horizonte), have made handcraft work an important source of fulfillment and income for their family, understanding the changes that national handcraft undergoes nowadays. “Artisans have to be entrepreneurs. Otherwise, they will continue being amateurs, deluding themselves about financial results achieved, which can be perceived as a positive or a negative thing but, most of the times, away from reality. It’s hard to overcome this amateur stage, but it’s indispensable to”, they explain. Cabacinha: pequena cabaça, porongo; “Cabacinha”: a small calabash, gourd; a A cabaça que aparece em João Guimarães Rosa, também no diminutivo, cabacinha, é um recipiente utilizado para armazenar água durante as viagens pelos Sertões, nos romances do escritor mineiro. No sul do Brasil, do fruto já ressequido da família das cucurbitáceas, faz-se a cuia onde se coloca o chimarrão, bebida feita de mate, muito apreciada principalmente entre os gaúchos. Mais sobre a cabaça na 10ª Edição desta revista. 8 Oportunidades / Opportunities bowl made of the fruit of the calabash (which is a climbing tree). (MARTINS, Nilce; O léxico de Guimarães Rosa) Foto / photo: Anestor Mezzomo cuia feita do fruto do porongo (planta trepadeira). (MARTINS, Nilce; O léxico de Guimarães Rosa) The calabash that appears in the books of João Guimarães Rosa – also named “cabacinha” (a small calabash) is a container used to store water during trips through “sertões” (remote dry areas in Brazil), in the novels of this “mineiro” writer. In the south of Brazil, the dry fruit of the family of Cucurbitaceous is used to make the bowl where local people pour “chimarrão”, a beverage made of mate, thoroughly appreciated among “gaúchos” (native people from that area). More information about calabashes in the 10th Issue of this magazine. Santo Antônio do Leite Arte e história forjadas em prata Art and history forged in silver Tatiana Macedo FOTOS / PHOTOS Evandro Fiuza POR /BY Artesão, instrutor de Capoeira e presidente da Associação de Artesãos de Santo Antônio do Leite, distrito de Ouro Preto, Dilson Ribeiro da Silva, 48 anos, trabalha a prata e o ouro (sob encomenda) com pedras brasileiras e sonha com o desenvolvimento de sua comunidade através da arte. O artesanato de joias e semijoias de Santo Antônio do Leite é tradicional, tendo se desenvolvido através do intercâmbio entre a população local e estrangeiros de diversos países (México, Itália, Espanha e outros) que, ao se instalarem no distrito, passaram a criar peças a partir da alpaca (metal inferior à prata) e de pedras brasileiras. Em forma de arame, a alpaca era trançada, dando origem às bijuterias. Atualmente, a confecção das peças é realizada, predominantemente, a partir da prata comprada na capital mineira e de pedras como o Topázio Imperial, abundante na região de Ouro Preto e muito apreciado, principalmente, por turistas estrangeiros que visitam a região. Artisan, Capoeira instructor and president of the Associação de Artesãos de Santo Antônio do Leite (Association of Artisans of Santo Antônio do Leite), a district of Ouro Preto, Dilson Ribeiro da Silva, 48, handles silver and gold (custom-made) with Brazilian gems, hoping for the development of his community through art. The handcraft work of jewelry and semi-jewelry from Santo Antônio do Leite is traditional and has developed based on knowledge exchange among local people and foreigners from different countries (Mexico, Italy, Spain and others), who, after moving to the district, began to create pieces from nickel silver (an inferior metal similar to silver) and Brazilian gems. In a wire shape, nickel silver was weaved, originating the trinkets. Nowadays, these pieces are made mostly from silver bought at Belo Horizonte (the capital of the state of Minas Gerais) and stones like Imperial Topaz, a gem vastly found in Ouro Preto and Oportunidades / Opportunities 9 “No passado, vendíamos nossa mão de obra para os estrangeiros, que compravam, eles mesmos, a prata e as pedras. Hoje, somos donos do nosso próprio negócio”, conta orgulhoso. A Feira da Chapada, como é conhecida, é um importante local de venda e exposição para os artesãos, que exibem e comercializam suas peças aos sábados, domingos e feriados, de 09 às 17 horas. Contemplado pelo Orçamento Participativo de Ouro Preto, o local da feira agora é, oficialmente, um espaço do artesanato. “Agora temos um documento”, ressalta o artesão sobre mais esta conquista. Dilson aprendeu o ofício com os cunhados Pedro e Afonso, e se dedica às joias desde 1989, tendo abandonado a profissão de taxista que exerceu por dois anos. Depois de quinze anos de prática, fez um curso de qualificação no Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG, Campus Ouro Preto. No curso, estudou Gemologia, o que lhe permitiu identificar as pedras e suas características (qualidade, rigidez, etc.), e Ourivesaria Artesanal, onde conheceu o professor Benedito Matozinhos Devêza, mestre de grande influência em seu trabalho. “ Hoje, somos donos do nosso próprio negócio ” “Me inspiro no trabalho clássico de joalheria, que é liso, de bom acabamento e faz com que a pedra seja o destaque da joia. A prata envelhecida – ou prata portuguesa, como era conhecida – já foi uma tendência, mas não é mais. O artesão precisa ficar atento também a essas tendências para não ficar perdido no tempo”, explica. As gargantilhas são as peças preferidas de Dilson. Feitas em pedras calibradas, de mesmo tamanho, chamam a atenção para si mesmas e para as joias menores, como os brincos e anéis que as acompanham. Para o artesão, clientes brasileiros e estrangeiros são igualmente exigentes, mas procuram por peças diferentes: pingentes e anéis maiores são preferidos entre os estrangeiros, enquanto os nacionais optam por anéis, brincos e gargantilhas menores. “O cliente ficou mais exigente, tivemos que nos adequar ao mercado, equipando as oficinas e fazendo cursos de qualificação.” 10 Oportunidades / Opportunities thoroughly appreciated especially by foreign tourists that visit the region. “In the past, we used to work for the foreigners, who used to buy themselves the silver and the gems. Today we have our own business”, Dilson says proudly. Chapada Fair, as it is known, is an important place for artisans to sell and show their work, exhibiting and commercializing their pieces on Saturdays, Sundays and holidays, from 9 am to 5 pm. Contemplated by Orçamento Participativo de Ouro Preto (a local governmental development program), the venue where the fair takes place is now an official space for handcraft. “Now we have a document”, says the artisan about this other achievement. Dilson has learned this occupation from his brothers-in-law Pedro and Afonso, and has been dedicating to jewelry making since 1989, when he also quit being a taxi driver, a job that he held for two years. After fifteen years of practice, he took a qualification course at the Instituto Federal de Minas Gerais – IFMG (Federal Institute of Minas Gerais), in the Ouro Preto Campus, where he studied Gemology, which allowed him to identify the gems and their characteristics (quality, stiffness, etc.), and Handmade Jewelry, where he met the teacher Benedito Matozinhos Devêza, master of great influence in his work. “ ” Today we have our own business “I am inspired by the classic work of jewelry, which is smooth, with a nice finishing and that makes the stone the highlight of the jewel. The aged silver – or Portuguese silver, as it was once known – used to be a trend, but not anymore. The artisan must also be aware of these tendencies in order not to get stuck in time”, he explains. The necklaces are Dilson’s favorite pieces. They´re made in polished gems of the same size, drawing attention to themselves and to smaller jewelry, like the earrings and rings that accompany them. For the artisan, Brazilian and foreign clients are both demanding, but they look for different pieces: bigger pendants and rings are preferred among the foreigners, while national clients opt for smaller rings, earrings and necklaces. “The client has become more demanding, so we had to adjust to the market, equipping the workshops and doing training courses.” Em busca dessas melhorias, o artesão passou pelo processo de certificação IQS em 2008. “Meu processo de certificação durou seis meses e minha linha de trabalho sofreu várias mudanças. Depois do curso, tive que me adaptar às novas formas de trabalho, que, depois, se mostraram melhores de realizar.” Dilson ressalta, ainda, que o selo trouxe mais credibilidade para seus produtos entre lojistas e clientes. Parceira da população, a Associação de Artesãos trabalha na conscientização quanto ao turismo, no desenvolvimento do artesanato e no amparo à população idosa. “Nosso compromisso com a melhor idade está registrado no estatuto da associação. Trabalhamos também em prol do crochê e outros artesanatos desenvolvidos em Santo Antônio do Leite.” Através de entidades como o ICCAPE, a Abexa e a Apex-Brasil, o artesão passou a ser mais reconhecido, houve um crescimento nas vendas, além de um incremento do setor através de cursos profissionalizantes, acredita Dilson, que aposta em um futuro promissor. Da parceria entre a Associação, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae e o Banco do Brasil, deverá ser construída, em 2012, uma oficina com maquinário comunitário em Santo Antônio do Leite, retirando a produção do “fundo de quintal” e adequando-a ao turismo. “A tendência do artesanato é crescer mais e mais, respeitando e cuidando do meio ambiente para que possamos utilizar a matéria-prima com consciência.” In pursuit of these improvements, the artisan passed through the IQS certification process in 2008. “My certification process lasted six months and my line of work has undergone several changes. After the course I had to adapt myself to new ways of working, which later turned out to perform best.” Dilson still emphasized that the label has brought more credibility to his products among retailers and customers. As a partner of the local community, the Associação dos Artesãos (Artisans Association) works to foster the awareness in relation to tourism, to the development of handcrafts and to support the elderly population. “Our commitment to the aged is recorded in the bylaws of the association. We also work in favor of crochet and other crafts developed in Santo Antônio do Leite.” Throughout organizations such as ICCAPE, Abexa and Apex-Brasil, artisans have become more recognized, there was a growth in sales and an increase in the industry through training courses, according to Dilson, who believes in a promising future. From the partnership among the Association, the Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae (Brazilian Services and Support for Micro and Small Companies) and Banco do Brasil (Bank of Brazil), a workshop with community machinery is going to be built in Santo Antônio do Leite in 2012, transforming the amateur production into a business suitable for tourism. “The tendency of handcraft is to keep growing and growing, respecting and caring for the environment, so we can continue using its raw materials consciously.” Oportunidades / Opportunities 11 Artesanato de família Family Handcr aft Tatiana Macedo FOTOS / PHOTOS Henrique Queiroga POR /BY Pintadas à perfeição própria da natureza, as penas da galinha-d’angola são combinadas às penas do nobre faisão e às do ganso (estas últimas, tingidas com anilina em tons fortes de vermelho ou amarelo), dando vida ao pica-pau, que chama a atenção pela mistura inusitada e riqueza de detalhes. Criação de Francisco Cecílio, 72 anos (não aparentes), as peças feitas com penas surgiram logo após a confecção das primeiras, desenvolvidas com lã pluma, em 1975, quando ele e sua esposa, Efigênia, mudaram-se de Ibirité para a capital mineira e começaram a traçar um futuro promissor para a família através do artesanato. Hoje, filhos, netos e noras trabalham na Arte Pássaros, criando pássaros a partir da madeira, de fibras e de penas. Entalhado a machado, o tucano 12 Oportunidades / Opportunities Painted with the perfection of nature itself, the feathers of the guinea fowl are combined with the noble feathers of pheasants and geese (the latter being dyed with aniline in strong shades of red and yellow), giving birth to a woodpecker, which draws the attention for its unusual mixture and fine details. Created by Francisco Cecílio, 72 years old (but not showing his age at all), the pieces made from feathers have arisen just after the first ones, made from “lã pluma” (a kind of wool produced with 93.8% of acrylic and 6.2% of polyamide), in 1975, when he and his wife, Efigênia, moved from Ibirité to the capital of Minas Gerais and started to map a promising future for their family through handcraft. Today, their children, grandchildren and daughters-in-law work at Arte Pássaros, making birds in de 1,80 m, feito de um tipo de madeira denominada Canela, ainda é recordação viva para Francisco. Recentemente, um galo de 2 metros desafiou o artesão, que ainda ostenta um pequeno corte na mão. “Eu levei uns vinte dias só para desenvolver a matriz. Fiz os moldes do pé, da canela, da coxa, do corpo e da crista. Depois, juntei as partes com a própria fibra”, explica ele a respeito do processo de montagem da peça. Encomenda de uma rede de hotéis-fazenda, o galo foi feito a partir de uma mistura de fibra de vidro e resina, material que é, hoje, carro chefe da Arte Pássaros e muito apropriado para ambientes externos. “As peças de fibra são muito resistentes, podem ficar até dentro da água”, conta Francisco. Confeccionadas em madeira – a maioria do tipo Caixeta, as peças entalhadas, como tucanos, araras e outros são exportadas, por intermédio do Instituto Centro Cape, para a Europa. Este ano, a Arte Pássaros vendeu, para a rede Él Corte Inglés (Portugal e Espanha), 4.500 peças. No 3º Salão Especial, realizado em outubro, a Arte Pássaros fechou negócios com três novos lojistas do Rio de Janeiro e outros três de Porto Alegre. Representantes franceses, alemães e espanhóis também levaram amostras das peças para seus países de origem. “Nós negociamos com um representante da Espanha e essa negociação, eu acredito que ainda irá dar frutos”, conta Genival, um dos filhos de Francisco que trabalha com o pai no atelier. Exigente, o comprador internacional pede todas as informações sobre o produto e quer saber wood, fiber and feathers. Carved with an ax, the toucan of 5,9 feet, made of a type of wood named Cinnamon, is still a vivid memory for Francisco. Recently, a 6,5 feet tall rooster has challenged the artisan, who still has a small cut on his hand. “It took me about twenty days just to develop the base. I made the molds of the feet, the shins, the thighs, the body and the crest. After that, all the parts were joined together with the fiber itself ”, he explains the process of assembling the piece. An order from a chain of inns, the rooster was made from a mixture of fiberglass and resin, materials that today are the flagship of Arte Pássaros and very suitable for outdoor environments. “The fiber pieces are very resistant, they can even get into water”, says Francisco. Made in wood – mostly “Caixeta” (a native tree from Brazil), the carved pieces like toucans, macaws and others are exported through “Instituto Centro Cape” (Centro Cape Institute) to Europe. This year, Arte Pássaros have sold to Él Corte Inglés (Portugal and Spain) 4,500 pieces. During the 3rd Salão Especial, held in October, Arte Pássaros closed deals with three new retailers from Rio de Janeiro and three others from Porto Alegre. Representatives from France, Germany and Spain also took samples to their countries. “We dealt with a representative from Spain and this negotiation, I believe will still pay off,” says Genival, one of Francisco’s son, who works with his father in the studio. Demanding, the international buyer requests all kinds of information about the product and wants to know step by step the production process, says Genival, pointing out the difference between Brazilian and foreign buyers. Oportunidades / Opportunities 13 o passo a passo da produção, ressalta Genival, ao pontuar a diferença entre o comprador estrangeiro e o brasileiro. Feirante há mais de vinte anos, Francisco expõe seu trabalho na Feira de Artes e Artesanato da Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte. A feira, que acontecia anteriormente na Praça da Liberdade, sempre foi importante ponto de comercialização e divulgação para seu artesanato. “Quando eu pego um pedaço de madeira, eu já sei no que vou transformá-lo”, explica Francisco, que tem o hábito de acordar e seguir direto para o atelier, que funciona junto à sua residência. “Não é que a gente sonhe, mas vai juntando ideias durante a noite e, de manhã, eu já quero colocá-las em prática.” Apaixonado por pássaros, ele lamenta o espaço diminuto do quintal, que só permite a existência de plantas pequenas, além da Mangueira e da árvore de Romã, pouso certo para passarinhos, que são 14 Oportunidades / Opportunities Being a fair participant for over twenty years, Francisco exhibits his work at the Arts and Crafts Fair of Afonso Pena Avenue, in Belo Horizonte. This fair, which previously took place at “Praça da Liberdade” (Liberty Square), has always been an important place for selling and promoting his craftwork. “When I pick up a piece of wood I already know what I’ll make of it,” says Francisco, who has the habit of waking up and going straight to the studio, which operates in his home. “What happens is not a dream, but ideas that I gather during the night and by morning I immediately want to put them into practice.” The bird lover, he regrets the tiny space of the yard, which only allows the existance of small plants with the mango and the pomegranate tree, a certain shelter for the birds, always welcome. The birds I make only need to sing now. Although once I made a buff-throated saltator (a small bird sempre bem-vindos. “Aos meus pássaros só falta cantar. Se bem que, uma vez fiz, para um lojista, um trinca-ferro e dentro dele coloquei um gravador. Assim, ele até cantava”, conta Francisco. Simpático e alegre, ele é o maestro do negócio, criando a maior parte das peças. São quinze pessoas envolvidas no processo. Destas, dez são parentes, que, entusiasmados com o artesanato, prometem continuar a tradição dos pássaros. Pedro Lucas, neto de Francisco de apenas dez anos de idade, já demonstra interesse pelo artesanato de pássaros, corujas, garças, namoradeiras, cupinzeiros e outros. Efigênia, a esposa, também participa, enrolando as perninhas das araras e pintando as bananas e outras peças. “O artesanato me faz muito feliz. É um prazer trabalhar. Conheci várias cidades através do artesanato, viajando para feiras e exposições, hoje eu viajo menos”, conta Francisco, que se diz realizado. Além das vendas avulsas, realizadas no atelier, no site da Arte Pássaros e na feira de artesanato da Avenida Afonso Pena, os pássaros artesanais de Francisco podem ser encontrados em lojas espalhadas pelo país e na rede Casa do Fazendeiro, em Belo Horizonte. called “trinca-ferro” in Portuguese) for a shopkeeper and put a recorder inside it, so it actually sang”, says Francisco. Friendly and cheerful, he is the conductor of the business, creating most of the pieces. There are fifteen people working with him. From these, ten are relatives that, excited about craftwork, promise to continue with the tradition of making handcraft birds. Pedro Lucas, Francisco’s 10-year-old grandson, has already shown interest in the handcraft of birds, owls, herons, loveseats, termites and other objetcs. Efigênia, his wife, also participates in the process, wraping the macaws’ legs and painting the bananas and other pieces. “The handcraft makes me very happy. It is a pleasure to do this work. I’ve visited several cities because of it, traveling to fairs and exhibitions, but today I travel less”, says Francis, who claims to be fulfilled. In addition to the sales at the studio, through the website of Arte Pássaros and in the fair at Afonso Pena Avenue, Francisco’s handcrafted birds can be found in stores around the country and also at Casa do Fazendeiro, in Belo Horizonte. Oportunidades / Opportunities 15 Releitura das paisagens e crenças brasileiras Reinterpretation of Br azilian landscapes and beliefs Madeira de demolição ganha vida nova em painéis decorativos repletos de cores e significados Demolition wood gets new life in decorative panels full of colors and meanings Luciana Sampaio FOTOS / PHOTOS Evandro Fiuza POR /BY Novembro é um mês especial para os artesãos Vinícius Rosa Rios, 30 anos, e Joelma Daudt, 25 anos. Em 2009, durante a Feira Nacional de Artesanato, ele teve que voltar às pressas para Tiradentes, a 214 Km de Belo Horizonte, para acompanhar o nascimento do filho Pietro. Neste ano, mais uma vez, o aniversário do bebê vai cair nos dias de feira, quando a família estará em Belo Horizonte para apresentar, a lojistas e visitantes, a arte que faz no atelier Produção Nacional, um espaço de ideias e aprendizado contínuo. “Fazemos uma releitura do barroco mineiro de acordo com o gosto do brasileiro pela decoração”, define Vinícius Rios. Este é o “norte” que dá origem a pinturas de santos, anjos e ex-votos em portas e janelas antigas. Sem falar nos painéis com as cores de frutas e flores, além daqueles que são uma releitura de muito bom gosto dos antigos ladrilhos portugueses. Embora Tiradentes tenha fartura de madeira de demolição, o material também vem da Bahia, do Mato Grosso e de Santa Catarina. “Fazemos o aproveitamento máximo do material para não agredir o meio ambiente”, afirma. Sementes e madeira virgem não são utilizadas. Em outubro, Rios participou do 3º Salão Especial, na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte. Como tinha peças que restaram de uma feira anterior, 16 O mapa da arte / The map of art November is a special month for the artisans Vinicius Rosa Rios, 30, and Joelma Daudt, 25 years old. In 2009, during the Feira Nacional de Artesanato (National Handcraft Fair), he had to hastily return to Tiradentes, a city located 214 Km from Belo Horizonte, to be present at the birth of his son Pietro. This year, once again, the baby’s birthday falls on one of the days of the fair, when the family will be in Belo Horizonte to show to retailers and visitors the art they do in their studio Produção Nacional, a space for ideas and continuous learning. “We make a reinterpretation of the baroque of Minas Gerais in accordance to Brazilian taste for decoration”, says Vinícius Rios. This is the source of the saints, angels and ex-votos’ paintings in antique doors and windows. Not to mention the panels with the colors of fruits and flowers or the fine reinterpretation of the old Portuguese tiles. Although the city of Tiradentes has plenty of demolition wood, they also use remains of wood that come from Bahia, Mato Grosso and Santa Catarina. “We make the maximum use of the material not to harm the environment”, he says. Seeds and virgin wood are not used. Last October, Rios took part in the 3rd “Salão Especial” that occurred at Serraria Souza Pinto, in Belo Horizonte. As he still had pieces from a conseguiu um ótimo resultado em vendas, arrecadando R$ 6 mil durante os três dias do evento. Da produção, 90% já é direcionada para lojistas. Mas as peças inovadoras ele coloca na sua loja. “Dá para viver de artesanato, com certeza. Trabalho e gosto do que faço. Nunca fico sem trabalhar”, destaca. Por isso, Rios só sai de Tiradentes para participar de feiras. E nessas ocasiões, leva consigo um trabalho que traduz todo o charme da cidade. O artesão comenta que começou a trabalhar com arte aos 11 anos, na oficina de um tio. Ao que tudo indica, trata-se de uma herança de família. O avô foi um dos primeiros marceneiros de Tiradentes. Entre os trabalhos que fez, está a escadaria da Prefeitura local. Os tios trabalhavam com pintura de móveis e foi aí que ele se interessou pela atividade. Com 15 anos, já tinha construído nome na cidade e pegava encomendas de painéis. Aos 18, abriu seu atelier, com loja anexa. A chegada de Joelma foi interessante por dois ângulos. Primeiro, porque ela conseguiu organizar “a casa” do ponto de vista administrativo. Paralelamente, ela também começou a aprender pintura e desenvolveu uma habilidade que estava adormecida. Hoje, divide com o marido a confecção de muitas peças. Mas ele não se dá por satisfeito. Acredita que o aprendizado do artesanato é contínuo. No atelier, faz desenhos novos e testa peças inovadoras que vão para a loja. Nessas horas, ele é apenas um artista que sonha em ser eclético e dominar todas as técnicas da atividade que, além de profissão, é a forma que encontrou para mostrar a sua visão do tropicalismo brasileiro e do barroco mineiro. “Tenho seriedade e cumpro os prazos. Há compradores com quem negocio pelo telefone há anos”, comenta. previous fair, he achieved great sales results, making R$ 6,000 during the three days of the event. From his production, 90% goes to retailers. But the most innovative pieces, he shows and sells in his store. “It’s totally possible to live out of handcraft. I have my occupation and I like what I do. I’m never out of work”, he says. For that reason, Rios only leaves Tiradentes to participate in fairs. In those occasions, he takes with him an art that reflects all his city’s charm. The artisan says he began working with art at the age of 11, at his uncle’s shop. Apparently, this gift is a family heritage. His grandfather was one of the first carpenters of Tiradentes. Among his accomplishments are the stairs of the local City Hall. His uncles used to work with furniture painting and that was when he became interested in this activity. At the age of 15, he had already made his name in the city, creating custom-made panels. When he turned 18, he opened his own studio with an attached store. Joelma’s arrival was interesting for two reasons. First, because she was able to organize the business at the management point of view. At the same time, she also took some painting lessons, developing a skill that was asleep. Today, she shares with her husband the creation of many pieces. But he is not exactly satisfied. He believes handcraft is a continuous learning process. At the studio, he designs new things and tries innovative pieces that go to his store. At these times, he is only an artisan who craves to be eclectic and to have total control of the techniques of his activity, which is, besides an occupation, the way he found to show his point of view about Brazilian Tropicalismo and the baroque of Minas Gerais. “I work very seriously and meet the deadlines. There are some buyers that I have been negotiating with by telephone for years”, he comments. O mapa da arte / The map of art 17 Artesanato POR /BY Daniel Barcelos FOTOS / PHOTOS Evandro Fiuza A fusão de caminhos e de matérias-primas na construção da carreira de uma grande artesã Laís Pinheiro é uma artesã belo-horizontina, radicada na cidade de Lagoa Santa. Sua primeira profissão foi como promotora de vendas em uma empresa de cartões de crédito. Depois, tornou-se bancária e vendedora de serviços de internet (quando esta ainda era uma novidade em Minas Gerais), dedicando-se, também, ao curso de Economia. Quando abriu um negócio no ramo da alimentação, Laís chegou a comandar uma equipe de dez funcionários. Com dois quiosques nos maiores “shopping centers” da capital mineira, a empresária atuava na venda de crepes. Aliás, foi um pouco através desta experiência que a artesã finalmente voltou sua vida para a criação e para o trabalho manual. Laís sempre teve aptidões artísticas e, desde os oito anos de idade, já se interessava por atividades manuais. Incentivada apenas por sua própria imaginação, já que não havia, em sua família, registros de alguém com essas inclinações, brincava com cordões e contas, misturando cores e formatos. “Hoje, tenho uma sobrinha que estuda Moda. É a única na família que tem afinidade com essas coisas”, revela. Ainda nos shoppings, a carreira ia bem. Pensava em expandir os negócios através da venda de franquias da marca de crepes. Diversificou sua atuação, abrindo também uma loja de produtos de decoração – outra contribuição dos tempos de empresária para a artesã na qual se transformou. Paralelamente, como já acontecia desde a infância, Laís procurava satisfazer o gosto pelo artesanato com pequenas produções de sabonetes e cestas de Natal. E os caminhos da arte e dos negócios foram se aproximando cada vez mais. 18 O mapa da arte / The map of art em fusão A fusing handcr aft The fusion of paths and raw materials to build the career of a great artisan Laís Pinheiro is an artisan born in Belo Horizonte that now lives in the city of Lagoa Santa. Her first job was as a sales representative in a credit card company. After that, she became a bank clerk and an internet services seller (when internet was still something new in Minas Gerais), also dedicating to Economics. When she started a business in the food trade, Laís had to manage a team of ten employees. With two kiosks in the biggest malls of the city, the businesswoman used to sell crêpe. That was actually the experience that led the artisan to a journey to creation and handcraft. Laís has always had artistic skills and, since she was eight years old, she has shown interest in handcraft activities. Encouraged only by her own imagination, as there was no one else in her family with this kind of aptitude, she used to play with strings and beads, mixing colors and shapes. “Today I have a niece that studies Fashion. She is the only one in our family who has a knack for these things”, she reveals. Back to the malls, her career was going well. She was thinking about expanding her businesses by turning the crêpe brand into a franchising. She also diversified her field by opening a decoration store – another contribution from that time as a businesswoman to the artisan she became. At the same time, just like things used to happen in her childhood, Laís tried to satisfy her love for handcraft with small productions of soaps and Christmas baskets. And art and business paths were becoming closer and closer. But her business trajectory was interrupted by a traumatic experience, changing the course O mapa da arte / The map of art 19 Entretanto, sua trajetória foi interrompida por uma experiência traumática, mudando de vez os rumos de sua carreira. A concorrência desleal de uma grande rede de alimentação, com maior poder de barganha junto à administração do centro comercial, literalmente tirou da praça os quiosques de crepes. Desapontada, Laís desistiu também da loja de produtos de decoração e partiu para outros caminhos. Foi no ano de 2006 que ela trocou, definitivamente, a calculadora pelos pincéis. Estudou com a artista plástica Mariza Sales, com quem aprendeu a técnica do fusing – método de fusão a quente de vidros que Laís utiliza para criar as peças decorativas que passou a produzir. A partir de então, desenvolveu uma técnica própria de modelagem e pintura do vidro. A artesã elabora o desenho das fôrmas, encaminhando-os para um oleiro, que as reproduz em cerâmica. Nas fôrmas são dispostas as placas de vidro que ganharão os contornos que Laís projetou. “Gosto de trabalhar com formas geométricas e uso o calor do forno para quebrar a dureza dessa geometria”, explica. Depois de modelada, a peça vai para o torno, onde ganha cores. “Uso uma paleta de tons determinada pelo próprio mercado, já que meu foco são as lojas de decoração e, normalmente, esses clientes procuram o que as tendências de cada época ditam.” Casada e mãe de dois filhos, Laís trabalha sozinha. Ou, quase. “Tenho um auxiliar que me ajuda a carregar as peças mais pesadas e a manter o atelier organizado. Mas, da criação à venda, faço tudo sozinha”, diz, revelando mais uma face do encontro entre a criança criativa e a empresária bem-sucedida. Suas peças estão nas principais lojas do ramo em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. “São Paulo, eu tentei. Mas, sempre que vou à cidade, perco muito tempo tentando encontrar determinados endereços e o trabalho não rende... desisti de lá”, diz, pragmática. Desde 2009, frequenta o maior evento nacional do setor de artesanato, a Feira Nacional de Artesanato, onde ocupa, a convite dos organizadores, um espaço no pavilhão especial – dedicado a artesãos que se diferenciam pelo design e pela qualidade de seus produtos. “É a única ocasião em que faço vendas diretas ao público final. Fora isso, só trabalho com lojistas.” 20 O mapa da arte / The map of art of her career forever. The unfair competition of a large restaurant chain, with greater bargaining power with the shopping mall, literally took her kiosks out of scene. Disappointed, Laís also gave up the decoration store and went on another way. In the year of 2006, she definitely changed from calculator to painting brushes. She took classes with the artist Mariza Sales, with whom she learned the fusing technique – a method of fusing glasses by the heat, which Laís uses to create the decorative pieces she makes. Since then, she has developed her own modeling and glass painting techniques. The artisan designs the shape of the molds, sending the drawings to a potter who will reproduce the ceramics. These molds will be filled with pieces of glass, the latter getting the shape that Laís projected. “I like to work with geometric forms, using the heat of the oven to break the hardness of this geometry”, she explains. Once shaped, the piece is put on a lathe, where it is painted. “I use a color palette pre-determined by the market, since my focus is decoration stores and these clients usually look for the trends of each season.” Married and a mother of two, Laís works alone. Or almost. “I have an assistant who helps me with the heavier pieces and the organization of the studio. But from creation to selling, I do everything by myself ”, she says, revealing another convergence of the creative child and the successful businesswoman. Her pieces can be found in the major retail stores in Minas Gerais, Espírito Santo and Rio de Janeiro. “São Paulo I have tried. But every time I go there, I waste a lot of time trying to find some addresses and the work doesn’t pay off… So I gave it up”, she says pragmatically. Since 2009, she participates in the biggest national handcraft event, the “Feira Nacional de Artesanato” (National Handcraft Fair), occupying, at the invitation of the organizers, a spot in the special pavilion – dedicated to artisans who differentiated themselves by the design and quality of their products. “It’s the only situation where I work with direct sales to end users. Otherwise, I only work with retailers.” Sebrae/MG. Tudo o que você precisa para abrir, diversificar, gerenciar ou ampliar sua empresa. Incentivar o empreendedorismo e fortalecer os pequenos negócios. Fornecer os instrumentos para aprimorar a gestão dos empreendimentos. Com o Sebrae Minas, você tem acesso a orientações sobre crédito e legislação, consultorias de gestão, cursos de capacitação, palestras e seminários. Você também participa de exposições, feiras e eventos. Uma instituição que está sempre ao seu lado, contribuindo para o sucesso dos micro e pequenos empresários. 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A rotina de trabalho tem sido superior a 10 horas por dia e pode aumentar ainda mais, de acordo com o volume de encomendas. “A nossa expectativa é a melhor possível”, adianta Teixeira. 22 O mapa da arte / The map of art On November 2, a national holiday, the cousins and artisans Edivaldo Teixeira, 35, and Rosevaldo Alves, 27, spent much of the day at the studio located in the city of Formiga, in the Midwest of Minas Gerais, to give finishing details to some of the pieces they will exhibit for the first time at the 22nd Feira Nacional de Artesanato (National Handcraft Fair). The work routine has been superior to 10 hours a day and may rise further, according to the volume of orders. “Our expectation is the best one possible” added Teixeira. O gosto pelo trabalho com madeira começou ainda na infância, por causa do tio Geraldo, que ingressou na atividade e acabou atraindo boa parte da família. Edivaldo deu os primeiros passos nesta que é, além de sua atividade profissional, uma paixão confessa, aos 14 anos. “Faço cada peça como se fosse para mim, com todo capricho e amor”, define. Já Rosevaldo Alves começou a frequentar a oficina do mesmo tio aos 12 anos. “Achei interessante, aí comecei a olhar. Depois, pegava um pedaço de tora de madeira para fazer alguma coisa. Quando perguntava se estava ficando bom, recebia incentivo”, lembra. Ele começou com xícaras e evoluiu, até chegar às tão sonhadas esculturas. Com o tempo, apuraram a técnica e ganharam gosto pelo trabalho com madeira. No atelier, eles trabalham com cedro e maçaranduba, insumos que garantem às esculturas maior durabilidade e beleza. Dos animais – com destaque para as aves – passando por placas, pilões, gamelas (utilitários) e peças decorativas, o trabalho dos primos traduz o gosto pela arte e a vontade de se superar a cada peça concluída. O resultado é a admiração crescente de um mercado que já está acostumado com artesanato, sendo capaz de diagnosticar o que tem – ou não – boa qualidade e procedência. The love for woodworking began in his childhood, because of his uncle Geraldo, who joined the activity and, eventually, drew much of the family to it. At the age of 14, Edivaldo took the first steps in what is, besides his career, a confessed passion. “I make each piece as if they were for me, with all care and love”, he says. Rosevaldo Alves began attending the workshop of the same uncle at the age of 12. “I found it interesting, then I started looking around. After, I started taking a piece of wood to do something. When I asked if it was going well, I received encouragement,” he recalls. He started with cups and evolved until reaching the so-dreamed sculptures. Over time, they improved the technique and enjoyed working with wood. In the studio, they work with cedar and maçaranduba (manilkara), ensuring sculptures’ durability and beauty From animals - especially birds - to signs, pestles, bowls (utilities) and decorative pieces, the work of the cousins expresses a taste for art and a desire to surpass themselves on every finished piece. The result is the growing admiration of a market that is already used to handcraft, being able to know what is - or isn’t – of good quality and origin. O mapa da arte / The map of art 23 Em outubro, eles participaram, também pela primeira vez, do 3º Salão Especial, na Serraria Souza Pinto. Na oportunidade, venderam, em três dias de evento, R$ 3 mil e fizeram contatos com outros compradores em potencial, o que deve movimentar o atelier nos próximos meses. Atualmente, da produção total, entre 40% e 50% já são enviados diretamente para lojistas. A madeira utilizada nas peças, segundo Teixeira, é morta ou caída. Eles negociam o produto e aproveitam ao máximo o potencial de cada tora. “Se está oca, aproveitamos o que dá”, explica. Enquanto se consolidam como artesãos de referência na sua arte e tentam organizar melhor o atelier, os primos comemoram uma parceria bem-sucedida. Para Rosevaldo, o trabalho com Edivaldo é prova de que a união faz a força. “Como somos pequenos, temos que trabalhar em conjunto com alguém para dividir os custos e, também, os frutos da venda. Nossa cooperativa de dois está dando certo”, ressalta. Os primos também comungam da ideia de que o artesanato que fazem não existe apenas em função do dinheiro, mas pelo prazer de trabalhar a madeira com técnica apurada, conquistando a atenção e a aprovação dos observadores logo no primeiro contato. 24 O mapa da arte / The map of art In October, they participated for the first time in the 3rd “Salão Especial” at Serraria Souza Pinto. On that occasion, they sold during the three-day event R$ 3,000 and made contacts with other potential buyers, which should propel the studio in the coming months. Currently, of the total production, between 40% and 50% are shipped directly to retailers. The wood used in the pieces, according to Teixeira, is dead or had already fallen. They negotiate the product and make the most of the potential of each log. “If it’s hollow, we use what is possible”, he explains. While they consolidate themselves as reference artisans in their art and try to better organize the workshop, the cousins celebrate a successful partnership. To Rosevaldo, working with Edivaldo is proof that unity is strength. “As we are small, we must work together with someone to share costs and also the results of the sales. Our cooperative is working well”, he says. The cousins also share the idea that the craftwork they do does not exist simply because of money, but for the pleasure of working with wood in an accurate way, gaining the attention and approval of the observers at first contact. PRESENTE NO AÇO QUE VOCÊ TOCA. PRESENTE NA ARTE QUE VOCÊ APRECIA. PRESENT IN THE STEEL YOU TOUCH. PRESENT IN THE ART YOU ENJOY. Orquestra de Câmara Jovem de Ipatinga Youth Chamber Orchestra of Ipatinga Para fazer parte da vida das pessoas, o aço Usiminas se apresenta de várias formas. Ele está nos eletrodomésticos, casas, carros, pontes e também na diversão, na cultura e no artesanato. A Usiminas é uma das maiores investidoras em cultura do Brasil. Foram mais de 1.500 projetos patrocinados em 18 anos. Por meio do Instituto Cultural Usiminas, a empresa investe na inclusão, formação e desenvolvimento do cidadão. Usiminas steel is found in many forms in people’s life. It’s in the home appliances, houses, cars, bridges, and also in the arts, entertainment and handcrafting. Usiminas is one of the largest investor in culture in Brazil, having sponsored more than 1,500 projects over the past 18 years. Through its Cultural Institute, Usiminas invests in the citizen’s education, inclusion and growth. Usiminas. Fazer melhor sempre. | Always doing the best. Pública www.usiminas.com Cor de terra Earth Colors Santeiro de Raposos desenvolve tintas rústicas com elementos da natureza Saint carver from Raposos develops rustic paints with elements from nature Tatiana Macedo FOTOS / PHOTOS Evandro Fiuza POR /BY Com argila da região de Raposos, onde mora, o santeiro Jorge Antônio da Cruz, 47 anos, esculpe santos seguindo a tradição mineira colonial de inventividade nas soluções plásticas, originalidade e autodidatismo. Em forno à lenha, ele “queima” as esculturas, aproveitando restos de madeira encontrados em caçambas e construções. A incineração da lenha permite que o forno chegue a 800º C – 900º C, transformando a argila, ainda instável, em peças definitivas. Usada há milhares de anos – como indicam achados de sítios arqueológicos, a argila é material que exige extrema habilidade do artesão para moldá-la no grau de detalhamento do santeiro. Ao contrário das peças em gesso, que formam um bloco único, as esculturas em argila reproduzem detalhes, tais como as patas do cavalo de São Jorge, que, destacadas do dragão que ele combate heroicamente, formam uma peça, mas não um único bloco. “Para quem está aprendendo, o grande desafio é dominar o material. Você leva um tempo para entender a argila. É, na prática, colocando ‘a mão na massa’ que você consegue aprender a técnica”, explica Jorge. Depois de esculpidas, as peças passam por um processo de secagem, que varia de acordo com as condições climáticas. “Se a peça não estiver bem seca e modelada, ela pode criar bolhas por dentro e estourar.” As esculturas, já finalizadas no imaginário de Jorge, começam a se materializar sobre uma base, 26 O mapa da arte / The map of art With clay from the region of Raposos, where he lives, the saint carver Jorge Antonio da Cruz, 47, carves saints following the colonial tradition of Minas Gerais of inventiveness in plastic solutions, originality and a self-taught way. In a wooden stove, he “burns” the sculptures, using scraps of wood found in dumpsters and buildings. The wood incineration allows the oven to reach 800, 900 degrees celcius, turning the clay still unstable into definite pieces. Used for thousands of years – as indicated by findings of archaeological sites, clay is a material that requires the utmost skill of the artisan to shape it in the level of detail of the saint carver. uma espécie de cone feito pela esposa do artesão, Marlene Vaz Botelho da Cruz, 47 anos. Esse apoio permite que Jorge desenvolva as esculturas e imprima seu estilo. “Alguns Santos permitem uma variação maior, outros são muitos tradicionais, como a Nossa Senhora da Conceição”, conta. Peça mais requisitada por lojistas e clientes, São Francisco de Assis pode vir acompanhado de uma arara, de uma jaguatirica ou de outro animal da fauna brasileira. “Eu vario muito, ele pode estar assentado, deitado, segurando um cacho de bananas ou acompanhado por vários animais diferentes.” Para São João Batista, são imprescindíveis a ovelha e o cajado. Para criar São Jorge, houve uma pesquisa apurada dos detalhes característicos. A pintura dos olhos, sobrancelhas e expressões remetem ao estilo do artesão e criam plasticidade única em cada peça. As vestimentas são pintadas também por Marlene, esposa e assistente. “As pessoas dizem que meus santos se parecem comigo”, conta Jorge, sobre a semelhança entre ele e suas obras. Uma similitude entre traços e feições do artista e de seus santos que chama a atenção dos clientes. Depois de trabalhar com desenho nas áreas de geologia e topografia, e com artesanato em porcelana, Jorge se destaca como santeiro, criando tintas naturais a partir das variações de cor da própria terra de Raposos. “A maioria vem da natureza, como os tons de amarelo, mas algumas eu ainda compro prontas. Eu queria tintas mais rústicas, por isso, passei a produzi-las.” Unlike plaster parts, which form a single block, clay sculptures reproduce details such as the legs of St. George’s horse, which detached from the dragon that he heroically fights, form a piece, but not a single block. “For those who are learning, the biggest challenge is to master the material, it takes time to understand clay. It is in the practice, being ‘hands on’ that you learn the technique”, explains Jorge. Once carved, the pieces go through a drying process, which varies according to climatic conditions. “If the piece is not completely dry and modeled, it can create bubbles inside and burst” The sculptures, already done in Jorge’s imagination, begin to materialize on a base, a sort of cone, made by the artisan’s wife, Marlene Vaz Botelho da Cruz, 47. This support allows Jorge to develop the sculptures, and set his style. “Some Saints allow a wider range of variation, others are more traditional, as Our Lady of Aparecida,” he says. St. Francis of Assisi, the most requested piece by retailers and customers, may be accompanied by a macaw, an ocelot, or any other animal of the Brazilian fauna. “I vary a lot, he may be sitting, lying down, holding a banana, and accompanied by several different animals.” For St. John the Baptist the sheep and the staff are essential. To create St. George, an accurate research to find the characteristic details. The painting of the eyes, eyebrows and expressions refer to the artisan’s style and create a unique plasticity for each piece. The garments are also painted by Marlene, his wife and assistant. “People say that my saints are like me,” says Jorge about the similarity between him and his works, a similarity between facial traits and features of the artist and his saints, which draws customers’ attention. After working with design in the areas of geology and topography, and crafts with porcelain, Jorge stands out as saint carver creating natural paints from the variations in color of Raposos own land. “Most come from nature, as the shades of yellow, but I still buy some ready. I wanted more rustic paints, so I started to produce them. “ Enthralled by American porcelain dolls, seen on a television show, Jorge went the Mogi das O mapa da arte / The map of art 27 Encantado com bonecas de porcelana americanas vistas em um programa de televisão, Jorge foi a Moji das Cruzes, São Paulo, e fez um curso para produzi-las. Comprou um forno elétrico e passou a fabricá-las, conseguindo resultado bastante similar ao que almejava. “Eu consegui fazer uma porcelana bem fina, quase como a americana.” O trabalho com a porcelana é bem diferente, pois não é modelado a mão, é feito através de moldes, não permitindo muita diferenciação entre uma peça e outra. Foi inspirado pelo barroco das cidades históricas de Minas Gerais e pelo grande mestre Antônio Francisco Lisboa, Aleijadinho, que Jorge passou a esculpir anjos e Sant’Anas a partir de imagens de livros de Arte Sacra. “A internet também ajuda, pois, antigamente, as pessoas encomendavam santos e era difícil encontrar fotos para saber como eram. Uma decoradora me pediu para fazer uma Nossa Senhora La Dolorosa e eu fiz a partir do que ela me explicou.” La Dolorosa, para os católicos equatorianos, representa a dor e a preocupação da Virgem Maria com as crianças do país. É virgem de devoção na capital, Quito. “ É, na prática, colocando ‘a mão na massa’ que você consegue aprender a técnica ” A santa grávida, que pisa em um dragão, foi feita através de pesquisas em páginas da web. A versão, saída do último texto bíblico, o Apocalipse, mostra Nossa Senhora esperando Jesus e lutando por seu filho diante da ameaça do dragão. “Fiz duas Nossas Senhoras do Ó, de Sabará”, conta Jorge, sobre as imagens que mostram a santa de grande devoção na cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. Atribui-se a ela a crença na proteção das parturientes. Seus trabalhos podem ser vistos em várias cidades brasileiras, como Brasília, Maceió e Rio de Janeiro, e em coleções particulares. “Um colecionador do Rio, que viaja o Brasil inteiro atrás de peças, tem umas cinquenta esculturas minhas. Para ele, é fundamental que elas sejam queimadas em forno à lenha.” No 3º Salão Especial, realizado em outubro, Jorge conquistou novos pontos de venda em Botucatu, no interior de São Paulo, e na Serra do Cipó, em Minas Gerais. “O futuro é bom, desde que o artesão procure fazer peças exclusivas e de qualidade”, acredita o devoto de Nossa Senhora da Conceição. 28 O mapa da arte / The map of art Cruzes, São Paulo and took a course to produce them. He bought an electric oven and started to manufacture them, getting a result very similar to the one he sought. “I was able to make a very fine porcelain, almost like the American one.” Working with porcelain is very different, because it isn’t modeled by hand, but done through mold, not allowing much difference between one piece and another. Inspired by the Baroque of the historic towns of Minas Gerais and the great master Antonio Francisco Lisboa, Aleijadinho, George started to carve angels and St. Anns from images of books of Sacred Art. “The Internet also helps, because people used to order saints and it was difficult to find photos to see what the looked like. A decorator asked me to do a Madonna La Dolorosa, and I did it from what she explained to me. “La Dolorosa, for Catholics from Ecuador, represents the pain and concern of the Virgin Mary with the children in the country and is the worshiping virgin in the capital, Quito. “ It is in the practice, being ‘hands on’ that you learn the technique ” The pregnant saint stepping on a dragon was done through web pages research. The version from the last biblical text, Revelation, shows Our Lady expecting Jesus and fighting for her son when faced with the threat of the dragon. “I did two Madonnas of Ó, from Sabará”, tells George about the images that show a greatly worshiped saint in this city of the metropolitan region of Belo Horizonte. She is believed to protect pregnant women. His works can be seen in several Brazilian cities, like Brasilia, Maceio, Rio de Janeiro and in private collections. “A collector from Rio, who travels the entire country looking for pieces, has about fifty sculptures of mine. To him it is essential that they are burned in a wooden oven.” In the 3rd Salão Especial held last October, Jorge got some new selling contacts in Botucatu, a city in the state of Sao Paulo, and in Serra do Cipó, a village in the state Minas Gerais. “The future is good when the artisan tries to make unique pieces of quality,” says the devotee of Our Lady. Patrocinadores investem no artesanato brasileiro Sponsors invest in Br azilian handcr aft Realização da Feira Nacional de Artesanato seria inviável sem parceiros estratégicos. The Handcraft National Fair* would not be possible without strategic partners. A Feira Nacional de Artesanato é um evento que beneficia mais de 8 mil artesãos brasileiros e sua realização não seria possível sem o apoio dos diversos patrocinadores que investem nesta causa anualmente. Para que a feira esteja em pleno funcionamento em novembro, são investidos R$ 4,5 milhões. Com a comercialização dos espaços é arrecadado cerca de R$ 1,8 milhão, restando investimentos da ordem de R$ 2,7 milhões. É neste momento que entram os patrocínios, para dar a oportunidade a diversos artesãos do país de participarem da maior vitrine do artesanato da América Latina. De acordo com a realizadora da feira e presidente do Instituto Centro Cape (ICCAPE), Tânia Machado, a colaboração dos patrocinadores é de extrema importância para viabilizar a realização do evento. “Sem eles não seria possível realizar uma feira deste porte e ajudar artesãos que não teriam como participar de um evento como este sem custos. Como é o caso da doação do espaço Meu Primeiro Evento, que é subsidiado pelas instituições e empresas parceiras”, salientou. A Feira Nacional de Artesanato faz parte do Calendário Brasileiro de Exportações e Feiras, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Também está classificada como evento cultural, através da Lei de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura. O evento é apoiado por: The National Handcraft Fair* is an event that benefits more than 8,000 artisans in Brazil and would not be possible without the support of several sponsors who invest in this cause annually. In order to have the fair in full operation in November, R$ 4.5 million are invested. With the commercialization of stands, about R$ 1.8 million are collected, but the investment of another R$ 2.7 million is still necessary. That’s when sponsorship investments step in, giving many artisans around the country the opportunity to participate in the biggest craft event in Latin America. According to the director of the fair and president of Instituto Centro Cape – ICCAPE (Centro Cape Institute), Tânia Machado, the collaboration of these sponsors is extremely important to enable the event. “Without them, it would not be possible to make a large-size fair like this one, assisting artisans that could not afford taking part in this type of event. For example, the donation of the space ‘My First Event’, subsidized by institutions and partner companies”, she points. The National Handcraft Fair is part of the Calendário Brasileiro de Exportações e Feiras (Brazilian Calendar of Exhibitions and Fairs) prepared by Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Department for Trade and Services Policies). It is also classified as a cultural event by the Lei de Incentivo à Cultura (Rouanet Law) of Ministério da Cultura (Ministry of Culture of Brazil). The event is supported by: ABEXA Associação Brasileira de Exportação de Artesanato A 22ª FNA é realizada por The 22nd FNA (NHF) is produced by: * The original name is “Feira Nacional de Artesanato”. Artesanato através dos tempos Handcraft through times Daniel Barcelos FOTOS / PHOTOS Arquivo pessoal POR /BY Sumé: essas quatro letras substituem, desde o início da década de 1970, o nome de Benedito Monteiro. Paulista da pequena cidade de Monte Aprazível, foi rebatizado nas estradas do Brasil, em algum ponto entre 1970 e 1972, período em que começou a conhecer o país, os brasileiros e a idade adulta. “Por dois anos e meio, rodei o Brasil três vezes”, conta. Ele tinha 18 anos quando deixou uma promissora carreira na indústria de alumínios para ir atrás das ideologias pessoais e políticas de uma geração que ajudou a modificar o século XX. Durante sua jornada de descoberta do Brasil, conheceu a cearense Neusa. Casou-se com ela antes mesmo de regressar à cidade de São Paulo, onde morava com sua família. De volta ao sudeste, o jovem casal reencontrou algumas amizades feitas nos anos de estrada. Amigos que, agora, residiam no município de Embu das Artes – cidade próxima à capital paulista, muito conhecida por sua especial vocação para acolher as artes e os ofícios. Foi lá que Sumé trocou, definitivamente, o alumínio pelos “três metais”, como gosta de se referir ao trio “cobre, latão e alpaca”. “No dia três de outubro de 73, participei da minha primeira feira de artesanato. Naquele dia, passei a fazer do artesanato a minha profissão”, conta ele. 30 O mapa da arte / The map of art Sumé: these four letters substitute, since de beginning of the 70s, the name of Benedito Monteiro. “Paulista” (a person that was born in the state of São Paulo) from the small city of Monte Aprazível, he was renamed in the roads of Brazil, at some point between the years of 1970 and 1972, the period when he started to know the country, the Brazilian people and adult age. “For two years and a half, I have travelled Brazil three times”, he says. He was 18 when he left a promising career in the aluminum industry to chase after his personal and political ideologies from a generation that helped changing the twentieth century. During his journey of the discovery of Brazil, he met the “cearense” (a person that was born in the state of Ceará) Neusa. They got married even before he returned to the city of São Paulo, where he used to live with his family. Back to the Southeast, the young couple met some of the friends they made during the years in the road. Friends that were now living in Embu das Artes – a city next to the capital of São Paulo, well known for welcoming arts and craftworks. In Embu das Artes the artisan has definitely switched from the aluminum to the “three metals”, as he refers to the triplet “copper, brass and nickel silver”. “In November 3, 1973, I attended my first handcraft fair. That day I turned handcraft into my profession”, he says. O mapa da arte / The map of art 31 Pelas mãos de Sumé, os três metais se transformavam em objetos decorativos, como castiçais e candelabros, e em adornos, como pulseiras e cintos. Segundo o artesão, ele chegou a fazer um cinto de castidade, vendido para a França em sua primeira experiência com o comércio exterior. A partir do ano seguinte, Sumé passou a trabalhar com um material considerado um pouco mais nobre. “Passei a usar a prata em 74, quando comecei a fazer mais joias e fui deixando os objetos decorativos de lado. Só de vez em quando ainda fazia uma peça.” Ainda nos anos 70, mudou-se, com a esposa e os filhos, para Luziânia, cidade goiana próxima a Brasília. “Ali, morávamos no mato, completamente isolados. Vendia meu trabalho na Torre de TV, e era esse meu contato com o sistema”, conta, referindo-se ao mundo 32 O mapa da arte / The map of art By the hands of Sumé, the three metals were transformed into decorative objects, such as candlesticks and candelabra, and ornaments, like bracelets and belts. According to the artisan, he once made a chastity belt that was sold to France on his first experience with foreign trade. From the following year on, Sumé started working with a material considered a bit more noble. “I began to work with silver in 1974, when I started making more jewelry, leaving decorative objects aside. Only once in a while I used to make a piece.” Still in the 70’s, he moved with his wife and children to Luziânia, a city in the state of Goiania, next to Brasilia. “There, we lived in a forest, completely isolated. I used to sell my work in the TV Tower and that was my contact with the system”, he explains, referring to the capitalist and urban world – which capitalista e urbano – do qual fugira anos antes – e a um tradicional local de concentração de artesãos na capital federal. A família ficou “no mato” até 1992. “Quando meus dois filhos mais velhos terminaram o segundo grau, tínhamos de ir para uma cidade onde eles pudessem concluir seus estudos”, justifica. “Minha esposa preferia São Paulo, mas, por vontade dos nossos filhos, acabamos indo para o Nordeste. Escolhemos Fortaleza porque já conhecíamos a cidade e é a terra de Neusa”. Atualmente, o trabalho de Sumé é voltado para a criação de joias em prata, ouro e outros materiais naturais. “Faço peças que combinam os metais com madeiras, sementes, coco, ossos, marfim... Nada sintético. A não ser a cola, que determinados trabalhos exigem, mas que também prefiro evitar”, esclarece. Essas peças, que são únicas e assinadas (Sumé produz, no máximo, dez unidades ao ano), dividem a atenção do artesão com as encomendas da clientela (principalmente de anéis, alianças e restauros) e com o trabalho institucional que desenvolve desde o ano de 2000. “Estive presidente do Sindicato dos Artesãos Autônomos do Estado do Ceará entre 2000 e 2009 e, atualmente, estou presidente do Instituto Cearense do Artesanato”, conta, ressaltando o verbo “estar” para separar, digamos, o público do privado. À frente das instituições, Sumé tem o objetivo de exportar o artesanato nordestino principalmente para países europeus. “Participamos dos principais eventos da Itália, França, Espanha e Alemanha. No Brasil, sempre vamos à Feira Nacional de Artesanato (MG) e à Fenearte (PE), justamente porque elas têm esse caráter internacional. “Nosso objetivo é conquistar mercados com a arte típica do Nordeste, que se difere de outras porque carrega conceitos como sustentabilidade e, principalmente, o regionalismo”, finaliza. he ran away from before – and to a traditional place where artisans met in the federal capital. The family lived in the forest until 1992. “When my two older sons finished high school, we had to move to a city where they could continue studying, he justifies. “My wife preferred São Paulo, but, by the will of our children, we end up going to the Northeast. We chose Fortaleza because we already knew the city, besides being the place where Neusa was born”. Nowadays, Sumé’s work is focused in the creation of jewelry made of silver, gold and other natural materials. “I make pieces that match metals with wood, seed, coconut, bones, ivory… But nothing synthetic. Only glue, which some of the pieces demand, but I prefer to avoid the use of it”, he explains. The unique and signed pieces (Sumé produces, at most, ten units per years), divide the artisan’s attention between customers’ orders (mostly rings, wedding rings and restoration) and institutional work that he has been developing since 2000. “I stood as the president of the “Sindicato dos Artesãos Autônomos do Estado do Ceará”(Union of Autonomous Artisans of the State of Ceará) from 2000 to 2009 and, nowadays, I am standing as the president of the “Instituto Cearense do Artesanato” (Cearense Handcraft Institute)”, he says, emphasizing the use of “stand” to separate public and private life. Ahead of these institutions, Sumé aims to export the craftwork from Northeast mostly to European countries. “We participate in events in Italy, France, Spain and German. In Brazil, we always go the “Feira Nacional do Artesanato” (National Handcraft Fair) in Minas Gerais and to “Fenearte”, in Pernambuco, especially because they have this international characteristic. “Our goal is to conquer new markets with the typical Northeast art, which differentiates from the others because has sustainable concepts and, mostly, regionalism”, he concludes. O mapa da arte / The map of art 33 Feiras e Eventos Fairs and Events Gift Fair FEIR A DOS ESTADOS E NAÇÕES 27 de fevereiro a 1º de março de 2012 6 a 29 de janeiro de 2012 February 27th to March 1st, 2012 January 6th to January 29th, 2012 Setor: utilidades domésticas, mesa posta, artigos de copa e cozinha Setor: arte, cultura, artesanato, decoração, confecção, turismo e entretenimento Business sector: household appliances, table set, pantry and kitchen items Business sector: art, culture, handcraft, decoration, clothes making, tourism and entertainment Local / Venue: Expo Center Norte - São Paulo - SP Local / Venue: Orla de Cabo Branco João Pessoa - PB www.giftfair.com.br www.lucenaeventos.com.br New York International Gift Fair Ambiente 28 de janeiro a 02 de fevereiro de 2012 10 a 14 de fevereiro de 2012 January 28th to February 02nd, 2012 February 10th to February 14th, 2012 Setor: joias e beleza Setor: artigos domésticos, cultura habitacional, molduras, artes decorativas, relógios e iluminação Business sector: jewelry and beauty Local /Venue: Jacob K. Javits Convention Center New York (EUA / USA) www.nyigf.com Maison & Objet 20 a 24 de janeiro de 2012 January 20th to January 24th, 2012 Setor: móveis e artigos para casa Business sector: antique and household itens Local / Venue: Paris Nord - Villepinte, Roissy (França / France) www.maison-objet.com Business sector: household items, housing culture, frames, decorative arts, clocks and illumination Local / Venue: Frankfurt (Alemanha / Germany) Intergift / Bisutex 02 a 06 fevereiro de 2012 February 2nd to February 06th, 2012 Setor: têxtil Business sector: textile Local / Venue: Parque de las Naciones, S/N Apartado de correos Madrid (Espanha / Spain) Vera Naves Íntima das agulhas desde a infância, Vera Carvalho Naves, 53 anos, mineira de Santo Antônio do Amparo, tece um mundo melhor com barbantes e restos de carpetes. Doados pela Central Mãos de Minas, pelo Sebrae/MG e por outras empresas montadoras de eventos, os retalhos e tapetes usados se transformam em novos carpetes, como aquele que pode ser visto nas edições da Feira Nacional de Artesanato, realizadas em Belo Horizonte. O enorme carpete que adorna a feira foi o primeiro realizado pela artesã através da técnica de reciclagem, uma encomenda que já retratava a preocupação do organizador, o Instituto Centro Cape – ICCAPE, em interromper o ciclo de desperdício. Bolsas, sacolas, jogos americanos, flores e uma infinidade de outros produtos também são desenvolvidos, predominantemente, com tapetes e outros materiais reaproveitados, como jornais e banners. Sua trajetória e artesanato, preocupados com o meio ambiente, sempre andaram em parceria com a Central Mãos de Minas, que lhe ensinou a valorizar seu trabalho e a capacitou enquanto artesã empreendedora. Hoje, seu trabalho pode ser visto em lojas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Maceió e Belém; no Palácio das Artes e em eventos como a Unilar. Engajada, Vera vem trabalhando em ONGs e instituições, ministrando cursos que dão às pessoas a possibilidade de realização profissional e geração de renda. No manuseio do barbante, da fita, da linha e do carpete reutilizado em teares de pregos ou de pedal e em máquinas de costura, os alunos aprendem a criar, dividem experiências, melhoram sua autoestima, descobrem seu potencial e encontram seu espaço na sociedade. Na coordenação da ONG “100% Cidadania”, a artesã, que transformou aquilo que gosta de fazer em profissão, divide seus conhecimentos e caminha junto com o grupo, superando limites, respeitando as diferenças e vencendo através do artesanato. Intimate to needles since childhood, Vera Carvalho Naves, a 53 year-old “mineira*” from Santo Antônio do Amparo, waves a better world from twine and remaining pieces of carpets. Donated by “Central Mãos de Minas”, “Sebrae/MG” and other event producer companies, the remains are transformed into new carpets like the one you can see at the editions of Feira Nacional de Artesanato (National Handcraft Fair) that takes place in Belo Horizonte. The huge carpet that adorns the fair was the first one made by the artisan using the recycling technique, showing the early concern of Instituto Centro Cape – ICCAPE (Centro Cape Institute) – the fair organizer – with wastage. Purses, bags, placemats, flowers and a lot of other products are also developed mostly with carpets and other reused materials, like newspaper and banners. Her career and handcraft work toward the environment have always walked hand in hand with “Central Mãos de Minas”, teaching her the value of her work and training her as an artisan and an entrepreneur. Nowadays, her work can be found in stores in Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Maceió and Belém. In Belo Horizonte, they are available at Palácio das Artes and in events like Unilar. Socially engaged, Vera works in NGOs and institutions, offering courses that give people the possibility of professional accomplishment and income generation. Handling twine, ribbon, thread and carpet remains in looms or sewing machines, students learn how to create, share experiences, improve their self-esteem, develop their potential and find their space in society. In the coordination of the NGO “100% Cidadania”, the artisan, who transformed her hobby into a profession, shares her knowledge and grows together with the group, overcoming limits, respecting differences and building success through handcraft art. * A person who was born in the state of Minas Gerais. Eu faço / I make it 35 Onde Encontrar WHERE TO FIND Stela Lodi e Américo Lodi Telefones / Phone: +55 31 3689-4705 / 8317-0826 / 8461-5028 [email protected] / [email protected] Lagoa Santa- MG Dilson Ribeiro da Silva Dilson Arte Joias Telefones / Phones: +55 31 3553-4245 / 3553- 4227 / 8692-3050 [email protected] Santo Antônio do Leite, Ouro Preto - MG Laís Pinheiro Telefones / Phones: +55 31 3689-4026 / 9284-8615 Lagoa Santa- MG Francisco Cecílio da Silva e Efigênia Maria da Silva Arte Pássaros Telefones / Phones: +55 31 3088-8729 / 3418-1659 www.artepassaros.com.br / [email protected] Belo Horizonte - MG Edivaldo Teixeira e Rosevaldo Alves Ateliê Pica Pau Telefone / Phone: +55 37 9831-4981 Formiga - MG Vinícius Rosa Rios e Joelma Daudt Produção Nacional Telefones / Phones: +55 32 3355-1338 / 8805-8471 [email protected] Tiradentes - MG Jorge Antônio da Cruz Telefones / Phones: +55 31 3543-0177 / 8746-7235 [email protected] Raposos - MG Brasil Feito a Mão – ERRATA da 12ª Edição: Os telefones do artesão Thiago Rethalho foram publicados incorretamente na última edição. Os números de contato corretos são: + 55 31 3689-7440 / +55 31 9155-4969 / +55 31 8624-5134. Brazil Made by Hand 12th Edition’s ERRATUM: The telephone numbers of the artisan Thiago Rethalho were incorrectly published in the last edition. The correct contact numbers are: + 55 31 3689-7440 / +55 31 9155-4969 / +55 31 8624-5134. Sumé ArtBrasil Telefone / Phone: +55 85 3254-3667 [email protected] Fortaleza - CE ABEXA Associação Brasileira de Exportação de Artesanato
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