Jornal da Imagem
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Caderno 2 Parte integrante da Edição nº 337 Setembro de 2006 São–Paulo | setembro | 2006 Jornal da Imagem Caderno 2 Este encarte contém três casos apresentados no Clube Roentgen de agosto pelos residentes da Santa Casa de São Paulo, quatro Casos do Dia cedidos pelos seus autores, além de um caso enviado pelo Dr. Tufik Bauab Jr. Caso 1 • História clínica Masculino, 71 anos, refere nódulo indolor no quadrante inferolateral da mama esquerda, que vem aumentando de tamanho desde então. Figura 6 USG Figura 1 Mama dir. ML Figura 2 Mama esq. ML Figura 3 Mama esq. ML Figura 4 Mama esq. ML Pneumoductografia Figura 5 Mama esq. ML Pneumoductografia Caso 2 • História clínica Junho de 2004 RX TC Fevereiro de 2005 RX TC Abril de 2005 RX TC Masculino, 14 anos, procedente de São Paulo – SP, procurou serviço médico em 06/2004 com história de múltiplas afecções pulmonares tratadas com antibioticoterapia, sem melhora do quadro, evoluindo com febre (380C) e tosse. Ao exame físico, apresentava febre baixa (37,80C), anorexia e tosse produtiva. Antecedentes patológicos: HIV positivo (transmissão vertical), história de histoplasmose diagnosticada e tratada aos 5 anos de idade (sem exames de imagem) e tuberculose tratada há 4 anos. Exames laboratoriais: CD4 < 50; carga viral > 10.000. Jornal da Imagem São Paulo | SETEMBRO | 2006 Caso 1 Caso cedido pela Dra. Cristina Stefanon, do Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) de Vitória – ES Carcinoma papilar intracístico Diagnóstico Carcinoma papilar intracístico. Discussão O câncer de mama em homens é extremamente incomum. Menos de 1% dos casos de câncer de mama diagnosticados a cada ano ocorre no sexo masculino. A incidência é menos de 1 caso por 100.000 homens por ano. A maioria é de localização central (retroareolar); apenas ocasionalmente ocupa uma posição periférica. Geralmente se apresenta como um nódulo palpável, indolor e de crescimento lento. Quando um nódulo está ausente, a lesão é detectada devido a ulceração no mamilo, retração ou derrame papilar. É mais comum na mama esquerda e raramente bilateral. Vários fatores de risco para o câncer de mama em homens têm sido identificados: idade avançada, alto nível endógeno de estrogênio, síndrome de Cowden, exposição à radiação ionizante, exposição ocupacional a campos de radiação eletromagnética, criptorquidismo, síndrome de Klinefelter, disfunção hepática, história familiar para câncer de mama e mutações dos genes BRCA 1 e 2. A ginecomastia não parece aumentar o risco. Aproximadamente 85% das neoplasias malignas na mama masculina são ductais, infiltrativas e um componente intraductal associado tem sido descrito em 35 a 50% dos casos. O padrão de crescimento dos carcinomas ductais infiltrativos é semelhante ao encontrado na mama feminina, incluindo cribriforme, comedo, papilar, sólido e micropapilar. O carcinoma papilar, freqüentemente com componente cístico proeminente, é mais comum entre os homens, ocorrendo em 3 a 5% dos casos e em apenas 1 a 2% nas mulheres. Caso 2 A maioria é intracístico e não invasivo. A existência de carcinoma lobular infiltrativo é extremamente incomum, uma vez que a diferenciação lobular é raramente encontrada na mama masculina. A aparência mamográfica das neoplasias malignas na mama masculina é semelhante à feminina. A margem da lesão pode ser circunscrita, mal definida ou espiculada, embora uma maior freqüência de margens lobuladas e bem definidas da lesão têm sido descritas. Mais comumente não exibem calcificações, mas, quando presentes, estas são grosseiras, em pequeno número e mais dispersas pela lesão quando comparadas ao câncer de mama feminino. Os principais diagnósticos diferenciais são: ginecomastia, abscesso mamário e outros nódulos como cisto de inclusão epidérmica. O prognóstico está relacionado ao tamanho do tumor e ao seu esta- diamento. Parece que para estadiamentos comparáveis, o prognóstico é similar àquele das mulheres. Referências bibliográficas 1.Appelbaum et al. Mammographic appearances of male breast disease. Radiographics 1999;19:559-568. 2.Giordano SH et al. A review of the diagnosis and management of male breast cancer. The Oncologist 2005;10:471–479. 3.Weiss JR et al. Epidemiology of male breast cancer. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 2005;14(1). 4.Hendrix TM et al. Breast neoplasms. Breast imaging case of the day. Radiographics 1996; 16:452-455. 5.Rosen, Paul Peter. Breast pathology Kopans, D. Imagem da mama. Segunda edição. Caso cedido pelo grupo do tórax da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo Linfoma pulmonar primário cavitado Diagnóstico Linfoma pulmonar primário cavitado. Discussão O linfoma pulmonar primário (LPP) é definido como uma proliferação linfóide clonal que afeta um ou ambos pulmões (parênquima e/ou brônquios), em um paciente que não apresenta linfoma extrapulmonar, por pelo menos três meses. Quando o pulmão se apresenta como o principal local de acometimento tumoral, esta definição inclui: 1) tecido linfomatóide associado à mucosa (MALT); 2) envolvimento pulmonar com nódulos satélites e 3) granulomatose linfomatóide. O LPP é uma forma bastante rara de apresentação, responsável por menos de 1% dos casos de linfoma não-Hodgkin e entre 0,5-1% das neoplasias pulmonares primárias. A definição atual desta patologia compreende três grupos de malignidade: 1) LPP de células B de baixo grau (mais comum); 2) LPP de células B de alto grau (caso apresentado) e 3) granulomatose linfomatóide (controverso). O LPP não-Hodgkin de células B de alto grau corresponde de 11 a 19% dos LPP e ocorre em pacientes que apresentam desordens primárias, que culminam com imunossupressão, como transplantes de órgãos sólidos, HIV e síndrome de Sjögren. A incidência é por volta de 60 anos de idade, exceto em indivíduos com sorologia positiva para HIV, onde a média entre o diagnóstico sorológico e o aparecimento do LPP é de 5 anos. Nesses pacientes, o CD4 encontra-se freqüentemente abaixo de 50. O quadro clínico inclui sintomas inespecíficos, como perda de peso, febre e sintomas respiratórios, com média de duração de 2 meses no paciente com SIDA. Investigações radiológicas demonstram formação expansiva pulmonar única ou múltipla, uni ou bilateral, com crescimento rápido e/ou atelectasia, podendo acompanhar-se de derrame pleural. A presença de formações expansivas cavitadas é comum em pacientes com SIDA. A endoscopia brônquica é anormal na maioria das vezes, sendo que o diagnóstico de certeza é dado pela análise histológica. O prognóstico é pior que o do LPP de baixo grau, apresentando sobrevida de 8 anos, com evolução desfavorável em transplantados e aidéticos. Nos pacientes HIV positivos, a própria evolução do tumor configura a principal causa de morte, mas infecções oportunistas e bacterianas freqüentemente contribuem para o prognóstico sombrio. Referências bibliográficas 1.Cadranel J, Wislez M, Antonie M. Primary pulmonary lymphoma. Eur Respir J 2002;20:750-762. 2.Ray P et al. AIDS–related primary pulmonary lymphoma. Am J Respir Crit Care Med 1998;158:1221-1229. 3.Riviera CM et al. Primary pulmonary lymphoma presenting as a pulmonary mass with cavitation. Arch Broncopneumol 2004;40(2):94-96. Caderno 2 São Paulo | setembro | 2006 Caso 3 • História clínica Figura 1 – TC janela de pulmão Figura 2 – TC janela de pulmão Figura 3 – TC janela de pulmão Figura 4 – TC reconstrução sagital Masculino, 40 anos, residente na zona rural de Brotas – SP, apresentando sintomas respiratórios inespecíficos caracterizados por discreta dispnéia e tosse seca há 30 dias. Nega febre e perda de peso. Figura 6 – TC janela de pulmão ampliada Figura 5 – TC reconstrução coronal Caso 4 • História clínica Feminino, 32 anos, apresenta-se com dor pélvica crônica (há 3 anos) e dispareunia iniciada há 1 ano. Refere que seus ciclos menstruais são irregulares, geralmente menores que 28 dias e que há 2 anos vem tentando engravidar sem sucesso. Nega cirurgias. Figura 3 T2 Coronal Figura 1 – T2 Sagital Figura 2 – T2 Sagital Figura 6 T1 Axial fat sat pós-GD Figura 4 – T2 Axial Figura 5 – T1 Axial com fat sat Jornal da Imagem São Paulo | SETEMBRO | 2006 Caso 3 Caso cedido pelo grupo do corpo da Med Imagem/Hospital da Beneficência Portuguesa de São Paulo Histoplasmose pulmonar Diagnóstico Histoplasmose pulmonar. Discussão Patologia causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum, pode ser classificada como uma micose humana endêmica. Apresenta uma distribuição mundial, sendo endêmica nos vales dos rios Ohio, Mississipi e St. Lawrence nos EUA. O patógeno é mais encontrado no solo de locais com alta concentração de fezes de morcegos e pássaros (cavernas). A principal porta de entrada é a via respiratória, com germinação do esporo no alvéolo, determinando uma intensa reação inflamatória que pode levar à calcificação. Pode ainda ocorrer a invasão dos linfáticos pulmonares com disseminação para os linfonodos mediastinais, sendo a doença sistêmica geralmente restrita a pacientes imunossuprimidos. Clinicamente, esta doença apresenta espectro variado, sendo classificada em casos agudos, crônicos e disseminados. Grande parte dos pacientes com doença aguda é assintomática ou apresenta sintomas inespecíficos. Esses pacientes geralmente são expostos a um grande número de microorganismos ou se apresentam debilitados. A histoplasmose crônica geralmente instala-se em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, apresentando-se clinicamente por tosse, dispnéia, febre baixa e perda de peso (sintomas semelhantes aos da tuberculose). A forma disseminada é a mais rara e geralmente instala-se em pacientes com imunidade de linfócitos T comprometida. As manifestações radiológicas mantêm relação com os estágios clínicos. A doença aguda manifesta-se com consolidação pulmonar, com ou sem linfonodomegalia mediastinal ipsilateral. Com a cura, o histoplasmoma Caso 4 pode apresentar-se como nódulo calcificado. Nos casos de grandes inoculações, notam-se múltiplas consolidações e/ou nódulos. A forma crônica manifesta-se como doença fibrocavitada que acometem os lobos pulmonares superiores, indistinguível da tuberculose. A forma disseminada apresenta-se com padrão reticulonodular difuso ou miliar com progressão rápida para opacificação do espaço aéreo. O diagnóstico de histoplasmose é feito o isolamento do organismo através da coleta de material adequado (secreção, tecido pulmonar, urina, medula óssea e linfonodos). O acometimento mediastinal da histoplasmose pode complicar qualquer uma das formas da doença e pode ser dividido em granuloma ou fibrose mediastinal. Os granulomas mediastinais resultam da infecção direta destes linfonodos e geralmente são assintomáticos, podendo determinar compressão sobre estruturas mediastinais. Grande parte dos casos de mediastinite fibrosante por histoplasmose parece estar relacionada a uma resposta imunológica anormal. Tal patologia pode determinar compressão e importante estreitamento das estruturas mediastinais e apresenta como principais características de imagem uma massa mediastinal infiltrativa com focos de calcificação. Referências bibliográficas 1.MacAdans HP et al. Thoracic mycoses from endemic fungi: radiologic-patologic correlation. Radiographics 1995; 15:255-270. 2.Naidich et al.Tomografia computadorizada e ressonância magnética do tórax. 3a Ed. 3.Weissleder R et al. Primer of diagnostic imaging. 3rd Ed. Caso cedido pelo grupo do abdome do Centro de Medicina Diagnóstica Fleury, São Paulo Endometriose pélvica Diagnóstico Endometriose pélvica. Discussão A endometriose é uma patologia classicamente definida pela presença de estroma e glândulas endometriais funcionais fora da cavidade uterina. Acomete principalmente mulheres em fase reprodutiva, na faixa de 25 a 29 anos. O quadro clínico caracteriza-se por infertilidade, dor pélvica crônica, dispareunia, dismenorréia, dor lombar e desconforto retal. Sintomas não usuais ocorrem quando existe doença em locais atípicos como trato gastrointestinal (diarréia, sangramento retal, constipação), bexiga (urgência urinaria, hematúria), tórax (dor pleurítica, derrame pleural, pneumotórax) e sistema nervoso central (cefaléia, convulsões, hemorragia subabacnóidea). Pode ainda acometer mulheres abaixo de 20 anos (sendo a dor pélvica crônica o principal achado clínico) e mulheres menopaudas, geralmente em uso de reposição hormonal. Ciclos menstruais menores que 28 dias se apresentam como única característica menstrual significativamente associada ao quadro. Existem algumas teorias que tentam explicar a patogênese desta doença, sendo as mais aceitas a teoria da implantação metastática devido a um fluxo menstrual retrógrado e a teoria da diferenciação metaplásica de superfícies serosas. Os exames de imagem apresentam papel importante no diagnóstico e estadiamento de pacientes com endometriose. Ao ultra-som a endometriose apresenta aspecto variável e em alguns casos de difícil diferenciação com outras patologias como neoplasias e cistos ovarianos. Sempre deve ser realizado por via transvaginal e abdominal, com especial atenção à ecogenicidade interna e morfologia da parede dos cistos. Os cistos endometriais (endometriomas) são mais comuns nos ovários, bilaterais em ate 50% e se apresentam classicamente como lesões focais, bem delimitadas, hipoecogênicas contendo múltiplos ecos internos. Podem ser uni ou multiloculares, sendo estes últimos mais provavelmente múltiplos cistos agrupados. Podem ainda apresentar espessamento e/ou nódulos parietais, bem como focos hiperecogênicos dispostos na parede do cisto, sendo este último o achado parietal isolado mais característico do endometrioma. A RM apresenta-se como o método de imagem não invasivo mais sensível no diagnóstico e estadiamento da endometriose. Os endometriomas apresentam, na maioria das vezes, hipersinal homogêneo nas seqüências ponderadas em T1, com aumento da sensibilidade na detecção de lesões menores quando utilizadas seqüências ponderadas em T1 com supressão de gordura. As seqüências ponderadas em T2 apresentam sinal mais variado, tendo como grande importância uma perda de sinal no interior da lesão (“shading” sign). Esta perda de sinal que pode ser desde leve até ausência completa de sinal se relaciona à natureza crônica da lesão (múltiplos produtos derivados do sangue, decorrentes de múltiplos sangramentos cíclicos). A injeção do meio de contraste não parece alterar a avaliação dos endometriomas, notando-se realce periférico variável. O diagnóstico de pequenos implantes através da RM ainda permanece difícil, pois os mesmos podem apresentar sinal variável como o do endométrio (hipo em T1 e hiper em T2), hipointenso ou hiperintenso em todas as seqüências, com realce variável após a infusão do meio de contraste. Referências bibliográficas 1.Woodward PF et al. Endometriosis: radiologic-patologic correlation. Radiographics 2001; 21:193-216. 2.Kostaki G et al. Pelvic endometriosis: MRI spectrum with laparoscopic correlation and diagnostic pitfalls. Radiographics 1997;639-655. Caderno 2 São Paulo | setembro | 2006 Caso 5 Figuras 1 e 2 Raio-X e tomografia computadorizada de crânio evidenciam formação expansiva heterogênea para selar direita com calcificações de aspecto condróide no interior. • História clínica V.S., feminino, 39 anos, natural do Paraná, procedente de São Paulo. • QD “Crises convulsivas há 01 dia”. • HPMA Figuras 3 e 4 Ressonância magnética (T1/SE, FLAIR, T2 COR e T1 COR pós-Gd) demonstra a mesma formação expansiva com sinal intermediário em T1 e hipersinal em T2 apresentando impregnação heterogênea pelo agente paramagnético e comprimindo o parênquima encefálico adjacente. Paciente com queixa de duas crises convulsivas há 01 dia. Relata, ainda, cefaléia hemicraniana direita, pulsátil, iniciada há 02 anos, com piora progressiva, atualmente associada a dor retroocular ipsilateral. Caso 6 • História clínica A.G.C., 42 anos, branco • QD e HPMA Dor na região sacral há 5 meses, sem alterações ao exame físico Figura 1 Raio-X de quadril demonstra lesão infiltrativa radioluzente no sacro que apresenta bordas definidas, sem halos de esclerose. Não há acometimento da articulação sacro-ilíaca. Figura 4 – Ressonância magnética da coluna lombo-sacra ponderada em T2/TSE no plano sagital demonstra lesão no sacro com padrão levemente heterogêneo apresentando áreas de hipo e hipersinal no sacro, sem formações císticas ou áreas definidas de necrose. Figura 3 Ressonância magnética do quadril ponderada em T1/TSE no plano coronal, evidencia lesão com hiposinal, de limites bem definidos acometendo todo o sacro. Não há sinais de ruptura da cortical ou de expansão extra-óssea. Articulação sacro-ilíaca preservada. Figura 5 – Ressonância magnética do quadril ponderada T1 no plano coronal com saturação de gordura pós-Gadolínio, demonstra tênue impregnação difusa da lesão. Figura 2 – Cintilografia mostra captação difusa e intensa no sacro. Jornal da Imagem São Paulo | SETEMBRO | 2006 Caso 5 Dra. Carla Cristina T. P. Benetti (R3) – Caso cedido pelo Dr. Antônio José da Rocha Condrossarcoma da fissura petrocliva Diagnóstico Condrossarcoma da fissura petroclival. Discussão Os condrossarcomas são tumores oriundos de matriz óssea, cartilaginosa ou mesmo de tecidos que não apresentem componente cartilaginoso. Na base do crânio são mais comumente encontrados na região das diversas sincondroses que permanecem após a ossificação da matriz condróide embrionária, com “predileção” pela fissura petro-occipital (petroclival). Portanto, apresentamse como tumores para-sagitais. Tais tumores são localmente invasivos, mas raramente metastatizam. Disseminam-se através da fissura petroclival, envolvem o clivus, a porção petrosa do osso temporal e são mais proeminentes nas cisternas ou nos tecidos moles da base do crânio. Os tipos histológicos são variáveis; os convencionais incluem os tipos hialino (7,5%), mixóide (29,5%) ou uma combinação dos dois (63%). Habitualmente tais tumores são classificados de acordo com o grau de diferenciação, sendo a maioria bem ou moderadamente diferenciada. A faixa etária acometida é variável; porém, ocorrem freqüentemente em adultos de meia idade. A apresentação depende da localização e da extensão local; cefaléia ou paralisia de nervos cranianos, particularmente do VI nervo (abducente) é um sinal freqüente. Geralmente ocorrem como tumores isolados, porém podem ser múltiplos. Eventualmente estão relacionados à doença de Ollier (múltiplos encondromas) e Síndrome de Maffucci (múltiplos encondromas associados a hemangiomas cutâneos). Podem, Caso 6 ainda, aparecerem como complicação da doença de Paget. O tratamento combina cirurgia com diversos tipos de radiação; eventualmente, consiste exclusivamente de radioterapia. A exérese cirúrgica completa normalmente é inviável devido à localização e proximidade com estruturas neuro-vasculares. No entanto, como o padrão de crescimento é lento, o prognóstico é bom (99% em 10 anos). À tomografia computadorizada (TC) apresentam-se com padrão variado, dependendo da quantidade de matriz condróide. Geralmente apresentam componente de partes moles com aparência densa na fase sem contraste e com realce pelo agente iodado. As calcificações são características, mas nem sempre presentes. Quando presentes são pequenas, em anel completo ou incompleto, sugerindo natureza condróide. Freqüentemente, a transição entre o tumor e o osso envolvido é abrupta, porém não há esclerose óssea adjacente. Em cerca de 50% dos casos observa-se destruição óssea regional. À ressonância magnética (RM), tais tumores habitualmente apresentam sinal intermediário em T1, alto sinal em T2, com impregnação heterogênea após a injeção do gadolínio. Os principais diagnósticos diferenciais incluem colesteatoma do ápice petroso, meningioma calcificado, fibroma condromixóide, cordoma, plasmocitoma, carcinoma de nasofaringe e metástases. Referências bibliográficas 1.Harnsberger Ric H. Diagnostic imaging: head and neck. Elsevier Saunders 2005; 1st edition; I-3: 58-61. 2.Som PM. Head and neck imaging. Mosby 2003; 4th edition; 816-817. Dr. Luciano A. P. Fleury Neto – Caso cedido pelo Dr. Guinel Hernandez Filho Plasmocitoma de sacro Diagnóstico Plasmocitoma de sacro. Discussão É a forma solitária localizada da proliferação de células plasmáticas, menos comum que o mieloma múltiplo. Representa cerca de 5% das discrasias de células plasmáticas e em aproximadamente 50% dos pacientes ocorre antes dos 50 anos. Apresenta-se clinicamente, com dor local como o sintoma mais freqüente, porém pode ser acompanhada de manifestações neurológicas. Os locais mais acometidos são man- díbula, ílio, vértebras, costelas, fêmur proximal e escápula. Nesses locais, as fraturas patológicas são comuns. Há ainda, relatos de casos de afecção extramedular dos tecidos moles do trato respiratório alto. A radiografia simples pode se apresentar como vértebra em marfim, porém sua apresentação típica é a de lesão radiolucente, expansiva, com aspecto de “bolha de sabão”. O estudo tomográfico mostra precocemente as alterações ósseas não caracterizadas ao estudo radiográfico. É de grande valia para avaliar o grau de destruição óssea. A ressonância magnética pode detectar alterações na medula óssea e em muitos casos permite a diferenciação com áreas de reconversão medular. Essa diferenciação pode ser muito difícil, ou mesmo impossível, devido à superposição de achados. O diagnóstico diferencial inclui o pseudotumor da hemofilia, doença hidática óssea, displasia fibrosa, tumor de células gigantes, tumor marrom do hiperparatireoidismo e metástases (principalmente rim e tiróide). Porém, quando há lesão do sacro deve-se considerar o diagnóstico diferencial de cordoma. A maioria dos pacientes com plasmocitoma solitário desenvolvem mieloma múltiplo com sobrevida de 5 anos, motivo esse da importância do segmento por longos anos desses pacientes. O tratamento dessas lesões baseia-se na irradiação local e excisão cirúrgica. Referências bibliográficas 1.Resnick, Kransdorf. Bone and joint imaging. Elsevier Saunders 2005; 3rd edition; 652-665. 2.Yochum and Rowe. Essentials of Skeletal Radiology. Lippincott Williams and Wilkins; 3rd edition; 1168-1183. Caderno 2 São Paulo | setembro | 2006 Caso 7 • História clínica Figura 2 USG: Massa cística septada renal esquerda com porções sólidas parietais. GA, 3 meses, masculino, pardo. Natural e procedente de São Paulo. Filho da terceira gestação, tendo a mãe realizado apenas 2 consultas de pré-natal e apenas uma ultra-sonografia obstétrica em outro serviço, considerada dentro dos limites normais. Aos 15 dias de vida foi internada por BCP, onde se constatou um discreto aumento do volume abdominal, não investigado. Com 1 mês e 20 dias a mãe percebeu aumento mais importante do volume abdominal com massa palpável no flanco esquerdo, que julgou estar relacionado à mudança da alimentação materna para alimento pastoso. Figura 1 – A) radiografia simples: Importante velamento no flanco esquerdo, em topografia da loja renal. B) UGE: Rim esquerdo muito aumentado apresentando dilatação do sistema coletor com estiramento dos infundíbulos e distorção pielocalicinal. Como persistiu o quadro, procurou nosso serviço para investigação diagnóstica. • Exame físico – Dispnéia leve – PA= 140 x 80 mmHg – Abdome globoso, indolor, com massa endurecida, fixa, no hemiabdome esquerdo. – Circunferência abdominal de 46 cm (aumentado). Figura 3 – A) TC sem contraste; B) e C) TC com contraste endovenoso: Volumosa massa cística com paredes espessas, algumas calcificações e septações internas apresentando sinal da garra, indicando a origem renal da lesão. Figura 4 – RM – A), B) e C) – Sequências ponderadas em T2 sagital, coronal e axial mostrando volumosa massa cística septada renal esquerda. Caso 8 • História clínica Figura 1 – US. Dilatação das vias biliares intra-hepáticas, notadamente no lobo direito, com a presença de múltiplas imagens ecogênicas, produtoras de sombra acústica no seu interior. Figura 4 – RM (ponderação T1 gradiente eco, out of phase). As vias biliares são hipointensas nesta fase, onde não conseguimos distinguir a presença de cálculos. Figura 2 – TC. Realizada sem contraste, devido a história alérgica ao meio de contraste iodado. Imagens hipodensas císticas e comunicantes no lobo direito do fígado. Figura 3 – RM (ponderação T2). As vias biliares dilatadas são vistas como estruturas tubulares com hipersinal. Cálculos no interior das vias biliares se apresentam como estruturas com hiposinal. Figura 5 – Colangioressonância. As vias biliares intra-hepáticas no lobo direito apresentam-se dilatadas, sendo observada a comunicação com a árvore biliar. O colédoco tem calibre normal. Paciente do sexo feminino, branca, 32 anos, apresentou dor lombar e hematúria. Foi realizada ultrasonografia do abdome e, devido aos achados, complementada com tomografia computadorizada, ressonância magnética e colangioressonância. Jornal da Imagem São Paulo | SETEMBRO | 2006 Caso 7 Dr. Marcelo Miyazaki Yoshida (R3) – Caso cedido pelo Dr. Roberto de Moraes Bastos e Dr. Marcelo de Castro Jorge Racy Nefroma Mesoblástico Diagnóstico Nefroma Mesoblástico. Discussão Nefroma mesoblástico é o tumor sólido mais comum em neonatos, sendo antigamente chamado de tumor de Wilms congênito, mas que atualmente é reconhecido como uma entidade diferente: hamartoma renal fetal ou hamartoma leiomiomatoso. É geralmente diagnosticado nos três primeiros meses de vida, sendo que 90% dos casos são descobertos no primeiro ano. Há um leve predomínio do sexo masculino. A apresentação clínica mais comum é a massa abdominal palpável, sendo a hematúria menos freqüente. Alguns casos podem ser diagnosticados no exame de ultra-sonografia pré-natal e podem estar associados a polidrâminio, hidropsia, trabalho de parto prematuro e/ou aumento da renina sérica. O tumor consiste de proliferação do mesênquima nefrogênico de características expansivas e infiltrativas, com limites imprecisos e sem cápsula, diferenciando do tumor de Wilms. De forma grosseira, na análise macroscópica, apresenta aspecto “emborrachado”, semelhante ao mioma uterino. Caso 8 Usualmente os estudos por imagem demonstram grande massa sólida que compromete o seio renal, deslocando grande parte do parênquima e do sistema coletor, podendo apresentar áreas císticas, hemorrágicas ou de necrose. A infiltração local dos tecidos perirenais é comum. Mínima excreção renal do contraste pode ocorrer devido à presença de túbulos e glomérulos displásicos em meio ao estroma tumoral. Nefroma mesoblástico é um tumor de comportamento benigno e comumente é tratado apenas com nefrectomia. Margens amplas são necessárias devido ao comportamento infiltrativo da lesão, caso contrário pode haver recidiva local. Como diagnósticos diferenciais devemos citar a hidronefrose, o nefroma cístico multilocular e o tumor de Wilms. Referências bibliográficas 1.Lowe, LH; Pediatric Renal Masses: Wilms tumor and Beyond, RadioGraphics 2000;20:1585-1603. 2.Srinivasa RP; Neoplasms of the Renal Medulla: Radiologic-Pathologic Correlation, RadioGraphics 2005;25:369-380. 3.Silverman, FN; Caffey´s PediatricX-ray diagnosis: 9th edição. Drs. Marta Fraga Dauster, Débora Esperancini-Tebar e Tufik Bauab Jr. Doença de Caroli Diagnóstico Doença de Caroli. Discussão A doença de Caroli é um tipo raro e complexo de doença congênita, resultante do desenvolvimento anormal dos ductos biliares intra-hepáticos, apresentando freqüentemente ductos biliares extra-hepáticos normais. A herança é autossômica recessiva, e foi descrita pela primeira vez em 1958 por Caroli et al. Dois tipos são descritos na literatura: a doença de Caroli propriamente dita, ou clássica, causada pelo remodelamento anormal na formação do epitélio dos ductos biliares intra-hepáticos maiores, e a síndrome de Caroli, que acomete todos os níveis da árvore biliar associada à fibrose hepática primária, resultando em cirrose e hipertensão portal. As duas formas acometem igualmente homens e mulheres e em mais de 80% os pacientes tem menos de 30 anos de idade. A doença de Caroli é conhecida como tipo V na classificação de Todani, mas tem origem embrionária diferente dos cistos de colédoco verdadeiros, sendo causada pela falência ou desarranjo na remodelação embriológica dos ductos, levando a dilatação das vias biliares intra-hepáticas, que pode ser do tipo sacular ou do tipo fusiforme. A coexistência da doença de Caroli com dilatação de via biliar extra-hepática é mencionada na literatura, com prevalência que varia entre 21 e 53%, e ocorre devido à coexistência com cistos de colédoco verdadeiros do tipo fusiforme. O envolvimento hepático segmentar é mais comumente observado (até 82% em algumas séries), sendo o lobo esquerdo o mais afetado. A forma difusa da doença é mais rara estando presente em apenas cerca de 18 % dos casos. Os achados típicos de imagem consistem em dilatações císticas saculares ou menos freqüentemente fusiformes dos ductos biliares intra-hepáticos, resultando em estase biliar, podendo ser vistas áreas de constricções, paredes irregulares e cálculos, ou ainda lama biliar. O “sinal do ponto central” foi sugerido como patognomônico da doença, localizado aparentemente na luz do ducto. Este pequeno foco representa a radícula portal que foi englobada pelo ducto dilatado. A demonstração de que os espaços císticos se comunicam com a árvore biliar é a chave para o diagnóstico. As complicações da doença de Caroli são, na sua maioria, decorrentes da estase biliar, sendo mais comuns a colangite, cálculos (predominantemente de bilirrubina), icterícia obstrutiva (por migração de cálculos) e abscessos hepáticos. A cirrose biliar secundária pode ser decorrente do quadro obstrutivo. A associação com doença maligna (colangiocarcinoma) foi reportada com uma prevalência que varia entre 7% e 24 %. Há uma elevada associação desta entidade com ectasia tubular renal, que pode estar presente na forma de rim esponja medular, ou ainda como variação menos agressiva da doença policística renal autossômica recessiva. Normalmente encontram-se ductos renais com dilatação irregular e cálculos renais associados. Na síndrome de Caroli, os achados de cirrose somam-se aos outros já descritos, e normalmente é observada hipertensão portal, com esplenomegalia e circulação colateral porto-sistêmica. Não raramente, na síndrome de Caroli pode ocorrer hematêmese por ruptura de varizes esofageanas. O diagnóstico diferencial da doença de Caroli inclui a colangite esclerosante primária, colangite piogênica recorrente, doença hepática policística, cistos de colédoco, papilomatose biliar e dilatação biliar obstrutiva. A colangite esclerosante primária pode também estar associada à dilatação ductal, áreas de estenose, litíase e malignidade, tornando-se por vezes difícil distingui-las. Referências bibliográficas 1.Levy AD, Rohrmann CA, Murakata LA, Lonergan GJ. Caroli´s disease: Radiologic spectrum with patologic correlation. AJR: 2002;179:1053-1057. 2.Fulcher AS, Turner MA, Sanyal AJ. Case 38: Caroli disease and renal tubular ectasia. Radiology 2001; 220:720-723. 3.Semelka RC: Abdominal- Pelvic MRI, 1st edition, 2002. 4.Rumack CM, Wilson SR, Charboneau JW. Diagnostic Ultrasound, 3rd edition, 2005. 5.Lee JKT, Sagel SS, Stanley RJ, Heiken JP. Computed Body Tomography with MRI Correlation, 3rd edition, 1998. 6.Edelman RR, Hesselink JR, Zlatkim MB, Crues JV. Clinical Magnetic Resonance Imaging, 3rd edition, 2006.