Líquen aureus agminado
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Líquen aureus agminado
Revista 6SUPL2Vol88 PT_Layout 1 1/10/14 11:50 AM Página 143 CASO CLÍNICO 143 ▲ Líquen aureus agminado* Agminate lichen aureus Violeta Duarte Tortelly1 Amanda Nascimento Cavalleiro de Macedo Mota1 Roberto Souto da Silva2 Juan Piñeiro-Maceira3 DOI: http://dx.doi.org/10.1590/abd1806-4841.20132397 Resumo: O líquen aureus é uma variante rara das púrpuras pigmentares, com evolução crônica e benigna. A maioria é assintomática e predomina nos membros inferiores. O quadro clínico é constituído por máculas e/ou pápulas eritemato-acastanhadas, acobreadas ou douradas. O diagnóstico é clínico e histopatológico, porém o padrão dermatoscópico vem sendo uma ferramenta útil na presunção do diagnóstico. Descrevemos um caso com um padrão morfológico em que a lesão é confluente, sendo denominado líquen aureus agminado. Palavras-chave: Dermatopatias; Líquens; Púrpura Abstract: Lichen aureus is a rare variant of pigmented purpura, with a chronic and benign course. It is generally asymptomatic and often occurs in the lower limbs, presenting as erythematous brownish, coppery or golden macules and/or papules. The diagnosis is based on clinical and histopathological findings. The dermatoscopic pattern has been considered a useful tool in diagnosis presumption. We describe a case with a confluent morphological pattern, called agminate lichen aureus. Keywords: Lichens; Purpura; Skin diseases INTRODUÇÃO O líquen aureus é uma variante das púrpuras pigmentares crônicas. Este grupo é composto pela púrpura pigmentar de Schamberg, doença de Gourgeot-Blum, doença de Kapetanaski e púrpura de Majocchi.1 Tais doenças caracterizam-se pelo aspecto eritêmato-acastanhado, que corresponde histologicamente à deposição de hemossiderina. As púrpuras pigmentares crônicas apresentam o mesmo padrão histopatológico, mostrando um infiltrado linfocítico de grau variável na derme superior associado à presença de depósitos de hemossiderina. Nosso relato exemplifica um padrão morfológico menos comum, representado por uma forma confluente, também chamado de agminado. RELATO DO CASO Paciente masculino de 28 anos, com lesão de 3 cm, acastanhada, na região dorsal do punho direito, iniciada há 10 anos (Figura 1). Não consegue correlacionar o início da lesão a trauma, medicação ou contato com alguma substância. Refere que a lesão surgiu como uma picada de inseto, com aspecto eritematoso, evoluindo insidiosamente e tornando-se acastanhada no centro, esmaecendo na periferia. Nega prurido, dor ou saída de secreção. Não apresenta lesões semelhantes no corpo. Nega comorbidades. A dermatoscopia mostrava ausência de rede e presença de área amorfa de tonalidade acobreada (Figura 2). Na histopatologia, observou-se extensa reação inflamatória mononuclear em distri- Recebido em 02.01.2013. Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 14.02.2013. * Trabalho realizado no Hospital Universitário Pedro Ernesto – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE-UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Suporte Financeiro: Nenhum. / Financial Support: None. Conflito Interesses: Nenhum. / Conflict of Interests: None. 1 2 3 Médicas - Residentes de Dermatologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto – Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE-UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Preceptor do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE-UERJ) - Pesquisador do Laboratório de Histocompatibilidade e Criopreservação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Pós-doutorado em Dermatopatologia - AFIP - USA – Professor-associado do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. ©2013 by Anais Brasileiros de Dermatologia An Bras Dermatol. 2013;88(6 Supl 1):S143-5. Revista 6SUPL2Vol88 PT_Layout 1 1/10/14 11:51 AM Página 144 144 Tortelly VD, Silva RS, Mota ANCM, Piñeiro-Maceira J buição subepidérmica com padrão liquenoide e capilares esparsos (Figura 3). Na coloração para pigmento férrico, evidenciamos difusa deposição de pigmento de hemossiderina (Figura 4). FIGURA 4: Líquen aureus agminado. Extensa deposição de pigmento de hemossiderina (azul) no tecido dérmico (coloração para pigmento férrico; x150) FIGURA 1: Líquen aureus agminado FIGURA 2: Líquen aureus agminado. Dermatoscopia FIGURA 3: Líquen aureus agminado. Reação inflamatória mononuclear subepidérmica, com capilares de permeio (HE; x40) An Bras Dermatol. 2013;88(6 Supl 1):S143-5. DISCUSSÃO O líquen aureus (LA) foi descrito como caso clínico, pela primeira vez, em 1958, por Martin. Mas, foi em 1960 que Calman utilizou o termo LA para enfatizar a tonalidade amarelo-ouro, frequentemente observada nestas lesoes. Embora a causa precisa seja desconhecida, sua patogenia parece estar relacionada a uma capilarite dos vasos da derme papilar, com ocasional proliferação endotelial, questionando-se ser uma vasculite.2 Também há especulações sobre a etiologia ser secundária a traumas, infecções, drogas ou insuficiência venosa.3 O LA geralmente apresenta-se como lesão em placa, solitária, de coloração variável: castanho-escura, acobreada ou dourada. A grande maioria é assintomática, mas há relatos de lesões pruriginosas ou dolorosas. Pode acometer qualquer parte do corpo, porém é descrito com maior frequência nos membros inferiores, seguido de membros superiores e tronco. Apresentações lineares, zosteriforme e segmentadas já foram descritas.4 Há predileção por adultos jovens, com aparecimento súbito. Mas, a evolução é crônica, podendo progredir lentamente ou estabilizar-se. Alguns autores questionavam essa natureza crônica e benigna, sugerindo que o LA pode progredir para micose fungoide, mas Fink-Puches et al realizaram o seguimento de 23 pacientes e não identificaram nenhum caso com tal progressão.5 A dermatoscopia tem sido um adjuvante importante no diagnóstico clínico das púrpuras.6 Os achados seriam de difusa coloração acastanhada ou vermelho-acobreada, pontos vermelhos ovais ou cir- Revista 6SUPL2Vol88 PT_Layout 1 1/10/14 11:51 AM Página 145 Líquen aureus agminado culares, glóbulos e manchas, além de alguns pontos cinzas e rede. Após revisão da literatura, constatamos que a forma agminada do líquen aureus havia sido descrita apenas uma única vez no Reino Unido e, dessa forma, este seria o primeiro caso descrito no Brasil.7 No diagnóstico diferencial entrariam as outras púrpuras já citadas e a histiocitose de células de Langerhans. Entre as possibilidades de diagnósticos diferenciais da forma agminada de apresentação do líquen aureus estão o nevo de Spitz e o hemangioma targetoide hemossiderótico (hemangioma “hobnail”), sendo a histopatologia essencial nesta avaliação.8,9,10 O tratamento do LA é difícil, tendo como arsenal terapêutico a PUVA, os inibidores da calcineurina e o corticoide. No caso em questão, após a biópsia incisional, o paciente foi submetido à luz intensa pulsada 12ms com 18J de fluência, com melhora quase total da lesão. ❑ 145 REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. Cunha Filho RR, Schwartz J, Zanol J. Liquen aureus "algesiogenico". An Bras Dermatol. 2006;81:163-5. Kanitakis C, Tsoitis G. 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