na periferia da fraseologia - SIMELP
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na periferia da fraseologia - SIMELP
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Na periferia da fraseologia: estudo contrastivo dos enunciados fraseológicos do português e do espanhol e a sua exploração nas aulas de PLE. Ana Belén García BENITO1 RESUMO Por falar no Mendes, à porta o tendes; A conversa não chegou à cozinha; Fia-te na Virgem e não corras, etc., são exemplos das unidades fraseológicas que vão ser estudadas neste trabalho, com o objectivo de reivindicar para elas o lugar que merecem no âmbito da Fraseologia, disciplina em que são tratadas de maneira muito diversa, recebem denominações também muito variadas e onde, geralmente, não fazem parte do âmbito de estudo considerado como propriamente fraseólogico. Numa perspectiva contrastiva, serão analisadas as características formais, semânticas y pragmáticas destas unidades em português e em espanhol, bem como os seus problemas de classificação, estabelecimento de limites e dependência situacional. Uma atenção especial será dada às potencialidades que oferecem os enunciados fraseológicos nas aulas de PLE para hispano-falantes, quer do ponto de vista linguístico e comunicativo –já que permitem conhecer mais profundamente a língua, contribuem para o aumento da expressividade e facilitam a comunicação–, quer do ponto de vista cultural –o interesse antropológico e cultural dos enunciados fraseológicos é evidente–. Muitos são os autores que sublinham o facto de a fraseologia descrever o mundo real, as experiências quotidianas, o colorido e a sabedoria de um povo, tornando-se num importantíssimo veículo de identidade e de cultura. Desta maneira, como muito bem aponta Guilhermina Jorge nos seus estudos sobre Fraseologia portuguesa, conhecer a fraseologia implica conhecer o povo e a cultura que lhe deu vida, o que abre um enorme leque de possibilidades de exploração na aula de PLE, nomeadamente num contexto de estudantes hispano-falantes, em que a proximidade geográfica, linguística e cultural torna muito produtiva a perspectiva contrastiva. PALAVRAS-CHAVE: fraseologia; conteúdos culturais; português língua estrangeira. Introdução (Por falar no Mendes, à porta o tendes; A conversa não chegou à cozinha; Fiate na Virgem e não corras; De noite todos os gatos são pardos; Muita parra e pouca uva; Até ao lavar dos cestos é vindima; // Hablando de Roma, por la puerta asoma; Fiate de la Virgen y no corras; ¡Éramos pocos y parió la abuela!; No todo el monte es orégano; El mundo es un pañuelo; La curiosidad mató al gato; ¡Vísteme despacio que 1 Professora Titular, Universidad de Extremadura, Facultad de Filosofía y Letras, Departamento de Lenguas Modernas y Literaturas Comparadas, Área de Filologias Galega e Portuguesas, Campus Universitário, s/n, 10071, Cáceres, España, [email protected]. 1 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. tengo prisa!), são apenas um pequeno exemplo dos fraseologismos espanhóis e portugueses que vão ser analisados neste trabalho. Análise que não está livre de dificuldades, mas que tem como objectivo reivindicar para estas unidades fraseológicas o sítio que merecem, quer no seio da Fraseologia ─geralmente situam-se na periferia desta disciplina─, quer nos estudos fraseológicos ─onde têm um tratamento muito diverso, têm sido retiradas do âmbito de estudo mais prototipicamente fraseológico e têm recebido denominações como “no-locuciones”, “subclase de paremias no refranísticas”, entre outras muitas designações de carácter claramente negativo. Na verdade, trata-se de unidades de difícil classificação. Por um lado, partilham com os outros fraseologismos as características definitórias, tais como o carácter pluriverbal, a fixação, a idiomaticidade ou a institucionalização. Mas, por outro lado, do ponto de vista sintáctico estas unidades possuem a estrutura de uma oração completa ─daí que muitos autores não as considerem locuções─, têm uma evidente funcionalidade pragmática, “usam-se para”, e uma clara dependência situacional, “dizem-se quando”, quer dizer, estão determinadas por situações e circunstâncias muito concretas ─aspecto que, segundo alguns autores, impede situá-las com os provérbios─. Localização na Fraseologia. Limites e problemas terminológicos. Tal e como acontece com as outras unidades fraseológicas, estamos também, neste caso, perante uma grande variedade terminológica sempre que visamos enumerar estas estruturas: Casares (1992 [1950]) fala em timos, Haensch (1982) em fórmulas de la vida social ou frases habituales, Beinhauer (1985 [1978] prefere fórmulas estereotipadas, Corpas Pastor (1996) enunciados fraseológicos, fórmulas; García-Page 2 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. (2008) locuciones oracionales, etc. no que concerne a denominação escolhida, encontrase a sua localização nas diferentes categorias que fazem parte da Fraseologia. Neste trabalho, centrar-nos-emos fundamentalmente em duas das propostas mais conhecidas e aceites na denominação e localizacação destas unidades: a proposta de Corpas Pastor, e a de García-Page. Corpas Pastor (1996), na sua proposta de classificação das unidades fraseológicas, localiza as que hoje analisamos num espaço por ela denominado “Esfera III”. Esta autora trabalha com uma concepção da Fraseologia bastante alargada, em que distingue três grandes blocos de estruturas: Unidades fraseológicas ESFERA I ESFERA II colocações locuções ESFERA III enunciados fraseológicos Para esta autora, estruturas como (O segredo é a alma do negócio; Branco é, galinha o põe; Conversa puxa conversa) pertencem à “Esfera III”, enunciados fraseológicos, na medida em que se trata de enunciados completos que constituem actos de fala e apresentam fixação interna (material e de conteúdo) e externa. Por outro lado, dentro dos enunciados fraseológicos distingue entre parémias e fórmulas. As primeiras possuem significado referencial, isto é denominam uma situação ao pôr em relação o que se comenta com uma classe de situações. No entanto, nas segundas, o significado é de tipo social, expressivo ou discursivo. Por outro lado, 3 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. enquanto as parémias têm autonomia textual, as fórmulas estão determinadas por situações e circunstâncias concretas. Porém, a autora faz questão nas dificuldades de estabelecer limites entre umas e outras, sublinhando como alguns tipos de parémias ─concretamente as que denomina “enunciados de valor específico” (As paredes têm ouvidos), estão muito próximas das fórmulas. Da mesma maneira, algumas fórmulas como (A otro perro con ese hueso) são consideradas “parémias” do tipo que a autora denomina “refrán bimembre”. O critério de autonomia textual serve à autora para separar as parémias das fórmulas dentro dos enunciados fraseológicos. O carácter de enunciado textual é evidente nas parémias, quer pelas mudanças na entoação ao serem inseridas no discurso, quer pela presença de deícticos contextuais, frases ou palavras que distanciam o emissor do enunciado e introduzem a parémia no discurso: como dizia o meu avó, como diz um provérbio alentejano, etc. Além disso, a autora sublinha a estreita relação que existe entre as fórmulas e determinados actos de fala. De facto, a classificação que oferece (Corpas Pastor, 1996, p. 187 e seguintes) baseia-se nos diferentes tipos de força ilocutória destas unidades. Desta maneira, as fórmulas podem ser classificadas da seguinte maneira, segundo a autora, que utiliza critérios funcionais e semânticos no estabelecimento da taxonomia: a) Fórmulas discursivas: Dependem da situação discursiva, dentro da qual têm funções organizadoras: dirigem o discurso, mantêm a fluência das trocas comunicativas e podem mostrar a atitude do emissor perante o que se diz. 1. Fórmulas de abertura e fecho: ¿Qué hay?; ¿Cómo estás?; ¿Qué va a ser? 2. Fórmulas de transição: Com um papel fundamental na estruturação das trocas conversacionais: Es más, Para que te enteres; No sé qué te diga; 4 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Dicho sea de paso; Aquí paz y después gloria; A otra cosa, mariposa; Vaya por Dios. b) Fórmulas psicossociais: Tornam mais fácil o desenvolvimento da interacção social ou expressam o estado mental e os sentimentos do emissor. 1. Fórmulas expressivas: Constituem fundamentalmente actos de fala expressivos. Podem subdividir-se em: a)Fómulas de desculpa: Con perdón; Perdone que le moleste. b) Fórmulas de consentimento: ¡Y tanto!; ¡Y que lo digas!; ¡Ya lo creo!; ¡Desde luego que sí!; ¡Pues claro! c) Fórmulas de rejeição: Nanay de la China; Ni hablar del peluquín; ¡Mira quién fue hablar!; A otro perro con ese hueso; ¡Qué sé yo!. d) Fórmulas de agradecimento: Muy agradecido; Muchas gracias; Dios se lo pague. e) Fórmulas de réplica: No faltaba más; A mandar; Ha sido un placer. f) Fórmulas de votos de bom desejo: Feliz Año; Felicidades; Descanse en paz; Que te diviertas; Dios te oiga. g) Fórmulas de solidariedade: ¿Qué se le va a hacer?; ¡Qué mala suerte! h) Fórmulas de pêsames: Te acompaño en el sentimiento; Lo siento. i) Fórmulas de insolidariedade: ¡A mi plin!; Con su pan se lo coma; ¡Allá se las arregle! 2. Fómulas comissivas: Com as que o emissor adopta um compromisso para o futuro: Te doy mi palabra; Palabra de honor; Nos veremos las caras; Te vas a acordar; Me las vas a pagar. 3. Fórmulas directivas: Com o objectivo de que o receptor faça alguma coisa: a) Fórmulas de persuasão: Al grano; Usted dirá; Corta el rollo; Piérdete; b) Fórmulas de informação ─cuja força ilocutória é pedir─: 5 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Con permiso; ¿Qué mosca te ha picado?; ¿Se puede? c) Fórmulas de ânimo: No se ponga así; No es para tanto. 4. Fórmulas assertivas: Usadas para transmitir informação que o emissor considera verdadeira ou relativa às suas crenças e sentimentos: a) Fórmulas de asseveração: Ni que decir tiene; Que venga Dios y lo vea; No creas; No te digo más; Por mis muertos; Las cosas como son; Como lo oyes; Palabra de honor; b) Fórmulas emocionais: A sua força ilocutória equivale a “expressar um estado de ânimo”. Por exemplo, para expressar surpresa: Habrase visto; ¡No me digas!; para expressar zanga ou contrariedade: ¡Maldito sea!; Me cago en tu padre; ¡Lo que faltaba para el duro!; ¡Hay que fastidiarse! E é neste grupo que se integram todas aquelas que constituem invocações a Deus, tais como, ¡Bendito sea Dios!; ¡Virgen Santísima!; ¡Por amor de Dios! 5. Fórmulas rituais: como as fórmulas para cumprimentar: ¡Buenos días!; ¿Qué tal?; ¿Qué es de tu vida?; as fórmulas de despedida, Hasta luego; A seguir bien; Vaya con Dios. 6. Várias: Não existe um verbo performativo que traduza a sua força ilocutória. De facto, estão muito próximas das parémias: Más claro, agua; Al agua patos; Pelillos a la mar. García-Page (2004, 2008) na sua concepção singular da Fraseologia, considera as locuções como o verdadeiro objecto de estudo desta disciplina, enquanto as parémias devem ser estudadas pela Paremiologia. No conceito de locução deste autor, incluem-se, por um lado, as tradicionais locuções, com função sintáctica de elemento oracional, isto é, que funcionam como elementos sintácticos das orações em que se integram. Assim, 6 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. esticar o pernil, podemos dizer que funciona como morrer, estar com a pulga no ouvido como suspeitar, etc. Desta maneira, haverá locuções verbais ─aquelas que funcionam como um verbo─ (cheirar a esturro; sacudir o pó; não fazer farinha,), locuções adverbiais ─que funcionam como um advérbio─ (às escuras; por alto; sem espinhas; à toa) , adjectivais (de trás da orelha; amigo de Peniche), nominais (a morte em pé; sopa de urso; amigo do copo), preposicionais, conjuntivas, etc. Por outro lado, nesta proposta, também são consideradas como locuções um grupo heterogéneo de unidades que apresenta estrutura formal lexicalizada de oração: que pode estar formada por um sintagma nominal sujeito e um predicado verbal (não estar pelos ajustes; cair o Carmo e a Trindade), pode constituir uma oração impessoal (haver roupa na corda; chover no molhado)─, que integra um nutrido grupo de fórmulas pragmáticas sem verbo expresso (Qual cabaça!; Fia-te na Virgem!; Lagarto, lagarto!), e, finalmente, que acolhe uma série de unidades que deambularam de um lado para outro justamente por terem estrutura oracional (Por falar no Mendes, à porta o tendes; As paredes têm ouvidos; Para quem é, bacalhau basta; Tão certo como dois e dois serem quatro; De noite todos os gatos são pardos; Cada macaco ao seu galho). A proposta de García-Page repara também nas regiões escuras que existem entre as unidades que integram a Fraseologia. Muitas delas, devidas às transformações experimentadas por algumas unidades como consequência da sua própria história. O autor fala, por exemplo, no encurtamento de algumas parémias ou no esquecimento secular de partes de parémias bimembres ou plurimembres, como factores que tem contribuído para a formação de locuções. 7 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Características específicas. Além de partilhar com as locuções não oracionais características definitórias tais como a pluriverbalidade, a fixação, a idiomaticidade ou a institucionalização, uma grande parte dos enunciados fraseológicos apresenta o traço textual e pragmático de constituir unidades comunicativas. Daí que muitas delas sejam emitidas com uma entoação especial e que seja possível falar em características formais, semânticas e pragmáticas específicas. Do ponto de vista formal e como acontece com as restantes unidades fraseológicas, as fórmulas constituem sequências de palavras estáveis que representam formas fixas de analisar e conceber a interacção comunicativa. Porém, ao constituírem formas de comportamento aceites pela conjunto da comunidade falante, reflectem valores culturais e dependem das mudanças sociais que eventualmente possam acontecer. Podemos dizer, portanto, que estão duplamente estereotipadas. Um outro aspecto que as caracteriza é a dependência situacional. As situações concretas em que aparecem geralmente implicam trocas conversacionais. No entanto, também podem aparecer em textos escritos, não só porque eles reflectem estas trocas, mas também porque existem algumas fórmulas próprias da escrita. São enunciados préfabricados, prontos a serem usados em determinadas situações comunicativas. Qualquer coisa como um subsistema comunicativo para as situações de interacção, motivado pelo desejo de um funcionamento coerente, económico e fluente do discurso, a partir de uma norma aceite pela comunidade de falantes. Trata-se quase de uma “gramática social” ─termo utilizado por Corpas Pastor─, pois as fórmulas fazem com que a interacção social seja mais fácil: mantém a ordem da comunicação, controlam as situações 8 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. emocionais e as reacções em situações sociais e facilitam a escolha de meios comunicativos na produção linguística. No que diz respeito aos aspectos semânticos, a petrificação formal destas unidades apresenta também um lado semântico, pois nelas o significado denotativo passa para um segundo plano, de maneira a adquirirem um significado especializado segundo o seu uso num dado contexto. O significado denotativo primário é assim substituído pelo uso contextual a unidade. A partir daí desenvolvem significados segundo o seu uso no discurso: surpresa, advertência, convite, conselho, etc. Por outro lado, a maior parte delas pertence ao estilo neutro e ao coloquial ou familiar, embora também existam exemplos considerados vulgares ou grosseiros até: ¡Tu madre!. Muito frequentes são as conotações irónicas e humorísticas: Dios nos pille confesaos; Pies, ¿para qué os quiero?; depreciativas ou para expressar zanga: !A tomar por culo!. Fundamental também para interpretar os conhecimentos que contêm estas unidades é conhecer os aspectos sócio-culturais da comunidade a que pertencem, bem como as situações que motivam o seu uso. Corpas Pastor propõe utilizar “quadros de situação”. Os falantes considerando as fórmulas como fazendo parte de quadros concretos de estruturas conceptuais que contém informação sobre os objectos e situações estereotipadas associadas a essas unidades, sobre a sequenciação e as partes constituintes da situação e sobre os papeis semânticos dos diferentes participantes. Os quadros de situação para as fórmulas são esquemas cognitivos que contém a informação necessária para o seu uso correcto, e motivam o seu uso num preciso momento. Representam a percepção prototípica e convencional de tais situações por parte dos integrantes duma comunidade de falantes, ao mesmo tempo que reflectem de maneira fiel a sua cultura. 9 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Quanto aos aspectos pragmáticos, nas fórmulas, os quadros de situação proporcionam informação sobre os seus aspectos deícticos, nomeadamente informação sobre a cena, ou como diz Corpas Pastor (1996, p. 214), o contexto físico faz referência às restrições temporais e locativas destas unidades. Também as situações de que dependem fornecem informação sobre os participantes, com dados como: o género, a idade, o papel social, a familiaridade que existe entre os interlocutores, etc. Finalmente, no que diz respeito à deixis discursiva, esta corresponde às fórmulas com a sequenciação e a obrigatoriedade dentro das restrições contextuais. Na periferia da Fraseologia, no centro da frequência de uso. Estas unidades, como já foi indicado, têm sido situadas e tratadas muito perifericamente dentro da Fraseologia. No entanto, a sua frequência de uso é muito elevada nas trocas conversacionais. Na verdade, na língua quotidiana estão continuamente presentes, aspecto este que responde, segundo Yagüe Gutiérrez (2005, p. 14-17), a três factores: a expressividade, o conforto e a adequação, todos eles intimamente relacionados com as características essenciais da língua coloquial. A expressividade pode definir-se como aquilo que fica da subjectividade do falante na comunicação linguística, e na língua, como sabemos, existem inúmeros mecanismos para materializar esta expressividade. Porém, alguns deles, atingem uma frequência de tal uso, que conseguem incorporar-se ao sistema da língua. Isto é o que acontece com as fórmulas: a maior parte delas são expressões que alguém usou num dado momento e depois de muito repeti-las passaram para a língua de maneira fixa, portanto podem ser utilizadas pelos falantes sem terem que pensar para elaborar a sua própria mensagem. Assim, é muito habitual os utentes recorrerem a estes enunciados já 10 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. existentes, que lhes servem para expressar zanga, surpresa, incredulidade, etc., a cada momento. O falante destaca a sua atitude relativamente ao que ouviu, e o ouvinte não precisa de descodificar a mensagem, já que, ao conhecer a fórmula, compreende imediatamente o seu significado. Quanto à característica do conforto, existe nos falantes uma clara tendência para realizar o menor esforço possível para atingir o acto de comunicação. No caso das fórmulas, o falante, em vez de ter que elaborar a sua própria mensagem, dispõe de umas unidades pré-fabricadas que pode utilizar para expressar o que deseja, de maneira a utilizar menos tempo na elaboração das suas mensagens, aspecto fundamental no colóquio. O objectivo principal é que o falante se expresse e o seu interlocutor o compreenda o mais rapidamente possível e da maneira mais efectiva. E uma das formas para conseguir isto é utilizar fórmulas, essas partes do discurso já feitas que pode usar em muitas situações, que exprimem de maneira rápida o que quer transmitir e que, pela sua tradição e frequência de uso, são imediatamente reconhecidas pelo interlocutor. Relativamente à adequação, entendida como a tendência do falante para adaptar espontâneamente a sua linguagem às variáveis de uma situação comunicativa concreta, é impossível interpretar a maior parte dos actos comunicativos sem conhecer o contexto comunicativo. É necessário conhecer outras variáveis, tais como a intenção do falante, a força ilocutiva, etc. Deste modo, para poder interpretar muitas fórmulas, temos que conhecer os pressupostos conversacionais, crenças dos falantes, intenções, regras de interacção dialogal, etc. 11 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Potencialidades de exploração nas aulas de PLE para hispano-falantes. Algumas das características das fórmulas que foram referidas, tais como a sua expressividade, o facto de permitirem uma interacção rápida e eficaz nas trocas conversacionais ou a sua dimensão sociocultural, explicam, como já foi dito, a elevadíssima frequência de uso que têm e tornam estas unidades extremamente atraentes para aqueles que aprendem uma língua estrangeira. Assim, as potencialidades que oferecem nas aulas de PLE para hispano-falantes são muitas, quer do ponto de vista linguístico e comunicativo, quer do ponto de vista antropológico e cultural. No entanto, as fórmulas ─como acontece com a maior parte das unidades fraseológicas─costumam também ser esquecidas e ter pouca presença nos manuais, actividades e outros materiais destinados à aprendizagem duma língua estrangeira, como, neste caso o português. E, nos casos em que são incluídas nestes materiais, costumam aparecer sem as instruções pragmáticas necessárias e sem as informações socioculturais imprescindíveis para a sua interiorização. Neste sentido, do ponto de vista comunicativo, as fórmulas, como sequências de actos de fala que apresentam uma enorme multifuncionalidade, deviam ser mostradas nos dicionários e noutros materiais de aprendizagem, em corpora textuais de diálogos, como reacções típicas a um determinado acto de fala do interlocutor. Trata-se do que alguém faz quando utiliza uma determinada fórmula e em que condições. É imprescindível incorporar a componente pragmática. A falta de adequação entre a forma e a função da mensagem cria uma barreira comunicativa que pode produzir erros mais graves inclusive do que os gramaticais, e também mais difíceis de corrigir. Estamos perante o ponto mais importante da didáctica das fórmulas: o reconhecimento e a aprendizagem dos quadros de interacção em que podem ser utilizadas. Segundo Briz 12 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. (1996, p. 10), quando aprendemos uma língua, a capacidade interactiva, o facto de trocar informação e interpretá-la, é tão importante como a capacidade gramatical para formar orações do sistema. É, pois, fundamental para um estudante de qualquer língua estrangeira, ser capaz de compreender um enunciado como acção realizada numa situação, como unidade comunicativa e unidade de interacção verbal dirigida a alguém que também age. Assim, a nossa proposta para a aprendizagem das fórmulas, é partir das diferentes situações de comunicação em que podem aparecer, e criar “quadros de situação” para que o estudante conheça o seu significado, para que servem e quando podem ser usadas. A seguir, mostramos os “quadros de situação” de algumas fórmulas do espanhol e do português: Estamos conversados! 1. PARTICIPANTES Género: pode ser usada independentemente do tipo de interlocutores Idade: os interlocutores são pessoas adultas Papel social: o emissor tem alguma autoridade(moral, profissional) sobre a outra pessoa Familiaridade: a fórmula indica uma certa familiaridade entre os falantes ___________________________________________________________________ 2. CENÁRIO Tempo: não há restrições temporais Lugar: não há restrições de lugar. Porém, é importante que os interlocutores estejam próximos. A fórmula pode ser usada em conversas telefónicas ___________________________________________________________________ 3. MOTIVAÇÃO Razão: o falante A usa-a para dizer a B que considera que não há mais nada a dizer sobre um assunto e, portanto, não deseja continuar a falar sobre ele 13 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. ___________________________________________________________________ 4. RESTRIÇÕES CONTEXTUAIS Sequenciação: o falante A usa a fórmula imediatamente após uma intervenção de B sobre um assunto que o chateia por considerá-lo reiterativo. É habitual B responder com fórmulas como: Pronto. Está bem!; Como quiseres Estilo: Coloquial DIÁLOGO A-Acho que o melhor será levarmos apenas um carro. É mais económico. B-Pois é. E podemos estabelecer turnos para conduzir. A-Boa ideia! Bom, então eu levo o carro. Está bem? B-De jeito nenhum! Sou eu que o levo. A-O meu carro é maior e tem mais potência. É melhor levarmos o meu. Pronto. Estamos conversados! B-Bom. Como quiseres . No se hable más!; No hay más que hablar! 1. PARTICIPANTES Género: pode ser usada independentemente do tipo de interlocutores Idade: os interlocutores são pessoas adultas Papel social: o emissor tem alguma autoridade(moral, profissional) sobre a outra pessoa Familiaridade: a fórmula indica uma certa familiaridade entre os falantes ___________________________________________________________________ 2. CENÁRIO Tempo: não há restrições temporais Lugar: não há restrições de lugar. Porém, é importante que os interlocutores estejam próximos. A fórmula pode ser usada em conversas telefónicas ___________________________________________________________________ 3. MOTIVAÇÃO Razão: o falante A usa-a para dizer a B que considera que não há mais nada a dizer sobre um assunto e, portanto, não deseja 14 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. continuar a falar sobre ele ___________________________________________________________________ 4. RESTRIÇÕES CONTEXTUAIS Sequenciação: o falante A usa a fórmula imediatamente a uma intervenção de B sobre um assunto que o chateia por considerá-lo reiterativo. É habitual B responder com fórmulas como: Vale. Lo que tú digas!;Pa ti la perra gorda. Estilo: Coloquial DIÁLOGO A-Creo que lo mejor es que llevemos sólo un coche. Es más barato. B-Sí. Además, siempre podemos turnarnos para conducir. A-¡Buena idea! Entonces, yo llevo el coche. ¿De acuerdo? B-¡De ninguna manera! Lo llevo yo. A-Mi coche es más grande y más potente. Es mejor llevar el mío. ¡Venga! ¡No se hable más! B-Bueno. Pa ti la perra gorda. Por outro lado, o interesse antropológico e sócio-cultural das fórmulas é evidente. Muitos são os autores que sublinham o facto de a Fraseologia descrever o mundo real, as experiências quotidianas, o colorido e a sabedoria de um povo, tornandose num importantíssimo veículo de identidade e de cultura. Desta maneira, como muito bem aponta Guilhermina Jorge nos seus estudos sobre fraseologia portuguesa (2001), “conhecer a fraseologia implica conhecer o povo, a cultura que lhe deu vida”, o que abre um enorme leque de possibilidades de exploração na aula de PLE, nomeadamente num contexto de estudantes hispano-falantes, em que a proximidade geográfica, linguística e cultural torna muito produtiva a perspectiva contrastiva. Neste sentido, queremos mostrar também alguns exemplos de trabalho com fórmulas nas aulas de PLE para hispano-falantes, aprofundando as realidades culturais diferentes ou semelhantes que estão por trás delas. 15 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. 1) Algumas fórmulas podem ser utilizadas na aula simplesmente para estabelecer o contraste entre as duas línguas que, às vezes, escolhem fórmulas com referentes diferentes para expressar a mesma coisa em situações idênticas: (Por falar no Mendes, à porta o tendes // Hablando del rey de Roma, por la puerta asoma; Quando as galinhas tiverem dentes // Quando las ranas críen pelo. Assoa-te a esse guardanapo! // ¡Toma castaña!; Viviendo y aprendiendo; Branco é, galinha o põe // Más claro, agua; Cada um sabe as linhas com que se cose // Alla cada uno; Cada macaco ao seu galho // Cada mochuelo a su olivo; Nem tanto ao mar nem tanto à terra // Ni tanto ni tan calvo; Pão pão, queijo queijo // Al pan, pan y al vino, vino; Ou vai, ou racha! // Ahora o nunca; Até ao lavar dos cestos é vindima // Hasta el rabo, todo es toro; O que for, soará // Lo que sea, sonará; Deus os fez, Deus os juntou // Dios los cría y ellos se juntan). 2) Outras podem servir para introduzir informações geográficas: _ (Quem não foi a Lisboa, não viu coisa boa): para aconselhar a visita a esta cidade. _ (Alma até Almeida): para encorajar alguém ou elogiar a quem nunca desiste. Almeida, pela sua localização perto da fronteira foi sempre uma povoação ameaçada e daí a sua fortificação. Em várias épocas, a cidade foi cenário de cercos e batalhas, nomeadamente durante as invasões francesas, em especial na última, à qual responderam os sitiados com inusitado valor, sustentando a praça galhardamente. _ (Uma vez a Cascais para nunca mais!): para aconselhar alguém a não repetir uma acção que da primeira vez não resultou. A equivalente em espanhol é: (¡Una y no más!). 16 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. 3) Outras trazem para o interior da aula diferentes aspectos da história de ambos os países: (Tudo como dantes, quartel general em Abrantes). Fórmula que se diz quando as coisas permanecem sem alterações. Respondia com esta frase o povo quando perguntado sobre como iam as coisas no tempo da 1ª invasão francesa. De facto, o general Junot tinha instalado calmamente o seu quartel-general em Abrantes e em Lisboa nada se fazia com intenção de se opor ao avanço dos franceses. D. João VI, então regente não tomava qualquer medida no sentido de evitar a progressão para Lisboa. Daí que, quando alguém perguntava o que se passava, a resposta fosse esta. 4) Outras há que introduzem aspectos relacionados com a imagem nacional. Assim, haverá alguma coisa que identifique verdadeiramente Portugal? Ou, por outras palavras, o que tem Portugal para vender ao mundo, para além do vinho do Porto e do fado? O bacalhau, por exemplo, que pode ser apresentado através da fórmula: (Para quem é, bacalhau basta), usada para dizer que para uma pessoa insignificante, qualquer coisa serve. A partir daí, o professor pode falar na “Importância do bacalhau na cultura portuguesa”: produto descoberto pelos vikings, que o secavam ao sol, e mais tarde pelos espanhóis, que o comiam salgado, foram os portugueses que ofereceram o bacalhau e as suas deliciosas maneiras de cozinhá-lo à gastronomia internacional. É pois um trunfo gastronómico português. Deve-se aos portugueses o reconhecimento de terem sido os primeiros a introduzir na alimentação este peixe. É curioso que este património nacional não se pesque em Portugal, sendo no entanto internacionalmente reconhecido que o legítimo processo de transformação é o português. 17 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Tópico que pode ser aproveitado para apresentar outras unidades fraseológicas como: (Apertar o bacalhau; Ficar em águas de bacalhau). 5) Outras fórmulas podem servir também para apresentar produtos da cultura do outro através da publicidade que se faz em cada país: BOGANI, em Portugal, que na sua publicidade (Conversa puxa Bogani) e através da manipulação da fórmula (Conversa puxa conversa), evoca o conforto que proporciona uma chávena de bom café e boa conversa. O professor pode aproveitar para falar no café na cultura portuguesa, introduzir as diferentes maneiras de tomar café, os diferentes tipos (bica, pingado, galão...), etc. Ou DONETTES em Espanha ─embora não seja este um produto especificamente espanhol─, que até tem um site na net nometoqueslosdonetes.com, para o qual as pessoas podem enviar frases originais a integrarem a palavra Donettes. A frase que resultar seleccionada, ganhará 1000 euros e passará a aparecer nas embalagens dos Donettes. 18 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Conclusões. As fórmulas caracterizam-se, como foi dito, por uma especial dificuldade para se integrarem nos esquemas fraseológicos tradicionais. Dificuldade que resulta do facto de estarmos perante combinações de palavras em que a função comunicativa é mais importante do que a função designativa. Contrariamente ao que acontece com outras unidades poli-lexicais, a sua estabilidade não provém de propriedades sintácticas ou semânticas, mas sim das suas propriedades pragmáticas, isto é, da maneira como são utilizadas na comunicação. O facto de estarem fixadas pragmaticamente pelos usos convencionalizados explica também a diversidade terminológica na denominação destas unidades, presente em grande parte dos estudos a elas dedicados. No entanto, a sua expressividade, o conforto e a elevada frequência de uso que apresentam, fazem com que estas unidades sejam muito atraentes para aqueles que aprendem uma língua estrangeira. Circunstância que pode ser aproveitada nas aulas de PLE para hispano-falantes, quer do ponto de vista linguístico-comunicativo, através de “quadros de situação” como os que mostramos, quer do ponto de vista antropológico e cultural, para introduzir na aula aspectos diversos da cultura do outro, de maneira original, atraente e divertida. 19 Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Referências bibliográficas Beinhauer (1982 [1978]): W. Beinhauer, Stilistisch-phraseologisches Wörterbuch spanish-deustsch, Múnich, Max Hueber. Briz (1996): A. Briz, El español coloquial. Situación y uso, Madrid, Arco Libros. Casares Sánchez (1969): J. 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Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 49 – A cultura como meio estratégico de difusão e divulgação da Língua Portuguesa nos países hispano-falantes. Santos (1990): António Nogueira Santos, Novos dicionários de expressões idiomáticas, Lisboa, Sá da Costa. Seco / Andrés / Ramos (2004): Andrés Seco / Olimpia Andrés / Gabino Ramos, Diccionario Fraseológico documentado del español actual. Locuciones y modismos españoles, Madrid, Aguilar. Simões (1993): Guilherme Augusto Simões, Dicionário de expressões populares portuguesas, Lisboa, Publicações Dom Quixote. Varela / Kubart (1994): F. Varela / H. Kubart, Diccionario Fraseológico del Español Moderno, Madrid, Gredos. Wotjak (2005): B. 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