O Cubo-Futurismo Russo
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O Cubo-Futurismo Russo
PORTAL DE HISTÓRIA DO TEATRO MUNDIAL E BRASILEIRO PRATA DA CASA – ENSAIO _______________________________________________________________ Título: O Cubo-Futurismo Russo Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna Arquivo: 09.PCES.00006 Portal de História Mundial e Brasileiro Página 1 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 O CUBO-FUTURISMO RUSSO “Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à ideia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.” Karl Marx Contaminados pelo pensamento ideológico socialista desenvolvido por Karl Marx no final do séc. XIV, o proletariado russo do início do séc. XX nutriuse de força e esperança para realizar todo movimento revolucionário em seu país, o qual concomitantemente influenciou um desenvolvimento estético diferenciado de todas as outras manifestações vanguardistas que tomavam a Europa. O Cubo-futurismo, influenciado pelo futurismo italiano, porém com uma proposta ideológica totalmente contrária a este, foi o caminho artístico percorrido e conquistado pela revolução russa, tendo como um de seus nomes, Vladimir Maiakóvski (1893-1930). Não foi à toa que essa manifestação artística desenvolveu-se na Rússia, este país possuía especificidades que contribuíram para a formação de um pensamento único acerca de se fazer arte: para e por quem deve ser feita. O capitalismo que se desenvolvia por toda a Europa já apresentava suas contradições. Por conta do atraso no desenvolvimento industrial russo, o país teve a possibilidade de perceber as antinomias que este sistema apresentava, sem se envolver tão diretamente com ele como acontecia em outros países europeus. Dessa forma, foi possível desenvolver na Rússia um pensamento crítico maior sobre as mazelas capitalistas. O país, em sua totalidade, era sustentado por uma aristocracia rural e governado por uma monarquia que se mantinha no poder desde o séc. XVII, com a dinastia dos Romanov. Comparado com os países da Europa, a Rússia Portal de História Mundial e Brasileiro Página 2 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 do final do séc. XIV era um dos únicos países que não tinha vivido um processo revolucionário, se tornando uma república. Estava envolvida em uma pobreza e miséria infindas, onde somente poucos (nobres) possuíam boas condições de vida; fato que gerava um descontentamento por parte do povo, para com a figura do Czar. A lei de servidão obrigava os camponeses a lavrar as terras sem poder possuí-las, sendo elas propriedade da aristocracia. Nicolau I (1825-1855) e seu sucessor, Alexandre II (1855-1881) criaram reformas na tentativa de gerar um desenvolvimento no país, como o fim da servidão agrária, porém as constantes derrotas russas em guerras ao longo do séc. XIV e início do XX potencializaram o descrédito do czarismo. Alexandre II foi assassinado por um dos grupos de oposição política que lutavam pelo fim da monarquia vigente, responsabilizada pela situação de injustiça social existente. A igreja ortodoxa russa, que ainda tinha muito poder por todo o país, ajudava nessa organização, de certa forma, feudal, que o país ainda possuía. Em 1894, Nicolau II assumiu o trono russo. Ele foi um dos protagonistas do que se considera o marco inicial dos protestos que culminaram com a revolução de 1917. Em 1904 as classes trabalhadoras, juntamente com a pequena burguesia existente no país, se mostravam descontentes com a situação econômica e fizeram diversas manifestações de protestos no país. Vale ressaltar que nesse ano, a Rússia havia acabado de entrar em guerra com o Japão por conquista de território, o que agravou a situação social russa. Na tentativa de conter os revoltosos, o czar prometeu que findada a guerra, tomaria diversas medidas visando à melhoria russa. Os partidos de orientação liberal burguesa se sentiram satisfeitos e abandonaram o proletariado. No ano seguinte, depois de derrotada, a Rússia foi palco, não de modificações políticosociais, mas sim, de um combate severo aos revoltosos por parte de Nicolau II e nenhuma de suas promessas foi cumprida. Este fato ficou conhecido como Domingo Sangrento, no qual a classe trabalhadora viu-se enganada pelo czar. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 3 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Porém, tal fato favoreceu o pensamento desta classe em dois aspectos: primeiramente, no ano de 1905, foram organizados os conselhos operários, ou sovietes que eram corpos deliberativos formados pela classe trabalhadora, denunciando maior organização no movimento de luta trabalhista e social, fortalecendo o pensamento revolucionário. Para muitos, como por exemplo, o próprio V. I. Lênin (1870 –1824), a revolução de 1905 foi um ensaio geral para a de 1917. A partir desse momento, as manifestações começaram a crescer por todo o país e o povo, tendo contato com o pensamento socialista disseminado pela Europa foi se preparando para a revolução de 1917. Para complicar ainda mais a situação russa, o país se envolveu em mais um conflito, a 1ª Guerra Mundial (1914-1918). A longa duração dessa guerra provocou crise de abastecimento alimentar nas cidades, desencadeando uma série de greves e revoltas populares Na data de 15 de março de 19171, a Rússia monárquica deixou de existir, porém socialmente nada mudou nessa primeira fase da revolução. Depois que Nicolau II foi deposto, instaurou-se um governo a partir dos políticos que já compunham a dumas (espécie de parlamento russo), na sua totalidade burgueses. Ou seja, mudava-se apenas a figura que governava, porém a ideologia se mantinha. Nos meses seguintes, os sovietes foram crescendo e se fortalecendo por todo o território, culminando na madrugada do dia 7 de 1 A Revolução de Fevereiro, como ficou conhecida ocorreu nesta data, pois a Rússia durante esse momento histórico, ainda utilizava o calendário Juliano, passando apenas para o Calendário Gregoriano anos mais tarde. Sendo assim há essa diferenciação de datas tanto nesta revolução, quanto na Revolução de Outubro, a qual aconteceu em novembro. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 4 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 novembro de 1917, dia de início da Revolução de Outubro, como ficou conhecida e que levou os bolcheviques2 ao poder. Cubo-Futurismo e a militância artística nas vanguardas russas Influenciado pelo Futurismo italiano, Severyanin, fundou em 1911 o movimento chamado de Ego-Futurismo, baseado nos mesmos princípios da vanguarda italiana: o desenvolvimento da tecnologia e das potencialidades do homem com o diferencial de ter como principal plataforma a ênfase no ego e no individualismo. O termo Futurismo foi utilizado na Rússia pela primeira vez em 1912, pelo grupo Ego-Futurista de Severyanin em São Petersburgo. O grupo Hiléia de David Burliuk, que mais tarde se chamaria Cubo-futurista, também por possuir grande influência do Cubismo, no mesmo ano, lançou em Moscou, o manifesto Tapa na Cara do Gosto Público, conclamado como um manifesto do Futurismo russo, embora nenhum dos artistas do grupo se considerasse futurista nesse momento. O que o grupo desenvolvia nesse período era, na verdade, uma espécie de primitivismo com ênfase na cultura eslava. Posteriormente o grupo se definiria futurista, juntamente com mais dois outros grupos: o Mezanino do Poeta de Vadim Shershenevich de 1913 e o grupo chamado Centrífuga, de Sergei Bobrov, em 1914. Uma das principais diferenças entre a vanguarda russa e a vanguarda italiana era a heterogeneidade da primeira. Outro diferencial fundamental era a autonomia das produções de cada um dos grupos, o modo como cada um se manifestava livre e independentemente uns dos outros, diferente dos futuristas italianos que 2 Dentro do Partido Operário Social-Democrata Russo, principal partido de oposição na época do czarismo russo, houve uma cisão ideológica em 1903, de onde surgiram os Mencheviques e os Bolcheviques. Os primeiros defendiam que o país deveria esperar o pleno desenvolvimento capitalista e que, por meio das suas contradições é que trabalhadores conseguiriam seu poder, dando início a ação revolucionário. Já os segundos, defendiam a formação da ditadura do proletariado, a qual só seria possível por meio da luta revolucionária realizada pela classe trabalhadora. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 5 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 eram sujeitados ao despotismo de seu líder Filipo Tommaso Marinetti. Era comum um grupo acusar o outro de não ser legitimamente futurista e, sobretudo, procuravam ao máximo dissociarem-se do movimento italiano. O Futurismo russo, também, se desenvolveu em uma área essencialmente literária, o que caracteriza outra grande diferença com o Futurismo italiano, que se desenvolveu enormemente nas artes plásticas. O grupo de Severyanin, os Ego-futuristas, lançou (em 1912) seu manifesto fundador, intitulado Tabelas. Neste breve manifesto, afirmavam-se como reitores da Academia da Ego-Poesia, responsável pela criação do futurismo universal. Afirmavam possuir dois precursores, cujas obras inspiraram e antecederam o desenvolvimento desta academia: os decadentes Fofanov e Lokhvitskaya. Neste manifesto, apresentam alguns pontos programáticos que permeariam as obras de seus participantes como a glorificação do ego, do egoísmo, do individualismo e o valor da intuição e do misticismo como experiências transcendentais, indispensáveis à vida humana. Dentre os ego-futuristas, segundo os críticos, o maior talento era, definitivamente, Igor Severyanin. Seja pelos constantes elogios da crítica, ou pelo seu talento em operar com temas e imagens que eram atraentes para seus leitores (os poemas de Severyanin muitas vezes transcorriam em cenários utópicos luxuosos). Em 1912, Severyanin se tornou uma celebridade literária na Rússia, o que o levou a tomar uma decisão que muito influenciou os dois grupos: sua saída da chamada Academia de Ego-Poesia, anunciada publicamente em novembro do mesmo ano, marcada pela carta intitulada Epílogo do Ego - futurismo. Após a saída de Severyanin, os integrantes do grupo buscaram reformular seu grupo e sobreviver a este traumático evento, que diminuiu consideravelmente a circulação de suas publicações. No entanto, no mesmo período da saída de seu fundador, outro evento fez com que o grupo criado por David Burliuk passasse a se destacar enquanto o representante de maior renome do futurismo russo: a adoção da denominação de futurista para Portal de História Mundial e Brasileiro Página 6 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 designar as propostas artísticas de seu grupo. Essa adoção ocorreu em 1913, encabeçada presumidamente por Burliuk, fundador e articulador do grupo. Foi certamente responsabilidade do mesmo, parcial ou total, a criação do termo Cubo-Futurismo. A opção pelo termo teve um aspecto estratégico, visto que ele havia sido estereotipado pela crítica como sinônimo de arte experimental e inovadora. Ademais, os componentes da chamada Avant-Garde russa prérevolucionária seriam caracterizados por sua ampla experimentação com diversas correntes vindas da Europa e pela subsequente “miscigenação” das mesmas. O termo Futurismo, portanto, surge para abranger a heterogeneidade da vanguarda russa. Com o declínio da repercussão do grupo Ego-futurista, sendo Severyanin agora um agente desvinculado de qualquer grupo, e a adoção da denominação futurista pelo grupo Hiléia, este último passou, paulatinamente, a se destacar entre a maioria dos russos, afastando-se do então arquétipo futurista. Anteriormente, qualquer trabalho que fosse chamado de futurista seria inicialmente pensado como um semelhante às obras de Severyanin e de seu grupo. A adoção (ou aceitação) da denominação a partir de meados de 1913, bem como a posterior inclusão do prefixo Cubo, tinha entre suas motivações a diferenciação do grupo em relação aos demais, em especial ao Ego-futurismo e ao Futurismo italiano. Possivelmente, os próprios críticos já começavam a chamar os artistas do grupo moscovita de futuristas antes que Burliuk e Mayakóvski começassem a fazê-lo em 1913. Entre 1913 e o início da guerra, quando o Futurismo passava pelo que seria considerado seu auge de popularidade, os Cubo-futuristas se apegariam a esta pré-denominação por parte da crítica, como se este aspecto conferisse uma espécie de legitimidade destes artistas em adotar o termo, visto que não eram auto-proclamados, mas sim percebidos como inovadores, experimentadores, futuristas. Posteriormente, com as dificuldades da guerra pesando sobre o Futurismo e as sucessivas declarações na imprensa quanto à morte do movimento, Maiakóvski, tomou uma posição defensiva afirmando que Portal de História Mundial e Brasileiro Página 7 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 o termo, para início de conversa, havia sido posto sobre eles pela crítica, e que as atividades destes artistas transcendia o termo. O autor afirmou que, enquanto pudesse ser dito que o Futurismo, como era conhecido anteriormente, havia morrido, seus componentes estavam mais fortes do que nunca e haviam evoluído e agora se debruçavam sobre novas pesquisas e possibilidades artísticas, enquanto ainda mantinham em vista os ideais de experimentação, progresso e modernidade. Outro grupo se destacou quando nos deparamos com grande número de russos em posições de críticos literários, este se formava sincronicamente a estes grupos futuristas e se uniu ao coro de apoio aos Cubo-futuristas e suas pesquisas linguísticas: os formalistas. Russos cujos nomes são hoje conhecidos, como Jakobson, Shklovskii ou Brik, defenderiam em seus escritos a validade das pesquisas linguísticas de autores como Kruchenykh ou Khlubnikov, bem como da busca destes autores pela descoberta das propriedades da palavra, do signo, da proto-linguagem, etc. Aos futuristas, as circunstâncias da guerra tiveram também repercussões específicas. A guerra foi sentida pelos futuristas especialmente por ter afetado o seu cotidiano profissional de maneira radical. Frente à guerra e às dificuldades que dela seguiram os futuristas encontraram seu público cada vez menor e menos interessado, consumido pelas questões práticas de seu cotidiano da guerra e menos dispostos a investir tempo ou dinheiro em atividades tidas por supérfluas. Neste cenário, pode-se melhor entender iniciativas conciliatórias que objetivavam formar um movimento futurista unificado na Rússia – especialmente quando se observa que estas iniciativas foram tomadas por pessoas cujas posições anteriormente eram notoriamente excludentes com relação a outras abordagens. Como exemplos desta iniciativa, podemos elencar o manifesto De agora em diante eu me recuso a falar mal mesmo de trabalhos de idiotas, escrito por David Burliuk em 1915, ou o manifesto de 1914, Vão para o Inferno, assinado por muitos cubo-futuristas e por Igor Severyanin, fundador do Ego-futurismo. O primeiro, Burliuk inicia com Portal de História Mundial e Brasileiro Página 8 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 o subtítulo Uma Rússia esteticamente unida. Em seguida, proclama a vitória dos futuristas, que haviam, com sucesso, arrombado as muralhas da “cidadela do velho gosto” e agora rugiam por entre os simbolistas, que, de forma enrustida, os aceitavam. Observava a presença de obras de pintores futuristas expostas lado a lado com obras que denomina “duras de morrer” como evidência de que os críticos cediam às propostas dos futuristas, fortalecidos em seus discursos de conflito e mudança pela grande guerra que permeava o cotidiano de todos nas cidades russas. Em janeiro de 1914 Marinetti visitou a Rússia, com o intuito de conhecer os artistas que lá se diziam futuristas e afirmar sua liderança sobre os mesmos, esperando cooptá-los ao movimento que iniciara em 1909. O que o artista italiano encontrou, ao chegar, foi uma recepção diferente da que provavelmente esperava. Enquanto na Europa estava acostumado a ser vaiado e reprovado constantemente pela grande maioria dos críticos e boa parte do público em geral, além da comunidade literária, encontrando aceitação somente em seus companheiros e alguns simpatizantes, no império russo, Marinetti foi recebido de maneira grandiosa por parte da sociedade russa, tratado como ilustre celebridade europeia, um convidado de honra, enquanto pelos futuristas, em sua grande maioria, encontrou apenas indiferença, boicote ou hostilidade. Previamente à sua chegada, o conhecido futurista Mikhail Lariônov, criador do raionismo, convidava seus colegas russos a jogarem ovos podres sobre Marinetti, por causa de sua traição aos ideais futuristas. Por sua vez, Marinetti acusava seus colegas futuristas russos de serem falsos futuristas que distorciam o verdadeiro significado da “grande religião” que buscava a renovação por meio do futurismo. Khlebnikov e Livshits, ouviam os discursos de Marinetti sobre o potencial futurista da Rússia como condescendentes e recusavam-se a curvar-se diante deste pretenso comandante-em-chefe do Futurismo. A postura hostil ao futurista italiano está diretamente relacionada à relação entre artistas e críticos russos nos anos anteriores à sua visita. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 9 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Apesar de, tradicionalmente, a Rússia ter inegavelmente contribuído com especificidades próprias a todos os estilos que transportou dos cenários artísticos europeus para os seus, ela ainda permanecia, especialmente aos olhos dos futuristas, um país que olhava para fora em busca de critérios e indicações acerca do que fazer no campo artístico, ou seja,uma nação artisticamente submissa. Portanto, em 1912, quando Severyanin denominou a proposta de seu grupo de futurista e demonstrou semelhanças com o movimento italiano, a ligação foi imediatamente feita pelos críticos entre o movimento de Marinetti e o de Severyanin. Enquanto para este, bem como para seus colegas, esta associação pudesse ser positivo, ou, ao menos, irrelevante, para os futuristas do grupo Hiléia, cujo tom era muito mais nacionalista ou eslavista, esta associação era um ataque direto às premissas de autonomia e originalidade que propunham estes artistas às suas propostas. Os dois primeiros anos do Futurismo russo, portanto, foram marcados pela disputa entre os grupos Ego e Cubo pela primazia e legitimidade de ser chamado de futurista, mediada e interferida pela crítica. No entanto, a disputa se dissolveu na medida em que os artistas amadureceram e se viram frente ao terror imposto pela guerra e atitude “imperialista” de artistas como Marinetti, que ameaçavam o encontro do artista e do povo russo consigo mesmo. A atitude militante dos futuristas russos foi imprescindível para operar com eficácia essa cisão profunda entre a Rússia medieval, estagnada e essa nova Rússia que florescia sob os ideais revolucionários do início do século. Eu mesmo: a vida e a poesia de Maiakovski Portal de História Mundial e Brasileiro Página 10 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 1 Litografia de Lissitzky inspirada em poema de Maiakovski Nascido à 7 de julho de 1893 na aldeia georgiana de Bagdadi, Vladimir Vladimirovitch Maiakovski, teve um contato precoce com os ideais revolucionários que circulavam em grande quantidade pela Rússia do começo do século. Em sua autobiografia, Eu mesmo - texto composto de fragmentos mnemônicos pautados pela subjetividade do poeta e pela constante análise crítico-criativa sobre seu passado – ele destaca a morte de seu pai como causa de sua imigração junto à mãe e irmãos para a Rússia pré-revolucionária. Lá encontraria um contexto político e artístico em estado de ebulição, contexto do qual viria a ser um porta-voz arguto e independente. Alojam-se em Moscou. Maiakovski continua os estudos iniciados na Geórgia e trabalha com sua família. Imigrantes pobres em meio a uma depressão econômica, descontentamento vivem o compartilhado por milhões. Do descontentamento à revolta, o povo russo transita. Maiakovski se envolve com grupos que almejam a reforma política, o Portal de História Mundial e Brasileiro Página 11 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius 2Litografia de Lissitzky inspirada em poema de Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna Maiakovski 09.PCES.00006 fim do czarismo, a revolução proletária. É preso diversas vezes como subversivo. Escapa pela pouca idade. Estudou pintura e poesia. Nos círculos artísticos de Moscou conhece os pintores e escritores com os quais irá levar a frente a vanguarda cubo-futurista. David Burliuk reconhece seu talento e o adota. Khlébnikov e Krutchônikh escrevem manifestos e semeiam a polêmica. Visados pela censura divulgam o escândalo e Maiakovski escreve sua primeira peça para o teatro: Vladimir Maiakovski: uma tragédia.Sua relação com a arte cênica se aprofunda e irá permear todo o seu trabalho posterior. Cada poema pressupõe a sua enunciação, o seu tom. Nesta época sua poesia ainda se vincula aos poetas simbolistas, lidos por Maiakovski ávidamente. No entanto já se encontram ali os lugares-comuns do futurismo: a pressa da modernidade, as imagens fragmentadas, a mecânica, as multidões. A Primeira Guerra eclode. Maiakovski, que queria alistar-se, é rejeitado no exército. Traça, portanto, relações com a subversão. Sob a guerra as condições de vida chegam a um nível desesperador e os ânimos populares exaltam-se. Em fevereiro de 1917 assiste de perto à revolução branca. A cena artística fervilha e o poeta desenvolve concomitantemente trabalhos no teatro, cinema e literatura. Suas peças são encenadas por Meyerhold. A revolução de outubro não tarda e Maiakovski se envolve intimamente com os grupos de agitprop 3Liu bliú. Poema de Maiakovski. revolucionários e que informam uma difundem população os ideais perplexa e entusiasmada. Faz experimentações linguísticas e sonoras Litografia de Lissitzky . fundindo complexos mecanismos semânticos e discursivos a uma linguagem rica em coloquialidade. Sua poesia ganha significado pictórico em obras que inauguram o construtivismo e vieram a ensejar o concretismo brasileiro. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 12 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Logo adquire destaque e se torna uma figura pública, onipresente na jovem república soviética, com a qual nem sempre esteve em perfeita sintonia. Maiakovski trabalha para a revolução em detrimento da convenção. Quando uma e outra se mostram mais próximas do que se poderia imaginar, hesita. Viaja pela Europa. A arte e a militância se fundem em seu trabalho. Nos anos posteriores à revolução, Maiakóvski cristalizou a forma de seus poemas em uma organização de versos em escada. Uma das vantagens da disposição é fornecer indícios de forma clara - embora pouco convencional sobre o tempo e intensidade da enunciação. Na busca obstinada de uma estética anti-burguesa, sem concessões ou desvios individualistas, trabalho uma objetivando a constrói linguagem crueza na em seu jornalística, exposição do processo revolucionário, suas idiossincrasias e contradições. “Estou reiniciando (houve tentativa de “suprimir”)a Lef, agora “Nova”. Posição fundamental: contra a ficção, a estetização e a psico-mentira por meio da arte; pelo panfleto, pelo jornalismo qualificado e a liberdade”.3 Ao final da década de 20, Maiakovski, se encontra desiludido com muito do que se tornou a Rússia soviética. Seus detratores 4Lília Brik na capa do livro Pro eto(Disto) que há tempos o desqualificavam sob a crítica de que seus textos não comunicavam para as massas, ganham território com a crescente expansão do moralismo proletário levada à cabo pelo Comintern, que, já nessa época centralizava todas as decisões do Partido Bolchevique. Em janeiro de 1930, encerra o mais famoso de seus poemas, A plenos pulmões, em que mais uma vez marca a distância que mantêm dos novos e dogmáticos ideais bolcheviques. 3 MAIAKOVSKI, V. Eu mesmo. Maiakovski Poemas 7 ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 13 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Tão presente em sua obra, o suicídio, do qual falara, consternado, a Iessiênin anos antes - “Nesta vida morrer não é difícil. O difícil é a vida e seu ofício”4 - termina por levar o poeta à morte em 14 de abril de 1930. Mistério-bufo – A saga da revolução Russa “O teatro é uma lente de aumento” (Vladimir Maiakóvski) Em 1918, em comemoração ao primeiro aniversário da revolução, Maiakóvski apresenta sua peça Mistério-Bufo: um retrato heroico, épico e satírico da nossa época. Nessa obra, o autor faz, de forma deslumbrante, uma simbiose entre a realidade russa e a arte, transformando a história do país em uma peça magnífica, que demonstra claramente como foi o processo revolucionário nacional. Maiakóvski ao apresentar suas personagens, traz sete pares de “puros” : Negus, Abissínio, Rajá indiano, Paxá turco, Mercador-valentão russo, Chinês, Persa bem-nutrido, Francês gordo, Australiano com esposa, Pope, Oficial alemão, Oficial italiano, Americano, Estudante –, os quais são postos em oposição com os sete pares de “impuros”: Limpa-chaminés, Lanterneiro, Chofer, Costureira, Mineiro, Carpinteiro, Peão, Criado, Sapateiro, Ferreiro, Padeiro, Lavadeira e Esquimó (pescador e caçador). Essa distinção inicial já denota qual choque o autor quer provocar no espectador, ou leitor. De forma alegórica, Maiakóvski coloca em embate a aristocracia decadente russa e a pequena burguesia, como “sete pares de puros” e a classe trabalhadora, como “sete pares de impuros”. A obra apresenta a seguinte narrativa: O mundo acaba e “representantes” de várias profissões e de várias nações se encontram, na 4 MAIAKOVSKI, V. A Sierguéi Iessiênin. Maiakovski Poemas Perspectiva, 2006. Portal de História Mundial e Brasileiro 7 ed. São Paulo: Página 14 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 tentativa de sobreviverem na procura do monte Ararat5 e para tal finalidade, resolvem construir um navio. A princípio, os “puros” não querem a presença dos “impuros”, mas logo descobrem que sem eles, não conseguiriam sequer passar pela construção da embarcação. Após a construção, durante a viagem, os dois grupos entram em choque e os puros resolvem inventar uma forma de organização para que estes sobreponham aqueles. Instaura-se um regime monárquico, porém, tempos depois os próprios puros percebem que a monarquia é falha e não servem a eles, instaurando uma democracia. Os impuros que apoiaram essa democracia percebem que não houve mudança nenhuma, sendo assim, dão um golpe e instauram uma sociedade socialista. A embarcação prossegue viagem e descobre que Ararat não é o melhor lugar, vindo a ser A terra Prometida¸ o lugar que eles procuram. Ao chegar nela, descobrem que é o mesmo país de outrora, porém sem um governo autoritário e déspota. Ao longo da peça, destacam-se três momentos completamente metafóricos e que fazem menção às mudanças política na história russa. O primeiro deles é quando os “puros” e “impuros” resolvem instituir um líder para a embarcação. Dessa forma, escolhem a personagem negus6 para czar: “ITALIANO (de um jeito significativo levanta o dedo) Eureka! (ao alemão) Escute! A troco de que nós brigamos, outrora? O que foi que nos melindrou tanto? Já que temos um inimigo em comum, agora. (aponta para o porão. Pega-o pelo braço e leva-o falando pelo caminho) Proponho um negócio, vamos ali no canto... (depois de cochichar, estão retornando.) ALEMÃO (fazendo discurso) Senhores! 5 O Monte Ararat, na tradição judaico-cristã, está associado com as "Montanhas do Ararat", onde segundo o livro do Gênesis da bíblia, a Arca de Noé estaria supostamente localizada. 6 Negus era o título usado por um rei e às vezes por um governante vassalo no antigo estado monárquico etíope, a antiga Abissínia (atualmente, norte da Etiópia). Portal de História Mundial e Brasileiro Página 15 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Nós todos somos tão puros. Será que é para nós o suor derramar? Vamos obrigar os impuros a para nós trabalhar. ESTUDANTE Eu os obrigaria! Mas isso não é para mim sou frágil, sombra! ITALIANO Deus nos livre de brigar! Não brigar, mas enquanto aboletados eles vão devorar o meno daqueles, beber e berrar, nós vamos pegar e uma pra eles aprontar. ALEMÃO Vamos eleger pra eles um czar! TODOS (com surpresa) Para que um czar? ALEMÃO Porque o czar promulgará um manifesto – todos os manjares para mim, como se diz, devem ser entregues com rapidez. O czar come, e nós comemos – seu súditos fiéis. (…) POPE (conforme o papel) Por obra e graça divinas nós, o czar das galinhas tostadas pelos impuros e grão-príncipe para os delas referidos ovos, não tirando de ninguém o couro, tiramos seis sétimos, o resto permanece para o povo – anunciamos aos nossos súditos fiéis: tragam tudo que há disponível – peixe, pão, legume, porquinhos e tudo que encontrar de outro comestível. O senado governante é quem não tardará em orientar-se nos acervos de bens, selecionar e nos servir tudo que é comível!” Portal de História Mundial e Brasileiro Página 16 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Como dito anteriormente, a monarquia na Rússia perdurou mais de três séculos, evidenciando o despotismo que o povo russo encarava a longuíssima data. O segundo momento destacado é quando os “puros” percebem que o czar havia se tornado um ser autoritário e pedem a ajuda para os “impuros” para que, juntos, proclamassem a república: “MERCADOR Cidadãos, façam favor, para a assembleia! (ao padeiro) Cidadão, o senhor é a favor da república? IMPUROS (em coro) Assembleia? República? Que república? FRANCÊS Parem! A intelligentsia7 vai trocar em miúdos para o público. (ao estudante) Ei, senhor, intelligentsia! (A intelligentsia e o francês sobem na ponte) FRANCÊS Declaro aberta a assembleia. (ao estudante). A palavra é sua. ESTUDANTE Cidadãos! Tem uma boca insuportável aquele czar! VOZES É verdade! É verdade, cidadão orador-democrata! ESTUDANTE Tudo, juro, o maldito vai devorar! VOZ É verdade! ESTUDANTE E ninguém jamais vai conseguir se arrastar até o Ararat. VOZES É verdade! 7 O termo intelligentsia ou intelligentzia usualmente refere-se a uma categoria ou grupo de pessoas engajadas em trabalho intelectual complexo e criativo direcionado ao desenvolvimento e disseminação da cultura, abrangendo trabalhadores intelectuais. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 17 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 É verdade! ESTUDANTE Basta! Arranquem as correntes enferrujadas do despotismo! TODOS Abaixo, abaixo o absolutismo! MERCADOR (ao negus) O sanguezinho, sugou, O povo sacaneou... FRANCÊS Ei, você, alon zanfan pra água! Chegou! (com esforços conjuntos, balançam o negus e o jogam na água. A seguir, os puros dão as mãos aos impuros e dispersam-se cantarolando.) ITALIANO (ao mineiro) Camaradas! Vocês nem vão acreditar! Eu estou feliz, ó luminares Não há mais estas barreiras seculares. FRANCÊS (ao ferreiro) Meus parabéns! Ruíram os pilares seculares. FERREIRO (de modo vago) Hum, é! FRANCÊS O resto se arranja, o resto – é bobagem. POPE (à costureira) Nós – por vocês, vocês – por nós, certo?! MERCADOR (contente) Certo, certo! Me leve no bico, esperto... FRANCÊS (na ponte) Então, cidadãos basta, divertiram-se à vontade. Vamos organizar o poder democrático de verdade Cidadãos, Portal de História Mundial e Brasileiro Página 18 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 para que tudo isso seja rápido e sem demora, eis que nós – guarde, senhor, a alma do negus – eis que nós treze seremos ministros e auxiliares de departamentos, e vocês – cidadãos da república democrática, – vocês irão apanhar morsas, coser botas, cozer roscas. Vocês têm prática. Objeções não há? Estão aceitos os argumentos? FERREIRO De acordo! TODOS Viva! Viva a república democrática! FRANCÊS E eu (aos impuros) a vocês proponho trabalhar agora. (aos puros) E nós – às penas. Trabalhem, tá na hora, carreguem, para cá, às pencas e nós tudo dividiremos em partes iguais, de verdade – a última camisa será rasgada pela metade.” A Revolução de Fevereiro marca o fim do absolutismo russo, dando início ao processo revolucionário socialista, porém o poder ainda se mantinha nas mãos das classes dominantes. Sendo assim, o proletariado que apenas ajudou essa primeira revolução, meses depois foi o responsável por instituir o socialismo na Rússia, assim como na peça quando os “impuros” tomam o poder da embarcação, pondo fim ao comando dos “puros”: “MINEIRO Camaradas! Que que é isso! Antes tudo devorava um só boca e agora o nosso um batalhão emboca. Aconteceu que a república, é o mesmo czar, só que de cem bocas. FRANCÊS (esgravatando os dentes) Vocês estão esquentando demais. Prometemos e dividimos em partes iguais. Para um – a rosca, para outro – o buraco dela. A república democrática é por aí que se revela. MERCADOR Então precisa alguém ficar com as semente não é a melancia para todos os dentes. IMPUROS Nós vamos mostrar a vocês a luta de classes! Em frente! Portal de História Mundial e Brasileiro Página 19 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 ALEMÃO Parem, cidadãos! A política nossa... IMPUROS Ouçam! Incendeiem pelos quatro lados! Vamos mostrar a eles o que é política, então. Vai cheirar queimado. Não é precária. Vamos incendiar com a revolução, como na Bulgária. (Armam-se com as armas arranjadas pelos puros há hora do almoço, encurralam os puros na popa. Aparecem um a um os calcanhares dos puros que estão sendo derrubados.) “ A peça escrita por Maiakoviski, encenada por V. E. Meyerhold (18741840) e apresentada pela primeira vez no dia 7 de novembro, foi uma obra cubo-futurista que apresentava os elementos básicos desse movimento vanguardista. A apropriação de situações da realidade da sociedade na qual está inserida se caracteriza como o mote inicial do fazer artístico. Mistério-bufo cumpre tarefas políticas, cotidianas e participativas, revelando-se, como toda obra desse movimento artístico, uma obra de militância, denunciando a luta de classe e trazendo à tona a manifestação popular. O Percevejo A obra O Percevejo, de Maiakóvski, foi escrita em 1928/1929, antes de seu suicídio em 1930 e quatro anos depois da subida de Stálin ao poder na URSS. Contrário aos ideais stalinistas, assume este texto como uma crítica direta ao modo de implantação do socialismo autoritário e ditador. Maiakóvski defendia o socialismo que foi implementado por Lênin, antes de sua morte em 1924, que não possuía poderes absolutos atribuídos a uma só pessoa, mas a todo o proletariado; difusão do movimento por outros países e a igualdade entre as classes. O Percevejo traz como centro de sua trama um homem, Ivan Prissipkin, ex-operário que muda seu nome para Pierre Skripkin, como forma de mostrar a Portal de História Mundial e Brasileiro Página 20 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 todos que não pertence mais à classe trabalhadora, passando a, além disso, usar gravatas, sapatos novos e cremes. No início da peça já é possível perceber a clareza com que Maiakóvski deseja criticar o socialismo. Prissipkin está organizando seu casamento (que por acaso é com uma moça de classe mais abastada) quando, em uma de suas falas, exalta o casamento “vermelho”, cor esta usada simbolicamente como maneira de alusão ao socialismo. Esta fala é reforçada depois por Olieg Bayan, outra personagem. Além disso, outro trecho que explicita seus ideais está presente na fala do Maquinista: Não, eu não sou desertor. Você pensa que eu gosto de vestir esses trapos imundos? Você acha que eu gosto de viver no meio dos piolhos? Garoto, nós somos muitos e não existem filhas de cabeleireiro para todo mundo. Quando as nossas casas estiverem construídas e tudo estiver pronto, aí todo mundo muda e se instala. Mas todos juntos e ao mesmo tempo! É isso: todo mundo junto e ao mesmo tempo! Nós não vamos abandonar as trincheiras fedorentas segurando uma bandeira branca! É nítida a presença do discurso socialista de que todos devem se organizar e movimentar sempre em conjunto e que Skripkin ao casar-se e, por consequência, mudar de classe deixa para trás o restante dos trabalhadores, tomando uma atitude anti-movimento, mas o autor deixa claro em outra fala que talvez o novo rico não perceba a traição que comete, uma vez que ainda se apresenta dentro da classe trabalhadora. Prissipkin – O meu bem-estar pessoal pode até elevar o nível de toda minha classe! E tenho dito! A trama, constituída por nove cenas, se constrói no contexto do casamento apresentado, de um incêndio que ocorre na recepção após o casamento, matando todos os presentes e do sumiço de um dos corpos que os bombeiros acreditam tem virado pó. Na cena cinco o contexto muda temporalmente, uma vez que ela retrata o tempo, passados cinquenta anos. Há Portal de História Mundial e Brasileiro Página 21 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 o anúncio de que um homem foi encontrado congelado, exatamente onde ocorreu o casamento de Prissipkin e o incêndio, sendo necessário decidir se o corpo será descongelado ou não. Neste trecho da peça é encontrada uma característica das obras de Maiakóvski, que é o uso de objetos inanimados, retratados como se tivessem vida. Sobre isso, aponta Valmor Beltrame, em seu estudo Maiakóvski e o Teatro de Formas Animadas: (…) Os representantes das diversas regiões que compõe a “Federação da Terra” são apresentados como alto-falantes, os homens são representados por mãos de ferro. Assim, os homens são mãos de ferro, lâmpadas, alto-falantes, ou seja, as coisas abandonam o seu lugar e seu uso cotidiano e ganham vida, atuam, decidem com, junto ou pelos homens. Quando no momento de descongelamento do corpo encontrado, que àquela altura já é possível identificar como sendo o de Prissipkin, há uma variada gama de argumentos para decidir se ele acontecerá ou não. O homem congelado é considerado um operário devido às mãos calejadas e todos são orientados de que, se o descongelarem, poderiam despertar os antigos “bacilos” da Rússia, o que termina por caracterizar os ideais socialistas como sendo uma doença, que também poderia ser despertada. Mas são esses seres, formas animadas, que decidem pelo descongelamento, seres dessa Rússia que estava cada vez mais industrializada e menos humanizada. Junto com o Prissipkin, foi descongelado um percevejo, inseto que dá nome à obra, servindo como metáfora aos “sugadores de sangue” e ao próprio Skripkin/ Prissipkin, caracterizado depois como “sugador” da sociedade na qual vive. Uma das possíveis leituras da obra, indica que o personagem é o próprio Maiakóvski, que sempre defendeu o regime, mas que acabou sendo apontado por seus atos. No fim da obra, Prissipkin é enjaulado e suas atitudes comuns como fumar, beber e dançar são repudiadas. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 22 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 O que é isso? Para que nós derramamos nosso sangue se agora eu, um líder da nova sociedade, não posso nem dançar uma música? O comportamento de Prissipkin é mostrado, então, à sociedade como numa exposição e colocado como um exemplo do que deve ser mau visto. Ou seja, um mau exemplo. A obra termina com um grito de Prissipkin/ Skripkin/ Maiakóvski, que assume um papel de desespero e pede que as pessoas se atentem aos acontecimentos na Rússia e lutem por seus direitos, contra a ditadura stalinista. Prissipkin – Cidadãos! Meu povo! Meus irmãos! De onde vocês vieram? Vocês são tantos. Quando vocês foram descongelados? Por que eu estou sozinho aqui nessa jaula? Meus amigos, meus irmãos! Venham comigo! Por que eu estou sofrendo? Camaradas! Agitprop soviético O teatro de agitação e propaganda possui um vínculo direto com o programa político-econômico do Governo (lê-se Partido), e insere-se na organização do movimento operário durante a primeira década da Revolução Russa. Converge, para esse teatro, o vigor de uma população até então marginalizada que procura expressar-se, comprometimento ideológico de uma nova classe dirigente que incentiva ações coletivas e a adesão de uma vanguarda criativa que acredita no movimento vermelho. Surgido na junção desses elementos, o agitprop expandiu-se tanto que superou a si mesmo enquanto proposta e produto. Nesse sentido, o teatro de agitprop representa uma subversão espontânea das formas tradicionais e uma radicalização dos procedimentos da vanguarda até o limite, mesmo do seu não-reconhecimento enquanto teatro. Silvana Garcia Dessa forma, esse estilo, redireciona práticas culturais a partir da negação de procedimentos sacralizados do teatro tradicional, tal como o Portal de História Mundial e Brasileiro Página 23 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 ilusionismo. Para tanto, se utiliza da explicitação de recursos cênicos para chegar ao seu objetivo: “informar e, decorrente da informação, educar e mobilizar para a ação” (Garcia). Este teatro visa um resultado concreto, não apenas a mobilização para uma ou outra ação, mas a soma de esforços para a construção do socialismo. Com isso, o fazer artístico passa a ser praticado por uma camada mais ampla da população, que pela fusão de engajamento político e recriação de formas, pretende gerar um produto cultural próprio. As motivações básicas de pesquisa formal de teatro de agitprop são duas: relação com o espectador e vínculo com a história presente. Suas pesquisas, portanto, não investigam uma linguagem, mas a adequação a objetivos políticos de envolvimento e participação. A relação com o espectador não é apenas uma questão de quebra de quarta parede, mas o envolvimento do mesmo do início ao fim do processo de montagem. Essa forma de relação espetáculo/espectador possui uma justificativa não só de ordem artística, a de não suprimir o prazer do inesperado, mas também de ordem ideológica Penso que mesmo uma pessoa que adquiriu um conhecimento detalhado da peça e que assistiu a dezenas de ensaios experimentarás sempre, quando da primeira representação, muitos momentos de alegria inesperada. Entendo também que apenas aquele que conhece bem a peça, que refletiu sobre ela, e, talvez que elaborou um pouco os diferentes papeias e as diversas cenas, irá tirar do espetáculo teatral um prazer pleno, verdadeiro e fecundo (“criativo”). A satisfação advinda do inesperado é uma emoção elementar. O prazer inesperado a partir de uma determinado trabalho sobre a peça é de ordem muito mais elevada. Pavel Kerjentsev 8 Movimento autoativo, assim ficou denominado a forma desenvolvida para a reprodução desse tipo de teatro, articulado por meio de cursos em 8 Pavel Kerjentsev em 1918 elabora seu Teatro Criador, no qual estabelece as bases de um teatro proletário, de a para os trabalhadores. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 24 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Cena da peça Os Dias Passam, TRAM, 1928. escolas e estúdios de experimentação. Como maior exemplo do movimento autoativo pode-se citar o TRAM (Teatro da Juventude Operária). Esse grupo manteve um teatro ateliê com cursos regulares com duração de três anos. Em 1928, os TRAM em atividade somavam 11; em 1932, esse total tinha se multiplicado para 300. Essa preocupação com o coletivo se reflete na própria organização do grupo de teatro. A ideia de coletivo também alcança o nível das relações internas dos grupos, que “interiorizavam” os preceitos de vivência comunitária que propagam; há uma procura de “exemplaridade” de comportamento que faz com que os grupos dediquem uma atenção especial aos aspectos de conduta e de procedimento social. Jean-Pierre Morel Dessa forma as funções se diluem dentro do coletivo, suprimindo até a figura do diretor centralizador, por meio da rotação das funções entre os integrantes. A motivação e a ausência de textos satisfatórios aos propósitos dos grupos revolucionários incitam a criação coletiva. Esse é o primeiro avanço qualitativo dos grupos de agitação e propaganda no âmbito da pesquisa formal. A “ação coletiva”, assim denominada por Maiakovski, se fundamenta em improvisação sobre o tema a ser trabalhado. Com o caráter coletivo e improvisacional, depreendeu-se a principal característica do teatro de agitprop: sua contemporaneidade ou prontidão. O teatro de agitprop reage diretamente à ocorrência dos fatos da história revolucionária. Para tanto, tem de ser ágil, simples e objetivo. Identificado, pelo agitprop, os obstáculos a serem Vagão teatro do trem de agitação “Lenin nº1” ultrapassados, esse teatro se apropria de muitos procedimentos de forma bastante Portal de História Mundial e Brasileiro Página 25 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 criativa. Trem de agitação e o recurso de Litmontagem são exemplos dessa criatividade. O Trem de agitação é algo tão ornamentado e repleto de cartazes de slogans de ordem que acaba se tornando uma alegoria. O repertório representado dentro dos vagões se limita a obras clássicas e à tradição popular combinado com a agitação de meeting (aclamação de slogans, distribuição de panfletos, cantos revolucionários, etc.) A Litmontagem é um recurso de “colagem” de textos. O agitprop se apropria de todo e qualquer texto, na ordem que melhor lhe convier desde que atenda aos interesses de seus objetivos. Permeia também com os gêneros tradicionais e modernos do teatro, com o circo, teatro de variedades, tradições populares e também da produção da vanguarda Cubo-futurista para escrever suas próprias peças (formas curtas). Em 1917, os artistas vanguardistas mais militantes aderiram à revolução mostrando a arte de uma vanguarda inquieta e investigadora. Principalmente os cubo-futuristas, à época da Revolução, já vinham há anos desmontando os princípios da arte tradicional, produzindo uma literatura inventiva e formalista, levada às últimas consequências, desenvolvendo uma investigação fonética até chegar à proposição de uma nova linguagem, abstrata, um código arbitrário que aproximava a poesia muito mais das artes plásticas do que dos métodos tradicionais da poética literária. Silvana Garcia A pintura e a poesia encontram assim, na produção cubo-futurista, uma forma de síntese original que rompe com o imite dos suportes tradicionais e da percepção da obra de arte, aproximando-se de uma forma precursora de performance, tal qual a conhecemos hoje. Quando a revolução sobreveio, os cubo-futuristas viram uma oportunidade de ascender sua arte, pois a sublevação encontra nesse período mais espaço do que o teatro tradicional: Portal de História Mundial e Brasileiro Página 26 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 As elaboradas articulações dos cubo-futuristas casaram-se perfeitamente com o novo cenário: o teatralismo embutido no cotidiano desses artistas, aliado ao desprezo por qualquer arte que se pretendesse sublime ou universal, aproximou-os da função utilitária que a Revolução exigia das manifestações culturais e artísticas. Tratava-se de produzir muito, em ritmo vertiginoso, obras que seriam descartadas, no momento seguinte, tão logo o exigisse o desenrolar do novelo histórico. Silvana Garcia A arte cubo-futurista é a que melhor se encaixou nas necessidades da Revolução, que se inseria nos cartazes e anúncios de agitação e a improvisação discursiva dos meetings políticos-culturais. Em vias gerais, entre vanguarda e o teatro de agitprop, podemos destacar quatro pontos em comum: fazer cênico não atrelado aos padrões em vigência, com ideal militante e experimental; predominância do jogo do atuante (atuante, se considerarmos que a maioria dos atores não possuíam experiência anterior); rompimento entre palco e plateia; e intenção explícita à crítica ativa do expectador. Em resumo pode-se dizer que Cubo-futurismo e teatro de agitação e propaganda, em instância maior, se identificam pelo anseio comum de serem populares. Todas as características esboçadas sobre o teatro de agitprop o consolidam como um movimento forte e coerente. Porém essas mesmas características promovem obstáculos à sua continuidade. O ativismo político em conciliação com uma manutenção estética, desemboca na disputa entre as “grandes” e “pequenas” formas. Com a Revolução consolidada, de forma natural, o teatro de agtiprop emergencial não é mais necessário, pois a atenção foi deslocada das palavras de ordem para a nova sociedade que se organiza. Essa nova situação exige do teatro outra forma de envolvimento. Por outro lado, também por causa da Revolução consolidada, que pratica um maior controle da sociedade por seus dirigentes, influencia também a produção teatral do movimento agitpropista que até então era organizada Portal de História Mundial e Brasileiro Página 27 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 pelos próprios operários. Nesse momento o movimento entra num embate: se a força do movimento é a auto-gestão, qualquer direcionismo não descaracterizaria seus próprios princípios? De fato, em conferências sobre teatro organizadas em 1927, o que se configura é uma censura de ordem estética que sufoca as formas típicas do repertório dos grupos autoativos. A pressão de cima empurra constantemente os grupos para as “grandes formas”. Os atuantes espontâneos do agitprop não conseguem correspondem às exigências de uma interpretação de papéis mais elaborados. A demanda crescente pelo retorno a personagens de perfil psicológico esbarra no limite de atores formados em uma linha de interpretação antiilusionista por excelência. A profissionalização, para a maioria dos grupos, significa o início do fim. Silvana Garcia O realismo socialismo, sendo o método básico da crítica e da literatura soviética, exige dos artistas uma representação historicamente concreta, verdadeira, da realidade em seu desenvolvimento histórico. Além disso, a verdade e a integridade históricas da representação artística devem se combinar com a tarefa de educação e transformação ideológicas do trabalhador no espírito do Socialismo. Norris Houghton O realismo socialismo vem pautado com a questão do profissionalismo inerente ao momento. Segundo dois críticos, Nazarov e Gridneva: “o erro maior das autoridades soviéticas, a partir de meados da década de 20, foi terem perdido a ‘paciência exemplar’ de Lenin e Lunatcharski e retirarem do povo o direito de julgar segundo seu próprio gosto”. O Partido ao reconhecer uma aprovação do teatro realista socialista, entendeu que estava autorizado a eliminar tudo o que fosse contra a opção manifesta pelo povo. O correto seria um processo de “seleção natural” a favor do modelo realista. Diante da soma desses fatores é que resulta a falência das produções vanguardistas e também do movimento autoativo soviético. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 28 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 Notas: 1. Hiléia (Gilea) era o nome da região na qual vivera David Burliuk, organizador do grupo, na antiguidade. Seu nome contemporâneo era Chernianka. O nome da região foi adotado pelo grupo pela importância dada pelo mesmo à cultura eslava em suas pesquisas. Bibliografia: BELTRAME, Valmor. Maiakóvski e o Teatro de Formas Animadas, in: Revista de Estudos Teatrais na América Latina, n 4. Dezembro/2002. MAIA, Rodrigo R. Os Falsos Futuristas: os futurismos russos, seus críticos e Marinetti. Tese de Mestrado in: XI Congresso Internacional da ABRALIC. Tessituras, Interações, Convergências 13 a 17 de julho de 2008 USP – São Paulo, Brasil. BOLONHESI, Mário F. Suprematismo, cubo-futurismo e a tragédia de Maiakóviski. Parte da dissertação de mestrado Tragédia: uma alegoria da alienação. São Paulo: ECA/ USP, 1987. COSTA, Iná Carmargo. Teatro na Rua da Idade Média ao Agitprop. In Tablado de Arruar. Teatro de rua em movimento. GARCIA, Silvana. Teatro da militância – a intenção popular no engajamento político. São Paulo: Ed Perspectiva, 1990. GRUPPI, Luciano. O pensamento de Lênin. Rio de Janeiro: Graal, 1979. HILL, Christopher. Lênin e a revolução russa. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. MAIAKOVSKI, V. A Sierguéi Iessiênin. Maiakovski Poemas 7 ed. São Paulo: Perspectiva, 2006. MAIAKÓVSKI, Vladimir. Mistério-bufo: um retrato heróico, épico e satírico da nossa época. São Paulo: Musa editora, 2001. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 29 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006 MARX, Karl. O manifestado do partido comunista. 1848. http://www.pcdob.org.br/documento.php?id_documento_arquivo=181 RIPELLINO. A. M. Maiakóviski e o Teatro de Vanguarda. São Paulo: Perspectiva, 1971. Portal de História Mundial e Brasileiro Página 30 Título: O Cubo-Futurismo Russo – Autores: Caio Ceragioli, João Paulo Rafaelli, Vinícius Dadamo, Bruno Maldegan e Leandro Senna 09.PCES.00006