Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano
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Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano
1 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano Natália Weidlich – [email protected] Pós graduação em iluminação e design de interiores Instituto de Pós-Graduação - IPOG Porto Alegre, RS, 23 de maio de 2014 Resumo O presente estudo tem o objetivo de provocar reflexões sobre a influência que a luz exerce na regulação do ciclo circadiano humano tendo como base de pesquisa o cruzamento de informações descritas em artigos acadêmicos pesquisados durante os meses de março, abril e maio de 2014. Com o desenvolvimento tecnológico as pessoas estão mais expostas a diferentes fontes de iluminação que podem estar influenciando o cumprimento de suas funções fisiológicas. Estudos apontam que a alteração do ciclo circadiano estaria provocando alterações comportamentais que podem chegar no desenvolvimento de doenças como obesidade, diabetes, câncer. Tem-se percebido o aumento de sintomas como estresse, ansiedade, insônia e depressão. Tais fatos são percebidos como características de comportamento de setores da sociedade cosmopolita e podem estar sendo desencadeados por excesso de exposição à fonte de luz branca fria. Foram analisados diferentes artigos disponíveis online base de dados Scielo, Bireme, NCBI, JCI (The Journal of Clinical Investigation). Foram pesquisados artigos das áreas de neurosciência, psicologia, cronobiologia, fotobiologia, arquitetura e iluminação. Os resultados encontrados indicam que a incidência da luz altera o ciclo circadiano de humanos, porém ainda não se pode afirmar cientificamente quais os tipos e quantidades de luz são efetivas para provocar o descompasso do ciclo. Concluiu-se que a exposição constante à fonte de luz artificial branca fria ao longo do tempo, e principalmente à noite, tem consequência sobre o ciclo circadiano e pode provocar o desequilíbrio do relógio biológico acarretando diversos malefícios à saúde. Palavras-chave: Fotorreceptor. Ciclo Circadiano. Iluminação. Relógio Biológico. 1. Introdução O presente estudo se insere na área de iluminação e sua influência sobre o comportamento humano. Com o aumento do uso de computadores, tablets, smartphones e pela extensão da jornada de 8 horas de trabalho os habitantes de centros urbanos têm se mostrado mais ansiosos, impacientes e pessimistas. Em busca de realização pessoal, dinheiro e notoriedade, a sociedade cosmopolita se encontra em ritmo acelerado de trabalho, gasto e ostentação. Cresce o número de reportagens nos principais veículos de mídia sobre os efeitos do estilo de vida contemporâneo na saúde da população. Por influências externas, o ritmo social se impõe ao ritmo biológico. Pela manhã, acordamos com o alarme do despertador. Ao chegarmos ao trabalho nos conectamos à urgência da rotina e chegando em casa nos conectamos aos compromissos pessoais. Como resultado nosso sistema biológico se confunde, perde o equilíbrio e demoramos mais para dormir. No dia seguinte estamos irritados e impacientes. Na semana seguinte, insônia. Após um ano, talvez a depressão. Iniciativas governamentais incentivam o uso de lâmpadas LED e fluorescentes ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 2 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 indiscriminadamente. Tais iniciativas são justificadas pela busca de maior economia energética, mas estariam levando em conta os possíveis impactos sobre a saúde da população? Faz-se necessário incentivar reflexões sobre o uso adequado das novas tecnologias disponíveis em iluminação e sua possível consequência sobre o funcionamento do corpo humano. Até que ponto a rotina cosmopolita nos afeta? Por que devemos buscar o equilíbrio com nosso relógio biológico? Qual a influência da luz neste contexto? Na espécie humana, o ciclo claro/escuro é reconhecidamente um dos mais importantes sinais ambientais capazes de “acertar nossos relógios”, mas há também um papel importante desempenhado por estímulos sociais como horários de trabalho, lazer, refeições, enfim, interações sociais. O fato de distintos ciclos ambientais exercerem influência sobre nossos sistemas de temporização promove uma relativa plasticidade que nos permite, por exemplo, alterarmos nossa rotina ou adaptarmo-nos a mudanças de fuso horário. No entanto, há limites para essa plasticidade, que impedem, por exemplo, a adaptação completa de nossos ritmos biológicos ao trabalho noturno. Menna-Barreto (2007:135) Há uma população de células ganglionares dentro do olho que são diretamente sensíveis à luz e atuam como detectores de brilho; estas células regulam tanto o ritmo circadiano quanto a síntese de melatonina. Entender os trajetos desses “fotorreceptores circadianos”, e também as características da luminosidade ambiente usada para seu condicionamento, tem sido e continuarão sendo fortemente dependentes da maneira apropriada de uso e medição dos estímulos luminosos. (Foster, 2007:3). 2. Visão e ciclo circadiano Conforme MOURA (2008), “para que haja ritmicidade circadiana em um ser vivo é necessário que alguma estrutura que opere como um marcapasso”. O marca passo dos humanos consiste em aglomerados de neurônios (núcleo supraquiasmático) no hipotálamo que se auto-sustentam. O relógio permite que seres vivos acompanhem as variações de luminosidade ao longo do dia. Este sistema conta com três sensores (sabidos até o momento) que percebem a variação temporal e neural; eles informam ao organismo o estado de iluminação ambiental. (MOURA, 2008) O relógio também presente no corpo humano é responsável pelo controle do ritmo do ciclo circadiano. Relógios circadianos aumentam a habilidade inata de organismos sobreviverem às constantes modificações ambientais possibilitando-os antecipar eficientemente eventos periódicos tais como disponibilidade de alimento, luz, parceiros entre outros. Um indivíduo que é simplesmente dirigido por mudanças externas é desvantajoso em relação a um que é regulado por um relógio endógeno flexível e antecipatório. Os organismos dotados dessa propriedade de antecipação a eventos recorrentes periódicos se mostraram viáveis e sobreviveram, conservando-a até hoje nas diversas formas que os relógios biológicos têm assumido nas diferentes espécies. (MOURA, 2008:5) A maneira como percebemos o espaço acontece pela sensibilidade que o nosso olho tem à luz. Ao visualizar uma cena o olho capta inúmeras informações que são transmitidas à córnea, íris e pupila. Ao chegar à retina milhares de células fotorreceptoras transformam as ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 3 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 ondas luminosas em impulsos eletroquímicos que chegam ao hipotálamo através do nervo óptico. A retina possui dois tipos de células: bastonetes e cones. Nos cones acontece a formação de compostos químicos chamados de pigmentos. Os pigmentos, compostos por retinal e fotopsinas, são sensíveis às cores azul, verde e vermelho. Por causa deles podemos visualizar praticamente todas as gradações de cor existentes na natureza. Os bastonetes permitem a perceção da forma, dimensões e brilho. Enquanto os bastonetes cuidam da visão monocromática em condições de pouca luminosidade, os cones são os responsáveis pela visão de cores e detalhes. (Bianco, 2000:1) A rodopsina é uma proteína presente nos bastonetes e também é sensível à luz azul. (Abel; 2014) Quando a luz entra em contato com os cones e bastonetes, ocorre uma série de reações químicas complexas. A rodopsina é formada por estas reações e exerce a função de criar impulsos elétricos no nervo ótico. A retina dos olhos dos vertebrados, inclusive dos olhos humanos, é o detector de luz mais poderoso que conheçemos”, explica Massimo Olivucci, Ph.D., um pesquisador e professor de química e diretor do LCPP no Centro de Ciências Fotoquímicas em BGSU. “No olho humano, a luz vinda através da lente é projetada na retina onde forma uma imagem em um mosaico de células fotorreceptoras que transmite informação do ambiente em geral para o cortex visual do cérebro. Em condições de iluminação extremamente pobres, tais como as de uma noite estrelada ou profundezas oceânicas, a retina é capaz de perceber intensidades correspondentes a apenas alguns poucos fótons, que são unidades indivisíveis de luz. Tal sensibilidade extrema é devida à células fotorreceptoras especializadas que contém um pigmento sensível à luz chamado rodopsina. Massimo Olivucci. (Abel; 2014) No hipotálamo (Fig.1), região localizada na parte central inferior do cérebro humano, fica o núcleo supraquiasmático (Fig.1) onde se encontram inúmeros neurônios responsáveis pela regulação do relógio biológico. Este sistema controla a liberação de diferentes tipos de hormônios que atuam no corpo humano em diferentes fases do dia, completando um ciclo de 24 horas com possíveis oscilações. (Bianco, 2000:1) ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 4 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 Pineal gland Figura 1 – Imagem do cérebro humano com localização dos Fonte: Adaptado de http://healthysleep.med.harvard.edu/image/200 A atuação do núcleo supraquiasmático oscila em torno de 24 horas, ele pode atrasar ou adiantar o seu processo a partir da quantidade de sol que o corpo receber durante o dia (a menos que influenciado por extímulo sensorial). A luz é com toda certeza a mais importante de todos os estímulos. Tal fato é facilmente exemplicado pelo ‘jet lag” que acontece quando viajamos para lugares com um diferente fuso horário. (Berson, 2003:314) Conforme Berson, por 150 anos os cones e bastonetes foram os únicos considerados como fotorreceptores presentes no corpo humano. Estudos recentes revelam que existe um pequeno número de células fotossensíveis que não estão ligadas à visão e que captam e regulam a claridade. A descoberta de um novo fotorreceptor revolucionou a pesquisa na área. O novo fotopigmento provavelmente é a melanopsina, uma proteína com características semelhantes às da rodopsina. Esta nova célula apresenta menos resolução espaço temporal do que os cones e bastonetes. Ela contribui para o reflexo pupilar e outras respostas fisiológicas e comportamentais diretamente relacionadas à iluminação ambiente. Experimentos feitos com ratos (Fig.2) comprovaram e manutenção do ciclo circadiano nas cobaias que apresentavam severa degeneração dos fotorreceptores clássicos (cones e bastonetes). Sendo assim comprovou-se que existem outras células sensíveis à luz. (Berson, 2003:314) ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 5 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 Figura 2 – Propriedades funcionais e estruturais de células ganglionares da retina intrinsecamente fotossensíveis (ipRGCs) em relação àquelas de fotorreceptores cone e bastonete convencionais. Fonte: Berson, (2003: 314). Pesquisas na última década têm mostrado que os bastonetes e os cones não são os únicos fotorreceptores do olho. Também existe uma população de células ganglionares diretamente sensíveis à luz que atuam como detectores de brilho e regulam uma ampla variedade de diferentes tarefas fotossensoriais, incluindo a regulação dos relógios circadianos de 24 horas, síntese do hormônio melatonina, tamanho e comportamento da pupila. Estes receptores podem até ajudar a modular nosso humor e senso de bem-estar.(Foster; 2007:3). Por muito tempo se presumiu que a retina humana continha apenas células fotorreceptoras especializadas em visão diurna e de pouca luminosidade, de acordo com Olivucci. Entretanto, estudos recentes revelaram a existência de um pequeno número de células nervosas intrinsecamente fotossensíveis que regulam respostas à estímulos não-visuais. Estas células contém uma proteína de propriedades parecidas com as da rodopsina chamada melanopsina, que tem um papel na regulação dos reflexos visuais inconscientes e na sincronização das ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 6 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 respostas do corpo ao ciclo clao/escuro, conhecidos como ritmos circadianos ou “relógio biológico”, por um processo conhecido como fotocondicionamento (photoentrainment). Comparado com a visão de padrões, o mecanismo de fotocondicionamento é insensível e responde pouco a estímulos breves, mas é capaz de captar energia luminosa em períodos muito mais longos.(Abel; 2014) As pesquisas mais recentes descrevem uma relação direta entre luz e ciclo circadiano. Identificou-se a influência da luz sobre o hipotálamo e a produção da melatonina. Sabe-se sobre a função das rodopsinas na absorção da luz azul. Sabe-se que existe um outro fotorreceptor presente na retina que não está ligado diretamente à visão, o qual pode ser a melanopsina. A melanopsina quando ativada pela luz através das células ganglionares envia um sinal através do nervo óptico direto ao núcleo supraquiasmático que controla o ritmo hormonal circadiano. (Isoldi et al, 2005:1217) A oscilação de hormônios sob a regulação da luz visível tem um efeito profundo na maior parte das funções fisiológicas do corpo. Quando este processo é perturbado através de mudanças na iluminação ambiental, podem ocorrer alguns dos efeitos mais danosos, emocionais e fisiológicos, associados com depressão sazonal, jet lag, e trabalho por turnos ininterruptos. Além disso, ambas a luz visível e a ausência de luz à noite podem afetar a resposta imunológica humana de forma poderosa. François Levi descobriu que a resposta imunológica flutua em um padrão rítmico durante o dia e à noite. Células imunológicas têm receptores para neurohormônios e transmissores, e esta atividade imunocelular rítmica parece estar sob um controle neuroendócrino ainda desconhecido. (Joan; 2004:5) Muito embora a quantidade de melanopsina seja inferior à quantidade de rodopsina, a captura de uma quantidade mínima de fótons sugere que a melanopsina possa ser muito mais sensível à luz do que a rodopsina. O entendimento desta sensibilidade extrema foi investigada por Abel (2014). O reconhecimento deste comportamento serviu de incentivo para a evolução dos estudos de como a luz influencia a depressão sazonal que afeta em maior parte os países mais frios onde o dia tem poucas horas de duração e as noites são longas. 3. Ciclo circadiano nas fases da vida Está comprovado que o organismo humano passa cotidianamente por processos de ajuste de seus ritmos, através da ação de ciclos ambientais que arrastam nossos sistemas de temporização. Estes processos de ajustes são estudados pela ontogenia. A maioria das mudanças ontogenéticas podem ser exemplificadas pelas etapas do ciclo de vigília/sono do ser humano. (Bueno, 2014:31). Antes do nascimento, durante as últimas semanas de gestação, os bebês tem seu ritmo biológico sincronizado com o da mãe. Observa-se que o feto apresenta momentos de maior atividade durante o dia e de menor atividade à noite. (Luiz Menna-Barreto, 2007:136). Ao nascer o sistema temporal do bebê sofre uma série de ajustes. O bebê deverá aprender a diferenciar o dia e a noite além de perceber aos poucos todas as intervenções dos hábitos da família que farão parte da sua rotina. Acontece uma reorganização temporal entre mãe e bebê onde o agente determinante é o sono. Nesta fase ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 7 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 não existe ainda a periodicidade circadiana na criança. O recém nascido dorme e acorda diversas vezes por dia e pode levar até 2 meses para ajustar seu ritmo ao ciclo vigília/sono. (Luiz Menna-Barreto, 2007:137). Quando a criança passa a frenquentar a escola acontece um processo de sincronização de ciclos da criança com os ritmos sociais. As diferenças temporais aos poucos vão sendo atenuadas; os horários das atividades tornam os hábitos de sono muito semelhantes entre crianças de uma mesma faixa etária. (Luiz Menna-Barreto, 2007:138). Por causa da oscilação nas concentrações dos hormônios os adolescentes passam por crises temporais e as fases do sono tendem a se modificar. Torna-se comum os momentos de sonolência durante o dia. Na adolescência os principais fatores que influenciam o sono são os horários impostos pela rotina escolar. Devemos considerar a atuação de ritmos sociais representados pelas rotinas familiares: atividades domésticas ou na rua, horários de lazer que envolvem uso de televisão, computadores, vídeo games ou ipad. Todos estes atrativos fazem com que os jovens permaneçam despertos por mais tempo e o horário de dormir é “empurrado” para mais tarde. No dia seguinte despertam cedo para ir à escola e assim o ciclo vigília/sono passa por atrasos e adiantamentos resultando em poucos períodos de sono durante a semana e sono prolongado nos fins de semana. (Bueno, 2014:64). A fase adulta da vida é caracterizada pela desorganização temporal. Ela está relacionada aos adultos que são “expostos” a horários irregulares de trabalho: turnos alternados, viagens onde aconteçam mudanças de fuso horário. Tal fato caracteriza um estado de dessincronização temporal podendo resultar em um “efeito de atenuação ou mesmo de abolição da ritmicidade biológica que caracteriza o indivíduo saudável”. (Luiz MennaBarreto, 2007:142). Com o envelhecimento ocorrem modificações anatômicas e funcionais do sistema circadiano, que promovem alterações dos ritmos biológicos. O ciclo vigília/sono encontrase frangmentado e, aliado à variações da temperatura corporal acontece uma desorganização temporal interna. Nesta fase costuma haver uma redução das atividades sociais que caracteriza a ausência de rotinas diárias e a consequente desorganização temporal do sono. (Luiz Menna-Barreto, 2007:145). 4. Espectro da luz sobre a retina Diferentes comprimento de onde têm distintos efeitos no corpo humano. Há evidências de que as luzes brancas ou azuis suprimem mais a produção de melatonina do que a vermelha ou amarela. (Martau; 209:63). Oftalmologistas relacionam a luz azul com o desenvolvimento de patologias na retina, como a degeneração macular e o melanoma de úvea (um tipo de câncer que acomete o fundo do olho). Pesquisas comprovam que o melanoma de úvea tem seu desenvolvimento acelerado quando exposto à luza azul. Mas ainda faltam estudos clínicos que comprovem o dano à retina. (Nakayama; 2014 :6) Conforme experienciado por Mark S. et al (2012) (Fig. 3) a visão humana e o ciclo circadiano são ambos sensíveis a pequenso comprimentos de ondas (400-500nm). Porém, grandes comprimentos de onda (.600nm) são perceptíveis à visão mas são um estímulo praticamente irrisório para o ciclo circadiano. A partir de um modelo criado por Mark S. et al (2012), é possível acompanhar o andamento do ciclo circadiano através da conversão da luz em sinais elétricos (phototransduction). Este ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 8 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 método foi utilizado para definir a irradiação necessária para suprimir uma certa quantidade de melatonina quando a córnea for exposta a determinada quantidade de luz (Fig.3). Foi então analisado qual efeito a iluminação pública noturna exerce sobre as pessoas. Participaram do estudo jovens de 20 anos de idade que ficaram expostos à diferentes fontes de luz, comumente usadas em postes públicos, pelo tempo de uma hora (Fig. 4). Concluiuse que a supressão no nível de melatonina aconteceria em 15% para pessoas expostas a iluminação de lâmpadas vapor de sódio de alta pressão; 14% para lâmpadas de vapor metálico; 21% para “coll-white” LED e 30% para “coll-white” LED de 6900k (Fig. 5). Os dados apresentados por Mark S. et al (2012) podem servir de base para quantificar a distribuição da irradiação espectral sobre a córnea e assim termos um exemplo efetivo sobre qual é a quantidade de luz necessária para estimular a retina a ponto de provocar alterações no ciclo circadiano. (Mark; 2012:8) Figura 3 – Spectral irradiance distributions for a photopic illuminance of 95lx Fonte: Mark, 2012:5 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 9 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 Figura 4 – Spectral irradiance distributions for a photopic illuminance of 95lx Fonte: Mark, 2012:6 ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 10 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 Figura 5 – Iluminância incidente na córnea com relação à supressão de melatonina. Fonte: Fonte: Mark, 2012:7 5. Discussão A luz é um agente biológico fundamental no nosso planeta. A partir dela os organismos vivos, sejam eles simples ou complexos, organizaram seu funcionamento. A luz fez parte da evolução de todas as espécies e sem ela não sobreviveríamos. A importância da iluminação para o corpo humano é estudada a partir de pesquisa sobre a visão. Este sentido diretamente ligado à presença de maior ou menos intensidade de luz estabelece nossos parâmetros para identificar aquilo que nos cerca. Contamos o olho de toda sua estrutura física para perceber cada uma das partes que compõem o espaço construído sendo então possível contemplar as diversas formas existentes. A sensação visual ocasionada pelos estímulos luminosos gera impulsos que são transmitidos até o cérebro onde são interpretadas as diferentes intensidades de luz. A luz, ao incidir sobre determinado objeto produz reflexos e sombras que são transmitidos e interpretados. A partir do acúmulo de experiências perceptivas somos capazes de distinguir as cores, formas e posição dos objetos que nos induz a produção de padrões organizados. Nossas experiências sensoriais são armazenadas e consultadas todo o momento e assim somos capazes de interpretar e entender o mundo a nossa volta. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 11 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 A luz é, portanto, capaz de nos fazer sentir o ambiente e provocar sensações diversas. Quando determinado ambiente é percebido e relacionado a experiências positivas criamos uma relação afetiva com o lugar que nos leva a permanecer em determinado ambiente por mais tempo. Avaliamos cores, formas, contrastes, ângulos e níveis de iluminamento. Novas tecnologias surgem tão rapidamente que pouco tempo oferecemos ao nosso corpo para se acostumar a elas. Vários estudos têm sido realizados em busca de razões para o crescimento de doenças cujos sintomas podem estar ligados ao desequilíbrio do ciclo circadiano. Qualquer mudança hormonal pode levar ao descompasso do ritmo circadiano, em consequência o ciclo vigília/sono se modifica e alterações de pressão do sangue, metabolismo, reprodução e resposta imunológicas posem acontecer. O estudo da relação entre qualidade de luz e condições de saúde é urgente para avaliarmos a grande parcela da população que desempenha algum tipo de trabalho noturno e por isso estão sujeitas a longos períodos de exposição à luz artificial (em ambientes sem janelas). (Martau, 2009) A privação do sono em trabalhadores noturnos leva a fadiga mental e física, apatia, negligência e endurecimento de atitudes individuais. Causa insônia e sonolência excessiva durante o dia. Os trabalhadores de turno apresentam maior risco a enfermidades cardiovasculares, gastrointestinais. (Till; 1997:5) Os estudos realizados até o momento sugerem que esta parcela da população pode estar potencialmente suscetível a doenças provocadas por alterações do ritmo biológico, possivelmente desencadeado por exposição ao excesso de luz ou à má qualidade da fonte luminosa. Atualmente o grande desafio no desenvolvimento de projetos é atender não só as exigências estéticas; cada vez mais se faz necessário responder às exigências psicológicas e fisiológicas do usuário. Estas necessidades não são contempladas pelas normas técnicas e sua realização depende da sensibilidade do profissional envolvido no projeto. (Martau, 2009). Os clientes são culturalmente desinformados sobre arquitetura, lhes falta parâmetro para avaliar as propostas dos profissionais especializados. É comum valorizar um projeto pelo seu custo inferior e por sua beleza estética. Quesitos como funcionalidade e fluxo passam despercebidos. Os profissionais de iluminação ainda são pouco reconhecidos no mercado brasileiro e tampouco valorizados. A contratação de projetos especializados se dá mais pelo interesse do alcance da eficiência energética do que por proporcionar o bem-estar dos funcionários. Neste ponto atingimos uma questão cultural. As pessoas não estão acostumadas a ter o conforto visual e novamente, pela falta de padrão de comparação, não tem consciência da real importância. Boa parte dos estudos desenvolvidos na área da iluminação discorrem sobre aspectos isolados ou são vinculados a questões de percepção e conforto visual. Com o aumento da busca por eficiência energética abre-se espaço para discussão sobre qualidade da luz e relação entre luz e usuário. (Martau, 2009:111). O avanço das pesquisas já comprova as relações entre saúde e iluminação, apesar de as doses de luz ainda não estarem definidas. Trabalhadores noturnos e pessoas sujeitas somente à iluminação artificial por longos períodos parecem ser potencialmente mais suscetíveis a doenças relacionadas tanto com o excesso quanto com a insuficiência de luz. (Martau, 2009:31) Desde a descoberta da luz elétrica passamos a viver em ambientes iluminados artificialmente. Com o passar do tempo fomos criando regras e horários para a rotina do dia ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 12 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 a dia. Passamos a trabalhar em ambientes fechados com a presença da iluminação artificial. Em muitos espaços a luz natural não se faz presente ou as exigências de determinada função fazem com que abrimos mão da presença da luz natural. Entramos no ambiente de trabalho com todas as lâmpadas presentes no ambiente acesas. Assim a fonte luminosa artificial permanece durante todo o dia, constante e intensa. Esta constante tem como objetivo não só iluminar como também manter-nos alertas, despertos e assim produzimos mais. A escolha por ambientes artificialmente iluminados é intrínseca às atividade do trabalho desenvolvidas pelo ser humano e até o momento pouco se deu valor para suas possíveis consequências. Com o passar do tempo os humanos se encontram mais expostos à constante luz artificial e seu corpo que por milhares de anos se adaptou às variações da luz solar tem apresentado sinais de alerta. Algumas doenças aumentaram seu nível de incidência sobre a população. Tal fato foi o suficiente para que se aprofundassem as pesquisas da medicina em busca da causa para o aumento de sintomas. Atualmente doenças como depressão, ansiedade, obesidade tem sido relacionadas com a alteração no ciclo circadiano dos indivíduos. Ficou claro que a quantidade de luz que recebemos ao longo do dia afeta nosso ritmo interno e pode comprometer nossa saúde. Já não nos podemos deixar enganar por soluções de pura engenharia, conquistadas com perda de aspectos humanos [...]. Um período como o nosso, que tem se deixado dominar pela produção, não encontra seu ritmo [...]. Nos achamos perante um grande amontoado de palavras e símbolos mal usados, dentro de um armazém repleto de novas descobertas, inventos e potencialidade, mas somos incapazes de gerir o mundo [...] a relação entre pensamento e sentimento está afetada [...] o resultado é uma personalidade dividida [...]. (Giedion, 2004) 6. Conclusão As alterações no ciclo circadiano podem ser revertidas para o estado natural a partir do controle de tempo de exposição e intensidade da luz. Retomar o contato com a luz solar é imprescindível para garantir o bem estar e a saúde da população. Desenvolver tecnologias de controle de luz se faz necessário. A observação da variação da iluminância natural proporcionada pelo sol nos serve de base para o desenvolvimento de tais tecnologias. O padrão internacional especificado pela norma IEC 60929, que resultou no protocolo DALI, é um passo importante para esta nova conquista. Porém, a efetividade de novas tecnologias depende da capacitação e reconhecimento dos profissionais envolvidos na área de arquitetura e iluminação. A citação de Giedion foi publicada pela primeira vez em 1941 e permanece válida e urgente para nossos dias tanto no que tange à arquitetura quanto para a iluminação. Referências ABEL, J. Computer models help decode cells that sense light without seeing. OSC Columbus,US. https://www.osc.edu/press/computer_models_help_decode_cells_that_sense_light_without_ seeing Acesso em 30 de abril de 2014. ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 13 Fotorreceptor e sua influência no ciclo circadiano dezembro/2014 BERSON, D. M. "Strange vision: ganglion cells as circadian photoreceptors. Department of Neuroscience, Brown University, Providence, 2003. 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