2001-02-26 a 04-17 Relatorio Roraima - Yanomami Xitei

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2001-02-26 a 04-17 Relatorio Roraima - Yanomami Xitei
Ref. 01-04 Relatório Roraima 27-02 a 17-04 Yanomami Xitei
Roraima, de 27/02 a 18/04 de 2001
Encontro binacional de Pastoral Yanomami (Venezuela e Brasil),
Assembléia da OPIR, Baixo São Marcos, Amajari (Makuxi e Wapixana)
e região Yanomami do Xitei
Arizete Dinelly CSA e Fernando López SJ
01-06/03 - VII Encontro Binacional de Pastoral Indigenista Yanomami.
O encontro binacional de Pastoral Indigenista Yanomami, entre Venezuela e Brasil acontece de dois
em dois anos, intercalando-se entre esses países. Neste VII encontro, estavam presentes
missionários/as leigas/os, salesianos/as, servas do espírito santo, irmãs de Gap, irmãs, irmão e padres
da consolata, diocesano, jesuíta, cônega de santo Agostinho.
Após as apresentações dos participantes foi feita a memória dos encontros anteriores:
I- Junho de 1971 em São Gabriel da Cachoeira, AM.
Assunto: Formação permanente dos missionários ( teologia e antropologia).
II.- Setembro de 1985, em São Gabriel da Cachoeira- Am.
Assunto: Opções teológicas. Acordos de cooperação em educação.
III- Janeiro de 1987, em Mavaca-Venezuela.
Assunto: Identidade, cultura e religião Yanomami.
IV- Agosto de 1992 em Boa Vista, Roraima.
Assunto: Terra e Saúde.
V- Fevereiro de 1996, em São Gabriel da Cachoeira.
Assunto: Evangelização: o quê, como...
VI- Fevereiro de 1999, em Mavaca-Venezuela
Assunto: As trocas socioculturais.
VII- Março de 2001, em Boa Vista - Roraima.
Assunto: Evangelização explícita; diálogo interreligioso; Saúde e Educação
Yanomami...
Objetivos: partilhar, trocar experiências, fixar estratégias comuns, formação permanente, aproximação
e conhecimentos para maior organização.
Para maior informação, ver nota: 01-04 OPIR.doc
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08-12/03 - Encontro da OPIR - Organização Professores Indígenas de Roraima
A VIII Assembléia Estadual da Organização dos Professores Indígenas de Roraima realizou-se no
malocão do Canauanin-Cantá, com a chegada dos participantes no dia 08.03.(dia internacional da
mulher e para quem a lua fez-se bela e a homenageou com um luar encantador!) e foi até a noite do dia
12.03.01. A mesma desenvolveu-se a partir do tema "Definindo Alternativas Educacionais".
Na manhã do dia 09, a Sra. Bernardina, pajé Macuxi, mulher bonita, toda pintada de urucum e
jenipapo, enfeitada com penas e colares, assumiu o ritual do maruai e em meio a muita fumaça e
palavras fortes, defumou as criaturas presentes, expulsando os espíritos maus e invocando as forças do
bem, as forças vindas de Deus.
O Sr. Enilton Macuxi, coordenador da OPIR, acolheu os participantes com muito entusiasmo e
agradeceu a compreensão e esforço de todos. As etnias presentes eram: makuxi (maioria), wuapixana,
Yanomami(precisavam de tradutores), Wai-Wai, Taurepang, Yekuana). Declarou oficialmente aberto
o referido e importante evento que reuniu quase 500 pessoas, das quais mais ou menos 350 era
professores. As demais eram tuxauas, agentes de saúde, pais de alunos, alunos, pajé , indigenistas
atuantes na área e convidados.
Em seguida, convidou vários representantes indígenas e suas delegações para fazerem suas
apresentações e pronunciamentos dentre os quais destacamos os seguintes: Sr. Jacir de Sousa Macuxi,
coordenador da região das Serras e atualmente membro da coordenação do CIR- Conselho Indígena de
Roraima, que por muitos problemas teve a coordenação destituída na última assembléia geral dos
tuxauas de RR, que contribuiu dizendo:
"...eu defendo a área única, área contínua porque a população indígena está crescendo. Sem terra não
há organização. A educação, deve servir para explicar aos alunos sobre a nossa organização de lutar
pela posse da terra, para garantir o que é nosso. Essa seria uma grande contribuição da educação
escolar indígena".
A professora Irani Barbosa Macuxi, vice-coordenadora da OMIR - Organização das Mulheres
Indígenas de Roraima, deu o seu recado:" Nós lutamos por um único objetivo que é o da nossa
sobrevivência. E nós mulheres indígenas temos muitas coisas. Estamos lutando e aos poucos vamos
conquistando nossos espaços. Sofremos, choramos com o resultado da bebida alcóolica. As mulheres
Yanomami estão sendo violentadas pelos militares e garimpeiros. O meu grito é por todas as mulheres.
Mas hoje, é pelas mulheres Yanomami. Se hoje tem aqui muitos homens, é porque suas mulheres
ficaram em casa assumindo a pescaria, a roça para sustentar seus filhos. Faço um alerta aos
professores: cuidado com os muitos problemas criados nas comunidades, eles podem nos enfraquecer.
Nós indígenas não vamos morrer apesar de toda a opressão. Nascemos aqui, somos daqui e viveremos.
O prof. Almerindo Wapixana, vice-coordenador da OPIR contribui convidando os professores a
refletirem sobre o projeto do curso universitário que está em andamento, "Não é só ingressar na
universidade, mas nós temos de saber o que queremos com os ensinamentos dos brancos. Somos nós
indígenas que temos de propor o que estudar, como e quando começar e acabar."
Representantes de diversas instituições que apoiam as organizações indígenas como a FUNAI, Diocese,
CIMI, Universidade, sec. de educação, Funasa, estavam presentes e pronunciaram-se.
A representante da Universidade Federal de Roraima, Prof. Auxiliadora foi infeliz quando disse" A soc.
indígena precisa integrar-se à soc. brasileira". Muitos indígenas reagiram contra e entre si. Falando de
projetos a referida prof. lembrou do Prof. Gersem, indígena do Rio Negro quando coloca :" Nós não
precisamos dos projetos das autoridades. Precisamos que as autoridades viabilizem os nossos projetos".
Ela falou do Projeto de um curso universitário específico para os professores indígenas de RR, cuja
duração será de cinco anos assim distribuídos: 02 anos, preparação ao magistério; 03 anos, habilitação
nos cursos de história, geografia e sociologia. O nº de vagas por semestre, será entre 30 a 35 no ano de
2001, ampliando-se nos anos seguintes. O critério para o ingresso será discutido entre os professores e
lideranças indígenas em cada comunidade, região e posteriormente com a universidade.
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Muitos representantes de várias instituições como a FUNAI, Sec. de educação, divisão de educação
indígena, FUNASA, Diocese e CIMI estivemos presentes e colocamos um pouco do que estamos
fazendo na área indígena.
Após a apresentação do representante do secretário estadual de educação, muitos indígenas levantaram
questões sérias vividas nas escolas. O tuxaua Nelino, da comunidade do Pavão disse assim: "A gente
ouve o ano inteiro as reclamações sobre a educação escolar, é a falta de merenda e de material escolar,
recursos pedagógicos, transporte escolar, será que este ano tudo continuará do mesmo jeito?
A prof. Natalina da escola "Ximinio" acrescentou: "Nossa escola foi inaugurada, só que não dá para
trabalhar..."
À noite, a equipe itinerante teve um precioso tempo, onde explicou a exposição das fotos e as fitas
sobre a marcha indígena 2000. A reação das pessoas foi muito forte, de indignação e ódio. A foto de
Gildo Terena, as bombas lançadas nos parentes pela polícia foi o que mais os impressionou. Alguns,
depois de falarem em público, pedimos que colocassem no papel e nos entregassem. Vejamos o que
disseram: "Após assistir o vídeo sobre a Marcha dos 500 anos, senti a bravura e a coragem dos
parentes que lá estiveram presentes. Não se sentiram derrotados e sim fortalecidos. Apesar dos
obstáculos enfrentados." Prof. Cléo Magalhães, Wapixana. Comunidade Três Corações, Região do
Amajari.
"Irmãos, ao ver o vídeo, me senti culpado por não ajudar o meu povo e sempre ficará na minha
memória. Estou traumatizado e sofrendo também por ver o que um título de eleitor pode fazer. Para
mim, o FHC e todos os políticos que não respeitam nem reconhecem que somos responsáveis dos
nossos ideais, nunca mais estarão em minhas orações. Mataram as nossas sabedorias em 1500 e hoje,
ainda querem o quê? Esses bandidos nunca mais irão ver os índios de braços cruzados. Irão ver um
povo digno e forte." Prof. Eder Barroso, Taurepang da comunidade Araçá do Amajari.
"Meu carinho e respeito para todos os parentes que participaram da marcha. É indignante a repressão
da polícia militar da Bahia. Isso nos mostra que a democracia não existe em nosso país. Os povos
indígenas somos tratados como se não fôssemos cidadãos brasileiro...Mas vale a nossa luta e
sofrimento. Só unidos teremos êxito! Não vamos parar de reivindicar os nossos direitos. Fica aqui o
meu grito de guerra: Lutar e Vencer!" (Prof. Moisés da Silva, Macuxi da comunidade de Napoleão,
Raposa Serra do Sol).
O dia 10 iniciou com a prof. Natalina: "Neste começo da manhã, vamos nos unir à bênção da nossa
pajé. Vamos nos unir a todos os nossos parentes discriminados, como vimos no vídeo da Marcha
Indígena, e lutar juntos para sermos atores da nossa própria história."
A OPIR tem muitos projetos para a melhoria da educação escolar indígena - disse o seu coordenador.
Vamos agora, nos reunir por diferentes regiões e trabalhá-los: 1. Ler os projetos e agrupa-los de acordo
com as necessidades mais urgentes de cada região, pensando também sobre a organização da sede da
OPIR. O tempo dado foi das 9:00h até as 11:30. As apresentações ficaram para as 14:00h.
Resumo dos resultados dos trabalhos das dez regiões (Taiano, Amajari, São Marcos, Serra da Lua,
Serras, Raposa, Baixo Cotingo, Yanomami, Surumu, Wai-Wai e Ekuano, Alto Parima).
= Projeto OPIR: sede e transporte próprio para a coordenação e professores. Organizar um centro de
documentação indígena. Uma biblioteca. Assessoria pedagógica e antropológica. Projeto para a
educação Yanomami. Pediu-se que a OPIR providencie dois professores para a educação Yanomami.
Como conseguir essas coisas? É o que o grupo está buscando.
= Projeto Educação: curso de formação de professores na língua materna. Curso de informática.
Assessoria e planejamento pedagógica. Curso de regimento escolar. Curso com a universidade, de
formação continuada para os professores indígenas. Formação superior de professores indígenas. Criar
e participar ativamente dos cursos de formação dos professores indígenas.
= Projeto de autosustentação: horticultura, artesanato, agricultura e criação, pensando sobretudo no
enriquecimento da merenda escolar.
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Esses pontos foram comuns entre as regiões. Houve bastante participação dos professores, tuxauas e
outros comunitários. Assim foi o segundo dia.
"Nesta manhã de domingo, agradecemos a Deus pelas coisa boas e ruins que acontecem em nossas
vidas. Nós professores indígenas estamos discutindo e avaliando nossos problemas. Queremos
descobrir saídas para solucioná-los e, com certeza, conseguiremos." Com essas palavras o
professor...irmão da Iracema Macuxi, Serra da Lua, começou, após um canto na língua macuxi, e o
"saber amar" em português, o encontro do dia 11.
O dia todo foi dedicado, também, a trabalhos em grupos e por regiões. Os temas trabalhados foram:
Ingresso na Universidade; Calendário escolar; Gestão escolar. Prestação de contas pelo conselho fiscal
da OPIR . Avaliação da coordenação da OPIR.
Resumo dos trabalhos:
Ingresso na Universidade: Os candidatos deverão ser escolhidos pelas suas comunidades, sobretudo os
que são comprometidos com a causa indígena. Todos os professores/as indígenas devem ser
avaliados/as e aí serem escolhidos os 60 ou 70, de acordo com o nº de professores por região.
Calendário escolar: Cada escola deve elaborar o seu calendário escolar de acordo com a comunidade,
considerando as festas tradicionais, época de plantio e de colheita. A região fará o seu calendário a
partir das escolas e a OPIR a partir das regiões. Pede-se assessoria pedagógica.
Gestão escolar: A gestão da escola indígena deve ser de acordo com o dia-a-dia da comunidade,
aproveitar os ensinamentos de artes, de caça e pesca, de plantações, criações sempre pensando no
melhor para os alunos/as. Respeitar as datas importantes da vida na comunidade, festas religiosas e
cívicas. Implantação de 5ª a 8ª séries. Falta trabalhar a troca de nomes das escolas (colocar nomes
significativos para a comunidade).Horta escolar para ajudar na merenda. Oficina da terra, dentre outras
coisas trabalhar os remédios caseiros. Incentivar mais as danças, cantos, comidas tradicionais
(parixara...). Excursões, jogos entre as escolas. Teve o projeto de fabricação de carteiras com os alunos,
foi muito bom. A participação das mães na preparação da merenda, foi um entrosamento legal.
Precisa-se de acompanhamento pedagógico. Tem de melhorar a merenda escolar, o material escolar e
lutar pela condução escolar. Falta avaliação permanente dos trabalhos desenvolvidos pelas escolas.
Reivindicações dos professores:
Investir na formação de professores indígenas para assumirem a supervisão e acompanhamento dos
trabalhos pedagógicos nas regiões. Que nas salas multiseriadas (1ª a 4ª), fiquem dois professores. Que
as escolas indígenas sejam construídas considerando e de acordo com as características das
comunidades indígenas. A lotação dos professores devem ser de acordo com a necessidade de cada
escola.
Prestação de contas do conselho fiscal da OPIR: de maio de 99 à dezembro de 2000 o total de entradas
foi de CR$ 5.246,97 em 99, mais 19.214,00 em 2000. O total de saídas no mesmo período foi de CR$
5.354,32 mais 18.660,25 tendo como saldo positivo 553,75. Os primeiros meses de 2001 ainda não
foram contabilizados. As entradas são das contribuições mensais de muitos professores e algumas
doações recebidas. Os gastos são com transportes, alimentação, material de escritório e pagamentos de
alguns serviços prestados a OPIR.
Avaliando a diretoria da OPIR:
A coordenação está de parabéns, deram nome a OPIR. O prof. Eniltom dedicou-se de coração. Tornou
a OPIR conhecida no estado, articulando-a com outras instituições do Brasil. Uniu os professores.
Envolveu a universidade. Fez projetos a favor dos professores - projeto Anikê. Preocupou-se com a
formação dos professores com cursos superiores e outros. O que foi ruim: O seu acúmulo de
funções( diretor de escola e coordenador da opir). Faltou mais comunicação com os professores que
estão na base. As áreas mais distantes foram prejudicadas, teve comunicados que demorou demais para
chegar. Poucos conhecem a secretária. Tem de melhorar a aproximação da coordenação com a base.
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Quanto a estrutura física da OPIR: comprar um local próprio, com a contribuição de CR$50,00 dos
professores em um mês, ou pedir o repasse dos documentos de doação do CIR para a OPIR.
Decisão conjunta: todos os professores querem contribuir com os 50 reais e alguns já estão com o
dinheiro em mãos para entregar à secretária. Outros autorizam o desconto na folha de pagamento e
outros ainda, entregarão aos seus diretores para serem repassados à OPIR. Isso tudo até julho deste
ano.
O dia 12 também foi abençoado pela pajé. Foi o dia dedicado a um rápido estudo do estatuto do índio,
coordenado pela Drª Joênea Wapixana, advogada do CIR. Mas o assunto mais quente foi o da eleição
da nova coordenação da OPIR.
O estudo feito pelas regiões onde estão os povos indígenas de Roraima foi bastante interessante.
Muitos queixaram-se pelo pouco tempo pois o texto é composto por inúmeras palavras desconhecidas
o que, é claro, atrapalha a compreensão do conteúdo. Mesmo assim uns ajudando os outros deu para
questionar alguns pontos, pedir esclarecimentos, sugerir e exigir mudanças sobretudo nos artigos 103,
105 que dizem respeito a educação. Pediram que a OPIR viabilize um jeito para as comunidades
estudarem melhor esse estatuto.
Ao reiniciar os trabalhos pela parte da tarde, antes das eleições, Enilton abriu o coração e desabafou:
"O que nós vimos no vídeo a respeito da marcha e conferência indígena 2000, foi muita violência
policial sofrida pelos nossos parentes. Isso deve nos alertar daqui pra frente. Em 2002 teremos eleição
para os cargos majoritários do país. E como falamos na noite desse vídeo, nós indígenas elegemos os
políticos de Roraima, eles não gostam dos índios. O nosso título serviu contra nós mesmos. O nosso
título serviu de arma para os governantes de Roraima detonarem contra nós mesmos. Então, o que
estamos fazendo com o nosso voto, que é poder? Nunca elegemos os nossos próprios candidatos. Está
na hora de fazermos valer os nossos direitos. Daqui para a frente temos que trabalhar com mais
seriedade a questão política. O cargo de coordenador da OPIR, é um cargo político. Nós, as nossas
lideranças índias admitimos a falta de respeito para com os povos indígenas. Precisamos ser mais
firmes, mais unidos e eleger os nossos."
Os nomes foram indicados para a votação. De região em região os eleitores indígenas maiores de 16
anos foram depositando seus votos dentro da urna. Todos já sabiam que o sr. Eniltom seria reeleito.
Após o jantar foram anunciados o nome da nova coordenação: Eniltom, da região do Taiano com 319
votos, Almerindo, da Serra da Lua, vice com 210 votos. Silvana, de São Marcos, secretária com 84
votos. Kátia, da Serra da lua, tesoureira com 53 votos. Conselho Fiscal: Tarcílio ,de Surumu com 44
votos Bruno, do Taiano com 45; Brito, de São Marcos com 48; Sobral, das Serras com 53 e Jaime, do
Baixo Cotingo com 65 votos.
A noite prosseguiu com a presença de algumas autoridades políticas de Roraima. Dentre elas o sr.
Francisco Flamarion Portela, vice-governador que é o atual secretário estadual de educação. O seu
discurso foi horrível. Muitos professores gravaram e contestaram. Ele contou, com muito orgulho, o
seu próprio exemplo: veio do sertão do Ceará. A educação foi o único meio que encontrou para
competir e vencer os filhos das pessoas ricas. Quando vai visitar os seus pais lá no interior ele encontra
com muitos dos seus colegas de infância que continuam com a vida tão sacrificada. Não tiveram a
oportunidade de desenvolver, como ele, seus conhecimentos... Que os índios estudando vão saber mais
que os seus antepassados...
A festa de posse da coordenação aconteceu depois que os de fora foram embora. Foi linda!
Todos os grupos organizados para cantar e dançar formaram uma grande roda e animavam a
assembléia. Para ornamentar o ambiente, as regiões apresentaram alguns utensílios indígenas. Taiano,
apresentou uma cuia que é muito usada para tomar o paxeram, xibé. A Serra da Lua, a peneira que côa
a massa de mandioca, os vinhos, bebidas feitas das frutas. Amajari, a dabana que é uma cesta feita da
palha do buritizeiro. Serras, o abano, que serve também, para servir o beju. Baixo Cotingo, Tipiti, feito
de arumã ou do cipó jacitara. Surumu, jamaxi que serve para carregar frutas, crianças, caças e pescas.
Alto Parima, um ralo enorme feito pelos Ekuana. Yanomami, arcos e flechas, as mais famosas da
região. Wai-Wai, balaios bem tecidos. São Marcos, o giki, muito bem tecido com cipó titica, para
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pegar peixes. Raposa, cerâmica, maior produtora da região.
Os eleitos foram chamados para comporem a mesa, sob os aplausos da animada assembléia.
Um grupo de estudantes foi chamado para acender o fogo, relembrando os antepassados. Uma flecha
no meio de um pouco de algodão. Os alunos esfregavam a flecha no algodão, chegou a fumaçar
mas...o fogo falhou. Despertou a curiosidade e atenção do público que ficou de experimentar em casa.
Em caso de não ter fósforo, você já sabe!
A sra. Bernardina, aquela mulher das defumações de todas as manhãs, dessa vez com o ritual do
maruai, defumava (falando bem alto em makuxi), expulsando os espíritos maus e pedindo forças,
coragem, saúde e inteligência aos novos coordenadores, para que saibam coordenar a OPIR. Para que
façam um bom trabalho para as crianças.
A professora Irani, empossou o coordenador colocando um lindo cocar em sua cabeça. A programação
continuou e como já era quase dez horas da noite e nós tínhamos que viajar no dia seguinte para uma
outra região, pegamos uma carona e retornamos à Boa Vista.
Para nós foi uma bênção a oportunidade de participar dessa assembléia, pois dentre outras coisas, deu
para perceber o seguinte:
O grupo de professores é grande e está investindo na sua formação, ainda que na escola de branco, São
poucos os professores que falam a sua língua materna. Porém, já estão procurando priorizá-la como
necessidade. Existem 30 escolas de 5ª a 8ª série, e a língua materna é como se fosse a língua
estrangeira. É triste mas é a realidade. Mas tem algumas que as aulas são dadas na língua própria.
Durante toda a assembléia a língua usada foi o português. Felizmente estavam os parentes Yanomami,
que deram uma grande lição a todos/as nós. Falavam a língua yanomami, somente dois falavam
português. Eles criticaram os outros parentes que têm escolas como as do branco, que usam só a língua
do branco. Que não querem mais caçar, pescar, se pintar, se enfeitar. "Os yanomami não querem essa
língua emprestada do branco. Têm orgulho de ser yanomami. Sabem fazer arco, flecha, artesanato. E a
escola é escola do yanomami, onde a aula acontece na caçada, na pescaria. "Marcos, tradutor do grupo.
Em todos os trabalhos eles apresentavam sempre com desenhos exemplificando a compreensão do que
estavam vivendo na maloca e na assembléia. Eram super diferentes de todos pelo jeito de ser. Sempre
pintados e enfeitados. Chamavam a atenção, também nas suas danças típicas A participação deles nas
grandes assembléias e organizações é bem recente.
O problema de alcoolismo entre professores, alunos, e outras pessoas da comunidade é sério e igual a
outras áreas como a dos Sateré e rio Negro.
Os conflitos criados, também, a partir das divisões partidárias são fortes e aparecem nas posições das
diferentes pessoas que passam a assumir posições iguais as dos brancos, chagando a brigar com os
parentes.
A secretaria de educação como nos outros municípios, desvia verbas da merenda escolar e outros
fundos. Até quando Senhor?
Muitas escolas realmente, investem na educação voltada para os problemas vividos pelas comunidades
e trabalham os seus valores culturais, sabedorias milenares. Enfim...a organização está crescendo.
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13-17/03 - Área de Baixo São Marcos.
Encontro de catequistas com a Ir. Edina SES e a Ir. Graça da Caridade.
Uma viagem bem diferente...
Deixamos Boa Vista na linda manhã do dia 13.03, rumo à região do Baixo São Marcos. A estrada é de
piçarra, com tratores nela trabalhando. E como é verão, a poeira toma conta da gente e de nossas coisas.
Deu saudade do rio e da mata, porém a criação de Deus é perfeita e bela... A paisagem do lavrado é
muito “bonita”, diferente, triste; enorme área descampada com algumas árvores no meio, dentre elas o
buritizeiro.
Um lance curioso são as enormes casas de cupins, muito bem construídas,(contaram pra irmã que já
teve gente sacana que negociou, sobrevoando de jatinho, casa de cupim feito gado). É que de longe
parece mesmo. É bem difícil chegar nas malocas. Como tudo é muito longe, isto é, para se chegar de
uma maloca à outra, a irmã Edina teve de ir buscar as/os catequistas em suas moradias. Para nós foi
ótimo pois tivemos a oportunidade de falar com muitas pessoas e conhecer vários lugares que só
conhecíamos de ouvir falar. Outra coisa muito boa, foi encontrarmos muitas pessoas que participaram
da assembléia dos professores, isso ajudou a abrir caminhos. A primeira maloca que chegamos foi
"Vista Alegre" a maior do pedaço. O tuxaua, evangélico, estava de saída para Boa Vista, mas nos deu
bastante atenção. Conversamos com ele vendo a possibilidade de fazermos o trabalho sobre a marcha,
chegamos a mostrar as fotos para ele e um grupo de mulheres artesãs, que teciam cestos, chapéus
finíssimos com fibra de buritizeiro. A coordenadora do grupo era uma das catequistas que deveria ir
com a gente, porém, tinha de ir na cidade cobrar da primeira dama do estado, os artesanatos que não
pagou ao grupo. A outra catequista estava com a neta doente na cidade. Os professores ainda não
tinham chegado da assembléia. O transporte realmente é dificílimo, depende da organização de outras
pessoas, - como nos interiores do Amazonas. Seguimos nossa viagem.
Mais ou menos as treze e pouco, debaixo de uma das muitas pequenas pontes, lanchamos.
Imediatamente retomamos nosso caminho. Houve troca de motorista, Edina estava exausta. Dirigir
automóveis é indispensável para quem está em Roraima. Horas e horas correndo muito; o motora era
bem louco, sem ver gente nem moradia. Encontramos um enorme catitu, procurava amigos... Nos
atrapalhamos no caminho para a próxima maloca. Depois encontramos uma família isolada, tomamos
aluá de milho e de lá fomos para a maloca do "Marora", encontramos poucas pessoas, o tuxaua
Edmilsom, que também é catequista, seguiu conosco. (Quando falamos e mostramos o material sobre a
marcha ele ficou todo interessado, pediu os cartazes e revistas para levar e repassar para o seu pessoal.
Mas depois... brigou com a ir. Edina e parece que devolveu todo o material da marcha para ela,
colocando escondido em sua bolsa. Atos tão humanos!). Eva, a outra catequista nos esperava mais
adiante (parece que na sua volta, seu marido estava bêbado e bateu muito nela. O alcoolismo
destruindo as famílias...) E assim foi. Daí fomos para a maloca do "Campo Alegre'. Conhecemos o
tuxaua Dalício. Homem alegre e temente a Deus. Com ele e a esposa, moram alguns filhos e muitos
netos/as, perto de vinte pessoas. Nos ofereceram peixe assado e damurida (comida com bastante
pimenta queimosa), não perdemos a chance, pois tinha com fartura, graças a Deus! Encontramos com
um grupo de pessoas que estavam na assembléia dos prof., foi super legal e já combinamos nossa volta
para revivermos a marcha junto com a comunidade.
Seguimos o caminho à maloca "Vista Alegre," o tuxaua não estava mas a catequista Elizete, seu
auxiliar Joanderson e seus filhos Maikom e Bárbara seguiram conosco com destino ao local do
encontro: Maloca do "Lago Grande". Chegamos quase sete da noite. Cumprimentamos os
comunitários presentes: tuxaua Telmar, Carlos e sua esposa Araci e muitas crianças e adolescentes.
Edina, Fernando e Arizete continuamos a viagem até a maloca da "Roça'. Karamba, pra chegar até lá,
tivemos de destrancar e trancar porteiras, inúmeras vezes. Cumprimentamos o tuxaua e seguimos em
frente para o centro comunitário. Já era quase dez da noite, todos dormiam. Daí a pouco aparece a
catequista que abriu a escola onde dormimos depois de um delicioso banho com água de poço o qual
repetimos ao amanhecer do dia seguinte antes de nos dirigirmos a próxima maloca. A Roça enviou
duas catequistas: Luiza - a mulher do tuxaua e Clementina, as duas com crianças de colo, Maísa e
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Mailson. Na maloca do "Pato," mais uma catequista com filha de colo, e uma filha mais velha, Adriana,
para tomar conta da Verônica de três meses de vida. Na volta, abrir e fechar porteiras feitas de arame
enroladas em pedaços de pau, todas esquisitas para carregá-las para um mesmo lado. Coisas
conhecidas feitas de formas diferentes. É a vida! Chegamos de volta à Lago Grande às nove e pouco
da manhã. O carro ficou debaixo de um enorme mangueiral.
Das nossas moradas dava para enxergar o belíssimo Lago Grande onde tomamos banho e lavamos
todas as nossas roupas e sujeiras. Segundo os moradores, nesse lago tem até peixe-boi. Só que ele é
como se fosse o boto...um encantado-sedutor. Além de muito peixes, a comunidade tem o projeto do
gado, o qual está indo muito bem. Para o encontro dos catequistas mataram um boi. Tinha, também,
coalhada e leite fresco. Plantam roça e fazem farinha super gostosa; Bananeiras, cajueiros. Nos
contaram que durante um bom tempo só nascia criança do sexo masculino, criando um sério problema
pra comunidade, que tinha de procurar mulher por aí afora. Hoje está superado. É grande o nº de
crianças, adolescentes e jovens.
A escola estadual "Felinto Muller," fica um pouco distante do centro comunitário. O sr. Gilberto
Manoel Tavares, Wapixana, falante da língua até os 9 anos de idade, é o diretor. Evangélico e cheio de
muitos sonhos. A ir. Edina nos apresentou a ele e a seus funcionários. No começo da conversa estava
um pouco de cara fechada. Depois, ele e mais sete professores nos reconhecemos da famosa
assembléia. dos prof., aí o clima foi melhorando. Nos disseram que na noite das fitas sobre a marcha,
só não foi melhor porque estavam no final do malocão pois a frente e meios estavam lotados, e a tv de
20 polegadas era pequena para o espaço. Entramos com a nossa proposta de trabalhar as fotos e vídeo.
Todos se animaram. O diretor pediu para ligarem o motor de luz. O peste do vídeo não funcionou. O
diretor nos convidou para irmos até a maloca do "Milho" emprestar o vídeo. Para a tristeza de todos a
escola vizinha não tinha. No caminho o sr. Gilberto abriu seu coração...estão lutando para modificar o
nome da escola por um nome significativo para a comunidade. Sente que as igrejas brigam por
besteiras, aproveitamos para reforçar o desejo de ir. Edina fazer alguns trabalhos com a escola. Parece
que vão levar em frente. Nos deram uma tarde para trabalharmos com as turmas de 4ª à 6ª séries e uma
manhã as crianças de 1ª à 3ª séries. A escola atende um total de 115 a 120 alunos/as.
A experiência foi ótima. À tarde, além dos discentes, estavam todos/as os funcionários da escola. O
programa incluiu uma rápida apresentação da nossa equipe, desenhos do mapa mundi (chique!) no
quadro, um pouco de história e geografia da história da vinda dos colonizadores, povos indígenas de
1500, a política do governo brasileiro em relação aos índios e por fim, o que foi a marcha e
conferência indígena 2000. A conversa foi boa e a participação bem melhor.
O passo seguinte foi, cada um/uma, desenhar e escrever uma frase a partir do que viu nas fotos e ouviu
do contado. O diretor e professores agradeceram muito pela contribuição... eles ficaram um pouco
aperreados com os assuntos trabalhados, é que os estudos deixam muito a desejar nas escolas públicas.
Avaliamos como uma coisa boa da presença da equipe itinerante nessa área. Ter contribuído e
possibilitado a experiência de entrosamento entre alunos, professores, auxiliares de serviços gerais e
direção da escola, assim como ter incentivado a continuação de atividades nesse nível e o melhor,
envolvendo a comunidade que é formada por não católicos e católicos foi uma ação abençoada por
Deus.
O diretor e a Edina já tiveram um bom papo, falta convencer o tuxaua que é tio do diretor mas não está
gostando do sobrinho que era católico e mudou de religião.( só que o tuxaua não percebe que o
sobrinho está muito bem).
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24-25/03/2001 - Região de Amajari. Makuxi e Wapixana.
É uma região de muito conflito. Onde as irmãs Servas do Espírito Santo junto com alguns indígenas
sofreram a emboscada em Abril de 2000. Os fazendeiros e colonos são muito poderosos na região.
As 6:00 da manhã do dia 24.03 saímos de Boa Vista, acompanhando a ir. Edina a uma viagem à
maloca do "Guariba" na região do Amajari. Para chegarmos no referido local, passamos primeiro na
maloca da "Ponta da Serra", para apanharmos alguns participantes. O tuxaua estava há duas semanas
na capital e por problemas de bebida alcóolica não havia retornado. A próxima maloca foi
"Matulumba", que tem como tuxaua o sr. Francivaldo, que acabou de ser eleito coordenador da região
do Amajari,( que é formado por 17 malocas).Ele estava preocupado com a situação da falta de união
entre as malocas, entre os próprios indígenas. “Essa região é bem difícil de trabalhar”, dizia ele.
Muitos são manipulados por fazendeiros e políticos.
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26/03-10/04 - Região Yanomami do Xitei.
Com as irmãs da Providência de Gap.
Ir. Arizete Dinelly CSA e Pe. Fernando López SJ
Dados gerais e viagem
A região do Xitei é formada por umas 15 comunidades, 37 xaponas (malocas). Mais de 900 Yanomami.
As malocas atendidas estão entre uns 600 e 1200 m. de altitude. Algumas delas estão geograficamente
dentro da Venezuela, que tem como fronteira com o Brasil a divisa de águas entre o rio Orinoco e o rio
Amazonas. Os marcos estão errados em algumas regiões, chegando a uma diferença de uns 20 Km.
aproximadamente. Tomaram como limites as montanhas mais altas e elas não são sempre a divisa das
águas. Uma vez mais aparece o absurdo das fronteiras política de nossos países que dividem os povos...
Para os Yanomami tanto faz; eles vão e voltam de umas Xaponas para outras sem maior problema.
Saímos no dia 26/03/01 às 11:45 hs. do aeroporto de Boa Vista. Toda a carga e os passageiros fomos
pesados, um total de 530 kg. A avioneta ia carregada até o máximo de peso. O vôo chegou no Xitei em
1 h. e 25 min. O custo da hora de vôo é de R$ 500.
Viajamos com a irmã Aléssia, da Providência de Gap, que está há uns 10 anos com os Yanomami do
Xitei. Junto conosco viajou o Darlan, um enfermeiro gaúcho de Passo Fundo. Ele trabalhava com os
Kaigang. Enviou seu currículo para a diocese de Roraima, foi aceito e passou a fazer parte de uma boa
equipe de trabalho no Xitei. A paisagem vista do avião, encantava os olhos; mata, rios e por último, na
região do Xitei, as serras da divisória de água.
Na chegada, fomos recebidas/os por um bom grupo de Yanomami sorridentes, alegres que nos
perguntavam sempre: nome? Repetiam os nossos nomes e ... riam, riam, riam. Super enfeitadas/os com
brincos de penas coloridíssimas, pedaços de taboquinha, miçangas, flores e folhas; na boca, o
"beenehe" (um pedaço de folha de tabaco misturado com cinza) que fica entre os dentes e o beiço.
Parece que, apesar de amarelar os dentes, evita as cáries, contêm cálcio, cafeína e controla a fome... No
corpo tinham bonitas pinturas e desenhos com urucum e jenipapo ou algo semelhante, pinturas que
também protegem a pele. Alguns homens estavam com arco e flechas pois já iam sair para a caçada.
Muitas mulheres novinhas, carregavam suas crianças numa tira de envira (fibra de árvore) ou, mais
raramente, em uma tira de fio tecida por elas. Quando levam seus paneiros cheios de mandioca, banana,
lenha ou outra coisa, carregam as crianças no peito, senão, em suas costas dentro do panero. Elas estão
vestidas sempre e somente com umas tangas vermelhas, bem à vontade. As tangas são feitas por elas,
com fios vermelhos comprados na cidade, pois a grande maioria deixou de plantar algodão. Os homens,
na sua maioria, já estão de calção, porém com o "moxe" amarrado com barbante por baixo do calção.
Os curumins, têm um barbante na cintura com o qual amarram o seu "moxe". Muitos fazem com tela
um "saco" peniano. Gente, um mundo encantador mesmo com todas as limitações humanas...
Junto conosco chegou uma variedade enorme de vacinas, o que movimentou bastante as/os
trabalhadores da saúde vacinando um importante e elevado nº de Yanomami. Junto com Ir. Idalina
fomos em duas Xaponas vizinhas convidar as pessoas (menos gestantes e menores de dois anos), para
tomar vacinas, o que "agitou"' mais ainda o ambiente. Foi super legal ter a oportunidade de encontrar
logo, com esses e essas Yanomami.
Mais tarde (Idalina, Arizete e Fernando) explicamos ao professor DitoYanomami, a história da Marcha
Indígena. Uma das dificuldades foi que do Xitei, ninguém participou da Marcha e nós não falamos o
Yanomami. Porém, com ajuda de Idalina que já fala yanomami, fomos desenvolvendo os trabalhos
sobre a Marcha. De noite, celebramos com as irmãs a Eucaristia. O dia da Anunciação é para sua
congregação um dia muito importante.
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27/03/01. Na sede da missão Xitei (600 m.)
De manhã, entramos na equipe de cozinha junto com a Ir. Idalina. Esse serviço faz-se em rodízio entre
todas/os os funcionários, irmãs e visitantes.
De tarde, na escola da missão, preparamos uma primeira apresentação dos trabalhos sobre a Marcha
Indígena. Foram muitas pessoas, mulheres, homens e crianças que participaram.
No pequeno local, fez-se uma divisão com pano para que as sogras e genros não ficassem juntos. Eles
não podem estar juntos pois um deles vira bicho..."já aconteceu isso!" diziam algumas pessoas. Cultura
é cultura, portanto...
A primeira experiência não deu muito certo. Nos atrapalhamos bastante. Os Yanomami dessa região é
um povo de pouco contato. Nenhum deles participou da Marcha, logo, tudo era novidade para eles e
para nós da equipe. Após os trabalhos, avaliamos a metodologia e concordamos que precisávamos
mudá-la. Foi o que fizemos.
A Ir. Idalina e outras pessoas amigas, que estão na área há um bom tempo, ajudaram a pensar e
preparar uma metodologia mais adaptada a realidade. Preparamos uma história em desenhos, desde o
monte da origem dos Yanomami até Porto Seguro na Bahia. O nome de cada lugar por onde a
caravana passou com seus respectivos povos indígenas. Em cada cidade repetíamos os povos que
chegavam e os novos povos que se incorporavam na Marcha. Os desenhos também, dos diferentes
meios de transporte que conduziram os participantes da Marcha .
28/03/01. Yopapëki (1.100 m.). 4 Malocas com umas 96 pessoas.
De manhã cedo íamos sair em helicóptero para as malocas mais distantes atendidas pela Missão e que
ficam, geograficamente, naVenezuela. Nessa região, os marcos da divisa Brasil x Venezuela estão
errados em uns 20... Os igarapé dessa região são as cabeceiras do Orinoco
O tempo estava fechado e por isso o helicóptero só conseguiu entrar ao meio dia. Fez quatro "pernas"
para deixar as distintas equipes distribuídas nas malocas. O custo do helicóptero é de R$ 1.500 por
hora e a equipe itinerante teve o privilégio de fazer essa viagem graças, sobretudo, às Irmãs da
Providência. Carona? Parceria!
Nós entramos na terceira perna. A Ir. Idalina (professora), o professor Dito Yanomami, Francisco
(auxiliar de enfermagem), Fernando e Arizete, chegamos na xapona do tuxaua Kapera. A viagem em
helicóptero foi de uns 20 minutos. A pé são dois dias de viagem do centro da Missão até lá. São três
malocas pequenas de uns 25 m. de diâmetro. Ficam perto (uns 5 min.) umas das outras. Todas estão na
altura. A água fica a uns 15 minutos descendo a ladeira. Acabamos formando uma boa e articulada
equipe de diferentes serviços (saúde, educação diferenciadas), foi gratificante, abriu nossos olhos,
ouvidos, coração e mente. Nos desafiou a sairmos de nossos “mundinhos” e nos despirmos no mundo
das outras criaturas, tão belas quanto nós... É que quando a gente chega pela primeira vez, as/os
Yanomami precisam ver, tocar e mais alguma coisa não entendida por nós, se realmente somos
parecidas/os com elas/eles. Um gesto que depois ...até humaniza. A verdade é que as mulheres
“acolhem” as mulheres e os homens “acolhem” os homens. Depois desse primeiro momento quem não
é do pedaço sente-se até mal por não estar como as pessoas do local. Mas aí...devagar.
As roças são grandes e ficam nas ladeiras. Os produtos principais: banana, mamão, macaxeira,
mandioca, ingá, cana-de-açúcar, batata, inhame, cará. Colhem muitas frutas do mato. Têm poucos
peixes e a caça também já começa a ficar escassa...Porém comem sapos, rãs, caranguejos, camarão da
água doce, caramujos, larvas de cupim, insetos, cobras e outras, alguns tipos de flores. Muitos frutos
gostosos e próprios da região.
Segundo as informações dos trabalhadores da área de saúde, a população do Xitei, exceto alguns casos,
é bem nutrida para os padrões locais. Daí ter uma boa saúde. Realmente foi o que percebemos. Os
maiores problemas são de gripe e verme. A malária está sob controle, pouquíssimos casos. Algumas
pessoas com pneumonia, e parece que a fumaça do fogo que fazem para esquentar as noites frias que ,
contribui significativamente. Os Xapore (rezadores) têm um papel importante nas Xaponas, ajudando a
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cuidar da saúde .
29/03/01. Cedo da manhã, o auxiliar de enfermagem Francisco e a irmã Idalina deram remédio
antiparasitário para toda a Xapona. E também fomos visitar e dar remédios nas xaponas próximas:
Xapona do tuxaua Toto e a Xapona do tuxaua e xapore Maria. Tinha uma fartura muito grande de
bananas, ganhamos umas deliciosas. A maioria das pessoas dessa Xapona estiveram presentes no local
onde chegamos e isso foi legal, logo nos aproximamos, nos convidavam para ficar mais tempo. Bom
sinal!
Ao retornarmos à Xapona do Kapera, colocamos, com ajuda dos moradores, as fotos selecionadas dos
povos indígenas participantes na Marcha. Imediatamente as/os moradores aproximaram-se para ver,
perguntar e tecer comentários sobre as fotos.
À tarde fomos até a Xapona do tuxaua Antônio, a uma hora de caminhada subindo e descendo uma
longa estrada. Passamos um bom tempo. Nos ofereceram para comer carne de rã assada com banana
também assada.
Em todas as Xaponas fomos recebidas com alegria e banana assada, isto é, com o melhor que essas
criaturas têm. Atitudes que, com certeza, agradam o Deus da vida e nos ensinam uma grande lição.
Aos poucos aprenderemos.
Algumas pessoas doentes de gripe e um garotinho com reumatismo grave. Ele sentia bastante dor,
mesmo assim... tinha um bonito sorriso.
Tomamos banho num igarapé de água geladíssima; água que juntando-se a outras formam o Orinoco
na Venezuela. Depois do banho e boas conversas, voltamos para a Xapona do tuxaua Kapera.
No final da tarde, chegaram 13 homens que tinham ido à uma festa numa Xapona já na Venezuela.
Andaram três dias caminhando pela urihi. Durante a noite, socializaram o que vivenciaram nessa
viagem. Chamam a isso de “wayamon”.
Esse região é de muito pium e alto índice de oncocercose.
30/03/01. Neste dia, nos despertamos com o tuxaua Kapera que nos dizia: "O sol já vem saindo,
acordem". Escola! Escola! Aprender! Aprender!” Ele incentivava a todos nós e era super agradável.
Querer os seus simples serviços.
Pela manhã, fizeram um mingau de banana crua com água fria. Foi amassado com as mãos do tuxaua
Kabera. Ficou muito gostoso. Todas, tomamos um pouquinho servido numa cuia especial. Foi um
gesto de acolhida aos parentes que chegaram das malocas vizinhas para participarem de uma reunião
onde o assunto foi a Marcha Indígena. Na verdade, foi o segundo grupo a trabalhar o referido tema. A
mudança de metodologia deu mais segurança ao professor Dito Yanomami. Era a primeira vez, depois
da primeira mudança de metodologia, que o Dito ia apresentar o trabalho da Marcha.
Os comentários a respeito das fotos eram os mais diversos. Nos esforçávamos para ajudá-los a
entenderem. Porém, sendo Dito Yanomami e já tendo uma boa explicação sobre o material da marcha,
foi ele quem apresentou e motivou as pessoas a participarem desse encontro. Um grande cartaz
apresentava: a saída dos Yanomami , de avião e do meio da Floresta, realidade que todos conheciam.
De Boa Vista a Manaus grandes novidades: casas, cidade, ônibus, estrada... “A cidade dos napë (não
Yanomami) já foi urihi. Hoje, tem mais cidades que floresta. Nossas Xaponas são diferentes das casa
dos napë. As estradas parecem pistas dos garimpeiros. Ônibus, é igual a um avião sem asas”. O
professor nos pedia ajuda e nós a ele. Aos poucos ele ia esclarecendo as perguntas a partir das muitas
novidades. Nós ficávamos aperreadas/os diante desse mundo tão particular e nos perguntávamos se era
por ali o caminho... Continuamos buscando respostas... De Manaus a Belém outra novidade na viagem:
de barco pelas águas de imensos rios. Barco, o que é ? Uma grande canoa. As fotos ajudavam a ilustrar,
mas o Yanomami gosta de algo mais concreto e a conversa ia longe para exemplificar melhor. A
beleza de tudo é que essas pessoas são de pouco contato. O nome das cidades e de seus respectivos
povos indígenas que passavam a integrar a caravana estava escrito nos cartazes. O professor falava e
todos repetiam os nomes. Após as explicações, tinha o momento das falas das lideranças e de quem
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mais se sentisse com vontade de falar. Mas o bonito é que gostavam de ir lá na frente e do seu jeito
dava o seu recado dizendo suas impressões, compressões. Atitude que muitas vezes, é difícil entre os
não indígenas. Realmente as fotos do Gildo Terena destacara-se. Enfrentar a “federal” como diziam
eles: “É preciso ser valente. Gildo é muito corajoso, valente. Tem medo da polícia, não. Yanomami é
igual a Gildo”. Tuxaua Antônio, Paulo e outros repetiam essas idéias com palavras parecidas.
Depois das muitas falas, os presentes fomos dançar e quem sabia, cantar, no centro da Xapona. Foi
bem animado e diferente. Os homens seguravam seus arcos e flechas, livros sobre a marcha e
dançavam alegremente. Homens para um lado, mulheres para o outro. Em seguida houve um intervalo
e mais tarde os trabalhos recomeçaram com os desenhos e registros das falas sobre a marcha. Foi
animado e participativo. Enquanto desenhavam pediam para lermos os nomes e eles os repetiam
olhando para as fotos. As atividades aconteciam em toda a Xapona. A escola normalmente tem um
pequeno espaço onde já tem uma mesa e bancos feitos por elas/eles mesmas/os. O modelo é de fora...
mas o Yanomami encontrava muitos lugares para as suas atividades até, por exemplo em cima de um
tronco velho, além do chão duro, rede etc.
No final da atividade de desenhos houve o momento das exposições de cada um desenho. O autor/ra
explicava a sua obra que logo era fixada nas paredes da Xapona. Depois de serem bem "estudadas”
eram selecionadas para serem aproveitadas na cartilha que seria elaborada e devolvida a eles. Em cada
Xapona o processo era bem parecido.
Na Xapona do Kapera uma coisa impressionante e curiosa: Uma das fotos que levamos tinha um
Yanomami do Surucucu, Jose, que anos atrás matou um homem. O filho do morto cresceu e vingou a
morte do pai, matou Jose. Quando os Yanomami viram a foto não ficaram gostando. O Xapore pediu
para que a entregássemos a ele, assim foi feito. Ficaram satisfeitos iam chorar o morto e nós ficamos
livres.
Troca de nome. Um jovem pediu para Fernando trocar de nome porque muitos Yanomami tinham o
mesmo nome e dava confusão. Fernando diz para ele que deixara sonhar o nome durante a noite.
Fernando consultou com Idalina. De manhã o jovem voltou para receber seu novo nome. Fernando deu
para ele o nome de Gildo, por ser muito valente. O jovem ficou feliz!
A noite, o tuxaua e pajé Maria fez o ritual do Xapore sobre Arizete. Durou uma hora e meia, é para
curar uma dor de cabeça crônica. O efeito durou pouco mas o tratamento é bem terapêutico...
31/03/01, Xapona do tuxaua Antônio. Está a 900 m. altitude.
Arrumação das coisas para ir até à Xapona do tuxaua Antônio, que fica a uma hora de distância.
Subindo uma serra e depois se desce ate um pequeno vale onde estão as roças grandes e a xapona. A
xapona é grande, de uns 30 m. de diâmetro. Todos os Yano (casa) são fechados para evitar o frio das
noites, o pium, e também para evitar que as sogras e os genros possam encontrar-se. Tem pouquíssimo
carapanã. Porém tem mais pium que na xapona do Kapera.
Anos atrás o tuxaua Antônio esteve muito envolvido com os garimpeiros. Seu pai foi garimpeiro e ele
ainda garoto o ajudava. Mas seu pai foi assassinado pelos garimpeiros e Antônio, desde então, deixou
a vida no garimpo e tornou-se, severamente, um dos contra a presença de garimpeiros na área.
À tarde, exposição das fotos, explicação do cartaz sobre a marcha indígena. Em seguida, desenhos das
crianças e adultos. Comentário, exposição e escolha dos desenhos.
O garotinho doente de reumatismo, fez os desenhos dele em sua própria rede, depois de muito
incentivo. Apesar de muita dor, o sorriso continuava presente. Gostou de ver as fotos dos diferentes
povos indígena e repetia seus nomes com alegria. Viu a foto de Davi Yanomami, com a borboleta
entre as coloridas penas e tentou desenha-las. Sua mãe estava para a roça, quando chegou estava um
pouco triste e abusada com a vida, ela tinha de cuidar do filho doente e do marido que estava picado de
cobra. Cara super fechada, sorrimos para ela, porém a dura realidade tornava difícil arrancar-lhe um
sorriso, até que, com muito jeito, mostramos a ela o desenho e pintura de seu filho doente. Ela ficou
feliz e aos poucos seu semblante foi mudando. Interessou-se pelo assunto e seu filho falando em
yanomami, é claro, contava-lhe das fotos que viu. Mostrando-lhe o livro sobre a marcha levou mais
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tempo na foto de Davi e do Gildo Terena enfrentando a polícia. Daí em diante, ela abriu seu coração...
e a gente também ficou feliz pela conquista.
01/04/01. Caminhada.
Às 8:20 junto com Preto e Dito yanomami partimos rumo a Xapona do Kitau, onde estava a ir. Zilda
que é da equipe de educação do Xitei. Uma caminhada de mais ou menos oito horas, subindo e
descendo serras. O caminho muito bom, sem espinhos, mas puxada... Os yanomami andam super
rápidos. Falam só o indispensável...responder o que lhes foi indagado, por exemplo. Mas uma coisa
que nos chamou a atenção é que eles tomam pouquíssima água ou quase nada. Durante a caminhada,
um momento para, literalmente, "caçar sapos" e depois prepará-los para serem assados na folha de
bananeira do mato e por fim, saboreados.
Um dado impressionante: na xapona ou na mata distante o uso dos bons dentes é para tudo. Cortar,
descascar, triturar. Poucas pessoas têm facas.
Para onde os yanomami vão, levam consigo seu arco e flechas. O Preto, nosso guia, não teve sorte nas
flechadas...os pássaros fugiam.
O percurso que fizemos para chegarmos ao Kitau foi de aproximadamente 00:8horas de caminhada.
Teve gente que sofreu um bocado ...dores nas pernas, cansaço, caimbras, falta de ar, falta de paciência,
insegurança. Mas com ajuda das boas pessoas tementes ao criador, tudo é possível.
Um dos momentos bons dos Yanomami que com elas e eles vivemos foi o de, ao nos aproximarmos
das malocas a serem visitadas, pararmos a caminhada para o momento de pinturas. O clima é de festa.
Parece que o encontro com os parentes é momento muito importante, seja de alegria seja de tristeza.
01/04/01 Xapona do Kitau, 700 m. altura.
Por fim, chegamos à Xapona do Kitau. Tivemos uma recepção belíssima, não por sermos nós, mas
porque os yanomami acolhem bem todas as pessoas que lhes respeitam. Mulheres, alguns homens e
muitas crianças pintadas e dando gritos de alegria ou coisa parecida e aproximando-se da gente. Quase
todos os homens estavam caçando há 06 dias, para preparar uma grande festa na qual participariam
outras Xaponas. O tuxaua Alemão também estava na caçada.
Conversas diversas do jeito que podíamos, isto é, arriscando algumas palavras em yanomami,
gesticulando ou falando em português com o professor Samuel que tínhamos conhecido no encontro
dos professores indígenas de Roraima. Um cara super esforçado. Está aprendendo e ensinando o
português só para “ajudar a defender o seu povo”.
Encontramos com o Antônio. Um maranhense casado e pai de uma filha de apenas seis meses, que
ficou com a mãe. Ele é microscopista e está iniciando sua experiência no mundo indígena, pela diocese
de Roraima. Sr. corajoso. Estava há 04 dias na Xapona. Das quatro Xaponas visitadas, colheu 182
lâminas. Dois casos de malária, verminose, gripe, Cachumba, asma, pneumonia. Provavelmente a
causa dos problemas respiratório seja o fato de dormirem próximo a fumaça do fogo, que usam para
aliviar o forte frio. As primeiras impressões de Antônio, nesses quatro dias foram as seguintes: "Eu
achei eles bem inteligentes. Fazem amizade rapidamente. São curiosos, têm boa vontade e querem
sempre saber das coisas. Quanto a alimentação...é pouca, em vista às outras Xaponas. Tem algumas
crianças desnutridas. Só não gostei de uma coisa: aqui tudo é negociado...dá nada não. Trocar. Alguém
mexeu uma lata de sardinha do nosso rancho, parece que já sabemos quem foi e iremos conversar com
ele”.
O Luís, que vai trocar de nome por já ter outros yanomami com esse nome, gostou de uma roupa nossa
e não teve jeito de pegar de volta, aí trocamos com penas coloridas.
Para a gente tomar banho tinha um igarapezinho do qual tirávamos água com a cuia. A ladeira para
chegar até ele é muito empinado, bom para quem tem uma certa indisposição. Ao começo da noite,
como é de costume dos Yanomami, ficamos conversando ao redor do fogo. Muitas perguntas curiosas
tanto da parte deles como da nossa.
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De tardezinha chegaram alguns dos caçadores. Os cachorros chegaram na frente. Pacas moqueadas,
sem as cabeças; as cabeças são o alimento durante os dias de caçada. Todo mundo querendo comê-las,
mas as mesmas eram para os convidados da festa que viria há alguns dia. Os caçadores nos contaram
que para pegar as pacas acontece o seguinte: os homens descobrem os lugares por onde as pacas
comem, os cachorros as atacam fazendo-as correrem muito até encontrarem um igarapé ou rio nos
quais elas entram para fugir e aí então, os caçadores as matam no pau. Bem bolado, não? Você seria
capaz de acompanhar essa corrida? Como vemos é uma vida dura enfrentada pelos trabalhadores
indígenas, não é mesmo? O tuxaua da Xapona, sr. Alemão chegou da caçada e quis saber sobre o
nosso trabalho. Gostou da idéia de saber o que foi a Marcha indígena. Passou a convidar todas/os os
moradores para o referido evento.
De noite começou a socialização... Wajamon, o tuxaua passou as informações sobre a reunião da
Marcha. Falou também, segundo a irmã Zilda que entende o Yanomami, que o outro assunto era a
festa que estavam organizado.
Depois de longas falas de socialização da caçada e de explicar o trabalho do dia seguinte começou a
dança das mulheres no meio da xapona. A dança é para celebrar e alegrar os caçadores que chegaram
com a caça. Até de madrugada ficaram dançando. Depois as falas continuaram. Alguns falam no meio
da Xapona, outros falam a partir de seu Yano (casa), todos escutam atentamente nas suas redes.
02/04/01. Com a ajuda do professor Samuel Yanomami, organizamos o material sobre a marcha
indígena, exposição das fotos e cartaz. Mais tarde começaram a chegar os moradores. Primeiro falaram
as lideranças da maloca fazendo a abertura oficial. Muitos estavam enfeitados. O professor Dito ajudou
bastante o professor Samuel a entender o grande acontecimento que foi a marcha. Os dois exploraram
os recursos que tinham (fotos e cartazes) e contaram para os parentes o que foi a Marcha, os presentes
ficavam atentos, perguntavam, reagiam indignados com a polícia. Valorizavam a atitude do Gildo
Terena. Muitos homens falaram o que entenderam das explicações. A grande maioria foi dançar no
meio da Xapona. As mulheres dançavam e cantavam muito bonito. Após as danças e cantos houve um
rápido intervalo e logo voltaram para colocar no papel através de escrito de frases ou desenhos um
pouco da sua compreensão sobre o tema trabalhado.
Chegada de Ir. Zilda de um tapiri a uma hora de caminhada a pé da Xapona onde estávamos, e na qual
moravam, mas por causa de brigas internas vão construir outra Xapona. Problemas parecidos a de
tantos povos... A ida da irmã até lá, foi devido a tantos casos de malária (seis), gripe (muita gente),
pneumonia e casos de papeira (seis).
Na parte da tarde foram feitos os desenhos. Os professores yanomami Samuel e Dito juntamente com a
ir. Zilda coordenarem os trabalhos. A Xapona não tem muitos moradores. E como muitos homens
estavam caçando, nem todos participaram dos desenhos. Ir. Zilda nos disse que o pessoal dessa
Xapona não gosta muito dessa atividade e sim de escrever... Realmente das mulheres poucas somente
uma participou. Estavam, na sua maioria, para a roça buscando lenha, banana. Entre os homens jovens,
criança e mulheres deu um bom grupo, que trabalhou muito bem. O prof. Samuel registrou a fala de
cada desenhista. Ele escreve tão bem e tem uma caligrafia boa.
De tardezinha muitos saíram para buscar banana verde para assar durante a festa. Em seguida, os
homens, sentados em círculo começaram a tirar as bananas dos cachos e logo a descasca-las com as
unhas e dentes. De noite, até tarde, ficaram falando. O tuxaua Alemão, falou longo e forte, sentado
sobre o calcanhar durante horas, no círculo central da Xapona, segundo a Ir. Zilda, o assunto forte foi
Marcha Indígena
03/04/01. De manhã cedo o tempo estava fechado. O helicóptero estava previsto chegar às nove da
manhã. A chuva atrasou a entrada.
Todos estavam envolvidos na preparação da festa, especialmente os homens que estavam preparando o
mingau de banana. Outros, com as crianças limpavam o círculo central da maloca. As mulheres, que já
assumem a tarefa de buscar lenha, no dia-a-dia, redobraram seus trabalhos no período de festa.
As 13:45 hs. o helicóptero nos pegou. Em 8 min. chegamos no Xitei.
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04/04/01. Parimau, Tuxaua Saki.
Às 8:30 hs. saímos da missão de Xitei. Antes da chegada em Parimau às 11:00h, participamos do ritual
tradicional de enfeitar-se para chegar bonitas/os na xapona. Nesse momento chegou um grupo de
yanomami, maioria homens, que estava indo à uma festa na Xapona Moxeu, distante a umas 5hs. de
caminhada. Todos com suas flechas, lanças, enfeitados com pinturas e penas.
Parimau é formado por duas malocas e uma maloquinha onde mora uma família. A mulher tem uma
perna artificial. O problema foi que, cansada de ser desrespeitada por seu marido, fugiu dele com outro
homem, por isso, o antigo marido procurou por ela e decepou-lhe a perna esquerda com um facão.
Depois tentou cortar a outra, porém só conseguiu cortar alguns dedos do pé. Ela tem vergonha de estar
com outras mulheres e por isso o novo marido(João, irmão do Dito), fez uma casa separada.
Na Xapona onde mora o prof. Dito e sua família, o pata (tuxaua) é Saki, homem respeitado na área. A
mãe de Dito é Xapori; estava fazendo xapori em João, um de seus filhos que estava com febre e dor no
corpo. No final do tratamento, ela amarrou as duas pernas do doente com cipó de, entre outras coisas,
fazer vassoura. Dito tem três filhas/os Celita, Xerife e o outro que ainda não tem nome. Sua mulher
atual é Xirikia. Sorrindo, Dito nos contou que logo, logo ele terá mais duas mulheres, ainda está
convencendo a sua mulher a aceitá-las. É algo cultural...!?
Um outro elemento cultural. Parece que, que na compreensão Yanomami, para o feto crescer na
barriga da mãe, ela tem que Ter relações constantemente. Quando o marido não está, os irmãos dele
podem prestar esse serviço com sua mulher grávida.
Na outra Xapona, o pata pê( tuxaua) é o sr. Renato, marido de Joana. Foi onde nos acolheram. É muito
engraçado... Em todas as Xaponas as pessoas nos acolhiam com carinho, alegria e curiosidade...nos
tocam sem medo. O tocar é algo tão normal. Mulheres acariciam as mulheres. Homens acariciam
homens. Tudo acompanhado de risos... A gente não percebe malícia. Behete! (verdade).
A tarde, um bom grupo de mulheres alguns homens e crianças participaram da explicação do prof.
Dito sobre a Marcha. Foram interessante as perguntas, comentários e afirmações que iam saindo ao
ouvirem as explicações, tipo: "Onde tu aprendeste tudo isso, se não estivestes lá? Gildo Terena é muito
forte, valente. Ele não tem medo!" “Os Yanomami são como Gildo”.
O ataque da polícia chamou a atenção. Compararam com as brigas que acontecem entre eles e
ultimamente , entre as Xaponas do Watatase e Kitau. A pintura das Kayapo, de preto, acharam
parecida com eles quando se pintam para a guerra. Quando o prof. falava que os ônibus andavam nas
estradas, eles queriam saber o que eram as estradas. O prof. as comparou com as pistas dos
garimpeiros, que já conhecem (pequenas, para seus aviõezinhos). Depois, compararam uma serra
bonita, que estava bem em frente da Xapona onde estávamos, com o Monte Pascoal dos Pataxo. As
mulheres falaram, participaram muito bem. Em seguida, olharam bastante as fotos e foram desenhar.
Foi muito interessante. Ao desenharem, mulheres e homens, iam falando os nomes de diferentes povos.
Realmente a turma estava empolgada. Idalina que conhece esse pessoal nos disse que estava surpresa
com tanta animação. "Até a Fernanda que nunca sai de sua casa, deixou as dificuldades de andar e
vergonha de ser deficiente, está participando do jeito que pode". As sogras, que não podem estar junto
a seus genros também participaram alegremente, pois eles estavam numa festa. A exposição do cartaz
com o roteiro da caravana do norte e as fotos, continuaram o dia todo. Sempre tinha yanomami
olhando, com cuidado e admiração os mínimos detalhes.
Passamos a noite nessa Xapona. Muitas conversas. Os assuntos os mais diferentes possíveis. Uma
coisa bem do ser humano: Idalina, Fernando e Arizete continuaram conversando um pouco alto, aí,
Joana Yanomami na sua esperteza disse: Idalina, fala baixo porque tem onça por perto da Xapona.
Compreendemos o recado e falamos baixinho.
05/04/01. O grupo que tinha ido à festa foi chegando aos poucos. Contaram que comeram muito.
Trouxeram carne de paca e nós ainda comemos com banana assada, que é como se fosse a farinha para
o amazonense. Junto com eles veio também mais sete yanomami de outra Xapona.
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Quando chegou todo mundo, o pata (tuxaua), Saqui da Xapona vizinha e irmão do Dito, começou a
reunião repassando aos presentes, alguns assuntos de uma reunião que ele participou em Boa Vista:
"cocera de hospital' ou seja, conselho distrital. Depois dele mais oito pessoas falaram, os de sempre e
alguns novatos, tendo duas mulheres.
Dito, começou a explicação sobre a marcha. A grande novidade parecia ser que além dos yanomami,
existem outros índios. Eles não sabiam que tinha outros. Isso ainda está bem confuso. Dizem:
"Yanomami-Satere," Yanomami...
As fotos do Gildo foram os destaques. O tuxaua Renato dizia: "Yanomami é igual o Gildo. Não têm
medo não. Saqui, falou, e depois todos os seus seguidores decididamente: "Os índios têm de voltar à
Porto Seguro e mostrar para a polícia que são valentes, corajosos e guerreiros”. Parece que para eles, e
muitos povos, não voltar, para enfrentar a polícia é covardia.
A grande maioria participou dos desenhos e exposição, explicando o que estava desenhando. Em
Parimau, o pessoal tinha muita cana-de-açúcar. Pouquíssimos casos de gripe. Parece que é por questão
mais próximos do posto de saúde do Xitei (uma hora e pouco a pé). Eles têm muitas roças e água em
abundância. Gostam muito da escola. Êdo, um aluno que tudo anota em seu caderno. Assim, muitas
das falas sobre a Marcha foram registradas pelos próprios professores e alunos.
06-08/04/01. Assembléia Yanomami do Xitei. Xapona do Ernani, Geraldo, Chico.
Fica no alto de uma serra, a uns 15 min. da missão. A xapona está em construção, é de uns 25 m. de
diâmetro.
Todos trabalham para preparar a assembléia e receber bem os convidados. A comida é pouca: muita
banana e pouca carne de caça. Ao iniciar a assembléia os anfitriões se desculparam porque foram caçar
e não pegaram muito, apenas um tatu, uma paca e duas cutias. Falaram: "Vamos ter assembléia com
muita banana e pouca carne, porém, assembléia vamos ter".
Depois de muita conversa e um bom entrosamento, arrumamos as fotos e o cartaz da marcha indígena.
Dito fez a explicação. Em seguida muitos participaram dizendo o que tinham entendido. Gostaram
muito da contribuição que os napë deram sobre a marcha. “A cidade acabou com a urihi. Muitas
cidades e pouca floresta”. "Yanomami quer continuar na urihi!" dizia Minário e outros. “É ela que dá
palha, madeira, comida. É a casa dos animais. Das caças: tatu, cutia, paca, inambu, veado, cupim,
macaco, anta, sapo, cobra, passarinhos, arara, papagaio, curica, dos peixes, camarões, cogumelos,
inúmeras espécies de larvas, caranguejos, caramujos. Das frutas: banana (diversas e abundantemente
para cozê-las, assá-las e comê-las cruas). Mamão, Ingás, diferentes coquinhos, frutinhas de beira de rio
e mata. Assam também, um tipo de flores que ficam gostosas que só. Chochomoco (uma castanha
deliciosa, parecida à castanha do pará, quando novinha, ou quem sabe as amêndoas... ).Nas roças tem
cará, batata doce, inhame, macaxeira, popunha. Roças de tabaco, todos têm”.
Para os Yanomami parece que tudo é festa. Um povo realmente muito festivo!
07-04-01. O tema Marcha indígena foi um assunto importante da assembléia. Eles deram o espaço e o
tempo necessário. Só no terceiro dia pediram para tirar as fotos e os cartazes e iniciaram os outros
assuntos da assembléia.
Todas as malocas mais próximas da missão foram convidadas, e nós também, para chegar até a
Xapona do Limão e nos pintarmos para a festa. Depois ficamos no mato, próximo a Xapona da festa,
fazendo os últimos preparativos: enfeites com folhas, flores, penas super coloridas de aves e
passarinhos lindos, lindos; na cabeça penugem de gavião, coladas com um grude tirada da casca de
banana verde. E assim, esperamos o momento para entrar dançando na maloca. É todo um ritual.
Primeiro, entra dançando de um em um dando a volta na maloca e saindo de novo. Os que estão dentro
em roda e dançando, recebem com gritos de alegria os convidados. Em seguida, entram de dois em
dois. As mulheres entram do mesmo modo, após a entrada dos homens. Por último, entram todos
juntos com muita alegria. Os donos da festa acomodam os convidados, que amarram suas redes nos
diferentes yano da maloca (seriam os apartamentos).
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Entre os anfitriões e convidados já era grande o nº de participantes. O tuxaua e coordenador da festa, sr.
Benário, convidou todos para irem participar da explicação sobre a marcha. Foi interessante os
encaminhamento. Dito, preparou algumas lideranças do local e foram elas que explicaram para o
grupão. Minário, realmente coordenou os trabalhos: insistiu que cada yanomami falasse o que sentiu
vendo as fotos e explicação. Ele mostrava as fotos, o cartaz e pedia que não fugissem do assunto.
Passava de mão em mão as fotos de Gildo Terena. Também pegavam o Porantim, onde saiu a denuncia
dos abusos sexuais dos militares com mulheres Yanomami, e falavam forte contra os militares. Olhava
em direção ao mothoka (sol), dava o sinal para a pessoa que estava falando que seu tempo acabou e
imediatamente chamava outra.
08/04/01. As mulheres foram convidadas a falar. Todos os homens as animavam. Algumas falaram,
outras ficaram com vergonha. Ernani dizia: "É que elas ainda são meninas, quando forem maiores elas
falarão." As mães que falaram firmemente: "Não queremos mineradoras. Não queremos garimpeiros.
Eles derrubam a floresta, fazem buraco na nossa terra. Queremos escola, estudar."
Muitas reuniões vinculadas ao distrito sanitário. A maioria deles não entende, muito bem o que é isso.
Uma das irmãs que trabalha na saúde nos contou que um dia vários deles começaram a falar em
“coceira, hospital”, aí descobriram que era Conselho Distrital de Saúde. Realmente as dificuldades são
muitas no que diz respeito as palavras em português, e em yanomami também.
Muitos estavam chateados com o tuxaua Brasileiro, por ele não ter chegado para participar da
assembléia. Ninguém sabia o porquê. Brasileiro tem muito peso na região, é de paz, diziam eles.
A assembléia acabou antes do tempo previsto por ter pouca comida...
09/04/01. Xapona Kuwai, tuxaua Brasileilro
Kuwai - 02 malocas, dois professores que conhecemos no encontro da OPIR.
Uma das malocas é coordenada pelo tuxaua Brasileiro. Ele é um homem respeitado em toda a região.
Fala forte e sabe das coisas. Nos recebeu muito bem. Nos ofereceu comida. Conversamos sobre a
assembléia e ele explicou a sua não participação. Explicamos o nosso trabalho. O interesse foi grande.
Logo convidou todas/os para a reunião sobre a marcha.
Uma coisa bonita, todas e todos foram pintar-se pois iam ser fotografadas/os e filmadas/os.
Nova metodologia. As fotos e o cartaz foram colocados no chão. Após a explicação do Dito, sr.
Brasileiro tomou a palavra e pôs-se a partilhar sua compreensão. Com gestos, explicava como a polícia
jogou bomba nos índios; franzia o rosto, fechava os olhos e esfregava o nariz. E o pessoal, pela reação
de não gostar, parecia sofrer junto. O professor Sabiá também falou o que tinha entendido da marcha.
Muitas perguntas e admiração pelo grande acontecimento. Mais uma vez a foto do Gildo foi mostrada
com destaque. Alguns desenharam.
O tempo foi curto, tínhamos que voltar para a nossa casa e a noite já estava chegando, e nós
viajaríamos Boa Vista no dia seguinte. Foi quando o tuxaua Brasileiro, sabiamente, nos disse: "Podem
ir. Essa história da Marcha Indígena, nós vamos contar todos os dias, para que nossos filhos nunca se
esqueçam!”.
10/04/01. Na Missão e viagem.
Pela parte da manhã, trabalhamos com o professor Dito, as traduções das frases escolhidas para serem
usadas na cartilha que seria devolvida às malocas. Dito escreveu o texto de apresentação.
A tarde viajamos até Boa Vista onde permanecemos até o dia 17 a noite.
11-17/04/01. Boa Vista. Casa das irmãs da Providência de Gap. Preparação da cartilha sobre a
Marcha Indígena 2000.
Durante a Semana Santa trabalhamos na preparação da cartilha de devolução para os Yanomami do
Xitei. Montamos o material mantendo a mesma dinâmica de apresentação trabalhada nas malocas
(uma tirinha lineal) e com os desenhos e as falas dos Yanomami. As irmãs Idalina e Aléssia
prepararam e corrigiram a escrita. A idéia é poder pendurar em cada escola essa “história”, com seus
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desenhos e suas falas. Depois de pendurar por um tempo a cartilha nas escolas, é muito importante
poder avaliar com Idalina o processo, resultados, etc.
O trabalho foi intenso, porem muito bom. Aprendemos muito na experiência.
A noite do 17 viajamos para Manaus.
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Avaliação com as irmãs do Xitei.
As irmãs colocaram:
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A presença de vocês foi diferente. Facilitou o trabalho.
Faltou coordenar com os Yanomami de Demeni ou Catrimani para passar a experiência.
O primeiro dia foi negativo porque a metodologia não deu certo. Avaliar continuamente e refazer a
metodologia com o professor Dito Yanomami ajudou muito em melhorar o trabalho.
Avaliar depois de cada apresentação foi muito bom e importante.
Foi muito bom a participação das mulheres.
Será bom preparar outros temas para apresentar na região. Por exemplo: Como chegaram os
brancos (um pouco de historia e geografia). Apresentar com cartazes e fotos.
O tempo foi curto em cada maloca.
Foi importante a flexibilidade metodológica de vocês para readaptar-se em cada situação.
Eles recriaram a história a partir da colocação.
Levar o cartaz pronto não foi o ideal, porem o tempo e as circunstancias não deram possibilidade
para que os próprios professores construíssem o material didático. (Em outras experiências onde
participaram os Yanomami que foram na Marcha eles construíram os cartazes).
O tempo foi curto e não deu para ir nas outras malocas. De fato só duas malocas da região não
tiveram a oportunidade do trabalho.
A celebrações da eucaristia foram boas.
Poder participar na assembléia indígena e apresentar ali a Marcha foi muito bom.
Foi muito apertado... Mais devagar seria importante.
Cuidar mais de nossa alimentação.
Vocês não colocaram camisa de força em nós. Se adaptaram ao nosso ritmo de trabalho e
possibilidades.
Nos colocamos:
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A equipe das irmãs esta bem entrouxado com as outras pessoas que trabalham na missão.
Importante não gerar uma relação “de funcionário” com as pessoas que trabalham na missão. Gerar
uma relação de compromisso.
• Vocês admitem as falhas que tem cometido e isso permite reavaliar o processo e buscar novos
caminhos.
• A partilha de vocês e acolhimento.
• Vocês tem uma grande aproximação com os Yanomami e conseguem entender já a língua.
Conhecem todos os Yanomami pelo nome. Isso é muito importante.
Outros pontos:
Faltaria avaliar a devolução da cartilha nas escolas.
Também há possibilidade de pensar com a equipe local outros possíveis temas de interesse para
desenvolvê-los na região. Ficaram as portas abertas para voltar com outro tema de trabalho.
Compromisso com a região das Serras.
Foi amarrado com o Pe. Antônio que no mês de Outubro de 2001 voltamos para a região das Serras
para desenvolver o trabalho da Marcha com os Makuxi e os Wapixana da região.
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