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2 EXPEDIENTE Editorial ASSOCIAÇÃO DOS EX-ALUNOS MSC N os dias 27 e 28 de Agosto, teremos Encontro em Pirassununga. Durante muitos anos, o programa das atividades tem sido o mesmo, invariável. Se observarmos bem, a programação do sábado sempre deixou muito a desejar. Muito tempo ocioso e, após o almoço no Beira-Rio, sempre ocorreu uma dispersão geral do pessoal que só voltava a se reencontrar à noite para a reunião no salão nobre. Isso precisa ser revisto. O ideal seria fazer com que todos permanecessem unidos num mesmo ambiente, o que vem a facilitar o bate-papo, o entrosamento e o prazer do reencontro de amigos e irmãos. E qual é o melhor lugar para isso? Claro, a própria Escola Apostólica com seu ambiente aconchegante e seu espaço conhecido por todos que ali viveram na adolescência, brincando, estudando e rezando. Então, a Diretoria achou por bem modificar essa rotina, abolindo da programação o almoço no Beira-Rio, mas não impedindo, claro, que almocem lá aqueles que o desejarem. Na verdade, muitos não o freqüentavam por não comerem peixe e outros preferiam assar uma carninha no Barrocão. Já começava por aí a dispersão geral. Decidimos, então, com prévia autorização da direção da Casa, realizar no seminário o nosso almoço, utilizando as instalações do salão da Comunidade, anexo à capela. Esposas de nossos colegas e outras mulheres daquela Comunidade já se prontificaram a assumir a cozinha, o que barateará em muito o custo daquele almoço comunitário. O resto da tarde daquele sábado poderá ser preenchido com brincadeiras, jogos de cartas, de xadrez, palestra ou outras. Esse mesmo recinto coberto e confortável servirá para o lanche de sábado à noite, evitandose o sereno e o frio. Não percam. Vamos nos reunir mais uma vez. João Baptista Gomes Presidente REDATORES DESTA EDIÇÃO Raimundo José Santana, O Sombra, Wilmar Daleffe, Walter Figueiredo, Carlindo Maziviero, Arlindo Giacomelli, Wolf Von Zarnen, Antonio Valmor Junkes, Afonso Peres da Silva Nogueira, Marco Rossoni Fo, Lupo da Gubbio, Claudio Carlos de Oliveira, Ézio Américo Munnari, Gino Crês, Alberto José Antonelli e João Costa Pinto. DESIGNER GRÁFICO Marcelo Silva Calixto (11)3476-9601 INTER EX Julho/2011 Estr. Armando Barbosa de Almeida 1500 Residencial Rancho Grande Cx Postal 116 - Cep: 07600-000 Mairiporã-SP Tel: 0xx11-4604-3787 Diretoria e Inter-Ex: [email protected] DIRETORIA EXECUTIVA Presidente: João Baptista Gomes ........(l1)4604-3787 Vice-Pres: Waldemar Checchinato ....(11)4591-1192 Secretário: Walter Figueiredo de Sousa .(31)3641-1172 Tesoureiro: Paulo Barbosa Mendonça (l9)3542-3286 Dir. Espir: Pe. Benedito Ângelo Cortez ..(11)3228-9988 CONSELHO FISCAL - TITULAR José Carlos Ferreira..........(l9)3541-0744 José Barbosa Ribeiro........(35)3465-4761 CONSELHO FISCAL - SUPLENTE Carlos Savieto ..................(l9)3671-2417 Afonso Celso Meireles.....(l1)3384-7582 REGIONAIS Ibicaré André Mardula ................(49)522-0840 São Paulo Marcos de Souza.............(11)3228-5967 Campinas Jercy Maccari................... (19)3871-4906 Pirassununga Renato Pavão ................. (19)356l-605l Bauru Gino Crês.........................(14)3203-3577 Itapetininga Sílvio Munhoz Pires ........(15)3272-2145 S. José dos Campos Natanael Ribeiro de Campos..(l2)3931-4589 Itajubá José Benedito Filho...........(35)3623-4878 COORDENADORIAS Bol.Inf. Inter Ex João Baptista Gomes..........(11)4604-3787 (Cel)9976-1145 DIAGRAMAÇÃO Marcelo Silva Calixto......(11)3476-9601 CARAVANA Moacyr Peinado Martin....(11)6421-4460 ATOS RELIGIOSOS Daniel R Billerbeck Nery...(11)6976-5240 Edgard Parada....................(16)3242-2406 Lásaro A P dos Santos.......(11)3228-9988 3 Julho 02- José Machado ................................ (14) 223-5898 02- Mário Walter Decarli .......................(11) 4654-1351 02- Hernani Os...................................(35) 3622-4596 08- Joaquim Vieira Cortez .....................(35) 3622-1991 10- Oswaldo Muller .............................(19) 3869-1474 11- Gino Crês ..................................... (14) 230-3577 18- Ângelo Zampaulo ...........................(19) 3241-9615 20- Adeval Romano .............................(17) 3464-4425 22- Gerard G. J. Bannwart ....................(15) 3646-9499 26- Alberto Maria da Silva .....................(13) 3227-5096 26- Luiz Gonzaga Rolim ......................... (11) 619-7613 27- Leonel José Gomes de Souza .............. (15) 552-6890 28- Marcos Lelis Pinto ........................... (35) 621-4710 30- Paulo Figueiredo ............................(31) 3577-0225 Agosto 03- José Gaspar da Silva ........................ (35) 622-2591 07- Afonso Peres da S. Nogueira ............... (12) 552-5848 09- Antônio Henriques ..........................(11) 5184-0160 10- José Carlos Barbosa ........................(35) 3645-1151 12- Alberto José Antonelli .....................(13) 3227-8597 13- Benedito Coldibelli .........................(19) 3223-8597 15- Isaac da Silva Brandão .....................(11) 3611-3918 15- Benedito Ângelo Ribeiro.................... (11) 266-9620 15- José Raimundo Soares ...................... (12) 281-1803 18- Vanderlei de Marque .......................(11) 4127-4220 19- Luiz Gonzaga de Almeida .................(31) 3571-1643 26- Walter Figueiredo de Souza...............(31) 3641-1172 26- Manoel Evaristo da Costa .................. (35) 621-1310 Setembro 03- Marcos Mendes Ribeiro ..................... (12) 281-3321 04- Douglas Dias Ferreira ....................... (19) 571-1118 090913151818202323282930- Manoel Pereira da Costa Vitor Fernandes Lima ......................(21) 9693-5943 Geraldo Augusto Alkmin .................... (35) 622-3274 Carlos Magno Antunes Pereira ............. (15) 232-1585 José Manoel Lopes Filho.................... (14) 223-3399 José Fábio Correa ..........................(35) 3623-4819 Rosalimbo Augusto Paese..................(19) 3255-6622 Márcio Antônio Nunes ....................... (35) 281-1477 José Camilo da Silva .......................(19) 3828-1221 Marcos de Souza ............................(11) 3313-4551 Rubens de Souza ............................. (19) 561-4462 Geraldo José de Paiva .....................(11) 3735-3014 Outubro 02- Licínio Poersch ..............................(45) 226-6462 04- Luiz Carneloz ...............................(11) 6940-3758 04- José Carlos B. Teixeira ....................(16) 236-6341 05- Benedito Antunes Pereira .................(11) 4655-4215 06- José Benedito Ribeiro .....................(14) 3218-8573 09- Côn. Carlos Menegazzi.....................(14) 3278-1414 09- Edson Marques de Oliveira ................. (15) 271-1022 12- Pedro Tramontina ..........................(11) 4232-5962 12- João Baptista M. Cirineu ................... (15) 271-2347 13- Afonso Bertazi ............................... (19) 524-0494 14- Alderico Miguel Rosin ....................... (19) 582-1021 16- Sérgio Luiz Dall” Acqua ..................... (47) 435-5708 17- Geraldo Luiz Sigrist ........................(19) 3255-1732 20- Benedito Ignácio............................(11) 5531-0031 20- Nilo Jorge F. da Silva.......................(21) 2701-7242 28- Waldemar Chechinato .....................(11) 4591-1192 29- Agostinho Rafael Rodrigues ...............(21) 3468-5567 30-José Tadeu Correa ..........................(35) 3623-4767 Ibicaré - 2011 Da E para D: Alzemiro Basso, Ivo Luiz Pasinato, Sadi Pierdoná, Valdir Rebelatto, João Baptista Gomes, Valdir Pagnocelli, André Mardula, Mauro Pavão, Sérgio Dall´Acqua, Moacyr Peinado, José Benedito Filho, Moacir Dacorégio INTER EX Julho/2011 4 Palavra do Leitor Ibicaré - 2011 “Que bom que vocês lembraram-se do velho aqui, velho eu, não o Papai Noel! Estou arrumando as malas para Pouso Alegre, vou sentar praça lá. Completei 47 anos como vigário da paróquia São Sebastião, em Amparo, sou emérito. Tenho que dar lugar para outro e, como dizem os franceses “Au revoir”. Sou muito grato aos Missionários do Sagrado Coração” (a) Pe. Francisco de Paiva Garcia “Sinceramente, foi para mim um grande prazer receber sua carta, que veio reascender dentre as cinzas do meu saudoso passado, uma chama daqueles tempos felizes em que estudei na Escola Apostólica de Pirassununga e, depois, no malfadado noviciado de Itapetininga, onde fiquei alguns meses. Minha satisfação é maior por sabê-lo vivo a atuante à frente dessa Associação, à qual quero passar a pertencer daqui pra frente, pois me sinto um naufrago nos mares da vida. Explique-me como posso fazer para ser reintegrado a essa Associação. Estou ilhado na vida, quase à beira do suicídio, separado da família, morando sozinho, não tenho contato com ninguém e, então, pertencer de novo a essa Associação de ex-alunos MSC será a minha tábua de salvação.” (a) Elias José Alves “Dediquei 36 anos de minha vida ao trabalho pastoral. O Diácono não era remunerado. No fim do meu mandato como Diácono, Dom Nelson, nosso bispo, mandou que as paróquias passassem a pagar um salário por mês para cada diácono. Não tenho participado dos Encontros dos ex-alunos por não estar sempre com disposição para viajar. De vez em quando sou chamado para dar aulas de parapsicologia para o quarto ano de teologia que tem nas paróquias da diocese de Santo André. Segue um cheque de minha contribuição. Agradecendo pela atenção, desejo que o passeio a Ibicaré seja com imensa alegria.” (a) Diácono Pedro Tramontina INTER EX Julho/2011 “ Sou esposa do finado Arnaldo do Carmo Cardoso e Silva, ex-aluno do seminário da congregação dos MSC. Recebi sua carta e peço desculpas por não ter comunicado seu falecimento ocorrido há doze anos. Em 1997, após o último Encontro em Pirassununga do qual participou, voltou muito feliz, porém, começou a sentir-se mal com dor no peito. O médico disse que ele estava enfartando, mas foi socorrido a tempo. Fez os tratamentos recomendados durante um ano, mas, na madrugada de 12 de setembro de 1998, confortado pelos sacramentos, foi morar junto de Deus e Maria Santíssima. Esperando sua compreensão, despeço-me desejando ao senhor, sua família e a todos os ex-alunos MSC as mais copiosas bençãos de Deus”. (a) Alcioneida Formoso Cardoso e filhos “Recebi sua carta. Muito feliz pelo seu abraço fraterno. Você está querendo restabelecer contato e saber se ainda tenho interesse de voltar ao convívio. Sem dúvida! É muito importante reencontrar colegas afastados há muito tempo. Deixo aqui o meu cordial cumprimento a você e a toda a sua Diretoria que tanta surpresa e emoções nos proporcionam nos Encontros e nas mensagens contidas no Inter-Ex, produtos vitais de sobrevivência desse grupo fraterno de ex-seminaristas MSC. Que Deus os abençoe. Certa ocasião, a um bom tempo atrás, disse à minha mulher: o que aconteceu com a Associação e o Inter-Ex? Não o estamos recebendo mais! Quando o recebíamos, era a leitura número 1. Lia, relia ... era sempre um relembrar. Havia constantes relatos de casos, ocorrências e pequenas histórias de nosso passado. Esse relembrar justifica o quanto aquele período deixou marcas na alma de cada um de nós. Caro amigo, foi tamanha a surpresa ao retirar, no meio das correspondências, sua carta a mim endereçada. E logo do Presidente, solicitando meu retorno ao convívio dos ex-alunos MSC. Com toda certeza, é o meu maior desejo retornar, principal- 5 mente agora aposentado e com todo o tempo para esses eventos. Sua carta para mim foi como uma ressurreição. Um abraço afetuoso a você e aos colegas que de mim eventualmente pedem presença. Que Deus lhe dê saúde, força e abençoe seu abnegado trabalho. Sei por experiência o quanto é árduo ser líder de um grupo tão esparso e heterogêneo.” (a) Ernesto Schaffrath “Nossa reunião de ex-padres em Guararema Estiveram presentes Edmundo Vieira Cortez e Maria (organizadores desse evento), Luiz Xavier Peres e Cida, Geraldo José de Paiva e Cristina, Lazinho e Sandra, João Luiz e Vilma, Vanderlei dos Reis Ribeiro, Afonso Bertasi, José Alberto Antonelli, João Costa Pinto, Meire, Silvia com esposo e dois filhos. Presença especial do padre Humberto, representando o provincial, padre Ângelo Cortez. A reunião se desenvolveu dentro do espírito de confraternização característica desses nossos Encontros, iniciando-se pela alegria da recepção de quem chegava por quem já havia chegado. Padre Humberto trouxe um incremento especial para a reunião, apresentando álbuns de fotos daqueles antigos tempos que não saem da memória e livros de atas escritos pelos alunos ao longo dos anos. Os primeiros que chegaram puderam, após um bem sortido café, fazer um passeio por aquelas fotos e por aquelas histórias, que ficaram expostas até o final do encontro. A seguir, houve uma reunião com todos os colegas presentes para ouvir o padre Humberto e proceder à troca de idéias e vivências, havendo até um princípio de discussão de temas dogmáticos e teológicos. Desta vez as mulheres não participaram desse círculo, achando que seria uma reunião mais de interesse dos homens. Mas, não deixaram de exercer a sua função de provedoras, pois além de prepararem a mesa da refeição com os quitutes trazidos em abundância por todos, ainda agüentaram a fome por longo tempo, uma vez que a reunião dos homens não queria findar, tão interessante estava. Logo após a refeição, o padre Humberto se despediu para retornar aos seus afazeres e compromissos de final de semana em Pirassununga. Os demais colegas também, aos poucos, foram se retirando, não sem antes deixarem o valor acertado com a Congregação pela utilização daquela casa. Todas as ausências foram muito sentidas, mas, em especial, a do Antonio Brogliatto que passa por recuperação de uma cirurgia e a quem todos dirigiram suas orações e votos de total recuperação. Como perspectiva para o próximo encontro, ficou o convite do padre Humberto para que se realize, ainda este ano, no sítio São José do Barrocão, dando oportunidade até para um aprofundamento de temas levantados nesta reunião. Como organizador do evento, foi indicado o Afonso Bertasi, que aceitou prazerosamente a incumbência.” (a) Vanderlei dos Reis Ribeiro “Obrigado pelo último número do Inter-Ex. Gostei muito da capa, que me trouxe à lembrança a capela de Pirassununga, onde nos reunimos tantíssimas vezes, onde aprendi a “ajudar a missa” (com o padre Humberto Capobianco, meu “anjo da guarda”) e onde fizemos tantas vias-sacras, também reproduzidas na foto. O que me surpreendeu foram os bancos: despojados e duros! Não me lembrava mais de tanta aspereza. Apreciei muito a entrevista do Vilmar Daleffe relativa a você; não imaginava quanta coisa importante você fez na vida! O Inter-Ex, como sempre traz matérias interessantes, redigidas em geral com correção e brilho. Como já escrevi uma vez, o ensino do Português nas escolas Apostólicas da Congregação era de excelente qualidade. A ilustração fotográfica de “Meu Noviciado” me despertou muita recordação, sobretudo dos que estavam na Poési, quando entrei em 1947. Abelardo, Ibicaré - 2011 INTER EX Julho/2011 6 Ibicaré - 2011 Edson Niehues, Vitorino Alexandre Oro, Ivo Ruiz Pasinato, Valdecir A. Daspasquale, Jerci Maccari, Fila de trás: Lásaro A. Pereira dos Santos, ?. Daniel R Billerbeck José Cirino, Pródigo, Henrique Roberto, “Figão”, José Romão, Laureano e Maia, saudades daquele tempo! Não me identifiquei, contudo, absolutamente, com a imagem que o articulista, bom escritor, apresenta do Pe. Adriano Seelen. Aliás, a foto do Pe. Adriano com o círculo ao redor da cabeça, já sugeria a direção do artigo. Obviamente, trata-se, já a partir do título (Meu noviciado), de uma visão do autor, isto é, de como ele vivenciou aquele tempo e, em particular, a figura do mestre de noviços. Como tal, padre Adriano é descrito a partir da subjetividade do autor e, parece-me, traduz mais o noviço do que o mestre. Sob essa ótima, nada a reparar. Conheci o padre Adriano Seelen desde seus primeiríssimos tempos de Superior da Escola Apostólica (1947), ao longo dos seis anos que lá passei, e no Noviciado (1953) quando tanto ele como a minha turma nos mudamos para Itapetininga. Conheci-o também anos depois, quando em Cunha, na Vila Formosa e, finalmente, em São José do Rio Preto. A imagem que tenho dele difere completamente da que é oferecida no artigo em pauta. Sem pretender dizer que o padre Adriano sempre acertou (concordo que o episódio da expulsão do Paulo Apóstolo foi totalmente além da medida e traumatizou sobretudo os alunos dos primeiros anos, entre os quais me encontrava) e sem negar a influência indevida exercida pelo padre Donato, minha experiência com o padre Adriano, nos seis anos de Pirassununga e no ano do Noviciado, afina-se muito mais com o testemunho do padre José Roberto Bertasi, na página 5. Anos depois do noviciado, encontrei o padre Adriano em muitas circunstâncias. Lembro-me de que ele estava muito mais solto do que nos anos de Pirassununga e Itapetininga. Tinha acontecido o Concílio, tinha havido a experiência da Província com o curso “Christus Sacerdos, e tinha mudado a maneira de viver as relações humanas. O padre Adriano deixou a distância em que o víamos quando adolescentes e se tornou um igual, provavelmente porque também nós crescêramos. Tive com ele conversas profundas e calmas INTER EX Julho/2011 sobre o sentido da vida, da vida religiosa, dos afetos humanos, e por aí vai ... Padre Adriano transmitia, nesses encontros, a tranqüilidade de um homem vivido e de alguém sempre desejoso de entender mais. Para quem não sabe, seus últimos meses em São José dó Rio Preto foram acompanhados de perto pela letra e música de “Pourquoi, Seigneur, as-tu fait la nuit si longue, si longue pour moi?”, se não me engano do músico jesuíta J Galineau. Quero, então, deixar registrada minha discordância em relação ao quadro composto pelo articulista do padre Seelen. E, como última observação desta Palavra do Leitor, gostaria de obter confirmação de que o padre Adriano tinha realmente um piano de cauda no quarto, coisa de que nunca ouvi falar. Sei que ele, nos últimos anos de vida, dizia que só então começava a tocar Chopin.” (a) Geraldo José de Paiva “Não nos conhecemos pessoalmente, mas o fato de ter pertencido à Congregação dos MSC faz com que o considere um irmão. Apesar dos quase 40 anos que deixei a Congregação, (19581963 Ibicaré e Pirassununga) sinto-me ainda profundamente ligado a ela e acompanho todos os acontecimentos que posso. Como mudei de endereço e não quero perder o contato com os ex, queira atualizar os meus dados. Acabei de ler o Inter-Ex de dezembro e fiquei muito emocionado com os depoimentos e lembranças dos colegas. Meu novo endereço: Rua Tapajós, 850 E Condomínio do Sol II, Bloco M, Apt° 203, Cep 89812-465 – Chapecó-SC Fone (49)33234993” (a) José Luiz Zambiasi “ Foi com grande satisfação mesmo que recebi a sua carta. Jamais poderei esquecer a Associação dos ex-alunos porque, até hoje, considero o melhor período de minha vida, o tempo q u e 7 fui aluno MSC. Desde quando nasci, estive ligado a essa Congregação, ou seja, nasci a 1 quilômetro do sítio dos padres, fui batizado naquela capela e quando mudamos para a cidade, fomos morar a 50 metros do colégio. Fui coroinha desde os 8 anos na antiga capela do Rosário e estou toda hora passando em frente ao nosso querido colégio e, ir para aquela região do sítio, só traz boas recordações da infância porque foi ali que vivi os primeiros anos de minha vida. Não sei se você está sabendo, mas a estrada que leva ao sítio está toda asfaltada, graças ao bom prefeito que temos atualmente. Continuo morando no mesmo endereço, trabalhando no mesmo emprego, apesar de ter tempo de sobra para aposentadoria. Farei todo o possível para estar no próximo encontro” (a) Claudio Picolli “Fiquei muito contente em receber sua carta querendo saber por que não tenho comparecido aos encontros, se mudei de endereço ou se não tenho mais interesse em pertencer à Associação. Não mudei de endereço e não sei por que deixei de receber o Inter-Ex. Não tenho comparecido aos encontros mais por comodismo, mas não tenho esquecido vocês. Sempre que me encontro com o Silvio Munhoz ou com o Jorge Ferreira, pergunto como foi o encontro e as pessoas que foram. Estou até pensando em promover um encontro para nós aqui de Itapetininga, no meu sítio, mas ainda estou estudando essa possibilidade e entrarei em contato com você. Aproveito para mandar o endereço de mais dois ex-alunos, que são: Olegário Stessuk Seabra e Afonso Garcia de Carvalho.” (a) João Paulino Seabra Há coisas que acontecem e trazem muitas alegrias e grandes emoções. Sua carta, além da grande surpresa, foi uma dessas coisas maravilhosas. Lembro com muito carinho de você, do saudoso Sarmento, de seu irmão Amaro, do Amauri dos Reis (o soleil), do Gerard Banwart e de muitos outros cujos nomes vão desaparecendo da tela do meu PC cerebral (velhice). Quanto ao seu abraço estou recebendo com alegria e emoção. Quanto ao meu retorno, digo-lhe que, há tempos, fiz algumas ligações para a Igreja das Almas onde, segundo informações anteriores, a diretoria se reunia. Nunca recebi resposta alguma; creio que as pessoas que me atenderam não comunicaram a vocês. Lembrar de vocês? Lembro-me todas as noites (mesmo!!!!), quando rezo no meu manual das novenas de Nossa Senhora do Sagrado Coração – Lembrai-vos. Recordo quando nos encontramos no sítio São José do Barrocão, você dizer que queria ouvir o meu agudo que existe nessa música (risos).” (a) Geraldo Alberto Del Nery “Ao ler o último Inter-Ex, fiquei pasmo com a memória do colega e conterrâneo Adailton Chiaradia: ele consegue até se lembrar de meu número no seminário (343), coisa de quase sessenta anos atrás. Não é à toa que ele é o “cara” no xadrez (a) Raimundo José Santana. “Com referência ao último Boletim recebido ontem à tarde e devorado ontem mesmo à noitinha, uma única palavra: PARABÉNS a todos. Parabéns aos articulistas incluindo a mim que também colaborei e fui aceito. Desta vez passei, mesmo deixando pêlo na cerca como soia dizer o saudoso padre Salvador Andreetta. A Redação é exigente, com o que concordo plenamente. A “tesoura” funciona na hora certa e com imparcialidade. É a regra do jogo, com que também concordo plenamente. Fortiter et suaviter, como bem caracterizado foi o Redator-Chefe. Aproveitando a oportunidade quero Ibicaré - 2011 INTER EX Julho/2011 8 Ibicaré - 2011 parabenizar novamente a mesma Redação pela capa daquele Boletim. Maravilhosa a idéia de estampar a foto interna de nossa antiga e saudosa capela do seminário. Voltei no tempo depois de abrir o envelope que me trouxe este presente. Magnífica idéia, louvada iniciativa! Novamente me vi diante daqueles quadros, reproduções em branco e preto dos originais o pintor holandês Peter gerardt. Entre um quadro e outro uma coluna e capitel e de linhas retas e forma quadrangular alternada com um arco de estilo gótico. Revi a mi mesmo diante dos “passos” do Cristo, cumprindo eu a penitência imposta por meu confessor. Ou então, nos dias de bonança, implorando ao Mestre a necessária força para carregar o madeiro dos deveres quotidianos sem me revoltar com a escolha feita. Sabia e aprendi que tuido na vida tem um preço antecipado, mesmo que negociado. E quantas vez4es tive que negociar com o Mestre, o que ainda continuo fazendo. Quantas e quantas Vias Sacras fizemos em conjunto cantando ao som do harmonium o tradicional “Oh Jesus Crucificado, meu senhor é condenado por teus crimes, pecador, por teus crimes, pecador.” Melodia de uma pureza impar, palavras tocantes e singelas, lágrimas quentes e regeneradoras.... Sentimentalismo barato? Voltando, porém, ao que me interessa, a dor maior é de saber que aqueles saudosos quadros da Via Sacra da capela interior do seminário desapareceram misteriosamente, como que abduzidos por extra-seminaristas. Quando voltei a Pira com a nomeação de professor na Escoa Apostólica, a capela ainda existia, mas não mais funcionando como tal. Os quadros da Via Sacra ainda estavam lá. Eram reproduções raras, difíceis de serem encontradas aqui neste país, e que foram trazidas da Holanda pelos padres da Congregação.. Além do espírito apostólico desses bravos sacerdotes, quantas outras coisas materiais eles de lá nos trouxeram. Ainda paira no ar a grande interrogação: Onde foram parar aqueles quadros tão preciosos e raros?” (a) Ézio Américo Munnari INTER EX Julho/2011 Meu caro Wolf Von Zarnen. Dizem que quando Villa Lobos foi a Paris pela primeira vez para uma apresentação pública de sua obra, ele assim falou a Vercingetórix e aos demais gauleses: “Eu não venho aqui para aprender, e sim para ensinar”. Não é que você está dando uma do Villa? (nenhuma alusão ao Pancho Villa) ... Você está me saindo como um outro Paulo Autran; você não está pedindo aplausos, você está nos exigindo aplausos, e muito merecidamente, Parabéns, meu caro! Seu artigo, Lobo Sarnento, é de sacudir a gente pelos fundilhos. E, pelo visto, você deve ser também um germanófilo nota onze, como eu. Seu artigo, mesmo antes de ser publicado, já deu o que falar. O citado padre Donato foi o gonzo de toda essa estória. Uma “Triste Tragédia”, apesar de a sua terminar na Queda do Muro. Tive um famoso quid pro quo com o supra citado dito cujo que terminou felizmente bem. As pessoas mudam com o tempo. Sinal de boa evolução. Ele também mudou depois que se mudou. E mudou para melhor. Anos mais tarde fui visitá-lo na Granja W. Neto. Constatei que ele se tornara uma outra pessoa e nossa amizade se estreitou mais ainda. Mesmo na escolha dos temas nós nos assemelhamos. Daí pensarem que nós somos nós. Qualquer senelhança, Redactor Magnus é mera semelhança.” (a) Manelo Biondo “No dia 14de abril, quinta-feira, véspera do Encontro em Ibicaré, o Bruno Neovalt, o Edson Niehues, o Frigo, o Garbossa, o Ivo Pazzinatto, o Odalécio Scopel, o Paese, o Rossoni e eu, indo os casais com suas digníssimas e lindíssimas consortes, reunimo-nos no Restaurante Velho Madalosso, num ágape comemorativo. É de nossa intenção repetir o evento todas as quintas-feiras que vierem anteceder o encontro de Ibicaré. Para engrossar fileiras no próximo encontro, aguardamos paulistas e mineiros que, em tese, viriam até Curitiba na quinta-feira, e na sexta-feira, no despontar da 9 aurora, logo depois de sorvermos um chimarrão bem quente e bem amargo, rumaríamos todos para o Sul, em ruidosa carreta de impor inveja a qualquer político. Estão todos convidados. Quem quiser participar, aguardo contato antecipado para qualquer necessidade (reserva de hotel, por exemplo). Até que enfim, o Sombra deixou de me aporrinhar. Somente na última edição (março/11) é que ele largou de meu pé, ou melhor, da minha barbicha, a qual ele insiste em comparar com a do Rasputim. Nas minhas conjecturas, presumo ter descoberto a identidade dele. Em Ibicaré ele surpreendeu, vestindo-se de pai-de-santo, enquanto não se cansava de fazer anotações numa caderneta. Se for quem eu suponho ser, o Sombra não deve se esquecer dos idos de 1969/1970 quando, aqui em Curitiba, mais precisamente na rua 13 de Maio (do número não me lembro), ele e eu, na qualidade de acadêmicos em penúria, dividíamos um apertado quarto de pensão. Em pobreza extrema, a fome e o frio que passamos foram recíprocos. Portanto, senhor Sombra, ao divagar, devagar! Por fim, agradeço de coração, a presença de todos em Ibicaré, principalmente a de mineiros e paulistas que chegaram com os trazeiros quadricularmente achatados, reproduzindo o molde das poltronas do ônibus e cujo sacrifício da viagem nós, sulistas, só podemos compensar com o calor do nosso abraço” (a) Antonio Valmor Junkes “Não sei o que houve desta vez, não sei a razão, só sei que esse Encontro de Ibicaré foi diferenciado dos demais. Tudo aconteceu de forma semelhante, mas para mim algo aconteceu. Encerrada a festança, voltei ao hotel e fui descansar, pois estava pregado e confesso ter sido tomado por uma profunda nostalgia que por pouco não me levou ao pranto. Uma emoção muito grande tomou conta de mim e fiquei sem vontade de voltar para casa. Arrisco dizer que pode ter sido a forte emoção de reencontrar vários colegas que não via há cinqüenta anos. Até agora Ibicaré e toda a sua paisagem continua encracalada em mim” (a) Jerci Maccari “Você, Jerci Maccari, tem razão ao dizer que este encontro foi diferenciado, realmente, graças ao colega Dall’Acqua que não mediu esforços para trazer novos colegas. Nessa tarefa tivemos uma boa ajuda da Internet que, por sinal, deveremos explorar mais para o próximo encontro. Pode ficar certo, o encontro foi muito legal mesmo e, pelos abraços calorosos que recebemos, sentíamos a emoção dos colegas, o que só não terminou em choradeira porque não fizemos aquela rodada de despedida no final com aquelas canções saudosistas de nosso tempo. Olha, se isso fizéssemos, com certeza faltariam lenços para tantas lágrimas. O sucesso de nosso encontro, na verdade, deve-se creditar à participação de todos que se entregaram no evento de corpo e alma, onde foi visível no semblante de cada um a alegria espontânea que brotava por estarmos juntos naquele momento. Fato que ficou evidenciado, principalmente naquela ocasião mais íntima do encontro, foi fazer-se a apresentação dos novos em um local muito especial, principalmente para os colegas que estudaram em Ibicaré, ou seja, na capela interna, onde diariamente assistíamos a missa e, também, como foi lembrado por alguém, onde fazíamos nossas confissões diárias ...não sei por quê! Quanto à parte da gastronomia, temos de dar o atributos ao colega Ademar Pivetta que, realmente, matou a pau com sua equipe competente e incansável, preparando com muito carinho todas as refeições. Pivetta, você foi dez nesse quesito! Muito obrigado em nome de toda a diretoria da Regional Sul.” (a) André Mardula “Quero endossar os comentários do Maccari e do Mardula sobre o nosso encontro de Ibicaré. Dessa vez foi tudo muito especial. Ao chegar a Ibicaré, juntamente com o lendário Vilmar Daleffe, fomos ao hotel do Seo Dalolmo. Como já estava lotado, a senhora do hotel falou que, antes de irmos a outras cidades, como Treze Tilias, devíamos falar com o Pivetta. Não deu outra. O Piveta nos fez atravessar a rua e nos ofereceu um dos muitos quartos de sua vasta residência. Tudo foi ficando com formas de Ibicaré. Conviver com pessoas como o Arlindo Giacomelli e os outros expadres foi algo muito bom. Quanta aprendizagem! Que patrimônio cultural, espiritual e intelectual etário, reunido num só lugar! A dedicação do Pivetta, Dall’Acqua e Mardula foi marcante e a eles queremos agradecer profundamente. Tudo isso me fez lembrar muito das sementes do, por ora ausente, Chico Levandowski, o iniciador desses maravilhosos Encontros.” (a) Rosalimbo Augusto Paes Dia 15 de abril, às 8,30 hs, foi dada a largada de paulistas e mineiros para o XII encontro de Ibicaré. Houve empate na corrida. Os motoristas do ônibus amarelo erraram quatro vezes e os do ônibus azul, três vezes, sem contar uma furada de pneu próximo a Ibicaré, em frente à prefeitura de Treze Tillias. Contratempos outros? Apenas entre os kms 333 e 360, na subida da serra do cafezal, uma imensa fila de caminhões obrigou nosso ônibus a rodar passo a passo por cerca de dez kms por hora. O mesmo problema mais adiante, na passagem por Curitiba, onde havia um estreitamento da pista. Resultado: em vez das quinze horas previstas, a viagem durou dezoito horas. Todo sacrifício tem sua recompensa. Às 3,00 hs da madrugada, estávamos degustando a tradicional e deliciosa sopa de agnolini que os amáveis e pacientes anfitriões tinham preparado para nos esperar. Eu que tinha pavor de viajar de ônibus cansei nadinha, nadinha. Tanto na ida como na volta. Esta foi tranqüila, durou apenas quinze horas. O que muito me impressionou na viagem foi o espírito esportivo dos colegas que, serenamente e até com sorrisos, encararam os transtornos. Os jovens de mais idade, como o Sebastião Mariano e o Antonio Henriques deram exemplo de esportividade. O Moacyr Peinado (Pinduca) tudo fez para que ninguém passasse sede ou fome, servindo salgadinhos e doces a toda hora. O Daniel e a Claudete, com as orações e bingos, cooperaram para alavancar o espírito jovem embutido nos nossos corpos suados. Também me impressionou, sobremaneira, o local aconchegante de Treze Tillias e, mais ainda que o local, o espírito jovem e alegre de seus habitantes, onde as moças cruzam com a gente e, com os olhos nos olhos, dão bom dia ou boa tarde. É um povo lindo e com pureza de criança. Valeu! Valeu! Muito obrigado a todos que fizeram isso acontecer. (a) Edmundo Vieira Cortez INTER EX Julho/2011 10 O colega Pedro A Grisa O s fatos que hoje narro são mais ou menos históricos. Por que mais ou menos? Porque os comprovantes são minha memória e a do próprio Pedro. Eu o vi pela primeira vez, em julho de 1956, lá no então novo seminário de Ibicaré. Passei por aquele seminário, nos anos 1950 e 1951. Ainda era um casarão de madeira bem na barra do rio São Bento. No local existe hoje uma casa de alvenaria. Do outro lado do rio, atrás dos samandis, onde hoje há uma oficina e um posto de gasolina, havia outro casarão de madeira, onde morava um célebre adversário do padre Bernardo, o velho anticlerical José Schneider. Numa certa noite, o Keis, famoso cachorro do Irmão Pedro, levou um chumbinho na orelha. Quem será que atirou? Fui para Pirassununga em 1952. Cinco anos depois, tivemos as primeiras férias junto à nossa família. Dia 27 de junho de 1956, partimos, Dom Ricardo Paglia (que ainda não era Dom), Lauro Müller e eu. Na última hora, deram-nos um carona de cujo nome não me lembro, que voltaria para casa. Partimos de Pirassununga às 5,00 hs da manhã no trem da Paulista, chegando a São Paulo ao meio dia. Não me lembro se algum padre nos acompanhou na viagem ou se algum outro nos esperava na estação da Luz. Perambulamos até as l7,oo hs, quando embarcamos no direto São Paulo-Porto Alegre, pela Sorocabana e , lá pelas 22,oo hs, passamos por Itapetininga e chegamos a Itararé às 4,00 hs. Acordei com as batidas dos vagões, engate e desengate. Eu estava dormindo na cabine-dormitório. Dom Ricardo Paglia apenas cochilou no banco duro, dando sua cama ao carona que nos acompanhava. Parados uma hora, de pé na ponta do vagão, fiquei acompanhando o patinar do trem nos trilhos ao dar partida. Havia geado. Chegamos a Ponta Grossa à 15,oo hs. Lembro-me que a gente via essa cidade ora a direita, ora a esquerda, depois na frente, depois atrás, tantas eram as curvas da ferrovia. À 1,00 h da madrugada chegamos a União da Vitória e Porto União, cidades na fronteira de Paraná e Santa Catarina, separadas pelo rio Iguaçu. Passamos por Caçador às 7,00 hs. Nessa segunda noite, troquei com o Ricardo. Ele foi dormir na cama e eu fiquei no banco duro. Ali tudo era branco de geada. Nós, os passageiros, ficávamos de pé, mãos nos bolsos, pernas meio abertas para facilitar o equilíbrio em razão do balançar do trem e dando pulinhos para esquentar. Haja frio! Sempre pela margem esquerda do Rio do Peixe, às vezes tínhamos a impressão de que iríamos despencar para dentro das águas geladas, tão altos eram os paredões de pedra à direita. Mas, tocamos viagem com a alta velocidade de 25 a 30 kms por hora. Finalmente, com um longo e estridente apito do trem, chegamos à futura capital do araticum, carinhoso título que, anos mais tarde, cumprimentando um ibicarense, em aula na Faculdade de Joaçaba, eu lhe disse: “Parabéns, você é da Capital do Araticum; não se preocupe, eu também sou”. Parece que esse elogio INTER EX Julho/2011 Arlindo Giacomelli (1950-1971) pegou! O Lauro e eu desembarcamos e o carona também. O Ricardo foi até Joaçaba, onde tomaria um ônibus (na época se dizia “linha”) para Ponte Serrada. Estavam nos esperando o irmão e a irmã do Lauro, meu pai, dois irmãos meus e o padre Tiago que eu já conhecia de Pirassununga. Em casa, meu pai disse para minha mãe: “Eu nem o reconheci!”. Eu saira de casa aos doze anos e retornava com dezessete, no tamanho de hoje, tirando um pouco de barriga. Na semana seguinte fui ao seminário (prédio novo) visitar os padres e também o meu irmão Itelvino. Foi quando conheci o Pedro Grisa, colega da mesma turma do mano. Ambos prosseguiram estudando juntos até o ano de 1967, quando deixaram a Teologia. Essa eu conto mais tarde. Passei a noite lá no seminário, assisti a uma apresentação dos meninos e fui ao recreio dos padres a convite do padre Bernardo. Na manhã seguinte, ninguém me chamou. Acordei assustado, vesti-me rapidamente e desci. Todos estavam indo para o café no refeitório. Sentei em frente ao padre Bernardo que, logo após a oração, me disse:” Quando fui bater na porta do seu quarto, o silêncio me fez lembrar do que eu mais gostava em minhas férias na Holanda, isto é, que ninguém me chamasse, nem que fosse para rezar missa”. Como o Pedro Grisa e meu irmão Itelvino eram amigos inseparáveis, eu pude ter com ele bastante contato. Pedro Grisa, hoje, tem setenta anos, está totalmente cego e é um dos mais importantes parapsicólogos do Brasil. O que é Parapsicologia? “É a ciência que estuda os fenômenos paranormais” (Grisa, 2009, p-r 3) O que são fenômenos paranormais? “São fatos, fenômenos considerados além do normal, por serem extraordinários, maravilhosos ou assustadores. Exemplo: visões, aparições, casas mal assombradas, possessões, clarividência, precognições, etc” (Grisa, 2006, p-23-24) É autor de inúmeros livros sobre o assunto: Interrogação vital (poesias)- Edipappi, Florianópolis, 2008 – 2ª, Edição A cura pela imposição das mãos (coautoria de Frei Hugolino, falecido em abril de 2011. -Edipappi, Florianópolis, 2009, 17ª. edição Liberte seu poder extra – Edipappi – Florianópolis-2007 – 14ª. edição O jogo e a estrutura das personalidades - Edipappi, 2006 – 7ª. edição O poder da fé e a paranormalidade – Edepppi – Flor – 2002 – 7ª. edição Paranormalidade em potencial mental – Edipappi 2007 –6a. edição Compreendendo a homosexualidade – Edipappi-Flor 2007 – La. edição Eu sou paranormal – Edipappi – 2009 – Edipappi – Florianópolis O Pedro Grisa disse-me hoje: “Pelo fato de eu ter sido seminarista, sou o parapsicólogo mais solicitado para dar atendimento a padres e religiosos no sul do país.” NOTA: Os livros dele são vendidos somente na Edipappi (Instituto de Parapsicologia e Potencial Psíquico) – Rua Felipe Schimidt, 303, 15° andar, s1 1512, Centro Forianópolis. Fone: 48-3222.1819. Ministra cursos de formação de Parapsicólogo Social e Clínico em Florianópolis SC, Curitiba Pr, Londrina Pr, Volta Redonda RJ e Itapemirim ES. WWW.ipappi.com.br 11 Entrevista O Sombra Ex de Ibicaré • Maziviero: seu brasão “Per áspera ad Astra” também existiu por aqui. Gostei da interpretação. • Lupo: “É claro que o leite teria que derramar! Ninguém conseguiria desligar o fogo até que se terminasse a leitura de texto tão longo!” • Wolf: Esse tal de padre, temido como ave de rapina, não pousou por estas bandas. Ainda bem! • Encontro de Ibicaré: O mais careca= Valdir Pagnoncelli; O mais caubói= Edson Niehues; O mais curador= Vilmar Daleffe; O melhor barbicha= Maccari. Ganhou do Junkes por 2 mm; O mais intelectual=Ernesto Shafrath; O mais veterano=Sebastião Mariano; O mais pop star=Ivo Pazinato. • Walter Figueiredo: A ponte que você quer construir para congregar novos e antigos, não vai chegar a Ibicaré, porque os mais “novos” daqui já são todos sessentões. • Ibicaré/2011: Os mais hermanos= Pierdoná x Pierdoná; A voz mais bonita= Cachoeira; O Mais alegre=Dacoregio; O mais prestativo= Pivetta; O mais churrasqueiro= Arlindo Botegga; As mais charmosas= Sras Paese e Mardula. • Giacomelli: Quem estava esperando uma “catilinária” do padre Vermim, ficou decepcionado. Aquele é que é pai! • Raimundo Santana: Tal como o Lupo da Gubbio, você gosta de encompridar a história, mas, curioso para saber como o padre ia explicar o “caso” de José com a mulher de Putifar, fui obrigado a ler até o fim. O padre foi liso como sabonete! • Ibicaré/2011: O mais dançarino=ex-padre Alberto Antonelli; A melhor família= Pivetta; O mais calouro= Alfredo Martins; Os melhores da festa= as cozinheiras; O melhor enólogo= Paese; O mais líder= Gomes; Os melhores organizadores= Dall’Acqua, Mardula e Pivetta. • Manelo Biondo: Sei que você é meu fã, por isso fico à vontade pra lhe dar um conselho: procure uma editora (Saraiva, FTD e outras) que tenha paciência para publicar seus infindáveis e maçantes artigos. Deixe o espaço do Inter-Ex livre para outros! • Ibicaré/2011: Ah! Que leitoas a pururuca! Ainda estou lambendo os beiços! Ibicaré - 2011 Vilmar Daleffe (58-66) C omo sempre, faço minha entrevista em forma de narrativa, após receber pela Internet as respostas às perguntas formuladas. Moacir Cristaldo Dacoregio nasceu em Grão-Pará- SC, em 1949, segundo filho de uma família humilde. Seu pai, ex-combatente da segunda guerra mundial, era motorista de caminhão. Pelo fato de não haver escola em sua cidade e porque a família era muito pobre e, principalmente, porque a mãe sonhava com a possibilidade de ter um filho padre, Moacir foi encaminhado ao seminário de Ibicaré. Ali, pelo menos, poderia estudar, sem maiores despesas. Isso aconteceu no ano de 1961 e lá permaneceu até 1963. Nesse mesmo seminário já se encontrava seu irmão mais velho, o Rozevelte. Perguntado por que saiu do seminário, mencionou três razões para explicar isso. Mudança de sua família para Foripa, onde poderia estudar de graça; falta de maior convivência com seu irmão em classe bem superior e, acredita ele, por ter tirado nota 4 em Latim (?), além da afirmação do padre de que ele não tinha vocação. Devido àquela nota 4 em Latim, a escola pública de Floripa não aceitou sua matrícula da 3ª série. Optou, então, por uma escola industrial para estudar Engenharia Elétrica, cujo curso terminou em 1973. Já em 1974, conseguiu emprego na TELESC, empresa de telecomunicações de Santa Catarina. Alguns meses após, foi mandado para Munique para um curso de aperfeiçoamento, retornando como gerente de comunicações. Paralelamente a esse trabalho, foi professor no Curso Tecnológico da UFSC, o que lhe possibilitou fazer mestrado e doutorado. Em 1978, passou a gerente do Laboratório de Comunicações da ELETROSUL, onde permaneceu até 1999, quando se aposentou. Casou-se em 1974 com Mara e o casal teve três filhos: Alexandra (filósofa), Kristiane (in memoriam) e Frederica (engenheira civil). Três netos: Gabriel, Bianca e Emanuele, que aparecem na foto. INTER EX Julho/2011 12 IBICARÉ NOS ABRAÇOU Da E para D: Ivo Luiz Pasinato, Ângelo Garbosa Neto, Alfredo Martins Aguiar, Erci Frigo, Valdir Pagnocelli, Valdecir A Dalpasquale e Vilmar Daleffe A diretoria da Regional Sul emitiu Boletim Especial Pós Encontro/2011, do qual transcrevemos os seguintes tópicos: A alegria da presença de novos colegas Foi um encontro sensacional Novamente um número significativo de participantes com a presença de vários colegas do Sul que participaram pela primeira vez, e isto é sempre uma grande alegria! Foram 65 ex-seminaristas e 55 acompanhantes, num total de 120 participantes. E o melhor foram os depoimentos dos colegas novos e antigos, todos unânimes, afirmar que o encontro deste ano foi muito especial. E cada um dos encontros tem sido especial ... cada colega que vem pela primeira vez traz sua vibração, seu entusiasmo, acrescenta e enriquece a todos. Por isso o desafio de trazer cada vez mais colegas. Ficamos todos felizes com as presenças. Esperamos que os que compareceram em 2011 não só voltem em todos os seguintes, como estimulem outros colegas a vir ou voltar, eis que alguns que já vieram, deixaram de participar, e outros, já localizados e convidados, ainda não vieram...que venham sempre! Lista dos participantes em ordem alfabética Adelar Ponsoni, Ademar Pivetta, Alberto José Antonelli, Alfredo Martins Aguiar, Alzemiro Basso, André Mardula, Ângelo Garbossa Neto, Antonio Henriques, Antonio Valmor Junkes, Arlindo Giacomelli, Benedito Ignácio, Bonifácio Eufrozino Barbosa, Bruno Vilibaldo Neuvalt, Carlos Savietto, Claudio Magnabosco, Daniel Billerbec Nery, Daniel Canale, Edo INTER EX Julho/2011 Galdino Kirsten, Edson Niehues, Edmundo Vieira Cortez, Erci Frigo, Ernesto Leinhardt da Costa, Ernesto Schaffrath, Helias Dezen, Hélio Ampolini, Ivo Luiz Bortolazzi, Ivo Luiz Pasinato, Ivo Manfé, Jair Ribeiro, Jerci Maccari, João Baptista Gomes, José Barbosa Ribeiro, José Benedito Ribeiro (I), José Benedito Ribeiro (II), José Benedito Ribeiro Campos, José Carlos Ferreira, José Murad, José Raimundo de Sousa, Junes Giachin, Lásaro A,P, Santos, Licínio Poersch, Luiz Carlos Cachoeira, Luiz Pelisson, Luiz Zagonel, Marco Rossoni, Mauro Pavão, Moacir Cristaldo Dacoreggio, Moacir Lobo, Moacir Peinado Martin, Nelson Pierdoná, Nivaldo Bordignon, Osvaldo Renó Campos, Paulo Barbosa Mendonça, Rozalimbo Augusto Paese, Sadi Pierdoná, Sebastião MariaNO Franco de Carvalho ,Sérgio Luiz Dall’Acqua, SérgioJosé Sredo, Valdecir Antoninho Dalpasquale, Valdir Luiz Pagnoncelli, Valdir Rebelato, Vanderlei dos Reis Ribeiro, Vilmar Daleffe, Vitorino Alexandre Oro, Ealdemar Chechinatto. 13 Ibicaré - 2011 Missa de Ramos Novamente participamos da procissão e da missa com ativa participação nas leituras e, neste ano, com a belíssima participação do Grupo Harmonia que, trazido e com a participação do Marcos Rossoni, cantou a três vozes, o que emocionou a todos. Por concessão generosa do Padre Oficiante, o sermão foi proferido pelo Arlindo Giacomelli e, ao final da missa, o Sérgio Dall’Acqua dirigiu à comunidade de Ibicaré um pronunciamento no qual, além de agradecer a acolhida, revelou a significância dos encontros de ex-seminaristas em .Ibicaré. ria Regional, mas de cada um dos ex-seminaristas. Um contato pessoal, um telefonema, um e-mail, o oferecimento de carona têm, muitas vezes, um poder de convencimento maior que o envio de um impresso. Então, vamos trabalhar juntos para que nossos encontros sejam cada vez mais empolgantes. Temos relação completa dos endereços conhecidos que pode ser solicitada ao Sérgio Luiz Dall’Acqua, Diretor de Divulgação, através do e-mail: [email protected]. Destaque Sem deixar de enaltecer o pessoal de São Paulo e Minas Gerais, temos especial alegria quando colegas do Sul comparecem pela primeira vez. Assim, saudamos aqueles que vieram pela primeira vez, esperando que não faltem aos futuros. São os seguintes: Alfredo Martins Aguiar, de Porto Alegre; Nelson Pierdoná, de Pato Branco-PR; Sadi Pierdoná, de Ipoméia-SC; Moacir Lobo, de Pato Branco-PR, Junes Giachin, de Chapecó-SC e Ivo Luiz Pasinato, de Curibiba-PR. Leitões a pururuca Gastronomia A alimentação, como sempre, foi um dos destaques do encontro, recebendo rasgados elogios de todos. A equipe contratada pelo Pivetta, mais uma vez, deu show de qualidade e eficiência. Parabéns a todos. Show de dança tirolesa Pela segunda vez, o Grupo de Danças Típicas de Treze Tillias abrilhantou o sábado à noite de forma esplendorosa. Dentre as várias danças apresentadas, destaque especial para a Dança dos Sinos, um espetáculo a parte. Agradecimento e estímulo Agradecemos penhoradamente a todos os que participaram. Alguns enfrentando centenas de quilômetros e muitas horas de viajem, tudo para se fazerem presentes. Essas demonstrações de afeto pelo grupo e entusiasmo pelo evento nos animam a continuar organizando esses encontros, procurando fazê-los sempre atrativos e estimulantes. Como diziam os cartazes: vocês são a razão de ser e o objetivo destes encontros. Perderiam o sentido se houvesse desestímulo. O ideal de trazê-los não é só da Direto- Show de danças tirolesas Grupo de danças INTER EX Julho/2011 14 Quarenta anos depois - VI Antonio Valmor Junkes (1958-1964) Ibicaré - 2011 D esta vez, em Ibicaré, nossa reunião aconteceu na antiga capela. Ao adentrar-me pelo recinto, e ao olhar para o chão, verifiquei que os tacos do piso colocados ali em 1959 eram ainda os mesmos, assim como ainda é a mesma a infelicidade, o desespero, a vergonha e a ignomínia que, por causa desses malfadados tacos, eu vivi numa certa melancólica noite da minha infanto-adolescência. Nos dias que se seguiram ao encontro, de volta aos meus afazeres, vinha eu amargando, mudo e quedo, essa lastimosa lembrança. No escritório, em casa, nos fóruns, por onde quer que eu andasse, a umbrosa cena daquele triste espetáculo, desencavado das mais recônditas reminiscências, me acompanhava, importunando-me o espírito, afligindo-me com vergastas certeiras e doridas o ego sempre cuidoso do aspecto. Parecia-me que estava vivenciando aquele mesmo desgosto profundo, revivendo aquela mesma mágoa infinda, ressentindo aquela mesma decepção sofrida, enfim, não conseguia desvencilhar-me daquela desdita. Vai daí, lembrei-me de que o mesmo tema já fora tratado por mim em alguma ocasião qualquer. Então, afastei da minha frente alguns processos em que trabalhava e decidi reler alguns dos escritos esparsos que mantenho guardados com a intenção de, qualquer dia destes, se me sobrarem tempo e vida, editar o livro que prometi aos meus filhos escrever, e encontrei a narrativa dessa tragédia ocorrida pelos idos do início dos anos sessenta. Há muito tempo, pois, ipsis litteris, escrevi assim: “ Na oração da noite, na capela, quando era rezado o ‘Lembrai-vos’, a alguém, escolhido a dedo, era dada a súpera honra de acender as velas no altar. Usavase, para tanto, uma ripa comprida, cuja ponta era bifurcada, tendo, de um lado, um pavio que acendia a vela lá nas alturas, e do outro, um cone, feito de couro cru, que apagava a vela(aliás, lembreime, em tempo hábil, de que quem tinha os buracos do nariz, há os que preferem chamar de narinas, exageradamente escancarados, era inevitavelmente agraciado com o epíteto de ‘nariz de apagá vela’). INTER EX Julho/2011 Para cumprir esse sacrossanto ritual, havia um rigoroso e respeitadíssimo rodízio, dada a importância do momento, em que toda a comunidade se achava presente, com os alunos nos genuflexórios da frente, cabeças baixas, mãos postas em piedosa atitude de oração, sem ousar levantar os olhos nem mesmo para apreciar o solitário adejo de algum pernilongo por ali em perigoso letal extravio. Qualquer postura, desde que julgada inadequada pelos olhos miúdos do Diretor ou por qualquer um dos padres e irmãos mais atentos ao comportamento dos alunos do que com a devoção, poderia resultar na abstinência da refeição seguinte. Foi então que, numa saudosa mas desventurada noite daquelas, chegados que foram o meu dia e a minha vez tão ansiosamente aguardados, dirigi-me com aquele andar estudado, orgulhosamente empertigado, mas respeitosamente devoto, ao altar, acendi, com sucesso total, a vela do lado esquerdo, e quando fui passar para o lado direito, ao ajoelhar-me com a indispensável e necessária incomum galhardia perante o sacrário, escorreguei e caí de chapa, bem em frente ao altar. Quando o joelho direito ia encostar no solo , o pé esquerdo, que deveria sustentar a manobra, escorregou, devido às surradas botinas que eu usava, e que tinham as solas tão desgastadas que as cabeças largas e chatas, mas já salientes, das tachinhas, em contato com a cera profusa dos tacos de madeira do piso da capela, fizeram-me testavilhar inapelavelmente e estatelar grotescamente num decúbito ridiculamente cômico. Levantei-me, lépido, solerte, para, aparentemente, dar continuidade ao rito e acender a vela do lado direito do altar, mas do pavio, antes mantenedor da ígnea flama sagrada, subia, sem pressa, apenas uma fumacinha azul encaracolada, submetendo-me à humilhante tarefa de voltar para o lado esquerdo, atear novo fogo no pavio e daí, então, com o máximo cuidado que a experiência acabara de me ensinar, acender a vela do lado direito quando já, dilutas naquela celestial atmosfera de preces, se balbuciavam as últimas invocações da oração da noite, que su- 15 Ibicaré - 2011 biam, fervorosas, em busca do infinito desconhecido. Da eminência do seu pedestal, enquanto a Virgem meneava a cabeça, incrédula com tanto tumulto, do colo dela um Menino me fitava, ora enternecidamente, compassivo com tamanho infortúnio, ora com um sorriso tão desfaçado, travesso e maroto que parecia querer saltar lá de cima e participar do ruidoso entrevero. Naturalmente tímido, enrubesci-me de tal sorte que as minhas orelhas se confundiam com a chama da vela acesa. Quisera tornar-me invisível, sair dali, sumir por uns tempos. A queda foi dolorida. Doeram-me, e muito, os joelhos, os cotovelos, e até o queixo que, não entendo como, bati não sei onde, obrigando-me a conviver com a tumidez de um hematoma arroxeado durante vários dias. Mas essa dor de há muito não sinto. O que eu nunca es- queci foi o ressoo das risotas mal abafadas dos colegas e, quiçá, dos padres e irmãos, também, que, em vez de estarem se divertindo às custas do meu fracasso, deveriam estar abstraídos na reza. Esses risos sufocados à surdina espicaçaram-me a alma, infelicitaram-me para todo o sempre, e machucaram tanto que até hoje eu ouço, vagos, indistintos, confusos, baralhados na penumbra prazível e delicada da saudade, aqueles risos em murmúrios, ásperos, funestos, aziagos, que perduram magoando na inexorabilidade dos tempos, quais flechas envenenadas a trespassar-me as lembranças daquela noite sinistra e malfazeja. Doeram-me apenas os joelhos naquela noite infeliz. Doem-me na alma, hoje ainda, aqueles risos mastigados e aqueles velados motejos, mais de cinquenta anos depois!...” Ibicaré - 2011 INTER EX Julho/2011 16 Sobre o direito de não ler Marco Rossoni F° (1961/1967) H á algum tempo, li um artigo intitulado “A Dor de Não Saber o Bastante”, ou algo parecido. Tratava ele do turbilhão de informações que nos cercam e nos massacram diariamente, e da impossibilidade de tratarmos e processarmos todas elas. Então, a dificuldade que se coloca hoje é, antes de mais nada, a nossa capacidade de separar o que nos interessa do que pode ser deixado de lado. Ou, então, a clássica distribuição trina: o necessário, o útil e o supérfluo. O que é essencial, indispensável, e que precisamos reter; o que poderá ser-nos útil, mas pode esperar; e o que, mesmo sendo agradável, pode ser dispensado sem maiores prejuízos. Então, em nosso tempo, é preciso escolher o que ler. Não só o necessário e o útil, mas também algum supérfluo. Este principalmente por que nos dá prazer. E nós precisamos sentir prazer, até para nos dar coragem e alimentar a nossa dedicação ao essencial. Entre as leituras prazerosas para nós, ex-alunos MSC, está o Boletim Informativo da Associação, que chegou ao seu glorioso número 116 em março próximo passado, graças aos esforços de muitos redatores e, essencialmente, à dedicação do incansável coordenador, João Baptista Gomes, ora acumulando a presidência da associação. Mas, mesmo neste Boletim, também temos o direito de escolher o que ler, e não devemos perder tempo com o que não nos agrada. Em defesa dessa escolha do leitor, invoco o DIREITO DE NÃO LER, o primeiro mandamento do decálogo dos Direitos do Leitor, tão bem colocados e analisados pelo pedagogo e romancista francês Daniel Pennac, em seu livro “Como um Romance”, publicado como volume 722 da Coleção L&PM Pocket, em 2008. O leitor decide que não vai ler, e pronto. Respeitando esse direito de todo leitor, recomendo àquelas pessoas que não gostaram do meu último artigo, e que, por engano, chegaram até aqui, que parem de ler este, e que sigam procurando os assuntos que lhes agradam, nas outras páginas deste boletim, que acolhe artigos para todos os gostos e de todas as turmas de ex-alunos. Busquem apenas o que lhes agrada ou que conseguem compreender ou que lhe falem ao coração. Não percam tempo com coisas desagradáveis. Nesse sentido, lembro que a maioria dos escritores e leitores do Boletim já passou da metade da vida, e que não tem mais tempo a perder com assuntos que não lhe são prazerosos, tais como discussões para salvar o mundo, assembléias intermináveis, reuniões para marcar outras reuniões, e leituras que não deleitam. E aqui, invoco o meu DIREITO DE ESCREVER. Meus artigos não ofendem nem melindram ninguém. São escritos com base nas minhas memórias e com a intenção de avivar outras recordações de colegas que leram. De acordar a saudade daquela leitura, de despertar o desejo de reler, de buscar aquele livro nas bibliotecas ou nos sebos, como tenho feito. De recriar, nos vetustos leitores de cãs rarefeitas, a vontade de reviver alguns momentos agradáveis da adolescência, quando ainda imperava a imaginação aventuresca. E são escritos identificados com meu nome. Não preciso me esconder sob pseudônimo ou anonimato. Até porque anônimo, segundo Houaiss, da etimologia INTER EX Julho/2011 grega, entre outros significados, tem o de “abominável” que, por sua vez, na etimologia latina, inicia com “que inspira aversão”. Desnecessário prosseguir. Confesso que fiquei um pouco chateado. Por isso, resolvi conversar com colegas de turma, que tiveram à disposição os mesmos livros que eu na biblioteca, para saber qual a sua (deles) impressão. Além das lembranças das noites de leitura da adolescência, nas salas de aulas e de estudos em Ibicaré e em Pira, e de livros dos quais já não se lembravam, recordaram também as noites de infância, quando ouviam as histórias narradas por suas mães, à luz dos mesmos candeeiros de querosene. Aí fiquei me perguntando: será que essas outras pessoas, no tempo de seminário, não liam nos seus horários de leitura de lazer? Não “perdiam tempo” com essas coisas de criança? Como a opção para esses horários eram apenas a leitura ou o estudo, deviam ser pessoas muito estudiosas, operosas e industriosas, que aproveitavam todo o seu precioso tempo disponível para mergulhar nos livros didáticos e aprofundar seus conhecimentos das ciências humanas, indiferentes ao prazer lúdico da leitura. Além disso, quando colegas insistiram para que eu também colaborasse com o Boletim da Associação com minhas recordações, entendi que fossem lembranças do tempo de seminário e suas conseqüências para a vida. E como o mundo dos livros foi uma importantíssima descoberta para mim, considerei relevante este assunto para objeto inicial de meus escritos. E lembro ainda, citando o autor predileto para esta redação, o professor Daniel Pennac, que entre os direitos do leitor não está o de criticar o escritor. Não que o leitor não possa ter opinião sobre o que leu. Deve ter, sim. Mas o leitor que não gostou, não deve ter entendido o autor. Não conseguiu entrar no seu pensamento. Mas outros conseguem. E a leitura, como todos sabem, é uma simbiose entre o autor e o leitor. Nesse momento de interação, não há mais ninguém entre eles. É um momento só deles, egoisticamente excluindo tudo e todos que não sejam o pensamento e a imaginação do leitor, em consonância com o pensamento e a imaginação do autor. Não entendeu? Não gostou? Não tem problema. Não se acanhe. Deixe de lado e vá para outros artigos e assuntos. E eu vou voltar a escrever sobre as minhas recordações livrescas do tempo do seminário. Mas isso no próximo Boletim. Para este, basta o que está acima. Até o próximo. 17 Tristes tragédias II Wolf Von Zarnen (49-54) N ada de confidências em meu tempo de seminário. Cada qual mantinha mudez de túmulo. Nada se dizia. Nada se comentava. Guardava-se para si tudo quanto se pensava. Abrir-se sem reservas só com o confessor. Até mesmo com o Padre Superior persistiam certos retraimentos. Éramos como ilhas perdidas no meio a oceano repleto de ilhas remotas. Não me lembro, pois, da menor referência ao terror que o padre Donato disseminava por toda parte. Nem antes de sua partida, nem depois dela. Nem precisava. Mais eloquente que as palavras, ele vinha estampado na fisionomia de cada um. Voltei à Escola Apostólica doze anos após minha saída. Não encontrei ninguém de mi- nha classe. O mais próximo era o Altran com quem tivera ótimo relacionamento por quatro anos. Vinham, a seguir, o Cardoso e o Sarmento bem anteriores a mim. Conversei longamente com o Altran. As primeiras confidências só agora permitidas. Fez inúmeras referências sobre o assunto em pauta. Falou sobre os episódios sucedidos com o Paulo Apóstolo, Flávio Migliáccio e Cardoso. Lembrei-me que o padre Adão havia lido em classe um belíssimo conto intitulado “O menino e as rosas”, escrito pelo Flávio em idade tão precoce. Contou-me o Cardoso o que lhe acontecera. Horrorizei-me com a injustiça de que tinha sido vítima. Informaram-nos, nessa ocasião, que o padre Donato tinha sido removido em virtude de forte pressão dos escolásticos sobre o Provincial. O que era motivo de comentários nessas reuniões de agosto extravasou para as páginas do Boletim Informativo. O primeiro de que se tem notícia, salvo engano, foi o do Alberto Maria da Silva em “O meu amigo João Cardoso”, a que se seguiram o do João Baptista Gomes em “A profecia do padre Léo” e, finalmente, o do Ézio Américo Monari, em “Triste Expulsão”. Todos textos bem produzidos que espelham com cabal fidelidade a rotina daqueles tempos. Vale a pena uma ou outra transcrição: “Concluí que eu não era bem visto pelo padre Donato que vivia pegando no meu pé. Não era, pois, seu protegido. Veladamente, era uma perseguição”. (Alberto Maria). “Foi esse o pequeno problema. Agora vem o grande: o padre Donato! Quem o conheceu sabe. A grande maioria dos alunos “convidados” a voltarem para casa deve essa iniciativa a ele. Nesse assunto, ele sempre mandou mais que o padre Superior.” (João Baptista Gomes) “Teve que ouvir de pé durante longo tempo a sua sentença de morte. Essa cena me marcou profunda e amargamente. Fiquei sabendo posteriormente que toda essa situação fora criada pelo padre Donato. Ele era simplesmente temido e usava de sua autoridade professoral e sacerdotal, fazendo da batina uma farda de polícia a que todos amedrontava, excetuando alguns que ousaram peitá-lo, mas pagando um alto preço.” (Ézio Monari) Numa das reuniões a que compareci, ao chegar ao seminário, soube que ele estaria presente. À tarde, depois da deliciosa peixada, deu-se o primeiro encontro. Não quis revê-lo, embora nunca lhe tivesse conservado raiva, rancor ou mágoa. No sermão da missa vespertina, em infeliz analogia, veio a primeira alfinetada. Escusado reproduzi-la. Continuava o mesmo. Em nada mudara. Difícil despir-se de hábitos há tanto tempo arraigados. Previsível que, na reunião da noite, adviriam novas farpas contra os desistentes, “les défroqués”. Para mim bastava. A confraternização perdera a graça. Cantando o saudoso “Lembrai-vos” a plenos pulmões, ganhei a rua sem despedida alguma. Entrei no carro e dirigi-me à casa de um colega de turma. Algum tempo depois, rumamos para um lugar já de mim conhecido, o “Ponto Chic”, onde “ la jeunesse dorée” costumava reunirse nas noites de sábado. Entre uma cerveja e outra, um petisco e outro, o papo descontraído rolou noite a dentro. Choveram reminiscências de pessoas e fatos. Fomos os últimos a deixar o local. Anhanguera quase deserta, envolta no clarão do luar. Momento propício para a meditação e devaneios. Já próximo ao meu destino, o céu iluminou-se de borrões vermelhos e dourados. Arrebol na natureza....Arrebol na minha alma.... Para trás ficaram as lembranças de tristes tragédias. INTER EX Julho/2011 18 Pe. Adriano Van Iersel, meu avô N ão é exagero: ele foi o avô que não tive. Vovô Pedro (pai de mamãe), homem alto, forte, pesadão, formal, imponência de um Czar Russo, catolicíssimo, separou-se de minha avó, logo nos primeiros anos de casamento, deixando-a com três filhos pequenos para criar. Viveu sozinho a vida toda. Sua presença, nas poucas vezes em que visitava os filhos e netos, não era agradável: sempre ocasionava briga na família. Eu, sempre que possível, fugia dele como o diabo da cruz, pois morria de medo daquele homenzarrão. Em minha cabeça de criança, uma das coisas que se gravaram dessas poucas visitas foi o seu sestro estranho e, ao mesmo tempo, engraçado de sempre (fosse qual fosse o assunto) começar as frases com a expressão “Pois é... com efeito...”. Ficou sendo para mim o “Vô Pois é... com efeito...”. Nada mais. Já Vovô Adolfo (pai de papai)... não! Não me metia medo. Diferente do outro, este era de estatura mediana, magro, rosto arredondado, óculos de grau forte, jornalzinho embaixo do braço, cara de sacristão, mas, com uma mitra e um báculo, levaria jeito de Cardeal. Chegou a estudar com os padres salesianos no Colégio São Joaquim, em Lorena-SP. Também catolicíssimo, todo Concílio de Trento. Era homem de pouca conversa, mas tinha lá suas filosofias e seu vernizinho de cultura, o que, às vezes, até lhe propiciava arengar um pouquinho sobre a “Súmula” de Santo Tomás com algum ouvinte mais paciencioso. Homem de fé e de filhos, muitos filhos. Ficou viúvo com uma dúzia deles, pequenos, uma escadinha. Casou-se novamente. Como (acho eu agora) a tabelinha anticoncepcional do método Ogino-Knauss não funcionara bem no primeiro casamento, ele resolveu testá-la no segundo e ... o resultado não foi menos auspicioso: teve mais treze filhos com a segunda esposa, o que comprova que nem sempre quem é bom na cultura o possa ser também no cálculo e no tino comercial e administrativo, já que, ao morrer, havia deixado hipotecado o seu único e precioso bem: um pequeno sítio em que morava em Pedralva (MG). Sobrou para a viúva uma imensa prole e um tremendo “miserê”. E aquele dito popular “onde come um, comem dois”, para a minha avó paterna, se, antes de seu casamento, era um verdadeiro “truísmo”, depois da morte de meu avô, passou a ser uma terrível balela. Não sei como ele arranjava tempo para suas leituras com vinte e cinco filhos berrando-lhe no ouvido o dia todo. Desse prolífico e falido avô tenho poucas, mas INTER EX Março/2011 Julho/2011 Raimundo José Santana (1954-1961) boas lembranças... Ele poderia ter sido o avô dos meus sonhos, mas vi-o raríssimas vezes; tinha lá também muitas manias, além de ter muitos filhos, claro! Uma delas é que era um germanófilo de carteirinha. Na 2ª. Grande Guerra, muito a contragosto, aceitou a ida de um filho, como pracinha, à Itália, para lutar contra a Alemanha de Hitler. Ele, getulista roxo, chegara ao cúmulo de defender a Alemanha e o nazismo, em intermináveis e homéricas discussões com o nosso querido Pe. José Willing (MSC), quando se encontravam nas missas lá em Wenceslau Brás. E todos sabem: Pe. José Willing era alemão. Paradoxalmente, temos aqui um belo quadro: o Padre alemão defendendo Churchill e os aliados, e Vovô Adolfo, descendente de português, defendendo o “Führer”, seu xará nazista. Visto, então, que, concreta e efetivamente, não tive avô, resolvi adotar como tal o bom e velho Padre Adriano. E isso aconteceu logo no meu primeiro dia de seminário, pois já, nesse primeiro dia, cheguei sendo um problema para os padres: eles não sabiam o que fazer comigo, pois, como eu estudara num paiol de milho lá na roça, não tinha nenhum documento que comprovasse minha escolaridade. Num ir e vir de Anás-a-Caifás, Pe. Mário Pennock, o diretor, me mandou ao Pe. Adriano pedindo-lhe uma sugestão. Este me devolveu àquele, sugerindo que eu passasse um mês na sala da Professora Dona Lurdinha Coelho (5º. ano primário, antiga admissão ao ginásio), onde seriam testados meus conhecimentos. Um mês depois, Dona Lurdinha me devolveu ao Pe. Adriano, sugerindo-lhe que eu poderia entrar na la.série ginasial. Este não se fez de rogado; imediatamente, como já ia mesmo para a primeira série aplicar uma prova de Francês, me levou junto para fazer a prova também. Nem é preciso dizer o fiasco por que passei. Eu, que não entendia patavina de língua alguma, tive que traduzir dez frases para o Português. Errei tudo. Havia coisas na prova que eu traduzia mais ou menos assim: “Le lion est le roi des animaux” = o leão e o rei desanimaram. “La mère du maire est tombée dans la mer” = a mãe.......(deixei o resto em branco porque achei que estavam xingando a mãe). “Le garçon a mis un joli collier de perles autour du cou de Madame Perrette” = ...............(Deixei em branco também porque achei que era uma pegadinha com palavrão). Enfim, um grande fiasco! No começo da noite, Pe. Adriano me chamou e me mostrou a prova toda riscada em vermelho: - E aí, menino? Então você não conhece o Francês? - Padre, o único Francês que eu conheço é um cara que é plantador de batatas lá pros lados da Ponte de Santo Antônio. - Não, não! Refiro-me ao Francês castiço, ao Francês de Lamartine, ao Francês de Molière! - Padre, me desculpe, se ele é castiço eu não 19 sei; sei que ele é sozinho, solteirão e esquisitão; o pessoal até comenta, lá na roça, que ele não é muito chegado em mulher não, que ele, com aquela boininha azul-marinho, até leva jeito de “ventilado” e, além do mais, é “fugido” de guerra e que ele toma “Martini” sim, mas o de que ele gosta mesmo é de cachaça! O Pe. Adriano, a essa altura, ameaçou um sorriso, franziu o sobrolho e, coçando ora o queixo, ora aquela enorme barriga octogenária, me disse: - Menino, a partir de amanhã, você terá uma hora de aula aqui no meu quarto. Acho que, em quinze dias, você já estará pronto para poder acompanhar a turma do ginásio. A partir daí, definitivamente eu o adotei como avô. E não deu outra: ele estava certo. Quinze dias depois, realmente, eu já estava integrado na 1ª. Série do Ginásio. Durante sete anos ele não foi outra coisa para mim: foi meu avô e acumulava as funções de Superior, Ecônomo, Confessor, Enfermeiro e Professor de Inglês, Francês e Matemática. Foi meu avô! Um rechonchudo e octogenário avô! Sempre disponível! Um pé-de-boi no trabalho, disciplinado como um soldado prussiano e humilde como um S. Francisco. Homem de ação, do trabalho duro. Seco, sem pieguices, sem dons artísticos, “gostava de carregar o piano”, como ele mesmo costumava dizer. Talvez eu esteja errado, mas, na época, nos momentos de oração coletiva, sua presença nunca me inspirou aquela unção religiosa típica de beatos em êxtase. Ele nunca foi um beato. Pelo contrário, ali no Ofício Divino, de sua figura discreta e racional emanava a fortaleza de um homem sério, honesto e confiável, cuja objetividade e disciplina eu admirava tanto. Ele era o exemplo a seguir. Nada de muita chorumela! “Age quod agis”, como diziam os jesuítas (Faze bem feito o que deve ser feito). E pronto! Pelo exemplo e pelos ensinamentos foi, talvez, o padre que mais me influenciou na vida. Suas frases latinas, repetidas à exaustão, até hoje me martelam os ouvidos: “Aquila non capit muscas” (A águia não apanha moscas)/ “Ex ungue leonem” (Pelas unhas se conhece o leão)/ “Non scholae sed vitae discimus” (Não aprendemos para a escola mas para a vida) “Fabricando fit faber” (E´ batendo o ferro que se torna ferreiro)/ Apesar do acúmulo de serviço, sempre era o primeiro padre a entregar as provas e as tarefas corrigidas. Com aquele seu tradicional gorrinho de forma quadrangular, aquela sua batina preta, surrada, salpicada de giz e de caspa, aquelas suas botinas pretas rangedoras, aproveitava qualquer tempo livre para, pelo pátio e pelos corredores, rezar o breviário. Certa vez, manifestei-lhe a vontade de decorar em Francês e Inglês todas as orações do dia-a-dia: Pai-Nosso, Ave-Maria, Credo, Salve-Rainha etc. Não é que ele teve a pachorra de copiar, em meus cadernos de exercícios, com aquela sua mão pesada e letra calcada, todas as orações solicitadas? Não lhe seria mais fácil me emprestar os livros para que eu mesmo as copiasse? Isso era ou não era coisa de avô? E o dia em que o João Lourenço, lá de Delfim Moreira, me deu uma cama-de-gato numa partida de futebol e eu, ao cair de mau jeito, acabei quebrando o braço esquerdo? Que fez o Pe. Adriano ao ver-me carregado pelos colegas? Eu uivava de dor, com o antebraço solto em forma de “S”. Ele, pouco ortodoxo, muito frio e prático, puxando-me pela mão esquerda, endireitou-me o braço numa tipóia improvisada, me fez beber dois copos de vinho tinto e pediu que me levassem para a cama, assegurando a todos que, no dia seguinte, estaria tudo bem. Uma ova! Passei uma noite de cão de tanta dor! Só no outro dia cedo é que o Sr. Luís (o “factótum” do IPN) me levou de charrete até ao Dr. Cavi, no centro da cidade, para o engessamento. Ao me ver, mais tarde, com o braço engessado, o bom velhinho ironizou: “Não disse que hoje estaria tudo bem? Pergite animo, milites, per aspera ad astra!” (=Coragem, soldados, pelos caminhos difíceis podemos chegar aos astros!) A tal da praticidade dele tinha esses lances curiosos. Dona Benedita, a cozinheira, certa feita, reclamou que estava faltando lenha na cozinha. Não é que o Pe. Adriano, com toda aquela sua gordura e idade avançada, vai para o pátio e, de machado em punho, converte em achas e gravetos alguns mourões secos espalhados ali nas imediações? Essa sua humildade e disposição para o trabalho me encantavam. Por isso, um dia, quando soube que ele estava doente, acamado, não acreditei. Corri ao seu quarto para lhe oferecer meus préstimos e qual não foi minha surpresa ao abrir a porta?Ele estava chorando. Fiquei pasmo e desmontado, completamente sem ação. Confesso que, até hoje, essa cena me é bastante viva. Nunca vi meus avós biológicos chorarem. No entanto, vi esse meu avô adotivo em prantos; ele, que para mim, era a “Lei e os Profetas” e encarnava a segurança de uma torre de marfim, estava ali em prantos! Por quê? É uma pergunta para a qual, até hoje, não encontrei resposta. Será que ele teria tido um pesadelo e teria acordado quando entrei porta adentro? Teria reconhecido, então, a mentira das visões que o tinham apavorado e, agora, acordado, (quem sabe num choro de alegria) estaria dando graças a Deus que permitia que a vida fosse menos cruel que os sonhos? Ou seria já um prematuro medo da morte? Morte distante de sua pátria, de seus familiares? (Se é que os tinha ainda vivos lá na Holanda). Ou, quem sabe, o peso da solidão, numa noite escura de dúvidas, de torpor na sua vida religiosa? Não sei... Sêneca costumava dizer que “os que sofrem têm um desejo terrível de chorar”. Mas que sofrimento foi esse? Não sei... Sei que, na figura desse Padre, encontrei a encarnação verdadeiramente santa da caridade ativa, um ar dinâmico, positivo, indiferente e brusco de cirurgião apressado, uma fisionomia, talvez, em que não se pudesse ler nenhuma comiseração, nenhum enternecimento diante da dor humana e que, no entanto, era, usando uma expressão de Proust, “ a fisionomia sem doçura, a fisionomia antipática e sublime da verdadeira bondade”. INTER EX Julho/2011 20 As sessões Literomusicais Finados Alberto José Antonelli (1945/1949) Cláudio Carlos de Oliveira - 1959-1965 H N ossos educadores, no seminário, tinham grande interesse em nos oferecer formação cultural sólida. Formação essa concretizada pelas muitas horas de aula e estudo das línguas clássicas, Latim e Grego, e também das línguas modernas, Português, Francês e Inglês. Havia, além disso, o cultivo das artes da Música, tanto a instrumental, como a coral, lideradas pelo polivalente Padre Gusmão, e do Teatro, tendo à frente o dedicado Padre José Maria. Essas atividades culturais e educativas revestiam-se de caráter solene, quando todos nós éramos convidados a descer até o Salão Nobre para assistirmos a uma Sessão literomusical, preparada pelos padres e alguns alunos. Era a oportunidade que tínhamos de ouvir música clássica ao piano, tocada, algumas vezes, a quatro mãos, pelas duplas ainda lembradas por nós, Padre Gusmão e João Costa Pinto ou Padre Gusmão e Laudenir Godoy Pavão. Ao lado da música, reservavam-se momentos para a arte da declamação de textos da Literatura Latina, como as Catilinárias e, por que não, da Literatura Brasileira, como o Navio Negreiro, de Castro Alves. Contrapondo um pouco ao espírito clássico da sessão, esporadicamente, eram lembrados, com certa comicidade, momentos ou fatos pitorescos do cotidiano recluso do seminário, com a apresentação de um Jornal Falado pelos irreverentes Benedito Carneiro e colega, ambos vindos de Itajubá. As peças teatrais, por serem de duração mais longa, geralmente, eram exibidas em outras noites reservadas exclusivamente a elas. Nessas oportunidades, ocupavam a platéia, os alunos, muito raramente familiares dos alunos, os padres e irmãos, na maioria, importados da Holanda, que, fumando seus inseparáveis charutos ou cachimbos, inundavam o ambiente com fumaça leve e odor característico. Esses eventos culturais, ao lado de outros como a Academia Pio XI, longas horas de leitura obrigatória e momentos de leitura livre, ouvindo os clássicos na sala de música, criaram em nós o gosto pela cultura e humanizaram nosso caráter, aguçando-o para apreciar o belo e o bem, como acreditavam os gregos, na antiguidade. INTER EX Julho/2011 á anos recebemos em casa o Inter-Ex, sempre agradável e freqüentemente renovado. Leio todas as páginas procurando entender as entrelinhas e os subentendidos que são freqüentes e não menos interessantes. Parabéns aos redatores, louvor aos articulistas. Alguns dos nossos amigos, que têm muita capacidade, nunca escreveram. Quantos fatos interessantes de suas experiências poderiam contar! Por que não imitar estes milhões de internautas do Twitter, Orkut, Facebook, que separam um pouco de tempo para comunicar-se com conhecidos? Já outros escrevem sempre e, às vezes, até se estendem. Provavelmente alguns alunos, assíduos leitores de Boileau, me incluirão neste número: touché! excusez-moi: valeu a intenção. Desta vez, tentarei passar para o papel lembranças que guardo do dia de Finados em Pirassununga. Histórias de colégio, mas que oferecem oportunidade, “a propos”, para lembrar fatos curiosos vistos, vividos, sofridos. Falhas na memória são certas. Tentarei minimizá-las. Foi nos anos pré-concílio quando havia demasiados dias santos, e mais outros ainda, que o povo do interior guardava religiosamente. A Festa de Todos os Santos, por exemplo, era um dia santo de guarda (não é mais). Significava para nós a obrigação de assistirmos duas missas. A primeira, rezada às sete na capela interna quando cantávamos cantos avulsos. A outra acontecia às nove horas. Todo mundo subia ao coro da capela do Rosário para uma missa cantada em canto chão ou na forma polifônica. Ah! Saudosos Mestres Orestes Ravanello e Dom Lorenzo Perosi! Até os nomes destes compositores italianos são melodiosos. Em geral os rapazes não achavam ruim, mesmo porque no resto do dia haveria feriado e talvez até algum passeio à tarde, andando pela cidade ou pelos campos ao redor. A novidade desta vez foi o aviso que ouvimos: ‘amanhã iremos ao cemitério cantar na missa que o Superior celebrará. Então: ensaio hoje às duas e meia no salão nobre.” Nosso maestro, Pe. Mário Pennock estava viajando. Outro professor, Pe. Henrique Alofs, que lecionava francês e também tocava um pouco de piano, em ocasiões como esta, é ele quem dirigia o coro do seminário. Curiosidade: sendo este religioso um entusiasta da música clássica, dizia que, para perceber “les nuances”, se fazia necessário ouvir a música bem alto. E agia exatamente assim na sala de recreio dos padres em Itajubá (IPN), quando colocava seus discos preferidos. Nossos colegas que conversavam ou jogavam baralho ficavam incomodados com o volume do som. Compreensivos, no entanto, nada lhe diziam. Olhavam com bom humor o Alofs em êxtase, olhos cerrados, mímica no rosto, gesticulando levemente ao compasso de um Mozart ou Chopin. Eu estava cursando a primeira série, chamada “Sexta”. Com doze anos, qualquer novidade me era bem vinda. O vigário da paróquia, Cônego Francisco Cruz, alegando doença, havia pedido que um padre da Raia o substituísse na missa de defunto marcada para as nove horas. Anos depois, percebi, chateado, como “doenças” são excelente 21 desculpa para algum dos meus superiores, religioso, pároco, ou Bispo, se omitir de uma obrigação mais cansativa, e pedir que eu o substituisse. Nesta tarde, às duas horas, no refeitório, comemos biscoito e mais alguma fruta, saímos para o recreio e logo fomos chamados para o ensaio de canto. Maiores e menores juntos, distribuíram-se folhas impressas em stencil, com aquela tinta nojenta que nos sujava as mãos. Em números e letras (sistema antigo usado pelo seminário), podíamos ver escrito o canto a duas vozes: ’Cor dulce, cor amabile”. Era uma canção difícil, já ensaiada em outras ocasiões, mas nunca executada. Pe Henrique comentou que precisávamos fazer bonito diante do povo e principiou o ensaio. Uma tentativa, mais tentativas, as vozes não se engrenavam. O maestro insistia e começou a ficar nervoso. Tentamos de vários modos e não funcionava. Conhecíamos muitos outros cantos de missa, mas este nunca tinha dado certo. Pe. Alofs perdeu a calma conosco e repetiu bravo algumas vezes: “vamos, se esforcem! Vocês não prestam atenção!”. No fim, cansado, irritado, olhos fuzilando, mandou-nos embora. Assim que subimos ao pátio, o Irmão Francisco apareceu. Ia acompanhar os menores para um passeio até a cidade, quando ofereceu-nos sorvete que fomos tomar no Ponto Chic. Várias vezes estivemos neste restaurante, situado na esquina em baixo do jardim central, para comer ou beber alguma coisa. Talvez por causa do nome, ou pela localização, este restaurante tinha fama de ser “the point”, um local preferido pelos jovens da cidade. Também nossos rapazes, quando podiam em dias de visita, ou aqueles que estavam na Retórica e tinham mais oportunidades de sair, para lá se dirigiam. Inaugurado em 1939, isto é, cinco anos antes deste fato, o estabelecimento, com dificuldades financeiras, passou por meia dúzia de proprietários diferentes, cada um fazendo melhorias, mas conservan- do o nome tradicional. Até que chegou o dono atual, mais hábil em administrar, e que finalmente conseguiu se manter lá há já algumas dezenas de anos. Quando posso, ainda hoje aí vou consumir alguma coisa. Duas décadas mais tarde, nos anos em que fui professor no Instituto Padre Nicolau, pudemos conviver com um Pe. Henrique Alofs diferente: colega gentil, um tanto quanto desequilibrado (inclusive porque sofria de labirintite), interessado em tudo, calmo, com alguns laivos de revolucionário. Mas às vezes percebia-se que por baixo das cinzas adormecidas, jaziam as velhas brasas que conhecêramos como criança. Teve vida longa: faleceu em 1987, com 79 anos. Foi de férias à Holanda e não mais retornou. Passou os últimos vinte anos ajudando em paróquias, ensinando português aos que vinham ao Brasil, fazendo viagens, lendo e escrevendo, sempre curioso, querendo participar da comunidade. Em homenagem, hoje fazemos uma despedida na linguagem da sua querida Rotterdam: “Hallo, mijn vrienden, goede middag!” "O tempo passa..." - IPN 1962 - Rio Sapucaí INTER EX Julho/2011 22 A Capela do Sítio Afonso Peres da Silva Nogueira O lhos sonolentos. bocejos... “Introibo ad altare Dei.” “ Ad Deum qui laetificat juventutem meam.” Era o início da Santa Missa. Lá fora, as rolinhas arrulhavam, os sanhaços cantavam e o bem-tevi fazia fofocas. A mente sonolenta estava lá. Lá, com os pássaros nas mangueiras. Ali dentro da Capela, as coisas se passavam maquinal mente. A Santa Missa se desenrolava com muito pouco ou nenhuma unção. Assim se passavam minhas férias no sítio São José do Barrocão. A gente era muito moço. Jovem... Queria ser padre. Estudava para ser padre. Vivia ex- Ibicaré - 2011 INTER EX Julho/2011 teriormente como padre, mas o coração ainda estava no mundo, imbuído das coisas do mundo. Ano após ano. Férias após férias. A Retórica... Férias em casa. Noviciado. Votos e Filosofia. Fim... Após um ano e meio na Filosofia, houve um ponto final e muitos anos se passaram até 2001. Voltei ao Sítio São José do Barrocão. Voltei à capela! Não ouvi mais a saudação latina, mas também não ouvi, ou melhor, não quis mais ouvir as rolinhas, os sanhaços e os bem-te-vis. Olhos cansados, corpo fragilizado. Undécima hora... “Vinde à minha Vinha!” Era o Cristo que passava uma vez mais na minha vida com sua imensa Misericórdia. Olhos fixos no Altar. As palavras penetrando fundo em meu coração. Olho a cruz. Olho o Cristo e os versos do Sebastião Mariano vêm-me à mente, embargam-me a voz: “Seu abraço na Cruz esboçado, mas sustado por cravos renhidos, quer o Mestre por nós completado em amplexo aos irmãos desvalidos.” Continuo olhando a cruz sobre o altar. Quanta serenidade! Que postura! Somente um Deus. Deus que carrega sobre si os nossos pecados, Deus que pede perdão por nós ao Pai: “Não sabem o que fazem.” Deus que entrega sua própria mãe para ser também a NOSSA MÃE. Deus que exclama: Tudo está consumado, em Tuas Mãos entrego Meu Espírito... Deus que tem certeza da RESSURREIÇÃO. A dor no peito é grande. Grande a emoção ao receber na Eucaristia o Cristo vitorioso, o Cristo ressuscitado. O Final da Missa. Todos saem. Vamos preparar-nos para o churrasco. Todos querem ver o boi no rolete... Quieto, aconchegando o Cristo recém-recebido, vou até o carro. Uma idéia! A máquina fotográfica. Tiro uma foto daquele altar. Outra da cruz. Essa será a maior lembrança, a única verdadeira que vou guardar daquele 55º Encontro dos Ex-alunos M S C. Tudo: viagem, gastos, cansaço... Tudo ganhou sentido. Sentido profundo ao pé daquele Altar, daquela cruz, daquele Cristo, naquela Celebração incruenta da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus. Obrigado, Mestre! Obrigado, por me teres contratado ainda uma vez, na undécima hora. Nesta última hora, a mais difícil. Difícil, quando as forças já se estão indo. Agora sei por que a todos pagaste igualmente com o mesmo valor. 23 Divagando Divagando Cada batina é uma história Gino Crês (1948-1953) Gino Crês(1948/1953) Foto oto histórica histó ca - 1956 19 6 escolasticado A cada edição que circula o nosso Inter-ex, confirma-se a condição de ser autêntico álbum da família MSC, pois as suas vinte e tantas páginas não apenas divulgam fotos que nos velhos tempos movimentaram a nossa vida de ex-alunos, como também trazem recordações e mostram para os mais novos, como era a nossa vida e os religiosos batinados nos vários seminários pelos quais passamos. Assim, dentro do espírito de “recordar é viver”, temos contado com a indispensável colaboração do nosso incansável e competente presidente Gomes e de muitos abnegados colaboradores. Já há algum tempo, recebemos do ex-aluno bauruense, Sérgio Riehl, uma importante colaboração, uma fotografia mostrando um grupo de batinados (bispo, padres, irmãos, escolásticos, noviços, frater, ex-alunos) em São Paulo, na porta de entrada do Escolasticado, num longínquo mês de março de 1956, prestando uma homenagem ao Padre Antônio Van Ess por ocasião de sua volta de umas férias na Holanda e de sua nomeação como Diretor Espiritual do Seminário de Pirassununga. Temos certeza de que muitos colegas, ao verem esta foto, viverão intensamente, um passado repleto de emoção e saudade, pois cada batinado traz uma história, uma feliz lembrança. Relação (números e nomes) dos retratados 33. Pe. Durval Chechinato (desb.) 1. Pe. Luís Gardinal (+) 34. Pe. Tomás Beckman(dioc.) 2. Pe. Humberto Capobianco 35. Afonso Peres (n.o.) 3. Pe. Paulo Castro (desb.) 36. Pe. Geraldo H.Van Rooijen + 4. Pe. Lázaro Sabino (+) 37. Pe. Leo Leenders (+) 5. Lourenço Costa (n.o.) 38. Pe. Agenor Possa 6. Geraldo Magela(n.o.) + 39. Antônio Carlos Ribeiro (dioc.) 7. Pe. César Augusto Machado (+) 40. Pe. Graciano Van Westeinde (+) 8. Pe. Amadeu Gusmão (+) 41. Pe. Adriano Van Iersel + 9. Pe. Francisco Jansen 42. Irmão João V. de Borne (+) 10. Dom Pedro Paulo Koop (+ bispo) 43. Pe. Afonso Bertazzi (desb.) 44. Pe. Afonso Ribsamen + 11. Pe. Francisco Paiva(dioc.) 45. Ir. João Ter Horst + 12. Pe. Luiz Niewwnhuis (+) 46. Irmão Estêvão Peters (+) 13. Pe. Geraldo Paiva (desb.) 47. Pe. Laureano M. da Cunha (+) 14. Pe. Agenor Cardim (+) 48. Pe. Bernardo Ditters (+) 15. Geraldo Lima Silva (dioc.) 49. Pe. Ângelo Cardillo d´Ângelo (+) 16. Hélcio de Mello (n.o.) 50. Frater João Bannwart (+) (n.o.) 17. Pe. Cornélio Van Gils (+) 51. Pe. Nélson Sigrist (+) 52. Pe. Huberto Van t’ Westeinde (+) 18. Vicente Brunetta (+) 53. Pe. Almir Silva (+) 19. Francisco Honório (n.o.) 20. Pe. João Batista van de Berg 54. Pe. Luís Xavier (desb.) 55. Pe. José Willing + 21. Pe. Ézio Monari (desb.) 56. Antônio Beckman (n.o.) 22. Pe. Pedro Verdurmen + 57. Mauro Pasquarelli (frei trapista) 23. Pe. Leonardo Hendriks (+) 58. Pe. Alberto José Antonelli (desb.) 24. Pe. Teodoro Hebinck (+) 59. Pe. Henrique Roberto 60. Pe. Jerônimo Vermin (+) 25. Pe. Antônio Vermin (+) 61. Irmão Henrique Forgeron (+) 26. Pe. Irineu Benneman (+) 62. Pe. Aloísio Pereira Pinto (+) 27. Nivaldo Bortoliero (n.o.) 63. Pe. Francisco Van de Vater + 28. Pe. Lamberto Prins (+) 64. Benedito Jones Filho (n.o.) 29. Pe. Cornélio Van De Made (+) 65. Pe. Benedito Tarcísio De Lima 30. Pe. Luís Figueiredo (+) 66. ? 31. Pe. Albino Diniz (desb.) 67. Pe. Salvador Andreetta (+) 32. Pe. Xavier Geurts (+) 68. Pe.José A. dos Santos (desb.) + OBS.: Pe. (ordenado padre) Desb. (deixou a batina, desligou-se da Congregação) (n.o.) Não-ordenado - ? Sem Referências + (falecido) ? (sem referências) INTER EX Julho/2011 24 Embromation Carlindo Maziviero (60/71) D esde o nascimento, estamos em constante busca da felicidade e a música representa uma importante fonte de estímulos e equilíbrio para o ser humano. Ela nos torna mais sensíveis, disciplinados, reflexivos e motivados para a vida. Está em todas as culturas e a musicalidade representa uma vantagem evolutiva presente apenas no gênero humano. A música une as pessoas. Em nossa formação no seminário, ela tinha capital importância, mas eu nunca lhe dei muito valor. Sempre fui um aluno, digamos, beirando o razoável. Tirava boas notas, passava quase sempre por média, porém, na aula de música, era desinteressado. Estudava o suficiente para passar de ano, mas não aprendia de verdade. Bastava alcançar as notas que me aprovariam para, instantaneamente, tudo o que havia sido decorado evaporar da minha cabeça. Não tenho orgulho nenhum em contar isso, e me arrependo bastante de não ter prestado atenção pra valer nas aulas do padre Gusmão e de não tocar nenhum instrumento. Mas foi assim. E só fui me dar conta do prejuízo, quando vieram os filhos. Projetei neles, minhas frustrações. Admito que estudei mas não aprendi nada, apesar de ter uma memória mediana e uma capacidade de compreensão que não era das piores. Acho lastimável o que me restou em termos de conhecimento musical. Apesar dos esforços dos professores, a matéria me parecia inútil. No coral, a minha participação era apenas numérica. Além de desafinado, eu não tinha ritmo. Eu não era o único desprovido desses dotes musicais, tanto que formávamos outro coral denominado “Bossa Nova”, cujo dirigente era Irmão Adriano. Ele, após muitos esforços, conseguiu do Padre Superior autorização para irmos jogar futebol ou nadar na lagoa do Rosin, nesse horário. Creio que se o “Bossa Nova” fosse um conjunto de percussão, com certeza bateríamos fora do bumbo (os mais habilidosos ). Tornamo-nos, contudo, bons ouvintes nas missas solenes e admiradores dos pianistas que se exibiam nas festas. O seminário nos oferecia, além da formação acadêmica, esporte e lazer, oportunidade para desenvolvimento de outros dons artísticos, como teatro (vide Flavio Migliaccio), música e pintura (Ézio Munnari) Valorizo e admiro os colegas que desenvolveram seus dotes musicais seja para deleite pessoal, para animar reuniões ou que fizeram disso um meio de subsistência. Freud, porém, vem em meu auxilio para desvendar essa apatia em relação ao estudo da música. Havia um piano no porão, embaixo de minha sala de INTER EX Julho/2011 estudos, no qual os iniciantes martelavam as primeiras notas. Segundo a interpretação freudiana, aquela repetição sistemática e enfadonha dos exercícios foi a causa da minha aversão ao monstro sonoro. O som estridente daquela besta de madeira tirava-me a concentração das batalhas de Cesar, nas traduções de latim, ou das aventuras de Ulisses, nas tarefas de grego. Estava ai a causa do meu trauma. Encontrada a causa e justificado meu desdém pela música, restame uma preocupação. A ciência afirma que a música e os ritmos são primordiais na evolução humana e nenhum outro animal será capaz de executá-los. Será que eu... LARGO AL FACTOTUM Lupo da Gubbio “Haverá de permanecer a lembrança de sua voz, de seu sorriso, de sua imagem, do seu jeito de ser”. Com esta frase simples, singela e comovedora, nosso caro articulista, Carlindo Maziviero, encerra o seu belo texto sobre o Irmão Forgeron, no Inter-Ex de número 115, novembro de 2010. Belo texto mesmo. Muito bem escrito, cativante. Com poucos traços o articulista retratou o saudoso Irmão Henrique Bowman, o famoso e inesquecível Irmão Forgeron. Nascido na Holanda em 1910, veio para as nossas bandas lá pelo ano de 1937, em junho. Sua primeira nomeação foi exatamente para Pira. Fez inúmeras paradas em outros portos da Província Brasileira. Mas a maior parte de sua vida, somando todos os anos, passou em Pira, seu primeiro amor em terras brasilis. E lá está ainda com os restos de sua matéria naquele singelo cemitério em a nossa Chácara, estabelecendo–se aí definitivamente no dia 10 de junho de 1979. Mas sua pessoa anda por toda parte, onde haja um ex-aluno MSC, pois está no coração de todos nós. Foi um homem simples, o que o tornou grande demais. Cativou a todos com aquele seu “jeitão” holandês, franco, decidido, risonho e prestativo. A mim se ligou por uma simpatia especial. Quando já formado, fui nomeado professor na saudosa E. Apostólica. Lá estava ele ainda. Não o mesmo. Melhorado, aperfeiçoado. Apesar de brincalhão, sempre tratava a todos e a mim em especial com um respeito mais especial. Seu rosto de criança grande se iluminou sobremaneira naquele dia em que lhe presenteei com uma pequena obra de minha lavra. Levou-a para a Holanda. Fiquei, porém, decepcionado quando em 2006, ao visitar o Reiksmuseum de Amsterdam fiquei sabendo que a mesma tinha sido substituída pela Ronda Noturna de Rembrandt. A família Bowman a havia readquirido depois de um longo e dispendioso processo na Corte de Haia. O Irmão Forgeron gaguejava. A causa desse seu tique, segundo me confidenciou o saudoso Pe. Mário Pennock, foi o fato repetitivo de o mesmo Irmão Forgeron arremedar certas pessoas (confrades) gagas de nascença. De fato, o hábito faz o monge. Se eu tivesse um pouco das prendas domésticas de nosso querido amigo Alberto Antonelli, que magistralmente sabe domesticar as teclas do piano e o preenchimento correto com “bolotinhas pretas” (no dizer do igualmente saudoso Pe. Aloísio) as folhas pautadas, eu faria numa fúria mozarteana uma paródia do Barbeiro 25 de Sevilha, usando “Rossoni” como pseudônimo, homenageando assim nosso exímio colega historiador. “La ran la le ra, la ran la la…/ Largo al factotum della città! / Presto a bottega (não Ivo Bottega)/Che l’alba è già... / Pronto a far tutto, / la notte, il giorno, / sempre d’intorno / in giro sta. Qua la parruca, / presto la barba,/qua la sanguigna, / presto Il biglietto. Ehi, Forgeron; son qua! / Bowman qua, Forgeron là, / Forgeron su, Bowman giù ./ Pronto,prontíssimo / Ah, bravo Forgeron, / Bravo, bravissimo. / Son il factotum della comunità / A te la fortuna non mancherà. / Son il fratello della comunità / E tutta la mia carità / A tutti l’offrirà...” Mesmo nas férias, a rotina das práticas piedosas nunca fora abolida ou interrompida. Uma parte dos alunos estava de férias no Sítio do Barrocão. A outra parte permanecia no seminário, aguardando o revezamento. Era o Tempo da Epifania no calendário litúrgico. As orações antes e depois das grandes refeições seguiam o espírito do ano eclesiástico. A comunidade estava reduzida pela metade, e mesmo assim nos reuníamos para as refeições em comum. Padres e professores, Irmãos e alunos (os Maiores) se mesclavam ao redor das mesas, quebrando desta forma aquele rigor disciplinar do ano letivo. Tudo era festa. Em um desses dias de férias todos nós nos congregamos para o almoço costumeiro. O Irmão Forgeron costumava sentar-se ao meu lado, pois o nosso bate-papo comum nos unia. Ao iniciar as orações ante prandium a praxis litúrgica devia ser mantida. Isto quer dizer que as orações costumeiras (todas em latim) eram adaptadas ao momento litúrgico, saindo da bitola comum dos dias comuns. Claro que nem todos sabiam de cor as respostas latinas, agora diferentes, mas assim mesmo a máquina engrenava meio aos solavancos. O Pe. Superior iniciou solenemente as preces ante prandium: Reges Thasii et insularum ex Oriente venerunt, alleluia, alleluia, ao que todos nós respondíamos: Et adoraverunt Eum, alleluia, alleluia. Era óbvio que os Irmãos Leigos não estudavam latim. Consequentemente não tinham obrigação alguma de saber responder em latim. Mas mesmo assim, esses abnegados Irmãos se esforçavam para decorar o que podiam. Ao meu lado o Irmão Forgeron mantinha-se ereto como sempre. De acordo com um costume seu, costumava cruzar as mãos sobre a barriga, na altura da faixa abdominal da batina e, com os dedos entrelaçados. rodava os polegares em torno de um eixo invisível. Era um hábito seu, tipicamente seu. E enquanto todos nós respondíamos àquela festiva prece da Epifania, ele naquele seu vozeirão plutônico e subterrâneo e muito sério rezava: “E eu também estive lá, aleluia, aleluia.” Repetia isso todas as vezes ao meu lado a fim de me tirar do sério. Saudoso Irmão Forgeron, a sua pessoa nos marcou. E muito. O seu espírito de “disponibilidade” aí está nos acenando em meio a tanto egocentrismo globalizado. O seu cântico de guerra foram as palavras do evangelho: “O Filho do Homem veio para servir e não para ser servido”. Sinto que o meu amigo e gurú Sombra já está me fuzilando com seu olhar escuro, das profundezas do abismo. Ultrapassei os limites gráficos estabelecidos, e a paciência do Paese também. Desta vez nem ele vai me tolerar. Mas prometo me corrigir para o futuro. Igualmente, vou diminuir o tamanho da letra, para caber dentro dos limites estabelecidos. É certo que ler dá azia, segundo um grande estadista nosso. INTER EX Julho/2011 26 Ser Mineiro N ós, oriundos das Minas Gerais, sempre fomos gozados principalmente pelos paulistas, que nos tinham (ou ainda tem?) como “compradores de bondes”. Mal sabem os “gozadores” o que seja ser mineiro. Por mais que tentem nos conhecer mais, a essência do mineiro mostra suas características e peculiaridades. No texto em sequência, um dos nossos conceituados escritores, formado na clã dos dominicanos, nos apresenta algumas facetas do “mineiro”, que somente quem passou ou vive ao pé ou nos altos de nossas montanhas pode entender. Vai aí a reflexão. Ser Mineiro “Como todo mineiro é um pouco filósofo, há um mistério sobre o qual venho há anos especulando: “o que é ser mineiro?” Das reflexões e inflexões que extraí sobre a mineirice, muitas delas colhidas em filosóficas inscrições de rótulos de cachaça e quinquilharias de beira de estrada, eis as conclusões prévias e provisórias, sujeitas a chuvas e trovoadas, a que cheguei: Ser mineiro é dormir no chão para não cair da cama; usar sapatos de borracha para não dar esmola a cego; sorrir sem mostrar os dentes; tomar café ralo para esconder dinheiro grosso. É desconfiar até dos próprios pensamentos e não dar adeus para evitar abrir a mão. Mineiro pede emprestado para disfarçar a fartura. Se é rico, compra carro do ano e manda pôr meia sola em sapato usado. Mineiro vive pobre para morrer rico. Mineiro não é contra nem a favor; antes, pelo contrário. Mineiro fala de desgraça, doença e morte, e vive como quem se julga eterno. Chega na estação antes de colocarem os trilhos, para não INTER EX Julho/2011 Walter Figueiredo (51-62) perder o trem. Relógio de mineiro é enfeite. Pontual para chegar, o mineiro nunca tem hora para sair. A diferença entre o suíço e o mineiro é que o primeiro chega na hora. O mineiro chega antes. O bom mineiro não laça boi com embirra; não dá rasteira em pé de vento; não pisa no escuro; não anda no molhado; não estica conversa com estranhos; só acredita em fumaça quando vê fogo; pede no açougue lombinho francês; só arrisca quando tem certeza e não troca um pássaro na mão por dois voando. Mineiro fala de política como se só ele entendesse do assunto; finge que acredita nas autoridades e conspira contra o governo; faz oposição sem granjear inimigos; gera filhos para virar compadre de político; foge da luz do sol por desconfiar da própria sombra; vive entre montanhas e sonha com o mar; viaja mundo para comer, do outro lado do planeta, um tutu de feijão com couve picada. Ser mineiro é venerar o passado como relíquia e falar do futuro como utopia; curtir saudades na aguardente e paixão em serenatas; dormir com um olho fechado e outro aberto; acender vela à santa e, por via das dúvidas, não conjurar o diabo. Ser mineiro é fazer a pergunta já sabendo a resposta. É ter orgulho de ser humilde. É bancar a raposa e ainda insistir em tomar conta do galinheiro. Mineiro fica em cima do muro, não por imparcialidade, mas para poder ver melhor os dois lados. Cabeça-dura, o mineiro tem o coração mole. Acredita mais no fascínio da simpatia que no poder das idéias. Mineiro é isso, sô! Come as sílabas para não morrer pela boca. Fala manso para quebrar as resistências do interlocutor. Sonega letras para economizar palavras. De vossa mercê, passa para vossemecê, 27 vossência, vosmecê, você, ocê, cê e, num demora muito, usará só o acento circunflexo! Mineiro fala um dialeto que só outro mineiro entende, como aquele sujeito que, à beira do fogão de lenha, ensinava o outro a fazer café. Fervida a água, o aprendiz indagou: “Pó pô pó?” E o outro respondeu: “Pó pô, pô”. Ser mineiro é saber criar bois, filhos e versos. É ir ao teatro, não para ver, mas para ser visto. É freqüentar igreja para fingir piedade; rir antes de contar a piada e chorar com a desgraça alheia. Mineiro adora sala de visitas encerada e trancada, na esperança do deretorno do rei. Avarento, não lê o jornal de uma só vez para não gastar as letras, e ainda guarda para o dia seguinte para poder ter notícias. Mineiro não lê, passa os olhos. Não fala ao telefone, dá recado. Praia de mineiro é barzinho, restaurante, balcão de armazém e cerca de curral. Ali a língua rola solta na conversa mole, como se o tempo fosse eterno. Certo mesmo é que o momento é terno. Ser mineiro é ajoelhar na igreja para ver melhor as pernas da viúva, freqüentar batizados para pedir votos e ir a casamentos para exibir roupa nova. Mineiro vai a enterro para conferir quem continua vivo. Nunca sabe o que dizer aos parentes do falecido, mas fica horas na fila de cumprimentos para marcar presença. Leva lenço no bolso para o caso de ter de enxugar as lágrimas da família. Não manda flores porque desconfia que a flora não cumpre o trato e embolsa a grana. Ser mineiro é esbanjar tolerância para mendigar afeto. É proferir definições sem se definir. É contar casos sem falar de si próprio. Mineiro é feito pedra preciosa: visto sem atenção não revela o valor que tem. Mineiro é capaz de falar horas seguidas sem dizer nada. Esconde o jogo para ganhar a partida. Cumprimenta com mão mole para escapar do aperto e acredita que a fruta do vizinho é sempre mais gostosa. Mineiro age com a esperteza das serpentes, mas se veste com a simplicidade das pombas, e encobre suas contradições com o manto fictício da cordialidade. Mineiro é como angu, só fica no ponto quando se mexe com ele. Desconfiado, retira o dinheiro do banco, conta e torna a depositar. Ser mineiro é fazer cara feia e rir com o coração; andar com guarda-chuva para disfarçar a bengala; fumar cigarro de palha para espantar mosquitos; mascar fumo para amaciar a dentadura. Mineiro sabe quantas pernas tem a cobra; escova os dentes do alho; teme rasteira de pé de mesa; toma café ralo para enxergar o fundo da caneca e, por via das dúvidas, põe água e alpiste para o cuco. Ser mineiro é fingir que não sabe o que bem se conhece. Mineiro que não reza não se preza. Religioso, na crendice mineira há lugar para todos: o Cujo e a mula-sem-cabeça; assombrações e fantasmas; duendes e extraterrestres. Pacífico, mineiro dá um boi para não entrar na briga e a boiada para continuar de fora. Mas, se pisam no calo do mineiro, ele conjura, te esconjura, jurado e juramentado no sangue de Tiradentes. “Minas Gerais é muitas”, como disse Guimarães Rosa. É fogão de lenha e comida preparada na panela de pedra sabão; é turmalina e esmeralda; é tropa de burro e rios indolentes chorando a caminho do mar; é sino de igreja e tropeiros mourejando gado sob a tarde incendiada pelo hálito da noite. Minas é Mantiqueira e serrado, é Aleijadinho e Amílcar de Castro, é Drummond e Milton Nascimento, é pão de queijo e broa de fubá. Minas é uma mulher de ancas firmes e seios fartos, sensual nas curvas, dócil no trato, barroca no estilo e envolta em brocados, ostentando camafeus. Minas é saborosamente mágica. Mineiro sai de Minas, mas Minas não sai da gente. Fica uma dor forte, funda, farta e fértil, tão imponderável como o amor místico, onde o coração lateja embevecido por inefável paixão. Ave Minas! Batizada Gerais, és uma terra muito singular.” (a) Frei Beto – da Congregação dos Dominicanos Reunião de Ex-Alunos em Guararema V ários ex-alunos MSC das turmas de 1980/90/2000 , que iniciaram no IPN de Itajubá, têm se reunido no sítio dos MSC em Guararema, nos últimos três anos. Essa louvável iniciativa deve-se ao Sandro Martins ([email protected]) da turma de 1986. Fez filosofia em São Paulo e noviciado em Pirassununga. No primeiro Encontro conseguiu reunir seis ex e já no último de 2010, o número subiu para dezoito. Eis alguns dos que lá estiveram em 2010: Waldir Sabóia, Emílio Souza, Paulo Expedito, Marcílio, Ivandro, Nilson, Emerson Afonso, Ivonil Parraz, Luiz Carlos da Costa, Tiago da Fonseca, e o novo ex-MSC Mauro Souza. O Sandro informa que se esforçará para levar seu grupo a Pirassununga, no final de agosto. Também em Bauru, sob a liderança do Gino Crês vêm ocorrendo Encontros há muitos anos, sempre no mês de dezembro e temos notícia que também o Nilo Jorge F da Cruz, lá de Búzios-RJ, pretende começar a reunir o pessoal oriundo do Estado do Rio. Considerando que todos nós, novos ou antigos, bebemos da mesma fonte e “relembrando que um dia já fomos companheiros de um sonho comum, proclamemos bem alto que somos um por todos e todos por um”, como diz o refrão do hino dos ex-alunos. Vamos reunir forças e prestigiar os encontros onde quer que aconteçam, porque somos todos ex-alunos MSC e carregamos no peito aquele mesmo carisma da Congregação que, de braços abertos, acolheu todos nós. Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos propósitos. INTER EX Julho/2011 28 Notícias da Província de São Paulo João Costa Pinto (1953-1966) INTRODUÇÃO Sob o título “Para início de conversa”, o Superior Provincial, Pe. Cortez, falou do Capítulo Provincial, da obediência, tema do próximo Capítulo Geral, que vai-se realizar na Espanha, em setembro próximo. Obediência era o estandarte do beato Papa João XXIII, o qual, como bispo, escolhera o dístico “Obediência e Paz”. E sobre João XXIII, ele acrescenta: “Esse homem atingiu o cimo da obediência aceitando até mesmo mandar.” Em suas despedida como Provincial, o Pe. Cortez saúda o Pe. Manoel Ferreira dos Santos Jr., seu sucessor, em cujas mãos, diz ele, a Província continuará caminhando com vigor e esperança. Com humildade, fala que errou muito e pede perdão a cada confrade e companheiro. Ele se dá conta, nos seis anos de mandato, da beleza que existe no seio da comunidade e diz da riqueza escondida no coração de cada confrade. Afirma ter aprendido com todos os confrades, especialmente os doentes e aqueles que partilharam suas dores, esperanças e angústias. Nunca se sentiu só, sempre teve ajuda, compreensão e apoio de todos. É testemunha de que N. Sra. do Sagrado Coração tudo faz na Congregação e que, ela e São José não faltaram em nenhum momento, mesmo nas causas aparentemente impossíveis. Finalizando, agradece o apoio da Administração Geral, do Pe. Mark Mcdonald. Agradece aos irmãos de outros grupos MSC no Brasil, aos conselheiros, formadores e membros de cada Comissão, a todos os religiosos, formandos, funcionários e colaboradores leigos. O Sacramento da ordem O Sacramento da Ordem (“sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedech”) Dois grandes acontecimentos enriqueceram a Província de São Paulo e a Congregação, ambos em virtu- de do Sacramento da Ordem: a ordenação presbiteral do diácono Mauro Fernando Ferreira e a sagração episcopal do Pe. Agenor José Girardi, MSC. I - Como anunciado no Boletim anterior, o diácono Mauro Fernando Ferreira receberia em breve o Sacramento da Ordem. Foi o que aconteceu em 29 de janeiro, na cidade de Palmeirândia-MA. Pela imINTER EX Julho/2011 29 Um sacerdote de prata O Pe. Ivo Trevisol, celebrou em janeiro seus 25 anos de sacerdócio em Ibicaré-SC, numa grande festa em família e na celebração eucarística, junto com os confrades e o povo da cidade. Ele trabalha em PariCachoeira-AM. “Padre Ivo, siga sendo esse homem que fala de Deus, esse pastor que cuida desses prediletos do Pai, os pobres. Que sua presença junto aos povos indígenas seja sempre sinal de esperança de dias melhores para este povo tão esquecido. Bendito seja Deus pela sua vida! foram palavras do Pe. Cortez, Superior provincial. posição das mãos do nosso querido Dom Ricardo P. Paglia, mais um diácono foi elevado ao presbiterato. Estavam presentes os padres Superior Provincial, Ribamar Frazão, pároco local, e outros padres da Província de São Paulo e de outras paróquias da diocese de Pinheiro, entre os quais o Pe. Luís Risso e o Pe. Bento Dominici, este último pároco de Palmeirândia por dez anos. Foi grande a participação dos familiares e dos amigos das cidades de outros Estados onde o ordenando residiu durante sua formação e no exercício do diaconato. O Pe. Mauro logo iniciou seu ministério como vigário paroquial em Santa Helena. II - No dia 25 de março, em Francisco BeltrãoPR, o Pe. Agenor José Girardi, nomeado pelo papa Bento XVI bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre, em solene celebração eucarística na catedral Nossa Sra. da Glória, recebeu sua sagração episcopal, presentes milhares de fiéis de várias regiões do país, numerosos bispos e arcebispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, seminaristas e autoridades, além do Superior Provincial, Pe. Cortez, Dom Fernando Panico, bispo sagrante, e Dom Ricardo P. Paglia. O novo bispo, o terceiro dos MSC no Brasil, escolheu “Ametur Cor Jesu” como lema do seu episcopado e inseriu em seu brasão episcopal, entre outros símbolos, uma cruz vermelha lembrando o sangue dos mártires, um rio, fonte perene de espiritualidade e o Coração de Jesus, motivação de seu ministério pastoral. Iniciou seu pronunciamento já como bispo com a invocação Amado seja por toda a parte o Sagrado Coração de Jesus. Agradeceu a Deus por suas duas famílias, aquela em que nasceu e a família MSC, que escolheu em sua vocação sacerdotal e missionária. Agradeceu ainda a presença carinhosa dos Leigos MSC. (N.R - Sobre a cidade de Francisco Beltrão, ler NR 2) Posses Em virtude das Nomeações e Transferências-2011: o Pe. Jênisson Lásaro assumiu a paróquia de Sto. Antonio de Itaitinga; o Pe. Abimael F. do Nascimento está atuando em Itapetininga e, em Itajubá, o Pe. José Roberto Bertasi exerce sua nova missão na Matriz da Soledade e ajudando no Santuário N. Sra. da Agonia; em Santa Helena-MA o neossacerdote Pe. Mauro Fernando Ferreira assumiu como vigário paroquial, na companhia do Pe. Domingos Higino; em Piranguçu já estão atuando o Pe. Nelson Ribeiro de Andrade, como administrador paroquial, e o Pe. Rosário Martins de Azevedo, como vigário.; em Itajubá na comunidade de Vila Vicentina, Igreja N. Sra. Aparecida, está o Pe. Benedito Tarcísio de Lima, que também colabora na paróquia da Soledade. O Pe. Giberto Gonçalves navegou rio acima até Pari-CachoeiraAM, terras de fronteira, onde serve ao Reino de Deus. O Pe. Ludovico Laaber está partindo definitivamente para sua terra natal, Salzburgo, Áustria., após fecundo ministério e longo período de colaboração e apoio à Missão no Brasil e à Província de São Paulo. Completará em 29 de setembro seus 50 anos de vida religiosa. O jovem Carlos Eduardo dos Santos continua em São Gabriel da Cachoeira-MA, onde está fazendo o Pré-Noviciado, no qual é acompanhado pelos MSC do Amazonas. INTER EX Julho/2011 30 Escola em Pastoral no dia 7 de maio pelo Pe. Lucemir Alves Ribeiro, membro do Conselho Provincial de Colégios, Missa de Ação de Graças pelas mães dos alunos, sob a coordenação do Fr. Michel dos Santos e do Fr. Fernando Clemente. Vozes infanto-juvenis do coral do Externado realçaram a solenidade. Aspirantado e Postulantado Entre os Colégios da Congregação existe hoje mais unidade, graças à união de forças e ao compartilhamento de necessidades, angústias e desafios. Sendo escolas confessionais, o espírito de Missão evangelizadora se faz presente por meio da educação. Trata-se de tarefa exigente. Uma boa oportunidade de evangelizar é ensinar os princípios cristãos aos alunos, principalmente no Externato N. Senhora do Sagrado Coração, no Colégio Chevalier e no Colégio John Kennedy-Unidades I e II. O lema é “Evangelizar educando e Educar evangelizando”. Houve um Retiro-Encontro no dias 13 e 14 de janeiro, em Guararema, com a presença de diversos professores, coordenadores e diretores das escolas MSC, com vistas à construção de uma escola mais cristã, evangelizadora e em sintonia com os tempos atuais. Em sequência, ainda em janeiro, com início no dia 24, na Capela do Rosário, foi promovida uma Semana de Planejamento do Colégio John Kennedy, com presença maciça de diretores, professores e funcionários das Unidades de Pirassununga e Porto Ferreira. Foi ministrada Aula Inaugural sobre a educação da juventude, à luz dos documentos da Igreja, que realçam a importância desse ministério, pelo qual se pode manifestar o carisma MSC. É essa a proposta para as escolas MSC: “Educar Corações Novos para um Mundo Novo”. Acontecimento importante para o Externato N. Sra. do Sagrado Coração e o Colégio Chevalier foi uma Semana Pedagógica, presentes o teologante Fr. Michel dos Santos, o Pe. Lucemir Alves Ribeiro e a Assessoria Alabama. Foram criadas as Comissões de Pastoral da Educação, compostas de membros do corpo docente e de pais de alunos. Oportuno registrar que estudantes dessas escolas tiveram boa aprovação na FUVEST e em outras universidades de renome. Na linha da Pastoral da Educação, no Externato N. Sra. do Sagrado Coração, Vila Formosa, foi celebrada INTER EX Julho/2011 Em São Luís-MA, em solene celebração eucarística concelebrada, foram comemorados no dia 2 de fevereiro 64 anos de vida religiosa consagrada do Pe. João Crisóstomo, 23 do Pe. Maristelo, 6 anos do Pe. Francisco Tarcísio e 5 do Pe. Mauro Fernando Ferreira, recentemente ordenado. O Aspirantado conta com os estudantes: Luís (Fortaleza) e Wallace (Rio de Janeiro), enquanto que o Postulantado está com 4 seminaristas: Camilo (Santa Helena-MA,) Elinaldo (Itaitinga-CE), Eduardo (São Tomé-RN) e Alex (Fortaleza) Propedêutico 2011 - Pirassununga Estão no Propedêutico os seminaristas: Renan Jonas Pereira (19 anos) de Piranguçu-MG, cursando o 2º. Colegial; Elivelton Vinicius Ribeiro, 16, de Delfim Moreira-MG e Douglas Roberto Fortes, 17, de Delfim Moreira-MG, ambos cursando o 3º. Colegial; Diego Manoel de Sousa, 19, de São Bernardo- 31 SP e Bruno Danilo Fernandes, 21 anos, de Pirassununga, ambos fazendo cursinho. Todos estudam no Colégio John Kennedy. Postulantado São José Em Campinas-SP, os seis jovens postulantes, sob a orientação do Pe. Lucemir Alves Ribeiro e na companhia do Pe. Francisco Janssen, já estão cursando filosofia. São eles: Patrick, Lucas, Maycon e José Marcos, de Minas Gerais, Paulo e Fernando de São Paulo e Sandro de Pernambuco. Teologado MSC - Vila Formosa - SP sença do sacerdote que lhes traz a Santa Eucaristia. Há muito trabalho na sede da missão com 5 comunidades: catequese, formação de lideranças e ensino de liturgia. A casa paroquial próxima à matriz está em reforma. O Pe. Domingos arregaça as mangas para o que se faz necessário, inclusive para melhorar a aparência da igreja. Ele conta agora com a ajuda do novo sacerdote Pe. Mauro Fernando Ferreira, como seu vigário paroquial. É grande a confiança dos fiéis no trabalho dos padres. Pe. Alfredo Niedemeier - 17 anos de Ceará O Pe. Alfredo fala de São oito os teologantes: Fernando Clemente sua missão e seu futuro no Santos e Rodrigo Aparecido Domingues (ItapetiCeará. Há 17 anos comeninga), Girley de Oliveira Reis (Teófilo Otoni-MG), çou seu trabalho pastoral Otacílio Barreto F. Jr. (Fortaleza), Michel dos Sanprocurando criar comunitos (Campinas), Ailton Rodrigues Damasceno dades e fazê-las crescer a (Floriano-PI), Jackson Douglas Furtado (Pinheiroponto de terem um dia MA) e José Saraiva Jr. (Floriano-PI). O Reitor do um padre da própria terra a elas dedicado. No comeTeologado é o Pe. Joaquim dos Santos Filho. ço as comunidades eram muitas e pequenas, espalhadas ao longo da BR-116, tendo entre si pouco contaSanta Helena, uma terra em Missão to, e em alguns casos até rivalidades. Atualmente já No relato do postulante são três as paróquias: Itaitinga, Alto Alegre e Pedras, Camilo Leônidas Sousa que já contam com a assistência de padres brasileiros. (Filosofia, São Luís), é in- Até aqui, um grande passo. E para o futuro, ele pretende ir acompanhando três Institutos de terapia para formado que o município drogados. Em dois deles, “Volta Israel, Shalom!” e situado no norte mara“Volta do Filho Pródigo”, são tratados doentes que nhense, distando 402 km viviam na rua e tinham assistência da Pastoral dos da capital São Luís, tem Sem-Teto, na pessoa da Irmã Vicentina, 82 anos. Ela, cerca de 39 mil habitantes. ao longo desse trabalho, descobriu que a maioria dos Há cerca de um ano os desabrigados era de dependentes químicos. Com MSC retornaram a essas muito trabalho foi fundado um Instituto que dá abriterras. Lá está o pároco Pe. Domingos Higino, que go e tratamento a essas pessoas. Lá trabalha o Pe. Alatende 49 comunidades, 5 na sede e as outras espalha- fredo com uma colega do curso de psicologia da Unidas pela zona rural, algumas com acesso só de barco, versidade de Fortaleza-Unifor, sendo ambos apoiados onde são feitas celebrações em capelas simples, de e acompanhados por uma psicóloga. Esse instituto e taipa ou de tijolos, algumas mato a dentro. Há casas o sítio, onde ficam os assistidos, são mantidos por vohumildes de pessoas com alegria no rosto pela pre- luntários conscientes e generosos, pois o povo de rua INTER EX Julho/2011 32 sozinho sequer tem condições de sobreviver. Ele continuará colaborando na Pastoral dos Sem-Teto e na assistência aos caminhoneiros. Continua empolgado com seus estudos de psicologia na Unifor. Tem esperanças na possível abertura de um Curso de PósGraduação em Dependência Química, para poder desenvolver um trabalho mais efetivo e oficialmente reconhecido. (Nota da Redação - Todo o trabalho e a dedicação do Pe. Alfredo e da Irmã Vicentina merecem nossa admiração) Plantão Médico origem antiquíssima. Diz o Catecismo da Igreja que os ministérios devem ser exercidos em espírito de serviço fraterno e dedicação à Igreja, em nome do Senhor”. Em síntese, o Acólito tem como função o serviço do altar e o auxílio ao sacerdote e ao diácono. Está intimamente ligado à Eucaristia, enquanto que o Leitor tem o encargo de proferir as leituras da Sagrada Escritura, exceto o Evangelho. Pode propor as intenções para a oração universal e, faltando o salmista, proferir o salmo entre as leituras. Visita do Padre Geral O Pe. Francisco Janssen, com 98 anos, lúcido, vai executando seus trabalhos diários. É o deão do Postulantado São José em Campinas. O Pe. Romeo Bortolotto segue em frente, recuperando-se de forma extraordinária, com bom humor e como bom companheiro dos confrades. O Pe. Victorio de Almeida: há tempos foi acometido do vírus da varicela, doença danada, que permanece dormente, apesar de aparentemente debelada do organismo. Esconde-se no interior de alguns gânglios do sistema nervoso, especialmente o semilunar, da base do crânio ou nos que ficam próximos à medula espinal, podendo, ainda, ocorrer em outros gânglios. Apesar de dores constantes, o Pe. Victorio segue animado. O Pe. José Maria Pinto: continua sua luta destemida, com humor refinado e inteligente. Lembramos que ele enfrentou em 2008 nova e delicada cirurgia e passou por radioterapia. O Pe. Manoel F. dos Santos Jr. fez pequena cirurgia no joelho e já está em forma. (N.R. - Em plena forma, tomou posse como novo Superior Provincial). Ordens Menores Março passado, dia 17, os professos José Saraiva Júnior e Jackson Douglas Furtado foram investidos das ordens menores do Leitorado e do Acolitato, em celebração eucarística presidida pelo Pe. Provincial, na Casa de Teologia. Esses ministérios têm INTER EX Julho/2011 O Superior Geral, Pe. Mark Mcdonald, veio ao Brasil para acompanhar os relevantes eventos da Província que tiveram início em maio de 2011, como a eleição do novo Superior Provincial, Pe. Manoel Ferreira dos Santos Jr., e a solene celebração eucarística, na matriz de Nossa Sra. da Soledade, em Itajubá, do Jubileu dos 100 Anos da chegada dos MSC ao Brasil. Os MSC voltam a Pouso Alegre, 100 anos depois No Encontro de Pirassununga, ano passado, o Superior Provincial, Pe. Cortez, adiantou como seria a comemoração dos 100 anos de presença MSC no Brasil. No dia 20 de maio, numerosa comitiva dos MSC foi até a cidade de Pouso Alegre-MG, aonde haviam chegado, em 1922, os dois primeiros MSC, Pes. Adriano van Iersel e Ludovico Kauling, vindos da Holanda. Todos participaram de momentos de oração, junto com o arcebispo da Arquidiocese de Pouso Alegre, Dom Ricardo P. Chaves Pinto, O.Praem, que salientou a importância dos religiosos na expansão da religião pelo mundo, da devoção a Nossa Sra. do Sagrado Coração e realçou o espírito missioná- 33 de Deus. A terceira é de amor, amor a Deus e aos irmãos. A visão do calvário mostra o quanto “fomos amados”. Encerra dizendo: “Nós somos missionários desse amor, que deve ser o sentimento de quem se coloca diante da cruz e diante de Deus.” (N.R.-Texto bastante resumido) O Padre Geral e o Teologado rio da Congregação. Expressou agradecimento, em nome de todo o clero, pelos serviços prestados pela Congregação, em especial na Paróquia Nossa Sra. da Soledade, em Itajubá e em outras comunidades da diocese, “onde se vê um grande esforço e dedicação”. Disse que uma congregação “nunca deve fugir do seu carisma, pois este é sua segurança e a faz adaptar-se a qualquer época da Igreja.” Os teologantes receberam a visita do Pe. Geral. Na celebração eucarística, ele discorreu sobre o cerne da vocação MSC, ressaltando a importância da Encarnação que trouxe ao mundo a presença de Deus, devendo os missionários, por sua vez, fazerem-se presentes no meio do povo, testemunhando o amor de Deus. Os seminaristas tomaram o café da manhã com o Pe. Mark e puderam com ele conversar e desfrutar do seu bom-humor. Outros Eventos da Província Missa do Jubileu Centenário em Itajubá A comitiva retornou de Pouso Alegre a Itajubá e seguiu para a Matriz da Soledade Na celebração eucarística do Jubileu, presidida pelo Superior Geral estavam presentes mais de uma centena de MSC, seminaristas, Irmãs FDNSSC e o grande povo de Deus. Na homilía, o Pe. Mark Mcdonald salientou a presença de Maria ao pé da cruz, onde o corpo de Cristo já sem vida é atingido por uma lança. Do Seu lado jorram sangue e água. Do Coração transpassado, o Pe. Chevalier vê surgir um “mundo novo”. Nasce aí uma visão especial do Cristo, fonte da vocação e da missão da Congregação. Na celebração dos 100 anos de presença MSC no Brasil, junto com Maria, a primeira atitude é de gratidão e ação de graças pelos dons recebidos. A segunda é de obediência, pois como Jesus e Maria, os missionários vieram para fazer a vontade I - Foi realizada em maio último, na quarta semana da Páscoa, a Assembléia Nacional. A celebração eucarística concelebrada pelos bispos MSC, Dom Fernando Panico, Dom Ricardo Paglia e Dom Agenor Girardi, com homilia proferida por Dom Fernando, que ressaltou os ícones do Bom Pastor e do Bom Samaritano, fonte do carisma missionário da Congregação. Comentou também o diálogo de Jesus com a samaritana. “O Bom Pastor nos espera à beira do poço de Jacó, desejando permanecer conosco para que possamos beber água viva da fonte do seu Coração e saciar nossa sede e a sede do mundo”. II - Realizou-se o Capítulo Provincial de 2011, que tratou de forma ampla da vida espiritual e fraterna, da Pastoral Vocacional, da Formação de novos missionários e da Missão em novos campos, ou novos “areópagos” no mundo moderno, como a educação, a pastoral da Justiça, Paz e Integridade da CriaçãoJIPC, o mundo digital, a comunicação e a missão “ad gentes”. INTER EX Julho/2011 34 Maria, Mãe Peregrina: o envio em Missão Sinos badalando, seis da manhã, 29 de maio, começou no Santuário de N. Sra. do Sagrado Coração, Vila Formosa, um cântico de louvor e ação de graças a Nossa Senhora. Seria um dia diferente na Casa da Mãe. Muitos romeiros, até enfermos e crianças, vieram de longe trazendo suas súplicas, agradecimentos e a alegria de voltarem ao Santuário, local sagrado de encontro com Deus e Sua Mãe santíssima. No Externato N. Sra. do Sagrado Coração, foi prestada belíssima homenagem a N. Senhora, com apresentação do coral dos alunos. Eram mais de 250 crianças caminhando em procissão. A Santa Missa foi presidida por Dom Edmar Perón, bispo auxiliar da Região-Belém. A coroa- 2a. Festa de N. Sra. do Sagrado Coração em São Luís A comunidade MSC de São Luís, com a participação de muitos fiéis e especialmente de 50 voluntários que trabalharam incansavelmente com os seminaristas Eduardo, Alex, Wallace, Gilvan, Luís, Camilo e Elinaldo, celebrou com entusiasmo a festa de Nossa Senhora, precedida de novena de 20 a 29 de maio. A celebração eucarística de encerramento foi presidida pelo Pe. João Crisóstomo Neto, na presença das várias comunidades de São Luís, onde atuam os MSC. (N.R. - Relato do Pe. Francisco Tarcísio. INTER EX Julho/2011 ção de Nossa Senhora, na presença de inúmeras crianças, feita pelo Provincial, Pe. Cortez, foi momento de oração e emoção. Nas palavras do Reitor do Santuário, Pe. Air J. de Mendonça: “Maria é luz, é graça, é aquela que conduz à Luz que é o próprio Cristo.” (Nota da Redação-Este é um resumo do relato do Fr. Rodrigo Domingues. Com surpresa e alegria encontrei antes da Santa Missa os Ex-Alunos Renato Pavão e José Maria Martarelli, que haviam acompanhado a procissão). Novo Superior Provincial Em clima de oração e após reflexões do Pe. José Roberto Bertasi ressaltando o valor da liderança, a dimensão do serviço e as funções de governo, os capitulares se dirigiram à Capela para a benção do Santíssimo Sacramento. Em seguida, com velas acesas, seguiram para a Sala do Capítulo, onde, observados os requisitos previstos nas Constituições da Congregação para a eleição do superior provincial, procederam à votação, em silêncio e oração. Já em primeiro escrutínio, com 21 eleitores, foi eleito o Pe. Manoel Ferreira dos Santos Júnior. Sua posse se deu no dia 17 de junho durante celebração eucarística no Santuário das Almas. 35 Paróquia São José - Campinas Dia 3 de junho a paróquia celebrou os 90 anos de sua fundação que teve lugar em 1º. de junho de 1921, erigida por decreto do bispo diocesano e desmembrada do Curato da Catedral de Campinas. O cônego João Alexandre Loschi, Cura da Catedral, deu posse ao encarregado da paróquia, Pe. Adriano van Iersel, que havia deixado em 1915 a cidade de Pouso Alegre-MG. Sua instalação confunde-se com a história da Vila Industrial. O trabalho pastoral se estende atualmente às Comunidades São Roque, onde fica o Colégio Júlio Chevalier, sob a direção dos MSC, e São Vicente, ambas na Vila Industrial. Até 2010, começando com o Pe. Adriano van Iersel, a paróquia foi conduzida por 29 párocos, 17 deles holandeses. Viracopos - atual aeroporto Notas da Redação NR 1 - A fonte principal desta coluna do Inter-Ex foram as Comunicações 611 (fev.jan) e 612 (mar-abr.mai) da Província de São Paulo, com relatos do Pe. Provincial e outros religiosos. Ao transcrever matérias veiculadas, meu objetivo é transmitir as notícias da Província. Inevitável às vezes reproduzir parcialmente algum texto. Recebi diversos esclarecimentos do Lasinho. Com espaço gráfico reduzido, procuro repassar resumidamente as principais notícias. Sobre a sagração de Dom Agenor Girardi, utilisei parte do texto de Doris Machado dos Santos, coordenadora Nacional dos Leigos MSC) e fiz ajustes. NR 2 – Chamado de Coração do Sudoeste, o município de Francisco Beltrão, hoje com população caminhando para 80.000 habitantes, começou como "Vila Marrecas". Sua transformação em cidade foi rápida. Em menos de cinco anos do início do povoado, a vila era elevada à condição de sede do município em 14 de novembro de 1951. O povoado começou a se formar em 1947. Nesse ano lá se instalou a Colônia Agrícola Nacional General Osório-Cango, criada por Getúlio Vargas. Júlio Assis Cavalheiro e Luiz Antônio Faedo, proprietários da maior parte das terras da margem direita do rio, mandaram traçar o primeiro mapa da futura cidade e em 1947 ambos começaram a vender lotes. O povoado foi crescendo rapidamente. O nome da cidade foi escolhido em homenagem ao engenheiro Francisco Beltrão. A Colônia assentava famílias de agricultores, dando-lhes terras, ferramentas, sementes, orientação técnica, educação e assistência médica, o que muito contribuiu para o seu desenvolvimento. O distrito de Francisco Beltrão, existente desde 1945, foi transformado em município em 1951. O desenvolvimento aumentou impulsionado pela agricultura e extração de madeira, mas ficou travado por disputas de terras entre posseiros e companhias colonizadoras. Tais disputas resultaram na histórica Revolta dos Posseiros, que abrangeu quase todo o Sudoeste e teve seu ponto culminante em Francisco Beltrão, sede das companhias de terras Citla e Comercial. Em 10.10.57, milhares de posseiros tomaram conta da cidade e no dia seguinte expulsaram as companhias e todos os seus funcionários. Devido aos conflitos de terras, a cidade recebeu uma unidade do Exército, que lá permaneceu, em razão da posição estratégica do município, a 100 km da fronteira com a Argentina. (Fonte: Google e Wikipedia) Os MSC estão presentes na cidade desde 1966, no Seminário São José (1966) e na Paróquia São José, onde o agora bispo Dom Agenor Girardi era o Superior local. INTER EX Julho/2011 36 INTER EX Julho/2011
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