Teatro
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Teatro Missões Universitárias 2011 “Eu estou sempre convosco” Guião I Acto Na sala de jantar da casa da cidade, de Malina Gabriel Gonzaga. Malina e Guilherme estão a jantar à mesa, rodeados pelos três criados. A sala é grande e todos se apresentam muito compostos. A tia e o sobrinho discutem sobre um tema já muito falado (Guilherme pode suspirar “Outra vez a mesma conversa…”): A tia enumera as vantagens do casamento de Guilherme de Bragança e Gabriel Gonzaga com Maria Vitória Luísa de Alhambra, sua afilhada, pois este trazer-lhe-ia grande felicidade. (Nota: reforçar os nomes e apelidos das personagens em todo o teatro). A principal vantagem é Guilherme poder pertencer a uma das famílias mais ricas da cidade, a família Alhambra (família de Maria Vitória). A tia enumera, no entanto, mais umas quantas vantagens, algumas delas podem ser insignificantes, apenas com o objectivo de reforçar o quão bom para si seria este casamento. Enquanto se desenrola a cena, os criados vão servindo de várias formas os protagonistas, de forma exagerada. É de notar que nem Malina nem Guilherme são simpáticos para os criados. No fim do jantar, já tendo a tia Malina saído da sala, bem como os criados que, tendo acabado de levantar a mesa muito atarefadamente, abandonaram a sala de jantar. Guilherme ainda sentado no seu lugar à mesa, sozinho na sala, chama Júlio, mas como este não ouve grita “Júlio Valfando!” (a personagem começa aqui a ter importância na estória). Quando o criado se aproxima, Guilherme pede-lhe os seus charutos preferidos, pois diz estar demasiado cansado de conversas inúteis. Júlio traz a caixa de charutos, sempre muito atrapalhado e desengonçado, e tira um para Guilherme. Depois de lhe entregar o charuto pedido vai buscar fósforos, mas demora sempre muito tempo a fazer tudo, já que nunca encontra as coisas à primeira e é sempre desajeitado. Guilherme mostra-se farto de esperar (apesar de não estar a esperar assim tanto tempo) batendo com os dedos alternadamente na mesa, cruzando e descruzando alternadamente as pernas e olhando repetidas vezes para o relógio. Júlio aparece com os fósforos e acende-lhe cuidadosamente o charuto, apanha o guardanapo que entretanto caíra ao chão e depois fica quieto à espera, sempre muito direito. Guilherme aproveita para desabafar com Júlio sobre alguns pensamentos que lhe passam pela mente: Guilherme: Sabes, Júlio, estas conversas da minha tia, embora sempre iguais, até me fazem pensar sobre algumas coisas. É que eu sei que não preciso de ninguém para nada, muito menos para casar. Mas quando vou à missa, todos os domingos, ouço que Deus ajuda os pobres e oprimidos e que nos ama a cada um de nós, mas a verdade é que não preciso de Deus para nada, não sou pobre e muito menos oprimido! E nem percebo para que é que continuo a ir à missa ouvir o Senhor Padre Maximiliano Bérrio, que a mim parece-me não dizer nada com sentido... Mas deixa lá Júlio, também não vais ser tu a saber resolver este problema… Vai, vai! Podes sair daqui! No dia seguinte, Malina e Guilherme estão a tomar o pequeno-almoço à mesa da sala de jantar, rodeados pelos três criados. (A mesa pode estar exagerada por exemplo com um cesto cheio de fruta, outro cesto chaio de pão, dois jarros de sumo, duas cafeteiras, etc.) Malina dá início à conversa: Malina: Sabe, Guilherme, estive a pensar sobre a nossa conversa de ontem. Guilherme, murmurando: De ontem e de todos os dias… Malina: Acha mesmo que não precisa de ninguém para coisa nenhuma e que é completamente independente? Acha mesmo que consegue viver sozinho para o resto da vida e viver bem com isso? Guilherme: Não só o acho como o sei. Estou certo disso e até estranho que a Tia ainda não o saiba. Malina: Pois eu aposto como nem uma semana o Guilherme aguentaria sem os favores de ninguém! Olhe bem para si! Está sempre a chamar o Júlio, o criado, para tudo! Não sabe fazer nada. Casando com a minha afilhada, sempre tinha alguém menos desajeitado a cuidar de si! Guilherme, indignado: Mas que disparate! Eu havia lá de casar com alguém que nunca vi na vida! E não me chame inútil, eu hoje já fiz um monte de coisas! Já fiz a minha cama… Ai não, isso foi o Júlio! O pequeno-almoço… Não, foi o Júlio também! Bem, ao menos permiti ao Júlio fazer coisas! Dar trabalho a alguém já é alguma coisa, nos tempos que correm… Malina: Disparate?! Então proponho que façamos uma aposta. Se realmente conseguir aguentar uma semana sem um único favor de alguém, então não casará com Maria Vitória Luísa de Alhambra, com grande pena minha, é evidente. Caso não consiga cumprir uma semana com esta exigência, então casará com Maria Vitória! Guilherme: Considero absurdo ter que aceitar tal aposta, mas a verdade é que se existe a possibilidade de numa semana me livrar para sempre do tema “Maria Vitória”, então como poderia eu não aceitar?! Está apostado! Malina: Começa agora, então! Ao dizer isto, Malina abandona a sala. Guilherme: Ouviram a aposta, não ouviram? – pergunta aos criados. E continua antes que estes tenham oportunidade de responder: - Júlio, levanta o meu lugar! Não! Não levantes! Vai-te embora! Meu Deus… Isto vai ser mais difícil do que eu pensava! E termina a cena quando Guilherme acaba de levantar a mesa e sai da sala. (Nota: é de realçar o ar escandalizado dos criados desde o momento da aposta até o fim do teatro). ACTO II Noutra sala, Malina com Júlio. Malina: Júlio, não podemos deixar o Guilherme ganhar a aposta. Apesar de eu saber que ele não consegue resistir, convém tomar algumas precauções. Vá oferecerlhe ajuda, a todo o custo! Júlio: Mas minha senhora, sabe que isso é difícil! Ele mal vê a minha cara foge logo a sete pés para não ter tentações! Malina: Então ele que não veja a sua cara! Mascare-se! Faça qualquer coisa, homem! O que eu sei é que você não o pode deixar ganhar a aposta! Portanto arranjese. Aliás, o que é que está aqui a fazer? Vá-se embora, não perca tempo! Júlio vai embora resmungando. Acto III Numa rua. Guilherme vai passando enquanto Júlio, disfarçado, tenta oferecer ajuda. Guilherme transporta um saco. Música “When I’m sixty four”, dos Beatles, ou um jazzinho tipo Louis Armstrong, mas baixinho. Júlio (com um bigode falso, por exemplo – os disfarces são sempre muito óbvios): O senhor quer ajuda para levar esse saco? Guilherme: Ai, muito obrigado homem. Estava mesmo a precisar, já estava aqui com uma dor de costas! Não! Não, quero! Não posso, vá-se embora. Júlio vai-se embora resmungando. Júlio, agora com um chapéu: Tenho o carro ali à frente, quer uma boleia? Guilherme começa por aceitar, lembrando-se depois da aposta. Podem-se fazer mais quantas se quiserem deste género. Na última, Guilherme já está mesmo cansado, chegando a vacilar de forma mais convincente (a minha tia nunca vai saber, etc… para depois ter um assomo de consciência). Diz à frente do seu Bom Samaritano, que é Júlio disfarçado: Guilherme: Estou farto! A cidade é muito perigosa para quem faz uma aposta destas! Tenho que me ir embora! Vou para a casa que a minha tia tem no campo, na aldeia de (dizer o nome da aldeia das missões) que assim estou longe das tentações e das garras da minha tia! Acto IV Júlio chega a casa da sua patroa, ofegante. Vai com todos os disfarces postos, ficando completamente ridículo (bigode, cabeleira, chapéu, cachecol…) Júlio: Minha senhora, minha senhora! Eu bem tentei, mas o menino Guilherme está mesmo determinado! Ele até diz que vai para a casa que a senhora tem no campo, para estar longe do perigo de perder a aposta… Malina: Júlio, seu incompetente! Como é que deixa que uma coisa dessas aconteça! Você não serve para nada! Agora como é que eu vou arranjar alguém para o levar a cometer um deslize? A menos que… Venha cá Júlio, deixe-me beijá-lo, vai ser aumentado! Deu-me uma ideia brilhante. Júlio (contente, tentando aproveitar-se da situação): Minha senhora, sabe que este cérebro é muito rico! A minha mãe sempre disse que eu só não estudei mais porque não tive oportunidade, senão esta cabecinha chegava a ministro… Qual foi a ideia que eu dei? Malina: Vou usar o meu trunfo mais poderoso! Se eu mandar a minha sobrinha Maria Vitória para a casa de campo, ela, de tão boazinha que é, vai com certeza ajudálo de alguma forma. Assim, ele vai perder a aposta e, ainda por cima, vai reconhecer que ela lhe é muito útil, e escuso de ouvir resmungos até ao dia do casamento! Ai, Júlio, que bela ideia! E a propósito, o que é essa figura! Acha que isso é maneira de se apresentar! Vá-se já embora! Rua! Júlio: Com certeza patroa. Só mais uma coisinha, quanto àquele aumento… Malina: Mas qual aumento! Tome lá 5 euros e vá ver se compra umas roupas decentes para eu nunca mais o ver nessa figura! Fora daqui! Vá! Acto V Guilherme, de mala na mão, no meio da rua, encontra Júlio, bêbedo e a cantar. Toda a fala de Júlio tem que ser à bêbedo. Música: Oiça lá ó Sr. Vinho, baixinho. Guilherme: Júlio! O que é que está a fazer nesse estado? Júlio, com tiques de embriaguez: Ora, foi a patroa que mandou, deu o dinheiro e tudo. Eu entrei na loja para comprar roupa, mas só vendiam tinto… Guilherme: A minha tia mandou? Deu dinheiro? Devia estar muito bem disposta… Júlio: Ora, pois claro! O Júliozinho sabe dar boas informações! Quando eu disse que o menino Guilherme ia para o campo, havia de ver aquele brilhozinho nos olhos dela. Pois, sabe que eu… Guilherme, interrompendo-o: TU DISSESTE O QUÊ?! Júlio: Eu? Ora, nada! Foi aquele senhor do bigode! Ai, não, do chapéu… Ai, minha Nossa Senhora, onde eu me fui meter! Guilherme: Júlio, seu incompetente! Tu tens consciência da alhada em que me meteste? Júlio: O menino desculpe, saiu-me… Quer dizer, a mim não, ao senhor do chapéu. Não, do bigode! Ai, não… Bom, se houver alguma coisa que eu possa fazer… Guilherme: Não só podes, como tens que fazer! Agora vais tirar-me desta embrulhada! O que é que a minha tia planeou para me fazer perder a aposta? Júlio: Não foi ela, menino! Foi esta cabecinha brilhante! Acho que era levar para lá a menina Maria Vitória, ou coisa assim… Sabe o que é, é que eu não sou como as outras pessoas, eu estou sempre a pensar! Às tantas são tantas as ideias que eu me perco… Guilherme: Cala-te! Agora vais safar-me deste embróglio! Eu nunca vi a Maria Vitória! Portanto vais comigo até à terra, para eu ter a certeza que não foges, e quando chegar à casa da minha tia apresentas-te como Guilherme de Alhambra e Gabriel Gonzaga. Assim eu livro-me da Maria Vitória e da minha tia, que acha que eu estou lá e não prepara mais armadilhas. Quebro a aposta, já que te estou a pedir um favor, aliás, a mandar, mas se ela quer jogar sujo, eu também sei. Vá, vamos embora, e nada de vinho enquanto lá estás, que eu não quero que te descaias! Acto VI Na sala da casa de campo. Está Maria Vitória e entram criada e Júlio. Criada: Senhora, chegou o Senhor Guilherme Gabriel… Guilherme Gonzaga… Pergunte-lhe o nome, que ele a mim não me soube dizer muito bem. Maria Vitória: O Senhor Guilherme, sobrinho da minha madrinha, claro! É um gosto, quer beber alguma coisa? Não se incomode, que eu levo-lhe as malas para cima. Júlio: Ora, pode ter a certeza que não me incomodo! Maria Vitória: Sente-se, sente-se, não tem calor? Eu vou buscar-lhe um sumo! Júlio, aparte: Isto é que vai ser aproveitar! Uma vez na vida é bom ser servido, em vez de servir! (para todos) Demora muito esse copo de sumo? E arranje-me também um charuto, que os meus acabaram! Onde é que está a criada para me apertar os sapatos? Criada!!!!!! Maria Vitória, aparte: Meu Deus, que homem mal-educado! E queria a minha madrinha que eu me casasse com ele… Júlio: Vai arranjar-me o charuto ou vai continuar aí a bichanar? Maria Vitória: Com certeza! Agora, vai-me desculpar que não temos cá charutos, mas não se incomode, eu vou lá fora comprar. Júlio: Eu já lhe disse que não me incomodo! Maria Vitória sai, dizendo: Vou dar uma volta, a ver se me livro deste homem! Acto VII Rua da aldeia. Está Guilherme sentado, cabisbaixo. Guilherme: Maldita a hora em que decidi vir para o campo! Na cidade é que se está bem! Aqui não encontro ninguém interessante, estou sempre sozinho! Passa Maria Vitória, dizendo: Que homem insuportável! Mal-agradecido! E eu que ainda tinha esperanças de que aquele fosse o homem da minha vida… Está visto que vou ficar para tia! Cruzam olhares. Começa música romântica tipo “Love is all around”, wet wet wet, depois baixinho enquanto Guilherme e Maria falam. Guilherme, levantando-se: A menina é daqui da aldeia? Maria Vitória, sorridente: Não. E o senhor? Guilherme: Também não. E ainda não tive tempo de conhecer bem a aldeia. Quer vir visitá-la comigo? Maria Vitória: Com todo o gosto! Saem. Acaba a música. Acto VIII Na sala da casa de campo. Júlio está armado em cromo, para aí com a criada a abanar-lhe um leque. Entra Antonieta Ferdinanda de Sardenha. Antonieta: Dão-me licença? É com muito orgulho que vejo a ilustre casa dos Gonzagas ser de novo habitada. Permita que me apresente: Sou a D. Antonieta Ferdinanda de Sardenha, e ao longo dos séculos que as nossas famílias mantêm cordiais relações. O senhor é… Júlio: Jú… Ah, pois… Guilherme de Valfando… Não, Guilherme Alhandra… Ai, minha Nossa Senhora… Antonieta, interrompendo-o: Ora, a modéstia característica dos Gonzagas, a esconderem os seus ilustres apelidos. Por enquanto chega-me o Guilherme. Estou a ver que põe as criadas a trabalhar, eu concordo! São sempre umas preguiçosas, é bom manter rédea curta! Júlio: Pois, criados… É verdade… Bem, eu… Antonieta, interrompendo-o, mais uma vez: Estou a ver, é tímido. O seu trisavô Damião também era. Venha a minha casa beber um uísque, para nos conhecermos melhor. Sabe que ainda temos uma prima comum, a D. Malina, deve conhecer… Júlio: Uísque! Ena! Vamos! Quer dizer, dirijamo-nos, ou coisa parecida! Ai, não! Bom, vamos ao uísque, que isso é que importa. Acto IX De volta à rua. Guilherme e Maria Vitória a rirem enquanto passeiam. Rola um clima… Guilherme: Maria, nunca pensei dizer isto, mas… (engasga-se) Maria Vitória: Diz Guilherme, diz! Volta música romântica (“Love is all around”), não demasiado alto. Guilherme: É que isto não é fácil para mim… Eu nunca achei que fosse precisar de ninguém mas… Mas agora preciso de estar contigo. Eu estou apaixonado por ti! Maria Vitória: Eu também Guilherme! Mas tenho um problema! Eu estou comprometida! A minha família quer que eu me case com um homem horroroso! Guilherme: Pois, também eu estou, mas eu acho que consigo resolver isto! Se eu provar à minha tia que consigo ser independente, liberto-me deste noivado indesejado. Quanto a ti, eu falo com a tua família. Eu tenho dinheiro e títulos, ver-meão com certeza como um bom partido. Maria Vitória: Provar que consegues ser independente? Como assim? Guilherme: É uma longa história, mas confia em mim. Eu resolvo tudo, meu amor. Maria Vitória: Eu confio em ti, meu amor. Peço-te, no entanto, que leves contigo esta cruz, que me acompanha sempre. Que Deus te ajude nesta tão árdua tarefa, como sempre me ajudou a mim. Acto X Antonieta Ferdinanda e Júlio na sala da casa de campo. Antonieta: Tem sido uma bela semana, D. Guilherme. Fico a pensar que poderíamos prolongar este tempo… Seria aliás do interesse das nossas famílias! Júlio: É, pois, as nossas famílias iam gostar, sim… Antonieta: Ainda bem que concorda. Nesse caso, podemos marcar já para a semana. Júlio: Marcar? Hem, o quê? Antonieta: Ora, o casamento! Concordou comigo… Então para a semana está bom? Júlio: Eu? Ah… Acho que preciso de mais uísque… Antonieta: Terá todo o uísque que quiser até lá. Então óptimo, vamos marcar o casamento. Acto XI Casa da cidade, de Malina. Entra música de tensão tipo a do filme Psycho do Hitchcock à medida que Malina fala ao telefone, vai aumentando o volume. Malina, a falar ao telefone: Maria Vitória, querida! Conheceu o meu sobrinho? Não gostou dele? Ora, isso com o tempo habitua-se! Não faz nada sozinho? Era só isso que eu precisava de saber, claro que ele não resistiria. Entra Guilherme. Malina: Escusa de dizer alguma coisa. Perdeu. Já sei tudo sobre a casa de campo. Guilherme: Já sabe? Aquele imbecil do Júlio não sabe esconder nada. (aparte) Maldita a hora em que o mandei disfarçar-se de mim! Agora, por causa disso não vou poder casar com a minha amada! Raios! Malina: Pois é! Prepare-se que vai casar já hoje. (aparte) Bela ideia que eu tive, de mandar a minha afilhada para lá! Eu sabia que este preguiçoso não resistiria às mordomias! (para todos) Onde é que está o Júlio? Ele que vá buscar a minha afilhada! Você (apontado para um criado figurante), traga cá a minha afilhada, despache-se. E o menino o que é que está a fazer (para Guilherme)? Vá já vestir-se! Guilherme: Mas tia… Malina: Nada de resmungos! Daqui a pouco chega a noiva, e dá azar vê-la antes da hora certa! E você (outro criado figurante) vá buscar o padre Maximiliano! Rápido. Guilherme sai, entra criado Criado: Minha senhora, não encontro o Júlio, mas está aqui a menina, sua afilhada. Maria Vitória: Tia, por favor, não me obrigue a casar com aquele homem horroroso! Eu conheci um homem muito bem-educado, e de boas famílias, deixe-me casar com ele! Malina: Disparate! Quer melhor família que os Gabriel Gonzaga? A menina vá vestir-se, que casa ainda hoje! Ainda não tem madrinha? Vai ser a minha prima em 5º grau, Antonieta Ferdinanda de Sardenha. Onde é que está o maldito Júlio para a ir buscar? Quando a menina sair diga ao criado para telefonar à minha prima. Maria Vitória: (aparte) Maldita a hora em que abandonei a minha cruz! Deus abandonou-me e vai deixar que eu me case com aquele homem asqueroso… Malina: O que é que a menina ainda está aqui a fazer! Mexa-se! E não se esqueça de avisar o criado acerca da Antonieta! Sai Maria Vitória, entra Guilherme, todo aperaltado Guilherme: Tia, por favor… Eu apaixonei-me por outra mulher! Eu reconheço que perdi a aposta, sim! Eu preciso de outras pessoas, principalmente desta rapariga! Já percebi que o mundo não gira à minha volta, e que eu não governo tudo! Há coisas mais importantes que eu, e que têm muito mais poder! Já percebi que a vontade de Deus é superior à minha, por muito que eu lute contra ela. Deixe-me, por favor, casar com esta rapariga! Malina: O menino cale-se! Nem parece que fui eu quem o educou, a tentar esquivar-se assim das suas promessas! O padre nunca mais chega? Acaba música. Entram criados, padre, Antonieta e Júlio, bem vestido Antonieta: Cara prima! Há quanto tempo! Tomei a liberdade de trazer o meu noi… Malina: Júlio, seu preguiçoso! Onde é que andava metido? Vá já fardar-se! Júlio: (aparte) Trabalho? Isso quer dizer que já não me caso! Valha-me a virgem, que achava que era hoje que me passavam a corda! Mas aqui o Julinho ainda tem muita vida pela frente… Malina: Desculpe Antonieta, dizia… Antonieta: Eu? Bem… Ah… Dizia… Dizia que era uma felicidade ver um Gonzaga noivo, era isso… Malina: É realmente delicioso! Está pronto, padre Maximiliano? Podemos começar? Júlio, mande entrar o noivo! Júlio: O noivo! E não sou eu! Que maravilha! Entra Guilherme macambúzio Malina: Guilherme, anime-se, é o seu casamento! Mandem entrar a noiva para podermos começar! Entra Maria Vitória. Os noivos vêem-se. Entra marcha de casamento de Mendelssohn Guilherme: Maria! Maria Vitória: Guilherme! Malina: Tanta birra para se casarem e agora é isto? Meninos, controlem-se! Guilherme: Então és tu a afilhada… Maria Vitória: Mas como? Não era aquele… Júlio boceja Malina: Júlio, comporte-se! Está num casamento! Estes criados de hoje em dia não se sabem comportar! Maria Vitória: Criado? Mas então… Guilherme: É uma longa história. Eu depois conto-te. O que interessa é que agora vamos casar! Guilherme e Maria Vitória sentam-se nos bancos já preparados. Padre Maximiliano: Irmãos! Deus está sempre connosco! Vocês, que vão casarse agora, percebê-lo-ão ao longo da vossa vida! Por vezes achamos que Ele nos abandona, e outras vezes somos nós que pensamos que não precisamos d’Ele. Mas, até quando menos esperamos, o Senhor cuida de nós, basta estar atento à sua presença. Guilherme: Acho que nesta semana conseguimos perceber bem isto! Maria Vitória: É verdade, para o Bem e para o Mal, Deus está sempre connosco! E a nossa história foi assim que aconteceu! Entra música animada tipo “11th dimension”, Julian Casablancas, e pode ficar a dar até ao fim dos agradecimentos.