CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / JORNALISMO Daiana
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CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / JORNALISMO Daiana
0 CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / JORNALISMO Daiana Stockey Carpes JORNAL FALADO: FERRAMENTA DE ACESSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO PARA OS CEGOS Santa Cruz do Sul 2013 1 Daiana Stockey Carpes JORNAL FALADO: FERRAMENTA DE ACESSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO PARA OS CEGOS Projeto experimental apresentado como requisito à conclusão do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo, da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Orientação: Prof. Demétrio de Azeredo Soster Santa Cruz do Sul 2013 2 Daiana Stockey Carpes JORNAL FALADO: FERRAMENTA DE ACESSIBILIDADE DE COMUNICAÇÃO PARA OS CEGOS Projeto experimental apresentado ao curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, da Universidade de Santa Cruz do Sul, como requisito à obtenção do grau de bacharel em comunicação social. Prof. Demétrio de Azeredo Soster Professor Orientador Prof. Helio Afonso Etges Prof. Veridiana Pivetta de Mello 3 Dedico este trabalho ao meu irmão, Norton Stockey Carpes, que vive à luz dos sonhos de um menino alegre, de um homem responsável e de um guri para lá de especial. E que me mostrou que a vida só vale a pena se fizermos a diferença. E é com essa lição de vida que trago para o jornalismo a missão de não vendar meus olhos perante as diferenças. 4 Foi uma oportunidade única poder mostrar que as pessoas cegas existem, que seus direitos e necessidades precisam ser levados em consideração por serem elas também membros da comunidade. (NOWILL, Dorina) 5 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Printscreen da página inicial do blog ........................................................................ 26 Figura 2 – Printscreen do painel do administrador do blog, para a postagem de mídias ........... 27 Figura 3 – Printscreen da postagem página 19 .......................................................................... 28 Figura 4 – Imagem da página diagramada do Unicom Memórias ............................................. 34 Figura 5 – Organograma das funções dos acadêmicos para a construção do Jornal Falado ...... 35 Figura 6 – Demétrio de Azeredo Soster, Daiana Carpes e o Deputado Mano Changes, durante reunião no gabinete do deputado para apresentação do projeto ................................................. 39 Figura 7 – Printscreen da postagem com as observações do funcionamento do play das sonoras ........................................................................................................................................ 40 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 7 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................... 9 2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................................... 9 2.2 Objetivos Específico .............................................................................................................. 9 3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................. 10 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................. 11 4.1 Acessibilidade....................................................................................................................... 11 4.2 Acessibilidade na comunicação ............................................................................................ 13 4.3 Jornal-laboratório.................................................................................................................. 16 5 CARACTERIZAÇÃO DO PRODUTO .............................................................................. 19 5.1 Conteúdo............................................................................................................................... 19 5.1.1 Blog Unicom Jornal Falado ............................................................................................... 25 5.1.2 Organização do Jornal Falado ........................................................................................... 29 6 PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO .................................................................................... 35 6.1 Organograma funcional ........................................................................................................ 35 6.2 Previsão Orçamentária .......................................................................................................... 36 6.3 Plano de trabalho .................................................................................................................. 36 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 38 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 41 7 1 INTRODUÇÃO O acesso à informação para pessoas com deficiência sensorial, ou seja, pelo não funcionamento (total ou parcial) de algum dos cinco sentidos, é algo ainda restrito, apesar dos avanços tecnológicos e das leis que asseguram esse direito. Porém, na prática, pouco se tem feito de ações que promovam a acessibilidade. Em se tratando de pessoas que possuem deficiência visual ou cegueira, a informação se dá, principalmente, por meios auditivos. No entanto, os meios de comunicação, como rádio, televisão ou jornal impresso, permanecem sem fazer uma audiodescrição sobre a notícia em si, e o mais preocupante é a falta de projetos que promovam essa inclusão. Diante disso, esse público fica com menos possibilidades de acompanhar informações vindas destes meios de comunicação. A proposta deste projeto vai ao encontro dessa necessidade. E consiste na elaboração de um produto de comunicação acessível aos cegos. O trabalho exposto é uma adaptação, por meio de métodos jornalísticos, na qual o jornal laboratório do curso de Comunicação Social – Unicom - receberá uma versão em áudio, que chamaremos de Jornal Falado, garantindo a acessibilidade daqueles que não podem ler, e, consequentemente, o direito à informação. No primeiro momento, justificamos este trabalho por ser uma proposta inovadora, uma vez que dialoga com a acessibilidade e com a comunicação – no âmbito acadêmico, e de cunho social, pois promove a inserção daqueles que possuem deficiência visual em uma esfera que este público não teria acesso. Além de atender aqueles que possuem deficiência visual, o projeto, também atenderá aos que possuem visão, pois irá conter informações que só possuem na versão em áudio. A ideia deste trabalho surgiu da necessidade de adaptar um jornal acadêmico impresso para um meio acessível a um aluno cego do curso de Ciências Contábeis, da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Em agosto de 2011 foi criada a primeira edição do jornal em áudio do informativo Ábaco1. A partir disso, passamos a nos questionar como a comunicação trabalha a acessibilidade, resultando no artigo Jornal em Áudio: adaptação de acessibilidade na comunicação?, apresentado no XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação2, e publicado no livro Tecnologias, pra quê? (2012), da editora Armazém Digital, e organizado pelos professores pesquisadores César Steffen e Álvaro Benevenuto Júnior. 1 Jornal semestral, voltado para os alunos do curso de Ciências Contábeis, da Unisc. O periódico conta com matérias relacionada aos acadêmicos desta graduação e notícias sobre o mercado de trabalho deste profissional. 2 Congresso realizado em Fortaleza, CE, de 3 a 7 setembro de 2012. O artigo foi apresentado na modalidade do Intercom Junior. 8 Com o avanço da tecnologia, novas práticas alternativas de comunicação pela internet aparecem e abrem espaço para pensar em um meio que promova o acesso daqueles que possuem alguma deficiência, como é o caso do jornal em áudio, do curso de Ciências Contábeis, conforme citamos anteriormente. Outro exemplo é o rádio para surdos3 produzido por acadêmicos de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS, onde uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras)4 traduz a notícia narrada. Nesta perspectiva questionamos qual o papel dos comunicadores, enquanto estudantes e profissionais da área, uma vez que o receptor da notícia necessita de um meio adaptado para receber tal informação. Diante do exposto, identificamos a necessidade de pesquisar sobre o tema proposto. Assim, para desenvolver esse projeto, apresentaremos um levantamento bibliográfico, por meio do qual entenderemos os conceitos de jornal-laboratório, acessibilidade e comunicação social. Nos dois capítulos seguintes, delimita-se que se deseja estabelecer, em termos de características físicas e de conteúdo do jornal em áudio, e, principalmente, os procedimentos que serão adotados para se chegar ao resultado esperado, a partir da perspectiva que se tratará de um serviço prestado por acadêmicos do curso de Comunicação Social habilitação Jornalismo a um cliente em especial. Finalmente, chega-se às considerações finais, quando, após todos os detalhamentos necessários, faz-se alguns complementos, em especial sobre o que este projeto pode contribuir em termos de futuras experimentações acadêmicas e profissionais. 3 O projeto Rádio 3.0 na Internet: sons, imagens e textos como recursos para a inclusão digital, engloba o desenvolvimento de conteúdos radiofônicos na internet (sons, imagens e textos) para o público em geral, com ênfase às pessoas com surdez, deficiência auditiva e visual, através da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Disponível em http://projetos.eusoufamecos.net/radiofam/reportagembrique/. 4 A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é utilizada por deficientes auditivos para a comunicação entre surdos e ouvintes. Os sinais são formados a partir da combinação da forma e do movimento das mãos e do ponto no corpo ou no espaço onde esses sinais são feitos. 9 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Criar uma ferramenta de comunicação, no âmbito acadêmico, acessível aos cegos, para que este público mantenha-se informado por meio de um dispositivo atrativo, compreensivo e viável. 2.2 Objetivos Específicos - Identificar os aspectos necessários para a criação de um mecanismo de comunicação para os cegos – a partir da prática laboratorial acadêmica – através de uma pesquisa com a aplicação de um questionário com o público alvo. - Revisar os conceitos de acessibilidade, acessibilidade na comunicação e jornalismo de laboratório. - Analisar as leis e decretos que asseguram o direito de informação aos cegos. - Realizar a revisão teórica sobre o assunto. - Desenvolver um conceito de jornal-laboratório para deficientes. 10 3 JUSTIFICATIVA Muito tem se falado em direitos iguais, cidadania, acessibilidade. Porém, o que observamos é a falta de projetos e iniciativas que efetivamente promovam a acessibilidade. Entendemos que é na universidade que nossas ideias e inquietações são executadas, pois é neste ambiente que temos suporte para a realização de pesquisas e, propriamente dito, a realização dos produtos planejados, no nosso caso, os comunicacionais. Diante do exposto, propomos elaborar uma ferramenta de comunicação acessível aos cegos, utilizando para isso, os conceitos de jornalismo de laboratório. Logo, pretendemos traduzir para um meio acessível o que foi publicado no jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Unisc, Unicom. Assim, justificamos nossa proposta por ser uma ferramenta que promove a inclusão informacional de um grupo restrito da sociedade, e, acima de tudo, por ser um tema que está em constante discussão – inclusão social e a acessibilidade. Além do mais, temos uma legislação ampla que assegura o direito para portadores de deficiência, em inúmeras situações do cotidiano. Em matéria publicada no site da revista Veja, em abril de 2012, constata-se que houve um aumento no mercado de bens e serviços de tecnologia para este público – voltado não apenas para quem nasceu ou adquiriu ao longo da vida algum problema físico, visual, auditivo etc. Mas também ao crescente número de idosos no país – movimentou cerca de 1,5 bilhão de reais em 2011. E a projeção em 2012 é o aumento de 20% do faturamento do ano anterior5. Este crescimento deve-se a uma conjunção de fatores: desde a melhoria geral do ambiente econômico, passando pelo aumento do emprego das pessoas com deficiência, até a oferta de crédito especial por alguns bancos. E é pensando neste mercado que está em constante expansão e carente na área jornalística; na legislação que assegura os direitos aos portadores de deficiência; nos deveres do jornalista quanto à divulgação das informações, e, na releitura do jornal em áudio, produzido no curso de Ciências Contábeis da Unisc, que explicamos a importância de tal projeto para a comunicação. A questão da inclusão não é apenas um direito, mas a exigência de uma realidade. E queremos com este trabalho, discutir a comunicação e a acessibilidade como meios para garantir a inclusão, a cidadania e a promoção do desenvolvimento da informação. 5 Até o momento desta pesquisa não foram divulgados os dados do faturamento oficial de 2012. 11 4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 Acessibilidade Até pouco tempo atrás, as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência eram vistas como dignas de piedade e bondade. Ainda assim, não era comum oferecer acesso igualitário a serviços para deficientes. Segundo Resource (2005, p. 17), as mudanças começaram em 1981, Ano Internacional dos Portadores de Deficiência, quando se chamou atenção para esse tema e possibilitou a muitos portadores de deficiência tomar conhecimento das estatísticas relacionadas com seu grupo. Nos últimos anos percebemos uma atenção maior em torno desta questão. São leis, decretos que giram em torno deste tema. Segundo o portal Brasil Gov.Br6, acessibilidade é o termo usado para indicar a possibilidade de qualquer pessoa usufruir de todos os benefícios da vida em sociedade, entre eles o uso da internet. É o acesso a produtos, serviços e informações de forma irrestrita. Quando pensamos no termo acessibilidade, logo pensamos nas obras e serviços de adequação do espaço urbano e dos edifícios. Porém, acessibilidade não significa apenas permitir que as pessoas com deficiência possam se locomover pelos espaços. Pensar em acessibilidade é garantir a inclusão de todos em qualquer ambiente, atividade ou uso de recurso (SCHIRMER, 2008, p. 4). O Decreto 5.296, de 2 de dezembro de 2004, Art. 8º, define acessibilidade como: Condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida. O mesmo artigo descreve quais são as barreiras da acessibilidade: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação. A acessibilidade é um direito garantido por lei no Brasil, onde além do Decreto 5.296, existem outras leis que tratam do tema como a Lei nº 10.046, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que necessitam de acesso específicos, e a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade entre a população. A acessibilidade também é um dos oito 6 http://www.brasil.gov.br 12 Princípios Gerais da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é um dos signatários. Na obra “A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência Comentada”, a autora Lilia Pinto Martins, reserva o artigo dois para conceituar as definições sobre a deficiência e destaca a importância de uma sociedade inclusiva: Uma sociedade, portanto, é menos excludente, e, consequentemente, mais inclusiva, quando reconhece a diversidade humana e as necessidades específicas dos vários segmentos sociais, incluindo as pessoas com deficiência, para promover ajustes razoáveis e correções que sejam imprescindíveis para seu desenvolvimento pessoal e social, assegurando-lhes as mesmas oportunidades que as demais pessoas para exercer todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. É dentro deste paradigma da inclusão social e dos direitos humanos que devemos inserir e tratar a questão da deficiência. O desafio atual é promover uma sociedade que seja para todos e onde os projetos, programas e serviços sigam o conceito de desenho universal, atendendo, da melhor forma possível, às demandas da maioria das pessoas, não excluindo as necessidades específicas de certos grupos sociais, dentre os quais está o segmento das pessoas com deficiência (PINTO, 2008, p. 30). Em se tratando de direito trabalhista, em 1991 foi promulgada a Lei 8.213/1991, que estabelece o número de profissionais portadores de deficiência ou em reabilitação no quadro das empresas, de acordo com a quantidade de funcionários que possui. Porém, uma questão nos preocupa. Segundo dados do IBGE, em 2010, havia 45,6 milhões de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas (visual, auditiva, motora e mental), representando 23,9% da população. Mais precisamente, 6,6 milhões de pessoas declararam possuir deficiência visual severa (grande dificuldade de enxergar ou que não conseguem de modo algum), sendo que 506,3 mil declaram ser cegos. Estes números são significativos e nos faz questionar a maneira e a forma que os conteúdos informacionais chegam a este público. Quase a totalidade deles (portadores de deficiência visual e auditiva) tem dificuldades em acompanhar as informações divulgadas pela mídia, embora, em relação aos deficientes auditivos e surdos, existam várias leis, garantindo apoio na comunidade escolar e disponibilização, entre outros itens, de equipamentos que oportunizem o trabalho com as novas tecnologias de informação e comunicação (KLÖCKNER; VARGAS; CLÁUDIO; BRITTES; FERREIRA E UBERTI, 2012, p. 262). Em relação ao acesso igualitário das pessoas com deficiência, à informação e à comunicação, uma das intenções deste projeto é questionar como esta parcela da população se mantém informada e de que maneira os meios de comunicação se preocupam em promover a acessibilidade na comunicação, o próximo item que iremos analisar. 13 4.2 Acessibilidade na comunicação A informação dá liberdade e autonomia a quem a possui. Para aqueles que possuem alguma deficiência, no entanto, as informações não estão prontamente disponíveis. Resource observa que: Para tornar as informações acessíveis a portadores de deficiência é preciso um compromisso contínuo, pois há ainda muitas lacunas a serem preenchidas. Algumas melhorias são muito fáceis de se providenciar e podem ser prontamente introduzidas; outras exigem mais recursos, coleta de informações e planejamento. Um descuido de uma única pessoa envolvida – o redator, o preparador de texto, o programador visual, o responsável pela impressão, o assessor de marketing – pode ser suficiente para criar obstáculos desnecessários no acesso à informação. Uma política e um plano adequados são os meios mais práticos que qualquer organização pode usar para assegurar-se de que esse acesso esteja sempre em pauta e que verdadeiras melhorias aconteçam (RESOURCE, 2005, p. 52). Segundo a Escola de Gente – Comunicação em Inclusão7, à relação entre acessibilidade na comunicação e democracia participativa é clara. Quando uma pessoa é impedida de exercer o direito de se comunicar, fica em desvantagem para tomar parte em processos decisórios que lhe interessam direta ou indiretamente. Como resultado, fica comprometida a liberdade de expressão e, consequentemente, o processo democrático, que se alimenta do direito à participação. O Decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, reservou 14 artigos, no capítulo VI, para o acesso à informação e à comunicação para pessoas com deficiência. Entre as especificidades listadas estão: obrigatoriedade de acessibilidade nos sites de administração pública; acesso aos portadores de deficiências auditivos em serviços de telecomunicações; incentivo ao uso de aparelhos de telefonia celular que indiquem, de forma sonora, todas as operações e funções neles disponíveis no visor; incentivo a oferta de aparelhos de televisão equipados com recursos tecnológicos que garantem o direito de acesso à informação aos deficientes auditivos ou visuais; 7 Escola de Gente – Comunicação em Inclusão foi fundada em abril de 2002, por profissionais de comunicação e ativistas em inclusão certos de que a comunicação é uma área do conhecimento que deve ser melhorada e utilizada a favor da inclusão de grupos em situação de vulnerabilidade na sociedade. A entidade vem se aliando a diversas organizações sociais, oferecendo sua abordagem sistêmica de inclusão e diversidade em prol desses grupos populacionais para os quais, e com os quais, esses(as) parceiros(as) trabalham. 14 caberá aos órgãos e entidades da administração pública a promoção e capacitação de profissionais em LIBRAS; a televisão digital no país deverá contemplar os três tipos de sistema de acesso à informação (circuito de decodificação de legenda oculta, recurso para programa secundário de áudio e entrada para fones com ou sem fio); apoio do poder público em eventos científico-cultural às pessoas com deficiência auditiva e visual, com tradutores e intérpretes de LIBRAS, leitores, guiasintérpretes, ou tecnologia de informação e comunicação e; os programas e as linhas de pesquisa a serem desenvolvidos com o apoio de organismos públicos de auxílio à pesquisa e de agências de financiamento deverão contemplar temas voltados para tecnologia da informação acessível para deficientes. Pensando em favorecer o acesso de comunicação àqueles que possuem algum tipo de deficiência, foram criados mecanismos que contribuem para a acessibilidade na comunicação, como mostram os autores Lima, Lima e Guedes: Alguns instrumentos ampliaram significativamente o conceito de acessibilidade à comunicação, tanto trazendo às pessoas surdas a legenda, em close caption (CC), e janela com língua de sinais, quanto trazendo às pessoas cegas a áudio-descrição, em canal secundário de áudio (canal sap). Não se omitindo quanto às barreiras comunicacionais em outras instâncias, determinaram que esse acesso deve se dar também em eventos educacionais/acadêmicos, em conferências, congressos, seminários etc., onde quer que imagens sejam exibidas e pessoas com deficiência visual delas necessitem conhecer, para o lazer, educação ou outra razão. [...] Não propiciar, portanto, a igualdade de acesso à informação para as pessoas com deficiência visual é discriminá-las por razão de deficiência, uma vez que não é a cegueira que as impede de receber a informação, mas o obstáculo ocasionado pela falta do áudio descrição, a qual é, em última instância, uma alternativa comunicacional para os eventos visuais (LIMA, LIMA e GUEDES, 2008. p. 11). Um comentário publicado na obra Manual da Mídia Legal: Comunicadores pelas Políticas de Inclusão8 (2005, p.43) afirma que, nos últimos anos, é notório o aumento de espaço em jornais, sites, revistas, canais de televisão e de rádio para noticiar fatos sobre deficiência, violência doméstica, abuso sexual, prostituição infantil, orientação homossexual, entre outros. Com isso, a visibilidade do assunto aumenta, para tranquilidade dos profissionais da mídia e da sociedade, é sentimento do “dever cumprido”. Entretanto, nem sempre a 8 O livro é resultado do 4º encontro da Mídia Legal – Universitários pelas Políticas de Inclusão, realizado pela Escola de Gente, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A obra busca abordar o tema deficiência de forma descontextualizada. O grande desafio dos Manuais da Mídia Legal é debater, refletir e construir a cada edição o que a mídia tem divulgado referente a estes assuntos, e assim fazer pequenos comentários sobre como seria a melhor forma de publicar para a sociedade tal reportagem. 15 visibilidade é sinal de combate à discriminação. E nem uma efetiva realização desta prática: fazer o material impresso em algo acessível para todos. Segundo o Manual da Mídia Legal (2002, p. 6), o assunto deficiência gera um tipo de emoção que impede os jornalistas de manter a lucidez defendida no exercício diário da profissão. Toda notícia sobre deficiência parece ser uma super pauta, o que nem sempre é verdade. A abordagem das pessoas com deficiência na mídia sob a perspectiva de direitos humanos ainda é um fenômeno recente e por isso precisa ser trabalhada especificamente com os responsáveis pela comunicação. Aliando força de vontade, uso de novas tecnologias e profissionais qualificados há a possibilidade de transformar qualquer tipo de material em um produto de comunicação acessível, independente da deficiência que o receptor possua como apresenta os autores Vital e Queiroz: Hoje em dia, existe tecnologia para se comunicar por telefone com uma pessoa surda (...); a pessoa cega ou com limitação física severa pode se comunicar via internet, escrever, ler e navegar por suas páginas. Já é possível assistir televisão, filmes e noticiários, sem que alguém tenha que ajudar a descrever as cenas mudas para um assistente cego ou narrar, por meio de sinais, os diálogos televisivos para uma pessoa surda. Pessoas com deficiência visual ou auditiva podem participar de conferências que tenham vídeos, palestras somente falada ou com qualquer outro tipo de barreira de comunicação que, sem as tecnologias assistidas adequadas, impediriam o entendimento das informações (2008, p. 46). Vital e Queiroz (2008, p. 46), chamam a atenção para as diversas formas de comunicação que estão disponíveis, através da tecnologia, para levar a informação a todos. Porém, os autores fazem uma ressalva neste aspecto: há falta de interesse da população em geral e de empresas que atuam neste ramo em utilizar essas ferramentas e ainda, muitas delas são desconhecidas pela sociedade. Para a realização deste trabalho realizamos uma pesquisa em sites, onde foram publicados artigos científicos e notícias relacionadas ao tema deste projeto – acessibilidade na comunicação –, que serviu como base para analisarmos o que está sendo publicado no âmbito científico e o que de fato a mídia vem mostrando. Deste modo, constamos um número razoável de jornalistas engajados em prol da acessibilidade, como Flávia Cintra9, Danieli Haloten10 e a francesa Sophie Massieu11. Massieu concedeu uma entrevista ao site BBC Brasil 9 Consultora de empresas e ativista de Direitos Humanos e Desenvolvimento Inclusivo, participou da 8ª sessão do Comitê da ONU que elaborou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 10 Jornalista e atriz, cega, em 2006, produziu uma reportagem sobre deficientes e o mercado de trabalho com a equipe do programa Profissão Repórter, comandado por Caco Barcellos. Como atriz, Haloten conquistou, em 2010, o papel de Anita, na novela Caras & Bocas, exibido pela Rede Globo, na trama a personagem mostrou as dificuldades enfrentadas pelos cegos brasileiros. 16 onde relatou estar havendo grandes avanços nessa área. Apesar de toda importância que os projetos em prol da acessibilidade possuem, vimos que quando se trata de propor produtos comunicacionais acessíveis, pouco se tem discutido ou efetivamente realizado. O nosso próximo passo é fazer uma releitura dos principais autores que pesquisam sobre o jornalismo de laboratório e a seguir propor a implantação de um mecanismo acessível no jornal-laboratório do curso. 4.3 Jornal-laboratório A legislação que rege os cursos de Jornalismo no Brasil exige que toda instituição que ofereça tal habilitação deverá dispor de um jornal-laboratório, onde os futuros profissionais de imprensa possam, na prática, aplicar os conhecimentos adquiridos e experimentar novas propostas. Assim, a disciplina que integra um jornal-laboratório é vista pelos alunos como uma oportunidade de por em prática o que foi visto nas disciplinas teóricas, além de possibilitar a execução da técnica em situações que simulam o ambiente profissional das redações. Este exercício é importante para o acadêmico conhecer o jornal em vários sentidos, desde a pauta, checagem das fontes envolvidas no assunto, entrevistas, pesquisa no banco de dados, leitura complementar e a produção do texto. Um dos primeiros pesquisadores que trouxeram a temática do jornalismo de laboratório para a discussão foi o jornalista Dirceu Fernandes Lopes. Em seu livro, resultado de sua tese de doutorado em Comunicação Social, pela USP, Jornal Laboratório: do exercício escolar ao compromisso com o público leitor, lançado em 1989, pela editora Summus, Lopes procurou retratar a prática laboratorial, avaliando as questões teóricas fundamentais relacionadas com o ensino do jornalismo. José Marques de Melo, ao escrever o prefácio desta obra destaca: Este livro do professor Dirceu Fernandes Lopes constitui um registro oportuno sobre a problemática do jornal-laboratório no Brasil e seus avanços metodológicos. O autor realizou um inventário das questões fundantes que caracterizam a formação universitária dos jornalistas e situou com argúcia e sensibilidade o papel desempenhado pelos veículos impressos que viabilizam o aprendizado prático da futura profissão (Editora Summus, p. 11). 11 Cega desde o nascimento, a jornalista participou do programa "Dans tes yeux" (Nos teus olhos, em tradução literal), do canal de TV franco-alemão Arte, onde foram realizadas reportagens em 40 cidades de 23 países, entre eles o Brasil, sempre acompanhada de seu cachorro guia. O conceito do programa é "mostrar o mundo de maneira diferente", sob a ótica das sensações de alguém que não possui a visão. 17 Além desse livro, Lopes também publicou: A evolução do jornalismo em São Paulo (1996), pela editora Edicon, Edição em jornalismo eletrônico (2000), pela editora Edicon e Sociedade Mediática – significação, mediações e exclusão (2000), pela editora Universitária Leopoldianum. Entre tantas atividades que desenvolveu, Lopes realizou uma pesquisa para definir o perfil do jornalismo-laboratório nos cursos de Jornalismo do Brasil. Resultado publicado no Caderno Posgrad da Universidade Católica de Santos: Para uma pedagogia do Jornal-laboratório (2001), pela editora Leopoldinum. Em 1982, durante o VII Encontro de Jornalismo sobre órgãos laboratoriais impressos, na Faculdade de Comunicação de Santos, chegou-se ao seguinte conceito: O jornal-laboratório é um veículo que deve ser feito a partir de um conjunto de técnicas específicas para um público também específico, com base em pesquisas sistemáticas em todos os âmbitos, o que inclui a experimentação constante de novas formas de linguagem, conteúdo e apresentação gráfica. Eventualmente seu público pode ser interno, desde que não tenha caráter institucional (LOPES, 2001, p.17). A introdução dos órgãos laboratoriais provocou o início de mudança nos cursos de jornalismo, iniciando a articulação teórico-prática, indispensável na formação do profissional. Nessa passagem, Lopes (1989, p. 33) relata que o ensino discursivo foi cedendo lugar a uma aprendizagem prática. O ponto fundamental do avanço foi a aprovação pelo Conselho Federal de Educação da resolução que determinava que as escolas deveriam contar também com órgãos laboratoriais. Lopes (1989) questiona e o papel fundamental sobre os jornais laboratório e a prática do jornalismo: O órgão laboratório é um instrumento de reprodução da prática jornalística vigente ou um veículo para a criação das alternativas em relação ao que existe na sociedade? As duas opções são fundamentais: reproduzir a realidade, criar inovações. É importante manter as duas formas combinando-as, intercalando-as e integrando-as. Nos próprios exercícios didáticos que se realizam nos laboratórios é possível contrabalançar a reprodução dos padrões jornalísticos dominantes com a criação de novos modelos que possam constituir alternativas viáveis (LOPES, 1989, p. 34). É neste âmbito de inovação, de experimentações e da criação de novos vínculos que a proposta deste trabalho dialoga com os conceitos de jornalismo de laboratório. Neste ambiente da universidade, inserimos a nossa proposta de fazer um jornal para cegos, com um trabalho muito mais prático, pois iremos transformar o jornal impresso, em jornal em áudio, o que atende diretamente a este público específico da sociedade, os cegos e pessoas com baixa visão. 18 Para José Marques de Melo, citado por Lopes (1989, p. 51), o jornal-laboratório permite um treinamento adequado na própria escola, de modo que os alunos tenham oportunidade de colocar em execução, ainda que experimentalmente, o acervo de conhecimentos teóricos adquiridos nas diversas disciplinas de natureza técnico- profissionalizante. Conforme Filho (2012, p. 146) o jornal-laboratório é um meio de comunicação feito por alunos de um curso de jornalismo sob a supervisão e orientação de professores jornalistas, capaz de contribuir de forma eficaz para a formação do profissional jornalista. Após a revisão do conceito de jornal-laboratório, com uma releitura dos principais autores e obras, não identificamos nenhum pesquisador que traga a questão da acessibilidade para ser discutida a nível universitário. E é nesse espaço de experimentações que o jornallaboratório nos permite, nos desafiamos a por em prática um novo meio de comunicação para os cegos, que contemple é claro o aprendizado teórico com a prática do jornalismo passado em sala de aula. 19 5 CARACTERIZAÇÃO DO PRODUTO 5.1 Conteúdo Para fins deste projeto, realizou-se uma busca por meio de fóruns de debate na internet, que discutam o tema de acessibilidade no país. De tal modo, participamos como membro do grupo do Núcleo de Apoio Acadêmico da Unisc (NAAC) 12 e do Grupo Áudio- 13 descrição em estudo . A ideia era organizar os principais pontos a serem observados para a construção de um jornal em áudio, a partir das ressalvas dos cegos, como por exemplo, a melhor maneira de ser informado ou como os conteúdos informacionais podem ser transmitidos para aqueles que não possuem visão, de forma mais clara e objetiva. Para que o produto final do Jornal Falado seja um meio de comunicação viável, elaboramos um questionário com uma série de perguntas que foram enviadas a estes grupos, como mostra o quadro abaixo: Quadro 1 – Questionário aplicado aos cegos Dados dos entrevistados Cristian Sehnem, técnicoadministrativo, perdeu a visão aos 20. Idade 36 anos. Reside em 12 Você costuma "ler" jornais e revistas? Raramen te, não desenvolvi o hábito. Procura se manter informado? O que um jornal em áudio precisa ter? Você conhece algum jornal laboratório, produzi -do por acadêmicos de Jornalismo? Conhece o jornal Unicom e a revista Exceção, produzidos por acadêmicos da Unisc? O que pode ser melhorado no jornalismo brasileiro, para que as informações estejam disponíveis a todos? Sim, principal mente via rádio e internet. Que o acesso ao jornal seja prático (independente se for pela internet, pelo aparelho de som, Sim, já recebi vários em papel. Não. Mas também nunca os procurei na internet, caso estejam disponíve is online. Mais criatividade e atenção aos diferentes públicos que acessam, querem ou deveriam acessar as Você tem interesse em "ler" reporta -gens produzidas por acadêmicos de Jornalismo? Sim Você conhece a legislação que fala sobre a acessibilidade e o direito a informação? Sim Possui abrangência estadual. Endereço eletrônico do grupo: [email protected]. Grupo Baú Cultural, tem como objetivo o compartilhamento de materiais digitais, tais como: e-books de literatura diversas, artigos, textos, músicas e tutoriais, que permitam a discussão e troca de informações relativas a estes universos, sobretudo para proporcionar uma interação acessível entre seus membros. Possui abrangência nacional. Endereço eletrônico do grupo: á[email protected]. 13 20 Santa Cruz do Sul / RS pelo celular, etc) e que suas informaçõ es sejam compreensivas pela audição. Orlei da Costa, 42 anos, aposentado, estudante de Direito da Unisc. Reside em Bom Retiro do Sul / RS Leio apenas revistas em braile. Sim, sempre que possível. Não conheço Não Não tenho conhecim ento. Danieli Haloten, jornalista e atriz. Nasceu com glaucoma. Ficou cega aos 20 anos. Hoje tenho 32 anos. São Paulo/SP. Sim. Folha de São Paulo, El Mundo e Los Ângeles Times. Sim, assistindo noticiários na TV e lendo jornais na internet. Não conheço. Sim. Não. informações, além de maior cuidado para não reforçar preconceitos e prejudicar minorias já excluídas. Acredito que deveria ter mais interesse das empresas de comunicação em promover a acessibilidade na informação No caso da TV, legendas ou Libras nas notícias, onde aparecem muitos ofs, e os surdos não tem como ler os lábios para saber o que está acontecendo. Sites construídos de forma acessível para que os deficientes visuais possam navegar com independência. Sim Sim Sim. Sim. 21 Thiago Cerejeira, 32 anos, adquiriu deficiência visual aos 29 anos. Arteeducador. Reside em Natal / RN. Sara Bentes, 30 anos, musicista, nasceu com a deficiência. Reside em Volta Redonda / RJ. Atualmente participo de alguns grupos de literatura que distribuem notícias por email. Mas sempre que preciso de assuntos profissionais, recorro aos sites das revistas. Sim. Folha de São Paulo, Super Interessante, Vida Simples. Procuro sempre o que mais me interessa, como na rede há muita informação e os conteúdos são muitos, evito leituras desnecessárias e filtro o que é mais interessante. Acho que uma narrativa de conteúdos na íntegra poderia ficar enfadonha. Uma leitura desses conteúdos de forma resumida, objetiva e com uma boa narração seria um bom começo. Não. Não. A democratização da leitura, através da praticidade ao acesso desses conteúdos. Sim, desde que priorizem a línguagem mais coloquial em detrimento a línguagem científica. Sim. Basicame nte pela internet, lendo os textos com o leitor de telas. Deve chamar a atenção em um programa de rádio, porque um jornal em áudio se assemelha a um programa jornalístico de rádio. Agora, para um jornal em áudio ser realmente eficaz e atender às necessidades do público com deficiência visual é preciso que a leitura esteja clara, bem articulada, Não. Não. Os telejornais deveriam oferecer todos os recursos de acessibilida de – audiodescrição, libras e legenda; os jornais impressos e revistas deveriam oferecer seus conteúdos na internet e ou em áudio, aí sim estaremos falando de informação para todos. Não. Sim. 22 Bruno Lima de Brito, professor de Geografia, 47 anos, cego desde os 27. Mora em Natal / RN. Sim. Sim. Ednilson Sacramento, 51 anos, cego desde os 34 anos, professor de História, mora em Salvador. Raramente. Sim, através do rádio, internet e televisão. com boa dicção e entonação imparcial. Talvez uma ideia para chamar a atenção e deixar o áudio menos monótono é inserir vinhetas musicais entre uma matéria e outra, entre uma seção e outra. Um bom jornal precisa ser direto e com audiodescrição. As notícias que possuírem mais relação com o visual, deverão possuir uma explicação mais atenta. Assuntos culturais e fatos que a mídia não mostra deverá integrar esse meio. Sim. Não. Não. Não. Mais interesse daqueles que produzem conteúdos jornalísticos, para adaptar estas informações a um meio acessível. Mais objetividade, menos sensacional ismo, menos parcialidade, mais pautas da diversidade cultural, mais originalidade. Sim. Sim. Com Certeza. Sim. 23 Ao todo recebemos retorno de sete entrevistados, dos estados da Bahia, Rio Grande do Norte, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que responderam todas as questões propostas pelo questionário. Outras cinco pessoas nos encaminharam e-mais elogiando a iniciativa deste projeto, pois conhecem ou tem familiares cegos, e ainda, frisaram a importância em ter pesquisadores nessa área. Como é o caso da santa-cruzense Iara Urrath, que nos enviou um e-mail contando que tem um filho de seis anos que é cego, e solicitando que seja enviado o trabalho após sua conclusão. “Obrigada pelo interesse na área da cegueira, se mais pessoas tivessem tua iniciativa, os pequenos não seriam excluídos na hora do conto, nos teatros e nas apresentações na escola, por exemplo”. Após a análise dos apontamentos proposto pelos entrevistados, elaboramos dois gráficos que são de suma importância para a criação do Jornal Falado, que demonstram a necessidade de criar essa ferramenta como este meio deve ser. O primeiro gráfico (ver Gráfico 1) responde ao nosso principal questionamento, o que um jornal em áudio precisa ter?, o segundo gráfico (ver Gráfico 2) mostra as principais respostas dos nossos entrevistados a respeito do que pode ser melhorado no jornalismo brasileiro para que todos sejam informados, independentes de possuírem deficiência. Gráfico 1 O que um jornal em áudio precisa conter? Praticidade 14,28% Conteúdo compreensivo 42,50% 28,57% Leitura resumida Chamar a atenção do ouvinte 28,57% 57,14% Não tem conhecimento sobre o tema Para selecionar o que será publicado no Jornal Falado, nos baseamos no Gráfico 1, que identifica o que os entrevistados esperam que um meio de comunicação acessível precisa conter. Um dos pontos principais e mais citados por eles é quanto ao conteúdo comunicacional, que essencialmente seja compreensivo, pois os elementos visuais tendem a 24 deixar a matéria mais explicativa, e como nos propormos a fazer uma mídia acessível aos cegos, temos que suprir a falta da imagem com explicações nas falas. Outro aspecto que merece atenção e que também foi mencionado pelos entrevistados, é quanto à praticidade do formato. Assim, a plataforma que hospedará o Jornal Falado precisa ser acessível, de nada adianta termos um conteúdo diferenciado, se esse material for veiculado em um site ou blog que torne a navegação do internauta cego confusa e difícil. Gráfico 2 O que pode ser melhorado no jornalismo brasileiro para que todos sejam informados? 14,28% 28,57% 14,28% 57,14% Meios de comunicação mais criativos e objetivos Ter mais atenção para este público Mais interesse das empresas de comunicação em criar conteúdos acessíveis Democratização da informação Já o gráfico 2 representa as deficiências do mercado de comunicação no quesito acessibilidade. Assim, a pergunta proposta no questionário e que configura este quadro é: “o que pode ser melhorado no jornalismo brasileiro?”. Como resultado desta análise, identificamos que, na opinião dos entrevistados, a falta de interesse dos meios de comunicação em promover conteúdos acessíveis, é o grande vilão da acessibilidade. Assim, questionamos se o jornal-laboratório poderia servir como ferramenta de conscientização dos acadêmicos e futuros profissionais em repensar nas rotinas jornalísticas, e, adequando o que for produzido para mídias em que todos tenham acesso. Diante dos apontamentos feitos pelas pessoas que responderam nosso questionamento e após a análise das respostas dos entrevistados, pôde-se estabelecer um planejamento inicial de distribuição de conteúdo do projeto, o qual será apresentado na sequência. O produto comunicacional, desenvolvido especialmente para cegos, o Jornal Falado, é uma ferramenta comunicacional para os leitores do jornal Unicom, pois trará elementos dos bastidores das reportagens e entrevistas com os participantes, além de ser um mecanismo que leve informação aos que possuem deficiência visual. 25 Para montar o script do Jornal Falado é necessário entender o conceito que fundamenta para a construção desta ferramenta, a audiodescrição: segundo o site Audiodescrição14, é um recurso que consiste na descrição clara e objetiva de todas as informações que compreendemos visualmente e que não estão contidas nos diálogos, como, por exemplo, expressões faciais e corporais que comuniquem algo, informações sobre o ambiente, figurinos, efeitos especiais, mudanças de tempo e espaço, além da leitura de créditos, títulos e qualquer informação escrita na tela. A audiodescrição permite que o usuário receba a informação contida na imagem ao mesmo tempo em que esta aparece, possibilitando que a pessoa desfrute integralmente da obra, seguindo a trama e captando a subjetividade da narrativa, da mesma forma que alguém que enxerga. As descrições acontecem nos espaços entre os diálogos e nas pausas entre as informações sonoras do filme ou espetáculo, nunca se sobrepondo ao conteúdo sonoro relevante, de forma que a informação audiodescrita se harmoniza com os sons do filme. 5.1.1 Blog Unicom Jornal Falado A plataforma escolhida para a divulgação do Jornal Falado foi o blog. Este meio possibilita uma propagação maior e mais rápida do conteúdo, além de ser um meio capaz de agregar diversos tipos de mídia, como texto, imagens, vídeos e áudios, o que colabora significativamente para melhorar a acessibilidade para todos os tipos de deficiência. Além de proporcionar a interação entre o internauta e o blogueiro, é uma ferramenta simples e fácil utilização. O blog do Unicom15 terá um link que leva o internauta para blog do Unicom Jornal Falado, disponível em https://unicomjornalfalado.wordpress.com/. O blog ficará disponível na plataforma WordPress.com – aplicativo de sistema de gerenciamento de conteúdo para web gratuito, voltado principalmente para criação de blogs via web. Abaixo, imagem da página inicial do blog: 14 15 http://audiodescricao.com.br/ad/o-que-e-audiodescricao/ Disponível em: http://blogdounicom.blogspot.com.br/ 26 Figura 1 – Printscreen da página inicial do blog Decidimos pela criação de um novo blog, pois um dos apontamentos sugeridos pelos cegos, no questionário que realizamos, é quanto à acessibilidade da página da internet. O site que apresenta muitos mecanismos, links e figuras como existem do Blog do Unicom, a navegabilidade para esses internautas se torna difícil e praticamente inviável. Pois o leitor de telas (software que possibilita a narração automática de textos e das ações dos usuários, tornando mais fácil a execução de tarefas no computador de cegos) não consegue identificar estes elementos ou deixa sua leitura confusa, tornando assim, incompreensível ao seu usuário. Por isso a criação do blog Unicom Jornal Falado, onde os elementos estão expostos um abaixo do outro, o internauta que possui cegueira poderá navegar com independência. Como nosso projeto visa atender este tipo de público, e o blog do Jornal Falado possui imagens que ilustram as sonoras publicadas, inserimos na postagem das figuras os textos alternativos. Se o internauta estiver usando o leitor de telas, o software ao detectar uma imagem, identificará se há o texto alternativo correspondente e fará uma audiodescrição, com o que foi escrito previamente nesta ferramenta. Em geral, o texto alternativo resume a aparência da imagem, e esta opção está disponível no painel do administrador do blog, que poderá decidir no momento da postagem da mídia se irá utilizar ou não esse recurso. Como mostra a imagem a seguir: 27 Figura 2 – Printscreen do painel do administrador do blog, para postagens de mídias O exemplo citado acima se refere à página 19 do Unicom Memórias, que também recebeu a versão em áudio e foi publicada no blog Unicom – Jornal Falado (disponível no link http://unicomjornalfalado.wordpress.com/2013/05/27/memorias-de-um-vovo-internautapagina-19/). No texto alternativo desta imagem inserimos a seguinte frase: “imagem da página 19 do jornal impresso que foi audescrita nas sonoras anteriores”. Logo, podemos encaixar esse projeto como um instrumento de acessibilidade e de fomento a comunicação, respeitando o que consta no primeiro artigo do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros: todo cidadão tem direito à informação, abrangendo o direito de informar, de ser informado e de ter acesso à informação. Os áudios do Jornal Falado ficarão hospedados no site www.soundclound.com, plataforma online de publicação de áudio gratuito. Após, o cadastro do acadêmico no Sound Clound, as postagens poderão ser inseridas, e em seguidas publicadas no blog do Unicom, através do código específico que o Sound Clound fornece, para o compartilhamento em outros endereços da web. 28 Cada postagem será organizada da seguinte forma: 1º) Título do post: Página do jornal impresso que recebeu a versão em áudio 2º) Título da matéria do jornal impresso 3º) Reportagem: nome do repórter da matéria 4º) Linha de apoio da matéria do jornal impresso, será uma maneira de explicar a sonora da reportagem que virá a seguir. 5º) A segunda sonora do post refere-se ao conteúdo que não foi publicado na edição impressa. Exemplo disso é o áudio do seu Gulherme Stockey que contou como passou no concurso do Banco do Brasil, e, a matéria que retrata o restaurante que é atração em Rio Pardo, em épocas de enchente. 6º) Locução: nome dos acadêmicos que narraram os áudios. 7º) Técnica: profissional do Lab. de Rádio, da Unisc, que fez as gravações. 8º) Edição: aluno que editou os áudios 9º) Imagem da página do Unicom que recebeu a versão em áudio. Como mostra a imagem do post abaixo: Figura 3 – Printscreen da postagem página 19 29 O produto é apresentado como uma interface multimídia, que fará um diálogo do impresso para o rádio dentro de uma plataforma digital. De tal modo, irá reproduzir a identidade do Unicom, sendo que o áudio irá dialogar com o impresso. A web ganha destaque cada vez maior ante o público, ávido por instantaneidade, interatividade e acesso a recursos multimídia. Uma das formas de suprir as necessidades do internauta, sem perder de vista a profissionalização, é considerar fatores de noticiabilidade nos portais jornalísticos. Estes critérios, que guiam os jornalistas em todos os veículos, reforçam valores da produção da notícia, como relevância social, atualidade, apuração e checagem de fontes. A soma desses e de outros componentes resulta no compromisso ético e na credibilidade, indispensáveis à integridade do jornalismo, além de dar ao público um suporte para que conheça uma das formas de atuação da mídia (LEITÃO, 2012, p. 2). Por conseguinte, o nosso próximo passo é definir como será organizada essa ferramenta de comunicação – o Jornal Falado. 5.1.2 Organização do Jornal Falado O Jornal Falado servirá como um meio de comunicação diferenciado que levará ao ouvinte os destaques da edição impressa, os bastidores das reportagens, sonoras dos entrevistados e os comentários dos repórteres. Como será uma mídia para deficientes visuais a nossa preocupação será descrever imagens que contenham na edição impressa, utilizando os mecanismos do audiodescrição, ou seja, quando tiver algum elemento visual como ilustrações ou fotografias, estes deverão ser explicados/descritos ao ouvinte. Para as narrações das matérias em áudio, os alunos da própria disciplina ficarão encarregados de narrar os textos, com o intuito de não tornar o “áudio” cansativo para o ouvinte. Assim, como no impresso, folhamos imediatamente as páginas que não queremos ler, o Jornal Falado será dividido em faixas, com o intuito de facilitar a “leitura” do nosso público. Uma vez que o ouvinte não se interesse pela faixa que está escutando, basta prosseguir para a próxima faixa. Cada faixa terá uma trilha musical diferente e de acordo com o assunto exposto. No início de cada áudio, o locutor narra a página do jornal impresso, assim o leitor do impresso pode conversar com o ouvinte do Jornal Falado, tendo ciência da página/faixa de cada edição. Também utilizamos recursos com a alternância de locutores nos textos narrados. Esses elementos são fundamentais para que o ouvinte possa situar-se em qual página está sendo 30 narrada, identificando o início e término das locuções. Aquele que escutar a versão em áudio poderá ter a sensação que está “lendo” o jornal. Para a edição das locuções e sonoplastia das faixas do jornal, será utilizado o software Sound Forge, um editor de áudio digital que inclui um conjunto de processos, ferramentas e efeitos de manipulação de áudio. As escolhas das vinhetas, efeitos e trilhas musicais serão feitas através do banco de sons que o Laboratório de Rádio da Unisc possui e através de sites especializados, como: o Find Sounds16, o GR Sites17 e o e o Simply the Best18. Conforme a análise da pesquisa que aplicamos com os grupos de discussões de pessoas que possuem deficiência visual na internet, conseguimos embasar como será a produção e a execução do Jornal Falado. E assim, elaboramos uma relação, que dividimos em formato que o produto deverá conter, o conteúdo e como deverá ser o veículo que publicará este material. Resumidamente, aplicamos a seguinte tabela: Formato - Deve chamar a atenção do público e ser original - Leitura clara, bem articulada com boa dicção e entonação imparcial; - Inserção de vinhetas musicais entre uma matéria e outra, entre uma seção e outra. Conteúdo - Ser direto, objetivo, com menos sensacionalismo, pautas de diversidade cultural; - Informações compreendidas pela audição; - As notícias que possuírem mais relação com o visual. Exemplo: A queda de um meteoro na Terra. Deverá remeter a figura do meteoro. Como ele é, onde caiu, qual a sua constituição, etc. - Diversidade cultural; - Fatos que fogem a mídia normal. Veículo - Que o acesso seja prático, independente do meio. Outro ponto que merece ser observado, por meio da constatação da execução do jornal em áudio, do curso de Ciências Contábeis, é a adaptação do texto de impresso para o de rádio. Uma vez que nesta edição não realizamos esta adequação, os locutores ficavam sem fôlego ao final de cada frase longa narrada do jornal impresso. Este aspecto foi identificado, quando fizemos o jornal em áudio do Curso de Ciências Contábeis. Conforme Mcleish (2001, p. 19), a grande vantagem de um meio de comunicação auditivo sobre o impresso está no som da voz humana – o entusiasmo, a compaixão, a raiva, a dor e o riso. A voz é capaz de transmitir muito mais do que o discurso escrito. As técnicas de redação utilizadas pelo radiojornalismo deverão ser compreendidas 16 Disponível em: http://www.findsounds.com/ISAPI/search.dll Disponível em: http://www.grsites.com/sounds/ 18 Disponível em: http://simplythebest.net/sounds/MP3/sound_effects_MP3/industrial_mp3.html 17 31 pelos alunos que farão a transcrição do impresso para o áudio. “É preciso saber o que se quer dizer - e isso deve ser dito de forma direta, simples e precisa” (CHANTLER; HARRIS, 1998, p. 50). Segundo César (1990, p. 72) a comunicação pelo rádio é rápida e objetiva. Sendo assim, o locutor conta com a sua voz, com as músicas e com os efeitos sonoros para se comunicar. Os efeitos são registrados por uma infinidade de vinhetas e montagens realizadas pela produção técnica da emissora. Desta forma, utilizaremos a edição do Unicom Memórias19, produzido em maio de 2012, e na qual participamos da elaboração de reportagens, para esboçar como será a produção deste projeto. Utilizaremos o exemplo da página 19 (ver figura 2), reportagem conta a trajetória de vida de um senhor de 85 anos, filho de colonizadores alemães e que hoje passa grande parte do dia conectado na internet. Abaixo o script do jornal falado: TEC: Trilha musical LOC 1: Página dezenove.// LOC 2: Título./ Memórias de um vovô internauta.// LOC 3: Linha de apoio./ Aos 85 anos, Guilherme Stockey é exemplo de força de vontade, coragem e otimismo.// TEC: Efeito harpa TEC: Trilha musical LOC 2: Como faço para fotografar com temporizador?// TEC: Barulho de câmera fotográfica, disparo do flash LOC 2:E o sinal do flash, dentro de um círculo e com um traço na diagonal, diz o quê?/ 19 A versão digital do Unicom Memórias está disponível no link http://issuu.com/unicom-memorias/docs/unicom _mem_rias_2012 32 LOC 2:Essas forma algumas das típicas perguntas de um senhor de 85 anos, Guilherme Stockey, meu avô./ Recebi estas dúvidas em seu segundo e-mail, intitulado de help dois./ Na mensagem anterior, continha uma lista de questionamentos que o vovô internauta ainda não tinha desvendado em seu novo brinquedinho, uma câmera fotográfica semiprofissional./O seu Stockey, além de gostar de novas tecnologias, é um amante das redes sociais./ Leitor assíduo de jornais diários, expectador de telejornais e apaixonado por palavras cruzadas./ Mas se engana quem acha que ele sempre teve esta vida tranquila, de sombra e água fresca./ O octogenário é filho de colonizadores alemães./ Seus pais passaram por grandes dificuldades até fixarem moradia no Brasil./ Em busca da paz e fugindo de uma Alemanha em ruína, devido a Primeira Guerra Mundial, eles partem da cidade de Hagen, capital da Westfália, para o estado gaúcho./Desde cedo, ele conheceu na própria pele o significado das palavras lida, suor, cansaço físico e determinação./ Trabalhou como leiteiro e com o pequeno salário que recebia, custeava seus estudos./ Concluiu o Curso Técnico Agrícola./ Mas, ele queria mais e desejava mais./ Por isso, fez o concurso para Fiscal da Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil e foi nomeado para atuar em Cachoeira do Sul./ Sua aposentadoria veio há 30 anos./ Entretanto, o vovô não queria descansar. Resolveu ser professor do curso superior de Economia da Faculdade de Ciências Econômicas, Contábeis e Administrativas de Cachoeira do Sul./ E por falar em graduação, ainda quando era aluno de Economia, havia uma colega para lá de especial em sua turma. Era uma de suas filhas, a Annelise, que cursou Ciências Contábeis./ Ambos foram diplomados no mesmo dia. Uma emoção e tanto, para um senhor que estava beirando os 60 anos./ Inquieto, o vovô não parou por aí e fez especialização na área./ Na gaveta dos diplomas, ele tem guardado o de Técnico Agrícola Especializado em Pecuária, Economista e Pós em Economia pela PUC do Rio Grande do Sul./Seu Stockey domina a língua alemã e a espanhola, lê e entende o francês e o inglês, aprendidos por meio de muita leitura, sem auxílio de professor./Ele já criou pombos-correios, colecionou selos, foi chefe escoteiro e sócio do Lions, foi radioamador, e na época de solteiro, foi muito namorador./ Hoje, se dedica à internet, às redes sociais e às suas viagens./ Faltou citar seus dotes culinários, quando a família está reunida, ele vai para a cozinha e prepara um prato mais delicioso que o outro./ São receitas que só de lembrar dão água na boca./ Como o galeto, que só poderá ser servido acompanhado pelas polentas preparadas pela vó Helga./ Mas a limpeza da cozinha é tarefa das netas e filhas, que não mostram nenhuma empolgação com tamanha pilha de louças que as esperam na pia./ Como ele mesmo diz, o otimismo é a regra 33 de sua vida./ Será que foi por isso que conseguiu vencer tantos obstáculos e com tamanha energia?/// TEC: Efeito boing TEC: Trilha musical LOC 1: Imagem no alto da página, senhor Guilherme Stockey, olhando fotos e atrás destas fotografias, está o seu computador./ Imagem na lateral esquerda, embaixo da página, foto de bebê da repórter Daiana Stockey Carpes./ Logo abaixo desta imagem, a repórter conta o que motivou a escrever sobre este tema.// LOC 3: Meu avô é uma daquelas figuras que sempre tem histórias para contar./ Após escolher a temática do Unicom, Memórias, logo lembrei do vô Guilherme./// TEC: Trilha musical LOC 4: Fim de áudio Logo abaixo da locução da matéria, postamos no blog a sonora do entrevistado contando como passou no concurso do Banco do Brasil. O áudio está disponível no link http://unicomjornalfalado.wordpress.com/2013/05/27/memorias-de-um-vovo-internautapagina-19/. 34 Figura 4 – Imagem da página diagramado do Unicom Memórias 35 6 PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO O presente projeto é uma ferramenta de comunicação adaptada aos cegos. Para viabilizar sua execução, abaixo temos a descrição dos trâmites com os alunos responsáveis pela realização deste produto, previsão orçamentária, veiculação em mídia digital e plano de trabalho. 6.1 Organograma funcional Nos primeiros dias de aula, os acadêmicos matriculados na disciplina de Produção em Mídia Impressa, responsáveis pelo Unicom, receberão orientações sobre o cumprimento do Jornal Falado. Após decidirem as pautas que serão veiculadas na mídia impressa, o grupo deverá definir quais assuntos serão abordados no Jornal Falado. Os acadêmicos responsáveis pelo Jornal Falado serão divididos em três grupos distintos: Os roteiristas, aqueles que irão produzir o roteiro, adaptando o texto do impresso para o rádio, Os locutores, aqueles irão narrar o roteiro, Os editores de áudio, responsáveis pela edição das sonoras e inserção dos efeitos de áudio. Conforme o organograma (ver Figura 1), temos uma projeção da divisão que cada grupo de alunos irá executar para realizar esse projeto: Figura 5 – Organograma das funções dos acadêmicos para a construção do Jornal Falado Roteristas Locutores Editores de áudio 36 6.2 Previsão orçamentária Por ser um projeto universitário, realizado por acadêmicos, as gravações do áudio serão realizadas no Laboratório de Rádio do curso de Comunicação Social da Unisc, não haverá custos para a execução do Jornal Falado. Apenas deverão ser agendados previamente os dias e horários das gravações, para que não coincida com as aulas que utilizam o laboratório. As edições e postagens no blog serão realizadas no laboratório de informática, nas salas que possuem o software de edição em áudio sound forge. 6.3 Plano de trabalho Após a discussão sobre as pautas do Unicom e as funções que cada aluno irá exercer para a primeira edição do periódico do semestre. Iniciam-se as entrevistas com as fontes para a execução das matérias, construção dos textos e a diagramação das páginas. Após, o grupo responsável pela elaboração do Jornal Falado, fará a transcrição do texto impresso para o meio em áudio. As gravações, o armazenamento e a edição das locuções serão realizadas no Laboratório de Rádio, do curso de Comunicação Social, previamente agendada. Toda a execução do Jornal Falado se dará em duas semanas, período seguinte à finalização do impresso. A primeira divisão consiste na apresentação do Jornal Falado, definição do conteúdo do Unicom impresso e a execução das entrevistas, incluindo gravações em áudios das fontes das matérias. No segundo momento o grupo de alunos deverá selecionar as matérias que serão passadas para áudio, elaborar o roteiro, gravar os áudios, editar os áudios e publicar o conteúdo no blog. O terceiro processo se assemelha com o primeiro, pois como há duas edições do Unicom por semestre, os processos se repetem na segunda edição, que engloba a definição do conteúdo do jornal impresso, execução dos textos e diagramação da página. O quarto e último momento é praticamente uma cópia do segundo momento: seleção das matérias que serão passadas para áudio, elaboração do roteiro para rádio, gravação dos áudios, edição dos áudios, publicação no blog (ver Tabela 2). 37 Tabela 2 – Descrição das atividades e do período previsto Fevereiro Março Maio Abril Julho Junho - Apresentação da proposta do Jornal Falado, - Definição do conteúdo do Unicom X impresso, - Execução dos textos, - Diagramação do jornal. - Seleção das matérias que serão passadas para áudio, - Elaboração do roteiro para rádio, X X - Gravação dos áudios, - Edição dos áudios, - Publicação no blog. - Definição do conteúdo do Unicom impresso, X - Execução dos textos, - Diagramação do jornal. Todo o processo será feito pelos próprios alunos da disciplina. Tanto nas seleções dos materiais impressos que serão passados para áudio quanto na execução e edição dos áudios. Após a publicação do Jornal Falado no blog, os acadêmicos farão a divulgação deste conteúdo através de e-mails para entidades e associações que trabalham em prol da deficiência visual. 38 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A força desta proposta, acredita-se, está na intenção de inaugurar uma ferramenta de acessibilidade na comunicação, estabelecendo uma aliança talvez inédita, na esfera universitária, com a produção do impresso com o áudio (rádio), em uma plataforma digital, visando a inclusão dos cegos. Assim, justifica-se o projeto, também por estar em um movimento de ascensão em termos de acessibilidade e comunicação em pesquisas científicas e acadêmicas. Durante o XIV Intercom Sul, realizado na Universidade de Santa Cruz do Sul, nos dias de 30 de maio a 1º de junho de 2013, a pesquisadora júnior sobre Comunicação e Acessibilidade e acadêmica do 8º semestre de Jornalismo da Unipampa, Karolyn Petrucci apresentou no Intercom Junior o artigo “Fotojornalismo Acessível: Visões Fotoetnográfica da Fotografia como Ferramenta de Inclusão Social para Pessoas com Deficiência Visual”. Em seu relato a acadêmica expõe a importância de pesquisar sobre a acessibilidade na área da comunicação e a falta de bibliografias sobre o tema. Se a ideia for bem sucedida – e se crê que pode ser – pode-se contribuir tanto com a divulgação do jornal-laboratório Unicom, da Universidade de Santa Cruz do Sul e ainda criar uma consciência entre os acadêmicos do curso, que como profissionais da comunicação, devem pensar em não criar barreiras de comunicação entre aqueles que possuem alguma deficiência. Em um âmbito maior, este projeto possibilita ao acadêmico o aprimoramento das habilidades do jornalismo impresso e do radiojornalismo. De alguma forma esta ferramenta inaugura a participação do jornalismo de laboratório na inserção da acessibilidade, sendo um mecanismo eficiente de tradução da mídia impressa para os cegos. E foi com esse intuito que estivemos no gabinete do deputado estadual Mano Changes, apresentando o projeto de acessibilidade na comunicação20. Em conversa na Assembleia, o deputado elogiou a iniciativa e afirmou que vai levar a ideia adiante, podendo ser utilizado pela Escola do Legislativo. Segundo Changes, desde que foi convidado para assumir a Escola, tem pensado em meios de aproximar a sociedade da Assembleia, e este projeto com certeza teria aceitação. 20 O encontro foi registrado no blog do deputado Mano Changes. Disponível em: http://manochanges.blogspot. com.br/2013/03/comunicacao-para-deficientes-visuais-e.html 39 Figura 6 – Demétrio de Azeredo Soster, Daiana Carpes e o Deputado Mano Changes, durante reunião no gabinete do deputado para apresentação do projeto A proposta deste trabalho pode ser adaptada a qualquer meio de comunicação impresso, seja ele jornal ou revista. O que ressaltamos ao fazer essa tradução é, apenas, seguir nossas especificações, citadas anteriormente, para que o trabalho não seja em vão. Deste modo, estaremos possibilitando que um número maior de pessoas conheçam o que a mídia está divulgando em termos de notícias, reportagens, notas, editoriais, artigos, crônicas, entre outros gêneros jornalísticos. Durante os testes que realizamos para diagnosticarmos possíveis obstáculos na acessibilidade do blog do Unicom Falado, contamos com o apoio do funcionário da Unisc, Cristian Sehnem, que possui cegueira. Sehnem verificou que deveríamos utilizar ao fim de cada sonora, a seguinte fala: “fim do áudio” ou “fim da matéria”, como forma de indicar ao internauta que o áudio terminou. Outro item que incorporamos ao blog, por sugestão de Sehnem, foi uma pequena explicação, antes das sonoras, do funcionamento do play do áudio, pois como o blog é organizado com as postagens uma abaixo da outra, ao escutar as sonoras, o internauta cego, poderá se confundir, e achar que foi aberta outra página da internet, ao utilizar os atalhos do software de leitor de telas, poderá retornar a página que estava antes de entrar no blog do Unicom Falado, o que tornaria a navegação confusa. 40 Figura 7 – Printscren da postagem com as observações do funcionamento do play das sonoras Após a execução deste projeto, nos questionamos se o Jornal Falado poderia servir também como uma ferramenta de comunicação para os idosos, uma vez que leitura de jornais pode ser um obstáculo para este público, sendo que uma parcela deste grupo possui dificuldades para enxergar as fontes dos textos nos jornais, e ainda promover a inclusão digital, uma vez que o Jornal Falado está hospedado em uma plataforma da web. Outro grupo que poderá ser atingindo com este meio são os analfabetos funcionais, aqueles que possuem a capacidade de decodificar as letras, geralmente frases, sentenças, textos curtos e os números, porém não desenvolveram a habilidade de interpretação de textos, e assim, não criaram o hábito pela leitura. Diante destas observações, apontamos uma necessidade de constante revisão das práticas jornalísticas e comunicacionais, sempre buscando aprimoramento e inovação, em prol do público que queremos atingir. 41 REFERÊNCIAS AUDIODESCRIÇÃO. O que é. Disponível em: http://audiodescricao.com.br/ad/. Acesso em: 14 abr. 2013. BBC BRASIL. TV francesa faz programa de viagens com jornalista cega. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/03/120307_jornalista_cega_df.shtml. Acesso em: 05 jan. 2013 BRASIL.GOV.BR. O que é acessibilidade? Disponível em: http://www.brasil.gov.br/menude-apoio/apoio/perguntas-frequentes/o-que-e-acessibilidade. Acesso em: 4 jan. 2013. BRASIL. 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