GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.
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GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.
Uma leitura do Southern Gothic em ―Uma rosa para Emily‖, de William Faulkner Fernanda Aquino SYLVESTRE1 RESUMO: William Faulkner pertence a uma tradição literária conhecida como Southern Gothic, que surgiu no início do século XX, trazendo características do estilo Gótico Europeu, como o mórbido e o grotesco. Embora os escritores americanos dessa vertente como Faulkner, Harper Lee, Flannery O‘Connor e Tennessee Williams tenham emprestado do gótico tradicional suas características essenciais, eles não se preocuparam em usar em suas narrativas elementos sobrenaturais apenas para criar uma atmosfera de suspense ou excitação. As características góticas retomadas por esses autores servem para revelar aspectos psicológicos e sociais do homem, bem como os valores do sul dos Estados Unidos. A partir das considerações traçadas, pretende-se apresentar, neste artigo, um estudo do estilo Southern Gothic no conto ―Uma rosa para Emily‖, de William Faulkner, mostrando, mais especificamente, como os elementos góticos compõem o embate entre a tradição e uma sociedade opressiva que surge no sul dos Estados Unidos e busca mudanças, perturbando o modo de vida daqueles que pretendem continuar arraigados no passado. PALAVRAS-CHAVE: LITERATURA NORTE-AMERICANA. SOUTHERN GOTHIC. WILLIAM FAULKNER. A literatura gótica surgiu, no século XVIII, como uma resposta ao racionalismo em voga na referida época. Nesse período, como atesta Maggie Kilgour, em The rise of the gothic novel (1995, p. 3), a burguesia se consolidava como classe revolucionária, as ideias iluministas influenciavam fortemente filósofos e cientistas, os Estados Nacionais se consolidavam e o racionalismo ditava a ordem mundial. Nessa esteira, organizava-se a sociedade moderna, pondo fim ao regime feudal. Muitos críticos literários consideraram o gótico como extinto no fim do século XIX, todavia nota-se sua presença até mesmo na contemporaneidade. O fato desse gênero operar nas fendas da razão, lidar com o incompreensível, com o indizível, sob os olhos do insólito, fez com que ele atraísse um grande público leitor e se disseminasse por vários países, perdurando até o presente. O gótico está estritamente relacionado com as alterações que ocorreram na cultura, na política e na sociedade do século XVIII e, de acordo com Vasconcelos (2002, p.126), ―seria a resposta aos medos e incertezas experimentados nesse 1 UFCG - Unidade Acadêmica de Letras - Campina Grande-PB- Brasil. CEP 58429900 - e-mail: [email protected] GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 102 período, assim como uma tentativa de superar os limites da ordem racional e moral e de tratar de tudo aquilo que o Iluminismo havia deixado sem explicação ou varrido para debaixo do tapete‖. Consoante Clery (2002, p.21), Horace Walpole (1717-1797) foi o inaugurador do romance gñtico, ao publicar ―O castelo de Otranto‖. De acordo com o mesmo autor, para Walpole e seus contemporâneos, o gótico era tido como um longo período de barbarismo e superstição, iniciado no século V, quando os Visigodos provocaram a queda do Império Romano, passando pela Renascença e perdurando até o ressurgimento do aprendizado clássico. No contexto Britânico, ele perdura até a Reforma, no século XVI, ao romper com o passado católico. Na época de Walpole, o termo gótico também assumia acepções como obsoleto, fora de moda. A obra de Walpole apresenta caráter híbrido, misturando o romanesco com o romance, o antigo e o moderno. Sandra Guardini Vasconcelos (2002, p. 122) ressalta que o gótico se tornou o veículo adequado para a época de Walpole, ao funcionar como ―uma reação aos mitos iluministas, às narrativas de progresso e de mudança revolucionária por meio da razão‖. Dessa forma, segundo Vasconcelos (2002, p.122), o gñtico aparece como um meio de perturbar o realismo e expor os ―medos e temores que rondavam a nascente sociedade burguesa‖. O romance gótico Questiona a constituição do real e interroga as contradições sociais, abrindo espaço para a mescla de medo e interesse que parece ter caracterizado as relações da burguesia com a aristocracia [...] coloca a nu todas as suas ambivalências. A intenção de consolidar valores burgueses, como a domesticidade, o sentimentalismo, a virtude, a família, convive com o fascínio pela arquitetura, pelos costumes e valores medievais, expressão de um mundo feudal cuja ordem era objeto de admiração, mas cuja tirania, barbarismo e formas de poder encontravam desaprovação e provocavam ansiedades projetadas na criação de vilões aristocráticos malévolos e cruéis. (VASCONCELOS, 2002, p. 123) Walpole se vale do exposto acima para criar seu romance, de pouco valor literário, mas de grande influência para a literatura gótica, já que estabelece elementos essenciais na constituição desse gênero literário. Conforme lembra Lovecraft (2008, p. 27), Walpole cria Um tipo inovador de cenários, personagens típicos e incidentes que, manipulados para melhor vantagem dos escritores mais naturalmente adaptados à criação fantástica, estimularam o crescimento de uma escola [...] GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 103 que, por sua vez, inspirou verdadeiros criadores de um terror cósmico – a linhagem de verdadeiros artistas que começa com Poe. Essa nova parafernália dramática consistia, antes de tudo, do castelo gótico com sua antiguidade espantosa, vastas distâncias e ramificações, alas desertas e arruinadas, corredores úmidos, catacumbas ocultas insalubres e uma galáxia de fantasmas e lendas apavorantes como núcleo de suspense e pavor demoníaco. Incluía também, além disso, o nobre tirânico e perverso como vilão; a heroína santa, muito perseguida e geralmente insípida que sofre os maiores terrores e serve de ponto de vista e foco das simpatias do leitor; o herói valoroso e sem mácula, sempre bem-nascido, mas frequentemente em trajes humildes. Percebe-se, então, que o escritor inglês vale-se de cenários macabros e personagens cruéis que se opõem a doces e puras donzelas. O enredo de ―O castelo de Otranto‖ é centrado na histñria de Manfred, um príncipe usurpador de terras que, após a misteriosa morte do filho Conrad, na manhã de suas núpcias, tenta eliminar a esposa Hippolita para se casar com a viúva do filho, Isabella. O castelo é assolado por uma série de fenômenos insólitos, que geram ambiguidade na narrativa, quando o escritor contrapõe no romance as leis terrenas ao sobrenatural. Muitos escritores seguiram o estilo gótico de Walpole. Com o tempo, porém o gótico foi se transformando, substituindo seus cenários e personagens originais e atingindo diferentes matizes, como o enredo centrado na distorção psicológica, como se verá em ―Uma rosa para Emily‖. Botting (2010, p.1), em sua obra Gothic, traça um panorama evolutivo do gótico, desde suas origens até a contemporaneidade. Para o autor, o gênero se configura como uma escrita de excessos, que surgiu para desestabilizar o idealismo romântico e o realismo vitoriano. Consoante o estudioso, o gótico evoca o passado e o faz ecoar no presente, provocando o terror e o riso. Botting (2010, p.2) ressalta que, no século XX, o gótico continua a assombrar o progresso da modernidade, evidenciando o lado escondido do Iluminismo e dos valores humanos. O autor, ao tratar o gótico como a escrita dos excessos, assim o define porque acredita que o gênero abusa da imaginação e dos efeitos emocionais, excedendo a razão. No século XVIII, conforme Botting (2010), os cenários góticos eram castelos, passagens secretas, florestas, locais selvagens, igrejas, mosteiros e cemitérios. Esses lugares evocavam, muitas vezes, memórias de um passado feudal cheio de superstições. A partir do século XIX, esses cenários vão sendo substituídos por casas antigas onde o medo impera, cidades selvagens, ruas escuras, violentas, labirínticas. Do século XX em diante, os locais escolhidos como espaço da narrativa gótica são cidades repletas de corrupção, violência e horror real e casas de famílias ameaçadas por um passado de culpa. Também passam a fazer parte desse cenário os mundos GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 104 intergalácticos, os mundos futuros, os mundos que abrigam a subcultura do crime, bem como os hospitais psiquiátricos. Quanto aos personagens, eles também vão ganhando novos contornos ao longo do tempo. No século XVIII, aparecem na forma de espectros, monstros, demônios, esqueletos, corpos mortos, aristocratas maldosos, monges, bandidos e heroínas desfalecidas. O rol de personagens, no século XIX, é ampliado, passando a incluir cientistas, pais, maridos, loucos, criminosos e duplos. A partir do século XX, ganham espaço cientistas loucos, psicopatas, extraterrestres e monstros mutantes. O gótico enquanto proposta também sofre alteração através dos séculos. Quando surgiu, no século XVIII, visava abolir o diabólico e restaurar os limites impostos pela sociedade, por isso os vilões eram punidos e os heróis se casavam. No século XIX o gótico assume um viés diferente, questionando a política, a sociedade e a filosofia. No século XX o horror impera e o sublime cede espaço ao sinistro, causando incertezas, permitindo a irrupção da fantasia e suprimindo desejos e conflitos sexuais e emocionais, como atesta Botting (2010). Há uma clara desestabilização entre o real e o psicológico. O excesso passa agora a emanar do interior, mostrando, paradoxalmente, indivíduos como produtos do desejo e da razão. Torna-se evidente, após esse breve relato sobre os desdobramentos do gótico, que ele se apresenta como um gênero passível de se adaptar às novas realidades que surgem, por isso é um gênero que sobrevive e se torna bastante presente na contemporaneidade. Este artigo tem como objetivo tratar do gótico no século XX e, para tanto, propõe uma leitura do conto ―Uma rosa para Emily‖, de William Faulkner, centrada no Southern Gothic, estilo que irrompe no início do século XX, trazendo características do estilo Gótico Europeu, como o mórbido e o grotesco. Embora os escritores americanos dessa vertente, como Faulkner, Harper Lee, Flannery O‘Connor e Tennessee Williams tenham emprestado do gótico tradicional suas características essenciais, eles não se preocuparam em usar em suas narrativas elementos sobrenaturais apenas para criar uma atmosfera de suspense ou excitação. As características góticas retomadas por esses autores servem para revelar aspectos psicológicos e sociais do homem, bem como os valores do sul dos Estados Unidos. Mais especificamente, pretende-se mostrar como os elementos góticos compõem o embate entre a tradição e uma sociedade opressiva que surge no sul dos Estados Unidos e busca por mudanças, perturbando o modo de vida daqueles que pretendem continuar arraigados no passado, como é o caso de Miss Emily, protagonista do conto. Faulkner explora em suas obras o legado histórico do sul dos Estados Unidos, o futuro incerto e violento de uma sociedade agrária após a Guerra da Secessão, ocorrida entre 1861 e 1865. Desde a colonização, Norte e Sul eram bastante diferentes no que diz respeito às questões políticas, econômicas e sociais e, após a Guerra Civil, essas diferenças acentuaram-se cada vez mais. Pode-se dizer que tanto o Sul quanto o Norte defendiam o liberalismo, porém de forma peculiar a cada região. Enquanto o Norte defendia o solo livre, o trabalho livre e a industrialização; o Sul defendia a propriedade privada, incluindo nela os escravos e o livre comércio. O GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 105 Sul pretendia, portanto, manter seu caráter latifundiário, aristocrata,voltado para a agroexportação; enquanto o Norte ansiava pela industrialização, com vistas ao mercado interno. Para compor suas narrativas, Faulkner cria um lugar imaginário, o condado de Yoknapatawpha, cuja capital é Jefferson, cidade em que o conto ―Uma rosa para Emily‖ é ambientado. O condado baseia-se na cidade de Oxford, Estados Unidos, e seus arredores. Nesse condado prevalecem as ideias sulistas, todavia, elas são frequentemente assombradas pelos ideais do Norte, ferindo as origens da população, como ocorre com Miss Emily. ―Uma rosa para Emily‖ é um conto sublime, permeado pelo grotesco, com final arrebatador e surpreendente. O conto, dividido em cinco partes, retoma a morte de Emily Grierson, por meio da voz de um narrador desconhecido, onisciente. O início da narrativa mostra o enterro de Miss Emily e o interesse das pessoas em comparecer a ele, já que por mais de dez anos nenhum habitante teve permissão para entrar na residência da falecida. Apenas Tobe, seu fiel empregado, frequentava a decadente mansão. Emily era considerada uma excêntrica pela população de Jefferson. Reclusa e solitária não aceitou a morte do pai, que a repreendeu por toda a vida, impedindo-a de casar. Guardou o corpo sem vida de seu progenitor por vários dias em sua casa, não permitindo a realização do funeral. Não pagava seus impostos, porque acreditava não dever nada a Jefferson, já que seus ancestrais haviam feito um acordo com coronel Sartoris, morto há dez anos, isentando a família dos impostos. Incapaz de se adaptar às mudanças do Norte, que avançavam sobre o Sul, e à modernização que chega a Jefferson, Emily envenena Homer, um trabalhador do Norte com quem mantinha um relacionamento afetivo, e mantém o corpo do amante guardado em casa até sua morte, quando a mansão é aberta e o esqueleto é descoberto em um dos quartos, estendido na cama em que Emily provavelmente dormia ao seu lado. O fato é levantado, porque no travesseiro ao lado de Homer, um fio de cabelo grisalho de Miss Emily é encontrado. A narrativa de Faulkner faz uma clara crítica à opressão que a sociedade imprime em pessoas como Emily Grierson , que escolhem permanecer eternamente no passado, presas aos velhos costumes e tradições. Miss Emily evidentemente apresenta um comportamento patológico durante toda a narrativa, seja por sua reclusão ou por suas excentricidades, culminando no trágico desfecho, a necrofilia, que já apresentava sinais na sua vida, desde a morte do pai, quando tentou evitar seu sepultamento, conforme se nota em trecho a seguir: No dia seguinte ao da morte do velho, as senhoras da cidade se prepararam para ir a sua casa, apresentar-lhes os pêsames, conforme o costume. Miss Emily recebeu-as no limiar da porta, vestida como nos outros dias, e sem a menor marca de tristeza ou sofrimento na expressão. Disse-lhes que o pai não tinha morrido. Repetiu essas palavras durante três dias, quando os pastores e os GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 106 médicos iam vê-la, tentando persuadi-la a deixar dispor do cadáver. (FAULKNER, 2004, p.414) Muito provavelmente a necrofilia em Emily esteja ligada à necessidade de pelo menos uma vez ela ter poder sobre as pessoas, principalmente sobre os homens, já que seu pai a havia reprimido e desencorajado todos os pretendentes de Emily, condenando-a a uma vida solitária. Com a morte do pai, Miss Grierson sentiu a solidão próxima. Que sentido teria sua vida sem as proibições do pai? Com quem manteria contato? Com quem dividiria seu mundo ligado ao passado, a uma tradição já decadente? Emily se transformaria, como ocorreu, em uma alma relegada à reclusão. Manter o corpo do pai com ela significaria poder fazer dele o que quisesse, dominá-lo. Dessa maneira, poderia se vingar do pai repressivo. Porém, a sociedade cumpre seu papel e exige que o pai de Emily seja enterrado. Os habitantes de Jefferson não acreditavam na loucura de Emily diante da tentativa de esconder a morte do pai e, de acordo com o narrador, concluíram: ―Pensamos que tinha agido como devia. Lembrávamo-nos de todos os moços que seu pai afastara, e sabíamos que, achando-se sem nada, ela deveria forçosamente agarrar-se àquele que a despojara de tudo, como em geral acontece‖. (FAULKNER, 2004, p.414) Em ―Totem e tabu‖, Freud (1978) centraliza seus estudos psicanalíticos no relacionamento pai/filho e, de acordo com o psicanalista há um despotismo patriarcal instaurado, o pai tem direitos históricos sobre os filhos. Esse despotismo, representado pela figura paterna, passa a gerar ódio, culminando na rebelião dos filhos e no assassinato e devoração coletiva do pai. Estabelece-se um clã dos irmãos, que passam a deificar o pai assassinado e, assim, surge o tabu, para gerar a moralidade social. De acordo com Freud, a rebelião dos irmãos seria uma revolta contra o tabu, decretado pelo pai, em relação à proibição do contato com as mulheres da horda. O sentimento de culpa dos irmãos pelo assassinato do pai provoca a separação da situação inicial de dominação do pai, para o início de uma nova civilização: a dos irmãos. O sentimento de culpa introjeta nos indivíduos as proibições e restrições necessárias para a sustentação da civilização. Para Freud (1978), a história do homem é a história de sua repressão. O pai funciona como arquétipo da dominação. Nesse sentido, Emily estaria se rebelando contra o pai, contra seu poder repressor excessivo. Assim como a posse do corpo do pai, o assassinato de Homer pode também ser atribuído à necessidade de dominação e vingança. De início, Emily encontra esperança de voltar a viver em sociedade ao conhecer Homer. Todavia, a possibilidade de um relacionamento entre Miss Emily e Homer provavelmente é uma ilusão da parte de Miss Grierson. Homer representa os homens do Norte e, como eles, deseja o progresso, os benefícios da industrialização. Emily, por sua vez, está associada aos costumes sulistas, tradicionais, latifundiários. Além disso, Homer era um trabalhador, uma pessoa de classe social baixa, enquanto Emily pertencia à elite, embora uma elite decadente, conforme se descreve, no conto, a casa onde Miss Grierson habitava: GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 107 Era um casarão quadrado, de madeira, outrora branco, decorado de cúpulas, de flechas, de balões esculpidos, no estilo pesadamente frívolo da época de 1870, situado na rua que já tinha sido a mais distinta da cidade. Mas as garagens e as debulhadoras de algodão, multiplicando-se em derredor, acabaram por fazer desaparecer até os nomes augustos daquele bairro. A casa de Miss Emily era a única que permanecia, levantando sua decrepitude teimosa e faceira acima dos vagões de algodão e das bombas de gasolina. (FAULKNER, 2004, p. 410) A descrição da casa não apenas mostra a decadência de Miss Emily, como também apresenta sua obsessão pelo passado, a resistência ao progresso. Sua moradia era a única que ainda se encontrava erguida em meio ao comércio e às indústrias que chegavam para explorar o algodão. Homer chegou à cidade para exercer um emprego temporário, como supervisor dos trabalhadores negros vindos para pavimentar a cidade de Jefferson. Descrito como Um Yankee – homem grande, moreno, decidido, com um vozeirão enorme e olhos mais claros do que a pele do rosto. Os garotos seguiam-no aos bandos, para ouvi-lo gritar com os negros [...] conhecia toda a gente da cidade. Cada vez que se ouviam ruidosas gargalhadas na praça, podia-se jurar que Homer Barron estava no centro do primeiro grupo. Não tardamos a avistá-lo nos domingos à tarde passeando com Miss Emily. (FAULKNER, 2004, p. 414) O trabalhador não foi considerado pelos habitantes um homem adequado para se casar com Miss Emily, pois seu caráter rude e sua classe social não combinavam com uma dama da sociedade. Homer vivia gargalhando em rodas de amigos, bebendo, o que o desqualificava como marido ideal para a distinta e recatada Miss Grierson.Mas Emily não parecia se importar com o caráter pouco refinado de Homer e quis tê-lo a qualquer custo, mesmo morto. Assassinar Homer era uma forma de tê-lo para sempre fora dos olhos da sociedade que não aceitava o relacionamento entre os dois. Mais uma vez Emily se vê oprimida pelo papel social repressor, o que pode ter contribuído para a piora de seu estado mental já doentio, levando-a desejar Homer só para si. O assassinato funcionaria como uma espécie de catarse e Emily poderia se vingar tanto de Homer, que não tinha intenções mais sérias de relacionamento, quanto da sociedade que a reprimia. A repressão que poderia ter acabado com a morte do pai, no âmbito familiar, passa a fazer parte também do contexto social de Miss Grierson. A população de Jefferson sentia dñ daquele ―monumento tombado‖, mas ironicamente, não GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 108 poupava palavras cruéis a respeito de Emily e seu amante. Em princípio todos pareciam satisfeitos com o relacionamento de ambos, porque Homer trouxera Emily de volta à vida, mas as alcoviteiras da cidade não tardaram a dizer: ―Naturalmente, nunca uma Grierson tomará a sério um nortista, um assalariado‖ (FAULKNER, 2004, p.415). É interessante notar que Homer, da mesma maneira que Emily, pode ser considerado um marginalizado, um estrangeiro que se torna objeto de intriga da população. No entanto, diferentemente de sua assassina, ele é um ser sociável, centro das atenções dos outros trabalhadores e moradores que se divertiam ao lado dele, um homem agradável que, com sua simpatia, conquistava a companhia de todos que se aproximavam. Emily, apesar dos comentários não se deixava abater e parecia tornar-se mais forte, após cada crítica ou intriga, ela Erguia a cabeça bem alto, mesmo quando pensávamos que tinha decaído. Parecia mais do que nunca, exigir que se reconhecesse sua dignidade de última dos Grierson, como se fosse necessário aquele toque de vulgaridade terrestre para acentuar mais profundamente a sua impenetrabilidade. Tal como no dia em que comprou o veneno para ratos, o arsênico. (FAULKNER, 2004, p.415) Percebe-se que Emily tenta seguir uma rotina, dando um ar de normalidade para sua vida, mesmo ao comprar o veneno que mataria Homer. A população de Jefferson, ao saber da compra, acreditava que Miss Emily cometeria suicídio, sem saber que algo muito mais aterrorizante passava por sua mente doentia. O sórdido assassinato só seria descoberto tarde demais, após o enterro de Emily. Miss Grierson parecia ter seu próprio mundo e suas próprias convenções, não se importando com a imagem que a sociedade fazia a seu respeito, ignorava os contratos sociais e até mesmo as leis, talvez como forma de se sentir menos desprezada, como uma fuga do mundo real tão perverso como sua psique. No mundo de Emily não cabia o novo contexto social que estava dominando aos poucos o sul dos Estados Unidos no fim do século XIX e início do XX. Miss Grierson representava a tradição e vivia em uma época em que Jefferson agregava tanto os resquícios agrários, quanto a modernidade. O tempo para ela era relativo, o passado não se configurava como uma glória perdida, mas como um local idealizado. Como uma representante da tradição, Emily era respeitada e honrada pelos moradores da cidade em que vivia, embora eles não a entendessem nem a aceitassem verdadeiramente, tolerando-a, apesar de ser um fardo para todos, como atestam as palavras mordazes do narrador: Viva, Miss Emily fora uma tradição, um dever e um aborrecimento:espécie de obrigação hereditária, pesando GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 109 sobre a cidade desde o dia em que, em 1894, o coronel Sartóris (o prefeito que baixou o decreto proibindo às negras saírem à rua sem avental) a isentara do pagamento de impostos, isenção definitiva, que datava da morte de seu pai. Isto não quer dizer que Miss Emily aceitasse a caridade. O coronel Sartóris inventara a complicada história de um empréstimo em dinheiro, feito pelo pai de Miss Emily à cidade e que a cidade, por conveniência própria, preferia reembolsar dessa maneira. Só um homem da geração e com as ideias do coronel Sartóris poderia ter imaginado semelhante coisa, e só uma mulher poderia ter acreditado. (FAULKNER, 2004, p. 411) Pelas palavras do narrador, nota-se que Miss Emily realmente vivia em seu próprio mundo, acreditando, ainda, que poderia ser beneficiada por ter feito parte da aristocracia sulista. Coronel Sartóris, assim como Emily, também vivia uma realidade arraigada na tradição sulista. Quando o desenvolvimento chegou ao Sul, vindo do Norte, Emily ignorou-o. A geração seguinte à de Emily, com suas ideias modernas, resolveu, por meio dos governantes da cidade, cobrar os devidos impostos de Miss Grierson, que se negou a pagar, dizendo que não possuía dívidas em Jefferson. Ela não compreendia o quão absurdo era o fato de não pagar impostos, prendendo-se às palavras do falecido coronel Sartoris. Não pagar impostos não era a única prova de que Miss Emily se apegava ao passado, negando-se a aceitar a modernidade. Emily nunca reformara a casa, mantendo seus sinais decadentes, típicos dos cenários da literatura gótica. Miss Grierson também se recusara a mudar de bairro, permanecendo instalada onde outrora havia uma elite dominante e no presente abrigava garagens e debulhadoras de algodão. Além disso, a excêntrica moradora de Jefferson ―foi a única pessoa que se negou a consentir que fixassem um número de metal acima de sua porta e, uma caixa-postal ao lado. Não houve argumento que a convencesse‖ (FAULKNER, 2004, p. 417) A imagem da decadência é uma constante no conto, tanto na descrição de cenários, como a casa de Emily, quanto na descrição da própria Emily. A morte também é um símbolo da decadência, presente na história, que reforça a permanência do passado, impedindo a irrupção do novo. A imagem da morte permeia todo o conto, desde o início da narrativa, quando o narrador anuncia a morte de Emily, até o naufrágio da tradição em face das mudanças promovidas pela modernidade. Miss Grierson vai morrendo aos poucos, como mostra a narrativa, por meio dos flashbacks que recontam sua vida. O narrador compara-a a uma mulher afogada. Quando os representantes do conselho municipal foram até a casa de Emily cobrar-lhe os impostos, depararam-se com GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 110 Uma mulherzinha pequena e gorda, vestida de preto, com uma fina corrente de ouro descendo-lhe do pescoço até a cintura, onde desaparecia no cós da saia. Tinha a ossatura pequena e delicada; talvez, por isso, o que em outra pessoa seria apenas gordura, parecia, nela, obesidade. Dava a impressão de estar inchada, como um cadáver muito tempo submerso numa água estagnada; tinha o mesmo de um afogado, a carne lívida e balofa. (FAULKNER, 2004, p. 411-12) Emily, mesmo em vida, tem uma aparência mórbida, decadente como sua casa. Aliás, ambas são tidas como monumentos, emblemas da aristocracia sulista que morre lentamente. A casa de Emily pode ser considerada uma extensão da própria personagem, representando a alienação, a morte e a doença mental de sua dona. A casa também representa a morte não só por suas características físicas, mas também porque abriga Homer, um homem morto, em seu interior. É interessante notar que a casa de Miss Grierson, como ela, é objeto de fascínio da população, que projeta sua curiosidade, sua atração pelo proibido e pelo desconhecido no local e em sua habitante. Com a morte de Emily, a população de Jefferson pode finalmente confirmar suas fantasias e suposições. A casa de Miss Grierson foi vista internamente, após sua reclusão, apenas uma vez pelos governantes da cidade que se depararam com ―um saguão escuro, de onde uma escada se projetava para as sombras ainda mais espessas do andar superior. Havia em tudo um cheiro de poeira, de guardado, de coisas que nunca são usadas – um cheiro de mofo e umidade‖ (FAULKNER, 2004, p.411). A poeira da casa parece tornar opaca e escura não apenas seus cômodos, mas os que nela habitam. A poeira também sugere o lado obscuro de Miss Emily que só será revelado após sua morte, assim como os segredos que a casa esconde. A imagem da poeira é retomada no final da história, quando o corpo de Homer é descoberto, intensificando o horror no conto, conforme se pode notar pela descrição do narrador: Durante muito tempo ali ficamos, imóveis, olhando para o seu rictus profundo e descarnado. O corpo devia ter, a princípio, repousado na atitude de carícia, abraçado a outro corpo, mas agora o grande sono que sobrevive ao amor, o grande sono que vence até mesmo as carícias de amor, dominara-o afinal. O que restava dele, em decomposição dentro do que restava de sua camisola de dormir, tornara-se inseparável do leito em que jazia; e sobre ele, assim como o travesseiro vazio ao seu lado, estendera-se aquela camada espessa de paciente e obstinada poeira. (FAULKNER, 2004, p.418) GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 111 Assim como a poeira, o fio de cabelo de Emily também está relacionado à morte e à decadência. Aos poucos, como apresenta a narrativa, o cabelo de Miss Grierson vai se tornando grisalho, evidenciando seu envelhecimento e a morte física. No final da história, podemos considerar o fio de cabelo de Emily como símbolo de um amor perdido, já que ele aparece ao lado do corpo de Homer: ―Um de nñs encontrou qualquer coisa caída sobre esse travesseiro, e, debruçando-nos, enquanto a leve, impalpável poeira acre e seca nos entrava pelas narinas, vimos um longo fio de cabelo de um tom cinzento-de-aço‖ (FAULKNER, 2004, p.419). O último fio de cabelo de Emily também representa os últimos vestígios da aristocracia sulista e o poder de Emily de resistir às novidades, já que Homer, representante da modernidade do Norte está morto. O fio de cabelo comparado ao aço revela, além da cor do cabelo de Emily, o poder de resistência da excêntrica senhora, que não se submete às convenções sociais, vivendo de acordo com suas crenças sem se importar com o quão terríveis e chocantes elas possam ser. Miss Emily tem seus próprios códigos morais e cria seu próprio mundo, onde tudo parece ser permitido, até mesmo tirar a vida de alguém. O odor da casa de Emily apresenta, ainda, relação com a morte. Após a compra do veneno, Homer morre e seu corpo entra em estado de putrefação, acarretando o cheiro desagradável sentido pelos vizinhos. Ao reclamarem, são desencorajados pelos governantes de procurar por Miss Emily, já que tal atitude representaria uma falta de respeito com tão nobre cidadã de Jefferson. Jamais se ousaria interromper sua reclusão. Para solucionar o problema, alguns homens invadem sua casa durante a noite e espalham cal pelo jardim, atribuindo o mau cheiro a algum pequeno animal morto. Alguns dias depois, o odor desaparece e a população não se preocupa mais com o fato. Provavelmente o corpo já tivesse se decomposto, suspendendo o cheiro desagradável que emanava da casa de Miss Grierson. No conto,vida e morte se fundem, sendo um exemplo dessa união é o grotesco casamento de Emily e Homer. Para ele a morte realmente coloca fim à vida, mas, para Emily, a morte é garantia de uma continuidade de vida. Em ambos os casos, todavia, a morte triunfa. Colocado em uma cama de casal de um dos quartos do andar superior da casa de Emily, Homer a ―aguardava‖ todas as noites em um cômodo empoeirado, paralisado no tempo, até ser descoberto pelos moradores de Jefferson em uma mórbida cena, assim descrita pelo narrador: A violência com que pusemos a porta abaixo pareceu encher o quarto de uma poeira penetrante. Era como se uma mortalha, tênue e acre, se estendesse sobre todas as coisas daquele quarto, mobiliado e enfeitado para uma noite de núpcias: sobre as desbotadas cortinas de pesada seda cor-de-rosa, sobre os quebra-luzes rosados das lâmpadas, sobre a penteadeira, sobre os delicados objetos de cristal, sobre as peças do aparelho de toucador para homem, com seus dorsos de prata embaciados, tão embaciados que nem se distinguiam os monogramas GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 112 escurecidos. [...] Entre os pertences do toucador, estavam jogados um colarinho e uma gravata, como se tivessem acabado de tirá-los naquele momento; quando os levantamos deixaram na superfície uma pálida meia-lua traçada na poeira. O terno de roupa estava dobrado, cuidadosamente, numa cadeira, sob a qual se viam os dois sapatos mudos, e as meias largadas no chão. (Faulkner, 2004, p.419) O enxoval de Emily e Homer permanecia intacto, eternizado pelo tempo que, bem ao gosto de Faulkner, é tratado de modo especial, em um presente contínuo, dando a impressão de que passado, presente e futuro estão misturados. O passado e o futuro se presentificam, tornando-se inseparáveis. Podemos considerar Emily uma espécie de heroína clássica, um arquétipo do Sul, reclusa e solteirona, em busca da felicidade impedida primeiramente pelo pai e, depois, pela sociedade e por ela mesma ao se tornar reclusa e construir seu próprio mundo, sua própria ética, afundando-se cada vez mais em sua mente doentia até cometer seu deslize final, transformado em uma realidade repugnante. O conto em estudo traz em seu título o substantivo rosa, mas no decorrer da história não há qualquer referência à flor. Talvez a rosa represente a paz trazida pela morte, ou seja, uma imagem da morte, já que é comum pessoas levarem flores ao túmulo dos mortos. Talvez a rosa represente a voz do narrador que acredita que Emily mereça uma flor, pois embora ela tenha cometido um crime hediondo e se comporte de maneira excêntrica durante toda a narrativa, o narrador parece ser simpático a Miss Grierson. Em nenhum momento sua voz condena as atitudes de Emily, ele parece admirá-la e transmite esse sentimento ao leitor. O gótico no conto de Faulkner funciona não apenas, conforme observa Vasconcelos (2002, p.133), como [...] uma reação a determinados traços da vida cultural e social setecentista [...] Sua oposição à estética realista contribui para que ele abale as certezas sobre o mundo natural, dê voz ao medo do bárbaro, do não-civilizado e abra espaço para a vida sociopsíquica que, se não cuidadosamente reprimidas, podem colocar em risco o equilíbrio dos indivíduos e da sociedade. Em ―Uma rosa para Emily‖, William Faulkner faz uso dos principais elementos góticos para criar paralelos entre a casa de Miss Emily e seu estado mental e personalidade, como foi possível observar. O autor norte-americano se vale, ainda, dos elementos góticos para mostrar o embate entre a tradição sulista decadente e as mudanças trazidas pela modernidade a Jefferson. Emily desempenha o papel da protagonista no embate Norte e Sul, tradição e modernidade. Nesse embate, para Emily, o Sul e a tradição continuam vencendo, já que ela não se subjuga aos códigos GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 113 de conduta impostos pela sociedade. Com sua morte, porém, nasce a possibilidade do novo, pois está vencido o último resquício da tradição da cidade de Jefferson. O comportamento anti-social de Miss Emily parece ser uma reação à sociedade. A grande ironia do conto de Faulkner reside no fato de Miss Grierson ser a relíquia de uma família de status em Jefferson e, mesmo estando no topo do estrato social sulista, cometer um crime hediondo. Evidentemente, Faulkner visa criticar o sistema de classes injusto do Sul. O autor de ―Uma rosa para Emily‖ dedicou sua obra à crença Na indomável alma humana, capaz de compaixão, sacrifício e resistência. Sobre as ruínas de uma sociedade semi-feudal, Faulkner concebeu um mosaico que descortina perspectivas vertiginosas: entrecruzamentos genealógicos, fantasmas mórbidos e violência costumaz conjugam-se para sondar as profundezas de uma terrível memória coletiva. A dimensão universal de seus romances provém de uma técnica narrativa tão elaborada, que, por vezes, é considerada obscura. A densidade metafórica do discurso faulkneriano não apenas estimula a análise psicanalítica das profundezas do inconsciente, como também exerce uma fascinação sobre esse inquietante espelho da natureza humana‖ (Royot, 2009, p.82) Faulkner, por meio do gótico, examina os estados subjetivos que distorcem as fronteiras entre a realidade e a fantasia e revela a natureza do horror em um final surpreendente e aterrador, destacando os aspectos psicológicos e sociais do homem do sul, em princípio. Revela a psicologia humana, o lado oculto do ser humano e o motivo que o levou a ficar à margem da sociedade. Porém atentando-se para a natureza dos acontecimentos brutais do conto, nota-se que Faulkner aborda o universal, a sociedade como um todo, hipócrita e repressiva, e a mente doente de muitos que vivem por todos os cantos do mundo, cometendo crimes atrozes. A READING OF THE SOUTHERN GOTHIC IN "A ROSE FOR EMILY" BY WILLIAM FAULKNER ABSTRACT: William Faulkner belongs to a literary tradition known as "Southern Gothic," which appeared in the early twentieth century, bringing European Gothic style features such as the morbid and grotesque. Although American writers of this school such as Faulkner, Harper Lee, Flannery O'Connor and Tennessee Williams have borrowed from the traditional gothic their essential characteristics, they are not only concerned about the use, in their narratives, of the supernatural elements to create an atmosphere of suspense or excitement. The Gothic features taken over by GUAVIRA LETRAS, n. 15, ago.-dez. 2012 114 these authors serve to reveal psychological and social aspects of men, as well as the values of the southern United States. Considering what was outlined, the aim of this work is to present a study of the Southern Gothic style in the story "A Rose for Emily", by William Faulkner, showing more specifically how the Gothic elements make up the clash between the tradition and the oppressive society that arises in the southern United States and search for changes, disrupting the livelihoods of those who wish to remain rooted in the past. Keywords: NORTH AMERICAN LITERATURE.SOUTHERN GOTHIC.WILLIAM FAULKNER. REFERÊNCIAS BOTTING, F. Gothic. New York: Routledge, 2010. CLERY, E.J. In: Hogle, J.E. (Org). The Cambridge Companion to Gothic Fiction. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.p.21-39. FAULKNER, W. Uma rosa para Emily. In: Moraes, V. (Org.) Contos norteamericanos. Rio de Janeiro, Ediouro, 2004. FREUD, S. Totem e tabu. Rio de Janeiro: Imago, 1978. KILGOUR, M. The rise of the gothic novel. New York: Routledge, 1995 LOVECRAFT, H.P. O horror sobrenatural em literatura. São Paulo: Ilumiuras, 2008. ROYOT, D. 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