Chiara Lubich: do sim ao sim
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Chiara Lubich: do sim ao sim
Chiara Lubich: do sim ao sim 88 anos de vida que modificou milhões de pessoas em todo o mundo Deerek Calheiros, Raphael Victorino e Carlos Xavier S im. Bastou uma palavra de poucas letras para que Silvia Lubich mudasse sua vida e encantasse o mundo com seu comportamento radical somado a uma vivência de espiritualidade inovadora. Ela lançou ao mundo um movimento católico e em março deste ano deixou seus filhos espirituais, dando-lhes a sua missão: a unidade. Nascida em Trento, no norte da Itália, no dia 22 de janeiro de 1920, Silvia era filha de um tipógrafo socialista que foi perseguido pelo fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Aos 23 anos, sozinha, entrou na Capela dos Frades Capuchinos de sua cidade e deu seu sim à Deus. Essa data, 7 de dezembro de 1943, é considerada como o início do ideal fundado por ela, o Movimento dos Focolares. Até o momento era só uma palavra e não se imaginava que dela surgiriam várias outras, inclusive em diversas línguas. Assim como alguns religiosos, mudou seu nome em homenagem à Santa Chiara di Assisi (Santa Clara de Assis), e assim queria viver o Evangelho na sua mais pura essência. No contexto da guerra, Chiara resolve não fugir de Trento com sua família e ali fica com algumas suas companheiras para ajudar os necessitados. Elas, sob os bombardeios, se perguntavam se existiria um ideal que nenhuma bomba poderia jamais destruir. O sonho de se casar morreu com o namorado na guerra, o de estudar com as portas fechadas das universidades, o de ter uma casa desmoronou. A resposta veio na descoberta do Amor de Deus. Amar era o que ela e suas companheiras queriam naquele momento, e se a guerra levasse uma delas, queriam em seus túmulos: “nós acreditamos no Amor”. “Que todos sejam um” Chiara Lubich que fundou o Movimento dos Focolares em 1943 Nasce um estilo de vida radical que busca no Evangelho o modo de viver. Uma das frases lidas serviu como lema: “que todos sejam um”. Este foi o pedido de Jesus, ou de “Jesus Abandonado”, como o chamam. Queriam realizar essa vontade do Pai, assim como viram se realizar o “Dai e vos será dado” e “Pedi e recebereis”. O grupo aumenta na medida em que o tempo avançava, mas ainda não havia o reconhecimento da igreja. Foi somente em 1964, com o Papa Paulo VI, que se aprovou o movimento. O relacionamento com os papados prosseguiu e com o Papa João Paulo II, em 1984, viu-se o perfil mariano que seguia a então “Obra de Maria”, que segundo o papa tinha em seu carisma o “radicalismo do amor”. A pedido da Igreja, o Focolares terá sempre uma mulher como presidente, para preservar essa característica primordial e única. Mas não é só no seu radicalismo que Chiara será lembrada. Em 1961 o Papa João XXIII coloca o ecumenismo como uma prioridade do Concílio Vaticano, sendo que Acontece • Página X dois anos antes, ela apresentou a experiência do Movimento, que é o “Evangelho vivido”, aos evangélicos luteranos na Alemanha, em Darmstadt. Daí nasceu contato também com a Igreja Ortodoxa e Anglicana. Todas as três apóiam e divulgam o ideal da Espiritualidade da Unidade nas suas Igrejas. E não parou por aí. A presidente do Focolares, na década de 70, foi a primeira mulher cristã a expor suas idéias espirituais num templo budista, para dez mil deles (em Tóquio). Depois na Tailândia para os monges e as monjas (1997). Em seguida numa mesquita em Nova Iorque para três mil mulçumanos afro-americanos, em Buenos Aires Budista rezando por Chiara Num congresso para o Movimento Juvenil: “vocês são o futuro do mundo!” Pessoas de todas as religiões e credos foram se despedir nas organizações judaicas e na Índia com os hindus. Chiara foi nomeada presidente honorária da Conferência Mundial das Religiões para a Paz (WCRP). Como amar não exclui ninguém, além do dialogo religioso e interreligioso, estabelecia contato também com os laicos. Com esses os temas eram a fraternidade, justiça, paz, unidade etc. No Brasil, o reitor da USP Jacques Marcovitch, em 1998, entregou-lhe uma Medalha de Honra ao Mérito da Faculdade que manifestava “um agradecimento pela imensurável contribuição à cultura e à educação que se volta para a paz e a solidariedade”. No Brasil o Movimento chegou em 1954 com uma de suas primeiras companheiras, Ginetta Cagliari. Também italiana, ajudou a fundar aqui os vários centros do movimento, intitulados de “Centro Mariápolis”. Como diz o nome, são cidades de Maria que possuem escolas de formação e, sobretudo, troca de experiências dessa vida radical da unidade. O centro mais famoso por sua internacionalidade é o de Loppiano, em Incisa Vald’Arno (Florença) com seus 900 habitantes de quase 100 nacionalidades. O mais próximo de São Paulo, de Vargem Grande Paulista, recebeu o nome Ginetta para homenageá-la. O carisma de Chiara é viver radicalmente o verdadeiro Amor, chegando à reciprocidade. Como o Movimento se expandiu pelo mundo todo, nasceram ramificações para os diferentes públicos: Humanidade Nova que possuem os voluntários em engajamentos sociais nos diversos “mundos”: saúde, política, educação, direito, comunicação etc. Os “voluntários” nasceram em 1956 quando os soviéticos invadiram a Hungria, então o Papa pediu ajuda para um “exército de voluntários, porque o amor é livre”, para resolver a situação e construir uma sociedade nova; Famílias Novas que une famílias para enfrentarem juntos alguns problemas dessa vocação, que é o matrimônio, e ao mesmo tempo levar esse valor de família à sociedade; Jovens por um Mundo Unido que propõe aos jovens anunciar a vida da unidade; Movimento Juvenil pela Unidade que busca uma base para crianças e adolescentes que serão os futuros portadores do ideal; Movimentos Religiosos que visam às particularidades desses vocacionados. São cerca de seis milhões os aderentes à obra mariana espalhados no globo terrestre. Todos filhos espirituais de Chiara. Esses foram influenciados diretamente por essa luz que ela trouxe numa sociedade escura, isso quer dizer que é ainda maior o número de pessoas atingidas pelo Amor que ela pregou. Ao lado de Madre Tereza de Calcutá e Edite Stain, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, está o nome de Chiara Lubich, juntas, elas representam as três mulheres mais importantes para a humanidade nascidas no século XX. O dia 14 de março foi marcado por muitas lágrimas, mas, sobretudo, pela felicidade em ver a mãe realizada: ela conseguiu viver o Amor e, sem imaginar, o difundiu ao mundo. Conforme a nota de falecimento, um dos primeiros companheiros dela, Peppuccio, perguntou-lhe se ela estaria pronta para entrar no paraíso e “ali permanecer para sempre”, e então Chiara Lubich deu a mesma resposta que deu início a tudo: “Sim!” Acontece • Página X CHIARA PRA MIM... “Faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce. Chiara não fez muito barulho, mas com toda certeza fez crescer uma linda, grande e variada floresta, uma família universal” Arthur Gomes, 17 Rio de Janeiro - Brasil “Foi uma pessoa muito importante na minha vida, me deu uma maneira nova de viver a vida e ser plenamente feliz” Tiago Vaz, 24 Braga – Portugal “Chiara é uma luz que permanecerá para sempre na história do universo. Luz meiga, aconchegante, renovadora, firme, potente, belíssima...” Euclydes, 67 Porto Alegre - Brasil “Uma mãe que me ensinou a amar, em cada momento, dando a vida pelo outro e assim crer no Amor” Elena, 21 Amisterdã - Holanda “Veja, eu sou uma alma que passa por este mundo. Vi tantas coisas belas e boas e sempre fui atraída somente por elas. Um dia (dia indefinido) vi uma luz. Pareceu-me mais bela do que as outras coisas belas e a segui” Chiara CHIARA LUBICH 22.01.1920 - 14.03.2008