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SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA A N O 1 | N º 0 2 | V OL . 0 2 | J U N H O 2 0 1 4 Editorial A importância da pergunta certa em pesquisa Atualização do tema Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado Relato de caso Implante percutâneo de válvula aórtica (IPVA) em paciente com alto risco operatório portadora de estenose aórtica (EA) grave Resumo de artigo Teste de esforço cardiopulmonar em insuficiência cardíaca chagástica Anestesia peridural para cesariana em paciente com hipertensão pulmonar grave ISSN 2357-7908 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SUPERVISORES DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MÉDICA 1. ANESTESIOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Jedson Nascimento dos Santos 10. MEDICINA INTENSIVA Supervisor: Prof. Dr. Edson Marques Filho 2. CANCEROLOGIA CLÍNICA Supervisor: Prof. Dr. Dálvaro de Oliveira Castro Júnior 11. NEONATOLOGIA (Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Netto) Supervisora: Prof a. Dra. Rosana Pellegrini Pessoa 3. CARDIOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Gilson Soares Feitosa 4. CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA Supervisora: Prof a. Dra. Anabel Góes Costa 5. CLÍNICA MÉDICA Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho 6. CIRURGIA GERAL Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire 7. CIRURGIA DO APARELHO DIGESTÓRIO Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire 8. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Netto) Supervisor: Prof. Dr. Rone Peterson Cerqueira Oliveira 12. NEUROLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Pedro Antônio Pereira de Jesus 13. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Rogério Meira Barros 14. OTORRINOLARINGOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Nilvano Alves de Andrade 15. PNEUMOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho 16. REUMATOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Mittermayer Barreto Santiago 17. UROLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Luiz Eduardo Café 9. HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA Supervisor: Prof. Dr. José Carlos Raimundo Brito COEDITORES DA REVISTA DE SAÚDE DO HSI ANESTESIOLOGIA Jedson dos Santos Nascimento HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA José Carlos Raimundo Brito ÁREA MULTIPROFISSIONAL Patrícia Alcântara Doval de Carvalho Viana MEDICINA INTENSIVA Edson Marques Silva Filho CANCEROLOGIA CLÍNICA Dálvaro Oliveira de Castro Júnior NEONATOLOGIA Rosana Pellegrini Pessoa CARDIOLOGIA Gilson Soares Feitosa NEUROLOGIA Davidson França Pereira CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA Anabel Góes Costa ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA Marcos Antônio Almeida Matos CIRURGIA GERAL André Ney Menezes Freire OTORRINOLARINGOLOGIA Nilvano Alves Andrade CIRURGIA DO APARELHO DIGESTIVO André Ney Menezes Freire PNEUMOLOGIA Jamocyr Moura Marinho CLÍNICA MÉDICA Alina Coutinho Rodrigues Feitosa REUMATOLOGIA Mittermayer Barreto Santiago GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Rone Peterson Cerqueira Oliveira UROLOGIA Luiz Eduardo Café REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|3 CONSELHO EDITORIAL EDITOR-CHEFE Gilson Soares Feitosa Hospital Santa Izabel - Santa Casa de Misericórdia da Bahia Adriano Santana Fonseca Adriano Dias Dourado Oliveira Adson Roberto Santos Neves Alex Guedes Alina Coutinho Rodrigues Feitosa Ana Lúcia Ribeiro de Freitas Anabel Góes Costa André Ney Menezes Freire Angele Azevedo Alves Mattoso Anita Perpétua Carvalho Rocha de Castro Antônio Carlos de Sales Nery Antônio Fernando Borba Fróes Júnior Antônio Moraes de Azevedo Júnior Aline Nunes de Araújo Gomes Alinne de Souza Bernardes Reis Augusto José Gonçalves de Almeida Áurea Angélica Paste Bruno Aguiar Cristiane de Brito Magalhães Cristiane Abbhusen Lima Castelo Branco Dálvaro Oliveira de Castro Júnior Daniela Barros Darci Malaquias de Oliveira Barbosa Daniel Santana Farias Daniele Leal Braga da Silva David Greco Varela Edson Marques Silva Filho Elves Anderson Pires Maciel Fábio Luís de Jesus Soares Flávio Robert Sant’ana Fleury Ferreira Neto Gilson Soares Feitosa - Filho Giovanna Lúcia Oliveira Bonina Costa Guilhardo Fontes Ribeiro Gustavo Almeida Fortunato Heitor Ghissoni de Carvalho Humberto Ferraz França de Oliveira Iana Conceição da Silva Ilana D´Andrade Souza Jamary Oliveira Filho Jamile Seixas Fukuda REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Jamocyr Moura Marinho Jayme Fagundes dos Santos Filho Jeany de Oliveira Barreto Jedson Nascimento dos Santos Joberto Pinheiro Sena Joel Alves Pinho Filho Jorge Bastos Freitas Júnior Jorge Eduardo de Schoucair Jambeiro José Alves Rocha Filho Laís Matos Rebouças Matos Lígia Beatriz Wanke de Azevedo Liliana D’Almeida Galrão Lívia Maria Quirino da Silva Andrade Luciane Souza Coutinho Luís Fernando Pinto Jonhson Luiz Eduardo Fonteles Ritt Marcos Vinícius Santos Andrade Maria do Socorro Albuquerque Miranda Maria Lúcia Duarte Matheus Tannus dos Santos Maura Alice Santos Romeo Melba Moura Lobo Moreira Nilzo Augusto Mendes Ribeiro Paulo José Bastos Barbosa Pedro Antônio Pereira de Jesus Pepita Bacelar Borges Patrícia Falcão Pitombo Rajaná Regina Moura Itaparica Reinaldo da Silva Santos Júnior Renato Ribeiro Gonçalves Ricardo Eloy Pereira Rogério Meira Barros Rone Peterson Cerqueira Oliveira Rosalvo Abreu Silva Rosana Pellegrini Sandra Oliveira Silva Sérgio Tadeu Lima Fortunato Pereira Sheldon Perrone de Menezes Ubirajara de Oliveira Barroso Júnior Viviane Sampaio Boaventura Oliveira Yuri de Araújo Tappareli 4 EXPEDIENTE SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Provedor Roberto Albuquerque Sá Menezes Vice-Provedor Luiz Fernando Studart Ramos de Queiroz Escrivão Renato Augusto Ribeiro Novis Tesoureira Ana Elisa Ribeiro Novis Hospital Santa Izabel Superintendente de Saúde Eduardo Queiroz Diretor de Ensino e Pesquisa Gilson Soares Feitosa Diretor Técnico-Assistencial Ricardo Madureira Diretora Administrativa e de Mercado Mônica Bezerra EXPEDIENTE Ag editora Ana Lúcia Martins Caroline de Carvalho REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 5 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SUMÁRIO 7 Editorial Editor 8 Atualização de Tema: Oncologia 18 23 31 34 A importância da pergunta certa em pesquisa Gilson Soares Feitosa Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado Dálvaro Oliveira de Castro Júnior Relato de Caso: Cardiologia 42 Relato de Caso: Anestesiologia 46 Relato de Caso: Ortopedia 50 Artigo Multiprofissional: Enfermagem 54 Protocolo de Atendimento 61 Eventos Fixos 62 Instruções aos Autores Atualização de Tema: Cirurgia Oncológica Esofagectomia minimamente invasiva Paulo Plessim Almeida Filho Atualização de Tema: Imagem Papel da ressonância magnética na avaliação da doença isquêmica do coração José A. Rocha-Filho Resumo de Artigo do HSI: Cardiologia Teste de esforço cardiopulmonar em insuficiência cardíaca chagásica Luiz Eduardo Ritt Resumo de Artigo do HSI: Otorrinolaringologia Análise do conhecimento e prática Científica entre otorrinolaringologistas brasileiros Viviane Boaventura 37 39 Resumo de Artigo do HSI: Clínica Médica Frequência do medo de agulhas e impacto de uma abordagem educacional multidisciplinar em gestantes com diabetes Ana Carolina Viana Mattos Implante percutâneo de válvula aórtica (IPVA) em paciente com alto risco operatório portadora de estenose aórtica (EA) grave Joberto Pinheiro Sena Anestesia peridural para cesariana em paciente com hipertensão pulmonar grave Jedson dos Santos Nascimento TEP após artroscopia do ombro Rogério Meira Barros Implantação de um padrão de diluição de medicamentos nas unidades pediátricas de um hospital de grande porte na cidade de Salvador- BA Rajaná Itaparica EDITORIAL A importância da pergunta certa em pesquisa Autor: Gilson Soares Feitosa* A capacidade de pesquisar possibilitou o rápido desenvolvimento da espécie humana. O cérebro humano foi programado para pesquisar. A conveniente utilização desta propriedade tem feito o progresso: que se registra de forma cada vez mais acelerada. A curiosidade pelo conhecimento novo – a aprendizagem – é uma constante desde a mais tenra idade e, se o indivíduo tem boa saúde, poderá se estender até fases muito avançadas da vida. Por outro lado, a compulsão para criar novo conhecimento - pesquisa - é menos generalizada e é a responsável principal pelo progresso. Em medicina foi assim desde os seus primórdios. Uma observação astuta, uma experimentação, sua repetição e, no passado, grandes avanços eram conseguidos. Quem deixaria de vangloriar os primeiros unguentos que amenizavam a dor; as primeiras insulinas que garantiam sobrevivência ao coma diabético; os primeiros extratos de tireoide que restauravam a energia aos mixedematosos. Mesmo que os primeiros produtos fossem frequentemente impuros, grosseiros e de eficácia limitada. A criação de centros de atenção médica, os hospitais e as escolas médicas aceleraram o desenvolvimento das descobertas que tiveram um acentuado crescimento desde o início do século XX. O setor do governo público proporcionou recursos voltados para a melhoria da saúde coletiva e, progressivamente apoiado pelo setor competitivo da indústria privada, juntamente, investiram e proporcionaram nos últimos 60 anos uma aceleração impensada do conhecimento médico. Essa verdadeira aglomeração do conhecimento passou a exigir grandes esforços para pequenos avanços subsequentes. É assim que nos encontramos nos dias atuais. Não obstante, a complexidade descomunal da realidade biológica permite ver facilmente que há uma quantidade quase infinita de lacunas do conhecimento a serem desvendadas. permitir uma resposta que seja generalizável. E esse é o desafio para quem se lança em pesquisa médica nos dias atuais: saber fazer perguntas adequadas! Que resposta se gostaria de ter para determinada situação. Considerando-se que a resposta ainda não exista na vasta literatura ora existente, como dever-se-ia vê-la e testá-la adequadamente. Neste sentido, o processo PICOT deverá estar bem enfronhado na mente de quem realiza pesquisas médicas. Uma vez tendo uma pergunta ainda não respondida, em que população (P) seria ela de interesse se investigar; que tipo de intervenção(I) ou recurso seria apropriado usar; como fazer comparação ou controle (C); e qual o efeito a ser observado (O= outcome); num tempo razoável, para que se garanta a sua execução (T). Nesse contexto se encontram todos os elementos para os quais se deverá atentar ao iniciar um processo de investigação médica nos dias atuais. Incluídos e detalhadamente considerados no processo estarão os elementos de: sentido objetivo da pergunta; considerações bioéticas; exequibilidade por recursos humanos e materiais e perspectivas de achados reprodutíveis e generalizáveis. Obviamente, pesquisa sistematizada apresenta-se como cada vez mais importante e atrativa, porém de complexidade crescente e desafiadora. Não mais será atividade individual – senão, com amplo envolvimento de setores complementares, que se desenvolvem em torno de uma experiência crescente e consolidada e que origina, ao longo do tempo, seus ramos, que amplificam no meio a atividade criadora e realizadora. Dessa forma cria-se o ambiente apropriado para o surgimento do cerne da boa pesquisa: que é o da boa pergunta! * Editor RSHSI Endereço para correspondência: [email protected] E hoje se reforça, cada vez mais, a importância da questão apropriada a ser feita na elucidação de um problema, para que ela não se perca no devaneio da futilidade da pergunta inútil e para que possa ser conduzida de maneira a REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 7 Castro Júnior, DO et al. Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 08-17 Atualização em Oncologia Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado Dálvaro Oliveira de Castro Júnior.* Carine Matos Bispo.* Luiz Eduardo Café Cardoso Pinto.** RESUMO O câncer de rim (CR) representa cerca de 3% das neoplasias malignas em adultos. É o mais letal de todos os cânceres do trato gênito-urinário. Sua incidência em todos os estádios clínicos continua a aumentar por causas ainda não claramente conhecidas. O tipo histológico mais frequente é o carcinoma de células claras. A maioria dos casos de CR ocorre de forma esporádica. O tabagismo, a obesidade, a hipertensão arterial sistêmica, a insuficiência renal crônica e a exposição ao arsênio são fatores de risco mais associados ao desenvolvimento do CR. Em 3% dos casos, o CR é familial. As manifestações clínicas do CR podem ser decorrentes de sintomas locais ou sistêmicos. Em 25% dos pacientes com CR apresentam doença avançada ao diagnóstico, enquanto que 33% evoluem com recidiva doença após o tratamento inicial. É possível estratificar os pacientes com CR avançado e predizer a sua sobrevida com a utilização de escores prognósticos validados. A nefrectomia citorredutora (NC) antes do tratamento sistêmico constitui uma estratégia bem estabelecida no tratamento do CR avançado. A ressecção cirúrgica da doença metastática pode ser indicada em casos selecionados. A resistência natural desta doença aos agentes quimioterápicos citotóxicos e as respostas não satisfatórias à imunoterapia evidenciaram a necessidade de procurar alternativas terapêuticas sistêmicas. O melhor entendimento da biologia molecular do CR permitiu a identificação do fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e do alvo da rapamicina dos mamíferos (mTOR) como alvos para a intervenção terapêutica, levando à descoberta e à aprovação de sete novos agentes de alvo molecular, que modificaram completamente o tratamento desta neoplasia na última década. Descritores: câncer dos rins, terapia combinada, taxa de sobrevida. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Key Words: kidney neoplasms, combined therapy, survival rate. INTRODUÇÃO O câncer de rim (CR) representa cerca de 3% das neoplasias malignas em adultos. Constitui o sexto tumor maligno mais frequente nos homens e o oitavo nas mulheres e é o mais letal de todos os cânceres do trato gênito-urinário, considerando o percentual de pacientes diagnosticados que acabam morrendo da doença1. A incidência do CR em todos os estádios clínicos continua a aumentar por causas ainda não claramente conhecidas2,3. No mundo, são estimados aproximadamente 338.000 novos casos e cerca de 143.000 mortes por ano4. No Brasil, a incidência desta neoplasia varia de 7 a 10 casos por 100.000 habitantes5. O CCR predomina no sexo masculino na razão de 2:1, tendo um pico de incidência entre a sexta e sétima décadas de vida6. HISTOLOGIA O carcinoma de células renais (CCR) origina-se do epitélio renal e é responsável por 90% de todos os casos de CR7. O tipo histológico mais frequente é o carcinoma de células claras (CCC), representando cerca de 80% dos casos8. O carcinoma renal papilífero ou cromófilo é o segundo tipo mais frequente e é responsável por 10% dos casos9. O carcinoma cromófobo representa cerca de 5% dos tumores malignos renais10. Outros tipos menos frequentes incluem o carcinoma de ducto coletor, o carcinoma medular e os sarcomas renais7. ETIOLOGIA A maioria dos casos de CCR ocorre de forma esporádica. O tabagismo é o fator de risco mais importante e responde por 39% de todos os casos7. Existe 2014|8 Castro Júnior, DO et al. Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 08-17 associação entre o índice de massa corpórea (IMC) e o risco de CCR. Enquanto que o sobrepeso (IMC entre 25 e 30 Kg/m²) aumenta o risco em 50%, a obesidade (IMC > 30 Kg/m²) é associada a uma elevação de 100%11. A hipertensão arterial sistêmica é um fator de risco que independe do tabagismo e do excesso de peso para o desenvolvimento de CCR11. Outros fatores de riscos associados ao CCR são a insuficiência renal crônica e exposição ocupacional e ambiental a compostos químicos contendo arsênio7. O CCR é familial em aproximadamente 3% dos casos. Diversas síndromes genéticas associadas ao CCR foram descritas. Elas possuem, em geral, o padrão de herança autossômico dominante. A mais frequente é a doença de von Hippel-Lindau, com uma taxa estimada de 1 para cada 36.000 nascidos vivos. Essa entidade é caracterizada pelo desenvolvimento de hemangioblastomas retinianos e no sistema nervoso central, carcinoma de células claras do rim, feocromocitoma, tumores pancreáticos e do ouvido interno12. Pelo menos outras cinco condições genéticas associadas com o desenvolvimento de tumores malignos de rim são conhecidas. O carcinoma renal papilífero hereditário é caracterizado pelo surgimento tardio de múltiplos tumores renais papilíferos. O câncer de células renais e leiomiomatose hereditários caracterizam-se por predisposição para o aparecimento de leiomiomas uterinos e da pele, carcinoma papilífero renal e leiomiossarcoma uterino. A síndrome de Birt-Hogg-Dubé é caracterizada pelo aparecimento de tumores benignos de pele, cistos pulmonares e pelo desenvolvimento de múltiplos tumores renais, sendo na maior parte dos casos oncocitomas, mas também pode ocorrer carcinoma papilar e de CCC. A translocação constitucional do cromossomo 3 é associada a um risco aumentado para o aparecimento do CCC12.A esclerose tuberosa caracteriza-se por hamartomas no sistema nervoso central, na retina e no aparelho digestivo, angiofibromas faciais e angiomiolipomas renais, que são tumores benignos, porém pode ocorrer CCR na minoria dos casos13. acometimento secundário de osso, pulmão e cérebro, respectivamente. Pode haver manifestações clínicas relacionadas às síndromes paraneoplásicas, tais como hipertensão arterial sistêmica, decorrente da secreção de renina, eritrocitose secundária à secreção de eritropoietina e hipercalcemia, devido à produção de peptídeo relacionado ao paratormônio. Outros achados comuns da doença avançada são perda ponderal e febre. A diversidade de sinais e sintomas relacionados a esta neoplasia maligna é notável e, historicamente, o CCR tem sido chamado de tumor do internista14. Mais recentemente, com a detecção de muitos tumores renais assintomáticos, decorrentes do uso frequente de exames de imagem com finalidade diagnóstica, o CCR passou a receber a alcunha de tumor do radiologista14. A despeito disso, aproximadamente 25% dos pacientes com CCR apresentam doença avançada ao diagnóstico, enquanto que 33% evoluem com recidiva doença após o tratamento inicial com intuito curativo6. FISIOPATOLOGIA O entendimento das alterações moleculares do CCC do rim deriva de estudos realizados na doença de von Hippel-Lindau8,12. Esta síndrome é causada por mutações germinativas do gene VHL, localizado no braço curto do cromossomo 3 (3p25-26). Essas mesmas anormalidades genéticas estão presentes em até 80% dos casos de carcinoma renal de células claras esporádico12. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas do CCR podem ser decorrentes de sintomas locais ou sistêmicos. Os sinais e sintomas locais incluem hematúria, dor no flanco ou massa palpável6. Os sinais e sintomas de doença avançada podem ser decorrentes das metástases, tais como dor óssea, dispneia e convulsão, decorrentes do REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Figura 1 - Fisiopatologia do carcinoma de células claras do rim. Modificado de Rini BI, Campbell SC, Escudier B. Renal cell carcinoma. Lancet 2009; 373: 1119-1132. 2014|9 Castro Júnior, DO et al. Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 08-17 A proteína VHL, produto do gene VHL, funciona como um supressor tumoral. Na ausência de hipóxia e de mutação do gene VHL, a proteína VHL participa, conjuntamente com E3 ligase, da degradação proteassomal do fator induzido pela hipóxia (HIF). Na presença de hipóxia ou com a inativação do gene VHL, existe um acúmulo dos HIF, que leva à ativação dos genes induzíveis pela hipóxia, resultando na produção de diversas proteínas envolvidas na angiogênese, proliferação e migração celular, tais como o fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e o fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF)14. Os pacientes que não apresentavam qualquer dos parâmetros tiveram uma sobrevida mediana de 20 meses e foram classificados como grupo de risco favorável. Aqueles com 1 ou 2 parâmetros presentes tiveram uma sobrevida mediana de 10 meses e foram categorizados como grupo de risco intermediário. Já os pacientes com 3 ou mais apresentaram uma sobrevida mediana de apenas 4 meses e foram considerados como grupo de risco desfavorável ou pobre. O acúmulo dos HIF também pode resultar da ativação do alvo da rapamicina em mamíferos (mTOR), através de estímulos celulares e da via da PI3K/Akt. O mTOR ativado fosforila e ativa a quinase do p70S6, levando ao aumento da tradução de certas proteínas, incluindo o HIF. O mTOR ativado também fosforila a proteína 4E-BP1, permitindo a dissociação da subunidade eIF-4E, que resultará no aumento da tradução dos RNA mensageiros (RNA-m), responsáveis pela codificação de ciclina-D1 e c-Myc, proteínas reguladoras do ciclo celular, levando à proliferação celular e à inibição da apoptose14. MODELOS PROGNÓSTICOS Escores prognósticos têm sido desenvolvidos com objetivo de estratificar os pacientes com câncer de rim avançado e predizer a sua sobrevida. O mais utilizado é do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center (MSKCC), descrito por Motzer e colaboradores15. O modelo foi derivado de uma análise retrospectiva de fatores prognósticos em 463 pacientes tratados com Interferon em estudos clínicos aleatórios. Na análise multivariada foram identificados cinco parâmetros pré-tratamento associados com pior sobrevida: 1) Intervalo entre o diagnóstico e o tratamento menor que um ano. 2) Karnofsky Performance Status (KPS) menor que 80%. 3) Hemoglobina sérica menor que o limite inferior da normalidade. 4) Cálcio sérico corrigido maior que 10mg/dl. 5) Valor da desidrogenase lática (LDH) sérica maior que uma vez e meia o valor superior da normalidade. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Figura 2 - Sobrevida estratificada pelo número de fatores de risco presentes. Modificada de Motzer RJ. Mazumdar M. Bacik J. et al. Survival and prognostic stratification of 670 patients with advanced renal cell carcinoma. J Clin Oncol 1999; 17:2530-2540. Um novo modelo prognóstico foi descrito por Heng e colaboradores16. O mesmo baseou-se numa análise retrospectiva de 645 pacientes tratados com terapia anti-VEGF. Dos 6 parâmetros identificados, 4 já haviam sido incluídos previamente no escore do MSKCC. O único parâmetro que não se mostrou válido nesta análise foi a desidrogenase lática. Foram ainda adicionados mais 2 parâmetros: contagem de neutrófilos e de plaquetas. Portanto, o modelo de Heng contabiliza as seguintes variáveis: 1) Intervalo entre o diagnóstico e o tratamento menor que um ano. 2) Karnofsky Performance Status (KPS) menor que 80%. 3) Hemoglobina sérica menor que o limite inferior da normalidade. 2014|10 Castro Júnior, DO et al. Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 08-17 4) Cálcio sérico corrigido maior que 10mg/dl. 5) Contagem de neutrófilos maior que o limite superior da normalidade. 6) Contagem de plaquetas maior que o limite superior da normalidade. Os pacientes deste estudo também foram divididos em 3 grupos de risco (favorável, intermediário e desfavorável), baseados no número de parâmetros presentes (nenhum, 1 ou 2 e 3 ou mais), de modo muito semelhante ao descrito no modelo prognóstico do MSKCC. vida mediana, favorecendo o tratamento combinado (13,6 x 7,8 meses)17. Este procedimento cirúrgico tem sido realizado com sucesso pela via laparoscópica, reduzindo a morbidade cirúrgica e o tempo de internação hospitalar18. Entretanto, esta via de acesso não deve comprometer o objetivo primário da citorredução que inclui a excisão total do tumor renal, incluindo os linfonodos regionais envolvidos. A seleção adequada é importante para identificar aqueles com melhor potencial de se beneficiarem da NC. Idealmente, os pacientes que parecem obter maior benefício desta estratégia apresentam tumor limitado ao rim (≤ T2), ausência de sintomas atribuíveis à doença metastática, presença de metástases pulmonares isoladas, boa performance status e escore de risco prognóstico favorável19. Metástases no sistema nervoso central em geral são consideradas contraindicação para citorredução. Em cerca de 1% dos pacientes é descrita remissão espontânea da doença metastática após a realização de nefrectomia citorredutora20. Metastasectomia Figura 3 - Sobrevida global de acordo com o grupo de risco prognóstico. Azul = favorável, amarelo = intermediário e cinza = desfavorável ou pobre. Modificada de Heng DY, Xie W, Regan M, et al. Prognostic factors for overall survival in patients with metastatic renal cell carcinoma treated with vascular endothelial growth factor-targeted agents: Results from a large, multicenter sutdy. J Clin Oncol 2009; 27:5794-5799. Tratamento da doença avançada O Papel da Cirurgia Nefrectomia Citorredutora A remoção do rim em pacientes com doença metastática é chamada de nefrectomia citorredutora (NC). Ela pode ser recomendada antes da terapia sistêmica em pacientes com doença metastática. A análise combinada de 2 estudos conduzidos pelo SWOG (Southwest Oncology Group) e pela EORTC (European Organisation of Research and Treatment of Cancer), que compararam a NC seguida por Interferon (IFN) versus IFN isolado, mostrou aumento significativo da sobreREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA As ressecções cirúrgicas das metástases sincrônicas ou metacrônicas são chamadas de metastasectomias. A ressecção cirúrgica agressiva pode ser associada a uma sobrevida favorável e desta forma a metastasectomia deve ser considerada em portadores de câncer de rim avançado. Numa série retrospectiva, os pacientes submetidos à metastasectomia com intuito curativo tiveram uma sobrevida de 44% em 5 anos. Os pacientes que mais se beneficiaram da metastasectomia foram os portadores de lesões solitárias, com intervalo livre de doença maior que 1 ano e idade menor que 60 anos21. O critério prognóstico do MSKCC pode ser utilizado para estratificar o risco dos pacientes candidatos à metastasectomia. Tratamento Sistêmico Quimioterapia O CCC renal é considerado um tumor resistente ao tratamento quimioterápico. As taxas de resposta (TR) aos múltiplos agentes quimioterápicos citotóxicos têm sido invariavelmente baixas (4 a 6%)22 e por isso esta modalidade de tratamento não faz parte das opções terapêuticas para esta doença nos dias atuais. 2014|11 Castro Júnior, DO et al. Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 08-17 Imunoterapia O sistema imunológico tem um papel fundamental na prevenção do aparecimento do câncer e na resposta antitumoral. No câncer renal, assim como no melanoma maligno, esse papel tem claras implicações terapêuticas. Várias estratégias terapêuticas têm sido usadas na tentativa de aumentar a imunidade antitumoral, incluindo a administração de citocinas, a indução de resposta enxerto versus tumor, através de transplante alogênico não-mieloablativo de células-tronco hematopoiéticas (TANMCTH) e o uso de vacina de células dendríticas (CD). Citocinas O Interferon (IFN) foi estudado em várias doses e vias de aplicação. A TR mediana foi de 11%, a sobrevida livre de progressão (SLP) foi de 4,7 meses e a sobrevida global (SG) de 13 meses23. A associação do INF com a Interleucina-2 (IL-2) aumentou a TR para 18% e a SLP em 1 mês, porém sem ganho de SG24. A IL-2 em alta dose é associada com aumento da TR para 23,2%25 e com remissão completa da doença metastática em até 8% dos pacientes26. Na maioria dos casos com resposta completa, a remissão é duradoura, sugerindo que esses pacientes possam estar curados26. O uso da IL-2 em alta dose é associado com o aumento substancial da toxicidade e por isso mesmo é usualmente reservado a pacientes jovens e sem disfunção orgânica. As tentativas de identificação de fatores preditivos de resposta a esta terapia sistematicamente falharam27. Outras Estratégias de Imunoterapia O TANMCTH, também chamado de minitransplante alogênico, é um tipo de transplante de medula óssea no qual o protocolo de quimioterapia de condicionamento é suficiente apenas para garantir a pega medular das células do doador, que passarão a conviver no microambiente medular com as células do próprio paciente (quimerismo). Após o transplante, o ajuste da imunossupressão é feito de maneira menos intensiva, com intuito de deixar as células do doador com algum grau de atividade imunológica, para promover o chamado efeito enxerto-versus-tumor. Contudo, esse efeito vem associado a algum grau de sinais e sintomas da doença do enxerto-versus-hospedeiro (GVHD). Estudo preliminar mostrou regressão do CR metastátiREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA co em 10 pacientes (53%) submetidos ao TANMCTH, sendo 3 remissões completas e 7 parciais28. Estudos posteriores evidenciaram toxicidade e mortalidade significativas associadas à GVHD29,30. As CD são células apresentadoras de antígenos do sistema imunológico. A sua função principal é de processar o antígeno e apresentá-lo na sua superfície celular aos linfócitos T. Dessa forma, elas agem como mensageiras entre o sistema imune inato e o adaptativo31. A vacina de CD consiste inicialmente na obtenção destas células de culturas de células-tronco hematopoiéticas, que são sensibilizadas após serem expostas a antígenos tumorais, usualmente procedentes de tecido tumoral do próprio paciente. Posteriormente, as CD sensibilizadas são injetadas no subcutâneo dos pacientes, onde elas apresentarão os antígenos processados aos linfócitos T, desencadeando uma resposta imunológica antitumoral específica para o antígeno tumoral. Estudo experimental preliminar mostrou remissão completa em 4 e resposta parcial em 2 dos 17 pacientes que receberam este tratamento32. Estudos semelhantes subsequentes mostraram um benefício clínico parecido33,34. Devido à ausência de estudos definitivos que embasem o seu uso, tanto o TANMCTH quanto a vacina de CD devem ser consideradas experimentais. Terapia Alvo Molecular O melhor entendimento da biologia molecular do CCC do rim permitiu a identificação das vias do VEGF e do mTOR como alvos para a intervenção terapêutica. Os índices prognósticos mencionados previamente são amplamente utilizados na estratificação e na escolha do tratamento sistêmico inicial. Nos pacientes com risco favorável ou intermediário, o tratamento de primeira linha consiste no emprego de agentes antiangiogênicos. As opções atualmente disponíveis incluem o Sunitinibe, o Sorafenibe e o Pazopanibe, que são inibidores de tirosina-quinase (ITQ) dos receptores do VEGF, do PDGF e do c-KIT, além do Bevacizumabe, que é um anticorpo monoclonal recombinante que se liga e neutraliza o VEGF circulante. A eficácia e a segurança do Sunitinibe, na dose de 50 mg, via oral, diariamente, por 4 semanas consecutivas, a cada 6 semanas, foram demonstradas num estudo aleatório de fase 3, que comparou esta droga ao IFN, na dose de 9 milhões de UI via subcutânea, 3 2014|12 Castro Júnior, DO et al. Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 08-17 vezes por semana. O uso de Sunitinibe foi associado a um aumento significativo da TR (47% x 12%), da SLP (11 x 5 meses)35 e da SG (26,4 x 21,8 meses)36. Levando em consideração a SG mediana obtida em controles históricos e o fato que a maioria dos pacientes do braço do IFN recebeu Sunitinibe na progressão, podemos afirmar que a diferença obtida na SG poderia ter sido ainda mais significativa. As toxicidades associadas a este agente foram principalmente fadiga, síndrome mão-pé, diarreia, hipertensão e hipotireoidismo35,36. meses). Os efeitos tóxicos mais comumente associados a este agente foram principalmente astenia, estomatite, pneumonite, hiperglicemia, hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia42. O Pazopanibe, na dose de 800 mg, via oral, diariamente, foi testado em 2 estudos aleatorizados de fase 3. No primeiro, quando comparado a placebo, foi mostrado ganho significativo na SLP (9,2 x 4,2 meses) e na TR (30% x 3%)37. Não houve diferença significativa na SG (23 x 21 meses). Os pacientes do braço placebo tiveram livre acesso ao Pazopanibe após progressão da doença. O Everolimo é um inibidor oral do mTOR. No estudo RECORD-1, essa medicação, na dose de 10 mg ao dia, foi comparada a placebo em pacientes previamente tratados com Sunitinibe, Sorafenibe ou ambos. O uso desta medicação foi associado a um aumento significativo na SLP (4,9 x 1,9 meses). Não houve diferença na SG (14,8 x 14,4 meses)43. Aproximadamente 80% dos pacientes do grupo placebo receberam Everolimo após a progressão, o que pode ter influenciado na ausência de diferença de sobrevida entre os dois grupos44. O perfil de toxicidade do Everolimo foi bastante similar ao do Tensirolimo43,44. No estudo COMPARZ, em que o Pazopanibe foi comparado ao Sunitinibe nas suas doses habituais, foi demonstrada eficácia similar, porém com perfil de tolerância favorável ao Pazopanibe38. O Sorafenibe foi comparado ao IFN num estudo de fase 2. A despeito da maior taxa de resposta e da melhor tolerabilidade, não houve diferença na sobrevida livre de progressão e na sobrevida global39. A efetividade do Bevacizumabe foi demonstrada em 2 estudos aleatorizados multicêntricos de fase 3. No AVOREN, o uso do Bevacizumabe (10mg/Kg via intravenosa, a cada 2 semanas) associado ao IFN (9 milhões de UI via subcutânea, 3 vezes por semana) foi comparado com IFN mais placebo. A adição de Bevacizumabe foi associada ao aumento da TR (31% x 13%) e a um ganho da SLP (10,2 x 5,4 meses)40. No estudo CALGB 90206, com desenho bastante similar, exceto pela não infusão do placebo, o uso combinado de Bevacizumabe e IFN também foi associado a um aumento da TR (25,5% x 13,1%) e a um ganho da SLP (8,5 x 5,2 meses)41. Em nenhum dos estudos foi demonstrado ganho significativo de SG. Nos pacientes com risco desfavorável, o tratamento baseia-se na utilização de Tensirolimo, inibidor do mTOR. No estudo Global ARCC, o Tensirolimo (25mg intravenoso semanalmente) foi comparado ao IFN num estudo aleatorizado multicêntrico de fase 3, no qual 75% dos pacientes apresentavam esta categoria de risco. O seu uso foi associado a um aumento significativo da SLP (5,5 x 3,1 meses) e da SG (10,9 x 7,3 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Tratamento Sistêmico Subsequente Nos pacientes previamente tratados com inibidores de tirosina-quinase existe evidência para o uso de Everolimo ou de Axitinibe. Após a apresentação deste estudo, a estratégia de utilizar o Everolimo na segunda linha, após a progressão com o Sunitinibe, tornou-se padrão no tratamento do CR metastático. O RECORD-3 foi um estudo aleatorizado de fase 2, desenhado para demonstrar a não-inferioridade do uso sequencial de Everolimo na 1ª linha, seguido por Sunitinibe na 2ª linha, quando comparado ao tratamento padrão (Sunitinibe na 1ª linha, seguido por Everolimo na 2ª linha). Na apresentação deste estudo no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) de 2013, foi demonstrada uma piora da SLP (7,8 x 10,7 meses) e da SG (22 x 32 meses) no braço experimental45. O Axitinibe é um inibidor seletivo da tirosina-quinase dos receptores 1, 2 e 3 do VEGF. O AXIS foi um estudo aleatorizado multicêntrico de fase 3, que comparou Axitinibe (5 mg via oral, 2 vezes ao dia), versus Sorafenibe (800 mg via oral, 2 vezes ao dia) na segunda linha de tratamento, em pacientes previamente tratados com IFN ou Sunitinibe. Foi observado um aumento significativo da TR (19% x 9%) e da SLP (8,3 x 5,7 meses), porém não houve diferença na sobrevida global entre os dois braços46. Os principais efeitos colaterais associados ao Axitinibe foram diarreia, hipertensão, fadiga, hiporexia e náuseas. 2014|13 Castro Júnior, DO et al. Avanços terapêuticos no câncer de rim avançado. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 08-17 CONCLUSÃO O CCR é uma das neoplasias malignas mais desafiadoras na prática clínica. A resistência natural desta doença aos agentes quimioterápicos citotóxicos e as respostas não satisfatórias à imunoterapia tornaram ainda mais evidente a necessidade de procurar alternativas terapêuticas sistêmicas. Figura 4 - Alvos terapêuticos ao carcinoma de células renais. Modificado de Rini BI, Campbell SC, Escudier B. Renal cell carcinoma. Lancet 2009; 373: 1119-1132. No estudo INTORSECT, o Tensirolimo foi comparado ao Sorafenibe em pacientes tratados previamente com Sunitinibe na 1ª linha. Não foi demonstrada diferença significativa na SLP (4,3 x 3,9 meses), porém a SG (12,3 x 16,6 meses) foi significativamente maior no grupo que recebeu Sorafenibe47. Não é possível ainda determinar qual a melhor estratégia (ITQ do receptor do VEGF x Inibidor do mTOR) na terapia subsequente. Contudo, o resultado do estudo INTORSECT sugere que a manutenção da inibição do receptor do VEGF na terapia subsequente pode resultar em ganho de sobrevida. Nos pacientes tratados inicialmente com citocinas, é recomendado o uso de um dos seguintes ITQ: Sunitinibe48,Pazopanibe37, Sorafenibe49 ou Axitinibe46. O carcinoma de células renais tornou-se um modelo para os tumores sólidos, nos quais um entendimento melhorado da fisiopatologia da neoplasia permitiu a identificação de alvos moleculares, que levaram ao desenvolvimento de novas medicações, que por sua vez modificaram completamente o tratamento desta neoplasia nos últimos dez anos. A despeito da melhora dos desfechos clínicos obtida com estes novos agentes, particularmente o prolongamento significativo da sobrevida global, o tratamento continua sendo essencialmente paliativo na maioria dos casos. Por isso, é necessário manter e aprimorar a busca por uma compreensão cada vez melhor da biologia da doença, com o objetivo de identificar fenótipos moleculares e clínicos, que possam predizer tanto resposta quanto resistência aos tratamentos atuais e futuros. REFERÊNCIAS: 1. 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Key Words: esophageal neoplasms, esophagectomy, minimally invasive surgery. INTRODUÇÃO O câncer de esôfago ocupa o oitavo lugar entre os tipos de câncer mais frequentes em todo o mundo. Estima-se que quase 500.000 novos casos sejam diagnosticados e que aproximadamente 400.000 mortes ocorram, anualmente decorrentes desta patologia. As altas taxas de mortalidade associadas à esofagectomia, que podem chegar a 23% dos casos em alguns estudos, e a baixa sobrevida em cinco anos, que varia de 17 a 32% após tratamento cirúrgico com finalidade curativa, impulsionaram diversos cirurgiões a buscar novas alternativas terapêuticas em busca da melhoria destes resultados.(1,2,3,4) Os primeiros relatos a respeito da esofagectomia minimamente invasiva (EMI) foram feitos por Cuschieri e cols. em 1992, que inicialmente utilizaram toracoscopia, para dissecção esofágica, associada à laparotomia para preparo do tubo gástrico e anastomose cervical. Esse tipo de abordagem ganhou maior notoriedade a partir de 1998, com Luketich e cols., ao descrever pioneiramente uma série de oito pacientes submetidos à EMI, utilizando abordagem laparoscópica e toracoscópica.(2,3) Com os aperfeiçoamentos e variações das técnicas não invasivas, surgiram algumas questões que permanecem como foco de discussão de diversos trabalhos que tratam sobre o posicionamento do paciente durante o ato cirúrgico, peculiaridades na confecção do tubo gástrico, manejo das complicações pós-operatórias e experiência necessária para realização desses procedimentos. Esses temas permanecem carentes de estudos bem desenhados para que possam ser finalmente elucidados, possibilitando a confecção de um protocolo cirúrgico mais efetivo.(2,3,4,5) REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA INDICAÇÕES PARA ESOFAGECTOMIA MINIMAMENTE INVASIVA A triagem e estadiamento de pacientes é fator preponderante para indicação de um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, com finalidade terapêutica para o câncer de esôfago. Idealmente, os pacientes devem ser submetidos à ultrassonografia endoscópica para avaliação da invasão local e comprometimento linfonodal adjacente, tomografia computadorizada de tórax e abdome para avaliação de metástases, assim como PET-scan.(2) Em casos de dúvida sobre o estadiamento, ainda pode-se lançar mão, em casos específicos, da broncoscopia para avaliação de possível comprometimento de árvore brônquica e da laparoscopia e/ou toracoscopia para avaliação de metástases linfonodais, peritoneais, pleurais ou hepáticas.(1,2,6) A utilização de radioquimioterapia neoadjuvante não deve ser considerada como um impedimento à realização de uma abordagem minimamente invasiva. Alguns trabalhos já demonstraram que a morbidade, a mortalidade e os resultados oncológicos não diferem significativamente dos resultados de pacientes virgens de tratamento. A taxa de conversão para toracotomia aberta também parece não aumentar quando o procedimento é realizado por cirurgiões experientes, a despeito da fibrose local encontrada em pacientes submetidos à neoadjuvância. Para serem aptos à EMI, os pacientes devem se enquadrar nos estágios iniciais do câncer esofágico ou apresentarem esôfago de Barret com displasia de alto grau.(2) As contraindicações para o procedimento minimamente invasivo esbarram na impossibilidade técnica de realização de dissecções na cavidade abdominal ou torácica, devido a aderências firmes ou a condições 2014|18 Almeida Filho, PP et al. Esofagectomia minimamente invasiva Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 18-22 hemodinâmicas e pulmonares que limitem, proibitivamente, o paciente de ser submetido à ventilação seletiva, pneumotórax ou pneumoperitônio.(2,4,7) TÉCNICAS CIRÚRGICAS PARA ESOFAGECTOMIA Existem diversas técnicas para realização da esofagectomia, que têm aplicações variadas em decorrência da localização do tumor, do tipo de patologia de base (maligna ou benigna), da extensão da linfadenectomia proposta e também da familiarização de cada cirurgião com a técnica a ser empregada. A esofagectomia aberta é mais comumente realizada através de duas técnicas cirúrgicas: a esofagectomia transhiatal (ETH) e a esofagectomia de Ivor Lewis ou esofagectomia transtorácica (ETT). Outras técnicas cirúrgicas, como a ressecção, através de toracotomia ou toracolaparotomia esquerda associada (esofagectomia de McKeown), podem ser relatas em alguns estudos, mas não são tão comumente utilizadas como as duas primeiras.(2,4,5,8,9) Sumariamente, a esofagectomia transhiatal, é realizada através de uma laparotomia mediana para dissecção e liberação gástrica, através da ligadura de estruturas vasculares, preservando a artéria gastroepiploica direita, que é responsável pela nutrição do tubo gástrico após a sua confecção. A linfadenectomia gástrica esquerda e a celíaca são realizadas em monobloco e a manobra de Kocher pode ser utilizada, caso a mobilidade gástrica não seja suficiente após a sua liberação das estruturas vasculares. Com o estômago liberado, é realizada a dissecção manual às cegas do esôfago torácico, através do hiato diafragmático. O esôfago cervical é acessado através de cervicotomia esquerda, pela qual é realizada a anastomose gastroesofágica, entre o esôfago proximal e o tubo gástrico. Neste ponto é importante garantir uma anastomose livre de tensão. Comumente é posicionado um dreno de Penrose no subcutâneo da região cervical.(1,2,5,7) para os pacientes. Uma grande variedade de combinações de abordagens laparoscópicas e/ou toracoscópicas foi desenvolvida com diferentes posicionamentos do paciente durante a cirurgia e diferentes técnicas para confecção da anastomose.(2,5) A realização de uma ETH minimamente invasiva tem a vantagem de não necessitar de uma laparotomia, conferindo menor dor no pós-operatório, além de permitir a visualização do mediastino inferior, facilitando a dissecção do esôfago torácico e a linfadenectomia mediastinal. Já na ETT minimamente invasiva, além de também dispensar a laparotomia, confere ainda uma visualização ampla de todo o esôfago torácico, possibilitando uma linfadenectomia mediastinal sob visão direta durante todo o tempo, poupando o paciente de uma toracotomia. A melhor posição do paciente para realização da toracoscopia é uma das questões ainda colocadas em discussão por muitos trabalhos que comparam parâmetros hemodinâmicos e respiratórios em pacientes submetidos à posição pronada e ao decúbito lateral esquerdo, durante a ETT minimamente invasiva.(2,5,6,7,8) Outras variações de técnicas minimamente invasivas ainda contam com a possibilidade de realização de sistemas “hand-port”, que facilitam a mobilização dos tecidos e podem diminuir o tempo cirúrgico de forma bastante significativa.(3) A esofagectomia transtorácica obedece aos mesmos passos no tempo abdominal e cervical, diferenciando-se pela realização de toracotomia direita, ao invés da dissecção às cegas, para liberação do esôfago torácico e linfadenectomia mediastinal sob visão direta. Utilizando como base as técnicas tradicionais abertas, foram desenvolvidas múltiplas abordagens minimamente invasivas para realização de esofagectomias, objetivando diminuir a limitação intrínseca de cada técnica e melhorar os resultados pós-operatórios REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Figura 1 - Locais de punção de trocarteres - toracoscopia e tempo laparoscópico 2014|19 Almeida Filho, PP et al. Esofagectomia minimamente invasiva Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 18-22 consideração é que o posicionamento do paciente em pronação confere maior ergonomia e conforto para o cirurgião, quando comparado com o decúbito lateral direito.(10,11,12,13) Figura 2 - Posição pronada para marcações de sítios de trocarteres CONSIDERAÇÕES A utilização de técnicas minimamente invasivas para procedimentos cirúrgicos de grande porte já é uma realidade. A EMI garante vantagens decorrentes de um menor trauma ao paciente, proporcionando menores índices de comorbidades, menor tempo de permanência em UTI e hospitalar, retorno mais rápido às atividades habituais, menor dor no pós-operatório e melhor resultado cosmético.(1,3,5,7,8) Muitos trabalhos tentam estabelecer o melhor posicionamento para realização da toracoscopia durante a ETT minimamente invasiva. Apesar de evidências apontarem para uma melhor oxigenação e parâmetros hemodinâmicos mais próximos aos fisiológicos, quando utilizada a posição pronada em detrimento do decúbito lateral esquerdo, os dados atuais ainda não foram suficientes para demonstrar uma diferença significativa entre as duas abordagens. A análise de complicações pulmonares, como a pneumonia, não apresenta diferença significativamente importante. Os pacientes operados em pronação tendem a permanecer menos tempo na ventilação mecânica no pós-operatório e, teoricamente, isso se deve à menor incidência de atelectasia, já que a ventilação de ambos os pulmões é mantida durante praticamente todo o procedimento cirúrgico. Outro aspecto que merece ser levado em REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Apesar de ainda não haver consenso sobre as reais vantagens da EMI sobre as técnicas tradicionais, inclusive em relação à custo-efetividade deste tipo de procedimento, vários centros já adotaram a cirurgia minimamente invasiva robô, assistida para realização de esofagectomias. Muitos defendem a ideia de que a liberdade de movimentos conferidos pelos braços robóticos possibilita uma dissecção mais cuidadosa no espaço mediastinal limitado. Apesar da busca por uma linfadenectomia mediastinal mais ampla, com a utilização da assistência robótica, sabe-se que a extensão da linfadenectomia está associada a uma maior morbidade, sem necessariamente oferecer melhores resultados, do ponto de vista oncológico no tratamento do câncer de esôfago. A adoção de novas tecnologias deve ter seu ímpeto comedido e ser norteada por evidências baseadas em resultados de trabalhos bem desenhados, que possam comprovar benefícios com segurança para a sua utilização.(3,14,15) Já é notória a necessidade de uma curva de aprendizado para os cirurgiões que iniciam o tratamento do câncer esofágico por abordagens minimamente invasivas. Se aceita como um “n” apropriado, para domínio da técnica laparoscópica/toracoscópica, um mínimo de 15 casos/ano, sendo necessário praticamente o dobro deste número para obtenção de resultados equiparáveis aos das técnicas convencionais. Fica claro, então, que as técnicas minimamente invasivas devem ser praticadas em grandes centros de referência, que possuam um volume adequado de casos/ano para que os melhores resultados possam ser obtidos sem prejuízos maiores aos pacientes.(2,7) Até o presente momento, os trabalhos disponíveis não evidenciam diferença significativa de mortalidade e sobrevida em longo prazo entre a esofagectomia minimamente invasiva e as técnicas tradicionais. A variedade de desenhos dos estudos, na sua maioria relato de séries e estudos retrospectivos, em que se utilizam variadas técnicas de cirurgia minimamente invasiva, dificulta a comparação dos resultados com as técnicas abertas. Devido a esses vieses já existem trabalhos randomizados, prospectivos sendo desenvolvidos por grandes centros, como é o caso do “TIME-trial”, que avalia pacientes com câncer de esôfago torácico e de transição esofagogástrica, submetidos tanto à ressec2014|20 Almeida Filho, PP et al. Esofagectomia minimamente invasiva Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 18-22 ção por abordagem aberta quanto por técnica minimamente invasiva. Estudos como esses poderão elucidar dúvidas atuais sobre o real impacto da cirurgia minimamente invasiva no tratamento do câncer de esôfago. (16,17,18) REFERÊNCIAS 1. Gimm JC, Valero III V, Molena D. Surgical indications and optimization of patients for resectable esophageal malignancies. J Thorac Dis. 2014; 6(3):249257 2. Yamamoto M, Weber JM, Karl RC, Meredith KL. Minimaly Invasive Surgery for Esophageal Cancer: Review of the Literature and Institutional Experience. Cancer Control. 2013 Abril; 20 (2) Kim T, Hochwald SN, Sarosi GA, Caban AM, Rossidis G, Bem-David K. Review of Minimally Invasive Esophagectomy and Current Controversis. Gastr Reas and Pract. 2012 Junho 8; 2012: 1-7 3. Kim T, Hochwald SN, Sarosi GA, Caban AM, Rossidis G, Bem-David K. Review of Minimally Invasive Esophagectomy and Current Controversis. Gastr Reas and Pract. 2012 Junho 8; 2012: 1-7 4. Herbella FA, Patti MG. Minimally invasive esophagectomy. World J Gastroenterol. 2010 Agosto 14; 16(30):3811-3815 Figura 3 - Aspecto final do tempo laparoscópico 5. Zhang Y, Zhang GJ, Wu Q, Jia Z, Li S, Fu J. Combined thoracoscopic and laparoscopic esophagectomy: experience, techinique and cautions. J Thorac Dis. 2013;5(6):902-905 6. Juwei M, Zuyang Y, Baihuna Z, Ning L, Fang L, Yousheng M et al. Comparative study of minimally versus open esophagectomy for esophageal cancer in a single cancer center. Chin Med J. 2014; 127(5):747-752 7. Lukeitich JD, Nguyen NT, Weigel T, Ferson P, Keenan R, Schauer P. Minimally Invasive Approach to Esophagectomy. JSLS. 1998; 2:243-247 8. Blom RLGM, Klinkenbijl JHG, Hollmann MW, Bergman JJGHM, Cuesta MA, Bemelman WA et al. Results of the introduction od a minimally invasive esophagectomy program in a tertiary referral center. J Thorac Dis. 2012; 4(5):467-473 9. Smithers BM, Gotley DC, Martins I, Thomas JM. 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A ressonância magnética cardíaca, pela sua capacidade multiparamétrica e por atuar em diversas fases da cascata isquêmica, apresenta relevância no diagnóstico, prognóstico e decisão terapêutica. Descritores: ressonância magnética, cardiopatia isquêmica, diagnóstico, prognóstico. Key words: magnetic resonance, miocardial ischemic, diagnostic, prognosis. INTRODUÇÃO A doença aterosclerótica coronária (DAC) é uma entidade multifatorial, de relevância social importante. Apesar dos grandes avanços no diagnóstico e tratamento, ainda permanece como a maior causa de mortalidade do Brasil(1). O diagnóstico precoce e instituição imediata de tratamento, que vai de mudanças do hábito de vida, tratamento medicamentoso até revascularização percutânea ou cirúrgica, pode mudar a história natural da doença, trazendo redução da mortalidade e melhora da morbidade. A cardiologia dispõe de um vasto arsenal diagnóstico não invasivo para a detecção de DAC, tais como ecocardiografia, cintilografia de perfusão miocárdica (CPME), tomografia computadorizada (TC), tomografia computadorizada com emissão de pósitrons (PET) e ressonância magnética cardíaca (RMC). Tais métodos são de extrema importância para estabelecer o prognóstico e guiar o tratamento. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA A ressonância magnética apresenta alta diferenciação de contraste tecidual, com excelente resolução espacial e temporal, além de não expor as pessoas à radiação ionizante. Pela sua importante capacidade multiparamétrica pode-se usar RMC para diagnósticos anatômicos e funcionais. Esse artigo tem como objetivo detalhar o papel da RMC na doença isquêmica do coração, discutindo seu histórico, suas indicações e seu valor prognóstico na pesquisa de isquemia, bem como na detecção do infarto viabilidade miocárdica. Isquemia miocárdica A pesquisa de isquemia miocárdica representa uma importante ferramenta de pesquisa não invasiva da doença arterial coronariana, com implicações diagnósticas e terapêuticas. A presença de isquemia miocárdica em estudos não invasivos é um forte marcador de eventos adversos, como infarto do miocárdio, além disso um prognóstico favorável é esperado quando os resultados são normais, por isso esses exames estão presentes com grande destaque nas principais diretrizes que contemplam o tema(2-4). A isquemia miocárdica pode ser estudada por diversas metodologias aplicadas de imagem. O racional biológico desses métodos se baseiam nas informações classicamente descritas na cascata isquêmica, que organiza de forma didática e temporal a apresentação dos achados clínicos e de imagem presentes na isquemia miocárdica, desde a presença de anormalidade na perfusão miocárdica, passando por alterações metabólicas, disfunção diastólica, defeito segmentar, disfunção sistólica, alterações eletrocardiográficas, até a constatação clínica de angina pectoris (figura 1). 2014|23 Rocha-FIlho, JA e Torreão, JA. Papel da ressonância magnética na avaliação da doença isquêmica do coração. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 23-30 to da especificidade até a angina. A anormalidade na perfusão miocárdica representa a primeira e mais sensível constatação do início da isquemia e pode ser detectada pela ressonância magnética cardíaca sob estresse (RMC estresse)(5), a CPME, PET e mais recentemente pelo ecocardiograma sob estresse. PROTOCOLO DA PESQUISA DE ISQUEMIA POR RMC Figura 1 - Exame positivo para isquemia miocárdica em parede inferior. Todas as imagens em eixo curto de perfusão de repouso (A), perfusão de estresse (B), função repouso (C) e função estresse (D). Nota-se defeito de perfusão na imagem sob estresse (seta preta), completamente reversível no repouso, com hipocinesia seta branca na função sob estresse, enquanto que a função em repouso apresenta contratilidade preservada Tal conceito tem como característica uma alta sensibilidade em sua fase inicial, seguido do crescimen- Os pacientes são submetidos ao exame de ressonância magnética cardíaca adquirindo imagens acopladas ao eletrocardiograma e durante pausa respiratória, eixo curto e eixos longos (2CH, 3CH, 4CH) do ventrículo esquerdo, na mesma exata localização em diferentes sequências. As sequências gradiente-eco (steady-state free precession) são utilizadas para avaliação da função cardíaca. Especificamente, as sequências com cortes em eixo curto são realizadas em repouso e sob estresse, para a devida caracterização de possíveis defeitos segmentares. As sequências de perfusão miocárdica são realizadas em repouso e sob estresse, imediatamente após a injeção de contraste à base de gadolínio, definido como perfusão de primeira passagem, com o objetivo de identificar defeitos perfusionais transitórios do miocárdio (figura 2). Figura 2 - Representação esquemática da cinética do gadolínio (Gd) no miocárdio normal (A), com infarto agudo (B) e crônico (C). Em A, o espaço intersticial é restrito e as moléculas de gadolínio circulam e rapidamente retornam ao capilar. Em B há lesão das membranas celulares dos miócitos, ocasionando maior espaço para circulação das moléculas de gadolínio e maior tempo para retornar ao capilar. Em C há substituição dos miócitos por fibras de colágeno, determinando intensa fibrose. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|24 Rocha-FIlho, JA e Torreão, JA. Papel da ressonância magnética na avaliação da doença isquêmica do coração. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 23-30 Para isso é utilizada uma sequência de pulso balanced gradiente-eco e espaço entre os cortes necessário para a cobertura do ventrículo esquerdo. Estresse farmacológico Os métodos de indução do estresse se dividem basicamente em exercício físico, seja por esteira ou bicicleta, e os agentes farmacológicos, entre os quais se destacam os vasodilatadores, como adenosina e dipiridamol, e a amina vasoativa, a dobutamina. Vale ressaltar que drogas adicionais podem ser usadas em alguns protocolos como a atropina, em doses de 0,25 mg a 0,5 mg até um total de 2,0 mg, se necessário, para atingir a frequência cardíaca preconizada. Por questões logísticas, no caso de exercício, e de segurança, no caso da Dobutamina, os vasodilatadores são preferidos como agentes estressores na RMC. O estresse farmacológico tem valores de sensibilidade e especificidade muito semelhantes aos do esforço físico, na detecção de doença coronária, não incluindo, contudo, as variáveis funcionais. Essas drogas são vasodilatadores potentes, que estimulam receptores A2 presentes na musculatura lisa, que determinam relaxamento muscular e vasodilatação no território sadio, causando déficit perfusional no território onde existe obstrução coronariana significativa e, portanto, com vasos em reserva coronária. Na RMC, o dipiridamol é utilizado na maioria dos serviços, na dose de 0,54mg/kg, diluído e infundido manualmente durante 4 minutos, quando então são adquiridas as imagens sob estresse. Depois, reverte-se o efeito do vasodilatador com a aminofilina e após alguns minutos faz-se a aquisição em repouso. Alguns estudos demonstram que a dose máxima preconizada para o dipiridamol de 0,84 mg/kg, infundida durante 6-10 minutos, aumenta a especificidade do exame(6). O racional para este entendimento deve-se à potencialização do seu efeito vasodilatador e cronotrópico positivo, aumentando a chance de, nos pacientes com DAC obstrutiva, se observar o déficit de perfusão, mas também alteração de contratilidade. Estudos mostram que a alteração de contratilidade tem poder preditor de eventos cardiovasculares(4). O uso desses vasodilatadores como drogas estressoras já é bem estabelecido na rotina clínica, mostrando-se como drogas seguras na pesquisa de isquemia miocárdica. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Diagnóstico de isquemia pela RMC Alguns estudos procuraram identificar a acurácia da RMC sob estresse na detecção da isquemia miocárdica, com o objetivo de validar este exame rápido, seguro e que não emite radiação ionizante como uma opção diagnóstica na prática clínica. O primeiro destes estudos foi o MR-Impact, publicado em 2008, que buscou a não inferioridade com a CMPE, estudando uma população de 241 indivíduos, randomizados para a realização de RMC sob estresse e CMPE, utilizando a cineangiocoronariografia com estenose luminal superior a 70%, como padrão-ouro. Os resultados desta primeira investida em um estudo prospectivo, randomizado, foram animadores, já que foi encontrada uma área sob a curva ROC da RMC de 0,86, enquanto que a da CMPE foi de 0,75, análise esta que não demonstrou diferença estatística significativa, com um ”p” de 0,12, apesar de uma clara tendência de superioridade da RMC(7). No ano de 2011 foi publicado o CE-MARC, mais um estudo prospectivo, que randomizou 752 indivíduos com suspeita de angina pectoris e ao menos um fator de risco cardiovascular para a realização de RMC sob estresse e CMPE. O padrão-ouro foi a cineangiocoronariografia. Foi observada uma área sob a curva ROC da RMC de 0,89 superior da CMPE de 0,74, (p < 0,001). Adicionalmente, vale ressaltar que a sensibilidade e o valor preditivo negativo da RMC foram superiores ao da CMPE (ambos com p < 0,001)(8). Depois do impacto da chegada de artigos originais, o tema foi novamente abordado em 2012, por uma grande publicação, em forma de uma meta-análise de grande porte, trazendo resultados publicados de 1990 até 2010 sobre os três principais métodos de pesquisa de perfusão miocárdica não invasiva: RMC, PET e CMPE. Após um criterioso processo de seleção, 166 artigos foram incluídos (114 de CMPE, 37 de RMC e 15 de PET). Esta meta-análise revelou que RMC, PET e CMPE produziram uma elevada sensibilidade agrupada para a detecção de DAC obstrutiva (89%, 88% e 84%, respectivamente), com uma vasta gama de especificidade agrupada (76%, 81% e 61%, respectivamente). RMC e PET mostraram uma acurácia diagnóstica significativamente maior do que CMPE, com áreas sob a curva ROC na análise agrupada de 90%, 92% e 86%, respectivamente(9). Ainda em 2012, o MR Impact II, um estudo multicêntrico, multivendor, foi publicado. A pontuação de 2014|25 Rocha-FIlho, JA e Torreão, JA. Papel da ressonância magnética na avaliação da doença isquêmica do coração. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 23-30 sensibilidade da RMC e da CMPE foram 0,67 e 0,59, respectivamente, indicando superioridade da RMC sobre CMPE. As pontuações especificidade para RMC e CMPE foram 0,61 e 0,72, respectivamente, indicando inferioridade da RMC em relação à CMPE. Valores preditivos positivos e negativos e de acurácia para RMC foram 70, 65, 68, respectivamente, e para CMPE, 73, 60, 65, respectivamente (sem apresentarem diferenças significativas)(10). No que se refere ao poder prognóstico da RMC estresse, foi publicado, no ano de 2010, um estudo com 1.493 pacientes que realizaram estresse pela dobutamina, foram avaliados tanto mobilidade parietal como perfusão. Esses pacientes foram acompanhados por 2 anos e tiveram como “end point” morte cardíaca ou infarto não fatal. Anormalidades da mobilidade parietal e defeitos de perfusão induzíveis pelo estresse foram ambos associados a resultados adversos na análise uni e multivariada (p < 0,001 em ambos os casos)(11). Em 2011 foi testado o estresse por adenosina em 908 pacientes que foram seguidos por 2,6 anos e tiveram como “end point” morte por todas as causas, infarto ou revascularização tardia. Na análise multivariada, foi determinado que todos os dados da RMC, incluindo anormalidades da mobilidade parietal e defeitos de perfusão induzíveis pelo estresse, aumentaram poder prognóstico predito para esses pacientes(12). Angiorressonância coronária A visualização direta da anatomia coronária é a melhor forma de se diagnosticar a doença arterial coronariana. Dentre os métodos disponíveis para esta finalidade destacam-se a cineangiocoronariografia, por ser o padrão ouro e obter a mais vasta experiência clínica, e a TC das artérias coronárias, que vem ganhando destaque como um método não invasivo. A angiorressonância coronária se caracteriza como um método de imagem de boa resolução espacial (~0,8mm), que não utiliza radiação ionizante e que podemos destacar sua utilidade da detecção de estenose coronariana na avaliação da patência de enxertos coronarianos e na anomalia das artérias coronárias. Após a recente aplicação de sequências com aquisição em 3D, os resultados de acurácia para a detecção de estenose pela doença arterial coronariana apresentaram significativas melhorias, se destacando pela boa sensibilidade e especificidade intermediária. Em um estudo multicêntrico, REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA publicado em 2001, a sensibilidade e a especificidade foram 93% e 42%, respectivamente, na análise por paciente e 100% e 85%, para detecção de estenose em tronco de coronária esquerda e doença triarterial significativa(13). Em outro estudo publicado em 2006, com análise de artérias com diâmetros superiores a 2 mm, a sensibilidade foi de 82% e a especificidade de 90%, na análise por paciente. Na análise por artéria, a sensibilidade foi de 85% para coronária direita, 77% para a descendente anterior e 70% para artéria circunflexa(14). A angiorressonância tem demonstrado ser útil para demonstrar a oclusão de enxerto coronário com a utilização da sequência de angiografia 3D pós-contraste (sensibilidade de 95% / especificidade de 81%) (15) , além de apresentar excelente sensibilidade e especificidade na detecção de anomalia de origem e trajeto das artérias coronárias, com algumas séries alcançando 100% de acurácia(16). VIABILIDADE MIOCÁRDICA Histórico Atualmente, a RM é considerada o padrão ouro para detecção de infarto e avaliação de viabilidade miocárdica por diversas diretrizes e começou a ser estudada desde a década de 80(17). Porém, sua história tomou um rumo promissor quando Kim e colaboradores publicaram seus achados sobre a técnica de realce tardio (RT), demonstrando correlação quase perfeita entre achados de modelos caninos de área infartada entre a imagem de RT e a peça anatômica(18). A partir daí pôde-se determinar que a relação de massa infartada com o restante do segmento tem valor preditor na recuperação contrátil. PROTOCOLO E DIAGNÓSTICO DE INFARTO A forma de detecção do infarto e avaliação da viabilidade miocárdica é simples e objetiva, podendo o exame durar entre 10 e 25 minutos, dependendo do aparelho de RMC utilizado e das condições clínicas do paciente. O protocolo convencional recomendado pela sociedade de ressonância magnética cardiovascular(19) e adotado na nossa instituição é: sequências em cine-RMC para avaliação da contratilidade miocárdica nos planos 3 câmaras, 2 câmaras, 4 câmaras e eixo curto. Para o RT é recomendado o eixo curto, 2 câmaras e 4 2014|26 Rocha-FIlho, JA e Torreão, JA. Papel da ressonância magnética na avaliação da doença isquêmica do coração. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 23-30 câmaras. Como sequências opcionais na fase aguda, pode-se realizar o T2 para avaliação de edema miocárdico, diferenciando, assim, um evento isquêmico agudo de um crônico e a perfusão de repouso para ajudar a caracterizar zonas de no-reflow(20). A técnica de RT tem como característica básica “anular” o sinal do miocárdio, tornando-o, assim, o mais escuro possível e destacar as áreas de infarto realçadas pelo gadolínio, criando uma diferença de contraste de até 1.080% entre o tecido normal e infartado (figura 1)(21). Isso é possível, pois na fase aguda do infarto há ruptura das membranas celulares dos miócitos, fazendo com que o gadolínio circule no interior das células e tenha uma lenta velocidade de retorno aos capilares. Na fase crônica, tal fato se deve porque no infarto há um importante aumento do espaço intersticial, pela necrose celular e substituição de células por colágeno. Com esse aumento do espaço intersticial o wash out do gadolínio é mais lento que o do tecido normal (figura 2). É esperado que com pelo menos 5 minutos já se encontre diferença de contraste entre o tecido normal e infartado suficiente para detecção de infarto(22). A RMC apresenta uma excelente acurácia para o diagnóstico do infarto com sensibilidade de 97% e especificidade de 98% em um estudo experimental usando modelos caninos. Esse mesmo estudo demostrou a superioridade da RMC sobre a cintilografia para detecção de infarto subendocárdicos por apresentar resolução espacial em torno de 60 vezes melhor. A RMC detectou 92% dos infartos subendocárdicos histologicamente comprovados, enquanto que a cintilografia detectou somente 28%(23). mais de 75% de acometimento praticamente não existe reserva contrátil, com baixa probabilidade de recuperação (valor preditivo negativo de 100%) (figura 4). A sensibilidade e especificidade para predizer a recuperação do contrátil neste estudo foi de 97% e 44%, respectivamente. A baixa especificidade se deve ao fato de que alguns segmentos com infarto subendocárdico não apresentam reserva contrátil(22). Outros trabalhos, tantos para infarto agudo como para infarto crônico, demonstraram a mesma capacidade de predição de recuperação contrátil usando a técnica de RT(24-26). Os estudos que comparam o protocolo híbrido de PET/ SPECT com a RMC mostraram uma concordância boa para predição de recuperação contrátil(27, 28). Por não envolver radiação ionizante e ter um custo significativamente inferior à RMC, tem sido considerada como padrão ouro na avaliação da viabilidade miocárdica, além de não ser necessário o uso do agente estressor farmacológico. Figura 3 - Técnica de realce tardio: infarto viável (setas) acometendo menos que 50% do segmento anterior do segmento médio. PREDIÇÃO DE RECUPERAÇÃO CONTRÁTIL A avaliação de viabilidade miocárdica usando a técnica de RT é simples e direta. Kim e colaboradores estudaram pacientes com infarto crônico e descreveram que segmentos com hipocinesia grave e que não apresentavam realce tardio compatível com infarto tinham chance de recuperação de até 80% e segmentos com acinesia ou discinesia apresentavam chance de recuperação contrátil de até 100%(22). Nos segmentos com algum grau de disfunção e área infartada de até 25%, (figura 3) ainda apresentam reserva contrátil capaz de recuperar a função com valores preditivos positivo e negativo de 71% e 79%, respectivamente. Ao passo que segmentos apresentando hipocinesia grave e com REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Figura 4 - Infarto agudo transmural hiperintenso em segmento anterior (seta pontilhada) e área de no-reflow hipointensa no interior do infarto (seta preta) em A. (B) Sequência T2 para avaliação de edema mostrando edema importante, correspondente ao infarto. 2014|27 Rocha-FIlho, JA e Torreão, JA. Papel da ressonância magnética na avaliação da doença isquêmica do coração. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 23-30 A RMC pode oferecer outras informações importantes no manejo dos pacientes com infarto, como a avaliação de função global e segmentar e fração de ejeção de forma acurada e altamente reprodutível(29). Outros valores agregados da RMC são a avaliação da anatomia e função valvar, podendo quantificar de forma acurada o grau de insuficiência, bem como caracterizar o tipo de jato regurgitante(30) e fornecer uma visão global do coração, avaliando sua anatomia e presença ou não de aneurismas e trombos intracavitários (figura 5) (31). insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral(34). Esse achado é caracterizado por uma zona subendocárdica, com ausência de realce, dentro da área infartada e quase sempre está associada a infartos transmurais e extensos. A fisiopatologia do fenômeno de no-reflow ainda não está completamente esclarecida, porém acredita-se que após um longo período de obstrução total da coronária há danos importantes à microvasculatura, impedindo fluxo de sangue para os miócitos. Ao nível histológico, encontra-se miócitos edemaciados e debris de fibrina e plaquetas no intravascular(33). CONCLUSÕES Figura 5 - Infarto transmural hiperintenso com áreas de no-reflow (A e B) e trombo aderido em ápice (B). VALOR PROGNÓSTICO Além da capacidade preditora de recuperação contrátil, a RMC com a técnica de RT também fornece dados prognósticos de mortalidade. Em um estudo incluindo 144 pacientes com DAC e fração de ejeção baixa (≤35%) observou-se melhor prognóstico tanto para todas as causas de mortalidade quanto para as causas cardíacas, nos pacientes que apresentavam viabilidade e foram revascularizados, além da melhora na função ventricular. Os pacientes que não apresentavam viabilidade tiveram praticamente o mesmo desfecho tanto se tratados clinicamente quanto se revascularizados. Esse estudo conclui que a viabilidade miocárdica avaliada pela RMC com a técnica RT, além de predizer a recuperação contrátil, fornece informações prognósticas importantes, tanto para todas as causas de mortalidade quanto paras as causas cardíacas(32). O fenômeno de no-reflow também oferece valor prognóstico e pacientes que apresentam esse achado na RMC evoluíram com maior incidência de remodelamento cardíaco, afilamento da parede ventricular e ausência de recuperação contrátil(33). Wu e colaboradores demonstraram que a presença de no-reflow diagnosticado pela RMC é indicativo de maior incidência de complicações cardiovasculares tipo óbito, reinfarto, REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA A evolução tecnológica dos métodos de imagem cardiovascular nos últimos anos trouxe à prática clínica um grande desafio de atualização e otimização das rotinas, a fim de oferecer a melhor conduta diagnóstica e terapêutica disponível para seus pacientes. A RMC é um método bem atrativo, pois apresenta alta resolução temporal e espacial, além de não usar radiação ionizante e por isso está consolidada definitivamente no estudo das doenças isquêmicas do coração. REFERÊNCIAS 1. Indicadores e Dados Básicos - Brasil - 2012 2012 [cited 2014]. Available from: http://tabnet.datasus.gov. br/cgi/idb2012/matriz.htm - mort. 2. Smith SC, Jr., Feldman TE, Hirshfeld JW, Jr., Jacobs AK, Kern MJ, King SB, 3rd, et al. 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Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 31-33 Artigo publicado – Cardiologia Teste de esforço cardiopulmonar em insuficiência cardíaca chagásica Luiz Eduardo Ritt* Artigo original publicado Luiz Eduardo Ritt, Antonio Carlos Carvalho, Gilson Soares Feitosa, Joel A. Pinho-Filho, Marcus Vinicius Santos Andrade, Gilson Soares Feitosa-Filho, L. Kristin Newby, Renato D. Lopes. “Cardiopulmonary exercise and 6-min walk tests as predictors of quality of life and longterm mortality among patients with heart failure due to Chagas disease.” Int J Cardiol. 2013 Oct 9;168(4):4584-5 Introdução O teste de esforço cardiopulmonar (TCP) tem seu papel bem definido na avaliação de prognóstico em pacientes com Insuficiência Cardíaca (ICC). Diretrizes nacionais e internacionais colocam o TCP como indicação classe I ou IIa para este fim1,2. A doença de Chagas é causa prevalente de ICC no Brasil e na América Latina. O prognóstico da ICC por Doença de Chagas é mais reservado comparado a outras etiologias3. Os estudos que definiram o valor prognóstico das principais variáveis do TCP em ICC não contemplaram pacientes de etiologia chagásica. Um estudo recente do nosso grupo4, por exemplo, avaliando a distribuição do Heart Failure Surviving Score (HFSS) em pacientes chagásicos encontrou valores médios para o escore no tercil de menor risco, mesmo em um grupo com ICC avançada, mostrando que pontos de corte clássicos podem ser diferentes neste grupo específico de pacientes. Neste contexto estudamos o valor prognóstico do TCP em ICC por Chagas. Os resultados foram recentemente publicados5 e nesta oportunidade revisaremos os principais achados deste estudo. Metodologia Foram estudados 55 pacientes com Doença de Chagas e ICC sintomática (NYHA II-IV), todos os pacientes realizaram um TCP, além de avaliação clínica, ecocardiograma, exames laboratoriais e teste de caminhada de 6 minutos (TC6M). Os pacientes faziam parte do ambulatório de insuficiência cardíaca e cardiopatia chagásica do Hospital Santa Izabel e haviam sido arrolados em estudos multicêntricos conduzidos previamente pelo serviço de cardiologia do hospital6. O REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA grupo foi seguido para ocorrência de morte por todas as causas, sendo obtido um seguimento médio de 32 ± 19 meses. Modelos de regressão de Cox e análises de sobrevida de Kaplan-Meier foram empregados na análise estatística. O “escore Rassi” (escore de risco específico para Chagas)7 foi calculado e todas as análises controladas para este. Resultados Do total, 42 pacientes (74%) estavam na classe II da NYHA, 12 (22%) em NYHA III e 2 (4%) em NYHA IV. A fração de ejeção média foi de 27,6% e a distância média ao TC6M foi de 399 ± 102 m, a média do escore Rassi foi de 13 ± 2,5 (compativel com o tercil de maior risco). A análise ao TCP revelou valores médios para VO2 pico, razão de troca respiratória (RER), VE/VCO2 slope, pulso de O2, oxygen efficiency uptake slope (OUES) foram, respectivamente: 17,3 ± 6,2 mL/ kg/min; 1,08 ± 0,18; 36 ± 10; 9,4 ± 3,5 mL/bat e 0,66 ± 0,27 L/min. No seguimento houve 39 óbitos (mortalidade 71%). O grupo, dividido quanto ao estado vital ao final do seguimento, foi comparado em relação às variáveis funcionais do TCP (VO2 pico, RER, VE/VCO2 slope, OUES, pulso O2, recuperação da frequência cardíaca < 16 bpm em 1 minuto, VO2 no limiar anaeróbico), ecocardiográficas, distância ao TC6M, escore Rassi, sódio sérico, presença de taquicardia ventricular não sustentada ao Holter, escore Minnesota de qualidade de vida. Os pacientes que foram a óbito tinham uma fração de ejeção menor (p 0,04) e um escore Rassi maior (p 0,01), dentre as variáveis do TCP apresentavam um VO2 pico menor (p 0,03) e um VE/VCO2 slope maior (p 0,01). 2014|31 Ritt, LE. Teste de esforço cardiopulmonar em insuficiência cardíaca chagásica Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 31-33 A análise da estatística C para predição de mortalidade do VO2 pico foi de 0,70 (IC 95% 0,55 - 0,85; p = 0,02) e para o VE/VCO2 slope de 0,73 (IC 95% 0.59 - 0,87; p = 0,007). Com base na análise da curva ROC foram determinados os melhores pontos de corte para o VO2 pico, sendo este o de ≤18 mL/kg/min (sensibilidade 74% e especificidade, 69%) e o de ≥32,5 para o VE/ VCO2 slope (sensibilidade, 72% e especificidade, 69%). As figuras 1 e 2 mostram as curvas de Kaplan-Meier para o grupo de pacientes divididos pelo VO2 pico e pelo VE/VCO2 slope, respectivamente. Foi realidade análise multivariada ajustada para idade, fração de ejeção e escore Rassi. O VE/VCO2 slope mostrou-se preditor independente de mortalidade (HR: 2,80; IC 95%: 1,30 a 5,80, p = 0,001, para um VE/VCO2 slope ≥32,5; ou HR: 1,04; IC 95%: 1,01 a 1,07; p = 0,01, por unidade de incremento no VE/ VCO2 slope). O escore Rassi também permaneceu como preditor independente de mortalidade (HR: 1,28, IC 95%: 1,10 a 1,48; p = 0,001). Conclusão e implicações clínicas Concluiu-se que o VE/VCO2 foi a única variável do TCP preditora independente de mortalidade em pacientes com ICC de etiologia chagásica. Os pontos de corte para variáveis prognósticas clássicas do TCP como o VO2 pico e o VE/VCO2 slope foram mais precoces que os recomendados na literatura na população de ICC em geral. Este achado pode estar relacionado a um estágio mais severo de doença, apesar de uma capacidade funcional ainda não limitante, o que pode relacionar-se a uma necessidade de intervenção mais precoce nestes pacientes. Referências Figura 1 - Curva de sobrevida de Kaplan-Meier para o VO2 pico 1. Yancy CW, Jessup M, Bozkurt B, et al. 2013 ACCF/AHA guideline for the management of heart failure: a report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. 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Teste de esforço cardiopulmonar em insuficiência cardíaca chagásica Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 31-33 se. Int J Cardiol. 2013 Oct 9;168(4):4584-5 6. Ribeiro dos Santos R, Rassi S, Feitosa G. Cell therapy in Chagas cardiomyopathy (Chagas arm of the multicenter randomized trial of cell therapy in cardiopathies study): a multicenter randomized trial. Circulation 2012;125:2454–61. 7. Rassi Jr A, Rassi A, Little WC, et al. Development and validation of a risk score for predicting death in Chagas’ heart disease. N Engl J Med 2006;355:799– 808. * Serviço de Cardiologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|33 Boaventura, V e Andrade, N. Análise do conhecimento e prática científica entre otorrinolaringologistas brasileiros. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 34-36 Artigo publicado – Otorrinolaringologia Análise do Conhecimento e Prática Científica entre Otorrinolaringologistas Brasileiros Viviane Boaventura 1, Nilvano Andrade 1 Artigo original publicado Mendonça V., Alcântara T, Andrade, N, Bezerril B, Barral-Netto, M, Boaventura V. Analysis of theoretical knowledge and the practice of science among brazilian otorhinolaryngologists. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. 2013; 79 (4):487-93. INTRODUÇÃO A compreensão dos princípios científicos e a interpretação de artigos é necessária em qualquer especialidade médica. Entretanto, inexistem publicações sobre o conhecimento teórico e prático dos otorrinolaringologistas brasileiros. O objetivo desse trabalho foi avaliar a formação e o conhecimento científico de médicos e residentes da área de otorrinolaringologia. MÉTODOS Durante dois congressos nacionais da especialidade, os participantes foram convidados a preencher questionário sobre prática e conhecimento científico para residentes e especialistas dessa área. Foi utilizado um questionário previamente validado, contendo perguntas de múltipla escolha sobre o conhecimento científico e perguntas objetivas sobre a participação em projeto de pesquisa e escrita de trabalhos científicos. Para análise estatística foram utilizados o teste exato de Fisher e o teste Mann-Whitney e foi considerado estatisticamente significante o p<0.05. RESULTADOS Participaram do estudo 73 médicos (52% otorrinolaringologistas e 38% residentes), com idade entre 18 e 65 anos. Cerca de dois terços envolveram-se em alguma atividade científica durante a graduação e/ou referiram já ter escrito um artigo científico. Os médicos que já participaram de projetos de pesquisa sentem-se mais preparados para interpretar um artigo científico e conduzir um projeto de pesquisa (p=0.0103 e p=0.0240, respectivamente). Aqueles que participaram de projetos de pesquisa ou já escreveram um artigo tiveram melhor desempenho nas questões envolvendo conceitos científicos teóricos (p=0.0101 e p=0.0103, respectivamente). Entretanto, o índice geral de acertos nas questões referentes ao conhecimento científico foi de 46.1%. Figura 1 - Desempenho teórico médio de acordo com a participação em pesquisa, projeto e escrita de artigo. Média da média de acertos de cada indivíduo nas 06 questões teóricas múltipla escolha. Análise estatística - Mann-Whitney (p<0.05). REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|34 Boaventura, V e Andrade, N. Análise do conhecimento e prática científica entre otorrinolaringologistas brasileiros. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 34-36 Figura 2 - Desempenho nas questões teóricas de acordo com a escrita prévia de artigo científico. Número absoluto de indivíduos que acertaram cada questão. Barras brancas - os indivíduos que já escreveram artigo científico; barras pretas indivíduos que não escreveram artigo científico. Análise estatística - teste exato de Fisher (p<0.05) CONCLUSÃO Há deficiências na formação científica dos otorrinolaringologistas brasileiros. COMENTÁRIOS O conhecimento científico é essencial para a formação médica1. Há um número crescente de publicações como consequência da geração de novos conhecimentos que devem ser incorporados à prática médica. Entretanto, pouca importância tem sido dada no Brasil à capacitação do profissional para análise dos artigos científicos. Apenas 12% dos estudantes de medicina de seis diferentes faculdades da federação participaram de atividade de iniciação científica durante a graduação2. Há poucas informações disponíveis sobre o tipo e qualidade do treinamento em pesquisa durante a especialização médica. Em relação à otorrinolaringologia, não havia trabalho na literatura analisando a qualidade da formação em pesquisa no Brasil. Neste trabalho publicado no Brazilian Journal of Otorhinolaryngology em 2013 avaliamos o conhecimento teórico e prático em pesquisa científica dos residentes e especialistas em otorrinolaringologia. O estudo foi realizado por especialistas e residente do serviço de otorrinolaringologia do Hospital Santa Izabel, em co- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA laboração com pesquisadores e estudante de doutorado da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Durante dois congressos da especialidade aplicamos entre os participantes um questionário validado por Reis-Filho e cols (2010)3, envolvendo questões de múltipla escolha sobre conhecimento científico e acrescentamos ainda questões relativas ao local de trabalho, tempo de formado e que tratavam-se de médico especialista ou residente. Entre os 73 médicos que preencheram o questionário, 52% (n=38) eram especialistas e 38% (n=28), residentes de otorrinolaringologia. A maioria tinha menos de 10 anos de conclusão da graduação (66.7%; n=48) e já havia participado de alguma atividade científica durante a graduação (76.5%; n=52) e/ ou escreveu pelo menos um artigo científico (78.4%; n=40). Nas seis questões de múltipla escolha destinadas a avaliar o conhecimento dos conceitos gerais da pesquisa e ciência aplicada houve um percentual médio de acerto de 46,1%. Apenas 21.92% (n=16) acertaram a questão sobre definição de hipótese científica, enquanto cerca de um terço acertou as questões sobre citações (31.08%; n=23) e estrutura de um artigo científico (32.43%; n=24). A maioria dos participantes respondeu corretamente as perguntas referentes ao processo de escrita da introdução de um artigo, à conceituação de MEDLINE e à categorização de representatividade. Os médicos e residentes otorrinola- 2014|35 Boaventura, V e Andrade, N. Análise do conhecimento e prática científica entre otorrinolaringologistas brasileiros. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 34-36 ringologistas que participaram de projeto de pesquisa tinham menos tempo de graduação (<10 anos) e já tinham escrito um artigo (p=0.0324 e p<0.0001, respectivamente). Além disso, os participantes que tinham uma experiência prévia em projetos de pesquisa sentiram-se mais capazes em interpretar um artigo científico sem assistência (p=0.01), assim como planejar um projeto científico com assistência (p=0.02). Apesar de 76,47% já terem participado de atividade de pesquisa durante a graduação e 78,4% já terem escrito um artigo científico, o conhecimento teórico científico entre residentes e otorrinolaringologistas foi baixo (média de 46,1% de acertos). A média de acertos nas seis questões teóricas para cada participante do estudo foi maior entre os indivíduos que participaram de projeto de pesquisa comparado aos que não participaram (3.1 vs 2.16, p=0.0103) ou que escreveram um artigo científico em relação aos que não escreveram (3.2 vs 2.2; p=0.0101) (Figura 1). Nesse último caso, o desempenho daqueles que relataram já ter escrito um artigo foi melhor apenas no quesito sobre “Representatividade” (p=0.0287), o que elevou a média desse grupo (Figura 2). Por outro lado, a participação em atividades de pesquisa (monitoria, iniciação científica) durante a graduação não elevou o número de acertos nas questões teóricas (Figura 1). O resultado do desempenho teórico se contradiz com o histórico de publicação, pois era esperado que esse grupo tivesse mais conhecimento sobre a estrutura de um artigo. Nesse trabalho não colhemos informações sobre o tipo (artigo original, de revisão, relato de caso, etc) e qualidade da publicação citada, o que poderia ajudar a compreender o baixo desempenho teórico desse grupo. Sabe-se que, apesar do aumento do número de publicações brasileiras em otorrinolaringologia na última década, passando de aproximadamente 140 em 2000 para 260 em 2010, há um baixo índice de citação dessas publicações pela comunidade científica comparado com outros países (média aproximada de 4,9 por ano nos artigos brasileiros contra 13 na Tailândia e 7,5 na Turquia, por exemplo) ou mesmo comparando com as publicações brasileiras de outras especialidades (média aproximada de 7,4 citações por artigo de oftalmologia e de 10 citações por artigo de urologia, por exemplo)4. Acreditamos que a maior participação em projetos de pesquisa poderá modificar essa realidade e refletir-se em uma melhoria na qualidade das publicações. Um maior investimento na educação científica durante a residência médica poderá reverter esse quadro enriquecendo a formação do otorrinolaringolo- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA gista brasileiro e contribuindo para a geração de novos pesquisadores nessa área. É necessário aumentar a inserção de otorrinolaringologistas brasileiros em grupos de pesquisa para melhorar a qualidade do conhecimento científico na área. Além de elevar o conhecimento científico dos especialistas, a participação em projetos também é importante para aumentar o interesse pela atividade acadêmica e a formação de novos pesquisadores REFERÊNCIAS 1. Does research make for better doctors? Lancet. 1993 Oct 30;342(8879):1063–4. 2. Oliveira NA de, Alves LA, Luz MR. Iniciação científica na graduação: o que diz o estudante de medicina? Revista Brasileira de Educação Médica. 2008 Sep;32(3):309–14. 3. Reis Filho AJS, Andrade BB, Mendonça VRR de, Barral-Netto M. Conhecimento científico na graduação do Brasil: comparação entre estudantes de Medicina e Direito. Einstein (Säo Paulo). 8(3). 4. SJR - International Science Ranking [Internet]. [cited 2012 Nov 19]. Available from: http://www.scimagojr.com/countryrank.php 1 – Serviço de Otorrinolaringologia do HSI Endereço para correspondência: [email protected] 2014|36 Mattos, ACV e Feitosa, ACR. Frequência do medo de agulhas e impacto de uma abordagem educacional multidisciplinar em gestantes com diabetes. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 37-38 Artigo publicado – Clínica Médica Frequência do medo de agulhas e impacto de uma abordagem educacional multidisciplinar em gestantes com diabetes Ana Carolina Viana Mattos *e Alina Coutinho Rodrigues Feitosa ** Artigo original publicado FEITOSA, ACR; SAMPAIO, LN ; BATISTA, AGL; PINHEIRO, CB. Frequência do medo de agulhas e impacto de uma abordagem educacional multidisciplinar em gestantes com diabetes. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2013, vol.35, n.3, pp. 111-116. Introdução Terapia com insulinas é feita via injeção subcutânea da medicação e a monitoração da glicemia exige a punção digital para coleta do sangue capilar. O medo de agulhas dificulta a aderência ao tratamento em pacientes com diabetes na gestação e pode ser um fator para o mau controle glicêmico. O objetivo do estudo foi avaliar a frequência do medo de agulhas e o impacto de um programa educacional multidisciplinar em gestantes diabéticas em uso de insulina durante a gestação. Métodos 65 pacientes da Maternidade Professor José Maria Magalhães Netto, com idade entre 18 e 45 anos e portadoras de diabetes pré-gestacional e gestacional responderam ao questionário validado Diabetes Fear of Injecting and Self-testing Questionnaire (D-FISQ) no início e ao fim da gestação. O D-FISQ é composto por 2 subescalas que avaliam o medo da autoaplicação de insulina e da automonitoração da glicemia capilar. Durante a gravidez, as gestantes foram acompanhadas, quinzenalmente, por equipe multidisciplinar e intervenção educacional, por meio de instruções personalizadas individuais e materiais educativos impressos, que foram dados a cada consulta. Resultados Escore compatível com medo da autoaplicação de REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA insulinas e de automonitoração foi observado em 38,5 e 27,7% das pacientes na primeira avaliação e 12,7 e 14,3% na segunda avaliação (p=0,001 e p=0,012, respectivamente). Ausência de temor de agulhas foi observada em 18.5% na primeira avaliação e em 42.9%, na avaliação subsequente. Conclusão O medo de agulhas é comum entre gestantes em uso de insulina durante a gestação e a intervenção educacional multidisciplinar reduz significativamente o temor. Comentários O artigo aborda um tema importante no manejo do diabetes: o medo de agulhas. Estima-se que 2,4 a 7,2% das gestantes apresentem diabetes gestacional¹ e, dessas, 30 a 60 % ² necessitam do uso de insulina. A hiperglicemia em portadoras de diabetes na gestação resulta em complicações potencialmente fatais para o feto, como prematuridade e aumento do risco de má formação, e o adequado manejo da hiperglicemia reduz a morbidade perinatal e materna³. Para o controle glicêmico durante a gestação, a participação ativa da paciente é indispensável. Naquelas em que a insulinoterapia é necessária para alcançar os alvos glicêmicos, conhecimento sobre sinais e sintomas da doença e do tratamento, cuidados com a dieta, múltiplas aplicações diárias de in2014|37 Mattos, ACV e Feitosa, ACR. Frequência do medo de agulhas e impacto de uma abordagem educacional multidisciplinar em gestantes com diabetes. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 37-38 sulina e medidas frequentes de glicemia capilar são imprescindíveis. Neste cenário, o medo de agulhas torna-se um fator limitante para o manejo adequado da doença e o reconhecimento precoce da gestante que é acometida por essa comorbidade psicológica é importante para possibilitar uma abordagem diferenciada e individualizada para enfrentamento do temor que pode comprometer a aderência e dificultar o controle das hiperglicemias. Endereço para correspondência: [email protected] O estudo aborda de forma pioneira a importância da aplicação do questionário D-FISQ numa população de gestantes portadoras de diabetes. Os resultados do estudo demonstram a utilidade de um instrumento simples, um questionário de fácil e rápida aplicação, para os profissionais de saúde no fornecimento de informações sobre o medo de agulhas entre gestantes. O estudo demonstrou, adicionalmente, o impacto do trabalho educacional multidisciplinar em reduzir, significativamente, os temores da terapia com insulinas e automonitoração da glicemia capilar. A identificação da gestante acometida pelo medo de agulhas é fundamental para otimizar a aderência ao tratamento e permitir abordagem educativa diferenciada para minimizar esta comorbidade psicológica. A abordagem multidisciplinar revelou-se um meio de tratamento do medo. Novos estudos avaliando o impacto da redução do temor de agulhas no controle glicêmico devem ser realizados. Referências 1. Schmidt, MI et al. Gestational diabetes mellitus diagnosed with a 2-h 75-g oral glucose tolerance test and adverse pregnancy outcomes. Diabetes Care vol. 24 no. 7 1151-1155, July 2001. 2. Langer, O. Management of Gestational Diabetes. Clinical Obstetrics & Ginecology. 43(1): 106-115, March 2000. 3. Crowther, CA et al. Effect of Treatment of Gestational Diabetes Mellitus on Pregnancy Outcomes. N Engl J Med ;352:2477-86, 2005. * Serviço de Clínica Médica do HSI ** Serviço de Clínica Médica do HSI e Ambulatório de Endocrinopatias na Gestação da MPJMMN REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|38 Sena, JP et al. Implante percutâneo de válvula aórtica (IPVA) em paciente com alto risco operatório, portadora de estenose aórtica (EA) grave. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 39-41 Relato de Caso – Cardiologia Implante percutâneo de válvula aórtica (IPVA) em paciente com alto risco operatório, portadora de estenose aórtica (EA) grave Joberto Pinheiro Sena*, Adriano Dias Dourado Oliveira*, Antonio Carlos Sales Nery*, Maria Lúcia Duarte*, Gilson Soares Feitosa*, José Carlos Raimundo Brito*. Descritores: estenose aórtica, IPVA, escore de risco. Key words: aortic stenosis, TAVI, risc score. Introdução O IPVA para o tratamento da EA calcificada em pacientes inoperáveis e de alto risco cirúrgico já está estabelecido em Diretrizes (1). Descrevemos um caso de paciente muito idosa com sintomas cardiovasculares exuberantes, em repouso, portadora de diversas comorbidades e que foi submetida ao IPVA no nosso Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista do HSI. Relato do caso Paciente de 92 anos, sexo feminino, portadora de hipertensão arterial, doença coronariana, com revascularização cirúrgica há 27 anos, aneurisma de aorta abdominal infrarrenal, marca-passo definitivo (MP) desde 2005 e passado de acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico em 2004,cursando com dispneia aos pequenos esforços, sendo atendida na emergência do HSI com ortopneia. Diagnóstico de EA há 5 anos, em tratamento clínico. O exame admissional evidenciou sinais de congestão pulmonar importante, além de sinais clássicos de EA grave em ICC CF IV. ECG identificou ritmo de fibrilação atrial com resposta ventricular controlada. Na radiografia de tórax observou-se dilatação e calcificação da aorta ascendente, além de padrão de congestão pulmonar. O Ecocardiograma Transtorácico (ETT) confirmou EA calcífica grave, com área valvar de 0,25 cm2, gradiente de pico de 100 mmHg e médio de 59 mmHg. Por apresentar escore de risco cirúrgico eleREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA vado (STS = 25% mortalidade hospitalar) foi proposto, pela equipe multidisciplinar, o tratamento percutâneo. Devido ao quadro de grave ICC não compensada, programou-se a dilatação da válvula aórtica por cateter-balão (VACB) como procedimento inicial e ponte para o IPVA. O procedimento resultou em redução do gradiente transvalvar, que resultou em melhora importante do quadro de ICC. O estudo das coronárias e enxertos foi satisfatório, sem indicação de novas intervenções. A AngioTC evidenciou diâmetros de femorais e ilíacas adequados, com medida do anel valvar aórtico e altura dos seios valvares favoráveis para escolha da prótese a ser utilizada. Submetida a IPVA com prótese Edwards Sapien (ES), tamanho 26, 20 dias após a realização da VACB. O implante foi realizado com sucesso (ausência de gradiente sistólico através da prótese, com presença de mínima regurgitação paravalvar) e sem complicações. Evoluiu em classe funcional I, recebendo alta hospitalar 7 dias após o procedimento, em uso de dupla antiagregação plaquetária. No segundo mês após o IPVA, foi submetida a implante de prótese de quadril, para correção de fratura de colo de fêmur, com sucesso e sem intercorrências cardiovasculares. Oito meses após o procedimento, a paciente mantém-se assintomática. Discussão A EA é a obstrução da via de saída do VE pela cal- 2014|39 Sena, JP et al. Implante percutâneo de válvula aórtica (IPVA) em paciente com alto risco operatório, portadora de estenose aórtica (EA) grave. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 39-41 cificação das estruturas valvares, associada ou não à fusão das cúspides da valva aórtica. É a doença valvar aórtica adquirida mais frequente e está presente em 4,5% da população acima de 75 anos (2). Com o envelhecimento populacional, aumentará em incidência e importância nas próximas décadas. O diagnóstico desta patologia é clínico. Os sintomas resultantes da EA (dor torácica, síncope e dispneia) tipicamente surgem após a 6ª década de vida, sendo ainda mais tardios nos casos de EA degenerativa. Os pacientes sintomáticos apresentam uma piora significativa de seu prognóstico, com média de sobrevivência de dois a três anos e aumento significativo no risco de morte súbita. O ETT fornece dados adicionais da anatomia da valva, quantifica os gradientes,estabelece a área valvar aórtica e determina a função ventricular. Eventualmente, os métodos transesofágico ou tridimensional podem ser utilizados para analisar melhor a valva aórtica ou mesmo medir a área valvar. São critérios de gravidade o gradiente médio acima de 40 mmHg, velocidade de jato > 4 m/seg e área valvar inferior a 1 cm² ou 0,6 cm²/m². Este caso é notável porque exemplifica um perfil de pacientes que tem se tornado mais prevalente com o envelhecimento da população. O tratamento clínico isolado não é capaz de modificar a história natural da EA. O tratamento cirúrgico é o padrão ouro desta patologia, contudo dados de literatura evidenciam que 1/3 dos idosos portadores de EA não são encaminhados para cirurgia devido a idade avançada, disfunção ventricular e outras comorbidades (3). A cirurgia de implante de prótese valvar cardíaca está associada à morbidade e mortalidade significativas neste contexto. O risco cirúrgico destes pacientes pode ser estimado de acordo com escores validados. Os mais utilizados são: EuroScore e o STS. O IPVA surgiu em 2002 com Cribier e cols(4) e evoluiu com a possibilidade de emprego de diferentes dispositivos. A seleção de pacientes para o IPVA deve obedecer os seguintes critérios gerais de avaliação: presença de EA grave sintomática; idade > 80 anos ou alta probabilidade de morbimortalidade cirúrgica; presença de comorbidade que eleve de forma proibitiva o risco cirúrgico, como por exemplo a cirrose hepática, doença pulmonar grave, múltiplas cirurgias cardíacas prévias, especialmente com enxerto de artéria mamária; aorta em porcelana; radioterapia torácica prévia; REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA fragilidade orgânica acentuada. Além de presença de condição anatômica e morfológica favorável para o procedimento por cateter, incluindo a avaliação pormenorizada da via de acesso e trajeto vascular (1). A avaliação desses pacientes e a indicação do tratamento por cateter devem ser conduzidos por equipe médica multidisciplinar. O ECO, a angioTC, a aortografia e a arteriografia do território iliacofemoral são indispensáveis nas informações para a seleção e o planejamento do procedimento. Estudos demonstram o adequado funcionamento das biopróteses aórticas implantadas por cateteres com área valvar média de 1,5cm2, com redução significativa ou resolução completa do gradiente de pressão transvalvar, como no caso relatado. A melhora hemodinâmica precoce reflete-se rapidamente na melhora dos sintomas de ICC. As próteses mais utilizadas são a CoreValve (CV) e a ES com diferenças estruturais, requerendo expertise no implante de cada uma delas; a primeira consiste de três folhetos de pericárdio suíno, montados e suturados em um stent de nitinol autoexpansível; a prótese ES consiste de um stent de cromo - cobalto, expansível por balão, no qual se inserem três folhetos de pericárdio bovino. O procedimento pode ser realizado por via femoral (retrógrado) ou acesso anterógrado(via transapical), de acordo parâmetros anatômicos das ilíacas. O estudo CHOICE(5) em pacientes com EA de alto risco, submetidos a IPVA, foi o primeiro a comparar estes dispositivos e demonstrou que a ES resultou em maior taxa de sucesso comparada a CV, além de uma menor incidência de bloqueio, AV necessitando implante de marca-passo (MP) definitivo. No estudo PARTNER (6) utilizando a ES, a mortalidade após um ano de tratamento em pacientes inoperáveis foi reduzida em aproximadamente 20%, comparado com o tratamento padrão. Nos casos considerados de alto risco operatório, o IPVA apresentou mortalidade após um ano, equivalente àquela obtida com o tratamento cirúrgico. Diversos registros europeus com a bioprótese CV reproduzem esses resultados. O Serviço de Hemodinâmica no HSI foi pioneiro na Bahia e um dos primeiros centros do Norte/Nordeste a realizar esse procedimento. Entre 01/2010 e 01/2014, 12 pacientes foram submetidos a IPVA: mediana idade 83,5 anos (75 – 94 a); 66% (8) sexo feminino; 100% 2014|40 Sena, JP et al. Implante percutâneo de válvula aórtica (IPVA) em paciente com alto risco operatório, portadora de estenose aórtica (EA) grave. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 39-41 em CF III/IV; STS=19,1%; EUROscore log=18,3%; área valvar média=0,52cm2; fração ejeção=58,6%. Todos os procedimentos foram realizados por via femoral percutânea e apenas 1 por dissecção cirúrgica. Nos 7 primeiros implantes utilizamos a CV e nos demais, a prótese ES. O sucesso do implante foi de 100%, com redução da média do gradiente sistólico transvalvar de 78 mmHg para 16 mmHg; 4 pts (33%) ficaram com IAo moderada e 01 pt apresentou mínima perfuração septal com CIV, sem repercussão hemodinâmica.Ocorreu 01 óbito hospitalar por choque séptico; 2 complicações vasculares maiores, necessitando hemotransfusão (16%); 01 AVCi (8%) sem sequela; 02 implantes de MP (16%). Onze pts (92%) tiveram alta hospitalar em CF I/ II. No seguimento clínico, média de 16,2 meses (3 a 48 m), houve 01 óbito após 3 meses por choque séptico; 10 pacientes mantêm-se em CF I/II, sem novos eventos clínicos cardiovasculares. Conclusão Este caso demonstra que o IPVA pode ser oferecido a pacientes portadores de EA grave, inoperáveis ou de alto risco cirúrgico. A experiência do HSI também aqui relatada apresenta resultados superponíveis ao da literatura. 2- Freeman RV, Otto CM. Spectrum of calcific aortic valve disease: pathogenesis, disease progression, and treatment strategies. Circulation. 2005;111(24):3316-2. 3- A prospective survey of patients with valvular Heart disease in Europe: The Euro Heart Survey on Valvular Heart Disease Euro Heart J2003 Jul;24(13):123143. 4- Cribier A, Eltchaninoff H, Bash A, Borenstein N, Tron C, Bauer F, et al. Percutaneous transcatheter implantation of an aortic valve prosthesis for calcific aortic stenosis: first human case description. Circulation. 2002;106(24):3006 5- The CHOICE Trial JAMA Smith CR, Leon MB, Mack MJ, Miller DC, Moses JW, Svensson LG, et al. Transcatheter versus surgical aortic-valve replacement in high-risk patients. N Engl J Med. 2011;364(23):218798 6- A Randomized Comparison of Self-Expandable and Balloon-Expandable Prostheses in Patients Undergoing Transfemoral Transcatheter Aortic Valve Replacement * Serviço de Cardiologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] Figuras 1 e 2 - Edwards Sapien 26 Referências 1- Diretriz Valvopatias – SBC 2011, I Diretriz Interamericana de Valvopatias – SIAC 2011, Volume 97, Nº 5, Supl.1, Novembro 2011. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|41 Nascimento, JS et al. Anestesia peridural para cesariana em paciente com hipertensão pulmonar grave. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 42-45 Relato de Caso – Anestesiologia Anestesia peridural para cesariana em paciente com hipertensão pulmonar grave Jedson dos Santos Nascimento * Pablo Britto Detoni ** Murilo Pereira Flores* Fábio Frias Mota *** Marcio Henrique Lopes Barbosa *** Clísia Maria Lobo dos Santos *** Descritores: anestesia peridural, cesárea, hipertensão pulmonar. Key words: anesthesia peridural, cesárean, pulmonary hypertension. Introdução A hipertensão pulmonar (HP) é definida pela presença de uma pressão na artéria pulmonar maior que 25mmHg no repouso e/ou 30mmHg no exercício. A média de expectativa de vida geral após o diagnóstico é de 2,8 anos.1 Essa condição é extremamente grave para a gestante, tendo sido descritas, nessas condições, mortalidade maior que 50%2. A fisiopatologia da HP não é totalmente compreendida, no entanto a injúria endovascular e a inflamação desempenham papel importante. As gestantes com HP crônica não toleram bem o aumento da frequência cardíaca e o aumento do volume circulatório presentes na gravidez. O débito cardíaco já pode estar reduzido pela HP, de forma que o coração não consegue aumentar o seu débito de forma adequada, para suplantar a resistência vascular periférica reduzida, que ocorre na gravidez.3 A estenose mitral é a lesão valvar mais comum e está associada a uma mortalidade materna de 10%4, chegado acima de 50% nas classes funcionais III e IV. O trabalho de parto, uso de beta agonistas, anemia e arritmias cardíacas agravam a hemodinâmica da estenose mitral.4 Objetivo Esse relato tem por objetivo descrever uma anestesia peridural contínua em uma paciente com hipertensão pulmonar grave, secundária à valvulopatia reumática, submetida à cesariana de urgência. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Relato de Caso Paciente de 22 anos, secundigesta, no curso de 37 semanas pela avaliação ultrassonográfica, deu entrada pela emergência da Maternidade José Maria de Magalhães Netto – Santa Casa de Misericórdia da Bahia, com sintomas de dispneia e palpitações. Referiu acompanhamento irregular de pré-natal e cardiológico. Estava em uso de Propranolol e Furosemida, via oral, entretanto não fazia uso da medicação havia três dias. Ao exame físico encontrava-se taquipneica, taquicardíaca com pressão arterial de 114/54mmHg. Exame respiratório sem achados, exame cardiovascular com íctus desviado da linha médio clavicular 2cm no 6º espaço intercostal visível. Apresentava também propulsão paraesternal esquerda, à ausculta sopro sistólico plurifocal mais audível em foco mitral. Abdômen gravídico e mínimo edema nos membros inferiores. A radiografia de tórax apresentava cardiomegalia importante. O eletrocardiograma apresentava aumento de onda P com padrão bilobulada sugestivo de sobrecarga atrial e sobrecarga de ventrículo esquerdo. No ecocardiograma: átrio esquerdo com importante aumento, câmaras cardíacas direitas com aumento moderado; ventrículo esquerdo (VE) com diâmetro normal; átrio esquerdo (AE) com área de 43,5cm2; valva mitral com sinais de comprometimento reumático, folheto posterior pouco móvel, fusão das comissuras com área valvar de 1,38cm2, gradiente transvalvar, pico 35 mmHg e médio de 22mmHg, refluxo de grau importante com jato regurgitante se estendendo até vias pulmonares, relação área do jato/ área do AE de 42%; valva aórtica com folhetos espessados e refluxo discreto; valva tricúspide apresentando espessamento 2014|42 Nascimento, JS et al. Anestesia peridural para cesariana em paciente com hipertensão pulmonar grave. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 42-45 e retração do seu folheto septal, refluxo de grau importante com gradiente VD/AD, pico 63mmHg; pressão de artéria pulmonar estimada em 83mmHg; via de saída do VD e tronco pulmonar dilatados, valva pulmonar com sinais de hipertensão, aorta de aspecto e diâmetro normal; VE com hipocinesia difusa das paredes, disfunção sistólica de grau leve com FE 50% (Teicholz) e disfunção diastólica do tipo alteração do relaxamento; pericárdio normal; trombos não visualizados. Os exames laboratoriais não apresentavam alterações importantes (Tabela 1). Foi admitida e prescrita com dieta zero, reintrodução do Propranolol, via oral, 80mg, 8/8h e Furosemida, 20mg, 6/6h, intravenosa, suporte de oxigênio sob cateter nasal, 2L/min, encaminhada ao centro cirúrgico: realizada monitorização com eletrocardiografia com análise de segmento ST, oximetria de pulso, pressão arterial invasiva, cateterização venosa central direita e sondagem vesical. Realizada punção Peridural T12-L1 com agulha descartável, ponta de Touhy, número 18, com passagem de cateter peridural número 18; injetada dose inicial de lidocaína 2% sem vaso constritor 200mg e repetida a cada 10 minutos até completar 600mg, na última dose foi acrescentada morfina 2mg; à medida que ocorria a instalação do bloqueio houve queda na pressão arterial média (PAM), sendo necessária infusão de fenilefrina entre 0,05 e 0,45mcg/kg/min. Foi realizada gasometria arterial após a última injeção peridural e incisão da pele (Tabela 1). Após retirada do feto, que nasceu com índice de Apgar de 9 e 10 no 1º e 5º minutos, foi realizada infusão de 5 UI de Ocitocina. Após a contração uterina houve hipertensão, sendo suspensa a infusão de fenilefrina. A cirurgia ocorreu sem eventos adversos e a paciente foi encaminhada à unidade de tratamento intensivo (UTI), eupneica e vigil. Foi infundido total de 700ml de cristaloide intravenoso, com diurese durante a cirurgia de 0,8ml/kg/h (Tabela 2). Na UTI, paciente evoluiu sem necessidade de drogas vasoativas e recebeu alta em menos de 24h para enfermaria. Após acompanhada pelo cardiologista e encaminhada para serviço de referência para adequado acompanhamento. Discussão A relevância do presente relato deve-se ao fato de encontrarmos na literatura uma mortalidade superior a 50% em paciente com hipertensão pulmonar secundária5. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA A HP apresentada pela paciente é secundária à estenose mitral decorrida de uma cardiopatia reumática crônica, processo inflamatório crônico mais comum em mulheres, cujo tempo de início é difícil de determinar6. Devido ao retorno sanguíneo resultante da contração uterina no pós-parto imediato, há aumento do volume circulante, o que justifica descompensações agudas nas pacientes com HP3. A realização de uma anestesia neuroaxial promove uma vasodilatação periférica por bloqueio simpático, o que pode ser benéfico nesses casos. Promovendo uma acomodação do volume adicional lançado na circulação materna e assim, provavelmente, melhorando os resultados. As vantagens de uma anestesia geral nesta paciente seriam a administração de óxido nítrico e a capacidade de melhor administrar a pO2 e pCO2, desta forma minimizando a vasoconstricção pulmonar. No entanto, óxido nítrico não estava disponível e a laringoscopia está associada à liberação de catecolaminas e consequente aumento da resistência vascular pulmonar, o que seria deletério para esta paciente. Diante dos resultados descritos na literatura internacional a mortalidade é elevada e isto traz alguns questionamentos sobre os protocolos vigentes de anestesia para cesariana em pacientes com HP. O uso da anestesia neuroaxial é muito questionável nos pacientes anticoagulados. Esta informação justifica a utilização da anestesia geral e diminuição dos riscos neurológicos inerentes aos bloqueios neuroaxiais. Na paciente em questão, a não adesão ao tratamento propiciou um quadro único, no qual a anestesia peridural se tornou uma opção. As críticas às possíveis instabilidades hemodinâmicas oriundas do bloqueio simpático são relevantes, mas podem ser corrigidas com o uso da fenilefrina, que mostrou-se efetiva na paciente descrita. A fenilefrina é um vasopressor com características farmacocinéticas interessantes para este caso. Promove bradicardia, que é benéfica para esta paciente. Com relação ao fluxo sanguíneo útero-placentário, Magness e cols sugerem, a partir de experiência em ovelhas, a manutenção do fluxo útero-placentário com seu uso. E é uma droga titulável, o que melhora o manejo desses pacientes.7 Segundo Kwak e col. não houve diferença significativa nos parâmetros hemodinâmicos com o uso de noradrenalina, quando comparado à fenilefrina em pacientes com HP crônica8. Essa não foi nossa opção 2014|43 Nascimento, JS et al. Anestesia peridural para cesariana em paciente com hipertensão pulmonar grave. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 42-45 Conclusão pelo desejo do efeito bradicárdico que está presente na fenilefrina e não é tão observado na noradrenalina. O presente relato demonstrou que é possível utilizar a técnica peridural contínua em pacientes com hipertensão pulmonar grave, com sucesso do binômio materno-fetal. Há poucos relatos na literatura de anestesia em neuroeixo para cesariana em pacientes com HP severa. Parneix e cols.(2008) relataram o uso da técnica combinada ráqui e peridural em uma paciente de 34 anos, com síndrome de Eisenmenger, em classe funcional III com sucesso.9 Tabela 1 Gasometria Pré-Operatória 7,29 93,5 mmHg 46,1 mmHg 23,8 mmol/L 94,3% 1,2 mmol/L 442 pH pO2 pCO2 HCO3 SaO2% Lactato pO2/FiO2 Gasometria Intraoperatória 7,39 131 mmHg 38,6 mmHg 23,0 mmol/L 98,7% 1,4mmol/L 409 Gasometira Pós-Operatória (UTI) 7,43 75,2 mmHg 36,8 mmHg 24,3 mmol/L 95,7% 1,2 mmol/L 357 Tabela 2 - Parâmetros Respiratórios e Hemodinâmicos Perioperatórios Período FC (BPM) PAS (mmHg) PAD (mmHg) PAM (mmHg) sPO2 (%) FR (IPM) Pré-Operatório Pós-Peridural Quinto Minuto Pós-Peridural* Décimo Minuto Pós-Peridural Incisão Nascimento 44 52 48 100 70 90 60 45 50 72 60 64 97 96 94 22 24 24 50 95 58 71 95 18 58 62 96 106 62 50 74 69 97 97 16 24 Quinto Minuto Pós-Nascimento Sutura da Pele** Admissão na UTI 47 108 66 80 97 22 45 100 55 70 98 16 47 106 52 70 98 14 *Início de infusão de Fenilefrina. **Retirada da infusão de Fenilefrina. FC=Frequência Cardíaca. BPM=Batimentos por Minuto. PAS=Pressão Arterial Sistólica. PAD=Pressão Arterial Diastólica. PAM=Pressão Arterial Média. mmHg=Milímetros de Mercúrio. sPO2=Saturação Periférica do Oxigênio por Oximetria de Pulso. FR=Frequência Respiratória. IPM=Impulsões por Minuto. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|44 Nascimento, JS et al. Anestesia peridural para cesariana em paciente com hipertensão pulmonar grave. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 42-45 Referências 1- D’Alonzo G E, Barst R J, Ayres S M et al. Survival in patients with primary pulmonary hypertension: results from a national prospective registry. Ann Intern Med 1991; 115: 343–9. Endereço para correspondência: [email protected] 2- Gleicher N, Midwall J, Hochberger D. Eisennmenger’s syndromeand pregnancy. Obstet Gynecol 1979; 34: 721–41. 3- B P Madden. Pulmonary Hypertension and Pregnancy. International Journal of Obstetric Anesthesia (2009) 18, 156–164 4- M. Malhotra*, J.B. Sharma, R. Tripathii, P. Arora, R. Arora. Maternal and fetal outcome in valvular heart disease. International Journal of Gynecology and Obstetrics 84 (2004) 11–16. 5- Weiss B, Zemp L, Seifert B, Hess O M. Outcome of pulmonary vascular disease in pregnancy: A systemic overview from 1978 through 1996. J Am Coll Cardiol 1998; 31: 1650–7. 6- Otto, CM; Bonow, RO. Valvar Heart Disease. In Braunwald´s Heart Disease. 8th ed. Saunders. 2008. P. 1625-1712. 7- Magness RR, Rsenfeld CR. Systemic and Uterine Responses to alpha-adrenergic stimulation in pregnant and nonpregnant ewes. Am J Obstet Gynecol. 1986;55:897-904. 8- Y. L. Kwak, C. S. Lee, Y. H. Park and Y. W. Hong. The effect of phenylephrine and norepinephrine in patients with chronic pulmonary hypertension. Anaesthesia, 2002, 57, pages 9±14. 9- M. Parneix, L. Fanou, E. Morau, P. Colson. Low-dose combined spinal-epidural anaesthesia for caesarean section in a patient with Eisenmenger’s syndrome. International Journal of Obstetric Anesthesia (2009) 18, 81–84. * Serviço de Anestesia da Maternidade JMMN e Serviço de Anestesia do HSI ** Serviço de Anestesia em Aracaju-SE *** Serviço de Anestesia do HSI REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|45 Barros, RM et al. TEP após artroscopia do ombro. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 46-49 Relato de Caso – Ortopedia TEP após artroscopia do ombro Rogério Meira Barros* Roberto Barreto Maia * Rodrigo Gomes Brandão Araújo * Marcos Almeida Matos * Descritores: tromboembolismo venoso, membros superiores, artroscopia. Key words: venous thomboembolism, upper extremit, arthroscopy. Introdução O tromboembolismo venoso (TEV) já é uma condição bem conhecida e estudada em cirurgias ortopédicas dos membros inferiores – artroplastia total do quadril ( ATQ) e artroplastia total do joelho (ATJ) – possuindo protocolos bem definidos de tromboprofilaxia. Contudo, o TEV é uma complicação infrequente no que tange os procedimentos cirúrgicos ortopédicos dos membros superiores[1], devido à menor incidência de estase sanguínea em relação aos membros inferiores, explicada pelo fato da circulação venosa localizar-se no mesmo nível do coração[2]. A incidência de TEV em cirurgias no ombro apresenta taxas variáveis que vão de 0,02 a 13%, sendo encontrada em 0,08% dos casos de artroscopia do ombro [3]. Atualmente há um aumento da incidência de TEV nos membros superiores e tal fato tem sido atribuído a malignidades, uso de cateteres venosos centrais, shunts para diálise e marcapassos transvenosos [4]. Complicações associadas ao TEV incluem o tromboembolismo pulmonar ( 11-26%), síndrome da veia cava superior (21-23%) e a síndrome pós-trombótica (27-50%) [1, 5, 6, 7, 8]. Em proximadamente 50% dos casos de TEV em membros superiores, os fatores de risco identificados foram a presença de cateter venoso central e compressão venosa na síndrome do desfiladeiro torácico [1, 8, 9, 10, 11, 12] . O restante dos casos foi atribuído ao uso de contraceptivos orais, gravidez, trombofilias congênitas, defeitos de coagulação adquiridos, diabetes mellitus, obesidade, tabagismo e atividade esportiva intensa. [8, 13, 10, 14, 15] . Blon et al. destaca a importância de avaliar os fatores de risco considerando o tipo de cirurgia, da região do corpo a ser abordada (membros inferiores apresentando maior destaque), trauma e imobilização. Ele também demonstra que a obesidade, a terapia horREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA monal e a gravidez não aumentam significativamente o risco de TEV nos membros superiores [16]. APRESENTAÇÃO DO CASO JSS, sexo masculino, 31 anos ( peso: 70kg; altura: 1,70m), com história de luxação glenoumeral anterior traumática em ombro direito e evolução para episódios de luxação recidivante, mesmo em atividades habituais. O exame físico do ombro direito mostrava arco de movimento preservado e força muscular semelhante à do ombro contralateral. Teste de apreensão, teste da gaveta anterior e teste do sulco positivos. Realizou radiografias e RNM do ombro direito que evidenciou lesão do lábio anterior da glenoide. O paciente não apresentava história de sintomas de TEV, história familiar de TEV ou TEP ou tabagismo, entretanto possuía traço de anemia falciforme ( eletroforese de hemoglobina: A1 – 59,5%; A2 - 3,0%; F – 0,6%; S – 36,9% ). Foi submetido à artroscopia do ombro direito, sob anestesia geral venosa e bloqueio de plexo braquial direito, para reparo de lesão do lábio anterior no dia 27/11/2012. Procedimento cirúrgico transcorrido sem intercorrências, com tempo total de 60 minutos, na posição de decúbito dorsal em cadeira de praia. Durate o período da manhã, no 1° DPO, ainda apresentava-se sob efeito do bloqueio do plexo braquial, porém, à tarde, recebeu alta em boas condições clínicas e sem alterações neurovasculares em membro superior direito, com orientações de manter uso de imobilização em membro superior direito. No 7° DPO iniciou quadro de dor em abdome superior com irradiação para região torácica de característica ventilatório dependende. Procurou atendimento 2014|46 Barros, RM et al. TEP após artroscopia do ombro. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 46-49 emergencial, onde inicialmente suspeitou-se de abdome agudo, devido a sinais de irritação peritoneal ao exame físico. Mas com a melhora do padrão da dor abdominal e evolução para piora da dor torácica foi levantada a possibilidade de TEP, corroborada por exames de radiografia de tórax, tomografia de tórax e doppler de membro superior direito, que evidenciaram trombose de veia braquial direita e infiltrado alveolar em base de lobo D do pulmão. Recebeu tratamento com heparina de baixo peso molecular por 10 dias e posteriormente fez uso de cumarínico por 4 meses. A última avaliação do paciente foi com um ano de pós-operatório, o mesmo apresentava-se sem queixas, com bom arco de movimento ativo no ombro submetido à artroscopia e já concluída a terapia antitrombótica. DISCUSSÃO Existem poucos casos de tromboembolismo pulmonar após artroscopia do ombro relatados na literatura, pelo fato de ser raro o desenvolvimento de TEP sintomático após procedimentos cirúrgicos realizados nos membro superiores. Burkhart foi o primeiro a publicar um caso de TEV que ocorreu em um homem de 32 anos, após artroscopia do ombro em 1990[17]. Investigações subsequentes evidenciaram a presença de uma tumoração mediastínica, mais tarde identificada como linfoma de Hodgkin, responsável pela compressão das veias basílica e inominada. Um caso similar foi relatado por Arcand et al, ocorrido em um homem de 32 anos, após procedimento eletivo de artroscopia do ombro[18]. Contudo, esse paciente evoluiu com TEP em curto período pós-operatório. Polhofer et al descreveu um caso de TEP em um paciente portador de diabetes mellitus, obesidade e encondroma após acromioplastia artroscópica[19]. Foi instituída profilaxia antitrombótica no pós-operatório imediato, após análise dos fatores de risco, porém não impedindo a ocorrência do TEP. Randelli et al avaliou a incidência de TEV em artroscopias de ombro, no período de 2005 a 2006, realizada por 59 cirurgiões ortopédicos. Foram detectados 6 pacientes com TEV, de um total de 9.385 cirurgias, sendo que um dos casos evoluiu para TEP. Desse pequeno grupo de pacientes em que foi diagnosticado o TEV, quatro foram tratados para lesão do manguito rotador, um para instabilidade glenoumeral e o último foi submetido a uma acromioplastia. Não houve TEP fatal [20]. Kim et al foi o pioneiro na publicação de um caso de TEP fatal após artroscopia do ombro. Tratava-se de REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA uma paciente de 45 anos, que desenvolveu trombose da veia axilar contralateral após reparo artroscópico de lesão do manguito rotador [21]. Os casos supracitados corroboram a raridade do TEV como uma complicação cirúrgica após artroscopia do ombro. E a experiência dessa complicação no grupo de cirurgia do membro superior do Hospital Santa Izabel, que já realizou mais de 5.000 mil artroscopias do ombro, desde o ano de 2003, é representada por este único caso. Os fatores de risco para TEV dos membros superiores e inferiores são similares e representados pela história de TEV, idade avançada, varicosidades, obesidade, diabetes mellitus e estase venosa. Outras causas hereditárias e o trauma também têm sido responsáveis pelo desenvolvimento de TEV [10, 12, 13, 14, 15]. Fatores de risco específicos para TEV nos membros superiores têm sido atribuídos à presença de cateter venoso central [16] e posição de decúbito lateral na mesa cirúrgica com membro afetado sob tração [17, 19]. A frequência de TEV e TEP depende da interação de múltiplos fatores, e não da presença de um fator isolado[22]. Em 2009, Hariri [23] reportou o caso de um paciente de 25 anos de idade que desenvolveu tromboflebite da veia braquial com evolução para TEP, após artroscopia do ombro para tratamento de instabilidade glenoumeral. Nesse relato, o autor identificou alguns fatores de risco para TEV, como tabagismo, cirurgia prolongada (150 minutos), decúbito lateral com 3kg de tração, neoplasia e deficiência de fatores antitrombóticos. Apesar da identificação desses fatores de risco, não foi administrado profilaxia antitrombótica após o procedimento. Bongiovanni reportou 3 casos de TEV após artroscopia do ombro sem evolução para TEP[24]. Todos os 3 pacientes apresentavam testes positivos para trombofilias hereditárias. Ele relatou que distúrbios da coagulação desconhecidos podem ter importante papel no desenvolvimento de TEV, mesmo em procedimentos minimamente invasivos. Atualmente não há protocolos internacionais para prevenção de tromboembolismo após artroscopia do ombro. No relato apresentado, o paciente apresentou como fator de risco o traço da anemia falciforme e o tempo prolongado do efeito do bloqueio locorregional do membro superior direito. Não foi detectado estado de hipercoagulabilidade hereditário nos exames laboratoriais realizados. 2014|47 Barros, RM et al. TEP após artroscopia do ombro. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 46-49 CONCLUSÃO O desenvolvimento do evento Tvp/Tep em pós-operatório artroscópico ainda é raro nos dias de hoje. A literatura a respeito mostra taxa de incidência reduzida quando comparamos com o membro inferior. Mesmo assim, devemos ficar atentos, principalmente nos pacientes com fatores de risco(tabagistas, neoplasias, distúrbios de coagulação) à hipercoagulabilidade de uma maneira geral. A profilaxia nas artroscopias ainda não é consenso, diante disso o diagnóstico precoce e a intervenção medicamentosa nestes casos é mandatória e salva vidas. REFERÊNCIAS 1. Edgar R; Nagda S, Huffman R, Namdari S. Pulmonary Embolism After Shoulder Arthroscopy. Orthopedics, 2012; 35(11): 1673-1676. 2. Bernardi E, Pesavento R, Prandoni P: Upper extremity deep venous thrombosis. Semin Thromb Hemost 2006, 32(7): 729-36. 3. Nwakile I. Ojike, Arup K. Bhadra, Peter V. Giannoudis, Craig S. Roberts: Venous thromboembolism in shoulder surgery: A systematic review. Acta Orthop. Belg. 2011, 77: 281-289 4. Campbell CB, Chandler JG, Tegtmeyer CJ, Bernstein EF. Axilary subclavian, and brachiocephalic vein obstruction. Surgery 1977; 82: 816-26. 5. Kommareddy A, Zaroukian MH, Hassouna HI: Upper extremity deep venous thrombosis. Semin Thromb Hemost 2002, 28(1): 89-99. 6. Burihan E, de Figueiredo LF, Francisco Júnior J, Miranda Júnior F: Upper extremity deep venous thrombosis: analysis of 52 cases. Cardiovasc Surg 1993, 1(1): 19-22. 7. Otten TR, Stein PD, Patel KC, Mustafa S, Silbergleit A: Thromboembolic disease involving the superior vena cava and brachiocephalic veins. Chest 2003, 123 (3): 809-12. 8. Prandoni P, Bernardi E, Marchiori A, Lensing AW, Prins MH, Villalta S, Bagatella P, Sartor D, Piccioli A, Simioni P, Pagnan A, Girolami A: The long term clinical course of acute deep vein thrombosis of the arm: prospective cohort study. BMJ 2004, 329(7494): 484-5. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 9. Horattas MC, Wright DJ, Fenton AH, Evans DM, Oddi MA, Kamienski RW, Shields EF: Changing concepts of deep venous thrombosis of the upper extremity-report of a series and review of the literature. Surgery 1988, 104(3): 561-7. 10. Martinelli I, Battaglioli T, Bucciarelli P, Passamonti SM, Mannucci PM: Risk factors and recurrence rate of primary deep vein thrombosis of the upper extremities. Circulation 2004, 110(5): 566-70. 11. Leebeek FW, Stadhouders NA, van Stein D, Gómez-Garcia EB, Keppers-Klunne MC: Hypercoagulability states in upper extremity deep venous thrombosis. Am j Hematol 2001, 67(1): 15-9. 12. Prandoni P, Polistena P, Bernardi E, Cogo A, Casara D, Verlato F, Angelini F, Simoni P, Signorini GP, Benedetti L, Girolami A: Upper extremity deep vein thrombosis. Risk factors, diagnosis and complications. Arch Intern Med 1997, 157(1): 57-62. 13. Héron E, Lozinguez O, Alhenc-Gelas M, Emmerich J, Fiessinger JN: Hypercoagulable states in prumery upper-extremity deep vein thrombosis. Arch Intern Med 2000, 160(3):382-6. 14. López JA, Chen J: Pathophysiology of venous thrombosis. Thromb Res 2009, 123(Suppl 4):S30-4. 15. Snead D, Marberry KM, Rowdon G: Unique Treatment regimen for effort thrombosis in the nondominat extremity of na overhead athlete: a case report. J Athl Train 2009, 44(1):94-7. 16. Bloom JW, Doggen CJ, Osanto S, Rosendaal FR: Old and New risk factors for upper extremity deep venous thrombosis. J Thromb Haemost 2005, 3(11):2471-8. 17. Burkhart SS. Deep venous thrombosis after shoulder arthroscopy. Arthroscopy. 1990: 6(1): 61-63. 18. Arcand M, Burkhead WZ, Zeman C. 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Hariri A, Nourissat G, Dumontier C, Doursounian L: Pulmonary embolism following thrombosis of the brachial vein after shoulder arthroscopy. A case report. Orthop Tramatol Surg Res 2009, 95(5): P377-9. 24. Bongiovanni SL, Ranalletta M, Guala A, Maignon GD. Case reports: heritable thrombophilia associated with deep venous thrombosis after shoulder arthroscopy. Clin Orthop Relat Res. 2009;467(8):21962199. Serviço de Ortopedia do HSI Endereço para correspondência: [email protected] REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|49 Itaparica, R et al. Implantação de um padrão de diluição de medicamentos nas unidades pediátricas de um hospital de grande porte, na cidade de Salvador- BA. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 50-53 Artigo multiprofissional – Enfermagem Implantação de um padrão de diluição de medicamentos nas unidades pediátricas de um hospital de grande porte, na cidade de Salvador- BA Rajaná Itaparica*, Camila Carneiro*, Carla Oliveira*, Aline Bernardes* e Maisa Silva** Descritores: diluição, medicamentos, pediatria. Key Words: dilution, drug, pediatric. RESUMO Introdução: considerando as particularidades da pediatria na terapêutica medicamentosa, fez-se necessária a construção de um padrão de diluição de medicamentos endovenosos que norteasse a equipe de enfermagem e normatizasse as ações quanto à administração de medicamentos nas unidades pediátricas da instituição. Objetivo: apresentar o relato de experiência sobre a implantação do padrão de diluição de medicamentos em um hospital de grande porte. Metodologia: a elaboração do padrão foi iniciada por uma equipe de enfermeiros, médicos e farmacêuticos preocupados com o preparo e administração de medicamentos endovenosos, através de estudos e reuniões. Resultados: foram elaborados dois instrumentos norteadores: um para o cálculo de diluição, com informações específicas dos medicamentos endovenosos padronizados na instituição, e outro para normatizar as ações em todas as unidades quanto ao uso dos insumos, de acordo com o tempo e/ ou volume indicado para cada medicamento. Conclusão: a utilização do padrão de diluição tornou-se um instrumento de fundamental importância para promover a segurança dos pacientes, prevenir a ocorrência de eventos adversos e uniformizar as ações relacionadas à administração de medicações endovenosas nas unidades pediátricas da instituição, além de contribuir diretamente para auditoria em enfermagem e gestão de custos na instituição. Introdução A segurança do paciente constitui um problema de saúde pública e uma preocupação da Organização REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Mundial de Saúde. Desta forma, várias iniciativas têm sido adotadas com o objetivo de prevenir erros e danos aos pacientes e promover a qualidade da assistência aos hospitalizados, considerando que a terapia medicamentosa consiste na forma mais comum de intervenção no cuidado à saúde. Conforme Balela, estima-se que a probabilidade de ocorrência de erro em medicação para ocasionar danos é maior em crianças do que em adultos1. Os erros são originários de vários fatores: cálculo individualizado da dose envolvendo múltiplas operações matemáticas em várias fases do processo de medicação e o mais frequente se refere ao processo da prescrição até a administração do medicamento realizado pela enfermagem. As crianças possuem características que as diferem do adulto em relação à terapia intravenosa, devido principalmente à idade e à superfície corpórea. As mesmas apresentam aspectos específicos de absorção, distribuição, metabolismo e excreção de drogas que necessitam ser conhecidos pelo profissional de saúde para realização de cuidados apropriados durante a terapia intravenosa. Destaca-se também que o sistema cardiovascular é menos desenvolvido na criança, acarretando dificuldade em adaptar-se à mudança rápida e/ou à grande quantidade de volume. Assim, as crianças apresentam quadros de hipervolemia relacionada a problemas na terapia intravenosa mais frequentemente do que os adultos, caso o volume administrado não seja cuidadosamente monitorado2-3. Em virtude desta problemática e de particularidades da pediatria na terapêutica medicamentosa, fez-se necessária a construção de um padrão de diluição que norteasse a equipe de enfermagem na administração 2014|50 Itaparica, R et al. Implantação de um padrão de diluição de medicamentos nas unidades pediátricas de um hospital de grande porte, na cidade de Salvador- BA. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 50-53 segura dos medicamentos a todas as crianças internadas na instituição. Tendo como finalidades para implantação do padrão: normatizar as ações na rotina de administração de medicamentos intravenosos na instituição e proporcionar segurança ao paciente quanto à terapêutica medicamentosa nas unidades pediátricas. A implantação deste padrão ocorreu em um hospital geral de grande porte, de cunho filantrópico, que atende uma parcela importante de clientes pediátricos e é referência no estado da Bahia em cirurgia cardíaca. Contando na sua estrutura com sete unidades de pediatria, dentre as quais um ambulatório de oncologia, 01 pronto-atendimento, 03 unidades de internações e duas Unidades de Terapias Intensivas, contabilizando 54 leitos de unidade de internação e 16 de terapia intensiva. O presente trabalho tem como objetivo geral apresentar o relato de experiência sobre a implantação do padrão de diluição em um hospital geral. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência da implantação de um padrão de diluição de medicamentos para a pediatria em um hospital de grande porte, onde mostraremos a mudança de um processo de trabalho usando um protocolo que permitirá a assistência segura da terapia medicamentosa. cando suas pesquisas e reuniões. Com a maior oferta de fornecedores de bomba de seringa no mercado, tornou-se possível sua negociação e aquisição. Sendo assim, em janeiro do corrente ano, com a resolução das questões técnicas e a conclusão do embasamento científico foi efetivada a padronização. RESULTADOS Foram elaborados dois instrumentos que servem como elementos norteadores para o cálculo de diluição e administração da terapêutica medicamentosa. Um quadro composto por todos os medicamentos mais utilizados na pediatria, levando em consideração o princípio ativo; apresentação comercial; volume e tipo de solução indicados para reconstituição; tipo de solução para diluição; a estabilidade; a concentração máxima e usual em mg /ml para a diluição; a velocidade de administração e orientações quanto à contraindicação de uso e possíveis efeitos colaterais, conforme o recorte apresentado na tabela 1. De posse da tabela 1, a enfermeira realiza dois cálculos individualizados: o primeiro para reconstituição da droga na sua apresentação comercial, conforme a miligramagem prescrita pelo médico. E o segundo cálculo é a diluição que leva em consideração a concentração usual para todos os pacientes e a concentração máxima em mínima diluição que dependerá da restrição volêmica de cada criança. A elaboração do padrão foi iniciada em 2010, com uma equipe de farmacêuticos e enfermeiros preocupados com o controle da diluição e volume a ser infundido dos medicamentos endovenosos administrados nos pacientes pediátricos. Necessitou de estudos através de consulta com laboratórios farmacêuticos, Handbook 2009/2010 e protocolos de outras instituições divulgados em rede, além de reuniões interdisciplinares que possibilitaram o avanço na concretização do trabalho. Levando-se em consideração que as indicações volêmicas para diluição são muito variáveis foi construída uma tabela que uniformizou a assistência de todas as unidades quanto ao modo de administração em relação ao insumo, de acordo com o tempo e /ou volume indicados para cada medicamento. Especificado na tabela 2. Em relação à questão técnica, houve uma dificuldade quanto à ausência de um equipamento que possibilitasse a infusão de pequenos volumes em tempo adequado. O equipamento de escolha foi a bomba de seringa, contudo, naquele momento, sua aquisição, assim como seus insumos, era inviável financeiramente para a instituição. O uso de tais instrumentos proporcionou à equipe de enfermagem maior qualidade e segurança na assistência à criança com terapêutica medicamentosa endovenosa. Esse processo é dinâmico e quando um dos atores envolvidos percebe alguma fragilidade no processo, ele contribui para novas pesquisas e estudos. A padronização também trouxe ganhos diretos para auditoria em enfermagem e gestão dos custos na instituição. Apesar das dificuldades, o grupo se modificou ao longo do tempo, mas manteve seu objetivo, intensifiREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Discussão/conclusão 2014|51 Itaparica, R et al. Implantação de um padrão de diluição de medicamentos nas unidades pediátricas de um hospital de grande porte, na cidade de Salvador- BA. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 50-53 Inferimos que houve maior satisfação e confiabilidade de toda a equipe multiprofissional quanto à importância da implantação do padrão de diluição pediátrico além de maior credibilidade da clientela atendida, evidenciada por relatos da equipe e responsáveis dos pacientes. Levando-se em consideração que a qualidade dos serviços de saúde é um elemento determinante para assegurar a redução e o controle dos riscos, a utilização do padrão de diluição tornou-se um instrumento de fundamental importância para promover a segurança do pacientes, prevenir a ocorrência de eventos adversos e uniformizar as ações relacionadas à administração de medicações endovenosas nas unidades pediátricas da instituições. Tabela 1 - Diluição de Medicamentos em Pediatria PRINCÍPIO ATIVO APRESENTAÇÃO COMERCIAL Piperacilina Sódica Tazobactam VOLUME PARA RECONSTITUIÇÃO Tazocin 2,25mg FAP 10ml AD SF 0,9% ou SG5% Tazocin 4,5g FAP 20ml AD SF 0,9% ou SG5% ESTABILIDADE APÓS RECONSTITUIÇÃO 24h temperatura ambiente ou 48h refrigeração SOLUÇÃO PARA INFUSÃO CONCENTRAÇÃO VELOC. DE ADMIN. OBSERVAÇÕES USUAL/ VOL. DE DILUIÇÃO USUAL MÁXIMA/ VOL. MÍNIMO PARA DILUIÇÃO SF0,9% SG5% 22,5mg/ml 45mg/ml 30min Medicamentos sofrem expansão sendo assim, após reconstituição, o volume final é de 11,5ml, devendo ser considerado para o cálculo da diluição. SF0,9% SG5% 20mg/ml 200mg/ml 30min Medicamentos sofrem expansão, sendo assim, após reconstituição, o volume final é de 23ml (195mg/ml). Caso haja prescrição de aminoglicosídeos, administrar Tazocin com um intervalo de 30-60min. Fonte: Manual de Diluição de Medicamento em Pediatria no HSI- Salvador-BA. Tabela 2 - Indicação do uso do insumo na administração de medicamentos na pediatria Modo Tempo Volume BOLUS 3-5 min Até 20 ml BURETA 3min – 1h 21 – 150 ml EQUIPO MACRO 6min – 1h Maior 150 ml 6 min – 4 horas Menor 20 ml Maior 1h Menor 50 ml A partir de 1h Maior 50 ml BOMBA DE SERINGA BOMBA LINEAR Fonte: Manual de Diluição de Medicamento em Pediatria no HSI – Salvador-BA. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|52 Itaparica, R et al. Implantação de um padrão de diluição de medicamentos nas unidades pediátricas de um hospital de grande porte, na cidade de Salvador- BA. Rev. Saúde HSI. 2014; 2 JUN (1): 50-53 REFERÊNCIAS 1. BELELA A, PEDREIRA M, PETERLINI M. Erros de Medicação em Pediatria. Rev. Brasileira de Enfermagem. 2011 mai-jun; 64(3); 563-9. 2. HARADA M, PEDREIRA M. Terapia Intravenosa e Infusões. São Caetano do Sul: Yendis; 2011. 3. MARTINS T, SILVINO Z, SILVA L. Eventos adversos na terapia farmacológica pediátrica: revisão integrativa da literatura. Rev. Brasileira de Enfermagem. 2011 jul-ago; 64(4);.745-50. 4. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Medicamentos habitualmente usados em pediatria.Departamento de Nutrologia. Manual de orientação para alimentação do lactente, do pré-escolar. 2011 * Serviço de Enfermagem do HSI ** Serviço de Farmácia Clínica do HSI Endereço para correspondência: [email protected] REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|53 PROTOCOLO DE ATENDIMENTO Tratamento e Prevenção da Infecção do Trato Respiratório 1. OBJETIVO Normatizar medidas que visam à redução do impacto da incidência das infecções do trato respiratório e qualificar a inserção e manipulação de dispositivos nesse sistema, resultando na melhoria da assistência, e diagnosticar precocemente a pneumonia associada à ventilação mecânica, definindo as condutas terapêuticas e preventivas. 2. APLICAÇÃO Este protocolo se aplica a todos os profissionais da assistência à saúde do Hospital Santa Izabel. 3. TERMOS E DEFINIÇÕES 3.1. ITR Infecção do Trato Respiratório – pneumonia hospitalar ou nosocomial – é aquela adquirida no ambiente hospitalar após 72 horas ou mais da internação, quando se desconhecer o período de incubação do micro-organismo e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da admissão. 3.1.1. Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAV): Infecção pulmonar desenvolvida após 48 a 72 horas da intubação endotraqueal e instituição de ventilação mecânica. 3.1.2. Escore Clínico de Infecção Pulmonar (Clinical Pulmonary Infection Score- CPIS) Modificado: Escore de no máximo doze pontos, que leva em consideração, além dos achados clínicos, laboratoriais e radiológicos, a bacterioscopia e os cultivos do aspirado traqueal. Quando superior a seis revela uma alta probabilidade de PAV. Deve ser utilizado como ferramenta diagnóstica, sempre correlacionando com os dados clínicos. 3.2 Clinical Pulmonary infection Score (cpis) Modificado 0 Secreção Traqueal Infiltrado à Rad. Tórax Temperatura Axilar (°C) Leucograma PaO2/FiO2 Microbiologia Rara Sem infiltrado 36 a 37,9 4000 a 11000 > 240 ou SDRA Ausência de bactérias 1 Abundante Difuso 38 a 38,9 < 4000 ou > 11000 2 Abundante e purulenta Localizado > 39 ou < 36 < 4000 ou > 11000 e Bt > 500 < 240, sem SDRA Presença de bactérias CPIS > 6: Alta probabilidade de pneumonia CPIS 3 a 6: Incerto CPIS < 3: Baixa probabilidade de pneumonia 3.3 Fatores de Risco para Patógenos Multidrogas Resistentes (MR): Devem ser considerados para a escolha da antibioticoterapia empírica. • Uso de antibiótico nos últimos 90 dias. • Passado de hospitalização < 30 dias. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 54 • Residentes em asilos ou em home care. • Hospitalização atual ≥ 5 dias. • Diálise crônica. • Feridas crônicas. • Doença ou tratamento. • Imunossupressor. 4. DESCRIÇÃO DO PROCESSO PARA SUSPEITA DE PAV Suspeita de Pneumonia Associada à VM (Febre ou hipotermia, alteração de leucócitos, secreção purulenta, infiltrado novo à Rad. de toráx) Avaliar CPIS Hemoculturas – 2 amostras e Aspirador Traqueal ou LBA Preferir LBA: - Quando infiltrado localizado, atelectasia associada ou para ajudar no diagnóstico. - Pacientes imunodeprimidos. - Tempo de VM ≥ 5 dias. Antibioticoterapia Empírica Início tardio (≥ 5 dias) ou risco para patógenos MDR? Não Sim Piperacilina/Tazobactan Teicoplanina ou Linezolida Imipenen ou Meropenen Teicoplanina ou Linezolida Cefepime ou Piperacilina/tazobactan Associar Claritromicina (em pacientes provenientes da comunidade) A depender do paciente e do perfil microbiológico da unidade, outros antibióticos poderão ser considerados (p. e. polimixina) Observar a evolução com 72h Melhora Clínica? Não Cultura – - Coletar novas culturas (inclusive LBA) e ampliar ATB. - Procurar: outros patógenos, outros focos, complicações, outro diagnóstico. - Considerar em situações de estabilidade e não piora a observação por mais 48h. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Sim Cultura + Cultura – Cultura + Ajustar Antibiótico Considerar parar Antibiótico Considerar ajuste do Antibiótico 55 5. CRITÉRIOS DE ELIGIBILIDADE 5.1 Critérios de Inclusão • Idade ≥ 18 anos. • Pacientes intubados e submetidos à ventilação mecânica por, no mínimo, 2 dias. 5.2 Critérios para Exclusão • Pacientes transferidos de outro serviço em ventilação mecânica. • Pacientes traqueostomizados. • Diagnóstico de PAV. • Pacientes recebendo terapia ventilatória de resgate. 6. MEDIDAS PREVENTIVAS 6.1. Condutas Gerais • Higiene das mãos antes e após o contato com os pacientes. • Cabeceira elevada acima de 30 a 45°, inclusive em procedimentos de higiene para evitar aspiração do conteúdo gástrico, caso não tenha contraindicação. • Higiene oral a cada 8 horas, com clorexidina veículo oral em pacientes comatosos, traqueostomizados e em ventilação mecânica. • Verificar posicionamento da sonda gástrica ou enteral antes da infusão da dieta. • Ajustar o volume da dieta enteral, baseado no volume gástrico residual. • No pós-operatório estimular a respiração profunda e a deambulação o mais breve possível. 6.2. Cuidados com Paciente em Intubação Orotraqueal • Preferir intubação orotraqueal à nasotraqueal (prevenção de sinusite). • Aspiração de via aérea superior antes de intubação / traqueostomia / extubação. • Manter balonete do tubo inflado, porém com pressão 20 a 30 cm H2O. • Prevenção de extubação acidental (fixação do tubo, sedação e contenção, se necessária). • Uso de cateter de aspiração subglótica contínua, em pacientes com parâmetros elevados e em precaução de aerossóis. • Drenar condensado retido no circuito do ventilador. • Trocar filtro umidificador a cada 48 horas ou quando contaminado por secreção. • Não trocar rotineiramente circuito do ventilador mecânico, exceto quando sujidade visível ou mau funcionamento. • Descartar periodicamente condensados líquidos que se acumulam ao longo do circuito respiratório, com o cuidado para que o mesmo não reflua para o paciente, além de usar luvas neste procedimento. • Prevenir distensão abdominal que possa levar a vômito e broncoaspiração (vide Protocolo de Prevenção de Broncoaspiração). • Evitar sonda nasoenteral (preferir oroenteral). REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 56 • Verificar diariamente possibilidade de extubação. • Realizar interrupção diária da sedação sempre que possível. • Quando necessário, usar antibiótico pelo menor tempo possível. • Atentar para o tempo de nebulização, se possível nebulizar com o circuito próprio do ventilador mecânico. • Quando for extubar o paciente, ou quando da necessidade de desinsuflar o “cuff” da cânula, aspirar secreções. • Utilizar cânulas endotraqueais com dispositivo de aspiração contínua de secreção acumulada em região infraglótica. OBSERVAÇÃO: critérios de inclusão para uso de cânula endotraqueais com dispositivo de aspiração contínua de secreção acumulada em região infraglótica. • Pacientes com expectativa de mais de 72h de permanecer na ventilação mecânica deverão ser intubados, de preferência com cânulas endotraqueais com aspiração infraglótica. 6.3. Cuidados com Pacientes Traqueostomizados • Utilizar barreira máxima para realização de traqueostomia. • Utilizar luvas de procedimento estéreis para troca da cânula de traqueostomia. • Não trocar rotineiramente o conjunto da cânula metálica ou quando necessária. A limpeza da cânula metálica interna diariamente ou sempre que necessária. 6.4. Cuidados para Aspiração • Utilizar a sequência TRAQUEIA, NARIZ E BOCA. • Utilizar luvas (procedimento estéril para intubados e/ou traqueostomizados), máscara cirúrgica, óculos de proteção e avental de manga longa. • Utilizar sonda de aspiração a cada sessão. • Utilizar solução estéril para desobstrução da sonda de aspiração. 6.5. Umidificador de Oxigênio • Uso individual. • Trocar a cada 24 horas. • Utilizar solução estéril. • Durante o uso, ao atingir o nível mínimo, trocar o umidificador por outro, nunca completar o conteúdo. • O cateter de oxigênio deve ser de uso único e trocado a cada 24 horas. 6.6. Micronebulizador • Trocar a cada 24 horas. • Utilizar soluções estéreis. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 57 6.7 Vacuômetro • Trocar a cada 24 horas. Considerações • Equipamentos semicríticos - que entram em contato com membranas mucosas de vias aéreas inferiores, tais como ambus, nebulizadores, lâminas de laringoscópio, circuitos de ventilador, máscaras faciais, broncoscópios devem ser processados na CME, de acordo com as características de cada material. • Não realizar rotineiramente cultura de vigilância em pacientes com ventilação mecânica e/ou traqueostomizados ou comatoso. • Não administrar antimicrobianos rotineiramente para prevenção de pneumonias. • Utilizar ventilação não invasiva, em vez de ventilação mecânica invasiva, e reduzir o tempo de ventilação mecânica invasiva quando as condições clínicas do paciente assim permitirem. 7. RESPONSABILIDADES 7.1. Médico • Avaliar a possibilidade de suspensão diária de sedação, desmame ventilatório e traqueostomia precoces. • Atentar para a possibilidade diagnóstica de PAV, aplicando os critérios de CPIS modificado. • Solicitação de culturas (2 hemoculturas e cultura de aspirado traqueal ou lavado broncoalveolar, conforme o caso). • Iniciar a antibioticoterapia precocemente, monitorando a resposta. • Ajustar antibióticos conforme o resultado de culturas e a evolução clínica. • Atentar para as medidas preventivas. • Preferir ventilação mecânica não invasiva. • Manter a cabeceira elevada de 30º a 45º. • Definir o uso da cânula endotraqueal com dispositivo de aspiração contínua de secreção acumulada em região infraglótica. 7.2. Enfermagem • Observar os sinais vitais e exames laboratoriais, como o comportamento da temperatura, FC e leucograma, com atenção para a possibilidade de infecção. • Atentar para sinais de piora respiratória (queda de saturação, taquipneia, cianose e piora gasométrica). • Aspirar secreção traqueal quando necessário, avaliando o seu aspecto, volume e mudanças no padrão. • Manter medidas que evitem broncoaspirações: manter cabeceira elevada acima de 30 a 45 graus, mesmo durante procedimentos de higiene; controlar resíduo gástrico, observar se cuff está insuflado, fixação adequada do tubo endotraqueal e desligar a dieta 30 minutos antes de realizar o banho. • Evitar acúmulo de secreções no reservatório do aspirador, trocando todo o sistema a cada 24 horas ou quando atingir um terço de sua capacidade. • Aplicar o Protocolo de Higiene Oral. • Aplicar o Protocolo de Mudança de Decúbito para facilitar a mobilização de secreções. • Aplicar o Protocolo de Contenção Mecânica para evitar extubação acidental. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 58 7.3. Fisioterapia • Higiene das mãos antes e após o contato com o paciente. • Atentar para os padrões de precauções. • Manter a cabeceira elevada, acima de 30 a 45°. • Vigilância respiratória sistemática, monitorizando a ausculta pulmonar, radiografia, hemogasometria, pressões de pico, platô e resistiva, complacência estática e dinâmica. • Checar a fixação do tubo traqueal para prevenção de extubação acidental. • Checar diariamente a pressão do balonete do tubo traqueal, mantendo maior que 20 e menor que 30 mmHg. • Drenar condensados do circuito do ventilador. • Trocar filtro umidificador a cada 48 horas ou quando contaminado por secreções. • Instituir medidas terapêuticas para prevenção de obstruções brônquicas e atelectasias. • Manter fisioterapia motora para prevenção de sequelas. 7.4. SCIH • Avaliar e intervir junto à assistência para garantir o cumprimento de ações preventivas, através da aplicação dos bundles de prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica. • Notificação dos casos confirmados, gerando indicadores epidemiológicos. 7.5. Gestores das Unidades Assistenciais • Supervisionar diariamente o pacote de medidas implantado (bundle) pela equipe assistencial, com o objetivo de prevenção de PAV. • Analisar criticamente todos os casos de infecção respiratória da unidade e a taxa de densidade de incidência de infecção. 8.TRATAMENTO SÍTIO DE INFECÇÃO Empiema pleural INDICADORES DIAGNÓSTICOS - Febre pós-cirurgia torácica - Dor torácica - Drenagem de secreção pela incisão cirúrgica PATÓGENES PRINCIPAIS P.aeruginosa K.pneumoniae E.coli RECOMENDAÇÕES DO HOSPITAL SANTA IZABEL Piperacilina + Tazobactam/ Teicoplanina Drenagem S.aureus Pneumonia P.aeruginosa < 5 dias internação hospitalar enfermaria K.pneumoniae Cefepime S.aureus > 5 dias de internação S.coagulase Piperacilina/Tazobactam +/Teicoplanina REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA TEMPO DE TRATAMENTO 7 a 10 dias 10 a 14 dias 59 9. REFERÊNCIA NORMATIVA American Thoracic Society Documents. Guidelines for the Management of Adults with Hospital-acquired, Ventilator-associated, and Healthcare-associated Pneumonia This official statement of the American Thoracic Society and the Infectious Diseases Society of America was approved by the ATS Board of Directors, December 2004 and the IDSA Guideline Committee, October 2004. Guidelines for the management of adults with hospital-acquired, ventilator-associated, and healthcare-associated pneumonia. Am J Respir Crit Care Med 2005; 171:388. Chastre, J, Fagon, JY. Ventilator-associated pneumonia. Am J Respir Crit Care Med 2002; 165:867. Cook DJ, Walter SD, Cook RJ, et al. Incidence of and riskfactors for ventilator-associated pneumonia in critically ill patients. Ann Intern Med 1998; 129:433-40. J Bras Pneumol. 2007;33(Supl 1):S 1-S 30. Torres A, Ewig S. Diagnosing ventilator-associated pneumonia. N Engl J Med 2004; 350:433-435. Singh, N, Rogers, P, Atwood, CW, et al. Short-course empiric antibiotic therapy for patients with pulmonary infiltrates in the intensive care unit: a proposed solution for indiscriminate antibiotic prescription. Am J Respir Crit Care Med 2000; 162:505. Isakow, W, Kolleff, MH. Preventing ventilator-associated pneumonia: An evidence-based approach of modifiable risk factors. Semin Resp and Crit Care Med 2006; 27:5-17. Kollef, MH, Morrow, LE, Niederman, MS, et al. Clinical characteristics and treatment patterns among patients with ventilator-associated pneumonia. Chest Programa Brasileiro de Segurança do Paciente. Protocolo de Prevenção de ITR. 2ª edição. 2014.ONA EQUIPE DE ELABORAÇÃO DO PROTOCLO PROFISSIONAL ESPECIALIDADE OU ÁREA Daniel Peres Médico Intensivista Edson Marques Médico Intensivista Adilson Couto Médico Intensivista Joberto Sena Médico Intensivista Maria das Graças Gonçalves Coordenadora da SCIH Neusa Maria Neves Enfermeira da SCIH Dinalva Bastos Enfermeira da SCIH Paula Beatriz Sacramento Enfermeira da SCIH Margarete Barreto Espírito Santo Médica do SICH Diana Lessa Coordenadora da Fisioterapia REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 60 EVENTOS FIXOS NOME DO EVENTO SESSÃO DE HEMODINÂMICA SESSÃO DE CASOS CLÍNICOS E ARTIGOS EM CLÍNICA MÉDICA SESSÃO DE ATUALIZAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA SESSÃO MULTIDISCIPLINAR DE ONCOLOGIA SESSÕES DE OTORRINOLARINGOLOGIA SESSÃO DE TERAPIA INTENSIVA SESSÃO DE RADIOLOGIA TORÁCICA (PNEUMOLOGIA) SESSÕES DE NEUROLOGIA SESSÕES DE UROLOGIA SESSÃO DE CIRURGIA GERAL SESSÕES DE ANESTESIOLOGIA SESSÃO DE PNEUMOLOGIA SESSÕES DE CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA LOCAL AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA DIA DA SEMANA HORÁRIO 2ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 3ª FEIRA 10 ÀS 12 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 5ª FEIRA 11 ÀS 12 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 5ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 3ª E 6ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 4ª FEIRA 11 ÀS 13 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 4ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS AUDITÓRIO DO SENEP SALA DE TREINAMENTO 04 AUDITÓRIO DO SENEP AUDITÓRIO DO SENEP AUDITÓRIO DO SENEP 4ª FEIRA 5ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª A 6ª FEIRA 3ª FEIRA 17 ÀS 19 HORAS 16 ÀS 19 HORAS 07 ÀS 08 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 08 ÀS 10 HORAS SALA DE TREINAMENTO 01 2ª A 6ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS 5ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA 4ª FEIRA 5ª FEIRA 08 ÀS 10 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 13 ÀS 15 HORAS 07:30 ÀS 09:00 HORAS 09:00 ÀS 10:30 HORAS AUDITÓRIO DO SENEP SALA DE TREINAMENTO 02 SALA DE TREINAMENTO 03 SESSÃO DE ARRITMOLOGIA SALA DE TREINAMENTO 03 SESSÕES DE SALA DE TREINAMENTO 02 REUMATOLOGIA SALA DE TREINAMENTO 01 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 61 INSTRUÇÕES AOS AUTORES Especificações do Editorial - Normatização Geral Classificação manuscritos Nº máximo de autores TÍTULO: Nº máximo de caracteres com espaço RESUMO: Nº máximo de palavras Editorial Atualização de tema: Resumo de artigos publicados pelo HSI Relato de casos 2 4 10 100 100 100 0 250 250 6 80 0 Continuação: Classificação manuscritos Nº máximo de palavras com referência Nº máximo de referências Nº máximo de tabelas ou figuras Editorial 1.000 10 2 Atualização de tema: 6.500 80 8 Resumo de artigos publicados pelo HSI 1.500 10 2 Relato de casos 1.500 10 2 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 62