Economia Social - Danielle Carusi Machado

Transcrição

Economia Social - Danielle Carusi Machado
Parte I: CONCEITOS BÁSICOS:
Mensuração de desigualdade e
pobreza
Economia Social
Pobreza: propriedades axiométricas, identificação e
agregação, comparações, dominância estocástica
mixta
Profa. Danielle Carusi
Prof. Fábio Waltenberg
Aula 5 (parte II) – agosto de 2010
Economia – UFF
Pobreza
Apenas uma parte da distribuição é
analisada.
Conceito unidimensional: a renda pode
ser uma medida imperfeita das condições
de vida de uma pessoa.
Pobreza e função de bem estar
social
A função de bem estar social tal como definida pode
acomodar a preferência e a estrutura de medida
que foca exclusivamente nos pobres.
Ser não decrescente: a função de bem estar
pode ser insensível às variações de bem estar
dos não pobres.
A função de bem estar social dá um número que
sumariza a medida de bem estar, levando em
conta a média e a dispersão da distribuição.
Medidas de Pobreza
Casos especiais das medidas de bem estar
social.
Refletem o negativo do bem estar social:
“truncamento” da distribuição de bem estar
social.
Contagem dos pobres, extensão e distribuição
da pobreza.
Diferentes formas de agregação.
Parte I: CONCEITOS BÁSICOS:
Mensuração de desigualdade e
pobreza
Pobreza: identificação
1
Linhas de pobreza
Pobreza
subjetiva:
cada um percebe a pobreza de uma
forma – juízo de valor o que considera um
grau de privação suportável.
relativa: o indivíduo quando comparado a
outros tem menos de algum atributo desejado
– estabelece uma posição para o individuo
dentro da sociedade.
Absoluta: estabelece um padrão mínimo para
viver dignamente.
Abaixo da LP, as pessoas são
consideradas pobres (descontinuidade).
Não há uma base empírica para a
construção da LP.
A arbitrariedade na construção da LP não
justifica a utilização de medidas de
pobreza como propósitos de política.
O problema de identificação
1.
Linha de pobreza absoluta:
Obter o valor de uma cesta de alimentos que atenda
às necessidades nutricionais da família.
Necessidades calóricas mínimas – necessidade
biológica universal é alimentação.
Valor multiplicado por um coeficiente de forma a
computar despesas necessárias com moradia,
vestuário, transporte, etc.
O problema de identificação
1.
Obs: se houver diferença entre custo de vida de duas
regiões, as linhas usadas deverão refletir estas
diferenças.
O problema de identificação
1.
Linha de pobreza absoluta:
A abordagem calórica consiste em alguns passos:
3. Por fim compara-se o valor monetário dessa cesta
de alimentos com a renda domiciliar per capita
4. A partir disso classifica como indigentes,
miseráveis ou extremamente pobres aquelas
famílias cuja renda é insuficiente para comprar,
para todos seus membros, o número estipulado de
calorias aos preços vigentes.
Linha de pobreza absoluta:
A abordagem calórica consiste em alguns passos:
1. O primeiro é estabelecer o número de calorias
mínimas que um indivíduo precisa para ter uma vida
produtiva, normalmente algo entre 2000 e 2500
kilocalorias por dia.
2. Em seguida, estima-se o custo necessário para
adquirir essas calorias, geralmente usando a dieta
normal dos indivíduos cuja condição de pobreza
deve ser avaliada.
O problema de identificação
1.
Linha de pobreza absoluta:
A abordagem calórica consiste em alguns passos:
Como ninguém gasta tudo o que ganha em comida,
deriva-se uma segunda linha, em geral chamada de linha
de pobreza, multiplicando-se a linha de indigência ou de
extrema pobreza pelo inverso da fração da renda que os
domicílios perto da linha de pobreza gastam com
alimentação.
6. Esta fração – chamada de coeficiente de Engel –
costuma situar-se próxima de 0,5, o que significa que a
linha de pobreza resultante costuma ficar o dobro da
linha de extrema pobreza.
5.
2
O problema de identificação
2.
Linha de pobreza relativa:
A pobreza deve ser estabelecida com base no
padrão de vida de uma sociedade específica.
Pobreza representa a incapacidade de participar da
vida desta sociedade dada a falta de recursos para
tal.
Definida com base na renda média ou como um
percentil da distribuição de renda.
Conjunto de bens e serviços necessários aumenta
como o desenvolvimento e o crescimento da renda
per capita da população.
O problema de identificação
3.
O problema de identificação
3.
Linha de pobreza subjetiva:
Alguns métodos utilizados para captar a percepção
da população com relação à pobreza:
Goedhart (1977), Kapteyn (1988): pergunta sobre
renda mínima – “o que você acha que seria, nas
atuais circunstâncias, considerado um nível
mínimo absoluto de renda para a sua família?” –
valor da pobreza para o entrevistado.
O problema de identificação
3.
Linha de Pobreza de Leyden
Linha de pobreza subjetiva:
O corte entre pobres e não pobres é determinado
com base na percepção de cada indivíduo sobre o
seu bem estar.
Abordagem monetária e não monetária (indicadores
de privação).
Economia da felicidade, satisfação: como diferentes
dimensões da vida de uma pessoa afetam o bem
estar geral.
Linha de pobreza subjetiva:
Income evaluation question (IEQ): “Leyden Povery
Line”: Indicar a renda considerada apropriada para
cada caso: muito ruim, ruim, insuficiente, suficiente,
bom, muito bom.
Pergunta sobre adequação do consumo (CAQ):
Pradhan e Ravallion (2000), antuérpia: os
domicílios possuem diferentes conceitos de renda,
portanto, propõem apenas respostas qualitativas:
se o padrão de vida da família é menos que
adequado, adequado, mais do que adequado para
as necessidades da família (perguntas para
categorias de consumo).
Linha de pobreza subjetiva
Fontes de informação: pesquisas domiciliares:
perguntas subjetivas.
European Community Household Panel.
3
Linha de pobreza subjetiva
França:
porcentagem de pessoas que consideram que sua
renda permite que vivam com dificuldade: 19%
porcentagem que se considera pobre usando o
conceito de renda mínima: 35%
Dificuldades das linhas de
pobreza
Relativa:
Linhas relativas não mudam com mudanças na renda
média.
Se houver um desastre econômico, se o número de
pessoas passando fome aumentar drasticamente,
mas se a renda mediana cair mais que as rendas
abaixo da mediana, uma análise da pobreza por
linhas relativas concluirá que a pobreza caiu.
PPV
Dificuldades das linhas de
pobreza
Absoluta:
Decisões arbitrárias: linhas diferentes a partir dos mesmos
dados. Exemplo: Neri – R$ 134,00 e Rocha – R$ 339,00 para a
RMSP.
Mínimos calóricos universais? Ou de cada região conforme
estrutura etária da população e tipo de trabalho?
custo da caloria? Menor custo? Ou o custo do que as pessoas
de fato consomem?
Custo calórico deve ser regionalizado?
Coeficiente de engel : grupo de referência?
Pobreza não deveria ser definida como a falta de calorias, mas
de acordo com os padrões vigentes de uma sociedade em uma
dada época.
Dificuldades das linhas de
pobreza
Subjetiva:
Bases de dados
Brasil: POF 2002-3 e PPV.
POF
4
Texto: Sergei e Vaz (anpec 2008)
Parte I: CONCEITOS BÁSICOS:
Mensuração de desigualdade e
pobreza
Pobreza: propriedades axiométricas
Abordagem axiométrica
Propriedades desejáveis das medidas de pobreza.
Nem todas as medidas atendem a todas as
propriedades axiométricas.
As melhores medidas de pobreza devem seguir este
conjunto de axiomas.
Mesmo com medidas de pobreza que seguem um
mesmo conjunto de axiomas, as medidas geram
diferentes números de pobreza.
Abordagem complementar: a análise de dominância
estocástica.
Propriedades axiométricas
Monotonicidade fraca sem cruzamento:
O aumento (redução) da renda de uma pessoa abaixo da
LP reduz (aumenta) a pobreza.
No tempo x e y, todos os indivíduos tem a mesma renda
exceto j. No tempo y a renda do j fica maior que no tempo
x.
Se xi = yi , ∀i ∈ {{1,..., n} − { j}}
z > yj > xj
Ex: FGT(0)
P ( X , Z ) ≥ P (Y , Z )
P ( X , Z ) > P (Y , Z )
não atende!!
Monotonicidade forte sem
cruzamento
Propriedades axiométricas
Simetria (ou Anonimato, Anonimidade):
Não diferencia as pessoas por outras características que
não a medida de bem estar individual (renda ou
consumo).
Se mudar a ordem, o índice de pobreza não deverá variar.
Um indivíduo é tratado da mesma forma que outro
indivíduo.
Se z é uma permutação de y
P (Y ) = P (Z )
Propriedades axiométricas
Monotonicidade fraca com cruzamento:
No tempo x e y, todos os indivíduos tem a mesma renda
exceto j. No tempo y a renda do j fica maior que no tempo
x.
Se xi = yi , ∀i ∈ {{1,..., n} − { j}}
z > xj
yj > xj
P ( X , Z ) ≥ P (Y , Z )
5
Propriedades axiométricas
Transferência fraca sem cruzamento:
Propriedades axiométricas
O j deu dinheiro para o i (transferência regressiva)
perda de j = ganho de i
O dinheiro passou de um mais pobre para um mais rico, logo
a pobreza vai aumentar.
O mais pobre fica muito mais pobre.
Transferência fraca com cruzamento:
z > yi > xi > x j > y j
P ( X , Z ) ≤ P (Y , Z )
O j deu dinheiro para o i (transferência regressiva)
perda de j = ganho de i
O dinheiro passou de um mais pobre para um mais rico, logo
a pobreza vai aumentar.
O mais pobre fica muito mais pobre.
yi > z > xi > x j > y j
P ( X , Z ) ≤ P (Y , Z )
Propriedades axiométricas
Propriedades axiométricas
Foco
Se nas duas distribuições os pobres tem a mesma renda e
mudo a renda dos não pobres, de forma que nenhum
destes se torne pobre, o índice não muda.
{
{
}
}
X = x1, x2 ,..., x p , x p +1,..., x n
Y = x1, x2 ,..., x p , y p +1,..., yn
x p < z < x p +1
Decomponibilidade
Se N é particionado em S subconjuntos:
P (X , Z
s
∑
)=
z < y p +1
wk P (xk )
k =1
yk ≠ xk | k ≥ p + 1
P Y , Z = P (X , Z )
( )
Formula geral: (Foster, Greer e Thorbecke)
P (α ) =
Parte I: CONCEITOS BÁSICOS:
Mensuração de desigualdade e
pobreza
1
N
k
∑
i =1
α
 z − yi 
 z 


Head-count index (incidence): α = 0:
P0 =
k
=H
N
Pobreza: agregação e medidas
Poverty gap (average depth): α = 1:
I = P1 =
1
k
k
∑
i =1
z − yi
m
= 1−
z
z
m=
1
k
∑i =1 yi
k
Squared poverty gap (individual depth): α = 2:
2
1 k  z − yi 
P2 = ∑ 

N i =1  z 
yi: income/expenditure of individual i (adult equivalents) -- z: poverty line –
N: total population -- k: number of poor people -- α: parameter showing the
degree of aversion to inequality among the poor.
6
Proporção de pobres (H)
Insuficiência de renda (I)
Medida que capta a extensão da pobreza,
sendo insensível a intensidade deste
fenômeno.
Não afetada pela redução a renda de um
pobre.
Indice de Pobreza de Sem (P)
Indice de Pobreza de Sen
Sen (1976): leva em consideração tanto a extensão
quanto a intensidade da pobreza e também a
desigualdade da distribuição da renda entre os pobres.
P=
2
( k + 1)nz
k
∑ (z − xi )(k + 1 − i )
Montante de renda que falta para que a
renda de um pobre atinja a linha da
pobreza.
O valor máximo dessa insuficiência seria
observado quando os p pobres tivessem
renda nula, ou seja, pz.
Insensível à extensão da pobreza.
O índice varia de 0 a 1.
P= 0 quando todas as pessoas possuem renda maior
que z.
P = 1 quando todas as pessoas possuem renda nula.
G* índice de gini dos pobres.
i =1
Insuficiência de renda de cada pobre é ponderada por
um número igual a (k+1-i) que indica a ordem da
respectiva intensidade da pobreza. Esse número varia
de 1 para o pobre menos pobre até k para o pobre mais
pobre.
P=
2
( k + 1)nz
k
∑ (z − xi )(k + 1 − i )
i =1
P = H [I + (1 − I )G *]
Recent evolution of inequality in Latin America: 2000 to 2005
2000
Parte I: CONCEITOS BÁSICOS:
Mensuração de desigualdade e
pobreza
2005
Bolivia
0.60
Uruguay
Brazil
0.55
Venezuela
Colombia
0.50
Costa Rica
Paraguay
0.45
Fechamento: alguns dados do PB
0.40
Dominican Rep.
Panama
Nicaragua
Guatemala
El Salvador
Honduras
Mexico
Peru
Source: SEDLAC
7
De 2001 a 2007 a renda per capita dos 10% mais pobres cresceu a níveis
chineses (7% ao ano). Esta taxa de crescimento é quase três vezes a
média nacional (2,5%)
Evolução da desigualdade na renda domiciliar per capita segundo o
coeficiente de Gini: Brasil, 1976 a 2008
0.64
0.634
0.623
Taxa anual de crescimento da renda domiciliar per capita por
decimos da distribuição: Brasil, 2001 a 2008
0.623
0.62
0.615
0.612
0.604
0.594
0.589
0.596
0.600
0.599
0.599
0.594
0.600
Média
0.593
0.592
0.588
0.58
8.1
0.598
Taxa de crescimento nos últimos 7 anos(%)
Coeficiente de Gini
0.602
0.60
9.0
0.587
0.581
0.587
0.582
0.580
0.569
0.566
0.560
0.56
0.552
0.544
Mínimo
0.54
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
10% mais pobres
8.0
7.0
6.5
6.0
6.0
5.5
5.0
5.0
4.7
4.0
4.0
10% mais ricos
3.4
3.0
2.6
Média nacional
2.0
1.5
1.0
Anos
0.0
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1976 a 2008.
Primeiro Segundo Terceiro
Quarto
Quinto
Sexto
Sétimo
Oitavo
Nono
Décimo
Fonte: Estimativas p roduzidas com base na Pesquisa Nacional por Amo stra d e Do micílios (PNAD) d e 2001 a 2008.
Como a desigualdade também a extrema pobreza declinou de forma
acentuada entre 2001 e 2008
A renda dos mais pobres cresce como a dos chineses
e a dos mais ricos como a dos alemães
Evolução da extrema pobreza: Brasil, 2001 a 2008
20
19
10
9
China
8
Taxa de crescimento dos
10% mais pobres Brasil2
7
Porcentagem de extremamente pobres (%)
Taxa de crescimento do PIB per capita anual (1990-2005)
Distribuição dos países no mundo segundo a taxa de crescimento
anual do PIB per capita anual entre os anos de 1990 e 2005
11
6
5
4
3
Alemanha
2
1
Taxa de crescimento dos
10% mais ricos Brasil2
0
-1
-2
Haiti
-3
-4
Extrema pobreza em 2001
18
17
16
15
14
12
11
10
9
Extrema pobreza em 2008
8
-5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
100
7
1999
Distribuição dos países1 (%)
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001 a 2008.
Evolução temporal da extrema pobreza: Brasil, 1990 a 2008
Distribuição dos países no mundo segundo a renda per capita
20
26
24
18
22,9
22
22,1
Renda per capita (1.000 PPP US$)
Porcentagem de extremamente pobres (%)
2000
Ano
Fonte: Estimativas produzidas com base no Human Development Report (2007-2008) PNUD.
Nota: 1. Estão sendo considerados 171 países para os quais existem a informação.
2. Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2001 e 2008
22,6
20
17,8
17,4
18
17,3
16
17,5
17,4
17,7
15,1
16,8
16,5
13,3
14
1,7 p.p./ano
12
Redução na
extrema pobreza
8.7
13
o
1 Objetivo do Milênio
10
10,8
10,3
8,8
16
14
12
10
8
Brasil
6
4
2
8
0
0
6
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
100
Distribuição dos países1 (%)
Ano
Fonte: Estimativas produzidas com base no Human Development Report (2007-2008) PNUD.
Nota: 1. Estão sendo considerados 124 países para os quais existem a informação.
8
Distribuição dos países no mundo segundo a renda per capita e a
renda média dos 10% mais pobres
20
Renda per capita (1.000 PPP US$)
18
16
14
Média Total
12
10
Brasil
8
10% mais pobres
6
4
Macedonia
2
Brasil
0
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
85
90
95
100
Distribuição dos países1 (%)
Fonte: Estimativas produzidas com base no Human Development Report (2007-2008) PNUD.
Nota: 1. Estão sendo considerados 124 países para os quais existem a informação.
9