são camilo de lellis
Transcrição
são camilo de lellis
SÃO CAMILO DE LELLIS, UM MODELO PARA A ATUALIDADE PE. JULIO MUNARO No dia 14 de julho, a Igreja celebra a ETA DE São Camilo de Lellis, homem que dedicou sua vida à assistência dos doentes, Leão XIII declarou-o padroeiro dos doentes, dos profissionais da saúde e dos hospitais. Pio XI reconheceu que Camilo “nasceu para cuidar dos doentes e ensinar como cuidar deles”. Bento XIV, que lhe atribuiu o título de santo, reconheceu nele o iniciador de “uma nova escola d caridade”. A medicina moderna pode orgulhar-se de ser a melhor, a mais eficiente, a menos dolorida e a que presta atendimento mais universalizado de toda a história da humanidade. A medicina moderna “faz milagres” e promete muito mais a curto e longo prazo. A medicina científica tornou-se uma caixa e surpresas inesgotável, embora também as patologias disponham de excepcional criatividade e de inegável resistência aos tratamentos. Camilo de Lellis ( 1550-1614) viveu numa época em que a medicina era rudimentar, sem embasamento científico, desprovida de técnica, primitiva. Os hospitais eram poucos, mal estruturados, desprovidos de equipamentos, carentes e profissionais qualificados. Os médicos mais competentes conheciam menos de doença, diagnóstico e terapia que um simples auxiliar de enfermagem de nossos dias. A farmacologia não dispunha de qualquer elemento ativo. Os medicamentos disponíveis não passavam de placebos, drogas sem poder de cura. A química científica não existia. Não se conheciam aparelhos para medir a febre ou a pressão arterial, nem se imaginavam os laboratórios de análises clínicas ou os aparelhos para diagnóstico por imagem. Tudo era empírico Socialmente, os doentes não tinham direitos reconhecidos. Dependiam da caridade ou da boa vontade das pessoas, que podiam atendê-los ou não, como o sacerdote ou o levita da parábola do Bom Samaritano (c. Lc 10, 29-37), sem que eles ou seus familiares pudessem reclamar. Camilo não freqüentou escolas de medicina nem de enfermagem. Sem diploma, hoje, não passaria de intruso no mundo da saúde, sujeito a penalidades legais. Também não se lhe pode atribuir qualquer descoberta científica ou técnica digna de figurar na história da medicina. Administrador hospitalar? Sim, ele o foi, mas de uma administração de tipo caseiro, bem nos moldes da época. Se Camilo não tinha nada do que a medicina moderna se gloria, por que a Igreja Católica o declarou “padroeiro dos doentes”, dos profissionais da saúde e dos hospitais” e continua a reconhecê-lo como tal? Por alguns milagres de cura que lhe foram atribuídos? E que representam os milagres de cura num mundo de eficiência terapêutica como o nosso? Apesar de todo o progresso científico e técnico, político e administrativo no campo da saúde e do direito universal ao cuidados médicos, o que se observe é que grande parte da população continua mal atendida ou simplesmente morre sem atendimento. Que o diga a Madre Teresa de Calcutá, que constatou a carência não apenas na Índia do terceiro mundo, mas também em Nova Iorque, Londres, Paris e até à sombra do Vaticano. Alta de recursos? Não! De atitude humanas. Aqui que Camilo emerge como modelo para o nosso tempo, para todos os lugares, para as instituições de saúde, para os profissionais da saúde e também para os não profissionais, já que todos temos algo a ver com saúde e cuidados aos doentes. A primeira preocupação de Camilo era que nenhum doente ficasse sem atendimento. “Quando não houver mais doentes na face da terra, precisamos escavar o chão para ver se ainda sobre algum”. Não esperava que os doentes o procurassem. Ia à procura deles na periferia das cidades ou nas zonas rurais. Se necessário levava-os ao hospital. Se não havia lugar no hospital, abrigava-os em sua própria casa e cuidava deles como se fossem da família. Improvisou barracas para acolher doentes, pois para eles nunca devia faltar lugar. Mal ouvia falar de epidemias, - comuns na época – não reclamava providências das autoridades. Punha-se a caminho, arregimentava pessoas, angariava maios, organizava o trabalho. Não se poupava, nem poupava dinheiro. Se necessário, contraia pesadas dívidas, contanto que os doentes fossem atendidos. Ia longe a pé para providenciar roupa, alimento e remédios para os doentes, pagando de seu próprio bolso ou solicitando a ajuda de quem tinha condições. Os doentes deviam ter prioridade sobre todos. Sua situação o exigia. Era o advogado e defensor dos doentes. Camilo tinha em altíssimo conceito o doente e o serviço que lhe era prestado. Para ele, o doente era Cristo e servi-lo era servir o próprio Cristo. Por outra parte, quem serve ao doente, deve ser Cristo para o doente – servidor generoso e desinteressado. Para Camilo, cuidar do doente era mais que uma profissão. Era uma missão, realizada em nome de Cristo e para testemunhar o amor sempre presente d Cristo pelos doentes. Tomou como modelo de serviço ao doente a mãe, não uma mãe qualquer, mas a mãe cujo filho único está gravemente enfermo. Não dispensava a técnica. Antes, aprimorava-o mais possível. Mas não lhe bastava a técnica. Acrescentava-lhe o amor. “Mais amor naquelas mãos” exigia de seus companheiros de trabalho! A assistência tecnicamente competente, mas desprovida de autêntico amor, não é completa nem satisfaz o doente. Mandava que seus companheiros, antes de iniciar o trabalho, pedissem a Deus que lhes desse um coração de mãe. Só assim o doente pode ser servido como pessoa, não apenas como um corpo doente, necessitado de conserto. Seu ideal era cuidar dos doentes “por puro amor de Deus e do próximo, livre de qualquer interesse financeiro”. Para ele, “a preocupação financeira atrapalhava a ação do Espírito e a prática da caridade”. Punha em ação o ensinamento de Cristo: “Ao dares um banquete, não convides os vizinhos ricos para que não te retribuam a gentileza; quando deres uma festa, chama os pobres, estropiados, coxos, cegos; feliz serás, então, porquê eles não têm com que te retribuir. Serás, porém, recompensado na ressurreição dos justos” (cf Lc 14, 12-14). O profissional vive do salário, mas não pode fazer do salário a razão de servir. O doente intui a distorção, mesmo quando sutilmente disfarçada. Camilo lutou para arrancar o doente das mãos de mercenários, que condicionam o atendimento ao interesse. Não descuidava dos ricos, nem deixava de remunerar os profissionais. Apenas não admitia que o pobre deixasse de ser atendido por ser pobre ou que alguém se enriquecesse com o que se destinava aos pobres. Camilo não pegava nada do hospital para si, nem mesmo óleo para a lâmpada que usava para visitar os doentes durante a noite. O modelo de Camilo era cristo que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida” (Mc 10,45). Camilo comprometeu-se a dar a vida pelos doente e a deu com extrema generosidade, mesmo quando estava mais doente que os doentes a quem servia. Um deles, um dia, pediu-lhe que fosse deitar, pois a via mais doente do que ele próprio. Camilo foi mais que um dedicado profissional da saúde, mais que um voluntário que busca um derivativo para preencher os vazios da vida. Fez dos doentes os meus patrões e se dispôs a servi-los como escravo, mas de uma escravidão que liberta e dignifica, pois para o cristão “servir e reinar”. Fundou uma Ordem Religiosa e deu-lhe o nome de ministros dos Enfermos, isto é, servidores dos doentes. Tampouco descuidava do atendimento espiritual dos doentes, embora respeitasse profundamente a liberdade de consciência de cada um. O conforto espiritual do doente atinge o que ele tem de mais íntimo e pessoal, por isso merece redobrada atenção. Camilo reanimava a é do doente como uma orça sem igual para suportar o sofrimento e dar-lhe sentido. O moribundo, sem voz para pedir e sem forças para reclamar, devia ter sempre alguém a sua cabeceira, atento a tudo, até aos detalhes. Não seria este o suplemento de alma que falta ao mundo da saúde secularizado, tão incompleto e motivo de tantas insatisfações dos doentes e dos agentes da saúde? Não teria Camilo uma mensagem válida e insubstituível para o mundo da saúde do século XX? A CRUZ VERMELHA DE SÃO CAMILO A cruz vermelha camiliana tem uma história original. A mãe de Camilo, antes de dar à luz, teve um sonho, viu seu filho com uma cruz no peito, de cor vermelha rutilante, seguido por um bando de outros jovens, todos com o mesmo distintivo. O sonho deixou-a inquieta, pois achou que seu filho acabaria sendo um chefe de bandidos. E morreu com esta inquietação, já que seu filho, que estava com 13 anos apenas, não dava sinais de muito juízo. Antes, era um menino irrequieto e incontrolável. Teria sido mera casualidade a relação entre o sonho da mãe e a escolha da cruz por parte do filho? No dia 29 de Junho de 1586, festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, Camilo e um punhado de companheiros apareceram pela primeira vez em público, na Praça de São Pedro, em Roma, ostentando no peito, bem vistosa, a cruz vermelha. O povo ficou impressionado e todos perguntavam: Quem são estes homens? Donde vêm eles? Que fazem na vida? A resposta a teriam no dia-a-dia da vida, lá mesmo, em Roma, e não nas horas agradáveis, mas nos momentos críticos. Camilo e seus companheiros começaram a desfilar, com sua cruz vermelha, pelos hospitais e cadeias, pelos becos e cortiços da cidade, sempre a serviço dos doentes, sobretudo dos mais pobres, de dia e de noite, fizesse calor ou frio, fosse longe ou perto. Sobretudo nos anos 1590 e 1591, quando a cidade foi abalada por terrível carestia, acompanhada de peste e outras calamidades, a cruz vermelha desfilava por todos os cantos. Camilo e seus companheiros trabalhavam intrepidamente, incansáveis como formigas, levando socorro a todo mundo. Terminada a calamidade, Camilo foi aclamado «Anjo protetor de Roma» e «Pai de todos os pobres». Já não era um desconhecido, era um herói da caridade. Ele e seus colegas de ideal. Donde vinha, talvez poucos soubessem. Mas quem eram e o que faziam na vida não escapava a ninguém. A partir de então, a cruz vermelha camiliana espalhou-se pela Itália e pelo mundo, carregada no peito de pessoas dispostas a dar até mesmo a vida para aliviar o sofrimento dos outros, em hospitais, cadeias, a domicilio, nos momentos de epidemia ou nos campos de batalha. Onde há sofrimento, lá é seu lugar. A cruz vermelha de Camilo tornou-se símbolo dos hospitais e de todos os serviços de saúde. Para Camilo, a cruz vermelha «camiliana» tinha um grande significado: “Que o mundo saiba que nós, marcados com este santo sinal da cruz, somos vendidos e dedicados ao serviço dos pobres doentes. E também para provar que se trata de uma Ordem de cruz, isto é, de trabalho, de sofrimento e de renúncia até a morte. Quem quiser, pois, seguir o nosso ideal de vida, prepare-se para carregar a cruz, renegar a si mesmo e seguir Jesus Cristo até a morte”. Palavras austeras, mas densas de significado e de exigências! Assumi-las, implica risco. A cruz é também portadora de força sobrenatural para repelir o maligno: “Como a nossa congregação tem por finalidade socorrer as almas na última batalha e no conflito da morte, traz a cruz do lado direito, qual espada afiada e arma ofensiva, para vencer e subjugar os demônios, principais inimigos de tão poderoso sinal”. A cruz camiliana não é, pois, um mero enfeite. Não é morta, mas viva e vivificante. Transforma as pessoas e as redime. Não as esmaga. Infunde-lhes o essencial da vida: o amor a Deus e ao próximo. Quase três séculos mais tarde surgiria uma outra cruz vermelha - A Cruz Vermelha Internacional -, provavelmente inspirada na cruz vermelha camiliana, pois, na massacrante batalha de Solferino, os Camilianos marcaram presença ativa no socorro ás vitimas. Eram poucos e de todo insuficientes para tamanha calamidade. Jean Henri Dunat deve ter topado com alguns deles e talvez apertado suas mãos, estreitando com eles forte comunhão de ideal. ORAÇÃO DO ENFERMO Senhor, coloco-me diante de ti em atitude de oração. Sei que tu me vês. Tu me penetras. Tu me ouves. Sei que estou em ti e que tua força está em mim. Olha para esse meu corpo, marcado pela enfermidade e triturado pela doença. Tu sabes, Senhor, o quanto me custa sofrer. Sei que tu não te comprazes com o sofrimento de teus filhos. Dá-me, Senhor, força e coragem para vencer os momentos de desespero e de cansaço. Torna-me paciente e compreensivo, simples e modesto. Neste momento eu te ofereço todas as minhas preocupações, angústias e sofrimentos para que meu ser interior se purifique. Aceita, Senhor, que associe meus sofrimentos aos sofrimentos de teu Filho Jesus que por amor dos homens deu sua vida no alto da cruz. PAI NOSSO DO DOENTE PAI, razão e sentido primeiro de nossa vida, escutai o gemido de todos os que sofrem. SANTIFICADI SEJA o vosso amor libertador que dá saúde e bem-estar a todos. VENHA A NÓS a vossa justiça, na qual os doentes encontrarão o conforto para seus sofrimentos. O PÃO de cada dia daí-nos hoje e sempre, pois a fome destrói a saúde do homem. PERDOAI-NOS o egoísmo e ensinai-nos a ser ricos em misericórdia com o próximo. NÃO NOS EIXEIS CAIR NA TENTAÇÃO de duvidar de vossa bondade, pois “não quereis a morte do pecador , senão que se converta e viva”. MAS LIVRAI-NOS de todos os males, sobretudo das injustiças e das doenças que nos afligem. AMËM – que este amém seja o nosso compromisso de viver na fidelidade. ORAÇÃO DE UM DOENTE A MARIA Ó Maria, mãe de Jesus! Eu sei que também você sofreu quando viu de perto o sofrimento do seu Filho, a caminho do Calvário. Você não se revolto contra aquela ingratidão que fizeram ao seu Filho, mas manteve-se calma e resignada. Você sabia que aquele sofrimento chegaria ao fim, para dar lugar a alegria que brota do amor e da ressurreição. Ó Maria, mãe de Jesus e mãe dos homens, ajude-nos a caminhar na nossa vida de peregrinos, sempre voltados para aquilo que faz de nós não só criaturas de Deus, mas nos torna seus filhos. Ajude-nos a libertar-nos dos nossos egoísmos, rancores e incompreensões. Ensine-nos e andar sem medo ma com o coração voltado para a esperança, que dão sentido real à nossa vida. Ó Mãe do bom conselho e da esperança, multiplique em nossos corações esta vontade de crescer na fé e no compromisso diário com a Palavra de Deus, proclamada e vivida por seu Filho Jesus Cristo. Assim seja. ORAÇÁO À SÃO CAMILO Glorioso São Camilo, volvei um olhar de misericórdia sobre os que sofrem e sobre os que assistem. Concedei aos doentes aceitação cristã, confiança na bondade e no poder de Deus. Daí aos que cuidam dos doente dedicação generosa e cheia de amor. Ajudai-me a entender o mistério do sofrimento, como meio de redenção e caminho para Deus. Vossa proteção conforme os doentes e seus familiares, e os encoraje na vivência do amor. Abençoai os que se dedicam aos enfermos, e que o bom Deus conceda a paz e esperança a todos. Amém. DORES AGUDA, CRÔNICA, PSICOLÓGICA OSWALDO CARDOSO Uma das piores, senão a mais incômoda sensação que acompanha o homem, desde o nascimento até a mote, é a dor. A dor crônica é aquela que persiste por três ou mais meses e, ao contrário da dor aguda, na maioria das vezes, ela se identifica com a própria doença. É nas ocasiões de dor crônica que o indivíduo deve se tratado por uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de aliviar a dor. Um dos exemplos de dor crônica é a nevralgia do trigêmeo, uma dor na face que parece um choque ou uma fisgada, considerada uma das mais intensa que atinge as pessoas. Ela ocorre num dos lado da face, aparece subitamente e tem caráter repetitivo, além de ser de extrema intensidade e curta duração. Outra dor crônica: a nevralgia pós-herpética, que parece depois do herpes, que é uma virose. Há as dores provocadas pelo câncer, que podem ser viscerais ou somáticas. Existe a dor que ocorre em algumas pessoas com diabetes, especialmente nas extremidade dos membros inferiores e superiores, com sensação de queimação. Ocorrem ainda dores crônicas do tipo fibromialgia e a síndrome dolorosa miofascial, que se caracteriza por dores musculares generalizadas ou segmentares, respectivamente. Ligada sempre a lesões da medula espinal, a dor crônica do trauma raquimedular pode ser uma dor lancinante, de queimação, sentida do nível da lesão para baixo. Outra dor crônica é a lombalgia de origem muscular, na região lombar. Há também as cefaléias (dores de cabeça) que podem ser tensionais ou vasculares (estas últimas, as enxaquecas). Uma dor muito comum hoje em dia é a chamada LER (lesão por esforços repetitivos), que freqüentemente acomete digitadores e é caracterizada por dores nas articulações como punho, cotovelo e ombro. DOR NEUROPÁTICA – Os mecanismos de ocorrência das dores geralmente decorrem de lesões do sistema nervoso, tanto em nível periférico como também medular ou encefálico (dor neuropática). Nas dores provocadas pelo câncer, além do componente neuropático, existe o aumento da nocicepção, que se caracteriza por processos irritativos em terminações nervosas. Os tratamentos da dor envolvem medicamentos como analgésicos antiinflamatórios, analgésicos puros, antiinflamatórios hormonais e drogas anticonvulsivas e antidepressivas. Outras formas de tratar a dor envolvem bloqueios com anestésicos, fisiatria, acupuntura e o tratamento neurocirúrgico. Como opções neurocirúrgicas, temos os métodos de infusão de drogas, tais como a bombas de infusão de morfina, os sistemas tipo porte e os catéteres. Há também o método neurocirúrgico da neuroestimulação, no qual são introduzidos eletrodos em áreas do sistema nervoso central, com o objetivo de inibir o fenômeno doloroso. Ainda dento dos métodos neurocirúrgico, podemos lançar mão dos métodos ablativos, nos quais são interrompidas as vias de condução da dor, mais freqüentemente utilizados nas dores provocadas pelo câncer. O neurologista e médico assistente da Clínica Neurológica da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Getúlio Daré Rabelo, descreve a dor de três maneiras diferentes. A primeira delas é a dor por excesso de nocicepção. Em outras palavras, há um tecido lesado e uma série de alterações ocorre no local, o que provoca uma estimulação das terminações nervosas. Membro fantasma – A segunda categoria de dor é a neuropátia, quando se tem uma lesão de algum ponto da via sensitiva (fibras nervosas). Há uma sensação de dor, queimação, ardor, choque ou formigamento. Um exemplo desse tipo de dor é a chamada dor do “membro fantasma”, que a pessoa sente num membro que foi amputado. O terceiro tipo de dor descrito por Rabelo é a psicogênica. Essa dor representa quase um fenômeno de ilusão. É extremamente rara na Medicina. Normalmente ocorre em doenças psiquiátricas graves. A dor não é nos tecidos, nem nos nervos e sim gerada pela mente da pessoa. Só 20%m procuram médico – Um estudo desenvolvido recentemente por profissionais brasileiros revelou que apenas 20,5% dos doentes procuram assistência médica quando vítima da dor e que 26,3 deles nunca, ou raramente, procuram um médico quando algum tipo de dor se manifesta. A maioria dos doentes procura assistência médica devido à lombagia (65,9%) e à cafaléia (60,2%). Para 84,5% dos doentes entrevistados, a dor foi causa de incapacidade das atividades habituais. Isso reflete o efeito nocivo que a dor exerce sobre os indivíduos e a sociedade. Houve relato de abandono de emprego, devido a dor, por 22,3% dos doentes e 93,4 deles revelaram que apresentaram alterações de humor, como depressão, irritabilidade e ansiedade, com conseqüente comprometimento dos seus relacionamentos pessoais e profissionais. SE SÃO CAMILO VIVESSE HOJE Há mais de 400 anos São Camilo de Lellis foi administrador do Hospital São Tiago dos Incuráveis, de Roma. Era aquela uma época muito difícil para os hospitais, eis que as doenças grassavam com muita facilidade, as pessoas eram predominantemente pobres e não havia nenhum tipo de cobertura que lhes garantisse uma assistência gratuita. As pessoas que tinham posses tratavam-se em casa. As iniciativas que São Camilo desenvolveu, porém, embora há tanto tempo, fazem inveja ainda hoje a entidades mantenedoras de hospitais, administradores hospitalares e profissionais da saúde. Começou por recusar produtos de qualidade inferior, adquiridos pela entidade mantenedora e entregues no hospital. Se São Camilo ocupasse hoje o cargo de administrador do hospital, teria todas as condições para desempenhar a contento e com toda a facilidade, essa tarefa. Quem adquire os produtos consumidos no hospital, é seu administrador. Compete a ele examinar e aprovar as compras, levando sempre em consideração, qualidade, preço e condições de fornecimento. À entidade mantenedora, ao invés, compete explicitar as políticas sociais, assistenciais, econômicas e de recursos humanos que o hospital deve colocar em prática, deixando sua execução ao administrador do hospital. Como não conseguia ter autoridade sobre essas operações, São Camilo renunciou ao cargo e dedicou-se só ao atendimento direto aos doentes. Se São Camilo vivesse hoje, certamente não teria tomado essa atitude. O Administrador Hospitalar ocupa, hoje, o tôpo do estabelecimento, sendo a origem de toda autoridade dentro do hospital. É ele quem contrata as pessoas físicas e jurídicas, elabora um Regulamento para o hospital que submete à aprovação da entidade mantenedora e implanta um Regimento em cada Unidade Administrativa, fixando funções e atribuições. É a ele que compete, inclusive, coordenar as atividades do hospital, fazendo com que haja perfeita interação entre as diversas unidades, condição primeira para que o atendimento seja realmente de qualidade e os profissionais consigam realizar-se em plenitude. Passando a coordenar a assistência direta aos pacientes, São Camilo colocou em prática alguns programas que ainda hoje não são tão comuns nos hospitais e que, se ele vivesse hoje, seriam certamente apontados como modelos. Ordenou que os doentes, ao adentrarem pela porta do hospital, recebessem uma assepsia completa e roupa limpa e fossem colocados com todo cuidado num leito asseado e bem arrumado. Introduziu um cabedal de normas técnicas para as pessoas que trabalhavam na enfermagem a fim de que os cuidados dispensados aos doentes fossem revestidos dos elementos indispensáveis a um bom atendimento e à sua recuperação rápida. Para verificar se suas normas eram realmente colocadas em prática, ocultava-se para não ser visto e depois apreciava com cada um, seu desempenho. Exigia que a enfermagem acompanhasse os médicos na visita aos doentes e executasse com todo rigor as prescrições que os mesmos faziam. Pedia aos médicos que passassem diariamente visita aos doentes e que o fizessem sempre no horário previamente estabelecido. Organizou um quadro de voluntários para que auxiliassem no atendimento aos doentes do hospital. Instituiu a assistência à saúde a domicílio, sobretudo para as pessoas que estavam em estado grave. Visitava os doentes pessoalmente todos os dias e muitas vezes à noite, para observar se o atendimento dispensado era realmente bom. Para que sua proposta assistencial não viesse a desaparecer após sua incapacidade de continuar trabalhando, criou uma instituição religiosa que perpetuasse sua forma de agir e a disseminasse pelo mundo. Com isto, grupo expressivo de pessoas, tanto religiosas quanto leigas, passaram a se consagrar à assistência aos doentes, fazendo-o por vocação. Colocou o doente no centro das atenções do hospital e de todos os que trabalhavam nele. Para que o fizessem realmente com responsabilidade e amor, lembrava-os de que, mais do que ninguém, o doente é o Cristo vivo entre nós. Assisti-lo, portanto, bem, é o mesmo que fazê-o a Cristo. Se São Camilo vivesse hoje, certamente otimizaria ainda mais os modelos já tão aperfeiçoados que implantou há tanto tempo. Levaria os administradores hospitalares a se aperfeiçoarem sempre mais profissionalmente, para que fizessem com que o hospital operasse com absoluta qualidade. Enriqueceria o currículo escolar com matérias que viessem revestir a técnica de um profundo sentido humano e cristão à sua atividade. Batalharia para que a universalização da assistência aos pacientes fosse uma realidade e passasse a ser um direito da cidadania, facilitando a todos, o livre acesso aos serviços de saúde. Faria com que os profissionais que atendem diretamente aos pacientes o fizessem com alma, numa verdadeira consagração e não dividindo essa ocupação com inúmeros outros afazeres que lhes tolhesse a preocupação com quem merece toda a atenção. Propiciaria todo tipo de formação e reciclagem para que a atividade fosse sempre a mais aperfeiçoada. Formaria verdadeiras falanges de voluntários para que suplementassem a atividade assistencial prestada pelos profissionais, tornando o atendimento muito mais humano e comunitário. Organizaria a comunidade para que nenhuma família deixasse de ser visitada periódica e sistematicamente por pessoas adredemente preparadas que dessem todo tipo de orientação sanitária para banir as doenças preveníveis e preparar adequadamente a vinda das pessoas ao mundo. Fixaria na estrutura administrativa do hospital um setor específico, coordenado por um profissional preparado adequadamente e remunerado, para que através de agentes da própria comunidade, desenvolvesse com muita perfeição a assistência religiosa aos doentes. Utilizaria todos os meios de comunicação para levar aos doentes internados e externos, todo tipo de informações que viesse dar às pessoas, condições de superação das dificuldades, otimização das oportunidades e consecução de uma verdadeira felicidade. Como administrador hospitalar não se manteria enclausurado no escritório e sim ficaria andando pelo hospital para verificar a qualidade do atendimento dispensado, colher a maior quantidade possível de informações para enriquecer as reuniões, visitar os pacientes, conversar com os familiares, apreciar as aspirações dos profissionais e servidores e dar a todos a certeza de que existe real preocupação de que tudo funcione bem. Embora São Camilo de Lellis não esteja mais entre nós, seu modelo assistencial e de administração deve continuar a nos inspirar. Para isto, a Igreja o declarou padroeiro dos doentes, hospitais e profissionais da saúde e 14 de julho, dia da sua festa, é o dia Nacional do Administrador Hospitalar, instituído pela Federação Brasileira de Administradores Hospitalares. Niversindo Antonio Cherubin