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ESTÁGIO DE VIVÊNCIA EM COMUNIDADES RURAIS: Uma experiência diferenciada no Ensino Superior em Caruaru-PE. Ana Maria de Barros* Ana Maria Sá Barreto Maciel** INTRODUÇÃO O presente estudo tem por finalidade, discorrer, descrever e historiar experiências acontecidas no Iº Estágio de Vivência realizado por alunos e professores de três faculdades locais: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (FAFICA), Faculdade de Direito de Caruaru (FADICA) e Faculdade de Odontologia de Caruaru (FOC). Esta forma de conceber a formação de Ensino Superior, adotada nestes contextos Interinstitucionais, inspiram-se em atividades de extensão já realizadas pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e outras Faculdades do Brasil. Os estágios de Vivência consistem em acrescentar as atividades acadêmicas, as ações direcionadas ao Ensino, a Pesquisa e a Extensão, proporcionando uma convivência de educadores e universitários em meio a comunidades rurais e urbanas, tendo como objetivos: • Travar conhecimento amistoso com segmentos da sociedade civil regional, com fim de melhor conhecer e serem conhecidos, enquanto cidadãos e universitários, partindo dos interesses e aspirações comuns; • Partilhar com as pessoas e grupos das comunidades traços do seu dia-a-dia, no âmbito da família, na escola, nas associações, seus desafios, sofrimentos, expectativas, alegrias e esperanças; * Doutoranda em Ciência Política pela UFPE, professora da ASCES (Associação Caruaruense de Ensino Superior- Direito) e FAFICA (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru – Ciências contábeis e Pedagogia). ** Especialista em Gestão e Planejamento de RH. Psicóloga e Professora da ASCES (Associação Caruaruense de Ensino Superior – Direito e Odontologia). Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 • Observar solidariamente os valores vivenciados no cotidiano das comunidades visitadas; • Aprender com as comunidades suas ricas lições de vida, bem como as formas de como se organizam para enfrentar os desafios do cotidiano; • Socializar o que se faz na vida acadêmica, conforme a natureza do curso, de modo a propiciar um testemunho ou um serviço simbólico às comunidades visitadas; • Conhecer a organização das associações locais, seus desafios, seus embates, suas conquistas, suas metas, e, a partir do interesse das mesmas e das reais possibilidades dos visitantes, examinar alguma forma de contribuição; • Combinar uma forma de retorno às comunidades, em vista de uma possível continuidade da experiência. Todas essas finalidades buscam entender que nos situamos em uma sociedade que cada vez mais almeja uma excelência, inteirada e preocupada com o crescimento da desigualdade e a distância dos bens e riquezas produzidos na maioria da população. Ao mesmo tempo em que temos acesso à tecnologia mais elaborada e refinada, convivemos com a falta de políticas públicas que atendam e socorram as comunidades mais pobres. Excelência entendida diante da percepção referenciada por Paulo Freire: Que excelência é essa, que dorme em paz com a presença de um semnúmero de homens e mulheres cujo lar é a rua, e deles e delas ainda se diz que é a culpa de na rua estarem. Que excelência é essa que pouco ou quase nada luta contra as discriminações de sexo, de classe, de raça, como se negar o diferente, humilhá-lo, ofendê-lo, menosprezá-lo, explorálo, fosse um direito dos indivíduos ou das classes, das raças ou de um sexo em oposição de poder sobre o outro1 . O trabalho de estudantes e educadores no Estágio de Vivência se configurou no estabelecimento de uma prática socializadora e humanizadora, 1 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra. Rio de Janeiro. 2002. P. 94 – 95. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 onde compartilhamentos saberes e necessidades que serviu para o amadurecimento do relacionamento humano; auxiliou na preparação das convivências na vida; na integração com as pessoas; aumentando os conhecimentos mútuos, ajudando nas reflexões e interiorizações pessoais. O mesmo foi intitulado de ESTÁGIO DE VIVÊNCIA, pois consiste na convivência de estudantes universitários em meio à comunidade carentes. Entendendo-se por convivência, o ato de conviver, viver com. Englobando a compreensão adotada por Silvino José Fritzen: Conviver: consiste em partilhar a vida, as atividades com os outros. São encontros para conviver, para buscar juntos um objetivo, e onde se partilha a vida, as experiências e se busca uma projeção futura. É um momento extraordinário de vida, a partilha dos bens materiais e espirituais, o respeito e a ajuda mútua, a alegria, a disponibilidade, a caridade”.2 O Iº Estágio de Vivência aconteceu no período de 05 a 09 de janeiro de 2004 na comunidade de Serra Verde, zona rural de Caruaru-PE. Esta é composta por cerca de 1.382 habitantes, perfazendo um total aproximado de 128 famílias3. Localizada a mais ou menos 10 a 12Km da região metropolitana, tendo-se acesso pela BR que vai para cidade de Riacho das Almas-PE. Equipe de estudantes foi composta por 05 (cinco) alunos de Odontologia; 04(quarto) de Direito; 02(dois) de Ciências Sociais; 01(Um) de Ciências Contábeis e 02(dois) de História, orientados por três professores.4 Alguns acontecimentos antecederam a execução do mesmo; houve quatro reuniões entre representantes das Entidades de Ensino Superior para amadurecer as idéias que iriam fundamentar as propostas e perspectivas de ensino e aprendizagem, como também da formação humana socializadora do alunado. Além da formulação e formalização de um convênio para contemplar a viabilização do Estágio, incluindo planejamento das atividades e dados orçamentários; ficando-se determinado que a equipe docente de cada faculdade 2 FRITZEN, Silvino José. Relações Humanas Interpessoais: nas convivências grupais e comunitárias. Editora Vozes. Rio de Janeiro. 1987 3 Dados obtidos no levantamento populacional da Secretaria de Saúde de Caruaru/PE. – Relatório do Programa de Saúde da Família - PSF de Serra Verde/2004 4 Relação de docentes e discentes envolvidos, em anexo. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 ficaria responsável pela elaboração de edital e seleção dos estudantes. Além de visita a comunidade, para com as lideranças, avaliar e amadurecer a proposta de trabalho. Antecedendo ao estágio, ocorreu treinamento preparatório, onde os participantes iniciaram a convivência grupal, trabalhando-se aspectos necessários para um bom e satisfatório relacionamento interpessoal, enfocando principalmente a solidariedade e humildade. Compreensão da dinâmica cultural como produto historicamente acumulado ao longo da evolução da humanidade, enfocando-se a sociedade como uma construção particularizada em cada região, onde cada povo estabelece suas próprias relações de poder, seus diferentes estilos de vida, seus processos de ensino e aprendizagem, sua comunicação, seus critérios de distribuição de tarefas, suas definições de papeis, seus estabelecimentos de regulação e aplicação de normas, dentre tantos outros aspectos estruturais de uma comunidade. Salientando-se que a sociedade predetermina papéis que são retificados e normatizados por muitas gerações, mas que são também negados no todo ou em parte e recriados. Esse momento inicial serviu para demonstrar que a equipe idealizadora desse trabalho estava no caminho certo, pois a reunião de saberes diferenciados contribui para em prol da construção de uma sociedade melhor, mais humana, mais digna. Pode-se observar que existem pessoas movidas por um espírito fraterno e de busca de descobertas socializadoras; pois é importante pontuar que jovens trocaram parte de suas férias para se dedicarem a esse trabalho que exigiria estudo e adaptações no estilo de vida de cada um. Todavia como bem referencia Fernando Pessoa: “O essencial é saber ver”, Saber ver sem estar a pensar, Saber ver quando se vê. E sem pensar quando se vê, Nem ver quando se pensa. Mas isso (triste de nós, que trazemos a alma vestida). Isso exige um estudo profundo, Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 Uma aprendizagem de desaprender.” Por tudo isso persistiu nossos ideais, e como Afirma Antonio Meneghetti: O indivíduo humano não pode viver sem a conexão social porque, independentemente de como se queira entendê-lo, o social continua sendo o todo permanente no qual se realiza o processo de individualização. É óbvio que o conceito de sistema continua permanece um apelativo de valor de tudo o que é biologia social, permanece um apelativo mais técnico, mais avançado. Poderia também dizer: qual a relação que pode existir entre a alma e a máquina, entendida como engenho, conjunto interconecto ao definitivo consente uma função? Sistema é entendido como mais partes funcionais para uma finalidade. O indivíduo é íntimo ao sistema e o sistema é íntimo ao indivíduo.5 Adotamos, professores e alunos a postura de observar e conhecer a comunidade, refletindo continuamente sobre aplicabilidade dos saberes científicos, compreendendo a educação como prática social que exerce uma ação mediadora no seio da sociedade6. Buscando promover uma prática social humanizante, com avanços positivos, voltados para a construção de uma sociedade solidária. A Experiência Chegamos de ônibus, cedido pela Secretaria de Administração do governo Municipal de Caruaru, no dia 05 de janeiro de 2004, numa segunda-feira pela manhã no Grupo Escolar da comunidade. Lugar que foi nossa moradia temporária. Lá estavam a nossa espera a diretora e sua equipe para nos recepcionar. Nossas refeições eram produzidas naquele recinto, por cozinheira7 contratada pelas Entidades. Arrumamos o espaço que aconteceria a partilha das refeições, do saber, das dúvidas e das brincadeiras.Como também, o quarto dos homens e o das mulheres. 5 MENEGHETTI, Antonio. Sistema e personalidade. Trad. Alécio Vidor e Maria Tereza Albiero. Porto Alegre : Associação Brasileira de Ontopsicologia, 1994, p. 8. 6 FREIRE, Paulo. Comunicação ou Extensão. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1971. 10ª Edição, 1992. 7 - Luzia. Funcionária da Fafica. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 Os alunos e os professores se integraram satisfatoriamente, montando equipes para cuidar das tarefas domésticas. Estas se destinavam a lavar, varrer, dentre outras atividades que tinham como objetivo manter a higiene do local. À tarde, guiados por três integrantes da comunidade8, subdivididos em três grupos fomos conhecer a população e a região.Sua geografia demarcada por solo seco e clima quente; vegetação arbustiva, com característica da caatinga, presente no sertão Nordestino. A economia gira em torno da prestação de serviços, em quase sua totalidade; e numa proporção menor, realizavam trabalhos como autônomos.Todavia, nem sempre foi assim, cerca de 05(cinco), 06(seis) anos atrás, os rendimentos eram obtidos com agricultura, contudo a seca, provocada pela falta de água intensa, modificou as perspectivas de sobrevivência, fazendo com que muitos integrantes do povoado, migrassem para outras regiões9. As casas se localizam com uma certa distância umas das outras, umas construídas de tijolo e cimento e outras de barro. Compostas com poucos móveis, eletrodomésticos, e cômodos pequenos e apertados, na sua maioria fazem uso de fogão a lenha10. Através da observação e nas entrevistas realizadas nos domicílios, constatamos que as famílias são constituídas, geralmente por 04(quatro), ou 05(cinco) filhos. Criam animais domésticos (gatos e cachorros), outros para consumo humano (galinhas, cabras). Homens trabalham na zona urbana, uns durante o dia e outros à noite; em lavanderias ou empregos informais (biscateiros, ajudantes de pedreiro). Pessoas na faixa etária entre 13 a 17 anos de idade estudam na cidade e muitas moças trabalham em casa de família. Esse momento de visita a comunidade, suscitou várias observações que serviram para fundamentar as propostas das atividades a serem desenvolvidas com a população. Dentre tantas, algumas são importante referir: • Nas famílias, geralmente a mulher estava em casa com os filhos menores (zero a 7/8 anos); 8 Representantes das lideranças jovens da comunidade. Informações obtidas através da observação, e depoimentos fornecidos pelos moradores daquela região. 10 Idem item 10. 9 Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 • As mulheres eram falantes, conversavam espontaneamente sobre sua vida; • As mulheres relatavam sobre seus sofrimentos (dificuldades financeiras, de relacionamento conjugal ou familiar); • Mulheres sós, angustiadas, temerosas; • Filhos soltos, criados correndo no terreiro, com pouca roupa, às vezes sujos, muitos com secreção nasal; • Irmãos mais velhos cuidando dos mais novos, às vezes crianças cuidando de outras crianças; • Problemas suscitados como problemas centrais da comunidade: DESEMPREGO e a SECA; • Mulheres com desejos de ir embora daquela região, tentar uma vida melhor, estudar, trabalhar; • Poucos jovens nas casas visitadas (pessoas na faixa etária de 11/12 à 17/18 anos de idade); • Muito lixo espalhado nos terreiros das casas; • Açudes e barragens secas, água obtida por caminhões pipa em alto custo e o acesso a água depende do prestígio do morador com o vereador ou cabo eleitoral local – relações de clientelismo; • Vegetação típica do sertão, aspectos da caatinga; • Nas Serras botecos vendendo bebida e alguns gêneros alimentícios; • Alimentação pouca; sacos de feijão e milho guardados de safras de anos anteriores; • Higiene pessoal comprometida, cabelos despenteados, dentes cariados, pés descalços em terra suja, cheia de dejetos de animais; • Saneamento não há, nem sistema de esgoto; • Crianças tomando banho em água barrenta, dentro de tonel ou bacia; • Muitas pessoas de pele escura e olhos pretos brilhantes. Muitos relatos, anteriormente citados, evidenciam a preservação de uma cultura machista, e o estereótipo do comportamento feminino de submissão. Ou seja, em geral as mulheres cresce “escondendo” sua capacidade e sua inteligência, por não serem consideradas como atributos “femininos”. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 Depois dos sutiãs queimados em praça pública, a grande imagem da revolução feminista, muita coisa mudou. Os anos 80 serviram para consolidar conquistas, mas nestes anos 2000, a mulher prepara uma nova revolução. Sem passeatas, sem grandes manifestações. A revolução feminina é silenciosa, acontece dentro de casa, no tal universo feminino, tão estudado e tão pouco compreendido. No entanto, para as mulheres pobres a conquista de um lugar para morar com marido e filhos, ou só com seus filhos, emprego, água, escola e alimentos para a família, ainda são os maiores desafios de inclusão social em suas vidas. Matina Horner11 relata, num estudo realizado com universitárias, que as mulheres brilhantes têm motivos para evitar o sucesso. Este é um dado de grande importância numa cultura que confere tanto valor à realização e na qual os homens apresentam uma necessidade premente de obter sucesso. Artigos, programas, informes focalizam a mulher, suas lutas e conquistas, colocando-a ao lado do homem, em pé de igualdade em todos os aspectos e campos da vida profissional, econômica e social. Querer provar ao mundo que a mulher pode tanto, igual ou mais que o homem já é coisa ultrapassada. Hoje ela tem plena consciência de que a decisão de escolher a profissão, de casar ou viver só, é exclusivamente sua. Já vai longe o tempo que a mulher se limitava a gerar filhos, cuidar de casa e do marido. No mercado de trabalho ocupa seu espaço, no meio antes monopolizado pelo homem. Com este relaciona-se, convive e coexiste, troca experiências e divide responsabilidades, na sociedade, na comunidade de trabalho e sob o mesmo teto. Mas é preciso lembrar que os homens e mulheres diferem entre si. Não na essência, formados que são de corpo e alma, mas quanto a interesses e afetividade, homens e mulheres serão apenas elementos estanques, separados, cada qual conservando sua individualidade, semelhantes ao azeite e a água que nunca se misturam. No momento em que se percebem diferentes, mas complementando-se, excluído o fator competição, homens e mulheres poderão 11 HORNER, Matina. Fail: Bright Women, Psychology Today, 1969. P.36 – 38. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 colaborar para a mútua plenificação. A afetividade, o interesse de uns pelos outros pode levar a uma harmonia feliz. Os alunos ficaram a vontade com a comunidade diante da acolhida, este fato surpreendeu, sendo motivo de entusiasmo, facilitando a evolução dos trabalhos. As atividades foram projetadas pela equipe de estudantes de cada curso, algo que mobilizou indagações sobre a credibilidade nos trabalhos; pois tinham expectativas de serem coordenados e guiados pelos professores. Questionaram essa liberdade de construção de saber, referindo que achavam que algumas ações estavam sendo improvisadas, mas como um deles referenciou: “O improviso é algo que se constrói quando não se sabe o que fazer, e nós temos um saber científico, pois sempre realizamos nossas ações sabendo, tendo clareza do que vamos fazer, realizar. Temos ciência das nossas ações”. Nos debates, a polêmica maior era o curto tempo que tínhamos para a intervenção social. Um dos alunos do curso de História fez a reflexão acima citada, sobre a improvisação, demonstrando que era na ação interventiva que o nosso conhecimento se validava, o que não era improvisação. Tiveram nessa situação, esclarecimentos da metodologia adotada pelos professores/ orientadores. Ou seja, ela estaria fundamentada em teóricos, como Paulo Freire que utiliza uma Pedagogia libertadora, onde estimula o indivíduo a criar e construir o processo de ensino aprendizagem a partir do conhecimento da realidade que está inserido. Após essas explicações, cessaram suas ansiedades, favorecendo na continuidade das ações12. A programação era elaborada, diariamente, mediante as necessidades evidenciadas nos contatos com a população. A seguir uma suma descrição das atividades efetuadas: • Palestra educativa que enfocou assuntos referentes à saúde bucal, ressaltando a orientação em escovação e explicações sobre a cavidade bucal. Cerca de 70 (setenta crianças) participaram, numa faixa etária de 02(dois) a 12(doze) anos de idade. Onde, aproximadamente 60%, encontrava-se com média de idade entre 12 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1977. P. 78-79. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 06(seis) aos 09(nove) anos, não havendo muita discrepância com relação ao gênero. Ou seja, era quase equiparada a quantidade de crianças do sexo masculino e feminino.Após o repasse das informações, elas foram estimuladas a desenhar os conteúdos aprendidos e alguns exibiram e explicaram seus desenhos. Forma utilizada pelo o grupo, para avaliar se os conteúdos haviam sido absorvidos pelas crianças. • Explanação sobre educação ambiental, proferida também para o público infantil, objetivando a preservação da natureza, mostrando a importância da sobrevivência humana, a partir do zelo com os recursos naturais, enfocando-se como o lixo e a sujeira destroem os fatores ambientais. A maneira metodológica que viabilizou o repasse desses conhecimentos, foi a apresentação de uma peça teatral. As informações repassadas para o público infantil, aconteceram sempre de maneira lúdica, com utilização de brincadeiras, músicas e fabulações de histórias; para possibilitar uma melhor compreensão e entrosamento. Piaget (1998) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável à prática educativa (Aguiar, 1977: 58). Na visão sócio- histórica de Vygotsky, a brincadeira, o jogo, é uma atividade específica da infância, em que a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto cultural e social. 13 • Palestras sobre prevenção em Câncer bucal com a participação do público jovem e adulto, perfazendo um total, aproximado de 60(sessenta) a 70(setenta) pessoas por encontro. Tinham como finalidade orientar sobre o conhecimento da cavidade bucal e sensibilizar para o auto-exame, desmistificando a doença, orientando os fatores de riscos e encaminhamentos para intervenções assistenciais (profissionais especializados e Instituições de referência); • Palestras com informações e orientações jurídicas, cada uma com a participação de quase 70(setenta) pessoas. Abordavam-se aspectos das mais diversas áreas do Direito, tais como: Civil, Trabalhista, Previdenciário, dentre outras. Os assuntos buscavam fazer com que eles refletissem sobre as normas conjunturais jurídicas 13 PIAGET, J. A Psicologia da Criança. Ed Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. P. 56 - 58 Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 do país, e estabelecer uma consciência crítica com relação aos atos praticados por cada um. Assuntos relativos aos Direitos Humanos (Justiça, Democracia, Lei, Direito), provocaram questionamentos mobilizando a comunidade para o debate, repensar e refazer conceitos . Ao mesmo tempo eram informados os Órgãos de competência Jurídica que poderiam ser acionados quando os direitos estiverem sendo violados, violentados ou não praticados; As cenas de teatro14 foram montadas, mediante aspectos observados, e correlacionadas com os assuntos explanados. Por exemplo; mulheres haviam referido que seus maridos gritam com elas, dizendo palavras e frases que danificam a auto-estima e auto-imagem das pessoas. Desta forma, estruturava-se uma cena, baseando-se nesses relatos; correlacionando-a com assuntos do Direito (Penal, Direitos Humanos, Civil,etc), da Psicologia (Convivência Humana, Relacionamento Interpessoal,etc) e das Ciências Sociais (Evolução do Papel da Mulher na sociedade,etc). • Palestra com enfoque sociológico sobre a evolução do papel da mulher na sociedade, mudanças conjunturais e políticas. Demonstrando a sua inserção no mercado de trabalho e aquisição de Direitos Constitucionais, correlacionando com as repercussões sociais durante o passar dos anos até os dias atuais; • Atendimento profilático em Saúde Bucal, com aplicação de flúor em 38 crianças; 14 A técnica de teatro foi inspirada no teatro do oprimido de Augusto Boal, onde a platéia participa do espetáculo. O Teatro do Oprimido (TO) é um Método Estético que reúne Exercícios, Jogos e Técnicas Teatrais que objetivam a desmecanização física e intelectual de seus praticantes e a democratização do teatro. O TO cria condições práticas para que o oprimido se aproprie dos meios de produzir teatro e amplie suas possibilidades de expressão. Além de estabelecer uma comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores. Hoje é praticado em 70 países, estando em processo a criação da Associação Internacional de Teatro do Oprimido, em Paris e Rotterdam. Vários livros dão conta do Teatro do Oprimido, assinalando-se os mais recentes Stop: C'est Magique e O ArcoÍris do Desejo (Método Boal de Teatro e Terapia). A melhor definição para ele "seria a de que se trata do teatro das classes oprimidas e de todos os oprimidos, mesmo no interior dessas classes". As técnicas para desenvolvê-lo compreendem o teatro invisível, o teatro-imagem e o teatro-foro, e visam a transformar o espectador em protagonista da ação dramática e, "através dessa transformação, ajudar o espectador a preparar ações reais que o conduzam à própria liberação". http://www.ctorio.com.br/ Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 • Atendimento assistencial com intervenções na clínica dentística, realizando tratamentos não críticos de teor simples, em 24(vinte e quatro) crianças, 07(sete) adolescentes e 17(dezessete) adultos; Os atendimentos assistenciais foram realizados na Unidade Móvel, cedida pela Secretaria de Saúde do Município de Caruaru. Como também,os alunos não efetuaram mais procedimentos devido à falta de material esterelizado e água corrente; pois a água, depositada na caixa da Unidade Móvel é limitada para assistir em média 24(vinte quatro) pacientes por dia; • Aconteceram 48(quarenta e oito) visitas domiciliares. Em 12(doze) delas encontravam-se os habitantes mais antigos da comunidade, estes foram entrevistados para fundamentar a Historia e formação daquele povoado; • Seis famílias foram orientadas com relação a planejamento familiar e orçamentário, avaliando-se a distribuição de renda e a economia doméstica. As palestras aconteceram durante o dia, no Grupo Escolar; e a noite na Igreja do povoado. Ressalta-se, denúncia de maus tratos e abandono Infantil, através de membros da comunidade, efetuando-se investigação; dados encaminhamentos de Orientação Jurídica e assistência psicossocial. Valorizaram-se os depoimentos da população daquela localidade, para construirmos a proposta de intervenção na mesma. A existência humana não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco se nutrir de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir humanamente é pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação – reflexão (..) É preciso primeiro que, os que assim se encontram negados no direito primordial de dizer a palavra, reconquistem esse direito, proibindo este assalto desumanizante continue.15 15 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1977.P. 78-80. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 Ocorreram algumas situações marcantes, geradoras de polêmicas, debates e por que não avaliar como fatos importantes para o amadurecimento pessoal e coletivo. Um dos acontecimentos foi o impasse sofrido por um dos integrantes 16 durante uma palestra. Onde este foi pressionado por um integrante da comunidade com agressividade, causando constrangimento, mas despertando a importância de capacidade reativa para manter a credibilidade do trabalho. Era natural aquela atitude, éramos forasteiros, intrusos. Esse momento serviu para fomentar várias inquietações que possibilitaram: 1. Cumplicidade entre os alunos, em perceber que todos estavam unidos em prol de um objetivo comum. A partilha de sentimentos sugere reações mais diretas à nossa percepção. Quando usamos só as palavras para descrever aquilo que percebemos, na verdade estamos tentando dominar nossos sentimentos, mais do que experimentá-los.E como afirma David Viscott: O mundo é um quebra-cabeça que cada um de nós ajunta de modo diferente. Mas cada um de nós pode aprender a lidar com ele usando nossos dons naturais de uma maneira mais eficaz – o que inclui aprender a sentir de maneira mais sincera. Quanto mais sinceros nos tornarmos, mais energia teremos para nos haver com os problemas aos quais temos que fazer face. Estar em contato com nossos sentimentos é a única maneira pela qual sempre poderemos ser o melhor de nós mesmos, a única maneira de nos tornarmos abertos e livres, a única maneira pela qual poderemos ser nós mesmos. Encarar o mundo de modo intelectual é diferente de “senti-lo”, assim como estudar um país mediante um livro de geografia é diferente de viver nele.17 2. Diluição dos medos, preconceitos, sofrimentos; sentimentos freqüentes vivenciados no mundo mecanizado que nos encontramos. E é mediante a exposição deles que demonstramos a fragilidade humana que temos, e só podemos reagir de maneira intencional a uma ameaça se a percebemos. Poucos de nós temos consciência de que somos capazes de entender exatamente o que tememos; por conseguinte, somos incapazes de 16 17 Aluno de Direito – Rodrigues Freitas VISCOTT, David Steven. A linguagem dos sentimentos. Summus. São Paulo. 1982, P. 19. Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 desafogarmos plenamente nossos sentimentos de ansiedade. Às vezes, somos incapazes de perceber que o que estamos sentindo é ansiedade; Marx18 afirmou “que o homem se define no mundo objetivo não somente em pensamento, senão com todos os sentidos (...). Sentidos que se afirmam, como forças essenciais humanas (...). Não só os cinco sentidos, mas os sentidos espirituais (amor, vontade...). 3. Entrosamento grupal a partir da sinceridade nos diálogos estabelecidos. Relações de compromisso íntimo otimizam fatores importantes na vida adulta, tais como, segurança nas atitudes e fortalecimento da identidade pessoal e profissional; O homem é um ser social por natureza. Cada indivíduo aprende a ser um homem nas relações com os outros homens, quando se apropria da realidade criada pelas gerações anteriores, apropriação que se dá pelo manuseio dos instrumentos e pelo aprendizado da cultura humana. O homem como um ser social, como um ser de relações sociais, está em permanente movimento. Estamos sempre nos transformando, apesar de aparentemente nos mantermos iguais. Isso porque nosso mundo interno se alimenta dos conteúdos que vêm do mundo externo e, como nossa relação com esse mundo externo não cessa, estamos sempre como que fazendo a “digestão” desses alimentos e, portanto, sempre em movimento em processo de transformação.19 4. Reflexões sobre a concepção de vida formada nos que possuem um poder aquisitivo mais favorecido, com possibilidades de estudo e acesso aos avanços tecnológicos. Em confronto com aquela população simples, que sobrevive com tão pouco, mas que encontram a satisfação pessoal e coletiva na forma que vive. 18 MARX, K. Manuscritos econômicos e filosóficos. São Paulo. Martins Fontes. 1976. P. 50. BOCK, Ana; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Mario. Psicologias: Uma Introdução ao estudo da psicologia. São Paulo. Saraiva. 1992. P. 142. 19 Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 A visita a rezadeira foi algo surpreendente, idéias controvertidas sobre religião foram colocadas em discussões. A velha senhora que dizia trabalhar em prol do bem colocou a prova seu discurso, quando questionada sobre um material que se encontrava em baixo da mesa encostada no canto da parede. Em cima dela havia imagens de Santos e Santas, velas acessas e apagadas. Na parede diplomas de Centros Espíritas e quadros de uma mesma Santa. Interrogada sobre sua religião revela ser “Média”, que possui um dom dado por Deus de curar as pessoas. Mas ao mesmo tempo refere que faz trabalhos, todos em prol do Bem. Embaixo daquela mesa sobreposta de uma toalha branca de renda, objetos que não informa o que são, refere apenas: “- Só pode ver quem estar preparado para ver”.Pegar não aconselha, referindo ser perigoso, estar relacionado com coisas que não podia falar. Essa vivência mobilizou o grupo a pensar em concepções de BEM e MAL, como é relativa a compreensão de atitudes geradoras ou impossibilitadoras da evolução intelectual e espiritual do Ser Humano. Tivemos a oportunidade de compartilhar a partir daquela experiência, e a partir das reflexões do Professsor Maurício Soares, filósofo no grupo, como a filosofia ou o misticismo percebem a relação entre o bem e o mal. Enveredamos por discutir o bem e o mal na modernidade e na pós-modernidade e a relativização destes conceitos. A modernidade é definida como a “tentativa de libertar o homem de todo pensamento dualista (Deus, alma, lei divina)”. A concepção utilitarista caracteriza a modernidade, tendo em vista que o bem passa a ser considerado como “o que é útil à sociedade” enquanto o mal é visto como “o que prejudica a integração social”. O homem passou a ser considerado como o próprio fundamento do bem e do mal. No contrato social, o indivíduo deve ser submetido à vontade da coletividade. A cidadania torna-se um valor supremo. Touraine faz referências às concepções teóricas acerca da política em Hobbes e Rousseau. Ambos fundamentam suas perspectivas políticas “sem recorrer a princípios religiosos”20 . No entanto, segundo Touraine, Rousseau não leva em consideração as relações sociais e nem a existência dos atores sociais, considerando a vontade como um 20 TOURAINE, A. Crise da Modernidade. Petrópoles. Vozes. 1998.P.24 Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 princípio que legitima a ordem política. A noção de soberania está relacionada com o corpo social. O corpo social é soberano e o poder político se fundamenta na vontade geral. As noções de bem e mal estão correlacionadas com a visão do que é “útil ou nocivo ao funcionamento e sobrevivência do corpo social”.21 Ressalta-se a postura daquela mulher, como uma pessoa sem estudos, sem acesso a tantas informações, tinha uma força, uma energia, um poder utópico, uma capacidade impressionante de utilizar a fantasia na manipulação da realidade. Questões religiosas foram postas em cheque: - especulações sobre a existência de Deus, Fé. Como também, questões existenciais: - buscar compreender quem somos, por que estamos aqui, qual o significado do que está à nossa volta. As pessoas tendem a agrupar-se em torno de identidades primárias: religiosas, étnicas, territoriais, nacionais...Essa tendência não é nova, uma vez que a identidade e, em especial, a identidade religiosa e étnica tem sido a base do significado desde os primórdios da sociedade humana.22 As nossas atitudes recebem influências do meio social, pois tendemos tanto a adotar as atitudes de pessoas significativas para nós quanto a absorver a influência da cultura. E essa última nasce, como enfoca Marilena Chauí23, da maneira como os seres humanos interpretam-se a si mesmo e às suas relações com a Natureza, acrescentando-lhe sentidos novos, intervindo nela, alterando-a através do trabalho e da técnica, dando-lhe valores. É através da cultura que naturalizamos os valores e , assim, a sociedade se apega às tradições e dá continuidade a juízos de valor que se perpetuam através das gerações. Ainda de acordo com Chauí: Juízos de valor avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como bons ou maus, desejáveis ou indesejáveis. Sendo o juízo de valor determinante do que é bom ou ruim, ele enuncia obrigações, deveres e normas. Com isso, determina nossos 21 IDEM item 21 CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 2000. P. 23. 23 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Ática.São Paulo, 2000. p.53 22 Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 sentimentos, decisões acontecimentos.24 e comportamentos frente aos As informações culturais repassadas pelas pessoas mais idosas retratavam mais situações particularizadas do que a história da formação daquele povoado, que apesar de era teoricamente um reduto de Quilombo, nos dias que estivemos na comunidade, nada ou nenhuma informação nos ajudou a comprovar esta hipótese, o que ao nosso ver requer um mergulho mais detalhado naquela comunidade. Contudo, verificamos uma riqueza peculiar nos relatos, as brilhantes histórias revelavam não apenas a dor existencial, mas, sobretudo a dor da carência. O entusiasmo era crescente no grupo, à medida que íamos descobrindo aquele mundo. As experiências revelavam algo fundamental para a construção da formação da humanidade, a solidariedade nas ações.O Estágio foi finalizado com uma festividade promovida pela comunidade. A interação aconteceu tão intensamente, que com certeza cada um trouxe um pouco daquele lugar, daquela vida, da experiência daquelas pessoas, para dentro de si. Como também, deixou um pouco de si, lá. A valorização e o emprego do diálogo para esclarecer conflitos; compreender que viver em sociedade exige consensos; aprender a respeitar as diferenças pessoais; utilizar a discussão de idéias como forma de trabalhar bem equipe e de tomar decisões coletivas; conhecer e discutir os direitos humanos; reconhecer a liberdade de expressão como um direito fundamental nas sociedades democráticas; aconteceram sem a necessidade de estamos em sala de aula para aprendermos. Dessa maneira concordo com o que bem referenciou Hannah Arendt: “- O aluno deve ser apresentado ao mundo e estimulado a mudálo”.E acrescentamos que se formar para o mundo significa, entre outras coisas, adquirir a noção do coletivo. Sobre essa percepção a educadora Maria de Fátima Simões Francisco, refere que essa noção só é estabelecida diante de um processo que só se realiza, em cada aluno, com a interação do pensamento, para criação de uma ética frente ao grupo. Ou seja, precisamos cada vez mais de 24 CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Ática.São Paulo, 2000. P. 80 - 84 Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 experiências como essas para refazer o mundo e criar perspectivas inovadoras no que se refere à sociedade e organização social e estrutural do HOMEM. Considerações Finais Na atualidade deparamos com o alinhamento de pensamento e padronização das emoções que, cultivados pela maioria das instituições e disseminados pela mídia, mantêm os seres humanos numa superficialidade existencial, prontos para serem manipulados como pensamento único. Até bem pouco tempo, a humanidade tinha uma perspectiva de futuro atrelada ao trabalho e à educação. Hoje já não encontramos o mesmo cenário. Percebe-se que os desejos materiais, o sentimento de onipotência, e auto-imagem negativa se desenvolvem e se sofistificam, crescendo as frustrações. Estas sejam reais ou imaginárias, levam ao aumento da agressividade, do isolamento, do desespero humano. Contudo, é importante lembrar que nem sempre foi assim, a humanidade já produziu conhecimentos que deveriam ser intocáveis. Alguns aspectos devem ser resgatados, como o lazer saudável e produtivo, a educação com o objetivo fundamental de formar indivíduos conscientes e solidários. Onde os interesses humanitários devem se sobrepor à ganância e ao consumismo. E a experiência do Estágio de Vivência caracteriza essa Educação. Portanto, ainda é salutar essa percepção, pois exige uma forma diferente de conceber o ensino pelo corpo docente, discente e pela estrutura educacional. A forma que o docente absorve o ato de educar condiciona e determina suas ações e conseqüentemente sua prática pedagógica. Em paralelo, precisa-se reinventar nossas instituições sociais, políticas e econômicas e, junto com elas, nosso estilo de vida, nossas crenças, nossos princípios e nossos valores. Absorvemos diariamente, através das relações no cotidiano, que o sucesso este atrelado a posses materiais e ganhos financeiros, e a busca Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 constante de obter esse sucesso, tem feito com que muitos deixem de lado os relacionamentos, o desenvolvimento pessoal, o lazer e a felicidade individual e coletiva. É necessário compreender e exercitar o equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal o indivíduo descobrirá novos níveis de realização e de felicidade, o colaborará para seu sucesso pessoal e social. Aprender a lidar com as mudanças é algo fundamental, tendo em vista que o permanente aperfeiçoamento tecnológico gera também mudança de comportamento, de valores e de crenças. Todavia não podemos esquecer que mudar implica escolha, e escolher envolve riscos e responsabilidades. Também gera angustias, pois não existe garantia de resultados. Toda escolha é incerta, mas só podemos acertar quando estamos dispostos a errar. A angustia desencadeada pelo processo de mudança não deve ser vista, nem trabalhada como algo negativo, e sim como oportunidade de transformação do ser. E o Estágio de Vivência configura essas descobertas na transformação de engrandecimento humano. Lembrando que o ser está permanentemente mudando e que a vida é um eterno devir. O ser não é, ele é um VIR-A-SER. A idéia fundamental de que toda ação humana é uma ação associada, o que nos dá a consciência de que a individualidade não é algo a opor aos outros, mas a realizar-se pelos outros, tendo apenas um sentido que é o da medida de sua responsabilidade para com o grupo e para consigo mesmo. Este conceito, pelo qual o indivíduo não se opõe à sociedade e às instituições, mas se realiza por meio delas, que são os instrumentos de sua liberdade, como o saber, o conhecimento e a ciência são, por outro lado, novos instrumentos desta sua crescente liberdade – farão com que nós: alunos, educadores e instituições, percebamos a necessidade de criarmos condições para levar a universidade para além dos seus muros e possamos formar profissionais para atuar em um mundo real e contraditório. Desde que toda ação é um ato partilhado, a idéia de participação faz-se a matriz de toda atividade humana e o indivíduo nas instituições de ensino deve poder sentir quanto o seu desenvolvimento é um desenvolvimento em conjunto, não podendo ele próprio realizar-se a si mesmo senão na medida em que se faz Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 útil aos outros e os outros úteis a ele, medindo a sua capacidade peIo grau em que melhor realiza aquela parcela de atividade que lhe cabe, em virtude de suas aptidões particulares. Assim, mesmo o que é peculiar e próprio de cada um não se realiza senão em razão dos outros, sendo cada um devedor aos outros do que é, e credor dos outros do que os outros sejam. Esse existir em sociedade deve ser o quadro geral das instituições de ensino, que, por isto mesmo, se organiza em comunidade de professores, alunos e funcionários, desenvolvendo o seu programa de atividades, em decorrência de tal viver associado, que marca toda a experiência escolar, transformada, assim, na experiência democrática por excelência.25 As atividades de extensão desempenham um papel fundamental de interação e solidariedade social. Nessa comunidade escolar, indivíduo e grupo trabalharão, distribuindo as suas funções, constituindo as suas associações, desde a da sala de aula até a da sociedade de toda a instituição de ensino, podendo o aluno fazer as experiências de membro social em todos os níveis e graus, sendo aqui o companheiro de trabalho, ali o companheiro social, acolá o companheiro de jogo e de gostos, ou ainda o companheiro de política, no governo da escola, participando assim de todos os tipos de atividade e aprendendo o jogo da vida democrática nesta comunidade em miniatura que é a Instituição de Ensino. A democracia, assim, não é algo especial que se acrescenta à vida, mas um modo próprio de viver que a instituição de ensino lhe vai ensinar, fazendo-o um socius mais que um puro indivíduo, em sua experiência de vida, de sorte a que estudar, aprender, trabalhar, divertir-se, conviver, sejam aspectos diversos de participação, graças aos quais o indivíduo vai conquistar aquela autonomia e liberdade progressivas, que farão dele o cidadão útil e inteligente de uma sociedade realmente democrática. Tal atmosfera de participação fará com que nenhuma atividade escolar tenha aquele velho espírito de segregação e isolamento, que tanto dificulta depois a verdadeira formação democrática. No ensino tradicional, a segregação, que isola e aliena, manifesta-se de todas as formas, pelo ensino de culturas passadas sem articulação com o presente, pelo ensino abstrato sem ligação com os fatos, pelo ensino oral e livresco sem relação com a vida, pelo 25 TEIXEIRA, Anísio. Educação e o Mundo moderno. São Paulo. Editora Nacional. 1977. P. 128 130 Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 ensino de letras, sem referência com a existência, enfim por todos aqueles exercícios que rompem a continuidade entre o mundo e a experiência do aluno e a sua aprendizagem.26 A experiência do aluno é um todo continuo que se amplia com os novos interesses e novas aprendizagens, mantida, entretanto, a unidade nos novos desdobramentos a que o levam a instrução e o saber. O ensino de coisas ou noções alheias à experiência de aluno corre sempre o perigo de constituir algo de inútil ou de prejudicial ao seu desenvolvimento. A experiência educativa é sempre uma experiência pessoal, mas também coletiva em que o passado se liga ao presente e se projeta no futuro, aumentando o poder de compreensão ou de operação do indivíduo em seu crescimento emocional, intelectual e moral. Experiências como essas nos aproximam do real papel da educação, na formação de profissionais competentes, compromissados e humanizados pelo desejo de crescer como o outro. A educação como um grande ato político de amor e responsabilidade social Referências Bibliográficas BOCK, Ana; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Mario. Psicologias: Uma Introdução ao estudo da psicologia. São Paulo. Saraiva. 1992. P. 142. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. Ática.São Paulo, 2000. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e Terra. 1977. _____________Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Paz e Terra. Rio de Janeiro. 2002. ______________ Comunicação ou Extensão. 1971. 10ª Edição, 1992. Rio de Janeiro. Paz e Terra, FRITZEN, Silvino José. Relações Humanas Interpessoais: nas convivências grupais e comunitárias. Editora Vozes. Rio de Janeiro. 1987. HORNER, Matina. 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Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006 ANEXOS Relação dos professores que Participaram do 1º Estágio de Vivência - Janeiro/ 2004 ● Ana Maria Sá Barreto Maciel (FADICA/FOC) ● Ana Maria Barros (FADICA/FOC/FAFICA ● José Maurício Soares(FAFICA) Relação dos Alunos que Participaram do 1º Estágio de Vivência - Janeiro/ 2004 1. Ana Paula Virgolino 2. Daniella Neves da Rocha 3. Darci de Farias Cintra Filho 4. Diego Queiroz Nogueira 5. Elyanna Oliveira de Vasconcelos 6. Flávio Luiz Sales Silva 7. Kleber Gonzaga de Assis 8. Maíra Jerônimo Ferreira 9.Marco Aurélio da Silva Freire 10. Michele Guerreiro 11. Pedro Geraldo de V. Filho 12. Renata Laurentino Cintra Leite 13. Rodrigo Freitas 15. Severino Ferreira da Silva Interfaces, Caruaru, v. 6, n. 2, 2006