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Jornadinha • Extra Classe - 3
2 - Extra Classe • Jornadinha
Jornadinha
Jornadinha
Ricardo Silvestrin, 42
anos, brinca com as
palavras com tanta
naturalidade, que parece
que eles nasceram mesmo
um para o outro. Além de
escrever haicais, ele
compõe, canta e toca na
banda Os PoETs e tem
ainda uma editora, a Ame
o poema (AMEOP – cujo
nome vira Poema, lido de
trás para frente), junto
com Alexandre Brito.
Logo que abriu, a editora
lançou 14 títulos de poesia
de uma só vez. Os planos
são promover sessões de
autógrafos com os
autores para aproximá-los
do público e divulgar os
trabalhos. Esse
extraterrestre da literatura
ressalta que as palavras
têm som, significado e
desenho quando escritas.
Clarinha Glock
Extrinha - Os poetas são Ets?
Ricardo Silvestrin - Os PoETs
é uma banda formada por três
compositores que também são
poetas, músicos e vocalistas. Surgiu de um espetáculo que tinha
no roteiro a tese e as evidências
de que os poetas são ETs.
Vem do achado
do ET dentro da
palavra poETa. É
uma brincadeira
com o estranhamento de linguagem e com
a criatividade
que tem a
poesia lida.
Extrinha - Praticamente todo
mundo na vida já fez (ou tentou
fazer) um poema. Quando é que
a gente sabe que um poema é um
poema?
Silvestrin - Qualquer poesia,
de qualquer época e lugar, seleciona e combina palavras para
obter um efeito criativo. É o que
se chama de função poética da
linguagem. E isso para falar sobre qualquer coisa: não precisa
ser só sobre emoção, sentimento,
mas também sobre a observação,
uma idéia, uma crítica. Uma pes-
soa pode não ter conhecimento
nenhum e, só com as informações
que a cultura lhe dispõe, começar a escrever poesia, e fazer um
bom poema – porque a criatividade está no gesto mesmo. A
palavra é três coisas: um significado, um som e um
desenho quando escrita. Poesia é lidar criativamente com as palavras.
Todo mundo tem essa criatividade, mas tu
podes ter
num nível
mais elevado, ou
mais prazeroso. Todo mundo
poderia fazer poesia? Se quisesse... mas não é todo mundo que tem o mesmo desejo.
Extrinha - Quando é que tu
percebeste que tinha esse dom e
esse desejo?
Silvestrin - Com 15 anos, eu
queria fazer uma banda de rock
pesado. Queria ser o vocalista do
Deep Purple. Não tocava nenhum instrumento, não tinha
ninguém que tocasse um instrumento por perto, e aí comecei a
escrever letras para uma banda
de rock. Li a Antologia Poética do
Foto: Tania Meinerz
Cuidado! Se Silvestrin
está mesmo certo...
...existe um bando de
extraterrestres entre nós!
Vinicius de Moraes, que eu conhecia através da música, e achei
muito chata. Então li a Antologia
do Manuel Bandeira e gostei da
poesia. Vi que aquilo que eu gostava cantado também tinha em
outra arte, escrita. E Manuel Bandeira tinha versos curtos, versos
longos, temas surpreendentes.
Extrinha - O que é haicai?
Silvestrin - É um poema de três
versos, de origem japonesa.
Extrinha - Quando começaste
a escrever haicai?
Silvestrin - Comecei escrevendo poemas curtos, por ter lido o
Mario Quintana e o Millôr
Fernandes. Mas eu não tinha mui-
ta consciência do que Paulo Leminski, Alice Ruiz, Maera haicai. Depois, um nuel Bandeira, Mario Quintana.
amigo chamou um poe- Uma surpresa é ler os poemas do
ma meu de haicai, eu per- Millôr Fernandes – ele tem um
guntei o que era e ele me livro chamado Poemas e ouapresentou a biografia tro de Haicai.
do poeta japonês Matsuó
Bashô, mestre do haicai,
que o Paulo Leminski
tinha escrito. Li
essa biografia e vários ensaios do
Otávio Paz,
do Haroldo
de Campos.
O haicai se
deu a partir
dessa descoberta de uma
forma “de dizer pouco,
com pouco mesmo”, como diz o
BIBLIOGRAFIA
Paulo Franchetti
(professor da Uni- Viagem dos olhos (1985, Ed.
camp e autor de li- Coolírica)
vros sobre haicai). Bashô um santo em mim (1988, Ed.
Tchê)
Extrinha - Que poetas você
recomenda para quem está
começando?
Silvestrin - A minha
trajetória foi ir lá na biblioteca do Centro Municipal de Cultura, com 15
anos, e ir lendo, lendo,
lendo. Depois que eu li
Manuel Bandeira, li o
Carlos Drummond de
Andrade, depois o Oswald
de Andrade. Não tinha
ninguém dizendo “isso é
bom” ou “é ruim”. Eu fui
descobrindo as coisas, por
curiosidade. Os poetas
que eu acho que talvez as
pessoas gostassem mais são
O baú do Gogó (1988, Ed. Sulina)
Quase eu (1992, Coleção Petit POA,
Secretaria de Cultura de Porto Alegre)
Palavra Mágica (1995, Massao Ohno/
IEL)
Pequenas observações sobre a vida
em outros planetas (1998, Ed.
Projeto, e 2001, Ed. Salamandra)
É tudo invenção (2002, Ed. Ática)
ex,Peri,mental (2004, Ed. Ameop)
Mmmmmonstros! (2005, Ed.
Salamandra)
Junto com Brito e com Ronald
Augusto, Silvestrin gravou e lançou,
em dezembro de 2004, o CD Música
legal com letra bacana, pela gravadora YB, de São Paulo.