Sarcomas pós-vacinais em felinos
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Sarcomas pós-vacinais em felinos
Sarcomas pós-vacinais em felinos Leonardo Brandão Gerente Técnico Operação Animais de Companhia Merial Saúde Animal INTRODUÇÃO A vacinação deve ser considerada um procedimento médico, o que implica na existência de riscos e benefícios que devem ser avaliados pelo Médico Veterinário e pelo proprietário do animal no momento da vacinação, segundo a 2006 - AAHA Canine Vacine Task Force, grupo de estudiosos e pesquisadores americanos na área de imunização, imunologia e vacinação. Deste modo, compreende-se que a vacinação, como procedimento específico, deve ser sempre realizada por um profissional qualificado, de modo a garantir o diagnóstico e tratamento em casos de reações adversas pós-vacinais. Dentre as reações adversas pós-vacinais reconhecidas estão os casos de alergia, a ocorrência de vasculite localizada no ponto de aplicação (comumente levando à ocorrência de alopecia no local da aplicação), os danos causados aos fetos de mães vacinadas com vacinas vivas-atenuadas e, em casos mais graves, a ocorrência de sarcomas no ponto de aplicação (MEYER, 2001). As controvérsias sobre a origem, epidemiologia, patogenia, tratamento e prevenção dos sarcomas pósvacinais em felinos existem há muito tempo; e em novembro de 1996 formou-se nos Estados Unidos a VAFSTF (Vaccine-Associated Feline Sarcoma Task Force), uma associação de pesquisadores com a finalidade de coordenar estudos para tentar elucidar estas questões. A Merial faz parte do grupo de empresas que dão apoio e suporte financeiro às pesquisas desenvolvidas por esta associação. SARCOMA PÓS-VACINAL: INÍCIO DO PROBLEMA A partir de 1980 houve um aumento na ocorrência de sarcomas de tecidos moles em felinos na América do Norte (MORRISON e START, 2001). Acreditou-se inicialmente que isto estivesse relacionado à utilização de vacinas, em decorrência da localização destas neoplasias, ou seja, nos pontos de aplicação vacinal (região cérvico-escapular, dorso-lombar e femoral). O aumento da ocorrência destas neoplasias parecia coincidir com a introdução de novas vacinas para felinos, de maior potência e longa duração, como aquelas direcionadas contra a raiva e a leucemia felina (TIZARD, 2002). Na maioria dos casos, os sarcomas pós-vacinais são fibrossarcomas, mas também foram relacionados osteossarcomas, histiocitomas fibrosos malignos, tumores de células gigantes, sarcomas miofibroblásticos, rabdomiossarcomas, leiomiossarcomas, condrossarcomas, neurofibrossarcomas, lipossarcomas e sarcomas indiferenciados (OGILVIE & MOORE, 2001). As características histopatológicas comuns aos sarcomas pós-vacinais incluem origem mesenquimal, localização subcutânea, necrose e infiltrado inflamatório freqüentes, pleomorfismo, índice mitótico aumentado e quantidade de matriz extracelular variável (DODDY et al.,1996). A maioria dos fibrossarcomas pós-vacinais contém fibroblastos e miofibroblastos (HENDRICK & BROOKS, 1994). O componente inflamatório é marcante, estando presente em 51% dos fibrossarcomas pós-vacinais, contra apenas 15% dos não-vacinais (HAUCK, 2003). Ele é composto predominantemente por linfócitos, mas os macrófagos podem estar presentes (DODDY et al.,1996). Os macrófagos presentes nestes sarcomas contêm em geral um material estranho cinza-azulado, o qual fora identificado laboratorialmente como sendo Alumínio e oxigênio. O Hidróxido de Alumínio é um dos vários adjuvantes utilizados nas vacinas comerciais inativadas para gatos. Vale notar que uma reação inflamatória similar e a presença de material estranho foram descritas em reações inflamatórias n123'o ponto de aplicação em gatos, cães e seres-humanos (ESPLIN et al., 1993; HENDRICK e DUNAGAN, 1991; HENDRICK et al, 1992). 1 EPIDEMIOLOGIA Estudos epidemiológicos têm relacionado a ação dos adjuvantes à base de metais, como o Alumínio, no desenvolvimento dos sarcomas vacinais em felinos. Isto se deve em decorrência da identificação de resíduos destes adjuvantes no núcleo destas neoplasias (HENDRICK et al., 1992; SPICKLER e ROTH, 2003;). Os gatos que recebem vacina contra a leucemia felina (que contenha adjuvante) parecem ter 5,5 vezes maior tendência a desenvolver os sarcomas vacinais, tendo havido uma associação menor com relação à vacinação anti-rábica (TIZARD, 2002). Vale comentar que o risco do desenvolvimento de sarcomas pós-vacinais não se restringe apenas às vacinas. Os adjuvantes podem ser classificados de acordo com sua origem (compostos químicos, componentes microbianos ou proteínas de mamíferos), composição e modo de ação (podem agir como veículos ou imunomoduladores). Apesar de toda a pesquisa realizada, seus mecanismos de ação ainda são incertos, mas de modo geral, parecem melhorar a apresentação e a estabilidade antigênica, ou ainda, agir como imunomoduladores (SPICKLER e ROTH, 2003). O Hidróxido de Alumínio possui propriedades adjuvantes que foram descobertas na segunda década do século XX, segundo GLENNYN et al. (1926), e até hoje é empregado em vacinas para seres humanos e animais. As vacinas são preparadas pela mistura da solução do antígeno com a preparação de Hidróxido ou Fosfato de Alumínio, sob condições controladas, o que resulta na adsorção do antígeno sobre a superfície do sal insolúvel. O poder adjuvante do Alumínio está baseado no conceito de "antígeno de depósito". As partículas adjuvantes do Hidróxido de Alumínio promovem a formação de agregados que podem ser mais facilmente fagocitados e ainda, há a formação de um foco inflamatório estéril que atrai as células imunológicas. Ocorre ainda a ativação do sistema complemento (pela via alternativa), causando uma resposta inflamatória que pode estimular a resposta humoral. (Figura 1). Figura 1. Adjuvantes e vias nas quais eles atuam para estimular a resposta imune induzida pela vacina (TIZARD, 2002) 2 Na última década foram realizados estudos retrospectivos nos EUA com a finalidade de se determinar a relação de causa e efeito entre a vacinação e a formação de fibrossarcomas (FORD, 2001). Estimativas da prevalência deste tipo de neoplasia têm demonstrado ocorrência variável de 1:1.000 a 1:10.000 nos gatos vacinados, principalmente naqueles animais que receberam vacinas contra a leucemia felina (FeLV) e/ou contra o vírus rábico. Estas estimativas são baseadas em estudos epidemiológicos retrospectivos e pesquisas com material de biópsia dos locais de aplicação, o que em conjunto com o número de gatos vacinados nos EUA, sugerem que entre 2.200 a 22.000 gatos poderiam desenvolver sarcomas pós-vacinais anualmente nos EUA (MORRISON e STARR, 2001). O fato de que estas vacinas são normalmente acrescidas de adjuvantes, como o Hidróxido de Alumínio, levantou questões em relação ao real fator desencadeante dos sarcomas vacinais: se o adjuvante ou o vírus vacinal. De qualquer modo, sabe-se que há uma relação direta entre o número de vacinas que um gato recebeu durante toda a vida e a ocorrência de sarcomas (OGILVIE, 2001; SPICKLER e ROTH, 2003). Em um estudo retrospectivo com 345 gatos portadores de sarcoma pós-vacinal, o risco de desenvolvimento do sarcoma foi 50% maior em animais que receberam uma única dose da vacina na região interescapular (um local não recomendado pela VAFSTF - Vaccine-Associated Feline Sarcoma Task Force) do que em animais que não receberam nenhuma dose de vacina (KASS et al., 1993). Este mesmo estudo demonstrou que o risco de um gato desenvolver sarcoma pós-vacinal aumenta com o número de vacinas aplicadas no animal, sendo 127% maior em gatos que receberam 2 doses de vacina, e 175% maior em gatos que receberam 3 ou 4 doses de vacina. O tempo para o desenvolvimento do sarcoma pode variar de 3 meses a 3 anos após a vacinação (KASS et al., 1993). Embora a etiopatogenia dos sarcomas vacinais não seja plenamente compreendida, está claro que envolve a estimulação celular prolongada por substâncias imunogênicas, como os adjuvantes presentes nas vacinas inativadas ou outros componentes vacinais que resultariam na inflamação que, de modo isolado ou em associação com oncogenes e carcinogenes, levariam à transformação neoplásica e desenvolvimento tumoral (MORRISON e STARR, 2001; SOUZADANTAS e LABARTHE, 2007). Aparentemente a resposta inflamatória causada pelos adjuvantes pode desencadear o desenvolvimento de sarcomas vacinais nos felinos. Deste modo, diferentes pesquisadores têm recomendado a utilização preferencial de produtos biológicos (vacinas) para felinos isentos de adjuvantes (FORD, 2001; SPICKLER e ROTH, 2003; SOUZA-DANTAS e LABARTHE, 2007). 3 Figura 1. Sarcoma pós-vacinal felino. A - Massa tumoral de aproximadamente 10,0 cm de diâmetro máximo em região interescapular. B - Cavidades císticas e áreas necróticas em seu interior. C - Fotomicrografia de sarcoma compatível com o tipo pós-vacinal. Área frouxa do tumor, evidenciando células neoplásicas hipercromáticas e mitoses. (H&E - 200X). D - Fotomicrografia de sarcoma compatível com o tipo pós-vacinal. Área densa do tumor, com cordões de células neoplásicas e mitoses. (H&E - 200X) - Fonte: Sarcomas Pós-Vacinais em Felinos - monografia vencedora do III Prêmio Merial Pet de Incentivo à Pesquisa 2006, (Fernanda Amorim e Heloísa Justen) O QUE MUDA NO PROTOCOLO VACINAL DOS GATOS? Recomenda-se uma reavaliação dos protocolos de vacinação existentes para gatos para se evitar a vacinação desnecessária de animais contra doenças que não ofereçam riscos (HAUCK, 2003). Todas as vacinas devem ser aplicadas por via subcutânea, pois isso pode permitir a descoberta precoce da formação neoplásica (MACY & COUTO, 2001). Devese também evitar vacinas que causem reações locais (WILLIAMS, 2003). Até que se descubra a etiologia exata da doença, é indicado utilizar o menor número possível de vacinas que contenham adjuvantes em gatos (LESTER et al., 1996; MACY & COUTO, 2001). De acordo com MACY (1995), nenhuma vacina que contém adjuvante deve ser administrada no espaço interescapular. A cada aplicação vacinal, o local previamente utilizado deve ser evitado. A localização e via de aplicação, o nome do fabricante, o tipo e o número de série das vacinas devem ser anotados na ficha clínica da cada paciente, assim como qualquer tipo de aplicação por via subcutânea de medicações ou substâncias (RICHARDS et al., 2001). 4 O COMPROMISSO DA MERIAL A Merial, como uma das empresas líderes no segmento de Saúde Animal, reconhece a necessidade de que novos esforços sejam despendidos em pesquisa científica com o intuito de se elucidar a relação dos adjuvantes vacinais/inflamação local e formação de sarcomas no ponto de aplicação em gatos. Deste modo, nosso compromisso até que sejam esclarecidas as dúvidas que circundam este tema é a de produzir uma linha de vacinas para gatos livre de adjuvantes. Deste modo, a Merial Saúde Animal disponibiliza no Brasil a vacina Feline-4, uma vacina quádrupla para gatos livre de adjuvantes, com o intuito de minimizar ao máximo o surgimento de inflamação no ponto de aplicação e a formação do sarcoma pós-vacinal. A linha de vacinas Merial para gatos contém ainda a exclusiva vacina Purevax Feline Rabies (ainda não disponível no Brasil), vacina contra a raiva exclusiva para felinos, única no mundo sem adjuvantes por conter o vírus recombinante da raiva, e a vacina Purevax Recombinant FeLV (ainda não disponível no Brasil), única vacina no mundo contra a leucemia felina sem adjuvantes por conter o vírus recombinante da leucemia felina. Purevax® Feline Rabies é marca registrada da Merial Saúde Animal Ltda. 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