Reabilitação_na_acondroplasia-pdf1
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REABILITAÇÃONA ACONDROPLASIA Indicaçõespara areabilitação depessoascomacondroplasia com baseem trabalhostécnicos deprofessionais com reconhecido méritoemdisplasias ósseas. vários INTRODUÇÃO A palavra acondroplasia tem a sua origem no grego e significa "sem formação de cartilagem". Os tecidos cartilaginosos convertem-se em osso durante o desenvolvimento fetal e infantil. Nas pessoas acondroplásias existe um processo anormal durante o crescimento, em particularnos ossos longose em específico a nível de um processo designado de ossificação endocondral no qual as células da cartilagem das placas de crescimento, células essas designadas por condrócitos,se convertem em tecido ósseo, mas muito lentamente devido ao bloqueio da produção de cartilagem no processo de crescimento. Este bloqueioorigina a queos ossos sejam curtos e, como resultado, muito baixa estatura. Em contraste, os ossos formados a partir de ossificação membranosa, como os do crânio e ossos faciais,não têm alteração. Os outros mecanismos de crescimento (formação de colunas celulares, hipertrofia, calcificação e ossificação) ocorrem normalmente, mas a quantidade formada é significativamente menor. E, por conseguinte, origina uma falha no desenvolvimento e no crescimento ósseo. A origem da acondroplasia é de ordem genética, pela ocorrência de uma mutação numa zona específica do cromossoma 4, que origina o receptor do factor de crescimento fibroblástico 3, o FGFR3. A frequência desta doença é de 1 caso por 20.000 nascimentos. A probabilidade de ter um filho acondroplásico é de 50% se um dos pais tiver a doença e 75% se ambos os pais tiverem acondroplasia. CARACTERÍSTICASANATÓMICASDOS ACONDROPLÁSICOS - Altura na idade adulta:122-144cm (homem)/ 117-137cm (mulher). - Desproporçãoentre otronco,normal, eas extremidadescurtas. - Caixatorácicapequenaeaplanadaantero-posteriormente. - Crâniolargoecarapequena. - Zona frontal da cabeçaemandíbulaprominentes. - Pontenasaldeprimidanoterçosuperior. Ligeiradesproporçãoentreodesenvolvimentomusculareoesqueleto.Podehaverumexcessode tecidosmolesem relaçãoao comprimentoósseo. - Mãoscaracterísticasem tridente:maior terceiro espaçointerdigital. - Abdómen discretamenteabaulado, peladebilidadedamusculatura abdominal. Nos adultos, podeocorrerhiperlordoselombar,muitasvezescompensadacomumacifose dorsalbaixa. - Articulaçõesque apresentam amplitude elevada, causada pela laxidez ligamentar. É observável nos lactentes de forma generaliza e nos adultos ao nível dos joelhos, designado por genu recurvatu. - Articulações com extensão limitada. Muito frequentehaver algum grau de flexão no cotovelo e anca. - Alteração nos eixos dos membros inferiores: genu varo e genu valgo. O genu varum é mais frequente pela tendência que existe para a rotação externa daanca. - A nível radiológico encontrámos um pequeno canal vertebral devido à estreitamento dos arcos vertebrais posteriores e pela diminuição dos espaços entre os pedículos que definem o espaço medular. Esta anomalia pode causar compressão da medula espinhal. Nas imagens de ressonância magnética (RM) e de tomografia axial computadorizada (TAC) pode-se observar uma diminuição do foramen magno. Assim, o diâmetro transversal do foramen magno é da mesma dimensão num acondroplásico adulto e num recém-nascido e, por sua vez, semelhante ao de uma criança de dois anos a nível do diâmetro sagital. Este estreitamento pode causar compressão cervico-medular com manifestaçãode sinais e sintomas de mielopatia cervical, apneia central ou ambas. Em casos graves é incompatível com a vida. Num recém-nascido, existe uma hipotonia muscular generalizada que produz um atraso na aquisição de habilidades motoras. NORMAS DE TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA ACONDROPLASIA Antes de abordar as diretrizes para a actuação da fisioterapia em casos de acondroplasia, queremos deixar claro que é simplesmente um guia sobre as questões fundamentais que necessitam de fisioterapia precoce e acção efetiva. Cada acondroplásico terá alterações características e certas necessidades que definem e diferenciam do restantes, de modo que o tratamento deverá ser orientado para cada pessoa individualmente. Para esta exposição ser didática, será dividida a actuação do fisioterapeuta em três períodos de vida do acondroplásico: bebés/lactente, crianças e adolescentes e adultos. LACTENTES ACONDROPLÁSICOS Durante o tratamento de um lactente deve ter em mente a possível existência, ou o desenvolvimento posterior, de duas alterações fundamentais: o reduzido diâmetro do foramen magno e a hidrocefalia. Já foi aqui dito que estas crianças têm um foramen magno menor do que o usual, o que pode resultar em compressão da medula cervical. Esta alterção combinada com hiperlaxidez ao nível da articulação atloaxoidea e o tamanho reduzidada apófise odontoide (parte da segunda vértebra cervical, axis, que dá sustentação cervical), fazem com que o pescoço, daí que se deva cuidar ao máximo a manipulação da cervical durante todo o tratamento. Deve ser evitada a oscilação da cabeça, especialmente neste período, em que a criança ainda não adquiriu um bom controlo da cabeça. Temos de elucidar os pais e a quem estiver com o lactente, sobre ter este cuidado em todos os momentos. Outra condição a ter em conta é o possível desenvolvimento de hidrocefalia durante os dois primeiros anos de vida. Deve ser monitorazado o perímetro cefálico durante este tempo e conhecer os sinais e sintomas que provoca (crescimento excessivo do crânio, dor de cabeça, sonolência, vómitos e pernas rígidas). Qualquer suspeita deve ser imediatamente encaminhada para um neurologista pediátrico ou neurocirurgião. Quando avaliamos um lactente, observa-se hipotonia generalizada muscular, muitas vezes é moderada, causando um atraso motor evidente. Esta hipotonia, se não tratada e caso se deixe a criança evoluir sozinho nas suas aquisições motoras até conseguir ficarna posição sentada, vai originar a que a fraqueza muscular associada ao acentudo peso da cabeça, permita a uma tendência da flexão da coluna, o que favorece a aperto (wedging) da primeira e segunda vértebras lombares. Esta situação provoca uma cifose dorsolombar que, longe de ser corrigida, vai-se assentuando, chegando algumas vezes a requer tratamento ortopédico. Deve iniciar-se a estimulação motora o mais cedo possível a fim de alcançar um bom controlo do tronco e posição adequada em estação e na marcha, considerando a introdução de uma postura saudável. É essencial não forçar o desenvolvimento motor da criança. Deve-se fortalecer os musculatura para o controlo de cabeça e tronco, obtendo um bom grau de fortalecimento muscular antes de iniciar a posição sentada. Enquanto não atingir este grau de força muscular, não se deve permitir a posição sentada sem suporte, porque nesse caso, favoreceria o aparecimento e agravamento da cifose dorsolombar. Quando a criança atingir este grau, é necessário ser sempre colocada uma almofada nas costas da criança para a posição sentada correcta. Para aumentar o tónus muscular, terá de incluir um programa de estimulação realizada em três posições principais: decúbito ventral e lateral, sentado e em pé. Começa-se pelo decúbito ventral com todos aqueles exercícios destinados a obter o controlo do peso da massa craniana, mediante o aumento da força da musculatura cervical e dorsal. Pode-se estimular a parte dorsal do tronco para que se obtenha uma resposta erectora da raquis, ou seja, da coluna vertebral. Depois de da criança adquirir um tónus muscular adequado, passaremos a realizar todos aqueles exercícios na posição sentadade forma a melhorar o controlo do tronco. Deve-se estimular o desenvolvimento das reacções da cabeça e do tronco fazenda inclinações diagonais. Finalmente, apoiada nos joelhos e através de uma série de exercícios, a criança deverá conseguir controlaro peso do tronco e colocar-se de pé, ou conseguir o mesmo a partir de uma posição sentada num pequeno banquinho e estendendo os joelhos. Há que ter em conta duas premissas durante este período: a marcha pode ser atrasada até aos dois anos de idade e os pés da criança devem estar assentem num apoio em períodos sentados prolongados, de forma a evitar a tendência para rotação externa da anca. Neste período devem começar, para insistir mais em fases posteriores, exercícios de respiração, especialmente de controlo e fortalecimentodo diafragma. CRIANÇAS E ADOLESCENTES ACONCODROPLÁSICOS Este período é caracterizado pela introdução de uma série de deformidades ortopédicas que se vão agravando, podendo afectar seriamente a criança. Entre as deformidades, destacam-se a restrição que aparece ao nível do cotovelo. A extensão desta articulação está muitas vezes limitada nos graus superiores, resultando num grau de flexão rígido. Para evitar perder a flexibilidade e capacidade articular, o acondroplásico deve executar todos os exercícios que envolvem extensões repetitivas do cotovelo assim como alongamentos suaves dos músculos flexores, depois de ter sido ensinado como fazer e com supervisão. Se for necessário, e para retrações musculares graves, pode-se aplicar todos os meios físicos envolvidos na fisioterapia para a sua resolução. Outros articulações sujeitas a retração em flexão são as da anca ou quadril, que tendem a evoluir demais causando maior anteversão pélvica e, consequentemente, hiperlordose lombar. Para evitar ou reduzir estes alterações, se tiver sido estabelecido, devemser executados exercícios de retroversão pélvica, insistindo sempre numa boa contração do músculo transverso abdominal antes de aplicar ao restantes músculos abdominais, e alongamentossuaves e progressivosda musculaturaque participa na lordose lombar, principalmente os isquiotibiais e psoas-ilíaco, a ser executado por fisioterapeuta no início e, em seguida, pela criança ou adolescente. A higiene postural também é muito importante especialmente para um bom controlo postural na posição sentada, na posição prolongada de pé e na manipulação de cargas. Deve-se monitorizar qualquer problema de escoliose, realizando fisioterapia corretiva, se necessário. Com maior frequência podem-se produzir alteraçõesnos eixos dos membros inferiores, necessitando um controloexaustivo dessa evolução. Podemos deparamo-nos com umgenu valgo e sobretudo genuvaroque originatibia vara, desencadeando umpé varo com limitação da pronação. Se a deformidade não é muito grave no genu varo, pode-se evitar, pelo menos, que progrida pelo estiramento das cadeias musculares internas encurtadas e o fortalecimento das cadeiras musculares externas fracas e distendidas. No genu valgo, menos frequente,o tratamentoé invertido. Podemos ajudar com os meios físicos à nossa disposição para relaxar ou reforçar estes grupos musculares. Em desvios graves temos que avançar para tratamentos ortopédicos ou palmilhas. Além disso, durante este período de crescimento é essencial, especialmente durante a adolescência, uma avaliação sistemática dos reflexos tendisnosos. Deve ser averiguada a existência de défices, assimetrias ou hiperreflexias sugestivos da existência de estenose lombar. Este tema será discutido mais adiante, uma vez que é o principal problema a surgir na idade adulta. Durante esta fase da vida de um acondroplásico, como qualquer outra criança, começam a manifestar vontade para a prática de determinados desportos. Devem sempre evitar desportos de força, colisões e saltos repetitivos que possam causar stress desnecessário nas articulações. Recomendam-se actividades de descarga, como natação e ciclismo. Outro aspecto importante é evitar o excesso de peso porque vai causar excessiva carga articular. Controlar a dieta e o gasto energético é fundamental. Em suma, até ao final do período de crescimento deve ser controlado e na medida do possível, reduzir as deformidadese problemas do sistema neuro-musculo-esquelético que vão surgindo, de forma a que a criança e adolescente chegue à idade adulta na melhor condição física possível. ADULTO ACONDROPLÁSICO Nesta fase, encontrámos um problema muito frequente, que pode chegar a ser incapacitante se não for detectado atempadamente. Referimo-nos à presença de uma estenose medular lombo-sagrada, agravandapela tendência de hiperlordose, resultando em compressão da medula pelo estreitamento do canal vertebral lombar. Clinicamente, esta patologia tem início em dor nas pernas ou zona lombar, sensação de peso ao caminhar ou fraqueza nas pernas com a possibilidade de quedas bruscas. Estes sintomas podem progredir até causar paralisia permanente e perda de controlo do esfíncter vesical, com perdas de urina. Daí a importância do avaliação dos reflexos tendinosos e da vigilância da acentuação da hiperlordose lombar, quepode agravar ainda mais a situação. Além disso, como medida de prevenção, devem ser evitados trabalhos que exijam longos períodos em pé ou com extensões repetitivas da coluna. Ambas as situações diminuiem o canal medular podendo causar o aparecimento de dor lombar. As pessoas com acondroplasia e outras com baixa estatura patológica (tratamos aqui a acondroplasia por ser a mais frequente), precisam e necessitam de acompanhamento fisioterapêutico, assim como de outras especialidades médicas, durante toda a sua vida, sendo primordialdesde a infância à adolescência, pelos problemas músculo-esqueléticos que esta condição traz. Com isto, são preveníveis uma grande quantidade de alterações que podem provocar incapacidades variáveis e alterar ainda mais o quotidiano destas pessoas. A finalidade e único objectivo da fisioterapia é melhorar a qualidade de vida do paciente acondroplásico, finalidade destinada a ser partilhada por uma equipa multidisciplinar que aborde de forma global o acompanhamento médico e social de que necessitam.