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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES CRIANDO COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E PRÁTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO – INTERFACES SOCIAIS DA COMUNICAÇÃO COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM EM UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: UM OLHAR SOBRE OS CONSÓRCIOS CVA RICESU E CEDERJ ANA MARIA TORRES ALVAREZ, ANGÉLICA SANTOS RAMACCIOTTI, CAMILA RIBEIRO SOUSA, DANIEL MARCONDES GOHN, GREICE MUNHOZ DA SILVA, LEANDRO THESIN, MARGARETH BIANCHINI, MARIA SALETE PRADO SOARES, RUI SANTO E SHEILA KURC SÃO PAULO 2006 Ana Maria Torres Alvarez Angélica Santos Ramacciotti Camila Ribeiro Sousa Daniel Marcondes Gohn Greice Munhoz da Silva Leandro Thesin Margareth Bianchini Maria Salete Prado Soares Rui Santo Sheila Kurc COMUNIDADES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM EM UNIVERSIDADES BRASILEIRAS: UM OLHAR SOBRE OS CONSÓRCIOS CVA RICESU E CEDERJ Trabalho final da turma do segundo semestre de 2006, apresentado como requisito para avaliação na disciplina ‘Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática’, do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Brasilina Passarelli SÃO PAULO 2006 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 03 2. Histórico da EAD ............................................................................................................... 07 2.1 EAD no Mundo ................................................................................................................ 07 2.2 EAD no Brasil .................................................................................................................. 09 2.3Tendências atuais em EAD.............................................................................................. 11 3 Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Consórcios de Universidades........................ 14 3.1 Comunidades Virtuais ..................................................................................................... 15 3.2 Comunidades Virtuais de Aprendizagem........................................................................ 16 3.3 Consórcios de Universidades.......................................................................................... 18 4 Parâmetros de Qualidade em EAD .................................................................................... 22 4.1.O Avanço da Qualidade .................................................................................................. 24 4.2 EAD e a Aplicação da Qualidade.................................................................................... 27 4.2.1 Mudança de Paradigma ............................................................................................... 27 4.3 EAD e a Aplicação da Inovação...................................................................................... 28 5 Modelos de Gestão de dois Consórcios: CVA-RICESU e CEDERJ ................................. 31 5.1 CVA-RICESU .................................................................................................................. 31 5.2 CEDERJ..........................................................................................................................37 6 Indicadores para Avaliação da Qualidade em Comunidades de Aprendizagem............... 42 6.1 A Tradição da Comunidade............................................................................................. 42 6.2 O Compartilhamento do Conhecimento.......................................................................... 44 6.3 As Aplicações Tecnológicas............................................................................................ 45 6.4. A Capacitação dos Professores e Multiplicadores......................................................... 47 7 Considerações Finais......................................................................................................... 49 8 Referências Bibliográficas.................................................................................................. 54 ANEXO I: DADOS OFICIAIS DO ABRAEAD........................................................................59 ANEXO II: A criação de uma comunidade para a pesquisa de comunidades: Um Exercício Metacognitivo........................................................................................................................61 3 1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa surge como resultado da atividade de criação de um texto coletivo, proposta pela disciplina Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagens e de Práticas - CCVAP, do Programa de Pós-Graduação da Escola de Comunicação e Artes - ECA, da Universidade de São Paulo - USP, ministrada pela professora Drª. Brasilina Passarelli. Fruto de investigação e esforço de dez pesquisadores da USP, com currículos e experiências profissionais distintas; alguns atuantes na área de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs); o trabalho é apresentado com o intuito de colaborar no estudo, investigação, organização e sistematização do conhecimento sobre Comunidades Virtuais de Aprendizagem, as quais, apesar da velocidade das mudanças culturais (ou por causa delas), vêm se configurando numa das formas inovadoras e produtivas de desenvolvimento de trabalhos voltados à educação. O detalhamento do processo de desenvolvimento desse trabalho, assim como as dificuldades encontradas, primeiramente quanto à escolha e definição do tema; metodologia aplicada na pesquisa; administração e convívio da equipe além da criação de um portal, como uma ferramenta para a confecção do texto, encontrase disponível no Anexo II: A criação de uma comunidade para a pesquisa de comunidades - um exercício metacognitivo. Trata-se de um texto coletivo, literalmente escrito a dez mãos e que em conseqüência, não segue um estilo ou uma linha única de pensamento, nem tampouco um trajeto totalmente linear. Dessa maneira, será possível encontrar aqui algumas pinceladas a respeito não só de tudo o que foi visto durante o semestre, dos conteúdos abordados pela disciplina em questão e que englobam a discussão sobre educação, comunicação e sociedade da informação na pós-modernidade, mas também boa parte daquilo que constitui o universo de cada um dos co-autores do trabalho. Tendo em vista as transformações por que passa a Educação a Distância (EAD) e as novas formas de organização que assumem as universidades brasileiras no espaço virtual, decidimos realizar um estudo descritivo sobre dois consórcios de universidades virtuais que possuem características bem distintas. Os consórcios escolhidos foram o CEDERJ, formado por instituições públicas, e a CVA-RICESU, 4 constituída por entidades privadas. A escolha foi motivada pelo fato desses consórcios estarem em evidência no cenário nacional, apesar de sua recente criação. À medida que tentávamos levantar hipóteses, mapear possíveis problemas assim como quais seriam as formas de documentar todo o trabalho, nos deparamos com dificuldades na busca de informações mais detalhadas sobre essas instituições, principalmente em função do curto espaço de tempo, que foi de aproximadamente três meses para a conclusão deste trabalho. Além disto, inúmeros questionamentos começaram a vir à tona. Dentre eles, a dúvida quanto à formação de consórcios de universidades ser realmente uma forma viável, tanto educacional quanto economicamente de se trabalhar a educação a distância no Brasil. Haveria um ganho de qualidade na oferta de cursos das respectivas universidades consorciadas? Quais seriam os parâmetros a serem utilizados para medir essa qualidade? Diante dessas indagações, resolvemos reorganizar as idéias e propor, como objetivo geral de nossa pesquisa, a identificação de indicadores para avaliação da qualidade em comunidades de aprendizagem de universidades, a partir da observação das contribuições geradas pelos dois consórcios em estudo. Justificamos a escolha por entendermos que ainda são raras as publicações científicas que abordam especificamente as comunidades virtuais de aprendizagem que congregam universidades. Assim como também são escassos os estudos sobre qualidade em EAD. Desse modo, nossa pesquisa pode ser caracterizada como uma pesquisa etnográfica antropológica, pois na tentativa de compreensão dos significados e características do objeto de estudo, imergimos no contexto social que condiciona o problema. Segundo André (2005), a pesquisa etnográfica antropológica é utilizada de modo generalizado no estudo da cultura como práticas, hábitos, crenças valores e pode ser adaptada para educação. Ela utiliza elementos tradicionalmente usados na etnografia como a observação participante, a entrevista intensiva e a análise de documentos. Uma vez delimitado o campo em que nossas hipóteses foram explicitadas, buscamos referências de pessoas envolvidas nas atividades das comunidades a fim de descrevermos, despojados de preconceitos, uma compreensão global do fenômeno em questão, o que está em conformidade com a proposição dada por Lakatos (1985), que entende a pesquisa descritiva como aquela que procura 5 observar, registrar, analisar, classificar e interpretar os fatos ou fenômenos (variáveis), sem interferência ou manipulação do pesquisador. Lakatos ressalta que esse tipo de pesquisa deseja obter a descrição das características de determinada população ou fenômeno. Ou então, o estabelecimento de relações entre variáveis, isto é, aquelas que visam estudar as características de um grupo: sua distribuição por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde física e mental, e outros. O estudo descritivo procura descobrir, com a precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com os outros, sua natureza e características. De acordo com Lakatos (1985), a pesquisa descritiva pode assumir diversas formas e assumir a forma de um levantamento, sendo mais realizada por pesquisadores das áreas de ciências humanas e sociais, preocupados com a atuação prática. É também utilizada por instituições educacionais, partidos políticos, empresas e outras organizações. Com base nos materiais pesquisados, disponíveis na Internet e em publicações de entidades educacionais, principalmente veiculadas pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), cuja relação se encontra nas referências bibliográficas, estruturamos o texto para que gradualmente o leitor seja introduzido ao universo da Educação a Distância e das Comunidades Virtuais de Aprendizagem. A partir do capítulo 2 é possível encontrar a contextualização dos fenômenos sociais, econômicos e educacionais que configuraram a história da EAD no Mundo e, mais especificamente, no Brasil. A partir das visões, premissas históricas e de um breve apanhado sobre as iniciativas pioneiras e únicas em termos de educação a distância, disponíveis na época da conclusão da pesquisa e, com base na literatura existente, conceituamos no capítulo 3 o que são comunidades virtuais de aprendizagem. Após definirmos o que se entende hoje pela formação de consórcios de universidades, assim como a opinião de alguns especialistas sobre esta nova forma de organização, passamos a descrever os modelos de gestão e os tipos de projetos levados a cabo pelos consórcios que são objeto desse estudo, procurando apresentar suas principais características. Na busca de referências que atendessem ao nosso objetivo, no capítulo 4 apresentamos um estudo dos parâmetros de qualidade em EAD, abordando a história e os conceitos germinais de implantação de iniciativas de qualidade até a 6 efetiva aplicação desses conceitos nos processos relativos à educação a distância no presente. No capítulo 5, descrevemos os aspectos institucionais e corporativos das comunidades CVA-RICESU e a CEDERJ, apresentando os detalhes obtidos em nossas pesquisas. Num esforço pioneiro e inédito, apresentamos no capítulo 6 um esboço com o intuito de categorizar indicadores para avaliação da qualidade em consórcios de comunidades de aprendizagem de universidades. Nosso desejo é que a iniciativa de tecermos considerações sobre as formas de se mensurar a qualidade possa servir como fonte de inspiração, não só para os pesquisadores da EAD e estudiosos da questão, mas também para todos os que se dedicam de alguma maneira ao desenvolvimento da educação a distância no Brasil. Nas Considerações Finais, a reflexão do grupo sobre as contribuições das comunidades pesquisas à EAD no Brasil assim como um relato acerca da complexidade da experiência em produzir um texto coletivo, realizado por dez pessoas com diferenças básicas de idade, formação e, principalmente, diferentes graus de habilidade no uso de ferramentas tecnológicas da informação, que foram, o tempo todo, nosso principal meio de comunicação e de construção de conhecimentos. Conforme mencionamos acima, no Anexo II apresentamos uma descrição adicional das diversas etapas da realização da pesquisa, ferramentas utilizadas, vivências e depoimentos, assim como o acesso ao texto on-line. 7 2 HISTÓRICO DA EAD Muitos autores, a exemplo de João Roberto Moreira Alves (1998), datam o surgimento da EAD no mundo no século XV, quando Guttenberg inventou a imprensa na Alemanha, utilizando caracteres móveis para a composição de palavras. Até aquele momento, a produção de livros era realizada manualmente e era extremamente onerosa, dificultando o acesso ao universo do conhecimento. Em épocas mais recentes, temos citações de uma tentativa de estabelecer um curso por correspondência na Inglaterra, com direito a diploma, em 1880 (Niskier, 1999). Tal idéia foi rejeitada pelas autoridades locais e os autores da proposta foram para os Estados Unidos, encontrando espaço na Universidade de Chicago. Em 1882, surgiu o primeiro curso universitário a distância naquela instituição, com material enviado pelo correio. Mais tarde, em 1906, a Calvert School, em Baltimore, EUA, tornou-se a primeira escola primária a oferecer cursos por correspondência. 2.1 EAD no Mundo Segundo Alves (1998), a difusão da EAD no mundo se deve principalmente à França, Espanha e Inglaterra, pois os centros educacionais destes países contribuíram bastante para que outros pudessem adotar os modelos desenvolvidos. Litto (2002) destaca que, ao contrário do que acontece no Brasil, onde há um histórico de controle governamental centralizador sobre a educação superior, em outras nações havia possibilidades de inovação e, assim, o desenvolvimento de cursos e estratégias de ensino ocorreu mais rapidamente. Com esta abertura, temos a primeira universidade baseada totalmente no conceito de educação à distância: a Open University (OU), na Inglaterra (www.open.ac.uk). Surgida no final do século XX, a OU iniciou seus cursos em 1970 e, em 1980, já tinha 70 mil alunos, com 6 mil deles se graduando a cada ano. Ao longo de 35 anos de existência, foram incorporadas todas as novas tecnologias que eram desenvolvidas e popularizadas, como vídeos e computadores pessoais nos anos 80, e a Internet nos 90. A Open University forneceu referências para o surgimento de universidades abertas em vários outros países do mundo, entre as quais podemos citar a Anadoulou University, na Turquia; a Open Polytechnic, na Nova Zelândia; a 8 Indira Ghandi National Open University, na Índia; e a Open Universität Heerlen, na Holanda. Vários países também desenvolveram sistemas de EAD para lidar com suas condições específicas que freqüentemente apresentam desafios para a educação da população local. Niskier (1999) cita o Canadá, por exemplo, que por ter regiões geladas durante a maior parte do ano, de acesso impossível por terra, foi o primeiro país do mundo a utilizar satélites de telecomunicações só para a educação. Foi lá que surgiu o sistema Schoolnet, utilizando também cabos, Internet e Intranet, e investindo na capacitação e treinamento de professores e especialistas. Outros países gelados, como Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia têm populações dispersas pelos seus territórios e altíssimos níveis de educação básica. A Noruega, por exemplo, tem experiências com EAD desde 1914, quando foi criada a NKS, que atualmente utiliza videoconferência para aprendizagem à distância. Nações com vastas extensões geográficas também encontram na EAD muitas soluções para seus problemas educacionais. Além do Canadá, mencionado acima, temos o exemplo da Austrália, onde aproximadamente 30% da população vive espalhada em grandes áreas. A Universidade de Queensland foi criada em 1910, oferecendo cursos por correspondência. Durante a Primeira Guerra Mundial, esses cursos começaram a chegar nas áreas isoladas do país e mais tarde, em 1929, teve início o serviço de rádio. Em 1990, surgiu o Consórcio Nacional de Educação a Distância, um órgão criado pelo governo australiano para organizar o ensino pós-secundário. A Espanha apresenta outro exemplo interessante, com a criação da UNED (Universidade Nacional de Educação a Distância), em 1973. Tal projeto, segundo Niskier (1999, p. 227), "visou romper com a uniformidade dos centros educativos, aceitando a pluralidade e diversificação das instituições.” Portugal tem, assim como a Inglaterra, sua própria Universidade Aberta, que foi criada em 1988. E além do Brasil, outros países da América Latina, como Bolívia e Argentina, têm realizado experiências com EAD. A partir dos casos citados, podemos perceber que a EAD foi primeiramente consolidada no início do século XX e posteriormente, com o desenvolvimento dos meios de comunicação na segunda metade do mesmo século, houve condições para a ampliação dos projetos existentes e para o surgimento de novos projetos. Atualmente, com a utilização de satélites e da Internet, as barreiras geográficas não 9 são mais impedimentos para a educação. 2.2 EAD no Brasil A história da educação a distância no Brasil teve início em 1904, com o ensino por correspondência. Na época, instituições privadas passaram a ofertar cursos técnicos sem exigir escolarização anterior. Esse modelo foi consagrado com a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, concebida em 1923 por um grupo liderado por Henrique Morize e Roquete Pinto e também mais tarde com o surgimento do Instituto Monitor em 1939, do Instituto Universal Brasileiro em 1941 e de outras organizações similares. Entre 1970 e 1980, instituições privadas e organizações não governamentais (ONGs) começaram a oferecer cursos supletivos a distância, com aulas via satélite complementadas por kits de materiais impressos. A Universidade Virtual, compreendida como ensino superior a distância com uso de Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs), surgiu no Brasil na segunda metade da década de 1990. As universidades brasileiras passaram a se dedicar à pesquisa e à oferta de cursos superiores a distância e ao uso de novas tecnologias nesse processo a partir de 1994, com a expansão da Internet nas Instituições de Ensino Superior (IES) e com a publicação da Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDB), em dezembro de 1996, que oficializou a EAD como modalidade válida e equivalente para todos os níveis de ensino. Em 1997, universidades e centros de pesquisa passaram a gerar ambientes virtuais de aprendizagem, iniciando a oferta de cursos de pós-graduação lato sensu via Internet, demarcando, assim, entre 1996 e 1997, o nascimento da universidade virtual no Brasil. Entre 1999 e 2001, universidades virtuais formaram redes de cooperação acadêmica, tecnológica ou comercial entre instituições brasileiras e entre organizações internacionais. Neste período, passaram a ser organizados consórcios por afinidade regional, consórcios temáticos e redes de instituições públicas, privadas e confessionais. Segundo os dados oficiais do Anuário Brasileiro de Educação a Distância, publicado pela ABED (Associação Brasileira de Educação a Distância), disponíveis no Anexo I: 10 • Pelo menos 1.278.022 de brasileiros estudaram na modalidade EAD em 2005, tanto pelos cursos oficialmente credenciados quanto por grandes projetos nacionais públicos e privados. • O número de instituições que ministram EAD de forma autorizada pelo sistema de ensino cresceu 30,7%, passando de 166 (em 2004) para 217 (em 2005). • O número de alunos que estudam nessas instituições cresceu ainda mais, passando de 309.957 (em 2004) para 504.204 (em 2005). • No ano de 2005 houve um pico na oferta de novos cursos a distância. Foram oferecidos, pelas instituições da amostra, 321 novos cursos neste ano, contra 56 novos cursos em 2004 e 29 novos cursos em 2003. • As regiões Sul e Centro-Oeste do país cresceram muito em pontos percentuais na comparação com o número de alunos das demais regiões. Isso se deve, principalmente, ao grande crescimento de alunos no estado do Paraná, que triplicou seu número, e do Distrito Federal. O mesmo Anuário mostra que, apesar do material impresso ser amplamente utilizado, o apoio ao aluno à distância ocorre primordialmente com o uso de tecnologias mais recentes: • A prova escrita presencial é a forma de avaliação mais utilizada pelas instituições de EAD, sendo utilizada por 64,3% delas. • O e-mail é o apoio tutorial mais comum nas escolas de EAD, sendo usado por 86,75% delas. Em seguida, vem o telefone (82,7%), o professor on-line (78,6%) e o professor presencial (70,4%). A mídia mais utilizada para as aulas de EAD é a impressa (84,7% das escolas a utilizam). Em seguida, vem o e-learning (61,2%) e o CD-ROM (42,9%). 11 2.3. Tendências atuais em EAD A digitalização de imagens e sons transformou o mundo e está dando origem a novas relações entre professores, alunos e instituições que os abrigam. A enorme quantidade de informações disponibilizadas na Internet demonstra a facilidade de acesso a dados que no passado eram mantidos trancados em bibliotecas e controlados por poucas pessoas. Em outras palavras, oferecer conteúdos de excelente qualidade já não é suficiente para atrair esses alunos e, cada vez mais, as instituições educacionais estão percebendo a importância de manter canais de comunicação amplos e abertos com seus alunos, principalmente na modalidade a distância. Neste cenário, a conexão entre instituições, professores e alunos em comunidades virtuais tem criado condições para que um melhor atendimento seja prestado a estes alunos. Na 22ª Conferência Mundial do ICDE sobre Educação a Distância, no Rio de Janeiro, Sclater (2006) destacou o projeto que irá disponibilizar gratuitamente na Internet a maior parte do conteúdo dos cursos ministrados pela Open University, instituição com sede na Inglaterra. Como vimos anteriormente, a Open University foi uma das pioneiras no ensino a distância, começando suas atividades no início dos anos de 1970 e enfrentando o surgimento de inovações que deram origem a debates acirrados: quantos alunos estariam em desvantagem por ainda não terem acesso a uma nova tecnologia e quantos deixariam de fazer um curso se este não utilizasse as mais recentes tecnologias? Assim, decisões foram tomadas quando surgiram a televisão branco e preto, a televisão colorida, cassetes, computadores, floppy disks, CD-ROMs e DVDs. Atualmente, a enorme quantidade de informações disponíveis na Internet traz um novo elemento a esta questão. De acordo com Scatler (2006): Com a Internet, as universidades não têm mais controle sobre o conhecimento, que agora é distribuído a milhões de computadores e disponibilizado através do acionamento de algumas teclas e cliques de um mouse, ao invés de trancado em nossas bibliotecas ou encapsulado em fontes textuais estáticas e dispendiosas. Ao invés de entregar o conhecimento aos alunos em bandejas, as universidades podem complementar seus materiais com um direcionamento de como os alunos podem encontrar informações 12 sozinhos (...) Enquanto os conteúdos perdem seu valor, as instituições precisam construir sua expertise para dar apoio a grandes números de alunos a distância, para se diferenciar de seus competidores. Os modelos de apoio (support models) precisam ser aprimorados e divulgados, pois materiais de curso excelentes não serão suficientes para atrair alunos. (SCLATER, 2006, CD-ROM). Fica evidente que, ao colocar uma “perda de valor” dos conteúdos, Sclater faz referência ao ponto de vista do marketing de uma instituição que busca angariar seus alunos. Não há uma perda da importância desses conteúdos para que exista um bom curso, mas conteúdos excelentes não bastam. Além disso, é preciso haver uma boa comunicação entre professores e alunos, ou seja, um bom sistema de suporte. Um outro exemplo de disponibilização gratuita de conteúdos é o OpenCourseWare do MIT (Massachusetts Institute of Technology). O MIT OCW é uma iniciativa conjunta da William and Flora Hewlett Foundation, da Andrew W. Mellon Foundation, da empresa de softwares ABinitio e do MIT, com o objetivo de realizar uma publicação eletrônica em grande escala na Internet, proporcionando acesso fácil e grátis a materiais de pesquisa relativos aos cursos do MIT para educadores de instituições públicas, estudantes e autodidatas do mundo todo. A proposta é expandir o conceito, o alcance e o impacto desse novo modelo de curso aberto do MIT, com a expectativa de alcançar a estabilidade sem, entretanto, tornarse estático até 2008. Enquanto esta data não chega, diariamente, são acrescentados os materiais de todos os cursos do MIT. Até maio de 2006, foram publicados 1,4 mil cursos e espera-se chegar a 2 mil cursos até 2007. Desde a disponibilização do projeto para o público, em 30 de setembro de 2002, o site OpenCourseWare, do MIT, já foi visitado por usuários de mais de 215 países do mundo todo. Até outubro de 2006, foram recebidas mais de 25 mil mensagens de e-mail, reconhecendo a liderança do MIT como fornecedor de informações gratuitas e acessíveis pela Web. Desde maio de 2006, o público brasileiro pode acessar mais de 100 cursos traduzidos para o Português tanto através do site do MIT OCW ou do Universia, um consórcio de mais de 800 universidades provenientes de diversos países, como Espanha e Portugal. 13 Os cursos disponíveis abrangem as seguintes áreas: Aeronáutica e Astronáutica; Antropologia; Arquitetura; Biologia; Cérebro e Ciências Cognitivas; Ciência Política; Ciência; Tecnologia e Sociedade; Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias; Ciências e Artes de Mídia; Divisão de Engenharia Biológica; Divisão de Sistemas de Engenharia; Economia; Engenharia Civil e Ambiental; Engenharia Elétrica e Ciência da Computação; Engenharia Mecânica; Engenharia Nuclear; Engenharia Oceânica; Engenharia Química; Estudos Comparativos de Mídia; Estudos e Planejamentos Urbanos; Estudos Literários e Humanísticos; Física; História; Línguas Estrangeiras e Literatura; Lingüística e Filosofia; Literatura; Matemática; Música e Artes Dramáticas; além de material da Sloan School of Management, a escola de administração do MIT - sobre Administração e Marketing. Ainda com relação aos conteúdos, Bielschowsky (2006), presidente do CEDERJ, destaca a importância do processo de elaboração dos conteúdos utilizados nos seus sistemas de ensino. Ao contrário do que Sclater colocou sobre a Open University, Bielschowsky indica que, para o CEDERJ, a preparação dos materiais ainda é o principal diferencial buscado para a obtenção de bons resultados. Segundo o autor brasileiro, há três elementos principais que são considerados na elaboração de conteúdos: 1. Uma clara definição de metas e objetivos, indicando o que os aprendizes devem conseguir fazer; 2. o uso de uma linguagem clara e com tom de conversação, para facilitar a compreensão dos materiais pelos alunos; e 3. uma aprendizagem ativa, dando oportunidade aos alunos de construir o conhecimento, experimentando diferentes situações e trabalhando na resolução de problemas. A visão de Bielschowsky coloca a formatação de conteúdos em primeiro plano, sem a qual não existe uma segunda etapa, dando apoio ao aluno que recebeu o material desenvolvido. Nos exemplos da Open University e do MIT, fica evidente que o conteúdo já foi testado e aprovado, podendo ser publicado gratuitamente na Internet, mas destacando a importância da assessoria dos professores. Esta tendência mundial, apontada por Litto (2006), indica que a valorização de cursos e 14 instituições de EAD estará centrada na certificação, nos sistemas de avaliação e na assessoria aos alunos proporcionada pelas escolas e universidades. Como se observará nos próximos capítulos deste trabalho, assim como nos consórcios descritos, há uma preocupação atual com a formação de comunidades virtuais, envolvendo alunos e professores. Bielschowsky (2005) afirma que o objetivo é servir a uma variedade de situações como a discussão de conteúdos, complementação de tarefas, troca de documentos e capacitação de pessoal. E, nesse esforço, alcançar bons desempenhos nos itens que, segundo Litto, devem ser priorizados. 3 Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Consórcios de Universidades De modo bem amplo, pode-se dizer que uma comunidade é formada por um grupo de pessoas que possuem algum interesse em comum. É de Weber (1987) o conceito de que a comunidade está baseada na ação social e que, necessariamente, fundamenta-se em um laço emocional e afetivo: Chamamos de comunidade a uma relação social na medida em que a orientação da ação social, na média ou no tipo ideal baseia-se em um sentido de solidariedade: o resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos participantes (WEBER, 1987, p.77). As relações associativas entre os sujeitos foram amplamente exploradas no âmbito das ciências sociais através das noções de Gemeinschaft (comunidade) e Gesellschaft (sociedade), criadas por Ferdinand Tönnies e tornadas clássicas. Patrick Tacussel (1999), retomando esses conceitos, salienta que uma comunidade reflete a forma de experiência compartilhada, onde seus integrantes se reconhecem pelo compartilhamento de valores tais como a amizade, o amor, a crença, o sentimento de segurança ou insegurança, os valores não institucionais, determinadas atitudes ou hábitos, enfim fatores que determinam aproximação ou distanciamento. A noção de comunidade está basicamente ligada à noção de compartilhamento, de pertencimento a determinado lugar vivido como espaço de relações intersubjetivas. Segundo Rousiley C. M. Maia (1999): 15 Ao longo da modernização das sociedades, as noções de solidez e homogeneidade, anteriormente relacionados à noção de comunidade, são substituídas pela noção de identidades situadas (de pessoas ou grupos) em locais que poderiam estar dispersos.(MAIA,1999, p.14) Esta noção de identidades situadas em locais que poderiam estar dispersos, nos remete ao conceito de “desterritorialização” de Pierre Lévy (1993), resultante do processo de intensificação da circulação de objetos e pessoas e da globalização da nossa sociedade, promovendo o surgimento de novas formas de aglutinação e organização de pessoas, que se aproximam através de diferentes e sofisticados meios de comunicação formando redes de comunidades virtuais, como veremos a seguir. 3.1 Comunidades Virtuais Muitos autores atribuem a Howard Rheingold a criação do termo "comunidade virtual" que definiu os grupos humanos que começaram a travar e manter relações sociais no chamado ciberespaço, no final do século XX: As comunidades virtuais são agregados sociais surgidos na Rede, quando os intervenientes de um debate o levam por diante em número e sentimento suficientes para formarem teias de relações pessoais no ciberespaço. (RHEINGOLD, 1993, p.18) Alguns anos depois, Pierre Lévy (1999), em sua reflexão acerca do significado da “cibercultura”, a define como um movimento social, liderado por uma juventude metropolitana escolarizada, que promoviam a interconexão e a criação de comunidades virtuais. Segundo Vani Moreira Kenski (2001), a criação das comunidades virtuais contribuíram, entre outras coisas, no sentido de evitar o isolamento nos centros urbanos. Hoje temos um novo modelo de organização social, baseado na combinação da tecnologia da informação e da comunicação, cuja matéria-prima e substância, a informação, é totalmente invisível, trazendo mudanças fundamentais aos valores humanos, às tendências de pensamento e às estruturas políticas e 16 econômicas da sociedade. Esse tipo de “nova” comunidade pressupõe relações entre os seus membros, interatividade e trocas comunicativas. Um dos antigos elementos mantidos nessas novas formações é o sentimento de pertencimento, que pode ser explicado como um sentimento de ligação entre seus membros. Para que uma comunidade virtual exista, é preciso que os indivíduos tenham consciência de que são partes dela e sintam-se responsáveis por ela. No entanto, elas são consideradas organismos vivos, que contêm também contradições, como foi apontado por Carvalho e Schlemmer (2005): Comunidades virtuais são redes eletrônicas de comunicação interativa autodefinidas, organizadas em torno de um interesse ou finalidade compartilhados. Podem abarcar e integrar diferentes formas de expressão, bem como a diversidade de interesses, valores e imaginações, inclusive a expressão de conflitos, devido às suas diversificações, multilmodalidades e versatilidades. (CARVALHO e SCHLEMMER, 2005, p. 2) 3.2 Comunidades Virtuais de Aprendizagem Passarelli (2003) explica que as comunidades virtuais de aprendizagem foram gestadas no espaço midiático da Internet e representam novas possibilidades para o processo de ensino/aprendizagem, tanto no âmbito da educação formal (escolas tradicionais) como no da educação não-formal (educação comunitária, educação para a vida). Alguns autores consideram o ambiente virtual de aprendizagem como um “dispositivo” de comunicação, de mediação de saberes, de formação midiatizada. Apesar do termo dispositivo não pertencer à área de educação e comunicação, o conceito, desde os anos 70, vem sendo apropriado por estas áreas. Segundo Peraya (2002), o dispositivo se constitui como: (...) uma instância, um lugar social de interação e de cooperação com intenções, funcionamentos e modos de interação próprios. A economia de um dispositivo – seu funcionamento – determinada pelas intenções apóia-se na organização estruturada de meios e materiais, tecnológicos e simbólicos e relacionais, naturais e artificiais, que tipificam, a partir de suas características próprias, os comportamentos e condutas sociais, cognitivas e afetivas dos sujeitos. PERAYA (2002 p. 29) 17 Entretanto, Kenski (2001) diz que é difícil definir exatamente o que é uma comunidade virtual de aprendizagem porque também aprendemos e trocamos informações nas comunidades virtuais comuns. Para ela, seriam as comunidades que derivam dos cursos ou disciplinas que se desenvolvem pela Internet. De acordo com a autora: Nem todos os cursos ou disciplinas oferecidas no ambiente eletrônico dão origem a comunidades. A comunidade específica de “aprendizagem” vai além do tempo de uma disciplina ou curso, ainda que possa surgir de iniciativas nesses momentos de ensino-aprendizagem. Em muitos casos, ela se solidifica após o encerramento destes. Não se constituem também apenas de períodos finitos, previamente estabelecidos pelas instituições ou pelos seus coordenadores e professores. As comunidades de aprendizagem ultrapassam as temporalidades regimentais estabelecidas pela cultura educacional e vão além. Seu tempo é o tempo em que seus membros se interessam em ali permanecerem em estado de troca, colaboração e aprendizagem. (KENSKI, 2001, on-line) Palloff e Pratt (2004), retomando o conceito de comunidade virtual (ou como eles preferem chamar, comunidade on-line), apontam uma evolução que parte do conceito de Howard Rheingold que a descrevia como agregações culturais surgidas de encontros freqüentes no ciberespaço, passando por Jeny Preece que a entendia como conjunto envolvendo pessoas, objetivos, políticas comuns e sistemas de computador. Na verdade, Palloff e Pratt (2004), ratificam essa visão, entendendo que pessoas são os alunos, professores, administradores do programa e o suporte técnico; os objetivos são o curso e o compartilhamento de informação, bases da forma construtiva de ensinar e aprender; as políticas são as diretrizes do curso e o sistema operacional é o espaço virtual onde se encontram. Os autores complementam a idéia de Preece, distinguindo comunidade de aprendizagem online de comunidade on-line. Para eles, "o envolvimento com a aprendizagem colaborativa e a prática reflexiva implícita na aprendizagem transformadora é o que diferencia a comunidade de aprendizagem on-line." De acordo com os autores, para saber se realmente ocorre uma comunidade virtual, devem existir as seguintes características: 18 • Interações ativas, envolvendo tanto o conteúdo do curso quanto a comunicação pessoal; • Aprendizagem colaborativa, evidenciada pelos comentários dirigidos mais de um estudante a outro que de um estudante ao professor; • Significados construídos socialmente, evidenciados pelo acordo ou pelo questionamento; • Compartilhamento de recursos entre os alunos; e • Expressões de apoio e de estímulo trocadas entre os alunos, além de vontade de avaliar criticamente o trabalho dos colegas. Palloff e Pratt (2004) apontam que, para que haja sucesso, uma comunidade virtual de aprendizagem deve ter uma abordagem centrada no aluno. Além disso, o papel e a presença do professor, bem como o envolvimento ativo do aluno, são críticos para o êxito. Segundo Magdalena e Costa (2006), as Comunidades Virtuais de Aprendizagem promovem um novo modo do ser, de saber e de apreender, em que cada novo sistema de comunicação da informação cria novos desafios, que implicam novas competências e novas formas de construir conhecimento. É interessante ressaltar que essas novas formas de aprender, que estão surgindo, aproximam-se, cada vez mais, da maneira com que os seres humanos constroem naturalmente a sua inteligência. Por isso mesmo, talvez não sejam “novas formas” e sim um efetivo enriquecimento das formas naturais de aprender, uma vez que a inteligência se desenvolve sempre na e pela interação, fator não reconhecido ou considerado pelo ensino tradicional. (MAGDALENA E COSTA, 2006, p 1). Consideramos que este seja o maior desafio nesse novo modo de aprender, praticamente calcado na interação. 3.3. Consórcios de Universidades Segundo Maia (2002), no final da década de 1990, houve uma tendência à organização de diversas redes regionais, nacionais ou educacionais por parte das instituições de ensino superior brasileiras. Tais redes tinham por finalidade o desenvolvimento de projetos de educação a distância através de novos projetos 19 institucionais, como novos parâmetros inventivos, diferentes dos modelos tradicionais. A formação dos consórcios é hoje considerada como um meio de viabilizar e democratizar a oferta de cursos de Educação a Distância, a fim de expandir o ensino superior de qualidade. As instituições consorciadas contam com uma vasta experiência em EAD e buscam compartilhar metodologias, conteúdos e tecnologias. A iniciativa de criação de consórcios mostra que o intuito não foi criar universidades virtuais separadas das presenciais, e sim criar parcerias entre instituições identificadas por natureza jurídica, geográfica e que visam o fortalecimento de competências múltiplas. A idéia de consórcio de universidades para oferecer cursos pela Internet visa, entre outras coisas, à economia de recursos, com esforços conjugados em torno de um mesmo objetivo. A partir do conceito de consórcio, procura-se garantir a infraestrutura para implementação e manutenção do sistema de Educação a Distância, que deve contar com pólos de aprendizagem, tutoria, bibliotecas virtuais, laboratórios etc, a fim de atender às condições operacionais dos projetos. As redes de universidades virtuais são arquitetadas como espaço de troca de saberes e de recursos financeiros, tecnológicos e humanos. Uma característica dominante dos consórcios é o desenvolvimento de cursos presenciais em novos formatos nãopresenciais. Para que o objetivo seja alcançado, o consórcio terá que estabelecer um modelo organizacional no qual as responsabilidades entre as partes são bem definidas e as competências bem aproveitadas. As noções de espaço e tempo colaboram na definição da modelagem desses cursos no novo formato. Por conseqüência deste formato não presencial, os cursos oferecidos pelas instituições consorciadas seguem um projeto pedagógico único, dissociado da cultura dos projetos pedagógicos presenciais. A inovação aparece como um fator importante na implementação dos cursos à distância. Inicialmente, algumas experiências foram testadas em cursos de especialização e extensão, por permitirem modelos mais livres e menos regrados do que cursos de graduação ou pós-graduação. Essa estratégia serviu de exemplo para instituições implementarem novos modelos de educação, atendendo à demanda de qualificação no mercado e inserindo inovações tecnológicas e econômicas na 20 educação continuada. Sendo assim, ao avaliar o Ensino Superior no Brasil, Moran (2006) menciona que: As expectativas sobre o sucesso dos consórcios foram grandes no fim da década de noventa. Mas a realidade é desigual. Alguns consórcios estão caminhando bem e outros ainda não avançaram tanto quanto o prometido ou esperado. Há uma retomada atualmente de parcerias pontuais para determinados cursos, com o apoio do MEC. (MORAN, 2006, on-line) Sobre a cooperação e difusão da oferta de cursos de EAD em consórcio das universidades, Cunha (2006) aponta: A associação das Universidades para a cooperação na oferta de cursos de EAD é extremamente positiva, sendo desejável que seja fortemente estimulada nos programas de financiamento oficiais; no entanto este estímulo não deveria se traduzir em imposição de parceria entre Instituições que não têm nenhuma tradição de cooperação, com a adoção de projetos pedagógicos dissociados de sua cultura. (CUNHA, 2006, on-line) A emergência dos consórcios, a partir de estruturas institucionais tradicionalmente organizadas, exige novas formas de gestão organizacional. Por ser um modelo novo, ainda há poucos exemplos para obter inspiração. Os modelos internacionais não são referências garantidas, pelo fato de existirem muitos vícios e empecilhos burocráticos no sistema de educação brasileira. Tais modelos devem ser adaptados e adequados aos padrões do Brasil devido às características peculiares da cultura institucional. As parcerias contam com ferramentas que consolidam a posição da EAD no mercado e garantem renovações pedagógicas e metodológicas. Um cuidado a ser tomado refere-se à qualidade dos serviços disponibilizados. Corre-se o risco de, com parcerias mal feitas, massificar o ensino e multiplicar marcas que se preocupam em gastar pouco e não com a qualidade dos cursos oferecidos. Sob o prisma financeiro, os consórcios requerem novos padrões de financiamento, devido à nova forma organizacional. As instituições coligadas precisam encontrar um ponto de equilíbrio entre agregar e distribuir recursos, delimitando o que é parte de cada instituição e o que é conjunto. A dificuldade se faz presente tendo em vista uma concorrência latente na busca por recursos públicos e privados. As novas formas organizacionais foram impostas a partir da inovação 21 trazida por esses consórcios e da necessidade de equipes de trabalho qualificadas para o uso de novas metodologias, tecnologias e gestão de custos. A sincronização na oferta de cursos é outro fator importante para a obtenção de sucesso nas parcerias. Sobre a construção do modelo organizacional das redes de consórcio, Maia (2002) cita: “Se hoje os consórcios trabalham em redes construtivas, a própria dinâmica dos projetos e dos tempos faz com que tenham sua dose de anarquia, movimento, entropia e descentralidade.” Conforme veremos no capítulo 5, os consórcios CEDERJ e CVA-RICESU, buscam uma adequada infra-estrutura para um curso não presencial, entropia entre as instituições envolvidas, além de outros indicadores de qualidade, que serão abordados no capítulo 6, como a tradição da instituição, a capacitação de professores e multiplicadores, as aplicações tecnológicas e o compartilhamento do conhecimento. 22 4 Parâmetros de Qualidade em EAD O conceito de qualidade intrínseca a produtos e serviços não se restringe à avaliação de superioridade ou inferioridade surgida nas empresas. Ele remonta ao ano de 1930 quando Walter A. Shewhart desenvolveu um conceito, baseado no uso de estatística, denominado “Controle Estatístico da Qualidade”. Para Shewhart (1931 apud. Toledo, 1993), a qualidade apresenta a dimensão objetiva - relativa às propriedades físicas próprias do objeto em questão - e a subjetiva, que se refere à capacidade que as pessoas têm de perceber e mensurar as características objetivas ou subjetivas agregadas ao objeto. Após a Segunda Guerra Mundial, aqueles que mais tarde vieram a ser considerados “gurus da qualidade”, começaram a apresentar novas definições de qualidade descritas em Toledo (1993) e em Picchi (1993), ampliando o significado do conceito. Nos Estados Unidos, Deming (1950) sugere a qualidade de um produto como máxima utilidade para o consumidor. Juran (1954) define qualidade como satisfação das necessidades do cliente e Feigenbaum (1951), define qualidade como o perfeito contentamento do usuário. Posteriormente, Feigenbaum (1961) redefiniu qualidade como a máxima aspiração do usuário. No Japão, Ishikawa (1964) propõe qualidade efetiva como a que realmente traz satisfação ao consumidor, enquanto para Taguchi (1979), qualidade é a perda mensurável que um produto impõe à sociedade após o seu embarque, isto é, após deixar a empresa, com exceção das perdas causadas por sua função intrínseca. Novas perspectivas continuaram a ser criadas, conduzindo a um contexto mais abrangente, no qual a qualidade é relevante por meio da Gestão da Qualidade Total (TQM - Total Quality Management), que se caracteriza por gerir a produção em produtos e serviços e “LS” (Loss to Society), perdas da sociedade, caracterizadas por perdas em valor monetário, reclamações e re-trabalho. Frente a tal abrangência, o conceito espraiou-se naturalmente para todos os tipos de organizações conhecidas (saúde, educação, governos, transportes, ong’s, instituições religiosas etc.), através da exigência dos usufrutuários de produtos e serviços, isto é, uma vez aprendido tal conceito nas trocas de produtos e serviços por dinheiro, a sociedade 23 passou a desejar tal característica em tudo o mais que lhe fosse pertinente, mesmo onde não houvesse troca por dinheiro. Qualidade tornou-se requisito obrigatório, a ponto de se ver trocado o conceito de “controle de qualidade” para a “obrigação de quem faz”. Isto significava que qualidade não era mais algo que devia ser controlado, mas algo que deve ser feito desde a primeira vez, tornando-se responsabilidade máxima de todo aquele que produz algo, em todas as fases de qualquer processo de construção e finalizando na qualidade do descarte de quem usa (coleta seletiva de lixo), em se tratando de produtos e seus respectivos resíduos. Esses conceitos fizeram com que surgissem vários métodos para aperfeiçoar a qualidade dos processos de fabricação e das organizações, instruindo seus integrantes nos afazeres profissionais resultantes. Dentre os métodos ressaltamos o QDF, 5S's e 6 SIGMA. O QDF ou Desdobramento da Função Qualidade, também conhecido como a “voz do cliente”, tem por objetivo principal, segundo Slack (2002), assegurar que o cliente receba um produto ou serviço que realmente atenda suas necessidades. A técnica tenta captar “o que e como” o cliente deseja, precisa e formata as “características do projeto” de modo que o resultado final seja alcançado pelo cliente. A Metodologia dos 5S's foi criada no Japão, com base nos princípios ensinados pelos pais, que devem acompanhar os filhos por toda a vida. Amplamente utilizada em treinamentos empresariais, ela é assim denominada em função das cinco letras S que formam os seguintes conceitos ou sensos: 1. Seiri – senso de organização; 2. Seiton – senso de arrumação; 3. Seiso – senso de limpeza; 4. Seiketsu – senso de padronização; e 5. Shitsuke – senso de disciplina. 24 Segundo Silva (1996), no Japão, o programa 5S’s foi formalizado no ambiente empresarial no início da década de 1950, apesar de sua longa existência informal como fundamento da educação moral daquele país. Na década de 80, o programa foi redescoberto em países como Taiwan e Cingapura, como uma excelente maneira de se comunicar, pronta e eficazmente, a idéia de qualidade como um hábito, e não como um mero ato. Esses países, após pesquisarem a fundo a essência da qualidade e da produtividade no Japão, concluíram que os 5 sensos estão na base da pirâmide. Essa conclusão não foi imediata, pois foi necessário pesquisar além das aparências. Pessoas que praticam os 5 sensos tornam-se gerentes de si mesmas e são, em geral, disputadas pelo mercado de trabalho. A estratégia dos Seis Sigma utiliza métodos estatísticos e não-estatísticos integrados em uma seqüência lógica, normalmente através de uma abordagem de gestão de projetos com o objetivo de aprimorar processos, produtos e serviços. O termo “Sigma” (a 18a. letra do alfabeto grego), essencialmente, é uma avaliação estatística para medir a taxa de falhas. Quando o sigma é baixo, significa que as taxas de falhas são elevadas. Se o sigma é alto, as falhas são raras. Na prática, através da estratégia Seis Sigma é possível alcançar objetivos radicais de desempenho, tais como redução de defeitos, diminuição de custos ou redução do tempo de ciclo de um processo. 4.1 O avanço da Qualidade No final do século XX, em função do avanço destas iniciativas, surge a necessidade de um processo de garantia da qualidade, estabelecido por normalizações denominadas inicialmente por ISO 9000. Essas normas foram criadas pela International Organization Standardization, na Suíça, em 1987, para facilitar as relações comerciais, a gestão e a garantia da qualidade em empresas de modo a dar as diretrizes para implantação do sistema ao especificar as fases da produção ou prestação de serviços, desde a execução à pós-venda. No início, as normas ISO estavam centradas em controles internos das instituições, não contemplando as áreas de recursos humanos e de recursos empresariais. Em 2000, elas foram substancialmente alteradas para incluir esses 25 itens, facilitando a gestão e o processo PDCA (Plan, Do, Check, Action), Planejar, Fazer, Verificar / Testar, Agir. Várias instituições e seus respectivos profissionais procuraram a qualificação internacional. Do Metrô de São Paulo a universidades, de bancos a fabricantes de plásticos, de empresas de extração de minério a empresas de alimentos. O Brasil posicionou-se entre os países com maior quantidade de empresas qualificadas por “qualidade assegurada” pela norma ISO – 9.000, sendo o país com o maior número de empresas certificadas na América Latina. Em janeiro de 1996, a Universidade de São Paulo, seguindo a iniciativa do “Programa Permanente de Qualidade e Produtividade no Serviço Público”, estabelecido pelo então Governador Mário Covas, criou seu sistema de qualidade denominado “Programa de Qualidade e Produtividade nas Unidades e Órgãos da USP / Programa de Qualidade e Produtividade na Reitoria”. 4.2 EAD e a Aplicação da Qualidade A educação a distância, em princípio, está seguindo o mesmo roteiro dos programas de qualidade utilizado nas corporações, valendo-se do benchmarking, um sistema de referência para excelência empresarial, avaliação e comparação continuada do nível de desempenho das melhores empresas. O processo de benchmarking pode utilizar dados de concorrentes e empresas de outros setores como parâmetro e também observar aspectos de eficiência e procedimentos interdepartamentais ou intersetoriais. Trata-se de um processo de melhoria da atividade interna, através da identificação de áreas-chave do negócio ou do relacionamento com clientes, da implementação de melhores práticas e da adaptação de processos com base na experiência própria ou na observação da atividade de empresas ou organizações concorrentes. O principal objetivo do benchmarking é a melhoria do desempenho. A 22ª Conferência Mundial do ICDE, cujo tema foi “Promovendo Qualidade em Educação a Distância”, foram destacados trabalhos com vistas às características de qualidade de professores; pedagogias; resultados da aprendizagem; tecnologias; diversidade cultural e lingüística; economia e custos; o desafio da falta de qualidade; 26 pesquisa e novos caminhos relativos à avaliação de qualidade em EAD, demonstrando a preocupação do setor neste sentido. Entre os trabalhos listados na Conferência Mundial, podemos destacar o de Kanakasabha (2006), que comenta sobre a iniciativa STRIDE (Staff Training and Research Institute in Distance Education), surgida na Índia, em 1993, após a abordagem da unidade regional da UNESCO na Ásia e Pacifico, visando a melhoria do desempenho na aplicação da qualidade na educação a distância: A falta de pessoal treinado é um impedimento. A maioria das pessoas trabalhando com educação a distância é oriunda do sistema formal e está com a atenção condicionada pelos métodos da educação tradicional. Suas novas funções requerem um conjunto de novas habilidades e atitudes e, conseqüentemente, estas pessoas devem ser reorientadas e treinadas para suas novas responsabilidades (UNESCO, apud Kanakasabha, 2006). Segundo este mesmo artigo, novos parâmetros têm sido desenvolvidos, resultando em 338 programas de treinamento, com a participação de mais de 7, 2 mil pessoas. A melhoria da qualidade no ensino mostra-se como um processo longo e caro para as instituições. O desafio maior está na educação de qualidade, que integre todas as dimensões humanas, cada uma, em si mesma: sensorial, intelectual, emocional, ética e tecnológica, transitando de forma fácil entre o social e o pessoal. Conforme afirma Moran (2004, on-line), "até agora, encontramos poucas pessoas que estejam prontas para a educação de qualidade”. O autor ainda sugere as seguintes características para a qualidade, como um todo, abrangendo: • Organizações inovadoras, abertas, dinâmicas. • Projeto pedagógico participativo. • Docentes bem preparados intelectual, emocional, comunicacional eticamente. • Docentes bem remunerados, motivados e com boas condições profissionais. e 27 • Relação efetiva entre professores e alunos, que permita aos professores conhecerem, acompanharem e orientarem estes alunos. • Infra-estrutura adequada, atualizada, confortável. • Tecnologias acessíveis, rápidas e renovadas. • Alunos motivados, preparados intelectual e emocionalmente, com capacidade de gerenciamento pessoal e grupal. 4.2.1 Mudança de Paradigma: do foco da qualidade da instituição para o foco da necessidade das pessoas A mudança de paradigma surge dentro do contexto empresarial, com a mudança de foco na produção “daquilo que é o melhor" para "o que o cliente precisa e quer comprar". A atenção se voltou para a necessidade dos clientes e para o quê eles estavam dispostos a se interessar. Essa mudança levou as organizações dos mais variados segmentos a buscar a inovação, além da qualidade. Ao analisarmos certas iniciativas no contexto da educação a distância, também observamos esta tendência ocorrendo progressivamente nas instituições educacionais. O Open Course Ware do MIT, como vimos no capítulo 2, mostra-se fiel a sua proposta de atender às necessidades globais, declarando seus valores como excelência, inovação e liderança. A Comunidade Européia discute a formação do EIT – Instituto Europeu de Tecnologia, sustentado por pesquisadores oriundos de universidades européias, como elemento condicional ao seu crescimento e desenvolvimento, concentrado na inovação. O Brasil criou a lei da Inovação em 2005, unindo profissionais de empresas, universidades, institutos de pesquisas e governo nos seus diversos níveis, ou seja, despertando uma procura por profissionais e estimulando alunos a buscar o tema, seja através da EAD ou em cursos presenciais. No Fórum Econômico Mundial de Davos, Suíça, ocorrido em janeiro de 2006, personalidades de instituições globais se reuniram com presidentes de países para participarem de 22 workshops sobre criatividade, inovação e design estratégico. Um 28 número tão extraordinário que foi manchete e matéria nas principais revistas do mundo, particularmente na Business Week Online, no artigo Design em Davos: innovation, creativity and design strategy. Nesse evento, ficou consolidado o conceito de inovação e a necessidade primordial de sua busca por parte dos CEO’s das grandes corporações. Com a inovação, nasce também o conceito de “customização” (um anglicismo inapropriado já que existe no vernáculo o termo personalização que traduziria o termo customization sem problemas), o conceito de “feito sob medida, personalizado, sob encomenda”. Nos Estados Unidos, já é possível entrar em uma loja de jeans, especificar o tipo de tecido, o corte nas medidas pessoais, os acessórios e os bolsos, e receber uma calça em qualquer parte do país, em quatro dias. Também é possível acompanhar, a distância, o conserto de um carro em uma oficina credenciada. A EAD, como observam Winckler e Martins (2006), caminha na mesma direção, através do objeto de aprendizagem, que proporciona flexibilidade e customização jamais vista em outro paradigma educacional. A idéia de utilizar objetos de aprendizagem em qualquer tipo de qualificação educacional realiza-se na medida em que cada unidade pode valer-se deles da maneira que lhe convier, e os interessados poderão construir seus próprios conteúdos, avançando desse modo para um novo paradigma, isto é, “on–demand learning”. 4.3 EAD e a Aplicação da Inovação Por outro lado, Moran (2003) avança e ultrapassa o fator qualidade, caminhando na direção da criatividade, inovação e design. No artigo que trata de educação inovadora, o autor mostra que o desafio se apresenta maior do que imaginado e a solução de muitas questões não pode mesmo ser conhecida. Temos nos limitado a “adaptações e pequenas mudanças no processo educacional”, da mesma maneira que no passado, com o advento da televisão, um reclame comercial era apenas uma propaganda de rádio adaptada à televisão, sem valer-se das características da televisão. 29 Na educação, o presencial e o virtual convergem rapidamente, em composições de virtualidade e presencialidade distintos em cada situação, isto é, cursos presenciais contam com o virtual enquanto cursos virtuais precisam do presencial em alguma medida. O virtual é um pálido reflexo das possibilidades de contato e intercâmbio que o presencial propicia e que exploramos pouco. O virtual é mais cômodo, facilita o acesso a distância, a comunicação em qualquer momento sem sair do nosso espaço profissional ou familiar. Mas é uma interação muito pobre comparada com a de estarmos juntos (MORAN, 2003, on-line). Com essa constatação, apenas reafirmamos o ocorrido com a invenção do telefone. Se, quando essa invenção surgiu, achava-se que o pouco contato pessoal existente poderia diminuir, já que naquele instante parecia que tudo seria resolvido por telefone, o que se concretizou foi uma quantidade maior de encontros físicos, justamente devido a podermos agendar com melhor exatidão a hora, o local e os componentes dos encontros. Se olharmos para períodos anteriores, veremos a função das missas dominicais, particularmente em regiões agrícolas. Após o serviço religioso, ocorriam momentos dedicados a promover o encontro entre crianças que aprendiam a brincar e a se relacionar com outras crianças, entre mulheres que trocavam idéias e soluções de seus problemas e de problemas com seus filhos, com saúde e com alimentação, e a reunião entre os homens para discutir sobre suas plantações, colheitas, negócios e política. As missas dominicais eram o meeting point semanal das populações que viviam isoladas em suas fazendas. Nessa medida, a EAD fortalece a necessidade de encontros pessoais entre os alunos, seguindo linearmente a tendência do Homo Sapiens, porém agora como um meeting point do conhecimento, envolvendo a todos que tenham interesse num dado tema, independentemente de idade, sexo, proximidade, cultura ou nível educacional. Moran (2003) destaca a importância dos encontros em cursos semipresenciais, quando sempre há uma expectativa de reencontro, de colocar em 30 comum as impressões individuais. Segundo o autor, a flexibilização curricular é importante para revalorizar os momentos de presença física: Vale a pena inovar, testar, experimentar, porque avançaremos mais rapidamente e com segurança na busca destes novos modelos que estejam de acordo com as mudanças rápidas que experimentamos em todos os campos e com a necessidade de aprender continuamente (MORAN, 2003, on-line). Portanto é preciso reorganizar o que conhecíamos em novos moldes, formatos e propostas, tornando as estruturas organizativas e currículos mais flexíveis e criativos, ou seja, conforme Moran (2003): Experimentar, avaliar e experimentar novamente é a chave para a inovação e a mudança desejadas e necessárias. Vivemos um período de grandes desafios no ensino focado na aprendizagem. Podemos encontrar novos caminhos de integração do humano e do tecnológico; do racional, sensorial, emocional e do ético; integração do presencial e do virtual; da escola, do trabalho e da vida. (MORAN, 2003, on-line). Nesse processo, as idéias surgem, se transformam em inovações e, à medida que são aplicadas com sucesso, enriquecem a EAD, indicando novos caminhos para a avaliação da qualidade. 31 5 Modelos de gestão de dois consórcios: CVA-RICESU e CEDERJ Neste capítulo são apresentadas algumas das características e peculiaridades encontradas a respeito de cada um dos consórcios objeto deste estudo. Como mencionado anteriormente, apesar de sua recente criação, estes consórcios encontram-se em evidência no cenário nacional, e até o momento não existe nenhum estudo publicado sobre eles, mas somente menções e indicações sobre o avanço das atividades de ambos. Os dados obtidos estão detalhados a seguir. 5.1 CVA-RICESU Criada em 2001, a Comunidade Virtual de Aprendizagem – Rede de Instituições Católicas de Ensino Superior - CVA-RICESU integra, atualmente, quinze Universidades e Centros Universitários que estão localizados em várias regiões do Brasil. Sem fins lucrativos, sua finalidade é compartilhar esforços no desenvolvimento de processos e produtos educacionais com foco na interação entre os agentes da aprendizagem e na busca permanente de inovação educacional. Comprometida com a diversidade e o pluralismo de idéias, a CVA-RICESU tem como objetivos a formação integral do ser humano e o desenvolvimento do pensamento crítico, do espírito de solidariedade, da cooperação e da autonomia por meio da construção do conhecimento. Ao ingressarem na CVA-RICESU, as universidades assinam um termo de adesão à Rede, no qual é firmado o compromisso de oferecer suas dependências para aplicação de aulas e provas presenciais dos cursos a distância oferecidos por qualquer uma das instituições integradas, além de permitir o acesso dos alunos às suas respectivas bibliotecas. Tal compromisso está de acordo com o Decreto 5.622 de 19/12/2005 do MEC que institui que os pólos de educação a distância são entendidos como unidades operativas, no País ou no exterior, que poderão ser organizados em conjunto com outras instituições, para a execução descentralizada de funções didático-administrativas do curso, quando for o caso. 32 O regimento da CVA-RICESU apresenta as normas de cooperação e intercâmbio científico e tecnológico entre as instituições integrantes, além de regulamentar a organização e o funcionamento administrativo da Rede. As diretrizes e normas desse regimento são seguidas pelo Comitê Gestor (CG), constituído por um representante de cada Instituição de Ensino Superior (IES) conveniada. O CG decide as políticas de participação das IES na Rede, bem como estuda possibilidades de promover parcerias com outras instituições em projetos especiais. Novas adesões e propostas de projetos são analisadas e encaminhadas para implementação, desde que o planejamento e as ações da Rede sejam aprovados pelos reitores das IES. O CG também envia relatórios sobre as decisões tomadas, com as devidas aprovações das reitorias, para a Associação Brasileira de Ensino Superior Católico (ABESC). O CG normalmente realiza quatro reuniões presenciais por ano, num rodízio entre as universidades. Nessas reuniões são tratados assuntos estratégicos da Rede como, por exemplo, a avaliação dos trabalhos, o lançamento de projetos, a definição de prazos ou a destinação de verbas. A comunicação entre os membros do CG também é garantida através de listas de discussão. Outras possibilidades de intercâmbio são a área restrita do Portal CVA-RICESU e o Espaço Virtual de Interação e Aprendizagem (E-via), cujos registros das discussões e os materiais disponibilizados também ficam numa área de acesso reservado. No modelo de gestão da CVA-RICESU, as ações são organizadas em forma de Grupos de Trabalho (GTs), sendo que um ou mais representantes das IES na comunidade se responsabilizam por sua direção, conforme suas disponibilidades, competências e interesses em relação aos propósitos dos projetos. As instituições são livres para integrar os GTs formados, ou seja, não há obrigatoriedade de participação: cada instituição decide sobre o seu envolvimento. Mesmo assim, todas as IES têm o direito de usufruir os serviços e os produtos gerados pelos GTs e já implementados pela CVA-RICESU. Toda a dinâmica dos GTs configura-se em micro-comunidades, cujas ações são definidas por seus integrantes. A exemplo dos recursos utilizados pelo Comitê Gestor (CG), a comunicação entre os membros dos GTs é realizada por meio de listas de discussão ou pelo E-via. Sempre que necessário, são organizados 33 encontros presenciais para acertos e encaminhamentos difíceis de serem resolvidos à distância. Atualmente quatorze GTs estão em atividade, dentre eles destacaremos oito grupos. São eles: GT- Biblioteca Digital Criado com o intuito de estabelecer uma biblioteca digital e uma vez concluída essa etapa, o GT continua o trabalho buscando soluções para a otimização do compartilhamento dos acervos digitais das instituições componentes da rede. Na fase de planejamento e implantação da Biblioteca Digital, o GT atuou a distância já que as instituições participantes se localizavam em diferentes estados do território brasileiro, como Pernambuco, Bahia, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Goiás, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. A equipe de cada instituição, constituída essencialmente por bibliotecários, analistas de sistemas, coordenadores de programa de pós-graduação e editores científicos, assumiu a missão de definir as estratégias institucionais para a implantação do projeto, com base no plano aprovado pelo Comitê Gestor. Segundo uma das coordenadoras do projeto, Maria Carmem Carvalho (2004), o resultado dessa experiência foi: “(i) a efetiva capacitação das instituições para atuarem dentro de um novo paradigma de prestação de serviços de informação; (ii) o compartilhamento dos custos entre as instituições participantes (alocação de pessoal técnico e equipamentos para funcionamento local, despesas com reuniões e treinamentos) e a Rede (aquisição de servidor, contratação de analista desenvolvedor, aquisição de aplicativo, despesas com reuniões e treinamentos); (iii) visibilidade à produção científica das instituições de ensino superior católicas pela integração da Biblioteca Digital CVA-Ricesu à BDTD e NDLTD”. (CARVALHO, 2004, on-line) Atualmente a Biblioteca Digital contém teses, dissertações e artigos de periódicos publicados pelas instituições integrantes da Rede e o acesso a este material é livre. No futuro, planeja-se a inclusão de outros tipos de materiais, como os trabalhos apresentados em congressos e objetos de aprendizagem. 34 GT - Revista Colabor@ Este GT, formado por um Conselho Editorial e uma Editoria Executiva indicados pelo Comitê Gestor é responsável pela edição da Revista Colabor@, publicada desde 2001 e voltada para o debate em torno da aprendizagem colaborativa em rede e da educação a distância. Cabe ao Conselho Editorial elaborar as políticas de publicação da Revista; estabelecer os critérios de excelência e os padrões de qualidade da publicação; apreciar o mérito dos artigos e materiais submetidos para publicação na revista; sugerir ao CG e à editoria executiva temas para as edições da revista; recomendar autores e entrevistados e emitir pareceres sobre matérias de sua competência, a pedido do CG. A Revista Colabor@ é editada semestralmente, publicada em formato digital e está aberta a contribuições de toda comunidade acadêmica. Dedica-se, preferencialmente, às áreas de educação a distância, aprendizagem colaborativa, comunidades virtuais de aprendizagem e à educação mediada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). O acesso aos conteúdos da Colabor@ é livre. GT - CIQEAD Este GT responsabiliza-se pela organização e realização do CIQEAD Congresso Internacional de Qualidade em EAD , uma iniciativa conjunta da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e da CVA-RICESU. Realizado a cada dois anos, o CIQEAD tem como finalidade divulgar o conhecimento sobre a qualidade do Ensino a Distância. Para isso, propõe discutir estudos, experiências e propostas de EAD na perspectiva da transformação social; vivenciar formatos de troca e de construção de conhecimento com ênfase na formação continuada; e estimular a constituição de programas e projetos relacionados à qualidade em EAD, integrando diferentes áreas de conhecimento e instituições. GT - Administração O GT Administração propõe ações colaborativas entre as instituições vinculadas à CVA-RICESU para implementar um repositório comum de objetos de aprendizagem. Inicialmente voltados para a área de Administração, estes objetos poderão ser livremente utilizados pelas universidades da Rede. Ainda sob a responsabilidade deste GT, foi promovido em 2006 o primeiro Torneio RICESU de Gestão Empresarial. Gerenciado pela TANGRAM – Sistemas Empresariais, o 35 propósito desse torneio foi promover uma simulação do mercado de capitais e avaliar os conhecimentos e as habilidades técnicas relacionadas às áreas de gestão de pessoas, gestão contábil-financeira, gestão mercadológica e gestão da produção de uma empresa industrial, em ambiente competitivo. Realizado totalmente à distância e com a utilização da plataforma tecnológica do laboratório de gestão empresarial da TANGRAM, várias equipes formadas por alunos e professores dos cursos de Administração, Economia e Ciências Contábeis participaram do desafio que durou oito semanas e teve como vencedora a equipe da Universidade do Sagrado Coração de Bauru, SP que, na época, ainda era membro da RICESU. GT - Formação de Professores em Educação Digital - EDUDI A finalidade deste GT é desenvolver capacitação docente para ações educativas no mundo contemporâneo, com uso de tecnologias digitais. Desde a sua criação, em 2004, o GT EDUDI tem promovido videoconferências sobre temas relacionados à EAD, além de cursos para professores multiplicadores das universidades conveniadas à REDE. Em 2005, foram lançados os cursos de extensão “Ensinando e Aprendendo no Mundo Digital” e “Didática para o Ensino de Línguas”. Para o início de 2007, está programado o curso “Objetos de Aprendizagem”. GT - Amazônia Legal Com o incentivo da ABESC e do CNBB, este GT trabalha para a instalação de tele-centros na Amazônia e pretende dar continuidade ao trabalho de implantação de "campus avançados" das Universidades Católicas em lugares variados da Amazônia. Segundo Dom Jayme Henrique Chemello (2004), o projeto Amazônia Legal visa a criação de Centros de Formação Superior que incentivem alguns campos do saber, como Teologia, Filosofia e outras Ciências Humanas e Sociais e, por conseqüência, promover um trabalho de formação e pesquisa nas seguintes áreas: Antropologia, Cidadania e Exclusão Social, Espiritualidade e Ecologia. GT - Saúde Envolve ações colaborativas entre os cursos de Medicina (graduação e pósgraduação). Visa atividades de tele-colaboração, ou seja, a utilização das TICs para 36 se aumentar as possibilidades de acerto na solução de problemas. Também são objetivos do GT, o compartilhamento de recursos didáticos digitais; a busca por inovações curriculares e novas metodologias de ensino-aprendizagem; e o intercâmbio entre professores, estudantes e residentes. GT - Documentação e Tecnologia Responsável pelo gerenciamento de toda a documentação da rede e dos recursos tecnológicos de apoio às ações dos GTs, a equipe de tecnologia está concentrada em Santos, São Paulo, num espaço cedido pela Universidade Católica de Santos (UniSantos). Sob a coordenação deste GT estão os projetos aprovados pelo Comitê Gestor. Exemplos do trabalho realizado por essa equipe são: a diagramação da Revista Colabor@, a atualização do Portal da Rede, da Biblioteca Digital e do Ambiente Virtual E-Via. Acompanhar as listas de discussão do Comitê Gestor, organizar e dar assistência em relação a qualquer dúvida sobre a documentação da Rede também são ações que fazem parte da rotina do GT. Além disso, novos produtos, como a criação do Sistema Gerenciador de Projetos e da Biblioteca de Objetos de Aprendizagem também estão em andamento. 37 5.2 CEDERJ – FUNDAÇÃO CECIERJ Criado em 2002, O Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro - CEDERJ é um consórcio formado por seis universidades públicas do estado: Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), em parceria com o governo estadual e prefeituras municipais. O objetivo do CEDERJ é a formação integral dos alunos, para que se transformem em produtores de conhecimento e não em meros receptores de informações, democratizando o acesso ao ensino superior através da oferta de cursos na modalidade a distância pública e de qualidade no Estado do Rio de Janeiro, com possibilidades de horários flexíveis para os estudantes e incentivo para a formação continuada de professores do Estado, principalmente os da rede pública de ensino. No CEDERJ, a competência acadêmica está a cargo das universidades consorciadas, cujos professores definem e planejam os currículos dos cursos oferecidos, e elaboram materiais didáticos, incluindo vídeos, animações, links e atividades interativas. Estes professores contam com a assessoria da equipe de designers instrucionais da CEDERJ, composta por 16 profissionais, na maioria mestrandos de diferentes áreas de pesquisa. Ao governo do Estado cabe a responsabilidade pela produção do material didático, o gerenciamento do processo e a operacionalização dos pólos, em conjunto com as prefeituras municipais. Atualmente existem 21 pólos de graduação e extensão, distribuídos pelo estado do Rio de Janeiro nas seguintes localidades: Rio das Flores, Itaocara, Santa Maria Madalena, Pinheiral, Bom Jesus do Itabapoana, Itaperuna, São Francisco de Itabapoana, São Fidélis, Cantagalo, Macaé, Nova 38 Friburgo, São Pedro da Aldeia, Saquarema, Três Rios, Petrópolis, Maracanã, Volta Redonda, Piraí, Paracambi, Campo Grande e Angra dos Reis. O sistema de tutoria a distância ocorre nas universidades consorciadas e o sistema de tutoria presencial, nos pólos regionais, onde também são aplicados os vestibulares para o ingresso nos cursos de graduação e os processos de avaliações presenciais. Os pólos contam com a seguinte infra-estrutura: salas de estudo; microcomputadores conectados à Internet através de banda larga, com multimeios e videoconferências; laboratórios didáticos de Química, Física e Biologia; biblioteca e áreas de conveniência. Além da utilização de recursos audiovisuais (exibição de vídeos, por exemplo), nos pólos ocorrem seminários para complementação curricular. Atualmente são oferecidos cursos gratuitos de formação continuada para professores nas áreas de Biologia, Física, Geografia, Matemática, Química e Informática Educativa. Para a graduação, estão disponibilizados os cursos de: Administração, Licenciatura em Biologia, Licenciatura em Física, Licenciatura em Matemática, Pedagogia para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Tecnologia em Sistemas de Computação. Com projeto político pedagógico que prioriza a inclusão digital, além da social, o CEDERJ aceita a produção de conhecimento dos alunos nos formatos impresso e eletrônico, mas classifica o computador como a melhor ferramenta de trabalho dos pólos regionais, já que a maioria dos alunos não tem acesso aos recursos tecnológicos fora dos pólos. O aluno do CEDERJ está matriculado regularmente em uma das universidades públicas consorciadas e acompanha o curso de graduação em sua própria cidade. O processo de ensino e aprendizagem é semipresencial e, ao final do curso, os alunos recebem um diploma igual ao dos cursos presenciais das universidades do consórcio. Até o momento, estão matriculados aproximadamente 14 mil alunos nos cursos de graduação do CEDERJ. A organização do processo de tutoria é realizada pela Coordenação de Tutoria do Consórcio CEDERJ em conjunto com as Coordenações dos Cursos de Graduação e a coordenação acadêmica de todo o processo de tutoria se realiza nas 39 universidades consorciadas sob a responsabilidade dos professores coordenadores das disciplinas. Para o CEDERJ, a interação dos estudantes com os docentes e entre si deve ser garantida por uma comunicação multidirecional, através de diferentes meios tecnológicos. A aprendizagem deve se realizar pelos seguintes meios: material atraente em linguagem adequada; atividades relevantes e contextualizadas; troca de experiências e interação social; fontes de informação de qualidade. Essas idéias se aplicam a um sistema rigoroso de transmissão e avaliação de conhecimento. Sistema que integra momentos presenciais e a distância, desenvolvidos a partir de material didático de formato especial, tutoria presencial e a distância, aulas práticas em laboratórios nos pólos regionais e nas universidades consorciadas e avaliações, a distância e presencial. Tutoria Presencial Consiste no atendimento aos alunos pelos tutores, realizado nos pólos regionais. O tutor presencial tem o papel de ajudar o aluno no planejamento e na administração do tempo acadêmico, buscando sua autonomia intelectual. É um importante agente na diminuição dos níveis de trancamento de matrícula e de abandono, além de oferecer a manutenção da motivação e do interesse dos alunos na sua própria formação. Tutoria a Distância Consiste no atendimento ao aluno pelos tutores das universidades consorciadas, utilizando diversos meios de comunicação. O suporte ao aluno pode ser feito pelo serviço de discagem direta gratuita (0800) ou através da Internet, com ferramentas do ambiente virtual de aprendizagem desenvolvido pelo consórcio, como o correio eletrônico, os chats e os fóruns. O processo de avaliação varia de acordo com as características de cada disciplina e é composto por: exercícios avaliativos; duas avaliações a distância; duas avaliações presenciais; e, quando necessário, uma avaliação suplementar presencial. No final dos cadernos didáticos há uma série de testes, ou exercícios avaliativos que ajudam o aluno a se auto-avaliar em cada disciplina. As avaliações a 40 distância atribuem notas e estimulam o processo autoral de caráter cooperativo, incluindo questões ou trabalhos a serem desenvolvidos em grupo. São realizadas duas avaliações presenciais por semestre, como mecanismo de validação do processo de aprendizagem. Tais avaliações seguem o rigor próprio dos exames presenciais realizados pelas universidades consorciadas, tanto no que se refere à fiscalização, quanto à elaboração, aplicação e correção das provas. Além dos cursos regulares, o CEDERJ também conta com ações educativas como o Projeto Praça da Ciência Itinerante. Criado em 1994, o Núcleo Itinerante de Ciência e Cultura percorre vários municípios do Rio de Janeiro desenvolvendo oficinas com os seguintes temas: sexualidade, redescobrindo a Matemática e construção de kits de ciências sob a ótica da educação ambiental e o planetário inflável. Este último reproduz o céu noturno dentro da sua estrutura de lona plástica. O objetivo destas oficinas é facilitar o acesso e a reflexão do saber científico, abordado de forma prática, com experimentação, participação e criação. A proposta é proporcionar a abrangência de oportunidades para a compreensão do mundo. Outra ação educativa fica por conta do curso de pré-vestibular social, dirigido aos interessados que já concluíram ou estão cursando o último ano do ensino médio e não podem arcar com as despesas de um cursinho privado. O processo seletivo dos alunos depende de triagem e análise de situação socioeconômica do candidato, que poderá se inscrever somente uma vez e para um único pólo. No total, são oferecidas 8.520 vagas espalhadas por 31 pólos e postos regionais, em 25 municípios, nas disciplinas de Língua Portuguesa, Matemática, Física, Química, Biologia, Geografia e História, com aulas aos sábados. RECURSOS FINANCEIROS De acordo com a Lei Complementar nº 103, de 18 de março de 2002, a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro decretou que o CEDERJ fosse transformado na Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro - CECIERJ. Segundo o estatuto da fundação CECIERJ, constituem receitas da Fundação CECIERJ as dotações e receitas consignadas nos orçamentos da União, do Estado e dos Municípios, assim como as dotações de 41 fundos de programas especiais. Fazem parte também os auxílios ou subvenções de poderes, órgãos, entidades públicas ou privadas, independente de sua nacionalidade, rendas auferidas com a prestação de serviços e outras atividades produtivas, taxas e emolumentos e outras rendas destinadas a consecução de seus fins, bem como oriundas de propriedade intelectual. Constituem patrimônio da Fundação CECIERJ o acervo pertencente à extinta autarquia Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro, bem como o acervo de bens móveis e imóveis, ações, direitos e outros valores que lhe forem destinados pela administração direta ou indireta, federal, estadual ou municipal. Além disso, as doações e legados de pessoas físicas e jurídicas, nacionais estrangeiras, públicas ou privadas.e todo material intelectual produzido pela instituição também é seu patrimônio. Bielschowsky e Barreto (2006) indicam que o governo estadual do Rio de Janeiro fornece fundos para a produção dos materiais didáticos e para a implementação e manutenção dos softwares utilizados. Uma parceria entre o governo do estado e os governos municipais é responsável pelos pólos regionais. Outras fontes de financiamento incluem o Ministério da Educação, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 42 6. Indicadores para Avaliação da Qualidade em Comunidades de Aprendizagem de Universidades No capítulo anterior, foram descritas as estratégias de trabalho de duas comunidades virtuais de aprendizagem que vêm se consolidando no âmbito nacional. Tanto a CVA-RICESU como a CEDERJ buscam soluções que atendam às necessidades das instituições conveniadas a fim de se adequarem às exigências do mundo contemporâneo, altamente competitivo e desterritorializado. Segundo Carmem Maia (2003): Em conseqüência da necessidade de reciclagem, as IES estão cada vez mais procurando alternativas e soluções para se diferenciar no mercado, aumentar seu potencial de escalabilidade, melhorar a qualidade de seus cursos, otimizar a performance de seus professores, controlar a evasão de seus alunos e manter um diferencial competitivo. (MAIA, 2003, p.501). Tendo como referência as informações coletadas e os estudos sobre os conceitos de comunidade e consórcio, bem como a investigação realizada sobre qualidade em EAD, este é um esforço para contribuir com a proposição de alguns indicadores para a avaliação da qualidade em comunidades de aprendizagem entre universidades. O principal intuito é que estes indicadores possam servir como referência a futuros estudos sobre o mesmo tema. 6.1 A tradição da Comunidade Considerando-se que tradição é um conjunto de usos, idéias e valores morais transmitidos de geração em geração, memória ou símbolo, pode-se alegar que se uma universidade preocupa-se em preservar sua tradição deverá ser fiel aos seus valores e à sua história. Mas, diante do conceito de tradição surge a pergunta: se é difícil se falar em manutenção da tradição em uma universidade, como seria garantir a tradição em uma comunidade de universidades? Carmem Maia (2003), ao citar a origem da formação dos consórcios em universidades, fornece orientação rumo a uma possível resposta. Ela indica que as universidades podem se vincular por seguirem a mesma concepção filosófica ou por 43 possuírem características institucionais comuns. No primeiro caso, justifica-se a união das universidades católicas na comunidade CVA-RICESU. No segundo temos as universidades públicas do estado do Rio de Janeiro configurando a CEDERJ. Em ambas as comunidades pode-se observar o empenho de vincular a tradição e o prestígio das universidades conveniadas ao trabalho realizado em conjunto. Apesar da diversidade que perpassa todo o processo educacional e de gestão das universidades, é necessário unir as histórias e experiências de cada uma a fim de gerar propostas pluralistas que atendam e valorizem as comunidades, sem que com isso haja uma perda da identidade das instituições parceiras. Entende-se, portanto, que o primeiro passo para cumprir o propósito de elevar o conceito da comunidade e, conseqüentemente iniciar uma tradição baseada na qualidade dos produtos e serviços gerados por ela, é criar situações de diálogo entre as universidades com o objetivo de obter informações sobre suas representações da realidade, suas demandas e seus interesses, assim como, suas atividades de trabalho. Morosini (2006) afirma que as universidades não devem buscar um padrão único, mas a identificação de princípios e ações que deram certo, disseminando tais modelos para vencer os desafios existentes. Tendo em vista a perspectiva sociocultural das comunidades, uma vez que a educação a distância não tem limites geográficos, uma sugestão seria a presença de uma equipe de trabalho especializada, formada por docentes das instituições conveniadas, para que planejem cursos ou outros produtos e serviços que levem em consideração as especificidades culturais de cada instituição, o que provavelmente proporcionará aumento de credibilidade em seus usuários. 44 6.2 O Compartilhamento do Conhecimento Apesar de ser um indicador de qualidade importante, somente a tradição não garante a sobrevivência de uma comunidade entre universidades. De acordo com Martha Lucchesi (2002): O conceito de universidade sempre esteve ligado à tradição. Instituições seculares tinham maior respeitabilidade do que as mais recentes. Hoje, sem abandonar o valor inestimável do conhecimento acumulado, é preciso levar em conta a dinâmica da transformação (...) As instituições de ensino superior que não se prepararem para enfrentar as novas condições do mundo do conhecimento, perecerão. (LUCCHESI, 2002, p.12). Sendo assim, Lucchesi (2002) defende a idéia de que a produção do conhecimento é o elemento essencial para a mudança de paradigmas, para a reorganização e até mesmo a transformação da estrutura de uma instituição. E, para evitar que essa tarefa seja demasiadamente árdua, é útil aproveitar a experiência daqueles que já trilharam o mesmo caminho. Apresenta-se, então, um outro importante indicador de qualidade das comunidades em universidades: o compartilhamento do conhecimento. A pesquisadora Daniela Grotto (2002) contribui com algumas indicações sobre esse aspecto: O compartilhamento do conhecimento revela-se um dos fatores que envolvem a gestão do conhecimento, e sua prática torna-se imprescindível uma vez que de nada adianta dispor de conhecimentos importantes se não se promove a sua partilha. A organização só se beneficia como um todo quando o conhecimento é difundido, transferido, compartilhado e alavancado, ou seja, quando existem efetivos fluxos de conhecimento. Fluxos de conhecimento são canais de rede de comunicação que facilitam a rápida difusão de conhecimentos e experiências. (GROTTO, 2002, p.107). De acordo com Grotto (2002), devem ser destacados os dois tipos de conhecimento passíveis de serem partilhados na gestão do conhecimento: o explícito e o tácito. O conhecimento explícito caracteriza-se por ser formal, sistemático, facilmente comunicado e partilhado. O conhecimento tácito, por sua vez, 45 inclui o discernimento, o instinto e a compreensão profunda dos indivíduos. Tanto pode estar incorporado nas pessoas como embutido em produtos, processos, serviços e ferramentas. Assim, é possível confirmar a existência desse indicador ao se analisar o efetivo compartilhamento de conhecimento nas comunidades estudadas. Em ambas o conhecimento explícito está na troca de dados e informações entre gestores, docentes, pesquisadores e alunos. O conhecimento tácito é observável no acesso aos recursos da comunidade, como os próprios portais e ambientes de aprendizagem das comunidades ou o acesso à biblioteca digital, por exemplo. É possível a análise de redes sociais baseando-se na teoria dos grafos para o entendimento das relações entre atores participantes dessa rede. Os atores são graficamente representados por vértices e os laços sociais por arestas. Através de entrevistas com os atores é possível avaliar quais possuem relação com os atores a fim de definir padrões de redes sociais. 6.3 As aplicações tecnológicas Verifica-se que o compartilhamento do conhecimento é elemento essencial para o bom andamento do trabalho em uma comunidade de aprendizagem. No entanto, esse compartilhamento tem suas possibilidades ampliadas quando as tecnologias da informação (TIs) são utilizadas adequadamente. Conforme citado anteriormente, Angeloni (2002) entende fundamentalmente para a alavancagem dos que a processos tecnologia de contribui conversão do conhecimento na medida em que possibilita a gestão do conhecimento intra e interorganizacional. Diversos recursos tecnológicos podem ser analisados neste indicador. Destacaremos neste trabalho os principais recursos utilizados nas comunidades de aprendizagem: redes de telecomunicações, ambientes virtuais de aprendizagem, gerenciadores de projetos e de documentos, bibliotecas digitais, repositórios de objetos de aprendizagem entre outros. Segundo Pereira (2002), as redes criam uma infra-estrutura potencial para o intercâmbio de informações e conhecimentos, abrindo oportunidades para aplicações da gestão do conhecimento. Não é a capacidade tecnológica em si, mas a utilização da tecnologia pelas pessoas que confere à rede o status de propiciadoras do conhecimento. 46 Os ambientes de aprendizagem são os locais onde normalmente os cursos virtuais são disponibilizados. Caracterizam-se por um espaço de aprendizagem quem tem ferramentas disponíveis para a execução de atividades diversas e também mecanismos de comunicação para o efetivo intercâmbio de informações e experiências entre professores e alunos. Barbeta e Santos (2006), apresentam vários parâmetros de avaliação de qualidade dos ambientes de aprendizagem, tais como o controle de acesso dos usuários, a comunicação síncrona e assíncrona, a distribuição de material, a criação de testes, a construção de texto cooperativo (wiki), a possibilidade de compatibilizar softwares abertos, a customização de endereçamentos, a facilidade de utilização do software, entre muitos outros aspectos. À medida que a tecnologia avança, tendem a surgir novos parâmetros. Os gerenciadores de projetos e de documentos apresentam-se como instrumentos tecnológicos para a transformação do conhecimento nas organizações, por meio de automação de processos. De acordo com Machado (2002): o gerenciamento eletrônico de documentos (GED) constitui-se em um conjunto de técnicas e métodos utilizados com o objetivo de facilitar o arquivamento, o acesso, a consulta e a difusão dos documentos e informações em uma organização. (MACHADO,2002, p. 208). A utilização de objetos de aprendizagem reduzem significativamente a quantidade de texto em cursos a distância. Pode ser considerado um fator de avaliação de qualidade, uma vez que eles tendem a ser muito apreciados pelos aprendizes, ao explicar através de imagens e desenhos, as ocorrências de um fenômeno físico que de outra maneira, precisaria de diversas páginas para ser explicado, certamente com certas dificuldades de entendimento. Os repositórios de objetos de aprendizagem armazenam, organizam e catalogam os objetos conforme normas de padronização internacional, de forma que seja facilitada a consulta e recuperação quando necessário. As bibliotecas digitais são coleções organizadas de objetos de informação, disponíveis no meio digital. Podemos pensar nas bibliotecas digitais como centros de referência sobre aquilo que se conhece sobre determinada área do conhecimento. Por isso, esse indicador tem grande valor, pois a produção do conhecimento deve 47 ser o resultado de um processo crítico, público e comunal no qual todos podem participar. Ao finalizar este tópico, pode-se mais uma vez comprovar que as comunidades virtuais de aprendizagem citadas nesta pesquisa, ao utilizarem os recursos descritos, além do uso freqüente de ferramentas de comunicação como o e-mail, listas de discussão ou videoconferências, por exemplo, tornam-se facilitadoras na distribuição e no intercâmbio do conhecimento entre as universidades que as integram. 6.4 A Capacitação dos Professores e Multiplicadores Não há tradição nem compartilhamento de conhecimento em uma comunidade de aprendizagem, mesmo com a aplicação do que há de mais novo em tecnologia, se não existir o comprometimento e um contínuo trabalho de formação dos agentes da educação: os professores e os alunos. Conforme as considerações de Martha Lucchesi (2002): Publicações científicas e outras formas de divulgação dos trabalhos produzidos pelo corpo docente e discente trazem prestígio à universidade e atraem candidatos ao vestibular, possibilitando seleção dos mais preparados. A tendência é a emergência de universidades que investem em qualidade, ou seja, em professores titulados e produtores de conhecimento, enquanto as de má qualidade tendem a desaparecer, superadas pela concorrência acirrada. (LUCCHESI, 2002, p.12) Nesta pesquisa, encontrou-se a preocupação das comunidades estabelecerem toda uma série de ações para atender ao quesito formação de professores e multiplicadores, ainda que com suas finalidades bastante diferenciadas. O CEDERJ trabalha diretamente com a formação dos professores envolvidos nos cursos ofertados pela rede. A RICESU, por sua vez, aposta na formação de multiplicadores, pois a rede não tem como objetivo prioritário a criação de cursos integrando as universidades. Vale recordar que professores são profissionais capacitados a ensinar assuntos relacionados à sua área de conhecimento e multiplicadores são aqueles que irão dar continuidade aos canais organizados de comunicação professor-aluno. Independente da função: professor ou multiplicador, é necessário avaliar em 48 que fase cada profissional de educação se encontra e como deve ser estipulado o treinamento. Por isso, a oferta de capacitação para formação de professores e multiplicadores é aqui também considerada como um indicador essencial à qualidade de um consórcio de comunidades de aprendizagem. Entretanto, entendese que a capacitação não deve ser somente em termos de tecnologia, mas também deve abarcar os aspectos liderança e motivação. Seria interessante, portanto, a criação de um modelo de integração do aprimoramento profissional (competências) e psicológico (pessoal, moral e conceitual). Ainda há muito a ser estudado sobre o conceito de qualidade em comunidades de aprendizagem. Porém, não há dúvida que as comunidades estão se configurando como meios eficazes para o alcance de níveis de excelência cada vez maiores na oferta de trabalhos educacionais e sociais prestados pelas universidades. 49 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho é resultante de pesquisas que proporcionaram aos seus autores dois aprendizados distintos. O primeiro é relativo aos conteúdos investigados e apresentados no texto, o segundo está relacionado com o processo pelo qual o texto foi elaborado. Neste capítulo, estes dois elementos foram reunidos, estabelecendo uma ligação entre o que foi aprendido e as etapas que conduziram até este aprendizado. A produção de todo o material aqui apresentado teve início em setembro de 2006, durante a disciplina de Pós-Graduação "Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e de Prática", ministrada pela Professora Dra. Brasilina Passarelli, na Escola de Comunicações e Artes da USP. A proposta desta disciplina é partir da prática para aprender sobre a teoria, pesquisando e escrevendo um texto coletivamente. No decorrer das aulas, levou-se a cabo inúmeras discussões para a escolha e posteriormente a investigação sobre o tema escolhido que era a realização de um estudo comparativo sobre os consórcios CVA-RICESU e CEDERJ, evidenciando suas semelhanças e diferenças e lançando sobre estas instituições um olhar voltado ao aspecto educacional que as envolve. Em função das informações disponíveis e dos prazos estipulados para a entrega do trabalho, o trabalho acabou por se transformar em um estudo descritivo, com o foco centrado no aspecto institucional dos dois consórcios mencionados. O processo de elaboração do texto revelou diferenças acentuadas entre os pesquisadores envolvidos, tanto nas práticas de trabalho quanto na adaptação às ferramentas escolhidas para uso conjunto. As dificuldades decorrentes dessas diferenças proporcionaram valiosas lições sobre a formação e funcionamento de comunidades virtuais de aprendizagem, enfatizando o sentido das palavras que dão nome à disciplina. Durante o período do estudo, o grupo efetivamente criou uma comunidade de aprendizagem virtual e presencial, lidando com lideranças alternadas, conflitos, questionamentos, vínculos de diferentes espécies e problemas pessoais de ordens diversas. Por outro lado, ocorreram também empatias entre os integrantes do grupo e um forte senso de colaboração entre quase todos, sempre pautado por reuniões 50 semanais, que continuaram a ocorrer mesmo após o término do semestre letivo na USP. Duas ferramentas tecnológicas principais, foram utilizadas nos trabalhos realizados: o fórum de discussões, disponível no portal da disciplina (http://bpassarelli.futuro.usp.br/pos), e um portal criado especialmente para o grupo, na Incubadora Virtual de Conteúdos Digitais da FAPESP: http://ccvap.incubadora.fapesp.br A criação deste portal foi facilitada pelo fato de uma das participantes da turma fazer parte da equipe da Incubadora Virtual, projeto financiado pela Fapesp que abrigou o texto virtualmente. No fórum, ocorreram discussões pontuais e foram postadas as atas das aulas e das definições resultantes dos encontros presenciais. No portal, além de um local para a construção colaborativa do texto, surgiram espaços para a inserção dos materiais coletados (textos e notícias pertinentes à pesquisa), de resenhas sobre os textos coletivos de turmas anteriores da mesma disciplina, assim como depoimentos pessoais e um making of do trabalho, revelando detalhes sobre todas as etapas vivenciadas pelo grupo. Uma narrativa mais descontraída sobre o desenvolvimento do texto e a experiência a 20 mãos encontra-se no Anexo II: A criação de uma comunidade para a pesquisa de comunidades - um exercício metacognitivo. Mais detalhes sobre o desenrolar do trabalho podem ser vistos na seção Making of do Portal CCVAP. Lá também estão registrados momentos em que outras ferramentas tecnológicas foram utilizadas, como mecanismos de comunicação instantânea (Skype e Messenger, por exemplo), através dos quais foi prestada assistência e suporte para o uso correto da Incubadora Virtual. Concluiu-se, após diversas discussões, que uma pesquisa a respeito de qualquer comunidade virtual deve considerar as complexidades que não estão aparentes na superfície, mas que permeiam todas as relações entre os participantes. Portanto, ao estudar os consórcios CVA-RICESU e CEDERJ percebe-se que se está apenas tocando a ponta de um iceberg, que pode e deve ser analisado em profundidade futuramente. Com este pensamento, foram identificados alguns possíveis indicadores para avaliação da qualidade em comunidades de aprendizagem de universidades, dentro de uma vasta lista existente, criando terreno para que outras pesquisas dêem continuidade a este trabalho. Tais indicadores encontram-se apontados no capítulo 6. 51 No capítulo 5, sobre os Modelos de Gestão de dois Consórcios, descreve-se como são as ferramentas tecnológicas e virtuais utilizadas pela CVA-RICESU, como por exemplo, listas de discussão, portal e espaço virtual (e-via) para garantir a comunicação entre seus participantes. Dentro desta instituição foi visto como ela incentiva a aprendizagem colaborativa em rede e aborda assuntos ligados à EAD em uma revista digital, além de contar com um comitê exclusivo para a organização de congressos voltados à EAD. Investe ainda na formação de professores multiplicadores, com vistas a aperfeiçoá-los no uso das tecnologias digitais. Mesmo para testar suas competências administrativas, a CVA-RICESU utiliza trabalho a distância, em grupo, e com auxílio de plataformas tecnológicas. Utiliza tecnologia também para colaborar no combate aos problemas sociais como exclusão e falta de formação escolar em regiões carentes e distantes do País. Além disso, desenvolveu e mantém uma biblioteca digital no momento em que muitos esforços tecnológicos estão sendo direcionados no sentido de integrar importantes repositórios de conhecimento espalhados pelo País e pelo mundo. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) fomenta o uso de sistemas Open Archives por meio da tradução de sistemas compatíveis com OAI-PMH, treinamento de recursos humanos e outras atividades relacionadas. Com isso, é possível garantir que a adoção da plataforma OAI seja um investimento seguro para as instituições brasileiras, incluindo as bibliotecas universitárias que desejam publicar conteúdos em meio digital. (Oddone & Andrade, 2006, on-line) Assim como fez a turma de 2006, responsável por este texto coletivo, a CVARICESU convoca eventos presenciais para resolverem assuntos mais difíceis de serem encaminhados a distância. De outro lado, vimos que o CEDERJ promove a transformação de alunos em produtores de conhecimento, rompendo com o paradigma em que alunos eram meros receptores e democratizando o acesso ao ensino superior por meio da oferta de cursos na modalidade EAD. Com horários flexíveis, incentivo à formação continuada de professores e diversos recursos audiovisuais produzidos com o apoio de mestrandos, o consórcio se divide entre a tutoria de EAD nas universidades consorciadas e o sistema de 52 tutoria presencial, nos pólos regionais, que contam com microcomputadores ligados à Internet, banda larga, multimeios e videoconferências. A partir de um esquema de ensino semi-prensencial, o CEDERJ também promove a inclusão digital e social, permitindo que alunos da rede pública tenham acesso a recursos tecnológicos antes nunca experimentados. Sistema de discagem gratuita 0800, correio eletrônico, chats, fóruns, "fale conosco" e outras áreas do portal da CEDERJ são meios pelos quais o aluno recebe suporte e que compõem a chamada Tutoria a Distância. As avaliações de desempenho de alunos são feitas tanto a distância quanto de modo presencial (duas por semestre), sendo que aquelas feitas a distância incentivam o processo autoral de caráter cooperativo, o que vem a ser outra grande tendência contemporânea. Com base neste estudo feito sobre CVA-RICESU e CEDERJ, foram descritos alguns benefícios que estes consórcios geram à sociedade e à EAD no Brasil, como resposta à indagação central da pesquisa quanto à qualidade dos cursos de EAD fornecidos por essas comunidades: • As possibilidades dos consórcios e, particularmente, suas instituições componentes, atuando diretamente junto aos interessados, geram um fluxo de informações e contribuições culturais, educacionais, de oportunidades de desenvolvimento e melhoria com inovações contínuas, de modo a trazer benefícios a todos os envolvidos ou que desejam se envolver com sistemas de educação continuada, tão necessária ao crescimento profissional e pessoal. • Consórcios são maneiras de viabilizar economicamente cursos que de outra forma teriam dificuldades em continuar suas ações e contribuições. Como uma rede na qual os elos mais fortes sustentam financeiramente elos mais fracos, porém necessários, prosseguem na capacitação de pessoas que, por sua vez, também não teriam condições financeiras de arcar com cursos presenciais, devido a seus custos diretos e indiretos. • Por outro lado, cursos em EAD permitem não apenas a aprendizagem de novos conhecimentos (a parte mais fácil de mensurar), mas contribuem para 53 o aperfeiçoamento e atualização de conhecimentos aprendidos anteriormente que fortalecem a capacitação e competência profissional. Nessa medida, tanto CEDERJ, quanto CVA-RICESU cumprem suas missões educacionais abrindo oportunidades para profissionais, independente das distâncias que se encontram. • A conexão interdisciplinar incentiva o desenvolvimento do conhecimento denominado modelo em “T”, no qual há um aprofundamento vertical na própria especialização profissional, mas, simultaneamente, permite a generalização horizontal (da letra T) de novos saberes em outras áreas do conhecimento, de modo a permitir a aceleração da produção criativa, o que os consórcios, com sua variedade de opções, despertam nos alunos. Podemos ainda enfatizar as considerações sobre a criação de comunidades de aprendizagem e prática, na medida em que os alunos agrupam-se em comunidades de interesse e continuam conectados, trocando idéias, informações e conhecimentos, o que contribui beneficamente com o crescimento de todos. Por fim, o processo de inovação que traz qualidade através de novos indicadores prossegue. É o "tao" da investigação e produção do conhecimento que envolve de maneira fascinante, cientistas, pesquisadores, educadores e profissionais, das mais diversas áreas, num só esforço, coletivo, combinando a visão microscópica com a visão telescópica. 54 REFERÊNCIAS ABED Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância (ABRAEAD). São Paulo: Instituto Monitor, 2006. Disponível em: http://www.abraead.com.br/anuario/anuario2006.pdf . Acesso em 02 jan. 2007. ALVES, João Roberto M. Educação a distância e as novas tecnologias de informação e aprendizagem. Artigo do Programa Novas Tecnologias na Educação, 1998. Disponível em: http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/artigos/educadist.pdf. Acesso em 14 nov. 2006. ANDRÉ, Marli Eliza D. A. Etnografia da prática escolar. 12ª ed. Campinas: Editora Papirus, 2005. ANGELONI, Maria Terezinha (coord). Organizações do conhecimento: infraestrutura, pessoas e tecnologias. São Paulo: Saraiva, 2002. BARBETA, Vagner B; SANTOS, Roberto B.B. 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Acesso em 10 jul. 2006. 59 ANEXO I Tabelas de Dados Oficiais do Anuário Brasileiro de Educação a Distância (ABRAEAD), publicado pela ABED -Associação Brasileira de Educação a Distância em 2006 60 61 ANEXO II: A CRIAÇÃO DE UMA COMUNIDADE PARA A PESQUISA DE COMUNIDADES - UM EXERCÍCIO METACOGNITIVO 62 ONDE, COMO, QUANDO E COM QUEM TUDO COMEÇOU Este trabalho começou em setembro de 2006, na disciplina de Pósgraduação “Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e de Prática”, ministrada pela Professora Dra. Brasilina Passarelli na ECA-USP. Além da carga teórica recebida e de algumas tarefas pertinentes dentro e fora da sala de aula (resenhas, discussões), a turma foi desafiada a produzir um texto coletivo feito a muitas mãos e cabeças, utilizando inicialmente o site http://bpassarelli.futuro.usp.br/pos, como requisito para avaliação na disciplina. Tal proposta de prática coletiva já vinha sendo desenvolvida com as turmas anteriores, de 2001 a 2005, sobre as quais foi feita uma breve análise. No início das aulas o grupo era formado por 14 pessoas. Com o passar do tempo, algumas foram se retirando da disciplina, restando, ao final do trabalho, 10 pessoas que foram co-autoras do texto coletivo e que formaram o portal http://ccvap.incubadora.fapesp.br/portal. A ESCOLHA DO TEMA Como o tema era livre, começou-se com um brainstorming entre a turma para definir que assunto seria abordado no texto coletivo. O primeiro tema levantado foi “universidades abertas”, que aos poucos foi evoluindo para outras sugestões, tais como: universidades abertas no Brasil, universidades abertas no mundo, comunidades virtuais em universidades, entre outros tantos que surgiram. É importante ressaltar que algumas das pessoas que abandonaram a disciplina fizeram-no justamente neste momento de escolha do tema, onde muitas opiniões divergiam, não se menosprezando, é claro, outro motivo de desistência. Nesta etapa, algumas instituições foram sugeridas como objeto de estudo, tais como o projeto Telemar e o Veredas, sendo descartadas posteriormente pelo grupo, diante da dificuldade de coleta de dados e o curto tempo disponível para a realização do trabalho. Após diversas conversas, muitas delas bastante acaloradas e aconselhados pela professora, a turma decidiu reduzir o universo do tema, concentrando-se nos 63 consórcios de universidades brasileiras. Focando ainda mais, a escolha recaiu especificamente em dois consórcios propostos por quatro colegas: CVA-RICESU e CEDERJ. O motivo de tal escolha deveu-se em parte ao fato de que duas colegas atuam profissionalmente na CVA-RICESU e outros dois colegas terem lido materiais sobre o CEDERJ em eventos dos quais tinham participado recentemente. Isso foi muito importante, pois facilitaria a coleta de materiais, visto que não havia muito mais que dois meses para a execução do trabalho (a demora na escolha do tema e a falta de foco acabaram gerando um grande atraso na finalização do texto). Uma vez decidido que tais instituições seriam o objeto de estudo, ficou definido também que seria feito um estudo comparativo entre elas, enumerando suas diferenças e semelhanças. Entretanto, passado algum tempo e de posse de uma série de informações coletadas a respeito de ambas, percebeu-se que CVA-RICESU e CEDERJ eram duas instituições diferentes em termos de missão e propósitos que não haveria um equilíbrio suficiente de informações que justificasse um estudo comparativo. Uma vez mais o grupo contou com a percepção e a experiência da orientadora, profa. Dra. Brasilina Passarelli que ao auxiliar nesta etapa do trabalho, demonstrou que, na verdade, melhor seria um estudo descritivo sobre os dois consórcios em lugar de qualquer análise comparativa. Percebeu-se então que a abordagem dos consórcios deveria ser mais de cunho institucional do que educacional, em função de não haver tempo hábil para um maior aprofundamento no tema. Por fim, a turma seguiu o aconselhamento com relação a serem feitas sugestões de alguns indicadores para avaliação da qualidade em consórcios de comunidades de aprendizagem de universidades, como contribuição e desafio para futuros pesquisadores. Os indicadores encontram-se no capítulo 6 do trabalho. O PROBLEMA PROBLEMÁTICO A essa altura também era preciso ter certeza de qual problema de pesquisa seria levantado a partir deste estudo descritivo, o que acabou se transformando em tema central de diversas discussões em sala de aula. 64 Embora houvesse no grupo pessoas com mais experiência acadêmica, tanto elas quanto as menos experientes tiveram dificuldade para definir hipótese, problema, objetivo, metodologia e outros elementos essenciais de um trabalho acadêmico. Também neste ponto foi necessária a interferência da professora, que o tempo todo nos recolocava no caminho certo. Concluiu-se por fim, que a missão maior seria apontar as contribuições da CVA RICESU e da CEDERJ, bem como questionar se estas contribuições estão agregando valor efetivo à qualidade da EAD no Brasil. A INCUBADORA E OUTROS MEIOS DE TRABALHO E DE COMUNICAÇÃO A exemplo da turma de 2003, decidiu-se que teríamos um outro site paralelo ao da disciplina, onde documentaríamos o trabalho de nossa turma. A primeira sugestão que surgiu foi a de construirmos um blog, mas alguns colegas ficaram preocupados, não só com a questão de segurança, mas também com a limitação do blog enquanto ferramenta. Outro software sugerido e apresentado em aula foi o Mindmap, que embora fosse voltado a trabalhos coletivos, também não foi o escolhido, pelo custo e por não reunir todas as vantagens necessárias ao que pretendíamos desenvolver. Definimos então que o trabalho seria hospedado na Incubadora de Conteúdos Virtuais (IV) do TIDIA-FAPESP, em função da facilidade de uma das colegas ser a responsável pelos conteúdos lá desenvolvidos. A Incubadora de Conteúdos Virtuais do TIDIA-FAPESP hospeda também o site de pós-graduação da ECA e diversos portais de disciplinas não só da USP, mas de outras universidades e instituições. Vários foram os motivos que nos levaram a esta escolha, dentre os quais podemos citar: segurança garantida por uma estrutura robusta de hardware, aplicativos inovadores, equipe de suporte, possibilidade de trabalhar em um ambiente próprio para a produção de trabalho coletivo (filosofia WIKI) e condições para armazenar e gerenciar conteúdos com grande facilidade. Criamos então o portal CCVAP (http://ccvap.incubadora.fapesp.br/portal) onde passamos a armazenar todo o material coletado durante a fase de pesquisa, em boa parte links, notícias, pdfs, fotos, tabelas e o texto coletivo propriamente dito. Mesmo continuando a utilizar o site da disciplina como referencial, 65 especialmente no que diz respeito ao Fórum, o portal da IV serviu de apoio durante todo o desenrolar do trabalho, sendo de grande valia durante períodos em que o site oficial da disciplina enfrentou alguns problemas técnicos. Enquanto utilizávamos os comentários do portal para postar mensagens mais pontuais e operacionais, era no Fórum que mantínhamos a comunicação macro com o grupo. Nele postávamos atas, divisão de tarefas e decisões mais importantes. Para nos comunicarmos, usamos de tudo um pouco: Chat, lista, e-mail, skype, comentários do portal já citados, MSN, telefone e até uma certa integração via Orkut! Só levamos a cabo um Chat, numa das aulas abertas em que decidimos trabalhar de forma remota. A lista criada no início do trabalho não vingou. Editora e administradora, um dos poucos papéis definidos no grupo desde o início, comunicaram-se quase que diariamente pelo skype. Muitos comentários foram deixados no portal e reproduzidos na pasta de making-of do portal. O meio de comunicação mais utilizado, especialmente na reta final do trabalho, sem dúvida, foi o e-mail, embora algumas pessoas tenham se telefonado e usado outros sistemas de mensagem instantânea. Seria impossível retratar aqui ou no portal todas as conversas, e-mails, histórico dos bate-papos, de modo que apenas uma amostra está disponível na pasta making of do trabalho. Neste processo, ficou clara, a importância das aulas PRESENCIAIS, nas quais foi pontuado o que havia de mais essencial, definindo-se tarefas, prazos, responsabilidades e mudanças de rumo que, se não fossem feitas, poderiam prejudicar o trabalho e todo o grupo. DIFICULDADES HUMANAS E TÉCNICAS DURANTE O PROCESSO Embora a Incubadora tenha sido aprovada como ferramenta no início do trabalho, nem todos os colegas se sentiram à vontade para utilizá-la. Parte disso deve-se ao fato dela ser baseada em um gerenciador de conteúdos chamado Plone, que apesar de ser considerado um sistema de fácil utilização para inserção e edição de conteúdos, não oferece uma interface tão simples e amigável como a de um Word da Microsoft Office, ao qual a maioria está acostumada. Por outro lado, também enfrentamos alguns problemas de lentidão provenientes da própria Incubadora, que atravessava uma fase de 66 redimensionamento e reengenharia de sua estrutura de hardware pois em 3 anos de existência, alcançou a marca de 300 projetos e 9 mil usuários. Também não podemos esquecer as dificuldades individuais relacionadas a equipamentos, browsers, softwares, redes locais e falta de conhecimento técnico que certamente tiveram sua parcela de influência nesta lentidão. Pode-se dizer que metade do grupo utilizou a Incubadora como deveria enquanto a outra metade demonstrou um certo desinteresse pelo aprendizado desta nova tecnologia, fosse por falta de tempo e problemas pessoais ou por falta de afinidade mesmo. Na reta final do trabalho, estas pessoas procuraram se engajar melhor e criaram suas próprias formas de colaboração, utilizando-se de e-mails, anexando arquivos em Word a eles, conversas no Fórum da disciplina e da ajuda de colegas que se dispuseram a fazer os uploads na Incubadora. Já perto da data de entrega do trabalho, até mesmo algumas pessoas que nunca tinham usado a Incubadora com tanta freqüência, acabaram aprendendo a utilizá-la, o que demonstra que o tempo, o hábito, o compromisso e o entrosamento falaram mais alto que a resistência ao aprendizado. GOSTOS ILIMITADOS, PROGRAMAS LIMITADOS Por se tratar de um trabalho colaborativo feito a 20 mãos, um dos grandes motivos que levou o grupo a decidir pelo uso da Incubadora foi a possibilidade de utilizarmos a ferramenta WIKI, pela qual seria possível trabalharmos um texto coletivo repleto de links internos e externos, que daria ao trabalho um novo formato, com uma faceta não-linear. Nesta fase, o que havia disponível no portal, a exemplo de quase todos os portais da Incubadora, era um editor de textos chamado reST (reestructured text), uma linguagem apropriada ao desenvolvimento de páginas WIKI. Tal linguagem, assim como a própria ferramenta, não é dominada pela maioria das pessoas, mesmo pelas mais informatizadas. Desta forma, seu uso acabou por gerar um desinteresse na turma, que não tinha tempo, nem habilidade para formatar os textos segundo a cartilha do reST, nem nas formas mais básicas propostas em um mini-tutorial disponibilizado no portal ou nas dicas dadas pela administradora. 67 Muitos começaram a reclamar que preferiam que o portal tivesse um editor de texto similar ao Word. Atendendo a estes pedidos, a equipe de suporte da IV instalou no portal um editor de texto chamado Kupu, que era o mais próximo do Word e compatível com o Plone. Ainda assim algumas pessoas tiveram problemas com este editor. Ficou claro que o fato de estarem acostumados à localização e tipologia da iconografia e menus do Windows fez com que estes colegas tivessem dificuldade até de encontrar funções como “inserir imagem” e “inserir tabela” disponíveis no editor visual. Outro problema ocorrido diz respeito à passagem de textos colados da Web ou do Word para o portal, cuja formatação não era aceita pelo Kupu, a exemplo dos negritos que não voltavam ao normal, ou do texto normal que não virava negrito, questão que também acabou sendo resolvida pela equipe de suporte da IV. De qualquer forma, este editor visual continuou proporcionando a possibilidade de criação de links internos e externos e facilitou a formatação de textos por parte do grupo. Em outra ponta, impossibilitou algo muito importante que o sistema WIKI feito por meio de um editor reST poderia nos proporcionar: a chance de saber quando uma página está sendo editada por dois ou mais colegas ao mesmo tempo. Em face desta insegurança na hora de editar e salvar arquivos ou mesmo por problemas relacionados à lentidão na IV, tivemos que desenvolver nossos próprios “truques” para desenvolver o trabalho, tais como: desenvolver textos no Word para depois passá-los para IV com as funções de copiar e colar; trabalhar no portal tendo a precaução de dar um “control C” antes de clicar no botão “salvar”; deixar marcações no texto coletivo para que os colegas não estragassem o trabalho um do outro, e assim por diante. Aos poucos cada um foi encontrando sua melhor maneira de trabalhar, driblando problemas técnicos e pessoais. JOGO DO GANHA-GANHA Se por um lado o grupo teve de aprender a utilizar novas tecnologias, por outro, a própria ferramenta saiu ganhando, pois passou por uma série de lapidações durante o processo, promovida justamente pelas dúvidas e dificuldades de seus novos usuários. Cabe mencionar, que mesmo a administradora, pessoa responsável pelo 68 projeto perante a IV, não dominava cem por cento das funcionalidades do portal, embora tivesse grande familiaridade com a inserção e edição de conteúdos. Os desenvolvedores da ferramenta também aprenderam que muitos estudantes, pesquisadores, comunicadores e profissionais, especialmente aqueles menos habituados a novas tecnologias, ainda dependem muito de ambientes amigáveis, auto-explicativos e que sigam algo da interface dos softwares mais utilizados no mundo. Sendo assim, ferramentas como a Incubadora, pioneiras enquanto ambiente para trabalhos colaborativos, ainda têm muito que amadurecer em termos de usabilidade (design, arquitetura de informação, navegabilidade, webwriting, etc). Da mesma forma, usuários tidos como leigos tiveram diminuída a distância que os separava de ferramentas inovadoras, até então dominadas por tecnólogos ou profissionais de áreas de Exatas. Sobre esse assunto sugerimos a leitura do livro de Lúcia Leão, “O labirinto da hipermídia: arquitetura e navegação no cyber espaço”, cuja resenha encontra-se no fórum da disciplina e também pode ser acessada através do portal CCVAP. A DIVISÃO DE PAPÉIS E OS DESENTENDIMENTOS DO GRUPO Ao contrário de alguns grupos anteriores da disciplina, nossa turma não estabeleceu uma divisão clara de papéis para a execução do trabalho. As tarefas foram sendo tomadas para si, de acordo com a afinidade e facilidade que cada um tinha com determinado conteúdo. Somente na fase final, quando essa liberdade estava por transformar o trabalho em um absoluto caos, algumas lideranças ganharam novos contornos e tomaram pulso da situação. Entretanto, é importante dizer que não delegamos funções individuais por acreditarmos que isso deixaria o trabalho muito convencional e dentro do objetivo de investigar, queríamos ter a sensação real de 10 pessoas trabalhando juntas, no mesmo trabalho, com o mesmo nível de importância. Até então, tínhamos como resultado a junção de diversos materiais e redações colocadas no portal, sem que estes conteúdos estivessem costurados, alinhavados, nem tampouco relacionados um ao outro. Nesta fase o trabalho era chamado de “o samba do crioulo doido”, não só pela professora, como por nós mesmos. Faltava amadurecer a redação, alinhar, 69 nivelar, mixar... faltava afinar os instrumentos e tocar a mesma música. O trabalho era, então, o reflexo de cada um, dos vínculos que foram criados e do relacionamento mantido pelo grupo dentro e fora da sala de aula. Era um corpo com todos os membros, só que andando sem uma direção bem definida, com um cérebro meio danificado. Tal reflexo passou pela diferença de idades, culturas, experiências de vida, expectativas quanto à disciplina, problemas pessoais, níveis de capacitação técnica, personalidades e uma infinidade de características que formaram uma turma das mais heterogêneas. Ao menos o objetivo do grupo era o mesmo: aprender, ensinar, trocar, participar, vencer seus próprios medos, cumprir com a proposta da disciplina, fazer novos amigos, ampliar os horizontes e, mais que tirar nota, crescer como seres humanos. Houve distanciamento, discussão, princípio de briga, cansaço, desânimo, raiva, gente se levantando e indo embora, gente perdendo o controle e levantando a voz, gente entrando em fuga desvairada, gente rindo de desespero, gente que saiu e voltou, gente que adoeceu e se curou, gente sorrindo e gente chorando.. Houve até mal entendido entre pessoas que se gostavam muito e virou piada das mais hilárias. Mas neste cenário de confusão, onde pessoas mudaram até de casa, também floresceram belas amizades, parcerias, cooperação. Houve conversas no bar, os lanches, cafés, as escapadas para fumar. Houve making of com direito a fatos e fotos. Houve de tudo um pouco. A PERGUNTA FINAL E numa destas conversas de bar, depois de alguns salgados e sucos calmantes de maracujá, foi que veio a grande pergunta que talvez defina a ALMA desta turma CCVAP 2006: Não teríamos nós, os 10 guerreiros CCVAP, sido atraídos por esta disciplina, neste exato momento de nossas vidas, com estas pessoas, neste lugar, com essa proposta, justamente por estarmos precisando APRENDER a nos relacionarmos em COMUNIDADE? Não teria sido este o motivo que fez nossos olhos brilharem ao ver aquele nome - “Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e de Prática” - escrito na grade de disciplinas de Pós Graduação oferecidas durante o último semestre de 2006? Não teria sido este o motivo até energético que nos levou à busca de uma 70 experiência que ultrapassou os limites de nossa vida profissional, acadêmica e até pessoal? Não teria sido este o motivo que nos mostrou uma nova forma de aprendizagem e de prática, não só no mundo virtual, mas no mundo REAL de cada um de nós? Fica a resposta no coração de cada guerreiro.