1 - Revista Brasileira de Terapia Intensiva
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1 - Revista Brasileira de Terapia Intensiva
Volume 15 • nº 1 Janeiro/Março 2003 ISSN 0103-507X NESTA EDIÇÃO EDITORIAL Dilemas Éticos Sobre o Fim da Vida ARTIGOS ORIGINAIS Análise Comparativa do Débito Cardíaco (DC) Obtido pelo Método de Fick e pela Calorimetria Indireta em Pacientes Sépticos Estudo de 596 Casos Consecutivos de Traumatismo Craniano Grave em Florianópolis-1994-2001 Gênero e Mortalidade em Cirurgia de Revascularização do Miocárdio Quanto Sabemos Sobre o Custo do que Prescrevemos em Terapia Intensiva? ARTIGOS DE REVISÃO Calorimetria Indireta no Paciente em Estado Crítico Tratamento da Asma Aguda Grave: Suporte Ventilatório em Pediatria Avaliação da Recusa ou Suspensão de Tratamentos Considerados Fúteis ou Inúteis em UTI Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 Fundada em 1980 Diretoria para o Biênio 2002-2003 Presidente Dr. Jairo C. Bitencourt Othero Vice-Presidente Dr. Jefferson Pedro Piva 1º Secretário Dr. Luiz Alexandre A. Borges 2º Secretário Dr. José Maria da Costa Orlando 1º Tesoureiro Dr. Marcelo Moock 2º Tesoureiro Dr. Odin Barbosa da Silva Associação de Medicina Intensiva Brasileira Rua Domingos de Moraes, 814 Bloco 2 – Conj. 23 Vila Mariana – CEP 04010-100 São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 [email protected] Indexada na base de dados Lilacs A REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA reservase todos os direitos, inclusive os de tradução, em todos os países signatários da Convenção PanAmericana e da Convenção Internacional sobre os Direitos Autorais. Os trabalhos publicados terão seus direitos autorais resguardados pela AMIB, que em qualquer situação agirá como detentora dos mesmos. SUMÁRIO Editorial Dilemas Éticos Sobre o Fim da Vida 03 Rachel Duarte Moritz Artigo Original 05 Análise Comparativa do Débito Cardíaco (DC) Obtido pelo Método de Fick e pela Calorimetria Indireta em Pacientes Sépticos Comparative analysis of cardiac output (CO) calculated by Fick´s method and measured by indirect calorimetry in septic patients Maria Auxiliadora Martins, Walther de Oliveira Campos Filho, Jaciara Machado Viana, Edson Antônio Nicolini, Antonio Dorival Campos, Anibal Basile-Filho Artigo Original 15 Estudo de 596 Casos Consecutivos de Traumatismo Craniano Grave em Florianópolis-1994-2001 A study of 596 consecutive cases of severe head trauma from 1994 to 2001 in Florianopolis, Brazil. Evandro Tostes Martins,Thales Schott da Silva, Mario Coutinho Artigo Original 19 Gênero e Mortalidade em Cirurgia de Revascularização do Miocárdio Gender and Mortality in Coronary Artery Bypass Graft Surgery Kelson Nobre Veras, José Lira Mendes Filho, Paulo Henrique Medeiros Costa, Paulo Rego Medeiros, Sebastião Nunes Martins, Jayro Tadeu Paiva Vasconcelos Artigo Original 26 Quanto Sabemos Sobre o Custo do que Prescrevemos em Terapia Intensiva? Cleovaldo T. S. Pinheiro, MD, PhD; Luciano de Brito; Rosanna L. Corvello Bel. Adm. Artigo de Revisão Calorimetria Indireta no Paciente em Estado Crítico Indirect Calorimetry in The Critically Ill Patient 29 Anibal Basile Filho, Maria Auxiliadora Martins, Paulo Antoniazzi, Julio Sérgio Marchini Artigo de Revisão Tratamento da Asma Aguda Grave: Suporte Ventilatório em Pediatria Management of acute severe asthma: ventilatory support in pediatrics 34 Werther Brunow de Carvalho Artigo de Revisão 40 Avaliação da Recusa ou Suspensão de Tratamentos Considerados Fúteis ou Inúteis em UTI Withdrawal and withholding of life support in an Intensive Care Unit Rachel Duarte Moritz, Fabrício Pamplona NORMAS PARA PUBLICAÇÃO NESTA REVISTA RBTI REVISTA BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA Editor Cleovaldo T. S. Pinheiro (RS) Secretário Luciano de Brito Editor Associado Werther Brunow de Carvalho (SP) Conselho Editorial Álvaro Réa Neto (PR) Antonio Nuno da Conceição (BA) Cid Marcos Nascimento David (RJ) Edson Stefanini (SP) Eliezer Silva (SP) Fernando Osni Machado (SC) Flávio de Barros Maciel (SP) Gilberto Friedman (RS) José Luiz Comes do Amaral (SP) José Raimundo de A. Azevedo (MA) Odin Barbosa da Silva (PE) Paulo César Ribeiro (SP) Paulo Gabriel Bastos (RJ) Paulo Sérgio S. Beraldo (DF) Rosane Goldweisser (RJ) Sayonara de Fátima F. Barbosa (SC) Vera Regina Fernandes (SC) Jornalista Responsável Marcelo Sassine - Mtb 22.869 Diretora de Arte Anete Salviano Capa MWS Design Projeto Gráfico e Produção Editorial MWS Design Fone: (11) 3399-3028 www.amws.com.br A Revista Brasileira de Terapia Intensiva é publicada trimestralmente (março, junho, setembro a dezembro) em um único volume anual, editada pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e destina-se fundamentalmente a publicar artigos originais. Eventualmente, em casos excepcionais, serão aceitos relatos de caso. Revisão de literatura será considerada quando de autoria de especialistas de reconhecido saber, ou a convite. Resumos de congresso ficarão a critério do editor, bem como outras matérias de interesse da medicina intensiva e especialidades correlatas. Tanto o Abstract (resenha condensada) como o resumo, deverão ser escritos de maneira estruturada na forma do “Annals of International Medicine”. Os textos devem ser escritos preferencialmente em português. Serão aceitos os trabalhos escritos em inglês ou em espanhol, quando os mesmos forem realizados em serviços estrangeiros de língua inglesa ou espanhola, ou quando forem escritos por experts convidados. Todos os trabalhos deverão ser acompanhados de um Abstract (resenha condensada), necessariamente em inglês, seguindo o exemplo mostrado abaixo. O texto deve se fazer seguir de um resumo na língua em que foi escrito (resumo, summary, resumen). O texto deve ser digitado em espaço duplo e apresentado na seguinte ordem: Página de rosto, Título em inglês, Abstract, Key Words, Introdução (deve ser feita, mas o título “Introdução” deve ser omitido), Material e Métodos, Resultados, Discussão, Resumo, Unitermos, Agradecimentos, Referências, Tabelas, Figuras, Legendas das Tabelas e das Figuras. A Página de Rosto deve ocorrer: Título de artigo; Nome(s) do(s) autor(es) e respectivos títulos; Nome do Serviço ou Instituição em que foi realizado o trabalho; Nome e endereço do autor principal para correspondência (a sair publicado); Telefone do autor para contato com o editor de texto; Fonte de patrocínio (bolsas, subvenções, ofertas de produtos). Abaixo do resumo na língua em que foi escrito, enumerar, até um máximo de cinco, as palavras ou expressões indicativas do conteúdo do artigo (Unitermos), de preferência com base no Index Medicus, para maior facilidade na indexação. Os trabalhos deverão ser enviados em três vias e em disquete (sendo o texto salvo em Word, letra Times New Roman, tamanho 12 e espaço 1,5). Não deverão ultrapassar 15 páginas digitadas, salvo casos autorizados pelo Conselho Editorial. Esses trabalhos serão apreciados pelo Conselho Editorial que se reserva o direito de recusá-los e de fazer sugestões quanto à sua estrutura ou à sua redação. As ilustrações (gráficos, tabelas, fotografias e desenhos) devem ser apresentadas em páginas separadas, contendo suas respectivas legendas e assinalando sua exata localização no texto. Deverão, preferencialmente, serem enviadas em forma original e/ou em disquete. Somente serão aceitas as ilustrações que permitirem boa reprodução. As Referências devem incluir o material estritamente necessário, realmente citado no texto. As revistas devem ser referidas de forma abreviada, segundo critérios internacionais. As citações no texto devem ser feitas por números índices, correspondendo às respectivas referências listadas por ordem cronológica, não-alfabética. Os livros devem ser referidos pelo autor, título, cidade-sede da casa editora, nome da casa editora, número da edição (a partir da 2ª), volume, ano da impressão, e páginas inicial e final citadas. Se se tratar de capítulo de livro, fazer constar: autor do capítulo, título do capítulo, a palavra In (grifada), dois pontos, nome dos editores indicando com a abreviação eds., título do livro (grifado), cidade da editora, nome da editora, nº da edição (a partir da 2ª), volume, ano da publicação, páginas citadas. Quando o artigo tiver mais de três autores deverão ser citados os três primeiros seguidos de et al. EXEMPLO DE ABSTRACT: Background: Cardiovascular disease is a common cause of morbidity and death in persons with renal insufficiency. Although 3-hydroxy-3methylglutaryl coenzyme A reductase inhibitors (statins) are effective for secondary prevention of cardiovascular events in the general population, they have not been specifically studied in chronic renal insufficiency. Objective: To determine whether pravastatin is effective and safe for secondary prevention of cardiovascular events in persons with chronic renal insufficiency. Design: Post hoc subgroup analysis of a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Setting: The Cholesterol and Recurrent Events (CARE) study, a randomized trial of pravastatin versus placebo in 4159 participants with previous myocardial infarction and total plasma cholesterol levels less than 6.21 mmol/L (<240 mg/dL). Participants: 1711 participants with chronic renal insufficiency defined by creatinine clearance less than or equal to 75 mL/min, using the Cockcroft-Gault equation. Measurements: The primary outcome was death from coronary disease or symptomatic nonfatal myocardial infarction. Results: After a median follow-up of 58.9 months, the incidence of the primary end point was lower in participants receiving pravastatin than in those receiving placebo (adjusted hazard ratio, 0.72 [95% CI, 0.55 to 0.95]; P = 0.02). Pravastatin was associated with lower adjusted hazard ratios for major coronary events (0.72 [CI, 0.59 to 0.88]; P = 0.001) and coronary revascularization (0.65 [CI, 0.50 to 0.83]; P = 0.001), but not total mortality (0.81 [CI, 0.61 to 1.08]; P = 0.14) or stroke (0.62 [CI, 0.39 to 1.00]; P = 0.051). Tests for interaction suggested that the observed benefit was independent of the presence and severity of renal insufficiency. Incidence of side effects was similar in persons receiving pravastatin and those receiving placebo. Conclusions: These data suggest that pravastatin is effective and appears safe for secondary prevention of cardiovascular events in persons with mild chronic renal insufficiency. Since statins may be underused in this setting, physicians should consider prescribing them for patients with chronic renal insufficiency and known coronary disease. EXEMPLO DE REFERÊNCIAS 1. Leppänieme A,Haapiainen R,Kiviluoto T, et al. Pancreatic trauma: acute and late manifastations. 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Cada Tabela e cada Figura devem estar montadas ou feitas em folhas separadas (uma para cada elemento) e também em disquetes. As legendas das Tabelas e das Figuras devem ser digitadas com claras indicações a que se referem. Esta Revista deve ser referida com as seguintes abreviações: Rev Bras Terap Intens. A correspondência para publicação deve ser endereçada para: RBTI - Revista Brasileira de Terapia Intensiva AMIB Rua Domingos de Moraes, 814 – Bloco 2 – Conj. 23 Vila Mariana – CEP 04010-100 – São Paulo – SP Tel.: (11) 5575-3832 E-mail:[email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / EDITORIAL Dilemas Éticos Sobre o Fim da Vida Rachel Duarte Moritz partir da segunda metade do século XX, morrer no hospital é uma praxe. Esse fato tem substituído o morrer em casa junto das pessoas de estima, pelo morrer científico, dentro dos hospitais e, mais especificamente, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs)1,2. A partir dos anos 70, com o desenvolvimento continuado de novas tecnologias, o paciente gravemente enfermo pode ser mantido por um longo período de tempo em uma UTI. Em alguns casos, a morte é inevitável em praticamente 100%, sendo apenas retardada a um alto custo, financeiro, moral e psicológico, para todos os envolvidos. A partir desse fato e da certeza de que o ser humano tem direito a uma morte digna3 surge um novo debate, se a recusa ou a suspensão dessas tecnologias é uma ação ética4,5. Cada vez mais surgem processos legais contra os médicos e esses, treinados para curar e tratar, custam a aceitar a morte dos seus pacientes. Utilizando a tecnologia e retardando a morte de alguns dos seus pacientes os médicos intensivistas sentem-se angustiados diante da dúvida de estarem praticando a distanásia. O termo distanásia pode ser definido como a morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento6, ao contrário do termo eutanásia, que significa a abreviatura de um sofrimento por intermédio de uma morte induzida7. Mais recentemente, passou-se a utilizar o termo ortotanásia que traduz uma maior sensibilidade ao processo de humanização da morte e alívio das dores e não incorre em prolongamentos abusivos com a aplicação de meios desproporcionados que imporiam sofrimentos adicionais6. Tentando praticar a ortotanásia e evitar a distanásia, o médico intensivista passou a sofrer dilemas éticos e legais ao ser confrontado com as decisões de recusar ou suspender tratamentos considerados fúteis ou inúteis8,9. Os princípios éticos necessariamente questionados são: Quem decide, e para que paciente é decidida a recusa ou a suspensão de um tratamento? O que é um tratamento fútil ou inútil? Fútil para o que? Para a cura? Para o prolongamento da vida? Para o alívio da dor e da ansiedade?10. Essas perguntas permanecem sem resposta definitiva. O código de Ética Médica no Art.66/1988 proibe “utilizar, em qualquer caso, meios destinados a abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal”. Contudo, o Art.28/1988 aponta como direito do médico “recusar a realização de atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua A consciência”. Boff11 escreveu sobre o direito de morrer e afirmou que cabe ao médico todo o esforço para curar um paciente. Entretanto, isso não significa que tratamentos que posterguem a vida devam ser prescritos. Ressalta que “deixar morrer” não é a mesma coisa que “fazer morrer”. Um dos principais aspectos éticos é o direito de decisão de um paciente e a obrigação de o médico respeitar essa decisão, o que não implica a prática de um tratamento tecnicamente contra-indicado a pedido do paciente. O envolvimento de médicos em causar ou apressar a morte de pacientes é proibido12, mas há suporte ético para o aumento progressivo de medicação para alívio da dor em pacientes terminais, mesmo que isso traga risco à vida13. Pode-se concluir que a diferença entre um paciente que morre com dor e aquele que tem a morte precipitada pela administração de um analgésico está na intenção da pessoa que administra o fármaco8,14. As complicações são parte do risco de qualquer procedimento médico. Do ponto de vista ético e legal, o médico tem compromisso com a atitude e não com o resultado15,6,17. As leis brasileiras definem a imprudência, negligência e imperícia como casos de homicídio culposo, que ocorre quando o agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo14,18. A recusa, por parte do médico, de administrar um tratamento que poderá prolongar o sofrimento de um paciente, não pode ser considerada um erro médico, pois não pode ser encaixada como imprudência, negligência ou imperícia. Embora tal atitude seja aceita pela Igreja, ainda é mal definida do ponto de vista legal. Deve ser ressaltado que o avanço tecnológico torna necessário o debate contínuo tanto do ponto de vista ético quanto legal sobre o tratamento considerado fútil19,20. Em 1997, o Comitê de Ética da Society of Critical Care Medicine21 realizou uma reunião de consenso para definir o que seria tratamento fútil e quais os procedimentos que deveriam ser tomados para resolver os casos nos quais um tratamento visando a manutenção da vida fosse considerado fútil. Tratamento fútil foi considerado aquele que não atinge as metas pretendidas, sendo considerado desaconselhável o tratamento que tenha pouca probabilidade de trazer benefícios. Os participantes do consenso concluíram que, para um tratamento ser desaconselhado, o tema deveria ser debatido entre os interessados, observando-se os valores morais da comunidade. As decisões não poderiam levar unicamente em consi- Professora do Departamento de Clínica Médica UFSC – Mestre em Ciências Médicas – Doutora em Engenharia de Produção-Ergonomia Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 3 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / EDITORIAL deração escores prognósticos e deveriam ter respaldo legal. Pinheiro22, levando em consideração as imensas somas financeiras destinadas ao tratamento de pacientes gravemente enfermos e a elevada taxa de mortalidade dos mesmos, questiona a necessidade da avaliação da qualidade de vida que esses indivíduos passam a ter após a alta da UTI ou do hospital e infere que, como marcadores de qualidade em terapia intensiva, deveriam ser analisados não somente os índices de mortalidade intra-hospitalar, mas os de mortalidade logo após a alta dessa unidade e os de mortalidade tardia, assim como a qualidade de vida daqueles que receberam alta das UTIs. Dessa maneira, poderia ser melhor estipulado, no nosso País, qual tratamento deveria ser considerado fútil ou inútil. Pellegrino23 publicou um artigo descrevendo um algoritmo sobre as decisões da suspensão de um tratamento. Avaliou que qualquer decisão ética deve considerar como pré-requisito fundamental a valorização da vida humana e deve levar em consideração os embasamentos teóricos que justificam as decisões do ponto de vista ético. O autor descreve 4 questões éticas que devem ser respondidas antes da recusa ou da suspensão de um tratamento: 1 Quem decide? 2. Quais os critérios utilizados? 3. Que conflitos, envolvendo a decisão, devem ser debatidos? 4. Quais conflitos podem ser evitados? É inquestionável que o paciente com capacidade de decidir tem autoridade moral e legal para tal, e, em casos especiais, os familiares, o substituto legal do paciente ou o seu médico poderão participar dessa decisão. Entretanto, essa autoridade não é absoluta, sendo limitada quando a decisão acarreta conseqüências graves para terceiros, quando o médico é levado a violar sua integridade ética profissional, quando o paciente deliberadamente atenta sobre sua vida, ou quando o tratamento requerido é fútil ou contra-indicado. Uma vez mais nos defrontamos com a necessidade da definição correta de futilidade. Futilidade foi definida como a relação entre a efetividade, o benefício e as conseqüências do tratamento em questão. Efetividade seria a avaliação da capacidade de o procedimento alterar a história natural da doença. Benefício seria uma avaliação feita pelo paciente quanto aos resultados obtidos comparados aos resultados desejados do tratamento, bem como as conseqüências do mesmo representadas por desconforto, dor e outros efeitos colaterais. A idade, a qualidade de vida prévia e critérios econômicos são tópicos que devem ser discutidos separadamente e que podem influenciar o médico e os familiares nas decisões sobre as perspectivas de um tratamento. A decisão médica não pode ser unilateral quando é avaliada a questão da idade e da qualidade de vida. O fator econômico nunca deverá ser um fator decisivo para tais questionamentos. Membros da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, durante o I Fórum Nacional de Formação do Intensivista24 concluíram que, diante de decisões de recusar ou suspender um tratamento fútil ou inútil, esse processo deva ser conduzido com dignidade pela equipe multidisciplinar, com respeito à autonomia do paciente e com o conhecimento e aceitação de seus familiares. Foi também definido que a distanásia deve ser evitada e que a analgesia e sedação devem ser priorizadas visando o menor sofrimento do paciente. Apesar do debate, de âmbito mundial, visando a definição de tratamento fútil e de normas para a recusa ou a suspensão desse tratamento, esse questionamento ainda permanece sem resposta. Cada vez mais é constatada a importância de serem levados em consideração os sentimentos e desejos do paciente e de seus familiares, e de que uma adequada comunicação entre os mesmos e a equipe hospitalar multidisciplinar é imprescindível antes que qualquer decisão terapêutica seja tomada. Qualquer que ela seja deve levar em consideração não somente algoritmos, mas a experiência dos profissionais envolvidos e os aspectos emocionais tão difíceis de serem dimensionados. BIBLIOGRAFIA 01. Zaidhaft S. 1990. Morte e formação médica. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 155p. 02. Koch KA. 1996. A linguagem da morte: Euthanatos et mors. Clínicas de Terapia Intensiva 1(1):1-13. 03. Sancho MG. 2000. Morir com Dignidad. Prática Hospitalar (Cuidados paliativos) 9 (Mai-Jun): 55-62. 05. França GV. 2000. Bioética. 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RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL Análise Comparativa do Débito Cardíaco (DC) Obtido pelo Método de Fick e pela Calorimetria Indireta em Pacientes Sépticos Comparative analysis of cardiac output (CO) calculated by Fick´s method and measured by indirect calorimetry in septic patients Maria Auxiliadora Martins1, Walther de Oliveira Campos Filho2, Jaciara Machado Viana3, Edson Antônio Nicolini4, Antonio Dorival Campos5, Anibal Basile-Filho6 ABSTRACT The aim of this study was to compare two different cardiac output (CO) monitoring systems based on thermodilution principle (Thermo-CO) and indirect calorimetry (Fick mixed-CO) in critically ill patients victims of septic shock. Nineteen patients were enrolled in the study (14 males and 5 females), aging 45.4±21.5 years, APACHE II=22.4 ± 6.8 with calculated odds ratio for mortality of 46.1±26.8% and the Sepsis Score=21.1±8.6. Four measurements series to access cardiac output were carried out using both Thermo-CO and Fick mixed-CO. Samples of atrial blood were also collected from eight patients. No statistical difference were observed between Thermo-CO and Fick mixed-CO with values of 7.0±1.8 L.min-1 and 6.4±1.7 L.min-1, respectively. Despite of data from T4 (p=0.0090), no significant differences were observed for Thermo-CO and Fick mixed-CO obtained from consecutive measurements series (T1: p=0.0874, T2: p=0.0577 e T3: p = 0.4171). Parallel analysis of Fick mixed-CO and Fick atrial-CO was performed introducing a correction factor for the eight atrial samples in order to adjust the values of oxygen saturation obtained from atrial blood (Fick corrected atrial-CO) to those obtained from mixed venous blood. Our data demonstrated that no significant differences could be detected between Fick mixed-CO and Fick corrected atrial-CO in all consecutive measurements (T1: p=0.4609, T2: p=0.4688, T3: p=0.3125 e T4: p=0.5469). The mean values of Fick mixed-CO was 6.0±1.2 L.min-1 and for Fick corrected atrial-CO was 5.9±1.4 L.min-1. The coefficients of correlation for comparative analysis of Thermo-CO/Fick mixed-CO and the analysis of Fick mixedCO/Fick corrected atrial-CO was 0.84 and 0.94, respectively. We can conclude that the indirect calorimetry might be useful to perform a less-invasive measurement of cardiac output in patients with septic shock, mainly to manage those cases where invasive hemodynamic support is neither available nor indicated. KEYWORDS: Indirect calorimetry, thermodilution, cardiac output, septic shock. sistema cardiovascular é alvo freqüente da sepse, e, por isso, as alterações cardiovasculares interferem no prognóstico. A normalização do débito cardíaco (DC) nas primeiras 48 horas correlaciona-se com a sobrevida(1). Sepse, trauma e cirurgia de grande porte aumentam o metabolismo e, conseqüentemente, o débito cardíaco. As variáveis que afetam o DC incluem idade, sexo, superfície corpórea, postura e demanda metabólica. A mais importante dessas variáveis é a demanda metabólica, que é a responsável direta pelo DC. Sendo o DC o O principal responsável pela oferta de oxigênio e nutrientes aos tecidos, a adequação dessa variável hemodinâmica constitui medida indispensável para o tratamento de pacientes graves, sobretudo aquelas vítimas de choque séptico. O choque séptico determina um estado hiperdinâmico que se caracteriza por taquicardia, elevação do DC e resistência vascular sistêmica reduzida(2). Uma vez que a função precípua do coração é manter a oferta adequada de oxigênio e nutrientes a todos os tecidos do organismo, a monitorização do DC torna-se essencial frente a 1 Supervisora de Equipe Médica do Centro de Terapia Intensiva - Campus do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo 2,3,4 Médicos Assistentes e Pós-Graduandos da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo 5 Professor Associado do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo 6 Professor Associado e Chefe da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo Dissertação de Mestrado realizada na Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia (Centro de Terapia Intensiva Campus – Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo). Projeto de pesquisa financiado pela FAPESP (99/07266-7). - Av. Bandeirantes, 3900 – Ribeirão Preto – SP – CEP 14049-900 - Email: [email protected] Tel: (16) 602-2439 Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 5 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL situações clínicas que cursam com instabilidade hemodinâmica. Um dos maiores dilemas no tratamento do choque consiste no fato de que o diagnóstico é fácil nos estágios avançados, quando a terapia é ineficaz. O diagnóstico precoce é mais difícil porque os sinais e sintomas são subjetivos e imprecisos(3). Nenhum método atualmente utilizado oferece parâmetros definitivos e acurados de monitorização da adequação da oferta tecidual de oxigênio. O débito cardíaco é uma das variáveis mais importantes no contexto de perfusão tecidual. Além disso, ele participa de cálculos de outras variáveis hemodinâmicas e de oxigenação, como: resistência vascular sistêmica (RVS), resistência vascular pulmonar (RVP) e oferta de oxigênio (DO2). A termodiluição, descrita inicialmente por SWAN, GANZ et al(4), é atualmente o método padrão para a medida do DC, porém, diversas limitações são impostas ao uso dessa técnica, tais como: alto custo, caráter invasivo do procedimento, subestimação do consumo de oxigênio, uma vez que esse método não estima o real consumo pulmonar de oxigênio(5). Além disso, vários questionamentos surgiram quanto à utilidade clínica da monitorização com cateter de Swan-Ganz. Em 1985, Robin questionou a utilização do cateter de Swan-Ganz(6) e, em 1987, propôs uma moratória no seu uso, sugerindo que este era abusivo e indiscriminado(7). Posteriormente, em 1996, CONNORS et al. demonstraram aumento de mortalidade no atendimento inicial a pacientes críticos(8). O DC medido pela termodiluição sofre influência de vários fatores externos que podem levar a erros de interpretação, a saber: posição do paciente no leito, temperatura e volume do injetado, presença de patologias valvares, shunts intracardíacos e aumento da pressão intratorácica provocado pelo uso de ventilação mecânica(9, 10, 11). A posição supina pode aumentar o DC em até 30%(12), a temperatura e o volume do injetado devem ser fixas e a acurácia é maior com volumes de 10mL a temperaturas entre 0o e 5°C(13, 14, 15). O tempo de injeção não deve exceder quatro segundos e as injeções devem ser realizadas sempre na fase final da expiração para evitar interferência da pressão intratorácica. Existem também artefatos relacionados ao próprio cateter e seu termistor(16). Devido a essas limitações, métodos alternativos têm sido testados com o intuito de diminuir os índices de complicações e, ao mesmo tempo, preservar a fidedignidade das medidas. Vários métodos vêm sendo estudados, dentre eles, a calorimetria indireta. Estudos clínicos comparando a medida do DC pela termodiluição e pelo método clássico proposto por Fick relatam um coeficiente de correlação que varia entre 6 0,7 e 0,95(17, 18, 19, 20, 21, 22, 23,24). Os objetivos do presente estudo foram comparar a medida do DC pela termodiluição (DC-termo) e pela Calorimetria Indireta (Método de Fick, DC-Fick misto) em pacientes vítimas de choque séptico; utilizar o sangue venoso atrial em substituição ao sangue venoso misto para o cálculo do DC, acrescentando um fator de correção na tentativa de aproximar o conteúdo de O2 atrial do conteúdo misto. Ainda, com o intuito de aproximar os valores do conteúdo de O2 atrial daqueles do conteúdo misto, propomos a utilização de um fator de correção, pois, do ponto de vista fisiológico torna-se evidente que o sangue atrial seja mais saturado em oxigênio do que o sangue venoso misto. O método de Fick inicialmente sofreu muitas limitações, principalmente no que concerne à obtenção de medidas do consumo de oxigênio. Existem laboratórios que utilizam o consumo de oxigênio previsto pela idade, sexo e área de superfície corpórea. A margem total de erro para o cálculo do DC pelo método de Fick é em torno de 10%(25). A inexatidão no valor do consumo de oxigênio pode aumentar a variabilidade do DC para mais de 10% principalmente quando se utiliza o consumo presumido e não o consumo medido diretamente(26). Novas técnicas para medida direta do consumo de oxigênio foram desenvolvidas, o que aprimorou este método para o cálculo do DC. A calorimetria indireta é um método não invasivo que fornece dados como consumo de oxigênio real (VO2), produção de CO2 (VCO2), coeficiente respiratório (RQ) e gasto energético real (GER)(27, 28, 29). Associada à coleta de sangue venoso e arterial, é possível realizar o cálculo do DC (Método de Fick) de maneira menos invasiva quando comparada a termodiluição, e adequar esse valor numérico às necessidades reais de oferta de oxigênio e nutrientes ao paciente num dado momento. Tradicionalmente, colhe-se o sangue venoso misto da artéria pulmonar para o cálculo do conteúdo venoso de O2, que se trata de amostra correspondente ao retorno venoso corporal efetivo. Existe a possibilidade de coleta de uma amostra de sangue atrial com o intuito de validar um método de cálculo de DC menos invasivo, onde podemos utilizar o consumo de oxigênio obtido pela calorimetria indireta e amostras de sangue arterial periférico (artéria radial) e venoso atrial direito (cateter central) dispensando assim a necessidade do cateter de SwanGanz(30, 31). A saturação de O2 no átrio direito, veia cava superior e seio coronariano é diferente daquela do sangue venoso misto tradicionalmente colhido do orifício distal do cateter de Swan-Ganz. O sangue venoso misto contém a mistura de todo o sangue proveniente do retorno venoso sistêmico, antes de ocorrer sua oxigenação no pulmão. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL CASUÍSTICA E MÉTODOS O estudo clínico prospectivo foi realizado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Campus e Unidade de Emergência). O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, tendo sido obtido o termo de consentimento livre e esclarecido em todos os casos (Processo n° 4989/99 - HCRP). A investigação envolveu 19 pacientes de ambos os sexos (14 do sexo masculino e cinco do sexo feminino), vítimas de sepse de qualquer origem, com quadro clínico de choque séptico, após restauração volêmica e estabilização hemodinâmica. Os critérios utilizados para o diagnóstico de choque séptico foram os estabelecidos pela conferência de consenso realizada pelo American College of Chest Physicians/Society of Critical Care Medicine(32). Os critérios de inclusão foram pacientes vítimas de choque séptico do 1º ao 5º dia de evolução, com indicação de monitorização hemodinâmica invasiva com cateter de Swan-Ganz. Os critérios de exclusão incluíam: idade > 85 e < 15 anos, necessidade de FiO2 (fração de oxigênio no ar inspirado) > 0,6, PAM (pressão arterial média) < 50 mmHg, diurese horária < 50 mL.h-1, fístula aérea, morte encefálica e recusa do paciente ou responsável. Todos os pacientes foram estratificados na admissão na Unidade de Terapia Intensiva de acordo com o índice de gravidade APACHE II(33) e pelo sistema de graduação de sepse (34) . Em todos os casos foram realizados monitorização hemodinâmica invasiva e não invasiva, restauração volêmica, suporte ventilatório mecânico com ventilador microprocessado, antibioticoterapia adequada, uso de drogas vasoativas e suporte nutricional de acordo com o gasto energético real calculado pela calorimetria indireta. Os pacientes foram sedados com benzodiazepínicos e/ ou opiáceos e bloqueador neuromuscular foi utilizado quando necessário.O peso atual dos pacientes foi obtido através de balança portátil eletrônica (Slingscale 2002, Instrucom/Hill-Rom series, Hillenbrand Industries, EUA). O protocolo teve duração média de oito horas, onde foram realizadas quatro séries de medidas do DC pelo método de termodiluição e pela calorimetria indireta. Todos os pacientes foram submetidos a monitorização hemodinâmica invasiva com o cateter de Swan-Ganz calibre 7 F com introdutor 8,5 F (Baxter Healthcare Corp, EUA) através de punção da veia jugular interna ou subclávia. A medida do DC pela termodiluição foi realizada através do monitor DIXTAL (Módulo 2010 Biomédica Ind e Com LTDA, Brasil). Foi realizada a radiografia de tórax após o procedimento para avaliar a posição do cateter e excluir complicações. O DC foi determinado pela termodiluição Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 através da injeção de 10 mL de solução salina a 0,9% à temperatura entre 0°C e 5°C, no tempo de dois a quatro segundos, no orifício proximal do cateter (átrio direito), estando o paciente em decúbito dorsal horizontal. Foram realizadas três medidas, sempre ao final da expiração, e a média das medidas foi considerada como valor definitivo aceitando-se uma diferença de, no máximo, 10% entre elas. Foram realizadas medidas invasivas de pressão arterial radial, pressão arterial pulmonar, pressão venosa central (PVC) e PAPO após insuflação do balão da ponta do cateter com 1,5 mL de ar. As medidas da PVC e PAPO foram realizadas na fase final da expiração para evitar a interferência de pressões intratorácicas positivas, uma vez que o paciente não era desconectado do ventilador mecânico. Paralelamente, foram colhidas amostras de sangue venoso do orifício proximal (átrio direito), distal (artéria pulmonar) do cateter de Swan-Ganz e sangue arterial (artéria radial) para análise dos gases sangüíneos que nos permitiu avaliar a concentração de hemoglobina, a saturação de oxigênio no sangue arterial (SaO2) e venoso (SvO2) e a pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) e venoso (PvO2). Após a obtenção do consumo de oxigênio pela calorimetria indireta e os valores dos conteúdos de oxigênio no sangue arterial e venoso, foi possível calcular o débito cardíaco de acordo com a equação de Fick. A fórmula abaixo representa a equação de Fick para o cálculo do débito cardíaco. DC = VO2/(CaO2 – CvO2) x 10 (L.min-1) A fórmula abaixo mostra o cálculo do DC utilizando o fator de correção (DC-Fick atrial corrigido): DC = VO2/(CaO2 - CvO2x F) x 10 (L.min-1) VO2 = Consumo de O2 CaO2 = Conteúdo arterial de O2 CvO2 = Conteúdo venoso de O2 extraído do átrio direito (orifício proximal do cateter) F = Fator de correção (0,9222) Este fator foi obtido a partir do cálculo da média (em %) das diferenças entre o conteúdo venoso misto e atrial de oxigênio, subtraída de 100%. O fator de correção encontrado foi de 0,9222. Todos os pacientes foram submetidos à ventilação mecânica invasiva utilizando ventilador microprocessado BIRD 8400 STi (Bird Prod Corp, EUA) ou SERVO 900C (Siemens, Suécia). A modalidade ventilatória empregada variou de acordo com o grau de comprometimento pulmonar de cada paciente e análise dos gases 7 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL sangüíneos. Os parâmetros básicos seguiram as orientações do FCCS-Fundamental Critical Care Support(35), como: volume corrente de 8 a 10 mL.kg-1, fluxo de 40 a 60 L.min-1, freqüência respiratória de 12 a 16 ipm (incursões por minuto), PEEP inicial de 5 cmH2O e incrementos de acordo com a monitorização da SaO2. Esses parâmetros foram alterados de acordo com a evolução do quadro. A FiO2 foi sempre menor que 0,6, pois o sensor de oxigênio do calorímetro perde sua precisão de leitura quando em contato com altas frações de oxigênio(36, 37). A calorimetria indireta foi realizada em todos os pacientes com o calorímetro portátil DELTATRAC II Metabolic Monitor (Datex-Ohmeda, Finlândia). A calibração de pressão barométrica e de gases foi realizada antes de cada protocolo. Foram realizadas quatro séries de 30 medidas consecutivas do consumo de O2 (VO2), minuto a minuto, e o VO2 médio de cada série foi utilizado para o cálculo do DC. ANÁLISE ESTATÍSTICA O teste estatístico utilizado para comparação entre os dois métodos de avaliação foi o teste não paramétrico dos sinais de Wilcoxon para duas amostras correlacionadas. Foi utilizado também o teste não paramétrico de Friedman aproximado para grandes amostras. Em seguida, em vista da existência de diferença estatística significativa, foi aplicado o teste de comparações múltiplas não paramétricas baseado na soma de postos de Friedman. Consideramos como estatisticamente significativas, as comparações com valor de p < 0,05. Foi realizado também o coeficiente de correlação de Pearson entre a variável (DC) obtida nos dois métodos. RESULTADOS Foram avaliados prospectivamente 19 pacientes (14 do sexo masculino e cinco do sexo feminino) com diagnóstico de choque séptico, em estabilidade hemodinâmica, admitidos na unidade de terapia intensiva entre o 3o e 5o dia de evolução do quadro. A idade média variou de 45,4 ± 21,5 anos. O índice prognóstico APACHE II médio foi de 22,4 ± 6,8 com risco de óbito calculado de 46,1 ± 26,8%. O SS (Sepsis Score) médio foi de 21,1 ± 8,6. Os principais dados clínicos e demográficos dos pacientes estão demonstrados na Tabela 1. TABELA 1 - Diagnósticos clínicos e dados demográficos da população estudada. Idade = anos, Peso = kg, Altura = cm, AP II = Índice prognóstico APACHE II, Risco Óbito = Risco de óbito calculado pelo AP II (%), SS = Sepsis Score (Graduação de sepse). Diagnóstico Infeccioso Sexo Idade Peso Altura Pneumonia M 28 67 173 Pneumonia F 39 53 150 Pneumonia M 35 74 177 Pneumonia F 38 62 162 Pneumonia M 19 67 177 Pneumonia M 16 65 174 Pneumonia F 78 70 163 Pneumonia M 32 63 167 Pneumonia M 31 70 176 Pneumonia M 72 62 160 Pneumonia M 67 77 170 Pneumonia M 83 50 160 Celulite MID M 22 70 170 Pneumonia M 69 60 160 Pneumonia M 48 80 177 Pneumonia M 68 58 160 Pneumonia M 55 80 170 Abscesso abdominal F 41 88 162 Peritonite F 23 62 160 39,0 67,0 167,0 MEDIANA 8 MÉDIA 45,4 66,2 166,7 DP ± 21,5 ± 9,6 ± 7,7 AP II 20 31 12 11 17 26 28 28 15 28 16 27 26 33 24 27 27 14 16 26,0 22,4 ± 6,8 Risco Óbito 28 73 11 14 11 55 66 72 16 78 24 60 73 88 52 63 58 11 23 55,0 46,1 ± 26,8 SS 27 21 26 12 45 09 10 11 17 28 19 22 25 26 15 16 17 28 27 21,0 21,1 ± 8,6 Óbito não sim não não não não não não não sim sim não não sim não não sim não sim RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL A maioria dos pacientes (84,21%; n = 16) foi vítima de pneumonia com insuficiência respiratória aguda. Os outros três casos foram vítimas de celulite grave em membro inferior direito, abscesso intraabdominal e peritonite, respectivamente. Não houve qualquer tipo de complicação inerente aos procedimentos realizados (cateterização venosa central, arterial periférica e ventilação mecânica invasiva). Dos 19 pacientes estudados (42,1%; n = 8) evoluíram para o óbito. De acordo com o índice prognóstico APACHE II, a média de óbitos esperada seria de 46,2%. A média do DC dos 76 valores obtidos, correspondentes aos 19 pacientes sob estudo, pelo método de termodiluição (DC-termo) foi de 7,0 ± 1,8 L.min-1, e pelo método de Fick (DC-Fick misto) foi de 6,4 ± 1,7 L.min1 . Não houve diferença estatisticamente significativa dos DC pelos métodos DC-termo e DC-Fick misto nos tempos T1 (p = 0,0874), T2 (p = 0,0577) e T3 (p = 0,4171). No entanto, houve diferença estatisticamente significativa no tempo T4 (p = 0,0090) (Figura 1). A média das diferenças dos valores do DC nas quatro séries de medidas foi de - 0,64 ± 0,24 L.min-1 (9,1 ± 3,3%). O coeficiente de correlação encontrado entre os valores médios FIGURA 1 - Valores médios dos DC obtidos por termodiluição e pelo método de Fick misto nos tempos T1, T2, T3 e T4 (n = 19). p=0,0874 p=0,0577 p=0,4171 observados do DC-termo e DC-Fick misto foi de 0,84 (Figura 2). A comparação do DC-Fick misto e do DC-Fick atrial foi realizada em oito pacientes com o intuito de avaliar o comportamento da utilização do sangue venoso atrial como fonte para o cálculo do conteúdo venoso de oxigênio. A média dos valores do DC-Fick misto foi de 6,0 ± 1,2 L.min-1 e do DC-Fick atrial de 8,2 ± 2,4 L.min-1. Houve diferença estatística significativa na medida dos DC médios pelos métodos de DC-Fick misto e DCFick atrial nos tempos T1 (p = 0,0078), T2 (p = 0,0078), T3 (p = 0,0156) e T4 (p = 0,0078) (Figura 3). O coeficiente de correlação encontrado entre as medidas dos DC pelos métodos DC-Fick misto e DC-Fick atrial foi de 0,93 (Figura 4). Quando comparamos os valores médios dos conteúdos de O2 venoso misto e atrial, observamos diferenças importantes entre eles. Após corrigir o conteúdo de O2 atrial utilizando o fator de correção, observamos valores médios bem mais próximos entre os conteúdos aos quais corresponde uma correlação igual a 0,94. A média dos valores médios do DC-Fick misto foi de 6,0 ± 1,2 L.minFIGURA 3 - Valores médios dos DC obtidos pelos métodos de Fick misto e Fick atrial nos tempos T1, T2, T3 e T4 (n = 8). p=0,0090 p=0,0078 FIGURA 2 - Coeficiente de correlação entre os valores médios dos DC obtidos por termodiluição e pelo método de Fick misto (n = 19; r = 0,84). Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 p=0,0078 p=0,0156 p=0,0078 FIGURA 4 - Coeficiente de correlação entre os valores médios dos DC obtidos pelos métodos de Fick misto e Fick atrial (n = 8; r = 0,93). 9 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL e do DC-Fick atrial corrigido de 5,9 ± 1,4 L.min-1. Não houve diferença estatisticamente significativa entre a medida do DC-Fick misto e DC-Fick atrial corrigido nos tempos T1 (p = 0,4609), T2 (p=0,4688), T3 (p = 0,3125) e T4 (p = 0,5469) (Figura 5). A média das diferenças dos valores do DC nas quatro séries de medidas foi de 0,14 ± 0,18 L.min-1 (3,3 ± 1,3%). Após a realização do cálculo do DC através do sangue atrial corrigido, encontramos uma correlação de 0,94 (Figura 6). Quando comparamos os valores médios do DC pelos métodos DC-termo e DC-Fick atrial corrigido no grupo de oito pacientes, observamos diferença estatisticamente significativa nos tempos T1(p = 0,0234) e T3 (p = 0,0469). Nos tempos T2 (p = 0,3125) e T4 (p = 0,5469) não houve diferença estatisticamente significativa. Provavelmente essa diferença pode estar relacionada ao número (n = 8) menor de pacientes neste grupo. De acordo com os resultados obtidos, não houve diferença estatisticamente significativa entre a medida do DCtermo e DC-Fick misto nos tempos T1, T2 e T3, mas apenas no tempo T4. O coeficiente de correlação entre a medida do DC-termo e DC-Fick misto foi de r = 0,84 (n = 19). 1 FIGURA 5 - Valores médios dos DC obtidos pelos métodos de Fick misto e Fick atrial corrigido nos tempos T1, T2, T3 e T4 (n = 8). Podemos observar maior aproximação entre os valores nesses dois métodos. p=0,4609 p=0,4688 p=0,3125 p=0,5469 Houve diferença estatisticamente significativa entre a medida do DC-Fick misto e DC-Fick atrial nos quatro tempos (T1 a T4), apesar do coeficiente de correlação ter sido de r = 0,93 (n = 8). Após aplicar o fator de correção, a correlação entre o conteúdo de O2 atrial e misto foi de r = 0,94. Não houve diferença estatística significativa entre a medida do DCFick misto e DC-Fick atrial corrigido nos quatro tempos (T1 a T4) e o coeficiente de correlação foi de 0,94 (n = 8). Quando comparamos o DC-Fick atrial corrigido com a termodiluição nos oito casos, observamos diferença estatística nos tempos T1 e T3 e não observamos diferença nos tempos T2 e T4. Como comentado anteriormente, essa diferença poderia ser explicada pelo número menor de pacientes estudados (n = 8). Os valores médios do DC obtidos por termodiluição e pela calorimetria utilizando sangue misto, atrial e atrial corrigido estão apresentados na Figura 7, onde podemos observar uma discrepância nítida dos valores médios do DC-Fick atrial quando comparados com os demais. Neste estudo, a diferença média entre os valores médios dos DC obtidos pelos dois métodos (DC-termo e DC-Fick misto) foi de 0,4 ± 0,9 L.min-1 para os DC inferiores a 7 L.min-1 e para os valores médios de DC superiores a 7 L.min-1 foi de 0,9 ± 1,1 L.min-1. E as diferenças estatísticas foram significativas nas situações de DC médio > 7 L.min-1 (p = 0,0451) e não significativas nas situações de DC médio < 7 L.min-1 (p = 0,1595). DISCUSSÃO A maior responsável pela alta mortalidade no choque séptico é a Síndrome de Disfunção de Múltiplos Órgãos e Sistemas (SDMOS) que é resultante do desequilíbrio entre a oferta e demanda de oxigênio nos diversos tecidos. FIGURA 6 - Coeficiente de correlação entre os valores médios dos DC obtidos pelos métodos de Fick misto e Fick atrial corrigido (n = 8; r = 0,94). 10 FIGURA 7 - Valores médios dos DC obtidos por termodiluição e pela calorimetria utilizando sangue venoso misto, atrial e atrial corrigido (n=8). Observamos aqui valores de DC sempre maiores quando utilizamos o sangue atrial, com reaproximação desses valores quando corrigimos o sangue com o fator de correção. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL O DC é um parâmetro hemodinâmico essencial para o manuseio clínico de pacientes com desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio. Uma vez sendo possível a obtenção de seu valor num estágio inicial de instalação do quadro e de maneira menos invasiva, pode-se interferir positivamente na evolução clínica dos pacientes vítimas de choque séptico e ao mesmo tempo evitar as complicações inerentes à passagem de um cateter de Swan-Ganz. No presente estudo, o coeficiente de correlação utilizando o sangue venoso misto foi de 0,84 (n=19) e de 0,93 (n=8) quando utilizamos o sangue atrial. Estes valores se aproximam daqueles da literatura e ainda uma discreta melhora do coeficiente de correlação pôde ser observado quando se utilizou o fator de correção para o sangue atrial (r = 0,94). Este estudo apresenta a calorimetria indireta como método de monitorização não invasiva do paciente crítico utilizando os parâmetros obtidos para o cálculo de uma variável hemodinâmica de fundamental importância que é o débito cardíaco. A termodiluição possui limitações inerentes ao seu caráter invasivo e mesmo de acurácia em situações como shunt intracardíaco e patologias valvares pulmonar e/ou tricúspide. No shunt da direita para a esquerda, uma parte do líquido passa através da comunicação registrando uma curva de termodiluição abreviada semelhante à curva de alto débito. No shunt da esquerda para a direita, a curva também é abreviada porque o sangue vindo do coração esquerdo aumenta o volume nas câmaras direitas, diluindo a solução injetada. Logo, nas situações de shunt, ocorrem medidas de DC falsamente altas(38). Na regurgitação tricúspide, ocorre refluxo da solução indicadora através da válvula em direção ao átrio direito. Isso produz uma curva de termodiluição prolongada e de baixa amplitude, determinando medidas de DC falsamente baixas(39). Em pacientes ventilados mecanicamente com pressão positiva ocorre aumento das pressões em câmaras direitas, propiciando o aparecimento de regurgitação tricúspide e, portanto, erro na mensuração do DC por termodiluição(38). Em situações de baixo débito, as curvas de DC são de baixa amplitude, o que afeta a precisão da termodiluição por diminuir a razão sinal/interferência. De acordo com estudo de van GRONDELLE et al.(40), ocorre uma superestimação da medida do DC por termodiluição em situações de baixo débito. Menos invasividade e informações mais acuradas são prioridade quando se trata de cuidados a pacientes em estado crítico. Em princípio, o método de Fick aqui proposto requer o uso de cateter venoso central para coleta de amostra sangüínea. Entretanto, a cateterização cenVolume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 tral está indicada na maioria dos pacientes de terapia intensiva por outros motivos. Portanto, é uma técnica menos invasiva quando comparada com a termodiluição. A vantagem do método de Fick está na maior exatidão no cálculo do DC em situações de baixos fluxos sistêmicos, sendo preferível em relação a termodiluição nesses casos(40). É também independente de fatores que afetam o formato da curva, o que leva a erros de valores do DC pela termodiluição. Finalmente, essa técnica é ainda um procedimento menos invasivo. Neste estudo, a média das diferenças dos valores do DC nas quatro séries de medidas entre os dois métodos (DC-termo e DCFick misto) para os valores de DC inferiores a 7 L.min-1 foi de 0,4 ± 0,9 L.min-1 e para os valores de DC superiores a 7 L.min-1 foi de 0,9 ± 1,1 L.min-1. As diferenças estatísticas foram significativas nas situações de DC > 7 L.min-1 (p = 0,0451) e não significativas nas situações de DC < 7 L.min-1 (p = 0,1595). Esses valores demonstram uma aproximação maior dos dois métodos nas situações de DC menores, apesar desses valores não representarem situações de baixo débito. Técnicas menos invasivas não são largamente utilizadas por vários motivos, tais como: alto custo, complexidade e margem de erro. Além disso, a medida do DC não é um parâmetro que pode ser avaliado isoladamente. Já o cateter de Swan-Ganz oferece outros dados hemodinâmicos, tais como pressão capilar pulmonar e trabalhos cardíacos. Por outro lado, através do cateter de Swan-Ganz a medida do DC é feita pela técnica de termodiluição que possui limitações como exposto anteriormente. O método de Fick, além de fornecer o DC, permite a obtenção de outras variáveis hemodinâmicas como RVS, RVP, DO2 e em estágios mais precoces de evolução clínica, uma vez que não oferece maior invasividade. Existem algumas críticas impostas ao método de Fick, como dificuldade de coleta de gases expirados através do saco de Douglas, classicamente usado para esse fim, e necessidade de coleta de sangue arterial e venoso misto. Com a evolução tecnológica, surgiram equipamentos com melhor acurácia para medida de consumo de oxigênio, como o calorímetro. Isso despertou o interesse na utilização do método de Fick para a determinação do débito cardíaco em pacientes críticos. Entretanto, devemos considerar que o calorímetro é um equipamento de alto custo e necessita de pessoal treinado para seu manuseio. Apesar disso, a técnica é de fácil realização e fornece não somente o consumo de oxigênio como também a produção de CO 2, coeficiente respiratório, gasto energético real e outras variáveis importantes no manuseio de pacientes críticos obtidas através de equações matemáticas. Uma variável importante é a oferta de oxigênio, que podemos calcular através do débito cardíaco 11 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL e conteúdo arterial de oxigênio obtido pela coleta de amostra de sangue arterial. A calorimetria indireta é um método não invasivo e praticamente isento de riscos, que fornece com maior exatidão o consumo de oxigênio corporal, uma vez que é realizada a medida direta dessa variável e não através de cálculos como é feito pelos dados da monitorização hemodinâmica invasiva. Dessa forma, considera o consumo pulmonar de oxigênio. Existe a limitação de uso naqueles casos de pacientes utilizando altas frações inspiradas de O2. No entanto, existem estudos relatando a utilização do VCO2 como fonte para o cálculo do DC, pois essa variável não sofre influência de altas taxas de FiO2(41, 42, 43, 44). Ainda, esse método pode ser utilizado em situações precoces de instabilidade hemodinâmica, onde a necessidade de altas FiO2 geralmente não existe, servindo como triagem para a indicação de monitorização hemodinâmica invasiva. O valor da medida da saturação de O2 no sangue do átrio direito ou da veia cava superior tem sido questionado principalmente quando a saturação é maior do que 65%(45). A saturação de O2 no sangue atrial e na veia cava superior é diferente daquela do sangue misto. Isso se deve ao fato de que o consumo de oxigênio nos diferentes órgãos é variável, o consumo cerebral de oxigênio é maior e o consumo renal é menor, desproporcional ao seu fluxo sangüíneo, fazendo com que a saturação de O2 na veia cava superior seja menor do que na veia cava inferior(46, 47). Apesar disso, esses dados de saturação regional é válido para condições normais. Em pacientes críticos, sedados, ocorre uma diminuição do metabolismo cerebral e, conseqüentemente, do consumo cerebral de oxigênio, e ainda, o estado de hipermetabolismo próprio de pacientes em choque séptico pode alterar a saturação de O2 nos diversos territórios vasculares. Uma boa correlação entre a saturação atrial e venosa mista tem sido descrita por alguns autores (30, 31) . REINHART et al. compararam a saturação venosa mista com a saturação em veia cava superior em modelo experimental e demonstraram uma excelente correlação (r = 0,97)(48). LEE et al. estudaram 29 pacientes estáveis e 15 pacientes em choque circulatório (séptico, hemorrágico e neurogênico) encontrando boa correlação entre a saturação venosa atrial e mista(49). No presente estudo, a utilização do sangue atrial para fins de cálculo do conteúdo venoso de oxigênio mostrou boa correlação com o conteúdo venoso misto, principalmente quando utilizamos um fator de correção (r = 0,94). A utilização de fatores de correção é citada em inúmeros trabalhos científicos(23, 50, 51). No presente estudo, a utilização desse fator, aprimorou o método, uma vez que aproximou os valores do DC daqueles obtidos com o sangue 12 venoso misto e com a termodiluição. Apesar da boa correlação do DC Fick misto/DC Fick atrial (r = 0,93), houve diferenças estatisticamente significativas entre as medidas nos quatro tempos e, quando corrigimos esse valor, as diferenças não mais ocorreram e o coeficiente de correlação se manteve elevado (r = 0,94). A média das diferenças dos valores do DC nas quatro séries de medidas foi de - 0,64 ± 0,24 L.min-1 (9,1 ± 3,3%) para o sangue misto e de 0,14± 0,18 L.min-1 (3,3 ± 1,3%) para o sangue atrial corrigido. Isto é similar às diferenças descritas entre as medidas sucessivas de termodiluição, que é de 9,4 ± 6,2%(3), lembrando, ainda, que o DC apresenta uma variabilidade espontânea de 10%(52). Observamos, neste estudo, que a concordância entre os dois métodos foi satisfatória com base em decisões tomadas para a terapêutica. Não observamos nenhuma diferença entre os métodos que pudesse culminar com terapia incorreta. De acordo com SHOEMAKER et al. (1998), em toda técnica de monitorização, ansiedade, hiperventilação e agitação podem intensificar as respostas fisiológicas. Entretanto, em situação de emergência, não é tão importante ter a mesma acurácia requerida para condições estáveis, mesmo porque as medidas basais são freqüentemente desconhecidas e os valores ótimos para cada paciente podem variar de acordo com as comorbidades presentes. Por outro lado, na prática, 10% a 15% de diferença entre a estimativa do DC invasivo e não invasivo pode ser aceitável quando alterações de 30% a 50% do normal estão presentes(53). A termodiluição apresenta limitação de acurácia tanto em situações de alto como de baixo DC, principalmente quando o paciente apresenta hipotermia, arritmias cardíacas, calafrios e ansiedade ou quando há erros quanto à temperatura e volume do injetado. O método de Fick é menos invasivo e sofre menos influência daqueles fatores externos que interferem na termodiluição(3). Finalmente, a intervenção precoce no tratamento do choque séptico é essencial e se correlaciona com diminuição de mortalidade. RIVERS et al., em estudo publicado recentemente (2001), propuseram uma estratégia precoce na abordagem inicial de pacientes com choque séptico(54). Esses autores evidenciaram diminuição da taxa de mortalidade de 46,5% para 30,5% quando compararam a estratégia convencional (guiada por débito urinário, PAM e PVC) de tratamento com a precoce, respectivamente. Dentro da estratégia precoce estava incluída a mensuração da saturação venosa central de oxigênio (SCO2 ≥ 70%), que serviu de guia para a restauração da perfusão tecidual. A proposta de estratégias menos invasivas para a obtenção de variáveis hemodinâmicas é para se ter acesso mais precoce, e sem adição de risco, a dados que podem RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL interferir positivamente no prognóstico do paciente grave. Esta abordagem precoce é uma oportunidade crucial para intervenções terapêuticas rápidas, no momento certo, para restaurar a perfusão tecidual, antes que a disfunção orgânica irreversível se instale. Com certeza, a calorimetria indireta faz parte, hoje, desse arsenal de avaliação precoce do paciente grave. Contudo, uma experiência maior e a divulgação do método serão necessárias para que tal procedimento possa ser utilizado à beira do leito por um maior número de intensivistas e de forma eficiente. Os resultados do presente estudo permitem concluir que a calorimetria indireta é um bom método para a medida menos invasiva do débito cardíaco em pacientes vítimas de choque séptico, apresentando resultados similares àqueles obtidos pela termodiluição. A utilização do sangue venoso atrial para o cálculo do conteúdo venoso de O2 correlaciona-se bem com os métodos já definidos pela literatura para o cálculo do débito cardíaco. A tentativa de se introduzir um fator de correção para o conteúdo atrial de oxigênio mostrou-se interessante, uma vez que existe uma boa aproximação dos valores de DC obtidos com o sangue atrial com aqueles obtidos com o sangue misto e termodiluição. Dessa forma, e embora os resultados do presente estudo apontem para o fato de que a medida do DC pode ser obtida através da calorimetria indireta, estudos adicionais com amostragem maior serão necessários para que se possa validar o uso desse método em pacientes vítimas de choque séptico admitidos em unidades de terapia intensiva LIMITAÇÕES DO MÉTODO Este método como qualquer outro, apresenta limitações do ponto de vista do procedimento bem como da interpretação de resultados. As principais limitações se relacionam à coleta do sangue atrial pelo orifício proximal do cateter de Swan Ganz. Esta amostra não corresponde exatamente ao sangue venoso misto e a posição exata do cateter dentro do átrio pode variar e interferir na saturação de O2 da amostra colhida. A saturação de O2 no átrio alto, médio e baixo são diferentes. Talvez a coleta do sangue da veia cava superior pudesse ser uma opção, porém, considerando também que a posição do cateter poderia variar e a amostra não traduzir o retorno venoso efetivo. A utilização do calorímetro em pacientes necessitando de altas frações inspiradas de oxigênio não é possível. O equipamento apresenta um sensor que não faz leituras corretas quando em contato com altas concentrações de O2. Além disto, fatores externos como temperaVolume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 tura ambiente, pressão barométrica e umidade podem interferir na leitura do calorímetro. O ambiente deve ser o mais calmo possível. E, finalmente, o calorímetro é um equipamento de alto custo, o que limita o seu uso rotineiro em unidades de terapia intensiva. RESUMO O objetivo deste estudo foi comparar as medidas do débito cardíaco (DC) obtidas pela termodiluição (DCtermo) e pela calorimetria indireta (DC-Fick misto) em pacientes vítimas de choque séptico. Foram estudados 19 pacientes (14 homens e 5 mulheres) com idade média de 45,4 ± 21,5 anos, APACHE II de 22,4 ± 6,8 com risco de óbito de 46,1 ± 26,8% e sepsis score de 21,1 ± 8,6. Foram realizadas quatro séries de medidas do DC pelos dois métodos (termodiluição e método de Fick). Em oito casos foram coletadas também amostras de sangue atrial. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os valores do DC-termo e DC-Fick misto (7,0 ± 1,8 L.min-1 e 6,4 ± 1,7 L.min-1, respectivamente). A despeito dos dados encontrados no T4 (p = 0,0090), não houve diferença estatisticamente significativa para o DCtermo e DC-Fick misto obtido nas outras medidas (T1: p = 0,0874, T2: p = 0,0577, T3: p = 0,4171). Na avaliação dos oito casos (DC-Fick misto/DC Fick atrial), foi introduzido um fator de correção para aproximar os valores do conteúdo de O2 atrial (DC-Fick atrial corrigido) com o venoso misto. Não houve diferença estatisticamente significativa do DC-Fick misto e DC-Fick atrial corrigido nos 4 tempos (T1:p = 0,4609, T2: p = 0,4688, T3: p = 0,3125, T4: p = 0,5469). A média dos valores do DC pelo método de DC-Fick misto foi de 6,0 ± 1,2 L.min-1 e pelo DC-Fick atrial corrigido foi de 5,9 ± 1,4 L.min-1. O coeficiente de correlação foi de 0,84 para o DC-termo/DC-Fick misto e de 0,94 para o DC-Fick misto/DC-Fick atrial corrigido. Nós podemos concluir que a calorimetria indireta é um bom método para a medida menos invasiva do DC em pacientes vítimas de choque séptico, sobretudo naqueles casos onde a monitorização hemodinâmica invasiva não está disponível ou está contra indicada. UNITERMOS: Calorimetria indireta, termodiluição, débito cardíaco, choque séptico. AGRADECIMENTOS: Ao apoio financeiro complementar para a execução deste projeto de pesquisa fornecido pela Fundação de Apoio ao Ensino e Pesquisa (FAEPA) do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade de São Paulo. 13 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 14 Shoemaker WC, Czer LS. Evaluation of the biological importance of various hemodynamics and oxygen transport variables: which variables should be monitored in postoperative shock? Crit Care Med 1979; 7: 424-31. Parker MM, Parrillo JE. Septic Shock: hemodynamics and pathogenesis. JAMA 1983; 250: 3324-7. Shoemaker WC, Parsa MH. Invasive and noninvasive monitoring. 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Evandro Tostes Martins1,Thales Schott da Silva2, Mario Coutinho3 ABSTRACT Rationale: Trauma is the major cause of mortality in the population less than 40 years old. At least 60% of trauma deaths are secondary to head trauma. Brazil has a high incidence of traffic accidents. Objective: Our main objective was to study the epidemiology and mortality secondary to severe head trauma in the metropolitan area of Florianopolis (circa 600,000 inhabitants). We compared the impact of traffic safety campaigns on the epidemiologic variables and mortality in the period from 1994 to 2001. Material and methods: Departing from a data bank of patients admitted with severe head trauma (Glasgow Coma Scale £ 8) to the Intensive Care Unit of Hospital Celso Ramos, which is the center for neurotrauma in the metropolitan Florianopolis, in the period beginning on January 1st 1994 going to December 31st 2001. Data of 596 consecutive patients were collected and the following variables analysed: demographics, cause of trauma, Marshall´s tomographic classification for head trauma and in-hospital mortality. We compared mortality of two periods: 1994 to 1995 and 2000 to 2001. Results: Men represented 85% of the deceased, most (74%) age between 12 and 40 years old. In-hospital mortality in 1994-1995 was 44% and in 2000-2001, it decreased to 29,7%. Victims of car accidents were 33% and 12,8%, respectively. On the other hand, victims of motocycle accidents were 13% and 30,7%, respectively. The rate of pedestrians victims kept stable, 31% and 30,7%, respectively. Mass lesions evacuated (after Marshall) were 29% in the period 1994-1995 and 34,2% in the period 2000-2001. Conclusions: The use of safety belt and the new national traffic law in act since 1998, have changed the epidemiology of head trauma in Florianopolis. The prevalent victim profile of traffic accidents with head trauma leading to hospitalization changed from car passengers to motorcycle conductors accidents and pedestrians. There was a decreased in mortality rate probably due to better pre-hospital and in-hospital care, especially intensive care, frequent intra-craneal pressure monitoring, better classification and tomographic control and better treatment of clinical and surgical complications. The importance of safety in traffic campaigns with obligation of safety belt use and the new national traffic law, as well as the need of new awareness campaigns for motocycle conductors and pedestrians. Key Words: Neurointensive care; head trauma; neurotrauma; trauma; epidemiology trauma é a principal causa de mortalidade na população menor de 40 anos de idade, tem enormes implicações na sociedade tanto do ponto de vista econômico como social, principalmente por acometer uma faixa etária jovem da população, tendo como implicações a nível de saúde pública o números de anos de vida perdidos. O Brasil tem uma alta incidência de acidentes de tráfego, e agora apresenta um crescente aumento da violência inter-pessoal. O intensivista principalmente nos hospitais públicos convive diariamente com vítimas de trauma, apesar de sua freqüência, o trauma é ainda uma doença negligenciada não só por nossa sociedade ,como pela própria classe médica, temos poucos trabalhos no que concerne a O epidemiologia do trauma no nosso país, especialmente o trauma craniano que é responsável por 60-70 % das mortes de trauma. Inspirados no Traumatic Coma Data Bank começamos em outubro de 1993 a coletar dados de pacientes admitidos na UTI do Hospital Governador Celso Ramos, hospital público estadual, referência na área de Neurotraumatologia em Florianópolis. Até 31 de dezembro de 2001 tínhamos 616 pacientes cadastrados no nosso banco de dados. Durante este período de cerca de 8 anos coletando dados, foi possível monitorar a evolução do trauma na Grande Florianópolis, cidade em franco crescimento populacional de cerca de 600.000 habitantes pelas admissões de pacientes admitidos na UTI no decorrer des- 1. Especialista em Terapia Intensiva pela AMIB – Médico Intensivista do Hospital Governador Celso Ramos e UTI-do Hospital Universitário da UFSC 2. Especialista em Terapia Intensiva pela AMIB – Médico Intensivista do Hospital Governador Celso Ramos e da UTI- do Hospital Universitário da UFSC 3.Especialista em Terapia Intensiva pela AMIB – Médico Intensivista do Hospital Governador Celso Ramos. – Professor Adjunto do Departamento de Clínica Médica da UFSC Endereço para correspondência- Hospital Governador Celso Ramos- Unidade de Terapia Intensiva- Rua Irmã Benwarda, 297 CEP88015-270 Centro- Florianópolis SC – e-mail- [email protected] Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 15 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL TABELA 1: Freqüência dos traumatismos cranioencefálicos na UTI do Hospital Gobernador Celso Ramos (HGCR) no período de 1994-2001. Mortalidade Intra - hospitalar 1994-1995= 44 %; Mortalidade Intra-hospitalar 2000-2001 = 29,7 % CAUSAS 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 total ATROPELAMENTO 26 25 20 18 10 32 21 22 174 ACID. AUTO 32 22 21 15 10 21 12 6 139 MOTO 10 12 27 28 19 12 22 21 151 QUEDA 9 13 8 8 10 8 10 9 75 AGRESSÃO 2 1 4 4 3 3 5 4 26 OUTROS 4 7 2 2 3 5 5 3 31 TOTAL 83 80 82 75 55 81 75 65 596 tes anos. Tivemos a oportunidade de evidenciar como certas medidas influenciaram no perfil das vítimas de acidente de trânsito, tais como a obrigatoriedade do cinto de segurança e o novo código nacional de trânsito. Constatamos o aumento das vítimas por atropelamento e motocicletas, e a progressiva diminuição das vítimas por acidente automobilístico, observando a melhoria no atendimento das vítimas de trauma no atendimento pré e intra-hospitalar, influenciando na progressiva queda na mortalidade e pudemos influir em tomadas de decisões na mídia, em campanhas tais como a duplicação da BR-101 a melhoria no sistema de atendimento ao trauma e campanhas de prevenção. MATERIAL E MÉTODOS Estudo prospectivo, observacional de 596 casos de TCE grave admitidos na UTI (Com escala de coma de Glasgow menor ou igual a 8) pós-ressuscitação ou que evoluíssem para tal em até 48 hs), desprezadas vítimas de projéteis de arma de fogo e coma arreflexo no momento de sua admissão na UTI. Estudo realizado de 1 de janeiro de 1994 a 31 de dezembro de 2001, dados coletados por um banco de dados inspirado no Traumatic Coma Data Bank colocados na planilha EXCEL, na unidade de terapia intensiva do Hospital Governador Celso Ramos, hospital público estadual, considerado referência na área de trauma e em especial neurotraumatologia na região da Grande Florianópolis, com população estimada em 600 mil habitantes. O presente estudo tem por objetivo a avaliação destes 596 casos quanto aspectos epidemiológicos, traumatismos associados, classificação tomográfica e mortalidade relacionando com campanhas e medidas efetuadas no decorrer destes anos, principalmente relacionadas aos acidentes de trânsito. Resultados: Quanto a distribuição por sexo: 85 % foram do sexo masculino, faixa etária 12-40 anos=74 %, 41-65 anos=21 % , acima de 65 anos= 5 %.77,8 % das 16 vítimas foram conseqüentes de acidente de trânsito (acidente automobilístico, moto e atropelamento). Constatamos a progressiva queda das vítimas de acidente automobilístico após a obrigatoriedade do cinto de segurança em Florianópolis em 1995, havendo um progressivo aumento das vítimas de acidente de moto de 13,0 % em 1994-1995 para 30,7 % em 2000- 2001.Em 2001 as vítimas por acidente automobilístico passaram a ser a quarta causa de admissão sendo superadas pelas quedas. Observamos a presença de traumas associados em 45 % dos pacientes, sendo os traumas associados mais freqüentes, o de membros em 57 %, de tórax em 37 %, face em 23 % , abdomem 20 % e coluna cervical 7 %. Constatamos uma progressiva queda na mortalidade intra-hospitalar de 44 % em 1994-1995 para 29,7 % em 2000 – 2001.(Tabela 1) e (Gráfico 1). Quanto ao aspecto tomográfico as lesões difusas predominaram.Seguido pelas lesões de massa.(Tabela 2 e 3) FIGURA 1: Traumatismo cranioencefálico em Florianópolis no período de 1994-2001. Pacientes internados na UTI do HGCR. Observe-se que a partir de 1995 iniciou a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança. Em 1998, inicia-se a obrigatoriedade do uso de capacete para motociclistas. Em 2001, ocorre a duplicação da BR 1001 em Florianópolis. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL TABELA 2: Classificação tomográfica de Marshall INJÚRIA TIPO I - NENHUMA PATOLOGIA VISÍVEL NA TC INJÚRIA TIPO II - CISTERNAS VISÍVEIS COM DESVIO DA LINHA MÉDIA DE 0 - 5 MM E OU LESÕES DE DENSIDADE PRESENTES. LESÃO MISTA MAIOR QUE 25 CC PODE INCLUIR FRAGMENTOS ÓSSEOS OU CORPOS ESTRANHOS. INJÚRIIA TIPO III - CISTERNAS BASAIS COMPRIMIDAS OU AUSENTES, COM DESVIO DE LINHA MÉDIA DE 0 A 5 MM (SWELLING) , SEM LESÕES DE DENSIDADE ALTA OU MISTAS MAIOR QUE 25 CC. INJÚRIA TIPO IV - DESVIO DE LINHA MÉDIA MAIOR QUE 5 MM , AUSÊNCIA DE LESÕES DE DENSIDADE ALTA OU MISTA MAIORES DE 25 CC . INJÚRIA TIPO V - QUALQUER LESÃO CIRURGICAMENTE EVACUADA, PORÉM SUBDIVIDIMOS ENTRE HSD, HED E HIC. INJÚRIA TIPO VI - LESÃO DE DENSIDADE ALTA OU MISTA MAIOR DE 25 CC NÃO CIRURGICAMENTE EVACUADA INJÚRIA TIPO VII - LESÃO DE TRONCO CEREBRAL DISCUSSÃO Este levantamento foi realizado numa UTI geral, mas que atende a grande maioria dos pacientes politraumatizados e principalmente traumatizados de crânio grave na nossa região, com população estimada de 600.000 habitantes. Trata-se de uma UTI com boa estrutura física, e cujo corpo clínico e de enfermagem estão habituado ao manejo destes pacientes. O presente estudo nos dá um panorama da importância do trauma e em especial dos traumatizados de crânio graves na nossa região que pode ser extrapolada para a maior parte das regiões do nosso país. Observamos claramente que o trauma de crânio envolve justamente a faixa etária mais jovem e produtiva da população causando enormes repercussões médicas e sócio econômicas, sendo que 74 % dos pacientes tinham entre 12 e 40 anos de idade, implicando em grande números de anos de vida perdidos devido a freqüente presença de seqüelas incapacitantes. A relação sexo masculino – feminino que foi de 5/1 e a grande importância dos atropelamentos como causa do TCE demonstra particularidade em relação aos trabalhos americanos e europeus. Evidenciamos claramente como são efetivas as medidas de prevenção, sendo constatado com a mudança do perfil epidemiológico das vítimas após a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança em 1995, do novo código nacional do trânsito em 1998 e a duplicação da BR- 101 trecho Florianópolis – Curitiba em 2001, as medidas de prevenção tem impacto ainda maior segundo dados levantados no DETRAN –SC, quando confrontamos com a frota de veículos automotores que aumenVolume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 TABELA 3: Comparação das lesões intracranianas: Classificação de Marshal. Lesão Difusa Tipo 1994-1995 2001-2002 Tipo I 6 = 3,6 % 7 = 5 % Tipo II 38 = 23,3% 26 = 18,5 % Tipo III 36 = 22,0% 33 = 20,3 % Tipo IV 13 = 7,9% 12 = 8,2% Lesão de massa evacuada 48 = 29,4% 48 = 34,2% Lesão de massa não evacuada 8 = 4,9% 4 = 2,8 % Lesão de tronco cerebral 14 =8,5% 11 = 7,8 % tou em 60 % de 1994 a 2000 e a frota de motocicletas que aumentou em 100 % de 1994-2000. Nossos dados demonstram o quanto ainda há a ser feito em matéria de prevenção visto ao expressivo números vítimas de atropelamentos, demonstrando ainda como o pedestre ainda é alvo freqüente nas nossa estradas, e o crescente números de acidentados por motocicletas. O trauma é um assunto de toda a sociedade, tendo um caráter multidisciplinar envolvendo por exemplo a engenharia do trânsito, participando efetivamente na duplicação da BR-101, já sendo constatado na nossa UTI a diminuição em 2001 das vítimas por acidente automobilístico. Outro fator importante a ser considerado foi a progressiva queda na mortalidade em uma patologia tão grave, fruto de uma cadeia de eventos tais como uma melhoria do atendimento pré –hospitalar efetuada pelo Corpo de Bombeiros que foi mais efetiva com o seu reaparelhamento a partir de 1995, uma melhora da formação médica ao atendimento dos pacientes politraumatizados fruto da aplicação dos princípios do ATLS nas salas de emergência, melhoria do manuseio anestésico, melhor classificação e controle tomográfico com a utilização da classificação tomográfica segundo o Traumatic Coma Data Bank-Marshall, sendo possível intervir mais precocemente nas lesões de massa com a conseqüente diminuição da mortalidade e possibilitando melhor estratégia terapêutica. Houve uma melhora no atendimento dos cuidados clínicos na UTI e após a UTI pelo seguimento clínico destes pacientes por médicos intensivistas possibilitando melhor tratamento das infecções tão freqüentes nestes pacientes. Com este banco de dados foi possível influir nas estratégias de prevenção tendo acesso aos meios de comunicação, demonstrando com dados, a importância social do trauma, a efetividade das medidas de proteção, que culminaram no ano de 2001 com uma ampla campanha na nossa cidade para construção de uma unidade intermediária para politraumatizados com recursos da ini17 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL ciativa privada aplicados em hospital público. Salientamos a necessidade de formação de banco de dados em outras regiões do país e a possibilidade do intensivista ter papel preponderante em campanhas de saúde pública, principalmente relacionadas a prevenção do trauma. RESUMO O nosso principal objetivo deste trabalho é estudar a epidemiologia e a mortalidade secundária a trauma de Crânio grave na Grande Florianópolis (aproximadamente 600.000 habitantes). Comparamos o impacto das campanhas de segurança de tráfego na variação epidemiológica e mortalidade entre 1994 a 2001. A partir do banco de dados de pacientes admitidos na UTI do Hospital Governador Celso Ramos, referência em Neurotrauma na Grande Florianópolis, no período de 1 de janeiro de 1994 a 31 de dezembro de 2001, com traumatismo craniano grave (escala de Glasgow < 8). Dados de 596 pacientes consecutivos foram coletados e analisados com as seguintes variáveis: Demografia, causa do trauma, classificação tomográfica de Marshall de trauma craniano e mortalidade intra-hospitalar. Comparamos posteriormente a mortalidade relativa ao período de 1994-1995 com 2000-2001. Constatou-se que os pacientes foram predominantemente homens (85 %), com a maioria na faixa etária dos 12 a 40 anos (74%). A mortalidade intra-hospitalar em 1994-1995 foi de 44 % e em 2000-2001 a mortalidade caiu para 29,7 %. Houve uma queda das vítimas de acidente automobilístico de 33 % para 12,8 % e um aumento das vítimas de acidente de motocicleta de 13 % para 30,7 %. A percentagem de atropelamentos manteve-se 31 % e 30,7 %. Nós contatamos um aumento das Lesões de massa evacuadas de 29 para 34,2 %. Podemos influir que o uso do cinto de segurança e o novo código nacional de trânsito em vigor desde 1998 mudou a epidemiologia do trauma de crânio em Florianópolis. A causa mais importante de admissões deixou de ser o acidente automobilístico passando a ser vítimas de acidentes de moto e atropelamentos. Houve uma queda na mortalidade decorrente de melhor assistência pré – hospitalar e intra-hospitalar com melhores cuidados a nível de terapia intensiva como a mais freqüente monitorização da pressão intra-craniana, melhor classificação e controle tomográfico e melhor tratamento das complicações clínicas e cirúrgicas. Constatamos a importância das campanhas de segurança de tráfego, tais como a obrigatoriedade do uso do cinto de segurança e o novo código nacional de trânsito, como a necessidade de novas campanhas visando conscientizar os pedestres e os motociclistas. Visando melhor recuperação e reintegração à sociedade das vítimas de acidente de trânsito é necessário melhorar as estruturas em nível hospitalar e de reabilitação. Unitermos: Neurointensivismo, trauma de crânio, TCE, trauma, epidemiologia. BIBLIOGRAFIA 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 18 Becker DP, Miller JD,Ward JD, Greeberg RP, Young HF, Sakalas : The outcome from severe head injury with early diagnosis and intensive management. J Neurosurg 1977;47:491, Sosin DM, Saks JJ,Smith SM: Head Injury-associated deaths in United States from 1979 to 1986. JAMA. 1989;27;262:2251-5. Ghajar J, Hariri R, Narayan R, Iacono L et al. Survey of critical care management of comatose, head-injured patients in the United States.Critical Care Medicine 1995;l23:560-7. Gennarelli T: Infuence of the type of intracranial lesion on the outcome from severe head injured. J Neurosusurg 1982;56:26-32, Kalsbeck WD , McLauren RL, Harris BSH, et al: The national head and spinal cord injury survey: Major Findings. J Neurosurg 1981;53(S)19-31. Eisenberg HM, Gagry HE, Aldrich EF: Initial CT findings in 753 patients with severe head injury. A report from the NIH Traumatic Coma Data Bank. J Neurosurg 1990;73: 688-98. Marshall LF, Becker DP , Bowers SA, et al : The Traumatic Coma Data Bank: Design, methods, and basaelines characteristics. J. Neurosurg 1983;59:276-8. Marshall LF, Marshall SB, Klauber et al: A new classification of severe head 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. injury based on computerized tomography. J Neurosurg 1991;75 ( Suppl): S14-S20. Cruz J, Allen SJ , Miner ME: Hypoxic insults in acute brain injury. Crit Care Med 1985;13 (Abstract): 284. Cooper P.Head Injury R 3rd ed Willianms Wilkins 1993. Bowers SA , Marshall LF: Outcome in 200 consecutives cases of severe head injury treated in San Diego County: A prospective analisys. Neurosurgery 1980;6:237-42. Rippe. JM, Irwin R.S. Intensive Care Medicine 1991;1459-78. Martins E.T, Modesto.M.Validação de uma nova classificação tomográfica do TCE grave na UTI neurológica.Rev.Bras.Terap.Intens, 1994;6:179-84. Martins E.T.,Modesto M. Lesões vasculares isquêmicas no TCE grave. Rev.Bras.Terap.Intens 1994;6:185-7. Martins E.T, Bruggemann M, Coutinho M..Estudo prospectivo de 200 casos de TCE grave na Grande Florianópolis. Rev. Bras.Terap.Intens 1997;9:201-4. Thurman DJ, Sniek JE,Johnson D, et al .Guidelines for Surveillance of Cental Nervous System Injury.Atlanta:Centers for Disease Control and Prevention,1995. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL Gênero e Mortalidade em Cirurgia de Revascularização do Miocárdio Gender and Mortality in Coronary Artery Bypass Graft Surgery Kelson Nobre Veras1, José Lira Mendes Filho2, Paulo Henrique Medeiros Costa3, Paulo Rego Medeiros4, Sebastião Nunes Martins5, Jayro Tadeu Paiva Vasconcelos6 ABSTRACT It has been reported that women present a higher morbidity and mortality after coronary artery bypass graft surgery than men. It was collected, in a retrospective study, 328 adult patients’ clinical data submitted to coronary artery bypass graft surgery in Hospital São Marcos (Teresina, Piauí). Age, mortality, body mass index, duration of ICU stay and several concurrent illnesses and surgical complications happened with similar frequencies in both groups. Differences with statistical significance observed between sexes were: smaller body size in women; larger medium number of vascular grafts employed in men than in women; more frequent uniarterial coronary disease among women, however with equal frequency of more serious coronary artery disease between sexes; smaller medium values of left ventricular ejection fraction and left ventricular fractional shortening in men. Univariate predictors of mortality were patients medium age, concomitant valvular dysfunction and perioperative complications as shock, acute myocardial infarction, cardiac arrhythmias and respiratory complications. In conclusion, it was identified a similar postoperative mortality in both sexes submitted to surgical myocardial revascularization. Once factors associated with perioperative mortality were similar for both men and women, this probably explains the absence of differences in mortality between sexes found in this study. KEY WORDS: Coronary Artery Bypass, Hospital Mortality, Risk Factors iversos autores relataram que as mulheres apresentam morbidade e mortalidade mais altas após cirurgia de revascularização coronariana do que os homens1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14. Por causa da prevalência crescente de doença arterial coronariana em mulheres, junto com o envelhecimento geral da população, o número de mulheres idosas que requerem cirurgia de revascularização continuará, provavelmente, aumentando. Entender os fatores que predispõem as mulheres à mortalidade perioperatória é essencial para tecer estratégias em busca de melhores resultados para os pacientes. O propósito deste estudo foi identificar variáveis associadas com mortalidade nos pacientes submetidos à cirurgia de revascularização coronariana no Hospital São Marcos e determinar se existem diferenças entre os sexos nas características clínicas, morbidade e mortalidade. D MATERIAL E MÉTODOS Dados clínicos foram coletados retrospectivamen- te de 328 pacientes adultos submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica no Hospital São Marcos (Teresina, PI) de julho de 1999 a outubro de 2001. Os dados foram obtidos a partir do prontuário eletrônico dos pacientes, bem como de revisão de laudos de ecocardiografias e dos relatórios de cineangiocoronariografia. Os dados demográficos incluídos foram: sexo, idade, peso, altura, superfície corpórea e índice de massa corpórea, definido pelo produto do peso corporal pelo quadrado da altura, e taxas de mortalidade. As informações clínicas colecionadas incluíram a duração da internação na UTI, número de enxertos realizados, extensão da doença coronariana, presença de comorbidades (hipertensão, diabetes, insuficiência renal, pneumopatias, insuficiência cardíaca congestiva, valvulopatias, infarto agudo do miocárdio prévio), comprometimento da função sistólica ventricular (avaliada através da fração de ejeção e fração de encurtamento sistólico do diâmetro ventricular ou delta-D, além da presença de hipo ou acinesia ventricular em exames pré-operatórios), presença de angina instável, 1 Médico assistente da UTI de pós-operatório cardíaco do Hospital São Marcos Equipe de cirurgia cardiológica do Hospital São Marcos 6 Coordenador do Serviço de Terapia Intensiva do Hospital São Marcos INSTITUIÇÃO: Hospital São Marcos, Teresina, Piauí ENDEREÇO PARA CONTATO: Kelson Nobre Veras; rua Teófilo dos Santos, 1382; CEP: 64056-450; Teresina (PI) – Fone: (86) 981-8526; e-mail: [email protected] 2,3,4,5 Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 19 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL aneurisma ventricular e de complicações pós-operatórias, como complicações respiratórias (broncoespasmo, necessidade de reintubação, insuficiência respiratória, derrame pleural, pneumonia, pneumotórax, síndrome do desconforto respiratório agudo, edema agudo de pulmão), insuficiência renal aguda, infarto agudo do miocárdio, hipotensão nãoespecificada, choque cardiogênico, necessidade de uso de balão intraórtico, arrtimias, insuficiência cardíaca congestiva, complicações neurológicas (acidente vascular cerebral, convulsões, confusão mental, agitação psicomotora) e outras complicações (infecções, coagulação intravascular disseminada, parada cardiorrespiratória revertida). As informações foram lançadas em um banco de dados computadorizado, através do qual também foram realizados os cálculos estatísticos. Para análises univariadas, as variáveis discretas foram analisadas usando o teste do qui-quadrado ou teste exato de Fisher, onde fosse apropriado. As variáveis contínuas foram avaliadas com o teste t de Student. Considerouse haver uma associação entre duas variáveis quando o intervalo de confiança para o odds ratio não incluía 1,0. A significância estatística foi assumida em um valor de p < 0,05. Os dados para variáveis contínuas são apresentados como média ± desvio padrão. RESULTADOS Ao todo, foram analisados 328 pacientes, sendo 35% do sexo feminino e 65% do sexo masculino. A taxa de mortalidade geral foi de 7,31% (24 pacientes). Não houve grandes diferenças entre os sexos em suas características clínicas e demográficas (TABE- TABELA 1. Características demográficas e clínicas, conforme o sexo, de 328 pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica no Hospital São Marcos (Teresina – PI), no período de julho de 1999 a outubro de 2001. Idade (média ± DP) Mortalidade Feminino Masculino p 63,8 ± 9,2 62,6 ± 9,9 0,29 6,10% 9,57% 0,25 SC (média ± DP) 1,59 ± 0,16 1,77 ± 0,17 < 0,001 IMC (média ± DP) 0,82 25,53 ± 4,10 25,43 ± 3,66 Duração da internação em dias (média ± DP) 3,4 ± 2,2 3,8 ± 2,6 0,17 Número de enxertos (média ± DP) 2,9 ± 1,2 3,3 ± 1,1 0,005 24,56% 12,32% 0,005 0,56 Extensão da doença coronariana Uniarterial Biarterial 26,32% 29,38% Triarterial 49,12% 58,29% 0,11 27,08% 50,65% 0,009 69,7% ± 0,2 62,3% ± 0,2 0,02 30,4 ± 4,8 25,3 ± 4,8 0,03 FE < 65% e/ou delta-D < 30% FE (média ± DP) Delta-D (média ± DP) Comorbidades 65,22% 62,91% 0,68 Valvulopatias 13,91% 8,92% 0,16 Diabetes mellitus 13,91% 11,27% 0,48 Hipertensão arterial 31,30% 35,68% 0,43 ICC 33,04% 33,33% 0,96 Angina instável 11,30% 7,98% 0,32 IAM prévio 30,43% 37,56% 0,20 Complicações pós-operatórias 49,57% 51,64% 0,72 Síndrome de baixo débito1 61,40% 55,45% 0,73 Respiratórias 36,84% 30,00% 0,52 Neurológicas 29,82% 30,00% 0,86 Arritmias 21,05% 19,09% 0,87 7,02% 8% 0,74 IAM 1. Incluindo choque cardiogênico, choque por hemorragia importante e hipotensão não especificada. DP = desvio padrão; SC = superfície corpórea; IMC = índice de massa corpórea; FE = fração de ejeção; delta-D = fração de encurtamento; ICC = insuficiência cardíaca congestiva; IAM = infarto agudo do miocárdio 20 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL LA 1). Idade, mortalidade, índice de massa corpórea, duração da internação na UTI e os diversos tipos de comorbidades e complicações pós-cirúrgicas ocorreram com freqüências semelhantes em ambos os grupos. As diferenças com significância estatística observadas entre o sexo feminino e masculino são relatadas a seguir. As mulheres apresentavam uma superfície corpórea inferior à dos homens (1,59 ± 0,16 e 1,77 ± 0,17; p < 0,001). O número de enxertos vasculares venosos ou arteriais empregados foi, em média, maior nos homens do que nas mulheres (3,3 ± 1,1 vs. 2,9 ± 1,2; p = 0,005). A doença uniarterial foi mais comum no sexo feminino (24,56% vs. 12,32%; p = 0,005), contudo ambos os sexos apresentaram igual freqüência de doença coronariana mais grave. Os valores médios da fração de ejeção foram menores no sexo masculino (62,3% ± 0,2 vs. 69,7% ± 0,2; p = 0,02), o mesmo sendo ob- servado para a fração de encurtamento (25,3% ± 4,8 vs. 30,4% ± 4,8; p = 0,03). Os fatores preditivos univariados de mortalidade foram a idade do paciente, a presença de disfunção valvular no momento da cirurgia e complicações pós ou perioperatórias como síndrome de baixo débito, infarto agudo do miocárdio, arritmias cardíacas e complicações respiratórias (TABELA 2). Além de uma média etária estatisticamente superior nos casos de óbito, a mortalidade foi maior nos pacientes com idade no quartil superior quando comparados ao quartil inferior da idade (13,79% vs. 3,57%; p = 0,02; odds ratio = 4,32; intervalo de confiança de 95%: 1,08 a 20,13). Não foi detectada associação entre área de superfície corporal ou índice de massa corpórea e mortalidade (TABELA 2). A mortalidade entre os pacientes com valores de superfície corporal no quartil inferior foi TABELA 2 – Fatores preditivos univariados de mortalidade de 328 pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica no Hospital São Marcos (Teresina – PI), no período de julho de 1999 a outubro de 2001. SEM ÓBITO ÓBITO Idade (média ± DP) 62,63 ± 9,24 67,79 ± 10,26 SC (média ± DP) 1,71 ± 0,18 1,65 ± 0,21 IMC (média ± DP) 25,52 ± 3,81 24,80 ± 3,87 Comorbidades odds ratio (IC 95%) p 0,01 0,12 0,39 0,45 0,18 0,10 0,14 0,02 2 0,83 2 0,17 2 0,90 70,83% 63,16% 1,42 (0,53-3,90) 52,08% 37,50% 0,55 (0,21-1,42) IAM 55,21% 37,50% 0,49 (0,19-1,25) Hipertensão arterial 53,65% 37,50% 0,52 (0,20-1,34) Valvulopatias 14,06% 33,33% 3,06 (1,07-8,55) Angina instável 14,06% 12,50% 0,87 (0,19-3,39) Diabetes mellitus 19,79% 8,33% 0,37 (0,06-1,73) Número de enxertos (média ± DP) 3,1 ± 1,2 3,2 ± 1,1 Uniarterial 17,28% 8,33% 0,44 (0,07-2,00) 0,20 2 Biarterial 28,24% 29,17% 1,05 (0,38-2,80) 0,92 Triarterial 54,49% 62,50% 1,39 (0,55-3,57) 0,45 FE < 65% e/ou delta-D < 30% 42,98% 27,27% 0,50 (0,10-2,22) 0,24 2 FE (média ± DP) 65,08% ± 0,17 65,91 % ± 0,11 Delta-D (média ± DP) ICC Extensão da doença coronariana 0,87 27,33% ± 0,09 30,00% ± 0,06 Complicações 45,72% 91,67% 0,45 Síndrome de baixo débito1 26,64% 62,50% 4,59 (1,80-11,88) < 0,001 IAM 2,30% 25,00% 14,14(3,72-53,76) < 0,0012 Arritmias 8,88% 25,00% 3,42 (1,11-10,18) 0,022 Neurológicas 15,46% 12,50% 0,78 (0,18-2,92) 0,492 Respiratória 26,97% 83,33% 13,54 (4,20-48,35) < 0,001 13,06 (2,90-81,82) < 0,001 1. Incluindo choque cardiogênico, choque por hemorragia importante e hipotensão não especificada. 2. Teste exato de Fisher IC 95% = intervalo de confiança de 95%; DP = desvio padrão; SC = superfície corpórea; IMC = índice de massa corpórea; FE = fração de ejeção; delta-D = fração de encurtamento; ICC = insuficiência cardíaca congestiva; IAM = infarto agudo do miocárdio Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 21 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL TABELA 3 – Prevalência da mortalidade conforme área de superfície corporal, índice de massa corpórea e fração de em 328 pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica no Hospital São Marcos (Teresina – PI), no período de julho de 1999 a outubro de 2001. Área de Superfície Corpórea QUARTIL 1 QUARTIL 3 11,25% 5,06% odds ratio (IC 95%) p 2,38 (0,63-9,66) 0,15 2,02 (0,77-5,23) 0,11 1,49 (0,32-9,59) 0,45 * 2,49 (0,55-12,67) 0,19 0,50 (0,02-8,61) 0,53 * 0,34 (0,02-2,79) 0,26 * 0,00 (0,00-6,56) 0,42 * Área de Superfície Corpórea QUARTIL 1 QUARTIL > 1 11,25% 5,91% Índice de Massa Corpórea < 30(kg/m2) ³ 30(kg/m2) 7,45% 5,13% Índice de Massa Corpórea QUARTIL 1 QUARTIL 3 8,54% 3,61% Delta-D QUARTIL 1 QUARTIL 3 4,17% 1,04% Fração de Ejeção < 50% ³ 50% 3,70% 10,20% Fração de Ejeção < 40% ³ 40% 0,00% 9,48% * Teste exato de Fisher IC 95% = intervalo de confiança de 95% de 11,25% (TABELA 3) e aquela dos pacientes com valores no quartil superior foi de 5,06% (p = 0,15). Mesmo comparando os pacientes com área de superfície corpórea no quartil inferior com todos os outros pacientes com superfície corpórea maior, a diferença na mortalidade ainda não foi significativa (p = 0,11). Os pacientes obesos, definidos como aqueles com um índice de massa corpórea maior ou igual a 30 kg/ m2, apresentaram mortalidade similar aos não obesos (5,13% vs. 7,45%, respectivamente; p = 0,60). De forma semelhante, os pacientes com índice de massa corpórea com valores no quartil inferior comparados a pacientes com valores de índice de massa corpórea no quartil superior não apresentaram diferenças na mortalidade (p = 0,19; TABELA 3). A fração de ejeção ventricular esquerda e a fração de encurtamento sistólico do diâmetro ventricular (delta-D), analisados isoladamente ou em conjunto não mostraram valor preditivo para mortalidade, mesmo quando comparados os valores dos quartis inferiores com os quartis superiores (TABELAS 2 e 3). Os pacientes com disfunção valvular concomitante à cirurgia e arritmias no pós-operatório apresentaram médias de faixa etária mais elevadas. Não houve dife22 TABELA 4 – Comparação da idade com outros fatores preditivos da mortalidade de 328 pacientes submetidos à cirurgia de revascularização miocárdica no Hospital São Marcos (Teresina – PI), no período de julho de 1999 a outubro de 2001. IDADE (média ± DP) p Presente 68,83 ± 8,39 0,0002 Ausente 62,37 ± 9,37 VALVULOPATIA CHOQUE Presente 64,44 ± 9,33 Ausente 62,41 ± 9,38 0,08 IAM Presente 65,85 ± 11,64 Ausente 62,89 ± 9,30 0,27 ARRITMIA Presente 68,76 ± 8,41 Ausente 62,39 ± 9,25 0,0002 COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS Presente 65,04 ± 9,22 Ausente 62,62 ± 9,40 0,09 DP = desvio padrão RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL rença significativa na idade dos pacientes com outros fatores preditivos de mortalidade pós-operatória no presente estudo (TABELA 4). DISCUSSÃO A presente casuística foi composta por uma proporção significativa de mulheres (cerca de 35% dos pacientes). Contudo, a mortalidade perioperatória foi semelhante entre homens e mulheres. Outras casuísticas encontraram resultado semelhante 13,15,16,17. Em nenhuma das referências consultadas, porém, encontrou-se uma maior mortalidade entre os homens. Os fatores de risco para a cirurgia de revascularização miocárdica podem ser diferentes entre os sexos. O próprio sexo feminino foi considerado um fator de risco para esta cirurgia1,3,4,5,6,12,18,19,20,21,22,23. Contudo, em várias séries cirúrgicas recentes, diversas hipóteses têm sido tentadas para explicar porque em alguns estudos a mortalidade foi maior no sexo feminino13,15,16,17,24,25,26,27. Comparado com homens, o começo da doença arterial coronária sintomática em mulheres é retardado em até 10 a 15 anos após a menopausa28. Deste modo, as mulheres são encaminhadas para cirurgia de revascularização em uma idade mais avançada que os homens e com mais condições de comorbidade, como diabetes e hipertensão1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,23. Na presente análise, porém, a idade média entre os sexos não apresentou diferença estatística. A duração da internação na UTI, prevalência de doença coronariana avançada e os diversos tipos de comorbidades e complicações pós-cirúrgicas também ocorreram com freqüências semelhantes em ambos os grupos. Dificuldades com a técnica cirúrgica devido ao menor tamanho da artéria coronária foi sugerida como importante fator para os resultados piores observados nas mulheres que se submetem à cirurgia de revascularização do miocárdio 1,2,4,11,12. Porém, alguns estudos acharam que a superfície corpórea (um substituto para o tamanho da artéria coronária) não é um fa tor preditivo de mortalidade operatória 5,8,10,13,15,23. Outros mostraram que não é mais provável que as mulheres tenham artérias coronárias menores que os homens apesar de terem uma menor superfície corpórea e que as mesmas não estão em risco mais alto de oclusão do enxerto de artéria coronária que os homens 13,14. Foi sugerido que a discrepância entre estes resultados mais antigos e os estudos posteriores pudesse ser devido a melhorias da técnica cirúrgica e ao uso mais amplo de drogas antiplaquetárias8,10,13,14. Apesar do presente estudo não Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 ter dados quanto ao diâmetro das artérias coronárias, a superfície corpórea do sexo feminino foi estatisticamente menor que a do sexo masculino, sem que isto agregasse uma maior mortalidade às mulheres, estando, portanto, em consonância com as evidências científicas acima relatadas. O número médio de enxertos vasculares empregados foi discretamente maior nos homens do que nas mulheres, embora de forma estatisticamente significativa (p = 0,005). A função sistólica do ventrículo esquerdo pré-cirurgia apresentava-se mais freqüentemente comprometida no sexo masculino, conforme avaliação da fração de ejeção e da fração de encurtamento sistólico (delta-D). FINDLAY et al. 25 e MICKLEBOROUGH et al.13 encontraram um resultado semelhante, embora ALDEA et al. 15 tenham achado uma fração de ejeção média similar entre os sexos. Por outro lado, mesmo o achado de uma função ventricular inferior no sexo masculino não esteve associado a uma tendência a maior mortalidade neste grupo. Não foi encontrada diferença no índice médio de massa corpórea entre os dois grupos analisados e não se detectou associação significativa entre obesidade e óbito. Embora a obesidade seja sabidamente um fator de risco para a ocorrência de doença coronariana, os dados na literatura são poucos e contraditórios quanto à análise de sua importância para a mortalidade perioperatória nas cirurgias de revascularização miocárdica. CHRISTAKIS et al.22 encontraram uma maior prevalência de mortalidade cirúrgica no quartil superior do índice de massa corpórea, apenas no sexo feminino. Por outro lado, ENGELMAN et al.29 demonstraram uma associação independente entre um índice de massa corpórea baixo (< 20 kg/m2) e mortalidade elevada após cirurgia cardíaca. Os fatores preditivos univariados de mortalidade encontrados na presente série foram a idade do paciente, a presença de disfunção valvar concomitante e complicações perioperatórias como síndrome do baixo débito, infarto agudo do miocárdio, arritmias cardíacas e complicações respiratórias. Tem sido amplamente relatado que a idade adiciona risco para mortalidade em cirurgia cardíaca e que a mesma é um importante fator na explicação de resultados operatórios piores para mulheres3,4,6,7,8,9,11,13,30,31. Na presente casuística, a idade média dos casos de óbito foi estatisticamente superior à dos que sobreviveram à cirurgia, assim como as faixas etárias superiores apresentaram maior incidência de óbito. Além disto, a idade média foi estatisticamente superior nos pacientes que apresentaram outros fatores preditivos 23 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL de mortalidade, como a presença de disfunção valvar e o desenvolvimento de arritmias importantes no pósoperatório. O desenvolvimento de complicações no pós-operatório apresentou uma forte associação com maior mortalidade, com exceção das complicações neurológicas. Como estudo retrospectivo que foi, a presente análise pode ter sido prejudicada por deficiências de registro em relação a esta variável. O acidente vascular cerebral é reconhecido como um importante motivo de permanência hospitalar prolongada, custos hospitalares mais elevados e aumento da mortalidade pós-cirurgia cardíaca6,31,32,33. A maioria dos acidentes vasculares cerebrais perioperatórios é o resultado de embolia cerebral, embora hipoperfusão cerebral durante a circulação extracorpórea, períodos de hipotensão perioperatória, ou ambos também possam contribuir para o dano cerebral31,32,33. A aterosclerose da aorta ascendente é uma importante fonte de embolia cerebral e um dos mais importantes fatores de risco para acidente vascular cerebral póscirurgia cardíaca31,32,34,35,36. Os dados aqui apresentados mostram que as complicações cardíacas, incluindo infarto agudo do miocárdio perioperatório, diversos tipos de arritmias e síndrome de baixo débito, manifesta como choque e/ou hipotensão de mecanismos diversos, são causas importantes de mortalidade operatória, conforme relatado previamente27. Portanto, diversamente de vários estudos já citados, nossos dados não evidenciaram uma associação entre sexo e mortalidade perioperatória na cirurgia de revascularização do miocárdio. A ausência de diferenças na idade, na prevalência de comorbidades ou complicações pós-operatórias, na duração da internação na UTI ou na prevalência de doença coronariana avançada, diferentemente do encontrado por outros pesquisadores1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,17,23, deve justificar o encontro na presente análise de um índice de óbitos semelhante entre os sexos. Em conclusão, as principais variáveis associadas a uma maior mortalidade perioperatória foram a presença de disfunção valvular, idade e as complicações pós- operatórias de síndrome de baixo débito cardíaco, infarto agudo do miocárdio, arritmias e complicações respiratórias. A semelhança entre os sexos em relação às características pré-cirúrgicas, incidência de complicações perioperatórias e a ausência de associação com maior mortalidade perioperatória das variáveis que apresentaram diferença estatística entre homens e mulheres provavelmente explicam o nosso achado. RESUMO Tem sido relatado que as mulheres apresentam morbidade e mortalidade pós-cirurgia de revascularização coronariana superiores aos homens. Reuniu-se, em um estudo retrospectivo, os dados clínicos de 328 pacientes adulto submetidos a cirurgia de revascularização miocárdica no Hospital São Marcos (Teresina, Piauí). Idade, mortalidade, índice de massa de corporal, duração da permanência na UTI e várias comorbidades e complicações cirúrgicas aconteceram com freqüências semelhantes em ambos os sexos. As diferenças com significação estatística observadas entre os sexos foram: menor superfície corpórea nas mulheres; maior número médio de enxertos vasculares em homens; doença coronariana uniarterial mais freqüente entre mulheres, porém com igual freqüência de doença coronariana mais séria entre os sexos; menores valores médios da fração de ejeção e da fração de encurtamento ventricular esquerda nos homens. As variáveis preditivas univariadas de mortalidade foram a idade média dos pacientes, a presença de disfunção valvular e complicações perioperatórias como síndrome de baixo débito, infarto agudo do miócardio, arritmias cardíacas e complicações respiratórias. Em conclusão, foi identificado uma mortalidade pós-operatória semelhante em ambos os sexos submetidos a revascularização miócardica cirúrgica. Uma vez que os fatores associados com maior mortalidade perioperatória foram semelhantes para homens e mulheres esta é, provavelmente, a explicação para a ausência de diferenças na mortalidade entre os sexos neste estudo. Unitermos: Cirurgia de revascularização coronariana, mortalidade hospitalar, fatores de risco. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 24 Tyras DH, Barner HB, Kaiser GC, et al. Myocardial revascularization in women. Ann Thorac Surg 1978; 25:449-53. Fisher LD, Kennedy JW, Davis KB, et al. Association of sex, physical size, and operative mortality after coronary artery bypass in the Coronary Artery Surgery Study (CASS). J Thorac Cardiovasc Surg 1982; 84: 334-41. Hall RJ, Elayda MA, Gray A, et al. Coronary artery bypass: long-term followup of 22,284 consecutive patients. Circulation 1983; 68 (suppl. II): 20-6. 4. 5. 6. Loop FD, Golding LR, MacMillan JP, et al. Coronary artery surgery in women compared with men: Analyses of risks and long-term results. J Am Coll Cardiol 1983; 1: 383-90. 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Adm.3 custo da terapia intensiva consome cerca de 20% dos custos de internação, apesar de contar apenas com 5% dos leitos hospitalares.3 Os custos dos pacientes terminais aumentaram cerca de 4 vezes de 1976 a 1988.4 Boa parte deste aumento se deveu à melhoria da tecnologia utilizada, mas também à política institucional mal organizada para a melhoria da relação custo/benefício do processo empregado no gerenciamento dos recursos disponíveis.5 O processo gerencial dos recursos deveria incluir um sistema de educação permanente da equipe assistencial sobre o real custo do material utilizado no tratamento dos pacientes internados. Em outras palavras, faz-se necessário um contínuo processo de conscientização dos profissionais da área da saúde sobre o custo da assistência médica, visando a escolha de alternativas com uma relação custo/benefício mais adequada.6 Esse estudo visou avaliar o conhecimento dos profissionais, envolvidos na terapia intensiva no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) , do custo de medicamentos e materiais comumente utilizados por eles em suas prescrições. O MATERIAL E MÉTODO O estudo foi realizado no mês de março de 2002. Médicos intensivistas (incluindo os médicos residentes do Serviço de Medicina Intensiva), médicos assistentes não pertencentes ao quadro assistencial do CTI, médicos residentes de outras áreas (essas duas últimas categorias de médicos sistematicamente internam pacientes no CTI) e enfermeiros de terapia intensiva lotados no CTI foram convidados a participar do estudo. Aqueles que concordaram preencheram um questionário estimando o preço de 15 medicamentos e 13 materiais de consumo usados com freqüência nas prescrições realizadas no CTI. (Tabela 1). A estimativa foi realizada sem a possibilidade de consulta ou troca idéia com outros profissionais da área. Os preços assim estimados foram considerados corretos quando apresentavam uma variação de no máximo 20% a mais ou a menos do que o preço real pago pela instituição (HCPA) aos fornecedores. A análise estatística foi realizada usando-se o programa Epi-Info Versão 6.0, realizando-se avaliação de freqüências, teste t para amostras não pareadas, e teste de Friedman com um coeficiente de significância de 0,05. TABELA 1: Medicamentos e material cujos preços foram estimados pelos participantes do estudo. Medicamentos Material de Consumo Propofol 100 ml (frasco) Intracate Pancurônio (frasco) Sonda de Folley 16 Noradrenalina (ampola) Filtro para ventilador Amicacina 500 mg Tubo traqueal 8,5 Solução glicosada a 5% 500 ml Equipo para bomba de infusão Solução Salina 0,9% 500 ml 1 L/min de oxigênio Morfina 10 mg (ampola) Bolsa coletora de urina Ampicilina-Sulbactan frasco de 2,5 g Cateter para henodiálise veno-venosa Midazolan 15 mg (frasco) Sistema de aspiração traqueal fechado Imipenem-Cilastatina 500 mg (frasco) Cateter de termodiluição (Swan-Ganz) Dopamina (ampola) Introdutor de Swan-Ganz Nitroglicerina (frasco) Filtro para henodiálise veno-venosa contínua Fentanil 10 ml (frasco) Omeprazol (ampola) 1 Professor Adjunto do Depto. de Medicina Interna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Chefe do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. 2 Acadêmico de Medicina Universidade Federal de Pelotas 3 Gerente do CTI- HCPA. 26 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL TABELA 2: Percentagem de acertos dos preços dos medicamentos e material de consumo por categoria profissional. P > 0,05 Categoria Profissional Percentagem de Acertos Médicos externos 10,8 % Médicos Intensivistas (incluindo os residentes de Medicina Intensiva) 10,9 % Enfermeiros de Terapia Intensiva 9,3 % Médicos Residentes (excluindo os de Medicina Intensiva) 10,4 % RESULTADOS Responderam ao questionário 64 profissionais, dos quais 5 (7,8%) eram médicos externos ao CTI, 20 (31,3%) eram intensivistas ou residentes de medicina intensiva, 26 (40,6%) enfermeiros e 13 (20,3%) residentes de outras áreas. Ao todo foram 1.792 avaliações de preços. Apenas 181 (10,1%) estavam dentro do critério adotado como correto (preço real pago pelo HCPA ± 20 %). Não houve diferença estatisticamente significativa entre as diferentes categorias de profissionais. (Tabela 2). A relação de preços e a dispersão das respostas, bem como o percentual de acertos para cada item podem ser vistos na Tabela 3. TABELA 3: Relação de material cujos preços foram pesquisados, com os dados de dispersão dos valores aferidos e percentual de respostas certas para cada item. Medicamento e Insumos* Preço em Reais pago pelo HCPA** Propofol 82,06 Valor mínimo estimado (em Reais) Valor máximo estimado (em Reais) Mediana (em Reais) Desvio padrão % de acertos 2,00 500,00 100,00 105,30 10,9 Pancurônio 3,45 0,05 100,00 10,00 27,80 6,3 Noradrenalina 5,80 10,00 50,00 9,00 12,40 20,3 Amicacina 1,25 0,50 200,00 30,00 48,70 0 SG 5% 0,95 0,10 30,00 2,75 5,82 15,6 Morfina 1,98 0,02 30,00 4,00 6,90 14,1 Ampi+Sulbact 19,99 2,00 150,00 25,00 37,30 10,9 Sol. Sal. 0,9% 0,49 0,10 50,00 2,00 7,00 6,3 Midazolan 2,39 1,00 120,00 10,00 20,60 6,3 Imipenem 37,20 4,00 500,00 70,00 198,21 7,8 Dopamina 0,31 0,50 60,00 10,00 12,56 0 9,22 1,00 120,00 20,00 22,52 21,9 60,00 2,00 500,00 95,00 122,92 1,6 Nitroglicerina Sol. de NPT Fentanil 2,25 1,00 250,00 10,00 33,90 6,3 Omeprazol 5,50 2,00 150,00 20,00 26,36 10,9 Intracate 1,53 1,50 300,00 30,00 54,45 9,4 Cat. Folley 15,02 1,50 100,00 20,00 24,45 1,6 Filtro para ventilador 13,00 2,00 700,00 15,00 17,20 17,2 Tubo traqueal 3,17 2,00 300,00 10,00 38,5 4,7 Equipo p/ BI 4,32 0,08 50,00 6,50 12,73 21,9 Oxigênio 1 l/min 0,0015 0,01 200,00 7,50 37,28 0 Bola para coleta de urina 4,50 0,50 200,00 10,00 12,50 12,5 Cateter para hemodiálise 74,03 10,00 300,00 83,00 70,95 12,5 Sistema de aspiração traqueal Swan-Ganz 35,00 0,50 2.000,00 20,00 31,10 10,9 122,00 10,00 2.000,00 150,00 289,02 17,2 Introdutor de S-G 58,00 5,00 700,00 50,00 99,60 25,0 Filtro de hemodiálise 27,00 10,00 3.000,00 135,00 443,45 3,1 * Melhor definição de cada item pode ser vista na Tabela 1. ** Valores fornecidos pelo centro de custos do HCPA na data da realização do estudo. Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 27 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO ORIGINAL DISCUSSÃO As profundas mudanças no sistema assistencial, o avanço tecnológico ocorridos nos últimos anos alterou profundamente os orçamentos e o déficit do sistema assistencial à saúde no mundo inteiro e especialmente em países do terceiro mundo. Como médicos, estamos inteiramente voltados ao atendimento dos pacientes, mas focamos pouca atenção ao custo que esse atendimento gera. Poucos estudos têm sido dirigidos para avaliar quanto os profissionais da saúde conhecem sobre os custos daquilo que prescrevem ou usam durante o trabalho assistencial.7 Alguns estudos europeus têm analisado esse assunto entre anestesistas e intensivistas, concluindo pelo baixo conhecimento sobre o assunto.8,9,10 Em estudo não tão recente, Conti11 e colaboradores solicitou a 60 anestesistas e intensivistas de vários graus de formação para avaliarem o custo de 27 itens. A correção dos valores estimados, considerando-se como certas as respostas que fossem 20% a mais ou a menos do que o real preço do item avaliado foi inferior a 20%, resultado quase duas vezes melhor do que o obtido em nosso estudo. Em nossa amostra não houve diferença entre o percentual de respostas corretas na estratificação dos profissionais utilizadas. No estudo de Conti os profissionais mais titulados tenderam a subestimar os preços, enquanto os menos graduados tenderam a uma superestimação. Essa análise não foi feita em nosso estudo, uma vez que o objetivo era diverso.. Além do baixo número de acertos, observou-se uma dispersão muito grande dos valores, alguns atingindo extremos muito distantes revelando o mais completo desconhecimento sobre o assunto. As possíveis explicações para os achados poderiam ser enumeradas: (A) falta de treinamento na graduação sobre aspectos gerenciais da saúde; (B) desinteresse sobre o custeio da saúde, principalmente num estado em que quase todo o financiamento e feito por um sistema espúrio em que as próprias instituições têm dificuldade em saber as relações entre custo e receita; (C) falta de contato entre os médicos e os administradores; (D) conceitos mal formados de que o gerenciamento do custo tem implicações éticas indesejáveis. Nos dias de hoje, quando as grandes instituições hospitalares informatizam suas prescrições, seria uma boa norma informar aos profissionais sobre o custo de cada medicamento e de seus similares, bem como o custo total de todos os procedimentos. Treinamento na graduação e nos programas de residência médica deveria ser estimulado em todo o país. Quando se liga boa ética e economia, todos ganham: o paciente, a família, a instituição e a sociedade como um todo.12 CITAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 3 4 5 6 7 28 Rodwin VG: On the separation of health planning and provider reimbursement: the USA and France. Inquiry1981;18:139-50. Lubitz JD, Riley GF: Trends in medicare payments in the last year of life. N Engl J Med 1993;329:1092-96. Shapira DV, Studnicki J, Bradham DD, Wolff P, Jarrett A: Intensive care survival and expense of treating critically ill patients. JAMA 1993; 269:783-6. Scitovsky AA, Capron AM: Medical care at the end of life: the interaction of economics and ethics. Ann Ver Public Health 1986;7:59-75. Birnbaum ML: Cost-containment in critical care. Crit Care Med 1986;14:1068-77. 8 Fairbrass MJ, Chaffe AG: Staff awareness of cost of anaesthetic drugs, fluids and disposables. BMJ 1988;296:1040-1. 9 Jayasuriya JP: Cost awareness among junior anaesthetists. Anaesthesia 1990;45: 174-5. 10 Bailey CR: Anaesthesia: cheap at twice the price? Anaesthesia 1993;48:906-9. 11 Conti G, Dell’Utri D, Pelaia P, Rosa G, Cogliatti AA, Gasparetto A: Do we know the costs of what we prescribe? A study on awareness of the cost of drugs and devices among ICU staff. Intensive Care Med 1998;24:1194-8 12 Lundberg GD: American Health care system management objectives: the aura of inevitability becomes incarnate. JAMA 1993;269:2554-5. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Calorimetria Indireta no Paciente em Estado Crítico Indirect Calorimetry in The Critically Ill Patient Anibal Basile Filho1, Maria Auxiliadora Martins2, Paulo Antoniazzi3, Julio Sérgio Marchini4 ABSTRACT The recent development of commercially available metabolic monitors has increased interest in measuring oxygen uptake (VO2), carbon dioxide elimination (VCO2) and resting energy expenditure (REE) and substrate utilization in critically ill patients. Indeed, indirect calorimetry is a potent tool that requires attention to details, particularly in the critically ill mechanically ventilated patient. However, several factors may influence the accuracy of gas exchange measurements, such as the effect of routine daily therapeutic and diagnostic interventions, type of feeding, gas leaks, and operational or technical problems. This short review analyses the technical aspects involved with the use of the metabolic cart Deltatrac II system in the intensive care setting. KEYWORDS: Indirect calorimetry, oxygen consumption, carbon dioxide production, respiratory quotient, resting energy expenditure. esde o século XVIII, foi demonstrado que a respiração modifica o ar atmosférico, diminui o seu volume, modifica a sua natureza e, em curto espaço de tempo, perde a propriedade de manter a vida. Foi Lavoisier quem descobriu a existência do oxigênio e demonstrou a produção de gás carbônico. Escreveu, então: “a respiração é apenas uma combustão lenta de carbono e hidrogênio, que se assemelha ao que se passa em uma lâmpada ou vela acesa e, sob esse ponto de vista, os animais que respiram são verdadeiros corpos combustíveis que se queimam e se consomem”(1). Em 1770, Lavoisier e Laplace construíram um instrumento que seria o primórdio do calorímetro. Os animais de experimentação eram colocados, um a um, em um recipiente contendo neve, onde o calor produzido pelo animal era medido através da quantidade de neve derretida em um determinado período de tempo(2). Apesar da construção do primeiro calorimetro de corpo inteiro (calorimetria direta) ter sido construído no início do século XX, desde então, passou-se a denominar de calorimetria indireta a medida da produção de energia pelo organismo, ao oxidar os três nutrientes básicos, a saber os carboidratos, as proteínas e os lipídios, através da quantidade de oxigênio consumido e de gás carbônico produzido(3). A relação entre o consumo de oxigênio (VO2) e a produção de gás carbônico (VCO2) é D chamada de quociente respiratório (RQ). Somente a partir da década de 80, o calorímetro foi incorporado ao arsenal dos intensivistas, sendo atualmente largamente utilizado à beira do leito do paciente crítico. O calorímetro é um aparelho simples, portátil, do tipo “circuito aberto”, que possibilita a respiração do paciente com ar ambiente ou pode ser conectado a um respirador (Figura 1), onde, nos dois casos, amostras do gas inspirado/expirado são coletadas pelo aparelho para análise da fração do CO2 no ar expirado, da fração de O2 no ar ins- e expirado e dos fluxos ins- e expiratório. A partir da análise destes parâmetros, o consumo de oxigênio (VO2) e a produção de dióxido de carbono (VCO2) são medidos. Além disso, a partir desses parâmetros, o calorímetro efetua uma série de medidas importantes, como o coeficiente respiratório e o gasto energético de repouso, através da equação clássica de Weir, cujas técnicas serão descritas detalhadamente mais adiante(4,5,6). De maneira geral, a VCO2 é calculada como o produto do fluxo constante (Q) pela fração de excreção de dióxido de carbono (FECO2) à jusante da via de saída da câmara misturadora interna: VCO2 = Q x FECO2 Durante as medidas no respirador, o quociente respi- 1Professor Associado e Chefe da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 2Supervisora de Equipe Médica do Centro de Terapia Intensiva (CTI-Campus) da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 3Médico Assistente do Centro de Terapia Intensiva (CTI-Campus) da Disciplina de Terapia Intensiva do Departamento de Cirurgia e Anatomia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 4Professor Associado e Chefe do Laboratório de Espectrometria de Massa do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Endereço para Correspondência: Prof. Dr. Anibal Basile Filho (e-mail: [email protected]) – CTI-Campus – Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – Av. Bandeirantes, 3900 – 14049-900 – Ribeirão Preto – São Paulo – Tel: (16) 602-2439 / (16) 602-2413 Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 29 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Figura 1: Visão da unidade. ratório (RQ) é calculado a partir da clássica equação de Haldane, transformada a partir das frações dos gases, como se segue: 1 – FiO2 RQ = (FiO2 – FEO2) / (FECO2 – FiO2) onde: FiO2 = Fração de oxigênio no ar inspirado e FEO2 = Fração de oxigênio no ar exspirado. O VO2 é calculado a partir do RQ do seguinte modo: VO2 = VCO2 / RQ Vários aspectos do calorímetro portátil parecem ser especialmente interessantes para o seu uso rotineiro nas unidades de terapia intensiva(7,8,9), a saber: • Permite medições diretas do VO2, VCO2, Gasto Energético e o RQ; • Oferece as opções de se estudar pacientes em respiração espontânea (sistema de capacete) ou conectados ao respirador; • Permite estabelecer a demanda diária de energia, evitando-se, assim, a oferta excessiva ou insuficiente de nutrientes; • Por se tratar de um método não invasivo de medição, o paciente não é exposto a riscos ou complicações. No entanto, para que as medidas sejam bastante precisas, é necessária a observância de alguns critérios e/ou condições(10): 30 • Ausência de vazamento no sistema de coleta dos gases respiratórios, particularmente pelo tubo endotraqueal, drenos torácicos e conexões do calorímetro com o respirador; • O paciente deve estar calmo, estável. Opiácios, benzodiazepínicos ou agentes curarizantes podem ser utilizados, a critério médico; • Proceder à aspiração traqueal 5 minutos antes de iniciar a medição dos parâmetros do calorímetro, afim de se evitar interrupções desnecessárias; • Evitar os efeitos termogênicos provocados pela febre do paciente (T>39oC) e pela administração de altas doses de catecolaminas vasopressoras que podem acarretar num aumento momentâneo do VO2 e do gasto energético; • A FiO2 deve ser estável e abaixo de 60%, pois valores maiores aumentam os erros dos valores obtidos; • A rede elétrica e de gases hospitalar deve ser estável e, se possível, o ambiente deve ser climatizado (Temperatura ambiente entre 21 e 23oC); • Calibrar o aparelho antes de utilizá-lo, conforme as especificações do fabricante (gás de calibração com 95% de O2 e 5% de CO2); • Evitar a circulação do pessoal no momento da calibração, para não comprometer a pressão barométrica medida, de maneira automática, pelo calorímetro; • A modalidade de assistência ventilatória que mais se adapta às medições do VO2 e VCO2 é a ventilação volume-controlado, pois outra modalidades, tais como a ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV) ou a pressão contínua nas vias aéreas (CPAP) podem tornar essas medidas instáveis; • A determinação dos parâmetros obtidos pelo calorímetro não deve ser inferior a 20 minutos, pois intervalos muito curtos podem levar a erros grosseiros de interpretação; • O respirador não deve estar ciclando com pressões de platô maiores do que 40 cmH2O ou altos valores de PEEP (> 20 cmH2O), pois estes valores podem influenciar o analisador de gases. DETERMINAÇÃO DO CONSUMO DE ENERGIA (GASTO ENERGÉTICO REAL) O termo gasto energético real (ou total), passou a ser RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO utilizado, em indivíduos saudáveis para definir: metabolismo basal, efeito térmico do excercício, efeito térmico dos alimento ou ação específica de um determinado nutriente ingerido. O metabolismo basal é a energia gasta pelo organismo para manter suas funções vitais, em repouso, após jejum de doze horas, à temperatura ambiente de 20oC, em estado de vigília. Efeito térmico do alimento ou ação específica de um nutriente é o gasto de energia acima do basal, provocado pela ingestão e absorção alimentar. Isto é atribuído à todo processo da digestão, desde a absorção do alimento ao seu grau de aproveitamento celular(11). A determinação do gasto energético real, através do calorímetro, é realizada ainda empregando-se a equação de Weir. A taxa de produção de energia que é igual ao gasto energético real é obtida pela soma das taxas de VO2 e VCO2, subtraídas da produção de uréia nitrogenada (UN), cujo valor normal situa-se entre 13 e 15 g/dia: EE = 3,82VO2 + 1,22VCO2 – 1,99UN Em virtude de valores calorimétricos utilizados pelo fabricante, a equação acima difere da clássica Equação de Weir em, no máximo, 1%, que é: EE = 3,94VO2 + 1,11VCO2 – 2,17UN Se considerarmos a variação fisiológica normal dos valores acima, esta diferença não é importante. Por exemplo, um paciente com VO2 = 250 mL/min, VCO2 = 200 mL/min e UN = 13 g/dia, obtem-se um EE de 1701 e 1710 kcal/dia para a equação do calorímetro e a de Weir, respectivamente. No entanto, no paciente grave vítima de trauma ou sepse, outros fatores contribuem para o incremento do gasto energético, sendo, o reparo dos tecidos lesados, o maior fator. Sabe-se que nesses pacientes, o aumento do gasto energético ocorre, principalmente, nos 2 a 7 dias que se seguem à agressão (fase flow), devido ao aumento da taxa de renovação de proteínas. É interessante notar que no paciente queimado, por exemplo, o aumento do gasto energético é devido a várias razões: - síntese protéica acelerada (22%), neoglicogênese (11%), - ciclo da uréia (3%), - ciclo dos ácido graxos (17%), - ciclo glicolítico-neoglicogênico (4%). É curioso, contudo, salientar que 43% do aumento energético é devido ao vazamento de prótons (proton leakage) através da membrana mitocondrial e à hiperatividade do sistema Na+-K+-ATPase(12). Nesse particular, a atividade excessiva da bomba de sódio e potássio parece ser a maior razão pelo aumento do gasto energético no paciente em estado crítico. No cérebro e Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 nos rins, por exemplo, o bombeamento de sódio é o responsável por 50 a 60% do VO2(13). Além disso, este sistema enzimático contribui com a manutenção da integridade do gradiente eletroquímico nas membranas citoplasmáticas, facilitando o transporte transmembranário de solutos, como a glicose e certos aminoácidos(14). Salienta-se, ainda, que alguns hormônios (insulina, hormônio do crescimento e iodotironina) também afetam a atividade do sistema Na+-K+-ATPase(15). Por outro lado, muitos outros fatores ainda podem ter uma contribuição significativa e adicional no gasto de energia do paciente crítico, por incremento da atividade do sistema Na+-K+-ATPase, dentre eles destacam-se: a liberação de citocinas, conhecidas como sustâncias pirógenas, que se observa na fase de agressão, por ativação endotelial e macrofágica, agem, provavelmente, modulando o transporte membranário de glicose e aminoácidos(16) e o aumento da produção de lactato, observada em modelos experimentais de sepse(17) e de choque hemorrágico(18). Finalmente, particular ênfase deve ser dada ao cálculo do gasto energético total para fins de administração de suporte nutricional. Embora no passado, quando a calorimetria indireta não era disponível em nosso meio, era rotineiro o uso da equação de Harris-Benedict(19) para o cálculo do gasto energético basal (GEB), multiplicado pelos fatores de estresse de Long(20), para calcular, teoricamente, o gasto energético real (GER). Esses cálculos, normalmente, superestimam as necessidades energéticas dos pacientes críticos em até 50%, conduzindo à administração excessiva de nutrientes. Dados mais recentes, obtidos através de calorimetria indireta à beira do leito, apontam para o fato destas necessidades reais não ultrapassarem, por exemplo na sepse, mais do que 20% do GEB(21,22). Figura 2: Conexão esquemática do calorímetro portátil (Deltatrac II) com o respirador. 31 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO DETERMINAÇÃO DO CONSUMO DE OXIGÊNIO As alterações orgânicas no pós-trauma ou na sepse originam um desbalanço entre a oferta (DO2) e o consumo de oxigênio (VO2) pelos diferentes tecidos orgânicos. Em ambientes especializados, como nas unidades de terapia intensiva, é de crucial importância determinar-se, com precisão, certos parâmetros fisiológicos indicadores do nível de oxigenação tecidual, sobretudo o VO2, permitindo o norteamento de decisões terapêuticas, nos pacientes críticos admitidos nessas unidades. O VO2 reflete o estado metabólico de todo o organismo e não apenas de determinados tecidos localizados. A determinação do VO2 no paciente crítico é considerada um dos parâmetros fisiológicos mais importantes, uma vez que existe uma relação entre o seu valor e a taxa de sobrevida desses pacientes(23). Existem dois métodos possíveis de monitorização do VO2 nos pacientes críticos. Um dos métodos mais utilizados é invasivo, obtido através da inserção do cateter triluminal de Swan-Ganz, na artéria pulmonar, por punção venosa subclávia ou jugular. O segundo método de monitorização da VO2 é não invasivo, sendo obtido através da calorimetria indireta, onde o VO2 é obtida, imediatamente, à beira do leito. O valor normal do VO2 situase entre 180 a 300 mL/min, podendo, também ser indexado à superfície corpórea do paciente. O método da medida do VO2 através do cateter de Swan-Ganz baseia-se no princípio de Fick ou termodiluição, onde os cálculos são efetuados a partir da diferença entre a temperatura do sangue do paciente e da injeção de uma solução gelada, através do cateter. Muitas limitações são imputadas ao seu uso, tais como: o custo elevado e o carater invasivo do procedimento; uma subestimação do consumo total de oxigênio em 10% em pacientes com infecções pulmonares, pois este método não leva em conta o consumo pulmonar de oxigênio(24) e a limitação dos cálculos pela possibilidade de erros matemáticos cumulativos (“mathematical coupling”), pois o cálculo do VO2 utiliza, em sua equação, diversas variáveis provenientes de outras equações, como por exemplo, o débito cardíaco, o conteúdo arterial e venoso de oxigênio(25,26). Embora vários estudos comparativos não tenham apontado uma diferença significativa entre o VO2 obtido pelo método de Fick e pela calorimetria indireta, em pacientes críticos, uma atenção especial deve ser dada à interpretação dos resultados obtidos através da calorimetria indireta(27,28,29). Dessa maneira, deve-se proceder a calibrações freqüentes do aparelho e impedir a possibilidade de qualquer vazamento de gás no circuito, pois todo o volume expirado do paciente deve ser recolhido pelo aparelho e, finalmente, as medidas do VO2 necessitam ser repetidas através do tempo, uma vez que o momento metabólico de cada paciente pode ser modificado, em virtude da gravidade do quadro clínico e das diferentes intervenções terapêuticas efetuadas. Apesar das vantagens e desvantagens dos dois métodos de determinação do VO2 (Fick vs. Calorimetria), a maioria dos autores recomenda o uso da calorimetria indireta, como método mais seguro, mais preciso, não invasivo, menos oneroso e quase isento de complicações(30,31,32). RESUMO O desenvolvimento, relativamente recente, de monitores metabólicos portáteis propiciou um aumento no interesse em se monitorar o consumo de oxigênio (VO2), a produção de gás carbônico (VCO2), o gasto energético real (REE) e a utilização de nutrientes em pacientes em estado crítico. De fato, a calorimetria indireta tornou-se uma ferramenta muito útil, sobretudo nos pacientes sob ventilação mecânica. No entanto, muitos fatores podem influenciar a precisão das medidas obtidas com o calorímetro, tais como: as rotinas terapêuticas e os procedimentos diários, tipo de terapia nutricional, vazamento nos circuitos de conexão ao respirador, além de problemas operacionais e/ou técnicos. Esta breve revisão analisa os diversos aspectos da utilização do calorímetro portátil Deltatrac II, no âmbito das Unidades de Terapia Intensiva. UNITERMOS: Calorimetria indireta, consumo de oxigênio, produção de gás carbônico, quociente respiratório, gasto energético real. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 32 Coutinho R. Breve resumo do metabolismo. In: Noções de Fisiologia da Nutrição, ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1981, 3-16. Schutz Y. The basis of direct and indirect calorimetry and their potentials. Diabetes Metab Rev 1995;11:383-408. Ferrannini E. The theoretical basis of indirect calorimetry. Metabolism 1988;37:287-301. Frayn KN. Calculation of substrate oxidation rates in vivo from gaseous exchange. J Appl Physiol 1983;55:628-34. Simonsen DC, DeFronzo R. Indirect calorimetry: methodological and inter- 6. 7. 8. 9. pretative problems. Am J Physiol 1990;258:E399-E412. Suen VMM, Da Silva GA, Marchini JS. Determinação do metabolismo energético no homem. Medicina (Ribeirão Preto)1998;31:13-21. Takala J, Keinänen O, Väisänen P, et al. Measurement of gas exchange in intensive care: Laboratory and clinical validation of a new device. Crit Care Med 1989;17: 1041-47. Liposky JM, Nelson LD. 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Universidade de São Paulo, 108 p., 2001. 33 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Tratamento da Asma Aguda Grave: Suporte Ventilatório em Pediatria Management of acute severe asthma: ventilatory support in pediatrics Werther Brunow de Carvalho* Abstract The utilization of mechanical ventilatory support in child with acute severe asthma is usually well tolerated, but required fisiopathologic knowing to not occur assincronisn between patient-ventilator interface and other complications. The tracheal intubation is associated with significant morbity and never should made lightly. The utilization of rapid sequence intubation allows make easy the necessary conditions to obtain successfull in the tracheal intubation maneuvers and is recommended in emergent situations. Are necessary precautions to prevent dynamic hyperinflation during mechanical ventilatory support. Are presented another alternative modes of therapy such: general anesthesia, helium, nitric oxide and extracorporeal membrane oxygenation. mbora seja uma doença previnível, não são raros os casos de óbitos de crianças por asma grave. Os episódios agudos ameaçadores de vida necessitam internação na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) e, às vezes intubação traqueal e instituição da ventilação pulmonar mecânica (VPM). A gravidade da asma é difícil de se definir e a sua caracterização deve levar em conta quatro componentes: severidade biológica, fisiológica, funcional e a apreensão (carga) da doença (em termos emocionais, sociais, impacto financeiro da asma na família, sociedade e como um todo). A asma aguda grave denota um episódio asmático sério colocando a criança em risco de desenvolver uma falência respiratória, condição esta referida também como estado de mal asmático¹. A evolução da crise asmática em termos de tempo bem como a gravidade da obstrução das vias aéreas pode variar amplamente 2,3,4. Em alguns pacientes as medidas repetidas do E pico de fluxo expiratório podem evidenciar uma piora subaguda do fluxo expiratório que evolui em vários dias, antes do aparecimento dos sintomas da asma grave, sendo então chamada de “exacerbação da asma de progressão lenta”. Em outros pacientes a função pulmonar piora de maneira grave em menos do que uma hora sendo então chamada de “exacerbação da asma de progressão súbita”. A “exacerbação da asma de progressão lenta” é devida principalmente a falhas no tratamento (tratamento inadequado, complacência baixa, controle inadequado, fatores psicológicos coexistentes), já a “exacerbação da asma de progressão rápida” é desencadeada pela exposição maciça aos alergenos, sensibilidade aos agentes antiinflamatórios não hormonais e a alergenos existentes nos alimentos, além dos sulfitos2. São descritos dois padrões diferentes para os casos de asma fatal (Tabela 1). No primeiro caso em que a deterioração ocorre gra- TABELA 1 – Padrões Distintos de Asma Fatal Variável Tipo 1 Tipo 2 Tempo de Evolução Piora subaguda (dias). Início lento – chegada tardia Piora aguda (horas). Asma asfíxica súbita Freqüência Aproximadamente 80-85% Aproximadamente 10-20% Vias Aéreas Rolha extensa de muco Brônquio ± “cheio” Inflamação Eosinófilos Neutrófilos Resposta ao Tratamento Lenta Rápida Prevenção Possível ? *Professor Livre-Docente do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina – Chefe das UCIs do Hospital São Paulo, Hospital Santa Catarina e Beneficiência Portuguesa de São Paulo Endereço do Autor: Rua: Maria da Grã, 333 – casa 16 – Alto de Pinheiros – São Paulo – SP – CEP 05465-040 – Fone/fax: (11) 30213949 – Fone/fax: (11) 5576-4288 – e-mail: [email protected] 34 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO dualmente em dias ou semanas é geralmente possível se fazer a prevenção, já na deterioração súbita não existe um antecedente óbvio de piora da asma a longo prazo e a resposta do paciente, caso seja tratado adequadamente (medicamente e/ou com VPM), é rápida. INDICAÇÕES PARA ADMISSÃO NA UNIDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS VENTILAÇÃO NÃO INVASIVA COM PRESSÃO POSITIVA A utilização da ventilação não invasiva com aplicação de máscara facial é uma opção terapêutica para suporte ventilatório de curto prazo na criança com falência ventilatória hipercapnica, mas ainda em condições de manutenção da via permeável. O objetivo desta modalidade de ventilação é o de dar algum tempo para a otimização dos agentes farmacológicos utilizados previamente. O suporte ventilatório não invasivo tem como vantagens: diminuir a necessidade de sedação, diminuir o risco de infecção nosocomial, melhorar o desconforto do paciente, evitar as complicações da intubação intratraqueal incluindo o trauma de vias aéreas superiores, sinusite, otite e a pneumonia intra-hospitalar. Adicionalmente, os mecanismos de defesa da via aérea, como a deglutição e a fala permanecem intactos com o paciente alerta e podendo se comunicar. Algumas desvantagens incluem: risco de aspiração do conteúdo gástrico, necrose de pele devida a pressão da máscara e sensação de claustrofobia. A ventilação não invasiva com pressão positiva é uma opção atrativa para o tratamento da asma refratária5. Na asma aguda grave a utilização de pressão positiva contínua em vias aéreas através de máscara diminui o trabalho respiratório, causa broncodilatação, diminui a resistência de vias aéreas, reexpande áreas de atelectasia, promove a remoção de secreção, permite um repouso dos músculos inspiratórios e do diafragma e diminui os efeitos hemodinâmicos adversos de uma pressão pleural inspiratória muito negativa. A ventilação não invasiva com pressão positiva pode ser empregada com um aparelho de ventilação mecânica convencional utilizando ventilação limitada a pressão ou volume, ou ainda, utilizando-se aparelhos de ventilação não invasiva. O aparelho BiPAP funciona com um gerador de fluxo variado que permite controle independente da pressão inspiratória e da pressão expiratória positiva em vias aéreas. Broncodilatadores por via nebulizada podem ser fornecidos nos circuito inspiratório do aparelho. Os daVolume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 dos a respeito da eficácia da ventilação não invasiva no estado de mal asmático são escassos. Um estudo de Shivaram U et al, 19936, em vinte e um pacientes com asma aguda analisou a aplicação de pressão positiva contínua em vias aéreas (CPAP) com níveis de 5 ou 7,5 cmH 2O, observando-se uma diminuição significante da freqüência respiratória e da dispnéia. Posteriormente, Meduri GU et al, 19967, relataram a sua experiência com a ventilação não invasiva em dezessete episódios de pacientes com asma aguda grave. Estes autores utilizaram inicialmente uma ventilação com suporte de pressão de 10 cmH2O de CPAP, posteriormente a CPAP foi aumentada para 3 e para 5 cmH2O assim como a ventilação com pressão de suporte foi aumentada para obter um volume corrente exalado de 7 ml/kg ou mais e uma freqüência respiratória inferior a 25 resp/min. Obtiveram como resultado uma melhora na dispnéia, gasometria arterial, freqüência cardíaca e freqüência respiratória. A partir destes estudos, parece que a aplicação de ventilação não invasiva por pessoal treinado e experiente pode ser útil na redução das taxas de intubação em um grupo selecionado de pacientes com asma aguda grave. Entretanto, estudos adicionais são necessários para reforçar este parecer. INTUBAÇÃO TRAQUEAL A intubação traqueal deve ser evitada o máximo possível na criança com asma aguda grave. A intubação traqueal não é curativa e está associada com uma morbidade significativa, podendo aumentar o grau de inflamação e de obstrução da via aérea. A decisão de intubar uma criança asmática nunca deve ser feita de maneira inconseqüente. O momento exato para intubação traqueal é primordialmente uma decisão clínica. Este procedimento pode agravar o broncoespasmo e a ventilação com pressão positiva aumenta muito o risco de depressão circulatória e de barotrauma. Com a terapêutica mais agressiva utilizandose beta-2 agonistas por via inalatória, as taxas de intubação de crianças asmáticas admitidas no hospital caíram para menos do que 1% e naquelas admitidas na UCI estão em torno de 5 a 10% dos pacientes3. As indicações absolutas para intubação traqueal são: parada respiratória e cardíaca, hipóxia grave e alteração rápida do nível de consciência da criança. O cansaço progressivo independente do tratamento máximo otimizado é uma indicação relativa de VPM. A indicação de se instituir o suporte ventilatório invasivo não deve depender dos dados da gasometria arterial 8,9,10,11,12. 35 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO FIGURA 1 – Seqüência de Intubação Rápida Para se realizar a intubação traqueal na criança com asma deve-se realizar a seqüência de intubação rápida (SIR) (Fig. 1). Antes da intubação a criança deve ser pré-oxigenada com 100% de O2, realizada a aspiração de orofaringe e inserida uma sonda nasogástrica para a descompressão do estômago. O paciente deve ser pré-medicado com um sedativo ou anestésico, a seguir realizada a atropina por via intravenosa e utilizado um músculo relaxante de ação rápida. A cetamina na dose de 2mg/kg intravenosa é a droga de escolha para indução nos pacientes com asma grave devido as suas propriedades broncodilatadoras, sedativas, analgésicas, e anestésicas. Na dose acima ela fornece uma anestesia geral sem uma depressão respiratória significante. A cetamina aumenta o reflexo laríngeo, portanto, deve-se evitar a estimulação excessiva das vias aéreas superiores, reduzindo deste modo o risco de laringoespasmo. O propofol intravenoso é um agente sedativo de ação curta que diminui a resistência de vias aéreas em pacientes com broncoespasmo, sendo recomendada uma dose de indução de 2-2,5 mg/kg seguida por uma infusão contínua entre 50-100 mcg/kg/min titulada para se obter uma sedação adequada que facilite a VPM. O propofol pode ocasionar hipotensão, principalmente nas crianças com hipovolemia. O rocurônio é um músculo relaxante não despolarizante, de ação curta que pode ser utilizado na dose de 0.9-1.2 mg/kg, não ocasionando efeitos hemodinâmicos significativos. A via orotraqueal é a de escolha para intubação. Mais de 50% 36 das complicações, na criança asmática que recebe VPM, ocorrem durante ou imediatamente após a intubação traqueal. Exceto pelo mau posicionamento do tubo traqueal, as complicações são devidas principalmente ao aprisionamento de gás. A hipotensão, a dessaturação de oxigênio, a presença de pneumotórax/enfisema subcutâneo e parada cardíaca são as complicações mais freqüentemente observadas. HIPERINSUFLAÇÃO DINÂMICA No período imediato após a intubação, e como resultado da VPM pode haver um aumento da hiperinsuflação dinâmica11. A pressão pleural que era predominante negativa na respiração espontânea torna-se positiva ocasionando diminuição do retorno venoso e hipotensão. A hipotensão responde freqüentemente à infusão de volume e à diminuição de freqüência de ciclagem do aparelho de ventilação. A obstrução grave do fluxo aéreo na asma é o resultado da exalação incompleta que já pode estar presente antes da intubação. Dependendo do grau de hiperinsuflação dinâmica existe uma correlação direta deste com o risco de barotrauma e hipotensão. Após o início da ventilação com pressão positiva o grau de hiperinsuflação dinâmica correlaciona-se com o volume corrente, tempo expiratório e com o grau de obstrução ao fluxo aéreo. A ventilação convencional objetivando valores norRBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO mais de CO2 podem ocasionar uma hiperinsuflação maciça com o aumento do risco de barotrauma e hipotensão. Dois trabalhos em pediatria, Dworkin G et al, 198913 e Cox RG et al, 199114, utilizando estratégias com pico de pressão inspiratória menor que 60 cmH2O e 45 cmH2O respectivamente, além de freqüências de ciclagem baixas e tempo expiratório longo, observaram uma sobrevivência de 100% sem seqüelas importantes. ESTRATÉGIAS VENTILATÓRIAS As estratégias ventilatórias objetivam minimizar a hiperinsuflação dinâmica e melhorar a evolução dos pacientes com asma aguda grave. Os modos de ventilação controlado são preferidos no período imediato pós intubação, já que estudos anteriores evidenciaram que os pacientes com fadiga muscular ventilatória demoram pelos menos 24 horas para terem uma recuperação completa da fadiga. Dois modos de ventilação controlada podem ser utilizados: à pressão ou à volume. A ventilação com pressão controlada é mais apropriada para manutenção da pressão de via aérea, especialmente no episódio grave na qual a resistência de vias aéreas varia rapidamente. Nos pacientes submetidos ao modo controlado, existem três estratégias que podem diminuir a hiperinsuflação dinâmica: diminuição minuto, aumento do tempo expiratório e diminuição da resistência. A hipoventilação controlada (hipercapnia permissiva) é a estratégia ventilatória recomendada para diminuir o grau de hiperinsuflação pulmonar fornecendo uma oxigenação e ventilação adequadas e minimizando a possibilidade de hipotensão sistêmica e barotrauma. A hipoventilação pode ser obtida por diminuição do volume corrente e/ou da freqüência de ciclagem do aparelho. Os parâmetros iniciais do aparelho de ventilação mecânica devem portanto, evitar a possibilidade de níveis perigosos de hiperinsuflação dinâmica (Tabela 2). Com a resposta positiva à terapêutica empregada e quando as condições da criança melhora, o modo de ventilação deve ser trocado para modos assistidos iniciando-se o processo de retirada gradual da ventilação mecânica. A ventilação assistida controlada não deve ser utilizada como estratégia inicial da criança com asma aguda grave, porque ela pode induzir o paciente a gerar uma ventilação minuto excessiva com o desenvolvimento de pressão expiratória final positiva intrínseca (PEEPi). A PEEPi e os volumes correntes expiratórios devem ser mensurados para se evitar um aprisionamento significante de gás. MODOS TERAPÊUTICOS ALTERNATIVOS MISTURA HÉLIO-OXIGÊNIO O efeito de diminuição da densidade com o emprego da mistura hélio-oxigênio é significativo apenas quando se empregam altas concentrações de hélio (70-80%). Em termos específicos o Hélio diminui o gradiente de pressão para fluxo turbulento e converte parte deste fluxo em fluxo laminar. Recentemente, alguns autores observaram um aumento significativo no pico do fluxo expiratório e uma diminuição significativa no pulso paradoxal em pacientes com asma aguda grave após receberem a mistura hélio-oxigênio por um período de 15 minutos. Estes dados indicam a redução da resistência de vias aéreas inspiratória e expiratória, com a aplicação do gás podendo diminuir a fadiga muscular e servir como uma ponte para uma terapêutica efetiva com agentes antiinflamatórios/broncodilatadores. O Heliox também pode aumentar a deposição pulmonar periférica de medicações fornecidas por aerosol melhorando deste modo a broncodilatação (Anderson M et al, 1993)15. O Heliox pode ser fornecido através de máscara facial em pacientes sem intubação traqueal ou utilizando-se VPM através do ramo inspiratório do circuito de ventilação. Quando utilizado nesta população com intubação traqueal e TABELA 2 – Parâmetros iniciais do aparelho de Ventilação Pulmonar Mecânica Parâmetros Recomendações Modo Ventilação com pressão controlada Ventilação com pressão regulada/volume controlado Freqüência Respiratória 15 resp/min Volume Corrente 6ml/kg Pressão Expiratória Final Positiva 4-5 cmH2O Pico de Pressão Inspiratória < 40cmH2O Relação Inspiração/Expiração ≥ 1:3 Tempo Inspiratório 0.75-1.5 seg Fração Inspirada de Oxigênio Manter a Sat O2 > 90% Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 37 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO ventilação mecânica, os aparelhos devem ser recalibrados para se obter uma medida acurada do volume corrente e da fração inspirada de oxigênio. ANESTESIA GERAL - HALOTANO, ISOFLUORANO E ENFLUORANO Os agentes anestésicos inalatórios têm sido utilizados para o tratamento do estado de mal asmático refratário há mais de cinco décadas. Todos eles presumivelmente causam broncodilatação por relaxamento da musculatura lisa do brônquio. Existem várias desvantagens teóricas na utilização destes agentes (depressão miocárdica, vasodilatação, depressão da função mucociliar, aumento do fluxo sangüíneo cerebral e da pressão intracraniana, atenuação da vasoconstrição pulmonar hipóxica, sensibilização do miocárdio as catecolaminas). Uma avaliação dos efeitos hemodinâmicos e respiratórios do halotano na concentração de 1% no estado de mal asmático foi realizada por Saulnier FF et al, 199016, em doze pacientes adultos, encontrando-se uma redução rápida do broncoespasmo e uma melhora dos gases arteriais sem nenhum efeito hemodinâmico adverso. Estes agentes anestésicos inalatórios, em diversos trabalhos (Schwartz SJ, 198417; Bierman M et al, 198618; Parnass S et al, 198719; Maltais F et al, 199420) têm sido utilizados com sucesso, por curtos períodos de tempo, podendo ser empregados na asma aguda grave desde que haja viabilidade técnica. Em crianças eles têm sido utilizados com sucesso nos casos mantidos em ventilação pulmonar mecânica e que não responde à terapêutica convencional. Como parece não haver diferença no efeito broncodilatador entre o halotano e o isofluorano, este último pode ser um agente seguro para utilização nas crianças com episódios de asma ameaçadores da vida. O isofluorano não tem efeitos inotrópicos negativos, mas pode causa hipotensão devido a vasodilatação. O isofluorano também não é arritmogênico. Os anestésicos inalatórios podem piorar o shunt intrapulmonar devido a abolição da vasoconstrição pulmonar hipóxica. A utilização prolongada de alguns anestésicos inalatórios pode causar acúmulo de flúor ocasionando nefrotoxicidade e diabetes insípido nefrogênico21. PAPEL DOA ÓXIDO NÍTRICO COMO VASODILATADOR Existe uma síntese contínua de óxido nítrico nos vasos pulmonares o qual desempenha um papel importante na manutenção do fluxo sangüíneo e na relação ventilação/perfusão. A diminuição da liberação do óxido nítrico pode estar relacionada a vasoconstrição pulmonar hipóxica. Entretanto, altas concentrações de óxido nítrico podem ocasionar efeitos adversos na permeabilidade capilar resultando em edema e extravasamento de fluídos. Em condições inflamatórias pulmonares como na asma a indução da óxido nítrico sintetase a nível endotelial e epitelial pode contribuir com a hiperemia da mucosa, estreitamento das vias aéreas e broncoconstrição. PAPEL DO ÓXIDO NÍTRICO COMO BRONCODILATADOR Na asma as altas concentrações de óxido nítrico produzida pela indução da óxido nítrico sintetase pode suprimir a atividade da óxido nítrico sintetase constitucional e ocasionar um aumento da concentração de cálcio intracelular com constrição da via aérea. Altas concentrações de óxido nítrico produzem através da óxido nítrico sintetase induzível uma diminuição da atividade da óxido nítrico sintetase constitucional. Na asma o epitélio é freqüentemente lesado o qual pode também alterar a produção de óxido nítrico pela óxido nítrico sintetase constitucional podendo contribuir com o broncoespasmo. É provável que a deficiência de produção endógena do óxido nítrico após uma infecção viral seja devida a uma disfunção da óxido nítrico sintetase constitucional. O efeito do óxido nítrico como broncodilatador em humanos tem sido desapontador. Altas concentrações de óxido nítrico (>que 20.000 partes do bilhão) ocasionam um aumento da resistência de vias aéreas em indivíduos sadios. OXIGENAÇÃO DE MEMBRANA EXTRACORPÓREA Utilizada nos pacientes com asma aguda grave refratária quando não se obtém uma oxigenação adequada com a utilização de ventilação pulmonar mecânica22,23. ÓXIDO NÍTRICO COMPLICAÇÕES O óxido nítrico possui pelo menos quatro ações a nível pulmonar: como vasodilatador, broncodilatador, transmissões não colinérgico, não adrenérgico e como mediador inflamatório. 38 As complicações associadas com a intubação traqueal incluem a pneumonia intra-hospitalar, sangramento digestivo devido ao estresse e desnutrição. Os pacientes RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO que necessitam VPM prolongada podem evoluir com sepse e disfunção de múltiplos órgãos. Deve-se incluir na prescrição medidas apropriadas para evitar estas complicações incluindo: agentes para neutralizar a secreção gástrica (habitualmente bloqueadores do receptor de histamina ou inibidores da bomba de próton), posicionamento correto no leito, extubação precoce do paciente conforme haja melhora e alimentação enteral de acordo com a possibilidade. A utilização associada de bloqueador neuromuscular com altas doses de corticosteróides está fortemente associada com uma miopatia grave que ocorre em cerca de 30% dos pacientes e que tem uma evolução de semanas ou meses para sua resolução, portanto, caso se utilize bloqueio neuromuscular, deve-se descontinuar o seu emprego tão logo seja possível24,25,26. RESUMO A utilização de suporte ventilatório na criança com asma aguda grave é habitualmente bem tolerada, mas necessita conhecimentos fisiopatológicos básicos para que não ocorra assincronia com o aparelho de ventilação pulmonar mecânica e outras complicações. A intubação traqueal está associada com uma morbidade significante e não deve ser indicada e realizada de maneira inconseqüente. A utilização da seqüência de intubação rápida facilita as condições necessárias para se ter sucesso nas manobras de intubação traqueal , sendo recomendadas na situações de emergência. São necessárias precauções para se prevenir a hiperinsuflação dinâmica durante a ventilação assistida. REFERÊNCIAS 12345- 67891011121314- Dubus JC, Bodiou AC, Buttin C, et al. La crise d’asthme aigu grave de I’enfant. Arch Pédiatr 2000; 7(1): 27-32. Papiris S, Kotanidou A, Malagari K, et al. Clinical review: Severe asthma. Crit Care 2001; 6:30-44. Werner HA. Status asthmaticus in children A review. Chest 2001; 119(6):1913-29. Wood RA. Pediatric asthma. JAMA 2002; 288(6):745-7. Gehlbach B, Kress JP, Kahn J, et al. Correlates of prolonged hospitalization in Inner-city ICU patients receiving noninvasive and invasive positive pressure ventilation for status asthmaticus. Chest 2002; 122(5):1709-14. Shivaram U, Miro AM, Cash ME, et al.: Cardiopulmonary responses to continuous positive airway pressure in acute asthma. J Crit Care 1993, 8:87. Meduri GU, Cook TR, Turner RE, et al.: Noninvasive positive pressure ventilation in status asthmaticus. Chest 1995, 110:767-74. Qreshi F. 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Group A with the patients who had active treatment, and group B with the patients who had their therapy under WD/WH. Results: One hundred and fifty five patients died from January 2001 to December 2001. WD/WH life-supporting was performed in 50 (32%) patients. The medium age of group B patients was greater than of group A patients (58x54.6 years). Group B patients have more previous pathology than group A patients. The length of hospital and ICU stay was greater in group B patients (p<0.05). The most comon causes of ICU stay in both groups were respiratory failure, coma after cardiorrespiratory arrest and sepsis. Futility of therapy was the most frequent reason for WD/WH decisions. Vasopressors were the therapy more frequently under WD/WH (82%) followed by antibiotics therapy (48%). Conclusions: WD/Whof life support was performed in 32% of patients. The most frequent WD/WH therapy was vasopressors. Futility was the cause for those decisions in 100% of the cases. KEY WORDS: Withdrawal / Withholding / Terminal illness / Ethics / Critical Care partir do século XX, sete entre dez mortes ocorreram nos hospitais1 e, cada vez mais, esse fato tem acontecido nas UTIs. O desenvolvimento tecnológico tem permitido que a definição de morte venha sendo modificada e que o paciente gravemente enfermo seja mantido por um longo período de tempo nessas unidades2. Em decorrência dessa realidade, em muitos casos, o momento da morte nas UTIs passou a ser precedido de decisões sobre a recusa ou a suspensão de tratamentos considerados fúteis ou inúteis3-11. Um tratamento fútil ou inútil pode ser definido como aquele que não atinge as metas terapêuticas12,13. Entretanto, os médicos intensivistas sofrem, diante da decisão de recusar ou suspender um tratamento considerado fútil ou inútil, um dilema contínuo que envolve problemas éticos, religiosos, culturais e legais14-18. Além do mais, esses profissionais sentem-se angustiados temendo o julgamento dos seus pares e da sociedade por confundirem os termos ortotanásia, eutanásia e distanásia que, na realidade, têm significados bastante diferentes. Distanásia pode ser definida como a morte lenta e com muito sofrimento. Eutanásia significa a abreviatura de um sofrimento por intermédio de uma morte induzida o que a diferencia da Ortotanásia definida como a morte no seu tempo certo19- A 24 . Ao confundir esses termos os médicos intensivistas podem, pelo medo de cometer erro médico ou eutanásia, praticar a distanásia em seus pacientes. Entretanto, a recusa ou suspensão de um tratamento considerado fútil ou inútil não pode ser considerada um erro médico, pois não pode ser encaixada como imprudência, negligência ou imperícia e, tampouco, tal atitude pode ser definida como eutanásia. Torna-se importante acrescentar que, embora a recusa ou suspensão de um tratamento considerado fútil ou inútil seja aceita pela Igreja, ainda é mal definida do ponto de vista legal25,26. Tendo em vista o relatado propôs-se este trabalho que visa avaliar a freqüência da recusa ou suspensão de tratamentos em pacientes que foram a óbito na UTI de um Hospital Universitário, e verificar quais tratamentos foram mais comumente suspensos ou recusados. MÉTODO Este é um estudo do coorte histórico que avaliou os prontuários de pacientes que foram a óbito no período de janeiro de 1999 a dezembro de 2001. Foram anotados os dados demográficos desses pacientes, seus antecedentes patoló- *Coordenadora da Residência de Medicina Intensiva do HU/UFSC – Professora do Departamento de Clínica Médica HU/UFSC **Residente de Medicina Intensiva do HU/UFSC Hospital Universitário - Universidade Federal de Santa Catarina ENDEREÇO DO AUTOR: Rua João Paulo 1929 – Bairro João Paulo – 88030-300 – Florianópolis/SC/ – Fone (48) 2385700 ou 3319264 – Email [email protected] 40 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Tabela 1: Características demográficas Características GRUPOS Demográficas Teste A B TOTAL Estatístico/Significância N % N % F 39 40 21 39 M 66 60 34 61 N % SEXO IDADE (anos) Média Minima Máxima Desvio Padrão TEMPO INTERNAÇÃO (Média dos dias) Unidade de Enfermagem Terapia Intensiva TOTAL 54.6 58 χ2 t Student p=NS 60 38.7 95 61.3 p=NS 55.8 15 15 15 90 95 90 16.9 17.6 17.6 9.4 14.7 3.6 105 8.3 68 50 t Student p=0.03 t Student p=0.005 32 155 100 NS= não significante gicos e qual o motivo e o tempo de sua internação na UTI. Foi também verificado se houve ou não recusa ou suspensão de tratamentos e, em caso positivo, qual foi o motivo para a decisão e, quais foram os tratamentos suspensos, recusados ou mantidos para esses pacientes. Após a coleta dos dados dos mesmos foram subdivididos em dois grupos. Pertencerem ao grupo A os que mostravam que a medicação havia sido mantida plena até o momento do óbito do paciente, e ao grupo B os que apresentavam decisões de recusa ou suspensão de tratamento. Os testes estatísticos foram realizados através do programa Epi Info@ Version 6 (center for desease control, Atlanta), utilizando-se os testes χ2 e t de Student para a análise. Foram considerados significantes os resultados com p<0.05. RESULTADOS De um total de 596 internações que ocorreram na UTI do HU, no período de janeiro a dezembro de 2001, foram analisados os prontuários dos 155 pacientes que morreram. Foram alocados no grupo A 105 pacientes (68%) e no grupo B 50 pacientes 32%. O tempo de internação desses pacientes, tanto na Unidade de Enfermagem (UE) quanto na UTI, e as suas características demográficas podem ser observados na Tabela 1. Nessa tabela pode ser constatado que os pacientes do grupo B estiveram mais tempo internados tanto na UE (p=0.03) quanto na UTI (p=0.005). Na Figura 1 são descritas as principais causas para a FIGURA 1: Motivos da internação na UTI Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 41 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO internação dos pacientes na UTI. Deve ser ressaltado que alguns pacientes apresentavam mais de um fator que motivou a sua internação nesse setor. As patologias mais freqüentemente associadas àquelas que foram a causa da internação na UTI foram hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes melitus (DM) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Não foi observada diferença significante no que concerne à relação entre a presença de antecedentes patológicos no momento da internação na UTI e a mortalidade dos pacientes. Os principais motivos para a decisão da recusa ou suspensão de tratamentos nos pacientes do grupo B podem ser observados na Tabela 2. Na Figura 2 podem ser verificados quais os tratamentos mais freqüentemente suspensos ou recusados nesse grupo de pacientes. Deve ser mencionado que o resultado total é maior do que 100% porque alguns tratamentos foram recusados e/ou suspensos no mesmo paciente. É importante acrescentar que o suporte ventilatório foi mantido em todos os pacientes de ambos os grupos e que a terapêutica sedativa e/ou analgésica foi mantida em 100% dos pacientes do grupo A e em 96% dos pacientes do grupo B. Ressalta-se que os custos com o tratamento e a von- TABELA 3: Motivos para recusa ou suspensão de tratamentos. MOTIVO Futilidade GRUPO B N % 50 100 Futura qualidade de vida 18 36 Prévia qualidade de vida 12 24 Idade 13 26 Decisão da família 1 2 Figura 2-Terapias mais freqüentemente recusadas ou suspensas 42 tade prévia do paciente não foram citados entre os motivos de recusa ou suspensão de tratamentos. DISCUSSÃO A partir dos anos 70, com o desenvolvimento continuado de novas tecnologias, o paciente gravemente enfermo pode ser mantido por um longo período de tempo em uma UTI. Em alguns casos, a morte é inevitável em praticamente 100%, sendo apenas retardada a um alto custo financeiro, moral e psicológico, para todos os envolvidos. A partir desse fato e da certeza de que o ser humano tem direito a uma morte digna surge um novo debate, se a recusa ou a suspensão dessas tecnologias é uma ação ética e legal18,21,23,27. Entretanto, apesar de esses debates estarem apenas começando, tanto no âmbito mundial quanto nacional é um fato constatado que as mortes em UTI são precedidas, cada vez mais, por decisões de recusa ou suspensão de tratamentos considerados fúteis ou inúteis3,5-11,28,29. Neste estudo, a recusa ou suspensão de tratamentos precedeu 32% (50 pacientes) das mortes na UTI. Percentuais maiores foram encontrados em estudos internacionais. Sprung e cols.28 constataram que 86% dos óbitos que ocorreram em uma UTI israelense foram precedidos de decisões de recusar ou suspender tratamentos. Smedira e cols.10 revisaram o tratamento de 1719 pacientes internados em UTIs da Califórnia e de São Francisco, e mostraram que a recusa ou suspensão de tratamentos foi responsável pela metade das mortes que ocorreram naquelas unidades. Prendergast e cols.9 constataram uma mudança temporal no comportamento dos profissionais que trabalham em UTI diante da recusa ou suspensão de um tratamento e mostraram que entre os anos de 1987-1988, a reanimação cardiorrespiratória foi iniciada em 40% dos pacientes que sofreram PCR nas UTIs. Já entre os anos de 1992-1993 essa conduta foi tomada em apenas 10% dos pacientes gravemente enfermos que sofreram PCR. Esse mesmo estudo mostra que os óbitos foram precedidos de decisões de recusar ou suspender tratamentos em 51% dos casos nos anos de 1987-1988 e em 90% dos casos nos anos de 1992-1993. Na França, em 2001, Ferrand e cols.30 mostraram que as terapias foram suspensas ou recusadas em 807 de 7309 pacientes (11%), sendo que essas decisões precederam 628 (53%) das 1175 mortes nas UTIs. Esteban3, em um estudo que avaliou 3498 pacientes adultos internados em UTIs espanholas, mostrou que a recusa ou suspensão de tratamentos ocorreu em 2026 pacientes (58%). Keenan e cols.6, em um estudo de coorte reptrospectivo, constataram que 70% dos pacientes morreram após a recusa ou suspensão de um tratamento. RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO Plailisier e cols.8, em um estudo retrospectivo, com o intuito de determinar se a recusa ou suspensão do tratamento é mais freqüente em pacientes com mais de 65 anos, mostraram que os pacientes mais jovens sofriam de trauma mais grave e que os idosos apresentavam maior associação de comorbidades. Entretanto, as decisões de suspensão ou recusa foram semelhantes nos dois grupos. Keenan e cols.6, constataram que os pacientes que morreram após a recusa ou suspensão de um tratamento tinham mais idade e que estavam internados há mais tempo na UTI. Esteban3 relatou resultados semelhantes e mostrou que a idade, o índice prognóstico SAPS II e o tempo de internação em UTI foram significativamente maiores nos pacientes aos quais o tratamento foi recusado ou suspenso. Resultados semelhantes foram encontrados neste trabalho, com exceção de uma maior incidência de antecedentes patológicos nos pacientes do grupo B, o que significa que, nesta amostra, a presença de patologias prévias não foi fator de risco e nem motivo para se suspender ou recusar tratamentos durante a internação na UTI. Nos últimos anos, o fator desencadeante da maioria das mortes nas UTIs tem sido relacionado à suspensão ou à recusa de um tratamento, sendo constatado que 96% dos médicos intensivistas já recusaram ou suspenderam um tratamento em algum momento de sua vida profissional7. Embora filosoficamente não exista diferença entre recusar o início de um tratamento ou suspender um tratamento já instituído, existe classicamente uma maior dificuldade dos médicos de retirar uma terapêutica já em andamento do que de não iniciar um novo tratamento16,31. O estudo de McLean e cols.32 constatou que a terapêutica mais freqüentemente retirada foi o suporte ventilatório sendo mantidas a sedação e a analgesia. Na Finlândia, Hinkla e cols.4 observaram os fatores que afetam os médicos quanto às decisões de recusa ou suspensão de tratamentos em vítimas de doença cancerosa em fase final e constataram que os tratamentos mais recusados foram a transfusão sangüínea e a profilaxia da trombose. Smedira e cols.10 mostraram que médicos e enfermeiras só retirariam a ventilação mecânica, substituindo-a por tubo em T, se essa ação não resultasse em morte rápida do paciente. Moritz e cols.33, em um estudo que avaliou a atitude dos médicos intensivistas brasileiros diante da recusa ou suspensão de tratamentos, mostraram que a sedação e a analgesia foram as intervenções menos recusadas ou supensas e que os métodos dialíticos constituíram a terapêutica mais comumente recusada ou suspensa. No mesmo trabalho, o suporte ventilatório foi recusado em quase 25% das vezes e, se já instituído, foi retirado por 4% dos participantes, tendo sido a intervenção menos suspensa. Neste trabalho, as terapêuticas mais Volume 15 - Número 1 - Janeiro/Fevereiro 2003 freqüentemente suspensas ou retiradas foram as drogas vasoativas e os antibióticos, sendo a futilidade o motivo da tomada dessa decisão em 100% dos casos. Decisões semelhantes são tomadas tanto por médicos europeus quanto norte-americanos17. Esses resultados sugerem que a idéia de futilidade está, cada vez mais, sendo aceita por aqueles que trabalham em UTI. Entretanto, o médico intensivista sofre um dilema contínuo ao ser confrontado com decisões sobre a recusa ou suspensão de tratamentos considerados fúteis ou inúteis, que envolvem problemas éticos, religiosos, culturais e legais. Pode-se inferir que a realidade do trabalho cotidiano do intensivista tem se tornado cada vez mais distante daquela vivida por outras especialidades médicas, e que a recusa ou suspensão de tratamentos tem se tornado uma rotina para o médico intensivista. Deve-se ressaltar que a comunicação adequada entre a equipe de saúde, os pacientes e seus familiares é um fator primordial no que concerne à discussão sobre a futilidade de um tratamento2,34-41. Diante dos resultados apresentados pode-se concluir que a recusa ou suspensão de tratamentos precedeu 32% dos óbitos na UTI avaliada. Os vasopressores foram o tratamento mais comumente recusado ou suspenso e a futilidade foi a causa para tal decisão em 100% dos casos. Deve ser destacado, como fatores limitantes deste trabalho, o fato de ser um coorte histórico que não permitiu a avaliação da gravidade dos pacientes através de sistemas prognósticos, do horário das tomadas de decisão e do conhecimento de quais profissionais estavam envolvidos nessas decisões. Após a constatação da alta freqüência da recusa ou suspensão de tratamentos, precedendo o momento da morte dos pacientes internados em UTIs, os autores permitem-se sugerir que esse tema seja mais debatido no âmbito hospitalar. RESUMO Objetivo: Avaliar a freqüência da recusa ou suspensão de tratamentos em pacientes que foram a óbito na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e verificar quais tratamentos foram mais comumente suspensos ou recusados. Desenho: Estudo de coorte histórico Local: Hospital Universitário (HU) Método: Foram anotadas, em um formulário estruturado, as informações sobre as características demográficas, os antecedentes patológicos, o tempo e o motivo de internação no hospital e na UTI e também os 43 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ RBTI / ARTIGO DE REVISÃO detalhes sobre a recusa ou suspensão de tratamentos. Posteriormente, os dados dos pacientes foram alocados em dois grupos. Ao grupo A pertenceram os dados daqueles que receberam medicação plena até o momento da morte e ao grupo B os daqueles onde foi constatada a recusa ou suspensão de tratamentos. Resultados: Foram analisados os prontuários de 155 pacientes que morreram na UTI do HU no período de janeiro de 2001 à dezembro de 2001. Cinqüenta pacientes (32%) pertenceram ao grupo B. A média da idade dos pacientes do grupo B foi percentualmente maior que a dos pacientes do grupo A (58x54.6). O tempo de internação hospitalar foi maior para os pacientes do grupo B (p=0.03), o mesmo ocorrendo com o tempo de internação na UTI (p=0.005). Os pacientes pertencentes ao grupo B apresen- tavam um maior número de comorbidades (p=NS). Os principais motivos da internação na UTI para os pacientes de ambos os grupos foram insuficiência respiratória, coma pósparada cardiorrespiratória e sepse. A futilidade da terapia foi considerada como principal motivo para a recusa ou suspensão de tratamentos em 100% dos casos. Os vasopressores foram o tratamento mais comumente suspenso ou recusado (82%), seguidos pela antibioticoterapia (48%). Conclusão: A recusa ou suspensão de tratamentos precedeu 32% dos óbitos na UTI avaliada. Os vasopressores foram o tratamento mais comumente recusado/suspenso. A futilidade foi a causa para tais decisões em 100% dos casos. PALAVRAS-CHAVE: Recusa / Suspensão / Doença terminal / Ética / Terapia Intensiva BIBLIOGRAFIA 01. Hennezel M, Leloup JY. 1999. A arte de morrer. 2a ed. Petrópolis: Vozes. 143 pg. 02. Cook D. 2001. Patient autonomy versus parentalism. Crit Care Med 29(2): N24N25 suppl. 03. Esteban A, Gordo F, Solsona JF, Alia I, Caballero J e cols. 2001. Withdrawing and withholding life support in the intensive care unit: a Spanish prospective multi-centre observational study. Intens Care Med 27(11): 1744-9. 04. Hinkla H, Kosunen E, Metsanoja R, Lammi UK, Kellokumpu-Lehtinen P. 2002. Factors affecting physicians’ decisions to forgo life-sustaining treatments in terminal care. J Med Ethics 28(2): 109-14. 05. Keenan SP, Busche DD, Chen LM, Esmail R, Inman KJ, Sibbald WJ. Withdrawal and withholding of life support in the intensive care unit: a comparison of teaching and community hospitals. The Southwestern Ontario Critical Care Research Network. 1998. Crit Care Med 26(2):200-2. 06. 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