Craveiro (2006)
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Craveiro (2006)
TENTATIVAS DE URBANISMO COMERCIAL NOS PLANOS MUNICIPAIS DE ORDENAMENTO Maria Teresa Craveiro Geógrafa/Urbanista – Profª. Auxiliar Convidada ULHT O homem, ao instalar-se num território, transforma-o e organiza-o em função de determinadas necessidades de que se salientam – habitar, desenvolvimento das suas actividades laborais de lazer e estabelecimento de trocas comerciais e das respectivas redes de comunicação. As soluções encontradas para arrumação do espaço nas cidades são diferentes, complexas e até imprevistas, uma vez que o espaço urbano se organiza mediante “dois tipos de estruturas (sociais e espaciais) que entre si mantêm uma relação de tensão constante”(1). Como afirma Teresa Barata Salgueiro (1)“As relações entre comércio e cidade são relações dinâmicas e fundadoras, em ambos os sentidos, porque a cidade é produto das vivências quotidianas, das decisões e práticas dos vários agentes, designadamente as de consumo, e todas estas práticas têm uma dimensão espacial.” Desde meados dos anos 80, no sector comercial deu-se um processo de reconversão estrutural, com a multiplicação de espaços de comércio em localizações diferentes das tradicionais e a introdução de novas formas de organização como os centros comerciais que, nalguns casos, surgem numa trilogia de comércio-lazer- 1 Salgueiro, Teresa Barata – “A cidade e o comércio nos finais do século” – Fórum Comércio, Cidade e Qualidade de Vida – Julho 1999, Coimbra cultura. (2) A crise do comércio tradicional, de proximidade, tem consequência nos centros históricos das cidades sendo uma das causas da sua degradação e decadência. Estas alterações têm ocorrido ao sabor do mercado e de por iniciativas individuais, por vezes balizadas orientações da Administração (por exemplo relativas ao licenciamento de grandes superfícies comerciais e aos Projectos Especiais de Urbanismo Comercial), mas concebidas de forma fragmentada. De facto, o traço mais marcante nos processos de decisão que lhe estão associados é a ausência de uma visão de conjunto dos vários espaços comerciais e dos territórios onde se alicerçam, decorrendo desta prática efeitos negativos na articulação urbana que carece, quase sempre, de uma perspectiva integrada. Efectivamente, na estrutura funcional das nossas cidades a localização do comércio surge como consequência do mercado com excepção de algumas malhas urbanas, inseridas no Movimento Moderno, que aplicaram a Carta de Atenas – Exemplo: Zona Oriental da cidade de Lisboa, com realce para Chelas que apresentava grandes desequilíbrios sócio-urbanísticos que se têm vindo a colmatar, a partir da Expo 98. Em termos sócio-culturais a cidade pós-moderna é mais diversificada e mais polarizada e nela cresce a importância dos consumos simbólicos. Refira-se ainda as novas problemáticas que se começam a colocar face à profunda mutação num mundo de relações globalizadas, em termos económicos mas também em outra dimensões, com a supressão das distâncias, com o alcance das informações, com as influências culturais, 2 Pereira, Margarida; Teixeira, José Afonso (2000) – “Os Centros Comerciais em Portugal – Novos desafios para um conceito dinâmico” reforçando a identidade face à globalização provocando simultaneamente que as cidades tenham um papel cada vez, mais importante, porque é seguramente nelas que podemos manter algumas utopias. Esta problemática vai-nos levar a novas reflexões que como Maura Véras (3) avalia “...trata-se de uma nova cidade, um novo espaço de assentamento, ou seja, da cidade na etapa da globalização, da tecnologia, das novas relações sociais advindas da flexibilização, da descentralização, da etnicidade, das novas identidades”, salientando-se que “a cidade do futuro terá uma natureza cultural e social, em vez de económica. Os centros económicos continuarão existindo, mas a ideia de comprimir as pessoas nos lugares para produzir resultados comerciais está a perder força” ... “No começo as pessoas eram nómadas (4) que podiam escolher aonde ir com base no que achavam melhor para elas. Estamos a voltar a esse modo de trabalhar e viver”. Estamos assim, num novo quadro de apropriação das cidades – o direito de ir e vir... Para esta nova abordagem, carecem, no entanto, estudos, restando apenas esta breve nota sobre as novas perplexidades que levam a preocupações do tipo: A cidade europeia resistirá à globalização? Quais são os efeitos do processo de globalização, em curso, nas cidades europeias? A cidade europeia guarda as suas especificidades no novo contexto ou alinha num 3 Véras, Maura - A Nov(a) (C)idade do Gelo – Notas perplexas sobre os novos nômades urbanos. 4 Augé, M. (1994). Não Lugares, introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas, Ed. Papirus “modelo comum” em todas as regiões desenvolvidas? (5 ) 1. Breve Reflexão sobre alguns instrumentos operacionais do planeamento do comércio Que forças actuam na cidade? • A Administração Central através da legislação, e dos meios financeiros; • Operadores públicos e privados mediante as pretensões urbanísticas da afectação do uso do solo; • O Município, enquanto organismo, que exerce poder sobre o espaço e o transforma induzindo novas relações territoriais. Exemplo: afectação dos usos do solo através da aprovação de loteamentos (vulgo urbanizações), planos municipais de ordenamento, selecção de equipamentos, tipologias de fogos e traçados de estradas, etc; • As Freguesias de poderes limitados e, porquanto pouco participantes nas decisões urbanísticas por parte do Município; • Estrutura informal do poder – grupos restritos que exercem localmente o poder, podendo reforçar ou contestar o poder – promotores, associações de proprietários, associações de comerciantes, comissões de moradores, associações de defesa do ambiente, património, de juventude, etc. (6) 5 2º Festival Internacional da Cidade de Créteil/Paris (nº7) – Revista do Urbanismo (Setembro 2000) 6 Craveiro, M. T. (1993). A mulher na requalificação urbana – Contributos para algumas acções. Fórum “As Mulheres e a Cidade” – Intervenções; Câmara Municipal de Lisboa – Departamento de Apoio à Gestão e à Actividade Institucional Como afirma a Carta Urbana Europeia “...As áreas urbanas jogam um papel capital na economia nacional; elas são a base económica da produção, da distribuição, das trocas e do consumo. O desenvolvimento económico da cidade é essencial, sobretudo se puder contribuir para o nível de vida dos seus utilizadores (residentes, visitantes, turistas e população activa).” (7) Assiste-se em Portugal, nomeadamente nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto ao desaparecimento do carácter monocentrico do centro tradicional de comércio e serviços, com a deslocalização da centralidade urbana, para “redes policêntricas” peri-centrais e periféricas. É neste contexto, com novos fluxos de compra e de lazer que é oportuno efectuar uma abordagem estratégica do ordenamento comercial no actual sistema do planeamento territorial do espaço urbano, que tenha em conta os factores de mudança e do consumo... Está na ordem do dia para os decisores e técnicos a resolução da aparente contradição entre a dinamização dos centros históricos da cidade e respectivo comércio tradicional com a coexistência, que se pretende controlada, dos centros comerciais. Com efeito, verifica-se que apesar da existência das recomendações do MCT/MPAT, em 1991 - Orientações gerais para o desenvolvimento do sector do comércio ao nível dos diversos instrumentos de planeamento territorial, a concretização de propostas de estrutura comercial para espaços urbanos, continua a ser escasso, com raras excepções.(8) 7 Capítulo – O Desenvolvimento económico das Cidades – “La Charte Urbaine Européenne” (1992) du Conseil de l’ Europe 8 Pinto, José Manuel Paraíso (1992), Urbanismo Comercial e Planeamento Territorial. Instrumentos de actuação”,Sociedade e Território, nº17, pp61-67 Refira-se pelo carácter inovador que a Câmara Municipal de Lisboa, através da Direcção Municipal de Abastecimento e Consumo, efectuou, neste âmbito, um esboço de um Modelo de Organização Comercial para Lisboa (9), que lamentavelmente, algumas vezes foi ultrapassada por decisões políticas, no âmbito da gestão urbanística. Salienta-se, pela importância, a existência de um quadro jurídico, que permite operacionalizar e enquadrar as especificidade de propostas do urbanismo comercial Dec. Lei nº 419/83, de 29 de Novembro, que estabelece no seu artigo 7º, alínea 1) “...Nos casos em que o exercício da actividade pressuponha a existência de estabelecimento/loja, de armazém ou escritório, deverão estes obedecer aos condicionamentos de urbanismo comercial existentes nos planos de urbanização aprovados para a localidade em que se situem, ou apenas aos planos de urbanização, na falta daqueles condicionamentos e alínea 2) “...A idêntica obrigatoriedade se encontrará sujeita a implantação daquelas unidades quando em diploma autónomo forem estabelecidos princípios de urbanismo comercial”. Este diploma, ainda em vigor, tem sido lamentavelmente pouco divulgado e operacionalizado quer nos instrumentos operacionais de Planeamento quer nos “estudos do comércio”, o que releva a ausência de articulação de estratégias para a definição da estrutura funcional dos tecidos urbanos onde se está a intervir. Acresce ainda, que esta temática pode ser tratada, no 9 Cruzeiro , Maria Fernanda; Teixeira, José Afonso; Pereira, Margarida; Santos, Brígida (1997) “Modelo de Organização Comercial para Lisboa. Um Projecto em Discussão” in Que Fronteiras para o Urbanismo Comercial,CML/DMAC, pp 14-52 novo quadro legal referente à Lei nº 48/98 de 11 de Agosto, que estabelece as bases da política de ordenamento do território e de urbanismo e o seu diploma complementar - Dec. Lei nº 380/99, de 22 Setembro, que define o regime jurídico dos instrumentos operacionais. Efectivamente, no artigo nº19, ponto 1, é contemplada a localização e distribuição das actividades económicas, com identificação do comércio, definindo que poderão ser enquadrados em Planos Sectoriais (ponto 2) ou planos municipais de ordenamento do território (ponto 3). No que concerne aos Planos Sectoriais, contemplados na subsecção II refira-se que o artigo 35º ponto 2 alínea a), cita o sector do comércio integrado nos cenários de desenvolvimento respeitante aos diversos sectores da administração central, não estando esclarecidos o conteúdo para esta temática, nem a responsabilidade da elaboração - competência das entidades, o que permite poder ser operacionalizado pela Administração Central ou Local, se houver vontade política para enfrentar os fortes interesses em presença ... Neste contexto poderá ser enquadrada a Carta do Ordenamento da Actividade Comercial, proposta por Margarida Pereira (10), enquanto Plano Sectorial, devendo assumir um carácter propositivo da “organização Comercial” da área de intervenção a partir da compatibilização dos diferentes “conceitos comerciais” e respectivos espaços e consumidores. Esta perspectiva propositiva de articulação entre o planeamento estratégico da cidade e a elaboração dos 10 Pereira, Margarida (1999) – Novas dinâmicas de organização comercial – reflexões para uma estratégia de actuação integrada – Comércio e Concorrência – Direcção Geral do Comércio e da Concorrência instrumentos urbanísticos deve ainda inserir proposta de Estruturas de Gestão dos centros tradicionais de comércio (de rua) tendentes ao estabelecimento de medidas de revitalização e requalificação destas unidades, numa perspectiva de parcerias entre os Municípios e Associações de Comerciantes, ultrapassando actuações pontuais e fragmentadas... Este método irá não só potenciar as inter-relações dos diversos instrumentos em presença como dar coerência a um Projecto de Cidade onde se pretende que as respectivas transformações estejam compatibilizadas com os objectivos e metas dum modelo de desenvolvimento participado pelos diversos actores e que tenham em conta parâmetros de sustentabilidade. Há, no entanto, uma “precaução” a ter em conta: eliminar a existência de dualidade entre os instrumentos urbanísticos e os do urbanismo comercial, de molde a que não se constituam num instrumento isolado do planeamento e gestão do espaço urbano, o que teria consequências gravosas, atendendo à confusa gestão sectorial de instrumentos, com consequente descrédito dos mesmos, assim como para o processo da “construção da sustentabilidade da cidade”(11), defraudando as aspirações dos agentes envolvidos através das diversas formas de participação para o mesmo. No que se refere à temática da sustentabilidade, entendida como “um modelo de desenvolvimento que permite às gerações presentes satisfazer as suas necessidades sem que isso ponha em risco a possibilidade de as gerações futuras virem a satisfazer as suas próprias necessidades”, pelo Relatório de 11 “Cidades Europeias Sustentáveis” – Relatório do Grupo de Peritos sobre o Ambiente Urbano – Comissão Europeia - Março, 1996 Brundtland (1987) (12), refira-se no âmbito das preocupações de monitorização ambiental, e qualidade de vida urbana, os Indicadores Comuns Europeus aprovados, na 3ª Conferência das Cidades e Vilas Sustentáveis - “Towards a Local Sustainability Profile – European Common Indicators”-, em Hannover. Classificação Indicadores Comuns Europeus A - Indicadores de Referência 1 Grau de satisfação do cidadão com a comunidade local Satisfação global relativamente a vários aspectos no município Contribuição local para a alteração climática global 2 Emissões de Co2 (a longo prazo, quando estiver identificada uma metodologia simplificada este indicador será focado através da Pegada Ecológica Mobilidade local e Transporte de Passageiros 3 12 Distâncias diárias de transporte de passageiros e modos de transporte A revista inglesa Finantial Review, de 10 Set. 1990, identificou só até àquele ano 23 definições distintas do conceito de desenvolvimento sustentável 4 5 Disponibilidade de espaços verdes públicos e serviços locais Acesso dos cidadãos a espaços verdes próximos e serviços básico Qualidade do ar local Número de dias bom boa qualidade do ar Para o efeito, a Agência Europeia do Ambiente seleccionou um “grupo de Cidades Pioneiras”, do qual Lisboa faz parte, devido á sua experiência com indicadores e ao seu envolvimento em projectos de reunião de dados e informação referentes aos Indicadores Comuns Europeus. Este grupo integra uma Plataforma Urbana de Comunicação, que visa a disseminação e troca de informação, baseada nas experiências reais de troca de dados e informação de base local. Esta informação está disponível no site da Internet http://ew.eea.eu.int. B - Indicadores Complementares Viagens das crianças para ir e vir da escola 6 7 8 Modo de transporte utilizado pelas crianças para viajar entre a escola e casa Gestão sustentável da autoridade local e comércio local % de organizações públicas e privadas procedimentos de gestão ambiental e social Poluição sonora com % de população exposta a níveis de ruído prejudiciais Utilização sustentável dos solos 9 Desenvolvimento sustentável, reabilitação e protecção de solos e locais no município Produtos que promovam a sustentabilidade 10 % de produtos com rótulo ecológico, orgânicos ou “fair-trade” É curioso que surja, relacionado com a temática da tipologia comercial, um indicador obrigatório (nº 4) Disponibilidade de espaços verdes públicos e “serviços locais” que permite avaliar o acesso dos cidadãos a espaços verdes próximos e serviços básicos, onde se realça para além da importância das diversas formas de espaço público, a existência de serviços básicos como: serviços de saúde pública primários, transportes públicos com frequência mínima, escolas públicas (escolas de comparência obrigatória); mercearias que vendam fruta fresca e vegetais; instalações de reciclagem, etc...Verifica-se assim, que o comércio tradicional se enquadra como um indicador de qualidade de vida nas cidade. Exemplo: A ausência de mercearias que vendam fruta fresca e vegetais é um indicador de exclusão social no Reino Unido e uma ameaça para a saúde. Geralmente, a estrutura funcional e, em particular, a estrutura comercial, das nossas cidades, resultou do livre funcionamento do mercado e de decisões locativas isoladas e individuais. Porque o comércio é indispensável à vida quotidiana dos cidadãos, não é imaginável um bairro residencial incapaz de satisfazer as necessidades básicas nomeadamente alimentares, do seus habitantes, situação que ocorre lamentavelmente nos tecidos periurbanos da Área Metropolitana de Lisboa. Ao invés, para os países do Sul, trata-se de zelar pela comércio tradicional, revitalização do seu nomeadamente nos centros históricos, através de programas como o PROCOM (13), que consagrou o apoio aos projectos de urbanismo comercial, apoio que foi regulamentado, a partir de 1997, e que registou uma dinâmica muito significativa nos dois últimos anos, resistindo à proliferação não planeada de grandes superfícies que “homogenizam” a paisagem e anulam a identidade cultural. É neste contexto que, em 1996, os Projectos Especiais de Urbanismo Comercial (PEUC) são consubstanciados na legislação. (14) O comércio é, portanto, um significativo contributo para a qualidade de vida das cidades. O comércio é, aliás, um pouco da vida das nossas cidades. A sobrevivência das formas de comércio tradicionais e o florescimento de outras formas, cada vez mais inovadoras, requerem novas respostas, novas soluções. Buscar e encontrar, atempadamente, essas soluções, no quadro da concepção de políticas públicas com incidência urbana, será, sem dúvida, um dos grandes desafios do século XXI. 13 Programa de Apoio à Modernização do Comércio - II Quadro Comunitário de Apoio – Dec.-Lei nº184/94, de 21 de Julho 14 Despacho Conjunto dos Secretários de Estado do Desenvolvimento Regional e do Comércio e Turismo, publicado no Diário da República nº 204, II Série, de 03.09.1996. É de referir ainda, a identificação do indicador voluntário (n.º 10) - Produtos que promovam a sustentabilidade (% de produtos com rótulo ecológico, orgânicos ou “fair-trade”) que constituem um novo segmento no comércio ligado às “boas práticas do ambiente” e que contribuem para a qualidade de vida dos cidadãos e consequentemente das cidades. Cita-se como exemplo: na cidade de Haia, a questão que se impõe responder é: até que ponto as famílias e as organizações, incluindo as autoridades locais, fazem compras de produtos que promovam a sustentabilidade, a produção biológica e/ou ecológica? Efectivamente, para além dos produtos biológicos e amigos do ambiente, hoje tende-se também, nalguns países a colocar as questões éticas, numa tentativa de se passar de uma sociedade massificada de consumidores para uma sociedade informada de pessoas. Deste modo, nos EUA e noutros países, existem já cadeias de distribuição que limitam ou impedem mesmo o acesso de produtores que não tenham um mínimo de comportamentos éticos, isto é, que explorem mão-de-obra, que utilizem produtos agressivos e nocivos para o ambiente, etc.. Como os distribuidores têm capacidade para impor condições à produção, sabendo que os consumidores privilegiam esse tipo de questões, podem, de facto, obrigar a produção a ser mais cuidadosa deste ponto de vista. Estas preocupações ambientais inseridas nos consumos irão constituir linhas de desenvolvimento, no âmbito do comércio, contribuindo assim para a melhoria do ambiente. Em conclusão, apesar de estarmos na presença da dualidade anteriormente referida: globalidade e localismo (cidades), verifica-se que os anos 90 não atingiram o esperado “apocalipse urbano”, ao contrário da década de 70, em que a crise urbana era associada à falência de um planeamento incapaz de atender às demandas sociais crescentes. Actualmente, revaloriza-se a vida na cidade – “criar cidade na cidade” - e exige-se novas concepções de gestão urbana, com maior participação dos seus habitantes, (15) numa perspectiva da construção duma democracia participativa, que complementa a democracia representativa, considera-se fundamental valorizar o “local”, seguir a direcção da descentralização política e administrativa como condição da democracia a nível territorial, com o estabelecimento de parcerias – instituições, entidades comunitárias e a sociedade civil organizada para aumento da cidadania. É assim, crescente a importância do papel do Poder Local, em associação com os outros poderes públicos e com o sector privado, para criar as condições favoráveis ao desenvolvimento económico que deverá estar associado simultaneamente “ao desenvolvimento social, á protecção do ambiente e a diversas medidas que permitam alcançar a qualidade de vida nas zonas urbanas ...”(16) 15 Borja, J.. Políticas y gobierno en las grandes ciudades”. In Borja, J.. Las grandes ciudades en la decada de los noventa. Madrid, Editorial Sistema, 1990. 16 Capítulo – O Desenvolvimento económico das Cidades – “La Charte Urbaine Européenne” (1992) du Conseil de l’ Europe 2. Tentativas do Urbanismo Comercial no Município de Lisboa O novo executivo autárquico da Câmara Municipal Lisboa, em Janeiro de 1990, iniciou a reabilitação do planeamento municipal alicerçado no quadro conceptual do planeamento estratégico, que pretendia ser globalizante, interactivo, participado e porquanto flexível. (17) Em Lisboa, o sistema de planeamento estratégico desenvolvido a partir de 1990, integrava três níveis complementares e simultâneos - Plano Estratégico de Lisboa (1990/1992); Plano Director Municipal (1990 1994); Planos e Projectos Prioritários -, que continham em si um processo de implementação interactivo. Plano Estratégico Planeamento Estratégico Planos e Projectos Prioritários Plano Director Municipal Sobressai pela sua importância o Plano Estratégico da Cidade, concluído em Julho de 1992, que procura lançar como objectivo central, as bases de Lisboa do Séc. XXI, para que Lisboa venha a ser mais humana e mais moderna, na viragem do século. Para tanto, houve necessidade, na gestão autárquica, de se concretizar o “projecto de cidade” num modelo urbanístico para Lisboa. O Plano Estratégico de Lisboa 17 Craveiro, M. T. (1996) – A articulação entre planos e projectos: a experiência de Lisboa - Revista Sociedade e Território constituiu, na altura, uma inovação nos modelos de planos estratégicos europeus, de cariz sócio-económico, tendo em conta já que, no caso de Lisboa, integrou um modelo urbanístico espacializado e diferenciado em 4 Áreas: Área Central de Lisboa; Charneira Urbana; Coroa de Transição; Arco Ribeirinho. O Plano Estratégico da Câmara Municipal de Lisboa procurou assim dar resposta à difícil situação de, sem esquecer a gestão quotidiana e o que ela implica de mobilização de recursos humanos e financeiros, definir as metas de desenvolvimento do Município, as consequentes prioridades de actuação a médio prazo, e a sua correspondente tradução em programas anuais e plurianuais. (18) Efectivamente, numa cidade como Lisboa carenciada de profundas transformações, só seria possível projectar-se adequadamente no futuro, mediante a definição das respectivas linhas orientadoras do seu papel no contexto regional, nacional e internacional e com a requalificação das estruturas urbanas e ambientais, que têm que responder às necessidades da comunidade citadina. A partir do cruzamento das debilidades e potencialidades de Lisboa foi possível, com recurso a uma ampla participação, estabelecer quatro grandes Objectivos Estratégicos para desenvolver Lisboa: A. Fazer de Lisboa uma cidade atractiva para 18 Craveiro, M. T. (1993). “Aplicação do Plano Processo ao caso de Lisboa: Algumas considerações e contributos para a requalificação urbana” – Pensar o ordenamento do território – Ideias, Planos, Estratégias – Instituto Pluridisciplinar de História das Ideias – Universidade Nova de Lisboa Publicação Actas do Seminário viver e trabalhar B. Tornar Lisboa competitiva no sistema das cidades europeias C. Reafirmar Lisboa como Capital Metrópole D. Criar uma administração moderna, eficiente e participada Apontam-se algumas linhas de desenvolvimento e acções inseridas na presente temática (urbanismo comercial), que pretendiam contribuir para o reequilibro socio-urbanístico da cidade de Lisboa. Esta metodologia de abordagem da revitalização do planeamento do Município de Lisboa foi facilitada, então, pela nova regulamentação do Plano Director Municipal (PDM), Dec.-Lei n.º 69/90 de 2 de Março. Ou seja, remeteu-se o plano de ordenamento sócioeconómico da cidade para o Plano Estratégico, enquanto que o Plano Director Municipal viria a ter um carácter de Plano de Estrutura, aligeirando-se o nível dos estudos de diagnóstico necessários e a respectiva formatação através da Planta de Ordenamento. O Plano Director Municipal estabelece para os Planos Municipais de Ordenamento do Território através do seu regulamento Artigo n.º 118º - Planos -, no ponto 2 e que “Os Planos de Urbanização e os Planos de Pormenor devem fundamentar as suas propostas, designadamente, nos seguintes elementos de estudo”, salientando na respectiva alínea b) “Programa para as áreas comerciais integrando as orientações e critérios a fornecer pelo Serviço Municipal competente em matéria de abastecimento.” Partindo dum projecto de cidade, que se pretendia para Lisboa, entendido na sua globalidade enquanto sistema transformável, foram estabelecidas Áreas Estratégicas de Intervenção Urbanística – AEIU, cerca de oito, para as quais se desenvolveram acções prioritárias no âmbito de planos de ordenamento os quais encerram “projectos prioritários” de requalificação ambiental. Áreas Estratégicas de Intervenção Urbanística - AEIU 1. Zona Ribeirinha – Ligar a cidade ao rio; 2. Centro da cidade – Baixa/Chiado – Redescobrir o centro; 3. Eixo das avenidas – Defender a qualidade do eixo terciário consolidado; 4. Primeira Circular de Alcântara a Chelas – Estruturar actividades e equipamentos; 5. Coroa Periférica de Chelas a Benfica – Reduzir as assimetrias estruturais da Periferia; 6. Bairros Residenciais – Qualificar o espaço residencial; 7. Estrutura Verde da Cidade – Garantir um ambiente de qualidade; 8. Áreas de Articulação com os Concelhos Limítrofes - Resolução dos problemas de “fronteira”. Foi fundamental introduzir a atitude de planeamento estratégico na prática quotidiana da autarquia, em simultaneidade com a elaboração formal do PDM, o que fez definir Planos de Urbanização, de Pormenor e Projectos de Intervenção Prioritária. Dos diversos instrumentos urbanísticos executados sistematizam-se algumas medidas de “urbanismo comercial” contempladas nas Áreas Urbanas de Intervenção Urbanística: Zona Ribeirinha e Baixa e Planos Municipais de Ordenamento (Planos de Urbanização e Pormenor) realizados no decurso do período de 1990-1995, no Município de Lisboa, (19) a saber: Zona Ribeirinha – Recomendações à APL, no âmbito do parecer do POZOR (20) Presentemente, colocam-se desafios semelhantes a todas as cidades portuárias, quase sempre o da conciliação das frentes ribeirinhas urbanas com a função económicaportuária e o da escolha entre os diversos modelos de gestão para estas áreas. Mas, o caso de Lisboa apresentava ainda a excepcionalidade do atraso nos investimentos em infraestruturas portuárias.(21) 19 “A Estratégia e a Prática do Planeamento Urbanístico, 1990-1995” – Publicação DMPEL/CML 20 Plano de Ordenamento da Zona Ribeirinha de Lisboa (POZOR) (1995) – Relatório do Grupo de Trabalho para apreciação do Pozor (Despacho nº69/P/95 – Boletim Municipal de 16/05/95) 21 Craveiro; Maria Teresa – “Breve síntese da Política Urbanística Municipal O POZOR - Plano de Ordenamento da Zona Ribeirinha de Lisboa - implicou ainda um forte debate no interior do Município, que levou à elaboração de um documento contendo o estabelecimento de linhas programáticas e a integração das várias componentes de actuação na zona ribeirinha, aprovado em Sessão de Câmara de 26/7 de 1995: • Reforço da polivalência da frente urbana ribeirinha, entendida como espaço-memória da cidade, e da sua requalificação mediante o desenvolvimento da vertente lúdico-cultural, museológica e desportiva. • A dimensão e a natureza do comércio não poderá comprometer o desejável equilíbrio da organização comercial da cidade, não devendo por isso admitir-se a instalação de grandes superfícies características de zonas periféricas. • A distribuição espacial dos estabelecimentos deverá fazer-se de forma equilibrada, sendo de evitar concentrações excessivas de quaisquer actividades, de modo a garantir a animação do conjunto de toda a zona. • A requalificação da Zona Ribeirinha passará necessariamente pelo fomento da instalação de estabelecimentos Similares de Hotelaria: Restaurantes; Cafés; Esplanadas; Comércio Qualidade: Galerias de Arte, Antiguidades, Artesanato, Náutica de Recreio ....e, Actividades de Cultura e Lazer: Grande Livraria; Cinema (ao ar livre, tipo “drive in”),... • A eventual construção de habitação, deverá considerar espaços ao nível do R/C para instalação de apoios comerciais de proximidade. na zona ribeirinha, 1990-1995” – Revista Mediterrâneo Operação Integrada da Baixa Pombalina Antecedentes • “Projecto Integrado” da Rua das Portas de Santo Antão, operação conjunta entre diversos departamentos municipais para a revalorização do edificado, revitalização da restauração com instalação de mobiliário urbano uniformizado e da repavimentação do espaço público; • Reuniões entre a CML e os agentes da Baixa (Associação de Comerciantes e Hotelaria, respectivos Sindicatos e Associação de Proprietários) com o objectivo de os envolver na revitalização comercial da área. Foi proposto a flexibilidade horária do comércio (abertura ao sábado à tarde) e a implementação de acções de Natal comparticipadas pelo Município. Nos últimos anos é de frisar a escolha da Rua Augusta para a realização, em Maio da Festa da “Lisboa em Flor” para exposição e venda das flores das escolas revertendo a receita a favor de instituições de solidariedade social; • Elaboração e selecção com o IPPAR das vertentes patrimoniais a preservar no tecido pombalino tendente ao desenvolvimento de uma matriz regulamentar. • Operação concertada com os Ministérios, com o objectivo de dignificação e revitalização das arcadas, mediante a libertação dos automóveis; • • • • Concurso de Ideias do Terreiro do Paço, com o intuito de devolver a Praça aos peões, e dignificar o espaço monumental; (22) Proposta de realização do túnel rodoviário, para aproximar a Praça ao rio libertando-a do trânsito de atravessamento, tendente a dignificar o espaço monumental. Requalificação das Praças – Rossio e Praça da Figueira Aplicação do programa PROCOM: → Aproveitando a realização da Expo 98, pretendia-se uma oportunidade de efectuar “marketing patrimonial da Baixa Pombalina”, enquanto centro privilegiado de comércio tradicional, para o que, a Direcção Municipal de Abastecimentos e Consumo e a Direcção Municipal de Planeamento Estratégico, propuseram uma operação estratégica de índole comercial, no âmbito do programa PROCOM, seleccionandos três eixos paradigmática da estrutura pombalina (Rua Augusta, Rua dos Correeiros e Rua da Santa Justa) com o objectivo de revitalizar e requalificar o comércio tradicional da cidade. Esta operação do PROCOM foi de facto muito importante como operação piloto, mas terá que ser extravasada a todos os pelouros de uma forma transversal, até pela sua curta duração (Dez 99) de modo a contribuir para a revitalização e requalificação do ambiente urbano da Baixa. A melhoria das estadias do 22 ver Ambiente Urbano em Portugal: Projectos Referência – “Plano Integrado de Qualidade Ambiental/Agenda Local 21”, Julho de 2001 DGOTDU pela Terreiro do Paço, Rossio e Praça da Figueira deverá ser efectuada em simultâneo com a dinamização da função residencial e flexibilização dos horários do comércio, com o aumento de locais de convívio/cafés, espaços culturais, etc, a instalação de residenciais para estudantes e de hotelaria, a introdução de regulamentos urbanísticos, e a requalificação do espaço público, do mobiliário urbano e da sinalética. Refira-se a importância do novo Centro Comercial da Baixa, antigo Armazém do Chiado, com projecto âncora nesta prespectiva. P.U. da Av. da Liberdade e da Zona Envolvente (PUALZE) – 1990-1995 (23) – Desenvolvido em diversas fases: 1. Programa: • Controlo das transformações de uso, no sentido da preservação da imagem e do património edificado na Avenida • Revitalização funcional e ambiental do espaço público • Fomento da instalação de actividades terciárias de qualidade • Revitalização da ocupação residencial nos quarteirões envolventes da Avenida 2. Ante-Plano - Aprovação na generalidade pela CML em 16/07/1992, com orientações especiais, entre as quais: • Revitalização pela equipa de “estudos de urbanismo comercial, por forma a encontrar soluções que garantam o objectivo de (...) fomentar a criação de actividades comerciais e 23 Equipa coordenada pelo Arq.to Manuel Fernandes de Sá culturais de qualidade na área do Plano, no quadro do disposto do DL nº 419/83 de 29 de Novembro” (Depacho Municipal n.º 16424, 27/07/92). 3. Plano de Urbanização - aprovado pela CML em 23/02/94; após Inquérito Público, em 06/11/1995, com as seguintes medidas: • Regulamento, nomeadamente Art.º 35º (Área de utilização colectiva terciária): → É permitida a utilização mista ou exclusiva de cada edifício para as seguintes actividades: habitação, hotelaria , restauração, comércio, escritórios e equipamentos públicos e privados. → Não é permitida a alteração do uso das instalações hoteleiras, excepto quando 80% da superfície construída do edifício se encontre afecta a outros usos. → O rés-do-chão dos edifícios localizados nesta zona destina-se à instalação de actividades comerciais, de restauração e hotelaria, só sendo permitido o licenciamento de outras actividades e de áreas de serviço de apoio ao edifício neste piso, desde que a superfície e frente para o arruamento dessas instalações sejam inferiores a uma terça parte da área do rés-do-chão e da frente do edifício para o arruamento. → As caves destinam-se a estacionamento, áreas técnicas e arrecadações para uso exclusivo do edifício. → Exceptua-se do número anterior a instalação de equipamento de carácter lúdico e cultural e de actividades ligados à restauração e hotelaria, localizadas nos prédios que facejam com a Av. da Liberdade, os quais podem ocupar a 1ª cave desde que seja assegurado um acesso através de um espaço de distribuição franco, comum ao rés-do-chão e cave e com pé-direito duplo, e desde que sejam garantidas os lugares de estacionamento referidos nos artigos 40º e 41º deste Regulamento. • Reestruturação do perfil transversal da Avenida, no sentido da ampliação da superfície dos passeios laterais. • Criação de 3 áreas comerciais ligadas às estações da Avenida, Restauradores, Marquês de Pombal do Metropolitano: garantia da presença da vertente comercial na proposta de reconversão do Parque Mayer – estabelecimento de um protocolo, com os proprietários. • Introdução da Acção de Urbanização n.º 27, Urbanismo Comercial – condicionar fixação comercial. • Artigo 35º - condiciona as unidades comerciais a instalar na Área de Utilização Colectiva Mista à existência de uma frente para a rua na área de utilização colectiva habitacional. Nota: É de salientar, que no decurso de elaboração deste Plano de Urbanização, foram aprovadas Normas Provisórias, cujo período de vigência permitiu enquadrar a procura de instalações de comércio de grande qualidade (representação internacional – grifs), que provocou uma significativa revitalização e requalificação da Av. Da Liberdade. Plano do Vale de Alcântara (24) 24 Efectuado pela Equipa Hidrotécnica Portuguesa – Equipa coordenada Na perspectiva de equilibrar à escala municipal a oferta comercial com a criação de Centros de diferentes níveis hierárquicos propôs-se em termos de programação comercial na área de intervenção do P.U. do Vale de Alcântara quatro Unidades: 1. Alcântara-Terra – pela sua acessibilidade e ligação à área consolidada de Alcântara considerando-se que apresentava condições para potenciar a criação de uma nova centralidade ocidental, reforçando e modernizando a oferta existente – 6 500 m2, organizados em Centro Comercial com oferta local de comércio alimentar e com comércio especializado com uma área de influência abrangendo a zona ocidental da cidade. 2. Quarteirão da FNAC – constituição de um centro de apoio local adaptado às características sócioeconómicas, de residência e de emprego na zona – 2 540 m2, dos quais 400 m2 para comércio alimentar. 3. Pedreira do Alvito – constituição de um centro de apoio local adaptado às características sócioeconómicas de residência e de emprego na zona – 1 465 m2 dos quais 400 m2 para apoio local, e na área de habitação social a reserva de 500 m2 distribuídos por minimercado, talho, tabacaria/papelaria, café/pastelaria, snack-bar, cabeleireiro e diversos. 4. Casal Ventoso/Sete Moinhos/Alto do Carvalhão – constituição de um centro de apoio local através da requalificação e relocalização das unidades comerciais existentes no Casal Ventoso e Sete Moinhos, e prevendo novas unidades na área de realojamento do Programa de Erradicação de Barracas (PER) da Av. de Ceuta Norte – 500 m2 de novas áreas, distribuídos por minimercado, talho, peixaria, produtos congelados, pelo Arq.to Leopoldo de Almeida tabacaria/papelaria, café/pastelaria, cabeleireiro e diversos. Nas áreas habitacionais e terciárias a gestão urbanística podia ainda, licenciar a localização de comércio sujeitando a sua implantação às regras gerais estabelecidas no P.D.M. e no caso de mudança de usos à reabilitação de todo o edifício e à existência de acessos independentes, devendo, no caso de intervenções municipais – PER – ser definido o tipo de comércio a instalar, nomeadamente através de parecer da DMAC (Direcção Municipal de Abastecimento e Consumo). Aterro da Boavista (25) Esta zona permaneceu vocacionada para actividades comerciais e industriais relacionadas com o tráfego marítimo tendo sido um dos primeiros pólos industriais da cidade. Está-se, pois perante uma área decadente e expectante da cidade a carecer de ser requalificada. A área de intervenção do Plano de Pormenor do Aterro da Boavista é uma área industrial a reconverter, para usos mistos através duma nova malha e com um novo programa funcional. É de frisar que esta área de intervenção do Plano, no anterior Plano Geral de Urbanização da Cidade de Lisboa (PGUCL) estava classificada como uma zona de actividade terciária e que no âmbito do PDM, foi considerado “Unidade Operativa de Planeamento e Gestão – 10 – Boavista”, obedecendo a um dos objectivos inseridos no Plano Estratégico, no que se refere à política de habitação para os “anos 90”, ou seja, “Revalorização da função habitacional no conjunto da cidade e em particular na sua área central, equilibrando25 Equipa coordenada pelo Eng.º António Lamas a com os sectores comercial e de serviços”, a propor 40% de habitação numa zona onde actualmente a percentagem é da ordem do 5%. Acresce ainda salientar, na repartição de usos propostos, os seguintes valores: Habitação: 40%; Serviços: 40%; Comércio: 20% (valores contidos na repartição dos usos propostos no PDM). Assim, nesta área, foram previstas unidades comerciais de apoio local, localizadas ao nível dos pisos térreos, beneficiando da qualificação ambiental que a localização marginal a espaços verdes públicos lhes confere. Considerou-se que através, deste Plano de Pormenor, se poderiam obter ganhos significativos de espaço público numa zona dele carenciada, bem como de interligação entre a cidade e o rio, através do percurso pedonal entre a colina de Santa Catarina e a Zona Ribeirinha. A partir de 1995 dá-se uma inflexão, de orientação política, no sistema de planeamento estratégico da CML o que levou a uma não continuidade na aprovação e elaboração das Unidades Operativas de Planeamento e Gestão UOPs (26). Por este motivo, os instrumentos urbanísticos atrás mencionados, não foram objecto de aprovação final e publicação, não tendo por isso, qualquer vinculo legal. No entanto, é nossa convicção que é possível e desejável, mesmo para os investidores, integrar políticas de urbanismo comercial no planeamento das cidades, o que implica também 26 Plano Director Municipal –Unidades Operativas de Planeamento e Gestão (Art.º 125º do Regulamento); CML, 1994 encontrar as necessárias sinergias, através da “cooperação” e “partenariado” com diversas associações, onde as autoridades locais, enquanto nível de Governo mais próximo das pessoas, têm um papel fundamental.