QALYs: Alguns Desafios
Transcrição
QALYs: Alguns Desafios
QALYs: Alguns Desafios S11 QALYs: Alguns Desafios 1 2 Autores: Erik Nord, PhD, Norman Daniels, PhD, Mark Kamlet, PhD 1 3 2 Norwegian Institute of Public Health, Oslo, Noruega; Department of Population and International Health, 3 Harvard School of Public Health, Boston, MA, EUA; Heinz School of Public Policy and Management, Carnegie Mellon University, Pittsburgh, PA, EUA Tradução validada por: Marcelo Fonseca, Professor, HTA & Clinical Research, Federal University of São Paulo (UNIFESP) and Director, Axia.Bio, São Paulo, Brazil Tassia Decimoni, AxiaBio Consulting, São Paulo, Brazil A citação para este relatório é: Nord E, Daniels N, Kamlet M. QALYs: some challenges. Value Health 2009;12(Suppl.):S10-15. Palavras-chaves: QALY, MAU, utilidade de experiência, método de subtração, imparcialidade. Introdução No artigo anterior, Weinstein et al. [1] explicam o conceito QALY, seus métodos e suas suposições subjacentes. Vários temas interessantes para discussão emergem desta apresentação fatual. Restringimonos a abordar quatro tópicos que julgamos particularmente desafiadores. Como um fundamento geral para nossa seleção de tópicos, reiteramos um ponto básico sobre as perspectivas de avaliação: os QALYs padrão pretendem expressar a utilidade pessoal de desfechos em saúde, conforme estes são julgados prospectivamente (ex ante) e “em média” pelo público geral, por trás de um manto de desconhecimento sobre a saúde futura (a assim chamada “utilidade de decisão”). Os QALYs padrão, assim sendo, expressam o valor em termos de interesse próprio desde o início. Existem, entretanto, possíveis alternativas. Em primeiro lugar, utilidades de estado de saúde podem, em princípio, ser extraídas retrospectivamente (ex post) em vez de prospectivamente, ou seja, a partir de pessoas que têm, ou tiveram, experiência direta com os estados de saúde que são objeto da avaliação (a assim chamada “utilidade experimentada”). Em segundo lugar, os QALYs podem ser construídos para expressar a avaliação pela sociedade dos desfechos de saúde, quando não apenas o interesse próprio, mas também preocupações pela imparcialidade forem levadas em conta. A escolha da abordagem depende da questão que se deseja responder, e a escolha das técnicas de avaliação do estado de saúde depende da escolha da perspectiva. Os tópicos que abordaremos a seguir refletem a pluralidade supracitada nas possíveis perspectivas de avaliação e são, em parte, independentes um do outro. Um tópico é a variação intermétodo na estimativa das utilidades prospectivas do estado de saúde. Um segundo é a existência de relutância em permutar tempo de vida nas extrações da utilidade experimentada. Um terceiro é a discrepância entre a utilidade individual agregada dos programas de saúde por um lado, e, por outro lado, as avaliações societárias que incluem preocupações pela imparcialidade. Um quarto é uma distinção, até aqui muito negligenciada, entre as avaliações dos estados de doença por indivíduos saudáveis (o que é crucial no procedimento do QALY convencional) e as avaliações do tratamento pelas pessoas (avaliações de ganhos de saúde – incluindo efeitos colaterais não pretendidos – ou perdas de saúde evitadas), distinção esta que deveria, afinal de contas, ser o propósito da avaliação econômica. Entre os tópicos importantes que não abordamos aqui, estão os descontos para preferência no tempo e as atitudes frente à incerteza. Para discussões sobre esses tópicos, os leitores são dirigidos à literatura pregressa, por exemplo, [2,3]. Devido a estarmos enfocando aqui os desafios ao QALY, nós, além de tudo, desconsideramos as preocupações de alguns, que julgam que a saúde deva ser avaliada pelo seu impacto sobre a faixa utilizável de oportunidades comumente aberta às pessoas, e não com base em fundamentos relacionados ao bem-estar [4]. Bombardier et al. 1982 (5). Assistência à saúde, pessoal, pacientes, família SG TTO RS Necessário o uso de bengala para movimentase 0,85 0,78 0,65 Necessário o acompanhamento ao caminhar 0,64 0,41 0,29 Necessita de dois assistentes para movimentar-se 0,38 0,11 0,08 QALYs: Alguns Desafios S12 Figura 1 Diferenças entre técnicas primárias na avaliação de estados de saúde. SG, Standard Gamble ou aposta padronizada; TTO, Time Trade-Off ou permuta de tempo; RS, Rating Scale ou escala de classificação. Variação nas Utilidades do Estado de Saúde Nas análises de custo utilidade das tecnologias e programas de saúde, uma variedade de ferramentas é usada para avaliar estados de saúde. Na literatura de economia da saúde e na tomada de decisão, resultados de análises baseadas em ferramentas diferentes são, não raramente, comparados uns aos outros. Para que tais comparações sejam de alguma utilidade, ferramentas diferentes devem fornecer valores muito próximos para os mesmos estados. De fato, este não é o caso. Tipicamente, a ‘aposta padronizada’ (Standard Gamble) oferece valores mais elevados que a ‘permuta de tempo’ (Time Trade-Off), a qual, novamente, resulta em valores mais elevados que a ‘escala de classificação’ (Rating Scale). A Figura 1 dá um exemplo [5]. Para uma comparação posterior, veja, por exemplo [6]. Existem diferenças similares entre instrumentos multiatributo de utilidade. A Figura 2 mostra um exemplo [7]. Embora as evidências sobre esta questão variem um pouco na literatura, a coluna à direita da tabela sugere que diferenças nas avaliações dos estados podem ter importantes consequências sobre as avaliações dos ganhos em saúde. EQ-5D (RU tto) HUI 2 15-D A: Muletas, dor leve, incapaz de caminhar 0,45 B: Dificuldades ao movimentarse para fora, algum desconforto, capaz de algum trabalho 0,80 U(A)-U(B) 0,70 0,86 0,92 0,92 0,22 0,06 0,35 Figura 2 Diferenças entre instrumentos multiatributo de utilidade (Fonte: [7]). HUI, Health Utilities Index ou Índice de Utilidades em Saúde. O problema da variação intermétodo pode, em princípio, ser aliviado pelo desenvolvimento de algoritmos para “intercruzar”, ou seja, para “traduzir” as utilidades de uma dada ferramenta para as correspondentes utilidades segundo outras ferramentas. Pesquisa sobre esse efeito está sendo conduzida (entre outros, por Dennis Fryback et al. na University of Wisconsin); a confiabilidade do intercruzamento ainda está por ser estabelecida. Se sua confiabilidade e justificação forem obscuras, permanecerá então um questionamento sobre a validade das ferramentas de custo-utilidade. Utilidade Experimentada: Relutância em Permutar Tempo de Vida Para estimar os reais benefícios de um programa de cuidados à saúde, um forte questionamento pode ser feito sobre a necessidade de informações de qualidade de vida provenientes de pessoas que tenham experimentado os estados de saúde envolvidos no programa [8–10]. Não obstante, quando a ‘aposta padronizada’ e a ‘permuta de tempo’ são aplicados a pacientes e pessoas incapacitadas, muitos relatam disposição zero para sacrificar sua expectativa de vida no sentido de obter alívio de seu problema de saúde [11–13]. Trata-se da indisposição em permutar resultados em utilidades de 1.0, que parece claramente irracional para estados que não sejam de saúde completa. Discutivelmente, o problema é que a unidade de tempo usada nesses estudos – um ano completo – é extensa demais. Se alguém inquirir sobre a disposição em sacrificar um mês, uma semana ou um dia de seu tempo de vida, presumivelmente, haverá um ponto no qual qualquer um que pareça “irredutível em fazer a permuta” estará, realmente, disposto a fazê-la (George Torrance, comunicação pessoal). Mas mesmo se isto for verdade, dois problemas permanecem. Um é em termos de relevância política. Se pessoas com um problema considerável, por exemplo, dependência de cadeira de rodas para se movimentar, declararem que estão dispostas a sacrificar apenas um mês, num total de 10 anos de tempo de vida, para livrar-se de seu problema, elas ganharão uma utilidade de 0,99. Seria um número tão elevado, realmente útil para avaliar um programa que retirasse essas pessoas da cadeira de rodas? O número elevado também prejudicaria o investimento em programas de prevenção, que visassem reduzir a prevalência das condições que levam à dependência de cadeira de rodas. O outro problema é em termos de significado. A ideia por trás da ‘aposta padronizada’ e da ‘permuta de tempo’ é que a utilidade (valor) de um dado ganho de saúde é refletida na disposição das pessoas em sacrificar-se para obtê-lo. Mas seria a disposição em permutar uma quantidade muito pequena de um tempo de vida distante, necessariamente, uma expressão da disposição ao sacrifício? Nós achamos que é possível para os indivíduos dizer “Bem, se você me pergunta sobre um mês, então, certamente estaria preparado para a permuta; mas isto seria sem qualquer sensação de sacrifício, já que esse tempo é bem curto e está muito distante”. Se esta é a psicologia por trás da resposta, a mesma é dificilmente utilizável como indicação de valor. Pesquisa sobre esta questão se faz necessária. QALYs: Alguns Desafios S13 Acreditamos que informações sobre a qualidade de vida experimentada pelos pacientes sejam essenciais à avaliação econômica de intervenções em saúde, mas achamos que as limitações potenciais das ferramentas convencionais de mensuração da utilidade, tais como o ‘aposta padronizada’ e a ‘permuta de tempo’ em pacientes e pessoas incapacitadas, precisam ser cuidadosamente consideradas. Também estamos preocupados por saber menos sobre a qualidade de vida experimentada pelas pessoas em vários estados de saúde, do que o geralmente assumido quando déficits sensoriais ou mobilidade são tomados como exemplo chave. Discutivelmente, algumas das lacunas, onde houver uma, entre as avaliações prospectivas e aquelas decorrentes da experiência, vem daquelas prospectivas que não são adaptadas de antemão; quando as mesmas são sugeridas, a lacuna diminui. Parte da lacuna pode também refletir a perda objetiva de oportunidade, que não é capturada pelas avaliações experimentadas que descontaram certas oportunidades. Também, a adaptação pode ser menos bem sucedida naqueles com, por exemplo, depressão ou lesão cerebral traumática, em comparação àqueles com problemas de mobilidade [14]. Preocupações pela Imparcialidade Conforme notado acima, o padrão QALY expressa valor em termos de utilidade individual agregada. Uma questão levantada por muitos, ao longo dos últimos 20 anos, é se os benefícios de saúde avaliados dessa maneira representam adequadamente a avaliação da sociedade sobre programas de saúde para diferentes grupos de pessoas, quando preocupações pela imparcialidade também são levadas em conta. Na nossa óptica, três problemas éticos particularmente salientes foram identificados. O primeiro problema surge do fato de que não há, na abordagem QALY padrão, nenhuma preocupação com o nível de utilidade pré-tratamento dos indivíduos analisados. Tanto a teoria ética, como a opinião pública, em diversos países industrializados, sugere que ao estabelecer prioridades, a sociedade enfatize quão pior estariam os indivíduos, se a intervenção não tivesse lugar [15–19]. Em outras palavras, quanto pior esteja o indivíduo sem uma dada intervenção, melhor a sociedade tenderá a avaliar aquela intervenção. Este aspecto da avaliação societária é frequentemente chamado de uma preocupação independente da gravidade. Em estudos quantitativos da preferência na população (por exemplo, de autoria de Peter Ubel et al. nos Estados Unidos, Jeff Richardson na Austrália, Paul Dolan et al. no Reino Unido, Erik Nord na Noruega), os ganhos de QALY para grupos gravemente doentes foram pesados de maneira duas a dez vezes mais elevada, do que os ganhos para grupos menos gravemente doentes (ver revisões em [18,19]). Em segundo lugar, o modelo QALY convencional implica que o valor de uma intervenção é proporcional à capacidade do beneficiário em se beneficiar. O modelo, assim, favorece aqueles com condições mais tratáveis e aqueles com maior potencial para saúde – seja isto, em termos de funcionamento ou de longevidade. Isto está, em certa medida, em desacordo tanto com a teoria ética, como com a opinião pública; as quais sugerem que não deve ser usado contra as pessoas que venham a ter condições para a qual não há cura completa; ou então de que seu tempo restante de vida é, de certa maneira, limitado [15– 17,20–23]. A conclusão parece ser que, para grupos com a mesma gravidade de doença, a sociedade não deseja dar forte prioridade àqueles cujos ganhos em saúde sejam maiores, em relação àqueles cujos ganhos em saúde sejam menores; isto, se os ganhos forem substanciais em ambos os grupos. Os estudos empíricos de preferência, majoritariamente, se referem à priorização entre grupos com diferentes potenciais de melhoria na qualidade de vida. Não obstante, em um estudo qualitativo de preferências públicas no Reino Unido, Dolan e Cookson [24] encontraram a mesma relutância em discriminar, dentro de situações onde os grupos diferiam em termos de ganho potencial de tempo de vida (por exemplo, 10 versus 20 anos). Sua conclusão global foi que “50 anos após a criação do Serviço Nacional de Saúde Britânico, as pessoas ainda parecem acreditar que deveria haver prioridade acordada para aqueles com necessidade urgente de atenção médica. Apesar de a ‘capacidade de beneficiar-se’ realmente importar, ela é uma consideração secundária”. O terceiro problema é um caso especial do segundo. Avaliar ganhos de saúde em termos de QALYs significa que os anos de vida ganhos desfrutando de plena saúde – através de, por exemplo, prevenção de acidentes fatais em pessoas com saúde normal – são contados como mais valiosos, que os anos de vida ganhos por aqueles que são cronicamente doentes ou incapacitados – por exemplo, evitando episódios fatais em pessoas com asma, doença cardíaca ou doença mental. Isto está em conflito com a ideia de um direito igual de proteção à vida para todos, independentemente de sua condição de saúde; desde que todos tenham o desejo de viver [25,18]; e também vai contra os resultados obtidos em um estudo de preferências públicas por cenário de prioridade nos Estados Unidos [26]. QALYs: Alguns Desafios S14 As preocupações notadas acima podem levar a consideráveis discrepâncias entre – por um lado – classificações de programas de saúde conforme razões de custo por QALY padronizadas, e – por outro lado – sua classificação segundo julgamentos de valor societários e políticos mais amplos. Nós argumentaríamos que em boa parte da literatura sobre análise de custo-utilidade, a magnitude potencial destas discrepâncias tem sido apreciada de forma insuficiente. Parece haver uma necessidade de maior reconhecimento e aceitação das proporções convencionais de custo por QALY, como sendo informações apenas parciais sobre o valor do dinheiro, em diferentes áreas de cuidados à saúde. Segundo nossa visão, a razão de custo por QALY de uma intervenção é um tipo de indicador de produtividade. A mesma diz aos tomadores de decisão quanto – neste caso, saúde – é produzida por unidade de recurso usada. Embora isto, certamente, seja informação útil; estabelecer prioridades em cuidados à saúde deve basear-se em um lote mais amplo de considerações. O ponto é claramente reconhecido na discussão do Instituto de Medicina, sobre as limitações éticas da análise de custo-efetividade nos cenários regulatórios [27]. Dito isto, pode-se perguntar se existem maneiras de incorporar formalmente as preocupações pela imparcialidade ao modelo QALY. Retornaremos a isto numa seção posterior. O Valor Prospectivo (Ex Ante) dos Estados de Saúde Versus o Valor das Intervenções para Pessoas com a Doença O fato de os cálculos QALY padrão não capturarem preocupações societárias para imparcialidade, não implica em que esses cálculos sejam falhos per se. Em princípio, eles podem ainda ser estimativas válidas daquilo que visa expressar, especialmente utilidade individual agregada. Nesta seção, entretanto, nós levantamos uma questão mais fundamental: se os QALYs padrão estão construídos de maneira a exigir a subavaliação sistemática da utilidade individual dos ganhos em saúde, quando os potenciais de tratamento são, de alguma maneira, limitados. A hipótese baseia-se em três premissas. Uma é que, no procedimento QALY padrão, não há extração da utilidade sobre ganhos em saúde resultando de intervenções; mesmo se tal estimativa de utilidade for realmente a meta do procedimento. Para ganhos funcionais e sintomáticos, existe somente avaliação indireta através da extração da preferência prospectiva (julgamentos de desutilidade) sobre estados de doença (estados de saúde) e subsequente subtração dos valores dos estados de saúde um do outro. O “procedimento de subtração” é compreensível em termos de exequibilidade da coleta de dados: O número de mudanças possíveis é muito maior que o número de estados possíveis (n/2[n - 1] mudanças possíveis se n estados). Trata-se, não obstante, uma abordagem substituta, que não foi discutida, nem muito menos validada, na literatura de economia da saúde. Para tempo de vida ganho, não há nenhuma avaliação dos diferentes números (quantidades) de anos ganhos, mas apenas de sua qualidade. Também neste aspecto do modelo QALY, falta validação. Uma segunda premissa é que o QALY não faz diferença entre comparações de desfechos diferentes para o mesmo indivíduo e resultados diferentes para indivíduos diferentes, com distintos potenciais para saúde. Assuma, por exemplo, que o usuário de cadeira de rodas A pode ser introduzido ou à categoria “dependente de muletas”, ou àquela de “saúde plena”; enquanto que o usuário de cadeira de rodas B pode, na melhor das hipóteses, ser trazido à categoria “dependente de muletas”. Uma intervenção que leve ambos à categoria “dependente de muletas” terá a mesma pontuação em termos de utilidade individual no modelo QALY padrão. Isto parece uma mera fusão de contextos de avaliação muito diferentes, que podem invocar questões e processos psicológicos muito diferentes. Por exemplo, para a pessoa A acima, “o melhor (saúde plena) será, provavelmente, o inimigo do bom (muletas)”. O que não é o caso para a pessoa B. A terceira premissa, relacionada à segunda, é que o valor dos ganhos em saúde precisa ser compreendido à luz de dois aspectos bem conhecidos da psicologia humana. Um é que julgamentos de valor dependem de pontos referenciais (o ponto de comparação do indivíduo, ou o “status quo” em face ao qual os cenários alternativos são contrastados) e aplicações [28–30]. O outro é que os bens tendem a ter utilidade marginal decrescente (como um puro efeito de quantidade, ou seja, também quando os desfechos são certos). A seguir, argumentamos que a falha em levar em conta estes dois mecanismos psicológicos, pode levar o procedimento QALY padrão a relacionar de maneira excessivamente intensa, a utilidade individual dos cuidados à saúde ao “tamanho” do benefício de saúde que pode ser obtido. QALYs: Alguns Desafios S15 Considere dois casos de incapacitação, A e B. O procedimento QALY padrão é deixar que uma amostra randômica da população geral julgue a má (e a boa) qualidade dos estados, em relação à saúde plena. Assuma que, a partir do ponto de referência típico de “saúde normal” da amostra, A é considerado como sendo duas vezes mais indesejável que B, e que, em média, as pessoas estão dispostas a sacrificar 40% de sua expectativa de vida para evitar A e 20% para evitar B. Assim, A tem uma pontuação de 0,6 na escala de utilidade QALY, enquanto que B tem uma pontuação de 0,8; veja a Figura 3. Estados avaliados por amostra da comunidade (majoritariamente em saúde normal) Grupos no estado A com diferentes potenciais Figura 3 Avaliação de estados versus avaliação de ganhos em saúde Agora, considere dois grupos de pessoas, G1 e G2, que casualmente contraíram duas doenças diferentes. Ambos os grupos encontram-se no estado A (0,6). Pessoas em G1 podem ser reabilitadas à saúde normal. Para as pessoas em G2, isso não é possível. Mas a melhor tecnologia médica disponível pode melhorar sua condição e elevá-las ao estado B (0,8). A questão interessante para a análise de custo-utilidade é até que ponto pode se elevar, a avaliação dessas duas intervenções – que levam a diferentes mudanças na saúde – por aqueles nelas envolvidos. Ao exame dessa questão, o seguinte problema aparece: De acordo com o “método de subtração” do QALY, a intervenção para as pessoas no grupo G1 atinge pontuação duas vezes maior que aquela da intervenção para pessoas no grupo G2 (0,4 vs. 0,2). Mas as pessoas no grupo G2, necessariamente, avaliariam a ajuda possivelmente recebida, como correspondendo somente à metade daquela recebida pelas pessoas no grupo G1? Partindo-se da posição de saúde plena, B não é atraente. Mas após o início da doença, o ponto de referência do grupo G2 mudou, e, presumivelmente, também suas aspirações. A preocupação mais importante seria então, possivelmente, atingir um nível melhor que o estado A. Além disso, partindo-se da posição de que estando em A, tem-se B como o melhor desfecho possível, B possivelmente parecerá mais atraente que antes. Talvez, a avaliação da ajuda pelo grupo G2 não seja tão menor que aquela feita pelo grupo G1, dada a igualdade na gravidade das condições nos dois grupos e a redução no índice máximo de saúde que o grupo G2 tem, agora, de aceitar. O método de subtrair-se os valores prospectivos do estado de saúde um do outro, omite esta possibilidade. Embora o que estamos dizendo aqui se refira à avaliação da utilidade individual, está também diretamente relacionado ao que dissemos na seção anterior, sobre a variabilidade nos potenciais para saúde. Caso se requeira consistência matemática dentro de perspectivas muito diferentes (prevendo uma perda de saúde e estando numa condição de saúde diminuída na qual se requer uma intervenção), a consistência é obtida ao custo de se desvalorizar o interesse que as pessoas que não puderem ser reabilitadas à saúde plena têm, em intervenções que, assim mesmo, melhorem a sua saúde. A ideia de que a utilidade dos ganhos em saúde depende dos pontos de referência e dos potenciais para saúde parece relevante, também, com relação aos ganhos em anos de vida. Considere dois grupos, G1 e G2, com diferentes tipos de condição ameaçadora à vida. Os indivíduos no G1 podem ser reabilitados a uma expectativa de vida normal de, por exemplo, 20 anos; enquanto que os indivíduos no G2 podem receber uma expectativa de vida de, somente, 10 anos. Assuma que tudo mais é igual. Dada a situação de ambos os grupos, ou seja, dado que eles têm um risco de morte como ponto de referência, a preocupação primária de ambos pode ser evitar a morte no futuro próximo e ganhar, pelo menos, “alguns anos”. Este possível efeito do ponto de referência pode ser fortalecido pelo fenômeno geral da diminuição da utilidade marginal: Mesmo que não houvesse preferência no tempo, é razoavelmente improvável que se considerasse uma perspectiva de 20 anos como duas vezes mais valiosa que uma perspectiva de 10 anos. Em resumo, embora esses dois grupos pudessem avaliar diferentemente seus ganhos potenciais, suas QALYs: Alguns Desafios S16 avaliações, provavelmente, não difeririam tanto quanto poderia sugerir a diferença em anos de vida combinada às taxas de desconto convencionais para a preferência no tempo. O raciocínio acima – com relação a ambos, melhoras funcionais e ganhos em anos de vida – se aplica a avaliações da utilidade de cuidados à saúde que sejam retrospectivas à doença. Em princípio, sensações e avaliações retrospectivas podem ser previstas antes da doença. É então possível, que a não proporcionalidade entre o tamanho do efeito e a utilidade possa ser verdadeira também, em relação às preferências prospectivas do indivíduo pelos cuidados à saúde, conforme expresso nas preferências pelo seguro de saúde. O exame das questões que levantamos aqui é assunto para pesquisas empíricas. Alguns resultados preliminares, provenientes de estudo piloto, foram apresentados na oficina de consenso da Filadélfia, em novembro de 2007 (publicação em breve). Aqui, nos restringimos a observar um estudo publicado de preferências por cenário de prioridade, em numa série de oficinas de grupos focais com administradores de saúde, em diferentes municípios na Noruega [31]. Uma das questões era a respeito do interesse próprio. Indivíduos foram solicitados a pensar em dois hospitais, A e B. O hospital A dava igual prioridade a pacientes com a mesma gravidade da doença, independentemente do grau de tratabilidade se o efeito do tratamento fosse substancial. O hospital B dava prioridade àqueles com maior potencial para melhora. Os indivíduos eram lembrados de que não poderiam saber que tipos de doença poderiam contrair no futuro e perguntava-se então a eles, a qual hospital prefeririam “pertencer”, caso levassem em conta apenas seu interesse próprio, como possíveis pacientes futuros. Dos 51 indivíduos, 31 preferiram o hospital A (prioridade igual para pessoas com diferentes potenciais de tratamento), enquanto que 20 preferiram o hospital B (prioridade conforme o potencial de tratamento). O resultado é consistente com nosso raciocínio acima. De modo geral, percebemos – ao observar condições diferentes e pacientes com diferentes tratabilidade e potencial – que estimar a utilidade pessoal das intervenções observando-se simplesmente as diferenças entre os valores prospectivos do estado de saúde, é um elemento do procedimento QALY que requer reconsideração. Incorporação de Preocupações pela Imparcialidade Em teoria, o modelo QALY pode ser modificado para incorporar as preocupações pela imparcialidade notadas anteriormente neste artigo e, dessa maneira, torna-se um modelo de “QALYs ajustados para a equidade”. Uma modificação seria contar como 1 todos os anos de vida ganhos, mesmo se eles transcorressem numa condição inferior à de plena saúde, já que são suficientemente bons para ser desejados pelos indivíduos sob análise [9]. Embora concordando com a premissa ética subjacente, Johannesson [32] alegou que tal abordagem levaria a inconsistências com as preferências individuais por cuidados à saúde. Uma resposta a esta objeção foi dada [33]. Uma segunda modificação seria colocar peso menor na duração dos benefícios de saúde, nas comparações de programas para pacientes com diferentes expectativas de vida. Isto poderia ser feito, por exemplo, descontando-se os ganhos de saúde distantes, mais fortemente do que na costumeira taxa anual de 3%–5%, usual na análise convencional de custo-efetividade; ou então desconsiderando-se benefícios que estão além de um certo ponto no tempo. Uma terceira modificação seria acrescentar pesos de equidade explícita [34], ou – mais especificamente – pesos de gravidade e pesos de potencial [9], aos pesos de qualidade de vida do modelo convencional. Alternativamente, poder-se-ia transformar utilidades convencionais em valores societários que incorporem preocupações pela gravidade da doença e a relutância em discriminar fortemente aqueles com condições menos tratáveis e/ou menor potencial para saúde [7,9]. Como pode ser visto na Figura 4, uma curva de transformação que é convexa para o eixo y e tem forte compressão na extremidade superior pode, em princípio, acomodar ambas destas preocupações. Por exemplo, na figura, a curva transforma utilidades convencionais de 0,4 e 0,7 em valores societários de 0,8 e 0,95. Se substituir as utilidades do eixo x pelos valores do eixo y, o valor, por exemplo, de uma cura de A em relação a B aumenta de 2:1 para 4:1 (preocupação pela gravidadee), enquanto que o valor, por exemplo, de levar-se alguém de A para B em relação ao curso de A para saúde plena, aumenta de ½ para ¾ (preocupação para potencial reduzido). Algumas funções experimentais deste tipo, baseadas empiricamente, de transformação de utilidades a partir do Índice de Utilidades de Saúde, do EQ-5D e de outros instrumentos multiatributo de utilidade, foram publicadas [35]. QALYs: Alguns Desafios S17 Valores societários Utilidades partindo-se do ponto de vista de plena saúde Figura 4 Ganhos de avaliação no funcionamento/qualidade de vida: Transformação de Utilidades (Fonte: [7], comparar com [9]). A ideia de incorporar preocupações pela imparcialidade em um modelo numérico de avaliação pode soar lógica, mas não é desprovida de problemas. Alguns podem achar que, já que a validade do QALY como uma medida da utilidade individual é, em si mesma, questionável, dever-se-ia devotar escassos recursos intelectuais à resolução dessa questão, antes que fossem encarados desafios mais amplos. Outros estão aflitos com a possibilidade de a incorporação de preocupações pela imparcialidade sobrecarregar o modelo e, talvez, torná-lo mais difícil de compreender e menos confiável [36–39]. Sua preferência é deixar que os tomadores de decisão levem em conta de modo informal, as preocupações pela imparcialidade nos processos deliberativos plausíveis, ao lidar com os resultados das análises de custoefetividade. Como uma alternativa a elaborar o QALY para incorporar preocupações de imparcialidade, os processos deliberativos plausíveis poderiam ser usados para determinar uma faixa de limites de custo por QALY segundo o contexto (em vez de modificar o próprio QALY). Tal abordagem poderia consistir no estabelecimento de um arranjo de “classes de prioridade”, às quais os tratamentos seriam designados de acordo com outros critérios, que não a custo-efetividade (por exemplo, a gravidade da condição, a falta de melhores alternativas de tratamento ou considerações especiais de final de vida). Quanto mais merecedora de financiamento for considerada uma dada intervenção conforme esses outros critérios, mais elevada seria sua designação a uma determinada classe. Quanto mais elevada a classe de prioridade, maiores seriam os limites experimentais de custo por QALY. Um considerável leque de limites poderia ser decidido sobre a faixa de classes, com base em deliberações cuidadosas, feitas por pessoas imparciais, a respeito dos valores societários no cenário de prioridades. Na apreciação de novas tecnologias, dois tipos de avaliação seriam realizados simultaneamente e de forma independente um do outro (por pessoas diferentes). Um tipo seria a designação da classe, baseada sempre em deliberações de pessoas informadas e imparciais. O outro tipo seria a análise de custo-efetividade. O resultado dessa segunda avaliação seria comparado ao limite relevante, ou seja, àquele limite que resultou da designação independente da classe. Tal processo de dois canais, teoricamente, removeria a atual supremacia das considerações de custoefetividade na avaliação econômica; particularmente se um amplo leque fosse decidido, entre os limites de custo por QALY mais elevado e mais baixo. A escolha dos métodos e procedimentos para incorporar as preocupações pela imparcialidade é uma questão prática importante para a continuação do debate, conforme notado em outro local nesta edição [40]. As possibilidades acima foram mencionadas para indicar o quanto as modificações do modelo QALY convencional teriam de ser complicadas ou não; trazendo assim, clareza ao debate. Mas a Figura 4 revela um problema mais profundo. Os valores societários sobre o eixo y têm o objetivo de indicar quão importante a sociedade pensa ser, tratar as pessoas no estado A, em comparação àquelas no estado B. No exemplo na figura, a razão é 4:1. Por outro lado, conforme os números no eixo x, pessoas em condição normal de saúde disseram ver o estado A, como somente duas vezes pior que o estado B. Ao avaliar programas preventivos, parece que a última razão é mais relevante que a razão resultante da transformação. Alguns verão este como um problema de inconsistência matemática. Nós o vemos de forma diferente. Prevenção e tratamento são atividades que têm lugar em diferentes contextos, nos quais as pessoas – tanto QALYs: Alguns Desafios S18 pacientes, quanto tomadores de decisão – têm diferentes pontos de referência, expectativas e sensação de obrigação para com os demais. Não se espera, necessariamente, consistência matemática nos valores e preferências, em todas as situações que difiram sobre tais questões. Isto nos leva a levantar a questão sobre a possibilidade de, nas avaliações societárias de programas de saúde, haver necessidade de distinguir-se entre avaliações de programas preventivos e curativos. É, talvez, ingênuo pensar que um único método de avaliação seja suficiente, para informar a definição de prioridades em dois contextos tão diferentes. Pelo fato de o QALY convencional refletir os julgamentos prospectivos do público geral, a respeito da inconveniência de diferentes estados de saúde, poder-se-ia dizer que ele, primariamente, fala sobre os desafios de se estabelecer prioridades entre programas preventivos. Quando se trata de avaliar e comparar intervenções e programas de tratamento para pessoas com diferentes graus de gravidade da doença e diferentes potenciais para saúde, o modelo QALY convencional pode, razoavelmente, ter menos a dizer; então, modelos mais sofisticados seriam requeridos. Observação Final Este artigo baseia-se na premissa de que modelos de avaliação formal podem ser úteis, no sentido de aumentar a responsabilidade na tomada de decisão sobre alocação de recursos para cuidados à saúde. Esta além do escopo deste artigo, discutir exatamente em que extensão tais modelos podem ser úteis; incluindo a discussão sobre quão sofisticados podem ser os modelos, sem que se tornem mais mistificadores que informativos. Insistimos em que quaisquer que sejam os modelos formais escolhidos para uso pelos analistas, os resultados das avaliações formais não devem ser tomados como “respostas” finais a questões de alocação de recursos. Em vez disso, eles devem sempre servir como contribuições a outras deliberações e processos de decisão [36,37]. Esta é também a posição oficial do relatório do NICE (National Institute for Health and Clinical Excellence) e Instituto de Medicina (Institute Of Medicine – IOM) no relatório sobre a custo-efetividade em cenários regulatórios [41,27]. Agradecemos Ali McGuire, George Torrance e Milton Weinstein por seus valiosos comentários aos esboços prévios deste artigo. Fonte de apoio financeiro: O financiamento para a Oficina de Desenvolvimento de Consenso da ISPOR “Construindo uma Via Pragmática: Desenvolvendo o QALY” tornou-se possível, em parte, pelo fundo 1R13 HS016841-01 da Agência para Pesquisa e Qualidade em Cuidados à Saúde (Agency for Healthcare Research and Quality – AHRQ). As visões expressas nos materiais escritos ou publicações da oficina, e pelos palestrantes ou moderadores, não necessariamente refletem as políticas oficiais do Departamento de Saúde e Serviços Humanos; nem a menção a nomes comerciais, práticas de comércio ou organizações implica em endosso pelo governo dos EUA. Financiamento para esta Edição Especial de Value in Health, “Construindo uma Via Pragmática: Desenvolvendo o QALY”, foi tornado possível, em parte, pelo contrato nº HHSN261200800148P do Instituto Nacional do Câncer. Erik Nord, Norman Daniels e Mark Kamlet não têm conflitos a declarar. Referências 1 Weinstein M, McGuire A, Torrance G. QALYs: the basics. Value Health 2009;12(Suppl. 1):S5–9. 2 Gold M, Siegel JE, Russell LB, Weinstein MC. Cost-Effectiveness in Health and Medicine. New York: Oxford University Press, 1996. 3 Drummond M, Sculpher MJ, Torrance GW, et al. Methods for the economic evaluation of health care programmes. New York: Oxford Medical Publications, 2005. 4 Daniels N. Just Health. Meeting Health Needs Fairly. New York: Cambridge University Press, 2008. 5 Bombardier C, et al. Comparison of three preference measurement methodologies in the evaluation of a functional status index. In: Deber RB, Thompsom GG, eds. Choice in Health Care. Toronto: University of Toronto, Department of Health Administration, 1982. 6 Salomon J, Murray C. A multi-method approach to measuring health state valuations. Health Econ 2003;13:281–90. QALYs: Alguns Desafios S19 7 Nord E. Health status index models for use in resource allocation decisions. Int J Technol Assess Health Care 1996;12:31–44. 8 Berg R. Establishing the values of various conditions of life for a health status index. In: Berg R, ed., Health Status Indexes. Chicago: Hospital Research and Educational Trust, 1973. 9 Nord E, Pinto JL, Richardson J, et al. Incorporating societal concerns for fairness in numerical valuations of health programmes. Health Econ 1999;8:25–39. 10 Dolan P, Kahneman D. Interpretations of utility and their implications of the valuations of health. Econ J 2008;118:215–34. 11 Fowler FJ, Cleary PD, Massagli MP, et al. The role of reluctance to give up life in the measurement of the value of health states. Med Decis Making 1995;15:195–200. 12 O’Leary J, Fairclough DL, Jankowski MK, Weeks JC. Comparison of time trade-off utilities and rating scale values of cancer patients and their relatives. Med Decis Making 1995;15:132–7. 13 Nord E. Time-trade off scores in patients with chronic disease. Comparison with the York hypothetical TTO tariff. In: Nord E, ed., EuroQol Plenary Meeting Proceedings 1997. Working Paper 2/97. Oslo: Norwegian Institute of Public Health, 1997. 14 Daniels N, Rose S, Zide ED. Disability, adaptation, and inclusion. In: Kimberley B, Cureton A, eds. Disability and Disadvantage: Re-examining Topics in Moral and Political Philosophy. New York: Oxford University Press, (in press). 15 Daniels N. Just Health Care. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1995. 16 Daniels N. Rationing fairly programmatic considerations. Bioethics 1993;7:224–33. 17 Kamm FM. Morality, Mortality: Death and Whom to Save From it: Volume 1. Oxford: Oxford University Press, 1993. 18 Nord E. Cost-Value Analysis in Health Care. New York: Cambridge University Press, 1999. 19 Dolan P, Shaw R, Tsuchyia A, Williams A. 2005. QALY maximization and people’s preferences: a methodological review of the literature. Health Econ 2005;14:197–208. 20 Nord E. The relevance of health state after treatment in prioritizing between patients. J Med Ethics 1993;19:37–42. 21 Nord E. The trade-off between severity of illness and treatment effect in cost-value analysis of health care. Health Policy 1993;24:227–38. 22 Nord E, Richardson J, Street A, et al. Maximising health benefits versus egalitarianism. Soc Sci Med 1995;41:1429–37. 23 Abellan-Perpinan JM, Pinto-Prades JL. Health state after treatment: a reason for discrimination? Health Econ 1999;8: 701–7. 24 Dolan P, Cookson R. Measuring Preferences Over the Distribution of Health Benefits. Mimeo. York, UK: University of York, Centre for Health Economics, 1998. 25 Harris J. QALYfying the value of life. J Med Ethics 1987;13:117–23. 26 Ubel P, Richardson J, Pinto-Prades JL. Life-saving treatments and disabilities. Are all QALYs created equal? Int J Technol Assess Health Care 1999;15:738–48. 27 Miller W, Robinson LA, Lawrence RS, eds. Valuing Health for Regulatory Cost Effectiveness Analysis. Washington, DC: Institute of Medicine, National Academies Press, 2006. QALYs: Alguns Desafios S20 28 Simon HA. A behavioural model of rational choice. Q J Econ 1955;69:99–118. 29 Kahneman D, Tversky A. Prospect theory: an analysis of decision under risk. Econometrica 1979;47:263–91. 30 Schoemaker PJ. The expected utility model: its variants, purposes, evidence and limitations. J Econ Lit 1982;20:529–63. 31 Nord E. The person trade-off approach to valuing health care programs. Med Decis Making 1995;15:201–8. 32 Johannesson M. Should we aggregate relative or absolute changes in QALYs? Health Econ 2001;10:573–7. 33 Nord E, Richardson J, Menzel P. The value of life: individual preferences and social choice. Health Econ 2003;12:873–7. 34 Williams A. Economics, society and health care ethics. In: Gillon R, ed., Principles of Health Care Ethics. London: Wiley and Sons, 1994. 35 Nord E. Health state values from multi-attribute utility instruments need correction. Ann Med 2001;33:371–4. 36 Daniels N, Sabin J. Setting Limits Fairly: Can We Learn to Share Medical Resources? New York: Oxford University Press, 2002. 37 Daniels N, Sabin J. Setting Limits Fairly: Learning to Share Resources for Health (2nd ed.). New York: Oxford University Press, 2008. 38 Dolan P, Olsen JA. Distributing Health Care: Economic and Ethical Issues. Oxford, UK: Oxford University Press, 2002. 39 Haninger K. The Role of EquityWeights in Allocating Health and Medical Resources. Boston: Center for Risk Analysis, Harvard University, 2006. 40 Drummond M, Brixner D, Gold M, et al. Toward a consensus on the QALY. Value Health 2009;12(Suppl. 1):S31–5. 41 National Institute of Health and Clinical Excellence. Social Value Judgements. Principles for the Development of NICE Guidance. London: NICE, 2005
Documentos relacionados
Mantendo e Aperfeiçoando o QALY
University of York,York, RU; 3University of Wisconsin, Madison,WI, EUA; 4City University of New York Medical School, Cidade de New York, NY, EUA; 5United BioSource Corp, Bethesda, MD, EUA
Leia mais