SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC
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SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC Polêmicas sobre a base de Guantánamo Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Em entrevista o Cônsul Geral de Cuba fala sobre as relações entre Cuba-EUA abril/2006 edição no 03 Vale do Rio Doce Revisão do processo de privatização da Vale pode devolvê-la ao patrimônio público , r o E s s S e f E o Z I Pr L A C o! I d i t n a D r a g N ito I e r i d S ria unida é go e t a C Diga Sim pro SINPRO ABC Ao longo dos anos O SINPRO-ABC obteve várias conquistas em prol da categoria, basta dizer que antes da fundação do Sindicato não existia pagamento de janelas, garantia semestral de salários, hora-atividade, pagamento de férias adiantadas e o abono de 1/3, entre outros. Hoje, lutamos para que esses direitos sejam cumpridos pelas escolas, mantidos e ampliados nas próximas convenções coletivas. As categorias profissionais mais organizadas formam sindicatos mais fortes, e conquistam melhores condições de trabalho e salários. Educação não é mercadoria Diga SIM ao SINPRO-ABC Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC abril/2006 edição no 03 ENTREVISTA EDUCAÇÃO 5 18 As relações entre Cuba-EUA: Da luta pela independência às polêmicas sobre a base de Guantánamo Entrevista com o Cônsul Geral da República de Cuba Carlos Trejo Ensino Fundamental agora tem nove anos de duração Mudança na Lei de Diretrizes e Bases da Educação torna obrigatório matrícula aos 6 anos de idade 20 Sociologia e Filosofia no Ensino Médio: um resgate histórico Por Amaury Cesar Moraes INTERNACIONAL 12 Irã: o monopólio da boçalidade por Laerte Braga NACIONAL 13 SINDICAL 22 Três desafios do sindicalismo 24 Os desafios do movimento sindical na atual política nacional Reestatização da Cia Vale do Rio Doce Revisão do processo de privatização da Vale pode devolvê-la ao patrimônio nacional Por Edgard Fernandes Neto ARTIGO 26 ESPECIAL 16 20 anos de história Sindicato dos Professores do ABC relembra duas décadas de luta Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Por Altamiro Borges O papel dos sindicatos na atual conjuntura Por Marcelo Buzetto 28 Mundialização: fluxo voraz do capital Por Oswaldo de Oliveira Santos Jr editorial Compromisso com a categoria: a luta continua! Elemento central da esquerda mundial, a partir da revolução industrial e da disseminação das reflexões da dupla Marx e Engels no século XIX, os sindicatos se tornaram uma instituição com o objetivo de organizar os trabalhadores na luta por seus direitos frente à ofensiva do capital. Hoje o sindicalismo é uma forte referência não só na formulação de diretrizes, mas também na execução de uma política econômica que atenda as necessidades da classe trabalhadora. Compreendemos, portanto, que há muito que defender e conquistar diante do projeto neoliberal. Ao longo desses 20 anos de história, o SINPRO ABC conquistou muitos direitos para a categoria dos professores, direitos estes que pareciam impossíveis há duas décadas. Pois a realidade da relação capital e trabalho se dava a partir de condições impostas por quem matinha o capital. Agora os professores têm condições de trabalho mais dignas. Mas isso não significa que a luta acabou. Além de manter os direitos dos professores e fazer com que eles sejam cumpridos para garantir a qualidade do trabalho, temos que intervir na luta política, pois as necessidades do sindicato vão mudando de acordo com a conjuntura política, econômica e social. A nossa luta, portanto, não deve se omitir perante as imposições de governos, pois a força da categoria vem da sua organização e capacidade de mobilizar. O nascimento do Sindicato dos Professores do ABC marcou um novo espaço de luta em defesa do trabalho do corpo docente da região. De lá para cá muita coisa mudou, de um pequeno grupo, hoje somos mais de 3 mil professores sindicalizados. Por isso, é importante que a categoria fique unida, e sindicalize-se para fortalecer e ampliar as conquistas. Esta Revista é mais um instrumento de luta, pois através dela fazemos levantamento dos mais variados assuntos, publicamos notícias sobre o movimento sindical, política nacional e internacional, abordamos temas educacionais e outros de interesse da classe trabalhadora. Por exemplo, todos já devem estar acompanhando, nos principais veículos de comunicação do país, as propagandas institucionais que a Companhia Vale do Rio Doce vem fazendo nos últimos dois meses. Puro engodo para melhorar a imagem de uma empresa que está prestes a enfrentar um processo de reestatização. Nessa edição, também entrevistamos o Cônsul Geral de Cuba, Carlos Trejo, que nos traz informações de interesse mundial, dificilmente divulgadas na grande imprensa. Além disso, você vai acompanhar as principais mudanças na Lei de Diretrizes e Base, e artigos sobre os desafios do movimento sindical. Foto da Capa: Passeata do 1º de maio em São Bernardo do Campo, 1991. Nesse dia o SINPRO ABC, que já manifestara sua posição de “Fora Collor” em suas publicações, tornou-a pública no primeiro de maio organizado pela CUT, sendo o primeiro sindicato a defender esta bandeira, enquanto a posição da central, naquela época, era apenas de “não ao governo Collor”. expediente Revista do Professor - Ano I - Número 3 - Mar/Abr 2006 - SINPRO ABC - Sindicato dos Professores do ABC - Gestão 2004/2007 Edição e reportagem: Josane Beckman - Mtb 43944 • Projeto Grágico: Imprensa SINPRO ABC • Tiragem: 5.000 exemplares • ISSN 1807-7994. SINPRO ABC - Rua Pirituba, 61 - Bairro Casa Branca - Santo André - CEP 09015-540 - São Paulo www.sinpro-abc.org.br • [email protected] Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC entrevista As relações entre Cuba-EUA: Da luta pela independência às polêmicas sobre a base de Guantánamo “Do ponto de vista militar, há muito tempo que a Base Naval de Guantánamo não tem nenhuma utilidade para os Estados Unidos e nem para ninguém. O único propósito que tem é uma provocação foto: Elias Tomé Junior permanente para Cuba”. Cônsul Geral de Cuba Carlos Trejo Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC A história de Cuba é um caso singular na América Latina, pois o país convive com o dilema da independência ou anexação aos Estados Unidos da América. Isso explica esse espírito de resistência e dignidade que possui o povo cubano para manter a sua soberania e independência frente à hostilidade e a agressão militar, política e econômica que vem sendo praticada pelos Estados Unidos há mais de um século. Em entrevista à Revista do Professor, o Cônsul Geral da República de Cuba, Carlos Trejo, faz um resgate histórico dessa difícil relação com os norte-americanos e esclarece dúvidas sobre a base dos EUA em Guantánamo. Revista do Professor - A relação entre Estados Unidos e Cuba sempre foi muito turbulenta. Qual a origem de toda essa implicância do governo norte-americano com os cubanos? Carlos Trejo - Desde os tempos da colônia, os Estados Unidos tentaram comprar Cuba da Espanha. Mas não conseguiram, pois a Espanha dizia que Cuba era a pérola mais importante da coroa espanhola. E os EUA, ainda no século XIX, não eram uma potência para disputar com a Espanha o novo mundo. Mesmo assim, os Estados Unidos continuaram com a idéia fixa de que Cuba tinha que ser parte do território norte-americano. Eles diziam que do ponto de vista geográfico, a formação da Ilha de Cuba pertence também à formação da plataforma continental norte-americana. Essa é uma das justificativas deles. Mas Cuba não é uma continuação de um acidente geográfico. os soldados norte-americanos entraram em Santiago de Cuba, o comando militar ocupante impediu a entrada das forças cubanas. Os americanos então ocuparam a ilha. Revista do Professor - Como foi a permanência dos EUA no país? Carlos Trejo - Do ano de 1898 a 1901, os Estados Unidos enviaram um militar americano para representá-los, um interventor que foi a autoridade de ocupação e que começou a ditar leis. A partir dessas leis, as melhores terras foram repartidas aos americanos e para as companhias americanas, dando concessões para os primeiros engenhos açucareiros, ficando, dessa maneira, com a melhor parte. Fizeram então um acordo para que quando Cuba tivesse um governo próprio não tivesse a possibilidade de recuperar aquelas terras, ou seja, de declarar nulas as decisões das autoridades de ocupação. Então o congresso americano criou a Emenda Platt, dentro do projeto de apropriações, que ficou como exigência do governo americano para que se Cuba quisesse ter independência teria que aceitar as leis da emenda. Quando os cubanos criaram seu próprio congresso, em sua constituição tiveram que acrescentar as leis da emenda, que tinham valor de veto. A emenda continha vários itens básicos, entre eles: o direito de intervenção militar dos Estados Unidos cada vez que eles considerassem que a estabilidade, a democracia e a liberdade de Cuba estivessem sendo ameaçadas. Também a concessão de Cuba por tempo indefinido de territórios para instalar empresas carvoeiras, porque na época os navios moviam-se a vapor e eles precisavam de carvão para energia. Com esses argumentos, instalaram uma dessas empresas em Guantánamo e aí ficou a Base Naval de Guantánamo que existe até hoje, uma ocupação ilegal. Um outro item era a imposição de um convênio da reciprocidade comercial entre Cuba e os Estados Unidos. Ou seja, os produtos americanos entravam sem impostos em Cuba e os produtos cubanos nos Estados Unidos. Mas Cuba só possuía um tipo de produto na época, o açúcar, que era produzido pelos próprios engenhos americanos. “Eles diziam que do ponto de vista geográfico, a formação da Ilha de Cuba pertence também à formação da plataforma continental norte-americana”. Revista do Professor - Então desde essa época os Estados Unidos vêm atrapalhando o desenvolvimento de Cuba? Carlos Trejo - Os EUA não estavam interessados que Cuba fosse uma república independente, por isso eles nunca apoiaram a luta dos patriotas cubanos pela independência, que começou em outubro de 1868. Os EUA pegavam os carregamentos de armas e o dinheiro que os patriotas usariam para a luta contra o colonialismo espanhol, pois faziam de tudo para impedir a independência. Em 1892, José Martí funda o Partido Revolucionário Cubano como único partido formado para libertação de Cuba, a preparação para república independente e para luta pela independência de Porto Rico. Infelizmente, José Martí cai em combate contra os espanhóis em 19 de maio de 1895. Quando os norte-americanos viram que a possibilidade de Cuba conseguir a independência estava certa, eles enviaram à Cuba um navio que explodiu no porto naval. Não se pode provar, mas fica claro que o barco foi sabotado pelo governo americano da época para ter uma desculpa de intervenção militar, provocando uma guerra. Os Estados Unidos então declararam guerra à Espanha. Chegaram a ter em Cuba 350 mil soldados espanhóis. Foi a maior força que concentrou a Espanha em toda a América Latina. Revista do Professor - Foi aí que o governo norte-americano conseguiu entrar em Cuba? Carlos Trejo - Sim. O Exército Libertador cubano havia ocupado toda a praça de Oriente, cuja capital Santiago de Cuba foi totalmente cercada pelo General Calixto García, do exército Mambi. Depois que Revista do Professor - Então não houve um consentimento mútuo para a Base Naval de Guantánamo? Carlos Trejo - Qualquer um que entenda um pouco de lei, sabe que para existir um convênio é necessário a vontade das duas partes. Convênio de uma só parte não é convênio, é imposição. No caso de Cuba, não foi discutido, foi imposto pela Emenda Platt. Mesmo que exista hoje o direito internacional moderno, não é aceito um convênio que não tenha vencimento. Não existe convênio para a eternidade. São irregularidades que mostram a ilegalidade de uma base americana em Cuba. Isto está contra a vontade do povo e do governo cubano. Nos primeiros 60 anos, ou seja, dois anos do século XIX e 58 anos do século XX, os americanos dominaram a vida cubana transformando a ilha numa neocolônia. No ano de 1905, eles fizeram uma nova intervenção militar em Cuba por acharem que havia perigo de revolução. E continuaram intervindo no país, direta ou indiretamente até o primeiro de Janeiro de 1959, data do triunfo da Revolução. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC “O problema não foi a questão do dinheiro. Mesmo que se pagasse 2 milhões acima do valor deles, o que eles não aceitaram nunca foi o fato de um país como Cuba fazer uma revolução e ter a ousadia de nacionalizar propriedades americanas”. Revista do Professor - Deve ter sido difícil para os Estados Unidos aceitar a Revolução Cubana. Como eles reagiram? Carlos Trejo - Em 1933, o povo não agüentava mais a ditadura do General Gerardo Machado, a marionete dos Estados Unidos. O povo rebelado saiu às ruas para derrubar o ditador e conseguiu. Gerardo Machado foi substituído por um grupo de cubanos que tinham lutado contra a ditadura. A pentarquia incluiu Fulgencio Batista, um militar que tinha ascendido posições relevantes dentro do exército nacional, aproveitando-se de situações fortuitas e de sua habilidade para perceber as oportunidades. No ano de 1952, o Partido Ortodoxo, liderado por Eduardo Chibas, tinha praticamente garantida a vitória eleitoral nas eleições gerais daquele ano. Fidel Castro, na época, era membro da juventude ortodoxa. Enquanto isso, Fulgencio Batista, com o apoio total do governo dos Estados Unidos, deu um golpe de estado no dia 4 de setembro de 1952 e liquidou as possibilidades de que forças políticas, não comprometidas com a corrupção e abusos, chegassem ao poder. No ano seguinte, em 26 de julho de 1953, Fidel Castro atacou, com um grupo de jovens patriotas, o Quartel Moncada, a segunda fortaleza militar do país, em Santiago de Cuba. Essa ação militar fracassou. Fidel Castro e seus companheiros sobreviventes acabaram sendo presos. Pouco mais de dois anos depois de sua prisão, e por causa da intensa pressão popular, o ditador Batista teve que anistiar a Fidel, Raul Castro (irmão de Fidel) e outros atacantes do Quartel Moncada, presos na Ilha de Pinos. Fidel saiu para o exílio no México e ali organizou a expedição do Iate Granma, que chegou às costas cubanas do Oriente no dia 2 de dezembro de 1956, dando começo à luta guerrilheira na Serra Maestra. Durante os mais de dois anos que durou a luta contra a tirania, na Serra Maestra e nas cidades cubanas, o governo norte-americano continuou financiando, armando e treinando o exército de Batista, que na época tinha uma força grande. Se os americanos estavam tentando manter Batista, é sinal de que estavam também contra Fidel Castro. Em 1959, começaram as atividades terroristas em Cuba, dirigidas, financiadas e apoiadas totalmente pelo governo dos Estados Unidos. Queimaram campos de cana, engenhos e armaram grupos terroristas para assassinar camponeses. Em 1960, explodiram um navio francês que continha granadas e outros explosivos comprados pelo governo cubano, para todos os efeitos, matando muitas pessoas. Até o ano de 1967 grupos terroristas, a serviço dos Estados Unidos, estiveram lutando nas montanhas e nos campos cubanos do centro do país, matando gente inocente. Também Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC prepararam provocações para possíveis intervenções militares em Cuba, na Base Naval de Guantánamo. Fizeram tudo o que foi possível para impedir o desenvolvimento da Revolução Cubana. Revista do Professor - No início da Revolução, Cuba era um país com muitos problemas econômicos e sociais. Quais eram os maiores problemas que dificultavam o avanço da Revolução Cubana? Carlos Trejo - Em 1962, quando o mundo chegou à beira de uma ameaça nuclear, o povo cubano demonstrou que não tinha medo porque estava pronto para morrer em defesa de sua Revolução. O país tinha mais de 30% de analfabetismo antes de 1959. A expectativa de vida chegava apenas aos 57 anos, onde existiam todas as doenças, a mortalidade infantil em Cuba era perto de cem para cada mil crianças nascidas. O racismo no país era maior do que no próprio Estados Unidos. E isso foi uma coisa terrível. Havia racismo onde estavam juntos os negros e os pobres, mesmo se era branco e pobre, não importava. Mas se era negro e pobre era ainda pior. O racismo foi tão forte em Cuba, que os americanos tinham um clube em Havana só para brancos e não deixavam entrar nem o ditador Batista porque era mestiço. As mulheres pobres, camponesas e que tinham muitos filhos, iam para cidade para trabalhar em condições terríveis e muitas delas não tiveram outra opção, senão virarem prostitutas. “Dentro do orçamento americano, U$ 52 milhões são destinados para continuar a luta contra Cuba”. Revista do Professor - E como Cuba conseguiu se livrar dessa ocupação norteamericana? Carlos Trejo - Nessa época, Cuba ainda não tinha nenhum laço com a União Soviética nem no campo socialista. A primeira lei que bateu contra os interesses americanos em Cuba foi a Lei da Reforma Agrária, que entregou terras aos camponeses que tinham trabalhado toda sua vida quase como escravos nelas. 80% das terras cubanas estavam nas mãos de companhia americanas, províncias inteiras com as melhores terras do país, estavam com eles. Mesmo assim, a primeira reforma agrária de Cuba deixou cerca de 500 hectares numa ilha de apenas 110 mil km2. Os americanos não aceitaram, eles não iam tolerar isso. O governo americano fez todo tipo de pressão contra o jovem governo revolucionário. Cortou o envio do petróleo e proibiu a suas companhias em Cuba de refinar petróleo soviético. Cuba então nacionalizou as refinarias. Os Estados Unidos cortaram a quota açucareira cubana. Os EUA eram o principal e quase o único mercado desse produto cubano. O governo revolucionário nacionalizou todas “As torturas praticadas em Abu Ghraib (Iraque) foram resultados de treinamentos feitos pelos soldados dos EUA em Guantánamo. Os métodos de tortura foram feitos em Guantánamo e aplicados em Abu Ghraib”. as propriedades norte-americanas em Cuba. Cada ação punitiva do governo dos Estados Unidos contra Cuba encontrou uma resposta apropriada. Mas Cuba deu possibilidade de que fossem pagas indenizações, uma compensação aos donos dessas empresas, pelas suas propriedades no país ao preço que eles tinham declarado ao governo. Por exemplo, os proprietários americanos tinham uma fábrica no valor de U$ 2 milhões e declararam que valia apenas U$ 50 mil para pagar menos impostos. Ao ficar nacionalizada o valor declarado era a quantidade justa a receber. E aí também eles não aceitaram. Outros proprietários estrangeiros (Canadá, Espanha, Inglaterra) cujas propriedades também foram nacionalizadas em Cuba, aceitaram as condições de compensação oferecidas pelo governo cubano. Mas os Estados Unidos não. O problema não foi a questão do dinheiro. Mesmo que se pagasse 2 milhões acima do valor deles, o que eles não aceitaram nunca foi o fato de um país como Cuba fazer uma revolução e ter a ousadia de nacionalizar propriedades americanas. Essa é a razão deles não aceitarem até hoje. Revista do Professor - Hoje existem muitos cubanos nos Estados Unidos, principalmente em Miami. Como é essa relação diante do conflito que existe entre os dois países? Carlos Trejo - No primeiro ano da Revolução, fugiram para os Estados Unidos mais de 3 mil cubanos, bandidos, assassinos e ladrões do regime batistiano que matou mais de 20 mil cubanos em apenas sete anos de ditadura. Essa foi a primeira migração para os EUA. A diferença das outras migrações que existem de um país pobre para um outro mais rico é que geralmente são imigrantes que vão tentar uma vida melhor. Os que fugiram de Cuba foram com malas cheias de dólares que haviam roubado. Eles saíram do país com cerca de U$ 700 milhões. A partir de então, começaram a investir na cidade de Miami e ter influência política. Esse núcleo se tornou poderoso no estado da Flórida, o estado que depois da Califórnia é o de maior Colégio Eleitoral, é o segundo estado dos EUA em termos eleitorais. Lá eles fazem investimentos, fazem parte das campanhas eleitorais. E quando assumem no legislativo americano têm obrigação de apresentar emendas para colocar dinheiro para continuar a luta contra o comunismo de Cuba. Ou seja, é um investimento. Dentro do orçamento americano, U$ 52 milhões são destinados para continuar a luta contra o governo de Cuba. O poder econômico e a influência desse grupo são muito fortes, desde o início da Revolução Cubana. Mas a grande maioria dos quase um milhão de cubanos que reside nos Estados Unidos não forma parte desse grupo mafioso contrarevolucionário, são emigrantes econômicos. Revista do Professor - Recentemente saiu um documentário sobre a questão do assassinato do presidente John Kennedy, e voltou o debate sobre qual papel esta máfia de contra-revolucionários teve no assassinato desse presidente. Como o senhor analisa isso? Carlos Trejo - Assim que ocorreu o assassinato de Kennedy, a força mais rancorosa dos Estados Unidos tentou culpar Cuba, que segundo eles, teria participado de um complô para matar o presidente Kennedy como resultado da fracassada invasão da Baía dos Porcos (1961) e da crise dos mísseis (1962), seria então uma reação de Cuba. Mas o que eles não contavam é que no dia do assassinato do presidente, em 1967, em Dallas, um emissário pessoal de Kennedy estava reunido com Fidel Castro para tentar arrumar as coisas, para baixar o nível de confronto entre os países. Porque já tinha fracassado com a Baía dos Porcos e outros confrontos. Quando os soviéticos retiraram as bases de lançamento de mísseis, em 1962, Kennedy assumiu o compromisso de que não invadiria Cuba. Mas Cuba ficou muito zangada com o acordo feito entre Kruschev (URSS) e Kennedy, porque não foi consultada. Quando o desastre estava armado, as negociações foram feitas diretamente entre Kruschev e Kennedy. Kruschev se atemorizou na época e fez concessões. Fidel Castro ficou muito chateado com isso. Não é segredo. Ao ponto que as relações entre Cuba e União Soviética ficaram estremecidas. Os contra-revolucionários que fugiram de Cuba e foram morar em Miami nunca aceitaram essa recusa de Kennedy em invadir Cuba. Existem muitos fatos que indicam o envolvimento deles num eventual complô para matar Kennedy. Os americanos têm documentos que foram guardados por cem anos, quando existe uma prática dentro do país de que os documentos mais secretos devem ser guardados por 50 anos. Mas como está quase para fazer 50 anos da morte de Kennedy, e com todas essas barbaridades feitas pelo presidente Bush e os anteriores, se agora descobrem uma coisa dessas, que a própria estrutura dos EUA participou do assassinato de um presidente, desmorona tudo. Revista do Professor - Em relação a Guantánamo, como é para Cuba, mesmo depois da Revolução, ter um conjunto de soldados norte-americanos dentro de seu território? Ao longo desse período desde 1959 para cá houve situações de conflito? Carlos Trejo - Do ponto de vista militar, há muito tempo que a Base Naval de Guantánamo não tem nenhuma utilidade para os Estados Unidos e nem para ninguém. Não tem utilidade militar nenhuma. O único propósito que tem é uma provocação permanente para Cuba. No início, nos anos 60, eles prepararam uma ação de auto-agressão na base, ou seja, assassinar Raul com soldados americanos usando uniformes cubanos para atacar. Tudo para tentar derrubar o governo. Houve também mais de 600 tentativas de assassinato de Fidel Castro, isso não é segredo. Isso intensificou o território para provocações. Assassinaram soldados cubanos do outro lado da base. Até que Cuba preparou uma defesa forte. Então chegou o momento que eles viram a inutilidade de continuar com essa política de agressão desde Guantánamo. Hoje a relação é mais tranqüila. Revista do Professor - A ONU quer o fim de Guantánamo, pois hoje Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC existe um grande número de prisioneiros que estão sob condições de tortura. Como Cuba está vendo o fechamento da base? Carlos Trejo - Ninguém falou sobre os Estados Unidos fechar a base, estão falando apenas em fechar a prisão. Lá, em Guantánamo, estão os prisioneiros que eles chamam de terroristas. Há mais ou menos dois ou três anos, Cuba denunciou à Comissão de Direitos Humanos de Genebra: “não queremos humilhar os Estados Unidos, mas desejamos que a Comissão peça a eles (peça e não imponha) informações sobre o que está acontecendo dentro da Base Naval de Guantánamo”. A Europa inteira rejeitou. No ano seguinte explodiu a coisa. Ou seja, as torturas praticadas em Abu Ghraib (Iraque) foram resultados de treinamentos feitos pelos soldados dos EUA em Guantánamo. Os métodos de tortura foram feitos em Guantánamo e aplicados em Abu Ghraib. Hoje a comunidade internacional está protestando, não só pela existência da base, mas contra a política de tortura e a violação dos direitos humanos feita pelos Estados Unidos. O que é ainda mais ridículo quando o governo americano acaba de apresentar um documento com mais de 6 mil páginas, criticando os direitos humanos em todos os países do mundo, menos nos Estados Unidos. Agora todo mundo conhece o que acontece na Base Naval de Guantánamo, o que aconteceu em Abu Ghraib e o que acontece nas transferências de presos para a Europa e outros países, onde é permitida a tortura de prisioneiros. Revista do Professor - O governo norte-americano disse, no mês passado, que a ONU deve estar sendo influenciada por terroristas, após a exigência para que o governo feche a prisão de Guantánamo. O que o senhor acha disso? Carlos Trejo - É uma contradição. Enquanto isso, os verdadeiros terroristas, reconhecidos pelo FBI, estão nos Estados Unidos protegidos. Aí tem a contradição de um país que fala da guerra contra o terrorismo. E os cinco cubanos que estavam infiltrados dentro de grupos terroristas, tentando prevenir uma série de ações, evitando assim crimes dentro de Cuba e dos EUA? Estão presos até agora, enquanto os verdadeiros terroristas estão nas ruas protegidos pelo governo americano, como é o caso do terrorista Posada Carrilles, preso em 2005 nos EUA. Com as suas informações, cinco patriotas cubanos presos nos EUA preveniram no mínimo 170 ações terroristas dentro do território americano. Isso são fatos. E talvez agora os Estados Unidos estejam sofrendo as conseqüências das suas próprias políticas, pois o primeiro avião civil do mundo seqüestrado foi um cubano, e depois passaram a seqüestrar todas as semanas aviões cubanos para os EUA. Até que começaram a seqüestrar aviões americanos também. Eles treinaram os terroristas para atacar Cuba, e agora esses terroristas estão atuando no próprio Estados Unidos. A morte de Kennedy, Watergate, o caso Irã-Contras nos EUA e muitas outras coisas em que eles estão envolvidos. A baía de Guantánamo A Baía de Guantánamo fica localizada ao sul da ilha de Cuba e tem cerca de 111,9 km² de área. É na Base Naval Guantánamo que se encontram os prisioneiros das guerras do Afeganistão e Iraque, pois desde janeiro de 2002, os EUA utilizam a base para deter prisioneiros da operação militar que derrubou o regime Taleban e suspeitos de integrar a rede terrorista Al Qaeda. O governo norte-americano está violando os direitos estabelecidos pela Convenção de Genebra, sob o argumento de que não são “prisioneiros de guerra”, e sim “combatentes inimigos”. Essa definição não existe no mundo jurídico, mas na prática colocou os presos num limbo fora das leis internacionais, pois a manutenção da base de Guantánamo não encontra amparo em nenhuma convenção internacional e, por isso, não há como fiscalizar o que acontece em seu interior. Os presos, muitas vezes, não possuem sequer direito a advogados, visitas ou mesmo a um julgamento. Denúncias de torturas, estupros e assassinatos são comuns, e os Estados Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Unidos não permitem que a ONU verifique as condições da base e do tratamento recebido por esses prisioneiros. Investigadores de direitos humanos das Nações Unidas exigiram, recentemente, que o governo americano feche a prisão de BASE NAVAL DE GUANTANANO Guantánamo. Os comissários da ONU ouviram ex-detentos e advogados, e num relatório de 54 páginas fizeram acusações de tortura e violação de direitos. Além disso, os Estados Unidos estariam violando o próprio “convênio” que eles deixaram estabelecido na Emenda Platt, imposta à Constituição Cubana em 1902. Segundo o qual, o território da Baía de Guantánamo deveria servir apenas para a base naval e instalação de empresas carvoeiras, e não para ser utilizado como prisão. Atualmente, há em Guantánamo cerca de 660 prisioneiros, de 43 países, sendo a maioria do Afeganistão. Segundo a ONG Centro para os Direitos Constitucionais, existem inclusive prisioneiros menores de idades e idosos. Núcleo de Estudos Algumas perguntas e respostas sobre a Cuba-Venezuela “(...) e os Estados Unidos parecem destinados a infestar a América de misérias em nome da liberdade (...)”, Simón Bolívar O Núcleo de Estudos Cuba-Venezuela (NECV) foi criado em 1º de abril de 2005, no aniversário de 40 anos da Carta de Despedida (1º de abril de 1965), enviada por Ernesto Che Guevara para o povo e o governo de Cuba, anunciando que outros rincões da América requisitavam seus esforços de lutador pela justiça e pela transformação social. Desde esta data, são realizadas inúmeras atividades, como debates, lançamento de livros, estudo de textos, reuniões organizativas, participação em eventos que tratam de temas relacionados ao estudo de Cuba e Venezuela, etc. O NECV é um coletivo formado por professores e estudantes do Centro Universitário Fundação Santo André e membros de outras organizações e/ou movimentos sociais que também tem interesse em estudar a realidade de Cuba e Venezuela. Nossos principais objetivos são: - estudar profundamente a realidade econômica, social, política e cultural de Cuba e Venezuela, buscando compreender, através de uma análise crítica, o caminho escolhido por estes países no que diz respeito ao seu processo de desenvolvimento; - compreender, através do estudo das revoluções cubana e venezuelana, o significado das lutas sociais antiimperialistas em nosso continente; - desenvolver pesquisas coletivas e/ou individuais com temas relacionados ao estudo de Cuba e Venezuela; - organizar e participar de atividades que estejam relacionadas com os objetivos definidos pelo NECV, dentro e fora do Centro Universitário Fundação Santo André; - organizar visitas à Cuba (janeiro e julho de 2007) e à Venezuela; - fortalecer/ampliar as parcerias com entidades e instituições que podem contribuir com o desenvolvimento das atividades do Núcleo; - elaborar um convênio com universidades cubanas e venezuelanas com o objetivo de desenvolver um efetivo intercâmbio entre estudantes e professores dos três países (Brasil, Cuba, Venezuela). Contatos com o NECV: [email protected] “Vivemos esse tempo, difícil, nem sempre com segurança no que fazemos, porém com capacidade para retificar nossos erros e continuar a construção da sociedade mais justa que conhecemos. O caminho é longo e nada fácil, mas é o caminho que nos permite viver com dignidade e inteireza. Não podemos duvidar nem um segundo, há que continuar e aperfeiçoar a obra que nos foi legada por aqueles que nos antecederam. Por eles, para não desonrá-los nunca; por nós, para continuar vivendo; e por amor a nossos filhos para que tenham todos a ternura e a força com Educação em Cuba Informações fornecidas pela Embaixada de Cuba no Brasil, 300 perguntas e respostas, em http://www.embaixadacuba.org.br . Como é a educação em Cuba? O artigo 39 da Constituição da República estabelece que o ensino é função do Estado e é gratuito. Baseia-se nas conclusões e contribuições da ciência e na relação mais estreita do estudo com a vida, o trabalho e a produção. Quanto um estudante tem de pagar para cursar o ensino fundamental I e II, técnico médio, médio e superior? Por direito constitucional nenhum cidadão cubano tem de pagar para cursar os diferentes ciclos do ensino. Portanto, a família cubana conta com a tranqüilidade e garantia de que seus filhos têm garantido o ensino desde o nível fundamental até o superior sem custos. Qual o quadro do analfabetismo? Em 1958, antes do Triunfo da revolução, 23,6% da população cubana era analfabeta e, entre a população rural, os analfabetos eram 41,7%. Em 1961 se realiza uma campanha nacional para alfabetizar a população e Cuba é declarada livre de analfabetismo. No ano 2000 a taxa de analfabetismo (entre a população com 10 anos ou mais) é de 3,8%. Qual é o nível de escolaridade dos trabalhadores? Os trabalhadores cubanos possuem, em média, 9 séries de escolaridade. Um entre cada sete trabalhadores tem nível superior. Qual é a porcentagem da população no ensino fundamental II? A cada oito cidadãos cubanos, um possui formação técnica secundária. Quantas pessoas com nível universitário existem em Cuba? Em Cuba há 700 mil pessoas com título universitário, o que significa que, a cada 15 cidadãos, um possui nível superior. Qual o quadro da escolarização no país? A taxa de escolarização no ano 2000 apresentou os seguintes índices: ¨ De 6 a 11 anos 99,1% ¨ De 12 a 14 anos 96,3% ¨ De 6 a 14 anos 98,2% Qual o quadro da evasão escolar? Durante o período escolar 1998 – 1999 a evasão escolar por séries foi a seguinte: Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Fundamental I Fundamental II Médio Técnico e Profissionalizante 3,5% Especial 0,4% 0,9% 3,6% Quantos professores dão aula no nível superior? O Ensino Superior cubano contava, no ano 2001, com 19.479 professores. 0,5% Quantos estrangeiros realizam cursos de mestrado e de doutorado em Cuba? Em 2001, um total de 798 estrangeiros se encontravam cursando mestrados e doutorados nas universidades cubanas (389 em mestrados e 407 em doutorados). Qual a taxa de pessoal docente para cada mil habitantes? A relação do pessoal docente em Cuba é de 17,1 para cada mil habitantes. Qual a porcentagem alunos – professor nos diferentes níveis de ensino? No ano 2000 a porcentagem alunos – professor foi a seguinte: Ensino fundamental 12,8 alunos x professor Ensino médio 12,0 alunos por professor Ensino superior 5,6 alunos x professor Quantos cursos existem no ensino superior? Em Cuba existem 82 cursos que abarcam diversas áreas. Quantos centros de educação superior existem em Cuba? A rede de Instituições de Educação Superior em Cuba está composta por: 15 universidades e institutos superiores inscritos no Ministério da Educação Superior (MES), uma Sede universitária e uma Filial para duas universidades subordinadas ou reconhecidas no Ministério da Educação (MINED), quatro Institutos Superiores de Ciências Médicas, a Escola Latino-americana de Medicina e 9 faculdades independentes (no total 21 Faculdades de Medicina) reconhecidas no Ministério da Saúde Pública (MINSAP); 8 Centros de Ensino do MINFAR (Ministério das Forças Armadas) e uma do MININT (Ministério do Interior); a Escola Superior do PCC (Partido Comunista Cubano), a Escola Latino-americana de Cultura Física e outros 5 Institutos reconhecidos na mesma quantidade de organismos: INDER (Instituto Nacional de Desportos, Educação Física e Recreação), MEP (Ministério da Economia e Planejamento), MINREX (Ministério das Relações Exteriores), CITMA (Ministério da Ciência Tecnologia e Meio Ambiente), para um total de 63 Instituições da Educação Superior. Qual o número de matriculados no Ensino Universitário? A matrícula total é de 154 mil alunos, distribuídos da seguinte maneira: ¨ Curso regular diurno 84.248 ¨ Curso regular para trabalhadores 47.812 ¨ Ensino a distância 11.669 Quantos estudantes estrangeiros se graduaram nas Universidades Cubanas? Até o ano de 2001, tinham se graduado nas universidades cubanas um total de 16.472 estrangeiros. Quantos estudantes estrangeiros realizam estudos de nível superior como bolsistas (bolsas integrais)? Em Cuba, no ano 2001, encontravam-se estudando 10.700 estrangeiros como bolsistas integrais (bolsas gratuitas). Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Qual o quadro da pós-graduação em Cuba? No calendário 2000 – 2001 foram aprovados 119.615 graduados universitários em 6.486 cursos. Esta cifra representa mais de 40% dos graduados nas especialidades cursadas. Qual é a participação das Universidades cubanas no processo de pesquisa no país? Por definição estatal, todas as universidades cubanas participam da atividade de pesquisa no país. Em 2001 participavam das atividades realizadas pelas Universidades e Centros de Pesquisa do MES (Ministério de Educação Superior), 5200 professores universitários, 800 pesquisadores, 500 jovens profissionais como reserva científica especialista, e mais de 16 mil estudantes universitários. Quantos estudantes estrangeiros realizam estudos gratuitos na Escola Latino-americana de Ciências Médicas? Em 2001 estavam realizando estudos gratuitos (com bolsas patrocinadas pelo Governo Cubano e que cobriam todos os gastos) na Escola Latino-americana de Ciências Médicas (ELACM) 4.856 estudantes procedentes de 24 países, que representam 42 etnias. Também se encontram estudando medicina, gratuitamente, 250 jovens do Haiti na faculdade caribenha que funciona na província de Santiago de Cuba. Quantos Centros Culturais existem no país? Os principais Centros Culturais existentes no país em 2000 eram: ¨ Cinemas (salas para projeção de 35 mm) Livros Sobre a Revolução Cubana: - Rumo à Sierra Maestra - os diários inéditos da guerrilha cubana Che Guevara e Raúl Castro Editora Expressão Popular - Che Guevara - Política Eder Sader Editora Expressão Popular - Fidel: a estratégia política da vitória - Marta Harnecker Editora Expressão Popular - http://www.expressaopopular.com. br - A Revolução Cubana - Luis Fernando Ayerbe Editora Unesp - http://www.editoraunesp.com.br A Revolução Cubana na Internet: http://www.embaixadacuba.org.br internacional acervo pessoal Irã: o monopólio da boçalidade Por Laerte Braga A decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas levando o Irã a julgamento em conseqüência da retomada do programa nuclear daquele país é tão somente o predomínio do mais boçal e estúpido dentre todos os monopólios detidos ou pretendidos pelas grandes nações: o das armas nucleares. Países como o Irã são presas fáceis do terrorismo de mercado imposto ao mundo desde o fim da União Soviética. A hipocrisia da preocupação com a paz mundial se esvai quando é possível lembrar recente declaração do principal terrorista estadunidense, George W. Bush, de que “se necessário, usaremos armas nucleares para implantar a democracia no Iraque”. Foi feita quando se presumia que a reação da Guarda Republicana, considerada a principal força de Sadam Hussein, pudesse dificultar a ocupação do Iraque e o controle do petróleo. Não há que se ter dúvidas disso. Seja pela mentira das armas químicas e biológicas que não existiam, seja pelos exemplos de Hiroshima e Nagasaki. Arnold Toynbee considerava que a guerra nuclear era inevitável. Para o historiador inglês, os elevados gastos com armas e os interesses antagônicos dos dois blocos de então, URSS e EUA, além da irracionalidade clássica de setores das forças armadas dessas nações, acabariam levando ao que chamou de “holocausto nuclear”. Toynbee foi ainda mais longe. Fez conjeturas sobre o tipo de sociedade que emergiria do conflito. O voto do Brasil contra o Irã foi lamentável sob todos os aspectos. O governo de Lula vinha se abstendo até agora, mesmo porque o Brasil tem um programa nuclear semelhante ao do Irã. O país tem sofrido pressões estadunidenses para abandoná-lo, ou submeter-se a um controle que, na prática, significa aceitar a imposição de tecnologias que permitam manter o programa brasileiro sob vigilância e dependência dos donos do monopólio nuclear. Os países com armas nucleares, à exceção da China e da Coréia do Norte, têm governos controlados pelos Estados Unidos, sobretudo Paquistão, hoje o mais importante aliado da Casa Branca na guerra do Afeganistão. Não há uma única linha de protesto sobre armas nucleares de Israel. Todas elas desenvolvidas com aval e parte generosa dos recursos provindos dos EUA. Pelo contrário, o governo israelense, quando ainda sob o comando de Sharon, colocou-se à disposição para bombardear as instalações nucleares iranianas, tal e qual fez com as do Iraque. A idéia só não foi levada à frente pois se constatou que, ao contrário de Sadam, o Irã tomou medidas para proteger suas instalações de eventuais sortidas terroristas. Sobre esse assunto é irrelevante o julgamento de mérito do governo do Irã. CONTRATEMPO PARA BUSH Desenvolver armas nucleares, por mais boçal que seja, acaba sendo um ato de legítima defesa diante da ameaça imperial e terrorista dos Estados Unidos. O controle da tecnologia nuclear é fundamental para a sobrevivência da soberania de boa parte das nações do mundo, postas de joelhos com o avanço do processo de globalização, codinome da recolonização. Quais as conseqüências da decisão do Conselho de Segurança, difícil prever. A Coréia do Norte foi condenada e até agora nada aconteceu. Talvez por conta do seu limitado arsenal nuclear, ou das facilidades de um ataque maciço contra o país. Pequeno e devastado por uma ditadura cruel e sanguinária. O caso do Irã é diferente. O país tem governo legítimo, condições de resistência a um ataque terrorista como a que aconteceu contra o Iraque bem melhores e mais efetivas e pode vir a representar um contratempo sério para as políticas de Bush, já sob forte contestação em seu próprio país. O controle dos meios de comunicação tem sido, no geral, suficiente para mascarar uma situação de caos no Iraque. O pouco que chega ao conhecimento dos eleitores estadunidenses causa problemas e dificuldades ao governo terrorista de Bush.A conjuntura latino-americana, por exemplo, começa a mostrar-se desfavorável aos EUA e o antigo quintal, pelo menos neste momento, começa a se pretender varanda e ante-sala de um momento de intensa resistência. O discurso de Hugo Chávez no Fórum Social Mundial sinalizou nessa direção e reflete isso. Como a eleição de Evo Morales na Bolívia e as perspectivas no Peru e no México. Por mais que possa parecer quimera, só há sentido em políticas repressivas a programas nucleares se as mesmas forem adotadas em relação a todas as nações detentoras de armas atômicas. Fora disso é apenas assinar uma procuração em branco para terroristas como Bush e assegurar ao império o domínio absoluto e total de todo o mundo. NAÇÕES ARMADAS A mudança de posição da Rússia e da China, que também vinham se abstendo no Conselho de Segurança da ONU, serve para mostrar que o que existe é um clube de nações armadas até os dentes e que concordam em repartir o mundo segundo seus interesses. Não exclui conflitos futuros entre elas. Apenas convergência momentânea de objetivos, o maior deles, repartir o botim. O fim do ciclo do petróleo, a perspectiva cada vez mais real de escassez de água doce, o avanço desmesurado e inconseqüente da economia de mercado, predadora por si e em si, sugerem uma nova Idade Média. A Idade Média da Tecnologia e o controle por poucos do poder de destruir o mundo só interessam a esses poucos. É o monopólio da boçalidade. O que parece ser uma preocupação com a paz é tão-somente a velha hipocrisia das democracias onde nada muda e tudo converge para um eixo, esse sim, do mal e que num dado momento, quando a reação iraquiana se fazia sentir de maneira acentuada, à época da invasão, Donald Rumsfeld chamou de “operação choque e terror”. Foi quando Bush disse que usaria armas nucleares se a democracia assim o exigisse. A democracia no caso é o que eles entendem, o conceito é deles. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC nacional Reestatização da Vale do Rio Doce Revisão do processo de privatização da Vale pode devolvê-la ao patrimônio nacional O processo de venda da Companhia Vale do Rio Doce e de outras empresas estatais que atuavam em setores estratégicos da economia nacional, ocasionou, sem dúvida, a maior transferência de patrimônio público do Estado brasileiro para o setor privado ao longo do governo FHC e do PSDB. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Uma das ações mais polêmicas do governo Fernando Henrique Cardoso pode vir a ser revertida conforme uma decisão judicial tomada em Brasília. A revisão do processo da privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi determinada pela 5ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF), que determinou também a retomada da Ação Popular (1997) pela anulação do leilão que privatizou a companhia. No dia 2 de fevereiro deste ano, foi publicada a decisão da desembargadora federal, Selene Maria de Almeida, em que anula a sentença de extinção dos processos. As denúncias de corrupção que envolve a privatização serão apuradas em duas frentes. A primeira, relacionada ao volume total de reservas em poder da companhia. E a segunda denúncia evidencia a fraude que envolve a corretora Merril Lynch responsável pela avaliação do patrimônio da Vale, e sua estreita relação com a empresa Anglo American, que participou diretamente do leilão da companhia. Os réus do processo são a União, o BNDES (que financiou com dinheiro público a venda da companhia), Luis Carlos Mendonça de Barros, Bradesco, CVRD, Merril Lynch (responsável pela definição do preço da empresa e organização do leilão), o banco de investimentos NM Rothschild & Sons Limited, entre outros. A justiça ainda não sabe a que penas eles podem ser submetidos caso percam o processo. Além disso, o tribunal determinou a revisão do processo de avaliação do patrimônio da Vale. O resultado pode ser uma revisão sobre o valor da venda, avaliada na época em R$ 10 bilhões e vendida por apenas R$ 3,34 bilhões, ou até mesmo a reestatização da empresa. “A Vale não deveria ter sido privatizada, primeiro porque houve ilícitos no edital e, portanto, o edital é nulo por pleno direito. Segundo que o preço pelo qual foi vendida é um preço vil, haja vista a própria avaliação do diretor financeiro da Vale que disse, no final do ano passado, que a empresa vale U$ 40 bilhões e também pelo fato de que em nossa extensão territorial existem minérios de grande potencial e nós temos que fazer uma reavaliação de toda essa riqueza”, afirma a deputada Dra. Clair, autora de uma das Ações Populares contra a privatização da empresa e coordenadora do Movimento Nacional em Defesa do Patrimônio Público. A empresa foi vendida em 7 de maio de 1997, em leilão realizado na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, com amplo aparato policial de um lado e de grande manifestação pública do outro. Naquela manhã, uma das maiores empresas de mineração do mundo teve 41,73% das ações ordinárias do governo federal, seu principal acionista e controlador, compradas pelo consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). A privatização da estatal atentou contra a necessária preservação das riquezas nacionais fundamentais para a soberania e o desenvolvimento do Brasil. Criada em 1942, no governo Getúlio Vargas, a companhia desenvolveu um complexo de 54 empresas em setores diversos como produção de fertilizantes, papel e celulose, siderurgia, transporte ferroviário e marítimo, além, é claro, de minerais metálicos e não-metálicos. Suas atividades atingiam lucros anuais de cerca de US$ 500 milhões, e ainda assim os 41,73% das ações da empresa foram vendidas pela modesta quantia de R$ 3,34 bilhões. O processo de venda da Companhia Vale do Rio Doce e de outras empresas estatais que atuavam em setores estratégicos da economia nacional, ocasionou, sem dúvida, a maior transferência de patrimônio público do Estado brasileiro para o setor privado ao longo do governo FHC e do PSDB. A negociata da venda da CVRD, como a das outras estatais, deverá vir à tona com a instalação da CPI das privatizações, aprovada recentemente no Congresso Nacional. Objeto de investigação da nova comissão, o Programa Nacional de Desestatização arrecadou, pelos números oficiais, cerca de R$ 100 bilhões. Além de suspeitas de corrupção, estará em foco a destinação desses recursos. Mas os trabalhos de investigação ainda não começaram porque o BNDES, Bradesco, CVRD e NM Rothchild, réus do processo, entraram com recurso no TRF. O que gera mais um motivo para a mobilização fotos: Josane Beckman da direita para a esquerda: Dep. Ivan Valente, Dep. Dra. Clair, Dep.Renato Simões e Julio Turra. Comitê pela valorização do patrimônio público Os críticos da privatização já estão se preparando. Em janeiro deste ano, começaram a discutir a idéia de criação de frentes parlamentares em defesa da Vale do Rio Doce. Esse processo foi encabeçado pela Dep. Dra. Clair (PT-PR), Dep. Socorro Gomes do (PCdoB-PA) e o Dep. Renato Simões (PT-SP). Por acreditarem que a Companhia Vale do Rio Doce representa uma empresa estratégica para o país, os deputados estão mobilizando organizações da sociedade civil no Pará, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo para criação de comitês para acompanhar o processo judicial que está revendo a privatização da estatal. Os comitês pretendem acompanhar a auditoria que foi determinada pela 5ª Turma do Tribunal Regional Federal, no ano passado, para saber se a Vale foi vendida por menos do que ela valia. “No começo de fevereiro a gente constituiu uma frente parlamentar em defesa do patrimônio público, e no mesmo dia chamamos uma plenária de entidades sindicais, populares, estudantis, e lá se lançou a idéia de não ficarmos apenas numa articulação de parlamentares, mas de criar um movimento de opinião pública”, conta o deputado Renato Simões, coordenador do Comitê em São Paulo. Centenas de Ações Populares se somam às manifestações dos movimentos sociais organizados para defender o patrimônio público e o país de um crime de lesa pátria. Um dos comitês pela valorização do patrimônio público e pela anulação da privatização da Vale já foi criado no Estado de São Paulo. -“Consideramos queProfessores a mobilização Revista do Professor SINPRO Sindicato dos do ABC parlamentar e social é de fundamental importância, porque em 1997 houve uma grande mobilização da população contrária à privatização dessa importante empresa, e agora entendemos que temos que retomar essa mobilização para garantir a anulação do processo de privatização da Vale do Rio Doce”, explica a deputada Dra. Clair. O lançamento oficial do comitê no estado de São Paulo foi no dia 24 de março, e segundo o deputado Renato Simões, esse movimento vem para unir a força dos parlamentares, partidos políticos, entidades sindicais, populares e movimentos sociais de maneira em geral, para criar um movimento de pressão para que o governo Lula possa assumir a luta pela anulação do leilão da Vale. “Nós esperamos que o governo tenha compromisso com essa bandeira porque o governo hoje é réu na ação e ele pode, por uma decisão soberana, que o presidente Lula tem toda a legitimidade para fazer, pelo voto popular que recebeu, sair do pólo passivo e passar para o pólo ativo da ação”, acredita o deputado. O comitê entregou ao assessor do presidente, Gilberto Carvalho, cópia da ação e da decisão, e também andou conversando com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A deputada Dra. Clair acredita Ato de lançamento do comitê em São Paulo que vai depender da mobilização popular uma tomada de decisão do presidente. “Nós estamos fazendo um abaixo assinado com toda a população de vários estados e pretendemos encaminhar ao presidente da república para que a União, que é ré no processo, mude de lado e passe a ser também autora concordando com todos os nossos argumentos”, diz. A organização do movimento espera multiplicar esses comitês nas várias regiões do estado, fazer um circuito de debates nas universidades, nos sindicatos e nos movimentos sociais de São Paulo, e ganhar o apoio de formadores de opinião através dos meios de comunicação. “A intenção é que nós consigamos o objetivo de anular o leilão da Vale, reaver esse patrimônio público em mãos da União, e também fazer com que os atuais acionistas paguem o valor que seria devido pelos anos que eles desfrutaram desse patrimônio, ou seja, uma indenização correspondente ao lucro que eles tiverem e aos danos que eles causaram para a União”, afirma Dra. Clair. Enquanto isso, a Vale do Rio Doce está fazendo uma campanha publicitária milionária em todos os meios de comunicação de massa Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC desde o mês de fevereiro, pois está preocupada em ganhar a batalha da opinião pública para manter a estrutura privada. “Hoje mesmo, dia do lançamento do comitê em São Paulo a Vale comprou páginas inteiras dos principais jornais do estado de São Paulo para fazer propaganda institucional da empresa”, conta Renato Simões. “Nós vamos ter que fazer do nosso lado no campo democrático popular, para convencer a opinião pública que a empresa é mais útil ao país sendo uma empresa estatal”, acrescenta. Patrimônio Brasileiro Fundada em Minas Gerais, a Companhia Vale do Rio Doce é uma das maiores mineradoras do mundo. Em seu primeiro ano de atuação foram produzidas 40 mil toneladas de minério, quantidade que hoje é embarcada por hora. Calcula-se que suas reservas de ferro (sem contar outros minérios) possam durar 400 anos, com extração contínua. A empresa é uma das maiores produtoras de minério de ferro do planeta, respondendo sozinha por 30% do mercado mundial, o que gera um alto lucro com a crescente demanda das principais economias, pois o ferro é a matéria-prima essencial para produção do aço e expansão de setores como construção civil e indústria automobilística. Também é a segunda maior produtora mundial de manganês e ferroliga, com participação de 11% do mercado de transportes marítimos.Além disso, a Vale atua nos cinco continentes do mundo e é proprietária de dez portos. Quando foi privatizada, a Vale já se impunha como principal empresa exportadora do Brasil e líder no mercado mundial de minério de ferro. Era a maior produtora de alumínio e ouro da América Latina. Possuía e operava dois portos brasileiros de grandes dimensões (Tubarão, no ES, e Itaqui, no MA), contava com a maior frota de navios graneleiros do mundo e administrava 2.600 km de ferrovias, além de participação em 34 empresas com atuação em nove estados brasileiros. A Vale possuía também o direito de lavra de todas as descobertas minerais do projeto Radares da Amazônia (Radam). Eram 34 empresas próprias, que interagiam com agricultura (produção de fertilizantes), indústria (minerais metálicos e não metálicos, siderúrgica, papel e celulose), transporte (ferroviário e marítimo) e comércio exterior. O complexo lucrava cerca de US$ 500 milhões por ano. Entre as reservas minerais da Companhia Vale do Rio Doce encontram-se 41 bilhões de toneladas de minério de ferro, 3,5 bilhões de toneladas de minério de bauxita, 1,2 bilhões de toneladas de minério de cobre, 165 milhões de toneladas de caulim, milhões de manganês, 70 milhões de níquel, 1,8 milhão de toneladas de urânio, 1 milhão de toneladas de titânio, 800 toneladas de ouro e muitos outras riquezas como platina, prata, paládio, nióbio, zinco, diamantes e tório. especial 20 anos de história fotos: arquivo do SINPRO ABC O sindicato dos professores surgiu a partir de uma conversa informal e de uma necessidade real, numa conjuntura em que o trabalho docente vivia a precarização e a extrema exploração. Organizou-se primeiramente como Associação Profissional dos Professores do ABC (APRO-ABC), em 1984. Em 1986, foi eleita a primeira diretoria do SINPRO-ABC, marcando o nascimento do Sindicato dos Professores do ABC, um novo espaço de luta em defesa da categoria. Surgiu numa conjuntura contra a ditadura militar, uma realidade que toda a esquerda vivia. No sindicalismo, a luta era contra os pelegos. Naquele período, muitas greves eram organizadas, e o Sindicato dos professores participou de muitas delas, como a greve da FEI que durou cerca de um mês, em 1987. O sindicato passou por muitas mudanças. Com uma história de lutas e muita resistência, conquistou vários direitos que sequer existiam e que pareciam impossíveis há 20 anos. Em 1988, o SINPRO assina a Convenção Coletiva do 1º e 2º grau e cursos livres. Através dela, os professores conquistaram o piso salarial, hora-atividade, bolsa de estudos para dependentes e o pagamento das janelas. No início, não havia data certa para o pagamento de salário, as escolas pagavam quando queriam. Se o professor fosse demitido em setembro, por exemplo, a escola não pagava o recesso. Não havia semestralidade. Na época, o professor recebia por aula dada. A partir de 1989 a diretoria do SINPRO-ABC passou também a negociar e assinar convênios com uma série de empresas obtendo descontos em serviços de saúde e lazer para os professores sindicalizados. O SINPRO-ABC foi o primeiro sindicato dos professores das escolas privadas a se filiar à Central Única dos Trabalhadores (CUT), e também participou da fundação da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (FEPESP). O sindicato também é afiliado à CONTEE, DIAP e DIEESE. Sempre engajado em campanhas e manifestações de acordo com o seu ponto de vista político e ideológico, o Sindicato dos Professores do ABC foi o primeiro dos sindicatos a levantar a bandeira “Fora Collor”, em 1991. Com 20 anos de existência, o SINPRO ABC representa atualmente os professores de toda a rede de ensino privado das cidades Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC Sindicato dos Professores do ABC relembra duas décadas de luta de Santo André, São Bernardo e São Caetano do Sul. Sua base constitui-se de aproximadamente 3 mil professores sindicalizados, desde a educação infantil até o ensino superior. Hoje, o sindicato conta com duas publicações responsáveis pela abordagem dos mais variados assuntos de interesse da categoria: um boletim informativo distribuído mensalmente com tiragem de 4 mil exemplares, e a Revista do Professor que passou a ser trimestral a partir desse ano. Além disso, O SINPRO-ABC mantém uma página na internet que funciona como suporte para publicação de notícias sobre as ações do sindicato, do movimento sindical, temas educacionais e outros de interesse da categoria. Avaliação dos 20 anos do SINPRO-ABC segundo presidentes que ajudaram a construir a história do sindicato “O Sindicato surgiu num momento em que fazer greve era bem comum. Hoje o sindicato é muito diferente de antigamente, não que hoje seja pior, mas corresponde a uma outra conjuntura. Agora a Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC realidade é outra, muitas coisas já foram conquistadas. Quando começou não tínhamos quase nenhum direito”, José Carlos de Oliveira Costa (1986-1989/ 1992-1995).” “A época em que presidi o sindicato foi gratificante. Trabalhamos com todas as correntes políticas, professores de todas as tendências. Foi um trabalho democrático”, Eduardo Teixeira (1995-1998).” “O sindicato cresceu, se firmou perante a categoria, ele vem mantendo os direitos dos professores e fazendo com que esses direitos sejam cumpridos. É um sindicato que prima pela luta, pela organização dos trabalhadores, não é um sindicalismo de resultados. É um sindicato que respeita o professor e garante a valorização da profissão”, Célia Regina Ferrari (1999-2001/20022004).” “Os 20 anos do SINPRO-ABC marcam um avanço de uma série de conquistas da categoria que antes não tinha nenhum tipo de direito. Eu acredito que, na atual conjuntura, os períodos das conquistas já passaram, em decorrência do próprio enfraquecimento do educação Ensino Fundamental agora tem nove anos de duração Mudança na Lei de Diretrizes e Bases da Educação torna obrigatório matrícula aos 6 anos de idade A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) 9.394/96 que vigora no país desde 1996, determina que a estrutura de ensino seja dividida em dois níveis: Educação Básica e Educação Superior, sendo que a Educação Básica se divide em Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. O Ensino Fundamental que tinha a duração de 8 anos, a partir de 2006 terá duração mínima de nove anos e a matrícula será obrigatória aos seis anos de idade. Essas medidas estão previstas na nova Lei 11.274/2006 aprovada no Senado e sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no início deste ano. “Não vai ser acrescentado um ano de estudo, na verdade estão tirando um ano da Educação Iinfantil e passando para o Ensino Fundamental”, explica Nelson Valverde Dias, Diretor do SINPRO-ABC. A Educação Infantil até o ano passado tinha duração de seis anos: de 0 a 3 anos de idade para creche e de 4 a 6 anos para Pré-Escola. O que têm ocorrido realmente é que no último ano da Pré-Escola, os alunos já estão sendo alfabetizados. Esse é um dos elementos que baseia a retirada de um ano do nível Pré-Escolar e transfere para o Ensino Fundamental, que tinha duração de oito anos e com essa nova lei passa a ter nove. Em todo o Brasil, 8,1 milhões de alunos em 25 mil escolas de 12 estados mais o Distrito Federal – o que equivale a 24% do total de matriculados no Ensino Fundamental – já freqüentam as aulas dentro do currículo de nove anos. Em 2003, eram 3,9 milhões alunos em 11,5 mil escolas. Dados do Censo 2000 apontavam que 81,7% das crianças já estavam na escola aos seis anos de idade. Conforme a análise da Comissão de Educação do Senado, já havia uma prática bastante difundida, principalmente entre as famílias de maior renda, de antecipar o início da escolarização. “A maioria dos pais já têm seus filhos sendo matriculados aos seis anos no Ensino Fundamental. A nova lei vem simplesmente para regularizar isso”, afirma Valverde. Segundo o Ministério da Educação, essa nova lei dará oportunidade para que todos alunos possam ser matriculados aos seis anos de idade e que tenham nove anos de estudo garantidos, aumentando a escolaridade. O que só ocorria com alunos da classe média e média alta, que freqüentavam a escola ou pré-escola mais cedo. As novas mudanças na Lei também não devem alterar a rotina de alunos que já estão no Ensino Fundamental. A única alteração será para os que começarão a cursá-lo, a partir de agora, aos seis anos de idade, com a adesão das escolas do país. “A nova Lei assegura que toda criança a partir dos 6 anos de idade terá direito de ser alfabetizada. Agora sendo obrigatório, passa a garantir o direito dessas crianças poderem ir à escola, já que antes era opcional”, concorda Valverde. Mas segundo o diretor do SINPRO-ABC, o que o governo está determinando nessa nova lei suscita alguns problemas. Existem muitos alunos na faixa etária de 7 anos fora da escola. Com a antecipação da entrada no Ensino Fundamental para 6 anos de idade, qual a garantia de atendimento àqueles que não conseguiram acesso? E as escolas disporão de espaço físico para receber essa nova quantidade de alunos? As prefeituras são responsáveis pelo atendimento em Creches e Pré-Escolas. Com a passagem desse último ano para o Ensino Fundamental, a Pré-Escola perde um ano. “O que fazer com esses professores? Haverá excedente de verba nas Prefeituras para a Educação Infantil? E onde está a verba para esse novo volume de alunos do Ensino Fundamental?”, questiona Valverde. A Lei dá prazo até 2010 para que todos os Municípios, Estados e Distrito Federal, além das escolas particulares, adotem o novo currículo, ou seja, haverá cinco anos para se adequar a esse novo regime. Também dentro deste prazo será feita a adaptação ao novo modelo das Pré-Escolas que passarão a atender crianças de quatro e cinco anos de idade. TIRANDO DÚVIDAS O Brasil já teve três Leis de Diretrizes e Bases da Educação, a primeira em 1961, quando finalmente se criou uma estrutura única de ensino; a segunda em 1971, e agora uma quarta lei substituindo a última criada em 96. Aqui estão respostas para as perguntas mais freqüentes sobre a nova LDB. 1. Como fazer com as crianças que estão sendo transferidas de uma rede ou escola que tenha o Ensino Fundamental de nove anos para uma que não tenha e vice-versa? Cada sistema de ensino deverá estabelecer critérios de equivalência. 2. Quanto tempo os sistemas têm para se adaptar? Conforme o artigo 5º da Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, os Sistemas Municipais e Estaduais terão o prazo até 2010, para implementar a obrigatoriedade para a ampliação do Ensino Fundamental e a abrangência da Pré-Escola de que trata o artigo 2º dessa Lei. 3. Como será realizada esta adaptação? Por meio de normatização do Conselho de Educação local, cada Sistema deverá se reorganizar dentro do prazo definido pela Lei nº 11.274, de 6 Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC A Lei dá prazo até 2010 para que todos os Municípios, Estados e Distrito Federal, além das escolas particulares, adotem o novo currículo, ou seja, haverá cinco anos para se adequar a esse novo de fevereiro de 2006 respeitando-se as especificidades de cada localidade e observando a Resolução nº 3 de 3 de agosto de 2005, Parecer nº 06 de 08 de junho de 2005 e Parecer nº 18 de 15 de setembro de 2005. 4. Os pais podem exigir a matrícula de seu filho de seis anos? Os pais deverão estar cientes do prazo de cinco anos que a mesma lei define. Portanto, as realidades e especificidades cada sistema e/ ou instituição deverão ser respeitadas. Dentro desse prazo, mediante adequações de inclusão no Ensino Fundamental, a criança de seis anos poderá freqüentar a Educação Infantil sem qualquer prejuízo em seu processo de desenvolvimento. 5. Como os sistemas, as escolas e os professores estão sendo preparados para atuar nesta nova série? Desde de 2003 o MEC vem desenvolvendo várias iniciativas junto aos Sistemas de Ensino, tais como a elaboração de documentos, apresentação, discussão e reelaboração dos documentos com a participação de todos os estados da federação, além de prestar assessoria aos Sistemas de Ensino, mediante demanda da Undime e do Consed. A partir de 2006, serão distribuídos kits contendo jogos pedagógicos para uso coletivo em sala de aula, três fitas contendo dez filmes sobre alfabetização e letramento: Letra Viva, um acervo a mais do PNBE. 6. O MEC vai distribuir livro didático ou outro material para estas crianças ou para estas escolas? Se a resposta for sim, qual a condição ou como fazer para receber o material? As turmas de crianças de seis anos já vêm sendo contempladas pelo PNLD. Contudo, encontra-se em processo de finalização as publicações “Ensino Fundamental de Nove Anos: orientações para a inclusão das crianças de seis anos” e “ Currículo: atualização e ampliação” ( título provisório) que deverão ser distribuídas a todas as escolas em processo de ampliação do Ensino Fundamental para 9 anos e às Secretarias Estaduais de Educação para subsidiar os profissionais da educação sobre esta política. 7. Com a obrigação do Estado de oferecer mais um ano de estudo, como as escolas lidarão com a questão de infra-estrutura e professores? Lembramos que ao assegurar que a matrícula das crianças de 6 (seis) anos de idade na instituição escolar permita o seu pleno desenvolvimento e o alcance dos objetivos do Ensino Fundamental em 9 (nove) anos, previstos na LDB 9.394, de 20 de dezembro de 1996, sem restringir a aprendizagem das crianças dessa faixa etária à exclusividade da alfabetização ao primeiro ano do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos, mas sim ampliando as possibilidades de aprendizagem, com maior qualidade, a nova organização do primeiro ano e dos demais anos iniciais do ensino fundamental. A ampliação do Ensino Fundamental requer, ainda, providências para o atendimento das necessidades de recursos humanos - professores, gestores e demais profissionais de educação - em termos de formação continuada, disponibilidade e organização dos tempos de planejamento pedagógico e de prática pedagógica, classificação e/ou promoção na carreira dos professores. Ressalte-se que os espaços Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC educativos, os materiais didáticos, o mobiliário e os equipamentos precisam estar adaptados para atender essa nova faixa etária que ingressa no Ensino Fundamental. 8. O que muda com a aprovação da Lei 11.274/2006 ? A lei garante a todas as crianças de seis anos de idade, a partir de 2010, o acesso ao nível de ensino obrigatório brasileiro, ou seja, Ensino Fundamental, ampliando a sua escolaridade em um ano. 9. Qual o objetivo da ampliação do Ensino Fundamental? Um dos eixos prioritários da Secretaria de Educação Básica é a qualidade social da educação e a inclusão social. A ampliação do Ensino Fundamental para nove anos tem como objetivo assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. Outra questão fundamental é de que com a aprovação da lei, as crianças menos favorecidas serão incluídas no sistema escolar. O Plano Nacional de Educação, no que se refere ao Ensino Fundamental, define: “ampliar para nove anos a duração do Ensino Fundamental obrigatório com início aos seis anos de idade, à medida que for sendo universalizado o atendimento na faixa de sete a 14 anos” e a Lei 9.394/96 , artigo 87, § 3º, inciso I estabelece que cabe ao Município e, supletivamente, ao Estado e à União “matricular todos os educandos a partir dos sete anos de idade e, facultativamente, a partir dos seis anos, no Ensino Fundamental. 10. Qual será o grupo socioeconômico mais beneficiado? Pelos dados do IBGE – 2000, temos 3.320.105 crianças de seis anos, sendo 81,7% atendidas (38,9% na educação infantil, 13,6 nas classes de alfabetização e 29,6% no ensino fundamental) e 18,3% não atendidas, representando estas o total de 607.579. São as crianças de seis anos, menos favorecidas sócio-economicamente que estão fora do sistema educacional, permitindo-nos concluir, portanto, que esta é uma política de inclusão social. 11. As escolas particulares também terão que incluir as crianças de seis anos no Ensino Fundamental? A Lei 11.274 dispõe sobre a duração de nove anos para o Ensino Fundamental tanto da rede pública de ensino, quanto da rede privada. As escolas particulares deverão adaptar a sua organização de atendimento, pois as crianças de seis anos, na sua maioria, estão matriculadas na Educação Infantil. 12. Alguma escola já adotou o ensino de nove anos? Segundo os dados preliminares do Censo Escolar 2005, estão matriculados no Ensino Fundamental de nove anos: Total no Brasil: 8.113.819 alunos; Escolas Federais: 5.943 alunos; Escolas Estaduais: 2.749.441 alunos; Escolas Municipais: 5.226.936 alunos; Escolas Particulares: 131.499 alunos. educação Sociologia e Filosofia no Ensino Médio: um resgate histórico Por Amaury Cesar Moraes É interessante notar como alguns temas se tornam polêmicos, revelando muito mais a fragilidade do contexto em que são abordados e menos de si mesmos. É o que vemos nas várias vezes em que a proposta de obrigatoriedade do ensino de Sociologia e Filosofia na escola média brasileira é trazida à baila. Já Florestan Fernandes, em 1954, aludia a essa situação. Naquela época, como nós hoje, o eminente sociólogo ao defender, durante o I Congresso Brasileiro de Sociologia, a obrigatoriedade da disciplina Sociologia na escola secundária brasileira, visava antes de tudo a um questionamento do currículo escolar, que ele entendia muito inadequado, ultrapassado e ineficiente para as expectativas nacionais em relação à escola básica. Tinha o professor como principal objetivo de sua intervenção “debater a conveniência de manter a estrutura do sistema educacional do país e a conveniência de aproveitar, de maneira mais construtiva, as ciências humanas no currículo da escola secundária”. Mesmo no interior de um congresso de sociólogos o tema gerou polêmica, já se vendo que não se trata, como a ligeireza com que os oponentes da idéia a entendem, de uma proposta meramente corporativista, mas disso trataremos mais à frente. Alguns argumentaram que o currículo da escola média estava por demais saturado, caracterizando-o como ‘enciclopédico’; que não comportava mais uma disciplina. Outros eram mais técnicos e queriam saber o que e como seria ensinada na disciplina Sociologia. Esse anti-enciclopedismo hoje retorna como fundo de uma tendência à desdisciplinarização. Neologismos muito ao gosto dos discursos pedagógicos que reiteram sempre a simplicidade de uma escola que deve “ensinar a ler, escrever e contar”...Noutro lugar tivemos oportunidade de comentar essa ilusória simplicidade atribuída pelos pedagogos à escola e pudemos ajuntar que ler, escrever e contar se fazem em níveis diferentes, em contextos diversos, em campos disciplinares distintos. Não se reduzem ao ensino da língua pátria e à matemática. Pois bem, está nas mãos dos senhores membros da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação uma mensagem encaminhada pela Secretaria de Educação Básica do MEC em que se propõe a introdução ou reintrodução da Sociologia e Filosofia como disciplinas obrigatórias nas escolas de ensino médio do país. Há duas possíveis leituras imediatas desse documento. Em uma, como a nossa, de professores, sociólogos, filósofos, alunos e um grande número de entidades representativas de diferentes setores intelectuais, profissionais e populares e que ajudaram na elaboração do documento em pauta, entende-se que estaríamos apenas a fazer uma “correção de percurso”, revisando a leitura equivocada feita nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, a respeito do artigo 36, § 1º., inciso III da LDBEN 9394/96, restabelecendo o sentido próprio que o legislador quis lhe dar. A outra leitura entende que haveria um “desvio de percurso”, tendo em vista que a ‘tendência’ internacional é para a desdisciplinarização dos currículos, aliás, a simples menção à palavra disciplina causa mal-estar em alguns desses educadores. Numa leitura mais acurada do documento, percebe-se, no entanto, que a proposta de obrigatoriedade é uma reação justificada e consistente a uma interpretação muito arbitrária e distorcida da lei maior, mas, sobretudo um apelo para um tratamento honesto, cuidadoso e responsável da educação de nossos jovens. Aludir a ‘tendências’ não é argumento que se sustente quer porque parece sujeitar a educação nacional – como de resto tem-se feito noutros setores – a modismos – doença congênita da educação brasileira, diga-se de passagem – ou a uma naturalização das coisas, abdicando o homem de seu papel na História, como se a história do homem fosse apenas um capítulo da História Natural, submetido às suas leis. Como sociólogo ou filósofo repugna-nos essa postura, como educador cremos que a educação deve ser pensada em termos de longo prazo e não de imediatismos, é uma questão de Estado e não de governos. Pode ser um lugar comum, mas cabe trazer esse dever intelectual que nos anima: tudo merece passar por uma avaliação crítica e não ser seguido cegamente. Sobre a idéia de interdisciplinaridade, cantada em prosa e verso por quantos se pretendem progressistas ou pragmáticos, paira desde sempre, e muito mais ultimamente quando virou panacéia dos males da educação, tornando-se hegemônica no discurso pedagógico; mas há uma tal profusão de interpretações e aplicações que não se poderia encontrar dois pobres professores ou dois nobres educadores que tenham minimamente alguma convergência quanto ao que é e como se faz. Para muitos nem existe e o que se pode no melhor dos casos fazer é juntar equipes multidisciplinares que tratem de um mesmo tema ou objeto etc.; mas isso de certa forma o currículo como está já garante. Se não garante, trata-se menos de domínio de uma nomenclatura ou estratégias didáticas especiais e muito mais de uma formação bastante deficiente que se promove nas instituições de ensino superior responsáveis pelo credenciamento de professores. Qualquer boa intenção é desperdiçada quando quem a põe em prática ignora o seu sentido e/ou não tem as condições próprias para a sua efetivação. No caso do Brasil, é tudo isso e mais um pouco. Muita vez, o que transparece nesse discurso pedagógico que defende a interdisciplinaridade é uma nostalgia de uma imagem da Filosofia rainha das ciências... Caberia perguntar por que brandir esse argumento da interdisciplinaridade somente contra a Sociologia e a Filosofia, quando outras disciplinas escolares, por uma questão de coerência, poderiam ser submetidas a esse princípio. Por exemplo, língua e matemática que podem muito bem estar subentendidas, ensinadas e avaliadas a partir de outros componentes curriculares e que têm tido resultados sofríveis no contexto de formação de crianças e jovens. Ou por que se pretende marcar o currículo do ensino médio com essa orientação quando seria muito mais conveniente e adequado fazê-lo no ensino fundamental que, pela sua natureza, traz conteúdos em nível de aprofundamento menos distintos, muito mais integrados, com fronteiras mais tênues. Acresce que o ensino médio tem como um de seus objetivos preparar o jovem para “o prosseguimento nos estudos” aprofundando “os conhecimentos adquiridos no ensino fundamental”. Isto é, um horizonte do ensino médio é o ensino superior e a profissionalização nesse nível de ensino. E seria interessante que o jovem na escola média adquirisse conhecimentos mais sólidos e profundos para além das ‘noções’ aprendidas na escola Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC “Sair de um limbo e cair numa ‘geléia geral’ não parece ser o que se espera da educação nacional”. elementar e, ao mesmo tempo, entrasse em contato com a diversidade científica, artística e profissional que terá pela frente e na qual terá de escolher o seu caminho. Sair de um limbo e cair numa ‘geléia geral’ não parece ser o que se espera da educação nacional. Outro argumento forte e respeitável, mas apenas usado por conveniência, tem sido esse que aduz à autonomia das escolas quanto à definição do currículo. Ora, pelo que se tem visto, parece que a escola só tem autonomia quando inclui ou exclui Sociologia e Filosofia no seu currículo, pois de resto está obrigada a manter todas as demais disciplinas, independentemente se elas são ensinadas eficientemente, se elas realmente têm alguma contribuição a dar para a formação dos jovens, se os seus conteúdos são plenamente ensinados etc. Por outro lado, na esquizofrenia que se estabeleceu entre as Diretrizes e os Parâmetros Curriculares do Ensino Médio, enquanto esses últimos definem Sociologia e Filosofia como disciplinas da base nacional comum, aquelas definem um “tratamento interdisciplinar” para os conteúdos dessas disciplinas, não só permitindo que sejam entendidas como disciplinas da parte diversificada como até que nem apareçam no currículo explícito, pois já ‘estariam contempladas pelas demais’. Sabemos que o currículo não é uma coisa dada, algo que existe fora da escola e da escolha dos homens, ao contrário, é uma construção, campo de disputas, de interesses, produto de um momento histórico. E as disciplinas escolares são fruto de uma longa história também de conflitos e os seus próprios contornos – conteúdos e métodos – são resultado de lutas, conquistas e derrotas, internas, numa mesma comunidade, e externas, entre comunidades. Sempre está presente o debate que marcou indelevelmente os professores de História e Geografia nos anos 1960, 1970 e 1980 na luta contra o estabelecimento, em especial no esteio da ditadura militar, dos Estudos Sociais – campo pretensamente interdisciplinar que fazia desaparecer as fronteiras entre aquelas disciplinas. Do mesmo modo, e no mesmo período nefasto, vieram à luz (?) Educação Moral e Cívica, OSPB e, no ensino superior, E.P.B., disciplinas cujas pretensões doutrinadoras eram tão explícitas que uma vez desaparecidas com a onda de redemocratização – que só chegou mesmo em 1996 na educação -, hoje nem são lembradas, sequer como objeto de estudo, testemunho de uma época obscurantista, em que pese aqui e ali um moralista cocoroca de plantão (para lembrar o melhor crítico daqueles anos, Stanislaw Ponte Preta) fala da necessidade de reintroduzirmos Educação Moral e Cívica para acabar com o problema das drogas, da gravidez precoce e darmos uma formação cívica para os nossos jovens. Quando pensamos na obrigatoriedade de Sociologia e Filosofia no ensino médio, pensamos em tudo isso, sobretudo numa competência crítica – para usar um jargão híbrido, de tempos e perspectivas diferentes – que essas disciplinas têm trazido à educação e à cultura – para retomar um binômio fundamental de nossa formação. Competência crítica em relação às artes, às ciências, aos costumes, ao poder, às instituições, à renaturalização das relações sociais, ao próprio homem que tanto a Filosofia quanto a Sociologia – sintetizando no ensino médio o campo das Ciências Sociais – têm cumprido: uma, desde a Antigüidade, renovada sempre porque sempre está em diálogo com o seu tempo; e a outra, desde as épocas Moderna e Contemporânea, circunscrevendo problemas e fertilizando saberes, com métodos, perspectivas e informações fundamentais. Quando pensamos em Filosofia e Sociologia para além do slogan – formar o cidadão -, reconhecemos-lhes o poder de preencher com concretude essa expectativa social. A Sociologia e a Filosofia detêm um repertório em Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC termos de informação e abordagens significativos – tradições e repertórios – que podem contribuir para que a “preparação para o exercício da cidadania” se faça desde a sala de aula e ganhe maior expressão no cotidiano dos jovens. Mas, sobretudo porque tanto Sociologia quanto Filosofia oferecem “modos de pensar” ou, segundo a expressão de Weber, “métodos de pensamento, isto é, os instrumentos e uma disciplina” bases para o discernimento e as escolhas. É óbvio que nada disso é exclusivo dessas disciplinas, no entanto também não é de outras, e nem todas as outras juntas dão conta ou recobrem o vazio deixado na formação dos jovens quando há a ausência dessas disciplinas no currículo. Cabe ainda um último esclarecimento e uma questão. Aludem alguns, desde pelo menos 2001 por ocasião do veto do Presidente Fernando Henrique Cardoso ao projeto do deputado Padre Roque de alteração da LDB, introduzindo a obrigatoriedade das disciplinas, que não há profissionais em número suficiente para atender à demanda formada pelas escolas em virtude de tal lei. Ora, por um lado, contraditoriamente esse argumento é do mesmo grupo que diz que essa proposta é corporativista, que se visa à reserva de mercado de trabalho para sociólogos e filósofos, algo censurável em termos de interesse público; por outro lado, a verdade dessa crítica estaria justamente nessa clareza que não se consegue ocultar: há profissionais à espera de mercado para exercerem a profissão que escolheram e da qual tiveram de se desviar por equívocos sucessivos na educação nacional. Contamos hoje com mais de 80 (oitenta) cursos de Ciência Sociais e mais de 100 (cem) de Filosofia no país, e se recorrermos aos já formados há pelo menos 10 a 20 anos, isto é, àqueles com expectativa de trabalho relativamente longa, esse número de profissionais não só atende à demanda como ainda assim teríamos um “exército de reserva” na área; todos estão, podemos dizer, no ‘desvio’, exercendo outras profissões, ou simplesmente desempregados. A questão é de futuro-do-pretérito-logia: o que teria acontecido se o Parecer CNE/CEB 15/98 (DCNEM) não tivesse interpretado o artigo 36 da LDB, dando a Sociologia e Filosofia um tratamento interdisciplinar? Arriscando um palpite, diríamos que os dirigentes de escolas públicas, os donos de escolas privadas e até as Secretarias de Estado da Educação e o próprio MEC entenderiam que quando a lei (LDBEN 9394/96, Seção IV, Do ensino médio) diz “Art. 36, §1º. Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal modo que ao final do ensino médio o educando demonstre: III. Domínio de conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários para o exercício da cidadania”, isto significa que Sociologia e Filosofia são disciplinas obrigatórias da base nacional comum do currículo do ensino médio. O que se pede, então, é que a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação tome em suas mãos primeiramente a LDB, leia o dispositivo citado acima e sem parti-pris se pronuncie, fazendo uma correção de percurso, reintroduzindo Sociologia e Filosofia como disciplinas obrigatórias ou se disponha a uma tarefa bem mais ampla, que implique tal revisão do currículo do ensino médio, que não haveria disciplinas sagradas, intocáveis – tais latifúndios improdutivos! – ou que nem modismos nem tradição fossem critérios bastantes para a decisão. Amaury Cesar Moraes é Professor Doutor de Metodologia do Ensino de Ciências Sociais da Faculdade de Educação da USP sindical Três desafios do sindicalismo Por Altamiro Borges acervo pessoal O sindicalismo brasileiro está diante de gigantescos desafios. Se ficar apenas correndo atrás dos prejuízos, sem uma visão mais estratégica, ele corre o sério risco de definhar, agravando sua crise de legitimidade e representatividade que já dura mais de uma década e que se expressa na baixa capacidade de mobilização dos trabalhadores e de intervenção política na sociedade. Não há receitas nem modelos de como enfrentar as atuais dificuldades, que hoje afetam o conjunto do sindicalismo mundial. Mas uma coisa parece certa: se ficar preso à ação imediata, que reforça seus limites endógenos do economicismo e corporativismo, ele não superará sua crise estrutural. Diante deste cenário, penso que três desafios se destacam na atualidade: “O sindicalismo não é uma ilha. Ele reflete e interfere nos rumos políticos do país”. 1- Intervenção política O sindicalismo não é uma ilha. Ele reflete e interfere nos rumos políticos do país. Ele sente diretamente os efeitos da evolução da conjuntura. Durante a ditadura militar, por exemplo, ele foi violentamente castrado – nos nove meses que se seguiram ao golpe de 64 mais de 430 sindicatos tiveram suas diretorias cassadas. Já nos anos 80, ele viveu uma fase de ouro. O Brasil se tornou o recordista mundial em greves, houve um intenso processo de renovação e reciclagem das diretorias sindicais, foram retomadas as articulações intersindicais e o funcionalismo público despertou para a organização sindical. Esse ascenso contribuiu decisivamente na luta pelo fim do regime militar e nas conquistas da “Constituição Cidadã”, em 1988. Na década de 90, porém, o neoliberalismo se implantou no país com a sua tríade perversa: desestatização, desnacionalização e desproteção. O sindicalismo comeu o pão que o diabo amassou! Da fase de ouro, ele ingressou no período das vacas magras. O triste reinado de FHC teve início com o Exército ocupando as refinarias para reprimir a greve dos petroleiros e prosseguiu com o desmonte do trabalho sem qualquer negociação com os sindicatos. Esse projeto autoritário e excludente, entretanto, foi rechaçado na histórica vitória de um ex-grevista e líder sindical nas eleições de 2002. Com Lula no governo, a relação com o sindicalismo voltou a ser de diálogo e não houve mais qualquer ação de criminalização das lutas sociais. Essa breve história serve para confirmar que o sindicalismo não pode se omitir nos embates políticos. Sua força deriva da situação Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC “Sem organização, mobilização e formação o sindicalismo não conseguirá superar a atual crise. É preciso balançar a roseira para superar o espírito rotineiro e as práticas burocráticas. Do contrário, o sindicalismo permanecerá na UTI!” política, do quadro de correlação de força na sociedade. Qualquer visão apolítica, de neutralidade, representa um crime para o seu futuro. Nesse sentido, ele não pode se abster do debate já em curso sobre a sucessão presidencial. Apesar das frustrações que o governo Lula pode ter gerado numa parcela dos trabalhadores, a pergunta que deve ser feita é qual o resultado eleitoral que mais interessa para o avanço das suas lutas e conquistas. A eleição de outubro tende a ser polarizada, sem a possibilidade real de uma ultrapassem à esquerda do atual governo. O risco maior é o da revanche da direita neoliberal! O candidato do bloco liberal-conservador, Geraldo Alckmin, é um inimigo declarado dos trabalhadores – os servidores estaduais conhecem bem seu estilo fascistóide. Sem abdicar da sua autonomia, o movimento sindical deve encarar a batalha sucessória como prioridade máxima para o seu processo de acumulação de forças. Um retrocesso nas eleições de outubro teria forte impacto na discussão sobre a reforma sindical e trabalhista, na luta pela transição do neoliberalismo para um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho e para o próprio avanço das esquerdas na América Latina. Sem cair numa postura de passividade acrítica, o sindicalismo deve evitar cair no extremo oposto do voluntarismo esquerdista. A pregação do voto nulo ou num candidato para marcar posição cobraria um alto preço no futuro imediato! 2- Repensar a ação Ao mesmo tempo em que intervem na luta política em curso, agindo com sabedoria tática, o sindicalismo também precisa repensar sua atuação numa perspectiva mais estratégica. A avalanche neoliberal dos anos 90 acuou os trabalhadores e jogou os sindicatos na defensiva. A crise atual não decorre apenas de fatores subjetivos, da chamada traição das direções, como afirmam alguns setores idealistas. Se fosse tão simples assim, os que se autoproclamam de revolucionários não teriam tantas dificuldades para mobilizar as suas bases e para evitar distorções na ação sindical. A crise estrutural do capitalismo, que tem no desemprego a sua maior expressão, o amargo remédio neoliberal imposto pelo capital e o processo de reestruturação produtiva nas empresas afetaram a materialidade e a subjetividade de classe dos trabalhadores. Mas estas causas objetivas da crise sindical não rebaixam a importância dos fatores subjetivos. No quadro de defensiva dos anos 90 foi possível assistir a criação de uma central sob inspiração do neoliberalismo, a Força Sindical, e também o processo de adaptação da CUT à visão do sindicalismo propositivo e cidadão, de feição socialdemocrata. Já as entidades de base, pressionadas pelas demandas do imediato, reforçaram sua prática corporativista e economicista. Para piorar, num cenário de cobertor curto, surgiram Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC fenômenos preocupantes de burocratização e institucionalização. Muitas diretorias hoje perdem mais tempo e energia discutindo quem será liberado ou ficará com o celular e o carro do que organizando as lutas da classe. Os sindicatos se afastaram da base, deixaram de investir na formação e na mobilização de massas. Um desafio urgente é o de repensar toda a prática sindical, o de revolucionarizar sua concepção e métodos de ação. Hoje é preciso refletir com maturidade, sem maniqueísmos, sobre o que está sendo feito, de fato e não na retórica, para organizar os trabalhadores nos locais de trabalho, no coração da exploração; o que está sendo feito para intensificar a mobilização da base e articulá-la com os outros movimentos sociais; o que está sendo investido para formar novas lideranças e reciclar as antigas. Sem organização, mobilização e formação o sindicalismo não conseguirá superar a atual crise. É preciso balançar a roseira para superar o espírito rotineiro e as práticas burocráticas. Do contrário, o sindicalismo permanecerá na UTI! 3- Evitar a fragmentação Num quadro que ainda é de defensiva da luta dos trabalhadores e no qual campeia muita confusão teórica no meio sindical – por exemplo, na sua relação com um governo nascido das suas lutas –, o pior que pode ocorrer é a fragmentação das organizações da classe. Nesse sentido, a recente fundação da Conlutas é um grave erro! A partir da leitura voluntarista sobre a atual correlação de forças e da postura principista sobre a natureza do governo Lula, ela joga na divisão dos trabalhadores e na fragilização de seus organismos de frente única. Além disso, essa iniciativa artificial do PSTU presta um inestimável serviço aos que desejam domesticar as lutas sindicais e ainda contribui para o seu próprio auto-exílio. A saída da CUT foi festejada pelos setores mais burocratizados da central e causou graves fraturas nos promotores desta divisão! A atual conjuntura, prenhe de possibilidades e também de graves riscos, exige fortalecer a CUT como um instrumento de unidade dos trabalhadores na luta por novos rumos no país. Não se muda de central como se troca de camisa. Não dá para dispensar um patrimônio construído na luta contra a ditadura e a ofensiva neoliberal e que representa o que há de mais representativo e combativo no sindicalismo. É preciso, isto sim, garantir que a central preserve sua autonomia e atue com sabedoria política – evitando a passividade e as armadilhas dos inimigos de classe. O próximo congresso da CUT pode cumprir relevante papel no sentido de pressionar o governo Lula no rumo das mudanças e de evitar a revanche da direita neoliberal. Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB, sindical Os desafios do movimento sindical na atual política nacional acervo pessoal Por Edgard Fernandes Neto “É preciso superar os limites da CUT e evitar seus erros”. Na década de 80 do séc. XX o movimento sindical tinha como desafio mobilizar os trabalhadores por melhores salários, conquistar a independência dos sindicatos em relação ao estado, a democracia sindical, construir uma central sindical e derrubar a ditadura. Estas necessidades objetivas liberaram milhares de ativistas que emergiram das lutas durante a década e resultaram na construção da CUT e do PT no fim da ditadura militar. No entanto, há dois fatores relevantes a se considerar: 1) Globalização Econômica – processo que se desenvolve há séculos que se acentua nas décadas de 80 e 90. A reestruturação produtiva engendra um novo fenômeno que é o desemprego estrutural, colocando os sindicatos em xeque e gerou na academia teses que defendem o fim do trabalho. Nesse sentido, o tempo e a história se encarregaram de demonstrar o equívoco destas teses; 2) Fim do regime stalinista no leste-europeu e da U.R.S.S. – o regime stalinista era visto por um amplo setor da vanguarda do movimento operário internacional como “modelo de socialismo”. A queda deste regime provocou uma crise na esquerda internacional que perdura até hoje. Ao mesmo tempo, representa a superação de uma trava histórica para o ascenso revolucionário e uma guinada reacionária de setores do movimento operário que passaram a defender o capitalismo e a democracia burguesa como valores universais. Hoje 2006, podemos afirmar que os desafios do movimento sindical são os mesmos. Com a eleição de Lula, tanto a CUT como a UNE se transformaram num braço do governo e cumprem o papel de defender o governo Lula contra os trabalhadores, a exemplo do que Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC “Com a eleição de Lula, tanto a CUT como a UNE se transformaram num braço do governo e cumprem o papel de defender o governo Lula contra os trabalhadores”. ocorreu na reforma da previdência e agora na reforma universitária. Por isso, o principal desafio dos trabalhadores é a construção de uma alternativa de luta à CUT e a UNE. Nem Lula (PT), nem Alckmin (PSDB/PFL)! Pela Construção de uma Frente Classista, Socialista e de Luta. 2006 é o último ano do mandato de Lula e entramos no período eleitoral. Por essa razão, é possível afirmar que o governo Lula deu continuidade e aprofundou o projeto neoliberal aplicado pelo governo FHC. A absolvição dos deputados mensalões (professor Luizinho e Cia.) e a queda de Palocci não alterará os rumos da política econômica. É mais um capítulo da corrupção que estão mergulhados o governo Lula, o PT, os demais partidos e o Congresso, configurando um quadro de crise que se expressará nas eleições de outubro. A aprovação de R$ 350,00 como valor do salário mínimo, a redução de recursos da saúde, da educação e saneamento básico penalizou o povo e os trabalhadores para garantir o pagamento das dívidas interna e externa. Lula em quatro anos vai pagar cerca de R$ 700 bilhões de reais. Por isso, nossos salários não aumentam, o desemprego não acaba, a saúde e educação estão cada vez pior. Na campanha eleitoral Lula e o PT vão falar do “perigo da direita” para convencer o povo a votar neles, enquanto Alckmin e PSDB e PFL vão falar “contra corrupção” e prometer mudanças. Ambos possuem o mesmo projeto político e econômico e estão envolvidos no mar de lama da corrupção. O pior que pode acontecer é que os trabalhadores e jovens vejam, equivocadamente, somente duas alternativas a do PT ou a de PSDBPFL ou que os trabalhadores mais uma vez caiam no conto do voto útil no PT p/ “não entrar a direita”. É fundamental que a esquerda se una (PSTU, P-SOL, PCB e o MST) em uma frente classista e socialista, de oposição ao governo do PT, e também contra a oposição burguesa do PSDB-PFL para disputar as eleições, que deve se expressar nas lutas diretas, na ruptura com a CUT e constituição da Conlutas. Unir os Trabalhadores que Lutam no CONAT (Congresso Nacional dos Trabalhadores de 5 a 7 de maio em Sumaré – SP). O principal desafio do movimento sindical e do movimento estudantil é construir uma alternativa à CUT e UNE. A primeira virou uma agência do governo, uma entidade chapa branca e hoje, não defende os interesses dos trabalhadores e sim os dos patrões, traindo todas as greves, como as dos bancários e do funcionalismo federal. A segunda seguiu o mesmo caminho, tornando-se um departamento do MEC, apóia a reforma universitária, que está Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC privatizando as universidades públicas e destruindo dinheiro público para as escolas privadas. Tanto a CUT como a UNE apóiam a corrupção no governo Lula, porque seus dirigentes também são beneficiados com dinheiro público. Todos os trabalhadores sabem que é mais difícil lutar se estamos isolados em uma categoria ou em uma cidade. É necessário unir as forças dos que lutam em uma nova organização nacional. Por esse motivo se formou a CONLUTAS que buscará integrar as entidades sindicais, estudantis e populares dispostas a lutar, independente de partidos e governos. Assim, é necessário que todos os setores de esquerda, lutadores e independentes definidos pela ruptura com a CUT e UNE ou não, participem do Congresso Nacional dos Trabalhadores de 5 a 7 de maio em Sumaré-SP para debatermos o projeto de uma nova organização nacional, seus estatutos e programa. A construção de uma alternativa para todos trabalhadores deve partir de experiências do movimento operário e não pode se limitar ao tipo de organização como a CUT. É preciso superar os limites da CUT e evitar seus erros. Deve-se aglutinar os trabalhadores, estudantes, os movimentos sociais do campo e das cidades. Não podemos esquecer, que mais da metade dos trabalhadores brasileiros estão fora dos sindicatos. Esta nova alternativa deve ser de lutas, independentes e autônomas do governo, dos partidos e dos patrões. Seu programa deve considerar o acumulado pela esquerda nas últimas décadas, tendo como eixos: a luta contra a recolonização imperialista; expressa na luta contra ALCA e os acordos de “livre comércio”; pela ruptura dos acordos com o FMI; contra o pagamento das Dividas Externa e Interna; pela estatização do sistema financeiro; pela anulação da reforma da previdência; Contra as Reformas Sindical e Trabalhistas e Solidariedade Ativa à Todos os Trabalhadores e Povos do Mundo. Edgard Fernandes Neto, Vice-Presidente da Apeoesp e membro da Coordenação da Conlutas artigo O papel dos sindicatos na atual conjuntura Por Marcelo Buzetto 1. Como surgem os sindicatos? Quando o processo de desenvolvimento do capitalismo atinge sua fase industrial, entre o final do século XVIII e durante todo o século XIX, a sociedade acaba se dividindo em duas classes fundamentais: a burguesia (a classe dominante, proprietária dos meios de produção) e o proletariado (a classe trabalhadora, aqueles que só possuem a força de trabalho). A burguesia, vitoriosa com o processo revolucionário na Europa dos séculos XVII e XVIII, vai se consolidar enquanto classe dominante entre 1789 e 1848. Neste período ocorrem várias lutas sociais e políticas entre as classes sociais, num primeiro momento entre as forças que representavam o feudalismo (senhores feudais, nobreza) e as forças que representavam o capitalismo (burguesia agrária, burguesia comercial, burguesia industrial, burguesia financeira), e, logo depois, entre a burguesia e a classe trabalhadora. Os sindicatos surgem no final do século XVIII e início do século XIX como um instrumento da classe trabalhadora contra os abusos e a exploração imposta pelo processo de desenvolvimento do capitalismo em sua fase industrial. No início eram associações culturais e/ou de auxílio mútuo, onde os operários se organizavam para discutir os problemas de sua classe e buscar soluções coletivas para os mesmos. Os sindicatos são fruto do desenvolvimento industrial capitalista e da formação da classe operária, e surgem com a tarefa de organizar as várias categorias de trabalhadores para que estas lutem por melhores condições de vida e de trabalho, mas também para que lutem contra o capital e o Estado burguês. Durante esse período de formação da classe operária, os sindicatos sempre deram um caráter anticapitalista às suas reivindicações econômicas, buscando demonstrar com isso que os trabalhadores precisavam lutar por melhores condições de vida e de trabalho ao mesmo tempo em que lutam pela construção de uma nova sociedade, sem explorados nem exploradores. 2. Para que serve um sindicato? Para organizar a categoria em sua luta econômica e específica/ corporativa por emprego, salário digno, melhores condições de trabalho e para contribuir com as lutas políticas e mais gerais da classe trabalhadora, pois nenhuma categoria pode substituir a classe, nenhuma luta isolada, específica, tem mais força que a luta de toda a classe organizada. Portanto, quando uma categoria se mobiliza de maneira isolada, depositando todas as suas energias em ações corporativas, ela só consegue retirar dos patrões algumas migalhas e conquistas temporárias, mas quando a classe se movimenta, se organiza de maneira unitária, obtém conquistas mais duradouras e efetivas. Por exemplo, durante os anos 1930 e 1960, período da industrialização e da formação da classe operária brasileira, várias categorias de trabalhadores lutaram juntas pela aprovação de leis trabalhistas que pudessem defender seus interesses, e como resultado das greves e mobilizações deste período tivemos a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Outro exemplo foi durante a ditadura civil-militar (1964/1984). A ditadura proibia manifestações de rua, mas entre 1978 e 1984 milhares de trabalhadores e trabalhadoras realizaram mobilizações de massa combinando lutas econômicas (por reajuste salarial) com lutas políticas (por liberdades democráticas, pelo direito de greve e pelo fim da repressão). Essa ação unificada da classe trabalhadora contribuiu para enfraquecer as forças políticas e sociais que representavam os interesses da classe dominante na época. 3. Luta de Classes e Ofensiva Neoliberal Entre 1979 e 1989, o movimento sindical e popular, como resultado de uma conjuntura favorável ao crescimento das lutas de massas no campo e na cidade, formou vários militantes e dirigentes que construíram durante esse período sindicatos, comissões de fábrica, fizeram ocupações de terra urbanas, criaram formas alternativas de organização no local de trabalho, organizaram greves, ocupações de fábrica, fizeram lutas econômicas e políticas, manifestações a favor da luta pela reforma agrária e contra o pagamento da dívida externa, organizaram campanhas de solidariedade ao povo cubano e à Revolução Popular Sandinista (Nicarágua), etc. Durante os anos 90 do século XX, os movimentos de massa em geral, e o movimento sindical em particular, viveram um período de refluxo, de defensiva, de luta para preservar algumas conquistas do momento anterior. É um fato que a luta contra o neoliberalismo consumiu as energias de todas as organizações da classe trabalhadora, e a classe dominante conseguiu diminuir a capacidade de luta dos sindicatos e movimentos populares. Apesar da resistência e de várias mobilizações massivas contra o neoliberalismo, como a luta dos sem terra, dos sem teto, dos servidores públicos, a luta pelo impeachment de Collor, percebemos que não foi possível construir um processo permanente de lutas que, de fato, unificasse a classe trabalhadora. A burguesia aproveitou este período para cooptar, isolar e/ou eliminar lideranças do meio sindical e popular, além de disseminar na esquerda a ilusão de que é possível realizar grandes transformações sociais através da participação nas eleições e no parlamento. Vários setores da esquerda começaram a privilegiar a luta institucional, menosprezando com isso a luta de massas, as lutas sociais. Tanto é verdade que entre 1990 e 2003 aumentou o número de parlamentares dos partidos que se colocam no campo da esquerda, até um presidente ex-operário foi eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Mas no mesmo período diminuiu a capacidade de mobilização e houve um rebaixamento do nível de consciência da classe trabalhadora. Diante desta situação, os sindicatos acabaram perdendo muito de sua capacidade de organização, pois foi um período de ofensiva da classe dominante contra os direitos e conquistas da classe trabalhadora. O desenvolvimento de novas tecnologias e de novas formas de organização do trabalho, e o crescimento acelerado do desemprego, aliado à despolitização e ao baixo nível de consciência de classe nas diversas categorias de trabalhadores criaram uma série de dificuldades para as massas populares do campo e da cidade. Além disso, os sindicatos foram se fechando em suas lutas corporativas, se isolando e ficando muitas vezes impotente diante dos desmandos e abusos patronais, não conseguindo impedir a eliminação ou diminuição de várias conquistas e de vários direitos adquiridos como resultado de lutas anteriores. Os partidos de esquerda também se institucionalizaram, subordinando a luta social e de massas à luta eleitoral. Trocaram, juntamente com as centrais sindicais, a luta permanente pela luta através de calendários, fazendo algumas poucas - e não muito expressivas - manifestações ao longo do ano, em datas como o 8 de março (Dia Internacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras) e o 1º. de maio (Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora). Os partidos de esquerda, que deveriam ser um instrumento de organização da classe na luta contra o capital e o capitalismo, se distanciaram do povo, usam métodos semelhantes Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC aos partidos da classe dominante, não tem mais um vínculo orgânico e permanente com as amplas massas populares, não organizam os trabalhadores desempregados, não fazem trabalho de base nas periferias, e aparecem nas favelas e bairros pobres somente na época das eleições. Nas fábricas, os membros de partidos que atuam no meio sindical abandonaram a organização no local de trabalho, e onde ela ainda existe, muitas vezes, em vez de instrumento de luta contra o capital, a comissão de fábrica ou a representação dos trabalhadores se transformou numa forma de dividir mais ainda a categoria, estimulando o corporativismo e a idéia (ou melhor, a ilusão) de que é possível resolver de maneira isolada, problemas comuns a toda classe. Apesar de tudo isso, ainda temos a certeza que, no momento eleitoral, é preciso votar nos candidatos da esquerda, pois a direita e o centro representam os interesses do capital contra o trabalho. Só estamos apontando as dificuldades que a atual conjuntura impõe para aqueles e aquelas que lutam por uma sociedade mais justa, humana e solidária. Esta crítica não parte de alguém que está afastado das lutas sociais, mas de quem presencia no dia-a-dia os limites de nossa atuação enquanto membros de sindicatos e/ou movimentos populares que lutam pela transformação social. 4. Como a maioria dos sindicatos se transformaram num instrumento burocrático e sem força de mobilização? O sindicato é uma ferramenta de luta da classe trabalhadora, e tem cumprido um papel importante na defesa das categorias contra a exploração do capital. Mas é preciso entender que a sociedade em que vivemos tem como característica a desigualdade econômica e social, e as classes e forças sociais antagônicas vivem uma situação de disputa permanente. Os sindicatos têm sido palco dessa disputa, por isso existem sindicatos classistas, combativos, democráticos, que entendem que suas lutas fazem parte de um processo de acumulação de forças com o objetivo de romper com o mundo do capital, e existem sindicatos que são a expressão da consciência burguesa no meio sindical, ou seja, sindicatos que se limitam a fazer lutas econômicas sem nenhum caráter anticapitalista, que são uma correia de transmissão das idéias de governos ou das idéias da classe dominante no interior da classe trabalhadora. Para explicar melhor como um sindicato pode ser transformado de instrumento de luta em instrumento de reprodução da ideologia dominante, apresentamos a seguir algumas Lições Sobre Como Transformar um Sindicato Num Instrumento Burocrático e Sem Força de Mobilização: 1ª.) Não faça nenhum tipo de planejamento: deixe que as atividades se desenvolvam de maneira espontânea, não estabeleça metas nem prioridades; 2ª.) Não Estabeleça Nenhuma Divisão de Tarefas Entre os Dirigentes: não faça nenhum debate profundo sobre quais são as tarefas imediatas, as tarefas a médio prazo e as tarefas a longo prazo; não estabeleça qual tarefa terá cada diretor do sindicato; deixe cada um solto, fazendo o que quiser, quando quiser, como quiser e onde quiser; deixe que as coisas aconteçam como fruto da vontade/desejo pessoal e não como fruto de uma definição política da entidade; dê liberdade total e absoluta para que cada diretor decida o que é ou não importante; 3ª.) Estimule o personalismo: exalte a figura do líder, do chefe, do indivíduo; concentre tarefas nas mãos de uma pessoa ou algumas pessoas (que são as que “mandam”); não exerça a prática da direção coletiva; decida questões fundamentais da vida do sindicato conversando “nos bastidores”, sem fazer um debate profundo no coletivo de dirigentes da entidade; não distribua tarefas e responsabilidades; 4ª.) Seja corporativista: discuta na diretoria do sindicato, e na base, somente questões específicas da categoria; não faça debates sobre Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC as lutas políticas e sociais mais amplas; não discuta a estratégia da classe trabalhadora; não discuta problemas relacionados à conjuntura nacional, regional e/ou internacional; Não pratique a solidariedade nem organize outras lutas e movimentos de interesse da classe trabalhadora; evite participar das lutas mais gerais da classe trabalhadora (contra as privatizações, contra o neoliberalismo, contra o imperialismo e a guerra, por reforma agrária e reforma urbana, por educação pública, gratuita e de qualidade, etc); diga que o sindicato não tem nada a ver com outras lutas e outras organizações; 5º.) Concentre o poder na Executiva: faça com que a diretoria executiva se sinta inatingível, inabalável, indestrutível; faça com que algum diretor executivo se ache maior e muito mais importante e poderoso que o próprio sindicato; faça com que estes diretores desenvolvam uma cumplicidade entre si, para cada um que cometa algum erro ou desvio grave de conduta se sinta tranqüilo e possa contar com a solidariedade corporativista de outros, evitando assim qualquer punição ou afastamento por atitudes anti-sindicas ou por traição aos princípios defendidos pelos setores classistas, democráticos e anti-capitalistas do movimento sindical; 6º.) Garanta a impunidade para os supostos “chefes”/”líderes”: quando for comprovado que um dirigente cometeu erros, teve atitudes que ferem os mais sagrados princípios da categoria e da classe trabalhadora (respeito às decisões coletivas, solidariedade militante, um mínimo de honestidade e coerência, jamais fechar acordos sem antes consultar a base e outros dirigentes, não se articular sorrateiramente com os adversários/inimigos do sindicato e da classe, evitar e combater os privilégios, não usar da posição de diretor sindical para obter vantagens pessoais para si e para os próximos, etc) não faça nada, seja complacente, não tenha firmeza, demonstre medo ou minimize a importância do fato, ou simplesmente diga que em nome da “unidade do sindicato” é melhor “deixar para lá”; despolitize o debate e reduza as contradições e divergências internas a disputas e rivalidades pessoais, ignorando assim que por trás de uma ação individual tem uma concepção de mundo, de sindicato, tem um método, uma ideologia, determinados valores e princípios, etc; 7º.) Estimule os privilégios: garanta que o dirigente sindical se distancie da base, e faça com que o mesmo se utilize do sindicato como um instrumento de geração de emprego e renda, que garante um certa “acumulação de capital” às vezes até maior do que o que o diretor recebe na forma de salário da empresa onde ele trabalha; garanta que os dirigentes sindicais aprovem medidas para obter benefícios e vantagens econômicas e estruturais pessoais; 8º.) Esconda da base as decisões mais importantes e fundamentais: conclua que tais decisões só cabem à cúpula da direção sindical, e evite fazer um profundo debate político visando elevar o nível de consciência da categoria; 9º.) Evite a crítica e a autocrítica: não crie opor tunidades para manifestações críticas por parte da base; não crie nenhum mecanismo de diálogo permanente com a base; diga a si próprio todos os dias que você está realmente fazendo o melhor, tudo o que é possível,; fique irritado quando alguém faz uma crítica a sua atuação como diretor ou ao sindicato enquanto entidade; 10º.) Evite fazer avaliações profundas: faça sempre avaliações rápidas, pontuais, superficiais, pois assim jamais haverá tempo para se encontrar, de fato, a raiz de inúmeros problemas que cercam o cotidiano do sindicato; não queira avaliar os resultados das secretarias e da ação dos diretores; não queira avaliar a eficiência das visitas ou de outras formas da ação sindical, pois tal atitude pode revelar a fragilidade, a incoerência e a falta de compromisso e de consciência de classe de determinados diretores. Após 20 anos de SINPRO ABC, podemos dizer que já sabemos o que não devemos fazer, como não devemos agir. Resta aos diretores e à parte artigo Mundialização: fluxo voraz do capital Por Oswaldo de Oliveira Santos Jr Para o economista francês François Chesnais, a mundialização corresponde aos encadeamentos entre uma diversidade de fatores, tais como, “punções das finanças sobre o investimento público e privado, redução do Estado, mobilidade internacional do capital – cujos efeitos cumulativos representam um terrível obstáculo para o crescimento e, portanto, do emprego” (2005:18). Desta forma Chesnais conceitua mundialização, como um fluxo intenso de capitais em busca de melhores mercados. Em sua reflexão, Chesnais, afirma que a estrutura econômica internacional atual, baseada na dominação do capital, resulta da articulação de dois processos: o primeiro é o ressurgimento e a consolidação de uma forma específica de acumulação de capital, onde uma parcela cada vez maior de pessoas, “conserva a forma dinheiro e pretende se valorizar pela via de aplicações financeiras nos mercados especializados” (2005:20); o segundo processo ocorre a partir de Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra), com a imposição de políticas de liberalização, desregulamentação, privatização e flexibilização (2005:20). A precarização e a flexibilização das leis trabalhistas, por exemplo, tornaram-se marcas da globalização neoliberal1. Bauman descreve este ambiente da seguinte forma: “Modernizar a maneira como a empresa é dirigida consiste em tornar o trabalho ‘flexível’ – desfazer-se da mão-de-obra e abandonar linhas de produção de uma hora para outra, sempre que uma relva mais verde se divise em outra parte, sempre que possibilidades comerciais mais lucrativas, ou mão-de-obra mais submissa e menos dispendiosa, acenem ao longe. (...) o próprio capital já se tornou encarnação da flexibilidade” (2003:50). A mundialização capitalista – neoliberal – entrou em uma nova fase, no final do século XX, em que os grandes conglomerados, bancos e fundos de investimentos, em especial dos países centrais, foram quase que exclusivamente os únicos beneficiários. Argumentando nesta mesma direção, Chesnais afirma que: “A consolidação da mundialização como um regime institucional internacional do capital concentrado conduziu a um novo salto na polarização da riqueza. Ela acentuou a evolução dos sistemas políticos rumo à dominação das oligarquias obcecadas pelo enriquecimento e voltadas completamente para a reprodução da sua dominação” (2005:21). Os interesses destas oligarquias é que ditam as decisões planetárias, afetam as vidas de bilhões de pessoas e aceleram crises políticas, sociais e ecológicas, ou seja, ameaçam diretamente a reprodução da vida das populações e das camadas sociais mais pobres e vulneráveis. Desta forma fica bastante evidente que as questões locais não podem ser debatidas como temas restritos ao lugar, mas são antes problemas de ordem global, exigindo, portanto, soluções e reflexões de cunho global, a partir da análise da conjuntura global (2005:30). Diante desta questão, encontramos diversos problemas. Em todos os países em que as oligarquias jamais perderam espaço, como é o caso do Brasil, e dos demais países da América Latina, a implantação das políticas neoliberais reforçou seus direitos de propriedade e aprimorou os mecanismos de acumulação de capital com as flexibilizações e desregulamentações dos direitos trabalhistas, possibilitando ganhos ainda maiores nos mercados especulativo (Bauman, 2003:112). Há de se ressaltar que o avanço das políticas e dos mecanismos de acumulação, proposto pelo neoliberalismo, é hoje forte gerador de tensões sociais, políticas e ambientais que eclodem sistematicamente no interior das sociedades submetidas ao projeto neoliberal, conforme a análise feita por Chesnais. “Os países nos quais a formação de oligarquias ‘modernas’ poderosas avançou junto com fortes processos endógenos de acumulação financeirizada e a valorização de ‘vantagens comparativas’ conforme as necessidades das economias centrais, (...) são hoje integradas ao funcionamento do regime internacional da mundialização” (Chesnais, 2005:22). Conforme David Harvey, existem três características básicas, inconsistentes e contraditórias no que se denomina globalização, e que levam o capitalismo a crises constantes. São elas: 1- a necessidade do crescimento incondicional; 2- o fato de se basear na exploração permanente do trabalho e; 3- o fato da expansão ser uma necessidade vital do capitalismo (2005:166-169). Desta forma as crises, como mencionadas anteriormente, são inevitáveis e geralmente se apresentam como crises de superprodução, excesso de capital, desemprego, e excesso de mercadorias em estoque, como em 1929. Diante destas questões é necessário refletir sobre a relação entre o local e o global, com o objetivo de elaborar análises e ações que efetivamente contribuam para resistir ao caráter perverso da “A precarização e a flexibilização das leis trabalhistas, por exemplo, tornaram-se marcas da globalização neoliberal”. Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC “Há de se ressaltar que o avanço das políticas e dos mecanismos de acumulação, proposto pelo neoliberalismo, é hoje forte gerador de tensões sociais, políticas e ambientais que eclodem sistematicamente no interior das sociedades submetidas ao projeto neoliberal”. globalização neoliberal. A necessidade de uma reflexão complexa: entre o global e o local “Pense globalmente, aja localmente”. Certamente este é um slogan muito tentador e falacioso, que carrega consigo parte do pensamento dos ideólogos da globalização neoliberal em curso. As pessoas que estão alheias aos processos de decisão global, talvez considerem como única possibilidade a intervenção tão somente em nível local (Mészáros,2004:48). Não se pode ignorar a importância das ações locais, ou contextuais de forma adequada. Entretanto, a frase nos chama a atenção para um “pensar” global que é isento de crítica e reflexão, e que se conforma com a inevitabilidade da imposição da exploração imposta pelo mercado global, que segue fazendo suas vítimas (2004:48). Diante desta questão Mészáros adverte afirmando que: “uma vez que se divorcia o “global” de sua inserção nos múltiplos ambientes nacionais, desviando a atenção das relações contraditórias que entrelaçam os Estados, também o “Local”, dentro do qual se espera agir, torna-se absolutamente míope e em última análise sem significado” (2004:48). Não há duvida que as ações todas são exercidas no local, num determinado contexto, e que necessitam de análises também contextuais, entretanto tais análises necessitam dar o salto de uma consciência comum para uma consciência reflexiva, ou seja, para o exercício da práxis2 , que supere a “miopia” da análise local considerando a relevância das questões globais, que em última instância é onde as forças econômicas agem e as decisões são efetivamente tomadas afetando a vida de todas as pessoas. Acerca desta questão, Bauman assegura que não existe na atualidade uma localidade com o que ele chama de “arrogância” suficiente para falar em nome da humanidade e conter o descontrole absoluto (2003:66) imposto pela velocidade com que o capital especulativo avança sobre todas as economias. Do agir e pensar global, que se tornam vitais diante da globalização, resulta a identificação de inúmeros problemas de cunho local que possuem sua origem nas esferas de dominação global, a mais séria das atuais tendências de dominação econômica, seja a maneira voraz e perdulária com que os Estados Unidos, por exemplo, tomam para si os recursos de energia e de matérias-primas do mundo, algo em torno de 25% das riquezas naturais para uma população que corresponde a aproximadamente 4% da população mundial (Mészáros,2004:53), transformando questões ambientais em temas globais, econômicos Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC e geopolíticos. “Ser local num mundo globalizado é sinal de privação e degradação social”. Com esta afirmação, Bauman (2003:8) assegura também que, a ilusão da mobilidade é fortemente presente na classe trabalhadora, que é local, enquanto a elite (que é global) possui plena mobilidade, mas não necessita dela. As comunidades locais não possuem voz nas decisões tomadas pelo capital, assim um pensar global e uma ação local quando destituídos de reflexão e da práxis, somente contribuem para os interesses do capital e seus investidores globais e a perpetuação dos mecanismos de exploração e acumulação de riqueza nas mãos da elite global. A pergunta inevitável, que nos fazemos, é se existe alternativa para o capitalismo global e se existem como elas devem ser trabalhadas. A resposta a estes questionamentos é que não há um plano cuja aplicação consiga resolver todos os problemas do globo, e que as respostas devem ser dadas pelos povos atingidos em seus diversos contextos locais. Cabe aos movimentos sociais organizados em consonância com as ciências sociais e as lutas populares participar da busca e proposição destas respostas. Profº. Oswaldo de Oliveira Santos Jr. Referência bibliográfica BAUMAN, Zigmund. Globalização: as conseqüências humanas, Rio de Janeiro, Jorge Zahar. 2003. ________. O mal estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro. Jorge Zahar. 2003. CHESNAIS, François (org.). A finança mundializada. São Paulo, Boitempo, 2005. GUTIÉRREZ, Gustavo. Onde dormirão os pobres?, São Paulo, Paulus, 2005. HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo, Loyola, 2005. Notas 1 Um aspecto dessa globalização, e dos mais dolorosos e aflitivos para os países pobres, é o da dívida externa, que mantém submetidas e oprimidas as nações devedoras. Se essa questão não receber imediatamente uma solução apropriada, há poucas possibilidades de que os países pobres venham a sair da situação na qual se acham no presente momento. (G. Gutiérrez, em: Onde dormirão os pobres?, p.22). 2 É possível constatar que as ações decorrentes da consciência comum não podem ser consideradas uma atitude advinda da práxis. O ser humano prático é um ser produtivo, que constrói de forma alienada um mundo para os outros, o ser humano prático é meramente um ser produtivo e não reflexivo e por sua vez suas ações não são transformadoras da realidade nem criadoras do novo. (Cf. Adolfo Sánchez Vázquez) Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC CAMPANHA BUSH NA CADEIA Pela instauração do Tribunal Penal Internacional para julgar o maior terrorista do mundo por crimes de guerra. CUT • UNE • MST • CONAM • CONTEE • UBM CEBRAPAZ • SINPRO ABC Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC LIBERDADE PARA OS 5 PATRIOTAS CUBANOS Antonio Guerreiro Rodriguez René González Schwerert Fernando Gonzáles Llort (Rubén Campa) Ramón Labañino Salazar (Luis Medina) Gerardo Hernández Nordelo (Manoel Viramontes) Presos desde 1998 nos EUA por combaterem organizações terroristas que atuam livremente em Miami. www.cebrapaz.org.br www.embaixadacuba.org.br Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC