Che Lagarto Hostel já tem 365 leitos na cidade
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Che Lagarto Hostel já tem 365 leitos na cidade
46 l O GLOBO Grandes redes concentram o caro mercado hoteleiro do Rio No Sofitel, preço chega a ser maior do que em NY e só perde para Paris Prefeitura quer evitar fama de ‘careira’ para a cidade l Economia l HENRIQUE GOMES BATISTA [email protected] Não devem faltar quartos nos hotéis do Rio para as Olimpíadas, grande temor quando a cidade foi escolhida para sediar o evento. A oferta de quartos deve crescer em 18 mil até 2016, bem acima da necessidade prevista pela organização, de 12 mil. Mesmo com a maior oferta de hospedagem, os preços continuam em alta, num mercado cada vez mais concentrado, a ponto de as diárias estarem mais caras aqui que em Paris, Roma e Nova York. Quatro redes —Accor (dona de marcas como Ibis, Mercure, Novotel, Sofitel e Caesar Park), Windsor, Grand Tulip e Othon — estão dominando o mercado de hotéis no Rio. Somente as três primeiras devem responder por 25% das novas acomodações que a cidade vai ganhar até os Jogos. O total nas três passará de 5.324 quartos para algo próximo a 9.500 —, sem contar novos projetos que poderão surgir. E os preços aqui são mais altos que em unidades das mesmas bandeiras lá fora. Uma pesquisa feita na semana passada no site da rede Accor, por exemplo, mostra que uma diária para o dia 23 de março custa R$ 447 no Mercure do Arpoador, valor que é superior aos R$ 407 do Mercure Tóquio, em Ginza. O Sofitel do Rio, em Copacabana, cobrava, também para o dia 23 de março, diária de R$ 770, acima do valor de quarto da mesma bandeira em Roma, Domingo 3.2.2013 Buenos Aires, Amsterdã, Nova York e Los Angeles. O preço carioca é o mesmo que o da bandeira Sofitel, também da rede Accor, em Londres e inferior a dois dos três hotéis da marca em Paris. Em um deles, a diária é de R$ 743. Eduardo Camargo, diretoradjunto de Desenvolvimento da Accor, afirma que o Brasil e o Rio, onde estão para abrir nove hotéis, são prioritários para o grupo e não descarta novos investimentos na cidade. Para ele, não está havendo concentração excessiva. Camargo lembra que, em 2012, a diária média do Rio ficou em R$ 373, contra R$ 268 em São Paulo: — Não há preços extorsivos, assim como ocorre com as passagens aéreas, o preço sobe quando há grande demanda. Mas com as inaugurações dos hotéis, os preços tendem a cair. Para Alfredo Lopes, presidente da seccional fluminense da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-Rio), a concentração em grandes marcas é uma tendência mundial. Além de ajudar na promoção do Brasil no exterior, profissionalizam hotéis antigos, muitos dos quais sofreram com o período em que as diárias do Rio, pela violência, chegaram a US$ 28. Mas ele vê espaço para os independentes: — Não é o Rio que é caro, o Brasil é caro. E temos um setor imobiliário muito aquecido, o que eleva os custos, e uma demanda forte. E há o câmbio: se o real não estivesse sobrevalorizado, em vez do 10º destino mais caro do mundo, como se diz, seríamos o 25º. l l Economia l Domingo 3.2.2013 O GLOBO l 47 Che Lagarto: hostel já tem 365 leitos na cidade Rede deve faturar US$ 10 milhões este ano. Fundador acredita que demanda no Rio continua aquecida HENRIQUE GOMES BATISTA [email protected] A três dias do réveillon, na Rua Paul Redfern, em Ipanema, era inaugurada a expansão no bairro do Che Lagarto, a rede de hostels que mais cresce na cidade. De origem argentina, o grupo, que pretende faturar US$ 10 milhões este ano, sabia que não podia prescindir de 150 camas do prédio, localizado em frente à principal unidade da rede no Rio. Com diárias para leitos que variam de R$ 70 a R$ 95 e quartos que vão de R$ 200 a R$ 300 em locais privilegiados da cidade, o Che Lagarto é um fenômeno no mercado de hospedagem da cidade. — Hoje, tenho 365 camas no Rio e 38 quartos próprios. Mas, se tivesse mais mil camas, teria demanda. Nossa taxa de ocupação é superior a 90% — disse Diego Giles, fundador da rede, que já está presente em cinco países do continente com 24 hostels e que deve ter 200 mil clientes no ano, a maior parte no Brasil. O preço mais baixo das camas e quartos garante o lucro. Mesmo assim, lembra o argentino, o preço do Rio é um dos mais caros do planeta. — Talvez em Tóquio os hostels sejam mais caros — diz. O motivo, para ele, é o alto custo imobiliário: — Um hostel precisa de boa localização. Não acredito nos novos em favelas. Mais que a localização, o que vale é o ambiente. Como o lema de buena onda (termo latino-americano para alto astral), Giles diz que seu cliente busca uma hospedagem além da frieza dos hotéis. — Aqui é impossível não compartilhar, não fazer amigos. Você não é um número, chamamos você pelo nome. E por isso abrimos os quartos privativos, para que os clientes que casaram continuem a usufruindo desse espírito. l MÔNICA IMBUZEIRO Filosofia. Giles vê ambiente como sucesso da rede: “Você não é um número” Acomodação é alternativa mais barata na Zona Sul Pelos preços, turista doméstico pode preferir Natal ou Fortaleza Com metro quadrado caro, região concentra hotelaria de luxo Antônio Pedro Mello, secretário de Turismo do Rio, não vê risco de concentração do mercado carioca de hotéis. Para ele, as grandes redes estão anunciando mais projetos porque já estavam aqui, mas há novos operadores, como Hyatt, Hilton e Vila Galé. E afirma que o governo está atento aos preços elevados dos hotéis: —O ideal é que o próprio mercado se regule, mas se isso não ocorrer, como na Rio+20, vamos fiscalizar. Não queremos que o Rio fique com fama de caro, mas temos que lembrar que todo o Brasil é caro, é só ver o índice Big Mac. Para Pieter Vader, presidente da BHG (da rede Tulip), a concentração não é um problema, pois há nichos de mercado. Ele crê que os preços se acomodarão com a alta da oferta. O maior risco, diz, é o crescimento desordenado em alguns locais: — Se a cidade não tiver uma boa agenda de eventos pós-2016, os hotéis da Barra dificilmente terão taxa de ocupação acima de 50%. Diante da alta dos preços das diárias nos hotéis tradicionais, os hostels aparecem como uma alternativa. Diego Giles, sócio do Che Lagarto, no Rio há dez anos — foi o segundo destino da rede que começou em Buenos Aires — tenta não associar o tipo de hospedagem à imagem de albergue. Para ele, hostel tem outro conceito. “Hostel é outra coisa, energia”, afirma: — Um hostel de Copacabana passou a integrar a rede Che Lagarto, inaugurando nosso sistema de franquia, e seu faturamento dobrou — conta o argentino, que estima serem necessários de US$ 500 mil a US$ 800 mil de investimento no hostel, além do prédio. As redes de hotéis que apostam no Rio têm preferido, principalmente na Zona Sul, crescer no segmento de luxo e alto luxo. A ideia é aproveitar o valioso metro quadrado da região, a demanda e os custos quase similares na construção dos hotéis. MENOS TURISTAS QUE ALICANTE Sonia Chami, diretora do Sol Ipanema, acredita que os preços cairão com o aumento da oferta, mas lembra que a orla da Zona Sul sempre será mais valorizada, como as regiões nobres das grandes cidades do mundo. Para ela, a concentração de hotéis em algumas redes pode mudar em breve. — Muitos clientes não querem ficar nesses hotéis que parecem o mesmo em todos os locais, e os donos dos prédios e dos hotéis sairão dessas franquias quando perceberem que não há tanta vantagem assim — diz Sonia, acrescentando que o governo deveria estar mais preocupado em atrair turistas do que divulgar pelo mundo que o Rio é caro. — Historicamente, o Brasil recebe seis milhões de estrangeiros, um terço deles vindo para o Rio. É uma quantidade menor que a cidade espanhola de Alicante. A compilação de preços globais do Hoteis.com mostra que, em reais, os preços das diárias no Rio subiram 33% desde 2009, contra 20% em Miami, 14% em São Paulo, 12% em Barcelona e 9% em Paris. Para Carolina Piber, diretora de marketing do site, isso pode ser um risco: — Os preços afetam mais os turistas domésticos que os estrangeiros. Quem procura praia, pode preferir Fortaleza ou Natal, onde as diárias são R$ 150 mais baratas que no Rio. Para Paulo Ramos, diretor de marketing da rede Windsor, que passará de 2.700 quartos para quase 4 mil, os preços do Rio ainda estão abaixo de grandes capitais globais: — Em todo o mundo, em épocas de grande afluxo de turistas, a hotelaria pratica tarifas premium, acima do normal. (Henrique Gomes Batista) l CLIMA É DIFERENCIAL, DIZ GILES Hospedagens mais econômicas estão indo para a Barra, Centro e Região Portuária. — Mesmo nos quartos privativos o clima é outro, não é um clima de hotel, as pessoas convivem nas áreas comuns, fazem passeios juntos. Então, para essas pessoas, em geral casais jovens, nosso quarto é uma opção aos hotéis — diz. — Esse nicho de hotéis mais econômicos tende a ser suprido pelos hostels. O Rio também tem cada vez mais hotéis em suas cidades vizinhas, repetindo um fenômeno que ocorre em outras partes do mundo — afirma Luiz Gustavo Medeiros Barbosa, um dos coordenadores do núcleo de Turismo da Ebape/FGV. Para Barbosa, não há risco de concentração no mercado hoteleiro: — O mercado carioca ainda é pouco concentrado, se parece muito com o de Paris — explica o coordenador. (Henrique Gomes Batista) l Hoje na web oglobo.com.br/economia Punta del Este atrai investidores estrangeiros interessados em construções de frente para o mar l URUGUAI: Número de viajantes no mundo bateu recorde em 2012: 1,035 bilhão l TURISMO: l PRODUÇÃO ARTESANAL: Microcervejarias proliferam nos Estados Unidos em meio à crise. Só em 2010, surgiram cerca de 800