Os q ouvem mais do q 3.pmd 13/9/2013, 17:22 1
Transcrição
Os q ouvem mais do q 3.pmd 13/9/2013, 17:22 1
Os q ouvem mais do q 3.pmd 1 13/9/2013, 17:22 Os q ouvem mais do q 3.pmd 2 13/9/2013, 17:22 Os q ouvem mais do q 3.pmd 3 13/9/2013, 17:22 Copyright© 2013 by Carlos Hilton Cruz Carvalho / Luis Carlos de Morais Junior Direitos em Língua Portuguesa reservados aos autores através da ® LITTERIS EDITORA. Arte Final de Capa Teresa Akil Imagem de Capa - Fotolia.com Isolated Ruby-throated Hummingbird © Steve Byland Revisão Os autores Editoração Litteris Editora CIP - Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. M825q Morais Junior, Luis Carlos de, Os que ouvem mais que nós / Luis Carlos de Morais Junior, Carlos Hilton Cruz Carvalho. 1. ed. - Rio de Janeiro : Litteris Ed., 2013. 88p.; 21cm ISBN 978-85-374-0219-1 1. Língua de sinais - Educação - Brasil. 2. Língua brasileira de sinais - Educação - Brasil. 3. Surdos - Educação - Brasil. 4. Prática de ensino. I. Carvalho, Carlos Hilton Cruz. II. Título. 13-04961 CDD - 419 CDU - 81.221.24 LITTERIS® EDITORA CNPJ 32.067.910/0001-88 - Insc. Estadual 83.581.948 Av. Presidente Vargas, 962 sala 1411- Centro 20071-002 - Rio de Janeiro - RJ Caixa Postal 150 - 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Telefax: 2263-3141 / 2223-0030 e-mail: [email protected] www.litteris.com.br Os q ouvem mais do q 3.pmd 4 13/9/2013, 17:22 Os que ouvem mais que nós é fruto de pesquisa desenvolvida no Grupo A vivência pós-moderna, ligado ao tema Estudos Transdisciplinares em Línguas e Literaturas, na Linha de Pesquisa: Língua Portuguesa e suas respectivas Literaturas sob o influxo de outras disciplinas, artes e mídias, da Faculdade CCAA. CONTATOS DOS AUTORES Luis Carlos de Morais Junior: [email protected] Carlos Hilton: [email protected] Os q ouvem mais do q 3.pmd 5 13/9/2013, 17:22 Os q ouvem mais do q 3.pmd 6 13/9/2013, 17:22 SUMÁRIO 1- DEFICIÊNCIA NÃO: DIVERSIDADE FUNCIONAL........................ 9 2- BREVE HISTÓRICO DO SURDO, NO BRASIL E NO MUNDO.... 15 3- AS LÍNGUAS DE SINAIS E A LIBRAS............................... 24 SURDA......................................................... 38 4- A CULTURA 5- A IDENTIDADE 6- A COMUNIDADE SURDA..................................................... 46 SURDA................................................... 53 7- PEDAGOGIA BILÍNGUE PARA SURDOS.................................. 57 INCONCLUSÃO: INCLUSÃO..................................................... 73 NOTAS .............................................................................. 77 BIBLIOGRAFIA..................................................................... 84 Os q ouvem mais do q 3.pmd 7 13/9/2013, 17:22 8 Os q ouvem mais do q 3.pmd 8 13/9/2013, 17:22 CAPÍTULO 1 DEFICIÊNCIA NÃO: DIVERSIDADE FUNCIONAL O homem é um ser multissensorial, que de vez em quando verbaliza.1 Imagine que você está dormindo, sem saber que está dormindo, e começa a sonhar, sem saber que está sonhando. Você se vê no seu ambiente mais comum, sua casa, sua escola, seu trabalho, entre seus amigos. Pode escolher. Mas, para seu desespero, você percebe que não consegue ouvir nada do que as pessoas a sua volta estão dizendo. Elas olham para você, falam, veem que você não escutou, e então gritam. Você tenta falar, explicar que, por algum motivo estranho, não está conseguindo ouvir o que elas dizem. No entanto, a sua voz também não sai. Ninguém escuta você. Agora todas as pessoas o olham, acintosamente. Umas riem, achando que você está fazendo palhaçada. Outras se exasperam, fácil assim. E você? O que pode fazer? Você quer entendê-los, mas não pode, quer se fazer entender, e não consegue. Como você se sentiria, nessa situação? Deve ser mesmo um momento difícil. Mas, aí, você acorda, e volta à sua realidade normal. Porém, como devem se sentir aqueles, cuja vida inteira é assim, igual ao seu sonho? 9 Os q ouvem mais do q 3.pmd 9 13/9/2013, 17:22 Esses são os Surdos. Eles enfrentam cotidianamente essa situação, percebendo que a maioria das pessoas tem muito pouca paciência com eles. Mesmo que você se esforce bastante, não vai conseguir entender ou descrever totalmente o que é ser um sujeito Surdo, simplesmente porque você nunca foi um. Por isso será maravilhoso, quando todo cidadão ouvinte tiver acesso à ampla informação sobre a realidade do Surdo, sua Língua, cultura e identidade, para que haja maior entendimento entre todos, e haja inclusão, e as pessoas procurem conhecer como funciona e saber da importância do uso da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), utilizada pelas comunidades Surdas do Brasil. Há uma grande diferença entre ouvir e escutar. Os Surdos podem ouvir mais que você, no sentido que eles captam uma gama de informações às quais você pode não estar atento naquele momento. Isso quebra um paradigma preconceituoso sobre o que seria a surdez. Deficiência? Não! Trata-se, na verdade, e, sem nenhum favor, de diversidade funcional. Pois, como já se disse, e citamos no início, e vamos repetir agora, porque é muito importante: “O homem é um ser multissensorial, que de vez em quando verbaliza”.2 Essas sábias palavras nos acenam para o fato de que não há a exclusividade do verbo falado (fonado), nas nossas percepções e comunicações. Captamos uma miríade de sensações, temos muito mais que cinco sentidos: visão, olfato, tato, paladar, audição, autopercepção interna, autopercepção externa, sensação de movimento, temperatura, equilíbrio... não se chegou a um número consensual entre os cientistas, mas alguns falam que temos trinta e três sentidos. Talvez, por isso, o médico peça ao paciente que diga: trinta e três. É sabido que cegos desenvolvem percepções auditivas e táteis muito mais abrangentes e intensas do que as dos que veem. A mesma coisa acontece com o Surdo, que pode compensar amplificando outros dos seus receptores sensoriais.3 10 Os q ouvem mais do q 3.pmd 10 13/9/2013, 17:22 Um exemplo é o fato de Surdos ouvirem música com seu corpo inteiro, e poderem inclusive dançar (pela percepção rítmica, cinestética e cenestésica) e cantar, havendo muitos corais de Surdos. Vamos esclarecer, de cara, duas palavras importantes, que são parecidas, porém, que falam de coisas diferentes: Cenestésico – Relativo a cenestesia. Sentir a si mesmo, perceber o funcionamento dos órgãos internos. Cinestésico – Uma pessoa que se comunica através da ação corporal. Cinestesia – Conjunto de sensações pelas quais se percebem os movimentos musculares.4 Todos nós ativamos esses dois tipos de percepções, as internas e as musculares, para captar informações. O Surdo pode voltar sua atenção para elas, de uma forma mais concentrada ainda, para captar, por exemplo, a música. Ouvir a música com o seu corpo todo, cinestesicamente, e sentir muito mais do que meramente os mesmos sons de sempre, esse sonho seria bem mais interessante, não? Um caso que ficou famoso, e impressiona muita gente, até hoje, é o de Helen Adams Keller, que ficou Surda e cega aos dezoito meses de idade, devido a uma “febre cerebral” (talvez escarlatina). Ela tinha percepções cinestésicas das coisas a sua volta, mas não conseguia entender o que eram, parecia que havia entre ela e o mundo uma barreira intransponível. A jovem professora Anne Sullivan conseguiu magistralmente ultrapassar a barreira, ensinando de forma tátil os sinais para Helen Keller, que em adulta se tornou uma grande pensadora, escritora e conferencista, lutando pela causa dos portadores de deficiência, e sendo ela mesma um exemplo inspirador.5 11 Os q ouvem mais do q 3.pmd 11 13/9/2013, 17:22 Este livro foi feito por nós dois, fifty/fifty. Não pretendemos aqui ensinar a Língua Brasileira de Sinais, coisa que, aliás, exige a interação com mestre e com um grupo, para ser bem apreendida. O nosso objetivo é discutir algumas questões referentes ao papel do Surdo na nossa sociedade, e, como indicam os títulos dos capítulos, conscientizar o leitor para fatos como a surdez ser uma diversidade funcional, e a possibilidade real e necessária do Surdo ter o seu lugar, com uma comunidade, uma Língua, uma cultura e uma pedagogia próprias. Vamos falar brevemente sobre algumas das nossas motivações, para escrevê-lo. Carlos Hilton conta que, quando tinha sete anos de idade, sofreu um acidente, brincando de pique bandeira, e foi levado ao Hospital Souza Aguiar, jorrando sangue pelo ouvido. A partir daí ele começou a ter sérios problemas de letramento, de leitura e escrita, pois isso aconteceu no início de sua alfabetização. E precisou aprender a ler e a escrever com uma professora que morava numa vila, próxima à sua casa, e que, com carinho, fê-lo superar seus bloqueios. Depois, em 1994, já formado em Jornalismo, trabalhando como voluntário numa igreja católica, participando das celebrações e cantando, ele viu um casal de Surdos, que compareciam todo domingo, e ficavam num cantinho, escondidos. O filho traduzia de forma imperfeita e insatisfatória para eles o que era dito na missa, e os pais entendiam muito pouco. Aquilo o incomodou. Um dia ele desceu do coro e falou que os queria ajudar, mas eles ficaram desconfiados, o que é comum acontecer com os Surdos, pela sua própria situação de serem alvos de deboches etc. Carlos aprendeu LIBRAS nessa época, com um Surdo da igreja, para tentar ajudar aqueles que não conseguiam ouvir, para que eles pudessem compreender a missa. 12 Os q ouvem mais do q 3.pmd 12 13/9/2013, 17:22 Aí ele começou um trabalho com o grupo de Surdos da paróquia. Desse pequeno núcleo se formou uma comunidade Surda, que se ampliou, e existe até hoje, e na qual Carlos ensina LIBRAS para os Surdos e forma intérpretes ouvintes, também, na perspectiva de sócio-Linguagem. Ele comenta que a comunidade Surda representa para o Surdo um momento de libertação, pois muitos Surdos nascem em famílias de ouvintes, e não têm a construção da sua própria identidade, porque seus pais são ouvintes. Isso quer dizer que eles se sentem uns estranhos, como se ninguém fosse igual a eles, e eles fossem os inadequados. Ao encontrar e frequentar uma comunidade, o Surdo encontra outros que pensam e se expressam como ele, pois compartilham a mesma diversidade funcional, e, consequentemente, de expressão Linguística. Luis Carlos explica seu interesse pela questão contando que participou, em 2010, de uma banca de monografia de graduação sobre LIBRAS, de um orientando de Carlos Hilton, na Faculdade CCAA. O trabalho mexeu muito com ele, e, a certo momento, na interpelação ao aluno, Luis Carlos falou que via a todos os seres humanos como um devir interligado, todos nós somos anões, gigantes, cegos, Surdos, gênios etc. Inspirado nesse acontecimento, escreveu o romance Gigante, no qual uma personagem fala assim para o protagonista: – Carlos, há outros como você. Em todo o mundo estão surgindo gigantes. E a sociedade começa a se preparar para aceitar vocês. Vocês somos nós. Porque a humanidade é como um rio genético, e toda deriva que ocorra, que é catalogada como mutação, deficiência, ou esquisitice, é na verdade uma parte misturada no todo que somos, no rio humano com todas as suas manifestações.6 Carlos continuou conversando com Luis sobre o assunto, trazendo material e incentivando suas leituras. Em 5 de julho de 13 Os q ouvem mais do q 3.pmd 13 13/9/2013, 17:22 2012, Carlos Hilton deu uma entrevista no programa de rádio produzido e apresentado por Luis Carlos (com o nome de Speed Luis, em homenagem ao seu pai, o radialista Speed Luiz), No Tempo do Rádio a Lenha, que nessa nona edição falou sobre Sociedade e preconceito, e contou com a presença também do sociólogo Leopoldo Pio (Carlos Hilton é radialista também, tem uma bela voz de cantor e locutor, e gravou lindas vinhetas para No Tempo do Rádio a Lenha).7 No início, queríamos fazer um artigo, um paper, um papel de poucas páginas, sobre a questão pedagógica da inclusão do Surdo. Mas, quando Carlos iniciou o processo de passar informações para Luis, nós dois vimos que a questão é grande, precisaríamos do espaço de livros, e resolvemos arregaçar as mangas, e botar a mão na massa, e este é o primeiro deles. Não podemos julgar os outros por não serem iguais a nós. A rigor, somos todos diferentes uns dos outros, e tanto, que poderíamos nos chamar a cada um de nós de “espécie especialíssima”, como afirma o pensador grego neoplatônico Porfírio (c. 232-c. 304) na sua Isagoge8, e como também pensou o filósofo Alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), na sua “teoria dos indiscerníveis”. Pare e pense, depois, se quiser, se movimente; porém, que esse movimento, seja gesto ou fala, traga a marca do sentimento compartilhado (inspirado por essa forma de amor, que no latim se diz “compaixão”, e que é a tradução do grego “simpatia”), e a compreensão de que os seres humanos estamos todos ligados, somos todos diferentes, mas somos todos iguais. 14 Os q ouvem mais do q 3.pmd 14 13/9/2013, 17:22 CAPÍTULO 2 BREVE HISTÓRICO DO SURDO, NO BRASIL E NO MUNDO Somos notavelmente ignorantes a respeito da surdez (Oliver Wolf Sacks)9 O outro, o diferente. Essa é uma longa história, um plural que se multiplica a cada vez que alguém tenta contá-la. São tantas realidades incontáveis, as várias visões de mundo, as diferenças, e o quanto de preconceito de intolerância já se construiu sobre isso. No caso dos Surdos, desde a Idade Antiga houve um certo incômodo, um não saber o que fazer em relação a ele. Parece, por exemplo, que egípcios e judeus “protegiam” os Surdos, mas lhes negavam o direito à educação. Pior era na antiga China, onde os Surdos eram lançados ao mar, assim como os gauleses os sacrificavam aos deuses.10 Situação análoga à semítica acontecia em Grécia e Roma, onde se consideravam os Surdos privados da possibilidade de aprendizado intelectual e moral.11 Por outro lado, quando, no diálogo platônico Crátilo, Sócrates (c. 459 a.C.-399 a. C.) pergunta a Hermógenes se, caso não tivéssemos voz, seria possível usar as mãos para sinalizar, ele obtém uma resposta positiva. 15 Os q ouvem mais do q 3.pmd 15 13/9/2013, 17:22 Sócrates: Bem, como podem os nomes originais, que não são como tais baseados em outros, tornarnos claras, na medida do possível, as coisas que são, função que, afinal, lhes cabe sendo eles realmente nomes? Responde-me o seguinte: se não tivéssemos voz ou Língua e desejássemos nos comunicar com clareza, não tentaríamos – como fazem realmente as pessoas mudas – fazer sinais com nossas mãos, cabeça e o resto de nosso corpo? Hermógenes: Sim. Que outra alternativa teríamos, Sócrates?12 Discípulo de Platão (428 a. C.-348 d. C.), Aristóteles (384 a. C.-322 a. C.) pensa que a razão representa o real, e a Língua comunica essa representação, e sendo assim, todo o processo de aprendizagem para ele está totalmente centrado na escuta da Língua oral. Inclusive, em suas aulas, havia os alunos “akoustikoi”, que não podiam falar, enquanto não tivessem aprendido um mínimo. Pela preponderância da expressão oral, os Surdos seriam “menos educáveis”, pois, não eram considerados, para ele, como seres pensantes. A coisa chegava ao ponto abSurdo de os romanos jogarem os Surdos no rio Tiger!!13 Durante a Idade Média, novamente o significado do Surdo muda na sociedade (como mostrou Foucault que acontece com a loucura, na sua história, e acontece com tudo: as palavras têm significados que são gerados em uma dada época, pelas instituições, as visibilidades e os enunciados).14 Com o advento do cristianismo, por causa da interpretação de textos sagrados, chegou-se a supor que os Surdos não teriam direito à (por não terem acesso ao conceito de) salvação. Por exemplo, a germinação do cosmos através da manifestação da palavra divina pronunciada pelo “verbo” (em grego λόγος “palavra”), no Evangelho segundo São João, 1,1 15 , ou a 16 Os q ouvem mais do q 3.pmd 16 13/9/2013, 17:22 proposição de ser preciso “ouvir” para ter fé, que está na Epístola aos Romanos, 10, 17-1816 Foram alguns dos textos assim que serviram para difundir a visão negativa do Surdo. Através dos séculos, várias ações do cristianismo colaboraram para consolidar a dignidade Surda, mas, do dogma medieval, bem como de preconceitos da Idade Antiga, herdamos a concepção errônea da surdez. Exemplo de ato desenvolvido por cristão que contribuiu com a causa está no fato de que o primeiro livro sobre o alfabeto manual dos Surdos foi escrito pelo padre franciscano Mechor de Yebra (1526-1586). Já o mais antigo professor de Surdos conhecido hoje por nós foi o monge beneditino Pedro Ponce de Léon (1520-1584), que aproveitou o voto de silêncio dos mosteiros para dar início ao seu trabalho com dois irmãos Surdos. Ele usava a datilologia, escrita e tentativa de oralização. Logo depois, surgiu Juan Pablo Bonet (1579-1623), que treinou a fala com o uso do alfabeto datilológico. No Renascimento a situação não melhorou, e, ainda por cima, os espetáculos de “monstruosidades”, circos de horrores medievais que se prolongavam pela Europa, vão usar Surdos como motivo de deboche, ao lado de anões, corcundas etc. No século do Iluminismo, isolavam-se as pessoas com qualquer diversidade funcional, como uma proposta de “higienização” social, evitando a “contaminação” da sociedade pelo suposto desviante (essa é a época da exclusão, sobre a qual escreve Foucault 17 ). Foi quando surgiram os Institutos Educacionais, que eram mais asilos do que escolas. Um dos mais marcantes cientistas desse período foi Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838), médico cirurgião e psiquiatra, que estudou com Philippe Pinel (1745-1826). Gaspard entendia a surdez como doença, e, para descobrir a sua cura, fez vários experimentos: dissecou cadáveres, deu choques elétricos nos ouvidos de Surdos, furou tímpanos de alunos Surdos (tendo ocasionado o óbito de um deles), usou sanguessugas etc.18 17 Os q ouvem mais do q 3.pmd 17 13/9/2013, 17:22 Os filósofos da Linguagem dos séculos XVII e XIX também disseminaram a ideia abSurda de que o Surdo seria incapaz de aprender e pensar. Mas, o filósofo Francês Étienne Bonnot de Condillac (17151780) foi uma exceção, pois forneceu o primeiro endosso filosófico à Língua de Sinais e ao seu uso na educação de Surdos. Outra figura importante foi o reverendo norte-americano Thomaz Hopkins Gallaudet (1787-1851), que conheceu uma menina Surda, de nome Alice, comoveu-se com a sua história e quis ajudá-la. Como não havia nenhuma escola específica nos EUA, o religioso foi buscar conhecer os trabalhos feitos nessa área em Paris e em Londres; voltando aos EUA, funda ali a primeira escola de Surdos da América.19 Já na idade contemporânea, ainda grassa o preconceito, desde seus primórdios. Immanuel Kant (1724-1804), o filósofo Alemão, que é um importante fundamento do saber atual, em 1773, declara que os Surdos nunca podem atingir mais do que um análogo da razão, pois os sinais não seriam capazes de representar uma generalidade. Arthur Schopenhauer (1788-1860) também pensava parecido, entendendo que os Surdos não teriam acesso direto ao raciocínio, já que, na época, a Linguagem modelo do pensamento era a oral. Foi a Psicologia que, precedendo a Linguística, realizou avanços científicos para um futuro reconhecimento de status linguístico das Línguas de Sinais. Numa época em que, para os linguistas, as Línguas de Sinais não eram consideradas Línguas genuínas, Wilhelm Maximilian Wundt (1832-1920), o fundador da Psicologia Experimental, foi o primeiro acadêmico a defender a concepção das Línguas de Sinais como idiomas autônomos. Já Ferdinand de Saussure (1857-1913), no seu Curso de Linguística geral (obra póstuma, que reúne as notas de Charles Bally e Albert Seschehaye, com a colaboração de Albert Riedlinger, tomadas nos cursos de Saussure na Universidade de Genebra, de 1906 a 1911), enfatiza a arbitrariedade das relações entre o signo e o seu referente. 18 Os q ouvem mais do q 3.pmd 18 13/9/2013, 17:22 Assim, a iconicidade de certos sinais (dos Surdos) continuaria sendo vista como inferioridade, como se fossem simples imitações da forma das coisas ou dos processos e movimentos, um “ícone”, isto é, uma imagem, um “retrato” das coisas. Na verdade, há arbitrariedade também nas Línguas de Sinais, e esse presumida “semelhança” é cultural, tanto quanto a da Língua falada. Assim, as Línguas de Sinais eram consideradas uma comunicação inferior e com vocabulário limitado, equivalente a mera gesticulação mímica e pantomímica, sem estrutura hierárquica gramatical, e limitada apenas a representações de certos aspectos da realidade. Hitler, na II Guerra Mundial (1939-1945) exterminou pessoas com diversidade funcional em seus campos de concentração, entre as quais estavam os Surdos. E o Terceiro Reich proibiu o uso da Língua de Sinais Alemã, para tentar manter a hegemonia da Língua oral, com a desculpa de que os Sinais poderiam ser usados para comunicar segredos de guerra. Aos poucos, uma nova fase iria se instaurar para diferentes concepções e estudos sobre as Línguas de Sinais no mundo e os avanços sobre essa área de estudos da Linguística. Na segunda metade do Século XVIII, havia apenas dois métodos de ensino para os alunos Surdos: o método francês de sinais do Abade de L´Epée (1712-1789) e método oral alemão de Samuel Heinicke (1729-1790). Aquele, denominado de “Sinais Metódicos”, foi o mais conhecido e difundido, e deu início à educação de Surdos. Seu criador tornou-se célebre como o “pai da educação dos Surdos”. Aconteceu que ele conheceu duas irmãs gêmeas Surdas, e, por causa delas, passou a ter contato com vários outros Surdos carentes. Inicialmente, L´Epée começou o seu trabalho em casa, usando combinações de sinais com a gramática. O Abade fundou a primeira escola mundial desta natureza, o Instituto de Surdos de Paris, e foi o defensor da Língua de Sinais e do desenvolvimento do Surdo, como também o precursor na educação dos Surdos. 19 Os q ouvem mais do q 3.pmd 19 13/9/2013, 17:22 Graças ao gestualismo, muitos Surdos se tornaram multiplicadores das suas próprias Línguas de Sinais, sendo professores e difundindo já o conceito de cultura, Língua e identidade Surda, e dando bases para a origem do futuro bilinguismo para Surdos. A prova do avanço do gestualismo é a vinda do professor Eduard Huet (1822?-1882), do Instituto Nacional de Surdos de Paris, ao Brasil, a pedido de Dom Pedro II, para fundar o Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. /.../ Em junho de 1855, Huet apresenta ao Imperador D. Pedro II um relatório cujo conteúdo revela a intenção de fundar uma escola para Surdos no Brasil. Neste documento também informa sobre a sua experiência anterior como diretor de uma instituição para Surdos na França: o Instituto dos Surdos-Mudos de Bourges. Era comum que Surdos formados pelos Institutos especializados europeus fossem contratados a fim de ajudar a fundar estabelecimentos para a educação de seus semelhantes. Em 1815, por exemplo, o norte-americano Thomas Hopkins Gallaudet (1781-1851) realizou estudos no Instituto Nacional dos Surdos de Paris. Ao concluí-los convidou o ex-aluno dessa instituição, Laurent Clérc, Surdo, que já atuava como professor, para fundar o que seria a primeira escola para Surdos na América. Portanto, podemos compreender que a proposta de Huet correspondia a essa tendência. O governo imperial apoia a iniciativa de Huet e destaca o Marquês de Abrantes para acompanhar de perto o processo de criação da primeira escola para Surdos no Brasil. O novo estabelecimento começa a funcionar em 1º de janeiro de 1856, mesma data em que foi publicada a proposta de ensino apresentada por Huet. /.../20 20 Os q ouvem mais do q 3.pmd 20 13/9/2013, 17:22 L´Epée publicou ainda o primeiro dicionário de Língua de Sinais do mundo, o qual foi muito criticado pelo oralista Samuel Heinicke, conhecido como “pai do método oral”, que fundou a primeira escola oralista, atribuindo valor à tentativa da fala oral. O oralismo atingiu seu auge no Congresso Internacional de Educação de Surdos de Milão, em 1880, o qual, aliás, não teve a presença de nenhuma representatividade Surda. Célebre por suas pesquisas em relação às questões dos sons e pela criação de um aparelho fonador, Alexander Melville Bell (1819-1905, foneticista, pai do inventor do telefone Alexander Graham Bell) teve grande representatividade nesse Congresso, sendo a voz ativa em favor do oralismo criado por Heinicke, manifestando-se contra o gestualismo. Por influência do Congresso (ao qual não foram os Surdos), e da autoridade de Alexander Bell, o uso das Línguas de Sinais foi proibido em todo o mundo, e muitas escolas utilizavam de violência, amarrando as mãos dos Surdos, para que não usassem as suas Línguas de Sinais. Imagine um falante, como ele se sentiria, se lhe amarrassem a língua, para ele não falar. O oralismo é uma imposição social da maioria Linguística, os falantes da modalidade oral da Língua, sobre uma minoria Linguística, no caso, os Surdos, que não encontram assim expressão diante da comunidade ouvinte, como afirma Sánchez.21 O método bimodal ou bimodalismo, mais conhecido como comunicação total, teve início em 1970, devido ao crescente analfabetismo entre os Surdos, observado por educadores. Para eles, seria preciso retomar o uso das Línguas de Sinais no meio escolar, para possibilitar o avanço na educação de Surdos, pois desconfiavam de que o aprendizado só seria possível trazendo a Língua de Sinais como instrumento para o ensino. Porém, tudo era aceitável, a fim de atingir o objetivo, inclusive o uso da oralização junto com os sinais e demais recursos. O bimodalismo é um sistema artificial, considerado inadequado, tendo em vista que desconsidera a Língua de Sinais e sua riqueza estrutural e acaba por desconsiderar também o Português. 21 Os q ouvem mais do q 3.pmd 21 13/9/2013, 17:22 Esse foi o motivo de ganhar o nome de Comunicação Total, pois, tudo era permitido, para atingir o objetivo de educar o Surdo, dando origem à chamada Língua de Sinais sinalizadas, como o Inglês sinalizado, o Português sinalizado, entre outras, que utilizam os sinais, com as estruturas das Línguas orais. O bimodalismo trouxe o retorno das Línguas de Sinais para dentro da sala de aula, depois de aproximadamente um século de proibição, mas errou, ao falsificar o uso das Línguas de Sinais, usadas concomitantemente com as Línguas orais, o que é impossível, considerando que se tratam de duas Línguas distintas, de modalidades diferentes. O mais eficiente e atencioso dos métodos é o bilíngue. A proposta do método bilíngue é recente, e teve início no fim da década de 70 e início da década de 80, já no século XX, e segue até os dias atuais. O bilinguismo traz o conceito de respeito à minoria Linguística, que é a comunidade Surda. O método bilíngue, através de estudos empíricos e científicos sobre a Língua e constituição do sujeito, consiste em que a Língua de Sinais seja a Língua natural de acesso de informação como primeira Língua (L1) do Surdo, tendo a Língua oral escrita como segunda Língua (L2), e não sendo mais obrigatório o uso das técnicas oralistas, como a leitura labial. O bilinguismo é uma proposta de ensino, usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas Línguas, no contexto escolar22. A Língua é o grande instrumento natural para o ser humano entender a si e ao mundo que o cerca e, sobretudo, expressar seu pensamento. Como o Surdo também é um sujeito pleno, ele possui uma Língua natural e específica, ele também usufrui desse grande instrumento, e que é denominada Língua de Sinais – LS, e, no Brasil, Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. A história comprova que não foi tão fácil para o Surdo conquistar o direito ao uso da sua Língua de Sinais, e de torná-la uma disciplina curricular obrigatória, como é aqui e agora, no Brasil. Pois, numa sociedade composta em sua maioria de pessoas 22 Os q ouvem mais do q 3.pmd 22 13/9/2013, 17:22 ouvintes, as Línguas de Sinais parecem não ser percebidas por seus não usuários e, às vezes, são até tachadas como Línguas mortas (ou artificiais, ou não-Línguas, ou outra bobagem qualquer), por aqueles que não a utilizam como um veículo eficaz na comunicação entre seus pares linguísticos. Todavia, as Línguas de Sinais – LS e a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS sempre permaneceram vivas no seio das vastas comunidades Surdas espalhadas no mundo e no Brasil, considerando os Surdos são os detentores oficiais das suas próprias Línguas de Sinais – LS, e se encarregam de mantê-las e difundi-las. As Línguas de Sinais – LS e a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS são oriundas das experiências socioculturais das pessoas Surdas, que as experimentam em uso no seu cotidiano comunicacional, em meio às comunidades Surdas. As Línguas de Sinais – LS são Línguas naturais e de caráter genuíno, como qualquer outra Língua, e apresentam as mesmas complexidades estruturais que as Línguas orais, em suas produções. Isso significa que elas têm articulação, morfologia, vocabulário, sintaxe e semântica próprios, diferentes de qualquer outra Língua falada, inclusive o Português. A LIBRAS não é o Português “sinalizado”. É outra Língua. Tem sua própria gramática, vale repetir.23 23 Os q ouvem mais do q 3.pmd 23 13/9/2013, 17:22 CAPÍTULO 3 AS LÍNGUAS DE SINAIS E A LIBRAS O bem-estar de cada um está ligado ao bem-estar de todos. (Helen Keller)24 Não é só o caso da gramática ser própria. O não linguista pode não saber, mas, em cada Língua, cada palavra recobre sentidos próprios, diferentes de uma palavra que supostamente a traduz, em outra Língua. Isso significa que cada Língua gera uma visão de mundo diferente, com semântica e pragmática diferentes de outra Língua. “Gato” em Português tem aspectos fonéticos, fonológicos, morfológicos, semânticos e pragmáticos diferentes de “cat”, em Inglês. Por exemplo, em Português gato/gata pode ser “pessoa bonita” também, o que não ocorre em outros idiomas. É assim com todas as Línguas. Inclusive com a Língua de Sinais. A palavra “gato” ali “funciona” diferente, tanto na sua expressividade, quanto na sua relação com o resto da Língua, e com o mundo. Diferenças de significante (“gato” rima com “rato”, “cat” rima com “bat”), diferenças de semântica (os significados não são exatamente iguais), diferença pragmática (usam-se de maneiras diferentes). Exatamente assim acontece com as Línguas de Sinais (e, mais, ainda, de novo, as gramáticas são outras, tudo “funciona” 24 Os q ouvem mais do q 3.pmd 24 13/9/2013, 17:22 diferente, entre a LIBRAS e a Língua Portuguesa do Brasil, falada). Não há como saber qual a origem das Línguas de Sinais, assim não há um registro preciso de origem de qualquer idioma, mas, sim, a origem do estudo referente a uma determinada Língua, tanto das modalidades orais, e quanto as de Sinais. As Línguas são fenômenos originados nas mentes humanas, nas suas relações sociais com o meio, não sendo possível prover uma cronologia da sua origem e de muito do seu prévio desenvolvimento. Como Línguas de mesmo valor em status linguísticos, as Línguas de Sinais também participam dos mesmos universais linguísticos que compõem as Línguas orais. Não há Línguas primitivas. Todas são igualmente complexas e igualmente capazes de expressar qualquer ideia. O vocabulário de cada Língua pode ser expandido, a fim de incluir novas palavras, para expressar novos conceitos. Assim, como as Línguas orais, as Línguas de Sinais também são complexas e passíveis de expressar qualquer ideia. Seus vocabulários estão sempre em expansão, incluindo novas palavras e novos sinais. O certo é que as Línguas de Sinais são feitas de olhares, gestos e expressões faciais e corporais, isto é, são vísuoespaciais, e são compartilhadas por pessoas Surdas, tais como as Línguas de Sinais brasileira, espanhola, francesa, portuguesa etc. Elas são ágrafas, não se escrevem. São Línguas que utilizam a visão, as mãos e a expressão facial e corporal, como canais de recepção, produção e expressividade. Já orais-auditivas são Línguas compartilhadas por pessoas ouvintes, tais como o Espanhol, o Francês, o Português, o Inglês etc., e podem ser escritas. Elas utilizam o conduto auditivo (audição) e o sistema fonador (voz), como canais de percepção, produção e expressão. As Línguas de Sinais e as Línguas orais são Línguas de modalidade diferentes, que, como afirmamos, utilizam canais de recepção, produção e expressão também diferenciados. Não há falhas na organização de uma Língua de Sinais, pois elas são Línguas independentes das Línguas orais em suas 25 Os q ouvem mais do q 3.pmd 25 13/9/2013, 17:22 estr uturas gramaticais. Por isso, elas não podem estar subordinadas às Línguas orais, sendo completamente diferentes, tendo gramáticas com organizações internas próprias, o que, por desconhecimento, alguns denominam de “falhas na organização gramatical”; o certo seria denominar essas diferenças lógicas de características próprias das estruturas das Línguas. Há falhas na organização gramatical do Inglês, quando coloca o adjetivo antecedendo o substantivo, ou no Português, que o pospõe? As Línguas de Sinais não são as Línguas orais utilizando simultaneamente os sinais. Tal ato é denominado de sinalização de uma Língua oral tais como: o Inglês sinalizado, o Português sinalizado etc. A datilologia é a soletração manual do alfabeto de uma Língua de Sinais, com as letras em Línguas de Sinais, alfabeto que mostramos como é em LIBRAS, no final deste capítulo. A datilologia não é uma Língua, como pensam alguns, mas trata de simples códigos, baseados nos alfabeto das Línguas orais de cada país. Um modo adaptado, para auxiliar no ensino da Língua oral. Os Surdos só utilizam a datilologia para nominar aquilo que ainda não tem um sinal específico. Após a criação do sinal específico, os Surdos não mais utilizarão a datilologia. Outra coisa importante: as Línguas de Sinais não são Línguas pobres, que não possam expressar a abstração, grave equívoco, no qual muitos incorrem. Pelo contrário, são Línguas ricas de expressividade e não podem ser comparadas (ou compreendidas na comparação) com as estruturas das Línguas orais. O restrito não é a Língua de Sinais. Foi a proibição e a intolerância para com as mesmas, que as restringiram, e fizeram com que elas não tivessem a total visibilidade. Nas Línguas de Sinais há figuras de Linguagem e sinais metaforizados. Isso comprova o quanto elas também podem expressar sentimentos, poesias, piadas, gírias etc. A ideia errônea de que o sujeito falante só é aquele que produz uma modalidade de Língua oral e não uma Língua de Sinais sempre foi um discurso histórico que subordinou as Línguas de 26 Os q ouvem mais do q 3.pmd 26 13/9/2013, 17:22 Sinais, nas pessoas dos Surdos. Esse é o motivo da não aceitação das Línguas de Sinais, acreditando que as mesmas são gestos aleatórios. As Línguas de Sinais não podem ser oriundas dos ouvintes, pelo motivo de que não são eles os produtores naturais, sociolinguisticamente falando, dessa modalidade de Língua; e, muito menos, poderia ser o gestual oriundo dos ouvintes, pois os gestos que utilizam em suas Línguas orais jamais alcançariam um nível tão extraordinário de complexidade e gestualidade, como são apresentadas nas Línguas de Sinais. Você entende? Na riqueza da inteligência humana, o cérebro do Surdo encontra outros receptores para fortalecer suas percepções, e ouve o que não ouvimos, ouvindo. Da mesma forma, ele encontra nas mãos e nas expressões faciais e corporais o seu “órgão de fala”, a sua “Língua”, e precisa e consegue exprimir com gestos riquezas e sutilezas que o falante jamais conseguiria, visto que este usa a língua dentro da boca para se expressar. São duas adaptações do cérebro. A Língua, os dentes, o esôfago são partes do aparelhos digestivo. As narinas, a prega vocal e os pulmões são parte do aparelho respiratório. A fala não tem aparelho. Ela adapta essas partes para ciberneticamente se expressar e atuar com sentido sobre o mundo e os outros homens. A mesmíssima coisa faz o Surdo, com mãos, braços e face. Não há inferioridade na sua adaptação. Há uma diversidade funcional, ele usa os órgãos de forma diferente, nem melhor, nem pior, que a maioria falante. O hemisfério direito do cérebro é responsável pelas organizações espaciais e o hemisfério esquerdo é responsável pela Linguagem humana. Contudo, um grande equívoco é achar que, por as Línguas de Sinais serem Línguas vísuoespacias, elas não seriam verdadeiramente Línguas, devido ao que estariam automaticamente sendo processadas pelo hemisfério direito. Estudos de Bellugi e Klima, realizados em 1990, comprovaram que Surdos que tiveram lesões no hemisfério esquerdo não conseguiam processar informações Linguísticas 27 Os q ouvem mais do q 3.pmd 27 13/9/2013, 17:22 corretamente (em LS, bem entendido); porém, tendo as suas informações espaciais mantidas intactas. Isso comprovou que as Línguas de Sinais também são processadas, como qualquer outra Língua, no hemisfério esquerdo. O registro iconográfico de Línguas de Sinais mais antigo encontrado até hoje é do ano de 1579, em Veneza, e extraído da obra de Cosmos Rosselius, com a representação de um alfabeto digital feita numa gravura em madeira. Foi através dos monges católicos no século XVII da Espanha que os Surdos passaram a fazer uso de um alfabeto manual durante as aulas de alfabetização. Os monges faziam uso deste tipo de comunicação nos mosteiros, por causa do voto do silêncio. Mas, veja bem, o uso dos monges era de um falante que usa sinais. Ao caírem nas mãos dos Surdos, esses sinais são como um vírus de Linguagem, que desenvolve milhões de processos diferenciadores, gerando uma estrutura Linguística, quase que infinitamente mais rica. A primeira publicação de um alfabeto manual foi feita por Juan Pablo Bonet em 1620, no livro Reducción de las letras y arte para ensenãr a hablar a los mudos, que foi a primeiro obra conhecida sobre Surdos. Na Franca, em 1750, o abade Charles de L´Epée, ao fundar uma classe para pessoas Surdas, criou um método de Linguagem de gestos, denominada “A Linguagem de Sinais Metódicos”. Esse, que era diferente do já citado alfabeto manual usado pelos monges através do voto do silêncio (um costume até hoje usual nos mosteiros), possuía códigos com significados, e cada gesto representava uma palavra ou até mesmo uma frase. Em seguida, o abade Sicard, discípulo do abade L´Epée, foi quem escreveu o primeiro dicionário de Língua de Sinais do mundo. A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS é a Língua natural e de modalidade vísuoespacial desenvolvida pela comunidade Surda brasileira, conhecida com as siglas LIBRAS ou LSB. A LIBRAS é uma Língua que independe da Língua portuguesa. Nela também se apresentam os dialetos regionais e as gírias, como em qualquer outra forma de Língua. 28 Os q ouvem mais do q 3.pmd 28 13/9/2013, 17:22 A LIBRAS foi reconhecida com status de Língua natural e segunda registrada no Brasil após a Língua portuguesa, pela Lei da LIBRAS nº 10.436 (24/04/2002)25 , e se tornou disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura, pelo Decreto da LIBRAS nº 5.626 (22/12/2005).26 Nele, é garantido que a LIBRAS é reconhecida com o status de Língua natural do Surdo brasileiro, o qual tem direito a uma educação bilíngue, e a ter um tradutor e intérprete de LIBRAS, que o mediará, garantindo-lhe o direito de exercer a sua Língua. O decreto reza ainda que a LIBRAS é disciplina obrigatória na formação de professores e demais áreas profissionais. Há ainda a Lei nº 8.213 (24/07/1991) da Organização Internacional do Trabalho OIT, que expande o mercado do trabalho para os Surdos, professores e demais profissionais bilíngues.27 O primeiro registro da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS é do ano 1875, e é intitulado Iconographia dos Signaes dos SurdosMudos. Ele foi produzido por Flausino José Gama, ex-aluno do Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. O original da obra está na Biblioteca Nacional, com uma cópia na Biblioteca Museu do INES. Os estudos das Línguas de Sinais pela Linguística se iniciaram por volta de 1960, com o linguista norte-americano William Stokoe28 (1919-2000), que inventou um sistema de notação (“Stokoe notation”), e o conceito de “querologia” (“cherology”), o equivalente de “fonologia” para as Línguas de Sinais. Desde essa época houve um grande crescimento sobre as investigações das Línguas de Sinais na parte da aquisição natural, estrutura, uso e funcionamento. As Línguas de Sinais expressam conceitos abstratos, com riqueza e complexidade, como qualquer outra Língua oral, e podem falar de quaisquer assuntos, como política, física, filosofia etc. Na verdade, as Línguas de Sinais têm a sua própria forma de expressar os conceitos na sua estrutura, que é visual. A arbitrariedade dos sinais nas Línguas de Sinais comprova o conceito de que elas obedecerão às características do sinal do 29 Os q ouvem mais do q 3.pmd 29 13/9/2013, 17:22 grupo, que irá identificá-lo. Isso anula o conceito de que os sinais são apenas icônicos e gestuais. Os gestos estão inseridos em qualquer modalidade de Língua, eles são anteriores à palavra oral e são importantes para a provocação do exercício da Linguagem. Os gestos compõem o exercício da Linguagem humana. Gestuais auxiliares são sistemas auxiliares que se associam aos sinais para estabelecer uma comunicação em pantomima. Muitos questionam como podem Surdos de diferentes países conversarem livremente entre si, e, às vezes, até pensam que eles estão utilizando as suas Línguas de Sinais de origem. Mas isso não é como parece ser! Esses Surdos não estão dialogando em suas Línguas de Sinais, mas em gestuno ou pantomima. O gestuno (Língua Gestual Internacional - LGI ou Língua Internacional de Sinais, aqui no Brasil) é uma Linguagem auxiliar internacional, muitas vezes usada pelos Surdos em conferências internacionais ou informalmente, quando eles viajam para outros países. Ela é para as Línguas de Sinais como as tantas tentativas de Línguas Internacionais inventadas, que são dezenas, nas quais se destacam o Esperanto, o Volapuque e a Interlíngua, sendo que o gestuno “deu certo”, isto é, tem sido consistentemente utilizado em encontros internacionais de Surdos, o que já não acontece com tanta regularidade nos casos das Línguas orais internacionais inventadas. Mas o gestuno não é considerado uma Língua, já que não possui uma gramática apropriada. Ele utiliza os sinais com a gramática de qualquer uma das Línguas de Sinais existentes. É utilizada em reuniões internacionais de Surdos. Perceba a força dessa afirmação: somente os Surdos desenvolvem características visuais tão peculiares para a produção do gestuno. Há também o signuno, que é um código gestual do Esperanto, derivado do gestuno29. Veja seu alfabeto, como nos é mostrado pelo site Wikipedia, e que contém sinais especiais e caracteres do Esperanto:30 30 Os q ouvem mais do q 3.pmd 30 13/9/2013, 17:22 Vamos pedir emprestadas (adaptadas) à professora Heloísa Maria Moreira Lima Salles as suas explicações, sobre o sistema de Transcrição para a LIBRAS, que é uma forma de utilizar a escrita (no nosso caso, adaptada da Língua portuguesa) para representar graficamente os sinais da LIBRAS. A transcrição da Língua de Sinais para a Língua Portuguesa possui peculiaridades que facilitam no momento em que o leitor ou transcritor se depara com a mesma. Tal sistema diferentemente do que se pensa atualmente não é o Sign Writing (Escrita de Sinais), mas palavras da Língua Portuguesa, onde os itens lexicais são apresentados em letras maiúsculas. Podemos citar alguns exemplos: 31 Os q ouvem mais do q 3.pmd 31 13/9/2013, 17:22 1. Se um sinal corresponder a duas palavras (composta) na Língua Portuguesa devemos separálas com hífen. Ex.: GUARDA-ROUPA. 2. Se dois ou mais sinais correspondem a uma única palavra na Língua Portuguesa deve-se usar o sinal de igualdade e o acento circunflexo unindo ambas para representá-las. Ex.: CAVALO^LISTRA= ZEBRA. 3. Em casos de transcrição de palavras em Datilologia a mesma deve ser apresentada separada por hífen. Ex.: C-O-N-T-I-N-E-N-T-E. 4. Se ocorrer um empréstimo da Língua Portuguesa para a LIBRAS a palavra deverá aparecer em itálico. Ex.: NUNCA. 5. A LIBRAS não apresenta desinência de gênero e número. As palavras em Língua Portuguesa que as possuem deverão ser transcritas com o símbolo @ (arroba) no lugar da desinência. Ex.: EL@ (ela ou ele), ME@ (meu ou minha). 6. Não há restrições para utilizar os sinais de pontuação da Língua Portuguesa, desde que estejam empregados corretamente.31 Segundo Nídia Regina Limeira de Sá, a importância do aprendizado da LIBRAS é relevante para se traçar um modelo de projeto político pedagógico e efetivar concretamente uma verdadeira educação bilíngue para alunos Surdos. E, para que isso ocorra, apresenta os seguintes itens que podem ser explorados: 1) o abandono da ideologia “terapêutica”, e a aproximação de novos paradigmas socioculturais; 2) a problematização da diferença, na luta do sentido dos termos “diversidade” e “diferença”; 3) a criação de escolas específicas para Surdos; 4) a viabilização de um ambiente linguístico adequado para Surdos; 5) o cultivo de relações culturais com a comunidade Surda; 6) o currículo pensado a partir da cultura e da ciência Surda; 7) uma educação para a vida na sociedade e do conhecimento sobre a comunidade Surda.32 32 Os q ouvem mais do q 3.pmd 32 13/9/2013, 17:22 Essas propostas reforçam que o aprendizado da LIBRAS acentua a necessidade de que profissionais da educação e demais áreas reconheçam as especificidades próprias das Línguas de Sinais, e, ainda, a metodologia apropriada para o ensino de alunos Surdos, de acordo com a proposta bilíngue. A efetivação do método bilíngue para educação de Surdos deve ser de responsabilidade dos gestores educacionais, que devem implementá-la em seus programas pedagógicos, bem como viabilizá-la na escola bilíngue para Surdos. Como as Línguas orais, as Línguas de Sinais também podem ser aprendidas. Assim, crianças Surdas ou filhos ouvintes de pais Surdos podem aprender suas Línguas de Sinais em qualquer parte do mundo. Esses Surdos e ouvintes são considerados nativos em Línguas de Sinais. E filhos de pais Surdos são denominados bilíngues (pois transitam em duas Línguas: orais e sinais) e biculturais (já que transitam em duas culturas: a ouvinte e a Surda). Como já dissemos, mas é importante frisar, as Línguas de Sinais são Línguas de modalidade vísuoespacial , não se escrevem (ágrafas) e são Línguas naturais, oriundas das comunidades Surdas e das experiências visuais dessas comunidades. Elas são manifestações Linguísticas naturais, fazendo parte do mundo simbólico, cultural e linguístico das pessoas Surdas, que compartilham uma Língua visual. Em 1974, Valerie Sutton, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca inventou o Sign Writing, que foi criado para registrar qualquer movimento humano, e até mesmo de animais e insetos. É um sistema de escrita visual direta de sinais, e é capaz de transcrever as propriedades sublexicais das Línguas de Sinais (os quiremas e os parâmetros). O Sign Writing permite uma descrição detalhada dos quiremas de uma Língua de Sinais e com um registro preciso dos sinais que resultam de sua combinação. O sistema compreende cinco divisões: A Dance Writing para registrar a coreografia de danças; a Sign Writing para registrar as Línguas de Sinais; a Mime Writing para registrar a mímica e a 33 Os q ouvem mais do q 3.pmd 33 13/9/2013, 17:22 pantomima clássica; a Sports Writing para registrar a ginástica, a patinação e o caratê e o Science Writing para registrar a fisioterapia, a Linguagem corporal e os movimentos de animais e de insetos. Há uma corrente da comunidade Surda que defende a importância do ensino desse sistema, junto com o letramento para crianças Surdas. Já outros acreditam que o sistema tem a sua importância apenas para os estudiosos da Linguagem. Para alguns desconhecedores, o estudo fonológico das Línguas está relacionado apenas ao da sonoridade. Porém, o estudo fonológico é relacionado não ao som, mas à menor unidade sem significado (material) de uma palavra ou de um sinal. O fonológico é tão presente nas Línguas orais quanto nas Línguas de Sinais. As unidades distintivas mínimas sem significado nas Línguas orais são classificados como fonemas e nas Línguas de Sinais há os quiremas, do grego “queiros” (χειρος), que significa “mão”. Como qualquer outra Língua oral, as Línguas de Sinais também possuem os seus níveis gramaticais: (1) o quirológico, que opera com o quirema (e que corresponde ao fonológico, que opera com o fonema, nas Línguas orais auditivas); (2) o morfológico, que opera com o morfema e a palavra; (3) o sintático, que opera com a lógica e a organização da frase; (4) o semântico, que opera com o significado; e (5) o pragmático, que opera com o sentido (o uso dos significados e sua inserção no contexto). Assim, como nas Línguas orais, as palavras são formadas a partir de regras pré-estabelecidas pela gramática. Nas Línguas de Sinais os processos de formação de sinais são denominados de parâmetros. Os cinco parâmetros das Línguas de Sinais são: 1- Configuração das mãos: as formas das mãos que podem ser usadas na datilologia (alfabeto manual), em outras formas feitas por uma ou pelas duas mãos do sinalizador. Quando o sinal é feito com duas mãos pode ter a mesma configuração de mão ou configurações diferentes. 34 Os q ouvem mais do q 3.pmd 34 13/9/2013, 17:22 2 - Ponto de articulação: o lugar onde a mão predominante pode estar tocando alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até a cabeça) e horizontal (à frente do emissor). 3 - Movimento: os sinais podem implicar ou não em um movimento. 4 - Orientação: os sinais têm uma direção e um sentido. 5 - Expressão facial e corporal: muitos sinais têm a expressão da face e/ou do corpo como mais um traço diferencial. Há sinais usando também os lábios, a Língua, a bochecha e o queixo. Essa é uma grande demonstração (e inclusive prova) de que as Línguas de Sinais não podem ser realizadas concomitantemente com a Língua oral. Nas Línguas de Sinais, os classificadores são configurações das mãos que, relacionados à coisa, pessoa e animal, funcionam como marcadores, na concordância verbal, dando maior ênfase ao contexto. Nas Línguas orais-auditivas, os classificadores podem se manifestar de várias formas, como: - uma desinência, como as do Português, Língua que classifica os substantivos e adjetivos em: masculino e feminino: menin(A)menin(O); singular e plural: menina(S)-menino(S); - uma partícula, que se coloca entre as palavras: cara-de-pau; - desinências (modo temporal e número pessoal) que se acrescentam ao verbo, para estabelecer flexão (modo/tempo/ número/pessoa): am-á-va-mos; - atribuir uma qualidade a uma coisa, através de um adjetivo ou de locução adjetiva: arredondado, quadrado, cheio de bolas, de listras, etc. Os classificadores nas Línguas de Sinais substituem o nome que as precedem, e vêm junto ao verbo para classificar o sujeito ou o objeto, que está ligado à ação do verbo. 35 Os q ouvem mais do q 3.pmd 35 13/9/2013, 17:22 Os classificadores nas Línguas de Sinais são marcadores de concordância de gênero, pessoa, animal ou coisa. Eles representam, através da concordância, uma característica desta pessoa, animal ou coisa, que está sendo referida, ou o objeto da ação verbal. Há também verbos que possuem concordância de gênero e são chamados de verbos classificadores, porque concordam com o sujeito da frase. Como por exemplo, os verbos CAIR e ANDAR/MOVER que, dependendo do sujeito da frase, terão um classificador próprio para concordar com pessoa, animal ou coisa. Há muitos sinais que são invariáveis, e que, somente num determinado contexto e movimento, podem ser utilizados com a função de substantivo ou de verbo, pois alguns dos pares apresentam uma diferenciação em relação aos seus parâmetros. Vamos fazer uma ilação que é muito ousada, e apenas a insinuamos aqui, mas, tal procedimento do sistema das LS as aproximaria das Línguas ideográficas como o Chinês; talvez, pela posição intercambiável das classes de palavras, e também pelos tons, que, no nosso caso, corresponderiam a inflexões e expressões. As duas Línguas, de sinais e a oral, possuem meios para expressar emoções, sensações, sentimentos e sentidos. Na LIBRAS, as expressões faciais e corporais são de suma importância para que a mensagem possa ser corretamente inferida, pois existem sinais que contextualizam diversos momentos, apenas com a mudança de expressão facial. Quando não há o uso correto das expressões faciais e corporais na produção do discurso em LIBRAS, a mensagem não está sendo bem transmitida, e por isso não cumpre com o seu objetivo primordial, que é de informar e/ou expressar. A palavra sem o som é como um sinal sem a expressão. Ambos se complementam: sinal e expressão. Assim, não adianta utilizar o alfabeto como parte intrínseca da LIBRAS, se não houver execução das diversas expressões faciais e corporais. 36 Os q ouvem mais do q 3.pmd 36 13/9/2013, 17:22 O alfabeto e as configurações de mãos só têm a sua funcionalidade quando estão intrínsecos com as expressões. As expressões faciais e corporais são adquiridas ao longo do tempo e aprimoradas, mediante o contato do ouvinte com os Surdos. É por isso que, quando um ouvinte tenta expressar algo em sinais, sem a devida expressão correta, o Surdo percebe que ele não tem afinidade com a Língua de Sinais e nem com a comunidade Surda, pois a sua Língua é expressiva, e aquele sujeito ali não o está sendo. A beleza das expressões faciais e corporais são comparadas às sonoridades das Línguas de sinas. Por caminhos diferentes, os sinais e os sons cumprem com o mesmo objetivo: a produção da beleza durante o discurso. Alfabeto de LIBRAS: Números em LIBRAS: 37 Os q ouvem mais do q 3.pmd 37 13/9/2013, 17:22 CAPÍTULO 4 A CULTURA SURDA Tais Línguas são naturais internamente e externamente, pois refletem a capacidade psicobiológica humana para a Linguagem e porque surgiram da mesma forma que as Línguas orais – da necessidade específica e natural dos seres humanos de usarem um sistema linguístico para expressarem ideias, sentimentos e ações. As Línguas de Sinais são sistemas linguísticos que passaram de geração em geração de pessoas Surdas. São Línguas que não se derivam das Línguas orais, mas fluíram de uma necessidade natural de comunicação entre pessoas que não utilizam o canal auditivo-oral, mas o canal espaço-visual como modalidade Linguística. (Ronice Muller de Quadros) 33 Você pode retratar com exatidão a origem de uma Língua? Isso é impossível, pois a Língua é um ato social e por mais que se possa identificar a sua funcionalidade, nunca se poderá determinar a sua origem. Porém, a única certeza que se tem, através das diversas pesquisas da Linguística, é que a Língua é produto da relação humana, comprovando, assim, a existência da sua racionalidade, porque Linguagem, Língua e fala se fundem. Mas qual é a funcionalidade da Linguagem humana? É a comunicação e a expressão do pensamento, dos sentimentos e dos desejos, bem como articulação de ações sociais. 38 Os q ouvem mais do q 3.pmd 38 13/9/2013, 17:22 É por isso que deve ficar claro que a Linguagem humana se diferencia da comunicação animal. A Linguagem humana é um fenômeno psíquico, complexo em sua evolução, produzido no cérebro e que é socialmente articulado. Ninguém a pega, a prende. Mas, se pode atrasá-la no seu livre e natural desenvolvimento, no indivíduo, na sua mente. A Língua é parte fundamental para a construção dos significados do ser humano, é um processo de cognição, que resultará no desenvolvimento dos conhecimentos de si e do mundo. Então, não confundamos a Linguagem humana com outras formas de Linguagem, como quando se tentar estabelecer uma comparação com a comunicação dos animais, ou com os códigos artificiais, entre outras. Para pesquisadores da Linguagem, há um período crucial de desenvolvimento e de maturação cerebral para o pleno desenvolvimento da Linguagem, que pode variar dos sete aos catorze anos, que é a época quando o sujeito deve ser exposto e estimulado pelos contatos sociais e de Linguagem. Caso contrário, se isso não acontecer, ou for pouco desenvolvido, ocorrerá um atraso de Linguagem, que pode ser irreversível. Tal realidade de atraso de Linguagem é fatal tanto para um ouvinte quanto para um Surdo. O certo é que ninguém tem aulas particulares ou de reabilitação de Linguagem humana. Ela é um processo natural e fenomenológico, que a mentalidade humana experimenta, no seu dia-a-dia, desde o seu nascimento. Sem o desenvolvimento da Linguagem, o pensamento estaria condicionado a um estado de inércia. Há um caso que intriga o mundo há anos, e parece sempre será um mistério, tendo inclusive gerado o filme Jeder für sich und Gott gegen alle (O enigma de Kaspar Hauser, 1974, do diretor alemão Werner Herzog): Kaspar Hauser (provável 30 de Abril de 1812 - 17 de Dezembro de 1833 em Ansbach, Mittelfranken) foi uma criança abandonada, envolta 39 Os q ouvem mais do q 3.pmd 39 13/9/2013, 17:22 em mistério, encontrada na praça Unschlittplatz em Nuremberg, Alemanha do século XIX, com alegadas ligações com a família real de Baden. Hauser passou os primeiros anos de sua vida aprisionado numa cela, não tendo contato verbal com nenhuma outra pessoa, fato esse que o impediu de se expressar em um idioma. Porém, logo lhe foram ensinadas as primeiras palavras, e com o seu posterior contato com a sociedade, ele pôde paulatinamente aprender a falar, da mesma maneira que uma criança o faz. Afinal, ele havia sido destituído somente de uma Língua, que é um produto social da faculdade de Linguagem, não da própria faculdade em si. A exclusão social de que foi vítima não o privou apenas da fala, mas de uma série de conceitos e raciocínios, o que fazia, por exemplo, que Hauser não conseguisse diferenciar sonhos de realidade durante o período em que passou aprisionado. /.../34 Fatos verídicos de bebês humanos que foram criados por animais (lobas ou macacas), nas florestas, e que são retratados em livros, e adaptados depois para o cinema, como o caso de Mogli (O livro da selva, de Rudyard Kipling) e do Tarzan (uma série de obras de Edgar Rice Burroughs, como Tarzan, o filho da selva), na verdade não aconteceram como a literatura e os filmes nos mostram, um homem normalmente socializado, construindo uma casa nas árvores, integrado enquanto humano à natureza e aos animais. O que se viu na verdade foram crianças que, ao se lhe abrirem as janelas cognitivas (trilhas neurais, geneticamente programadas para se constituir na infância, para propiciar o aprendizado da criança de cultura e língua), não estando elas entre humanos, adotaram a comunicação e os modos dos animais. Não conseguem se comportar ou falar como homens, nem se socializar, quando são encontradas e trazidas para a civilização. 40 Os q ouvem mais do q 3.pmd 40 13/9/2013, 17:22 São inúmeros casos, sempre acontecendo com lobas e macacas, que adotam bebês humanos (Kipling e Burroughs se inspiraram em fatos reais, vale repetir). Podemos citar, para exemplificar: Amala e Kamala, também conhecidas como as meninas lobo, foram duas crianças selvagens encontradas na Índia no ano de 1920. A primeira delas tinha um ano e meio e faleceu um ano mais tarde. Kamala, no entanto, já tinha oito anos de idade, e viveu até 1929. Elas eram como lobos crianças, muito estranhas, mas com uma história interessantíssima. Suas idades presumíveis eram de 2 e 8 anos. Deram-lhes os nomes de Amala e Kamala, respectivamente. Após encontrá-las, o Reverendo Singh levou-as para o orfanato que mantinha na cidade de Midnapore. Foi lá que ele iniciou o penoso processo de socialização das duas meninas-lobo. Elas não falavam, não sorriam, andavam de quatro, uivavam para a lua e sua visão era melhor à noite do que de dia. /.../35 A Linguagem humana irá requerer a modalidade de percepção e produção, seja a oral-auditiva, ou seja a vísuoespacial . Sem o fenômeno da Linguagem, você não poderia articular uma Língua, e nem entender todos esses conceitos. A Língua humana sempre traz, historicamente, um legado como um instrumento de poder e de submissão de grandes civilizações. A ideia da retórica (a arte de usar uma Linguagem para comunicar de forma eficaz e persuasiva), nascida na Sicília (Século V a. C.), foi ainda mais difundida na Grécia pelo filósofo Aristóteles, fazendo com que a Língua do ouvinte se tornasse a supremacia única e eficaz para exprimir o conhecimento através de uma perfeita expressão oral. O que dava a entender que, se alguém não compartilhasse a mesma forma de comunicação, seria considerado um sujeito sem 41 Os q ouvem mais do q 3.pmd 41 13/9/2013, 17:22 capacidade ou competência comunicativa, dando origem ao depreciativo termo “Surdo-mudo”. Vejam o abSurdo: ele não ouve, então, ele não pode falar. O próprio pensador não considerava que os Surdos fossem capazes de receber educação, pois, para ele, esses indivíduos não tinham raciocínio e não tinham possibilidade de acesso a qualquer forma de conhecimento. O certo é que a história comprova que o Surdo é o único sujeito que já nasce numa sociedade, sem o direito de expressar a sua Língua (de Sinais)!! É preciso diferenciar, então, a língua como órgão do corpo, da Língua como a expressão do pensamento. Somente o ser humano tem as condições neurológicas e habilidades Linguísticas para adquirir uma Língua, pois a Língua é que diferencia os seres humanos dos outros animais. As Línguas expressam os pensamentos, as emoções etc. de um determinado grupo, sendo depositárias de diferentes culturas. As Línguas desempenham uma funcionalidade imediata nas comunicações humanas e ajudam a organizar o mundo. Pode-se definir a Língua como um sistema de signos que são relacionados estruturalmente com intuito de gerar os significados através da codificação e da decodificação. A Língua é uma realidade que está entre nós, na coletividade. Ela é constituída arbitrariamente, por convenções sociais e contribui para as transformações sociais. Seja falada ou Língua de Sinais. A Língua como estrutura deve ser aprendida e isso requer o letramento da mesma, se essa for de modalidade escrita. O letramento da Língua é oferecido na escola. Contudo, já chegamos à escola utilizando uma Língua, ou melhor, dizendo e pensando numa Língua. É por isso que se pode afirmar que Língua é o sujeito e um sujeito é a Língua. Realidade essa que não se pode desassociar. Quem é você? Você é uma Língua, pois somente esse instrumento através da Linguagem pode situá-lo em você mesmo. A Língua nasce com o sujeito! 42 Os q ouvem mais do q 3.pmd 42 13/9/2013, 17:22 É nessa maneira de pensar uma Língua que se pode entender o que seja uma Língua natural. Língua natural é o que a Linguística define como sendo todo o sistema linguístico que é geneticamente desenvolvido naturalmente nos seres humanos, sem a intromissão e influência de qualquer fator externo para a sua aquisição, que se dará através do fenômeno da Linguagem. Segundo as pesquisas da Linguística, uma Língua natural possui os seguintes traços: flexibilidade e versatilidade; arbitrariedade; descontinuidade; criatividade e produtividade; dupla articulação; padrão e dependência estrutural. Os traços únicos de padrão e dependência estrutural são próprios das Línguas humanas. Então, Língua natural é a Língua interna ou materna de um determinado indivíduo, e é classificada como primeira Língua (L1). Sendo assim, não é possível conceber duas Línguas naturais ao mesmo tempo, em um determinado indivíduo. Ele sempre irá pensar em apenas uma única Língua ou primeira Língua (L1) e poderá adquirir uma segunda Língua (L2) ou (L3), (L4), (L5) e demais, mas essas serão sempre denominadas de Línguas artificiais. Por exemplo: você desde que nasceu aprendeu a falar o Português do Brasil, que é a sua primeira Língua, ou Língua materna (L1). Mas você pode estudar outras, que se tornarão Línguas a mais para você. Sendo assim, se você as aprender, você falará, ao lado da Língua Portuguesa (L1), a Língua Inglesa (L2), a Língua Francesa (L3), a Língua Alemã (L4), a Língua Grega (L5) etc. Daí você entende que, quando um Surdo é submetido a tratamentos terapêuticos e de reabilitação, ditos de “Linguagem oral”, e realizados por um ouvinte, ele não está tendo a oportunidade de adquirir a sua Língua natural de sinais com seus pares linguísticos (outros Surdos), gerando, como consequência um sério atraso no seu desenvolvimento cognitivo em Língua de Sinais, como os estudos comprovam. É como se bagunçasse logo de início um período fundamental para a aquisição de uma Língua natural. 43 Os q ouvem mais do q 3.pmd 43 13/9/2013, 17:22 A Língua natural do Surdo deve ser sempre a Língua de Sinais, e se ele for exposto a ela o mais cedo possível se sentirá confortável, por ela ser adquirida por ele, naturalmente, através da via visual. Você precisou ser submetido a algum tratamento terapêutico e de reabilitação para adquirir a sua Língua oral naturalmente? O Surdo sempre foi submetido, por questões ideológicas. Isso foi devido à teoria ouvintista (conjunto de conceitos que trazem a ideia de que ouvir e oralizar é superior a qualquer outra forma de comunicação, sendo um modelo de normalidade e de normatização social), que difundiu que o ato de ouvir e oralizar é natural e ser um Surdo é que é anormal, prejudicial, doentio. Então, por qual motivo o Surdo não teria o direito de também adquirir a Língua de Sinais naturalmente? Estudos comprovam que os defensores dos tratamentos terapêuticos e de reabilitação oral de crianças Surdas influenciam diretamente a família de Surdos, sendo um dos primeiros diagnósticos receitados para a fragilizada família, o de não optarem pelo contato com a Língua de Sinais. Para esses terapeutas, o contato com a Língua de Sinais acarretará num atraso na aquisição de Língua oral para essa criança, mesmo sabendo que essa aquisição é impossível, por ser tratar de uma criança Surda. Independente do grau da perda auditiva, uma perda auditiva sempre será uma perda auditiva! Os tratamentos terapêuticos de reabilitação se estendem por anos em clínicas especializadas, ultrapassando até mesmo o período de maturação de Linguagem, segundo alguns pesquisadores, e fazendo com que essa criança apenas desenvolva a capacidade de repetir sons para a formulação de palavras orais através de métodos repetitivos, o que se diferencia totalmente de contatos sociais com os seus pares linguísticos, através uma Língua comum e acessível a eles. O mais lamentável é que, alcançando um nível máximo de produção de tais palavras orais segundo a concepção do terapeuta 44 Os q ouvem mais do q 3.pmd 44 13/9/2013, 17:22 e sem a possibilidade de continuar o tratamento, ele aconselhará a família a expor o Surdo à Língua de Sinais - tardiamente. Tal atitude contribui para que haja um atraso na aquisição natural da Língua de Sinais, gerando uma verdadeira descaracterização nesse processo na mente da criança e contribuindo para resultados negativos e irreversíveis para que o Surdo possa ter habilidades em expor o pensamento e posteriormente na produção escrita da Língua oral. Quando se trata de fala, sempre é um ter mo que é condicionado à ideia de produção de uma Língua sonora, que utiliza a prega vocal. Ou seja, para os desconhecedores, “falar” é um verbo utilizado apenas para os que compartilham uma Língua oral e nunca para os Surdos que compartilham uma Língua de Sinais. Contudo, a fala é a manifestação, a expressão e a realização concreta de uma determinada Língua feita por um indivíduo. E, sendo um ato individual, a fala pode ser de modalidade oralauditiva, no caso dos ouvintes com uma fala oral, que utiliza o som, ou vísuoespacial, com a fala em sinais, que utiliza o sinal, no caso dos Surdos. São expressões de Línguas e de falas diferentes! Com isso, para aqueles que ainda questionam se o Surdo fala ou filosofa, a resposta é que ele utiliza a sua fala em Língua de Sinais, pois é nessa Língua que ele expressa o seu pensamento e a sua visão de mundo. 45 Os q ouvem mais do q 3.pmd 45 13/9/2013, 17:22 CAPÍTULO 5 A IDENTIDADE SURDA /.../ é permanentemente obscurecida pelo discurso de deficiência; discurso que oculta, através de seu parente cientificismo e neutralidade, o problema da identidade, a alteridade e, em síntese, a questão do Outro, da sua existência, da sua complexidade, dos seus matizes /.../ (Carlos Skliar)36 Mário é um menino Surdo, que faz o ensino em uma escola do município do Rio de Janeiro, em uma época na qual não havia ainda a política da inclusão, e o uso de Línguas de Sinais pelos alunos era reprimido, dentro da escola. Ele insiste em se comunicar, dentro da sala de aula, usando LIBRAS, e a professora sempre tenta convencê-lo a não fazer isso, inclusive com castigos. Como o menino teima em tentar se comunicar com Sinais, ela chama o responsável para dar queixa ele; no caso, a ela, a mãe do garoto. Quando ela chega para falar com a professora, esta percebe o quanto tinha sido estúpida. A própria mãe de Mário era Surda, e usava a Língua de Sinais também, ao se comunicar com a professora. A mãe de Mário era Surda, também. 46 Os q ouvem mais do q 3.pmd 46 13/9/2013, 17:22 Mas, outros meninos e meninas Surdos têm pai e mãe, e toda a família, ouvintes. E, em muitos casos, esses familiares nunca dizem “eu te amo” para o Surdo, nem uma vez. A desculpa dada é que ele não iria entender, pois não sabe ler lábios. A verdade é que as pessoas têm medo do diferente, da diversidade. Sem saber ler lábios nem falar com LIBRAS, qualquer filho entenderia quando a mãe o pai lhe dissessem, com carinho, eu te amo. Entender o conceito de cultura é fundamental para que você possa apreender o que significa o conceito de cultura Surda. Para Carlos Skliar, o respeito à Língua das diferentes comunidades Surdas é crucial, para que ocorra o desenvolvimento do Surdo, como um sujeito bicultural e bilíngue, ou seja, que transita entre duas culturas e duas Línguas: a dos Surdos e a dos ouvintes. Cultura pode ser definida como um conjunto de atividades e modos de agir, costumes e instruções de um determinado povo, e é o meio pelo qual o homem se adapta às condições de existência e transforma a sua realidade. Reconhecemos em toda parte culturas de minorias Linguísticas: entre nós, brasileiros, os alemães, os chineses, os italianos etc., que vieram residir no país e que mantêm os seus costumes vivos, com uso de suas Línguas nativas; porém, eles ainda sofrem discriminações, devido ao uso de suas Línguas correntes, sendo sua uma luta pelo direito ao uso das mesmas. O mesmo acontece com tantas comunidades indígenas do Brasil. A construção da identidade e da autoimagem do Surdo depende de vários fatores, como, por exemplo, a qualidade de sua comunicação e da sua representação social em relação ao seu meio. Essa qualidade na comunicação é associada à cultura Surda, que é escrita com “S” maiúsculo, para designar uma identidade Surda por utilizar uma Língua de Sinais. É certo que identidade não é algo que se aprende, mas que se constrói, sendo considerada como um conjunto de caracteres próprios e exclusivos com os quais se diferenciam pessoas, animais, plantas e objetos inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das diversidades, ou quer perante seus semelhantes. 47 Os q ouvem mais do q 3.pmd 47 13/9/2013, 17:22 A realidade Surda não é diferente, pois, os Surdos são os únicos construtores da sua identidade, sendo os seus benfeitores entre si, promovendo o crescimento do conjunto de características que servirá para ampliar a visão de identidade Surda, onde o discurso da comunicação em Língua de Sinais é o fator que fortalece o laço identitários entre os seus pares Surdos. A conceituação do que seja uma identidade ou uma identidade Surda interessa a vários campos de conhecimento, como a História, a Sociologia, a Antropologia, o Direito, a Psicologia, a Linguística etc., o que gera diferentes definições, conforme o enfoque que se lhe dê, podendo ainda haver uma visão de identidade individual ou coletiva, falsa ou verdadeira, presumida ou ideal, perdida ou resgatada. Entender a identidade Surda é percebê-la provida através da interação do Surdo com outros Surdos desde a infância, sendo essa relação dinâmica e transformadora em suas ações para o desenvolvimento das suas lutas e anseios como classe, ou como um povo, para que os Surdos perpetuem a identidade Surda, dentro das diversas práticas sociais. Além das influências clínicas, da concepção da surdez entendida como deficiência para pais de crianças Surdas, há os problemas enfrentados por crianças Surdas filhos de pais ouvintes, diferentemente das crianças Surdas filhas de pais Surdos. Tais situações podem provocar o não desenvolvimento natural de uma identidade Surda, já que essa criança não é exposta desde cedo aos fatores sociolinguísticos das comunidades Surdas. Sendo necessário e urgencial o envio dessa criança à comunidade Surda, o quanto antes, para fortalecimento de sua identidade. A identidade Surda não é construída ao acaso, mas com o encontro de seus pares linguísticos Surdos. A conscientização de uma identidade Surda é fundamental para o desenvolvimento desta desde a infância, e a família tem o papel fundamental para promover previamente o contato do filho Surdo com a comunidade Surda, pois é na comunidade que ocorrerá o confronto das narrativas Surdas. Infelizmente, ainda é bastante 48 Os q ouvem mais do q 3.pmd 48 13/9/2013, 17:22 acentuado o desconhecimento de Surdos em torno de sua própria concepção do que seja uma identidade Surda. A história dos Surdos se associa aos vários relatos de exclusão como usuários de uma Língua de minoria, a Língua de Sinais, considerada como uma Língua natural e estrangeira dentro do próprio país de origem e uma mímica para os desconhecedores. Tudo isso, pelo simples fato de serem Surdos e não compartilharem o uso de uma Língua majoritária dos ouvintes, a Língua oral. Contudo, infelizmente quando um sujeito nasce com deter minadas características físicas, motoras, sensoriais, intelectuais e mentais, ele já recebe um Cadastro Internacional de Doença denominado CID, que servirá para cadastrá-lo nos programas de benefícios sociais. Por mais que gerem ações beneficitárias, o CID ainda contribui para manter uma visão simplista e biológica do sujeito, considerando-o como um doente, um deficiente. As diversas teorias difundidas pela visão clínica em relação ao Surdo e propagadas por correntes terapêuticas e de reabilitação, também reforçaram muitos dos estigmas, que, até hoje, são difundidos nas sociedades, entre os quais se mantém o de deficiente, o de portador de doenças e, infelizmente, o de “Surdomudo”. A perda auditiva ou surdez ocorre no canal auditivo e nada tem a ver com disfunção da prega vocal (comumente conhecida como “cordas vocais”, onde se produz a fala). São canais distintos e com funções distintas. É por ignorância que Surdo é denominado Surdo-mudo, pois só possui perda auditiva, e não apresenta a incapacidade de produzir o som, sua prega vocal está preservada. E se o Surdo não utiliza uma Língua oral, que é foneticamente sonora, é porque, naturalmente, ele não a escuta. O Surdo, que é confundido com um mudo, é um Surdo oralizado, ou um Surdo sinalizado, e não um Surdo-mudo. 49 Os q ouvem mais do q 3.pmd 49 13/9/2013, 17:22 Surdo é a pessoa que nasce com perda auditiva, sua prega vocal pode estar em perfeito estado, mas, seu aspecto neurológico é visual-espacial, utiliza a Língua de Sinais e se reconhece como membro de uma comunidade Surda. Ensurdecido é aquele ouvinte que perde a capacidade de ouvir no decorrer da vida. Mudo é a indivíduo que nasce com algum defeito na prega vocal que o impede de emitir sons. Caso raríssimo nos estudos clínicos. Já o emudecido perdeu a capacidade de emitir som, devido a algum fator adquirido que afetou a prega vocal. Você conseguiria realizar as mesmas tarefas dos atletas paraolímpicos? Talvez você responda com propriedade que não, e sua resposta irá condizer com a de uma pessoa que não nasceu e nem se desenvolveu com características próprias e que a sociedade, pejorativa e erroneamente, denomina com a palavra “deficiência”. Deficiência é uma ideia que carrega um histórico com o estigma negativo de bestialidade, doença, descaso, exclusão, ignorância, inaptidão, inferioridade, malefício, preconceito, vírus e outras coisas assim. O certo é que você não iria conseguir efetuar as mesmas atividades, se quisesse competir com o atleta paraolímpico, e, no fundo, se sentiria um incapaz, atribuindo (sem o dizer) para si próprio o uso do termo “deficiente”. Assim, a deficiência é uma questão de visão socialmente interpretativa e imbuída de uma carga histórica e emocional, da opinião e da visão de uns sobre os outros, não sendo uma realidade para aqueles que nascem com certas características, e sim uma ideologia de poder de uma maioria sobre uma minoria. Com o desenvolvimento das pesquisas sócio-antropológicolinguísticas dos últimos anos, há uma nova visão, que vem anulando a antiga ideia de deficiência, e valorizando o sujeito como alguém que possui uma característica peculiar e pode e 50 Os q ouvem mais do q 3.pmd 50 13/9/2013, 17:22 deve ser visto como um indivíduo pleno, realizado, capaz de sobreviver, de ter ideais e com um extremo orgulho de ter nascido com certas características, que o tornam possuidor de uma identidade. Essa nova visão traz um novo termo: Diversidade Funcional, ou pessoa com Diversidade Funcional. Esse é o caso das comunidades Surdas. Na verdade, como no caso de qualquer outro sujeito socialmente constituído, não existe apenas um jeito de encarar ou se reconhecer como uma pessoa com perda auditiva. Isso dependerá do meio, da experiência e da ideologia a que o sujeito for exposto pela família e pela sociedade, através das terapias de reabilitação. Contudo, o correto é que os Surdos, objeto do nosso estudo, ou seja, os usuários das Línguas de Sinais, não se constituem como pessoas deficientes, mas como membros de uma comunidade indentitária e possuidora de uma Língua viva, a Língua de Sinais, de uma cultura e de uma identidade Surda. Isso os torna sujeitos plenos que utilizam uma Língua natural, de modalidade visual-espacial, pessoas independentes e livres para tomarem as suas decisões, como qualquer outro cidadão, que tem o direito de usar a sua própria Língua. Surdos se autodeterminam como um povo, e o aspecto usual das Línguas de Sinais é o maior fator de agregação social entre os seus membros. Esse é o grande motivo dos Surdos se verem como pessoas com Diversidade Funcional e não como pessoas portadoras de uma deficiência. Eles são possuidores de características específicas, tais como o uso das Línguas de Sinais, que os constituem como pessoas autônomas em suas falas em sinais, e não se deve continuar a reduzi-los a um simples canal auditivo ou um ouvido que não funcionam. Devemos largar de mão tais termos para designar uma pessoa com deficiência auditiva: surdo-mudo, mudo-surdo, surdinho, 51 Os q ouvem mais do q 3.pmd 51 13/9/2013, 17:22 deficiente auditivo, portador de necessidades especiais, portador de perda auditiva, portador de surdez etc. Ao se referir a uma pessoa com diversidade funcional auditiva, o melhor a fazer é usar o termo “Surdo”, pois o Surdo é possuidor de uma Língua de Sinais – LS, de uma cultura Surda e de uma identidade Surda. E ele pode, e deve, pertencer a uma comunidade Surda. O batismo de um sinal é a primeira manifestação de contato com a comunidade Surda, onde o ouvinte adquire um sinal específico de acordo com as suas características físicas ou psicológicas, e que, de agora em diante, irá marcá-lo dentro da comunidade Surda. 52 Os q ouvem mais do q 3.pmd 52 13/9/2013, 17:22 CAPÍTULO 6 A COMUNIDADE SURDA Minha atenção, ao enfatizar a cultura Surda, discutindo um tema de interesse na área dos chamados estudos culturais, voltase sobre ideias e práticas que fornecem sentidos às relações sociais, como as temos hoje. (Nídia Regina Limeira deSá)37 Foi através dos estudos de Sacks (1989) que se conseguiu chegar a identificar culturalmente quem são os Surdos com “S” maiúsculo, aqueles que se constituíram sócio-antropológicolinguisticamente como portadores, não de uma deficiência, mas, de uma Língua de Sinais, de uma Cultura Surda e de uma Identidade Surda. Assim como, também, diferenciá-los dos surdos com “s” minúsculo, aqueles que, infelizmente, foram mal influenciados, e impedidos pela visão clínica, que não tiveram a oportunidade de atingir um conhecimento sócio-antropológicolinguístico do que realmente signifique ser um Surdo. 53 Os q ouvem mais do q 3.pmd 53 13/9/2013, 17:22 A Lei nº 8.160 de 08/01/199138 confere e determina o uso do símbolo internacional do Surdo onde haja a circulação desses cidadãos, no Brasil. O símbolo foi adotado em 1980, pela Federação Mundial dos Surdos. Perceba que o seu design confere com os preconceitos clínicos sobre o Surdo, correndo o risco de trazer embutidas diversas interpretações errôneas, tais como: “uma orelha que não funciona”, “é proibida presença de Surdo nesse estabelecimento”, “cuidado, Surdo”, entre outras.39 Pesquisadores dos estudos antropológicos das comunidades Surdas, junto com os Surdos, vêm se articulando para substituílo, em breve, pela nova imagem que representa uma pessoa mexendo as mãos, já para, eles, este novo símbolo carrega o verdadeiro sentido de um sujeito que utiliza uma Língua de Sinais.40 Através da Lei Nº 11.796 (29/10/2008)41, foi instituído no Brasil, no dia 26 de setembro, o dia da fundação do Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES como o Dia Nacional dos Surdos. E no dia 30 de setembro é celebrado como o Dia Internacional dos Surdos pela Federação Mundial dos Surdos. As comunidades Surdas do Brasil não estão fora desses contextos históricos, e também se encontram na mesma realidade das comunidades de minorias Linguísticas. Ao longo do tempo, sempre lutaram para serem reconhecidas como um grupo que possui significações particulares e que se diferencia com o uso de uma Língua específica de modalidade vísuoespacial, ou espáciovisual. Segundo Tomaz Tadeu Silva: /.../ a cultura é um campo de produção de significados no qual os diferentes grupos sociais, situados em posições diferenciais de poder, lutam 54 Os q ouvem mais do q 3.pmd 54 13/9/2013, 17:22 pela imposição de seus significados à sociedade mais ampla. A cultura é, nessa concepção, um campo contestado de significação /.../. A cultura é um campo onde se define não só a forma que o mundo deve ter, mas também a forma como as pessoas e os grupos devem ser. A cultura é um jogo de poder.42 Para a pesquisadora Nídia Regina Limeira de Sá, a luta dos Surdos pelo reconhecimento de sua cultura é conflitiva em relação às ideologias dos ouvintes como maioria que subjugam historicamente as minorias linguísticas da comunidade Surda, sendo “vista como uma das formas globais de vida ou como uma das formas globais de luta, e é abordada através de uma reconstrução da posição social dos seus usuários”.43 Sendo assim, identificar uma cultura Surda, que é grafada com “S” maiúsculo, é perceber sociolinguisticamente a existência de uma Língua de Sinais com modalidade vísuoespacial ou espaço visual do Surdo, de um estilo de vida Surda, de uma produção cultural e artística Surda, de um modo de olhar o mundo Surdo, de comunidades e associações de Surdos e de um canal visual de percepção e de aprendizado pelo Surdo. Quando se fala sobre comunidade Surda, subentende-se a presença de indivíduos Surdos que desejam compartilhar as suas experiências pelo uso da Língua de Sinais; de acordo com a professora Lucinda Ferreira Brito, as comunidades Surdas são locais que promovem a socialização através de várias atividades entre os seus membros. É sabido que, do ponto vista da sociologia, o que se denomina uma comunidade é um grupo territorial de indivíduos com relações recíprocas, que servem de meios comuns para lograr fins comuns. Comunidade também é entendida como pessoas que se organizam sob o mesmo conjunto de normas e geralmente vivem no mesmo local, sob o mesmo governo ou compartilham do mesmo legado cultural e histórico. 55 Os q ouvem mais do q 3.pmd 55 13/9/2013, 17:22 É na comunidade Surda que os Surdos se constituem como sujeitos que se identificam com seus pares linguisticos, desconstruindo a visão ultrapassada de deficientes, e se constituindo como membros de uma comunidade, cuja identidade é marcada pelo uso da Língua de Sinais para o desenvolvimento da cultura Surda e o fortalecimento da identidade Surda. O Surdo dentro da comunidade aprende a reconhecer a sua Língua, cultura e identidade Surda, promove ações para a divulgação da Língua de Sinais e dos direitos políticos, com as conquistas de diversas ações que vão desde educação a saúde e esporte, em prol da classe Surda. É inserido na comunidade Surda que o ouvinte obtém a proficiência na Língua de Sinais, para sustentar a profissão de tradutor e intéprete de Língua de Sinais – TILS. Fora da comunidade Surda, o TILS perde a essência da sua funcionalidade. É na comunidade que ele nasce, cresce e se desenvolve. A comunidade Surda é o local onde o Surdo aprende o valorizar a Língua, a cultura e a identidade Surda. A participação do Surdo na sua comunidade contribui para a sua altonomia enquanto cidadão e com a libertação dos estigmas sofridos, a ele impingidos pelos ouvintes. Aqui no Brasil, as comunidades Surdas44 têm as suas principais representatividades históricas através do Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, fundado em 1856; da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS; por associações de Surdos em diversos estados; por escolas; pastorais dos Surdos da igreja católica; ministérios dos Surdos das igrejas protestantes, comunidades Surdas espíritas e de muitas outras designações religiosas. 56 Os q ouvem mais do q 3.pmd 56 13/9/2013, 17:22 CAPÍTULO 7 PEDAGOGIA BILÍNGUE PARA SURDOS45 A isso chamamos de equidade que, no fundo, reconhece as diferenças individuais e a importância do trabalho na diversidade, com espírito democrático, isto é plural /.../ procuro defender a posposta de educação inclusiva entendida como reestruturação das escolas (mesmo especiais), de modo a que atendam às necessidades de todas as crianças que delas necessitam. (Rosita Edler Carvalho)46 A prática de uma educação bilíngue, com o direito ao uso da Língua natural de sinais como primeira Língua (L1) e, como segunda Língua (L2), a escrita da Língua oral do seu país de origem, é recente, e, como consequência desse fato, ainda temos uma prática educacional para Surdos rudimentar e não implantada veridicamente em diversas escolas do País. O desconhecimento dos estudos científicos dos Surdos e de uma educação específica e direcionada para Surdos ainda é bastante acentuado no meio profissional educacional, dentro da formação de diversas áreas. Tal realidade faz com que as repetições das injustiças se façam presentes em diversos ambientes escolares, desfavorecendo o Surdo nas conquistas de seu território linguístico. 57 Os q ouvem mais do q 3.pmd 57 13/9/2013, 17:22 Ainda se confunde uma educação inclusiva, proposta pelas teorias inclusivistas, sem uma relação teórica e técnica com a Língua, cultura e identidade Surda, com o verdadeiro sentido do que seja uma educação inclusiva bilíngue para o sujeito Surdo, objeto de tanto desejo desta comunidade. A professora Edler Carvalho defende a inclusão educacional de alunos com diversidade funcional, mas tal realidade nunca condiz com o histórico da educação do Surdo, como implementação verídica de uma inclusão bilíngue para Surdos. Esse ainda é um dos problemas mais enfrentados por ela, pois, se teoriza a proposta de inclusão, mas não se efetiva uma inclusão bilíngue para Surdos e, consequentemente, a formação específica de uma Pedagogia Bilíngue. A professora e pesquisadora Ronice Müller de Quadros esclarece a necessidade dessa formação. Todavia, antes de teorizar uma inclusão para o aluno Surdo como sempre foi proposta, como muitos deles não tiveram a participação da comunidade Surda, é preciso entender e interiorizar os conceitos teóricos e práticos sobre bilinguismo para a educação de Surdos. Só assim, se poderá concretizar uma verdadeira educação inclusiva e bilíngue para Surdos, com a execução de uma Pedagogia bilíngue e com o papel exercido pelo professor pedagogo bilíngue, ou seja, aquele que transita nos conhecimentos da LIBRAS e da Língua oral escrita. Acreditar na necessidade de promover uma verdadeira educação bilíngue e uma Pedagogia bilíngue para os Surdos é aceitar as suas especificidades Linguísticas e suas particularidades, para realizar os ajustes do currículo tão necessários às atividades educacionais desse aluno. Para que ocorra uma verdadeira educação e Pedagogia bilíngue para os Surdos, é necessário que o ambiente escolar propicie intensamente o uso da Língua de Sinais, que perpassará desde o seu ingresso, as atividades escolares, as avaliações e outras, com o trabalho paralelo àquele da Língua Portuguesa oral, como Língua instrumental. 58 Os q ouvem mais do q 3.pmd 58 13/9/2013, 17:22 Todavia, o que se chama de bilinguismo para Surdos, que atualmente se tenta implementar, ainda é um modelo de bimodalismo reproduzido mascarado como fachada de um falso bilinguismo, no qual o Surdo é arguido da mesma forma que o ouvinte. O nosso questionamento é: onde está a proposta inclusiva bilíngue nas provas de concurso Federal para os Surdos? O bilinguismo para os Surdos ainda está fora da esfera de uma verdadeira inclusão, e está mais para teorismo do que para prática! Por transitar em diferentes Linguagens, foi esclarecida a importância da formação superior do Tradutor Intérprete da LIBRAS, através do Decreto de LIBRAS Nº. 5.626, de 22/12/ 2005, cujo Artigo 17 reza que “A formação do tradutor e intérprete de LIBRAS - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em LIBRAS – Língua Portuguesa”.47 A funcionalidade do profissional TILS nos esferas educacionais ainda é objeto de desconhecimento para muitos professores e instituições, e, muitas vezes, ele é confundido até como uma ameaça, por ser uma presença dita estranha na sala de aula, onde o regente é exclusivamente o professor. Eis a necessidade de conhecer a sua importância e funcionalidade na educação do Surdo. O TILS é o profissional que domina duas Línguas, a Língua de Sinais e a Língua oral. Assim, o TILS traduz e interpreta de uma Língua de Sinais (Língua alvo) para uma Língua oral (Língua fonte) ou desta Língua fonte (Língua oral) para uma determinada Língua alvo (Língua de Sinais). A Suécia foi um dos primeiros países a valorizar a importância do profissional TILS, cuja presença é relatada desde 1875; nos Estados Unidos é antes ainda que o encontramos, desde 1815, com Thomas Gallaudet que era tradutor e intérprete do Surdo Laurent Clerc (MEC; SEESP, 2004, p.13 e 14). Já no Brasil, a presença de TILS se registra desde os nos 1980; mas, com o reconhecimento como profissão tendo se dado 59 Os q ouvem mais do q 3.pmd 59 13/9/2013, 17:22 recentemente, desde 1º de setembro de 2010 pela lei nº 12.319, abriram-se vantagens para muitas áreas de trabalhos e concursos públicos para essa nova carreira.48 Ele é um profissional importante, que compõe a equipe pedagógica da instituição de ensino, devido a ser ele o conhecedor da cultura Surda. Eis o grande motivo de o TILS ter que participar da confecção do programa pedagógico, das elaborações das aulas junto com os professores, das leituras antecipadas dos materiais a serem traduzidos e interpretados, e do conselho de classe da instituição. Coisas que, na grande maioria das escolas, ainda não acontecem. O TILS não é um sujeito apático e sem compromisso no processo educacional do aluno Surdo, não devendo se omitir para a construção do caminho educacional. Contudo, o TILS não assume a função de professor, dentro da sala de aula ele é apenas o veículo entre duas Línguas distintas, e, por isso, deve manter e obedecer o código de ética profissional, que lhe é próprio, reconhecendo seu espaço e seu dever profissional no universo escolar. Um TILS que trabalha na educação tem grande importância para o desenvolvimento do Surdo, tanto quanto o professor que está regendo a turma, porém, cada um assumindo suas funções, sem tentar invadir o espaço do outro, contribuindo para o crescimento intelectual do aluno Surdo. Mas, tudo isso de nada adiantará, se não houver os ajustes curriculares precisos para o aprendizado do Surdo. Necessita-se compreender o processo de letramento do Surdo em uma segunda Língua (L2), já que a sua primeira Língua ou Língua de pensamento (L1) é a Língua de Sinais. O professor deve entender com antecedência que a Língua de acesso para o conhecimento do Surdo é a Língua de Sinais, fundamento essencial da proposta bilíngue, tendo a Língua oral escrita apenas como um instrumental para o seu dia-a-dia, tais como ler livros, consultar bulas, ver jornais, escrever e-mails, acessar as redes sociais etc. O motivo dessa controvérsia é que o ouvinte não consegue 60 Os q ouvem mais do q 3.pmd 60 13/9/2013, 17:22 visualizar as características que diferem o sujeito Surdo enquanto usuário de uma Língua de Sinais que não se estrutura como a dele, considerando que essas Línguas de Sinais são ágrafas, ou seja, não se escrevem seguindo as estruturas das Línguas orais, como é o caso da Língua Portuguesa. Daí, o Surdo faz a tentativa de escrever da mesma maneira como ele pensa a sua Língua que é ágrafa, situação não muito diferente do falante ouvinte, que é o reprodutor natural da Língua oral que se escreve e mesmo assim foge da regra gramatical da própria Língua. Ainda podemos comparar com o contexto daquela pessoa que sabe bem um idioma, e, ao começar a aprender outro, tenta usar as estruturas do primeiro, ao se expressar no segundo. Vemos outro exemplo dessa transcrição coloquial, quando o ouvinte reproduz na fala social a frase “A gente vai”, que não é nem um pouco concomitante com a regra gramatical, em lugar do uso correto da frase, com a primeira pessoa do pronome pessoal no plural, “Nós vamos”. Isso comprova que há uma transcrição do pensamento para a escrita, que para a Linguística são fenômenos sociais da fala do cotidiano que se apresentam no texto escrito do falante. Tal realidade também é percebida no Surdo, mas com uma diferenciação, pois o mesmo não tem a Língua oral como acesso e pensamento, e por isso se torna mais visível a tentativa de escrever numa Língua em que não pensa, e que não é sua, o que nada tem a ver com problema cognitivo ou incapacidade de aprender e nem de abstração, como os desconhecedores supõem, mas sim, de caminhos estruturais de modelos de Línguas diferenciadas em suas estruturas naturais. Para a pesquisadora e professora Elidéa Lúcia Bernardino, isso é comprovado através da lógica de duas Línguas distintas.49 Agora você entende o porquê de a legenda oculta (“close caption”) não satisfazer, como uso de Língua escrita para o Surdo que utiliza a LIBRAS, pois ler não é apenas visualizar palavras escritas, mas sim interpretá-las nos contexto sociais. Um exemplo básico e técnico é que, se num determinado 61 Os q ouvem mais do q 3.pmd 61 13/9/2013, 17:22 filme, a legenda mostra a seguinte frase: “Você gosta de homem?”, e o contexto ocasicional de fato for “Você quer ser prostituta?”, mesmo o Surdo lendo, de nada a legenda foi útil, pois não cumpriu com foco da informação, pois somente a tradução na Língua de Sinais traria o objeto da informação proposta. E somente o tradutor e intérprete de LIBRAS, que transita nos contexto de ambas as Línguas, o faria naturalmente. Prevista, pela Portaria do Ministério das Comunicações através da Portaria de nº 310 (27/06/2006)50, que trata dos recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência, na programação veiculada nos serviços de radiodifusão de sons e imagens e de retransmissão de televisão, a legenda oculta não satisfaz linguisticamente ao acesso de informações pelos Surdos usuários da Língua de Sinais. Se o Surdo pensa em sinais e se as informações são codificadas com maior velocidade em LP, num processo natural da Linguagem, então a legenda oculta se torna um empecilho para esse processo ser rápido, já que, tendo uma outra estrutura de Língua, o Surdo deverá fazer um esforço maior, e até mesmo, muitas vezes, perdendo o contexto das informações para obter os contextos necessários. A legenda oculta tem maior valor para os ensurdecidos, pois pensam em uma estrutura escrita da LP. Porém, a legenda para o Surdo é importante, para que ele, após ter o acesso ágil na sua Língua natural, possa pesquisar palavras escritas em LP, isso é mais do que justo, pois só assim, visualizando as palavras, é que ele será ajudado, no processo de letramento em L2. O certo é que o Surdo pensa em Língua de Sinais, e possui o direito de receber as informações em sua Língua de acesso, realidade ainda não legalmente cumprida. Muitos Surdos desenvolvem práticas de leitura e de escrita, e seus resultados constituem indicativos de letramento escolar, com maiores competências para ler e escrever, em diferentes graus, permitindolhes usar socialmente a leitura e a escrita e servir-se 62 Os q ouvem mais do q 3.pmd 62 13/9/2013, 17:22 delas para finalidades individuais e sociais. Os Surdos que não estão imersos em tais práticas pouco usam socialmente a leitura e a escrita, apresentando outros resultados.51 Não há uma metodologia oficial para o ensino da Língua instrumental escrita portuguesa para o Surdo. Foi através de experimentos educacionais positivos, realizados desde 1996 no INES, que se desenvolveu a proposta do trabalho de ensino da Língua portuguesa (LP) como segunda Língua (L2) do aluno Surdo, e que tem como base a abordagem “sociointeracionista” para a aprendizagem. Assim, todas as atividades de leitura e escrita se pautam na função comunicativa do uso da Linguagem pelo aluno Surdo, na qual devemos abordar assim as várias práticas: - Ler: para o Surdo é levá-lo a saber, ser envolvido em uma interação em um momento sócio-histórico específico do escritor, como qualquer interlocutor, que usa a Linguagem a partir de um lugar social marcado, pois se desenvolver, no envolvimento com a leitura, é em uma prática social. - Escrever: para o Surdo difere do discurso oral, pois pressupõe um interlocutor ausente, mas ele precisará utilizá-la para escrever lembretes, agendas, diários etc. Essa escrita deve ter como objetivo essencial o fato de alguém ler o que está escrito na prática do cotidiano. Para o Surdo, a Língua escrita deve ser vista como um sistema de signos que é histórico e social e que deve possibilitar a ele um significado de mundo e da realidade que o cerca. Assim, aprendê-la é aprender não só com palavras, mas também os seus significados culturais e, com eles, os modos pelos quais os Surdos vivem no seu meio social e entendam e interpretem a realidade de si mesmos. Por isso, é que é tão importante desenvolver o mais cedo possível uma educação bilíngue nos primeiros anos iniciais da educação do Surdo, fato esse que se comprava através das várias pesquisas sobre o letramento de Surdos, porque é só através da Língua de Sinais (LS) que se levará o aluno Surdo ao 63 Os q ouvem mais do q 3.pmd 63 13/9/2013, 17:22 conhecimento de mundo e à experiência da vida, usando as informações armazenadas em sua memória visual e sendo compartilhadas em sala de aula, para ir adquirindo gradativamente as habilidades instrumentais da escrita de uma Língua oral como L2. Assim, ao Surdo, como um sujeito que experimenta as referências visuais e cujo acesso é visual, caberá, no seu processo de aprendizado de uma L2, ter utilizado o meio visual para adquirir a escrita da segunda Língua. Há vários experimentos em salas de aula no Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, e em algumas outras escolas com classe de Surdos, que perpassam pela imagem a utilização substancial e técnica para o desenvolvimento da escrita do Surdo. Pois é pela imagem que ele fotografará a palavra escrita com um instrumental a ser desenvolvido nas diversas contextualizações. Daí se tem: Imagem + Língua de Sinais (L1) + Instrumental escrito da Língua oral como L2, L3, L4... IMAGEM + LÍNGUA DE SINAIS (L1) + INSTRUMENTAL (L2+L3+L4...) MILHO/CORN/MAIZ (CRIAR CONTEXTUALIZAÇÕES) Os resultados já observados no processo bilíngue de alfabetização e de letramento de alunos Surdos, tentando usar a LP de acordo com seu nível, mostram que, assim, haverá alunos Surdos mais participativos no processo educativo, mais curiosos 64 Os q ouvem mais do q 3.pmd 64 13/9/2013, 17:22 com o mundo que os cerca, com leitura mais significativa de diversos de temas, e com maior e melhor leitura de mundo, produzindo textos com elementos próprios e construindo uma identidade Surda. Diferentemente das Línguas orais, que só seguem a estrutura de Sujeito + Verbo + Objeto (SVO), como é o caso da Língua portuguesa, as Línguas de Sinais e a LIBRAS podem assumir as seguintes estruturas frasais: (SVO) Sujeito + Verbo + Objeto (SV) Sujeito + Verbo (SVC) Sujeito + Verbo + Complemento (CSV) Complemento + Sujeito + Verbo (SOV) Sujeito + Objeto + Verbo (OV) Objeto + Verbo (VO) Verbo + Sujeito Você poderá perceber as seguintes estruturas de frases na tentativa de escrita de um aluno Surdo: Meu irmão já foi à cachoeira. (SVC) Lugar lindo é mais gente passear ruim. (CSV) Eu e ele ou cerveja na compra, eles está beber muito tontos. (SOV) Você sentirei com saudade. (OV) Eu sou triste porque amanhã embora está Maria. (OV) Nos textos produzidos por alunos Surdos você poderá encontrar as características básicas: - uso de enunciadores curtos; - vocabulário reduzido; - ausência de artigos; - ausência de preposições; - ausência de concordância nominal e verbal; - uso reduzido de diferentes tempos verbais; - falta de elementos formadores de palavras (afixos); - falta de verbos de ligação (ser, estar, ficar etc.); - ausência de conectivos, tais como conjunções, pronomes relativos etc.; - colocação aparentemente aleatória de elementos na oração. 65 Os q ouvem mais do q 3.pmd 65 13/9/2013, 17:22 Depois que você percebeu as diferenciações da escrita do Surdo você pode ainda questionar: como desenvolver os ajustes necessários curriculares para os alunos Surdos? Tais ajustes deverão partir da visão real de como pensa, fala e aprende o Surdo, e que deverá contar com a contribuição de um instrutor Surdo da Língua de Sinais, de um tradutor e intérprete de Língua de Sinais – TILS e de professores especialistas na área da educação de Surdos, para a sua confecção. Os ajustes devem então conter como base os seguintes elementos exemplificados, e obedecer às seguintes orientações: 1 - O planejamento curricular para os Surdos será dividido em três níveis: 1.1 - No âmbito mais geral, envolvendo o projeto pedagógico da instituição escolar e com o corpo docente; 1.2 - Em âmbito mais particular, envolvendo o currículo desenvolvido dentro da sala de aula com o aluno Surdo; 1.3 - E no nível individual de cada aluno Surdo. 2 - As adaptações organizacionais do currículo: 2.1 - O agrupamento de alunos Surdos para realização de atividades de ensino-aprendizagem em Línguas de Sinais; 2.2 - a organização didática da aula; 2.3 - a organização dos períodos a serem definidos para o desenvolvimento das atividades previstas. 3 - As adaptações aos objetivos e conteúdos com a utilização de imagens e figuras com o uso da palavra escrita: 3.3 - à seleção, priorização e sequenciamento de conteúdos; 3.4 - à seleção, inclusão e priorização de objetivos; 3.5 - à eliminação e ao acréscimo de conteúdos desnecessários, quando for necessário. 4 - As adaptações avaliativas do currículo: 4.1 - À variação de critérios, procedimentos, técnicas e instrumentos adotados para avaliar o aluno utilizando a Língua de Sinais e a escrita; 4.2 - à variação de critérios de promoção. 66 Os q ouvem mais do q 3.pmd 66 13/9/2013, 17:22 5 - As adaptações nos procedimentos didáticos e nas atividades de ensino-aprendizagem: 5.1 - à alteração nos métodos adotados para o ensino dos conteúdos curriculares ao Surdo; 5.2 - à introdução de atividades complementares ou alternativas, além das planejadas pela turma; 5.3 - à alteração do nível de abstração e de complexidade das atividades, oferecendo recursos de apoio ao Surdo; 5.4 - à seleção de materiais visuais e sua adaptação. 6 - As adaptações na temporalidade do currículo: 6.1 - à alteração do tempo previsto para a realização das atividades e conteúdos; 6.2 - ao período para alcançar determinados objetivos; 6.3 - ao prolongamento ou redução do tempo de permanência do aluno na série, fase, ciclo ou etapa; 6.4 - ao nivelamento e acompanhamento do grupo da sua série, para ele se sentir inserido em um grupo e em um contexto. 7 - As adaptações de acesso ao conteúdo: 7.1 - mobiliários adequados, sala com cadeiras em círculo e bem iluminada para uma melhor visualização do Surdo; 7.2 - equipamentos específicos que promovam uma melhor acuidade visual para o Surdo; 7.3 - recursos materiais adaptados como exercícios, testes, provas etc.; 7.4 - formas alternativas e ampliadas de comunicação; 7.5 - mobilidades variadas de apoio para participar das atividades escolares extraclasse; 7.6 - promoções de situações educacionais diferenciadas; 7.7 - recursos humanos especializados ou de apoio; 7.8 - adaptação espacial tais como figuras e imagens representativas em LIBRAS. Quando mostramos todas as características da tendência de produção de texto dos Surdos, não queremos dizer com isso que ele sempre escreva continuamente assim, num estilo estrutural (SV), (SOV), (OV) e (VO), sem utilizar nunca a estrutura (SVO), 67 Os q ouvem mais do q 3.pmd 67 13/9/2013, 17:22 própria do desenvolvimento da língua oral. Isso seria uma inverdade. Estudos comprovam que as realidades estruturais linguísticas irão depender da exposição que o Surdo tem desde cedo à escrita da Língua oral e a motivação para o aprendizado da mesma. Isso é algo particular, individual, de cada um, é como uma prédisposição Linguística. Fato esse que ocorre no aprendizado de qualquer outra Língua, inclusive o aprendizado da Língua de Sinais, como é o caso do ouvinte. Será que todos têm as mesmas pré-disposições para o aprendizado de uma determinada Língua? Os ouvintes podem responder muito bem, quando são expostos ao aprendizado da LIBRAS. É sabido que há Surdos que possuem uma proficiência na escrita da Língua oral portuguesa mais apurada do que alguns ouvintes, e as sala de relacionamentos de bate papo, chats, emails, MSN e demais recursos muito contribuíram para que os Surdos tivessem interesse pela escrita, onde ela acontece de forma lúdica, o que muito os incentivou. Porém, a sociedade não cobra tanto a escrita do cego que não assina nem mesmo o seu próprio nome, como cobra do Surdo. Alegam esses reacionários que o cego não escreve por não poder ver, mas esquecem os mesmos reacionários que o Surdo não compartilha naturalmente de uma Língua oral que se escreve, e que a sua Língua materna é a Língua de Sinais, que não se escreve. Contudo, devemos ter em mente que a realidade de Surdos que possuem um bom desenvolvimento de escrita, ainda que tão pequena, não pode servir de modelo para uma “cobrança” generalizada do mesmo desempenho, que serviria para se manter um olhar equiparativo, normatizador, ou até mesmo comparativo e excludente, entre sujeitos Surdos e ouvintes, para que se evitem os falsos falares tais como: “Coitado, é difícil para ele entender a LP”, “Ele não aprende a escrever a LP”, “Ele não consegue ler a LP”, “É difícil para ele aprender a LP”! Pois, se houver fracasso nesses falares não é do Surdo, e sim daqueles que ainda sustentam uma visão errônea e distorcida, 68 Os q ouvem mais do q 3.pmd 68 13/9/2013, 17:22 considerando que não enxergam, na diferença, a grande arte de construir o saber, a partir da sua realidade. Caberá ao docente ter a sensibilidade de respeitar a produção primária do texto do seu aluno Surdo, fazendo, à parte, as correções devidas das suas produções, e o estimulando a, cada vez mais, ganhar gosto pelo contato com a leitura e a escrita; apresentando sempre a estrutura correta da Língua oral, como uma troca sequencial entre estruturas de Línguas diferenciadas, onde não há erros, e sim beleza, nos seus modelos de estruturas. Há no mercado diversos materiais bilíngues de contos de histórias infantis em LIBRAS, alguns inclusive produzidos pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, onde se propõe uma Pedagogia Bilíngue visualmente praticada com o uso contextual da LIBRAS e a visualização da palavra escrita na Língua oral portuguesa. A figura do professor bilíngue (que utiliza a LIBRAS e a Língua Portuguesa escrita) ainda é muito discutida dentro das pesquisas sobre a educação dos Surdos aqui no Brasil, pois ainda se confunde o papel do professor bilíngue com o de tradutor e intérprete de Língua de Sinais. O professor Capovilla, através dos seus estudos, apresenta a experiência de uma inclusão bilíngue numa escola da Dinamarca, com objetivo de enfoque de letramento e aquisição da leitura e da escrita, utilizando a Língua de Sinais dinamarquesa.52 Através da experiência na Dinamarca é que se pode perceber qual é a figura do professor bilíngue, com a presença de alunos Surdos numa sala de aula. O professor bilíngue se coloca como informante do conteúdo em Língua de Sinais dinamarquesa, explicando todo o significado do conteúdo exposto, não abrindo mão de criar um ambiente em que circule livremente a Língua de Sinais. Com isso, ele estabelecerá posteriormente o feedback dos alunos referente ao conteúdo explicado, quando os mesmo é que irão compor as suas próprias histórias, através do lúdico e da capacidade de criatividade. 69 Os q ouvem mais do q 3.pmd 69 13/9/2013, 17:22 O professor bilíngue é o responsável por assumir a função de estabelecer o ensino direto do conteúdo durante toda a aula, utilizando livremente a Língua de Sinais e promovendo esse ambiente linguístico. Mas, isso não quer dizer que o mesmo precise ser proficiente na Língua de Sinais, como é o caso do tradutor e intérprete. Para se manter a relação segura, efetiva e afetiva com o seu aluno Surdo, o professor deve ter no mínimo um básico da Língua de Sinais. Fora disso é fingir ensinar e estar fingindo aprender! Ao tradutor e intérprete de Língua de Sinais cabe ser o mediador, que irá trabalhar junto com o professor bilíngue em questões mais complexas do conteúdo, e que também terá a ajuda do instrutor Surdo da Língua de Sinais, o qual contribuirá com o ensino dos sinais e dos contextos, em variados temas, que serão trabalhados. É por isso que o planejamento é de extrema importância para o eficaz cumprimento do programa pedagógico. Ao trabalhar com o Surdo, numa sala de aula, observe as seguintes recomendações: 1 - Procure criar um ambiente na aula, utilizando a LIBRAS sem o uso concomitante da Língua portuguesa oral, e estabelecendo o reconhecimento profissional do instrutor Surdo de Língua de Sinais e do tradutor e intérprete de Língua de Sinais. 2 - Ao conversar com seu aluno Surdo, fale de frente, não oralizando junto com os sinais, pois isso é um vício que tem que ser logo descartado. 3 - No discurso, seja claro e use pausadamente as mãos. Uma boa articulação de mãos com configuração perfeita e expressão facial facilitará a comunicação em LIBRAS. 4 - Ao falar com um aluno Surdo, evite olhar para outro lado, passar na frente de Surdos conversando ou conversar paralelamente com outra pessoa. Isso faz com que o Surdo perca a sua linha de pensamento. Imagine você conversando com um ouvinte e outro ouvinte interrompendo. O processo é o mesmo e o contato visual é importante. 70 Os q ouvem mais do q 3.pmd 70 13/9/2013, 17:22 5 - Mantenha um ambiente em sala de aula claro, bem iluminado, com boa visibilidade e bem ventilado. 6 - Distribua as carteiras em círculo, pois, assim, facilitará o contato visual entre os Surdos e os demais presentes na sala, já que a Língua de Sinais é articulada de frente, face-a-face. Utilize aparelhos eletrônicos que contribuam para uma melhor visualização do aluno Surdo como datashow, TV, DVD-R, tela, quadro, quadro interativo etc. 7 - Evite gritar com seu aluno Surdo, caso queira chamá-lo bata com o pé no chão ou acene com as mãos para chamar a sua atenção. Não adianta chamar o Surdo de longe. 8 - Seja expressivo, demonstrando sentimentos quando discursar em LIBRAS. 9 - Caso não consiga entender o que o Surdo queira expressar, não tenha vergonha, e pergunte novamente, procurando prestar atenção às suas expressões. Evite ficar escrevendo, isso não ajudará a você para o desenvolvimento da LIBRAS. 10 - Evite ruídos visuais com portas abertas e janelas, onde circulem pessoas a todo o momento. Isso distrai o aluno Surdo. Se for necessário, providencie cortinas ou persianas. Contudo, os avisos visuais desenhados com a imagem do sinal e com a palavra escrita demonstrando o banheiro, a lanchonete, a sala etc. são importantes para o aluno se sentir confortável visualmente.53 A tão sonhada equipe multifuncional escolar, que a legislação estabelece para uma inclusão bilíngue de um aluno Surdo, irá ser composta pelos seguintes profissionais: - pedagogo bilíngue, que irá gerenciar toda a elaboração e efetivação de um programa do curso, para que esse possa focar uma inclusão bilíngue do Surdo através da interdisciplinaridade; - professor bilíngue, que irá estabelecer o ensino do conteúdo em Língua de Sinais e criar um ambiente linguisticamente apropriado ao aluno Surdo; - tradutor e intérprete de Língua de Sinais, que transitará nos processos de tradução e interpretação de ambas as Línguas em casos mais complexos de conteúdo; 71 Os q ouvem mais do q 3.pmd 71 13/9/2013, 17:22 - instrutor Surdo da Língua de Sinais, que focará o ensino da Língua de Sinais através da sua gramática e contextualizações dos sinais em diferentes abordagens. A importância do desenvolvimento da Linguagem para o Surdo é crucial para o seu crescimento, com a aquisição da Língua de Sinais e da sua fala em sinais, que é a expressão do seu conhecimento de mundo. O aprendizado e o treino das configurações das mãos, do alfabeto e dos números é importante para o início do aprendizado prático na LIBRAS. 72 Os q ouvem mais do q 3.pmd 72 13/9/2013, 17:22 INCONCLUSÃO: INCLUSÃO Se a Língua de Sinais é uma Língua natural adquirida de forma espontânea pela pessoa Surda em contato com pessoas que usam essa Língua e se a Língua oral é adquirida de forma sistematizada, então as pessoas Surdas têm o direito de ser ensinadas na Língua de Sinais. A proposta bilíngue busca captar esse direito. (Ronice Muller de Quadros) 54 Vocês entendem? O movimento para eles é como o som para vocês. Mas... o movimento é global, é contínuo, é plural, é sobreposto, é focal e composto. Eles ouvem movimentos, na sua integralidade. Não é só cinestesia (percepções musculares), é também sinestesia (sobreposição de sentidos sensoriais). Para o Surdo o movimento é som, e o mundo inteiro é uma sinfonia de sons. É preciso construir nova visão do sujeito Surdo enquanto Língua, cultura e identidade, abandonado as ideias clínicas que foram construídas em torno dele, e que agora procuramos 73 Os q ouvem mais do q 3.pmd 73 13/9/2013, 17:22 desconstruir, por um olhar diferente, que o vê enquanto um ser com diversidade funcional e não um deficiente, ele que é membro de uma comunidade de minoria Linguística, que utiliza uma Língua de Sinais e que se considera como um povo. Não há registro oficial histórico sobre as Línguas de Sinais, até porque uma Língua não é algo concreto, do qual se pudesse determinar um período de criação, mas, sim, um fenômeno neurológico próprio do ser humano, o único ser que conhecemos que é capaz de gerar uma Língua, que ele compartilha, através dos seus atos sociais. As Línguas de Sinais são Línguas genuínas e vivas, fruto das relações sociais entre os membros das comunidades Surdas. A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, como Língua natural e genuína da comunidade Surda brasileira, compartilha da mesma fenomenologia neurológica e foi reconhecida com o status de segunda Língua oficial do país em 2002, decretada como disciplina obrigatória nos cursos de nível superior. A língua, a cultura, a identidade, a pedagogia e a comunidade Surda compõem o que há de mais importante para a constituição do sujeito, pois é na comunidade que o Surdo adquirirá os conceitos fundamentais para constituir a sua identidade. A visão estereotipada que foi construída através dos tempos comprova que, desde as civilizações antigas, passando por todas as eras, o Surdo tem sido discriminado, enquanto ser que possui uma Língua específica, e que essas ideias ainda se perpetuam até os dias atuais, devido ao desconhecimento da Língua, da cultura e da identidade Surda. As fases pelas quais passou a educação dos Surdos mostram que ele sempre foi objeto de manipulação ideológica por parte de alguns ouvintes, e podemos ver as fases do gestualismo, do oralismo, do bimodalismo ou comunicação total, como vários disparates impostos a eles, contra o crescimento da cultura, da identidade e da Língua do Surdo. 74 Os q ouvem mais do q 3.pmd 74 13/9/2013, 17:22 Reconhecemos assim que é de extrema necessidade a criação e o desenvolvimento do bilinguismo para essa comunidade. A prática e o treino das saudações básicas e da acentuação gráfica em LIBRAS reforça o treino das configurações. A necessidade de os futuros profissionais da educação entenderem a importância do ensino da LIBRAS leva a crer que a opção por uma educação inclusiva bilíngue do Surdo se faz necessária para o desenvolvimento educacional desse aluno, deixando de ser apenas uma disciplina, para ser um mercado de trabalho, e vendo a advento de uma Pedagogia específica, que é a Pedagogia bilíngue. O estudos dos verbos básicos, dos substantivos, dos advérbios e dos adjetivos da LIBRAS, juntamente com o treino, é crucial para a elaboração das frases na LIBRAS. Assim, é percebido que ajustes curriculares se fazem necessários, devido ao fato de que o Surdo, que é o possuidor em uso de uma Língua de Sinais, que é ágrafa, não compartilha da estrutura de uma Língua oral, tendo que fazer um esforço para obter as contextualizações em outra estrutura de Língua. O aprendizado das formas de sinalização e de numeração dos ordinais e de quantidade em LIBRAS compõe a prática para a criação de frases da Língua. Nosso status de seres é uma inconclusão, como este texto, estamos em constante transformação, como um rio que flui. A vida é criação, e, dentro desta premissa, quer a toda hora criar novas maneiras de expressão, de impressionar o outro e o ambiente. Surdos somos todos, quando não queremos ver nem ouvir o quanto cada um de nós é importante e traz em si uma joia que só ele pode trazer, para todos nós. Mas, se pudermos ver ou vir a ver que cada um traz em si esse tesouro, que mundo genial e lindo estaremos criando. Cada indivíduo considerado “especial”, o é por causa daquilo que a sociedade de consumo, regras e normas, acende como medo no peito de cada um, e ousa chamar deficiência. 75 Os q ouvem mais do q 3.pmd 75 13/9/2013, 17:22 Cada Surdo é um universo cheio de luzes, sons e cores, que só ele pode ouvir, mas, ao qual pode nos apresentar, se nos aproximarmos dele, sem preconceitos. E ousar amar a cada ser humano como é, sem restrições de padrões exógenos de “normalidade”. Amar, pura e simplesmente. E aí sim, conseguir realmente se comunicar com eles, e entender, de fato, aqueles que ouvem mais que nós. Aqueles que, por exemplo, podem ouvir o voo do beija-flor. 76 Os q ouvem mais do q 3.pmd 76 13/9/2013, 17:22 NOTAS 1 Fonte: Site Não-verbal, disponível em http://naoverbal.wordpress.com/ LIBRAS/alfabeto-de-LIBRAS/, acesso: 14/06/2013. 2 Fonte: Site Não-verbal, disponível em http://naoverbal.wordpress.com/ LIBRAS/alfabeto-de-LIBRAS/, acesso: 14/06/2013 3 Ver também KRECH, David & CRUTCHFIELD, Richard. Elementos de Psicologia. Tradução de Dante Moreira Leite e Miriam Moreira Leite. Vol 1. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1974, p. 57 e ss. Essa é uma questão muito polêmica, mas, apenas como ilustração, vejamos o que nos diz sobre o assunto “Receptor sensorial” uma enciclopédia hoje em dia tão popular quanto a Wikipedia: “Num sistema sensorial, um receptor sensorial é a estrutura que reconhece um estímulo no ambiente interno ou externo de um organismo. Os receptores sensoriais localizam-se nos órgãos dos sentidos e são terminais nervosos com a capacidade de receber um determinado estímulo e transformálo em impulso nervoso. Esses receptores são classificados de acordo com a natureza do estímulo para os quais são sensíveis: Quimioceptores, sensíveis à presença ou concentração de determinadas substâncias, como os responsáveis pelo paladar e olfato, Fotoceptores, sensíveis à luz, como os cones e bastonetes dos olhos, Termoceptores, sensíveis às mudanças da temperatura, Mecanoceptores, responsáveis pelas sensações tácteis e auditivas. Numa classificação mais geral, podem considerar-se três tipos principais de receptores sensoriais: exteroceptores, que recebem estímulos do exterior do animal, visceroceptores, que recebem estímulos dos órgãos internos, e proprioceptores, localizados principalmente nas articulações, músculos e tendões, dão ao sistema nervoso central informações sobre a posição do corpo ou sobre a força que é necessário aplicar. No corpo humano existem vários tipos especializados de receptores sensoriais, entre os quais: terminações nervosas livres, discos de Merkel, receptores dos folículos pilosos, corpúsculos de Pacini- pressão, corpúsculos de Meissner, corpúsculos de Krause (frio) e Rufinni (dor), fusos neuromusculares, corpúsculos tendíneos ou corpúsculos de Golgi, sistema vestibular” “Receptor sensorial”, in Wikipedia, disponível em http://pt.wikipedia.org/ wiki/Receptor_sensorial, acesso 14/06/2013. 4 Dicionário informal, disponível em http://www.dicionarioinformal.com.br/ , acesso em 14/06/2013. 77 Os q ouvem mais do q 3.pmd 77 13/9/2013, 17:22 Ver também: “Cinestesia - Propriocepção também denominada como cinestesia, é o termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a manutenção do equilíbrio postural e a realização de diversas atividades práticas. Resulta da interação das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de sustentação, de informações táteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno”. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cinestesia, acesso em 14/06/2013. 5 Informações colhidas no site Helen Keller Internacional, disponível em: http:/ /www.hki.org/about-helen-keller/, acesso: 16/06/2013. Ver também: KELLER, Helen. A história da minha vida. Trad. Myriam Campello. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. Sobre a cenestesia, ver também Ver WALLON, Henri. As origens do caráter na criança. Trad. Pedro da Silva Dantas. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1971, p. 154 e ss. 6 MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. Gigante. Rio de Janeiro: Quártica, 2011, p. 125. 7 No Tempo do Rádio a Lenha 9: Leopoldo Pio e Carlos Hilton – Sociedade e preconceito – 05/07/2012, pode-se fazer o download e ouvir nos links: http://yourlisten.com/channel/content/16902944/ No_tempo_do_r%C3%A1dio_a_lenha_9 h t t p s : / / s k y d r i v e . l i v e . c o m / ?cid=5c31bf06d5ac75f2&id=5C31BF06D5AC75F2!264 8 “Isagoge (em grego clássico å0óáãùãÞ, eisagogé: introdução) é o nome da tradução latina feita por Boécio da obra Introductio in Praedicamenta do escritor e filósofo grego Porfírio (século III)), obra que também aparece por vezes referida por Quinque voces (Cinco vocábulos) ou Quinque voces Por phyrii. Trata-se de uma curta introdução, de carácter pedagógico, ao estudo das Categorias de Aristóteles. O texto teve uma profunda influência na Filosofia medieval europeia e inspirou diversas obras com o nome Isagoge, chegando mesmo a designar genericamente a introdução ao estudo da filosofia aristoteliana e o nome da disciplina onde esse estudo era feito. Isagoge (por vezes grafada Ysagoge) é também o título de múltiplas obras de vários autores, provavelmente a mais famosa das quais é a Isagoge atribuída a Boncompagni, nome pelo qual ficou conhecido Boncompagno da Signa (1194 - 1243)”. Artigo disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Isagoge, acesso em 16/06/2013. 9 SACKS, Oliver W. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos Surdos. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 15. 10 VELOSO, Éden; MAIA, Valdeci. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. Curitiba: Mãos Sinais, 2009, p. 27. 11 Idem, ibidem, 28. 12 PLATÃO. Diálogos VI: Crátilo, Cármides, Laques, Ion, Menexeno. Trad. Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2010, 422e, p. 107. 78 Os q ouvem mais do q 3.pmd 78 13/9/2013, 17:22 CASTRO, Alberto Rainha de; CARVALHO, Ilza Silva de. Comunicação por Língua brasileira de sinais: livro básico/Alberto Rainha de Castro e Ilza Silva de Carvalho. Brasília: Senac, 2005, p. 15, 29. 14 Sobre este postulado de Foucault ver toda sua obra, mas, a título de exemplo, ver FOUCAULT, Michel. A Verdade e as Formas Jurídicas. 4 ed. Rio de Janeiro, PUC, Divisão de Intercâmbio e Edições, Série Letras e Artes, 06/74, Caderno 16, 1979, passim. 15 A Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista. Trad. coordenada por José Bortolini. São Paulo: Edições Paulinas, 1985, p. 1985. 16 A Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista. Trad. coordenada por José Bortolini. São Paulo: Edições Paulinas, 1985, p. 2137. 17 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. 6 ed. Trad. Ligia M. Pomdé Vassallo. Petrópolis, Vozes, 1988, passim. 18 Sobre os dados renascentistas, VELOSO, Éden; MAIA, Valdeci. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. Curitiba: Mãos Sinais, 2009, p. 30, 35. 19 Ibidem, p. 39. 20 História do INES, Instituto Nacional de Surdos, site, disponível em: http:/ /www.ines.gov.br/institucional/Paginas/historiadoines.aspx, acesso: 19/06/ 2013. 21 Apud QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 26. 22 A Suécia foi o primeiro país a reconhecer politicamente os Surdos como minoria Linguística, com direito a uma educação bilíngue na Língua de Sinais e na Língua falada. 23 Para dar uma dimensão da grandeza desse investimento, vamos citar aqui as principais Línguas de Sinais do mundo: Continente Africano: Língua Gestual de Adamorobe, Língua Gestual Algeriana, Língua Gestual de Bamako (numa escola do Mali), Língua Gestual de Bura, Língua Gestual do Chade, Língua Gestual do Congo, Língua Gestual Egípcia, Língua Gestual da Etiópia, Língua Gestual Franco-Americana, Língua Gestual da Gâmbia, Língua Gestual de Gana, Língua Gestual Guineense, Língua Gestual Hausa, Língua Gestual Queniana, Língua Gestual Libanesa, Língua Gestual de Madagáscar, Língua Gestual Marroquina, Língua Gestual Moçambicana, Língua Gestual de Mbour (Senegal), Língua Gestual da Namíbia, Língua Gestual Nigeriana, Língua Gestual da Serra Leoa, Língua Gestual Sul Africana, Língua Gestual da Tanzânia, Língua Gestual da Tunísia, Língua Gestual do Uganda, Língua Gestual da Zâmbia, Língua Gestual do Zimbábue Continente Americano: Língua Gestual Americana, Língua Gestual Argentina, Língua Gestual Boliviana, Língua Brasileira de Sinais, Língua Gestual Chilena, Língua Gestual Colombiana, Língua Gestual da Costa Rica, Língua Gestual Cubana, Língua Gestual do Equador, Língua Gestual da Guatemala, Língua Gestual das Honduras, Língua Gestual das Províncias Marítimas, Línguas 13 79 Os q ouvem mais do q 3.pmd 79 13/9/2013, 17:22 gestuais maias (México), Língua Gestual Mexicana, Língua Gestual da Nicaraguense, Língua Gestual Quebequiana, Língua Gestual do Perú, Língua Gestual da Providência, Língua Gestual do Uruguai, Língua Gestual Kaapor Brasileira, Língua Gestual Venezuelana Continente Asiático: Língua Gestual Australiana, Língua Gestual de Ban Khor, Língua Gestual Chinesa, Língua Gestual Filipina, Língua Gestual Havaiana, Língua Gestual de Hong-Kong, Língua Gestual Indo-Paquistanesa ou Língua Gestual Indiana, Língua Gestual Indonésia, Língua Gestual Japonesa, Língua Gestual Kata Kolok (Bali), Língua Gestual de Laos, Língua Gestual Coreana, Língua Gestual Malasiana, Língua Gestual de Penang – Malásia, Língua Gestual de Selangor – Malásia, Malasiano manualmente codificado (ou Kod Tangan Bahasa Malaysia) – Malásia, Língua Gestual da Mongólia, Língua Gestual do Nepal, Língua Gestual da Nova Zelândia, Língua Gestual da Singapura, Língua Gestual do Sri Lanka, Língua Gestual de Taiwan, Língua Gestual Tibetana, Língua Gestual Thai, Línguas gestuais vietnamitas Continente Europeu: Língua Gestual Albanesa, Língua Gestual Armeniana, Língua Gestual Austríaca, Língua Gestual Belgo-Francesa, Língua Gestual Britânica, Língua Gestual Búlgara, Língua Gestual Catalã, Língua Gestual Croata, Língua Gestual Checa, Língua Gestual Dinamarquesa, Língua Gestual dos Países Baixos, Língua Gestual da Estónia, Língua Gestual Finlandesa, Língua Gestual da Flandres, Língua Gestual Francesa, Língua Gestual Alemã, Língua Gestual Grega, Língua Gestual Húngara, Língua Gestual da Islândia, Língua Gestual Irlandesa, Língua Gestual Italiana, Língua Gestual Lituana, Língua Gestual da Malta, Língua Gestual da Irlanda do Norte, Língua Gestual Norueguesa, Língua Gestual Polaca, Língua Gestual Portuguesa, Língua Gestual Russa, Língua Gestual Espanhola, Língua Gestual Sueca, Língua Gestual Suíço-Francesa, Língua Gestual Suíço-Alemã, Língua Gestual Turca, Língua Gestual de Valência, Antiga Língua de Sinais Francesa, Língua Gestual Ucraniana, Língua Gestual Eslovaca Oriente Médio: Língua Gestual Al-Sayyid Bedouin, Língua Gestual Israelense, Língua Gestual Persa, Língua Gestual da Jordânia, Língua Gestual do Kuwait, Língua Gestual da Arábia Saudita 24 Helen Keller’s Legacy, no site Helen Keller Internacional, disponível em http:/ /www.hki.org/about-helen-keller/helen-kellers-legacy/, acesso: 16/06/2013 25 Lei disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10436.htm, acesso: 21/06/2013. 26 Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2005/decreto/d5626.htm, acesso: 21/06/2013. 27 Conferir a Legislação relativa ao trabalho de pessoas portadoras de deficiência: coletânea. Brasília: TEM Ministério do Trabalho e Emprego, SIT/DSST, 1999, disponível em http://www.unesp.br/costsa_ses/ mostra_arq_multi.php?arquivo=5641, acesso: 21/06/2013. 28 Ver: William C. Stokoe, Jr - Founder of Sign Language Linguistics - 1919-2000, disponível em: http://gupress.gallaudet.edu/stokoe.html, acesso 15/06/2013. 80 Os q ouvem mais do q 3.pmd 80 13/9/2013, 17:22 “O gestuno é a Língua de sinais internacional; é uma Língua inventada que difundiu a Federação mundial de Surdos em 1951. Em 1973, um comité criou um sistema standard de sinais internacionais. Trataram de eleger os sinais que melhor se entendiam de várias Línguas de sinais, para criar uma Língua fácil de aprender. A comissão publicou um livro com uns 1500 sinais. Não tinha uma gramática concreta, pelo que muitos dizem que não é uma Língua real. O nome vem do italiano e significa: união das Línguas de sinais. Alguns Surdos utilizaram esta Língua nos Jogos Mundiais para Surdos, a Conferência de Surdos e o Festival de Washington DC, mas obviando estas situações seu uso é muito reduzido”. “Origens do Gestuno”, in AlfabetoSurdo.com, disponível em http:/ /www.alfabetoSurdo.com/ptsign/gestunoorigins.asp, acesso: 19/06/2013. 30 Ver: “Signuno”, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Signuno, acesso: 19/06/2013. 31 Adaptado de SALLES, Heloísa Maria Moreira Lima. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. 2 vol. Brasília: MEC, SEESP, 2004. 32 Adaptado de SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de Surdos. São Paulo: Paulinas, 2006, passim. 33 QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 47. 34 “Kaspar Hauser”, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Kaspar_Hauser, acesso: 14/06/2013. 35 “Amala e Kamala”, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Amala_e_Kamala, acesso 14/06/2003. 36 SKLIAR, C. “A localização política da educação bilíngue para Surdos”, in: ______ (org.). Atualidade da educação bilíngue para Surdos, processos e projetos pedagógicos. Porto Alegre: Mediação, 1999, v.1, p.12. 37 SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de Surdos. São Paulo: Paulinas, 2006, p. 356. 38 “Art. 1º. É obrigatória a colocação, de forma visível, do “Símbolo Internacional de Surdez” em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que possibilitem o seu uso. Art. 2º. O ‘Símbolo Internacional de Surdez’ deverá ser colocado, obrigatoriamente, em local visível ao público, não sendo permitida nenhuma modificação ou adição ao desenho reproduzido no anexo a esta Lei”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/Leis/L8160.htm, acesso em 21/05/2013. 39 Imagem disponível em http://cliqueautomotivo.com.br/imagens/imagenssobre-rodas/simbolo-surdez.jpg, acesso: 02/06/2013. 40 Ver, por exemplo, “Mãos em movimento: LIBRAS e educação especial”, disponível em http://maosemovimento.blogspot.com.br/2010/07/simbolosda-surdez.html, acesso: 20/06/2013. 29 81 Os q ouvem mais do q 3.pmd 81 13/9/2013, 17:22 “Art.1º - Fica instituído o dia 26 de setembro de cada ano como o Dia Nacional dos Surdos”. 42 SILVA, Tomaz Tadeu. “A produção social da identidade e diferença”, in:_____ (org.). Documentos de identidade; uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte, Autentica, 1999, p.134. 43 SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de Surdos. São Paulo: Paulinas, 2006, p105. 44 Ver também o site Comunidade Surda, disponível em: http:// www.comunidadesurda.com.br/, acesso: 11/06/2013. 45 No livro todo, Luis Carlos procurou trazer contribuições de pesquisa e texto às informações que Carlos lhe trouxe, seguinte a proposta “fifty fifty”. Neste capítulo, Luis dá mais a palavra a Carlos, pela experiência desta na pedagogia de surdos, pois Carlos Hilton é bacharel em Comunicação, com experiência como jornalista e radialista, com matérias publicadas em órgãos de imprensas e assessorias. Pós-graduado como especialista em Educação Especial com Ênfase em Surdez, pela FEUDUC (Fundação Educacional de Duque de Caxias), e em Letramento e Surdez, pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. Docente aprovado no concurso Federal (ProLIBRAS/2006) para o ensino médio e superior da Língua Brasileira de Sinais –LIBRAS, certificado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e como tradutor e intérprete de LIBRAS (ProLIBRAS/2007); profissional tradutor-intérprete de LIBRAS reconhecido pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos FENEIS e pela Associação dos Profissionais Tradutores e Intérpretes de Língua Brasileira de Sinais do Estado do Rio de Janeiro – APILRJ, com curso certificado de LIBRAS/ INES/ MEC pelo INES. É membro da comunidade Surda atuando há mais de dez anos através da educação, promoção política na: saúde, humana, cultural, social e trabalhista e em demais eventos relacionados à surdez. Elaborador e organizador de seminários, de cursos e de encontros referentes à Educação e à cultura Surda. Em 2006, foi condecorado pela Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro com um prêmio Moção de reconhecimento, pelos trabalhos de politização prestados à comunidade Surda carioca. Seu lema profissional para a implantação de uma escola bilíngue de Surdos é “A Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS disseminada na sociedade brasileira”. 46 EDLER CARVALHO, Rosita. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre: Mediação, 2004, p. 17. 47 Decreto disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20042006/2005/decreto/d5626.htm, acessado: 21/06/20113. 48 Lei que regulamenta a profissão do tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, disponível em http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm, acesso: 14/06/2013. 49 BERNARDINO, Elidéa Lúcia Almeida. Absurdo ou lógica?: os surdos e sua produção linguística. Belo Horizonte: Profetizando vida, 2000, passim. 41 82 Os q ouvem mais do q 3.pmd 82 13/9/2013, 17:22 Portaria nº 310, de 27 de junho de 2006, disponível em: http:// www.anatel.gov.br/hotsites/Direito_Telecomunicacoes/TextoIntegral/NOR/ prt/minicom_20060627_310.pdf, acesso: 22/06/2013, ver também Portal de acessibilidade do RS, FADERS, disponível em: http:// w w w. p o r t a l d e a c e s s i b i l i d a d e . r s . g o v. b r / p o r t a l / index.php?id=legislacao&cat=4&cod=377, acesso: 21/06/2013. 51 BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na educação dos Surdos – ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2005, p. 66. 52 CAPOVILLA, Fernando e DUARTE, Walquiria. Dicionário enciclopédico ilustrado trilingue da Língua brasileira de sinais – LIBRAS. Volumes de A-L e M-Z. São Paulo: Edusp, 2001. 53 Ver também VELOSO, Éden; MAIA, Valdeci. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. Curitiba: Mãos Sinais, 2009, p. 16-18. Aqui, desenvolvemos alguns itens, acrescentamos outros e excluímos aquilo com o que não concordamos. Nossa proposta se baseia na experiência pessoal em sala de aula com alunos Surdos. 54 QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 27. 50 83 Os q ouvem mais do q 3.pmd 83 13/9/2013, 17:22 BIBLIOGRAFIA AlfabetoSurdo.com, disponível em: http:// www.alfabetoSurdo.com/, acesso: 19/06/2013 AUMONT, Jacques. A imagem. São Paulo: Papirus, 1993. A Bíblia de Jerusalém. Nova edição, revista. Trad. coordenada por José Bortolini. São Paulo: Edições Paulinas, 1985. BERNARDINO, Elidéa Lúcia Almeida. Absurdo ou lógica?: os surdos e sua produção linguística. Belo Horizonte: Profetizando vida, 2000. ______. “O uso de classificadores na Língua de Sinais Brasileira”, in Revista Virtual de Estudos da Linguagem. Vol. 10 – número 19 agosto de 2012, “Línguas de sinais: cenário de práticas e fundamentos teóricos sobre a linguagem”, disponível em: http://www.revel.inf.br/ files/6ecf02602b4f746097e5749734cfd433.pdf, acesso: 21/06/ 2013. BRITO, Lucinda Ferreira. Integração social & educação de Surdos. Rio de Janeiro: Babel, 1993. BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na educação dos Surdos – ideologias e práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. CASTRO, Alberto Rainha de; CARVALHO, Ilza Silva de. Comunicação por Língua brasileira de sinais: livro básico/Alberto Rainha de Castro e Ilza Silva de Carvalho. Brasília: Senac, 2005. CAPOVILLA, Fernando e DUARTE, Walquiria. Dicionário enciclopédico ilustrado trilingue da Língua brasileira de sinais – LIBRAS. Volumes de A-L e M-Z. São Paulo: Edusp, 2001. Comunidade Surda, site, disponível em: http:// www.comunidadesurda.com.br/, acesso: 11/06/2013. Decreto que regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/ 84 Os q ouvem mais do q 3.pmd 84 13/9/2013, 17:22 decreto/d5626.htm, acessado: 21/06/20113. Dicionário infor mal, disponível em http:// www.dicionarioinformal.com.br/, acesso em 14/06/2013 . EDLER CARVALHO, Rosita. Educação inclusiva: com os pingos nos “is”. Porto Alegre: Mediação, 2004. FELIPE, Tanya A; LIRA, G. A. Dicionário da Língua brasileira de sinais: LIBRAS. Versão 2.0. Rio de Janeiro: Acessibilidade Brasil – CORDE, 2005. FERREIRA BRITO, L. Integração social e educação de Surdos. Rio de Janeiro: Babel, 1993. FORUM. Vol.14, Rio de Janeiro: INES, jul/dez 2006. FOUCAULT, Michel. A Verdade e as Formas Jurídicas. 4 ed. Rio de Janeiro, PUC, Divisão de Intercâmbio e Edições, Série Letras e Artes, 06/74, Caderno 16, 1979.] ______. Vigiar e punir. 6 ed. Trad. Ligia M. Pomdé Vassallo. Petrópolis, Vozes, 1988. Helen Keller Internacional, site, disponível em http:// www.hki.org/, acesso: 16/06/2013. Instituto Nacional de Surdos, site, disponível em: http:// www.ines.gov.br/default.aspx, acesso: 16/06/2013. KELLER, Helen. A história da minha vida. Trad. Myriam Campello. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. KRECH, David & CRUTCHFIELD, Richard. Elementos de Psicologia. 2 v. Tradução de Dante Moreira Leite e Miriam Moreira Leite. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1974. Legislação relativa ao trabalho de pessoas portadoras de deficiência: coletânea. Brasília: TEM Ministério do Trabalho e Emprego, SIT/ DSST, 1999, disponível em http://www.unesp.br/costsa_ses/ mostra_arq_multi.php?arquivo=5641, acesso: 21/06/2013. Lei que regulamenta a profissão do tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ _Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm, acesso: 14/06/2013. Lei que dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita a identificação de pessoas portadoras de deficiência auditiva. Lei nº 8.160, de 8 de janeiro de 1991. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ 85 Os q ouvem mais do q 3.pmd 85 13/9/2013, 17:22 L8160.htm, acesso em 21/05/2013. Lei que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e dá outras providências. Lei nº 19,436, de 24 de abril de 2002, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10436.htm, acesso: 21/06/2013. LIBRAS, cultura surda e educação de surdos, blog, disponível em: http://LIBRASestudossurdos.blogspot.com.br/2011/04/ referencias-de-apoio-em-estudos-surdos.html, acesso: 20/05/ 2013. LIBRAS sinais de inclusão, blog disponível em http:// wwwL IBRAS.blogspot.com.br/2010/04/numeral-emLIBRAS.html, acesso: 14/06/2013 SALLES, Heloisa Maria Moreira Lima at alii. Ensino de Língua portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. Brasília: MEC, SEESP (Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos), 2004. MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. “Mãos em movimento: LIBRAS e educação especial”, disponível em http://maosemovimento.blogspot.com.br/2010/07/ simbolos-da-surdez.html, acesso: 20/06/2013. MARTINS, André Luís Batista. “O gerativismo e a Língua de Sinais: uma demanda por “territórios” na política de inclusão”, disponível em: http://www.simposioestadopoliticas.ufu.br/ imagens/anais/pdf/BC11.pdf, acesso: 17/04/2013. MORAIS JUNIOR, Luis Carlos de. Gigante. Rio de Janeiro: Quártica, 2011. Não-verbal, site disponível em http://naoverbal.wordpress.com/ LIBRAS/alfabeto-de-LIBRAS/, acesso: 14/06/2013. OLIVEIRA, Luciana Aparecida. “A escrita do surdo: relação texto e concepção”, disponível em: http://www.ichs.ufop.br/ conifes/anais/EDU/edu0507.htm, acesso: 02/05/2013. PLATÃO. Diálogos VI: Crátilo, Cármides, Laques, Ion, Menexeno. Trad. Edson Bini. Bauru: EDIPRO, 2010. Portal de acessibilidade do RS, FADERS, disponível em: http:/ 86 Os q ouvem mais do q 3.pmd 86 13/9/2013, 17:22 / w w w. p o r t a l d e a c e s s i b i l i d a d e . r s . g o v. b r / p o r t a l / index.php?id=legislacao&cat=4&cod=377, acesso: 21/06/ 2013. Portaria nº 310, de 27 de junho de 2006, disponível em: http:// www.anatel.gov.br/hotsites/Direito_Telecomunicacoes/ TextoIntegral/NOR/prt/minicom_20060627_310.pdf, acesso: 22/06/2013. QUADROS, Ronice Muller de. Educação de Surdos: aquisição da Linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. ______. Surdez e bilinguismo. Porto Alegre: Mediação, 2005. ______; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua brasileira de sinais: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004. Revista Virtual de Estudos da Linguagem. Vol. 10 – número 19 - agosto de 2012, “Línguas de sinais: cenário de práticas e fundamentos teóricos sobre a linguagem”, disponível em: http://www.revel.inf.br/pt/edicoes/ ?id=25, acesso: 21/06/2013. “Receptor sensorial”, in Wikipedia, disponível em http:// pt.wikipedia.org/wiki/Receptor_sensorial, acesso 14/06/2013 SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, poder e educação de Surdos. São Paulo: Paulinas, 2006. SÁNCHEZ, C.M. La increíble y triste historia de la sordera. Caracas: Impresión CEPROSORD, 1990. SACKS, Oliver W. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos Surdos. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. ______. Um antropólogo em marte; sete histórias paradoxais. Trad. Bernardo Carvalho. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. SALLES, Heloísa Maria Moreira Lima. Ensino de Língua Portuguesa para Surdos: caminhos para a prática pedagógica. 2 vol. Brasília: MEC, SEESP. 2004. SILVA, Tomaz Tadeu. “A produção social da identidade e diferença”, in:_____ (org.). Documentos de identidade; uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte, Autentica, 1999. “Símbolos da acessibilidade”, in Vez da voz, site, disponível em: h t t p : / / w w w. v e z d a v o z . c o m . b r / s i t e / simbolos_acessibilidade.php, acesso: 14/06/2013. 87 Os q ouvem mais do q 3.pmd 87 13/9/2013, 17:22 “Sistema de transcrição para a LIBRAS”, in Oficina de LIBRAS, site, disponível em http://LIBRASitz.blogspot.com.br/2010/ 07/sistema-de-transcricao, acesso em 14/06/2013 SKLIAR, C. “A localização política da educação bilíngue para Surdos”, in: ______ (org.). Atualidade da educação bilíngue para Surdos, processos e projetos pedagógicos. Porto Alegre: Mediação, 1999, v.1, p.7-14. ______; Massone, M.I. e Veinberg, S. “El acesso de los ninõs sordos al bilinguismo y al biculturalismo”. Revista Infancia y Aprendizaje. Madrid: 1995, n 69/70, p. 85-100. SOUZA, Regina Maria de; ARANTES, Valéria Amorim (org). Educação de Surdos: pontos e contraponto. 3 ed. São Paulo: Summus, 2007. STRNADOVA, Vera. Como é seu ser Surdo. Rio de Janeiro: Babel, 2000. O tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Brasília: MEC; SEESP, 2004. VELOSO, Éden; MAIA, Valdeci. Aprenda LIBRAS com eficiência e rapidez. Curitiba: Mãos Sinais, 2009. WALLON, Henri. As origens do caráter na criança. Trad. Pedro da Silva Dantas. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1971. William C. Stokoe, Jr - Founder of Sign Language Linguistics 1919-2000, disponível em: http://gupress.gallaudet.edu/ stokoe.html, acesso 15/06/2013. 88 Os q ouvem mais do q 3.pmd 88 13/9/2013, 17:22
Documentos relacionados
a comunicação e a linguagem gestual - portal-rp
formal ou informal, sempre se faz acompanhar de sinais gestuais, que carregam de significados a interação entre as pessoas, conferindo-lhes maior ou menor expressividade e ampliando as suas possibi...
Leia mais